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MFn

Felipe Guilhem, um espanhol


que não voltou à sua terra

No episódio da fundação leitor desprevenido de hoje.


da Capital da Bahia aparece Destaquemos delas as mais
a figura singular de um espa- informativas:
nhol, ainda hoje muito discu­
tido, de nome Filipe Guilhem 1. Escreve, porque o rei se
(1). A sua complexa persona- lembrou dêle depois de tan-
lidade transparece claramente tos anos de silêncio,
num seu autógrafo, uma lon- 2. Viera ao Brasil por or-
ga carta ao rei de Portugal, dem de D. João III, havia en-
datada da Cidade do Salva- tão doze anos.
dor, em 21 de julho de 1550 3. Antes da sua vinda ao
(2). Brasil perdera nove anos em
Por ela ficamos sabendo, lo- casa de certo Vasco Fernan-
go de início, uma série de mi- des César (3).
núcias biográficas, certa- 4. Em julho de 1550, fada
mente conhecidas na côrte, um ano que Tome de Sousa
mas algumas das quais um o chamara de Ilhéus por or-
tanto surpreendentes para o dem do rei.
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5. Ali estivera pelo espaço xara no reino três filhas, con­
de dez anos como auxiliar tando a mais nova dezessete
destacado no governo da Ca­ anos, em 1550 (4).
pitania e dali escrevera repe­ Êstes dados, por assim di­
tidas vêzes ao rei, sem obter zer autobiográficos, são pre-
resposta. sumivelmente corretos, por-
6. Logo após a sua chegada que o missivista não se atre­
ao Brasil, fôra a Pôrto Segu­ vería a falsear a verdade ao
ro, atraído pelas notícias das soberano, que muito bem a
entradas em busca de ouro ali devia conhecer.
realizadas, a fim de certificar- O mesmo talvez não se pos­
se do que havia na realidade. sa dizer de outro depoimento,
7. Ainda em 1550, Tomé de que se refere exclusivamente
Sousa resolveu mandar Gui- à estada de Guilhem em Por­
Ihem ao sertão em viagem de tugal e a certas peripécias
exploração, "por entender êle dessa fase da sua vida, por
de mineralogia e saber tomar emanar da pena embebida na
a altura para traçar o ro­ malícia trovadoresca de Gil
teiro". Vicente.
Entretanto, Guilhem não Sousa Viterbo (5), além de
pôde seguir por achaques da registrar o que a respeito de
idade, mas principalmente Filipe Guilhem achou no Cor­
por ter adoecido dos olhos. po Cronológico da Tôrre do
8. Guilhem ajudou a ter­ Tombo, também transcreve
minar a construção do pri­ o que dêle se encontra nas
meiro caminho da Ribeira obras de Gil Vicente (6).
das Naus para a cidade alta Segundo êste último, Gui­
do Salvador, a Ladeira da lhem, grande lógico, muito
Conceição. eloqüente, tinha alguma cou-
9. Ainda no ano de 1549 sa de matemático, embora
foi encarregado da justiça da fôsse boticário de profissão,
Capital durante a ausência do e viera a Lisboa, em 1519,
ouvidor, que seguia, em via­ para oferecer ao rei um astro-
gem de inspeção, até São lábio e outros instrumentos
Vicente. náuticos (7) por êle inventa­
10. Guilhem era dignitário dos. Por ordem de D. João
portador do hábito de Cristo, III, alguns matemáticos do
desde l.° de janeiro de 1529, projeção, entre os quais Fran­
e havia anos que não recebera cisco de Melo, assistiram as
a tença. suas demonstrações e apro-
11. Fôra casado na Euro­ varam-nas por boas.
pa; mas, pouco antes de ser Seria isto antes de fins de
enviado ao Brasil, morrera- outubro de 1528, pois a 2 de
lhe a mulher e um filho. Dei­ novembro daquele ano foi-lhe
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concedido o hábito de Cris- Como além de boticário e
to em reconhecimento pelo matemático fôsse também
seu invento (8). Entretanto, "grande trovador", na expres-
algum tempo depois, acusado são de Gil Vicente, êste seu
de contrafação ou impostura, colega maior aproveitou a
principalmente por Simão oportunidade para testemu-
Fernandes, que D. João cha- nhar-lhe o mal disfarçado
ma "meu astronemo e cos- prazer, que lhe dava o seu
mógrafo" (9), Guilhem teria infortúnio, através de umas
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sido prêso ao querer fugir trovas maliciosas, das quais
para Castela. transcrevemos duas estrofes:
«A tnuchos hizo espantar
Vuosa próspera fortuna,
Pucs nunca vistes la mar,
Ni arroya, ni laguna.
Snpistes muy bien pescar.
Diciendo el pueblo travieso
Justo fue que fuese preso
El mas suelto hombre dei mundo.»
«Ansi por esta via
Es de tos sábios el cabo,
One sin ver astrolomia
El toma el sol por el rabo
En Qualauiera hora dei dia.
Respondieron al contrário.
Diciendo: no es verdad;
Poraue dende chica edad
No fue sino boticário
Hasta ver esta ciudad»

Além de muito lacunosa, é mão Fernandes. Porém, nes­


um tanto emaranhada a su­ te caso, Guilhem havia sido
cessão dos episódios conheci­ prêso primeiramente por ou­
dos da vida de Filipe Gui­ tra acusação. Incontestável
lhem entre a sua vinda a Por­ parece o seu aprisionamento
tugal e a sua partida para o por denúncia de se ter atribuí­
Brasil. A sua carta, oferecen­ do ciência alheia.
do ao rei o seu instrumento Em que época devemos co­
de calcular a longitude a locar êsse revés na vida de
qualquer hora do dia, já foi Guilhem?
escrita na prisão e não leva Pelos documentos transcri­
data. É de presumir que não tos por Sousa Viterbo sabe­
ousasse oferecer ao rei um mos, que, em 18 de setembro
instrumento tachado como de 1528, obteve o ordenado de
contrafação e que, portanto, vinte e cinco mil réis e, em 2
a carta seja anterior ao alega­ de novembro do mesmo ano,
do desmascaramento por Si­ o hábito de Cristo com a ten-
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ça de quinze mil réis (11), dos nove anos perdidos em
este por serviços não especi­ Portugal, na casa de Vasco
ficados e aquêle por "... Fernandes César. Entre 1529
certos instrumentos que in­ e o seu embarque para o Bra­
ventou para tomar o so! a to­ sil medeia justamente o ale­
das as horas e altura do pólo gado espaço de tempo.
por êle e pelas estrelas e com Seja como fôr, na mesma
outros instrumentos de mi­ carta de 21 de julho de 1550,
nutos e segundos, os quais há o próprio Guilhem confessa
de ensinar a quem lhe eu ter vindo ao Brasil por ordem
mandar, sem por isso levar do rei, que dessa forma con­
nenhum interesse”. tinuaria mantendo o castigo,
Esta munificência do sobe­ sem prescindir dos valiosos
rano (12) é tanto mais sur­ serviços do boticário, desdo­
preendente, quanto, em 18 de brado em mineralogista e geó­
junho de 1527, Guilhem já grafo matemático, numa ter­
havia sido nomeado veador c ra desprovida de elementos
avaliador de drogas das casas capazes. Quer-nos parecer que
da índia e Mina, com venci­ êsse degrêdo foi antes uma
mentos de vinte mil réis (13). satisfação dada à insistência
Certos indícios levam assim a de certos elementos da côrte,
crer que D. João III, a prin­ do que o castigo por um ale­
cípio impressionado, na sua gado delito.
inexperiência, pela verbosi- Os cargos de responsabili­
dade insinuante do castelha­ dade confiados a Guilhem no
no, foi precipitado e excessivo
na sua liberalidade, levantan­ Brasil permitem chegar a es­
do uma onda de inveja. De­ sa conclusão. Com efeito, não
pois, ou seja levado por intri­ seria êsse notório aproveita­
gas, ou convencendo-se de que mento do castelhano banido
os intrumentos apresentados em funções de destaque no
por Guilhem se basearam em Brasil uma tardia e disfarça­
conhecimentos ou aparelhos da reconsideração de preci­
anteriores, acabou por rene­ pitados rigores pelo rei, que,
gar o seu valido. não respondendo embora às
Tal desfavor deve ter-se cartas de Guilhem, atendia-
manifestado a partir de 1529. lhes as solicitações através do
Se Guilhem chegou então a governador-geral? A corres­
sofrer nova reclusão, seria pondência e os documentos
por pouco tempo. Talvez fos­ conservados tendem a inocen­
se apenas domiciliar, sob a tar Guilhem dos embustes que
responsabilidade de um pre- lhe vêm sendo atribuídos
posto. Esta hipótese esclare­ (14).
cería a frase na sua carta de Mas, nesta altura insinua-
1550 ao rei, em que se lastima se outra suspeita. Tê-lo-iam os
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seus detratores denegrido de de comprovação. Incontestá­
judaizante perante o Rei Pie­ vel é que, a despeito dos seus
doso? Os seus conhecimen­ grandes cultores em Portugal,
tos de drogas, matemática e a matemática aplicada não
astronomia lembram as espe­ era apanágio lusitano e ne­
cialidades de alguns hebreus nhuma das obras dêstes auto­
peninsulares, seus contempo­ res havia sido publicada,
râneos e mestres eminentes quando Guilhem foi gratifica­
nesses ramos da ciência. Uma do por seus instrumentos,
acusação póstuma é mesmo principalmente o de calcular
de molde a dar consistência a longitude pela variação das
a tal suposição, como vere­ agulhas, que dizia haver idea­
mos abaixo. lizado, valendo-se das obser­
Não possuímos, pois, ele­ vações de pilotos espanhóis.
mentos comprobatórios de O seu aparelho não foi, por­
Guilhem haver de fato recor­ tanto, o produto de laborio­
rido para construção do seu sas observações próprias, de
aparelho às conquistas portu- uma invenção total no senti­
guêsas da ciência náutica con­ do de hoje, pois nunca viaja­
signadas por João de Lisboa ra, mas deve ter nascido de
(15), ou êmulos, em época análises acuradas das verifi­
anterior à sua chegada em cações de navegantes capazes
Portugal. Que se não valeu e da generalização dos seus
dos princípios em que o gran­ dados em bases matemáticas.
de contemporâneo português, Pelas fontes hoje ao nosso
Pedro Nunes (16), baseou a dispor não é possível aquila­
sua conhecida invenção, vi­ tar a amplitude exata da con­
sando a mesma finalidade, tribuição de Guilhem no apa­
afirma Luciano Pereira da relho apresentado a D. João
Silva, um dos expoentes mo­ III; porém, a despeito da
dernos em assuntos náuticos, campanha de descrédito, que
nas palavras seguintes: "Pela ainda lhe movem alguns au­
descrição contida na carta (de tores, negar in limine a possi­
Guilhem) publicada por Sou­ bilidade de qualquer invenção
sa Viterbo, vê-se bem, que se ou melhoramento de sua au­
não trata do instrumento de toria é desconhecer tanta su­
sombras de Pedro Nunes” gestão valiosa de meros cu­
(17). riosos nos diversos campos
Portanto, se Guilhem hau- da ciência.
riu algo dos seus conhecimen­ Que não foi um reles intru-
tos de matemática e astrono­ jão, mas antes vítima da inve­
mia em autores portuguêses, ja, atestam as suas aplaudi­
foi através de comunicações das demonstrações iniciais
orais ou de manuscritos par­ perante o grande matemático
ticulares, sem possibilidade Francisco de Melo e colegas.
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segundo afirma o próprio Gil de compará-la com a verifica­
Vicente (18), assim como as da nas expedições ao Ociden­
relações que, ainda do Brasil, te, escreveu o seguinte: "El
manteve com a côrte. Foram primer inventor (que yo haya
certamente as gratificações sabido) que procurase dar la
incomuns que açularam os longitud por esta diferencia
eternos invejosos. (refere-se à declinação no
Limitado pelo escopo do nordestear e noroeslear da
seu livro, Sousa Viterbo só agulha magnética) fue un Fe­
recolheu as referências que lipe GuilJcn, boticário vecino
de Guilhem se encontram em de Sevilla, hombre muy en­
fontes portuguêsas. Entretan­ tendido e ingenioso, gran ju-
to, por uma dessas ironias do gador de ajedrez y cortador
acaso, se o nome de Guilhem de tijera, el cual como el se
correu mundo, nos fastos da hubiese informado de algu-
ciência náutica, não foi atra­ nos pilotos amigos suyos de
vés dos tratados emanados la propriedad dei aguja de
de Portugal, país a que ofere­ marear e de Ias diferencias
ceu a sua invenção e os seus que hacia en todo el viaje y
serviços pelo resto da sua camino desde Sevilla a la
vida. Quem veio a enaltecer Nueva Espana, pensando en
os seus talentos foram ho­ si halló por su cuenta que por
mens da sua pátria, a que ha­ esta via, mejor que por otra
via voltado as costas. ninguna, se podria dar muy
É principalmente ao Livro bien la longitud ... y con es­
das Longitudes, de Alonso de ta imaginacion se acordo de
Santa Cruz (19), que Filipe pasar en Portugal, pensando
Guilhem deve o seu panegíri­ que alli seria mejor pagado
co mais guindado. Por êste delia, y esto fué el ano 1525;
valioso tratado, só publicado, y asi fué a besar las manos al
na cidade de Sevilha, em 1921, Rey D. Juan, que al presente
podemos ajuizar melhor a fa­ reina ... I asi comenzó el di-
ma de Guilhem. cho Felipe Guillen de poner
Alonso de Santa Cruz foi en obra lo que habia prome­
um dos cosmógrafos mais tido haciendo una invención
ilustres do tempo de Gui­ de cierto instrumento que hoy
lhem, êle mesmo construtor en dia anda muy común en
de uma dessas bússolas de va­ Portugal entre hombres doc-
riação. Depois de uma exaus­ tos para que los pilotos Io
tiva viagem de estudos a Por­ llevasen en las naos, el qual
tugal, para informar-se, de es una tabla ...” (20).
primeira mão, a respeito da O que se depreende dêste
declinação da agulha obser­ trecho é que a variação das
vada pelos pilotos lusos em agulhas já era então conheci­
suas viagens ao Oriente, a fim da pelos pilotos espanhóis.
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Sabemos oulrossim pelo Tra­ nove anos, pelo menos, depois
tado da Agulha de Marear, de das demonstrações de Gui­
João de Lisboa, que, também lhem. É provável que o tal
em Portugal, a determinação instrumento de sombras fôs-
da longitude por método ru­ se mais aperfeiçoado do que
dimentar idêntico já fôra es­ o invento de Guilhem; que
tabelecida em 1514 (21). não se pareciam, afirma, ain­
O que parece não haver da recentemente, Pereira da
existido antes da invenção de Silva (24).
Guilhem é um aparelho para Em resumo, Guilhem exco-
facilitar e multiplicar as ob­ gitou o seu instrumento ba­
servações (21a). seado nas informações dos pi­
Faltam-nos de todo em todo lotos espanhóis, acostumados
competência e dados para a viajar para as índias Oci­
emitir um julgamento, mes­ dentais. Não há provas de
mo superficial, sôbre a in­ que o modificasse em Portu­
venção de Guilhem. Louvamo- gal, ou mesmo de que já exis­
nos no particular, tal como tisse aparelho idêntico à sua
os detratores, em Gil Vicente, chegada em Lisboa. A pecha
outro contemporâneo seu, de falsário, que, segundo Gil
que afirma: "Para dar mostra Vicente, a minoria lhe assa­
desta arte (de leste a oeste), cou, não parece ter convenci­
que tinha achado, fêz muitos do a côrte lusa, embora aos
instrumentos, entre os quais sentimentos patrióticos es­
foi um astrolábio de tomar o treitos conviesse prestar-lhe
sol a tôda hora. Praticou a ouvido. É o que insinuam os
arte perante Francisco de documentos coligidos por
Melo, que então era o melhor Sousa Viterbo.
matemático que havia no rei­ O cosmógrafo-mor de Fili­
no, e outros muitos que para pe II, Alonso de Santa Cruz,
isso se ajuntaram por manda­ contemporâneo dessas con­
do de S. A. — Todos aprova­ trovérsias, é mais categórico,
ram a arte por boa" (22). e, a despeito dos rasgados
Repetimos, bússolas de va­ encômios que tece aos cos-
riação já existiam antes. João mógrafos portuguêses, prin­
de Lisboa ensina a construir cipalmente a D. João de Cas­
uma em 1514 (23). Mas, de tro, atribui, como vimos, a
bússolas de variação para cal­ Guilhem a prioridade da fei­
cular a longitude a qualquer tura de um instrumento para
hora do dia, a primeira de determinar a longitude a
que se tem notícia, além qualquer hora através da va­
da apresentada por Guilhem, riação da agulha. Porém, foi
é a de Pedro Nunes, que sem dúvida Alexandre de
só foi descrita no seu Tra­ Humboldt, que mais contri­
tado da Sphera, em 1537, buiu para espalhar a fama de
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Guilhem, ao registrar as in­ fantasias, que circulavam na
formações de Navarrete sôbre capitania do infeliz Pedro do
o cosmógrafo Alonso de San­ Campo Tourinho, dirigiu ao
ta Cruz (25), de cujo Livro soberano um relatório certa­
das Longitudes vai transcrito mente à altura das exageradas
acima o principal, que nêle expectativas dos colonos. Não
diz respeito a Guilhem. obteve resposta. Tornou a es­
Por mais que se agitem crever, com o mesmo resulta­
hoje em dia enfatuados nacio- do negativo. Passou assim de­
nalismos, é irrisório querer claradamente o primeiro ano.
despojar o pobre Guilhem do Desiludido da praticabilidade
invento de uma bússola de dos seus planos miríficos sem
variação, da qual um colega ajuda do alto, aceitou, por
contemporâneo ilustre lhe exigências da vida, diversas
atribui a primazia, mas cuja funções oficiais na capitania
sombra nem de leve pode dos Ilhéus. Nela permaneceu
embaciar a auréola de um por dez anos, até que Tomé
Pedro Nunes ou João de Cas­ de Sousa dêle se lembrou,
tro (26). provavelmente por indicação
FELIPE GUILHEM NO BRASIL do rei, como sugere o início
da carta citada (28). A pró­
A trajetória de Guilhem no pria incumbência, uma entra­
Brasil apresenta lacunas tão da à procura de minas, que
sensíveis quanto a sua passa­ Tomé de Sousa pretendia con­
gem por Portugal. A sua car­ fiar-lhe, mostra, que as cartas
ta da Bahia ao rei, de 21 de de Guilhem, escritas à corte,
julho de 1550 (27), esclarece de Pôrto Seguro, haviam che­
pontos menores de ambas as gado a destino e não ficaram
épocas, sem permitir um juí­ esquecidas, como se poderia
zo muito seguro do seu cará­ concluir da falta de resposta.
ter e das suas tendências. A brevidade com que Tomé
Pela conta que faz, deve ter de Sousa chamou Guilhem à
chegado à Bahia em 1538, aos Bahia (29), obriga-nos a su­
51 anos de idade. Teria, as­ por que o fizera de acordo
sim, nascido em 1487. com instruções trazidas pes­
Algum tempo decorrido, soalmente na frota.
transferiu-se para Pôrto Se­ A experiência e a capacida­
guro, animado pelas arrebata­ de vária do espanhol repre­
doras notícias espalhadas a sentou, sem dúvida alguma,
respeito das minas do seu ser­ um grande auxílio a Tomé de
tão, que lhe deviam excitar o Sousa e assessores. Como
espírito aventureiro e apelar Guilhem chegasse à Bahia
para os seus conhecimentos em pleno inverno e no auge
de mineralogista. Devidamen­ da organização do govêrno lo­
te informado da verdade e das cal e geral, foi destacado
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para diversas tarefas, entre gas eram de ouro. Com tais
as quais a do acabamento da perspectivas de enricar da
ladeira que ligaria a Ribeira noite para o dia, grande parte
do Góis, ou simplesmente a da população de Pôrto Seguro
Ribeira, ao largo da Cidade estava disposta a entranhar-
Alta. A parte inferior dessa se e para isso pedia o bene­
primeira via de comunicação plácito do governador-geral.
do pôrto com a Cidade Alta é Nesta altura, outro contra­
até hoje representada pela tempo ameaçou comprometer
Ladeira da Conceição (30). o empolgante empreendimen­
À altura da Praça Castro Al­ to. O sexagenário Guilhem,
ves dobrava à esquerda, se­ além de um tanto alquebrado,
guindo pelo traçado da Ladei­ adoeceu dos olhos e teve de
ra do Pau da Bandeira e, ser substituído. A escolha,
acompanhando a encosta, em­ presumivelmente por indica­
bocava na Praça Tomé de ção de Guilhem, recaiu em
Sousa, ladeando ao oeste o Francisco Bruza de Espinho­
Palácio do Governo. Já iria sa, outro castelhano, que, por
adiantada à chegada de Gui- circunstâncias hoje difíceis
lhem à Bahia, visto que, ain­ de investigar, viera do Peru
da no segundo semestre, foi ao Pôrto Seguro (31). Mas,
incumbido da justiça, em nem por isso quis Tomé de
substituição ao ouvidor-geral, Sousa dispensar a colabora­
que, ao terminar o inverno, ção de Guilhem, ao menos
seguira com Pero de Góis como conselheiro e observa­
em viagem de inspeção ao dor. É o que sugere a sua no­
Sul. meação de Provedor da Fa­
Para fins de 1549, projeta­ zenda, em Pôrto Seguro, a 14
ra-se, entrementes, uma en­ de setembro de 1551. Apesar
trada de Pôrto Seguro ao ser­ disso, ou talvez por essa ra­
tão, orientada por Guilhem. zão, a entrada só se pôs a ca­
As ocupações apontadas e as minho no govêrno de D. Duar­
delongas dos indispensáveis te da Costa (32), em março
preparativos fizeram com que de 1554, segundo Anchieta
se adiasse o projeto para o (33), ou antes em fins de
ano seguinte. Eis que uma no­ 1553, pelo que nos diz com
tícia estonteante chegada por mais autoridade o Pe. Azpil-
uns índios sertanejos a Pôrto cueta Navarro, na sua carta
Seguro, em março de 1550, de 19 de setembro dêsse ano
veio a consolidar o plano. (34) e confirma a sua volta
Existiría além de um grande da jornada, em que tomou
rio, onde viviam, uma serra parte, e que lhe deveria abre­
resplendente (a famigerada e viar os dias (35).
sempre esquiva Sabarabuçu), A Capitania de Pôrto Segu­
onde até as gamelas das pocil- ro, pelo que o triste conluio
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e a subsequente prisão de troço, à traição, pelos tupi-
Pero do Campo Tourinho per­ guaés, cêrca de sessenta lé­
mitem conjeturar, foi durante guas Paraguaçu acima. Da or­
longos anos conturbada por ganização desta bandeira tra­
intrigas e turbulências. iam os Documentos Históri­
Também Guilhem parece cos (41). Registra-lhe os su­
ter sido vítima delas, não obs­ cessos com o colorido jesuíti-
tante a proteção que lhe dis­ co do tempo o Pe. Leonardo
pensava o governador-geral. do Vale (42), que Rodolfo
Sabemos por um mandado, Garcia reproduz com a indica­
emitido pelo provedor-mor, ção de oulras fontes (43).
em 14 de março de 1553 (36), A partir de 1563, não co­
portanto ainda no govêrno de nhecemos nenhum documen­
Tomé de Sousa, que Guilhem to oficial, que ateste a presen­
fôra prêso "por uns casos" e ça de Guilhem septuagenário
parece que pedira licença no Brasil. Entretanto, é possí­
para justificar-se na Capital. vel que ainda vivesse em 1570,
Deve tê-lo conseguido, pois a pelo que se pode deduzir de
25 de janeiro de 1557, D. João um depoimento do Pe. jesuí­
III, o confirma no cargo (37), ta Antônio Dias, feito ao San­
e D. Sebastião reitera-lhe a to Ofício, e que estigma a nos­
confirmação, em 24 de março sa personagem de cristão
de 1561, “não havendo outra nôvo depois de morto (44).
pessoa provida” (38). Final­ Tal acusação condiz bem
mente, com data de 16 de ja­ com a sua saída definitiva da
neiro de 1563, existe uma car­ Espanha e o seu degredo de
ta régia, transferindo o paga­ Portugal para o Brasil, mas
mento de seus vencimentos da
Bahia para Pôrto Seguro ainda evoca outro episódio
(39). É a última notícia de referido, três décadas antes,
Guilhem existente nas chan­ pelo jesuíta Adão Gonsalves,
celarias. na devassa instaurada sôbre
Entretanto, anterior a ela, as atividades do trânsfuga
de 12 de março de 1561, há calvinista João Cointa. Decla­
no Corpo Cronológico uma rou êle nessa ocasião, que en­
carta dirigida por Guilhem à contrara o tal "monsior" de
rainha (40). Bolés em Pôrto Seguro (45),
Nela se lêem diversas na casa de Filipe Guilhem, a
notícias sôbre os progres­ fazer a defesa dos luteranos
sos na pacificação dos ín­ franceses, em presença de di­
dios ao longo da costa e os versas pessoas (46). Em 1570,
ataques dos aimorés do ser­ Guilhem teria uns 83 anos.
tão a Pôrto Seguro. Refere-se É uma longevidade excepcio­
também à entrada de Vasco nal para a época e nas suas
Rodrigues Caldas e o seu des­ circunstâncias.
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A individualidade de Gui- onde hàbilmente insistia no
lhem, julgada pelos documen- tema das minas de ouro, tão
tos, revela facêtas difíceis de grato ao rei em crescentes
interpretar e as reticências, apuros financeiros. A sua ida-
que a envolvem, dão lugar a de já não lhe permitiu con-
suposições depreciativas. Evi- quistar em nossa terra a pro-
dente é a sua ocasional gabo- jeção a que certamente aspi-
lice, mas os seus dotes, ainda rava; porém, durante os trin­
que inferiores aos apregoa­ ta anos ou mais, que acompa­
dos, avantajavam-se notà- nhou o desenvolvimento do
velmente aos da maioria dos Brasil nascente, contribuiu,
colonos e funcionários no sem dúvida, com o seu qui­
Brasil do seu tempo. Além nhão de esforços, abnegação,
disso, soube valorizá-los em sacrifícios e até de fantasias,
correspondência oportuna e para a consolidação da Nova
substanciosa com a corte, Pátria.
FREDERICO G. EDELWEISS

1 Guilhem é a reprodução fonêmica portuguêsa do nome espa­


nhol Guillen. Êle mesmo assinava-se meio aportuguesadamente
«Guilhen».
2 Publicada por Sousa Viterbo, em Trabalhos Náuticos dos
Portuguéses nos Séculos XVI e XVII, parte I, Marinharia, Lisboa,
1898, pp. 147 -149.
Reproduzida na História da Colonização Portuguêsa do Brasil,
vol. III. pp. 359-60.
3 Diz Varnhagen, que Guilhem veio para o Brasil em
1538, com Vasco Fernandes. Seria Vasco Fernandes Coutinho, que
da sua capitania do Espirito Santo fôra, na época, ao Reino buscar
reforços?
Certamente não é com o futuro donatário do Espírito Santo
que Guilhem perdeu os alegados nove anos, pois além da diferença
de nomes há que tomar em consideração que Vasco Fernandes Cou-
nho só teve domicilio fixo comprovado em Portugal de 1529 a prin­
cipio de 1535. (Veja História Geral do Brasil, tomo I. p. 328)
Também com outro Vasco Fernandes, futuro feitor e almoxa-
rife régio em Pernambuco, não é fácil a identificação. Idem; Ibidem;
(pp. 211 e 213)
4 Varnhagen, — História Geral, t. I. p. 328, engana-se du­
plamente, quando diz que a mulher de Guilhem morreu na Cidade
57
do Salvador e que êle mesmo só se transferiu de Ilhéus para a Bahia
em 1551.
5 Op. cit., pp. 138 - 153.
6 Gil Vicente, Obras Completas (edição Sá da Costa), Vol.
VI, pp. 197 - 200.
7 Mais aceitável é o ano de 1525 em que Alonso de Santa
Cruz coloca a sua chegada em Lisboa, por estar mais próximp da
gratificação do rei.
Enquanto Gil Vicente ouviu dizer que foi boticário em Santa
Miaria, Alonso de Santa Cruz o chama de boticário «vizinho de Se-
vilha».
Gil Vicente também claudica no montante da tença concedi­
da, como nota Sousa Viterbo.
8 Sousa Viterbo, op. cit., p. 142.
9 Veja o que a seu respeito coligiu Sousa Viterbo, op. cit.,
pp. 105 - 110.
10 Op. cit., pp. 198 - 199.
11 Op. cit., pp. 142 e 144.
12 D. João III era jovem; nascera em 1502.
13 Sousa Viterbo, op. cit., pp. 143 - 144.
14 Há, entretanto, um passo na oferta de Guilhem ao rei que
dá que pensar: «Conviria eo serviço de V. A. que me ouvisse e
muito, antes da volta da frota da índia». Essa pressa não parece de­
monstrar a convicção de que nas naus havia pilotos versados na sua
ciência «nunca vista»? (Viterbo, op. cit., p. 141).
15 Tratado da Agulha de Marear Achada por João de Lisboa o
Ano de 1514. etc., publicado pela primeira vez no Livro de Marinharia,
coordenado por Brito Rebêlo, Lisboa, 1903 pp. 20 — 24.
Veja também Luciano Pereira da Silva, Obras Completas, Vol.
III, Lisboa, 1946 p. 165.
16 a) Tratado da Sphera etc., tradução de Sacrobosco com dois
anexos muito elucidativos acerca da arte de navegar dos portu-
guêses:
1. Tratado Sôbre Certas Dúvidas de Navegação.
2. Tratado em defensão da carta de marear, Lisboa. 1537.
b) De Crepusculis Liber Unus etc. Lisboa, 1542. Quanto à bi­
bliografia de Pedro Nunes veja Luciano Pereira da Silva, Obras
Completas, vol. III, pp. 261 - 272.
17 Luciano Pereira da Silva, Obras Completas, vol. III, Lisboa
1946, p. 167
18 Veja a nota 6.
19 Alonso de Santa Cruz, Libro de las Longitudines y Mane-
ra que Haste Agora se ha Tenido en el Arte de Navegar, publicado
em Sevilha, 1921.
Alonso de Santa Cruz (14.. - 1573) foi professor de cosmo-
grafia de Carlos V e cosmógrafo-mor de Felipe II. Acompanhou Se.
bastião Caboto na viagem que terminou no Rio da Prata. Escreveu
depois de 1545, ano em que visitou Portugal. Luciano Pereira da
Silvja, Obras Completas, vol. II, pp. 391 - 92 e vol. III, pp. 164 - 168,
critica e procura refutar as referências de Santa Cruz a Felipe
Guilhem.
20 Idem, ibidem, pp. 24 e 25. Apud Luciano Pereira da Silva,
Obras Completas, vol. III, pp. 164 - 65.
21 Veja a nota 15.
21a Entretanto, a despeito dos aperfeiçoamentos introduzidos
por Guilhem, os seus instrumentos, bastante precisos em terra, per-.
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diam parte da eficiência no mar, pelo balanço dos navios, segundo
informações de João de Castro a Alonso de Santa Cruz, (M.F. Na-
varrele, Disertación Sóbre la História de la Náutica, Madri, 1846
pp. 182 - 83), mas principalmente, como tôdas as outras invenções
similares, por falta de cronômetros na época.
22 Op. cit., p. 197.
23 Veja a nota 15.
24 Luciano Pereira da Silva, Obras Completas, vol. III, p. 167.
25 Kosmos. Na edição alemã vol. II, p. 482, nota 93 e p. 488,
nota 14, Estugnrda, 1847. Na edição inglêsa, Londres, 1871, vol.
II, pp. 658 e 672.
26 João de Castro foi autor do Roteiro de Lisboa a Coa, de
1538, publicado por João de Andrade Corvo, Lisboa, 1882. Veja
também a nota 16. De ambos trata Sousa Viterbo, Trabalhos Náuti­
cos etc., parte I, pp. 66 - 69 e 223 - 231. Um resumo bem focado dos
escritos de João de Castro dá Fontoura da Costa, Tratado da Sphera
etc de João de Castro, Agência Geral das Colônias, Lisboa, 1940.
27 Veja a nota 2.
28 Não se pode interpretar de forma diferente a frase inicial
da dita carta: «Posso dizer que sou o mais bem-aventurado homem
que há em todo o mundo, pois ao cabo de tantos anos V. A. teve de
mim lembrança ». Outros trechos confirmam a
impressão.
29 Em menos de 4 meses, a contar da chegada de Tomé de
Sousa, Guilhem já estava na Bahia.
30 Nos livros recentes que tratam especlficamente da funda­
ção da Cidade do Salvador, é frequente a confusão entre as primei,
ras ladeiras, que ligavam a orla marítima à Cidade Alta. A inicial
foi a ladeira da Conceição, assim chamada por partir da igreja de
N.S. da Conceição, situada defronte da Ribeira do Góis.
É muito íngreme. Os volumes pesados subiam, inicialmente,
por ela, mas, ao que parece, só com auxílio de rolos, cuja compra
figura nos mandados de pagamento. Para facilitar o transporte de
mercadorias e material mandou-se construir, logo a seguir, nõvo
caminho transitável de carro, que, de novembro de 1549 em diante,
passou a ligar por trajeto mais suave, a Ribeira dos Pescadores com
a Cidade Alta pela Preguiça (apelido sugestivo!!) e Cameleira,
entrando provàvelmente pela Porta de Santa Luzia. O seu constru­
tor foi Jorge Dias, a favor de quem se emitiu o mandado do respec­
tivo pagamento, R.s. 3S540, em 12 de julho de 1550.
A Ribeira dos Pescadores situava-se ne praia da Preguiça,
no trecho chamado das Pedreiras, em frente à velha fonte, que lhes
conserva o nome. Naturalmente, as duas ladeiras: da Conceição e da
Preguiça, foram ligadas, na parte inferior, por uma comunicação ao
longo da praia.
A Ladeira da Misericórdia é mais recente.
Nenhuma referência a ela se encontra nos primeiros anos.
Só quando a Cidade Alta começou a estender-se em direção ao Ter­
reiro de Jesus, depois de 1552, quando a marinha fronteira à nova
Sé ficou protegida pela plataforma debruçada sôbre a encosta e se
transferiu o desembarcadouro da gente para o que passou a chamar-
se Pôrto das Naus, abriu-se a Ladeira da Misericórdia, que lhe seria
serventia, como lhe foi a Fonte do Pereira, ao sopé dêsse trecho da
Montanha.
31 O jesuíta Antônio Blazques diz dêle «......................ogrande
língua ................... homem que entre êles (os índios) tem grande au-

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toridade». Serafim Leite, Carias dos Primeiros Jesuítas, vol.
II. p. 382.
Desta e de outras referências conclui Capistrano ter sido Es­
pinhosa quem ajudou o Pe. Azpilcueta na tradução das orações para
o tupi. (Correspondência, II, p. 46). A sua qualidade de «grande
língua» faz presumir que deve ter vindo do Peru com bastante an­
tecedência.
32 Basüio de Magalhães, Expansão Geográfica, Rio de Janei­
ro, 1944, p. 49.
33 Cartas etc. p. 69.
34 Pe. Serafim Leite Cartas dos Primeiros Jesuítas, vol. II,
pp. 8 - 9.
Não precisamcs insistir na precedência do testemunho de Az-
pllcueta, participante da emprêsa, sôbre a menção de Anchieta re­
cém-chegado, pelo que soube em Piratininga.
35 Em sua carta, de 24 de junho de 1555, escreve o Pe.
Azpilcueta:
«Passa de ano e meio, que, por mandado do nosso Pe. Manuel
de Nóbrega, ando em companhia de doze homens cristãos, que...,
entraram pelas terras adentro »
Idem, ibidem, p. 245.
36 Documentos Históricos, vol. 38, p. 240. Neste mandado
mudarem-lhe o nome para Filipe Guilherme.
37 Sousa Viterbo, op. cit-, p. 145.
38 Idem, ibidem, pp. 145 - 146.
39 Idem, ibidem, p. 146.
40 Idem, ibidem, pp. 150 -152.
41 Vol. 36 pp. 144 - 147.
42 Pe. Serafim Leite, Cartas dos Primeiros Jesuítas, vol. III,
pp. 499 - 500.
43 Visconde de Pôrto Seguro, História Geral, 3.a edição, pp.
403 - 404, do vol. I.
Veja também F. de A. Carvalho Franco, Dicionário de Ban­
deirantes, etc, São Paulo, 1954.
44 Primeira Visitação do Santo Oficio, 1591 - 93, Denunda-
ções da Bahia, São Paulo, 1925, pp. 337 - 338.
«16 de agôsto de 1591».
« denunciando mais, disse que no dito tempo (isto
é «haverá vinte anos») mesmo em Pôrto Seguro ouviu dizer, segun­
do lhe parece, a outro padre da Companhia, Braz Lourenço, que
Filipe Guilhem, cavaleiro do hábito de N. S. Jesus Cristo, segundo
diziam, cristão nôvo, provedor que foi da fazenda dei rei em Pôrto
Seguro, quando se benzia, se benzia com uma figa e que dava por
desculpa que tinha o dedo polegar comprido e que por isso se lhe
fazia na mão figa. E, que êle mesmo Filipe Guilhem, castelhano de
nação, tinha, onde se assentava, uma táboa no chão sôbre que punha
os pés, na qual estava uma cruz assinada na parte de baixo».
Pela redação não está muito claro, se Guilhem ainda vivia, ao
tempo em que Braz Lourenço ouviu essas referências deprimentes.
45 Foi no ano de 1559, que, segundo o Pe. Serafim Leite,
Adão Gonsalves estêvc em Pôrto Seguro. Veja as referências da
nota seguinte.
46 Pe. Serafim Leite, Cartas dos Primeiros Jesuítas do Bra­
sil, vol. m, Coimbra, 1958, pp. 191 • 192. Adão Gonsalves, na oca­
sião, ainda não era jesuíta.
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