Você está na página 1de 22

HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

Quadro 3 – Recomendações na fase de Planejamento,


considerando as alterações previstas nos processos ambientais
(continuação)

Etapas Atividades Alterações Ambientais Ações e Medidas Recomendadas

• verificar se o projeto assegura privacidade


Cuidados com • meio antrópico: relacionadas à qualidade visual adequada aos moradores, no interior
a privacidade de vida dos usuários. das moradias; e
• verificar se não há circulações públicas junto a
janelas de unidades.

• verificar a adequação do projeto à modulação


dos componentes construtivos a empregar,
ponderando dentre os tipos disponíveis no
mercado, de forma a reduzir perdas;
PROJETO • observar se o sistema construtivo privilegia a
utilização de materiais e componentes
Escolha dos • meio físico: relacionadas à geração de construtivos de produção local ou regional, ou
componentes entulhos na obra; e se tem risco ambiental potencial, em razão da
construtivos e • meio antrópico: relacionadas ao custo incorporação de resíduos industriais, ou se
modulação da obra e geração de empregos. tem desempenho potencial satisfatório,
fundamentalmente sua durabilidade;
• buscar informações que permitam analisar o
desempenho ambiental dos componentes
construtivos durante todo o seu ciclo de vida; e
• observar se o sistema construtivo adapta-se às
características da mão-de-obra e de recursos
técnicos locais.

3.2 CONSTRUÇÃO As principais etapas e atividades da fase


de construção são apresentadas a seguir,
A fase de construção do empreendi-
considerando as conseqüências de ações ina-
mento envolve atividades com maior inter-
dequadas dessa fase e recomendando proce-
ferência no ambiente, compreendendo desde
dimentos para sua abordagem ambiental
alterações nos processos naturais de movi-
integrada.
mentação de massa, a partir das terraple-
nagens e obras para execução da infra-es-
trutura e edificações, até a geração e dispo-
3.2.1 Terraplenagem
sição de entulhos resultantes. A finalização Trata-se do movimento de terra neces-
dessa fase constitui, geralmente, a etapa de sário para amoldar os terrenos para a cons-
paisagismo, onde a vegetação também par- trução de uma obra, constituindo-se em um
ticipa enquanto contenção, tal como na pro- conjunto de operações de escavação, trans-
teção ao processo erosivo de vertentes. porte, disposição e compactação de terras,

58
CAPÍTULO 3 - FASES DE UM EMPREENDIMENTO E ASPECTOS AMBIENTAIS

gerando os cortes e aterros do empreen- para os mais variados fins (IPT, 1993). Isso
dimento. leva a recomendar que projetos de movimen-
to de terra transcendam, em muito, a questão
É usual que o responsável pela terraple-
da geometria a ser atingida, enveredando ne-
nagem, pautado pela produtividade, execute
cessariamente pela prescrição de procedi-
simultaneamente movimentos de terra em
mentos e de dispositivos a adotar nas movi-
toda a área do empreendimento, com cortes
mentações de solo.
e aterros para construção do sistema viário
e quadras. Essa prática deixa os terrenos sem Ainda que a legislação dos municípios
proteção superficial até o início efetivo das tenda cada vez mais a incorporar a fixação
obras, o que usualmente acarreta intenso e de períodos do ano em que podem ser reali-
extenso processo erosivo. Tal prática precisa zadas as terraplenagens (evitando-se as épo-
ser modificada, pois seus resultados são am- cas chuvosas), o procedimento apenas reduz
bientalmente bastante impactantes, inclusive o volume de material erodido. É necessária
elevando o custo do empreendimento para a adoção de outros expedientes, envolvendo
o usuário, para o próprio empreendedor e principalmente o projeto e instalação de sis-
para o Poder Público. temas provisórios de drenagem para o pe-
A franca exposição de solos é prova- ríodo de obras, compreendendo aparatos ca-
velmente um dos mais abrangentes causa- pazes de reter pelo menos o solo eventual-
dores de danos ambientais no período de mente erodido na própria área e evitar pro-
obras. Seus efeitos transcendem a área da cessos erosivos nos terrenos circunvizinhos.
construção do empreendimento, atingindo o É também importante aplicar algum tra-
entorno e contribuindo, não raro, para pro- tamento superficial aos taludes que dispen-
blemas gerais que se verificam na cidade co- sem obras de contenção, tão logo eles atin-
mo um todo. Solos expostos durante chuvas jam sua configuração final. O tratamento nor-
são transportados, assoreando drenagens malmente é feito com o plantio de gramíneas
naturais ou construídas, favorecendo-se a ou, ainda, conforme a configuração geomé-
ocorrência de inundações. Das calhas dos rios trica e a qualidade dos solos, com tela arga-
Tietê e Pinheiros, na Região Metropolitana massada. Taludes devem ainda receber, as-
de São Paulo, estimou-se, no início da década sim que possível, canaletas de drenagem de
de 90, uma retirada anual de cerca de crista e de pé.
5.000.000 m3 de material de assoreamento,
predominantemente constituído por partícu- Cabe alertar que os sistemas de dre-
las de solo transportadas de locais às vezes nagem executados tendem a receber solo
remotos, a partir de loteamentos com solo particulado em quantidades expressivas, ten-
exposto e de extensas áreas terraplenadas do em vista a permanência de áreas com solo

59
HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

desprotegido. É necessário assegurar que, para obtenção do material de empréstimo


ao término das obras, proceda-se uma cui- (solo e rocha), utilizados na construção. As
dadosa inspeção do sistema, recuperando principais atividades da terraplenagem são
eventuais trechos assoreados ou obstruídos, apresentadas a seguir.
pois somente assim ele funcionará, evitando
alagamentos e inundações. A mesma reco- 3.2.1.1 Movimentos de solo para redes
mendação se estende à fase de ocupação do de infra-estrutura e edificação
empreendimento. Consideram-se redes de infra-estrutura
Um problema ambiental também asso- de um empreendimento habitacional o con-
ciado à permanência de solos expostos diz junto de obras que constituem o suporte de
respeito à geração de poeira para o entorno, seu funcionamento, possibilitando condições
devido à movimentação de veículos no inte- e qualidade de subsistência ao novo ambiente
rior da obra, o que leva à necessidade, nos a ser construído. Compreende, portanto, o
casos aplicáveis, de adoção de rotina de as- conjunto de redes básicas de abastecimento
persão de água nos trechos mais utilizados de água, esgotamento sanitário, energia elé-
para circulação. trica, telefonia e sistema de drenagem, os
quais geralmente não exigem grandes volu-
Outro aspecto bastante relevante para mes de terraplenagem para sua implemen-
a adoção de projetos e procedimentos mais tação. Em contrapartida, o sistema viário e
detalhados para os movimentos de terra diz as quadras e lotes demarcados, também con-
respeito à própria segurança dos operários e siderados como parte da infra-estrutura, em
também de moradores do entorno das áreas geral demandam maior movimento de terra,
sob intervenção. Não são raros os acidentes preparando o terreno para a edificação.
envolvendo soterramento de operários ou de
A abertura do arruamento consiste ini-
escorregamentos atingindo imóveis lindeiros
cialmente na execução dos serviços de ter-
às áreas em obras. Escavações junto a cons-
raplenagem, destinados a remodelar o terre-
truções vizinhas também podem ocasionar
no natural de acordo com as características
danos a construções existentes. Os riscos de-
das ruas projetadas. Para o remodelamento
vem ser previstos e equacionados com an-
do terreno, são realizados, quando neces-
tecedência, com os moradores, assegurando-
sários, cortes e aterros, de tal modo que os
se a reparação de eventuais danos causados.
greides ou perfis das ruas correspondam aos
A terraplenagem extrapola os movi- definidos em projeto. É usual, na abertura
mentos de terra para construção das edifi- do arruamento, abranger uma faixa com lar-
cações, drenagem e redes de infra-estrutura. gura que contemple não só o leito carroçável
Abrange também as atividades minerárias como também os passeios.

60
CAPÍTULO 3 - FASES DE UM EMPREENDIMENTO E ASPECTOS AMBIENTAIS

Após a colocação do estaqueamento 3.2.1.2 Obtenção de material


pelas equipes de topografia, as áreas a de empréstimo
terraplenar são submetidas à avaliação,
Considera-se material de empréstimo
identificando-se possíveis interferências co-
todo material (solo e rocha) retirado de áreas
mo, por exemplo, árvores, trechos com pre-
próximas ao empreendimento habitacional,
sença de rochas aflorantes e trechos em
selecionado principalmente por suas carac-
várzea. Constatando-se a presença de vege-
terísticas granulométricas, para ser utilizado
tação de porte arbóreo, esta é usualmente
basicamente como aterro e, eventualmente,
removida.
como insumo nas obras de infra-estrutura e
Para a execução de cortes, verificam- nas edificações (por exemplo, solo argiloso
se três principais possibilidades: cortes em para correção do leito do sistema viário, solo
solo, cortes em rocha alterada e cortes em arenoso para filtro do sistema de drenagem
rocha sã. Dependendo da situação encon- da obra, ou cascalho/pedrisco como agrega-
trada, poderá ser necessário o uso de explo- do de concreto).
sivos. Nos três casos, o material é removido Tais materiais nem sempre estão dispo-
para bota-fora ou para aterro. níveis no local. Assim, é necessário o levan-
Para a execução dos aterros, é neces- tamento da disponibilidade de matéria-prima,
sária a remoção da cobertura vegetal, bem constituindo o planejamento minerário do
como, se for o caso, a remoção de eventual empreendimento, onde deve ser também tra-
solo orgânico com pouca capacidade de su- tada a recuperação da área de empréstimo
porte. Devem então ser executados enden- após sua utilização.
tamentos no terreno, com o objetivo de criar Caso os materiais de empréstimo em-
superfícies estáveis para receber o aterro. pregados tenham que ser extraídos pelo em-
Isto permite que o material lançado como preendedor e transportados de fora da área
aterro se fixe convenientemente, evitando- da obra, caracteriza-se atividade de minera-
se superfícies favoráveis a rupturas. ção, regulamentada por legislação específica.
Apenas os materiais provenientes dos traba-
Quando da demarcação do arruamento,
lhos de escavação realizada no próprio local
as quadras são também automaticamente
do empreendimento podem ser utilizados, em
demarcadas. De acordo com as cotas pre-
tese, sem reservas legais, na própria obra.
vistas no projeto de obras de terra, poderão
existir locais onde será necessário o desbaste A mineração instalada no local do em-
de quadras ou, ainda, aterros parciais. Nes- preendimento, tanto do material de emprés-
ses casos, o procedimento é semelhante ao timo como o desmonte de rochas para utiliza-
utilizado para a abertura de ruas. ção como pedra de cantaria (utilizada no cal-

61
HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

çamento ou para construção de muros de mais intensos, como também deslocamentos


contenção), dependendo de sua dimensão violentos de ar e lançamentos de fragmentos
ou forma de extração, pode provocar uma de rocha até mesmo a grandes distâncias, o
série de impactos negativos no meio circun- que conduz a lembrar que são necessários
dante. Ruídos, vibrações e lançamento de cuidados especiais nas detonações, que de-
fragmentos de rochas podem ocorrer se hou- vem atender a normas quanto a aspectos de
ver desmonte de maciços rochosos pela ação segurança, evitando danos patrimoniais e
de explosivos. Outros efeitos mais comuns pessoais na área de entorno e riscos para os
relacionam-se a: operários.
a) intensa movimentação de veículos nas Assim, quando o empreendimento ne-
vias de acesso locais, particularmente no cessitar de material de empréstimo e decidir-
transporte dos produtos da mineração, se obtê-lo diretamente, ao invés de adquiri-
com geração de poeira, ruídos e incômo- lo no mercado, fica caracterizada essa ativi-
dos no trânsito; dade de mineração, devendo-se tomar pre-
b) vibrações, poeiras e ruídos associados às viamente os cuidados legais, adotar as me-
demais operações que compõem o ciclo didas de segurança e prever medidas de re-
de produção da mina (como sistemas de cuperação da área. Tais medidas já devem
britagem e movimentação de máquinas) ser implementadas durante o próprio desen-
e que eventualmente podem atingir mo- volvimento da lavra (como o controle do rea-
radias já instaladas nas circunvizinhanças; feiçoamento topográfico, construção de
c) processos de erosão e assoreamento nas sistemas de drenagem e disposição adequada
imediações, com origem nas operações de de materiais não utilizados), bem como aque-
lavra envolvendo escavações, deposição las de caráter complementar após a desati-
inadequada de materiais não-aproveitados vação das operações na área lavrada (desta-
e sistemas de drenagem insuficientes; e cando-se as eventuais correções topográficas
finais, adequação nas propriedades do solo
d) alterações paisagísticas envolvendo im-
superficial remanescente e os procedimentos
pactos visuais e instabilidades associadas
de revegetação ou de outras formas de esta-
à presença de cavas ou lavras em encos-
bilização). Dessa maneira, uma área de mine-
tas, cujos efeitos costumam ser transfe-
ração que forneceu material de empréstimo,
ridos à população dos seus entornos, na
para utilização em obras de habitação, poderá
forma de incômodos e insegurança.
no futuro ser devidamente orientada para ou-
Quando se torna necessário o uso de tra finalidade de uso, em projetos de natureza
explosivos para remover trechos de rochas habitacional, industrial ou de lazer, entre ou-
aflorantes, geram-se não só ruídos e poeira tras alternativas possíveis.

62
CAPÍTULO 3 - FASES DE UM EMPREENDIMENTO E ASPECTOS AMBIENTAIS

3.2.1.3 Procedimentos que o assentamento pode prever ampliações


futuras, quando parte das atividades da fase
Considerando as atividades tratadas na
de construção seria retomada, porém com
etapa de terraplenagem, tanto nos movimen-
ocupações já instaladas. As atividades das
tos de terra para construção das redes de
obras usuais no empreendimento habitacio-
infra-estrutura como para as edificações,
nal são apresentadas a seguir.
recomendam-se os seguintes procedimentos
que propiciem uma abordagem ambiental
integrada: 3.2.2.1 Construção de drenagem
de águas superficiais

 reduzir a exposição do solo, evi- O sistema de drenagem constitui um


tando terraplenagem simultânea conjunto de operações e instalações desti-
em toda a área e exigir proteção nadas a coletar, retirar e reconduzir a água
superficial (vegetal e de drena- superficial ou de percolação de um maciço,
gem), de acordo com as caracte- estrutura ou escavação. Em geral, a deficiên-
rísticas geotécnicas do terreno; cia de drenagem é responsável por grande
parte dos problemas em um empreen-
 estabelecer um programa de dimento.
terraplenagem que considere in-
cômodos por ruídos, vibrações e A rede de drenagem das águas pluviais
poeira, além de risco de aciden- é usualmente composta por guias, sarjetas,
tes e danificação de construções caixas de captação do tipo com bocas de
circunvizinhas; e lobo, tubulações subterrâneas (geralmente
constituídas por tubos de concreto), poços
 prever, em áreas de empréstimo, de visita, escadas d’água, canaletas super-
a recuperação e, eventualmente, ficiais e estruturas de deságüe nos sistemas
a reabilitação do local. públicos de drenagem ou cursos d’água
próximos.
A implementação dessas obras implica
alterações pouco significativas nos processos
3.2.2 Edificações e Demais Obras existentes anteriores, porém a correção de
Após a terraplenagem, tratada ante- sua execução será fundamental durante o seu
riormente, para preparação do terreno, tem- funcionamento. A drenagem interfere no pro-
se a implementação propriamente dita das cesso erosivo e, caso não seja bem cons-
obras, condizente com o projeto desenvol- truída, não cumprirá adequadamente sua
vido na fase anterior. É importante ressaltar função de captação e condução das águas

63
HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

pluviais. Como conseqüência, poderá mesmo 3.2.2.3 Implementação de


induzir situações inversas ao seu propósito, esgotamento sanitário
intensificando a erosão ao longo das canale-
tas, em locais de vazamentos ou nos pontos A execução do sistema de esgotamento
de lançamento da água aduzida. sanitário terá impactos diferenciados segun-
do a concepção da solução e tecnologias
A construção de linhas subterrâneas de adotadas.
condução de águas pluviais pode exigir maio-
res interferências nos terrenos, na abertura Sistemas locais de esgotamento, que
de valas, nos traçados previstos em projeto. incluam coleta, tratamento e disposição, en-
Para tanto, deverão ser avaliadas as necessi- volvem obras que têm impactos controláveis
dades de escoramento de determinados tre- e temporários, se obedecido o projeto que
chos (procedendo-se, conforme o caso, à co- propiciou a licença ambiental. No caso de so-
locação de escoras de suporte). luções interligadas ao sistema urbano, o im-
pacto será igualmente controlável e tempo-
rário. Obviamente, tem-se em consideração
que, na etapa de planejamento, todo o en-
3.2.2.2 Implementação de tendimento e formalização de compromissos
abastecimento de água com os órgãos responsáveis pelo serviço
A execução do sistema de abastecimen- tenham sido adequadamente conduzidos.
to de água terá impactos diferenciados se-
gundo a concepção da solução e tecnologias
adotadas. 3.2.2.4 Colocação de rede
de energia elétrica
Sistemas locais de abastecimento, que
incluam captação, tratamento, reservação e A rede de entrada e distribuição de
distribuição, envolvem obras que têm impac- energia elétrica é composta por postes, cru-
tos controláveis e temporários, se obedecido zetas, isoladores, transformadores, cabos e
o projeto que propiciou a licença ambiental. acessórios. Para o transporte e colocação dos
No caso de soluções interligadas ao sistema postes, utilizam-se caminhões, que também
urbano, o impacto será igualmente contro- dão apoio aos demais serviços de implan-
lável e temporário. Obviamente, tem-se em tação da rede. As obras para a rede de ener-
consideração que, na etapa de planejamento, gia elétrica levam a alterações pouco signi-
todo o entendimento e formalização de com- ficativas nos processos, porém, cuidados es-
promissos com os órgãos responsáveis pelo peciais devem ser tomados em relação à ve-
serviço tenham sido adequadamente con- getação, cujas copas das árvores podem da-
duzidos. nificar as fiações.

64
CAPÍTULO 3 - FASES DE UM EMPREENDIMENTO E ASPECTOS AMBIENTAIS

3.2.2.5 Execução de sistema viário Dentre os procedimentos técnicos utili-


e pavimentação zados para melhorar o leito de um arrua-
mento de terra, destaca-se o revestimento
Em um sistema viário, a drenagem cons-
correto do seu leito com uma mistura com-
titui a maior responsável pela sua eficiência,
pactada de materiais granulares (areia e cas-
principalmente quando se trata de vias de
calho) com material ligante (argila). Eviden-
terra, bastante comuns nos assentamentos,
temente, sempre acompanhado de um bom
em geral provisórias, mas com seu revesti-
sistema de drenagem.
mento relegado por longos períodos. O
arruamento tende a ser o escoadouro da água É importante lembrar que, para o reves-
de chuva e a impermeabilização imposta pelo timento primário, são necessárias áreas de
revestimento das vias, ou mesmo o próprio empréstimo, que devem estar previstas, bem
sistema de drenagem, influem na concentra- como a sua reabilitação posterior, caso não
ção e aumento de fluxo das águas e, conse- se opte por adquirir os materiais de fornece-
qüentemente, podem provocar erosão nos dores já estabelecidos.
terrenos circunvizinhos. Sobressai, então, a
Se estiver prevista pavimentação, ela
importância da captação e condução dessas
pode ser em concreto, asfalto ou com blocos
águas para locais mais adequados, como uma
simples ou intertravados de concreto. Todas
drenagem natural, com obras complementa-
as alternativas resultam redução do grau de
res para dissipação de sua energia.
permeabilidade do terreno e, conseqüente-
Em arruamento de terra, duas são as mente, diminuindo também o tempo de con-
características técnicas fundamentais que a centração das águas superficiais. Tal condição
via deve apresentar, para garantir condições exige um sistema de drenagem eficiente para
de tráfego satisfatórias (SANTOS et al., 1988): evitar áreas de alagamento e erosão.

a) boa capacidade de suporte; e


3.2.2.6 Construção de passeios públicos
b) boas condições de rolamento e aderência.
Nos programas implementados pelo
A capacidade de suporte é a carac- Estado, a execução de passeios públicos, em
terística que confere à via condições de resis- conjuntos com modelos do tipo casa ou em
tência à deformação, ante as solicitações de simples parcelamentos de solo, fica normal-
tráfego. As condições de rolamento dizem mente a cargo dos futuros moradores. Em
respeito às irregularidades da pista (tal como alguns conjuntos baseados em prédios iso-
esburacamento e materiais soltos), que inter- lados ou em condomínios, os passeios são
ferem sobre a comodidade e segurança do eventualmente construídos no período das
tráfego. obras.

65
HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

O calçamento é importante para a quali- estrutura ou escavação, como forma comple-


dade de vida dos usuários, relacionado tanto mentar de estabilização de talude ou das
com a questão de segurança como com o obras. Também faz parte das obras de con-
conforto da população local. Em relação a tenção a proteção superficial, que se constitui
este último, o passeio público deve considerar no conjunto de cuidados dispensados à su-
também os aspectos paisagísticos. As ativi- perfície do terreno para sua manutenção ou
dades envolvidas caracterizam-se mais mar- preservação em defesa de ações externas
cadamente por trabalhos manuais, incluindo (principalmente águas pluviais, que resultam
eventuais obras de jardinagem (ver item no desenvolvimento de processos erosivos),
3.2.4 Paisagismo). ou mesmo de fenômenos intrínsecos ao seu
material constituinte (composição e forma
do talude, que resultam no desenvolvimento
3.2.2.7 Execução de obras de contenção
de processos de escorregamento; presença
As obras de contenção constituem es- de argila expansiva, que induz a desagre-
truturas de reforço aplicadas em taludes de gação superficial da rocha/solo; fluxo de água
corte ou de aterro, por meio de execução de subterrânea, provocando erosão interna ou
diferentes obras de engenharia, dependendo piping, dentre outros).
das condições de cada local, com a finalidade
Além de uma série de revestimentos
de aumentar o coeficiente de segurança e,
utilizados usualmente para a proteção super-
portanto, a estabilidade do talude. A indica-
ficial, esta pode ser implementada por meio
ção das contenções necessárias dependerá
de plantio de gramíneas, podendo esse plan-
do entendimento dos processos ocorrentes
tio ser realizado por revestimento em placas
e suas alterações, de acordo com o tipo de
ou hidrossemeadura (lançamento de mistura
projeto escolhido.
solução+sementes, em pequenas covas pré-
Não raro, as obras de contenção neces- escavadas nos taludes).
sárias, no âmbito de cada lote, são muitas
É importante notar que muros de divisa
vezes preteridas, devido o seu elevado custo,
entre lotes podem também ter características
ou são inadequadamente construídas, pela
de obras de contenção. O Estado não constrói
indisponibilidade do conhecimento técnico
muros de divisa em seus programas habita-
necessário ou pela simples falta de recursos.
cionais, sejam eles destinados a unidades iso-
Incluem-se também, além das estru- ladas ou geminadas, sejam a prédios com vá-
turas na forma de muros, mais conhecidas rios pavimentos ou a condomínios de prédios.
como obras de contenção, as obras de dre- A sua construção fica, então, por conta dos
nagem destinadas a coletar, retirar e recon- moradores e só ocorre após a ocupação. Em
duzir a água de percolação de um maciço, terrenos acidentados, isto tem gerado até

66
CAPÍTULO 3 - FASES DE UM EMPREENDIMENTO E ASPECTOS AMBIENTAIS

mesmo situações efetivas de risco. Em locais um projeto conduzindo a técnicas mais apu-
onde deveriam ser construídos muros com radas. Verifica-se assim uma grande geração
características de obras de contenção, nada de entulho.
é construído ou surgem, muitas vezes, frágeis
No que pese o saber popular na ativida-
muros executados por moradores, expostos
de de edificar, o resultado da auto-construção,
à ruptura e ao desabamento, seja pela incapa-
notadamente em encostas, tende a ser de
cidade financeira em construir uma obra de
péssima qualidade. São freqüentes as casas
contenção, seja por desconhecimento técnico.
úmidas, devido a problemas de insolação ou
de paredes em contato com a terra, assim
como se observam outras patologias típicas
3.2.2.8 Construção das unidades
deste tipo de construção, tais como trincas
habitacionais
provenientes de instabilizações de terreno e
Na construção de unidades habitacio- usualmente também relacionadas à própria
nais, os impactos ambientais mais significa- qualidade do material utilizado. Um procedi-
tivos consistem nas questões relacionadas mento alternativo que se sugere, por exemplo,
com a geração de entulho, ruído, poeira e é o do parcelamento atrelado ao projeto de
contaminação do solo e da água por lavagem edificações, com acompanhamento especia-
de equipamentos e ferramentas. Além disso, lizado para orientação das construções.
são também consideráveis os números de
Ainda que exista uma extensa gama de
acidentes de trabalho na construção civil.
sistemas construtivos em aplicação, no Brasil,
Nos empreendimentos de casas, desta- na construção habitacional de interesse social
ca-se que é comum a centralização da produ- promovida pelo Estado, apenas recentemente
ção de concretos, argamassas, ferragens, se constataram substituições mais relevantes
dentre outras atividades. Principalmente se em relação aos sistemas convencionais. Acre-
reforçada por programas racionalizados, a dita-se ser possível e desejável que outras tec-
centralização facilita o controle ambiental no nologias de edificações, menos impactantes que
trato dos resíduos e entulhos, permitindo me- as usuais, já disponíveis no mercado ou que
lhor aproveitamento de materiais e compo- podem ser desenvolvidas, ganhem espaço.
nentes, com redução de perdas e, portanto,
de entulho, além de estabelecer maiores con-
3.2.2.9 Procedimentos
dições para a avaliação potencial de seu de-
sempenho, principalmente sua durabilidade. Considerando as atividades tratadas na
Nos casos de auto-construção, a tendência etapa de obras, indicam-se os seguintes pro-
é a grande ocorrência de perdas de mate- cedimentos que possibilitem uma abordagem
rial, uma vez que, no geral, não se dispõe de ambiental integrada:

67
HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

Como uma obra civil, os conjuntos habi-


 estabelecer um programa de obras
tacionais são fruto da combinação dos diver-
que considere incômodos por ruí-
sos materiais de construção entre si, cada
dos, vibrações e poeira, além de ris-
qual desempenhando uma função específica
co de acidentes e danificação de
e com diferentes graus de periculosidade de
construções circunvizinhas;
contaminação ambiental. O concreto e a ar-
 monitorar a execução correta das o- gamassa são os principais componentes,
bras, destacando-se a eficiência do acrescidos de outros materiais, como cerâmi-
sistema de drenagem, a construção cas, madeiras, metais, pedras naturais, ges-
de contenções necessárias, a quali- so, tintas e vernizes, vidros, aditivos, plás-
dade dos materiais e a segurança ticos e borrachas.
de escavações;
Cabe resgatar o conceito de periculosi-
 reduzir a geração de resíduos só-
dade dos resíduos sólidos, necessário ao me-
lidos;
lhor entendimento do que será abordado na
 acompanhar o cumprimento de me- seqüência e com implicações diretas em rela-
tas e prazos estabelecidos na fase ção ao manuseio e disposição final destes ma-
de planejamento, para a implanta- teriais. A Associação Brasileira de Normas Téc-
ção dos sistemas de infra-estrutu- nicas (ABNT), em sua norma NBR 10004, dife-
ra, e condicionar a entrega de uni- rencia os resíduos sólidos, em relação aos ris-
dades habitacionais à entrada em cos potenciais que representam ao meio ambi-
funcionamento desses sistemas; e ente e à saúde pública, em três classes de pe-
 pesquisar tecnologias de edificação riculosidade, conforme descritas no Quadro 4.
menos impactantes que as usuais
Assim, tendo em conta sua periculosi-
e, no caso de auto-construção, fa-
dade, os resíduos sólidos podem ter a se-
zer o parcelamento atrelado ao pro-
guinte destinação final:
jeto, com acompanhamento espe-
cializado. a) resíduos sólidos classe I devem ser enca-
minhados para aterros de resíduos indus-
3.2.3 Bota-fora triais perigosos;
A terraplenagem e as obras geram resí- b) resíduos sólidos classe II devem ser en-
duos sólidos excedentes das escavações e caminhados para:
de entulhos, que necessitam de disposição • aterros sanitários (no caso dos resíduos
adequada, em aterros na própria área ou em domiciliares); ou
áreas de disposição previamente seleciona- • aterros de resíduos industriais não-pe-
das e regularmente legalizadas. rigosos (no caso dos resíduos indus-

68
CAPÍTULO 3 - FASES DE UM EMPREENDIMENTO E ASPECTOS AMBIENTAIS

Quadro 4 – Classificação dos resíduos sólidos quanto à periculosidade

Categorias Características

Apresentam risco à saúde pública ou ao meio ambiente, caracterizando-se por possuir uma ou
Classe I
mais das seguintes propriedades: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e
(Perigosos)
patogenicidade.

Classe II Podem ter propriedades como combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade, porém,


(Não-inertes) não se enquadram como resíduo classe I ou III.

Classe III Não têm constituinte algum solubilizado em concentração superior ao padrão de potabilidade
(Inertes) da água.

Fonte: ABNT (1987).

triais). Em alguns casos, e desde que como: limpeza e consolidação inicial do ter-
obtida a autorização prévia do Órgão Es- reno; construção de vias de acesso interno;
tadual de Controle da Poluição Ambien- execução de obras de drenagem da água su-
tal - OECPA ou equivalente, tais resíduos perficial; execução de obras de proteção su-
podem ser co-dispostos em aterros sa- perficial; execução de fundações de edifica-
nitários; e ções; construção de edificações; execução de
obras para o abastecimento de água; execu-
c) resíduos sólidos classe III devem ser enca-
ção de obras de conexão para o abastecimento
minhados para aterros de resíduos inertes.
de água; execução de obras de conexão ao
Deve ainda ser lembrado que, quando sistema de esgotamento sanitário; execução
submetidos a tratamentos, além de eventuais de obras para coleta e armazenamento tem-
reduções volumétricas, os resíduos sólidos porário de resíduos sólidos; e execução de
podem ter suas características de periculo- obras para abastecimento de energia.
sidade atenuadas e, deste modo, ter sua
De modo geral, o entulho origina-se das
disposição final efetuada em aterros menos
sobras e/ou dos desperdícios do processo
complexos.
construtivo. Em sua maioria, é constituído
Considerando-se um empreendimento por materiais inertes (porém, não exclusi-
habitacional padrão, será de maior importân- vamente), sendo potencialmente reaprovei-
cia, nesta fase do empreendimento, a geração tável. De acordo com PINTO (1992), dentre
dos resíduos da construção civil ou entulho. os fatores que influenciam sua origem, pro-
Tais resíduos originar-se-ão de atividades dução e características, incluem-se:

69
HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

a) insuficiência de definição em projetos (ar- Além de entulho, na fase de construção,


quitetura, estrutura, formas, instalações); de acordo com o porte do empreendimento
em questão, ter-se-á a geração de resíduos
b) ausência de qualidade nos materiais e no chamado canteiro de obra, os quais po-
componentes de construção utilizados; e dem ser divididos em dois grupos principais:
c) ausência de procedimentos e mecanismos um primeiro grupo, de resíduos de carac-
de controle na execução (perdas na esto- terísticas domiciliares (classe II) e um se-
cagem e transporte em canteiro, carência gundo, com resíduos de características indus-
de controle geométrico, ausência de pru- triais, oriundos das operações de abaste-
mo, nivelamento e planicidade; aumento cimento, manutenção e reparo de equipa-
no consumo de materiais para recuperação mentos e máquinas. No caso dos resíduos
da geometria etc.). sólidos desse segundo grupo, sua peri-
culosidade será dependente da presença de
materiais contaminantes (óleos, graxas etc.)
Aos fatores citados acima, pode-se as-
e das características dos itens gerais de
sociar a falta de treinamento para qualificação
reposição periódica descartados.
da mão-de-obra utilizada. Além disso, o pa-
drão de qualidade que se deseje para um da- Como referência, os tipos de entulho
do conjunto habitacional será determinante gerados conforme as etapas da atividade
em suas caraterísticas arquitetônicas e cons- construtiva e a composição do entulho, consi-
trutivas. Nesse contexto, a arquitetura indi- derando-se levantamento no Município de
cará a diversidade e a qualidade dos insumos Campinas-SP, estão apresentados, respecti-
que estarão presentes na construção (e tam- vamente, nos Quadros 5 e 6. A área de
bém no rejeito formado), enquanto que os bota-fora deve ser reabilitada após a con-
métodos construtivos utilizados influirão clusão das obras, visando sua reutilização pa-
sobre os volumes descartados (SILVEI- ra outros fins, tais como um parque, depen-
RA, 1993). dendo das condições topográficas do local.

70
CAPÍTULO 3 - FASES DE UM EMPREENDIMENTO E ASPECTOS AMBIENTAIS

Quadro 5 – Tipos de entulho gerados durante a fase de construção

Atividades/Materiais Principais Resíduos

Areia, argamassa, azulejos, barras de ferro, blocos cerâmicos maciços ou furados, blocos
de concreto, blocos de concreto celular, brita, cal, carpetes, cerâmica, concreto (simples,
Demolições retiradas armado ou ciclópico), cortiça, esmalte, esquadrias metálicas, gesso, janelas, ladrilhos,
e remoções lambris, madeiras, material asfáltico, material vinílico, óleo, paralelepípedos, peças de
encaixe e metálicas, pedras, perfis metálicos, pisos poliméricos, portas, pré-moldados
de concreto, tábuas, tacos, telhas cerâmicas, de fibrocimento, têmpera

Limpeza do terreno Resíduos vegetais, solo, rocha.

Instalações provisórias Argamassa, blocos, madeira, material rochoso, pranchões, pregos, solo, tábuas, telhas.

Movimento em
terra e rocha Material rochoso, solo.

Carga, descarga
e transporte Azulejos, blocos, ladrilhos, cimentos, materiais a granel, telhas.

Drenagem de terrenos Areia, brita, concreto, juntas de tubos cerâmicos e de concreto, pranchas de madeira,
rejeitos rochosos, solos.

Preparo de argamassa Areia, cal, cimento, cimento branco, cimento colante, pedregulhos, pedrisco, pó de
mármore, saibro.

Infra-estrutura Areia, argamassa, brita, cal, cimento, concreto, pedras, pranchas de madeira, rocha,
sobras de aço, solo, tijolos.

Arame, areia, blocos cerâmicos, blocos sílico-calcários, brita, cal, chapas de madeira,
Superestrutura chapas metálicas, cimento, concreto, laminados, blocos de vidro, saibro, sobras de aço,
tábuas, tijolos cerâmicos furados, tijolos comuns e sílico-calcários, vermiculita.

Elementos de juntamento, elementos vazados de concreto, painéis pré-fabricados,


Vedação
placas de granilite ou de mármore, vidro fixo.

Esquadrias
Aparas de madeira, argamassa, peças de fixação.
de madeira

Alumínio, aparas metálicas, argamassas, batentes de ferro, juntas, lascas de madeira,


Esquadrias metálicas
peças de fixação, pregos.

Aço, acrílico, aparas de chapas de aço e de madeira, aparas metálicas de alumínio,


Cobertura de madeira domos de fibra de vidro e de fibrocimento, peças de fixação, restos de telha cerâmica
e de PVC.
(continua)

71
HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

Quadro 5 – Tipos de entulho gerados durante a fase de construção


(continuação)

Atividades/Materiais Principais Resíduos

Aço galvanizado, alvenaria, aparas de tubulações (PVC e fibrocimento), argamassas de


Instalações arremate, tubulação de concreto simples ou armado, de cobre e de ferro fundido,
hidráulicas material de rejuntamento, material de vedação e tubulação, peças defeituosas, pedaços
de concreto e de tubos cerâmicos.

Instalações Aparas de eletrodutos (ferro e PVC), aparas de fios e cabos, argamassas de arremate,
elétricas material de conexão, material de junção, peças defeituosas.

Argila expandida, cortiça, elastômeros, emulsões asfálticas, lajotas pré-moldadas de


Forros concreto, mantas de fibras de vidro, pedra britada solta, placas de concreto celular,
poliestireno, PVC extrudado, tijolos cerâmicos furados.

Impermeabilização Argila expandida, cortiça, elastômeros, emulsões asfálticas, lajotas pré-moldadas de


e isolamento térmico concreto, mantas de fibras de vidro, pedra britada solta, placas de concreto celular,
poliestireno, PVC extrudado, tijolos cerâmicos furados.

Argamassa, caibros, concreto, lascas cerâmicas e de lajotões, lascas de peças


Pisos internos empregadas, material de fixação, parquetes, pedaços de vigas, restos de tacos.

Areias quartzosas, arenito, argamassas ou colas, azulejos, borrachas, cerâmica, chapas


Revestimentos de vinílicas, cimentos, cortes de fibras de madeira e de papel de parede, fibrocimento,
forros e paredes forração têxtil, granilite, granitos, lascas de alumínio, lascas de cerâmicas, lascas de
mármore, lascas de vidro, pastilhas, pedra, tiras vinílicas.

Vidros Gaxetas, lascas de vidros, massas de fixação.

Blocos de concreto, placas de concreto pré-fabricadas, sobras de material de pintura,


Pinturas tela de arame galvanizado.

Serviços Areia, britas, concreto, cortes vegetais, ladrilhos hidráulicos, paralelepípedos,


complementares placas de arenito.

Fonte: SILVEIRA (1993).

72
CAPÍTULO 3 - FASES DE UM EMPREENDIMENTO E ASPECTOS AMBIENTAIS

Quadro 6 – Composição física do entulho, Município de Campinas-SP

Composição Composição
Elementos Volume Massa Elementos Volume Massa
(%) (%) (%) (%)

Argamassas 32 23 Madeira 4 11
Concreto 10 7 Gesso 3 5
Areia 14 11 Telhas/manilhas 1 1
Brita 5 5 Pedra 1 1
Solo 7 6 Metal 2 1
Tijolos maciços 8 7 Blocos de concreto 1 1
Tijolos furados 7 7 Papel, plástico, matéria orgânica,
1 10
Azulejos/ladrilhos/lajotas 4 4 vidro e isopor
Fonte: SILVEIRA (1993).

De modo geral, a abordagem para gerenciamento dos resíduos sólidos deve ser preventiva
(Figura 7).

Figura 7 – Diretrizes gerais para o gerenciamento


integrado de resíduos sólidos

73
HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

Medidas para a não-geração de entulho portanto, de um outro ramo de negócios. Em-


pressupõem cuidados desde a escolha do lo- bora não caiba ao empreendedor conduzir
cal para o empreendimento, passando pela tal atividade, sempre que houver condições
adoção de projeto racionalizado e pela adoção práticas para o entulho ser encaminhado para
de método construtivo apropriado. Já a redu- tais unidades, é altamente recomendável que
ção da geração pode ser obtida, por exemplo, isso seja feito.
pela escolha de soluções construtivas compa- Em termos de qualidade, ensaios diver-
tíveis às necessidades do projeto, bem como sos (como de abrasão, compressão e absor-
pelo treinamento das equipes envolvidas e ção) têm demonstrado que o material recicla-
pela monitorização periódica dos trabalhos e do possui bom desempenho, indicando seu
pela correção das discrepâncias identificadas. uso para fabricação de briquetes, lajes, guias
As ações para não-geração e para re- de sarjetas, bocas de lobo, tampas de caixa
dução da geração pressupõem acompanha- de inspeção, mourões e blocos, dentre outros
mento contínuo dos desperdícios, identifican- materiais de uso não-estrutural. A opção
do-se suas origens e adotando-se procedi- do material beneficiado como material de
mentos para eliminá-los. Programas para mi- sub-base, para vias públicas, também tem
nimização da geração de resíduos podem ser crescido.
associados àqueles para minimização do uso Tanto no caso da reutilização como da
de água e de energia elétrica, nessa fase do reciclagem, o principal empecilho ao aprovei-
empreendimento. tamento do entulho é sua heterogeneidade
No caso do entulho cuja geração não constitutiva. Deste modo, é desejável que
foi possível evitar, a primeira opção, ainda sua acumulação seja efetuada com máximo
dentro da obra, é reusá-lo in natura. Normal- de seletividade, visando não misturar mate-
mente, nesse caso, predomina a sua utiliza- riais incompatíveis, evitando que os de menor
ção como material de enchimento de aterros qualidade prejudiquem o reuso/reciclagem
e contra-pisos (aplicações pouco nobres) e, dos mais nobres. Isto também é necessário
em menor escala, em usos similares ao origi- devido ao fato de os entulhos incluírem ma-
nal. É, portanto, necessário inverter essa teriais que requerem cuidados especiais de
tendência. manuseio e de disposição, tais como os as-
O processamento externo, em usinas bestos, as madeiras tratadas, os resíduos de
de beneficiamento e reciclagem de entulho, colas, epóxis e adesivos.
depende do manuseio de grandes quanti- Na impossibilidade de se encaminhar o
dades, de modo que se mantenha baixo o entulho remanescente para uma usina de
custo operacional e obtenha condições mais beneficiamento e reciclagem, este deverá ser
propícias de sucesso financeiro. Trata-se, conduzido para descarte em um aterro de

74
CAPÍTULO 3 - FASES DE UM EMPREENDIMENTO E ASPECTOS AMBIENTAIS

inertes. É importante que sejam contratadas 3.2.3.1 Procedimentos


empresas especializadas para a execução
Considerando as atividades tratadas na
dessas atividades, evitando-se o risco de lan-
etapa de bota-fora, relacionadas com a dis-
çamentos clandestinos ao longo da malha ur-
posição dos resíduos sólidos excedentes das
bana, provocando degradação da paisagem,
escavações e entulhos gerados pelas obras,
ou o assoreamento da calha dos escoadores
recomendam-se os seguintes procedimentos
de água, entre outras graves conseqüências
que propiciem uma abordagem ambiental
ambientais e econômicas.
integrada:
Além do impacto ambiental devido ao
manejo do entulho, deve-se destacar o im-  reduzir a geração de resíduos e,
pacto econômico decorrente do não-aprovei- se possível, tratá-los para dimi-
tamento do entulho (tanto em termos de per- nuir seu volume e atenuar sua
das de matéria-prima como em termos de periculosidade;
perdas de energia necessária à sua manufa-  procurar reutilizar o resíduo sóli-
tura). A jazida exaurida não poderá ser re- do in natura ou reciclado;
posta. O resíduo da atividade construtiva, por
 segregar os resíduos de acordo
outro lado, tem amplas possibilidades de ser
com a NBR 10004 (ABNT, 1987).
indefinidamente reciclado.
Para os que não puderem ser
reaproveitados, encaminhar os
Caso haja a necessidade de alojamen-
da classe I para aterro de resí-
tos de obra, quando da implantação do em-
duos industriais perigosos, os da
preendimento, os resíduos que se geram, de
classe II para aterros sanitários
característica similar aos domiciliares, po-
e os da classe III para aterros de
derão ser encaminhados à coleta pública re-
resíduos inertes; e
gular. Já no caso dos resíduos oriundos das
atividades de apoio (resultantes das manu-  dar utilização compatível à área
tenções periódica, preventiva e/ou corretiva de bota-fora, caso esta seja in-
de veículos e equipamentos) devem ser de- terna ao empreendimento ou ex-
volvidos aos fabricantes (à base de troca, terna, porém de responsabilida-
tais como baterias e pneus), encaminhados de do empreendedor.
para reciclagem (tais como metais diversos,
óleos e lubrificantes) ou encaminhados para
disposição final (em aterros industriais ou 3.2.4 Paisagismo
aterros sanitários, conforme suas caracte- O paisagismo tem como finalidade a
rísticas de periculosidade). integração de atividades do empreendimento

75
HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

habitacional em uma área com o contexto espacial e constância; estímulo visual e esté-
regional da paisagem, interferindo positiva- tico; e variedade de estímulos sensoriais. De-
mente nos resultados das funções determi- ve-se levar em consideração, além da compo-
nadas para o empreendimento com a utili- sição de seus próprios elementos espaciais,
zação de elementos nativos. Entretanto, o também dos elementos urbanos existentes
paisagismo deve pressupor também sua par- no entorno.
ticipação como parte integrante da engenha-
O projeto de paisagismo deve ter como
ria da obra, como elemento de contenção
ponto de partida o aproveitamento das quali-
das vertentes e de alternativa de recuperação
dades que a natureza proporciona, trazendo
de áreas degradadas em terrenos urbanos.
à tona a demonstração do conceito de preser-
Assim, o paisagismo contribui para a re- vação ambiental. A paisagem, tendo funda-
cuperação e estabilização dos ambientes e ser- mentalmente uma conotação espacial, traduz
ve como elemento de sinalização, criando na sua fisionomia as interações dos fatores
referências e propiciando uma melhoria esté- naturais e antrópicos que estruturam e mo-
tica do empreendimento. A utilização de mas- dificam o funcionamento dos sistemas am-
sas de vegetação, com fisionomia florestal bientais por ela configurados.
semelhante às matas nativas da região, per-
Outro fator considerado na elaboração
mite a reconfiguração da fisionomia local a um
do projeto paisagístico está associado às
estágio mais próximo ao ambiente natural.
funções microclimáticas da área em questão,
O projeto paisagístico deve valorizar a cuja melhoria advém das sombras e retenção
natureza, recompondo a vegetação nativa e de umidade proporcionada pelas árvores,
propondo espaços amplos e contemplativos, permitindo o contato do usuário com elemen-
servindo de atrativo à fauna silvestre, nota- tos naturais. A implantação de coberturas ve-
damente à avifauna. Uma abordagem ambi- getais distintas cria uma série de ambientes
ental e atualizada faz da natureza uma pro- diferenciados em uma área que, de outra ma-
tagonista importante da situação, trazendo neira, poderia ser um grande e inóspito des-
ao projeto uma estratégia de linguagem que campado. As áreas verdes funcionam como
garanta unidade de concepção e variabilidade estruturadoras de espaço, gerando ambien-
espacial. tes em escala compatível com a humana.
Os princípios do partido paisagístico, em A atenção dada à criação paisagística
relação às necessidades exigidas do ambiente ou à ordenação paisagística, inevitavelmente
físico, são: conforto das necessidades sen- causará impacto positivo na atmosfera local
soriais de calor, luz, som e cheiro; territoria- e regional, pois a base conceitual do projeto
lidade e privacidade; segurança; orientação deve respeitar as características naturais da

76
CAPÍTULO 3 - FASES DE UM EMPREENDIMENTO E ASPECTOS AMBIENTAIS

área, inserindo o empreendimento habitacio-  recompor a vegetação, cumprin-


nal dentro do contexto regional. O que se do necessidades do usuário para
faz dentro da área do empreendimento in- melhoria de sua qualidade de vi-
fluencia o seu entorno. As espécies arbóreas da, integrando o empreendimen-
que serão plantadas, conforme seu desen- to no contexto geral da paisagem,
volvimento, passarão a ser contempladas à servindo também de atrativo
distância, criando impactos visuais positivos, notadamente à avifauna, além de
enquanto que as plantas arbustivas e florí- participar da engenharia da obra.
feras serão apreciadas pelos pedestres e vi-
sitantes, não causando conflitos visuais com 3.2.5 Quadro-Síntese da Fase
a paisagem local, tornando-se parte inte- de Construção
grante do contexto regional por interpolação
As principais atividades que devem ser
de distintas formações vegetais.
tratadas durante a fase de construção, de
acordo com as considerações apresentadas
nas etapas de terraplenagem, edificações e
3.2.4.1 Procedimentos
demais obras, bota-fora e paisagismo, são
Considerando as atividades tratadas na mostradas no Quadro 7. Constitui uma sín-
etapa de paisagismo, relacionadas com a co- tese das recomendações contempladas como
bertura vegetal do empreendimento, reco- relevantes nessa segunda fase, e que visam
menda-se o seguinte procedimento que pro- fornecer melhores condições ambientais ao
picie uma abordagem ambiental integrada: empreendimento habitacional.

77
HABITAÇÃO E MEIO AMBIENTE - Abordagem integrada em empreendimentos de interesse social

Quadro 7 – Recomendações na fase de Construção, considerando


as alterações previstas nos processos ambientais

Etapas Atividades Alterações Ambientais Ações e Medidas Recomendadas

Movimentos • meio físico: pela modificação do


de terra para relevo, retirada da proteção
construção da vegetal, impermeabilização do • reduzir a exposição do solo, evitando
rede de infra- solo e modificação da drenagem, terraplenagem simultânea em toda a
estrutura e causando aumento da erosão, área e com proteção superficial (vegetal
edificação escorregamento, assoreamento e de drenagem), de acordo com as
e inundação; características geotécnicas do terreno;
TERRAPLENAGEM • meio biótico: pelo desmatamen- • estabelecer um programa de terraplena-
to; e gem que considere incômodos por
• meio antrópico: circunvizinho ruídos, vibrações e poeira, além de risco
Exploração do (resultante de incômodos por de acidentes e danificação de
material de ruídos, vibrações e poeira; risco construções circunvizinhas; e
empréstimo de acidentes; danificação de • prever, em áreas de empréstimo, a
construções) e para os futuros recuperação e, eventualmente, a
usuários (por falta de correção reabilitação do local.
adequada de problemas nessa
etapa).

• estabelecer um programa de obras que


• meio físico: pela impermeabili- considere incômodos por ruídos, vibrações
zação do solo e modificação da e poeira, além de risco de acidentes e
drenagem; e danificação de construções circunvizinhas;
Execução das • meio antrópico: circunvizinho • monitorar a execução correta das obras,
obras de edifica- (resultante de incômodos por reduzindo a geração de resíduos sólidos,
EDIFICAÇÃO E ção, contenção ruídos, vibrações e poeira; fiscalizando a qualidade do material
DEMAIS OBRAS e construção risco de acidentes; danificação utilizado e implementando todas as obras
da rede de de construções) e para os de contenção e drenagem necessárias; e
infra-estrutura futuros usuários (por falta de • no caso de auto-construção, fazer o
correção adequada de problemas parcelamento atrelado ao projeto, com
nessa etapa). acompanhamento especializado.

• meio físico: pela modificação do


relevo, retirada da proteção ve- • reduzir a geração de resíduos e, se
getal, impermeabilização do solo possível, tratá-los para diminuir seu
Disposição de e modificação da drenagem, volume e atenuar sua periculosidade;
BOTA-FORA resíduos sólidos causando contaminação do solo • procurar reutilizar o resíduo sólido in
e da água e alterando o fluxo da natura ou reciclado;
água superficial; • segregar os resíduos de acordo com
• meio biótico: pelo desmata- a NBR 10004 da ABNT;
mento; e

(continua)

78
CAPÍTULO 3 - FASES DE UM EMPREENDIMENTO E ASPECTOS AMBIENTAIS

Quadro 7 – Recomendações na fase de Construção, considerando


as alterações previstas nos processos ambientais
(continuação)

Etapas Atividades Alterações Ambientais Ações e Medidas Recomendadas

• encaminhar os da classe I para aterro


de resíduos industriais perigosos, os da
classe II para aterros sanitários e os da
• meio antrópico: pelo aumento classe III para aterros de resíduos
Disposição de de custo devido à necessidade
BOTA-FORA resíduos sólidos inertes; e
de área de tratamento, disposi- • reutilizar a área de aterro, caso esta seja
ção e/ou retirada de entulhos. interna ao empreendimento ou externa,
porém de responsabilidade do
empreendedor.

• nos três segmentos do meio • recompor a vegetação, cumprindo


ambiente: relacionadas à necessidades do usuário para melhoria
Cobertura integração do projeto paisagístico de sua qualidade de vida, integrando o
PAISAGISMO vegetal com o contexto regional empreendimento no contexto geral da
da paisagem, com a engenharia paisagem, servindo também de atrativo
da obra e com a qualidade de notadamente à avifauna, além de
vida dos usuários. participar da engenharia da obra.

3.3 OCUPAÇÃO volvida por uma seqüência de ações: avalia-


ção de desempenho do uso do novo ambiente
A ocupação corresponde à última fase
construído, recomendações de correção dos
considerada do empreendimento habitacio-
problemas diagnosticados e a gestão de
nal. Porém, diferentemente das anteriores,
medidas e ações implementadas, que visem,
apresenta uma intervenção contínua e dinâ-
principalmente, garantir as necessidades e
mica no ambiente e deve, portanto, ser cons-
satisfação dos usuários. De acordo com a
tantemente monitorada. Essa fase pode ser
proposta metodológica, de condução da
dividida em duas etapas, a primeira trata do
abordagem ambiental a partir das alterações
uso do empreendimento e a segunda de sua
impostas nos processos atuantes no meio
eventual ampliação.
ambiente pelas atividades do empreendimen-
to, são listadas a seguir as principais ativi-
3.3.1 Uso dades da etapa de uso:

A abordagem ambiental integrada da a) utilização das edificações e demais equi-


etapa de uso do empreendimento é desen- pamentos;

79

Você também pode gostar