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direito autoral
Conteú do
Agradecimentos
Prefá cio
1. O primeiro sonho
2. Joã o Bosco sonha com a prova mensal
3. O sonho da pastora
4. O futuro do Orató rio
5. Três Má rtires
6. A Futura Igreja de Sã o Francisco de Sales
7. Dois meninos atacados por um monstro
8. Laços Mortais
9. A perdiz e a codorna
10. O Precioso Lenço da Pureza
11. Um gato com chifres
12. Um elefante diabó lico
13. Mensageiro da Morte
14. Corvos ferozes e uma pomada curativa
15. Amado discípulo de Dom Bosco, Sã o Domingos Sávio
16. Um sonho sobre Sã o Domingos Sávio
17. Presentes de meninos para a Bem-Aventurada Virgem Maria
18. Inocência preservada pela penitência
19. Na Terra da Provaçã o
20. Um Poço Medonho
21. Dez Colinas
22. Demô nios na Igreja
23. A Cobra e o Rosá rio
24. As Quatorze Tá buas
25. Uma Pequena Marmota
26. Um cachorro feroz
27. Um Mastim Gigante
28. Consciências Reveladas
29. Um bando de monstros
30. O Cavalo Vermelho
31. Uma videira misteriosa
32. Para o inferno e de volta
33. A Pérgula Rosa
34. As lutas da sociedade
35. A Filoxera
36. O touro, as carruagens e os pregos
37. O Primeiro Sonho Missioná rio (1872)
38. O Anjo de Arphaxad (Segundo Sonho Missioná rio)
39. O Futuro das Missõ es Salesianas (Quinto Sonho Missioná rio)
40. As Duas Colunas no Mar
Uma carta escrita por Sã o Joã o Bosco sobre a educaçã o
Uma nota para os Salesianos
As memó rias biográ ficas em resumo
QUARENTA SONHOS
DE
ST. JOÃ O BOSCO
TAN Books
Charlotte, Carolina do Norte
Nihil Obstat: E. Gutiérrez, SDB
21 de agosto de 1969
21 de setembro de 1969
Este livro foi publicado anteriormente por volta de 1969, na Índia, e impresso no Instituto
Salesiano de Artes Gráficas de Madras.
Reeditado e republicado pela TAN Books and Publishers, Inc. em 1996 com permissão do Rev.
Joseph Aind, agora Bispo de Dibrugarh (Assam), e por acordo com Salesiana Publishers, New
Rochelle, Nova York. Re-composto novamente em 2007 pela TAN.
A tipografia deste livro é propriedade da TAN Books and Publishers, Inc. e, exceto por breves
seleçõ es, não pode ser reproduzida sem permissão por escrito da Editora.
ISBN: 978-0-89555-597-7
Foto da capa de São João Bosco e dos Meninos do Orató rio reproduzida com permissão do Pe.
Aurélio Maschio, SDB
TAN Books
Charlotte, Carolina do Norte
1996
“O professor que só aparece na sala de aula, e em nenhum
outro lugar, é professor e nada mais; mas deixe-o ir com seus
meninos para recreaçã o e ele se tornará um irmã o.”
( Páginas 217–218)
CONTEÚDO
Reconhecimentos
Prefá cio
1. O primeiro sonho
2. Joã o Bosco sonha com a prova mensal
3. O sonho da pastora
4. O futuro do Orató rio
5. Três Má rtires
6. A Futura Igreja de Sã o Francisco de Sales
7. Dois meninos atacados por um monstro
8. Laços Mortais
9. A perdiz e a codorna
10. O Precioso Lenço da Pureza
11. Um gato com chifres
12. Um elefante diabó lico
13. Mensageiro da Morte
14. Corvos ferozes e uma pomada curativa
15. Amado discípulo de Dom Bosco,
Sã o Domingos Sávio
16. Um sonho sobre Sã o Domingos Sávio
17. Presentes de meninos para a Bem-Aventurada Virgem Maria
18. Inocência preservada pela penitência
19. Na Terra da Provaçã o
20. Um Poço Medonho
21. Dez Colinas
22. Demô nios na Igreja
23. A Cobra e o Rosá rio
24. As Quatorze Tá buas
25. Uma Pequena Marmota
26. Um cachorro feroz
27. Um Mastim Gigante
28. Consciências Reveladas
29. Um bando de monstros
30. O Cavalo Vermelho
31. Uma videira misteriosa
32. Para o inferno e de volta
33. A Pérgula Rosa
34. As lutas da sociedade
35. A Filoxera
36. O touro, as carruagens e os pregos
37. O Primeiro Sonho Missioná rio (1872)
38. O Anjo de Arphaxad (Segundo
Sonho Missioná rio)
39. O Futuro das Missõ es Salesianas
(Quinto Sonho Missioná rio)
40. As Duas Colunas no Mar
Uma carta escrita por Sã o Joã o Bosco sobre a educaçã o
Uma nota para os Salesianos
As memó rias biográ ficas em resumo
Agradecimentos
PELA traduçã o para o inglê s dos sonhos selecionados dos Volumes
I-IX e XI, estamos profundamente gratos ao Rev. Padre Diego Borgatello
e seus colaboradores na traduçã o das Memórias Biográficas do italiano.
Os volumes sã o um verdadeiro monumento, “mais duradouro que o
bronze”, erguido ao nosso santo Padre, Dom Bosco.
As Memórias Biográficas podem ser obtidas em: Salesiana
Publishers
130 Main Street
New Rochelle, NY 10801
Alguns desses sonhos foram reimpressos de panfletos publicados
pela Casa Salesiana de Tirupattur (Arcot Norte); outros sã o de livros do
Padre Motta impressos pela Escola Tang King Po (Hong Kong); outros
sã o novas traduçõ es. A visã o de Dom Bosco sobre Sã o Domingos Sávio é
copiada de uma traduçã o do Rev. Padre Terence O'Brien, SDB, em seu
livro Domingos Sávio, Apóstolo Adolescente , Parte II: Apêndice.
Para maiores detalhes sobre os sonhos de Dom Bosco, consulte o
capítulo “Sonhos, Visõ es e Ê xtases” em Pe. Livro de Ceria Dom Bosco
com Deus .
Prefácio à edição de 1969
Queridos leitores,
Esta segunda ediçã o de Sonhos de Dom Bosco chega até vocês dez
anos depois da primeira ediçã o, que se esgotou há sete anos.
A pedido de muitos amigos, revisei e ampliei este novo volume
acrescentando muitos outros sonhos de especial interesse e utilidade
para você.
Uma palavra sobre os sonhos de Dom Bosco: Deus falou com Dom
Bosco em sonhos. Quem ignoraria sonhar sonhos que o profeta Joel
conta entre os dons que deveriam alegrar, por uma generosa efusã o do
Espírito Santo, os últimos dias , isto é, como explica Sã o Pedro, os dias
do Messias? ( Atos 2:17). Os ouvintes de Dom Bosco reuniram mais de
150 sonhos.
Alguns sonhos de Dom Bosco sã o proféticos, outros sã o
pedagó gicos e alguns sã o pará bolas. Alguns dizem respeito à Igreja,
alguns à s naçõ es, outros à Congregaçã o Salesiana, à s missõ es, ao
Orató rio (a primeira instituiçã o salesiana), etc.
A maior parte dos sonhos de Dom Bosco sã o certamente
acontecimentos sobrenaturais. Aqui estã o algumas provas:
1. À s vezes dizia que “foi um sonho em que se pode saber o que se
faz; pode ouvir o que é dito, pode fazer e responder perguntas.” Isso nã o
acontece nos sonhos naturais comuns.
2. Ele geralmente tinha um guia e um intérprete. Quem era ele? À s
vezes, Domingos Sávio ou Louis Colle ou um Anjo, ou Sã o Francisco de
Sales, ou outra pessoa. Suas explicaçõ es sã o sempre precisas e
instrutivas. Isso nã o acontece nos sonhos habituais.
3. Freqü entemente ele via as coisas secretas da consciência, e o
teste sempre provava que isso era verdade; os eventos futuros previstos
(incluindo mortes) realmente ocorreram. Este Dom Bosco considerou “
uma graça extraordinária concedida em benefício de todos os filhos do
Oratório ”.
4. Dom Bosco narrava os seus sonhos com um grande espírito de
humildade, pensando apenas no benefício espiritual dos seus ouvintes.
Os bons efeitos foram evidentes: especialmente um maior horror ao
pecado, melhores Confissõ es, Confissõ es Gerais, Comunhõ es mais
frequentes. Foi, como ele à s vezes dizia, “ A Falência do Diabo ”.
5. Nos sonhos naturais nã o existe uma ordem ló gica. Tudo o
contrá rio acontece nos sonhos de Dom Bosco. Imagens e palavras estã o
tã o bem conectadas que parece ouvir coisas vistas com os olhos
abertos.
6. Os sonhos de Dom Bosco continham uma revelaçã o clara e exata
dos acontecimentos futuros. Todas as profecias que ele fez sobre todos
os tipos de coisas aconteceram antes ou depois de sua morte. Inú meros
exemplos podem ser lidos nas Memórias Biográficas (vinte grandes
volumes).
7. No dia 17 de fevereiro de 1871, Dom Bosco disse com franqueza
a alguns Salesianos que “ estas coisas são certamente singulares e devem
ser faladas apenas entre nós ( na Casa Salesiana ) , porque se fossem
contadas a alguém de fora, essas pessoas certamente os apelidou de
fábulas. Mas sempre temos como norma que, quando algo acontece para
o bem de nossas almas, certamente vem de Deus, não de Satanás .”
No 11º volume das Memórias Biográficas , pá gina 239, lemos: “Os
sonhos de Dom Bosco tornaram-se como uma 'instituiçã o doméstica'
no Orató rio. A expectativa de novos sonhos estava sempre presente. A
notícia de outro sonho despertou expectativa entre jovens e idosos: sua
narraçã o foi ouvida com atençã o; seus efeitos salutares nã o tardaram a
chegar.”
Que a leitura da seguinte seleçã o de sonhos traga benefícios
semelhantes ainda hoje.
Deus esteja com você.
F R. _ J OSEPH B ACCHIARELLO , SDB
S AVIO J UNIORATE
M AWLAI , S HILLONG – 793008
1
O PRIMEIRO SONHO
( Memórias Biográficas , Vol. I, página 94)
Jovens lutando
Eu parecia estar em uma vasta campina com uma enorme multidã o
de meninos que brigavam, xingavam, roubavam e faziam outras coisas
condenáveis. O ar estava cheio de pedras voadoras, atiradas por jovens
que lutavam. Eram todos meninos abandonados, desprovidos de
princípios morais. Eu estava prestes a me virar quando vi uma senhora
ao meu lado. “Vá até aqueles meninos”, disse ela, “e trabalhe”.
Aproximei-me deles, mas o que poderia fazer? Eu nã o tinha onde
reuni-los, mas queria ajudá -los. Continuei recorrendo a algumas
pessoas que observavam à distâ ncia e que poderiam ter vindo em meu
auxílio, mas ninguém prestou atençã o ou me deu qualquer ajuda. Entã o
me virei para a Senhora. “Aqui está um lugar”, disse ela, e apontou para
uma campina. “Isso é apenas uma campina”, eu disse.
Ela respondeu: “Meu Filho e Seus Apó stolos nem sequer tinham
onde reclinar a cabeça”. (Cf. Mateus 8:20). Comecei a trabalhar naquela
campina, aconselhando, pregando, ouvindo Confissõ es, mas vi que
quase todos os meus esforços foram em vã o. Eu precisava de um prédio
onde pudesse reunir e abrigar os abandonados pelos pais e os
desprezados e rejeitados pela sociedade. Entã o a Senhora me levou um
pouco mais para o norte e disse: “Olha”.
As Igrejas – Os Mártires
Fiz isso e vi uma pequena igreja com telhado baixo, um pequeno
pá tio e um grande nú mero de meninos. Retomei o meu trabalho, mas
como a igreja estava a ficar demasiado pequena, voltei a apelar à
Senhora, e ela indicou-me outra igreja, muito maior, e uma casa
adjacente a ela. Depois ela me levou para mais perto de um campo
cultivado e que ficava quase em frente à fachada desta nova igreja.
“Neste lugar”, acrescentou, “onde os gloriosos má rtires de Turim,
Adventor e Otávio sofreram o martírio, sobre estes torrõ es encharcados
e santificados pelo seu sangue, desejo que Deus seja honrado de uma
maneira muito especial”. Dizendo isso, ela esticou o pé e apontou para o
local exato onde os má rtires haviam caído. Queria deixar ali um
marcador para encontrar o lugar novamente quando voltasse, mas nã o
consegui ver um ú nico pedaço de pau ou pedra. Mesmo assim, mantive
o lugar claramente em mente. Coincide exatamente com o canto interno
da capela dos Santos Má rtires, anteriormente conhecida como Capela
de Santa Ana; é o canto frontal esquerdo de frente para o altar-mor da
Igreja de Maria Auxiliadora.
Entretanto, vi-me rodeado por um nú mero vasto e cada vez maior
de rapazes, mas à medida que olhava para a Senhora, as instalaçõ es e os
meios também cresciam em conformidade. Vi entã o uma grande igreja
no local exato que ela havia apontado como o local onde os soldados da
legiã o tebana haviam sido martirizados. Havia muitos edifícios ao redor
e no centro havia um belo monumento.
A fita da obediência
Enquanto estas coisas aconteciam e eu ainda sonhava, vi que
padres e clérigos me ajudavam; mas depois de um tempo eles foram
embora. Tentei de tudo para que os outros ficassem, mas depois de um
tempo, eles também me deixaram em paz. Entã o voltei-me mais uma
vez para a Senhora em busca de ajuda. “Quer saber o que fazer para
mantê-los?” ela perguntou. “Pegue esta fita e amarre suas testas com
ela.” Reverentemente, peguei a fita branca da mã o dela e notei a palavra
OBEDIÊ NCIA escrita nela. Imediatamente tentei e comecei a amarrar a
testa desses voluntá rios. A fita fez maravilhas. À medida que prosseguia
a missã o que me fora confiada, todos os meus ajudantes desistiram de
me deixar e ficaram. Assim nasceu a nossa Congregaçã o.
Vi muitas outras coisas, mas nã o há necessidade de relatá -las
agora. Basta dizer que desde entã o tenho caminhado em terreno
seguro no que diz respeito aos Orató rios, à Congregaçã o e à maneira de
lidar com os estranhos, independentemente da sua posiçã o. Já previ
todas as dificuldades que vã o surgir e sei como superá -las. Vejo
perfeitamente, pouco a pouco, o que vai acontecer e sigo em frente sem
hesitar. Só depois de ter visto [em sonhos] igrejas, escolas, parques
infantis, rapazes, clé rigos e padres a ajudar-me e ter aprendido como
fazer avançar todo o apostolado, é que comecei a mencioná -lo aos
outros e a falar dele como uma realidade. . É por isso que tantas
pessoas pensaram que eu estava falando tolices e acreditaram que eu
era louco. 1
——————
1. Cfr. Vol. II, página 319 e vol. XV das Memórias Biográficas .
5
TRÊS MÁRTIRES
( Memórias Biográficas , Vol. II, página 268)
O Oratório Errante
Gatos Feios
Examinei mais de perto aquela enorme multidã o de meninos e
pensei ter visto dois chifres muito longos projetando-se atrá s de muitos
deles. Aproximei-me do que estava mais pró ximo e, parando atrá s dele,
vi um gato horrível agarrado com força ao laço. Surpreso com o ato,
tentou agachar-se e esconder o focinho entre as patas. Perguntei a esse
menino e aos outros seus nomes, mas eles nã o responderam. Eu
questionei aquela fera assustadora, mas ela apenas se agachou.
“Vá até a sacristia e peça á gua benta ao padre Merlone”, ordenei a
um dos meninos.
Ele logo voltou com ele, mas enquanto isso descobri que atrá s de
cada menino estava agachado um gato tã o horrível quanto o primeiro.
Continuei esperando que fosse um sonho. Aproveitando o sprinkler,
virei-me para um daqueles grandes felinos.
“Diga-me quem você é”, ordenei.
Abrindo e fechando alternadamente as mandíbulas, o animal
hediondo rosnou e se preparou para atacar.
"Responda-me!" Eu insisto. "O que você está fazendo aqui? Nã o
temo sua raiva. Você vê esta á gua benta? Eu vou encharcar você
completamente com isso.”
Consternado, o monstro começou a contorcer-se em contorçõ es
inacreditáveis e mais uma vez pareceu pronto para saltar sobre mim.
Fiquei de olho nele e percebi que ele segurava vá rios laços na pata.
"O que você está fazendo aqui?" Perguntei novamente, enquanto
ameaçava com á gua benta. O monstro entã o relaxou sua posiçã o tensa
para fugir.
"Parar!" Eu exigi. “Você fica aqui!”
“Olhe entã o”, ele rosnou e me mostrou seus laços. "O que eles sã o?
O que você quer dizer?" Perguntei.
“Você nã o entende? Eu incito esses meninos a fazerem confissõ es
ruins. Com estes laços eu arrasto nove décimos da humanidade para o
Inferno.”
“Entã o, em nome de Jesus Cristo, fale!”
Contorcendo-se horrivelmente, o monstro respondeu: “Com o
primeiro laço faço os meninos esconderem seus pecados na Confissã o”.
“E com o segundo?”
“Eu os faço confessar sem verdadeira tristeza.”
“E com o terceiro?”
"Eu nã o vou te contar."
“É melhor você contar, ou você ficará encharcado com esta á gua
benta!”
“Nã o, nã o, nã o vou! Já falei demais!” E rosnou de fú ria.
“Diga-me para que eu possa informar os diretores de nossas
escolas”, exigi, levantando o sprinkler.
Chamas e até algumas gotas de sangue saíram dos olhos da fera
enquanto ela murmurava a contragosto: “Com o terceiro laço eu os
impedi de tomar uma resoluçã o firme e de seguir o conselho de seu
confessor”.
“Sua fera horrível”, exclamei. Eu queria questionar ainda mais o
monstro e forçá -lo a dizer como eu poderia remediar esse grande mal e
compensar seus esforços diabó licos, mas todos aqueles gatos horríveis,
que até agora tinham feito o má ximo para permanecerem escondidos,
começaram a murmurar e entã o irromperam. em altos gritos contra
aquele que havia falado. Em meio ao alvoroço geral, percebi que nã o
conseguiria mais nada do monstro. Portanto, erguendo o aspersor e
jogando á gua benta sobre aquele que havia falado, ordenei: “Vá
embora”, e ele desapareceu. Entã o borrifei á gua benta por toda parte e,
no pandemô nio que se seguiu, todos aqueles gatos fugiram. O barulho
me acordou e me vi na cama.
Um vale imenso
Parecia que eu estava no pú lpito da nossa igreja, prestes a começar
um sermã o. Todos os meninos estavam sentados em seus lugares
habituais, olhando para cima e esperando, mas eu nã o tinha ideia sobre
o que pregar. Minha mente estava completamente em branco. Por um
tempo fiquei ali perplexo e consternado. Nunca algo assim aconteceu
comigo em todos os anos de meu ministério. Entã o, de repente, os
muros e os meninos desapareceram, e a igreja se transformou num
imenso vale. Eu estava fora de mim e nã o conseguia acreditar no que
via. "O que é isso?" Eu questionei. “Há um momento eu estava no
pú lpito da igreja e agora estou em um vale. Estou sonhando? O que está
acontecendo comigo?"
Resolvi ir, na esperança de encontrar alguém e descobrir onde
estava. Depois de um tempo, cheguei a um palá cio imponente. As suas
muitas varandas e amplos terraços harmonizam-se lindamente com o
edifício e a paisagem. Em frente ao palá cio havia uma grande praça.
Num canto, à direita, muitos rapazes aglomeravam-se à volta de uma
Senhora que distribuía lenços, um a cada rapaz. Ao pegar a deles, os
meninos subiram até o terraço e se posicionaram ao longo do
parapeito. Aproximando-me da Senhora, ouvi-a dizer a cada rapaz
enquanto lhe entregava um lenço: “Nã o o desdobre quando estiver
ventando, mas se for surpreendido pelo vento, vire imediatamente para
a direita, nunca para a esquerda. ”
A tempestade
Continuei olhando para aqueles meninos, mas naquele momento
nã o reconheci nenhum deles.
Depois de distribuídos todos os lenços, os meninos ficaram todos
alinhados no terraço em completo silêncio. Enquanto eu observava, um
menino tirou seu lenço e o desdobrou. Outros seguiram seu exemplo e
logo todos os eliminaram. Os lenços eram muito grandes e
primorosamente bordados em ouro. Em cada uma delas,
longitudinalmente, estava escrito em ouro: Regina Virtutum — “Rainha
das Virtudes”.
De repente, uma brisa suave veio do norte – isto é, da esquerda.
Gradualmente ficou mais forte; entã o se tornou um vento. Alguns dos
meninos dobraram imediatamente os lenços e os esconderam,
enquanto outros viraram rapidamente para a direita. Outros, em vez
disso, os deixaram expostos e balançando ao vento. Enquanto isso, a
perturbaçã o ganhou força, enquanto nuvens sinistras se acumulavam
no alto e escurecevam o céu. Relâ mpagos brilharam e estrondos
estrondosos e assustadores rolaram pelos céus, seguidos por granizo,
chuva e neve. Inacreditavelmente, muitos meninos ainda mantinham os
lenços balançando na tempestade. O granizo, a chuva e a neve os
atingiram impiedosamente. Em pouco tempo eles estavam cheios de
buracos, rasgados e irreconhecíveis.
Fiquei atordoado, sem saber o que fazer com isso. No entanto, eu
estava prestes a ter um choque ainda maior. Ao me aproximar dos
meninos para ver melhor, reconheci cada um deles. Eles eram meus
pró prios meninos do Orató rio. Corri até um deles e perguntei: “O que
diabos você está fazendo aqui? Você nã o é fulano de tal?”
“Sim”, ele respondeu, “eu sou”. E entã o, apontando para vá rios
outros, acrescentou: “Fulano e fulano também estã o aqui!”
Fui entã o até a Senhora que havia distribuído os lenços. Vá rios
homens estavam ao seu redor.
"O que tudo isso significa?" Eu perguntei pra eles.
A pró pria Senhora, ouvindo minha pergunta, virou-se para mim.
“Você nã o viu a inscriçã o nesses lenços?” ela perguntou. “Ora, sim,
minha senhora”, respondi: “ Regina virtutum ”.
"Você entende agora?" "Sim eu faço!"
O enorme elefante
Meus queridos meninos, sonhei que era uma tarde de festa e que
vocês estavam todos ocupados brincando, enquanto eu estava em meu
quarto com o professor Thomas Vallauri (lexicó grafo contemporâ neo,
destacado literato e querido amigo de Dom Bosco) discutindo literatura
e religiã o . De repente, houve uma batida na minha porta. Levantei-me
rapidamente e abri. Minha mã e – morta há seis anos – estava ali. Sem
fô lego, ela engasgou: “Venha e veja! Venha e veja!"
"O que aconteceu?" Perguntei.
"Vir! Vir!" ela respondeu.
Corri para a varanda. Lá embaixo no parquinho, cercado por uma
multidã o de meninos, estava um enorme elefante.
"Como isso aconteceu?" exclamei. "Vamos descer!" O professor
Vallauri e eu nos entreolhamos surpresos e alarmados e depois
descemos correndo.
Como era natural, muitos de vocês correram para o elefante.
Parecia manso e manso. Ele andava de um lado para o outro,
brincalhã o, acariciando os meninos com a tromba e obedecendo
habilmente à s suas ordens, como se tivesse nascido e sido criado no
Orató rio. Muitos de vocês continuaram seguindo-o e acariciando-o, mas
nã o todos. Na verdade, a maioria de vocês ficou com medo e fugiu para
um local seguro. Finalmente, você se escondeu na igreja. Eu também
tentei entrar pela porta lateral que dá para o parque infantil, mas
quando passei pela está tua de Nossa Senhora ao lado do bebedouro e
toquei a bainha do seu manto para me proteger, ela levantou o braço
direito. Vallauri fez o mesmo do outro lado da está tua, e a Virgem
levantou o braço esquerdo. Fiquei pasmo, sem saber o que pensar de
algo tã o extraordiná rio.
O Inimigo da Eucaristia
Quando o sinal tocou para o culto na igreja, todos vocês entraram.
Eu os segui e vi o elefante parado na parte traseira, perto da entrada
principal. Depois das Vésperas e do sermã o, subi ao altar, auxiliado pelo
Pe. Alasonatti e Pe. Sávio, para dar a bênçã o. No momento solene em
que todos vocês se curvaram profundamente para adorar o Santíssimo
Sacramento, o elefante – ainda de pé no final do corredor central –
também se ajoelhou, mas de costas para o altar.
Terminada a missa, tentei correr até o parquinho e ver o que
aconteceria, mas fui detido por alguém. Pouco depois, saí pela porta
lateral que dá para os pó rticos e vi vocês nos seus jogos habituais. O
elefante também saiu da igreja e foi até o segundo playground, onde a
nova ala está em construçã o. Marque bem isso, porque este é
precisamente o lugar onde ocorreu a cena horrível que vou descrever.
Naquele momento, no fundo do recreio, vi uma faixa seguida em
procissã o por rapazes. Trazia em letras enormes a inscriçã o Sancta
Maria, succurre miseris! - “Santa Maria, ajude seus filhos
desamparados!” Para surpresa de todos, aquela fera monstruosa, antes
tã o domesticada, de repente ficou louca. Tocando furiosamente, ele
avançou, agarrou os meninos mais pró ximos com sua tromba,
arremessou-os no ar ou jogou-os no chã o e depois pisoteou-os. Embora
horrivelmente espancadas, as vítimas ainda estavam vivas. Todo mundo
correu para salvar sua vida. Gritos, berros e pedidos de ajuda surgiram
dos feridos. Pior – você acreditaria? – alguns meninos que foram
poupados pelo elefante, em vez de ajudar seus companheiros feridos,
juntaram-se ao monstruoso bruto para encontrar novas vítimas.
Promessas e Máximas
Procurei minha mã e e o professor Vallauri para conversar com
eles, mas nã o os localizei em lugar nenhum. Entã o me virei para olhar
as inscriçõ es no manto de Maria e notei que vá rias delas eram citaçõ es
ou adaptaçõ es reais de textos bíblicos. Eu li alguns deles:
O retiro
No dia 4 de abril, Dom Bosco comunicou aos meninos que o retiro
espiritual anual começaria no dia 11 de abril. A essência da sua palestra
foi esta: “Para fazer um bom retiro, é preciso estar preparado. A menos
que você comece a fazer planos definitivos agora, sua retirada será
apenas um flash na panela. 'Vou recuperar o sono', alguém pode dizer,
ou 'farei o meu melhor para me divertir lendo algum livro interessante
ou mastigando alguma coisa', ou 'vou usar meu tempo para revisar
algum assunto. ' Outros podem dizer: 'Quero colher alguns frutos
espirituais e pensar na minha vocaçã o'. Esta é a coisa inteligente a fazer.
O que podemos dizer dos outros? O que podemos dizer a eles? Meus
queridos rapazes, este retiro pode muito bem ser o seu ú ltimo. Pense
nisso!
A programaçã o do retiro foi divulgada no dia 11 de abril. Foi a
ú ltima vez que as artesã s fizeram o retiro com os alunos.
Posteriormente, o aumento de matrículas exigiu o agendamento de dois
retiros separados. O pregador foi o Pe. Iná cio Arro.
Confissão
Dom Bosco passava horas intermináveis no confessioná rio. “Neste
ministério”, afirma o Cardeal Cagliero, “a sua bondade para com os
jovens e os idosos foi excepcional, inabalável e admirável. Quase todos
nó s fomos até ele para nos confessarmos por causa de sua sempre
benigna e paciente gentileza e caridade. Ele foi mais indulgente do que
severo e encorajou-nos a confiar na misericó rdia de Deus, enquanto
inspirava o santo temor de Deus em nossos coraçõ es”.
Os corvos ou demônios
No dia 14 de abril, Dom Bosco fez o discurso de “Boa Noite” aos
estudantes e na noite seguinte aos artesã os. Para cada grupo ele narrou
dois sonhos que, segundo ele, o surpreenderam. O primeiro sonho veio
antes do retiro, o segundo depois.
Ele falou o seguinte:
Na noite de sá bado, 2 de abril, véspera de Domingo Baixo, parecia
que eu estava na varanda observando você brincar. De repente, um
vasto lençol branco pairou sobre todo o playground. Entã o veio um
enorme bando de corvos que voou sobre o lençol até encontrar uma
abertura nas bordas, mergulhou por baixo e voou para o rosto dos
meninos, arrancando-lhes os olhos, rasgando-lhes a língua e bicando-
lhes a testa e o coraçã o! Que visã o lamentável! Incrivelmente, porém –
eu nã o conseguia acreditar – ninguém chorou ou lamentou. Todos
pareciam entorpecidos e ninguém se preocupou em se defender. " Estou
sonhando? ”Eu me perguntei:“ Devo estar. De que outra forma esses
meninos poderiam se deixar ser massacrados daquele jeito, sem sequer
choramingar? ”Logo, porém, ouvi um coro de gritos e gritos, lamentos e
choramingos, enquanto os feridos começavam a rastejar para longe dos
outros. Eu nã o sabia o que pensar de tudo isso. “ Talvez ”, pensei, “ já
que é Domingo Baixo, o Senhor queira nos mostrar que Ele nos protegerá
com Sua graça. Esses corvos podem ser demônios .” Minha reflexã o foi
repentinamente interrompida quando um barulho me acordou. Era dia
e alguém batia à minha porta.
Fiquei surpreso na segunda-feira quando nã o foram tantos como
de costume para a Comunhã o. Houve menos comunhõ es na terça-feira e
muito poucas na quarta-feira, quando, no meio da missa, as Confissõ es
terminaram. Decidi nã o dizer nada, porém, porque esperava que, com o
retiro espiritual prestes a começar, as coisas fossem resolvidas.
Ontem à noite, 14 de abril, tive outro sonho. Tenho ouvido
Confissõ es durante o dia e, como sempre, fiquei pensando no seu bem-
estar espiritual. Fui para a cama, mas nã o consegui dormir e apenas
cochilei por algumas horas. Finalmente, quando adormeci, parecia mais
uma vez estar na varanda observando você brincar. Eu pude identificar
aqueles que foram feridos pelos corvos. De repente, apareceram dois
personagens: um segurava um pequeno pote de unguento, o outro um
pano de limpeza. Eles imediatamente começaram a cuidar dos feridos.
Assim que a pomada tocou as feridas, os meninos ficaram curados
instantaneamente. Vá rios, porém, recusaram-se a ser tratados e
rastejaram para trá s à medida que os dois personagens se
aproximavam deles. O que mais me desagradou foi que havia muitos
desses meninos. Fiz questã o de anotar os nomes, pois conhecia todos,
mas, enquanto escrevia, acordei. Como no meu sonho eu estava
escrevendo seus nomes, eles ainda estavam claros em minha mente. Na
verdade, eles estã o claros agora, embora eu possa ter esquecido alguns
– muito poucos, tenho certeza. Aos poucos, falarei com esses meninos –
como já fiz com alguns – e tentarei convencê-los a tratarem seus
ferimentos.
Faça o que quiser deste sonho. Tenho certeza de que nenhum dano
espiritual lhe acontecerá se você acreditar plenamente. Mas por favor
nã o deixe isso fora do Orató rio. Sou bastante aberto com vocês, mas
quero que guardem essas coisas para vocês.
15
ALUNO AMADO DE DOM BOSCO
ST. DOMINICO SÁVIO
D OMINIC nasceu em Riva di Chieri em 1842. Ainda com sete anos de
idade recebeu pela primeira vez Jesus no coraçã o e, no ardor do seu
amor angelical, tomou entã o as seguintes resoluçõ es:
1. Meus amigos doravante serã o Jesus e Maria.
2. Morte em vez de pecado.
Na escola brilhou como um maravilhoso exemplo de virtude e de
aplicaçã o, e no final do ensino fundamental deixou a casa do pai para
atender ao chamado do alto.
Jardim Salesiano
“Todos aqueles aí sã o salesianos, ou aqueles que foram educados
por você e seus filhos, ou que de uma forma ou de outra foram enviados
no caminho de Deus e sua salvaçã o se tornou realmente possível.
Conte-os se puder! Mas seriam muitos, muitos mais ainda, se você
tivesse maior fé e confiança em Deus. . .”
Soltei um grande suspiro ao ouvir essa advertência e decidi nã o
estabelecer limites à minha confiança em Deus para o futuro.
Dominic entã o segurou diante de mim um magnífico ramo de
flores; eram rosas, violetas, girassó is, lírios, ramos de sempre-vivas e, o
que é mais incomum para um buquê, espigas de trigo. Ele me ofereceu e
disse:
"Olhar."
“Estou olhando”, respondi, “mas nã o entendo nada”.
“Certifique-se de que todos os seus meninos o tenham e que o
defendam destemidamente contra qualquer um que tente tirá -lo deles.
Com essas flores seguras em sua posse, eles nunca deixarã o de ser
felizes.”
“Ainda nã o entendo; Por favor explique . . .”
“Estas flores representam as virtudes e qualidades que os vossos
meninos necessitam para poderem viver para Deus e nã o para si
mesmos. A rosa é o símbolo do amor, a violeta da humildade, o girassol
da obediência, a genciana da penitência e da autodisciplina, as espigas
de milho da comunhã o frequente, o lírio da pureza, os ramos de
sempre-verde da constâ ncia e da perseverança.
“Ninguém foi adornado melhor com essas flores do que você”, eu
disse a ele. “Diga-me qual foi o seu maior consolo quando você morreu.”
"O que você acha?" ele respondeu.
Fiz vá rias tentativas de tentar dizer o que pensei que poderia ser,
como ter vivido uma vida tã o pura, ter acumulado tantos tesouros no
Céu com todas as suas boas obras, e assim por diante, mas para todos
ele balançou a cabeça com um sorriso.
“Diga-me, entã o”, eu disse, bastante desanimado com meu fracasso;
"o que foi isso?"
“O que mais me ajudou e me deu maior alegria quando estava
morrendo”, respondeu Domingos, “ foi o carinho e a ajuda da grande
Mãe de Deus. Diga a seus filhos para nã o deixarem de ficar perto dela
enquanto estiverem vivos. Mas rá pido, o tempo está quase acabando.”
“E quanto ao futuro?” Perguntei.
“No pró ximo ano você terá grandes tristezas para suportar. Ao
todo, oito dos seus filhos morrerã o. Mas tenha bom coraçã o – eles
deixarã o esta vida para o Céu. Deus está sempre com você e lhe dará
outros filhos igualmente dignos”.
“E a Congregaçã o Salesiana?”
“Deus tem grandes coisas reservadas para isso. No pró ximo ano
começará algo que se estenderá por todo o mundo, de norte a sul, de
leste a oeste. Este é apenas um dos muitos grandes desenvolvimentos
do futuro. No entanto, isto só pode acontecer com a condiçã o de que os
vossos filhos sigam o caminho e o plano de Deus, e nã o os seus
pró prios. 1
“ Se os seus sacerdotes puderem ser fiéis à missão e ao modo de vida
que Deus lhes mostrou, o futuro da Congregação Salesiana será
extraordinário e não haverá como contar o número daqueles que foram
trazidos a Deus através dela. Há, porém, uma outra condição muito
importante: que todos vocês permaneçam sempre próximos da grande
Mãe de Deus e proclamem sempre destemidamente, pelo seu exemplo, a
dignidade de uma vida pura e casta, que tanto agrada a Deus ”.
“E a Igreja em geral?” Eu entã o perguntei.
“O que está reservado para a Igreja só Deus sabe. Estas sã o coisas
que Ele reserva para Si mesmo e nã o podem ser comunicadas de
antemã o a nenhum ser criado.”
“E Pio IX?” Perguntei.
“Isso eu posso dizer. Ele nã o terá que perseverar na terra por
muito mais tempo. Deus o recompensará por seu serviço fiel. A Igreja
nã o será submersa pelas dificuldades atuais”.
“E eu?” Perguntei.
“Você ainda tem muitas tristezas e dificuldades pela frente. . . mas
apresse-se, pois meu tempo está quase acabando.”
Estendi as mã os para detê-lo, se pudesse, mas elas agarraram
apenas o ar. Dominic sorriu e disse:
"O que você está tentando fazer?"
“Nã o quero deixar você ir”, eu disse, “mas você está fisicamente
aqui? Você é realmente meu filho Dominic?
“É assim que as coisas sã o. Se pela providência de Deus alguém
que está morto tem que aparecer para alguém que ainda está vivo, ele é
visto em sua aparência corporal normal e em suas características
distintivas. Ele nã o pode, porém, ser tocado corporalmente, pois é um
espírito puro. Ele mantém esta aparência corporal até que se reú na com
seu corpo na Ressurreiçã o.”
“Uma ú ltima coisa”, eu disse agora. “Todos os meus meninos estã o
vivendo como filhos de Deus? Diga-me algo que me permitirá ajudá -los
mais.”
“Você pode dividir seus meninos em três grupos”, respondeu
Dominic, “e estas três folhas de papel indicam como”. Ele me entregou o
primeiro. Nele estava escrito em caracteres grandes:
Invicto
Esta folha continha os nomes daqueles que nunca foram vencidos
pelo mal. Eles eram muito numerosos. Eu vi todos eles antes de mim.
Muitos deles eu conhecia; muitos eu vi pela primeira vez. Vi como eles
viveram as suas vidas para Deus, destemidamente e inabalavelmente,
apesar das enormes dificuldades e perigos que encontraram. Era como
se estivessem viajando por uma estrada e fossem continuamente
emboscados; eles foram muito prejudicados e molestados pela
barragem, mas nunca foram derrubados ou feridos.
Dominic entã o me deu a segunda folha, na qual estava escrito em
caracteres grandes:
Vítimas
Nesta folha estavam os nomes daqueles que ofenderam
gravemente a Deus, foram gravemente feridos na viagem, mas
recuperaram o equilíbrio e curaram as feridas com uma boa Confissã o e
Comunhã o, e tentavam prosseguir novamente, embora alguns
mostrassem sinais de desanimados com sua experiência. Eles eram
mais numerosos do que na primeira folha. Eu vi todos eles e mais uma
vez reconheci muitos deles.
Estendi a mã o para a terceira folha onde pude ver escritas as
palavras:
Coroas de rosas
Dois outros anjos apareceram agora em cada lado do altar,
carregando cestos ornamentados cheios das mais lindas e
extremamente belas coroas de rosas. Nã o eram rosas terrenas, mas
crescidas no céu, simbolizando a imortalidade. Com estas o Anjo da
Guarda coroou todos os meninos dispostos diante do altar de Nossa
Senhora. Notei entre eles muitos que nunca tinha visto antes. Outra
coisa notável é esta: algumas das coroas mais bonitas foram para
meninos que eram tã o feios que chegavam a ser repulsivos.
Obviamente, a virtude da santa pureza, que eles possuíam
eminentemente, compensava amplamente sua aparência pouco
atraente. Muitos dos meninos também possuíam essa virtude, embora
nã o no mesmo grau. Os jovens que se destacaram na obediência, na
humildade ou no amor a Deus também foram coroados de acordo com
os seus méritos.
O Anjo dirigiu-se entã o a todos os rapazes da seguinte forma: “Foi
desejo de Nossa Senhora que hoje fossem coroados com estas lindas
rosas. Certifique-se de que eles nunca sejam tirados de você.
Humildade, obediência e castidade irã o protegê-los para você. Com
estas três virtudes você sempre encontrará o favor de Maria e um dia
receberá uma coroa infinitamente mais bela do que a que você usa
hoje”.
Todos vocês cantaram entã o a primeira estrofe da Ave Maris Stella
– “Salve Estrela do Mar!” Depois você se virou e saiu como havia vindo,
cantando o hino Laudate Maria – “Louvado seja Maria” – com tanto
entusiasmo que fiquei realmente surpreso. Eu te segui por um tempo;
depois voltei para dar uma olhada nos meninos que o Anjo havia
afastado, mas eles nã o estavam mais lá .
Meus queridos filhos, sei quem foi coroado e quem foi rejeitado. A
estes ú ltimos avisarei em particular, para que se esforcem em trazer
presentes agradáveis a Nossa Senhora.
Façamos algumas observaçõ es:
1. Todos vocês carregavam uma variedade de flores, mas
infalivelmente, cada buquê tinha sua cota de espinhos – alguns mais,
outros menos. Depois de muito pensar, cheguei à conclusã o de que
esses espinhos simbolizam atos de desobediência, como guardar
dinheiro em vez de depositá -lo no Padre Prefeito, pedir licença para ir a
um lugar e depois ir para outro, chegar atrasado à escola, comer no
astutamente, frequentar dormitó rios de outros meninos (embora
sabendo que isso é sempre estritamente proibido), permanecer na
cama depois da hora de acordar, negligenciar prá ticas prescritas de
piedade, conversar em momentos de silêncio, comprar livros e nã o
submetê-los à aprovaçã o, enviar ou receber cartas à s escondidas e
comprando e vendendo coisas entre vocês. É isso que os espinhos
representam.
“É pecado quebrar as regras da casa?” muitos perguntarã o. Depois
de considerar seriamente esta questã o, minha resposta é um firme
“Sim”. Nã o direi se é mortal ou venial. As circunstâ ncias determinarã o
isso, mas certamente é um pecado.
Alguns podem argumentar que os Dez Mandamentos nã o dizem
nada sobre obedecer à s regras da casa. Bem, o Quarto Mandamento diz:
“Honra teu pai e tua mã e”. Você sabe o que pai e mã e representam? Nã o
só os pais, mas também aqueles que ocupam o seu lugar. Além disso,
nã o diz a Sagrada Escritura: “Obedeçam aos seus superiores”? (Hebreus
13:17). Se você deve obedecê-los, segue-se que eles têm o poder de
comandar. É por isso que temos regras e estas devem ser obedecidas.
2. Alguns buquês tinham pregos entre as flores, os pregos que
crucificaram Jesus. Como poderia ser? Como sempre, começa-se com
coisas pequenas e passa-se para coisas mais sérias. . . Ele se permite
liberdades indevidas e cai em pecado mortal. Foi assim que os pregos
conseguiram entrar naqueles buquês, como crucificaram Jesus
novamente, como diz Sã o Paulo: “. . . crucificando novamente. . . o Filho
de Deus.” (Hebreus 6:6).
3. Muitos buquês continham flores podres ou sem perfume,
símbolos de boas obras realizadas em estado de pecado mortal – e,
portanto, sem mérito – ou por motivos humanos, como ambiçã o ou
apenas para agradar professores e superiores. Por isso o Anjo, depois
de repreender aqueles meninos por ousarem oferecer tais coisas a
Nossa Senhora, mandou-os voltar para enfeitar os buquês. Só depois de
terem feito isso é que o Anjo os aceitou e os colocou no altar. . . Ao
retornarem ao altar, esses meninos nã o seguiram nenhuma ordem, mas
foram até o Anjo assim que terminaram de enfeitar seus buquês, e
depois juntaram-se a eles para serem coroados.
Neste sonho eu vi seu passado e seu futuro. Já falei sobre isso para
muitos de vocês. Da mesma forma contarei o resto. Enquanto isso, meus
filhos, cuidem para que a Santíssima Virgem receba sempre de vocês
presentes que ela nã o terá que recusar.
18
INOCÊNCIA PRESERVADA
PELA PENITÊNCIA
(Memó rias Biográficas, Vol. XVII, App. 22)
Pessoas e lugares
Louvores à Pureza
Eles haviam iniciado um diá logo: agora falariam alternadamente;
agora eles faziam perguntas uns aos outros e soltavam exclamaçõ es.
Agora ambos estariam sentados; agora um permanecia sentado
enquanto o outro ficava de pé, e à s vezes andavam de um lado para
outro. Mas eles nunca saíram daquele tapete brilhante e nã o tocaram
nem na grama nem nas flores.
No seu sonho, Dom Bosco era um espectador. Ele nã o disse uma
palavra à quelas donzelas, nem elas notaram sua presença. Um disse ao
outro com voz muito doce: “ O que é a inocência? ” “O estado feliz de
graça santificadora preservada por meio da observâ ncia constante e
exata da lei divina. E a pureza preservada da inocência é a fonte e fonte
de todo conhecimento e virtude.”
A primeira: “Que brilho, que gló ria, que esplendor de virtude viver
entre os ímpios e ainda preservar a pureza da inocência e a integridade
da moral!” A segunda levantou-se e, parando perto de sua companheira,
exclamou: “Feliz aquele jovem que nã o dá ouvidos aos conselhos dos
ímpios e nã o segue o caminho dos pecadores, mas cujo deleite é a lei de
Deus, na qual ele medita dia e noite. Ele será como a á rvore plantada
perto das á guas correntes da graça de Deus, que dará , no seu devido
tempo, frutos copiosos de boas obras; apesar do sopro dos ventos, as
folhas das boas intençõ es e dos méritos nã o cairã o dele, e tudo o que
ele fizer terá bons resultados. Cada circunstâ ncia de sua vida coopera
para aumentar sua recompensa.”
Assim dizendo, apontou para a á rvore do jardim carregada de
lindos frutos, que espalhavam pelo ar um perfume delicioso, enquanto
riachos cristalinos corriam ora entre duas margens cobertas de flores,
ora caindo em pequenas cascatas, ora formando pequenas cascatas.
piscinas, banhando os troncos das á rvores, com um murmú rio como o
som misterioso de uma mú sica distante.
A primeira donzela respondeu: “Ele é como um lírio entre
espinhos, que o Senhor colhe em seu jardim para torná -lo um
ornamento em Seu coraçã o, e ele pode dizer ao seu Senhor: 'Meu
amado para mim e eu para Ele, pois Ele alimenta-se entre lírios.'
”Dizendo isso, ela apontou para um grande nú mero de lindos lírios, que
erguiam suas taças brancas como a neve entre a grama e as outras
flores, enquanto, ao longe, uma sebe verde muito alta cercava todo o
jardim. Esta sebe era feita de espinhos pró ximos, e atrá s dela podiam-se
ver monstros repugnantes vagando como fantasmas, tentando entrar
no jardim, mas eram impedidos pelos espinhos da sebe.
"Isso está certo! Que verdade há em suas palavras!” acrescentou o
segundo. “Feliz o jovem que for encontrado sem defeitos! Quem é ele e
vamos elogiá -lo? Pois ele fez grandes coisas em sua vida; ele foi
provado e considerado perfeito e terá gló ria eterna. Ele poderia ter
pecado e nã o pecou; ele poderia fazer coisas má s e nã o as fez. Portanto
os seus bens estã o estabelecidos no Senhor, e toda a Igreja dos Santos
declarará as suas boas obras”. “E que gló ria Deus reservou para eles na
terra! Ele os chamará : lhes dará um lugar em Seu Santuá rio como
Ministros de Seus Mistérios, e lhes dará um nome eterno, que jamais
perecerá”, concluiu o primeiro.
A segunda levantou-se e exclamou: “Quem pode descrever a beleza
de uma alma inocente? Tal alma está esplendidamente vestida como um
de nó s, adornada com a estola branca do Batismo. Seu pescoço e braços
resplandecem com joias divinas; ele tem no dedo o anel da uniã o com
Deus. Ele caminha com leveza em seu caminho para a eternidade; além
disso, estende-se diante dele uma estrada adornada com estrelas. . .
“Um taberná culo vivo do Espírito Santo, com o Sangue de Jesus nas
veias, colorindo as faces e os lá bios; com a Santíssima Trindade no seu
coraçã o imaculado, ele derrama torrentes de luz, que o vestem com o
brilho do sol; uma chuva de flores cai do alto e enche o ar. Ao redor
estã o flutuando doces melodias de mú sica dos Anjos, ecoando sua
oraçã o. Maria Santíssima está ao seu lado, pronta para defendê-lo. O
céu está aberto para ele. É um espetá culo encantador para a imensa
legiã o de santos e espíritos bem-aventurados que o recebem e acolhem.
Deus, no esplendor inacessível da sua gló ria, aponta com a mã o direita
o trono que lhe preparou, enquanto na mã o esquerda segura a coroa
brilhante que o adornará para sempre.
“O inocente é o desejo, a alegria, o aplauso do Paraíso. Seu rosto
está adornado com uma alegria inefável. Ele é filho de Deus; ele tem
Deus como pai e o Paraíso como herança. Ele está continuamente com
Deus: vê-O, ama-O; ele o possui e desfruta dele; ele tem um raio das
delícias do Céu: ele possui todos os Seus dons e Suas perfeiçõ es”.
“É por isso que a inocência nos Santos do Antigo Testamento, nos
Santos do Novo Testamento e especialmente nos Má rtires parece tã o
gloriosa!
“Ó Inocência, como você é linda! Quando tentado, você aumenta
em perfeiçã o; quando humilhado você se eleva mais sublime; no
combate você sai vitorioso; e na morte você voa para sua coroa. Na
escravidã o você é livre; nos perigos você está tranquilo e seguro;
acorrentado você está feliz. Os poderosos se curvam diante de você; os
governantes lhe dã o as boas-vindas; e os grandes te procuram. Os bons
obedecem a você; os ímpios invejam você; seus rivais imitam você; seus
adversá rios sucumbem a você. Se os homens te condenarem
injustamente, você sempre sairá vitorioso.”
A delicadeza da castidade,
as desgraças de quem a perde
As duas donzelas pararam por um instante, como que para
recuperar o fô lego depois de um esforço tã o ardente, e entã o se
agarraram pela mã o e, olhando uma para a outra, continuaram:
“Oh, se os jovens soubessem o que é o precioso tesouro da
inocência, com que zelo guardariam a estola do Santo Batismo desde o
início da vida! Mas infelizmente eles nã o refletem e nã o imaginam o que
significa manchá -lo!”
“A inocência é uma bebida muito preciosa, mas está encerrada num
vaso de barro frá gil.”
“A inocência é uma joia muito preciosa, mas seu valor nã o é
conhecido; é perdido e facilmente trocado por um objeto sem valor.”
“A inocência é um espelho dourado que reflete a imagem de Deus.
Mas basta uma lufada de ar ú mido para escurecê-lo, e é preciso mantê-
lo coberto com um véu.”
“A inocência é um lírio.”
“Mas o simples toque de uma mã o á spera estraga tudo.”
“A inocência é um manto branco: Omni tempore sint vestimenta tua
candida - 'Deixe suas roupas serem brancas e brilhantes em todos os
momentos.'”
“Mas uma ú nica mancha é suficiente para sujá -la; portanto, é
preciso caminhar com muita precauçã o.”
“Inocência é integridade; perde-se se for estragado por um ú nico
pecado e perde o tesouro da sua beleza.”
“Apenas um pecado mortal é suficiente e, uma vez perdido, estará
perdido para sempre.”
“Que pena que todos os dias tantos percam a inocência! Quando
um menino cai em pecado, o Paraíso se fecha; a Santíssima Virgem e
seu Anjo Guardiã o desaparecem; a mú sica cessa; a luz se apaga; Deus
nã o está mais em seu coraçã o; a estrada estrelada que ele percorreu
desaparece; ele cai e permanece num ponto como uma ilha no meio do
mar, um mar de fogo, que se estende até o horizonte mais distante da
eternidade e desce até as profundezas do caos. Acima de sua cabeça, no
céu escurecido, o relâ mpago da Justiça Divina brilha ameaçadoramente.
Sataná s avançou sobre ele e o carregou com correntes, colocou o pé em
seu pescoço e, erguendo seu focinho horrivelmente feio, gritou: 'Eu
venci! Seu filho é meu escravo; ele nã o pertence mais a você! A alegria
acabou para ele. Se, naquele momento, a justiça de Deus tirar aquele
ponto que o sustenta, ele estará perdido para sempre”.
“Ele pode se levantar novamente! A misericó rdia de Deus é infinita.
Uma boa Confissã o devolverá a graça de Deus e o título de filho de
Deus”.
“Mas chega de inocência! E que consequências do primeiro pecado
permanecerã o nele! Ele conhece o mal, que antes nã o conhecia; ele
sentirá quã o terríveis sã o suas inclinaçõ es bá sicas; sentirá a enorme
dívida que contraiu com a Justiça Divina; nos combates espirituais ele
será mais fraco. Ele experimentará o que nunca experimentou antes; a
saber, vergonha, tristeza e remorso.”
“E pensar que antes dele foi dito: 'Deixai vir a mim as criancinhas.
Eles serã o como os Anjos de Deus no Céu'. . . 'Filho, dê-me seu coraçã o. .
.'”
Sagrada Comunhão e
Devoção a Maria
“O pró prio Deus, com Sua mã o providente, cinge Seus inocentes
com cruzes e espinhos, como fez com Jó , José, Tobias e outros santos.
Quia acceptus eras Deo, neccesse fuit ut tentatio probaret te -'Porque
foste aceitável a Deus, foi necessá rio que a tentaçã o te provasse.'”
“O caminho dos inocentes tem as suas provaçõ es e os seus
sacrifícios, mas tem a sua força na Sagrada Comunhã o, porque quem
comunica frequentemente tem a vida eterna: está em Jesus, e Jesus está
nele. Aquele que vive a mesma vida que Jesus será ressuscitado por Ele
no ú ltimo dia. Este é o trigo dos eleitos e o vinho que produz virgens.
Parasti in conspectu tuo mensam adversus eos qui tribulant me. Cadent a
latere tuo mille, et decem milia a dexteris tuis: ad te autem non
appropinquabunt - 'Preparaste uma mesa diante de ti, contra os que me
afligem. Mil cairã o ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas eles nã o
chegarã o a ti.'”
“E a Virgem dulcíssima, amada por ele, é para ele uma Mã e. Ego
mater pulchrae dilectionis et timoris et agnitionis et sanctae spei. In me
gratia omnis viae et veritatis; em mim omnis spes vitae et virtutis. O ego
me diligente, diligo. Qui elucidant me vitam aeternam habebunt.
Terribilis ut castrorum acies ordinata —'Eu sou a mã e do belo amor, do
medo, do conhecimento e da santa esperança. Em mim está toda graça
do caminho e da verdade, em mim está toda esperança de vida e de
virtude. Eu amo aqueles que me amam. Aqueles que me explicarem
terã o vida eterna. Terrível como um exército em formaçã o.'”
As duas donzelas entã o se viraram e subiram lentamente a
encosta; e um deles exclamou:
“A segurança dos justos vem do Senhor, e Ele é seu protetor nos
tempos de tribulaçã o. O Senhor os ajudará e os libertará ; Ele os tirará
das mã os dos pecadores e os salvará , porque eles esperaram Nele”.
“Deus me cingiu de força”, continuou o outro, “e tornou imaculado
o caminho que sigo”.
Quando as duas donzelas chegaram ao meio do magnífico tapete,
elas se viraram.
“Sim”, gritou um deles, “ a inocência coroada com penitência é a
rainha das virtudes. ” E o outro exclamou:
“Quã o gloriosa e bela é a geraçã o casta! Sua memó ria é imortal e
conhecida tanto por Deus como pelos homens. As pessoas o imitam
quando está presente e o desejam quando ele partiu para o Céu,
coroado triunfantemente na eternidade, tendo conquistado a
recompensa de seus castos combates.
“E que triunfo, que alegria apresentar a Deus imaculada a estola do
Santo Batismo, depois de tantos combates, entre os aplausos, os hinos e
o esplendor das hostes celestes!”
Enquanto falavam assim da recompensa que está preparada para a
“inocência preservada pela penitência”, Dom Bosco viu aparecerem
bandos de Anjos que desciam sobre o brilhante tapete branco e se
juntavam à s duas donzelas, que permaneciam sempre no centro. Eles
eram uma grande multidã o e cantavam:
Benedictus Deus et Pater Domini Nostri Jesu Christi QUI BENEDICIT
NOS . . . in ipso ante mundi constitucionalem ut essemus sancti et
immaculati in conspectu ejus in caritate, qui praedestinavit nos in
adoptem filiorum per Jesum Christum —“Bendito seja Deus e Pai de
Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou. . . Nele antes da fundaçã o
do mundo, para que fô ssemos santos e imaculados diante dele na
caridade, o qual nos predestinou para a adoçã o de filhos por meio de
Jesus Cristo”.
O Cântico da Inocência
As duas donzelas começaram entã o a cantar um hino incrível, com
palavras e notas que somente os Anjos que estavam mais pró ximos do
centro poderiam fazer. Os outros também cantavam, mas Dom Bosco
nã o ouvia as suas vozes, embora fizessem gestos, mexessem os lá bios e
modelassem a boca como se cantassem. As donzelas cantaram:
Me propter inocenteiam suscepisti et confirmati me in conspectu tuo
in aeternum. Benedictus Deus a saéculo. Fiat! Fiat! - “Tu me sustentaste
em razã o da minha inocência e me estabeleceste à Tua vista para
sempre. Bendito seja Deus de eternidade em eternidade. Que assim
seja! Que assim seja!"
Enquanto isso, ao primeiro grupo de Anjos juntavam-se outros em
nú meros cada vez maiores; seus vestidos tinham uma encantadora
variedade de cores e ornamentos, cada um diferente dos outros,
principalmente dos das donzelas. Mas a riqueza e magnificência eram
divinas. A beleza de cada um deles era tal que nenhuma mente humana
pode imaginar sequer a sua sombra; todo o espetá culo desta cena nã o
pode ser descrito; mas acrescentando palavras a palavras, é possível, de
alguma forma, dar pelo menos uma ideia imperfeita disso.
Quando as donzelas pararam de cantar, ouviu-se todo o grupo
entoar em conjunto um imenso câ ntico, tã o harmonioso que nunca se
ouviu igual na terra, nem jamais o será . Eles cantaram:
Ei qui potest vos conservare sine peccato et constituere ante
conspectum gloriae suae imaculatos in exultatione, in adventu Domini
Nostri Jesu Christi: soli Deo Salvatori Nostri per Jesum Christum
Dominum nostrum, gloria et magnificia, imperium et potestas ante omne
saeculum et nunc et in omnia saecula saeculorum. Amém - “À quele que é
capaz de preservá -los sem pecado e apresentar-vos imaculados diante
da presença de Sua gló ria com grande alegria na vinda de Nosso Senhor
Jesus Cristo: ao Ú nico Deus, Nosso Salvador, por meio de Jesus Cristo
Nosso Senhor, seja gló ria e magnificência, império e poder, antes de
todos os tempos, e agora, e para todos os tempos. Amém."
Enquanto cantavam, mais e mais Anjos se juntavam a eles
continuamente, e quando o câ ntico terminou, pouco a pouco todos eles
se elevaram e desapareceram; assim desapareceu toda a visã o.
19
NA TERRA DO JULGAMENTO
( Memórias Biográficas , Vol. XI, página 239ss.)
Forcados e Batalha
Entã o vi uma multidã o de rapazes – creio que mais de 100 mil –
descendo as colinas. Houve um silêncio absoluto. Carregando forcados,
eles corriam em direçã o ao vale. Reconheci entre eles todos os meninos
do Orató rio e os das nossas outras escolas; mas havia muitos mais
desconhecidos para mim. Só entã o, de um lado do vale, o céu escureceu
e hordas de animais semelhantes a leõ es e tigres apareceram. Essas
feras ferozes tinham corpos grandes, pernas fortes e pescoços longos,
mas suas cabeças eram bem pequenas. Eles eram aterrorizantes. Com
os olhos injetados de sangue saltando das ó rbitas, eles se atiraram
contra os meninos, que imediatamente ficaram prontos para se
defender. À medida que os animais atacavam, os rapazes mantinham-se
firmes e espancavam-nos com os seus forcados pontiagudos, que
baixavam ou levantavam conforme necessá rio.
Incapazes de dominá -los com este primeiro ataque, as feras
agarraram as pontas dos garfos, apenas para quebrarem os dentes e
desaparecerem. Alguns dos meninos, porém, tinham garfos com apenas
um dente e ficaram feridos. Outros tinham forcados com cabos
quebrados ou comidos por vermes, e outros ainda se atiravam contra os
animais com as mã os nuas e caíam vítimas; alguns deles foram mortos.
Muitos tinham forcados com duas pontas e cabos novos.
Enquanto isso acontecia, desde o início enxames de serpentes
deslizaram em volta do meu cavalo. Chutando e batendo os pés, o
cavalo esmagou-os e expulsou-os: ao mesmo tempo, ficou cada vez mais
alto.
Perguntei a alguém o que simbolizavam os garfos de duas pontas.
Recebi um garfo. Nas pontas li: Confissã o, em um; Comunhã o, por outro.
“Mas o que significam as pontas?”
“Toque a trombeta!”
Eu fiz e ouvi estas palavras: “Boa Confissã o e boa Comunhã o”.
Toquei novamente a trombeta e ouvi estas palavras: “Cabo quebrado:
Confissõ es e Comunhõ es sacrílegas. Cabo comido por vermes:
Confissõ es defeituosas.”
Mortos e Feridos
Agora que o primeiro ataque terminou, passei pelo campo de
batalha e vi muitos mortos e feridos. Vi que alguns dos mortos foram
estrangulados e seus pescoços estavam inchados e deformados. Os
rostos dos outros estavam horrivelmente desfigurados; outros ainda
morreram de fome enquanto comida atraente estava ao seu alcance. Os
meninos estrangulados sã o aqueles que infelizmente cometeram alguns
pecados na infâ ncia e nunca os confessaram: os que têm o rosto
desfigurado sã o glutõ es; e os meninos que morreram de fome sã o
aqueles que se confessam, mas nunca seguem o conselho ou
admoestaçã o do seu confessor.
Os espinhos
Ao lado de cada menino cujo forcado tinha o cabo carcomido, uma
palavra se destacava. Para alguns foi Orgulho ; para outros, Preguiça ;
para outros ainda, Imodéstia , etc. . . Devo acrescentar também que em
sua marcha os meninos tiveram que caminhar sobre um canteiro de
rosas. Eles gostavam, mas depois de alguns passos soltavam um grito e
caíam no chã o, mortos ou feridos por causa dos espinhos escondidos
embaixo. Outros, em vez disso, pisotearam corajosamente aquelas rosas
e, encorajando-se mutuamente, marcharam para a vitó ria.
Explicação
Por motivos posteriormente explicados, Dom Bosco voltou a este
tema no dia 6 de maio, festa da Ascensã o. Ele reuniu os estudantes e os
artesã os para as oraçõ es noturnas e entã o falou o seguinte:
Outra noite nã o pude dizer tudo porque tínhamos visitantes entre
nó s. Estas coisas devem ser mantidas entre nó s e ninguém deve
escrever a amigos ou parentes sobre elas. Confio tudo a você, até meus
pecados.
O vale, aquela terra de provação, é este mundo. A semi-escuridã o é o
lugar da perdiçã o; os dois montes sã o os Mandamentos de Deus e da
Igreja; as serpentes sã o os demô nios; os monstros, tentaçõ es malignas;
o cavalo, eu acho, é o mesmo que atingiu Heliodoro 2 e representa
nossa confiança em Deus. Os meninos que passaram por cima das
rosas e caíram mortos sã o aqueles que se entregam aos prazeres deste
mundo que matam a alma; aqueles que pisotearam as rosas sã o
aqueles que rejeitam os prazeres mundanos e, portanto, sã o vitoriosos.
Os meninos que voaram sob o manto sã o aqueles que preservaram a
sua inocê ncia batismal.
Para o bem de quem quiser saber, aos poucos contarei aos
interessados que tipo de arma portavam e se foram vitoriosos ou nã o,
mortos ou feridos. Nã o conhecia todos os meninos, mas reconheci os do
Orató rio. E se os outros viessem aqui, eu os reconheceria
imediatamente no momento em que os visse.
Questões
Pe. Berto, secretá rio de Dom Bosco que anotou este sonho,
escreveu que nã o conseguia se lembrar de muitas coisas que Dom
Bosco havia narrado e explicado longamente. Na manhã seguinte, 7 de
maio, quando estava com Dom Bosco, perguntou-lhe: “ Como você pode
se lembrar de todos os meninos que viu em seu sonho e contar a cada um
o estado em que se encontrava e identificar seus defeitos? “ Oh ”,
respondeu Dom Bosco, “por meio de Otis Botis Pia Tutis”. Esta era uma
frase sem sentido que ele costumava usar para evitar perguntas
embaraçosas.
Quando Pe. Barberis também abordou o mesmo assunto, Dom
Bosco disse gravemente: “ Foi muito mais que um sonho ”; e
interrompendo a conversa, ele passou para outras coisas.
Pe. Berto termina o seu relató rio com estas palavras: “Eu também,
o redator deste relató rio, perguntei-lhe sobre a minha parte neste
sonho. Sua resposta foi tã o direta que comecei a chorar e disse: 'Um
anjo do céu nã o poderia ter atingido melhor a verdade.'”
Mais perguntas
Mais uma vez este sonho foi tema de outro discurso de “Boa Noite”
no dia 4 de junho. A comunidade esteve presente neste diá logo entre
Pe. Barberis e Dom Bosco.
Pe. Barberis: “Com a sua permissã o, Dom Bosco, esta noite gostaria
de fazer algumas perguntas. Nã o me atrevi a perguntar nestas ú ltimas
noites porque tivemos visitas. Gostaria de alguns esclarecimentos sobre
seu ú ltimo sonho.”
Dom Bosco: “Vá em frente. Já faz algum tempo desde a ú ltima vez
que mencionei isso, mas nã o importa.
Pe. Barberis: “Você disse no final do seu sonho que alguns voaram
para o manto de Maria, alguns correram, outros caminharam devagar e
alguns chapinharam na lama, ficaram salpicados e mal conseguiram se
proteger sob o manto. Você já nos disse que aqueles que voavam eram
os puros. Podemos entender facilmente aqueles que fugiram, mas o que
significa aqueles que ficaram presos na lama?”
Dom Bosco: “Aqueles que ficaram presos na lama e que, em sua
maioria, nã o conseguiram alcançar o manto de Nossa Senhora
simbolizam os apegados à s coisas deste mundo. Sendo egoístas,
pensam apenas em si mesmos; e por isso se sujam de lama e nã o
conseguem mais sair do chã o e aspirar à s coisas do Céu. Eles veem a
Santíssima Virgem chamando-os e desejam ir até ela. Eles dã o alguns
passos, mas a lama os segura. Sempre acontece assim. O Senhor diz: '
Onde estiver o teu tesouro, aí também estará o teu coração .' ( Mateus
6:21). Aqueles que nã o se elevam aos tesouros da graça colocam o
coraçã o nas coisas deste mundo. Prazeres, riquezas, sucesso nos
negó cios, vangló ria é tudo em que pensam. O céu é simplesmente
ignorado.”
Pe. Barberis: “Há outra coisa que o senhor nã o nos contou, Dom
Bosco. Você mencionou isso para alguns em particular e gostaria que
você nos informasse também. É isto: Alguém te perguntou se ele estava
entre os que corriam ou entre os que caminhavam devagar, e se ele se
abrigou sob o manto de Maria, e se o cabo do seu forcado estava comido
por vermes ou quebrado. Você respondeu que nã o conseguia ver
claramente porque havia uma nuvem entre você e ele.”
Dom Bosco: “Você é teó logo e deveria saber. Bem, havia de facto
alguns rapazes, embora nã o muitos, que eu nã o conseguia ver
claramente. Eu vi cada um deles bem o suficiente para reconhecê-los,
mas isso foi tudo. Esses são os meninos que são calados com seus
superiores; eles não abrem seus corações para eles; eles nã o sã o sinceros.
Sempre que vêem um Superior vindo em sua direçã o, em vez de
encontrá -lo, partem na direçã o oposta. Alguns deles vieram me
perguntar em que estado eu os tinha visto no sonho. Mas o que eu
poderia dizer a eles? Eu poderia ter dito: vocês nã o confiam nos seus
superiores; você nunca abre seu coraçã o para eles. Agora todos vocês se
lembrem disso! Não há nada que possa ser de maior ajuda para vocês do
que abrir seus corações aos seus Superiores, ter maior confiança neles e
ser totalmente sinceros .”
Pe. Barberis: “Há mais uma coisa que gostaria de perguntar, mas
temo que você possa dizer que estou muito curioso.”
Dom Bosco: “Isso nã o é bastante conhecido? (risadas gerais). No
entanto, você sabe que existe um certo tipo de curiosidade que é
saudável, como por exemplo, quando um menino ansioso por aprender
fica fazendo perguntas sobre coisas sérias a pessoas que talvez saibam.
Em vez disso, há outros que ficam parados como tolos. Eles nunca têm
perguntas a fazer. Esta nã o é uma boa reflexã o sobre eles.”
Pe. Barberis: “Bem, nã o serei assim. Há muito tempo que queria
fazer-lhe esta pergunta sobre o sonho. Você viu apenas o passado de
cada menino, ou viu também o seu futuro, ou seja, a sua vocaçã o e o seu
possível sucesso?”
Dom Bosco: “Vi mais que o passado; Eu também vi o futuro que
seria deles. Cada menino tinha vá rios caminhos à sua frente. Algumas
eram estreitas e espinhosas; outros estavam cobertos de pregos
afiados, mas a bênçã o de Deus também havia sido espalhada por esses
caminhos. Todos esses caminhos levavam a um jardim de rara beleza
repleto de todas as delícias.”
Pe. Barberis: “Entã o isso significa que você pode dizer qual
caminho cada um deve seguir, ou seja, você conhece a vocaçã o de cada
um de nó s, como iremos terminar e qual caminho iremos seguir”.
Dom Bosco: “Nã o. Nã o seria sensato dizer a cada um qual caminho
seguirá ou como terminará . Nada de bom resultará em dizer a um
menino: 'Você seguirá o caminho da maldade.' Isso só iria assustá -lo. O
que posso dizer é o seguinte: se alguém segue um determinado
caminho, pode ter certeza de que está no caminho para o Céu, ou seja,
no caminho para o qual foi chamado; e, se alguém nã o seguir esse
caminho, nã o estará no caminho certo. Algumas estradas sã o estreitas,
irregulares e repletas de espinhos; no entanto, tenham coragem, meus
queridos filhos, com os espinhos está também a graça de Deus, e tanta
felicidade nos está reservada no final da nossa jornada que em breve
esqueceremos toda a nossa dor. Sinceramente, gostaria que todos vocês
se lembrassem disso: isso foi um sonho, ninguém é obrigado a
acreditar. Notei, no entanto, que aqueles que me pediram explicaçõ es
aceitaram em boa parte as minhas sugestõ es. No entanto, faça como diz
Sã o Paulo: Probate spiritus et quod bonum est tenete – 'Examine
cuidadosamente, retenha o que é bom.' (1 Tes. 5:21). Outra coisa que
gostaria que vocês nã o esquecessem é rezar pelo seu pobre Dom Bosco,
para que as palavras de Sã o Paulo: Cum aliis praedicaverim, ego
reprobus afficiar —''Depois de pregar aos outros, eu mesmo deveria ser
rejeitado' ( 1 Cor. 9:27) pode se aplicar a mim. Ou seja, depois de pregar
para você, posso acabar com os condenados. Estou fazendo o possível
para avisá -lo, me preocupo com você e lhe dou conselhos, mas temo
estar agindo como uma galinha choca que caça grilos, minhocas,
sementes e outros alimentos para seus filhotes enquanto ela mesma
pode morrer de fome , a menos que ela receba uma boa nutriçã o.
Portanto, rogai a Deus por mim para que isso nã o aconteça, mas que,
em vez disso, eu adorne meu coraçã o com muitas virtudes e seja
agradável a Deus, para que um dia todos nó s possamos ir ao Céu para
desfrutá -Lo e glorificá -Lo. Boa noite."
——————
1. Superga: uma colina a cerca de cinco quilô metros a leste de Turim. Do cume da colina, 2.205 pés
acima do nível do mar, quando o tempo está bom, pode-se olhar para Turim ou para o amplo
semicírculo dos Alpes cobertos de neve que se erguem como uma parede num raio de trinta milhas
ou mais. No topo desta colina ergue-se uma famosa basílica. (Cf. Memórias Biográficas , Vol. II, p.
298.)
2. 2 Macabeus , cap. 3.
20
UM POÇO MEDORESSO
( Memórias Biográficas , Vol. VII, páginas 333-334)
Arriscando
Entristecido ao ver meninos caídos feridos nas pernas, nos braços
e até no coraçã o, perguntei: “Por que você pulou do buraco e continuou
assim mesmo depois de se machucar?”
“Ainda nã o somos muito bons em pular”, responderam eles com
um suspiro.
“Entã o você nã o deveria ter pulado!”
“Nã o pudemos evitar. Simplesmente nã o somos muito bons nisso.
Além disso, nã o achamos que fosse tã o arriscado.”
Um menino em particular realmente me abalou – o rapaz que me
foi indicado. No segundo salto, ele falhou e caiu na cova. Momentos
depois ele foi vomitado, preto como carvã o, embora ainda respirando e
capaz de falar. Todos nó s olhamos para ele aterrorizados e continuamos
fazendo perguntas.
A crô nica de Ruffino nã o diz mais nada. Silencia totalmente a
interpretaçã o do sonho e as advertências, ainda mais necessá rias no
início de um novo ano escolar, que Dom Bosco sem dú vida deu aos
meninos pú blica e privadamente. O que devemos dizer? Podemos
oferecer uma explicaçã o?
Explicação
A cova é aquela mencionada na Sagrada Escritura: “. . . um fosso
profundo”, “um poço estreito” (Pv 23:27), “o poço da destruiçã o” (Sl
54:24). Nele reside o demônio da impureza , como nos diz Sã o Jerô nimo
em sua décima primeira homilia sobre a primeira carta de Sã o Paulo
aos Coríntios. Aparentemente, o sonho nã o aponta para almas já
escravizadas pelo pecado, mas para aquelas que se colocam em perigo
de pecar. Neste ponto, a alegria, a diversã o e a paz de coraçã o começam
a desaparecer. Os meninos mais novos saltam com agilidade e
segurança sobre o fosso, porque suas paixõ es ainda estã o adormecidas.
Felizmente inocentes, eles estã o totalmente absortos em seus jogos e
seus Anjos da Guarda protegem sua inocência e simplicidade. O sonho,
porém, nã o diz que eles continuaram pulando do poço. Talvez eles
tenham seguido o conselho de um amigo.
Os rapazes mais velhos também querem saltar, mas estã o sem
prá tica e nã o sã o tã o á geis como os seus companheiros. Além disso, eles
sentiram a tensã o das suas primeiras batalhas contra a carne e nã o
estã o cientes da emboscada da serpente. “ Pular aquele buraco é
realmente tão terrivelmente arriscado? ”eles parecem perguntar. E entã o
o jogo começa. Seu primeiro salto pode começar a se materializar
quando eles começarem a formar amizades emocionais, aceitar livros
questionáveis e nutrir fortes apegos. Sendo demasiado livres e
turbulentos, afastam-se dos bons companheiros e desrespeitam regras
ou admoestaçõ es à s quais os superiores atribuem grande importâ ncia
na salvaguarda da sua moral.
O primeiro salto termina com a picada de uma serpente. Alguns
meninos escapam do perigo e prudentemente nã o correm mais riscos.
Outros, desconsiderando precipitadamente um perigo real, voltam a
ele. Parece que cair na cova e ser jogado fora novamente simbolizava
uma queda em pecado mortal, mas com chance de recuperação por meio
dos Sacramentos. Daqueles que caíram e permaneceram na cova, nada
mais precisa ser dito do que: “ Aquele que ama o perigo perecerá nele ”. (
Eclesiastes 3:27).
——————
NB De grande interesse para os educadores é o capítulo que segue a narração acima, páginas 335-
340 do Vol. VII.
21
DEZ MONTES
( Memórias Biográficas , Vol. VII, páginas 467-470)
O inocente
Nesse exato momento, no outro extremo da margem, apareceu
uma linda carroça de formato triangular, linda demais para ser
expressada em palavras. Suas três rodas giravam em todas as direçõ es.
Três hastes erguiam-se de seus cantos e uniam-se para sustentar uma
bandeira ricamente bordada, trazendo em letras grandes a inscriçã o
Innocentia — “Inocência”. Uma larga faixa de material rico estava
pendurada na carroça, trazendo a legenda: Adiutorio Dei Altissimi, Patris
et Filii et Spiritus Sancti – “Com a ajuda do Deus Altíssimo, Pai, Filho e
Espírito Santo”.
Brilhando com ouro e pedras preciosas, a carroça parou no meio
dos meninos. A uma determinada ordem, quinhentos dos menores
subiram nele. Entre os incontáveis milhares, apenas algumas centenas
ainda eram inocentes.
O Penitente
Enquanto Dom Bosco se perguntava que caminho seguir, uma
estrada larga e plana, repleta de espinhos, abriu-se diante dele. De
repente, apareceram também seis ex-alunos vestidos de branco,
falecidos no Orató rio. Segurando no alto outra esplêndida bandeira com
a inscriçã o Penitentia – “Penitência” – colocaram-se à frente da
multidã o, que deveria percorrer todo o caminho. Quando foi dado o
sinal para avançar, muitos sacerdotes agarraram a proa da carroça e
abriram caminho, seguidos pelos seis rapazes vestidos de branco e pelo
resto da multidã o. Os rapazes na carroça começaram a cantar Laudate
pueri Dominum – “Louvai ao Senhor, filhos” (Sl 112:1) – com uma
doçura indescritível.
Dom Bosco continuou avançando, encantado com a melodia
celestial, mas, num impulso, virou-se para saber se os meninos o
seguiam. Para seu profundo pesar, ele notou que muitos ficaram para
trá s no vale, enquanto muitos outros voltaram. Com o coraçã o partido,
ele quis refazer seus passos para persuadir aqueles meninos a segui-lo
e ajudá -los, mas estava absolutamente proibido de fazê-lo. “Esses
pobres meninos estarã o perdidos!” ele protestou.
“Pior para eles”, disseram-lhe. “Eles também receberam a ligaçã o,
mas se recusaram a segui-lo. Eles viram a estrada que tinham que
percorrer. Eles tiveram sua chance.” Dom Bosco insistiu, implorou e
implorou, mas em vã o. “Você também deve obedecer”, disseram-lhe. Ele
teve que seguir em frente.
Inocência perdida
Ele ainda estava sofrendo com essa dor quando tomou consciência
de outro fato triste: um grande nú mero dos que viajavam na carroça
havia caído gradualmente, de modo que apenas 150 ainda estavam sob
a bandeira da inocência. Seu coraçã o estava doendo com uma dor
insuportável. Ele esperava que fosse apenas um sonho e fez todos os
esforços para despertar, mas infelizmente era tudo muito real. Ele bateu
palmas e ouviu o som deles; ele gemeu e ouviu seus suspiros ressoarem
pela sala; ele queria banir essa visã o horrível, mas nã o conseguiu.
“Meus queridos meninos”, exclamou ele neste ponto de sua
narraçã o, “reconheci aqueles de vocês que ficaram para trá s no vale e
aqueles que voltaram ou caíram da carroça. Eu vi todos vocês. Você
pode ter certeza de que farei o meu melhor para salvá -lo. Muitos de vó s,
a quem exortei a confessar-se, nã o aceitaram o meu convite. Pelo amor
de Deus, salvem suas almas.”
A Oitava Colina
Muitos dos que caíram da carroça juntaram-se aos que
caminhavam. Enquanto isso, o canto na carroça continuava, e era tã o
doce que aos poucos foi diminuindo a dor de Dom Bosco. Sete colinas já
haviam sido escaladas. Quando os meninos chegaram ao oitavo,
encontraram-se numa aldeia maravilhosa, onde pararam para um breve
descanso. As casas eram indescritivelmente lindas e luxuosas.
Ao falar aos meninos desta aldeia, Dom Bosco observou: “Eu
poderia repetir o que Santa Teresa disse sobre as coisas celestiais: falar
delas é menosprezá-las. Eles sã o lindos demais para palavras. Direi
apenas que as ombreiras dessas casas pareciam ser feitas de ouro,
cristal e diamante ao mesmo tempo. Eram uma visã o maravilhosa,
satisfató ria e agradável. Os campos estavam pontilhados de á rvores
carregadas simultaneamente de flores, botõ es e frutos. Estava fora
deste mundo!
Os meninos se espalharam por todo lado, ansiosos para ver tudo e
provar a fruta. Aqui outra surpresa aguardava Dom Bosco. Seus
meninos de repente pareciam velhos: desdentados, enrugados, de
cabelos brancos, curvados, coxos, apoiados em bengalas. Ele ficou
atordoado, mas a voz disse: “Nã o se surpreenda. Já se passaram anos e
anos desde que você deixou aquele vale. A mú sica fez sua viagem
parecer tã o curta. Se você quer uma prova, olhe-se no espelho e verá
que estou dizendo a verdade.” Dom Bosco recebeu um espelho. Ele
pró prio envelheceu, com o rosto profundamente enrugado e os poucos
dentes restantes cariados.
A marcha recomeçou. De vez em quando os meninos pediam
permissã o para parar e olhar as novidades ao seu redor, mas ele
continuava incentivando-os. “Nã o temos fome nem sede”, disse ele.
“Nã o precisamos parar. Vamos continuar!
Ao longe, na décima colina, surgiu uma luz que se tornou cada vez
maior e mais brilhante, como se emanasse de uma porta gigantesca. O
canto foi retomado, tã o encantador que só pode ser apreciado no
Paraíso. Foi simplesmente indescritível, porque nã o veio de
instrumentos ou de gargantas humanas. Dom Bosco ficou tã o feliz que
acordou e se viu na cama.
Ele entã o explicou seu sonho assim: “ O vale é este mundo; o banco
simboliza os obstáculos que temos de superar para nos desligarmos dele;
a carroça é evidente. Os jovens a pé eram aqueles que perderam a
inocência, mas se arrependeram dos seus pecados.” Ele também
acrescentou que as dez colinas simbolizavam os Dez Mandamentos,
cuja observâ ncia leva à vida eterna. Concluiu dizendo que estava pronto
para contar confidencialmente a alguns meninos o que eles estavam
fazendo no sonho: se haviam permanecido no vale ou caído da carroça.
——————
PS Para interpretaçõ es deste sonho, leia também o Vol. VII, páginas 470ss.
22
DIABOS NA IGREJA
( Memórias Biográficas , Vol. VI, página 627)
O Mistério da Iniquidade
Nas pá ginas seguintes (sonhos do sapo, da videira e do Inferno)
você encontrará Dom Bosco empenhado na luta contra um poder
misterioso que causa estragos entre os filhos dos homens. Você
encontrará um monstro horrível, um sapo nojento do tamanho de um
touro, que quer devorar o pró prio Dom Bosco. Mas em nome de Deus,
com repetidos sinais da cruz e com á gua benta e grandes gritos, Dom
Bosco põ e-na em fuga.
Nã o é fá cil vencer Sataná s. É preciso ter coragem e força. A fé nos
dá força. Mas lembre-se bem de que Sataná s nã o pode fazer nada contra
nó s, a menos que o aceitemos. No entanto, a fraqueza humana é grande.
Nunca confiemos em nó s mesmos, porque o maligno pode muito bem
escolher cada fraqueza da nossa parte.
Sataná s existe, o Inferno existe. A missã o de Jesus Cristo é uma
guerra total contra o poder das trevas.
Dom Bosco relutava em narrar aqueles sonhos terríveis, mas uma
voz do alto lhe diz claramente: “Por que você nã o fala? Diga a eles. . .”
“Portanto, é vontade de Deus que eu lhes conte o que vi”, disse
Dom Bosco.
Este é um aviso claro para os educadores. É preciso falar: o inferno
existe e muitos caem nele. A verdade colocará Sataná s em fuga.
——————
1. Marquesa Juliette Colbert Barolo (1785-1864).
2. O Palazzo Madama, localizado no centro da Piazza Castello, no coração de Turim, é um enorme
edifício composto por três estruturas de origens diferentes – romana, medieval e moderna – que
resumem os dois mil anos de histó ria da cidade. A sua magnífica escadaria interna e a fachada
setecentista de Filippo Juvarra representam uma das melhores criaçõ es do barroco europeu. O
Palazzo Madama foi sede do Senado Subalpino de 1840 a 1860 e do Senado Italiano até 1864.
Atualmente abriga o Museu Municipal de Arte Antiga.
3. Antonio Martini (1720-1809), Arcebispo de Florença, traduziu o Novo Testamento do grego e o
Antigo Testamento da Vulgata para o italiano. Sua versão se tornou mais popular na Itália.
31
UMA VIDEIRA MISTERIOSA
( Memórias Biográficas , Vol. IX, Cap. 75)
Um monstro horrível
A videira misteriosa
O sonho da videira misteriosa é uma pará bola.
A estrada larga
Pegamos a estrada. Era lindo, amplo e bem pavimentado. Via
peccantium complanata lapidibus, et in fine illarum inferi, et tenebrae, et
poenae – “O caminho dos pecadores sã o pedras lisas e no seu final estã o
o Inferno, as trevas e a dor.” (Eclesiastes 21:11). Ambos os lados
estavam alinhados com magníficas sebes verdejantes pontilhadas com
lindas flores. As rosas espiavam especialmente por toda parte através
das folhas. À primeira vista, a estrada era plana e confortável, por isso
aventurei-me nela sem a menor suspeita, mas logo percebi que ela
continuava insensivelmente descendo. Embora nã o parecesse nada
íngreme, eu me vi movendo tã o rapidamente que senti que estava
deslizando pelo ar sem esforço. Na verdade, eu estava planando e quase
nã o usava os pés. Entã o me ocorreu que a viagem de volta seria muito
longa e á rdua.
“Como voltaremos ao Orató rio?” Eu perguntei preocupado.
“Nã o se preocupe”, ele respondeu. “O Todo-Poderoso quer que você
vá . Aquele que o conduz também saberá como conduzi-lo de volta.”
A estrada continuava descendo. À medida que seguíamos o
caminho, ladeados por canteiros de rosas e outras flores, percebi que os
meninos do Orató rio e muitos outros que eu nã o conhecia me seguiam.
De alguma forma, me encontrei no meio deles. Enquanto olhava para
eles, notei ora um, ora outro cair no chã o e ser instantaneamente
arrastado por uma força invisível em direçã o a uma queda assustadora,
distantemente visível, que descia até uma fornalha. “O que faz esses
meninos caírem?” Perguntei ao meu companheiro. Funes extensores em
laqueum; iuxta iter escândaloum posuerunt —“Eles estenderam cordas
como rede; à beira do caminho armaram-me ciladas.” (Salmo 139:6).
“Dê uma olhada mais de perto”, ele respondeu.
Eu fiz. As armadilhas estavam por toda parte, algumas perto do
chã o, outras na altura dos olhos, mas todas bem escondidas. Sem saber
do perigo, muitos meninos foram pegos e tropeçaram; eles se
esparramavam no chã o, com as pernas para cima. Entã o, quando
conseguissem se levantar, corriam pela estrada em direçã o ao abismo.
Alguns ficaram presos pela cabeça, outros pelo pescoço, mã os, braços,
pernas ou lados, e foram puxados para baixo instantaneamente. As
armadilhas terrestres, finas como teias de aranha e pouco visíveis,
pareciam muito frá geis e inofensivas; ainda assim, para minha surpresa,
todos os garotos que eles capturaram caíram no chã o.
Percebendo meu espanto, o guia comentou: “Você sabe o que é
isso?”
“Apenas um pouco de fibra transparente”, respondi.
“Um mero nada”, disse ele, “ simplesmente respeito humano ”. Vendo
que muitos meninos foram apanhados nessas armadilhas, perguntei:
“Por que tantos sã o apanhados? Quem os derruba?”
“Aproxime-se e você verá !” ele me disse.
Segui seu conselho, mas nã o vi nada de peculiar.
“Olhe mais de perto”, ele insistiu.
Peguei uma das armadilhas e puxei. Imediatamente senti alguma
resistência. Puxei com mais força, apenas para sentir que, em vez de
puxar o fio para mais perto, eu mesmo estava sendo puxado para baixo.
Nã o resisti e logo me encontrei na entrada de uma caverna assustadora.
Parei, sem vontade de me aventurar naquela caverna profunda, e
novamente comecei a puxar o fio em minha direçã o. Cedeu um pouco,
mas apenas com grande esforço da minha parte. Continuei puxando e,
depois de um longo tempo, um monstro enorme e horrível emergiu,
segurando uma corda na qual todas aquelas armadilhas estavam
amarradas. Foi ele quem instantaneamente arrastou qualquer um que
fosse pego neles. “Nã o adianta combinar minha força com a dele”, disse
a mim mesmo. “Certamente vou perder. É melhor combatê-lo com o
Sinal da Cruz e com invocaçõ es curtas.”
Entã o voltei para o meu guia. “Agora você sabe quem ele é”, ele me
disse.
“Eu certamente quero! É o pró prio diabo!
Facas
Examinando cuidadosamente muitas das armadilhas, vi que cada
uma trazia uma inscriçã o: Orgulho, Desobediência, Inveja, Sexto
Mandamento, Roubo, Gula, Preguiça, Raiva e assim por diante.
Recuando um pouco para ver quais prendiam o maior nú mero de
meninos, descobri que os mais perigosos eram os da impureza, da
desobediência e do orgulho. Na verdade, esses três estavam
interligados. Muitas outras armadilhas também causaram grandes
danos, mas nã o tanto quanto as duas primeiras. Ainda observando,
notei muitos meninos correndo mais rá pido que outros. “Por que tanta
pressa?” Perguntei.
“Porque sã o arrastados pela armadilha do respeito humano.”
Olhando ainda mais de perto, vi facas entre as armadilhas. Uma
mã o providencial os colocou ali para se libertar. Os maiores,
simbolizando a meditaçã o, eram para serem usados contra a armadilha
do orgulho; outros, nã o tã o grandes, simbolizavam uma leitura
espiritual bem feita. Havia também duas espadas que representavam a
devoçã o ao Santíssimo Sacramento - especialmente através da
frequente Sagrada Comunhã o - e à Santíssima Virgem. Havia também
um martelo simbolizando a Confissã o e outras facas significando a
devoçã o a Sã o José, a Sã o Luís e a outros Santos. Por estes meios, alguns
meninos conseguiram libertar-se ou escapar da captura.
Na verdade, vi alguns rapazes andando com segurança por todas
aquelas armadilhas, seja por meio de um bom timing antes que a
armadilha caísse sobre eles ou fazendo com que ela escorregasse deles
caso fossem pegos.
Edifício Enorme
Continuamos nossa descida, a estrada agora se tornando tã o
íngreme que era quase impossível ficar de pé. E entã o, no fundo deste
precipício, na entrada de um vale escuro, um enorme edifício surgiu à
vista, o seu portal imponente, firmemente trancado, voltado para a
nossa estrada. Quando finalmente cheguei ao fundo, fui sufocado por
um calor sufocante, enquanto uma fumaça gordurosa e esverdeada,
iluminada por flashes de chamas escarlates, subia por trá s daquelas
enormes paredes que se erguiam mais altas que as montanhas.
"Onde estamos? O que é isso?" Perguntei ao meu guia.
“Leia a inscriçã o naquele portal e você saberá .”
Olhei para cima e li estas palavras: Ubi non est redempo – “O lugar
sem indulto”. Percebi que estávamos à s portas do Inferno. O guia me
conduziu por todo esse lugar horrível. A distâ ncias regulares, portais de
bronze como as primeiras descidas íngremes negligenciadas; em cada
um havia uma inscriçã o, como: Discedite, maledicti, in ignem aeternum
qui paratus est diabolo et angelis eius – “Afastai-vos de mim, malditos no
fogo eterno que foi preparado para o diabo e seus anjos”. (Mateus
25:41). Omnis arbor quae non facit fructum bonum excidetur et in ignem
mittetur – “Toda á rvore que nã o dá bons frutos é cortada e lançada ao
fogo”. (Mateus 7:19).
Tentei copiá -los em meu caderno, mas meu guia me conteve: “Nã o
há necessidade. Você tem todos eles nas Sagradas Escrituras. Você
ainda tem alguns deles inscritos em seus pó rticos.”
Diante de tal visã o tive vontade de voltar e voltar ao Orató rio. Na
verdade, recuei, mas meu guia ignorou minha tentativa. Depois de
caminhar penosamente por uma ravina íngreme e interminável,
chegamos novamente ao sopé do precipício de frente para o primeiro
portal. De repente, o guia se virou para mim. Chateado e assustado, ele
fez sinal para que eu me afastasse. "Olhar!" ele disse.
A entrada no inferno
Recuei horrorizado, mal podia esperar para voltar correndo ao
Orató rio e avisar os meninos para que outros nã o se perdessem
também.
“Venha”, meu guia insistiu. “Você aprenderá muito. Mas primeiro
diga-me: você quer ir sozinho ou comigo?” Ele pediu isso para me fazer
perceber que eu nã o era corajoso o suficiente e, portanto, precisava de
sua ajuda amigável.
“Sozinho dentro daquele lugar horrível?” Eu respondi. “Como
poderei encontrar a saída sem a sua ajuda?” Entã o um pensamento me
veio à mente e despertou minha coragem. Antes de alguém ser
condenado ao Inferno, disse a mim mesmo, ele deve ser julgado. E ainda
não fui julgado!
“Vamos”, exclamei resolutamente. Entramos naquele corredor
estreito e horrível e passamos por ele na velocidade da luz. Inscriçõ es
ameaçadoras brilhavam assustadoramente em todos os portais
internos. A ú ltima dava para um pá tio vasto e sombrio, com uma
entrada grande e incrivelmente ameaçadora no outro extremo. Acima
dela havia esta inscriçã o: Ibunt impii in ignem aeternum – “E estes [os
ímpios] irã o para o fogo eterno”. ( Mateus 25:46). Todas as paredes ao
redor tinham inscriçõ es semelhantes. Perguntei ao meu guia se poderia
lê-los e ele consentiu. Estas foram as inscriçõ es:
Dabo ignem in carnes eorum ut comburantur in semptiernum —“Eu
darei fogo. . . em sua carne para que possam queimar para sempre.” (
Judite 16:21).
Cruciabuntur die ac nocte in saecula saeculorum – “Eles serã o
atormentados dia e noite para todo o sempre.” ( Apoc. 20:10).
Hic universitas malorum per omnia saecula saeculorum – “ Aqui
todos os tipos de tormentos para todo o sempre.”
Nullus est hic ordo, sed horror sempiternus habitat – “Aqui habitam
a desordem e o horror eterno”. ( Jó 10:22).
Fumus tormentorum suorum in aeternum ascendit – “A fumaça de
seus tormentos sobe para todo o sempre.” ( Apoc. 14:11).
Non est pax impiis – “Nã o há paz para os ímpios”. ( Is . 48:22).
Clamor et stridor dentium – “Haverá choro e ranger de dentes”. (
Mateus 8:12).
Enquanto eu passava de uma inscriçã o para outra, meu guia, que
estava no centro do pá tio, aproximou-se de mim.
“De agora em diante”, disse ele, “ninguém poderá ter um
companheiro prestativo, um amigo reconfortante, um coraçã o amoroso,
um olhar compassivo ou uma palavra benevolente. Tudo isso se foi para
sempre. Você quer apenas ver ou prefere experimentar essas coisas
sozinho?”
“Eu só quero ver!” Eu respondi.
Fogo Inextinguível
Ele me levou embora e descemos por um corredor até uma caverna
inferior, em cuja entrada li: Vermis eorum non morietur, et ignis non
extinguetur – “O seu verme nã o morrerá e o seu fogo nã o se apagará”. (
Is . 66:24). Dabit Dominus omnipotens ignem et vermes in carnes eorum
ut urantur et sentiant usque in sempiternum - “Ele dará fogo e vermes
em suas carnes, para que sintam para sempre.” ( Judite 16:21).
Aqui se via quã o atroz era o remorso daqueles que haviam sido
alunos em nossas escolas. Que tormento foi para eles lembrarem-se de
cada pecado nã o perdoado e de seu justo castigo, dos incontáveis e até
mesmo extraordiná rios meios que tiveram para consertar seus
caminhos, perseverar na virtude e conquistar o Paraíso, e sua falta de
resposta aos muitos favores prometidos e concedidos pela Virgem.
Mary. Que tortura pensar que eles poderiam ter sido salvos tã o
facilmente, mas agora estã o irremediavelmente perdidos, e lembrar das
muitas boas resoluçõ es tomadas e nunca cumpridas. O inferno está
realmente cheio de boas intençõ es!
Nesta caverna inferior, vi novamente aqueles meninos do Orató rio
que haviam caído na fornalha ardente. Alguns estã o me ouvindo agora;
outros sã o ex-alunos ou até estranhos para mim. Aproximei-me deles e
notei que estavam todos cobertos de vermes e vermes, que corroíam
seus ó rgã os vitais, coraçõ es, olhos, mã os, pernas e corpos inteiros com
tanta ferocidade que desafiavam qualquer descriçã o. Indefesos e
imó veis, eram vítimas de todo tipo de tormento. Esperando poder falar
com eles ou ouvir algo deles, cheguei ainda mais perto, mas ninguém
falou ou sequer olhou para mim. Perguntei entã o ao meu guia porquê e
ele explicou que os condenados estã o totalmente privados de liberdade.
Cada um deve suportar completamente o seu pró prio castigo, sem
absolutamente nenhum indulto.
“E agora”, acrescentou ele, “você também deve entrar naquela
caverna”.
"Oh nã o!" Eu me opus aterrorizado. “Antes de ir para o Inferno, é
preciso ser julgado. Ainda nã o fui julgado e por isso nã o irei para o
Inferno!”
“Escute”, disse ele, “o que você prefere fazer: visitar o Inferno e
salvar seus meninos ou ficar do lado de fora e deixá -los em agonia?”
Por um momento fiquei sem palavras. “É claro que amo meus
meninos e desejo salvá -los a todos”, respondi, “mas nã o há outra saída?”
“Sim, há uma maneira”, continuou ele, “desde que você faça tudo o
que puder”.
Respirei com mais facilidade e imediatamente disse para mim
mesmo: Não me importo de trabalhar como escravo se puder resgatar
esses meus amados filhos de tais tormentos.
“Entre entã o”, continuou meu amigo, “e veja como nosso bom e
todo-poderoso Deus amorosamente fornece mil meios para guiar seus
meninos à penitência e salvá -los da morte eterna”.
Pegando minha mã o, ele me levou para dentro da caverna. Ao
entrar, fui subitamente transportado para um magnífico salã o cujas
portas de vidro com cortinas ocultavam mais entradas.
Acima de um deles, li esta inscriçã o: O Sexto Mandamento.
Apontando para ele, meu guia exclamou: “As transgressõ es deste
mandamento causaram a ruína eterna a muitos meninos”.
“Eles nã o se confessaram?”
“Eles o fizeram, mas omitiram ou confessaram insuficientemente
os pecados contra a bela virtude da pureza, dizendo, por exemplo, que
haviam cometido tais pecados duas ou três vezes quando eram quatro
ou cinco. Outros meninos podem ter caído nesse pecado apenas uma
vez na infâ ncia e, por vergonha, nunca o confessaram ou o fizeram de
forma insuficiente. Outros nã o estavam verdadeiramente arrependidos
ou sinceros na sua decisã o de evitá -lo no futuro. Houve até alguns que,
em vez de examinarem a sua consciência, gastaram o seu tempo a
tentar descobrir a melhor forma de enganar o seu confessor. Qualquer
pessoa que morra com esse estado de espírito escolhe estar entre os
condenados e, portanto, está condenada por toda a eternidade.
Somente aqueles que morrem verdadeiramente arrependidos serã o
eternamente felizes. Agora você quer ver por que nosso Deus
misericordioso trouxe você aqui?” Ele levantou a cortina e vi um grupo
de meninos do Orató rio – todos conhecidos por mim – que estavam ali
por causa deste pecado. Entre eles estavam alguns cuja conduta parece
ser boa.
“Agora você certamente me deixará anotar seus nomes para que eu
possa avisá -los individualmente”, exclamei.
“Nã o será necessá rio!”
“Entã o o que você sugere que eu diga a eles?”
“Sempre pregue contra a imodéstia. Um aviso genérico será
suficiente. Tenha em mente que mesmo que você os advertisse
individualmente, eles prometeriam, mas nem sempre com seriedade.
Para uma resoluçã o firme é necessá ria a graça de Deus, que nã o será
negada aos vossos meninos. Se eles orarem, Deus manifesta Seu amor,
especialmente sendo misericordioso e perdoador. De sua parte, ore e
faça sacrifícios. Quanto aos rapazes, deixe-os ouvir as suas advertências
e consultar a sua consciência. Isso lhes dirá o que fazer.”
Passamos a meia hora seguinte discutindo os requisitos de uma
boa Confissã o. Depois, meu guia exclamou vá rias vezes em voz alta: “
Avertere! Avertere! ”
"O que você quer dizer?" Perguntei.
“Mude de vida!”
Obediência
“Ouçam com atençã o: os meninos que vocês veem aqui sã o aqueles
que preparam para si um fim tã o trá gico ao serem desobedientes.
Fulano de tal e tal, que você acha que foram para a cama, saem do
dormitó rio mais tarde para passear pelo parquinho e, ao contrá rio de
outros, se perdem em á reas perigosas e sobem em andaimes, colocando
em risco até mesmo seus vidas. Outros vã o à igreja, mas ignorando as
recomendaçõ es, comportam-se mal; em vez de orar, eles sonham
acordados ou causam perturbaçõ es. Há também aqueles que se
acomodam para cochilar durante os cultos e aqueles que apenas fingem
que vã o à igreja. Ai daqueles que negligenciam a oraçã o! Quem nã o ora,
condena-se à perdiçã o. Alguns estã o aqui porque, em vez de cantar
hinos ou rezar o Pequeno Ofício da Santíssima Virgem, lêem livros
frívolos ou – pior ainda – proibidos”. Ele entã o continuou mencionando
outras violaçõ es graves de disciplina.
Quando ele terminou, fiquei profundamente comovido.
“Posso mencionar todas essas coisas aos meus meninos?” Eu
perguntei, olhando para ele diretamente nos olhos.
“Sim, você pode contar a eles tudo o que lembrar.”
“Que conselho devo dar-lhes para protegê-los de tal tragédia?”
“Continue dizendo-lhes que obedecendo a Deus, à Igreja, aos seus
pais e aos seus superiores, mesmo nas pequenas coisas, eles serã o
salvos”.
"Algo mais?"
“Avise-os contra a ociosidade. Por causa da ociosidade, Davi caiu
em pecado. Diga-lhes para se manterem ocupados o tempo todo,
porque o diabo nã o terá chance de tentá -los.”
Baixei a cabeça e prometi. Desmaiado de consternaçã o, só consegui
murmurar: “Obrigado por ter sido tã o bom comigo. Agora, por favor,
tire-me daqui.
“Tudo bem, entã o venha comigo.” De forma encorajadora, ele
pegou minha mã o e me segurou porque eu mal conseguia ficar de pé.
Saindo daquele salã o, em pouco tempo refizemos nossos passos por
aquele horrível pá tio e pelo longo corredor. Mas assim que
atravessamos o ú ltimo portal de bronze, ele se virou para mim e disse:
“Agora que você viu o que os outros sofrem, você também deve
experimentar um toque do Inferno”.
"Nã o nã o!" Eu chorei de terror.
UM SONHO PROFÉ TICO foi narrado por Dom Bosco no dia 9 de maio
de 1879. Nele ele viu as lutas incansáveis que teriam que ser
enfrentadas por aqueles que são chamados à Congregação Salesiana, e
recebeu uma sé rie de conselhos ú teis para todos e algumas instruçõ es
salutares para o futuro.
Houve primeiro uma luta feroz e longa entre alguns meninos e
guerreiros de diversos aspectos, formas diversas, com armas estranhas.
No final, houve muito poucos sobreviventes.
Depois ocorreu outra batalha mais feroz e horrível entre monstros
de tamanho gigantesco e homens de alta estatura, bem armados e bem
treinados. Levavam uma bandeira muito alta e larga, no centro da qual
estavam pintadas em ouro estas palavras: MARIA AUXILIUM
CHRISTIANORUM – “Maria, Auxiliadora dos Cristã os”. A batalha foi longa
e sangrenta. Mas aqueles que seguiram a bandeira eram invulneráveis e
permaneceram senhores de uma planície muito vasta.
A estes juntaram-se os rapazes que sobreviveram à batalha
anterior e todos juntos formaram uma espécie de exército, cada um
carregando como arma na mã o direita o santo crucifixo e na mã o
esquerda uma pequena bandeira de Maria, Auxiliadora dos Cristã os,
semelhante ao mencionado acima.
Os novos soldados realizaram muitas manobras naquela vasta
planície; depois separaram-se e alguns partiram para o Leste, alguns
para o Norte e muitos para o Sul.
Tendo estes desaparecido, renovaram-se novamente as mesmas
batalhas, as mesmas manobras e partidas para as mesmas direçõ es.
Reconheci alguns soldados das primeiras batalhas: os que se
seguiram eram-me desconhecidos, mas mostraram que me conheciam
e fizeram-me muitas perguntas.
Logo depois seguiu-se uma chuva torrencial de pequenas chamas
brilhantes de fogo de vá rias cores. Trovejou, e entã o o céu clareou e me
vi num jardim encantador. Um homem parecido com Sã o Francisco de
Sales ofereceu-me um livrinho sem dizer uma palavra. Perguntei quem
ele era. “Leia no livro”, ele respondeu.
Abri o livro, mas mal consegui lê-lo. Pude, no entanto, distinguir
estas palavras precisas:
Aos Noviços: Obediência em tudo. Pela obediência merecerã o a
bênçã o do Senhor e a boa vontade dos homens. Através da diligência
combaterã o e vencerã o as armadilhas dos seus inimigos espirituais.
Aos Professos: Guardar zelosamente a virtude da castidade. Amar
o bom nome dos Irmã os e promover o decoro da Congregaçã o.
Aos Diretores: Todo cuidado, todo cansaço para observar e fazer
observar as Regras pelas quais todos se consagraram a Deus.
Ao Superior: Holocausto absoluto para conquistar a si mesmo e
aos seus sú ditos para Deus.
Muitas outras coisas estavam impressas naquele livro, mas nã o
consegui ler mais, porque o papel e a tinta pareciam azuis.
"Quem é você?" novamente perguntei à quele homem que me
olhava com semblante sereno.
“Meu nome é conhecido por todas as pessoas boas e fui enviado
para comunicar-lhes alguns acontecimentos futuros.”
"Qual?"
“Aqueles já mostrados e aqueles que você vai perguntar.”
“O que devo fazer para promover as vocaçõ es?”
“Os Salesianos terã o muitas vocaçõ es pela sua conduta virtuosa,
tratando os seus alunos com a maior caridade e insistindo na
Comunhã o frequente”.
“O que deve ser observado na aceitaçã o de noviços?”
“Deveríamos excluir os preguiçosos e os glutõ es.”
“Ao admitir os votos?”
“Para observar se há garantia de castidade.”
“Como pode ser melhor preservado o bom espírito em nossas
casas?”
“Escrevendo, visitando, recebendo e tratando com benevolência; e
isso com grande frequência por parte dos Superiores”.
“E a nossa conduta em relaçã o à s Missõ es?”
“Só podem ser enviadas para lá pessoas que tenham certeza da
moralidade; se alguém fosse seriamente suspeito, deveria ser chamado
de volta; estudar como cultivar as vocaçõ es indígenas. “Nossa
Congregaçã o vai bem?”
“ Qui justus est justificetur adhuc. Não progrediu regredi. Qui
perseveraverit salvus erit ”-“Aquele que é justo, seja justificado ainda.
Nã o há progresso e regressã o. Quem perseverar será salvo.”
“Será que vai se expandir muito?”
“Enquanto os Superiores fizerem a sua parte, avançará e ninguém
poderá deter o seu progresso”.
“Vai durar muito?”
“Sua Congregaçã o durará enquanto os membros amarem o
trabalho e a temperança. Se falhar um destes pilares, o seu edifício
desmoronará , esmagando Superiores e inferiores e seus seguidores.”
Neste momento apareceram quatro homens carregando um caixã o.
Eles vieram andando em minha direçã o.
“Para quem é isso?” Perguntei.
"Para você."
"Breve?"
“Nã o pergunte sobre isso: apenas lembre-se de que você é mortal.”
“O que você quer dizer com este caixã o?”
“Que tudo o que você quiser que seus filhos pratiquem depois de
você, você deve fazê-los praticar enquanto você viver. Esta é a herança,
o testamento que você deve deixar aos seus filhos. Mas você deve
prepará -lo e deixá -lo completo e bem praticado.”
“O que nos reserva: flores ou espinhos?”
“Muitas rosas estã o reservadas, muitos consolos, mas iminentes
estã o espinhos muito afiados que causarã o a todos profunda amargura
e angú stia. É necessá ria muita oraçã o!”
“Devemos ir a Roma (para fundar casas)?”
“Sim, mas lentamente, com a maior prudência e com cautela
estudada.”
“O fim da minha vida mortal está pró ximo?”
"Nã o se preocupe com isso. Você tem as Regras, você tem os livros;
faça tudo o que você ensina aos outros. Assistir!"
Eu queria fazer mais perguntas, mas ouvi uma forte explosã o de
trovõ es com relâ mpagos e raios, enquanto alguns homens, ou melhor,
monstros horríveis, avançavam sobre mim para me despedaçar.
Naquele momento, uma escuridã o sombria escondeu tudo da minha
vista. Achei que meu fim havia chegado e comecei a gritar
freneticamente. Entã o acordei e descobri que ainda estava vivo e eram
4h45 da manhã .
Se houver algo que possa ser lucrativo para nó s, aceitemos. E em
todas as coisas, honra e gló ria sejam a Deus para todo o sempre.
35
A FILOXERA
Uma visão onírica sobre murmuração e desobediência,
e o remédio a ser aplicado. Um aviso.
( Memórias Biográficas , Vol. XII, página 475)
-ME que estava diante de uma montanha muito alta, em cujo topo
estava um anjo, resplandecente com uma luz tã o brilhante que
iluminava os países mais distantes. Ao redor da montanha havia um
vasto reino de tribos desconhecidas.
Em sua mã o direita, o Anjo segurava no alto uma espada que
brilhava como uma chama muito brilhante, enquanto com a mã o
esquerda ele apontava para mim as regiõ es ao redor. Ele estava me
dizendo: Angelus Arphaxad vocat vos ad proelianda bella Domini et ad
congregandos populos in horrea Domini —“O Anjo de Arphaxad 1 chama
você para travar as guerras do Senhor e reunir o povo nos celeiros do
Senhor.” Sua palavra, poré m, nã o foi em forma de comando, como nas
outras ocasiõ es, mas em forma de proposta.
Uma multidã o maravilhosa de anjos, cujos nomes eu nã o sabia ou
nã o conseguia lembrar, cercou-o. Entre eles estava Louis Colle, 2 ao
redor do qual estava em pé , como uma coroa, uma multidã o de
meninos, aos quais ele ensinava a cantar hinos a Deus; ele també m
cantou com eles.
Ao redor da montanha, no seu sopé e nas suas encostas, vivia
muita gente. Todos conversavam entre si, mas era uma língua estranha
e eu nã o conseguia entendê-la. Eu só pude entender o que o Anjo disse.
Nã o consigo descrever o que vi. Sã o coisas que podemos ver, podemos
compreender, mas nã o podemos explicar. Ao mesmo tempo, eu podia
ver objetos separados simultaneamente, o que mudaria continuamente
o espetá culo que estava diante de mim.
Portanto, agora me parecia que aquela era a planície da
Mesopotâ mia, agora uma montanha muito alta; e aquela mesma
montanha em que o Anjo de Arphaxad estava de pé tomaria mil e um
aspectos a cada momento, de modo que as pessoas que ali viviam
pareciam apenas sombras errantes.
Diante desta montanha e durante todo este percurso, pareceu-me
que fui elevado a uma altura imensa, como acima das nuvens, num
espaço imenso. Quem pode expressar em palavras essa altura, essa
amplitude, essa luz, esse brilho, esse espetá culo! Uma visã o que se pode
desfrutar, mas que nã o pode ser descrita!
Neste e noutros locais foram muitos os que me acompanharam,
exortando-me a ter coragem, e que encorajaram também os Salesianos,
para que nã o parassem no caminho. Entre aqueles que me puxaram
ansiosamente, por assim dizer, pela mã o, para que eu pudesse seguir
em frente, estava o querido menino Louis Colle e bandas de Anjos que
ressoavam as cançõ es daqueles meninos que o rodeavam.
Entã o pareceu-me que estava no centro da Á frica, num deserto
muito vasto; ali no chã o estava escrito em grandes letras transparentes:
Negros. No meio estava o Anjo de Cham, que dizia: “Cessabit maledictum
—'A maldiçã o cessará'—e a bênçã o do Criador descerá sobre Seus
filhos réprobos, e o mel e o bá lsamo curarã o as picadas das cobras;
entã o será coberta a torpeza dos filhos de Cham.” Todas aquelas
pessoas estavam nuas.
E entã o me pareceu que estava na Austrá lia. Aqui também estava
um Anjo que caminhava e fazia as pessoas caminharem em direçã o ao
Sul. A Austrá lia nã o era um continente, mas um conjunto de muitas
ilhas, cujos habitantes eram todos diferentes em cará ter e aparência.
Uma multidã o de crianças que ali viviam tentava vir em nossa direçã o,
mas eram impedidas pela distâ ncia e pelo mar que as separava. Mas
estenderam as mã os a Dom Bosco e aos Salesianos, dizendo: “Vinde em
nosso auxílio! Por que você nã o termina o trabalho que seus pais
começaram?” Muitos deles pararam, mas outros com esforço incrível
cruzaram entre animais ferozes e vieram se misturar com os Salesianos
que eu nã o conhecia, e todos começaram a cantar: Benedictus qui venit
in nomine Domini! — “Bem-aventurado aquele que vem em nome do
Senhor!”
A alguma distâ ncia podiam-se ver massas de inú meras ilhas; mas
nã o consegui distinguir detalhes deles. Pareceu-me que tudo o que vi
significava que a Divina Providência oferecia uma parte daquele campo
evangélico aos Salesianos, mas numa data futura. O seu trabalho será
frutífero, porque a mã o do Senhor estará constantemente com eles,
desde que não se tornem indignos dos Seus favores.
Se eu pudesse embalsamar e preservar vivos cinquenta dos
Salesianos que agora estã o aqui conosco, em 500 anos eles verã o que
destino estupendo a Providência reserva para os Salesianos, se formos
fiéis!
Dentro de 150 ou 200 anos, os Salesianos serã o os donos do
mundo inteiro (isto é, os líderes em todo o mundo)!
Seremos sempre aceitáveis até mesmo para os ímpios, porque
nosso campo especial é tal que atrai a simpatia e a boa vontade de
todos, bons e maus. Poderã o surgir alguns que queiram ver-nos
destruídos, mas serã o tentativas isoladas e sem o apoio de outros.
A condiçã o é que os salesianos não se deixem levar pelo amor ao
conforto e, portanto, evitem o trabalho. Mesmo guardando apenas as
obras que temos em mã os e nã o nos entregando ao vício da ganância ,
elas terã o uma certeza, uma garantia, de longa duraçã o.
A Sociedade Salesiana prosperará materialmente se nos
esforçarmos para sustentar e difundir o Boletim, obra dos “ Filhos de
Maria, Auxiliadora dos Cristãos ”, e promovê-lo. Algumas dessas crianças
sã o tã o boas! A sua instituiçã o é a que nos dará confrades valentes,
firmes na sua vocaçã o (vocaçõ es tardias).
Estas sã o as coisas que Dom Bosco viu com mais clareza, que
melhor recordou e narrou da primeira vez. Mais tarde, porém, ele falou
a Don Lemoyne sobre muitas outras coisas vistas numa visã o rá pida e
passageira. Viu naçõ es, cidades, mares, povos, ilhas, há bitos dos povos,
espetá culos impossíveis de descrever. Foi uma viagem circular pela
parte sul do hemisfério. (Cf. pá g. 646).
O Anjo de Arphaxad: Arphaxad era um dos netos de Noé. ( Gênesis
10:22). Seguindo as divisõ es etnográ ficas, alguns dizem que ele foi o pai
do povo da Mesopotâ mia; outros, em vez disso, vêem nele o pai dos
povos da Índia e da China. Ele foi certamente o antepassado de alguma
raça asiá tica. Dom Bosco relacionou o Anjo de Arphaxad com a China e,
depois desta visã o, falou muitas vezes dele em conexã o com as missõ es
salesianas. Ele viu nesta visã o uma confirmaçã o dos sonhos anteriores
sobre as missõ es. (Cf. Vol. XVII, p. 647.)
——————
1. Arfaxade era filho de Sem e neto de Noé. (Gênesis 10:22).
2. Luís Colle era um jovem santo que tinha morrido uma morte santa e costumava aparecer a Dom
Bosco para lhe revelar coisas secretas.
39
O FUTURO DAS
MISSÕES SALESIANAS
(Quinto Sonho Missionário)
( Memórias Biográficas , Vol. XVIII, página 72)
O sonho
Imaginem-se comigo à beira-mar, ou melhor, numa rocha isolada e
nã o vendo nenhum pedaço de terra além do que está sob seus pés. Em
toda aquela vasta extensã o de á gua você vê uma frota incontável de
navios em ordem de batalha. As proas dos navios sã o formadas em
pontas afiadas, semelhantes a lanças, de modo que, onde quer que
sejam empurradas, elas perfuram e destroem completamente. Esses
navios estã o armados com canhõ es, com muitas espingardas, com
materiais incendiá rios, com outras armas de todos os tipos, e também
com livros, e avançam contra um navio muito maior e mais alto do que
eles e tentam arremeter contra ele com as proas. ou queimá -lo ou de
alguma forma causar-lhe todos os danos possíveis.
O Navio da Igreja
Como escoltas daquele majestoso navio totalmente equipado,
existem muitos navios menores, que recebem comandos por sinal dele
e realizam movimentos para se defenderem da frota adversá ria.
As Duas Colunas
No meio da imensa extensã o do mar, duas poderosas colunas de
grande altura erguem-se um pouco distantes uma da outra. No topo de
uma delas está a está tua da Virgem Imaculada, de cujos pés pende um
grande cartaz com esta inscriçã o: Auxilium Christianorum — “Ajuda dos
Cristã os”; do outro, que é muito mais alto e maior, está uma Hó stia de
grande tamanho proporcional à coluna e abaixo está outro cartaz com
as palavras: Salus Credentium – “Salvaçã o dos Fiéis”.
O Santo Padre
O comandante supremo do grande navio é o Soberano Pontífice.
Ele, ao ver a fú ria dos inimigos e os males em que se encontram seus
fiéis, decide convocar ao seu redor os capitã es dos navios menores para
realizar um conselho e decidir o que fazer.
No Conclave
Todos os capitã es sobem a bordo e se reú nem em torno do Papa.
Eles realizam uma reuniã o, mas enquanto isso o vento e as ondas se
juntam em tempestade, entã o eles sã o enviados de volta para controlar
seus pró prios navios.
O famoso sonho profético de João Bosco sobre As Duas Colunas no Mar, que se referia a uma
grande batalha que ocorreria no futuro entre a Igreja e seus inimigos.
Há uma breve pausa; pela segunda vez o Papa reú ne os capitã es à
sua volta, enquanto a nau capitâ nia segue seu curso. Mas a terrível
tempestade retorna.
O Papa está ao leme e todas as suas energias estã o direcionadas
para conduzir o navio em direçã o à quelas duas colunas, do topo das
quais e de todos os lados pendem numerosas â ncoras e grandes
ganchos, presos a correntes.
A batalha
Todos os navios inimigos se movem para atacá -lo e tentam de
todas as maneiras detê-lo e afundá -lo: alguns com escritos ou livros ou
materiais inflamáveis, dos quais estã o cheios; outros com armas, com
rifles e com aríetes. A batalha se intensifica cada vez mais
implacavelmente. As proas inimigas avançam violentamente, mas os
seus esforços e impacto revelam-se inú teis. Fazem tentativas em vã o e
desperdiçam todo o seu trabalho e muniçã o; o grande navio segue seu
caminho com segurança e tranquilidade. À s vezes acontece que,
atingido por golpes formidáveis, fica com fendas grandes e profundas
nas laterais; mas assim que o dano é causado, uma brisa suave sopra
das duas colunas e as rachaduras se fecham e as lacunas sã o
interrompidas imediatamente.
Destruição do Inimigo
Enquanto isso, as armas dos agressores sã o explodidas, os rifles e
outras armas e proas sã o quebrados; muitos navios sã o destruídos e
afundam no mar. Entã o, os inimigos frenéticos se esforçam para lutar
corpo a corpo, com punhos, com golpes, com blasfêmias e com
maldiçõ es.
De repente, o Papa cai gravemente ferido. Imediatamente, aqueles
que estã o com ele correm para ajudá -lo e o levantam. Uma segunda vez
que o Papa é atingido, ele cai novamente e morre. Um grito de vitó ria e
de alegria ressoa entre os inimigos; de seus navios surge uma zombaria
indescritível.
Um Novo Papa
Mas dificilmente o Pontífice morre e outro Papa toma o seu lugar.
Os pilotos, reunidos, elegeram o Papa tã o prontamente que a notícia da
morte do Papa coincide com a notícia da eleiçã o do sucessor. Os
adversá rios começam a perder a coragem.
Refúgio de descanso
O novo Papa, derrotando o inimigo e superando todos os
obstá culos, guia o navio até as duas colunas e pá ra entre elas; ele o
prende com uma leve corrente que vai da proa até uma â ncora da
coluna sobre a qual está a Hó stia; e com outra corrente leve que pende
da popa, prende-a na extremidade oposta a outra â ncora pendurada na
coluna sobre a qual está a Virgem Imaculada.
Derrota do Inimigo
Entã o ocorre uma grande convulsã o. Todos os navios que até entã o
lutaram contra o navio do Papa estã o espalhados; eles fogem, colidem e
se despedaçam uns contra os outros. Alguns afundam e tentam afundar
outros. Vá rios pequenos navios que lutaram galantemente pela corrida
do Papa para serem os primeiros a ligarem-se à quelas duas colunas.
Muitos outros navios, tendo recuado por medo da batalha,
observam cautelosamente de longe; tendo os destroços dos navios
quebrados sido espalhados nos redemoinhos do mar, eles, por sua vez,
navegam com seriedade até aquelas duas colunas e, tendo chegado a
elas, prendem-se aos ganchos que delas pendem e ali permanecem.
seguro, juntamente com o navio principal, no qual está o Papa. Sobre o
mar reina uma grande calma.
A Visão do Passado
Valfrè entã o me mostrou os meninos como eram naquela época:
iguais em aparência, altura e idade. Parecia que estava no antigo
Orató rio durante o recreio: era um cená rio animado, cheio de
movimento e alegria. Alguns corriam, alguns saltavam ou faziam outros
saltar; aqui eles estavam jogando salto, lá bararotta ou futebol. Num
determinado local havia um grupo de rapazes que ouviam atentamente
um sacerdote que lhes contava uma histó ria; em outro lugar, havia um
Irmã o no meio de um grupo de meninos que brincava com eles. Houve
cançõ es e risadas de todos os lados; Padres e Irmã os estavam por toda
parte, e ao redor deles os meninos brincavam alegremente. Era
evidente que existia a maior cordialidade e confiança entre os rapazes e
os seus Superiores. Fiquei encantado com tudo isso, e Valfrè me disse:
“Veja, a afabilidade traz carinho e confiança: é isso que abre o coraçã o
dos meninos, e eles manifestam tudo sem o menor medo aos seus
professores, assistentes e superiores. Tornam-se sinceros na Confissã o
e fora dela, e sã o dó ceis a tudo o que lhes é ordenado pelo seu Superior,
de cujo amor por eles estã o plenamente seguros.
O Grande Contraste
Naquele momento o outro ex-aluno, de barba branca, aproximou-
se de mim e disse: “Dom Bosco, gostaria de ver e conhecer os meninos
que estã o atualmente no Orató rio?” “Sim”, respondi, “faz um mês que
nã o os vejo”. E entã o Joseph Buzzetti os mostrou para mim. Vi o
Orató rio e todos vocês em recreaçã o, mas nã o havia mais gritos e
cantos alegres, nã o havia mais toda aquela atividade animada da
primeira cena.
Podia-se ver a insatisfaçã o nas açõ es e no rosto de muitos meninos
– um cansaço, um desâ nimo e uma desconfiança que doeram meu
coraçã o. É verdade que vi muitos meninos correndo e brincando de
maneira completamente despreocupada; mas vi muitos outros
sozinhos, apoiados em pilares, enterrados em pensamentos desolados;
outros ainda ficavam nas escadas e nos corredores ou nas varandas
voltadas para o jardim, para evitar a recreaçã o comum. Havia alguns
outros passeando em grupos, conversando em voz baixa entre si,
lançando olhares nervosos e mal-intencionados, sorrindo
ocasionalmente; mas junto com o sorriso veio um olhar maligno, que
nos convenceu sem dú vida de que Sã o Luís teria corado ao se encontrar
em tal companhia. E mesmo entre aqueles que participavam dos jogos,
havia alguns que jogavam com tanta relutâ ncia que deixavam bem claro
que nã o tiravam nenhum prazer da sua recreaçã o.
"Você vê seus meninos?" — perguntou o ex-aluno.
“Sim,” eu suspirei.
“Quã o diferente do que já fomos!” ele exclamou.
“Infelizmente, sim! Que falta de entusiasmo nesta recreaçã o!”
E é por isso que muitos sã o frios na sua abordagem aos
Sacramentos; causa a sua negligência relativamente à s prá ticas de
piedade na igreja e noutros lugares, e a sua relutâ ncia em permanecer
no lugar onde a Providência Divina derrama sobre eles tudo o que é
bom para o seu corpo, alma e intelecto. Daí que muitos nã o
correspondam à sua vocaçã o; assim também a sua ingratidã o para com
os Superiores, bem como o seu comportamento dissimulado e as suas
queixas, com todas as suas consequências deploráveis.
O remédio
“Sim, entendo”, respondi. “Mas como posso fazer com que meus
meninos recuperem a antiga vivacidade, alegria e franqueza?” “Com
caridade!”
“Com caridade? Mas os meus filhos nã o sã o suficientemente
amados? Você sabe que eu os amo. Você sabe o quanto tive que
suportar por causa deles durante quarenta anos e o quanto ainda sofro
até agora. Quantas privaçõ es, quantas humilhaçõ es, quanta oposiçã o e
perseguiçã o para que tivessem comida e abrigo, para que tivessem
professores e, acima de tudo, para que o seu bem-estar espiritual fosse
garantido. Fiz tudo o que pude pelos meus meninos; eles sã o a menina
dos meus olhos.
"Eu nã o estava falando sobre você."
“De quem entã o você fala? Daqueles que tomam o meu lugar? Os
reitores, prefeitos, professores e assistentes? Você nã o vê que eles sã o
má rtires do dever e do estudo? Veja como eles passam os anos de sua
juventude por aqueles que a Divina Providência lhes confiou!
"Sim, eu sei disso. Mas nã o é suficiente – ainda falta algo melhor.”
"E o que é isso?"
“Nã o basta que os meninos sejam amados: eles pró prios devem
saber que sã o amados.”
“Mas eles nã o têm olhos na cabeça? Eles nã o têm inteligência? Nã o
percebem que tudo o que é feito por eles é feito por amor a eles?”
"Nã o; Repito, isso nã o é suficiente.”
“Bem, entã o, o que é exigido de nó s?”
“Isto: satisfazendo-os nas coisas de que gostam, pela participaçã o
nas suas inclinaçõ es juvenis, eles aprenderã o a ver o seu amor por eles
naquelas coisas que naturalmente nã o gostam, como disciplina, estudo
e automortificaçã o; e aprenderã o a fazer essas coisas com prazer e
amor.”
“Eu nã o entendo direito.”
“Dê uma olhada nos meninos na recreaçã o.”
Olhei e respondi: “O que há de tã o especial para ver?”
“Você nã o entende depois de todos esses anos educando
meninos?”
“Olhe com mais atençã o. Onde estã o os nossos Salesianos?” Olhei e
notei que poucos padres e irmã os se misturavam com os meninos e
menos ainda participavam de suas brincadeiras. Os Superiores já nã o
eram a alma da recreaçã o. A maioria deles caminhava e conversava sem
se importar com o que os alunos faziam; outros assistiam aos jogos,
sem pensar nos meninos; outros ainda supervisionavam à distâ ncia,
sem perceber muitas pequenas perturbaçõ es, enquanto alguns
notavam, mas de maneira ameaçadora, e mesmo assim apenas
raramente. Houve alguns salesianos que gostariam de se juntar a alguns
grupos de meninos, mas vi que esses meninos faziam o possível para se
afastarem dos professores e dos superiores. Aí meu amigo disse:
“Nos velhos tempos do Orató rio, você nã o estava sempre entre os
meninos, principalmente nas recreaçõ es? Você se lembra daqueles
grandes anos? Foi um pedacinho do Céu, uma época que sempre
lembramos com amor, porque o amor era a regra de nossas vidas e nã o
guardávamos segredos de vocês.”
"Sim, de fato. E entã o tudo foi uma alegria para mim; os meninos
gostavam de vir até mim para me ouvir falar e tinham um desejo vivo
de receber meus conselhos e agir de acordo com eles. Mas agora você
vê como sou afastado deles por causa de visitas e ocupaçõ es contínuas
e pela minha saú de debilitada.”
"Muito bem; mas se nã o o consegues, por que os teus salesianos
nã o te imitam? Por que você nã o insiste, exige que eles tratem os
meninos como você os tratou?
“Falo até ficar rouco, mas infelizmente muitos nã o se sentem
capazes de suportar a tensã o como nó s.”
“E entã o eles negligenciaram seu método simples e entã o
perderam o fruto de seu trabalho. Deixe-os amar o que os meninos
gostam, e os meninos passarã o a amar o que os Superiores gostam, e
isso facilitará o seu trabalho. Antigamente os coraçõ es estavam abertos
aos Superiores, e os meninos os amavam e obedeciam; mas agora os
Superiores sã o considerados Superiores e nã o mais como pais, irmã os e
amigos, e por isso sã o temidos e nã o amados. Portanto, se queres que
todos voltem a ser unidos de coraçã o e alma, pelo amor de Jesus, essa
barreira fatal da desconfiança deve ser removida e a confiança filial
deve tomar o seu lugar. Entã o deixe a obediência guiar os alunos como
uma mã e conduz seu filho, e a paz e a alegria reinarã o mais uma vez no
Orató rio”.
“Mas como vamos remover essa barreira?”
“Familiaridade com os meninos, principalmente nas recreaçõ es.
Sem familiaridade nenhum amor pode ser demonstrado, e sem esta
manifestaçã o de amor nã o pode haver confiança. Quem deseja ser
amado deve primeiro demonstrar o seu amor. Jesus Cristo, ao lidar com
os pequeninos, tornou-se como um deles e tomou sobre si as nossas
enfermidades. Ele é nosso exemplo de familiaridade. O professor que só
aparece na sala de aula, e em nenhum outro lugar, é professor e nada
mais; mas deixe-o ir com seus meninos para a recreaçã o e ele se
tornará um irmã o.
“Se alguém é visto apenas pregando do pú lpito, pode-se dizer que
ele está fazendo apenas o que é seu estrito dever; mas deixe-o dizer
uma boa palavra na recreaçã o, e essa é a palavra de um coraçã o
amoroso. Quantas conversõ es foram provocadas por aquelas suas
poucas palavras espontâ neas sussurradas no ouvido de um menino
enquanto ele estava absorto em suas brincadeiras! Se um menino sabe
que é amado, ele retribuirá o amor; e se o Superior for amado, ele pode
conseguir tudo — principalmente dos meninos. Esta confiança cria uma
corrente eléctrica entre os rapazes e os seus Superiores; o coraçã o dos
meninos se abre, suas necessidades sã o conhecidas e seus sentimentos
revelados. Esta confiança torna a tarefa mais leve e, com ela, a
ingratidã o, os problemas, as faltas e as falhas dos meninos tornam-se
suportáveis.
“Jesus Cristo nã o esmagou a cana quebrada nem apagou o pavio
fumegante. Aí está o seu modelo! E assim ninguém será visto
trabalhando por vangló ria; ninguém punindo apenas para justificar o
amor pró prio ferido; ninguém evita ajudar os meninos por medo
ciumento da popularidade dos outros; ninguém criticando seus irmã os
com o objetivo de obter o amor e a estima dos meninos exclusivamente
para si mesmo - sem ganhar nada, na verdade, a nã o ser o desprezo dos
meninos e talvez um sorriso mentiroso. Você nã o encontrará ninguém
permitindo que seu coraçã o seja capturado por qualquer menino e
negligenciando os outros para atendê-lo; ninguém se esquivando de seu
dever obrigató rio de vigilâ ncia por amor à facilidade e conforto, ou
abstendo-se, por respeito humano, de admoestar quando a
admoestaçã o é necessá ria.
“Se este amor reinar, todos buscarã o apenas a gló ria de Deus e a
salvaçã o das almas. É quando esse amor esfria que as coisas começam a
dar errado. Por que você quer substituir a caridade pela rigidez de
algumas regras? Por que os Superiores evitam a observâ ncia das regras
de educaçã o que lhes estabelecestes? Por que é que o sistema de
vigilâ ncia amorosa e preventiva está sendo substituído por um sistema
de regras de enquadramento – um sistema menos pesado e mais
conveniente para o Superior? Se as regras sã o aplicadas através de
puniçã o, elas acendem o ó dio e dã o origem ao desagrado; ao passo que,
se a sua observâ ncia nã o for aplicada, geram desprezo pelos Superiores
e causam graves transtornos.
“A Jangada Salvadora: Guerra ao Pecado.” Esta imagem simboliza a proteção de São João
Bosco aos seus meninos em meio à turbulência das tentaçõ es mundanas.
“Isso está fadado a acontecer onde nã o há espírito de família.
Portanto, se você deseja que aqueles velhos tempos felizes voltem ao
Orató rio, deixe o antigo sistema ser praticado novamente. Que o
Superior seja tudo para com todos, sempre pronto a ouvir qualquer
reclamaçã o ou dú vida dos meninos, exercendo uma vigilâ ncia paternal
sobre a sua conduta; e que seu coraçã o esteja voltado para a busca do
bem-estar espiritual e temporal daqueles a quem a Providência lhe
confiou. Entã o os coraçõ es dos meninos se abrirã o; entã o aquele ar de
sigilo e tendência mortal de esconder tudo desaparecerá . Somente em
matéria de escâ ndalo que o Superior seja inexorável: é melhor correr o
risco de mandar embora um menino inocente do que manter aquele
que é motivo de escâ ndalo. Os Assistentes devem considerar como
estrita obrigaçã o de consciência dar a conhecer ao Superior tudo o que
possa de alguma forma constituir uma ofensa a Deus!”
Entã o perguntei-lhe: “Qual é o melhor meio para fazer florescer
novamente entre nó s a familiaridade, o amor e a confiança? “A exata
observâ ncia do Regimento da Câ mara.”
"Nada mais?"
“O melhor aperitivo em um jantar é o rosto sorridente das pessoas
ao seu redor.”
Enquanto meu velho amigo encerrava a conversa, com o coraçã o
pesado continuei assistindo aquela recreaçã o sem vida; mas aos poucos
fui me sentindo exausto e oprimido por uma sensaçã o de opressã o, que
foi aumentando a tal ponto que voltei a mim. Descobri que estava de pé
ao lado da minha cama. Minhas pernas estavam tã o rígidas e doloridas
que eu nã o conseguia mais ficar de pé. Já era tarde demais. Portanto, fui
para a cama determinado a escrever estas linhas aos meus meninos.
Desejo nã o ter esses sonhos, pois eles me deixam completamente
exausto. Durante todo o dia seguinte, senti-me extremamente fraco e
ansiava pela chegada da noite para poder ter um sono calmo e
profundo. Mas assim que fui para a cama, o sonho recomeçou. Diante de
mim estavam o pá tio, os atuais meninos do Orató rio e o mesmo ex-
aluno do Orató rio, a quem voltei a questionar imediatamente:
“Nã o deixarei de informar aos Salesianos tudo o que me disseste,
mas o que direi aos meninos do Orató rio?”
“Diga-lhes”, disse ele, “que devem compreender tudo o que os
Superiores, mestres e assistentes fazem por eles e o quanto trabalham
por eles; se nã o fosse pelo seu amor, nunca se sujeitariam a tantos
sacrifícios. Lembre-lhes que a humildade é a fonte de toda felicidade;
diga-lhes para suportarem os defeitos dos outros, pois a perfeiçã o nã o
pode ser encontrada neste mundo. É uma coisa do Paraíso. Eles devem
parar com todos os tipos de resmungos que congelam o coraçã o. Acima
de tudo, diga-lhes que o seu principal esforço deve ser viver na graça de
Deus. Quem nã o está em paz com Deus nã o está em paz consigo mesmo
nem com os outros”.
“Você me diz, entã o, que alguns dos meus meninos nã o estã o em
estado de graça?”
“Esta é a principal causa deste lamentável estado de coisas – este e
outros dos quais você tem conhecimento sem que eu os mencione, e
que você deve remediar. Só quem tem alguns segredos desconfia dos
outros, pois tem sempre medo de que esses segredos se tornem
conhecidos e tem plena consciência de que, se se tornassem pú blicos,
ficaria coberto de vergonha e confusã o. Além disso, se o seu coraçã o
nã o estiver em paz com Deus, ele ficará inquieto e perturbado,
intolerante à obediência, facilmente perturbado por absolutamente
nada; tudo parece estar contra ele, e como ele pró prio nã o sente amor,
chegará à conclusã o de que os Superiores nã o o amam”.
“E, no entanto, quantos meninos frequentam diariamente os
Sacramentos da Confissã o e da Comunhã o!”
“É verdade; muitos confessam-se, mas o que falta absolutamente é
firmeza nas suas resoluçõ es. Eles se confessam, mas trazem sempre as
mesmas faltas, as mesmas ocasiõ es de pecado, os mesmos maus
há bitos, os mesmos atos de desobediência e negligência do dever. E
continuam assim mês apó s mês, e até mesmo durante anos; alguns
continuam assim até o final dos dias escolares. Estas Confissõ es valem
pouco ou nada e, portanto, nenhuma paz de alma é obtida delas; e se
um menino fosse chamado em tal estado perante o tribunal de Deus,
seria realmente um assunto sério.”
“Há muitos assim no Orató rio?”
“Nã o, considerando o grande nú mero de meninos que você tem na
Câ mara, nã o sã o muitos. Olhe para eles." E ele os apontou para mim. Eu
observei e vi aqueles meninos, um por um. Mas naqueles poucos
meninos notei coisas que entristeceram profundamente meu coraçã o.
Nã o quero escrevê-los no papel, mas quando voltar quero explicá -los a
cada um dos interessados. Por enquanto, direi apenas que rezem e
tomem resoluçõ es firmes, mostrando pelo seu comportamento que sã o
sinceros, e façam com que Comollos, os Domingos Sávios, os Besucco e
os Saccardis voltem a viver entre nó s. Como palavra final ao meu amigo,
perguntei: “Tem mais alguma coisa para me dizer?”
“Dizei a todos, jovens e velhos, que eles sã o filhos de Maria,
Auxiliadora dos Cristã os”, disse ele, “que ela os trouxe aqui para
protegê-los dos perigos do mundo, para que se amem como irmã os. e
dai gló ria a Deus e a ela pela sua boa conduta. Dizei-lhes que é Nossa
Senhora quem, por um fluxo interminável de favores e graças, lhes
proporciona o pã o e tudo o que necessitam para os estudos. Lembrem-
se de que estã o à s portas da festa da sua Santa Mã e e que é com a sua
ajuda que essa barreira deve cair, a barreira da desconfiança que o
diabo tã o astuciosamente levantou entre os Superiores e os meninos
para usá -la como um meio para a ruína de certas almas.”
“E conseguiremos remover a barreira?”
“Certamente”, respondeu ele, “se ao menos jovens e velhos
estiverem dispostos a sofrer alguma pequena mortificaçã o pelo amor
de Maria, e se colocarem em prá tica o que eu lhe disse”.
Enquanto isso, continuei a olhar para meus meninos e, ao ver
aqueles que via caminhando para a perdiçã o eterna, meu coraçã o ficou
tã o dolorido que acordei. Gostaria de lhes contar muitas outras coisas
que também sã o de grande importâ ncia, mas nã o tenho tempo nem
oportunidade agora.
Uma imagem que ilustra que o segredo do sucesso de São João Bosco foi a sua singular
devoção à Bem-Aventurada Virgem Maria.
Agora eu deixo você. Você conhece o ú nico desejo deste velho que
passou a vida pelos seus queridos meninos? Nada mais senã o que, na
medida do possível, voltem os dias felizes do antigo Orató rio: os dias de
carinho e confiança cristã entre os meninos e os Superiores; os dias de
condescendência e tolerâ ncia mú tua pelo amor de Jesus Cristo; os dias
em que os coraçõ es estavam abertos com toda a simplicidade e
franqueza, os dias de caridade e de verdadeira felicidade para todos.
Preciso do consolo da sua promessa de que fará tudo o que lhe
peço para o bem da sua alma. Você nã o percebe suficientemente a
grande sorte que tem em estar abrigado no Orató rio. Diante de Deus,
garanto-vos que basta um menino entrar numa casa salesiana e a
Santíssima Virgem o acolhe imediatamente sob a sua especial proteçã o.
Sejamos, portanto, unâ nimes. Caridade de quem manda, caridade de
quem obedece; e o resultado será o espírito de Sã o Francisco de Sales
reinando em nosso meio.
Meus queridos meninos, aproxima-se o tempo em que devo
separar-me de vocês e ir para a eternidade, por isso tenho um desejo
ardente de deixar vocês, sacerdotes, irmã os e queridos meninos, no
caminho que o pró prio Senhor deseja para vocês.
Para este fim, o Santo Padre, que encontrei na sexta-feira, 9 de
maio, envia-vos de todo o coraçã o as suas bênçã os. A Festa de Maria
Auxiliadora me encontrará de volta convosco diante da imagem de
nossa Mã e Santíssima. Desejo que esta festa seja celebrada com a maior
solenidade possível. Deixo isso para o Pe. Lazzero e Pe. Marchisio para
solenizá -lo também no refeitó rio. A Festa de Maria, Auxiliadora, deve
ser um prelú dio daquela festa eterna que celebraremos juntos um dia
no Céu.
Roma, 10 de maio de 1884
Atenciosamente, em Jesus Cristo,
FR. JOÃ O BOSCO
UMA NOTA PARA OS SALESIANO
Aqui estã o alguns sonhos-visõ es monitoriais especiais, muito
importantes para os Salesianos.
Das Memórias Biográficas:
1. Volume CH. A RODA : Sobre vocaçõ es e outros assuntos
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