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CAPÍTULO 3 - FASES DE UM EMPREENDIMENTO E ASPECTOS AMBIENTAIS
gerando os cortes e aterros do empreen- para os mais variados fins (IPT, 1993). Isso
dimento. leva a recomendar que projetos de movimen-
to de terra transcendam, em muito, a questão
É usual que o responsável pela terraple-
da geometria a ser atingida, enveredando ne-
nagem, pautado pela produtividade, execute
cessariamente pela prescrição de procedi-
simultaneamente movimentos de terra em
mentos e de dispositivos a adotar nas movi-
toda a área do empreendimento, com cortes
mentações de solo.
e aterros para construção do sistema viário
e quadras. Essa prática deixa os terrenos sem Ainda que a legislação dos municípios
proteção superficial até o início efetivo das tenda cada vez mais a incorporar a fixação
obras, o que usualmente acarreta intenso e de períodos do ano em que podem ser reali-
extenso processo erosivo. Tal prática precisa zadas as terraplenagens (evitando-se as épo-
ser modificada, pois seus resultados são am- cas chuvosas), o procedimento apenas reduz
bientalmente bastante impactantes, inclusive o volume de material erodido. É necessária
elevando o custo do empreendimento para a adoção de outros expedientes, envolvendo
o usuário, para o próprio empreendedor e principalmente o projeto e instalação de sis-
para o Poder Público. temas provisórios de drenagem para o pe-
A franca exposição de solos é prova- ríodo de obras, compreendendo aparatos ca-
velmente um dos mais abrangentes causa- pazes de reter pelo menos o solo eventual-
dores de danos ambientais no período de mente erodido na própria área e evitar pro-
obras. Seus efeitos transcendem a área da cessos erosivos nos terrenos circunvizinhos.
construção do empreendimento, atingindo o É também importante aplicar algum tra-
entorno e contribuindo, não raro, para pro- tamento superficial aos taludes que dispen-
blemas gerais que se verificam na cidade co- sem obras de contenção, tão logo eles atin-
mo um todo. Solos expostos durante chuvas jam sua configuração final. O tratamento nor-
são transportados, assoreando drenagens malmente é feito com o plantio de gramíneas
naturais ou construídas, favorecendo-se a ou, ainda, conforme a configuração geomé-
ocorrência de inundações. Das calhas dos rios trica e a qualidade dos solos, com tela arga-
Tietê e Pinheiros, na Região Metropolitana massada. Taludes devem ainda receber, as-
de São Paulo, estimou-se, no início da década sim que possível, canaletas de drenagem de
de 90, uma retirada anual de cerca de crista e de pé.
5.000.000 m3 de material de assoreamento,
predominantemente constituído por partícu- Cabe alertar que os sistemas de dre-
las de solo transportadas de locais às vezes nagem executados tendem a receber solo
remotos, a partir de loteamentos com solo particulado em quantidades expressivas, ten-
exposto e de extensas áreas terraplenadas do em vista a permanência de áreas com solo
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mesmo situações efetivas de risco. Em locais um projeto conduzindo a técnicas mais apu-
onde deveriam ser construídos muros com radas. Verifica-se assim uma grande geração
características de obras de contenção, nada de entulho.
é construído ou surgem, muitas vezes, frágeis
No que pese o saber popular na ativida-
muros executados por moradores, expostos
de de edificar, o resultado da auto-construção,
à ruptura e ao desabamento, seja pela incapa-
notadamente em encostas, tende a ser de
cidade financeira em construir uma obra de
péssima qualidade. São freqüentes as casas
contenção, seja por desconhecimento técnico.
úmidas, devido a problemas de insolação ou
de paredes em contato com a terra, assim
como se observam outras patologias típicas
3.2.2.8 Construção das unidades
deste tipo de construção, tais como trincas
habitacionais
provenientes de instabilizações de terreno e
Na construção de unidades habitacio- usualmente também relacionadas à própria
nais, os impactos ambientais mais significa- qualidade do material utilizado. Um procedi-
tivos consistem nas questões relacionadas mento alternativo que se sugere, por exemplo,
com a geração de entulho, ruído, poeira e é o do parcelamento atrelado ao projeto de
contaminação do solo e da água por lavagem edificações, com acompanhamento especia-
de equipamentos e ferramentas. Além disso, lizado para orientação das construções.
são também consideráveis os números de
Ainda que exista uma extensa gama de
acidentes de trabalho na construção civil.
sistemas construtivos em aplicação, no Brasil,
Nos empreendimentos de casas, desta- na construção habitacional de interesse social
ca-se que é comum a centralização da produ- promovida pelo Estado, apenas recentemente
ção de concretos, argamassas, ferragens, se constataram substituições mais relevantes
dentre outras atividades. Principalmente se em relação aos sistemas convencionais. Acre-
reforçada por programas racionalizados, a dita-se ser possível e desejável que outras tec-
centralização facilita o controle ambiental no nologias de edificações, menos impactantes que
trato dos resíduos e entulhos, permitindo me- as usuais, já disponíveis no mercado ou que
lhor aproveitamento de materiais e compo- podem ser desenvolvidas, ganhem espaço.
nentes, com redução de perdas e, portanto,
de entulho, além de estabelecer maiores con-
3.2.2.9 Procedimentos
dições para a avaliação potencial de seu de-
sempenho, principalmente sua durabilidade. Considerando as atividades tratadas na
Nos casos de auto-construção, a tendência etapa de obras, indicam-se os seguintes pro-
é a grande ocorrência de perdas de mate- cedimentos que possibilitem uma abordagem
rial, uma vez que, no geral, não se dispõe de ambiental integrada:
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Categorias Características
Apresentam risco à saúde pública ou ao meio ambiente, caracterizando-se por possuir uma ou
Classe I
mais das seguintes propriedades: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e
(Perigosos)
patogenicidade.
Classe III Não têm constituinte algum solubilizado em concentração superior ao padrão de potabilidade
(Inertes) da água.
triais). Em alguns casos, e desde que como: limpeza e consolidação inicial do ter-
obtida a autorização prévia do Órgão Es- reno; construção de vias de acesso interno;
tadual de Controle da Poluição Ambien- execução de obras de drenagem da água su-
tal - OECPA ou equivalente, tais resíduos perficial; execução de obras de proteção su-
podem ser co-dispostos em aterros sa- perficial; execução de fundações de edifica-
nitários; e ções; construção de edificações; execução de
obras para o abastecimento de água; execu-
c) resíduos sólidos classe III devem ser enca-
ção de obras de conexão para o abastecimento
minhados para aterros de resíduos inertes.
de água; execução de obras de conexão ao
Deve ainda ser lembrado que, quando sistema de esgotamento sanitário; execução
submetidos a tratamentos, além de eventuais de obras para coleta e armazenamento tem-
reduções volumétricas, os resíduos sólidos porário de resíduos sólidos; e execução de
podem ter suas características de periculo- obras para abastecimento de energia.
sidade atenuadas e, deste modo, ter sua
De modo geral, o entulho origina-se das
disposição final efetuada em aterros menos
sobras e/ou dos desperdícios do processo
complexos.
construtivo. Em sua maioria, é constituído
Considerando-se um empreendimento por materiais inertes (porém, não exclusi-
habitacional padrão, será de maior importân- vamente), sendo potencialmente reaprovei-
cia, nesta fase do empreendimento, a geração tável. De acordo com PINTO (1992), dentre
dos resíduos da construção civil ou entulho. os fatores que influenciam sua origem, pro-
Tais resíduos originar-se-ão de atividades dução e características, incluem-se:
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Areia, argamassa, azulejos, barras de ferro, blocos cerâmicos maciços ou furados, blocos
de concreto, blocos de concreto celular, brita, cal, carpetes, cerâmica, concreto (simples,
Demolições retiradas armado ou ciclópico), cortiça, esmalte, esquadrias metálicas, gesso, janelas, ladrilhos,
e remoções lambris, madeiras, material asfáltico, material vinílico, óleo, paralelepípedos, peças de
encaixe e metálicas, pedras, perfis metálicos, pisos poliméricos, portas, pré-moldados
de concreto, tábuas, tacos, telhas cerâmicas, de fibrocimento, têmpera
Instalações provisórias Argamassa, blocos, madeira, material rochoso, pranchões, pregos, solo, tábuas, telhas.
Movimento em
terra e rocha Material rochoso, solo.
Carga, descarga
e transporte Azulejos, blocos, ladrilhos, cimentos, materiais a granel, telhas.
Drenagem de terrenos Areia, brita, concreto, juntas de tubos cerâmicos e de concreto, pranchas de madeira,
rejeitos rochosos, solos.
Preparo de argamassa Areia, cal, cimento, cimento branco, cimento colante, pedregulhos, pedrisco, pó de
mármore, saibro.
Infra-estrutura Areia, argamassa, brita, cal, cimento, concreto, pedras, pranchas de madeira, rocha,
sobras de aço, solo, tijolos.
Arame, areia, blocos cerâmicos, blocos sílico-calcários, brita, cal, chapas de madeira,
Superestrutura chapas metálicas, cimento, concreto, laminados, blocos de vidro, saibro, sobras de aço,
tábuas, tijolos cerâmicos furados, tijolos comuns e sílico-calcários, vermiculita.
Esquadrias
Aparas de madeira, argamassa, peças de fixação.
de madeira
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Instalações Aparas de eletrodutos (ferro e PVC), aparas de fios e cabos, argamassas de arremate,
elétricas material de conexão, material de junção, peças defeituosas.
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Composição Composição
Elementos Volume Massa Elementos Volume Massa
(%) (%) (%) (%)
Argamassas 32 23 Madeira 4 11
Concreto 10 7 Gesso 3 5
Areia 14 11 Telhas/manilhas 1 1
Brita 5 5 Pedra 1 1
Solo 7 6 Metal 2 1
Tijolos maciços 8 7 Blocos de concreto 1 1
Tijolos furados 7 7 Papel, plástico, matéria orgânica,
1 10
Azulejos/ladrilhos/lajotas 4 4 vidro e isopor
Fonte: SILVEIRA (1993).
De modo geral, a abordagem para gerenciamento dos resíduos sólidos deve ser preventiva
(Figura 7).
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habitacional em uma área com o contexto espacial e constância; estímulo visual e esté-
regional da paisagem, interferindo positiva- tico; e variedade de estímulos sensoriais. De-
mente nos resultados das funções determi- ve-se levar em consideração, além da compo-
nadas para o empreendimento com a utili- sição de seus próprios elementos espaciais,
zação de elementos nativos. Entretanto, o também dos elementos urbanos existentes
paisagismo deve pressupor também sua par- no entorno.
ticipação como parte integrante da engenha-
O projeto de paisagismo deve ter como
ria da obra, como elemento de contenção
ponto de partida o aproveitamento das quali-
das vertentes e de alternativa de recuperação
dades que a natureza proporciona, trazendo
de áreas degradadas em terrenos urbanos.
à tona a demonstração do conceito de preser-
Assim, o paisagismo contribui para a re- vação ambiental. A paisagem, tendo funda-
cuperação e estabilização dos ambientes e ser- mentalmente uma conotação espacial, traduz
ve como elemento de sinalização, criando na sua fisionomia as interações dos fatores
referências e propiciando uma melhoria esté- naturais e antrópicos que estruturam e mo-
tica do empreendimento. A utilização de mas- dificam o funcionamento dos sistemas am-
sas de vegetação, com fisionomia florestal bientais por ela configurados.
semelhante às matas nativas da região, per-
Outro fator considerado na elaboração
mite a reconfiguração da fisionomia local a um
do projeto paisagístico está associado às
estágio mais próximo ao ambiente natural.
funções microclimáticas da área em questão,
O projeto paisagístico deve valorizar a cuja melhoria advém das sombras e retenção
natureza, recompondo a vegetação nativa e de umidade proporcionada pelas árvores,
propondo espaços amplos e contemplativos, permitindo o contato do usuário com elemen-
servindo de atrativo à fauna silvestre, nota- tos naturais. A implantação de coberturas ve-
damente à avifauna. Uma abordagem ambi- getais distintas cria uma série de ambientes
ental e atualizada faz da natureza uma pro- diferenciados em uma área que, de outra ma-
tagonista importante da situação, trazendo neira, poderia ser um grande e inóspito des-
ao projeto uma estratégia de linguagem que campado. As áreas verdes funcionam como
garanta unidade de concepção e variabilidade estruturadoras de espaço, gerando ambien-
espacial. tes em escala compatível com a humana.
Os princípios do partido paisagístico, em A atenção dada à criação paisagística
relação às necessidades exigidas do ambiente ou à ordenação paisagística, inevitavelmente
físico, são: conforto das necessidades sen- causará impacto positivo na atmosfera local
soriais de calor, luz, som e cheiro; territoria- e regional, pois a base conceitual do projeto
lidade e privacidade; segurança; orientação deve respeitar as características naturais da
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(continua)
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