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BELO HORIZONTE
2017
KAIO CÉSAR DAMACENA
BELO HORIZONTE
2017
Para Deus e para minha família...
AGRADECIMENTOS
À Deus.
Aos meus pais César e Clêudima, a meu irmão Bruno e demais familiares.
Devido a degradação causada aos dois biomas ocupados pelo estado de Minas
Gerais: Cerrado e Mata Atlântica, a fauna silvestre é diariamente afugentada de seu
meio natural e pressionada a procurar alimento e abrigo em locais mais próximos de
complexos urbanos. Por si só, essa maior aproximação vem a ser um fator para que
hajam incidentes envolvendo animais e seres humanos, ensejando a intervenção do
Poder Público e, logo, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais. A Corporação
se organiza para atender aos chamados que lhe chegam, inclusive associados a
essas operações, em quatorze Unidades Operacionais, que ficam responsáveis cada
uma por uma determinada área territorial. Diante disso, realizou-se um trabalho sob
essa ótica de modo a identificar a variação no número de atendimentos relacionados
ao salvamento e à captura de animais silvestres nas diferentes Unidades e ao longo
do ano, que, por sua vez, foi dividido em dois períodos referentes a duas estações
distintas: seca e chuvosa. Foi construída uma amostragem baseada nos registros de
ocorrências dos anos de 2015 e 2016, referentes as naturezas: salvamento de animal
em risco/ perigo e captura de animal silvestre perigoso/ agressivo, cujos códigos são
S06.001 e S06.002, respectivamente. Para analisar os dados foram aplicados os
testes paramétricos ANOVA, Tukey e t de Student, além da estatística descritiva.
Houve um total de 13649 ocorrências, sendo 8692 referentes à natureza S06.001 e
4957 à S06.002. A maior concentração de intervenções se deu nos meses da estação
chuvosa e as Unidades que mais foram empenhadas para realizar esses
atendimentos foram o 9° e o 2° BBM e a 1ª Cia Ind. Ao final, com base nos resultados,
foram sugeridas algumas ações para melhor gerenciamento dos recursos logísticos e
humanos associados a essas operações.
Due to the degradation caused to the two biomes occupied by the state of Minas
Gerais: Cerrado and Mata Atlântica, the wild fauna is daily driven away from its natural
environment and pressured to look for food and shelter in places closer to urban
complexes. By itself, this greater approximation becomes a factor for the occurrence
of incidents involving animals and human beings, allowing the intervention of the Public
Power and, soon, of the Military Fire Brigade of Minas Gerais. The Corporation is
organized to meet the calls that come to it, including those associated with these
operations, in fourteen Operational Units, which are each responsible for a certain
territorial area. Therefore, a work was done in this way to identify the variation in the
number of visits related to the rescue and capture of wild animals in the different Units
and throughout the year, which, in turn, was divided into two periods referring to two
distinct seasons: dry and rainy. A sampling was constructed based on the occurrence
records of the years 2015 and 2016 regarding the kinds: animal rescue at risk / danger
and capture of dangerous/ aggressive wild animal, whose codes are S06.001 and
S06.002, respectively. To analyze the data, we applied the ANOVA, Tukey and t of
Student parametric tests, in addition to the descriptive statistics. There were a total of
13649 occurrences, of which 8692 were related to nature S06.001 and 4957 to
S06.002. The highest concentration of interventions occurred in the months of the rainy
season and the Units that were most committed to carry out these services were the
9° and 2° BBM and the 1ª Cia Ind. In the end, based on the results, some actions were
suggested to better manage the logistics and human resources associated with these
operations.
Keywords: Fire Department; wild animals; rescue and capture; Operational Units;
seasons.
LISTAS DE ILUSTRAÇÕES
AL - Alagoas
ANOVA - Análise de Variância
BBM - Batalhão Bombeiro Militar
BM - Bombeiro Militar
BM2 - 2° Seção de Estado-Maior Bombeiro Militar
CETAS - Centro de Triagem de Animais Silvestres
Cia Ind - Companhia Independente
CINDS - Centro Integrado de Informações e Defesa Social
CBMAL - Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas
CBMMG - Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais
CBMPB - Corpo de Bombeiros Militar da Paraíba
CBMERJ - Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro
COB - Comando Operacional de Bombeiros
CRAS - Clínica de Recuperação de Animais Silvestres de Várzea
Pequena
EPI - Equipamento de proteção individual
GuBM - Guarnição Bombeiro Militar
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas
ITO - Instrução Técnica Operacional
MMA - Ministério do Meio Ambiente
PVC - Policloreto de polivinila
REDS - Registro de Evento de Defesa Social
UEOp - Unidade de Execução Operacional
UNESA - Universidade Estácio de Sá
LISTAS DE SÍMBOLOS
= - Igual a
< - Menor que
gl - Graus de liberdade
F - Letra que representa o valor do resultado do teste de ANOVA
t - Letra que representa o valor do resultado do teste t de
Student
p - Letra que representa a probabilidade obtida no teste
estatístico
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 22
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 23
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57
ANEXO A .................................................................................................................. 63
11
1 INTRODUÇÃO
1.1 Problematização
Pior ainda que o Cerrado, já foi degradada em aproximadamente 92% de seu território
original, que, como foi dito, antes se estendia pela maior parte do território brasileiro.
A maior parte de seus remanescentes preservados se encontram no sudeste do
Brasil, em sua maioria em áreas de encosta onde a terra é inadequada para atividades
econômicas ou o acesso é dificultado pela topografia, sendo os demais apenas
pequenos fragmentos isolados, menores que 50 hectares. (ARAUJO; et al. op.cit;
LEITÃO-FILHO, 1982; RIBEIRO; et al. 2009).
Toda essa degradação aos ecossistemas abrigados nesses biomas está diretamente
relacionada a inúmeras ações antrópicas. Entre elas, pode-se citar: o crescimento
desordenado, os desmatamentos para se transformar as matas em pastagens ou se
retirar combustíveis fósseis, as queimadas ilegais, as construções de rodovias, a
13
Tudo isso vem a causar sérios distúrbios nos hábitats da fauna, visto que ao serem
destruídas as áreas verdes de determinada região, os animais perdem seu hábitat
natural e se vem pressionados e/ou atraídos a forragear em locais mais próximos de
ambientes urbanos, buscando alimento e abrigo, no intuito de suprir suas
necessidades de sobrevivência (ALVES, op.cit; CBMMG, 2016b; JACOBI, 2011).
Diante dessa necessidade legal, em 2016 foi publicado no CBMMG a ITO 26, que visa
doutrinar as operações envolvendo a captura de animais, por parte da Corporação.
Com ela, buscou-se melhorar o atendimento a esses tipos de ocorrências,
padronizando o uso de equipamentos e técnicas, além de orientar as ações das
GuBMs. Assim, esperou-se diminuir a possibilidade de se causar ferimentos e
sofrimentos nos animais atendidos e proteger a integridade física dos bombeiros
envolvidos. Segundo a própria Instrução, o número de atendimentos desse tipo tem
15
Conforme descrito ainda nessa Instrução Técnica, animais silvestres seriam “aqueles
pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou
terrestres, que tenham a vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites
do território brasileiro e suas águas”. No caso específico deles, entende-se que o
CBMMG é acionado para atuar quando há sua aproximação e contato com a
população em geral, seja porque se acham oferecendo algum risco à população ou
estão em situação de perigo (CBMMG, op.cit b, p. 9).
Por sua vez, essa contenção pode-se realizar de maneira química, em que se faz o
uso de drogas com o fim de se levar o animal a um estado de sonolência ou letargia,
para que possa ser manuseado ou física, em que se objetiva a cessação dos
movimentos do animal com o uso de equipamentos mecânicos, de modo a permitir a
intervenção desejada. A escolha do método depende do conhecimento de alguns
critérios, como o porte do animal, sua biologia e possível resposta frente a um estresse
(CBMMG, 2016 b).
Nos demais casos, a contenção mecânica é mais usual. Cabe ressaltar que se deve
priorizar a imobilização das partes do corpo do animal mais usadas para defesa,
surgindo então a necessidade de se conhecer seu comportamento instintivo, para que
sejam usadas as técnicas e os equipamentos corretos. Além disso, o prolongamento
e a intensidade dos estímulos provocados devem ser os mínimos possíveis, de forma
a não causar demasiado estresse, ferimentos ou até a morte do animal (CBMMG,
op.cit b).
Aves Serpentes
Caixas de
transporte ou
captura
Laços de Lutz
Felídeos Roedores
Cambões ou
enforcadores
18
Jacarés Canídeos
Cordas Sacos
Gaiolas de
transporte ou
captura
Primatas Tamanduás
Em relação aos silvestres, cabe um cuidado ainda maior, visto que eles
costumeiramente possuem pouco contato com humanos. Logo, qualquer intervenção,
por menor que seja, já tende a gerar um maior estresse, em relação aos domésticos.
Tal fato tende a piorar quando são usados procedimentos incorretos por parte da
GuBM, podendo levar o animal até mesmo à morte ou se expor a integridade física do
bombeiro (CBMMG, 2016b).
Ainda segundo Alves (2011), as ações dos Corpos de Bombeiros destinadas a salvar
ou a capturar animais silvestres encontrados em contato com humanos em área
urbana têm se tornado cada vez mais imprescindíveis para a mitigação do
desequilíbrio ecológico que gerou esse problema. Isso devido a afugentamento da
fauna silvestre de seu hábitat natural, cada vez maior. A partir disso, destaca-se o
compromisso do CBMMG em realizar operações como essas, que estão intimamente
relacionadas à manutenção de um meio ambiente mais saudável.
Nesse contexto, cada uma dessas 14 (quatorze) UEOps é responsável por atender os
chamados provenientes de sua região de competência. Com efeito, as ocorrências
envolvendo o salvamento ou captura de animais silvestres são também efetivadas
dessa mesma forma, ou seja, pela UEOp responsável pelo local onde haja a
necessidade da intervenção bombeiro militar (CBMMG, op.cit c). Portanto, é relevante
que se faça um estudo sobre como se distribuem os chamados desse tipo que
envolvam animais silvestres ao longo do estado, em relação as Unidades
Operacionais do CBMMG.
Além disso, é possível que a quantidade de ocorrências como essas variem conforme
o período do ano. Em um trabalho que versou sobre a climatologia de Minas Gerais,
Abreu (1998) verificou que o estado possui duas estações bem definidas. A seca teria
início no mês de abril e terminaria em setembro, enquanto que a chuvosa, que
concentraria os maiores índices pluviométricos, corresponderia aos demais seis
meses do ano. Essa descrição daria ensejo a um estudo que avaliasse a influência da
época do ano no número de ocorrências relativas ao contato humano com animais
silvestres.
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
2.2 Específicos
Analisar a variação dos registros dessas ocorrências nas UEOps e nas estações do
ano.
Definir quais são as UEOps e o período do ano mais crítico quanto ao número de
ocorrências.
Discutir alguns fatores que possam estar influenciando nos padrões de distribuição
espacial e temporal.
Sugerir medidas que contribuam para o melhor gerenciamento dos recursos logísticos
e humanos relacionados à essas operações, por parte do CBMMG.
23
3 METODOLOGIA
A seguir, é representado pelo Mapa 1 o estado de Minas Gerais sob a ótica da forma
como o CBMMG se organiza territorialmente para atender as demandas que lhe
chegam, tal como já comentado anteriormente. São representadas as áreas regionais
de competência dos seis COBs e de suas respectivas UEOps subordinadas, em
conformidade com o que é descrito no Plano de Articulação Operacional da
Corporação (CBMMG, 2016c). É baseado nessa estrutura de competências regionais
é que o presente estudo, se desenvolveu.
Por sua vez, para se distribuir em sua área de responsabilidade, cada uma dessas 14
(quatorze) UEOps possui Subunidades e Frações BM subordinadas. Ao todo, existem
no estado 63 municípios que possuem algum tipo de instalação do CBMMG destinado
a atender ocorrências. Cada uma dessas instalações fica responsável por atender aos
chamados em um número determinado de municípios, próximos à sua localização, tal
como é previsto também no Plano de Articulação Operacional (Mapa 2) (CBMMG,
2016c).
Sempre que uma GuBM pertencente a uma dessas instalações atende a um chamado
da população, seja ele qual for, a ocorrência é registrada em um banco de dados
denominado sistema REDS do CBMMG. Posteriormente, esses dados são tratados e
25
Para a realização desse trabalho, foi composta uma amostragem tendo como base as
ocorrências, cuja natureza esteja relacionada ao salvamento ou a captura de animais
silvestres, atendidas pelas Unidades Operacionais do CBMMG, durante os anos de
2015 e de 2016. Para tanto, foram utilizados os registros provenientes do Anuário
Estatístico do CBMMG referentes ao ano de 2015 e de Informações prestadas pelo
CINDS/BM2 referentes ao ano de 2016, conforme Ofício contido no Anexo A
(CBMMG, 2016a; CBMMG, 2017).
Conforme a literatura aqui descrita, para se utilizar esses testes de hipóteses em uma
análise faz-se necessário que os dados amostrados respeitem as suposições de
normalidade e homocedasticidade. A primeira diz respeito a distribuição dos dados,
que devem se aproximar de uma curva normal ou gaussiana. Já a segunda é relativa
homogeneidade das variâncias apresentadas em cada grupo de tratamento, que
devem ser o mais próximas o possível umas das outras (AYRES; et al. 2007; VIEIRA,
2008; VOLTOLINE, 2005).
Partindo dessas premissas, foi realizada como técnica estatística a transformação dos
dados, procedimento que visa a mudança de escalas das amostras com o intuito de
se aumentar a normalidade da distribuição e a estabilização das variâncias. Dessa
forma, os números dos três bancos de dados (da amostra de natureza S06.001, da
amostra de natureza S06.002 e da amostra das duas naturezas somadas) passaram
a ser expressos sob outras escalas, conforme o caso, antes de serem comparados os
registros das UEOps e das estações do ano pelo método estatístico inferencial
(AYRES; et al. op.cit; VIEIRA, op.cit; VOLTOLINE, op.cit).
Nesse sentido, foram usados as 14 (quatorze) UEOps descritas acima como sendo
os níveis do tratamento e os 24 (vinte e quatro) meses dos dois anos analisados como
sendo as repetições. Isso permitiu verificar se as médias do número de ocorrências
registradas por cada UEOp diferiram estatisticamente ou não (AYRES; et al. op.cit;
VOLTOLINE, op.cit).
Enquanto isso, para se analisar como se deu a distribuição das ocorrências ao longo
dos dois anos de estudo, foi elaborado um gráfico que representou a curva de
frequência mensal dos atendimentos. Esse procedimento foi feito considerando-se a
soma de todos os registros feitos pelas quatorze UEOps analisadas, conforme as
naturezas S06.001 e S06.002, separadas e em conjunto.
Quanto à análise inferencial, o teste t de Student é que ficou responsável por avaliar
o efeito da variável independente estações sob a média da variável número de
ocorrências, considerada resposta. Novamente, segundo Ayres et al. (op.cit) e
Voltoline (op.cit), o objetivo desse teste é avaliar se as médias de dois grupos de
dados, que nesse caso foram as duas estações, diferem estatisticamente uma da
outra, baseando-se em um determinado modelo de distribuição.
Utilizou-se para tanto das 2 (duas) estações como sendo os níveis de tratamento, ao
passo que para as réplicas foi realizado o seguinte esforço amostral: número de
atendimentos feitos pelas 14 (quatorze) UEOps ao longo dos 12 (doze) meses
referentes à cada estação nos dois anos de estudo. Dessa forma, somaram-se 168
(cento e sessenta e oito) repetições, dentro de cada nível do tratamento. O software
estatístico utilizado foi o Bioestat 5.3 (AYRES; et al. op.cit; VOLTOLINE, op.cit).
Essa técnica estatística é que permitiu comparar os dois grupos de dados (estações
do ano), por meio de suas médias para a amostragem da natureza S06.001, da
S06.002 e para ambas somadas (AYRES; et al. op.cit; VOLTOLINE, op.cit).
31
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo o Anuário 2016 e os dados fornecidos pelo CINDS/BM2, nos anos de 2015
e 2016 foram atendidas pelo CBMMG 8.832 ocorrências de natureza S06.001, que se
refere tanto a animais silvestres como domésticos, e 4.984 de natureza S06.002, que
se refere apenas a silvestres, perfazendo juntas um total de 13.816 registros (Gráfico
1). Considerando-se apenas as quatorze Unidades Operacionais analisadas nesse
trabalho (10 BBMs e 04 Cias Ind), foram registradas 13.649 ocorrências envolvendo
esse tipo de operação, ou seja, 98,7912% do total, sendo 8.692 referentes a natureza
S06.001 e 4.957 de natureza S06.002 (CBMMG, 2016a; CBMMG, 2017).
140
9000
8000
7000
Frequência absoluta
6000
27
5000 8692
4000
3000 4957
2000
1000
0
S06.001 S06.002
Considerando todos esses 13.649 atendimentos e os dois anos de estudo, houve uma
média de 487,464286 intervenções/UEOp/ano e 40,622024 intervenções/UEOp/mês
em todo o estado, sendo 310,428571 intervenções/UEOp/ano e 25,869048
intervenções/UEOp/mês relativas à natureza S06.001 e 177,035714
intervenções/UEOp/ano e 14,752976 intervenções/UEOp/mês à natureza S06.002.
Um fator considerável que poderia justificar essa alta de registros como um todo no
estudo presente seria o fato de Minas Gerais ter uma malha rodoviária bastante
extensa, quando comparada a outros estados (MARTINS; LEMOS, 2006). Rodovias
são consideradas extremamente degradantes aos ecossistemas em que estão
inseridas, desde sua construção. Como exemplos de impactos diretos à fauna, pode-
se citar: mudanças comportamentais de indivíduos; deterioração fisiológica;
alterações nos níveis tróficos de comunidades; criação de obstáculo ao deslocamento
natural; e os atropelamentos de espécimes expostas (PRADA, 2004; ROMANINI,
2001; TROMBULAK; FRISSEL, 2000).
Tais atropelamentos podem vir a dar causa a chamados para que animais vitimados
sejam socorridos, caracterizando um exemplo típico de natureza S06.001. Ressalta-
se que algumas espécies possuem até mesmo certa afinidade com as rodovias, em
virtude da disponibilidade de alimentos, como os grãos que são derrubados de
caminhões de transporte. Isso, similarmente ao que ocorre com a atratividade que os
meios urbanos oferecem a algumas espécies afugentadas de seu meio natural
33
(JACOBI, 2011; LIMA; OBARA, 2004; SEPINI, 2010; SZPILMAN, 1998). Por sinal,
esse fator de atração pode vir a ser um agravante ao perigo que passam os animais
já prejudicados pelas rodovias, gerando situações plenamente potenciais de
surgimento de ocorrências, por parte do CBMMG.
Enquanto isso, Gonçalves; et al. (op.cit) realizou um estudo no Rio de Janeiro em que
avaliou apenas os mamíferos que haviam sido destinados por Instituições como o
CBMERJ ao CRAS/UNESA, ao longo de seis meses do ano de 2015. No total, foram
contabilizados 340 indivíduos. As espécies mais comuns verificadas nesse trabalho
34
foram àquelas de porte menor e/ou que possuem hábitos mais generalistas e
tolerantes a ambientes antropizados, como gambás e saguis, em semelhança ao que
foi encontrado por Damacena (2011), em relação ao oportunismo dos mamíferos junto
às rodovias.
Como motivo dessa maior adaptação, foi citado o maior período de reprodução e a
vantagem numérica das proles dessas espécies, entre outros fatores. De fato, fêmeas
gestantes ou com filhotes possuem maior necessidade de procurar alimentos que
garantam a sobrevivência de sua prole, aumentando a possibilidade de encontros
inesperados com o ser humano em complexos urbanos (GONÇALVES; et al. 2016).
Por sua vez, essa característica vem a corroborar o que foi comentado por Szpilman
(1998) e Jacobi (2011) em relação à atratividade que algumas cidades geram em
certas espécies. Segundo Negrão e Pádua (2006), a maior presença desses animais
mais adaptados e tolerantes ao meio urbano pode ser até mesmo um indicativo da
perturbação e da má qualidade ambiental de determinada localidade. Ainda, grande
parte das espécies com essas características são consideradas exóticas ao bioma em
que estão inseridas, pois não ocorrem naturalmente na região e competem com
aquelas que o são.
Ocorrências por causas naturais, por outro lado, foram bem menos expressivas,
denotando que esses animais foram vitimados muito mais por causas relacionadas a
encontros não desejáveis com o ser humano. Os registros com origem em
atropelamentos, por sinal, corroboram com o que foi apontado no presente estudo
como sendo uma possível justificativa para a alta expressividade de ocorrências das
duas naturezas analisadas no estado de Minas Gerais (GONÇALVES; et al. op.cit).
Ainda com relação ao estudo presente, cabe ressaltar que os números obtidos na
amostragem não representam a totalidade das situações em que houve o contato de
animais silvestres com a população, pois há casos que impedem ou dificultam o
acionamento do CBMMG, como a ausência de instalações BM em muitos municípios
mineiros (CBMMG, 2016a). De fato, o estado de Minas Gerais é formado por 853
municípios e, no entanto, conforme descrito no Mapa 2, apenas 63 destes possuem
alguma Unidade, Subunidade ou Fração BM instalada (CBMMG, 2016c; IBGE,
2017a). Esse fenômeno é mencionado no Anuário 2016 como sendo um fator de
demanda reprimida (CBMMG, op.cit a).
600
Frequência média anual
500
400
300
200
100
0
1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 1ª 2ª 3ª 4ª
BBM BBM BBM BBM BBM BBM BBM BBM BBM BBM Cia Cia Cia Cia
Ind Ind Ind Ind
S06.001 329.5 575.5 416 246.5 357 135 310 329.5 498.5 306.5 318 191.5 150.5 182
S06.002 110.5 154 87 156.5 209 101.5 165 242 385 216 283.5 117.5 102.5 148.5
S06.001 S06.002
Por sua vez, de acordo com a técnica estatística empregada, a forma como a média
mensal de todos os registros se distribuiu conforme a Unidade que os atendeu se
encontra ilustrado no Gráfico 3, constatando-se que houve diferença significativa entre
37
tais médias (ANOVA, F = 39,66611, gl = 3222, p < 0,013). Para essa análise, foram
somadas as duas naturezas estudadas nesse trabalho em conjunto.
9 A
AB
8
BC
CD CD
7 CDE
CDE CDE
Frequência média mensal
DEF
6 EFG
FGH
GH
5 H H
4 Média
0
9° 2° 1ª 8° 5° 10° 3° 7° 1° 4° 4ª 2ª 3ª 6°
BBM BBM Cia BBM BBM BBM BBM BBM BBM BBM Cia Cia Cia BBM
Ind Ind Ind Ind
Observa-se ainda pelos Gráficos 2 e 3 que quem mais realizou operações desse tipo
foi o 9° BBM, responsável por 12,9560% dos registros. O mesmo não diferiu
estatisticamente apenas do 2° BBM, que registrou 10,6894% dos atendimentos.
Dessa forma, nos anos de 2015 e 2016, essas duas UEOps foram as que mais
A
7
AB
BC
6
CD
CDE CDE CDE
Frequência média mensal
DE DE
5 EF
FG FG
4 G
G
3 Média
0
2° 9° 3° 5° 8° 1° 1ª 7° 10° 4° 2ª 4ª 3ª 6°
BBM BBM BBM BBM BBM BBM Cia BBM BBM BBM Cia Cia Cia BBM
Ind Ind Ind Ind
6 A
5 AB
Frequência média mensal
BC
BCD BCD
4 CDE DE DE DE
EF EF EF EF
3 F
Média
0
9° 1ª 8° 10° 5° 7° 2° 4° 4ª 2ª 1° 3ª 6° 3°
BBM Cia BBM BBM BBM BBM BBM BBM Cia Cia BBM Cia BBM BBM
Ind Ind Ind Ind
Tal como consta ainda no Anuário 2015, nesse ano em específico o 9° BBM foi a
Unidade do CBMMG que mais realizou atendimentos em todo o estado. Isso levando-
se em consideração todos os grupos de natureza típicas de bombeiro militar, com
44.661 registros, demonstrando que o elevado número de atendimentos feitos por
esse Batalhão não é exclusivo dos casos oriundos de intervenções com animais
silvestres, mas se referem também ao cumprimento de outras missões constitucionais
que realiza o CBMMG (CBMMG, 2016a).
Tal fato demonstra que a significância estatística dos números apresentados por essa
Unidade são devidos na maioria à natureza salvamento de animal em risco/ perigo.
Como foi dito anteriormente, na natureza S06.001 são enquadradas as intervenções
em que tanto silvestres com também domésticos tiveram sua locomoção
41
Por outro lado, no estudo feito por Alves (2011) foi observado uma relação oposta a
essa nas parcelas com perímetro urbano analisadas por ele, visto que nesses locais
é que houve considerável registros de silvestres sendo capturados ou resgatados.
Uma explicação dada por ele, seria o fato de haverem nos bairros mais centrais da
cidade e que tiveram as maiores estatísticas, alguns fatores de atratividade aos
animais silvestres. Entre eles: feiras de hortifrutigranjeiros e indústrias de alimentos,
que possuem oferta acentuada de comida e odores, provenientes do lixo.
Por sua vez, a 1ª Cia Ind é a Unidade de Execução responsável por atender chamados
em uma parcela da região sul do estado, tal como também ocorre com o 9° BBM.
Juntas, essas duas UEOps integram o 6° COB do CBMMG (Mapa 1) (CBMMG,
2016c). Pela análise dos resultados, percebe-se que essa Unidade apresentou maior
relevância estatística em relação às demais UEOps estudadas apenas quando se
levou em consideração a natureza S06.002 isoladamente (Gráfico 5), que se refere a
capturas de silvestres, exclusivamente, que se encontrem oferecendo risco de ataque
a pessoas ou a outros animais. No caso da análise em que foi considerada a natureza
S06.001 isoladamente (Gráfico 4), a 1ª Cia Ind se apresentou como sendo somente a
sétima a mais atender ocorrências desse tipo.
Cabe ressaltar que embora no caso específico dos registros totais essa Companhia
tenha diferido estatisticamente do Batalhão que mais atendeu a soma das duas
naturezas em conjunto (9° BBM), a mesma se encontrou como sendo a terceira a mais
atender os chamados desse tipo e não diferiu estatisticamente do 2° BBM, que foi
nesse caso o segundo a mais atender (Gráfico 3).
Do resultado fica expresso que a significância estatística de seus números deve estar
associada as operações classificadas com a natureza S06.002, tal como o 2° BBM o
foi em relação a natureza S06.001. Assim, possivelmente, a maior parte dos
atendimentos envolvendo o salvamento ou captura de animais praticados pela 1ª Cia
Ind devem estar relacionados a casos envolvendo silvestres, levando-se em
consideração a natureza S06.002 e também a S06.001.
Vale a pena ainda salientar que outras Unidades também apresentaram relativa
significância estatística em suas médias mensais de atendimentos, embora tal
expressividade não tenha estado entre as maiores demonstradas pelas quatorze
UEOps. Com efeito, faz-se oportuno destacar o 3° BBM na análise relativa à natureza
S06.001 (Gráfico 4). Nota-se pelo gráfico que essa UEOp não diferiu estatisticamente
do 9° BBM, segundo a mais atender ocorrências estritamente dessa natureza, embora
o tenho sido do 2° BBM, primeiro a mais atender.
Dentro ainda desse contexto e quanto à análise que se refere apenas à natureza
S06.002, tiveram registros relevantes o 8°, o 10° e o 5° BBM (Gráfico 4). Essas três
UEOps diferiram estatisticamente do 9° BBM, que foi o Batalhão que mais atendeu
ocorrências de natureza captura de animal silvestre perigoso/ agressivo, mas não
diferiram da 1ª Cia Ind, segunda a mais atender.
O 8° BBM, em especial, foi a UEOp que obteve o resultado mais expressivo entre
essas três agora destacadas. Da mesma forma que as áreas de responsabilidade do
6° COB (9° BBM e 1ª Cia Ind), sua região de competência está localizada em grande
parte na Bacia Hidrográfica do Rio Grande (Mapa 3), que como foi comentado é
considerada de extrema importância no que se refere aos seus recursos hídricos.
Adicionalmente, o 10° e o 5° BBM, apesar de não estarem inclusos
predominantemente nessa Bacia, possuem seus limites geográficos muito próximos a
ela (CBMMG, 2016c; IPT, 2008). Essa característica poderia também justificar a
significância apresentada pelo 8° e também pelo 10° e 5° BBM, assim como o foi para
o 9° BBM e para a 1ª Cia Ind, da forma dita por Szpilman (1998).
12.00%
10.00%
8.00%
6.00%
4.00%
2.00%
0.00%
9° 2° 1ª Cia 8° 5° 10° 3° 7° 1° 4° 4ª Cia 2ª Cia 3ª Cia 6°
BBM BBM Ind BBM BBM BBM BBM BBM BBM BBM Ind Ind Ind BBM
900
800
700
Frequência absoluta
600
500
400
300
200
100
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Aug Set Out NovDez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Aug Set Out NovDez
Meses de 2015 e de 2016
Observa-se também por essa figura, que houve picos de registros nos meses de
março e outubro, tanto no ano de 2015, como também de 2016. Juntos, esses meses
foram responsáveis por 20,1846% dos registros totais, ou seja, quase um quarto
deles, sendo que 19,0289% foram relativos à natureza S06.001 e 22,2110% à
47
natureza S06.002. Vale lembrar ainda que março e outubro são os dois meses que
terminam e iniciam a estação chuvosa, respectivamente, em conformidade com o
trabalho de Abreu (1998).
Por sua vez, o padrão de variação existente entre as duas estações do ano pode ser
verificado no Gráfico 8. Por ele, consegue-se notar que a maior parte dos registros se
deu realmente no período chuvoso, tanto em relação as duas naturezas em separado
e também em conjunto.
4000
3500
Frequencia média anual
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
S06.001 S06.002 Total
Estação seca 2054.5 949 3003.5
Estação chuvosa 2291.5 1529.5 3821
passo que quanto à natureza S06.002, a mesma estação foi 61,1696% superior à
seca, novamente.
Possivelmente, a oscilação nos registros ao longo das duas estações deve estar
mesmo associada, de fato, a diferenças existentes entre esses dois períodos, devido
a mudança de variáveis como precipitação, umidade e temperatura, que vem a
influenciar nos padrões de deslocamento da fauna, (ALVES, 2011). Dessa mesma
forma, foi encontrado por Gonçalves; et al. (2016) oscilações no número de resgates
registrados em seu trabalho nas diferentes estações do ano, o que pressupõe ser
causa a mudança quantitativa de tais variáveis. Nesse último estudo em particular, até
mesmo a causas das intervenções variaram conforme a estação.
Para Prada (2004), que realizou um trabalho com modelo de inventário de animais
silvestres, a maior incidência da fauna no período chuvoso deve estar relacionada à
convergência desse período com o ciclo de reprodução de várias espécies e, logo, de
maior abundância. Conclusão essa semelhante ao que também foi encontrado por
Gonçalves; et al. (op.cit), com relação a pelo menos as espécies mais oportunistas
registradas.
Com relação a melhor utilização de recursos, sugere-se que sejam tomadas pelo
CBMMG algumas medidas que visem aperfeiçoar o gerenciamento de operações
envolvendo o salvamento ou a captura de animais silvestres e, por consequência,
também de domésticos, com o fim de se chegar a excelência nesses atendimentos e
contribuir para um meio ambiente mais saudável.
Partindo desse ponto, as três UEOps que mais atenderam a esse tipo de ocorrência:
9°, 2° BBM e 1ª Cia Ind, receberiam 10,8164% do total, cada uma, entre EPIs e
equipamentos de captura. Enquanto isso, 8°, 5°, 10° e 3° BBM iriam adquirir 7,9236%
cada uma, desses recursos logísticos. Por último, cada uma das demais sete UEOps
analisadas receberiam 5,1223% de equipamentos e EPIs para salvamento e captura
de animais.
Com relação a variação nas ocorrências ao longo do tempo, se faz relevante que se
dê também atenção especial aos meses do período chuvoso, principalmente os
próximos a março e outubro, haja vista o maior número de atendimentos nessa época
e os picos apresentados por esses dois meses, em relação às naturezas analisadas.
Talvez fosse interessante, por exemplo, um maior cuidado e preparo com relação a
esses atendimentos ao levar-se em conta o planejamento de operações.
Nos resultados, mostrou-se ainda que a maior variação temporal das operações se
deu por conta da natureza captura de animal silvestre perigoso/ agressivo. Sendo
assim, esse foco nos meses do período chuvoso, inclusive quanto a preparação e
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Conforme ainda a ITO 26, se faz muito relevante que cada UEOp mantenha contato
próximo com os órgãos que tenham potencial em receber animais capturados, como
as clínicas veterinárias credenciadas, CETAS e Universidades. Da mesma maneira,
àqueles que porventura normatizam e regulam as práticas de captura e destinação de
animais, como as Secretarias Municipais de Meio Ambiente (CBMMG, 2016b). O
objetivo dessa aproximação seria o alinhamento e ajuste de ações com essa temática
e a efetividade de apoio em casos que se julgue necessário.
55
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, modelos de estudos como esse, que buscam identificar e interpretar variações
quantitativas em registros de atendimentos ao longo das Unidades e do tempo
poderiam ser igualmente proveitosos para diversas outras naturezas de ocorrências
previstas no CBMMG. Os motivos seriam os mesmos apresentados no presente
trabalho, haja vista as vantagens para a Corporação em se entender melhor como se
distribuem suas ocorrências, proporcionando um melhor planejamento de ações como
planos de distribuição de materiais e períodos de intensificação de treinamentos.
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REFERÊNCIAS
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perspectivas. Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. São
Paulo, 1998. 36p. Disponível em:
<http://www.rbma.org.br/rbma/pdf/caderno_08.pdf>. Acesso em: 8 dez. 2016.
AYRES, Manoel; et al. Aplicações Estatísticas nas Áreas das Ciências Bio-
médicas. Belém, 2007. 380p. Disponível em: <http://www.mamiraua.org.br/pt-
br/downloads/programas/bioestat-versao-53/>. Acesso em: 23 dez. 2016.
BRASIL. Lei nº. 5517, de 23 de outubro de 1968. Brasília, DF: Senado Federal,
1968. Disponível em: <http://http://www.camara.gov.br/sileg/integras/140907.pdf>.
Acesso em: 25 fev. 2017.
COUTINHO, Leopoldo Magno. Fire in the ecology of the Brazilian Cerrado. In:
Goldammer, J.G. Fire in the tropical biota: ecosystem processes and global
challenges. Berlin: Springer-Verlag, 1990. Cap. 6, p. 82-103.
RIBEIRO, Milton Cezar; et al. The Brazilian Atlantic Forest: How Much is left, and
how is the remaining forest distributed? Implications for conservation. Biological
Convervation. São Paulo, n. 142. p. 1141-1153, mar. 2009. Disponível em:
<http://www.leec.eco.br/pdfs/Ribeiro_etal2009.pdf>. Acesso em: 2 nov. 2016.
SZPILMAN, Marcelo. Nossa Fauna Urbana. O Estado de São Paulo. São Paulo,
1998. Disponível em: <http://www.institutoaqualung.com.br/info_urbana33.html>.
Acesso em: 27 fevereiro 2017.
ANEXO A