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PROJETO DE PESQUISA
São Luís-MA
Fevereiro de 2024
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
PROJETO DE PESQUISA
São Luís-MA
Fevereiro de 2024
Processo de obsolescência do “maranhês”:
uma proposta de investigação do modo de falar do maranhense que vem
sendo abandonado pelas novas gerações
1. Justificativa
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comunidade árabe, em solo maranhense, desempenhou um papel relevante no
desenvolvimento econômico e também no aspecto cultural da região, incluindo-se aí
sua contribuição linguística.
Como se observa, a formação cultural do Maranhão, até o século XIX,
sofreu a influência direta de quatro povos distintos: indígenas, lusitanos, africanos e
árabes. Essa mescla resultou numa das mais expressivas culturas do Brasil,
recentemente cunhada de ―maranhensidade‖. É lógico que, além dos múltiplos
elementos que compõem a cultura de um povo, a sua língua é um dos mais
marcantes, e, no caso do Maranhão, o modo de falar de seu povo tem
características únicas, principalmente, no tocante à riqueza de vocábulos.
Além do aspecto de ―clareza fonética‖ da fala do maranhense, que se
destaca nacionalmente por ser livre de sotaques, existe uma abundância de
verbetes que são (ou eram) exclusiva e comumente utilizados dentro dos limites
territoriais do Maranhão. Exemplos não faltam, como substantivos: acesume,
bogue, cascaria, chamató, combombó, cruzeta, diamba, murrinha, ri-ri, janambura,
midubim etc.; adjetivos: alpegado, broco, chocho, enfarento, intanguido, ispora,
lepréutico, remoso etc.; verbos: aluir-se, arengar, baldear, barruar, chalerar,
escangalhar, fobar, malinar, renar etc.; expressões: eu tô é tu, bater uma chapa,
capar o gato, dar para a radiola de alguém, de vez, fazer a lusitana do mês, hem-
hem, lavar as partes, lugar mais limpo!, morreu fofão etc. Importa, aqui, ressaltar
que o objeto do estudo se restringe a aspectos vocábulares, não se considerando
peculiaridades fonéticas, como a cadência rítmica e a pronúncia atávica em
algumas regiões do estado, principalmente na Baixada Maranhense.
Não obstante essa riqueza linguística da cultura maranhense, observa-se
que as novas gerações vêm se negando a dar continuidade a esse traço tão forte da
maranhensidade, o que mereceria um trabalho de resgate desse linguajar
específico. Vale destacar aqui uma valiosa contribuição, no sentido de perpetuar a
língua-raiz do maranhense, que vem sendo dada pelo grupo teatral Pão com Ovo.
Com sua grande influência perante o público jovem, decorrente da notoriedade
artística angariada, o grupo vem disseminando a maranhensidade linguística de
forma alegre e não institucionalizada. É necessário pesquisar o efeito disso na
predisposição dos jovens a usar os mesmos vocábulos.
O interesse pelo tema acerca do resgate da linguagem raiz do
maranhense, da memória linguística como instrumento da preservação cultural, se
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dá pela vivência do autor na área da docência, orientando grupos de jovens
estudantes e tendo, como resultado, observado que a maioria desses jovens não
utiliza — por não conhecer ou por vergonha — muitas palavras e expressões que,
até alguns anos atrás, fazia parte corriqueira das práticas linguísticas dos
maranhenses, nestes incluindo-se seus familiares mais próximos. Movido por essa
observação, o autor iniciou, em 2019, um trabalho de catalogação dos principais
termos e expressões específicos do português falado no Maranhão, o que resultou,
em 2023, na conclusão do trabalho, com a obra ―Do you speak maranhês?‖ (Ed.
Cazumbá), a ser lançada no primeiro semestre de 2024. Por questões didáticas, o
livro não se limita a explicar somente o sentido dos 375 verbetes que compõem a
obra, mas também dá exemplos práticos, todos utilizando a linguagem coloquial do
maranhense.
Busca-se, com esta pesquisa, apresentar a importância da valorização
dos saberes linguísticos tradicionais dos habitantes do Maranhão, pois essa prática
linguística secular, que deveria ser transmitida de geração em geração, teve algum
elo partido na sua cadeia de transmissão. Segundo Ramos (1986, p. 20), cada
comunidade constrói sua memória coletiva específica, fundamentada, em parte, na
história que o grupo vivenciou no passado.
Nas comunidades tradicionais — não obstante a grande extensão
territorial do Maranhão, neste caso, utiliza-se como recorte o conjunto da população
maranhense como uma comunidade única, devido às suas peculiaridades
linguísticas específicas — a língua se apresenta como um traço estruturante. É um
elemento intelectual que caracteriza uma sociedade ou, ainda, um grupo social
determinado. É possível evidenciar que a linguagem apresenta relevantes traços
caracterizadores culturais, não somente para a cultura, mas também para a
preservação da memória de um povo. É importante recordar que a diversidade
linguística constitui um elemento de fundamental importância da diversidade cultural,
e enfatiza-se aqui o papel que a educação desempenha na proteção e no resgate
das expressões culturais.
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2. Objetivos
2.1 Geral
Pontuar o desinteresse das novas gerações de jovens maranhenses quanto à
perpetuação do uso de termos específicos do linguajar maranhense.
2.2 Específicos
Identificar os motivos por que os jovens maranhenses vêm prescindindo de
um modo de falar tradicional, provavelmente utilizado por seus ascendentes mais
próximos;
Valorização da necessidade de resgate do falar maranhense;
Construir um glossário dos principais termos negligenciados pelas novas
gerações de maranhenses;
Demonstrar a importância cultural do ―maranhês‖.
3. Fundamentação Teórica
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sociolinguística variacionista. A variável linguística geralmente é relacionada como
uma variável dependente: ―Uma variável é concebida como dependente no sentido
que o emprego das variantes não é aleatório, mas influenciado por grupos de fatores
de natureza social ou estrutural‖ (MOLLICA; BRAGA, 2003, p.11).
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Além do mais, não se pode esquecer o valor econômico que é agregado a
uma sociedade quando ela valoriza sua cultura. Segundo Bervar e Trnavĉević
(2019):1
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O conceito de cultura fornece as ferramentas intelectuais com as quais uma estrutura mais efetiva
pode ser construída. Uma variedade de conceitos que se desenvolveram em paralelo podem ser
reunidos e desenvolvidos ainda mais, incluindo o conceito de coesão e valores socialmente mantidos
(senso de propósito e significado). A diversidade cultural é componente essencial da coesão social
(coexistência) e da coesão econômica (prosperidade). Ambas, as desigualdades culturais e econômicas
precisam ser abordadas, a democracia cultural terá que ocorrer. O capital cultural é o elemento
coesivo que mantém uma sociedade unida, o capital social é o lubrificante que permite seu
funcionamento suave.
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4. Metodologia
A expressão ―pesquisa de campo‖ é comumente utilizada para descrever
um tipo de pesquisa feito onde a vida cotidiana se desenvolve, fora do laboratório ou
das salas de aulas. Nessa óptica, o pesquisador sai a campo para obter dados que
serão analisados posteriormente, por meio de uma multiplicidade de métodos tanto
para a coleta quanto para a análise.
A pesquisa de campo consiste na observação de fatos e fenômenos da
maneira como realmente acontecem, na coleta de dados referentes a esses fatos e
fenômenos e, por fim, na análise e interpretação desses dados, baseado em uma
consistente fundamentação teórica, visando compreender e explicar o objeto da
pesquisa. É necessário determinar as técnicas de coleta de dados mais apropriadas
à natureza do tema e, além disso, a definição das técnicas que serão utilizadas para
que se façam o registro e a análise. De acordo com as técnicas estabelecidas para
coleta, análise e interpretação dos dados, a abordagem da pesquisa pode ser
classificada como quantitativa ou qualitativa. De acordo com Franco (1995), numa
pesquisa em que se faz uma abordagem basicamente quantitativa, o pesquisador se
limita à descrição factual deste ou daquele evento e ignora quão complexa pode ser
a realidade social.
Os pressupostos teórico-metodológicos a nortear esta pesquisa baseiam-
se na Sociolinguística, em estudos de autores que abordam os aspectos linguísticos
na sociedade sob diversos ângulos. Utilizaram-se autores como Calvet (2007), Preti
(1982), Possenti (2002), Bagno (2002), Faraco (1998), Jakobson (2004), Bortoni
Ricardo (2004), entre outros dedicados a estudar os processos de socialização e
aculturação, assim como a valorização das línguas através das subsequentes
gerações.
O objetivo de um trabalho de investigação tem a precípua intenção de
evidenciar aquilo que o pesquisador se propõe a desenvolver, desde o
estabelecimento dos aspectos teóricos e metodológicos, até à obtenção dos
resultados que pretender alcançar, em determinada área do conhecimento. Para as
pesquisadoras Marconi & Lakatos (2003, p 156), portanto, ―toda pesquisa dever ter
um objetivo determinado para saber o que se vai procurar e o que se pretende
alcançar.‖ Nesse sentido, o objetivo da investigação científica torna explícita a
problemática, ampliando e aprofundando o conhecimento sobre o que se pretender
investigar.
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No mesmo sentido, Cervo e Bervian (1978) ensinam que os objetivos da
investigação podem definir a natureza do estudo, o tipo de problema a ser
investigado e até o material a ser coletado. De maneira geral, os projetos de
investigação contemplam dois tipos de objetivos: o geral, que sintetiza
operacionalmente o que se pretende esclarecer; e os objetivos específicos, que
devem manter coerência com o objetivo geral, detalhando os desdobramentos
pretendidos a partir do que foi estabelecido pelo objetivo geral.
Grosso modo, os objetivos da pesquisa determinam onde se pretende
chegar, estabelecendo relação com as finalidades da investigação. Nesse sentido,
os objetivos da investigação científica fundam-se na ideia de geração de novos
conhecimentos, ampliando generalizações, sistemas e teorias sobre uma
determinada problemática. Em síntese, o objetivo define o que a investigação
pretende desvelar.
Ademais, sabe-se que a metodologia se constitui em um conjunto de
processos e procedimentos indispensáveis à construção do estudo investigativo,
que, em síntese, intenciona desvelar a veracidade constante nas informações e
reflexões sobre o objeto inquirido, com base nos dados obtidos no campo de
pesquisa. Nesse contexto, destacam-se a metodologia adotada, a busca de
resultados, o tipo de estudo realizado, o local em que este se desenvolve, a
definição dos sujeitos, os instrumentos, a análise dos dados, além de outros
elementos que se inserem no contexto de uma trajetória que tem por finalidade o
alcance dos objetivos previamente propostos, além das indagações relacionadas
com as questões norteadoras, com vista à obtenção das possíveis evidências
advindas do objeto de estudo capturadas no campo de pesquisa.
Esta pesquisa tem um caráter teórico-reflexivo, mas também propositivo,
portanto sua execução será dividida em três etapas: uma, teórico-conceitual,
dedicada à revisão da literatura, com base em importantes referenciais
bibliográficos; e a segunda etapa prevê a aplicação de entrevistas semiestruturadas
entre jovens estudantes de escolas do ensino médio da rede pública estadual do
Maranhão; a terceira etapa prevê a construção de um glossário de termos
linguísticos não mais utilizados pela população maranhense mais jovem.
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5. Cronograma de atividades
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6. Referências bibliográficas
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