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EDUCAÇÃO FÍSICA
RESUMO
O objetivo desta pesquisa é apontar reflexões sobre o trabalho com as lutas e artes marciais, apesar
das dificuldades buscou-se identificar na literatura especializada maneiras de desenvolver um
trabalho pedagógico com as lutas e/ou artes marciais. Contudo, esta pesquisa procurou mostrar os
benefícios que as artes marciais trazem para a educação física infantil. No Brasil, artes marciais e
esportes de combate são considerados conteúdo dos programas de Educação Física do Ensino
Fundamental e Médio entretanto, o conteúdo – lutas tem sido vítima de restrição nas aulas de
Educação Física, pois não é comum observamos alunos praticando algum tipo de luta durante as
aulas mesmo com todos os benefícios trazidos por ela.
1 INTRODUÇÃO
As lutas são conteúdo da Educação Física Escolar, porém são vítimas de restrição nas aulas
devido aos preconceitos relacionados a ela, como a associação das lutas com a violência escolar.
Contudo, As Lutas, Artes Marciais e Modalidades Esportivas de Combate têm alcançado uma
visibilidade jamais vista na história da humanidade e o Brasil acompanha essa tendência mundial.
Como um exemplo desse fenômeno, identificamos o empreendimento dos torneios de artes marciais
mistas popularmente denominados como “MMA”. As Artes marciais possuem características
particulares em nosso país. Possuem participações esportivas consideráveis em nível nacional, pois
são praticadas em contextos educacionais e de iniciação esportiva em diversos locais: escolas, clubes,
associações comunitárias, organizações, universidades e academias. As artes marciais podem ser
praticadas por muitos indivíduos, com a obtenção de vários benefícios, tais como: força, agilidade,
coordenação, respeito, confiança, conhecimento sobre seu próprio corpo, entre outros. Em
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Mesmo com todo o potencial pedagógico as artes marciais são conteúdos pouco trabalhados
nas escolas devido à falta de especialidade dos professores e as estruturas (RUFINO; DARIDO,
2013). CORREIA E FRANCHINI realizaram um estudo denominado “Produção acadêmica em lutas,
artes marciais e modalidades esportivas de combate”, como resultado desse empreendimento
investigativo, foi possível constatar o predomínio dos estudos na área de Biodinâmica (40%),
seguidos pelos Estudos Socioculturais do Movimento Humano (32%) e Comportamento Motor (8%).
Como conclusão, os pesquisadores apontam para as seguintes considerações:
conhecimento que lhe cabe ensejar na direção das “artes de combate”, para que superemos
os “embates” corporativos, na perspectiva de um “debate” promissor. (p.7)
Contudo, a questão norteadora deste artigo toma forma e o que se torna interessante aqui é
perceber de que maneira esse tema é entendido, de modo a se constituir em um objeto de saber
(FOUCAULT, 2010).
Cercada por muitas dúvidas e teorias diferentes a origem das artes marciais é incerta, contudo,
o homem primitivo já lutava para sobreviver, caçar e garantir seu espaço. Sua origem confunde-se
com o desenvolvimento da civilização, quando, logo após o desenvolvimento da onda tecnológica
agrícola, alguns começam a acumular riqueza e poder e com isso o surgimento de
cobiça, inveja surgiu então a necessidade de proteção pessoal. Sobretudo, é preciso diferenciar os
significados, de luta e artes marciais. Segundo Breda (2010) afirmar o surgimento das lutas não é
possível, uma vez que se trata de uma ação sociocultural que vem sendo modificada de geração em
geração, dando novos significados ao longo do tempo. Conforme os Parâmetros Nacionais
Curriculares – PCNs, lutas são disputas em que os oponentes se utilizam de técnicas e estratégias de
desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão, de uma área de combate, caracterizando‐se por
uma regulamentação específica a fim de punir atitudes de violência e deslealdade para o
desenvolvimento de ações de ataque e defesa (PCN’s 1998). Ainda referenciando os PCNs, dentro da
compreensão deste, a luta se define como disputas em que os oponentes devem ser vencidos. São
caracterizadas por uma regulamentação específica da modalidade a fim de punir as atitudes de
violência e deslealdade (BRASIL, 1997). Para Franchini (2010), lutas são “embates físicos/corporais
por intenções de subjugações entre os sujeitos a partir de conflitos interpessoais e, invariavelmente,
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por conteúdos humanos contraditórios e ambivalentes”. Arte marcial se refere as técnicas de combate
ligadas à guerra. Entende-se por artes marciais, não apenas as modalidades como Judô, Karatê ou Jiu-
jitsu, mas também a prática informal, possibilitando ao educando abordar as artes marciais de diversas
formas dentro da educação física escolar (FERREIRA, 2006). Para Gomes, (2014) as artes marciais
além de trazer vários benefícios físicos, motores, sociais e cognitivos estimulam o aluno a enfrentar
as dificuldades cotidianas preparando-o para vida.
O termo arte marcial também gera alguns desacordos históricos, uma das correntes acredita
que o termo teria se originado no ocidente, uma referência do deus greco-romano Marte, o deus da
guerra. Porém o termo é oriental e refere-se à arte da guerra. Outra corrente mais atual acredita que o
termo originou-se no oriente e ocidente para lutas com ou sem armas tradicionais. Bu-shi-do no Japão
ou wu-shu na China são termos mais específicos para o combate, significam o “caminho do
guerreiro”. A palavra artes vem do Latim ars, que significa “arte, técnica”. O termo marciais se
origina no deus Grego Mars, que significa “Marte”: que era o deus da guerra romano que, na
mitologia grega, era chamado Ares. Artes marciais são um conjunto de técnicas de luta individual,
são diversos estilos de luta corpo a corpo que fazem parte da cultura de muitos países, caracterizados
por técnicas de defesa e ataque. As mais praticadas e conhecidas no mundo inteiro são: kung
fu, karatê (ou caratê), judô, aikido (ou aiquidô), krav magá, jiu-jitsu, muay thai, tae-kwon-do, e a
capoeira, com suas diversas interpretações. Pode ser vista como dança, folclore, jogo, mas sem dúvida
sua maior e mais expressiva representação é a de luta, pois tem movimentos típicos de ataque e defesa.
As artes marciais tiveram seu surgimento no Extremo Oriente, já que as guerras sempre
estiveram presentes na história da humanidade, no início surgiram para representavam técnicas para
manejarem armas brancas, nesse período várias técnicas foram desenvolvidas pelos soldados, para
que eles pudessem ter mais eficácia nos ataques e nas defesas quando ficassem desarmados, mas após
o seu desenvolvimento, as artes marciais foram aplicadas também em técnicas com mãos limpas, isto
é, sem o uso de armas. Mais tarde se transformaram em atividades esportivas, com o como objetivo
aperfeiçoar o corpo e a mente, pois forma de exercício físico, elas potenciam o desenvolvimento
equilibrado de todas as partes do corpo, a flexibilidade das articulações, a postura correta da coluna
vertebral, o controle da respiração, o relaxamento e fortalecimento dos músculos.
As técnicas aprendidas como esporte podem ser usadas no âmbito da defesa pessoal. Os
gregos tinham uma forma de lutar, conhecida como “pancrácio”, modalidade presente nos primeiros
jogos olímpicos da era antiga. Os romanos tinham os gladiadores que eram escravos de terras
conquistadas e que participavam de torneios de luta que serviam de entretenimento para os
Imperadores de Roma, se caracterizavam de técnicas de luta a dois. Na Índia e na China, surgiram os
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primeiros indícios de formas organizadas de combate, informações relatam que os sistemas de lutas
chegaram à China e à Índia, no século V a.C. Relato sobre a origem das artes marciais apresentado
por Lançanova (2006):
Segundo Mazzoni e Oliveira Junior (2011), o primeiro registro oficial de lutas existiu quando
os gregos desenvolveram uma forma de luta chamada Pancrácio (já citada anteriormente). Contudo,
a versão mais conhecida da arte marcial, principalmente a história oriental, tenha como foco principal
Bodhidharma - monge indiano que, em viagem à China, orientou os monges chineses na prática
do yoga, como já mencionamos acima na citação de Lançanova (2006), que mais tarde tornou-se na
criação de um estilo próprio pelos monges de shaolin. Porém, através de registros da arqueologia
pode-se comprovar que o kung fu já existia na China há mais de 5000 (cinco mil) anos. Da China,
estes conhecimentos se expandiram por quase toda a Ásia, e teve Bruce Lee como responsável pela
popularização no Ocidente através dos filmes e aulas ministradas por ele nos Estados Unidos.
Coincidência ou não, o "lutador-ator" nasceu no dia e ano do Dragão em 27 de novembro de 1940,
na Califórnia, Estados Unidos. Aos 13 anos iniciou seus estudos de kung fu e aos 20 já dava aulas.
Bruce Lee estrelou diversos filmes sobre artes marciais que fizeram muito sucesso como “O Dragão
Chinês”, “A Fúria do Dragão”, “O Voo do Dragão”, “Operação Dragão” e “O Jogo da Morte”, ele é
considerado o lutador de arte marcial mais famoso do século 20. Muitos artistas marciais consideram
a China como o berço desta cultura. Japão e Coreia também têm tradição milenar em artes marciais,
Japão, com o judô, o caratê e seus estilos, tais como shotokan, bushi ryu, shito-ryu, shorin-ryu, o jiu-
jítsu, o quendô, e o aiquidô.
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Alguns historiadores acreditam que foram as artes marciais que decidiram em 859 qual dos
dois filhos do imperador Buntoku subiria ao trono. A partir de 1200 os samurais, guerreiros por
excelência, desenvolveram várias técnicas de combate corpo-a-corpo que tinham como objetivo
vencer o adversário mesmo quando não tinham armas em sua posse. O profissionalismo das lutas
culminaria na prática do jiu-jitsu (jiu - suavidade + jitsu - técnica). O jiu-jitsu originou, em 1882 o
judô (jiu ou ju - habilidade + do - via), cujo criador foi o japonês Jigoro Kano (1860-1938). Como
esporte, o judô tem sido praticado em campeonatos mundiais desde 1956, sendo que em 1964 já fez
parte das Olimpíadas. O caratê (kara significa vazia + tê significa mão), não tem como objetivos
confrontos corpo-a-corpo. Nesta arte marcial o objetivo é derrubar o oponente através de golpes feitos
com as mãos e pés. O caratê teve a sua origem por volta de 1920, e o seu autor foi o japonês Gichin
Funakoshi (1869-1957). Uma arte japonesa mais recente é o aikido, fundada por Morihei Ueshiba
(1883-1969), e é uma arte marcial que é vista como a fusão de várias artes marciais de origem
japonesa. Países europeus após o século XIV começaram suas expansões e descobertas de territórios,
tendo contato com a cultura de outros países como as lutas, onde reproduziram as mesmas no seu
continente e adaptaram as técnicas para que pudessem sem melhoradas.
Observamos que existem tipos de lutas diferentes e podemos dividi‐las em lutas de corpo a
corpo e lutas de distância. As lutas de corpo a corpo, o contato corporal é mais prolongado, utilizando
técnicas de desequilíbrio, projeções, imobilizações e torções, como por exemplo: Judô, Jiu‐ Jitsu,
Sumô, Greco –Romana e Ai‐ki‐Dô. Tem o fundamentos de: bater com diversas partes do corpo: mão,
joelho, pé, cabeça, etc. Defender, Esquivar. Nas lutas de distância, o contato corporal é mais breve,
sendo utilizadas técnicas de contusão, socos, chutes, joelhadas e outros, podemos citar como
exemplos: Capoeira, karatê, Kung‐Fu, Esgrima, Boxe, Taekwondo, tem seus fundamentos: agarrar,
derrubar, cair, desequilibrar, imobilizar. No desenvolvimento das lutas são utilizados fundamentos,
são práticas que auxiliam no desenvolvimento das lutas tanto de corpo a corpo quanto as de distância.
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Figura 1
Abaixo temos um quadro com o resumo dos fundamentos para melhor compreendermos cada
item e sua funcionalidade.
Figura 2
Muitos são os benefícios da luta para a saúde, entre eles está ajudar a perder peso e manter a
boa forma, motivos que as fazem ganhar cada vez mais adeptos. Sobretudo, a luta é uma atividade
saudável que você pode praticar por toda a vida. É um dos motivos que tem tornado cada vez mais
comum nas academias a prática de lutas como atividade física. Essas práticas ganham cada vez mais
espaço em clubes esportivos, escolas, academias de ginástica entre outros ambientes, tornando-se
suscetíveis a um “complexo e indeterminado processo de transformação” (GONÇALVES; SILVA,
2013). As artes marciais de um modo geral ajudam a aprimorar o ser humano e o seu desenvolvimento
interior, ajudam a desenvolver o trabalho de base, a velocidade e aprimora a precisão dos pés e mãos,
o equilíbrio, a força e a coordenação. A luta também é importante para aliviar o estresse, melhorar a
autoestima e principalmente para a defesa pessoal. Qualquer atividade física tem benefícios
comprovados no controle da ansiedade e manutenção da autoestima e até mesmo evitando a
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depressão. Assim, a prática do exercício físico vem sendo cada vez mais aceita como uma forma de
promover a saúde e o bem-estar (BIDDLE; MUTRIE, 2001).
Muitas são as proposições acerca dos significados de lutas e artes marciais, contudo devemos
ressaltar a importância de diferenciar os conceitos de lutas, artes marciais e esportes, deve-se a
confusão que se faz entre eles. Porém não podemos descartar nenhuma destes conceitos, pelo
contrário devemos trabalhá-los de forma que nossos alunos saibam também diferenciá-los.
“Enquanto a luta aplica-se em qualquer situação onde haja combate, as artes marciais são
mais específicas: “As artes marciais são sistemas codificados de estilos de luta ou
treinamento, em combates armados ou não, sem o uso de armas modernas, como as de fogo”.
Dessa forma, é importante, inicialmente, distinguir estes dois termos, de significado e
emprego muito próximos, mas que nem sempre devem ser usados para a mesma finalidade.
O substantivo luta do Latim lucta, significa “combate, com ou sem armas, entre pessoas ou
grupos; disputa”. Já a expressão artes marciais é uma composição do Latim arte, (“conjunto
de preceitos ou regras para bem dizer ou fazer qualquer coisa”), e martiale (“referente à
guerra; bélico”, “relativo à militares ou a guerreiros”). No oriente existem outros termos mais
adequados para a definição destas artes como Wu-Shu na China e Bu-Shi-Do no Japão que
também significam a “arte da guerra”, ou “Caminho do Guerreiro”. Muitas destas artes de
guerra do oriente e ocidente deram origem a artes marciais e esportes atuais que hoje são
praticados em todo o mundo como: Karate, Kung Fu, Tae Kwon Do, Esgrima, Arquei-rismo,
Hipismo, entre outros” (Lançanova, 2006, p.11).
imobilizantes, como a luta livre olímpica. Portanto, seja nas disputas em si, ou nos exercícios
preparatórios, a prática da luta favorece o desenvolvimento desta qualidade física.
Outro benefício não está dentro da luta, não pelo menos fisicamente falando, está na parte
pedagógica. Destacamos nesse contexto a importância do professor, através de sua conduta e suas
orientações, para a efetiva consolidação dos possíveis benefícios obtidos com a prática da luta nesta
área. Ressaltando o valor da prática das lutas no desenvolvimento da disciplina, do respeito, do
controle emocional, da autoestima, da auto‐ confiança, do autoconhecimento, da desinibição e da
perseverança. A luta também favorece uma questão muito trabalhada nas escolas, a
interdisciplinaridade. Pois proporciona o contato e o conhecimento com a cultura de outros povos e
países, como no caso da lutas de origem. Dentro da Educação Física, é possível a
interdisciplinaridade, relacionado os conteúdos da história, geografia, artes com a modalidade de luta
abordada.
Associação Americana de Boxe) da categoria peso galo. Esta luta trabalha os braços, músculos
do abdômen, ajuda definir, cintura e barriga;
Muay Thai: uma das lutas mais praticadas no momento, não por acaso, pois ela queima até
2000 calorias a cada 1:30 de treino. De origem Tailandesa, envolve técnicas aeróbicas e
trabalha as articulações. O Muay Thai é uma técnica de luta de contato muito eficiente em
função de sua prática ser o mais próximo do combate real possível. Durante os treinos, o
praticante não aprende só a dar golpes como também a recebê‐los;
Taekwondo: O objetivo do taekwondo, praticado tanto por homens quanto por mulheres, é
simples: tentar acertar o corpo do adversário o maior número de vezes. Os golpes podem ser
desferidos com os punhos (socos) ou com as pernas (chutes), pois tae significa pé e kwon
significa mão. Ao contrário do boxe, a atenção vai para membros inferiores, o que ajuda
definir, glúteos, coxas e panturrilhas;
Capoeira: luta brasileira, conhecida pelos movimentos das pernas, a capoeira envolve música,
arte, luta, música esportes, artes marciais e talvez até brincadeira. A música é fundamental na
capoeira e é ela que define o estilo do “jogo. Caracterizada por golpes e movimentos ágeis e
complexos, utilizando os pés, as mãos, a cabeça, os joelhos, cotovelos, elementos ginástico‐
acrobáticos e golpes desferidos com bastões e facões. Segundo Santos (2009), a capoeira
tornou-se uma forma de lutar pela vida, de consolidação grupal e pessoal pelo povo
escravizado.
As tentativas de definição da capoeira inflamam ainda mais na sua capacidade de
transformação. Toda vez que tentamos conceituá-la percebemos que ela é mais que nossa
capacidade de definição. Será que o desafio do entendimento da capoeira é perceber que ela
proclama a ludibriação?(SANTOS, 2009, p.128).
Judô: criado no Japão, tem o objetivo de imobilizar o adversário e impedir seus golpes. As
Lutas são praticadas em um TATAME de formato quadrado de 14 a 16 metros de lado. A área
de segurança é o local fora da área de combate em que não é válido nenhum tipo de golpe. O
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objetivo da luta de Judô é alcançar o Ippon (chamado ponto completo); Ou seja, quando um
judoca consegue derrubar e imobilizar o seu adversário com as costas ou os ombros no chão.
O judô trabalha braços, pernas e abdômen e ajuda definir músculos dessas regiões;
Havia vários séculos que os japoneses conheciam o princípio da não resistência: o jiu-jitsu.
No entanto, foi o mestre Jigoro Kano (1860- 1938) o primeiro a comparar certos movimentos
e criar uma técnica pessoal superior a qualquer outra. Ele lhe deu o nome de judô: JU –
flexibilidade e Dô – caminho (ARPIN, 1970, p.23).
Jiu‐Jitsu : O jiu jitsu quer dizer suavidade em japonês, jū, "suavidade", "brandura", e jitsu,
"arte", "técnica", é uma arte marcial japonesa. Os golpes de jiu jitsu mais frequentes envolvem
as articulações, estrangulamentos, imobilizações, torções e alavancas. No Brasil um dos
pioneiros do jiu-jitsu foi Carlos Grace, incentivando toda família Grace a pratica esportiva. E
foi o jiu‐jitsu brasileiro, por sua vez, que deu origem ao MMA – Mixed Martial Arts, ou
melhor: Artes marciais mistas. A família Gracie é a principal precursora do jiu-jitsu em
território brasileiro:
Dizem que o jiu-jitsu se originou nas montanhas da Índia há 2500 anos. Supostamente se
difundiu pela china e por volta de 400 anos atrás, estabeleceu-se no Japão, onde encontrou
as condições apropriadas para se fortalecer (Gracie, 2007, p.1).
Karatê: também com origem japonesa, é uma das artes marciais mais conhecidas no país, o
Karatê não é apenas uma luta, mas também um estilo de vida. Pois é preciso que seus hábitos
de vida e até alimentares estejam em sintonia. O karatê promove o respeito, disciplina,
autocontrole e equilíbrio.
O profissional de educação física não atua sobre o corpo ou com o movimento em si, não
trabalha com o esporte em si, não liga com a ginástica em si. Ele trata do ser humano nas
suas manifestações culturais relacionadas ao corpo e ao movimento humano, historicamente
definidas como jogo, esporte, dança, luta e ginástica. O que irá definir se uma ação corporal
é digna de trato pedagógico pela educação física é a própria consideração e análise desta
expressão na dinâmica cultural específica do contexto onde se realiza (2004, p. 03).
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No que diz respeito a conhecimentos corporais, os movimentos básicos de lutas têm sua
importância, pois as práticas corporais, “com um caráter predominantemente utilitário ou lúdico,
todas visam, a seu modo, a combinar o aumento da eficiência dos movimentos corporais com a
busca da satisfação e do prazer na sua execução” (BRASIL, 1998, p.28). Conforme Santos (2009), o
corpo é um caminho entre o ser humano e a sua cultura, e pode ser pensado como um símbolo que
se estabelece entre o homem e a cultura. “O corpo é a expressão da cultura assim como a cultura se
expressa no corpo” (SANTOS, 2009, p.127).
Entendemos que a escola é o lugar onde os alunos tem que passar por novas experiências a
Educação Física tem múltiplas oportunidades, se consideramos que não se resume apenas ao futebol,
vôlei e basquete.
A Educação Física enquanto componente curricular da Educação básica deve assumir então
uma outra tarefa: introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando
o cidadão que vai produzi-la, e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do
esporte, das atividades rítmicas e dança, das ginásticas e práticas de aptidão física em
benefício da qualidade de vida (BETTI e ZULIANI, 2002, p.75).
Observamos que um grande desafio para os professores de Educação Física, no que diz
respeito ao ensino das artes marciais, será quanto ao desenvolvimento de sua prática. Pois muitos são
os desafios, percebemos que muitas são as adversidades, a começar pelos alunos e pais de alunos que
não acreditam que as lutas e artes marciais podem ser inseridas como componente pedagógico, Nesse
sentido Neira e Nunes (2009b) defendem que o currículo da Educação Física deve ter um enfoque
cultural, ou seja, deve ser compreendido como espaço para análises, discussões, ressignificações e
ampliação de conhecimentos relativos à cultura corporal. A gestão da escola também necessita estar
em consonância com o professor, passando pela estrutura da escola, materiais que serão utilizados e
por último até mesmo o professor e seus colegas enxergarem o fato de que a Educação Física
contemporânea pode sim ofertar lutas/artes marciais sem estimular a violência. As artes marciais
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sempre foram vistas como uma atividade referente à violência, e há restrição em introduzi-la no
contexto escolar, gerando esse enorme preconceito que ronda a prática do conteúdo na educação
física, como muitos pensam ao delimitarmos este assunto e sim como oportunidade para sujeitos
descarregarem, ou transformarem seus impulsos violentos. Segundo So e Betti apud Olivier (2000),
argumenta que a violência é um modo de expressão e comunicação dos alunos em reação a certas
interações sociais, em relação ao meio, ao estresse, à frustração, não pode ser totalmente eliminada
ou subjugada pelos educadores.
Embora as lutas sejam importante para os alunos este conteúdo quase não é abordado na
Educação Física escolar, são poucas escolas que abordam o tema, e quando o fazem, geralmente são
praticadas como conteúdo extracurricular, desvinculada da disciplina (NASCIMENTO e ALMEIDA,
2007). Há várias possibilidades pedagógicas, o importante é a forma que será aplicada os valores que
serão ensinados através dessa cultura corporal (LEITE, et al, 2012). A agressividade é algo que está
presente em qualquer lugar da sociedade, inclusive nas escolas (LANÇANOVA, 2006). A
epistemologia dominante é fundamentalmente realista: o conhecimento é algo dado, natural. O
conhecimento é um objeto pré-existente: ele já está lá; a tarefa da pedagogia e do currículo consiste
em simplesmente revelá-lo. (Silva, 2011, p.136). Neste sentido a Educação Física também deve ser
trabalhada com um olhar mais apurado, mais reflexivo acerca de novas possibilidades, contudo faz-
se necessário que os professores de Educação Física abram os olhos para as discussões que permeiam
a escola, como por exemplo, currículo, metodologia de trabalho, função social da escola, questões de
poder, gênero, etnia, idade, posição social, entre outros marcadores sociais que permeiam as
manifestações corporais.
“Depois das teorias críticas e pós-críticas, não podemos mais olhar para o currículo com a
mesma inocência de antes. O currículo tem significados que vão muito além daqueles aos
quais as teorias tradicionais nos confinaram. O currículo é lugar, espaço, território. O
currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é
autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forja nossa identidade. O
currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade”. (Silva, 2011,
p.150).
A cultura é um campo onde se define não apenas a forma que o mundo deve ter, mas também
a forma como as pessoas e os grupos devem ser. A cultura é um jogo de poder. Os Estudos
Culturais são particularmente sensíveis às relações de poder que definem o campo cultural”.
(Silva, 2011, p. 134).
O homem é um ser cultural, com seus costumes, crenças, hábitos e estilos de vida. Cada
sociedade, cada país ou até mesmo cada família possui sua própria cultura. Podemos conceber o
conhecimento e o currículo como campos culturais, sujeitos à disputa e interpretações, nos quais
diferentes grupo tentam impor sua hegemonia. (Silva, 2011).
Praticar estudos culturais no currículo de educação física é entender que a cultura corporal,
objeto de estudo da área, é um campo de luta por significados que se expressam por meio de
danças, lutas, ginásticas, brincadeiras, jogos eletrônicos, esportes e demais práticas corporais.
É um campo em que grupos ou indivíduos veiculam, através da gestualidade, as realidades
que produziram com suas narrativas e discursos, instituindo produtos culturais. (Neira e
Nunes, 2009b, p.11).
Na busca por novos significados, não podemos falar de uma cultura única e universal e nem
mesmo compará-las ou classificá-las. Pois, se adotarmos uma única cultura como preponderante,
automaticamente excluiríamos as demais, justamente este ponto é crucial, pois o preconceito nasce
no momento em que tomamos nossa própria cultura como referência para julgar, excluir e classificar
as demais. Contudo, para abordamos assuntos que demandam uma elaboração e um trabalho a ser
desenvolvido pedagogicamente com os alunos foram criados os Temas Transversais dentro dos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que tentam incorporar à escola temas relacionados às
questões da Ética, da Pluralidade Cultural, do Meio Ambiente, da Saúde e da Orientação Sexual, que
devem caminhar juntos às áreas já existentes e ao trabalho educativo da escola. O preconceito é
trabalhado dentro do tema da Pluralidade Cultural onde é relatado que:
Conforme Santos (2009), o corpo é um caminho entre o ser humano e a sua cultura, e pode
ser pensado como um símbolo que se estabelece entre o homem e a cultura. “O corpo é a expressão
da cultura assim como a cultura se expressa no corpo” (SANTOS, 2009, p.127). Em consonância
Daolio considera que:
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[...] a Educação Física como parte da cultura humana. Ou seja, ela se constitui numa área de
conhecimento que estuda e atua sobre um conjunto de práticas ligadas ao corpo e ao
movimento criadas pelo homem ao longo de sua história: os jogos, as ginásticas, as lutas, as
danças e os esportes (DAOLIO, 1996, p. 40).
“[...] a utilização das lutas como prática de atividade física é capaz de canalizar a
agressividade, incutir valores de respeito ao outro e as regras, que em última análise recurso
pedagógico para diminuir e controlar a violência urbana.”
Lutas (nesse caso, adotamos como luta as artes marciais), não são sinônimo de briga, luta está
relacionada a algo que podemos controlar e temos plena consciência do que estamos fazendo, já a
situação de briga, foge totalmente de nosso controle, em consonância Ortega (1998) aponta que
podemos aliar e desenvolver o lado pedagógico da luta que:
[...] pode ser encarada como sendo ‘uma expressão corporal, carregada de significado, em
harmônico diálogo com uma outra força de oposição (física ou não) buscando transpor as
barreiras por ela oferecidas.’ Fora destas condições, estaremos tratando de BRIGA
(ORTEGA, 1998, p. 18).
Demostrar aos alunos o tamanho dos conteúdos que as lutas abrangem é a apresentação de
mais uma contribuição que o homem criou e ofereceu a humanidade, Coletivos de Autores (1992, p.
38):
Segundo Breda (2010 p. 61) ele demonstra como simples atividades podem se tornar um
grande aprendizado:
Se um professor de caratê chegar ao dojo (local de aula) com um rolo de jornal em mãos e
mostrar aos alunos como se faz uma espada e ensinar a essas alguns pontos de esgrima e do
kendo, com certeza não estará ensinando o caratê. Se esse mesmo professor colocar
colchonetes no chão e ensiná-los a rolar e a cair, não estará ensinando caratê e, sim princípios
do judô ou jiu-jitsu. Em contrapartida, esse professor estará dando a seus alunos meios
diversos de conhecer outras modalidades de luta proporcionando a essa criança o mínimo de
que ela precisa para poder escolher uma prática corporal: conhecer várias.
Neira (2011), defende que o principal objetivo da ampliação seria levar o aluno a superar uma
visão sincrética inicial e buscar uma visão crítica da manifestação corporal. Com isso, a criança
poderá ter uma maior consciência diante das situações, sobretudo a consciência corporal, pois os
movimentos básicos de lutas irão proporcionar desenvolvimentos motores, cognitivos e afetivo –
sociais, pois, a partir do momento que a criança entrar em sintonia com seu próprio corpo, será um
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ser humano mais evoluído. As crianças aprendem a se comportar mais controladamente na sociedade,
assim se tornando alunos mais calmos e compreensivos, assim compreendendo que as artes marciais
na educação física escolar podem compor um currículo valorativo ao contexto escolar.
4 CONCLUSÃO
Ao concluir minha pesquisa e realizar meu estágio, observei que os estudos sobre as artes
marciais e suas práticas vem crescendo cada vez mais, o que contribui para que as artes marciais
sejam um conteúdo da Educação Física Escolar, uma vez que o conteúdo está dentro da proposta de
prática corporal de movimento dos parâmetros curriculares nacionais já supracitado neste artigo.
Contudo o preconceito e o medo de que as artes marciais e a lutas possam estimular a violência dentro
das escolas impedem que os professores possam inserir esse conteúdo no contexto escolar e
trabalharem apenas como cursos extracurriculares fora do horário de aula.
Talvez o receio de mudar ocorra pela insegurança dos professores em relação a conteúdos
que não dominam, e desta forma trabalham com o que possuem mais afinidade. Ou por
acreditarem que a escola não possui nem espaço, nem material apropriado, ou ainda por
acharem que os alunos não gostariam de aprender outros conteúdos (BETTI, 1999, p. 28).
professores possam se aprofundar mais no contexto das artes marciais, a escola também necessita
criar um ambiente favorável para que pratica esportiva aconteça. O educador físico tem que estar
atento a demanda que seus alunos apresentam, para que esteja preparado para elaborar e ministrar
aulas com o tema/conteúdo dentro da educação física escolar. Acredito que este artigo irá provocar
uma maior reflexão acerca das lutas/artes marciais, meu objetivo é que esse pensamento possa ser
difundido, e cada vez mais os professores de educação física possam pensar nas lutas como uma
opção pedagógica a ser trabalhada nas salas de aula sem medo.
5 REFERÊNCIAS
BETTI, Mauro; ZULIANI, Luiz Roberto. Educação Física Escolar: uma proposta de diretrizes
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