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7º Simpósio de Hidráulica e Recursos Hídricos dos Países de Língua Oficial Portuguesa

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ESTIMAÇÃO DE SÉRIES DE CAUDAIS MÉDIOS DIÁRIOS NA AUSÊNCIA


DE INFORMAÇÃO HIDROMÉTRICA

PORTELA, M. M., Professora Auxiliar, IST. DECivil, Lisboa, +351.218148141, mps@civil.ist.utl.pt


QUINTELA, A. C., Professor Catedrático Jubilado, IST. DECivil, Lisboa, +351.218148147, acq@civil.ist.utl.pt

Resumo
Em trabalhos antecedentes, os autores demonstraram que o escoamento anual médio expresso em
altura de água sobre a bacia hidrográfica constitui uma medida da variabilidade temporal do escoamento
nos rios portugueses e, como tal, representa um parâmetro fundamental a considerar em estudos de
regionalização de informação hidrométrica. Tal demonstração incidiu essencialmente sobre o escoamento
às escalas anual e mensal, tendo o escoamento à escala diária sido então apreciado apenas em termos de
curvas de duração média anual do caudal médio diário. Para o efeito, os caudais médios diários em
secções da rede hidrográfica portuguesa foram expressos em termos adimensionais, mediante divisão
pelos respectivos módulos.
No presente artigo, retoma-se o tema de regionalização de informação hidrométrica
fundamentando-o num número significativamente maior de resultados referentes a escoamentos mensais,
mas, especialmente, desenvolvendo-o no que respeita a escoamentos médios diários.
Procede-se, assim, a uma análise mais abrangente que confirma a dependência entre características
das séries de caudais médios diários e a altura do escoamento anual médio, expõem-se os procedimentos
adoptados para obter séries daqueles caudais na ausência de informação hidrométrica e incluem-se
exemplos de aplicação que se julgam evidenciar o bom desempenho dos procedimentos propostos.

Palavras-chave: altura do escoamento anual médio, variabilidade temporal de séries de escoamento,


regionalização de informação hidrométrica, caudais médios diários.
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1. INTRODUÇÃO. TRABALHOS ANTECEDENTES


Em PORTELA e QUINTELA 2000, 2002a, 2002b, os autores demonstraram que o escoamento
anual médio expresso em altura de água sobre a bacia hidrográfica, H , fornece uma medida da
variabilidade temporal relativa, interanual e intra-anual, do escoamento nos rios portugueses e que constitui
um parâmetro determinante e consistente para regionalizar informação1. Regista-se que tal regionalização
assume especial importância em estudos de planeamento da utilização de recursos de águas superficiais e
em projectos das necessárias infra-estruturas, muito frequentemente confrontados com ausência,
insuficiência ou má qualidade de registos locais de caudal.
Os trabalhos mencionados incidiram essencialmente sobre a regionalização do escoamento anual e
mensal, para o que foram utilizados os registos (em períodos superiores a 30 anos) de escoamento em
24 estações hidrométricas razoavelmente dispersas pelo território de Portugal Continental.
A possibilidade de, a nível anual, a altura do escoamento anual médio caracterizar a variabilidade
relativa temporal do escoamento foi demonstrada pelo facto de o coeficiente de variação, Cv, depender da
grandeza H nas séries de escoamento anual (expresso em altura) relativas às estações hidrométricas
consideradas nos estudos atrás citados. O coeficiente de variação de uma série é dado pela razão entre o
desvio-padrão, s, e a média dessa série, pelo que constitui uma medida da variabilidade relativa dos
termos da série. A equação que exprime a dependência entre as duas variáveis Cv e H e que traduz o
aumento da variabilidade interanual do escoamento anual com a diminuição de H é dada por (para H
em mm):
s
Cv = = 4.895 H − 0.354 (1)
H
aliás, próxima da que havia sido anteriormente obtida por QUINTELA, 1967, p. 157, a partir de um muito
menor número de estações hidrométricas.
Tendo por base a dependência expressa pela equação (1), PORTELA e QUINTELA 2000, 2002a,
2002b estabeleceram as seguintes equações que, no pressuposto de aplicação da lei de Pearson III,
possibilitam estimar para diferentes probabilidades de não excedência, F(H), a altura do escoamento anual,
H (mm), em função de H (mm):
F(H)=5% H = 0.616 H − 191.62 (2)
F(H)=20% H = 0.738 H − 94.52 (3)
F(H)=95% H = 1.577 H + 194.11 (4)
F(H)=99% H = 1.932 H + 291.17 (5)
A caracterização, a nível mensal, da variabilidade das correspondentes séries de escoamentos
recorreu aos desvios quadráticos médios das alturas mensais de escoamento, expressos em termos
adimensionais de acordo com a seguinte equação, que foi aplicada a cada uma das 24 estações
hidrométricas então analisadas:
12
∑ [ ( H i, j − H i ) H ]2
j =1
DQM i = (6)
12

1 A regionalização da informação hidrométrica é aqui entendida como referente a valores do caudal e do escoamento em cursos de água
naturais.
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Na anterior equação i e j são índices representativos, respectivamente, de ano e de mês e as


restantes variáveis, para além de H , têm os significados seguintes:
DQM i desvio quadrático médio (adimensional) do escoamento mensal no ano i;
Hi altura do escoamento mensal médio no ano i (média das alturas H i, j );
H i, j altura do escoamento no mês j do ano i.
A série de DQM assim obtida com base nos registos em cada estação hidrométrica, com tantos
elementos quanto o número de anos com registos de escoamento mensal naquela estação, foi
caracterizada pela respectiva média – média dos desvios quadráticos médios, MED DQM – e
desvio-padrão – desvio-padrão dos desvios quadráticos médios, DESV DQM.
O facto de H constituir também uma medida da variabilidade relativa intra-anual do escoamento
mensal foi demonstrado pela existência das seguintes relações, estatisticamente significativas, entre
MED DQM ou DESV DQM e a altura do escoamento anual médio H (mm):
MED DQM = 0.428 H −0,2396 (7)
DESV DQM = 1.549 H −0,5313 (8)
Sendo o desvio quadrático num dado ano, DQM i , tanto maior quanto mais irregulares forem os
escoamentos mensais nesse ano, conclui-se que, em média, a variabilidade relativa desses escoamentos
diminui à medida que H aumenta (diminuição de MED DQM com o aumento de H ). A dispersão dos
desvios quadráticos médios em torno das respectivas médias diminui também com o aumento de H
(diminuição de DESV DQM com o aumento de H ). Verifica-se, assim, que o escoamento anual médio
expresso em altura, H , constitui também uma medida da irregularidade relativa do escoamento mensal,
atenuando-se tal irregularidade à medida que H aumenta.
Em face dos anteriores resultados, PORTELA e QUINTELA 2000, 2002a, 2002b concluíram que a
série dos escoamentos mensais adimensionais relativa a uma secção de um curso de água com
escoamento anual médio expresso em altura de água, H , podia ser transposta (ou seja, adoptada) para
uma outra secção sem informação hidrométrica desde que para a mesma se tivesse obtido uma estimativa
do escoamento anual médio, H 1 , próxima de H .
A nível diário, os trabalhos que se resumem contêm apenas uma menção às curvas de duração média
anual do caudal médio diário e à possibilidade da transposição de tais curvas para secções de rede
hidrográfica não dispondo de registos desde que os caudais médios diários que figuram nas curvas sejam
expressos em termos adimensionais, por divisão pelos respectivos módulos.

2. DADOS DE BASE
A análise que, no seguimento dos trabalhos brevemente resumidos no item precedente, se apresenta
tem por principal objectivo principal demonstrar que a variabilidade relativa das séries de escoamento
diário também depende de H . Dado que, para esse objectivo, foi utilizada informação hidrométrica num
número de estações muito superior ao anteriormente considerado por PORTELA e QUINTELA 2000,
2002a, 2002b, optou-se por também refazer a análise de regionalização a nível mensal, incorporando tal
informação.
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Para o efeito, foram recolhidas as séries de escoamentos diários (séries contínuas) nas 54 estações
hidrométricas identificadas no Quadro 1, que incluem 21 das 24 estações que fundamentaram os trabalhos
precedentes dos autores. Dessas últimas estações, três não foram agora consideradas por não ter sido
possível obter as correspondentes séries de escoamento diários, não obstante serem disponibilizados para
as mesmas escoamentos mensais. Menciona-se, aliás, que, mesmo para as 21 estações hidrométricas
que já haviam sido utilizadas nos estudos precedentes, muito frequentemente não foi possível obter os
escoamentos diários nos períodos para os quais são apresentados escoamentos mensais. Por tal motivo,
optou-se por desenvolver a presente análise estritamente com base nos registos diários nos períodos
assinalados no Quadro 1, a partir dos quais se constituíram as séries de escoamento mensal e anual nas
diferentes estações hidrométricas.

Quadro 1 – Estações hidrométricas utilizadas no estudo. Características gerais.


Estação hidrométrica Área da bacia Período de registos e Série de escoamentos anuais
Código Designação Bacia hidrográfica/ hidrográfica número de anos (entre Média, H Desvio-padrão
/curso de água 2
(km ) parêntesis) (mm) (mm)
26J/01 Albernoa Guadiana/Terges 177 1970/71 a 1989/90 (20) 105 111
27I/01 Entradas Guadiana/Terges 52 1971/72 a 1989/90 (19) 124 121
24H/01 S. Domingos Sado/Ribª Algalé 59 1934/35 a 1958/59 (25) 131 96
27J/01 Monte da Ponte Guadiana/Cobres 707 1959/60 a 1989/90 (31) 137 124
24H/03 Torrão do Alentejo Sado/Xarrama 465 1961/62 a 1989/90 (29) 148 121
19D/04 Pte.da Ota Tejo/Ribª de Ota 56 1979/80 a 1989/90 (11) 150 119
24L/01 Amieira Guadiana/Degebe 1474 1947/48 a 1964/65 (18) 154 139
18L/01 Couto de Andreiros Tejo/Ribª de Seda 244 1978/79 a 1989/90 (12) 158 144
19C/02 Pte.Barnabé Tejo/Alenquer 114 1979/80 a 1989/90 (11) 165 130
25G/02 Moinho do Bravo Sado/Ribª Corona 218 1977/78 a 1989/90 (13) 175 140
24I/01 Odivelas Sado/Ribª de Odivelas 431 1934/35 a 1966/67 (33) 178 135
12E/01 Pte. Azenha Nova Mondego/Ribª de Foja 51 1975/76 a 1986/87 (12) 201 116
19M/01 Monforte Tejo/Ribª de Avis 136 1961/62 a 1976/77 (16) 222 178
30F/02 Vidigal Algarve/Ribª do Farelo 19 1938/39 a 1963/64 (26) 227 138
31K/03 Bodega Algarve/Ribª de Alportel 132 1975/76 a 1988/89 (14) 235 196
29L/01 Monte dos Fortes Guadiana/Ribª Odeleite 288 1968/69 a 1989/90 (22) 251 188
23I/01 Flor da Rosa Sado/Xarrama 278 1934/35 a 1964/65 (31) 258 193
28L/02 Vascão Guadiana/Ribª Vascão 428 1960/61 a 1982/83 (23) 279 216
06O/03 Qta.das Laranjeiras Douro/Sabor 3464 1961/62 a 1981/82 (21) 298 233
13E/04 Pte. Casal Rola Mondego/Pranto 138 1975/76 a 1988/89 (14) 325 222
30G/01 Monte dos Pachecos Algarve/Ribª de Odelouca 386 1962/63 a 1982/83 (21) 330 295
10P/01 Castelo Bom Douro/Côa 897 1960/61 a 1995/96 (36) 332 205
05M/01 Murça Douro/Tinhela 265 1974/75 a 1996/97 (23) 341 235
18E/01 Pte.Freiria Tejo/Maior 184 1976/77 a 1989/90 (14) 343 239
08O/02 Cidadelhe Douro/Côa 1685 1956/57 a 1973/74 (18) 360 177
13F/02 Pte. Casével Mondego/Ega 146 1977/78 a 1989/90 (13) 362 196
06M/01 Castanheiro Douro/Tua 3718 1958/59 a 1995/96 (38) 366 216
21C/01 Pte.Pinhal Tejo/Ribª de Loures 79 1977/78 a 1988/89 (12) 376 268
11I/06 Pte. Tábua Mondego/Mondego 1550 1937/38 a 1978/79 (42) 421 217
10K/01 Pte. Sta Clara-Dão Mondego/Dão 177 1921/22 a 1972/73 (52) 454 312
10J/01 Caldas S. Gemil Mondego/Dão 617 1956/57 a 1989/90 (34) 480 272
10L/01 Pte. Juncais Mondego/Mondego 606 1918/19 a 1966/67 (49) 504 302
03N/01 Rebordelo Douro/Rabaçal 857 1955/56 a 1995/96 (41) 582 322
08L/01 Quinta do Rape Douro/Távora 170 1976/77 a 1987/88 (12) 601 316
12H/03 Pte. Mucela Mondego/Alva 666 1960/61 a 1989/90 (30) 630 349
10G/02 Pte. Águeda Vouga/Águeda 405 1934/35 a 1953/54 (20) 674 369
06I/02 Pte. Canavezes Douro/Tâmega 3135 1955/56 a 1986/87 (32) 709 339
03K/01 Vale Giestoso Douro/Beça 77 1957/58 a 1996/97 (40) 717 398
10M/03 Videmonte Mondego/Mondego 121 1975/76 a 1996/97 (22) 736 388
08J/01 Castro Daire Douro/Pavia 291 1945/46 a 1987/88 (43) 738 362
03P/01 Vinhais-Qt. Ranca Douro/Tuela 455 156/57 a 1995/96 (40) 784 354
07I/04 Cabriz Douro/Ribª S. Paio 17 1966/67 a 1987/88 (22) 808 353
04J/04 Cunhas Douro/Beça 338 1949/50 a 1995/96 (47) 860 362
11M/01 Pai Diz Mondego/Mondego 50 1973/74 a 1994/95 (22) 876 377
06K/01 Ermida-Corgo Douro/Corgo 291 1956/57 a 2001/02 (46) 908 436
13H/03 Louçainha Mondego/Simonte 4 1960/61 a 1983/84 (24) 959 367
09H/01 Pedre Ribeiradio Vouga/Vouga 928 1962/63 a 1979/80 (18) 972 508
05K/01 S.Marta do Alvão Douro/Louredo 52 1955/56 a 1987/88 (33) 986 394
08H/02 Fragas da Torre Douro/Pavia 660 1946/47 a 1995/96 (50) 997 470
09F/01 Pte. Minhoteira Vouga/Antuã 114 1976/77 a 1989/90 (14) 1105 462
17F/02 Pte.Nova Tejo/Almonda 102 1976/77 a 1985/86 (10) 1122 550
09G/01 Pte. Vale Maior Vouga/Caima 188 1974/75 a 1988/89 (15) 1183 513
11L/01 Manteigas Tejo/Zêzere 28 1978/79 a 1995/96 (18) 1898 724
03H/04 Covas Cávado/Homem 116 1955/56 a 1973/74 (19) 2212 936
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Anota-se que o número médio de anos das séries de escoamento diário utilizadas no presente
estudo é superior a 25 anos, existindo, contudo, treze séries com dimensão inferior a quinze anos (mas
superior a dez anos). Não obstante se reconhecer que as menores dimensões em presença dos períodos
de registos podem, de algum modo, ser insuficientes para caracterizar com o rigor desejável os
escoamentos diários, entendeu-se preferível prosseguir a análise considerando as correspondentes séries.
Por fim, menciona-se que foram incluídas no Quadro 1 as médias, H , e os desvios-padrão das
séries de alturas anuais dos escoamentos nos períodos de registos aí indicados, sendo as estações
hidrométricas apresentadas por ordem crescente dos valores de H .

3. ANÁLISE A NÍVEL MENSAL


Como atrás referido, em face do maior número de estações hidrométricas, comparativamente ao
considerado em PORTELA e QUINTELA 2000, 2002a, 2002b, optou-se por refazer a análise ao nível das
séries de escoamento mensal, embora estritamente nos moldes então adoptados, brevemente resumidos
no item 1. Para o efeito, utilizaram-se unicamente as séries de alturas do escoamento mensal constituídas
a partir das séries de escoamentos diários nos períodos de registos definidos no Quadro 1.
As séries de desvios quadráticos médios mensais assim obtidas por aplicação da equação (6) foram
caracterizadas em termos das respectivas médias e desvios-padrão, com obtenção dos resultados
da Figura 1.
Média e desvio-padrão dos DQM (-)

0.16 Figura 1 – Médias e


0.14 desvios-padrão das séries
0.12 dos desvios quadráticos
MED DQM = 0.439 H -0.2411 médios dos escoamentos
0.10
mensais adimensionais
0.08 nas 54 estações
0.06 hidrométricas do
DESV DQM = 1.409 H -0.5067 Quadro 1, em função dos
0.04
respectivos valores de
0.02 H (mm).
0 500 1000 1500 2000
H (mm)

A anterior figura inclui a representação, tanto dos 54 pares de valores ( H , MED DQM) e
( H , DESV DQM) referentes às estações hidrométricas do Quadro 1, como das curvas e respectivas
equações, que, por aplicação de expressões do tipo das definidas por (7) e (8), relacionam as variáveis em
presença. Tais equações, que são seguidamente também reproduzidas, foram obtidas por análise de
regressão linear simples (baseada no método dos mínimos quadrados aplicado no campo das
transformadas logarítmicas de H e das médias e desvios-padrão dos DQM das séries de alturas mensais
do escoamento), correspondendo-lhes coeficientes de correlação de cerca de -74 e -84%, para a relação
entre H (mm) e, respectivamente, MED DQM e DESV DQM:
MED DQM = 0.439 H −0.2411 (9)
DESV DQM = 1.409 H −0.5067 (10)
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Anota-se que o coeficiente de correlação entre as médias dos desvios quadráticos médios
calculadas a partir das séries mensais relativas às estações hidrométricas do Quadro 1 e fornecidas pela
aplicação da equação (9) às alturas anuais médias naquelas estações é de cerca de 79%, apresentando o
coeficiente de correlação relativo aos desvios quadráticos médios o valor aproximado de 87%. Estes dois
valores (que, note-se, excedem os valores absolutos dos coeficientes de correlação referentes à análise de
regressão linear simples no campo das transformadas logarítmicas das diferentes varáveis) evidenciam a
boa adaptabilidade das equações (9) e (10) aos pontos amostrais utilizados no seu estabelecimento.
A Figura 2 contém a representação das curvas definidas pelas equações (9) e (10) bem como a das
curvas anteriormente obtidas por PORTELA e QUINTELA 2000, 2002a, 2002b, com base nos registos
referentes apenas a 24 estações hidrométricas, dadas pelas equações (7) e (8). Em face da proximidade
das duas curvas relativas a uma mesma característica estatística (média ou desvio-padrão de DQM),
julga-se que resulta reforçada a demonstração de que H constitui, de facto, uma medida consistente da
variabilidade relativa intra-anual do escoamento mensal, diminuindo essa variabilidade (bem como a
respectiva dispersão) à medida que H aumenta, ou seja, à medida que se está perante um região mais
húmida, com um regime mensal de escoamento mais uniforme.
Média e desvio-padrão dos DQM (-)
Figura 2 – Representação 0.16
Equações (9) e (10)
esquemática das relações entre 0.14 Equações (7) e (8)
médias e desvios-padrão das séries
0.12
dos desvios quadráticos médios dos
0.10
escoamentos mensais MED DQM
adimensionais e valores de 0.08

H obtidas em trabalhos 0.06


antecedentes – equações (7) e (8) – 0.04
DESV DQM
e no âmbito da presente análise – 0.02
equações (9) e (10). 0 500 1000 1500 2000
H (mm)

4. ANÁLISE A NÍVEL DIÁRIO


A análise a nível diário iniciou-se pela apreciação das curvas de duração média anual dos caudais
médios diários referentes às estações hidrométricas do Quadro 1. Tais curvas são apresentadas na
Figura 3 a) referente à totalidade das 54 estações, e nas Figuras 3 b) e c) considerando, de modo
separado, as estações com alturas anuais médias do escoamento superiores ou inferiores a 400 mm, em
número de, respectivamente, 26 e 28 estações. Nas anteriores figuras, os eixos das ordenadas foram
tornados adimensionais por divisão dos caudais médios diários pelos respectivos módulos.
A Figura 3 evidencia regimes hidrológicos diários com características distintas, traduzidas, em
termos relativos, por uma nítida regularidade, para valores de H superiores a 400 mm (de que resulta a
acentuada proximidade entre as correspondentes 26 curvas de duração), e por uma evidente
irregularidade, para valores de H inferiores a 400 mm (expressa pelo afastamento exibido entre as
respectivas 28 curvas de duração). Tais comportamentos estão em concordância com os resultados
mencionados nos itens 2 e 3, que apontam no sentido de a irregularidade temporal relativa do escoamento
se acentuar à medida que H diminui.
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Q/Qmod
6 a)

0
0 50 100 150 200 250 300 350

Duração (dias)

Q/Qmod Q/Qmod
6 b) c)
6

5 5

4 4

3 3

2 2

1 1

0 0
0 50 100 150 200 250 300 350 0 50 100 150 200 250 300 350
Duração (dia) Duração (dia)

Figura 3 – Curvas de duração média anual do caudal médio diário: a) nas 54 estações hidrométricas do
Quadro 1; nas b) 26 e c) 28 estações desse quadro com alturas anuais médias do escoamento, H ,
respectivamente superiores e inferiores a 400 mm.
A duração anual média do módulo, Qmod, em função de H esta representada na Figura 4 a) para
as 54 estações hidrométricas do Quadro 1 e na Figura 4 b) para 52 dessas estações, por exclusão das
estações de Manteigas (11L/01) e Covas (03H/04) a que correspondem valores espúrios de H .
Duração anual média do módulo (dia) Duração anual média do módulo
a) (di ) b)
120 120

100 100

80 80

60 60

40 40

20 20
0 500 1000 1500 2000 0 250 500 750 1000 1250
H (mm) H (mm)

Figura 4 – Representação da duração anual média do módulo em função de H .


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Na Figura 4 b) representaram-se ainda os dois segmentos de recta relativos às equações de


regressão linear simples entre durações do módulo e alturas anuais médias do escoamento, estabelecidas
com base nas estações com valores daquelas alturas inferiores a 400 mm e superiores a 400 mm. Existe
um terceiro segmento de recta vertical (a vermelho e tracejado) que divide a área do gráfico em alturas
anuais médias do escoamento inferiores e superiores a 400 mm. Tal figura sugere um aumento nítido da
duração do módulo com o aumento de H para alturas anuais médias inferiores a 400 mm, tornando-se tal
duração praticamente independente de H para alturas superiores àquele valor. Não obstante a dispersão
dos pontos representados em tal gráfico, verifica-se ainda que as estimativas da duração anual média do
módulo fornecidas pelas duas rectas de regressão nele representadas para H = 400 mm são praticamente
coincidentes (cerca de 90 dias). Uma vez que a duração anual média do módulo constitui, por si só, uma
medida da variabilidade do escoamento diário – sendo tanto menor, quanto maior tal variabilidade –
reforçam-se, assim, as conclusões apresentadas a propósito da Figura 3.
Para quantificar a dependência entre a variabilidade dos escoamentos diários e a altura anual média
do escoamento recorreu-se, por analogia com o procedimento exposto no item 3 referente à análise a nível
mensal, ao conceito de desvio quadrático médio adequado para o nível diário de acordo com a seguinte
equação:

∑ [(H i*, j− H i* ) ]
365
H 2
j =1
DQM i* = (11)
365
em que, para cada estação hidrométrica do Quadro 1, i e j são índices representativos, respectivamente,
de ano e de dia e as restantes variáveis, para além de H , têm os significados seguintes:
DQM i* desvio quadrático médio (adimensional) do escoamento diário no ano i;
H i* altura do escoamento diário médio no ano i (média das alturas H i*, j );
H i*, j altura do escoamento no dia j do ano i.
Anota-se que as variáveis em presença na anterior equação foram diferenciadas das relativas ao
nível mensal – equação (6) – por introdução de asteriscos.
As séries de desvios quadráticos médios diários assim obtidas para as 54 estações hidrométricas do
Quadro 1 foram caracterizadas em moldes equivalentes aos adoptados a nível mensal, mediante o cálculo
das respectivas médias (MED DQM*) e desvios-padrão (DESV DQM*), a que se seguiu a representação
destas características estatísticas em função de H e, por fim, o estabelecimento de relações entre cada
uma das mesmas características e aquela altura, por recurso a análise de regressão linear simples
aplicada no campo das transformadas logarítmicas das varáveis a correlacionar.
Os resultados alcançados são apresentados na Figura 5 que inclui a representação dos 54 pares
de valores ( H , MED DQM*) e ( H , DESV DQM*), bem como a das curvas resultantes da análise de
regressão e das respectivas equações, estas últimas, também seguidamente reproduzidas ( H expresso
em mm):
MED DQM* = 0.0715 H −0.4153 (12)
DESV DQM* = 0.2083 H −0.6692 (13)
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Média e desvio-padrão dos DQM* (-)


0.016
Figura 5 – Médias e
0.014
desvios-padrão das
0.012
séries dos desvios
quadráticos médios dos 0.010
MED DQM* = 0.0715 H -0.4153
escoamentos diários 0.008
adimensionais nas 54 0.006
estações hidrométricas
0.004
do Quadro 1, em função
0.002
dos respectivos valores
DESV MED* = 0.2083 H -0.6692
de H (mm). 0.000
0 500 1000 1500 2000
H (mm)

Menciona-se que, não obstante a dispersão dos pontos representados na Figura 5, os coeficientes
de correlação da análise de regressão linear simples (campo das transformadas logarítimicas de
MED DQM*, DEV DQM* e H ) são de cerca de –74 e –80%,%, para a relação entre H e, respectivamente,
MED DQM* e DESV DQM*.
Julga-se que mais significativos do que aqueles valores dos coeficientes de correlação (que, de
facto, traduzem dependência entre transformadas logarítmicas das variáveis) são os coeficiente de
correlação entre os valores das médias – ou dos desvios-padrão – dos desvios quadráticos médios
calculados, por um lado, a partir dos registos nas estações hidrométricas utilizadas no estudo e, por outro
lado, fornecidos por aplicação da equação (12) – ou da equação (13) – às alturas anuais médias naquelas
estações. Tais coeficientes de correlação ascendem a sensivelmente 79 e 78% para, respectivamente,
MED DESV* e DESV DQM*.
Assim, considera-se que, também a nível diário, está demonstrada, tanto a dependência entre a
variabilidade relativa das correspondentes séries de escoamento e a altura do escoamento anual médio,
como o facto dessa variabilidade poder ser expressa por recurso aos desvios quadráticos médios
(adimensionalizados) daquelas séries. Atendendo a que o desvio quadrático médio num dado ano, DQMi* ,
é tanto maior quanto mais irregulares forem os escoamentos diários nesse ano, conclui-se que, em média,
a variabilidade relativa desses escoamentos diminui à medida que H aumenta (diminuição de MED DQM*
com o aumento de H ). A dispersão dos desvios quadráticos médios em torno das respectivas médias
diminui também com o aumento de H (diminuição de DESV DQM* com o aumento de H ).
Globalmente, conclui-se que o escoamento anual médio expresso em altura, H , constitui uma
medida também da irregularidade relativa do escoamento diário, a qual se atenua à medida que H
aumenta, ou seja, à medida que se está perante uma região mais húmida.

5. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
5.1. Influência de H na variabilidade relativa do escoamento anual
As Figuras 6 a 11, referentes, a título de exemplo, a doze das estações hidrométricas do Quadro 1,
evidenciam, de modo claro e simples, que a altura do escoamento anual médio, H , influencia fortemente a
variabilidade relativa do escoamento anual. Cada uma daquelas figuras refere-se a duas estações
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hidrométricas com valores de H , nos períodos de registos indicados no Quadro 1, suficientemente


próximos para que, à partida, se antevissem variabilidades temporais relativas das séries de escoamento
também próximas.
Para cada conjunto de duas estações hidrométricas constituiu-se o período comum de registos,
indicado na correspondente figura, e procedeu-se a duas representações das séries de escoamentos
anuais nesse período. Assim, os escoamentos foram expressos, no gráfico da esquerda, em volumes e, no
gráfico da direita, em valores adimensionais (obtidos por divisão dos escoamentos anuais pelo
correspondente escoamento anual médio no período comum de registos).

Escoamento anual (hm 3 ) Escoamento anual (-)


Monte da Ponte (27J/01) Monte da Ponte (27J/01)
300 3.5 Entradas (27I/01)
Entradas (27I/01)

250 3.0

2.5
200
2.0
150
1.5
100
1.0

50 0.5

0 0.0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19
Ano (de 1971/72 a 1989/90) Ano (de 1971/72 a 1989/90)

Figura 6 – Estações hidrométricas de Monte da Ponte (27J/01) e de Entradas (27I/01). Escoamentos


anuais em volume e adimensionais no período comum de registos (de 1971/72 a 1989/90).

Escoamento anual (hm 3 ) Escoamento anual (-)


Torrão do Alentejo (24H/03) Torrão do Alentejo (24H/03)
150 3.0
Moinho do Bravo (25G/02) Moinho do Bravo (25G/02)
125 2.5

100 2.0

75 1.5

50 1.0

25 0.5

0 0.0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Ano (de 1977/78 a 1989/90) Ano (de 1977/78 a 1989/90)

Figura 7 – Estações hidrométricas de Torrão do Alentejo (24H/03) e de Minho do Bravo (25G/02).


Escoamentos anuais em volume e adimensionais no período comum de registos (de 1977/78 a 1989/90).
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Escoamento anual (hm 3 ) Escoamento anual (-)


Amieira (24L/01) Amieira (24L/01)
700 3.0
Odivelas (24I/01) Odivelas (24I/01)
600 2.5

500
2.0
400
1.5
300
1.0
200

100 0.5

0 0.0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 1 3 5 7 9 11 13 15 17
Ano (de 1947/48 a 1964/65) Ano (de 1947/48 a 1964/65)

Figura 8 – Estações hidrométricas de Amieira (24L/01) e de Odivelas (24I/01). Escoamentos anuais em


volume e adimensionais no período comum de registos (de 1947/48 a 1964/65).

Escoamento anual (hm 3 ) Escoamento anual (-)


Monte dos Fortes (29L/01) Monte dos Fortes (29L/01)
350 3.5
Vascão (28L/02) Vascão (28L/02)
300 3.0

250 2.5

200 2.0

150 1.5

100
1.0
50
0.5
0
0.0
1 3 5 7 9 11 13 15
1 3 5 7 9 11 13 15
Ano (de 1968/69 a 1982/83) Ano (de 1968/69 a 1982/83)

Figura 9 – Estações hidrométricas de Monte dos Fortes (29L/01) e de Vascão (28L/02). Escoamentos
anuais em volume e adimensionais no período comum de registos (de 1968/69 a 1982/83.)

Escoamento anual (hm 3 ) Escoamento anual (-)


Cidadelhe (08O/02) Cidadelhe (08O/02)
3500 2.5
Castanheiro (06M/01) Castanheiro (06M/01)
3000
2.0
2500

2000 1.5

1500
1.0
1000
0.5
500

0 0.0
1 3 5 7 9 11 13 15 1 3 5 7 9 11 13 15
Ano (de 1958/59 a 1973/74) Ano (de 1958/59 a 1973/74)

Figura 10 – Estações hidrométricas de Cidadelhe (08O/02) e de Castanheiro (06M/01). Escoamentos


anuais em volume e adimensionais no período comum de registos (de 1958/59 a 1973/74).
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Escoamento anual (hm 3 ) Escoamento anual (-)


Castro Daire (08J/01) Castro Daire (08J/01)
800 2.5
Vinhais-Qt. Ranca (03P/01) Vinhais-Qt. Ranca (03P/01)

2.0
600

1.5
400
1.0

200
0.5

0 0.0
1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31
Ano (de 1956/57 a 1987/88) Ano (de 1956/57 a 1987/88)

Figura 11 – Estações hidrométricas de Castro Daire (08J/01) e de Vinhais – Qta. da Ranca (03P/01).
Escoamentos anuais em volume e adimensionais no período comum de registos (de 1956/57 a 1987/88).

As anteriores figuras evidenciam que, não obstante por vezes estarem em presença escoamentos
anuais muito diferentes – por serem diferentes as áreas de bacia hidrográfica a que se referem –, as séries
anuais adimensionais exibem nítida proximidade, ou seja, variabilidade temporal relativa muito próxima. Tal
proximidade está em conformidade com a dependência entre o coeficiente de variação do escoamento
anual e H , expressa pela equação (1).

5.2. Influência de H na variabilidade relativa do escoamento mensal


As Figuras 12 a 17 exemplificam, a nível mensal e para as estações hidrométricas das
Figuras 6 a 11, a dependência entre a variabilidade relativa do escoamento mensal e a altura do
escoamento anual médio, H . Para o efeito, adoptou-se uma esquematização equivalente à daquele último
conjunto de figuras, representando os escoamentos mensais em volumes e em termos adimensionais,
neste caso, também por divisão pelo volume anual médio afluente a cada estação hidrométrica no
respectivo período comum de registos. Para permitir a leitura, a representação relativa a cada duas
estações foi restringida aos cinco primeiros anos do correspondente período comum.

Escoamento mensal (hm 3 ) Monte da Ponte (27J/01) Escoamento mensal (-) Monte da Ponte (27J/01)
Entradas (27I/01) Entradas (27I/01)
0.4
25

20 0.3

15
0.2
10
0.1
5

0 0.0
0 12 24 36 48 60 0 12 24 36 48 60
Mês (anos de 1971/72 a 1975/76) Mês (anos de 1971/72 a 1975/76)

Figura 12 – Estações hidrométricas de Monte da Ponte (27J/01) e de Entradas (27I/01). Escoamento


mensais em volume e adimensionais nos primeiros cinco anos do período comum de registos (de 1971/72
a 1989/90).
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Escoamento mensal (hm 3 ) Escoamento mensal (-)


Torrão do Alentejo (24H/03) Torrão do Alentejo (24H/03)
60
Moinho do Bravo (25G/02) Moinho do Bravo (25G/02)
0.9
45

0.6
30

15 0.3

0 0.0
0 12 24 36 48 60 0 12 24 36 48 60
Mês (anos de 1977/78 a 1981/82) Mês (anos de 1977/78 a 1981/82)

Figura 13 – Estações hidrométricas de Torrão do Alentejo (24H/03) e de Minho do Bravo (25G/02).


Escoamento mensais em volume e adimensionais nos primeiros cinco anos do período comum de registos
(de 1977/78 a 1989/90).

Escoamento mensal (hm 3 ) Escoamento mensal (-) Amieira (24L/01)


Amieira (24L/01)
150
Odivelas (24I/01) Odivelas (24I/01)
0.6
120

90 0.4

60
0.2
30

0 0.0
0 12 24 36 48 60 0 12 24 36 48 60
Mês (anos de 1958/59 a 1962/63) Mês (anos de 1958/59 a 1962/63)

Figura 14 – Estações hidrométricas de Amieira (24L/01) e de Odivelas (24I/01). Escoamento mensais em


volume e adimensionais nos primeiros cinco anos do período comum de registos (de 1947/48 a 1964/65).

Escoamento mensal (hm 3 ) Escoamento mensal (-)


Monte dos Fortes (29L/01) Monte dos Fortes (29L/01)
120
Vascão (28L/02)
1.0 Vascão (28L/02)

90 0.8

0.6
60

0.4
30
0.2

0 0.0
0 12 24 36 48 60 0 12 24 36 48 60
Mês (anos de 1968/69 a 1972/73) Mês (anos de 1968/69 a 1972/73)

Figura 15 – Estações hidrométricas de Monte dos Fortes (29L/01) e de Vascão (28L/02). Escoamento
mensais em volume e adimensionais nos primeiros cinco anos do período comum de registos (de 1968/69
a 1982/83).
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Escoamento mensal (hm 3 ) Cidadelhe (08O/02) Escoamento mensal (-) Cidadelhe (08O/02)
Castanheiro (06M/01) 0.5 Castanheiro (06M/01)
600
0.4

450
0.3

300
0.2

150 0.1

0 0.0
0 12 24 36 48 60 0 12 24 36 48 60
Mês (anos de 1958/59 a 1962/63) Mês (anos de 1958/59 a 1962/63)

Figura 16 – Estações hidrométricas de Cidadelhe (08O/02) e de Castanheiro (06M/01). Escoamento


mensais em volume e adimensionais nos primeiros cinco anos do período comum de registos (de 1958/59
a 1973/74).

Escoamento mensal (hm 3 ) Escoamento mensal (-)


0.5

150 Castro Daire (08J/01) Castro Daire (08J/01)


0.4
Vinhais-Qt. Ranca (03P/01) Vinhais-Qt. Ranca (03P/01)

100 0.3

0.2
50
0.1

0 0.0
0 12 24 36 48 60 0 12 24 36 48 60
Mês (anos de 1956/57 a 1960/61) Mês (anos de 1956/57 a 1960/61)

Figura 17 – Estações hidrométricas de Castro Daire (08J/01) e de Vinhais – Qta. da Ranca (03P/01).
Escoamento mensais em volume e adimensionais nos primeiros cinco anos do período comum de registos
(de 1956/57 a 1987/88).

As anteriores figuras evidenciam que, a nível mensal, também existe acentuada proximidade entre
curvas representativas dos escoamentos mensais adimensionais em cada um dos grupos de duas
estações hidrométricas.

5.2. Influência de H na variabilidade relativa do escoamento diário


Dado não ser adequado introduzir, neste artigo, a representação gráfica das séries de escoamento
diário, optou-se por evidenciar que a respectiva variabilidade relativa está associada a H mediante a
determinação dos coeficientes de correlação entre as séries de escoamentos diários adimensionais nas
duas estações hidrométricas de cada uma das Figuras 6 a 11 ou 12 a 17. A adimensionalização da série
de escoamentos diários em cada uma daquelas duas estações foi efectuada dividindo os escoamentos
diários pelo correspondente escoamento anual médio no período comum.
Os coeficientes de correlação obtidos são apresentados no Quadro 2 que contém também a
indicação dos coeficientes de correlação para as séries anuais e mensais, dos períodos comuns de
registos que sustentaram a comparação precedente, e das alturas do escoamento anual médio nesses
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períodos. Anota-se que tais alturas não coincidem necessariamente com as do Quadro 1 por poderem
respeitar a diferentes períodos de registos.

Quadro 2 – Coeficientes de correlação entre séries de escoamento anual, mensal e diário nos seis grupos
de duas estações das Figura 6 a 11 ou das Figuras 12 a 17.
Altura do escoamento Correlação entre escoamentos
Período comum de registos Área da bacia
Estação hidrométrica anual médio no período adimensionais no período
(número de anos) hidrográfica
comum de registos comum de registos
2
Código Designação (km ) (mm) Anuais Mensais Diários
(27J/01) Monte da Ponte 707 116
1971/72 a 1989/90 (19) 0.989 0.986 0.893
(27I/01) Entradas 52 124
(24H/03) Torrão do Alentejo 465 131
1977/78 a 1989/90 (13) 0.970 0.969 0.887
(25G/02) Moinho do Bravo 218 175
(24L/01) Amieira 1474 154
1947/48 a 1964/65 (18) 0.925 0.854 0.611
(24I/01) Odivelas 431 175
(29L/01) Monte dos Fortes 288 215
1968/69 a 1982/83 (15) 0.949 0.908 0.817
(28L/02) Vascão 428 254
(08O/02) Cidadelhe 1685 382
1958/59 a 1973/74 (16) 0.953 0.937 0.865
(06M/01) Castanheiro 3718 417
(08J/01) Castro Daire 291 772
1956/57 a 1987/88 (32) 0.963 0.957 0.865
(03P/01) Vinhais-Qt. Ranca 455 804

Os elevados coeficientes de correlação referentes a séries anuais e mensais reforçam os resultados


das Figuras 6 a 11 e 12 a 17. No que respeita às séries diárias, foram também obtidas correlações, de
modo geral, bastante boas que confirmam, a esse nível, a dependência entre a variabilidade relativa do
escoamento e a altura do escoamento anual médio.

6. CONCLUSÕES. TRANSPOSIÇÃO DE SÉRIES DE ESCOAMENTO


Julga-se que o trabalho apresentado reforça, a nível anual e mensal, as conclusões de PORTELA e
QUINTELA 2000, 2002a, 2002b e amplia tais conclusões para o nível diário, demonstrando que, de facto, o
escoamento anual médio expresso em altura de água sobre a bacia hidrográfica, H , constitui uma medida
suficientemente capaz de traduzir a variabilidade relativa do escoamento àqueles três níveis temporais. Tal
variabilidade aumenta com a diminuição de H , ou seja, à medida que a região é mais árida.
Conclui-se, assim, que a série adimensional dos escoamentos – anuais, mensais ou diários – numa
secção de um curso de água com escoamento anual médio expresso em altura de água, H1 (mm), pode
ser transposta para outra secção sem informação hidrométrica para a qual tenha sido obtida uma
estimativa do escoamento anual médio, H 2 (mm), próxima de H1 (ou seja, H1 ≈ H 2 ).
A nível mensal ou diário a transposição pode ser efectuada por aplicação da equação:
H2
H i2,j = H 1i,j (14)
H1
que, por sua vez, conduz a qualquer uma das seguintes outras equações:
∀2
Q i2, j = Q 1i, j (15)
∀1
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Q mod 2
Q i2, j = Q 1i, j (16)
Q mod 1
∀2
∀ i2, j = ∀ 1i, j (17)
∀1
Q mod2
∀ i2, j = ∀ 1i, j (18)
Q mod1
Nas anteriores equações as secções de cálculo são identificadas pelos índices 1 e 2, admitindo-se
que na secção 1 existem registos hidrométricos e, consequentemente, é conhecida a altura do escoamento
anual médio, H1 , e que na secção 2 se dispõe da estimativa, H 2 , da correspondente altura. As novas
variáveis que figuram nas equações precedentes (para além de H1 e H 2 ) têm os seguintes significados:
H ik, j altura do escoamento no mês j ou no dia j do ano i na secção k (mm);
Q ik, j caudal médio no mês j ou no dia j do ano i na secção k (m3/s);
∀ ik, j volume afluente no mês j ou no dia j do ano i na secção k (m3);
∀k volume anual médio afluente à secção k (m3);
Q modk módulo na secção k (m3/s).
Para aplicar as anteriores equações à transposição de escoamentos anuais basta substituir o
conjunto dos dois índices i,j por um índice único respeitante ao ano.
Para assegurar que as séries obtidas por transposição para uma secção de um curso de água se
adequam às especificidades do regime hidrológico na correspondente bacia hidrográfica há vantagem em
que a transposição se processe a partir de registos relativos a uma bacia hidrográfica tão próxima quanto
possível daquela outra e sujeita a condicionalismos geológicos afins. Em tais circunstâncias e tanto quanto
a experiência dos autores tem revelado, os procedimentos apresentados mostram-se também
particularmente úteis para preencher falhas de registos em séries de escoamento.
Menciona-se que a inexistência de registos numa secção de um rio sem informação hidrométrica não
é impeditiva da determinação da altura do escoamento anual médio na respectiva bacia hidrográfica, a qual
pode ser estimada, por exemplo, mediante a adopção da equação de regressão entre valores anuais do
escoamento e da precipitação (expressos em altura de água) que tenha sido determinada para uma bacia
hidrográfica cujas características fisiográficas e climáticas se não afastem das que apresenta a bacia em
estudo. Um outro processo pode recorrer à carta de isolinhas do escoamento anual médio expresso em
altura de água, estabelecida para a região.
A terminar anota-se que, embora os resultados apresentados se refiram a Portugal Continental, os
autores julgam que outras regiões europeias, nomeadamente do Sul da Europa, possuem características
hidrológicas também adequadas a procedimentos de transposição de informação hidrométrica análogos
aos que são objecto do presente artigo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
QUINTELA, A. (1967), Recursos de águas superficiais em Portugal Continental. Tese de Doutoramento,
Instituto Superior Técnico, Lisboa.
PORTELA, M, M.; QUINTELA, A. C., 2000, “A altura do escoamento anual médio numa bacia hidrográfica
como parâmetro de regionalização de informação hidrométrica”, 1º Congresso sobre
7º Simpósio de Hidráulica e Recursos Hídricos dos Países de Língua Oficial Portuguesa
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Aproveitamentos e Gestão de Recursos Hídricos em Países de Idioma Português, pp. 218-227, Rio
de Janeiro, Brasil.
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