Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
“O Legado do Blues e o
Feminismo Negro” de Angela
Davis
A seguir está traduzido a introdução do livro “Blues Legacy and Black
Feminism” (O Legado do Blues e o Feminismo Negro em tradução livre) de
Angela Davis, publicado originalmente em inglês, em 1998, pela Vintage Books,
ainda sem publicação em português. Tradução de Andrey Santiago.
https://traduagindo.com/2019/07/31/o-legado-do-blues-e-o-feminismo-negro-de-angela-davis/ 2/20
01/12/2023, 15:42 “O Legado do Blues e o Feminismo Negro” de Angela Davis – TraduAgindo
https://traduagindo.com/2019/07/31/o-legado-do-blues-e-o-feminismo-negro-de-angela-davis/ 3/20
01/12/2023, 15:42 “O Legado do Blues e o Feminismo Negro” de Angela Davis – TraduAgindo
conhecidas puderam ser ouvidas durante a década de 1920, não apenas nos
cinemas, teatros e clubes, mas também em produtoras como Paramount e
Columbia – ambos lançaram campanhas de “músicas de raça” – e Black Swan,
a única gravadora de propriedade negra do período. No auge da era clássica do
blues, que vagamente durou a década de vinte, centenas de mulheres tiveram a
oportunidade de gravar seus trabalhos.
https://traduagindo.com/2019/07/31/o-legado-do-blues-e-o-feminismo-negro-de-angela-davis/ 6/20
01/12/2023, 15:42 “O Legado do Blues e o Feminismo Negro” de Angela Davis – TraduAgindo
https://traduagindo.com/2019/07/31/o-legado-do-blues-e-o-feminismo-negro-de-angela-davis/ 7/20
01/12/2023, 15:42 “O Legado do Blues e o Feminismo Negro” de Angela Davis – TraduAgindo
Estas foram algumas das escritoras de cor que ajudaram a moldar minha
consciência de gênero, cujas obras despertaram minha curiosidade sobre as
figuras que inspiraram personagens tão maravilhosamente irreverentes e
tocantes. Eu me perguntava como essas “antepassadas” poderiam diferir das
mulheres negras que estávamos começando a reivindicar como ancestrais nas
lutas de gênero que encontramos quando montamos nossa oposição radical ao
racismo. O que podemos aprender com mulheres como Gertrude “Ma” Rainey,
Bessie Smith e Billie Holiday que talvez não possamos aprender com Ida B.
Wells, Anna Julia Cooper e Mary Church Terrell? Se começássemos a apreciar as
blasfêmias [4] das mulheres de blues ficcionalizadas – especialmente suas
políticas ultrajantes de sexualidade – e o conhecimento que poderia ser
extraído de suas vidas sobre as possibilidades de transformar as relações de
gênero dentro das comunidades negras, talvez pudéssemos nos beneficiar de
uma olhada nas contribuições artísticas das mulheres originais do blues.
My daddy leaves me ‘most every day Meu papai me abandona quase todo dia
But he don’t mean me no good, why? Mas ele não tem nenhuma intenção
ruim a mim, porque?
Because I only wish he would
Porque eu apenas queria que ele tivesse
https://traduagindo.com/2019/07/31/o-legado-do-blues-e-o-feminismo-negro-de-angela-davis/ 9/20
01/12/2023, 15:42 “O Legado do Blues e o Feminismo Negro” de Angela Davis – TraduAgindo
I’m forever tryin’ to call his name Estou pra sempre tentando chamar seu
nome
Oh, papa, think when you away from
home Oh, pai, pense quando estiver longe de
casa
You just don’t want me now, wait and
see Voce só não me quer agora, espere e
veja
You’ll find some other man makin’ love
to me, now Voce irá achar outro homem que irá
fazer amor comigo, agora
Papa, papa, you ain’t got no mama now.
[6] Pai, pai, você não tem nenhuma mãe
A música de Bessie Smith se chama “Oh Daddy Blues” e essa são os seus
primeiros e últimos versos:
Just like a flower I’m fading away Como uma flor estou desparecendo
The doctor calls to see me most every O doutor me chama para me ver quase
day todo dia
But he don’t do me no good Why? Mas ele não me faz nenhum bem,
porque?
Because I’m lonesome for you
Porque eu estou solitária por você
And if you care for me, then you will
listen to my plea E se você liga para mim, então escutará
meu apelo
Oh, daddy, think when you all alone
Oh, pai, pense quando estiver
totalmente sozinho
You know that you are getting old
Then, daddy, daddy, you won’t have no Voce vai sentir falta do jeito que eu
mama at all. cozinhava seu rocambole
Quer ouçamos essas músicas hoje principalmente por prazer ou para fins de
pesquisa – o que não é sugerir que o prazer não tem suas dimensões críticas ou
que a pesquisa não tem seus prazeres – há muito a ser aprendido em seus
corpos de trabalho sobre expressões cotidianas da consciência feminista. Essas
expressões cotidianas da consciência feminista são o que tento acentuar neste
livro. Nesse sentido, meu estudo é muito menos ambicioso do que um trabalho
como Black Pearls (Pérolas Negras), de Daphne Duval Harrison. Enquanto a
bela investigação de Harrison retoma amplamente a clássica tradição do blues,
a minha se limita a três artistas, duas das quais – Ma Rainey e Bessie Smith –
definiram decisivamente a era clássica do blues, e uma delas – Billie Holiday –
que inaugurou o período moderno do jazz, gravando sua primeira música logo
após Bessie Smith gravar sua última música. O trabalho de Harrison examina as
mulheres de blues da década de 1920 como figuras pivô na afirmação das
ideias e ideais das mulheres negras de uma perspectiva da classe trabalhadora
e pobre. Revela seu papel dinâmico como porta-vozes e intérpretes dos sonhos,
duras realidades e tragicomédias da experiência negra nas primeiras três
décadas deste século; seu papel na continuação e desenvolvimento da música
negra na América; suas contribuições para poesia e performance do blues.
Além disso, amplia a base de conhecimento sobre o papel das mulheres negras
na criação e desenvolvimento da cultura popular americana; ilustra os seus
modos e meios para lidar com sucesso com a discriminação e exploração
relacionadas com o gênero; e demonstra um modelo emergente para a mulher
que trabalha – que é sexualmente independente, autossuficiente, criativa e
criadora de tendências. [9]
https://traduagindo.com/2019/07/31/o-legado-do-blues-e-o-feminismo-negro-de-angela-davis/ 13/20
01/12/2023, 15:42 “O Legado do Blues e o Feminismo Negro” de Angela Davis – TraduAgindo
Vinte e cinco anos depois dos debates da segunda onda sobre o que conta
como feminismo, as suposições populares de que as origens históricas do
feminismo são brancas obstinadamente persistem em muitas comunidades
https://traduagindo.com/2019/07/31/o-legado-do-blues-e-o-feminismo-negro-de-angela-davis/ 14/20
01/12/2023, 15:42 “O Legado do Blues e o Feminismo Negro” de Angela Davis – TraduAgindo
Um livro como o Legados do Blues e o Feminismo Negro não irá tornar popular
o feminismo nas comunidades negras. No entanto, espero que demonstre que
existem várias tradições feministas afro-americanas. Espero que demonstre
que as tradições feministas não são apenas escritas, mas são orais também, e
que essas oralidades revelam não apenas traços afro-americanos reescritos,
mas também o gênio com o qual antigos escravos forjaram novas tradições que
https://traduagindo.com/2019/07/31/o-legado-do-blues-e-o-feminismo-negro-de-angela-davis/ 15/20
01/12/2023, 15:42 “O Legado do Blues e o Feminismo Negro” de Angela Davis – TraduAgindo
https://traduagindo.com/2019/07/31/o-legado-do-blues-e-o-feminismo-negro-de-angela-davis/ 16/20