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4. POLÍTICAS DE INCENTIVOS E FINANCIAMENTO PARA TECNOLOGIA


E INOVAÇÃO

4.1. Introdução

Para impulsionar a tecnologia e a inovação, governos e instituições implementam


políticas de incentivos e financiamento. O objetivo dessas políticas é promover a
pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, além de facilitar sua aplicação no
mercado. Elas incluem benefícios fiscais, como isenção de impostos para empresas
inovadoras, financiamento específico para projetos de pesquisa e desenvolvimento,
parcerias entre setor público e privado e apoio à criação de ecossistemas de inovação.
Essas medidas buscam estimular o investimento em inovação, melhorar a
competitividade das empresas e impulsionar o desenvolvimento econômico.

No Brasil, também temos esse tipo de política. Nos últimos anos, o governo brasileiro
tem se dedicado a fortalecer o Sistema Nacional de Inovação (SNI) e apoiar a ciência,
tecnologia e inovação (CTI) no país. Isso envolve fortalecer instituições de pesquisa
públicas, formar pesquisadores e financiar pesquisas e inovações por meio de
instituições como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)
e a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Além disso, foram criados programas de financiamento, como o PSI (Programa de


Sustentação do Investimento) e o Inova Empresa, e políticas e regulamentações para
incentivar atividades de inovação, como a Lei de Inovação e o FNDCT (Fundo Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Os resultados e potencialidades dessas
iniciativas governamentais para promover a inovação no país são avaliados no contexto
do SNI.

No entanto, é importante mencionar que o Brasil ainda está muito atrás de países com
sistemas de inovação mais avançados, como os Estados Unidos e alguns países da
União Europeia. Por exemplo, em termos de investimento em pesquisa e
desenvolvimento em relação ao PIB, a diferença é grande, com os investimentos
privados nos EUA sendo de 3 a 4 vezes maiores do que no Brasil.

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Os autores das referências mencionadas neste conteúdo fazem uma retrospectiva das
abordagens e instrumentos de apoio ao empreendedorismo inovador em nível
internacional e discutem o papel do governo e das iniciativas de investimento conjunto
público e privado na criação de ambientes inovadores. Eles também mencionam os
desafios relacionados à legislação e regulamentação, que precisam ser superados para
fortalecer o investimento e o crescimento de startups no Brasil. Além disso, destacam a
importância de incentivos fiscais, o perfil das empresas inovadoras, o papel dos serviços
tecnológicos na inovação, o desenvolvimento econômico e o bem-estar social.

4.2. Por uma nova geração de políticas de inovação no Brasil

4.2.1. Contexto atual

Há, basicamente, 2 elementos essenciais do sistema de inovação brasileiro: A


infraestrutura de pesquisa disponível no país e as políticas de apoio ao processo de
inovação.

Quando falamos em infraestrutura, devemos pensar no que é necessário à criação de


novos produtos ou processos. Para tanto, é importante conhecermos os diferentes níveis
de pesquisa, ou seja, básica, aplicada, desenvolvimento e engenharia, além de ensaios
e testes para a introdução das inovações no mercado. Até mesmo inovações simples,
como a adaptação de um produto ao mercado local ou a introdução de uma nova
máquina no processo produtivo, exigem algum grau de serviços de engenharia ou
realização de ensaios e testes. Por outro lado, inovações mais sofisticadas,
frequentemente, exigem intensa pesquisa e desenvolvimento de protótipos e produtos.

Portanto, é fundamental ter uma infraestrutura, principalmente, laboratorial que seja


capaz de realizar desde a pesquisa básica até o desenvolvimento e engenharia de
produtos e processos, bem como os ensaios e testes necessários. Países com sistemas
de inovação avançados possuem uma base científica desenvolvida e instituições
capazes de criar conhecimento de ponta e desenvolver novos produtos e processos.

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O segundo elemento fundamental dos sistemas de inovação são as políticas públicas


que apoiam esse processo. A ciência e a tecnologia são áreas em que a presença do
Estado no fomento às atividades inovadoras é justificada pelos retornos sociais
superiores aos custos privados e pelas externalidades presentes. Nesse sentido, as
políticas públicas devem incentivar atividades socialmente relevantes e fornecer
incentivos adequados aos agentes econômicos, incluindo pesquisadores e instituições
de pesquisa. Esses incentivos podem direcionar ou não para mais inovação e podem
sinalizar qual tipo de inovação a sociedade deseja em determinado momento.

4.2.1.1. Infraestrutura de pesquisa

No contexto brasileiro, existem desafios em relação à infraestrutura de pesquisa. Apesar


do crescimento nos investimentos nas últimas décadas, muitos laboratórios ainda estão
distantes das melhores infraestruturas internacionais. Os recursos para financiar essas
instalações geralmente vêm do orçamento das instituições, mas agências públicas de
fomento e empresas privadas, como a Petrobras, também desempenham um papel
significativo. No entanto, a dependência excessiva dos recursos da Petrobras apresenta
desafios adicionais, especialmente em momentos de crise no setor de óleo e gás.

Contrariando o mito da baixa conexão entre a academia e o setor produtivo, o


levantamento realizado mostra que há uma conexão significativa, especialmente com a
participação da Petrobras e outras empresas privadas no financiamento da pesquisa.
Cerca de 7% das receitas de pesquisa e projetos dos laboratórios são provenientes de
empresas privadas e 41% das instalações de pesquisa prestam serviços às empresas.

Em resumo, a infraestrutura de pesquisa e as políticas públicas de apoio à inovação são


elementos essenciais do sistema de inovação brasileiro. O desenvolvimento de uma
infraestrutura laboratorial adequada e a implementação de políticas que incentivem a
pesquisa e os agentes econômicos são fundamentais para impulsionar a inovação no
país.

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4.2.1.2. Políticas de suporte à inovação no Brasil

Nos últimos anos, o Brasil implementou várias medidas para fortalecer sua capacidade
de inovação. Essas medidas incluem incentivos financeiros diretos, crédito, benefícios
fiscais e regulamentações. Foram criadas leis, como a Lei de Inovação e a Lei do Bem,
que estimularam a cooperação entre universidades, institutos de pesquisa e empresas
privadas, além de subsidiar investimentos em pesquisa e inovação em empresas
privadas. As políticas industriais, como a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio
Exterior (Pitce), a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e o Plano Brasil Maior
(PBM), também foram implementadas para promover a inovação. O Brasil adotou uma
variedade de instrumentos de apoio à inovação, como crédito subsidiado, incentivos
fiscais e subvenções para empresas e projetos de pesquisa.

As principais fontes de recursos para apoiar a inovação e a pesquisa e desenvolvimento


(P&D) no Brasil são os incentivos fiscais, o crédito público para inovação e os
investimentos públicos em ciência e tecnologia (C&T). Os incentivos fiscais, como os
previstos na Lei do Bem e na Lei de Informática, chegaram a cerca de R$ 6,4 bilhões em
2012. O crédito para inovação, operado pela Finep e pelo BNDES, teve um crescimento
significativo nos últimos anos. Em 2014, a Finep contratou R$ 8,7 bilhões em crédito para
inovação, enquanto o BNDES desembolsou pouco mais de R$ 3 bilhões. O governo
brasileiro também investiu diretamente cerca de R$ 40 bilhões em C&T em 2012, sendo
aproximadamente 40% desse valor destinado à manutenção de cursos e instituições de
pós-graduação.

No entanto, os resultados dessas políticas de inovação ainda estão sendo avaliados.


Alguns estudos indicam que os incentivos fiscais foram ineficazes em promover a
inovação, enquanto o impacto do crédito para inovação ainda não foi amplamente
analisado. Embora o Brasil tenha adotado várias políticas e instrumentos de apoio à
inovação, é necessário avaliar sua eficácia e fazer ajustes para melhorar seu impacto. É
importante continuar promovendo a cooperação entre os setores público e privado,
fortalecer o investimento em P&D e criar um ambiente propício à inovação para
impulsionar o desenvolvimento tecnológico e econômico do país.

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4.2.2. Requisitos para uma nova geração de políticas

A capacidade de incorporar, adaptar e produzir novas tecnologias é fundamental para


alavancar os ganhos de eficiência que impulsionam o crescimento econômico no longo
prazo. No entanto, apesar dos esforços recentes na implementação de um conjunto de
políticas de inovação relativamente bem desenhadas, os resultados têm sido modestos,
levantando a questão: por que isso tem acontecido?

Segundo vários autores, existem condições relacionadas à concorrência e ao ambiente


institucional que explicam essa situação. O baixo nível de competição na economia
brasileira, por exemplo, permite a sobrevivência de empresas e atividades ineficientes,
o que não incentiva uma ação mais efetiva por parte dos poderes públicos. Como
resultado, os esforços têm se concentrado em oferecer subsídios fiscais e de crédito em
vez de aplicar verdadeiros incentivos ao desenvolvimento da tecnologia e inovação no
país.

Outro fator que contribui para essa situação é a excessiva burocracia que afeta a
atividade econômica, prejudicando a agilidade e a eficiência da atuação pública. Isso
impacta tanto o desenvolvimento das empresas locais quanto a atração de empresas
internacionais capazes de competir com as empresas nacionais. Essa falta de
competitividade cria um ciclo de desenvolvimento estagnado, afetando até mesmo a
sobrevivência das empresas locais.

Autores do assunto ressaltam a importância de princípios que deveriam guiar uma nova
geração de políticas de inovação. Esses princípios incluem:

 reforço da base científica brasileira, para que ela seja capaz de produzir ciência de
fronteira e de competir em condições de igualdade om os melhores centros mundiais;

 reforço dessa base científica envolve a constituição de infraestrutura de pesquisa


com escala relevante, objetivos claros, multidisciplinares e orientados a resultados;

 dar sentido estratégico aos investimentos públicos em pesquisa e desenvolvimento


(P&D), que devem ser mais orientados a resultados. Parte significativa dos
investimentos públicos em P&D deveriam ter objetivos claros e relacionados aos
desafios do país;

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 aprimoramento do ambiente institucional que afeta a ciência e tecnologia (C&T) no


Brasil;

 investir na criação de grandes laboratórios e centros de pesquisa multiusuários com


capacidade de produzir ciência de classe mundial. Essas instituições poderiam ser
organizações sociais ou parcerias público-privadas capazes de ter flexibilidade e
agilidade operacional;

 estimular que laboratórios já existentes se tornem infraestruturas abertas e


multiusuário, com regras claras e transparência na utilização dos equipamentos;

 consolidar e acompanhar uma agenda de melhoria de ambiente de negócios,


identificando exatamente quais são as normas, regulamentos e a legislação que
poderiam ser modificados de modo a melhorar o ambiente institucional para
inovação;

 em conjunto com os órgãos de controle, construir um entendimento claro e


consensual sobre os limites e as possibilidades legais do gestor público no fomento
à inovação de forma que haja controle e eficiência, mas não se inviabilize o
progresso técnico;

 rever a legislação que rege a abertura e o fechamento de empresas, a fim de facilitar


e agilizar esse processo e estimular o empreendedorismo;

 definir políticas de valorização do conhecimento e desenvolvimento de cientistas e


pesquisadores;

 reduzir a burocracia associada à P&D, especialmente nas ciências da vida. A Lei da


Biodiversidade foi um avanço nesse sentido, mas necessita ser acompanhada e
modernizada com frequência;

 etc.

Essas são apenas algumas das diretrizes que devem guiar a nova geração de políticas
de inovação. É fundamental reconhecermos a importância da tecnologia e da inovação
para impulsionar o crescimento econômico e garantir a competitividade do país em um
cenário global cada vez mais dinâmico e acelerado.

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Somente por meio de um ambiente propício à inovação, com políticas efetivas, redução
de burocracia e estímulo ao empreendedorismo, será possível superar os obstáculos
que têm limitado os resultados alcançados até o momento. O investimento em ciência,
pesquisa e desenvolvimento tecnológico deve ser uma prioridade, buscando sempre a
excelência e a competição em igualdade com os melhores centros mundiais. Apenas
dessa forma o Brasil poderá aproveitar todo o potencial das novas tecnologias para
impulsionar seu crescimento econômico e promover o bem-estar da sociedade como um
todo.

Neste capítulo abordamos as políticas de incentivos e financiamento para


tecnologia e inovação. São mencionadas as diversas medidas adotadas pelo
governo brasileiro para fortalecer o Sistema Nacional de Inovação e apoiar a
ciência, tecnologia e inovação no país, como programas de financiamento,
leis de incentivo e parcerias público-privadas. No entanto, ressalta-se que o
Brasil ainda está atrás de outros países com sistemas de inovação mais
avançados. É destacada a importância da infraestrutura de pesquisa e das
políticas públicas de apoio à inovação, assim como os desafios relacionados
à burocracia e ao ambiente institucional. Por fim, são apresentados
requisitos para uma nova geração de políticas de inovação, como
fortalecimento da base científica, melhoria do ambiente institucional,
redução da burocracia e estímulo ao empreendedorismo.

Espero que tenha gostado!

Conto com a sua participação para desenvolvermos sempre o melhor material possível
e termos a chance de trocarmos conhecimentos, por isto, coloque no AVA suas dúvidas
e opiniões. Um abraço!

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CARSTENS, D.; FONSECA, E. Gestão da tecnologia e inovação. Curitiba:


Intersaberes, 2019.
TURCHI, L. M.; MORAIS, J.M. Políticas de apoio à inovação tecnológica no
Brasil: avanços recentes, limitações e propostas de ações. Brasília: ipea, 2017.

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