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RIO

UPAs do estado deixam de


receber pacientes
Diretores de hospitais reclamam de impacto

Guilherme Ramalho e Gabriela Leal*


21/12/2015 - 06:00 / Atualizado em 21/12/2015 - 07:17

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Deserto. Sala de espera da UPA de Copacabana vazia, na manhã de


ontem: segundo pacientes, quem buscava atendimento era
encaminhado para hospitais na Gávea e no Centro Foto: Luiz
Ackermann / Luiz Ackermann

RIO - As Unidades de Pronto Atendimento


(UPAs), que começaram a abrir as portas
em 2007 para desafogar as grandes
unidades públicas de saúde, vivem hoje seu
pior momento, afetadas pela crise
financeira. Segundo relatos de pacientes e
funcionários, há problemas de atendimento
em pelo menos 15 das 29 UPAs
administradas pelo estado. Com salários
atrasados desde o mês passado e sem
receber a segunda parcela do 13º, médicos e
enfermeiros entraram em greve há cinco
dias e, sem alternativa, doentes passaram a
buscar socorro em hospitais, que também
enfrentam dificuldades causadas por falta
de pessoal e recursos. O aumento da
demanda já provoca impacto: no Albert
Schweitzer, a situação alarmante levou o
diretor-geral Dilson da Silva Pereira e o
diretor-técnico Paulo Ricardo Lopes da
Costa a fazerem um registro, ontem, na 33ª
DP (Realengo), informando que a unidade
corre o risco de ter a emergência, uma das
principais da Zona Oeste, fechada.

Diretor-técnico do Hospital Getúlio Vargas,


na Penha, Manuel Alberto Gil Domingues
enviou uma carta ao Conselho Regional de
Medicina (Cremerj), na última terça-feira,
denunciando a falta de medicamentos
essenciais. Segundo ele, “é impossível
manter aberta a porta de entrada da
unidade para atendimento”. Ontem, apenas
pacientes com sintomas graves — “quase
morrendo”, de acordo com funcionários —
eram socorridos, o que deixou os bancos de
espera vazios. Quem aparecia com sintomas
mais leves era aconselhado a ir à UPA da
Penha, em vão.

ATENDIMENTO SÓ PARA CASOS


GRAVES

Na UPA da Penha, assim como nas de Irajá,


Copacabana, Botafogo, Marechal Hermes,
Realengo, Rocha Miranda, Campo Grande,
Duque de Caxias (duas UPAs), Queimados,
Nova Iguaçu (duas UPAs), Mesquita e
Colubandê (São Gonçalo), entre outras, há
problemas no atendimento. Na Zona Sul,
quem precisou de consulta durante o fim de
semana foi encaminhado para os hospitais
municipais Miguel Couto, na Gávea, e Souza
Aguiar, no Centro. A orientação nas
unidades estaduais era só aceitar casos
considerados graves.

— Não teve conversa. Disseram que só vão


receber pessoas que chegarem sem sinais
vitais. É um absurdo — lamentou a
vendedora Brenda Mena Barreto, que saiu
da UPA de Copacabana mancando. — Caí da
escada e torci o pé. Estou com muita dor e
quero saber se minha lesão é grave.

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Acompanhada por parentes, a aposentada


Maria da Graça Silva chegou à mesma
unidade com pés e mãos inchados, manchas
vermelhas no corpo e formigamento nas
pernas.

— Não passei da porta. Falaram que eu só


receberia atendimento se tivesse sido
baleada ou sofrido algo mais grave —
afirmou Maria da Graça.

Moradora de Copacabana, a decoradora


Elizabeth Szelazek não foi recebida na UPA
do bairro, mesmo estando com dores e
febre:

— Só vi um médico trabalhando. É uma


vergonha. Fui encaminhada para o Miguel
Couto, mas desisti. Não tenho condições de
me deslocar nesse sol.

Ao chegar à UPA de Copacabana, a


figurinista Emmanuele Rodrigues foi
orientada a seguir para a Coordenação de
Emergência Regional Professor Nova
Monteiro, ao lado do Miguel Couto.

— Estou com fortes dores de cabeça há


muitos dias. Não se deram ao trabalho de
checar minha pressão — contou
Emmanuele, que diz ter sido intimidada na
UPA, ao fotografar funcionários de braços
cruzados.

Diagnosticada com zika e cheia de manchas


vermelhas no corpo, a técnica de
enfermagem Gina Rodrigues foi atendida na
UPA de Irajá, mas aguardou quase duas
horas. O pai dela, com suspeita de também
estar com o vírus, não passou pelo médico.

— Alegaram que os sintomas não estavam


tão fortes. Vou procurar outro lugar — disse,
indignado, o motorista Francisco Gonçalves
de Oliveira.

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A situação era semelhante na Penha, onde a


demora no atendimento revoltava os
pacientes. Uma enfermeira, que preferiu
não se identificar, disse que a unidade do
bairro ficou prejudicada com as restrições
nas outras UPAs:

— A situação está bem crítica e acaba


prejudicando quem está atendendo. Muitos
pacientes estão vindo de outras UPAs para
cá. Uma pessoa veio de Realengo para se
consultar aqui.

Espera de até sete horas

Em Duque de Caxias, pacientes sem


gravidade eram aconselhados a procurar o
Hospital Municipal Moacir do Carmo, já que
o tempo de espera na fila poderia chegar a
sete horas.

Mesmo com febre e fortes dores na barriga,


a ponto de não conseguir andar, a
vendedora Larissa Aparecida Santos passou
pelas duas UPAs de Caxias e pelo Moacir do
Carmo sem ser atendida.

— Em uma UPA, só tinha um médico e, na


outra, dois. Fomos à farmácia, ela tomou
um remédio e deu uma aliviada na dor. Se
melhorar, vamos deixar para lá — disse o
namorado de Larissa, o militar Luan Nunes
Fernandes.

Em Nova Iguaçu, o diretor do Hospital


Geral da Posse, Joe Cestello, afirmou que já
enfrenta superlotação por causa da crise nas
UPAs. Em nota, ele informou que a unidade
“está vivendo o caos com a enorme
sobrecarga no atendimento em decorrência
do fechamento da emergência de outros
hospitais”.

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Presidente do Sindicato dos Médicos do Rio,


Jorge Darze destacou a gravidade da
situação e disse que, na sexta-feira, fez uma
denúncia ao Ministério Público contra o
governador Luiz Fernando Pezão, para que
ele assuma o crime de responsabilidade
devido à crise na saúde do estado.

— A situação é muito grave. Nunca vivemos


um momento tão crítico. Essas pessoas não
têm dinheiro para serem atendidas no setor
privado — disse Darze, acrescentando que
os profissionais também enfrentam
dificuldades. — Os médicos atuam com uma
equipe. Se o auxiliar de enfermagem não for
trabalhar por falta de dinheiro, em quais
condições o paciente será atendido?

Darze não soube informar quantos médicos


trabalham em UPAs porque, segundo ele,
esses dados são uma “caixa-preta”:

— Cada unidade tem uma gestão diferente.


São muitas Organizações Sociais. A
Secretaria de Saúde não tem gestão sobre o
que está acontecendo. É um barco à deriva.
Estão expondo a população ao risco de
morrer.

* Colaboraram Célia Costa, Fábio Teixeira


e Renan Almeida

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