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Tópico 2: Revisitando Ligações Químicas e

Ligações intermoleculares.

1) Tipos de ligações químicas.

2) Definição das forças intermoleculares.

3) Descrição dos diferentes tipos de forças intermoleculares.

OBJETIVOS:

Geral: Você deverá diferenciar os diferentes tipos de ligações químicas

intramoleculares e intermoleculares.

Específico: Você deverá relacionar as propriedades gerais dos elementos

químicos com as ligações químicas. Reconhecer as cargas dos íons na formação

dos compostos iônicos. Montar as estruturas de Lewis para moléculas e

relacioná-las a geometria molecular. Relacionar as forças intermoleculares com

o estado físico dos compostos e a sua polaridade.

Na aula anterior refletimos sobre a disciplina de Transformações


Químicas, o que vocês vão aprender no nosso curso, bem como o significado de
transformações químicas.
Gostaria de iniciar a aula de hoje com a seguinte pergunta: Você já parou
para pensar que tudo que é palpável é feito de átomos? Sua mão, por exemplo,
é constituída principalmente de carbono, hidrogênio e oxigênio, que dão origem
às moléculas orgânicas que definem a vida baseada em carbono. Seu
computador, outro exemplo, possui vários componentes, de diversos elementos
químicos, combinados ou não, formando um sistema que é muito importante
para a vida tecnológica atual. Por meio do desenvolvimento de várias teorias de
diversos pensadores em diferentes épocas, sabemos hoje de que somos

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constituídos. Teoria que se inicia a partir dos gregos antigos até o que
consideramos como modelo atômico atual (lembre-se que a ideia de modelo é
uma construção humana influenciada por seu contexto histórico, social e de
desenvolvimento tecnológico que nos permite resumir um grande número de
observações de forma concisa) com seu conjunto de teorias e cientistas, que
poderíamos dizer que ainda se encontra em desenvolvimento. Tudo isso, vocês
estudaram na disciplina de Estrutura da Matéria, certo?

Mas independentemente do conhecimento em nível atômico e molecular,


desde o surgimento do Homo Sapiens na Terra manipulamos os elementos, de
maneira consciente ou não para obtenção de objetos úteis para o dia a dia.

Já na era moderna, o conhecimento dos processos químicos envolvidos


na indústria como, por exemplo, quantidade de reagentes para evitar desperdício
de materiais, é uma das preocupações que surgem quando se quer realizar uma
transformação química. Esse cuidado é especialmente importante nos
processos industriais, nos quais a margem de lucro, a qualidade do produto e os
impactos ambientais podem estar diretamente ligados à questão do desperdício
de materiais. Ou seja, o ser humano passou a suprir suas necessidades, das
mais básicas às mais supérfluas, por meio da transformação da matéria
disponível.

Em geral, a transformação da matéria envolve a formação de substâncias


diferentes daquelas que já existiam, ou seja, ligações químicas são quebradas
para que novas ligações químicas sejam formadas. Por isso, na aula de hoje
vamos relembrar alguns conceitos de ligações químicas que vocês aprenderam
na disciplina de Estrutura da Matéria.

No início do século XX ocorria uma profusão de experimentos e teorias


para explicar a composição da matéria e uma das questões a ser respondida era
“Como os átomos se combinavam para formar moléculas? Um grande pioneiro
no estudo de ligações químicas foi Gilbert N. Lewis que sugeriu que os elétrons
mais externos (de valência) podiam ser visualizados como se estivessem
situados nos vértices de um cubo imaginário em torno do núcleo. Então, um
átomo que fosse deficiente de elétrons, precisaria preencher os oito vértices do
cubo por meio da união de arestas, por exemplo, de maneira a completar o octeto

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(ficou conhecida então como Teoria do Octeto). Mas essa visão foi logo superada
pela ascensão da mecânica quântica e em 1937, Linus Pauling concebeu um
modelo que envolvia a sobreposição dos orbitais atômicos e formação de orbitais
moleculares.

Você deve estar se perguntando: Então, tenho que explicar as ligações


químicas de toda a matéria sempre em termos dos orbitais moleculares? A
resposta é não! Podemos, muitas vezes utilizar modelos mais simples, como o
modelo de Lewis, mas sem perder de vista que a exceção à regra do octeto, que
são muitas , ocorre meramente porque essa é a teoria mais simples para
explicar uma ligação química e é nesse caso que devemos utilizar uma teoria
que seja mais abrangente. É importante enfatizar ainda que os modelos de
ligação são desenvolvidos para explicar observações experimentais.

Podemos definir, de maneira geral, que uma ligação química é a junção


de dois átomos, e o arranjo resultante dessa combinação tem menos energia do
que a energia total dos átomos separados. Na junção de elementos de alta
eletronegatividade (situados mais à direita da Tabela Periódica) com elementos
com baixa energia de ionização (situados mais à esquerda da Tabela Periódica
- Metais) formam-se íons (os íons positivos são chamados de cátions e os
negativos são chamados de ânions) e o composto mantém-se unidos pela
atração eletrostática entre eles. Essa atração é chamada de Ligação Iônica. Se
ao invés da transferência completa dos elétrons ocorrer o compartilhamento de
elétrons, como proposto por Lewis, tem-se a Ligação covalente. Um terceiro
tipo de ligação ocorre quando um grande número de cátions é mantido junto, é
a Ligação Metálica.

Os cursos iniciais de química frequentemente induzem a pensar que há


uma divisão rígida entre a ligação covalente e iônica. Existe poucos casos de
compostos iônicos “puros”, então na realidade é mais adequado considerar a
ligação química como um contínuo entre os extremos de ligação iônica,
covalente. Dessa forma, expressa-se mais corretamente ao apontar um caráter
da ligação química de maneira a refletir o comportamento observado
experimentalmente. Condutividade, solubilidade, pontos de fusão e ebulição,
entre outros, são experimentos realizados com diversas substâncias para gerar

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um conjunto de dados que reflitam um comportamento experimental. Alguns
desses experimentos você verá na aula prática dessa e/ou da próxima semana.

Vamos rever então, como representaremos cada uma das ligações.

Vamos falar um pouco sobre as ligações metálicas. As principais


propriedades dos metais, como as altas condutividades elétrica e térmica e alta
refletividade (brilho metálico), devem ser consideradas em qualquer teoria de
ligação metálica. O modelo mais simples para essa é o do mar de elétrons, em
que os elétrons de valência são livres para se mover através de toda a massa
da estrutura metálica. São os elétrons de valência que transmitem corrente
elétrica e é o movimento desses elétrons que transfere calor. Contudo, esse
modelo é qualitativo. Um modelo mais abrangente é fornecido pela teoria do
orbital molecular, que muitas vezes é chamado de Teoria de Bandas. Esse
assunto deverá ser tratado em disciplinas mais avançadas no curso.

Fonte:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Metallic_Bonding_Example.svg#/media/File:Meta
llic_Bonding_Example.svg

Um ponto importante se refere à forma que os átomos estão arranjados


no espaço em um metal, ou seja, o que chamamos de empacotamento. Ele
também é a base para a forma em um composto iônico, de maneira a mostrar
como os íons estão dispostos.

O conceito de empacotamento cristalino, assume que os átomos (ou íons


para o caso de compostos iônicos) são esferas rígidas. Portanto, em um cristal
metálico ou iônico, os átomos/íons estão distribuídos em um arranjo repetitivo
(porção que se repete = célula unitária), chamado de rede cristalina. O arranjo
mais simples possível é aquele em que os átomos da base são empacotados
lado a lado, e as camadas sucessivas são colocadas diretamente sobre a

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camada inferior. Esse arranjo é conhecido como empacotamento simples ou
cúbico simples (cs), e como resultado cada átomo tem um número de
coordenação de seis. Outro arranjo de empacotamento cúbico ocorre quando a
segunda camada de átomos é colocada sobre os espaços vazios da primeira e
a terceira camada se ajusta aos espaços vazios da segunda. Este arranjo, mais
compacto que o anterior (número de coordenação de oito), é chamado de cúbico
de corpo centrado (ccc). Pode-se ainda ter arranjo hexagonal em que o número
de coordenação é maior resultando em um empacotamento é mais denso.

Fonte: ATKINS, P., JONES, L., Princípios de Química - Questionando a Vida Moderna e o Meio
Ambiente, 5 ed., Porto Alegre: Bookman, 2012.

Uma vez que os átomos ficam muito próximos, os metais são, com
frequência, mais densos que outros tipos de sólidos. A ligação metálica é
relativamente forte, podemos fazer essa inferência uma vez que a maior parte
dos metais são sólidos a temperatura ambiente e possuem pontos de fusão
elevados.

Como definimos anteriormente, as ligações iônicas resultam da


transferência de elétrons de um metal para um não-metal, ou seja, para que a
ligação ocorra, é necessário a formação de íons (cátions e ânions) com cargas
opostas. A representação dos compostos iônicos é bastante simples. Basta fazer
a distribuição eletrônica dos elétrons e verificar a formação dos íons, veja o
exemplo da formação do KBr:

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19K (neste símbolo, lê-se o seguinte: átomo de potássio neutro, com
número atômico 19, ou seja, há 19 prótons no núcleo e 19 elétrons distribuídos
nos níveis de energia) à 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s1. Na formação do cátion K+ a
distribuição eletrônica é: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s0 (cátion potássio, com uma carga
positiva, com número atômico 19, ou seja, há 19 prótons no núcleo e 18 elétrons
distribuídos nos níveis de energia)

35Br (neste símbolo, lê-se o seguinte: átomo de bromo neutro, com


número atômico 35, ou seja, há 35 prótons no núcleo e 35 elétrons distribuídos
nos níveis de energia) à 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p5. Na formação do ânion
Br- a distribuição eletrônica é: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6.

Portanto, a representação de Lewis para a formação do composto iônico


+
K HBr
é:

Veja para o caso do NaF:

Gif By Wdcf - Own work, CC BY-SA 3.0,


https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=15539913

E se considerarmos os compostos o cloreto de cálcio, CaCl2 e o óxido de


cálcio (CaO), você conseguira escrever as estruturas de Lewis, certo? As
estruturas de Lewis para eles são, respectivamente:

2+ 2+ 2-
Ca 2 HCl Ca H2O

Espero que com esses exemplos você tenha se lembrado que o cátion é
representado apenas com a sua carga, para lembrar-nos quantos elétrons foram
transferidos e o ânion é representado com oito elétrons, para nos lembrar de que
ele recebeu os elétrons do cátion. E qual a carga do ânion? O número de elétrons
recebidos para completar o seu octeto. E, claro, perceba que a estequiometria
do composto é consequência das cargas dos íons.

Quando um metal e um não metal estão presentes em um composto


simples, a ligação iônica é um bom modelo. Mas em muitos compostos, as
ligações parecer ter propriedades intermediárias entre os modelos de ligação
iônica e ligação covalente. Uma regra útil para estabelecer uma divisória diz que,

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se a diferença de eletronegatividade de Pauling, Figura a seguir, é de cerca de
2 unidades, o caráter iônico é muito alto e, portanto, é melhor considerar uma
ligação iônica. Para diferenças de eletronegatividade menores que 1,5, a
explicação da ligação como covalente é razoavelmente segura. Então, os
exemplos utilizados anteriormente, se encaixam todos no modelo de ligação
iônica. Entretanto, a diferença de eletronegatividade entre os elementos iodo e
lítio no iodeto de lítio, LiI, é de 1,68, e por isso, dizemos que esse composto
possui um caráter de ligação iônica.

Adaptada de: DMacks, CC BY-SA 3.0 <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0>, via


Wikimedia Commons

Vamos considerar agora a amônia, NH3. Segundo essa escala, esse


composto apresenta ligação iônica ou covalente? Vamos ver? O hidrogênio
possui uma eletronegatividade intermediária e ao se ligar com o nitrogênio
resulta em uma diferença de eletronegatividade de 0,8 e, portanto, as ligações
são consideradas seguramente como covalente polar.

De forma alternativa, podemos usar o conceito de polarização (distorção


do formato esférico do ânion ideal por meio da forte atração por um cátion). Em

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geral, ânions volumosos, como o iodeto (I-), são muito polarizáveis e um cátion
tem alto poder polarizante quando tem elevada carga nuclear (cátion pequeno
com elevado número de cargas), como por exemplo o Al3+. Para tal, regra útil foi
proposta por Kasimir Fajans (caso queira saber mais sobre este assunto acesse
o livro Rayner-Canham, G, Overton, T, Química Inorgânica Descritiva. LTC, 5ª
ed., Rio de Janeiro, 2015, pags 75-77 na sua biblioteca virtual no sigaa).

Fonte: Rayner-Canham, G, Overton, T, Química Inorgânica Descritiva. LTC, 5ª ed., Rio de


Janeiro, 2015.

Então, vamos agora revisitar as Ligações Covalentes, aquelas


responsáveis pela formação das moléculas. Nos exemplos anteriores, a ligação
iônica resultou em elementos com configuração de gás nobre. A mesma ideia
pode ser estendida para a ligação covalente, normalmente encontrada entre
elementos não-metálicos, entretanto neste caso os átomos compartilham
elétrons até atingir configuração de gás nobre. Vejamos agora alguns exemplos
de estrutura de Lewis na construção do “desenho” de moléculas covalentes. Para
tal, iremos usar o procedimento geral para a construção da estrutura de Lewis,
e os conceitos de ressonância, carga formal e camada de valência expandida.
(Caso precise lembrar desses conceitos estudados em Estrutura da Matéria
consulte os livros da bibliografia no nosso curso na sua biblioteca virtual no
sigaa).

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Vamos começar com as moléculas de NH3, H2SO4 e C2H2. Para cada
átomo das moléculas poliatômicas, como a amônia, o ácido sulfúrico e o etino, a
configuração de gás nobre deve ser satisfeita por meio do compartilhamento de
pares de elétrons com seus vizinhos mais próximos, que é representado por uma
linha reta entre os átomos. Dessa forma, teremos as representações:

H
O
N
O S O
H H
H
O
H HC CH

Agora veja os dois exemplos a seguir:

Cl Cl
P P
Cl Cl Cl Cl
Cl Cl

A estrutura de Lewis da molécula de PCl3 (tricloreto de fósforo) obedece


a regra do octeto, mas o fosforo na molécula gasosa de PCl5 (pentacloreto de
fósforo) não obedece essa regra. Dizemos nesse caso que o P expande a
camada de valência para 10 elétrons usando um dos seus orbitais 3d por meio
de orbitais híbridos sp3d. Esse composto é um exemplo do que chamaríamos de
exceção à regra do octeto, mas sua ligação química pode ser explicada, por
exemplo, pela formação de orbitais híbridos. Vale lembrar que a estrutura de
Lewis não retrata a forma da molécula, indica apenas que átomos se ligam e
quais tem pares isolados. Vamos falar da forma, ou usando o termo químico
correto, a geometria molecular mais adiante nesta aula.

Como mencionamos anteriormente, as estruturas de Lewis são


representações em duas dimensões das legações entre os átomos e a não ser
nos casos mais simples, não refletem o arranjo dos átomos nas três dimensões.
Para traduzir a forma/geometria das moléculas no espaço usamos o Modelo da
Repulsão dos Pares de Elétrons da Camada de Valência (modelo VSEPR – do
inglês Valence Shell Electron Pair Repulsion). Como o próprio nome diz, esse

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modelo baseia-se na ideia de que os elétrons se repelem e os pares de elétrons
de ligação tendem a se afastar o máximo possível.

A forma da molécula será identificada pela posição


relativa de seus átomos.
Os pares de elétrons de uma ligação múltipla são
tratados como uma única unidade.
Nos casos em que há pares isolados ou um elétron
desemparelhado no átomo central, os elétrons de
valência vão contribuir para o arranjo de elétrons em
volta do átomo central, “distorcendo” a forma da
molécula para reduzir as repulsões entre pares isolados e
pares ligantes

Vamos continuar usando a molécula de NH3 que fizemos a estrutura de


Lewis anteriormente. A partir dessa estrutura, distribuímos no espaço os átomos
de hidrogênio e o par de elétrons distribuídos ao redor do átomo central de
nitrogênio. A forma ou o arranjo que resulta em menor repulsão é o tetraédrico,
por outro lado, a geometria será piramidal trigonal uma vez que o par de elétron
não ligado apenas distorce a forma da molécula.

Fonte: Química: ciência central; Eugene H. Lemay e Theodore L. Brown; 2005, Prentice Hall
Brasil.

Observem outros arranjos e geometrias:

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Fonte: Química: ciência central; Eugene H. Lemay e Theodore L. Brown; 2005, Prentice Hall
Brasil.

Agora tendo em mente as geometrias das moléculas, incorpore os


conceitos de polaridade de ligação. A junção desses dois conceitos fornece
informações sobre a polaridade da molécula. Mas cuidado! Uma molécula com
ligações polares pode resultar em uma molécula apolar!!! Vamos analisar a

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molécula de metano (CH4). As ligações C-H são polares, pois C e H possuem
diferentes eletronegatividades, não restam pares de elétrons não ligantes no
carbono e o arranjo em que os hidrogênios ficam mais afastados possível é o
tetraédrico, ou seja, arranjo tetraédrico e geometria tetraédrica. Portanto, a
resultante do momento de dipolo das ligações será nula e a molécula será apolar.
Por outro lado, se trocarmos um átomo de H por Cl, como no caso do CH3Cl (a
geometria tetraédrica permanece), a resultante do momento de dipolo será
diferente de zero, uma vez que o Cl desloca a densidade eletrônica da molécula.

Uma molécula diatômica será polar se a ligação for polar.


Uma molécula poliatômica será polar se tiver ligações polares
orientadas no espaço em que os momentos de dipolo associados às
ligações não se cancelem.

Será que você consegue predizer qual a polaridades para as moléculas


de PCl3 e PCl5 que fizemos a estrutura de Lewis anteriormente?

Falamos na aula anterior sobre a importância da disciplina de


Transformações Químicas e iniciamos esta aula dizendo que desde o
surgimento do Homo Sapiens na Terra manipulamos os elementos, de maneira
consciente ou não. Ou seja, essa manipulação envolve a formação de
substâncias diferentes daquelas que já existiam, e para tal, ligações químicas
são quebradas para que novas ligações químicas sejam formadas. Para que
essas ligações (covalentes, iônicas ou metálicas) sejam quebradas é preciso
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fornecer energia e quando são formadas elas liberaram energia (esse assunto
será abordado em aulas posteriores no nosso curso de TQ). Por enquanto,
vamos nos ater apenas às estruturas de Lewis das moléculas, que nos ajudam
a entender, pelo menos em parte, as tendências das energias de ligação.

As tendências das energias de ligação podem ser explicadas, pelo menos


em parte, pelas estruturas de Lewis das moléculas (a explicação mais completa
envolveria a teoria do orbital molecular). A energia de uma ligação (ou de
dissociação) em uma molécula é a medida da energia necessária para romper a
ligação química e está diretamente relacionada ao comprimento da ligação, que
por sua vez, é consequência do tamanho dos átomos. Quanto mais curta a
distância da ligação e maior a energia de ligação, mais forte será a ligação.
Observe na tabela a seguir o declínio da energia de ligação quando a ordem de
ligação decresce de 3 em N2, para 1, em F2. A ligação tripla do gás nitrogênio é
a explicação para a inércia química desse gás. Por sua vez, a grande reatividade
do gás F2 é explicada pela baixa energia da ligação simples. Além disso, a
presença de pares de elétrons isolados pode influenciar as energias de ligação,
uma vez que eles se repelem (compare H2 e F2).

Molécula Distância de Ligação Energia de ligação


(pm) (kJmol-1)
NN 110 942
O=O 121 494
F-F 142 155
H-H 74 424

Por outro lado, uma ligação dupla (134 pm) entre dois carbonos por
exemplo (612 kJmol-1) não é duas vezes mais forte (348 kJmol-1) que uma
ligação simples (154 pm). Ou seja, esse comportamento não pode ser explicado
usando apenas as estruturas de Lewis, nesse caso precisa-se levar em
consideração as diferentes sobreposições dos orbitais sigma (para a ligação
simples) e pi (para a ligação dupla).

As energias relativas das ligações são importantes para compreender a


transformação da matéria. Ou seja, ao fornecer energia suficiente essa ligação

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pode ser quebrada e uma nova ligação ser formada, e dessa forma realizamos
a transformação da matéria! Então, podemos dizer de uma maneira geral que a
ligação covalente é uma força ou interação intramolecular. Vamos passar
agora para um outro tipo de interação.

Você já parou para pensar porque temos compostos covalentes nos três
estados da matéria? Se existisse apenas as ligações covalentes (forças
intramoleculares), todas as substâncias ligadas covalentemente seriam gasosas,
certo? Mas sabemos que isso não é o que de fato ocorre. De fato, existe uma
força que atua entre essas moléculas chamadas de forças ou interações
intermoleculares. Diferentes pontos de fusão e ebulição, tensão superficial,
capilaridade entre outros, de diversas substâncias podem ser explicados com
base nas interações intermoleculares. Por exemplo, quando uma substância
funde ou entra em ebulição, forças intermoleculares são quebradas, não as
ligações covalentes. Alguns desses experimentos você verá na aula prática
dessa e/ou da próxima semana

As forças intermoleculares são muito mais fracas do que as forças


intramoleculares, por exemplo, 16 kJ mol-1 versus 431 kJ mol-1 para o HCl. A
molécula de HCl é uma molécula polar com carga parcial negativa no átomo de
Cl e carga parcial positiva no átomo de H e, portanto, forma-se um dipolo elétrico.
Dessa forma, a carga parcial negativa de um átomo de Cl de uma molécula é
atraída pela carga parcial positiva do H de outra molécula vizinha e repelida pela
carga parcial negativa. A interação entre esses dipolos é chamada de interação
dipolo-dipolo.

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Fonte: Química: ciência central; Eugene H. Lemay e Theodore L. Brown; 2005, Prentice Hall
Brasil.

Vamos agora retomar o exemplo do CH4 e do CH3Cl discutido


anteriormente. A geometria é tetraédrica nos dois casos, mas a resultante do
momento de dipolo será diferente de zero, apenas na molécula de CH 3Cl. Dessa
forma, a interação entre essas moléculas será dipolo-dipolo mas para a molécula
de metano, que é apolar, a interação intermolecular predominante será a dipolo
induzido-dipolo induzido também chamada de interação de London. Portanto,
temos que ter em mente as geometrias das moléculas, e os conceitos de
eletronegatividade e polaridade de ligação para predizer qual a interação
intermolecular da espécie analisada. A energia das interações de London
depende da polarizabilidade das moléculas, ou seja, da facilidade de deformação
das nuvens eletrônicas. Em geral, moléculas muito polarizáveis são aquelas em
que os átomos são bastante volumosos. Como exemplo de um aumento da
polarizabilidade tem-se os halogênios: F2 e Cl2 são gases, Br2 é um líquido e I2
é sólido. Ou seja, conforme descemos o grupo dos halogênios, ocorre um
aumento da quantidade de elétrons, logo a polarizabilidade aumenta e podemos
dizer que as interações de London aumentam. Você consegue pensar em outra
classe de substâncias em que observamos o mesmo perfil de comportamento?

As interações de London estão presentes em todas as moléculas


independentemente da identidade química. No entanto, existe uma interação
intermolecular, que é muito forte, que é específica para moléculas que contém

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certos átomos. Estamos falando da Ligação de Hidrogênio, a atração
intermolecular na qual um átomo de hidrogênio ligado a um átomo pequeno e
altamente eletronegativo, mas especificamente N (nitrogênio), O (oxigênio) ou F
(flúor), é atraído pelo par de elétrons isolado de outo átomo de N, O ou F de outra
molécula.

Fonte: Química: ciência central; Eugene H. Lemay e Theodore L. Brown; 2005, Prentice Hall
Brasil.

Os tipos diferentes de interações estão resumidos na tabela a seguir:

As interações do tipo íon-íon (ligação iônica) e íon-dipolo (hidratação de


um íon) NÃO são forças intermoleculares, porém, foram adicionadas na Tabela
para comparar as energias de cada uma. Uma interação íon-dipolo é o resultado

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da hidratação, por exemplo, em que se tem a interação entre íons (positivo e
negativo) e as cargas parciais da molécula polar de água.

O fluxograma a seguir mostra uma forma fácil de predizer os tipos das


diferentes de interações e alguns exemplos.

Tudo isso, vocês estudaram na disciplina de Estrutura da Matéria, certo?


Logo, para melhor aproveitar esse texto e o vídeos disponibilizados nesse tópico,
e saber mais sobre o assunto, sugerimos a leitura dos livros a seguir disponíveis
em “minha biblioteca” no SIGAA:

 J. C. Kotz, P. Treichel Jr, Química Geral e Reações Químicas, Vol. 1,


Capítulos 7, 8, 9 e 11, 9ª edição, São Paulo, Thomson Pioneira, 2015
e/ou,
 Peter Atkins, Loretta Jones e Leroy Laverman, Princípios de Química,
Questionando a vida e o meio ambiente, Foco 2 (As moléculas) e Foco 3
(Os estados da matéria), 7ª edição, Porto Alegre, Bookman, 2018.

E/ou assistir aos vídeos complementares:

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Como os átomos se ligam: https://ed.ted.com/lessons/how-atoms-bond-george-
zaidan-and-charles-morton (ativar tradução automática).

Ligação iônica: https://www.youtube.com/watch?v=6tfcW1mQS_U&t=436s

Ligação covalente: https://www.youtube.com/watch?v=ckje00kOLwA&t=69s

Polaridade das moléculas:


https://www.youtube.com/watch?v=LuK5V7_qN9Q&t=59s

Geometria Molecular: https://www.youtube.com/watch?v=pJ62IoMsA6Y&t=127s

Teoria da Ligação de Valência (TLV):


https://www.youtube.com/watch?v=GOTtS4PN9ug&t=37s

Interações intermoleculares: https://www.youtube.com/watch?v=xSAlDzPGXgA

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