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TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM

ESCOAMENTO BIFÁSICO

José M. Saiz Jabardo

2007
1-1

1 PARÂMETROS DESCRITIVOS DO ESCOAMENTO


BIFÁSICO

● FUNÇÃO DENSIDADE DE FASE

1 se a fase k estiver presente


Xk (x,t) =  (1.1)
0 se a fase k não estiver presente

Xk (x,t) pode ser avaliada se um sensor local for instalado no escoamento.

Sensor

Figura 1.1 Sensor local instantâneo em fluxo bifásico.

O sinal do sensor pode apresentar-se como na figura abaixo


Sinal

Tempo

Figura 1.2 Sinal temporal de um sensor local instantâneo.

● OPERADORES MÉDIA ESPACIAL

[Dn ] - domínio onde se calcula a média


n = 1 linha

n  dimensão n = 2 área
n = 3
 volume

[Dkn ] → domínio correspondente à fase k


1-2

1
< > n 
Dn 
[Dn ]
dD Média relativa à mistura (1.2)

1
< >n =
Dkn 
[Dkn ]
dD Média característica da fase k (1.3)

Exemplos

 Fração Espacial da Fase k, Rkn

Rk1 = Lk / L

 k > n Rk2 = A k / A
Rkn  <X (1.4)
R =  / 
 k3 k

n̂z
 Vazão volumétrica instantânea da fase k, QK
Vk
Qk =  Vk n Z dA =  Vkz dA =
A A

 kz > 2 = A Rkz <Vkz >2


 A <V
Figura 1.3
 k > n  Rkn < Fk >n
Em outras palavras, <F (1.5)

 Vazão instantânea da fase k, mk


mk  k V
A
kz dA = A < k Vkz > 2 = A Rk2 < k Vkz >2 (1.6)

Se a fase k for incompressível, k  cons tante , então

mK = A Rk2 K < Vkz >2 (1.7)

● OPERADOR MÉDIA TEMPORAL

Analogamente àquele da média espacial, definimos dois domínios

 T   mistura
 Tk   fase k
1
t [ t]
f  fK dt  < > n (1.8)

1
f 
tk 
[ tk ]
fk dt  < >n (1.9)
1-3

Exemplo

Fração local da fase k,  k


tk
k = Xk   k  k (x,t) (1.10)
t
Observe-se que, analogamente ao caso espacial,
Fk  k Fk
(1.11)
Fk  característico da fase k

Observe-se, ainda, o paralelo com os parâmetros (médias) definidos na análise de


misturas homogêneas. Lá, por exemplo, define-se a concentração de uma espécie
química k, k , como sendo a massa dessa espécie contida na unidade de volume
da mistura, de modo que a densidade da mistura é dada por:

=  k (1.12)
K 1

k corresponde às medias superficiais: < > n ou a barra superior, " " .

● PROPRIEDADE COMUTATIVA DOS OPERADORES

1 1
< fk > n   [
t [ t] Dn  f dD] dt=
Dn
k

1 1

Dn  [ t  f dt ] dD = <f >
[Dn ] [ t]
k k

 k > n = <f
<f  k >
ou ainda

Rkn < fk >n = < k f k > n (1.13)

Exemplo

Rkn = < k > n . Quando k designa a fase gás, o parâmetro acima se denomina
Fração de Vazio e é representado por “  ”. Assim, a fração volumétrica média, QK
será dada por:

Qk  ARk2 < Vkz >2 = A < k Vkz > 2


analogamente

mk = A < k k Vkz > 2


A media do produto não é igual ao produto das médias, isto é,

<   >  <  > <  > e analogamente,


   
1-4

Em análises menos rigorosas, tem-se admitido a igualdade para simplificar o


problema. Nesse caso, a vazão volumétrica e em massa seriam dadas pelas
seguintes expressões:

Qk  A < k > 2 < Vkz > 2  A k Vkz  Qk


mk  A < k > 2 < k Vkz > 2  A k k Vkz  mk

Define-se um outro parâmetro, a vazão específica superficial ou velocidade


mássica da fase k, Gk

mk
Gk  (1.14)
A
Nessas condições, para um escoamento líquido-gás, eliminando as barras
para designar as médias,

m  m1  m2 [kg / s] 

Q = Q1 + Q2 [m3 /s]  Mistura 1-líquido
2-gás

G = G1 + G2 [kg/s.m2 ]

A permutação dos operadores pode ser descrita


fisicamente  k 1
Considerando-se a fração local (K) e a fração espacial (RKn).

- Distribuição espacial de  k (já é uma média temporal) →


< k > n
- Distribuição temporal de Rk (já é uma média espacial) → Rkn Rk1

Pela regra da permutação dos operadores,


Tempo
< k > n  Rkn
Figura 1.4
No caso das médias ao longo de uma linha, como indicado na
figura,

< k > 1 = Rk1

● OUTROS PARÂMETROS

 Fração volumétrica, 

QG QG
= = (1.15)
QG  QL Q

 Título, x

mG mG
x= = (1.16)
mG  mL m
1-5

O título de uma mistura de um líquido e seu vapor em equilíbrio estável é


definido como sendo a relação entre a massa de vapor e a massa total. A definição
acima, entretanto, é mais abrangente, envolvendo situações de não equilíbrio.

 Fluxo volumétrico local da fase k, jK

jk  Xk (x,t) Vk  k Vk  jkz  k Vkz (1.17)

de modo que j = j
k
k (1.18)

 Velocidade superficial da fase k, Jk

Qk
Jk  < k Vkz > 2  Rk2 <Vkz >2  (1.19)
A

Em geral, define-se Jk = Qk /A

J = J1 + J2 (1.20)

 Algumas relações importantes

Os índices “L” e “G” se referem, respectivamente às fases líquido e gás. As


respectivas fases serão também designadas neste texto indistintamente por “1” e
“2”.
JL  1    VL  QL / A

Lembre-se que

  G e VL  < VLZ > 2 ,

onde  é a “fração de vazio” e < VLZ > 2 é a velocidade média da fase líquido, que
não deve ser confundida com a velocidade superficial, que se refere ao domínio da
mistura. Neste caso fez-se <   > = <  ><    > ou, em outras palavras, a
velocidade média local do líquido foi admitida constante. Nas relações a seguir,
serão feitas hipóteses semelhantes.

JG  VG  QG / A

JG Q V 
= G =( G)( )
JL QL VL 1 

GG x
=
GL 1 x
mL G VA Q  V 1 
= L  L L L  L L  ( L )( L )( ) 
mG GG G VG A G GQG G VG 
1 x  V 1 
 ( L )( L )( ) (1.21)
x G VG 
1-6

A relação acima era muito utilizada na literatura da década de (60), uma vez
que ela caracterizava (?) o movimento relativo entre as fases através do parâmetro
VG/VL, denominado de Razão de Deslizamento (“Slip Ratio”). Outro modo de
caracterizar esse movimento relativo é apresentado a seguir:

Velocidade Relativa

VGL  VG  VL  VLG (1.22)

Velocidade de Deslizamento

VGJ  VG  J
(1.23)
VLJ  VL  J

Essa velocidade representa o movimento com relação ao centro de volume da


mistura.

Fluxo de Deslizamento

JGJ  VGJ    VG  J
(1.24)
JLJ  1    VLJ  1    VL  J
JMSJ 2-1

2 PADRÕES DE ESCOAMENTO
A interface líquido-gás de um escoamento bifásico pode apresentar topologia
diversificada, dependendo da aplicação. Uma classificação geral dessa topologia
poderia ser caracterizada por três padrões distintos:

(I) Padrão de Fase Dispersa, como o que ocorre quando bolhas ou névoa
aparecem no escoamento. As aplicações são as mais variadas.
(II) Padrão de Fases Separadas, como o que se dá em escoamento
estratificado, ondulado, anular, etc., com uma gama de aplicações
bastante diversificada.
(III) Padrão de Escoamento Misto, onde aparecem os dois padrões acima
mencionados. Tal é o caso do padrão pistonado, que veremos mais
adiante

Vapor A Fig.2.1 (página seguinte) ilustra e


resume os padrões de escoamento acima
relacionados. A classificação dos padrões
Névoa
de escoamento apresentada, embora
exaustiva sob um ponto de vista formal,
não satisfaz as necessidades do projetista.
Este deve resolver um problema
relacionado com uma dada aplicação em
que topologias distintas da interface se
Anular sucedem, como é o caso de um
evaporador, como ilustrado na Fig.2.2.
Nessas condições, é necessário
caracterizar a topologia de uma maneira
mais específica, menos geral. Além disso,
Pistonado devem ser estabelecidas condições para a
transição entre distintas topologias de
Bolhas interface, que denominaremos de padrões
de escoamento. Deve ser observado que a
designação dada aos padrões de
Líquido
escoamento bifásico não guarda, em
princípio, nenhuma relação com os regimes
Figura 2.2 Padrões de laminar e turbulento de escoamento. Tais
escoamento ao longo regimes ocorrem tanto no escoamento
de um evaporador monofásico quanto no bifásico.
vertical.

É interessante observar que os padrões de escoamento que serão descritos a


seguir são normalmente caracterizados por observações visuais, o que, como pode
ser facilmente concluído, envolve uma certa dose de subjetivismo. Estudos
empíricos têm sido desenvolvidos no sentido de eliminar tal subjetivismo, utilizando-
se critérios baseados em análises de sinais de sondas introduzidas (ou não) no
escoamento. Tal procedimento tornou-se possível graças ao fato de que cada
regime se caracteriza por uma identificação que pode, por exemplo, um sinal
temporal ou suas características espectrais que o diferenciam significativamente dos
outros padrões. Assim, os distintos padrões de escoamento podem ser
caracterizados, eliminando-se a observação visual subjetiva.
JMSJ 2-2

Tipos Padrões Geometria Configuração Exemplos

ESCOAMENTO EM ● Filme líquido em ● Resfriamento por


PELÍCULA um gás. líquido.
● Filme gasoso em ●Ebulição em
um líquido. película.
Escoamentos com fases

● Núcleo líquido e ● Ebulição em


contínuas

ESCOAMENTO filme gasoso. película.


ANULAR ● Núcleo gasoso e ● Condensadores.
filme líquido.

● Jato de líquido ●Pulverização.


em um gás. ●Condensadores a
JATOS ● Jato de gás em jato.
um líquido.

ESCOAMENTO Bolsão de gás em Ebulição de sódio


PISTONADO um líquido. líquido em
convecção forçada

ESCOAMENTO Bolhas de gás em Evaporadores com


Escoamentos Mixtos

ANULAR COM um filme líquido, nucleação junto à


BOLHAS núcleo gasoso. parede.

Gotas em um
ESCOAMENTO núcleo gasoso, Geradores de
ANULAR filem líquido na vapor.
DISPERSO parede.

ESCOAMENTO Gotas de líquido no


ANULAR núcleo gasoso, Canal de um reator
DISPERSO COM bolhas de gás no tipo BWR.
BOLHAS filme de líquido
junto à parede.

ESCOAMENTO EM Bolhas de gás em Colunas de


BOLHAS um líquido. extração.
Escoamentos com fase
dispersa

ESCOAMENTO EM Gotas em um gás. Resfriamento por


NÉVOA pulverização.

ESCOAMENTO Partículas sólidas Transporte


COM PARTÍCULAS em um gás ou pneumático ou
SÓLIDAS líquido. hidráulico.

Figura 2.1 Classificação da interface líquido-gás de acordo com sua topologia, Ishii.

Na literatura especializada é comum caracterizar os padrões de escoamento


de acordo com a orientação do duto, vertical ou horizontal. Seguiremos aqui o
mesmo procedimento.
JMSJ 2-3

(A) Condutos Verticais (Fig.2.3)


● Bolhas (“Bubbly”)
A fase gasosa se encontra dispersa no líquido na forma de bolhas, esféricas
ou não, cujo diâmetro é muito menor que o diâmetro do conduto.

● Pistonado (“Slug”)
Este escoamento corresponde ao regime misto a que nos referimos
anteriormente. Nele, bolhas de dimenões comparáveis ao diâmetro do conduto,
denominadas de Bolhas de Taylor, escoam de modo intermitente, com frequência
regular. Entre duas bolhas consecutivas, escoa um pistão de líquido em cujo interior
podem ser encontradas bolhas.

Bolhas Pistonado Agitante Anular

Figura 2.3 Padrões de escoamento em dutos verticais.

● Agitante (“Churn”)
Neste caso, a “ponte” de líquido com bolhas entre os pistões é rompida, por
ação hidrodinâmica, formando-se um escoamento com as fases separadas e
interface irregular.

● Anular (“Annular”)
Um filme de líquido escoa em toda a periferia do conduto, com a fase gasosa
escoando na região central. Em escoamentos com transferência de calor em que o
fluxo de calor é elevado, pode ocorrer a formação de uma região periférica de vapor,
com o líquido escoando na região central.

● Névoa (“Misty”)
Neste caso, a fase líquida se encontra dispersa no gás, na forma de gotículas
de tamanho reduzido.
Outras nomenclaturas podem ser encontradas na literatura, cada uma
obedecendo a critérios subjetivos dos seus proponentes. A proposta nos parágrafos
anteriores parece ser a de maior aceitação na comunidade técnica.

(B) Condutos Horizontais (Fig.2.4)


● Bolhas
Obedecendo à mesma descrição do caso de condutos verticais. Neste caso,
as bolhas, por ação das forças de empuxo, tendem a se concentrar na região
superior do conduto.
JMSJ 2-4

● Pistonado e pistonado de bolha alongada (“Plug”, “Slug”)


Como no caso anterior, segue a mesma descrição do pistonado vertical, com o
pistão uma bolha de gás, que pode ser alongada, disposta assimetricamente em
relação ao eixo do conduto, por ação das forças de empuxo.

● Estratificado (“Stratified”)
O líquido se posiciona na região inferior do conduto e o gás escoa pela região
superior, com a interface de separação relativamente lisa. Esta situação somente é
possível desde que a velocidade relativa entre as fases seja pequena, o que
somente se verifica para velocidades mássicas relativamente baixas.

Bolhas

Pistonado
(“plug”)

Estratificado

Ondulado

Pistoando, bolha alongada


(“slug”)

Anular

Figura 2.4 Padrões de escoamento em dutos horizontais.

● Ondulado (“Wavy”)
É uma variante do estratificado, em que, por ação de arrasto do gás, a
interface apresenta ondulações (ondas). Dependendo da velocidade do gás, as
ondas podem crescer em tamanho, atingindo a região superior do conduto.

● Anular (“Annular”)
A exemplo do anular vertical, um filme de líquido escoa junto à superfície do
conduto, com gás escoando na região central. A espessura do filme de líquido é
maior na região central. A espessura do filme de líquido é maior na região inferior do
conduto pela ação da gravidade.
JMSJ 2-5

CRITÉRIOS DE TRANSIÇÃO
A transição entre regimes de escoamento é um aspecto importante do estudo
do escoamento bifásico, uma vez que a interação térmica ou mecânica entre as
fases depende significativamente da topologia da interface. Deve se reconhecer,
entretanto, que diversos procedimentos de avaliação da perda de carga, por
exemplo, não fazem referência explícita ao regime de escoamento, inferindo-se daí
a sua possível validade sob distintos regimes de escoamento. Tal procedimento,
entretanto, é de utilização duvidosa e deve ser questionado. Essa é a razão pela
qual o estabelecimento de correlações que caracterizam a transição entre regimes
de escoamento tem sido intensivamente perseguido nos últimos 30 anos. Assim,
mapas dos regimes de escoamento foam desenvolvidos. Esses mapas se
caracterizam por dois parâmetros de entrada (bidimensionais). A escolha desses
parâmetros tem sido absolutamente arbitrária. De uma maneira geral, de acordo
com Dukler, os mapas dos regimes de escoamento podem ser agrupados em dois
tipos principais:
(a) Aqueles que apresentam coordenadas dimensionais, tais como JG vs JL ou
L JL2 vs G JG2 . Tais mapas carecem de generalidade, sendo sua validade
extensiva às condições experimentais (pressão, temperatura, fluidos, diâmetro
do conduto, etc.,) em que foram levantados.
(b) Aqueles que aparecem com coordenadas adimensionais, envolvendo
parâmetros operacionais e propriedades dos fluidos. Estes, supostamente
aplicáveis a múltiplas situações, carecem também de generalidade dado o
caráter arbitrário com que os parâmetros adimensionais são normalmente
escolhidos. Um exemplo típico é o clássico mapa de Baker, do qual se tratará
mais adiante.
Esforços têm sido encetados por alguns pesquisadores, contando-se entre
eles Dukler e Ishii, no sentido de desenvolver critérios de transição através de
modelos matemáticos que representem o comportamento físico da transição. Tais
modelos permitem o estabelecimento de mapas de coordenadas adimensionais,
com aplicação a distintas condições de operação e diversos fluidos.

(I) CRITÉRIOS DE TRANSIÇÃO PARA CONDUTOS VERTICAIS


(escoamento ascendente de ambas as fases)
A relação de mapas para os regimes de escoamento na literatura é extensa. A
intenção aqui não é a de esgotar o assunto, mas dar uma idéia da forma e modo de
utilização daqueles mapas. Assim, somente aqueles de maior projeção serão
considerados.
JMSJ 2-6

(1) Hewitt and Roberts (Fig. 2.5)

GJG2
Anular
Anular agitado
(“wispy”)

Agitante

Bolhas

Pistonado

L JL 2

Figura 2.5 Mapa de Hewitt&Roberts.

Neste caso, se adotam arbitrariamente coordenadas iguais aos fluxos de


quantidade de movimento superficial da fase gás e da fase líquido, GJG2 e L JL2 . O
mapa foi originalmente levantado para misturas ar-água a pressões variando de 1,4
a 5,4 bar, para dutos de 31,2 mm. O mapa tem se mostrado adequado para misturas
vapor-água, para pressões variando de 34,5 a 69 bar, escoando em tubos de 12,7
mm. Observe-se que as coordenadas acima podem ser escritas como:

G2 (1  x)2
L JL2 = (2.1)
L

G2 x 2
G JG2 = (2.2)
G
O título das equações acima deve ser aquele de equilíbrio à pressão
correspondente.

(2) Taitel & Dukler


Como observado anteriormente, Taitel & Dukler desenvolveram um mapa
partindo da modelagem matemática do mecanismo de transição. Com isso puderam
obter coordenadas adimensionais adequadas a distintas condições de operação. Os
resultados mostrados aqui foram posteriormente refinados pelos mesmos autores.
Ficaremos, entretanto, com a abordagem inicial, que, apesar de relativamente
simples, leva a resultados satisfatórios.
JMSJ 2-7

● Transição entre os padrões Bolhas e Pistonado


A condição de transição foi obtida impondo-se uma fração de vazio limite de
existência do regime de bolhas da ordem de 0,30, obtendo-se como resultado a
seguinte correlação:

[g(L  G )]1/ 4
JL / JG = 2,34 - 1,07 (2.3)
JG1/L 2
A configuração gráfica da correlação acima é mostrada na Fig.2.6, dada em termos
dos adimensionais: JL / JG e JG1/L 2 [g(L  G )]1/ 4 . Observe-se que a relação entre
esses adimensionais é linear e que o gráfico apresentado é monologarítmico.

Figura 2.6 Transição entre os padrões bolhas-pistonado de acordo com o modelo de


Taitel&Dukler.

● Transição entre os padrões Pistonado e Agitante


Para a transição pistonado – agitante, Taitel & Dukler admitiram as seguintes
condições:
(a) a concentração de gás no líquido entre pistões gasosos corresponde
àquela de transição bolhas-pistonado;
(b) o rompimento do pistão de líquido se dá por efeitos hidrodinâmicos
ocorrendo para um comprimento dado dessa região. Nessas condições, os
parâmetros adimensionais característicos dessa transição são os seguintes:
 (fração volumétrica) e J / gD . Na Fig. 2.7 são apresentadas curvas
correspondentes a distintos valores do Número de Reynolds superficial do
líquido, JLD / L .
JMSJ 2-8

Figura 2.7 Transição entre os padrões pistonado e agitante de acordo com o modelo
de Taitel&Dukler.

● Transição entre os padrões Pistonado ou Agitante e Anular


A hipótese básica desta transição é aquela segundo a qual o padrão anular
não pode ser mantido quando a velocidade do gás não for suficiente para promover
o arrasto de gotículas suspensas no meio gasoso. Nessas condições, os
adimensionais característicos desta transição são o Número de Kutateladze,
JG1/G 2 [g(L  G )]1/ 4 , e o parâmetro de Martinelli, que veremos mais adiante, dado
por X   dp / dz L /  dp / dz G 
1/ 2
, onde o numerador e o denominador se referem à
perda de carga por atrito nos casos em que o líquido da mistura bifásica e o gás,
respectivamente, escoassem isoladamente pelo duto. A Fig. 2.8 mostra o diagrama
para esta transição, caracterizada pela seguinte equação:

JG1/G 2 (1+20X + X2 )1/ 2  X


 3,09 (2.4)
[g(L  G )]1/ 4 (1+20X + X2 )1/ 2

Figura 2.8 Transição entre os padrões pistonado (agitante) e anular de acordo com
o modelo de Taitel&Dukler.
JMSJ 2-9

(3) Mishima & Ishii


Recentemente esses autores publicaram um artigo sobre critérios de transição
em condutos verticais. Os critérios por eles apresentados se assemelham àqueles
de Taitel & Dukler, apresentando, entretanto, algumas diferenças fundamentais. A
seguir apresentaremos os critérios sem maiores comentários.

● Transição Bolhas – Pistonado


As condições físicas propostas se assemelham àquelas de Taitel & Dukler,
resultando a seguinte equação de transição:

 0,76  [g(L  G )]1/ 4


JL / JG =  3,33/Co - 1 -   (2.5)
 Co  JG1/L 2

onde Co é o denominado “Parâmetro de Distribuição” de Zuber e Findlay (será


abordado mais adiante), dado, neste caso, pelas expressões:

Co  1,2  0,2  G / L 
1/ 2
 dutos circulares
Co  1,35  0,35  G / L 
1/ 2
 dutos retangulares

● Pistonado - Agitante
Neste caso, uma abordagem algo diferente daquela de Taitel & Dukler permitiu
aos autores obter o critério de transição entre os regimes acima mencionados, o
qual pode ser expresso pela seguinte equação:

1/ 2
 2(L  G )gLb ]1/ 4 
1/ 2

  gD(L  G )   gD (L  G )  
3
1/18

   J + 0,75      (2.6)
 L   L  L L
2
  

● Agitante – Anular
As condições físicas para esta transição têm por base as seguintes condições:

(a) inversão do sentido de escoamento do filme de líquido junto à parede do


tubo quando passa uma bolha de Taylor. Normalmente, o filme escoa no
sentido descendente;
(b) destruição das regiões entre pistões de gás.

Para a primeira condição de transição obtém-se a seguinte expressão:

1/ 2
 (  G )gD 
JG ( L )(  0,11) (2.7)
 G 
onde  deve obedecer à seguinte condição:

3/ 4
 (Co  1)J  0,35[(L  G )gD / L ]1/ 2 
  1  0,813  2 1/ 8 
(2.8)
 J  0,75[g(L  G )D / L ] [(L  G )gD / L L ] 
1/ 2 3

A segunda condição é expressa pela seguinte equação:


JMSJ 2-10

1/ 4
 g(L  G ) 
JG    NL0,2 (2.9)
 G2 
onde

L
NL  1/ 2
(2.10)
    
1/ 2

L    
  g  L  G   

O segundo critério deve ser aplicado em dutos de diâmetro relativamente


elevado. Esses diâmetros devem satisfazer os seguintes critérios:

D
 /  L  G  g NL 0,4  (2.11)
[(1  0,11Co ) / Co ] 2

Concluindo o exame dos critérios de transição em escoamento vertical, deve


ser observado que existem discrepâncias significativas entre os distintos critérios
aqui apresentados, os quais, por sua vez, diferem significativamente de outros
apresentados na literatura, que não foram aqui desenvolvidos. Dois aspectos devem
ser observados:

(1) A razão das divergências entre critérios - Estas se devem, em parte, à


avaliação dos regimes de escoamento baseada em critérios subjetivos, como
já foi comentado. Por outro lado, as condições de operação e características
geométricas da seção de teste podem, sem dúvida, afetar a transição. Como
exemplo desse efeito pode se citar a ação do tamanho de bolha sobre a
transição bolha-pistonado.

(2) Que critério utilizar – É muito difícil decidir qual dos critérios é mais
adequado. Entretanto, os de Taitel & Dukler, pela sua simplicidade e pela sua
razoável correlação de inúmeros resultados experimentais, parecem ser
satisfatórios para uma aplicação genérica.

(II) CRITÉRIOS DE TRANSIÇÃO PARA CONDUTOS HORIZONTAIS


(escoamento no mesmo sentido de ambas as fases)
A exemplo do escoamento vertical, um sem número de trabalhos têm sido
publicados, abordando a transição entre regimes de escoamento em condutos
horizontais. Aqui, somente serão abordados os mais significativos.

(1) Baker
O mapa de Baker adquire importância histórica, por ter sido ele o primeiro a
ser publicado. A Fig. 2.9 mostra o referido mapa, o qual é apresentado em termos de
dois parâmetros dimensionais:

GG /  kgm2 s1 
GG  kgm2 s1 

onde  e  são parâmetros adimensionais envolvendo propriedades dos fluidos que


compõem ambas as fases.
JMSJ 2-11

1/ 2
   
  ( G )( L ) (2.12)
 A W 
1/ 3
WA  L W 2 
 ( ) ( )( )  (2.13)
   W L 

onde os índices A e W se referem às propriedades do ar e da água à pressão de 1


atm e temperatura de 20ºC. O índice WA se refere à interface ar-água às mesmas
condições de pressão e temperatura.
A pretensa generalidade do mapa de Baker é arbitrária, como observado
anteriormente,. O mapa foi levantado para misturas ar-água e ar-óleo escoando em
dutos horizontais. A sua validade tem sido questionada ao longo dos anos, embora
diversos autores tenham confirmado algumas das tendências observadas no mapa .

Névoa

Anular
GG / 

Ondualdo

Pistonado bolha alongada


(“slug”) Bolhas

Estratificado
Pistonado (“plug”)

GL 

Figura 2.9 Mapa de Baker para dutos horizontais.

(2) Mandhane et allii


A Fig. 2.10 ilustra o mapa proposto por tais autores, apresentado em termos
das velocidades superficiais do líquido e do gás, JL e JG. Inúmeros resultados
experimentais foram utilizados (um total de 5.935 pontos), envolvendo diversas
saturações.
JMSJ 2-12

Figura 2.10 Mapa de Mandhane et allii para dutos horizontais.

(3) Taitel & Dukler


Como no caso do escoamento em condutos verticais, Taitel & Dukler
desenvolveram modelos para a transição entre os distintos regimes para
escoamento horizontal. O mapa é apresentado em termos de parâmetros
adimensionais, os quais diferem para cada transição, como aconteciaa no
escoamento vertical, de acordo com o modelo físico adotado. A Fig. 2.11 ilustra o
mapa obtido por Taitel & Dukler, com os adimensionais definidos como:

1/ 4
 G  JG
F  (2.14)
 L  G  Dgcos 
1/ 2

1/ 2
 (dp / dz)L 
X  (2.15)
 (dp / dz)L 
1/ 2
 GJG2 JL 
K  (2.16)
  L  G  gL cos  
1/ 2
 (dp / dz)L 
T  (2.17)
 (L  G )gcos  
em que, para as distintas transições, os seguintes adimensionais devem ser
utilizados:

● Escoamento estratificado ou ondulado → Escoamento Intermitente: F vs X.


● X é constante na transição de bolhas → intermitente ou anular.
● Escoamento estratificado → escoamento ondulado: K vs X.
● Escoamento em bolhas → escoamento intermitente: T vs X.
JMSJ 2-13

Anular Bolhas

T ou F
Ondulado
K

Intermitente

Estratificado

X
Curva (a)+(b) (c) (d)
Coordenada F K T

Figura 2.11 Mapa de Taitel&Dukler (1976) para dutos horizontais.

Exemplo: Método de Taitel-Dukler para transição bolha-pistonado

(A) Procedimento Inicial


A primeira proposta de modelagem da transição proposta por Taitel-Dukler
(1977) envolvia os seguintes argumentos:
(1) Observou-se experimentalmente que a transição bolhas-pistonado se dava
para frações de vazio,  , da ordem de 0,3. Observe-se que uma
compactação de bolhas esféricas equivaleria a uma fração de vazio
resultante da seguinte expressão:

8D3 / 6 
   0,52
(2D)3 6
Assim, a coalescência se dá antes que uma situação como a indicada acima
ocorra.
(2) A velocidade relativa entre as fases é dada pela velocidade terminal de uma
bolha em regime de partícula deformada em um meio infinito (líquido). Tal
velocidade terminal foi sugerida por Harmathy, sendo dada pela seguinte
expressão:

1/ 4
 g(   ) 
V  1,53  L G
 (2.18)
 L2 

Nessas condições,

JG J
Vr  V  VG  VL   L 
 1 
1  T
JG  1,53(1  T ) g(L  G )  Transição
1/ 4
JL 
T
T  corresponde à transição  0,3
JMSJ 2-14

ou, em termos adimensionais,

g   
1/ 4
JL
 (1/ T  1)  1,53(1  T ) (2.19)
JG JG1/L 2

Introduzindo o valor de  T , a Eq. (2.19) assume a seguinte forma:

g   
1/ 4
JL
 2,33  1,071 (2.20)
JG JG1/L 2
1/ F

(B) Modelo Modificado


A primeira modificação introduzida foi a redução do valor de T para 0,25, com
o que resultará:

(JL /JG ) = 3,0 - 1,15 (1/F) (2.21)

Em princípio, a transição bolhas-pistonado seria dada pela Eq. (2.21).


Entretanto, Taitel & Dukler levantaram dois pontos adicionais:

(1) À medida que a intensidade de turbulência aumenta, o tamanho máximo de


bolha é reduzido, uma vez que, bolhas de tamanhos maiores se rompem. De
acordo com Hinze,

 3 / 5 -2/5
dmáx  K( )  (2.22)
L

onde  é a intensidade de turbulência e K é um parâmetro empírico cujo valor é igual


a 1,14. Por sua vez,  pode ser determinado como:

dp Vm
 (2.23)
dz m

e
dp
 (2f / D)m Vm2 (2.24)
dz
Introduzindo Eqs. (2.23) e (2.24) na Eq.(2.22), resulta o valor de dmáx.

(2) Taitel & Dukler, utilizando resultados de Brodkey, sugerem a seguinte


expressão para o diâmetro de bolha crítico de coalescência:

1/ 2
 0,4 
dcrit   (2.25)
 (L  G )g 
De acordo com a expressão (2.25), a coalescência pode ocorrer se as bolhas
tiverem diâmetro superior ao crítico, dcrit. Caso contrário, a coalescência entre bolhas
é retardada até que  seja da ordem de 0,52. Nessas condições, se para uma dada
intensidade de turbulência, o diâmetro de bolha é superior ao crítico, Eq. (2.25), a
coalescência deve ocorrer, aplicando-se o critério expresso pela Eq. (2.21). Caso
contrário, a coalescência é retardada. Resumindo:
JMSJ 2-15

dmáx > dcrit  CRITÉRIO Eq. (25.2)


Como JG  J (ver Capítulo 1) e f (coeficiente de atrito) pode ser determinado por
uma equação do tipo de Blausius,

n
 V D
f= C  m  (2.26)
 L 
com C = 0,046 e n = 0,2, combinando as Eqs. (2.22) a (2.26), resulta uma expressão
que caracteriza a condição para dispersão por efeito de turbulência:


D
0,429
( / L )0,089  g(L  G ) 
0,446


J=JG +JL = 4,0     (2.27)
  0,072
   
 L L

Assim, se as condições operacionais forem conhecidas, bem como a
geometria do tubo (D), então, da Eq.(2.27) obtém-se o valor limite de J, acima do
qual ocorre dispersão por efeito de turbulência e, portanto, não ocorre a
coalescência das bolhas.

NOMENCLATURA

Co – parâmetro de distribuição (Zuber&Findlay)


D – diâmetro [m]
dp/dz – gradiente de pressão no sentido do escoamento [Pa/m]
f – coeficiente de atrito (Darcy)
F – parâmetro definido por Taitel&Dukler, escoamento vertical e horizontal
g – aceleração da gravidade [m/s2]
J – velocidade superficial [m/s]
K – parâmetro definido por Taitel&Dukler, escoamento horizontal
L – comprimento [m]
Lb – comprimento Mishima&Ishii(????) [m]
p – pressão [Pa]
T – parâmetro definido por Taitel&Dukler, escoamento horizontal
V∞ – velocidade de ascensão de uma bolha em meio infinito [m/s]
Vr – velocidade relativa [m/s]
X – parâmetro de Martinelli
x – título
z – posição ao longo do duto [m]

 – fração de vazio
 – Diferença entre as massas específicas das fases, G  L [kg/m3]
 – intensidade de turbulência, modelo de Tautel&Dukler [m2s-3]
 – parâmetro definido no mapa de Baker [Wkg-1]
 – viscosidade dinâmica [Pa.s]
 – viscosidade cinemática [m2/s]
 – massa específica [kg/m3]
 – ângulo de orientação do tubo
 – tensão superficial [N/m]
 – parâmetro definido no mapa de Baker [kgm-2s-1]
JMSJ 2-16

Índices
crit – valor crítico
G – gás
k – fase líquido ou gás
L – líquido
m – valor médio
máx – valor máximo
W – se refere à água, mapa de Baker
WA – se refere à interface ar-água, mapa de Baker
JMSJ 3-1

3 EQUAÇÕES DO ESCOAMENTO BIFÁSICO


As primeiras considerações sobre o escoamento bifásico, meio século atrás,
consideravam a mistura gás-líquido (pois este é o tipo de escoamento considerado)
como um pseudo-fluido de propriedades intermediárias. A esse “fluido” aplicam-se
as equações típicas do escoamento monofásico. É evidente que esse modelo não
representava adequadamente o comportamento do meio bifásico, uma vez que as
interações termomecânicas entre as fases eram desprezadas. Um meio de abordar
o problema é separar as fases em dois meios contínuos para os quais as equações
do Meio Contínuo são válidas. As equações devem ser complementadas por
equações que levem em consideração as interações que se verificam na interface
líquido-gás. Tais equações são genericamente denominadas de Equações de Salto.
Com isso, o problema fica bem formulado, o que não implica numa solução simples.
A abordagem que será adotada aqui será simples, visando aplicações. Entretanto, o
leitor deve estar advertido que formulações mais rigorosas foram e continuam sendo
desenvolvidas.

EQUAÇÕES INTEGRAIS DE CAMPO PARA O ESCOAMENTO MONOFÁSICO

A Equação de Campo Generalizada para um sistema (no sentido


Termodinâmico) pode ser escrita como:

d
dt (t )
d      ndS
ˆ   d (3.1)
S(t ) (t )

-  é uma propriedade intensiva derivada de uma propriedade extensiva, como


energia interna, u→U.
- o primeiro termo do 2º.membro representa a interação de contato (“forças de
superfície”) na fronteira do sistema, caracterizada pelo tensor .
- o segundo termo representa a ação de uma fonte volumétrica (que age em
cada partícula), efeitos de campo, como a ação da gravidade no caso da 2ª
Lei de Newton, ou a geração distribuída de calor no sistema, no caso da
Equação da Conservação da Energia.

A Fig. 1.3 ilustra de forma esquemática as interações de um sistema.


Taxa de variação de uma Fronteira: massa não cruza
propiedade

n SISTEMA

d
dt  t 
d

 J.ndS
ˆ
S t  Volume,   t   d
 t 

S(t)

Figura 3.1 Esquema das interações de um sistema.


JMSJ 3-2

A Eq. (1) é dada em termos das denominadas Coordenadas Lagrangianas,


isto é, a lei expressa pela Eq. (1) se aplica a um sistema que evolui no tempo e no
espaço. Tal sistema de coordenadas não é prático, uma vez que é muito mais fácil
realizar medidas em um ponto fixo. Se tal abordagem fosse utilizada, as
coordenadas seriam as de Euler. Entretanto, como passar das coordenadas de
Lagrange para aquelas de Euler? Basta aplicar o Teorema de Transporte de
Reynolds ao 1º.membro da Eq.(1.3). De acordo com esse teorema:

d 
dt (t )
d   ( )d   V  ndS
ˆ (3.2)
(t )
 S(t )

onde V é a velocidade da partícula de fluido na fronteira. V nˆ é a projeção da


velocidade na direção normal à superfície. Agora, se ao invés de acompanharmos
um dado sistema pelo espaço, nos fixarmos em uma dada região do espaço, um
trecho de duto, por exemplo, então, em cada instante, um sistema “diferente”
ocupará aquela região. Essa região é denominada genericamente de Volume de
Controle, VC. Observe que, neste caso, massa cruza a fronteira, denominada de
Superfície de Controle. A Fig. 2.3 ilustra a passagem de um sistema por um VC
num dado instante. Verifica-se que a velocidade das partículas de fluido na fronteira
não coincide com a velocidade de deformação da SC. A diferença vetorial entre as
duas é a denominada velocidade relativa (das partículas em relação à SC). Nessas
condições,

V  VSC  Vr (3.3)
Velocidade de
V SC deformação da SC

n V Velocidade da
partícula

VC V SC Vr

SC
V
Sistema

VC

Sistema e VC no instante t
Figura 3.2 Esquema de um sistema passando por um VC num dado instante.

Introduzindo a identidade expressa pela Eq.(3.3) e a Eq.(3.2) na Eq.(3.1)


resulta:


 t ()dV   V
V S
SC
ˆ
 ndS   Vr  ndS
S
ˆ  -    ndS
S
ˆ   dV
V
(3.4)

Como o VC não é um sistema, uma vez que massa pode cruzar a sua
“fronteira”, o teorema de Leibniz do cálculo permite que escrevamos:
JMSJ 3-3

d 

dt VC(t )
dV   ( )dV    V VC  ndS
VC(t )
 SC(t )
ˆ (3.5)

O leitor poderá observar a semelhança do Teorema de Leibniz com o de


Transporte de Reynolds. Assim, introduzindo a Eq.(3.5) na Eq.(3.4), resulta
finalmente:

d
 ) dV  SC(t )  Vr  ndS
dt VC(t
ˆ      ndS
SC(t )
ˆ   dV
VC(t )
(3.6)

Normalmente escolhem-se VC fixos em relação a um referencial inercial.


Nessas condições, Vr  V. Vejamos agora a aplicação da Eq.(3.6)

(1) Lei da conservação da Massa.


A massa de um sistema permanece constante. Logo, a Eq.(3.1) para este
caso pode ser escrita como

d
dt  dV  0 (3.7)
V(t)

de modo que   0;   0;   0 . Assim, a Eq.(3.6) assumirá a seguinte forma para


um VC:

d
 ) dV  SC Vr  ndS
dt VC(t
ˆ 0 (3.8)

A Eq.(3.8) expressa simplesmente o balanço de massa em uma região do


espaço: A vazão líquida para o interior da região é igual à taxa de aumento de
massa nessa região. A expressão acima pode ser simplificada para o caso do VC
associado a um trecho de duto.

n̂ n̂
Seção de saida
2

2 n̂2 V2
Seção de entrada

1
1
n̂ VC

n̂1 V2  n̂2  0
Escoamento 
V1 
V1  n̂1  0

Figura 3.3 Volume de controle para o escoamento em um tubo.


VC(t )
dV= massa instantânea no VC = M

Como as paredes do duto são admitidas impermeáveis, não ocorre fluxo de


massa através delas. Por outro lado, nas seções 1 e 2 de escoamento podemos
escrever:
JMSJ 3-4

 ˆ
Vr  ndS   ˆ
V  ndS  m1 (veja Fig. 3.3)
SC1 SC1

SC é fixa  V r  V

 ˆ
Vr  ndS   ˆ
V  ndS  m2
SC2 SC2

Concluindo, a Eq.(3.8) pode ser escrita como:

d
M  m2  m1  0 (3.9)
dt
Se o regime de escoamento for permanente, o que implica em propriedades
constantes com o tempo (podem variar no espaço), então:

dM
 0  m1  m2 ,
dt
isto é, a região do espaço escolhido como VC não armazena massa e toda massa
que entra é igual à que deixa o VC.

(2) A Equação da Quantidade de Movimento


A segunda lei de Newton para um sistema é expressa como: “A soma das
forças externas é igual à taxa de variação da quantidade de movimento do sistema.”
Nessas condições, a Eq.(1) pode ser expressa por:

d
 ) VdV  Fext
dt V(t
(3.10)

As forças que atuam em um sistema são geralmente divididas em duas


categorias:
- as de contato, que atuam na fronteira;
- as de campo, que atuam em todas as partículas de fluido que constituem o
sistema. No nosso caso, somente consideraremos as gravitacionais.
Fica fácil, agora, identificar os termos da Eq.(3.1). Assim, o termo de geração
volumétrica está associado à ação das forças gravitacionais, ao paso que o termo de
interação na fronteira está associado às forças de contato. Neste caso,  se
identifica com a velocidade da partícula fluida, isto é,   V. Se na Eq.(3.6)
fizermos o segundo membro igual a  Fext , podemos, então, escrevê-la como:
JMSJ 3-5

Taxa de variação da
quantidade de movimento

 De contato
d
 VdV
dt VC( t )
De contato

Gravitacionais

Figura 3.4 Esquema ilustrativo da aplicação da 2ª Lei de Newton

d
 ) VdV  SC(t ) VVr  ndS
ˆ   Fext (3.11)
dt V(t

A Eq.(3.11) é válida para um VC. Deve-se observar que essa equação é


vetorial. Como exemplo de aplicação, consideremos o trecho de tubo anteriormente
referido.

p2 
pL V2
n̂2

2 g
● Seção transversal
constante;
● m é a massa contida
1 no VC.
p1 VC
n̂1

V1 
mg

Figura 3.5 Aplicação da 2ª Lei de Newton ao VC envolvendo um trecho de tubo.

F V  soma das forças verticais  FCV  mg  p1  p2  Asen

onde FCV é a componente vertical das forças de contato e p1 e p2 são as pressões


que agem nas seções de entrada e saída. As forças de pressão lateral se anulam.

F H  soma das forças horizontais  FCH  p1  p2  A cos 


JMSJ 3-6

Assim, se, para simplificar, admitirmos Regime Permanente (RP), a Eq.(3.11)


pode ser escrita como:

 V2V
2
dS   V
2
1V dS  FCV  mg  p1  p2  A sen
SC2 SC1
(3.12)
 V2H
2
dS   V1H
2
dS  FCH  p1  p2  A cos 
SC2 SC1

Projetando todas as forças na direção do escoamento, resulta:

Ft  p1  p2  A   V22dS   V dS
1
2
(3.13)
SC2 SC1

onde Ft é a força tangencial com que a parede do tubo atua sobre o fluido,
associada ao atrito viscoso. No caso em que o perfil de velocidade nas seções
pudesse ser admitido uniforme e o fluido fosse incompressível (  constante), a Eq.
(3.13) se transformaria na seguinte expressão:

Ft  p1  p2  A  V22 A  V12 A   V2 A  V2   V1A  V1 


Ft  p1  p2  A  m  V2  V1  (3.13a)

(3) A Equação da Conservação da Energia


O Primeiro Princípio da Termodinâmica para um sistema pode ser escrito
como:

d
 ) edV  W  Q
dt V(t
(3.14)

V2
eu
2
onde W  potência das forças externas
Q = taxa de transferência de calor
u = energia interna específica (por unidade de massa)

Percebe-se facilmente que, neste caso, o valor de   e. Nessas condições, da


aplicação da Eq.(3.6) resulta:

d
 ) edV +VC eVr  ndS
dt VC(t
ˆ  W  QVC (3.15)

A potência das forças externas, W , os seguintes componentes:


(1) potência das forças gravitacionais;
(2) potência das forças de pressão;
(3) potência das forças viscosas, normalmente associadas ao denominado
“Trabalho de Máquina”, WM .

Em regiões onde a velocidade da partícula de fluido é nula, como junto às


paredes de uma tubulação, a potência das forças viscosas é nula, como seria de
esperar (lembre-se, potência = (força) x (velocidade)). Assim, se a potência das
JMSJ 3-7

forças gravitacionais e de pressão for escrita explicitamente e introduzida na Eq.


(3.15), utilizando algumas transformações simples, obtém-se:

d  V2   V2 
 )
dt VC(t


u 
2
 gz dV   
 SC(t )
i 
 2 
ˆ
 gz V r • ndS  WM   p V SC  ndS
SC(t )
ˆ  Q VC

Se os termos WM e  ˆ
Vr  ndS forem incorporados a um termo de potência
SC(t)

associado ao VC, WVC , resulta finalmente:


d  V2   V2 
 )
dt VC(t


u 
2
 gz dV   
 SC(t )
i 
 2 
ˆ
 gz V r • ndS  WVC  QVC (3.16)

É interessante observar que a potência das forças de pressão está


associada aos termos onde aparece a pressão, isto é, na entalpia e em
 ˆ . Por outro lado, a potência das forças gravitacionais está associada
pVr  ndS
VC
aos termos onde aparece a aceleração da gravidade, g.
A aplicação da Eq.(3.16) ao trecho de tubo anteriormente referido, para
condições de regime permanente, resulta:

d
dt  [ ] dV = 0 Regime permanente
VC(t)

WVC = 0 porque: - VC é fixo  Vr = 0


- Não há máquina (ventilador, bomba, etc.,) no trecho.
Assim, a Eq.(3.16) pode ser escrita:
 V2   V2 
 
SC2 
i 
2 
ˆ
 gz  V r  ndS   
i 

SC1
2 
ˆ
 gz  V r  ndS  QVC (3.17)

onde QVC está associado à transferência de calor com as paredes do duto. Se


aplicarmos a Equação da Conservação de Massa para as mesmas condições
admitidas no exemplo acima, resultará:

m1  V
SC1
r ˆ
 ndS  m2  
SC2
ˆ
 V r  ndS m (3.18)

É comum, principalmente por parte dos termodinâmicos, transformar as


integrais da Eq.(3.17) da seguinte forma:

 V2   V2 

SC2
 

i 
2
 gz  r

V  ˆ
ndS  m 

i  
2
 gzLC 

Vejamos o que significa cada um dos termos acima:

● mi    i Vr  ndS
ˆ = fluxo médio de entalpia na seção
SC
onde i é a entalpia média de mistura na seção. Normalmente escreve-se
simplesmente i, o que só seria correto se a entalpia fosse uniforme na
seção.
JMSJ 3-8

● m ( V ) =
2
V2
2 
SC
2
ˆ
V r  ndS  fluxo médio de energia cinética na seção , onde

 é o denominado “coeficiente de energia cinética”, para levar em conta o


fato que V 2  V 2, isto é, que a média do quadrado da velocidade é
diferente do quadrado da velocidade média na seção. Se o perfil de
velocidade for relativamente plano na seção, como no escoamento
turbulento,   1. No presente contexto, a menos que se indique em
contrário, se admitirá  = 1.

● m g zLC =   gz dS = fluxo médio de energia potencial na seção


SC

onde zLC é a coordenada do centro de massa na seção, representada


simplesmente por z, para efeito de simplicidade.

● Considerando os comentários acima, a Eq. (3.17) pode ser escrita


como:

 V2   V2 
m  i2  2  gz2    i1  1  gz1    QVC (3.19)
 2   2  

EQUAÇÕES INTEGRAIS NO ESCOAMENTO BIFÁSICO


Consideremos um trecho elementar de um duto de seção circular constante,
como indicado na Fig. 3.6. Para efeito do presente contexto, as fases líquido e gás
são indicadas como separadas, condição que não se verifica em certos
escoamentos como os de fase dispersa, como no padrão bolhas, por exemplo.
Consideremos ainda as seguintes hipóteses:

(1) Ambos os fluidos são incompressíveis, isto é, L e G são constantes.


(2) A pressão é uniforme em cada seção transversal.
(3) O escoamento é unidimensional na direção do eixo longitudinal do tubo e o
perfil de velocidades é plano em cada fase, isto é, VL e VG são constantes na
seção (VL  VG, em geral).
(4) Admite-se que o regime de escoamento é permanente.
(5) As propriedades termodinâmicas e de transporte de cada fase na seção são
admitidas uniformes.
JMSJ 3-9


g
G L
dz
z+
Direção do
escoamento

z 

Figura 3.6 Representação esquemática do volume considerado na análise das


equações do escoamento bifásico.

Nessas condições, as equações de campo descritas anteriormente podem


ser escritas como indicado a seguir para cada uma das fases, admitindo VCs
envolvendo cada um dos fluidos, como indicado na figura.

(A) Conservação da Massa


● Fase Gás

(mG )zdz  (mG )z  mGL  0 (3.20)

onde mGL corresponde à taxa de líquido que se evaporou (ou gás que
condensou). Desenvolvendo em série de Taylor o primeiro termo da equação acima,
resulta:

 d mG 
(mG )z  dz  (mG )z    dz + (infinitésimos de ordem superior)
 dz z
Introduzindo o desenvolvimento acima na Eq.(3.20), resulta:

 d mG 
 dz  dz + mGL  0 ou
 
d mG  mGL (3.21)

ou seja, o aumento da vazão de gás é resultante da evaporação do líquido.

● Fase Líquido

(mL )zdz  (mL )z  mGL  0 (3.22)

do que resulta:

d mL  mGL (3.23)

Somando membro a membro as Eqs. (3.21) e (3.23), resulta:

d (mG  mL )  0  mG  mL  m  constante
JMSJ 3-10

Isto é, a vazão total permanece constante ao longo do duto, como seria de esperar.

(B) Conservação da Quantidade de Movimento (2ª Lei de Newton)

● Gás – forças atuantes

pP
pz+dz

F PG FI
L
G

pI
pz Direção do
dMgg escoamento

Figura 3.7 Volume de controle elementar envolvendo a fase gás. Forças atuantes.

As forças que agem no VC que envolve a fase gás são ilustradas na Fig.3.7.
A Equação da Conservação da Quantidade de Movimento na direção do eixo do
duto ficará:

F ext  pAG z  FPG  FI  pA G zdz  pI  A G z   A G z dz   (dMG )gsen (3.24)

Os seguintes comentários são pertinentes:

 FPG: forças viscosas resultantes da ação da fase gás na superfície do duto;


 FI: forças de cisalhamento na interface líquido – gás;
 pI: pressão na região interfacial. Na realidade não é constante, mas pode ser
aproximada por: pz  pz dz  / 2 ;
 a área ocupada pela fase gás na seção transversal varia ao longo do tubo.
 Como
pz  dz  pz  dp
 A G zdz   A G z  dA G
se os termos envolvendo produtos de infinitésimos forem desprezados por
tratar-se de quantidades muito pequenas, i.é., (dp)(dA)  0, e eliminarmos o
índice z dos parâmetros que o apresentarem, a Eq. (3.24) pode ser
simplificada, reduzindo-se para a seguinte forma:

( Fext )Gás  d(pA G ) + pdA G  FPG  FI  (dMG )gsen (3.25)

● Líquido – forças atuantes


Para o VC envolvendo a fase líquido, Fig. 3.8, a soma das forças externas deve
ser dada, a exemplo da fase gás, pela seguinte expressão:
JMSJ 3-11

pz+dz

pI
FI
G L
FPL

pz pPL

Direção do
escoamento
dMLg

Figura 3.8 Volume de controle elementar envolvendo a fase líquido. Forças


atuantes.

( Fext )Líquido  d(pAL )  pdAL  FPL  FI  (dML )gsen (3.26)

Observe que FPL refere-se às forças de cisalhamento do líquido na superfície do


duto e FI, agora de sinal trocado, está associado à interação líquido – gás na
interface.

● Gás - Efeitos de inércia


‘O termo de aceleração da Equação da Quantidade de Movimento pode ser
simplificado como segue:

 G
ˆ
VG  ndS  G VG2   A  z  dz G z  dz   A 
 G VG2
z G z  mGL VL 
SC

  mG z  dz  VG z  dz   mG z  VG z  mGL VL

 G
ˆ
VG  ndS  mG z  dz  VG z dz  mG z  VG z  mGL VL (3.27)
SC

Na Eq. (3.27), as vazões da fase gás foram introduzidas utilizando-se a


expressão: m  VA . Nessa equação, aparece o termo de “fluxo de quantidade de
movimento” pela interface, mG VL . A sua forma, no que diz respeito a VL, é
arbitrária. Uma análise mais cuidadosa desse termo deveria ser feita, o que,
entretanto, está fora do escopo destas notas. A Eq. (3.27) pode ser ainda
simplificada, de modo a resultar:

[
SC
] ds = mGdVG  mGL VG  VL mGL (3.28)

● Líquido - Efeitos de inércia


Procedendo analogamente para o líquido, obtém-se:

  V V • ndS
L
ˆ
L  m 
r L z  dz  VL zdz  mL z  VL z  mGL VL
SC

como mL zdz  mL z  mGL , a equação acima pode ser simplificada, resultando:
JMSJ 3-12

[ ] ds = mL dVL (3.29)
SC

Estamos, agora, em condições de formular as Equações da Quantidade de


Movimento para as fases líquido e gás:

Líquido:
d pAL   pdAL  FPL  FI   dML  gsen  mL dVL (3.30)

Gás:
d pA G   pdAG  FPG  FI   dMG  gsen  mGdVG  mGL VG  mGL VL (3.31)

Se somarmos membro a membro as Eqs. (3.30) e (3.31), resultará a


Equação da Quantidade de Movimento da mistura:

d  pA G  pdAL   FPL  FPG   dMG  dML  gsen 


(3.32)
 mL dVL  VL dmL  mGdVG  VGdmG

Alguns comentários são pertinentes a respeito da Eq.(3.32):

(1) Observe-se que os termos de interface, FI e pdA se cancelaram.


(2) FPL e FPG são as contribuições da fase gás e da fase líquido na interação com
a parede. Trata-se de infinitésimos, embora a notação adotada não o indique.
(3) Os termos de aceleração podem ser simplificados, resultando:
d mL VL   d mGVG   d mL VL  mGVG 
(4) O termo de pressão pode ser escrito da seguinte forma:
d pAG  pAL   d pA  , onde A é a área da seção transversal do duto, que é
constante. Assim, d pA   Adp .
(5) O termo correspondente às forças de gravidade pode ser transformado do
seguinte modo:
dMG  dML  G AGdz  L AL dz ,
de forma que a parcela associada à gravidade assume a seguinte forma:
 
G A G  L AL gsendz
AG e AL são áreas médias ocupadas pelas fases gás e líquido
respectivamente.

Nessas condições, a Equação da Quantidade de Movimento para a mistura


pode ser escrita como:

Adp - FPL  FPL   G AG  L AL  gsendz  d mL VL  mGVG 


que pode ainda ser simplificada, resultando finalmente:

 dp   dp   dp   dp 
        (3.33)
 dz   dz atrito  dz gravidade  dz aceleração
onde
JMSJ 3-13

 dp 
 dz  relacionado com FPL e FPG (3.34)
 atrito

 dp    AG   AL 
 dx   G    G    gsen (3.35)
 gravidade   A   A  

AG
=  = fração de vazio
A
AL
=1-
A
Além disso, é comum referir-se à densidade da mistura, m, como sendo
dada por:

m  G  1    L (3.36)

com o que, a Eq. (3.35) pode ser assim escrita:

 dp 
 dz   G  1    L  gsen  mgsen (3.37)
 gravidade
Finalmente,

 dp  d
 dz   mL VL  mG VG  (3.38)
 aceleração dz
A contribuição do atrito à perda de pressão total é a que tem exigido maior
atenção e investigação por parte dos especialistas. Mais adiante, a avaliação dessa
parcela será abordada.

(C) Equação da Conservação da Energia


Como aplicação da Equação da Conservação da Energia a sistemas
bifásicos, consideraremos novamente o trecho de tubo elementar que utilizamos
anteriormente. Neste caso, entretanto, consideraremos a mistura bifásica ao invés
das fases separadamente, como fizemos anteriormente. Como no trecho
considerado não se incluiu uma máquina e como o VC é fixo, Fig. 3.9, a Equação da
Conservação da Energia, Eq. (3.19), para Regime Permanente, pode ser escrita:

Q VC
y
Direção do
escoamento
yz+dz 
g 

yz
dz
z

Figura 3.9 Volume de controle para a análise da Equação da Conservação da


Energia.
JMSJ 3-14


  V2     V2   
m  iz  dz     gy z  dz   
z 
i   gy z    QVC
 
  2 z dz    2 z  

ou ainda

  V2  
m di  d    gdy   QVC (3.39)
  2  

onde “ m ” é a vazão da mistura bifásica e as propriedades “i” e “V2/2” se referem à


mistura. QVC é a taxa de transferência de calor. A vazão da mistura, pela Equação
da Conservação de Massa, deve permanecer constante ao longo do duto. Se na Eq.
(3.39) dividirmos por m os dois membros, resultará:

 V2 
di  d    gdy  q (3.40)
 2 

onde q  QVC / m . A Eq. (3.40) pode ser ainda transformada, como indicado a
seguir. Para tanto, duas relações clássicas de Termodinâmica poderão ser
utilizadas:

Tds  q  Tds  q  wp (3.41)

e
Tds  di  vdp (3.42)

onde wp é o denominado “trabalho perdido”, resultante das irreversibilidades.


Alguns denominam wp de perda de carga. É interessante observar que, pelo 2º
Princípio da Termodinâmica, wp  0. A Eq. (3.40) pode, assim, ser escrita como:

 V2 
w p  vdp  d    gdy ou, (3.43a)
 2 

dp  V2 
wp   d   gdy (3.43b)
  2 
 
As Eqs. (3.43) acima são muito conhecidas dos hidráulicos e podem ser
ainda transformadas para utilização em escoamento bifásico, se considerarmos o
seguinte:
(1) Considerando que o líquido e o vapor estejam em equilíbrio termodinâmico,
o volume específico de mistura, v m , é dado pela conhecida relação:
vm  1  x  vL  xv V onde x é o título do vapor na mistura.
(2) Se multiplicarmos a Eq. (3.43a) por m , o termo m d V 2 / 2 poderá ser  
escrito como:
 V2 V2 
d  x G  1  x  L 
 2 2 

(4) “dy” é a diferença de cota entre os centros de massa das duas seções
adjacentes, tal que dy   dz  sen
JMSJ 3-15

Introduzindo os argumentos acima na Eq. (3.43a), resulta:

 w p  dp d  VG2 VL2 
  
  G v x  1  x  v 
L   x  1  x    gsen
 dz  dz dz  2 2 

ou ainda,

 dp  w p d  VG2 V2 
   x v G  1  x  vL    x  1  x  L   gsen (3.44)
 dz  dz dz  2 2 

Como no caso da Eq. (3.33), a Eq. (3.44) indica que a perda de pressão ao
longo do duto se deve a três fatores: às irreversibilidades (perda de carga), à
aceleração e à gravidade. As irreversibilidades estão associadas, de uma maneira
geral, à dissipação viscosa no escoamento.

Exemplo 3.1
Considere-se o caso de um evaporador vertical em que se aplica um fluxo de
calor uniforme,  , a partir de z=0, seção onde x=0 (somente líquido saturado), como
indicado na Fig. 3.10. Admitindo-se equilíbrio termodinâmico, para um duto de
diâmetro D e uma altura “L” a partir da seção de entrada podemos escrever:

(DL) = mxilv
Em outras palavras, todo calor adicionado no trecho ( DL) foi utilizado na
evaporação de líquido. Nessas condições,

 D 
x=   L = L
 milv 
onde,
D
= = constante
milv

L  x
x

  W / m 
2

cons tan te

z
 D 
z=0   0 x=0 arctg  
 mhlv 

Escoamento L

Figura 3.10 Representação esquemática do evaporador do exemplo. Variação do


título com “L”.

A perda de pressão no trecho de tubo considerado pode ser determinada


pela avaliação das parcelas de que se compõe a equação Eq. (3.33).
JMSJ 3-16

(a) A parcela de perda de pressão resultante da aceleração da mistura no trecho


z=0, z=L será dada por:

 p aceleração  0 
L dp 
 dz
 dz aceleração
 x2 1 x 
2
 dp  d 2 d
 dz   mL VL  mG VG   G   
 aceleração dz dz  G L 1    
 
Logo,
 d   x2 1 x 
2
L
( p)aceleração   G   2
  dz
0
 dz   G L 1    

como G é constante, resulta:

 x2 1  1  xL 
2

 L 
 p aceleração G  2
   1 
   L  1  L   
 G L  
onde o índice L de “x” e “  ” se refere à altura L.

(b) A parcela resultante do efeito das forças de gravidade pode ser calculada como:

 p gravidade  0 
L dp 
 dz
 dz gravidade
 dp 
 dz   G  1    L  g    90o e, portanto, sen  1.
 gravidade
Como x  L (ver acima), então

dx
dL =

de modo que o efeito da gravidade pode ser determinado como:

 pgravidade   g /   0 G  L 1    dx


xL

Percebe-se nesta última expressão a necessidade de se estabelecer uma relação


entre a fração de vazio,  , e o título, x. Tal relação foi objeto de intensas pesquisas
no início dos anos 60. Voltaremos ao assunto posteriormente.

(c) Resta avaliar, finalmente, a parcela correspondente ao atrito,  p atrito , que será
objeto de uma análise detalhada mais adiante.
JMSJ 3-17

Exemplo 3.2
Uma bomba “air-lift”, assim denominada em virtude de utilizar o ar como impulsor de
um líquido, como regra geral água, cujo nível se deseja elevar, está ilustrada na Fig.
3.11. Pede-se determinar uma expressão para vazão de líquido envolvendo as
propriedades dos fluidos e a vazão de ar.

pA

Figura 3.11 Representação


esquemática de uma
bomba “air lift”.

H
pA

Ar h
comprimido, p

No desenvolvimento da expressão para a vazão de líquido, serão adotadas


as seguintes hipóteses:

● Regime permanente
● Líquido incompressível
● Expansão isotérmica do ar
● Despreza-se a mudança de fase no processo
● Desprezam-se as “perdas” no “T” de admissão do ar
● O ar se comporta como um gás perfeito.

O transporte do líquido desde um nível inferior até o nível superior ocorre em


virtude do escoamento do ar, introduzido numa seção situada num nível inferior da
tubulação do líquido. O ar é introduzido a uma pressão “p”, superior à pressão “pA”
(pressão atmosférica, por exemplo) nos níveis superior e inferior do líquido. Nessas
condições, o processo no ar, de acordo comas hipóteses, é um de expansão
isotérmica, o que implica numa troca de calor entre as fases. Uma forma de eliminar
a troca de calor na análise do processo consiste em combinar as expressões da
conservação da energia e do 2° Princípio, como se ilustra a seguir.
Uma das equações mais importantes da termodinâmica aplicada é a que
resulta da combinação da equação da Conservação da Energia com a do 2º
Princípio. O presente desenvolvimento se fará em condições de Regime
Permanente para um VC com uma área de entrada e outra de saída de massa.
Neste caso, as equações da Conservação da Massa e da Energia e a do 2º Princípio
assumem as seguintes formas:

Conservação da Massa
s m
m e m

JMSJ 3-18

Conservação da Energia
 V2   V2 
QVC  m  is  s  gzs    ie  e  gze    WVC
 2   2  
2º Princípio
Q / dA
m(ss  se )   dA  Sger
SC T

onde “ ss ” e “ se ” são, respectivamente, as entropias do fluido nas seções de saída e


de entrada no VC e Sger a taxa de geração de entropia no processo.
Dividindo as equações de campo acima por “ m ” e diferenciando, resultam as
seguintes expressões:

 V2 
q  d  i  gz   w (A)
 2 
q
ds   sger (B)
T
Nas expressões acima, q e w são o calor e o trabalho por unidade de
massa num volume elementar do VC original. Se o fluido que escoa pelo VC for do
tipo simples/compressível, vale a seguinte relação entre propriedades:

Tds  di  vdp (C)

Combinando as Eqs. (A), (B) e (C) para eliminar (ds), (di) e (q), e lembrando
que os termos por unidade de massa são representados por letras minúsculas, “q”,
“w” e “sger”, resulta:

 V2 
w  vdp  d  gz   sger
 2 
Alguns autores denominam a “geração de entropia” de “trabalho perdido”, o que não
deixa de ser adequado, pois as irreversibilidades do processo, às quais está
associada sger , implicam numa “perda” ou redução no potencial de realizar
trabalho. Integrando a equação acima entre a entrada e saída do VC,

s
Vs2  Ve 2
w    vdp   g  zs  ze   sger (D)
e
2

A Eq. (D) permite avaliar o trabalho por unidade de massa que escoa pelo
VC, “w”, sem o cálculo prévio da transferência de calor. A aparente simplicidade
esconde o fato de que, para avaliar o trabalho, é necessário determinar a geração
de entropia por unidade de massa, sger , associada às irreversibilidades do processo.
Se o processo for reversível, sger  0 , resultando:

s
Vs  Ve
2 2


w   vdp   gzs  ze 
e
2
JMSJ 3-19

A solução do presente exemplo passa diretamente pela aplicação da Eq. (D)


aos sistemas constituídos pelo ar e pelo líquido. É o que se fará a seguir.

(a) Sistema: ar
No caso, por se tratar de um gás, se desprezam os efeitos gravitacionais. As
variações de energia cinética são igualmente desprezadas. Nessas condições, a Eq.
(D) assume a seguinte expressão:

s
w ar    vdp  sger
e

Como o processo no ar é de expansão isotérmica, como observado


anteriormente, a equação pode ser integrada desde que se admita que o processo
no ar é aproximadamente reversível, de forma que sger  0 . Evidentemente, esta é
uma aproximação, mas que, no caso, é razoável. Assim, como para um gás perfeito
a relação entre o volume específico e a pressão num processo isotérmico é dada
pela expressão:

pv  cons tan te  RT
O trabalho por unidade de massa associado ao escoamento do ar, entre a
seção de entrada no conduto de líquido e a do nível superior, resulta igual a:

s dps p 
w ar    vdp    C  RT ln  A 
e p e
 p 
A potência que o ar transfere à água será igual a:

p 
War  mar w ar  marRT ln  A  (E)
 p 

(b) Sistema: líquido (água)


Neste caso não podem ser ignorados os efeitos gravitacionais devido ao
efeito de coluna do líquido (de densidade muito maior que a do gás). Além disso, o
processo será considerado irreversível em virtude dos efeitos do escoamento do
líquido e do atrito com a parede do tubo. Entretanto, as variações de energia cinética
serão desprezadas. Nessas condições, admitindo que a densidade do líquido não é
afetada no processo, a Eq. (D) assume a seguinte forma, considerando o
escoamento entre os níveis inferior e superior:

w L  vL  pA  pA   g H  h   sger 
w L  g H  h   sger

A potência total necessária pode ser, assim, obtida.

 
WL  mL g H  h  mL sger  mL g H  h   SL
ger
(F)

A Eq. (F) expressão a potência transferida à água pelo ar (daí o fato de ser
negativa). O trabalho realizado pelo sistema ar é o que “recebe” o sistema água, de
forma que:
JMSJ 3-20

War  WL 
p 
marRT ln  A
 p 
 
  mL g H  h   SL ger

RT  
SL
mL  mar ln p / p A  
ger
(G)
g(H  h) g(H  h)

Percebe-se que, quanto maior a vazão de líquido a ser bombeada, maior


deverá ser a vazão de ar. Por outro lado se a pressão do ar for superior, a vazão
necessária poderá ser reduzida. Observe-se ainda que, o incremento das
irreversibilidades terá como conseqüência uma redução na vazão de líquido.
Finalmente é interessante observar que, na solução do presente exemplo, somente
argumentos relativos ao escoamento monofásico das fases foram utilizados. O
“fechamento” do problema poderia ser realizado através de equações constitutivas
envolvendo a interação entre as fases, incorporadas no termo de geração de
entropia no sistema líquido.

NOMENCLATURA
W – potência [W]
Q – taxa de transferência de calor [W]
m – vazão [kg/s]
A – área [m2]
e – energia específica, e  u  V 2 / 2 [J/kg]
F – módulo de força [N]
F – vetor força [N]
g – aceleração da gravidade [m/s2]
i – entalpia específica [J/kg]
L – comprimento [m]
M – massa [kg]
p – pressão [Pa]
q – calor trocado por unidade de massa [J/kg]
SC – superfície de controle
t – tempo [s]
u – energia interna específica [J/kg]
V – velocidade [m/s]
V – vetor velocidade [m/s]
v – volume específico [m3/kg]
VC – volume de controle
w – trabalho por unidade de massa [J/kg]
wp – trabalho perdido associado às irreversibilidades [J/kg]
x – título
z – coordenada ao longo do duto [m]

 – fração de vazio ou coeficiente de energia cinética.


 – fonte volumétrica nas equações de campo ou fluxo de calor por unidade de área
[W/m2]
 – tensor das interações de superfície (contato) na equação geral de campo
 – ângulo de inclinação do tubo
 – massa específica [kg/m3]
JMSJ 3-21

 – propriedade específica (por unidade de massa) na equação geral de campo

Índices
ext – referido aos efeitos externos na equação da 2ª Lei de Newton
G – gás
GL – referido à interface líquido-gás
I – referido à interface líquido-gás
L – líquido
lv – referido à mudança de fase
m – média
PG – referido à parede do tubo do lado do gás
PL – referido à parede do tubo do lado do líquido
r – referido à velocidade relativa
SC – referido à velocidade de deformação da superfície de controle.
v – vapor
JMSJ 5-1

5 MULTIPLICADORES BIFÁSICOS
ESCOAMENTO MONOFÁSICO
No escoamento de um fluido monofásico obtém-se a avaliação do efeito do
atrito através da definição de um Coeficiente de Atrito. Se a tentativa de caracterizar
esse coeficiente de atrito for feita através da Análise Dimensional, para escoamento
no interior de dutos de secção transversal circular, obtém-se o denominado
coeficiente de atrito de Darcy, geralmente representado por f. O diagrama de Moody
é apresentado em termos de f. Fanning propôs uma definição alternativa para o
coeficiente dada pela seguinte expressão:

p
Cf  (5.1)
1 2
Vm
2
onde p é o arrasto na parede do tubo e Vm é a velocidade média do escoamento. Cf
é denominado de Coeficiente de Atrito de Fanning. Observe que Cf está intimamente
associado ao Número de Reynolds do escoamento, uma vez que relaciona os
efeitos viscosos, através de sua manifestação na parede (p), e os de inércia
2
(1/ 2 Vm ) . Evidentemente, os dois coeficientes acima definidos guardam uma
relação fixa entre eles, dada por:

f  4Cf (5.2)
Como exemplo do procedimento de avaliação (analítico) do coeficiente de
atrito, consideremos o Escoamento Laminar de um fluido incompressível de
propriedades constantes, no interior de um tubo de seção circular. O perfil de
velocidades na secção é parabólico, dado pela seguinte expressão:

r2
V  Vc (1  ) (5.3)
R2
onde Vc é a velocidade no eixo do tubo e R é o raio da secção. Como a velocidade
média do escoamento para um fluido incompressível é definida como:

R
1
R2 0
Vm  V(2r)r (5.4)

pode ser demonstrado que

Vc  2Vm (5.5)

A Fig. 5.1 ilustra o escoamento de que estamos tratando. A aplicação da


equação de definição de Cf requer a determinação do valor do arrasto na parede do
tubo, p, o qual pode ser obtido pela lei da viscosidade de Newton.
JMSJ 5-2

p
Parábola
R

D
r
p

Vm Vc

Figura 5.1 Escoamento laminar de fluido incompressível em um tubo

V  r 
p    2Vc  2  
r r R  R r R
2Vc 4Vm
  (5.6)
R R

Nestas condições,

4Vm 8
Cf  
1 VmR
RVm2
2
Como o Número de Reynolds, Re, do escoamento é definido como:

VmD 2VmR
Re  
 
resulta,
16
Cf  (5.7)
Re
64
f (5.8)
Re
O coeficiente de atrito para escoamento laminar em tubos, apresentado no
diagrama de Moody, geralmente obedece à Eq. (5.8). Para escoamento turbulento, o
coeficiente de atrito não é função exclusiva do Re, mas depende da rugosidade da
parede do tubo, isto é:

Cf  Cf Re,  / D (5.9)

onde /D é a rugosidade específica (referida a D) da superfície do tubo. Algumas


correlações têm sido sugeridas ao longo dos anos. Duas das mais populares são:

-Blausius, para tubos lisos:

Cf  K Ren (5.10)

onde K = 0,076 e n = 0,25 para Escoamento Turbulento, Re  105.


JMSJ 5-3

Transición
Flujo laminar Flujo turbulento

Rugosidad relativa,  / D
Cf

Condición de la superficie  [mm]


Hormigon 0,3-3
Hierro fundido 0,26
Hierro galvanizado 0,15
Acero comercial 0,05
Tubo forjado 0,0015 Liso

umD
ReD 

Figura 5.2 Diagrama de Moody em termos do coeficiente de atrito de Fanning.

- Colebrook

1

  9,3   
f  1,14  2 ln(D / )  2 ln 1+
2
  (5.11a)

  Re(/D)f  

Na Eq.(5.11) o coeficiente de atrito de Darcy, f, aparece em ambos os
membros, formando uma Equação Transcendente. A Eq.(5.11a) representa
perfeitamente as curvas do diagrama de Moody. Uma expressão de uso mais
simples que a de Colebrook pois o coeficiente de atrito é expresso explicitamente,
apresentando precisão comparável, é a proposta por Haaland:

1  6,9   / D 1,11 
 1,8log10     (5.11b)
 4Cf 
1/ 2
 Re  3,7  

Como exemplo de aplicação, considere-se o escoamento monofásico de um


fluido incompressível no interior de um tubo, como ilustrado na Fig. 5.3. Para regime

p
pz pz+dz

p

dz

z z+dz

Figura 5.3 Forças que atuam no VC elementar formado por um trecho de tubo.
JMSJ 5-4

permanente, como não ocorre aceleração do fluido, as forças atuantes se


equilibram, de modo que:

pz A  pzdz A  p  Ddz  =0

Desenvolvendo pz  dz em série de Taylor,

 dp 
pz  dz  pz    dz    
 dz z
Desprezando os infinitésimos de ordem superior e eliminando o índice “z” da
pressão, resulta:

 dp  p D
  dz   A
 
como

 V 2 
p  Cf  m  e
 2 
A = D / 4
2

obtem-se:

 dp   Vm2 
  dz  = 2 Cf  D  (5.12)
   
Os coeficientes de atrito foram definidos considerando dutos de seção
circular. Cabe, então, especular sobre sua validade em condutos não circulares.
Para tanto, consideremos o exemplo ilustrado na Fig. 5.3, mas para um caso em que
a secção não seja circular, apresentando perímetro P e área de seção transversal A.
Nessas condições, o balanço de forças resultaria na seguinte expressão:

 dp  p
  dz   (A / P)
 
Se a seção fosse circular, A/P = D/4, de modo que:

 dp  4p
  dz   D (5.13)
 
Nessas condições, para uma secção não circular, a fim de obter uma expressão
semelhante à Eq. (5.13), define-se a dimensão denominada de Diâmetro
Hidráulico, DH, como:

4A
DH 
P
de modo que

 dp  4p
  dz   D (5.14)
  H
JMSJ 5-5

Anteriormente, tivemos oportunidade de mostrar que Cf é uma função exclusiva do


Número de Reynolds. Este, por sua vez, depende da dimensão característica do
escoamento, a qual, no caso de condutos circulares, é o diâmetro. Como, então,
deverá ser definido o Re para condutos não circulares? O procedimento adotado é o
de definir Re em termos do diâmetro hidráulico, isto é,

VmDH
Re = (5.15)

Entretanto, a relação entre o coeficiente de atrito e o Número de Reynolds, definido
de acordo com a Eq. (5.15), não é a mesma que para um duto circular. Para
exemplificar, considere-se o escoamento laminar de um fluido incompressível entre
duas placas planas paralelas, como ilustrado na Fig.5.4. Pode ser facilmente
demonstrado que o perfil de velocidades é parabólico. O diâmetro hidráulico, neste
caso, é dado pela equação:


b

y
h

Figura 5.4 Escoamento laminar de fluido incompressível entre duas placas planas
paralelas

 4hb 
DH = lim   2h
b  2b  2h 
 
de modo que o coeficiente de atrito de Fanning resulta igual a:

24
Cf =
Re
Para dutos circulares verificamos que Cf era dado por 16/Re, observando-se
um erro de 33%, caso fosse adotada esta última expressão com Re referido ao
diâmetro hidráulico. No caso de escoamentos turbulentos, o erro tende a diminuir.
Nessas condições, é comum adotarem-se expressões válidas para dutos circulares,
com Re referido ao diâmetro hidráulico do escoamento. Outro modo de abordar o
problema, seria assumir a expressão de dutos circulares e determinar o diâmetro
equivalente, denominado de Diâmetro Efetivo, adequado a cada situação. Alguns
exemplos são apresentados a seguir:

- Escoamento Turbulento entre Placas Planas Paralelas


2
Def  DH
3
 
2
1/ f = 2,0 ln(0,64 Re f 1/2 )  0,8

- Escoamento laminar em um espaço anular de raios “a” e “b” (a  b)

f  64 / Re
JMSJ 5-6

b/a Def/DH
0 1,0
0,01 0,799
0,05 0,742
0,10 0,716
0,60 0,670
1,00 0,667

OS MULTIPLICADORES BIFÁSICOS
A análise do escoamento bifásico tem sido tradicionalmente referida ao
escoamento monofásico. O efeito do atrito não fugiu à regra; aliás, foi o esforço para
sua determinação que desencadeou a pesquisa experimental acompanhada de
análise em escoamento bifásico, através dos trabalhos de Martinelli e
colaboradores, até hoje adotados em muitos trabalhos sérios. A introdução dos
multiplicadores bifásicos é uma tentativa de determinar o efeito do atrito em
escoamento bifásico a partir do escoamento monofásico. Assim, definem-se os
seguintes multiplicadores:

 dp / dz B  dp / dz B
G2  L2  (5.16)
 dp / dz G  dp / dz L
onde (dp/dz)B é o gradiente de pressão no escoamento, resultando do efeito de
atrito. (dp/dz)G e (dp/dz)L são os gradientes que se verificariam caso o gás ou o
líquido presente no escoamento bifásico escoassem isoladamente no mesmo
conduto. Analogamente, multiplicadores bifásicos referidos à mistura bifásica
poderiam ser definidos.

 dp / dz B  dp / dz B
GO
2
 LO
2
 (5.17)
 dp / dz GO  dp / dz LO
onde (dp/dz)GO e (dp/dz)LO se referem aos gradientes de pressão que ocorreriam
caso a mistura bifásica escoasse como gás ou como líquido no mesmo conduto. O
nome Multiplicadores Bifásicos resulta do fato de o efeito de atrito no escoamento
bifásico ser obtido pelo produto entre o multiplicador e um efeito correpondente em
escoamento monofásico. A relação entre os dois tipos de multiplicadores pode ser
facilmente obtida. Consideremos inicialmente uma expressão para o gradiente de
pressão a partir de uma relação do tipo de Blausius para o coeficiente de atrito,
Eq.(5.10).

 dp  Vm2 -n Vm
2
V D 
  dz   2Cf ( D )  2K Re  2K( m )n ( )Vm2
  D  D

logo, se Vm =G/ , onde G é a velocidade másica do escoamento (G =m/A) , resulta:

 dp  2K G2-n
  dz  =  Dn+1 n (5.18)
 
Nessas condições,
JMSJ 5-7

GO
2
 dp / dz G  GG  2 n

   
G  dp / dz GO
2
 GGO 
Na expressão acima foi admitido que o mesmo regime de escoamento (laminar ou
turbulento) deve ocorrer em ambas as situações: a correspondente a GO e aquela
que se refere a G. Como:

GG = mg /A e GGO = m/A,

então
GG /GGO  x  título

Assim,
GO
2
/G2 = x2-n (5.19a)

Analogamente

1-x 
2-n
LO
2
/L2  (5.19b)

Lockhart e Martinelli definiram um parâmetro “X” tal que

G2  dp/dz L
X2   (5.20)
L2  dp/dz G
o qual representa a importância relativa do líquido na mistura bifásica, de modo que,
se a quantidade de gás na mistura for ínfima, X. O parâmetro X, conhecido como
parâmetro de Martinelli, deve depender dos regimes de escoamento quando as
fases, líquido e gás, escoam isoladamente no duto. Assim, Martinelli definiu quatro
parâmetros, designados distintamente pelos seus índices:

Xvv – correspondente a escoamentos laminares para ambas as fases


escoando isoladamente.
Xtv - correspondente a escoamento turbulento para a fase líquida e laminar
para a fase gás, quando ambas escoam isoladamente.

Fica evidente, então, a caracterização de Xvt e Xtt.


A respeito de X é interessante observar que independe das características do
escoamento, sendo função das propriedades dos fluidos. Como exemplo,
consideraremos o caso de Xtt. Admitindo uma lei do tipo Blausius para o coeficiente
de atrito e considerando a Eq. (5.18), podemos escrever:

2 n n
G2  GL   L   L 
X2tt =     
L2  GG   G   G 
como
GL 1  x
 e n  0,25
GG x
0,5 0,125
 G   L 
0,875
 1 x 
Xtt =       (5.21a)
 x   L   G 
JMSJ 5-8

É comum encontrar-se na literatura uma expressão próxima da Eq. (5.21a),


correspondendo a n = 0,2:

0,5 0,1
 G   L 
0,9
 1 x 
Xtt =       (5.21b)
 x   L   G 

MULTIPLICADORES BIFÁSICOS
Escoamento Homogêneo
No modelo Homogêneo de escoamento bifásico tudo se passa como se a
mistura bifásica fosse um fluido homogêneo de propriedades intermediárias entre
aquelas do gás e as do líquido. Nessas condições, aplicando a equação de definição
de LO juntamente com a Eq. (5.18), resulta:

 dp / dz B L  L 
n
v  
n

 2
   ( B )  L  (5.22)
LO
 dp / dz LO B  B  vL  B 

na qual o coeficiente de atrito se determina pela relação de Blausius. O índice B se


refere às propriedades da mistura bifásica que devem ser adequadamente definidas.
O volume específico da mistura, v B , pode ser determinado pela condição de
equilíbrio termodinâmico entre as fases,

vB  vL  xvlv  vL  x  v V  vL  (5.23)

onde vL e vV são os volumes específicos do líquido e do vapor. Com relação à


viscosidade, por tratar-se de uma propriedade de transporte (de quantidade de
movimento), a solução tem gerado muita controvérsia. Diversas relações foram
sugeridas na literatura, cada uma satisfazendo experiências particulares dos seus
proponentes. Eis algumas:

1/ B  x/G + 1-x  /L - Isbin 



B  xG + 1-x  L - Chichitti (5.24)

B  G + 1-  L - Dukler 

A relação de Dukler é muito bem aceita na indústria do petróleo. Ao contrário


das outras, a viscosidade do “pseudo-fluido bifásico é dada em termos da fração
volumétrica, , ao invés do título. Todas as relações respeitam os limites para títulos
0 e 1, isto é, B  L para x  0 e B  G para x  1 , como seria de esperar.
O escoamento homogêneo reproduz com relativa precisão condições em que
a vazão é relativamente elevada. Assim, a aplicação do multiplicador bifásico, de
acordo com a Eq. (5.22), deve produzir resultados aceitáveis naquelas
circunstâncias (vazões elevadas).

O Modelo de Lockhart-Martinelli
O modelo de Lockhart-Martinelli tem por base as seguintes hipóteses:
(1) Escoamento horizontal, para o qual os efeitos gravitacionais são nulos.
(2) Não ocorre mudança de fase, do que se pode concluir que os efeitos de
aceleração são nulos.
JMSJ 5-9

(3) A pressão estática da fase gás é igual à pressão estática do líquido em cada
secção.
(4) A soma dos volumes das fases em cada instante é igual ao volume total.
Excluem-se, com isso, escoamentos intermitentes do tipo escoamento
pistonado.

Os conceitos básicos do modelo em questão são muito bem interpretados


por um modelo simplificado sugerido por Wallis. De acordo com Wallis, o
escoamento das fases em um duto circular seria equivalente ao escoamento
individual de cada fase em dutos circulares separados, como se ilustra na Fig. 5.5.
As fases escoam nos dutos separados, de diâmetro DG e DL. As áreas das secções
desses dutos devem ser iguais às áreas ocupadas por cada uma das fases no
escoamento bifásico. Assim, tudo se passa como se as fases não interagissem entre
si. Entretanto, a interação entre as fases é incluída (ou, pelo menos, pretende-se) no
efeito do atrito nos dutos individuais. De acordo com a hipótese (3), o gradiente de
pressão em cada um dos dutos individuais deverá ser o mesmo e igual ao gradiente
de pressão no escoamento bifásico. Nessas condições,

-para o gás escoando no duto de diâmetro DG*


2 n
 dp   dp  2K GG2-n  A 

 dz        
DG  dz B G GG G
n+1 -n
  AG 

-para o líquido escoando no duto de diâmetro DL*


2 n
 dp   dp  2K GL2-n  A 

 dz        
DL  dz B L DL L
n+1 -n
  AL 

Gás, AG
L
D
G
D

Líquido, AL
A G  DG2 / 4 A L  DL 2 / 4

A=AG+AL

Figura 5.5 Representação esquemática ilustrativa do modelo de Wallis.

Por outro lado,


 dp  2K GG2-n
-Para o gás escoando no duto de diâmetro D (original)   dz    Dn+1-n
 G G G

 dp  2K GL2-n
-Para o líquido escoando no duto de diâmetro D 
 dz  
 L L D L
n+1 -n

Nessas condições, aplicando a definição do multiplicador bifásico, G, podemos


escrever:

*
Lembre-se que GG = mG /A e GL = mL /A. Logo, nos tubos individuais, as velocidades
mássicas correspondentes serão, respectivamente, iguais a: GG  A/A G  e GL  A/AL  .
JMSJ 5-10

 dp / dz B
2 n n 1
 A   D 
 2
     , como
G
 dp / dz G  AG   DG 

DG2 D2 A
AG  e A e   G , então
4 4 A

2
D 
 =  G  e a expressão para G2 ficará :
 D 
G2 = n-2 -(n+1)/2 
1/m
1  1 
   ou  =  2 
5-n /2
(5.25)
G
2
 G 
onde m = (5-n)/2

Procedendo analogamente para o líquido,

 dp / dz B  A 
2 n
D 
n 1

 2
     , dado que
L
 dp / dz L  AL   DL 
2
D 
1-  = A L /A  1-  =  L  , de modo que
D 
L2 = 1-  1- 
n-2 -(n+1)/2

1
 1   
(5 n)/ 2
ou 1-  = 1/L2  
1/ m
(5.26)
L
2

Pela adição das Eqs. (5.25) e (5.26), resulta

1/ m 1/ m
 1   1 
    =1 (5.27)
 2   2 
 G  L
Na análise precedente admitiu-se que o regime de escoamento nos dutos
individuais era o mesmo (laminar ou turbulento) de modo que o expoente “n” do
número de Reynolds da relação de Blausius é idêntico para ambos os dutos. Os
valores de “m” apresentam os seguintes valores:

- Escoamento laminar: n=1  m=2


- Escoamento turbulento: n = 0,25  m = 2,375

Se, na Eq. (5.27), multiplicarmos ambos os membros por G2 / m ,

1/m
 G2  G2
1+  2 = G2/m , mas, = X2 , logo,
 L  L2

X2/ m  1 = G2/ m  G2 = [1+X2/m ]m (5.28)


JMSJ 5-11

A Eq.(5.28) é um resultado importante, base para o modelo de Lockhart –


Martinelli: o multiplicador bifásico, G, é função exclusiva do parâmetro de
Martinelli. Isto implica em que os resultados experimentais poderiam ser
exclusivamente correlacionados por X. Além disso, em face da Eq. (5.25), também a
fração de vazio seria função exclusiva de X, com o que os resultados experimentais
em termos de  poderiam ser correlacionados por X, resolvendo o grande problema
de determinar uma relação entre  e x, tema que será abordado nos Modelos
Cinemáticos. A Tabela 5.1 ilustra os resultados experimentais obtidos por Lockhart-
Martinelli em comparação com os resultados do modelo simplificado de Wallis,
acima desenvolvido. Observa-se que, apesar da simplicidade do modelo, os
resultados por ele produzidos são satisfatórios.

Tabela 5.1 Resultados Experimentais comparados com aqueles obtidos do modelo


simplificado de Wallis. Escoamento turbulento-turbulento.

L2 2
G 2
G 2
G
X
[Eq.(5.28), m = 2,375] [Eq.(5.28), m = 4]
0,01 16380 1,64 1,05 1,46
0,04 1482 2,37 1,17 2,07
0,10 342,3 3,42 1,38 3,00
0,40 49,70 8,01 2,47 7,10
1,00 17,64 17,64 5,19 16,00
4 5,66 90,3 30,4 81,00
10 3,06 306,3 137,6 300,1
40 1,66 2652 1775 2878
100 1,23 12.320 10.498 14.641

Os resultados da Tabela 5.1 podem ser adequadamente correlacionados por


equações do tipo:

G2 = 1 + CX + X2 (5.29)

C 1
L2 = 1 +  (5.30)
X X2
onde a constante C assume os seguintes valores indicados na Tabela 5.2.

Tabela 5.2 Valores da constante C das Eqs. (5.29) e (5.30) para os distintos regimes
de escoamento das fases.

Líquido Gás Constante, C


Xtt Turbulento Turbulento 20 (Chisholm sugere 21)
(23,58 mínimos quadrados)
Xvt Laminar Turbulento 12
Xtv Turbulento Laminar 10
Xvv laminar laminar 5

Com relação à fração de vazio, os resultados experimentais permitiram


estabelecer a seguinte relação:

 
-1/2
1-α = X X2 +20X + 1 (5.31)
JMSJ 5-12

onde X  Xtt. A Fig. 5.6, extraída do trabalho de Lockhart-Martinelli, ilustra os


resultados acima comentados. Na Fig. 5.7 os resultados experimentais são
indicados juntamente com as curvas de correlação, para escoamentos individuais
turbulento-turbulento.

1,0 1,0
1 



1 
0,1 0,1

100 100
Ltt Gtt
Lvt Gtv
Ltv Gvt
Lvv Gvv

10 10

1 1
0,01 0,1 1 10 100
X

Figura 5.6 Curvas finais (correlações) dos multiplicadores bifásicos e da fração de


vazio, Lockhart-Martinelli.

Figura 5.7 Resultados experimentais para a relação Gtt  Gtt  X  , Lockhart-


Martinelli.
JMSJ 5-13

Modelo de Martinelli – Nelson


O objetivo de Martinelli e colaboradores não era o de determinar o efeito do
atrito em misturas ar-água à pressão atmosférica, mas o levantamento daquele
efeito na mudança de fase da água a pressões variando desde a atmosférica até o
ponto crítico. O trabalho de Martinelli – Nelson veio, portanto, satisfazer aquele
objetivo. Os seguintes aspectos foram considerados:

(1) Considerou-se que, em aplicações, os regimes de ambas as fases escoando


isoladamente no duto seriam turbulentos, de modo que somente o parâmetro X tt
seria considerado.
(2) Como foi observado anteriormente, Xtt é uma função das propriedades,
incluindo-se o título do escoamento, Eq. (5.21a). A fim de trabalhar com um
parâmetro que dependesse diretamente do título, introduziu-se o parâmetro de
Martinelli modificado,  tt , tal que:

tt  Xtt 
2 / 2 n 
(5.32)

de modo que
1/(2 n) n /(2 n)
 1     L 
tt    1  G    (5.33)
x   L   G 
Como, para o escoamento turbulento, n = 0,25, então

0,57 0,143
 1     L 
tt    1  G   
x   L   G 
(3) Admitiu-se equilíbrio termodinâmico, de modo que “x” pudesse ser obtido
diretamente de um balanço de energia. Posteriormente, o fluxo de calor foi
admitido constante, de forma que “x” depende linearmente da cota da seção.
Com isso, o valor de  tt é conhecido ao longo do evaporador.

(4) Os resultados obtidos para misturas ar-água à pressão atmosférica foram


admitidos como válidos. Observe-se que a perda de carga resultante em um
escoamento horizontal sem mudança de fase (como ocorre em misturas ar-
água), se deve exclusivamente ao efeito do atrito.

(5) Inicialmente argumentou-se que o efeito da pressão estaria implícito nas


propriedades incluídas na definição do parâmetro  tt . Nessas condições, a
relação G  G  tt  seria mantida para qualquer pressão. Entretanto, quando
resultados experimentais obtidos por Davidison foram confrontados com o
modelo, verificou-se que este (o modelo de Martinelli e Nelson) produzia
resultados que se afastavam dos experimentais, à medida que se elevava a
pressão. Além disso, LO
2
 GO
2
 1 quando a pressão é a crítica, relação que o
modelo não satisfaz uma vez que deste resulta um valor próximo de 5. Ficou
evidente que a dependência da pressão deveria ser explícita, o que levou aos
argumentos apresentados no ítem seguinte(6).

(6) Considerando as discrepâncias acima sugeridas, Martinelli e Nelson propuseram


o seguinte procedimento:
JMSJ 5-14

● à pressão atmosférica os dados disponíveis de L  L  tt  permanecem


válidos.
● no estado crítico sabe-se que LO
2
 1  GO
2 *
, de modo que:

 dp / dz B   dp / dz LO   dp / dz GO
 2 
 1  x   1  x 
2 n 1,75
  LO2 
 L 
logo,
1/ 2
 1  1
L     (5.34)
 1  x   1  x 
1,75 0,875

● da definição de  tt , no estado crítico:

1 
tt    1 (5.35)
x 

● Eliminando “x” das Eqs. (5.34) e (5.35), resulta:

0,875
   1
L   tt  (5.36)
  tt 

● Dispõe-se, assim, de correlações à pressão atmosférica e no estado crítico. As


curvas L  L (tt ) para as distintas pressões intermediárias foram obtidas por
um procedimento de tentativas e erros, utilizando os resultados experimentais de
Davidson como referência. Dispondo das curvas L  L (tt ) não é difícil
preparar um diagrama do multiplicador bifásico LO
2
em função do título, para
pressões diversas. Basta considerar que:

 L 1  x 
1,75
LO
2

e que  tt depende diretamente do título, através de sua equação de definição.


Assim, resultaram curvas como aquelas mostradas na Fig. 5.8.

Lembre-se LO se refere à mistura bifásica escoando como líquido no duto. No estado
* 2

crítico, as fases não se diferenciam, de modo que LO


2
 1.
JMSJ 5-15

1000 p (bar)

1,01

6,89
100

LO 2
34,4

68,9

10 103

138
172

207

221,2
1
o 20 40 60 80 100
Título, x (%)

Figura 5.8 Curvas de LO


2
vs x para distintas pressões, de acordo com Martinelli e
Nelson.

● No estado crítico,   x   , de modo que a relação entre  e tt é a mesma


que entre x e tt , Eq. (5.35). Nessas condições, como a relação entre  e tt à
pressão atmosférica é conhecida, procedendo-se de modo semelhante àquele
adotado na relação L  L (tt ) , as curvas   (tt ) para distintas pressões. Tais
curvas são ilustradas na Fig. 5.9, em termos de x (e não de  tt ).

1
Pressão (bar)
Fração de vazio, 

1,01
0,8
6,89

0,6
34,4

68,9
0,4
103
138
0,2
172
207
221,2
0
0,001 0,01 0,1 1
Título, x
Figura 5.9 Curvas de  em função do título para distintas pressões, de acordo com
Martinelli – Nelson.

Na avaliação da perda de carga em um evaporador, tivemos a oportunidade


de mostrar anteriormente que o efeito total do atrito em um trecho de evaporador de
comprimento L, a partir de uma condição de título nulo, e para um fluxo de calor
uniforme ao longo do evaporador, era dado pela relação:
JMSJ 5-16

 p Atrito  0 
L dp  L  dp 
 dz     L0 2
dz
 dz B 0
 dz L0

Como as propriedades são admitidas constantes ao longo do evaporador,  dp / dz L0


permanece constante, de modo que,

 p atrito  
dp  L
 L0
2
 dz
 dz L0 0

Lembrando que o fluxo de calor é uniforme ao longo do evaporador,


z  Cx  dz  Cdx onde C  L / xL , do que resulta:

 p atrito  
dp  L xL
 L0
2
 dx (5.37)
 dz L0 xL 0

A integral da Eq.(5.37) pode ser determinada pela integração das curvas da


Fig. 5.8 para o título variando de 0 até xL. Martinelli e Nelson apresentaram os
resultados da integração na forma gráfica, como mostrado na Fig. 5.10, onde a
integral é apresentada como

1 xL
 L0
2
dx = r3
xL 0

de modo que,

 p atrito  L 
dp 
 r3
 dz L0
ou ainda, como

 dp  2CfL 0 G2
 dz   D
 L0 L

onde CfL 0 é o coeficiente de atrito do líquido escoando pelo tubo com a vazão da
mistura bifásica,

2LCfL 0 G2
 p atrito  r3 (5.38)
DL
Voltando ao caso do evaporador, tivemos também oportunidade de mostrar
que, no trecho de comprimento L, os efeitos de aceleração eram dados pela
expressão:


 xL
2
1  1  xL 
2
 
 p aceleração G  2
   1  (5.39)
   L  1  L  
 G L  
Dado que a relação entre  e x foi estabelecida, Martinelli-Nelson não
tiveram dificuldades em avaliar o parâmetro no interior da chave da Eq.(5.39), que
designaram por r2.
JMSJ 5-17

 L  1  xL 
2
x2
r2  L   1 (5.40)
L  G  1  L

de modo que
G2
 p aceleração  r2 (5.41)
L

Curvas de r2 para distintas pressões e títulos na saída do evaporador são


mostradas na Fig. 5.11.
Para concluir o modelo de Martinelli-Nelson, deve-se dar ênfase ao fato que
os seus resultados têm validade somente para a água.
1 2 5 10 20 50 100 200 Bar
1000

Figura 5.10 Curvas de r3 vs


pressão para distintos
títulos na saída de um
100% Título saída evaporador de água
100 90
com fluxo de calor
r3   LO dx

80
70 uniforme.
2

60
50
40
xL

30
20
10
10
5
1

1
1 2 5 10 20 50 100 200 Bar

Pressão

1 2 5 10 20 50 100 200 Bar

1000
Figura 5.11 Curvas de r2 vs pressão
100% Título saída para distintos títulos na
90
80
saída de um evaporador
70
60
de água.
50
100 40
 x 2  v  1  x 2 
 1


30
20
1  

10

5
  L  
r2    G  

1
 v

10

0,1
1 2 5 10 20 50 100 200 Bar

Pressão
JMSJ 5-18

Outros Modelos

● Thom

No início da década de 60, Thom conduziu experiências com água no sentido


de aperfeiçoar o Modelo de Martinelli e Nelson. Como aqueles autores, somente
considerou regimes turbulentos para as fases escoando isoladamente. As
expressões gerais representadas pelas Eqs. (5.29) e (5.30) foram admitidas como
válidas. O problema era ajustar o coeficiente C, o que foi feito com auxílio de
resultados experimentais. Thom verificou que seus resultados eram adequadamente
correlacionados pela seguinte expressão para C:

 v  0,5
v 
0,5

C  1,1 G   L    0,2 (5.42)
 vL   vG  

Consideremos um exemplo numérico para ilustrar o procedimento de Thom. À


pressão de 86,1 bar e título de 20%, o multiplicador L0
2
poderá ser avaliado pelo
seguinte procedimento:

(1) p= 86,1 bar v G  0,021643 m3 / kg


G = 19,73x10-6 Pa.s
vL = 1,404x10-3 m3 / kg
L = 90,7x10-6 Pa.s

 0,021643 0,5  1,404x10-3 0,5 


(2) C=1,1 -3 
    0,2  4,399
 1,404x10   0,021643  
0,5 0,1
 vL   L 
0,9
 1 x 
(3) x tt       
 x   vG   G 
0,5 0,1
 1,404x10 3 
 90,7x10 6 
0,9
 1  0,2 
=    
 6 
 1,033
 0,2   0,021643   19,73x10 
C C 4,40 1
(4) L2  1   2  1   6,196
Xtt Xtt 1,033 1,0332
 L2 1  x   L0  L 1  x 
2 n (2 n) / 2
(5) L0
2

n  0,2  L0 = 6,1961/2 x(1  0,2)0,9  2,036

A Tabela 5.3 apresenta valores de L0


2
, r3 ,  e r2 para diversos títulos e
pressões. Observe que o valor de L0 obtido no exemplo numérico acima,
L0
2
 4,145, para x = 0,2 e pressão de 86,1 bar, é aproximadamente 10% superior ao
valor da Tabela 5.3, L02
 3,77 . Tal discrepância está relacionada ao fato da Eq.
(5.42) resultar de um ajuste de dados experimentais.
JMSJ 5-19

x
1 2
x 0
Tabela 5.3 Valores de LO
2
, L0 dx ,  e r2 propostos por Thom.

Pressão [bar]
X
[%] 17,2 41,3 86,1 145 207

LO
2 x
1 2 LO
2
1 2
x
LO
2 x
1 2 LO
2 x
1 2 LO
2
1 2
x

x 0 x 0 x 0 x 0 x 0
L0dx L0dx L0dx L0dx L0dx

1 2,12 1,49 1,46 1,11 1,10 1,03


5 6,29 3,71 2,86 2,09 1,62 1,31 1,21 1,10 1,02
10 11,1 6,30 4,78 3,11 2,39 1,71 1,48 1,21 1,08 1,06
20 20,6 11,4 8,42 5,08 3,77 2,47 2,02 1,46 1,24 1,12
30 30,2 16,2 12,1 7,00 5,17 3,20 2,57 1,72 1,40 1,18
40 39,8 21,0 15,8 8,80 6,59 3,89 3,12 2,01 1,57 1,26
50 49,4 25,9 19,5 10,6 8,03 4,55 3,69 2,32 1,73 1,33
60 59,1 30,5 23,2 12,4 9,49 5,25 4,27 2,62 1,88 1,41
70 68,8 35,2 26,9 14,2 10,2 6,00 4,86 2,93 2,03 1,50
80 78,7 40,1 30,7 16,0 12,40 6,75 5,45 3,23 2,18 1,58
90 88,6 45,0 34,5 17,8 13,8 7,50 6,05 3,53 2,33 1,66
100 98,86 49,93 38,3 19,65 15,33 8,165 6,664 3,832 2,480 1,740

 r2  r2  r2  r2  r2

1 0,288 0,4125 0,168 0,2007 0,090 0,0955 0,0476 0,0431 0,0213 0,0132
5 0,678 2,169 0,512 1,040 0,340 0,4892 0,207 0,2182 0,102 0,0657
10 0,816 4,320 0,696 2,165 0,521 1,001 0,355 0,4431 0,193 0,1319
20 0,910 10,39 0,833 4,678 0,710 2,100 0,553 0,9139 0,350 0,2676
30 0,945 17,30 0,895 7,539 0,808 3,292 0,679 1,412 0,480 0,4067
40 0,964 25,37 0,930 10,75 0,866 4,584 0,767 1,937 0,589 0,5495
50 0,975 34,58 0,952 14,30 0,908 5,958 0,832 2,490 0,682 0,6957
60 0,984 44,93 0,967 18,21 0,936 4,448 0,881 3,070 0,763 0,8455
70 0,990 56,44 0,979 22,46 0,959 9,030 0,920 3,678 0,834 0,9988
80 0,994 69,09 0,988 27,06 0,976 10,79 0,952 4,512 0,895 1,156
90 0,997 82,90 0,995 32,01 0,989 12,48 0,978 5,067 0,951 1,316
100 1 98,10 1 37,30 1 14,34 1 5,664 1 1,480

● Baroczi
Na discussão que acompanha o artigo original de Lockhart-Martinelli,
argumenta-se que G (ou L ) não é uma função exclusiva do parâmetro de
Martinelli, mas deveria depender também da vazão. Evidências experimentais se
acumularam ao longo dos anos, indicando um significativo efeito da vazão sobre o
valor de G . Uma argumentação relativamente simples poderia ser utilizada para
demonstrar tal dependência. Consideremos para tanto o modelo de Zuber-Findlay,
segundo o qual



VGJ
Co 
J

onde Co é o parâmetro de distribuição, β a fração volumétrica, VGJ é a velocidade de


deslizamento média da fase gás e J o movimento do centro de volume da mistura
bifásica, J  JG  JL . Quando da apresentação do modelo de Zuber-Findlay, foi
JMSJ 5-20

observado que, à medida que J aumenta, o que corresponde a uma elevação de G,


Co e VGJ , pela mudança do regime de escoamento, poderiam variar. Nessas
condições, a relação  ,   seria alterada e, portanto,  , x  , o que ilustra o efeito de
G.
Baroczi, reconhecendo o efeito de G, correlacionou resultados experimentais
para diversas substâncias do seguinte modo:

(1) Os resultados foram correlacionados em termos de LO


2
como função do
Índice de Propriedades, “r”, dado pela seguinte expressão:

 dp / dz GO   v 
n

r2   G   G (5.43)
 dp / dz LO  L   vL 
Baroczi adotou n = 0,2. A Fig.5.12 mostra as curvas levantadas por Baroczi,
em que LO2
aparece em função de 1/r2, com o título como parâmetro. As curvas da
Fig. 5.12 foram levantadas para G = 1.356 kg/(s.m2). Para vazões distintas, Baroczi
propôs a aplicação de um fator de correção, cujo valor pode ser obtido das curvas
da Fig.5.13

104

Título (%)
100
Multiplicador bifásico, LO 2

Valores para
80
103 60 G=1.356 kg/m2s

40
30
20
15
2
10 10
7,5
5
3,5
2
10
0,5

0,1

1
10-5 10-4 10-3 10-2 10-1 1
Índice de propriedades, r2
Sódio (°C) R-22 (°C)
650 760 870 980 1.093 4 15 27 38 60 82 97
Potássio (°C)
540 650 760 870 980 1.093
Rubídio (°C)
540 650 760 870 980
Mercúrio (°C)
315 426 540 650 760
Água (°C)
100 150 200 250 300 350 374

Figura 5.12 LO


2
versus 1/ r 2 , com o título como parâmetro. G = 1.356 kg/(s.m2).
JMSJ 5-21

1,6 G=678 e 4.068 kg/m2.s 20

1,4 10
1 Título (%)
5, 40
10
0,1
1,2 40
20 60
60
G=678 80 5
80
100
1,0
0,1
80 1
0,8 G=4.068 60
0,1 40 5
20 10 80
0,6
Fator de correção

5 10 20

1 40 a 50
0,4

1,6 G=339 e 2.712 kg/m2.s


0,1 a 1
1,4
5
5
Título (%)
40 40
1,2 10 a 20
60
G=339 1
0,1
1,0 80 60
80
100
0,8 0,1
80 1
60 5
G=2.712 0,1 40
20 10, 80
0,6 10 5
20
1
40 a 60
0,4
10 -4
10 -3
10 -2 10-1 1
2
Índice de propriedades, r
Figura 5.13 Fator de correção do multiplicador bifásico, LO
2
, de Baroczi.

● Armand – Treshev

Armand e Treshev realizaram investigações com água a diversas pressões,


obtendo uma correlação bastante simples entre  e β, sobre a qual já se fizeram,
comentários quando da apresentação do modelo de Bankoff. Os resultados
levantados por Armand e Treshev lhes permitiram obter correlações para o
multiplicador bifásico, LO
2
. São elas:

(a)   0,9

1  x 
1,75

  0,5   2
 (5.44)
1   
LO 1,2

 0,45  x 
1,75

  0,5   2
 (5.45)
1   
LO n

onde n  1,9  1,48X103 p (p em bar)

(b)   0,9

 0,0025p  0,055 
 1  x 
1,75
LO
2
 (5.46)
1  
1,75
 
JMSJ 5-22

Relembrando, a relação entre  e  obtida por Armand-Treshev é a seguinte:

   0,833  0,05lnp   (p em bar) (5.47)

COMENTÁRIOS FINAIS
O material apresentado neste capítulo teve por objetivo introduzir os
conceitos fundamentais do procedimento de avaliação da perda de carga em
escoamentos bifásicos do tipo líquido-gás. Por se tratarem de notas introdutórias ao
assunto, deu-se preferência aos modelos de Martinelli e colaboradores, os quais
foram os precursores de modelos ainda em uso generalizado. O conceito dos
multiplicadores bifásicos, introduzido por Martinelli, não encontrou substituto
adequado, sendo por isso mantido como meio de correlacionar os efeitos de atrito.
A maioria dos resultados encontrados na literatura envolve o efeito do atrito
para misturas água-vapor, devido à aplicação que essas misturas encontram tanto
na indústria como na área nuclear. Para outros fluidos, podem ser consultadas
referências associadas a cada aplicação específica. Assim, por exemplo, na
Indústria de Refrigeração são bem conhecidos os trabalhos de Bo-Pierre com
misturas refrigerantes halogenados-óleo, importantes na avaliação da perda de
carga em evaporadores frigoríficos. O mesmo poderia se dizer na Indústria do Papel,
onde um problema importante é o dos evaporadores concentradores de lixívia.
Literatura especializada pode ser encontrada para esse problema específico.
Entretanto, na maioria dos casos, os resultados são correlacionados em termos dos
parâmetros de Martinelli, o que demonstra a importância dos conceitos
fundamentais, razão pela qual eles foram apresentados com realce neste capítulo.
A seguir é apresentado um exemplo numérico de aplicação, envolvendo a
evaporação da água em um tubo vertical. O exemplo é importante por apresentar
resultados obtidos de diversos modelos e correlações, além de desenvolver o
procedimento de cálculo da perda de pressão em um evaporador.

EXEMPLO DE APLICAÇÃO (Extraído do livro de J.G.Collier: “Convective Boiling


and Condensation, McGraw-Hill Book Co., 2ª. Edição, 1981).

Um tubo de um evaporador vertical apresenta um diâmetro de 10,16 mm e


comprimento de 3,66 m, sendo aquecido uniformemente ao longo de seu
comprimento. Deseja-se estimar a queda de pressão no tubo em função da vazão
de água, que é introduzida a 204ºC e 68,9 bar. A taxa total de transferência de calor
é de 100 kW e a vazão de água de 0,108 kg/s. Considere os seguintes modelos para
efeito de comparação:
(a) o modelo homogêneo
(b) o modelo de Martinelli-Nelson
(c) a correlação de Thom
(d) a correlação de Baroczi
(e) a correlação de Armand-Treshev

Solução

(I) Determinação da queda de pressão na região monofásica

(1) Variação de Entalpia no tubo


JMSJ 5-23

Potência Fornecida 100


i    925 kJ / kg
m 0,108
(2) Determinação do comprimento monofásico, LSR, no qual a água é
subresfriada em média.

Na seção em que se inicia a mudança de fase, i  iL , logo,

LSR iL  iLe
 , onde iLe = entalpia da água na entrada.
L i
iL  1.260 kJ / kg (p  58,9bar, líquido saturado)
iLe  872 kJ / kg (p  68,9bar, T  204C)
1,26  0,872
LSR  3,66x  1,54m
0,925

(3) Determinação do título na saída, xs

is  entalpia média na seção de saída  iLe  i  2.132 kJ/ kg

Como is  il  xilv , então,

is  il
x
ilv

onde ilv é a entalpia de evaporação a 68,9 bar, igual a 1.510 kJ/kg

2,132  1,26
x  0,356
1,51

(4) Queda de pressão na região de líquido subresfriado (escoamento


monofásico)
Uma correlação do tipo Blausius, para tubos lisos será utilizada na
determinação do Coeficiente de Atrito, Cf.

Cf  0,079Re0,25

O número de Reynolds depende de propriedades (ρ, ) que são sensíveis a


variações da temperatura. Na secção onde a água escoa como líquido subresfriado,
a temperatura varia de 204º.C (entrada) até 285º.C (T SAT correspondente a p = 68,9
bar).
Nessas condições:
JMSJ 5-24

T  204o C   1,35x10 4 Pa.s; v L  1,165x10 3 m3 / kg


Re  1,00x10 5 ; Cf  0,0046
T  285o C   0,972x10 4 Pa.s; v L  1,35x10 3 m3 / kg
Re  1,40x10 5 ; Cf  0,0044
VD GD
Re 

 
m 4m 4x0,108
G   2
 1335 kg / s.m2
A D 2
3,14x10,16x10
Admitiremos, então, um valor de Cf médio na secção, Cf = 0,0045, o mesmo
ocorrendo com o volume específico do líquido, vL = 1,255x10-3 m3/kg.

  V2  2Cf G2 v L
( p)atrito  2Cf  L m  LSR  LSR 
 D  D
2
2x0,0045x1335 x1,255x10 3 x1,54
( p)atrito   3,06 kPa
10,16x103
O efeito da aceleração (lembre-se, houve uma variação da densidade não
desprezível) pode ser avaliado como:

m m  m  m2
( p)aceleração  ( V)     (v)  G2 ( v)
A A  A  A 2
2
( p)aceleração  1335 x103 (1,35  1,165)  0,330 kPa

Resta determinar o efeito da gravidade.

9,81x1,58
( p)gravidade  gLSR / vL   12,05 kPa
1,255x103
O volume específico médio foi adotado na expressão acima.

(II) Determinação da queda de pressão na região bifásica

(II.1) Modelo de Escoamento Homogêneo

Neste caso, tudo se passa como se a mistura bifásica se comportasse como


um pseudo-fluido de propriedades intermediárias entre as do líquido e aquelas do
vapor (gás).

dp 2C G2 v
( )atrito   f 
dz D
2
L 2C G
( p)atrito   f
vdz
LSR D
Admitindo que Cf seja constante e dado por uma expressão do tipo Blausius,

0,25
0,25  GD 
Cf  K Re K  ; K=0,079
 B 
B
JMSJ 5-25

Diversas expressões foram sugeridas para B , como sugerido


anteriormente. Independente da expressão escolhida, admitiremos que B é
constante no trecho bifásico.

(1) B  l (T  285º C)  0,972X104 Pa.s  Cf  0,0046

l  0,972x104 Pa.s
1 x 1 x
(2)    v  1,89x105 Pa.s
B  v l
B  3,953x105 Pa.s (x  0,356)

(3) B  xv +(1-x)l B  6,93x105 Pa.s (x  0,356)

 v  v lv  2,65x102 m3 / kg (T=285oC)
(4) B  l 1  lv x 
 vl  B  7,73x104 Pa.s (x=0,356)

B   v  (1  )l
(5) QV QV / v V  v V   v V   mV 
     v  m 
Q Q / v  v    

v l  1,35x10 3 m3 / kg
xv v
 v lv  2,65x10 2 m3 / kg
v l  xv lv
v v  2,785x10 2 m3 / kg

0,356x2,785x102
  0,919
1,35x103  0,356x2,65x10 2

B  0,919x1,89x105  (1  0,919)x0,972x104  2,524x105 Pa.s

Voltando à expressão da queda de pressão por atrito,

2Cf G2 L
( p)atrito 
D LSR
v dz

como v  vl  xvlv e, considerenado que o fluxo de calor é uniforme, de forma que


z = Cx, então, a integração acima pode ser realizada, resultando:

2Cf G2  v  x 
( p)atrito  v l (L  LSR ) 1  lv  l  
D  vl  2 

2x13352 x1,35x103  2,65x102 0,356 


( p)atrito  (3,66  1,58) 1  x  Cf 
10,16x103  1,35x10
3
2 
( p)atrito  4,5x103 Cf kPa

Podemos, então, levantar a seguinte tabela:


JMSJ 5-26

Equação B(Pa.s) ReBx10-5 Cf Cf ( p)atrito


B (x= xL) (x=xL) (kPa)
(1) 0,972x10-4 1,40 0,0041 0,0041 18,45
(2) 3,953x10-5 3,45 0,0033 0,0037 16,65
(3) 6,93x10-5 1,96 0,0038 0,00395 17,55
(4) 7,73x10-4 0,175 0,0069 0,0055 24,75
(5) 2,25x10-5 5,38 0,0029 0,0035 15,75

O valor médio do coeficiente de atrito no trecho bifásico, C f foi estabelecido


através da média:

Cf  [Cf (x  xL )  Cf (x  0)] / 2
0,25
 GD 
Cf (x  0)  0,079    0,0041
 L 
O efeito da aceleração pode ser determinado pela seguinte expressão:

( p)aceleração  G2 v  G2 [v l  xl v lv  v l ]  G2 t lv lv 
( p)aceleração  13352 x0,356x2,65x102  16,7 kPa

Para o efeito de gravidade devemos integrar:

L xL dx
( p)gravidade   [V  (1  )L ]gdz  gC
LSR 0 v l  xv lv

onde C é a constante de proporcionalidade entre x e z, isto é:


Z  Cx  C  L / xL z = Ct

g(L  LSR )  v 
( p)gravidade  ln  1  lv xl 
v lv xl  vl 

9,8x2,12  2,65x102 
( p)gravidade  ln  1  0,356x 
2,65x102 x0,356  1,35x103 

( p)Gravidade  4,58 kPa


(II.2) Modelo de Martinelli-Nelson
O efeito do atrito pode ser determinado pela avaliação do parâmetro r3.

1 xL
r3   LO
2
dx
xL 0

Da Fig. 5.10, para p = 68,9 bar e xL= 0,356, podemos obter LO
2
 7,0 , de modo que,

2CfLOG2
( p)atrito  v L (L  LSR )r3 
D
2x0,0041x13352
 3
x1,35x103 x7,0x2,12 
10,16x10
JMSJ 5-27

( p)atrito  28,8 kPa

O efeito de aceleração pode ser avaliado pela Eq.(5.41).

( p)aceleração  G2 vLr2

Da Fig.5.11, para p= 68,9 bar e xL = 0,356, obtemos: r2 = 4,50, de modo que

( p)aceleração  13552 x1,35x103 x4,50

( p)aceleração  10,83 kPa

O efeito da gravidade é algo mais complexo, envolvendo integração


numérica de valores obtidos na Fig.5.9, para p = 68,9 bar. A razão para tal
procedimento está relacionada com a avaliação da integral:

L
( p)gravidade   [V  (1  )L ]g dz 
LSR

g(L  LSR ) xL vL

v L xL 0
[(1-)+(
vV
)]dx 

A integração pode ser realizada por um


procedimento numérico, tirando-se os valores de
 da Fig.5.9 correspondente a valores de x
igualmente espaçados, como indicado ao lado. p=68,9 bar
Nessas condições,

1 xL vL x x x

x
[(1  )  ( )]dx  0,38 
xL 0 vV
9,8x2,12x0,38
(p)gravidade   5,85 kPa
1,35x103

(II.3) Correlação de Thom

Efeito do atrito (Tabela 5.3) r3 = 4,5 (interpolado 68,9 bar)


Efeito da aceleração (Tabela 5.3) r2 = 5,5 (interpolado 68,9 bar)

2CfLOG2 v L (L  LSR )
( p)atrito  r3 
D
2x0,0041x13352 x1,35x10 3 x2,12
( p)atrito  x4,5
10,16x103
( p)atrito  18,5 kPa

( p)aceleração  G2 v Lr2  13352 x(1,35x103 )x5,5


( p)aceleração  13,24 kPa

No caso do efeito gravitacional, do mesmo modo que no modelo de


Martinelli-Nelson, a seguinte integral debe ser avaliada:
JMSJ 5-28

1 xL vL
xL 
0
[(1  )  (
vV
)]dx

Adotando a sugestão de Collier sobre a relação entre  e x:

Mx
 onde M = 12,2 para p = 68,9 bar
1  x M  1

a integral pode ser calculada, resultando igual a 0,37, com o que

9,8x2,12x0,37
(p)gravidade 
1,35x103
(p)gravidade  5,69 kPa

(II.4) Correlações de Baroczi


As curvas da Fig. 5.12 fornecem valores de LO 2
em função de x, para um
2
dado valor do índice de propriedades, 1/r que, no caso é constante e igual a:

0,2 0,2
1  L   vL   0,972x104   1,35x103 
    5   2 
 0,0673
r 2  V   v V   1,89x10   2,785x10 
O procedimento consiste em levantar os valores de LO
2
correspondentes a
1 xL
 LO dx  r3 possa ser avaliada. O procedimento
2
cada x, de modo que a integral
xL 0

é ilustrado na Fig. 5.14.


L0

L0
2

x4

x3
xL


2
x2 L0 dx
0
x1

0.0673 r2 x1 x2 xL x

xL
1
r3  
2
L0 dx
xL 0

Figura 5.14 Procedimento para a determinação de r3 pelo modelo de Baroczi.

O valor de r3 assim obtido é igual a 5,75. As curvas da Fig.5.12 foram levantadas


para G =1.356 kg/s.m2. Como a velocidade mássica do problema é muito próxima
JMSJ 5-29

daquele valor, não é necessário corrigir os valores de LO 2


. Caso contrário, LO
2
da
Fig. 5.12 deveria ser corrigido pelo “fator de correção” da Fig. 5.13, de modo que

1
 Fator de correção  1.356  dx
xL
r3  2
LO
xL 0

Nessas condições,

( p)atrito  23,7 kPa

Os outros efeitos são admitidos iguais àqueles obtidos para o modelo de


Martinelli-Nelson.

(II.5) Modelo de Armand-Treshev


De acordo com esse modelo, a relação entre LO 2
e “  ” e “x” varia com a
fração volumétrica. No caso, como vimos anteriormente, a fração volumétrica na
saída do evaporador é de 0,919 > 0,9, logo, as Eqs. (5.44), (5.45) e (5.46) devem ser
utilizadas. Observe que a relação entre  e β é dada pela Eq. (5.47):

   0,833  0,05lnp  
   0,833  0,05ln69,9    1,045
Por outro lado,
x vv x
 
v l  xv lv v v
( l )  x( lv )
vv vv

1,045x x
 
4,847x10  0,952 4,638x10-2
-2
 0,911
x
O problema, no caso do efeito do atrito é o de avaliar o parâmetro r3, como
nos modelos precedentes.

1 xL
r3   LO
2
dx
xL 0

Como nos casos anteriores, adotaremos a integração numérica, a qual pode ser
facilmente realizada levantando a tabela abaixo.

x   LO
2
LO
2
x Observações
0 0 0 1 0,0500 Eq.(5.45) (n=2,0)
0,05 0,544 0,520 1,978 0,0989 “
0,10 0,727 0,696 5,021 0,0251 “
0,15 0,820 0,784 10,45 0,5225 “
0,20 0,875 0,837 19,49 0,9745 “
0,25 0,912 0,873 35,12 1,7560 “
0,30 0,938 0,898 6,846 0,3423 Eq.(5.46)
0,35 0,956 0,917 8,331 0,050 Eq.(5.46); x = 0,006
0,356 0,960 0,919 8,555 Eq.(5.46)
  3,819
JMSJ 5-30

3,819
r3 
0,356

patrito  44,1 kPa

O valor obtido para o efeito do atrito é algo elevado em relação aos demais
modelos. Dois fatores podem ter contribuído para tanto: o procedimento de
integração numérico adotado e o fato da Eq. (5.45) proporcionar valore de LO 2
relativamente elevados no seu limite de aplicação,   0,9 .
No caso dos efeitos de aceleração, a seguinte expressão poderá ser
utilizada:

 x 2  v  1  x 2 
 p aceleração  G v   V  
2 L
 1 
   v L  1    

2  0,3562  2,785X10 2  1  0,356 2 


 1.335 X1.23X10 3   3 
  1 
 0,960  1,25X10  1  0,960  

 p aceleração  29,1 kPa


Para a avaliação dos efeitos gravitacionais, a seguinte expressão será novamente
utilizada:

g L  LSR   1  xL   vL  
 p gravidade     1        dx
vL  x  0   vV  
Como nos casos anteriores, a integração da equação será numérica, de
forma que é necessário desenvolver a tabela abaixo.

x  vL   x
  1   
vV
0 0 1 0,05
0,05 0,544 0,4823 0,02412
0,10 0,727 0,3082 0,01541
0,15 0,820 0,2197 0,01099
0,20 0,875 0,1674 0,08637
0,25 0,912 0,1322 0,00661
0,30 0,938 0,1075 0,00538
0,35 0,956 0,09034 0,000542
0,356 0,960 0,08654   0,1214

1
xL
  vL   0,1214
xL  1      v   dx 
V    0,356
 0,341
0 
 p gravidade  5,25 kPa
Os resultados para os distintos modelos podem ser resumidos na tabela
abaixo. Verifica-se que o modelo de Armand-Treshev proporciona valores elevados
para os efeitos de atrito e aceleração. Tais valores estão relacionados com altos
valores de  na saída do evaporador resultantes do modelo. Assim, enquanto o
JMSJ 5-31

modelo de Martinelli-Nelson proporciona uma fração de vazio da ordem de 0,83,


para x=0,356, o valor resultante do modelo de Armand-Treshev é igual a 0,960. Essa
diferença no valor de  é a responsável pelas significativas diferenças observadas
nos efeitos de atrito e aceleração entre o modelo de Armand-Treshev e os demais.
Nessas condições, a utilização das correlações propostas por esses autores é
questionável. De um modo geral, para aplicações envolvendo água, os modelos de
Thom e de Martinelli-Nelson proporcionam resultados satisfatórios. Deve se
observar que, para velocidades mássicas, G, elevadas, o modelo homogêneo
representa uma opção satisfatória, levando-se em conta a simplicidade de cálculo e
os resultados proporcionados.

Modelo Homogêneo
(1) (2) (3) (4) (5) M-N T B A-T
 p atrito 18,45 16,65 17,55 24,75 15,75 28,8 18,5 23,7 44,1
[kPa]
 p aceleração 16,70 16,70 16,70 16,70 16,70 10,83 13,24 10,83 29,1
[kPa]
 p gravidade 4,58 4,58 4,58 4,58 4,58 5,85 5,69 5,85 5,25
[kPa]
 p bifásico 39,7 37,9 38,8 46,0 37,0 45,5 37,4 40,4 78,5
[kPa]
 p total 55,1 56,6 54,2 61,4 52,4 60,9 52,8 55,8 93,9
[kPa]
M-N:Martinelli-Nelson; T: Thom; B: Baroczi; A-T: Armand-Treshev
JMSJ 5-32

EXEMPLO 2
Refrigerante R-134a escoa no interior de um tubo horizontal de 10 mm de diâmetro e
comprimento de 2 m. O refrigerante entra no tubo em estado saturado de título 20%
e temperatura de 5°C. A velocidade mássica do refrigerante é de 300 kg/sm 2 e o
fluxo de calor é uniforme e igual a 10 kW/m2, por tratar-se de aquecimento
proporcionado por uma resistência elétrica uniformemente distribuída pela superfície
exterior do tubo. Pede-se fazer uma análise da perda de carga do refrigerante no
seu escoamento pelo tubo.

Refrigerante

D=10 mm
R-134a

L=2000 mm

Figura 5.15 Escoamento do refrigerante R-134a em um tubo com fluxo de calor


uniforme.

Solução
As propriedades de transporte do refrigerante serão avaliadas à temperatura
de saturação da entrada, i. e., Tsat  5C . Uma solução mais realista seria
determiná-las a uma temperatura média na seção. É importante lembrar que,
embora o problema trate da mudança de fase do refrigerante R-134a, a temperatura
do refrigerante não se manterá constante na seção em virtude da perda de carga.
Esta, entretanto, será admitida de uma ordem tal que não afete significativamente as
propriedades. A rigor, o problema deveria ser resolvido utilizando inicialmente a
temperatura da entrada e uma vez a perda de carga tendo sido determinada, as
propriedades seriam re-avaliadas à temperatura média na seção, procedendo-se a
determinar a perda de carga resultante das propriedades corrigidas. A convergência
do processo é rápida, de modo que, no máximo, são necessárias 2 iterações. O
valor das propriedades de transporte é o seguinte:

 v  h
kg / m 
3
m / kg
3
Pa.s kJ / kg
Líquido 1278 7,823X10−4 2,494X10−4 58,59
Vapor 17,12 0,0584 1,111X10−5 253,4

(1) Determinação do título de saída


A Conservação de Energia aplicada ao refrigerante resulta na seguinte
expressão:

 DL    m is  ie  (A)

 
onde m  G D2 / 4 e  o fluxo de calor específico (kW/m2). Como se admite que
haja equilíbrio termodinâmico, ou, em outras palavras, que o calor transferido ao
refrigerante seja integralmente convertido na mudança de fase, as entalpias do
JMSJ 5-33

refrigerante nas seções de entrada e de saída do tubo podem ser determinadas


pelas seguintes expressões conhecidas da termodinâmica elementar:

is  il  xsilv
ie  il  xeilv

onde os índices “s” e “e” se referem às seções de saída e entrada, o índice “l” ao
estado de líquido saturado e “lv” á entalpia de vaporização ou de mudança de fase.
Substituindo as expressões das entalpias na Eq. (A) e rearranjando os termos,
resulta:

4L
xs  xe  (B)
GDilv

Substituindo os valores numéricos dos parâmetros:

4X10X2
x s  0,20   0,3369
300X0,01X194,8

(2) Perda devido à aceleração


Como no tubo em questão não se dá a evaporação total do líquido, o efeito
de aceleração se reduz à seguinte expressão (ver Exemplo 3.1):

 x2 1  x s    x e2
2
1  xe   
2
 s 
 p aceleração  G  2
    (C)
   l 1  s    v e l 1  e   
 v s   
Percebe-se que a o efeito da aceleração depende da fração de vazio nas
seções de entrada e saída, razão pela qual uma expressão que relacione o título
com a fração de vazio é necessária. Neste exemplo serão consideradas as
seguintes expressões:

1
 (D)
   1 x 
1  v   S
 l  x 
1
 2/3
 Correlação de Zivi (E)
   1 x 
1  v   x 
 l   
“S” é a denominada “razão de deslizamento”, dada pela relação entre as velocidades
da fase vapor (gás) e da fase líquido. Observe-se que o modelo homogêneo
corresponde a S=1 na Eq. (D). Introduzindo os valores dos parâmetros nas
respectivas equações, resultam os seguintes valores para a fração de vazio:

S= 1 2 3 4 5
Eq. (D)/entrada 0,9491 0,9032 0,8615 0,8235 0,7887
Eq. (E)/entrada 0,8159 0,8159 0,8159 0,8159 0,8159
Eq. (D)/saída 0,9743 0,9499 0,9267 0,9046 0,8835
Eq. (E)/saída 0,9001 0,9001 0,9001 0,9001 0,9001
JMSJ 5-34

Na tabela acima, observa-se que, para um mesmo título, a fração de vazio


diminui com a razão de deslizamento, S. Um argumento para tal comportamento
pode ser encontrado na Eq. (4.42), resultante do modelo de Zuber e Findlay.
Observa-se que, aumentando o deslizamento entre as fases, a fração de vazio
diminui, mantendo os demais parâmetros constantes, como no caso presente. Sob o
ponto de vista físico, não é difícil perceber que, mantendo o título e as propriedades
das fases constantes, um incremento do deslizamento deve corresponder a uma
redução da área de escoamento da fase gás, o que implica numa redução da fração
de vazio. Por outro lado, pode se perceber que a correlação de Zivi não é sensível
ao deslizamento entre as fases, o que a torna questionável para determinadas
condições operacionais. Em todo caso, é uma correlação que tem sido amplamente
utilizada em problemas de condensação pela simplicidade e relativa precisão. Na
solução do problema, dado que não há informação sobre o deslizamento, adotar-se-
á S=1, correspondendo ao modelo homogêneo. Sugere-se que o leitor utilize outras
correlações da literatura entre a fração de vazio e o título para efeito de comparação
com a presente solução.
Introduzindo os valores numéricos dos parâmetros da Eq. (C), o efeito da
aceleração da mistura bifásica em virtude da mudança de fase pode ser obtido,
resultando:

 p 
aceleração Eq.(D)  709,9 Pa

 p 
aceleração Zivi  470,1 Pa
A fração de vazio exerce uma significativa influência sobre os efeitos da
aceleração, como se observa nos resultados acima. O modelo de Zivi proporciona
valores inferiores em virtude de proporcionar frações de vazio inferiores, embora a
variação da fração de vazio ao longo do tubo seja algo superior àquela da Eq. (D).

(3) Perda devido ao atrito


Na solução do problema se utilizará o multiplicador bifásico L0
2
, definido na
Eq. (5.17). Nessas condições,

 dp  2  dp 
 dz   L0  dz 
 atrito  monofásico
Introduzindo a Eq. (5.18) para o escoamento monofásico, resulta:

 dp  2  2K   G 
2-n

   L0    n+1 n  
 dz atrito  l   D l 
 2K   G2-n  L 2
 p atrito     n+1 n   L0dz (F)
 l   D l  0
Como o fluxo de calor específico é constante ao longo do tubo, a coordenada “z” se
relaciona linearmente com o título, “x”, como se demonstra a seguir:

 D   dz   milv  dx  
dz milv dz L
  cosn tan te  Integrando  
dx  D   dx x s  x e
JMSJ 5-35

Assim, introduzindo a relação acima na Eq. (F), resulta:

 2K   G2-n   L  L 2
 p atrito  
  n+1 n     L0 dx (G)
 l   D l   x s  x e  0
L0
2
depende do título, de forma que a Eq. (G) deveria ser integrada ao longo da
faixa de títulos que se verificam no escoamento do refrigerante pelo tubo. Como o
título varia pouco no presente problema, para efeito de simplificação do
procedimento, poderia ser admitida uma variação linear do multiplicador bifásico,
como ilustrado na Fig. 5.16. Nessas condições, a Eq. (G) pode ser simplificada
resultando:

 2K   G2-nL  2
 p atrito       p 
  n+1 n  L0  
2

 l   D l 
m monofásico L0 m

(H)
 2K   G2-nL 
 p monofásico     n+1 n 
 l   D l 
2
 
onde L0
m
é o valor do multiplicador bifásico correspondente ao título médio no
tubo, isto é, xm  0,5  xe  xs   0,2684 .
Para a determinação do multiplicador bifásico serão considerados dois
modelos: o homogêneo e o de Lockhart e Martinelli. O expoente “n” e a constante
“K” da Eq. (H) serão admitidos como sendo aqueles da correlação de Blasius:
n  0,25; K  0,079 , de forma que a componente monofásica da Eq. (H) pode ser
calculada, resultando:

 2K   G2-nL 
 monofásico    n+1 n
p    212,4 Pa
 l   D l 

(a) Modelo homogêneo


O multiplicador bifásico é expresso pela Eq. (5.22):

n
 
 
2
LO m
v
( B )  L 
vL  B 
(I)

Resta ainda definir os valores das propriedades correspondentes à mistura


bifásica, v B e B . O volume específico é definido de acordo com a noção
termodinâmica:

vB  vl  xmvlv  0,01625 m3 / kg
JMSJ 5-36

L0
2

 
2
L0 s

 
2
L0 m

 
2
L0 e

xe xm xs x

Figura 5.16 Variação linear do multiplicador bifásico.

Com relação à viscosidade, como se observou anteriormente, há várias


propostas na literatura. Nesta solução serão consideradas duas

1
B   3,693X105 Pa.s  modelo homogêneo 1
xm 1  xm

v l
B  xmv  1  xm  l  1,855X104 Pa.s  modelo homogêneo 2

Substituindo os valores dos parâmetros bifásicos na Eq. (I), resulta:

 
2
LO m  12,89  modelo homogêneo 1

 
2
LO m  19,29  modelo homogêneo 2

A componente do atrito na perda de carga pode ser assim determinada.

 p atrito   p monofásico  L02 m  212,4X12,89  2737 Pa  modelo homogêneo 1


 p atrito   p monofásico  L02 m  212,4X19,29  4098 Pa  modelo homogêneo 2

(b) Modelo de Lockhart e Martinelli

Neste caso se aplica a Eq. (5.30) para o multiplicador L2  m

 
2
L m  1
C 1

X X2
O valor de C depende dos regimes das fases vapor e líquido escoando isoladamente
no tubo.
JMSJ 5-37

GD G 1  xm  D
Rel  l
  8799  turbulento
l l
GvD GxmD
Rev    72437  turbulento
v v
0,9 0,5 0,1
 1  x m    v   l 
X  Xtt         0,3894 
Eq.(6.21b)
 xm   l    v 

 
L2  1 
m
C 1
 2  1
Xtt Xtt
20

0,3894 0,38942
1
 58,95

 
2
L0 m 
Eq.(5.19b)
   1  x 
2
L m m
2 n
 34,11

 patrito   p   
monofásico
2
L0 m  212,4X34,11  7247 Pa

(4) Resumo e totalização


A tabela abaixo resume os resultados totalizados.

 p atrito
[Pa]
LM H1 H2
7247 2737 4098
 p aceleração
[Pa]
Eq. (D) 709,9 709,9 709,9
Zivi 470,1 470,1 470,1
Totais
[Pa]
Eq. (D) 7957 3447 4808
Zivi 7718 3208 4568
JMSJ 4-1

4 MODELOS CINEMÁTICOS
Os modelos cinemáticos resultam de esforços de modelagem do escoamento
bifásico, tendo aparecido na década de 60. São denominados de cinemáticos
porque relacionam as velocidades das fases, sem introduzir qualquer relação
dinâmica. Na realidade, eles resolvem o problema do movimento relativo. Alguns
dependem da obtenção de resultados experimentais. A utilidade deles foi
extraordinária, uma vez que permitiram a abordagem de problemas bifásicos de uma
maneira relativamente simples, sem necessidade de resolver ou lidar com equações
de campo complexas. Se, juntamente com o modelo cinemático, for proposto um
modelo térmico, como, por exemplo, a hipótese de equilíbrio termodinâmico segundo
a qual Tv = Tl = TSAT, então o problema bifásico está resolvido. Acontece que, em
determinados problemas, como por exemplo durante um acidente tipo LOCA em um
reator nuclear, a interação entre fases é de tal ordem que os modelos cinemáticos
não são mais válidos. Daí a necessidade de operar com as equações de campo
associadas a relações topológicas (das quais tivemos oportunidade de falar
brevemente durante a introdução).
No desenvolvimento dos modelos cinemáticos seguiremos a ordem sugerida
por Delhaye.

O MODELO HOMOGÊNEO
É o modelo mais simples, de acordo com o qual a mistura se comporta como
um pseudofluido. Como ilustrado na Fig. 4.1, admite-se, sem maiores explicações,
que:

VG  VL  constantes na seção transversal (4.1)

É muito comum a utilização do modelo,


VG  VL referindo-se somente à condição de igualdade de
velocidades das fases. A condição de que as
velocidades são uniformes na seção é implícita.
Nessas condições:

Figura 4.1 Velocidade das fases


no modelo homogêneo.

 VG > 2   VL > 2 (4.2)

A vazão volumétrica das fases será dada por:

QG  ARG  VG   A  G VG > 2 
(4.3)
 A VG  G > 2  A VG
As duas barras sobre as velocidades podem ser eliminadas, de modo que,
JMSJ 4-2

QG  AVG (4.4)

QL  1    AVL (4.5)

A fração volumétrica será dada pela seguinte expressão:

QG AVG
 = 
QG  QL AVG  AVL 1   
 (4.6)
Posteriormente veremos que a relação (4.6) não se verifica
experimentalmente (como seria de esperar!). A relação, entretanto, é importante,
uma vez que relaciona “  ” com um parâmetro mensurável, “β”. Por outro lado, a
relação entre “  ” e “x”, também muito importante, resulta imediatamente.

GG GQG G  Q
x   
G GQG  L QL G  Q  L (1  )Q
G  1
x  (4.7)
G   L (1  ) 1  (L / G ) (1/   1)

A Eq. (4.7) é geral. Se, entretanto, introduzirmos a Eq. (4.6), resulta:

1
x (4.8)
1  (L / G ) (1/   1)

Uma equação do tipo da Eq.(4.8) era absolutamente almejada na década de


60. Entre outras coisas, ela permitiria calcular os efeitos da gravidade na perda de
carga e estabelecer balanços térmicos nos evaporadores.
As equações de campo para a mistura assumem a mesma forma que as do
escoamento monofásico. A Equação da Quantidade de Movimento, por exemplo,
ficaria:

V V p P
  V   g . nZ - p (4.9)
t Z Z A
onde P é o perímetro e A a área da seção transversal.
A Equação do 1º. Princípio poderia ser facilmente obtida através de um
“balanço” em um trecho elementar de duto, como indicado na Fig. 4.2, desprezando
a energia cinética.
  W / m2 

    d 
h h  dh 
V  V  dV 

dz
Figura 4.2 Volume de controle elementar para a equação da conservação da
energia.

Pdz  (  d)(h  dh)(V  dV)  Vh A, onde “”, “V” e “h” variam ao longo
do duto e A é admitida constante. Desprezando infinitésimos de ordem superior:
JMSJ 4-3

P
dZ = Vh  Vdh  Vhd  hdV  Vh  d(Vh) 
A
d
(Vh)  P / A (4.10)
dz
 se refere à mistura, assim como h. Se, ainda, admitirmos que ocorre equilíbrio
térmico,

TG =TL = TSAT (4.11)

Na equação (4.9) restou por determinar o termo de atrito, p . Este é


determinado pelo mesmo procedimento que em escoamento monofásico. Assim,
define-se um coeficiente de atrito, Cf como:

p
Cf  (4.12)
V 2 / 2
O coeficiente assim definido denomina-se de Coeficiente de Atrito de Fanning.
Nessas condições,

 P   V   P   dp 
2
p     .     
 A   2   A   dz atrito
Se o duto for de seção circular,

 dp 
  dz 
 atrito

D

2Cf
V 2  (4.13)

O valor de Cf pode ser encontrado em qualquer livro de Mecânica dos


Fluidos. Assim, por exemplo, em tubos lisos, para ReD  105, o coeficiente pode ser
determinado com boa precisão por relações do tipo Blausius:

Cf  CReDn (4.14)
O problema agora é a determinação do Reynolds da mistura, isto é

VD
ReD  (4.15)

onde  e  se referem à mistura. Já tínhamos visto anteriormente que:

  G  (1  )L (4.16)

Mas, e quanto a ? Esse é o problema. Diversas correlações podem ser


encontradas na literatura, cada uma resultando de ajustes a dados experimentais.
As correlações propostas variam desde aquelas que admitem simplesmente que
  L até as que assumem a seguinte forma:

1 x 1 x
  (4.17)
 G L
JMSJ 4-4

onde, para x  0    L e para x  1    G . Outra correlação, devida a Dukler,


assume a seguinte forma:

  1    L  G (4.18)

Dukler propôs que, juntamente com a expressão para a viscosidade da mistura, se


utilizasse a seguinte expressão para o coeficiente de atrito:

Cf  0,0014  0,125ReD0,32 (4.19)

O MODELO DE BANKOFF (“Variable Density Model”)


Este modelo foi proposto por Bankoff no início da década de 60. Ele
representa uma significativa melhora em relação ao homogêneo no sentido em que
admite uma distribuição de velocidades na seção, embora o movimento de
deslizamento entre as fases seja ainda desprezado. Apesar de sua simplicidade, o
modelo de Bankoff correlaciona razoavelmente alguns resultados experimentais. O
modelo se apóia em duas hipóteses básicas:

1/ m
y
(1) VG  VL    Vc (4.20)
R

G
1/ n
y
(2) =   (4.21)
  G c  R 
Observe que “y” é a coordenada a partir da parede do tubo, cujo raio é R. Os
parâmetros com índice “c” se referem à condição no eixo do tubo. Os perfis de
velocidade e de frações locais são admitidos simétricos em relação ao eixo do tubo.
A configuração abaixo ilustra o modelo.

VG  VL

Figura 4.3 Distribuição de velocidades para o modelo de Bankoff.

Outros parâmetros do modelo podem, então, ser calculados.

R
QG  A  G VG    A
G VGdA   G (r)VG (r)2rdr
0

Através de uma mudança de variável, y  R  r , e considerando as


distribuições do modelo, a integral acima pode ser determinada, resultando:
JMSJ 4-5

2Vc (G )c R2
QG  (4.22)
(1/ n  1/ m  1)(1/ n  1/ m  2)

Analogamente, se QL for determinado:

 1 (G )c 
QL  2VcR2    (4.23)
 (1/ m  1)(1/ m  2) (1/ m  1/ n  1)(1/ m  1/ n  2) 
De modo que a fração volumétrica pode ser determinada

(G)c (1/ m  1)(1/ m  2) QG


  (4.24)
(1/ n  1/ m  1)(1/ n  1/ m  2) QG  QL

A relação (4.24) para o cálculo de  pode ser ainda relacionada com fração
de vazio  G  2 , de acordo com o seguinte procedimento:

1/ n
1 1 y
2 R  y  dy 
R
 G  2 
A A
GdA 
R2 0
(G )c  
R
2(G )c
 G  2  RG   (4.25)
(1/ n  1)(1/ n  2)
Assim,

  K (4.26)
onde

2(m+n+mn)(m+n+2mn)
K= (4.27)
(m+1)(2m+1)(n+1)(2n+1)
Verifica-se, portanto, que “  ”, depende de “  ” através de uma relação
simples, Eq. (4.26), onde K depende da forma das distribuições de velocidade e de
frações locais. O parâmetro K varia de 0,6 a 1 para m entre 2 e 7 e de n entre 0,1 e
0,7. Em outras palavras, K não é muito sensível às distribuições de VG e G . O tipo
de relação representado pela Eq.(4.26) foi também observado por outros autores,
principalmente os russos. Eles, a exemplo de Bankoff, propuseram relações do tipo
Eq. (4.26), mas com coeficiente K sendo uma função exclusiva da pressão. Algumas
relações da literatura são:

K  0,71  0,00145p  (p em bar)  Bankoff (4.28)

K  0,833  0,05lnp  (p em bar)  Armand  Treshev (4.29)


Observe-se que, embora o modelo, isto é a Eq. (4.26), represente “bem” os
resultados experimentais sob um ponto de vista formal, isso não quer dizer que suas
hipóteses sejam razoáveis. Na realidade, poucas foram (até os dias de hoje) as
experiências em que os dois parâmetros (VG e G ) foram medidos
simultaneamente. Além disso, a não existência de deslizamento só seria fisicamente
aceitável para altas vazões de líquido em escoamento em bolhas (por exemplo, JL
maior que 3 m/s).
JMSJ 4-6

Algum leitor atento pode estar se perguntando o que se obteve de importante


através da relação do tipo   K . Para avaliar isso, consideremos experiências em
que água e ar escoam no interior de um tubo. Se os dois fluidos forem introduzidos
separadamente, suas vazões poderão ser determinadas através de medidores
individuais (para cada fase). Com isso, o valor de “  ” pode ser determinado, do que
resultará “  ”, sem necessidade de medí-lo diretamente. Por outro lado, o
conhecimento da relação entre “  ” e “  ” determina completamente os parâmetros
do escoamento bifásico. Assim, a relação “  ” e “x” passa a ser conhecida, uma vez
que:

QG mG / G x mG / G
  
QG  QL mG / G  mL / L x mG / G  (1  x) mL / L

onde foi admitido que G e L são constantes na seção. Daí resulta:


1 K
  (4.30)
1
1  x   G  1
1  x   G 
   
x  L  x  L 

Com isso, todas as relações importantes ficam perfeitamente determinadas.

O MODELO DE DESLIZAMENTO DE WALLIS


Nos dois modelos cinemáticos anteriores, o deslizamento entre as fases foi
desprezado. Em outras palavras, a mistura escoava sem movimento relativo. O
modelo de Wallis é justamente uma tentativa de contornar o problema do movimento
relativo entre as fases. Basicamente, Wallis propõe:

VG  constante na seção
VL  constante na seção
de modo que o escoamento tenha a configuração indicada na Fig. 4.4.

VG

VL

Figura 4.4 Distribuição de velocidades de acordo com o modelo de Wallis.

QG  A   G VG  2  AVG
QL  A  L VL  2  A 1    VL
JGJ   1    VGL    VG  J 
1    VGL  VG  J
JMSJ 4-7

Por outro lado,

QG Q J
VG    (4.32)
A A 
Introduzindo a Eq.(4.32) na Eq. (4.31), resulta

J
(1  )VGL  J 


= (4.33)
1+
1-  VGL
J
onde VGL  VG  VL  velocidade relativa.
Nesta altura, seria interessante verificar como evoluiu a relação entre “  ”e
“  ”.
    Modelo Hom ogêneo
  K  Modelo de Bankoff, K  K p 

=  Modelo de Wallis
(1-)VGL
1+
J
Neste último, observa-se que o movimento relativo entre as fases passa a
ser importante. Entretanto, continua havendo o problema da determinação de VGL .
Wallis resolveu esse problema admitindo um escoamento em que os efeitos
gravitacionais fossem preponderantes, sem a ocorrência de mudança de fase.
Nessas condições, desde que se desprezem os efeitos de atrito com a parede do
tubo, verifica-se que as forças de interação entre as fases dependem
exclusivamente de , L , G e g . Logo, o movimento relativo entre as fases deve ser
função daqueles parâmetros. Nessas condições

JGJ  f(, L , G ) (4.34)

Por outro lado,

JGJ  1    JG  JL ( (4.35)

O valor de JGJ deve variar à medida que se muda o valor de “  ” de acordo


com as seguintes condições limites:

0 JGJ  0
 1 JGJ  0

Logo, é razoável admitir que JGJ aumente até um valor máximo a partir de
  0 , para novamente diminuir até 0, para   1 . A curva da Fig. 4.5 ilustra uma
possível variação de JGJ , correspondente à Eq. (4.34)
JMSJ 4-8

JGJ

Eq. (4.34)

1 
Figura 4.5 Curva característica da variação de JGJ com  .

O problema agora reside em determinar em que ponto da curva um sistema


opera quando, por exemplo, são dadas QG e QL ,
ou
Q Q
JG  G e JL  L
A A
Nesse caso, a Eq.(4.35) pode ser utilizada. Essa equação fornece a relação
JGJ  f() para dados JG e JL . Logo, combinando as Eqs.(4.34) e (4.35), o valor de
“  ” correspondente ao ponto de operação pode ser determinado. Graficamente, é
fácil verificar o procedimento, como se ilustra na Fig. 4.6.

Eq. (4.34)
JGJ Ponto de
operação Eq. (4.35)

J
 JGJ operação
G
O

1
  operação 
JL

Figura 4.6 Procedimento gráfico de determinação do ponto de operação, de acordo


com Wallis.

Observe-se que, variando JG e JL , o ponto de operação pode mudar, como


indicado no diagrama da Fig. 4.7, onde o JG é fixo e JL é variável.
JMSJ 4-9

Região sem
solução
  JL 4  JL*
Tangente
JGJ

Líquido: mesmo Líquido: em sentido


O4

sentido que o gás oposto ao do gás


Eq. (4.35)

JG O3
Eq. (4.34)
O2
O’3
  JL 3
O1

1

  JL 2
  JL 1

Figura 4.7 Representação gráfica dos efeitos da variação de JG e JL , de acordo


com Wallis.

A figura acima merece uma interpretação física detalhada. Os “pontos de


operação” O1, O2,... correspondem a situações em que, a partir de uma dada JL1 ,
para um dado valor constante JG , a vazão de líquido é progressivamente reduzida.
Os pontos de operação O1 e O2 correspondem ao líquido escoando no mesmo
sentido que o gás. Entretanto, para uma vazão de líquido correspondente a JL3 , o
líquido escoa em sentido oposto àquele do gás, por exemplo, o gás ascendendo e o
líquido caindo ao longo da tubulação. Nessas condições, duas são as soluções
possíveis: (03, 0´3). Essas soluções podem ocorrer ao longo de uma mesma
tubulação. A cerveja em um copo é um exemplo típico, onde a espuma
corresponderia à solução O’3 e o “líquido” inferior à O3. Se a vazão de líquido
aumentar, uma situação correspondente à vazão JL* pode ocorrer. Nestas
condições, a reta é tangente à curva JGJ () no ponto O5. Essa situação representa
uma condição limite. Se a vazão de líquido for superior a JL* , o problema não admite
solução. Na realidade, o que ocorre é que, a partir de JL* , não é possível uma
configuração de escoamento em que o líquido escoa na direção descendente e o
gás na ascendente. Uma vez atingida JL* , a configuração deverá mudar, de modo
que as duas fases escoem no mesmo sentido, que, no caso presente, é o
descendente.
Através da análise de numerosos resultados experimentais, envolvendo tanto
misturas líquido-gás como suspensões sólidas, Wallis concluiu que a função JGJ ()
deve se caracterizar pela seguinte expressão:

(JGJ / V )   1   
n
(4.36)

onde V é a velocidade terminal de uma bolha (por exemplo) em um meio líquido


infinito. O valor de “n” mais adequado foi 2. Dispondo da Eq.(4.36) não é difícil
determinar a condição limite (de tangência), correspondente a JL* . Observe-se ainda
que, para n=2,

VGL  V 1    (4.37)
JMSJ 4-10

indicando que a velocidade relativa entre as fases depende da concentração.


Quando   0 , a velocidade relativa tende à velocidade terminal, V, o que parece
razoável. Por outro lado, à medida que a concentração da fase gasosa aumenta, a
velocidade relativa tende a diminuir como resultado da interação entre as partículas.
Essa tendência se verifica experimentalmente.

O MODELO DE ZUBER E FINDLAY

Neste caso, trata-se o problema de uma forma generalizada. O tratamento


geral, entretanto, introduz alguns parâmetros que devem, em princípio, ser
determinados empiricamente. Assim, definem-se médias ponderadas pela fração
instantânea local do gás,  G . Como já tínhamos introduzido outras médias
anteriormente, fica difícil estabelecer uma notação. Assim, adotaremoss o símbolo
“~” para a média ponderada por  G , definida como:

 GF  2  GF 
F  (4.38)
 G  2 RG

onde o índice 2 fica suprimido no que segue, uma vez que fica subentendido a
média referida à seção. F é uma propriedade local.
Zuber e Findlay definiram ainda o “parâmetro de distribuição”, Co, como
sendo dado pela seguinte expressão:

 G j  2  G j 
Co   (4.39)
 G  2  j  2 RG J

onde, recordando as convenções de notação do Capítulo 1, “j” é o fluxo volumétrico


local da mistura, tal que:

j  jG  jL

De forma geral, “j” é um vetor, que, no caso presente, somente se considera a sua
componente na direção do escoamento em virtude de tratar-se de escoamento em
dutos.

VGj  VG  j  Velocidade local de deslizamento do gás

A velocidade de deslizamento pode ser correlacionada como indicado a seguir.

VGj  VG  G VG  1    VL  1  G  VGL (4.40)

Por outro lado,

G VGj  G VG  G j (4.41)

Se determinarmos a média para a seção transversal dessa expressão,

 G VGj    G VG    G j 

Introduzindo as definições de média ponderada por  G e de Co , resulta:


JMSJ 4-11

 G  VGj   jG   Co  G   j 
 JG  J

Logo,
JG
  G 

Co J  VGj

Como da definição de  , JG  J , então,


 (4.42)
Co  VGj / J

A expressão acima é geral, de forma que, aplicando as condições dos


modelos anteriores, ela se transforma nas relações anteriormente obtidas. Assim,

● Modelo Homogêneo: VG  VL  constante na seção . Nesse caso, Co  1 .

VGj  VLj J  VG  VL

   VGj  VG  J  0 (não há deslizamento)

● Modelo de Bankoff

VG  VL  f(r) como não há deslizamento VGj  0


 1
logo,   Co 
Co K

● Modelo de Wallis

VG  constante na seção, VG  VL
VL e VL  constante na seção
G  constante na seção

Como jG e jL são constantes na seção,

 G j 
Co  1
 G   j 

VGj  G VGL  VGj  1  G   VGL porque VGj é constante na seção.


 que é a expressão obtida por Wallis.
1  (1  )VGL / J
Zuber e Findlay sugeriram correlacionar os resultados experimentais em
gráficos do tipo:

JG /   f  J
JMSJ 4-12

Mas, JG /  = VGj  Co J

Logo, se Co e VGj forem constantes, a relação entre JG /  e J é uma reta, como se


mostra na Fig. 4.8. O coeficiente angular representa o parâmetro de distribuição, Co .
Assim, uma reta formando 45º com os eixos coordenados representaria um
escoamento homogêneo. Note-se ainda que JG /  é a velocidade média ponderada
do gás, uma vez que

JG  G VG 
  VG
  G  JG / 

tan     C0

J
Figura 4.8 Relação entre JG /  e J, ilustrando Co como coeficiente angular.

No gráfico acima, a mudança de inclinação da reta indicaria uma mudança


no regime de escoamento. Esse gráfico pode ser utilizado na obtenção experimental
de VGj e Co . O procedimento é o seguinte:

(1) Conhecendo-se a vazão de gás (fácil de medir em experiência com ar-água,


por exemplo).
(2) Medindo-se 
(3) Conhecendo-se J [vale a observação feita em (1)], o gráfico JG /  vs J pode
ser levantado.
JG / 

Pontos
experimentais

Coeficiente angular  Co
VGj
extrapolado

J
Figura 4.9 Procedimento gráfico para a determinação de velocidade de
deslizamento média.
JMSJ 4-13

É evidente que a variações de regime de escoamento corresponderão


mudanças em Co e VGj . Os gráficos acima são interessantes para correlacionar os
resultados em situações onde não ocorrem mudanças de fase.
Um meio simples para interpretar os valores de Co é admitir que  G e j
variem de acordo com determinadas funções simétricas em relação ao eixo do tubo
como as seguintes:

m
j r
 1   e
jc R
G   GP
n
r
 1  
GC   GP R
onde GP é fração local instantânea do gás junto à parede
GC é a fração local instantânea do gás no eixo do tubo
jc é o fluxo volumétrico na direção do escoamento no eixo do tubo

Aplicando a definição de Co , resulta:

2  GP 
Co  1  1   ou
mn2  G  
m  2   GC   n  
Co  1  
m  n  2        m  2  

Vejamos agora o comportamento de Co .

(1) Se G é uniforme na seção GP  GC    G  


n  1  Co  1 como seria de esperar.
(2) Se a concentração na região do eixo do tubo é maior que na região da
parede, isto é, GC  GP , então Co  1 porque GP    G   e da 1ª
expressão resulta que o termo entre colchetes é positivo.
(3) Por outro lado, quando GC  GP  GP    G    o termo entre
colchetes é negativo  Co  1 .

Exemplo de Aplicação: O Modelo de Levy

Consideremos a Equação da Quantidade de Movimento para ambas as


fases:

Gás
● d  Ap G  pdA G  FPG  FI  dMGgsen  mGdVG  mGL VG  mGL VL (4.43)

Líquido
● d(pAL )  pdAL  FPL  FI  (dML )gsen  mLdVL (4.44)
JMSJ 4-14

- Subtraindo a Eq.(4.43) da (4.44), o efeito da pressão pode ser eliminado,


resultando

dML dMG
 FPL  FI  / A L  gsen  gsen  FPG  FI  / A G 
AL AL
1
 mL dVL / A L  mGdVG   dmG  VG   dmL  VL 
AG 

 dp 
Se (FPL  FI ) / AL    dz  efeito do atrito no líquido
 dz atritoL
 dp 
(FPG  FI ) / A G     dz  efeito do atrito no gás
 dz atritoG
Se fizermos:

 d   dp 
 dz    dz   L gsen
 L  atritoL
 d   dp 
 dz    dz   Ggsen
 G  atritoG
Quanto ao 2º membro

1  
 mL dVL / AL  mL dVL / A G   mGdVG  VGdmG  VL  dmL  mL dV 
somado
A G  subtraído

 A  AG  1
 mL dVL  L  mG VG  mL VL  
 AL A G  A G
1  AmL 
  dVL  d(mG VG  mL VL ) 
A G  AL 

1   G 1  x  

  dVL  d  xGVG  1  x  GVL   
 1 
AG / A  

 1  x   mL
G    mG   mL   
  d   d x    1  x     
 1     L AL
    G A G   L AL   


 1  x   1   1  x 
G2  x2 1  x    
2

     
1     L   1     G L 1     
d d



G2 
 1  1  x    x2  1 x 
2 2

  d     d   
  2L  1    
  G L 1     

G2  1  1  x  1 x 
2 2
x2
 d    
  2L  1    G L 1    
 
Assim,
G2 d  1 1  x  
2 2
 d   d   1 x  x2

 dz   dz     
 1      1  (4.45)
 L  G  dz  2L
   G L   
JMSJ 4-15

Pode-se argumentar que, em escoamento horizontal-adiabático, o 1º.


membro deve ser nulo, isto é, como os efeitos gravitacionais são nulos, os efeitos de
atrito em cada uma das fases devem ser semelhantes, a fim de que a pressão se
mantenha uniforme na seção. Assim, Levy argumenta que, em casos onde haja
evaporação, se esta não for intensa, isto é, for simplesmente uma perturbação do
caso adiabático, então o 1º. membro da Eq.(4.45) poderia ser também aproximado a
zero. Nessas condições:

d  1  1 x  1 x 
2 2
x2
   0
dz  2L  1    G L 1    
 
ou
1  x 
2 2
1  1 x  x2
 1        1    cons tan te

2L   G L  
1
Como para   0 x  0  constante  
2L

Com isso, a relação entre  e x pode ser determinada.

NOMENCLATURA

A − área [m2]
Cf − coeficiente de atrito de Fanning
Co − parâmetro de distribuição de Zuber e Findlay
D − diâmetro do duto [m]
g − aceleração da gravidade [m/s2]
G − velocidade mássica [kg/m2.s]
h − entalpia específica [J/kg]
jG − fluxo volumétrico local da fase gás [m/s]
JG − velocidade superficial do gás [m/s]
JGJ − fluxo de deslizamento da fase gás [m/s]
jL − fluxo volumétrico local da fase líquida [m/s]
JL − velocidade superficial do líquido [m/s]
K − fator na relação entre  e  ,   K
m ou m − vazão ou vazão média [kg/s]
m − expoente nos modelos de Bankoff ou de Zuber e Findlay
n − expoente nos modelos de Bankoff ou de Zuber e Findlay
P − perímetro da seção transversal [m]
p − pressão [Pa]
Q − vazão volumétrica [m3/s]
r − coordenada radial
R − raio do duto [m]
ReD − número de Reynolds referido ao diâmetro do duto
RG − fração espacial instantânea da fase gás
V − velocidade terminal de uma bolha em meio infinito [m/s]
VG − velocidade da fase gás em geral [m/s]
JMSJ 4-16

VGj − velocidade de deslizamento [m/s]


VGL − velocidade relativa entre as fases [m/s]
VL − velocidade da fase líquida em geral [m/s]
x − título

 − fração de vazio
 G − fração local da fase gás
L − fração local da fase líquida
 − fração volumétrica da fase gás
 − viscosidade dinâmica em geral ou da mistura [Pa.s]
G − viscosidade dinâmica da fase gás [Pa.s]
L − viscosidade dinâmica da fase líquida [Pa.s]
p − tensão de cisalhamento n parede do duto [Pa]
 − parâmetro definido no modelo de Levy relacionado à perda de pressão e a
efeitos gravitacionais [Pa]

REFERÊNCIAS

Armand, A. A. e Treshev, G. G., 1947, “Investigation of the resistance during the


movement of vapor-water mixtures in a heate boilier tube at high pressure,”
apud Collier, J. G. e Thome, J. R., “Convective boiling and condensation,”
Oxford Science Publications, 3ª edição, 1999,
Bankoff, S. G., 1960, “A variable density single-fluid model of two-phase flow with
particular reference to steam-water flow,” Journal of Heat Transfer, series C
ASME, Vol. 82, p.453.
Zuber, N. e Findlay, J. A., 1965, „Average volumetric concentration in two-phase flow
systems,“ Journal of Heat Transfer, Series C ASME, novembro/1965, pp 453
– 468.
Wallis, B. G., 1969, “One-dimensional two-phase flow,” McGraw-Hill Book Co.
JMSJ 6-1

6 EBULIÇÃO NUCLEADA
PARTE I − INTRODUÇÃO À NUCLEAÇÃO HOMOGÊNEA
Quando o problema da mudança de fase é abordado em cursos elementares
de termodinâmica, considera-se que esta tenha início em um estado como o B da
Fig. 6.1 (a). Se, por exemplo, calor for adicionado ao sistema, uma sucessão de
estados de equilíbrio entre B e C ocorrerá, até que todo o líquido tenha sido
totalmente evaporado e o sistema se encontre no estado C.

T constante
PC

Curva binodal
p constante
PC
T [°C]

p [kPa]
A B

A B

3
s [kJ/kg.K] v [m /kg]
(a) (b)

Figura 6.1 (a) Gráfico da mudança de fase a pressão constante em equilíbrio


estável em diagrama (T, s); (b) curva binodal em diagrama (p, v).

Na realidade, o processo da mudança de fase por aquecimento não ocorre


exatamente como acima sugerido. Os estados entre A e B acima indicados são
estados de “equilíbrio estável” do sistema, que raramente ocorrem na prática. Na
verdade, o vapor só poderá ser formado em alguns pontos de uma superfície
aquecida (no caso de nucleação heterogênea) ou no seio do líquido (também em
pontos denominados de “núcleos energéticos” ou “embriões”, no caso da nucleação
homogênea). Em ambos os casos, o líquido na região é superaquecido e o sistema
se encontra em um estado de equilíbrio metaestável, como se mostra no gráfico da
Fig. 6.2, na sucessão de estados entre os estados limite A e C. Observe-se que
nesses estados, o líquido é superaquecido. .O estado C representa o limite de
existência da fase líquido. Além do ponto C, a fase líquido não pode existir. Os
estados entre B e D são os equivalentes para a fase vapor, sendo constituídos de
vapor subresfriado.
O lugar geométrico dos estados limite de existência das fases é a
denominada curva espinodal. Observe-se ainda, que a curva A C D B tem a
característica de um gás de van der Waals. Na realidade, a curva espinodal poderia
ser obtida através de uma equação de estado do tipo daquela do gás de van der
Waals. A equação de van der Waals assume a seguinte forma:
JMSJ 6-2

T constante
PC

Curva binodal

p [kPa]
A B

C Curva espinodal

3
v [m /kg]

Figura 6.2 As curvas binodal e espinodal e os estados de equilíbrio metaestável


associados à formação de vapor (ebulição) e de líquido (condensação).

 a 
 p  Tn v 2   v  b   RT (6.1)
 
onde “R” é a constante de gás e “v” o volume específico. As constantes “a” e “b”
podem ser determinadas através do estado crítico, para o qual:

 p    2p 
 v    2  0
 T  v T
A Eq.(6.1) pode ser escrita como:

 3  1 8
  n 2     
    3 3

onde   p / pc ;   T / Tc ;   v / v c são as denominadas propriedades reduzidas,


referidas às suas correspondentes críticas.
Ao longo da curva espinodal,

 p 
 v   0  condição de ponto extremo, mínimo ou máximo
 T
Nessas condições

 3  1
2
n 1
  (6.2)
43
E

onde E é a temperatura reduzida correspondente à linha espinodal. Assim, para um


dado valor de , o valor correspondente da temperatura sobre a linha espinodal, E ,
resulta da equação (6.2), determinando, assim, o estado limite. A pressão
correspondente a esse ”estado limite” pode ser obtida da Eq. (6.1).
Observe-se que, para n = 0, a Eq.(6.1) é a própria equação de van der Waals, ao
passo que, para n = 1, a equação se transforma na de Berthelot. Resultados
experimentais sobre o limite de existência da fase líquida têm mostrado que, para
JMSJ 6-3

uma dada pressão, a temperatura é superior àquela resultante da equação de van


der Waals e inferior à de Berthelot, como se mostra no gráfico da fig 6.3.

n=0,5
Berthelot
n=1

van der Waals


n=0

Resultados experimentais

Figura 6.3 Gáfico da temperatura reduzida em função da pressão reduzida para os


estados límite de existência da fase líquido de acordo com os modelos
de van der Waals e de Berthelot.

Os resultados experimentais são melhor representados por n = 0,5.


A solução do problema do limite termodinâmico de existência das fases não
resolve o problema que nos propomos resolver, qual seja, determinação do início da
mudança de fase em um sistema. O que segue é uma introdução a esse problema.

NUCLEAÇÃO HOMOGÊNEA
A nucleação homogênea se dá no seio do líquido (ou do vapor) na ausência
de materiais estranhos. Ela ocorre por flutuações energéticas do líquido (ou vapor).
Estatisticamente é possível que grupos de moléculas de elevada energia se
acumulem para formar um embrião de vapor. É claro que a formação de um único
núcleo energético, por exemplo, em uma hora, não acarretaria uma mudança de
fase. Por outro lado, a formação de 1020 núcleos/s cm3 implicaria em uma formação
explosiva de vapor. Assim, um aspecto importante na mudança de fase por
nucleação homogênea é a cinética de formação de núcleos energéticos (embriões
ou pequenas bolhas de vapor). Mas, antes de atacar a cinética, seria interessante
investigar as condições de equilíbrio.
Considere-se um meio líquido infinito num estado caracterizado pela
temperatura e pressão, respectivamente, iguais a TL e pL. Se um núcleo de vapor se
fizer presente nesse líquido, define-se “Energia de Formação” desse núcleo ao
trabalho reversível e isotérmico necessário para sua formação, em outras palavras,
ao aumento da disponibilidade (propriedade termodiâmica) do sistema. A
disponibilidade do sistema nas condições da Fig. 6.4 é dada pela seguinte
expressão, dado que a disponibilidade é uma propriedade extensiva:

A  A L  A G  AI

onde os índices “L”, “G” e I” designam as fases líquido e vapor e a interface,


respectivamente.
JMSJ 6-4

Líquido
pL, TL

pG, TG

r
Núcleo

Figura 6.4 Meio líquido infinito contendo um núcleo esférico de vapor.

A disponibilidade da fase líquido é dada por:

AL  mL uL  T0sL  p0 vL 

Como o meio é o próprio líquido,

T0  TL e p0  pL

Logo,

AL  mL gL

onde gL é a energia livre de Gibbs ou potencial químico da fase líquido.

A G  mG  uG  TL sG  pL v G   mG uG  TGsG  pG v G   pL  pG  v GmG 


A G  mGgG  mG v G pG  pL   mG v G  G 
A G  mGgG  G pG  pL 

Para uma interface sem massa,

A   4r 2 u  TL s 

Na equação acima, as propriedades se referem à unidade de área.


Como TL  TG  T , então

A   4r 2 Energia livre de Helmltz por unidade de área

Como a Energia Livre de Helmoltz por unidade de área é a própria tensão


superficial, 

A   4r 2

A disponibilidade inicial do sistema, num estado em que só há líquido, é dada


pela seguinte expressão:

A  mgL  mG  mL  gL

Logo,
JMSJ 6-5

A  mL gL  mGgG  mG pG  pL  v G  4r 2  mL  mG  gL 


4 3
A  mG  gG  gL  r pG  pL   4r 2
3 (6.3)
A  Energia de formação da fase gás

Observe-se que quando r  0 A  0 . A cresce à medida que se eleva o valor


do raio, até um valor máximo que ocorre quando o raio assume um valor crítico, r,
como se mostra no gráfico da Fig. 6.5.
A

Figura 6.5 Variação da Energia de Formação, A , com o raio do núcleo.

O valor máximo da disponibilidade ocorre em uma situação de equilíbrio, para a


qual:

● TG  TL (6.4a)

condição de equilíbrio térmico anteriormente, hipótese anteriormente feita.

2
● pG  pL  (6.4b)
r
que corresponde à condição mecânica de equilíbrio, equação de Laplace.

● gG pG ,TL   gL  pL ,TL  (6.4c)

que corresponde à condição de equilíbrio químico (não há transferência de massa


entre as fases), caracterizada pela igualdade dos potenciais químicos das fases.
Observe-se que, no equilíbrio,

dA  0
As Eqs. (6.4a), (6.4b) e (6.4c) representam as condições de equilíbrio líquido-vapor.
Observe-se que, à medida que se eleva o raio de curvatura, pG  pL . Assim, para
uma interface plana

TG  TL pG  pL gG pL ,TL   gL pL ,TL  (6.5)

As condições (6.5) são aquelas válidas para estados como A e B dos


gráficos das Figs. 6.1 e 6.2, isto é, representam condições de equilíbrio estável.
Um aspecto interessante da curva da energia de formação acima é que, à medida
que se aproxima do limite termodinâmico de existência da fase líquida, a energia de
JMSJ 6-6

formação, considerada como o máximo da curva A = f(r), diminui. Por outro lado, à
medida que nos afastamos daquele limite, a energia de formação aumenta até se
atingir o estado B, de equilíbrio estável. Acima desse ponto (um estado de líquido
comprimido ou subresfriado) a energia de formação seria infinita, o que fisicamente
equivale à não possibilidade de equilíbrio entre as fases vapor e líquido. O gráfico da
Fig. 6.6 ilustra essa tendência.
A

pressão

r
Figura 6.6 Variação da curva A  f r  para distintas pressões.

A esta altura seria interessante voltar às condições de equilíbrio Eqs. (6.4). A


condição mecânica, equação de Laplace, Eq. (6.4b), pode ser extraída de um
balanço de forças na interface (basta lembrar da equação da quantidade de
movimento para a interface, considerando a existência de equilíbrio). A seguir se
examinará a igualdade de potenciais químicos das fases.

gG pG ,TL   gL pL ,TL 

como a temperatura se mantém constante, resulta

g  u  pv  Ts  dg  du  pdv  vdp  Tds  sdT


Introduzindo o primeiro princípio, Tds  du  pdv , resulta:

dh  vdp  sdT  dgT  vdp (6.6)

Seja psat  psat  TL  a pressão de saturação à temperatura do sistema, isto é,


a pressão do sistema para uma interface plana, condição de equilíbrio estável,
estado em que gG psat ,TL   gL psat ,TL  . Para determinar gG basta integrar a
Eq.(6.6):

pG pG


psat
dgG   vdp
psat

Admitindo (o que normalmente é verdade) que pG não seja muito diferente de pSAT,
de modo que vG possa ser admitido constante, resulta:

gG pG,TL   gG psat ,TL   v G pG  psat  


JMSJ 6-7

gG pG,TL   gG psat ,TL   v G pG  psat  (6.7)

Procedendo do mesmo modo para o líquido

gL pL ,TL   gL psat ,TL   vL pL  psat  (6.8)

É interessante insistir em que:

gG pG ,TL   gL pL ,TL  e


gG psat ,TL   gL psat ,TL 

do que resulta:

v G pG  psat   vL pL  psat  (6.9)

v G  pG  psat   vL pL  pG   pG  psat   


2
pG  psat  v G  vL    vL 
r*
2 / r *
pG  psat   (6.10)
v G / vL  1

Para o líquido

2 / r *
pL  psat   (6.11)
1  vL / v G

As equações (6.10) e (6.11) mostram que, em condições de equilíbrio líquido-vapor,


como v G  vL , tanto o líquido quanto o vapor devem estar superaquecidos, uma vez
que tanto pG  psat  quanto pL  psat  são negativos. Nessas condições, o líquido
deve estar em um estado de equilíbrio metaestável. Seria interessante avaliar o
superaquecimento do vapor e do líquido. Para isso, basta aplicar a equação de
Clapeyron:

 dp  iLV iLV dT
 dT   Tv dp= (6.12)
 sat LV vLV T
A Eq.(6.12), de Clapeyron, indica quanto deve variar a temperatura de saturação
para um dado aumento da pressão. Admitindo que a variação da pressão não seja
significativa, iLV e vLV podem ser admitidos constantes. Assim, integrando, resulta:

iLV  T2 
p2  p1   ln  
vLV  T1 

Por outro lado,

Expansão em série
T    T 
ln  2   ln 1   1  2     1  T2 / T1   1  T2 / T1   ...
2

 T1    T1  
JMSJ 6-8

Utilizando a hipótese de que p é pequeno, os termos de expoentes superiores a 1


devem também tornar-se pequenos, de modo que podem ser desprezados,
resultando:

 T2  T1  iLV
p2  p1   
T1 vLV

vLV
T  T1  p  (6.13)
iLV

T é a elevação da temperatura de saturação em virtude do aumento da pressão.


Voltando agora às Eqs. (6.10) e (6.11), o superaquecimento do vapor e do líquido
pode ser determinado introduzindo a Eq. (6.13) (observe-se que no presente texto
utiliza-se indistintamente o índice G e v para o vapor).

pG  psat   T G  
 2 / r *  vL (6.14)
iLV / TL

pL  psat   T L  
 2 / r *  v G (6.15)
iLV / TL

Observa-se que:

(1)  T G  Tsat pG   TL psat 


(2)  T L  Tsat pL   TL pSAT  → superaquecimento do líquido.

(3) A baixas pressões reduzidas v G vL , de modo que:

Tsat pG   TL  pG  psat  TL 

Graficamente, pode-se interpretar melhor as tendências sugeridas acima, como se


ilustra no gráfico da Fig. 6.7.

Curva de equilíbrio estável


(interface plana)
psat
pG Estado do vapor
 T G
pL Estado do líquido

L V

Ponto triplo Tsat(pL) TL T


Tsat(pG)
 T L

Figura 6.7 Estados do líquido e do vapor em um núcleo de vapor em equilíbrio no


diagrama de fases.

Em termos práticos, como  T G é muito pequeno, o gráfico da Fig. 6.7


pode ser aproximado pelo da Fig. 6.8 (a). Na fig. 6.8 (b) se indica de forma
JMSJ 6-9

esquemática o lugar geométrico dos estados limite de existência das fases no


diagrama de fases.

p p
Limite de existência
Curva de equilíbrio estável da fase vapor Curva de equilíbrio estável
(interface plana)
psat Limite de existência
Estado do vapor L da fase líquido

L V
pL Estado do líquido
V

Ponto triplo Tsat(pL) TL T T

(a) (b)

Figura 6.8 (a) Estados do líquido e do vapor; (b) curvas de limite de existência das
fases.

Diversas teorias têm abordado a dinâmica da formação de núcleos


energéticos. Estas notas não são o contexto adequado para uma análise em
profundidade daquelas teorias. Como ilustração, os resultados do modelo de Katz e
Blender são discutidos a seguir. Segundo aqueles autores, a taxa de formação de
núcleos por unidade de volume, J [núcleos/s.cm3], pode ser obtida pela seguinte
expressão:

 2    1,182x105 3 
J  3,73x1035  L3  exp   (6.16)
M B   T( p)2 

onde: J = [núcleos/s.cm3]
T = Temperatura do meio líquido [K]
p = pv – pL (atm)
M = massa molecular [kg/kgmol]
ΡL = densidade do líquido [g/cm3]
 = tensão superficial [erg/cm2]
B = constante  2/3
É interessante observar neste ponto que J representa a formação de núcleos
energéticos viáveis. Resta agora a interpretação da Eq.(6.16), ou em outras
palavras, conhecer o procedimento de utilização daquela equação. Considere-se o
caso em que a temperatura da fase metaestável (o líquido) é conhecida. Nessas
condições, o procedimento é o seguinte:

(1) determinar as propriedades: , ρL que dependem de T;


(2) determinar p através da fórmula transformada de Clausius-Clapeyron,
Eq.(6.13);
(3) calcular J através da Eq.(6.16).
Como exemplo de aplicação, se considerará o Refrigerante 22 à pressão
atmosférica. A temperatura de saturação (equilíbrio estável) do R-22 é de
aproximadamente −40º.C. Em condições de nucleação homogênea, quando o R-22
líquido deve se encontrar em um estado superaquecido, os resultados indicados na
Tabela 6.1 resultam da aplicação do modelo de Katz e Blander. O tempo de espera
indicado na tabela corresponde àquele necessário para a formação de um núcleo
crítico em 1cm3. Observe-se que, para uma temperatura do R-22 líquido de 50º C, o
tempo de espera é da ordem de 16 anos, isto é, não deve haver formação de vapor.
JMSJ 6-10

Por outro lado, é importante lembrar que o líquido se encontra a uma


temperatura de 90º C superior àquela em que mudaria de fase em equilíbrio estável,
ou seja, aquela para a qual as tabelas de vapor são levantadas. O problema é
análogo àquele da garrafa de cerveja colocada no congelador. A cerveja permanece
no estado líquido até que a garrafa é removida, quando ocorre a solidificação.
Nessas condições, a cerveja líquida se encontrava a uma temperatura inferior à de
solidificação.

Tabela 6.1 Taxa de formação de núcleos em R-22 à pressçao atmosférica.


Temperatura do J Tempo de Espera,
Líquido [cm-3s-1] 1/JV [1cm3]
[ºC]
50 1,88 x 10-12 16,857 anos
52 5,52 x 10-3 3 min.
54 1,33 x 106 1 x 10-6 seg
56 7,96 x 1010 1 x 10-11 seg
58 1,75 x 1016 6 x 10-17 seg

Retornando à tabela, observa-se que pequenas variações de temperatura


causam variações significativas do valor de J e, portanto, do tempo de espera.
Assim, à temperatura de 54º C (4ºC acima daquela em que o tempo de espera é da
ordem de 16 anos) o tempo de espera passa a ser da ordem de 1s (10-6seg). A
58º.C, o tempo de espera é tão pequeno que pode se antever uma formação
explosiva de vapor se aquela temperatura for realmente atingida. Normalmente,
admite-se como condição para formação de vapor um valor de J igual a 1 x
106.núcleos/cm3s, o que corresponde a um tempo de espera da ordem de 10-6s.
Assim, para o R-22, a temperatura de mudança de fase à pressão atmosférica, em
condições de nucleação homogênea, é de 54ºC aproximadamente. É interessante
observar que a condição expressa por essa temperatura é aquela de limite de
existência da fase líquida. Para obter essa temperatura, basta impor o valor de J
igual a 1 x 106.núcleos/cm3s e da Eq.(6.16) obter o valor da temperatura que
causaria tal produção de núcleos críticos. A Tabela 6.2 ilustra as temperaturas limite
de existência da fase líquido de acordo com o modelo de Katz e Blander para
distintas substâncias.

Tabela 6.2 Temperatura limite de existência da fase líquido para distintas


substâncias de cordo com o modelo de katz e Blander.

Temperatura limite de existência da fase líquida


Substância [oK]
Teoria (J = 1 x 106) Medida
etano 269,7 269,2
propano 328,5 326,2
n-butano 378,3 376,9
2-metilpropano 372,4 370,0

PARTE II − NUCLEAÇÃO HETEROGÊNEA


A mudança de fase, como sugerido anteriormente através da Nucleação
Homogênea, não é o processo que normalmente se encontra nas aplicações. A
razão é que, neste caso, a mudança de fase não é um processo que depende
estritamente das condições termodinâmicas, uma vez que agentes externos passam
a interferir no processo. Tal é o caso da ebulição do R-22 sobre superfícies
JMSJ 6-11

aquecidas, onde duas diferenças fundamentais em relação ao processo acima


descrito (Nucleação Homogênea) são observadas.

(1) a formação de bolhas se dá nas superfícies aquecidas,


(2) não se observam temperaturas tão elevadas na mudança de fase.
O superaquecimento do líquido para a formação das primeiras bolhas é da
ordem de 10º.C, um valor sensivelmente menor que 90º.C, obtido na nucleação
homogênea. Por que essa diferença de comportamento na mudança de fase? A
seguir, pretende-se desenvolver argumentos que justifiquem tal diferença. Para
tanto, é necessário investigar o efeito da parede, ou, de uma maneira mais ampla, o
efeito de elementos estranhos na formação de vapor no seio de um líquido. Na
realidade, esses elementos estranhos operam como nucleadores de vapor. Antes de
investigar tais efeitos, seria interessante considerar como as distintas interfaces de
separação das fases participam no processo. A Fig. 6.9 ilustra a configuração de
gotas e bolhas junto a uma parede. Se pelo ponto A, que representa a linha de
“contato” entre as três interfaces (L-S, S-V e L-V) na figura, passarmos a tangente à
interface L-V, fica definido o ângulo , como ilustrado na figura. A esse ângulo se
denomina de “ângulo de contato”. Dependendo do valor do ângulo , convenciona-
se atribuir a seguinte nomenclatura:

● Se    / 2  o líquido "molha" a superfície, (b) e (c)


● Se    / 2  o líquido "não molha" a superfície, (a) e (d)
V L

L
 V

(a) (b)

V
L

 L V

(c) (d)

Figura 6.9 Configurações distintas de bolhas e gotas junto à superfície de um sólido

Considere-se, agora, a Fig. 6.10, em que uma bolha esférica repousa


simetricamente sobre uma superfície em que a linha de contato das três interfaces é
A-B. A situação ilustrada na figura corresponde ao caso em que o líquido molha a
superfície. Sob condições de equilíbrio, as forças de tensão superficial resultantes
das interfaces L-V, S-V e L-S devem obedecer à seguinte relação:

L V cos   SL  SV 

S V  S L
cos   (6.17)
L  V
JMSJ 6-12

r L  V

 

r-h
V  S  V
S L
B A
r1

Figura 6.10 Uma bolha esférica numa parede e as forças de tensão superficial
resultantes dos contatos S-L, L-V e S-V.

Anteriormente havia sido observado que, para a formação de um núcleo


crítico, a energia de formação associada se compunha de uma parcela
correspondente ao trabalho das forças de tensão superficial e outra ao trabalho de
expansão (do tipo  pd ). O trabalho relacionado às forças de tensão superficial
neste caso é dado por:

W  L V AL V  (S V  SL )AS V (6.18)

onde

AL V  4r 2  2rh h=r(1-cos) (6.19)

A S V  r12  2rh r1 =rsen


L  V  

Se as relações (6.19) e a Eq.(6.17) forem introduzidas na Eq.(6.18), resulta:

W  r 2(1  cos )2 (2  cos ) (6.20)

O trabalho de expansão do núcleo é dado por

WE  v pL  pv  (6.21)

Como o volume da bolha é dado por

1 3
V  r (1  cos )2 (2  cos )
3
então, o trabalho de expansão será dado por

1 3
WE  r (1  cos )2 (2  cos )(pL  p V )
3
Como a superfície da bolha é admitida esférica e tratamos de um núcleo de vapor
crítico (em equilíbrio):

2
pL  pV  
r
de modo que,
JMSJ 6-13

2
WE   r 2 (1  cos )2 (2  cos ) (6.22)
3
Logo, a “energia de formação” de um núcleo crítico junto a uma parede, W * , será
dada por:

r 2
W*  W  WE   (1  cos )2 (2  cos ) ou
3
163
W*  ()  WH* () (6.23)
3(pV  pL )2

onde

WH* = energia de formação no seio líquido


(Nucleação Homogênea – Bolha Esférica)
e

()  (1  cos )2 (2  cos ) / 4

É interessante lembrar que WH* é idêntico ao valor da disponibilidade A*,


anteriormente referida. Esse valor corresponde a uma condição de equilíbrio.
Resulta daí o fato das funções de Gibbs das fases líquido e vapor serem iguais e,
portanto, não aparecerem na expressão da “energia de formação”. Por outro lado, o
efeito da presença da parede é caracterizado pela função (), onde  é o ângulo de
contato. A Tabela 6.3 apresenta a variação de     com .

Tabela 6.3 Variação da função     com o ângulo de contato, 

           
0 1 50 0,916 120 0,156
10 0,999 60 0,844 140 0,0379
20 0,997 70 0,747 160 0,0030
30 0,987 80 0,629 180 0
40 0,962 90 0,500

Observe-se que, para   0 (líquido molha idealmente a superfície),


     1, isto é, tudo se passa como se não existisse parede. Por outro lado, para
um líquido que não molha a parede, o valor de     torna-se relativamente
pequeno, fazendo com que a energia de formação seja igualmente reduzida. Em
superfícies industriais, a presença de óleos e graxas tende a fazer com que os
líquidos molhem menos as superfícies, facilitando, portanto, a formação de núcleos
críticos junto a elas.
As superfícies tendem a facilitar a formação de núcleos de vapor por outras razões
que não o efeito do ângulo de contato. As superfícies de aquecimento são
constituídas, de modo geral, de cavidades e reentrâncias que tendem a facilitar a
formação de núcleos ativos. Para demonstrar como tais características superficiais
favorecem a formação de núcleos de vapor, serão consideradas as três situações
ilustradas na Fig. 6.11. Para efeito de argumentação, admite-se que o líquido molha
igualmente a superfície nas três situações, isto é, que  seja o mesmo. Nessas
condições, considerando que     pode ser reduzida à seguinte expressão:
JMSJ 6-14

1 vapor
()  (1  cos )2 (2  cos ) 
4 esfera
pode se afirmar que:

(a) superfície côncava:        


côncava plana
(b) superfície convexa:       
convexa plana

L
L L

V

V V
 

Figura 6.11 Núcleos esféricos de vapor sobre uma superfície plana, côncava e
convexa.

Assim, é possível concluir que o vapor deverá formar-se preferencialmente


em cavidades e reentrâncias das superfícies de aquecimento em virtude da menor
energia de formação que requerem superfícies côncavas.
Compreende-se, assim, a razão pela qual a ocorrência de elementos estranhos ao
líquido, como superfícies do recipiente ou mesmo sujeiras, tende a favorecer a
formação de núcleos de vapor, razão pela qual a mudança de fase ocorre naquelas
regiões, no que constitui a denominada “Nucleação Heterogênea”, em oposição à
“Nucleação Homogênea”. Os fatores acima descritos justificam a formação de
núcleos de vapor em superfícies sólidas mas não interpretam adequadamente o fato
das temperaturas de mudança de fase observadas experimentalmente
apresentarem valores muito inferiores àqueles obtidos na nucleação homogênea. Na
realidade, as temperaturas do líquido para início da “Ebulição Nucleada” (com
formação de bolhas) são alguns graus centígrados acima da temperatura de
saturação (aquela correspondente ao equilíbrio estável) correspondente à pressão
do sistema. Os próximos parágrafos tratarão da interpretação desse aspecto.
Quando o líquido que deverá ser submetido a um processo de ebulição é introduzido
no recipiente, o gás (ar) contido nas microcavidades e reentrâncias da superfície fica
retido pelo avanço do líquido. Nessas condições, pequenos bolsões de gás
incondensável (ar) e vapor do líquido servem como núcleos de formação de bolhas,
uma vez que, para o equilíbrio termodinâmico de tal bolsão, admitido esférico, a
seguinte condição deve ser verificada:

2
pG  pL  (6.24)
r
que é a chamada Equação de Laplace, anteriormente abordada. Neste caso,
entretanto, a pressão do gás contido no interior da bolha, pG, é resultante da ação do
gás não condensável e do próprio vapor do líquido contido no reservatório. Em
outras palavras, se nos lembrarmos da Lei de Dalton para os gases perfeitos, a
seguinte relação é evidente:

pG  pgnc  pv

onde pgnc é a pressão parcial do gás não condensável, normalmente ar, e pv é a


pressão parcial do vapor no líquido. As pressões parciais são proporcionais à
JMSJ 6-15

concentração dos respectivos gases. Se a pressão acima for introduzida na


Equação de Laplace, Eq.(6.24), resulta:

2
pv  pL   pgnc (6.25)
r
Observa-se que, quanto maior a presença de gás não condensável na bolha,
maior será o valor de pgnc e, como resultado, menor será o valor de p v e, portanto,
mais fácil será a formação de um núcleo crítico (capaz de nuclear a formação de
uma bolha). Quando a superfície é aquecida, alguns graus acima da temperatura de
saturação são suficientes para ativar aquele bolsão de gás, o qual começa a crescer
tornando-se cada vez maior até o ponto de atingir um tamanho tal que as forças de
empuxo, por exemplo, o destacam da superfície. Entretanto, quando a bolha deixa a
superfície, a cavidade permanece ocupada por gases, resultando a formação de
uma nova bolha, repetindo-se o processo. É interessante observar que, à medida
que mais e mais bolhas são formadas, o gás não condensável que ocupava a
cavidade vai sendo removido até o ponto de não restar traços do mesmo.
Entretanto, a cavidade continuará ativa pela presença do vapor.
A questão que resta resolver é a da temperatura da parede necessária para
a formação de bolhas. Ou, em outras palavras, a temperatura da superfície que
ativará as cavidades. Para responder a esta pergunta, Griffith e Wallis
desenvolveram ensaios em superfícies onde as cavidades tinham tamanhos
conhecidos. Inicialmente trabalharam com líquido à temperatura uniforme, isto é, a
superfície não era aquecida, mas produziam-se bolhas por redução de pressão.
Além disso, garantiu-se que as cavidades fossem preenchidas por vapor do líquido,
não contendo gases incondensáveis, o que foi conseguido por ebulição continuada
da superfície, como sugerido anteriormente. Nessas condições, eles imaginaram
que a situação crítica, isto é, aquela que exigiria um superaquecimento maior, seria
aquela em que o núcleo de vapor se apresentaria como uma superfície esférica de
raio igual ao raio da cavidade, a qual foi admitida como tendo uma forma cônica,
como ilustrado na Fig. 6.12. Nessas condições, pela Equação de Laplace:

TP
V
rc

TP=TL

Figura 6.12 Núcleo de vapor numa cavidade cônica da superfície aquecida.

2
pV  pL 
rc

O superaquecimento necessário para o equilíbrio de tal cavidade pode ser


obtido pela aplicação da Equação de Clausius-Clapeyron, Eq.(6.13). Se nessa
equação o volume específico do líquido for desprezado em face do volume
específico do vapor, o que é razoável para a maioria dos casos, resulta:

(2 / rc )Tsat
Tsat  (6.26)
V iLV
JMSJ 6-16

onde Tsat é a temperatura de saturação à pressão do sistema, Tsat é o


superaquecimento desejado, TL  Tsat ou Tp  Tsat ,  V é a densidade do vapor e
iLV é o calor latente de vaporização à pressão do sistema. Assim, a condição
necessária para a formação de núcleos ativos é dada pela Eq.(6.26). Como exemplo
de aplicação da Eq. (6.26), considerem-se os seguintes dados:

- Cavidade de 10 m
- Pressão atmosférica  Tsat  373 K
- Propriedades Termodinâmicas
v V  1,673 m3 / kg
  58,78X103 N/ m
iLV  2,2569X106 J / kg

Introduzindo os valores numéricos na Eq.(6.26) resulta: Tsat  3,26C .


Quando Griffith e Wallis passaram a trabalhar com superfícies aquecidas e
tentaram aplicar a Eq.(6.26) na determinação da temperatura da superfície
necessária para a ativação dos núcleos de vapor, verificaram que um
superaquecimento maior da parede era necessário para ativar aqueles núcleos. Isso
era sinal de que alguma inconsistência persistia na análise do problema.
O problema encontrado por Griffith e Wallis com paredes aquecidas está relacionado
com o fato que em aplicações com superfícies aquecidas, a temperatura do líquido
não é uniforme, como ilustrado na Fig. 6.13. Nessas condições, o núcleo de vapor
fica imerso em um meio líquido em que a temperatura não é uniforme, diminuindo a
partir da parede. Por outro lado, o critério expresso pela Eq.(6.26) admite que o
líquido se encontra à mesma temperatura da parede. Assim, é evidente que, em
paredes aquecidas, as condições de crescimento do núcleo de vapor só serão
atingidas para maiores temperaturas da superfície aquecida. O problema que
permanece é determinar qual deve ser a condição de temperatura da parede
necessária para promover o crescimento do núcleo de vapor, tornando ativa a
cavidade a ele associada.

Distribuição de
temperatura no líquido

Superfície
aquecida

Tp

Figura 6.13 Distribuição de temperatura no líquido junto a uma parede aquecida.

Hsu e Graham, que trabalhavam para a NASA naquela ocasião, foram os primeiros
a propor um modelo de ativação dos núcleos de vapor junto à parede aquecida.
Para isso, eles descreveram um “ciclo de vida” da bolha junto à parede, dividido em
três fases: espera, crescimento e despreendimento. Esse ciclo foi proposto com
base em observações experimentais. Quando da partida de uma bolha “gigante” da
parede, um pequeno núcleo protuberante é deixado junto à cavidade ativa. Esse
JMSJ 6-17

núcleo não começa a crescer imediatamente em virtude do afluxo de líquido frio das
regiões afastadas para a região da parede. Esse líquido faz com que a região que
envolve o pequeno núcleo de vapor não apresente condições para o seu
crescimento. Assim, como a parede aquece continuamente o líquido, a sua
temperatura tende a aumentar até que condições favoráveis sejam atingidas para o
desenvolvimento do bolsão de vapor. O intervalo de tempo para que aquelas
condições sejam atingidas é denominado de “tempo de espera”. A Fig. 6.14 ilustra
o “ciclo de vida” da bolha. Uma vez iniciado, o crescimento da bolha se dará até que
as forças que tendem a removê-la da superfície (arrasto, empuxo, por exemplo)
superem aquelas que a retêm, isto é, as forças de tensão superficial. Quando essa
condição é atingida, a bolha se desprende da parede, dando por encerrado o ciclo.

Bolha
despreendida
Líquido frio L
V

Líquido se
aquece
Calor
Núcleo de vapor Calor

(a) Despreendimento (b) Espera

Condições para Crescimento L


crescimento V

(c) Início de crescimento (d) Crescimento

Figura 6.14 Ciclo da bolha junto a uma parede aquecida.

Os primeiros pesquisadores da ebulição acreditavam que a espera e o


crescimento da bolha apresentavam uma duração aproximada da mesma ordem de
grandeza. Hsu e Graham e, posteriormente, outros pesquisadores verificaram que
tal não era o caso. Na realidade, em inúmeras aplicações, o tempo de espera chega
a ser uma ordem de grandeza superior ao do crescimento. Percebe-se agora que o
tempo de espera está relacionado com as condições com que o líquido junto à
superfície é aquecido. Este é o fundamento do modelo de Hsu e Graham. Algumas
hipóteses de trabalho por eles propostas são:
(1) A superfície permanece em ebulição durante algum tempo, de modo que as
cavidades são totalmente preenchidas por vapor.
(2) Ao se desprender, a bolha deixa junto à cavidade um núcleo de vapor que
permanece invariável durante o tempo de espera.
(3) Admite-se que junto à superfície aquecida forma-se uma camada limite
térmica, de espessura , onde ocorre a variação temporal da temperatura. Na
borda superior dessa camada, a temperatura é admitida igual à do banho, T.
A temperatura da borda inferior é a da parede aquecida, Tp.
(4) A presença do núcleo junto à parede não perturba as linhas isotérmicas no
líquido, como sugerido na Fig. 6.15. Tal comportamento, evidentemente, não
corresonde à real condição de um núcleo de vapor junto à parede aquecida.
Outros autores relaxaram esta hipótese para levar em conta o efeito do
núcleo de vapor nas isotérmicas do líquido junto à superfície aquecida.
JMSJ 6-18

Isotérmicas T∞


Núcleo


Tp

Figura 6.15 Isotérmicas em torno do núcelo de vapor na superfície aqucida de


acordo com o modelo de Hsu e Graham.

(5) A condição necessária para o crescimento do núcleo é a de que “a


temperatura no ápice do núcleo corresponda àquela expressa pela Eq.(6.26).
Percebe-se que, efetivamente, essa é uma condição necessária, uma vez
que, quando atingida, a região envolvendo o líquido em torno do núcleo
reunirá as condições necessárias para o seu crescimento algum tempo antes
da condição proposta se estabelecer.
O gráfico da Fig. 6.16 ilustra o procedimento de Hsu e Graham. Nela são
superpostas as curvas da distribuição da temperatura no líquido para distintos
tempos e a curva da condição do crescimento, Eq.(6.26), caracterizando a
temperatura do líquido no ápice da bolha. As cavidades ativas serão aquelas em que
a temperatura do líquido no ápice da bolha (não importa o tempo necessário) atingir
a condição, Eq.(6.26). A faixa de tamanho (raio) das cavidades ativas pode então
ser obtida pela intersecção da Equação(6.26) com a curva (reta) de distribuição da
temperatura do líquido na camada limite para um tempo suficientemente longo
(). Os pontos limites dessa intersecção são indicados por A e B. O tamanho de
cavidades limites (A e B) pode, então, ser obtido da seguinte equação:

 
1/ 2
  6,4A  
rc  1  sat  (1  sat )2    (6.27)
4 
 (Tp  T )  
 
onde

Tsat  T
sat 
Tp  T

2Tsat
A
V iLV
JMSJ 6-19

y T  T
  y
 Tp  T


t



2

1,0
Eq. (6.26) B Distribuição de
temperatura no líquido em
instantes diversos

A
 cresce

Faixa de cavidades ativas 1,0 

Figura 6.16 Ilustração gráfica do modelo de Hsu e Graham.

A Eq.(6.27) é apresentada na forma gráfica na Fig. 6.17. Observa-se que


duas soluções são possíveis, representando os limites superior e inferior do
tamanho das cavidades, correspondendo aos sinais + e – da Eq.(6.27). Os pontos
no interior da região entre as duas curvas correspondem a condições de cavidades
ativas. Quando o descriminante da Eq.(6.27) é nulo, rcmin  rcm áx e o mínimo
superaquecimento necessário na parede pode ser obtido. Observe-se que esse
superaquecimento seria o necessário para ativar cavidades de um determinado
tamanho. Se essas cavidades não estiverem presentes na superfície aquecida, a
formação de vapor não ocorrerá, sendo necessária uma temperatura superior na
parede.

(rc)m ax
rc [ m]

(rc)m in =(rc)m ax

Pode haver formação de vapor

(rc)m in

(Tp-T )

Figura 6.17 Variação do raio da cavidade ativa com o superaquecimento da parede


de acordo com a Eq. (6.27).

Um dos principais problemas com a análise de Hsu e Graham é a


necessidade de conhecer a espessura da camada limite térmica, . Entretanto, a
idéia foi utilizada por uma série de pesquisadores, entre os quais Bergles e
JMSJ 6-20

Rohsenow que propuseram um critério de início de ebulição calcado nas idéias


originais de Hsu e Graham. Na realidade, aqueles autores estavam interessados na
determinação da região do evaporador onde tinha início a ebulição. Assim, adotaram
condições semelhantes às de Hsu e Graham, além das seguinte hipóteses de
trabalho:
(1) O núcleo deixado pela bolha que deixa a superfície é hemisférico e de raio
igual ao da cavidade.
(2) A superfície aquecida é constituída de cavidades de todos os tamanhos.
(3) A condição de crescimento de bolha, que caracteriza a ativação da cavidade,
é a mesma de Hsu e Graham.
(4) Admite-se que o regime é permanente e a distribuição de temperaturas no
líquido é linear, dada pela equação:


TL  Tp  y (6.28)
kL

onde

Tp – temperatura da superfície
 – fluxo de calor
k L – condutividade térmica do líquido.

Na Fig. 6.18 observa-se que, para um dado fluxo de calor, 1, um número
significativo de cavidades será ativado – lembre-se que essas cavidades estão
presentes na superfície. A condição limite ocorreria quando a curva de distribuição
de temperatura do líquido tangenciasse a curva da Eq.(6.26), como se ilustra por
linha tracejada para o fluxo 2. Essa condição corresponde à ativação de uma só
cavidade, como indicado. Essa cavidade está presente na superfície, de modo que a
condição pode ser considerada como necessária. A condição limite pode ser obtida
impondo:

Eq. (6.26)-
T crescimento da bolha
Distribuição de
temperaturas no líquido Tp 2  condição limite

1
y
rc

2 Tsat
 T sat 
Faixa de
rc iLV v V y
cavidades ativas
rc  y  condição de crescimento

Figura 6.18 Representação gráfica do modelo de Bergles e Rohsenow.

TL [Eq.(6.28)]  TL [Eq.(6.26)]y rc (6.29)

dTL dT
[Eq.(6.28)]  L [Eq.(6.26)]y rc
dy dy

do que resulta
JMSJ 6-21

 i k 
   LV L   Tp  Tsat 
2
ou
 8v v Tsat  

  C(Tp  Tsat ) (6.30)

A Eq.(6.30) relaciona o fluxo de calor na parede aquecida com a sua


temperatura para a formação inicial de vapor. Normalmente, o fluxo de calor,
  W / m2  , é denominado de fluxo de calor de “início de ebulição” e representado
por IE ─ na literatura em inglês “Onset of Nucleate Boiling”, ONB. Uma ilustração do
critério de Bergles e Rohsenow é apresentada na Fig. 6.19. Nela admite-se que a
temperatura da parede é mantida constante, variando-se o fluxo de calor.

T Condição para
crescimento da bolha
Tp

Temperatura
do líquido

3
2
1
Faixa de y
cavidades ativas

Figura 6.19 Ilustração gráfica do cirtério de Bergles e Rohsenow para o início da


ebulição.

Curva 1 ─ Fluxo de calor elevado. Entretanto, não ocorre nucleação porque a


temperatura (condições) do líquido não é suficientemente elevada.
Curva 2 ─ O fluxo de calor é reduzido em relação à curva 1, mas a temperatura no
líquido é suficientemente elevada para produzir uma única cavidade
ativa. Neste caso, o fluxo de calor é o próprio IE .
Curva 3 ─ O fluxo de calor é ainda mais reduzido. Entretanto, a temperatura do
líquido é suficiente para produzir uma gama razoável de cavidades
ativas.

A Tabela 6.4 mostra valores de C da Eq.(6.30) para a água a distintas


pressões.

Tabela 6.4 Valores de C, Eq. (6.30), para distintas pressões do líquido.


p iLV kL vV Tsat  C
[bar] [J/kg] [W/m oC] [m3/kg] [K] [N/m] [kW/(mK)2]
1,0133 2,257x106 0,681 1,6730 373 58,78x10-3 5,238
4,7597 2,115x106 0,687 0,3926 423 48,70x10-3 22,46
15,550 1,941x106 0,664 0,1272 473 37,81x10-3 70,82
39,776 1,715x106 0,616 0,05006 523 26,19x10-3 192,6
85,917 1,404x106 0,541 0,021643 573 14,39x10-3 532,0
JMSJ 6-22

Se o fluxo de calor for igual a 102 kW/m2, então o superaquecimento da


parede necessário para formar vapor,  Tp  Tsat  , para distintas pressões, será da
ordem indicada na Tabela 6.5.

Tabela 6.5 Superaquecimento da parede e raio de cavidade para um fluxo de calor


de 102 kW/m2 e distintas pressões.

p
[bar]
T
p  Tsat  rc
[K] [m]
1,01325 4,37 14,85
4,7597 2,11 7,254
15,550 1,19 3,945
39,776 0,721 2,219
85,917 0,433 1,173

É interessante observar que, à medida que “p” aumenta, o superaquecimento


na parede diminui, isto é, é “mais difícil” formar uma bolha à pressão atmosférica do
que a 100 bares. Por outro lado, uma elevação do fluxo de calor exigirá um
superaquecimento superior da parede para que ocorra nucleação. Assim, para 1
MW/m2 (elevado), à pressão atmosférica, o superaquecimento da parede necessário
seria de 13,82°C

PARTE III − EBULIÇÃO NUCLEADA


Considere-se uma superfície aquecida como a de um fio pelo qual passa
uma corrente elétrica. Imagine-se que essa superfície se manteve em ebulição num
banho de um líquido por algum tempo. Num dado instante, reduz-se a corrente
elétrica e inicia-se um processo de elevações graduais dessa corrente, a partir de
uma condição em que a superfície não apresente bolhas. Admitindo que o banho de
líquido esteja saturado, um gráfico do fluxo de calor por unidade de área, , ou
simplesmente fluxo de calor específico, versus a temperatura superficial, ou o que é
equivalente (Tp–Tsat), teria o aspecto ilustrado na Fig. 6.20. Normalmente, o gráfico é
do tipo bilogarítmico, sendo denominado de “Curva de Ebulição”.

VI
E
Escala logarítmica

D G
Banho de líquido
IV V saturado

III

C Superfície
II aquecida
I B
A

Escala logarítmica
T
p  Tsat 
Figura 6.20 Curva de Ebulição de um líquido de uma substância pura.
JMSJ 6-23

A Curva de Ebulição envolve distintas configurações do fluido junto à


superfície, sendo assim dividida em 6 regiões, cuja descrição sucinta é apresentada
a seguir.

Região I (AB): convecção natural


Região II (BC): região de transição, formação de bolhas isoladas.
Região III (CE): ebulição nucleada plenamente desenvolvida, com formação
cada vez mais intensa de bolhas.
DE – região do fluxo crítico de calor, com regiões da
superfície isoladas do líquido por um “bolsão” de vapor.
Região IV (CF): região de transição, ebulição em película parcial.
Região V e VI (FG): ebulição em película estável.

A Fig. 6.21 ilustra o a configuração da interface líquido-vapor junto à


superfície aquecida para alguns dos regimes da Curva de Ebulição da Fig. 6.20.

Região I Região II Região III

Região III Região IV Região V

Figura 6.21 Representação esquemática da configuração da superfície sob as


distintas condições físicas da Curva de Ebulição.

A correta interpretação da Curva de Ebulição da Fig. 6.20 requer algumas


observações relativas a aspectos físicos que serão desenvolvidas a seguir.

(1) A Curva de Ebulição da Fig. 6.20 corresponde, como observado na


introdução, à de uma superfície que previamente foi submetida a ebulição,
ativando um sem súmero de cavidades, as quais não se desativam quando a
corrente elétrica é reduzida para iniciar o “levantamento experimental” da
curva. Se essa mesma superfície permanecesse por algum tempo sem a
atividade de ebulição, muitas cavidades seriam desativadas. Nessas
condições, a Curva de Ebulição sofreria uma alteração na região de
transição, com “retardamento” do início de ebulição, caracterizado por um
superaquecimento maior para ativar as cavidades, como indicado na Fig.
6.22.
JMSJ 6-24


M ─ início da formação
de bolhas
BN ─ curva normal de
ebulição

N M

B
A

Tp  Tsat 

Figura 6.22 “Retardamento” da curva de ebulição para uma superfície inicialmente


fria, sem atividade de ebulição.

(2) A Curva de Ebulição apresenta uma leve histerese na região III, na medida
em que a curva de aumento de fluxo de calor difere daquela de redução.
(3) O fluxo de calor correspondente à região do ponto E é denominado de “Fluxo
Crítico de Calor”. É muito comum na literatura em inglês o uso do termo
“burnout” para se referir a essa região. Esse nome está relacionado ao fato
que, nessa condição, a temperatura superficial sofre uma elevação
significativa, podendo causar-lhe danos irreparáveis, como fusão local do
material. Na realidade, tal fenômeno está associado à fonte de aquecimento.
No caso do aquecimento elétrico (ou por reação nuclear), quando a região do
Fluxo Crítico de Calor é atingida, uma elevação do fluxo de calor (por menor
que seja) pode promover a formação de um “bolsão” de vapor junto à
superfície. Esse “bolsão” isola termicamente aquela região. Como o fluxo se
mantem, o único meio de remover o calor gerado na superfície é o aumento
da temperatura. Essa é a razão pela qual a temperatura superficial dá um
salto no ponto E, indicado por uma linha tracejada, até o ponto G na Fig.
6.20. No caso da água à pressão atmosférica, o Fluxo Crítico de Calor é da
ordem de 1 MW/m2. Se o parâmetro de controle for a temperatura superficial,
como ocorreria com aquecimento por vapor, por exemplo, o cenário ilustrado
acima não se verifica, sendo possível adentrar a região de transição, região
IV.
(4) Se o líquido no banho estiver subresfriado, ao invés de saturado, como
admitido, o efeito resultante é ilustrado na Fig. 6.23 (a). Observe-se que o
eixo das abscissas continua sendo em termos de  Tp  Tsat  .
JMSJ 6-25

 
Sentido de elevação
da pressão

Subresfriado

Saturado

T
p  Tsat  Tp  Tsat 
(a) (b)

 
Sentido de crescimento
Sentido de da rugosidade superficial
crescimento de θ

T
p  Tsat  T p  Tsat 
(c) (d)

Sentido de
crescimento de θ

T p  Tsat 
(e)

Figura 6.23 Efeitos sobre a Curva de Ebulição: (a) do estado do banho, sub-
resfriado ou saturado; (b) da pressão; (c) do ângulo de contato; (d) da
rugosidade superficial; (e) do tamanho das cavidades.

(5) Foi observado anteriormente que a elevação da pressão facilita a formação


de bolhas (cuidado!). Assim, a curva da Fig. 6.23 (b), ilustrando o efeito da
pressão, é evidente.
(6) A condição da superfície também afeta significativamente a Curva de
Ebulição, como mostrado nas Figs. 6.23 (c), (d) e (e) no caso de superfícies
que iniciam o processo de ebulição.
(a) Efeito do Ângulo de Contato, 
O início de ebulição de um líquido que não molha se dá antes que em
um que molha a superfície porque este desativa mais facilmente as
cavidades durante o enchimento.
(b) Efeito da Rugosidade Superficial (número de cavidades)
Uma superfície “mais rugosa” intensifica a troca de calor por ebulição,
por aumentar o número de cavidades ativas. Tal situação é ilustrada na
Fig. 6.23 (d).
(c) Efeito do Tamanho das Cavidades
Para o mesmo número de cavidades, a temperatura superficial de
início de ebulição de uma superfície com cavidades maiores é inferior,
do que resulta a característica ilustrada na Fig. 6.23 (e).
JMSJ 6-26

ANÁLISE DO MECANISMO DE EBULIÇÃO

(A) Região I: Convecção Natural


Como se trata de uma superfície horizontal em uma “piscina” de líquido, a
transferência de calor dessa superfície aquecida para o líquido se da por convecção
natural, em que o mecanismo de transferência de calor é expresso por relações do
tipo:

Nu  f  Gr,Pr   f Ra  (6.31)

onde
h(DC)
Nu = Número de Nusselt =
kL

DC = dimensão característica – diâmetro, no caso em que a superfície aquecida é


um cilindro (tubo) ou um fio aquecido eletricamente. [m].
h = coeficiente de transferência de calor [W/m2K]

gL T(DC)3
Gr = Número de Grashoff =
L2

L = coeficiente de expansão volumétrica do líquido [1/K]


T =  Tp - TL  , onde TL é a temperatura do banho; se o líquido estiver saturado,TL  Tsat [K]
 = viscosidade cinemática do líquido [m2 /s]

Pr  Número de Prandtl do líquido  L / L

gL T(DC)3
Ra = Número de Rayleigh = Gr.Pr =
L L

(B) Região III: Ebulição Nucleada Plenamente Desenvolvida


Na ebulição nucleada plenamente desenvolvida a população de bolhas na
superfície aquecida é relativamente elevada, isolando praticamente a superfície do
fluido. O mecanismo de transferência de calor responsável pelas altas taxas de
remoção de calor da superfície observadas não é muito bem definido. Alguns
mecanismos foram propostos:
● Agitação do líquido promovida pelo desprendimento das bolhas.
● Agitação promovida pelo colapso das bolhas.
● Transporte de calor latente
● Evaporação de uma microcamada residual sob as bolhas
● Termocapilaridade
● Efeitos de “micro-convecção” promovidos pelo crescimento de bolhas
adjacentes.
Não foi constatado até o momento um mecanismo que predomine sobre os
demais. É claro que, dependendo das circunstâncias, um dos mecanismos poderá
ser preponderante, mas é provável que os demais (ou pelo menos alguns deles)
estejam presentes. Assim, por toda a década de 70, o mecanismo de evaporação da
micro-camada parecia resolver as dúvidas sobre o mecanismo de transferência de
calor. Hoje, ele é francamente aceito na ebulição de metais líquidos (ver Dwyer, O.
E., “Boiling Liquid-Metal Heat Transfer”, American Nuclear Society, 1976) em virtude
das características particulares desses fluidos.
JMSJ 6-27

De qualquer modo, percebe-se que o mecanismo responsável pela


transferência de calor no regime de ebulição nucleada é um mecanismo local (junto
à parede). Nessas condições, o acompanhamento da bolha enquanto permanece
junto à parede deve ser interessante para uma análise do problema. É o que se fará
a seguir.

 Diâmetro de Desprendimento
Embora alguns autores tenham feito uma análise exaustiva das forças que
agem sobre uma bolha no instante do desprendimento (vide Cole, R. “Boiling
Phenomena”, Vol. I), duas forças têm papel importante, especialmente em ebulição
em piscina:

(a) Forças de Empuxo


(b) Forças de Tensão Superficial.
Considerando que essas sejam as forças atuantes na bolha no instante do
desprendimento, as duas devem se equilibrar, uma vez que, nesse instante, a bolha
está em equilíbrio mecânico. Quando a bolha apresentava um diâmetro menor, as
forças de tensão superficial eram superiores às de empuxo. Considerando a o
esquema da Fig. 6.24, onde se mostra uma bolha junto á parede aquecida, pode-se
escrever que:

Bolha em vias de se
desprender
R
\

Superfície 
aquecida

Figura 6.24 Esquema de uma bolha sobre uma superfície aquecida.

(Forças de Empuxo) = (Forças de Tensão Superficial)


 L  V  g  KDBsen
DB3
 L  V  g  KDBsen
6
2
DB  3Ksen
 L  V  g
Com base em resultados experimentais, Fritz obteve:

1/ 2
 2 
DB  0,0148   ( em graus) (6.32)
  L  V  g 
Cole corrigiu essa expressão para considerar os efeitos de inércia devido ao
movimento de expansão:
JMSJ 6-28

1/ 2
 2    dD  
3/2

DB  0,0148     1  0,0025  dt   (6.33)


 g  L  V      

com dD / dt em mm/s.
Por outro lado, Fritz e Emde concluíram que o produto da freqüência de
bolhas pelo seu diâmetro de desprendimento é constante, isto é,

fDB  cons tan te  independe do fluxo de calor (6.34)


onde f é a freqüência das bolhas.
Quando as bolhas se desprendem da parede, sofrem uma deformação e se
deslocam no meio do líquido com uma velocidade terminalm V , dada por:

 g  L  V  
1/ 4

V  C   (6.35)
 L2 
com os distintos autores discordando a respeito da constante C:

C  1,18 (Pebels & Garber), Zuber recomenda o mesmo valor.


C = 1,48 (Harmathy)
A Eq. (6.35) é típica da velocidade de ascensão de uma bolha em meio
líquido no denominado “regime de partícula deformada”
No seu trabalho sobre ebulição, Jakob e Linke observaram que a velocidade
de deslocamento do centro de uma bolha enquanto ainda aderida à superfície é
aproximadamente igual a V , do que resulta:

 g  L  V  
1/ 4
DB
 V  1,18  
c  L2 
onde c = tempo de crescimento da bolha.
Considerando uma coluna de bolhas proveniente de uma cavidade ativa,
como na Fig. 6.25, pode-se escrever:
L

Figura 6.25 Coluna de bolhas com origem numa cavidade ativa em uma parede
aquecida.

L D
 V  B
t c
onde  t = tempo total de permanencia da bolha junto à parede. Por outro lado,
f  1/ t , logo:
JMSJ 6-29

V 
L  DB . t 
f c
t  g  L  V  
1/ 4

DB f  V t ou DB f  C( c )   (6.36)
c t t  L2 
Jakob & Linke tinham também observado que o tempo de espera da bolha era igual
ao de crescimento, uma conclusão que posteriormente não foi confirmada por
experimentos cuidadosos levados a cabo por Hsu, como se observou anteriormente.
Nessas condições:

c / t  0,5

Assim,
 g  L  V  
1/ 4

DB f  0,5C   (6.37)
 L2 
No caso de Zuber: 0,5C  0,59 . Por outro lado, se considerarmos que:

1/ 2
 2 
DB  0,0148   e L  V
 g  L  V  
1/ 2 1/ 4

     
1/ 2
DB  DB 
  ou    
0,0209  gL   0,0209   gL 
Se comparada com a equação para fDB, Eq. (6.36),

 t 
1/ 2
 DB  1 1
1/ 2 
 0,0209   fDB   t  
  Cg  t c 
 t 
 Cg1/ 2  c   0,0209 
1/ 2
fD1/B 2 (6.38)
 t t 
Se
(1) c / t  1 (fluxo de calor muito elevado 

(2)   45o  fDB  1,217g
1/ 2 1/ 2
(6.39)
(3) C  1,18 

No caso de c / t  0,5  fD1/B 2  0,603g1/ 2 (6.40)

 Crescimento da bolha
A literatura relativa ao crescimento de bolhas é extensa, cobrindo diversos
aspectos. Para não deixar passar em branco esse tópico no presente contexto, o
tema será tratado de forma sumária. O leitor pode se referir ao Apêndice do
presente capítulo para uma análise mais detalhada sobre o crescimento de bolhas.
Na análise que segue, se admitirá que a bolha cresce em um meio líquido infinito e
superaquecido a temperatura uniforme, o que não representa exatamente o
crescimento junto a uma parede aquecida, onde o líquido apresenta significativos
gradientes de temperatura.
JMSJ 6-30

Anteriormente, se observou que, no equilíbrio de uma cavidade de vapor com um


meio líquido infinito, em estado uniforme superaquecido, as condições que
prevalecem são as representadas graficamente na Fig. 6.26.
p

pV Estado do
vapor

L
Estado do
pL líquido

V
Tsat TL T

Figura 6.26 Diagrama de fases indicando os estados do vapor e do líquido em


condições de equilíbrio.

Se o sistema for levemente perturbado, a partir da condição de equilíbrio, a


cavidade pode crescer ou colapsar. Considerando o caso em que a pressão do
líquido (ou sua temperatura) tenham sido perturbadas de modo que o núcleo inicie o
crescimento, verifica-se que a taxa de crescimento do raio da cavidade, R , varia de
acordo com o gráfico da Fig. 6.27, o qual é uma representação de caráter
estritamente qualitativo.

Tempo

Figura 6.27 Diagrama ilustrativo da velocidade de crescimento de uma bolha.

Embora seja possível determinar essa curva em todas as suas fases, o


procedimento não é simples. Além disso, a bolha passa rapidamente da velocidade
zero àquela de pequena aceleração. Para todos os efeitos, tudo se passa como se a
o processo de crescimento da bolha se desse com a velocidade correspondente à
região de baixa aceleração. Essa região foi exaustivamente estudada, sendo
conhecida por região de “crescimento por difusão”. As soluções obtidas são
assintóticas, no sentido em que o estado do vapor da bolha é invariável,
correspondendo àquele ilustrado na Fig. 6.28.
JMSJ 6-31

pV
Estado do vapor
TV  Tsat na região de
crescimento por
“difusão”

p V  pL
pL

Tsat TL T

Figura 6.28 Diagrama de fases com a localização do vapor da bolha durante o


crescimento no regime de difusão.

Fica implícito que o raio da bolha para essa solução assintótica deve ser
“muito grande” de modo que os efeitos de tensão superficial sejam desprezíveis, de
forma que pV  pL .
À medida que a bolha cresce a partir da condição de equilíbrio em que o
núcleo de vapor apresenta um diâmetro reduzido, a evaporação de líquido na
interface da bolha reduz a temperatura na região. Assim, à medida que a condição
de crescimento assintótico se aproxima, desenvolve-se um gradiente de temperatura
no líquido junto à interface da bolha. Durante o crescimento por difusão a bolha
cresce pela evaporação de líquido junto à interface como resultado da transferência
de calor do seio do líquido superaquecido para a interface, que se encontra no
estado saturado.

Solução de Bonsjăkovic
Para um volume de controle em torno da bolha, envolvendo o líquido junto à
interface, como ilustrado na Fig. 6.29, a Conservação da Energia pode ser escrita
como:

Transferência
de calor
SC

Região onde ocorre o


gradiente de temperaturas
VC
R
Bolha
Bolha

Líquido

Figura 6.29 Esquemas ilustrativos do volume de controle em torno da bolha e da


“camada limite” ao redor da mesma durante o crescimento em regime
de difusão.

d d
QVC  (muV )  mi L  pv
dt dt
Como o estado do vapor não se altera, uv permanece constante. Lembrando que
(dm / dt  m) , obtem-se:
JMSJ 6-32

dm dm dm
QVC  uV  iL  p V v V 
dt dt dt
dm dm dm
(uV  p V v V )  iL  (iLV ) 
dt dt dt
dR
QVC  4R2ViLV (6.41)
dt
Bonsjăkovic admitiu que a região onde ocorre o gradiente de temperatura no líquido
apresenta uma espessura reduzida e, portanto, constitui uma espécie de “camada
limite” de temperatura em torno da bolha. No caso de um sólido semi-infinito, a
espessura da “camada limite”,  , é dada por:

  4t
onde  é a difusividade térmica do meio. Como se trata de uma superfície esférica,
o coeficiente numérico (“4”) é substituído por “  ”. Nessas condições, utilizando
como referência a representação esquemática da Fig. 6.30,
TL

TV  Tsat
Interface
Vapor

Líquido

Figura 6.30 Distribuição de temperaturas durante o crescimento da bolha em regime


de difusão de acordo com o modelo de Bonsjăkovic.

TL  TV
Q VC  k L


. 4R 2 
onde
  L t

4R2  TL  Tsat  dR
QVC  k L  4R2LiLV 
L t dt
dR  TL  Tsat  k L
 Tsat  TL  Tsat  superaquecimento do líquido.
dt LiLV L t

Integrando, admitindo como condição inicial t  0  R  0 , resulta:

2TsatkL 2  V CL Tsat 
R t1/ 2    L t
 V iLV L   V iLV 

O grupo adimensional entre parêntesis é denominado de Número de Jakob,


JMSJ 6-33

V CL Tsat Calor sensível à disposição


Ja  =
V iLV Calor latente necessário

2
Ja  L t 
1/ 2
R (6.42)

Outros modelos mais precisos para o crescimento por difusão apresentam
expressões semelhantes, diferindo somente no coeficiente numérico, que, no caso,
é igual a 2 /  .

CORRELAÇÕES PARA A TRANSFERÊNCIA DE CALOR


Nos últimos 50 anos, um significativo número de expressões foram propostas
para “quantificar” o mecanismo de transferência de calor em ebulição nucleada.
Seria impossível reproduzi-las no contexto destas notas. Entretanto, uma revisão
superficial da literatura permite dividir as correlações propostas em três tipos:
● Tipo I: aquelas que tomam por base um modelo físico, eventualmente
ajustado por resultados experimentais, que poderiam ser denominadas de
“semi-empíricas”.
● Tipo II: as estritamente empíricas, que introduzem grupos adimensionais,
em certos casos, de forma arbitrária.
● Tipo III: as que se expressam em termos de propriedades reduzidas,
procedimento largamente utilizado nos últimos 20 anos, popularizado por
Cooper, mas muito popular na literatura alemã.
Como observado anteriormente, no presente texto, as correlações serão
abordadas sumariamente, de forma que somente as correlações mais significativas
dos três tipos serão desenvolvidas e discutidas em detalhe.

CORRELAÇÕES TIPO I

 O Modelo de Mikic e Rohsenow


Este modelo é baseado no argumento segundo o qual as bolhas, ao
deixarem a superfície aquecida, promovem a circulação de líquido frio junto à
parede. Esta é dividida em duas regiões, como ilustrado na Fig. 6.31: a de influência
das bolhas e a de convecção natural. Han e Griffith sugerem que a região de
influência de cada bolha é a correspondente a uma área circular de diâmetro
DI  2DB , onde DB é o diâmetro de desprendimento das bolhas. O modelo admite
ainda que não haja interação entre as zonas de influência das bolhas. Assim, o
aquecimento do líquido frio junto à superfície durante o tempo de espera constitui o
mecanismo de transferência de calor preponderante de acordo com o presente
modelo.
JMSJ 6-34

Duas situações
distintas

Região de
convecção natural

DB

DI
Região de
influência da bolha

Figura 6.31 Áreas de influência da bolha e região de convecção natural sobre uma
superfície aquecida em ebulição nucleada.

O calor trocado com a superfície por ebulição será aquele correspondente ao


tempo de espera, desprezando-se, por exemplo, efeitos do tipo evaporação da
microcamada e termocapilaridade. O fluxo de calor total envolverá ainda uma
parcela resultante da convecção natural na região exterior à zona de influência das
bolhas. Nessas condições, o modelo envolve aspectos que serão desenvolvidos a
seguir.

(1) O líquido frio junto à parede aquecida é admitido como sendo um sólido
semi-infinito cuja temperatura superficial é Tp e a temperatura inicial e ao
longe é Tsat , como indicado na Fig. 6.32. O meio infinito corresponde ao
banho de líquido, admitido no estado saturado e em repouso durante o
tempo de espera. Assim, a taxa instantânea de transferência de calor por
unidade de área (fluxo específico de calor) junto à parede é dada pela
seguinte expressão:

y Tsat

y
Sólido semi-
infinito
Tp

Figura 6.32 Representação esquemática do sólido semi-infinito.

k L  Tp  Tsat 
B  (6.43)
 L t 
1/ 2

(2) Se a freqüência das bolhas é “f”, o fluxo de calor específico médio


correspondente à região de influência de uma bolha será igual a:

1/ f

kLLcL   Tp  Tsat  f 1/ 2
2
B  f  B dt 
1/ 2
(6.44)
0 
JMSJ 6-35

onde a difusividade térmica do líquido é definida como:

kL
L 
L c L

(3) Se a superfície apresentar uma densidade de cavidades (cavidades por


unidade de área) ativas igual a “n”, o fluxo total médio resultante da ação
das bolhas será igual a:

 D2 
QB   I  n B 
 4 

QB  21/ 2DB2 kc L f 1/2n  Tp -Tsat 


1/ 2
(6.45)

(4) A densidade de cavidades ativas depende diretamente do


superaquecimento da parede. Mikic e Rohsenow utilizaram um modelo
anteriormente desenvolvido que estabelecia a relação entre “n” e o
superaquecimento da superfície, segundo o qual:

m
 i 
n  C1 rs f1  ,     L LV  T  Tsat 
m m
(6.46)
 2Tsat 
p

onde rs é o raio da cavidade que proporcionaria uma única cavidade ativa e


f1(,) é uma função do ângulo de contato para a combinação líquido-superfície,
, e do ângulo de abertura da cavidade, , admitida cônica. A função f1 foi
determinada anteriormente por Mikic, Lorentz e Rohsenow. Para determinadas
condições de  e , f1 é igual a 1 e a Eq.(6.46) fica diretamente relacionada à
condição de nucleação em um meio a temperatura uniforme, Eq. (6.26). A função
f1 foi determinada para um fluido a temperatura uniforme.

(5) Para o diâmetro de desprendimento da bolha, DB , foi utilizada uma


correlação sugerida por Cole e Rohsenow, segundo a qual:

1/ 2
  
 Jam 
5/4
DB  C2   (6.47)
 g  L  V  

onde : C2  1,5x10 4 para a água


 4,65x10 4 para outros líquidos
L c L Tsat
Jam  Número deJakob modificado 
V iLV

(6) A freqüência das bolhas foi relacionada pelo modelo de Zuber, Eq. (6.37):

 g  L  V  
1/ 4

DB f  C3   (6.37)
 L2 
onde C3  0,59

(7) Introduzindo as Eqs. (6.46), (6.47) e (6.37) na Eq. (6.45), resulta:


JMSJ 6-36


QB / A t  E  21m 1/ 2C1C32 / 2C1/3 2 [rs f  ,  ]m  Ck L
1/ 2
X
  g      1/ 8 15 / 8  L iLV 
m

m 1 
(6.48)
X  L V
  Ja     T  T  
L2  Tsat 
m p sat
   

(8) O fluxo de calor total na parede será então igual a:

t  A  CN  A CN  QB ou
A 
t   CN  CN  QB /A t
 At 
do que resulta finalmente:

A 
t   CN  CN  E (6.49)
 At 
onde CN é o fluxo de calor por unidade de área na região externa à de influência
das bolhas, A CN é a área correspondente àquela região e At é a área total da
superfície. O fluxo específico de calor para convecção natural, CN , é dado em
termos do Número de Rayleigh, como anteriormente observado.

(9) O problema com o modelo de Mikic e Rohsenow aparece com a


determinação de parâmetros como m, C1, C2, C3 e rs, o que envolve ajustes
de resultados experimentais.

O Modelo de Forster e Zuber - Microconvecção


Os modelos que envolvem o mecanismo de microconvecção, como o de
Forster e Zuber, admitem que o principal mecanismo de remoção de calor da
superfície é o de convecção, promovido pelo movimento de expansão das bolhas
durante o seu crescimento. Partindo dessa premissa básica, Forster e Zuber
propuseram que a transferência de calor na superfície aquecida durante a Ebulição
Nucleada fosse dada por uma relação do tipo:

Nu  C1 Rem Pr n (6.50)
característica da convecção forçada. É evidente que o número de Prandtl se refere
ao líquido, uma vez que as bolhas são simples agentes que promovem o movimento
de líquido, segundo esse modelo. Resta, entretanto, caracterizar os números de
Nusselt e de Reynolds. Para o Re, admite-se como dimensão característica o
diâmetro da bolha em crescimento, ao passo que a velocidade característica do
líquido é admitida como a de crescimento da bolha (em outras palavras, a
velocidade de sua interface). Assim,

Re 
DC dR / dt   DC R  (6.51)
L L
onde DC é uma dimensão característica. Por outro lado, a velocidade de
crescimento, R , foi obtida de um modelo proposto pelos próprios autores, cujo
resultado é semelhante ao de Bonsjăkovic, referido anteriormente. Assim,
JMSJ 6-37

R  Ja  L t 
1/ 2
(6.52)

e
1/ 2
  
R  Ja   (6.53)
 4t 
O número de Nusselt é definido da forma convencional:

h(DC)
Nu 
kL

ou, como


h
Tp  TL

(DC)
Nu  (6.54)
kL (Tp  TL )

A dimensão característica foi definida como:

 
1/ 4
  RR 2

DC  Ro  
L
(6.55)
 2Ro 
 
onde Ro é o raio de uma bolha, dado pela Equação de Laplace:

2
Ro 
pV  pL

com o que, a Eq.(6.55) pode ser transformada na seguinte:

1/ 2 1/ 4
 2   L 
DC  Ja  L 
1/ 2
    (6.56)
 pV  pL   pV  pL 
onde pL é a pressão do sistema e p V é a pressão de vapor em equilíbrio à
temperatura da superfície. A diferença entre pressões, pV  pL  , é normalmente
representada por psat . Foster e Zuber admitiram os seguintes valores para os
parâmetros da Eq. (6.50):

C1  0,0015
m  0,62
n  0,33
É comum o modelo de Forster e Zuber ser expresso pela seguinte equação
para ebulição em líquido saturado:

 kL0,79cL0,45L0,49 
h  0,00122  0,5 0,29 0,24 0,24   Tsat   psat 
0,24 0,75
(6.57)
  L iLV V 
JMSJ 6-38

CORRELAÇÕES TIPO II
 Rohsenow
O mecanismo de transferência de calor admitido por Rohsenow é aquele
resultante da agitação do líquido promovido pelo movimento das bolhas associado
ao desprendimento das mesmas da parede aquecida. Desde que o mecanismo
físico dominante é a convecção simples, da análise dimensional, resulta:

Nu  F1 Re,Pr  (6.58)

Os parâmetros adimensionais devem ser adequadamente definidos. Com


base em argumentos de Jakob, Rohsenow propôs que o número de Reynolds fosse
aquele referido ao diâmetro de desprendimento da bolha:

DBGB
ReB 
L
(6.59)
ReB : Reynolds referido ao diâmetro de desprendimento das bolhas
GB : vazão específica de vapor

1/ 2
 2 
DB  C   (6.60)
 g  L  V  
 D3 
GB  v  B  fn (6.46)
 6 
onde
f = freqüencia das bolhas em uma cavidade ativa
n = número de cavidades ativas por unidade de área.
Por outro lado, como observado anteriormente, de acordo com o modelo de Fritz e
Emde,

fDB  cons tan te (6.61)


O calor removido pelas bolhas enquanto permanecem na parede é admitido
como sendo o “latente” relacionado à formação de vapor, responsável pelo seu
crescimento, dado por:

DB3
latente  v iLV nf  latente (6.62)
6
Entretanto, Rohsenow & Clark provaram que esse efeito era pequeno. Por
outro lado, experimentalmente verificou-se que:

"  " é proporcional a "n"    n (6.63)


do que resulta:

 D3 
  C2 latente  C2  B  v iLV nf 
 6 
JMSJ 6-39

 
nf   GB  (6.64)
 D 
3
C2iLV
C2  B  v iLV
 6 
Introduzindo as Eqs (6.60) e (6.64) na Eq. (6.59), resulta:

1/ 2
 C     
ReB   2    (6.65)
 C2  iLV L  g  L  v  
1/ 2
hDB h 2 C   
NuB      (6.66)
kL kL  g  L  V  

Pr  L / L

Rohsenow verificou que a curva   (TP  TL ) dependia do subresfriamento do


líquido, mas, quando se levantava um gráfico dos resultados experimentais em
termos de (TP  Tsat ) , os pontos experimentais se alinhavam sobre uma mesma
curva. Nessas condições, o coeficiente de transferência de calor pode ser
determinado pela seguinte expressão, independente do sub-resfriamento do líquido:


h (6.67)
TP  Tsat

de modo que,

1/ 2
hDB C 2   
NuB    
kL kL  TP  Tsat   g  L  v  

Observa-se que tanto o NuB como ReB são proporcionais a . Assim, se ao


invés de NuB , se trabalha com o número de Stanton,

NuB NuB
StB   (6.68)
PeB ReB PrL

o fluxo de calor poderá ser eliminado, de modo que,

StB  F2 (ReB ,Pr)  C3RBm Pr n (6.69)

iLV
StB  C2 (6.70)
cPL  TP  Tsat 

A idéia, agora, é correlacionar os resultados experimentais pela Eq. (6.70),


isto é,

m
 
n
cPL (TP  Tsat )   L c PL 
m
 C   2C     
  3         (6.71)
hLV  C2   Cc   iLV L
  g  L  V   
  k L 
Csf

Os valores de “m” e “n” resultantes de ajustes dos resultados experimentais


são, respectivamente, iguais a 0,33 e 1,7. Rohsenow correlacionou resultados
experimentais para distintas combinações superfície-fluido. Posteriormente verificou-
JMSJ 6-40

se que n = 1,0 reproduzia melhor os resultados envolvendo a água. A Tabela 6.6


apresenta valores do coeficiente Csf obtidos do trabalho original de Rohsenow para
algumas combinações líquido/superfície.

Tabela 6.6 Valores do coeficiente Csf para algumas combinações líquido/superfície.

Fluido - Superfície Csf


Água – níquel 0,0600
Água – platina 0,0130
Água – cobre 0,0130
Água – latão 0,0060
Tetracloreto de Carbono – cobre 0,0130
Benzeno – cromo 0,0100
Pentano normal – cromo 0,0150
Álcool etílico - cromo 0,0027

● Stefan-Abdelsalam
A correlação (talvez fosse melhor referir-se às “correlações”) proposta por
Stefan e Abdelsalam resulta de uma análise dimensional seguida de ajustes
adequados de resultados experimentais de distintas fontes, num total de 5.000
pontos, envolvendo diferentes fluidos, geometria (planas, cilindros e tubos e cabos),
e materiais. Os parâmetros adimensionais resultantes são os seguintes:

db  2 cpL Tsat db2 h d 2 


X1  ; X 2  L L ; X3  ; X 4  lv b ; X5  V
kL Tsat db L 2 L 2 L

L 2 Rp  ck s c s   V
X6  PrL ; X7  ; X8  ; X9  ; X11  ; X11  ; X13  L
db3 g db L cpLkL L L L
hd db
Y b   Número de Nusselt
kL 
Tp  Tsat kL 
onde db é o diâmetro de desprendimento das bolhas, dado pela Eq. (6.72):

1/ 2
 2 
dB  0,0148   (6.72)
 g  L  V  
É interessante notar que a Eq. (6.72) está afetada de um erro no artigo
original de Stefan e Abdelsalam. Os índices “c” e “s” se referem ao sólido em contato
direto com o líquido e aquele sob a superfície aquecida, respectivamente. Os
autores observam que o parâmetro X13 reproduz melhor o efeito da pressão que o
correspondente X5, tendo, em conseqüência, adotado aquele parâmetro (X13) nas
correlações.
Stefan e Abdelsalam dividiram os resultados experimentais de modo a
ajustar curvas em função do fluido em virtude de diferenças entre os distintos grupos
de fluidos nos resultados relativos á transferência de calor. Verificaram, além disso,
que os parâmetros adimensionais dominantes variavam com o grupo de fluidos. As
correlações resultantes em função do grupo de fluidos estão representadas na
Tabela 6.7.
JMSJ 6-41

Tabela 6.7 Correlações para a transferência de calor em ebulição nucleada em


função do grupo de fluidos segundo Stefan e Abdelsalam.

Grupo de
fluidos Correlação* Condições

104   p / pc   0,886
Água  
Nu  0,246X107 X10,673 X31,26 X4 1,58 X135,22   45
(6.73) Erro médio absoluto: 11,3%
5,7X103   p / pc   0,9
Hidrocarbonetos
 
0,67
Nu  0,0546 X50,5 X1 X40,248 X13 4,33   35
(6.74) Erro médio absoluto: 12,2%
4X104   p / pc   0,97
0,329
Fluidos Nu  4,82X 1
0,624
X3 0,374
X4 X5 0,257
X9 0,117
  1
criogênicos (6.75) Erro médio absoluto: 14,3%
3X103   p / pc   0,78
Refrigerantes Nu  207X 1
0,745
X5 0,581
X6 0,533
  35
(6.76) Erro médio absoluto: 10,57%
104  p / pc   0,97
1,73
Todos os fluidos Nu  0,23X 1
0,674
X2 0,35
X4 0,371
X5 0,297
X13 Erro médio absoluto: 22,3%
(6.77)
* Nu  hdb / kL

CORRELAÇÕES TIPO III

As correlações do Tipo III se caracterizam por expressarem o coeficiente de


transferência de calor em termos da pressão e/ou temperatura ambas na sua forma
reduzida, referida aos correspondentes valores críticos. Cooper, que desenvolveu
inicialmente o procedimento, argumentou que as correlações propostas na literatura
podem ser reduzidas a uma expressão geral do tipo:

h
  Cons tan te  i Pr opriedade i i

(6.78)
m

Assim, por exemplo, a correlação de Rohsenow, Eq. (6.71), pode ser


reduzida à seguinte expressão:

l  lv
k1,7 0,33
h
 Csf1  g0,165 (6.79)
0,67 hlv0,77  c pl0,7  1,37
l  0,165

A Eq. (6.79) apresenta a forma geral da Eq. (6.78) desde que se omita o
termo da aceleração da gravidade que pode ser incorporado à constante. Como no
caso da correlação de Rohsenow, as expressões da literatura podem ser reduzidas
a um produto de propriedades de transporte do líquido, a tensão superficial, a
densidade do vapor e/ou a diferença entra as densidades das fases. Por outro lado,
Cooper utilizando argumentos extraídos da Lei dos Estados Correspondentes da
Termodinâmica, sugeriu que as propriedades de transporte podem ser avaliadas,
com razoável precisão, por expressões do tipo:
JMSJ 6-42

propriedade i  pra  Tr bi 1  Tr  i  10ei


c
i
(6.80)

Expressões mais simples ainda para as propriedades, mantendo a precisão


dentro de limites aceitáveis, podem ser desenvolvidas em termos da pressão
reduzida, assumindo a seguinte forma:

propriedade i  pra   log10 pr 


di
i
 10ei (6.81)

Nessas condições, a expressão geral para a transferência de calor, Eq.


(6.79), pode ser reduzida à seguinte expressão geral em termos da pressão
reduzida:

h
 Cons tan te  prA    log10 pr 
B
(6.82)
 
m

É interessante notar que, para a maioria das expressões da literatura, o


expoente do fluxo específico de calor, “m”, varia numa faixa relativamente estreita,
0,5 a 0,7, sendo que, com exceção de algumas correlações, os valores de “m”
variam entre 0,6 e 0,7. A constante e os expoentes da Eq. (6.82) podem ser
determinado a partir de resultados experimentais por simples regressão. Utilizando
um banco de dados relativamente extenso, envolvendo diversos fluidos e
geometrias, Cooper determinou os valores dos parâmetros da Eq. (6.82), tendo
agregado dois outros parâmetros. Um deles foi introduzido para incorporar efeitos de
acabamento superficial, no caso caracterizados pela rugosidade superficial, Rp. O
outro foi introduzido com o objetivo de ajustar a equação ao particular fluido através
da massa molecular, M. A expressão final proposta por Cooper apresenta a seguinte
forma:

h
   logpr 
0,12 0,2logRp 0,55
 55  pr  M0,5 (6.83)
 
0,67

No caso de superfícies cilíndricas de cobre, Cooper sugere corrigir a Eq.


(6.83) por um fator igual a 1,7.

● Ribatski
Ribatski desenvolveu uma correlação com base no procedimento sugerido
por Cooper, tendo ajustado os coeficientes a partir de um banco de dados
constituído de refrigerantes halogenados em ebulição sobre superfícies cilíndricas
de cobre, latão e aço inoxidável. A expressão resultante é a seguinte:

h 0,8
 fp  pr0,45    log pr    Ra0,2  M0,5 (6.84)
m

onde Ra é a rugosidade média da superfície aquecida e

m  0,9  0,3  pr0,2 (6.84a)


O material da superfície aquecida afeta a transferência de calor, tendo sido
seu efeito incorporado ao fator “fp“, o qual assume os seguintes valores para os
materiais referidos por Ribatski:
JMSJ 6-43

Aço
Material Cobre Latão inoxidável

fp 100 110 85

● Literatura alemã
A maioria das correlações para a transferência de calor na Ebulição
Nucleada não considera o efeito da pressão. Algumas foram desenvolvidas para
pressões próximas à atmosférica. Uma expressão generalizada para o coeficiente
de transferência de calor pode ser escrita como:

h  Cn (6.85)
Como a taxa de transferência de calor, como deve ter ficado claro, depende
da pressão, o fator C da Eq. (6.85) deve ser uma função da pressão que pode ser
escrita como:

C  C0 f p 

onde C0 é um parâmetro que leva em consideração as propriedades do líquido a


uma pressão característica, p0 , e f  p  uma função da pressão, tal que f p0   1 .
Nessas condições:

h  C0 f p  n (6.86)

Por outro lado, à pressão de referência, p0 , deve valer:

h0  C0 0n (6.86a)

Dividindo a Eq. (6.86) pela (6.86a), resulta:

n
h  
 f p   
h0  0 
Como a expressão acima é adimensional, seria interessante que a função
f  p  viesse dada em termos de uma pressão adimensional, no caso, a pressão
reduzida, pr  p / pc , onde pc é a pressão crítica do particular fluido. Assim,

n
h  
 f  pr    (6.87)
h0  0 
A função deve ser tal que f pr0   1. Alguns autores levantaram valores ou
expressões para a função f  pr  . Na literatura alemã, as expressões levantadas por
Gorenflo e colaboradores são de uso geral, tendo as mesmas a seguinte forma,
dependente do fluido:
JMSJ 6-44

 1,8 
f  pr   2,10pr 0,27   4,4   pr  fluidos orgânicos e amônia
 1  pr 
(6.88)
 1,0 
f  pr   2,55pr 0,27   9  p 2  água e líquidos criogênicos
2  r
 1  p r 

As expressões foram levantadas para um fluxo de calor de 20 kW/m2. A


pressão de referência reduzida foi escolhida como sendo igual a 0,03, de forma que
as expressões (6.88) tendem a 1 para uma pressão reduzida de 0,03. A Fig. 6.33
apresenta as expressões (6.88) na forma gráfica. Os valores de h0 e 0 são os
correspondentes à pressão de referência, p0 ou pr 0 . Como se observa na Fig. 6.33,
a função f  pr  aumenta de forma significativa à medida que a pressão tende à
crítica, de forma que o coeficiente de transferência de calor aumenta de forma
significativa com a pressão na faixa de pressões elevadas.
Resultados experimentais levantados por Gorenflo e colaboradores
revelaram que o expoente do termo envolvendo o fluxo específico de calor varia com
a pressão reduzida de acordo com a seguinte expressão:

n  0,9  0,3pr 0,30  fluidos orgânicos


(6.89)
n  0,9  0,3pr 0,15  água e líquidos criogênicos
Tal dependência do expoente “n” foi corroborada por Ribatski, como se pode
observar na expressão por ele proposta, Eq. (6.84a). A Tabela 6.8 apresenta valores
de h0 para um fluxo específico de calor de referência, 0 , de 20 kW/m2 levantados
por Gorenflo para uma série relativamente extensa de fluidos orgânicos, água e
amônia.

100

80

Fluidos orgânicos e amônia


60
f (pr)

40

20
Água

0,001
0,2 0,4 0,6 0,8 1
pr

Figura 6.33 Representação gráfica das expressões (6.88) para a função f  pr  .


JMSJ 6-45

Tabela 6.8 Valores de h0 correspondentes a um fluxo específico de calor de


referência de 20 kW/m2; pr0  0,03 .

2 2 2
Fluido h0 (W/m .K) Fluido h0 (W/m .K) Fluido h0 (W/m .K)
R-11 R-227 tolueno
1584 2150 1646
R-12 RC-318 difenil
2263 2376 1148
R-13 R-502 metanol
2206 1867 1567
R-13B1 água 3790 etanol
1980 2087
R-22 metano n-propanol
2206 4559 1793
R-23 etano isopropanol
2489 2947 1652
R-113 propano n-butanol
1499 2263 1556
R-114 n-butano isobutanol
2150 1867 1663
amônia n-pentano acetona
3960 1737 1850
R-115 isopentano clorometano
2376 1663 2710
R-123 n-hexano CCl4
1471 1607 1312
R-134a n-heptano CF4
2546 1369 2546
R-152a ciclohexano
2263 1369
R-226 benzeno
2093 1544

Concluindo o desenvolvimento, o efeito do estado da superfície aquecida


deve ser incorporado à correlação. Levantamentos empíricos revelaram que o
coeficiente de transferência de calor é afetado pela rugosidade superficial de acordo
com uma relação do tipo:

h Rp0,133 (6.90)
Nessas condições, a expressão geral para o coeficiente de transferência de
calor assumiria a seguinte forma:

m
 Rp    
n n
h h  
   f pr          FpFR   (6.91)
 h0   Rp0   0   h0   0 

onde Rp0  1 m , m=0,133, 0  20 kW / m2 . Valores de h0 podem ser obtidos da


Tabela 6.8.

 O Modelo de Jens-Lottes
A Ebulição Nucleada não ocorre somente em superfícies convenientemente
aquecidas e imersas em um banho de líquido (piscina). Ela também se dá em
sistemas envolvendo o aquecimento de fluidos que escoem no interior de um duto
(ou exteriormente). Como se verá mais adiante, a Ebulição Nucleada naqueles
casos está geralmente associada à formação de bolhas junto a paredes aquecidas,
em regiões onde o líquido que escoa pela região central do tubo se encontra
subresfriado. Essas situações estão associadas a uma condição em que se diz não
ocorrer equilíbrio termodinâmico: ocorre ebulição, embora o líquido, em média, não
esteja saturado. Diz-se que ocorre ebulição local. Nessas condições, a formação
JMSJ 6-46

intensa de bolhas junto à parede do tubo faz com que o líquido que escoa afastado
da superfície não afete significativamente o processo que lá ocorre. Os modelos até
aqui apresentados poderiam ser aplicados a essa situação. Entretanto, em
aplicações com água, alguns modelos empíricos foram desenvolvidos, tais como o
de Jens-Lottes, proposto no início da década de 60. A sua forma geral pode ser
escrita como:

Tsat  Cm (6.92)

onde Tsat é o superaquecimento da parede,  Tp  Tsat  ,  o fluxo específico de calor


e C um parâmetro que depende da pressão. A relação proposta por Jens-Lottes é a
seguinte:

Tsat  250,25 exp  p / 62 (6.93)

onde Tsat é em °C,  em MW/m2 e p, pressão absoluta, em bar. Na Inglaterra,


Thom propôs uma relação semelhante, também válida somente para a água:

Tsat  22,650,5 exp  p / 87  (6.94)

É interessante observar que as relações do tipo Eq. (6.73), Jens-Lottes e


Thom, entre elas, correlacionam adequadamente a Curva de Ebulição,  vs Tsat .
Entretanto, é importante lembrar que essas expressões são válidas para ebulição
em escoamento, ao passo que a Curva de Ebulição envolve um banho de líquido. A
razão para que essas equações não envolvam a vazão do líquido se encontra no já
mencionado efeito de “isolação” do líquido promovido pelas bolhas.

(C) FLUXO DE CALOR CRÍTICO


Quando o fluxo de calor na superfície aquecida é elevado, formam-se
colunas de vapor praticamente contínuas. O fluxo crítico de calor ocorreria quando
as colunas de vapor interagissem para impedir que o líquido atinja a superfície.
Kutateladze propôs que o mecanismo responsável pela ocorrência do fluxo crítico
seria a instabilidade hidrodinâmica, a qual provocaria um efeito semelhante à
inundação (“flooding”). A idéia de Kutateladze foi utilizada por outros autores para
obter a expressão para o fluxo de calor crítico. Assim, considerando uma coluna de
líquido descendente entre duas colunas de vapor ascendente, o fluxo de calor crítico
dar-se-ia quando ocorresse uma instabilidade da interface líquido-vapor, a qual se
dará para uma dada velocidade do vapor. A instabilidade se caracteriza pelo
aumento de uma pequena perturbação da interface. Seguindo essa linha de
raciocínio a estabilidade se caracterizaria pelo amortecimento das perturbações. A
instabilidade acima referida denomina-se INSTABILIDADE DE HELMHOLTZ. Zuber
obteve a seguinte expressão:

   L  V  g 
1/ 4

crit  0,131 iLV V   (6.95)


 2V 
Posteriormente, co coeficiente numérico foi mudado para 0,18 (substituindo
0,131). Rohsenow & Griffith propuseram a seguinte expresão:
JMSJ 6-47

0,6
   V 
crit  0,143 iLV V  L  (6.95a)
 V 
sendo o coeficiente numérico em pés/h.

0,6
   V 
crit  0,0119 iLV V  L  (6.95b)
 V 
com o coeficiente em m/s.
A Tabela 6.9 apresenta uma comparação entre os fluxos críticos
proporcionados pelas expressões sugeridas acima para a água.

Tabela 6.9 Fluxo crítico de calor para a água de acordo com distintas expressões.
ρL ρV X10
3
p iLV Zuber(1) Zuber(2) Rohsenow
3 3 2 2 2
(bar) (kg/m ) (kg/m ) (kJ/kg) (N/m) kW/m kW/m kW/m
1,0135 958,3 0,5977 2256,9 58,78 1.107,8 1.522,0 1.344,0
15,550 864,7 7,862 1940,6 37,81 3.499,3 4.808,2 3.030,0
39,776 799,2 19,98 1715,2 26,19 4.013,0 5.514,0 3.674,0
85,917 712,5 46,20 1404,0 14,39 3.892,0 5.348,0 3.828,0
*Zuber 1; Constante = 0,131
Zuber 2; Constante = 0,180

(D) PONTO DE MÍNIMO FLUXO DE CALOR PARA EBULIÇÃO EM PELÍCULA


ESTÁVEL (PONTO DE LEIDENFROST)

Neste caso considera-se a instabilidade de Taylor para uma situação como a


mostrada na figura abaixo. O ponto de Leidenfrost é considerado aquele para o qual
o fluxo de calor é suficiente para sustentar uma situação como a mostrada abaixo.

Líquido

Vapor

Figura 6.33 Esquema da configuração da interface em ebulição em película estável.

Assim, desde que ocorra instabilidade, perturbações tenderão a se propagar


com aumento de amplitude a ponto de o líquido atingir a superfície do sólido, uma
situação característica da ebulição em película instável (ou transitória). Os modelos
mais básicos se devem a Zuber (1958) e a Berenson (1962), os quais propuseram:

1/ 4
 g  L  V  
min  C iLV V   (6.96)
  L  V  
2

C  0,177  Zuber(1959)
C  0,130  Zuber(1958)
C  0,090  Berenson (1961)
JMSJ 6-48

Esses modelos admitiam a temperatura da parede constante. Modelos mais


recentes, como o de Henry, consideram o efeito da parede e de sua inércia térmica
não infinita, mas não serão aqui discutidos.
JMSJ 6-49

Evaluation of the Rohsenow’s correlation through experimental pool boiling of


halocarbon refrigerants on cylindrical surfaces

José M. Saiz Jabardo*


Evandro Fockink da Silva
Gherhardt Ribatski
Samuel Freire de Barros

Laboratório de Refrigeração
Departamento de Engenharia Mecânica
Escola de Engenharia de São Carlos
Universidade de São Paulo
Avenida Trabalhador Sãocarlense, 400 Centro
13566-590 São Carlos, SP

Artigo publicado no
Journal of the Brazilian Society of Mechanical Sciences and Engineering,
Vol. XXVI, pp 218 a 230, 2004.
JMSJ 6-50

Evaluation of the Rohsenow’s correlation through experimental pool boiling of


halocarbon refrigerants on cylindrical surfaces

Abstract

This paper reports results from an investigation on the performance of the Rohsenow’s type of

correlation when applied to the nucleate boiling of halocarbon refrigerants over cylindrical surfaces of

different material. Experimental data for refrigerants R-11, R-123, R-12, and R-134a have been raised

and fitted according to two different procedures. It has been determined that exponents m and n are

weakly affected by the refrigerant, and surface material and finishing. Liquid/surface combinations and

surface roughness affect the coefficient Csf. A correlation has been developed for Csf in terms of the

liquid/surface combination and surface roughness. The resulting correlation has been evaluated through

the experimental data used in the fitting process and results obtained elsewhere. Deviations of

correlation with respect to the experimental heat transfer coefficient are within acceptable ranges.

Key words: nucleate boiling, halocarbon, refrigerant, cylinder.

1. Introduction

Nucleate boiling has been under intense scrutiny since the early thirties, when pioneering research

studies came to light. Ribatski (2002) rightly points out that the number of publications has grown

steadily since that time. This interest is justified by the heat transfer enhancement that this mechanism

promotes on heated surfaces. Generally speaking, nucleate boiling research has been traditionally

focused into the investigation of the physical mechanism and the development of general correlations

for the heat transfer coefficient. Physical models tend to reproduce the particular mechanism that

prevails under specific operational conditions of the boiling surface such as pressure, liquid subcooling,

liquid/surface combination, and geometry. As a result, most of the semi-empirical correlations are

strongly dependent upon operational conditions not being amenable to generalizations. The

Rohsenow’s correlation is one of them, having endure up to present days. Based upon straightforward

arguments, Rohsenow (1952) suggested that the heat transfer enhancement under boiling conditions is

the result of local liquid circulation in the region close to the heating surface promoted by successive

bubble detachments. Given this physical scenario, a locally defined Stanton number could be written in

terms of an equally local Reynolds number and the liquid Prandtl number. The local Stanton number

was referred to the mass velocity of vapor leaving the surface whereas the Reynolds number was
JMSJ 6-51

written in terms of the same mass velocity and a characteristic dimension proportional to the bubble

detachment diameter. After some manipulation the following equation results:

m
 1
2 n
c pl  T  q"      c pl   l 

 C sf      
hlg  hlg   l 
 g   l   g 
   kl


 

(1)

which can be written in a reduced form as:

St *  C sf  Re bm  Prln

(2)

The left hand side of Eq. (1) corresponds to the inverse of Stanton number, St*, whereas the first term

of the right hand side could be considered a Reynolds number referred to the bubble departure

diameter. Values of exponents m and n were found to be equal to 0.33 and 1.7 by curve fitting

experimental results obtained elsewhere for liquids other than water. Rohsenow suggested to change

the exponent of the Prandtl number to 1.0 for water. Furthermore, according to Rohsenow, whereas m

is not affected, n might depend upon the surface finishing, attaining values in the range between 0.8

and 2.0. The numerical coefficient, Csf, was related to the effect of liquid/surface combination through

the contact angle, . Thus for water boiling on a smooth copper surface, Rohsenow determined the

value of Csf to be equal to 0.013. Later on Vachon et al. (1968) performed extensive experiments

involving several liquid/surface combinations to obtain the associated values of Csf and n. Neither

Rohsenow nor Vachon and coworkers performed experiments involving halocarbon refrigerants boiling

on cylindrical surfaces which are the main objective of present study. Noteworthy are studies by Sauer

et al. (1975), Saiz Jabardo and Silva (1991) and more recently Pioro (1999) who fitted data from

experiments involving a limited number of halocarbon refrigerants. Their data shed some light over the

behavior of the Rohsenow correlation with respect to the aforementioned refrigerants. Table 1 presents

a summary of studies carried out in relation with the Rohsenow correlation. The table includes

information regarding the fluid(s), surface material, operational conditions such as the ranges of pool
JMSJ 6-52

pressures and heat fluxes, and the values of Csf, m, and n each study has come up with by fitting

experimental results. Interesting to note in this table is that the few studies that have dealt with

halocarbon refrigerants did it with the low pressure ones, such as R-11 and R-113, both of them of the

banned family of CFCs.

Present study has been set forth to experimentally investigate nucleate boiling on cylindrical copper,

brass and stainless steel surfaces of both low and high pressure halocarbon refrigerants R-11 (CFC), R-

123 (HCFC), R-12 (CFC), and R-134a (HFC). Constant parameters of the Rohsenow correlation are

evaluated and analyzed based upon data involving this set of refrigerants and an extensive range of

reduced pressures and heat fluxes along with different surface conditions.

Table 1 A summary of research studies related to the determination of the constant


parameters
of the Rohsenow correlation.

Surface/ Surface psat q"


Author Fluid Csf / n / m
Material Finish (kPa) (kW/m2)
Water Platinum 101-16995 28-530 0.013/1.0/0.33
Benzene 101-5274 25-600 0.019/1.7/0.33
Polished
Rohsenow n-pentane Chromium 152-2861 29-440 0.015/1.7/0.33
Etanol 101-4450 15-800 0.0027/1.7/0.33
n-pentane 12.4-90 0.0154/1.7/0.33
0.0145/1.7/0.10
CCl4 13.2-211 0.0070/1.7/0.33
Copper Polished 101
Vachon 0.0063/1.7/0.09
Water 28-828 0.0128/1.7/0.33
0.0109/1.7/0.10
Mirror finish 0.0096/1.7/0.33
Half-etched 0.0092/1.7/0.33
Sauer et al R-11 Plate** All-etched --- 0-54 0.0090/1.7/0.33
Inconel-600 Glass peened 0.0090/1.7/0.33
Sand paper 0.080/1.7/0.33
Roughness 0.00356/1.7/0.33
Plate**
Kartsounes R-12 319 6-220
Copper Polished
0.00464/1.7/0.33
Plate** 8-100 15-50 0.021/1.7/0.33
Polished
Tewari Water Copper
0.0209/1.7/0.33 (14)*
Plate***
Liaw Water Polished 101 250-870 0.0194/1.7/0.33(38)*
Copper
0.0172/1.7/0.33(90)*
R-11 132 0.8-64 0.0068/1.7/0.33
Saiz R-113 Tube** 103 0.8-110 0.004 /1.7/0,33
Polished
Jabardo Copper
R-114 112 0.8-110 0.004/1.7/0.33
Tube/ Brass Polished 101 8-43 0.009/1.1/0.33
Water St. Steel Rq=0.53 μm 101 22-158 0.008/1/0.33
St. Steel Rq=3.6 μm 101 37-160 0.007/1/0.33
Pioro Ethanol Chromium Polished 90-180 15-800 0.0045/1.47/0.33
JMSJ 6-53

CCl4 Brass Polished 101 7,8-43 0.0022/2.1/0.33


R-12 Copper --- 330-490 1.5-5 0.016/1.7/0.33
R-11 Plate ** Ra=1.37 μm 98-230 1,4-12 0.0009/3.47/0.33
R-113 Copper Ra=1.37 μm 58-270 3.2-21 0.0022/2.25/0.33
* Contact angle, θ; ** horizontal; *** vertical.

2. Experimental set up

The experimental set up comprises the refrigerant and cooling circuits, as shown in Fig. 1. The charge

of refrigerant is basically contained in the boiler in which the liquid is kept at a reasonable level above

the test surface (tube) so that the column head does not affect significantly the equilibrium saturation

temperature. The cooling circuit is intended to control the equilibrium pressure in the boiler by

condensing the refrigerant boiled in the heating surface. The condensing effect is obtained by a 60%

solution of ethylene glycol/water that operates as intermediate fluid between the condenser and the

cooling system not shown in Fig. 1. The ethylene glycol/water solution is cooled by either a

refrigeration circuit or water from a cooling tower, depending upon the operating pressure. This

solution is intended to operate in the range between –26oC and 90oC.

The boiler is a 40 liters carbon steel container with two lateral circular windows for visualization. It

contains the boiling surface in addition to a 1500W/220V electrical heater, installed at the bottom, and

two sheathed type T thermocouples. The boiler is also fitted with openings for connections to a

pressure transducer, a safety valve, and vapor and liquid return copper lines, as shown in Fig. 1. The

sheathed thermocouples are installed in such a way to measure and monitor the temperature of the

liquid pool and the vapor in equilibrium with it. Under normal operating conditions these

thermocouples indicate temperatures which are very close to each other and to the saturation

temperature at the boiler internal pressure measured by the pressure transducer.

The test (boiling) surface is placed in the middle of the boiler so that the boiling mechanism can easily

be visualized through the glass windows. It is made up of a 19.0 mm diameter and 3.1 mm thick copper

tube, a cut way view of it is shown in Fig 2. The test tube is supported by a brass piece which is thread

attached to the flanged cover of the boiler. The boiling surface is heated by a 12.6 mm diameter and

210 mm long cartridge electrical heater. The electrical power to the boiling surface is controlled by a

manually operated voltage converter and measured by a power transducer. Surface temperature is

measured through eight 30 AWG type T thermocouples installed in grooves carved by an electro

erosion process in locations indicated in Fig. 2. Thermocouples are kept in place by a thermal
JMSJ 6-54

conductive epoxy resin. Electrical signals from the transducers are processed by a data acquisition

system which includes two 12 bit A/D converter boards with 16 channels each, and three connection

panels. Two of these panels are dedicated to thermocouple connections.

aqueous solution
Condenser of ethylene glycol

pressure
transducer power supply

test section
glass window draining and
charging line

Figure 1. A schematic diagram of the experimental set up showing the main components and
equipment.

255 mm cartridge heater


19 mm
0.8 mm
epoxy 1.0 mm
resin
2.1 2.1 mm
1.1 3.2
1.3 2.2 mm

1.2 3.1
2.3

Figure 2. Longitudinal and transversal cut view of the test section showing the location of the surface
thermocouples.

3. Experimental procedure

The boiling surface used to be treated prior to the beginning of the tests. Sandpaper scales with mesh

size varying in the range from 220 to 1,200 were used to obtain the final surface roughness and applied
JMSJ 6-55

through a regular late machine run at 1,200 rpm. Experiments were also conducted with a polished

surface, which required a special treatment, and a sand blast surface. After treatment, the boiling

surface used to be thoroughly cleaned with a solvent (normally refrigerant R-11) and the roughness

measured at 10 randomly selected regions before attaching it to the boiler. After testing the boiling

surface, 10 randomly selected regions were again taken for roughness measurement so that conditions

of the surface before and after the tests could be compared. The roughness was measured in terms of

the CLA arithmetic average, Ra. The treatment suggested above allowed experiments to be run in the

range of surface roughness, Ra, between 0.020.01 m and 3.3 0.4 m.

The internal surface of the boiler used to be cleaned and kept under a vacuum of less than 2 kPa during

a period of 12 hours before the attachment of the boiling surface and the introduction of the test

refrigerant. Tests were conducted under saturated conditions of the refrigerant. This condition was

continuously monitored and adjusted as needed. The datum point would only be logged if the readings

of the sheathed thermocouples were close enough (within 0.2 K) to each other and to the saturation

temperature inside the boiler obtained from the pressure transducer reading. For analysis purposes, the

saturation temperature of the pool was determined as the average of the readings of the sheathed

thermocouples. Tests were conducted by gradually increasing the heat flux up to its predicted

maximum. Once the maximum was attained, the heat flux was gradually reduced down to zero. Only

downward heat flux data were considered for analysis purposes. Several procedures were tried to check

for possible effects on the results. Two of such procedures consisted in keeping the boiling surface

active for some time before logging data and starting directly from the maximum heat flux.

In measuring the surface temperature care was exercised in evaluating the thermal resistance of the

copper wall between the couple location and the actual boiling surface. In addition, axially located

thermocouples helped in evaluating axial heat conduction. It has been determined that in the location

corresponding to section 2 of the test tube, Fig. 2, the axial heat flux was negligibly small. A thorough

discussion of surface temperature measurement can be found in Ribatski (2002). The temperature

considered for analysis purposes was the one from the thermocouple located midway between those at

top and bottom of the heating surface at section 2 (Fig. 2). The temperature indicated by this

thermocouple is equivalent to the average of the readings of the three section 2 thermocouples.

Instruments were calibrated and the uncertainty of measured parameters evaluated according to the

procedure suggested by Abernethy and Thompson (1973) with results summarized in Table 2.
JMSJ 6-56

4. A summary of experimental results

Tests conducted under the investigation reported herein have raised information regarding the effects

on boiling heat transfer caused by the change in refrigerant, pressure and surface material and finishing

condition. Though the main objective of the paper is to correlate results according to the form proposed

by Rohsenow, a summarized analysis of the obtained data will be presented in such a way to clear up

some important effects related the main physical parameters investigated in present research. These

effects can clearly be seen in the boiling curves of Figures 3 to 5. Close examination of these figures

allows one to draw the following general conclusions:

Table 2. Uncertainty of measured and calculated parameters.

Parameter Uncertainty
minimum heat flux, q”=0.60 kW/m2  1.8%
maximum heat flux, q”=120 kW/m2  0.3%
heat transfer area  0.3%
wall temperature  0.2K
saturation temperature  0.2K
superheat temperature  0.,3K
2
heat tranfer coefficient, h= 2.27 kW/ (m .K)
R-123, pr=0.011, Ra=0.16m, copper, q”=114 kW/m2  1.3%
heat tranfer coefficient, h= 4.2 kW/ (m2.K)
R-134a, pr=0.260, Ra=2.5m, copper, q”=2.27 kW/m2  19.5%

(1) The slopes of boiling curves vary from values close to zero at the incipience of boiling up to an

asymptotic level in the high heat flux range. The effect of pressure on the asymptotic slope seems

to be of limited extent, especially in the high pressure range (Fig. 3).

(2) The region of the boiling curve where significant variations of the slope occur corresponds to the

one known as Partial Nucleate Boiling, Collier and Thome (1996). The extent of this region

depends upon the boiling liquid, pressure, and surface roughness. For conditions considered in

present study, heat fluxes corresponding to the Partial Nucleate Boiling region are limited to a

maximum of 30 kW/m2.
JMSJ 6-57

(3) Pressure affects positively the heat transfer, and so does roughness as the displacement of the

boiling curves to the left suggests. This should be an expected result considering effects of both the

surface tension and the range of cavity size, which are respectively associated to boiling incipience

and density of active cavities. Refrigerants are affected differently by the pressure and especially

by the surface roughness. In fact, as shown in Fig. 4(a), the displacement of the boiling curve to

the left with Ra is more significant for R-11 than for R-123. For the case of medium pressure

refrigerants, Fig. 4 (b), R-12 is affected more by surface roughness than R-134a.

(4) Effects of pressure and roughness on the boiling curve are more effective at lower pressures as can

clearly be seen in Figs. 3 and 4. This trend confirms a suggestion previously made by Cooper

(1984).

(5) Another important nucleate boiling parameter is the heating surface material. As previously

suggested, present research involved tests with three materials: copper, brass and stainless steel.

Figure 5 shows boiling curves of refrigerants R-123 and R-134a on surfaces made up of the

aforementioned materials. The effect of the heating surface material over the boiling curve is

strikingly significant, the extent depending upon the particular fluid. It can be noted in Fig. 5(a) for

refrigerant R-123 that differences between boiling curves for copper and brass surfaces are

minimal as compared to that for stainless steel. On the other hand, in the case of refrigerant R-

134a, Fig. 5 (b), boiling curves corresponding to different materials present comparable differences

between each other, with copper presenting better performance and stainless the least.

(6) Results from part 5 suggest the influence of a combined surface/liquid effect instead of an isolated

surface material effect, as suggested by some authors. In fact, if this were the case, boiling curves

from Fig. 5(a) for copper and brass would present comparable differences between each other as

those from Fig. 5(b), opposite to what actually is observed in these figures. This conclusion is in

accordance with the proposed Rohsenow surface/liquid effect, characterized through the Csf

numerical coefficient.

5. Correlation of results

Boiling curves as the ones shown in Figs. 3 to 5 include the following three regions with increasing

heat flux: (1) natural convection; (2) partial nucleate boiling; and (3) fully developed nucleate boiling.

Data considered for correlation purposes should be only those corresponding to fully developed
JMSJ 6-58

nucleate boiling. However, in some previous studies experimental data for correlation purposes have

been chosen by arbitrarily selecting a minimum heat flux. This heat flux would be one that would

guarantee theoccurrence of nucleate boiling and, as a result, the elimination of natural convection data.

Thus, by adopting this procedure, data for both partial and fully developed nucleate boiling would be

included in the set chosen for the fitting procedure. A more rigorous procedure would involve the

determination of

(a) (b)

Figure 3. Boiling curves at different reduced pressures. (a) Low pressure refrigerants R-11 and R-123
for an average roughness, Ra=0.16 m; (b) high pressure refrigerants R-12 and R-134a for
an average roughness, Ra=0.07 m. Copper surface. Filled symbols stand for R-123 and the
blank ones for R-11.
JMSJ 6-59

120
120

100
100

80
80
q " (kW / m )
2

q" ( kW / m )
2
60 R-11 0.17 m
60
R-11 0.45 m R-12 0.06 m
40 R-11 2.30 m R-12 0.51 m
40
R-123 0.16 m
R-134a 0.07 m
20 R-123 0.47 m
20 R-134a 0.50 m
R-123 3.30 m
R-134a 2.50 m
0
0
0 5 10 15 20 25 30
0 5 10 15 20
T (K)
T (K)
(a) (b)

Figure 4. The effect of surface roughness on the boiling curve. (a) Low pressure refrigerants R-11 and
R-123 for reduced pressure of 0.011, filled symbols stand for R-123 and the blank ones for
R-11; (b) high pressure refrigerants R-12 and R-134a for reduced pressure of 0.120, filled
symbols stand for R-12 and the blank ones for R-134a. Copper surface.

120 120
Copper
100 100 Copper
Stainless steel
Stainless steel
Brass
80 80 Brass
q" (kW / m )

q" (kW / m )
2

60 60

40 40

20 20

0 0
5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25
T (K) T (K)
(a) (b)

Figure 5. The effect of surface material on the boiling curve. (a) Low pressure refrigerant R-123 for
reduced pressure of 0.064 and average roughness of 0.16 m; (b) high pressure refrigerant
R-134a for reduced pressure of 0.064 and average roughness of 0.07 m.

the onset of fully developed nucleate boiling in such a way that only experimental conditions

corresponding to this boiling regime would be considered for fitting purposes. However, it must be
JMSJ 6-60

recognized that the onset of this regime is not very well established since it depends upon parameters

such as surface material and roughness as well as the particular boiling liquid, as clearly displayed in

Figs. 3 to 5. Both procedures have been followed in this paper in order to compare results from each

one regarding the level of correlation of experimental data. Thus, in the first case, a minimum heat flux

was chosen in an “ad hoc” manner so that natural convection related data were not included in the set

used for fitting purposes. A preliminary analysis of data allowed us to choose the aforementioned

minimum heat flux as being equal to 5 kW/m2. The second procedure involved a preliminary

examination of experimental data along with the proposition of a criterion for the onset of fully

developed nucleate boiling, related to the maximum value of the derivative of the boiling curve (q” vs.

T). Initially, the variation of the derivative, dq”/d(T), of the boiling curves was raised followed by

the determination of the onset heat flux and the selection of data points corresponding to fully

developed nucleate boiling. The heat flux at the onset of fully developed nucleate boiling varied

between 3 and 30 kW/m2, depending upon the refrigerant, pressure and surface material and roughness.

Curve fitting of experimental results was performed according to the following procedures: (1) by

keeping the original values of m and n proposed by Rohsenow, i. e. 0.33 and 1.7, and determining the

coefficient Csf for each refrigerant/surface material and roughness combination; (2) by letting Csf, m,

and n free.

5.1 Csf evaluation for m=0.33 and n=1.7

In this case, fitting consisted in determining the coefficient Csf for the refrigerant/surface material and

roughness combinations considered in present study. Results are summarized in Table 3 for both

(q”)min5 kW/m2 and fully developed nucleate boiling data sets. The following general conclusions can

be drawn from this table:

Table 3. Values of Csf for different refrigerant/surface material and roughness; m=0.33, n=1.7.
JMSJ 6-61

(q”)min  5 kW/m2 Fully developed


Average Average
Surface Ra absolute absolute
Refrigerant Csf
material [m] deviation Csf deviation
[%] [%]
0.17 0.0086 15.2 0.0084 12.6
R-11 0.45 0.0066 14.7 0.0065 13.1
2.40 0.0042 11.8 0.0041 11.0
0.16 0.0070 10.2 0.0065 6.4
R-123 0.47 0.0058 12.6 0.0056 10.8
Copper
3.30 0.0036 6.2 0.0036 6.0
0.06 0.0100 15.5 0.0100 14.0
R-12
0.51 0.0060 9.9 0.0060 9.8
0.07 0.0073 6.6 0.0072 5.4
R-134a 0.50 0.0053 4.0 0.0052 3.4
2.50 0.0032 3.2 0.0032 3.1
Stainless R-11 0.16 0.0150 12.3 0.0105 9.8
Steel R-123 0.16 0.0080 11.5 0.0087 4.3
R-134a 0.07 0.0080 11.9 0.0083 11.3
R-11 0.15 0.0080 16.1 0.0083 14.0
Brass R-123 0.16 0.0070 15.5 0.0063 9.5
R-12 0.08 0.0090 20.4 0.0090 21.8
R-134a 0.08 0.0060 10.9 0.0060 0.5

(1) Csf values are not significantly affected by the data set considered in the fitting procedure.

However the absolute average deviation is generally higher for the (q”)min5 kW/m2 correlation

with respect to its corresponding data set than that for the fully developed nucleate boiling one

with respect to its associated data set.

(2) The effect of the liquid/surface material combination over Csf, previously suggested by Rohsenow

and others, can clearly be noted. Unfortunately data from other sources are scarce. Thus a detailed

comparison with present results is rather questionable since surface material and roughness, and

operational conditions are generally not compatible.

A significant effect of the surface roughness (Ra) over Csf can be noted in the table, a trend which had

not been previously observed. As a general rule, Csf diminishes with the roughness of the surface, a

result which is consistent with the observed trends in the boiling curves. It must be noted that the

originally proposed dependency upon the surface/liquid combination by the part of Csf is related to the

wetting level of the liquid with respect to the heating surface. Thus Csf must keep a closed relationship

with the contact angle, which in turn depends upon the surface roughness, as suggested elsewhere,

Bikerman (1970), Kandlikar (2001).

5.2 General procedure


JMSJ 6-62

A second and more general fitting procedure has been pursued consisting in the determination of three

parameters of the Rohsenow’s correlation: m, n and Csf. The adopted procedure has been performed

according to the following steps.

 m determination

Initially all data points were plotted in terms of curves St* vs. Reb. Values of m for each

refrigerant/surface combination have been determined with most of the results varying in a relatively

narrow range. This is a clear indication that the refrigerant, surface material and roughness, and

pressure do not affect significantly the value of m. The plot of Fig. 6 of all fully developed nucleate

boiling data points in terms of St* vs. Reb seems to confirm this trend. It can be noted that the cloud of

data points is characterized by a common general slope, related to the m value of Eq. (2). It must be

stressed that, by doing so, individual trends involving different refrigerants, pressures, and surface

material and condition are overviewed. According to Fig. 6, the resultant value of m is 0.21, whereas

for data corresponding to (q”)min5 kW/m2, m is equal to 0.18. These results allow one to conclude that

the inclusion of partial nucleate boiling data do not affect significantly the value of m.

 n and Csf determination

The characteristic value of n has been determined by plotting data in terms of (St*/Rebm) vs Prl, as

shown

in Fig. 7 for the fully developed data set. It can be noted that, despite significant dispersion, plotted data

follow a common trend characterized by a single slope, illustrated by the superposed straight line in the

plot. Given that n is related to this slope, one can immediately conclude that, as a first approximation,

its value is not significantly affected either by the refrigerant, surface condition and material or

pressure. The resulting value of n is 1.03, for fully developed nucleate boiling data, and 1.15, for data

corresponding to (q”)min5 kW/m2. Similarly to m, differences in the value of n associated to the data

sets considered in this paper are relatively small.


JMSJ 6-63

0.2

0.1

0.05
*
St

0.02
* 0.21
St =0.0492·Reb

0.01
0.1 1 10 15
Reb

Figure 6. Experimental data in terms of St* vs. Reb for the fully developed nucleate boiling set.

0.2
* 0.21 1.03
St /Reb =0.0152 Pr
l

0.1
0.21
St /Reb
*

0.05

0.02
2 5 7
Prl

Figure 7. Fully developed nucleate pool boiling data in terms of St* / Reb0.21 vs. Prl.

It is interesting to note at this point that the liquid Prandtl number for refrigerant R-12 presents an odd

behavior compared to that of the other three refrigerants in the range of pressures considered in present

study, as shown in Fig. 8. It can be noted that whereas Prl diminishes with pressure for refrigerants R-

11, R-123, and R134a, for refrigerant R-12, Prl presents a minimum value at a reduced pressure of the
JMSJ 6-64

order of 0.1. In addition, the relative variation of liquid refrigerant R-12 Prandtl number in the

experimental pressure range ( 10%) is much smaller than that for the other refrigerants (higher than

25%). Thus, the inclusion of R-12 experimental data in Fig. 7 affects the value of n due to the

aforementioned shift in the slope with the reduced pressure though the relative variation of Prl for this

refrigerant is of limited extent. As an example of this effect, the value of n changes from 1.15 to 1.55

when R-12 data are removed from a plot similar to that of Fig. 7 for the (q”)min5 kW/m2 data set. In

present study the value of n was obtained including R-12 data for the sake of generality.

6.5

5.5

5
Prandtl

4.5 R-123
R-134a
4
R-11
3.5

3
R-12
2.5
0 0.04 0.08 0.12 0.16 0.2
pr

Figure 8. Variation of the liquid Prandtl number with reduced pressure for different refrigerants.

The coefficient Csf of the Rohsenow’s correlation has been obtained as the value where the (St*/Rebm)

vs Prl curve crosses the vertical axis. The dispersion of data in the plot of Fig. 7 is a clear indication

that Csf is affected not only by the liquid/surface combination, as previously suggested by Rohsenow

and succeeding researchers, but also by the surface roughness, Ra, as pointed out in Section 5.1. As a

result, data points of the plot of Fig. 7 must be sorted so that the effects of the aforementioned

parameters over Csf can quantitatively be determined. An example of the kind of results obtained by

this procedure can be seen in Fig. 9, where the variation of C sf with the reduced pressure for different

surface conditions and refrigerants R-123 and R-134a boiling over copper surfaces is shown. It can be

noted that, as a rule, Csf diminishes with both the reduced pressure and surface roughness. In addition,

the higher the roughness of the surface the lesser the effect of pressure.
JMSJ 6-65

0.025 0.025

0.020 0.020

0.015 0.015

Csf
Csf

0.010 0.010

Ra = 0.16 m Ra = 0.17 m
0.005 Ra = 0.47 m 0.005
Ra = 0.45 m
Ra = 3.30 m Ra = 2.40 m
0.000 0.000
0.00 0.05 0.10 0.15 0.00 0.05 0.10 0.15
pr pr

Figure 9. Variation of Csf with reduced pressure for different surface roughness for refrigerants boiling
over a copper surface. (a) R-123; (b) R-134a.

Individual Csf curves for each refrigerant and surface material similar to those of Fig. 9 have been

obtained. These results have been fitted by a correlation with the following general form:

C sf  C  a  lnRa   b p r  c  lnRa   d 

(3)

valid for the refrigerants and refrigerant/surface combinations considered in this paper. Individual

values of coefficients a to d have been obtained, requiring the use of one equation for each refrigerant.

The procedure could be simplified by fitting data extensive to all the refrigerants with a single equation

of the same general form as Eq. (3). Results form this general equation correlate data with adequate

precision though not being as accurate as the particular ones as should be expected. The general

equation has been adopted in this paper, according to it the coefficients a to d are constant and the

refrigerant/surface material combinations are taken by the coefficient C. Table 4 presents values of the

obtained coefficients from the data sets corresponding to fully developed nucleate boiling and (q”)min5

kW/m2.

Table 4. Coefficients for the Csf correlation, Eq. (3).


JMSJ 6-66

Fully developed (q”)min5kW/m2


a b c d a b c d
0.00770 0.0258 0.00360 0.0138 0.0064 0.00188 0.00320 0.0110
R-11/copper C  1.00 C  1.00
R-11/SS* C  1.30 C  1.20
R-11 brass C  0.90 C  0.90
R-123/copper C  1.00 C  1.00
R-123/ SS C  1.30 C  1.20
R-123/brass C  0.95 C  0.95
R-134a/copper C  1.00 C  1.00
R-134a/SS C  1.15 C  1.10
R-134a/brass C  0.90 C  0.80
R-12/copper C  1.00 C  1.00
R12/ SS  
R-12/brass C  1.00 C  1.00
* SS: Stainless steel

Table 4 indicates that differences between the values of Csf resulting from both data sets are minimal.

Considering that the differences between exponents m and n are also small, as previously noted, one

can conclude that the proposed correlations are very close to each other as the plots in Figs. 10 (a), (b)

clearly display. The correlations are represented in terms of the heat transfer coefficient, h, versus the

heat flux, q”, in these figures. The heat transfer coefficient is determined as

q" q"
h 
Tw  Tsat T

(4)

The maximum deviation between results from both correlations is of the order of 6.0% for case (a) of

Fig. 10, for refrigerant R-11 and low reduced pressure and roughness, pr=0.023 and 0.1 m. The case

of Fig. 10 (b), for the same refrigerant as in case (a), and pr=0.1 and Ra=2.5 m, presents a maximum

deviation of the order of 11.0%. As expected, differences are minimal between the proposed

correlations, a result that could explain why some of the literature correlations developed from data sets

involving partial nucleate boiling data produce reasonable results.


JMSJ 6-67

5 18

4 15

12
3
h (kW/m K)

h (kW/m K)
2

2
9
2
2 6
(q")min = 5 kW/m 2
1 (q")min = 5 kW/m
Fully developed 3
Fully developed

0 0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100
2 2
q" (kW/m ) q" (kW/m )

Figure 10. Heat transfer coefficient vs. heat flux according to correlations for fully developed and (q”)min5
kW/m2 nucleate boiling. (a) R-11, pr=0.023 ; Ra=0.1 m; (b) R-11, pr=0.1 ; Ra=2.5 m.

6. Evaluation of the proposed correlation

In the previous section the procedure for fitting data was explained in detail leading to a general

Rohsenow’s correlation. The next step is to evaluate the proposed correlation with respect not only to

data obtained as part of the research reported in this paper but also to data raised elsewhere.

In order to evaluate the performance of the proposed correlations with respect to experimental data, the

relative deviation between the correlation and the experimental heat transfer coefficients is plotted

against the corresponding heat flux. This plot is shown in Figs. 11 (a), (b), respectively for the fully

developed nucleate boiling and (q”)min5 kW/m2 data sets. It can be noted that most of the plotted data

points fall within the  20% range, especially for the fully developed nucleate boiling data. Most of the

data outside this range though of limited extent correspond to refrigerants R-123 and R-134a. It can

also be noted that, as general rule, in the range of reduced heat fluxes the correlation tends to under

predict the heat transfer coefficient, showing the opposite trend for higher heat fluxes. These trends are

also discernible in the plots of Figs.12 (a), (b), where the correlation heat transfer coefficient, hcorr, is

plotted against the experimental, hexp. The absolute average deviation of results from the fully

developed nucleate boiling correlation with respect to their experimental counterparts is of the order of

10.1% whereas that relative to the (q”)min5 kW/m2 data set is of the order of 11.2%. These results are

clearly noticeable in both figures, Figs. 11 and 12. Results displayed in these figures demonstrate the
JMSJ 6-68

adequacy of Rohsenow’s type of correlation in fitting nucleate boiling of halocarbon refrigerants over

cylindrical surfaces.

50 50

25 25
(hcorr - hexp) / hexp (%)

(hcorr - hexp) / hexp (%)


20% 20%

0 0

-20% -20%
-25 R-11 -25 R-11
R-123 R-123
R-134a R-134a
R-12 R-12
-50 -50
0 20 40 60 80 100 120 0 20 40 60 80 100 120
2 2
q" (kW/m ) q" (kW/m )

Figure 11. Relative deviation of the correlation with respect to the experimental heat transfer
coefficient. (a) fully developed nucleate boiling; (b) (q”)min5 kW/m2 data set.

25 25
20 % 20%

20 20
-20%
- 20%
hcorr (kW/m K)
hcorr (kW/m K)

15 15
2

10 10
R-11 R-11
R-123 R-123
5 R-12 5 R-134a
R-134a R-12

0 0
0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25
2 2
hexp (kW/m K) hexp (kW/m K)

Figure 12. Correlation versus experimental heat transfer coefficient. (a) fully developed nucleate
boiling; (b) (q”)min5 kW/m2 data set.
JMSJ 6-69

Data from independent sources have been used in the evaluation of the proposed correlation. For

refrigerant R-11 boiling on a brass surface, data from Silva (1989) have been used. Data from Webb

and Pais (1992) for the same refrigerants considered in present paper boiling over copper surfaces have

also been used for comparison purposes with the correlation for (q”)min5 kW/m2. An average

roughness, Ra, of 0.6 m has been assumed for the surfaces since the authors only informed that the

working surface was a commercial one. The comparison can be seen in Figs. 13 (a) and (b) in hcorr vs

hexp plots. It can be noted that the proposed correlation fits very well data from both studies, with

deviations being well within the 20% range, a result that can be considered adequate since the only

adjustment made in the application of the proposed correlation was the assumption of the surface

roughness.

7 12
20 % 20%
6 10
-20% -20%
5
hcorr (KW/m K)

8
hcorr (kW/m K)
2

4
6
3
4 R-11
2 R-123
2 R-12
1
R-134a
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 0 2 4 6 8 10 12
2 2
hexp(KW/m K) hexp (kW/m K)

Figure 13. Comparison of the (q”)min5 kW/m2 correlation heat transfer coefficient with experimental
data from (a) Silva (1989) for R-11; and (b) Webb and Pais (1992) for refrigerants R-11,
R-123, R-12, and R-134a.

Data from Silva (1989), for refrigerant R-113 and a brass surface, and from Jensen (1985), for the same

refrigerant and a stainless steel surface, have been fitted using the correlations proposed in the present

investigation. The resulting values of the coefficient C, Eq. (3), are the following: 0.9 for brass, and

1.5, for stainless steel. The average roughness, Ra, of both surfaces has been assumed as being equal to

0.6 m. Given the uncertainty of the experimental data regarding the roughness of the surfaces, the
JMSJ 6-70

plots of Figs. 14 (a), (b), in terms of hcorr vs hexp, display reasonable results from the correlation. Results

from Silva (1989) for a brass surface, Fig,. 14 (a), are not as well correlated as the ones from Jensen

(1985), Fig. 14 (b), for a stainless steel surface. In fact, the absolute average deviation of correlation

heat transfer coefficient with respect to the experimental ones from Silva (1989) is of the order of 27%

whereas with respect to those from Jensen (1985) is 6.2%.

8 8
20% 10%

6 6 -10%
-20%
hcorr(kW/m K)

hcorr (kW/m K)
2

2
4 4

2 2

0 0
0 2 4 2
6 8 0 2 4 2
6 8
hexp(kW/m K) hexp(kW/m K)

Figure 14. hcorr, (q”)min5 kW/m2, versus hexp. Refrigerant R-113, data from (a) Silva (1989), brass
surface; and (b) Jensen (1985), stainless steel surface.

7. Conclusions

The research reported herein has been set forth in order to investigate the performance of the

Rohsenow’s type of correlation when applied to nucleate boiling of halocarbon refrigerants over

cylindrical surfaces of different material. Two fitting procedures have been tried, including one

consisting in keeping the exponents originally proposed by Rohsenow and adjusting the coefficient, Csf.

The other procedure, considered as general, fitted the exponents as well as the coefficient. It has been

determined that exponents m and n are weakly affected by the refrigerant, and surface material and

finishing. Liquid/surface combinations and surface finishing affect the coefficient Csf. A correlation has

been developed for Csf in terms of the liquid/surface combination and surface roughness. For the

purpose of curve fitting, two data sets have been considered: one arbitrarily chosen to include data

corresponding to heat fluxes higher than 5 kW/m2 whereas the other involved only fully developed
JMSJ 6-71

nucleate boiling conditions. Though slightly different values of Csf, m and n have resulted from both

data sets, differences in results could be considered minimal for all practical purposes. The correlations

have been evaluated through the experimental results used in the fitting process and results obtained

elsewhere. Deviations between the correlation and the experimental heat transfer coefficient are within

acceptable ranges.

8. Acknowledgements

The authors gratefully acknowledge the support given to the reported research by the Fundação de

Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP, and Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior, CAPES, Brazil. The technical support given to this investigation by Mr.

José Roberto Bogni is also appreciated and recognized.

Nomenclature
Csf = surface/liquid parameter of the Rohsenow correlation
cpl = specific heat of the liquid
g = gravitational acceleration
h = heat transfer coefficient
hcorr = correlation heat transfer coefficient
hexp = experimental heat transfer coefficient
hlg = latent heat of evaporation
kl = thermal conductivity of liquid
m,n = exponents of Rohsenow correlation
pr = reduced pressure
Prl = Prandtl number of the liquid
q" = specific heat flux
Ra = roughness arithmetic average (m)
Reb = Reynolds number referred to the bubble diameter
Rq = roughness root mean square (m)
St* = inverse of the Stanton number
Tsat = saturation temperature
Tw = wall temperature
Greek Symbols
T = surface superheat (Tw-Tsat)
l = dynamic viscosity of the liquid
 = contact angle
g = vapor density
JMSJ 6-72

l = liquid density
 = surface tension

References

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JMSJ 6-73

Experimental study of nucleate boiling of halocarbon refrigerants


on cylindrical surfaces

Gherhardt Ribatski
e
J. M. Sáiz Jabardo

Laboratório de Refrigeração
Departamento de Engenharia Mecânica
Escola de Engenharia de São Carlos
Universidade de São Paulo
Avenida Trabalhador Sãocarlense, 400 Centro
13566-590 São Carlos, SP

Artigo publicado no
International Journal of Heat and Mass Transfer,
Vol. 46, pp 4439-4451, 2003.
MUDANÇA DE FASE CONVECTIVA

INTRODUÇÃO

A vaporização de um líquido é um mecanismo que normalmente envolve a


transferência de calor com uma parede aquecida. Na maioria das aplicações, o
líquido escoa ao longo ou através da superfície aquecida, razão pela qual a Ebulição
em Piscina, abordada anteriormente, apresenta interesse principalmente para o
estudo do mecanismo pelo qual se processa a mudança de fase junto à superfície.
O objetivo agora é a análise da mudança de fase de um líquido que escoa, por
exemplo, no interior de um duto aquecido. Consideremos um evaporador vertical no
qual se impõe um fluxo de calor específico (por unidade de área) constante na
parede do duto. Admitamos ainda que o líquido entre no duto suficientemente
subresfriado para garantir que não ocorra formação de vapor na imediata vizinhança
da seção de entrada. A Fig. 7.1 ilustra as distintas configurações pelas quais
passará o líquido antes que seja completamente evaporado. A seguir, é apresentada
uma descrição sucinta das distintas regiões.

Região A: Líquido subresfriado, sem ocorrência de mudança de fase. Desde


que as propriedades de transporte do líquido sejam admitidas constantes, o
coeficiente de transferência de calor permanecerá inalterado, com o que as
temperaturas superficial do duto e média da mistura do líquido aumentarão de forma
linear de acordo com retas paralelas, como se indica na Fig. 7.1. A temperatura
média de mistura do fluido na seção, definida quando do desenvolvimento das
equações do Escoamento Bifásico, equivale à temperatura que seria obtida caso o
fluido que escoa na seção fosse perfeitamente misturado. Como cada partícula de
fluido tem uma vazão distinta em virtude do perfil de velocidades na seção do duto
não ser plano, como se ilistra na Fig. 7.2, a temperatura média de mistura é definida
como

m im   iV  ndA
ˆ (7.1)
A

Figura 7.1 Figura ilustrativa dos distintos padrões de esocamento ao longo de um


evaporador vertical.

onde

m  vazão mássica  A
V  ndA
ˆ (7.2)
i = entalpia local do fluido na seção, de modo que im é a entalpia média. Como as
propriedades do líquido são admitidas constantes, então

 im V  ndA
ˆ   iV  ndA
ˆ    im  i V  ndA
ˆ   cp  Tm  T  V  ndA
ˆ 
A A A A

onde Tm é a temperatura média de mistura, dada pela seguinte equação resultante


da equação acima:
 c p  T  V  ndA
ˆ  TVdA
Tm  A
 A
(7.3)

A
c p V  ndA
ˆ  VdA
A

onde “V” é a componente da velocidade do fluido na direção do eixo do tubo. Em


problemas que envolvem a troca de calor em dutos, a Tm é considerada parâmetro

Tp
(a) (b)

Figura 7.2 Distribuição de velocidades (a) e temperaturas (b) na seção de um tubo.


Escoamento plenamente desenvolvido.

de referência. Normalmente não se trabalha com valores locais, de modo que, para
efeito de simplicidade, a referência à temperatura do líquido (ou do fluido) na seção,
equivale a designar a temperatura média, Tm . Assim, o índice “m” será eliminado no
presente texto, a menos que haja possibilidade de ocorrência de ambiguidades. A
transferência de calor na seção é dada pela Lei do Resfriamento de Newton, em
termos da temperatura média:

=h(Tp -Tm ) [W/m2 ] (7.4)

onde h é o denominado coeficiente de transferência de calor [W/m2K].

Região B: Início da formação de vapor junto à parede. O líquido na região central


do tubo, entretanto, se encontra subresfriado. A entalpia média na seção é inferior a
iL (líquido saturado). A maioria dos autores designa está condição como de “não
equilíbrio” ou de “ebulição local”. A temperatura da superfície permanece constante,
ao passo que a temperatura média do fluido (líquido + vapor) continua a aumentar.
Tal comportamento indica um sensível aumento do coeficiente de transferência de
calor, h, como se pode concluir da Eq.(7.4). Nesta região, as bolhas se aglomeram
junto à parede.

Região C: Escoamento em bolhas. A entalpia média do fluido (líquido + vapor) na


seção já atingiu iL , de modo que para todos os efeitos, tem início a mudança de
fase com fluido saturado. Em todas as análises que desprezam a mudança de fase
com líquido subresfriado, esta região marca o início da mudança de fase. Ao início
da região atribui-se título nulo, de modo que, denominando de z a coordenada ao
longo do eixo do tubo, a partir da seção onde x=0 (seção onde a entalpia média do
fluido se igual a iL ),

i(z)  iL
x(z)  (7.5)
iLV
ou ainda,

m i(z)  iL   Dz 

D
x z  z (7.6)
miLV

onde D é o diâmetro do duto, admitido de seção circular.


É interessante observar que, na seção onde x = 0, segundo a análise acima, a
presença de vapor pode ser significativa, de modo que, se o título for definido como
a relação entre as vazões de vapor e da mistura, isto é, x  mV / m , o seu valor não
será nulo. É ainda interessante notar, como indicado na Fig. 7.1, que na seção onde
a entalpia média do fluido se iguala a iL , o líquido na região central do duto se
encontra ainda subresfriado (temperatura do líquido é indicada por linha tracejada).
Nesta região, a temperatura superficial permanece essencialmente constante, o
mesmo ocorrendo com a temperatura média do fluido. Conclui-se daí que o
coeficiente de transferência de calor deve permanecer constante.

Região D: Estabelece-se escoamento pistonado. A temperatura do fluido diminui


levemente em virtude da perda de carga. O coefiente de transferência de calor
apresenta uma leve evolução.

Região E: Aparece o padrão anular com um filme líquido relativamente


espesso junto à parede. Mesmas características de transferência de calor que na
região anterior. Observe-se que a temperatura do vapor é a de saturação
correspondente à pressão local. O filme líquido apresenta uma variação de
temperatura ao longo de sua espessura.

Região F: Padrão anular, mas com a região central de vapor apresentando


gotículas dispersas. Nesta região, a espessura do filme é sensivelmente reduzida,
acarretando um resfriamento significativo da parede, com o que o coeficiente de
transferência de calor é elevado. Tal tendência é observada na figura. A seção limite
desta região coincide com o desaparecimento do filme e consequente elevação da
temperatura superficial. Essa transição ocorre bruscamente como se observa na
figura. A eliminação do líquido junto à parede neste caso não ocorre de maneira tão
dramática como na Ebulição Nucleada, onde a parede é isolada por um “bolsão” de
vapor (quando a elevação da temperatura superficial seria suficiente para danificar a
parede). Para distinguir as duas situações, a literatura em inglês os designou por
nomes distintos: “dry out”, quando a remoção do líquido da parede ocorre
gradualmente, como no escoamento anular, resultando uma elevação moderada da
temperatura; “departure from Nucleate Boiling”, DNB, quando a remoção da água da
região da parede ocorre enquanto perdura a Ebulição Nucleada, resultando um
exagerado aumento da temperatura da parede.

Região G: Escoamento em névoa, sem presença de líquido junto à parede. A


temperatura do fluido é essencialmente a de saturação, elevando-se no limite
superior da região, quando, embora com líquido na forma de névoa, a temperatura
do vapor é superior à de saturação. Como a temperatura da parede é sensivelmente
superior àquela das regiões anteriores, o coeficiente de transferência de calor deve
ser sensivelmente inferior.

Região H: Processo de mudança de fase concluído. Novamente as temperaturas


superficial e média do fluido (agora vapor) crescem paralelas, mas apresentando
uma diferença maior, resultado de um coeficiente de transferência de calor inferior
ao caso em que o fluido é líquido.

A descrição sumária feita nos pragráfos precedentes dos processos que ocorrem em
um evaporador vertical, com fluxo de calor constante na parede, corresponde a uma
adição moderada de calor. Mas, o que aconteceria com o aumento do fluxo de
calor? A Fig. 7.3, extraída do livro de J.G. Collier e J. Thome, Convective Boiling and
Condensation, ilustra o efeito do fluxo de calor no coeficiente de transferência de
calor. A curva (i) corresponde ao evaporador anteriormente analisado: as distintas
regiões poderão ser reconhecidas pela variação do coeficiente de transferência de
calor. A curva (ii) corresponde a um fluxo de calor superior. Dois aspectos a
diferenciam da anterior: o início da Ebulição se dá antes, do que resulta uma
elevação mais precoce do coeficiente de transferência de calor, e o ponto de “dry
out” se dá numa região à montante da região em relação àquela do caso anterior.
De resto, as curvas são semelhantes. Uma elevação adicional do fluxo de calor
implica num deslocamento para a curva (iii), a qual apresenta uma significativa
diferença em relação às duas anteriores. Essa diferença está relacionada com a
remoção de líquido da parede.

Figura 7.3 Variação do coeficiente de transferência de calor com o título para


distintas condições de fluxo de calor específico na parede.

Esta ocorre enquanto perdura a formação de bolhas junto à parede, recebendo em


conseqüência a designação de DNB. Observe-se que ocorre uma queda brusca do
coeficiente de transferência de calor do que resulta uma elevação significativa da
temperatura da parede. A curva (iii) apresenta comportamento semelhante às
anteriores nas demais regiões, observando-se um coeficientre de transferência de
calor superior nas regiões de ebulição nucleada e um coeficiente idêntico nas
demais (região de deficiência de líquido na parede). É interessante fazer uma pausa
neste ponto para observar dois aspectos importantes do mecanismo de mudança de
fase:

(1) Comparando as curvas (i) e (ii), na região que corresponderia ao padrão anular,
sem formação de bolhas na parede, verifica-se que o coeficiente de
transferência de calor é praticamente o mesmo, indicando um efeito nulo do fluxo
de calor. Essa região é denominada de “mudança de fase convectiva”.
(2) Por outro lado, a região de Ebulição Nucleada apresenta diferenças significativas
no coeficiente de transferência de calor, indicando um pronunciado efeito do
fluxo de calor no mecanismo de transferência de calor. Tal comportamento pode
ser facilmente inferido dos modelos apresentados no capítulo anterior.

A medida que o fluxo de calor se eleva, em relação àquele correspondente à curva


(iii), a única mudança que se verifica é a ocorrência cada vez mais precoce do ponto
de DNB, com conseqüências cada vez mais severas para a temperatura superficial
em virtude dos fluxos de calor específicos mais elevados, do que resultam
temperaturas mais elevadas da parede. A situação pode chegar a ponto do DNB
ocorrer mesmo com o fluido subresfriado, como indicam as curvas (vi) e (vii). Como
essas curvas correspondem a fluxos de calor muito elevados, as conseqüências da
ocorrência do DNB são dramáticas, podendo ocorrer temperaturas da parede tão
elevadas que podem fundir o material.
O mapa da figura abaixo resume todos os resultados discutidos anteriormente. Os
fluxos correspondentes à figura anterior, são indicados pelas linhas horizontais. O
mapa ilustra e delimita os distintos regimes encontrados na mudança de fase
líquido-vapor. Caminhando-se ao longo de uma linha horizontal, correspondendo a
um fluxo de calor constante, encontram-se os distintos regimes e suas transições.
O mapa não carece de maiores explicações.

Fluxo de calor
SUBRESFRIADO SATURADO SUPERAQUECIDO

DNB
subresfriado

vii Ebulição em Ebulição em Região H


película película Transferência de calor
subresfriado saturado monofásica
vi vapor

DNB saturado
v
Região B
Ebullición Região G
subresfriado Deficiente de líquido
iv
“Dryout”
Regiões C e D
iii Ebulição nucleada
saturado

ii Região A
Regiões E e F
Transferência de calor
monofásica Mudança de fase
líquido Convectiva
i

x=0 x=1 Título de equilíbrio


Título “real”, x

Figura 7.4 Mapa dos distintos padrões e o efeito do fluxo de calor específico.

REGIÃO DE SUBRESFRIAMENTO
Ao contrário de certas análises, a seção onde a entalpia média do fluido (líquido-
vapor) atinge a de líquido saturado à pressão reinante, iL , não é aquela em que tem
origem a mudança de fase. Esse aspecto já deve ter ficado claro a esta altura. O
que se pretende desenvolver nesta seção é uma análise da região que antecede a
seção onde i  iL . Essa região envolve o escoamento monofásico, do qual não se
tratará em profundidade, e o escoamento com mudança de fase, mas com líquido
subresfriado. Pode-se dizer que o fluido na seção, caracterizado por sua entalpia
média, se encontra subresfriado se i  iL .
A Fig. 7.5 ilustra o comportamento das temperaturas da superfície e do fluido nessa
região. Nessa figura, observa-se, como observado anteriormente, que na região
monofásica as temperaturas superficiais e do líquido crescem paralelamente,
REGIÃO A REGIÃO B REGIÃO C

CONVECÇÃO EBULIÇÃO EBULIÇÃO


Fluxo de calor
MONOFÁSICA SUBRESFRIADA SATURADA
uniforme

Flujo
TL  z 

zsat
zENPD
zIEN ENPD Temperatura da parede
IEN
 Tsat IEN Tsat Tsat
Tsub
 Tsub e

 Tsub IEN Variação real da


temperatura do líquido

Temperatura
media do líquido

Figura 7.5 Detalles da variação da temperatura da parede e do fluido com a


distância.

mantendo uma diferença constante para um fluxo de calor constante na parede e


propriedades de transporte do líquido igualmente constantes. Tal situação perdura
até que a primeira bolha seja formada. Essa situação corresponde àquela descrita
no capítulo anterior como a de Início de Ebulição, IE (ONB, “Onset of Nucleate
Boiling” na literatura em inglês). O modelo de Bergles e Rohsenow, descrito
anteriormente, poderia ser utilizado na determinação dessa seção onde se dá o IE.
Segundo aquele modelo,

  C(Tp  Tsat )IE


2
(7.7)

Como  é imposto na parede, a Eq.(7.7) pode ser utilizada para determinar a


temperatura da parede, Tp , para a qual se dá a nucleação. Conhecida essa
temperatura, a coordenada da seção pode ser obtida facilmente, de acordo com o
seguinte procedimento:

(1)   h(Tp  T)IE  TIE


uma vez que todas as outras variáveis são conhecidas. Observa-se que “h” é o
coeficiente de transferência de calor monofásico, o qual pode ser determinado
pela conhecida relação de Dittus-Bolter:

Nu  0,023Re0,8 Pr 0,4 (7.8)

(2) Conhecida a temperatura média do líquido na seção de IE, TIE , a coordenada


dessa seção pode ser determinada pela simples aplicação do 1º. Princípio da
Termodinâmica ao trecho de duto limitado pela seção de entrada e a seção onde
se dá o IE.

mcL [TIE  TE ]  DzIE

onde TE é a temperatura de entrada do líquido no evaporador e zIE é a


coordenada onde se dá o IE no duto, admitido de seção circular. Assim,
mcL
zIE  (TIE  TE ) (7.9)
D
Uma vez atingida a seção de IE, o coeficiente de transferência de calor se eleva,
com o que a temperatura da superfície permanece praticamente constante. A
população de bolhas cresce, mas a ebulição permanece um mecanismo associado à
parede. O aumento da temperatura média do fluido na seção continua a se
processar linearmente, em virtude de uma adição de calor constante na parede. Tal
situação perdura até a seção onde as bolhas começam a se destacar da parede.
Diz-se então que começa a efetiva geração de vapor. É nessa seção que tem início
a denominada região de “Ebulição Nucleada Plenamente Desenvolvida”, ENPD. A
região entre a seção de IE e a de início da ENPD é denominada de região de
“Ebulição Nucleada Parcial”, ENP. A região de ENPD se caracteriza por uma
superfície completamente tomada pelas bolhas, as quais “isolam” o líquido
subresfriado da parede. Essa situação faz com que os modelos que tratam da
transferência de calor nessa região desprezem o efeito da vazão. Nessas condições,
é muito comum representar a transferência de calor pela seguinte relação:

Tsat  Cm (7.10)

onde Tsat  Tp  Tsat

A Eq.(7.10) foi apresentada no capítulo anterior relacionada às equações de Jens-


Lottes e de Thom, válidas para a água, para as quais C é um parâmetro dependente
da pressão. Para outros fluidos, é comum utilizar modelos desenvolvidos para a
ebulição em piscina, uma vez que o efeito de circulação do líquido não se faz sentir.
Assim, os modelos de Rohsenow ou de Forster-Zuber poderiam muito bem ser
aplicados. Na realidade o são! De fato, os modelos desenvolvidos para a Ebulição
em Piscina tiveram (e ainda têm) aceitação para a região de ENPD, em virtude de
resultados experimentais, de características, como as ilustradas na Fig. 7.6,
comprovarem a sua validade. Nessa figura, percebe-se que as curvas para as
distintas vazões tendem a colapsar em uma única curva, indicando um efeito
desprezível da vazão. Percebe-se, ainda, nessa figura que o início da região de
ENPD pode ser determinado a partir do ponto de “colapso” das distintas curvas. O
problema da ENPD fica, assim, resolvido.

Figura 7.6

A região de ENP se caracteriza por uma população esparsa de bolhas na parede. A


maioria dos modelos físicos que tratam essa região admite que a transferência de
calor na parede se dá por uma ação combinada de transferência de calor
monofásica com o líquido e transferência de calor através do mecanismo de
ebulição nucleada. Este tende a se acentuar à medida que se avança pelo duto, até
que, finalmente, predomina, em virtude da intensificação da população de bolhas,
dando início à ENPD. Outros modelos, não físicos, tratam da transferência de calor
nessa região como um problema de ajuste de curvas, como ilustrado na Fig. 7.7. O
erro que se comete com tal procedimento é compatível com as necessidades da
maioria dos problemas práticos, excluindo-se entre eles as aplicações nucleares.
Para esses casos, modelos relativamente precisos foram desenvolvidos, os quais
evidentemente não fazem parte do contexto destas notas. O modelo de Bergles-
Rohsenow será apresentado em um exemplo de aplicação que desenvolveremos ao
final desta seção.

INSERIR DESENHO

(a) Kutateladze (b) Bergles-Rohsenow


Figura 7.7

Um aspecto importante da mudança de fase em escoamento subresfriado de


um líquido, principalmente em aplicações nucleares, é aquele relacionado com a
determinação da fração de vazio. A figura abaixo ilustra a variação da fração de
vazio ao longo de um evaporador. Verifica-se, como foi observado anteriormente,
que logo após o IR, o fenômeno da Ebulição Nucleada fica restrito à parede, a qual

INSERIR DESENHO

apresenta uma população esparsa de bolhas. A fração de vazio e o título (real) são
reduzidos e crescem lentamente. Tal situação perdura até a seção que se
convencionou chamar de “Início de Formação Líquida de Vapor”, IFLV. Essa seção,
a maioria dos autores concorda, corresponde à existência de condições junto à
parede para que as bolhas se desprendam e caminhem junto com o líquido
subresfriado sem colapsarem. Daí o nome Formação Líquida de Vapor. A partir
dessa seção, a fração de vazio experimenta um crescimento significativo como
ilustrado na figura, na qual é mostrado também, em linha tracejada, a curva que
seria obtida para a fração de vazio em análises que desprezam a ebulição com
líquido subresfriado, segundo as quais, a formação de vapor só tem início quando a
entalpia média do fluido na seção é igual à entalpia do líquido saturado, iL. A seção
onde tal ocorre foi designada por “Início da Ebulição Saturada”, IES. É interessante
insistir neste ponto: no caso real, essa seção apresenta formação de vapor e o
líquido presente se encontra na sua quase totalidade, subresfriado.
A seção de IFLV é confundida em muitas análises com o início da ENPD. Na
realidade, as duas situações se correspondem fisicamente. Entretanto, é comum
determinar-se a seção de IFLV através de critérios que avaliam as condições de
desprendimento das bolhas na parede. A totalidade dos modelos admite que α seja
nulo até a seção de IFLV. Um dos modelos mais recentes e que melhor tem
correlacionado os resultados experimentais deisponíveis é o de Saha-Zuber. Esse
modelo estabelece condições de desprendimento das bolhas através de dois
regimes distintos:

(1) Vazões mássicas baixas; o desprendimento da bolha é controlado por


parâmetros térmicos, ocorrendo a um número de Nusselt fixo. O número de
Nusselt obedece à definição tradicional para escoamento em duto de seção
circular:

h*D
Nu 
kL


como h*  resulta
Tsat  TIFLV
D
Nu  (11)
kL (Tp  TIFLV )
onde TIFLV é a temperatura média na seção onde se dá o IFLV.

(2) Vazões mássicas elevadas: o desprendimento se dá principalmente por efeito do


arrasto, ocorrendo a um número de Stanton fixo. O número de Stanton, St, é
definido como:

Nu
St  (12)
Re.Pr .

onde Re.Pr = Pe, número de Peclet. O St pode então ser escrito como:


St  (13)
GCL (TSAT  TIFLV )

onde G é a denominada Velocidade Mássica, definida anteriormente como


G  m / A , sendo A a área da seção transversal do duto. Quando Saha-Zuber
correlacionaram os resultados experimentais em termos dos números de Peclet
e de Stanton, ficou claro que aqueles parâmetros eram significativos no
fenômeno, como ilustrado na figura abaixo. Verificou-se ainda que a seção de
IFLV poderia ser determinada pelo seguinte critério, extraído da figura abaixo:

GDCL
Pe 
kL

D
Pe  70.000 Tsat  TIFLV  0,0022( ) (14)
kL

INSERIR DESENHO


Pe > 70.000 Tsat  TIFLV  153,8 ( ) (15)
GCL

ambas as relações são dadas em unidades do sistema SI. Duas observações


devem ser feitas neste ponto:

(a) Da curva empírica levantada por Saha-Zuber, mostrada acima, percebe-se


claramente os regimes propostos pelos autores: o de predominância dos
efeitos térmicos, Nu constante, ocorrendo para Re < 70.000 e o controle das
forças de arrasto, St constante, verificando-se para Pe > 70.000

(b) Das relações (14) ou (15) a temperatura média do fluido na seção de IFLV
pode ser determinada, para um evaporador de duto de seção circular e fluxo
de calor na parede, constante. Com o valor de TIFLV , a coordenada da seção
pode ser determinada pela aplicação do 1º. Princípio da Termodinâmica a
uma região limitada pelas seções de entrada e de IFLV, resultando:

mCL
ZIFLV  (TIFLV  TE ) (17)
D
onde o calor específico do fluido foi admitido igual ao do líquido, o qual para
todos os efeitos pode ser admitido incompressível (CpL = CVL = CL).
A região à jusante da seção de IFLV é geralmente identificada com a
região de ENPD. Nessa região, é possível determinar a entalpia média na
seção (ou uma temperatura média do fluido) através de um simples balanço
de energia. Como nessa região a presença de vapor é significativa, embora
o líquido esteja subresfriado, é comum definir-se um título de equilíbrio como
na Eq.(5):

i(Z)  iL
t(Z)  (5)
iLV

como i(Z) < iL, t(Z) será negativo. É evidente que esse não é o título real. Na
seção de IFLV, o título será dado por:

iIFVL  iL CL (TIFLV  Tsat )


tIFLV   0 (18)
hLV hLV

Uma pergunta que deve ter surgido naturalmente ao leitor seria: -e o título
real, como determiná-lo? A resposta pode ser encontrada nos diversos modelos que
foram propostos para avaliá-lo. Essa análise transcende ao objetivo destas notas.
Aqueles modelos tratam de avaliar a temperatura do líquido em cada seção.
Admitindo que o vapor presente esteja saturado, o título real pode ser determinado.
Com o valor do título real, a fração de vazio pode também ser determinada por uma
das correlações apresentadas anteriormente, como aquela do modelo de
Deslizamento (Drift-Flux), para a qual, estimativas do parâmetro de distribuição, Co,
e da velocidade de deslizamento, VGJ, devem se feitas

Exemplo:
Um duto vertical de seção circular é instalado em um circuito experimental
que opera com água a alta pressão. O diâmetro do tubo é de 10,16 mm e seu
comprimento é de 3,66m. O duto é aquecido uniformemente ao longo do seu
comprimento. Deseja-se uma estimativa da variação da temperatura superficial para
uma vazão de água da ordem de 0,432 kg/s. Sabe-se que a água entra a uma
temperatura de 203º.C e que o fluxo de calor total na parede e a pressão do sistema
são respectivamente iguais a 200 kW e 64,2 bar.

Solução
Admitiremos que a perda de pressão seja desprezível, de modo que esta se
mantém constante e igual a 68,9 bar. A variação de entalpia da água no trecho em
questão pode ser determinada pela aplicação do 1º. Princípio da Termodinâmica.

DESENHO

QC 200
QC  mi  i    i  462,5kJ / kg
m 0,432

(i) Determinação da seção de IE

O modelo de Bergles-Rohsenow será utilizado


 = C(Tp - Tsat )IE
2

QC 200
=  3
 1713kW / m2
DL 3,14x10,16x10 x3,66
i k
C = LV L
8v  Tsat 

para p = 64,2 bar

iLV = 2780 – 1236,8 = 1543,2 kJ/kg

CL = 5,307 kJ/kgo.C

 = 19,07 x 10-3 N/m

Tsat = 280ºC = 280 +273 = 553 K

v  = 0,0301 m3/kg vL = 1,3321 x 10-3 m3/kg

k L = 0,574 W/mK

L = 0,130 x 10-6 m2/s L = 97,5 x 10-6 Ns/m2

PrL = 0,902

1,5432x106 x0,574 W
C 3
 3,488x105 2 2
8x0,0301x553x19,07x10 mK

1,713x106
2
Logo (Tp -Tsat )IE   4,91
3,488x105

TP IE  2,22  Tsat  282,2o.C

Coeficiente de Transferência de Calor Mecânico, h

kL
h  0,023ReIE
0,8
PrL0,4 (
)
D
VD mv LD Gv LD
ReL   
L A1 L
m m 4x0,432 kg
G   3 2
 5,331x103
A D / 4 3,14x(10,16x10 )
2
s.m2
5,331x1033 x1,3321x103 x10,16x103
ReL   5,550x106
0,130x10 6
0,574 W
h  0,023x( 3
)(5,550x106 )0,8 x(0,902)0,4  4,912x10 4 2
10,16x10 mK
Temperatura média do líquido na seção de IE, TIE


  h(Tp  T)IE TIE =TPIE 
h
1,713x106
TIE  282,2   247,3
4,912x10 4

Seção de IE, Eq.(9)

mCL 0,432x5,307
ZIE  (TIE  TE )  (247,3  203)  1,86m
D 1713x3,14x10,16x103

Região de Ebulição Parcial – Modelo Bergles-Rohsenow


1/ 2

  ENDP !  
2

  M 1   (1    (19)
  M

ENPD  

onde

M  é a componente monofásica = h(Tp  T)

ENPD  componente de ebulição nucleada, obtida da Equação de Rohsenow


para ENPD

 é o valor de ENPD extrapolado para a seção onde se dá o IE.

Equação de Rohsenow para a ENPD (ver capítulo anterior)

0,33
CL (Tp  Tsat ) 
    
1/ 2


 Cf     PrL1,7 (20)
iLV  i  g(L  V )  
 L LV 

O valor do coeficiente Csf para a combinação água-aço inoxidável (admitindo


o duto de aço inox) é igual a 0,020

Determinação de !

Na seção de IE, TPIE  282,2 , logo, introduzindo esse valor na Equação de


Bergles-Rohsenow para ENPD, o valor de ! Pode ser determinado:

0,33
5,307x(2,2) 
 !  19,07x103  
1/ 3

0,020  6 6  3   x0,902
1543,2  (97,5x10 x1,5432x10 )  9,8(1/1,3321x10 )  
 
! = 7,635 x 103 W/m2

Levantamento das temperaturas superficiais.

O procedimento consiste em admitir a temperatura da parede, T p, e pela


Eq.(20) de Bergles-Rohsenow determinar a parcela correspondente à Ebulição
Nucleada, ENPD . Da Eq. (19), conhecendo-se  ENPD e !, a componente M pode
ser calculada, do que resulta a temperatura média do fluido na seção T  Tp  M / h .
Com T, através da equação:

ENPD[kW/m ] M[kW/m ]
2 2
Tp Tp Z Observações
o o
( .C) Eq.(20) Eq.(19) ( .C) (m)

283 19,36 1713 248,1 1,89

285 89,63 1711 150,2 1,98

290 717,0 1559 258,3 2,32

292 1239 1191 267,8 2,72

292,8 1713 161,6 289,5 3,63 Início da


ENPD

Obs: O parágrafo a seguir é na verdade um footnote, mas não sei de onde


vem:
1/ 2

 2  !  
2

* M    ENPD (1  ) 
  ENPD  
 

mCL
Z (T  TE )
D

a coordenada da seção pode ser determinada. A Ebulição nucleaada Parcial cessa


quando ENPD se iguala a , como indicado na tabela. Essa seção ocorre
praticamente na saída do tubo, em Z = 3,63m. A Figura abaixo mostra o gráfico das
temperaturas ao longo do tubo.

Gráfico

REGIÃO DE SATURAÇÃO

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