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UROLITIASE EXPERIMENTAL EM CAPRINOS:

POSSÍVEIS CAUSAS E PROFILAXIA 1

MARIA MARINA UNANIAN 2 , JANETE SANTA ROSA3 e A: EMIDIO DIAS FELICIANOSILVA 2

RESUMO - O experimento foi conduzido no Centro Nacional de Pesquisas de Caprinos, Sobral, CE,
para observar as possíveis causas e a profilaxia da urolitiase. Oito caprinos machos, castrados, confina-
dos durante 180 dias, com uma dieta alimentar contendo capim-elefante (Pennisetum purpureum
Schum.) ad ilbitum, 59,5 gfdia de milho, 40 g/dia de torta de algodão e 0,5 gfdia de sal comum, foram
divididos em dois grupos, T 1 e T 2 . O grupo T 2 recebeu 0,5 g/lOO g ração/diafanimal de cloreto de
amônio na ração. Sete caprinos (87,5%), trôs de T 1 e quatro de T 2 , apresentaram urolitiase. Os primei-
ros sintomas apareceram aos 92 dias; a média foi de 120 dias após o início do experimento. Não houve
diferença no pli da urina dos grupos T 1 e Ta. O exame de sangue revelou, nos animais afetados, alta
concentração sérica de magnésio e fósforo. Post mortem foram encontrados cálculos na bexiga, urete-
res e uretra. O exame químico destes revelou fosfato de amônio, cálcio e magnésio. A quantidade de
cloreto de amónio utilizada na ração, como profilático, não diminuiu a incidência de urólitos. Atri-
buiu-se a formação dos cálculos a um complexo de causas: dieta, estabuiação e castração precoce, ou
à combinação destes fatores.
Termos de indexação: cálculos urinários.

EXPERIMENTAL UROLITHIASIS IN GOATS: POSSIBLE CAUSES AND PROPHVLAXIS


ABSTRACT - The exporiment was conductod at Centro Nacional de Pesquisas de Caprinos, Sobral,
CE, Brazil, to find out possible causes of urolithiasis and plan prophylactic measures. Eight castrated
bucks, divided in two egual groups (T1 and T2), were submitted to a diet of 59.5 g/day of corn n,eal
and 40 g/day of cottonseed cake with ad libitum suppiementation of elephant grass (Pennisetumpur.
pureum, Schum.) for 180 days under confinement. The bucks in T 2 also recieved 0.59 of ammnonium
chlorate por 100 g of ration. Seven bucks (87,5%), three T1 and four T2, showed urolithiasis. Tbe first
symptorns appeared after 92 days, but major part of animais showed symptoms around 120 days of
the experirnentation. Urino pH of T1 and T 2 wore comparabie. Biood-serum examination of affectod
animais revealed a high concentration of magnesium and phosphorus. The post-mortem domonstrated
presence of calculi in bladder, ureters and urethra. The calculi were composod ef phosphates cl ammo-
nia, calcium and magnesium. The amount of ammonium chiorate used in the rations as a possible
prophylaxis did not reduce the incidence of urolithiasis. The formation of caiculi, therefore, may be
duo to a compiexity of causes, such as composition of rations, confinament, and early castration ora
combination of these factors. -
Index terms: urinary calculi

INTRODUÇÃO qualquer idade após o desmame, ou seja, a partir


do momento em que o animal passa a ingerir ali-
• Os cálculos urinários ocorrem com muita fre- mentos sólidos.
qüência cru ruminantes (Mc Instosh 1978) em de- Em caprinos, no Brasil, a urolitíase tem sido
corrência dos sistemas intensivos de criação que vi- observada tanto na região Nordeste, em animais de
sam alta produção a curto prazo. corte, como nos animais leiteiros da região Cen-
A calculose acomete principalmente os animais tro-SuL A incidência observada varía de 6,6% a
machos, em virtude da própria anatomia do siste- 87,5% conforme as causas determinantes, o seu
ma urogenital (Church 1979). Pode ocorrer em possível estabelecimento e, a aplicaçãd de medidas
que impeçam o aparecimento de novos casos (Sil-
va etal. s.n.t., Unanian etal. 1982).
Aceito para publicação em 10 de janeiro de 1985.
2
Consideram-se causas da urolitíase dentro dos
Méd. - Vet., Ph.D., EMBRAPA/Centro Nacional de
Pesquisa de Gado de Corte (CNPGC). Caixa Postal sistemas de criação: o confinamento com dietas de
154,CEP 79100 Campo Grande, MS. concentração protéico- mineral desbalanceada
Méd.- Vet., M.Sc., EMBRAPA/Centro Nacional de (inúmeros são os trabalhos que descrevem as pos-
Pesquisa de Caprinos (CNPC), Caixa Postal D-10,
CEP 62100 Sobral, CE. - síveis dietas calculogênicas) e, castrações precoces

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468 M24. UNANIAN et ai.

(Icumar et al. 1982). Bushman et ai. (1965) de- De todos os animais foram colhidos urina e sangue. A
monstram que altos níveis de fósforo e baixos de urina foi colhida, pela manhã, antes de receberem os ali-
cálcio, ou níveis iguais destes elementos (Jones & mentos, em três dias consecutivos, antes do experimento e
Dawson 1976) levam a uma alta incidência de cál- depois mensalmente, para o exame de sedimento e pil
(Lamberg & Rothstein 1981). Os valores do pI-I urinário,
culos urinários. Ainda foi observado que elevados obtidos durante o experimento dos animais do grupo T 1 e
níveis sangilíneos de magnésio e fósforo e baixos T2 , foram analisados estatisticamente. À medida que apa-
de cálcio, como resultado da dieta desbalanceada, reciam os sintomas clínicos de calculose urinária, foi
indicam a possibilidade de formação de cálculos, colhido sangue para determinação dc proteína total, Cál-
por causa da retenção renal de magnésio e aumento cio, fósforo e magnésio, conforme técnica de Scimone &
Rothstein (1978).
da excreçâo de cálcio e fósforo (Crookshank et ai. Os animais com diagnóstico clínico de urolitíase não
1967). foram tratados; apenas foi observada a evolução da doen-
Várias medidas profiláticas têm sido propostas ça. Os que apresentaram retenção urinária foram sacrifi-
para prevenir a urolitíase, uma vez que o seu trata- cados. Todos os animais mortos durante o experimento
mento nem sempre é eficiente, além de ser antieco- foram examinados macro e microscopicamente, com aten-
ção especial para o sistema urogenital dos mesmos. Os cál-
nômico (Unanian et ai. 1982, Silva & Silva 1983). calos encontrados nas vias urintias durante a necropsia.
As medidas constam da adição à ração de substán- foram analisados quimicamente, segundo técnica descri-
das, tais como cloreto de sódio ou de potássio ta por Tastaldi (1965).
(Udail 1959) ou de amônio (Bushman eta]. 1967,
1968), além de mudanças da alimentação e consu- RESULTADOS
mo de água. Destas substâncias, segundo Bushmmn
eta1. (1967, 1968), Udail & Chow (1969) e Barlet Os primeiros sintomas de urolitiase foram obser-
et al. (1975), o cloreto de amônio é o mais eficaz vados aos 92 dias do início do experimento, quan-
como preventivo de cálculos de fosfato, os mais do um animal (12,5%) adoeceu, morrendo em qua-
comumente encontrados. A sua propriedade con- tro dias. Quatro (50 0/.) animais mostraram sinto-
siste em baixar o pH da urina aumentando a excre- mas aos doze dias; aos 180 dias, adoeceram outros
ção urinária de cálcio e magnésio, o que leva a uma dois (25%) animais e foram sacrificados. Nestes
maior solubilidade dos cálculos (I-Iorst & Jorgensen animais (87,5%), a necropsia revelou presença de
1974). cálculos nas vias urinárias, de aspecto arenoso, for-
Embora a literatura sobre urolitíase seja ampla, ma irregular, cor branco-amarelada, variando de
os estudos concentram-se mais na espécie ovina; 0,1 mm a 0,5 mm de tamanho, em quatro dos ani-
poucos são os trabalhos que relatam a susceptibili- mais do grupo T2 e três do T 1 (Tabela 1).
dade e o comportamento dos caprinos perante esta As alterações anátomo-histopatológicas, encon-
enfermidade. Este fato levou ao estudo tanto das tradas em conseqüência dos urólítos foram: hidro-
suas possíveis causas como da profilaxia. nefrose, hidroureter e processos inflamatórios na
bexiga, na uretra e mesmo nos rins (Tabela 2 e
Fig. 1, 2 e 3). Em dois dos animais do grupo T2
MATERIAL E MÉTODOS
(número 387 e 213) foram observadas bala-
O experimento foi conduzido no Centro Nacional dc nopostite, peritonite flbrinosa e edema da região
Pesquisas de Caprinos, Sobra?, CE, em um grupo de oito ca- prepucial, como processo secundário de urolitíase.
prinos, machos, castrados, de cerca de seis meses de idade. Apenas um animal (12,5%), do grupo T 1 , per-
Os animais foram submetidos à estabulação contínua em
baias individuais, recebendo uma alimentação constituída maneceu clinicamente normal no decorrer do ex-
de: capim-elefante (Pannisetum purpureum Schum.) perimento, e foi abatido aos 180 dias. O exame das
ad libitum, milho em grãos (59,5 g/dia), torta de algodão vísceras não demonstrou alterações macroscópicas
(40,0 gfdia) e sal comum (0,5 g/dia); o consumo de água nem a presença de cálculos nas vias urinárias;apa-
não tinha limite. Estes animais foram divididos em dois receram lesões apenas ao exame microscópico
grupos de quatro cada (T i e T2 ); no grupo T 2 foi adicio-
nado à ração 0,5 91100 g ração/dia/animal de cloreto de (Tabela 2).
amônio (Bushman et ai. 1967). O grupo T 1 permane- Uma vez instalados os sintomas da urolitíase,
ceu como testemunha. a evolução, via de regra, para retenção uriniria,

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TABELA 1. Distribuição dos cálculos nas vias urogenitais DISCUSSÃO


em caprinos machos com sintomas clínicos
de urolitíase. Consideram-se como etiologia da urolitíase em
ruminantes as chamadas dietas calculogênicas, die-
Grupo Pélvis Ureteres Bexiga Uretra tas essas relacionadas com as concentrações desba-
lanceadas quer do fósforo, quer do cálcio ou do
Grupo testemunha (T 1 )
magnésio (Bushman et ai. 1965, Robbins et ai.
247 1965), e as castrações precoces (Kumar et al.
157 1982), que possibilitam a formação dos cálculos
333 dado o incompleto desenvolvimento da uretra, o
151 - + +
que pode levar a uma estase da urina, conseqüente-
Grupo tratado com cloreto de amônio. mente, depósito de sais nas vias urinárias superio-
0,5911009de ração (T2) res.
A dieta fornecida aos animais dos grupos T 1 e
153 - - + + T2 59,5 g de milho) foi semelhante à estudada
, (

388 - - +
por Emerick & Embry (1963), Robbins et aL(1965)
381 - + + -
213 - - + + e Sato & Omori (1977). Segundo estes autores, as
rações desbalanceadas, nas quais o fósforo encon-
tra-se em excesso, levam à formação de cálculos,
conseqüentemente uremia, ocorreu em média de o que foi observado também neste experimento.
6,12 dias, máxima de 12 e mínima de 2 dias. A incidência de caiculose no grupo T 1 e
Os resultados do exame de urina estão expostos (87,5%) foi mais alta d0 que a observada por
na Tabela 3. Não houve diferença no pH entre o Bushman et al. (1967) e Sato & Omori (1977),
grupo T1 e T2 , durante as primeiras três colheitas. 44% e 42%, respectivamente. O aparecimento
Na quarta colheita o grupo testemunhaapresentou dos primeiros sintomas, aos 92 dias, foi mais tardio
urina de pH ácido (6,78). Houve uma diferença do que o registrado pelos referidos autores, ouseja,
(p < 0,05) da do grupo T 2 ,cujo p11 foi altamente 50 dias. A adição do cioreto de amônio à ração,
alcalino (8,53). O sedimento urinário acusou, nos segundo Bushman et aI. (1965, 1967, 1968), numa
dois grupos, ainda no primeiro mês, grande quan- proporção de 0,5%/kg até 1,5%/kg de ração, di-
tidade de cristais de fosfato triplo e amorfo, bem minui a formação de cálculos urinários, ao contrá-
como células epiteliais; não ocorreram modifica- rio do observado neste trabalho usando 0,5%
ções deste durante todo o experimento. (0,5 g/100 g ração), pois os animais que receberam
Os exames de sangue, dos dois grupos, revela. o cioreto de amônio (1'2) desenvolveram cálculos,
ram concentrações séricas médias: na totalidade (Tabela 1).
Administrando-se o cloreto de amônio, ocor-
reram modificações no pli da urina. O efeito da
Fósforo Cálcio Magnésio Ëroteína total acidificação desta, que proporcionaria um aumen-
mgIlOO ml mg/lOO ml mg/lOO ml gi100 ml to da solubilidade dos cálculos renais, observado
por llorst & Jorgensen (1974), pode ser notado no
8,22 8,88 3,62 6,90 grupo de animais estudados nas primeiras três
± ± ± ± colheitas. Na quarta colheita, realizada 120 dias
0,41 0,13 0,12 0,05 após o início do experimento, o pH médio do grupo
T2 foi alcalino (8,53) significantemente (p < 0,05),
e uma proporção Ca:? de 1,08:1. maior do que o do grupo T1 (6,87). Esta alcalini-
A análise química dos cálculos mostrou serem zação brusca da urina é difícil de ser atribuída ape-
compostos de fosfato amoníaco magnesiano e fos- nas à quantidade de cloreto de amônio adicionada
fato de cálcio e magnésio (Fig 4 e 5). à ração, como observado por Bushman et ai.

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'

FIG. 1. Sistema urogenital do caprino 151, T 1 , mostran- FIG. 3. Cálculos encontrados nas vias urogenitais dos
do bexiga distendida, repleta de urina, com hipe- caprinos estudados.
remia acentuada dos vasos sangü(neos da serosa;
rins e ureteres dilatados com acúmulo de urina: ao observado por Robbins et ai. (1965).0 cloreto
uretra peniana hemorrágica com obstruç3o devi-
da à presença de cálculos. de amônio, na quantidade usada, não foi o sufi-
dente para proporcionar a absorção deste ele-
mento em nível intestinal (Bushman et ai. 1967,
1968).
Neste trabalho, foram determinadas apenas as
concentrações séricas do fósforo sem haver seu
processamento na urina. No entanto, os níveis séri-
cos encontrados (8,22 ± 0,41 mg/100 ml) são su-
periores aos considerados normais para os caprinos
desta região semi-xida a saber: 5,77 ± 1,46 mgJ
100 ml (Munia et ai. s.n.t., Silva & Silva 1984).
As concentrações séricas obtidas assemelham-se
às registradas por Martins & Ferreira Neto (1980)
•-. de 8,19 ± 0,72 mg/100 mi, em caprinos confina-
dos, e de 8,1 a 10,5 mg/100 ml, encontrados por
Crookshank et aL (1967). Além do fósforo,
FIG. 2. Sistema urogenital do caprino 153, T 2 , apresen- ICunkel et aI. (1961) relacionaram a urolitfase com
tando cistite e uretrite aguda, caracterizadas ma-
croscopicamente por intensa hemorragia e edema altas concentrações séricas de magnésio e baixas de
da parede da bexiga, e na extensão total da ure- cálcio, também medidas neste trabalho. A con-
tra, presença de inúmeros cálculos na luz da bexi- centração média de magnésio obtida foi de
9a; rins, pêlvis e cálices dilatados. 3,63 ± 0,12 mgJlOO ml, semelhante à observada
por Kunkel etal. (1961), de 3,1 -3,5 mgIlOO mi, e
por Crookshank et ai. (1967) de 3,1 mg/100 mL A
(1968), pois nas colheitas anteriores a urina se
primeira corresponde à incidência de 91% de ani-
manteve com pH inferior ao do início do experi-
mais acometidos, muito próxima à constatada nes-
mento (Tabela 3). A modificação do pH da quarta
colheita ocorreu, provavelmente, em virtude de um te trabalho.
aumento na excreção urinária de fósforo, dado o O alto nível sanguíneo do fósforo levou ainda a
tempo de experimento (120 dias), uma vez que o uma proporção desequilibrada de cálcio/fósforo,
seu nível no soro, medido também nesta época, ou seja, praticamente 1:1, como observada por
esteve alto (8,22 ± 0,41 mg/100 ml), semelhante Floar et ai. (1969), proporção esta que deve ser

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TABELA 3. p11 urinário dé caprinos machos com sintomas clínicos de urolitiase (média ± erro padrão).

pH urinário
Grupos
Antes do Primeiro' Segundo Terceiro' Quarto'
experimento
TI
- 4) 749ns 6,97m` 672 ns 6,87 a
8,35 ± ± ± ±
± 0,22 0,13 0,18 0,14
T2 0,13
745 ns 737 n5 6,55 n5 853b
(ii a 4)
± ± ± ±
0,16 0,10 0.27 0.06
* Colheitas mensais de urina.
a * b (PC 0,05).
ns - não-significativo. -
- Grupo testemunha
- Grupo tratado com cloreto de amônio, 0,5 gil 009 de ração.

FIG. 4. Aspecto micrdscópico dos &istais de fosfato tri- FIG. S. Aspecto microscópico dos cristais de fosfato
pio c 750.- amorfo, x 750.

mantida no seu nível requerido de 2:1 (Church urólitos encontrados, ou seja, fosfatos de amônio,
1979). Estas condições metabólicas, ou seja; o cálcio e magnésio, tudo indica que as condições de
desequilíbrio Ca: P e os altos níveis séricos de fós- criação, particularmente o manejo alimentar dos
foro e magnésio e baixos de cálcio, são tidos como animais do experimento, foram, em boa parte, res-
conseqüência do consumo das chamadas dietas ponsáveis pela formação dos cálculos encontrados.
ca.lculogênicas. Segundo Croolcshank eta1. (1967), No entanto, dada a alta incidência (87,5%) de
o mecanismo da formação dos cálculos, nas condi- urolitíase nos grupos estudados, acredita-se não ser
ções expostas deve-se à retenção renal do magnésio apenas a dieta alimentar ou a quantidade de dote-
e ao aumento na excreção do fósforo e cálcio, o to de amônio administrado à ração a causa dessa
que aumenta a concentração da urina e proporcio- formação de cálculos, mas também o fato de terem
na a formação de urólitos. sido os animais castrados nos primeiros dois a três
Considerando, ainda, a composição química dos meses de vidas o que, provavelmente, levou ao de-

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senvolvimento incompleto das vias urinárias, par- reira o auxílio prestado durante as colheitas de
ticularmente da uretra (Church 1979). Este pro- amostras, e ao Or. Neison N. Barros pelos animais
cesso provoca acúmulo de urina na bexiga e pode e instalações cedidos.
levar à precipitação de urina com formação de cál-
culos (Kumar et ai. 1982, Silva & Silva 1983). Es-
ta última suposição explica a hipertrofia da bexi-
REFERÉNCIAS
ga, encontrada na quase-totalidade dos casos
(Tabela 2), lesão esta semelhante à notada por BARLET,!.P.;TI-IERIEZ,M. & MOLENAT,GJ'revention
Weaver (1963) e mesmo à distribuição dos cál- de l'urolithiase ovine per lo chiorure d'ammonium.
la: JOURNÉES DE LA RECI1ERCHE OVINE ET
culos (Tabela 1), na maioria encontrados também CAPRINE, 1., Paris, França, 1975. Les races
na bexiga. Observa-se que, mesmo não havendo prolifiques. Paris, INRA/ITOVIC, 1975. p431-43.
obstrução da uretra, houve aumento de volume da BUSIIMAN, DEI.; EMBRY, L.B. & EMERICK, Ri.
Efficacy of various chiorides and calcium carbonate
bexiga em conseqüência do seu esvaziamento in- in the prevention of urinary caiculi. J. Anim. Sei.,
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O desenvolvimento incompleto da uretra devido BUSHMAN, Dii.; EMERICK, Ri. & EMBRY, L.B.
Effect of various chiorides and calcium carbonato
à castração precoce pode ser ainda comprovado, on calcium, phosphorus, sodium, potassium and
além da hipertrofia da bexiga, pelo acúmulo de lí- chloride balance and their relationsliip to urinary
calculi ia lambs. J. Anlin. Sci., 27(2):490-6, 1968.
quido nos ureteres e rins, ou seja, hidroureteres e BUSI-IMAN, D.IL; EMER1CK. R.J. & EMBRY, L.B.
hidronefrose (Tabela 2). Além das causas predispo- Incidence of urinary caiculi in sheep as affccted by
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CROOKSIIANK,I1.R.;ROBBINS,J.D.& KUNKEL,It.0.
ria das vezes desbalanceadas, e se movimentarem Relatioaship of dietary mineral intake to serum
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fatores levam a distúrbios metabólicos e, conse-
EMERICK. Ri. & EMBRY, L.B. Calcium and phosphorus
qüentemente, a modificações bioquímicas da leveis related to the development of phosphate
urina, o que, por sua vez, propicia a formação dos urinary calculi ia sheep. J. Anim. Sei., 22(2):510-3,
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