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1° Edição

Copyright © 2016 Adriana Arebas

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— sem a expressa autorização por escrito da editora.

Texto fixado conforme as regras do Novo Acordo Ortográfico


Da Língua Portuguesa

Arte da Capa: Mia Klein


Revisão: Margareth Antequera
Diagramação: Adriana Arebas

1° Edição, 2016

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação do autor. Qualquer semelhança com datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Criado no Brasil.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código
Penal.
Capítulo um

E u gosto de ouvir o
estalar da lenha
queimando. De olhar as
cores do fogo, sentir o
cheiro da fumaça passando pela chaminé. Isso me faz sentir em casa. Protegido
do mundo opressivo que outrora conheci.
Estou sentado na cadeira de balanço que fiz para minha esposa quando
ela estava grávida. Seu nome é Pétala Mackay Sawyer, e eu a amo muito.
Também estou olhando para ela agora, lendo atentamente o que está escrito no
caderno de receitas da minha mãe. Pétala aprendeu a cozinhar um ano depois
que nos conhecemos, mas sempre olha as receitas para fazer exatamente igual,
porque assim ela está me agradando. São palavras dela.
Ouço o ressonar tranquilo de Cattleya e olho para ela. Nossa filha está
abraçada ao travesseiro deitada no sofá. Ela tem dezessete anos e foi
aprovada para estudar em Harvard, onde sua mãe também estudou. Está nos
visitando pois, não mora mais aqui e isso corta o meu coração. Estou muito
orgulhoso da minha menina que cresceu falando que seria uma grande
escritora. Por que isso? Pela linda história de amor que vivo com sua mãe.

“Eu quero ser capaz de colocar no papel, o que vejo nos olhos dos
meus pais. Quero um dia mostrar ao mundo que o amor é simples, e ainda
existe”.

Ela sempre diz essas palavras e eu amo ouvi-las. Pétala e eu temos


uma linda história de amor, e não canso de revivê-la em minhas memórias e
em meus manuscritos. Eu escrevo diários. Foi um jeito de sair da dor, um
desabafo que aprendi com minha mãe.
Mamãe escrevia em meio a lágrimas e fazia isso escondida de meu pai.
Também me ensinou a ler e escrever sem ele saber e esse era o nosso segredo.
E de tanto ouvir minhas leituras no diário, Cattleya quer escrever um livro
sobre nossa vida. Ela é a menina mais linda e romântica do mundo.
Mamãe me ensinou tudo o que aprendeu e se hoje sei rabiscar algumas
linhas, devo isso a ela. E com seus desabafos escondidos em folhas brancas e
palavras, cada vez mais a caixa de metal que ela escondia enterrada na horta
que temos na parte de trás da casa, se enchia com seus papéis e jornais que ela
pegava escondido na mercearia da cidade. Ela precisava saber das coisas
para me ensinar.
Cattleya e Pétala são meus tesouros, meu bem maior. Hoje sou para
minha filha tudo aquilo que meu pai não fora para mim. Sou para Pétala o que
minha mãe me ensinou a ser em segredo. Luto a cada amanhecer para não fazer
nada semelhante ao que ele fazia com minha mãe. Eu tenho pavor de pensar
que sou igual a ele.
Sinto o cheiro das cebolas dourando, o chiado da panela de pressão
também começou a cantar na cozinha. Se ela seguir passo a passo o que minha
mãe me deixou como herança em seus cadernos de receitas, hoje iremos jantar
um delicioso guisado de veado. São mais de dez cadernos e todos esses anos
ela não fez a metade do que está escrito.
Cattleya mexe-se no sofá acordando e olha-me como se eu fosse o seu
super-herói e isso faz meu coração derreter.
— Você gosta de olhar para a mamãe, não é mesmo? — Perguntou
minha sapequinha com voz de sono. Sorrio e olho para Pétala que agora está
com sorriso nos lábios. Isso porque ela ouviu o que a filha acabara de dizer.
— Eu amo olhar para sua mãe, Cattleya. Ela é linda, você não acha?
— Perguntei. Ela sentou-se no sofá e olhou para a mãe.
— Sim, é perfeita papai.
— Eu amo vocês. — Disse minha mulher. Sua voz é suave e por isso
comparo com a mais bela canção do mundo. Ela continuou com seus afazeres
na cozinha, enquanto Cattleya se levantou e foi até a mesa pegar o meu diário.
“Ela não se cansa? ” Pensei.
— Você prometeu. — Disse sentando no meu colo segurando-o na mão.
— Outra vez? — Perguntei.
— Eu cheguei tem dois dias e já me esqueci de toda a história. Você
precisa me lembrar dos detalhes. — ela sorriu. — E esse é o conto de fadas
mais bonito que conheço.
— Mas essa é uma história verdadeira. — Falei.
— Por isso mesmo, é a história da minha mãe e do meu pai, sendo
assim, a mais linda do mundo. — Ela me olhou de uma forma ingênua. Mas de
ingênua ela não tem nada.
— Tudo bem. Onde paramos, você sabe? — Peguei o diário de suas
mãos.
— Sei, mas quero desde o início.
— De novo?
— Sim pai, a mamãe vai demorar então temos tempo.
— Tudo bem, você venceu.
— Na terceira pessoa. — Disse ela.
— Mas você sabe que está escrito na primeira. — falei. — Eu, falando
comigo mesmo.
— Sim, mas se você lê na terceira pessoa torna-se mais realista para
mim, que sou sua ouvinte. Assim como fazia com os livros infantis quando eu
era criança. — disse sorrindo. — E comece com, era uma vez.
— Você e suas manias, Cattleya.
— Vou me sentar no sofá. — Disse ela. Enquanto acomodava-se no
sofá, eu me acomodei na cadeira de balanço, onde por muitas vezes a ninei
para dormir.
— Está pronta? — Perguntei.
— Sim.
— Então vou começar. Sabe, essa é uma história que merece ser
contada várias vezes.
— Por isso gosto de ouvir e vou fazer um livro dela. — Ela ficou em
silêncio me olhando. Olhei para minha bela mulher que está concentrada no
nosso jantar e meu fôlego quase se perde por tanta beleza que vejo, volto para
o diário e começo a ler.

Era uma vez, um solitário menino que vivia na floresta. Sem


qualquer tipo de tecnologia que pudesse levá-lo ao imenso mundo que existe
fora dali. Completamente longe de tudo e de todos. Quando se aproximava de
alguém era para trabalhar, vendendo a lenha que retirava da floresta com seu
pai, que possuía uma vasta plantação de pinheiros em suas terras.
Dexter era uma criança humilde. Morava em uma casa simples que fora
construída pelo pai, o Sr. Stephano Sawyer. Ele tinha seus defeitos e vícios e
para sustentá-los, Stephano trabalhava de inverno a inverno. Em toda a
Geórgia, a leste do rio Mississippi, o nome Stephano era conhecido por seus
trabalhos com lenha e madeira em artes manuais. Só não era conhecido por
seus violentos segredos. A cabana onde moravam era perfeita, a decoração
simples e delicada tinha a leveza do toque feminino, pelos cuidados de
Honddra Sawyer, sua esposa e mãe de Dexter. Três quartos ficavam na parte
de cima com dois banheiros e uma grande sacada para Honddra descansar
olhando o pôr do sol. E no primeiro piso ficava a grande sala, cozinha, um
espaço para mesa de jantar e uma varanda em volta de toda a cabana. Era
simples, mas muito bonita. O teto abria com um sistema de cordas e
engrenagens, não era difícil abri-lo, só precisava de um pouco de força e
como a cabana não tinha eletricidade, a luz solar era o que iluminava a casa no
verão. O Fogão na cozinha era à lenha e conservação de carnes de caças era
trabalho de Stephano. Ele caçava, matava, limpava, desossava e salgava tudo
para colocar em varais cobertos com telas bem finas de proteção. Ele já tinha
recebido propostas de vender suas terras e a cabana, mas recusara todas elas.
Só ele sabia o valor que realmente tinha cada pedaço de chão que possuía, e
tudo o que plantava a colheita era farta. O solo rico e produtivo não seria
vendido por nada no mundo. Tudo era rústico e simples, mas lindo de encher
os olhos. Stephano era um homem trabalhador, porém, o seu lado infernal fazia
sua família esquecer-se disso. Ele era o próprio diabo dentro de casa,
alcoólatra e muito agressivo.
Dexter ainda era uma criança quando sentiu na pele a dor da violência,
e também por ver sua adorável mãe ser surrada dia após dia. Isso fazia dele
um menino triste e completamente fechado em seu mundo. Quando seu pai saia
para mata, tudo ficava em paz. Ele e sua mãe limpavam a casa, cuidavam das
plantações e faziam tudo com sorriso nos lábios. Mas ao ouvirem o barulho da
velha caminhonete se aproximando, ficavam em silêncio. Não era permitido
falar dentro da cabana sem o consentimento de Stephano. Tudo se tornava
sombrio quando ele estava perto. Os anos foram passando e cada vez mais
Dexter era surrado por seu pai quando ele estava bêbado, que era todos os
dias. As marcas em seu corpo ficavam visíveis. Stephano isolava-os do mundo
e Dexter nunca chegou a ir à cidade antes dos treze anos, mas sua mãe tinha
esse privilégio uma vez por mês para comprar mantimentos. Ela não falava
com ninguém sem a ordem de Stephano, tudo era exatamente como ele exigia.
Por um tempo eles foram felizes e só depois de dois anos de casados,
Stephano começou a mostrar para sua esposa uma personalidade que ela
desconhecia. Honddra já estava presa na mata e sem escolhas a fazer, era
somente aceitar.
Ele começou com toda a violência depois que receberam a notícia de
que os únicos familiares de Honddra que moravam nos EUA, tinham morrido.
Logo ficou grávida de Dexter, e ter um teto para seu filho era melhor do que
viver nas ruas. Os perigos eram os mesmos, a violência só ficou abafada por
seus gritos dentro de uma casa. Stephano ensinara tudo sobre sua profissão de
lenhador ao filho desde muito novo e a negociar com as empresas para onde
vendiam a lenha cortada. A cada árvore derrubada, outra era plantada no lugar,
vendo os passos do pai dia após dia, ele tornou-se um jovem negociador,
tímido e de poucas palavras. E ao passar dos meses, ele se transformava no
homem da casa mesmo que seu pai não percebesse isso. O velho Stephano
ficou mais bêbado e agressivo, caído pelos cantos da floresta recostado nas
grandes raízes com uma garrafa de vodka em cada mão.

“Respiro um pouco para continuar a ler, pois, essa parte eu escondo da minha filha. Não
me sinto confortável em dizer que aos treze anos, meu pai me levara a um pequeno bordel pobre da
cidade onde ele era bastante conhecido por sinal. Ele pagou uma mulher para fazer sexo comigo.
Ela conseguiu, afinal, eu era um menino sentindo coisas que jamais pensei e por ela fazer o que
estava fazendo, foi fácil ficar excitado. Mas Cattleya não precisa saber disso.” — Pensei.

Um mês depois de Dexter, ouvir de seu pai. — continuei a ler — que


já era um homem por ter treze anos, Stephano e Honddra morreram. Eles
tinham ido até a cidade comprar mantimentos e sempre que isso acontecia eles
ficavam o dia todo lá. Honddra fazendo as compras de cabeça baixa, e
Stephano no bar ao lado bebendo e jogando cartas em apostas. Quando ela
terminava de comprar tudo, pagava e ia para o carro esperar por seu marido. E
esse dia ele demorou mais do que de costume e estava mais bêbado do que
quando chegou ao bar. Ela como sempre fez, manteve-se calada, repreendê-lo
por tamanha irresponsabilidade era perigoso, ela já sofrera as consequências
uma vez ao repreendê-lo por dirigir bêbado.
Eles saíram do estacionamento e pegaram a estrada de volta para a
cabana, que ficava em região montanhosa e curvas perigosas. Stephano perdeu
o controle do carro e caiu no despenhadeiro. Com a explosão, o carro da
polícia local que não estava tão distante deles, ouviram o barulho. Os
policiais chamaram o resgate assim que chegaram ao local e também
reconheceu ser o carro de Stephano, que era um grande conhecido do presídio
local, por beber e brigar nas ruas. Quando o oficial Walter chegou à cabana,
Dexter, soube que não era nada bom ao ver o carro de polícia. Seus pais já
deveriam ter voltado da cidade então, imediatamente sentiu um aperto no
coração. Abriu a porta saindo para a escuridão da noite apenas com uma tocha
de fogo na mão.
— Entre senhor. — Disse Dexter ao abrir a porta.
— Menino, não trago boas notícias. — Disse o policial.
— Fale, por favor. — Pediu com voz rouca.
— Seus pais sofreram um grave acidente. Morreram os dois. Sinto
muito. — disse o oficial sem um pingo de emoção. — Vou ter que levá-lo
para o abrigo local, como você é menor de idade não pode ficar aqui sozinho.
— Disse ele. Dexter estava sentindo muita raiva. Ele sabia que o motivo de
sua mãe estar morta, fora por imprudência de seu pai bêbado. Colocou toda a
sua bravura na voz, estufou o peito como homem decidido e com suas próprias
escolhas, aproximou-se do oficial de polícia, olhou-o nos olhos e disse:
— Esta é a minha casa oficial Walter. Daqui eu saio somente como os
meus pais, morto. Vou enterrá-los no alto da montanha que ainda faz parte das
minhas terras. Depois, continuarei aqui e trabalhando como meu pai me
ensinou. Sou um lenhador e posso me sustentar, eu garanto. Tenho direitos e sei
quais são todos eles, sou herdeiro dessas terras e jamais sairei daqui. Este é o
meu abrigo, meu lar. — Falou.
— Vejo que é um rapaz determinado. — Disse Walter.
— Tudo que aprendi foi minha mãe que me ensinou, então sim, sou
determinado. Agora por favor, deixe-me sozinho.
— Vou deixar garoto, e não vou comunicar a nenhuma autoridade sobre
isso. Boa sorte na vida.
— Obrigado.
O oficial Walter esperou-o abrir a porta e saiu deixando-o chorar a
morte da única pessoa que o amara, sua adorada mãe. E ele nem teve tempo de
dizer que a amava aquele dia. E foi assim que Dexter passou a noite em seu
quarto, segurando o retrato em preto e branco da mãe ao lado de seu pai, era a
única imagem dela que ele tinha para guardar em suas lembranças. No outro
dia e para a sua surpresa, o oficial Walter apareceu na cabana com os dois
caixões com os corpos de seus pais. Eles colocaram na carroceria da velha
caminhonete de trabalho de Stephano, e o oficial foi embora novamente sem
cobrar um centavo por nada. Dexter colocou tudo o que ele iria precisar para
fazer as covas, entrou no carro e dirigiu até o topo da montanha. Era o lugar
que sua mãe adorava ir para ver a imensidão dos vales, e lhe contar histórias
inventadas por sua imaginação sonhadora. Cavou e colocou cada caixão em
sua cova. Jogou terra por cima chorando e quando terminou, secou as lágrimas
fazendo de si um homem sozinho na floresta, onde a partir daquele momento,
seria o homem no qual sua mãe sonhara que ele fosse um dia. Prometeu
olhando para o céu que sua bravura não sairia de seus punhos e repousando na
face de uma mulher, mas sim, de seu coração e sua alma fazendo de sua vida
um caminho de exemplo a ser seguido. Que sua esposa, a mulher escolhida a
estar ao seu lado, não derramaria uma lágrima sendo o motivo, ele. E que se
lágrimas derramasse, seria de felicidade e agradecimento.

— Eu não gosto dessa parte da história, papai. — Disse Cattleya


fazendo-me parar de ler.
— Então por que você pede para eu ler do começo? — Perguntei.
— Porque eu gosto de saber da vovó, mas não do vovô.
— Ele também foi um bom homem. Só se perdeu no meio do caminho e
não conseguiu mais voltar. — Falei observando minha filha que ficou
pensativa.
— Sim, mas é você que tem marcas em suas costas, por isso eu não sou
do time que gosta dos avôs. — Disse ela olhando-me profundamente e pude
ver a tristeza em seus olhos.
— Eu sei. Mas já o perdoei isso é o que importa. O perdão é a cura da
alma, querida. Por isso não sou doente. Você também precisa perdoá-lo por ter
feito isso comigo. — Falei.
— Eu sei, eu vou. — falou pensativa. — Continue, por favor. — Pediu.
— Agora não mocinha. — disse Pétala aproximando-se. Ela é linda
com seu andar calmo e de pernas longas. Seus cabelos caem nas costas como
cascata de água escura. Seu olhar doce me faz perder o ar, sua pele macia e
cheirosa que faz meu corpo tremer ao tocá-la. Eu a amo infinitamente. — Está
na hora do jantar querida, depois vamos nos deitar aqui no tapete e seu pai
pode continuar de onde parou. — Pétala sentou no meu colo, mesmo passando
um tempo na cozinha o seu perfume não foi embora com o cheiro dos
temperos. Eu ainda o sinto doce e suave em seus cabelos.
— Está bem, mamãe. — Respondeu nossa filha. Pétala olhou-me nos
olhos e pude sentir o amor me abraçar.
— Eu fiz a receita do guisado de veado, espero que goste.
— Eu vou adorar, tenho certeza. — Ela sorriu.
— Vamos? — Perguntou Cattleya já impaciente.
— Sim. — Elas se levantaram e fomos para a cozinha nos sentar.
Pétala é uma mulher muito rica, jamais precisou colocar à mesa para a família
comer na casa onde morava. Mas há dezoito anos ela faz isso na nossa velha
cabana, no meio da floresta. Se isso não for amor, o que seria então?
Sentamos os três e Pétala nos serviu e o cheiro já me fez engasgar de
vontade de chorar. Ela conseguiu, ela sempre consegue. Eu estou orgulhoso do
meu amor.
Capítulo dois

pela
mãe.
minha
E u senti o sabor do
guisado de veado e
pareceu ter sido feito
própria

— Está idêntico amor, como conseguiu com todos os detalhes? — Perguntei e


ela agraciou-me com seu sorriso.
— Sua mãe era mágica com as palavras, Dexter. Não tem somente
receitas, tem também poesias naqueles cadernos. A leveza do que ela deixou
para você se formar no homem que é hoje, toda a energia dos agradáveis
momentos em que vocês passavam juntos nesta cozinha está registrado lá.
Assim ficou fácil seguir todos os passos. — Disse emocionada. Nós comemos
e conversamos. Cattleya é uma garota comunicativa e confesso que aprendo
muito com ela. Minha filha tem o dom de me fazer falar, quer dizer, Pétala e
Cattleya tem esse dom. Afinal, eu conversava com pessoas duas vezes ao mês
antes de conhecer minha mulher.
Foi um agradável jantar típico da família Sawyer. Momentos que
jamais esquecerei e registrarei tudo como minha mãe fazia, justamente para
que Cattleya sinta essa mesma poesia que minha esposa sentiu, ao ler uma
simples receita.
— Estava tudo perfeito mamãe, agora podemos continuar com a
leitura? — Perguntou nossa filha deixando os talheres posicionados
corretamente quando se termina uma refeição, e ficou olhando atentamente e
sorridente para nós.
— Você é impossível, garota. — disse a mãe. — Vamos amor ou essa
menina não nos dará sossego. — Cattleya se levantou e foi até o banheiro às
gargalhadas por ter vencido com um simples pedido.
— Precisava fazer uma filha tão parecida com você? — Perguntou
Pétala.
— Vem aqui, amor. — pedi. Ela levantou-se graciosamente da cadeira
e sentou-se no meu colo. — Temos alguns minutos de privacidade, momento
perfeito para te fazer um pedido. — Falei olhando em seus olhos sorridentes.
— Um pedido? Diga-me então. — Disse curiosa.
— Não fique ansiosa e pense que não vejo o quanto você gostaria que
tivéssemos tido mais filhos, só dê tempo ao tempo. — Pétala abaixou os olhos
e não disse nada. Sei que cada dia que passa seu olhar fica mais ansioso pelo
desejo de ser mãe novamente. — Você está feliz aqui? — Perguntei.
— Você faz essa pergunta há quase dezoito anos. E eu lhe dou a mesma
resposta, amor. Sou muito feliz aqui e não vou embora e não vou pedir para
você ir também.
— Obrigado, por entender.
— Sou sua mulher, tive opções e escolhi você. — Às vezes pergunto a
mesma coisa para que ela me diga como se sente, e não teve uma única
resposta que não me deixou de coração aquecido. Eu amo com toda força
ouvi-la dizer que me escolheu. Quando eu abri a boca para falar sobre filhos
novamente, Cattleya apareceu com suas interrogações.
— Por que vocês estão falando tão baixo?
— Você já não é uma adolescente; menina curiosa. Pare de perguntar o
que não deve. — Disse Pétala sorrindo para ela.
— Não mando vocês terem segredos comigo, estou escrevendo um
livro e preciso de informações. — Falou indo para a sala. Pétala pegou as
mantas de lã e um grande lençol no baú de madeira trabalhada que fica ao lado
da lareira e forrou o tapete felpudo branco, enquanto Cattleya pegava as
almofadas. Sentei-me na cadeira de balanço e elas deitaram no tapete. Minha
filha deitou de lado e de frente para mim enquanto Pétala a abraçou, elas
ficaram em silêncio, os olhos ávidos de minha filha diziam que eu podia
começar a ler novamente. Dentro da nossa cabana podia-se ouvir somente o
estalar da lenha queimando na lareira, e minha voz.

Ao entrar na cabana onde cresceu, Dexter chorou como todo garoto


que estava sozinho no mundo. Ele não tinha amigos, nunca frequentou uma
escola e não conhecia seus familiares. Ele tinha certeza de que ninguém iria se
importar se soubessem que seu pai estava morto. Ouvira muitas vezes
Stephano gritar que todos de sua família não gostavam dele.
Honddra era uma mulher inteligente e apesar de parecer inútil aos
olhos de Stephano, ela fez de sua casa um lar e de seu filho um menino de
princípios. As lições escondidas agora serviriam para ele seguir o seu destino.
Ela não sabia quando Dexter iria se casar, ou se ele iria se casar com a vida
que levava em sua formação, não sabia também quanto tempo mais viveria,
pois, as agressões de seu marido estavam cada vez mais frequentes e
violentas. Quando Stephano saia para o trabalho e não levava com ele o filho,
ela o ensinava tudo o que fazer dentro de uma casa. Então, ele começou a lavar
as louças, enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto, depois varreu, tirou o
pó e limpou a casa deixando-a com um delicioso perfume de lavanda. Também
cuidou das flores de sua mãe, ela era uma grande apreciadora delas. E as suas
preferidas eram as orquídeas de Cattleya.

— Por isso você colocou meu nome de Cattleya. — Sussurrou minha


filha interrompendo-me sorridente.
— Sim meu amor, você nasceu tão linda e sua avó merecia ser
lembrada por ser uma brava mulher.
— Eu gosto do meu nome. — Disse ela. Eu sorri e continuei a ler.

Honddra nasceu na Colômbia, saiu de lá muito nova com a esperança


de ter o seu sonho americano realizado. Alguns primos moravam em Boston e
eles a ajudaram com tudo. Na pequena mala que trouxera seus pertences
tinham algumas roupas, dois pares de sapatos e dois diários escritos quando
ainda era criança. Isso fora tudo o que trouxera de sua vida Latina. Ela
começou a trabalhar e logo se mudou da casa de seus primos para morar
sozinha em um pequeno apartamento. Ela estava muito feliz por ter trabalho,
por enviar dinheiro para os seus pais na Colômbia, por conseguir em pouco
tempo tudo aquilo que talvez levasse anos a finco em seu país. Uma mulher
latina vencendo na América, onde tudo era possível. Onde sorrisos eram feitos
com verdade. Onde o sono era tranquilo sem a dor no estômago causado pela
fome. O sonho americano existia sim, como ela escrevia em seus diários.
“Eu vivi o meu sonho americano. Tornou-se pesadelo, quando eu abri a porta do meu
coração para o diabo entrar. ”
Estava escrito em um de seus relatos.
Uma semana depois que Honddra pediu para sua mãe enviar-lhe uma
orquídea de Cattleya, que é originada da Colômbia, ela conheceu Stephano
Sawyer. Ele era o entregador. Ela abriu a porta de seu pequeno apartamento e
foi a primeira vez que o viu, um homem lindo — palavras dela — segurando
sua flor preferida. Seu pesadelo americano começou quando seus olhos
encontraram os dele.
Dexter ficou tempo demais cuidando das Cattleya no pequeno jardim,
já era quase noite quando sentiu seu estômago doer de fome. Para um
adolescente de treze anos, ficar sem comer por várias horas não era uma tarefa
fácil. Ele olhou para as flores prometendo cuidá-las com o mesmo carinho.
Entrou e tomou banho, vestiu-se com roupas limpas e foi para a cozinha. Com
um dos cadernos de receitas, Dexter passou a fazer sua própria alimentação. E
foi assim a sua vida até o dia mais especial vivido por ele. E aos trinta e três
anos, ele era um solitário homem da floresta que cuidava da casa e colhia no
próprio quintal o seu alimento. Trabalhava como lenhador, e carpinteiro nas
horas vagas, distribuía madeira para três grandes empresas, calado, ótimo na
administração de suas finanças, frequentava pouco a cidade para comprar
alguns alimentos não perecíveis, nunca namorou ou se casou. Foi assim a sua
vida até aquele dia.
Era cinco horas da madrugada quando Dexter, vestiu-se com moletom e
uma camisa de mangas cumpridas com capuz e saiu para correr. Tinha chovido
durante toda à noite, mas não se importara com o tempo. Ele colocava no
exercício físico toda a descarga de energia que precisava para manter sua
sanidade. A solidão nunca fora coisa fácil. Dentro da mata fechada é onde ele
sente-se em paz. Correndo pelas trilhas e pulando obstáculos ele consegue
manter as suas emoções dominadas.
Tudo parecia calmo e rotineiro, até ele ouvir os ecos dos gemidos que
vinham como assobio passando entre as árvores até chegar a seus ouvidos.
Sempre foi só ele e a mata depois que seus pais morreram, e ouvir outro
barulho que não fosse dos pássaros cantando era no mínimo estranho. Ele
parou imediatamente com a corrida deixando a mata falar o seu choro e
olhando à sua volta procurando os gemidos sôfregos. Não parecia ser de
algum animal e isso o deixou intrigado. Passando seus olhos atentamente por
todos os vão das árvores, olhando para o chão e até para o alto nas copas dos
pinheiros, ele não encontrou nada. Tirou o capuz para ouvir melhor e a passos
cautelosos procurou o que tanto lhe incomodava. Era um choro doído e
desconhecido. E não muito distante, ele avistou quem sentia tanta dor. Deitada
próxima a grande raiz de uma árvore crescida no caminho da trilha havia um
corpo caído, e ao aproximar-se para prestar-lhe socorro, percebeu que ela
gemia inconsciente. Dexter olhou para o lado e viu a tentativa falha que ela fez
para tentar se proteger da chuva, não conseguiu pegar o saco de dormir a
tempo de desmaiar, a mochila estava aberta e algumas roupas no chão. Ele
pegou tudo e colocou de volta na mochila de acampamento.
“O que ela faz sozinha na mata?” — Pensou. Aproximou-se e demorou
tempo suficiente olhando para ela e mesmo vendo-a de olhos fechados, ele
sentiu seu corpo tremer. Não pela fina chuva que começou a cair novamente,
mas por vê-la completamente indefesa, a mulher mais linda que jamais vira.
— Moça. — Chamou. Mas ela não respondeu. Ele olhou para todo seu
corpo e foi então que viu um ferimento em seu abdômen e outra tentativa falha
de fazer um curativo. Deixou a blusa que estava vestida levantada acima do
umbigo e viu que não se tratava de nada grave e tinha também um esfolado em
suas mãos.
“Ela caiu” — Pensou. Dexter olhou mais o seu corpo e viu o que
realmente estava fazendo-a sentir dor. Seu tornozelo estava muito inchado e o
tênis um pouco para fora do pé o deixou saber o quão ruim estava. — Está
muito ruim isso, hein moça? — disse em voz alta. Dexter tirou seu tênis e o
colocou na mochila, ela estava encharcada de água da chuva e ele precisava
tirá-la dali imediatamente. Colocou a mochila em suas costas, pegou a jovem
no colo que gemeu alto sentindo dor, mas não acordou. Ele andou o mais
rápido que conseguiu passando pelas grandes árvores até avistar a sua casa.
Durante todos esses anos, Dexter trabalhou muito para melhorar a velha casa
que seu pai construíra, agora ela era uma linda cabana no meio da floresta,
toda cercada com flores de cada estação do ano. Ele aprendeu a manter
sempre floridas as Cattleyas de sua mãe e no inverno ele as mantinha dentro da
casa.
Com passos largos, passou pelo jardim e entrou na cabana pela porta
da sala que estava somente encostada e não teve problemas em empurrá-la
com seu próprio corpo. Entrou e colocou a linda jovem deitada no sofá. Ele
comprou algumas revistas de decoração enquanto esperava na fila do
supermercado. Sua casa é hoje um pequeno palácio rústico graças às revistas
e sua criatividade. Os sofás que ficavam na sala e jardins foram feitos de
palhetes, toda a decoração ele mesmo a construiu, costurou, emoldurou e
pintou tudo.
Dexter verificou a temperatura da jovem tocando carinhosamente em
sua testa. — Meu Deus, você está ardendo em febre. — disse ele. — Preciso
tirar essas roupas ou você não vai ficar nada bem. — ele começou tirando o
outro tênis e as meias ensopadas, e as colocou próxima a lareira para secar.
Olhou o tornozelo machucado e não estava nada agradável de ver. — Você
teve uma lesão séria ou talvez até quebrou o pé. — Tirou toda a sua roupa
deixando-a somente com suas peças íntima, pois estava tremendo muito de
frio. Mas Dexter, sempre foi um homem de princípios, sua mãe usava como
exemplo a vida que tinha com seu pai para educá-lo e fazê-lo entender que
homem não é aquele que trata uma mulher com desrespeito. Ela o ensinou
muito bem a ser o oposto de seu pai, por isso, ele não olhou para a mulher
seminua e desmaiada em seu sofá. Ele a cobriu com uma manta de lã e foi até a
lareira e colocou mais lenha para aumentar a potência do fogo, depois foi até
seu quarto e pegou um conjunto de seu moletom limpo e seco para vesti-la.
Não teria problema se ficasse grande demais, o importante era mantê-la seca e
aquecida. Ele voltou para a sala e tirou suas roupas íntimas, mas tudo por
baixo da manta de lã. Dexter não viu nada do que não lhe era permitido, vestiu
rapidamente a roupa e colocou as dela para secar junto com as outras. Ele
tinha plena consciência de como era linda, na verdade, a mais linda que já
vira, e muito diferente das que trabalhavam nos caixas de supermercados ou
nas farmácias que ele conhecia na cidade. E também porque sempre foram elas
a irem falar com ele, e não ele com elas. Mas nenhuma era tão linda como a
mulher que estava em seu sofá.
Ele a cobriu com mais algumas mantas e colocou alguns travesseiros
para levantar seu tornozelo e deixar confortável a sua cabeça. Foi então que a
deixou sozinha e saiu para o jardim, Honddra o ensinou tudo o que seus pais e
avós a ensinara na Colômbia. Ele sabia sobre ervas medicinais e tinha
cultivado alguns remédios caseiros em seu próprio quintal. Pegou algumas
plantas para fazer uma pasta e chás, entrou assim que tinha o que queria em
mãos. Ele olhou para linda jovem deitada e observou que ela não estava mais
tremendo.
Ele foi para a cozinha e fez um chá, e uma pasta para servir de
compressa para seu tornozelo, foi ao banheiro e pegou um kit de primeiros
socorros que sua mãe sempre mantivera em casa e logo foi cuidar de sua
visita. Dexter sentou-se em cima da mesinha de centro, era um tronco de
madeira cortado que ele passou verniz para conservar e deixá-lo como estava
na revista. Pegou cuidadosamente seu pé machucado e a ouviu gemer um
pouco, apoiou-o em seu joelho e observou como estava inchado — É lindo o
seu pé. — sussurrou. Ele passou toda a pasta no pé e tornozelo cobrindo-o
com uma faixa e amarrou para não sair. Ela gemeu e se mexeu outra vez, mas
não acordou. Dexter precisava fazê-la tomar o chá com um remédio para dor e
não podia esperá-la acordar. Ele foi até a cozinha e colocou a infusão que
estava no bule em uma caneca, amassou o comprimido com uma colher e
colocou dentro, e voltou para a sala sentando-se no mesmo lugar olhando para
a jovem. — Como vou fazer você tomar isso? — Ele deixou a caneca na
mesinha de centro e levantou a jovem até que ela estivesse sentada e
acomodou seu corpo no encosto do sofá.
— Hum. — Foi o que ouviu dela. Pegou a caneca e sentou ao seu lado
para ela não cair.
— Moça, acorde. Você precisa tomar este chá. — Disse ele
calmamente.
— Hum.
— Vamos lá, faz um esforço.
— Hum. — só ouviu os seus gemidos. Dexter encostou seu corpo ao
dela para apoiá-la e respirou fundo quando ela virou a cabeça para o seu lado
quase tocando em seu próprio rosto. Nunca tinha visto pele tão limpa e linda.
— Meu Deus. — ele se recompôs imediatamente e manteve a sua cabeça
apoiada em seu peito e colocou a caneca encostada em sua boca. — Vamos
beba, não está tão quente. — disse suavemente molhando seus lábios fazendo-
a abrir com dificuldade. — Isso, você está indo bem nesse caminho, vamos lá
moça bonita. — Aos poucos, ele conseguiu fazê-la beber todo o chá e entre
gemidos e tremores, ela caiu no sono profundo outra vez.

— Pai. — Chamou Cattleya interrompendo a leitura e o que me fez


olhar rápido para ela, foi a voz travada em sua garganta.
— Sim, filha. — Seus olhos estavam cheios de lágrimas.
— Promete que um dia você vai me dar todos os seus diários? —
Pediu ela.
— Eles são seus Cattleya, eu prometo. — ela sorriu para mim. Pétala
já não estava mais ouvindo, o sono foi mais rápido que eu e a pegou de jeito.
— Sua mãe já está dormindo é melhor continuarmos amanhã, o que acha?
— Sim, eu também quero escrever um pouco no meu diário. Toda vez
que você lê para mim, eu tenho novas expectativas sobre o livro.
— Eu sei disso filha, não pense que não ouço o que vocês falam sobre
isso, estou velho e não surdo. — Ela sorriu e piscou para mim.
— Vamos levar a mamãe para o quarto?
— Sim, amanhã ela não vai se perdoar por ter dormido. — Falei
olhando o amor da minha vida.
— Não mesmo. — Disse Cattleya já sabendo como a mãe fica quando
dorme no meio das minhas leituras. Coloquei minha esposa na cama. Vê-la
dormindo tão calma, me acalma e me faz pensar o quanto eu amei e amo a vida
que tenho hoje. Pétala me fez conhecer as possibilidades que o mundo fora da
mata tinha a me oferecer. Mas tudo o que aprendi com minha mãe e o que
passei longe do meu forte, me fez voltar para ele. E o que me motiva todos os
dias a ver o mundo com toda a sua graça e fé, é porque Pétala veio comigo.
Acomodo-me ao lado da minha linda mulher sentindo o seu perfume
que é o mais doce e suave de todas as flores do mundo. Eu ainda a amo como
a primeira vez que a vi, e mesmo depois de todos esses anos eu a amo até mais
que antes.
Adormeço embriagado com seu cheiro e abraçado ao seu corpo quente.
Capítulo três

O dia amanheceu. Os
raios de sol são fracos
essa época do ano e
misturam-se a uma fina neblina por entre as árvores fazendo as cores ficarem
mais vivas com a garoa nas folhagens. É lindo.
O aroma de café fresco me desperta e como Pétala já não estava na
cama, imagino que seja ela a fazê-lo. O dia será chuvoso pelo que vejo da
minha janela e isso irá dar-me tempo suficiente para aproveitar cada minuto
com minha filha. E falando nela, ouço os seus passos apressados pelo
corredor, o que me faz sorrir feito bobo.
Ela abre a porta do quarto com o sorriso estampado nos lábios e sem
se importar em como estou vestido. Quando ela está em casa sempre uso
pijamas. Seria constrangedor que minha filha me pegasse nu em meu próprio
quarto. Pétala entrou logo atrás dela com toda a sua graça e beleza. “Meu Deus,
como eu amo essa mulher!”
— Acho que estamos mimando muito seu pai. — Disse ela.
— Acho que você ama mimá-lo, já que faz isso por quase dezenove
anos. — Disse Cattleya.
— Acho que mereço ser mimado, obrigado. — Falei olhando para as
duas paradas no meio do quarto.
— Acho que isso, nós só vamos saber se você continuar a ler o diário
papai, eu darei o veredito no final da história.
— Mas o final você já sabe há anos, Cattleya. — Falei.
— Eu já me esqueci, por isso você está lendo, lembra-se? — Ela
sorriu para mim. É o sorriso idêntico ao de sua mãe. Sentei-me na cama,
enquanto Pétala abriu mais as cortinas da janela deixando-me ver que o sol
quase não estava aparecendo, pois, a chuva fina e acolhedora estava
começando a fazer barulho no telhado. Com o dia assim essas duas não irão
me deixar sair até eu ler uma boa parte do diário. Cattleya deixou a bandeja de
café em cima da cama e foi até o closet — que Pétala me obrigou a fazer — e pegou
mais quatro travesseiros e os jogou na cama. Ela sentou e se acomodou para
tomarmos café. Pétala andou pelo quarto pegando as coisas que queria perto
dela, ela sorriu ao andar. Ela sabe que meus olhos não a deixaram um segundo.
Sempre foi assim, eu a sinto observando-me quando estou longe, e ela sente
quando eu a observo também. Somos muito ligados um ao outro e se existe
amor no mundo, indestrutível, esse é o nosso.
— Sente-se amor. — Pedi. Ela ficou de costas para mim e aproveito
para olhar o seu corpo de curvas perfeitas para serem tocadas por minhas
mãos.
— Está com saudades? — Perguntou divertindo-se com o timbre de
voz que só eu sei para que ela o faz.
— Em demasia. — Pétala olhou-me por cima do ombro e os cabelos
negros até a cintura se movimentaram lentamente. Não posso descrever o que
sinto em respeito à minha filha curiosa que nos observa. Mas eu a deixo saber
o quão quente estão os meus olhos. Ela é tão provocadora, que mordeu
lentamente os lábios para enlouquecer-me de vez. E por um lapso de segundos
eu esqueço que Cattleya olha-me atentamente e puxo forte a respiração.
— Por que você não toma o seu suco de frutas, amor? — disse ela
suavemente. — Eu já vou me juntar a vocês. — Abaixei meus olhos para a
bandeja em cima da cama. Ela está certa, preciso me controlar. Só que é um
pouco difícil quando se tem Pétala como esposa. Peguei o copo com suco e
tomei uma bela golada sem respirar, mas perdi o jeito ao ouvir minha filha e
quase engasguei.
— É impressionante como isso ainda acontece com vocês, mesmo
depois de tanto tempo. — Disse ela. Coloquei minha vergonha de lado porque
eu estava grudado a ela desde o breve momento de minha falta de controle, e o
copo de suco no outro, e olhei para ela fingindo não entender.
— Do que está falando minha filha?
— De como vocês se desejam. — Engoli em seco.
— Isso não é coisa que se fale para os pais, Cattleya. — Falei quase
sussurrando de vergonha.
— Eu não sei por que vocês não tiveram mais filhos. — Disse a
atrevida.
— Eu também não sei filha. — falou Pétala sentando-se ao meu lado.
— Eu gostaria muito de te dar um irmão, mas até esse momento isso não
aconteceu, vamos esperar, eu sou saudável e não me importo em ser mãe a
essa altura da vida.
— Eu vou amar se caso acontecer. — disse nossa filha. — Vamos
comer porque eu estou faminta e louca para ouvir a continuação da história.
Comemos as panquecas que Cattleya fez e o café estava realmente
saboroso. Pétala aprendeu perfeitamente a fazê-lo como minha mãe deixou nos
cadernos de receitas. Terminamos e Cattleya pegou a bandeja e colocou no
canto no chão ao pé da cama, se acomodou próximo aos nossos pés, cobriu-se
com a coberta e olhou para mim.
— Pode continuar papai. — Disse ela.
— Você esqueceu que ele está lá embaixo? — Perguntei.
— Engano seu, já o trouxe e está ao seu lado no criado-mudo. — Disse
ela sorrindo. Olhei para o criado e meu diário estava lá.
— Você é uma garota que sabe o que quer, não é mesmo?
— Puxei você, pai. — Disse. Pétala se aconchegou em meu ombro,
abri o diário e continuei a ler as minhas memórias escritas.

Dexter passou o dia cuidando da jovem, ora olhando a temperatura,


ora cobrindo-a com a manta de lã por se mexer muito e se descobrir sem ver.
A chuva caía lá fora e ele aproveitou para organizar o que estava fora do
lugar, colocou mais lenha na lareira e fechou todas as cortinas para deixar a
casa agradável. Limpou seu quarto e o que talvez ela ficaria quando
acordasse. — e não ficasse desesperada para ir embora. — Trocou os lençóis
de cama, colocou toalhas limpas no banheiro, deixou tudo pronto para a moça.
Já passava das onze da manhã quando ele começou a preparar uma sopa.
Descascou todos os vegetais, temperos e tudo para dar sabor e a casa ficou
com delicioso cheiro de comida fresca feita no fogão a lenha. Depois de
pronta, ele colocou em prato fundo e reservou para esfriar um pouco. Colocou
também em uma grande caneca e acomodou-se encostado no balcão da cozinha
que fazia a divisão da sala. Ele ficou tomando a sopa e olhando para a linda
mulher dormir em seu sofá, tentando imaginar o que ela estaria fazendo
sozinha no meio da mata. Quando ele terminou de tomar a sopa, pegou mais um
Advil na caixa de medicamentos e colocou amassado no chá que tinha sobrado
e ainda estava aquecido, por ficar próximo ao fogão. Ele andou calmamente
até ela e se sentou na mesa de centro para acordá-la novamente.
— Moça, acorde. — ele a tocou para saber se estava com febre. —
Moça. — Chamou outra vez e não teve resposta. Ele a levantou deixando-a
sentada e encostada no sofá e por poucos segundos, ela abriu os olhos e olhou
para Dexter. Ele parou de respirar. — Oi. — Disse ele. Mas ela não ouviu e
fechou os olhos para o sono.
Gemeu tentando abri-los novamente e quando conseguiu, Dexter
engasgou pela emoção. Ele ainda não estava respirando pelo impacto de vê-la
de olhos abertos. Então ela os fechou novamente.
“Meu Deus, a mais perfeita das criaturas.” — Pensou. Ver seus lindos olhos
verdes o fez perder os sentidos e se questionar de que era a beleza, se não
fosse definida somente na mulher que estava em seus braços. Ele pegou o chá
é a fez beber, passou trinta minutos lutando para conseguir fazê-la engolir tudo
até que teve sucesso. Ele a deixou acomodada no sofá apoiando sua cabeça no
travesseiro e foi até a cozinha, pegou a sopa que tinha deixado esfriando. —
Agora você precisa comer. — disse ele sentando ao seu lado novamente. Ela
abriu os olhos mais uma vez e gemeu. — Eu ajudo você. — Ela estava
acordando devagar, fraca e sonolenta ainda para manter seu corpo sob suas
próprias forças. Ele não sabia quanto tempo ela estava sem comer e então,
pegou um pouco de sopa com a colher e levou até a sua linda boca. Um pouco
mais desperta ele a fez comer tudo. A linda moça tomou toda a sopa com os
olhos entreabertos e ele não se surpreendeu em nada quando ela dormiu assim
que terminou de alimentá-la. Deixou-a deitada confortavelmente e a cobriu
com a manta para aquecê-la enquanto descansava.
Dexter ficou a tarde inteira ao lado da bela adormecida escrevendo em
seu diário. Colocou em palavras todo sentimento de cuidado que teve ao vê-la.
Toda a emoção ao sentir sua pele quente e desejoso que ela não fosse embora
quando acordasse. Já estava um pouco escuro quando ele parou de escrever e
deixou o diário em cima da mesa e foi providenciar as lamparinas e todas as
tochas de fogo para deixar a casa iluminada. Ele espalhou-as deixando tudo
harmoniosamente organizadas e com incrível charme, fazendo assim uma
perfeita decoração romântica, logo depois colocou mais lenha na lareira para
aquecer a casa ainda mais, pois ainda chovia muito lá fora. Distraído e
mexendo com o ferro na brasa, não percebeu o movimento atrás dele. Levantou
e virou-se tranquilamente para voltar a sentar-se e escrever, mas ficou estático
ao vê-la. Ela, completamente desperta e sentada no sofá olhando para ele
fazendo-o perceber o quanto estava assustada.
— Quem é você? — Perguntou sussurrando e deixando-o tonto com a
rouquidão de sua voz.
— Não fique com medo, não vou lhe fazer mal. Chamo-me Dexter e te
encontrei desmaiada.
— Onde estou? — Perguntou ela.
— Na minha casa, não muito distante de onde a encontrei.
— Há quanto tempo estou aqui?
— Desde hoje pela manhã. Seu pé está machucado. — Disse ele.
— Eu estou com dor. — ela moveu a perna com dificuldade e retirou a
manta de lã para o lado, colocou os pés no chão e sentiu mais dor. Ele viu pela
expressão que fez. Ela viu o quão inchado seu pé estava e a faixa que ele
colocou. — Está quebrado? — Perguntou ela.
— Acredito que não, já quebrei o braço uma vez e não consegui deixar
meu pai me tocar. Você não se moveu quando eu coloquei isso aí. — Ela olhou
para ele desconfiada e ele se manteve distante para deixá-la confortável, ou
tentar ao menos.
— Onde está seu pai? — Perguntou.
— Morto. — Respondeu Dexter.
— Desculpe.
— Faz muito tempo não se preocupe.
— E sua mãe?
— Morta. — Ela fechou os olhos e respirou profundamente.
— Sinto muito. — Falou.
— Não tem problema. — disse Dexter. — Você está com fome?
— Eu preciso ir embora. — disse ela rapidamente. Olharam-se e
ficaram por alguns segundos em silêncio e então ela perguntou. — Você pode
me emprestar o seu telefone? — ela olhou para os lados procurando alguma
coisa. — Onde está minha mochila?
— Ao seu lado direito, no chão. — Ela a viu e pegou com um pouco de
dificuldade. Abriu a mochila e verificou os seus pertences. Tirou de dentro
uma carteira, um caderno com capa branca e letras douradas escrito Pétala
Mackay. Verificou se o equipamento para camping estava todo lá, tudo o que
tinha de alimento também olhando cada parte da grande bolsa, enquanto ele só
a observava em silêncio. Ela abriu a carteira e olhou os documentos, alguns
cartões, carteira de motorista, organizou tudo dentro da mochila outra vez e
falou.
— É, não está faltando nada.
— Que bom que você não encontrou nenhum assaltante pela mata, não
é mesmo? — Ele pareceu ofendido. Ela o olhou envergonhada.
— Desculpe-me, não quis ofendê-lo.
— Não ofendeu. — Eles se encaram mais uma vez.
— Eu agradeço por ter me ajudado, mas eu preciso ir. Você pode me
emprestar o seu telefone? — Perguntou novamente.

— Mamãe? — Cattleya interrompeu a minha leitura. Ela é curiosa


demais para deixar alguma coisa passar sem fazer uma observação breve.
— Sim, filha. — Minha esposa sorriu.
— Acho que já perguntei isso, mas, qual foi a sua reação ao ver o
papai pela primeira vez? O que você sentiu? — Sorri com a pergunta e olhei
para Pétala.
— É amor, o que você pensou quando me viu a primeira vez? —
Pisquei para ela.
— Você é bem palhaço, sabia disso? — ela sorriu e olhou novamente
para nossa filha. — Foi a melhor e a pior sensação do mundo. Ao olhar nos
lindos olhos de Dexter, eu o amei. — ela olhou-me sorrindo. — Eu o amo
ainda mais que aquele dia. Ele estava em pé e eu sentada, pareceu-me um
gigante muito forte olhando-me como se eu fosse uma miragem. Mas também
tive medo por não o conhecer e de não saber o que ele tinha feito comigo
enquanto eu estava desacordada. — sorriu tímida e voltou-se para Cattleya. —
Porém, meu coração de certa forma avisou-me que ele nunca mais sairia da
minha vida, mesmo se eu não o quisesse nela, seu pai já fazia parte do meu
destino. — Cattleya sorriu com os olhos brilhando de emoção.
— Por que você não me deixa ler o seu diário, mamãe?
— Porque o meu diário tem coisas íntimas demais para eu deixar a
minha filha de dezessete anos ler. — Eu caí na gargalhada e Cattleya também.
— Então é no seu diário que estão os momentos mais quentes? — disse
as gargalhadas a nossa filha. — Eu vou precisar dele para escrever o livro
sobre vocês.
— Eu também escrevi algumas coisas impróprias para menores e filha
curiosa. Eu só não leio para você. — Falei. Ela levantou-se da cama em um
pulo.
— Isso não é justo pai.
— Sim é, como vou ler para minha filha, a primeira noite de amor que
tive com sua mãe? E outras, e outras, e mais outras, isso é que não tem lógica
no mundo. — Falei. Ela ficou séria pensando e então disse.
— É verdade, isso não seria nada saudável. Então vamos fazer assim,
as partes quentes eu não coloco no livro. Fica somente nas lembranças de
vocês.
— Isso soa no caminho certo menina atrevida, é assim que tem que ser
e agora deite-se aqui para seu pai continuar. — Disse Pétala sorrindo com o
atrevimento dela.
— Sim. — Ela pulou na cama e se cobriu, o silêncio se fez novamente
e eu continuei a leitura.

— E u não tenho um telefone. — Respondeu Dexter. Ela o olhou


franzindo a testa.
— Como? Não tem telefone?
— Não tenho telefone, não uso telefone. — Disse ele.
— E um computador para eu passar um e-mail, você tem? — Perguntou
assustada.
— Não. Eu não tenho telefone, nem computador, televisão ou mesmo
eletricidade em minha casa. — Ela engoliu em seco, ele viu.
— Eu estou presa aqui? — Perguntou com olhos marejados.
— Não, você pode ir quando quiser. Mas aconselho ficar até que seu
pé esteja melhor. — Ela abaixou os olhos para os pés, realmente não estava
nada bom e a dor era forte.
— Está muito inchado. O que é isso que você colocou? — Ela tentou
mostrar que estava bem e não tinha medo.
— Uma compressa de ervas. Eu também a fiz tomar um Advil. Mas
acho que precisa ir ao médico. — Ela o olhou nos olhos outra vez.
— Eu posso ir ao médico? — Perguntou e ele percebeu a sua voz
trêmula.
— Como eu disse, você não está presa aqui. Eu moro na mata, mas a
cidade não fica muito longe e se quiser posso levá-la amanhã pela manhã. —
Disse ele.
— Obrigada.
— O que você estava fazendo nessa mata sozinha? — Ele perguntou.
— Só escalando algumas rochas. — disse e ele percebeu que ela não
queria dar detalhes. — Qual seu nome mesmo? — Perguntou ela mudando de
assunto.
— Dexter Sawyer.
— Pétala Mackay, muito prazer. — Sorriu tímida. E foi o sorriso mais
lindo que ele já vira na vida. Dentes brancos, lábios carnudos e de contornos
marcantes. Ele sentiu seu corpo tremer sabendo que nunca havia ficado assim
antes, parecendo um adolescente enamorado pela primeira vez e então olhou
para o chão, disfarçando erroneamente a sua reação a linda jovem, e
perguntou.
— Você não me respondeu, está com fome?
— Um pouco.
— Vou preparar alguma coisa para o jantar, fique à vontade. — Disse
ele e saiu em direção à cozinha. Ele abriu a porta e foi para a noite fria indo
para a horta na parte de trás da casa, respirou fundo sentindo todo o ar entrar
para seus pulmões acalmando-o da situação embaraçosa em que se colocou.
“Ela é linda” — Pensou. Dexter foi até o cercado coberto para proteger os
alimentos, pegou tudo o que precisava e também um pedaço de carne de veado
seca e voltou para a cabana. Ele aprendeu a conservar carnes com o pai,
salgava-a e deixava durante o dia ao ar livre e a noite dentro de casa. Sempre
bem protegida e higienizada.
Ele colocou lenha no fogão, acendeu o fogo e começou a preparar o
jantar. Ouviu Pétala arrastando o pé pela sala, mas não a olhou em nenhum
momento. “Pétala, nome lindo, talvez essa seja a razão para tão agradável perfume. ”
Dexter preparou um refogado de carne de veado seca com legumes,
cobriu as batatas com a casca em papel alumínio e as colocou na brasa para
assá-las. Preparou também uma salada de folhas verdes e enquanto isso ele a
ouvia se arrastando de um lado para o outro, o que não era nada bom para seu
pé. Ele estava quieto em seus pensamentos quando ela adentrou a cozinha e
falou em sussurro dolorido.
— Eu não estou vestida em minhas roupas. — Dexter imediatamente
olhou para ela e viu as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Seus olhos
estavam apavorados por não querer ouvir o pior vindo dele. Ele voltou à
atenção para o que estava fazendo e falou calmamente.
— Não, não está. Eu as tirei e as coloquei penduradas perto da lareira
para secar, e a vesti com minhas roupas. Mas não se preocupe, eu não vi um
centímetro de sua pele nua. Eu a cobri primeiro com a manta para depois tirar
suas roupas. — ele a olhou novamente. — Não sou esse tipo de homem, Srta.
Mackay. — Pétala franziu o cenho e logo que absorveu em sua mente o que
ele disse, respirou aliviada e secando as lágrimas com as mãos.
— Desculpa. — Falou.
— Foram quatro pedidos de desculpas em menos de uma hora. Você
me faz ter lembranças de meu pai. — ele foi ríspido. — Não se preocupe eu a
entendo, não me conhece, está em minha casa e se viu em outra roupa. —
disse. — O jantar está quase pronto, no máximo mais dez minutos. — ele a
olhou novamente. — E você vai se machucar se continuar andando de um lado
para o outro. — Ela voltou para a sala devagar e abraçada ao próprio corpo
enquanto ele a observava. Pétala sentou no sofá e ficou olhando para o fogo
queimando na lareira e Dexter voltou para o que estava fazendo e quando
terminou de preparar o jantar, serviu à mesa para dois.
Capítulo quatro

H onddra tinha algumas


coisas bonitas, mas
Dexter comprou
pequenos detalhes nessas revistas promocionais do Walmart. Dirigiu cem
milhas para comprar esses detalhes de decoração, pratos bonitos, copos,
alguns talheres, forro de mesa e tudo que enche os olhos de uma mulher. Ele
fez isso por sua mãe.

“Eu vou fazer a comida que você mais gosta, Dexter. Uma lástima porque tenho esse
sonho de um dia colocar uma mesa bem posta com velas e pratos bonitos. Lembro-me qual foi a
última vez que eu comi em uma mesa assim toda enfeitada, foi na casa dos meus pais na
Colômbia. Mas hoje temos que comer nesses pratos de plásticos mesmo, porém, prometo-lhe que
vai ficar delicioso. ”

Disse sua mãe certa vez. Dexter nunca mais comeu em pratos de
plástico fazendo assim uma homenagem a ela.
Ele colocou tudo perfeitamente na mesa e então foi para a sala chamar
a desconhecida para jantar. Ficou atônito ao vê-la sentada e quieta no sofá
olhando para seus pés. A iluminação da casa deixou o ambiente romântico, as
tochas e candelabros, algumas lamparinas para dar o ar mais rústico, ele ficou
orgulhoso de si mesmo por deixar a casa como sua mãe sonhara um dia. E
Pétala, em meio a esta iluminação, era somente a maldita coisa mais linda do
mundo. Ela bateu para fora dele um sentimento novo.
— O jantar está pronto. — disse ele. Ela levantou a cabeça lentamente
e olhou-o, e mais uma vez o deixou sem ar. Um movimento nos lábios fez seu
corpo arrepiar e ele percebeu ali um pequeno sorriso tímido, o mais lindo que
já vira. — A mesa já está posta. — Conseguiu concluir. Ela se levantou
devagar e aproximou ficando de frente para ele, mais não muito perto e
ficaram se olhando um para o outro como se estivessem tentando desvendar o
que se passava na mente de cada um, até que ela coçou a garganta para sair da
distração e falou.
— Eu posso usar o banheiro antes?
— Claro, fica lá em cima. — disse ele apontando para a escada. —
Tome cuidado ao subir. — Ela olhou para onde ele falou e começou a andar,
Dexter percebeu que ela estava sentindo muita dor, mas mantendo-se firme
para não demonstrar. Mancando ela continuou a andar, subiu o primeiro degrau
com dificuldade e apoiar-se no pé machucado causava-lhe dor. Subiu o
segundo e gemeu involuntariamente.
— Acho melhor eu ajudá-la a subir. — Disse logo atrás dela.
— Eu consigo. — Ela estava mentindo.
— Eu sei, mas posso facilitar para você não se machucar. Seu pé, sua
escolha. — Ela virou olhando para trás e o viu bem próximo.
— Como você irá fazer? — Perguntou. Dexter não respondeu. Ele
subiu o primeiro degrau e a pegou no colo sem fazer qualquer esforço, era
como se ela não pesasse uma grama.
— Assim. — disse ele olhando os olhos arregalados e vendo-a
prender a respiração pelo susto. — Você pode respirar agora, não vou lhe
fazer nenhum mal. — Pétala o olhou com espanto. Ela não disse uma só
palavra e ficou ali em seu colo completamente imóvel enquanto ele subiu os
degraus sem se preocupar com o peso em seus braços. Passaram pelo pequeno
corredor e logo chegaram à porta do único banheiro fora dos quartos, então,
ele a deixou no chão e disse. — O banheiro é aqui, vou esperá-la na escada.
— Ele se afastou e ouviu a porta fechar atrás dele. Dexter ficou encostado no
corrimão de madeira feito por ele, abaixou a cabeça olhando para o chão e
colocou as mãos nos bolsos e esperou por Pétala. Mas não foi nada como
antes, o mesmo perfume que sentiu pela manhã quando a trouxe para casa,
adentrou em seus sentidos novamente e tão intensamente que o fez vibrar.
“Deus! Como ela é linda. Está assustada, perdida em pensamentos, mas sua beleza é de
tirar o meu equilíbrio. Ela vai embora amanhã e eu nunca mais a verei novamente” — Pensou
pesaroso.
— Estou pronta. — Ela o tirou de seus pensamentos fazendo-o olhá-la
rapidamente. Pétala colocou os cabelos no alto da cabeça. Sua mãe chamava
esse penteado de coque, ele lembrava muito bem. Ficou olhando para ela de
rosto limpo e cabelos amarrados, o contorno era como desenho feito à mão,
seus olhos grandes e verdes, cílios negros e longos e ao se movimentarem
quando piscava, era enfeitiçador. Como uma hipnose talvez. Ela olhou para o
chão envergonhada de como ele a olhava, percebendo que fora indiscreto, ele
falou.
— Depois do jantar eu vou lhe preparar um banho, você gostaria
disso?
— Eu vou agradecer muito por isso. — Disse e ele pode quase sentir o
alívio em sua voz. Dexter a pegou no colo outra vez e desceu a escada e logo a
deixou sentada no banco de madeira junto à mesa.
— Pronto, acho que agora podemos comer. — Ele sentou no banco do
outro lado da mesa ficando de frente para ela.
— O cheiro está incrível. — Disse ela fazendo-o perceber a voz
tremula.
— Você está com medo de ficar aqui, não está? — Perguntou ele.
Pétala que estava olhando para o prato, levantou a cabeça e encontrou os seus
olhos.
— Um pouco. — “Ela não mente, uma virtude” — Pensou ele. — Sei que
não é culpa sua, eu fui descuidada e me machuquei. Mas ficar com um
desconhecido na floresta realmente é assustador. — Disse com toda
sinceridade. “Ótimo ponto se eu fosse um psicopata, amor. ” — Dexter se serviu do
delicioso veado com legumes que tinha preparado, pegou o garfo e colocou um
pequeno pedaço na boca, deixou o garfo no prato e colocou os cotovelos em
cima da mesa entrelaçando as mãos no ar e lembrou-se que sua mãe sempre
lhe chamava a atenção por isso. Mas às vezes, velhos hábitos não podem ser
mudados.
— Eu entendo. — disse ele. — Se você quiser depois do jantar eu
posso levá-la para um hotel na cidade. — Pétala que ainda estava olhando
para ele ficou surpresa.
— Mas já está tarde e eu não quero dar mais trabalho.
— Não é trabalho algum, só não quero que se sinta desconfortável,
com medo.
— Eu... Eu não sei. — Falou confusa. Dexter abaixou os braços e
continuou a comer. Ela se serviu e devorou tudo silenciosamente. Não
trocaram uma palavra durante todo o jantar e quando terminaram ele começou
a retirar as coisas da mesa.
— Eu vou ajudá-lo. — disse ela e quando tentou levantar-se, seu pé
não a deixou com a dor que sentiu. — Ai, ai. — Ele a olhou preocupado.
— Fique sentada e não se preocupe eu estou acostumado. Mas o seu pé
não está nada bem e disso tenho certeza. — Falou olhando para a expressão de
dor que ela fazia.
— Eu também acho que não foi só uma entorse no tornozelo. Eu estou
tentando concentrar em outras coisas e esquecer essa dor que estou sentindo,
mas não está funcionando.
— Eu sei. — Disse ele. Dexter organizou toda a cozinha enquanto
Pétala ficou sentada. Ele se lembrou da sobremesa que tinha preparado um dia
antes dela aparecer. Sua mãe gostava de doces após as principais refeições,
parecia ser um vício. Ela dizia quando colocava uma sobremesa na boca —
Deus, eu poderia morrer agora só por sentir esse sabor — e comia de olhos
fechados todos os doces que preparava. Então ele a ofereceu.
— Você aceita sobremesa? Temos torta de queijo banhada com calda
de licor e frutas vermelhas. — Pétala o olhou com uma interrogação franzida
na testa. E foi a primeira vez por horas que ele a viu tranquila.
— Você é casado? — Perguntou ela.
— Não.
— Tem namorada?
— Não.
— Vive aqui sozinho?
— Desde os treze anos.
— Tem família que mora próximo?
— Não, eu não conheço ninguém da minha família.
— Tem vizinhos?
— Muito distantes, sou o dono de quase toda a região da mata, exceto
por uma grande fazenda vizinha.
— Você recebe visitas?
— Nunca.
— Por quê?
— Porque eu não conheço ninguém, não tenho amigos.
— Impossível você não ter nenhuma namorada, você é simplesmente
lin...
Ela parou imediatamente de concluir seu pensamento. Pétala ficou
olhando-o com olhos arregalados, mas logo voltou a seu estado interrogativo.
Não antes de ele responder em seu próprio pensamento. “Obrigado pelo lindo, não é
a primeira vez que ouço, mas... somente vindo de você é que fez ser importante” — Então,
como você aprendeu a cozinhar tão bem? — ela foi rápida em mudar de
assunto e olhou em sua volta. — E deixar essa cabana acolhedora como se
fosse realmente um lar feliz? E... — ela olhou-o novamente — Como você
consegue viver assim, distante de tudo o que facilita sua vida? — Dexter deu
um leve sorriso e não disse nada. Afastou-se e pegou dois pirex, colocou uma
fatia de torta em cada um, pegou duas colheres e voltou para a mesa deixou-os
em sua frente, foi até um pequeno armário próximo à lareira, pegou alguns
cadernos grandes e voltou e colocou-os todos em cima da mesa.
— A minha mãe era uma grande cozinheira, ela inventava as receitas e
quando dava certo escrevia nos seus cadernos. Isso, essa cabana e uma única
foto são tudo o que eu tenho dela. Por isso sei cozinhar, eu apenas sigo as
receitas. — Ele sorriu e sentou-se no banco à sua frente.
— Nossa, eu não esperava por isso. — ela pegou a colher e tirou um
pequeno pedaço da torta, colocou na boca e fechou os olhos sentindo o sabor.
— Deus do céu isso está divino. — Ela abriu os olhos e o encontrou sorrindo
olhando para ela.
— Obrigado. E quanto às outras perguntas...
— Não precisa responder. — ela o interrompeu. — Eu fui muito
impessoal, desculpe-me.
— Não tem problema, você falou que aqui parece um lar, e é, é o meu
lar.
— Sim. Mas confesso que não entendo porque você não é casado. —
Disse tímida.
— Por quê? — Perguntou ele.
— Ora porque, porque sim. Viver aqui sozinho não te deixa, triste?
— Não.
— Há! — respondeu ela. — Posso te fazer uma pergunta?
— Mais uma? — Ele disse sorrindo e terminando de comer a torta.
— Sim, mais uma. — Ela sorriu também.
— Faça.
— Quantos anos você tem?
— Trinta e três. — Respondeu Dexter. Pétala olhou para ele sem
entender a sua solidão e não perguntou mais nada. Ela entendeu que ele era um
homem de respostas rápidas e sem complementos a elas.

— Por que você perguntou a idade do papai, mãe? — Cattleya me


interrompeu. Olhei para minha esposa e ela sentou para responder.
— Seu pai era o homem mais lindo que eu já tinha visto. Eu não achei
normal ele viver sozinho e sem pelo menos uma namorada para lhe aquecer
nas noites frias. — ela me olhou e sorriu. — Sorte a minha. Eu não queria
admitir naquele momento, mas já estava perdidamente encantada por ele,
mesmo sendo um estranho eu já não podia deixá-lo longe da minha vida. —
Seus olhos brilham e eu amo como ela ainda me olha por todos esses anos.
— Eu amo a história de vocês. — Disse nossa filha.
— Sim, querida. — falei olhando para ela. — E se você esperar a vida
cumprir o seu curso certo, confiar no seu destino, você também vai ter a sua
própria história de amor.
— Assim espero papai. Eu tenho duas versões para levar como lições
em minha vida, a de vocês, e a de meus avós. — Falou triste.
— Sim. — Pétala a olhou sem entender, mas não disse nada.
— Eu quero muito continuar ouvindo, mas estou faminta, vamos
almoçar? — Perguntou Cattleya. Pétala olhou em seu relógio no pulso e disse.
— Nossa! Eu não vi as horas passarem. Vamos todos para a cozinha,
levante-se amor. — Ela saltou da cama sorrindo. A chuva lá fora estava forte e
olhá-la da minha janela fez-me sentir o mágico momento em que vivo com
minha família, e então não tem como pensar que, saúde, chuva, frio, cabana,
mulher linda, filha adorada, natureza, do que mais eu preciso? Obrigado,
Deus.
— Acho que vamos comer os belos restos do jantar de ontem. — Disse
Pétala enquanto descemos para a cozinha.
— Tudo bem para mim. — Falei.
— Para mim também. — gritou Cattleya abrindo a porta da cozinha. —
Vou pegar algumas folhas para salada, quer mais alguma coisa mamãe?
— Não querida, tenho tudo que preciso aqui.
— Ok. — Ela saiu com o grande casaco de plástico e capuz para
protegê-la da chuva. Pétala estava concentrada olhando dentro da geladeira,
aproximei-me e a abracei sentindo o cheiro suave de seu pescoço.
— Eu senti uma ponta de tristeza em sua voz, quando Cattleya falou
sobre não termos mais filhos. — Sussurrei em seu ouvido. Ela encostou a
cabeça em meu ombro.
— Às vezes penso porque não consegui ficar grávida novamente sendo
que não faço uso de contraceptivos. Nossa filha vai fazer dezoito anos em
breve. Estou com quarenta e um anos de idade, e de agora em diante ficará
mais difícil.
— Eu não acredito nisso. Nós passamos por muitas coisas, criamos
nossa menina, e nos amamos cada dia mais como se fosse a primeira vez. Pare
de pensar nisso, na hora certa virá gêmeos. — Ela sorriu.
— Gêmeos?
— Sim, uma menina e um menino. Você não acredita em mim? —
Perguntei. Pétala virou para ficar de frente para mim, passou os braços em
meu pescoço abraçando-me carinhosamente. Eu a abracei pela cintura.
— Acredito. Acredito porque você é o único homem puro e verdadeiro
que conheço então, eu acredito. — Seus olhos lacrimejaram.
— Bom, porque você vai ficar linda grávida aos quarenta e um anos,
meu amor.
— Eu te amo, Dexter. — Ela me beijou, mas nunca é só um beijo.
Seguro-a firme e minhas mãos alcançam seus cabelos negros e lindos. Sentir
seus lábios é como tomar mel da própria colmeia, doce e suave. Meu corpo
ganhou vida, principalmente um membro dele, então, me lembrei que Cattleya
estava no jardim e me afastei um pouco.
— Querida, nossa filha vai entrar a qualquer momento.
— Sim é verdade. — disse ela ofegante. — Coloque seu corpo longe
do meu Dexter, você sabe como me deixa e eu estou sedenta para tê-lo. — Ela
afastou provando ser mais forte que eu. Mas não antes de piscar para mim.
— Provocadora. — falei. — Eu estou achando Cattleya um pouco
triste, você não acha? — Perguntei e me afastei deixando-a se mover pela
cozinha.
— Eu não quis dizer nada para você, mas também percebi a mesma
coisa. — Disse ela.
— Ela não te falou nada?
— Não, por isso estou preocupada e tenho uma suspeita do que seja,
mas não vou dizer até ter certeza. — Disse fazendo biquinho para mim.
— Ela irá nos contar na hora certa.
— Também acho. — Disse ela. Cattleya entrou porta adentro tremendo
de frio. Essa época do ano começa o inverno, o vento é muito gelado e a chuva
parece cair congelada do céu. Nós ajudamos Pétala a preparar o almoço com
o que sobrou do jantar de ontem. Eu gosto desses momentos, não tive isso com
os meus pais juntos na cozinha e tento passar o que sempre sonhei para
Cattleya, que é esse ambiente amável entre pais e filhos. Isso para mim é
saudável, então, eu também o chamo de felicidade.
Comemos em meio a risadas e piadas que nossa filha aprendeu com os
primos, ela tem convivência com toda a família de Pétala, já que a minha eu
não os conheço. Eu procurei saber deles não vou negar, a família de minha
mãe poucos existem na Colômbia, a do meu pai, eu preferi manter-nos longe
de todas as coisas que foram passadas a nós pelos advogados de minha
mulher. Uma família complicada que era conhecida nos arredores do Texas
por serem agressivos. Foram também acusados de assassinatos, então, quanto
mais longe e protegidos ficarmos deles, melhor. Eles não sabem mesmo que
existo, meu pai foi embora fugindo de sua própria família por espancar o
irmão levando-o quase a morte, por causa de uma lata de cerveja que estava
na geladeira e que pertencia a meu pai. Foi fácil encontrá-los, são todos
fichados na polícia.
Terminamos o nosso almoço, organizamos a cozinha, coloquei mais
lenha na lareira, espalhei cobertores e travesseiros pelo grande tapete branco
enquanto minhas meninas faziam chá. Corri até o meu quarto para pegar o
diário e quando voltei, elas já estavam sentadas e cobertas, tomando chá e
sorrindo de algo que estavam falando.
— O que vocês estão aprontando? — Perguntei.
— Que podíamos dar uma volta na mata, se a chuva deixar. —
Respondeu minha linda mulher.
— Ótima ideia. — Falei e me acomodei ao seu lado.
— Maravilha, agora que concordamos com tudo e estamos
alimentados, continue papai. — Disse a atrevida da minha filha.
— Por que você não grava as minhas leituras para ouvi-las depois? —
Perguntei.
— E quem disse que já não estou fazendo isso? — Disse Cattleya. Eu a
olhei com espanto. Ela colocou a mão dentro do bolso da calça de moletom e
tirou de lá um pequeno gravador preto. Eu não esperava por isso.
— Você está gravando? — Perguntou Pétala.
— Tudo o que papai lê, não posso perder nada, como eu sei que vocês
não vão me entregar os seus manuscritos, estou gravando.
— Você é uma peste, sabe disso, não é? — Falei.
— E você me ama, sabe disso, não é? — Falou com carinha de anjo a
atrevida.
— Bom ponto o seu. — Eu sorri para ela.
— Obrigada, continue. — Falou gesticulando para o meu diário. E
pela primeira vez eu ouço quando ela liga o pequeno aparelho. “Por que não
percebi isso antes?” — Pensei. E comecei a ler novamente.
Capítulo cinco

D exter ficou olhando


Pétala se deliciar
com a sobremesa.
Parecia que ela não comia doces com frequência. Ele também pensou que ela
gostaria de ir embora logo dali e não gostou muito da ideia de sair naquela
hora da noite, mas se fosse para deixá-la bem, ele faria de bom grado.
— Eu falei que a levaria até a cidade, eu estou dizendo a verdade,
você quer ir agora? — Perguntou. Pétala deixou a pequena colher no pirex
vazio e o olhou pensando no que iria responder.
— Eu não sei. Está tarde e chovendo. Por outro lado, eu preciso muito
de um sinal Wi-Fi e um computador. — ela respirou fundo e soltou o ar
lentamente. — Mas é tentador ficar aqui esta noite, mesmo com esse pé me
atormentando.
— Então fique e vou preparar um banho para você, e depois é só
descansar e amanhã pela manhã eu a levo para a civilização. — Ela sorriu.
— Tudo bem, mas não quero dar trabalho. — Disse ela.
— Não se preocupe, não é trabalho algum.
— Você tem mais remédios aqui? — Perguntou ela.
— Sim, por quê?
— Meu pé está realmente doendo muito e acho também que está mais
inchado que antes. — Disse ela. Dexter se levantou e se aproximou, ela virou
para mostrar o pé e realmente não estava nada bem.
— Não está nada bom. Vou preparar um banho quente para você
mergulhar ele. Depois pego mais remédios e faço outra compressa de ervas.
— Obrigada.
— Vou levá-la até o banheiro. — Dexter pegou a mochila que estava
perto do sofá e colocou nas costas. — Vou pegá-la em meus braços outra vez.
— Disse prevenindo-a de seu ato. Honddra o educara como sonhou em ter um
marido um dia. Ela via em seu filho uma personalidade forte, decidida, mas
também sabia que ele era um menino de bom coração.
— Sim. — Disse ela. Dexter a pegou como se fosse uma pluma de tão
leve. Subiu a escada e a levou para seu quarto e ela ajudou-o abrindo a porta
para ele, e então, ele falou.
— Este é o meu quarto. — imediatamente ela o olhou com olhos
arregalados. — É o único com uma banheira. — Falou não se importando com
a tensão que sentiu de seu corpo. Ela o ajudou com a porta outra vez e
entraram no banheiro. Dexter vive confortavelmente e sozinho, não tem
grandes despesas e com todo o dinheiro que ganha ele deixou a casa como leu
nos diários de sua mãe, realizando o sonho que ela não pode viver.
— É lindo esse banheiro. — Disse ela admirada.
— Obrigado. Eu fiz como estava nas revistas que comprei. Até
coloquei essa banheira de madeira. — Falou colocando-a no chão devagar.
— Chama-se ofurô, é um tipo de banheira japonesa.
— É eu li isso na revista mesmo. — Ela olhou todo o banheiro
encostada ao grande balcão da pia.
— Lindo.
— Que bom que gostou. — Ele foi até a janela que estava fechada e
abriu uma caixa vermelha que tinha ao lado, era onde guardava a corda
enrolada dentro, então começou a puxar e o teto de madeira fazendo-o deslizar
pelas engrenagens, deixando somente o grande teto de vidro que protegia da
chuva lá fora. Pétala estava olhando encantada. Ele fez um teto solar no
banheiro assim como tem em sua sala, a chuva caia deliciosamente no vidro e
o barulho era convidativo para um banho quente. — A água está limpa e
aquecida, eu tenho um gerador a gasolina somente para essa coisa aqui. —
Apontou mostrando a banheira.
— Eu estou admirada com você. — Falou a bela desconhecida.
— Minha mãe costumava falar e escrever os seus sonhos, eu só os
realizei depois de crescido. — Pétala sorriu, mas foi sorriso de lamento e ele
percebeu. — Vou deixá-la em sua privacidade, tem toalhas limpas neste
armário. — mostrou para ela. — Vou fazer à compressa e pegar o remédio e
quando você terminar é só me chamar.
— Obrigada. — Agradeceu gentilmente. Dexter saiu e fechou a porta
atrás dele e depois ele fechou a outra porta do quarto quando foi para o
corredor voltando a respirar normalmente. A presença de Pétala estava
mexendo com seus sentidos. Ele foi para a cozinha e fez uma compressa para
seu pé, deixou separado o remédio e esperou por ela. Praticamente uma hora
depois de tentar ler dois livros, andar pela casa, comer mais um pedaço de
torta e respirar fundo pela milésima vez, ele a ouviu chamar do seu quarto.
— Já estou indo. — Disse ansioso. Pegou a bolsa de remédios e a
compressa e correu para ela, mas quando entrou no quarto, ele parou de
respirar deixando a bolsa de remédio cair no chão.
Pétala estava vestida com um lindo vestido longo que desenhava o seu
corpo perfeito. O tecido era algodão e com certeza fazia parte de suas roupas
confortáveis de ficar em casa. Ele tinha mangas curtas e botões de cima em
baixo, desenhando lindamente os seios não muito pequenos e era na cor azul.
Essa passou a ser a cor favorita de Dexter. Seus cabelos molhados, pele
limpa, olhos encarando os dele, vendo sua reação de medi-la por completo.
Ele engoliu seco de vergonha, mas retomou o equilíbrio.
— Desculpe-me, não costumo ter essa visão em meu quarto. — Disse
rouco.
— Eu entendo, acho melhor eu colocar o meu moletom limpo. — Falou
pegando a mochila em cima da cama.
— Não precisa, amanhã você coloca porque lá fora está frio. Aqui
fique confortável como desejar. — disse tentando engolir a frustração de não a
ver mais. — Eu trouxe esses remédios caso você conheça e queira usá-los. —
ele pegou do chão e entregou a pequena bolsa de medicamentos. — E aqui a
compressa que fiz para seu pé, sente-se aqui. — apontou para a cama. —
Levante um pouco o vestido. — ela fez, subiu até um pouco abaixo dos
joelhos, o suficiente para ele passar onde precisava. — Vou tocar em seu pé se
doer muito me fale, tudo bem? — Disse ele olhando para ela, que respondeu
balançando a cabeça. Dexter tocou em sua pele quente, ele pode sentir o
perfume doce que vinha dela. Passou a pasta de ervas em todo pé e um pouco
acima do tornozelo e cobriu com uma nova faixa limpa. Ela não reclamou de
nada. — Pronto, doeu? — Perguntou olhando-a novamente.
— Sim. — Disse ela.
— Por que não me disse? — Perguntou preocupado.
— Porque você não iria fazer se eu dissesse. — Respondeu ela. Eles
ficaram se olhando até ele falar novamente.
— Eu vou levá-la para o quarto onde você vai dormir. — Ele levantou
e pegou a mochila dela. — Você precisa de ajuda para atravessar o corredor?
— Não, eu consigo sozinha.
— Tudo bem. — ele abriu a porta do quarto e ela passou devagar, logo
a frente tinha outra porta e ele a abriu. — Pode entrar. — ela entrou e olhou
tudo novamente. — Naquela porta é o banheiro. — apontou mostrando. — A
água está fresca neste jarro. Tome os remédios.
— Vou tomar. — Disse ela.
— É melhor descansar agora, boa noite.
— Boa noite, Dexter. — Disse olhando-o nos olhos.
— Se precisar de alguma coisa, me chame. — Ele ficou um instante
sem saber como dar o passo seguinte, até que se tornou um momento
constrangedor e então, saiu fechando a porta atrás dele.
Dexter foi para seu quarto e fechou à porta. Ele ficou encostado nela
de olhos fechados. Isso porque o doce perfume de Pétala estava lá dentro. Ele
nunca foi homem de usar perfumes, não teve essa educação quando criança.
Seu cheiro é natural, por isso o perfume de dela ficou pairando em seu espaço.
Ele abriu os olhos lentamente e andou devagar até o banheiro, observou que
ela arrumou tudo como estava e não deixou nada fora do lugar. A toalha
molhada que tinha usado, ela pendurou-a para secar, ele tocou e encostou o
nariz sentindo a textura do pano e puxou o ar profundamente.
— Oh! Ela tem o cheiro bom. — sussurrou. — O que vou fazer para
esquecer isso? — Ele tirou a roupa para tomar banho. — Ela é linda e não tem
uma aliança no dedo. — disse olhando para o espelho. — Parece ser muito
rica também. — Foi um pensamento triste esse. Ele era um lenhador e ela
ostentava delicadeza e dinheiro. Ele não teria chance.
Dexter entrou no box e tomou banho e não demorou muito ele estava
debaixo das cobertas olhando para o teto sem ver nada. O sono o derrubou e
ele adormeceu.
Cinco horas da madrugada ele abriu os olhos. Ele é como um próprio
despertador, acostumado a acordar esse horário para sair e correr. Não hoje.
Os pássaros cantavam lá fora, o vento batia em sua janela e essa é uma época
fria por isso não faz questão de cumprir o seu ritual, mesmo porque ele tem um
rosto lindo para ver. “Como ela passou a noite?” — Pensou. Ele se levantou e fez
um breve alongamento pensando que precisava trabalhar para cumprir a meta
das entregas mensais. Mas hoje o que ele precisava era ajudá-la a voltar para
casa.
Escovou os dentes, vestiu-se com outro moletom limpo e logo
percebeu que as lareiras estavam precisando de mais lenhas para manter toda
a casa aquecida. Então essa seria a sua primeira tarefa do dia.
Cuidadosamente ele abriu a porta do quarto e levou um susto quando viu a
porta do quarto de Pétala aberta. Ele entrou devagar chamando-a em voz
baixa, mas ela não respondeu. Pétala não estava. Ele saiu e passou o pequeno
corredor rápido indo para a escada e já no topo ele a viu deitada no sofá toda
coberta e olhando para o nada.
— Você está bem? — Perguntou descendo a escada. Pétala sentou-se
ficando de frente para ele.
— Mais ou menos, meu pé dói muito e isso me impediu de ter uma
noite de descanso. — Falou. Dexter percebeu seus olhos inchados de chorar.
— Por que não me chamou? Eu poderia levá-la para a cidade a
qualquer hora.
— Era madrugada Dexter, não valeria a pena o risco. — Falou. Ele
estava parado em sua frente com as mãos nos bolsos da calça.
— Lógico que valeria. Você foi errada em pensar assim. Eu vou levá-
la imediatamente. Você está pronta? Lá fora está ventando muito, eu aconselho
colocar uma roupa mais quente se você tiver. — Ele a observou enquanto ela
tirava as mantas de cima de seu corpo.
— Sim, estou agasalhada. — Pétala vestiu um lindo moletom azul
escuro. “É a sua cor favorita” — Pensou ele.
— Algo mais que queira? — Perguntou Dexter.
— A minha mochila está lá em cima.
— Eu pego. — ele saiu e voltou rápido com a mochila nas mãos. —
Está com fome? — Perguntou descendo a escada.
— Não.
— Então estamos prontos, vamos? — Levantou devagar e apoiou na
mão de Dexter estendida para ela. Deu o primeiro passo e parou. Ele ficou
observando-a e então ela o olhou nos olhos, depois para toda a cabana. Seus
olhos passaram por cada detalhe da sala desde o piso ao teto. Parecia que ela
estava gravando tudo em sua memória. Ele ficou olhando atentamente e gostou
do que viu, ele sabia que ela se sentiu bem, enquanto esteve em sua casa. O
medo foi embora deixando somente o encanto por ter estado ali.
— Posso pegá-la no colo para você não forçar o pé, o que acha? —
Ela o olhou profundamente e sorriu.
— Eu adoraria. — Dexter pegou-a no colo e a levou para a velha
caminhonete. Ele não gostou da sensação de deixá-la partir, porém, não tinha
outra escolha a fazer, a não ser se conformar que foi um breve lindo primeiro
encontro, que já teve em sua vida.
O caminho todo até a cidade eles fizeram em silêncio. Pétala olhava
para a linda paisagem e ele percebeu quando ela ficou um pouco apreensiva
quando passaram pelo despenhadeiro. Mas Dexter não era imprudente como
seu pai, ele era cuidadoso ao dirigir e andava somente na velocidade
permitida ou até menos e atento a tudo o que estava no caminho.
Chegaram na cidade e ele a levou para o hospital mais próximo. Eles
falaram com a recepcionista e esperaram com os outros que já estavam com
seus horários marcados. Uma hora depois Pétala foi atendida, mais uma hora,
e ela apareceu com gesso até o joelho.
— Está quebrado por isso tanta dor, o osso não perfurou nada por
sorte, porém, provocou o inchado e não dava para vê-lo quase perfurando a
carne. — Disse ela.
— Nossa! Eu nem imaginava. Se eu soubesse a teria trazido antes,
desculpa.
— Não foi culpa sua Dexter, você cuidou de mim e se não fosse por
isso, talvez eu ainda estivesse na mata.
— Você conhece esta cidade? Quer que eu a leve em algum lugar? —
Pétala abaixou os olhos para o chão.
— Sim conheço. Você pode me levar para o Hotel Walmortt?
— Claro, vamos. — ele a ajudou chegar até o carro. — Você pode
dizer onde fica?
— Fica do outro lado da cidade.
— Na parte nobre. — Disse ele com a certeza do que pensou antes de
ela ser rica. Eles seguiram para o hotel e quando Dexter parou a caminhonete
na frente do bonito lugar, ele soube que viviam em mundos muito diferentes, só
não sabia que era gritante a diferença.
— Você deve me achar o homem do tempo das cavernas. — Disse ele
olhando a grande vidraça azul do hotel.
— Engano seu.
— A diária desse hotel deve custar à vida de uma pessoa. — Falou e
olhou para ela.
— Um hotel sete estrelas. Muito caro sim, mas isso não diz que sou
uma pessoa superior a ninguém. — Disse ela em voz baixa.
— Eu não quis dizer isso.
— Eu sei. — Ela sorriu triste. Um homem bem vestido, com o nome do
hotel bordado no uniforme e também um que deveria ser o seu, David, bateu
no vidro da janela da velha caminhonete, e Dexter abriu.
— Deseja alguma coisa senhor? — Perguntou David.
— Não. — Respondeu ele.
— Então, por favor, tire seu carro daqui essas vagas são para cliente e
pelo que vejo. — ele olhou com desdém para o carro. — Você está longe de
ser um. — Dexter abaixou a cabeça. Ele não queria ser grosseiro na frente de
Pétala e por isso resolveu levar a falta de respeito para casa.
— David. — Chamou ela. Ele ainda não a tinha visto dentro do carro.
Ele abaixou a cabeça um pouco e quando a viu, engoliu seu preconceito.
— Srta. Mackay.
— Vá para minha sala David, acho que precisamos conversar sobre a
sua conduta profissional e forma como aborda as pessoas.
— Desculpe Srta. Mac...
— Para minha sala, David. — Disse ela levantando a sobrancelha.
— Sim senhorita. Desculpe-me senhor. — O homem saiu de cabeça
baixa resmungando alguma coisa sobre o seu infortúnio momento. Dexter
olhou-a sem entender.
— Eu sou a dona deste hotel. Sou a dona da rede de hotéis Walmortt
em alguns países. — ele respirou fundo e olhou para qualquer coisa que estava
a sua frente tentando distrair-se do que ela acabara de dizer. — A cada cidade
em que estou, tiro um tempo para fazer coisas que gosto. Por isso me
encontrou na mata. — Disse ela.
— Mais cuidado da próxima vez, foi sorte eu passar por ali. — Falou
tentando ser indiferente ao que ela acabara de lhe contar.
— Sim, prometo. Obrigada Dexter, de verdade. Eu não sei o que seria
de mim se você não tivesse me encontrado. Às vezes eu preciso sair do mundo
onde vivo para voltar a minha humanidade normal, para me desintoxicar das
coisas pelas quais tenho que enfrentar no meu dia. Escaladas, mergulhos,
saltos de paraquedas, é o que faço e isso me deixa perto da natureza, próximo
de Deus, eu acho. Me faz lembrar de quem realmente sou. — Dexter olhou
profundamente em seus olhos. Pensou que ela era linda e jovem demais para
carregar o peso do mundo em suas costas.
— Isso foi um desabafo? — Perguntou ele.
— Acho que sim, desculpa.
— Quantos anos você tem, Pétala?
— Vinte e três.
— Uma menina. O peso do mundo não pode ficar nas costas de uma
menina.
— Eu sei, mais não consigo me livrar dele. Eu gosto sabe, gosto de
trabalhar com meus negócios, ser a dona do meu mundo, entrar e sair de
reuniões intermináveis. Mas também daria tudo para ter uma vida como a sua.
— Ela apresentou-se cansada de um monte de coisas das quais não podia
falar.
— Você sabe onde me encontrar quando quiser fugir do seu mundo e
vir para o meu. Será sempre bem-vinda. — Disse ele e foi sincero.
— Promete? — Perguntou ela com sorriso nos lábios.
— Qualquer dia, qualquer hora. — Disse ele.
— Obrigada. — sorriu. Ele viu algo diferente em seus lindos e grandes
olhos verdes. Sua vontade era de tirá-la dali e levá-la com ele, mas aprendeu
que a vida era feita de escolhas, então ele teria que respeitar as que Pétala fez.
— Eu vou entrar, algumas pessoas que conheço devem estar loucas há essa
hora.
— Fique bem, Pétala.
— Fique bem, Dexter. — Ela abriu a porta da caminhonete e saiu e
logo um funcionário a ajudou com a mochila. Dexter ficou observando-a
caminhar devagar e quando entrou pela grande porta de vidro azul, ele sentiu
seu coração apertar. Mas não um aperto de despedida, era mais como um
aviso de que um dia eles iriam se encontrar novamente.

— Como foi saber que a desconhecida e linda Pétala, era uma


bilionária, papai? — Perguntou Cattleya interrompendo-me.
— Decepcionante. — falei. — A única mulher que encheu os meus
olhos com tamanha beleza era como se fosse, inalcançável. — Olhei para
minha esposa ao meu lado.
— Foi um momento difícil passar por aquela porta de vidro azul. —
Disse ela.
— Por que, mamãe? — A curiosa perguntou.
— Eu não queria sair daquele carro. Queria que ele tivesse me pedido
para ficar, mas ele não o fez.
— Eu teria pedido se soubesse que seria correspondido.
— Eu sei, amor. — eu a beijei nos lábios. — Hoje estamos aqui e nada
mais importa.
— Isso. Eu amo você. — Falei.
— Eu amo você. — Sussurrou minha linda esposa.
— Eu gostaria de ter isso que vocês têm um dia. — Disse Cattleya.
Nos sentamos de frente para ela.
— Você é muito nova filha. E não é você que escolhe o amor, é o amor
que escolhe você. O seu príncipe está por aí, você vai ver.
— Eu sei, mas não quero quebrar o meu coração para só depois eu
encontrar quem irá consertá-lo. — Disse Cattleya triste.
Capítulo seis

E u fiquei pensando no
que Cattleya falou, mas
não o contexto e sim, a
profunda amargura que senti em suas palavras. Havia algo maior no sentido
delas.
— Tem alguma coisa acontecendo com nossa filha de dezessete anos,
Pétala. — sussurrei. Cattleya foi até a cozinha preparar alguns lanches. Lá fora
a chuva caia mais forte do que pela manhã. Olhei para Cattleya e ela estava
concentrada com uma faca na mão cortando fatias de bolo de laranja. — Eu
vou falar com ela mais tarde.
— Eu imagino o que seja. — Disse minha mulher. Procurei seu rosto
em busca de respostas.
— Você imagina? — Perguntei.
— Sim.
— Por quê?
— Porque nossa filha não sabe que eu sei, amor. — Ela levantou um
pouco e se acomodou melhor. — Acho não, tenho certeza que ela está assim
por causa de Spencer.
— Spencer? — Falei alto demais.
— Fale baixo amor, você quer que ela nos ouça?
— Não. — sussurrei. — E o que Spencer tem com essa história? —
Perguntei, mas já intuindo a resposta. Spencer é primo de Cattleya e filho de
Chris, irmão de Pétala e sua ex-namorada, Ellen. Que o deixou antes que ela
morresse uma drogada grávida. Hoje ela é uma mulher que faz campanhas e
tem instituições de recuperação de jovens usuários de drogas.
— Lembra que eles cresceram juntos? Mesmo ele sendo cinco anos
mais velho que ela, eles não se desgrudavam quando ele vinha passar as férias
aqui. E quando ela ia para casa dele, os dois pareciam casal, crianças, mas
casal. Ellen sempre me disse que eles estavam apaixonados um pelo outro. —
Falou minha mulher, assim, tranquilamente e com sorriso nos lábios. Como se
fosse normal falar isso para um pai.
— E você fala isso assim, sorrindo?
— Você queria que eu dissesse como, chorando? Ela está amando
Dexter, e isso já faz algum tempo.
— E por que eu nunca soube disso? — Perguntei. Mas acho que eu
sempre soube.
— Porque os homens são assim, desligados aos detalhes.
— Mas Spencer vai se casar daqui a alguns dias e nós seremos os
padrinhos. — Falei.
— Isso mesmo, entendeu agora porque nossa filha está triste e focada
nesse livro que ela quer escrever?
— Agora entendo. Eles tomaram rumos diferentes, Spencer foi estudar
em Harvard e voltou noivo de uma colega de classe.
— Sim.
— Mas e ele? Corresponde a esse sentimento? — Perguntei. Pensando
no tempo em que eles eram crianças, agora faz todo sentido. Spencer chorava
quando Cattleya se machucava e cuidava dela até se sentir melhor. Eles
corriam, brincavam, tomavam banho e dormiam juntos, sempre um ao lado do
outro. Só parou quando ele começou a ficar rapazinho, ele dizia que não
podiam tomar banho porque era um homem e Cattleya uma menina. Pétala
ensinou isso para ele. Lembro-me de como eles ficavam abraçados embaixo
das cobertas para assistirem filmes. Estou chocado como nunca percebi as
evidências antes, ou fingi não perceber por achar que eram crianças demais
para tal feito, o amor.
— Acho que ele corresponde sim, mas com a ida dele para Harvard
muita coisa mudou na vida e na cabeça dele. Ele conheceu outras pessoas,
novas conquistas, sexo e tornou-se um homem com muitas opções em suas
mãos por ser muito bonito e rico. E agora irá se casar.
— Ela está sofrendo há muito tempo. — Falei.
— Sim, e sei exatamente o dia em que começou.
— Sabe? — Perguntei incrédulo.
— Sim. Lembra-se de quando tivemos que ir para NY, porque eu tinha
uma reunião muito importante com os Japoneses?
— Lembro.
— Então, Spencer foi nos visitar na nossa casa e levou uma garota.
Não era a Victória, sua noiva hoje, era outra garota. Ele não foi o mesmo com
Cattleya desde esse dia. Suas diversões e seus assuntos já não incluíam a
nossa filha no meio. Na hora do jantar ela não ficou na mesa com todos nós
porque Spencer beijou apaixonadamente a garota, e Cattleya não suportou ver
nada daquilo. — Disse ela.
— Como eu não vi isso antes, Pétala? Nossa menina de dezessete anos
sofrendo por amor?
— A cabeça dela já é tão madura que às vezes esqueço que ela tem
somente dezessete anos. — Disse ela.
— Mas se ela é tão apaixonada assim, é porque aconteceu alguma
coisa entre eles? — Falei.
— Eu também acho isso, pelo simples motivo que eu já os peguei se
beijando, se declarando um para o outro com a promessa de nunca deixar o
amor que sentiam morrer. — Disse minha mulher.
— O que você está me dizendo? — Perguntei quase tendo um ataque.
— Eu não dei muito crédito quando vi, Cattleya tinha somente doze
anos e ela o ouviu falar aquelas palavras como uma promessa de um primo
apaixonado. Eu pensei que ele também não sabia o que estava dizendo e que
isso ia passar com o tempo. Para Spencer passou, para ela não, ela ainda o
espera.
— Por que você nunca me disse nada disso? Por que eu estou sabendo
que minha filha aos doze anos já beijava na boca e fazia promessas de amor
eterno? — Perguntei tentando esconder o tom da minha voz.
— Eu não contei para não o preocupar, sei que você é capaz de sair
daqui nesse momento e pegar um avião e ter uma conversar com Spencer. E
você não vai fazer isso, se ele não ama nossa filha, então ela merece um
homem que a ame como você me ama, entendeu Dexter? — Disse ela séria
demais.
— Claro, não vou fazer isso. É incrível como o tempo passa rápido.
— Sim.
— Do que vocês estão falando? — Perguntou Cattleya chegando
sorrateiramente para tentar nos ouvir.
— Da nossa vida, querida. — Falou Pétala ajudando-a com a bandeja
cheia de lanches.
— Meu Deus, eu preciso correr o triplo nessa mata para não engordar.
— Brinquei.
— Você não precisa papai, é um coroa “saradão”. — Rimos todos. Ela
sempre solta uma piada sobre isso.
— Obrigado, pelo elogio.
— De nada. — Comemos em meio a risos e piadas de nossa filha e
agora eu sei o porquê ela quer saber com mais detalhes a nossa história. Ela
está amando e sofrendo. Buscando um refúgio para apegar-se e pensar que
seremos um exemplo para seguir. Não se contentando com menos do que ela
tem em seu próprio lar. E minha filha está certa, ela precisa saber que não é
qualquer palavra ouvida que é verdadeira, entender que amor não acaba com o
primeiro gole de bebida. Como fora com meus pais.
— Vamos papai, continue a leitura. — Disse ela quando terminamos de
nos alimentar.
— Tudo bem. — Peguei meu diário e coloquei na minha voz, todo o
sentimento que Cattleya precisava sentir e saber para fazer suas escolhas,
sejam elas quais forem.

Dexter ligou a velha caminhonete e fez o seu caminho de volta para a


cabana. Em um único dia ele viveu emoções que em trinta e três anos jamais
imaginara viver. Foi amor à primeira vista, forte e marcante. Seus olhos não
deixaram o retrovisor na esperança de vê-la sair pelas portas do hotel e dar-
lhe um único motivo para levá-la para longe dali. Mas isso não aconteceu.
Tudo dela era diferente do que ele conhecia. Tudo de Pétala era melhor.
Deixá-la ir embora não fora fácil. “O que é isso que estou sentindo?” — Pensou
enquanto desligava o motor do velho carro. Ele abriu a porta e o ringir que fez
foi alto para o silêncio que estava na cabana e quando a fechou novamente, o
que sentiu foi só um lembrete de que uma mulher linda esteve ali. A única
mulher a estar em sua casa. Seu perfume suave o deixou embriagado de
desejo, mas ela tinha voltado para a sua vida normal e o que ele viveu foi um
pequeno sonho de probabilidade mínima de acontecer na vida de pessoas
normais.
— Pétala. — disse ele em voz alta. — Combina com ela, delicada e
cheirosa como pétalas de flores. — falou sentando-se no pequeno sofá onde
ela tinha passado os seus últimos minutos dentro da casa. Ele olhou para a
cabana que era o seu porto aconchegante e com tudo o que ele achava
necessário e bonito. Mesmo com todo poder exalado do hotel sete estrelas, em
sua cabana ele era o rei. — Ela gostou desta casa simples. Ela gostou do
banheiro. E você é um idiota, sabia? — Disse com um pequeno sorriso nos
lábios.
Dexter deixou os devaneios de lado e se levantou para colocar sua
vida em dia. Ver os pedidos que deixaram em sua caixa de correios que fica
perto dos maquinários dentro da mata. Ele não gostava de ninguém rondando
sua casa. Comeu um sanduiche rápido e foi trabalhar e mesmo com todo o
barulho de suas máquinas, mesmo com a força que ele colocou para cortar a
lenha com o machado, dentro da sua cabeça reinava o silêncio. A imagem do
rosto de Pétala ficou gravado e não saiu de sua mente. Ele trabalhou o dia todo
e mesmo com a fina chuva que caia, não parou para nada. Se deu conta de que
a noite já se fazia presente quando começou a ter dificuldades para enxergar
dentro da floresta, então, ele soube que estava na hora de ir embora.
E foi assim que se passaram quinze dias. Dexter entre o trabalho, a
cabana e seus pensamentos em uma mulher que talvez, ele nunca fosse vê-la
outra vez. Ele estava fazendo o jantar quando pensou em procurá-la no hotel.
“E dizer o quê? Oi tudo bem, como vai o seu pé?” Palhaço. — Esqueça Dexter, apenas
esqueça. — disse em voz alta para quem sabe entrar de vez em sua cabeça. —
Você nem sabe se ela está na Geórgia ou em outro dos seus hotéis. — Falou
mais uma vez.
Ele comeu deliciando-se com um saboroso peixe fresco. Logo depois
arrumou toda a bagunça da cozinha e foi para seu quarto, mas não antes de
passar no quarto onde ela dormiu e sentir o cheiro que ainda estava lá. Ele
tomou banho e deitou em sua cama, dormiu olhando para imagem de Pétala em
suas lembranças.
Mais quinze dias se passaram e ele entre fazer entregas, receber seu
pagamento, fazer compras no supermercado e passar em frente ao hotel sete
estrelas de portas de vidro azul. Aquela certeza que ele tinha há um mês, de
que eles iriam se encontrar novamente, já não existia mais. Pétala virou
somente uma linda mulher em seus pensamentos e toda vez que ele olhava para
o grande hotel, ele tinha a certeza de que ela não se lembrava do lenhador que
vive dentro de uma floresta na sua velha cabana.
Mais dez dias se passaram e Dexter deixou de se comportar como um
perseguidor e não passou mais na frente do hotel, e resolveu esquecer tudo e
seguir com sua vida normal e simples como sempre foi.
O sol estava lindo aquela manhã, ele com seu machado e uma força
bruta cortava lenha para abastecer a casa na parte de trás onde fica sua
plantação de alimentos frescos. O silêncio o agradava muito e quando era
quebrado pelos pássaros tomando banho de sol, era o seu prazer. Ele estava
cortando e amontoando ao lado, seu jeans abaixo do quadril o fez parar e
erguê-lo, estava sem camisa, deixando seu corpo nu e molhado de seu esforço
com os movimentos. Cortou o suficiente para mantê-lo cinco dias sem ter que
fazê-lo novamente. Guardou o machado no lugar habitual, e parou de repente.
Ele fechou os olhos e seus batimentos começaram a ficar rápidos. Dexter
conhecia bem o cheiro da mata, as flores e seus perfumes, e aquele era
diferente. Ele puxou forte o ar para os pulmões inalando o máximo que
conseguiu e soltou devagar. Era o perfume mais agradável que qualquer outro
que já sentiu em sua vida, o vento trouxe o cheiro dela para ele. Então, ele
abriu os olhos e olhou para trás e logo seu corpo começou a tremer, suas mãos
ficaram frias e suadas, suas pernas perderam o equilíbrio, mas ele tentou
bravamente mantê-las firmes. Pétala estava ali olhando para ele encostada na
parede da casa. Sua pele limpa, seus cabelos negros e seu perfume, ele estava
vendo-a olhar para ele e sorrir. Dexter conseguiu dar passos devagar um na
frente do outro tentando lembrar como se fazia isso, porque por um breve
momento se esquecera de tudo. Ele conseguiu, e fez. Suas pernas estavam
pesadas e trêmulas e ao se aproximar sorriu para ela como se a vida dele
tivesse ganhando um novo sentindo. Seu corpo voltou ao normal devagar, mas
somente até ouvi-la com sua voz rouca e sexy.
— Oi, Dexter. — Ele perdeu o ar ao lembrar como era perfeito ouvi-la
dizer seu nome.
— Oi. — sussurrou. — Pensei que não a veria novamente. — Disse
ele.
— Tenha um pouco de fé em mim, Lenhador. — ele sorriu ainda mais
amando ouvi-la chamá-lo assim. Ele olhou para seus pés e ela estava com
botas de salto alto. — O seu pé como está?
— Bem, tirei o gesso há dois dias, nunca nada me incomodou tanto. —
Disse ela. Ele a observou brevemente.
— Não está com sua mochila e nem roupas de se aventurar pela mata.
Suponho que seja uma visita.
— Sim, vim saber como está o lenhador que me salvou. — Ela sorriu.
— Estou bem. Vamos entrar o vento já está forte outra vez. — Disse
ele. Dexter andou lado a lado com Pétala, ele estava um pouco sujo pelos
trabalhos que fez e ficou muito envergonhado por isso. “Ela tão linda e cheirosa” —
Pensou. Eles passaram para a parte da frente da casa e Dexter logo viu o
homem parado do lado de fora do carro.
— Esse carro é seu? — Perguntou ele.
— Sim.
— E esse homem?
— Não, ele não é meu. — ele olhou-a e a viu sorrindo para ele. — Eu
gosto de piadas sem graça. — Disse ela.
— Eu vejo. — ele também sorriu. — Mas eu fui o culpado, a pergunta
certa é, ele não vai entrar para um café?
— Não, ele é o meu motorista e vai ficar no carro esperando-me. —
Dexter olhou-a e sorriu sem graça. Ela tinha um motorista, uma pessoa que a
levava para onde ordenava e isso o deixou desconfortável. Ele abriu a porta
para ela entrar e fechou atrás dele, o calor os aqueceu mesmo com o fraco sol
lá fora, o tempo ainda estava frio. Pétala andou até o sofá olhando atentamente
toda a casa, o teto estava aberto para a luz do dia entrar na cabana, ela sorriu e
olhou para ele.
— Eu gosto daqui.
— Eu também, por isso não deixo esse lugar por nada no mundo. —
disse ele. — Eu vou pegar a lenha que cortei, sente-se por favor, eu volto em
um minuto. “Ela está aqui, ela está aqui. ” — Pensou eufórico. Dexter pegou o
carrinho de mão cheio de lenha e foi para a porta da cozinha, abriu e entrou
com o carrinho. Ele olhou para ela que estava em pé no meio da sala e de
olhos fechados. Ele sorriu ao observá-la pois sabia que ela tinha sentido
saudades daquele lugar simples. Foram poucas horas que passaram juntos
dentro do mesmo espaço, porém, em seus corações, sabiam que tinha sido
especial, singular, mesmo sendo estranhos um para o outro. Prova disso era
que ela tinha voltada para sua casa.
Ele pegou um punhado de lenha e acomodou em seus braços levando
para a lareira da sala e colocou-as ao lado bem organizada.
— Eu sonhei com esta casa. — disse ela. Dexter que estava quase
ajoelhado no chão olhou-a, ela estava olhando-o atentamente. — Eu sonhei
com você. — Ele sorriu.
— Espero que tenha sido um sonho bom. — Disse ele.
— Foi lindo na verdade. — eles ficaram se olhando. Dexter não
escondeu a surpresa pelo que ela tinha dito. — Eu gostei de ver como você
cuida desse lugar, fiquei impressionada. — Falou um pouco envergonhada.
— Claro, imagino que você não conheça muitos lenhadores que vivem
na floresta? — Brincou.
— Não mesmo. — Respondeu sorrindo. Dexter foi para a cozinha
organizar o restante da lenha.
— Você aceita tomar um pouco de chá? — Perguntou ele.
— Sim, por favor. — O barulho dos saltos pelo piso de madeira o
avisou que ela estava se aproximando, ele colocou lenha no fogão e acendeu o
fogo, logo a água começou a aquecer na chaleira. Dexter virou-se e ficou
frente a frente com Pétala que o olhava fixamente.
— Você está com fome? — Perguntou ele.
— Não, mas não vou dispensar o que for me oferecer para o jantar. —
Ela sorriu.
— Vou fazer um delicioso prato, não se preocupe. — Falou.
— Eu sei. — disse ela. — Então Lenhador, conte-me o que você fez
durante esse tempo em que não nos vimos. “Esperei por você.” — Pensou. Dexter
pegou alguns pedaços de casca de laranja secas e colocou na água quente e
também algumas folhas de hortelã.
— Nada em especial, trabalho, correr, cuidar da casa. Eu tenho uma
vida simples. — Falou e colocou o chá em duas xícaras, pegou o açucareiro e
o deixou em cima da mesa e sentou-se de frente para ela. Ela provou o chá.
— Está uma delícia.
— Minha mãe tomava chá de laranja com hortelã todos os dias.
— Ela sabia das coisas boas da vida. — Falou ela.
— Nem tanto. — disse e ela o observou um pouco triste ao responder,
mas logo ele mudou de assunto. — E você, ainda está com o peso do mundo
em suas costas?
— Estou e preciso me manter em pé porque o peso do mundo do meu
irmão e da minha mãe, sou eu que carrego também. — Ele percebeu a voz um
pouco trêmula. Ela estava ali para conversar com uma pessoa que não a
conhecia e nem os seus pontos fracos. Porque as pessoas que a conhecem, não
estão presentes em sua vida. Foi isso que ele deduziu e estava certo.
— Você veio fugir um pouco da sua realidade? — Perguntou ele.
— Fiz mal?
— Absolutamente. Eu falei que estaria aqui se você precisasse fugir.
— Disse ele.
— Sim, por isso estou aqui. Eu não tenho ouvintes no meu mundo,
Dexter. Não se não for para ganharem nada em troca, financeiramente falando.
— Disse ela.
— Dinheiro, é a maldição do mundo. — Disse ele.
— Sim. Eu sou absurdamente bajulada por ser dona de uma quantidade
interminável e incalculável dessa maldição.
— E com todo esse dinheiro, qual momento você é feliz? Porque
dinheiro é ótimo e todos sabemos disso, mas existem sim realmente algumas
coisas que ele não pode comprar. — Falou Dexter. Pétala bebericou um pouco
do seu chá olhando-o. Deixou a xícara em cima da mesa e cruzou as pernas
elegantemente fazendo-o quase engasgar enquanto bebia seu chá. Foi a coisa
mais linda e excitante que ele já vira. Ele notara que Pétala não sabia o quanto
era sedutora sem esforçar-se para ser, ela fazia tudo naturalmente como uma
função do corpo, mas para quem estivesse olhando, era um atentado.
— Eu tinha quinze anos a última vez que me senti feliz, pois o meu pai
ainda era vivo. Lembro-me bem desse sentimento de que tudo ficaria bem, que
eu estava segura. Mas, quando ele morreu, tudo virou de cabeça para baixo.
Foram quase três anos de puro inferno. Faltavam alguns meses para meu
aniversário de dezoito anos e tomei uma decisão que tiraria minha paz até
hoje. Aquele sentimento puro de uma felicidade existente em minha vida, uma
adolescente que vivia intensamente cercada de amor e não tendo medo de nada
porque tinha a certeza de que tudo ficaria bem, só senti novamente quando
passei aquela noite aqui com você. Eu quase te pedi para ficar para sempre.
— Pétala falou com a voz rouca. Dexter olhando-a com olhos arregalados
segurando-se para não pular da cadeira e tomá-la para ele. Mas não sabia se
ela o queria assim ou gostou somente da paz que seu lar a proporcionara.
— Eu entendo você. — disse somente. — Aprecio sua confiança
Pétala, fale tudo o que está aí dentro e que a faz sentir-se confortável. — Disse
ele. E ela começou.
— Eu estou cansada. Aos vinte e três anos e com todo o dinheiro que
tenho, eu estou cansada. — Ela limpou as lágrimas que começaram a escorrer
pelo seu rosto.
— Por quê? — Perguntou Dexter.
— Porque eu assumi a maioridade e os problemas da minha família
aos quinze anos.
— Uma criança. — Disse ele.
— Sim. Mas eu não tive tempo de ser criança, fui emancipada pelo
meu pai, dois dias antes de sua morte. Nunca vou me esquecer o que ele falou
quase em seus últimos suspiros. — As lágrimas não pararam de escorrer.
— E o que ele disse? — Dexter encostou o corpo na cadeira, cruzou os
braços no peito e deu total atenção para ela.
— Disse: Pétala minha filha, você precisa crescer ou vai perder tudo o
que temos. Não deixe o dinheiro da família com seu irmão ou sua mãe, eles
estão muito doentes. Trabalhe duro para manter-se viva, não fique como eles,
eu te amo. Então, dez minutos depois, ele morreu.
— Sinto muito.
— Eu não queria vir aqui e despejar meus problemas em você. Eu só
queria te ver. — Disse ela olhando-o. Mas ele percebeu que saiu
involuntariamente, uma confissão que não devia ter feito e ele sentiu-se quente
por dentro. Feliz.
— Eu estou feliz em tê-la aqui, independente de seus problemas.
— Você parece ser um bom homem, Dexter.
— Agradeça a minha mãe, ela me deu uma formação boa enquanto
esteve viva. — falou tímido. — Quais são as doenças de sua mãe e irmão?
— Mãe alcoólatra e irmão drogas muito pesadas.
“Alcoólatra”
Essa era uma palavra que Dexter conhecia muito bem e não gostava
nada dela.
— Meu irmão passou a ser muito violento, quando ele ficava sem a
droga ele espancava quem estivesse em sua frente. Chris deixou minha mãe em
uma cadeira de rodas por um tempo. Tudo porque ela pegou o único dinheiro
que tinha em nossa casa para comprar bebidas. — ela respirou fundo. — Ele
surtou e a espancou, depois disso conseguiu vender dois hotéis que ainda
estavam em seu nome, dado por meu pai antes de morrer. Eu soube pelos
nossos advogados. Eu usei o poder da emancipação e passei a administrar
nossos bens, tirei tudo o que tínhamos do nome deles e coloquei como se eu
fosse a única dona. Quando Chris descobriu, ele me bateu e só não me matou
porque minha mãe bêbada teve forças para bater nele com uma garrafa de
whisky. — Pétala limpou as lágrimas outra vez. — Ela pensou que o tinha
matado, eu chamei uma equipe médica e eles cuidaram de nós dois e fomos
para o hospital. Dos quinze a quase dezoito anos, ele me batia com frequência
para conseguir drogas ou pagar suas dívidas grandes. Eu passei a dar dinheiro
para não apanhar e a limpar os vômitos da minha mãe pela casa e foi quando
ela também começou a ficar agressiva. Quando acabavam as bebidas e drogas,
eu abastecia o estoque. — Pétala puxou uma longa respiração, fechou os olhos
e deixou as lágrimas caírem ainda mais, abriu e olhou para Dexter
continuando. — Eu me tornei um fenômeno na Administração dos meus hotéis
e todo o nosso dinheiro, fiz faculdade e me formei antes do curso terminar.
Papai era amigo do reitor e dinheiro compra quase tudo. Quando voltei para
casa, eu não podia ficar indiferente com o que encontrei, eu precisava fazer
alguma coisa. — ela pausou e continuou logo em seguida. — Chris estava
moribundo no sofá, era um morto-vivo, um zumbi do crack. Minha mãe entrou
com ele nesse mundo então, os dois bebiam e se drogavam o dia todo. Nossa
casa estava cheia de gente suja, os esgotos da cidade eram mais limpos que
aquele lugar. Saí de lá correndo quando encontrei um homem fazendo sexo
com minha mãe no chão da cozinha enquanto ela acendia no cachimbo uma
pedra de crack. Chamei meus advogados e compramos uma fazenda
quilométrica e não muito distante daqui, cercamos todo o lugar com
monitoramento de filmagens, cercas elétricas e contratamos uma equipe
altamente treinada de vigilância que ficavam andando o dia e noite por minhas
terras, não deixando uma mosca atravessar na frente deles. Contratamos
também uma equipe médica especializada em tratamentos como esses, e
colocamos os dois na fazenda trancados sem possibilidade de saírem por nada
nesse mundo. — ela estava soluçando. — Nos primeiros dias eles foram
tratados como loucos, camisas de força e amarrados as camas, a abstinência
os deixavam assassinos. Hoje eles estão presos lá ainda e em tratamento,
podem circular pela casa e no quintal com monitoramento e tempo de trinta
minutos. — Pétala tomou o último gole do chá morno para acalmar-se e
continuou. — Por isso tenho esse peso nas minhas costas, Dexter. — Falou de
cabeça baixa.
— Você não tem que se sentir culpada por deixá-los lá. — Disse ele.
— Eu não sinto. — ela o olhou novamente. — Eu não quero viver
perto deles nunca mais. Eu não posso deixá-los sair de lá, não posso. É esse o
meu medo e peso, eu não o amo, não os quero em minha vida. Eu só tinha
quinze anos e minha mãe não podia me deixar sozinha com todo esse mundo
para administrar. — Disse ela com voz sôfrega.
— Ela não soube fazer o caminho de volta, Pétala. Eles estão vagando
em um mundo muito escuro e a única luz para indicá-los a saída, era você. —
disse ele. — Você os ama sim, só está muito machucada e essa dor a faz
pensar que não existe humanidade dentro de você. Eles precisam de você
Pétala, e você é boa demais para não se importar com eles. Tanto que está
sofrendo agora por saber que eles estão doentes, e você os cuida como tem
que ser.
— Eu os deixei trancados dentro de uma casa, por anos, Dexter. — Ela
estava aos prantos.
— Se não tivesse feito isso, você não iria encontrá-los zumbis. Você
iria encontrá-los mortos. Você deu nova oportunidade para eles, pense assim.
— Dexter pegou suas mãos e as segurou sentindo-a apertar com carinho.
— Quando você me encontrou na mata, eu estava tentando decidir se
iria até lá ou não. Eu escolhi essa região para comprar a fazendo porque minha
família é toda daqui, mas ninguém sabe onde eles estão.
— Você é a dona da fazenda Santa Barbara?
— Sim, comprei com porteira fechada na época.
— Faz divisa com as minhas terras.
— Por isso eu estava em suas terras procurando uma fuga para minha
covardia que era tanta que eu não coloquei nada que pudessem me achar por
um rastreador.
— Você não é covarde, não fale assim. — Pétala secou as lágrimas.
— Obrigada por me ouvir. — Disse ela.
— Obrigado por me contar. Como eu disse, você já conhece o
caminho. — ela sorriu. Ele olhou para o tempo lá fora e não percebeu que já
estava escuro. — Eu vou acender mais tochas e fazer o jantar, você aceita
mais chá?
— Não, obrigada. — Dexter se levantou e foi colocar fogo nas tochas
e lamparinas, em pouco tempo a cabana estava toda iluminada.
— Eu amo esse lugar. — Falou olhando como era bonito todo aquele
fogo dentro da casa.
— Eu também. — Disse ele em sua voz divertida. Dexter começou a
preparar o jantar e Pétala ficou o tempo todo ao seu lado, disse que não sabia
cozinhar e que jamais fritou um ovo. Eles conversaram divertidamente como
ele nunca havia feito, momento simples e saudável. Ela ficou admirada quando
ele contou sobre a pequena coleção de livros que tinha dentro de seus
armários espalhados pela casa e ela conferiu se era verdade e os gritinhos de
mulherzinha o fez sorrir abertamente.
— Meu Deus, livros, lareira, cabana, coberta de lã e chá de laranja
com hortelã, você não quer que eu vá embora nunca mais, não é? — Disse ela
voltando para a cozinha. Dexter a olhou intensamente e falou sem pensar duas
vezes.
— Não. — Pétala sorriu e ficou parada olhando-o como se um segundo
depois ela entendesse o que ele quis dizer.
— Quer que eu fique? — Perguntou ela.
— Você ficaria? — Ela arregalou os olhos e respirou fundo.
— Eu não posso. — Eles sabiam que o assunto estava caminhando
para um caminho sério demais. E Dexter tratou logo de quebrar o clima.
— Obviamente que não pode, tem um mundo de hotéis lá fora que
precisa de você, eu estou só brincando. — Ela sorriu não muito feliz e
voltaram aos assuntos de antes enquanto jantavam um delicioso espaguete ao
pesto. Conversaram assuntos que ele mesmo nunca imaginou que poderia se
interessar, mas a linda mulher a sua frente o fazia querer muito mais dessas
conversas. Já era tarde da noite quando Pétala olhou no relógio em seu pulso e
assustou-se com o horário.
— Preciso ir, amanhã eu vou cedo para NY.
— Eu entendo. — Eles se levantaram e Dexter a acompanhou até a
porta.
— Foi ótimo ver você, Dexter. Melhor ainda foi tirar um pouco do que
estava dentro de mim sem ser julgada. Falar em voz alta que eu tenho uma mãe
e irmão com problemas.
— Sim, foi um desabafo. — Disse ele.
— Foi.
— Obrigado por vir, eu gostei de vê-la. — Dexter sentiu seu coração
triste com sua partida.
— Eu também gostei de passar esse momento aqui. Posso vir outra
vez? — Perguntou sorrindo.
— Não precisa pedir é só vir e estarei aqui esperando por você.
— Até breve, Dexter. — Ele a olhou sem querer dizer as palavras, mas
foi forçado a isso.
— Até breve, Pétala. — Ela deu um beijo em seu rosto, lento e
carinhoso. Saiu sem olhar para trás. Ele viu quando o motorista abrir a porta
para ela e também viu o carro desaparecer na escuridão da noite fria e agora,
vazia. Fechou a porta e ficou olhando os pratos sujos, ele jamais tivera uma
visita, muito menos uma mulher em sua casa. O cheiro dela ficou por todo o
lugar outra vez e Dexter sentiu seu coração apertar por não a ver mais ali.
“Eu quero você” — pensou ele. — “Eu preciso de você”
Capítulo sete

O silêncio pairou em
toda a cabana.
Pareceu até que minha
mulher e filha não estavam respirando, olhei-as e pude notar que Cattleya
estava pensativa, já Pétala secando disfarçadamente uma lágrima em seu rosto.
— Mãe? — Chamou Cattleya.
— Sim, filha.
— Você superou esse sentimento de culpa pela vovó e o tio Chris? —
Perguntou.
— Superei. — disse Pétala levantando-se para esticar as pernas. —
Uma boa parte disso eu devo ao seu pai, por passar horas conversando comigo
e me fazendo ver de outros pontos. — Falou cruzando os braços e nos
olhando.
— Eu não consigo pensar no tio Chris batendo em você para comprar
drogas. — Disse Cattleya.
— Ele não estava em seu estado normal. O crack destrói a vida das
pessoas, aliás, qualquer droga acaba com a dignidade humana.
— Eu sei, tenho orgulho de você mamãe, por não deixar o seu mundo
desabar. Você era tão nova e teve que ter tantas responsabilidades que isso me
orgulha em tê-la como minha mãe. — Pétala não se conteve, ela deixou as
lágrimas caírem.
— Obrigada, querida. Mas eu tive uma grande educação por parte de
meu pai. Quando a mamãe começou a beber em demasia, ele não desistiu e
ensinou-me a direcionar a minha vida ao rumo certo. — Disse ela.
— Eu imagino, gostaria de tê-lo conhecido. Iríamos nos dar muito bem
eu tenho certeza.
— Sim, seu avô era um homem muito amável, sociável, educado, um
verdadeiro cavalheiro. — Eu fiquei olhando para as duas conversarem e
lembrei-me do quanto nós tínhamos incomum. Nossas vidas se cruzaram no
momento certo.
— Dexter. — Pétala me chamou de volta para ela.
— Sim.
— Onde você estava?
— Você me chamou antes de eu chegar lá. — ela sorriu. — Já está
tarde e ficamos o dia todo dentro desta casa por culpa de vocês duas.
— Ah tá bom pai, você gosta de ficar assim com suas duas mulheres,
pensa que eu não sei?
— Você me pegou, mas como disse já é noite e estou com fome e vocês
duas? — levantei-me deixando o diário em cima da mesa de centro. — Para o
banho, o jantar é por minha conta.
— Êêêêêê. — Elas vibraram como se fosse a melhor coisa do mundo.
Cattleya levantou e dobrou as cobertas colocando-as em cima do sofá.
— O que você vai fazer para o jantar? — Perguntou.
— Um certo macarrão do primeiro jantar, quando esta linda mulher. —
eu abracei Pétala pela cintura e ela colocou os braços em volta do meu
pescoço. — Veio me visitar.
— Nostalgia? — Perguntou ela com o timbre de voz que amo ouvir.
Minha esposa muda o som de sua voz para cada momento em específico, é
encantador.
— Sim, aquela sensação de vê-la, sentir seu perfume enquanto
tomávamos chá, eu gostaria de reviver aquele dia. — Falei.
— Eu vou subir e tomar um banho porque sei que o clima está
esquentando. — Disse Cattleya sorrindo ao subir correndo a escada.
— Palhaça. — Gritou a mãe as gargalhadas, já sozinhos ela disse.
— Você acha que estamos estacionados com nossos sentimentos? —
Perguntou preocupada.
— Não, por quê?
— Você tem saudades?
— Sim amor, muitas saudades. Mas não porque não sinto meu
estômago pular como quando eu a via chegar, porque mesmo depois de todos
esses anos isso acontece mais do que você imagina. Eu ainda sinto aquele frio
na barriga toda vez que a vejo abrir os olhos pela manhã e olhar-me como se
eu fosse o seu coração batendo fora de seu corpo. Sinto-me nostálgico por
tudo o que passamos juntos e crescemos para chegar até aqui. Um momento
que eu gostaria de revivê-lo foi aquele na floresta, a nossa primeira vez. —
Ela sorriu.
— Acho que já fizemos momentos bastante parecidos com aquele
dentro desta mata, seu lenhador pervertido. — ela passou o dedo na ponta do
meu nariz. — E você é o meu coração batendo fora do meu corpo, meu amor.
— Disse ela.
— Eu sei que sou, porque você é também assim para mim. E é verdade
o que disse sobre a mata, mas quero de novo porque se tratando de você, sou
um homem insaciável. — Sussurrei.
— Não esqueçam que estou em casa. — Gritou Cattleya. Eu sabia que
ela não estava nos ouvindo porque eu estava sussurrando.
— Ela sabe cortar o clima. — Disse Pétala.
— Ela é uma peste. — falei. — Por que não a vendemos para os
Chineses quando ela era bebê? — Perguntei e Pétala sorriu.
— Porque somos de coração mole, mais ainda dá tempo. — Gritou
Pétala.
— Porque vocês me amam. — Gritou nossa filha.
— Você não disse que ia tomar banho? — Perguntou minha linda
esposa.
— Sim, estou fazendo algumas anotações importantes para o livro. Vai
logo fazer o jantar papai.
— E ainda exige? — perguntei. — Tudo bem, vou para o fogão a
lenha.
— Delícia! Amo quando você usa esse fogão. — Disse Pétala. Ela me
beijou e eu segui para a cozinha, mas não antes de vê-la pegar o seu diário
dentro da gaveta da mesa de centro e sentar-se confortavelmente no sofá. Esse
é um diário novo e estou louco para lê-lo, tenho que confessar.
Preparar o mesmo prato de quando minha esposa veio me visitar a
primeira vez, é sentir a mesma emoção. É surreal como nós às vezes sentimos
as coisas, os momentos que marcam as nossas vidas. Eu vivi por muitos anos
sozinho, falando apenas com os empresários que vinham comprar minhas
mercadorias. Eu recebi o, presente Pétala, no momento certo da minha vida. E
depois de anos lendo um diário especifico para “Lições de vida para Dexter, meu
amado filho” Sei que andei em caminhos certos.
Nele tinha anotado: Livros para ler, autores que valiam a pena
conhecer, músicas para cada momento em que eu estivesse passando, mentiras,
verdades, poesia, Deus, fé, dinheiro, cultura, línguas, artes, países, museus,
vinhos e o principal dos ensinamentos, O AMOR.
Eu li todas as lições que minha mãe pensou ser útil. E foi. Algumas eu
precisei vivê-las para aprender. E muitas eu precisei senti-las.
“Obrigado, mamãe” — Pensei.
O jantar não demorou a ficar pronto e enquanto estava colocando os
pratos na mesa, eu observei Pétala concentrada em seus manuscritos. Cattleya
já estava de banho tomado e sentada em uma poltrona um pouco distante da
mãe, também observando-a escrever.
Pétala sorri imersa em seu próprio mundo aguçando a minha
curiosidade de ler o seu diário. Ela nunca deixou, quer dizer, ela nunca disse:
Pode ler Dexter. Por isso jamais me atrevi a fazer tal ato. Aproximo-me
devagar, Cattleya olha-me e sorri e eu sorrio de volta para ela. Em uma
distância ainda de dar-lhe privacidade, eu chamo minha esposa.
— Amor. — ela olha em meus olhos e vejo-os como brasas vivas. Ela
estava lembrando-se de alguma coisa, quente. — O jantar está pronto.
— Obá! — Pulou da poltrona nossa filha correndo para a mesa. Eu
fiquei ali, olhando a mulher mais linda do mundo mexer a garganta por
segundos e então disse.
— Obrigada amor, já estou indo. — Inocente isto, não é mesmo? Não.
Não é nada inocente. Pétala mudou o timbre da voz para deixar-me louco,
assim como ela estava. Senti meu corpo arrepiar, cada fio de cabelo se erguer
com minha pele, que agora estava em chamas. “Ela é uma diaba” — Pensei.
— Isso não se faz. — Sussurrei.
— Eu sei, Lenhador. — Ela sabe jogar.
— Eu vou esperá-la na mesa. — virei-me de costas para ela. — Com
nossa filha. — Falei alto. Cattleya olhou-me sorrindo sem saber da
provocação da mãe.
— Você já está comendo, sua sem educação? — A esperta da minha
filha já estava devorando o jantar.
— E não me arrependo, está maravilhoso. — Pétala me abraçou e
beijou meu rosto, sentando-se ao meu lado.
— Eu não a culpo filha, eu sei o poder que esse macarrão tem. —
Falou sorrindo.
— Você ainda vai ler hoje, papai?
— Estou cansado. Vamos jogar Poker, o que acha?
— Digno, porém injusto para com vocês, eu sempre ganho. — Disse
ela.
— Não hoje querida, não hoje. — Falou Pétala olhando-a
desafiadoramente fazendo uma batalha ser lançada na mesa entre mãe e filha.
Comemos e conversamos e quando terminamos fomos aos jogos e graças a
Deus eu não tenho sorte no jogo, mas no amor, esse eu sou o mestre. Já era
madrugada quando paramos de jogar e fomos dormir ao som de Cattleya
falando que continuaríamos a leitura bem cedo, ao raiar do dia. Eu adormeci
abraçado ao corpo quente da minha esposa.
Por incrível que pareça, Cattleya ainda estava dormindo. Levantei-me
devagar para não acordar Pétala, vesti meu moletom de corrida, tênis, e saí
sorrateiramente. Ao abrir a porta da sala o vento frio me disse bom dia
batendo no meu rosto e trazendo-me o perfume das flores silvestres. O sol já
estava surgindo e quando olhei para dentro da mata, os raios que adentravam
iluminando o lugar pareciam me chamar para correr entre eles.
Respirei fundo, coloque meu capuz e corri para onde meus
pensamentos ficam em ordem. O barulho das minhas pisadas fortes faz-me
concentrar somente no momento, meu corpo começou a acordar de verdade e
os meus ouvidos agradecem aos pássaros cantar somente para mim. Corro por
entre as árvores e os flashes daquele dia aparecem diante dos meus olhos. Tão
linda, entregue, sem medo, suave, sexy, pronta para ser minha. Ela veio com
esse único objetivo. Sinto meu corpo formigar e dentro do meu moletom,
sinto-o crescer tão rápido quanto minha vontade de possuí-la neste momento.
E quando acordo do meu estado inebriante de desejo, vejo-me parado
exatamente no nosso lugar. Olhando para o chão na relva limpa e secreta para
amantes sedentos e apaixonados. Olho por tempo suficiente para fazer meu
corpo querer expulsar o meu prazer sem ao menos eu tocar no meu membro
inchado. Minha mão desobediente invade minha calça tirando-o para fora e
com somente três vezes que desço e subo a mão por todo ele, eu jorro longe o
líquido branco do prazer que era para ser derramado dentro dela. Meu corpo
sedento e fora do meu controle treme com as lembranças daquele dia intenso e
cheio de mágica. — Ela é culpada disto. — Falo para a solidão da mata.
Depois de tentar controlar o meu sistema, faço o meu caminho de volta para
casa correndo, tremendo e dolorido pela sede que não passou pelo meu breve
momento de luxúria.
Sinto o cheiro de café fresco, logo que abro a porta.
— Bom dia amor, eu não o vi sair da cama. — Disse Pétala com uma
caneca de café na mão e encostada ao pilar da sala.
— Fiz o possível para não a acordar.
— Percebi. — ela sorri. — Onde foi na sua corrida?
— Adivinha.
— Não faço a mínima ideia. — Pétala é uma mulher perceptiva. Ao
ouvir a minha voz uma luz se ascendeu dentro de sua cabeça e a fez notar que
algo diferente acontecera na corrida. Ela aproximou-se observando meu corpo
e olhando atentamente para meu pescoço. As veias ainda pulam por causa da
corrida e pelo meu pequeno e quase descoberto segredo. Ela conhece-me
como a palma de sua mão. — Mas vejo que andou se divertindo. — olhou-me
bem dentro dos olhos. — E seus olhos estão dilatados, amor. — Ela sorriu.
— Talvez eu não resistisse às lembranças. Eu corri até o nosso lugar
então, foi mais forte que eu. — Ela sorriu novamente.
— É o meu lugar dos sonhos. Precisamos ter outra primeira vez.
— Mais? É uma ótima ideia. — Ela chegou perto e cheirou minha
roupa, meu pescoço e olhou-me nos meus olhos novamente.
— Vá tomar um banho Lenhador, você fede. — Disse e se afastou as
gargalhadas.
— Atrevida. — Vou para meu quarto ao som de suas gargalhadas. Sei
que minha filha já está desperta, mas por algum motivo ela ainda não desceu.
Depois do banho e com uma roupa confortável, me junto as minhas lindas
mulheres na sala, que já estão tricotando assuntos de mãe e filha.
— Bom dia, papai. — Disse Cattleya.
— Bom dia, filha.
— Eu estou faminta.
— Eu sei você come como um leão. — Brinquei.
— Sou sua filha, esqueceu?
— Jamais. — Dou um beijo no rosto das duas e sento-me ao lado delas
no chão, onde improvisaram nosso lugar para tomar café da manhã em frente à
lareira. Depois de saborear o café preparado por minha linda mulher, não
esperei Cattleya pedir e logo comecei a ler o meu diário outra vez.

Passaram-se dias intermináveis depois que Pétala o visitou. Ele não


sabia o que estava sentindo e às vezes doía e outras se sentia saudoso por ela.
“O que está acontecendo comigo?”
Ela era quase impossível para ele, algo intocável, mas Dexter não
conseguia deixar de sentir falta dos poucos momentos que passaram juntos.
Saber um pouco dos sentimentos de Pétala o deixou com esperança na qual
não podia se agarrar, ele sabia a diferença entre os dois mundos. Trabalhou
duro por dias seguidos e contratou dois homens para dar conta dos pedidos
daquele mês. Foi duas vezes na cidade e passou na frente do hotel de Pétala.
Um mês se passou novamente e nada dela voltar e assim a vida seguia. Sem
vê-la ou ouvi-la para fazer os seus dias mais felizes.
Depois de fazer todas as entregas de madeira e pagar os homens e
agradecê-los por seus serviços prestados, Dexter voltou à solidão de outrora.
Era início do mês e ele precisava fazer algumas compras para casa e
reabastecer os alimentos não perecíveis, então, ele foi até a cidade assim que
o dia amanheceu. Andando pelos corredores do pequeno supermercado o qual
ele fazia compras, desde que ficou sozinho, não percebeu que estava sendo
observado, até que ela colocou as mãos em seus olhos.
— Adivinha quem é? — Perguntou a jovem.
— Rose. — Disse ele virando-se para ela.
— Você sempre acerta. — “Talvez porque conheço sua voz” — Pensou ele.
— Você é a única que faz isso. — Ele sorriu, mas não chegou aos
olhos.
— Você sumiu.
— Você estava viajando. — Respondeu.
— Sim, mas se você usasse um telefone, poderíamos nos falarmos nas
noites de solidão. — Ela se aproximou até tocá-lo com seu corpo.

— CHEGA! — disse minha mulher irritada. Eu a olhei sorrindo e vi o


quanto estava nervosa. — Eu odeio essa parte com todas as minhas forças.
— Ciúme? — Perguntei.
— Muito. Não gosto de saber que você já se esbanjou com outras
mulheres.
— Não foi bem assim e você sabe disso. — Falei.
— Eu sei que não, mas sinto meu mundo desabar só de imaginar. —
Disse ela e Cattleya nos observou sorrindo.
— Desculpa amor, vou pular essa parte.
— Não precisa. — falou. — Eu vou ser forte para ouvir e não ir agora
mesmo à cidade e pegar aquela feia pelos cabelos. — Eu caí na gargalhada e
Cattleya me acompanhou. Depois de voltarmos ao normal, continuei a leitura
com a cara emburrada de Pétala.

— Eu não gosto dessas coisas.


— Eu sei. — disse Rose. — E o que você andou aprontando enquanto
eu estive fora? — Perguntou passando os dedos em seus braços. — “Conhecendo
a mulher da minha vida.” — Pensou ele.
— Nada, muito trabalho somente. — Disse ele pegando uma lata de
milho na prateleira.
— Você quer ir à minha casa mais tarde? — Perguntou cheia de desejo
na voz. Dexter olhou para ela e ficou na dúvida se deixava ser levado pelas
suas necessidades, ou não.
— Eu não sei, Rose. — Pétala veio forte em sua mente, e ficar com
Rose não pareceu ser o certo.
— Você sabe que sei agradá-lo.

— Vadia dos infernos. — Falou Pétala com raiva e eu continuei a ler


sem olhá-la.

— Sim, isso eu não posso negar. — pausei. — Eu vou pular essa parte,
não gosto de falar disso sabendo que minha filha está ouvindo.
— NÃO! — Gritaram em uníssono.
— Ok! — Continuei a ler.

E
— u tenho muitas coisas para fazer Rose, preciso ir para casa.
— Podemos ir agora, eu deixo a mamãe tomando conta do caixa. —
disse ela. — Vamos lá Dexter, eu sei do que você precisa. — Dexter olhou no
velho relógio de pulso e não era nem nove horas da manhã ainda. Talvez uma
hora de diversão não fosse tão ruim.
— Tudo bem, tem que ser agora. Vou pagar essas coisas e te espero na
sua casa.
— Ótimo, te vejo lá. — Rose se afastou saltitante. Dexter sabia que ela
nutria sentimentos que não podia corresponder, ela mencionou vezes demais
para os dois começarem um relacionamento e ele sempre disse não. Ele não
gostava do que fazia com Rose, porém jamais deu-lhe esperanças de um
relacionamento futuro. Dexter passou no caixa e pagou as compras e logo
estava na velha caminhonete a caminho da casa de Rose. Esperou cinco
minutos até que ela bateu no vidro do carro.
— Hora de brincar, vamos. — Dexter saiu e entraram na casa de mãos
dadas.

— PARE! — Gritaram as duas.


— Graças a Deus. Não estava suportando ler isso. — falei e olhei para
Pétala, senti como se eu tivesse magoando minha mulher. — Desculpa meu
amor.
— Eu sei, não tem problema. — ela respirou profundamente. — Posso
te pedir uma coisa?
— Qualquer coisa meu amor.
— Eu sei que você escreveu isso há muito tempo, é o seu diário e suas
lembranças. — seus olhos estavam com lágrimas. — Mas apague isso Dexter,
por favor. — Pediu. Era dor, ela tem muito ciúmes eu sei, mas vê-la com dor
por saber que já estive com outras mulheres me deixou com coração rasgado.
— Claro meu amor, eu vou rasgar essas folhas e com prazer.
— Obrigada.
— Vou continuar lendo mais adiante.

Dexter chegou ao meio-dia em sua casa e foi como se ele não visse o
caminho que fez até ali. Seu coração estava magoado com o que tinha acabado
de acontecer. Não que Rose fosse uma garota ruim, mas o sentimento de
traição que fixou em seu coração, foi mais forte do que o prazer que sentiu.
Para Dexter, ele acabara de trair Pétala. O que era absurdo pensar assim, eles
jamais tiveram um relacionamento e provavelmente não iriam ter. Ela já não
dava notícias há um mês.
Ele entrou em sua casa e foi para o banheiro. Lavou do seu corpo todo
o vestígio daquele adultério imaginário. — Olhei de soslaio para Pétala, ela
estava sorrindo e sei que dessa parte ela gosta muito. — Continuei.
Depois de passar quase quarenta minutos debaixo da água, ele saiu,
mas a culpa não. Dexter tentou não pensar sobre isso e levou o seu dia mais
normal possível. Organizou tudo o que precisava, se alimentou e depois foi
gastar um pouco de força com seu machado. Já era noite quando ele voltou
para a cabana, comeu, leu um livro, ou tentou, e foi dormir não deixando
Pétala sair um segundo de seus pensamentos.
Uma semana se passou, era sábado à tarde e Dexter voltou da mata
todo sujo de seu trabalho. Ele entrou em casa e deixou suas coisas no canto da
porta e foi para o quarto tomar um banho. Foi uma semana difícil, ele estava
confuso, com raiva pelos sentimentos que o atormentavam e com raiva também
de Pétala, por ela ter aparecido em sua vida e desaparecido como pluma no
vento. Quando ele estava se vestindo, ouviu um barulho vindo do andar de
baixo. Ele saiu do quarto devagar, morar sozinho é uma lição para os ouvidos,
ficam atentos para qualquer barulho incomum. Ele passou pelo pequeno
corredor e parou no topo da escada tendo a visão mais linda que ficou longe
dele por dias incontáveis.
Capítulo oito

P étala estava de corpo e


alma em sua sala. Linda,
serena, olhos espertos.
Ele ficou em silêncio olhando para o que estava fazendo, ela tinha tirado o
casaco deixando seu lindo corpo a sua apreciação. Vestido preto e justo até os
joelhos, mangas que davam nos cotovelos, sapatos pretos e de salto, cabelos
amarrados em rabo de cavalo. Ele ficou vidrado com a visão dela ali. Pétala
estava colocando fogo nas tochas e cada vez que acendia uma o seu sorriso
aumentava. Foi então que ela percebeu alguém no topo da escada e olhou.
Dexter sentiu o ar ir embora, sua respiração ficou acelerada demais
com o sorriso que lhe foi dado por ela.
— Oi. — Disse aproximando-se do primeiro degrau.
— Oi. — disse ele com a voz fraca. — Você demorou.
— Sim.
— Um mês e dez dias. — Falou descendo os degraus.
— Você estava contando? — Perguntou Pétala. Ele desceu o último
degrau e ficou em sua frente olhando como ela era realmente linda.
— Sim. — Respondeu ele.
— Um mês, dez dias, treze horas e dezessete minutos, e os segundos eu
não sei mais. — Disse Pétala.
— Você estava contando? — Perguntou ele sorrindo.
— Sim. — Respondeu.
— Bom.
— Bom.
Pétala levantou os pés e apoiou-se com as mãos em seus ombros e o
beijou em seu rosto. Ele fechou os olhos e sentiu os lábios encostar-se a sua
pele, puxou forte o ar e ficou tonto com o cheiro que estava com saudade de
sentir. Ela se afastou. E foi como se ela o tivesse abandonado. Dexter abriu os
olhos e a viu olhando-o com intensidade, parecia que ela também queria mais
que um simples beijo no rosto.
— Como você está, Lenhador?
— Bem, e você?
— Bem. — Pétala olhou-o da cabeça aos pés. — Você está diferente,
parece que cresceu mais e está um pouco corado do sol.
— Eu trabalhei duro esse mês que passou. Os dias de sol forte é o
motivo da cor.
— Imagino. — ela olhou para os lados na sala. — Eu estava com
saudades daqui, é como se eu pertencesse a esse lugar. — Pétala fechou os
olhos quando terminou de dizer e ele percebeu que foi um pensamento que não
devia ter saído em voz alta. E que o deixou muito feliz em saber.
— Que bom você pensar assim. — ela o olhou tímida. — Vamos nos
sentar e você me conta o que tem feito de bom. — Disse ele apontando para o
sofá. Eles sentaram cada um de frente para o outro. Dexter quase deixou um
gemido sair de sua boca ao vê-la cruzar as pernas. O vestido subiu deixando
exposta sua pele lindamente macia para ele apreciar e só se deu conta de sua
indiscrição, quando Pétala abaixou o vestido cobrindo-as. Ele a olhou sem
graça e ela coçou a garganta.
— Você aceita uma xícara de chá? — Perguntou ele para quebrar o
clima estranho.
— De laranja com Hortelã? — Ela sorriu.
— Sim, eu vou preparar. — ele levantou um pouco bêbado de sua
visão, mas logo se recompôs. — Como estão seu irmão e sua mãe? —
Perguntou ele indo para a cozinha.
— Na mesma, recebendo tratamentos.
— Você vai superar isso, eles irão superar isso. — Falou colocando
água para aquecer.
— Sim eu vou. — Dexter franziu a testa ao olhar para ela.
— Eu ainda não jantei, e você?
— Também não. — Ele levantou uma sobrancelha.
— Você gostaria?
— Eu não quero dar trabalho.
— Para você não é trabalho, é prazer. — Disse, ela sorriu e levantou-
se indo para a cozinha.
— Eu só venho aqui para te colocar nesse fogão.
— Percebo, eu gostaria que viesse e demorasse a ir embora. — Eles
ficaram olhando-se.
— Eu também. — disse Pétala com leve sorriso. — Eu vou ficar no
hotel da cidade por dez dias. — Falou. Dexter estava pegando uma panela
dentro do pequeno armário e parou quando ela terminou de dizer, olhou fixo
em seus olhos e uma chama de esperança acendeu dentro dele.
— Dez dias? — Perguntou.
— Sim.
— Você virá me visitar todos os dez dias? — Ele colocou a panela
com mãos trêmulas em cima do fogão.
— Eu posso?
— Deve.
— Então eu venho.
— Ótimo.
— Ótimo. — Eles sorriram.
Dexter preparou uma das receitas de sua mãe, enquanto Pétala falou o
que tinha feito todo esse tempo. Contou que foi para NY e ficou lá por dez dias
e depois viajou para a França. O hotel de Paris precisava de seus próprios
olhos e então ela o fez. Ele a deixou falar, mas, sempre atento a tudo e
realmente saber como era sua vida longe dele era importante. Principalmente
quando pronunciava nomes masculinos e ele fazia questão de perguntar quem
era e o que fazia.
O jantar ficou pronto, eles conversaram sobre muitas coisas enquanto
degustava o saboroso prato, estava tudo perfeito até Dexter lembrar-se de que
ela não passaria a noite.
— Já está tarde, eu preciso ir. — Disse ela.
— Você nem tomou o chá.
— Acho que vai ter que ficar para a próxima.
— Amanhã, a próxima é amanhã? — Perguntou ele sorrindo.
— Sim, eu volto amanhã. — Pétala também estava sorridente.
— Que horas?
— Pode ser no mesmo horário de hoje?
— Mais cedo? — Pediu ele.
— Não sei se consigo.
— Por favor. — Foi quase uma súplica.
— Mais cedo quanto? — Perguntou ela.
— Passe o dia aqui comigo. — Falou esperançoso. Ela o olhou por
segundos longos demais o deixando nervoso.
— Eu venho. Estarei aqui às onze horas em ponto.
— Perfeito.
— Perfeito. — Sorriram. Ela se levantou e colocou o elegante casaco
enquanto ele a observava.
— Você ficou pouco dessa vez. — Disse ele.
— Eu volto amanhã seu manhoso. — Ele caiu na gargalhada.
— Eu sei, mas amanhã vai demorar a madrugada inteira para chegar.
— Dexter manteve seguro o olhar de Pétala. Ele sentiu a timidez emanar dela.
— O que vai querer para o almoço? — Perguntou.
— Confio em você, Lenhador. — ele engoliu seco pois notou que
Pétala mudara o timbre da voz e isso o fez imaginar como ela seria capaz
disso, ser tão sedutora sem perceber. Era sexy como o inferno. Cada
movimento, cada olhar, tudo nela era malditamente sexy — Até amanhã,
Dexter. — Disse ela. Ouvir seu nome ao som daquela voz era puro deleite
carnal.
— Até amanhã, Pétala. — Ela fez como da última vez, aproximou-se e
deu um beijo em seu rosto. Abriu a porta e saiu sem olhar para trás.
Ele ficou lá parado próximo à porta olhando para ela. Fechada. Ela
tinha ido embora outra vez. O único som que ouviu dentro da sua silenciosa
cabana foi o gemido sôfrego que saiu de sua boca. “Cada dia mais linda” —
Pensou. Seu corpo estava em chamas desde o momento em que a viu. “Preciso de
outro banho” Dexter apagou o fogo de todas as tochas e lamparinas deixando
apenas uma para ele levar para o quarto. Subir os degraus, não fora fácil, pois
suas pernas estavam pesadas, ou pela emoção em vê-la, ou por sentir que
gostaria mais do que de qualquer coisa no mundo, tê-la nua em seus braços. O
pequeno vislumbre de sua pele nas lindas coxas levemente torneadas, o deixou
queimando de desejo. Ele entrou em seu quarto e fechou a porta, deixou a
lamparina em cima da pequena mesinha do lado da cama, tirou suas roupas e
foi esfriar o corpo debaixo da água gelada. Vinte minutos depois, ele deitou-se
em sua cama, nu, e adormeceu sonhando com ela. — “Mas lembro-me perfeitamente
que eu estava duro e foi difícil colocá-lo para dormir. Só não posso dizer isso em voz alta, pois
tenho uma filha danada de curiosa ouvindo-me contar a nossa história”. — Pensei.
Às 3h30min da madrugada, Dexter já estava andando pela casa.
Demorou muito para chegar cinco horas e ele não conseguiu dormir
novamente. Para ele o universo estava lhe pregando uma peça por não
amanhecer rápido como desejara. Ele estava com seu corpo ligado, foram
anos após anos sem toda essa adrenalina que o invadira de repente, e agora ele
tinha algo em que pensar 24 horas do seu dia. Ele colocou o moletom com
capuz, seu tênis de corrida e saiu na fria chuva que estava começando, o clima
não se decidia há dias se ficava entre sol ou chuva, era os dois
constantemente. Ele olhou para as grandes árvores de pinheiros e começou
uma corrida pesada entre elas. Os pássaros voavam para longe com o barulho
de suas pisadas fortes, todos assustados. Seu corpo descarregando toda a
energia que estava nele, mas nada fazia acalmar uma parte dele e isso o deixou
frustrado. “Uma menina má é você Pétala” — Pensou.
Dexter correu por tempo demais até que voltou para a cabana
esgotado. Tomou banho e depois se vestiu melhor do que todas às vezes que
ela o tinha visto, e foi para a cozinha. Ele pegou um dos cadernos de receitas
de sua mãe e começou a cozinhar, fez também uma deliciosa torta como
sobremesa para Pétala, ela gostou da última que ele preparou, então ela iria
gostar dessa também. Ele estava completamente em seu mundo entre panelas e
temperos, quando a porta da sala foi aberta. Dexter sentiu seu coração pulsar
tão forte, que ficou preocupado se iria passar mal bem diante dela. Ele
respirou fundo umas cinco vezes até ela adentrar pela porta e imediatamente
seus olhos se encontraram. Ele sentiu o ar ir embora mais uma vez. Ela estava
mais bonita que no dia anterior. Seus cabelos negros estavam soltos e
brilhantes. Pétala ficou ruborizada e isso era a coisa mais malditamente linda
que ele já vira na vida.
— Oi Lenhador. — Disse ela com a voz que o deixara louco.
— Oi menina má. — Lembrou-se do pensamento que teve mais cedo.
— Menina má? — Perguntou ela sorrindo. Pétala tirou o grande casaco
que dava até os joelhos e Dexter puxou forte o ar para os pulmões. Jeans preto
e blusa de seda também preta, sem sutiã, que lhe caia muito bem. Ele olhou
fixamente para o formato perfeito de seus seios na blusa e viu ficarem duros os
mamilos.
— Sim, menina má, muito má.

Ouvi as gargalhadas de Cattleya. Merda. Esqueci que essa pestinha estava me


ouvindo” — Pensei.
— Droga! Esqueci-me completamente que você estava ouvindo,
Cattleya. — Falei e coloquei meu diário cobrindo meu rosto.
— Percebi. Você ficou empolgado demais descrevendo os mamilos
duros da mamãe. — Ela gargalhou ainda mais.
— Cale a boca garota pervertida. — Pétala rasgou todo o seu silêncio
com o grito e riso que ela deu.
— Eu pervertida? Acho que não, mamãe, quem estava com os mamilos
duros para o papai era você. — Disse a atrevida.
— Ah! Agora você vai ver só uma coisa. — Pétala jogou as cobertas e
travesseiros tudo para o ar e ainda gargalhando, subiu em cima de Cattleya
prendendo-a no chão e fez-lhe cosquinha. — Você não precisava ser tão
observadora garota. Tire da sua mente os meus mamilos. — Gritou minha
linda mulher brincando com nossa filha.
— Tudo bem, tudo bem, pare com isso mamãe, ou eu vou fazer xixi
aqui mesmo. — Cattleya, não estava mais aguentando o ataque da mãe.
— Vai logo para o banheiro garota perturbada. — falei. — Que vou
preparar algo para comermos, às horas se passaram e não percebemos. —
Pétala saiu de cima da nossa filha e ela pulou para fora do tapete indo para o
banheiro. Olhei para minha mulher e ela estava sorrindo maliciosamente para
mim. — Vem aqui. — sussurrei. Ela andou em cima dos seus joelhos e sentou
no meu colo com as pernas abertas uma de cada lado do meu quadril. — Isso é
tentador, você sabe, não é? — Sussurrei novamente. Ela colocou os lábios no
meu ouvido e sussurrou com o timbre de voz que me faz perder os sentidos.
— Sim eu sei. E é por isso que faço. — Ela mexeu o quadril para
frente e para trás e gemeu baixinho.
— Isso não se faz amor. — Sussurrei sedento de saudades da minha
mulher.
— Tudo bem. — Pétala levantou tão rápido, que por uma fração de
segundos eu não entendi. Olhei para ela e levantei uma única sobrancelha. —
Você tem razão isso não se faz, ainda mais com nossa filha atrevida em casa.
— Falou sorrindo e foi em direção a cozinha deixando-me em apuros com o
travesseiro escondendo o motivo das minhas bolas azuis.
— Ela aprendeu a ser atrevida com você. — Falei em um fio de voz.
— Isso você tem razão. — “Não por muito tempo Sra. Sawyer”
— Quantas horas? — Perguntou Cattleya descendo a escada. Olhei no
relógio em meu pulso.
— Quase quatro horas da tarde, meu Deus, como não vimos o tempo
passar? — Perguntei.
— É o que o romance de vocês faz, nos perdemos no tempo só
imaginando. — Disse ela. Eu estava mais calmo então levantei e fui para a
cozinha ajudar minha mulher.
— O que vamos comer? — Perguntei olhando para as duas.
— Que tal uma bela sopa da vovó Honddra? — Perguntou Cattleya.
— Muito bem, vamos de sopa então. — Comecei a preparar tudo com
minha linda esposa. Cattleya ficou olhando suas coisas na internet sentada
confortavelmente no sofá. Olhei para minha filha várias vezes enquanto
descascava as batatas e Pétala cortava as carnes. Doeu como inferno o meu
coração quando olhei novamente Cattleya, e a vi disfarçar para secar uma
lágrima do seu rosto. Toquei de leve no braço de Pétala e ela olhou-me,
mostrei a nossa filha e ela disfarçadamente a observou também. As lágrimas
começaram a ficar insistentes e saírem de seus olhos. Pétala me olhou de volta
assustada, balancei a cabeça negativamente e ela entendeu que precisávamos
ser discretos. Segundos depois ouvimos a voz de Cattleya tentando esconder o
quão pesada estava em sua garganta.
— Eu... Eu vou dar uma volta lá fora. — Ela levantou rápido e pegou o
casaco de chuva e saiu colocando ele sem olhar para nós.
— O que está acontecendo com ela? — Perguntei.
— Eu não sei. — disse ela. — Mas vou descobrir, fica olhando para
ver quando ela volta.
— O que você vai fazer? — Ela já estava sentada no sofá e pegou o
Ipad de Cattleya, soube imediatamente o que eu tinha que fazer. Fiquei olhando
pela janela e vi minha filha na chuva fina e de cabeça baixa, com o capuz
cobrindo seus cabelos. “Ela está chorando.”
— Agora sei o que está acontecendo. — Disse Pétala.
— O quê? — Ela aproximou-se olhando o conteúdo e franzindo a testa.
— Isso. — Disse e mostrou-me. Spencer, o primo de Cattleya, em
várias fotos com sua noiva, Victória, em uma rede social. A legenda dizia que
a pré-festa de casamento tinha sido um sucesso e que estavam felizes porque
decidiram que o casamento aconteceria onde Spencer passava as férias
quando criança. Escrito em negrito que: Faremos o nosso casamento na cabana mais
linda do mundo, dos meus tios Dexter e Pétala Sawyer.
— Como assim o casamento vai ser aqui? — Perguntei incrédulo.
— Também não sei. Devolva-me isto. — pediu. Olhei para nossa filha
que estava vindo em direção a casa. Pétala colocou o Ipad onde estava e
voltamos rápido para a cozinha. — Spencer deve ter me enviado algum e-mail
e eu ainda não o vi. — disse. — Aliás, estou há dias sem saber como anda
meus negócios.
— Quero que você não se esqueça de ver isso hoje amor, se Spencer
quer fazer o casamento dele aqui, ele irá massacrar o coração da nossa
Cattleya. — Falei. Cattleya quieta e vermelha, tanto pelo frio quanto por
chorar. Colocou o casaco no lugar e foi para seu quarto.
— Se ele quiser, o que vamos fazer? Como vou falar para meu
sobrinho que não posso realizar o casamento dele aqui? — Sussurrou.
— Eu não sei amor, mas acho que nossa menina terá que colocar um
sorriso nos lábios e receber os noivos aqui. Infelizmente estamos de mãos
atadas quanto a isso, mas saiba que, se Cattleya precisar sumir daqui no dia do
casamento, eu a levarei para onde desejar. — Falei.
— Sim. — Ela respondeu triste. Fizemos a sopa e não demorou nossa
filha estava de volta sorrindo. Eu admirei a sua bravura em suportar a dor
sozinha apesar de não precisar disso, somos seus pais e amigos, mas a
respeito e acima de tudo e por suas escolhas. Tomamos a bela sopa de frente
para a lareira em chamas, conversamos e brincamos e logo que terminamos,
Pétala falou.
— Eu preciso olhar alguns e-mails. Faz dias que não toco nesse
computador. — Disse ela. Cattleya ficou tensa imediatamente. Pétala levantou-
se e foi até a mesa onde estava o computador. Enquanto ela ligava a máquina,
Cattleya levou os pratos para a cozinha e começou a lavá-los. Eu só consegui
olhar todas as reações do corpo da minha mulher enquanto ela olhava
fixamente para a tela. Eu vi o exato momento em que ela fechou os olhos e
balançou a cabeça.
— Algum problema mãe? — Cattleya apareceu ao meu lado, eu não a
tinha notado ali.
— Nada demais querida. Algumas coisas para resolver dos hotéis. —
ela olhou para nossa filha. — E um e-mail de Spencer. — Disse com sorriso
triste. Cattleya sentou-se ao meu lado.
— Sobre? — Perguntou.
— Ele está dizendo que gostaria de fazer o casamento dele aqui. —
Disse Pétala. Eu vi como minha mulher estava sentindo a dor de nossa filha
pela sua voz tremula.
— Ele gosta muito deste lugar, normal que ele queira dar esse passo
aqui. — disse minha filha. — Por mim, tudo bem. — Completou triste.
— Eu vou responder ao e-mail. — Disse minha esposa. Ela digitou tão
rápido que fiquei com dó das teclas do computador. Cattleya também notou o
nervosismo de sua mãe, mas não falou nada. Ela terminou e se juntou a nós,
nos abraçamos os três e não dissemos nada sobre o assunto. Não precisou de
palavras, nossa filha se deu conta de que nós já sabíamos o que estava
acontecendo com ela.
— Continue a leitura, por favor, papai. Eu preciso de uma distração
agora. — Sorriu ao falar, mas não foi agradável de ver dessa vez.
— Com prazer minha filha, eu amo você.
— Eu também te amo, papai.
Capítulo nove

pés e o beijou em seu rosto.


P étala aproximou-se de
Dexter e fez o seu ritual,
ela levantou-se nos seus

— O que está fazendo para o nosso almoço, Lenhador? — Perguntou afastando


e sentando à mesa.
— Eu não vou revelar até que você experimente. — Sorriu ele.
— Você sim é um menino mal. — disse ela. — E um bom amigo,
Dexter Sawyer. — Ele odiou ouvir a palavra “amigo”, mas, fingiu muito bem
seu sentimento.
— Você também é uma boa amiga. Como passou a noite? — Ele levou
a conversa para outro lado.
— Trabalhei até às três da madrugada.
— Nossa, deve estar exausta.
— Não mais, eu estava até entrar por esta porta. — Isso ele gostou de
ouvir e sorriu. Ela sentia-se em casa e foi como uma graça concedida para ele.
Dexter fez toda a comida calmamente, quanto mais tempo demorasse,
mais ele tinha sua companhia. Era impressionante como eles eram
compatíveis. Eles esqueceram o tempo lá fora conversando como se fossem
realmente amigos de uma vida inteira. Mas não era isso o que qualquer outra
pessoa do lado de fora podia observar, eles tinham cumplicidade, química ou
pode-se dizer, muita intimidade. Cada olhar de Dexter para Pétala tinha um
significado, e quando ela o olhava de volta, respondia aquilo que ele havia
passado. Eles conversavam com os olhos, diziam coisas que a boca não tinha
coragem ou não era o momento certo. Talvez até não sabiam como dizer o que
tinham em seus corações. Medo de uma rejeição da parte dele, ela por não
saber o que o seu instinto lhe dizia para fazer, mas ambos sabiam que algo
especial estava acontecendo, estavam assustados, mas juntos ao mesmo tempo,
tentando apoiar um ao outro sem deixar-se perceber. Quando o almoço ficou
pronto, comeram deliciando-se e sorrindo interminavelmente. Depois Dexter
fez chá de cascas secas de laranja com hortelã e foram tomar sentados de
frente para a lareira. Parecia um casal feliz, a única diferença era que eles não
se tocavam ou se beijavam. Mas estava ali para eles tocarem no amor
palpável entre duas almas perdidas, por não saberem como agir.
O dia passou e para a infelicidade dele logo caiu a noite. Pétala foi
embora deixando a cabana solitária, sem o seu sorriso encantador e piadas
sem sentindo. Ele foi para o quarto e a única coisa que o deixou feliz, era
saber que ela voltaria no dia seguinte.
E o dia seguinte chegou. E ela voltou. Passaram momentos incríveis de
longas conversas, ele puxando mais a língua dela do que ela conseguia fazer
com ele. Dexter ensinou algumas coisas sobre ervas medicinais que tinha
plantadas no quintal, mostrou-lhes também as orquídeas de Cattleya, que era
uma das mais belas lembranças de sua mãe. Contou algumas coisas inocentes
da vida de Honddra, porém, não se sentia confortável em dividir as lágrimas
derramadas diariamente por ela.
O dia passou, a noite chegou, e ela mais uma vez o deixou sozinho.
Dexter já estava sentindo o amargo sabor do final dos dez dias. Pétala iria
embora e demoraria a voltar. Pensar nisso quase o fez vomitar. Cinco dias se
passaram e ela o visitara todos eles. Até o sexto dia chegar.
Era uma época de muito sol, mas a chuva e vento frio insistiam em
permanecerem em seu lugar. Dexter acordou e pensou em sair para correr e
quando olhou pela janela de seu quarto, ele desistiu.
— O que está acontecendo? — falou em voz alta. — Se essa chuva
continuar, Pétala não virá, droga! — Disse com raiva. Ele escolheu um bom
jeans e uma camisa branca, colocou seus confortáveis chinelos nos pés e foi
para a cozinha. Organizou o que estava fora do lugar e quando olhou o velho
relógio de seu pai, já era nove horas da manhã. Ele tomou café e logo depois
esperou por Pétala sentado no sofá, com uma xícara de chá na mão e um livro
em outra. Estava mergulhado em seu mundo literário quando foi despertado
pelo barulho da porta de carro batendo lá fora.
“Ela veio? E nesse temporal? Pobre do motorista que ficará dentro do carro.” —
Pensou e sorriu.
Dexter levantou-se rápido e abriu a porta para uma Pétala coberta com
um grande casaco de plástico para chuva.
— Você veio. — Disse ele. Ela entrou molhando todo o tapete.
— Eu não podia deixar de vir. — disse tirando o casaco e o entregou e
ele o pendurou no porta-casacos. — Que chuva estranha. — Disse ela
assoprando os dedos frios.
— Venha, aproxime-se da lareira. — Disse levando-a e sentindo seu
corpo tremer ao tocá-la nas costas.
— Obrigada.
— Eu vou pegar um chá para você. — Dexter foi até a cozinha e
colocou um pouco de chá na caneca e logo estava de volta ao seu lado.
— Obrigada. — Pétala tomou o chá de olhos fechados. —
Maravilhoso.
— Sim. Eu realmente pensei que você não viria hoje. — Disse ele e
sentaram-se um ao lado do outro no sofá.
— Você não me conhece, Lenhador. — Ela sorriu. Pétala contou como
estava seu irmão e sua mãe. Ela disse que precisava de coragem para ir vê-
los, tinha para muitas coisas na vida, mas para isso ela era covarde. Fazia
anos que ela os trancara na fazenda e mesmo depois de todo esse tempo, eles
precisavam de tratamento.
— Eu tenho medo de vê-los. — Disse ela olhando para as chamas do
fogo na lareira.
— Eu posso acompanhá-la se você quiser. — Pétala o olhou com
sorriso nos lábios.
— Você faria isso por mim? — Perguntou.
— Eu faria qualquer coisa por você, Pétala. — Ela puxou o ar para os
pulmões sem saber o que responder. Mas logo foram despertos por um barulho
estrondoso dentro da casa.
— Meu Deus! — Gritou assustada. Eles olharam para a cozinha e
viram um grande galho de árvore atravessado na janela de vidro.
— De onde veio isso? — falou Dexter ao se levantar. Eles correram
até a cozinha, a chuva estava muito forte e começou a molhar todo o lugar. —
Eu vou lá fora tirar isso, você fica aqui, cuidado com os cacos de vidro. —
Disse ele. Dexter abriu a porta e saiu para a forte chuva. Pétala o viu do lado
de dentro e quando ele começou a puxar o grosso galho ela o ajudou
empurrando-o para fora. Ela ficou toda molhada da chuva que invadia a
cozinha e cuidou para não se machucar nos cacos de vidro pelo chão. Eles
conseguiram tirar o galho pesado da janela e Dexter entrou novamente
completamente molhado da chuva.
— Eu vou pegar um plástico. — ele abriu o armário debaixo da pia e
pegou plásticos pretos de sacos de lixo e uma fita adesiva que sempre
mantinha ali para qualquer emergência. A chuva entrava forte pela janela e
parecia até que não queria ficar lá fora. — Você pode me ajudar? — Perguntou
ele.
— Claro Dexter, o que quer que eu faça?
— Segure isso e me dê em pedaços quando eu pedir. — disse e
entregou a fita para ela. Dexter cortou o plástico e se aproximou da janela,
lutou um pouco contra o vento mas conseguiu manter o plástico. — Um pedaço
grande, por favor. — pediu. Pétala tirou e rasgou com os dentes, fez isso até
Dexter passar por todo o portal da janela. — Vou pegar um pano, pregos e
martelo. Só o plástico não vai segurar o vento. — então ele fez. Pegou um
pedaço de pano grande e pregou na janela a marteladas. — Pronto, espero não
ter mais surpresas. Preciso cortar essa árvore aí do lado, ela já me deu alguns
sustos assim antes.
— Sim. — sorriu ela. — Você está todo molhado. — Disse olhando-o.
— Você também. — Disse ele.
— Não, eu estou bem. Você é que precisa se trocar rápido ou vai ficar
doente. — Disse Pétala.
— Eu vou, volto em um minuto. — Disse ele olhando para o próprio
corpo encharcado de água. Ele seguiu em direção à escada e tirou a camisa
grudada em seu tronco forte. Suas pernas ficaram como concreto de tão
pesadas para dar o próximo passo, ao ouvir o horror na voz de Pétala.
— Oh! Meu Deus! O que aconteceu com você? — Dexter era tão
acostumado as suas cicatrizes nas costas e a estar sozinho em casa, que
esqueceu que somente ele sabia que elas existiam em seu corpo. Ele nunca
tirava as roupas da parte de cima perto de alguém, nem mesmo as mulheres em
que já mantivera algum tipo de relação. — Dexter, o que é isso? — Perguntou
com a voz trêmula na garganta. Ele que estava de costas para ela, ouviu seus
passos lentos aproximando-se. De repente, sentiu os dedos de Pétala
percorrerem em cada cicatriz.
— Eu tinha um pai alcoólatra e muito agressivo para comigo e minha
mãe. — Dexter estava com seus olhos fechados, tenso sentindo os dedos
passarem por suas costas.
— Eu sinto muito. — disse ela encostando o rosto em seu corpo. —
Sinto muito.
— Já faz muitos anos e também já o perdoei. — Pétala o abraçou por
trás, e Dexter sentiu seu corpo que antes estava frio por causa da chuva,
aquecer como brasas vivas em suas veias.
— É por isso que você me entende, Dexter. — ela o beijou nas costas.
— É por isso que me sinto tão próxima de você. — mais um beijo e ele podia
sentir seus lábios quentes entreabertos em sua pele. — Nós compartilhamos do
mesmo sofrimento. — Mais um beijo e dessa vez, ele sentiu a língua encostar
em sua pele. Ele gemeu.

— Eu não vou continuar. — Falei interrompendo a leitura.


— Por que pai? — Cattleya perguntou decepcionada.
— Porque isso não é nada bom para um pai ler para a própria filha.
— Vai te deixar mais tranquilo se eu te disser que já sei o que
aconteceu? E tudo o que você sentiu? Como seu corpo reagiu?
— PARE CATTLEYA, ISSO É DOENTIO. — Ela realmente me
deixou com raiva.
— Desculpa. — Sussurrou. Pétala me olhou assustada. “Droga” Aquele
dia fora tão sofrido para mim e minha mulher, que não gosto de me lembrar
como fiquei depois do que aconteceu. Isso me faz ficar com a raiva viva
passando dentro do meu corpo.
— Eu que peço desculpas, querida. Não devia ter gritado, eu nunca
faço isso.
— Eu sei papai. Só queria que soubesse que, eu já sei o que vem
depois disso. — Ela sorriu, a maliciosa.
— Garota insolente. — falou Pétala sorrindo também. — Continue
amor, ou essa menina não vai calar a boca.
— Isso mesmo pai, continue.
— Merda. — Resmunguei e continuei.

Pétala escorregou suas mãos subindo e descendo de seu peito. Ele


fechou as mãos em punho segurando-se o máximo que podia. Então, mais um
beijo de lábios abertos, língua roçando em sua pele que agora estava
fumegando. Ele perdeu o controle. Dexter se virou tão rápido, que Pétala não
pode pensar em nada. Ele a pegou no colo colocando-a de pernas abertas em
seu quadril e a levou para a parede sentindo o calor de sua respiração.
Ela ficou presa entre a madeira e seu corpo, seus olhos estavam
profundamente confusos e sedentos. Ele gemeu em seu ouvido segurando firme
em sua linda e arredondada bunda farta e dura. Dexter lambeu todo seu
pescoço até o maxilar. Sentiu o pulsar das veias de Pétala em sua língua,
beijou-a passando a boca quente em cada pedaço de pele descoberta. Ela
apoiava-se em seus ombros e segurou forte em seus cabelos. Ele sentiu o
quanto ela também o desejava, sentiu todo o tremor saindo de dentro dela, o
desejo de tê-lo assim há muito tempo. Dexter nunca amou ninguém antes, mas
sabia ler muito bem o corpo de uma mulher e o que Pétala estava sentindo, era
o mesmo que ele sentia por ela.
— Dexter. — ela sussurrou e com as duas mãos ele puxou forte a sua
blusa fazendo todos os botões voarem pela sala. — Dexter. — sussurrou mais
uma vez. E ele sentiu o quão quente sua pele estava passando as mãos por todo
seu corpo. Dexter não esperou mais um segundo, ele precisava sentir o sabor
de seus lábios, o que desejava há muito tempo. Ele segurou o rosto de Pétala
com as duas mãos, e olhou em seus olhos, ela estava embriagada de desejo.
— Eu vou beijá-la. — disse e fez. Ele devorou seus lábios e gemeu
forte dentro de sua boca. Ele buscou sua língua atrevida, a língua que o deixou
insano ao encostar-se a sua pele, e chupou. Gemeu sentindo o sabor dela.
Sonhou com isso por várias noites seguidas, desejou tê-la em seus braços
como estava agora, ele ficou apavorado ao se dar conta de que não a queria
longe. Ele queria ser dela, e desejava que ela fosse dele pela eternidade.
— Dexter, não. — ela conseguiu dizer, mesmo depois de tanto esforço
para se afastar um pouco. — Por favor, pare agora. — disse Pétala entre seus
lábios. Ele parou imediatamente. Afastou-se e olhou para os olhos alarmados
dela. — Eu não posso. — Disse ela com dificuldade.
— Por quê? — Quis saber. Ela fechou os olhos e quando os abriu
novamente, estavam tristes.
— Eu... Eu... Eu tenho um noivo, Dexter. Vou me casar muito em breve.
— Disse ela destruindo o seu mundo.
— O quê? Você o quê? — Ele a deixou no chão devagar e se afastou o
mais longe que conseguiu.
— Eu tenho um casamento marcado. — Pétala ficou em pé, encostada
na parede tentando se equilibrar. Fechou a roupa e abraçou-se ao seu corpo,
envergonhada. Abaixou a cabeça e fechou os olhos. — Eu sinto muito. —
Disse ela.
— Sente muito? — disse ele sussurrando. — Olhe para mim, Pétala,
bem dentro dos meus olhos. — ela respirou fundo, levantou a cabeça e o
encarou triste. — Sente muito? É isso o que tem para me dizer? — Perguntou
ele ainda sussurrando.
— O que mais eu posso dizer? — Falou em lágrimas.
— Você estragou o meu mundo quando a encontrei na mata. Desde
então, eu só penso em você. Conto cada segundo a esperando entrar por esta
porta e você diz, sinto muito? — disse ele, e viu as lágrimas escorrerem pelo
seu rosto perfeito. — Não somos crianças e não é porque eu moro aqui
isolado que sou um idiota. — disse tomando fôlego. — Você é linda, a mais
perfeita mulher que já conheci. E eu vejo como você me olha e me deseja.
Você veio aqui todos esses malditos dias, para me dizer que pertence a outro
homem? Sabendo que o que mais desejo desde a primeira vez é tê-la em meus
braços?
— Dexter. — ela soluçou. — Eu devia ter falado, eu sei.
— Você não devia alimentar o meu desejo em tê-la, em amá-la, Pétala.
Porque é isso, eu estou completamente apaixonado por você. Eu posso dizer
com todas as letras e sentimentos que tenho aqui dentro. Eu amo você, Pétala.
— Oh! Dexter. — Ela arrastou-se para o chão abraçada ao seu corpo
com força. Parecia sentir dor insuportável demais para tamanha delicadeza
que era ela. — Pare de falar, por favor.
— Parar de falar? — ele olhou para ela sem entender. — O que você
pretende fazer sobre isso? — perguntou. — Não, pergunta errada. O que você
sente por mim? Porque eu sei que sente algo, sou homem com sangue nas veias
e não um animal irracional.
— Eu não posso. — Gritou ela chorando.
— Não foi isso que perguntei.
— Eu sei. — Disse ela.
— Você ama esse homem a quem diz ser noiva? — Dexter queria saber
por mais que fosse insuportável. Ela ficou em silêncio. — Eu perguntei, você
ama esse homem, Pétala? — Ela levantou e secou as lágrimas, e o olhou.
— Eu sinto muito, Dexter. Mas só podemos ser amigos. — Disse
tentando uma frieza que ela não conseguia manter por mais tempo.
— Amigos? Só amigos? — disse ele incrédulo. — Se você falar para
mim que jamais pensou em ficar por dias dentro desta cabana em meus braços,
que jamais sentiu um pouco de sentimento que fosse diferente de amor por
mim, eu iria respeitar isso e seria somente seu amigo. Você pode dizer isso?
Você não compartilha do mesmo sentimento? — perguntou ele. Pétala ficou
calada. — Então não, Pétala, eu não posso ser seu amigo. Eu amo você, mas,
por favor, vai embora agora e não volte mais aqui. Porque sei que se você
voltar, mesmo gostando de mim, você não vai ser minha. Eu prefiro esquecê-la
a ter somente migalhas de sua companhia. Não volte Pétala, eu entendo, seja
feliz em seu mundo de possibilidades a qual aqui dentro do meu Forte, eu não
posso proporcionar-lhe nada.
Dexter subiu a escada correndo a deixando sem reação. Por alguns
minutos ele pensou que ela voltaria atrás, mas não fez. Ele a viu partir, na
chuva, da janela de seu quarto. Ela não olhou para trás. Somente entrou no
carro e foi embora.
Capítulo dez

E u parei de ler. O que


ouvi fez o meu coração
apertar e ficar tão
pequeno, que pensei por um momento que eu estava morrendo. Olhei para
minha linda mulher, ela estava chorando. Mas não um choro normal. Ela sentiu
toda a dor daquele dia novamente.
— Pétala. — eu a chamei e ela me olhou e sorriu triste. — Desculpe-
me amor.
— Não é culpa sua, querido. É que eu sinto tudo profundamente
daquele dia. É como se eu pudesse tocar a dor, ela está aqui agora, sólida.
— Eu imagino o que você sentiu. — disse Cattleya. — É como se
enfiasse um braço pela sua garganta até chegar ao coração, então, arrancasse
ele à força de dentro do seu corpo. Você fica sem ar, procura ajuda e não
encontra. É como se você conseguisse viver sem um coração pulsando, mas, o
que pulsa e a mantém viva é a dor, não mais o coração. — Olhei nos olhos de
Cattleya, ela estava chorando e olhando para o fogo na lareira e sentindo a
falta de ar que acabara de descrever. Minha filha estava sofrendo e não é só
um sofrimento banal de adolescente que vai passar daqui a três dias ou, até
conhecer outro garoto. Ela está sofrendo por amor e isso é real, eu vejo.
— Foi exatamente assim que me senti, filha. — disse Pétala. Cattleya
olhou para a mãe secando as lágrimas em seu rosto. — Mas também foi uma
coisa boa a que seu pai fez. Ele me mostrou o homem forte que é e com seus
ideais formados. Ele também me fez entender que existe sempre dois
caminhos, eu precisei pensar e decidir qual caminho seguir, e o agradeço por
ter feito como fez.
— Graças a Deus, mãe. — Disse ela sorrindo.
— Sim, graças a Deus.
— Você fez o caminho certo, voltou e lutou por aquilo que a deixava
feliz.
— Você também pode fazê-lo, Cattleya. — Falei. Não consegui manter
minha boca fechada. Ela me olhou com espanto e não disse nada. Pétala teve
que tomar a frente do momento inoportuno.
— Vocês viram que já é muito tarde? — Perguntou minha esposa.
— Sim, eu vejo. O que vocês querem fazer? — Perguntei.
— Eu não estou com sono e sim com fome. — Disse Cattleya.
— Mas disso nós já tínhamos certeza. — Brincou Pétala.
— Ainda tem sopa, vamos comer e papai podia continuar a ler, o que
acham?
— Mas o que vem agora, eu não vou ler para você, mocinha. — Falei
com uma sobrancelha erguida para a malandrinha.
— Não?
— Não Cattleya, você já conhece essa história e sabe que não leio isso
para você.
— Eu sei, mas é injusto. — Disse ela.
— Não é não, é o certo. Como vou ler para você a primeira vez que fiz
amor com sua mãe? Está louca? — Falei.
— Eu mesma vou fazer essa parte no meu livro. — Disse.
— Eca filha. — Gritou Pétala.
— Sim mamãe, eu estou pensando em escrever um romance e não um
livro autobiográfico. Preciso colocar também a minha identidade nele, e o meu
casal, eu vou trocar os nomes e farei sim, a primeira noite de amor deles.
— Espero que você pense em um casal avatar que não seja nós, garota
perturbada. — Disse minha mulher sorrindo.
— Confie em mim mamãe, você irá se surpreender.
— Quero só ver no que vai virar isso. — falei. — Vamos comer e
depois escolho de onde continuar.
Levantamos e fomos para a cozinha, aquecemos a sopa e comemos
sentados à mesa, nossa filha estava triste, mas não queria demonstrar. Eu pude
sentir pelo sorriso que já não era o mesmo, pude ver pelos olhos que estavam
distantes e seus pensamentos vagando onde ela não estava querendo ficar, mas
eles sempre a levavam para lá. Eu também percebi os olhares de Pétala para
mim entre uma colherada e outra de sopa. Ela estava tramando alguma coisa
para nós esta noite. Já era tarde e depois que terminamos de comer, Cattleya
não resistiu ao sono e dormiu no sofá enquanto Pétala e eu organizávamos a
cozinha.
— Vou levá-la para o quarto. — Eu peguei minha linda filha no colo e
a levei para seu quarto, coloquei em sua cama e também a cobri com mantas
quentes para ela dormir confortável e aquecida. “Linda como a mãe” — Pensei.
Fechei a porta e voltei para a sala. Pétala estava sentada no sofá com os pés
apoiados no acento fazendo os movimentos de abrir e fechar as pernas, isso
deu-me uma visão quente, muito quente por sinal.
— Oi Lenhador. — Disse com a voz rouca que amo.
— Você está com cara de menina má. — Falei.
— Eu sou uma menina má.
— Eu vejo. O que você pretende fazer? — Sentei-me no sofá à sua
frente. Ela pegou os dois diários, o meu e o lindamente decorado com capa
rosa, que era o dela.
— Eu gostaria de saber como foi a nossa primeira vez. — Disse
passando a língua nos dentes.
— E por que os diários?
— Para decidirmos quem irá ler, se sou eu ou você, Lenhador. —
Disse sorrindo.
— Você é uma menina levada. — Falei sorrindo também.
— Eu vou ler. — Disse ela. Pétala ficou sentada confortavelmente no
sofá com suas lembranças vagando pela nossa sala, ela parou de sorrir.
— O que foi amor? — Perguntei.
— Eu sinto aquela dor toda vez que leio esse diário, eu não gosto
desses dias que passei sem você. — Disse ela.
— Você não precisa fazer então, vamos passar para a prática e deixar
essa leitura de lado. — Falei. Pétala olhou para meu corpo fazendo minha pele
arder. Então, eu fiz o que a deixa queimando também. Devagar, segurei meu
membro duro por cima do moletom deixando o desenho dele nítido para ela
vê-lo bem.
— Você é um menino mal, Lenhador. — Ela respirou fundo e pude ver
seu peito subir e descer em demasiada rapidez.
— E você nem sabe como pretendo usar essa maldade com você, amor.
— Falei.
— Eu posso ver o tamanho da maldade. — Disse olhando para meu
membro. Eu o apertei e gemi com o prazer que senti. Ela piscou várias vezes
puxando o ar que lhe faltava.
— É grande? — Perguntei e coloquei a mão por dentro da calça
trazendo-o para fora o que a faz tremer gozando como louca. Mas sou um
menino mal então, deixei somente a cabeça rosada, grande e grossa para o
lado de fora e sua apreciação.
— É maldosamente grande. Dolorosamente gigante. Estupidamente
grosso. — Disse apertando as pernas uma na outra. Eu parei de mexer nele e o
guardei dentro da calça.
— Pode começar a ler, amor. — Sorri. Ela me olhou com olhos quase
fechando de raiva.
— Isso vai ter volta, Lenhador. — Pétala se recompôs, abriu o seu
diário, e começou a ler.
O diário de Pétala

Q
uando você conhece um homem lindo, alto, cabelos
castanho bem claro chegando quase ao loiro, olhos
verdes, forte, e sabe bem no fundo do seu coração
que ele é o homem da sua vida, o que você faz?
Você, eu não sei. Mas eu sei e fiz.
Eu acordei na cabana de Dexter Sawyer. Acampei por dois dias
fugindo da minha responsabilidade de visitar minha mãe e meu irmão. No
terceiro dia, eu resolvi enfrentar os meus medos e levantei acampamento.
Gosto de fazer escaladas e em uma dessas; escorreguei e cai me machucando
feio. Consegui me arrastar por dentro da vasta plantação de pinheiros até que a
dor foi mais forte, e a chuva e o frio também não me ajudaram em nada.
Acomodei-me no primeiro tronco de árvore grande que vi e não me lembro de
mais nada depois disso.
Dexter assustou o inferno dentro de mim. Acordar na casa de um
homem e descobrir que ele vive sozinho é no mínimo amedrontador. Mas
somente pelos primeiros cinco minutos, se esse homem for o meu lenhador.
Começamos a conversar e gostei do que senti, então eu fiquei bem para o que
estava acontecendo, aliás, eu gostei de estar como estava, em sua casa,
olhando para ele, o vendo como ele era lindo e manso. Passei tempo suficiente
gravando em minha memória cada detalhe de seu rosto. Ele é
devastadoramente bonito.
Mas... A minha vida era longe dali e eu tinha uma situação complicada
com minha família, e uma quantia obscena de dinheiro para tomar conta.
Então, ver os detalhes de Dexter e gravá-los, era só o que eu tinha a fazer. Foi
uma paixão à primeira vista, ou amor, ou loucura, eu não sei, mas odiei que o
dia amanheceu e eu precisei ir embora. Com gesso no pé e receita de remédios
na mão, Dexter me deixou em meu hotel. Sou dona de uma rede de hotéis sete
estrelas. Hotéis Walmortt, império construído pelo meu saudoso pai.
Ao entrar pelas grandes portas de vidro, entrei somente com meu
corpo, porque meu coração foi levado por ele. Perguntei-me inúmeras vezes
se era normal amar uma pessoa somente em olhar para ela ou se eu estava
ficando louca mesmo. Nunca obtive respostas sábias, eu não seria capaz disso.
Já na minha monstruosa e luxuosa suíte, fechei a porta e chorei sem nenhum
sentido. Sem saber o porquê fiquei assim com o coração pequeno como se meu
mundo já não estivesse em órbita, meus sonhos já não pertencessem somente a
mim e sim, a nós. Nós quem? Perguntei-me. Sem resposta.
Tomei um banho e fiz de tudo para não molhar o gesso e depois de
pronta, vesti uma roupa com o valor que daria para sustentar uma família por
cinco anos, pais e três filhos. E pensar que em pouco tempo, eu me senti
completa em um lugar que não tinha eletricidade, o fogão era a lenha, e a casa
era de madeira. E aqui, onde estou regada a dinheiro, jamais me senti
pertencer somente a esse tipo de lugar, de vida, de mundo. Com isso em mente,
fui para a sala de reunião, onde com certeza, meus funcionários estariam
loucos sem saber o que podiam ou não fazer sem minhas ordens. Mesmo com
todo trabalho acumulado e videoconferências importantes, negócios a serem
resolvidos, ele não saiu da minha cabeça. Ele não saiu por muito tempo
depois, até o dia em que me vi presa entre a parede e seus braços.
Foram dias muito difíceis e eu não consegui deixar a cidade e ir para
outro hotel, resolvi tudo dali mesmo. Até que Bart chegou de viagem, ele
estava na Europa. E ao invés de dias difíceis, passaram a ser insuportáveis.
— Você está diferente, aconteceu alguma coisa, amor? — Perguntou
Bart.
— Não, por que pensa isso? — Falei e continuei digitando no
computador.
— Você está distante. Parece que nunca está onde está. — Levantei
meus olhos dando-o total atenção. Ele é um homem bonito, inteligente, rico e
astuto. Mas nunca com uma índole, caráter ou respeito como Dexter Sawyer.
— Eu estou, onde estou, Bart. — Falei.
— Você não conheceu ninguém, não é? — disse dando a volta em
minha mesa. — Ainda está intacta para a nossa noite de núpcias, não é mesmo
querida? — Bart ficou próximo o suficiente para eu sentir o seu cheiro e
querer vomitar.
— Eu não gosto quando você fala assim. — Rosnei.
— Não me importo querida, só exijo que minha futura esposa seja
virgem. — Ele andou até o bar e servir-se de uma bebida. Eu não consegui
falar mais nada.
Bart é filho de um grande amigo de meu pai, eles me ajudaram muito
quando meu irmão e minha mãe desapareceram. Ninguém sabe sobre essa
história e sendo assim eu recebi todo o apoio deles. Bart é um multimilionário
que não precisa do meu dinheiro, seu único objetivo é me ter como esposa,
tornar-me sua mulher troféu. A que deseja ser o primeiro e se vangloriar para
os amigos dizendo que me fez sangrar em seus lençóis. E também, a única que
ele não usará preservativos. Ficamos noivos por insistência dele, mas não
quero esse casamento, no entanto, sou uma mulher monogâmica e leal, se dei
minha palavra que vou me casar, então, eu vou me casar.
Bart viajou novamente a negócios e com isso, eu fiquei livre por um
tempo. Visitei Dexter e foi um dia perfeito, mas quando deixei a cabana, eu
chorei mil mortes. E mais dias se passaram até o dia da dor mais profunda que
senti no mundo. Ver as cicatrizes em suas costas foi um choque e ouvir o que
ele me falou, me fez entender o quão fodidos éramos. E sentir como ele era
quente, não me fez ter dias sem desejá-lo. Quando ele me mandou ir embora de
sua casa, ele também mandou ir embora a minha covardia.
Entendi que meu casamento com Bart era trágico. Entendi que se eu
não enfrentasse minha família drogada, ninguém o faria por mim. Então eu fiz.
Terminei o meu trágico noivado com Bart. Ele ficou furioso. Inventei que o
traí, me apaixonei e me entreguei ao homem que ganhou meu coração e só aí
ele aceitou, deu-me um beijo no rosto e disse: Tudo bem querida, sairei a procura de
virgens, não é fácil nos dias de hoje, mas verei o que posso fazer. E saiu. Lamentável
homem tão pequeno, lixo. Nunca entendi porque era tão importante ele se
casar com uma virgem, pensei que seria por uma tradição até, sua mãe era
quando se casou com seu pai. Nunca fora apenas para ter uma mulher troféu,
sei que tem mais por trás dessa obsessão, mas agora, isso já não me diz nada,
somente que já estou livre para ser quem eu desejo ser. Eu fiquei olhando para
o sol acordar lá fora. Decidi que mesmo com Dexter magoado e ter me
expulsado de sua vida, eu precisava falar com ele e dizer que jamais amei o
meu ex-noivo e que agora livre, eu poderia ser dele. E o único a qual eu
pertencia desde o dia em que me salvou.
Tomei café da manhã e revisei alguns documentos e os enviei via e-
mails, logo, resolvi tudo o que precisava. Até me assustar quando olhei no
relógio.
— Droga! 10h30min da manhã. Apresse-se Pétala Mackay. — Falei
para mim mesma. Tomei um banho rápido e me vesti, olhei a meteorologia na
internet e o tempo estava de sol o dia todo, ótimo para a roupa que escolhi.
Dexter era um homem simples, não eram roupas e joias que o conquistariam e
sim, a verdade de uma pessoa. Eu só precisava ser eu, verdadeiramente para
ele. Saí do quarto com meu corpo em chamas e a expectativa de sua reação me
fez ter medo, mas iria enfrentá-lo e fazê-lo enxergar que eu estava entregue.
— Vai sair Srta. Mackay? Quer que chame Thomas? — Perguntou o
rapaz da recepção cujo nome Martin, estava gravado em seu uniforme.
— Não, hoje irei sozinha. — Entrei no meu carro e segui tomando a
direção da cabana. Fiz todo o caminho tremendo e a cada milha que me
aproximava de sua casa, meu corpo sentia o seu corpo prender-me contra a
parede. Seus lábios passando no meu pescoço e seu beijo fortemente
possessivo, deu-me um bom entendimento de como era o homem que eu estava
indo encontrar.
— Concentre-se Pétala, é você quem está dirigindo hoje. — Quando vi
a curva que dava diretamente na cabana senti meu coração quase sair pela
boca. Estacionei o carro e saí antes que a coragem me faltasse. Olhei para a
porta, respirei fundo e bati chamando-o.
— Dexter. — esperei e não ouvi nada. — Dexter. — silêncio. —
Empurrei-a e entrei. Olhei para todos os lados e ele não estava, subi a escada
e entrei em seu quarto. Cama arrumada, roupas dobradas e nada dele. Até
ouvir de longe um barulho, olhei pela janela e abri um pouco as cortinas. “É
ele” — Pensei. “Está cortando alguma coisa” Desci a escada correndo e fui para
fora da cabana, prestei atenção e segui o barulho vindo da mata. Tirei os meus
saltos e segui o eco do som o mais rápido que consegui e quando eu o avistei,
o medo também me dominou. Parei, e não consegui dar mais um passo à frente.
Eu o vi, lindo, com calça jeans e sem camisa cortando lenha com machado e
amontoando na carroceria da velha caminhonete. Obriguei-me a dar um passo
à frente e pisei em um galho seco que fez um barulho alertando-o. Quando
virou-se para ver o que era, eu me escondi atrás do primeiro pinheiro que eu
estava perto.
— Por que, Pétala? Por quê? — Sussurrei. Ele continuou o trabalho
com o machado dando atenção a lenha sendo cortada com força. Pelo barulho
dos golpes e urros que saiam de sua boca, Dexter estava com raiva. Fechei
meus olhos e respirei fundo, senti entrar em meus pulmões o cheiro limpo do
ar não poluído, o cantar dos pássaros eu também ouvi, e sorri ao entendê-lo
por viver ali sozinho em companhia somente do silêncio e de sua hombridade.
Tomei coragem e abri meus olhos, olhei devagar em sua direção e para ele não
me notar ali, e dei mais um passo à frente como um ladrão à noite,
cuidadosamente. Dois, três, até pisar em outro galho seco e me esconder feito
uma idiota criança medrosa.
— Apareça. Olhe-me nos olhos e diga-me o que quer. Posso ver que
você se esconde. — Disse ele em voz alta. “Ele sabe que é você, Pétala” — Pensei.
Eu saí de trás da árvore e o encarei. Não consegui segurar os meus sapatos e
os deixei caírem no chão. Ele não deixou os meus olhos um só segundo.
— O que faz aqui, Pétala? — Perguntou.
— Eu... Eu preciso falar com você. — Falei em sussurro.

— Espere amor. — Interrompi a leitura de minha linda mulher. Ela me


olhou sem entender. Eu apontei disfarçadamente para cima, eu sabia que
Cattleya estava ouvindo e o que vinha depois disso, não poderia permitir que
ela ouvisse.
— Você está com sono, Dexter? — Perguntou ela.
— Sim, você não?
— Também, vamos dormir, amanhã eu continuo lendo para você. —
sorriu. Ouvimos os passos apressados de nossa filha tentando não chamar
nossa atenção. — Eu não tinha percebido. — Sussurrou ela.
— Eu tinha. Vamos para o quarto. — Chamei.
— Podemos continuar lá?
— Sim.
— Então leve o seu diário e conte-me a sua versão. — Ela sorriu.
— Tudo bem.
— E leia como faz para Cattleya, eu achei mais interessante também.
Uma história narrada parece que os detalhes são melhores descritos. — Disse
ela.
— Tudo por você, amor. — Respondi e peguei o meu diário. Fomos
para nosso quarto e trancamos a porta com a chave.
Capítulo onze

porta, mas não, ela não fez isso.


— Como ela é curiosa. — falei para minha esposa.
F icamos em silêncio
para observar

— Desde criança. Lembra quando ela tinha cinco anos e entrou no


se
ouvíamos ela atrás da

quarto sem bater na porta, e te viu nu, você tinha acabado de sair do banho e
estava se secando. — ela começou a rir baixo. — Ela perguntou: Isso é bicho
papai? — Pétala abafou as gargalhadas no meu peito. Lembrar daquela cena
com minha filha me deixou com vergonha.
— Nem me fale, eu pulei na cama e me cobri, gritei por você
desesperado como se ela tivesse caído e se machucado gravemente.
— Sim, como um menino assustado.
— Foi mesmo. — Ela parou de rir e me abraçou. Já estávamos
deitados e peguei o diário novamente. — Quer que eu continue?
— Sim, por favor. — Disse ela.

Foram dias difíceis para Dexter e ele se lembrou muito de sua mãe e
de seus ensinamentos. “Dexter, nunca fique entre um homem e uma mulher. O amor que for
para ser seu, vai tê-lo sem esforço algum. Ele virá até você filho, eu garanto” Ele nunca
ficaria entre Pétala e seu noivo. Afinal, ela não respondeu que não o amava.
Dias se passaram e ele tinha pedidos a serem entregues e logo que o
sol estava lindo no céu ao amanhecer, ele estava na mata trabalhando duro.
Não contratou mais homens, ele precisava do silêncio só para ele. O sol
estava bom, o vento trazia-lhe o cheiro das flores enquanto trabalhou com seu
machado. Logo tirou a camisa pois começou a ficar quente e o suor escorrer
por seu corpo e rapidamente continuando o seu árduo trabalho braçal. Por
algum tempo, a força que ele colocou no machado era também toda sua raiva
saindo junto. A cada pedaço cortado ele revivia em sua memória as palavras
proferidas entre ele e Pétala naquele dia. Suas mãos ainda podiam senti-las em
sua pele, nas costas, os gemidos que perfuravam seus ouvidos, o sabor de seus
lábios, tudo estava vivo ali e ele tentava tirar com a brutalidade do corte na
pobre madeira sem culpa.
Ele estava distraído, destruindo o mundo em machadadas quando ouviu
um barulho que lhe chamou atenção. Parou, olhou para onde achou tê-lo
ouvido e pôde vê-la se esconder detrás de uma árvore. Não disse nada,
conteve a sua raiva e continuou o trabalho. Logo o barulho foi mais perto,
respirou fundo e virou-se para vê-la. Mas a covardia não a deixou se
aproximar e isso o irritou.
— Apareça. Olhe-me nos olhos e diga-me o que quer. Posso ver que
você se esconde. — disse Dexter. Ele a viu sair e o encarar muito
envergonhada que o deixou até com dó quando olhou seus olhos brilhando com
lágrimas presas. — O que faz aqui, Pétala?
— Eu... Eu preciso falar com você. — Disse ela quase em sussurro.
— Acho que você falou tudo aquele dia. Eu não vou ficar no meio
disso. — Dexter viu quando ela começou a tremer.
— Eu nunca pediria isso para você. — Disse ela.
— Diga-me logo o que quer, eu estou ocupado.
— Eu... Eu... — Dexter ficou olhando em seus olhos vendo-a insegura
de suas ações. Ele a viu fechar os olhos, respirar profundamente para se
acalmar e quando os abriu novamente, ele viu a força de uma guerreira neles.
— Eu não o amo. Eu nunca o amei e não vou amá-lo. — Pétala deu alguns
passos à frente e tirou o pequeno casaco deixando-o cair no chão. — Nosso
noivado foi por insistência dele.
— Eu não preciso saber disso. — Disse ele.
— Precisa e vai. — ela mudou o tom de voz e isso fez seu corpo se
aquecer. Pétala tirou uma alça de seu vestido. — Eu quero dizer-te que, eu não
pertenço a ele. — outra alça. — Terminei tudo, não estou mais de casamento
marcado. — ela deixou o vestido cair em seus pés. Dexter olhou para ela e
cambaleou para trás prendendo o gemido dentro de sua garganta. — Eu
também estou apaixonada por você. — ela levou as duas mãos na pequena
calcinha e a empurrou para seus pés. Ele sentiu crescer o seu membro e não
gostou da dor de vê-lo preso dentro da calça. Ganhou força e vida que quase
pulou sozinho para fora de seu zíper. Eu pertenço a você, eu quero pertencer
somente a você, Dexter. — Nua. Pétala estava nua diante de seus olhos e
deixou cair o machado que ainda estava em suas mãos. Olhá-la com a pele
toda arrepiada, com o corpo mais lindo que nem em seus sonhos ele imaginara
ser tão perfeito, o fez gemer. Seus olhos passearam por todo ele com suas
curvas suaves e delicadas a sua frente, ele pode sentir o seu prazer vindo e
quase explodindo para fora dele. O vento bateu nos longos cabelos negros de
Pétala, balançando lentamente deixando a imagem mais perfeita para seus
olhos contemplarem.
— Malditamente linda. — Falou com a voz rouca e quase inexistente
em sua garganta.
— Eu sou sua, Lenhador. Desde o primeiro momento e talvez eu nem
soubesse o que estava acontecendo, mas tudo trouxe-me até você, para que
pertencêssemos um ao outro. — Dexter não conseguiu parar de olhar para ela.
Admirou o quanto seu corpo era perfeito, ombros, seios, colo, ventre, umbigo
e seu sexo nu e olhando-o atentamente sentiu sua boca salivar por seu sabor.
Então, muito rápido ele se aproximou e pode sentir o calor que vinha dela. Ele
segurou os cabelos de sua nuca forçando lentamente a sua cabeça para trás.
— É perigoso o que você está fazendo. Oferecendo-me teu corpo
quando estou tão sedento dele. — Dexter a beijou forte e eles entregaram-se
ao prazer de sentir seus corpos quentes e trêmulos. Os lábios macios da
mulher que ele estava completamente apaixonado estavam mais doces que
outrora a beijara. Sua mão livre explorou cada centímetro dela passando por
suas curvas e quanto mais sentia o calor de sua pele delicada, seu sangue
fervia ardente dentro de suas veias. Ele explorou cada parte sedosa e cheirosa
passando os lábios e a língua descendo por seus seios e ventre. Ele tocava-a
como se fosse a última vez, uma despedida doída onde nunca mais a teria em
seus braços, mesmo sabendo que era somente o início de tudo, de uma vida ao
lado dela e que nunca mais ela iria para longe dele. Seu corpo começou a
formigar desejando que seu prazer jorrasse para fora ao ouvi-la gemer como
cântico em seus ouvidos pelo que estava sentindo, então, virou-a de costas
para ele e beijou todo seu corpo até chegar no mais primoroso bumbum que já
vira. Dexter estava com o sangue fervendo, seu desejo maior que sua
delicadeza o fez abrir as partes de sua carne dura e avantajada para logo
adentrar com a língua por todo seu sexo sentindo o quão surpresa ela ficara
por ele chupar forte seu ânus e espalmar a mão levando-a para frente e
tocando-a em seu clitóris. Pétala segurou-se em seus pulsos para não perder o
equilíbrio enquanto clamava delirantemente por seu nome. Ele a deixou por
não suportar mais a dor em seu próprio sexo e a pegou no colo tão rápido que
ouviu o grito que saiu de sua boca, deixando-a pendurada em seu quadril e
novamente de frente para ele. Dexter gemeu com o contato dela em seu
abdome. — Eu posso sentir o calor de seu sexo, Pétala, estou com medo de
machucá-la pela sede que tenho de entrar em você. — Disse ele gemendo entre
seus beijos desesperados.
— Não vai, eu confio em você.
— Eu estou quase derramando todo o meu prazer só em vê-la nua. —
ele passou a mão por baixo de suas pernas penduradas em seu quadril e
desabotoou o zíper de seu jeans. Seu membro pulou para fora e foi libertador
senti-lo babado em suas mãos. — Eu quero entrar em você agora. — disse.
Dexter abocanhou seu mamilo duro e chupou forte ouvindo os gemidos mais
lindos que seus ouvidos já ouvira. Posicionou a cabeça grande em sua entrada,
firmou os pés no chão e olhou para ela que se apoiava segurando em seus
ombros. — Olhe para mim. — ela o fez. — Diz a quem você pertence a partir
deste momento? — Perguntou ele.
— Somente você, Lenhador.
— Prometa-me nunca mais deixar-me como outrora.
— Eu te entrego a minha vida, Dexter. Prometo nunca mais te deixar
porque eu estaria fugindo para o nada e encontraria somente a infelicidade. —
Pétala estava pendurada em seu corpo. Dexter com toda sede por ela, colocou
a cabeça bem encostada a sua fenda melada, segurou firme com seus braços
embaixo de suas coxas e a levantou um pouco, descendo-a com toda força logo
em seguida e empalando-a até encostar no fundo dela e sentindo toda sua carne
apertada ao seu redor. Pétala gritou abafando a voz em seu pescoço.
— Desculpe, eu não queria ser tão grande. — Ele sussurrou com pesar,
sabia que era normal o primeiro impacto sentirem dor pelo seu tamanho e
espessura. Ela afastou-se um pouco o corpo e olhou para seus lindos olhos
verdes, ele viu as lágrimas escorrendo em seu rosto.
— Eu estou bem. Continue. — Disse ela com um pouco de dificuldade
e ele continuou. Tomou seus lábios e sugava-os por fome de mais e mais deles.
Ouvia-a gemer de dor, ele sabia, mas tão logo ela começou a gemer de prazer.
Ele levantava-a e abaixava-a com facilidade em seu membro e era como se ela
tivesse o peso de uma pluma. As fortes batidas e gemidos ecoavam dentro da
mata fechada, acasalavam como dois animais famintos um do outro, ele podia
sentir o quanto ela era apertada, molhada para ele, sugando e mordendo seu
membro dentro dela.
— Amor. — ele a chamou e ela o olhou em chamas vivas. — Diz que é
só minha.
— Só sua, Lenhador. Agora não tenha dó de mim e faz como vejo que
está louco para fazer, sou forte, eu aguento. — Ele gemeu e cambaleou com a
oferta.
— Atrevida. — disse ele. Então o fez. Dexter bateu tão forte que
Pétala segurou firme em seus ombros. Ela gemia, gritava seu nome até ele
sentir todo o prazer dela chegar. Bateu mais forte, rápido e fundo, e ela
começou a tremer, ele não se segurou também. — Eu estou chegando. — Disse
com dificuldade. Ela não conseguiu dizer nada, somente sentir e se entregar ao
momento fazendo-o saber que estava perfeito. Dexter sentiu seu pênis pulsar e
inchar dentro dela. Ver sua linda Pétala se empurrando para ele, sedenta de tê-
lo mais fundo o deixou à beira de ser o primeiro. Mas conseguiu se controlar e
vê-la tremer e jorrar esguichando tudo nele, ela se derramou de prazer
gritando o nome que nunca mais sairia de sua boca.
— De... De... Dexter. — Ela gritou para toda mata ouvir. Ele a encheu
com seu sêmen depositando tudo bem dentro dela com batidas firmes e fortes,
tremendo e sentindo o sabor de seus lábios quentes e contendo os seus
gemidos só para ele ouvir. Dexter não conseguiu segurar seu próprio corpo, as
pernas trêmulas o fez descer devagar para o chão com Pétala. Ele a deitou no
capim verde e ficou entre suas pernas continuando em fortes movimentos de
entrar e sair. Ele não parou e Pétala se abriu mais para ele, sentindo tudo o que
ele empurrava dentro dela.
— Dexter...
— Isso, chama meu nome. Eu quero ouvir você gritar mais uma vez. —
Ele apoiou-se em suas mãos, uma de cada lado de seu corpo no chão e a
empalou ferozmente. Ela segurou em seus pulsos para não sair do lugar e a
cada vez que ele entrava nela era uma sacudida forte.
— Dexter. — Ela estava vindo novamente, e ele também. Eles se
olharam nos olhos não os deixando um só momento. Até que explodiram em
prazer e gritando seus nomes. Ele caiu em cima de Pétala, abraçando seu
corpo e enterrando o nariz em seu pescoço. Sentiu o quanto ela estava
tremendo debaixo dele.
— Agora estou viciado em você e não posso ficar sem tê-la assim, tão
entregue. — ela começou a acariciar seus cabelos e suas costas, eles estavam
nus dentro da floresta ouvindo somente o som de suas respirações pesadas. —
Posso te fazer uma pergunta? — Ele levantou a cabeça olhando-a
intensamente.
— Sim Lenhador, faça a pergunta. — Sussurrou ela.
— Eu sou o primeiro, não é? Você se entregou para mim, virgem? —
Pétala que estava de olhos fechados, abriu-os olhando-o profundamente.
Passou os dedos em seus lábios lindamente desenhados e vermelhos por ela
chupá-los com força.
— Sim, eu nunca estive com homem algum. Eu não quero e não
conseguirei ser de outro homem nunca mais. Você me estragou para o resto do
mundo, Lenhador. — Ele sorriu.
— Eu estou tão feliz com isso, que tenho vontade de chorar agora. Mas
também preocupado, eu devo tê-la machucado muito. — Disse ele com
lágrimas nos olhos.
— Shiiii, não se preocupe. Eu senti muita dor não vou mentir, mas
agora eu estou como você e viciada em senti-lo dentro de mim.

— Eu até posso sentir a dor daquele dia. — disse minha esposa


sussurrando e interrompendo-me com leitura. — Foi a dor mais saborosa e
excitante que já senti. Eu gostaria de ser virgem de novo só para entregá-la a
você outra vez. — Sussurrou.
— Eu também sinto o romper do hímen como se estivesse acontecendo
exatamente agora. — falei olhando para ela. — Eu estou com saudades, amor.
Preciso de você.
— Eu também estou, mas precisamos ser discretos e não estamos
sozinhos e isso significa que o silêncio tem que existir entre nós. — Disse ela.
Olhei para o seu corpo e vi o quanto ela estava sedenta de mim. Eu criei um
monstro sexual dentro dela que preciso alimentá-lo constantemente e em
abundância. Sei cada músculo de seu corpo, arrisco que posso contar até o
último pelo arrepiado e dizer a quantidade em números exatos. Pétala é uma
mulher espetacular e não somente pela beleza, mas também pela entrega. Ela
se doa para mim totalmente na hora do sexo, eu a tenho tão profundo a ponto
de sentir nossos corpos flutuarem quando atingimos o máximo do prazer.
Nossos sexos se completam, eu me encaixo perfeitamente dentro dela e ela
engole todo o meu tamanho e grossura com dificuldade na primeira entrada,
mas depois ela grita de prazer extremo. Por isso digo com orgulho que sou o
seu Lenhador. O trocadilho pode ser infame, mas a minha tora é grande e grossa
e pertence somente a ela, minha Pétala.
— Eu até paro de respirar se assim desejar, mas preciso senti-la por
dentro e bem fundo. — Falei e a vi fazer tremendo por minhas palavras, a
coisa mais sensual para o momento. Pétala tirou o edredom de cima de nossos
corpos e tirou também toda a roupa que estava vestida, seus olhos tremem e
lacrimejam. Seu peito sobe e desce muito rápido e arrisco mais uma vez a
dizer, que ela está quase explodindo em seu prazer derramando-se em
orgasmos somente por saber que irá me ter dentro dela. Linda e nua, ela abre
as pernas.
— Eu também preciso de você, Lenhador, agora. — Rouca, ela deixou
sair de sua garganta o timbre de voz que me faz perder a razão. Deixei o diário
na cama e tirei toda minha roupa, calmamente, olhando seu corpo com
espasmos de desejo. Ela falou em silêncio, mas será a primeira a gritar se eu
não a impedir. Lágrimas saem de seus olhos, ela chora pelo desejo
incontrolável dentro dela. Seus mamilos duros e inchados me avisam que não
preciso fazer nenhuma preliminar, ela está tão pronta para mim e até vejo seu
corpo suando como se estivéssemos horas a finco de sexo. Posiciono-me entre
suas pernas e vejo o que amo estar dentro, pulsando, sua linda e pequena fenda
brilha com o líquido que sai dela, ela geme e eu olho em seus olhos chorosos.
— Shiiii. — Falei.
— Não, não consigo, ajude-me. — Sussurrou com dificuldade. E eu já
sei o que fazer. Aproximo meu membro babado de sua entrada, ela o observa
com a boca aberta e segura o lençol da cama com as duas mãos, seu corpo
treme e vejo o quão difícil está sendo para ela manter-se quieta. Então eu
cubro sua boca com uma mão e com a outra, seguro forte em seu pescoço
impedindo-a com os urros de prazer. Olho em seus olhos, encostou a cabeça
grossa do meu membro em sua fenda e entro com muita força em seu sexo
apertado. Pétala se segura na cama e sou jogado para fora dela com a força
dos espasmos e jato de esguicho do orgasmo que já estava pronto para ser
liberado. Ela goza com minha primeira estocada dentro dela, debatendo-se
debaixo de mim. Faço um esforço enorme para não gritar com o prazer que
sinto em vê-la como está, entro novamente e bato mais forte, uma vez, duas, e
outra e mais outra, enquanto ela esguicha tudo o que tem dentro dela. Minha
linda esposa chora, seu corpo perde o controle e ela está entregue, posso fazer
o que eu quiser com ela, eu tenho essa permissão, ela é minha. Eu não posso
deixá-la vazia sem meu membro rasgando tudo dentro dela por no mínimo duas
horas. Então, eu a satisfaço.
Depois de duas horas e quinze minutos, eu a deixo exausta na cama,
inconsciente e sem forças para um banho. Eu, no entanto, vou ao banheiro e
lavo-me todo, volto e deito-me ao seu lado abraçado ao corpo quente e suado
de minha Pétala, adormeço satisfeito, por ora.
Abro meus olhos com dificuldade. O sol estava me dando bom dia
entrando através da janela aberta, e o vento um pouco frio arejava o quarto em
sua dança de ir e vir. Olho para o lado e Pétala já não estava mais e então,
ouço um barulho vindo do banheiro, ela tinha desligado o chuveiro. Fico na
cama esperando-a e quando olho as horas e vejo que já passa das duas horas
da tarde, surpreendo-me.
— Meu Deus! — falei. — Cattleya não veio nos chamar? — Sussurrei.
— Não amor. — disse Pétala saindo do banheiro. Minha esposa estava
mais bonita que ontem, e amanhã ela estará mais bonita que hoje. Seus cabelos
molhados e olhos espertos a vejo sorrindo para mim, sabe que sou fascinado
por ela. — Bom dia, Lenhador. — Disse e tirou a toalha enrolada em seu
corpo deixando-a cair no chão. Nua, via-se nitidamente os resultados da noite
de ontem.
— Eu acabei com você, Sra. Sawyer. — Falei olhando para os leves
hematomas.
— Sim, você estava um verdadeiro lobo da mata. — disse. — Estou
muito dolorida, Lenhador.
— Isso porque você ainda não viu como o seu brinquedo aqui está. —
apontei para meu membro. — Todo esfolado por possuí-la nervosamente.
— Fale-me quando nunca foi assim. — Disse ela indo até o closet.
— Não conseguimos ser diferente. — falei e lembrei-me de nossa
filha. — Será que ela nos ouviu? — Pétala olhou-me apreensiva.
— Fizemos o possível para sermos discretos.
— Assim espero, porque não consigo pensar em como olhar para ela
sabendo que nos ouviu. — Ela vestiu suas roupas e eu fui para o banho.
Quando estávamos prontos, saímos para encontrar nossa filha.
E como a encontramos, foi de cortar o coração. Pétala segurou forte em
minhas mãos e eu tentei passar toda a pouca coragem de não chorar para ela.
Olhou-me e eu a vi preocupada, assim como eu estava.
Capítulo doze

C attleya escrevia em seu


diário e era muito triste
para uma menina com
sua idade. Senti o desespero em meu coração ao vê-la tão sem vida em sua
aparência. Gostaria de saber tudo o que ela não estava nos contando e isso
seria hoje, sem falta.
— Filha. — Chamou Pétala. Ela estava tremendo não pela noite que
tivemos e sim por ver o quanto Cattleya estava sofrendo. Nossa filha nos
olhou, não tinha percebido que estávamos descendo a escada.
— Oi mamãe, bom dia. — Disse ela escondendo-se atrás de um
sorriso fingido.
— Você não foi nos acordar, por quê? — Perguntou Pétala.
— Eu não quis incomodá-los e também precisava de um tempo para
mim.
— Bom dia, minha filha. — Disse e dei um beijo em seus lindos
cabelos. Olhei no fundo dos olhos de Cattleya, e não os deixei até que ela
desviasse. É o meu jeito de dizer que precisávamos conversar. E ela entendeu.
— Eu estou bem, papai. — Disse fechando o diário.
— Olhe para mim. — e ela olhou. — Pense em tudo o que está
acontecendo, porque até o fim do dia nós iremos conversar. Eu sou o seu pai,
seu amigo e me preocupo com você. Se tem algo que você esconde sobre
Spencer, eu quero e preciso saber, Cattleya. Só assim poderei ser útil em
ajudá-la e não somente ver como você está sofrendo, entendeu?
— Sim senhor. — Disse triste.
— Vamos comer. Você já tem o dia programado? — Perguntei na
tentativa de distraí-la.
— Só a continuação da leitura em seu diário. — Respondeu.
— Vamos fazer isso então. — Falei. Fui para a cozinha enquanto as
duas mulheres da minha vida conversavam no sofá. Logo que nosso café ficou
pronto, sentamos de frente para a lareira e comemos em silêncio que chegou a
arder meus ouvidos. Mas Pétala, que é uma mulher incrível, por um momento
nos fez sorrir com suas piadas sem lógica. Ela colocou roupas que não
mostravam nem um só pedaço de sua pele escondendo perfeitamente algumas
leves marcas que deixei no meu momento ogro da floresta louco por sexo.
Cattleya estava tão longe da cabana, que não notou as roupas que a mãe estava
vestida. Ela só ficou atenta quando sentamos acomodados para continuar a
leitura em meu diário, o que ela mesma foi buscar em meu quarto.
— Aqui está, papai. — entregou-me e sentou-se acomodada ao lado da
mãe. — E que comece a leitura! — Disse animada.
— Vou ver de onde posso continuar, garota curiosa. — Falei.
— Você sempre estragando a minha tentativa de saber detalhes sobre
esta parte.
— Isso nunca garota, nunca. — ela revirou os olhos. — Tudo bem,
então começamos ... Daqui.

Dexter terminou de colocar a lenha na carroceria da caminhonete,


enquanto Pétala o olhava não muito distante dele. Ela estava feliz. Ele estava
feliz.
— Vamos para casa, amor. — Ele começou a vestir-se novamente.
— Não coloque essa camisa, Lenhador. Estou gostando de vê-lo sem
ela. — Ele sorriu.
— É? Assanhada. — Brincou. Pétala aproximou-se e levantou-se em
seus pés dando-lhe um beijo no rosto.
— Vamos para casa, eu gosto de estar lá. — Disse ela.
— Eu gosto de tê-la lá. — Ele a puxou em seus braços e a beijou
apaixonadamente. Já estava escurecendo quando deixaram a mata e assim que
entraram na cabana, Dexter perguntou.
— Você veio para passar a noite, não é? — Ele foi para a cozinha e ela
não respondeu, então, virou-se e olhou-a esperando uma resposta.
— Eu não posso, Dexter. Preciso trabalhar amanhã bem cedo. — Disse
ela triste e vendo o quanto isso o desagradou.
— Pétala, essa é a nossa primeira noite juntos.
— Eu sei, mas realmente não posso. Tenho que entrar em
videoconferência às seis horas da manhã.
— E você irá voltar depois disso, não é? — Perguntou ele levantando
a sobrancelha.
— Volto, mas também não posso ficar para passar a noite. Eu viajo
depois de amanhã.
— Viajar? — Ele não estava feliz.
— Sim, Lenhador, viajar a trabalho.
— Quanto tempo? — Perguntou apreensivo.
— Acho que no máximo, vinte dias. — Disse ela.
— Vinte dias sem você? Isso é a morte, Pétala. Agora que a tenho, que
provei de você, não quero mais deixá-la ir.
— Isso não irá acontecer. — ela o abraçou forte. — Desculpa, mas é
trabalho.
— Eu entendo, só não quero aceitar. — ele a beijou em seus cabelos e
respirou fundo. — Vamos tomar um banho, quero mais de você antes de deixá-
la me matar por sentir sua falta. — Ele a pegou no colo e a levou para seu
quarto. Não estava feliz por ela não passar a noite agora que já estava tudo
resolvido. Mas não podia dizer nada, Pétala tinha uma vida fora da cabana e
precisava vivê-la. Eles se amaram mais uma vez dentro da linda banheira de
ofurô. Era tudo muito intenso o que estava acontecendo e ele sentia seu corpo
tremer só de pensar em deixá-la ir. E isto aconteceu. Pétala entrou em seu
carro com a promessa de voltar no dia seguinte, e saiu dirigindo rumo ao seu
verdadeiro mundo.
— Que amanhã chegue logo! — Disse ele ao entrar na solitária cabana.
Sozinho, ele sentou na cadeira que sua mãe costumava sentar-se olhando as
chamas alaranjadas na lareira, pensou em tudo o que aconteceu em seu dia, tê-
la em seus braços, ouvi-la dizer que estava apaixonada, senti-la entregue para
viver o amor entre eles, era como magia. Dexter chorou. Pela dor de ter
acabado rápido o que tanto sonhou, e pela felicidade em saber que ela voltaria
para estar em seus braços novamente. Já era muito tarde quando ele se deitou
para dormir sentindo o cheiro dela em seu corpo, ele sentiu o seu toque sem ao
menos ela estar ali ao seu lado. Era como se fosse suas almas conectadas e
amando-se plenamente. Eles estavam juntos, mesmo estando longe.
O dia amanheceu nublado e com Dexter impaciente por esperá-la.
Levantou e foi correr, mas não fora um alívio pelo contrário, deparou-se
pisando no mesmo lugar onde a amou pela primeira vez no dia anterior.
Olhando para o chão que a deitou e a fez dele, toda dele. — Pétala, não acabe
com o meu mundo. — disse em voz alta. Ele sentiu seu coração apertar de
saudades, era algo novo o que ele estava vivendo. Uma mulher inalcançável
com uma vida luxuosa e muito diferente da realidade em que ele vivia. —
Deus, por que me deu uma mulher assim? Por que tive que conhecê-la, tê-la
em meus braços se eu não faço parte de seu mundo?
E em mais uma corrida intensa ele voltou para a cabana. Tomou banho,
se vestiu e foi para a cozinha. Enquanto colocava lenha no fogão, respirava
fundo para manter-se calmo. O cheiro de café fresco invadiu a casa, serviu-se
de uma caneca cheia e foi para a sala sentar-se de frente para a lareira
sentindo seu coração começar a bater mais forte depois de cinco minutos.
Dexter sentiu algo estranho, um sentimento forte que não o deixou tranquilo,
levantou-se e foi olhar a estrada através da janela pois era como se ele
estivesse sendo avisado de alguma coisa. E assim que abriu as cortinas,
avistou o carro de Pétala entrar na curva da entrada de sua casa. Ele sentiu
seus olhos marejarem, seu corpo pulsar, suas mãos molhadas de suor e frias. E
quando ele a viu descer do carro, sozinha, sentiu as lágrimas escorrerem pelo
seu rosto. — Não Dexter. Pare de ser um menino chorão. — Disse em sussurro
somente para ele e a cabana ouvirem. Ele deixou a caneca de café na mesinha
de centro e aproximou-se para abrir a porta para ela. E quando ele abriu,
Pétala se jogou em seus braços como se o mundo fosse acabar naquele
momento.
— Dexter. — sussurrou em seus lábios. — Senti sua falta.
— Eu também. — disse fechando a porta com o pé e levando-a em
seus braços até o sofá. — Pensei que a veria só a tarde. — Disse e sentou-se
mantendo-a em seu colo. Ficaram abraçados sentindo a pulsação um do outro.
— Eu não consegui esperar. Cancelei duas reuniões.
— Sorte a minha. — Dexter a olhou profundamente nos olhos e a viu
chorar. — Por que está chorando?
— Eu não sei, mas é um tormento ter que viajar amanhã. — Disse ela.
— Não me lembre, por favor. Passarei dias de calvário a sua espera.
— Disse ele.
— Vem comigo? — Ela o olhou esperançosa com a resposta.
— Eu não posso, tenho pedidos importantes de entregas e são muitos
esta semana. — Ele fechou os olhos de tristeza.
— Que pena. — disse ela. — Dexter, sei que temos pouco tempo
juntos e o certo seria aproveitá-lo, mas eu gostaria de pedir uma coisa muito
importante para mim, que sem você acho que não conseguirei fazer. — Disse
ela séria.
— Diga-me, por favor.
— Acompanhe-me para uma visita a minha mãe e meu irmão? Preciso
tirar esse peso que carrego e encará-los frente a frente para enfrentarmos os
nossos monstros.
— Será um prazer meu amor. Estarei ao seu lado para o que for
preciso lidar.
— Podemos ir agora? — Perguntou ela.
— Sim. — Disse ele com carinho.
Eles saíram da casa e foram para a fazenda onde sua mãe e irmão
estavam e que não ficava muito longe das terras de Dexter. Durante todo o
caminho ela permaneceu calada e ele a deu privacidade para que ficasse com
seus pensamentos. Ele pôde ver também a sua tensão ao se aproximar do
grande portão de ferro na entrada e o quanto ela estava nervosa.
— Vai ficar tudo bem, meu amor. — Disse ele.
— Eu sei, com você aqui eu tenho certeza que tudo ficará bem. — Ele
segurou a mão de sua amada passando-lhe todo apoio e força para que ela se
sentisse confiante. Dois homens que estavam no portão se aproximaram
desconfiados, não era normal aparecer pessoas diferentes que não fossem os
médicos que tomavam conta de sua família.
— Bom dia, em que posso ajudá-los? — Disse um deles.
— Sou a proprietária do lugar, Pétala Mackay. — disse autoritária. —
Abra o portão. — Dexter observou o quanto ela era dona de seu mundo e o
governava muito bem.
— Neste carro? — Perguntou o outro desconfiado, afinal, eles não a
conheciam.
— Quer ser demitido? — ela o olhou com raiva. — Eu disse, abra o
portão. — Eles abriram a contragosto pois não imaginavam que Pétala
Mackay, chegaria um dia na fazenda em uma velha caminhonete vermelha
caindo aos pedaços. Eles ainda puderam ouvi-los passarem um rádio para os
outros, que ficavam de vigília na frente da casa.
Dexter estacionou na entrada do pequeno jardim, desceu e a ajudou a
descer. Ela respirou fundo e eles seguiram para a grande casa. Ao entrarem na
sala, Pétala viu sua mãe sentada no confortável sofá assistindo um filme na
televisão. Ela parou ficando como uma estaca fixa em seus pés, seus olhos
vidrados na mãe que não via há muito tempo. Aproximou-se devagar como se
fosse uma presença indesejada ali, e Dexter logo atrás dela.
— Mamãe. — Chamou quase sem voz. A mulher, Isadora, olhou para
ela assustada, mas logo sorriu.
— Você demorou, Pétala. — falou docemente. — Eu estava com
saudades. — Disse ela. Pétala esforçou-se para dar mais alguns passos e
sentou-se no sofá sem se aproximar muito.
— Não está com raiva de mim? — Perguntou apreensiva estranhando a
reação que esperava ser muito ruim, mas que o sorriso de sua mãe a deixou tão
sem rumo, que não conseguiu formular outra pergunta que não fosse a que fez.
— Não mais. Eu fiquei, tive até o horrível desejo de matá-la com
minhas próprias mãos. Mas hoje tenho vergonha por ter tido este sentimento
infeliz. — falou estendendo a mão para a filha. — Vem aqui, me dê um abraço,
minha querida. — lágrimas banharam seu rosto. — Eu senti sua falta. —
Pétala a abraçou e elas choraram baixinho. Era como se toda a vida de Pétala
estivesse entrando na estrada correta da vida. — Eu senti muito a sua falta
minha filha, senti falta de mim, de ser eu como fui outrora. E você me
devolveu isso, obrigada.
— Mamãe, eu também senti sua falta. — Falou emocionada.
— Me perdoe, Pétala. Eu não estava com você quando mais precisou,
filha. — disse ela. Ela viu um movimento e olhou para cima, Dexter estava em
pé olhando-as se entregarem ao perdão. Ela franziu o cenho ao vê-lo secar as
lágrimas. — Quem é você? — Perguntou a mulher. Pétala afastou-se e olhou
para Dexter.
— Ah! Mamãe, este é Dexter. — Disse limpando o rosto.
— Muito prazer, Dexter. — Isadora levantou-se e o cumprimentou
educadamente.
— O prazer é meu, senhora. — Disse ele.
— Eu posso garantir que jamais coloquei meus olhos em um homem
tão lindo como você, meu rapaz. — Disse ela sorridente. Dexter ficou
envergonhado com o comentário.
— Mamãe, vai deixá-lo sem graça. Eu tenho bom gosto, não é? —
Perguntou ela.
— Bom gosto? Isso quer dizer que vocês estão juntos? — Perguntou
Isadora.
— Sim. — Dexter respondeu firme.
— Mas, e seu noivo, Bart? — Perguntou. Pétala olhou para a mãe e
Dexter e logo respondeu.
— Não estamos mais juntos, mamãe. Agora somos Dexter e eu. E
confesso que o amo muito. — Disse ela apreensiva com a mãe.
— Que bom, não gostava mesmo daquele mau-caráter dos infernos. —
Ela sentou-se novamente no sofá, Pétala sorriu com o comentário e Dexter
ficou satisfeito por saber que caiu nas graças da sogra. — Sente-se meu rapaz
e conte-me, de que família você é?
— Mamãe, Dexter não é de nenhuma família do nosso meio. — Ela
sentou-se ao lado dele.
— Não? E como se conheceram então?
— É uma longa história que não temos tempo de contar hoje. — Disse
Pétala.
— Seu namorado tem alguma deficiência na voz e eu não identifiquei?
Por que não o deixa responder? — Pétala respirou fundo e olhou para a mãe.
— Faz tanto tempo que não nos vemos e você quer falar sobre isso?
— Eu não sou boba minha filha. — disse ela passando os olhos em
Dexter de cima para baixo. — Vejo que ele é sem recursos, ou, que não tem
tanto quanto nós. Se você estiver preocupada com o que estou pensando, fique
tranquila. — ela sorriu. — Posso ver que você está muito feliz. Este brilho em
seus olhos a última vez que vi, seu pai ainda era vivo. Com ou sem recursos,
eu aprovo o amor de vocês, temos dinheiro para muitos.
— Eu não preciso do dinheiro de sua família, senhora. — disse Dexter.
— Mas em um ponto você tem razão, não sou abastado como Pétala, mas sou
bem resolvido financeiramente. Só não me preocupo com aparência, pois onde
vivo isso não vale nada. — disse sem pausa. — Mas sei que para viver ao
lado da mulher que amo, isto precisa de um olhar especial de minha parte. —
Ele olhou para Pétala.
— Viver ao lado da mulher que ama? — perguntou Chris entrando na
sala onde estavam. Pétala o olhou assustada e apertou a mão de Dexter. — Olá
Espinho, quanto tempo não a vejo? — Ela sorriu aliviada. Espinho era um
apelido carinhoso que Chris a chamava. Ele dizia que ela era birrenta e não se
parecia com rosas ou pétalas e sim, com espinhos ferindo seus ouvidos com
choros intermináveis.
— Oi Chris. — Disse, mas não se levantou do sofá.
— Não vai me dar um abraço? — perguntou ele. Então, ela levantou-se
calmamente, ele aproximou-se a abraçou sob os atentos olhos de Dexter. — Eu
estava com saudades de você, garota. Como você cresceu e ficou mais linda
da que era? Como isso é possível? Espinhos não ficam melhores que rosas, ou
ficam? — Perguntou ele divertindo-se.
— Eu também estava com saudades de você, Chris. — Disse ela. Ele
se afastou e a olhou nos olhos.
— Você me perdoa por tudo que a fiz passar?
— Ficou tudo no passado. — Disse ela.
— Mesmo assim eu precisava olhar em seus olhos e te pedir perdão.
Obrigado por ter feito o que fez, e como fez. A terapia nos ajudou a enxergar
coisas que não víamos, a tomar conhecimento de como estávamos nos matando
e fazendo isso com você também e os remédios nos curou da abstinência que
sentíamos, obrigado de verdade, Pétala. Jamais sinta-se culpada ou
amedrontada pelo que nós a forçamos fazer. Temos consciência agora, de tudo
o que aconteceu e o quanto precisávamos de um limite. — Disse ele.
— Vocês não sabem como isso me deixa feliz, em vê-los assim,
recuperados.
— Sim, durante muito tempo não pensamos assim, eu confesso. Mas a
vida cura, a dor nos ensinou a amadurecer e sermos adultos.
— Eu estava com saudades da minha família. — Disse ela chorando.
— Não fique assim querida, já passou e devemos muito a você. —
Disse sua mãe.
— E quem é esse que pensa que viverá ao seu lado sem a minha
aprovação? — Chris sorriu para Dexter.
— Bem, não sei se viver do meu lado, mas sei que é o homem da
minha vida. — Disse ela sentando-se novamente ao lado de Dexter.
— Viver para toda a eternidade, meu amor. Não quero nada menos do
que ser o seu marido.
— Já é um pedido? — Perguntou ela sorrindo.
— Você tem dúvidas? Porque eu a quero como minha esposa.
— Bem, então vamos acertar os pontos cunhado. — disse Chris. —
Pétala é minha irmãzinha e eu já a deixei muito tempo sozinha e sem proteção.
— Chris sentou-se ao lado de Dexter e franziu a testa como se fosse um
homem muito bravo, mas não conseguiu manter por muito tempo. Eles sorriram
e tiveram uma longa conversa. Ficaram surpresos com a história que Pétala os
contou, de como se conheceram e estavam felizes juntos. Quando Pétala falou
sobre eles saíram da fazenda, seu irmão e sua mãe não aceitaram. Disseram-
lhes que estavam bem, mas ainda havia riscos e não podiam corrê-los até o
tratamento terminar. Mesmo depois de todo esse tempo longe de drogas e
álcool, eles queriam mais tempo para enfrentar o mundo que era abastado
desses lixos que matam as pessoas. Pétala achou nobre por reconhecerem que
ainda precisavam ficar ali e isso a fez entender que ela tinha sim, feito a coisa
certa por sua família. Depois de vários assuntos, eles se despediram e
voltaram para casa aliviados com tudo.
— Está feliz? — Perguntou Dexter ao entrarem em casa.
— Muito, confesso que não imaginei que nosso encontro seria tão,
ameno.
— É, às vezes as pessoas são surpreendentes.
— Verdade, Lenhador. — ela ficou parada no meio da sala e começou
a tirar a roupa. — Agora eu gostaria de ver o quão surpreendente você é.

— Ok, acabou a leitura dessa parte. — Falei fechando o meu diário.


— Nossa pai, você sabe estragar as coisas na melhor hora. — Disse
Cattleya sorrindo para mim.
— Eu tenho bom senso menina perturbada, já você, não posso dizer o
mesmo. — falei. Cattleya sorriu, mas não chegou aos olhos, ainda estava muito
triste. — Agora temos outra história para ser contada, não é mesmo minha
filha? — Perguntei e ela entendeu o recado.
— Você quer conversar agora?
— Sim, podemos comer alguma coisa e depois sentamos os três para
termos esta conversa.
— Pode ser na minha casa da árvore? — Perguntou ela.
— Claro. Tinha até esquecido dessa casa que fiz para você. — Falei.
— É, mas eu não. Fizemos uma promessa naquela casa, Spencer e eu.
Mas não será cumprida. — Seus olhos marejaram de tristeza.
— O que for para ser, será Cattleya. Se for verdadeiro, nada e nem
ninguém poderá impedi-los de viver esta história, mas os dois precisam querer
o mesmo. — Disse minha esposa. Ela olhou para a mãe segurando-se para não
desabar.
— Eu sei mamãe. — Disse ela.
— Será que sabe mesmo? — Perguntou.
— Sei que, o que eu cresci sonhando, não é o mesmo que ele sonhou.
Isso está acontecendo com outra pessoa e não como havíamos prometido. —
Falou engolindo o nó que se formou em sua garganta.
Capítulo treze

ós comemos um lanche rápido na cozinha ouvindo o silêncio de

N
nossa filha. Eu a conheço bem o suficiente para saber que ela
estava decidindo por onde começar a falar. Não acho que
estamos invadindo sua privacidade, precisamos saber o que ela pensa e sente
para podermos ajudá-la, seja em um conselho ou apenas um ombro para
chorar. Sou o pai de Cattleya, dei-lhe tudo o que um dia não tive de meu pai,
cuidei da minha menina desde o primeiro momento em que ela respirou fora
do ventre de minha linda mulher. Eu a amo demasiadamente e isso me sufoca o
peito, principalmente ao vê-la sofrendo calada.
Sei que filhos são para o mundo, mas sou pai e não abro mão dos meus
direitos em ajudá-la a viver neste mundo de um jeito menos sofrido.
— Vamos? — Chamei-as.
— Sim. — Responderam em uníssono. Eu fiz uma casa na árvore para
Cattleya, ela tinha cinco anos quando a construí com ela brincando e
tagarelando ao meu lado. Eu queria ter tido uma casa assim quando criança, vi
uma vez em uma das revistas de minha mãe, mas meu pai dizia que era coisa
de menino afeminado. Ele não gostava de pronunciar gay ou homossexual
dentro de nossa casa. Machista e alcoólatra, impossível entender a diferença
de um garoto com suas preferências a gostar de outros garotos, para sonho de
uma criança. E a forma desrespeitosa em que ele se referia era deplorável até
para um menino sem muitas informações como eu era. Acho que amor é amor e
isso basta, independentemente de quem você ame, homem e mulher ou pessoas
do mesmo sexo, amor é o que salva qualquer pessoa de seus medos e
monstros. É só o amor que importa.
Saímos da nossa casa andando silenciosamente respeitando os
pensamentos um do outro. Quando chegamos na grande árvore que construí a
casa, Cattleya sorriu.
— Eu fui muito feliz aqui. — Disse ela olhando para cima. Admito que
fui um ótimo construtor, a casa ainda estava impecável na conservação.
— Você ainda é, Cattleya. — Falou Pétala.
— Sim, eu sou. Mas a menina que brincava nesta casa, via o amor em
sua forma pura, ele não doía. Hoje ele me maltrata, me fere, faz-me desistir e
deixar para trás tudo o que sonhei em viver como amor.
— Não diga isso filha. — Pétala falou quase chorando. Cattleya
olhando-a disse.
— Vamos subir mamãe, você entenderá o que estou dizendo. —
Subimos pela escada que fiz em volta da grande árvore. Cattleya abriu a porta
e entramos, tudo estava como ela havia deixado. Decorado como uma típica
menininha do papai, todo cor de rosa. Olhei para ela e a vi secar as lágrimas
disfarçadamente e isto foi de cortar o coração.
— Sinto saudades de ser criança. — Disse ela.
— Quem disse que você cresceu? — Perguntei.
— Somente para você papai, sou sua garotinha pequena.
— Você tem dezessete anos. — Falei.
— Prestes a me tornar maior de idade. Posso continuar debaixo das
asas de vocês? — Perguntou levantando a sobrancelha.
— Por favor, querida, nunca pense em sair. — Falei.
— Obrigada papai, você é muito gentil.
— De nada. — Ela sorriu.
— Sentem-se e vamos começar logo, pois quero sair daqui o quanto
antes. — Nos sentamos no chão com o tapete rosa felpudo, e Cattleya sentou-
se à nossa frente, então começou a falar.
Cattleya
Ver a angústia nos olhos do meu pai hoje pela manhã ao dar-me bom
dia, deixou-me sem chão. Nada sobre mim fica escondido aos seus olhos, ele
me observa desde bebê como protetor que é, e soube exatamente o que fazer e
não fazer em relação a minha formação.
Dexter Sawyer, é o melhor pai do mundo. Às vezes ele chega a ser
inocente por carregar tanto amor em seu coração. E neste momento olhá-lo tão
atento em meus olhos esperando o meu desabafo, faz-me amá-lo ainda mais do
que todos os meus dezessete anos.

— Eu cresci vendo-os amando um ao outro intensamente, com respeito


e cumplicidade. — falei. — Pensei por um longo tempo que por ser filha de
vocês, eu também viveria um amor assim. Capaz de renunciar a tudo só para
viverem juntos. Principalmente depois que Spencer chegou em minha infância.
— papai não tirou os olhos dos meus. — Não posso ser injusta e não os
agradecer tudo o que fizeram e fazem por mim. Mas ser filha de Dexter e
Pétala, não faz o meu futuro ser semelhante ao amor de vocês. — Mamãe
começou a chorar.
— Não chore mãe.
— Você fala como se sua vida tivesse acabado, Cattleya. — disse ela.
— Como se não houvesse amor no mundo para você. — Falou.
— Pelo contrário, mãe. Falo colocando um ponto final em um amor de
criança e me livrar da esperança tola, lembranças de momentos que vivi sem
saber como a vida realmente é. — falei e ela ficou olhando-me fixamente. —
Às vezes as coisas acontecem para crescermos, vocês sempre me ensinaram
isso. Aqui, agora, estou deixando a Cattleya que sonhou com um amor entre
primos quando ainda era só uma criança. — olhei para meu pai, ele estava tão
atento ao que eu estava dizendo, que se dignou a manter-se calado. — Éramos
dois pirralhos correndo por entre estes pinheiros, Spencer sempre me
protegendo de tudo. Ele olhava-me como se não existisse mais ninguém no
mundo, fazia-me sentir a menininha mais especial de todas porque ao olhar-
me, era idêntico a você papai, quando olha a mamãe. Nós parecíamos um
espelho do amor de vocês refletido em miniaturinhas apaixonadas. — sorri. —
Vivíamos a extensão do que vocês viviam na época. E era mágico como tudo
parecia que estávamos em outro planeta, era uma ficção romancista infantil.
Até que um dia Spencer me deu um beijo no rosto, na outra semana me beijou
no queixo, e na outra beijou-me nos lábios. — olhei para meus pais. — Eu
tinha nove anos e estava perto do dia do meu aniversário, ele me comprou um
presente e quando tivemos a oportunidade de ficarmos sozinhos, ele falou, não
foi um pedido, foi uma confirmação ou uma ordem talvez, de que eu era a sua
namorada. Ele disse: Cattleya, somos crianças ainda, mesmo assim você é minha, igual a tia
Pétala é do tio Dexter. Você entendeu?
— Menino abusado. — Disse meu pai e eu sorri.
— Sim, ele era mesmo.
— Eu sei qual foi o presente e o momento em que ficaram sozinhos. —
Disse mamãe.
— Sério mãe?
— Sim, jamais tiramos os olhos de vocês, apenas fingíamos não ver
algumas coisas, porque Spencer sempre foi muito responsável para com você
e confiávamos nele plenamente. Eu fingia não saber do clima de romance.
— Não tinha romance, éramos crianças. — Falei.
— Confesso que por várias vezes eu achei que era só por serem
primos e brincavam juntos como duas crianças da mesma família. Mas
lembrando-me de alguns momentos do passado, ele era sim apaixonado por
você. E um homem de verdade, sabe quando a mulher é dele somente ao olhá-
la nos olhos. — Disse meu pai.
— Você está certo, um homem. Spencer era só um menino. — falei. —
Continuando, o tempo passou e crescemos, nos beijávamos como dois amantes
apaixonados. Dizíamos que vocês eram nosso exemplo de casal vivendo o
verdadeiro amor.
— Talvez esse foi o erro de vocês. — disse minha mãe. — O amor
existe de muitas formas e é diferente para cada um de nós. Todos temos o
nosso barco flutuando no mar, navegar por ele, é o que precisamos aprender. E
o navegador tem o seu tempo próprio para seguir rumo a vida. O amor que
vivo com o seu pai, jamais será o de outra pessoa ou o seu. É a mesma
palavra, amor, mas em cada um de nós a reação é única, singular. Ama de jeito
diferente, chora por coisas diferentes, sente de forma diferente. Você e
Spencer podem sim espelhar-se em nós, mas o amor tem que ser o de vocês.
— Disse mamãe.
— Isso não será possível, mamãe. Ele irá se casar e escolheu justo o
nosso lugar, onde estão nossas lembranças de amor puro. Mesmo se eu
quisesse construir a nossa própria história, acabou as chances. Ele já está
traçando suas linhas e navegando com o barco da vida com um outro amor. —
ela calou-se. — A última vez que Spencer esteve aqui ele fez-me uma
promessa, aqui mesmo nesta casa na árvore ele disse: Cattleya, eu prometo que
aconteça o que acontecer, iremos viver isso que é tão forte entre nós. O amor. Irei para a faculdade
e será um mundo novo, assim como para você quando chegar à sua vez. Mas quero deixar
registrado esse momento porque hoje e neste nosso lugar, eu a peço em casamento. Cattleya, aceita
se casar comigo?
— Como? Você está dizendo que foi pedida em casamento? —
Perguntou papai levantando a sobrancelha.
— Sim pai. E eu aceitei. E aqui. — levantei o tapete para verem. —
Nós gravamos a data, o sim e nossas declarações. — Papai leu em silêncio,
mamãe não olhou e ficou olhando-me nos olhos.
— Eu já tinha conhecimento disto. — disse ela. Papai a olhou sem
acreditar. — Por isso recuso-me a acreditar que acabou e ao mesmo tempo e
por tudo o que já aconteceu e o que está acontecendo, penso também que você
está certa, nada disso voltará esse momento entre vocês.
— Por que somente eu não sabia que minha filha fora pedida em
casamento? — perguntou meu pai. Ele olhou-me assustado. — Cattleya, nada
do que você me disser, me fará sair da razão. Eu sei e conheço o amor, a
impulsividade dos jovens e....
— Eu ainda sou virgem, papai. — interrompi. — Spencer e eu tivemos
momentos mais íntimos sim, porém ele jamais passou dos limites dizendo que
não era o certo a ser feito e que quando acontecesse, nós já estaríamos
casados e vivendo nosso amor sem culpas e arrependimentos. — Falei.
— Eu estou completamente apaixonado por esse rapaz. — Disse papai
engolindo seco pelo alívio. Afinal, ainda sou uma menina e isso seria cedo
demais a acontecer comigo. Sexo precoce só nos deixaria com a consciência
ruim e não precisávamos apressar o curso da vida, tudo tem o seu tempo e
hora.
— Ele cuidava de mim, tratava-me como princesa, como seu presente
de Deus. — falei. — Tínhamos vontades e desejos, mas controlávamos por
respeito um pelo outro e confiança de vocês que nos eram depositadas.
Spencer sempre os respeitou muito e assim respeitando nossa relação
adolescente. Nunca falei sobre nosso namoro por motivos óbvios, éramos
crianças. Depois que nos afastamos, ele foi viver uma outra vida, com outros
amigos e amores. E tudo aquilo que um dia existiu entre nós, acabou, não valeu
de nada.
— Agora sou eu que não acredito nisso, Cattleya. — disse papai. —
Estou sabendo agora sobre sua vida amorosa, tudo bem, mas a sua versão dos
fatos me leva a crer que Spencer teve sentimentos verdadeiros por você e está
tomando um rumo torto para sua vida. Se ele realmente não a ama como
outrora sendo uma mentira o que viveram, saberemos assim que ele colocar os
pés aqui para se casar com a jovem que hoje, é a sua noiva. — Disse meu pai
muito sério.
— Esse é o meu medo, vê-los juntos. É a dor da morte, papai. —
comecei a chorar. — Eu não precisava vir para casa agora, foi uma desculpa
para ficar longe das notícias que chegavam em meus ouvidos sobre Spencer.
Mesmo assim ele virá para o meu lugar, a minha casa, casar-se com outra
mulher.
— Não fique assim, Cattleya. — ele me abraçou. — Nós estamos aqui
para você querida. E mesmo que ele venha para casar-se aqui, onde vocês
foram felizes vivendo um amor juvenil, será o seu ponto de partida para viver
e buscar uma outra história para seus lindos diários, meu amor.
— Spencer a pediu em casamento aqui, Cattleya. E enviou-me um e-
mail para casar-se aqui, isso que não está me deixando tranquila. — Disse
mamãe.
— Foi para mostrar-me que seguiu em frente, deixando para trás o
nosso passado e que não faz a mínima diferença onde acontecerá o casamento.
Ele está feliz mamãe, e eu não o desejo menos que isso. — Falei.
— Vamos dar tempo ao tempo. Sua vida está apenas começando filha,
viva-a intensamente. Com ou sem Spencer, você merece vivê-la e ser feliz. —
Disse meu pai.
— Por isso essa conversa pai, estou colocando o meu ponto final e o
enterrando junto com todos os sonhos da nossa vida, aqui. — Sequei minhas
lágrimas.
— Vamos voltar para casa. E agradeço por ter nos contado um pouco
do que não sabíamos e nos fazendo merecedores em participar da sua vida. —
Disse ele.
— Eu não consigo deixar-lhes sem saber das coisas importantes, vocês
são tudo para mim.
— Nós a amamos muito, sabia disso?
— Sim. — Mamãe e papai me abraçaram e ficamos assim por um
tempo e depois saímos da casinha da árvore. Ao fechar a porta, deixei
trancado lá dentro o meu passado com Spencer. Ficará somente nas minhas
lembranças, porque foram momentos lindos e puros vividos com ele. Eu o
desejo toda a felicidade e amor desse mundo. Porque sei que também
encontrarei o meu. Quando chegamos em casa; logo pedi.
— Continuaremos a leitura? — Perguntei para meu pai.
— Sim garota, você merece saber mais um pouco. — Ele piscou e
sorriu para mim. Sentamos todos no sofá de frente para a lareira.
— Vocês não estão com fome? — Perguntou papai.
— Não. — Respondemos em uníssono.
— Tudo bem, vamos começar. — Quando papai abriu o diário para
ler, o telefone da nossa casa tocou.
— Nossa, quem será? — Mamãe perguntou sorrindo e levantando-se
para atender. — Alô! — Disse animada. Ela parou de sorrir e olhou-me nos
olhos.
— Olá Spencer, como vai querido? — meu coração parecia que ia sair
pela boca pela tamanha coincidência de ele ligar justo agora. — Você ligou
mais vezes? Não estávamos em casa, chegamos neste minuto. — disse ela
ficando em silêncio e ouvindo-o falar. — Que bom querido, também estamos
com saudades de você. — pausou outra vez. Papai ficou olhando para ela
atentamente. — Fomos dar uma volta pela mata, aproveitamos e fomos até a
casa na árvore. — ela não tirou os olhos dos meus. — Está me ouvindo
Spencer? — perguntou ela. — Você ficou calado. — cada vez que mamãe fica
em silêncio, eu quase morro. — Lembra-se? Que bom. — silêncio. —
Estamos todos bem. Cattleya está aqui sim. — disse ela olhando-me. — Que
pena Spencer, ela não está neste momento, foi a cidade buscar no hotel um
amigo. Quando falei que ela estava aqui, quis dizer, passando uns dias aqui. —
silêncio. — Sim amigo, não o conhecemos ainda mas parece que tem algo a
mais nesta amizade. — mamãe sorriu cinicamente. Papai fez o mesmo. — Não
posso dizer namorado. Mas, Cattleya está vivendo um bom momento. — ela
sabe provocar. — Mas afinal, por que ligou? Não foi só para saber notícias de
Cattleya, não é mesmo? — sorriu. — Fico feliz por você querido, espero que
esteja fazendo a coisa certa. Você já sabe a data que virá? — silêncio. — E
sua noiva? — silêncio. — Três dias aqui. — falou. — Tudo bem, deixe-nos
saber de tudo para nos organizarmos para o seu grande dia. Casamento é para
a vida inteira, Spencer. Faça-a feliz assim como espero que ela o fará. —
silêncio. — Tudo bem querido, fique bem e estamos esperando por você. Um
beijo. — Desligou. Andou calmamente e sentou-se ao nosso lado outra vez.
— Bem, acho que o universo ainda nos fará grandes surpresas. —
Disse ela.
— O que ele disse, mamãe? — Perguntei.
— Querida, Spencer ligou para dizer que virá com sua noiva. Três dias
antes do casamento. Um conselho? — perguntou olhando-me. — Seja mais
forte do que você já é. Serão dias difíceis, mas algo me diz que ele não está
feliz. — Disse ela.
— Acho que vou me deitar um pouco. Depois continuamos a leitura. —
Não consegui ficar olhando para meus pais depois da notícia, precisava ficar
sozinha e com a minha dor. Tranquei-me em meu quarto, Spencer aqui, será
como jantar a mesa e a morte sendo a anfitriã.
Capítulo quatorze

O uvir tudo o que


Cattleya nos disse
deu-me clareza para
entendê-la. Não imaginava que eles tinham ido tão fundo em um
relacionamento. Não posso dizer que foi um namoro escondido porque estava
na nossa casa e diante de nossos olhos, fomos nós, ou somente eu, que não dei
a devida importância por eles serem primos e crianças. Agora minha filha está
sofrendo de um jeito que só ela será capaz de curar-se de sua dor. Ela é uma
garota surpreendente, forte, decidida, tenho que ser honesto em dizer que ela
tem muito de sua mãe e de mim. Porque somos assim, e passamos isso para
que ela pudesse enfrentar com o seu melhor sorriso, todas as situações ruins
que surgirem em sua vida. E olhar para Spencer com sua futura esposa, será
uma prova para minha garotinha.
Ela passou o restante do dia em seu quarto, demos o seu espaço para
que colocasse seus sentimentos e sua cabeça em ordem. Quando eu estava
fazendo nosso jantar enquanto Pétala trabalhava em seu computador, Cattleya
se juntou a nós.
— Olá! — Disse ela tímida.
— Oi filha, você está bem? — Perguntei.
— Sim, não se preocupe papai. — ela chorou, posso ver em seus olhos
inchados. — O que temos para o jantar?
— É a única coisa que fazemos nesta cabana, comer. — falei. — Uma
torta de camarão, sua mãe pediu esta noite.
— E você como um homem apaixonado, atendeu ao pedido. — Ela
sorriu.
— Como não atender? Olhe para ela. — falei e olhamos para Pétala
que nos ouvia sorrindo, tão linda. — Ela é perfeita, não é? — perguntei. —
Não só por fora, mas, seu coração é tão digno e doce, que não a amar seria
pecado.
— Meu Deus! — disse Cattleya e eu a olhei. — Como não admirar
tanto amor? — Perguntou com lágrimas nos olhos.
— O amor é admirável quando vivido por duas almas que se
encontram e eternizam o que sentem, selando assim suas vidas para a
eternidade, minha filha. — Falei.
— Eu tenho sorte por tê-los como meus pais. — Disse ela.
— Nós é que temos sorte por você ser nossa filha. — disse Pétala
abraçando-a. Ela a deixou e se aproximou com ar de menina má que é, e que
somente eu sei identificar o quanto é assanhada. — Eu amo você Lenhador,
sabia disso? — Não falei. Pétala mudou o timbre de voz só para me
atormentar, e senti isso em meu corpo que aqueceu em calor profundo. Ela me
beijou nos lábios e o que estava dormindo, acordou.
— Eu preciso terminar está torta. — Me afastei.
— Sim Lenhador, termine, estaremos esperando sentadas bem aqui,
olhando para você. — Disse ela com voz divertida agora.
— Vocês e seus códigos de sedução. — Falou Cattleya sorrindo. Elas
se sentaram e ficaram conversando enquanto eu terminava de fazer a torta.
Depois de pronta coloquei no forno e esperamos assar tomando vinho e
jogando cartas, e senti-me melhor por ver minha garotinha sorrindo com
nossas brincadeiras. Quando o jantar ficou pronto, comemos e fiquei admirado
ao ver Cattleya devorando dois pedaços grande de torta de camarão. Depois
do jantar, fomos para nosso canto para novamente começarmos a leitura do
meu diário, essa é uma das partes do meu dia que mais gosto. Ler cada linha
escrita e lembrar-me de momentos tão lindos com o meu amor, vale muito para
mim.
— Podemos começar? — Perguntei.
— Por favor, papai, nos encha de amor.
— Tudo bem, então, começaremos... Daqui.

Era madrugada quando Pétala deixou-o sozinho em sua cama. A


viagem a trabalho seria o motivo de solidão por longos vinte dias. Quando ele
acordou, deparou-se com um bilhete deixado no travesseiro em que ela
dormira.
“Pense em mim, Lenhador. Eu não demoro e logo estarei em seus braços. Te amo. Sua
Pétala”
— Deus! Traga-a rápido ou morrerei. — Gritou na esperança de ser
ouvido. Dexter ficou em seu quarto quase toda a manhã, o perfume dela não o
deixou levantar para o trabalho. Ficou ali grudado em seus lençóis como um
imã puxando-o para senti-lo e não o deixar esquecer-se de sua menina má. Já
passava das treze horas quando ele se levantou, tomou banho, vestiu-se com
pijamas e foi para a cozinha, o dia estava perdido e ele não queria sair de sua
cabana para ver e falar com ninguém, somente sentir a presença de Pétala que
era forte dentro da casa.

— Eu senti a mesma coisa. — disse minha amada interrompendo-me.


— Quando eu olhei para você dormindo não tive coragem de acordá-lo e sai
em silêncio. Mas nossas almas não se desligaram. Eu pude senti-lo mesmo
dentro do avião. Era como se eu soubesse cada passo seu, cada movimento de
suas mãos passando por seus cabelos. Eu senti o quanto você estava sofrendo
e eu também, por deixá-lo ali. Então eu fechei os olhos e falei com você por
pensamento, lembro-me perfeitamente, como se fosse neste exato momento. —
Disse ela olhando-me apaixonada. Cattleya sorriu e secou as lágrimas.
— Lembro-me de ouvi-la mesmo não estando ao meu lado. — falei. —
Eu estava sentado no sofá com uma caneca de café na mão, fechei os olhos e
ouvi o incômodo silêncio. Foi engraçado porque, o silêncio, nunca havia me
incomodado antes. Então, ouvi o sussurro de sua voz em meu ouvido, abri os
meus olhos e olhei para os lados e você não estava, fechei novamente porque
não queria deixar de ouvi-la e lá estava você falando comigo outra vez. Meu
coração se aqueceu em senti-la tão perto de mim, eu soube naquele instante
que você também podia sentir-me assim como eu estava sentindo-a. Foi mais
um momento mágico que vivemos. — Sorri para ela.
— Eu te amo Lenhador.
— Eu também te amo.
— Parem de me torturar e continue a leitura, papai. — Disse Cattleya
em lágrimas.
— Desculpe filha, vou continuar.

Dexter fez café, colocou em uma caneca e sentou-se no sofá. Ele


estava angustiado, solitário e então, fechou os olhos como se fosse um pedido
atendido em silêncio e ouviu a voz de Pétala. Sentiu sua presença viva ao seu
lado, ele abriu os olhos e fechou novamente sorrindo para o nada. Ele ficou
sentado por muito tempo pensando e sentindo Pétala, não foi fácil voltar a
realidade e levantar-se dali. Ele teve medo de perder a conexão, mas, mesmo
se quisesse isso não aconteceria. Suas almas estavam juntas andando lado a
lado.
Dexter passou o dia andando entre a cozinha e a sala, comendo, lendo,
pensando e desejando Pétala. A noite veio fria e sentiu-se infeliz por seu
corpo não estar para aquecê-lo. Ele foi para o quarto e deitou-se em sua cama,
abraçou-se aos lençóis e adormeceu sentindo o perfume daquela que mudara
completamente a sua vida.
Não foi diferente nos outros dias, Dexter ficou aflito algumas vezes e
quando seu coração apertava muito a ponto de sufocá-lo, ele derramava-se em
prantos como um menino. Todas as manhãs correu pela mata e como uma
rotina ou o amor falando mais alto, ele parava no lugar onde a teve em seus
braços. Ali, sentava-se e ficava por tempo de deixar as lágrimas da saudade
cair no chão. Mas logo recompunha-se e voltava para casa. Foram dias
insuportáveis, dias que Dexter viu-se gritando como louco por entre as árvores
e assustando os pássaros que estavam lhe fazendo companhia. Dias longos e
desesperadores que foram como a morte sufocando-o tão lentamente, que
desejou realmente jamais tê-la encontrado. A distância o deixou febril, sem
forças para quase nada. Mas sua insistência em manter-se um homem forte não
o deixou cair no fundo do poço sentindo a falta de seu amor. Quinze dias de
solidão, que pareceu ser mil séculos a passos de tartaruga.
E depois de mais uma semana entre choro e desespero, o sol se punha
devagar. Dexter estava na cozinha fazendo um sanduiche, comer já não era
mais um agradável prazer e em meio ao silêncio de sua mente que dera trégua,
ouviu a porta se abrir. Ele começou a tremer. Seu corpo cobriu-se por uma
eletricidade mágica sentindo-a ali olhando para ele que estava de costas.
Virou-se lentamente encontrando os lindos olhos de Pétala, em lágrimas.
Olhando-o demasiadamente saudosa, como se fosse o próprio Deus à sua
frente.
— Eu senti tanto a sua falta, Lenhador. — disse ela. — Que lhe
prometo aqui e agora, nunca mais ficar longos dias distante de você. — Dexter
fechou os olhos e puxou forte o ar para seus pulmões pelo alívio de ouvir a
sua rouca voz. Abriu-os novamente e não se conteve, deixou as lágrimas
banhar seu rosto expressando também o quão saudoso estava dela. Ele a viu
desabotoar o casaco e deixar cair no chão, seu corpo estava mais magro assim
como o dele, o tempo para ela também fora sofrido. Seu rosto estava sem cor e
suas olheiras marcadas fortemente como se as noites não tivesse existido.
Pétala tirou os sapatos, desceu lentamente o zíper lateral do vestido e deixou-o
cair em seus pés. Ele a devorou com os olhos.
— Tire a roupa Lenhador, eu quero você. — Disse ela. Dexter tirou a
camisa jogando-a longe, aproximou-se lentamente e não precisou dizer nada,
os olhos já se falavam por si só. Pétala o tocou no rosto secando suas
persistentes lágrimas e ele fechou os olhos, foi como sentir Deus tocando-o e
dizendo: ela não irá deixá-lo nunca mais, ela é sua, tome-a em teus braços e cuide-a muito bem,
é o teu presente.
— Eu te amo, Pétala. Não faça isso nunca mais ou não suportarei dias
assim. — Disse sôfrego.
— Não farei amor, eu prometo. — Pétala o abraçou. Ele a abraçou
forte. Foi o encontro mais lindo porque foi toque de coração com coração. O
abraço, não fora um simples abraço, e sim, corpos ligando-se em magia, amor,
plenitude. Seus corações pulsavam a mesma batida, em sintonia, conectados e
prometendo não se desligarem nunca mais. Eletricidade passando de corpo
para corpo, tocando pele contra pele. Palavras não foram necessárias, somente
o amor sentido por eles.

— Desculpe-me meninas, mas daqui não dá para continuar. — Falei.


— Aiii papai, você sempre me deixa curiosa.
— Então pare com sua curiosidade e vai fazer algo para comermos.
— De novo?
— Sim, mereço um lanchinho da noite só por lembrar-me do que está
por vir nesta leitura, preciso de energia minha filha. — Sorri para ela de um
jeito que a fez gargalhar.
— Tudo bem. — Cattleya foi para a cozinha e olhei para minha linda
esposa sentada ao meu lado.
— No que está pensando? — Perguntei.
— Em tudo que aconteceu naquela noite, foi especial, único,
importante. — Disse ela olhando-me.
— Sim, foi, eu amei cada momento.
— Você irá ler essa parte para mim Lenhador, lá no nosso quarto.
Hoje. — Disse e piscou para mim.
— Posso fazer melhor.
— É? E posso saber como? — Perguntou.
— Depois de ler, posso fazer tudo de novo com você, o que acha?
— Acho que vamos precisar ir para a mata, ou nossa filha irá ouvir
coisas que são impróprias para ela.
— Eu adoraria ir para a mata com você, meu amor. — Falei.
— Então é o que faremos. — Ela mudou o timbre da voz.
— Não me provoque Pétala, ou você correrá riscos insanos comigo.
— Gosto de me arriscar, Lenhador. Use suas armas, principalmente se
for uma grande e grossa. — Disse ela e beijou-me nos lábios.
— Atrevida. Vou dar-lhe o que tenho de grosso e grande.
— Não vejo a hora.
— O que vocês estão cochichando? — Perguntou Cattleya
aproximando-se com sanduíches.
— Nada menina curiosa. Vamos comer. — Falei tentando me recompor
da tentação Pétala. Comemos e conversamos um pouco, Cattleya já estava
sorrindo com mais frequência e mesmo assim seus olhos diziam-me que não
estava feliz. E saber que Spencer em breve estaria entre nós com sua noiva
Victória, me deixou com vontade de jogar tudo para o alto e dizer não ao seu
pedido de casar-se em nossa casa.
Terminamos de comer e fomos dormir. Cattleya nos deu boa noite e
entramos em nosso quarto. Pétala ficou nua e deitou-se cama como se fosse a
mulher mais inocente do mundo, olhou-me e disse:
— Estou esperando a leitura Lenhador, não demore, pois, meu corpo
queima por dentro. — Eu sorri para ela. Pétala é uma mulher sedutora, quem
não a conhece não vê, não entende, mas eu sei quando e como ela faz, e o
melhor é quando ela vela a sua sedução fazendo-me passar por situações de
controle. Ela é que tem total controle sobre mim.
Tirei minhas roupas e deixei na poltrona no canto do quarto, os olhos
de Pétala fizeram-me ficar duro, mas, com ela não precisa de muito para isto
acontecer. Deitei-me ao seu lado, me cobri com o cobertor, abri o meu diário e
olhei fixamente para ele. Pétala tem o domínio sobre meu corpo, meus desejos,
mas eu tenho também o domínio sobre tudo o que lhe dá prazer, o que a faz
queimar e se entregar sem reservas e deixá-la ansiosa. Respirando
apressadamente, mexendo os pés como ela estava fazendo, era sinal que entre
suas pernas já escorria o líquido de puro desejo. Então, comecei a ler.

— Eu senti sua falta, Lenhador. Nada foi como antes, tudo estava ruim
e não consegui fazer minhas reuniões e tomar minhas decisões porque você
apossou-se de minha mente e meu coração. Você não estava lá comigo para me
acalmar. — Dexter a puxou para um beijo ardente, sentiu toda a pele macia de
Pétala, quente, como se fogo estivesse nas veias no lugar de sangue fazendo-a
tremer em seus braços. Ele beijou todo o seu pescoço, ombros, colo e
mamilos, sugou seus seios com força, ouvindo-a gemer em seus ouvidos. Ele a
pegou em seu colo e a levou para o sofá de frente para a lareira, não deixou de
devorar sua pele em nenhum momento, deitou-a e rasgou a linda calcinha que o
atrapalhava e abriu suas pernas abocanhando seu sexo logo em seguida e
sentindo todo o gosto e cheiro que ficou em sua memória confortando-o da
distância entre eles.
— Lenhador! — Ela gemeu abrindo mais suas pernas e entregando-se
para ele, o único dono de seu corpo. Dexter chupou sua fenda com muita sede
deixando bem duro seu clitóris e quando sentiu que ela estava perto de liberar-
se em sua boca, ele tirou para fora da calça o mastro duro e grande, e de uma
só vez, a penetrou profundamente. Pétala não resistiu ao seu homem dentro
dela, explodiu em orgasmos múltiplos com as empaladas fortes de seu
membro. Dexter não deu tempo para ela, abaixou seu corpo prendendo-a no
sofá e a possuiu como macho alpha, entrando e saindo da carne apertada e
melada de sua amada. Pétala estava com todo seu corpo arrepiado e tremendo,
e no intervalo de um orgasmo para o outro, Dexter falou.
— Olhe para mim, Pétala. — ela ficou com os olhos fechados e
quando tentou abri-lo para olhá-lo como pediu, ele viu suas pupilas dilatas e
lágrimas de prazer escorrerem por seu rosto. Ela estava mole e sedenta dele,
olhando-o e amando estar ali, sendo dele, amada por ele. — Nunca mais ouse
a deixar-me aqui, sozinho, sem tê-la em meus braços, sem senti-la por dentro,
sem os teus lábios, sem os teus olhos olhando-me como agora. Você entendeu,
meu amor? Eu não posso com isto Pétala, eu não quero sentir a sua falta, sentir
saudades de você, ficar sem ouvir sua voz chamando-me de Lenhador. —
Disse sussurrando. Ele não deixou de penetrá-la com força fazendo seu corpo
balançar.
— Eu... Eu não vou, Lenhador. Todos esses dias foram para mim de
grande tormento sem você. Não quero a distância entre nós. — Disse ela quase
sem forças.
— Ótimo, porque todos os dias de minha vida, quero sentir seu
coração como estou sentindo agora, pulsando junto com o meu. Quero te fazer
minha sem horas e restrições, quero tê-la em meus braços para abraços de
amor e noites de amantes apaixonados. Eu quero você, Pétala, para sempre. —
Ele a beijou apaixonadamente sentindo todo seu corpo tremendo enquanto ela
derramava-se de prazer gritando seu nome, fazendo-o saber que ela era sua
mulher de corpo, alma e coração. Ele não demorou e deixou todo o seu sêmen
dentro dela, lá no fundo, marcando-a como a mulher do lenhador que era. Ela
chorou. Ele chorou.
— Eu te amo. — Disse ele.
— Eu te amo mais, Lenhador. —- Eles ficaram deitados no sofá.
Dexter ainda dentro dela, adormecendo devagar e sentindo a pulsação de sua
carne desacelerar. Fecharam os olhos e se abraçaram, não precisaram dizer
nada, seus corpos diziam tudo, seus corações falaram por eles.

— Eu posso sentir o seu coração como aquele dia, aqui e agora, amor.
— Disse Pétala me interrompendo. Eu olhei para minha linda esposa que
estava deitada de lado olhando-me carinhosamente.
— Eu posso sentir o perfume que você usava aquele dia. — falei. —
Ouvir o timbre de sua voz, sentir o seu coração, o gosto de sua boca, sua pele.
Eu posso viver aquele momento somente com minhas lembranças. — Falei
olhando-a com admiração.
— Vamos para mata, Lenhador. Aqui não será possível fazermos o que
desejo, quero ser tua sem reservas e preocupações. — Pétala levantou-se
rápido da cama, colocou o robe de seda que fica pendurado no closet, olhou-
me e sorriu. — Espero você. — Disse ela com o timbre de voz que me deixa
em chamas e saiu do quarto calmamente. Como uma felina prestes a dar o bote
em sua presa.
Levantei-me apressado e me vesti com uma calça de moletom, abri a
porta devagar e sai do quarto fazendo o mínimo de barulho possível, para não
despertar nossa menina curiosa. Quando abri a porta da sala para sair, pude
ver Pétala correndo para dentro da mata, fiz o mesmo. Fechei a porta devagar
e fui em direção a minha sedenta mulher. A mata estava fria, as folhas no chão
me deram a pista de onde ela estava. Fechei meus olhos e ouvi no silêncio os
seus passos apressados, ela queria o máximo de distância da casa e mesmo
com a escuridão da noite, Pétala sabe que eu a caço pelo faro a encontro onde
quer que esteja. Abri meus olhos e segui o barulho das folhas secas, meu
coração disparado pela adrenalina que ela me faz viver, nossa vida nunca foi
monótona, sem graça ou sem um pouco de sorriso. Pétala sempre me deixou
aceso o tempo inteiro, uma verdadeira mulher que coloca fogo na lenha para
ver-me queimando de desejo por ela. Eu a vejo correndo entre as árvores, a
lua sempre esteve ao meu favor, linda e imponente no céu só não era mais
perfeita que minha mulher, de cabelos soltos e sorriso nos lábios, correndo e
olhando para trás lançando-me um olhar sedutor. Ela parou e ficou de frente
para mim, diminui meus passos e o ritmo de meu coração com fortes puxadas
de ar para meus pulmões, aproximei-me de Pétala que estava ofegante.
— Você é uma menina má, sabe disso, não é?
— Sim Lenhador, agora não fale mais nada e toma-me em teus braços,
pois estou queimando de vontade de senti-lo dentro de mim. — Pétala
desamarrou o robe e deixou cair no chão, nua e linda aos reflexos da lua, seu
corpo é como uma pintura desenhado pelo próprio Deus e colocado em uma
moldura. Ele a fez perfeita para mim. Tirei minha calça deixando-a no chão e
dei um passo à frente, eu vi nitidamente como isso fez subir e descer o seu
peito, ela já estava sentindo-me dentro dela. Olhei em seus olhos e fiquei bem
perto de seu corpo, passei minhas mãos vagarosamente em seus braços de
cima para baixo, sentido todo o arrepiar, ouvindo o ofegar de sua respiração e
olhando em seus olhos a suas pupilas dilatadas de prazer. Eu segurei entre os
dedos os seus mamilos duros — ela gemeu incontrolavelmente — quase
fechando os olhos, mas ela conhece-me bem para que os mantenha abertos
olhando-me. Seus lábios se abriram e ela começou a tremer, desci passando os
dedos por seu ventre devagar, e ela ficou ofegante. Coloquei minha mão em
sua nuca e segurei seus cabelos mantendo sua boca a minha mercê. Com a
outra mão, desci até seu sexo e a penetrei com os dedos beijando seus lábios
doces e contendo seus gemidos, segurando seu corpo contra o meu para que
ela não desabasse no chão, pelo intenso e rápido orgasmo que a proporcionei.
— Lenhador. — Gemeu em meus lábios. Pétala afastou-se do meu
corpo tremendo, ofegante com as pernas sem controle. Ela abaixou-se no chão
olhando-me como uma felina sedenta, virou-se e se pôs de quatro, empinando
e oferecendo-me todo seu sexo babado. Eu não disse nada, somente concedi a
ela o seu desejo. Abaixei-me de joelhos entre suas pernas e segurei sua carne
farta da bunda empinada para mim, ela abaixou seu tronco todo no chão,
fazendo das folhas secas os seus lençóis. Segurei meu membro já babado de
líquido pré-sêmen e passei por toda a sua abertura, da linda e apertada fenda
até o ânus desejoso de meu mastro. Voltei para a entrada da fenda e a penetrei,
fundo e forte, como ela gosta. O único som que ouvi além do silêncio da mata,
foram seus gemidos incontroláveis enquanto eu a empalei duramente.
— Pétala. — Ela não respondeu. Mas não precisei de respostas por
sua voz, seu corpo estava me dando todos os sinais de seu prazer e os motivos
que a deixaram sem conseguir falar. Senti toda a parede de seu sexo
apertando-me, engolindo-me, devorando-me como se eu fosse deixá-lo e ir
para longe. Levantei o corpo trêmulo de Pétala segurando em seus lindos
seios. Sei que ela tem certo desprezo por eles, eu não, amo-os e farto-me de
como eles são. A amamentação os deixou levemente caídos e com uma
flacidez quase imperceptível aos meus olhos, se não fosse por ela falar tanto
que não gosta, eu nunca perceberia este detalhe insignificante. Encostei suas
costas em meu peito, e a penetrei mais forte e duro, apalpando, enchendo
minhas mãos com seios deliciosos que amo, não os trocaria por nada no
mundo e jamais permitirei aquelas coisas de plástico, silicone ou sei lá o
nome daquilo neles tirando toda a naturalidade, pelo qual sou loucamente
apaixonado. Pétala começou a tremer mais forte, espasmos intensos e gemidos
desesperados pelo prazer, então eu comecei a bater fundo dentro dela,
sentindo o tremor de sua carne úmida e quase não consegui me controlar com
todo seu sexo sugando o meu, em forte espasmo de orgasmos intensos. Seus
gritos são como música para meus ouvidos e então, eu explodo dentro da
minha linda e deliciosa mulher, de onde eu jamais deveria sair, mantendo
nossos corpos entrelaçados para o resto de nossas vidas, dando-lhe prazer
como ela merece.
— Dexter. — gritou. E eu continuei até deixar dentro dela a última gota
do meu esperma. — Eu te amo, Lenhador.
— Eu te amo, minha Pétala. — Sussurrei em seu ouvindo mostrando-
lhe com minha voz todo o prazer que estava sentindo e isso a fez tremer mais.
Caímos deitados em cima do robe de seda, eu a abracei por trás e ficamos
ouvindo o acalmar de nossas respirações e adormecemos com a lua nos
beijando em sua majestade.
Capítulo quinze

A cordei com Pétala


tremendo. Nossos corpos
que outrora estavam
quentes pelo prazer que tivemos, agora era pelo frio da madrugada nos tocava
deixando-nos trêmulos. Levantei-me e vesti minha calça, ela estava deitada em
cima de seu robe e acordá-la foi inevitável.
— Amor. — chamei. — Pétala querida. — ela abriu os olhos. —
Precisamos entrar, já está frio aqui, venha, vou ajudá-la a se vestir.
Ela não disse nada, levantou e eu coloquei o seu robe cobrindo sua
nudez. Peguei minha amada esposa em meus braços e ela voltou a dormir.
Quando chegamos em casa, empurrei a porta com meu corpo entrei e subi a
escada devagar. Ao entrar em nosso quarto, deixei-a na cama e a cobri para
aquecê-la. Olhei para o relógio no criado-mudo e já passava das 5h30min da
madrugada, foi sorte Cattleya não nos ver entrar em casa sorrateiramente.
Tomei um banho rápido e não consegui voltar a dormir e como de
costume, coloquei meu tênis e sai para correr. Esvaziar a mente, ver a
natureza, sentir a energia do bem para começar o meu lindo dia ao lado das
mulheres que mais amo. Enquanto ouço as pisadas fortes que dou na minha
corrida, penso em Pétala. Sei que sua felicidade não está completa, ela sonha
em uma nova gestação. Eu fui ao médico sem o seu conhecimento para ver se
eu não estava com algum problema de infertilidade, mesmo já tendo uma filha,
pode sim ocorrer algumas complicações sem que eu tenha conhecimento disto.
Mas não, está tudo em perfeita saúde comigo. Não quero magoar minha mulher
tocando no assunto de tratamentos, ela poderia achar que estou desesperado
por outro filho, mas também, aqui dentro do meu coração, sei que é só uma
questão de tempo, vejo Pétala de barriga crescida o tempo inteiro e essa visão
não é da gestação de nossa filha, pois ela sempre aparece ao lado da mãe
acariciando seu irmão. Acho que isso são sonhos que tenho na verdade e não
uma visão.
Também tem nossa Cattleya, uma menina que está começando a vida,
mas já está amando. Por que estas coisas acontecem? Não podia esperar até
completar trinta anos e ser adulta o suficiente para sofrer os seus problemas
com sabedoria? O que estou dizendo? Cattleya é uma adulta, muito mais do
que eu até. Dói saber de como está seu coração, mas cada um com seu
caminho, com sua história.
Corri tempo demais para deparar-me novamente na frente da nossa
casa, e ao entrar na sala todo suado e com minhas energias renovadas com a
corrida e a música que a mata cantou presenteando-me, com o seu balançar de
galhos e pássaros, vejo minha menina com seus pensamentos. O cheiro de café
invade minhas narinas, Cattleya está à beira do fogão a lenha.
— Bom dia filha, dormiu bem? — Perguntei.
— Muito bem papai, e você?
— Não poderia ser melhor. Sua mãe já acordou?
— Não, e tenho para mim que irá demorar a acordar. — Disse
sorrindo, já vi que lá vem bomba.
— Por quê?
— Acho que tinha lobos na mata essa noite, os uivos vinham de longe,
mas vinham. — A atrevida olhou-me nos olhos com cara de que sabia o que
tínhamos feito.
— Bem, eu não entendi o que quis dizer nas entrelinhas sua atrevida,
mas, nesta mata não há lobos.
— Ahhh! Tem sim e posso garantir que é um alpha muito possessivo.
— Ela caiu na gargalhada.
— Vou tomar meu banho, porque você já amanheceu assim, cheia de
piadinha? Menina atrevida. — Subi a escada correndo de vergonha por não ter
conseguido disfarçar como eu deveria. No quarto, Pétala estava tomando
banho, me juntei a minha linda mulher debaixo da água morna e deliciosa,
fizemos amor lentamente e em silêncio, sem nenhum gemido para não
despertar a audição atenta de nossa filha. Mas foi especial do mesmo jeito.
Terminamos, nos vestimos e descemos para encontrar nossa filha, ela tinha
colocado uma linda mesa de café da manhã, abraçou a mãe dando-lhe bom dia
e tomamos café tranquilamente, sem nenhuma piada dos lobos uivantes da
mata.
— Vamos a leitura? — Perguntou Cattleya.
— Já? Não pode ser mais tarde?
— Não papai, agora. O que você tem para fazer que não pode ler?
— Nada filha.
— Então pare de preguiça e vamos. Preciso gravar tudo para meu
livro.
— Tudo bem, vamos a leitura. — Sentamos acomodados na sala e
comecei a ler.

Dexter e Pétala ficaram deitados no tapete da sala ouvindo o barulho


da lenha queimar. Sentindo a pele quente, deixando seus corpos falarem de
como sentiram falta um do outro nos dias de solidão. Até que ela quebrou o
silêncio.
— Dexter. — Chamou.
— Sim, meu amor.
— Como iremos fazer? As viagens que preciso ir, as reuniões que não
posso faltar, como vamos lidar com dias assim? — Perguntou ela.
— Eu não quero mais ter que deixá-la ir, Pétala. É demais para mim,
foram dias terríveis sem você. Parece absurdo, é pouco tempo que estamos
juntos, mas parece uma vida. É muito forte o que sinto por você, é verdadeiro
e puro e não existe nada que poderá amenizar a dor enquanto estiver em longas
viagens. Não me peça para deixá-la partir.
— Eu preciso administrar a minha vida, meus hotéis, minha família.
Depois de amanhã tenho mais uma viagem para fazer. — Dexter ficou com o
corpo rígido. — Calma amor, deixe-me falar, ouça-me com atenção. — Pediu
ela.
— Pétala, pelo amor de Deus. — ele fechou os olhos apertando-os
com os dedos. — Diga-me quantos dias desta vez? — Perguntou com a voz
embargada na garganta. Ela levantou e ficou sentada olhando a sua agonia.
— Olhe para mim, Dexter. — ele olhou. — Ouça, só tem uma opção
para não ficarmos separados por tanto tempo.
— E qual seria? — Perguntou ele.
— Você vir comigo nestas viagens. — ela viu seus olhos arregalados
de susto. — Eu não estou pedindo para você mudar a sua vida, não estou
dizendo para deixar a mata e viver aquilo que você nunca quis. Apenas estou
pedindo para você vir comigo para ficarmos juntos, e quando minhas
obrigações acabarem, voltaremos para esta cabana. — Disse ela.
— Eu tenho minha vida aqui, Pétala. Meu trabalho, meu sustento, meu
lar. Esta casa era de minha mãe, as lembranças que tenho de bons momentos
que vivi ao seu lado estão aqui e jamais deixarei para trás. Eu não posso
esquecer o que ela viveu para me dar uma educação digna, foi escondido e em
meio a punhos em seu rosto e seu corpo, as surras de cinto e varas verdes
deste quintal, que ela fez de mim o homem que sou hoje. — Disse ele triste.
— Meu Deus, Dexter. Não sei de tudo o que você passou, não tivemos
tempo para falar sobre nossas dores. Mas, também não estou pedindo para
você abandonar a sua vida e suas memórias. Estou pedindo para acompanhar-
me em minhas viagens e voltarmos juntos para casa. — Disse ela.
— Quanto tempo você vai ficar desta vez? — Perguntou ele.
— Vinte dias novamente. — Ele fechou os olhos de raiva.
— É uma eternidade. — Disse ele.
— Sim é, e por isso não quero deixá-lo aqui porque para mim também
não foi nada fácil ficar longe de você.
— Eu não faço parte do seu mundo, Pétala. — disse olhando-a. — O
que irão dizer de você, ao lado de um simples lenhador?
— Eles eu não sei, e pouco me importa. Quem tem que achar alguma
coisa sou eu e te amo simples lenhador, como jamais amei e vou amar. Eu sou
tua com toda a simplicidade que existe em você, lenhador ou não, é somente
você que eu quero para ser o homem dono do meu coração. — Ele sorriu e a
puxou para um beijo apaixonado.
— Então eu vou, futura senhora Sawyer. Eu irei com você meu amor, e
a trarei de volta para nossa casa.
— Obrigada Dexter. — Disse aliviada. Eles se amaram mais, e o dia
passou lentamente para tanto amor que emanava de dentro da cabana.
Comeram, conversaram, sorriram, se amaram e dormiram. No outro dia,
Dexter resolveu tudo para sua estadia fora, deixou organizado seu trabalho, as
encomendas foram entregues e um trabalhador de sua extrema confiança ficou
tomando conta das outras entregas que teriam que serem feitas durante a
semana. O dia passou rápido e a noite chegou com vento frio, eles estavam na
cozinha fazendo o jantar quando Pétala falou.
— Bem, amanhã lá no hotel vou resolver tudo sobre nossa viagem,
podemos também fazer algumas compras para você, roupas, sapatos, o que
acha? Ou enquanto envio alguns e-mails você poderia ir ao shopping fazer
isso, eu deixo meu cartão com você. — Disse ela naturalmente. Dexter que
estava cortando os legumes, ouviu tudo atentamente e parou quando ela
mencionou em entregar-lhe seu cartão. Ele olhou para Pétala que estava
sorrindo por achar que tinha tido uma ideia brilhante.
— Eu não vejo nada demais em ir fazer compras enquanto você
trabalha. Realmente eu estava pensando a mesma coisa. Tenho roupas novas
sim, porém não para ir com você a lugares onde imagino que frequente.
— Que ótimo amor, então...
— Deixe-me terminar, Pétala. — Disse ele sorrindo para ela.
— Oh, desculpe, continue.
— Mas tem um único problema, meu amor. — ela parou de sorrir e
franziu a testa. — Jamais você mencionará novamente em deixar-me o seu
cartão. Roupas, sapatos, perfumes e o que mais for necessário, tudo sairá do
meu bolso. Eu tenho dinheiro amor, não estou falando isso por não concordar
que uma mulher presenteie o homem a qual ela ame, estou falando para deixá-
la saber que, eu tenho muito dinheiro guardado e não preciso que você se
disponha a sustentar-me por talvez pensar, que não tenho como manter-me
financeiramente em uma viagem. — ela ficou olhando-o surpresa. — Não
estou falando de dez mil dólares em minha conta, falo de mais zeros que você
possa imaginar. — Disse ele.
— Você tem dinheiro? — Perguntou ela incrédula. Ele sorriu.
— Sim meu amor, eu tenho dinheiro.
— Como? — Perguntou.
— Trabalhando sua bobinha, como acha que me sustento? — Ele
gargalhou e continuou cortando os legumes.
— Desculpa Dexter, mas, como? — Ele parou novamente de cortar os
legumes, e olhando para ela disse.
— Meu amor, você é uma mulher de hotéis. Talvez não saiba, mas, o
que faço para viver e minhas terras são muito rentáveis. Eu fiquei com todo o
dinheiro ganho por meu pai quando ele ainda era vivo. Ele ensinou-me a
administrar todo o trabalho com a madeira e com os clientes. Eu estou sozinho
desde os treze anos de idade, trabalhando e poupando. Meu gasto não é nada
para o tanto de dinheiro que recebo mensalmente de todas as encomendas que
tenho, e se eu vivo aqui sem energia elétrica ou tecnologia como você mesma
vê, não é por falta de dinheiro para pagar e sim por uma opção minha. Eu não
tenho uma vida social para gastar com amigos ou mulheres, vivo como gosto
de viver, simples, na casa onde fora de minha mãe, cozinhando neste fogão,
com os carros que tenho, isto já basta para mim. Não por falta de ambição na
vida, não, mas por amar como vivo, somente. Pago meus impostos anualmente
sem sonegar um centavo e mesmo assim, tenho um bom dinheiro na minha
conta. — Pétala ficou olhando para Dexter admirada, ela pensou muitas
coisas, mas com certeza, não pensou que ele tinha reservas financeiras.
— Dinheiro? — Falou ainda sem acreditar.
— Sim, posso fazer um ótimo investimento e nunca mais trabalhar na
minha vida, Pétala. Mas isso eu não quero, eu preciso de trabalho, de sempre
ocupar minha mente com negócios, números, é disso que gosto e me faz digno.
Como diz o ditado clichê, o trabalho dignifica o homem.
— Gostei de saber disso Lenhador. Você não imagina o que está
passando pela minha cabeça neste exato momento. — Disse ela olhando-o
fixamente.
— Bem, com esses seus olhos de águia, deve ser algo que irá me
assustar então, dá para não me falar agora? — Perguntou ele sorrindo.
— Vou me calar, por ora. — Disse piscando maliciosamente para ele.
— Ótimo. — Eles fizeram o jantar com Pétala falando sobre o que eles
iriam fazer entre os intervalos de trabalhos. Dexter não era um homem do
mundo, vivendo entre um avião e outro com reuniões em todos os países
importantes. Mas seu coração era terra sábia, suas percepções, observações e
intuições, já diziam que ele não iria gostar do que veria no mundo de Pétala.
Ele é um homem de uma só palavra, e se o mundo de Pétala não for com o
mesmo ideal de igualdade que ele acredita ser correto, mesmo que seu
coração quebre em mil pedaços, ele não se corromperá e não fará parte dele.
O jantar ficou pronto e eles comeram animados. Era visível como os
olhos de Dexter amava olhar para ela, eles se enchiam de lágrimas por cada
vez que seus lábios exibia um sorriso. Pétala também estava sentindo todo o
amor dentro da cabana, seus olhos apaixonados não deixavam os dele, de seu
lenhador. Quando terminaram de jantar, lavaram as louças juntos e foram
dormir para descansar porque o dia seguinte seria um dia cheio e com muitas
novidades. Adormeceram depois de se amarem mais uma vez.
O dia amanheceu chuvoso, Dexter levantou-se e começou a arrumar as
suas bagagens para a viagem enquanto Pétala ainda dormia. Ele pegou seus
documentos, alguns pijamas de dormir e tudo o que achou necessário,
organizou na mala pequena de viagem, a qual ele nunca havia usados antes, e
depois foi tomar banho. Logo Pétala se juntou a ele no chuveiro e uma hora
mais tarde eles estavam prontos para saírem de casa rumo ao mundo
desconhecido para Dexter, onde Pétala seria seu porto seguro. Não por ele ser
um homem de poucos conhecimentos, mas sim, por ser inteligente demais por
saber que fora de sua cabana, o que manda é a ambição, dinheiro, luxúria e
maldade. Coisas pelas quais ele se manteve afastado.
Ao chegarem no hotel, Dexter pode ver uma outra Pétala surgir diante
de seus olhos. A face fria da mulher de negócios tomou conta da amável e
suave que ele conhecia. Entraram de mãos dadas nas grandes portas de vidro
azul que ele tinha visto quando a deixara aqui com o pé quebrado.
— Srta. Mackay, bom dia. Deseja alguma coisa? — Perguntou o
secretário que sempre estava ali pronto para atendê-la.
— Vou para minha suíte, Marcos. Está tudo pronto para viajarmos? —
Perguntou séria e sem deixar as mãos de Dexter. Marcos olhou para ele
assustado pois nunca a viu chegar com nenhum homem em seus hotéis, ele
deixou bem claro isso só com o olhar que foi direcionado para um Dexter
bastante atento.
— Tudo em perfeita ordem, senhorita. — Respondeu ele.
— Marcos, este é Dexter, meu...
— Futuro marido, e não demora muito. — Respondeu Dexter
estendendo-lhe a mão educadamente.
— Muito prazer senhor, estou à sua disposição assim como de Srta.
Mackay. — Marcos o cumprimentou sorridente.
— Não se preocupe comigo. — Disse Dexter.
— Marcos, providencie uma loja masculina que nos traga roupas,
sapatos, ternos, tudo que um homem precisa para se vestir. Eu confio em seu
bom gosto. Quero tudo em minha suíte para Dexter experimentar. — Disse ela
puxando-o para o elevador.
— Imediatamente senhorita. — Falou e virou em seus calcanhares.
Uma ordem de Pétala teria que ser cumprida rápido, principalmente por
estarem com horários apertados e logo precisariam estar dentro de um avião.
— Eu posso ir ao shopping. — Disse Dexter assim que a porta do
elevador se fechou. Ele não ficou deslumbrado com o tamanho luxuoso do
hotel, quer dizer, ele disfarçou bem para não parecer uma pessoa que nunca
entrou em um hotel como aquele na vida.
— E eu vou perder o desfile privado? — disse sorrindo. — Nunca
amor, quero ajudá-lo a escolher tudo. Não por não confiar em você, mas pelo
simples prazer de ser a primeira vez que faço isso com você, o homem que
amo. — Disse olhando-o apaixonadamente.
— Eu entendo amor. Não se preocupe. — O elevador chegou ao último
andar e quando as portas se abriram, todo o esforço em disfarçar que ele
estava deslumbrado com o luxo do hotel, caiu por terra. As portas se abriram
já dentro do quarto de Pétala, e não havia nada igual de mais lindo e caro que
seus olhos já viram.
— Meu Deus, que lugar é este? — perguntou olhando tudo em volta. —
E você fica tão à vontade na minha casa, tão sorridente. — Disse ele.
— Lá é simples, mas confesso que é onde me deixa feliz, faz-me sentir
amada por você, aquele lugar é mágico e eu o amo com todo meu coração. —
Disse ela. Ele a olhou com dúvidas.
— Tem certeza? Aqui é muito diferente do meu lugar. E é aqui que
você vive. — Disse ele.
— Com o tempo eu irei provar que falo a verdade, Lenhador. Lá é o
meu lugar, não aqui.
— Tenho receio que você no futuro possa se arrepender disto que está
dizendo. — Disse ele abraçando-a carinhosamente.
— Não tenha medo Dexter, só você poderá afastar-me de viver ao seu
lado. Se jamais pedir para eu ir embora, eu não irei, nunca.
— Eu não vou, mas isso depende de nós dois, não só de mim.
— Eu sei, e estarei ao seu lado para todos os momentos, assim como
tenho certeza que você estará ao meu. Somos um só, Lenhador, e nada vai
mudar o que temos e sentimos. Dou-lhe minha palavra.
Capítulo dezesseis

M arcos não demorou


a bater na porta da
suíte acompanhado
por dois vendedores, uma moça muito simpática e um rapaz. Eles entraram
empurrando duas araras de roupas penduradas em cabides e cobertas com
sacos de proteção. Depois junto com Marcos, deixaram mais de dez sacolas
espalhadas em cima da grande e lindamente arrumada e decorada cama.
Parecia mais um monumento de museu do que uma cama de hotel.
— Você trouxe o shopping inteiro, Marcos? — Perguntou Dexter
divertindo-se com ele.
— O senhor precisa de muitas opções. — Falou devolvendo o sorriso.
— Obrigada, Marcos. — disse Pétala. — Se não tiver nada de
importante para fazer, ajude-me nas escolhas com Dexter? — Perguntou ela.
— Claro senhorita. Não tenho nada de urgente.
— Perfeito, mostre-nos tudo. — Disse ela batendo palmas. Dexter viu
o quanto estava se divertindo com aquilo, mas não deixou o sentimento que
estava quase enraizando em seu coração de que ela gostaria de mudá-lo,
transformá-lo em uma outra pessoa. Ele tentou expulsar esses pensamentos
amaldiçoados para bem longe dele só por vê-la feliz.
— Então vamos começar pelas sacolas. — Disse Marcos. Ele pegou
duas e tirou as roupas de dentro delas e as entregou a Dexter, que logo foi ao
closet experimentar. Ao sair vestido com roupas tão caras, Pétala ficou com a
boca aberta. Dexter percebeu o silêncio perturbador e de olharem para ele
como se ele fosse Deus.
— Perderam a língua? — Perguntou.
— Você está simplesmente, perfeito, Lenhador. — Disse Pétala com a
voz rouca. Dexter percebeu o timbre provocador, ele olhou em seus olhos e
viu o quanto de desejo ela estava. Ele engoliu seco controlando-se para não
despertar a curiosidade dos olhos de seu assistente que estavam em cima
deles.
— Lenhador? — Perguntou Marcos levantando a sobrancelha.
— Sim querido Marcos, meu futuro marido é um lenhador. — Marcos
olhou para Dexter que o encarava.
— Não imaginava. — Disse ele.
— Por quê? — Perguntou Dexter, sério.
— Nada, senhor. — Dexter nem de sua cidade tinha saído e o
preconceito já estava estampado. Era essa a sua maior luta, ele não suportava
preconceitos e certos tipos de indiretas.
— Continue amor, quero vê-lo com tudo. — Disse Pétala quebrando o
clima tenso. Ele vestiu mais roupas em duas horas do que em toda a sua vida.
Experimentou ternos, gravatas, sapatos, perfumes e tudo o que Pétala quis.
Gostou de tudo o que eles escolheram juntos e o melhor, era que não
descordaram de nada, o que Dexter gostava, ela também. Quando terminaram,
Marcos pediu a uma camareira para fazer as malas dele. Os vendedores
estavam indo embora quando Dexter perguntou.
— Como eu faço para pagar por tudo isto, Marcos?
— Não se preocupe senhor, tenho o número do cartão da senhorita
Mackay.
— Acho que você não entendeu a pergunta. — disse ele colocando as
mãos dentro dos bolsos da calça. — Eu perguntei, como EU faço para pagar
por tudo isto? — Pétala que estava ao lado de Dexter, viu o quanto ele se
sentiu incomodado com o que Marcos disse.
— A nossa gentil vendedora aqui. — disse. — Está com a máquina de
passar cartão. — Falou. A vendedora tirou da bolsa a máquina e Dexter pegou
o cartão em sua carteira.
— Senhor. — disse ela colocando em cima da mesa. Dexter passou o
cartão e pagou tudo, sem olhar o valor. — Obrigada, senhor.
— Eu que agradeço a gentileza de terem vindo até aqui. — Disse ele.
— Tenham uma boa viagem. — Disse o vendedor. Eles saíram
deixando Marcos.
— Vai precisar de mais alguma coisa, Srta. Mackay? — Perguntou ele
muito constrangido.
— Não, por ora é só. Obrigada.
— Disponha senhorita. Senhor, desculpe-me por algum mal-entendido.
— Disse ele e saiu do quarto sem esperar a resposta de Dexter. Ele não tocou
no assunto com Pétala e ela também fez o mesmo. Eles passaram o dia no
quarto, ela entre e-mails e ele entre pensamentos confusos, certezas e
incertezas. No final do dia eles seguiram para o aeroporto a primeira parada
seria NY. Pétala tem duas reuniões importantes e Dexter estava convidado a
participar. Ele não se opôs, afinal, estava indo para acompanhá-la em tudo e a
pedido de sua amada. Mesmo que fosse muito diferente do seu habitual, ele
estava ao lado da mulher que o fazia feliz.
O voo foi muito tranquilo, eles voaram no jato particular de Pétala e
chegaram a NY às duas horas da madrugada e foram direto para a casa. Em
NY, ela não tinha somente hotéis, também era onde residia. Dexter admirou
tudo o que seus olhos viam, não podia acreditar que ela ficava tão
naturalmente em sua casa no meio do nada como se fosse seu verdadeiro
palácio. Ele não estava duvidando de seus sentimentos, ele estava tendo a
certeza de que ela o amava de verdade. Porque o amor é assim, quando ele o
presenteia, não avisa o tempo, data, mês, ano, ele apenas chega e fica em seu
coração.
— Bem-vindo a minha casa, meu amor. — Disse ela ao entrarem.
— Obrigado. É perfeita.
— Não, não é. — ela o olhou carinhosamente. — Você não vive aqui
comigo, então ela não é perfeita. — ele sorriu, mas não chegou aos olhos.
Dexter teve medo de ela não se acostumar com uma vida tão simples ao seu
lado. — Vamos dormir, estou morta de sono. Minha sorte é que a primeira
reunião amanhã será às quinze horas. — Pétala segurou em suas mãos e
percebeu que estavam frias, mas não falou nada. Simplesmente o levou para
seu quarto e enquanto ele olhava tudo, ela se despiu e deitou-se na cama. —
Tire suas roupas Lenhador e deite-se comigo, não vai passar a madrugada aí
todo sem jeito, vai? — Ela sorriu para ele confortando-o. Dexter tirou suas
roupas e deixou em cima do sofá como ela fez, deitou-se ao seu lado
aconchegando-a em seus braços. — Obrigada por estar aqui, estou mais feliz
agora. — Disse ela quase sem voz vencida pelo sono.
— Eu estou feliz também, meu amor. — Ele ouviu o ressonar de Pétala
que adormeceu logo em seguida.

— Papai. — Chamou Cattleya fazendo-me parar de ler.


— Sim, filha.
— Você não gostou dessa viagem? — Perguntou ela.
— Não sei se posso dizer que não gostei. Por um lado, foi o divisor de
águas na minha relação com sua mãe. Eu me senti apreensivo, sufocado posso
dizer até. Ao mesmo tempo me senti um verdadeiro idiota. Tudo bem que gosto
de minha vida simples, sou um homem com certas reservas, não gosto de
pessoas ambiciosas no meu mundo, mas sempre tive condições financeiras e
nunca fui um homem de não ter como fazer uma ótima viagem ou ir a um bom
restaurante. Acho que meus momentos de solidão não precisariam ter existido
por tanto tempo. Sinto que eu poderia ter conhecido melhor o mundo e ter me
preparado para meu destino com Pétala. — Falei. Olhei para minha mulher e
ela observava-me atentamente, mas não disse nada.
— Mas você não gostou do que viu.
— Não foi bem assim, ainda chegaremos nesta parte. — falei. — Eu
não consegui ficar perto das pessoas que faziam parte do mundo dela na
época, para não cometer um ato que eu pudesse vir a ter um arrependimento
maior. Passamos por vários lugares e cada vez estava mais difícil não olhar
para o que estava acontecendo. Tornou-se muito perigoso continuar aquela
viagem com ela e por isso pensei em deixá-la voltar para sua vida sem mim, e
escolher o que era melhor para ela.
— Desde o primeiro momento em que nossos olhos se encontraram,
Dexter, você sempre foi o meu acerto. — disse minha mulher. — Você, foi o
meu melhor, foi e será a minha escolha. — Disse séria.
— E eu agradeço a Deus por ouvir e saber disso, Pétala. Eu não
saberia viver em um mundo onde você também vive, mas que eu não pudesse
tocá-la, tê-la em minhas noites e dias.
— Eu só tenho a agradecer por ter nascido desse amor. — Falou
Cattleya emocionada fazendo-me sorrir para ela. — Pai, você ficou com
vergonha de ser você? Um homem simples, um lenhador? — Perguntou ela.
— Não, isso jamais. Eu sou um lenhador com muito orgulho. Faço o
que amo, vivo com o que me dá prazer, usufruo de ótimos momentos que
jamais dinheiro algum conseguirá pagar. Quando conheci o mundo de Pétala,
eu soube que não seria feliz nele porque as pessoas que lá estavam, não eram.
Mesmo com toda a soberba, o dinheiro, poder, elas eram e ainda são tristes e
amarguradas. Eu não quis aquela vida, eu não viveria aquela vida. — Falei.
— Eu vivi aquilo muito tempo e posso dizer uma coisa, eu não sabia o
que era felicidade. Por isso meu coração era triste, por mim, por minha mãe e
meu irmão, por trabalhar e ficar cada segundo mais rica sem saber como era a
liberdade de amar. Eu estava presa em meu próprio cárcere onde era quase
impossível sair dele, seu pai entrou em minha vida para liberta-me. O que eu
fazia era ganhar e nunca perder dinheiro, hoje eu sei que ele é bom, mas não
preciso de tanto para ser feliz, eu tenho vocês e isso me basta. Não que eu não
seja agradecida pelo que temos, eu seria muito hipócrita se dissesse isso, mas
aprendi a ver a vida com outros olhos. — Disse Pétala.
— Que bom que vocês aprenderam, assim eu tenho os dois, o dinheiro
e a simplicidade. Ambos é um pacote perfeito. — Disse Cattleya. Pétala e eu
nos olhamos e não aguentamos, caímos na gargalhada.
— Você é uma garota muito esperta, Cattleya. — falei. — Você está
absolutamente certa, dinheiro é ótimo, precisamos somente saber usá-lo. Por
isso mesmo que depois de tudo aquilo que aconteceu, eu me abri para o mundo
e vivi momentos incríveis com minha linda mulher em viagens perfeitas, mas
sempre, voltamos para casa, para a nossa cabana simples no meio da mata,
para a nossa vida costumeira e que nos faz verdadeiramente felizes.
— Isso mesmo Lenhador. — Disse Pétala.
— Bem, já estou com fome e vocês? — Perguntou Cattleya.
— Meu Deus, o que nós fazemos dentro desta casa é somente comer e
ler, comer e ler, vamos fazer outras coisas meninas. — Falei.
— Não pai, vamos terminar a leitura, depois faremos tudo sem
interrupções. Preciso de material e você tem que ler para me passar a emoção,
e ponto final. Agora, vai fazer alguma coisa para comermos, por favor. —
Disse com sorriso cínico.
— Você é abusada garota.
— Ela é folgada isso sim. — Disse Pétala. Eu estava indo para a
cozinha, quando o telefone tocou.
— Atende amor, vou ao banheiro. — Gritou Pétala subindo os degraus
para o quarto.
— Então eu faço algo para comermos, atende papai. — Disse Cattleya.
Atendi ao telefone.
— Alô.
— Tio Dexter. — Disse Spencer e senti meu corpo ficar tenso.
— Spencer, como vai? — Falei e olhei Cattleya, ela me olhou de volta
com olhos arregalados.
— Bem, e você?
— Muito bem garoto. Você está sumido.
— Eu ando muito ocupado tio. — Disse e o senti apreensivo.
— Sim, o casamento nos deixa assim meio que fora do mundo real.
— Como está Cattleya? — Perguntou. Eu o ouvir puxar forte a
respiração.
— Cattleya está muito bem. — Eu a deixei saber que estávamos
falando dela.
— Quem é esse amigo que está aí visitando vocês? — “Então deu certo a
pulga que Pétala colocou atrás da orelha dele.” — Pensei.
— Um amigo de Cattleya, que irá para Harvard com ela.
— Harvard? Com ela? — Perguntou com tom mais alto de voz.
— Sim, Spencer. Você ligou para perguntar sobre Cattleya? — Eu me
afastei e fui até a janela olhar o tempo lá fora. As folhas continuam caindo e o
chão está forrado de cores alaranjadas, eu gosto desse tempo, tudo fica mais
bonito, foi nessa mesma época que me casei com minha Pétala.
— Não, eu só estou, estou, não sei tio. Eu não sei porque liguei. —
Disse desanimado.
— Spencer, está em suas mãos. Mas posso garantir que não permitirei
que a faça sofrer. — Ele ficou em silêncio, mas logo falou.
— Do que está falando?
— Você entendeu. Como estão os preparativos para o casamento? —
Dei-lhe espaço para pensar no que eu tinha falado.
— Casamento, casamento, todos só sabem me falar desse casamento.
— Disse irritado.
— Mas foi você quem a pediu em casamento, não foi? Por que está
irritado com isso então? — Perguntei.
— Eu não a pedi em casamento, tudo aconteceu rápido demais. Quando
percebi, eu já estava envolvido em uma bola de linhas difícil de desenrolar.
— Você não está feliz? — Perguntei.
— Eu não sei responder isso tio. Eu preciso resolver um monte de
coisas, me desculpar por atitudes impensadas. Olhar nos olhos e ver se ainda
existe amor. — Disse.
— De quem estamos falando mesmo, Spencer? Não é da Victória, isso
tenho certeza. Mas se for o que estou pensando, decida-se antes que tudo tome
uma proporção maior para vocês três. Eu não sou indiferente a esse assunto
Spencer, eu o conheço todo ele e sei de uma versão. Gostaria muito de saber a
outra.
— Como? — eu ouvi a respiração pesada dele. — Deixa pra lá tio. —
falou para mudar de assunto. — Eu não sei o que estou falando e não sei do
que você está falando. Preciso ir, foi bom falar com você. Mande um beijo
para Cattleya. — Desligou.
Continuei olhando a paisagem e lembrei-me de como Pétala estava
linda vestida de branco. Sua mãe entregando-a para mim em lágrimas de
emoção e felicidade. Chris ao meu lado, soluçando por ver a irmã caçula
tornar-se mulher. Eu fui muito feliz aquele dia. Pobre Spencer que ainda tem
que se desenrolar de um novelo de confusão e de sentimentos. Que sentido
teve esta ligação? Não sei. Mas esse casamento aqui, não será nada do que a
noiva sonhou um dia, disso eu tenho certeza.
— Pai. — chamou minha filha. Eu olhei e a vi apreensiva. — O que
ele queria?
— Ele não queria filha, ele quer encontrar-se novamente. Spencer por
algum motivo se perdeu dele mesmo e está tentando fazer o caminho de volta.
— Você acha que ele consegue? — Perguntou ela.
— Ele precisa olhar nos olhos para ver se ainda existe amor. — Repeti
suas próprias palavras. Ela entendeu.
Cattleya preparou o nosso almoço. Pétala voltou e ficou ao meu lado,
perguntou quem era ao telefone e eu contei a conversa que tivemos. Ela calou-
se em seus pensamentos assim como eu. Quando o almoço ficou pronto,
comemos, organizamos a cozinha e sentamos novamente para continuarmos a
leitura. Mas o sorriso de minha filha já não estava mais em seus lábios.
Capítulo dezessete

D exter acordou e olhou


por todo o quarto em
que estava. Olhou
para Pétala dormindo
ao seu lado e parecia estar sonhando pelo lindo sorriso que estava em seus
lábios. Ele sorriu, beijou seus cabelos e levantou-se para ir ao banheiro.
Entrou no grande espaço que mais parecia uma sala de visitas e foi para o box,
abriu a torneira da ducha e se deliciou com a água morna. Debaixo do
chuveiro ele pensou no que estava acontecendo com sua vida. Depois de
conhecer Pétala, tudo mudou, não que isso estivesse desagradando-o, mas,
mudou de forma positiva e um tanto apreensiva. Ele precisava sim de uma
vida mais informada, ativa, conhecer o mundo em que vive, e fazer isso ao
lado da mulher que a amava profundamente era como um sonho realizando-se
aos poucos. Seu medo, era de não a agradar, fazê-la perceber que ambos
viviam em mundos diferentes e que mesmo com todo o amor entre eles, nada
mudaria isso.
Ele saiu de seus pensamentos ao ouvir a porta do box sendo aberta e
olhou a linda mulher nua que entrou abraçando-o.
— Bom dia, Lenhador. — Disse ela.
— Bom dia, amor. — Ele beijou-a apaixonadamente. Dexter pegou o
sabonete líquido com o melhor perfume que já sentiu, e deu banho em Pétala,
passando suas mãos por todo seu corpo, deixando-a agradavelmente limpa e
cheirosa. Ela fez o mesmo com ele, o silêncio não foi um incômodo e sim um
conforto, podendo deliciar-se somente com a pele e toque de suas mãos.
Fizeram amor silenciosamente, com carinho e sem pressa sentindo e ouvindo o
que seus corações e olhos diziam, ela estava feliz, ele estava feliz.
— Eu te amo, Dexter. — Disse ela no momento do prazer.
— Eu também te amo, meu amor. — Dexter falou quase sem fôlego.
Eles ficaram abraçados enquanto voltavam ao normal, o amor entre eles era
tão grande que se não fosse absurdamente inimaginável, podia-se vê-lo saindo
de seus corpos e envolvendo-os em um escudo de força impenetrável, nada e
nem ninguém poderia quebrar a barreira protetora do amor entre Dexter e
Pétala.
Terminaram o banho e foram vestir-se, tomaram café da manhã
conversando sobre o que fariam para se divertirem entre uma reunião e outra.
Dexter estava impecável em seu terno de três peças e sapatos perfeitamente
lustrados e usou também o perfume que ela escolhera
— Esta fragrância combinou com a sua pele, mas nada agrada-me mais
do que o seu cheiro de homem selvagem, um lenhador. Esse sim é o meu
perfume favorito. — Disse ela com os lábios encostados em seu ouvido e a
voz propositalmente rouca para deixá-lo sem chão. Dexter olhou para ela
intensamente.
— Não me provoque ou vou mostrar-lhe o dia todo, como um
verdadeiro lenhador faz para deixar seu cheiro exalar de sua pele.
— Eu faço uma pequena ideia de como seria e isso me agrada, mas
infelizmente não será possível, por ora. — ela sorriu e afastou-se dele. —
Vamos Lenhador, preciso matar vários leões hoje e com você ao meu lado não
sei se farei isso tão desconcentrada. — Ele sorriu acompanhando-a. Desceram
a grande escada da casa de mãos dadas como um verdadeiro casal saindo para
o trabalho e loucos para que o dia terminasse logo para voltarem para casa e
ficarem colados um ao outro na cama. Eles entraram na grande limusine e
Pétala deu a ordem.
— Para o hotel, Arnold, por favor.
— Sim, Srta. Mackay. — O carro logo tomou as ruas de NY e Dexter
olhou tudo atentamente.
— Por que você precisa de um carro tão grande para ir ao hotel? —
Perguntou ele.
— Essa limusine é do meu hotel, para os hóspedes. Eu só faço o uso
dela quando não está ocupada com alguma outra pessoa. Não sabia que
iriamos nela, por quê? Isso incomoda você? — Perguntou Pétala.
— Não, só acho que para uma cidade movimentada como NY, um carro
menor seria mais viável.
— Você tem razão, mas Arnold veio nos buscar com esse. — ela deu
de ombros. — Não tenho muito o que fazer.
— Eu sei amor, não foi uma crítica ofensiva, só uma observação.
— Não estou ofendida, entendi o que quis dizer não se preocupe. —
Ela o beijou no rosto. Não disseram mais nada, Dexter apreciou o que não
conhecia olhando tudo e quando chegaram ao hotel, foram recebidos pela
hostess contratada para atender os clientes e fazê-los sentir-se especiais. Ele
foi o primeiro a sair e ajudou Pétala, entraram e todos os funcionários os
cumprimentaram e foram para o elevador, o escritório ficava em todo o
primeiro andar do hotel.
— Bom dia Srta. Mackay, como foi a viagem? — Perguntou a
simpática secretária.
— Perfeita, Miranda. E por aqui está tudo bem? — Pétala ainda de
mãos dadas a Dexter, entrou em sua sala e Miranda logo atrás.
— Tudo em andamento, a reunião está marcada para às quinze horas.
Gostaria de alguma coisa antes disso?
— Não, obrigada Miranda. Deixe-me apresentar-lhe, este é Dexter,
meu namorado.
— Noivo. — disse ele. — Muito prazer, Miranda.
— O prazer é meu, senhor. — ela o olhou sem entender. — Noivo?
— Sim Miranda, meu noivo.
— Mas...
— Sem, mas. — Pétala olhou para a secretária repreendendo-a. Sabia
que ela estava assim por causa de Bart, não foi passado a imprensa que eles
tinham se separado então, todos achavam que ainda estavam juntos. — Algum
recado?
— Muitos. — ela abriu a agenda eletrônica e começou a falar enquanto
Dexter olhava toda a sala. Sua atenção só voltou para elas, quando ouviu o
nome de seu ex-noivo.
— O Sr. Bart quer marcar um horário, exige que seja ainda esta
semana.
— Exige? — Pétala gargalhou. — Diga-lhe que não tenho tempo. —
Miranda anotou algumas outras coisas e saiu deixando-os sozinhos.
— O que ele quer? — Perguntou Dexter.
— Não sei e não estou interessada em saber. — Piscou para ele.
— Você o encontra com frequências nessas viagens?
— A última vez que eu o vi, foi quando coloquei um ponto final em
nosso noivado. Não fique com ciúme Lenhador.
— Eu não estou. — ele sentou-se de frente para ela. — Só não me
agradou saber que ele exige falar com você.
— Se por ventura encontrarmos com ele, você estará comigo meu
amor. — Disse ela.
— É o que me deixa mais confortável. — Falou Dexter. Pétala
acomodou na cadeira para olhar melhor em seus olhos.
— O que você realmente sente, Dexter? Parece inseguro com a nossa
relação.
— Não estou inseguro, o que estou vivendo com você jamais vivi com
outro alguém. Não tive esse sentimento um único dia de minha vida ou até
mesmo esse medo de te perder. — Disse ele.
— Não precisa ter medo, o que sinto por você é verdadeiro. Eu sei de
suas ressalvas não sou tão desatenta quanto parece, mas, afirmo-lhe que não
precisa delas, não irei arrepender-me de minhas escolhas porque as fiz com
muita consciência de tudo. — Ele fechou os olhos ao ouvi-la dizer.
— Isso conforta o meu coração. Estou em um mundo que não é o meu e
ouvi-la dizer que me ama, só faz-me querer continuar nele mesmo com todas
as ressalvas. — abriu os olhos olhando-a profundamente. — Obrigado.
— Não somos apenas mais um casal, é para vida toda Lenhador. — ela
sorriu. — Agora eu preciso responder alguns e-mails antes que a reunião
comece e quero que você me acompanhe. — Pétala concentrou-se na tela do
computador à sua frente, mas logo quebrou o silêncio. — Você disse que tem
dinheiro guardado. — olhou-o de soslaio. — Posso saber quanto?
— Por quê? — Ele perguntou sorrindo de sua indiscrição.
— Tenho uma proposta para fazer e quero que aceite.
— Como posso aceitar se não sei do que se trata? — Disse ele.
— Por isso perguntei o valor que tem em sua conta bancária. E para
lhe falar a verdade, admiro você ter dinheiro e não usufruir esbanjando como
muitos homens fazem quando se tem o poder nas mãos.
— Eu usufruo meu amor. Talvez não como todos que tem dinheiro e
fazem de maneira desregrada, mas me dou o que considero pequenos luxos
para um homem que mora sozinho. Bons vinhos, livros, ótima comida e posso
dizer que se resume somente a isso, que para mim faz toda a diferença, é o
verdadeiro luxo da vida.
— Eu o entendo e gosto que você seja assim. — Disse ela.
— Que proposta tem para me fazer? — Perguntou ele. Pétala deixou o
que estava fazendo no computador e encostou-se na cadeira olhando-o
seriamente. Dexter jamais vivenciou um olhar dirigido a ele com tanta força e
verdade. Eles diziam que ela estava prestes a dizer coisas extremamente
importantes que mudaria tudo em sua vida. Ele pode até mesmo imaginar o
barco que leva o seu destino tão cansado da mesma rota sorrindo para o novo
rumo a tomar.
— Se tem condições como penso Dexter, gostaria de lhe propor
sociedade em meus hotéis. É um mercado muito rentável e onde tenho total
controle. Posso ensiná-lo tudo o que sei. Meus hotéis fornecem aos clientes
prazer, comodidade, conforto, paz e sonhos. Administrando com prudência
como venho fazendo todos esses anos, não nos deixará jamais com as contas
em vermelho. Eu tenho dinheiro para não trabalhar nunca mais e mesmo assim
continuo com o legado que meu pai me deixou. E quero que você ande ao meu
lado, no amor e no trabalho. — Disse ela sem pausa. Dexter ficou a olhando
sem dizer uma palavra, logo, recuperou os sentidos e falou.
— Por essa eu não esperava.
— Eu sei amor, mas, veja bem, com a sociedade podemos trabalhar
sem nos afastar. É só nisso que penso.
— Pétala, eu preciso pensar. É tentador, mas, é também necessário
pensar sobre isso com cuidado, esse patrimônio pertence a você e sua família
e um desconhecido entrar assim nos negócios pode causar um mal-estar entre
vocês. — disse ele. — E mais, eu não tenho experiência com hotéis e sim com
madeira, com a floresta, meu negócio não passa perto do teu.
— Eu disse que posso lhe ensinar tudo o que sei e não se preocupe
com minha família, eles não querem se envolver nos negócios confiando
plenamente nas minhas decisões. E eu decido que preciso de você ao meu lado
em tudo, até nos negócios.
— Vou pensar. — Disse ele somente.
— Darei o tempo que quiser, não se preocupe. — Falou ela. Não
tocaram mais no assunto, o dia passou e ela trabalhou com ele ao seu lado e
explicando-lhe algumas coisas. Almoçaram no escritório mesmo e logo chegou
a hora da reunião.
Capítulo dezoito

E
— Boa tarde, senhores! — Disse ela sorridente.
les foram até a grande
sala de reunião onde
sete

— Boa tarde, Srta. Mackay, é um prazer revê-la. — Disse um dos


pessoas
esperavam por ela e ficaram surpresas ao vê-la entrar com um desconhecido.

homens e Dexter percebeu o tom de malícia ao cumprimentá-la. Ele não estava


sendo um louco possessivo que não conseguia lidar com a namorada bilionária
e visivelmente assediada diariamente pelos homens. Mas ele pode ver o quão
Pétala lutara para mostrar que não era somente uma mulher linda à frente de
negócios importantes. Ele notara que situações como esta fazia-a sentir-se mal
como pessoa e profissional, mas ficou tremendamente surpreso ao olhá-la e
ver sua fisionomia se transformar em iceberg. Implacavelmente gélida ao
direcionar o seu olhar ao tal homem cujo nome ele ainda desconhecia. Dexter
sentiu seu corpo formigar de tensão ao vê-lo encolher-se em seu acento como
animal assustado.
— Sr. Hills — disse com voz de extremo desprezo e todos na sala
pareciam não respirar para não a tirar do sério. — Por muito menos que isso
já desfiz sociedades, amizades e demiti subordinados. Você gostaria de fazer
parte desse grupo ou pode ser capaz de controlar a sua língua e mente? —
perguntou, mas não o deixou responder. — O senhor é ótimo no que vem
fazendo em meus hotéis, porém, ninguém no mundo é insubstituível. Tenha isso
em mente quando dirigir-se a mim novamente com indelicadeza. — Disse
pausadamente como se cada palavra fosse lançada como pequenas agulhas em
sua direção. Hills engoliu seco e envergonhado.
— Perdoe-me Srta. Mackay, não tive a intenção em ofendê-la.
— Perfeito. Agora podemos começar nossos trabalhos, mas antes; —
ela olhou para Dexter e sorriu. — Quero apresentar-lhes o Sr. Sawyer. Dexter
Sawyer, e a partir deste momento se assim desejar, ele irá participar de todas
as nossas reuniões. Além de um possível futuro sócio, ele também é meu
namorado. — Todos olharam para ele espantados. Talvez porque a palavra
“namorado” não fosse esperada na frase.
— Sente-se aqui, Dexter. — Disse ela mostrando-lhe a cadeira ao seu
lado.
— Obrigado. — disse. — Boa tarde, senhores. — Cumprimentou-os
com educação e simpatia, mas, chuva de perguntas foram feitas no lugar de
responderem da mesma forma.
— Nunca ouvi falar no seu nome no ramo de hotéis. Qual é mesmo o
nome do seu hotel? — Perguntou um deles cujo olhar era de desagrado. Dexter
sentou-se ao lado de Pétala e olhando-o nos olhos, respondeu.
— Realmente você nunca ouviu porque meus negócios são de ramos
opostos a esse. — Disse ele.
— E o que seria? — Perguntou o homem com sorriso cínico.
— Qual o seu nome senhor? — Dexter ficou impaciente com o olhar
desafiador direcionado a ele.
— Sebastian. — Respondeu.
— Então senhor Sebastian, meus negócios não estão na pauta desta
reunião. Mas, para não o deixar à beira da morte pela curiosidade, digo-lhe
que sou um simples lenhador. — Dexter viu claramente que Sebastian segurou-
se para não gargalhar. Não por ser inconveniente como estava sendo com tom
de voz debochado e olhar desafiador. Mas por reprovação de Pétala. Ele
observou que ela estava encostada tranquilamente e de braços cruzados no
peito olhando fixamente para o tal Sebastian. Mais um desses momentos
constrangedores não seria de fato aprovado por ela.
— Dexter é um lenhador em potencial em sua cidade, mas deixamos de
lado este assunto e daremos início a reunião, tudo bem Sebastian? —
Perguntou ela.
— Claro. — Ele sorriu e balançou a cabeça pensando algo perverso.
Mas Dexter como um homem superior a esse tipo de comportamento, ignorou
completamente o descaso e transferiu sua atenção somente para quem
realmente era importante ali para ele. Sua amada.
Todos moveram-se abrindo suas pastas e computadores em cima da
grande mesa. O barulho das teclas e folhas de papéis sendo passadas de mãos
em mãos e vozes falando de assuntos que ele desconhecia, fora momentos de
muita tortura para ele. Mas ficou orgulhoso em ver como sua amada era grande
profissional. Ele observou tudo, desde todos os modelos de canetas usadas
para assinarem os papéis a mínimos detalhes que pareceu ficar somente dentro
daquela sala de reunião. Mas o que o deixou chocado, foi descobrir como era
podre o mundo em que Pétala vivia. Não por ela, mas os predadores ao seu
redor que era como sanguessugas querendo devorar cada centavo e tentando
burlar alguns impostos a serem sonegados. Porém, Pétala o surpreendera ao se
negar a fazer o que eles lhe disseram e mostrou-lhes quem verdadeiramente
tinha o poder ali.
Quando tudo acabou e os deixaram sozinhos na sala, Dexter respirou
fundo e aliviado. Ele fechou os olhos e esfregou seu rosto com as mãos a
procura de uma sensação melhor do que a que estava sentindo. Ele estava
frustrado, magoado e assustado pelo medo de como seria a vida deles. Um
lenhador onde vive a simplicidade das coisas boas, respirando ar puro e
ganhando a vida a pequenos passos. E uma mulher que vive sua vida girando
em torno da mesma coisa dia após dia. Dinheiro. E sem um segundo de paz
interior.
— Você odiou tudo isso, não é mesmo? — Perguntou ela observando-
o. Dexter abriu os olhos cansados e procurou seu olhar.
— Sim. — respondeu. — É exatamente como pensei ser e o que me
deixou atormentado com isso tudo, é que sendo eu um lenhador e ao seu lado,
tudo poderá tornar-se mais difícil para ambos, Pétala. E não sei o quanto disso
você irá suportar para vivermos nossa vida, nosso amor. Ou mesmo eu sendo
um estranho neste mundo onde não tive o menor apreço. — Pétala ficou em
silêncio observando-o e absorvendo o que ele acabara de dizer. E suas únicas
palavras foram:
— Eu te amo, Lenhador. — Disse somente. Ela trabalhou por mais
1h30min com Dexter a acompanhando em tudo. Eles já estavam em sua sala e
de saída, quando Bart, seu ex noivo, adentrou sem ser anunciado e enfurecido.
— Quando me disseram que você me trocou por um lenhador, não pude
deixar de vir dizer-te olhando nos olhos, de como você é burra. — Gritou ele
ironicamente. Mas via-se que estava completamente descontrolado. Dexter que
estava olhando a cidade através da janela, virou-se imediatamente ao ouvir o
que fora despejado para Pétala e ver quem dirigia-lhe a palavra com tamanho
desrespeito.
— Vai embora, Bart. Você não fora convidado a entrar. — Dexter a viu
levantar-se de sua cadeira e observou como ela estava tremendo. Ele sabia
que gritos e ameaças a deixavam em desconforto por tudo o que já havia
vivido com seu irmão.
— Ouça o que ela diz ou farei eu mesmo as suas pernas tomarem o
caminho até a porta. — Bradou ele com raiva e em alto tom de voz como se
fosse uma fera selvagem enjaulada e em desespero para libertar-se, que nem
ele reconhecera a si mesmo. Ver um homem ofender o seu amor, o fez sair da
razão.
— É você o operário e já está vestido elegantemente às custas dela?
— disse ele desafiando-o com arrogância. — Você fez um trabalho melhor que
eu, devo admitir. Ela se entregou a você e já está infiltrado nos negócios onde
sempre foi somente ela a administrar, negando-me até de ajudá-la. — Disse o
homem de braços cruzados olhando-o e sorrindo cinicamente.
— Você não sabe o que está dizendo, Bart. — disse Pétala. — E não
lhe dou o direito de invadir minha sala destilando o seu veneno. Você está
assim porque perdeu a oportunidade de administrar o meu patrimônio e ter
uma mulher troféu como esposa. Submissa ao ponto de abaixar a cabeça só por
ouvi-lo dizer o que fazer. Você tem sua vida abastada e não precisa expor-se a
tamanho ridículo, saia daqui imediatamente. — Ela gritou as últimas palavras.
Bart voltou-se para ela com ódio nos olhos e lançando um vocabulário jamais
permitido por Dexter, alguém usá-lo contra Pétala ou qualquer outra pessoa
que ele conhecesse. Sua mãe o ensinara com respeito a dirigir-se as pessoas
com mais respeito ainda.
— Olha aqui sua vadia de grife... — Ele não teve tempo de terminar a
frase. Dexter aproximou-se tão logo, segurando-o em seu colarinho e
arrastando-o para fora da sala com muita violência. Foi atormentador para ele
agir assim. Viu-se em seu próprio pai violento e alcoólatra. Uma força
descomunal o fez ter controle de si e somente o jogou porta a fora deixando
Bart caído no chão. Se Dexter não tivesse pensado frações de segundos e
tomado o controle da situação, talvez o homem ficaria quase morto.
— Não volte aqui ou em qualquer outro lugar que estejamos. —
bradou ele. — Eu não gostaria de mostrar-lhe a minha pior versão. Fique
longe de Pétala. — Disse pausadamente. Todos que estavam trabalhando,
saíram das salas para ver o que estava acontecendo. Dexter deu passos para
trás com punhos apertados e respirando profundamente. Ele fechou a porta
ficando novamente em privado com Pétala. Lágrimas saíram de seus olhos,
sentiu-se o pior dos homens agindo como seu pai outrora. Ele ainda estava de
costas quando ouviu chamar seu nome.
— Dexter. — sussurrou Pétala. — Você está bem? — perguntou
preocupada. Ele virou-se de frente para ela mostrando-lhe o quão perturbado
ficou. — Oh! Meu amor, não fique assim. — Ela saiu de onde estava e
aproximou-se dele para confortá-lo. Ela sabia o quanto isso não o deixaria em
paz.
— Eu não sou o meu pai. — Disse tentando conter as lágrimas.
— Não meu amor, você não é. Foi somente um momento ruim que teve
que agir diferente do que você é diariamente. — disse ela abraçando-o. —
Desculpe-me por fazê-lo passar por isso.
— Não se sinta culpada meu amor, esse homem estava desrespeitando-
a tanto, que não vi outro jeito a não ser contê-lo. — Disse ele.
— Você fez isso para defender-me de uma pessoa maldosa, não
significa que a violência seja algo que habita dentro de você. — Disse ela
com amor acariciando-o em seu rosto.
— Eu sei. Obrigado, por me lembrar disso. — Eles ficaram abraçados
apoiando-se, confortando-se. Dexter lembrou-se de quem ele realmente era e
sentiu-se melhor. Logo Pétala o chamou para irem para casa e assistirem a um
filme comendo pipoca. Ela desejava que ele também conhecesse o lado bom
de seu mundo aproveitando momentos simples que a eletricidade e tecnologia
a proporcionavam.

— Papai. — Chamou minha filha e parei de ler.


— Oi querida.
— Eu posso imaginar como você ficou. Mas sei o quão forte você foi
para superar o seu primeiro dia com a mamãe. Eu gosto de saber que tenho a
mesma força e integridade correndo em minhas veias pela nossa genética. —
Disse ela.
— Você tem razão, querida. Foi um primeiro dia muito difícil. Mas
juro que gostaria que todos os dias tivesse sido somente, “difícil”
— É, entendo perfeitamente. — disse pensativa. — Podemos
continuar? — Perguntou.
— Sim querida, vamos a mais uma jornada de dias tensos. — Falei e
olhei para minha amada esposa.
— Tenso, sofrido e de decisões que nos levou a estar aqui hoje. —
Disse ela lembrando-se do que aconteceu.
— Sim. Bem, continuando.
Capítulo dezenove

E les passaram a noite


deitados no chão da
sala de cinema, que
tinha na casa. Dexter ficou maravilhado com o tamanho da tela e admitiu para
si mesmo que estava amando aquilo. Nunca assistira a nenhum filme e foi
como se o seu coração saísse pela boca a todo instante. E para ficar mais
emocionante, era 3D e os gritos que ele dava pelo realismo dos golpes,
batidas de carros do filme de ação que estavam assistindo, fazia sua linda
noiva gargalhar por vê-lo tão feliz e curtindo o cinema privado. Adormeceram
depois de assistirem a três filmes.
No dia seguinte tudo correu perfeitamente no trabalho. Dexter
conheceu um casal de seus amigos que fora visitá-la no hotel, e lhe pareceu
pessoas boas e simples, apesar de todo o dinheiro que possuíam. Foram
convidados a saírem para jantar e apresentar a noite Nova-iorquina para
Dexter e concordaram de imediato que seria uma ótima ideia.
No jantar, eles estavam muito à vontade felizes e conversando, como
se Dexter vivesse aquele estilo de vida como se trocasse de roupa. Foi para
ambos muito divertido e ele sentiu que com esse tipo de pessoas e a leveza do
momento, poderia sim ser feliz no mundo de Pétala e que iria fazer-lhe muito
bem propalar novos horizontes.
Dexter e Pétala conversaram sobre o casal de amigos, Amanda e
James. Ele ficou admirado com a história de vida deles. Cresceram juntos em
um lar de adoção, sendo maltratados por seus tutores. Eles só os deixavam
estudar porque tinham que fazer o conselho tutelar pensar que estavam em um
lar descente. Na escola, eles aproveitavam para realmente aprender e
desenvolver a mente para boas coisas e superar os obstáculos. Eles sempre se
destacavam com suas boas notas e inteligência. Cresceram e se tornaram os
bilionários que são hoje. Mas não esqueceram de onde vieram e por isso são
responsáveis por mais de cinco mil crianças, dando educação e respeito em
suas instituições espalhadas pela América.
— Como eu estava enganado. — Disse ele.
— Do que está falando. — Perguntou Pétala lindamente deitada na
cama ao seu lado.
— Estou falando que existe duas versões das pessoas ricas. As que
destroem qualquer coisa por mais dinheiro, e as que tentam usá-lo para o bem,
ajudando o próximo. Estou feliz em saber que posso viver no lado bom do seu
mundo.
— Sim meu amor, a vida é difícil tanto de um lado quanto do outro.
Apenas temos que vivê-la intensamente arriscando-nos e aproveitando o
máximo de coisas boas que ela nos der.
— Você está certa. — Respondeu. Eles conversaram mais um tempo e
logo adormeceram.
Quando a luz do dia adentrou no quarto pelas frestas da cortina, Dexter
já estava de pé e preparando o café da manhã junto com os empregados na
cozinha da casa. Foi uma semana intensa, porém tranquila ao mesmo tempo. E
quando chegou sábado, eles estavam dentro do avião viajando para França.
Pétala não se aguentava de tanta felicidade fazendo todo o trajeto de passeio
com Dexter depois do trabalho. Ele ficou encantado ao ouvi-la dizer que iam
andar de bicicleta as margens do Rio Sena, estender uma toalha xadrez no fim
da tarde, tomar vinho esperando chegar a hora das luzes da Torre Eiffel se
acenderem às vinte e duas horas. Parecia ser um sonho para ambos.
Quando o avião aterrissou no Aeroporto Charles de Gaulle, Dexter
ficou emocionado. Não somente por estar na França e conhecer um dos sonhos
de sua saudosa mãe, mas também por ver lágrimas verdadeiras dos olhos de
Pétala e sentir o quão feliz ela estava por ele estar ao seu lado. Foi mais que
realizar um sonho. Foi vivê-lo tão fortemente que o fez perder o fôlego.

— Lembro-me de como fiquei, o que senti e todas as emoções da nossa


primeira vez em Paris. — Disse minha mulher interrompendo-me a leitura.
— Foi mágico. — falei. — Mas só até a primeira reunião de trabalho.
Paris foi um sonho no primeiro momento que depois virou pesadelo. — Pétala
e Cattleya ficaram olhando-me. Eu entendi o que estavam pensando assim que
as olhei de volta. Conhecer um dos sonhos de minha mãe foi como se ela
estivesse vivendo-o através do meu corpo. Mas também foi onde tudo chegou
ao fim, para só depois chegar no começo outra vez. Eu não precisei conhecer
todos os hotéis de minha mulher e visitar outros países para desistir de viver
em constante tormento. Eu saí correndo. Eu desisti por questão de lucidez,
bom senso, paz na alma, ou seja, lá, o que for. Eu apenas desisti em meu
coração. Mas como Deus é bom e vivo, ele não deixou que tudo findasse.
— Não me agrada em nada ouvir essa parte da história. — Disse
minha filha.
— Eu não tenho que voltar a ler. — Falei.
— Mas é preciso, papai. Eu conheço, mas ouvindo-a novamente e
gravando-a como estou fazendo, ajudará preencher as lacunas. Aí poderei
fazê-la com minhas próprias impressões e palavras.
— Tudo bem. — falei. — Continuo ou vamos comer alguma coisa? —
Perguntei e elas caíram na gargalhada por ser somente isso que estamos
fazendo esses dias que nossa princesa está aqui.
— Vamos jantar Lenhador, ou não percebeu que já está escuro lá fora?
— Perguntou Pétala.
— Realmente não tinha me dado conta disso. Eu preparo o jantar e
será uma refeição bem leve.
Jantamos salada com salmão assado com limão siciliano, estava tudo
muito bom. Só não o sentimento que começou a se instalar dentro do meu
peito. Eu estava vivendo um amor intenso, aqueles que só acontecem nos
filmes por ser verdadeiramente improvável um lenhador encontrar uma
princesa de hotéis. Eu fui ao céu e o inferno em uma fração de segundos. Do
amor, a morte. Eu estava feliz e vivendo uma história linda quando de repente,
me vi no meio de tramas tão baixas, sujas, que foi como se a vida estivesse
pregando uma peça muito ruim.
Terminamos o jantar e nos acomodamos novamente nos sofás de frente
para a lareira. Percebi que Pétala estava tensa. Ela foi uma mulher brilhante
nos dias que passamos em Paris e surpreendente por ter jogado tudo para o
alto apostando em nossa relação. Ela se jogou de cabeça fazendo jus ao
ditado: Dando tiro no escuro;
— Vamos começar. — Falei.
— Já estamos em silêncio. — Disse Cattleya. E comecei a ler.

Dexter não tirou os olhos da linda paisagem da cidade luz. Tudo o


que ele vira em New York foi lindo e novo, mas não era comparado ao que
estava vendo em Paris. Ele se lembrara de sua mãe contando dos filmes que já
tinha assistido e que a história se passava ali. Era tudo muito romântico, muito
diferente da América e quando chegaram ao hotel de Pétala, ele entendeu
porque ela gostava tanto daquele lugar e estava fazendo grandes planos para
aproveitarem tudo no pouco tempo em que ficariam.
— Nossa! É muito mais bonito que o outro. — Disse ele.
— Eu sei. Por isso amo este lugar, Lenhador, e tenho certeza de que
você irá se encantar ainda mais. Vamos entrar. — Ela o puxou pela mão e
falou bom dia as pessoas que a cumprimentaram. Levou-o para o seu quarto e
quando abriu a porta, ela pulou em seu colo como uma menininha brincalhona.
— Seja muito bem-vindo ao meu paraíso, amor. — Disse beijando-o.
— Obrigado. Realmente é lindo o seu paraíso. — Disse ele
divertindo-se com sua felicidade. Eles ficaram no quarto conversando até que
Marcos, apareceu para passar a sua agenda. Nem mesmo Dexter sabia que ele
também estava na França. Pétala ficou a par de suas reuniões e dos três
jantares que teria que ser a anfitriã, pois seus sócios estavam em
comemoração. Quando viu a lista de convidados, não gostou de saber que Bart
estava em um dos jantares. Eles conversaram e Dexter disse que não iria se
opor ao seu trabalho, mas que eles ficassem de olho em Bart, para não terem
surpresas desagradáveis.
E dois dias se passaram com Pétala e Dexter se amando, eles visitaram
museus, galerias de artes, restaurantes, andaram de bicicleta à beira do Sena e
tomaram vinho olhando as luzes da Torre Eiffel. Tudo o que ela havia
planejado. Dexter dizia-a que não poderia mais viver sem comer croissant
todos os dias, ele adorou o sabor da França. Então chegou o dia do primeiro
jantar depois de uma reunião intensa com os acionistas do hotel. Correu tudo
perfeitamente, Dexter fora muito bem tratado e participativo na reunião que
eles tiveram. Eles estavam elegantemente vestidos e no salão de festas do
hotel, se divertiram com seus convidados. Quando tudo terminou e eles foram
para a suíte, foi a primeira vez que ele sentira muita falta de sua casa e sua
cama. Ele sentiu-se até um pouco sufocado com tudo, mas não deixou Pétala
perceber sua aflição. Dormiram aconchegados um no outro, pois no dia
seguinte, a maratona de diversão continuaria por toda cidade.
Mais um dia lindo que eles aproveitaram em Paris. Dexter tinha tudo
em suas lembranças dos manuscritos de sua mãe, mesmo o tempo parecia não
ter passado ao que ela descrevia. Era o agora, o hoje vivido por ela. Foram
visitar as cidades de Reims e Epernay, localizadas ao norte de Paris, por
serem fortemente conhecidas pela fabricação de champagne. Dexter como um
homem moldado pela vida e administrador nato, ficou encantado e interessado
nas belas caves de champagne e sua fabricação e armazenamento. Ele gostou
do espaço, dos ambientes acolhedores e amáveis, pessoas sorrindo ao fazerem
a demonstração de degustação, tudo foi um belo prazer aos seus olhos. Pétala
olhava-o com admiração por vê-lo tão feliz. Eles estavam muito felizes.
Quando voltaram para Paris, ficaram na suíte descansado porque no outro dia,
teriam que participar de uma reunião e serem os anfitriões em uma recepção.
E logo ao amanhecer, Dexter começou a sentir um aperto no coração,
uma ansiedade absurda tomou conta de seus sentidos. Ele respirou fundo e se
manteve no controle novamente para não causar preocupação em sua amada,
pois sabia e sentia o quão feliz ela estava. Pétala telefonara todos os dias para
sua mãe e irmão deixando-os saberem como estava e todas as transações que
estava fazendo sobre seus empreendimentos.
Logo quando caiu a noite, eles foram elegantemente para a recepção,
Dexter ficou conversando com dois empresários que lhes foram apresentados
ainda em New York e sua impressão para com eles eram as melhores.
Educados e não arrogantes, conversaram por tempo suficiente para sentir o
incomodo e perceber olhando de soslaio, que tinha uma pessoa observando-
os. Ele olhou discretamente na direção de quem os encarava e não o agradou
encontrar o olhar destrutivo de Bart. Dexter deixou Pétala que estava
conversando com um grupo de mulheres, totalmente alheia ao que estava
acontecendo. Ela estava tranquila e não precisava ficar aborrecida por coisas
que ele mesmo poderia resolver caso viesse a ter problemas. Ele ignorou
Bart.
Logo foi abordado por uma mulher, que não poderia dizer que não
existia beleza nela. Linda e elegantemente vestida, notara que era uma mulher
de posses e voz calma, sutilmente doce até. Os homens que estavam
conversando, afastaram-se dando-lhe privacidade.
— Boa noite. — disse ela. Dexter olhou-a admirado por sua beleza
sútil e doce. Mas não indiscreto e muito menos encantado. Seus olhos, sua
mente e seu coração, já pertencia a mais perfeita das criaturas feita por Deus e
com a beleza incomparável a qualquer outra mulher existente na terra. Sua
Pétala era marcante, olhar penetrante, ela o seduzia sem perceber que fazia
tanto efeito e tinha o poder sobre ele. — Eu não tive a oportunidade de
conhecê-lo. Aliás, ninguém neste lugar fora educado suficiente para nos
apresentar. — disse estendendo a mão. — Muito prazer, Julia Boujon. —
Falou. Seu inglês tinha o leve sotaque francês.
— O prazer é meu. — disse cumprimentando-a. — Dexter Sawyer.
— Você está sozinho aqui, Dexter? — Perguntou. Ele não achou
natural, ela estava em um evento oferecido por Pétala, no mínimo saberia que
ele estava em sua companhia.
— Não senhorita, estou com minha noiva. — Disse educado.
— Noiva? Pétala Mackay?
— Exatamente. — Respondeu.
— Fico feliz em saber, pois, sou uma grande amiga dela. Só o peço,
por favor, faça-a muito feliz.
— Essa é a minha única missão neste mundo. — Disse Dexter mais
confortável ao saber que Julia, era amiga de Pétala. Eles começaram a
conversar sobre sua noiva, passaram aos negócios e também pela fabricação
de champagne, na qual ele demonstrou muito interesse. Vez ou outra, seus
olhos se encontravam com os de sua amada sorrindo para ele, e com Bart o
desafiando absurdamente.
Como o assunto estava agradando-o por saber que Julia e sua família
eram produtores de vinhos e champagne, ele continuou ignorando as
indiscretas provocações de Bart. Logo ela se ofereceu para fazê-lo provar o
que estava falando, e saiu em busca do que prometera. Quando voltou,
entregou-lhe uma taça de champagne dizendo-lhe:
— Surpreenda-se com a minha mágica. — Dexter degustou e aprovou.
Falaram sobre as novas safras enquanto Pétala estava ocupada demais para os
acompanharem com o assunto. Depois da terceira taça de champagne, ele
sentiu-se indisposto e discretamente, despediu-se de Julia, e seguiu para falar
com Pétala.
— Amor. — disse em seu ouvido para que os outros que estavam em
sua companhia não ouvissem. Ele a puxou vagarosamente pelo braço
afastando-a deles. — Estou um pouco indisposto, tonto, acho que bebi
exageradamente. — Pétala não o deixou terminar.
— E eu estou indisposta por vê-lo tão risonho com outra mulher. —
Disse ela deixando-o surpreso. Dexter a olhou atentamente, ou tentou pelo
menos, seus olhos não estavam fixando em um ponto só.
— Você está chateada? Porque não veio até a mim? Eu não queria
deixá-la aborrecida, desculpe-me. — Disse preocupado afastando-os mais
para não serem ouvidos.
— Tudo bem.
— Não, não está tudo bem. Vejo que está profundamente chateada,
porém essa não foi a minha intenção, Pétala. Só quero que tenha certeza que eu
jamais olharia para outra mulher amando-a tanto como estou. Eu te amo,
Pétala. — Disse ele. Ela ficou olhando-o e viu que ele não estava bem e fazia
o esforço para mostrar que não queria deixá-la magoada. Ela notara isso, ele
não estava nada bem.
— Eu sei, também te amo. E você não está normal.
— E não estou mesmo. Importa-se se eu fizer a grosseria em deixá-la
sozinha para ir me deitar? — Perguntou enrolando a língua para falar.
— Absolutamente. Consegue chegar até o quarto? — Perguntou ela.
— Sim.
— Então vai se deitar, não demoro aqui e logo irei para cuidar de
você. — Disse preocupada. Dexter beijou-a rapidamente e saiu em direção a
suíte. Entrou calmamente e teve tempo só de tirar os sapatos, pois logo caiu
deitado de bruços na cama em sono profundo.
Capítulo vinte

S eus olhos estavam


embaçados quando tentou
abri-los. Dexter tomava
vinho diariamente em sua casa, mas não houve um único dia que ele ficou
bêbado. Isso era imperdoável. Ele tentou mexer-se e não gostou de ter sua
cabeça como se uma banda de rock estivesse dentro dela. Sentiu um corpo
quente e nu grudado ao seu, e pensou ser Pétala. Ele sentiu-se tonto,
completamente indisposto, abraçou-a e adormeceu novamente.
Quando Dexter acordou pela segunda vez, o quarto estava com um
pouco de claridade devido a um pequeno espaço na cortina. Pétala estava
afastada então, com muito esforço ele sentou-se na cama.
— Droga. — disse colocando as mãos em sua cabeça. — Eu não bebi
tanto assim. — Sussurrou ele. Levantou-se e percebeu que estava
completamente nu, lembrava-se que só tinha conseguido tirar os sapatos. Foi
até o banheiro cambaleando e com as mãos nos olhos por causa da dificuldade
em abri-los, entrou no box e deixou a água gelada despertá-lo. Ele ficou uns
trinta minutos debaixo da água fria, lavou-se o máximo que conseguiu para
tirar o mal-estar, e saiu do box secando-se com uma toalha branca. Ao olhar-
se no espelho, Dexter ficou incrédulo. Viu seu peito e pescoço todo marcado
com chupadas. “O que aconteceu?” — Pensou ele. Não tinha lembranças de
quando Pétala entrou no quarto e se ele estava com hematomas fortes da noite
que tiveram, imaginou o estado que a deixou. Dexter saiu do banheiro
enrolado na toalha e foi olhar como ela estava, pois ficou preocupado. Ao se
aproximar da cama, não teve certeza e quando abriu um pouco mais as
cortinas, ele não acreditou no que estava vendo. Seu corpo quase entrou em
estado de coma pelo que seus olhos estavam mostrando-lhe. Olhou tempo
demais desejando que tudo não passasse de uma mentira e que fosse sua Pétala
ali. Mas não, Julia estava em sua cama, abraçada ao seu travesseiro dormindo
o sono dos Deuses e completamente, nua.
— O que é isso? — conseguiu sussurrar. — Isso não pode ser verdade.
Não é verdade. — Disse ele apavorado colocando as mãos na cabeça.
— Eu também pensei a mesma coisa quando entrei em meu próprio
quarto, e o homem que eu amo estava dormindo na minha cama, com outra
mulher. — Disse Pétala ligando o abajur. Dexter virou-se assustado olhando-a
triste. Ele notara o quanto ela havia chorado. Seu rosto abatido, sua voz
cansada. Ela estava sentada na poltrona no canto próximo ao abajur, pernas
cruzadas e vestindo a mesma roupa da festa. Pétala não havia dormido e
passou a noite olhando-os em sua própria cama.
— Eu não fiz isso, Pétala. — Falou com dificuldade. Sua voz estava
travada na garganta e parecia que navalhas estavam cortando ao tentar falar.
— Eu sei. — disse ela deixando-o confuso. — Sei também que esse
lixo não está dormindo. — gritou. Ela levantou-se com raiva aproximando-se
da cama e parou cruzando os braços em seu corpo. Pétala ficou olhando a
mulher nua deitada deixando Dexter sem saber o que fazer. — Eu sei que está
acordada. Aliás, você está assim desde o momento em que entrei aqui sabendo
que eu os observava. Dou-lhe somente uma chance para se explicar. — disse
ela. Julia continuou imóvel. — Ande sua insignificante, levante-se da minha
cama. — Gritou mais uma vez e puxou a perna dela bruscamente.
— Solte-me sua louca. — disse Julia. E Dexter também viu que ela já
estava desperta há muito tempo. — Eu não tenho nada para explicar. — disse
levantando-se e se cobrindo com o lençol. — Tivemos uma forte atração e nos
amamos nesta cama, só isso. — Falou Julia.
— Impossível. — ele falou com raiva. — Primeiro, porque não senti
nada por você. Segundo, que prefiro a morte, a ter que magoar tão
indignamente a minha mulher.
— Não foi isso o que você falou em meu ouvido baby. — piscou para
ele. — Você se divertiu muito.
— Não, lixo, ele não se divertiu com você. Nada do que você disser
irá me fazer pensar isso. — disse Pétala que permanecia de braços cruzados
encarando-a como se fosse matá-la apenas com o olhar. — Responda-me,
quem pagou para você agir assim? — Perguntou ela. As reações de Pétala
eram novas para Dexter. Ela estava entre o céu e o inferno tão rápido como
respirar. Mostrava uma frieza que para ele era desconhecida, olhava Julia com
tamanho desprezo e certeza de que nada daquilo era real. Ela não estava
magoada com seu amor, Pétala estava protegendo-o.
— Não estou entendendo. — disse ele. — Fiquei conversando com
você por pensar ser amiga de Pétala.
— Eu não a conheço, Dexter. — Pétala olhou-o surpresa com o que
acabara de ouvir. — Mas sei que fora paga para deitar-se em nossa cama,
fingindo ter passado algum momento com você. Isso só está acontecendo para
atingir-me e fazer-me pensar que você me traíra com ela. — Nesse momento,
Julia levantou-se da cama, nua, como se fosse uma ação natural, olhou para o
chão procurando algo e quando viu suas roupas, pegou-as e começou a vesti-
las vagarosamente. Dexter virou-se constrangido e achando tudo um absurdo.
Quando ela terminou de se vestir, falou.
— Você é mais esperta do que ele pensa.
— Ele quem? — Perguntou Pétala.
— Você sabe.
— Sim eu sei. Pois fale para ele que não irá funcionar tudo o que ele
está planejando em fazer. Dexter não é assim e não há nada no mundo que o
fará ser. — Disse ela. Ele que estava observando-as, logo pensou sobre quem
estavam falando. Bart, ele sim seria capaz de pagar por uma coisa assim.
— Eu exijo que saia do meu quarto e do meu hotel. E não volte a
aparecer em minha frente, ou você não ficará nada feliz como está agora. —
Disse Pétala gélida. Julia pegou a pequena bolsa que estava no chão, andou até
a porta, olhou para trás e falou.
— Ele pagou o suficiente para eu viver o resto da vida muito
confortavelmente. Não olhar para você, jamais será um problema. — Disse
Julia.
Dexter ficou parado no meio do quarto sentindo o seu corpo trêmulo
pela raiva que o consumia por dentro. Se tinha alguém capaz de prejudica-los,
não era só as adversidades culturais que ele precisaria enfrentar para ficar
com Pétala, era também a ambição e maldade. Ele fechou os olhos e respirou
fundo, sentiu uma imensa vontade de chorar pela dor que causara em sua
amada.
— Dexter. — ouviu chamando-o. Ele abriu os olhos e a olhou com
cuidado. — Eu não estou com raiva de você. — Disse e foi como se ela
tivesse o poder de tirar um peso de suas costas.
— Eu não sei o que aconteceu, meu amor. Posso imaginar o que você
sentiu quando entrou aqui e viu essa monstruosidade em sua própria cama. —
Ele sussurrou e pareceu sentir agonia ao falar.
— Provavelmente você foi dopado. — Dexter arregalou os olhos
assustado. — Estava degustando a bebida oferecida por ela e você nunca
poderia saber, na verdade.
— Dopado. Quem faria isso? De quem você desconfia? — Perguntou
ele.
— Bart. Ele é o único que estava na recepção que seria capaz disso.
Não sei o que ele pretende, mas tenho certeza de que vem mais coisas por esse
caminho.
— Ele a quer de volta.
— Também, mas penso que administrar meus bens seria mais o seu
jogo. O poder que ele tem, juntando com o meu, o tornaria quase invencível.
— Disse ela.
— Eu quero voltar para a minha casa. — falou olhando fixamente. —
Lá não existe essa competição e nós não passaríamos por isso.
— Eu sei meu amor. — ela aproximou-se. — Mas você precisa se
acostumar, pois é onde eu vivo. — Ela o abraçou forte e encostou o rosto em
seu peito. Ele a abraçou de volta protegendo-a como podia. Mas dentro de seu
coração, o fio de esperança tinha se rompido.

— Papai. — Chamou Cattleya.


— Sim filha. — Olhei para ela e a vi olhar-me de modo estranho.
Olhar de repreenda, raiva e uma certa compreensão ao mesmo tempo. — Você
está com raiva. — Perguntei.
— Sim e não. — disse ela. — Sim, porque você estava pensando como
um homem fraco sendo que isso você nunca foi. E não, porque eu sei que tudo
o que você fez depois disso, levou a relação de vocês para como está hoje. E
sou grata por isso, sou abençoada de ter crescido neste lar.
— Eu entendo você filha. Mas eu não podia permitir que minha vida
ficasse enterrada como a de minha mãe. Eu fiz uma promessa de viver tudo o
que ela não conseguiu, por isso escolhi deixar a sua mãe para viver a minha
vida. — Falei e vi quando minha mulher secou disfarçadamente a lágrima
solitária que saiu de seu olho. Sei que essa parte lhe causa grande dor em seu
coração.
— Me perdoe, meu amor. — Disse olhando-a. Pétala olhou-me de
volta com sorriso triste nos lábios.
— Eu não preciso perdoá-lo, somente agradecê-lo por ter me feito
escolher. — Ela sorriu.
— Vamos continuar? — Perguntou Cattleya.
— Sim. — E continuei a ler.
Eles ficaram abraçados sentindo o corpo um do outro, até que Pétala
falou.
— Preciso de um banho.
— Vou preparar para você. — Dexter foi para o banheiro. Mas ouviu
quando ela falou com a recepção do hotel, de que precisaria de lençóis novos
na cama e muito rápido. Ele abriu a torneira da grande banheira e ficou
esperando-a. Logo ela estava ali, nua e abatida ao seu lado, ela entrou e se
acomodou na água morna, enquanto ele colocou os sais de banho. Quando ele
a olhou novamente, percebeu que ela tinha adormecido, vencida pelo cansaço
emocional. Ele a deixou ali abraçada pela água e foi para o quarto vestir uma
roupa apropriada, logo percebeu que a cama já estava com os lençóis trocados
quando saiu do closet, já vestido como um homem elegante. Ele foi até o
banheiro e Pétala ainda estava dormindo e continuava na mesma posição, ele
ouviu a companhia do quarto e apressou-se para atender a porta. Ao abrir,
seus olhos faiscaram de ódio.
— Eu vou destruir você. — disse Bart parado com postura superior e
as mãos nos bolsos da calça. — Ela não acreditou na primeira tentativa, mas
se eu precisar destruí-la para você sair da vida dela, eu o farei. Sei onde ela
esconde os viciados de sua família. Portanto, se você quer o bem de Pétala,
afaste-se, ou você verá a sua morte. Já imaginou? Ela perdendo a vida bem
diante de seus olhos? — Disse ele friamente. Dexter que estava parado
olhando-o, sentiu quando Pétala se aproximou atrás dele. Ele não queria que
sua amada tivesse escutado o que Bart disse.
— Se vai ameaçar-me Bart, faça-o olhando nos meus olhos. — ela
passou por Dexter coberta com seu roupão branco, e ficou frente a frente com
ele encarando-o como a mulher valente que era. Dexter observou que fora total
surpresa para Bart a aparição de Pétala, ele não queria falar com ela ou
ameaçá-la como tinha feito. O efeito do medo era para atingir Dexter. Bart
olhava-o com raiva. — Olhe para mim seu verme e faça suas ameaças. Não se
esconda atrás de sua covardia. — disse ela dando um passo para frente.
Dexter que já estava a ponto de explodir de ódio, segurou-a e puxou-a para
que ficasse atrás dele. Depois que ela já estava protegida, manteve-se em
silêncio e olhando para ele furiosamente. Em um rápido ataque, ele avançou
para cima de Bart, batendo violentamente nele. Só parou quando fora
arrancado de cima do homem caído no chão e sangrando quase sem vida.
— Dexter. — chamou Pétala desesperada. Ele estava todo
ensanguentado, mãos, rosto e roupas. — Leve Bart para a clínica St. Maurice.
— Falou para um de seus seguranças o qual Dexter não conseguiu identificar,
pois, estava dentro de sua própria bolha da culpa e desespero. Principalmente
depois de vê-los levando o homem inconsciente. Logo ela estava de volta ao
lado de Dexter.
— Meu amor. — chamou-o. — Fale comigo. Ele ficou olhando para o
nada como se estivesse viajando no passado e temendo o futuro. Dexter olhou
bem fundo nos olhos de Bart, ele sabia que o que ele tinha falado, ameaçando-
a, era tudo verdade. Ele seria sim capaz de tirar a vida de Pétala por despeito.
— Ele disse a verdade. — Dexter conseguiu voltar e olha-la com
muita dor. — Ele pode tirar você da minha vida para sempre. — lágrimas
escorreram de seus olhos. — Eu não quero conhecer o seu mundo nem mais
um minuto. — Pétala estava parada em sua frente, seu corpo começou a tremer
e seus olhos não se agradaram ao olhar para os de seu amor. Estavam mortos.
Os olhos de Dexter não tinham mais o mesmo brilho de outrora. Sua pele
arrepiou-se como se ele estivesse sentindo frio, ele colocou os braços
cruzados em volta do corpo como defesa. Estava protegendo-se de si mesmo.
Tudo ficou nítido diante dos olhos de Pétala, ela havia acabado de perder o
homem que acabara de conhecer e se apaixonar perdidamente, seu coração
tinha uma ferida incapaz de cicatrizar com o tempo e ela teve a certeza de que
ele estava deixando-a para sempre. A violência era o motivo e por duas vezes
ele usara de força física para defendê-la, e isso era o limite na vida de Dexter,
isso o trazia lembranças desastrosas que era o contrário de tudo o que
aprendeu com sua mãe. Esse homem, o pai, ele não queria tornar-se igual, e o
mundo onde Pétala vivia só o fazia lembrar de como o sangue da violência
corria por suas veias. Dexter virou-se e seguiu andando em direção ao
banheiro, quando chegou a porta, olhou para trás chorando como um menino
assustado.
— Eu abro mão de viver assim, com medo de perdê-la ou ter que me
transformar nisso que você acabou de presenciar. Estou indo embora, Pétala.
Capítulo vinte e um

P étala ficou olhando a porta


branca fechada em sua
frente. Seus ouvidos ainda
se adaptando ao que acabara de ouvir. Seus sonhos indo embora junto com a
esperança de viver uma vida maravilhosa com seu único e verdadeiro amor.
— Não posso permitir ficar sem chão mais uma vez. Não ficarei
sozinha como fiquei quando papai morreu. Agora é ele que está indo para
longe como se eu fosse uma maldita maldição que afasta as pessoas que amo.
— disse sozinha e devastada. — Isso tem que mudar, isso precisa mudar. Ela
andou vagarosamente até chegar na cama, sentou-se e pegou o telefone que
estava na pequena mesinha segurando-o junto ao peito. A vontade de chorar foi
mais forte e ela deixou-se levar pela dor que estava sentindo, foi desperta pela
porta do banheiro sendo aberta por Dexter. Olhou-o fixamente, ele tinha
tomado banho e estava com uma toalha enrolada no quadril para cobrir a sua
nudez.
— Você está indo embora do meu mundo, ou da minha vida também?
— Perguntou chorosa. Ele aproximou-se sentando-se ao seu lado.
— Eu te amo e deixá-la não é o que desejo. Eu quase matei um homem
hoje, amor, e isso eu não posso permitir que aconteça novamente.
— Eu entendo você. — disse aos soluços e quase não conseguiu fazer
a perguntar a seguir. — Você me quer? Me levaria com você para viver na sua
casa, no seu Forte? — Perguntou esperançosa, porém, com medo de ouvir a
resposta.
— Corre o risco de você se arrepender disso? — Perguntou ele.
— Não. Se você quiser, eu irei para onde você for.
— Então venha comigo, meu amor. Porque estou morrendo aqui dentro
só de imaginar passar por aquela porta sem você ao meu lado. — Disse
abraçando-a. Pétala conseguiu parar de chorar e se acomodou de pernas
cruzadas e de frente para Dexter. Pegou o telefone que segurava tão forte em
seu peito discando os números que precisava. Ele ficou observando-a sem
saber para onde estava ligando.
— Mamãe. — disse quando atenderam. — Como você está? —
Perguntou e ouvindo o que sua mãe dizia, tentou controlar a emoção. —
Preciso falar com o Chris, chame-o, por favor. — Pétala respirou fundo
enquanto esperava em silêncio, logo voltou a falar.
— Chris, irmão. — sua voz era puro desespero agora. — Preciso de
você, por favor Chris, seja o irmão mais velho que preciso ter agora. — Ela
colocou no viva-voz.
— Por que está chorando, Espinho? — Perguntou ele.
— Muitas coisas que não posso explicar agora, Chris, mas preciso que
você seja mais forte do que foi todo esse tempo. Quero que assuma os
negócios da nossa família. Deixe-me viver um pouco, por favor.
— É ele, não é? Dexter está deixando você por causa do nosso
dinheiro. — Disse Chris.
— Dexter está me deixando sim, mas não por causa do nosso dinheiro,
e sim, pelo que ele o transforma em momentos complicados. Eu não quero
perdê-lo, Chris. — Falou olhando nos olhos de seu amado que também estava
em lágrimas. — Diga-me que está pronto para ter dinheiro em suas mãos e não
cair, Chris. Que não irá falhar comigo e principalmente, com você. — Foi o
apelo mais doloroso que ele já ouviu.
— Nós não iremos falhar, minha filha. — disse sua mãe. — Siga o seu
coração, porque já está mais que na hora de eu ser sua mãe e Chris o seu
irmão. De sermos o elo que nascemos para ser, o porto onde possamos voltar
e nos aconchegar com o abraço quente e de apoio. Só por esse rapaz abrir mão
de tamanho poder, ele vale muito tudo o que você também está de certa forma,
está deixando para trás. — Disse ela.
— Pétala não precisa deixar tudo, ela pode trabalhar de onde estiver
com o seu computador. — Falou Chris.
— Essa questão pode ser resolvida depois, o que preciso agora é
saber se estão dispostos a ajudar-me como preciso.
— Claro que sim, Espinho. Eu confio em mim, então confie em você
também. Eu não quero e não irei falhar com a nossa família outra vez.
— Obrigada, Chris. Vou viver o amor que está destinado para mim.
— Seja feliz, Espinho. — Desligaram. Pétala deixou o telefone na
cama e olhou para Dexter.
— Estou livre para você. — Disse sorrindo. E foi o sorriso mais leve
que ele já viu em seus lábios. Pareceu ser a conquista de uma liberdade tão
sonhada por ela, que agora que conquistou, o peso do mundo saiu de suas
costas, ela estava mais feliz do que Dexter podia imaginar.

— Você realmente a deixaria para trás, papai? — Perguntou Cattleya.


Peguei o marcador de texto que está em cima da mesa e o coloquei onde parei
de ler fechando o diário em seguida. Eu senti os olhos de Pétala olhando-me e
aquecendo-me como sempre fez. Olho para minha linda esposa e cada vez que
seus olhos sorriem para mim como estão agora, meu fôlego torna-se apenas um
fio do real ao paraíso eterno.
— Não. — falei olhando-a. — Você sabe que eu jamais a deixaria ir
para fora da minha vida, não é amor? — perguntei. — Sabe que, o que tenho
aqui dentro do meu peito, esse amor que vai além de outras vidas, não existiria
se não fosse com você para vivê-lo. — olho para minha filha que me olha de
volta sorrindo. — Se ela não tivesse me surpreendido como fez, eu a teria
raptado. — sorri. — ou ajoelhado aos seus pés implorando para ao menos
experimentar a vida da qual eu estava acostumado até tudo ter se resolvido
com o ex-namorado. Mas não filha, eu não a teria deixado, trabalharíamos
juntos para encontrarmos uma solução, quando eu saí do banheiro daquele
quarto, eu já estava com a cabeça um pouco no lugar e não agiria no impulso
em abandoná-la como eu realmente havia pensado. A água fria e o amor me
fizeram recobrar a razão. Foi tudo muito rápido e as coisas caíram no meu
colo como uma bomba e por isso o primeiro momento eu pensei em correr
para onde eu sabia ser meu porto seguro, meu lar. — Falei e minha linda filha
sorriu.
— Eu amo você, papai.
— Eu a amo mais, minha linda.
— Vamos dormir. — Disse Pétala secando as lágrimas. Mas a vimos
sorrir, ela estava feliz ao me ouvir dizer que trabalharíamos juntos, foi essa
certeza que a fez ser minha para sempre.
Levantamos e demos boa noite a nossa filha. Apaguei todas as luzes da
casa e fomos para o quarto. Quando passamos pelo corredor, ouvimos Cattleya
em seu quarto com a música que havia colocado para escrever algumas coisas
em seu próprio diário.
Pétala entrou em nosso quarto sem falar nada e foi diretamente para o
banheiro. Eu ouvi o barulho da água dando-me vontade de juntar-me a ela.
Mas se bem conheço minha bela mulher, ela precisa de seus cinco minutos de
privacidade para controlar suas emoções, são muitas as lembranças que
estamos revivendo e isso vem forte no seu coração, pois sinto-me
compartilhando do mesmo sentimento.
Tiro minha camisa e deito-me na cama esperando a minha vez para
tomar banho, fecho os meus olhos e em menos de cinco minutos, surpreendo-
me com minha maravilhosa mulher toda molhada deitando em cima do meu
corpo. Eu a conheço bem e sei o que deseja. Hoje ela quer doar-se inteira para
o meu prazer, mostrar-me o quão feliz ela é ao meu lado. Eu sei, pois, ao vê-la
com o corpo todo em meu poder, eu sinto o mesmo e então, nos conectamos
com a mesma energia. Ela olha-me nos olhos como se fosse a primeira vez que
nos amamos, abaixou-se e me beijou com paixão. Seus lábios macios tomando
posse dos meus, sua língua quente e sedenta de mim. Logo deixou-me e com as
mãos, abaixou minha calça de moletom para os meus pés fazendo meu membro
pular para fora duro e grande. Pétala me tomou todo em sua boca, lambendo
toda minha extensão até chegar na cabeça e apertá-la com seus lábios. Seguro-
me no lençol controlando à vontade para não gritar de prazer ao senti-la sugar
todo meu liquido pré-sêmen. Eu não consegui puxar uma forte respiração e ela
já estava sentada toda empalada no meu pau, fazendo-me senti-la por dentro
apertando-o com força.
— Pétala. — sussurrei. — Ela sentou no meu membro e começou a
subir e descer, rebolando e apertando todo ele dentro dela. Eu a segurei pelo
quadril e ela colocou suas mãos em meus pulsos impedindo-me de fodê-la.
Essa era a sua vez. Ela subiu e desceu no meu pau vezes demais que não pude
contar fazendo-me entrar fundo nela, e com isso o barulho de nossos corpos
estava mais forte. Ver meu sexo entrar e sair de seu sexo sempre foi a coisa
mais deliciosa que já vi em toda minha vida, seus mamilos duros pedindo para
serem chupados então, sentei-me na cama e a abracei deixando-a me possuir
em seu ritmo. — Eu amo quando se entrega toda para mim. — Sussurrei em
seu ouvido.
— Eu amo sentir seu pau dentro de mim. — Disse ela quase sem voz e
controlando-se o máximo para não gemer. Segurei seu seio em minha mão e
chupei seu mamilo duro. Senti todo o seu corpo vibrar, seu sexo apertar o meu
pelo prazer e suas unhas cravarem em meus ombros segurando-se junto ao meu
corpo. Em ritmo de vai e vem, entrei e sai de dentro dela mantendo-a sentada
em mim e tão logo, ouvi seus urros velados de prazer. Abracei seu corpo
enquanto sua forte liberação escorria pelo meu pau todo enterrado dentro de
sua fenda apertada. Ela tomou meus lábios mais uma vez e desesperadamente.
Ainda tremendo, afastou-se um pouco olhando em meus olhos deixando as
lágrimas do prazer escorrerem pelo seu rosto.
— Você me fodeu, Pétala. — falei. — Agora prepare-se para ser
fodida. — Olhando-a ainda tremer sentada com meu membro todo dentro dela,
eu a segurei forte em seus cabelos e abracei seu corpo bem apertado ao meu,
arrastei-me desajeitadamente para fora da cama e me levantei com ela
pendurada em meu quadril. Essa é a nossa posição favorita de fazer sexo, pois
foi assim a nossa primeira vez. Mas hoje não, hoje irei levá-la por trás. Ando
até a porta que leva para a varanda de nosso quarto e a deixo no chão de
costas para mim e olhando o luar perfeito lá fora. Vejo com o iluminar da luz
fraca que deixamos em nosso quarto, as costas de pele perfeita e toda
arrepiada. Pétala apoiou-se com as mãos no portal de madeira para não forçar
o vidro e machucar-se com minhas estocadas em sua linda e arredondada
bunda. Ela conhece-me tão bem que já sabe o que vou fazer para dar-lhe
novamente o seu prazer. Passo minhas mãos pelo seu corpo fazendo-a tremer
com meu toque, seguro forte em seu quadril e a coloco empinada para mim,
encostando-a em meu sexo babado e louco para penetrá-la com força. Ela
treme. Pétala levantou sua perna direita e apoiou seu pé no pequeno baú que
temos ao lado da janela, empinou-se mais abrindo-se toda para sentir-me
entrar. Pude ver como estava ansiosa então, segurei meu pau pela base e
passei a cabeça em toda sua fenda e até chegar no ânus apertado, voltei para
fenda vendo e sentindo-a se empurrar para ele entrar logo, e com uma forte
batida até encostar no fundo de sua fenda melada, entrei rasgando-a como sei
que gosta. Não dei tempo para ela respirar e continuei empurrando todo meu
pau, eu podia ver a cabeça na beira e logo eu entrava novamente, eu amo isso,
senti-la toda tremer com seus nervos apertando-me e ver o quão arrepiada ela
estava. Tiro meu pau de dentro dela.
— Não, não. — sussurrou desesperada. Coloquei encostado em seu
ânus. — Sim, sim. — Sussurrou novamente. Eu a deixei conduzir-me a
entrada, ela estava empurrando seu corpo contra meu pau em seu ritmo
subindo e descendo em toda minha extensão e logo eu fiquei todo enterrado
dentro dela. Segurei firme com as duas mãos em seus seios e intensifiquei as
batidas fodendo-a como louco pela mulher mais linda do mundo. A minha
mulher. Seu corpo tremeu em espasmos então, desci minha mão até seu clitóris
inchado e comecei a massageá-lo rápido, não demorou um minuto e Pétala
liberou seu gozo enquanto eu bati fundo nela, deixando também todo o meu
prazer enchendo e melando seu ânus apertado. Nós, unidos como um só corpo
e sentindo prazer e agraciados com o luar no céu escuro. Ela tremeu tanto que
a senti fraca em minhas mãos, apoiando-se em meu corpo para não cair e toda
suada de prazer.
— Eu te amo, Lenhador. — Disse ela.
— Eu te amo, minha Pétala.
Saio de dentro dela e imediatamente nos deitamos na cama, não
conseguimos falar nada e nem ao menos nos limpar, adormecemos sentindo o
cheiro do prazer de nossos corpos.
Capítulo vinte e dois

O cheiro de
despertou-me.

amada esposa na cama e a vejo deixando a bandeja com o nosso café da


manhã.
café
Olho
para o lado de minha

— Você está mais linda hoje. — Falei.


— Isso só acontece porque tenho o seu amor. — Disse ela.
— Sim, você o tem todo ele até o infinito e além. — O sol entrou fraco
pela janela deixando o seu rosto com a luz perfeita para ser admirado. Seu
cabelo solto e desenhando seus traços delicados, o sorriso lindo e o mais
perfeito olhar de admiração a fez mais linda esta manhã. O mesmo olhar eu
retribuo, eu a admiro também assim como o meu amor é eterno por ela.
— Eu trouxe o café para você, vamos comer antes que esfrie. — Falou
sentando-se na cama.
— Obrigado. — sentei-me também. — E nossa filha? — Perguntei.
— Já está acordada, alimentada e pensativa olhando as notícias em seu
computador. Mas sei que ela está tentando se distrair para não olhar a todo
momento o que acontece com os dias de Spencer nas redes sociais. — Falou
servindo-me uma xícara de café.
— Gostaria que ela não se maltratasse tanto. — Falei.
— Ela não vai, você verá que nossa filha é forte e inteligente. Vai
saber sair no momento certo quando tudo acontecer.
— Do que você está falando? — Perguntei.
— Do casamento de Spencer. Tenho para mim que Cattleya, não irá
assistir à cerimônia e pelo que conheço de nossa filha, quando ela der o
primeiro passo para fora, ela estará colocando-o para fora também de seu
coração. Sei que ela tem esperança até o último momento, mas sei também que
ela pode acabar com tudo e seguir sua vida naturalmente depois disso. Chorar
ela vai, mas quando secar a última lágrima derramada, Spencer nunca mais
terá uma nova chance. — Pétala falou com tanta convicção, que fez-me ter
certeza disso também. Tomamos o nosso café da manhã e deixamos os nossos
pensamentos sobre Spencer e Cattleya se acalmarem. Quando terminamos,
tomei um banho e descemos para nos juntarmos a nossa filha, que estava
olhando pela janela e bebericando uma caneca de chá.
— Bom dia, filha. — Olhou-me sorrindo.
— Bom dia, papai. Pronto para finalizar o diário? — Perguntou
animada. Uma animação um pouco forçada eu percebi.
— Sim, vamos para a última jornada dessa missão. — Falei. E de
repente, ficamos admirados com o telefone tocando tão cedo. Pétala ficou
preocupada e olhou-nos com medo de uma notícia não agradável e
imediatamente ela atendeu sem olhar no identificador de chamadas.
— Alô. — falou apreensiva. — Spencer! — respondeu com alívio. —
Nossa, meu coração quase saiu pela boca, mas está tudo bem agora. Diga-me o
que o fez ligar tão cedo? — olhou para nossa filha. — Data? Já? Quando?
Próximo mês? — repetiu tudo o que ele estava dizendo. — Ok, vocês serão
bem-vindos. Vou me certificar que esteja tudo ao seu gosto, passe por e-mail o
que vocês desejarem e providenciarei a festa. Mamãe e Chris? Tudo bem,
claro Spencer. Um beijo querido, tenha um bom dia. — Desligou. Ela colocou
o telefone vagarosamente na base e olhou-nos sem saber muito o que dizer.
— Fale mamãe. — Pediu nossa filha.
— O casamento foi marcado para o próximo mês, estão vindo para
nossa casa Spencer e Victória. — Disse ela. Eu vi minha filha engolir seco.
— Foi muito rápido desde a última ligação. — Falei. Achei estranho
por ele estar ansioso para vir logo para nossa casa.
— Só penso uma coisa. — Disse Pétala.
— E o que é? — Perguntei.
— Ela pode estar esperando um filho de Spencer e apressado o
casamento. — Falou. Porém eu vi o quão difícil foi ela terminar a frase.
Cattleya ficou em silêncio olhando para a mãe. Quando recobrou os sentidos,
disse:
— Que sejam felizes. Vamos começar, papai? — Mudou o rumo de
tudo.
— Sim, filha. — Eu ainda verei muito dessa história toda. — Sentamos
todos na mesa da cozinha, abri meu diário e comecei a ler.

Dexter e Pétala, estavam deitados na cama olhando para o teto.


Imersos em seus pensamentos e suas decisões.
— Precisamos fazer as malas. — Disse ela quebrando o silêncio.
— Vamos começar? — Perguntou ele.
— Vamos, levante-se Lenhador que ainda temos um longo caminho a
percorrer até a sua linda e aconchegante cabana no meio da floresta. — Ela
levantou-se em um pulo e sorridente. Eles fizeram as suas malas para irem
embora de vez de Paris. Enquanto estavam organizando tudo, o telefone do
hotel tocou e ela atendeu. Recebera a notícia de que Bart já havia saído do
hospital e que estava bem. Assinou um termo pois ainda precisaria ficar em
observação por 24 horas. Ele não aceitou e foi embora responsabilizando-se
de qualquer dano que viesse a ter.
No avião de volta para New York, Pétala aconchegou-se no peito de
seu amado e adormeceu descansando sua mente de tantos turbilhões que vivera
em pouquíssimo tempo. Assim que pousaram no aeroporto JK em NY, Arnold
já estava esperando-os. Ele os levou para a casa de Pétala, e por incrível que
pareça, ambos respiraram aliviados por estarem ali.
Ao chegarem na mansão, ela tomou todas as providências para a
retirada de sua família da fazenda, deu ordens aos empregados para
arrumarem os quartos e também marcou reuniões com os acionistas em seu
escritório do hotel. Assim que Chris estivesse presente, tudo seria resolvido.
Ela trabalhou muito todo o dia e Dexter a ajudou em tudo, deixando-a
admirada com sua habilidade para administração. Até fez a proposta de que
ele tomasse a frente de tudo, mas obviamente, ele inteligentemente se recusou.
— Você tem certeza disso que está fazendo, amor? Quero dizer, tem
confiança que Chris já está bem para tomar conta de um poder desta
proporção? — Perguntou ele.
— Lenhador, para ser sincera com você, eu estou confiando em meu
coração, no amor, nos sinais que o universo está dando-me para viver, respirar
e ser feliz. Eu estou confiando em nós, Dexter. Apenas em nós. Se Chris não
estiver preparado para enfrentar os seus demônios e assim colocar fim em
tudo o que meu pai e eu construímos, quem tem a perder é somente ele. Eu? Eu
tenho amor, vida, esperança e sonhos. Uma pessoa sem sonhos não existe. —
disse ela apontando para o peito. — Aqui dentro do meu coração, eu sei que
seremos felizes, mesmo com todas as diferenças que iremos nos deparar no
dia a dia, venceremos e seremos muito felizes, meu amor. — Ela sorriu.
— É admirável a mulher que você é. O seu coração é lindo. Obrigado
por deixar-me viver com você a sua vida, os seus sonhos, meu amor. — Disse
ele.
— Eu digo o mesmo, Dexter. Obrigada. — Ele a beijou. Continuaram
trabalhando e não viram o tempo passar e ao cair da noite, já estavam
esgotados com tanto que tinham feito.
— Merecemos ficar aconchegados assistindo filmes, o que você acha?
— Perguntou ela.
— Eu adoraria.
— Então vou preparar tudo. Estou ansiosa e preciso me distrair.
Mamãe e Chris chegam amanhã, preciso preparar tudo para o novo, de novo.
— Falou.
— Entendo você amor, estarei ao seu lado sempre. — Ele a beijou na
testa como forma de carinho. Eles ficaram trancados na sala de TV comendo
porcarias e vendo filmes de ação e adormeceram lá mesmo.
Foram despertados com o telefone tocando e quando Pétala atendeu,
sua voz saiu mais sonolenta do que teve a intenção.
— Alô.
— Srta. Mackay. — disse Miranda apreensiva. — Temos um
problema. — Ela despertou-se rapidamente pela gravidade que sentiu que
fosse o problema, sentando-se no colchão que colocaram na sala
improvisando a cama. Dexter fez o mesmo quando a viu franzir a testa.
— O que está acontecendo, Miranda. — Perguntou olhando às horas e
se assustou quando viu que já era quase onze horas da manhã.
— O Sr. Bart veio aqui e fez um escândalo chamando-a por todos os
corredores do hotel. Exigindo que você viesse falar com ele e acertar as
coisas. Os hóspedes ficaram apavorados porque todos nós percebemos que ele
não estava em seu estado normal e principalmente, muito machucado em seu
rosto. Disse que viajou a noite toda de Paris a NY e estava muito cansado para
esperá-la quando bem quisesse atendê-lo, e quando ele se deu conta de que a
senhorita não estava mesmo, ele disse que precisava dormir um pouco pois
estava muito cansado, logo saiu sem ninguém intervir. — Miranda falou sem
pausa. Pétala tinha colocado o telefone no viva-voz para que Dexter ouvisse
também.
— Onde ele está agora, você sabe? — Perguntou ela.
— Imagino que tenha ido para casa ter um pouco de descanso.
— Tudo bem, Miranda. Agora diga-me, como estamos com a imprensa
e hóspedes?
— Estamos bem, resolvemos tudo para que não virasse um
estardalhaço maior.
— Obrigada por isso, agora ouça com atenção. Avise toda a segurança
de todos os meus hotéis, que Bart está proibido de entrar em qualquer um
deles, você entendeu?
— Perfeitamente senhorita, já imaginava isso e, portanto, já está feito
também. Essas ordens eu já passei. — Disse Miranda.
— Você é a melhor, vou dar-lhe um carro de presente por isso, escolha
o que você quiser. — Pétala sorriu.
— Não precisa, é apenas o meu trabalho Srta. Mackay. — Respondeu
sem jeito.
— Você vem sendo fundamental em minha vida e trabalho a muito
tempo, Miranda, eu reconheço isso. Não estou te comprando, estou te
presenteando por merecimento. Espere um carro novo em sua casa. Qualquer
coisa me chame novamente, ok?
— Sim. — Ela ficou sem saber o que dizer e deligaram. Dexter ficou
sorrindo para ela.
— Que bom que você reconhece quando um funcionário é excelente em
seu trabalho. — Disse ele.
— Não só reconheço meu amor, como os mantenho ao meu lado por
merecimento deles, por seus méritos. Próximo passo com Miranda é dar-lhe
sua casa própria, fiquei sabendo a pouco tempo que ela mora em um quarto e
sala bem pequeno, por economizar dinheiro para comprar seu próprio lar. Eu
irei comprar e farei com que ela me pague está casa, mas claro, isso será uma
mentira. Esse dinheiro vou salvar para depois devolver a ela. Penso que tudo
fácil demais, torna-se menos importante, para não cair o rendimento dela como
funcionária, a farei pensar que está pagando a casa. Eu aprendi esse pequeno
teste com o meu pai, já o vi fazendo isso com um funcionário dele por anos. —
Disse ela.
— Eu estou admirado, e gostei do método. Mas, e quanto ao Bart?
— Acho que depois de umas horas de sono, ele vai estar mais calmo.
— Assim espero. — Disse Dexter.
— Você viu que horas são? — Ela o abraçou mudando de assunto.
— Vi e não acreditei que dormi até essa hora.
— Acho que se o telefone não tivesse tocado, ainda estaríamos
dormindo. — Falou.
— Verdade, estou faminto, e você?
— Eu também. Vou pedir para levarem o café para nosso quarto, vai
indo que logo estarei com você. — Disse ela levantando-se e indo em direção
a cozinha. Dexter também se levantou, mas antes de ir, ele arrumou a cama
improvisada como se estivesse fazendo sua própria cama em sua cabana.
Quando subiu para o quarto de Pétala no segundo andar da casa, foi
diretamente para o banheiro tomar um banho e tentar esquecer que Bart já
estava em NY.
Ele saiu do banheiro com uma toalha branca enrolada em seu quadril, e
Pétala já estava esperando-o com o café.
— Você demorou. — Disse ela.
— Eu estava deixando a água levar os pensamentos para longe.
— Faz muito bem. — Ela também ficou apreensiva com Bart na mesma
cidade. Eles tomaram o café da manhã e logo que terminaram, Pétala foi tomar
banho. Ele se vestiu e a esperou pois já estava na hora de sua família chegar
no aeroporto de LaGuardia, era questão de minutos para Arnold chegar com
eles.
Pétala ficou pronta rapidamente e eles desceram e ficaram no
escritório trabalhando, enquanto esperaram por sua família. Trinta minutos
depois, ouviram passos pela casa e Chris gritando por ela.
— Onde está o espinho desta casa? — Disse alegremente.
Capítulo vinte e três

P étala sorriu e seus olhos


encheram de lágrimas.
Fazia muito tempo que não
tinha a voz de seu irmão tão perto. Antes das drogas, eles costumavam ser
bons amigos, protegendo um ao outro. Ela tinha muitas saudades dessa época.
— Eu não sou um espinho, sou uma rosa delicada. — Disse saindo do
escritório de mãos dadas com seu amor.
— Delicada? — Chris estava em pé no meio da sala, de braços
cruzados olhando-os com atenção. Sua mãe aproximou-se imediatamente.
— Pare de enchê-la com suas coisas, menino bobo. — disse abraçando
a filha. — Como você está, minha querida?
— Mamãe, que bom a ver novamente. — Pétala a abraçou fechando os
olhos. Era reconfortante saber que podia tê-la de volta como sua mãe.
— Ah! Isso eu também posso dizer, Pétala. É muito bom olhar para
você querida. — ela olhou para Dexter. — Meu Deus, melhor ainda olhar para
este homem aqui. Você escolheu muito bem, filha. Mas será que não existe um
tio, pai, primos distantes talvez, com a mesma genética e que se interessem por
uma senhora até digamos, apresentável como eu. — Ela sorriu para ele.
— Mamãe! — Pétala caiu na gargalhada.
— Só estou dizendo filha, vai que tenho sorte, não é mesmo? — ela
piscou para um Dexter envergonhado e sorridente. — Dê-me um abraço,
querido. Como você está? — Perguntou a senhora abraçando-o
carinhosamente.
— Estamos bem, senhora. Felizes por estarem aqui.
— Oh! Por favor, me chame de Isadora, sem formalidades com a sua
sogra, tudo bem?
— Sim, Isadora. — Disse ele sorrindo.
— Eu também estou muito feliz, meu filho. Jamais vi esse brilho nos
olhos da minha Pétala, continue fazendo-a feliz.
— Essa é a minha missão de vida. — Respondeu Dexter.
— Eu não mereço um abraço? — Perguntou Chris.
— Vem logo aqui seu chato. — Pétala aproximou-se de seu irmão e o
abraçou com amor. — Que bom que está aqui, obrigada Chris.
— Eu que agradeço a confiança mesmo depois de termos dito que não
estávamos preparados para sair da fazenda. — falou olhando-a sério. — Mas
conversamos com os médicos e estamos aptos para as mudanças e iremos
continuar os tratamentos. Obrigado, irmã.
— Eu não o teria pedido se eu realmente não precisasse, você sabe
disso, não é?
— Sei. E fez bem em pedir-me pois, como saberíamos que você estava
precisando da sua família, sem nos comunicar, não é mesmo?
— É verdade. Bem, agora que estão aqui, querem descansar ou
pretendem ver a cidade depois de todo esse tempo fora? — Perguntou ela.
— Iremos ficar em casa com você, a cidade não nos importa. — Disse
Isadora. Sentaram-se todos acomodados nos sofás e conversaram por horas. O
assunto em pauta fora o casamente e Dexter fez questão de tocar nisso cada
vez que se dispersassem no assunto. Ele estava ansioso para se casar com sua
amada. Então decidiram uma simples comemoração na assinatura dos papéis,
e fazer uma festa linda na cabana onde iriam morar, para que Pétala realizasse
o sonho do vestido de noiva branco.
O casamente no civil aconteceria em dez dias, isso porque ela ligou
imediatamente para Miranda dando às ordens para organizar tudo. Quando ela
retornou à ligação, a data já estava definida. Dexter voltaria para sua cabana,
um homem casado com o amor da sua vida, onde nunca mais a deixaria
sozinha, seria sua estrada para que ela percorresse o seu caminho em
segurança, protegida como tão delicada Pétala que era.
Dez dias depois, ela estava em seu quarto olhando-se no espelho,
vestida com um simples vestido azul.
— Você está linda, filha. — Disse sua mãe.
— Eu só estou com um vestidinho para assinarmos os papéis, mamãe.
— Está linda mesmo assim.
— Daqui a quinze dias, você vai estar levando-me para o meu amor no
altar. — Disse Pétala.
— Eu vou chorar como louca.
— Não vai não, mamãe. Vai estar composta ao meu lado e de braços
cruzados ao meu, apoiando-me para não cair de emoção. — Sorriram.
— Vamos descer, já estão te esperando. — Elas foram para sala onde
todos a aguardavam. O juiz de paz, Chris, Miranda e um Dexter apaixonado,
sorrindo ao ver sua amada tão bela.
— Pare de babar cunhado. — Provocou Chris.
— Cale a boca. — Rebateu Dexter com um sorriso nos lábios.
— Vamos começar? — Perguntou o juiz.
— Sim. — Responderam todos.
Foi rápido e ambos estavam assinando a certidão de casamento. Logo
que o juiz os deixou, eles levantaram um brinde em comemoração.
— Aos noivos. — Disse Chris.
— A nós! — Dexter olhou-a nos olhos e perguntou. — Como está se
sentindo hoje, Sra. Sawyer?
— Casada e feliz. — Respondeu beijando seus lábios em seguida. Eles
passaram o dia felizes e conversando sobre como fariam o casamento na
cabana. Pétala falou como Dexter vivia na casa mais linda do mundo, não
parecia ser um homem que cuidava com tanto carinho. Era adorável estar ali e
agora, ela poderia não sair mais.
Miranda estava anotando tudo quando de repente, a porta da sala foi
aberta com um barulho forte que mais parecia um chute. Eles se levantaram e
viram quando Bart entrou apontando uma arma em direção a Dexter logo que o
viu.
— O que está fazendo aqui, Bart? — Perguntou ela trêmula colocando
o copo de champagne em cima da mesa de centro.
— Vou matar esse desgraçado para depois, matar você também. —
Gritou ele.
— Abaixe esta arma, Bart. — Chris entrou na frente de sua mira.
— Dê o fora da frente seu drogado. — Gritou novamente.
— Onde está a segurança desta casa? — Pétala perguntou nervosa.
— Eles com certeza em breve estarão aqui. — Disse Chris. Bart olhou
para toda a sala confuso, quando seus olhos pousaram em Pétala, ele
perguntou.
— O que diabos está acontecendo aqui.
— Nos casamos. — Disse Dexter dando um passo para o lado e saindo
de trás de Chris. Ficando assim frente a frente com ele, desafiando-o com o
olhar.
— Casaram? Não pode ser.
— Por que não? — Perguntou Pétala.
— Eu preciso casar-me com você, tenho que ter o seu dinheiro sua
idiota, estou falido. — Essa foi uma surpresa para ela.
— Eu jamais me casaria com você, Bart. Vai embora, por favor.
— É melhor sair, Bart, você está metendo os pés pelas mãos. — disse
Chris. — Isso pode ser resolvido de forma menos agressiva e que não o levará
a prisão.
— Não tem solução, preciso de dinheiro para pagar as dívidas da
minha empresa e quando tudo ia acontecer, essa daí deixa-me para se casar
com um idiota que ninguém conhece. Um lenhador de merda. — Disse ele
sacudindo a arma para todos os lados como um desesperado.
— Se você fosse menos arrogante. — disse Pétala. — Talvez isso não
estaria acontecendo.
— Arrogante? Vou mostrar a você o que é perder a cabeça confiando
em uma prostituta como você. Sua vadia dos infernos. — Bart apertou o
gatilho. O silêncio se instalou em toda a casa quando perceberam que a arma
travou. Bart ficou tremendo olhando para ela incrédulo. Ele apontou e apertou
o gatilho, e tudo falhou bem diante dos seus olhos. Chris avançou rápido e deu
um soco forte em seu nariz, fazendo-o cair longe. Pegou a arma com a ponta de
sua camisa entregando-a ao chefe de segurança que tinha acabado de entrar na
casa com seus homens e se desculpando por só ver as câmeras agora. Pétala
sentou-se no sofá amparada por Dexter.
— Não chore, amor. Já acabou. — Disse ele confortando-a pelo susto.
Ele realmente iria matá-la e isso a assustou para o inferno. Bart foi tirado da
casa por três homens e logo ouviram as sirenes do carro de polícia chegando.
Depois que deram seus depoimentos, todos ficaram em paz novamente. Bart
seria condenado por tentativa de homicídio, e eles ficaram com pena e
aliviados ao mesmo tempo. Pétala e Dexter, foram para o quarto descansarem,
pois, no outro dia, seria a reunião onde passaria a presidência para o seu
irmão.
E assim aconteceu. Na reunião, resolveram tudo e Chris tomou posse
dos negócios da família, com a condição do monitoramento de Pétala. Ela
teria todo o acesso as suas decisões e ele não faria absolutamente nada sem
seu consentimento. Isso tudo fora sugerido por Chris, se não fosse assim, ele
não assinaria nada.
Tudo estava dando certo, a confiança em sua família fora restaurada e
ela estava pronta para ir embora viver com o seu amor. Quinze dias depois,
Pétala estava na mais bonita e decorada cabana para o seu casamento.
Miranda organizou tudo como eles haviam sonhado. Dexter leu para elas uma
parte do diário de sua mãe, onde falava do dia de seu casamento, ela até
descrevia a decoração e a bela jovem que o amaria para todo sempre. Pareceu
ser uma profecia, a discrição de sua noiva feita por Honddra, era Pétala em
toda a sua mais linda forma.
O quintal estava decorado com flores de outono e os tons alaranjado e
branco foram predominantes para harmonizarem o ambiente. Um lindo arco de
flores com a mesa decorada também, foi o altar, o caminho estava cheio de
pétalas de flores e rosas brancas com vermelho, tudo ficou muito delicado.
Miranda espalhou as tochas de fogo iluminando o lugar, o casamente estava
acontecendo ao cair do dia, brilhantemente escolhido pelos noivos por fazer
um lindo pôr do sol.
Dexter já havia concordado com a instalação de energia elétrica na
cabana para o conforto de sua amada e seu trabalho a distância, tudo fora
adaptado para que ambos ficassem bem. Alguns convidados já estavam
presentes, somente os de extrema confiança de Pétala e Dexter. Tudo estava
perfeito. Melhor ainda ficou quando a marcha nupcial começou, e os olhos do
lenhador que outrora era solitário, preencheu-se de lágrimas por ver seu
presente de Deus andando em sua direção, entregando-se para que ele a
cuidasse e zelasse pelo amor que sentiam tão vivo entre eles.
Pétala entrou no caminho de rosas e flores com o braço entrelaçado ao
de sua mãe, lindamente vestida com um vestido branco bordado em algumas
partes com pérolas, a calda não era tão grande e dava um toque especial aos
olhos, quando ela passava arrastando-a pelas flores. Um simples penteado
fora feito, um coque lateral com alguns detalhes brilhantes, maquiagem leve,
mas não precisava mesmo de alguma pintura em seu rosto, ela era a mais
perfeita mulher do mundo ao natural, sem máscaras. A felicidade e o amor
aformoseiam o seu rosto. Dexter ficou encantado ao ver o seu amor sorrir para
ele, e Chris, que estava ao seu lado já aos prantos, disse:
— Cuide-a para sempre. Prometa-me. — Pediu ele.
— Faço de suas as minhas palavras. Não a decepcione, Chris, ou não
terá um cunhado e sim, um inimigo em suas costas. — Alertou Dexter.
— Tem minha palavra. — Respondeu Chris. Dexter ficou olhando o
seu amor aproximar-se, lembrou-se de sua mãe sabendo que ela estaria feliz
ao vê-lo tão bem.
Foi a cerimônia mais linda do mundo, as palavras de ensinamentos que
o celebrante falou, tocou seus corações, pois sabiam que tudo era verdadeiro,
era o projeto de vida de ambos. Ele disse sim, ela disse sim mais uma vez, e
se beijaram.
— Eu te amo Sra. Sawyer.
— Eu te amo Sr. Sawyer.
Capítulo vinte e quatro

F echei o meu diário


chegando ao fim desta
leitura. O próximo
manuscrito é a história de como tudo aconteceu depois do nosso casamento, as
dificuldades que encontramos e superamos juntos, a minha adaptação com a
eletricidade na cabana, as viagens inevitáveis de trabalho que Pétala precisou
fazer com Chris, que por sua vez, não me deixavam ficar em casa sozinho, eu
tinha por obrigação que acompanhá-los em tudo. Mais problemas e soluções,
até chegar o momento mais importante de tudo o que já vivemos. Quando
descobrimos que esperávamos esta bela menina que me olha agora, sabendo
que sou loucamente apaixonado por ela.
— Papai. — Chamou Cattleya.
— Fale meu amor.
— Eu quero me casar com o vestido da mamãe. — Disse ela olhando-
nos e minha bela esposa sorriu.
— Eu adoraria vê-la dentro dele querida. Eu o tenho guardado no meu
quarto para você. Ele é tão lindo que o vesti várias vezes depois do casamento
que nem sei contar. — Disse ela.
— Verdade. — falei. — Lembro-me de vê-la dançando com ele pela
casa, linda e sorrindo para mim. — falei.
— Eu tenho uma filmagem que seu pai fez de um desses momentos. —
Disse Pétala lembrando-se.
— Ah! Eu quero ver. Como vocês nunca me mostraram isso? —
Perguntou Cattleya fingindo estar brava.
— Não sei, lembrei-me agora. Tenho muitas lembranças que você
poderá obter para o seu livro. — Disse Pétala.
— Eu vou amar isso. Bem, terminamos esse diário, vamos começar o
próximo?
— Não filha, esse você pode ler sozinha. Acho que a emoção de saber
em palavras como a desejamos, esperamos e cuidamos de você quando veio
ao mundo é única. — falei. — Todas às vezes que leio, eu derramo-me em
lágrimas infinitamente, bem, faça você sozinha dessa vez.
— Tudo bem, papai. Eu gosto desta ideia.
— Sim, posso dizer que fico com nó na garganta só de me lembrar de
sua mãe, contando-me que estava com você dentro dela. Eu ajoelhei-me aos
seus pés e chorei como um menino beijando seu ventre e fazendo do local mais
especial do mundo. Pois, era dentro da minha mulher, o meu amor, que estava
também a minha preciosa filha. — Falei.
— Eu fui muito cuidada por seu pai. — disse meu amor olhando-me.
— Ele carregava-me no colo, acariciava meu ventre com tanto carinho,
conversava com você que o correspondia com chutes na minha barriga. Foram
nove meses mais felizes que uma mulher já viveu. E foi eu a ter a sorte de
viver isso com tamanha intensidade. Dexter foi um pai participativo em tudo,
não me faltou carinho e amor também, ele soube dividir tudo em dosagens
perfeitas para nos duas.
— Eu amo ser filha de vocês, já falei isso, não é?
— Sim. — Rimos os três.
Ficamos conversando um tempo considerável. Pétala pegou todos os
álbuns de fotografias e seu laptop para mostras as filmagens que tinha em seus
arquivos. Contamos para ela e claro, nossa filha gravou tudo, muitas outras
histórias. Boas e ruins, porém, mostramos como superamos com muito esmero
quaisquer dos obstáculos. Tínhamos lembranças de acampamentos e viagens a
belíssimas praias paradisíacas, tínhamos também até fotografias dela com
Spencer, sempre juntos como verdadeiros amigos e parceiros. Mas olhando
para essas fotos, realmente eles já se olhavam apaixonados, o amor nascera
com eles. Tivemos um bom dia regado a boa comida e boas memórias. E
assim, passou-se trinta dias.
Estávamos a uma semana, da chegada de Spencer e Victória. Todos
esses trinta dias minha filha sorriu, brincou com cada descoberta que obteve
sobre nossas vidas depois do casamento, mas como não sou um homem pouco
observador, percebi que há dez dias seu sorriso já não era mais o mesmo. Sua
luz não estava mais tão brilhante como outrora. Minha Cattleya, estava triste e
tentando não nos fazer saber disso. Mas somos os seus pais e a conhecemos
melhor que ela mesma, para sabermos como estava o seu estado emocional.
Cattleya está muito ferida e com medo. Medo de não agir naturalmente
perto de Spencer. Medo de só ela ter sentido que eles nasceram um para o
outro, de ser coisa de amor de criança e vê-lo superado de tudo o que ele
mesmo disse. Medo principalmente, de se derramar em lágrimas diante dos
olhos dele. Pétala e eu, respeitamos o seu espaço e não conversamos nada
relacionado a casamentos, então, mais uma semana se passou e hoje, estamos
aqui sentados olhando-a andar de um lado para o outro, fingindo estar
trabalhando em seu livro.
Minha mulher olha-me angustiada, eu a vejo de dois em dois minutos
olhar o relógio em seu pulso. Ela também está nervosa porque a qualquer
momento Spencer e sua noiva, irão adentrar esta cabana. Minhas mãos estão
suando em demasia. Ver o sofrimento de minhas duas mulheres e não poder
fazer nada por ora, é muito para mim. Não sei o que Spencer quer com isso. Ou
sei? — Pergunto-me.
Sinto meu coração acelerar mais forte agora, acho que estou sentindo o
mesmo que minha filha está. Olho para ela mais uma vez e a vejo em pé
olhando pela janela, em direção a entrada da cabana. E é neste momento, que
meu fôlego quase se perde. Cattleya abraça seu corpo vagarosamente e leva
uma mão até sua boca, sufocando o choro que está gritando dentro de seu
peito. Ela respira com dificuldade, então, ouço o carro fazendo a curva. Os
pneus no cascalho fizeram o barulho ser ensurdecedor aqui dentro pelo
incomodo silêncio que estávamos. Minha esposa sentada ao meu lado, segurou
firme minha mão e soube que era para apoiá-la a não desmoronar por olhar
também nossa pequena. E o barulho das duas portas do carro batendo, fez-me
querer matar meu sobrinho drenando seu sangue a conta-gotas, para ser lento e
fazê-lo ver a morte passando de imaginária para real.
Cattleya virou-se para nós com o olhar pedindo socorro. Levanto-me
rápido para ampará-la em meus braços, abraçando-a com a cabeça em meu
peito, eu a sinto tremer e o choro que outrora estava trancado, saiu por sua
garganta ecoando todo na casa desesperadamente e dolorosamente.
— Vai para o seu quarto, filha. Recomponha-se e leve o tempo que
precisar. — Eu senti. Minha voz saiu mortal de minha boca. Eu estava para ter
um ataque de fúria e mandá-los embora para o inferno. Minha amada e muito
sábia, tocou em meu ombro acalmando-me e fazendo-me soltá-la para ela ir.
Ela foi. Subiu os degraus correndo e indo para o seu Forte. Pétala secou o seu
rosto molhado, segurou minha mão e juntos, abrimos a porta da sala. E lá
estavam eles. Spencer e Victória.
Eu vejo. Agora eu tenho certeza. Spencer olha-me envergonhado e um
tanto desesperado por estar aqui, mas tenta manter uma postura de homem
adulto. Isso porque eu lanço para ele o meu “olhar” de quem não permitirá
que ele a machuque mais do que já está fazendo. Seus olhos dizem-me que está
perdido e não sabe como fazer o caminho de volta. Confuso. Louco para gritar
e sair de dentro da bolha de desespero que tornou sua vida.
— Spencer, querido, que saudades de você! — Disse Pétala sorrindo e
abraçando-o.
— Tia. Eu sinto mais. — Disse ele com sua voz grossa mais do que eu
me lembrava. Ela a abraçou e fechou os olhos em agradecimento reconfortante
pelo carinho. Logo que se separaram, ela vira-se para sua noiva.
— Seja bem-vinda a nossa casa, Victória.
— Eu agradeço. Estou feliz por finalmente conhecê-los, é uma honra
pois, Spencer fala muito de vocês. — Disse ela sorridente. Spencer olhou-me
mais uma vez. Ele não sabe se pode aproximar-se, então eu dou o primeiro
passo.
— Eu só quero entender. — falei. — Sejam bem-vindos. — Eu o
abraço e sinto como ele está tenso. Seu corpo rígido faz-me saber que ele está
muito nervoso. Ele entendeu o que eu disse e isso me basta, por ora.
Cumprimento também a sua noiva e os faço entrar em nossa casa. Victória que
não solta a mão de Spencer, olha para todo o espaço em admiração. Ela sorri,
enquanto ele disfarçadamente, limpa uma lágrima solitária que não conseguiu
mantê-la presa.
— Nossa! Está como deixei anos atrás. — Disse ele.
— Sim querido, tudo na verdade, está como deixou anos atrás. —
Disse minha esposa fazendo-o virar-se para ela, a procura de uma resposta
que ela não poderia dar-lhe.
— É muito lindo, amor. Que bom você escolheu este lugar para o
nosso casamento. — disse Victória. — Quantas histórias ouvi daqui, agora é
bom dar cor a tudo. Até em seus sonhos ele fala desta casa, principalmente da
filhinha de vocês. Cattleya, não é? — Perguntou ela. Filhinha? Acho que ela não
sabe como crescida é a nossa filhinha. — Pensei.
— Fala em sonhos? — Perguntou minha mulher um pouco confusa com
a revelação. Mas quando ela ia responder, os passos de Cattleya invadiu
nossos ouvidos. Olhamos todos para cima e quando ela apareceu no topo da
escada, eu olhei para Spencer. Seus olhos arregalados como se estivesse
vendo o próprio Deus em sua frente. E Victória viu que ela não era tão
filhinha como pensou.
Cattleya vestiu-se lindamente e fez uma leve maquiagem para esconder
a aparência chorosa. Spencer não conseguiu disfarçar, ele apertou a mão de
sua noiva com tanta força, que quando ela foi reclamar, ela depara-se com a
verdade. Vê o quanto ele estava emocionado. Ela olha de Spencer para minha
menina, depois volta para ele outra vez, vendo todas as suas reações. O peito
dele sobe e desce demasiadamente rápido, a cada passo de Cattleya, ele
aperta mais ainda a sua mão. E quando minha filha se aproxima, é como se ele
estivesse hipnotizado. O ar ficou inexistente fazendo-o parar de respirar.
Victória não diz nada, mas entende tudo.
— Victória, seja bem-vinda a minha casa, e a nossa família. — Disse
Cattleya doce e educadamente.
— Eu agradeço imensamente. — Ela solta-se de Spencer e vejo seus
dedos vermelhos pelo aperto. Cattleya vira-se para ele, e no momento que
seus olhos encontram os dele, Spencer volta a respirar novamente. Diante dos
olhos de sua noiva, ele olha apaixonadamente para o seu verdadeiro amor.
— Spencer. — sussurrou ela e sei que não foi por querer. — Faz
tempo, não é? — Ele ficou em silêncio por alguns segundos recompondo-se do
efeito que ela causara. Ele sorri olhando-a como se fosse uma miragem a sua
frente.
— Faz tempo. Tempo demais para falar a verdade. — Sua voz estava
trêmula. Ele aproximou-se de Cattleya e a abraçou forte. Ela fez o mesmo. Ele
segurou os seus cabelos entre seus dedos, aproximou o nariz de seu pescoço e
respirou profundamente. Victória ficou paralisada.
— Seu cheiro continua o mesmo, eu nunca esqueci. — Sussurrou ele.
Mas todos ouvimos pelo silêncio perturbador que estava.
— Acho que estão cansados da viagem. — Pétala interrompeu o
momento na hora certa. Cattleya afastou-se e ficou ao meu lado, ela fez de mim
o seu apoio para não desmoronar.
— Sim, estamos um pouco. — Disse ela olhando para Spencer, que
por sua vez não conseguiu tirar os olhos de Cattleya.
— Eu me sinto uma idiota agora — falou Victória. Notei minha esposa
ficar tensa imediatamente. — Imaginei Cattleya uma menininha, mas, estou
vendo que é uma bela mulher. Spencer não tira o seu nome da boca referindo-
se a sua priminha. — eu senti uma ponta de sarcasmo ao referir-se minha filha
como sua priminha. Ela olhou-o duramente ao falar isso. — Mas a culpa fora
minha, nunca me importei em perguntar a época em que vocês ficavam juntos
passando férias. — Falou voltando-se para Cattleya com sorriso nos lábios.
— Eu cresci, apenas. — Disse minha filha, friamente.
— Vamos levar suas malas para o quarto, preparei um lanche e quando
vocês estiverem prontos, junte-se a nós para comermos. — Pétala os fez segui-
la, enquanto minha filha e eu sentamos no sofá. Eu fiquei segurando suas mãos
frias, trêmulas, para que se acalmasse um pouco.
— O que foi isso, papai? — Perguntou confusa.
— Isso foi ele entregando-se a emoção de vê-la. E foi ela descobrindo
a verdade. O que você está sentindo? — Perguntei.
— Medo. Raiva, muita raiva. Ela é muito linda.
— Ela não é você, Cattleya. E se vamos falar sobre beleza, você é
muito mais linda que ela. Não por ser minha filha que estou falando, mas por
ser a verdade.
— O que eu faço? O que está acontecendo aqui?
— Você age naturalmente, filha. Se ele a ama como vejo, tudo irá
acontecer a favor de vocês.
— Mas ela também o ama, papai.
— Mas não é o suficiente para eles serem felizes, sabendo que o
coração, o amor de Spencer pertence a outra. A você, minha filha.
— Eu não vejo assim, ele a pediu em casamento. A trouxe aqui, como
me ama agindo assim?
— Para tudo tem uma explicação. Vamos descobrir isso. — Falei e
parei, pois, ouvimos todos voltando para se juntarem a nós.
Capítulo vinte e cinco

S pencer vestiu-se mais


confortável com um
conjunto de moletom e
chinelos. Já Victória ficou em cima de seus saltos Louboutin. Eu os conheço
bem, tenho uma mulher cuja elegância nunca lhe faltou. Spencer sentou-se no
sofá de frente para Cattleya, mas não conseguiu encará-la novamente.
— Eu vou pegar um vinho e taças para tomarmos enquanto
conversamos. — disse Pétala. — Me ajuda filha? — Pediu.
— Claro, mamãe. — Cattleya levantou-se graciosamente, não
mostrando o quão trêmulo seu corpo ficara. Ele a olhou admirado, a muito
Spencer não a via, minha garotinha cresceu e está tão linda que não
conseguimos parar de olhar quando a vemos. Eu o entendo. Assim que notei
Victória olhando em sua direção, chamei sua atenção.
— Então, Victória, conte-me sobre você. — Olhou-me um pouco
perdida, mas logo recobrou os sentidos.
— Não tenho muito o que dizer. Filha única, pais separados e donos de
uma boa parte da indústria da moda de NY. Nada mais de grande importância.
— Ela pensa que devo ser uma pessoa desinformada, tanto de sua vida como a
ênfase ao falar sobre sua fortuna. Sempre o dinheiro fazendo as pessoas serem
vazias.
— E você, Spencer? — Perguntei em desafio.
— Eu não sei o que dizer. Só vivendo um dia de cada vez, eu acho. —
Falou. Logo minha mulher e filha colocaram as taças na mesa de centro e
sentaram-se ambas ao meu lado. Tudo sob os atentos olhos de Victória.
Ficamos em silêncio, mesmo uma pessoa com pura inocência, saberia que
estava um clima de incômodo para todos.
— Nossa, Spencer, você se casar eu não imaginei tão cedo. Eu o vi
crescer e agora subindo ao altar, estou surpresa. — disse Pétala quebrando o
silêncio. — Como está sua mãe? — Perguntou.
— Mamãe está bem. Ela está feliz, acho.
— E o Chris? — Ela perguntou por falta de assunto. Falamos com
Chris na noite passada.
— Conquistando a mamãe outra vez. Ele realmente está correndo atrás
dela como nunca fez antes e isso faz algum tempo. Ele disse-me que não vai
desistir, e eu sei que ela ainda o ama muito.
— Como você sabe disso? — Perguntou ela.
— Os olhos dela dizem muitas coisas. — Respondeu ele.
— Sim, os olhos dizem muitas coisas. Mas é com o coração que se
ouve a verdade, os sentimentos e o pedido de perdão. Principalmente o eu te
amo. — falou Pétala. Spencer tomou um grande gole de vinho, ele não
respondeu nada. — E como vocês estão pensando em fazer o casamento?
Amanhã acho que seria uma boa você mostrar a propriedade para Victória. —
ela sorriu. — Começando pela casa na árvore talvez, onde você passou muito
tempo brincando. — Spencer levantou-se incomodado. Disfarçou para elas
que o olhavam, mas eu percebi.
— Casa na árvore? Que legal, não vejo a hora de conhecer. —
Mencionar a casa da árvore, foi um ponto dolorido para minha filha. Eu a vejo
ficar inquieta e isso é um sinal para uma atitude rápida.
— Se vocês não se importarem, vou me retirar. Preciso voltar a
escrever e fazer umas ligações para Boston. — Falou olhando-me.
— O que você escreve, Cattleya? — Perguntou Victória. Ela colocou a
taça em cima da mesa e olhou para Victória.
— A história de amor dos meus pais. É invejável como é linda, eu não
me permitirei viver nada que não seja tão digno. — Falou com sorriso tímido.
— Eu a conheço um pouco por ouvir Spencer contar sempre que ficava
pensativo. Eu imagino o que você deve sentir presenciando isso e realmente
não seria justo, não viver um amor que tirasse seu fôlego.
— São poucos os homens como meu pai, Victória. Que são feitos de
coragem. — respondeu. — Bem, vou me retirar por algum tempo, tenho
certeza que seu noivo ficará feliz em mostrar toda a propriedade para você. —
Cattleya sorriu e levantou-se. Ela não disse nada a Spencer, deu um beijo em
sua mãe e foi para o seu quarto. Ficamos um olhando para o outro sem muito o
que dizer, Spencer não nos deixou confortável para conversarmos sobre
assuntos leves. Ele estava também inquieto, respirando com dificuldade e
andando pela sala de um lado para o outro, enquanto Pétala tentou falar o
máximo com sua noiva.
Os dias tornaram-se sufocantes. Cattleya fez o possível e conseguiu, se
manter distante de Spencer. Pétala e Victória, organizaram uma festa simples
enquanto ele ficou vagando pelo mundo da escuridão que estava seus
pensamentos. Eu o segui um dia e ele foi para a casa da árvore, ficou lá por
quase duas horas, então, achei melhor deixá-lo enfrentar seus demônios
sozinho. Pois, sei que isso tudo está sendo difícil para ele, mais do que todos
possam imaginar. Spencer está fugindo de uma conversa tanto com Pétala
quanto comigo. Minha esposa e eu decidimos dar-lhe tempo e ver onde isso
tudo vai chegar. Sua noiva já não está mais atenta aos sinais como outrora, sua
felicidade em organizar tudo transborda e com isso não vê motivos para
passar o dia com Spencer, ou até mesmo entender o que está passando em sua
cabeça que o deixa tão vulnerável.
Falta uma semana para o casamento. Chris e Isadora já estão aqui. A
mãe de Spencer, Ellen, chega amanhã. Victória está uma pilha de nervos, passa
o dia no telefone finalizando os últimos detalhes de seu casamento dos sonhos.
Que tenho para mim, que vai se tornar um pesadelo. Já minha filha adorada,
esconde-se dentro de seu quarto mais tempo do que eu gostaria e isso está me
deixando nos nervos. Ontem eu a peguei chorando, consolei minha menina até
que ela dormiu, vejo como todos estão felizes, porém, não posso dizer o
mesmo de minha esposa, filha, Spencer e eu. Mas preciso descobrir a
verdadeira razão de ele não acabar com essa história sem um final feliz.
Neste exato momento, ele está sentado dentro de seu carro ouvindo
música e olhando para o céu como súplica por alguma ajuda. E sou em que
vou ajudá-lo a encontrar o caminho de volta para casa. Agora. Aproximo-me
de seu carro e nossos olhos se encontram, ele desce o vidro de seu lado da
janela sabendo que o momento da nossa conversa chegou.
— Está tudo bem, tio Dexter? — Perguntou.
— Não, Spencer. Sou eu que tenho que fazer essa pergunta. Está tudo
bem? Vai continuar fugindo da conversa que você sabe que precisamos ter? —
Perguntei. Ele abaixou a cabeça, mas logo olhou-me de volta.
— Não estou fugindo, só não sei o que dizer ou fazer.
— Primeiro, levante a cabeça e aja como homem que penso que é.
Segundo, me acompanhe até a casa da árvore, acho que lá você irá ter uma
visão de como está sua vida, ou como ela pode vir a ser. — Falei. Eu o deixei
olhando para minhas costas e segui. Logo ouvi a porta do carro batendo e seus
passos atrás de mim. Essa conversa será de homem para homem, tio para
sobrinho e principalmente, como pai que adora sua filha acima de tudo. Se
Spencer pensa que pode fazer isso, vir aqui e esfregar sua vida na face da
minha menina e ficar tudo bem, é porque ele ainda não me conhece.
Sento-me confortavelmente no tapete estendido no chão, cobrindo o
que foi antes suas promessas de um amor infantil. Spencer olha para ele e
respira profundamente, como se as lembranças ficassem mais duras em seu
coração. Dor. Eu vejo dor. Ele senta-se de frente para mim e olha-me nos
olhos agora.
— O que você sente, Spencer? — Perguntei. Ele deixa todas as suas
emoções virem para fora.
— Eu a amo. Sempre amei Cattleya e sei que você sabe disso. Sei que
estamos aqui pelo que está escrito debaixo deste tapete. — falou e colocou as
mãos na cabeça. — Sei que vocês sabem que a pedi em casamento, sabem que
nós sempre fomos mais que primos, não dá para negar o que sinto, tio Dexter.
Eu a amo tão profundamente que estou com vontade de gritar agora. — Eu
senti o seu cansaço. Spencer estava muito cansado.
— Então, por que isso tudo? Por que vir aqui e armar esse circo
fazendo minha filha sofrer? — Ele olhou-me com os olhos semicerrados.
— Ela está sofrendo? Por quê?
— Você ainda pergunta? — vou esganar esse moleque. — Você achou que
Cattleya não cresceu sonhando em viver o amor que prometeu dar-lhe aqui
mesmo, nesta casinha da árvore? — Eu o vejo confuso.
— Ela não me ama, tio. Ninguém será capaz de fazer Cattleya feliz
como ela sonha ser. Você e a tia Pétala são o modelo de vida e relacionamento
que ela quer. — disse e vejo-o em conflito. — E se eu não conseguir ser você,
para ela? E se eu não souber fazer tudo o que você faz para a titia, como ela
almeja? Desculpa tio Dexter, mas Cattleya quer você como namorado, marido,
ou seja, lá o que for, no corpo de outra pessoa. Mas eu não sou você. — Disse
ele e agora eu o entendo perfeitamente.
— Por que você está se casando com Victória? — Perguntei.
— Porque ela ficou grávida. Sofremos um acidente de carro e ela
perdeu a criança. Foi minha a culpa, eu estava bêbado sabendo que não podia
dirigir. Agora ela me culpa 24 horas do dia. — Falou secando as lágrimas.
— Você não tem culpa e não precisa se casar por isso. Tudo bem que
fora irresponsável ao dirigir sob efeito do álcool, mas culpa, você não tem.
— Ela não me deixa pensar diferente.
— Spencer, eu o entendo agora suas razões. Mas, se você continuar
com isso, vocês três irão sofrer por nada. Cattleya ama-o e isso eu posso dizer
com certeza. Se ela tem uma ideia de marido ideal como espelho do seu pai,
então faça-a entender que você não sou eu. Mas que mesmo assim, ainda é um
homem com o qual ela pode contar, confiar e viver um amor tão bonito como o
de seu pai e sua mãe. — falei. — Mostre-a como você é imperfeito para certas
coisas, porém perfeito para outras. Porque é assim que funciona comigo e
Pétala. — eu olho-o com aparência derrotada. — Se você a ama tanto como
vejo, por que se afastou dela?
— Não me afastei, só percebi que fomos para caminhos diferentes. Sei
que ela tem sentimentos por mim, tio Dexter. Eu a olhei nos olhos e quando a
abracei, senti seu corpo tremer. — eu vou socar o nariz desse infeliz. — Mas também
sei que ela deve ter tido suas paixões, vivido momentos importantes e não é
mais aquele sentimento de amor de criança que sente por mim, talvez ficou só
boas lembranças em sua mente. — Falou.
— Quem disse que ela se apaixonou por outros? — Perguntei. Ele já
está me irritando porque vejo que ele acredita mesmo nisso.
— Imagino. Ela é uma mulher linda, estudou e agora vai para Harvard.
Deve ter tido namorados na escola e não sou mais tão importante em sua vida.
— Está enganado. Mas se estivesse certo, você não poderia reclamar,
não é mesmo? — Ele olhou-me com pesar.
— Tio Dexter, eu já estive nos braços de mais mulheres do que posso
contar. Mas nenhuma delas fez-me esquecer os lábios de Cattleya. Com todo
respeito em dizer-te isso, é só a mais pura verdade. Eu as tinha, todas elas,
eram só para o meu prazer. Beijava-as para fechar meus olhos e sentir Cattleya
de anos atrás. — Falou sussurrando. Ele não tem medo de mim, tem? Levantei o
tapete e ele olhou para o que estava escrito.
— Aqui está a chance de senti-la, beijá-la e a ter em seus braços como
sua mulher para todo o sempre. Porque eu não aceitarei menos que isso,
Spencer. Minha filha não irá ser sua para desfrutar e a jogar fora.
— Eu nunca pensei nela assim, tio. Eu a amo muito para fazê-la como
objeto do meu prazer.
— Ela é sua, como Pétala é minha.
— Será que ela é capaz de me perdoar? Eu a mantive distante para
viver uma vida regada a mulheres e coisas loucas. Ela não vai queres estar
comigo depois disso. — Falou.
— Está em suas mãos. Você pecou em trazer sua noiva aqui, isso eu
acho que será difícil ela esquecer. O passado não, e sim o presente é o grande
problema.
— Eu queria ver se era uma ilusão do meu coração, meu desejo de
desposá-la talvez estaria me pregando uma peça. — Falou.
— Então conserte isso antes que seja tarde demais. — Falei.
Capítulo vinte e seis

F icamos por mais uma


hora conversando. Eu o
conheci melhor com seu
desabafo, e agora sei que ele é sim capaz de fazer minha Cattleya feliz.
Quando voltamos para casa, todos estavam na sala tomando vinho, menos
Cattleya, que nos viu chegar olhando pela janela. Ela ficou curiosa para saber
o que estávamos fazendo, mas não me disse nada.
— Onde você estava, amor? — Perguntou Victória aproximando-se de
Spencer. Ela queria dar-lhe um beijo, mas ele se esquivou não conseguindo
disfarçar e todos vimos a cena. Ele afastou-se um pouco e olhou para Cattleya,
que imediatamente abaixou os olhos desviando-se de seu olhar. Victória
percebeu e o olhou duro.
— Eu vou para o meu quarto, preciso voltar ao trabalho.
— Outra vez querida. — sua avó, Isadora, perguntou em desagrado. —
Você fica dentro deste quarto e não junto de sua família.
— Eu preciso, vovó. — Disse ela.
— Será que precisa mesmo, minha filha? — Perguntou Pétala. Eu a
conheço bem para saber que isso é um desafio para ela enfrentar a situação
com a cabeça erguida. Victória cruzou os braços olhando-as fixamente.
— Eu prefiro assim, mamãe. — Disse e vi o quanto era difícil para ela
permanecer ali por mais tempo. Cattleya subiu rápido para seu quarto.
— Bem, espero que isso termine logo. Porque só não vê o óbvio quem
não quer ou se acovarda, não é Spencer? — Disse sua mãe que havia chegado.
Victória sentou-se próximo a Pétala e ficou pensativa, eu imagino como deve
estar sua cabeça. Vir para o seu casamento e deparar-se com seu noivo
completamente apaixonado por outra mulher. Ela sabe disso e tem uma escolha
a ser feita.
O dia do casamento chegou. Minha filha está com os olhos inchados às
nove horas da manhã, isso porque chorou a noite toda e isso me corta o
coração. Ela está comendo agora com todos na mesa, Spencer não para de
olhar para ela e sua noiva não tira os olhos deles. A cerimônia está marcada
para cinco horas da tarde e temos todo o dia para nos aprontar para essa
palhaçada. Não vejo a hora de todos irem embora, deixando-nos em paz.
— Eu vou sair um pouco, papai. Vou na caminhonete. — Sussurrou e
seus olhos olharam-me em súplica para deixá-la se afastar.
— Pode ir querida, leve o seu tempo. — Sussurrei de volta.
Imediatamente levantou-se e pegou a chave do carro, colocou um casaco e saiu
pela porta sem olhar para trás. Spencer que estava olhando todos os seus
passos, levantou-se e disse.
— Eu vou sair. Preciso resolver uma coisa.
— No dia do nosso casamento? — Perguntou Victória. Ele não
respondeu, apenas saiu. Eu ouvi o barulho do motor de seu carro, ele foi atrás
dela. Victória levantou de cabeça baixa.
— Vou para o meu quarto ter o meu dia de noiva, logo ele vai estar de
volta e vamos nos casar. — Disse. Mas nem ela acreditou em suas palavras.
Minha esposa e eu nos olhamos e eu a vi também levantar-se e seguir Victória.
Acho que chegou a hora de elas terem uma conversa.
Cattleya

Eu não consegui ficar lá. Todos esses dias tem sido a minha morte. Eu
a vejo feliz e tento manter-me o máximo longe dele. Era para ser eu, e ele a
trouxe para casar-se com ela, o seu novo amor. Amor que é entre um homem e
uma mulher, não duas crianças. Spencer não está errado, ele seguiu sua vida
assim como eu deveria ter feito. Mas acho que para mulher isso se torna um
pouco mais difícil. Quando amamos um homem, entregamo-nos em todos os
sentidos, eles são mais frios, menos papai. Papai é puro sentimento, emoção,
amor. Desejo que eles sejam felizes, só é difícil ver isso sem sentir dor.
Ele sentiu o meu cheiro, não esqueceu e cheguei a pensar por todos
esses dias, que isso deveria significar alguma coisa, não? Ilusão, talvez. Estou
indo para o pico das nossas terras, lá está vovó Honddra descansando, é o
lugar mais encantador que temos aqui. E eu preciso chorar para fora toda esta
dor que sinto, porque quando eu voltar, Spencer já não vai estar mais em
minha pele, meu coração. É uma promessa.
Paro o carro perto dos túmulos dos meus avós. Olho para o do vovô e
sinto raiva, mas logo passa. Ele era um bom homem, só não soube amar e
receber de volta. Beijo a ponta dos meus dedos e toco na cruz que papai fez
com o nome da minha avó.
— Eu estou perdida aqui, vovó. Algum conselho? — Afasto-me para
sentar nas grandes pedras que tem na beirada do precipício, e olho para a
linda paisagem que meus olhos podem contemplar. Sinto quando o soluço vem
forte e me derramo em lágrimas como jamais fiz em meu quarto. Meu pai
ficaria à beira da morte se me visse assim.
Eu deixo ir a dor, frustração, incertezas de que um dia fora real o que
senti. E olhando para o nada além do verde, ouço um barulho atrás de mim e
olho assustada. Eu não quero conversar com ninguém, eu quero ter a liberdade
de chorar e ficar sozinha por algum tempo, e assim que o barulho se aproxima,
vejo Spencer parar seu carro ao lado do meu. Ele desceu olhando para os
meus avós e veio em minha direção, colocou a mãos dentro dos bolsos de seu
jeans e andou lentamente. Eu o analiso e fico sem ar, lindo, alto, quente.
Spencer cresceu e ficou um homem lindo, desses de fazer chorar por não os
ter. Eu seco minhas lágrimas e ouço sua voz rouca.
— Não precisa secar, Cattleya. Elas fazem parte de mim. — olho-o e o
vejo que também chora. Sentou-se ao meu lado fazendo meu coração bater
mais rápido. — Eu te amo, Cattleya. Tanto que dói olhar para você e não te
tocar, beijar. Eu estou aqui para te pedir perdão, porque eu sou um idiota que
erra muito. Não é só você que está em conflito aqui.
— Me ama? Casando-se com outra e em minha casa? — Perguntei.
— É exatamente por isso que estou pedindo perdão. Sei que cometi
muitos erros, mas o medo que sinto de não corresponder aos seus sonhos,
deixa-me apavorado. — Ele olha-me com dor.
— Do que você está falando? — Perguntei.
— Diga-me Cattleya, diga-me que me ama, que me perdoa e eu sou
seu.
— Foi você quem me jogou para longe, Spencer. Eu sempre estive lá
para você e o que fez com isso? Ficou de braços em braços.
— Como vou competir com seu pai? Você o ama e deseja que o homem
com quem se casar, seja igual a ele. Eu não sou ele, Cattleya. — gritou. E foi o
grito mais sufocante que já ouvi. — Eu nunca poderei ser ele para você,
porque sou imperfeito, cometo erros, mas te amo como a porra do inferno todo
do mundo. Sempre espalhou para toda a família o seu livro e como não se
permitiria não viver uma história igual a de seus pais, acha mesmo que isso
nunca chegou em meus ouvidos? E com tudo eu sentia-me frustrado por não
corresponder a isso, não ser o príncipe que você sonha para sua vida.
— Eu nunca pedi para você ser igual ao meu pai, Spencer. Mesmo
porque eu não conseguiria viver com você se ao menos tentasse ser. Eu o amo
como pai maravilho que é. E você deixou-me para viver sua vida, suas
mulheres e eu o entendo, estava tudo ali ao seu dispor. Jovem, bonito, rico,
livre.
— Eu trocaria tudo para estar ao seu lado, se eu soubesse que você me
aceitaria como sou. — Disse ele.
— Eu aceito você o homem que é. Posso ser nova, mas jamais pensei
em transformá-lo em meu pai ou qualquer outro homem que eu vir a ter. O que
não aceito é você disponível para mim e outras mulheres, isso nunca. —
Spencer em um impulso rápido, agarrou-me e nos levantou abraçados um ao
outro. Ficamos frente a frente enquanto senti envolvendo seus dedos em meu
cabelo na nuca. Puxou um pouco forte fazendo-me erguer a cabeça e olhá-lo
nos olhos.
— Eu quero você. Quero como minha esposa e te fazer minha, passar
todos os dias enterrado dentro de você, sentindo seu gosto e seus beijos. —
beijou-me possessivamente. — Seu corpo quente e suado debaixo do meu,
tremendo com meu toque. — Disse ele. Sua voz rouca fez-me molhar lá
embaixo.
— Spencer. — afastei-me o quanto consegui de seu aperto. — Você
não pode falar essas coisas para mim.
— Por quê? Já somos adultos e sabemos que, quando voltarmos para a
cabana, não haverá casamento, Cattleya. Você aceita-me com meus defeitos?
Prometo que farei tudo para fazê-la feliz, eu sou seu assim como é minha, só
minha. Nenhum desses namorados que você teve no passado, vai chegar perto
de você, porque eu sou o seu homem para sempre. — Disse ele.
— Eu nunca tive namorado. — Falei com nossos lábios tocando-se e
ouvindo nossas respirações pesadas.
— O que você quer dizer com nunca tive namorado? — Perguntou-me
com olhos arregalados. Segurei em seus braços fortes.
— Eu disse o que eu quis dizer. Que nunca tive namorado.
— Cattleya, não fale nas entrelinhas. Você está dizendo-me que é
virgem, é isso? — Spencer apertou mais o meu cabelo deixando minha boca a
sua disposição. Sua outra mão desceu abaixo das minhas costas e aproximou
meu corpo mais ao seu.
— Sim, eu sou virgem. — Minha boca foi tomada com posse. Seus
lábios macios como eu me lembrava. Spencer é um homem hoje, e pelo que
sinto, é movido a fogo, sangue quente. Meu corpo começou a tremer e senti
quando minha fenda melou. Sei o que é isso, é ele fazendo-me querê-lo dentro
dela. Mas não assim, não agora.
— Spencer. — falei em sussurro. — O que está fazendo?
— Eu quero você agora, aqui e em meus braços. Vou te fazer minha
como sempre foi. Vou desposá-la e você não vai querer ficar de outro jeito se
não for recebendo todo o meu amor.
— Não podemos. — Ele lambeu meu pescoço.
— Por quê?
— Porque você tem Victória esperando para casar-se com ela.
— Eu não a tenho e não vou me casar com ela. Eu tenho você e você
me tem. Nos amamos e vou te fazer minha, agora.
— Não, Spencer. — falei quase sem ar. — Podemos voltar aqui e
continuar deste mesmo ponto, mas antes disso, resolva o que é preciso
resolver com ela e com todos. Não me deixe mais entre uma navalha porque
isso fere o inferno dentro de mim. Precisamos conversar sobre coisas que
estamos desviando para saciar a sede, saudades que temos um do outro. Mas
existe um problema aqui e eu não vou ser sua até que o resolva. — Falei. Eu
sou filha de Dexter e Pétala Sawyer para ser uma mulher de fibra. Primeiro
resolver os problemas, depois voltamos ao ponto onde paramos, sem mais.
Ele olhou-me pensativo.
— Você está certa, perdoe-me por isso.
— Vamos sair daqui.
— Sim, precisamos ou eu não respondo por mim.
— Você me terá, Spencer. Hoje. Talvez. — Ele sorriu.
Voltamos para a cabana, eu não sei quanto tempo ficamos fora, mas
quando entramos em casa, minha família estava apreensiva na sala. Toda a
casa decorada e inacreditavelmente, com tudo o que eu havia pensado para o
meu casamento. Não gostei desde o primeiro momento que percebi isso. Papai
respirou aliviado ao olhar-me e mamãe sorriu. Victória estava descendo a
escada olhando-nos fixamente.
— Então é isso. Vocês finalmente estão juntos.
— Precisamos conversar, Victória. — Disse Spencer.
— Não precisa, eu já sabia desde a primeira vez que ouvi o nome dela
sair de sua boca. Mesmo assim tive uma esperança inútil de conquistá-lo. Mas
nada vence o amor, não é mesmo. — Falou.
— Sinto muito. — Disse ele. Fiquei olhando-os.
— Você a chama em seus sonhos e eu não fui a única a ouvir. — ela
olhou-me. — Você sempre o teve, Cattleya. Ele nunca a deixou.
— Eu também nunca o deixei. — Falei
— Espero que vocês sejam felizes. — Disse e voltou a subir os
degraus e foi para o quarto. Ficamos sem entender absolutamente nada.
— Acho que tive uma conversinha de mulher para mulher com
Victória. — disse minha avó Isadora. — Sabíamos todos do amor de vocês,
falei com ela e perguntei o motivo de ela estar se casando com um homem
mesmo sabendo que ele ama outra. Eu ouvi, ela ouviu, entendeu e aceitou. Fim
da história. Bem como eu imaginava, ela nunca amou Spencer. — Disse vovó
olhando-nos. Papai olhou-a admirado.
— Você é surpreendente. — Disse ele.
— Eu sei. — respondeu sorrindo. Victória precisava de uma muleta
para superar o bebê que perdeu.
— Que bebê? — Perguntei.
— Depois querida, não é o momento. Então, conversamos por muitas
horas enquanto esse idiota do meu neto, se permitia ter coragem e limpar as
calças para falar com Cattleya. — Não posso acreditar nisso. A decoração do
casamento é para mim? — Pensei. Mamãe olhou-me e soube o que estava
fervendo na minha cabeça.
— Vai para o seu quarto, filha. Você tem um casamento para ir. —
Disse ela.
— Por que eu sou o último a saber das coisas? — Perguntou meu pai
com raiva.
— Porque você é tão protetor com nossa filha, que se eu falasse do
casamento e tudo o que mamãe estava fazendo, você a trancaria em uma caixa
e a deixaria sair somente com cinquenta anos de idade.
— Isso não tem graça e ainda dá tempo de trancá-la, não é? Ela não
vai se casar hoje. — Falou olhando-me. Eu sorri e sentei ao seu lado.
— Não vou, papai?
— Sim, vai meu amor. — seu rosto banhado em lágrimas. — Estou
muito feliz por vê-la feliz.
— Obrigada, eu amo você. — Falei.
— Eu também te amo, Cattleya.
Epílogo

Cattleya desce a escada vestida de noiva, com o vestido que fora de


sua mãe em nosso casamento. Ela está linda. Seu sorriso ilumina toda a
cabana, perfeita. Todos estão lá fora esperando para que eu a leve até Spencer.
Mas não sei se quero. Minha menina vai sair debaixo das minhas asas e será
cuidada por seu amor. Estou feliz, mas o nó na minha garganta não se desfaz.
— Eu sei o que está pensando, papai. — disse ela ao tocar minha mão.
— Eu nunca vou partir. Não consigo viver sem vocês. Não quero que minha
vida com Spencer seja igual a de vocês, nós precisamos fazer nossas próprias
descobertas e vivermos todas elas. Porém, vocês são uma lição de vida, então,
quando tudo ficar difícil, porque isso vai um dia, eu vou voltar para casa
correndo. Ouvi-los, e voltar para o meu lar e corrigir os nossos erros. Ou ao
menos tentar.
— Eu amo saber que você é tão parecida com a sua mãe. A sua força é
admirável, filha. A sua fé no amor é um exemplo a ser seguido. Se todos no
mundo amasse como nos amamos, seriam mais felizes isso eu tenho certeza. Eu
te amo.
— Eu também te amo, papai.
Dou um beijo nos cabelos lindamente penteados da minha menina,
seguro firme em suas mãos e a conduzo para o altar. Spencer começou a chorar
ao vê-la indo ao seu encontro. Pétala não tira os olhos de nossa menina e a
cada passo que damos, posso sentir as batidas de seu coração. Somos
conectados para sempre.
Dou a mão de minha filha para Spencer e olhando em seus olhos, não
precisei falar uma só palavra.
— Eu prometo. Por mim, por ela, por você, por titia, e por Honddra.
— Disse-me Spencer. Engasgo ao ouvi-lo dizer o nome de minha mãe. Isso foi
a forma respeitosa que ele encontrou, de dizer-me que ela estava segura com
ele. Eu o amo por isso e os protegerei com minha vida.
— Cattleya, você aceita Spencer como seu esposo?
— Aceito.
— Spencer, aceita Cattleya como sua esposa?
— Aceito.
E pela primeira vez, vejo minha filha beijar um homem. Ela está muito
feliz. Pétala e eu ficamos a olhando toda a cerimônia, a festa, a dança, até o
último convidado ir embora. Estamos nós quatro aqui, onde amamos estar.
Spencer sentado ao meu lado rindo do que elas dizem. Lindas.
— Bem, acho que está na hora de levar a minha mulher para dar uma
voltinha na floresta. — Disse o garoto abusado.
— Eu vou torcer o seu pescoço. — Falei.
— Vamos filha, vou levá-la para longe de Spencer. — Disse Pétala
arrastando-a para fora da cabana.
— Não titia, volte aqui. — Gritou ele correndo atrás delas. Levantei-
me e fui também atrás deles. Pétala ficou impedindo-o de tocar em Cattleya,
correndo com ela de um lado para outro.
— Tio Dexter, ajude-me, quero minha mulher. — Gritou por socorro.
Seguro Pétala e a levanto em meus braços, meu amor, minha vida. Beijou-me
suavemente nos lábios.
— Eu te amo, Lenhador.
— Eu também te amo. — Sussurro. Olho para minha filha que também
está nos braços de seu amor, sorrindo lindamente.
— Ela está feliz.
— Muito feliz. Acho que essa é a hora para começarmos uma nova
história, Lenhador. — Disse minha amada e a curiosa da nossa filha ouviu.
— Que história? — Perguntou olhando-nos. Pétala desceu de meus
braços e colocou a mão por dentro de seu vestido, tirando do sutiã algo que
não identifiquei. Mostrando-me, meu coração ficou descompensado quando
identifiquei o objeto em sua mão. Entregou-me chorando. Então, eu vi escrito:
POSITIVO.
Eu perdi o controle do meu corpo e como da primeira vez, ajoelhei-me
e segurei seu ventre, derramando-me em demasiada emoção.
— Meu Deus, mamãe. Você está grávida? — Perguntou Cattleya
chorando também.
— Sim. Estou carregando mais um filho do homem da minha vida. O
meu único amor.
— Um filho depois de tanto tempo, eu sou muito abençoado.
— Somos meu amor, somos muito abençoados. — Disse minha mulher.
— Vamos Cattleya. Eles precisam de um pouco de privacidade. —
Disse Spencer emocionado.
— Vão para a casa da árvore, eu preparei para a primeira noite de
vocês, e Spencer — chamou Pétala — Seja delicado com a minha flor.
— Eu serei, titia. Eu a amo muito.
— Obrigada, mamãe. — Disse ela. Eles saíram e vi quando Spencer a
colocou em seus braços e sumiram por entre as árvores. A minha menina, vai
voltar para casa amanhã, uma mulher.
Pétala e eu entramos em nossa cabana, ela foi para o quarto e tomou
banho enquanto eu fiquei olhando para o teste de farmácia escrito, POSITIVO.
Quando ela voltou, sentou-se na cadeira de balanço que fiz para a nossa
espera de Cattleya. Seus cabelos molhados e vestindo o mesmo vestido do
início da gravidez de nossa filha. Linda. Com as mãos em seu ventre me olhou
sorrindo, e posso dizer que não existe visão mais perfeita que essa. E ela é
minha, carrega um filho meu, e eu a amo muito. “Obrigado mamãe, por ter me
ensinado a ser o homem que sou”
— Eu te amo, Dexter. — A sua voz é como música. Eu sorrio e choro.
Não consigo dizer nada, apenas sinto e a faço sentir.
— Eu sei. — Disse ela. E olhando-a tão profundamente, eu percebo
que, fazê-la feliz é a única razão pela qual eu existo.

Fim.
Obrigada a todos os meus leitores.

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