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Kenneth A. Goldsby
Química
11ª edição
C456q Chang, Raymond.
Química [recurso eletrônico] / Raymond Chang, Kenneth
A. Goldsby ; [tradução: M. Pinho Produtos Digitais
Unipessoal Lda.] ; revisão técnica: Denise de Oliveira Silva,
Vera Regina Leopoldo Constantino. – 11. ed. – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2013.
Monóxido de carbono elementos como o hidrogênio e o oxigênio podem ser explicadas ao supor que os
átomos de hidrogênio não são os mesmos que os átomos de oxigênio.
O 1 A terceira hipótese sugere que, para formar um certo composto, precisamos
C 1 não só de átomos dos elementos certos, mas também de números específicos destes
átomos. Esta ideia é uma extensão de uma lei publicada em 1799 pelo químico
francês Joseph Proust2. A lei das proporções definidas de Proust afirma que amos-
Dióxido de carbono
tras diferentes do mesmo composto contêm sempre a mesma proporção das massas
O 2
dos seus elementos constituintes. Assim, se analisássemos amostras de dióxido de
carbono gasoso obtidas de fontes diferentes, encontraríamos em cada amostra a
C 1
mesma razão entre as massas de carbono e de oxigênio. É então aceitável que, se
Figura 2.2 Ilustração da lei das pro- a razão entre as massas dos diferentes elementos em um dado composto é fixa, a
porções múltiplas. razão do número de átomos destes elementos também deverá ser constante.
A terceira hipótese de Dalton apoia outra lei importante, a lei das propor-
ções múltiplas. De acordo com esta lei, se dois elementos podem se combinar
para formar mais de um composto, as massas de um elemento que se combinam
com uma dada massa do outro elemento estão na razão de números pequenos e
inteiros. A teoria de Dalton explica a lei das proporções múltiplas de uma forma
muito simples: compostos diferentes constituídos pelos mesmos elementos dife-
rem no número de átomos de cada espécie que se combinam. Por exemplo, o car-
bono forma dois compostos estáveis com o oxigênio, nomeadamente, o monóxido
de carbono e o dióxido de carbono. As técnicas de medição modernas indicam
que um átomo de carbono se combina com um átomo de oxigênio no monóxido
de carbono e com dois átomos de oxigênio no dióxido de carbono. Assim, a razão
entre o oxigênio no monóxido de carbono e o oxigênio no dióxido de carbono é
1:2. Este resultado é consistente com a lei das proporções múltiplas (Figura 2.2).
A quarta hipótese de Dalton é outra forma de exprimir a lei da conser-
vação da massa,3 que diz que a matéria não pode ser criada nem destruída.
Como a matéria é constituída por átomos que não são alterados em uma reação
química, então a massa também deve se conservar. A brilhante visão de Dalton
sobre a natureza da matéria foi o principal estímulo para o progresso rápido da
química no século xix.
Revisão de conceitos
Os átomos do elemento A (azul) e do B (laranja) formam dois compostos
mostrados aqui. Estes compostos obedecem à lei das proporções múltiplas?
2
Joseph Louis Proust (1754-1826). Químico francês, Proust foi o primeiro a isolar o açúcar das uvas.
3
De acordo com Albert Einstein, a massa e a energia são aspectos alternativos de uma mesma en-
tidade chamada massa-energia. As reações químicas em geral envolvem um ganho ou uma perda
de calor e outras formas de energia. Assim, quando se perde energia em uma reação, por exemplo,
também se perde massa. Com exceção das reações nucleares (ver Capítulo 23), as variações de mas-
sa nas reações químicas são demasiado pequenas para serem detectadas. Portanto, do ponto de vista
prático, há conservação de massa.
Capítulo 2 ♦ Átomos, moléculas e íons 41
O elétron
Na década de 1890 muitos cientistas foram “apanhados” pelo estudo da radiação, a
emissão e transmissão de energia através do espaço na forma de ondas. A informa-
ção ganha com esta investigação contribuiu muito para a compreensão da estrutura
atômica. Um instrumento usado para investigar este fenômeno é a ampola de raios
catódicos, o precursor do tubo de imagem da televisão (Figura 2.3). Trata-se de um Animação
Ampola de raios catódicos.
tubo de vidro de onde se retirou a maior parte do ar. Quando se ligam as duas placas
metálicas à fonte de alta tensão, a placa carregada negativamente, chamada cáto-
do, emite uma radiação invisível. Os raios catódicos são atraídos para a placa com
carga positiva, chamada ânodo, onde passam através de um orifício e continuam o
percurso até a outra extremidade do tubo. Quando os raios atingem a superfície com
um revestimento especial, produzem uma fluorescência forte, ou uma luz intensa.
Em algumas experiências foram adicionadas duas placas carregadas eletri-
camente e um ímã colocado no exterior da ampola de raios catódicos (ver Figura
2.3). Na presença do campo magnético e na ausência do campo elétrico, os raios
catódicos atingem o ponto A. Quando se aplica apenas o campo elétrico, os raios
atingem o ponto C. Quando ambos os campos, elétrico e magnético, estão des-
ligados, ou ligados mas equilibrados de modo que anulam a influência um do
outro, a radiação atinge o ponto B. De acordo com a teoria eletromagnética, um
corpo carregado em movimento comporta-se como um ímã e pode interagir com
os campos elétrico e magnético que atravessa. Dado que os raios catódicos são
atraídos pela placa com carga positiva e repelidos pela placa com carga negati-
va, eles devem ser constituídos por partículas com carga negativa. Conhecemos
estas partículas com carga negativa como elétrons. A Figura 2.4 mostra o efeito Os elétrons normalmente estão associados
aos átomos, mas também podem ser
de um ímã nos raios catódicos. estudados individualmente.
O físico inglês J. J. Thomson4 usou a ampola de raios catódicos e o seu co-
nhecimento da teoria eletromagnética para determinar a razão entre a carga elétrica
e a massa de um elétron. O número que ele encontrou foi 1,76 108C/g, onde C
é o coulomb, que é a unidade de carga elétrica. A partir daí, em uma série de expe-
riências realizadas entre 1908 e 1917, R. A Millikan5 conseguiu medir a carga do Animação
A gota de óleo de Millikan.
A
Ânodo Cátodo
S Figura 2.3 Uma ampola de raios
catódicos com um campo elétrico per-
B pendicular à direção dos raios catódicos
e um campo magnético exterior. Os
N
símbolos N e S representam os polos
C norte e sul do ímã. Os raios catódicos
atingirão a extremidade da ampola em A
na presença do campo magnético, em C
na presença de um campo elétrico, e em
Tela fluorescente B quando não houver campos exteriores
Fonte de alta tensão ou quando os efeitos do campo elétrico
e magnético se anularem.
4
Joseph John Thomson (1856-1940). Físico inglês que recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1906
pela descoberta do elétron.
5
Robert Andrews Millikan (1868-1953). Físico americano que recebeu o Prêmio Nobel de Física em
1933 por ter determinado a carga do elétron.
42 Química
elétron com grande precisão. O seu trabalho mostrou que a carga de cada elétron
era exatamente a mesma. Na sua experiência, Millikan examinou o movimento
de minúsculas gotas de óleo que apanhavam cargas estáticas de íons presentes no
ar. Ele suspendeu as gotas carregadas no ar aplicando-lhes um campo elétrico e
seguiu os seus movimentos utilizando um microscópio (Figura 2.5). Aplicando
os seus conhecimentos de eletrostática, Millikan achou que a carga do elétron era
1,6022 1019 C. A partir deste resultado, ele calculou a massa do elétron:
carga
massa de um elétron
carga/massa
Radioatividade
Em 1895, o físico alemão Wilhelm Röntgen6 reparou que os raios catódicos fa-
ziam o vidro e os metais emitirem uma radiação incomum. Esta radiação altamen-
te energética penetrava a matéria, escurecia placas fotográficas cobertas e provo-
Atomizador
Pequeno
orifício
()
Raio X para produzir
carga na gotícula
de óleo
Microscópio
()
6
Wilhelm Konrad Röntgen (1845-1923). Físico alemão que recebeu o Prêmio Nobel de Física em
1901 pela descoberta dos raios X.
Capítulo 2 ♦ Átomos, moléculas e íons 43
Substância radioativa
cava fluorescência em várias substâncias. Como estes raios não eram defletidos
por um ímã, não podiam conter partículas com carga, à semelhança dos raios
catódicos. Röntgen chamou-lhes raios X porque a sua natureza era desconhecida.
Pouco depois da descoberta de Röntgen, Antoine Becquerel,7 professor de fí-
sica em Paris, começou a estudar as propriedades de fluorescência das substâncias.
Por mero acidente, ele verificou que a exposição de placas fotográficas envolvidas
em um revestimento espesso a certos compostos de urânio provocava o seu escu-
recimento mesmo sem a estimulação dos raios catódicos. Tal como os raios X, os
raios do composto de urânio eram muito energéticos e não eram defletidos por um
ímã, mas distinguiam-se dos raios X porque apareciam espontaneamente. Um dos
estudantes de Becquerel, Marie Curie8, sugeriu o nome radioatividade para descre-
ver esta emissão espontânea de partículas e/ou radiação. Desde então, qualquer
elemento que emita radiação espontaneamente é chamado de radioativo.
Na desintegração ou quebra de substâncias radioativas, como o urânio, são
produzidos três tipos de radiação, dois dos quais são defletidos por placas metá-
licas com cargas opostas (Figura 2.6). A radiação alfa (␣) consiste em partícu- Animação
las com carga positiva, chamadas partículas ␣, e são defletidas pela placa com Raios alfa, beta e gama
carga positiva. A radiação beta (), ou partículas , são elétrons e são defleti-
dos pela placa com carga negativa. O terceiro tipo de emissão radioativa consiste
em raios de elevada energia chamada raios gama (␥). Tal como os raios X, os
raios ␥ não têm carga e não são afetados por um campo externo.
A carga positiva está
distribuída sobre toda a esfera
O próton e o núcleo
No início do século xx, duas características dos átomos se tornaram claras: eles
–
continham elétrons e eram eletricamente neutros. Para manter a neutralidade
elétrica, um átomo deve conter um número igual de cargas positivas e negativas. – –
Por isso, Thomson propôs que um átomo podia ser imaginado como uma esfera
uniforme de matéria, com carga positiva, na qual os elétrons estão embebidos –
– –
7
Antoine Henri Becquerel (1852-1908). Físico francês que recebeu o Prêmio Nobel de Física em
1903 pela descoberta da radioatividade do urânio. –
8
Marie (Marya Sklodowska) Curie (1867-1934). Química e física de origem polonesa. Em 1903,
ela e o seu marido, o francês Pierre Curie, receberam o Prêmio Nobel de Física pelo seu trabalho Figura 2.7 O modelo de átomo de
na radioatividade. Em 1911, ela voltou a receber o Prêmio Nobel, desta vez de Química, pelo seu Thomson, por vezes descrito como o
trabalho sobre os elementos radioativos rádio e polônio. É uma das três pessoas que receberam dois modelo do “pudim de passas”, uma so-
prêmios Nobel em ciência. Apesar da sua grande contribuição para a ciência, a sua nomeação para a bremesa tradicional inglesa. Os elétrons
Academia de Ciências Francesa, em 1911, foi rejeitada por um voto por ela ser mulher! A sua filha estão embebidos em uma esfera unifor-
Irene e o genro Fréderic Joliot-Curie compartilharam o Prêmio Nobel de Química em 1935. me com carga positiva.
44 Química
como passas em um bolo (Figura 2.7). Este modelo chamado de “pudim de pas-
sas” foi a teoria aceita durante muitos anos.
Em 1910, o físico neozelandês Ernest Rutherford,9 que tinha estudado com
Animação Thomson na Universidade de Cambridge, decidiu usar partículas ␣ para estudar
Difração de partículas ␣.
a estrutura dos átomos. Junto com o seu colega Hans Geiger10 e um estudante
Animação chamado Ernest Marsden,11 Rutherford realizou uma série de experiências usan-
Experiência de Rutherford
do lâminas muito finas de ouro e de outros metais como alvos para as partícu-
las ␣ de uma fonte radioativa (Figura 2.8). Eles observaram que a maioria das
partículas penetrava a lâmina sem desvio ou com apenas uma ligeira deflexão.
Mas de vez em quando uma partícula ␣ era difratada (ou defletida) em um ân-
gulo grande. Em alguns casos, a partícula ␣ era ricocheteada na direção de onde
tinha vindo! Este foi um achado surpreendente, pois, no modelo de Thomson,
a carga positiva do átomo era tão difusa que as partículas ␣ positivas deveriam
ter atravessado a lâmina com desvios muito pequenos. Citamos a reação inicial
de Rutherford quando informado desta descoberta: “Era tão inacreditável como
se tivéssemos disparado uma bala de 15 polegadas (cerca de 38 cm) contra uma
folha de papel de seda e ela voltasse para trás e nos atingisse.”
Mais tarde, Rutherford conseguiu explicar os resultados da experiência de
difração de partículas ␣ em termos de um novo modelo para o átomo. De acordo
com Rutherford, a maior parte do átomo deve ser espaço vazio. Isso explica a ra-
zão pela qual a maioria das partículas ␣ atravessa a lâmina de ouro praticamente
sem desvio. Rutherford propôs que as cargas positivas do átomo se encontravam
todas concentradas no núcleo, que é um cerne denso no interior do átomo. Sem-
pre que uma partícula ␣ se aproximava de um núcleo na experiência de difração,
ela sofria uma grande força de repulsão e, portanto, era muito defletida. Além
disso, uma partícula ␣ cujo percurso se dirigisse diretamente para o núcleo seria
completamente repelida e a sua direção seria invertida.
As partículas com carga positiva no núcleo chamam-se prótons. Em expe-
riências separadas, verificou-se que cada próton transporta a mesma quantidade
de carga que um elétron e tem uma massa de 1,67262 1024 g – cerca de 1840
vezes a massa do elétron, que tem carga contrária.
Nesta fase da investigação, os cientistas entendiam o átomo da seguinte
maneira: a massa do núcleo constitui a maior parte da massa de todo o átomo,
mas o núcleo ocupa apenas cerca de 1/1013 do volume do átomo. Representamos
9
Ernest Rutherford (1872-1937). Físico neozelandês. Rutherford fez a maior parte do seu trabalho
na Inglaterra (nas Universidades de Manchester e Cambridge). Recebeu o Prêmio Nobel de Química
em 1908 pela sua investigação sobre o núcleo atômico. O comentário que ele fazia aos seus estudan-
tes, muitas vezes citado, é: “toda a ciência ou é física ou é coleção de selos”.
10
Johannes Hans Wilhelm Geiger (1852-1943). Físico alemão. O trabalho de Geiger incidiu es-
sencialmente sobre o núcleo atômico e a radioatividade. Ele inventou um instrumento para medir a
radiação, hoje vulgarmente conhecido como contador Geiger.
11
Ernest Marsden (1889-1920). Físico inglês. É gratificante saber que, por vezes, um estudante pode
contribuir para ganhar um Prêmio Nobel. Marsden continuou a contribuir significativamente para o
desenvolvimento da ciência na Nova Zelândia.
Capítulo 2 ♦ Átomos, moléculas e íons 45
as dimensões atômicas (e moleculares) em termos da unidade SI chamada picô- Uma unidade não SI comum para
dimensões atômicas é o angstrom (Å; 1 Å
metro (pm), onde 100 pm).
1 pm 1 1012 m
Prótons
Nêutrons
12
James Chadwick (1891-1972). Físico inglês que, em 1935, recebeu o Prêmio Nobel de Física por
provar a existência dos nêutrons.
46 Química
Número de massa
Número atômico
Assim, para os isótopos de hidrogênio, escrevemos:
1 2 3
1H 1H 1H
Como outro exemplo, considere dois isótopos comuns de urânio com nú-
meros de massa de 235 e 238, respectivamente:
Exemplo 2.1
Indique o número de prótons, nêutrons e elétrons em cada uma das seguintes espé-
cies: (a) , (b) , (c) 17O e (d) carbono-14.
Estratégia Lembre-se de que o número superior indica o número de massa, e o
número inferior, o número atômico. O número de massa é sempre maior do que o nú-
mero atômico. (A única exceção é o onde o número de massa é igual ao número
atômico.) No caso de não ser apresentado qualquer índice, como nos itens (c) e (d),
o número atômico pode ser deduzido a partir do símbolo ou do nome do elemento.
Para determinar o número de elétrons, lembre-se de que os átomos são eletricamente
neutros e, por isso, o número de elétrons é igual ao número de prótons.
Resolução (a) O número atômico é 11, logo, há 11 prótons. O número de massa é
20, portanto, o número de nêutrons é 20 11 9. O número de elétrons é igual
ao número de prótons, ou seja, 11.
(b) O número atômico é o mesmo do item (a), ou 11. O número de massa é 22, as-
sim, o número de nêutrons é 22 11 11. O número de elétrons é 11. Repare
que as espécies em (a) e (b) são constituídas por isótopos de sódio quimicamen-
te semelhantes.
(c) O número atômico do O (oxigênio) é 8, por isso, existem 8 prótons. O número
de massa é 17. Assim, existem 17 8 9 nêutrons. Existem 8 elétrons.
(d) O carbono-14 também pode ser representado por 14C. O número atômico do car-
bono é 6, por isso, existem 14 6 8 nêutrons. O número de elétrons é 6. Problemas semelhantes: 2.15, 2.16.
63
Exercício Quantos prótons, nêutrons e elétrons existem no isótopo de cobre: CU?
Revisão de conceitos
(a) Qual é o número atômico de um elemento se um de seus isótopos tem
117 nêutrons e um número de massa 195?
(b) Qual dos seguintes símbolos fornece mais informações? 17O ou 8O.