“SERÁ HUM DOS PRINCIPÁES CUIDADOS DOS DIRECTORES, ESTABELECER NAS
SUAS RESPECTIVAS POVOAÇOENS O USO DA LINGUA PORTUGUEZA”:
RECONFIGURAÇÕES DEMOGRÁFICO-LINGUÍSTICAS NA BAHIA DO SÉCULO XVIII
Pedro Daniel dos Santos Souza (UNEB/UFBA)
A política linguística executada no período colonial pelo governo de D. José I (1750-1777),
manifestada por meio do Diretório pombalino, ou dos índios, ainda que de forma desigual para os diversos espaços da América portuguesa, deixou suas marcas na história linguística do Brasil. No âmbito da Bahia, especificamente da antiga Capitania de Porto Seguro, a atuação do segundo Ouvidor, o Desembargador José Xavier Machado Monteiro (1766-1780), foi bastante significativa na “civilização” dos índios e execução da política josefina para essas populações, impactando sobre a abertura de escolas de ler, escrever e contar para os meninos. Quanto às meninas, a decisão de encaminhá-las para a convivência com mulheres brancas “honestas” revela a outra face da política de integração e de civilização dos povos indígenas. A partir da análise da aplicação do Diretório, buscamos então refletir sobre o processo de ensino- aprendizagem de língua portuguesa e de letramento de meninos e meninas indígenas no espaço político-administrativo em questão, na direção de recuperar uma articulação entre os fatos de ocupação territorial, as sucessivas distribuições demográfico-linguísticas e as prevalências e desparecimento das línguas, bem como uma reconstrução da história da difusão social da escrita entre as populações indígenas na Bahia setecentista. Fundamentando nossa discussão no campo da história social da cultura escrita, a análise proposta parte de fontes do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU) e do Arquivo do Estado da Bahia (APEB). A documentação investigada aponta para algumas práticas entre as populações indígenas: uso das línguas de suas respectivas etnias; domínio cada vez maior da língua portuguesa pelos mais jovens; papel da escola na manutenção dos índios na doutrina cristã; má influência dos pais na “civilização” das crianças indígenas; dificuldades em manter os meninos indígenas nas escolas, havendo a necessidade de intervenção dos Juízes Ordinários.
Palavras-chave: escolarização; cultura escrita; sócio-história linguística; Bahia setecentista;