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Resumo
Em trabalhos antecedentes, os autores demonstraram que o escoamento anual médio expresso em
altura de água sobre a bacia hidrográfica constitui uma medida da variabilidade temporal do escoamento
nos rios portugueses e, como tal, representa um parâmetro fundamental a considerar em estudos de
regionalização de informação hidrométrica. Tal demonstração incidiu essencialmente sobre o escoamento
às escalas anual e mensal, tendo o escoamento à escala diária sido então apreciado apenas em termos de
curvas de duração média anual do caudal médio diário. Para o efeito, os caudais médios diários em
secções da rede hidrográfica portuguesa foram expressos em termos adimensionais, mediante divisão
pelos respectivos módulos.
No presente artigo, retoma-se o tema de regionalização de informação hidrométrica
fundamentando-o num número significativamente maior de resultados referentes a escoamentos mensais,
mas, especialmente, desenvolvendo-o no que respeita a escoamentos médios diários.
Procede-se, assim, a uma análise mais abrangente que confirma a dependência entre características
das séries de caudais médios diários e a altura do escoamento anual médio, expõem-se os procedimentos
adoptados para obter séries daqueles caudais na ausência de informação hidrométrica e incluem-se
exemplos de aplicação que se julgam evidenciar o bom desempenho dos procedimentos propostos.
1 A regionalização da informação hidrométrica é aqui entendida como referente a valores do caudal e do escoamento em cursos de água
naturais.
7º Simpósio de Hidráulica e Recursos Hídricos dos Países de Língua Oficial Portuguesa
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2. DADOS DE BASE
A análise que, no seguimento dos trabalhos brevemente resumidos no item precedente, se apresenta
tem por principal objectivo principal demonstrar que a variabilidade relativa das séries de escoamento
diário também depende de H . Dado que, para esse objectivo, foi utilizada informação hidrométrica num
número de estações muito superior ao anteriormente considerado por PORTELA e QUINTELA 2000,
2002a, 2002b, optou-se por também refazer a análise de regionalização a nível mensal, incorporando tal
informação.
7º Simpósio de Hidráulica e Recursos Hídricos dos Países de Língua Oficial Portuguesa
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Para o efeito, foram recolhidas as séries de escoamentos diários (séries contínuas) nas 54 estações
hidrométricas identificadas no Quadro 1, que incluem 21 das 24 estações que fundamentaram os trabalhos
precedentes dos autores. Dessas últimas estações, três não foram agora consideradas por não ter sido
possível obter as correspondentes séries de escoamento diários, não obstante serem disponibilizados para
as mesmas escoamentos mensais. Menciona-se, aliás, que, mesmo para as 21 estações hidrométricas
que já haviam sido utilizadas nos estudos precedentes, muito frequentemente não foi possível obter os
escoamentos diários nos períodos para os quais são apresentados escoamentos mensais. Por tal motivo,
optou-se por desenvolver a presente análise estritamente com base nos registos diários nos períodos
assinalados no Quadro 1, a partir dos quais se constituíram as séries de escoamento mensal e anual nas
diferentes estações hidrométricas.
Anota-se que o número médio de anos das séries de escoamento diário utilizadas no presente
estudo é superior a 25 anos, existindo, contudo, treze séries com dimensão inferior a quinze anos (mas
superior a dez anos). Não obstante se reconhecer que as menores dimensões em presença dos períodos
de registos podem, de algum modo, ser insuficientes para caracterizar com o rigor desejável os
escoamentos diários, entendeu-se preferível prosseguir a análise considerando as correspondentes séries.
Por fim, menciona-se que foram incluídas no Quadro 1 as médias, H , e os desvios-padrão das
séries de alturas anuais dos escoamentos nos períodos de registos aí indicados, sendo as estações
hidrométricas apresentadas por ordem crescente dos valores de H .
A anterior figura inclui a representação, tanto dos 54 pares de valores ( H , MED DQM) e
( H , DESV DQM) referentes às estações hidrométricas do Quadro 1, como das curvas e respectivas
equações, que, por aplicação de expressões do tipo das definidas por (7) e (8), relacionam as variáveis em
presença. Tais equações, que são seguidamente também reproduzidas, foram obtidas por análise de
regressão linear simples (baseada no método dos mínimos quadrados aplicado no campo das
transformadas logarítmicas de H e das médias e desvios-padrão dos DQM das séries de alturas mensais
do escoamento), correspondendo-lhes coeficientes de correlação de cerca de -74 e -84%, para a relação
entre H (mm) e, respectivamente, MED DQM e DESV DQM:
MED DQM = 0.439 H −0.2411 (9)
DESV DQM = 1.409 H −0.5067 (10)
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Anota-se que o coeficiente de correlação entre as médias dos desvios quadráticos médios
calculadas a partir das séries mensais relativas às estações hidrométricas do Quadro 1 e fornecidas pela
aplicação da equação (9) às alturas anuais médias naquelas estações é de cerca de 79%, apresentando o
coeficiente de correlação relativo aos desvios quadráticos médios o valor aproximado de 87%. Estes dois
valores (que, note-se, excedem os valores absolutos dos coeficientes de correlação referentes à análise de
regressão linear simples no campo das transformadas logarítmicas das diferentes varáveis) evidenciam a
boa adaptabilidade das equações (9) e (10) aos pontos amostrais utilizados no seu estabelecimento.
A Figura 2 contém a representação das curvas definidas pelas equações (9) e (10) bem como a das
curvas anteriormente obtidas por PORTELA e QUINTELA 2000, 2002a, 2002b, com base nos registos
referentes apenas a 24 estações hidrométricas, dadas pelas equações (7) e (8). Em face da proximidade
das duas curvas relativas a uma mesma característica estatística (média ou desvio-padrão de DQM),
julga-se que resulta reforçada a demonstração de que H constitui, de facto, uma medida consistente da
variabilidade relativa intra-anual do escoamento mensal, diminuindo essa variabilidade (bem como a
respectiva dispersão) à medida que H aumenta, ou seja, à medida que se está perante um região mais
húmida, com um regime mensal de escoamento mais uniforme.
Média e desvio-padrão dos DQM (-)
Figura 2 – Representação 0.16
Equações (9) e (10)
esquemática das relações entre 0.14 Equações (7) e (8)
médias e desvios-padrão das séries
0.12
dos desvios quadráticos médios dos
0.10
escoamentos mensais MED DQM
adimensionais e valores de 0.08
Q/Qmod
6 a)
0
0 50 100 150 200 250 300 350
Duração (dias)
Q/Qmod Q/Qmod
6 b) c)
6
5 5
4 4
3 3
2 2
1 1
0 0
0 50 100 150 200 250 300 350 0 50 100 150 200 250 300 350
Duração (dia) Duração (dia)
Figura 3 – Curvas de duração média anual do caudal médio diário: a) nas 54 estações hidrométricas do
Quadro 1; nas b) 26 e c) 28 estações desse quadro com alturas anuais médias do escoamento, H ,
respectivamente superiores e inferiores a 400 mm.
A duração anual média do módulo, Qmod, em função de H esta representada na Figura 4 a) para
as 54 estações hidrométricas do Quadro 1 e na Figura 4 b) para 52 dessas estações, por exclusão das
estações de Manteigas (11L/01) e Covas (03H/04) a que correspondem valores espúrios de H .
Duração anual média do módulo (dia) Duração anual média do módulo
a) (di ) b)
120 120
100 100
80 80
60 60
40 40
20 20
0 500 1000 1500 2000 0 250 500 750 1000 1250
H (mm) H (mm)
∑ [(H i*, j− H i* ) ]
365
H 2
j =1
DQM i* = (11)
365
em que, para cada estação hidrométrica do Quadro 1, i e j são índices representativos, respectivamente,
de ano e de dia e as restantes variáveis, para além de H , têm os significados seguintes:
DQM i* desvio quadrático médio (adimensional) do escoamento diário no ano i;
H i* altura do escoamento diário médio no ano i (média das alturas H i*, j );
H i*, j altura do escoamento no dia j do ano i.
Anota-se que as variáveis em presença na anterior equação foram diferenciadas das relativas ao
nível mensal – equação (6) – por introdução de asteriscos.
As séries de desvios quadráticos médios diários assim obtidas para as 54 estações hidrométricas do
Quadro 1 foram caracterizadas em moldes equivalentes aos adoptados a nível mensal, mediante o cálculo
das respectivas médias (MED DQM*) e desvios-padrão (DESV DQM*), a que se seguiu a representação
destas características estatísticas em função de H e, por fim, o estabelecimento de relações entre cada
uma das mesmas características e aquela altura, por recurso a análise de regressão linear simples
aplicada no campo das transformadas logarítmicas das varáveis a correlacionar.
Os resultados alcançados são apresentados na Figura 5 que inclui a representação dos 54 pares
de valores ( H , MED DQM*) e ( H , DESV DQM*), bem como a das curvas resultantes da análise de
regressão e das respectivas equações, estas últimas, também seguidamente reproduzidas ( H expresso
em mm):
MED DQM* = 0.0715 H −0.4153 (12)
DESV DQM* = 0.2083 H −0.6692 (13)
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Menciona-se que, não obstante a dispersão dos pontos representados na Figura 5, os coeficientes
de correlação da análise de regressão linear simples (campo das transformadas logarítimicas de
MED DQM*, DEV DQM* e H ) são de cerca de –74 e –80%,%, para a relação entre H e, respectivamente,
MED DQM* e DESV DQM*.
Julga-se que mais significativos do que aqueles valores dos coeficientes de correlação (que, de
facto, traduzem dependência entre transformadas logarítmicas das variáveis) são os coeficiente de
correlação entre os valores das médias – ou dos desvios-padrão – dos desvios quadráticos médios
calculados, por um lado, a partir dos registos nas estações hidrométricas utilizadas no estudo e, por outro
lado, fornecidos por aplicação da equação (12) – ou da equação (13) – às alturas anuais médias naquelas
estações. Tais coeficientes de correlação ascendem a sensivelmente 79 e 78% para, respectivamente,
MED DESV* e DESV DQM*.
Assim, considera-se que, também a nível diário, está demonstrada, tanto a dependência entre a
variabilidade relativa das correspondentes séries de escoamento e a altura do escoamento anual médio,
como o facto dessa variabilidade poder ser expressa por recurso aos desvios quadráticos médios
(adimensionalizados) daquelas séries. Atendendo a que o desvio quadrático médio num dado ano, DQMi* ,
é tanto maior quanto mais irregulares forem os escoamentos diários nesse ano, conclui-se que, em média,
a variabilidade relativa desses escoamentos diminui à medida que H aumenta (diminuição de MED DQM*
com o aumento de H ). A dispersão dos desvios quadráticos médios em torno das respectivas médias
diminui também com o aumento de H (diminuição de DESV DQM* com o aumento de H ).
Globalmente, conclui-se que o escoamento anual médio expresso em altura, H , constitui uma
medida também da irregularidade relativa do escoamento diário, a qual se atenua à medida que H
aumenta, ou seja, à medida que se está perante uma região mais húmida.
5. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
5.1. Influência de H na variabilidade relativa do escoamento anual
As Figuras 6 a 11, referentes, a título de exemplo, a doze das estações hidrométricas do Quadro 1,
evidenciam, de modo claro e simples, que a altura do escoamento anual médio, H , influencia fortemente a
variabilidade relativa do escoamento anual. Cada uma daquelas figuras refere-se a duas estações
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250 3.0
2.5
200
2.0
150
1.5
100
1.0
50 0.5
0 0.0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19
Ano (de 1971/72 a 1989/90) Ano (de 1971/72 a 1989/90)
100 2.0
75 1.5
50 1.0
25 0.5
0 0.0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Ano (de 1977/78 a 1989/90) Ano (de 1977/78 a 1989/90)
500
2.0
400
1.5
300
1.0
200
100 0.5
0 0.0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 1 3 5 7 9 11 13 15 17
Ano (de 1947/48 a 1964/65) Ano (de 1947/48 a 1964/65)
250 2.5
200 2.0
150 1.5
100
1.0
50
0.5
0
0.0
1 3 5 7 9 11 13 15
1 3 5 7 9 11 13 15
Ano (de 1968/69 a 1982/83) Ano (de 1968/69 a 1982/83)
Figura 9 – Estações hidrométricas de Monte dos Fortes (29L/01) e de Vascão (28L/02). Escoamentos
anuais em volume e adimensionais no período comum de registos (de 1968/69 a 1982/83.)
2000 1.5
1500
1.0
1000
0.5
500
0 0.0
1 3 5 7 9 11 13 15 1 3 5 7 9 11 13 15
Ano (de 1958/59 a 1973/74) Ano (de 1958/59 a 1973/74)
2.0
600
1.5
400
1.0
200
0.5
0 0.0
1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31
Ano (de 1956/57 a 1987/88) Ano (de 1956/57 a 1987/88)
Figura 11 – Estações hidrométricas de Castro Daire (08J/01) e de Vinhais – Qta. da Ranca (03P/01).
Escoamentos anuais em volume e adimensionais no período comum de registos (de 1956/57 a 1987/88).
As anteriores figuras evidenciam que, não obstante por vezes estarem em presença escoamentos
anuais muito diferentes – por serem diferentes as áreas de bacia hidrográfica a que se referem –, as séries
anuais adimensionais exibem nítida proximidade, ou seja, variabilidade temporal relativa muito próxima. Tal
proximidade está em conformidade com a dependência entre o coeficiente de variação do escoamento
anual e H , expressa pela equação (1).
Escoamento mensal (hm 3 ) Monte da Ponte (27J/01) Escoamento mensal (-) Monte da Ponte (27J/01)
Entradas (27I/01) Entradas (27I/01)
0.4
25
20 0.3
15
0.2
10
0.1
5
0 0.0
0 12 24 36 48 60 0 12 24 36 48 60
Mês (anos de 1971/72 a 1975/76) Mês (anos de 1971/72 a 1975/76)
0.6
30
15 0.3
0 0.0
0 12 24 36 48 60 0 12 24 36 48 60
Mês (anos de 1977/78 a 1981/82) Mês (anos de 1977/78 a 1981/82)
90 0.4
60
0.2
30
0 0.0
0 12 24 36 48 60 0 12 24 36 48 60
Mês (anos de 1958/59 a 1962/63) Mês (anos de 1958/59 a 1962/63)
90 0.8
0.6
60
0.4
30
0.2
0 0.0
0 12 24 36 48 60 0 12 24 36 48 60
Mês (anos de 1968/69 a 1972/73) Mês (anos de 1968/69 a 1972/73)
Figura 15 – Estações hidrométricas de Monte dos Fortes (29L/01) e de Vascão (28L/02). Escoamento
mensais em volume e adimensionais nos primeiros cinco anos do período comum de registos (de 1968/69
a 1982/83).
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Escoamento mensal (hm 3 ) Cidadelhe (08O/02) Escoamento mensal (-) Cidadelhe (08O/02)
Castanheiro (06M/01) 0.5 Castanheiro (06M/01)
600
0.4
450
0.3
300
0.2
150 0.1
0 0.0
0 12 24 36 48 60 0 12 24 36 48 60
Mês (anos de 1958/59 a 1962/63) Mês (anos de 1958/59 a 1962/63)
100 0.3
0.2
50
0.1
0 0.0
0 12 24 36 48 60 0 12 24 36 48 60
Mês (anos de 1956/57 a 1960/61) Mês (anos de 1956/57 a 1960/61)
Figura 17 – Estações hidrométricas de Castro Daire (08J/01) e de Vinhais – Qta. da Ranca (03P/01).
Escoamento mensais em volume e adimensionais nos primeiros cinco anos do período comum de registos
(de 1956/57 a 1987/88).
As anteriores figuras evidenciam que, a nível mensal, também existe acentuada proximidade entre
curvas representativas dos escoamentos mensais adimensionais em cada um dos grupos de duas
estações hidrométricas.
períodos. Anota-se que tais alturas não coincidem necessariamente com as do Quadro 1 por poderem
respeitar a diferentes períodos de registos.
Quadro 2 – Coeficientes de correlação entre séries de escoamento anual, mensal e diário nos seis grupos
de duas estações das Figura 6 a 11 ou das Figuras 12 a 17.
Altura do escoamento Correlação entre escoamentos
Período comum de registos Área da bacia
Estação hidrométrica anual médio no período adimensionais no período
(número de anos) hidrográfica
comum de registos comum de registos
2
Código Designação (km ) (mm) Anuais Mensais Diários
(27J/01) Monte da Ponte 707 116
1971/72 a 1989/90 (19) 0.989 0.986 0.893
(27I/01) Entradas 52 124
(24H/03) Torrão do Alentejo 465 131
1977/78 a 1989/90 (13) 0.970 0.969 0.887
(25G/02) Moinho do Bravo 218 175
(24L/01) Amieira 1474 154
1947/48 a 1964/65 (18) 0.925 0.854 0.611
(24I/01) Odivelas 431 175
(29L/01) Monte dos Fortes 288 215
1968/69 a 1982/83 (15) 0.949 0.908 0.817
(28L/02) Vascão 428 254
(08O/02) Cidadelhe 1685 382
1958/59 a 1973/74 (16) 0.953 0.937 0.865
(06M/01) Castanheiro 3718 417
(08J/01) Castro Daire 291 772
1956/57 a 1987/88 (32) 0.963 0.957 0.865
(03P/01) Vinhais-Qt. Ranca 455 804
Q mod 2
Q i2, j = Q 1i, j (16)
Q mod 1
∀2
∀ i2, j = ∀ 1i, j (17)
∀1
Q mod2
∀ i2, j = ∀ 1i, j (18)
Q mod1
Nas anteriores equações as secções de cálculo são identificadas pelos índices 1 e 2, admitindo-se
que na secção 1 existem registos hidrométricos e, consequentemente, é conhecida a altura do escoamento
anual médio, H1 , e que na secção 2 se dispõe da estimativa, H 2 , da correspondente altura. As novas
variáveis que figuram nas equações precedentes (para além de H1 e H 2 ) têm os seguintes significados:
H ik, j altura do escoamento no mês j ou no dia j do ano i na secção k (mm);
Q ik, j caudal médio no mês j ou no dia j do ano i na secção k (m3/s);
∀ ik, j volume afluente no mês j ou no dia j do ano i na secção k (m3);
∀k volume anual médio afluente à secção k (m3);
Q modk módulo na secção k (m3/s).
Para aplicar as anteriores equações à transposição de escoamentos anuais basta substituir o
conjunto dos dois índices i,j por um índice único respeitante ao ano.
Para assegurar que as séries obtidas por transposição para uma secção de um curso de água se
adequam às especificidades do regime hidrológico na correspondente bacia hidrográfica há vantagem em
que a transposição se processe a partir de registos relativos a uma bacia hidrográfica tão próxima quanto
possível daquela outra e sujeita a condicionalismos geológicos afins. Em tais circunstâncias e tanto quanto
a experiência dos autores tem revelado, os procedimentos apresentados mostram-se também
particularmente úteis para preencher falhas de registos em séries de escoamento.
Menciona-se que a inexistência de registos numa secção de um rio sem informação hidrométrica não
é impeditiva da determinação da altura do escoamento anual médio na respectiva bacia hidrográfica, a qual
pode ser estimada, por exemplo, mediante a adopção da equação de regressão entre valores anuais do
escoamento e da precipitação (expressos em altura de água) que tenha sido determinada para uma bacia
hidrográfica cujas características fisiográficas e climáticas se não afastem das que apresenta a bacia em
estudo. Um outro processo pode recorrer à carta de isolinhas do escoamento anual médio expresso em
altura de água, estabelecida para a região.
A terminar anota-se que, embora os resultados apresentados se refiram a Portugal Continental, os
autores julgam que outras regiões europeias, nomeadamente do Sul da Europa, possuem características
hidrológicas também adequadas a procedimentos de transposição de informação hidrométrica análogos
aos que são objecto do presente artigo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
QUINTELA, A. (1967), Recursos de águas superficiais em Portugal Continental. Tese de Doutoramento,
Instituto Superior Técnico, Lisboa.
PORTELA, M, M.; QUINTELA, A. C., 2000, “A altura do escoamento anual médio numa bacia hidrográfica
como parâmetro de regionalização de informação hidrométrica”, 1º Congresso sobre
7º Simpósio de Hidráulica e Recursos Hídricos dos Países de Língua Oficial Portuguesa
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Aproveitamentos e Gestão de Recursos Hídricos em Países de Idioma Português, pp. 218-227, Rio
de Janeiro, Brasil.
PORTELA, M, M.; QUINTELA, A. C., 2002a, “Assessment of the streamflow characteristics under
unavailability of discharge data: the mean annual flow depth over the watershed as a regionalization
parameter. The Portuguese case”, European Geophysical Society, 2002 EGS Conference, Nice, 2 p.
e poster, France.
PORTELA, M, M.; QUINTELA, A. C., 2002b, “Evaluation of the water resources in Portuguese watersheds
without streamflow data”, Conferencia Internacional de organismos de Cuenca (International
Conference of Basin Organizations), 6 p., Madrid, Spain.