DAR A LUZ – Um Encontro com a Medicina

Ayurvédica.

Bertine Carlos Bezerra

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 Esse trabalho dedico para:
Margarete e Mônica, que me mostraram essa preciosidade –
medicina Ayurvédica.
À Odete amiga eterna.
Amanda e Beatriz, que sem elas não sairia esse trabalho.
E aos meus netos, que me fazem sonhar!
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Objetivo:
ANUNCIAÇÃO:
Ter tomado contato com a Ayurveda me trouxe um
reencantamento e a alegria de legitimação do viver da vida, da
importância do viver no coletivo e da certeza que somos parte da
natureza. Somos sementes cósmicas e como profissional de saúde sei
que tenho um privilégio de extrema importância no humano - um
espaço onde pode acontecer nossa humanidade. Viver é relacionar-se -
esse trabalho pretende ser uma reflexão desse Encontro!
Era uma vez ...
Trabalhar mudanças, hábitos, padrões estabelecidos ao longo da vida,
nos faz lembrar de William Blake:
“Homens foram feitos para alegria e afeição!
E quando disto tem boa noção,
Pelo mundo, seguros vão.”
Mas ... Como desenrolar esse fio de tramas, redes, memórias do que já
adquirimos como sujeito no dia a dia? Desenrolar esse fio de crenças
no que teríamos que mudar no dia a dia é uma tarefa difícil árdua рага
nós e para o outro que atendemos, mas... Entra algo aqui que faz toda
diferença - O Afeto!
Era uma vez ...
Afeto - que é vida – pulsão de vida – pulsão de morte – movimentos
que se entrelaçam como o fio de um tear.
Era uma vez ...
Trabalhar com a tentativa de redescobrir possibilidades de mudanças – O suor da vida no calor de irmãos
em nós e em quem atendemos: Magia
Redescobrir o sal que está na própria pele
Na memória
macia
No jogo do trabalho Redescobrir o gosto e o sabor da festa,
magia
Nas brincadeiras,

Na história de cada um, Gonzaguinha.

Na magia das relações.

E é isso a Ayurveda, um redescobrir a vida no tempo dos sentidos,
Nos contatos - e sobre tudo - mudança de consciência sobre o físico e espiritual.
viver, o que fazemos aqui, como fazemos e o que queremos SER –
Fazemos parte da natureza (das estações externas e internas) e seus
lembrando:
ciclos - de seus sabores e dissabores e do espiritual que habita todos
O futuro é uma possibilidade, e a Ayurveda pode nos ajudar. Por
nós.
quê?
Lembrando Ítalo Calvino:
Era uma vez...
“Redescobrir é: o primeiro ponto é ver as pessoas, umas como as
Porque nossa vida é uma troca de encontros no plano dos sentidos,
outras, e primeiro as faces da terra em toda sua diversidade de trajes e
logo com o coletivo da natureza - interna em cada um de nós e externa
de gestos, uns brancos e outros negros, uns em paz e outros em guerra,
no que vivemos na experiência do experienciado em cada um de nós.
uns chorando e outros sorrindo, uns são e outros enfermos, uns
Mergulhar na existência das mudanças, das descobertas exige: nascendo e outros morrendo” e aí redescobrir a possibilidade do gosto
da alegria, felicidade liberdade.
Leveza
A Ayurveda nos trás outro olhar na compreensão do que chamo
Alegria
de sair e voltar para a casa interna do qual não deveríamos ter saído.
Persistência e ...
“O SER humano é a única
Amor! criatura que tem vontade de olhar para o interior do outro”.
Como se fora brincadeira de roda
memória Haus Carona
Jogo do trabalho na dança das mãos
macias

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 Ayurveda faz parte de um sistema holístico de saúde surgido na
Índia. É um termo sânscrito em que AYU quer dizer “vida” e VEDA
“conhecimento”, logo podemos dizer que é o modo de viver diário da
vida para cada um de nós. Na Índia esse sistema de cura é praticado por
mais de cinco mil anos.
Ayurveda nos diz que somos seres microcósmicos num universo
imenso macrocósmico – Por isso somos interdependentes tanto do
macro como do micro - somos forças indivisíveis - sendo assim energia
e matéria e tudo que faz parte do indivíduo e sua consciência.
A Ayurveda nos lembra que somos parte da natureza, do cosmo e
por isso também impermanentes, sempre fluxo de movimento e
inesperado. Tudo surge, acaba, deixando sua forma, que é não ter
forma, sempre no fluxo do inesperado - mar, oceano, cachoeira, tudo
que não tem forma - sempre um renascer. Alguns órgãos nos lembram
isso – o trabalho do renascimento todo dia – solta e esvazia, nasce e
renasce – Intestino e aparelho urinário – solta e esvazia são exemplos
do que não nos pertence aquilo.
Em meu trabalho quando recebo cliente com muita ansiedade fica
claro o quanto aquele SER quer dar conta de tudo, do mundo – e a
medida é poder e saber que tem que voltar para casa interna, é aí que
reconhecemos a impermanência e é aí também que a espiritualidade se
faz presente e eu me reconheço.
Não é esquisito tudo isso? Só podemos nos ver por fora, mas
quase tudo acontece do lado de dentro?
À volta para casa da qual nunca deveríamos ter saído é
reconhecido pelo cuidar ayurvédico. Se somos parte da natureza o
reconhecimento deve vir pelo reconhecer que há tanta beleza de que
precisamos cuidar e trabalhar com a direção de que todos, todos
deveriam voltar a reconhecer esta volta à casa interna – as lágrimas
podem cair por algum motivo, e podem ser sinal de força e não de
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fraqueza. Pedir ajuda é se recusar a desistir. Descobrir que um abraço
pode demorar mais a acabar e nada supera a gentileza e a delicadeza, e
que permanecem tranquila por trás de todas as coisas. Quando nosso
coração dói, temos que acolhê-lo com carinho, amizade, compaixão e
dar tempo para que ele volte a despertar esperançoso e feliz, trazendo
a liberdade como uma expressão de desenvolvimento.
A Ayurveda me trouxe uma interação com o todo – somos
viajantes do tempo e temos que nos desenvolver com a assimilação e
aglutinação de um desenvolvimento total - físico, psíquico espiritual e
emocional através dessa viagem que só o conhecimento através dessa
inteireza de tantos saberes dessa casa interna/externa temos com a
Ayurveda.
Ayurveda é para além de um saber curativo – é sim um curar para
a vida e curar é poder se iluminar.
E era uma vez...
Ao tomar esse conhecimento é viver na pele as mudanças,
transformações que me ocorreram e me fizeram desejar conhecer mais.
Quando falo da casa interna e falo isso de um tempo para cá é que fui
legitimando essa percepção que só se deu após o contato com o
conhecimento mais apurado e direcionado da Ayurveda – que tudo
estava em mim, no meu SER, logo em cada um de nós – saúde/doença
é algo vivido indivisível – é um todo – a doença como sintoma, seria a
ausência de algo que deveria ter sido vivido, dito sem ser transformado
em “mau estar” – seria um desvio nessa casa interna que nos aprisiona
e que nos fixa fazendo na perda de conexão com a casa externa
perdendo nosso equilíbrio. Mas...
Era uma vez...
Somos pessoas vivas, temos também que sentir com o coração, e
enveredar por um caminho onde o de estar entre os humanos nos traga
um sentido. Devo afirmar que talvez a nossa honestidade a nós mesmos
mas também com o outro seja parte fundamental da corrente energética
vital de que somos feitos e interagimos.
A vida em si não pode ser vista como um problema a ser resolvido
a todo instante, mas sim a percepção de que a energia criativa que
emana da vida esta presente todo o instante sem limitações – cabe a nós
nos apoderarmos dessa compreensão. A Ayurveda nos traz isso – uma
compreensão do Um com o Outro:
No dormir – sonhar
Na alimentação
No prazer
No todo com a vida!
Era uma vez...
Quebrar hábito é muito difícil. A medida que conseguimos
perceber que tudo que nos apegamos nos levam ao sofrimento, que
nossas emoções e apegos materiais e negatividades, podemos também
perceber ainda que num primeiro momento sem tanta clareza e
sutilmente podemos perceber que há uma solução para a casa interna
(para dentro) – essa mudança está dentro de nós – mudamos nossos
padrões – sem precisarmos deixar nossos lares e familiares.
Todo processo que envolve dor física ou algum sofrimento fala
de desarmonia, conflito e indecisões. Sabemos também que todo
sintoma se instala pela ausência de uma palavra que não foi dita e aí
jogamos no corpo essa inquietação através do sintoma. Fazemos
inúmeras e incontáveis viagens – em nós, conosco, com e na natureza
sem nos darmos conta – e exige de nós honestidade e persistência em
cuidarmos de nós – aprender na verdade e de verdade a cuidar de nós,
pois os obstáculos são grandes e precisamos ultrapassa-los. O
desenvolvimento pode ser visto como um processo de expansão das
liberdades que as pessoas desfrutam e usufruir desse conhecimento
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exige que tenhamos convicção que nas liberdades humanas podemos
encontrar como exemplo: a liberdade com desenvolvimento ela não é
só individual ela para ser liberdade há de ser também pertencente ao
tecido social e também nesse sentido a Ayurveda nos coloca no
individual e nos da melhor a clareza que somos só uma tecedura
interligada.
E era uma vez...
Um sistema que traz em si vida e conhecimento – somos seres
micro e macro e fazemos parte da natureza e possuímos fluxos aos
quais são vinculados a natureza, e para entendermos e tentarmos
implementar tantas mudanças, precisamos nos orientar no corpo –
físico, mente, emoções – psiquismo.
Na base de todo escândalo produzido na comunidade científica,
pela micro física, está a ameaça de aniquilação da destruição clássica
entre sujeito e objeto, ou entre interno e externo, partícula ou onda,
matéria e energia. Para Erwin Schroedinger (um dos fundadores da
mecânica quântica) “O sujeito e o objeto são apenas um”.
Para citar outros saberes para a psicanálise isso não parece ser
nenhuma novidade, já que os conceitos de interno e externo, ou de
sujeito e objeto, são vistos por nós muito mais como noções a serem
conquistadas ao longo do nosso desenvolvimento emocional do que
como dados apriore.
Os cientistas estão nos dizendo que os objetos físicos
individuais que compõem nosso universo podem na realidade fazer
parte de uma totalidade indivisível ou inseparável, e que o mundo que
vemos é mais uma representação da realidade do que a realidade em si
mesma.
Afinal, nosso sujeito é o sujeito das representações e das redes
de crenças.
 Esses cientistas não estão falando de realidades abstratas ou
subjetivas, mas sim de realidades materiais. Parecem realmente estar
apontando para algo mais incomodo e mais difícil de aceitarmos, qual
seja o fato, que existe uma interpenetração tão grande entre o mundo
material e energético, ou entre o mundo visível e o mundo invisível,
que é quase com se fosse uma só e a mesma coisa expressas de modo
diferente. Ora como onda, ora como partícula. Depende do ponto de
vista. Depende do olho que vê. A física quântica nos informa que existe
uma realidade física que se comporta de modo paradoxal, onde o “isto”
também pode ser “aquilo”, e não mais “isto” ou “aquilo”.
Faz parte do modo não-dual de conhecimento a inclusão de
paradoxo nos quais os opostos não são mutuamente excludentes, mas
sim sobrepostos e circulares.
“Fiquem curvos e permanecerão
retos.
Fiquem vazios e permanecerão cheios.
Fiquem gastos e permanecerão
renovados.”
Palavras de Lao Tse.
Por isso o oriental se refere ao mundo real como só-
Brahmana, só-Cristo, só-Tao, só-Consciência.
Nas filosofias orientais de um modo geral, a Realidade, a
Consciência ou a Subjetividade Absoluta não pode ser pensada porque
é ela que está pensando; não pode ser olhada porque é ela que está
olhando e não pode ser conhecida porque é ela que está conhecendo.
Por reunir em si todos os opostos, ela É e Não-É, ela é TUDO e o
NADA, o CHEIO e o VAZIO. Ela é a Unidade de todas as coisas.
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Tanto a medicina quanto a psicanálise estão cheias de exemplos
de pacientes fisicamente doentes que, a partir de uma ressignificação
da doença e sua inclusão numa ordem compreensiva da casualidade,
cheias de sentido, alcançam não só uma sensível melhora de seu mau
como até mesmo a recuperação total. São chamadas de “curas
espontâneas” porque não houve nada do ponto de vista da lógica
medica que pudesse justificá-la. A medicina parece não encontrar
“sentido” para isso, e o paradoxo vivo, vai para o arquivo morto. Uma
grande contribuição vem da medicina holística, integrativa que abarca
vários saberes, sendo um deles a Ayurveda.
“Aqueles que seguem a ordem natural fluem na
corrente do Tao”
Palavras de Lao Tse.
A medicina Ayuvérdica compreende que a transformação e
a mudança são características essenciais da Natureza entendida como
manifestações da interação e equilíbrio dinâmicos entre polaridades de
opostos Yin e Yang. Nesta interação, cada pólo se acha dinamicamente
vinculado ao outro, pois fazem parte de uma mesma unidade, tal como
conceito de dia não tem sentido sem o conceito de noite.
Nada é apenas Yin ou apenas Yang, pois cada um contém e
convive com o germe do outro: “Ao entardecer, o galo anuncia a
madrugada; a meia noite, o sol brilhante”.
O conceito de mudança não esta vinculado a qualquer tipo
de força. É uma tendência inata em todas as coisas e situações, sendo
princípio ativo do Tao a espontaneidade.
Agir em harmonia com a natureza equivale, agir
espontaneamente em consonância com a natureza de cada indivíduo. É
confiar em sua inteligência intuitiva inata na mente humana, da mesma
forma que as leis da mudança são inatas a todas as coisas que lhe
cercam.
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 “A luz poderosa que for banida ressurge.
Há movimento, mais este não é gerado pela força...
O movimento é natural, surge espontaneamente.
Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil.”
I Ching.
A concepção das medicinas holísticas e aqui da Ayurvédica,
para descrever um órgão físico faz uso de uma complexa rede de
metáforas psicofísicas que nos remete a um sistema funcional dirigida
a todo universo: as estações, as cores, os sabores, os estados
emocionais, as influências atmosféricas, as relações sociais e políticas
e podendo ser melhor entendida na teoria dos cinco elementos ou cinco
movimentos – madeira, fogo, terra, metal e água, que representam
processos tanto do corpo quanto da psique.
Esses elementos obedecem a um movimento circular
contínuo dentro do qual um da origem e sustenta o seguinte
ininterruptamente, bem como mantém entre si uma articulação
dinâmica que permite na deficiência de um, ser socorrido pelo excesso
de outro, sempre dos princípios do Yin – Yang – centros energéticos
que comandam os fluxos energéticos – que chamamos de chakras.
Chakras – vem do sânscrito e significa “roda” ou
“redemoinho de força”. São sete os mais importantes: Chakra da Raiz,
do Sacro, da Coroa, do Umbigo, da Garganta, do Coração, da Fonte ou
da Testa. É do equilíbrio entre todos esses processos que depende a
saúde, não só física quanto mental.
Saúde, por sua vez, diz respeito a livre circulação da energia
por entre as diversas fases de um ciclo que compreende: nascimento,
morte, renascimentos contínuos e que em seu ápice, desapega-se da
ideia de um indivíduo Uno e separado do todo, para a ele fundir-se.
“Minha mente é um reino para mim,
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Tanto encontro nela do que me alegrar;
Que dádiva alguma que o mundo oferece
Pode às dela se comparar.
Embora eu queira o que muitos têm,
Minha mente proíbe-me desejar”
Autor desconhecido.
No que diz respeito à terapêutica em relação a tantas descobertas
e mudanças, chegamos a Ayurveda.
A Ayurveda abre as portas para a possibilidade, de
reconstruir o fio da vida, uma vez que guardamos dentro de nós, às
vezes por inteiro, detalhes intactos e implacáveis, mas como somos
seres privilegiados temos que conseguir manter ao mesmo tempo em
sua complexidade, a integração de todos os valores particulares num
valor fundamental único.
Quando nos submetemos à terapêutica ayurvédica abrimos a
possibilidades de mudanças para alegria, felicidade e liberdade.
Podemos pois somos passíveis de nos autogerirmos e também de
gerarmos partículas elementares de consciência e nos orientarmos
adequadamente para a cura de padrões mórbidos onde o sofrimento se
dá inicialmente nos campos sutis do indivíduo.
E era uma vez...
Meu pão de cada dia é acolher no sofrimento e tentar na
adversidade daquele que me chega a tentativa de juntos acharmos
através do caminhar com um coração uma possibilidade de mudança,
onde o cliente é o centro. Sofrimento é quebra na cadeia do afeto e se
somos senhores da vida e da morte – para a nossa sobrevivência
precisamos de afeto. O meu trabalho é na tentativa sempre de mostrar,
levantar inquietações e de dividi-las. Sim, se estamos tentando
mudanças todos devem ter responsabilidade nesta tentativa de
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mudanças, tanto o cliente quanto o terapeuta. Fazer novos contratos de
solidariedade, onde haja uma nova forma de agir. Tentar que os frágeis
e inseguros possam participar da vida como um todo. Um contrato onde
haja esperança, um contrato onde seja possível dar um sentido ao
sofrimento e onde possa renascer a alegria, a felicidade e a liberdade.
Trabalhar com o sofrimento às vezes dura alguns dias, às vezes se
arrastam longamente, às vezes duram anos, levando às vezes as pessoas
a perderem seus empregos, maridos e esposas, mas... Queremos uma
mudança onde o cliente seja o centro, e respaldado em seu sofrimento
haja possibilidade de compreender e dar sentido ao que lhe ocorreu.
Uma de nossas questões é dar cuidados e cuidar é amor. É
uma questão política e não técnica. Como dar cuidado? Em primeiro
lugar um Encontro com quem nos procura.
“A vida como encontro.
A vida é encontro.”
O trabalho que tentamos desenvolver, quando nos chega
alguém em sofrimento é sempre na tentativa de em primeiro lugar ver
quem é esse indivíduo que nos chega. É realmente dar a luz a um
encontro. Sabemos o quanto é difícil, uma vez que nós, seres humanos
por excelência somos seres da singularidade, mas também somos seres
por excelência plurais. É bom lembrar do que disse em um de seus
sermões Martin Luther King: “Antes de sairmos de casa pela manhã já
nos relacionamos com o mundo inteiro, somos seres inter-relacionais,
o pão que comemos é porque um francês um dia misturou alguns
ingredientes; o chá por chineses, o café por um sul americano, o
material da escova de dente por um Ilheu do Pacífico, o cacau por um
sul africano. Sim, nós inter-relacionamos com o mundo inteiro”. Somos
seres do plural. Enquanto seres humanos, somos coloridos, vibrantes e
que o melhor doce do mundo é o Outro e que se a vida do Outro me
diz respeito, haverá encontro. Nós só podemos dar aquilo que temos, e
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isso é um milagre - na verdade a grande magia é que cuidar é igual a
amar e se entendermos isso, iremos, compartilhar, dividir, acolher com
esse Outro toda essa atenção que é a melhor da solidariedade - posso
amar esse Outro com a mesma intensidade e ainda assim possuir toda
a energia amorosa – A. Schuwitzer dizia que “ Estamos todos sempre
juntos, mas estamos todos morrendo solitários”. Temos a obrigação de
não deixarmos isso acontecer.
Se viver é estar em movimento, essa ação deveria ser feita a
dois. Se encontro é parceria, que Outro é esse? É preciso que minha
prática enquanto Ser seja de um lugar onde haja a possibilidade de
criação – que possa permitir o encontro com esse Outro que chega em
sofrimento.
“A vida é insuportável
para quem não tem a mão um entusiasmo.”
Maurice Barres.
Lugar da Criação.
Lugar da criação – saúde é também ter a possibilidade de criar.
O criar é a ligação entre o mundo interno e externo – é preciso
deixar acontecer, pois haverá um momento que se estou atento,
solidário, presente, tocando somente o precioso momento com o outro,
sentindo com o meu coração e não com a minha cabeça – o mundo
subjetivo (que é traduzido pelos sintomas e sofrimentos) e o mundo
objetivo (relação com o outro) – deve ser criativo e o afeto deve fluir,
para ser realmente um espaço de criação. Esse espaço criativo é o lugar
do jogo, da poesia, dos contos de fadas e bruxas e da relação
transferencial. Esses espaços deveriam ser “lugares mágicos” deixando
fluir e exprimir criativamente as fantasias, seus sonhos, e seu
redescobrir – sua história, sua memória, sua magia, e redescobrir que
sua vida é encontro.
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 Afeto se reconhece ou não, se tem ou não, se dá ou não e para
isso depende do que se acha da vida, do mundo e dos outros. Não somos
soltos no mundo – pertencemos a um coletivo cujo conteúdo é um
produto da cultura, religião, raça, simbolismo, aportes jurídicos,
psicológicos, da ciência – ideias-ideologia.
Sentimento de pertencimento – respeito ao Outro através de
suas crenças, trabalhar com inúmeras redes de histórias, tentando
reinventar um sentido nesses encontros que, se não fosse o desejo não
seria possível ter tanta paixão.
Trabalho com várias ferramentas, e o que nos direciona é a
grande riqueza de possibilidades em lançarmos mão de várias
dinâmicas – ela nos move.
Lançamos mão em nosso trabalho de uma tradição de
narrativa oral – ouvir e ouvir e ressignificar as histórias, estórias que
ouvimos com a compreensão das noções de inconsciente – pulsão –
inscritas na multiplicidade da cultura para darmos algum sentido ao
sofrimento do Outro. Tentamos trabalhar com a lógica da diferença que
esta intimamente ligada á subjetividade, marcando um possível limite
entre vida e morte.
O que será que a Ayurveda trouxe de mudança e contribuição
para sermos mais alegres, termos mais sentimentos de felicidades e de
liberdade ?
“Seu sonho é saber tudo o que sabe,
E, contudo,
Não sabê-lo”.
Elias Canetti.
Trabalhar em saúde mental como psiquiatra e psicanalista, é
algo que me colocou no mundo da arte, porque o cliente chega com
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algo traduzido em sofrimento – e a arte é saber como curá-lo, e percebê-
lo – isto a medicina Ayurveda nos proporciona.
Alguém que nos chega com um motivo, uma queixa de
sofrimento, é preciso que fique claro que dar cuidados é ter sempre
presente que não conseguiremos modificar pessoa alguma, a não ser
que já tenhamos nos modificado e poder mostrar e dar ao Outro a
capacidade de na adversidade ver um traço fundamental de bom, pois
sobreviver é encontrar significado para o sofrimento - é dor, e às vezes
nos ensina algo a respeito da sobrevivência. Que significado daremos
juntos (o profissional e o cliente) a quem nos chega com sofrimento?
Temos que perder o medo, a angústia, e o desespero que às vezes
sentimos ao nos defrontarmos com alguns clientes. O que fazer? Não
podemos esquecer que somos amor – “quando me sento junto a alguém
sei que isso é alguma coisa, mesmo que eu não tenha ou veja no outro
nada de valioso – o fato em si é que é valioso – no silêncio eu posso
estar dizendo – compreendo a sua dor”.
Curar é amor, é dar condições a cada um de descobrir em seu
ser interno, ferramentas e energias para compor sua auto-transformação
e mudanças e cura, passando também pelo espiritual, levando o
profissional a ter essa visão diante de cada ser que recebe, a cada
indivíduo que lhe chega, como um encontro único e resultando se
possível ao acesso deste Ser a dimensão numinosa da existência.
O cliente nos chega com uma queixa, com sua história atual,
pesquisamos sua história passada, suas expectativas para o futuro, sua
história emocional, o que ele acha do mundo, da vida e sua
responsabilidade nesse mundo e na teia da vida. Dai é que se exige do
profissional conhecer bem a história do indivíduo, suas representações
de saúde, cura, doença e doente, doença e cura e tentamos lançar mão
da terapêutica ayurvédica.
Temos que lembrar sempre que o momento da prescrição é
de extremo cuidado, delicadeza e sabedoria e que para isso devemos
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saber onde na história do cliente estamos – quais seriam os sinais e Eles são metáforas que nos ajudam a compreender o
sintomas que servem como ponto de saída e de referência em nossa universo. Os 5 elementos representam as qualidade de energia que
prescrição. Fica mais claro a ideia de que a experiência do viver lida podemos reconhecer quando vivenciamos no dia a dia nas nossas
com o numérico Um – até sentir-se vital e vivo. próprias vidas (física, mental e emocional).
Trabalhamos então com o tempo, como lidar com o tempo
em sentido pleno.
Mudanças implementadas pela medicina Ayurveda que
OS CINCO ELEMENTOS E OS SEUS ATRIBUTOS
trabalha com:
(segundo a Anne McIntyre – A Bíblia do Ayurveda)
5 Elementos
Éter
As estações do corpo (criam os Doshas, Vata, Pitta e Kapha
O Éter significa espaço e possibilita a existência de todas as
que são responsáveis por todas as funções do corpo físico e
coisas, incluindo a comunicação entre uma parte e outra do corpo por
psicológico)
exemplo, os espaços sináptico, intracelular, e abdominal -, bem como
Chakras a autoexpressão.
Yoga Ar
Meditação e Contemplação O Ar é gasoso e possui qualidades aéreas. Ele é leve, límpido,
seco e dispersante. Ele governa todo movimento, toda direção e
Alimentação
mudança, despertando toda a criação para a vida. O ar está presente nos
Sono pulmões e no abdômen, por exemplo, e a qualidade de seu movimento
pode ser vista em todos os movimentos do corpo, particularmente nas
A Ayurveda afirma que tudo no universo é composto por
mensagens que ocorrem em todo o sistema nervoso.
energia. Energia essa que existe em 5 diferentes estados que chamamos
elementos. São: Fogo
Éter/ Espaço (Akasha) O Fogo possui a qualidade da luz e do calor. Ele é seco e tem
movimento ascendente. Governa a percepção e todas as transformações
Ar/ Movimento (Vayu)
no corpo. É responsável pela temperatura e pela cor do corpo, pelo
Fogo/ Energia radiante (Teja) brilho do rosto e do cabelo, pela luz nos olhos.
Água/ Fator coesivo (Jala) Água
Terra/ Massa (Prithvi)

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 A Água é liquidez ou movimento fluente, que confere VA- significa soprar, dirigir, mover ou comandar.
coesividade e mantém tudo unido. Ela é fria e flui para baixo, e não tem
Vata é a nossa força vital e é derivada principalmente da
uma forma própria. Está presente em todos os fluidos do corpo, entre
RESPIRAÇÃO!
eles o sangue, a urina, as fezes, a saliva e o muco.
Pitta
Terra
Combinação dos elementos Fogo e Água
A Terra é matéria, solidez e estabilidade. Ela é pesada e dura
e confere forma e substância ao corpo. Está presente na estrutura física Pitta significa cozimento, aquecer ou transformar – é
do corpo: órgãos, músculos e ossos, pés e tendões. responsável por todas as conversões químicas e metabólicas do corpo
– criam energia e calor – os processos de Pitta envolvem a digestão
É dos 5 elementos que derivam 3 forças vitais ou humores
incluindo o que chamamos de “cozimento” dos pensamentos que se
que chamamos de Doshas (Vita, Pitta e Kapha) que são responsáveis
transformam em teorias da mente.
por todas as funções do corpo físico e psicológico.
PITTA = Digestão!
Os Doshas são criados da seguinte maneira:
Kapha
O Éter e o Ar criam o princípio do ar, Vata.
O Fogo e a Água produzem o princípio do fogo, Pitta. É uma combinação de Terra e Água, é o principio da energia
A Terra e a Água produzem o princípio da água, Kapha. potencial, do crescimento e da proteção.
O ciclo da existência humana ocorre pela relação entre esses
Segundo a autora citada, nascemos com um equilíbrio
doshas. A vida é movimento, respiração, cozimento, digestão,
particular dos doshas, o qual cria nossa constituição que permanece
crescimento e proteção. É da comunhão entre eles em suas diferentes
inalterada a vida inteira. Logo a nossa constituição (Prakruti) é
etapas das estações do corpo, mente, e emocional que também
determinada quando somos concebidos e depende da condição dos
percebemos espiritualmente a vida.
nossos pais, do equilíbrio do casal parental e claro do equilíbrio do
estado mental deles no momento da concepção do Karma de cada um. O terapeuta ayurvédico (vaidya) deve estar familiarizado
com esses atributos no plano mental: Sativa, Rajas e Tamas.
Sabemos então que para estamos vivos precisamos dos 3
Doshas e dos 5 Elementos. Por toda a vida haverá interação entre o ambiente interno e
externo que são governados pelas forças cósmicas e pelo principio de
Saúde seria o equilíbrio deles, e a doença o desequilíbrio.
Vata, Pitta e Khapa.
Vata
Cura seria para a Ayurveda criação de equilíbrio das forças
Combinação dos elementos Éter e Ar internas através de alimentação e nos hábitos de vida, levando as

Vata significa “vento” é principio do movimento.

21 22
mudanças do seu ambiente externo. Na Ayurveda o primeiro requisito
para curar a si mesmo e ao próximo é ter uma compreensão dos doshas.
“Se os teus olhos forem bons, todo o seu corpo terá luz”.
Matheus 6,22
“Tudo que vemos são nossas visualizações. Não vemos com os olhos,
mas sim com a alma”.
Autor desconhecido.
Aquilo dentro de nós que procura saber e progredir não
é a mente, mas algo por trás dela, que a utiliza.
Sri Aurobindo
MEDITAÇÃO
Como umas das ferramentas da Ayurveda a Meditação é
também um fim e também um meio.
Oh, Generoso, que seja Tua cabeça uma casca vazia na
qual
Tua mente brinque indefinidamente.
Antigo provérbio sânscrito
Meditação é remediar algo. Meditação seria o exercício mais
proveitoso para fortalecer a 3ª visão. Quanto mais praticamos mais
poderosas serão a criação de nossas mentes. Quando conseguimos
transforma-la em habito ela se desenvolve naturalmente.
E ERA UMA VEZ...
Como já foi dito o encantamento pela Ayurveda veio pela
constatação de que o homem é visto como um sistema natural, faz parte
da natureza e portanto é parte integrante desse todo natural. Na Índia
23
faz parte da cultura o respeito as plantas e aos animais – compaixão. A
floresta é sagrada e com poderes espirituais e fazemos parte desse todo.
A compreensão da Ayurveda nos faz realizar uma grande
viagem através da vida no nosso mundo interno e externo. Começa com
o universo que se compõe de idas giratórias de energia.
E ERA UMA VEZ ... A RODA DA VIDA GIRA!!
Flores, árvores, plantas e também pessoas se formam e se
compõem de minúsculas rodas que giram no interior e que para espanto
nosso giram na grande roda da terra, que gira pelo espaço. Essa roda é
o círculo da vida, que flui por toda nossa existência .
E a roda gira ...
Nós somos um círculo dentro de um outro círculo...
Que não tem começo e nunca tem fim.
(extraído de uma canção de Rick Hamouris).
ESTAR ENFIM EM CASA
“O nirvana em minha consciência liberada revelou-se o
inicio da minha Iluminação, o primeiro passo na direção da coisa
completa, e não a única verdadeira conquista possível ou mesmo
um final culminante”.
Sri Aurobindo
Volta à casa se conseguimos perceber que nosso “mestre” é
o nosso coração – é dar ouvido ao nosso coração interno.
Mudar exige confiança, em nós mesmo, comece ouvindo seu
coração. Dê ouvidos aos seus sentimentos. Escute seu coração – seu
pulsar. Se nossos corações estão abertos, toda existência parece natural,
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bela, bela e harmoniosa. Reparando o que esta acontecendo em nossos
corações, isso sim é a verdade de nossas próprias vidas.
À medida que vivenciamos esse nível mais profundo de
meditação, descobrimos que a natureza da mente é meditação, e
isso , por si só, é a experiência iluminada.
Tarthang Tulku
“Eu: uma ficção de que, ao final somos co-autores”
Imre Kertész
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BIBLIOGRAFIA:
Tulku, Tarthang – Gestos de Equilíbrio.
Lad, Dr Vasant – Ayurveda – A Ciência da Autocura - Um guia
prático.
Frawley, Dr David – Uma Visão Ayurvédica da Mente.
Judith, Anodea – Rodas da Vida.
Bezerra, Drª Bertine Carlos – Dar à Luz – Um encontro com o outro
(Tese apresentada em formação de medicina transpessoal).
Calasso, Roberto – O Ardor.
Ninivaggi, Dr Frank John – Saúde Integral com Medicina
Ayurvédica.
Winnicott, Donald – Tudo Começa em Casa.
Kertész, Imre – Eu, Um Outro.
Crema Roberto – O Poder do Encontro.
Coccia Emanuelle – A Vida Sensível.
Ranal Marli Aparecida – Passageiro do Tempo, Viajante do Universo.
Sen Amartya – Desenvolvimento como Liberdade.
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