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Urbanização e Reguinalização Ibge
Urbanização e Reguinalização Ibge
Edição do
Departamento de Documentação e Divulgação
Geográfica e Cartográfica
URBANIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO
RELAÇõES COM O DESENVOLVIMENTO ECONóMICO
Brian BERRY
Laurence BROWN
Michel DACEY
Niles HANSEN
John HOLMES
J. R. LASUEN
John NYSTUEN
Gunnar OLSSON
François PERROUX
SELEÇAO DE TEXTOS BASICOS
SPERIDIAO FAISSOL
URBANIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO
Relações com o
Desenvolvimento Econômico
~~
Speridião, Faissol
IBGE
o F173
íNDICE
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento urbano e regional tem constituído um
tema mais ou menos constante não só na literatura especializada
no Brasil como também, e talvez principalmente, no interesse po-
pular. De um lado o explosivo crescimento das cidades, as fortes
c rre,ntes migratórias para as mesmas (dados preliminares do
Censo de 1970 indicam que 30 milhões de brasileiros residem em
municípios em que não nasceram e quase 20 milhões mudaram-se
para cidades) e de outro os desníveis regionais vindos de um longo
processo de concentração da riqueza nacional no Centro-Sul, são os
elementos geradores deste interesse.
A cidade é um foco de concentração de atividades e de irradia-
ção de inovações, duas funções essenciais no contexto do processo
de desenvolvimento. Em relação à primeira estão associados todos
os conceitos de localização, economias de escala, mercado de con-
s mo para numerosas at ividades produtoras, concentração de
mão-de-obra etc., e em relação à segundá estão associados os con-
e itos de difusão de inovações, com suas implicações na hierarquia
e espaça1nento dos centros urbanos e capacidade multiplicadora
dos mesmos.
Os geógrafos têm desenvolvido, talvez de forma ainda incom-
pleta, um conjunto de teorias que procuram explicar as relações
do sistema de cidades com o processo de desenvolvimento econô-
mico. Estas teorias são essencialmente derivativas, isto é, expansões
de teorias originadas principalmente na economia e nas quais o
processo espacial é tornado mais explícito. Dado os diferentes está-
gios do processo de desenvolvimento econômico cultural, os fato-
res locacionais e com eles os recursos naturais, tomam significados
mais ou menos contingenciadores do tipo de atividade econômica
desenvolvida. Numerosos economistas - destacadamente os do
grupo Ciência Regional- tem procurado fugir ao "wonderland of
no spatial dimensions" como o chama Isard.
- 15
O implícito nesta preocupação espacial é o fato de que, se-
gundo observam Friedmann e Alonso 1 a decisão de onde localizar
um novo projeto é tão importante quanto a decisão de investir
mesmo. A questão de justiça social na distribuição dos fruto~ do
desenvolvimento é tão complexa, difícil e importante, em termos
de regiões como em termos de classes sociais.
As cidades têm uma estrutura e mantêm relações com outras
cidades e com populações em torno das mesmas, formando um
sistema; em primeiro lugar um sistema, ela mesma, em seu inte-
rior, pois umas partes da cidade interagem com outras de nume-
rosas maneiras; em segundo lugar as cidades entre sí e a economia
espacial que elas organizam, articulam e dinamizam. Portanto
Urbanização e Regionalização são temas e conceitos associados, ao
mesmo tempo que os dois são proximamente relacionados ao pro-
cesso de desenvolvimento econômico.
A coletânea de artigos que selecionamos para constituir este
volume pretende contribuir para uma clara compreensão do papel
da cidade na organização do espaço nacional, na sua regionalização
e conseqüentemente nas características do processo de desenvolvi-
mento econômico. Os autores selecionados constituem alguns dos
expoentes de uma geração de cientistas sociais, principalmente
economistas, economistas espaciais e geógrafos, que têm dado
contribuições sucessivas ao desenvolvimento do t ema que a coletâ-
nea se propõe discutir.
O primeiro artigo desta coletânea é de autoria do Prof. Brian
Berry e trata das cidades como sistemas dentro de um sistema de
cidades. O próprio título do artigo é extremamente sugestivo do
que nele se contém; a cidade é definida como um sistema, cujo
elemento mais próximo externo à ela é uma outra cidade do sis-
tema. Por outro lado as cidades constituem um sistema, natural-
mente a um nível de resolução diferente, cujo ambiente mais
próximo é a economia espacial que tal sistema integra, expande ou
contrai, interagindo com este ambiente externo por via de uma
gama de funções e processos muito ajustáveis à terminologia
sistémica.
Berry procura estabelecer uma ligação entre os processos in-
dutivos e dedutivos na Geografia, os primeiros provindos (no caso
do estudo de cidades) de algumas generalizações longamente esta-
belecidas nesta área, a mais conhecida das quais é a chamad2.
relação Tamanho-Hierarquia. A relação entre o tamanho de uma
cidade e sua hierarquia no sistema de cidades tem um significado
importante no que diz respeito ao processo de desenvolvimento. Se
a relação entre a cidade mais importante e a segunda colocada for
de enorme desproporção entre as duas, a interpretação atribuída ao
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fenômeno é de uma macrocefalia urbana, concentração desmesu-
rada de gente, consumo/ produção, poder político-econômico, que
ão conduzem a um desenvolvimento equilibrado do sistema. A tese
subjacente a este raciocínio é a de que o sistema de cidades articula
a economia da região ou do país, através daqueles dois mecanis-
mos acima descritos (cidade/ sistema- sistema de cidades). O se-
gundo artigo deste volume, ainda de Brian Berry, discute este
assunto com mais amplitude e com numerosas exemplificações, de
modo que podemos passar à segunda generalização descrita por
Berry. Esta diz respeito à densidade da população da cidade, a
artir de seu centro (o chamado Distrito Central de Negócios,
CBD), e que passa por modificações ao longo do tempo.
Ao lado da discussão das generalizações empiricamente for-
muladas, Berry discute os postulados dedutivos produzidos na Geo-
grafia, o mais significativo dos quais (em termos de sistemas de
_:idades e regionalização) é a teoria das localidades centrais.
A teoria das localidades centrais, desenvolvida por Walter
Christaller 2 apoia-se nos fundamentos da teoria de localização.
Ela parte da conceituação clássica de que todas as atividades são
localizadas em uma superfície indiferenciada e plana, na qual uma
superfície de transporte tal existe que os custos de transporte de
ens e produtos são constantes para qualquer direção e distâncias
adas. Ao mesmo tempo a distribuição da população rural, gostos
e escalas de preferências, matérias-primas industriais, conheci-
mentos técnicos e disponibilidade de oportunidades de produção
são uniformes sobre toda a superfície considerada; aí se criam
as condições para a análise da localização das atividades, função
xclusiva das forças do mercado.
O sistema hexagonal descrito por Christaller otimiza a dis-
tribuição de centros urbanos, em termos de espaçamento, enquanto
ue uma hierarquia se forma, piramidada, para atender a demanda
de bens de natureza e sofisticação diferentes. De um lado o espa-
amento ficou muito associado à noção do alcance (range) de um
bem, e a hierarquia ficou mais ligada à noção de limiar (treshold)
orno dimensão mínima de mercado necessário à produção lucra-
tiva de um bem.
O segundo artigo da série é, ainda, como dissemos, de Brian
Berry, e sendo bem mais recente que o anterior, atualiza alguns
dos conceitos referentes a significações do tamanho das cidades
no processo de desenvolvimento, procurando, ao mesmo tempo, dis-
cutir o assunto em termos de suas implicações teóricas e aplica-
ções aos problemas com que se confrontam muitos países na for-
mulação de políticas a seguir.
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Essencialmente o caminho que Berry segue é o de "olhar pri-
meiro o problema genérico relativo ao papel de uma tipologia de
cidades hierarquizadas pelo tamanho como indicativa de uma
tipologia de hierarquias urbanas e então considerar os processos
geradores que dão origem a diferentes distribuições". Esta distri-
buição é então associada ao processo de crescimento e por fim
Berry explora as relações das cidades com os mecanismos de di-
fusão de inovações, regionalização do desenvolvimento e ainda os
problemas ligados às políticas a seguir.
A primeira tomada de posição, de natureza filosófica por
assim dizer, é a que diz respeito à natureza do processo de cres-
cimento, tomada no sentido Perroux-Hirspmann, de que ela é
essencialmente desequilibrada inicialmente. Crescimento rápido na
produção total e crescente concentração beneficiada e propiciada
por economias de escala, tem gerado sempre um padrão estrutural
comumente descrito como Núcleo-Periferia. O mecanismo é o mes-
mo descrito por economistas como Myrdall ou Hirschman e é esta
concentração que acumula momentum, gera demandas de maté-
rias-primas nas regiões periféricas e com esta demanda se inicia um
processo de crescimento nas mesmas, diferenciado e especializado,
segundo a natureza dos recursos regionais. A medida que o Núcleo
básico se desenvolve e se transforma, os seus níveis de renda vão
aumentando, a um ponto em que numerosas indústrias vão sendo
tornadas não competitivas e literalmente expulsas (Berry usa a
expressão priced out), filtrando, por assim dizer, para núcleos não
metropolitanos, onde elas não só vão encontrar tetas salariais mais
baixos, como poderão gerar impulsos de crescimentos nos mesmos.
O corolário deste mecanismo é um crescimento equilibrado
do sistema de cidades, cujos tamanhos vão aumentando na me-
dida em que suas funções vão se diversificando, criando um sis-
tema interdependente e articulado. O problema crucial é que nem
sempre este mecanismo funciona de forma irrestrita, gerando
aquilo que Berry mesmo denomina de "deviation amplifying
process", que é uma forma da causação circular cumulativa de
Myrdall.
Berry desenvolve bastante, neste artigo, as relações do pro-
cesso de desenvolvimento com a hierarquia de cidades, adotando
a mesma linha teórica do seu primeiro artigo, de que uma dis-
tribuição do tipo "Rank-Size" estaria associada a um sistema eco-
nômico mais desenvolvido, em que numerosas forças atuam em
diferentes direções, típico de um processo estocástico. Por outro
lado uma distribuição do tipo "Primacy" estaria associada a uma
economia dual, com todo o poder econômico concentrado em uma
grande cidade, que por isso mesmo atrai uma massa despropor-
cional de migrantes; estes migrantes não encontrando pleno em-
prego, forçam a manutenção, em níveis baixos, dos salários na
-18-
grande cidade, o que não alimenta o processo de transferência de
indústrias para as cidades mais abaixo na hierarquia.
Ao discutir as razões da "primacy" e de uma distribuição do
tipo "Rank-Size", Berry descreve o debate em termos de política
a seguir, que divide os técnicos de muitos países em desenvolvi-
mento. Berry assinala, que, ironicamente, os modernizadores são
conservadores, porque argumentam que os mecanismos do processo
econômico acabam por gerar o equilíbrio; em contrapartida os
t radicionalistas são radicais, porque clamam por uma intervençãd
no processo que acaba por se constituir em uma participação dó
Estado no direcionamento do processo econômico, ainda que por
medidas indiretas de incentivos.
Os modernizadores argumentam que a continuada concen-
tr ação de crescimento econômico nas grandes cidades é necessária
para capturar economias de escala e acumular externalidades sob
a forma de infraestrutura social e econômica, porque elas consti-
tuem, por sua vez, os pré-requisitos para crescimento posterior
ecessário a gerar recursos imprescindíveis a sobrepujar as inade-
quaçõe.s institucionais que hoje caracterizam os países subdesen-
volvidos. Estas inadequações são ainda agravadas pela velocidade
e comunicação em massa e pelo simples fato de que os efeitos de
emonstração são muito mais fáceis de seguir, no lado da de-
manda de consumo de bens e serviços de todos os tipos, do que
do lado da poupança de recursos para gerar a oferta dos mesmos,
nas quantidades e a preços em que todos possam participar.
Os tradicionalistas contestam tais argumentos e acrescentam
que as inadequações institucionais são o produto de crescimento
e desenvolvimento em umas poucas grandes cidades, superurba-
nizadas, agindo de forma parasítica sobre seus interiores, drenandq
a vitalidade da sociedade como um todo, equilibrando-se em uni
estado de hiperurbanização, que somente pode ser combatido com
uma política deliberada de descentralização.
Berry continua dizendo que o compromisso dos planejadores
t em sido a idéia de centros de crescimento, com argumentos de
que os custos de urbanização em centros de tamanho intermediário
provavelmente demandariam investimentos de infra-estrutur~
menos vultosos que nos grandes centros. Além disso estes centros
de crescimento de tamanho intermediário não só trariam novos
ecursos ao processo de desenvolvimento como pela simulação do
processo espontâneo de difusão hierarquica superariall). muitas das
restrições eventualmente impostas ao seu funcionamento normal,
portanto agindo de forma a induzir o processo espontâneo. Pólos
r de desenvolvimento passam, assim, a constituir um elemento essen-
, cial na definição de estratégias de desenvolvimento. Daí os três
artigos subseqüentes tratarem do problema pólos de desenvolvi-
mento.
-19-
Perroux foi o criador da noção e numerosos autores utilizaram
o conceito em diferentes contextos. Um problema ficou não solu-
cionado de forma inteiramente satisfatória até o presente mo-
mento: é o da transformação de um espaço topológico abstrato
- um vetor de interdependência econômica - em um espaço
geográfico. Por igual ficou não resolvido o problema da medida
em que uma interdependência estrutural-setorial é capaz de gerar
numerosas ligações "forward" e "backward". Lasuen, um dos eco-
nomistas espaciais mais atuantes no assunto, procura desenvolver
no seu artigo as idéias originais de Perroux, dando as mesmas o
seu sentido inicial, de espaço econômico abstrato, para daí retirar
sugestões sobre linhas a seguir em diferentes contextos.
A sua preocupação inicial foi voltar a idéia de espaço topoló-
gico abstrato de Perroux em uma tipologia tríplice definida pelo
próprio Perroux:
1) espaço como área de planejamento das unidades de de-
cisão;
2) espaço como campo de forças atuando sobre as unidades
de decisão;
3) espaço como campo de objetos homogêneos. As dimensões
euclideanas de qualquer um desses espaços, acentua
Lasuen, variarão dependendo da decisão sob exame.
Lasuen extende-se, em um capítulo inteiro e longo, sobre o
problema de políticas de desenvolvimento regional, comparando e
discutindo estratégias para países desenvolvidos e em desenvolvi-
~ mento. O seu conceito de polarização e difusão organizacional-em-
presarial, por via de diminuição de distâncias intrafirmas (orga-
nizações multifirmas e multiprodutos) obviamente encontra mui-
tas justificativas de eficiência operacional, ao lado de numerosos
exemplos nos caminhos que o desenvolvimento brasileiro vai
seguindo.
Neste particular Lasuen diverge de Hirschman em sua tese
de alimentar os pólos existentes, na esperança de que eles se di-
luam, ao mesmo tempo que o aumento do poder de atração das
áreas subdesenvolvidas aumente a pssibilidade daquela diluição. A
sua tese, embora siga a linha básica de reforçar-se a estrutura da
região subdesenvolvida, é o sentido de que os esforços devem ser
orientados para o preenchimento das necessidades específicas das
empresas privadas e públicas, com vistas a sua localização na área
subdesenvolvida, de forma flexível, ao invés de "um conjunto fixo
de incentivos financeiros e físicos para todas as empresas". Capital,
crédito, treinamento de pessoal, etc. tem prioridades diferentes
para diferentes empresas e a "política destinada a atraí-las deve
aproveitar-se destas prioridades di{erenciais para aumentar sua
-20-
eficácia". Em suma Lasuen sugere que a ação sobre a estrutura
empresarial no sistema aumenta mais eficientemente a polariza-
ção (embora em um espaço topológico, não geográfico), enquanto
que uma política como a sugerida acima, de assistência à empresa,
pode levá-la à descentralização geográfica, sem diminuir sua
eficiência.
Lasuen não acredita que a simples mobilidade dos fatores de
produção (especialmente via migrações) realize a tarefa, pois esta
mobilidade pode gerar ofertas de mão-de-obra tão numerosa e ba-
r ata nos grandes centros metropolitanos, que o mecanismo de "fil-
t r agem" de indústrias para a hierarquia abaixo ou para outras
regiões jamais terá condições de funcionar, pois os grandes centros
metropolitanos tendem a atrair mais migrantes que sua capacidade
de gerar empregos e os tetas salariais, capazes de expulsar indús-
t rias menos sofisticadas, nunca são atingidos. Recorde-se que Berry
chama atenção para o mesmo problema, embora tanto um como
outro descartem logo a idéia de conter artificialmente ou compul-
sivamente o fluxo migratório.
Semelhantemente a Lasuen, Niles Hansen tem sido um dos
persistentes estudiosos do problema de pólos e suas repercussões
em um contexto regional. Um dos mais recentes livros editados
em torno do problema foi coordenado por Hansen, 3 no qual o
tema central se desenvolve em torno do conceito de que "uma
estratégia de centros de crescimento é proposta, baseada em cida-
des de tamanho intermediário, porém associada a investimento
em recursos humanos nas regiões atrasadas" pp. XIV. Hansen
amplia esta observação com uma menção ao problema tão dis-
cutido de economias e de economias de escala associadas às cidades
grandes. Neste ponto ele acentua a necessidade de se verificar se,
a cidade que se considere muito grande, as deseconomias externas
marginais atingiram ou não o nível concomitante de economias
externas marginais. O problema crítico, diz Hansen, é avaliar se
produto social marginal resultante dos dois valores seria maior
u não em uma localização alternativa, quer dizer em uma cidade
menor, de tamanho intermediário.
Este problema tem uma enorme importância no Brasil, onde
todo o sistema urbano nordestino apresenta uma profunda defi-
ciência em termos de rede de cidade médias e média-grandes,
em que apreciáveis economias de escala já estejam presentes, por-
tanto capacitando-as a acelerar o processo de desenvolvimento. Na
realidade as poucas que existem são as capitais estaduais (além
das metrópoles regionais), além de Campina Grande, Caruaru e
Feira de Santana (cidades com mais de 100 mil habitantes), en-
quanto só o Estado de São Paulo tem 18 das 60 distribuídas pelo
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país inteiro. O crítico do problema é que uma alternativa para
localização de atividades produtivas, que dependem de economias
de escala, no Nordeste, fica restrito às capitais dos Estados e me-
trópoles regionais, e uma cidade na Bahia, uma em Pernambuco
e outra na Paraíba, o que representa muito pouco em termos de
alternativas de descentralização. Só o Estado do Rio Grande do
Sul tem seis cidades de mais de 100 mil habitantes para 3,5 milhões
de habitantes urbanos, enquanto o Nordeste inteiro tem cerca de
12 milhões de habitantes urbanos (para as 3 mencionadas cidades
de mais de 100 mil habitantes), 3,5 milhões dos quais nas três
metrópoles de Recife, Salvador e Fortaleza.
Um dos problemas mais importantes na formulação de teorias
de natureza explanatória do processo espacial-econômico é o de
sua própria natureza determinística ou probabilística. Desde Chris-
taller as principais teorias de localização e espaçamento de núcleos
urbanos têm sido de natureza mecanista-determinística, apoiada
de um lado nas simplificações da teoria de localização (otimização
da decisão de procurar um bem ou serviço, igualização da demanda
-e custos, preferências etc., tudo enfim no contexto de modelos de
equilíbrio); de outro lado nas noções de uma hierarquia urbana,
,que se reflete nas funções exercidas progressivamente mais com-
plexas.
Vários geógrafos procuraram desenvolver modelos probabilís-
ticos de sistemas de localidades centrais, desde Leslie Curry, 4
Richard Morril 5 ou Gunnar Olsson 6 cujo artigo transcrevemos
neste volume. Ele nasceu da insatisfação inicial com o sistema
hexagonal-determinístico de Christaller, ao mesmo tempo em que
·os modelos estocásticos foram se desenvolvendo nas outras ciências
sociais.
Gunnar Olsson, seguindo a linha metodológica de Michael
Dacey 7 utiliza modelos de distribuição de pontos, segundo dife-
tentes leis de probabilidades (as mais freqüentes são a Poisson,
e as da família de distribuições do tipo contágio, como a Binomial
·Negativa).
. O artigo de Olsson é particularmente significativo na medida
em que representa uma revisão crítica de todos os estudos reali-
zados, tendentes a substituir as concepções determinísticas ligadas
aos modelos de localidades centrais, por concepções probablísticas;
(4) Curry, Leslle- Central Places ln the Radom Spatial Economy - Urban Economlcs.
Ed. By W!lllan Leahy, David L. McKee, R. D. Dean - The Free Press, New York - 1970.
(5) Morr!l, Richard - Mlgratlon and Spread and Growth of Urban Settlement -
Lund Studles ln Geog raphy, Série B - Models ln Geography. Ed. By Rlchardd J. Chor-
ley, P . Maggett - Flrst Publlshed ln 1967 By Methuen and co. LTD .
(6) Olsson, Gunnar - Central Place Systems, Spatlal Interactlon, and Stochastic
Process.
- Urban Economics Ed. By W!llian H. Leahy, David McKee, Robert D. Dean - The Free
Press, New York - 1970.
(7) Dacey, Michael - An Emp!rical Study of The Areal Dlstribution of Houses ln
Puerto Rico - Institute of British Geographers Transactlons n.o 45 - Septembre 1968.
-22-
e aí ele avança desde a derivação de um modelo probabilístico
gravitacional até a análise da distribuição de um sistema de cida-
des pelo seu padrão espacial, em termos de pontos distribuídos em
u.ma superfície. A técnica tem sido utilizada na ecologia vegetal,
com o propósito de mapear distribuições observadas em distribui-
ções matemáticas do tipo Poisson ou outras da família das distri-
uições do tipo contágio, e com isso buscar um entendimento do
mecanismo de difusão de espécies. Aplicada à Geografia Urbana
ela pode ser aplicada para estudar o processo de difusão, em seus
termos genéricos, que tenha levado a uma distribuição de cidades
numa determinada área.
Ficou bem evidenciado, pelo rápido comentário do conteúdo
destes últimos textos, que um problema importante é o de deli-
mitar as regiões servidas por um determinado centro urbano, qual-
quer que seja sua hierarquia. Os dois últimos artigos destas séries
referem-se a este problema, para o qual duas soluções são apon-
tadas. O primeiro dos artigos, e mais antigo, é de autoria de
Nystuen e Dacey e usa os conceitos da teoria dos grafos para esta-
belecer sua metodologia. O segundo de Brown e Holmes adota uma
metodologia bastante diferente (Cadeia de Markov), e deriva uma
distância não euclideana entre pares de lugares, utilizando para
isso uma estatística gerada no algoritmo mencionado (o Tempo
Médio de Primeira Passagem), e que em última instância repre-
sentaria a distância percebida, pois sendo uma medida de distância
elativa entre um lugar e outro, esta medida é tomada como sendo
em função das probabilidades de transição para todos os lugares
o sistema.
A contribuição de Dacey e Nystuen é particularmente im-
portante porque utiliza uma metodologia que permite o aproveita-
mento de informações do tipo binário (um lugar está relacionado
a outro ou não) para, a partir daí e por via de processos de poten-
ciação da matriz, derivar uma série de medidas posteriores de co-
nectividade, hierarquia etc. Tendo sido uma das primeiras contri-
buições a usar os conceitos da teoria dos grafos, deu margem a am-
pliações posteriores, de modo que hoje se dispõe de uma mais
variada capacidade de gerar índices e estatísticas para determina-
ção e melhor avaliação das posições relativas de lugares, no con-
texto dos sistemas a que pertecem. No Departamento de Geografia
do IBGE, já hoje, começam a ser utilizados numerosos índices
deste tipo para análise do sistema urbano, sua conectividade, po-
sição relativa dos lugares no sistema, todas de suma importância
para melhor conhecer o sistema urbano do país.
A contribuição de Brown e seus associados a partir de uma
matriz estocástica, introduz uma concepção nova e diferente à
função distância, ao mesmo tempo que introduz uma diferencia-
ção entre regiões nodais e funcionais, a primeira um caso particular
da segunda, pois lhe é subordinada em termos de hierarquia.
-23-
As pesquisas novas cujas perspectivas a metodologia de Brown
abrem no campo das relações entre os lugares, constituem real-
mente um passo adiante nos estudos de regiões funcionais e nodais.
Embora o esforço principal na preparação desta coletânea te-
nha sido o de dar ao leitor uma visão ampla de urbanização e
regionalização nas suas relações com o processo de desenvolvi-
mento, ele pretende, com igual vigor, estimular pesquisas no Brasil
relativas a estes problemas. A intensa urbanização brasileira está
clamancl.::> por estudos mais e mais completos sobre seu sistema
urbano e características regionais do mesmo, ao lado da medida de
sua adequação nacional e regional ao harmônico processo de desen-
volvimento. Ao mesmo tempo a questão crucial de indução do
desenvolvimento, que traz imediatamente à baila a questão de pólos
de desenvolvimento, constitui, possivelmente, tanto no terreno
teórico como no pragmático de sua eventual aplicação, o proble-
ma mais crítico a ser encarado pelos próximos planos de desen-
volvimento. A medida que vai se tomando consciência de que as
alternativas locacionais de investimento podem aumentar a efi-
ciência dos mesmos, por via de um conhecimento mais qualificado
das relações economias e deseconomias de escala a diferentes níveis
de tamanho de cidades e de regiões, a idéia de um plano nacional
de desenvolvimento urbano vai sair das concepções teóricas de um
número reduzido de técnicos, para o exame dos formuladores dos
planos gerais de desenvolvimento. Aí possivelmente se abrirá, aqui
também, o debate entre os tradicionalistas e modernizadores que
Brian Berry tão bem descreveu (não em termos acadêmicos, pois
que neste nível ele já existe), mas ao nível do planejamento na-
cional. Por isso mesmo a idéia de um segundo volume seguindo-se
a este, tratando mais particularmente de problemas brasileiros, é
uma idéia presente.
-24-
BRIAN BERRY
(1) Este volume (33) Inclui trabalhos de revisão por historiadores, geógrafos, cien-
tistas, políticos, sociólogos, economistas e outros (obs. ref. folha 1).
( 2) Ackoff ( 1) desenvolve esses termos.
-27
Qualquer teoria científica compreende logicamente duas par-
tes: a) simples generalizações indutivas tiradas de fatos observá-
veis do mundo e b) construções lógicas abstratas. ~ a coincidên-
cia das deduções tiradas das construções lógicas e das generaliza-
ções indutivas feitas a partir dos fatos que torna válida uma
teoria científica.
Hé dez anos atrás os estudos urbanos estavam numa situa-
ção de dilema: ou existiam generalizações indutivas ou elabora-
ções lógicas, sendo as primeiras elaboradas mais comumente por
geógrafos urbanos e as últimas por economistas urbanos. Como a
palavra "modelo" estava em voga, ambos denominaram seus pro-
dutos de modelos, mas nenhum deles possuía verdadeiros modelos
de teorias no preciso sentido da palavra.
A importância da última década foi o encontro das duas
através da ciência regional. Além disso, o encontro se realizou
quando os métodos de análise quantitativa, facilitados pelo rápido
desenvolvimento da tecnologia do computador, iniciavam uma
revolução tecnológica que provocou profundas transformações em
todas as ciências. Que mudança mais impressionante poderia ha-
ver do que uma que facilitasse os estudos em larga escala con-
duzentes à especificação da força da convicção nas generalizações
indutivas, que permitisse o exame objetivo do grau de coincidência
entre as generalizações indutivas e as deduções de construções
lógicas, e que facilitasse a replicação?
O avanço tecnológico significou algo mais, entretanto a
virtual eliminação da antiga grande lacuna existente entre a
formulação dos problemas e a~.. avaliação dos resultados, o aperfei-
çoamento das questões formuladas, o início e a conclusão de
experiências de dimensões inimagináveis sob as condições técnicas
anteriores e muitas outras coisas mais.
O encontro, então, foi oportuno. As generalizações indutivas
puderam ser encaminhadas em direção à teoria, as construções
lógicas puderam ser comparadas com o último teste da realidade,
e novas formas de empiricismos e de experimentações puderam ser
desenvolvidas. Estes são os três caminhos debatidos nas seções
seguintes deste trabalho. São apresentados exemplos, mais sob for-
ma expositiva do que de uma maneira rigorosa, já que cada um
deles foi elaborado em outros trabalhos. As conclusões deste tra-
balho são de que os modelos urbanos são da mesma espécie da-
queles usados em outras pesquisas sobre sistemas. A teoria urbana
deve ser encarada, portanto, como um aspecto da teoria geral de
sistemas. Os caminhos viáveis para a futura pesquisa urbana po-
deriam, portanto, ser identificados pela aceitação daqueles outros
aspectos da teoria geral de sistemas, que estão relativamente bem
adiantados para verificar como eles alcançaram esta posição mais
desenvolvida.
-28-
1. GENERALIZAÇõES INDUTIVAS A PROCURA
DE UMA TEORIA
Duas das mais conhecidas generalizações interessando cidades
são a relação tamanho-hierarquia para conjuntos de cidades, e a
relação inverso-distância para densidades demográficas dentro de
cidades. Ambas foram muitas vezes estudadas e formalizadas há
ez anos ou mais como "regras" empíricas, a primeira sob o nome
e "regra tamanho-hierarquia" por G. K. Zipf e a segunda sob
nome de "função exponencial negativa" por Colin Clark.
Contudo, como observou Isard em 1956, "O quanto a regra
tamanho-J:üerarquia pode ser considerada válida e universal é, neste
estágio, uma questão de opinião e julgamento individual". 3 Além
isso, embora Clark argumente que a regra exponencial negativa
"parece ser verdadeira para todos os lugares e tempos estudadús"
ele não fornece nenhum raciocínio teórico para suas observações,
tendo apenas especificado que elas poderiam ter algo a ver com
os custos de transporte. 4 Durante a última década, ambas as
·eneralizações indutivas foram elevadas para mais perto do
"status" de modelos científicos, tendo sido cuidadosamente especi-
ficado o alcance de sua validade.
-29-
Yule possuem a mesma forma de J invertido, tendo cada uma
delas uma semelhança geral através de suas assimetrias. Cada
qual é, na verdade, a distribuição de quase-equilíbrio de um sim-
ples processo estocástico similar. Poderiam as regularidades tama-
nho-hierarquia das cidades ser também resultantes de um tal pro-
cesso estocástico? A essência dos argumentos apresentados na
última década é a de que os processos estocásticos realmente pro-
duzem tal estrutura, e tanto a distribuição de Yule quanto a log-
normal foram propostas como a base das regularidades tamanho-
hierarquia. 7 Na verdade, ambas são tão semelhantes que qualquer
das duas poderia ocorrer, quando da distribuição cumulativa de
cidades por tamanho, formando uma linha reta no papel de pro-
babilidades lognormal. A aplicabilidade de uma ou de outra ao caso
particular dependerá do sistema de cidades estudado, se fechado ou
se em expansão.
Consideremos a matriz de transição de um processo estocástico
na qual as fileiras e colunas estejam especificadas por grupos de
tamanho de cidades. Se a densidade da função probabilidade de
cada classe de cidades é aproximadamente a mesma, 8 então o
quase-equilíbrio do processo estocástico será lognormal se o con-
junto de cidades existentes ao iniciar-se o processo for o mesmo
até o fim, realizando o quase-equilíbrio. Se, contudo, a menor cate-
goria de tamanho for acrescida de novas cidades numa taxa de
quase constância durante todo o processo, o quase-equilíbrio será
o da distribuição de Yule.
Se se pode dizer que o crescimento de cidades dentro do con-
junto ocorre sob a forma de pequenos incrementos independentes,
com as mesmas possibilidades de crescimento para cada categoria
de tamanho (o crescimento é o resultado de "muitos fatores ope-
rando de muitas maneiras" e ocorre de maneira tal que, se os
tamanhos das cidades para o período de tempo "um" são "plotados"
contra os tamanhos para o período de tempo "n", a resultante
dispersão de pontos é homoscedástica com uma inclinação de + 1),
então pode-se dizer que as condições básicas para esse processo
estocástico foram satisfeitas.
Uma ou outra restrição conduz ou ao lognormal ou ao Yule,
no primeiro caso um sistema fechado de cidades deve existir, ao
passo que no último caso o sistema deve crescer a uma taxa uni-
forme pela adição de cidades no nível mais baixo.
Um recente estudo mostra que a regularidade tamanho-hie-
rarquia se aplica por todo o mundo tanto nos países muito desen-
volvidos, com alto grau de urbanização, quanto em grandes países,
e mesmo em países como a índia e a China que, além de grandes,
17) Simon (48). Berry e Garrlson (7) , Thomas (49). Dacey (25) e Ward (51).
(8) Isto é , o que sustenta a "lei de efeito proporcionado".
-30-
possuem antiga tradição urbana. Ao contráriO), prevalecem as
"cidades primazes" ou com determinado grau de primazia se um
país é muito pequeno, ou possui uma "economia dual". 9
Além disso, estudos adicionais demonstraram recentemente
q e muitas distribuições com algum grau de primazia tomam
cada vez mais uma forma de "tamanho-hierarquia" à medida que
o nível de desenvolvimento e o grau de urbanização aumenta. 10
Assim, por via do tamanho e da complexidade, os países com dis-
tribuições tamanho-hierarquia parecem satisfazer a condição de
"muitos fatores operando de várias maneiras", e a crescente com-
plexidade de uma economia espacial certamente trás a distribui-
ção de tamanho de cidades mais próxima da forma tamanho-hie-
rarquia.!J A regularidade tamanho-hierarquia não é encontrada
quando oucos fatores moldam o sistema urbano de alguma ma-
neira simples: em pequenos países, onde as economias de escala
se concentram em uma única "cidade primaz"; ou em "economias
{ duais" onde uma ou algumas cidades exógenas e coloniais de
grande porte são superimpostas sobre um sistema urbano indígena
l
constituído por localidades menores etc. Em tais casos, os padrões
de crescimento não podem ser resumidos sob a forma de um
processo estocástico da espécie simples acima delineada. 11(Fara
todos os sistemas grandes e complexos de cidades existenf~s no
mundo, entretanto, os padrões agregados de crescimento ajustam-
se a tal processo estocástico, de modo que a característica macros-
cópica desses sistemas é a regularidade tamanho-hierarquia das
dimensões de cidades. A regularidade pode, por sua vez, ser "expli-
c da" 12 pelo processo estocástico.
1 n dx = 1n do - bx (4)
-31-
Alonso e Muth forneceram uma "explicação" 14 satisfatória da
regularidade recentemente observada em termos aluguel-trans-
porte - custo - termos de troca de indivíduos em diferentes
estágios do ciclo familiar em níveis diferentes de renda e a dis-
tâncias diversas do centro da cidade. 1 5 Portanto, o que Clark havia
especulado como tendo algo a ver com custos de transporte quando
previu, há uma década atrás, a regularidade, na verdade o tem.
Aparentemente, a função competição/ aluguel é mais acentua-
da para o mais pobre de qualquer par de domicílios de padrões
iguais na cidade americana. Assim, o pobre vive perto do centro
da cidade em terreno caro e utilizando muito pouco dele e o rico
vive na periferia consumindo muito. 16
A forma exponencial negativa do decréscimo provém da natu-
reza da função de produção para moradia e da forma da função
preço-distância. 17 A expressão (3) é pois uma equação de certa
generalidade que pode ser derivada como uma implicação lógica
da teoria de mercado das terras urbanas.
Isto posto, pode-se tirar várias conclusões. Por exemplo, a
população que reside a uma distância m do centro da cidade é
(5)
que se torna
(6)
Isto significa que o padrão de população de uma área urbana
poderia ser descrito por dois parâmetros apenas, b e d 0 • Winsbo-
rough chamou a primeira de medida da "concentração" da popu-
lação da cidade e a última de índice de seu "congestionamento". 18
Ora, para qualquer conjunto de cidades e para qualquer
determinada cidade através do tempo, uma outra expressão em-
pírica sustenta que 19
b = ap -c. (7)
Assim, b é , por sua vez, uma função do tamanho da cidade. A den-
sidade central, d 0 , parece ser, por outro lado, uma função da forma
da cidade tal como ela se definiu naquela fase especial na qual
ela cresceu e assim está diretamente relacionada com a idade da
-32-
idade. 2° Conhecendo-se a população de uma cidade e a sua idade, r
-33-
Naquela época, embora muitos estudos emp1ncos de locali-
dades centrais houvessem sido efetuados, o fato de não ter sido
feito nenhum teste satisfatório da teoria, demonstra, à saciedade,
que os pesquisadores procuravam exemplos de implicações teóricas
simplesmente inferidas para exemplificação por Christaller, na
pressuposição de uma planície isotrópica.
Houve também cerrados debates sobre se algumas das inferên-
cias teóricas mais fundamentais, como por exemplo, a da hierar-
quia das localidades centrais, possuiam qualquer validade empí-
rica. Foi somente nesta última década que tais questões foram
solucionadas. Uma revisão completa da maioria dos aspectos deste
assunto pode ser encontrada no "Central Place Studies". "A Biblio-
graphy of Theory of Applications", a primeira da série bibliográfica
do Instituto de Pesquisa de Ciência Regional (Regional Sclence
Research Institute); por isto ela não será repetida aqui. 24 Poste-
riormente à "Bibliografia", os vários postulados da teoria foram
fundidos em um modelo. Como este modelo parece ter alguma
generalidade (as inferências do modelo, por exemplo, foram veri-
ficadas independentemente) ele será aqui apresentado a seguir. 25
O modelo se aplica aos sistemas de localidades centrais nos
quais os elementos são vistos agregadamente. Contudo, um con-
junto de desigualdades suplementa o modelo, e essas expressões
empiricamente derivadas unem os padrões agregados à organiza-
ção regional das localidades centrais sob condições específicas de
densidade populacional, ao especificar expectativas para os graus
hierárquicos da localidade central. As variações aleatórias dos pa-
drões de graus ideais das localidades centrais, em uma série de
áreas locais, combinada com as mudanças lógicas na localização
dos graus ou etapas de acordo com a densidade de população, inte-
ragem para produzir as regularidades que podem ser observadas
no conjunto.
As definições, igualdades, equações estruturais e deduções do
modelo seguem sem maiores comentários.
Pt população total servida pela localidade central
Pc população da localidade central
P,. população rural e população dos centros de níveis mais baixo
servidas pela localidade central
A área da área comercial servida
Qt densidade demográfica da área servida
Qr densidade demográfica daquelas partes da ár'ea servida que
estão fora da localidade central
(24) Ibld.
(25) Vide (10) e (14).
-34-
T número de funções centrais desempenhadas pelo centro, e
como as funções centrais entram numa progressão regular
e podem ser classificadas de 1 . . . T em ordem decrescente
de ubiquidade, T é também a função central de mais alto
nível desempenhada pelo centro
E = números de estabelecimentos que fornecem os tipos T de
trabalho
Dm = a distância máxima que os consumidores viajarão para a
localidade central de tamanho T, ou o alcance da merca-
doria T.
l gualdades:
Pt = Pc + Pr (E1)
Pt = AQt (E2)
(E3)
A= KD';.. (E4)
A figura 1 mostra, em cinco diferentes áreas de estudo nos
Estados Unidos, 26 a igualdade (E2) . Em cada caso, a população
total e a área total servida tem uma relação positiva com uma incH-
ação + 1 para cima e para a direita no papel logarítmico duplo.
As diferenças entre as áreas de estudo são simplesmente uma fun-
ção das densidades populacionais.
Equações estruturais: 27
log Pc = a1 + bt T (1)
log Dm = a2 +b 2 T (2)
-35-
. lO'
REGIÕES-i~ f-'-'10"--+ ___.
2
OE TRIGO E
.. X
..
XxX
.
E
o
o
"~
X
o X XX :Xxx •':" •
"o
.c
E
X
.
:!
·« 10° C
LIMITE SUPERIOR OE
CENTROS COMUNITÁRIOS
~ 10°
o
...
-~ X
. .·::
X •• • •
•
X
URBANA (C HICAGO)
SUBURBANA (CHICAGO)
...
X
N CENTROS VIZINHOS o ZONA OE CEREAIS ( S.W. IOWA)
E
o * REGIÕES OE TRIGO ( S.DAKOTA)
"
~ IO.' L-------~---~~·--~------~-------r,~---
4 5 6
o 102 10 3 10 10 10
:!
·«.
Fig .la- Total de p opulação servida. Fig .i b.- Total de população servida .
DivEd'/ O· J.A.C.
Caracterfsticas da área de comércio grossista nos Estados Unidos. A figura lb mostra modelos de dados para as localidades centrais em
Chicago, subúrbios de Chica go e corn-belt do Sudoeste de Iowa e as "wheatlands" de Dakota do Sul. Os "sansages" na figura la circundam
o conjunto de pontos em cada caso acrescentando dados para a "cidade dispersada" do Sul de Illinois e o " rangelands" em red . 1.
Corolários: \
Pc Pf w-s Qt-s
W = K [log-t (qbi 1 (as - a1 bs)] (4)
s= Cb1) I (qbs)
IrA medida que a população total servida cresce, a população central
passa a assumir uma proporção crescente do total, mas esta ten-
._dência varia inversamente com as densidades de população.
onde A= WP~
-1
(5)
X= S
nde (6)
:og m= a; + b
3 log W
r~ número total de estabelecimentos varia exponencialmente tanto
LL.com o tamanho do centro quanto com as densidades populacionais.
Esta equação e equações estruturais similares e corolários já
foram verificados em vários estudos 28 e sumarizam razoavelmente
muitas das características agregadas do sistema de localidade cen-
tral. Cada um deles tem também implicações especiais dentro da
estrutura da teoria da localidade central, especialmente como foi
generalizada. Contudo, torna-se necessário um conjunto de desi-
gualdades em cominação com a figura 1 para ordenar os graus de
hierarquia da localidade central, tal como é encontrada nas áreas
locais em diferentes níveis de densidade. Essas desigualdades fo-
ram fixadas empiricamente pela análise fatorial da estrutura fun-
cional da localidade central em cada uma das várias áreas de
estudo, para determinar individualmente a hierarquia dentro de
cada uma daquelas áreas e, então, pela inesperada descoberta
e que os limites de cada um dos níveis variam, consistentemente,
ao longo do conjunto de áreas estudadas ao variarem as densi-
dades populacionais. Com o segundo subscrito "V" referindo-se às
vilas, o "t" às cidades pequenas e o "c" às cidades grandes, essas
desigualdades são:
log Atv .:::; 10.4 - 26.7 log Pt (11)
log Au,:::; 9.3 - 2.067 log Pt (12)
Jog Ate ,:::; 22.25 - 4. 79 log Pt (13)
(28) Vide (10) e estudos subseqüentes ainda nâo publicados por Karaska, Pitts,
Murdie e outros.
-37-
Elas foram inseridas na figura 1 e, no caso do estudo da área do
"corn belt", as observações individuais foram identificadas como
foram classificadas na análise fatorial. 29
-38
foram desenvolvidos neste contexto: 34 o conceito de crescimento
rbano de Hurd segue dois padrões, o crescimento central e o cres-
cimento axial; a hipótese de Burgess sobre as zonas concêntricas
da localização por tipos de áreas residenciais, provindo da natureza
de um processo de crescimento que continua para fora do centro
da cidade, acompanhada por ondas de invasão e sucessão resi-
dencial; a ênfase de Hoyt sobre o crescimento axial de vizinhanças
de maior renda fora do centro da cidade ao longo de algum setor;
e as noções de Harris e Ullman de múltipla nucleação da cidade.
Tanto os analistas de áreas sociais quanto os seus críticos 3 5
salientaram a dificuldade em testar essas hipóteses com a grande
variedade de dados socioeconômicos disponíveis, por exemplo,
através dos censos. Quais as variáveis que deveriam ser usadas
no teste? Será a história contada por variáveis diferentes, embora,
presumivelmente relacionadas à mesma? Quais são, na verdade,
as histórias contadas sobre a estrutura e as diferenciações de vizi-
nhanças urbanas pela ampla variedade de danos censitá rios dis-
poníveis?
A análise fatorial pode trazer as respostas para as perguntas
deste último tipo. Revisemos as características básicas do método.
Consideremos uma matriz , X,n de dados na qual estão registrados
os dados de n observações (digamos, zonas de censo) sobre m
variáveis. Se os vetores da coluna de X são normalizados e estan-
dardizados para produzir .,Z,. então Z 1Z = , R ,. que é, natural-
mente, a matriz de correlação das m variáveis. Já que os vetores
da coluna de X foram estandardizados, R é a matriz de variância-
covariância de Z, e o traço de R, sendo igual a m, é a variância
total das m variáveis.
Suponhamos agora que se faça uma regressão de cada uma
das m variáveis sobre as m- 1 restantes. Surge então, para cada
uma delas, um coeficiente de determinação que expressa quanto
de sua variância é mantida em comum com as outras m- 1 variá-
veis; na análise fatorial esses coeficientes de determinação são
denominados comunalidades, e designados por h 2 • Para cada variá-
vel, então, em sua forma estandardizada 1 . O - h 2 = u 2 é a pro-
porção de variância única para a variável. Uma matriz diagonal
U 2 pode assim ser formulada com os u 2 s individuais ao longo da
diagonal. Segue-se que [R - U 2 ] tem comunalidades em sua dia-
gonal e o traço de [R - U 2 ] é a variância total comum das m
variáveis. Esta variância total comum mais o traço de U 2 é igual
a m, a variância total.
-39-
A análise fatorial proporciona um procedimento por meio do
qual a matriz ,nTr pode ser encontrada, de tal modo que
[R- ue] = AA 1 (1)
A 1A =A (2)
O produto decimal de cada vetar da linha de A fornece uma das
comunalidades, e o produto interior de qualquer par de vetares
de linha fornece a correlação. A é uma matriz diagonal, o que
subentende que os produtos internos dos pares de vetares da coluna
de A são iguais a zero. Assim, esses vetares são ortogonais (sem
correlação). O produto decimal de cada coluna de vetares produz
um "eigenvalue" (raiz característica) À. Já que a soma dos
"eigenvalues" deve ser igual à soma das comunalidades, esses
"eigenvalues" representam um outro modo de distribuir a variância
total comum, umas (comunalidades) relativas à quantidade da
variância total comum obtida pela associação de qualquer uma das
variáveis com todas as outras variáveis os outros ( (eingenvalues)
relativos àquela parte do total atribuível a um dos vetares da
coluna de A.
Esses vetares da coluna independente são os fatores da aná-
lise fatorial, constituindo as dimensões principais de variação a
base para o grupo original das m variáveis.
Os elementos individuais de A são cargas fatoriais, coeficien-
tes de correlação entre as variáveis originais e cada uma das di-
mensões comuns básicas. A propriedade de ortogonalidade das di-
mensões é útil, porque ela significa que cada uma das dimensões
explica uma diferente parcela da variança comum, parcelas essas
que são aditivas em qualquer reconstrução do todo; essa aditivi-
dade não é uma propriedade das m variáveis originais intercor-
relacionadas. Cada dimensão, então, resume um padrão de variação
(uma das estórias contadas) das m variáveis originais. Uma pró-
xima etapa de muita utilidade será formar
(3)
-40-
constante, uma alta correlação com a renda, a educação, a ocupa-
ção e a riqueza. Um segundo fator relacionava-se com a estrutura
familiar, ferti.lidade, tipos de famílias e posição da mulher na
mão-de-obra.
E um terceiro fator, finalmente, estava associado com a estru-
tura étnica e racial da população, composição de idade e sexo e
medidas de deterioração. As especulações sobre o significado
dessas regularidades conduziu os analistas de área social a identi-
ficar o primeiro como retratando variações na "hierarquia social"
de indivíduos e famílias, o segundo como retratando variações na
"urbanização" ou "status de família" de vizinhança e o terceiro
como resultante de "segregação". Os escores fatoriais dos se-
tores estatísticos nessas três dimensões poderiam ser usados para
caracterizar vinzinhanças, já que as três dimensões parecem ser
as responsáveis pelas características básicas da estratificação e
diferenciação urbanas.
Se a última afirmação for verdadeira, então as três dimensões
deveriam permitir aos pesquisadores testarem alguns dos conceitos
clássicos relativos a essa estratificação e diferenciação urbana. Um
primeiro estudo nesse sentido revelou que os escores fatoriais de
setores estatísticos com relação a posição social são diferenciados
em uma forma setorial, da maneira como eles a deveriam ser, caso
s conceitos de Hoyt se aplicassem, e que os escores fatoriais de
urbanização e status de família são diferenciados em uma forma
concêntrica, da maneira como eles a deveriam ser, caso as idéias
de Burgess fossem válidas. 36 Contudo, as variações espaciais na
egregação não apresentam regularidades, mas são específicas para
cada caso. Assim, como Hurd já havia especulado muito anterior-
mente, os padrões concêntricos e axiais são fontes aditivas inde-
pendentes de diferenciação urbana de cidade para cidade, com
variações espaciais específicas para cada cidade adicionada pela
terceira dimensão de segregação.
É claro que, embora os analistas de áreas sociais tenham ini-
ciado apenas com uma visão panorâmica do assunto, com sua
t arefa ulterior facilitada pelo adiantamento da tecnologia de
computadores, seus trabalhos agora lançaram as bases de um mo-
elo espacial do padrão socioeconômico interno de cidades nas
quais a relevância e o papel dos conceitos tradicionais estão bem
claros. 37
-41-
e caracterizados pelas mesmas generalizações, elaborações e mo-
delos. A "Teoria Geral de Sistemas" fornece uma estrutura para
uma pesquisa sobre a natureza dos sistemas; na verdade Boulding
a denomina de "esqueleto da ciência". Além disso, a "teoria da
informação" veio à tona como um dos fundamentos da teoria geral
de sistemas, contribuindo com os dois conceitos complementares
de "entropia" e "informação" para o vocabulário da pesquisa geral
de sistemas. 38
A entropia é alcançada no estado de quase equilíbrio de um
processo estocástico e atinge seu ponto máximo se este processo
não sofre restrições. A informação é a medida da ordem existente
se algumas pressões sistemáticas para organização causam restri-
ções à operação do processo estocástico.
Curry 39 mostrou que dados Z povoados, nos quais Zi tem uma
população i, o número de maneiras pelas quais a população pode
ser distribuída pelos povoados é
p = :z!
z 1 1 =o
t
(O ~ i ~ n) (1)
(4)
caso no qual
Emax = Z log (eN) (5)
Vale a pena anotar algumas das contribuições tornadas possíveis pela análise fatorial:
(a} tipologias urbanas mais gerais (40}; (b} evidência bem definida da hierarquia das
localidades centrais como um sistema aditivo de classe (10}, (14}; (c} regionalização
multi variada (31} e (d} estrutura metropolitana (32}.
(38} Bertalanffy (16}, (17}; Boulding (19}; e Beer (4}.
(39} Curry (23}. Outros casos por ele examinados são o espaçamento dos mais
próximos vizinhos, vide também Dacey (24}, o espaçamento dos mais próximos vizinhos
do mesmo tamanho e a porcentagem da indústria na mão-de-obra urbana.
-42-
que seja a proporção dada da q-ésima cidade é uma constante. Sob
essas condições, a soma dos logarítimos é um máximo e, natural-
mente, esta é a condição satisfeita quando prevalece a regra para
as idades tamanho-hierarquia. Se o sistema de cidades apresenta a
relação tamanho-hierarquia, então a entropia foi maximizada e o
estado de equilíbrio é o mais provável. 40
Por outro lado, a organização existe devido a pressões para
ordem nos sistemas de localidades centrais. Se a variação per-
centual em estabelecimentos nas localidades centrais for constante,
a cada adição de novos tipos de negócios, então 41
dE/E dT = [( (6)
que integrando-se produz
log E = K 1 T + c1 (7)
Se existem taxas percentuais similares para os tamanhos das loca-
lidades centrais Pc, então
log Pc = Ks T + C2 (8)
da equação acima
T = K 1 log E - C1 (9)
T = K2 log Pc - Cs (10)
agora a equação
1 = K log (número de estados) (11)
foi identificada como uma medida de negentropia macroscopiCa,
o inverso da entropia. Segue-se daí que o número de negócios de
tipo T é um índice da quantidade de informações presentes em um
conjunto de estabelecimentos localizados nas localidades centrais
ou da população daquelas localidades. Isto é consistente com a uti-
Lização de tipos de funções para identificar e classificar a hierar-
quia da localidade central. Muitas tentativas foram feitas para
avaliar a "centralidade das localidades centrais. Pareceria que mui-
tos tipos de negócios, conteúdo de "informação", fornecem um tal
índice. o sudoeste do estado de Iowa foram verificados elevados
níveis de ajustamentos às equações (9) e (10)
T = 55.56 log E - 58 (r 13 = 0,96) (12)
1
T = 50.00 log Pc- 105 (r - 0,91) (13)
(40) Curry esclarece que a entropia no mesmo sistema é restringida de tal forma que
as pessoas tem que ser ag rupadas em três, com famílias, seria H' = Z log(eN/ 3). Logo,
uma medida de ordem é R = J. - H' /Emax.
(41) Odum (44), Berry (11).
-43
indicando que onde os centros urbanos são quase que exclusiva-
mente localidades centrais, há necessidade de encontrar bases em-
píricas para esses argumentos. Verifica-se, imediatamente, que as
equações acima são compatíveis com aquelas anteriormente apre-
sentadas para os sistemas de localidades centrais. Losch e Chris-
taller pressupõem essas relações percentuais constantes também
com a adição de "níveis" à hierarquia regular (K = 3, K = 4,
K = 7 redes e suas implicações); deveriam entretanto existir
medidas correlatas de informação para a ordem encontrada na
natureza escalonada da hierarquia.
Não é difícil extender argumentos similares à situação den-
tro das cidades. 42 Por exemplo, as densidades populacionais urba-
nas fixam-se em um estado mais provável no qual as densidades
são ordenadas pela distância a partir do centro da cidade. De outro
lado, o modelo de sistemas de localidades centrais também se
aplica, indicando que alguns aspectos da vida urbana sofrem res-
trição para atingir seu estado mais provável.
Maruyama 43 especulou acerca de uma aparente contradição
da segunda lei da termodinâmica com os fenômenos sociais, in-
clusive aqueles relativos às cidades. De acordo com essa segunda
lei, um sistema isolado tenderá mais provavelmente para o seu
estado mais provável, mesmo que ele comece em um estado ino-
mogêneo. Ele salienta que a cibernética, o estudo do equilíbrio de
sistemas, considera muitos casos de auto-regulação de tal modo
que os desvios são neutralizados e o equilíbrio do sistema é restau-
rado, normalmente, um estado mais provável sob restrição. Pode-
mos, entretanto, citar muitos exemplos nos quais a regeneração
"não" conduz à autocorreção em direção de algum equilíbrio pré-
estabelecido (morfostase). Antes, um contraste progressivamente
maior aparece, como entre as "regiões ricas e pobres" de Myrdal,
ou com a centralização progressivamente maior das funções urba-
nas em um número menor de cidades maiores, ou quando o "cres-
cimento de uma cidade aumenta a falta de estrutura interna da
própria cidade", nas próprias palavras de Maruyama. Todos são
ex'emplos de processos "amplificadores" de desvios (morfogênese)
que contrariam a segunda lei.
Se um sistema tende ou não para a entropia máxima porque
os processos em ação corrigem desvios, ou para a informação má-
xima porque os processos ampliam desvios, e portanto estruturas,
isto aparentemente depende da natureza das relações causais em
ação e de suas características de "feedback". Maruyama conclui
que qualquer sistema junto com o subsistema no qual pode estar
subdividido, contém muitos exemplos tanto de processos corretores
-44-
e desvio quanto de processos amplificadores de desvios. Um sub-
istema pode estar se tornando mais organizado, um outro pode
estar se aproximando de seu estado mais provável. Para en-
tender um sistema como um todo é necessário que cada um dos
ubsistemas seja entendido, assim como os seus inter-relaciona-
Jnentos. 44
Assim é no campo urbano. É claro que as cidades podem ser
consideradas como sistemas; entidades compreendendo elementos
interagentes interdependentes. Eles podem ser estudados em níveis
ariados, estrutural, funcional e dinâmico, e eles podem ser subdi-
vididos em uma variedade de subsistemas. A parte mais imediata
do ambiente de qualquer cidade são as outras cidades, e os con-
juntos de cidades também constituem sistemas para os quais se
aplicam todas as afirmações precedentes. Para sistemas de cidades,
o ambiente mais imediato é a estrutura socioeconômica da qual
eles são parte.
Embora tenha havido progressos no entendimento das várias
facetas desses sistemas e subsistemas, no que diz respeito a outros
aspectos, estamos aproximadamente no mesmo ponto que há dez
nos atrás. Em uma estrutura de sistemas, não devemos mais nos
preocupar com as contradições aparentes entre as espécies de con-
clusões encontradas para diferentes subsistemas (isto é, entre a
distribuição dos tamanhos de cidade e a organização funcional de
centros comerciais em hierarqua), já que a diferença é entendida
como relativa ao equilíbrio de processos que se aproximam da
entropia ou processos geradores de ordem em várias partes do sis-
tema. Por outro lado, entretanto, temos um conhecimento dema-
siadamente pequeno de como agrupar esses diferentes padrões em
modelos mais gerais de mais amplo alcance. Os modelos bem fun-
damentados estão fornecendo as pilastras para a edificação, mas
o progresso máximo durante a próxima década aguarda um es-
forço sistematizador arquitetural.
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-45-
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Regional Science, 1963. CSection 13 of this volume).
-47-
BRIAN BERRY
El;te artigo foi transcrito de Urban Economics: Theory, Development and. Plann!ng,
pp, 157-176, Free Press, N. York, 1970, 339 p.
Nos países em desenvolvimento e especialmente no sul e su-
deste da Asia uma disputa conceituai relativa ao papel das cidades
no desenvolvimento econômico divide os urbanistas e planejadores
em dois grupos, os "modernistas" e os "tradicionalistas".
O ritmo da urbanização nestes países, no último quarto de
século, tornou dolorosamente óbvias suas múltiplas deficiências
sociais quanto à dieta, habitação, saúde e higiene. A inquietude
das populações urbanas com estas deficiências aumentou com a
melhoria dos meios de comunicação que serviram para por em
evidência as discrepâncias entre as condições existentes e as que
poderiam ser alcançadas. Foi em conseqüência do aumento da
preocupação com às funções da sociedade de proporcionar o bem
estar que levou ao conflito entre os dois grupos formuladores
de política. Os modernistas alegam que é necessária a con-
centração contínua do crescimento econômico nas grandes
cidades para obter economias de escala e acumular externalidades
sob forma de custos indiretos e infra-estrutura social e econômica
porque estas, por sua vez, são os pré-requesitos do crescimento
subseqüente necessário para proporcionar os recursos exigidos para
superar às deficiências sociais. Os tradicionalistas que a eles se
opõe alegam que às deficiências são conseqüências das severas
eseconomias de escala - da concentração do crescimento e do
esenvolvimento em algumas cidades grandes e de altas densi-
ades de população, que a "primazia" das grandes cidades significa
' superurbanização", que leva a uma drenagem "parasítica" da
vitalidade da sociedade, e produz um estado contínuo de "hiper-
urbanização" que só pode ser combatido por estratégias de descen-
tralização deliberada.
O debate se concentra na forma da hierarquia urbana e nas
1elações das diferentes formas hirerárquicas com o crescimento
-51-
econômico. A "primazia" é entendida como condições sob as quais
às cidades maiores são "grandes demais", apresentando em con-
seqüência um "gigantismo" hidrocefálico maligno. Mas essas con-
clusões excedem os limites do conhecimento atual sobre às rela-
ções entre o tamanho da cidade e o desenvolvimento econômico.
As páginas seguintes são dedicadas, portanto, a uma consi-
deração dos problemas que requerem solução. Há, por exemplo,
diferenças de forma da hierarquia urbana de um país para outro?
Há diferenças, se houver, relativas ao nível de desenvolvimento eco-
nômico ou sistemáticamente quanto às taxas de padrões regionais
de crescimento? Estas perguntas serão feitas genericamente e
exemplificadas com dados relativos aos países do sul e sudeste da
ÁSia. Verificaremos primeiro a questão de ser ou não a tipologia
da distribuição das cidades pelo tamanho, indicativa de uma tipo-
logia de hierarquias urbanas, e consideraremos os processos gera-
dores que dão origens às diferentes distribuições. A mudança na
distribuição é então relacionada ao crescimento. Por fim, explora-
remos as relações das cidades e a difusão e o padrão espacial do
desenvolvimento, juntamente com as tendências recentes no debate
político.
-52-
TABELA I
-53-
da mobilidade dos insumos de fatores, e foi aqui que a urbani-
zação desempenhou um papel decisivo ao facilitar alterações da
população e da força de trabalho, tanto entre como dentro das
regiões, e por tipo.
Em resumo, à medida que as unidades políticas "desenvolvi-
das" do mundo se modernizaram, o tamanho de suas unidades de
produção aumentou, juntamente com o número e a complexidade
das decisões relativas à produção. Os mecanismos do mercado se
expandiram em alcance e extensão para reunirem a produção e
o consumo pelo uso dos transportes, comunicações, financiamento,
formulação de políticas e serviços correlatas, proporcionando a base
para processos crescentemente impessoais. A divisão progressiva
da mão-de-obra, a escala crescente, a especialização regional e as
complexidades da intensificação da articulação das redes de mer-
cado, produziram, todas elas, maior concentração de população nas
cidades maiores, e graus mais elevados de urbanização que é carac-
terístico das sociedades mais tradicionais.
-54-
O resultado desta característica de crescimento e expansão
c ncentrada no centro é a diferenciação regional- a especialização
das regiões na economia nacional. A especialização, por sua vez,
determina todo conteúdo e direção do crescimento regional. Uma
v z que o crescimento econômico regional é determinado externa-
mente pela demanda nacional em função das especializações re-
gionais, e organizado geograficamente num padrão de "core" in-
dustrial - juntamente com o interior especializado em subsetores
de recursos - a natureza destas especializações, suas fontes alter-
nativas e as mudanças na estrutura da demanda determinam,
p rtanto, em grande parte, a natureza e extensão do crescimento
regional. Este se estende até aos suportes secundários, exigido
pelas indústrias básicas - habitação, serviços públicos, estabeleci-
mentos de varejo, instalações de serviço e similares. O tamanho
do efeito multiplicador destas indústrias básicas sobre o cresci-
mento "local ou residencial", no entanto, depende das caracterís-
tiCas locais de despesas e distribuição de renda, características da
propriedade e organização política. Entre às questões importantes
levantadas está a de se os ganhos são retidos localmente ou trans-
feridos para fora ou se a indústria básica gera uma classe média.
As decisões locais, naturalmente, podem ajudar a modelar o futuro
e uma economia regional até o ponto da economia local ficar
"fechada" às influências externas ou quando a tomada local de
decisões se torna um elemento das decisões nacionais. Mas, basi-
camente, são os fatores externos que criam oportunidades de cres-
cimento ou levam ao declínio. As oportunidades têm que ser per-
cebidas e avaliadas pelos líderes com imaginação; do contrário
serão perdidas, porque o crescimento final pode ser remontado à
decisões locais individuais quanto aos estabelecimentos comerciais
articulares, e o tamanho e natureza da classe empresarial assume
assim um papel decisivo.
-55-
Dois elementos 'importantes caracterizam esta organização
espacial dos países desenvolvidos:
a) Um sistema de cidades, disposto numa hierarquia segundo às
funções desempenhadas por cada uma.
b) Areas correspondentes de influência urbana ou campos urba-
nos circundando cada uma das cidades dos sistemas.
-56-
res na reg1ao de origem, embora a elevação relativa da renda
possa ser maior na região subdesenvolvida. Mas os efeitos indu-
zidos na renda real e no emprego podem ser consideravelmente
maiores na região de renda baixa se os seus preços tiveram proba-
bilidade de subir menos e ou se o aumento de produção por operá-
no puder ser maior. Ambas as hipóteses são prováveis, devido ao
c sto decrescente decorrente das economias externas originárias
da urbanização da força de trabalho. Se o desenvolvimento rápido
puder ser mantido, às indústrias de maior produtividade de mão-
de-obra transferirão unidades para áreas de renda mais baixa, e
às indústrias de salários baixos serão forçadas a se mudarem para
cidades ainda menores e para áreas mais isoladas.
-57-
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Conceilo e PrÓ!ico Eslo!ls!ico" de Brion J . L . 8erry, Peler G. Goheen e Harold Gold-slein.
Woshinglon, D.C.: Oficina Gráfico do Governo dos E.U.A., Escrito'ri o de Censo de Forç_o de
Trabalho n928 - 1968 .
-58-
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CLASSE
-- 59 --
2 - TAMANHO DAS CIDADES E CRESCIMENTO
ECONôMICO NO SUL E SUDESTE DA ASIA
Efeitos do Colonialismo
No entanto, a situação é mais complicada ainda no Sul e no
Sudeste da Asia. Cada comunidade organizada teve uma história
urbana longa e rica, com muitas cidades servindo variadamente de
centros religiosos, cerimoniais, militares, administrativos e comer-
ciais até durante o século dezenove. A extensão do controle colo-
nial ocidental teve lugar nesta ocasião pelo estabelecimento de
portos que serviram de centros administrativos, focos de explora-
ção colonial de matérias-primas e distribuição das importações, e
genericamente como "cabeças de ponte" com a terra natal e a
comunidade mundial. Assim, as grandes cidades que dominam
atualmente às hierarquias urbanas da região são criações da in-
tervenção colonial.
Os dados relativos à índia revelam com clareza os efeitos
estruturadores do domínio colonial inglês nas regiões sul asiáticas.
O ritmo e os caminhos do desenvolvimento aparecem através da
-60-
DE ESTRADAS RE GIÕ ES FUNCIONA IS
FERRO BA S EADAS NA QUANTIDADE
TOTAL DE MOVIMENTO NOS
a CENTROS COMERCIAIS
1855
m 1856. 1865
§ 1876 1885
CJI886 1895
CJ DEPOIS 1895
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+ADIANTADOS
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MILHAS
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OivEd I D· J . A.C.
Fig 3
-61-
indu é bastante grande e variado para que suas cidades, em con-
junto, se adaptem a uma distribuição segundo o tamanho-hie-
rarquia.
No entanto, suas sub-regiões não se adaptam. Toda região de
Bengala que tinha por foco anteriormente Calcutá, não apresenta
definitivamente a linha quase reta da regra de tamanho-hierar-
quia, nem tão pouco suas duas partes de após a independência
de Bengala Ocidental e Paquistão. Por outro lado, o Paquistão
Ocidental mostra uma linearidade muito maior do que às duas
metades do Paquistão reunidas.
-62-
lN DIA E PAQUISTÃ0-1941
1871
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(Figuras 4-8 preparadas por Howard Spodek.)
-- 63-
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para o territdrlo formador de Bengolo, 1931-1961
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As Interpretaçtões da Primazia
A idéia da primazia, tal como formulada inicialmente por
Mark Jefferson, era muito simples. Alegava ele que em toda parte
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CLASSE
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entes ... não somente em tamanho mas em influência nacional".
Avaliou ele o grau de importância das cidades de cada país calcu-
lando às proporções do tamanho das cidades de segunda e terceira
rdens em relaçã.o ao da localidade maior. Mas imediatamente
pós o aparecimento dos trabalhos de Jefferson, Zipf orientou a
-65-
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Fig. 17 _ Distribuiçõo por tamanho-hierarquia da Dinamarca ,1801-1960.
(Preparado por Reger LeCompte.
-73-
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1 10 100 1000
CLASSE
Fig . 18_ Oistribuiçllo" Tomonho-hlerarquia" para a Argentina, 1869-1960
FONTE : Cesar A . Vapnarsky ,"OistrlbuiçOo Tamanho-Hierarquia" das Cidades
na Argentina_ Tese M.A . nllo publicada_ Universidade de Cornell,l966
-74-
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100000
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10000 100000 1000000
1939
Fig. 19 _ ExtensOo das o i to maiores cidades nas Fi lipi nas 1903 • 1939. O ín dice de creecimtnto
doe 4 pontos mais distonhs supera os 4 prõ r.i moc em hierarquia .
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1960
Fig . 20_ Er.tensOo das oito mo•orts c•d odes nos F ilipin os,l939 o 1960. Aprntnta
maior co nformidade poro o demando de Glbrat, e o {ndlct de crescimento acele-
rado doe menores locais levaram o uma di stribu lç:Oo mo i c completa do tamanho da
cidade poro o tamanh o- hierarqu i a .
menta de matéria-prima .. . são atraídos para a grande cidade
pelo deslumbramento atraente de um milhão de luzes."
A medição da primazia tornou-se posteriormente um exercício
dos manuais sobre estudos urbanos (veja, por exemplo, o volume
de Jack P. Gibbs) . Para planejadores tais como John Friedman e
Thomas Lackington, a primazia não pode ser separada da idéia
de "hiperurbanização":
". . . uma sociedade que apresenta alta medida de desequilí-
brio entre seus níveis de urbanização e renda per capita sofrerá
provavelmente sérias tensões internas . . . (Estas) hiperurbaniza-
ção . . . toma a forma de uma concentração crescente das ativi-
dades urbanas. Isto pode ser constatado de várias maneiras . .. o
grau da primazia urbana (pode ser medido) segundo ... a relação
do maior complexo urbano quanto ao segundo (detalhe dos dados
chilenos omitidos) ... Outra medida possível da primazia é em
relação à regra de tamanho-hierarquia que descreve uma distribui-
ção padronizada da população de um país entre suas cidades."
Para muitos planejadores e formuladores de políticas dos paí-
ses em desenvolvimento o "gigantismo" das cidades maiores é uma
característica a receiar, mesmo quando a cidade principal for
pequena em relação às cidades de outras áreas.
A dcorrência da primazia l l
-76-
complexidade e interdependência de suas estruturas econômicas,
administrativas e políticas, e maior o seu grau de modernização e
rbanização, maior a probabilidade de ter uma distribuição da
opulação das cidades segundo a regra tamanho-hirerarquia.
Estas descobertas em escala mundial são seções transversais;
tratam de muitos países em um determinado tempo. O indício é
mais forte para mudanças através do tempo. Essa urbanização e
crescimento econômico crescentes correlatas com uma progressão
o sentido da regra de tamanho-hierarquia foram mostradas para
a Espanha (Lasuen), Portugal (Alves Martins), Polônia (Dziewons-
i), e para Israel (Bell). Nas Filipinas a taxa de crecimento de
Manilha excedeu de muito a de localidades menores entre 1903
e 1939, mas entre 1939 e 1960 houve convergência na relação
tamanho-hierarquia e na lei do efeito proporcional. Essa conver-
gência de tamanho-hierarquia pode ser interpretada como a rea-
lização progressiva do estado de equilíbrio, de uma hierarquia
rbana na qual há um aumento regular do número de centros em
cada nível inferior sucessivo, juntamente com uma conformidade
'lobal a uma norma nacional de crescimento que, uma vez alcan-
çada, é mantida em períodos sucessivos de crescimento.
Como, então, deve ser interpretada a distribuição normal da
primazia no desenvolvimento econômico? Uma pista é dada pela
medida da entropia estudada no Apêndice E. Partindo de uma
ituação de baixos graus de urbanização e modernização com um
lto grau de entropia (muitas localidades urbanas pequenas de
tamanhos iguais, ou um estado de equilíbrio de nível mais baixo),
as cidades primazes proporcionam as maiores reduções discretas
possíveis na entropia (isto é, os maiores ganhos em ordem sis-
temática através da organização) à medida que o sistema é deslo-
ado de um nível de organização para outro. O senso de Jefferson
ele alcançar a supereminência em importância nacional parece,
assim, central. Uma vez feito o quantum do salto, pode haver
uma convergência gradual num novo estado de equilíbrio (lognor-
mal se os mesmos processos de crescimento proporcional forem
estendidos a todo sistema de cidades) .
77-
porte do tamanho urbano e espalhar seus efeitos em direção aos
campos urbanos, o crescimento se concentra em poucos centros
metropolitanos e gera aparentemente um grande vazio entre a
metrópole e a cidade menor. Em vez de articulação há polarização.
Por que?
Há duas classes de motivos, uma institucional e outra fun-
cional. Sob domínio colonial muitos impérios eram governados
por cidades-chaves controladoras e pontos estratégicos que uniam
a rede colonial. Porque para às potências coloniais que estendiam
e consolidavam sua autoridade nos territórios sociais e geográfi-
cos estrangeiros, as cidades eram sua base necessária de ação. O
domínio inglês na índia, por exemplo, tinha por centro capitais
ou cidades provinciais tanto para manter uma estrutura inte-
grada e autoritária como para garantir as bases econômicas do
seu poder- a cobrança de impostos, o controle da exportação de
matérias-primas e da importação de artigos manufaturados in-
gleses. Em outras partes do Sudeste da Asia, escreve McGee que
a estrutura da economia colonial não permitia que às cidades
fossem geradoras de crescimento econômico. As cidades coloniais
eram subordinadas à metrópole e ao comércio mundial, agindo
como focos para o intermediário estrangeiro e impedindo eficaz-
mente o crescimento econômico.
No entanto, as cidades coloniais ajudaram a criar as elites
indígenas, fizeram nascer os movimentos nacionalistas e reestru-
turaram as características econômicas tradicionais para se con-
centrarem em si mesmas, dando origem aos fluxos centrípetos
maciços de migrantes rurais. As altas taxas de população das cida-
des que resultaram, ultrapassaram as taxas de crescimento eco-
nômico após a independência e confundiram o processo de "escoa:-
mento". A conseqüência foi piorar a maneira de viver fora da
metrópole e aumentar simultaneamente o suprimento de mão-de-
-obra urbana em todos os níveis, mas especialmente entre os não
qualificados a um ritmo que nunca permitiu a expansão econô-
mica alcançar os mínimos crescentes das taxas de salário metro-
politano: assim, o crescimento não pôde descentralizar natural-
mente. Esta confusão sistemática dos mecanismos de "trickle-
down" é particularmente aguda onde, quer devido ao tamanho
muito pequeno de um a unidade política quer devido a uma depen-
dência crítica da comunidade às relações comerciais externas, há
um único foco nacional e os centros de crescimento alternativos de
tamanho razoável são inexistentes. Somente após longos períodos
de crescimento econômico continuado a taxas maiores do que o
crescimento da população, foram os países menos desenvolvidos
ou em desenvolvimento capazes de restabelecer a difusão hierár-
quica dos impulsos de crescimento e somente nestas condições
reduz-se então a primazia.
-78-
Uma série de expenencias simuladas por Paul Pedersen con-
fiima estes resultados. Começando com uma hierarquia simples de
loealidades centrais, afirma ele que a difusão da inovação vai da
metrópole para os outros centros, segundo um conceito gravita-
cional de "threshold". O potencial para a difusão de uma inovação
de um centro urbano para outro é dado por
D (P) = Pi P;/d;; a
Se para um dado a, esta quantidade excede um determinado
valor de "threshold", tanto o centro "doador" como o "donatário"
crescerão a uma certa taxa por um período de tempo. Após este
tempo, os termos de gravitação são reavaliados e tem lugar outra
difusão de iinpulsos de crescimento, e assiin por diante por uma
série de "gerações" do modelo. Conclui ele (1) que uma hierarquia
urbana convergirá para a regra de tamanho-hierarquia através
d s condições intermediárias de primazia à medida que a difusão
das inovações prossegue pela hierarquia urbana abaixo e especial-
mente para fora da metrópole, com a lei do efeito proporcional
funcionando apenas após uma inovação haver alcançado deter-
minada localidade e (2) esses efeitos de disseminação dominam às
seqüências de difusão quando os gradientes (a's) de declínio da
distância são íngremes e a interação é circunscrita localmente,
mas à medida que os atritos da distância são reduzidos, a difusão
t rna-se cada vez mais hierárquica e os seus tempos relativos
são encurtados. Portanto, não só os novos iinpulsos de crescimento
se filtram pela hierarquia urbana, como a velocidade da difusão
é acelerada, de forma que todo sistema urbano acima do "thre-
shold" se beneficia dos mesmos impulsos de crescimento com rapi-
dez razoável.
3 - O DEBATE POLíTICO
-79-
se certificarem, admitem eles que nos estágios iniciais do desen-
volvimento a vantagem está com os centros desenvolvidos, as gran-
des cidades da "core area" nacional ou os centros de penetração
colonial que gozam da existência de instalações superiores, eco-
nomias externas, poder político, preferências espaciais dos que to-
mam decisões, imigração dos elementos mais vigorosos e educados
das regiões subdesenvolvidas, fluxos de capitais dos ricos proprie-
tários de terras do interior para os mercados financeiros das cida-
des e uma variedade de outros fatores. Estes fatores levam à
polarização, à concentração nas grandes cidades e aos aumentos
das diferenças das rendas regionais. Os mecanismos de "trickle-
down" se reafirmarão por si sós, continuam eles, quando a alfabeti-
zação se generalizar e as práticas burocráticas aumentarem o
conhecimento das áreas atrasadas, quando a abertura de vias de
transporte para atingir estas áreas como mercados para os cen-
tros desenvolvidos permitirem abri-las também para possíveis loca-
lizações de atividades produtivas, e quando a educação e padroni-
zação universais de todos os aspectos da vida permitirem uma in-
tegração do espaço econômico e tornando as externalidades mais
proximamente comparáveis em toda parte, as oportunidades mais
distantes se tornam mais acessíveis e interessantes para o desen-
volvimento. Assim, segundo esta opinião, nos estágios iniciais do
desenvolvimento haverá disparidade crescente entre regiões desen-
volvidas e subdesenvolvidas, mas haverá uma tendência para a
uniformização à medida que a economia atingir a maturidade.
Além do mais, alegam os modernistas, não está absolutamente
claro que a primazia ou mesmo o próprio tamanho tenham as más
implicações presumidas normalmente pelos planejadores do Sul e
do Sudeste da Ãsia. Citam eles indícios cada vez mais fortes de
que algum tamanho grande de "threshold" deve ser alcançado
para que um centro urbano se livre, por si só, das incertezas de
uma limitada base de exportação para o crescimento- atingindo
efetivamente a escala interna necessária para o crescimento auto-
sustentado. Na América do Norte vários estudos indicam um ta-
manho de não menos de 250.000. Na índia, um estudo dos custos
da infra-estrutura urbana para a indústria completado pelo Insti-
tuto de Pesquisa Stanford, revela uma localização muito forte da
indústria dentro de diferentes escalas de tamanho coerentes com
a formulação do mercado de mão-de-obra dos processos de "trickle-
down" e as curvas dos custos em geral na forma de j invertidos
que caem abruptamente para a classe de tamanho de ......... .
130. 000-200. 000 e permanecem niveladas daí por diante.
As opin~ões dos tradicionalistas
Esses dados, no entanto, deixam de impressionar os tradi-
cionalistas. Alegam eles que a mudança continuada dentro da
estrutura dos atuais sistemas econômicos é insuficiente e que as
-80-
mudanças radicais na natureza dos sistemas urbanos devem ser
· traduzidos à força para superar as limitações constantes de
tamanho, baixas taxas de crescimento, orientação exportadora e
erança colonial que conspiram para confinar as influências mo-
ernizadoras às cidades primazes com pouca esperança previsível
e que ocorra a filtragem.
Atacam eles, os modernistas, usando argumentos de Kuznets
e que a experiência histórica dos países desenvolvidos é irrelevante
na Asia de hoje. Os países atualmente desenvolvidos estavam eco-
nomicamente na frente do "resto do mundo" quando começaram
moderno crescimento econômico e os países subdesenvolvidos
stão economicamente péssimos hoje em dia. O mundo dos séculos
ezoito e dezenove tinha políticas comerciais mais liberais, opor-
tunidades mais livres para deslocamentos internacionais de popu-
lações e menos barreiras políticas e econômicas do que o mundo
ele hoje. O moderno crescimento econômico era associado a distri-
lmições de renda mais inclinadas em suas fases iniciais tanto em
relação aos assalariados e empresários por um lado, como em rela-
ão aos agricultores comparados aos industriais de outro. O desen-
olvimento econômico envolve, assim, uma transferência de re-
cursos da agricultura para a indústria e continuou à custa da
agricultura. Envolveu ele uma transferência de recursos para as
classes médias superiores que têm uma propensão maior para eco-
nomizar e, portanto, para investir. Houve transferência também
dos assalariados urbanos. Até que ponto uma transferência de
recursos para uma classe mais rica (com maior propensão de eco-
omizar) é politicamente exequível hoje, é discutível.
Além do mais, nos países subdesenvolvidos de hoje, os ajus-
t amentos institucionais, que são produto do moderno crescimento
econômico dos países desenvolvidos, precederam o processo de cres-
imento. A instituição política da democracia, por exemplo, impede,
muitas vezes, a exploração do proletariado para o processo de cres-
imento, característica que não foi incomum nos estágios iniciais
e crescimento do Ocidente. As providências para o bem-estar como
alários-mínimos, limitação das horas de trabalho, proibição do
trabalho infantil, são todas instituições que, de certa forma, não
favorecem o desenvolvimento econômico eficiente do tipo que
ocorreu sob a iniciativa privada. Esta é composta pela coexistência
de países altamente desenvolvidos e subdesenvolvidos com rápidos
meios de comunicação e transportes que permitem às pessoas dos
países subdesenvolvidos copiarem as características de consumo
dos países desenvolvidos. Este "efeito de demonstração" é assimé-
trico, isto é, aplica-se ao consumo mas não às características de
investimento e poupança, desviando, assim, recursos de investi-
mento para consumos de ostentação e de outros tipos. Os projetas
paralelos de "desenvolvimento derivado" desviam os investimentos
para estruturas notáveis e monumentais em vez de produtivas.
-81-
Compromisso dos Planejadores:
Centros de crescimento
-82-
4 - AP:ÊNDICES MATEMATICOS
-83-
consequencia da atuação de um grande número de influências
independentes de crescimento, que em intervalos de tempo muito
pequenos o crescimento da cidade é pequeno em relação ao seu
tamanho e que o crescimento absoluto é proporcional ao tamanho
da cidade (isto é, a taxa de crescimento é a mesma para cada classe
de tamanho das cidades; isto é chamado de lei do efeito propor-
cional de Gibrat). Façamos Pt a população de uma cidade num
t. Então podemos escrever que o crescimento relativo G1 é:
(Bl)
isto é:
P1 - Po = Q1 !:_o (B2)
JP-
• Pn
o
dp/P = ln P, - ln P. (B5)
que produz:
"
ln P, - ln P. = :t
t 1
=
G1 (B6)
ou
ln P, = ln P. + -G1 + G:& + .... + -G" (B7)
-84-
A função de probabilidade da densidade (f. p. d.) das cidades
segundo suas populações é, portanto:
j(x) = (1/v' 21r) exp, [1/2 x 2 ] (B9)
onde x é o desvio normal padrão
(BlO)
e f.l e ô são os desvios médios e padrão do log P's, respectivamente.
Para os valores negativos de x usa-se o fato de que f(-x) = f(x).
Nas equações B9 e BlO a-relação linear entre o log P's e seus
desvios normais padrão, os x's é evidente. A relação quartil é
log Pi f.l + ~· õ. A funçãocumulativa da distribuição (f. c. d.) é
.. 1
F (x) = f oo v'21r exp. [-1/2 t-!1 ] dt (Bll}
e
n - P = (a/n) Pb (B14)
Pt = u cPt + m) (Cl)
(C2)
e que:
p = v.M
_n (C3)
(C4)
-86-
Da equação C4 segue-se que:
Mr:.. = (k + 1) M!!.-s- uM!!._ 1 + uME. (C5)
1+k-u
MN = Mn-1 (C6)
- 1 - ?! --
- (1 + !f - :!!!h-1 M
(C7)
- 1 -:!!! _1
ssim:
p = (1 + -k - -u)!!.- 1
p (C8)
-!!. 1 - ~ _1
-87-
estratos, sob um3. outra presunção de que o número de cidades n,
é fixo. Uma forma simples de testar se esta condição se verifica é
plotar o diagrama disperso das cidades por tamanho pelo tempo 1
e pelo tempo t + 1 em papel duplamente logarítmico. Se a linha
de regressão subir para a direita a um ângulo de 45 graus, a lei
do efeito proporcional se mantém. O deslocamento do segmento
indica a taxa média de crescimento do sistema de cidades. Estrita-
mente, a plotagem devia ser homoscedástica, mas o resultado será
o mesmo se as variações relativas (e, portanto, as matrizes de tran-
sição) diferirem por estrato de tamanho, e mesmo se as taxas espe-
radas de mudança das cidades individuais forem correlacionadas
seriadamente durante certos períodos de tempo. As mudanças de
variação por estrato de tamanho são coerentes com a observação
de que a variação relativa das taxas de crescimento urbano di-
minuem caracteristicamente com o tamanho, com a distribuição
convergindo rapidamente para a taxa nacional de crescimento ur-
bano médio para os centros de status metropolitano.
Muitas vezes será proveitoso acrescentar uma segunda pre-
sunção à lei do efeito proporcional, segundo a idéia de que há
algum tamanho mínimo de "threshold" para uma cidade, e que
as cidades novas "nascem" à medida que às localidades menores
crescem excedendo o "threshold". Uma constatação simples desse
"threshold" é procurar uma "falha" numa inclinação mais íngreme
de um gráfico de tamanho-hierarquia numa população abaixo da
qual o número de localidades menores vai "baixando" rapida-
mente. Essa falha é sugerida para uma população aproximada de
250. 000 nas áreas econômicas funcionais dos Estados Unidos em
1960. Esta segunda presunção é a de uma "taxa de nascimento"
constante de cidades novas ultrapassando o nível do "threshold",
e ela diferencia a distribuição de Yule (assim chamada em home-
nagem ao estatístico inglês G. Udny Yule, primeiro a propô-la) da
distribuição lognormal. Traduzia em forma de tamanho-hierarquia,
a distribuição de Yule pode ser escrita:
N (P) = KP-qb~
Esta, é claro, é a distribuição de tamanho-hierarquia
com a diferença de que, em conseqüência da segunda presunção
q = 1/ (1 - Sc! St). St é o crescimento total (absoluto) da popu-
lação de todas -àscidades do sistema durante algum período de
tempo determinado, e Se é a parte do crescimento atribuível à
entrada de novas cidades que atingem o tamanho do "threshold"
no período: Assim, §.cl§r é a fração do crescimento total atribuível
às novas cidades. QÜando §c é pequeno em relação a §T, q deve
convergir para um valor de -1,0 e a unidade é, portanto~ Õ valor
do expoente a ser esperado se se está lidando com um número fixo
de cidades (caso lognormal) ao contrário do caso em que o número
de cidades está crescendo. Se §c for substancial como no caso de
-88-
um sistema de cidades que se expandem rapidamente em número
acima do "threshold", q excederá à unidade. Se, por outro lado, o
número de centros do sistema estiver diminuindo, quer devido
a perdas absolutas, quer devido ao tamanho do "threshold" para
serem admitidas no sistema estiver sendo aumentado sistematica-
mente, §c será negativo, e q será menor do que 1,0. Em geral, um
valor de q que excede à unidade significa proporcionalmente mais
localidades pequenas, ao passo que os q' de menos de um surgem
c m a concentração crescente da população urbana nas cidades
maiores.
Apêndice E - Relações entre a distribuição lognormal, o coefi-
ciente Lorenz de concentração, o coeficiente Gini e um conceito de
entropia.
A média e a variação dos log P' são à + õ2 , respectivamente,
e as posições relativas da média aritmética, mediana e moda dos
P's são:
-
!:_ = exp. [
f..4 + 1/2õ IJ
] (E1)
(E3)
Os quartis superior e inferior são dados pelo exp. [J..L ± 0,67a].
Segue-se, é claro, que J..1. é o logarítimo da média geométrica e a
relação dos quartis é log !!_, = u + _!i ()!.
A variação õ2 aumenta com a inclinação da distribuição e do
f to do desvio padrão ser diretamente proporcional ao coeficiente
Lorenz de concentração L, a saber:
(J 0,0 0,25 0,50 0,75 1,00 1,50 2,00 2,50
L 0,0 0,1405 0,2727 0,4309 0,5204 0,7108 0,8415 0,9233
(J 3,00 4,00
L 0,9660 0,9953
Quando L é zero, a população urbana é distribuída uniforme-
mente pelo estrato de tamanho das cidades. Um valor igual à
nidade indica concentração completa na maior categoria de ta-
manho. Os dados da Tabela 1 sugerem, portanto, um a crescente
com o. aumento da modernização.
Por sua vez, o coeficiente Lorenz é diretamente proporcional
ao coeficiente Gini da diferença média G, algumas vezes usado
também como coeficiente de concentraçãõ:'
G = 2PL (E4)
-89-
Há uma outra relação que pode ser notada entre ~ e uma
medida de entropia. Se figurarmos as probabilidades individauis
da população urbana serem encontradas em cada estrato de tama-
nho de cidades como P 1 , • • • • • • P. para s estratos (a soma dos P
é igual à unidade), ã entropia da distribuição é, segundo Theii:
H (p) = kivi log (I/Pi) (E5)
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FRAN ÇOI S PERROUX
3. O conceito de pólo de
crescimento
-99-
tura, das flutuações, dos progressos (ou eventualmente dos re-
gressos) que são concomitantes com todo e qualquer crescimento
observável.
Nenhum crescimento duma economia concreta se traduz no
modelo que acaba de ser caracterizado.
Um dos aspectos das variações de estrutura consiste no apa-
recimento e desaparecimento de indústrias, na proporção variável
das diversas indústrias no fluxo de produto industrial global ao
longo de períodos sucessivos, em taxas de crescimento diferentes
para as diferentes indústrias no decurso dum mesmo período ou
de períodos sucessivos.
Outro aspecto evidente das variações de estrutura duma eco-
nomia nacional é a propagação do crescimento duma indústria
(ou grupos de indústrias). O aparecimento duma indústria nova
ou crescimento duma indústria existente propagam-se por inter-
médio dos preços, fluxo e antecipações. No decurso de períodos
mais longos, os produtos duma indústria ou grupo de indústrias,
profundamente transformados e por vezes dificilmente reconhe-
cíveis em comparação com o seu esboço inicial, possibilitam novas
invenções que dão origem a novas indústrias.
O fato, rudimentar mas consistente, é este: o crescimento não
surge em toda a parte ao mesmo tempo; manifesta-se com inten-
sidades variáveis, em pontos ou pólos de crescimento; propaga-se,
segundo vias diferentes e com efeitos finais variáveis, no conjunto
da economia.
Examinar esta modalidade de crescimento é tornar explícita
e susceptível de tratamento científico uma perspectiva já patente
em vários trabalhos de elaboração teórica, 4 imposta pela observa-
ção dos países de crescimento retardado, 5 manifesta na política dos
Estados modernos. 6
(4) J . Shumpeter expllca pela inovação. isto é, pela criação de novas indústrias
(em sentido lato), tanto o ciclo de Juglar como o ciclo de Kondratleft. J . Maurice
Clark põe em relevo o papel dos strateglc factore no ciclo de curta duração e não há
evidentemente razão alguma para que a sua Influência não se faça sentir em períodos
que abranjam vários ciclos. Ao Invés, é Importante distinguir entre as variações estrutu-
rais (de proporções e de conexões) observáveis em ciclos de curta duração (de duas ou
quatro !ases) e as variações de estrutura observáveis no perlodo dum século.
(5) O método preconizado convém aos chamados países subdesenvolvidos. Em grande
número deles encontram-se Indústrias capltallstas (hoje em dia centros de exploração
petrollfera) implantadas em economias que permanecem em grande parte no estádio da
economia natural ou artesanal. O conjunto da economia não se acha ainda articulado
por redes de preços, fluxos, antecipações. Passa a sê-lo mediante a criação de vários pól~
de crescimento que, Jlgados pelas vias e meios de transporte, pouco a pouco constituem
a infra-estrutura da economia de mercado. O isolamento geográfico e económico dos
pólos de crescimento que se observa nestes casos ilustra perfeitamente os obstáculos à
propagação das expansões e contrações cicllcas que atingem às indústrias capitallstas
"importadas"; por outro lado, esse isolamento deixa entrever as alterações de sistema
(tipos de organização) e de estrutura que pouco a pouco possibllltam falar - sem
antifrase - duma economia nacional.
(6) Este m étodo possiblllta o acesso, tanto às politicas de crescimento praticadas
pela Rússia soviética, como às do mundo livre; tais politicas seriam rebeldes às aná!lses
-100-
Consideraremos sucessivamente: l.O) a indústria motriz e o
c escimento; 2.0) o complexo de indústrias e o crescimento;
3.o) o aumento dos pólos de crescimento e o crescimento das eco-
nomias nacionais.
do equilíbrio geral ou aos modelos abstratos de combinações de fluxos globais. Temos eni
vista tanto a criação de pólos industriais no Ural ou na Asia russa como a politica de
" complexos industriais" preconizada - e mesmo já iniciada - na Africa. trm dos
esquemas característicos da operação é o seguinte : um centro de extração de matéria-
p rima está combinado com um centro de produção de energia e, por vias de comurüca-
ção, com centros Intermediários ou de transformação. O que no passado freqüentement.~
t eve realização mediante fundações sucessivas, através de projetos ou planos que ás
palpadelas procuravam a sua coordenação, é hoje tentado mediante a constituição dum
pólo complexo (um amador de metáforas coxas diria porventura: as peças distintas do
motor, em- vez de procurarem a lei do seu ajustamento, são montadas em conjunto). É,
em todÕ o caso, dum motor que se trata. O pólo compl~xo exige novas criações, abala
regiões e altera a estrutura do meio que anima. · '
(7) Cfr. ás séries estudadas por Simon Kuznets, se'c ;ulàr movements of production ahii,
prices, Boston, 1930: "Retardatlon of industrial'' growth", cap. IX, ln Economic Chang·e;
New York, 1953; .Toward a theory of econornic growth:; · ·c ontribuição para o segund<;>
centenário da Universidade, Columbia,, 1954. · · ' ·
- 101
a) No equilíbrio geral de concorrência perfeita, a realização
do produto global ótimo resulta da realização do máximo de lucro
por empresa individual. O lucro de cada empresa individual é fun-
ção do seu volume de produção 8 e das suas compras de serviços.
Nestas condições, cada empresa realiza o máximo de lucro em
resultado de decisões próprias que são tomadas tendo em consi-
deração o preço, único indicador que liga as suas decisões às das
outras empresas; toda a interdependência das empresas é função
do preço.
Totalmente distinta 9 é a situação em que o lucro duma em-
presa é função do seu volume de produção, do seu volume de
compra de serviços, do volume de produção e compra de serviços
de outra empresa. Nesta outra situação, as duas empresas não se
encontram entre si ligadas apenas pelo preço, mas também pelo
volume da sua produção e de compra de serviços, isto é - uma
vez que estes elementos dependem da técnica e suas modifica-
ções - as empresas encontram-se ligadas pela técnica praticada
por elas e suas modificações.
É esta uma das definições recentes de economia externa (ex-
terna! economy).
Se assimilarmos a indústria a uma empresa, o que fica dito
das inter-relações entre empresas pode dizer-se das inter-relações
entre indústrias; se eliminarmos o conceito de indústria e apenas
representarmos um conjunto de empresas, a aplicação das econo-
mias externas é imediata.
Em vez de se formarem em resultado das decisões de cada
empresa relativamente ao seu volume de produção e compra de
serviços, os lucros são induzidos pelo volume de produção e com-
pra de serviços de outra empresa. Na medida em que o lucro é
o motor da expansão e crescimento capitalistas, a ação motriz
não decorre já da prossecução e realização de lucro por cada em-
presa individual, apenas ligada às outras pelo preço, mas sim da
prossecução e realização de lucro por empresas individuais que sin-
gularmente sofrem as conseqüências do volume de produção, do
volume de compras de serviços e da técnica praticada pelas outras
empresas.
Esta modificação implica duas conseqüências importantes para
a compreensão do crescimento: l.O) mostra como se podem reali-
zar a expansão (curta) e o crescimento (longo) de grandes con-
(8) O termo francês débit, que vimos traduzindo por "volume de produção", signi-
fica também o nuxo de venda ou volume de vendas duma unidade económica. No caso
do texto, o lucro será uma função dum volume de produção colocado no mercado, ven-
dido, portanto, a um preço determinado. N. T .
(9) Tibor Scitovsky, "Two concepts of externa! economies", ln The Journal of
Politicai Economy, Abril de 1954, p . 143 e segs.
-102-
j ntos de empresas; 10 2.o) põe em evidência a diferença entre o
i vestimenta, cujo volume e natureza são decididos em função da
rentabilidade exclusivamente alcançada pela empresa que investe, e
investimento cujo volume e natureza são ou deviam ser decididos
tendo em conta os lucros e outras utilidades induzidas. 11 • 12
b) Como se exerce a ação da indústria motriz sobre o pro-
uto global da economia?
O nascimento duma indústria nova é sempre fruto duma an-
tecipação. Um ou vários sujeitos econômicos concebem uma situa-
ção nova; julgam-na possível; assumem os riscos da sua realiza-
ção. O projeto depende da amplitude do seu horizonte econômico, 13
concretiza-se num plano ou, mais exatamente, em planos alter-
nativos e susceptíveis de correções no decurso de períodos sucessi-
os. Na medida em que esses planos são ou se tornam compatíveis
om os planos dos outros sujeitos econômicos 14 no âmbito do mes-
mo conjunto, a antecipação torna-se criadora.
Se todos os fatores empregados tiverem estado sem emprego e
a criação não impuser perdas a qualquer outro setor, o produto da
indústria resultará em aumento líquido do produto global da eco-
nomia verificado em fase anterior.
Se todos os fatores empregados no processo de crescimento fo-
rem fornecidos por via de "substituição" num processo de cres-
cimento (sendo os capitais amortizados substituídos por capitais
mais produtivos, cedendo às forças de trabalho que se retiram, o
lugar a forças de trabalho qualitativamente superiores, não sendo,
-103-
por outro lado, infligida qualquer perda aos setores estranhos
àqueles em que se opera a substituição), o produto global regis-
trará ainda um aumento líquido.
Se uma fração dos fatores empregados for subtraída aos cir-
cuitos precedentes com perda de produtividade em alguns dos seus
setores, o aumento do produto global será a soma algébrica dos
ganhos e perdas em produtividade.
Uma vez que a nova indústria está presente na economia, a
sua ação sobre o produto global pode, através dos períodos, ser da
mesma forma analiticamente examinada, distinguindo-se: 1.0 ) a
sua participação própria no produto global (medida do seu pro-
duto no âmbito do produto global); 2. 0 ) o excedente de produto
por ela induzido, de período em período, no meio. Como uma in-
dústria nova não aparece em geral sozinha, como os crescimentos
das indústrias novas se sobrepõem e entrecruzam, o aumento do
produto global é função: a) do volume dos produtos adicionais
próprios das novas indústrias tomadas em conjunto; b) do vo-
lume dos produtos adicionais induzidos das novas indústrias to-
madas em conjunto. 15
Estas conexões ex post estabelecidas pelo volume de produção,
pelo volume de compras de serviços e pela técnica não bastam,
porém, ainda para uma tomada de consciência total dos fatos
historicamente observados. O aparecimento de uma ou várias in-
dústrias altera, diz-se correntemente, a "atmosfera" de uma época,
cria um "clima" favorável ao crescimento e ao progresso. Eis belas
metáforas, palavras que, no entanto, registram conexões signi-
ficativas susceptíveis de serem submetidas a análise. A novidade
introduz variáveis diferentes e/ ou suplementares no horizonte
econômico e nos projetas dos sujeitos econômicos e grupos de su-
jeitos econômicos dinâmicos: tem um efeito instabilizador. A novi-
dade lograda por determinados sujeitos econômicos assume valor
de exemplo para outros e suscita imitações, por sua vez criadoras.
Finalmente, a novidade lograda, suscitando um excedente de desi-
gualdade entre sujeitos econômicos conscientes das suas atividades
e do resultado dessas atividades, intensifca a sua vontade de ganho
relativo a sua vontade de poder relativo.
Como cada equilíbrio econômico dinâmico está ligado a um
equilíbrio social dinâmico, uma acumulação de perturbações no
primeiro repercute-se no segundo. As novidades no funcionamento
da economia implicam novidades na estrutura da economia ou,
mais precisamente, a alteração das características técnicas e eco-
nômicas das funções provoca alterações das características jurí-
dicas e políticas das instituições. Como tais influências não se
exercem unicamente, nem mesmo principalmente, ex post, não há
(15) Passam, assim, a ser Inteligíveis os efeitos de condensação 'de criações ou trans-
formações de Indústrias durante determinado período,
-104-
estas conexões sequencias de sentido único, constantes e neces-
sanas. No decorrer dum período, em presença duma constelação
e novidades, todos os sujeitos econômicos capazes de antecipação
criadora são estimulados e arrebatados. E isto, quer a propósito
de uma série determinada de operações durante um período relati-
amente curto (é a "febre dos canais", "a febre dos caminhos
de ferro", a "febre do ouro") quer a propósito dum grande número
ele operações novas, e ainda que seja lenta ou muito lenta a di-
fusão do seu efeito no conjunto: são (para empregar às expres-
ões correntes e que hoje se sabe serem imperfeitas) as "revolu-
ões industriais" ou as "revoluções agrícolas".
Ainda que acolhendo a intuição fundamental em que se opõem
inovação e rotina, ·é uma análise, como se terá verificado, muito
diferente da que J. Schumpeter nos ofereceu. Este último fixou
nilateralmente a sua atenção sobre o papel dos empresários pri-
vados e especialmente dos grandes empresários privados; mas os
aderes públicos e as suas iniciativas, assim como as pequenas
inovações de adaptação, não podem ser esquecidas. J. Schumpeter
aciocina na base dum equilíbrio estacionário estável, cujo análogo
na realidade seria fornecido pela contração cíclica num país de
apitalismo; mas a análise a que procedemos admite fundamen-
talmente que não existe situação real que traduza o equilíbrio
estacionário estável e que não passa dum instrumento apto a
assimilar e classificar as variações e instabilidades. Por fim, J.
Schumpeter elabora a sua teoria para um regime de concorrên-
cia perfeita (ou aproximada); a presente análise engloba as nume-
rosas formas de concorrência monopolística no mais lato sentido
do termo (monopólios, oligopólios e combinações de monopólios e
oligopólios).
Permanece portanto aberta à noção de complexo de indústrias.
(16) Apenas temos a,qul em conta às aç6es que acabam de ser definidas.
-105-
A indústria motriz pode aumentar o volume de produção para
utilizar plenamente e o melhor possível os seus capitais fixos, isto
é, a fim de laborar num ponto cada vez mais baixo das suas curvas
de custos. Ao atingir o ótimo do seu volume de produção, e a
menos que se trate dum monopolista que pratique um preço cons-
tante, pode proceder a novas reduções de preço que induzirão novos
aumentos do volume de produto das indústrias movidas. Terá preci-
samente interesse em o fazer, se tiver conhecimento das conseqüên-
cias que vão provocar o aumento do seu volume de produção e a
redução do preço. O aumento do volume de produção das indús-
triais motrizes pode, por conseguinte, resultar duma antecipação
dos efeitos provocados nas indústrias movidas ou, no caso de
hesitações ou lentidão por parte dos diretores das indústrias mo-
trizes, dum estímulo do Estado sob a forma, por exemplo, de
subsídio.
A propriedade examinada existe, em grau variável, em todas as
indústrias motrizes. Designemos por indústria-chave aquela que
induz na totalidade dum conjunto, por exemplo duma economia
nacional, um crescimento de volume de produção global muito
maior do que o crescimento do seu próprio volume de produção.
Equivale isto a dizer que não se pode elaborar duma vez para
sempre uma lista de indústrias-chave segundo os seus caracteres
exteriores e técnicos. As indústrias que fabricam complementares
múltiplos - matéria-prima, energia, transportes - têm efetiva-
mente tendência para se tornar indústrias-chave, mas há outras
condições necessárias para que assumam essa natureza.
O conceito de indústria-chave, essencialmente relativo, é um
instrumento de análise que, em cada caso concreto, exige uma
definição precisa do conjunto movido, do período considerado, do
dualismo indústria motriz - conjunto movido. O fato decisivo
é que, em toda e qualquer estrutura duma economia articulada, 17
existem indústrias que constituem pontos privilegiados de aplica-
ção das forças ou dinamismos de crescimento. Quando estas forças
provocam um aumento do volume de vendas duma indústria-chave,
provocam também a forte expansão e crescimento dum conjunto
mais amplo.
2. O regime do complexo de indústrias é, com freqüência, por
si mesmo "instabilizador", por ser uma combinação de forças oli-
gopolísticas.
Conhecemos variados tipos de regimes de indústrias que, mes-
mo quando é possível construir teoricamente o seu equilíbrio está-
tico, se revelam bem pouco estáveis se considerados dum ponto de
-106-
ista dinâmico e em condições não demasiado afastadas da rea-
lidade.
O monopólio parcial pode facilmente impor um acordo às pe-
quenas empresas satélites ou nelas comparticipar mediante a uti-
lização de reservas acumuladas. O duopolista de grande capacidade
c baixo custo pode agir da mesma forma em face do duopolista de
pequena capacidade e custo elevado. No acordo tácito, as posições
de cada uma das partes não ficam determinadas duma vez para
sempre, identicamente ao que acontece com um grupo constituído
cm torno dum líder. A luta oligopolística, conflitos de eliminação,
conflitos visando a subordinação duma parte à outra, o acordo, são
conseqüências possíveis - e de fato freqüentemente observadas
destas situações. A ação "instabilizadora" de cada um destes re-
rimes isoladamente considerado é fator de crescimento quando, a
longo prazo, a empresa dominante eleva a produtividade da in-
dústria e realiza uma acumulação de capital eficiente superior
·· quela que resultará duma indústria sujeita a um regime de maior
_oncorrência.
Ainda assim, estes regimes de indústrias não revelam, por si
·ó, a instabilidade dum complexo de indústrias em que cada uma
elas se ache em regime de oligopólio e que entre si estabeleçam
elações de cliente a fornecedor. 18 Consideraremos as relações entre
unidade produtora duma matéria-prima em regime de monopólio
arcial e uma indústria produtora de aço em regime de monopólio
arcial, a segunda das quais absorvendo normalmente a maior
parte do produto da primeira. Liguemos estas indústrias a indús-
trias de transportes em sistema de monopólio e a um Estado que,
través tanto das suas compras como das suas intervenções, exerça
llma ação sobre às indústrias anteriores. Obteremos assim uma rica
oleção de indeterminações e instabilidades dinâmicas de preços e
quantidades. Ainda que as grandes empresas, os grupos e os poderes
públicos prossigam uma política regularizadora, a modificação da
conjuntura e das relações de forças é causa de transformação. O
conflito ou a cooperação entre os planos das grandes unidades e
grupos de grandes unidades coordenad9s e arbitrados pelo Estado
influenciam os preços, volume de produção, compras de serviços.
É a resultante destas forças que provoca a expansão e o cres-
cimento dos conjuntos movidos.
3. A concentração territorial acrescenta conseqüências espe-
cíficas à natureza da atividade (indústria-chave) e ao regime não
competitivo do complexo. 19
(18) Cfr. François Perroux, I.S .E.A., Cahlers , série D, n .• 8 Matérlaux pour une
analyse de la crolssance economlque, livro L, cap. II: "Os fenômenos do crescimento
observados num pólo Industrial: O Ruhr" .
(19) Sobre todos estes pontos, numerosos exemplos respeitantes ao Ruhr podem ser
encontrados no Cahler I.S.E . A. série D, n.• 8 acima. citado.
-107-
Num pólo industrial complexo geograficamente concentrado
e em crescimento, registram-se efeitos de intensificação das ativi-
dades econômicas devidos à proximidade e aos contatos humanos.
A concentração industrial urbana cria tipos de consumidores de
consumo diversificado e progressivo, em comparação com os dos
meios agrícolas rurais. Surgem e encandeiam-se necessidades cole-
tivas (alojamento, transportes, serviços públicos). Ao lucro dos ne-
gócios vêm sobrepor-se rendas de localização. Na ordem da produ-
ção há tipos de produtos que se formam, interinfluenciam, criam
as suas tradições e eventualmente participam num espírito cole-
tivo: empresários, trabalhadores qualificados, quadros industriais.
A estes efeitos de intensificação há que acrescentar efeitos de
disparidades inter-regionais. Geograficamente concentrado, o pólo
industrial complexo transforma o seu meio geográfico imediato e,
se tem poder para tanto, toda a estrutura da economia nacional
em que se situa. Centro de acumulação e concentração de meios
humanos e de capitais fixos e definidos chama à existência outros
centros de acumulação e concentração de meios humanos e de
capitais fixos e definidos. Quando dois destes centros entram em
comunicação graças a vias de transporte material e intelectual,
extensas transformações se desenham no horizonte econômico e
nos planos de produtores e consumidores.
O crescimento do mercado no espaço, quando resulta da comu-
nicação entre pólos industriais e, mais em geral, entre pólos de
atividades terriorialmente concentrados situa-se nos antípodas
dum crescimento igualmente distribuído. Opera-se pela concentra-
ção de meios em pontos de crescimento no espaço de onde irradiam
em seguida feixes de trocas; as transformações técnicas, as vicis-
situdes políticas, a orientação das correntes de tráfego mundial
entre pólos maiores favorecem ou desfavorecem os pólos territorial-
mente concentrados. As concentrações de homens de capitais fixos
e fixados, a rigidez das instalações e das estruturas que acompa-
nharam o desenvolvimento do pólo fazem também sentir todas as
suas conseqüências quando começa o seu declínio; de centro de
prosperidade e progresso, o pólo transforma-se em centro de es-
tagnação.
Mesmo não empregando as expressões "indústrias motrizes"
e "pólos de crescimento", historiadores e geógrafos estão familia-
rizados com estas realidades. Adotar o tipo de análise que propo-
mos parece, pois, corresponder a recusar determinada estreiteza
de vistas que a teoria tradicional injustificadamente nos impõe
ao privilegiar os fenômenos do mercado e do preço.
Adotada a nova análise, a história das economias nacionais e
a teoria do seu desenvolvimento deve ser reelaborada a partir da
base. Limitar-nos-emos a indicar as conseqüências mais gerais
desta mudança de ótica.
-108-
3 - CRESCIMENTO DOS PóLOS E CRESCIMENTO DAS
ECONOMIAS NACIONAIS
A economia nacional em crescimento já não aparece unica-
mente como um t erritório politicamente organizado em que vive
uma população, nem como um aprovisionamento de fatores de
produção de mobilidade nula nas fronteiras.
Apresenta-se-nos como uma combinação de conjuntos relativa-
mente ativos (indústrias motrizes, pólos de indústria e de ativi-
dades geograficamente concentradas) e de conjuntos relativa-
mente passivos (indústrias movidas, regiões dependentes dos pólos
geograficamente concentrados). Os primeiros induzem nos segun-
dos fenômenos de crescimento.
As modificações de ora em diante impostas na apreciação das
imensões e potências econômicas relativas das nações são evi-
entes. Mas devem registrar-se duas conseqüências fundamentais
ara a análise do crescimento econômico.
1. Verifica-se hoje (e verificou-se outrora sob outras formas)
l.m conflito entre espaços econômicos de grandes unidades econô-
micas (empresas, indústrias, pólos) e os espaços politicamente or-
·anizados dos Estados nacionais. Os primeiros não coincidem com
os segundos; o seu crescimento depende de importações, exporta-
ções, centros de aprovisionamento e mercados exteriores ao ter-
I i tório nacional. Ora as grandes unidades econômicas são os ins-
1rumento de prosperidade e as armas de poderio do Estado na-
t::ional.
Daí resultam a freqüente combinação de poderes privados e
poderes públicos na gestão das grandes unidades, a luta entre
essas grandes unidades capitalistas e "nacionais" a escala mun-
dial, formas de imperialismo simultaneamente privado e político
exercidas pelas nações economicamente "reais" e "ativas" em face
das nações economicamente "aparentes" e relativamente "passi-
as". A dialéctica marxista, pondo em relevo o conflito entre às
forças de produção e as formas institucionais, assambarca parte
da atenção que deveria ser dada a uma outra dialética ativa do
mundo moderno que se define pelo conflito entre os espaços de
erescimento gerados por pólos de crescimento e os espaços ter-
ritoriais politicamente organizados. 20
2. Enquanto as políticas nacionais e nacionalistas persis-
t irem num mundo em que estão ultrapassadas pela técnica e pelo
esenvolvimento da vida econômica, manter-se-ão desperdícios que,
m esmo na falta de conflitos violentos, constituem um freio ao
rescimento. Cada Estado procura explorar, em benefício exclusivo
Ju principal dos seus nacionais, os pólos que têm a disposição no
- 109
seu território ou que conquistou fora dele. Utiliza parte dos limi-
tados meios de que dispõe em homens e capitais reais e capitais
monetários para afastar os concorrentes das vantagens que pre-
tende tirar da detenção exclusiva de pólos de crescimento. Daí as
lutas entre oligopólios quase públicos que põem em risco a pros-
peridade e a paz. A eliminação ou redução destas práticas não é
o menor dos numerosos aspectos duma política de crescimento
harmonizado à escala mundial.
-110-
J. R. LASUEN
4. A respeito de pólos de
crescimento
INTRODUÇÃO
(1) O slgnitlcado dos termos "pólo" e " polarização'' é traiçoeiro. No presente tra-
balho usei o slgnltlcado dado por Perroux, que Introduziu o conceito na literatura eco-
nómica. Seu slgnltlcado é diferente do sentido convencional da palavra em Inglês. Debato
os dois slgnltlcados na nota n .• 43, quando Isto se torna necessário. O leitor pode ou
consultar essa nota ou prosseguir até lá com a noç!l.o de que Perroux vlsuallsou o
"pólo" mais como uma protuberância que se salienta em uma superfície homogênea, do
que um extremo oposto. Conseqüentemente, para ele podem existir mais de dois pólos
a um só tempo. Por "polarização" Perroux entende o processo de ampliação de um pólo.
-113-
nau-se uma idéia de grande aceitação. 2 É um conceito amplamente
citado em ciências sociais, dos dois lados do Atlântico, 3 e goza do
privilégio de todos os verbetes míticos: por um lado, ele soa para a
política social como um conceito útil; por outro lado, sendo impre-
cisamente definido, ele não é facilmente sujeito a testes de significa-
ção. Quando este conceito é utilizado no planejamento, o malogro
das políticas nele centralizadas são geralmente atribuídas às ma-
neiras e métodos pelos quais ela foi implementada, e não a ina-
dequação do conceito em si. Como a idéia em grande voga pode
sofrer a sorte da maioria delas, passam sem serem destruídas,
mas empanadas por sua própria ineficiência.
O objetivo deste trabalho é de reduzir o caráter de indefini-
ção do conceito do pólo de crescimento. Pudera ele, em conseqüên-
cia, ser tomado como um comentário crítico sobre algumas das ela-
borações teóricas da escola francesa da economia espacial 4 que
desenvolveu o conceito. Entretanto, ele está coerente com o pen-
samento original do fundador da escola, François Perroux. Isto
porque Perroux tem sido uma fonte fecunda de idéias e conheci-
mentos, muitas vezes desconexos, outras vezes inconsistentes e,
raramente, desenvolvidas e levadas adiante por ele ou por seus
discípulos. No caso dos pólos de crescimento derivei meus argu-
mentos de algumas das idéias de seu primeiro grande trabalho. 5
(2) O termo se tornou muito popular e abriu o caminho p ara vários conceitos
relacionados. Entre eles: pólo de desenvolvimento também é um conceito francês, mas
não fui capaz de encontrar sua origem precisa. Os conceitos franceses sofreram mudan-
ças em espanhol, isto é, no Plano II de Desenvolvimento da Espanha, um pólo de
crescimento (pólo de crescimento) é um centro de crescimento em uma região relati-
vamente atrasada que necessita de um impulso adicional: um pólo de desenvolvimento
(pólo de desarrollo) é um centro estagnado em uma zona atrasada que exige um im-
I
pulso considerável. J . P . Friedmann, não satisfeito com a identificação de pólo com
cidade, "fabricou" o termo "região core" . "Cidades regionais, centros de mercado" são
conceitos de certo modo relacionados que, basicamente, derivam da teoria de local!dade
central mas são às vezes entendidos como pólos de tipos especiais. As cidades regionais
constituindo uma espécie de pólos terciários e os centros de mercado os pólos "terciários"
e "secundários" de áreas agrícolas, isto de acordo com J. Johnson que criou os termos.
Os bem conhecidos "pontos de crescimento" de Hirschman correspondem à mesma
noção geral, assim como muitos outros. Todos eles transmitem a idéia, mais ou menos
orientada pelas políticas de que o desenvolvimento e o crescimento económico tem lugar
de uma maneira aglomerada (setorial e geográfica) .
(3) A pesquisa teórica e o uso (politicas) do conceito foram mais intensos na
Europa, de onde eles se originam. Contudo eles fizeram incursões na América.
Na América Latina, o periódico "Cuadernos de la Sociedad Venezolana de Planlflca-
cion", sob a J!derança de Eduardo Neira, tem sido o divulgador da maior parte da
literatura relevante: A aceitação da politica do conceito tem sido vasta. Nos Estados
Unidos, J. P. Friedmann (veja, por exemplo, Frledmann e Alonso, eds., "Regional Develo-
pment and Planing" (Cambridge, Mass.: M.I.T. Press, 1964) e N.M. Hansen (vide
suas obras na nota n.• 35) entre outros, puseram à disposição da platéia profissional
os conceitos europeus. Hansen está tentando usar essa abordagem no desenvolvimento
de Appalachla. J. P. Friedmann tentou, por várias vezes, dar uma explicação analitlca
do conceito de "região core". Não me ocupei de sua interessante contribuição porque
restringi meu Interesse ao campo del!enado por Perroux.
( 4) J. R. Boudevllle, "L'espace et les pôles de crolssanse", Paris 1968 - Avant-
propos, p. 1 - reivindica para a escola francesa a maioria das teorias e politicas
desenvolvidas.
(5) F . Perroux, "Note sur la notlon de Pôle de Croissance", em Economie Appliquée,
Janeiro-Junho 1955.
-114-
A r:paioria de seus. seguidores .basearam os seus· argumentos no
segundo trabalho mais importante . de .Perroux, a o qual já diverge
do modo significante do primeiro. ' ·
Minha conclusão é que embora' o póló·de ·erescimento, e a noção
de espaço sobre a qual ele se baseia, cqiístituem frutuosas elabo-
rações teóricas, eles não conduzem necessariamente à política tra.-
dicional de pólos de crescimento. A análise mais profunda qesses
conceitos levará provavelmente _a urp. novo çonjunto de políticàs
que freqüentemente competirão, de maneira vantajosa, com a crua
variante do planejamento espacial, ~tuai.mente em.voga, superandç
os atritos de espaço geográfico para os quais o conceito de pólo d~
crescimento chama a atenção.
1 - O ESPAÇO PERROUXfANO
(6) F. Perroux, "La firme motrice dans la réglon et la réglon motrlce" em Tb,éorle
et Politique de l'Expanslon Réglonale, Bruxelas, 1961. É uma Idéia grandemente Intuitiva,
de grande apelo e aceitação. Já que não foi definida, e apenas esboçada, ela é út11
tanto para os seguidores de Hlrschmann quanto para os de Myrdal: de fato, a idéia é
quase tão essencial para aqueles que acreditam na inexorabilidade inicial dos fatores
aglomerados, e em suas transformações eventuais em fatores despolarizantes, como par(!.
os que sustentam que já que não é certa (ou multo remota) a mudança no comporta-
mento dos fatores e que elas não são inexorávels, deve-se lutar contra as polarizações·.
Em outras palavras, esta idéia desempenha o papel de fornecer um campo de batalha
intelectual aceitável. Um Intercâmbio de informações hipotéticas contraditórias tem
lugar sob sua cobertura. Foi neste sentido que usei o termo "Idéia de grande acei-
tação", tomando-o por empréstimo da comunicação de D.A. Schon ao HUD Summ~r
Study em Berkeley, 1968.
(7) F. Perroux foi um dos poucos líderes economistas franceses que se famlllarisarara
com as fontes alemãs. Especificamente, antes de ajudar a Introduzir a economia Keyne-
slana na França, ele teve grande importância critica na difusão do pensamento de
Schumpeter. Vide seu trabalho "La pensée économ!que de Joseph Schumpeter", Intro-
dução da tradução francesa de "Theorle der Wertschaftllchen Entwlcklung", Paris, 1935.
(s) C. Clark: "Loca!lzzazlone lndustrlp.le e popolazlone, Mllão 1964, p. 7. ·
(9) Para uma avallação global das contribuições à economia do espaço e s,;as apll•
cações ao planejamento regional, vide E. von Boventer, , "Spatlal Organlzatlon Theory
as a Basls for Regional Plannlng", no Journal of the .Amerlcan Instltute of Planners",
maio de 1964.
115-
económicas, e que esta era apenas uma perspectiva parcial, limi-
tada e perigosa. Em seu modo de ver, a geografia não se limita
de maneira rígida às forças económicas.
Na verdade ele sustentou que a concepção estática, rígida, tri-
dimensional de espaço havia conduzido a avaliações patológicas
desnecessárias e a políticas nacionais psicopáticas na Europa. 1 o
Para evitar tais conseqüências eles propôs 11 a substituição deste
conceito tridimensional de espaços na economia, por um tipo de
espaço abstrato e topológico. Por esta tendência, o espaço é o
conjunto de diferentes relações que definem um objeto. Já que
podem existir muitos sistemas de relações definindo um objeto,
para qualquer objeto existem diferentes espaços topológicos. Para
todo objeto existem muitos conjuntos de relações diferentes, muitos
conjuntos de espaços diferentes.
Isto posto, ele prosseguiu formulando uma tipologia tríplice 12
de espaços económicos topológicos: 1) espaço como a área de pla-
nejamento das unidades de decisão; 2) espaço como campo de
forças atuando sobre às unidades de decisão; 3) espaço como '
campo de objetos homogêneos. As dimensões euclidianas de qual-
quer um desses espaços topológicos variará, dependendo da de-
cisão sob exame.
Penso que Perroux estava certo quanto ao seu argumento bá-
sico de que uma visão topológica de espaço permite uma mais
fácil integração dos planos das diferentes unidades de decisão por
que ela favorece atitudes em direção e conciliações sobre aspectos
complementares entre as partes e que ao contrário, uma visão
euclidana ("continente-conteúdo") do espaço, uma rígida visão
etológica de espaço conduz ao afastamento e a agressão. 13
O conceito de pólo de crescimento é a derivação lógica de tal
tipo perrouxiano de espaço abstrato. O espaço econômico, como
campo de forças, conduz à noção de pólo, um vetar de forças
económicas.
(10) Ele declarou, por exemplo, que quatro dos principais complexos de nações eu-
ropéias poderiam ser reconstituídos a partir do conceito rígido de espaço. A saber, os
complexos de : (1) petite nation (naçA.o pequena); (2) Einkreisung (clrcundeamento);
(3) Volk ohbe Raum (nação sem terra); (4) fronteiras naturais e históricas; todas as
políticas derivadas dai são, em parte, o resultado de uma percepção 'euclidiana de
espaço. Vide sua Introdução em F . Perroux : "Economic space : Theory and Appllcatlons"
no Quarterly Journal of Economlcs, fevereiro, 1950.
(11) Ibid., Introdução.
(12) Ibid., Introdução.
(13) Hoje, depois do trabalho de K. Lorenz (On Aggression, New York, 1966) e R.
Ardrey (The Territorial Imperatlve, New York, 1966) entre outros, pode-se expor seu
argumento como segue : uma percepção "territorial" de espaço, dominada pelos mecanismos
tntlntlvos, reinou sobre as conceltuallzações de políticos e economistas europeus. Esta
percepção, além de outros fatores, ocasionou um comportamento Indesejável: Ela levou
ll. construção de sistemas sociais ecológicos Ineficazes, com uma propensão inerente para
explodir tão logo as magnitudes dentro dos sistemas atinjam certos limiares. Esta ten-
dência deve ser evitada. O homem pode visualizar o espaço de maneira diferente. Ele
é capaz de percebê-lo de maneira abstrata, não condicionado por categorias instintivas.
Hipoteticamente, uma conceituação abstrata do espaço facUlta a construção de sistemas
ecológicos em expansA.o continua, mais livres de explosão. No caso da hipótese ser vá-
lida, o que Importa é desenvolver tipologias adequadas, nas quais o número Indefinido de
espaços abstratos desmorona, e uma vez feito Isso, usá-los com o propósito de elaborar
sistemas ecológicos em expansão por sobre as barreiras de ambientes "territoriais".
-116-
2 - O CONCEITO DE "POLE DE CROISSANCE"
Perroux, em seu primeiro trabalho sobre pólos de cresci-
mento, 14 (1955) começou sua argumentação com a descrição do
circuito estacionário 15 de Gustav Cassei e do uso feito dele por
J. A. Schumpeter como um dispositivo de classificação para sele-
cionar as modificações devido às flutuações e ao desenvolvimento
na vidade econômica real. 16 Então, seguindo a linha principal de
Schumpeter, 17 Perroux expôs sucintamente a essência da mudança
estrutural ou desenvolvimental que leva uma economia a afastar-se
do circuito estacionário. Para ele a causa básica são às "inovações
schumpeterianas". Elas acarretam produtos mais desejáveis que
substituem os anteriores. Em outras palavras, desenvolvimento
para Perroux significa o nascimento de novas indústrias e a morte
das velhas; significa a diferenciação contínua das taxas de cres-
cimento dos novos e antigos produtos e das indústrias respectivas
das correspondentes taxas de crescimento do modelo de circuito
estacionário.
O desenvolvimento avança pelos efeitos diretos e indiretos de
inovações. Os novos produtos elásticos de alta rentaqilidade subs-
tituem os antigos produtos elásticos de baixa rentabilidade e pedem
por inovações em escala menor nos produtos a eles relacionados.
Os ajustamentos nos produtos ligados aos novos, através de suas
ligações, tanto para diante como para trás, são causados ao mesmo
tempo pela expectativa gerada pelo novo produto e pelos impactos
/ por eles realizados, através dos canais de renda e preço. Esses im-
1pactos resultam em desvios cumulativos dos equilíbrios estacioná-
rios (setorial e geográfico . As novas indústrias (e as cidades onde
elas estão localizadas) onde tem lugar as inovações desenvolvi-
mentiS as crescem mais rapidamente do que as indústrias e cidades
mais antigas. Das atividades ligadas às indústrias principais, nas
proximidades de novas indústrias e de suas localizações, também
crescem mais depressa, setorial e geograficamente, do que suas
equivalentes situadas em qualquer outro lugar. O desenvolvimento,
portanto, implica em diferenciação cumulativa, setorial e espacial,
-117-
no impacto; ele implica na aglutinação setorial e espacial de ati-
vidades em torno das atividades principais e no mais rápido desen-
v.olvimento dessas atividades d.o que as outras.
Em resumo, a essencial contribuição de Perroux ao argumento
básico schumpeteriano foi a de retirar a caixa de ferramentas
schumpeteriana de conceitos e hipóteses de sua colocação original
s~torial-temporal e de aplicá-la a um universo setorial-temporal-
geográfico. Ele conseguiu fazê-lo graças ao seu conceito de espaço
topológico. Ele encarava as modificações no sistema de indústrias
como transformações do espaço · setorial e se perguntªva qu~ ã
forma que elas_assumiriam no espaço geográfico. O pólo geográfico
é a imagein geográfica da indústria recentemente inovada e das
atividades a ela ligadas. 18
· Na estrutura de Perroux, as definições e hipóteses básicas de-
veriam responder as seguintes perguntas: (1) quais são as carac-
terísticas de uma indústria principal ("industrie motrice")? (2)
quais são aquelas do complexo industrial? (3) quais as inter-rela-
ções setoriais e espaciais entre as indústrias principais e o com-
plexo industrial? (4) quais são as inter-relações entre o cresci-
mento dos grupos industriais polarizados e o da nação? Ele não
respondeu adequadamente a essas indagações. Sua definição de
indústria principal é imprecisa; 19 a de complexo industrial é in-
·
eleva'do indice de aceleração ou de multiplicação, com autonomia de dispêndio, llder de
preço e ou produto, com elevada matriz de multiplicador técnico e assim por diante.
Os significados dos quais ele mais se vale em seus argumentos são: a Indústria
-118-
completa. 20 Sua explicação das inter-relações entre indústria prin-
cipal e o complexo industrial é parcial; 21 a das relações entre o
crescimento do pólo e o da nação é, pelo menos em parte, errônea. 22
A ineficácia de Perroux em obter um preciso mecanismo ana-
lítico para descrever a dinâmica do pólo de crescimento pode ser
atribuída ao seu desejo (assim como aos de seus seguidores) de
fazer uso imediato do conceito de pólo de crescimento no planeja-
mento. Isto o levou a tentar formular as definições e hipóteses
básicas utilizando os instrumentos quantitativos metodológicos
disponíveis. Eventualmente, esse propósito se tornou autodestru-
tivo. :!3 Pior ainda, como nem todos esses instrumentos metodoló-
(20) Na Seção II. n.• 2, de seu primeiro trabalho. Perroux apresenta, como uma das
razões funcionais do complexo industrial, o caráter oligopolista (não necessariamente
do mesmo ollgopóllo) das Indústrias que o constituem. Uma outra razão é o alto grau
de inter-relações técnicas Interna~ entre os insumos e os produtos das indústrias rela-
cionadas. Contudo, ele explica a aglomeração geográfica do complexo Industrial basi-
camente pela economia externa de Scitovsky e pelos fatores tradicionais de localização.
(21) Nas seções A, B, C e D de seu segundo trabalho, Perroux analisou os efeitos
dos atas da indústria líder sobre o complexo industrial. Ele fala formalmente em termos
de grande firma líder (ao invés de indústria líder) mas, já que ele não Introduz a
competição entre as firmas dentro da indústria, o argumento é consistente. Os efeitos
da firma ou indústria principal são analisados através de preços e rendas. A análise é
clássica e é efetuada sob duas hipóteses diferentes, com ou sem mudança tecnológica
posterior pela firma líder. As osc!lações de preço e renda levadas para frente e para traz
por melo de vinculas da firma líder são, no segundo caso, o resultado de erros na
estimativa de procura pela firma líder, e no primeiro caso, o resultado de sua nova
função de produção. A análise é ulteriormente mais detalhada fazendo a distinção entre
os efeitos diferenciais clássicos que a firma primaz produz, dependendo da localização
do complexo industrial, se numa região desenvolvida ou subdesenvolvida (vide seção E,
"La firme motrlce "). Ele não explica os efeitos do complexo sobre a firma ou inaustria
primaz, nem quando a firma já estava estabelecida nem antes. Especificamente, ele não
procura explicar se existem outros fatores, além dos recursos naturais, que possam atrair
a. firma, ou se um pequeno complexo pode atrair uma outra firma que, por sua vez,
pode tornar o complexo maior. Em resumo ele não fornece uma interpretação dinâmica
da interação complexo-firm.a líder em face das inovações em transformação.
(2"2) Na seção 3 de " Note sur la notlon", Perroux insinua que às vezes a polarização
pode ser benéfica ao crescimento nacional e às vezes prejudicial, dependendo da sorte
de cada um deles. Ele foi bem preciso com respeito à evolução dos pólos. Ele visualisou
o destino dos próprios complexos como rigidamente ligados ao de suas indústrias prin-
cipais; "O pólo, que era uma fonte de prosperidade e crescimento, se torna um centro
de estagnação". (Seção 2, tópico 3, fim do terceiro parágrafo, "Note sur la notion").
Sua apreciação global era a seguinte: as polarizações geográficas são desvios de longa
duração.
Seus efeitos sobre a região (positivo ou negativos, dependendo de serem as polari-
zações de crescimento ou de estagnação) e sobre a nação (efeitos positivos ou negativos
pouco claros, dependendo de como interagem as diferentes polarizações) necessitam de
correção, basicamente através de politicas orientadas no sentido da compensação de seus
efeitos por melo de polarizações geográficas de sinal oposto. Como exponho mais tarde,
o pólo de crescimento e o pólo de estagnação não necessitam ser fenômenos de longa
duração. O pólo de crescimento não se torna, tão pouco e necessariamente, um pólo
de estagnação. Além disso, graças a seu conceito de espaço topológico, as melhores politicas
para lidar com aquelas polarizações geográficas não necessitam ser do tipo fisico, geo-
gráfico.
(23) Conquanto Perroux mereça todo o crédito pela riqueza de seu primeiro tra-
balho teórico importante, ele é também responsável pelo retrocesso analítico no qual
ele se deixou cair em seu segundo trabalho, ao tentar tornar sua estrutura operacional
para fins de planejamento. Ao invés de desenvolver seus próprios conceitos e hipóteses
anaJítlcos, (vide nota 19) para preencher sua estrutura, ele experimentou a maioria dos
conceitos dlsponiveis em outras fontes. Ele veio, eventualmente, a se fiar, basicamente,
na análise interlndustrial, limitando, assim, seu conceito a uma de suas diversas di-
mensões e tecnologia. Sua adesão à técnica do insumo-produto excluiu todos os fatores
institucionais de micro e macroeconomia que ele tinha enumerado como importantes.
Na prática, isto teve como resultado que a sua análise, e a da escola francesa, tornaram-se
uma versão especial da abordagem insumo-produto intra e inter-regional. Em resumo,
Perroux pagou o preço do estreitamento da utilidade teórica potencial de seu conceito
ao ultrapassar a análise input-output. Ele nada ganhou em troca por causa da falência
geral das politicas de insumo-produto.
-119-
gicos são consistentes com o conceito de pólo de crescimento, o
próprio conceito tornou-se uma fonte de confusão nas economias
regionais. 24
É de se lastimar que a utilidade do conceito de pólo de cres-
cimento ainda esteja por ser percebida. Seu potencial é grande.
Este conceito, mais que outro qualquer, traz a lume como relevan-
tes questões analíticas, sobre se o desenvolvimento nacional im-
plica em polarizações sobre espaços topológicos diversos, e quais
são, se é que existem, as interrelações entre esses espaços. Conse-
qüentemente, ele torna mais extenso o uso da política potencial de
economia. Antes de Perroux apresentar a noção de espaço topoló-
gico, era difícil conceber que um fenômeno que era observado no
espaço setorial pudesse estar sujeito a uma política de dimensões
geográficas, e vice-versa. Sua noção sugere claramente que quando
não se pode atingir um objetivo, representado em um espaço topo-
lógico, por meio de políticas pertinentes a este mesmo espaço, tal
objetivo poderá continuar a ser perseguido por outras políticas
em outros espaços topológicos. Essas políticas são orientadas no
sentido do objetivo original mas delineados nesses últimos espaços
topológicos. 25
(24) Pode-se afirmar com segurança que muitos dos leitores de Perroux foram atrai-
dos pelo transparente potencial do conceito e da imagem do pólo de crescimento e,
inconscientes das limitações conceituais e analíticas de sua formulação, deram lugar
a uma considerável confusão. Assim, por exemplo, para muitos de seus leitores, a teoria.
do pólo de crescimento parece ser uma espécie de teoria dinâmica de localização. Embora
seja evidente que Perroux não podia ter ido além de Schumpeter cujas estruturas e
hipóteses principais ele adaptou, transferindo-as do espaço setorial para o espaço geo -
gráfico. Se Schumpeter não podia explicar em que setor e quando as Inovações teriam,
provavelmente, lugar, Perroux não podia expllcar onde elas !riam se localizar e, por-
tanto, onde iriam se erigir os complexos Industriais subseqüentes. Do mesmo modo que
Schumpeter, ele não pode explicar os efeitos derivados (magnitude, d!reção etc.) das
Inovações sobre o espaço geográfico.
Mesmo nesta tentativa de âmbito mais limitado, ele teve que fiar-se na economia
das aglomerações, pois sem ela ele não poderia explicar porque a polarização setorial
da v a 1ugar a polarizações geográficas.
Levou multo tempo até que se pudesse avallar, Inequivocamente, a contribuição for-
necida pela teoria de pólo de crescimento. J . Paellnck admitiu que ela não substituiu
a teoria de localização nem a economia de aglomeração (J. Paellnck : "Systémat!satlon
de la Théor!e du Dévéloppement Réglonal Polar!sé", sintese A, em Cahlers de l'I.S.E.A .,
série L, número 15 ). Ele d efiniu , mais tarde, seus relacionamentos com o conjunto da
teoria económica, declarando (op. c!t. acima, slntese B) que ela é "uma teoria con-
dicional de desenvolvimento regional", significando que ela estabelecia as condições para.
um desenvolvimento regional bem sucedido de maneira flexivel e não determin!stica.
(25) Em razão das novas perspectivas abertas pelo conceito, o conhecimento exis-
tente pode ser utilmente relacionado à sua estrutura. Por exemplo, as estratégias equi-
libradas ou desequilibradas na literatura de desenvolvimento económico podem ser repor-
tadas, com multo proveito, ao ponto (1) anterior.
Elas representam os pontos de vista opostos com relação a polarização setorial, e
seus vincules com o desenvolvimento nacional. Os "pontos de crescimento" de Hirschman
(A. o . Hlrscma.n, "The Strategy o! Economic Development", New Haven, 1958), uma
visão das relações entre polarização geográfica e desenvolvimento nacional, também podem
ser facilmente relacionados à sua estrutura. A maioria dos relacionamentos especi!lcos
(tais como m!graçl!.o e diferenciais de renda regional) entre polarizações setoria!s e
polarizações geográficas anallsados por Schultz, Myrdal, Okun, e outros, também se
relacionam ao ponto (1). No que concerne ao segundo ponto, J. R. Boudev!lle ("Les
notions d'espace et d'lntégratlon", op . cit., nota 4, p. 24) e que resumiu sucintamente o
conceito relevante de espaço económico como a projeção dos sistemas económicos abstratos
no espaço geográfico, frlzou que este conceito põe em relevo a. poss!billdade de plane-
lamento da integração económica de espaços geográ!lcos.
-120-
A escola francesa de economia do espaço, que se esforçou por
desenvolver o conceito de pólo de crescimento, falhou na explora-
ção de seu potencial, em razão da tendenciosidade que caracterizou
s~ pesquisas. 26
-121-
Vale a pena considerar alguns aspectos adicionais concer-
nentes às causas e resultado da tendência das pesquisas da escola
francesa. Em primeiro lugar, embora Perroux mereça crédito pela
riqueza do conceito de pólo de crescimento e pela noção de espaço
econômico topológico, no qual aquele é baseado, ele é responsável
pela orientação seguida pela escola. 36 Em segundo lugar, as limi-
tações de pesquisa da escola francesa de economias de espaços não
podem ser totalmente atribuídas às limitações da análise de in-
sumo-produto, seu método de base. Isto é, em grande parte, o
resultado da falta de sofisticação no emprego da análise. O uso
da análise de insumo-produto pela escola francesa não evolucio-
nou muito além da situação daquela técnica, nos anos de 50. 37
Seus objetivos de planejamento não são muito mais modernos:
Identificar e estabelecer as atividades com o mais alto efeito super-
multiplicador (em seus próprios termos "bloqueio interno") . Iden-
tificar e estabelecer os mecanismos para reduzir o escoamento
"líquido" dos incrementos gerados na renda regional ("bloqueio
externo"). 38 As técnicas de insumo-produto por eles usadas para
atingir esses objetivos são também antiquadas e de pouca via-
bilidade. 39
-122-
r Contudo, o maior preço pago pela escola francesa, ao res-
tringir sua análise às técnicas interindustriais 40 é que ela esva-
ziou o conceito de pólo de crescimento de seu primitivo significado
temporal e dinâmico, 41 substituindo-o por um conteúdo estático 42
e ou um conteúdo estático comparativo. O uso intensivo da téc-
nica · insumo-produto desviou a atenção da escola, da interpreta-
ção original de Perroux acerca do desenvolvimento Schumpeteriano.
Ela falhou ao deixar de desenvolver a particularidade de que a
atividade criadora do pólo de crescimento era essencialmente um
distúrbio setorial e geográfico, não em virtude de seu tamanho
maior do que a média, nem tão pouco por causa de seu índice
multiplicador mais alto, mas porque se tratava de uma inovação.
As outras características da atividade principal explicavam
exclusivamente o grau e a direção dos efeitos dispersares da inova-
ção. Conseqüentemente, ela não foi capaz de aproveitar-se da no-
ção de espaço topológico de Perroux para a compreensão do atual
processo de desenvolvimento. Além disso, ela não se preocupou em
testar, em reformular e nem completar as hipóteses de Perroux
sobre as dinâmicas de pólo de crescimento no contexto do recente
desenvolvimento econômico. E é isso que pretendo fazer nas seções
que se seguem.
- 123
no passado? Ou, melhor ainda, o desenvolvimento é, hoje, necessa-
riamente polarizado em todos os espaços topológicos? Se não o é,
em que espaços topológicos e sob que condições é ele polarizado?
Que políticas podem ser usadas para despolarizá-lo?
A escola francesa considerou, em princípio, o desenvolvimento
polarizado em todos os espaços topológicos e que a única espécie
de política interventiva para corrigir polarizações geográficas seria
algum tipo de planejamento de complexo industrial. Acredito, ao
contrário, que: 1) existe evidência bastante para se afirmar que,
pelo menos dentro das nações, o desenvolvimento está se tornando
cada vez menos polarizado sobre o espaço geográfico; 43 2) pode
haver novas políticas complementares para o planejamento físico
e setorial, ou que a eles possam se substituir, para corrigir os
distúrbios econômicos sobre o espaço geográfico; 3) a estrutura
original de Perroux, remodelada, pode ser de grande auxílio para
explicar as tendências de hoje em dia e sugerir políticas como o
foi no passado para detectar a polarização geográfica de desen-
volvimento.
(43) Em meu trabalho ''Some Tra!ts of the Process of Growth of the System of
Nat!ons: Stab!l!ty, Polar!zat!on, D!ffus!on", cujo resumo está para ser publ!cado em francês
em "Econom!e Pol!t!que" , use! o termo "polarizado" num sentido quase que oposto
ao que estou usando neste trabalho, onde sigo o significado dado por Perroux. O que
tente! mostrar neste trabalho é que, no registro histórico dispon!vel, não houve alte-
rações significativas na classificação relativa de pa!ses por suas rendas " per capita".
Melhor, os pa!ses cresceram, num grupo compacto, mantendo suas posições relativas : os
ricos se tornaram relativamente mais ricos; os pobres, mais pobres; mas os ricos e
os pobres de ontem continuam sendo, hoje, os mesmos pa!ses. Em outras palavras, a
estab!l!dade considerável na ordenação relativa foi acompanhada por uma polarização cres-
cente dos extremos, Isto é, a distância relativa e absoluta entre o rico e o pobre está
aumentando. Como já deve ser do conhecimento do leitor, este é, em inglês, o sentido
convencional de polarização nas ciências sociais. Como o define Webster: "... divisão
em dois opostos ... ; a concentração relativa a extremos opostos de grupos ou Interesses
normalmente conflltantes, anteriormente classificados em um continuo .. . " etc. Mas este
n ão é o sentido usado por Perroux. A Imagem que o termo transmite, em seu significado
comum da l!ngua Inglesa, é o de um ente continuo que é gradualmente estirado na
dlreção de seus extremos opostos; a de dois pólos opostos gerando forças que alteram
pouco a pouco a ordenação dos elementos, no espaço existente entre eles, atraindo-os.
No significado de Perroux, a Imagem é de uma sucessão de campos de forças diferentes
que geram uma seqüêncla mutável de vetares diferentes sobre o espaço funcional e
geográfico. A confusão semântica deriva, essencialmente, do fato de que em inglês, em
francês e em espanhol o termo pólo (poJe, põle, polo), transmite os significados das
duas raizes diferentes de onde derivaram os termos latinos "palus" (estaca) e "polus"
(eixo). Os dois diferentes significados originais e seus sentidos conexos (vetares e ex-
tremos, respectivamente), foram mantidos como palavras separadas por tanto tempo
quanto durou a grafia diferente das duas palavras. Elas se misturam sob a forma de
"poJe", quando a grafia das palavras se tornou igual. Por exemplo (vide Webster). no
inglês Intermediário, "pa!us" mudou para "pol" (do inglês antigo, "pai"), enquanto
"polus" era "pool". Depois deste enfadonho esclarecimento, será fácil entender o raclo-
c!n!o seguido pelo texto. É ele em essência: uma seqüência de desenvolvimento polari-
zado de um sistema de unidades geográficas (de nações, de regiões, de cidades etc.),
no primeiro significado (polus), é congruente tanto com uma seqüência polarizada quanto
com uma seqüênc!a despolarizada, no segundo significado (palus). Contudo, uma seqüênc!a
polarizada de ordem interna estável, no primeiro significado, só é consistente para uma
seqüênc!a despolarizada, no segundo. Meus dados sobre nações (1930-1960) mostram uma
polarização crescente no primeiro significado e a ausência de polarização no segundo. Os
dados sobre cidades que apresento neste trabalho e que serão relatados na íntegra no
meu próximo trabalho "Urban!zation and Deve!opment", mostram tanto uma polariza-
ção crescente (no primeiro significado) quanto uma despolarização crescente (no segundo),
Tudo isso no espaço geográfico. Em outros espaços económicos relevantes, o desen-
volvimento pode ainda ser polarizado. Isto significa que, ao menos no tocante às nações
(porque para as nações, os dados não mostram uma tendência clara no sentido da des-
polarização (2) , as regras de conversão, para passar daqueles espaços para o espaço geo-
gráfico, sofreram alterações.
124-
Consideremos o primeiro ponto. O processo de inovação, no re-
gistro histórico, está se acelerando enormemente, em cada uma
das direções e em todas elas. Estima-se que, enquanto o intervalo
entre as sucessivas ondas de inovações durou, era de cerca de
trinta anos antes da II Guerra Mundial, este foi reduzido para
desessete anos no período de pós-guerra e, atualmente, se apro-
xima de sete anos. 44 De acordo com a hipótese original de Perroux,
a aceleração do processo de inovação significaria uma aceleração
"pari passu" na ascenção e na queda das indústrias e cidades
correspondentes. Conseqüentemente poder-se-ia esperar que a es-
trutura urbana se tenha tornado muito instável, experimentando
as cidades rompantes súbitos, espasmódicos e explosivos de cres-
cimento e de queda.
Na medida em que fui capaz de medir o processo de cresci-
mento urbano, parece que o caso se deu exatamente ao contrário.
Os dados sobre o crescimento das cidades espanholas, no século
passado, mostram que as modificações nas hierarquias de cidades,
por tamanho, foram bem mais pronunciadas no passado do que no
presente, o que reflete uma homogeneidade crescente no processo
de crescimento do sistema de cidades. Isto pode ser claramente
notado na Tabela I. 4 "
O mesmo pode ser observado na Tabela 2, que assinala os
resultados de um teste mais formal. 46 Este teste empregou os coe-
ficientes de correlação de hierarquia de Spearman para comparar
as distribuições pelo tamanho decrescente de população em cada
ano de censo, de quarenta e nove cidades provinciais da Espanha
e de suas 157 cidades com mais de 10. 000 habitantes em 1860,
com suas respectivas distribuições no mesmo ano.
Em 1867, Bilbao era a 28.a maior capital provincial da Espanha
(das 49). Em 1960 era a 17.a Ela já havia atingido este posto em
1900. A passagem total de 19 postos foi conseguida em dois sub-
períodos de melhoria de hierarquia mais ou menos igual. De 1867
a 1877, Bilbao galgou 9 postos (dos 19). E de 1877 a 1900, os
outros 10.
Escolhi Bilbao como exemplo por ser ela a maior cidade e a
mais conhecida dentre as da Tabela. O rápido crescimento de
Bilbao baseou-se em seu ferro, seu aço e seus metais trabalhados.
Atualmente essa cidade possui a maior renda disponível per capita
da Espanha. Ela diversificou suas bases em produtos de enge-
-125-
TABELA I
-126-
nharia, estaleiros, produtos químicos, financiamentos, etc. Seu
crescimento foi anômalo. Seu produto básico de exportação foi o
minério de ferro (para o Reino Unido), uma base iverossímel para
uma industrialização. Bilbao desenvolveu suas siderúrgicas e acia-
rias porque seus navios de transporte de minério de ferro não
tinham frete de retorno do Reino Unido. Ao invés de voltar com
seus porões vazios, os embarcadores carregavam os navios com
carvão inglês a tarifas baixas. Isto tornou Bilbao num local viável
para um complexo industrial ferro-aço.
A tabela 2 mostra que a queda nos valores dos coeficientes
decresceu relativamente à medida que se aproximam do presente,
o contrário do que se poderia esperar se a aceleração de desenvol-
vimento significasse uma instabilidade maior na estrutura ur-
bana. A maioria dos dados de outras nações européias mostram
também uma estabilidade crescente na estrutura urbana através
do tempo.
TABELA 2
Coeficientes de Correlação de Hierarquia de Spearman entre as Diferentes Distri-
buições. Tamanho-Hierarquia de Cidades na Espanha, em Diferentes Anos de Censos
(1867 - 1960) e o do Censo de 1860.
1860
-127-
uma estabilidade relativa notável, a despeito das alterações de cida-
des como Phoenix, Houston e Miami. 47
Contudo, onde se poderia esperar que o declínio histórico nos
efeitos de polarização geográfica fosse menos provável seria nos
países recentemente desenvolvidos, principalmente naqueles que
tivessem sofrido um crescimento rápido, como a Venezuela. É pre-
cisamente isto que nos mostra a Tabela 3. 48
Todos os coeficientes, na tabela, são significativos ao nível
de 1 por cento e mostram um decréscimo relativo na queda de
seus valores. Pode-se, então, concluir da evidência disponível que
não existem provas de que a maturação do processo de desenvolvi-
mento aumente significativamente a estrutura urbana; a evidên-
cia disponível sugere, ao contrário, o oposto. Atualmente, as pola-
rizações sobre o espaço topológico setorial parecem distribuir-se
sobre a estrutura urbana de modo a permitir uma configuração
estável de crescimento do sistema de cidades. 49 O crescimento e
o declínio relativo de cidades como uma conseqüência da locali-
zação das transformações sucessivas no sistemas de indústrias, ao
nível nacional, está se tornando um problema de pouca impor-
tância na maioria dos países.
O que poderá explicar isto? Admitindo-se, como parece de-
monstrar a evidência, que, no passado, existiam mais polarizações
geográficas que no presente, e que hoje elas são tanto maiores
quanto menos desenvolvidos forem os países, qual a explicação
para tal? Apresentamos, na próxima seção, algumas respostas hipo-
téticas a essas perguntas. Mais tarde, na seção que se segue, ex-
traímos novos critérios para política de de.senvolvimento regional.
(47) Vide, por exemplo, Erlc Lampard, "The Evolvlng System of Cltles ln the Unlted
States: Urbanlzatlon and Economlc Development", em Harvey Perloff and Lawdon Wlngo
(eds.) Issues ln Urban Economlcs (Baltimore: Johns Hopkins Press. 1968) .
(48) J . R. Lasuen, "Urbanlzatlon and Development (a ser publicado brevemente
cap. 10).
(49) Esta é obviamente uma manifestação do processo geral de convergência regional
de níveis de renda e estrutura económica.
Quando apresentei este trabalho no Congresso da "Southern Economlc Assoclatlon"
em 1968, não achei necessário tornar explicito este relacionamento. Dr. Alexander Ganz
do "Jolnt Center for Urban Studles" do M.I.T. / Un!versldade de Harvard, principal
comentador do trabalho, me aconselhou a fazê-lo. Estou multo grato por seus comentários.
Esta nota e a de n. o 60 são resul tactos de seus conselhos.
O processo geral de convergência regional é o resultado do aumento da mobilidade do
capital e do trabalho. Ele cede lugar a uma similaridade crescente nas proporções fatorials
das diferentes funções de produção, das diferentes indústrias e fábricas, nas diferentes
regiões e de regiões diferentes. A mecânica do processo foi alvo de multas atenções. Uma
abalizada avaliação da pesquisa é apresentada em Ha.rvey Perloff e outros, "Reglons,
Resources a.nd Economlc Growth", Baltimore, 1960. Efetua.mos uma no capitulo 2 de nosso
próximo livro, op. clt., (nota 48).
Naturalmente, a crescente convergência nas funções de produção tende a resultar numa
convergência crescente dos registras de crescimento das cidades e na. estabilidade crescente
da hierarquia. urbana.
Como o leitor se lembrará, as análises do processo geral de convergência regional foram
executadas em termos diferenciais de produtividade e de renda criados por rigidez de
recursos e os movimentos relacionados de população e capital. Nossa argumentação tem
por objetlvo explicar alguns dos fatores que podem acelerar ou retardar os movimentos de
capital e trabalho, que não seja os fatores de transporte e comunicação considerados pela
análise.
-128-
TABELA 3
1831 1
1891 0 .744 1
1936 0 .740 0 .738 1
4 - DESENVOLVIMENTO ECONôMICO NO
ESPAÇO ORGANIZACIONAL
-129-
O subprocesso de difusão sugere uma atraente hipótese para
explicar as polarizações geográficas mais fracas do presente. Na
verdade, a maioria das pessoas, "a priori", tendem a acreditar que
a revolução nas comunicações favoreceu um acesso não somente
mais rápido porém maior, mais homogêneo, da população a qual-
quer informação.
No que se refere às informações sobre assuntos gerais, parece
haver evidências que sustentam essa hipótese. Contudo, não é
prudente concluir-se daí que a difusão de conhecimento de ino-
vações sobre o espaço geográfico era mais restrita no passado do
que atualmente.
No passado as difusões eram, indubitavelmente, mais vagarosas
mas tinham, pelo menos, tanta amplitude quanto hoje. Essa hipó-
tese é errônea porque ela pressupõe que a difusão das informações
gerais e específicas tenham características idênticas; o que vem
omitir um fato decisivo, a existência, natureza e importância crí-
tica de canais seletivos ou privilegiados de comunicação para a
difusão de informações de assunto específicos. O fazendeiro ouvirá
com mais atenção, e estará mais inclinado a reagir, a uma nova
informação agrícola provinda de um outro fazendeiro do que da
maioria das outras fontes, meios e agentes; e o homem de ne-
gócios, o profissional, o acadêmico, o político, e assim por diante,
reagirão da mesma maneira.
A informação específica é difundida através das mesmas redes
físicas de comunicação que as informações gerais, mas não alcança
as pessoas da mesma maneira. 52 Antes de alcançar uma audiên-
cia ela terá que passar através de um conjunto adicional de fil-
tros seletivos resultantes das especializações de indivíduos e de
organizações. Conseqüentemente, ela só poderá atingir aquelas
pessoas profissionalmente interessadas. A revolução nas comunica-
ções só afetou essencialmente aqueles que operam em várias linhas
diferentes de atividade e aqueles cujo trabalho é o de passar seus
focos de uma atividade para outra, de acordo com a valiação de
diferentes sinais de informação específica. Isto se deve ao fato de
que a maioria dos fluxos de informação, previamente manuseados
separadamente de todos os canais, são agora difundidos de modo
tal que possam ser coletados e sintetizados mais rapidamente. Mas
para a maioria das pessoas que, funcionalmente (em suas ativi-
dades econômicas), estão sintonisadas apenas para certos sinais
específicos, a revolução nas comunicações não significou mais que
-130-
um mais rápido acesso às novas informações específicas e maior
exposição às informações gerais.
Observando aqueles que são os adaptadores das inovações em
qualquer linha e em países que não criam as inovações, Gs consta-
ta-se sempre que eles são os manufaturadores de produtos anterio-
res, atendendo necessidades similares (por exemplo, os produtores
de bicicletas no caso da nova produção de bicicletas a motor) ou
o intermediário que importava antes o produto (no caso de subs-
tituição de importação), ou o técnico que reparava os mesmos pro-
dutos, ou ainda, uma combinação de todos eles. Voltando-nos para
o passado, na história, 54 na arqueologia, 55 se quisermos, sempre
encontraremos a mesma configuração, como indicou Hagers-
trand, GG mais rápida ou mais lenta, sempre existiu a difusão de
conhecimentos específicos drigida particularmente a pessoas do
ofício, e bastante constante em sua extensão geográfica. Como o
leitor constatará, a evidência das seções transversais e das séries
cronológicas é extremamente significativa porque ela aumenta a
importância da diferença entre informação geral e informação es-
pecífica. O que a evidência sugere é que a sensibilidade à informa-
ção específica depende da intensidade das ligações com o mercado
da audiência da informação específica. Já que o padrão geográfico
da aceitação de novas inovações tem sido de notável estabilidade na
história dos países, essa evidência sugere ainda que a distribuição
geográfica de comércios em evolução tem sido, normalmente, muito
estável. Em conseqüência disto, existem subcanais de informação
específica, dentro das redes físicas de comunicação, determinados
pelos fatores organizacionais cuja estabilidade sobre o tempo e o
espaço geográfico é considerável.
Em resumo, os subprocessos de difusão geográfica do conheci-
mento de inovações somente pode explicar o ritmo mais lento ou
mais rápido das polarizações geográficas. Ele não pode explicar por-
que a estrutura urbana era muito menos estável no passado que
atualmente, e porque a seqüência de desenvolvimento temporal
era mais polarizado sobre o espaço geográfico.
Então, necessariamente, a explicação para as modificações ex-
perimentadas nos processos de polarização geográfica deve repou-
sar sobre as mudanças ocorridas no subprocesso da disseminação
de adoções.
-131-
Para esclarecer como o subprocesso de adoções se modificou
através do tempo e como esta mudança afetou o uso do espaço
geográfico, é conveniente fazer-se, claramente, a distinção entre o
estabelecimento ou a fábrica, a firma e a indústria ou produto.
O adotante das inovações tem sido sempre a empresa, mas as
conseqüências das adoções para a nação têm sido e podem ser
muito diferentes se a firma for do tipo produto-único/indústria-
única, se ela for do tipo multiproduto/multindústria/ multiplo-
tipo ou se ela pertence a algum outro tipo intermediário. 57 Isto
posto, pode-se afirmar de maneira breve e rudimentar que a revo-
lução nos transportes, juntamente com escala cada vez maior das
sucessivas séries de inovações e a reorganização das empresas (do
primeiro ao último tipo acima referidos) têm sido fatores proe-
minentes na determinação de padrões mutáveis de localização de
inovações pelo tempo. As modificações no transporte e a escala
ascendente das inovações têm agido, na maioria das vezes, na
mesma direção. A força de correção para a tendência que elas
estabeleceram tem sido a mudança no modo de organização interna
das principais empresas e a mudança resultante no padrão de in-
ter-relações entre todas as firmas dentro de uma economia.
A despeito do fato de que em qualquer tempo, com maiores ou
menores obstáculos, todos os que pretenderam adotar a nova ino-
vação tivera acesso ao seu conhecimento, o tamanho crescente das
operações reduziu progressivamente o número real de adotantes.
Os meios de transporte de insumos e produtos sucessivamente mais
rápidos e mais econômicos também favoreceu a redução do nú-
mero de adotantes e suas localizações em lugares centrais. Por-
tanto, aqueles dois fatores geraram o crescimento rápido de algu-
mas áreas e o declínio relativo e compensador de algumas outras,
descritos na teoria de pólo de crescimento.
(57) No capitulo 4 do meu próximo livro desenvolvi a tipologia seguinte:
ESTAGIO DE REORGANIZAÇAO DE EMPRESAS
- 132-
Naturalmente, a estruturação da reorganização dos diferentes
comércios pelo espaço geográfico, gerada pelo processo, modificou
as redes de informações específicas, em conseqüência reforçando
a tendência para polarizações geográficas mais intensas pelo
tempo. No início o processo de reorganização interna, seguida
pelas firmas principais reforçou a tendência anterior. Algumas
firmas evoluíram do tipo produto-único/ indústria-única para o
esquema rnultiproduto/ indústria-única, devido a vantagens resul-
tantes da revolução da engenharia de produção. Resultaram do
processo empresas com indústrias de integração vertical; nos Esta-
dos Unidos e no Canadá o processo atingiu sua maturidade nos
últimos anos do século XIX e nos primeiros anos do século XX,
onde as primeiras mudanças no sentido da firma rnultiproduto/
/ multi-fábrica/ multiplicidade foram ocorrer sob a forma de em-
presas "holding", urna forma que mais tarde foi adotada corno a
estrutura típica de empresa industrial.
Na Europa, até a Segunda Guerra Mundial, reinou, inconteste,
o complexo vertical, devido a fatores institucionais, culturais e
sociológicos; os combinados de Ruhr que influenciaram o pensa-
mento de Perroux, são os melhores exemplos.
Ultimamente, a revolução da engenharia de produção criou um
tipo inteiramente novo de administração e modificou drasticamente
a estrutura de organização das principais empresas. A empresa
líder de hoje é uma organização livre que tem por objetivo não
tanto o fabrico de um produto melhor e mais econôrnico em urna
linha principal, mas de se capacitar para entregar ao mercado a
mistura mais lucrativa dentre o fluxo mutável de produtos e/ ou
serviços que o mercado exige. A idéia de adaptação às inovações
prevalece sobre a de penetração através de urna inovação. Esta
última já não é mais tão segura, não somente porque muitos outros
competidores têm capacidade de repetir a investida, mas porque
o resultado se tornará, de qualquer modo, rapidamente obsoleto. O
que importa, para a empresa, é ser capaz de se mover para dentro
e para fora de qualquer linha, em qualquer ponto, e misturar as
linhas da maneira mais lucrativa a qualquer tempo. Conseqüente-
mente, as firmas procuram evitar o apego servil a qualquer deter-
minada linha. Se possível, elas subernpreitarão a maioria de suas
atividades e procurarão manter a administração exclusiva da mon-
tagem de todas as peças. Elas abririam mão da pesquisa, aquisi-
ção, produção, venda, serviços etc., para manter as funções de
desenho, planejamento, marketing e financiamento. Movendo-se
nesta direção as empresas líder atravessam toda a espécie de espa-
ços topológicos. Elas operam fábricas por todo o mundo, põem no
mercado milhares de produtos, produzem muitos deles, montam ou-
tros, subernpreitam toda espécie de funções, possuem pontos de
apoio na agricultura, na indústria, nos serviços e assim por diante.
Em resumo, para que se imagine a mudança que ocorreu nos
-133-
últimos trinta anos, na estrutura das empresas basta comparar
a tremenda rigidez de Krupp com a estupenda flexibilidade de
Litton.
E ainda mais, a modificação na forma de organização das
firmas líderes teve uma repercussão não menos espetacular no
padrão de interrelações entre as firmas por toda a comunidade
negociante. AB ligações entre grandes e pequenas firmas dentro
de uma indústria e entre firmas de todos os tamanhos em ramos
diferentes tem sido grandemente fortalecida. Essas ligações assu-
mem diversas formas. As firmas são ligadas por subempreitadas,
direitos de fabricação, licenças, know-how, marketing, administra-
ção e contratos. Resulta daí que os canais de difusão de informa-
ções específicas entre as firmas foram consideravelmente amplia-
dos e fortalecidos. Elas multiplicaram o grau de sensibilidade das
empresas a todas as inovações, tornando-as receptivas a um maior
número delas, porque multiplicaram a intensidade das ligações de
mercado entre as firmas. As novas ligações aumentaram também
a difusão potencial de adoções, porque as firmas maiores agora
ajudam as menores na adoção.
Em razão dessas mudanças organizacionais (inter e intra-em-
presas), o mapeamento das atividades de firmas tipo Krupp e dos
complexos industriais do passado está necessariamente destinado
a maior polarização sobre o espaço geográfico do que o daque-
las do tipo Litton.
O traçado sucessivo das atividades dos dois tipos dará, pro-
valmente, uma configuração geográfica repetida para a primeira e
um padrão de rápidas alterações para a segunda. Atualmente
Litton está fazendo pesquisas submarinas profundas na Califórnia,
pesquisas espaciais em Boston, desenvolvendo o turismo na Gré-
cia, e assim por diante. Amanhã essa empresa poderá estar cons-
truíndo casas em Bedford-Stuyvesant ou efetuando pesquisas sobre
sementes de arroz nas Filipinas. Ninguém ousa prever o que ela
fará, mas todos se sentem seguros ao prever que Krupp estará
basicamente em Essen trabalhando em algo que se relacione com
o aço. O mesmo pode ser afirmado da hoste de pequenas firmas
ligadas às empresas principais.
Esta é a razão porque, de hoje em diante, quando Litton (e
não Krupp) representa provavelmente o protótipo dos principais
adotantes, com ligações de mercado entre firmas mais fortalecidas
a aceleração de desenvolvimento resultará provavelmente em uma
polarização geográfica bem menor que no passado. E isto porque
os processos de reorganização inter e intra-empresas favorecem
atualmente a adoção de séries sucessivas de inovações. Mais ainda,
se os processos de mudança da escala de inovações, das redes
físicas de transporte e comunicação e da forma de reorganização
dos negócios não forem alterados, o processo acima provavelmente
se tornará cumulativo: os canais de difusão de informações espe-
-134-
cíficas se tornarão menos e menos seletivos, a expansão de adoções
mais extensiva sobre o espaço setorial e geográfico, e o desenvol-
vimento econômico mais rápido e menos polarizado.
- 135
(as que não careciam de mão-de-obra muito qualificada) nos Esta-
dos do sul.
AB vezes, quando as principais empresas dos países menos
desenvolvidos atingem a estrutura organizacional que está predo-
minando nas firmas principais dos Estados Unidos, e as ligações
intra-empresas de mercado se fortificam, o efeito de filtragem, já
em prática em muitos países, será complementado pelo comporta-
mento de despolarização da estrutura moderna inter e intra-em-
presa. Não somente as indústrias de linhas mais antigas serão mu-
dadas para os equivalentes funcionais da Flórida, do Tennessee,
Arizona e Texas, mas também as novas.
Podemos acelerar esse processo?
De uma certa forma Hirschman antecipou a maior parte da
minha argumentação. Disse ele 59 que o desenvolvimento, em seus
primeiros estágios, precisa ser geograficamente polarizado, concen-
trando em "pontos de crescimento", por causa da falta de empresa-
riado fora daqueles centros. O emprego de recursos na criação de
infra-estrutura nas regiões subdesenvolvidas com o intuito de atrair
investimentos industriais, é uma estratégia antieconômica.
Discordo de Hirschman apenas pelo fato de acreditar que as
razões para sua estratégia dependem muito do tipo de organiza-
ção comercial predominante. 6 (} Sua ponderação é válida e os
países em vias de industrialização e com problemas de polarização
geográfica irão repetir os estágios de reorganizações comerciais
seguidos pelos países adiantados. Sob o modelo monoproduto/ mo-
noindústria, e mesmo sob o modelo multiproduto/ multindústria-
monocidade, do tipo de empresário individual, a mudança de novas
fábricas do "norte" para o "sul", significa, na verdade, a mudança
de toda a família e do ambiente familiar do empresário, digamos,
de Barcelona para Andaluzia. É evidente que isso só pode ser
feito em pequena escala. A alternativa lógica, que é a de criar em-
presários em número suficiente no "sul", está ainda mais fora da
realidade. Entretanto, os países menos desenvolvidos não são obri-
(59) A. O. Hirschman, op. clt., nota. 25.
(60) Ainda aconselhado por A. Ga.nz (vide nota 49), devemos tornar explicito que
não estamos desafiando a. existência. de fortes lnterrelações entre os processos de urba-
nização e de desenvolvimento. Ao contrário, usando os conceitos de Perrouxs, encaro a.
urbanização e o desenvolvimento como mapeamentos sucessivos, sobre os espaços geográ-
fi cos e setorlal, respectivamente, das transformações de atlvldades económicas através
do tempo.
O que estou afirmando é simplesmente que a. lnter-relação entre as duas manifestações
(urbanização e desenvolvimento) do processo de transformação económica. não é única.
Quero dizer com Isso que (1) as ca.racterlstlca.s da. relação são diferentes nos diferentes
estágios das duas (um ponto de vista. geralmente aceito), e (2) que mesmo em estágios
similares, o relacionamento pode ser diferente; que as "regras de conversão" para pro-
jetar os mapeamentos de transformações económicas do espaço setorlal para. o espaço
geográfico podem mudar e ser modificadas . Elas mudam devido a. vários fatores . Multas
delas não podem estar sujeitas a. politica.. Pelo meno uma o é: o padrão de organização
da.s empresas. Agindo sobre ele, "ceterls parlbus" pode-se a.glr sobre o padrão de urba-
nização e ou o padrão de desenvolvimento.
-136-
gados a ultrapassar apenas os estágios tecnológicos do passado.
Eles também podem ultrapassar os estágios de reorganização co-
mercial: eles podem, com sucesso, copiar as formas de organizações
comerciais bem sucedidas. E se eles o fazem, a inexorabilidade de
desenvolvimento polarizado decresce e também descresce a neces-
sidade da estratégia de Hirschman.
Dito de outra maneira, Hirschman acredita, assim como Per-
roux e a escola francesa, na inexorabilidade do desenvolvimento
polarizado. Ele está em desacordo com eles quanto ao fato de que
ele acredita que a melhor maneira de reduzir os efeitos negativos
das polarizações geográficas, não é o de estabelecer pólos de com-
pensação. Antes, ele sustenta que é melhor 1) alimentar o cres-
cimento dos pólos existentes, na esperança de que eles eventual-
mente esvaiam-se e 2) aumentar a atração das áreas subdesen-
volvidas para aumentar a possibilidade do escoamento dos pólos.
Penso que a ponderação de Hirschman, embora certa, é um
tanto ambígua. Ele está certo quando critica a escola francesa;
é ambíguo na sua proposta. O fato de trazer suprimentos ilimita-
dos de trabalho barato para Tóquio, Buenos Aires, Barcelona, Mi-
lão, e outras, por si só não favorece um rápido escoamento. Isto,
ao longo do tempo, cria um enorme e confuso alastramento urbano
em torno dos pontos de crescimento porque as firmas, mesmo
quando são organizacionalmente capazes de mudar-se para o sul,
não encontram diferenciais de salário suficiente entre suas locali-
zações já existentes e as do "sul" para criar suas capacidades de
expansão no "sul". Contudo, cercear a migração também não aju-
da, até que as firmas tenham sofrido a necessária reorganização.
A maioria das firmas do "norte" são do tipo monoproduto/ mono-
indústria e, devido ao mercado e às limitações de financiamento,
não podem expandir sua capacidade com o acréscimo de fábricas
mas apenas com o acréscimo de seções dentro da única fábrica que
geralmente possuem. Conseqüentemente, os diferenciais de salário
entre as regiões não são importantes como fatores de localização.
As firmas podem aumentar a produção no "norte", mas não po-
dem mudar suas fábricas para o "sul".
De um modo geral, para evitar os problemas de polarização
geográfica nos países que, provavelmente, ainda enfrentarão tal
contingência, uma estratégia bipartida poderia ser compensadora.
Por um lado, deveria haver um esforço no sentido de alimentar
uma transformação mais rápida possível na estrutura das empresas
líderes, obtendo as modificações correspondentes nos relacionamen-
tos entre todas as firmas, do molde antigo até o novo, como os
japoneses o fizeram tão satisfatoriamente. Isto aceleraria a ma-
turação dos pontos de crescimento de Hirschman. Por outro lado,
deveriam ser desenvolvidos esforços para aumentar a relativa atra-
-137-
ção da localização nas áreas subdesenvolvidas, a estratégia com-
plementar de Hirscman.
No que concerne ao último ponto, eu endossaria muito mais
calorosamente uma política muito flexível a ser basicamente diri-
gida no sentido do preenchimento das necessidades específicas das
empresas (privadas ou públicas) para localização no "sul" em vez
de uma política rígida que objetivasse a concessão de um conjunto
fixo de incentivos (financeiro ou físico) para todas as empresas.
Mantenho isto porque as necessidades das firmas serão diferentes,
dependendo de seus níveis de organização. Capital, crédito, treina-
mento de pessoal, serviços complementares e infra-estrutura indus-
trial e assim por diante, têm prioridades diversas para as empresas ,
dependendo do desenvolvimento organizacional e tecnológico de
cada uma delas. As políticas destinadas a atrair as firmas poderiam
aproveitar-se dessas prioridades diferenciais para aumentar sua
eficácia.
No que concerne a política de reorganização dos negócios, o
que é necessário é a criação, tão cedo quanto possível, de inter-re-
lações mais fortes entre todas as indústrias por todos os espaços
topológicos (geográficos, setorial etc.). Isto pode ser conseguido,
como foi sugerido, pela consolidação de todas as indústrias em
grandes empresas multifábrica/ multiproduto e/ ou pela fomentação
de ligações interfirmas.
Para que uma política orientada no sentido da reorganização
seja eficiente é necessário que o mundo comercial tome em consi-
deração a forma atual da estrutura comercial nos países em desen-
volvimento. "Ceteris pari bus", será proveitoso começar com as fir-
mas que já tenham alcançado um certo grau de diversificação e
de tamanho. E também a ação da política deverá ser iniciada nas
áreas de negócios onde, devido aos vínculos de mercado, os resul-
tados serão mais expressivos, deixando para mais tarde aquelas
firmas, setores etc., onde a integração é mais difícil de ser atingida.
Seja qual for o tipo da firma, elas tendem a se sentirem pro-
fundamente ligadas a seus compradores e vendedores. O grau de
diretividade em cantatas de mercado, entre firmas, determina
"ceteris paribus", o grau de sensibilidade de uma empresa pelo
destino de outras firmas. Depois da revolução na comunicação de
informações gerais, qualquer que fosse a forma prevalecendo de
organização dos negócios, as firmas tendiam a se sentir mais for-
temente ligadas no sentido do mercado de seus produtos finais
do que na direção do mercado de suas matérias-primas. Esses dois
fatores psicológicos indicam que, de modo geral, parece mais fá-
cil alimentar a integração de firmas a partir dos mercados finais e
mover-se gradualmente em direção ao fator de produção, prosse-
guindo ao longo da rota dos cantatas diretos.
-138-
Nos países subdesenvolvidos as firmas de atacado, de varejo,
os bancos e outras atividades de serviço são relativamente maiores
e mais diversificadas do que as firmas industriais. Esta situação
oposta ao padrão do mundo desenvolvido é facilmente explicável
pelo argumento da indústria incipiente. As firmas não industriais
sofreram pouca competição externa e mesmo com pouca proteção
foram capazes de se desenvolver mais rapidamente. Conseqüente-
mente, também tiveram oportunidade de se diversificar.
Já que essas firmas não industriais estão também mais pró-
ximas do mercado final, os países subdesenvolvidos puderam contar
mais eficazmente com elas (nas duas considerações mencionadas)
em suas políticas de integração de seus universos empresariais. São
necessárias algumas palavras de advertência. Em primeiro lugar,
diversificar as grandes firmas ou conseguir a integração comer-
cial através de contratos especializados interfirmas é uma questão
que depende muito da disponibilidade de executivos qualificados
que possuam mentalidade científica, sejam enérgicos, tenham espí-
rito social e capacidade de adaptação. Quanto menor for sua dis-
ponibilidade de pessoal executivo quanto menos conveniente a
abordagem "holding". Em segundo lugar, para que a integração
dos negócios seja um "ativo" social em vez de um "passivo", ela
deve ser perseguida de modo que produza melhores níveis de com-
petição de preço e de produto. Ela também tem que alcançar um
estado no qual as firmas integradas entrem em maior concorrên-
cia na adoção de inovações do que antes. Não é difícil conceber-se
como isto pode se tornar viável. Exagerando, poderíamos dizer
que o grau de competição em uma economia com cem grandes
firmas produzindo, cada uma, dez mil produtos similares, será
provavelmente maior do que o resultante da interação de dez mil
firmas, com cem produtos similares cada. No último caso, preva-
lecerá o monopólio em muitos setores e em muitas regiões. Em
terceiro lugar, o tamanho do mercado do país não deveria con-
dicionar excessivamente o padrão de organização empresarial na
maioria dos países. Contudo, para evitar o problema do tamanho
do mercado, sempre que ocorra, os países poderiam pensar em
sua integração continental mais através de firmas multinacionais
do que através de acordos de estandardização de mercado.
Finalmente, para planejar o desenvolvimento de uma única
região, a maioria das diretrizes relativas a política de reorgani-
zação empresarial no contexto de regionalização de desenvolvi-
mento "national" são relevantes. Deve-se enfatizar a promoção de
firmas que abastecem o mercado final e favorecer sua diversifica-
ção para outras atividades e, através de contratos de diferentes
tipos, ajudá-los a organizar outras firmas em atividades relacio-
nadas com o mercado.
-139-
6 - CRITÉRIOS PARA POLíTICAS DE DESENVOLVIMENTO
REGIONAL EM PAíSES DESENVOLVIDOS 61
O tema geral que acaba de ser exposto exige, com relação ao
mundo desenvolvido, e onde também existem bolsões de dispari-
dades regionais (em alguns casos ainda maiores), várias pon-
derações. 62
De um modo geral, concordo plenamente com Hansen 63 em
que nos países desenvolvidos as indústrias terciárias e quaternárias
-não manufatureiras - são as indústrias de crescimento. Tam-
bém concordo com ele em que elas se expandem cumulativamente,
concentradas geograficamente nas áreas desenvolvidas dos países,
ao passo que estão relativamente ausentes das regiões mais atraza-
das. Conseqüentemente, para se nivelarem com as regiões adianta-
das, as áreas retardatárias necessitam receber uma grande quanti-
dade de atividades terciárias e quaternárias. Em outras palavras,
melhores escolas e as melhores estradas em Appalachia fazem
sentido. Se elas não conseguirem ajudar os Appalachianos em
Appalachia, elas certamente os ajudarão a obter melhores condi-
ções fora da região.
O que me aflige na idéia de um pólo de crescimento terciá-
rio não é a ênfase nas políticas que foram tentadas, e falharam
na Europa dos últimos quarenta anos, porque o que não fazia
sentido na Europa subdesenvolvida do pré e do pós-guerra pode
fazer sentido nos Estados Unidos hoje. Antes, o que me aflige são
as implicações que resultarão de uma polarização geográfica de
infra-estrutura urbana para atrair serviços ou indústrias manufa-
tureiras orientadas para os serviços no desenvolvimento de áreas
atrasadas.
No meu ponto de vista, parece claro que a imagem dos com-
plexos da Route 129 e do El Camino Real não é menos perigosa
do que a imagem do complexo Ruhr. Isto conduz à falsa noção de
que para ter uma conexão das indústrias e dos serviços com
Harvard e M. I. T. e com Stanford e Berkeley, a única coisa a fazer
é criar pequenos mas similares magnetos de pesquisa e educação,
ou para que se tenha pequenas "Manhattans", a única coisa a fazer
é criar pequenos "First City Banks", firmas de publicidade de Ma-
dison Avenue e companhias de seguro. Se fosse este o caso, a espe-
rança das futuras Appalachias do mundo seriam bastante som-
(61) Esta seção não existia quando o trabalho foi publicado pela primeira vez. Ela
foi acrescentada para o Growth Center Coloquium realizado em Austin, na Universidade
do Texas em Novembro de 1969.
(62) Essas ponderações foram extraídas de meu trabalho Estabilidade da Hierarquia
Urbana e Polarização Espacial : Réplica a ser publicada em "Urban Studles". Preparei
este trabalho para responder a vários pontos levantados pelo Professor Hansen em seu
trabalho "Notas sobre a Estabilidade Hierárquica Urbana e a Polarização Espacial" a ser
publicado no mesmo jornal.
(63) Op. Cit. nota 62.
-140-
brias porque a duplicação daqueles pólos é simplesmente im-
possível.
Contudo, penso que existem alternativas estratégicas mais
eficientes. Com efeito, no mundo adiantado de hoje a maioria das
atividades terciárias e algumas das atividades industriais orienta-
das para os serviços são executadas por empresas menos inte-
gradas e diversificadas (no aspecto organizacional) que as firmas
industriais mais tradicionais. Isto as forçam a se agrupar no espaço
geográfico. A proximidade física é o substitutivo para as ligações
organizacionais mais fortes, intra e interempresas. A lição que
se pode tirar, tanto do fJ;:acasso das tentativas de duplicar os agru-
pamentos físicos das firmas industriais tradicionais (na ausência
de uma estrutura organizacional de comércio diversificado) quanto
do sucesso conseguido em presença de uma estrutura comercial
integrada e diversificada (inter e intra-empresa) é de que, para
se dispersar as forças centrípetas das ligações físicas entre em-
presas, é de bom alvitre enfraquecer seus empuxos pelo fortale-
cimento dos vínculos organizacionais entre elas.
Tudo isso equivale à aplicação da estratégia bipartida, men-
cionada na seção anterior às atividades terciárias e quaternárias,
nos países desenvolvidos. Se, por um lado, em concordância perfeita
com Hansen, isto exigiria a criação de infra-estrutura urbanas que
favorecessem a localização daquelas atividades; exigiria, por outro
lado, a promoção de uma integração inter e intra-empresa daquelas
atividades para permitir o desmembramento de operações de sua
localização original para as desejadas novas localizações.
Concordo com Hansem em que os fatores que atraem as ati-
vidades terciárias e quaternárias nos países desenvolvidos são as
infra-estruturas urbanas e que estas é que devem ser estabelecidas,
devendo-se confiar nelas. Concordo com Hirschman, com respeito
aos países em desenvolvimento, em que os fatores que atraem as
atividades secundárias são os investimentos diretamente produtivos
e os incentivos para o investimento, os quais precisam ser postos
a disposição nas zonas a serem desenvolvidas. Mas penso que as
políticas respectivas para os países adiantados e aqueles em desen-
volvimento, precisam ser suplementadas com uma outra política
que favoreça a diversificação e a integração de atividades terciá-
rias e secundárias. Em outras palavras, as duas políticas se dife-
renciam, exclusivamente, quanto ao conteúdo dos incentivos que
devam ser localizados nas áreas a serem desenvolvidas e nos tipos
de firma para a qual devam ser dirigidos os esforços reorgani-
zacionais.
Dados as inter-relações entre as atividades terciárias e secun-
dárias (em produção e em organização) e tendo em vista o fato de
que as firmas não industriais são relativamente maiores, mais
-141-
diversificadas e integradas, no mundo em desenvolvimento, que
as firmas manufatureiras, afirmei na seção anterior que os países
subdesenvolvidos podem apoiar nelas (nas firmas não industriais),
com muita eficácia, suas políticas de integração de seu mundo
empresarial. Inversamente, nos países desenvolvidos, poderá ser
conveniente o emprego da rede de atividades manufatureiras exis-
tentes para promover um desdobramento espacial similarmente
homogêneo das atividades terciárias e quaternárias. Esta estratégia
geral também pode ser aplicada sob a forma de propostas especí-
ficas para atrair firmas manufatureiras para mercados onde a
política pública n ão foi bem sucedida, como no caso da habitação
pública nos Estados U:nj.dos.
CONCLUSÃO
-142-
NJLES M. HANSEN
-145-
das unicamente por meio das forças de mercado. Infelizmente, a
maioria dos problemas contemporâneos de distribuição de recurso
no espaço implicam, necessariamente, em padrões complexos de
crescimento urbano-industrial que não são sensíveis a tratamento
feito por meio de urna análise teórica que faça tais suposições e
que também faça abstração dos efeitos externos. Assim, Rowin
acha que voltar-se para os teóricos tradicionais para orientação so-
bre problemas de distribuição de recursos regionais "é urna expe-
riência desapontadora já que a assistência fornecida por eles neste
ponto é relativamente escassa onde se poderia ter esperado que eles
fossem de maior ajuda". 3 Da mesma forma Bauchet observou que
a abordagem clássica à localização "permaneceu liberal"; não pro-
pondo urna diretriz para a ação. 4
Corno conseqüência das inadequações da abordagem tradi-
cional aos problemas de localização, urna nova corrente de pensa-
mento surgiu nos últimos anos, centrada na noção de pólos de
desenvolvimento (pôles de corissance). Este conceito foi lançado,
sistematicamente, em artigo bem conhecido por Perroux, que sus-
tentava que o fato fundamental do desenvolvimento espacial tanto
quanto do ~etorial é de que "o crescimento não aparece em todo
lugar e de urna vez; aparece em determinados pontos ou pólos de
desenvolvimento, de intensidade variável; espalha-se ao longo de
diversos canais e com efeitos terminais variáveis para o conjunto
da economia". 5 Seguindo Perroux, Hirscharn descobre que, para
que qualquer economia possa atingir níveis mais elevados de renda,
"deverá desenvolver primeiramente, dentro de si um ou vários cen-
tros regionais de poder econôrnico. Essa necessidade de surgimento
de pontos crescentes ou pólos de crescimento, no decorrer do pro-
cesso do desenvolvimento, significa que a desigualdade internacio-
nal e inter-regional do crescimento é uma concomitância inevitável
e condição para o próprio crescimento". 0 Essa abordagem é igual-
mente seguida em um recente estudo sobre políticas regionais
européias, feito na Inglaterra.
"Em qualquer tempo haverá algumas indústrias, empresas ou
regiões que agindo corno pólos de crescimento se desenvolvem rapi-
damente, enquanto outras encontram-se em fase de imobilidade ou
de declínio. Urna situação de declínio - numa indústria ou numa
-146-
regmo - poderá levar a ... um pedido de intervenção estatal.
A questão de saber se o estado deverá ou não intervir em tais
circunstâncias, não pode ser solucionada em simples termos eco-
nômicos. A análise econômica, entretanto, poderá avaliar a natu-
reza da escolha. 7
Embora o conceito de pólo de desenvolvimento já esteja agora
sendo utilizado em muitos países, sua relevância como instrumento
de análise e ferramenta para orientar as decisões nas políticas
públicas continuou a receber a maior atenção na França. Este
fenômeno é, sem dúvida, devido em grande parte aos esforços úni-
cos da França para criar um conjunto abrangente e coerente de
instituições de planejamento regional (inclusive as 21 "regiões
programas" seus respectivos "préfets" e suas comissões econômicas
de desenvolvimento regional) e para regionalizar o orçamento
anual do governo central. Na verdade "até o presente momento, a
França é o único país europeu que compreendeu a criação de
instituições regionais em uma base econômica". 8 É atualmente
aceito, de um modo geral, tanto na França, como em qualquer
outro lugar, que o governo central tenha o poder "de criar as bases
para um crescimento equilibrado por todo o país. . . através de
intervenção pública", assim como os meios para lograr "uma divi-
são equilibrada das atividades econômicas entre as regiões". 9
Infelizmente, essas metas gerais não são em si mesmas ade-
quadas como diretrizes políticas porque antes de mais nada deve
ser especificado com mais cuidado o que se entende por "cresci-
mento equilibrado" através de um país e o que se entende por
uma distribuição equilibrada das atividades econômicas. Natural-
mente, os critérios de valores que concernem a variáveis mais espe-
cíficas tais como renda regional, migração, padrões de investi-
mento público devem, em grande parte, ser tomados pelo eco-
nomista, como dados. Todavia, o estudo dessas questões requer
um considerável apuro da noção altamente geral de pólo de desen-
volvimento. O propósito deste artigo é o de examinar os usos
muitas vezes ambíguos que têm sido feitos deste conceito e de
avaliar suas forças e fraquezas como instrumento de análise
econômica.
(7) Polltical and Economic Planning , "Regional D evelopment ln the European E cono-
mic Community (Londres: Politicai and Economic P!anning , 1962) p . 13. O conceit o de
pólo de desenvolvimento também é importa nte em estudos pol!ticos r elevantes da Comu-
nidade Económica Européia. Vide, por exemplo, "La politique régionale dans la Commu-
nauté Economique Européenne (Bruxelas: Communauté Economique Européenne, 1964) ,
PP. 46-73.
(8) J . F. Gravier, L 'Aménagement du territoire et l'avenir des r égions trançaises "
(Paris: Flammarion, 1964) p . 127. Infelizmente , o estudo deta lha do dessas instituições
es t á além do âmbito do presente artigo. Entretanto, a esse respeito existe um grande
número de boas fontes. Vide, por exemplo, Jacques de Lanversin, L 'aménagement du
territoire (Paris : Librairies Techniques, 1965) e Olivier Gulchard, Aménager la. France
(Paris: Laffont Gonthier, 1965).
(9) P . Pottier, "Axes de communication et théorie de development", Revue Econom1-
que, XIV (Janeiro, 1963), p . 128.
-147-
1 - PóLOS DE DESENVOLVIMENTO E
ESPAÇO ECONóMICO
Embora a teoria de pólos de desenvolvimento possa ser útil
para o exame e comparação das diversas conseqüências de escolhas
alternativas de localização, ele não é, por si só, em sentido estrito,
uma teoria de localização. Assim, um pólo de desenvolvimento não
é equivalente a uma indústria chave, a uma base econômica, a uma
zona industrial ou mesmo a algum fenômeno geograficamente con-
centrado. Ele deve ser interpretado, antes em seu sentido essencial-
mente econômico e funcional. 10 Para se apreciar integralmente
esta perspectiva torna-se necessário colocar o artigo original de
Perroux sobre os pólos de desenvolvimento no contexto do seu tra-
balho pouco anterior, sobre espaço econômico.
O conceito de espaço econômico de Perroux não deve ser con-
fundido com a localização simples como é definida pelas divisões
políticas ou geográficas. "Um sentido banal de localização espacial
cria a ilusão da coincidência do espaço político com o espaço eco-
nômico e humano"; entretanto, pela distinção entre o espaço eu-
clidiano e o espaço abstrato "podemos distinguir, em nossa matéria,
tantos espaços econômicos quanto sejam o número de estrutura
integrantes de relações abstratas que definem cada objeto da ciên-
cia econômica". Para Perroux existem três tipos de espaços eco-
nômicos: o espaço econômico como é definido por um plano, o
espaço econômico como um campo de forças e o espaço econômico
como um agregado homogêneo. Além do mais, está bastante claro,
em cada caso, que Perroux centraliza sua análise antes nas rela-
ções do complexo econômico do que em considerações especifica-
mente geográficas. O segundo tipo, em especial, que é o mais rele-
vante no contexto atual "consiste em centros (ou pólos ou focos)
dos quais emanam forças centrífugas e para o qual são atraídas
forças centrípetas. Cada centro, sendo um centro de atração e de
repulsão, tem seu próprio campo, está implantado no campo de
outros centros". 11
A orientação não-geográfica de Perroux contrasta com ênfase
dada por Boudeville ao caráter regional de espaço econômico. Se-
guindo Perroux, Boudeville sustenta que, sob um ponto de vista
econômico, existem três tipos de espaço: o homogêneo, o polarizado
e o espaço de planejamento ou programado. Assim, no primeiro
exemplo, uma região pode ser caracterizada por seu grau de uni-
formidade; a noção de uma região homogênea corresponde a um
espaço contínuo no qual cada uma das partes ou zonas constituin-
tes tem características relevantes tão similares quanto possível
uma das outras. No segundo caso uma região pode ser estudada
(10) Jean Pa.ellnck, "La. théorle du dévelopment régional pola.risé", "Ca.hiers de l'Ins-
titut de Science Economique Appllquée, Série 1, n.• 15 (março de 1965), pp. 10-11.
(11) François Perroux, "Economic Space: Theory a.nd Appllcations" Qua.rtely Journal
ot Economics, LXIV (fevereiro, 1950) pp. 90-7.
-148-
à luz do grau de interdependência de suas diversas partes. O
espaço polarizado está estreitamente relacionado à noção de uma
hierarquia de centros urbanos classificados de acordo com as fun-
ções que desempenham; uma região polarizada é um espaço hete-
rogêneo, cujas diferentes partes se complementam e suportam umas
às outras, e onde elas mantêm maior troca de artigos e ser-
viços com um centro ou pólo urbano intra-regional dominante
do que com as regiões vizinhas. Finalmente, uma região pode ser
encarada sob o ponto de vista dos objetivos que persegue. Assim,
a região de planejamento ou de programa é um espaço cujas várias
partes dependem da mesma decisão; além disso, é um instrumento
colocado nas mãos de uma autoridade, não necessariamente loca-
lizada na região, para atingir um determinado objetivo econô-
mico. 12 O fato das vinte e uma unidades geográficas criadas na
França com propósitos de planejamento regional terem sido deno-
minadas "régions de programme" não é uma mera coincidência, já
que a política governamental a esse respeito está, de modo geral,
associada ao conceito teórico correspondente. O próprio Boudeville
fez, explicitamente, esta conexão lógica. 13 Portanto, de um modo
geral, embora Boudeville (e outros) adote a terminologia de
Perroux, dá-lhe uma utilização mais concreta ao sustentar que a
teoria do espaço econômico "é a aplicação de um espaço mate-
mático sobre ou em um espaço geográfico". 14 Contudo, qualquer
avaliação desta abordagem requer, primeiramente, considerações
sobre um outro aspecto da teoria de pólo de desenvolvimento, a
saber, o conceito de dominança.
2 - DOMINANÇA ECONôMICA E O
PROCESSO DE POLARIZAÇAO
-149-
dução e unidades de consumo ou entre diferentes unidades de
produção. Ocorre a dominação quando "uma empresa controla
um espaço econômico abstrato, o mercado de um produto ou ser-
viço ou um grupo de produtos ou serviços". Ademais, uma empresa
"que exerce seu controle em um espaço econômico exerce sua
influência sobre um outro espaço econômico, seja de maneira per-
manente e estrutural (um banco comercial), seja de um modo
acidental (uma empresa torna-se dominante pela presença de
"gargalos" temporários)". 15 Além disso "tão logo surja qualquer
desigualdade entre firmas, estará aberta a brecha através da qual
se insinuará o efeito cumulativo de dominança". 1 G Dados esses
fenômenos, segue-se que a empresa dominante ou propulsiva será,
geralmente, grande e oligopolística e exercerá grande influência
sobre as atividades dos clientes e dos fornecedores. E mais, em
termos de espaço geográfico as indústrias dominantes e propulsivas
tornam a aglomeração onde estão localizados os pólos de suas
regiões. 17
O conceito de dominança tem, na verdade, uma contrapartida
empírica correspondente. Aujac, por exemplo, elaborou um modelo
que ordena os setores franceses sob a forma input-output, de ma-
neira tal que as demandas intermediárias relativamente grande
estão situadas abaixo da diagonal principal, enquanto aquelas
relativamente fracas estão situadas acima dela. Esta triangulação
da matriz é confirmada pelo critério do melhor cliente. Se A,i
representa as vendas da indústria i para a indústria j e Aii o in-
verso, então, diz-se que j domina i se ( Aii/Pi) > (Ai;/Pi), onde Pi
e Pi são, respectivamente, as vendas totais de i e de j. É estabelecida
uma hierarquia, com bases nestes cálculos, na qual cada setor
domina o que o segue. 18 Entretanto, as dificuldades apresentadas
em qualquer aplicação direta do padrão nacional de fluxos ao nível
regional seriam consideráveis. Dependendo do número e da mag-
nitude dos vínculos inter-regionais qus devem ser, certamente, mui-
to grandes para áreas como as das regiões de programas francês,
muitas ligações interindustriais passarão para o "resto do mundo".
Os vínculos entre a produção local e o consumo local, assim como
os efeitos do investimento nos empregos, requereriam, em especial,
uma grande atenção. Mais ainda, as respectivas para a utiliza-
ção eficaz de matrizes inter-regionais não são brilhantes. Como
Rodwin, oportunamente, observou "o descuramento dos efeitos de
preço, a dificuldade da obtenção de dados para esses modelos e os
problemas computacionais grandemente aumentados, que os des-
dobramentos regionais acarretam, conjugados com as grand~s sim-
-150 -
plificações de categorias de indústrias e as supos1çoes não realís-
ticas de linearidade nos torna céticos quanto à utilidade imediata,
para não dizer a longo prazo, deste instrumento". 19 Portanto, de
um modo geral, embora a noção de dominança tenha sido veri-
ficada de modo empírico para a estrutura das indústrias em uma
nação como um todo é, atualmente, operacionalmente irrealizá-
vel, regionalisar ou de qualquer outro modo dar um conteúdo espa-
cial ao modelo regional. Todavia, o problema da análise do papel.
de setores dominantes como pólos de desenvolvimento localizados
não necessita restringir-se as técnicas de input-output. Na ver-
dade, pode-se argumentar que estas não seriam suficientes em
qualquer hipótese, mesmo se as dificuldades puramente técnicas
de sua aplicação e utilização pudessem ser superadas.
Os dados de input-output não são capazes, por si só de explicar
o processo de desenvolvimento econômico, embora eles possam ser
de auxílio na compreensão de suas manifestações. Se pode ser pre-
sumido, portanto, que o desenvolvimento econômico de uma região
está geralmente relacionado com seu grau de industrialização, é
necessário que se examine com mais cuidado o processo de modifi-
cação nas interdependências industriais. O estudo sistemático des-
sas ligações e de suas evoluções sob diferentes condições torna-se
necessário se se pretende que a política regional tenha os meios de
iniciar e reforçar os padrões ótimos de crescimento. Como afirmou
Paelinck, não é suficiente que o economista que trabalha com pro-
blemas de desenvolvimento regional limite sua análise "às inter-
dependências clássicas de fluxo econômico (do tipo Walras ou
Leontief), quer em termos de quantidade quer em termos de valor.
Ele deve, além disso, ser capaz de reconhecer a origem técnica
desta interdependência, que explica sua complexidade sempre
crescente". 20
Recordemos que os conceitos de espaço econômico e de pólos
de desenvolvimento foram definidos em termos de abstração da
localização espacial concreta e em termos de áreas geográficas. A
dominança de uma indústria propulsiva foi tratada da mesma
maneira. O modo de ver de Perroux sobre o processo de cresci-
mento é consistente com esta teoria de espaço econômico quanto
ao fato de que a indústria continua sendo seu ponto de partida e
seu elemento essencial no desenvolvimento subseqüente. Aydalot
sustentou, corretamente, que embora Perroux às vezes "pareça es-
tudar a localização do processo de crescimento, na verdade esta
localização parece secundária para ele" já que "o fenômeno pri-
(19) Rodwin. op. cit. pp . 150-1. Mesmo em nível nacional (a precisão da tabela
input-output em uma economia de tamanho médio como a França, cada vez mais aberta
aos mercados externos, parece, na verdade, questionável" Sylvan Wickham, "French
Pla~ning Retrospect and Prospect", Review ot Economics nnd Statistics.
(20) Paelinck, op. cit. p. 8.
-151-
mário é a aparição e o desaparecimento de indústrias", "a difusão
do crescimento de uma indústria". 21
Os efeitos gerados por uma indústria propulsiva que a qua-
lifica como um pólo de desenvolvimento foi explorado, teorica-
mente, por numerosos escritores. Alguns desses efeitos são intrí~
secos a própria indústria; isto é, seu próprio crescimento gera
maior investimento, maior emprego e distribuição da remunera-
ção dos fatores, inclusive os lucros que podem ser retidos e rein-
vestidos. O crescimento interno de uma indústria gera também
numerosos efeitos externos, os efeitos induzidos vertical e horizon-
talmente podem, naturalmente, ser tratados dentro da estrutura
de matrizes input-output. Os efeitos da polarização teoricamente
examinados mais tarde pela aplicação de matrizes ou vetares apro-
priados do tipo matriz inicial de Leontief. Entre os fenômenos
explorados neste contexto está o clássico multiplicador Keynesiano
baseado nas tendências marginais do consumo aplicado aos au-
mentos de renda, o princípio do acelerador em conexão com a
mudança da demanda final e a influência recíproca de preços
entre setores e empresas relacionadas. 22
Apesar de algumas diferenças de ênfase, são três as caracterís-
ticas básicas das indústrias ou empresas propulsivas que aparecem
na literatura pertinente. Em primeiro lugar, ela deve ser relativa-
mente grande para pressupor-se que gerará suficientes efeitos
diretos e potencialmente indiretos para ter um impacto signifi-
cativo na economia; em segundo lugar, ela deve ser um setor de
crescimento relativamente rápido; e em terceiro lugar, a quanti-
dade e intensidade de suas interrelações com outros setores deve
ser importante de modo a que um grande número de efeitos indu-
zidos sejam, realmente, transmitidos.
A importância da grandeza, enfatizada primeiramente por
Perroux, foi também acentuada, em trabalhos posteriores, por
outros estudiosos do assunto. Bauchet, por exemplo, escreve que
o crescimento de uma região subdesenvolvida depende das ações
de grandes unidades econômicas. "Sua massa, sozinha, é capaz
de impulsionar a região no caminho do crescimento econômico". 2~
Davin sustenta, similarmente, que "os pólos principais são
encontrados na indústria pesada, altamente capitalizada, e são o
domínio das grandes empresas. É essencialmente um assunto das
(21) Phlllppe Aydalot, "Note sur les économles externes et quelques notlons conexes",
Revue économlque, XVI (novembro de 1965), p . 962.
(22) VIde, por exemplo, Jacques Boudevllle, "La réglon Plan", Cahlers de l'Instltut
de Sclence Economlque Appllquée, Série 1, n .• 9 (outubro de 1961); François Perroux
"La firme motrlce dans une réglon, et la réglon motrlce", lbld, pp. 192-241.
Jean Paellnck opt. clt., e Louis Davln, "Economle réglonale et crolssance (Paris.
Edltlons Oenln, 1964) p . 54-72.
(23) Pierre Bauchet. "Les tableaux économlques, analyse de la réglon lorra!ne
(Paris, Edltlon Oénln, 1955) p. 10. Um outro estudo sobre pólos de desenvolvimento sus-
tenta que, no Inicio do crescimento de uma região, o papel dos grandes conjuntos indus-
triais é de importância capital. L. E. Davln, L. Degeor e J . Paellnck "Dynamlque économi-
que de la réglon Iiégeolse (Paris, Presses Universitaires de France, 1959), p. 156.
-152-
indústrias metalúrgicas que produzem certos tipos especiaiS de
aço, das indústrias de metais que utilizam es produtos os mais
elaborados da indústria química, e das atividades que se destinam
a fornecer produtos cuja demanda está em expansão funda-
mental". 24 Assim "a multiplicidade de pequenas empresas de pouca
dimensão, trabalhando de maneira dispersa, sem que se conte com
algumas grandes empresas não é capaz de por em movimento uma
economia regional verdadeiramente dinâmica". 25 Contudo, como
será brevemente estudado, a noção de grandeza industrial apre-
senta dificuldades nesse particular. Por outro lado, é razoável su-
por-se que uma empresa ou indústria propulsiva seja de rápido
crescimento. Contudo vários problemas podem surgir quando ela
chega ao terceiro critério o da inter-relação com outros setores.
Aydalot argumentou que, feitas todas as considerações, a defi-
nição mais simples de uma indústria propulsiva é a de que é ela
um produtor de economias externas 26 Entretanto, também aqui,
deve-se perguntar qual a espécie de espaço econômico envolvido.
Aydalot está bastante certo quando aponta que, a priori, o
conceito de polarização não implica em concentração geográfica.
A polarização "é o processo pelo qual o crescimento de uma ativi-
dade econômica denominada propulsiva põe em movimento o de
outras atividades econômicas através de economias externas." 27
Mas este processo ocorre em espaço econômico abstrato. "Assim,
embora uma indústria propulsiva deva, certamente, ter uma loca-
lização no espaço geográfico, o "processo" de polarização não é
sujeito à localização geográfica não ambígua. Prosseguindo, a par-
tir de sua definição do processo de polarização, Aydalot mostra
que a indústria automobilística é um exemplo de indústria propul-
siva, e que a Régie Renaut é um exemplo de uma firma propulsiva.
Considerando suas filiadas em todo o mundo tanto do lado do
insumo quanto do produto, pode-se dizer que a Renaut é um pólo
cujo centro é Paris e cuja periferia abarca a maior parte do mundo.
Contudo, isto nega ao pólo uma existência espacial autônoma.
Assim, embora se possa entender porque a Renault é um pólo
industrial, nada evidencia o que faz de Paris um pólo geográfico. 2 s
Ainda mais, ao contrário da abordagem levada a efeito por muitos
autores, a indústria propulsiva não é necessariamente o agente
causal no processo de polarização. Dizer-se que uma determinada
área constitui um pólo de crescimento por causa das forças aglo-
meradoras de suas indústrias propulsivas não explica a razão por-
que essas indústrias estão localizadas nesta área; o pólo espacial
também desempenha um papel causal na localização de indústrias
-153-
propulsivas. Em outras palavras, mesmo induzindo outras ativi-
dades, as indústrias propulsivas constituem apenas um elo no pro-
cesso de polarização industrial geográfica pelo fato de serem elas
próprias também induzidas. Portanto, qualquer tratamento ade-
quando deste fenômeno deverá levar em conta a pronunciada ten-
dência do crescimento industrial para ser orientado fundamental-
mente para áreas já industrializadas por causa das economias ex-
ternas geradas por tais áreas, inclusive uma vasta gama de ser-
viços terciários, maior proximidade dos compradores e fornecedo-
res, mão-de-obra com o necessário treinamento e especialização e
capital público abundante. Naturalmente, isto também implica em
que na medida em que o governo central tenha uma política re-
gional, as economias externas diretamente supridas por ele (capital
público) ou indiretamente (políticas de taxa ou crédito) podem ser
usadas para modificar o crescimento econômico ao longo das
linhas coerentes com os objetivos da política. 29
(29) Para dados e exames mais detalhados a respeito dessas questões vide os seguintes
artigos do autor deste trabalho: "Regional Planntng ln a Mlxed Economy", Soutllcrn
Economlc Journal, XXXII (outubro de 1965) p. 176-90; "The Structure Determlnants
of Local Publlc Investlment Expendltures", Revlew of economlcs and Statlstlcs, XLVII,
(maio de 1965), 150-62; "Unbalanced Growth and Regional Development", Western Eco-
nomlc Journal, IV (outubro de 1965) pp. 3-14; "Some Neglected .Factors ln Ame1ican
Regional Development Pollcy: The Case of Appalachla", Land Economlcs, LXII (fevereiro
de 1966), pp. 1-9.
-154-
o paradoxo de indústrias relativamente pouco desenvolvidas coe-
xistindo com condições altamente favoráveis à localização indus-
trial. 3° Como enfatizou Paelinck, "os fatos não indicam que se
possa considerar qualquer implantação industrial isolada, como
um pólo de desenvolvimento necessariamente eficiente, através do
qual sejam produzidas relações de polarização eficazes, sejam elas
técnicas ou de qualquer outro tipo". 31
O tipo de desenvolvimento que caracterizou a região de Lyon
fornece um surpreendente contraste com a experiência da Lor-
raine.
"Partindo de uma economia baseada essencialmente nos têx-
teis, a região de Lyon foi desenvolvendo progressivamente a cons-
trução de máquinas para a indústria têxtil (um pólo derivado) e,
por indução, setores especializados de mecânica e fundição (pólo
lateral). Ao mesmo tempo foi desenvolvida uma indústria de
produtos químicos para a indústria têxtil que, por sua vez, esti-
mulou o setor químico em geral; esta última se tornou um pólo
lateral de desenvolvimento da maior importância para a região". a:.1
Contudo, deve-se assinalar que mesmo onde a complexidade
das condições funcionais para a bem sucedida implantação de
uma )ndústria potencialmente propulsiva são plenamente ava-
liadas, ainda pode haver tendências a um otimismo excessivo
acerca das possibilidades de sucesso. A teoria de crescimento de
Hirschman é, por exemplo, muito similar à teoria de pólo de desen-
volvimento como foi elaborada na França e na Bélgica, principal-
mente quanto à ênfase sobre o crescimento desequilibrado em
relação ao processo de polarização. Hirschman observa que as polí-
ticas de investimento público podem ser consideradas como repre-
sentando, pelo menos, uma tentativa para corrigir a separação en-
tre níveis econômicos regionais. Uma das abordagens seria a de dar
às regiões mais pobres um sistema de infraestrutura tal como aque-
le existente em áreas mais adiantadas. Entretanto, de acordo com
Hirschman, este pode não ser o meio mais eficiente de induzir o
crescimento porque a falta de empresariado suficiente pode muito
bem significar que a natureza puramente permissiva desta abor-
dagem não seja explorada. Portanto, embora possam ser necessários
alguns investimentos de infra-estrutura, a "tarefa essencial" é a de
dotar às regiões mais pobres de alguma atividade econômica e ati-
vamente induzida. Entre as medidas desenvolvimentistas governa-
mentais que ele julga serem eficazes nesse aspecto estão a constru-
ção de uma aciaria no Oriente da Colúmbia e a mudança da nova
capital do Brasil para o interior do país. 33 No entanto, embora essas
atividades possuam considerável potencial como pólos de desen-
(30) Pael!nck, op. clt. pp. 12-13; Bauchet, "Les Tableaux Economlcs, op. clt. pp. 58-9.
(31) Paellnck, op. clt., p. 13.
(32) Ibld .
(33) Hlrschman, op. clt., pp. 194-5. (Seleçâo 8 deste volume).
-155-
volvimento, seus efeitos induzidos só se tornarão ativos na presença
de economias externas já existentes. Naturalmente Hirschman
sustentava que a pronunciada necessidade destas últimas, evi-
denciada pela introdução de uma atividade propulsiva, é, na
verdade, justamente o que é necessário para gerar o seu apa-
recimento. Contudo, até aqui, a evidência a esse respeito não é
muito convincente. Aydalot salientou muito bem que "a teoria de
desenvolvimento tentou integrar a teoria de pólos de desenvolvi-
mento, mas sem grande sucesso". Realmente, os grandes complexos
de "indústrias propulsivas implantados nos países africanos, na
maioria dos casos, não preencheram seus papéis". 34 As dificuldades
com que se defrontam os países de recente desenvolvimento tam-
bém se aplicam, nesse aspecto, aos problemas de desenvolvimento
regional em países mais desenvolvidos, embora estes últimos te-
nham economias externas em grau não encontrado nos primeiros.
Já citamos o caso da Lorraine. O caso de Lacq no sudoeste
da França fornece uma ilustração ainda melhor do assunto. Ades-
coberta de grandes depósitos de gás natural em Lacq alimentou
grandes esperanças de que a industrialização do sudoeste, relati-
vamente subdesenvolvido, seria assegurada pela presença daquela
fonte de energia. Na verdade "o complexo de Lacq corresponde per-
feitamente bem à definição que F. Perroux deu de indústrias pro-
pulsivas (efeitos assimétricos e taxa de crescimento acima da mé-
dia nacional)". 35 Um estudo inglês salientou não apenas as oportu-
nidades potenciais apresentadas pela descoberta de Lacq, mas tam-
bém considerou sua importância regional como pólo de desenvolvi-
mento um fato consumado. 36 Entretanto, na realidade, o complexo
de Lacq tem sido, essencialmente, um fenômeno local que pouco
modificou a situação econômica geral do sudoeste. Por causa da
presença, em outras regiões, de economias externas muito maiores,
verificou-se ser mais econômico transportar o gás para áreas já
industrializadas do que criar novas indústrias em Lacq. Assim,
Guglielmo está certo ao observar que:
"Ainda não se constatou se o planejamento indicativo de eco-
nomias liberais é capaz de resolver o problema da industrialização
de regiões rurais em depressão". "A Cassa di Mezzogiorno" não foi
bem sucedida na criação de bases para o desenvolvimento industrial
regional no sudeste da Itália. Na verdade, as únicas indústrias
novas que se localizaram nestas regiões são indústrias extrativas ou
indústrias básicas altamentes automatizadas (refinarias de petró-
leo, fábricas de produtos químicos) que empregam poucas pessoas
e são raramente capazes de produzir o efeito multiplicador que às
-156-
vezes é esperado, como foi ilustrado pelo caso de Lacq, cujo com-
plexo permanece isolado na região". 37 Se os efeitos estimulantes
no crescimento regional, em geral resultante da localização de in-
dústrias "propulsivas", tem sido, freqüentemente, superestimado, o
mesmo aconteceu com a importância da grandeza e da indústria.
Boudeville, por exemplo, considera que, na escala européia, a Dina-
marca apenas preenche os requisitos mínimos com relação a área,
população e renda para ser qualificada como uma região "inde-
pendente". 38 Não obstante, a prosperidade desta região não foi ini-
ciada e não tem sido mantida por uma grande indústria propul-
siva, mas, antes, por unidades agrícolas relativamente pequenas e
disseminadas (embora cooperativadas). Ainda mais, mesmo se a
indústria propulsiva é considerada como sendo tanto um efeito do
processo de polarização como uma causa dele, é claro que a teoria
de pólo de desenvolvimento não deu uma explicação geral satisfa-
tória do processo de aglomeração. Como demonstrou Vernon, as
indústrias mais atraídas pelas economias externas geradas pelas
grandes áreas urbanas não são caracterizadas por uma estrutura
altamente oligopolística mas são, antes, indústrias com numerosas
empresas pequenas e médias, que dependem sobremaneira de servi-
ços comerciais auxiliares e necessitam de contactos pessoais fre-
qüentes com os compradores e vendedores. 39
Uma outra dificuldade com relação a teoria de pólo de desen-
volvimento é que seus critérios de política regional não foram expli-
citamente relacionado com os objetivos que são freqüentemente
procurados na prática. Davin, por exemplo, faz a seguinte pergun-
ta: Sob o ponto de vista da economia política, qual é a natureza
das principais atividades de polarização (ativa ou potencial) e como
pode ser criado ou aumentado o fluxo entre esses pólos? Em res-
posta, ela mantém que as indústrias ou os setores industriais mais
favoráveis ao crescimento regional (definidos como um aumento
significativo no fluxo de produtos e de rendas) são aqueles onde:
1) o valor adicionado por trabalhador seja o maior ou com maU,
probabilidade de aumento; 2) aumento prognosticável de pro-
dução indica uma taxa de expansão acelerada, e onde o progresso
tecnológico é o mais rápido e o mais provável; 3) onde o processo
de automatização ou semi-automatização possa ser mais facilmente
aplicado; 4) onde o fluxo de produtos e de serviços com os pólos
de desenvolvimento sejam os mais intensos; e 5) onde a consti-
tuição de grandes unidades de produção seja mais facilmente alcan-
-157-
çado, já que essas unidades são capazes de liberar um máximo de
relações induzidas e de realizar um máximo de produtividade téc-
nica e comercial. <~.o
Entretanto, esses critérios não estão relacionados aos objetivos
específicos de política. "O aumento de fluxos de produtos e de
rendas" suposto para aumentar salários por hora dos trabalha-
dores, a renda anual por habitante empregado, o número de pes-
soas empregadas ou alguma outra possível variável regional. A
ênfase dada à automatização e à alta produt ividade do trabalhador
entraria em conflito com o que é talvez o objetivo geralmente mais
procurado das políticas regionais, ou seja maiores oportunidades
de empregos . Mesmo se se acrescentar, por exemplo, o objetivo do
aumento do poder de renda por habitante empregado, não está
claro que esses critérios garantiriam o sucesso. O resultado nesse
particular dependeria grandemente do grau real de localização dos
efeitos induzidos na região em questão. Se o objetivo da política
regional é aumentar o fluxo de atividade econômica, então consi-
derações oportunas de custo levariam a implantação de firmas ou
indústrias caracterizadas pelos critérios de Davin em regiões já
adiantadas, onde elas poderiam se beneficiar das economias exter-
nas relativamente grandes. Por outro lado, se essas empresas ou
indústrias estão estabelecidas em regiões atrazadas o fluxo poderá
ser dissipado como resultado de vínculos com outras regiões. Nesse
caso, uma das dificuldades seriam os fluxos de renda dos proprie-
tários de capital que residem fora da região; geralmente as regiões
atrazadas não são do tipo a proporcionar as poupanças necessárias
para investimento nos grandes empreendimentos de capital inten-
sivo descritos por Davin.
Finalmente, devemos salientar que a teoria de pólo de desen-
volvimento está muito necessitada de uma cuidadosa remodelagem
semântica; os conceitos e a linguagem que a caracterizam carecem
de uma definição mais precisa e de uma utilização mais consis-
tente. A própria noção de um pólo de desenvolvimento é ainda
empregada de maneira contraditória. Assim, Davin declara que
"a idéia de polo de desenvolvimento é tornada mais precisa pela
idéia de indústria propulsiva (indú.strie motrice) e de indústria
chave (industrie clef). A primeira engendra atividade em outras
indústrias, tanto fornecedoras quanto clientes, sejam bens ou ser-
viços ; a segunda determina o aumento de atividade máxima". 41
Por outro lado Paelinck declara que:
"O conceito de pólo de desenvolvimento tem sido freqüente-
mente mal compreendido. Ele tem sido confundido com as noções
de indústria chave, de indústria básica e de conjunto industrial;
segue-se daí a concepção errônea segundo a qual o pólo de desen-
-158-
volvimento seria um monumento industrial erigido à glória da fu-
tura industrialização regional, uma garantia do crescimento eco-
nômico certo. Ou ainda alguns consideram como pólo de desenvol-
vimento qualquer estabelecimento ou empresa importante, de pre-
ferência industrial, que exerça efeitos benéficos sobre a área geo-
gráfica onde esteja localizada". 42
Ocorre grande confusão semântica porque os mesmos concei-
tos nominais são, por vezes, empregados no contexto de determi-
nado espaço abstrato, não-geográfico, outras vezes no contexto de
certas áreas geográficas bem definidas e, ainda outras vezes, de
uma maneira que confunde indiscriminadamente o espaço abstrato
e o geográfico, no mesmo contexto. É natural que os estudiosos
devam estar livres para definir os termos de seu raciocínio, con-
tanto que prossiga empregando-se de maneira coerente e sistemá-
tica. Contudo, é por demais freqüente que artigos sobre pólos de
desenvolvimento definam (não importa quão vagamente) conceitos
essenciais e, então, façam referência a conceitos nominalmente
idênticos de outros artigos que, infelizmente, haviam sido defini-
dos ou usados de maneira diferente. Mesmo isso não seria motivo
de objeção se os vários usos e definições fossem contrastados criti-
camente ou diferenciados de algum modo, mas isto é raro. Portanto,
via de regra, torna-se necessária uma maior ênfase na clareza con-
ceituai se se deseja que a teoria de pólo de desenvolvimento for-
neça os instrumentos para os modelos de desenvolvimento regional
que sejam mais operacionalmente viáveis.
Pode-se dizer, do lado positivo, que a teoria de pólo de desen-
volvimento representa um esforço potencialmente promissor para
que se possa atacar a complexidade do processo através do qual o
crescimento econômico é iniciado e sustentado, processo este que
tem sido tratado, com demasiada freqüência, em termos supersim-
plificados. Os conceitos principais da teoria em especial - pólos
de desenvolvimento, empresas e indústrias propulsivas, dominança
etc. -estão corretamente postulados na suposição de que o cresci-
mento econômico seja basicamente desiquilibrado. Além disso, mes-
mo que a ênfase dada à indústria pesada e à grandeza tenha sido
exagerada, é indubitável que esses fatores são relevantes para
muitas situações que implicam em estímulo ao crescimento eco-
nômico.
Talvez a melhor abordagem à teoria de pólo de desenvolvi-
mento quando aplicada aos problemas regionais tenha sido a de
Paelinck que propõe que ela seja encarada como "uma teoria" con-
dicional de crescimento regional; ela é valiosa principalmente na
medida em que indica claramente as condições sob as quais o
desenvolvimento regional acelerado pode ocorrer. 43 Naturalmente,
esta abordagem condicional implica em que a pertinência da teo-
(42) Paeunck, op. cit. pp . 10-11.
(43) Ibid., p. 17. A ênfase é de Paelinck.
- 159
ria aos casos regionais concretos deve ser julgada com base na
natureza e perspectiva das regiões em particular ou tipos de re-
giões em questão. Assim, as implicações políticas dos desequilí-
brios envolvidos no processo de crescimento, e os vários complexos
modos pelos quais o crescimento é transmitido (ou inibido), po-
dem variar de lugar para lugar e pelo tempo para qualquer lugar
dado. Portanto, o progresso futuro dos refinamentos e classifica-
ções teóricas pertinentes dependerá, provavelmente, da medida em
que estes forem associados a estudos sistemáticos empíricos de
crescimento ao nível regional. Os novos sistemas de instituições de
planejamento regional e a regionalização do orçamento governa-
mental da França deve fornecer oportunidades únicas a esse
respeito. Por exemplo, a política regional francesa atualmente dá
prioridade a oito "metropoles d'équilibre", primeiramente sob a
forma de maior promoção de atividades de infraestrutura e terciá-
rias para equilibrar o crescimento da região de Paris e para criar
pólos de desenvolvimentos provincianos. É natural que isso signi-
fique que o processo de polarização está sendo tratado cada vez
mais em termos de economias externas do que como um meio mais
direto de atrair indústrias, por exemplo, subsídios de investimento,
e que o crescimento industrial está sendo cada vez mais encarado
tanto como efeito como uma causa de desenvolvimento econômico.
Assim, a experiência francesa de planejamento regional deverá
fornecer, em futuro próximo, dados valiosos para o requinte da
teoria de alocação dos recursos espaciais racionais para a qual
tanto contribuíram os economistas franceses.
-160-
GUNNAR OLSSON
6. Sistemas de localidades
centrais, interação espa-
cial e processos estocás-
ticos *
-163-
por diante, os teóricos do sistema geral adotaram o mesmo cami-
nho de desafio, observando que formulações matemáticas simi-
lares se aplicam com bastante freqüência a fenômenos bem dife-
rentes. Para o cientista regional, as teorias de equilíbrio econômico
e física social são ilustrações familiares de fecundidade ocasional
desta abordagem. Contudo, não precisamos enfatizar o perigo de
uma adaptação, não criteriosa, de analogias físicas aos estudos de
fenômenos sociais e humanos.
Essas notas introdutórias prepararam o cenário para o res-
tante deste trabalho. A teoria da localidade central será relacio-
nada à teoria mais geral de interação humana espacial. Como no
trabalho de Von Bertalanffy, serão acentuadas as similaridades
entre as formulações matemáticas e o substrato comportamenta-
lista. Escolhemos esta abordagem principalmente porque supomos
que os conhecimentos acumulados em estudos de interação espacial
geral também podem ter um valor potencial para o cálculo de
parâmetros de localidades centrais. Posteriormente, os sistemas de
localidades centrais serão considerados como o resultado de vários
processos estocásticos; os desvios observados do padrão de loca-
lização "ótima" e suas evoluções através do tempo serão enfa-
tizados. 2
(2) Serão encontradas algumas coincidências Inevitáveis com Berry (1964a) . Este
trabalho não tenta apresentar material empírico, serão feitas, ao invés, citações de tais
estudos.
-164-
ria específica e asim definida ela pode ser interpretada como uma
medida de distância, considerada como a distância máxima que
o consumidor médio está disposto a viajar para obter um deter-
minado artigo. Mas o surgimento de um sistema de localidades cen-
trais não depende apenas das decisões tomadas pelos consumidores
e sim, também, das decisões tomadas pelos empresários ou forne-
cedores. Se se pode supor que as empresas retirar-se-ão do comércio
quando suas áreas de mercado se tornarem demasiadamente pe-
quenas para que elas possam obter um lucro razoável, deve-se
também supor que exista um tamanho mínimo de mercado abaixo
do qual uma localidade não seja mais capaz de fornecer uma mer-
cadoria específica. Como observam Berry e Garrison (1958 c, p.
111) , esta escala mínima pode ser definida ou como o mais baixo
limite do alcance de uma localidade central ou, alternativamente,
como a quantidade mínima de poder de compra necessário para
manter o suprimento de um bem central a partir de uma locali-
dade. Esta quantidade mínima de poder de compra, simplificada
como o nível de vendas no qual as empresas entram ou se retiram
do comércio, é geralmente denominado de limiar threshold do nível
de vendas. Encarado desta maneira, o alcance de um artigo influen-
cia principalmente as tomadas de decisões dos consumidores, en-
quanto os limiares influenciam, antes, as decisões dos empresários.
Essas noções podem ser representadas de uma maneira muito
simplificada com na Figura 1, apresentada conceitualmente aos
cones de demanda de Losch (1954, p. 105 ff.) e as cifras, mais
recentemente, apresentadas por Smith (1966).
PEDI DO OU VENDAS
D
\
\
A \
\\
\ \
\ \
\. \ \
\. \ \
\. \ \
\. \\
\. \\
\. \\
\.~\
~\
~
o L-----------~------ DISTÂNCIA
-165-
Verifica-se a partir deste esquema que as vendas da localidade
O são supostas diminuir à medida que as pessoas se locomovem
para mais longe. Esta suposição é comum na teoria econômica, e
se baseia na hipótese de que, à medida que as pessoas se afastam
do centro, aumenta o preço da entrega em razão dos custos do
transporte. Desta forma compram-se menos artigos. Entretanto,
como salientou Curry (1962, p. 33), este não é usualmente o que
ocorre com os bens que normalmente interessam à teoria de loca-
lidade central. Será entretanto mais fácil acompanhar os debates
subseqüentes se essas objeções forem, momentaneamente, deixadas
de lado.
Nessas circunstâncias pode-se supor que os indivíduos que vi-
vem entre O e B obtêm o artigo em questão em O, enquanto as
pessoas que vivem além de B compram-no em qualquer outro lugar,
provavelmente em um lugar situado à direita de B na figura 1. Se-
gue-se que a distância O B pode ser interpretada como o alcance do
artigo considerado, enquanto o limiar é considerado como a área
dentro do triângulo OAB. Mais adiante, desde que a demanda
satisfeita na localidade O seja igual a A, o sistema está em estado
de equilíbrio. No caso em que a demanda (e as vendas) forem
menores do que A, como por exemplo em C, o artigo não mais será
fornecido pelas firmas em O; se a demanda satisfeita for maior
do que A, como, por exemplo, D, será possível as firmas em O obte-
rem um lucro excedente. Já que o acréscimo de novas firmas é um
processo discreto 3 enquanto o aumento da demanda é normal-
mente contínuo, Berry e Garrison (1958 b) conseguiram demons-
trar que os lucros excedentes tendem a ser maiores nas pequenas
localidades do que nas grandes.
Esta interpretação da Figura 1 orienta nosso interesse para
segmentos compreendidos entre os eixos e a linha de "demanda
ou de vendas". Em outras palavras, isto significa que focalizaremos
nossa atenção nas variações sistemáticas do valor dos parâmetros
no modelo de regressão linear (transformado), isto é,
y=a+bd (1)
(3) Isto não é inteiramente correto já que se pode acrescentar novos departamentos
a empresas já existentes.
-166-
parte, sua demanda através de viagens de compras até O. Se for
este o caso, a equação (1) pode, naturalmente, ser substituída por
um modelo de regressão gravitacional, isto é,
log ( pi'h-
l . )
= a - b log D,i (2)
onde:
l .;; o nível de interação entre a área ou localidade i e a área
ou a localidade j;
P, = o número de habitantes (poder de compra) em i;
P1 + o número de habitantes (nível de vendas etc.) em j;
D,1 = a distância (física ou funcional) entre i e j;
a = uma constante empiricamente derivada que assinala o
intercepto com o eixo y; e
b um expoente empiricamente derivado que assinala a
inclinação da linha.
O considerável conhecimento coligido através das análises gra-
vitacionais se torna, graças a esta reformulação, relevante para
estudos de sistemas espaciais de localidades centrais. Contudo, será
necessário comentar a equação (2) e, especialmente, as variações
sistemáticas nos parâmetros a e b. 4
Um importante achado em muitas análises foi a descoberta
de que o expoente, ou b na equação (2), tende a ser uma função do
tempo, Hagerstrand (1957, p. 122) e Taaffe (1956, 1959 e 1962) o
demonstraram e ambos sugeriram que existe um relacionamento
positivo entre b e o desenvolvimento técnico, social e econômico
na sociedade. Mas b parece variar sistematicamente também de
outras maneiras. Em certo número de viagens de estudos feitas por
Iklé (1954), Voorhees (1955) e Carroll e Bevis (1957) foi verificado,
por exemplo, que os valores b computados variam com a finalidade
da viagem. O último deles investigou as freqüências de viagens
dentro de regiões urbanas; eles demonstraram que o gradiente de
freqüência de viagens era mais íngreme para as viagens para a
escola, menos íngreme para viagens de compras ou trabalho, en-
quanto que as viagens para recreação social eram as menos in-
fluenciadas pela distância. Além disso, Claeson (1964), Olsson
-167-
(1956 b) e Warnervd (1965 a) forneceram evidências indiscutíveis
de que b também é uma função de P, e P;, isto é, uma função das
"massas" atribuídas aos lugares interatuantes. Quanto menores
forem essas massas maior será o valor numérico de b e mais ele-
vado será o gradiente do campo de interação. Contudo, é claro que
essas variações podem ser uma conseqüência do fato de que a
equação (2) somente considera as interações ocorrendo ao mesmo
tempo entre duas localidades, um problema para o qual nós volta-
remos brevemente. Claeson (1966) assinalou recentemente que os
relacionamentos entre os valores b e o tamanho de cidades também
podem, até certo ponto, ser devidos às características matemáticas
do modelo.
Os gradientes das variações de interação ganham um signi-
ficado especial se (2) for tratado como um simples modelo de
regressão. Isto ocorre porque as diferenças observadas em b podem
então ser submetidas aos testes-t ordinários, como nos estudos aci-
ma mencionados de Olsson (1956 b, p. 25 ff.) e Warnervd (1965 a) .
Infelizmente, não é tão fácil fazer testes similares sobre as diferen-
ças observadas nos valores a (intercepto y), e estes testes tornam,
na verdade, impossíveis se as linhas de regressão não são paralelas. 5
Ao mesmo tempo, o modelo de Pareto (2) tende a exagerar a in-
tensidade dos cantatas de proximidade; em outras palavras é me-
nos fiável nas áreas próximas ao eixo do y. Conseqüentemente (2),
tem sido, com bastante freqüência, substituído por funções não
lineares, algumas das quais foram passadas em revista por Morrill
(1963 a), Olsson (1965 c) e Malm, Olsson e Warnervd (1966). A
mais simples dessas funções é, evidentemente, a quadrática: em-
pregada, por exemplo, por Claeson (1964) e Helvig (1964, p. 6):
(3)
(5) Para exemplos, vide Hald (1952, p . 57 ff.) e Snedecor (1956, p . 398) .
(6 ) Isto se relaciona à suposição de que as vendas a partir de uma localldade
diminuem à m edida que se vai afastando, Isto é, a suposição anteriormente contestada
por Curry (1962).
-168-
Embora a falta de linearidade nos dados de interação a curta
distância tenha conduzido à utilização de funções mais complica-
das, o modelo linear mais simples ainda pode ser empregado na
forma modificada:
onde a' indica que o valor inicial do campo de interação não deve
ser definido como o intercepto com o eixo dos y mas antes como o
intercepto com um outro eixo, paralelo ao eixo dos y mas a uma
certa dsstância dele. Ao invés de calibrar o campo a uma distância,
uma unidade mais longe do lugar de interação (log Dii = O),
isto significa que a calibração é executada a uma dstância de
1 + 6. D.,; mais afastado. Nada é dito de maneira explícita sobre
a curva no intervalo de distância para 6. Di;, mas ele é, provavel-
mente, paralelo ao eixo dos x. Se assim for, a intensidade de intera-
ção dentro da distância 6. Di; é, evidentemente, independente da
distância. Claeson (1964, p. 73 ff.), que analisou os dados suecos
sobre idas ao cinema, estabeleceu que 6. D1; é igual a 3,17 quilô-
metros.
Mas, assim como b nas equações (2) e (4) é uma função de
Pi e P;, Claeson (1964, p. 85 ff.) também verificou que a' na
equação (4) é uma função de PJ> escrita como (P;) a a, onde no
seu caso assumia um valor de aproximadamente 0,3. Ele ainda
concluiu que o assim chamado expoente de massa ~juda a carac-
terizar as diferentes regiões e a medir em que grau um acréscimo
no tamanho de população de um lugar é também seguido por um
aumento de sua influência sobre a área de serviço.
O modelo de regressão gravitacional também terá aplicação
em estudos de localidade central? Em razão das características
deste modelo, teremos que supor, para simplificar que os lugares
em consideração estejam localizados ao longo de uma linha (por
exemplo, uma estrada ou um rio) e não por uma área.
Se isto é válido, a discussão tornou claro que uma versão
modificada da equação (1) (referindo-se também à Figura 1) pode
ser usada para determinar valores teóricos de limiares (threshold)
e de alcances. Esta versão modificada da equação (1), poderia
muito possivelmente ser:
y = (a')(3- (bld (5)
-169-
apenas por uma outra localidade ao mesmo tempo, como supõe o
modelo de regressão gravitacional. Portanto, as delimitações de re-
giões nodais ou de áreas de serviço não têm sido baseadas nas
expressões (1)- (5), mas antes em alguma variante do modelo
aparentado formulado originalmente por Reilly (1931). Este mo-
delo foi posteriormente modificado, 7 e é geralmente expresso da
seguinte forma:
G p. (6}
Ln _,_
.
1= 1
Db
ij
-170-
bilidade de tais derivações determinísticas pode ser questionada. 8
Os modelos determinísticos que resultam nas soluções normativas
e ótimas não são satisfatórias. Mas tal conclusão não deveria
conduzir a rejeição de todos os conceitos que sustentam as teorias
correntes; ela sugere que os modelos futuros devem levar em con-
sideração, explicitamente, a possibilidade de desvios da estrita oti-
malidade. O reconhecimento deste fato fez com que Harris (1964)
reconsiderasse base de probabilidade do modelo gravitacional
clássico. Voltamo-nos agora para o debate deste importante ponto.
Harris baseou sua derivação em um trabalho anterior de
Schneider (1959), que sugeria que, à medida que uma pessoa se
afastava do ponto de origem da viagem, a probabilidade de tér-
mino da viagem era proporcional tanto ao número de viajantes
remanescentes ou insatisfeitos quanto ao número de oportunidades
concebidas. Isto pode ser expressado formalmente como:
P(lu = Qi-•- Qi = e-Lv j - 1- e-Lv j(TT0 =O (7)
(8) Esta conclusão já tinha. sido antecipada por Hotelllng (1929), que demonstrou
claramente que a localização ótima de carrocinhas de sorvete em uma pra~ a não seria
a mesma para os clientes e para o fornecedores. Isto torna-se ainda mais extraordinário
pelo fato de todos os participantes serem dotados de comportamento racional, conheci-
mento perfeito e todos os outros atributos do homem económico. O "ótlmo" Individual
e o social podem ser discordantes e soluções Instáveis podem ser geradas.
-171-
Segue-se daí que a probabilidade da função de densidade de tél'-
mino da viagem é:
-dR
P = dV = [ab I (1 + bV) + c] R. (10)
L= M dD (11)
dV
que subseqüentemente conduz a
Q= e-JtD (12)
Agora, seM também tem uma distribuição gama, então:
R = (1 + bD)-a ecD (13)
a qual pode ser imediatamente comparada com (9) e (10).
Como ficou demonstrado, o modelo gravitacional de Harris
derivou-se completamente das noções de probabilidade. Isto au-
menta a importância da exposição da seção anterior. Contudo,
antes de que se possa apreciar completamente o valor da derivação
de Harris, será necessário que se reexamine suas duas pressupo-
sições básicas. Inicialmente concentraremos nosso reexame em sua
hipótese de que a taxa de atenuação de viagem tenha uma distri-
buição gama e posteriormente na suposição comportamentalista
das oportunidades supervenientes, anteriormente feita por Schnei-
der. Tendo em vista que várias análises de localidade central tra-
taram desses problemas, o debate versará sobre um certo número
de estudos de migração.
Jarhult (1958 pp. 130 ff.) deu o que pode ser considerado como
a primeira descrição das variações observadas em distâncias de
migração em termos da distribuição gama (isto é, a equação (8) ,
(9) Esta mesma. idéia. nos levou, anteriormente, a. preferir o modelo geral de gravi-
dade (6) quando comparado a.o modelo de regressão gravitacional (2), (3) e (4).
-172-
acima, freqüentemente chamada de Tipo III de Pearson) 10 A
função gama foi também empregada por Cavalli Sforza com bas-
tante sucesso (1962), enquanto Dacey (1963) obteve uma adpta-
ção satisfatória ao aplicar a distribuição gama lincompleta ou
truncada aos dados de migração de Asby, na Suécia. 11
Uma abordagem ligeiramente diferente do emprego de distri-
buições gama na migração foi recentemente tentada por Olsson
(1965 b, p. 35 ff.), que, pela primeira vez, observou que os teóricos
da localidade central pressupõe que toda mercadoria deverá ser
adquirida no local mais próximo que a oferece e então chama a
atenção para um estudo de Dacey (1964 b) que mostra que as dis-
tâncias vizinhas mais próximas dentro de um conjunto de lugares
têm geralmente uma distribuição gama. Usando essas observações
como fundamento, Olsson supõe então que os migrantes tendem
a se locomover para o ponto de destino alternativo mais próximo.
Se se puder mostrar que a distribuição estatística de migração
coincide com aquela das distâncias vizinhas mais próximas (isto
é, com a distribuição gama) esta hipótese poderia evidentemente
ser sustentada. Infelizmente, as diferenças entre os valores obser-
vados e os valores esperados se tornaram altamente significativas
e a hipótese teve que ser rejeitada, embora um modelo determi-
nístico baseado em suposições comportamentais idênticos tenha
sido posteriormente mantido. Em resumo, a validade da suposição
de Harris de que a taxa de atenuação de viagem segue uma distri-
buição gama, ainda tem que ser finalmente decidida; entrementes,
a evidência empírica sugere que ela bem pode servir como hipótese
de trabalho.
Schneider e Harris basearam também seus modelos na pressu-
posição de que o conceito de oportunidades supervenientes influen-
cia a escolha de destino do viajante. Esta suposição é, evidente-
mente, mais simples do que a que envolve a distribuição gama. Ela
também se adapta aos modelos anteriores de interação como aque-
les formulados por Stouffer (1940) (1960). Em seu estudo anterior,
Stouffer considerou somente o conceito de oportunidades superve-
nientes, mas em seu último estudo ele introduziu também o con-
ceito de "migrantes concorrentes". Formalizando, ele expressou
que:
(14)
(10) Contudo, existem dúvidas quanto a.o seu material, adaptado aos dados de
Olofstrom na. Suécia. meridional, ser ou não representativos de outras áreas: principal-
mente porque o expoente no modelo de regressão gravitacional (b na. equação 2) era
Igual a. 3,4. Em outras partes do pais b era. geralmente menor, Indicando que o
campo de migração de Olofstrom é consideravelmente mais lngreme que o normal.
(11) A função foi usada em sua forma truncada porque os dados sobre a migração
<lU de curta. distância tendem a ser dlscutlvels. Com a comparação das adaptações de
·Dacey com as obtidas por Jarhult, deve-se observar que para Asby expoente na curva.
de Pa.retro era Igual a 1,6, que é seu valor "normal".
-173-
ou:
log l;; = log K +b 1 log P; P; - b2 log O;; - b9 log C;; (15)
com Zii> P, e P; definidos como na equação (2) acima, enquanto
o.; = o número de oportunidades supervenientes, medida
como o número total de migrantes exteriores no círculo
centralizado a meio caminho entre i e j e passando atra-
vés de i e j;
o número de migrantes concorrentes, medido como o
número total de migrantes interiores no círculo cen-
tralizado em j e passando por i; e K, b1, b 2 e b s, são
parâmetros a serem empiricamente avaliados.
O modelo de Stouffer (geralmente sem o conceito de migran-
tes concorrentes), 12 tem sido repetidamente testado com grau
variado de sucesso. O ponto crucial do modelo de Stouffer é, natu-
ralmente, a definição operacional de O i; e de C;;. Este problema
foi debatido por Andersen (1955) e Hagerstrand (1957), entre ou-
tros, tendo ambos observado o perigo da circularidade da definição
de O;; acima. Este problema foi, mais recentemente, reconsiderado
por Porter (1964) que obteve muito bons resultados através de li-
geiras redefinições de 0 1; e de C i; Ray (1965) também obteve adap-
tações satisfatórias em um estudo de investimentos Americanos no
Canadá.
As similaridades entre as formulações de Harris e Stouffer
sugerem que os resultados obtidos com o modelo de oportunidades
intervenientes podem servir, em parte, para verificar a derivação
de probabilidade da fórmula de regressão gravitacional. Isto tam-
bém é válido, menos diretamente, para o modelo probabilístico de
migração formulado por Porter (1956), que levantou a hipótese
de que a migração de pessoas está em conexão apenas com as
mudanças de emprego, enquanto que os lugares vagos eram pre-
enchido de maneira estreitamente relacionada com as hipóteses de
Stouffer, Schneider e Harris. Porter ainda supôs que tanto as
vagas de empregos quanto os candidatos a empregos surgem na
área de maneira casual, mas proporcionalmente à população. Em
períodos de excesso, oferta de trabalho, supõe-se que a pessoa que
procura emprego escolhe a oportunidade mais perto, enquanto que
em períodos de excesso de oferta de mão-de-obra o candidato que
vive mais perto do local de trabalho ganha o posto. Assim, Porter
imaginou que se ocorresse uma vaga em uma área centralizada
(12) Stouffer, assim com Bright e Thomas (1941), Isbell (1944), Fo1ger (1953),
Stewart (1960) e Galle e Taeuber (1966) concluem que o modelo de oportunidade super-
veniente é multo mais fidedigno do que o modelo simples de regressão gravitacional.
Strodtbeck (1949, 1950), Andersen (1955) e H iigerstrand (1957 , p. 119 ff.) alvitram que
nada de essencial é obtido com a substituição do modelo simples d e distância pelo
modelo mais incômodo da oportunidade superveniente.
-174-
em j onde exista um excedente de candidatos, s, o candidato que
habitando mais próximo de j migra para lá. Se P ;; indica a probabi-
lidade de que este candidato venha da área centralizada em i, com
população P; e situada à distância D;; de J,
então:
(16)
onde:
T a população total da região; e
(17)
00 00
(13) Deve s er observado que os subscritos q(v) em (18) sofreram lnversllo de ordem
na equaçllo (17). indicando a probabilidade de que um candidato na área 1, em
periodos de excesso de vagas, se mude para a área j.
-175-
onde:
II (v) a probabilidade de que existam exatamente v
vagas;
II (s) a probabilidade de que existam exatamente s can-
didatos; e
K a proporção média de número de candidatos (ou
vagas) que surgem no período de tempo para a
população de uma área.
Após as presunções especificadas sobre v e s, e depois de mani-
pulações matemáticas, Porter deduziu a fórmula:
l;i = K
p. p. [
-T
z
l - C (l - Fi) 2 +
rL z
l - C (l - Fj)f"
(19)
J( = k (l - C!) e C = ~~ (20)
.} l + 2c
onde C é um fator restaurador que especifica como v e s variam
no tempo.
O poder preditivo da equação (19) foi testado em dados da
Suécia. A conformidade entre os números observados e esperados
de migrantes foi considerada plenamente satisfatória. Em suas
conclusões, entretanto, Porter sugeriu que o modelo poderia ser
aperfeiçoado se ele fosse desagregado e se cada grupo ocupacional
fosse tratado em separado. ·Advertiu também que ele provavelmente
não seria preciso para pequenas distâncias, mas isto não parece
tê-lo preocupado muito, e tendo observado que a migração de
pequena distância era antes um problema geométrico do que um
problema econômico. 14
E, por fim, para resumir esta seção, segue-se das expressões
(16) - (19) que a lei experimental de migração de Porter pode
ser relacionada com derivação probabilística do modelo gravita-
cional de Harris, isto é, as equações (7) e 13). Segue-se portanto
que ela também pode ser relacionada ao modelo de oportunidades
supervenientes e de migrantes concorrentes de Stouffer, isto é, as
equações (14) e (15). Mais especificamente, os três modelos con-
sideram dois conjuntos de probabilidades, 15 onde a primeira pro-
babilidade especifica o número de oportunidades já alcançadas (por
(14) A influência exercida pelo tamanho e pela forma das unidades de área sobre
a migração foi apenas brevemente estudada por Porter. Para tratamentos mais com-
pletos e elaborados (vide, por exemplo, Bergsten ( 1951) e Kulldorf ( 1955) .
(15) Este emprego da palavra probab!l!dade não está inteiramente correto, já que
o modelo de Stouffer não possui bases probabilísticas.
-176-
exemplo, migrantes estabelecidos ou viajantes satisfeitos), en-
quanto que a segunda probabilidade especifica a proporção de mi-
grantes ou viajantes insatisfeitos que têm que ir além de um certo
ponto para alcançar uma oportunidade aceitável. Em conclusão,
então, o modelo determinístico de regressão g!"avitacional demons-
trou estar estreitamente relacionado com a família de formulações
de probabilidades - um fato que o torna muito mais atraente
como um submodelo potencial em uma teoria estocástica mais geral
de localidade central.
SUPOSIÇõES COMPORTAMENTAIS
Tem sido de grande vantagem o fato de que os modelos dis-
cutidos tão profundamente tenham sido plenamente formalizados.
Contudo, a elaboração de um modelo é sempre uma questão de
generalização ou de simplificações e o simples fato de que as for-
mulações tenham sido bem sucedidas não garante a priori que
um modelo também nos dê_uma explicação precisa do comporta-
mento humano subjacente. Tendo isso em mente, esta seção pes-
quisará algumas das presunções comportamentais na interação
corrente e na teoria de localidade central. Primeiramente nos refe-
riremos a Wolpert (1965) que debateu os aspectos comportamen-
tais da decisão de migrar. Se isto vier a evidenciar que os comen-
tários de Wolpert também sejam razoavelmente aplicáveis a pro-
blemas de localidade central, terá sido dado uma corroboração adi-
cional aos relacionamentos sugeridos entre a interação geral e os
sistemas de localidade central.
Wolpert sugeriu três conceitos básicos de comportamento mi-
gratório: (1) a noção de utilidade da localidade; (2) a aborda-
gem da teoria de campo na pesquisa de comportamento; e (3) a
abordagem do ciclo de vida na formação do limiar. Esses conceitos
originam-se da teoria de organização. Contudo, é lógico que se
visualise a migração como um processo em que provável migrante
esteja avaliando a "utilidade" de várias localidades, operacional-
mente definida como uma medida da satisfação positiva ou nega-
tiva do indivíduo em relação a uma determinada localidade. Apos-
sando-nos de um conceito de Simom (1963), podemos supor que
essas avaliações têm sido baseadas antes em racionalidade inten-
cional do que em racionalidade objetiva.
Embora possa-se dizer que os modelos de interação probabilís-
tica tenham em conta implicitamente este conceito, eles, em gran-
de parte, focalizam as mudanças de interação com mudanças na
distância superveniente. Funções similares de distância foram
estruturadas por Wolpert no conceito de "abordagem de teoria de
campo na pesquisa comportamental", um conceito que se torna
extremamente importante já que o indivíduo, a despeito de seu
acesso em teoria a um grande número de localidades alternativas,
-177-
apenas consegue conceber uma porção um tanto limitada do am-
biente. Este assim chamado espaço de ação do indivíduo está,
com muita freqüência, limitado às suas circunvizinhanças imedia-
tas, mas, como foi observado acima, ele varia tanto entre os dife-
rentes indivíduos quanto nas diferentes necessidades.
O terceiro conceito de Wolpert, a "abordagem do ciclo de vida
na formação de limiar", sustenta que a percepção do espaço de
ação de um indivíduo sofre mudanças no tempo. Essas mudanças
provavelmente ocorrem, em parte porque, com a passagem do
tempo, o indivíduo adquire mais conhecimentos e experiência, e
em parte porque ele é influenciado por seu ambiente. A necessi-
dade da inclusão desses elementos dinâmicos na teoria espacial já
foi ressaltada; notou-se que as variações observadas em b, no mo-
delo gravitacional, sugerem que isto pode ser operacionalmente
possível.
O desejo de tornar mais dinâmica a teoria de localidade central
não é novo. Mas pouco se tem conseguido, e mesmo em estudos
muito recentes, como os de Hodge (1965) sobre a viabilidade de
centros comerciais em Saskatchewan ou no trabalho de Allpass e
outros (1966), não foi tentada formalização alguma. Não obstante,
Allpass e seus auxiliares enfatizaram de que a teoria de localidade
central deveria ser abandonada porque o modelo está baseado em
suposições obsoletas de técnica de transporte e de estrutura co-
mercial. Isto é natural, já que parece muito plausível que distribui-
ções espaciais similares àquelas reportadas tanto por Hodges
quanto por Allpass possam ser geradas simplesmente em se dei-
xando os limiares e os alcances variarem no tempo. Em contradição
com a conclusão de Allpass, isto antes nos conduziria a aceitar
de que rejeitar a teoria subjacente. 16
Como na maioria dos estudos acima, o de Wolpert (1965}
sobre o comportamento humano em interação espacial centrali-
za-se antes na migração do que na teoria de localidade central.
Assim, os relacionamentos sugeridos entre a interação geral e os
sistemas de localidades central têm sido sobretudo baseados em
argumentos intuitivos. Contudo, é muito interessante que Huff
(1960, 1961) tenha chegado a conclusões similares antes de
Wolpert, a despeito do fato de ter escolhido exemplos muito mais
chegados aos temas tradicionais da localidade central. 17
-178-
RESUMO
-179-
mente incorporados a elaborações mais complexas de localidade
central. Pode acontecer que exatamente esses modelos determi-
nísticos de regressão de gravidade possam facilitar a introdução
de elementos estocásticos à teoria clássica de localidade central.
-180-
gwes Dirichlet no qual a densidade acumulada é maximizada. 18
Dacey introduziu também o conceito de zonas de Brillouin, exten-
sivamente usada em estudos de ondas físicas e cristais para mos-
trar que a rede hexagonal na teoria de localidade central é uma
conseqüência da maximização da densidade acumulada.
Deve-se salientar portanto que os padrões hexagonais de loca-
lidades são soluções inteir_?.mente teóricas baseadas em suposições
irreais tanto do ponto de vista espacial quanto do ponto de vista
comportamental. Na verdade, a influência de fatores institucionais,
pessoais e ambientais é tão importante que os arranjos espaciais
ótimos, na realidade, raramente aparecerão. Contudo nos voltare-
mos para essas configurações espaciais não ótimas, focalizando
especificamente a técnica de contagem de células. 19
- 181-
onde:
z o número de sedes de condado na amostra (uma locali-
dade só pode ser incluída na amostra se ela é classificada
como urbana);
N o número total de localidades na amostra; e
c o número de condados na amostra. Para que a equação
(21) se mantenha, c deve ser alto e todos os condados
devem ser relativamente homogêneos e de igual tamanho.
A expressão (21) é uma distribuição dupla de Poisson; pre-
sume-se que dois processos estocásticos estejam gerando concomi-
tantemente. Quando adicionados, esses darão uma configuração
mais regular do que acidental de localidade. O segundo termo da
equação (21) determina a distribuição de sedes de condados entre
os condados, na suposição de que cada condado tenha igual pro-
babilidade de receber uma sede de condado, mas também na de
que um condado nunca pode possuir mais do que uma sede de con-
dado. Formalizando isto teremos:
P (y = O) = l - zlc (23 a)
P(y = l) = z/c (23 b)
P(y 0,1) =O (23 c)
onde P(y) é igual à probabilidade de que um condado possua y
sedes de condado.
Analogamente, o primeiro termo da expressão (21) determina
a distribuição das demais localidades urbanas que não sejam sedes
de condado. Do mesmo modo que no segundo termo, supõe-se que
cada condado tenha igual probabilidade de receber urna locali-
dade; apenas são fixados limites para o número de localidades
não sede de condado que possam ser atribuídas a um condado. Per-
cebe-se imediatamente que o primeiro termo da expressão (21),
desaparece se P = l, enquanto que o segundo termo desaparece
quando P = O. Isto torna possível a interpretação de p como uma
medida no sentido da uniformidade: se p =O, a distribuição é com-
pletamente aleatória, se p = l ela é mais regular do que aleató-
ria (embora a distribuição não seja completamente regular mesmo
quando p for exatamente igual a l; embora tenha sido atribuída
a cada condado uma sede de condado, as localidades remanscentes
continuaram sendo distribuídas acidentalmente).
A expressão (21) demonstra como a técnica de contagem de
célula pode ser ligeiramente reformulada e aplicada com bastante
sucesso aos novos problemas. Sua precisão foi testada, e em Iowa
- uma área que se aproxima da homogeneidade - a concor-
-182-
dância entre as distribuições teóricas e as observadas eram quase
perfeita. Esta concordância é significativa já que Losch usou Iowa
como um tipo de laboratório para dudizir e testar seu modelo,
tanto mais que o modelo de Dacey não é fundamentalmente um
modelo de localidade central, mas antes um modelo político que
demonstra como os fatores políticos podem fazer com que distri-
buições de localidades, que de outro modo seriam acidentais, se
tornem mais regulares.
Dacey (1966) sugeriu que a expressão (21), que considera ape-
nas as distribuições de localidades em áreas homogêneas, pudesse
ser tomada como um caso especial de um outro modelo, aplicável
também a áreas não homogêneas. Há muito que se sabe que se
obtém uma distribuição binomial negativa para o universo, se este
universo consiste de várias distribuições de Poisson com médias
que variam. 20 Greenwood e Yule demonstraram, com mais exati-
dão, que o binômio negativo
(20) Vide por exe mplo, Feller (1943 e 1957, p . 263) e Bartlett (1960, p . 16 e 1962,
p . 55).
(21) Calculado nas várias maneiras debatidas, vide por exemplo H a ldene (1941);
Anscombe ( 1950); Robinson (1954); Kattl e Ourland (1952) e Wllliamson e Bretherton
(1964).
-183-
Tippo III de Pearson com 2k graus de liberdade. O equivalente da
equação (21) para uma área não homogênea pôde, portanto, ser
especificado por Dacey (1966, p. 176) como:
p (x) = R (x +
k -1)! vk (l- v)"' +S (x + k- 2) I vk (l-v)<x-1) (27)
x!(k-1)! (x-1)! (k - 1)!
(22) Esta, naturalmente, é apenas uma maneira pela qual podem ser analisados tais
desvios; existe uma grande coleçâo de livros a respeito de outras ~cnlcas. O tipo de
transformações de mapa sugerido por Tobler (1961, 1963) é usado, por exemplo, por
Oetls (1963) é multo pertinente. A técnica do vizinho mais próximo parece promlBSora
(vide Dacey 1960 a) (1960 b, 1962 e Dacey e Tung 1962), enquanto que a medida de
forma, desenvolvida por exemplo por Bunge (1962, Cap. 3), Boyce e Clark (1964) e
Hudson e F'owler ( 19(16) , deve ser aplicável em análises de áreas de mercado. Os desvios
da estrutura hexagonal de localidade central, têm, finalmente, preocupado um certo
numero de escritores interessados no "espaçamento" de localidades centrais. Vide, por
exemplo, King (1961 e 1962) . Thomas (1962) e Olsson e Pearson (1964).
(23) Vide : Thomas (1959), Archlbald (1950), Anscombe (1950), Thomson (1952) e
Evans ( 1953) .
-184-
deve-se observar que Thomas deu uma interpretação física aos
parâmetros onde:
m - o número de colônias ou aglomerados por célula; e
i.. = um a menos do que o número médio de fábricas por
colônia ou conglomerado.
Pode-se escrever uma função de distribuição relacionada a qual
é geralmente chamada a distribuição Polya-Aeppli:
P (x) = e-" (x = O)
a"'
P(x) = -.1 c-
( -m) oo r"'
L -1
[ me
-a
--
]r
(x = 1,2, ... 1·, .. • )
(30)
x. a ··= ar. a
Foram desenvolvidas várias maneiras para a estimativa dos parâ-
metros m e a. 24 É suficiente observar, aqui, a interpretação física
desses parâmetros: m / a é o número de colônia ou conglomerados
por célula; e a é o número de pontos por colônia ou conglomerado.
Comparada com a expressão (28) e (29), a (30) é, talvez, a
mais útil; ela foi aplicada em análise de um certo número de
fenômenos; vide os trabalhos de Neyman (1955) e Neyman e Scott
(1957, 1959). Mas a distribuição binomial negativa (24) se tornou
ainda mais valiosa. Pode parecer estranho o fato de que a distri-
buição binomial negativa é tratada junto com toda uma família
de funções de contágio. Como foi relembrado, ela era anteriormente
usada para descrever uma distribuição realmente aleatória onde a
média das diferentes distribuições de Poisson variam de uma ma-
(24) V Ide Archlbald (1948 ), Shenton (1949), Thompson, G . (1952) Thompson, H . (1954) ,
Doug las (1955) e Kattrand Gurland (1962).
-185-
neira especificada. Pode-se mostrar entretanto que vários outros
processos também podem fazer surgir a binomial negativa. Por
exemplo, Bowen (1947), Quenouille (1949), Anscombe (1950) e
Evans (1953), entre outros, mostraram que ela pode surgir se
os conglomerados são distribuídos aleatoriamente seguindo o nú-
mero de pontos por célula a distribuição logarítmica. Mas isto tam-
bém demonstra uma das principais dificuldades com as análises
de contagem de células; Feller (1943) e Anscombe (1950) observa-
ram que, às vezes, é impossível dizer-se que processo deu origem a
uma distribuição observada. É necessário, portanto, suplementar as
contagens de célula com estudos de tempo nos quais a evolução
de uma configuração tenha sido considerada de modo especial. 2 "
Essas dificuldades foram ilustradas por Rogers (1964, 1965)
que mostrou que a distribuição espacial de pontos de saída de mer-
cadorias de lojas em Estocolmo poderia ser adaptada à binomial
negativa. Ele aventou a hipótese de que dois processos opostos po-
diam estar se fazendo sentir simultaneamente; ele se referia de
um lado ao modelo de amostragem heterogênea de Poisson e por
outro ao modelo de colônias aleatoriamente distribuídas. A última
interpretação parece ser razoável pois pode-se supor que firmas
varejistas possam ganhar com o agrupamento com outras empresas
que vendem os mesmos produtos. A primeira interpretação também
é plausível, pois os pontos de saída varejistas devem ser atraídos
para o poder de compra e, se isto for realmente distribuído aleato-
riamente (mas com médias variáveis), a binomial negativa se
adaptaria.
Os estudos de Rogers também merecem atenção pelo fato de
que ele, seguindo o ecologista Robinson (1954), observou que o
expoente k na equação (24) pode ser interpretado como uma me-
dida de aglomeração: a variança da binomial negativa, S ( x), pode
ser dada como:
-186-
gundo termo na equação (31) se aproxima de infinito e S(x) se
torna cada vez maior em comparação com x. Naturalmente, isto
significa que quanto menor seja k, maior a tendência para a aglo-
meração. O fato de Rogers (1965, p. 1100) computar k = 0,1136
para lojas de antigüidades, K = 0,4225 para lojas de roupas fe-
mininas e K = 0,4274 para lojas de móveis, está de acordo com
nosso conhecimento intuitivo.
Rogers também examinou a distribuição de lojas de mercado-
rias de consumo, supondo que estas tendiam a se repelir, mostrando
assim uma distribuição espacial mais regular do que aleatória. En-
tretanto, os estabelecimentos de mercadorias de consumo (por
exemplo, mercearias e tabacarias) também estavam mais confor-
mes a uma distribuição de contágio: mais especificamente, pela
do tipo 4 de Neyman (30) mais acima. Em um rápido exame, isto
poderia nos fazer rejeitar a hipótese, mas deve-se compreender que
ela estava implicitamente baseada na suposição de uma planície
homogênea e, se esta suposição foi violentada, a configuração re-
gular de localidades será, naturalmente, perturbada. Por causa
disto, a conclusão de que os pontos de venda de mercadorias de
consumo são aglomerados não contradiz, necessariamente, a hi-
pótese inicial. Em vez disso, o oposto seria verdadeiro se a dis-
tribuição de população subjacente também pudesse ser aproximada
do tipo A de Neyman ou de uma função de distribuição relacio-
nada. Portanto, é do mais alto interesse que a distribuição espacial
da população de Estocolmo pudesse ser satisfatoriamente adaptada
tanto ao Tipo A de Neyman quanto às distribuições duplas Pois-
san, de Thomas.
-187-
mapas de inovações espaciais publicados por Hagerstrand (1953).
Harvey testou vários desses mapas, e verificou que a distribuição
binomial negativa fornecia, persistentemente, o melhor ajusta-
mento. Ele também observou que a Poisson dupla de Thomas, a
Polya-Aeppli e as funções do Tipo A de Neyman, subestimavam as
freqüências na extremidade das distribuições. Este resultado não
é muito surpreendente, já que a maioria das inovações tende a
crescer de uma maneira logística; as curvas logísticas e logarít-
micas também são estreitamente paralelas aos pontos de inflexão
da logística. Desde que não haja teto para os números que acei-
tam uma inovação, a binomial negativa deve ser portanto um bom
modelo. Entretanto, sob a restrição de uma população finita, ela
pode ser ideal apenas para os estágios médios do processo de di-
fusão.
Porém os estudos de distribuição de funções não são o único
meio de introduzir aspectos dinâmicos nos modelos de localidade
central. Curry (1962) exemplificou uma outra abordagem, ao su-
gerir que o fator tempo, em atividades de localidade central, é a
chave para o entendimento de sua geografia. Ele afirmou que o
padrão espacial dos centros de serviço só pode ser proveitosamente
entendido através de pesquisas de comportamento do consumidor
e de suas alterações através do tempo. De acordo com a tradição
econômica, ele pressupôs que os consumidores fariam suas com-
pras no centro mais próximo, mas ele acrescentou que a freqüência
de compra para cada mercadoria depende da proporção em que
ela é consumida e do nível médio de estoques mantidos em casa.
Mais especificamente, ele aventou que "a compra de uma merca-
doria pode ser considerada como um acontecimento isolado em
um contínuo de tempo, de tal modo que, para um grupo de con-
sumidores, o número de aquisiçõ'es de uma mercadoria em unidade
de tempo pode ser descrito por uma distribuição de· Poisson" (1962,
p. 36). Se isto acontece, as diferentes curvas também poderiam
representar áreas diferentes de mercado; as empresas que vendem
mercadorias de consumo possuindo áreas de mercado menores do
que as empresas que vendem artigos que são normalmente adqui-
rida apenas uma vez na vida. Isto também torna plausível a supo-
sição de que cada fornecedor deva ter conhecimento do comporta-
mento do consumidor e, em especial, do número de mercadorias
compradas normalmente em cada viagem de compras. Em essência,
isto restringe o problema do fornecedor a um único problema: o
da política de estocagem e filas. Em vez de testar suas idéias em
dados empíricos, Curry empregou uma abordagem de simulação
através da qual poderiam ser determinadas as repercussões que
teriam suas sugestões na evolução dos centros de serviço e de áreas
de mercado.
Em resumo, então, Curry (1962) baseou seu modelo de centros
de serviço em conceitos de probabilidade derivados de pressuposi-
-188-
ções específicas do comportamento humano. Foi utilizada uma
abordagem similar em um artigo mais recente (Curry, 1964).
Postulava-se que a distribuição espacial de estabelecimentos era
governada pela lei da aleatoriedade. Em comparação com seu pri-
meiro trabalho, o interessante é que ele agora (1964, p. 138) argu-
mentava que essas formulações são neutras com relação a raciona-
lidade, já que "cada decisão pode ser ótima a partir de um deter-
minado ponto de vista e que as ações resultantes como um todo
podem (ainda) parecer aleatórias". Embora o trabalho de Curry
levante muitos problemas vitais, focalizaremos aqui sua tentativa
para relacionar a bem conhecida regra de Zipf ou de tamanho-hier-
quia com a noção de entropia. 28
A regra tamanho-hierarquia diz que para um sistema de ci-
dades:
P1 = 1'{Pr)q (32)
(28) Vide também: Berry (1964 a. pp. 158 fls) . Meler (1962, cap. 8), por outro lado,
debateu de um modo mais geral, como a noção de entropia, junto com outros conceitos
da teoria de informação, pode ser usada em estudos de sistemas urbanos.
(29) Olsson (1965 a, pp. 18-21) observou que a regularidade emplrlca tamanho-
hierarquia aparece em multas relações, por exemplo, distribuição de renda. A dlstrlbul-
ç!i.o de cidades por tamanho de populaç!i.o foi anallsada por Allen (1954), Stewart (1958).
Moore (1959), Ward (1963) e outros, além de Zlpf (1941). Simon (1954) fez tentativa
recente para explicar a regularidade tamanho-hierarquia. Vide Berry e Garrlson (1958 a)
e Berry (1964a) para outras considerações.
(30) A única diferença é que as funções lognormal supõe que o crescimento se
!'eallse dentro de um conjunto de cidades completamente fechado, enquanto que a dls-
trlbulç!i.o de Yule surge se novas cidades são acrescentadas as d e nlvel mais baixo.
-189-
Em um estudo anterior, Berry (1964) pesquisou as relações
entre as distribuições tamanho-hierarquia e o desenvolvimento
econômico em um certo número de países. Ele concluíu que as dis-
tribuições de tamanho de cidade não se relacionavam com o de-
senvolvimento econômico. Rosing (1966) chegou a uma conclusão
similar. Todavia, parece que existem algumas dúvidas sobre a ma-
téria, e Berry (1964 a, p. 149), se referindo a Bell (1962) e a
Friedmann (1963), declarava que "estudos adicionais mostraram
recentemente que muitas distribuições com algum grau de pri-
mazia aproxima-se de uma forma tamanho-hierarquia, à medida
que aumenta o nível de desenvolvimento e o grau de urbanização":
Boal e Johnson (1965) seguem a mesma tendência.
Esses comentários sugerem que uma adequada compreensão
da regra tamanho-hierarquia pode ajudar na formulação de um
modelo dinâmico de probabilidade de assentamento da população.
Esta pesquisa em busca de uma teoria melhor pode melhor ser
sustentada pelo conceito de entropia; vide Curry (1964).
A entropia é uma das conseqüências da teoria física de ter-
mo-dinâmica. A primeira lei da termodinâmica, a le~ de energia,
estabelece que todas as formas de energia são equivalentes e in-
tercambiáveis. Assim, a soma da energia total dentro de um sis-
tema é constante e não ,é afetada pelas alterações na forma. Entre-
tanto, esta lei nada diz sobre a direção para a qual os processos
na natureza têm mais probabilidades de se locomover, e portanto
deve ser suplementada pela segunda lei, a lei da entropia. Ela
especifica a direção para a qual um sistema fechado em desequi-
líbrio se movimentará para alcançar o equilíbrio; assim, a energia
passa dos corpos mais quentes para os mais frios. Esta constatação
nos permite definir a computar a entropia física como:
R
S = Cv log T + --
m
log v (34)
onde:
S a entropia;
v o volume de um gás cuja massa atinge a uma unidade;
Cv o calor específico em um volume constante;
T a temperatura absoluta;
m o peso molecular do gás; e
R o gás geral constante.
Pode-se demonstrar que se dois sistemas com entropias S1 e Ss
são reunidos, a nova entropia S, se torna:
(35)
-190-
Portanto, a entropia de um sistema físico fechado tende a au-
mentar, enquanto o sistema não tiver atingido ainda o equilíbrio,
e a entropia pode, assim, ser tomada como uma medida do grau
de equalização alcançado dentro de um sistema. 31 Já que todos
os processos tendem para a equalização, a entropia de um sistema
fechado nunca pode decrescer e a entropia de um sistema é maxi-
mizada quando o sistema está em equilíbrio. Segue-se que, se a
segunda lei da termodinâmica fosse uma lei determinística, o con-
ceito de tempo poderia ser definido e medido como a direção no
sentido da mais alta entropia. Contudo, o fisico austríaco Ludwig
Boltzmann descobriu, em 1872, que o aumento da entropia não era
uma lei determinística mas uma lei estatística. Ele argumentava
que a pasagem de calor de corpos a altas temperaturas para cor-
pos com temperaturas mais baixas deveria ser compreendida como
uma equalização estatística de diferenças de velocidade molecular.
Esta constatação possibilitou-lhe estabelecer que:
n n
S = K !: P; log P; !: Pi = l (36)
'=I i= l
onde:
P, a probabilidade de se encontrar um sistema físico idea-
lizado no estado i de n estados possíveis; e
k uma constante (mais tarde denominada constante de
Boltzmann)
S = [( (p log P - i:,
'- z
P, log P;) const. (37)
(31) Esclarecendo: Relchenbach (1956, p. 53) pediu que seus leitores considerassem
" duas quantidades Iguais do mesmo gás a temperaturas diferentes e que fossem levados
a uma lnteração térmica em recipientes adjacentes. O calor flui, pelas paredes, do gás
de temperatura mais alta para o de temperatura mais baixa. De acordo com o cresci-
mento.. . A temperatura de ambos os sistemas finalmente alcançará um valor médio
mas o logaritmo da média é maior que a média dos logaritmos e a soma, tirada de-
pois que a temperatura é compensada, é maior que a soma inicial.
(32) Vide, para exemplos, vários artigos de Dockx e Bernays (1965).
-191-
Esta reformulação da equação (36) baseia-se na lei da pro-
babilidade de que as moléculas em um recipiente possam ser dis-
tribuídas entre n estados possíveis de P maneiras, de tal modo que:
p = P! (38)
P1!. .. . Pn !
-192-
dado o tamanho da maior cidade, a probabilidade de que a cidade
(u + 1) tenha uma população Pru+1J é igual a q, onde:
(44)
com:
p ( u) = a população da u maior cidade.
(33) curry nft.o discutiu esta. razão, que pode ser comparada. a. q na. equaç ft.o (32) e
(33). Entretanto, vale notar que Ca.lhoun (1957), p. 34 argumentou que a. lnteraçft.o
ótima. dentro de um sistema. ocorre quando q é Igual a. -1 .
(34) Vide, vor exemplo, Feller (1957), Kemeny e Snell (1959), Ba.rucha.-Re!d (1960)
e Pa.rzen (1962), para. vários estudos das cadelas de Ma.rkov.
(35) Brown (1963) analisou a. difusão de Inovações, Mt; Glnnls e Pilger (1963) a. !mi-
gração Interna., Clark (1965) a. distribuição de habitações de aluguel e Fugultt (1965)
o crescimento e o declinio de pequenas cidades.
-193-
Mas a regra tamanho-hierarquia pode ainda ser conectada
com um outro conceito dinâmico. Beckmann (1958, pp. 246-8)
provou sua equivalência com a noção de crescimento alométrico. 36
Esse modelo foi aplicado a fenômenos geográficos por Nordbeck
(1965). A possibilidade de um relacionamento similar também foi
notada por Berry, Simmons e Tennant (1963), Berry (1964 a) e
Newling (1966), os quais mais tarde a relacionaram com a hipótese
de que as densidades populacionais intra-urbanas variam com a
distância do centro da cidade. Esta hipótese, tal como foi original-
mente expressa por Clark, pode ser grafada como:
(45)
ou
-b.z;
log D "' = log D o (46)
onde:
Dw a densidade populacional a uma distância x do centro
da cidade;
Do a densidade populacional extrapolada no centro da ci-
dade; e
b um parâmetro empiricamente derivado, o "gradiente de
densidade".
-194-
Agora nos é possível deduzir, a partir das expressões (45) e
(47), a regra de crescimento alométrico intra-urbano como:
(48)
Resumo e Conclusões
Este trabalho tratou, primeiramente, do modelo clássico de
localidade central dentro de uma teoria geral de interação espacial.
Neste ponto, deve-se apenas tornar a salientar que os modelos de
interação espacial de hoje tem focalizado muito mais a variável de
distância, tendenciando um pouco nosso conhecimento. Devemos
portanto concentrar nossos futuros esforços no estudo deste tipo
de comportamento que dão origem a essas variações de distância.
Após este antecedente, o presente trabalho tratou em seguida
da maneira pela qual a racionalidade intencional do comporta-
mento humano pode ser operacionalmente incluída em modelos
de localidade central. Chamou-se a atenção para as várias deri-
vações da bem conhecida configuração hexagonal de localidade
central, incluíndo sua reformulação como um problema de maxi-
mização da densidade. Reconheceu-se, então, como as distribui-
ções empíricas de localidades tendem a desviar dessas redes hexa-
gonais teoricamente ótimas; foram sugeridas variantes da téc-
-195-
nica de contagem de células como um meio de introduzir e anali-
sar esses desvios.
As conecções entre as teorias de contagem de células e a de
localidade central parecem a mais evidente no caso de distribuições
"mais regulares do que aleatórias". Entretanto, a maioria das dis-
tribuições espaciais são antes "mais conglomeradas do que alea-
tórias", e esse reconhecimento exigiu uma breve menção a uma
família de distribuições de contágio. Foi observado, em especial, que
um certo número de distribuições podia ser satisfatoriamente adap-
tados à distribuição espacial de funções de localidade central. Pos-
teriormente foi assinalado que uma das principais vantagens da
técnica de contagem de células é a sua base firme na teoria de
probabilidade; assim a abordagem à teoria de localização é prefe-
rível a qualquer outra abordagem determinística.
Mas a técnica de contagem de células também pode se mos-
trar útil na formulação de modelos espaciais dinâmicos. Na última
seção, esta observação é seguida por um debate sobre a maneira
pela qual os sistemas de localidades centrais se desenvolvem no
tempo. Deu-se uma atenção específica a um certo número de mo-
delos de probabilidade e ao problema do relacionamento desses
modelos entre si: assim a lei de tamanho-hierarquia ou a lei de
Pareto pode ser tratada como o estado de quase equilíbrio de um
processo estocástico. Demonstra-se também como o conceito de en-
tropia e as cadeias regulares de Markov podem ser usados para
calcular soluções estatísticas de equilíbrio.
Finalmente, como conclusões de todo o trabalho, foi demons-
trado que os modelos dinâmicos e probabilísticos deveriam subs-
tituir as teorias de localidade central. Ainda não se fez esta refor-
mulação. Entretanto, neste ínterim, os teóricos têm um grande
números de modelos valiosos à sua disposição, e eles devem ser in-
troduzidos, como submodelos, em uma simulação mais geral de
sistemas urbanos. A utilidade desta abordagem foi sugerida por
Garrison (1962), enquanto Morrill (1962, 1963 b, 1965 a e 1965 b)
e outros, demonstraram seu uso na prática. As características de
simulações espaciais foram recentemente estudadas por outras pes-
soas. 37 Embora possa parecer estranho finalizar um trabalho com
referência a outro, esta parece ser a melhor solução no momento.
A simulação possui pelo menos quatro características distin-
tas cada uma das quais satisfaz certas necessidades dos teóricos
de localidade central. Em primeiro lugar, o modelo de simulação
total é facilmente elaborado como um conjunto de submodelos. Al-
guns desses submodelos serão certamente variantes das formula-
ções estudadas nas partes principais deste trabalho. Em segundo
lugar, as simulações são, quase que por definição, modelos esto-
(37) Malm, Olsson e Warneryd (1966), Vide também, Warneryd (1965 b, 1966).
-196-
cásticos nos quais o resultado depende de probabilidades especifi-
cadas e não de leis determinísticas. Isto é importante já que as
suposições comportamentais na base da maioria dos modelos de-
terminísticos mostram-se irreais. Em terceiro lugar, a simulação é
um procedimento iterativo pelo qual os desenvolvimentos no tempo
são prontamente analisados. E ainda esses desenvolvimentos de
configurações de modelos podem ser regidos por um ou por vários
dos submodelos mencionados. E, por fim, em quarto lugar, a simu-
lação é freqüentemente usada no estudo de relacionamentos muito
complexos para serem adaptados a expressões matemáticas exatas;
se mais não fosse, este trabalho tentou evidenciar a complexidade
dos relacionamentos de localidade central. Como foi sugerido na
introdução, somente análises sofisticadas de sistemas, das quais a
simulação é um instrumento importante, oferece uma abordagem
viável.
Embora se tenha tentado uma abordagem global do problema,
devemos finalizar com a mesma conclusão de Berry (1964 a, p. 161):
"tenho muito pouco entendimento de como colocar ... juntos
(submodelos) diferentes em modelos mais gerais de largo alcance.
Os modelos bem fundamentados (como os mencionados acima)
estão fornecendo as pilastras para a edificação, mas o progresso
máximo durante a próxima década está a espera de um sistema-
tizador arquitetural.
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J. D. NYSTUEN
e
M. F. DACEY
7. Uma interpretação de
regiões nodais segundo
a teoria dos grafos
-207-
para este tipo de análise quando puder ser visto como uma rela-
ção ou fluxo que liga objetos que serão mapeados como pontos.
Na presente ilustração as cidades são conceitualizadas como ele-
mentos puntiformes numa rede de telefones. Outras áreas ade-
quadas à aplicação do método de análise inclui o fluxo de infor-
mações ou produtos materiais entre firmas (comerciais) , numa
área metropolitana; o fluxo de correspondência ou fretes entre
cidades em uma região; as relações interpessoais entre os habi-
tantes de uma cidade, ou a estrutura política que relaciona os
governos local, estadual e federal.
-208-
Isto não nega a existência de outros fluxos ou 2 ssociações
para ou de cada unidade de área. Tais fluxos existem, de forma
que cada unidade de área está conectada com muitas mtras ci-
dades. A circulação de jornais, por exemplo, pode ser :laminada
por um diário local, enquanto jornais da metrópole próxima podem
também estar bem representados, e o The New York Times pode
ser encontrado em algumas residências da área. Igualmente, mui-
tos contactos esporádicos com jornais de outras cidades estão
também presentes. Entretanto, a "associação predominante" con-
tinua sendo o conceito crítico na definição da estrutura nodal. As
restantes associações não dominantes não são utilizadas, não obs-
tante serem as magnitudes de algumas relativamente grandes.
-209-
sistema. Alternativamente, as ASSOCIAÇõES são INDIRETAS
quando as ordens são acumuladas em vários níveis da hierarquia
e sobem às sedes regionais.
Do mesmo modo, expedições provenientes de uma CIDADE
CETRAL descem para níveis intermediários através de agentes
intermediários, ao invés de diretamente para todos os pontos da
região.
Muitas associações são deste tipo indireto. Por exemplo, o con-
trole político se faz através de escalões, antes que através de comu-
nicações diretas entre os líderes do partido nacional e líderes me-
nores. Muitos produtos são reunidos e distribuídos através de uma
estrutura hierárquica na organização. Isto resulta, em parte, da
economia, acarretada pelo movimento de grandes volumes para
grandes distâncias e, em parte, devido ao melhor controle que se
realiza na operação. Avaliando-se toda a estrutura da sociedade
urbana é evidente a existência de influências indiretas e associa-
ções, freqüentemente exercidas por uma localidade sobre outra.
Um sistema de análise que considere estas associações diretas
e indiretas entre as cidades torna-se apropriado.
Em suma, A REGIÃO NODAL é definida na base de fluxos
mais fortes, indo ou vindo de cada uma das unidades de área na
vizinhança de uma localidade central. A região é delimitada pela
agregação destes elementos individuais. A HIERARQUIA de loca-
lidades centrais é determinada pela agregação das melhores loca-
lidades CENTRAIS que são dependentes de um único CENTRO
MAIOR, em relação as funções que lhes faltam. Esta trama de ci-
dades define a organização da rede de cidades e a posição de cada
cidade na rede. Tal trama depende do conjunto de funções dis-
poníveis e a predominância relativa dos conjuntos.
Neste estudo, iniciaremos com as metrópoles e cidades de uma
grande área. A estrutura da associação entre as cidades é especi-
ficada pela classificação de cada uma das cidades de um dos vários
subgrupos. Considerando-se o sistema como um conjunto de pontos
e linhas, onde as LINHAS REPRESENTAM A ASSOCIAÇÃO EN-
TRE PONTOS, certos teoremas dos GRAFOS LINEARES possibili-
tam a análise numa área da associação funcional de cidades.
-210-
pontos sempre que exista um certo fluxo entre as cidades por
eles representadas. A coleção finita de linhas e pontos, onde cada
linha contém exatamente dois pontos, é um GRAFO LINEAR de
relações estabelecidas pelos fluxos.
NOTAÇÃO MATRICIAL
Todo GRAFO LINEAR tem uma matriz adjacente que des-
creve totalmente o grafo e vice-versa. A notação matricial é con-
veniente à manipulação aritmética. Todo ponto do grafo é repre-
sentado por uma linha e uma coluna da matriz. O elemento X í1
da matriz adjacente toma o valor da linha, se existir, entre os
pontos i e j; se a linha não existir, o valor de X íj é zero.
-211-
Os elementos X,i> da diagonal de uma matriz adjacente re-
presentam a relação de cada ponto consigo mesmo. Esta relação
pode estar ou não definida. Quando não está definida, todos os
elementos da diagonal principal são, por convenção, iguais a zero.
-212-
Uma pequena cidade, distante de grandes centros metropolitanos,
pode mostrar este tipo de independência, porque seu fluxo máximo
se orienta para uma cidade próxima menor ainda. Inversamente,
na mesma região, uma grande cidade satélite estreitamente asso-
ciada a um CENTRO METROPOLITANO não tem esta indepen-
dência, porque seu fluxo máximo se dirige para a metrópole.
Dessa forma, para identificar CIDADES INDEPENDENTES
uma medida de tamanho é necessária. O tamanho pode ser obtido
externamente como, por exemplo, pela população de cada cidade
ou internamente, pelo volume total de mensagens para ou de todas
as cidades da região. No exemplo tratado neste Estudo o tamanho é
obtido de acordo com o fluxo total de mensagens recebidas de todas
as CIDADES da região. Este valor está no total das colunas da
matriz de fluxos entre todas as cidades pares. Nestes termos, uma
CIDADE CENTRAL OU INDEPENDENTE é definida como aquela
cujo fluxo máximo se dirige a uma cidade menor. A CIDADE SU-
BORDINADA é aquela cujo maior fluxo se dirige a uma cidade
maior. Isto pressupõe a inexistência de ambigüidades obscurecendo
a CIDADE DOMINANTE (maior) de um par. Tal ocorre quando os
fluxos máximos são reflexivos, ou seja, duas cidades cujas maiores
conexões com o exterior se orientam de uma parte para outra reci-
procamente.
b) Uma segunda propriedade é a TRANSITIVIDADE. Esta
propriedade implica que se a cidade A é subordinada a cidade B e B
é subordinada a cidade C, então a cidade A é subordinada a ci-
dade C.
c) Uma terceira propriedade estipula que uma cidade não é
subordinada a nenhuma de suas subordinadas. Um Grafo mostran-
do esta relação é chamado Acíclico. Vê-se facilmente que um
GRAFO ACiCLICO contém uma HIERARQUIA.
DOIS TEOREMAS
-213-
Os seguintes enunciados são deduções úteis relativas ao
GRAFO de uma ESTRUTURA NODAL. A fig. 1 ilustra os conceitos.
1) TEOREMA: Os componentes de uma ESTRUTURA NO-
DAL dividem o conjunto de cidades.
PROVA: cada cidade é representada por um ponto no GRA-
FO de uma ESTRUTURA NODAL. Cada ponto está fracamente
conectado a todos os pontos em sua componente, e a nenhum ponto
fora de sua componente. Uma componente comum é o ponto iso-
lado. Cada ponto é ligado a uma e somente a uma componente.
Este modo de assinalar um conjunto é uma REPARTIÇÃO.
2) TEOREMA: Cada componente de uma ESTRUTURA
NODAL TEM UMA úNICA CIDADE CEN-
TRAL (Ponto Terminal).
-214-
MATRIZ DE N2 DE MENSAGENS ENTRE CIDADES PARES
DA CIDADE
a b c d e f g h k
o ( o @ 15 20 2!3 2 3 2 20 o
boi I 69 o 45 50 58 12 20 3 6 35 4 2
c 5 @ o 12 40 o 6 3 15 o
d 19 @ 14 o 30 7 6 2 li 18 5
h o 4 o 3 3 6 o 12 @ 'l o
2 28 3 6 43 4 16 12 o @ 13
j"' 7 40 lO 8 r, o 5 17 34 98 o 35 12
k 8 2 13 o 5 5 12 @ o 15
I o 2 o o 7 o o 6 @ o
TOTt. L " 113 337 141 128 290 71 118 05 202 311 91 39
'
GRAFICO DA ESTRUTURA NODAL ENTRE CID~DES
Grófico G a b c d e g 11 k
a
h
b
c
d
e
g
e• h
k
*
I
O total-coluna-máxima é igual a 1.
O Grafo Linear correspondente a esta matriz adjacente tem
a carga decimal positiva apropriada. Chama-se de Y a matriz
adjacente. Em termos de Grafo Linear, as expansões potenciais de
Y possuem interpretações interessantes.
A matriz Y2 , que se obtem (Y. Y) por meio da multiplicação
usual de matrizes, descreve um Grafo quando todas as seqüências
possuem comprimento igual a 2. O comprimento de uma seqüência
é o número de linhas que ela contém. Posteriormente, as cargas
das linhas de cada seqüência de comprimento 2 serão obtidas por
multiplicação. Desde que as cargas iniciais são valores decimais,
associa-se um valor atenuado a cada cantata que vai do ponto i ao
ponto j, através de uma seqüência de comprimento 2. A soma des-
-216-
sas seqüências de dupla parada, de i a j é o valor de todos os can-
tatas indiretos possíveis de comprimento 2 (em 2 passos).
Pode-se demonstrar a verdade desta afirmação, considerando-
se o significado da seguinte soma:
3) a;;= I: K.yiKyKj (K = 1, 2, .... n)
Onde au é um elemento em Y2
Y .;k é a carga da linha que vai do ponto i ao ponto k, no grafo
e o elemento Y k; tem o mesmo significado para a ligação entre
k e j.
Os únicos termos que entram na soma são os que constituem
uma seqüência de comprimento 2.
Quando uma ligação de ou para o k-ésimo ponto não existe, o
termo todo será zero. O elemento a;; é o valor total de todas as
seqüências de comprimento 2.
De modo semelhante, pode-se mostrar que os elementos de y s
especificam os valores atenuados de todas as seqüências de com-
primento 3 e assim por diante. O sentido das seguintes somas é
claro:
4) B = Y + y.e + ys .... + yn + ....
O elemento bij de B representa a influência total, direta ou
indireta de i para j .
Alguns exemplos podem ser úteis. Dadas as cidades a, b, ... , n,
uma seqüência típica de a até e poderia ser a - - b - - c - - d
- - e. Imagina-se que uma atividade numa cidade a tenha influên-
cia sobre uma correspondente em b; esta atividade de b, por seu
turno, se liga a uma correspondente em c, podendo-se continuar a
série até a efetivação de uma pequena resposta em e. A probabi-
lidade de uma tal cadeia de ocorrências depende parcialmente da
magnitude dos fluxos de cada ligação da seqüência. Em geral,
quanto mais longa a seqüência, tanto mais remota é a probabi-
lidade de uma resposta, e, quando ocorre uma resposta, ela é menos
intensa.
Alternativamente, o fluxo de influências pode ser recanali-
zado através da mesma cidade mais de uma vez. Por exemplo, a
seqüência pode ter a forma a - b - a - e. Todas estas somas
estão incluídas na matriz B.
Não está demonstrado que o somatório da espansão de potên-
cias de Y é a forma correta de atenuação dos fluxos numa seqüên-
cia. É extremamente duvidoso que a matriz B seja a mais adequada
mensuração do total de influências diretas e indiretas. É essencial-
mente uma medida de cantatas indiretos acidentais. A distribuicão
da associação indireta real não é, provavelmente, de todo aleatória,
porém, de preferência concentrada num certo canal de fluxos, caso
-217-
em que a matriz B seria uma subestimativa das influências indi-
retas. Entretanto ela tem maiores atrativos que a matriz Y, que
engloba apenas as influências diretas.
A escolha da expansão de potências particulares é determina-
da pela facilidade de seu cálculo. Vários outros métodos podem ser
também apropriados.
UM EXEMPLO
O Estado de Washington foi escolhido como área de estudo.
A utilidade do conceito de estrutura nodal é avaliado na escolha
de um conjunto de cidades desta área e, em seguida, na determi-
nação da estrutura nodal prevalecente. A estrutura nodal que se
manifesta deveria assemelhar-se à hinterlândia e à classificação
das cidades maiores da área. Certas cidades de fora do Estado
foram incluídas nos estudos, a fim de se examinar o papel que
desempenham na rede de associações urbanas. Portland, Oregon,
Vancouver (British Columbia) foram inclusões especialmente im·
portantes.
As associações foram definidas pelo número de mensagens te-
lefônicas de longa distância entre cidades pares, durante uma
semana de junho de 1958.
Foram omitidas certas cidades pares, no estudo, em virtude
das características dos dados e a fim de limitar o tamanho da
pesquisa.
-218-
Muitos pares de cidades vizinhas possuem serviços telefônicos
diretos e, nestes casos, as chamadas interurbanas não foram re-
gistradas nos dados sobre ligações de longa distância. Cidades de
pernoite, a caminho de Seatle, e diversas "cidades gêmeas", como
Aberdeen-Hoquiam, Chehalis-Centralia e Pasco-Kennewick, tinham
serviços diretos de intercâmbio. Esta não é uma séria deficiência
dos dados porque tais cidades provavelmente funcionam como
ponto único da rede, no âmbito do Estado, e uma das "cidades
gêmeas", em cada par, poderia ser utilizada no estudo.
Certas cidades ligeiramente grandes do norte de Seattle e Pu-
get Sound foram omitidas por falta de dados.
Estas cidades eram servidas por companhias telefônicas dife -
rentes. Uma vez que, a cada ano, as companhias telefônicas to-
mam uma amostra semanal das chamadas telefônicas interurba-
nas, existem dados comparáveis, mas não se fez uma tentativa
para obtê-los. Finalmente, não foram incluídas as cidades com po-
pulação acima de certo tamanho, a fim de restringir as dimensões
do estudo. Foram escolhidas, contudo, algumas pequenas cidades
num esforço para obter amostras das hieraquias com "caminhos"
diretos de comprimento 2 ou mais. O mapa da Fig. 2 identifica
as cidades incluídas no estudo. Com a vantagem de uma vista
posterior, poderia ser preferível ter incluído no estudo maior nú-
mero de pequenas cidades.
Certos canais de comunicação foram omitidos porque não
estão registrados nos dados de ligações a longa distância. As cha-
madas por linha diretas são um exemplo. Provavelmente a única
linha direta, com grande volume de chamadas no Estado, liga
Seattle com Olympia, a capital do Estado. Se fossem incluídos esses
dados, a associação máxima de Olympia poderia deslocar-se de
Tacoma para Seattle. Embora esteja além dos objetivos deste
estudo, poder-se-iam obter interessantes conclusões, se fossem in-
cluídos todos os canais de comunicação, tais como rádio, telé-
grafo, correio e serviço de mensageiros.
A Tabela 1 é um exemplo de tabulação de dados brutos. Qua-
renta cidades foram incluídas nesta pesquisa.
A Tabela inteira é a matriz adjacente do grafo de associa-
ções, quase completamente conectado, no qual existem poucos ele-
mentos zero. Os totais das linhas são o total dos contatos-para-fora,
enquanto os totais das colunas são o total dos cantatas-para-dentro.
A direção do fluxo de mensagem é lida da cidade da "linha"
para a cidade da "coluna".
Os elementos da diagonal principal são iguais a zero, por
convenção.
A Tabela 2 é a matriz adjacente B, que avalia as associações
diretas e indiretas entre as cidades.
-219-
· -·· - ··- ··-· ·- ·· -··c- ·· -··-· ·-· ·- ·- ·· -· ·-,
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• LEGENDA
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Todas as locc li dcde s incorporadas
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ou mais habita ntes são mapeados .
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Fíg . 2 -ESTRUTURA NODAL BASEADA EM DADOS SOBRE TELEFONE, ESTADO DE WASHINGTON, 1958
DivEd/D· J.A.C.
A estrutura nodal contida nesta matriz foi determinada por:
(1) identificação do fluxo nodal ; (2) classificação das cidades
pelo total de associações no sentido delas; (3) determinação de um
sentido de orientação das cidades com um menor total de asso-
ciações para outra com maior total de associações; e (4) identi-
ficações das cidades não orientadas como o centro de sua hie-
rarquia.
A Figura 2 mostra as conclusões. A Figura 3 é a matriz adja-
cente da estrutura nodal derivada das associações diretas e in-
diretas.
TABELA I
Parte da tabela 40 X 40 do número de mensagens entre
cidades pares, em uma semana de junho de 1958
Código 01 02 03 04 08 13 26 27 40
CONCLUSõES
As técnicas definidas neste trabalho dividem um conjunto de
cidades, de um subgrupo especificador de um lugar central, e sua
hierarquia subordinada.
A associação entre cidades não é o único sistema que pode ser
definido como uma rede de ponto e linhas.
Podem-se imaginar nações e estados como pontos e as mi-
grações ou fluxos de mercadorias como linhas. O passo importante
no emprego da análise abstrata dos grafos lineares é assinalar um
significado plausível para os pontos e as linhas, de preferência, em
termos de fenômenos expressos por palavras concretas. A utili-
dade dos atributos e a interpretação da hierarquia resultante de-
pendem da correspondência entre um exemplo empírico, a que se
aplique a análise da teoria dos grafos, e outras formas de conhe-
cimento dos fenômenos. O processo exposto neste trabalho pode ter
-221-
-
,.., o o o
N !I')
"'"
o o "'"' o~
"'o "'o ~ N;r;~~~~;;;~~~~::;;~~~~~~~2Ki~~~w
- . . Seattle 13
Aberdeen O
Auburn 02
1:3remerton 05
Centroho 06
Eve~etl 07
Shetlon tO
Cte Elum 17
Vancouver B.C. 39
Beltinghom 03
Lynden 04
Tocamo !4
Otymp1o 09
Puyottup 15
Pari An ge les
Sequim 12
We notchec
Okonogon 22
Yok1mo 34
~ Eltensburg 35
~ Goldendote 36
~
Top penish 37
Spokone 26
Coifa)( IB
Colvllte 19
Ritzv itl e 25
Coeur d'Atene 27
Deer Park 26
W1lbur 32
Coutee Dom 33
lewiSion Ido 38
Wollo Wcllo 29
Oayton 30
~ Mosesloke
Ephroto 20
..,._. Posco 2.3
Richlond :-'4
-+- Porllond 40
Lor.g ~~~w OB
Vancouve r,•.,·a-;n 16
-223-
TABELA II
Parte da matriz B (associações diretas e indiretas)
Código 01 02 03 04 08 13 26 27 40
Total das colunas .548(2) .588(2) .613(2) . 866(3) .585(2) . 102(0) .229(1) .311(2) .563(1)
a. Fluxo Nodal NOTA: Os números foram arredondados para três algarismos significativos
b. Ponto Terminal Os dados foram processados para oito números sirnificativos. Os va-
!ores dentro dos parêntesis representam o número de zeros do primeiro
algarismo significativo.
-224-
BIBLIOGRAFIA
-225-
LAWRENCE A. BROWN
e
JOHN HOLMES
8. Delimitação de reg10es
funcionais, nodais e hie-
rarquias por uma medida
de distância funcional *
1 - O Conceito de Região:
Tradicionalmente, os geógrafos e cientistas sociais usaram dois
pontos de vista classificatórios ao definirem regiões (Brown 12).
- Uma região pode ser composta de áreas ou entidades locais
que em alguns aspectos específicos são homogêneas.
Usualmente é considerado que as áreas que compreendem a
região são contíguas, e a(s) variável(veis) sobre as quais a região
está definida são atributos de áreas agrupadas. Tal região é deno-
minada região formal ou uniforme.
Em contraste, uma região pode ser composta de áreas ou lu-
gares que têm maior interação ou conexão uma com a outra do
-229-
que com áreas exteriores. As vanaveis sobre as quais a região
é definida são interações entre áreas ou entidades locais. Isto
sugere que as áreas que compreendem a região diferem de maneira
a serem funcionalmente complementares uma da outra. Tal região
é denominada região funcional.
Uma região nodal é vista como um caso especial de região
funcional, que possui um único ponto focal e na qual é introduzida
a noção de domínio e ordem. Se um agrupamento de lugares está
baseado no critério de que, internamente, a interação do grupo é
maior do que a interação entre grupos, sem consideração do papel
de cada entidade no padrão de interação, existe uma região fun-
cional. Se, por outro lado, o agrupamento está baseado em ambas
as interações, entre lugares e o grau ou ordem de relacionamento
de 11m lugar com outro, e um único lugar é identificado como
dominando todos os outros, então aparece uma região nodal.
Básico para essa distinção entre regiões nodais e funcionais é
o fato de que os relacionamentos entre lugares geralmente não
são simétricos, particularmente se um único tipo de interação é
considerado. Como conseqüência existe um grau ordinário ou hie-
rárquico entre lugares que refletem a importância relativa de
um lugar em relação a todos os outros. Assim, uma cidade pode
ser classificada como de 1.a ordem, 2.a ordem, etc., como no tra-
balho de Brush (15) ou Brown, Odland e Golledge (14). O fato
de uma cidade ser de 1.a ordem e outra de 2.a, todavia, não im-
plica em modelos de interação. Deve-se também considerar o con-
texto espacial e particularmente a atenuação do efeito da distân-
cia sobre a interação. Como resultado deste último, achamos que
um grupo de lugares pode ser subdividido nas bases dos padrões de
interação de modo que cada subgrupo contenha lugares de todos
os níveis hierárquicos ou ordinais, que estão organizados à volta de
um ponto focal. Tal subsistema constitui uma Região Nodal. Se
há também uma interação significante entre regiões nodais, um
número de regiões será encontrado dentro de uma região funcio-
nal determinada. Entretanto, a região nodal compreenderá, ela
própria, uma região funcional.
-230-
lizados para o desenvolvimento de metodologias paralelas para a
análise das regiões funcionais e nodais.
Este problema será considerado aqui. Primeiramente, notamos
as propriedades de uma metodologia adequada para a delimita-
ção de regiões nodais e funcionais nas bases de padrões de inte-
ração. Isto faz com que a discussão incida na seção anterior e
no trabalho prévio de Brown e Horton (13).
1 - Deveria identificar ordens de propriedades (hierarquias),
regiões nodais e regiões funcionais como entidades rela-
cionadas.
2 - Deveria levar em consideração todos os caminhos de um
lugar para outro, considerando tanto os fluxos e conexões
diretas e indiretas.
3 - Não deveria implicar nem requerer suposições anteriores
em relação a ordem ou importância de um lugar em rela-
ção a outros dentro do sistema.
4 - Não deveria admitir simetria ou reflexividade de intera-
ção entre os lugares.
5 - Deveria permitir medidas padronizadas de modo que a
comparação entre qualquer par de lugares dentro do
mesmo sistema seja possível.
6 - Não deveria restringir os lugares à classificação em so-
mente uma região funcional ou uma região nodal.
REGiõES NODAIS
-231-
O fato de atribuírem aos lugares um papel dominante ou
dependente e que usualmente só os fluxos diretos são considerados,
prejudica a estratégia citada acima. Um método melhor é empre-
gado por Nystuen e Dacey (43), usando chamadas telefônicas e
Davis e Robinson (17), usando viagens para compras. Ambos per-
mitem identificar a ordem dos lugares pelas técnicas de regiona-
lização apesar de que somente Nystuen e Dacey usam sistemas
articulados e fluxos indiretos e diretos. Sua estratégia é a de
inicialmente padronizar a matriz de fluxo e potenciá-la, enquanto
que Davis e Robinson trabalham somente com uma matriz de
fluxo padronizado. A matriz resultante fornece informações sobre
a força e a direção do relacionamento entre lugares e é usada
como base para a classificação. Nenhuma tentativa, entretanto,
utiliza todas as informacões na matriz resultante e nem iden-
tifica regiões funcionais , ou a extensão do sistema hierárquico.
REGIÕES FUNCIONAIS
Uma tentativa de delimitação de regiões funcionais é repre-
sentada pelo trabalho de COATES e HUNT (16). Eles mapearam
todas as viagens diárias para o trabalho usando setas para indi-
car a força e direção do fluxo; então, subjetivamente, traçaram
os limites das regiões funcionais pelo critério de minimizar intera-
ções que se verificam nestes limites.
Uma segunda estratégia é a de aplicar diretamente uma aná-
lise fatorial a uma matriz que contenha medidas estandardizadas
do fluxo ou associação entre lugares, sendo os agrupamentos fun-
cionais indicados pelo padrão de "factor loadings" resultantes.
Isso foi empregado por RUSSETT (47) nas análises de fluxos de
Mercadorias internacionais e membros comuns em organizações in-
tergovernamentais. 1 Uma tentativa diferente para dados seme-
lhantes (e trocas diplomáticas) é apresentada no trabalho de
BRAMS (10, 11).
A regionalização resulta da aplicação de um agrupamento
multivariado para medidas de proeminências entre ligações, como
determinado pelas duas análises das interações. 2
(1) É tentador usar análise fatorial para derivar agrupamentos a serem considerados
regiões funcion ais. O procedimento começa com uma matriz de fluxos de origem-destino
para um fenômeno singular (por exemplo movimento pendular diário). Esta matriz
é transformada em uma matriz de correlação, que é então fatorlzada. O agrupamento
resultante reflete o grau em que os lugares têm origem ou destino comum, em seus
padrões de fluxos. Pelo critério empregado aqui, entretanto, as regiões funcionais (ou
nodais) se baseiam nas lnterações (tanto diretas como indiretas) entre pares de lugares
(entre um lugar i e um lugar j) e não no Padrão de similaridade das interações de e e j
com o conjunto de lugares. Esta distinção foi também ressaltada por Russet (47, p. 130).
Usando o método fatorial acima indicado, Goddard (20) emprega o método de grupar
em uma região funcional lugares com "loadlngs" elevados em um determinado fator e
elevados "scores" no mesmo fator. O 1. 0 conjunto de lugares representa destinações
com origens comuns e o segundo representa origens que são altamente relacionadas ao
conjunto de destinações. Embora esta estratégia seja mais apropriada, não parece satis-
fazer o critério para regionallzação funcional.
(2) O modelo de anál!se da matriz de interação foi também aplicado a chamadas
telefónicas (Soja, 50) para del!mitar regiões nodaiz.
-232-
As tentativas para delimitação de regwes funcionais acima
não requerem uma noção anterior da forma ou relacionamento
entre os lugares. Como ponto negativo, entretanto, essas tenta-
tivas geralmente resultam em regiões mutuamente exclusivas e
considerem somente os fluxos diretos e conexões, e não os indiretos.
Também, nenhuma das tentativas mencionadas, tanto para região
nodal como funcional, foram aplicadas para identificação de re-
giões funcionais, nodais e hierarquia de lugares relacionados, e não
fica claro que cada uma pode ser aplicada neste modelo.
DISTANCIA FUNCIONAL
-233-
ANALISE EMPíRICA
A amostra escolhida para a análise empírica consiste em
dados de jornadas para o trabalho de 107 centros urbanos em
Derbyshire, Nottinghamshire e o West Riding de Yorkshire em
1951 (General Register office, 18). 3 Um afeição destes dados é
que muitos pares de lugares não possuem trocas entre eles. Assim,
a rede retratando os padrões de migrações alternantes é relativa-
mente desconexa. Estruturalmente esta situação é muito diferente
daquela da SMSA que mostra um sistema de lugares quase que
totalmente relacionados.
A METODOLOGIA ANALíTICA
O método analítico adotado nesta pesquisa (fig. 1) envolve três
fases. Primeiramente os dados são colocados numa matriz (107 X
107) de origem- destino, 4 e então são submetidos a uma análise
da cadeia de MARKOV, de maneira a produzir a matriz (107 X
107) que seja de "mean first passage times" (MFPT) ** Kemeny
e Snell (38) e Hillier e Lieberman (33). O elemento fij da matriz
MFPT representa o número médio de passos que são necessários
para que seja alcançado j a partir de i, considerando tanto as liga-
ções diretas e indiretas entre i e j. No contexto do problema de
regionalização, o MFPT não tem significado em termos de mundo
atual ou fenômenos atuais, mas dá uma medida abstrata da dis-
tância funcional de i para j. 6
Para uma rede altamente conectada, como é exemplo o de
uma SMSA, a matriz MFPT possui a característica de que os valo-
res em qualquer coluna j são relativamente semelhantes, isto é,
MFPTij ,._, MFPTkj, apesar de não estar claro no momento do
(3) Inicialmente todos os lugares a nível de distritos urbanos nos três condados foram
lncluldos , mas alguns fora m eliminados em vista de não se poder atender às limita-
ções de uma Cadela de Markov regular. Os lugares eliminados eram aqueles que conti-
nham colun as ou Unhas apenas com zeros e que por isso tomavam a Cadela periódica.
(4) Ao invés de se começar com uma matriz assimétrica de fluxos , na qual os valores
de i , j referem-se aos !luxos de i para j e os j - i se referem aos !luxos de j para i , pode-se
começar com uma matriz simétrica, na qual os v&lores de i - j representam a soma d os
nuxos nas duas dlreções. Esta última , quando submetida a uma análise Markoviana, perde
sua simetria, uma vez que probabllldades de transição são definidas pela soma das Unhas.
A probabilidade de tra nsição i - j é, então, interpretada como uma m edida da impor-
t ância relativa para o nódulo i , do fluxo total entre i e j , ao passo que a probabilidade
d e transição, j - i, representa a mesma coisa para o nódulo j. Ao considerar interações
tais como moviment o pendular, a dlrecionalldade é relacionada as propriedades de ordem
ou padrões de dominâ ncia de entidades locaclonals. Neste caso a m atriz assimétrica é
mais apropriada. Há outros tipos de interação, t a is como chamadas telefónicas, par& os
quais a dlreclonalldad e guarda poucas relações com propriedades de ordem ou dominância
das entidades locaclonais. Neste caso a matriz simétrica é mais apropriada. Estas obser-
vações se baseiam em estudos a.nteriores de Howa.rd Blel, do Departamento d e Geografia,
d a Universidade Estadual de Ohio.
(5) O programa utlllza.do par& este propósito é o Markov I, descrito em Marble (42) .
Nota do editor: Tal programa está, também, sendo aplicado em estudos no Departamento
de Geografia da Fundação IBGE, um dos quais já publicado na Revista Brasileira de
Geografia, n.• 4, 1972.
(6) O MFPT para & ligação de i a j não é necessari amente igual ao MFPT para a
ligação ; a i. Na maior parte dos casos, é de se esperar que elas não sejam iguais. Isto é
uma importante característica da técnica utlllzada.
-234-
estudo, isto indica essencialmente uma região funcional. Também \;
-235-
DIAGRAMA DE FLUXO DOS PROCESSOS ANALÍTICOS
PARA A REGIONALIZAÇÃO FUNCIONAL E NODAL
I Matriz de Fluxo I
r Matriz MFPT -l
I
J
f ~~i~:: f~~:ional separadamente I Trc::tar todas as
regiões funcionais
1
.-----S-u-bd-iv-isa--o-'~"•-
simultanedmente
-M-atr-iz_d_e-flu- x---,
o
e computar matrizes M F P T
separadamente
para cada região funcional
01vEd/D-J.A.C
t, de modo a mm1mizar a variação intergrupos enquanto maxi-
miza a variação entre os grupos a cada passo.
Entretanto, na matriz MFPT há mais origens e destinos do
que observações e variáveis, e a matriz é quadrada (u = t). O
procedimento a ser executado para a matriz MFPT que resulta de
uma rede relativamente desconectada é agrupar primeiramente
na base de configurações ao longo das linhas de MFPT, as quais
destacam regiões funcionais. Em seguida realizam-se agrupamen-
tos nas bases das configurações ao longo das colunas do MFPT.
Isto revela hierarquias para todo o sistema e hirerarquias dentro
das regiões funcionais. 10
A 3.a fase de nossa análise é constituída pela delimitação de
regiões nodais para uma cidade j. Duas características devem ser
consideradas: o padrão de interação de cada cidade i com j e a
hierarquia de cada cidade i em relação àquela da cidade j. De
modo a se identificar aspectos importantes dos padrões de intera-
ção, as submatrizes representando cada uma das maiores regiões
funcionais são submetidas separadamente a análise MFPT e o re-
sultado de cada coluna do MFPT é convertido em valores z. Um
valor Z;; de aproximadamente -1 ou menos é tomado para indicar
que uma cidade i pode pertencer a uma região nodal da cidade i. 11
A hierarquia de cada lugar pode ser medida pelo seu próprio
MFPT médio como destino, por seu valor no vetar de equilíbrio, ou
pelos resultados do procedimento de agrupamento multivariado. Se
a interação de uma cidade i com a cidade foco j for significante
(ex.: Z i; ~ -1 ,0) e se a cidade i é de grau igual ou menor do
que a cidade j, a cidade i é considerada como dentro da regi.ão
nodal da cidade j. Por este método, uma cidade, pode ser incluída
em mais de uma região nodal (como na fig. 3) evitando assim
a restrição de que regiões nodais são entidades fechadas como sem-
pre ocorre com métodos até agora utilizados.
OS RESULTADOS EMPíRICOS
a) Regiões Funcionais
-237-
de perto a um conhecimento intuitivo do estudo da área. Três
grandes regiões funcionais estão envolvidas:
1) Região Funcional de Nottingham-Derby-Matbock-Mans-
field (North Midlands) ;
2) Região Funcional de Chesterfield-Sheffield-Doncaster
Barnsley-Worksop (South Yorkshire);
3) Região Funcional de Leeds-Bradford-Huddersfield-Halifax-
Wakefield (West Riding) .
A configuração espacial dessas regiões encontra-se indicada
na fig. 2.
De modo a se compreender melhor a composição dessas re-
giões funcionais, consideramos a extensão das 3 maiores regiões
funcionais como delimitadas, como também as regiões funcionais
menores que formavam, antes de serem incorporadas nas 3 regiões
funcionais maiores. Esses grupos podem ser comparados aos en-
contrados por WALKER (54) para o West Riding e por HOLMES
(34) para o South Yorkshire, e o North Midlands. Em geral, a defi-
nição de regiões através do método da distância funcional é me-
lhor, e o da técnica MFPT agrupada com o de algoritmos de graus
hierárquicos, identifica regiões funcionais menores como as áreas
de Erewash e Dearne Valley, que não foram identificadas pelos
métodos alternativos utilizados por WALKER e HOLMES.
No passado, surgiram controvérsias sobre a organização de
regiões funcionais nessa parte da Inglaterra, principalmente na
extensa "Sheffield Region". O problema é relevante, pois os limites
entre a "East Midland Economic Planning Region", e a "Yorkshire-
Humber side Economic Planning Region" são cortados pela esfera
de influência de Sheffield (Coats e Hunt-16, Hunt e Coats 35 e
Osborne 44, 45. Nossa análise tende a confirmar a conclusão de
Coats e Hunt que de fato há uma região funcional no South
Yorkshire, que incorpora as áreas servidas por Barnsley, Sheffield,
Doncaster, Chesterfield e Worksop, e que é dividida em dois pelo
planejamento econômico da área.
b) Regiões Nodais
Utilizando o método acima, regiões nodais podem ser cons-
truídas para qualquer lugar dentro da área em estudo. Para ilus-
tração, entretanto, as regiões nodais foram construídas somente
para áreas urbanas maiores em cada região funcional - Bradford,
Dewsbury, Halifax, Huddersfield, Leeds e Wakefield na região fun-
cional de West Riding; Barnsley, Chesterfield, Doncaster, Rot-
herham e Cheffield na região funcional de South Yorkshire; e
-238-
72
61 •
•
Fig . 2
MILHAS
5
Di v Ed/D -J.A.C.
FIG. 2. Regiões Funcionais e sua genese em Derbyshire, Nottinghamshire e West
Riding de Yorkshire.
- - - indica os limites àe principais regiões funcionais
- - - indica os limites àe regiões funcionais secund.árias.
-240-
Derby, Mansfield e Nottingham na região funcional de North
Midland. Como no caso das regiões funcionais delimitadas ante-
riormente, as regiões nodais, que aparecem através desta análise
(ver fig. 3), estão quase que totalmente de acordo com o conhe-
cimento intuitivo dos autores sobre a estrutura nodal da área.
Um aspecto das regiões nodais de West Riding é a larga ex-
tensão do domínio de Leeds, refletindo seu maior status regional
ao ser comparado com Bradford ou ao centro administrativo do
condado de Wakefield. Também há uma interrupção distinta entre
a região nodal de Bradford e a de Halifax e Dewsbury. Surpreen-
dentemente, Batley, Heckmondwike e Spenborough não pertencem
a nenhuma dessas regiões. Há uma grande interação entre estes
três lugares, e eles surgem como uma entidade unida quando a
região nodal de Heckmondwike é delineada. As cidades na parte
noroeste da área não pertencem a nenhuma das regiões definidas,
refletindo suas ligações com as cidades vizinhas do condado de
Lancashire que não se incluem em nosso estudo. De uma maneira
geral, o padrão de regiões nodais do West Riding sugere a in-
fluência da facilidade de movimentação resultante da concentra-
ção de meios de transportes nos vales do Aire e do Calder.
No South Yorkshire a extensão das regiões nodais é reflexo da
importância relativa de cada cidade. Sheffield possui a região mais
extensa a qual inclui Barnsley, Rotherham, Doncaster, Chester-
field e Worksop, e que inclui totalmente a região de Rotherham,
num reflexo de interdependência dessas duas cidades. A facilidade
de movimentação ao longo dos vales do Dearne e do Don é evidente
na configuração das regiões de Barnsley e Doncaster, Worksop e
East Retford, cada qual penetra na região da outra, entrando nas
regiões de Sheffield e Doncaster, respectivamente.
Em North Midlands, a região de Mansfield emergem como
uma região nodal forte e separada, enquanto que há uma sobrepo-
sição entre as regiões de Nottingham e Derby no baixo vale do
Erewash. Novamente a disponibilidade de facilidade de transportes
influem no formato da região nodal, como exemplificado nas liga-
ções de Matlock e Mewark ao longo dos vales do Derwent e Trent,
respectivamente.
CONCLUSõES
-241-
.
•
.. •
• 37 • •
Fig .3
DivEd/0-J.A.C.
de sua aplicação num sistema relativamente desconectado e for-
nece uma visão geral do problema de regionalização como tem sido
anteriormente tratado e um sumário das conclusões resultantes
destes estudos.
Neste artigo como também nos outros, o objetivo é mais as
regiões funcionais e nodais do que regiões uniformes, para as quais
os métodos aqui discutidos não são adequados. Um método ade-
quado para problemas de regionalização do tipo aqui discutido
deve fornecer medidas adequadas de distância funcional e deve
identificar regiões nodais, funcionais e hirerarquias de uma amos-
tra de lugares. Nossos estudos sugerem que a análise do "mean first
passage time" associado ao processo de agrupamento multivariado,
satisfaz estes critérios. Uma desvantagem deste método (e da maio-
ria dos outros) é que ele não permite a definição de regiões funcio-
nais e nodais na base de mais do que um fenômeno de interação.
Espera-se que futuramente maior atenção seja dada a este pro-
blema. 12
Uma consideração importante é a utilidade das informações
sobre regiões nodais e funcionais para decisões relacionadas a loca-
lização de utilidades públicas tais como aeroportos e hospitais. O
problema típico é servir o maior número de pessoas possíveis su-
jeito a uma restrição orçamentária, e desde que regiões funcionais
e nodais possuam coesão funcional, o conhecimento de sua confi-
guração ajudará as decisões sem o uso de métodos caros e algumas
vezes impraticáveis como os discutidos por Scott (48). Por exem-
plo, poder-se-ia argumentar que áreas justapostas entre regiões
nodais são bons locais para localização de facilidades para servirem
ambas as regiões. No caso da região nodal possuir todas ou uma
grande parte de uma ou mais outras regiões nodais (como
Rotherham e Sheffield), a redundância de facilidades podem ser
evitadas se as localizarmos em um único lugar dentro da região
nodal composta. Uma política melhor seria a de procurar localizar
as facilidades próximas ao centro da região, caso o centro nodal
ocupe um local excêntrico dentro da região. O desenvolvimento de
metodologia tais como as que foram apresentadas aqui visando a
aplicação em problemas relacionados com políticas é um impor-
tante objetivo para futuras pesquisas. 13
(12) Presumindo que diferentes fenômenos de !nteraçâo possam ser tratados como
Igualmente Importante. uma estratégia seria a de começar por se separar matrizes de fluxos
de origem-destino para cada fenômeno e estandardizar os elementos da mesma. Assim,
estas diferentes matrizes de fluxos poderiam ser somadas e a matriz resultante poderia
ser submetida ao mesmo algoritmo Markoviano Indicado no presente trabalho. Se as
interaçôes nâo forem Igualmente importantes e ao mesmo tempo puder-se avaliar a im-
portância relativa de cada uma, as matrizes poderiam ser ponderadas e de novo o
mesmo procedimento anallt!co poderia ser empregado.
13) Uma discussão interessante de regionalização nodal e para planejamento pode ser
l'nc<:mtrada em Stevens e Bracket (51). Ela inclui um modelo de programaçll.o para regio-
nalização unl!orme. O trabalho de Scott (48, 49) é, também, bastante sugestivo para
tal flm.
-243-
Tabela 1
Exemplos Hipotéticos de Matrizes MFPT
A - Sistemas Altamente Conectados
Destinos
A B c D
Notar que:
a) Similaridade dos valores em alguma coluna J
b) MFPTii = MFPTii
c) Ordem dos lugares: A é o maior, C é de 2.• ordem, B e D de terceira ordem.
d) Característica da região Nodal: para o nódulo A, o nódulo C é o mais próximo;
os nódulos B e D estão menos na hinter!ândia de A.
A B c D E F
Notar o seguinte:
a) Regiões Funcionais - A - B - C - D - E - F
b) Ordem dos Nódulos:
1. Nódulos em A- B - C- D são geralmente de ordem maior que aqueles
em E - F;
2. A ordem geral é: A, B-D, C, F, E;
3. Dentro de cada região funcional a ordem é A, B-D, C para A - B - C -
D, e F, E para E-F.
c) Características das regiões nodais: para o nódulo A, verificar-se que B, C, D
estariam na região nodal, E e F não.
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