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Raymond Chang

Kenneth A. Goldsby

Química
11ª edição
C456q Chang, Raymond.
Química [recurso eletrônico] / Raymond Chang, Kenneth
A. Goldsby ; [tradução: M. Pinho Produtos Digitais
Unipessoal Lda.] ; revisão técnica: Denise de Oliveira Silva,
Vera Regina Leopoldo Constantino. – 11. ed. – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2013.

Editado também como livro impresso em 2013.


ISBN 978-85-8055-256-0

1. Química. I. Goldsby, Kenneth A. II. Título.


CDU 54

Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB10/2052


40 Química

Monóxido de carbono elementos como o hidrogênio e o oxigênio podem ser explicadas ao supor que os
átomos de hidrogênio não são os mesmos que os átomos de oxigênio.
O 1 A terceira hipótese sugere que, para formar um certo composto, precisamos
 
C 1 não só de átomos dos elementos certos, mas também de números específicos destes
átomos. Esta ideia é uma extensão de uma lei publicada em 1799 pelo químico
francês Joseph Proust2. A lei das proporções definidas de Proust afirma que amos-
Dióxido de carbono
tras diferentes do mesmo composto contêm sempre a mesma proporção das massas
O 2
dos seus elementos constituintes. Assim, se analisássemos amostras de dióxido de
  carbono gasoso obtidas de fontes diferentes, encontraríamos em cada amostra a
C 1
mesma razão entre as massas de carbono e de oxigênio. É então aceitável que, se
Figura 2.2 Ilustração da lei das pro- a razão entre as massas dos diferentes elementos em um dado composto é fixa, a
porções múltiplas. razão do número de átomos destes elementos também deverá ser constante.
A terceira hipótese de Dalton apoia outra lei importante, a lei das propor-
ções múltiplas. De acordo com esta lei, se dois elementos podem se combinar
para formar mais de um composto, as massas de um elemento que se combinam
com uma dada massa do outro elemento estão na razão de números pequenos e
inteiros. A teoria de Dalton explica a lei das proporções múltiplas de uma forma
muito simples: compostos diferentes constituídos pelos mesmos elementos dife-
rem no número de átomos de cada espécie que se combinam. Por exemplo, o car-
bono forma dois compostos estáveis com o oxigênio, nomeadamente, o monóxido
de carbono e o dióxido de carbono. As técnicas de medição modernas indicam
que um átomo de carbono se combina com um átomo de oxigênio no monóxido
de carbono e com dois átomos de oxigênio no dióxido de carbono. Assim, a razão
entre o oxigênio no monóxido de carbono e o oxigênio no dióxido de carbono é
1:2. Este resultado é consistente com a lei das proporções múltiplas (Figura 2.2).
A quarta hipótese de Dalton é outra forma de exprimir a lei da conser-
vação da massa,3 que diz que a matéria não pode ser criada nem destruída.
Como a matéria é constituída por átomos que não são alterados em uma reação
química, então a massa também deve se conservar. A brilhante visão de Dalton
sobre a natureza da matéria foi o principal estímulo para o progresso rápido da
química no século xix.

Revisão de conceitos
Os átomos do elemento A (azul) e do B (laranja) formam dois compostos
mostrados aqui. Estes compostos obedecem à lei das proporções múltiplas?

2.2 Estrutura do átomo


Com base na teoria atômica de Dalton, podemos definir um átomo como a uni-
dade básica de um elemento que pode entrar em uma combinação química. Dal-
ton imaginou um átomo que era simultaneamente indivisível e extremamente

2
Joseph Louis Proust (1754-1826). Químico francês, Proust foi o primeiro a isolar o açúcar das uvas.
3
De acordo com Albert Einstein, a massa e a energia são aspectos alternativos de uma mesma en-
tidade chamada massa-energia. As reações químicas em geral envolvem um ganho ou uma perda
de calor e outras formas de energia. Assim, quando se perde energia em uma reação, por exemplo,
também se perde massa. Com exceção das reações nucleares (ver Capítulo 23), as variações de mas-
sa nas reações químicas são demasiado pequenas para serem detectadas. Portanto, do ponto de vista
prático, há conservação de massa.
Capítulo 2 ♦ Átomos, moléculas e íons 41

pequeno. Contudo, diversas investigações que tiveram início na década de 1850


e se estenderam até o século xx demonstraram que os átomos possuem na reali-
dade uma estrutura interna; isto é, são constituídos por partículas ainda menores,
chamadas partículas subatômicas. Esta investigação levou à descoberta de três
destas partículas – os elétrons, os prótons e os nêutrons.

O elétron
Na década de 1890 muitos cientistas foram “apanhados” pelo estudo da radiação, a
emissão e transmissão de energia através do espaço na forma de ondas. A informa-
ção ganha com esta investigação contribuiu muito para a compreensão da estrutura
atômica. Um instrumento usado para investigar este fenômeno é a ampola de raios
catódicos, o precursor do tubo de imagem da televisão (Figura 2.3). Trata-se de um Animação
Ampola de raios catódicos.
tubo de vidro de onde se retirou a maior parte do ar. Quando se ligam as duas placas
metálicas à fonte de alta tensão, a placa carregada negativamente, chamada cáto-
do, emite uma radiação invisível. Os raios catódicos são atraídos para a placa com
carga positiva, chamada ânodo, onde passam através de um orifício e continuam o
percurso até a outra extremidade do tubo. Quando os raios atingem a superfície com
um revestimento especial, produzem uma fluorescência forte, ou uma luz intensa.
Em algumas experiências foram adicionadas duas placas carregadas eletri-
camente e um ímã colocado no exterior da ampola de raios catódicos (ver Figura
2.3). Na presença do campo magnético e na ausência do campo elétrico, os raios
catódicos atingem o ponto A. Quando se aplica apenas o campo elétrico, os raios
atingem o ponto C. Quando ambos os campos, elétrico e magnético, estão des-
ligados, ou ligados mas equilibrados de modo que anulam a influência um do
outro, a radiação atinge o ponto B. De acordo com a teoria eletromagnética, um
corpo carregado em movimento comporta-se como um ímã e pode interagir com
os campos elétrico e magnético que atravessa. Dado que os raios catódicos são
atraídos pela placa com carga positiva e repelidos pela placa com carga negati-
va, eles devem ser constituídos por partículas com carga negativa. Conhecemos
estas partículas com carga negativa como elétrons. A Figura 2.4 mostra o efeito Os elétrons normalmente estão associados
aos átomos, mas também podem ser
de um ímã nos raios catódicos. estudados individualmente.
O físico inglês J. J. Thomson4 usou a ampola de raios catódicos e o seu co-
nhecimento da teoria eletromagnética para determinar a razão entre a carga elétrica
e a massa de um elétron. O número que ele encontrou foi 1,76  108C/g, onde C
é o coulomb, que é a unidade de carga elétrica. A partir daí, em uma série de expe-
riências realizadas entre 1908 e 1917, R. A Millikan5 conseguiu medir a carga do Animação
A gota de óleo de Millikan.

A
Ânodo Cátodo
S Figura 2.3 Uma ampola de raios
catódicos com um campo elétrico per-
B pendicular à direção dos raios catódicos
e um campo magnético exterior. Os
N
símbolos N e S representam os polos
C norte e sul do ímã. Os raios catódicos
atingirão a extremidade da ampola em A
na presença do campo magnético, em C
na presença de um campo elétrico, e em
Tela fluorescente B quando não houver campos exteriores
 Fonte de alta tensão ou quando os efeitos do campo elétrico
e magnético se anularem.
4
Joseph John Thomson (1856-1940). Físico inglês que recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1906
pela descoberta do elétron.
5
Robert Andrews Millikan (1868-1953). Físico americano que recebeu o Prêmio Nobel de Física em
1933 por ter determinado a carga do elétron.
42 Química

(a) (b) (c)


Figura 2.4 (a) Um raio catódico produzido em uma ampola seguindo do cátodo (esquerda) para o ânodo (direita). O raio em si é invisível,
mas a fluorescência do revestimento de sulfeto de zinco sobre o vidro faz com que apareça em verde. (b) O raio catódico é dobrado para
baixo quando o ímã se desloca na sua direção (c) Quando a polaridade do ímã é invertida, o raio curva-se na direção oposta.

elétron com grande precisão. O seu trabalho mostrou que a carga de cada elétron
era exatamente a mesma. Na sua experiência, Millikan examinou o movimento
de minúsculas gotas de óleo que apanhavam cargas estáticas de íons presentes no
ar. Ele suspendeu as gotas carregadas no ar aplicando-lhes um campo elétrico e
seguiu os seus movimentos utilizando um microscópio (Figura 2.5). Aplicando
os seus conhecimentos de eletrostática, Millikan achou que a carga do elétron era
1,6022  1019 C. A partir deste resultado, ele calculou a massa do elétron:
carga
massa de um elétron
carga/massa

Esta massa é extremamente pequena.

Radioatividade
Em 1895, o físico alemão Wilhelm Röntgen6 reparou que os raios catódicos fa-
ziam o vidro e os metais emitirem uma radiação incomum. Esta radiação altamen-
te energética penetrava a matéria, escurecia placas fotográficas cobertas e provo-

Placa com carga Gotículas de óleo

Atomizador
Pequeno
orifício
()
Raio X para produzir
carga na gotícula
de óleo
Microscópio

()

Placa com carga

Figura 2.5 Diagrama esquemático da experiência da gota de óleo de Millikan.

6
Wilhelm Konrad Röntgen (1845-1923). Físico alemão que recebeu o Prêmio Nobel de Física em
1901 pela descoberta dos raios X.
Capítulo 2 ♦ Átomos, moléculas e íons 43

Figura 2.6 Os três tipos de raios emi-


tidos por elementos radioativos. Os raios
␤ consistem em partículas com carga
negativa (elétrons) e são, portanto, atraí-
dos pela placa carregada positivamente.
O oposto é válido para os raios ␣ – eles
 têm carga positiva e são puxados para
␣ Bloco de chumbo
a placa com carga negativa. Como os
raios ␥ não têm carga, o seu percurso
não é afetado por um campo elétrico
␥ exterior.


Substância radioativa

cava fluorescência em várias substâncias. Como estes raios não eram defletidos
por um ímã, não podiam conter partículas com carga, à semelhança dos raios
catódicos. Röntgen chamou-lhes raios X porque a sua natureza era desconhecida.
Pouco depois da descoberta de Röntgen, Antoine Becquerel,7 professor de fí-
sica em Paris, começou a estudar as propriedades de fluorescência das substâncias.
Por mero acidente, ele verificou que a exposição de placas fotográficas envolvidas
em um revestimento espesso a certos compostos de urânio provocava o seu escu-
recimento mesmo sem a estimulação dos raios catódicos. Tal como os raios X, os
raios do composto de urânio eram muito energéticos e não eram defletidos por um
ímã, mas distinguiam-se dos raios X porque apareciam espontaneamente. Um dos
estudantes de Becquerel, Marie Curie8, sugeriu o nome radioatividade para descre-
ver esta emissão espontânea de partículas e/ou radiação. Desde então, qualquer
elemento que emita radiação espontaneamente é chamado de radioativo.
Na desintegração ou quebra de substâncias radioativas, como o urânio, são
produzidos três tipos de radiação, dois dos quais são defletidos por placas metá-
licas com cargas opostas (Figura 2.6). A radiação alfa (␣) consiste em partícu- Animação
las com carga positiva, chamadas partículas ␣, e são defletidas pela placa com Raios alfa, beta e gama

carga positiva. A radiação beta (␤), ou partículas ␤, são elétrons e são defleti-
dos pela placa com carga negativa. O terceiro tipo de emissão radioativa consiste
em raios de elevada energia chamada raios gama (␥). Tal como os raios X, os
raios ␥ não têm carga e não são afetados por um campo externo.
A carga positiva está
distribuída sobre toda a esfera
O próton e o núcleo
No início do século xx, duas características dos átomos se tornaram claras: eles

continham elétrons e eram eletricamente neutros. Para manter a neutralidade
elétrica, um átomo deve conter um número igual de cargas positivas e negativas. – –
Por isso, Thomson propôs que um átomo podia ser imaginado como uma esfera
uniforme de matéria, com carga positiva, na qual os elétrons estão embebidos –

– –
7
Antoine Henri Becquerel (1852-1908). Físico francês que recebeu o Prêmio Nobel de Física em
1903 pela descoberta da radioatividade do urânio. –
8
Marie (Marya Sklodowska) Curie (1867-1934). Química e física de origem polonesa. Em 1903,
ela e o seu marido, o francês Pierre Curie, receberam o Prêmio Nobel de Física pelo seu trabalho Figura 2.7 O modelo de átomo de
na radioatividade. Em 1911, ela voltou a receber o Prêmio Nobel, desta vez de Química, pelo seu Thomson, por vezes descrito como o
trabalho sobre os elementos radioativos rádio e polônio. É uma das três pessoas que receberam dois modelo do “pudim de passas”, uma so-
prêmios Nobel em ciência. Apesar da sua grande contribuição para a ciência, a sua nomeação para a bremesa tradicional inglesa. Os elétrons
Academia de Ciências Francesa, em 1911, foi rejeitada por um voto por ela ser mulher! A sua filha estão embebidos em uma esfera unifor-
Irene e o genro Fréderic Joliot-Curie compartilharam o Prêmio Nobel de Química em 1935. me com carga positiva.
44 Química

Figura 2.8 (a) Esquema da experiência Lâmina de ouro


de Rutherford para medir a dispersão
das partículas ␣ por uma lâmina de ouro. Emissor de
A maioria das partículas ␣ atravessa a partículas ␣
lâmina de ouro praticamente sem ser
defletida. Algumas são defletidas em
grandes ângulos. Ocasionalmente, uma
partícula ␣ é desviada em sentido con-
trário. (b) Uma visão ampliada das partí- Tela de detecção Fenda
culas ␣ atravessando e sendo defletidas
pelos núcleos. (a) (b)

como passas em um bolo (Figura 2.7). Este modelo chamado de “pudim de pas-
sas” foi a teoria aceita durante muitos anos.
Em 1910, o físico neozelandês Ernest Rutherford,9 que tinha estudado com
Animação Thomson na Universidade de Cambridge, decidiu usar partículas ␣ para estudar
Difração de partículas ␣.
a estrutura dos átomos. Junto com o seu colega Hans Geiger10 e um estudante
Animação chamado Ernest Marsden,11 Rutherford realizou uma série de experiências usan-
Experiência de Rutherford
do lâminas muito finas de ouro e de outros metais como alvos para as partícu-
las ␣ de uma fonte radioativa (Figura 2.8). Eles observaram que a maioria das
partículas penetrava a lâmina sem desvio ou com apenas uma ligeira deflexão.
Mas de vez em quando uma partícula ␣ era difratada (ou defletida) em um ân-
gulo grande. Em alguns casos, a partícula ␣ era ricocheteada na direção de onde
tinha vindo! Este foi um achado surpreendente, pois, no modelo de Thomson,
a carga positiva do átomo era tão difusa que as partículas ␣ positivas deveriam
ter atravessado a lâmina com desvios muito pequenos. Citamos a reação inicial
de Rutherford quando informado desta descoberta: “Era tão inacreditável como
se tivéssemos disparado uma bala de 15 polegadas (cerca de 38 cm) contra uma
folha de papel de seda e ela voltasse para trás e nos atingisse.”
Mais tarde, Rutherford conseguiu explicar os resultados da experiência de
difração de partículas ␣ em termos de um novo modelo para o átomo. De acordo
com Rutherford, a maior parte do átomo deve ser espaço vazio. Isso explica a ra-
zão pela qual a maioria das partículas ␣ atravessa a lâmina de ouro praticamente
sem desvio. Rutherford propôs que as cargas positivas do átomo se encontravam
todas concentradas no núcleo, que é um cerne denso no interior do átomo. Sem-
pre que uma partícula ␣ se aproximava de um núcleo na experiência de difração,
ela sofria uma grande força de repulsão e, portanto, era muito defletida. Além
disso, uma partícula ␣ cujo percurso se dirigisse diretamente para o núcleo seria
completamente repelida e a sua direção seria invertida.
As partículas com carga positiva no núcleo chamam-se prótons. Em expe-
riências separadas, verificou-se que cada próton transporta a mesma quantidade
de carga que um elétron e tem uma massa de 1,67262  1024 g – cerca de 1840
vezes a massa do elétron, que tem carga contrária.
Nesta fase da investigação, os cientistas entendiam o átomo da seguinte
maneira: a massa do núcleo constitui a maior parte da massa de todo o átomo,
mas o núcleo ocupa apenas cerca de 1/1013 do volume do átomo. Representamos

9
Ernest Rutherford (1872-1937). Físico neozelandês. Rutherford fez a maior parte do seu trabalho
na Inglaterra (nas Universidades de Manchester e Cambridge). Recebeu o Prêmio Nobel de Química
em 1908 pela sua investigação sobre o núcleo atômico. O comentário que ele fazia aos seus estudan-
tes, muitas vezes citado, é: “toda a ciência ou é física ou é coleção de selos”.
10
Johannes Hans Wilhelm Geiger (1852-1943). Físico alemão. O trabalho de Geiger incidiu es-
sencialmente sobre o núcleo atômico e a radioatividade. Ele inventou um instrumento para medir a
radiação, hoje vulgarmente conhecido como contador Geiger.
11
Ernest Marsden (1889-1920). Físico inglês. É gratificante saber que, por vezes, um estudante pode
contribuir para ganhar um Prêmio Nobel. Marsden continuou a contribuir significativamente para o
desenvolvimento da ciência na Nova Zelândia.
Capítulo 2 ♦ Átomos, moléculas e íons 45

as dimensões atômicas (e moleculares) em termos da unidade SI chamada picô- Uma unidade não SI comum para
dimensões atômicas é o angstrom (Å; 1 Å
metro (pm), onde  100 pm).

1 pm  1  1012 m

Um raio atômico típico é de aproximadamente 100 pm, enquanto o raio de um


núcleo atômico é apenas cerca de 5  103 pm. Podemos ter uma ideia das
dimensões relativas de um átomo e do seu núcleo imaginando que se um átomo
fosse do tamanho de um estádio esportivo, o volume do seu núcleo seria com-
parável ao de uma bolinha de gude. Apesar de os prótons estarem confinados ao
núcleo do átomo, os elétrons aparecem espalhados à volta do núcleo e a alguma
distância deste.
O conceito de raio atômico é útil experimentalmente, mas não devemos
inferir que os átomos têm limites ou superfícies bem definidas. Aprenderemos
mais tarde que a região externa dos átomos é um tanto “nebulosa”.

O nêutron Se o tamanho de um átomo fosse ex-


O modelo de estrutura atômica de Rutherford deixou um grande problema por pandido para o de um estádio esportivo,
o tamanho do núcleo seria equivalente
resolver. Sabia-se que o átomo de hidrogênio, o átomo mais simples, contém
ao de uma bola de gude.
apenas um próton e o átomo de hélio contém dois prótons. Portanto, a razão
entre a massa do átomo de hélio e a massa do átomo de hidrogênio deveria ser
2:1. (Como os elétrons são muito mais leves do que os prótons, a sua contribui-
ção para a massa atômica pode ser desprezada.) Na realidade, contudo, a razão
é 4:1. Rutherford e outros postularam que devia existir outro tipo de partícula
subatômica no núcleo atômico; a prova foi fornecida por outro físico inglês,
James Chadwick,12 em 1932. Quando Chadwick bombardeou uma folha fina de
berílio com partículas ␣, o metal emitiu uma radiação de energia muito elevada,
semelhante aos raios ␥. Experiências posteriores mostraram que a radiação era
constituída por um terceiro tipo de partículas subatômicas, às quais Chadwick
denominou de nêutrons, porque elas mostraram ser partículas eletricamente
neutras com uma massa ligeiramente superior à massa dos prótons. O misté-
rio da razão das massas podia agora ser explicado. No núcleo de hélio há dois
prótons e dois nêutrons, mas no núcleo de hidrogênio há apenas um próton e
nenhum nêutron, daí a razão 4:1.
A Figura 2.9 mostra a localização das partículas elementares (prótons,
nêutrons e elétrons) em um átomo. Existem outras partículas subatômicas, mas
o próton, o elétron e o nêutron são os três componentes fundamentais do átomo

Prótons
Nêutrons

Figura 2.9 Os prótons e os nêutrons


de um átomo estão contidos em um nú-
cleo extremamente pequeno. Os elétrons
são apresentados como nuvens em tor-
no do núcleo.

12
James Chadwick (1891-1972). Físico inglês que, em 1935, recebeu o Prêmio Nobel de Física por
provar a existência dos nêutrons.
46 Química

Tabela 2.1 Massa e carga das partículas subatômicas


Carga

Partícula Massa (g) Coulomb Unidades de carga


28 19
Elétron* 9,10938  10 1,6022  10 1
Próton 1,67262  1024 1,6022  1019 1
Nêutron 1,67493  1024 0 0
* Medições mais refinadas forneceram um valor mais rigoroso da massa do elétron do que o
modelo de Millikan.

e que são importantes na química. A Tabela 2.1 mostra as massas e as cargas


destas três partículas elementares.

2.3 Número atômico, número de massa e isótopos


Todos os átomos podem ser identificados pelo número de prótons e de nêutrons
que contêm. O número atômico (Z) é o número de prótons no núcleo de cada
átomo de um elemento. Em um átomo neutro o número de prótons é igual ao
número de elétrons e, por isso, o número atômico também indica o número de
elétrons presentes no átomo. A identidade química de um átomo pode ser deter-
minada apenas pelo seu número atômico. Por exemplo, o número atômico do
flúor é 9. Isto significa que cada átomo de flúor contém 9 prótons e 9 elétrons.
Visto de outra maneira, qualquer átomo no Universo que contenha 9 prótons é
corretamente chamado “ flúor ”.
Os prótons e os nêutrons são coletivamente O número de massa (A) é o número total de prótons e de nêutrons presen-
chamados de núcleons.
tes no núcleo de um átomo de um elemento. Com exceção da forma mais comum
de hidrogênio, que tem um próton e nenhum nêutron, todos os núcleos atômicos
contêm prótons e nêutrons. Em geral, o número de massa é dado por:

número de massa  número de prótons  número de nêutrons


 número atômico  número de nêutrons (2.1)
O número de nêutrons em um átomo é igual à diferença entre o número de massa
e o número atômico, ou (A - Z). Por exemplo, o número de massa de um de-
terminado átomo de boro é 12 e o número atômico é 5 (indicando 5 prótons no
núcleo), então o número de nêutrons é de 12  5  7. Lembre-se de que as três
quantidades (o número atômico, o número de nêutrons e o número de massa)
devem ser inteiros positivos (números inteiros).
Os átomos de um dado elemento não têm todos a mesma massa. A maior
parte dos elementos tem dois ou mais isótopos, átomos que têm o mesmo núme-
ro atômico mas números de massa diferentes. Por exemplo, há três isótopos de
hidrogênio. Um, conhecido simplesmente como hidrogênio, tem um próton e
nenhum nêutron. O isótopo deutério contém um próton e um nêutron, e o trítio
tem um próton e dois nêutrons. A maneira aceita de designar o número atômico
e o número de massa de um átomo de um elemento (X) é como segue:

Número de massa
Número atômico
Assim, para os isótopos de hidrogênio, escrevemos:
1 2 3
1H 1H 1H

hidrogênio deutério trítio


Capítulo 2 ♦ Átomos, moléculas e íons 47

Como outro exemplo, considere dois isótopos comuns de urânio com nú-
meros de massa de 235 e 238, respectivamente:

O primeiro isótopo é usado nos reatores nucleares e em bombas atômicas, enquanto


o segundo isótopo não tem as propriedades necessárias para estas aplicações. Com
exceção do hidrogênio, que tem nomes diferentes para cada um dos seus isótopos,
os isótopos dos elementos são identificados pelos seus números de massa. Assim,
os dois isótopos anteriores são chamados urânio-235 (pronunciado “urânio duzen-
tos e trinta e cinco”) e urânio-238 (pronunciado “urânio duzentos e trinta e oito”).
As propriedades químicas de um elemento são determinadas pelos pró-
tons e elétrons nos seus átomos: os nêutrons não participam das transformações
químicas em condições normais. Por isso, os isótopos do mesmo elemento têm
químicas semelhantes, formando os mesmos tipos de compostos e apresentando
reatividades semelhantes.
O Exemplo 2.1 mostra como calcular o número de prótons, nêutrons e
elétrons usando números atômicos e números de massa.

Exemplo 2.1
Indique o número de prótons, nêutrons e elétrons em cada uma das seguintes espé-
cies: (a) , (b) , (c) 17O e (d) carbono-14.
Estratégia Lembre-se de que o número superior indica o número de massa, e o
número inferior, o número atômico. O número de massa é sempre maior do que o nú-
mero atômico. (A única exceção é o onde o número de massa é igual ao número
atômico.) No caso de não ser apresentado qualquer índice, como nos itens (c) e (d),
o número atômico pode ser deduzido a partir do símbolo ou do nome do elemento.
Para determinar o número de elétrons, lembre-se de que os átomos são eletricamente
neutros e, por isso, o número de elétrons é igual ao número de prótons.
Resolução (a) O número atômico é 11, logo, há 11 prótons. O número de massa é
20, portanto, o número de nêutrons é 20  11  9. O número de elétrons é igual
ao número de prótons, ou seja, 11.
(b) O número atômico é o mesmo do item (a), ou 11. O número de massa é 22, as-
sim, o número de nêutrons é 22  11  11. O número de elétrons é 11. Repare
que as espécies em (a) e (b) são constituídas por isótopos de sódio quimicamen-
te semelhantes.
(c) O número atômico do O (oxigênio) é 8, por isso, existem 8 prótons. O número
de massa é 17. Assim, existem 17  8  9 nêutrons. Existem 8 elétrons.
(d) O carbono-14 também pode ser representado por 14C. O número atômico do car-
bono é 6, por isso, existem 14  6  8 nêutrons. O número de elétrons é 6. Problemas semelhantes: 2.15, 2.16.
63
Exercício Quantos prótons, nêutrons e elétrons existem no isótopo de cobre: CU?

Revisão de conceitos
(a) Qual é o número atômico de um elemento se um de seus isótopos tem
117 nêutrons e um número de massa 195?
(b) Qual dos seguintes símbolos fornece mais informações? 17O ou 8O.

2.4 A Tabela Periódica


Mais de metade dos elementos hoje conhecidos foi descoberta entre 1800 e 1900.
Durante este período, os químicos notaram que muitos elementos apresentam for-
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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