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E afirmo: é necessário prescindir deste homem-mundo!

Este que é feito da vontade de todo o conhecimento;


Este que quer abranger a incompreensível extensão do sentimento.
Este que escreve, reside e se advinha,
não a toda hora, mas em poucos momentos.
Homem-mundo,
sentimento impossível que, contudo, me é oriundo.
Feito de carne e pensamento, só alcança a beira da extensão
Queria conhecer sua incognoscível grandeza,
satisfazer o sentimento messiânico
que arde ao ter mais duma razão,
mas, é tudo, demasiado profundo
Tudo, demasiada incerteza
Ao procurar respostas, só encontro mais perguntas
nas quais furiosamente afundo.
Desde quando altruísmo é a solução à inevitável decadência do mundo?
Não me deram braços largos o bastante,
para abraçar a perfídia do homem.
Assim, retomo meu prumo,
pois no estomago não cabe o castigo da fome.
Devenho singularmente sozinho,
e de mim somente preencho meu abdome.
Se não tenho uma resposta para tocar a profundez da extensão,
me torno primeiramente homem
e abandono o sentimento do mundo.
Nunca encontrarei a resposta da pergunta,
se eu faço parte da questão.
Deixo meus passos na terra, pois ela também me pisa
Sou só um homem no mundo
E sua circunferência não cabe neste efêmero coração

Sou feito de amores inalcançáveis, entende? Não, claro... e como se poderia entender? Não
são coisas que se explicam; pior, que se deveriam até dizer, pior, conjecturar! Surge a
frustração de não o deter (o amor), é inevitável, toda vez que percebo sua feição. Me persegue
a alma nos almejos, nos sonhos, nas reflexões e, agora, até mesmo nas letras, e te evito! Ai,
como te evito; as velo, sim, se eu as velo; por quê? Pois diga-me, mas diga-me! Advinha-me,
do mesmo modo que eu tento adivinhar como poderia lhe confessar o incompreensível? Não é
que amo, pois não amo ninguém, mas tenho em mim a urgência de tentar amar, a urgência do
amor; e como você compreenderia esta aflição? Se faz necessária a tentativa para viver, pois é
a tentação que impele a percorrer: Não que se lhe corresponda (a esta necessidade), nem
mesmo que se saiba, mas que se imagine, que se suponha, e que, de certa maneira, se sinta...
caso se sente, percebe, ou supõe, este meu desejo, saberia porque, quanto mais se é próximo,
mais se revela. E que desejo? Aquele de amar, e este, que existe por diversas razões, mas
como hei de racionalizar o que deturpa a lógica? E deveria? Desde quando precisamos explicar
o que nos move? Contudo é o que tento tolamente fazer... Amo, a despeito das
consequências, pois as consequências de me abster são piores de que suas garras, e como isto
se poderia entender? Para que em mim não persista a desistência, para que não afunde no
tedio da vida, ou me martirize na descrença – recorro ao amor, nesta estupida maneira que me
foi concedida de compreende-lo, e o atuo, feito o estupido que sou, nas fantasias principescas,
onde os corpos se encontram; e deste modo não morro, antes, me socorro. Entende? Claro
que não! Obvio que não! Como, digo, como pode residir em ti a indefensável necessidade de
me compreender, e em mim a inútil tentativa de me explicar; se isto, isto tudo, não é algo que
se define pelos dicionários, ou se encontra nos argumentos, que se mede, ou se abrange nos
números, ou se descreve pelas letras; como poderia compreender? Não se compreende. É
daquelas malditas coisas que não se escrevem, e quem as apostrofa, não suspende o
sentimento, pois na letra não cabe, pelo contrário, as inferniza, as exaspera, as entumece,
porque excede, e se excede, continuamente, em quem as testifica.........

Um pequeno pirata
Confesso-lhes que, durante este admirável marejo que se espraia
aqui, encontrei-me adiante
E que se há uma forma que possa definir o marulho que estou a
ouvir, é imensidão
Julgo, que no entrementes de toda a viagem não me trovei além
dum parecer pequeno
E que tais versos, não definiram a vastidão donde os escrevia,
mas do ínfimo interno
Quando imagino, pois, onde navego, me decorre amiúde o espanto
de ser assaz miúdo
Porém ao encontrar na minha posse tanto vela quanto remo,
compacto com a maior das loucuras
Enlouqueço, deveras, ao desbravar pelas ondas, me pintando de
pirata, quem dirá argonauta
Se há uma direção, é ao dessaber inata, e meu sulcar, se faz tão
maravilhoso quanto vão
DRAGÕES

Os dragões são enormes! Tendes ouvido bem: enormes! É que os inflige esta megalomania de
ser grandes... assim se engrandecem. Mas não é que se inventem, são deveras majestosos. É
que não encontram espaço na calmaria e prendem com o encanto que se advinha em seu
despretensioso e orgulhosíssimo olhar. Não se curvam as suas decisões, antes contam as
escamas da sua cauda. Sua língua é um pesado machado que corta todas as fibras, e não há
musculo que lhe se oponha. Suas asas, que os cobrem feito mantos, são a clara comprovação
de que hão de voar, e não existem correntes que as detenham. Não conhecem o paraíso, pois
não lhe interessa, visto que combustam o inferno em suas entranhas. Ouvi falar que gostam de
jazz. Mas eis que me perguntas, ó, o que há com todas estas metáforas? Oras, o que são estes
seres que se aprumam até nas literaturas? Não sei, e, ao certo, tu não sabes também, mas já
viste, não é? Claro que viste, e com certeza o reconheceste. Foste dominado pelo desejo de
detê-lo também, quando ao encontrar seus olhos sentiu todo seu orgulho. Ao lhe mostrar tua
decisão, se deparou com todo seu desinteresse; e quando retalhou, com tua pouca força, sua
língua te talhou a alma. Sentiu o frescor do paraíso quando cavalgou sua potência e em
seguida queimou-se ao querer entremear no seu inferno. Tolo é o ser que queira dominar um
dragão. Poderias considera-los vis, mas lhes custa a si mesmo pesar, e poderia encarcera-los
em seus antropomorfismos, mas haveriam de voar de suas conclusões. Por que, perguntas?
Oras, homem, são dragões!

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