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JOSE ANTONIO MACIAS

Luzda essencia

1928
MINERVA CENTRAL
TIPOGRAFIA
-LOURENço MARQUES
JOSÉ ANTONIO MACIAS

UZ da essencia

1928
TIPOGRAFIA «MINERVA CENTRAL»
-LOURENÇO MARQUES-
Duas palavras do auctor

Eu não sei escrever bem o que sinto, nem mesmo eu


sei onde aprendi o pouco que sei. Os livros dos meus

estudos teem sido as taboletas das ruas e os letreiros


das montras; os meus proessores tem sido a força da
minha vontade, só ela.

Não escrevo para me salientar nem para eu querer

ultrapassar o nivel da minha modestia.

Não. Escrevo sim para dar satisfação ás exigencias


do meu espirito que de dia para dia me pede Luz!
A caneta na minha pobre mão retrai-se a escrever por
infelicidade comparativa a uma mãe, que quer amamentar
um seu filho, uma criança rebusta cheia de vida, mas
que não tem leite suficiente. A minha pobre mãoretraí-se;
mas o meu espirito ensiste comigo não querendo saber
dos meus erros gramaticais nem da minha linguagem

rude, daí obrigando-me a atropelar os dicionarios e

quantas gramaticashá, pedindo-me luz muita luz. Eu não

podendo retraír-me a tão fortes exigencias vou fazer-lhe


a vontade mas impondo-lhe a condição de ele, o
espirito,
ter que se aguentar com a critica das gentes e que me
deixe o rico
corpinho em paz por que já está farto de
massadas. O espirito contentissimo por vër que Ihe posso
dar um bocadinho de luz dum Sol enevoado
que penetra
por uma pequena triesta, aceita quantas condições eu

para me dar um bocadinho de


Ihe emponha, e
coragem
aos meus as mínhas
escritos,
poezias, diz ele o espirito,
que prefere a luz lumínosa da minha essencia aos mais

perfeitos rendilhados tecnicos de beleza


que muitas vezes
estragam o sentido poetico, para obedecer a de
regras
beleza literaria.

Neste ponto de vista o meu espirito tem muita razão


e fala muito bem. Mas não diz o resto, e assim me leva
no embrulho para eu escrever tudo ele me dita,
quanto
e pelas tortes exigencias que me taz, é que eu me vejo
forçado a dar á publícidade o presente
livrinho-«Luz
da Essencia compreendendo pois, os senhores leitores
que daí lavo minhas mãos como tez Pilatos, agora é lá
com ele, com ele o
que Com o espirito que me
obrigou a tal!
Obras do mesmo auctor

Não sou assim tão infeliz

Como me queiram chamar


Por ser poeta aprendiz
Tenho obras que mostrar

Aqui não são mencionadas


Não quero ser saliente
Tenho muitas acabadas
Alguma inda recente.

Não há poeta que faça


Tantas obras como eu

Não o digo por chalaça

S6me gabo do queé meu.

Ninguem mo
póde negar
Seja mau ou bom sujeito
Não são obras pra cantar
As obras que eu tenho feito.

As obras que eu vou dizer


Tambem teem seu valor
Não são obras de escrever
São obras de Constructor.
A vida e a morte

A vida é um fósoro

Que logo se apaga,


A morte é um simbolo
De casa falida,

A vida é um movel

Que logo se estraga,

A morte é um Deus
Que temos na vida!

A vida é um monstro

Que a todos consome,


A morte é um berço
Que nos adormece
A vida é um tigre
Que em vida nos come,
A morte é um sonho
Que a vida esquece!

A vida é um dia

Até ao Sol-Por,
A morte é um leito

Para descansar,
A vida é um dinamo
O Mundo o motor,
A morte éum anjo
Que nos faz voar!
10 LUZ DA ESSENCIA

A vida é um jogo
Que perde a partida,
A morte é um
Para o rico - pavor
nobre,
A vida é um bobo
Come sem medida,
A morte é um alivio
Para quem é pobre!

A vida é um filtro

Que tiltra a valer,


A morte é um germen
Que o filtro
trespassa,
A vida
é um dia

Sempre a amanhecer,
A morteé um sono
Que depois nos passa.

A vida é um ser

Que ninguem o entende,


A morte é um problema
Que nos bate certo,
A vida é um escravo
P'rá vida se vende,
A morte é um ninho
Na vida deserto..

A vida é um cúmulo
De grande ilusão,

A morte é um soproo
Que a luz nos apaga,
A vida é um Deus sbiv
Que temos na mão,nul
A morte é um pêso
Que a todos esmaga!
LUZ DA ESSENCIA

A vida é um fardo
Ruim de passar,
A morte é um rio
Que ncle mergulhamos,
A vida é um diabo
Wue nos vem massar,
A morte é um sem
Saber p ronde vamos.

A vida é um gôzoo
Que perde o feitio,
A morte é um teimoso
Que a todos nós chama,
A vida é um togo
Como o sol destio,
A morte é um justo

ue nos taz a cama!

A vida é um martirio

Para que nascemos,

A morte é um ganso
Que estende o pescoço,
A vida é um catre y
Onde todos jazemos,
A morte é um vulcão
Que só faz destroço.

A vida é um jardim
De rosas abertas,
A morte é um poço
Que a todos afoga,
A vida é um sonho
De coisas incertas,

A morte é um batoteiro
Que a vida nos joga
12 LUZ DA ESSENCIA

A vida é um fado
Que Deus deu ao mundo,
A morte é um corte
Na planta que cresce,
A vida é um mistério
Bastante profundo,
A morte é um santo

Que a vida merece!

A vida é um pranto
Dura até morrer,
A morte é um polo
Por onde passamos,
A vida é um rio

Matéria a correr,

A morte é um dia
Em que mal pensamos.

A vida é um louco

Parvo embriagado,
A morte é um cofre
Que fecha a gente,
A vida é um passo
Muito amargurado,
A morte é um raio

Que foge de repente!

A vida é um sem im
Espiritual,

A morte é um cão
Provocativo,
A vida é um Deus
Sobrenatural,
A morte é um sono
O morto é um vivo!
Infelicidade do Adão

Deus quando formou Adão


Não meditou nessa altura
Que um homem feito de barro
ivesse tão pouca dura!...

Diz a sagrada escritura

Por Deus tudo pode ser


Um homem feito de barro
Eternamente viver!

Mas cá no meu entender


barro é prás
O panelas
E nunca para envolver
Amassado com costelas!

A gente acredita nelas


Por sugestão ou loucura,
A luz que nos alumia
Neste ponto é escura.

Não tenho culturasbu


grande

Mas tomem o meu parecer


E verdade que o Adão
Quiz no Mundo emfim viver?
LUZ DA ESSENCIA
14

um dia a chover
Mal foi

Indo o Adão distraído,

O barro se fez
em lama

Per não o terem cosído.

Eva viu-se scm narido

a pouca sorte
Lamentou
uns pingos
Apanhou tambem
Derivando a sua morte ...

Foi um desastre tão forte

Para os filhos que deixaram,


Ei-los tambem derretidos

que choraram!
Com lagrimas

Pobres seres! Que voaram


Tudo a chuva derreteu,

da terra os vermes
Surgiram
nos valeu!
Foi quem depois

Deus vendo o que sucedeu

Fez o homem animal,


barro
Não quiz mais mônos de
l...
De tão fraco material

Assim ficou mais rial

A moderna geração
Mas o Mundo continua
Ainda á Pai-Adão!

Mudando d'opiníão
Inda acredito no todo,

Que os homens de carne e osso


Inda são restos de lôdo!
Christo e os homens

Quando Christo expirou

Naqucla enorme cruz,

Os seus olhos apagou

Para o Mundo encher de luz!

A tirania voou

O remorso assumiu,
Mas Christo alumiou

O proprio que o traíu.

O remorso altivo e forte

Não quiz não se contormou,

Depois teve a boa sorte

No dia em que se enforcou!

Eram passados três dias


Christo Deus ressuscitou,

Esquecendo as agonias
Seus algozes perdoou.

Morreu para dar exemplo


Da virtude e da verdade,
Deixou o sagrado templo
Morreu de boa vontade.
LUZ DA ESSENCIA
16

Ficaram no Mundo escritas

As suas leis divinais!

aflitas
Das suas magoas
morais.
Sairam as leis

Christo jámais cá voltou


Dai logo esquecido,
Ninguem se capacitou

Do quanto tinha sofrido!

Eis a obra dum bom Deus


Na mão desta socicdade,
O pobre rei dos judeus

por caridadel
A pedir

Um bocadinho de amor
Para aliviar as penas,
Dum Mundo devorador

Que nem sente as mais pequenas.

Que crueldade meu Deus!

O que fizeram emfim,

Hoje há maiores fariseus


og
Pintados de carmim.

Christo cheio de pavor


Por vêr o Mundo devasso,
Disse a Deus Nosso Senhor
Que não torne a dar um passo.

Para quem o não merece


Vale bem a pena sofrer,

Para quem tudo esquece


Por amor deles morrer.
Portugal!

A essencia natural

Da bondosa Natureza
Fez o jardim Portugal
Fez a Patria portuguesa!

Fez um sol cristalizado

Que tão lindamente vôa,


Foi-nos dado de bom grado
O lindo sol de Lisboa.

Portugal, campo de flores


E's o jardim da Europa
Es a Patria dos amores
Do Mundo a melhor cachopa.

E's rica sem o saberes

Sem o saberes aproveitar


Es a Patria dos prazeres
Na Europa e Alem-mar.

Es perfeita
mãe divina
De virtude e de bondade
E's a Patria Manuelina
E's a ma da caridade.
18 LUZ DA ESSENCIA

Es tudo quanto há de bom


Es rica vivendo pobre
Instrumento de bom som
E's divinamente nobre.

Es cobiçada no Mundo
Por Impérios e Naçõoes
Es na sciencia profundo
E's a Patria de Camões.

Es a Patria dos outeiros

Onde a poesia canta


Es a mãe dos Brasileiros

Es no mundo a virgem santa.

E's o simbolo da verdade

Porque não sabes mentir


E's no Mundo a claridade

Es um povo sempre a rir.

Foste o do passado
farol

Qus ao Mundo deste luz


Es a rainha do fado
Es Deus pregado na cruz.
Dedicação a Guerra Junqueiro

Descansa em paz
Guerra Junqueiro
Que a poesia
Em Portugal
Surge entre as rosas
Num bom canteiro

Liricos sonhos
Dum imortal!

Descansa em paz
Que a tua alma
Tão justamente
Para Deus vôa
Descansa
emfimeo
Na doce calma
Que a voz dum anjo
Teu hino entoa!

Descansa em paz
Num ataúde
Que a tua Patria
Brota de gloria
Ver num seu filho

D'alma evirtude
Mais uma fonteno
Na sua historia!
LUZ DA ESSENCIA
20

Descansa cm paz
Que num momento
Teu cerebro vôa

Pelo espaço
Na Patria deixas

O teu talento

Por ti eu choro

A ti me abraço!

em paz
Descança
Nobre Junqueiro
Que por ti choram
Tantos corações

Vai á procura

Pelo nevoeiro

A vêr se encontras

O grande Camões!

vossos labios
Juntai

Suprema poesía
Brazão desta Patria
Nobre portuguesa

Vossos corpos dormem


Na cova sombria
Mas vossa alma brilha
Cheia de grandeza!

Vosso talenton
E pois sem igual
Para a poesia
Não houve segundo
Filhos da Patria

O bom Portugal

Donde tem nascido

Luz pra todo o Mundo!


LUZ DA ESSENCIA 21

Descansa em paz
Pocta Junqueiro
Alma nos ceus
Corpo no chão

Dorme, descansa
Manso cordeiro
Na companhia
Dum bom irmão!

Descansa em paz
Nessa candura
Onde verdega
A nossa essencia
Mortos que falam
Na sepultura
Enchem a Patria
De consciencia!

ralh snobig su
Desabafando das injustíças

de que somos vitimas

A minha Patria
querida
Neste torrão cafrial,

Ofereço alma e vida


P'ra defender Portugal.

Neste solo nacional

Já por cá temos curtumes,


Para curtir bem ou mal
A pele a quem tem ciumes.

Que fedor que maus perfumes


De coeiros tão ascorosos,
Que tamanho de volumes
Sómente peles de leprosos.

Que epiderme, tinhosos


Que miseravel sujeita,
Como a raposa manhosos
Na capoeira á espreita.

Que não dorme nem se deita

Espiando quanto é nosso


Ha-de morrer de maleita
Por não apanhar um osso.
LUZ DA ESSENCIA 23

Nao lIhe dando grossonáco


Perde a forga a sugestào,
Sou velho, mas inda posso
Dar-Ihe certa
aplicação.

Para zuTzir o Leão


ue á porta nos qucre bater
Por ser cobarde c ladrão
S nos tracos querc morder!

lu tambcm hás-de morrer


Seu larápio gabirú
Porque não sabes morder
Num corpo sómente nú.

Ao longe vejo eu e tu

Um vulcão que não perfilhas,

Que depois na doble-W..


Eis vomitar óh pandilhas.

Alem da mancha nas ilhas

Onde germina o cinísmo


As vossas mil maravilhas
A gemer num autocismo.

O grande absolutismo
De querer pisar o pequeno
Há-de vir um cataclismo
Eis vomitar o veneno.

Não há-de haver grande empêno


Que as algemas do porvir
Afundam-se em fundo drêno

Quem tão alto quere subir.


24 LUZ DA ESSENCIA

Até o macarronete!

Quere chucha e nós a ama,


Descalço vai á retrete

Deixa a bota aos pés da cama.

Calga a bota da madama


Esfrega as mãos de contente
Co-cho-pé bota na lama
A dar pontapés na gente.

Tropeça cai de repente


O carcamano imperial
Levanta-se e diz á gente
Que o pobre Portugal

Tem que lhe dar de presente


Um bom dôce de compota,
De bom grado, humanamente
Para protectores da bota.

Pucha do rabo á sóta


Faz-no jogo a Portugal,

Querendo-nos dar capilota

Na conferencia Genebral."r

Falho de força moral


Que faz depois o janota?p
Atira-se a um lamaçal tv g-
Encharca no lôdo a bota.

A Miss do Norte em mota


Quere atropelar a gente,

O dolar é boa nota


Mas o Japão faz-lhe frente.
LUZ DA ESSENCIA 25

Um malvado saliente

Em terras de Portugal,
N'Africa, no Ocidente
A dar ligõcs de moral.

Em dias de Carnaval
Essa bondosa figura,

Com amor á cafrial

Devoto á cscravatura...

Que tão falsamente jura

Que raiva, que grandes dores


Por terem muita tartura

Mas não terem os Açores

Tão dignos e bons senhores

Querem com a mo tatal,

Deitar-nos rosas e tlores

Perfumarem Portugal !

Somos pobres e atinal!


Somos do Mundo invejados,
Temos pouco capital
Inda assim somos roubados.

Somos vilipendiados ..
A traição por vís tiranos,

Os nossos herois soldados


Há quatro seculos e anos.

Descobriram meio Mundo


E nossa essa grandeza,
Hoje qualquer vagabundo
Esquecido com certeza.
LUZ DA ESSENCIA
20

um trapo
Julgaque somos
Ou guardanapo de mesa,
Por cima de encher
o papa
Cá na Patria portuguésa.

Se nos fazcm injustiças

Gente que vive abastada,


Até do pobre cobiças
O pouco que tem ou nada.

Por esmola um cigarrinho

Por favor uma pitada,

Dizes que tens poucochinho


E melhor não teres lá nada.

Assim vivem neste meio

Assim passam
A
A
cobiçar

pedir como os
os seus anos,
o alheio..

ciganos .
ois
Na França

(Aos Franceses que abusavam dos Portugueses)

Oh !. França soberba e grande


Que nisso tendes prazer!
Nós já fomos grande Império
Podemos tornál-o a ser.

Vós que tão bem sabeis lêr


Lêr na historia Universal,
Que devem lá star escritas

As glorías de Portugal!

Dizel-o-eis como tal

nosso grande brazão,


Lourosde grande vitoria
Nas garras de Napoleão.

Foi no campo da razão


Que o grande homem francês,

Viu a força a Portugal


E a bravura ao Português!

Um punhado, dois ou três

Dhomens que Portugal tem


Inda não foram vencidos
Por esse Mundo alem!
LUZ DA ESSENCIA
28

cá tambem
Não andou por
tropa ?
A nossa pequcna
a guerra
Ajudar a vencer
contra a Europa?
D'Alemanha

Afinal tu oh cachopa
de Portugal ?
Que dizcs
fraca industria
Que temos
Mas muita força moral!

Minha Patria, Portugal

Seus que aqui morreram,


filhos

Não vos dão força moral


Dizer mal donde nasceram
?

Muitos por cá se perderam

Pela vossa conveniencia,

Chamas-nos povo atrazado


Por certa impertinencia

Não falta inteligencia

Na minha Patria querida,

O talento, a sciencia!
Em nós tem grande guarida.

d'alma e vida!
Portugal
Fez tremer o mar, a terra,

Não venham d'aza caída

A falar-nos pois em guerra. gd

Não é por nos faltar terra

vimos cavar á França,


Que
Para vósé grande auxilio

No final da contradança.
LUZ DA ESSENCIA 29

Já não tendes na lembrança?


Lembrar-vos vou nesta hora,
Que seria hoje de vós,
Não vindo gente de fóra?..

Para a trança nova aurora


Com tanta emigração|
Portanto lingua no saco

Porque nao tendes razão.

A trança, o seu brazão

Hoje não vive independente ?


Se a quereis na vossa mão,
lendes que a pagar a gente.

Que morreu em vosso auxilio

Agarrados ao canhão,
Para vos livrar das garras
Duma poderosa Nação.

E um homem de Escalhão
Que le na vossa cartilha,

A jogar cartas convôsco


A bisca ou á manilha.

E depois vos maravilha


Porque tem boa memória,
Apontavos com o dedo
As paginas da historia.

ue não mente, é bem notória


Agora meus charlatões
Vou dizer alto, bem alto
Que tivemos um Camões!..
30 LUZ DA ESSENCIA

Eis aí minhas razõcs


Para um povo civilizado,

Portugal tem camaroes


Tem pcixe do vosso agrado.

Por exemplo o bom linguado


De que vós sois predilectos,

Na formação para os filhos

No desovar papa os netos.

Chamais-nos analfabetos
Inda assim temos desprezo
Da vossa civilizaçãoo

Incluindo o contra-pêso.

Muito embora seja preso


Que a razão algemada,
seja

Direi que roubais a êsmo


Sem teres culpa ormada.

Quanta gente digna, honrada


Oh! virtude, santa sublime
u
E por vós caluniada
Encobrindo o vosso
ot
crime.eid

Os ingenuos estrangeiros
Que por vós são bem tratados
Eao poder de
cachaça
Por vós bem ludibriados.
A
Aisne FrançaSainte Gobaine, 24-12-924.
24-12-1926

Vida amargurada
Rainha do mal
Negra vil fantasma
A vida local!..

Que vem perseguindo


Um povo inocente,
Que vive survendo
Artificialmente
l.
Brilhante figura!

Formosa-elegante,
Té na sepultura

E puro brilhante,

Mas no coração
E pó de sapato,
Escuro de dôr l..
Por falta de prato..

Depois o governo
Nesta lentidão,

Não vê o inferno
Com ele já na mão,
No dia que acorda
Todo apoquentado,
Há-de vêr na corda
O povo enforcado!.
32 LUZ DA ESSENCIA

Não é só a pena

Assim compreendida,
cidade
Ver-se na
Gente á boa vidal.
E dobrada pena..
Não se aproveitar

O braço daquele.,

Que quer trabalhar

O tempo é dinheiro
Há que aproveitá-lo,
Uma Patria pobre

A desperdiçá-lo,
Parece, que
o tempo
P'ra nós é de azar,

Gasta-se em conversa

Sómente a falar!

E triste ter olhos!

E com eles não vêr,

O povo a tinar-se

Por dentro a geme l..


Os braços cruzados

Na vil endolencia,

Desacostumados..p
Perdem a coerencial
Oh!... quem me dera

Oh!... quem me dera ter azas


Ter penas para voar
Levando comigo a Patria

Ao mais alto altar.

De preterencia ser abutre


Ir a um certo lugar

Com as azas tazer sombra


A quem nos quere assombrar.

Não se me dava de ser


Avestruz com grandes penas
Para dar penas maiores
Guardar ra nós as pequenas,
p ss

Ou então ser a cegonha


iodesqe
Poder andar nos caminhos let ml
Picandoquem nos taz mal adelV
Matando bichos daninhoso ieV

No final ser
cucusinhosin mt io
Para cantar no valado
alsups
Cucu... Alem da
tronteiracd o mo
Quantos me dás de casado,
3
Eu sou filho natural

Eu sou filho natural


Da celebre Aldeia Escalhão
Que já deu a Portugal
Glorias e satisfação.

Por dever de gratidão


Duma tão grande vitoria
A Patria deu-lhe brazo

Escalhãol.. Honra e gloria.

Quem não tiver na memoria


Este heroísmo altaneiro

Cabe a Escalhão a victoria


Pela audacia do Janeiro!

Espanhol, grande guerreiro


Um tal
capitão Samôra
Vinha forte e mui lampeiro
Vai do saco á
cachapôrral

Foi um milagre divino


Naquele ataque tão forte
Com o
badalo dum sino
Salvou-se Escalhão da
morte!
O bom pedreiro

Nobre colher
Santo martelo
Do bom pedreiro,

Quanto trabalho
Sem agasalho
Emfim produz,
A sua historia

E bem notória
Farol de luz!

De longa data
Rompeu a mata
No mundo inteiro!

Pedreiro rude
Tens mais virtude

Homem grosseiro,
Não imaginas
Pelas esquinas

Quanto és de bom,
Foste no mundo
O mais profundo
Mais bom Maçom,
Que a progredir
Andou pedir
Pró captiveiro.
LUZ DA ESSENCIA
36

data
De longa
a mata
Rompeste
Foste o primeiro,

A trabalhar

Sem descansar

P'ró bem humano,


Por caridade

Boa vontade
Em todo o ano,
Na senda nobre
Pedir p'ró pobre
Pão e dinheiro.

Socorros mutuos
Nos tempos brutos

De nevoeiro,
A sociedade
De caridade

Que hoje existe,

Só tu fizeste

Com mão de mestre

E construiste,
Estôjo belo

Colher, martelo

Do bom pedreiro. zng


Orfão, eu sou

Não posso esquecer


Meu pai, minha mäc,
Tendo eu cinco anos
Para Deus voaram!
Foi forte o desastre
Maior foi o sofrer,
No Mundo ao desdem
Assim me deixaram!

Foram três então


Os da pouca sorte,

Tres creanças pobres


Te metiam dól..
Mas houve um Francisco
Da Encarnação
Que chorou tal morte
Por ser meu avô!

Era pobre, emfim,


Mas bem nos criou,

A seus queridos netos

que ele tinha deu,


Do seu pouco pão
Foi e fez assim bbli su
Da bôca o tirou B930
Na nossa o meteu rg
l
Orfaos

meus meninos
chorais
Porque
inundados
Em lagrimas
pranto
tão pungente
Vertendo
maguas
De que são essas
Em corpos pequeninos
tanto!
comovem
ue vos
mae
morreu-lh'a
Não teem pai,

orfs creancinhas
Cinco
em tenra idade,
lodas
Sem terem nenhum abrigo

Neste Mundo ao desdem


a caridade!
Implorando

a vossa desgraça
E grande
de dôr
cheios
Corpinhos
No coração embotida,
infame maldita
Que vil

A tome que os ameaça


Na sua triste vida!

od isd20M
Vivendo no Mundo só
da sorte
Desprotegidos
Sem pai, sem mãe, sem nada,
Que infelicidade, meu Deus

Que pena té mete dó...


Numa vida desgraçada.
LUZ DA ESSENCIA 39

Oh. Vilipendiados
Pobres assim no Mundo
Mais vale para Deus morrer!
Qucm na vida nào tem alegria
No Mundo vil, desconsolados
Para que emtim viver.

Faz comover vossa desdita


Miscria devoradora
Intelizes pobresinhos !.
S6 um pai e uma mae
Rcconhece e acredita
anta miscria, meus filhos !.

Quem espera á vossa frente

Quem é que vos não mente


Embora vos mostre graçal
Que aos pobres coitaditos
De bom grado taz presente
Quem vos espera? a desgraça!

Eram tão lindas creanças!


Tão belas! tão formosas,
Que pena... Já desfiguradas!
Pelo caminho certeiro

De doenças perigosas,

Pela miseria devoradas!

Chorai !... Pois vossa desdita ils 2o 3u


Tanta infelicidade!..
sunstvils 2o su2
Triste a vossa pouca sorte,

Que no ceu tambem chora


A vossa mãe aflita..

Pedindo a Deus vossa morte.. ont a


Neste Mundo

Neste Mundo a vida é cheia de torturas

Quanto mais depressa passamos os nossos anos


Mais depressa compreendemos a vida cheia de enganos
Mais depressa passamos na vida as amarguras.

Para que viver assim em tamanhas alturas ?


Pois que a cada passo desabam os nossos planos ?
Viver sómente pagando perdas e danos ?
Morrer, saír deste Mundo, para nós são aventuras.

si122inr
Ainda temos uma cousa, salva guarda
Que nos alivia o pêso da albarda
Que nos alivia muitas dôres no coração !

Uma cousa que parece não ter grande valor,


Que serve no Mundo sómente para empostor
Mas que nos curvamos perante ela... a ilusão
Os Passarinhos

Pela floresta
gorgciam voando,
Pequeninos seres na vida a lutar!

Alegres, contentes, sempre cantando


Hinos de amôr na paz do seu lar!

macho olhando, a femea a chorar


Doente coitada, nos ovos pousando
P'ra cobrir seus filhos quasi a debicar
Do seu fraco manto, as penas tirando!

Seus entes queridos com tome piando


Quanto trabalhinho pros alimentar
Com tanto cuidado que os vão criando
Até que os põem por si a voar!

Infelizes daqueles, em horas dazar


!...
Com penas dobradas gemendo chorando,
A sua casita vêem desabar
Vêem seus filhos que lhos stão roubando!

Uma infeliz mãe, seus ilhos chorando


Meu Deus do Altissimo! Vinde consolar
Os grandes martirios por que stou passando
Sósinha no Mundo, sem filhos, sem lar!
LUZ DA ESSENCIA
42

meu Deus trabalhar


Para que no Mundo
Coberta de penas, martirios passando!
mos vêcm roubar
Criando os meus filhos,

não tem mandol


Oh!.. A Misericordia já

roubando
Ingénuas crianças que andam
Como pode ser, Deus os castigar
por outros piando
São uns passarinhos
mão lhes morrem, por eles a chorar!
Se na

Deus! A Natureza! Como a decifrar!

Meninos que choram, pintinhos piando,


andando
Mistérios do Mundo, o Mundo
E nós atrás dele, todos a voar!

ob asnoq 0o

zedh sole go sM
econMs
Povo portugus

Povo português, leal verdadeiro!


Tu não me enganas- Dómin6
No meu coração deste-me um nó,
Já sou ministro no Estrangeiro.

A minha Patria não tem dinheiro,

A minha pasta só eu a sei só,


Esta bela musica fá-sol-lá-si-dó

Verão como eu sei ser bom financeiro.

Toda a gente aspira, ser deputado s


Que na historia seja apontado rasM
Com honra e gloria duma nova aurora!

O homem celebre é sempre omisso ia


Onde se não pensa há muíto disso

Celebre é o canhão que os deita fóra!


Morreu minha me

Morreu minha mãe ficou-me pai só


Meu pai é bondoso como nunca vi,
Mas não recupera a mãe que perdi
Por bem que me trate, de mim tenha dó.

Meu pac dá-me tudo até pão de ló


De sua vontade, eu não lho pedi,
Mas a minha mel não a tenho aqui,
Grandes saudades sinto-as eu só.

Agora meu pai volta a casar-se


bo
Mesmo eu lhe disse... meu pae empare-se
Para sofrimento, basta meu pai basta.

O meu pai precisa uma companheira O


Eu sou sua filha, única herdeira
Veja lá! Cuidado com minha madrasta.
A críação humana

A terra produziu a humanidade,


A humanidade a terra estrumou,
Seus adubos duplicaram a castidade
Foi assim, emfim que a terra se povoou.

A terra produziu flores que perfumou,


Atmostera que ento era impura,

O homem depois repoz flores e plantou

Para nos servir de mortalha na sepultura.

Nos tempos em que não havia cultura

A terra deu frutos para nosso alimento,


O homem depois desenvolveu a agricultura
Que ao Mundo deu abastecimento.

Depois o comercio deu comprimento


A grande ganancia que a todos consome
Foi tão grande a Nau, tão grande o tormento

Que trouxe a fartura para mäe da fome.bo


A criação humana

A terra produziu a humanidade,


M
A humanidade a terra estrumou,
Seus adubos duplicaram a castidade
Foi assim, emfim que a terra se povoou,

A terra produziu tlores que perfumou,


Atmosfera que então era impura,
O homem depois repoz flores e plantou
Para nos servir de mortalha na sepultura.

Nos tempos em que não havia cultura

A terra deu frutos para nosso alimento,


O homem depois desenvolveu a agricultura

Que ao Mundo deu abastecímento.

Depois o comercio deu comprimento

A grande ganancia que a todos consome


Foi tão grande a Nau, tão grande o tormento

Que trouxe a fartura para me da fome,


toram
lempos que se

voltam mais,
Tempos que se toram, que não
Duma sociedade mais nobre, mais pura,

Mais na sua candura


omnipotentes
tempo almas
esse racionais.
Chorai

Diz a Natureza que á razão faltais

mas a loucura
Que não é real grande
á dependura,
Este modernismo, tudo
tão por ele vos matais.
Que infelizmente,

As grandes carcaças em tigura cone,

Pintura nas carnes, mulher pertumada,

E pouco vale ou nada,


fraca grandeza,
Em mulher casada, cabelo á garçone.

Rasparem o pêlo, limpar a epiderme


Acho-lhes razão, dá-se a quem a tem,
Tudo em proveito da boa higiene

Emquanto ás despesas não calha tão bem.

Quanto mais miseria, quanto mais pobreza,


Mais ornados trazem seus lindos vestidos,
Toda orgulhosa, cada vez mais teza
A moda é bem leve, mas pesa aos maridos.
Não vejo outros olhos

Não vejo outros olhos, vejo só os meus,

uando p'ra ti olho, os meus olhos fto, .


Como pode ser quási não acredito,
ue tão lindos olhos não sejam os teus.

Estou admirado com esta visão!


São cousas de Deus, do Mundo infinito

Estas maravilhas que formam conflito

Vêr em ti meus olhos, tendo-os eu na mão!

Serei talvez gemeo por uma ilusão ?


Será confusão minha, será ou não,
Tambem não me enlevo, pelo que outrem diz.

Sou pouco racional, eu acredito,

Pela meditação, descôrro, palpito,

Vou certificar-me no meu chafariz.


Arvore
bendita2o

Arvorebendita, viçosa planta !


Deixaque eu durma no teu
regaço,
Sonhar contigo, vêr no
espaço
Quem te abençoa, teu hino canta!

Tua
ramagem que se levanta,
Subindo aos ceus, a ti me
O vento esvoaça rajadas
abraço,o o
Levando a Deus tua alma
daço,te
santa!

Bendita sois simbolo adorada


Humilde mc, muda
Da quanto tem, taz-nos
calada,

presentes,
s
Da sua bondade, do seu
valor
Retribuíndo com nosso amôr,
Aqui nos tens curyados, crentes
As quatro estações do ano

Noite invernil, campos gelados


Brilhante luz dá o luar,

Aves nocturnas vão a voar


Levando penas aos povoados.

A coruja canta já nos telhados


O mocho canta no seu outeiro,

Nas noites frias, mêes de Janeiro


Que os gatos miam nos seus noivados.

O pastor dorme guardando os gados


Nos campos frios da Natureza,
O lobo vai caçar a prêsa
O cão espanta-o com seus ladrados.

Na relva verde dos verdes prados


Descoalha o gelo ao vir do sol,

Os cordeirínhos brincam em pról

Da pastorinha que guarda os gados.

O sol nascendo que pertumados


Seus douro vão aquecer,
raios

Os passarinhos que ao sol nascer


Stão espreitá-lo já nos beirados...
LUZ DA ESSENCIA

coitados
Os lavradores pobres

Vão trabalhar com sacriticio,

de vicio
A noite volta cheia
Alva de neve campos gelados..

Que linda é a Primavera

Quanta alegria
dos passarinhos,
A trabalhar fazendo os ninhos
d'hera.
Nos matagais ornados

A flor emtim não desespera


a abelhinha chucha o botão,
Porque
Em pról do mel da creação
dera.
Que a Natureza de Deus Ihe

Não há ninguem que recupera

O trabalhinho de muitos seres,

Ficando muitos sem seus haveres

Chorando penas de dôr severa!..

Que aroma que a atmostera


belo

Resplandescente e campos dourados,


amortalhados
Que neles dormimos
Com lindas flores da Primavera.

O mês d'Abril que já viera

O cuco em Março que tambem veio,

A Primavera com ele no seio


ue em todos anos a gente o espera.

A Natureza que sempre dera


Das suas mãos tão orgulhosas,

Goivos e cravos lirios e rosas

Nos lindos tempos de Primavera!


LUZ DA ESSENCIA 51

Em pleno estio pobres ceiteiras

Dormem no campo ao luar,


Mal amanhece logo a ceifar
Trigo bendito que vem p'rás eiras!

Trabalho alegre no há canseiras


Em grandes dias ao sol de verão,
Naquela luta numa ilusão
Sempre cantando sempre tagueiras.

Pois não falando nas colheteiras

Colhendo cachos para bom vínho,


No Sul maduro verde no Minho
Vinho palhete nas duas Beiras.

Depois os figosquando as figueiras


Algarve e Douro inundam tudo,
Por cada cento só um escudo
Vendem nas testas vendem nas teiras.

Logo a seguir as amendoeiras

No do verão a sua apanha,


fim

Amendoa boa grossa tamanha


Tem Portugal nas cordilheiras.

Muito engraçadas as lavadeiras


Lavando a roupa do seu suor,
Lindas cantando canções damor
Abençoando as sementeiras!

Manhas dOutono sobre as frescuras


Doce candura das orvalhadas,
Ve-se no chão bem perftumadas

Abençoadas frutas maduras!


LUZ DA ESSENCIA
52

dôces e puras
Maravilhosas
dais,
Tão saborosas bom gosto

a atmosfera vós pertumais


Que
alturas.
Pelo espaço grandes

duras
Santo Outono tão pouco
as sementeiras,
Já concluiram
já me
não cheiras
Já não há
frutos

oh que amarguras!..
Vais para o Inverno

que ternuras ..
Vão passarinhos ai

Do arvoredo as folhas vão,

Tardes d'Outono manhãs de verão


V6s a acabar nós ás escuras!

Bendito Outono tu sempre juras


Passando um ano que voltas mais,
Boa castanha já nos deixais

Já caem bem já estão maduras.

Já neve cai brancas alvuras


ardes dOutono manhãs de vero,
Tempos dourados que já lá vão
Tão saudosas vossas frescuras!
A Natureza

A Naturcza é soberana
Tem superior liberdade,
Não deixa que a gente humana
Possa dormir á vontade.

Ela acorda
quando quere
Mas é como o pensamento,
Haja lá o que houver
Acorda sempre a bom tempo.

Tão depressa está zangada


Logo a ir de contente,
Outras vezes apoquentada
Treme a terra, treme a gente!

Não é boa de cardar


Em certas ocasiðes,
Tudo anda pelo ar

Com o sôpro dos tuföes!

Há dias que é gosto vê-la


Tão bela, airosamente!
Mas é bem sempre temê-la
Para a trazermos contente.
ESSENCIA
LUZ DA
S4

a luz do sol
Dias há que
ve-la apagadal
E triste
farol
vezes
é um
Outras
luz cristalisadal
Que dá
dôce nos beija
vezes
Quantas mel!
de puro
Com labios
nos bafeja
E por fim que
de fel!
Com um
álito

senhor
E boa mae sim
esquisita,
Mas um tanto amor eterno
Tem por nós
acredita.
Que nem a gente

nem é mentirosa
Não foi

á verdade,
Nunca faltou

Tem orgulho,
é orgulhosa

De ser mãe da probidade!

Afinal na rialidade
vem a Natureza ?
uem a ser

E a mãe da humanidade
defesa !!!
E Deus em nossa
A genebra dos amigos

Que apelido se deve dar

A uma sociedade avarenta


Que tanta moral representa

Numa chaminé a tumegar?

Genebra, alcoolica garrafal

Bebedeira politica vil,

Maravilhas, ganancias mil

Sem decôro sem torça moral.

Não sabem lêr a nossa razão


Calcando a pés a sã
Justiça

Abuso da força e cobiça


Com moralidade do canhão!

Esquecidos falhos de memoria


Atropelando a nossa grandeza
De tão nobre Patria portuguesa
Tão digna na sua historia.

O quanto nos teem roubado


Ainda acharão tão pouco
Que façam de Portugal louco
Dando o resto de bom grado,
S6 LUZ DA ESSENCIA

direitos
os nossos
Calcando a pés
como isso,
São tão amigos
um povo omisso
Que fazem de nós

Para tão celebres sugeitos!

bela paga recebemos


Que
Dos nossos queridos amigos,

Livre deles, livres de perigos

Só assim nos compreendemos.

Amizades e.. aliança.


Ganancia assambarcadora

Reles nobreza, vil empostora

Só de comedias e contradanças.

Consciencia, charco de lama


Humanidade, tão repugnante
Pulha soberba tão irritante

Vulcão de lixo, árder em chama.

Força embecil e desonesta

Não tem coração, dizem almada


Que assalta os mendigos na estrada
E avilta a gente modesta

Aliados, grande aliança!


D'abutre com a pobre garça,
Para quê, tão tamanha farça
Aliados sim? para a matança.

Genebra, conhaque, vermute


Na botija na garrafa a ferver
A moral, do barril a verter
E o resto não se discute.
LUZ DA ESSENCIA 57

A ambiçãco dos grandes tubarões

Quer submergir os pequenos


Para lhe servirem de drenos
Nesse charco das grandes noções !

Grande exemplo temos a medir


Prevenindo-nos para o futuro

Não sejamos cabeças de burro


Para ninguem de nós, mais se rir!

Portugueses todos bem unidos


Formemos um forte pedestal
Para levantar-mos Portugal
Demonstrar que não somOs varridoOs.
-
Provincia de Moçambique

Moça donzela
Tu inda tens,

Pelo que eu vejo


Alguns vintens.

Es semi-virgem
Com tanta idade,
Por que te cortam
A liberdade!

Sei que és
pura
De sentimentos,
Seique te falam
Bons casamentos.

Mas o teu pai


Em Portugal,
Jámais te trata

Do enxoval l..

Com esta idade


Podias já ter,

Filhos e netos
Para te valer.
LUZ DA ESSENCIA 59

Podias tcr pão


Se o senmeasses,

Podias scr boa


Se te casasses,

Tens muitos rivais

Pelo teu encanto,


Se fores raptada
Qual o nosso espantol

Os teus lindo olhos


São muito fagueiros,

Cautela-te moça
Dos rapazes solteiros..

Não vás no embrulho


Da vil sedução,
Pede ao teu pai
Licença e perdão.

Para casares bem

Depois progredir,
Cautela que estranhos
De nós se vão rir.
Bendito

Bendito o Sol
Bendita a luz

Que vós nos dais!

Bendito o fruto

Que a terra dá
Que vós criais

Bendita a lua
Lindo luar!

Que a noite beijas.

Luar em tlor

Beijo d'amor
Bendita sejas!

Benditos ceus
Claras estrelas

Cristalizadas!

Benditas sejam
Outras mais belas

Mais perfumadas!

Bendita aurora

De Primavera
Campo de flores
LUZ DA ESSENCIA 61

Bendito sejam
Vossos perfumes
Nossos amores!

Bendito sejas
Oh! mar sagrado
Que és tão proundo!

Bendita Nau
Que te navega

Sem ir ao fundo!

Benditas águas
Cristalizadas

Que nós bebemos!

Bendita terra

Que dá o pão
Que nós comemos!

Benditas árvores

Que nos dão fruto!

E o azeite!

Bendita me
Que nos criou

Que nos deu leite!

E nosso pai

Que nos sustente


Cavandoa terra!

Bendita a paz
Por tudo o Mundo
Maldita a Guerra!
Purificação da alma

Oh !... almas puras, ingénuas que no


Seio de Deus tendes guarida,
Purificai-vos pois através da
Infinita existencia,

Fitai os mundos invisiveis

Concentrai a vossa
consciencia,
Não receeis a morte, temei antes
Na terra uma longa vida!
Mergulhai no rio da razão
Lavai-vos do lôdo desta ermida,
Para salvar intacta a vossa alma
Tão rica, tão pura
essencia
Pois que no globo terrestre não háá
A divina Providencia,
Só nos Mundos invisiveis
podeis
Encontrá-la escondida!

Fugindo desta vida, a gente


Morre sómente adormecida.
O espirito enojado da sua
Materia, em decadencia,
Vive estupefacto numa des-
Consolação, ímpertinencia,
Até que desliza á procura
Duma mais perfeita vida !...
LUZ DA ESSENCIA 63

Pelo caminho da gloria vai bem


Uma alma arrependida.
Pedir a Deus perdão da
Sua grande incocrencia,
Deus não submete as almas
Ao sacrificio, é inconveniencia,
Ganhar o reino da Glória tão simples
Ao dominó uma partida?

Os mistérios da intinita existencia

Há muito quem dêeles duvida,


Com respeito á nossa morte-não,
Mas com respeito á eterna vida!

Exageros sempre os houve e há-de


Haver muitos ou poucos.

Exagerados são todos, que por


Uma crença saem loucos!..
Inspiração futura

Deus tem o tesouro humano


Guardado com muito prazer,

Para dar ao Mundo tirano

No dia que bem o merecer.

Nos pólos surgirá riqueza

Nos desertos, tão felizmente

Por tempo a natureza

Há-de nos fazer presente.

Duma atmostera quente


Nos pólos tristes, gelados,
E nos desertos mirrados
Frescura, água nascente!

Porque Deus omnipotente


Vai vendo a precisão
E um dia de repente
Conforme a nossa razão.

Há-de nos dar muito pão


Medindo o nosso merecer
Deus não dá passos em vão
Tambem não dá de comer.
LUZ DA ESSENCIA 65

Assim logo a correr

Sem termos torça moral


Para poder reccber

O tal tesouro afinal

A missão espiritual

Para a perfeição eterna

Euma força mental


Não são coisas de taberna.

Pois que esta gente moderna


Não sabem avaliar

Mergulham numa cisterna


Perfeiçoes que andam no ar

Deus tem muito que nos dar


Para nós o tem guardado
Temos que o ir lá buscar
Para o dar de bom grado.

Quando o homem fôr honrado

Já pode hoje ficar ciente

O que eu digo é inspirado


Por um ser que vos não mentel

Não me julguem salicnte

Tenho sim o bom ensejo

Que o Mundo vá para a frente

E não como o caranguejo.

Tambem tenho o bom desejo


Dum futuro mais perfeito,

Quero um dia dar um beijo


No Mundo tão satisfeito
66 LUZ DA ESSENCIA

Quando dormir num bom leito

Em perfcita atmosfera,
Bcijar tão celebre
sugeito
O Mundo!... Em Primavera!

Quero beijar essa fera

Nervosa entremetente,
Grande bicho, onça, pantera
Que aos caminhos sai á
gente.

E dizer-lhe tão sómente


Já lá vai o mau agouro,
Porque Deus Omnipotente
Já nos vem dar o tesouro!

Depois serão rios


d'ouro
A correr eternamente
Do altissimo Pelouro
Onde Deus tem a nascente.

Meus senhores, toda a gente u


Eu não escrevo a brincar
Escrevo, sou influente

Por vêr os Mundos andar.

Tudo a aperfeiçoar
Por Deus pela Natureza,
Mas não são canhões no ar
.o
Duma perfeição burguesa.

Que desgraçam a
pobreza
Com ambição do metal
Não é essa com certeza
E outra mais divinal!
LUZ DA ESSENCIA 67

Uma perfeição mental


Para Deus e todo o Mundo
Ninguem compra que afinal

E outro ser mais profundo!

Para o bom viver jocundo


Duma sociedade santa!
Onde morra o vagabundo
E a moral se levanta.

Onde tudo ri e canta


O da felicidade!
hino
Semeando então a planta
Do fruto da liberdade!

Por amor e caridade

Em todos os pólos da vida


Onde não há claridade
O sol há-de ter guarida!

As trevas da triste vida


Em que'stamos a viver,

Há-de ser alma perdida


Ter que se pôr a mexer.

Há-de haver muito que vêr


E martirio que passar
Um Mundo novo a nascer
Este velho a desabar!
Em França a I de Novembro de 1924

Nunca pensei meu amor


De ter esta forte dâôr

Junta com uma aflição!


Meu espirito caminha
Procurando-te Laurinha
Daqui até Escalhão!

Filha do meu coração


Que te abraço em vão
No dia dos teus doze anos!
Não os poder festejar
Não azas pra voar

s
ter

Através dos occanos !

on chail
Vejo-vos minhas flhasl

Oh! Meu Deus que maravilhas!


Por Deus mando a benção
Vejo-vos mas de repente,
Fico pasmado e doente
Por saber que é ilusão!
Chora

Chora meu amor


Chora minha querida
Quando cu morrer

Que deixe esta vida

Chora que a minha alma


Por tambem chora,
ti

Quando eu morrer
Minha bela aurora.

Chora meu amor


Alevia as penas
Não chores as grandes
Chora as mais pequenas.

Chora por mim chora


Com todo o primor,
Chora minha querida
Chora meu amor.

Chora a tua dôr!o


Chora a minha morte
Chora meu amor
Que choras com sorte,
Não chores

Quando eu morrer
Não chores por mim,
São coisas do Mundo
O Mundo é assim
Somos imortaes
Não há que chorar
Morremos na terra
Voamos pró ar.

Não te de cuidado
Quando eu morrer,

Não chores por mim.


Não queiras sofrer.

O corpo é lama
De pouco proveito,
Não chores emfim
Por este
sugeito.os

Não chores amor


Querida morena,
Não chores por minm

Que não vale a pena.


Amores virgens

A rosa tem mais valor


Na presença dum botão
Assim como qualquer flôr

Quando está na tua mão.

Podes ter bem presunção


Rico botão verdadeiro
Que as rosas na tua mão
Enteitam um bom canteiro.

Por isso sou cativeiro

Com teu aroma me prendes


Mesmo em botão te cheiro

Para vêr se me compreendes.

Se me picas não me otendes


Certa que não tens razão
São picadinhas que vendes
Em compra dum coração.

Para quê Tabelião


Para a nossa escritura

Testemunhas tambem não


E mais firme a nossa jura.
72 LUZ DA ESSENCIA

Realmente nesta altura

Linda rosa em botão


A tua verde candura
Vai verdejar-me na mão.

Agora com presunção


O teu amorsinho beija

Vamos
á Administraço99 29om4
E de lá para a lgreja.

Para só Deus nos ouvir


Para só Deus o saber
Uma rosa, um cravo a abrir
Os dois cheios de
prazer!..

sd to
bov ood o
A Patria dos jantares

Politica e mais barriga

Tudo é, a mesma crença,


Há muito que se lhe diga
Com respeito, a tal doença.

Para bem manitestar


A sua opinião,
Vai de comer de lamber 4

Por dever de gratidão.

Mais das vezes, bons amigos


Em vez de deitar balões,
Guardam o doce dos figos

P'ra melhores ocasíöes

Não posso vêr nest mundo


O cinismo fingimento,

Que alguns, num só segundo


Mudam como muda o vento,

Quantos há, teitos pangaios,


Bem armados, sempre em velal

Que a cor de taís papagaios


E permanente amarela.
74 LUZ DA ESSENCIA

Vamos lá pois, colocar


Certa gente, em alta roda!
Por isso não há azar
São exageros da moda.

Não há nada mais tingido


Nem casos mais empostôres,
Do que, almoços de iludidos
Jantares a governadores.

Senhor! não conte com eles!

Se os precisa algum dia,


Vaivêr, já não são aqueles

Que hoje vê, em romaria!

A tirarem-lhe o chapeu
Ou apertarem-lhe a mão,
Há para aí um povileu
Que teem a presunção!

De serem muito amaveis


Na do seu nobre rosto,
flor

Amorosos e suaveis
Na pista dum bom encosto.

O resto só são cantigas


De raparigas donzelas!
Por bem que seijam amigas
Não há que crêr muito nelas.

Barafundas, barafundas
Nem sempre dão resultado,
Pobre Zé que não te afundas
Com tanto jantar papado.
LUZ DA ESSENCIA 75

Tudo é honra e gloria

Para confraternizar
As paginas da nova historia

São dum lauto e bom jantar

nobre Vasco da Gama


E Dom Bartolomeu Dias
Se não dormissem na cama
Oh! meu Deus o que farias !
Que faria hoje Canmões!
Nesta Patria portuguesa,
Alimentava os pulmõcs..
Com as migalhas da mesa!

ben
Os segredos temininos

Os segredos temininos
Que a nova moda desvenda,
De dia a dia na senda
Vão-se mostrando aos meninos.
De pouco a pouco bem vamos
Num viver lento, modesto,
Vamos ver ao tim o resto,

Só depois nos inteiramos,


Dum segredo tão profundo
De pouco a pouco aparecer,
Para quem o quizer ver,

Na altura de meio mundo


Um sol com raios dourados
Que nos dá
forte calor,
De febre acumulador
Onde somos apagados
De tantas vs energias
Sem haver interruptor,
Para tão forte motor
Que provoca hemorragias,
Na corrente electro-dama
Que dá luz, mais de mil velas,
Alumiados por elas
Por elas a arder em chama!
Sou muito inteliz

Sou muito inteliz

Com os meus planos


Poeta aprendiz
De quarenta e seis anos.
Poeta a nascer
Com esta edade
Não é pra valer
E contra vontade.
Se eu sou imortal ?
Muda de figura.

Alma racional

Té na sepultura,

Dormindo, sonhando,
Faço poesias
E ressuscitando

Eis outro Messias!


Numa vida nova

Depois mais discreta,

Que surje da cova


Perfeito poeta...

Possa vir a ser

Segundo Camões!
Já mesmo a ver
Em mim evoluções
78 LUZ DA ESSENCIA

Onde irei parar


meu paradeiro,
Pocta a versar
Com Guerra Junqueiro?
Depois João de Deus
Já me fica atrás

O Bocage que faz?


Implora a Deus!
Que Julio Denis
Com as poesías
Não sabe que dizo
Ao pé do Messias.
Depois Bulhão Pato
Cheio de pavor!
Não sei se me mato
Deus Nosso Senhor
Valha a toda a gente
Teófilo Braga
E mais Gil Vicente
E fosforo que se apaga
Estando eu
presente
Com os meus planos
Poeta recente
De quarenta e seis anos.
uem me dera

Quem me dera precorrer


Os Mundos o intinito,
Para com meus olhos vêr
O que sem vêr acredito.

Queria-me justiticar
Da minha inspiração,
Quem dera ouvir cantar
Os anjos da perfeição!

Ou então ter a visão


Dos ceus, a sua nobreza!
Não qria star na ilusão

Qria saber com certeza.

Propaga-los com firmeza


Grandes misterios de Deus!
Para aPatria portuguesa
Fazer-lhes pedidos meus.

Aos nossos homens celebres

Dos nossos tempos passados,


Que stejam a bem com Deus
Por bem dos nossos pecados.
tempo
O tempo nos adoece
nos dá a
O tempo cura,

O tempo a vida esquece

tempo a morte jura.

O tempo é que nos cria

O tempo pois nos consome,


O tempo é que nos guíaronsul
O tempo é quem nos come.

O tempo por tempos vira

O tempo té vira a gente,

O tempo faz a mentirapo/


O tempó ele a desmente.

O tempo tudo nos dá


O tempo dá-nos a moda,
O tempo
O tempo
não olha cá
nos faz a poda.
a
tempo não é iguista

O tempo dá tempo a tudo,


O tempo é socialista

O tempo fala-nos mudo,


LUZ DA ESSENCIA 81

O tempo é grande escola


O tempo dános lições,
O tempo nos dá esmola
O tempo nos deu Camões!

tempo bem nos ilude


O tempo a ilusão desfaz,
O tempo por bem que mude
O tempo não olha atraz.

O tempo chega pra tudo


O tempo sobra p ra mais,
O tempo vem a miudo
O tempo não tem portais.

O tempo não m cancelos


O tempo não dorme em palhas,
O tempo não tem chenelos
O tempo não tem muralhas.

O tempo corre descalço


O tempo ninguem o extranha,
O tempo não tem precalço

O tempo ninguem o apanha.

O tempo nem sempre é bom


O tempo não compreende, se

O tempo como o som


corre
O tempo ninguem o prende.
O tempo ave que võa
O tempo nos bate a aza,
O tempo coruja que amôa
O tempo vulcão que abraza.
82 LUZ DA ESSENCIA

O tempo não tem paragem


usa
O tempo não leito,

tempo anda em viagem


O tempo vai satisfeito.

O tempo tem estações

O tempo não para nelas,

tempo tem evoluções

tempo tem coisas belas.

O tempo corre sem licença


O tempo não paga selo,
O tempo lavra a sentença
O tempo faz o modelo.
o
Verbo amar

Amo a minha Patria

Por ser muito nobre,


Tenho pena dela

Quando a vejo pobre.

Amo Portugal
Quero bem á gente,

Amo neste mundo


Todo o ser vivente

Amo as leis de Deus


Na pura essencia,

Inspiro-me nelas
Pela consciencia.

Amo a natureza
Divina e humana
Amo a igualdade

Cosmopolitana.

E bem crer em Deus


De boa vontade,

Depois imitá-lo

Na sua bondade.
lodo o homem

Todo o homem que se casa

E certo que assim o quere,

Andam em chamas em brasa


A procura de mulher.

Mas depois de estar com ela

Quantas vezes o homem tenta,

Para se ver livre dela obreu


Por ser muito rabujenta.

ornA
Por um caso natural

Outras vezes há que nos prende,


Por um certo ideal

Que nem a gente o entende.

São coisas da Natureza

Que faz de nós o que quere,


Andar a gente assim presa
loda a vida a uma mulher.

E triste ver-nos tão presos


Por um tão fraco grilhão,

Nao vale starmos arrepesos


Porque há um coração.

a quem tôr
Que prende seja

Prende mesmo a quem nao quere,


O coração de mulheri
Que nos prende por amor s
FHores e
amores

No campo há lindas flores

O campo tem
açucenas,
Passarinhos meus amores
Amores com tantas penas.

Rosas brancas e morenas


Gosto bem trago ao peito,
Gosto de rosas pequenas
Gosto mais d'amor perfeito.

Na relva onde eu me deito


Há silvas há amoras pretas,
O jasmim que é mais sujeito

Dá-me a cheirar violetas.

Ao campo vão servilhetas

Apanhar flores mimosas,


Muitos amores são tretas

Amores perteitos são rosas.

Roseiras são espinhosas


Papoulas são encarnadas,
As camelias são vaidosas
Violetas,
namoradas

São virgens bem perfumadas


As flores da larangeira,
São simbolo muito adornadas
As folhas da oliveira
l
Sonhos d amor

Sonhos d'amor
A namorar
E' só um sonho
Para casar.

Sonhar dormindo
São ilusõcs,

Porque não sonham


Dois
corações.p mime

Quando acordam
Vão pois a vêr,
O que sonharam dnpg
Não pode ser.

Sonhando sempre
Num só amor,
São verdadeiros
Teem valor.

Dum rico sonho


Nascem desejos,

Sonhos damor
Labios de beijos.
l
LUZ DA ESSENCIA 87

leem ensejos
De se bcijar,
Amor e beijos
Tudo é sonhar.

Sonhos mais altos

Voam pró ar

Andam na lua

Sempre a sonhar.

Sonhos täão altos


De apetecer,

São mais perígosos


Paia descer.

Naquela altura

Sobressaltados
Descem sonhando
Bem agarrados.

Chegam á terra

Já aborrecidos,
De tanto tempo

Que andam fugidos.

Depois meditam
O resultado,

De tanto sonho
Amargurado.

Choram depois
Desiludidos,
Ambos os dois

Perdem os sentidos.
88 LUZ DA ESSENCIA

Vem a loucura
A embriaguez,
Nenhum dos dois

Sabe o que fez.

Mas o mais traco

Chora a valer,

Malditos sonhos
Não posso ver.

Aquele maroto
Sonho maldito,
Nunca pensei
Ser tão aflito.

Agora eu vejo

O que são
sonhos,d
A comer queijo
Pão e medronhos.

Tudo esquece
Sonambolentosode sl

s530
Fogem sentidos

Veem tormentos.

ofibulte
A ganancia

A ganancia, ambiço a vaidade


São a morte da boa moral
E baixeza, um crime social

Cometido pela humanidade.

O amor, a virtude, a bondade


Não avança, recua de medo
Porque a força brutal tem um dedo
São três mãos numa só entidade.

Todos temos restos de costela

Por herança, do velho ancião

Raça branca, negra, amarela


Todos teem a mesma ambição.

Assim vamos vivendo num meio


Sem haver a permuta geral

Cobiçando sómente o alheio

Nesta vida de paz social...

E depois que tizeram então,


Nossos pais, avós, bisavós ?
Não comeram, guardaram pra nós

A a ambição.
vaidade, a ganancia,
Beijos d amor

Beijos damor
Ao luar

Matam desejos

Que é de matar.

Matam desejos
Conforme a flor,
Mata com beijos 30po
O seu amor.

Beijos damor
São perfumados

Quando a flor

Os dá bem dados.

Por Deus sagradosY


Quando há dôr
São mais amados
Beijos damor.

Um sedutor

Embriagado
Morre por amor
No seu noivado.
LUZ DA ESSENCIA 91

No scu noivado
Mata os desejos
Já não há dôr
Tudo são beijos!

Rosas que murcham


Com o calor
Flores que luxam
Com o amor.

Amores perfeitos
São mais beijados,
Mais satisfeitos
Quando casados.

Fartos de amores
Nascem-lhe espinhos
Beijos d'amor
Oh, coitadinhos!

Morrem sósinhos
Abandonados,
Doces beijinhos 9 e
su

Amargurados!
Queixumes duma traição

Tu foste a poeira quem cegou meus olhos


Fui infeliz contigo, inteliz no amor,

Sinto-me picada ferida por abrolhos


E abandonada por ti meu traidor

Traíste um anjo, só para ti voava!

Era tão ingénua, tão pura donzela,


Não te compreendia, nem nisso eu pensava
Chamares-me a desgraça, fugindo eu dela

Tinha claros olhos, mas com eles não via


A tua maldade, o teu negro fel,

Que só me adoravas, com hipocrisia

Seu perfeito Judas com labios de mel!

Vivo na desgraça, pelo Mundo a artar

Tu so culpado, só tu tens a ver,


Um remorso eterno que há-de devorar
A quem me deitou no Mundo a perder!

Por ti
desgraçada, daquelas mais pobres,
Vivo na miseria, criar Rlhos teus,
Mas reservo sempre sentimentos nobres
Para em morrendo, mostrá-los a Deus!
Amores loucos

No jardim da tua vida


Quero ter a minha
morte,
Se nele encontro guarida
Morro feliz, morro com sorte.

Não quero saber se é forte

Esse teu bom coração,


Corro através da sorte
Pela tua decisão.

Não me iulgues intrujão

Morro por ti meu amor,


Porque tens coração um
Dos meus olhos sedutor.

Não posso ser impostor


Para quem cu tanto adoro,

Sinto por ti grande dôr


vezes choro!
Que por ti mil

Com ciumes teus ignoro


Sem que o saiba ninguem,
choro
E por isso que ás vezes
bem.
Supondo não me quereres
94 LUZ DA ESSENCIA

desdem
Não me trates com
tua bôca,
Dá-me um riso da
Morro por morro bem
ti

Por uma saudade louca.

Quando te vejo de touca


Tomar banho minha querida,

Fica a gente cega e mouca


Digo mal da minha vida.

Minha cabeça perdida


Vivo assim nesta loucura,

Porque és muito entremetida

Com a tua
formusura
Amigos de Peniche

E grande baixeza!
E crime roubar,
Há gente burguêsa
Por terra, por mar,
Só quere papa teita

Na mesa, no prato,
E boa sujeita
Com manhas de rato.

Na sombra, ás escuras

Conforme a toupeira,
Minando as culturas
De gente estrangeira,

Roendo a raiz

De plantas estranhas,
Toda a gente diz
Que bicho, que manhas,

Boa vizinhança
Que temos por cá,
Melhor aliança

Que temos por lá,

Velhas amizades
Por mar e por terra,

Tudo são bondades


P'ra nos fazer guerra.
96 LUZ DA ESSENCIA

As nossas colónias
Lhe metem cobiça,
São coisas idónias
Com a mão na adriça,
Abaixo e acima
Com grande cegueira,
So remo não rima
Não iça a bandeira.

Vivem neste meiob


Na espectativa,
Sem terem receio
De perder a vida

Teimam, vão teimando


Até mais tardar,
Nós escorregando Rod
Eles a
aproveitar.

Há que abrir os olhos


Os olhos da gente,
São grandes entolhos
Duma vil
serpente,
Em volta de nós
Sempre a enroscar,
Perfidia, atrós
Pra nos
devorar 1..

As suas
meiguices
São puro
De mil veneno,1
introgices 1odlbb
Sem que
haja
Por que a empeno,
nossa
E tão
gente
virtuosa,
Que calae consente
Na paz
criminosa.
o
LUZ DA ESSENCIA 97

Foguetes ao ar!..

Eis o nosso pão0,


A Patria a voar
E nós no balão,
Deichamos ir a mão
Braço e dinheiro,
Pela sedução
Do povo estrangeiro.

Vamos no embrulho
Das amabilidades,
Com pouco barulho
Perdendo as erdades,
De pouco a pouco
TE vai o totano,
Deste povo louco
Celebre luzitano!

1
Santa evolução
cá do burgo

Homens d'alma e utanos

Benditos americanos!
metralha
Que nos empingem
Para pagar a quem trabalha
Mandamos daqui o ouro!
o tesouro
sgotamos
Ficamos bem debulhados
Com alguns Bancos fechados

E muita gente falida

Nesta pobre e triste vida

Por mal dos nossos enganos


Benditos americanos

Só eu não tenho automóvel


Tambem o não sei
guiar,
Mas é facil de aprender
Mais facil é de comprar
Quando se fica a dever.

O que eu digo é verdadeiro


Ninguem mo pode negar,
Falo em propria defesa
Dum povo a desabar,
Por ideal de grandezal
LUZ DA ESSENCIA 99

Presunção e água benta


A medida do desejo
Numa tão forte corrente
Correm como o caranguejo
Para trás e não prá frente.

Nem quanto nos luz é ouro!


Há mantas de finas sedas
Que tapam muita míséria,
E na sombra das alamedas
Tambem corre muíta matería!

São exageros da moda


Nem nós somos os culpados,
São leis duma atmosfera
Com setecentos mil diabos

Que devoram uma tera!

Mal de quem não tem audácia


De quem conserva a vergonha,
Não devemos ter fadiga..
E melhor ter lata e ronha
E uma grande barriga!

A vida são dois, três dias

Se bem que me não engano,

A cavalo em pilecas
E melhor em aeroplano
ver bem as carécas.
Para

Ou então no rickshaw

Tambem a gente vaí bem,

Mas gosar a moda


querendo
sem vintem,
D'automóvel,
Fazemos mais bem a póda.
100 LUZ DA ESSENCIA

a gente
irá parar?
Onde
loucura,
Nesta pobreza
Cobertos de fantasia

Realmente á dependura

Numa sangrenta agonia!

Já morreu
o pé de meia
!..
Por nossa infelicidade

Tudo anda depenado...


A pedir por caridade,
O pé de meia alcançado
!..

lomem sentido senhores


Em tudo quanto eu vos digo,
E preciso pôr um treio

A vaidade destas flores,

Se não adeus, meu amigo!

Adeus que te vais á vela

Nesta barca a correr mundo,


Com as algibeiras rôtas
E nós correndo a trás dela,
Como a trás dum vagabundo!

Já ninguem dá merecimento
A quem faz ecónomia,

Ninguem pensa no tuturo


Andam á mercê do vento,
Mil vezes mudam no dia.

Isto assim não pode ser


Tem que haver um
pulso forte,
Que nos ponha um forte
E facil bom de jugo
dizer
Remediá-lo, só a morte!
Beijinhos de me

Beijinhosde me
São sempre um primor,
Só ela nos beija
Com todo o amor.

Beijinhos de mãe
São por Deus sagrados,
São beijos d'amor
Por gosto bem dados.

Beijinhos de mãe
São puro cristal!

Beijinhos tão claros


Não vejo igual.

Beijinhos de mae
São de pura essencia,
Descendem da alma
E da consciencia.

Beijinhos de mãe
Dão-nos alimento,

São beijos de dor


E de sofrimento !
IO2 LUZ DA ESSENCIA

de me
Beijinhos
São ricos são nobres,

São inda mais ricos

mães são pobres.


as
Quando

Beijinhos
de mc
São beijos
de Deus,
Não há neste mundo
como os seus.
Beijos

Beijinhos de
mãe
São de tal virtude
os dela
Que beijinhos

Dão-nos mais saude.

Beijínhos de mãe
São consoladores,
Com labios de mel
Aroma de flores.

Beijinhos de me
Não são de conquistas,

Que oferecem grandezas


Depois são igoistas.

Beijinhos de mãe
E sangue das veias,

Não são intrujöes


De gentes alheias.

Beijinhos de mae
São bens de raiz,

Toda a sente o sabe


Todo o Mundo o diz.
LUZ DA ESSENCIA I03

Beijinhosde me
São sonhos dourados,
São rosas abertas
E botões fechados.

Beijinhos de mae
Nunca são nocívos,
Sendo eles de morte
São beijos bem vivos.

Beijinhos de me
A me a cantar,
Dá beijos a rir

Dá mais a chorar ...


Carnaval na montra

Não se entende o pobre



Parece gente estrangeira,

Gosta de tomar caté


Gosta de bolos e chá
Mas não gosta de ter cá

Uma boa assucareira.

Pobre infeliz iníciativa

Morre na mão politiqueira,

Que supondo ser activa

E sem duvida endolente


Depois muito empertinente
Salvo o resto, a maroteira.

Até os
governadores
Obedecem aos seus
partidos,
Não lhe pintem outras côres
Só por eles são bem
mandados
Na politica algemados
E nós com ela
perdidos.

Politica, ás mãos cheias


Na sua abitual
senda,
Somos de sangue nas veias
O que a gente não
encontra
Junto ao carnavel
na montra
Lindas coécas
com rendal
Amores não me dominam

Meu amor pedi-te um beijo

E não mo quizeste dar,


Depois matei o desejo
Dormi contigo a sonhar!

Pedi tambem um abraço


Tu me disseste que não,
O teu coração é d'aço
Salvo se tens coração.

Tambem te pedi a mão


Em sinal de despedida,

Vejo no teu coração

Que o meu não tem lá guarida.

Passe bem seja feliz


Em vista de me não querer
Saiba, não sou mau petiz
Inda se há-de arrepender.

Depois já não tem remedio

Dou-lhe tempo de pensar,


Se fecho a porta ao predio

Jámais cá torna a entrar.

ECA DAIPAC DS
ICTECADOAÇÃO
Manuel Ferelra
106 LUZ DA ESSENCIA

Confesso as minhas dores

Que tenho por si menina,


Mas não morro por amores
Nem o amor me domina.

Sou forte de construção


Embora seja sencivel
Não há nenhum coração
Que me faça despresivel.

Para esquecer a
paixão
Zás-trás, dou ao
gatilho,
Com a pistola na mão
Zá-fogo, bebo um quartilho.
Solteiro

Quando passei na estrada

Estavas na tua janela,

Disse eu cá pró camarada


Que menina será aquela ?

Tem olhos encantadores

Lindas caras transparentes,

Que beleza meus senhores

perfeitos tem os dentes.


Que

Torneada lindamente

Tudo nela é perfeito,

to sómente
Quem me dera

Saber quem toi o sugeito.

abalisado
O artista

Para tão celebre pintura,

Para ser condecorado

Por tão fina escultura.

Vou fazer um sacriticio

o seu amor
Conquistar
Vou por ela ao suplicio
Morro se preciso fôr.
ESSENCIA
LUZ DA
108

mimosa,
E tão linda tão
faz chorar
Que os meus olhos
me dera linda rosa
Quem cheirar!
Os teus perfumes

tem tudo bom


E meiga,
Para mim não há igual

um lindo dom
Depois tem
rial!
Duma pombinha

Tudo nela são riquezas

Perfeição
de mulher nobre

De perfeitas portuguesas
De beleza nunca pobre.

falar-lhe d'amor
Quero
Mas tenho muito receio
De ser pele para tambor
Sem saber d'onde me veio.

Mas não a julgo capaz


De fazer tamanha acção,
Porque eu sou um bom rapaz

Digno do seu coração.


Casado

rosas
Pensei que eram
Que eu ia colher,

Bonitas, cheirosas
Cheias de prazer!

Não vi as roseiras

Carregadas
de espinhos

Que ás gentes solteiras


S6 mostram carinhos.

Depois de casadas
Picam a valer,
Rosas transtormadas

Em cães a morder

O sol que alumia


A gente solteira
E forte agonia
Maior a cegueira.

Os dois namorados
Perfeitos anjinhos

Ignoram, casados,
Rosas com espinhos.
110
LUZ DA ESSENCIA

gnoram fadigas
Aborrecimentos,

A vida faz figas

A tantos proventos.

A vida é assim
Cheia de torturas,

Parecendo um jasmim

São mil amarguras.

Que havemos fazer


Se a vida nos massa?
Temos que sofrer
ela passa.
Enquanto

Arrepeso não?
De me ter casado,
Só digo então
Que fui enganado.

Se todos casamos
Na mesma ilusão,

Todos nos queixamos


Sem termos razão.
Um estantanio

Meu amigo Horácio


Aí vai sem gramatica
Uma cousa símpatica
Que vem do espaço

Uma estrela brilhante


Com raios de luz
Que bem introduz
Em mim ignorante!

Um corpo pedante
Não ouve a razão

Só vê um brazão
Na sua estante!

Não é o seu tema


A mãe da verdade
Nem sua vaidade
E força suprema!

Eu não sei falar

Gramaticalmente
Mas sei expressar

O que a gente sente.


112 LUZ DA ESSENCIA

Não tive instrução

Mas veja o senhor


Ser pele de tambor
Numa procissão.

Só carnavalesca
De reles historia

Falho de memoria
Com memoria tresca.

Bom tempo perdido


Nada aproveitou
Anda iludido
Não sabe quem sOu.
A videira

A videira é planta nobre


Seus trutos são um encanto,
O vinho pró rico e pobre
faz milagres é um santo.

Aos mudos faz falar

Veem cegos caros meus


Bebem vinho no altar

Fazendo preces a Deus.

E tão bom e tão sublime


Que até taz girar a terra

Mas provoca muito críme


E taz-nos andar em
guerra.

Tem no tundo um tal misterio


de desvendar
Dificil

Acompanha ao cemiterio
Quem dele quizer abuzar.

Outros há que não bebendo


Morrem miseravelmente
Outros sem ele vão vivendo

Qucm naão beba há pouca gente.

Depois é sangue de Christo


Disse Deus ao cidadão,

uem quizer ser mais bem visto

Beba um litro
á refeição!

8
Forçado a ser poeta

Sou forçado a ser poeta


Por causa das raparigas
Fazem de mim um pateta
Sempre a pedirem cantigas.

Não me posso recusar

A pedidos de donzelas
Cantam bem, querem casar
Quem me dera o tempo delas.

Faço-lhes versos damores


Para as trazer mui contentes
Formo o sentido em flores

Para
Ihes vêr bem os dentes.

Não me esquecem violetas

Por serem mais pertumadas


Pertumes, amor e tretas
E' simbolo das namoradas.

Pedidos cada vez mais


De canções damor e rosas
Eu vou aos roseirais

Escolher as mais formosas.


LUZ DA ESSENCIA 117

Eis a rainha la France!


Para ti linda morena
A rosa de mais alcance
Só para ti Filomena.

Porque és encantadora
Es muito do meu agrado
Por seres a melhor cantora

Portuguesa para o fado.

Vou-te buscar um jasmim


Envolvido num beijinho,

Para dares ao teu Joaquim


Por ser muito bonitinho.

Se queres mais pede por bôca


Ate encheres a barriga
Por seres d'amores tão louca
A tua razão me obriga.

Não me posso aborrecer


Da vossa vida inquieta

Para vos dar bom prazer


Sou forçado ser poeta.

M
Amores perdidos

Bons dias Senhor Doutor,


Como passou? Você vê,
Passei mal por sua causa,

Obrigado; não tem de quê.

Inda sofre aquela dôor?


Oh
Vou
está melhor
indo assim, assim,
Doutor?
oy
Esta dôr nunca tem fim!

Por Deus há-de melhorar,


Passe Doutor, muito bem,
Não me posso demorar,
Meu marido já lá vem.

Ahl Sim! Já é casada?


Nem sequer me lembrava
Que esta minha grande dôr
A si não lhe doe nada.
Trabalhai irmãos

Trabalhai irmãos

Que Deus vos ajuda


Depois em morrendo
Deus logo vos muda.

Trabalhai irmãos
Por honra e gloria,
Trabalhai irmãos
Ganhai a victoria.

Trabalhai irmãos
Se quereis ser honrados,

O trabalho é honra
Para os desgraçados.

Trabalhai irmãos
Para passar tome, ni
Com as duas mãos
Menos vos consome.

Trabalhai irmãos
Que o trabalho é nobre,
Trabalhaiírmãos
Para viver pobre.
120 LUZ DA ESSENCIA

Trabalhai irmãos
Cavai com a enxada,
virtude
Que a vossa

Nunca é manchada.

Trabalhaiirmäos

Que Deus dá o po,

Pegai no arado

E no pica chão.

Trabalhai irmãos
Na pura materia,
Enterrai no chão

A vossa miseria.

Trabalhai irmãos
Na grande evolução,
Não vos revolteis
Senão o canhão ?

Trabalhai irmãos
Não sejais assim,
Fazei deste Mundoisd
Um lindo jardim.

Trabalhai irmãos
Com trinta mil diabos,
Por caldo de couves
Nabiças e nabos.

Trabalhai irmãos
slaat
Gelados com frio,
Não vos
compareisdds
Com o cão vadio.
LUZ DA ESSENCIA 121

Trabalhai irmãos

Dobrai a espinha,

Para a burguezia
Pobrc coitadinha..

Trabalhai irmãos

Limpai o suor,

Se queres ter vergonha


E pouco valor..

Trabalhai irmãos
Na terra massiça,
Mas ao domingo
Não falteis á missa.

Trabalhai irmãos

Só a pão e agua,
Cheios de miseria

Não é grande magoa...

Trabalhai irmãos
Que Deus vos dá sorte,

Para quem trabalha


Mais depressa a morte.

Trabalhai irmãos
Não sejais marotos,
Trabalhai pra vós
Muito mais p rós outros.

Trabalhai irmãos
E boa a patrôa,

Trabalhai irmãosx
Que lá vem a brôal...
LUZ DA ESSENCIA
122

irmãos
Trabalhai
Se quereis que vos diga,

que as tripas
Trabalhai
na barriga.
Rugem

Trabalhaiirmãos
trabalhadores,
Que os
ser
Nunca podem
Açambarcadores.

Trabalhai irmãos
Na senda do bem,
Vale mais trabalhar
Do que ter vintem...

Trabalhai irmãos
Não sejais egoistas,

Tende dó dos ricos

Nobres socialistas...

Trabalhai irmãos
De boa vontade,

Por amor de Deus


E por caridade..

Trabalhai irmãos
Que não há remedio,
Trabalhai p'rós outros

Não é vosso o predio.

Trabalhai irmãos
Vós a real mola,
Que de velhos
depois
Vos dão uma esmola...
LUZ DA ESSENCIA 123

Trabalhai imãos
Que Deus agradece,

A quele que trabalha


Pra quem não merece..

Trabalhai irmãos

Que a vossa casita,

Está hipotecada
Ao parasita.

Trabalhai irmãos

Té que a vida dura,

Para descansar

Só na sepultura.

Trabalhai irmãos
No tempo que sobra,

Para construir

Bem a vossa obra!


Mortos que talam

Lembra-te de mim
Que já fui alguem

Hoje já não sou nada,

Reza por minha alma

Que chora por ti

Triste apaixonada.

Lembra-te de mim

Que fui teu amor


Por um só momento,
Chora a minha morte

Chora a minha dôr


O meu sofrimento!..

Lembra-te de mim

Que não tenho luz


No meu coração,
Faz presses por que
Não posso viver

Nesta escuridão!

Lembra-te de mim
E de toda a gente
Que vive atrazada,
Faz presses na vida
D'alma arrependida
Que não custa nada.
LUZ DA ESSENCIA 125

Lembra-te de mim
Do que tu serás
Assim como hoje cu,

Prepara-te pois
Nossa alma perfeita

Vai dircita ao ceu!

Não trates em vida

Sómente do corpo
Da tua materia,

Tira a tua alma

Do lixo, do lòdo

Da podre mizeria.

Não penseis que Deus


Nos ceus, dá valor
A riquezas douro,
Deus, só aprecia

A riqueza d'alma
Esse bom tesouro!

A vossa ilusão

De grande barriga

E de muito cobre,

A que neste mundo


Não Ihe dão guarida
Por ser muito pobre.

Diz a toda a gente

Que a vida terrestre


E um lamaçal,
Que não se preparam
P'ra vida tutura

Espiritual.
126 LUZ DA ESSENCIA

Diz aos palhaços

Que abusão de tudo


De tudo descrentes,
eles são
Supondo que
Fortes musculosos
São fracos, doentes.

Toma bem reparo


E toma sentido
No que tens escrito,

Não penses que a vida


Morre na sepultura
Depois tenho dito!

A vida é eterna
O mundo é infinito

O tempo é escola,

Deus o professor
Deus o nosso amor
Deus a rial mola!
mar
Lago inquieto
Soberbo vulcão!
a inunda
Que terra

No seu coração.

Moventes montanhas
Subindo e descendo,
Milagres
de Deus
Que a gente stá vendo.

Grande natureza

Tamanha que és!


nos faz curvar
Que
De medo, aos seus pés.

Ao globo terrestre
Fá-lo estremecer,
Mas na doce calma
Enche-o de prazer!

Grande maravilha

A maior do mundo!
tudo enrodilha
Que
E mete no fundo.
Coisas da vida

lemos ncste mundo


Um sol que nos guia,

lemos na vil sombra

Um charco de lama,
emos para a vida
l
A noite e o dia,

Iemos para a morte


Um Deus que nos ama.

emos pois na terra


I
Lindo mar de flores,
Temos nessas tlores

Um campo despinhos,
Temos nos espinhos
Um cumulo de dores,
Temos nessas dores
Amores mesquinhos.

Temos na doçura
Microbios de fél,

Temos na virtude
A luz apagada,
Temos na maldade
Sorrisos de mel, oii A
Temos na soberba
Mistela dobrada.r 3
LUZ DA ESSENCIA 129

Temos na descrença
Um crime moral,
Temos mais, o crime
Da vil ambição,
Temos na velhice
A morte fatal,

Temos outra coisa

Desfeita a ilusão.
o

Temos santa ideia


om3
Ser republicanos,nsrtteu
Temos outra ideia
or
Muito avançada, tol o
Temos nesta vida mod 2on
Um milhão de planos,1olisM
lemos muita coisaeq aom3
Mas não temos nada.ip s164

Temos grande cruzn


zom3
A' nossa medida, sbiberogiliV
Temos para espelho 2om
A cruz do igut A
sudario,b
emos que aguentar 20m s
l
O peso da vida,ms22 abol
Temos que levariv s2om31
A cruz ao calvario. s s

Temos neste
mundod 20m3
Um povo encravado,19m09
Temos nesse povood eom
Forjada a mentira 1nom
A
Temos a miseria
Caso consomado, 9ot
eoma s
Temos o perfumelorn o
A tocar na lira!ie as
130 LUZ DA ESSENCIA

Temos na barriga

Um rato a roer,

Temos na fazenda
A Patria a dormir,

lemos nas canelas


Mil cãcs a morder,
Temos em Genebra
Desprezo a medir. aa
emos a justiça s2203
l
Justamentefraca,idueot od
Temos derrobadaio2oim
Tão forte moralha, osiul
Temos bom carneiro202
e
Melhor mão de vaca,
lemos peste e guerra 2om3
Para quem trabalha. 2s

Temos a moral hmg 2o9


Vilipendiada,Bibem s2ot A
lemos a vergonhaq 2om9
A fugir da gente,
ob zuo A
Temos a razãosug 20m3
Toda assambarcada, oesq O
Temos a virtude sp 2om3
Na cama doente. as A
Temos boas aguas 29 20r3
A correr pró mar, ovog m
lemos boas
A morrer com sede,
terras
ar20121
shohoT
Temos a barriga 2om2
Com fome a esticar,

Temos muito peixe


Mas não cai na rede.
LUZ DA ESSENCIA 131

Temos lindo sol


Nobre e criador,
Temos muitos braços
Até pra cemprestar,
Temos avaria..
No celebre motor,
Temos a turbina

Sempre a avariar!

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A guitarra

Guitarra, simbolo do fado!

De tão nobres sentimentos,


De resultam
ti proventos,
Dum sonho tão natural,
Tu és um ser sem igual,

E's um pranto amargurado,


Es um sonho após dourado,
Guitarra de Portugal.

Guitarra ponto final!

Es o prato sobre mesa,


Bacalhau á portuguesa,
De Portugal o brazão,
Instrumento de paixão,
Rainha de Portugal
Elemento divinal,

Guitarra duma Nação.

Guitarra, mae dos poetas,


Os teus sons, hinos d'amor,

Portugal é o cantor,
Que canta todos os dias,

O canto são poesias,

Sao maravilhas secretas!

Que tu oh fado arquitetas,

Na guitarra, as melodias.
LUZ DA ESSENCIA 133

Guitarra, Deus do prazer


Tu és a perfeita amante,

E's um sonho de estudante,

Guitarra nunca mentira,

Que era mãc da propria lira;

O estudante a dizer
Que sem não sabe ler,
ti

Nem sabe cantar o vira.

Guitarra, alivio dum povo!


Que vive sempre contente,

Com a guitarra
na frente,

A tocar a Portuguesa,

Nosso brazão de grandeza,


Dum Portugal sempre novo,

Portugal tu és um ovo,

De galinha portuguesa.

Guitarra, querida adorada


Que apagas os sofrinmentos,
Tu tens iguaís sentimentos,
Nos salões ou na caserna,
Assim como na taberna,

Onde toca amargurada,


Mesmo sem cara lavada,
E mãe que a muitos governa!

Guitarra, bondosa ama!


Que amamenta a poesía,

Que dá vida ao rofia,

Nas vielas da miseria,

Cheias de puz e materia,

Ai, a guitarra geme


l
Desmaiada, côr de creme,
Na taberna da Silveria.
134 LUZ DA ESSENCIA

Guitarra, toca harmonias,


loca prós anjos cantar,

Guitarra vai pelo ar!


A ver se encontras Camõcs!.
Para que nos dê lições

De tão celebres poesias,


Pra cantar todos os dias,

Com força
dos meus pulmões!

o seau

s tecbnod sr163i

soyos sbietb su
streint Bb 26si
as
Dedicação
sbiv sb 291s1

Claro e brilhante sol d'Abril! ab roft A


Farol industrial Português, b A
1off

Luz de nobreza
Santos
e daltivez n sb ot A
Gill volt A
migo e senhor P.

u2e Alma d'amor suave e gentilot 1ot A


Pura bondade profissional, ob soft A
Caritativo não tem rivaliv sb 1o A
Espirito calmo, sorrisos mil!q ch 1off A

Figura, personagem3ps loe


8rande o
Com delicadeza e boa aragemsly se
Nobreza rial, sem ser postiça! of
Mas qual tamanho dingratidãoeassA
De quem não lhe dá pura razãoetno

Fazendo-lhe pois, fiel justiça t032


l
Fazes da vida OBpsDibo

A flor da mocidade tem mais presunção

A flor da Primavera é mais perfumada,


A flor da meninice é rosa em botão
A flor da bela auroro é pura, sagrada!

A flor do bom jardim tem muito mais trescura

A flor do carmim é muito mais pedante,


A flor da viuvez é muito mais escura
A flor da pura noiva muito mais galante!

Rico sol aquece a planta desta vida


Essa planta cresce
justamente iludida
Na flor desta vida é que a vida peca

A atmosfera vai dobrando a áste á flor

Conforme a velhice, vai perdendo a côr


A gente espiral a flor murcha e secal
A Camoes! sBM Enil

Luar Luzitano luminoso


olid
Globo lirico dum sol brilhante,
sd
Alma imortal, d'amor ditoso,
aip
Brazão da Patria, to. tua amante.

Farol dos mares do navegantel O


Naquele lago inquieto, espinhoso

Sol, raio de Luz irradiante,


obns
Eternamente tão Magestoso nu

Déste luz á Patria Portuguêsa A


Que fez abismar a natureza
sdenb
Mar tenebroso, em plena calma

Foi eleCamõesl omaior farol j2s


Sumindo as trevas, abriu o solso9
Luz, Luziadas da nossa alma! o
Minha Me!

Sinto muito a tua talta

Mas serei feliz nesta vida,


Se vejo minha me querida
No reino da gloria,
bem alta!

meu coração pula, salta

Com alegria envaidecida,

Quando eu vir tua alma erguida


Num cume de nobreza exalta !o2

A tua bondade foi extrema

Minha querida Mäe Olema 2


Foste mãe pura e bondosa!2ad

Deste o teu nobre coração


Por nós, muito amor e paixão
Amor boa mãe, virtuosa! ks
Noite e día

A noite vem
Ao sol posto,
O dia dorme
No seu encosto.

O dia nasce
A noite ispira,

A noite volta

Odia gira
on of

O dia apaga
Seu lindo sol,
A noite acende
O seu farol.

O sol dá luz

Tudo aquece,
A noite assombra

Tudo arrefece.

O sol dá brilho

A todo o mundo,
A noite afoga-o
Mete-o no fundo.
140 LUZ DA ESSENCIA

O dia é nobre
Bom criador
A noite é pobre
Não tem valor.

O dia é belo

D'alegre canto,
A noite é triste

De negro manto.

O dia faz-nos
Rir e cantar,
A noite é triste

Faz-nos chorar. o

O dia
dá-nosb
Muita massada,
O
A noite escura
Não nos dá nada.

O dia é proprio
Pra trabalhar,
A noite é boa ion
P'ra descansar.

939ps obul

ohas

lisd 35 loe O

unl on o-2al
Abitantes dOriente

Abitantes dOriente
D'Africa Oriental,

Seu pai é muito doente

Já mais sae do hospital,

Anda a levar injeções

Creio que, de cocaína, 9


Para curar os polmões
Dao-lhe caldos de morfina.
Toma ovos dandorinha
Assados de codorniz,bnevs
Boa canja de galinha
E bons caldos de perdiz.
Dão-lhe nabo e pepino
Depois bom pão e laranja,
Bons guisados de suino
Rabanetes da estranja. uo
Bons doutores homens de bem
Estudam seu tratamento,
Que doença o pobre tem
Para tanto sofrimento?
Todos os dias de purgante
Corpo infelíz dilatado,

Já não há quem o levante


Parece um cristo pintado.
Levaram-no ao raio-x,

Meio morto meio vivo...


142 LUZ DA ESSENCIA

Inda assim é muito teliz,

Por que Ihe deu negativo.


Já steve peior da perna
Por causa d'apendicite,

Esta doença moderna


Faz perder o apetite.

Os filhos não teem pão


Válha-nos Deus e Maria,
23176tidA
O pai não tendo a razão
Deita-os á enxaria.

Mil vezes Ihe vão pedirdA


Por sua rica saude,O itA C
Depois yão-lhe advertir

Pão, piedade e virtude


!a
Pobres flhos
esfaimadosbnA
Debaixo da negra cruz,

.
oio
Tristes na vida apagados
Faltos de Pão e de Luz
Vão indo em romaría
Sino
Levando a cruz ao calvario,
A
Procissão mês de
Jesus
Vinde
Cristo,

cá meus

Perdoai, a vosso
o

Já tenho os braços erguidos


Vou dar, o ultimo
Mariaso
proletario.

filhos

pai

ai
.queridos

l.de
b epsmon 2010206b no
instsisT 192 sbute
Miseria
obielores of ibog
sbnbtes obnkrolem

Além caminha na estradanul oM


Uma mãe com tres filhitos
oD
Pela miseria artastada no ito
Pobres, infelizes, coitaditos!idA

E grande a sua desgraça 23


Duro cruel sofrimento,

A fome que os ameaçano iuM


A chuva, ao frio, ao vento,iu
Sem ter nenhuma defeza

A pobre triste coitada,


Caminha gelada, teza
Além naquela estrada.

Morreu-lhe o pobre marido

Quem Ihe ganhava o sustento,


Era dos flhos tão querido
Que nem a dize-lo atento,

Depois muito divertido


Não era dos mais aflitos

Morreu, levou no sentido


Uma mãe com tres filhitos!
144 LUZ DA ESSENCIA

Mcte dó, faz


comoção
Uma pobre me aflita,
Para os filhos não tem pão
Pobre dela, coitadita,
Aperta-os ao coração
Pela dôr quasi devorada,
E tristel.. Ve-la então
Pela miseria arrastada!

Na flor da sua idade


A SiTS2
pedir pão, esmolando,
Implorando a caridade
Pelas ruas suspirando
No Mundo
Com tres
sem liberdade fA
filhinhos pequenitos,
Pedindo contra a vontade el
Pobres, infelizes, coitaditos.916

Meus senhores que stão ouvindo


Tenham dó de quem é pobre,
ou
Muita gente anda pedindo
Que noutros tempos foi
o!
nobre

sbsto 12 31oqA
1bs 6dain
abetes lbupsn maA

obs dlnoM
obioup os 2o1li ob st
ofsol-aub smsr 9u
obinsib oiu 2iocsd

obine on uoval 3TOM


Salvo exceções

Eu sei que tu amas


A quem te não quer,
São rosas tiranas
Amores de mulher.

todarorr
coração delas
O
Parecendo de mel,
E' mais amargoso
Do que o proprio fell

Ela diz-te até


BO9gud
Que só pra ti
earh so
diz fim
Depois por
Que o Conde Barné

Tem filhos mais ricos


Muito mais galantes,
Basta só dizer-mos

Que são estudantes!

Se, alguns lindos olhos


Por fim a namora,
Dão-lhe tal prazer
Que até por eles chora!
148 LUZ DA ESSENCIA

Sc prega a pirraça

Chora desgraçada,

Depois já te quer
Toda apaixonada!

Lagrima no olho
A pedir perdão!

Desculpa amorsinho902979 ovisc


Tem dó, compaixão

Eu nasci pra ti,


up
Vou por ti morrer; UDA
Quem sabe, se as coisas

Já teem de ser..
.
Depois bom rapa6103
Se Ihe põe
agrado,neis
Lá vai pôr na carta

Selo carimbado...

Sugeito a multa...

Da repartição..

Veja agora, amigo


O que as mulheres são !

lyzis oil

2ole 20bil 2nwls


c
191 sill-os
orh sls toq u
A Adelina Fernandes

Es a rainha do fado
Poezia nacional! ebs b sanis

Lirico sonho dourado l s


Cantora de Portugal !
Es pombinha imortal
No teu cantar desmaiado,bi ofs
Es a perfeição mentalld d na
Es um ceu, nobre estrelado ! 3

Eis a Patria urgolhosa


Por te ver linda e formosa ss
Ei-la a tocar seus trombones!

Por tua honra e gloriae 3p


Por ver em tí a vitoria

vt Rainha dos gramofones!


Soneto á Lua snilsbA
has

Bonita te vejo, atraz do Sol posto


Rainha das fadas, tão linda tão bela!

Na gruta celeste, vejo o teu encosto,

anjo da guarda, vejo nas mãos dela.

Vejo-te croada, raînha donzelal

Vejo lindos olhos, na flor do teu rosto,

Divina luz brilha, que luz será aquela!


Um tanto pálida, por ser em Agosto.

Nesse teu coração, na Luz desta


vida,
Vejo a tua alma, a fé convertida,

E vejo o teu brazão em alto relevo!

Quasi que todas noites, te vejo a brilhar!

Queria um dia poder-te


Mas 'stás lá tão longe,
beijar,

depois não
vo me atrevo!
A fé e a boa crença

Um reverendo americano..

Um sábio muito profundo...


Vem dar-nos o desengano

Que breve se acaba o mundo!


2sbsrlotesb 2s
Afundam-se altas montanhas
Onde ficam fundos
lagos,
assim tamanhas
Desgraças
Não segura a Agencia lagos.

.
As trombas duma neboloze

rovocará um cateclismo,
Grande sinistro, que atroz
Pavorosamente eu cismo

Queira Deus que o sol se apague g


Para tão sabio reverendo...

E por fimque Deus escomungue


O autor de tal remendo..

Que fé que crença tão béra

Que o bom reverendo tem,


O reverendo fala bem.
Mas Deus não ouve essa téra !
Nas desfolhadas

A natureza perfumava o nosso amor!

Quando a gente ia-mos para as desfolhadas,


Deus abençoava a noite, logo ao sol pôr,
A atmosfera, chorava as frescas orvalhadas!

As nuvens cheias de calóor avermelhadas!


Davam-nos a impressão dum grande cobertor,

Os nossos ricos laços dobravam de fulgor,

Espreitando a bela aurora das madrugadas!

A fresca
aragem refrescava-nos o fervor,

Nossos corações eram um acumolador


De calor perfumado e de muito prazer!

O nosso bom padre da nossa santa egreja,

Por Deus seja louvado, e bendito seja.

Emfim, por Deus o mundo é assim, tinha de ser!


Jardim dos amores

Flores que pertumam


O teu coração
São tlores que eu rego

Pela minha mão. dib

Se tens lindas flores

No teu bom canteiro

Sou eu que as rego


Melhor que as cheiro.

Seas tuas papoulas

São muito encarnadas

Sou eu que as trato


São por mim regadas.

Teus amores perfeitos

Se crescem de mais
Sou eu a origem
De milagres tais!

Se tens no teu vaso

Um amor sagrado
Não deixa de ser

Por mim bem tratado.


154 LUZ DA ESSENCIA

Se Deus abençôa
Teu lindojardim,
Não deixa de ser

Benzido por mim.

Se as tuas rosas
o
Abrem com
Abrem
Com o meu
muito
calor,

mais
amor.
m2o be
Se tão lindas flores
Murcham nesta vida,
Sou eu o culpado
Minha rosa q rida.ritin
sls

Se vou pra cadeia

Pagar
Es
a traição,
od o
tu que me prendeso
Ao teu
coração.up 1odl

Se julgas que eu sou


Para ti traidor,
oib oc
A minha
o
t
traiçãoup
E só por
amor!irtog nd

eosiltogtoths3T
Trabalhar na vida

Trabalhar na vida
aT
E grande prazer! s
Quando a gente ganha
Pão para comer. ts
Trabalhar na vidasisdeT
E de natureza, sbol
Por honra e gloria

Em nossa defeza.

Trabalhar na vidadlado
E virtude!ni G
grande
A quem trabalharis
Deus dáa mais saude..
o
Trabalhar na vidaseet
E de necessidade, 6
Que se nos impõc ss
De boa vontade.

Trabalhar na vidasadoT
E
Corpo
E um
grande
á boa

corpo
conforto...

vida

morto.onl
s
156 LUZ DA ESSENCIA

Trabalhar na vida
Há uma razão...

Tudo a trabalhar
Para um patrão.

Trabalhar na vida
Por Deus consagrada,
Cheia de canduraD BI 1sdisde
Não nos custa nada.

Trabalhar na vida
Na boa harmonia,ce
Como bons irmãosb
E grande alegria
l
Trabalhar na vidasllsdsrT
Toda a humanidade,
Com direito a Pão,
Luz e liberdade!

Trabalhar na vida sifsdstT


D'alma e coração,orns2
Por amor de Deusup
E por devoção! as

Trabalharna vida
Cavar com a enxada,
t
Carga dividida,o
Não é tão pesada.
B

Trabalhar na
vidaslsden
Uns sim, outros não,
Não é de justiça

Menos de razão.
157
LUZ DA ESSENCIA

Trabalhar na vida

A terra produz,
Trabalhando todos

Deus dá-nos mais Luz!

Trabalhar na vida

São leis naturais

rabalhando todos..

Produzimos mais!

Trabalhar na vida

A vida até vôa!i


Todos em permuta
Deus nos abençôal ai
Trabalhar na vida
tith
E

Carga
A'
pura

besta
grandezal20h
dividida
não pesa.
r
Trabalhar na vida iarla

Deboa vontaderisss
Como bons irmãos
oau
Toda a humanidade.e

Trabalhar na vidaedt
Ser a nossa crença,b
Amar a virtude19 69
Livres de doença.a na

Trabalhar na
vida.ade
Que a vida é escola,
Por amor de Deustoqk
E não por esmola.
I5S LUZ DA ESSENCIA

Trabalhar na vida
Dar o bom exemplo
Haver só no Mundo
Um sagrado templo!

Trabalhar na vida
Por cla lutar..

Pois que em sendo velhos


Há que descansar.

Trabalhar na vida

Quando se compreende,
Fugir dela poís...

Quando não se entende.

Trabalhar na vida
Todos bem unidos,
A vida é um sonho
Que não tem sentidos.

Trabalhar na vidasds
Trabalhar na morfe,
Tudo a trabalhar
Para melhor sorte! shol

Trabalhar na vidads
Tudo a trabalhar, 192
Sem ter ambição B161
Em côro a cantar! 12

Trabalhar na vidasds
Na Sciencia nobre! 3u
Aperfeiçoar-mos...
10
Este corpo pobre.. ßu d
159 LUZ DA ESSENCIA

Trabalhar na vida

Ter a presunção,

Poder evitar-mos

Usar o canhão!

Trabalhar na vida

Com grande vontade,

Usar instrumentos

Só de utilidade!

Trabalhar na vida

Para o bom viver,

guais no trabalho
Iguais
no comer.

Trabalhar na vida

Para melhor sorte,

Onde o fraco viva

Igual com o forte!

Trabalhar na vida
Assim como eu digo,
Vereis quanto é belo

Vêr um povo amigo!

Trabalhar na vida
Com todo o respeito,
Se quereis vêr o povo
Todo satisfeito!

Trabalhar na vida
Até que mereça,
Uma vida nova...
Que a velha esqueça.
160 LUZ DA ESSENCIA

Trabalhar na vida

Que Deus nos ajude,

Para descansar-mos
Só no ataude!...

Trabalhar na vida
Na benção d'amôr,
ser
Ninguem queira
Dos outros senhor!

cilet cabol

Nota da tipografia.-A tipografia da


Minerva Central a quem esta obra
foi
confiada respeitou escrupulosa-
mente o original do auctor.

TECA DAFAC)DE
DOAÇÃO LETRA
BLICTEC
Manuel Ferreira

UNDERSIDADE DE SBOA
Faculdade de Letras de Lisboa

ULRL20 887

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