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O pequeno

livro das cores


Como aplicar a psicologia das
cores em sua vida

Karen Haller

São Paulo, 2022


Sumário
Introdução: Cores – uma linguagem universal 8

1 A história das cores: uma visão geral 16

2 A percepção das cores 36

3 A relação entre as cores e como nos sentimos 64

4 As cores e a sua personalidade 110

Parte 1: Como usar cores ao se vestir 136

Parte 2: As cores em casa 178

Parte 3: As cores no trabalho 204

Parte 4: As cores nos relacionamentos 230

5 A revolução das cores 244

Bibliografia e leituras recomendadas 255

Agradecimentos 261

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Por que vemos as cores?
Não há nenhum lugar com luz no qual não exista cor, mas até uns 30
milhões de anos atrás elas tinham pouca utilidade para nossos ances-
trais, os mamíferos primitivos. Eles eram criaturas noturnas e só pre-
cisavam enxergar o que podiam ver na escuridão. Porém, quando
nossa visão evoluiu e passou a alcançar todo o espectro da luz visí-
vel, as cores se tornaram nossa principal linguagem de sinalização, e
nossa capacidade de distinguir milhões de cores cada vez que abría-
mos os olhos foi um elemento fundamental para nossa sobrevivência.
Ela nos ajudava a encontrar comida, atrair parceiros e evitar todo tipo
de perigos. Essa compreensão instintiva e inconsciente das mensa-
gens codificadas das cores está no cerne de nossa existência.

Basta observarmos os outros seres vivos para ver como funciona


isso. Darwin sugeriu que as cores tinham três funções principais
na natureza:

Atração. Para que uma espécie sobreviva, ela precisa acasalar. Uma
das principais formas pelas quais se usam as cores é para atrair um
parceiro. As aves fazem isso muito bem. O macho exibe sua pluma-
gem de cores vivas enquanto executa uma dança e canta para cor-
tejar uma fêmea.

Proteção: Camuflagem. De um bicho-pau que fica verde para se con-


fundir com uma folha a um minúsculo cavalo-marinho que assume
a mesma cor vermelha do coral em que vive, os animais usam as
cores para se proteger e esconder dos predadores.

Eles também usam as cores para aumentar suas chances de se apro-


ximar de uma presa sem ser vistos. O ambiente circundante deter-
mina a cor ou as cores que eles desenvolveram para se camuflar.
Pense na raposa-do-ártico, por exemplo, que fica branca no inverno
para se confundir com a neve.

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Você está vendo o mesmo que eu?
Quando me sentei para uma reunião com os editores deste livro,
uma pessoa da equipe trouxe uma amostra de cor para avaliarmos.
Para mim, era um verde-água. Para ela, um azul-claro. E outra pes-
soa a descreveu como turquesa. Cada um de nós via a cor de um jeito
– o que eu chamava de verde-água era chamado com outro nome
por todas as pessoas da mesa. Isso acontece toda vez que me sento
com alguém para falar sobre cores, mas nenhum de nós está “certo”
ou “errado”. O rótulo que damos a uma cor pode depender da expe-
riência que tivemos com ela, da luz que a ilumina quando a vemos,
de quantas vezes a vimos e do quanto ficamos expostos a ela. Certa
vez, numa loja de departamentos, fui parada por uma senhora que
estava tendo uma discussão acalorada com o marido diante de uma
arara de roupas. “Meu marido e eu estamos num debate sobre essa
cor”, dizia. “Ele acha que é azul-marinho e eu acho que é azul-per-
vinca. Qual de nós está certo?” É claro, ela não fazia ideia de que eu
era especialista em cores e ficou um tanto surpresa ao me ver enxer-
gar os dois pontos de vista. Eu disse que concordava com ambos. Era
azul. Um azul escuro. Só que cada um dava um nome diferente. Ele
rotulava de marinho, e ela, de pervinca. Suspeitei que, ao contrário
do marido, ela já havia tido contato com a variação de azul que cha-
mava de pervinca, e foi isso que a levou a dar a essa tonalidade um
nome mais específico.

É fascinante como cada um de nós pode olhar para a mesma cor e,


no entanto, descrevê-la de modo completamente diferente. De que
cor você acha que é o círculo na página ao lado? Se o mostrar para
outras pessoas, de que cor elas dirão que é?

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Aula rápida de psicologia

A mente é composta de:

consciente subconsciente/ inconsciente


pré-consciente

O pai da psicanálise, Sigmund Freud, costumava usar a metáfora de


um iceberg para descrever a mente. A ponta do iceberg representa
a mente consciente – tudo aquilo de que temos consciência em um
dado momento, incluindo lembranças, sentimentos, sensações e per-
cepções. Logo abaixo da superfície da água está o subconsciente (às
vezes chamado de pré-consciente). É onde residem os pensamentos,
sentimentos e lembranças dos quais não temos consciência imediata
– mas que podem ser acessados facilmente. Abaixo disso, submersa
nas profundezas da água, está a parte bem mais volumosa do iceberg.
Ela representa o inconsciente. Ali estão todas as crenças, emoções,
impulsos, desejos, lembranças e pensamentos instintivos cujo acesso
está além de nosso controle deliberado. Para Freud, a parte mais
importante da mente era o inconsciente, a parte abaixo da superfície,
pois é o inconsciente que impulsiona nosso comportamento.

Retomaremos esse conceito no próximo capítulo, quando formos ana-


lisar nossas cores preferidas e aquelas de que menos gostamos para
tentar descobrir os significados que elas nos transmitem e por quê.

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consciente

subconsciente/
pré-consciente

inconsciente
Teste de Personalidade para Cores e Design

1. Qual é o seu jeito favorito de receber convidados para


uma refeição?
A. Todos sentados em volta de uma mesa bem grande e
farta, em que possam se servir à vontade, com muita con-
versa animada.
B. Uma mesa elegantemente arrumada, em uma sala de jantar
à luz de velas, com todo aquele charme de antigamente.
C. Um piquenique durante o dia, com muita diversão
e brincadeiras.
D. Com perfeição – você pode contratar um chef de cozinha
ou levar os convidados a um restaurante estrelado pelo
Guia Michelin.

2. Qual dessas cores primárias você prefere?


A. Verde
B. Azul
C. Amarelo
D. Vermelho

3. Qual é o seu tipo favorito de evento social?


A. Ficar sentado perto do fogo com amigos, conversando até
altas horas.
B. Balé ou concerto de música clássica.
C. Teatro musical; alguma coisa divertida, na hora a gente resolve.
D. Uma noite de estreia ou evento exclusivo para convidados;
uma festa chique.

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Descubra o que sua cor preferida revela sobre você

Passo 1: Escreva o nome da sua cor preferida. Pedir a alguém para


escolher uma cor preferida pode ser como pedir que escolha seu
filho preferido! Se você tiver mais de uma cor preferida, anote todas
elas e depois escolha a que mais gosta dessa lista.

Passo 2: Encontre a tonalidade específica dessa cor. Se sua cor pre-


ferida é um azul, como o ovo-de-pata ou um azul-celeste pálido, ou
um marinho profundo ou azul-esverdeado, encontre alguma coisa
nesse tom específico. Pode ser uma amostra de tinta num catálogo,
um retalho de tecido, uma pena, qualquer coisa. Ter a cor na sua
frente vai ajudar você a criar uma conexão emocional com ela.

Passo 3: Então, depois de encontrar a tonalidade específica que lhe


agrada, já pode começar a analisar o que ela significa para você.
Lembre-se do que aprendemos sobre as três formas pelas quais nos
relacionamos com as cores:
1. Associação pessoal – a recordação de um acontecimento que
você associa a essa cor.
2. Significado cultural ou simbólico – o significado dessa cor na
sua cultura.
3. Significado psicológico – o modo como essa cor faz você se sen-
tir e se comportar.
Dica: Sua cor preferida pode ser uma combinação de dois desses itens.

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Vermelho Rosa Amarelo

Alguns nomes Alguns nomes Alguns nomes


populares populares populares
Vermelho-bombeiro, Cor-de-rosa, rosa- Creme, narciso, giras-
vermelho-ferrugem, -empoeirado, sol, açafrão, mostarda,
bordô, vermelho-caixa- magenta, rosa-con- amarelo-ácido, amare-
-de-correio, borgonha, cha, rosa pastel lo-limão
vermelhão, melancia
Efeitos positivos Efeitos positivos
Efeitos positivos Fisicamente relaxante, Felicidade, oti-
Calor, energia, estí- ternura, feminilidade – mismo, autocon-
mulo, excitação, sobrevivência da espé- fiança, autoestima
força, coragem física cie, quente, acolhedor,
solidário e atencioso Efeitos negativos
Efeitos negativos Irracionalidade, ansie-
Agressivo, desafia- Efeitos negativos dade, o excesso de
dor, exigente, domi- Fragilidade e carên- amarelo pode esti-
nante, impaciente cia emocional, instabi- mular demais o sis-
lidade, perda de virili- tema nervoso
Quando vestir dade, fraqueza física,
• Quando você quer fisicamente extenuante Quando vestir
ser notado – o verme- • Quando você pre-
lho parece mais pró- Quando vestir cisa se animar
ximo do que está, • Rosas suaves: ao • Para aumentar a
por isso atrai nossa trabalhar com autoconfiança
atenção primeiro bebês e crianças • Em um dia cinzento
• Se você quer pas- • Para se mostrar aten- para trazer um pouco
sar uma imagem cioso e solidário de alegria, trazer a
ousada/sexy luz do sol com você
• Para parecer pode- Procure evitar
roso e no con- Magenta e rosas frios: Procure evitar
trole da situação evite usar perto de Quando você não quer
crianças, pois podem atrair atenção para si
Procure evitar passar uma ima- Em uma situação séria,
Ao trabalhar com gem dura e fria onde você possa não
crianças, pois pode ser levado a sério
estimular demais Se você já está se sen-
Em serviços de saúde tindo ansioso
Para conhecer os pais

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Laranja Marrom Azul

Alguns nomes Alguns nomes Alguns nomes


populares populares populares
Pêssego, damasco, Bronze, camelo, Azul-celeste, ovo-de-
laranja-queimado, chocolate, taupe, -pata, azul-marinho,
laranja-persa, ter- argila, ', caramelo, turquesa, azul-royal,
racota, âmbar avelã, pedra, bege azul-gelo, pervinca,
azul-esverdeado
Efeitos positivos Efeitos positivos
Alegria, diversão, con- Quente, conecta Efeitos positivos
forto físico como calor, com a natureza, Azul-claro: serenidade,
comida e abrigo, sen- seguro, confiável, mentalmente calmante
sualidade, abundância sério, acolhedor Azul-escuro: foco
e concentração
Efeitos negativos Efeitos negativos
Imaturidade, privação, Sem graça, pesado, Efeitos negativos
frustração, frivolidade sem sofisticação Frio, distante, antipático
Quando vestir Quando vestir Quando vestir
• Qualquer coisa diver- • Quanto se neces- • Azul-claro: quando
tida e lúdica – ao tra- sita de estabili- você quer parecer
balhar ou intera- dade ou solidez acessível e simpá-
gir com crianças • Para ser levado tico, para ajudar a
• Pode aliviar o clima, a sério acalmar sua mente
colocar um sorriso • Para ser visto como • Azul-escuro: para
no rosto das pessoas alguém confiá- demonstrar
• Para se mos- vel/responsável autoridade em
trar acessível conhecimento
Procure evitar • Turquesa: quando
Procure evitar Em um trabalho que quiser ficar aberto
Quando você quer requer muita energia à comunicação e
ser levado a sério troca de ideias
– reunião de dire-
toria, ao pedir Procure evitar
aumento de salário Azul-escuro: evitar usar
durante trabalhos cola-
borativos e sessões de
integração de equipes

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Como ter uma injeção de cor instantânea

Vermelho Rosa forte Rosa suave


motivação, energia, vigor, tenacidade, ternura, compaixão,
coragem assertividade autocuidado

Amarelo Laranja Marrom


otimismo, autocon- brincalhão, confere apoio,
fiança, felicidade divertido, alegre estabilidade

1 67
Seu Experimento Cromático N de 1
(para ajudar você a construir seu próprio
sistema de cores personalizado)
N de 1 é um ensaio clínico em que é feito um estudo de caso de um
único paciente. Em se tratando das cores do seu local de trabalho
em casa, embora não seja um contexto clínico, você é seu próprio
experimento N de 1. Você está coletando seus próprios dados e reali-
zando seu próprio estudo. Observe seus comportamentos durante o
dia. Você fica sonolento de manhã, por exemplo, ou é o tipo de pes-
soa que acorda com a maior disposição? Seu comportamento muda
ao longo do dia, ou você precisa se sentir de um jeito diferente para
realizar cada tarefa? Use as tabelas das páginas a seguir como um
diário para registrar como se sente e se comporta durante o dia e
mapear as cores nesse período. Isso ajudará a criar um ambiente de
trabalho personalizado que irá nutrir e apoiar você em qualquer tra-
balho que realize.

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Cor É relacionamento
Quando estava escrevendo este livro, procurei a palavra “relaciona-
mento” no dicionário e era isso que ele dizia:

relacionamento, s.

O modo pelo qual duas ou mais pessoas ou coisas estão


ligadas, ou a condição de estar ligado.

O modo pelo qual duas ou mais pessoas ou grupos se consi-


deram e comportam uns em relação aos outros.

Bem, não é exatamente isso que as cores são e fazem? As cores


nos conectam uns com os outros e com nós mesmos. Elas dizem às
outras pessoas o que pensamos e sentimos, e afetam o modo como
nos comportamos. É realmente simples assim. É uma forma de se
conectar e comunicar – um canal não verbal, por onde corre signifi-
cado. Quando vemos as cores, sabemos num instante como alguém
está se sentindo e como reagir, mesmo que ele esteja dizendo: “Não
fale comigo”. As cores são parte integrante de nossos relacionamen-
tos e cumprem um papel em todas as interações que temos, seja com
quem for. Inclusive com nós mesmos.

Então, vamos ver como podemos aumentar nossa consciência cro-


mática para ajudar a melhorar essas interações. No resto desse

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capítulo, vamos recapitular e refinar nossas habilidades. Vamos
analisar mais atentamente o poder que as cores têm de aprofundar
e fortalecer nossa relação com nós mesmos e de trazer harmonia e
felicidade às nossas relações com os outros. Vou lhe mostrar como
manter o rumo em sua jornada pelas cores e recordar como elas
podem ser usadas para o seu autocuidado e bem-estar – pois, não
esqueça, quando cuidamos de nós mesmos somos infinitamente
mais capazes de cuidar dos outros.

Como as cores podem melhorar nossa relação com


nós mesmos (e com os outros)
Não há nada melhor para nossos relacionamentos do que saber
quem somos de verdade – por isso é tão importante descobrirmos
nossa personalidade cromática. Quando usamos cores que se ali-
nham com nossa personalidade, nossas interações com as outras
pessoas podem ser harmoniosas. Sempre que usamos cores que não
condizem com quem somos, criamos tensão e desconforto, não ape-
nas para nós mesmos, mas para todos à nossa volta. Ao expressar
verdadeiramente quem somos no dia a dia, estamos sendo hones-
tos a nosso respeito e, quando somos mais honestos com nós mes-
mos, podemos ser mais honestos e sinceros com as outras pessoas.

Há alguns anos, uma mulher me ligou para marcar uma consultoria


cromática pessoal. Estava preocupada porque era tímida e quieta e
se sentia inferior e insegura em seu relacionamento, com receio de

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