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A RELEVANTE ATUAÇÃO DA PERÍCIA NO CASO ISABELLA

NARDONI PARA O PROCESSO PENAL

Clara Piauilino Matoso


clarap.m@hotmail.com

Aluna concluinte do curso de pós-graduação em


Investigação Forense e Perícia Criminal da
Universidade Potiguar.
Orientador: Luiz Claudio de Faria Pimenta

RESUMO
O presente trabalho visa discorrer sobre a valiosa atuação da perícia criminal para
o Processo Penal, que encontra-se amparada no Código em pauta (Decreto-Lei no
3.689/1941), com enfoque ao seu importante exercício de investigação do ‘’Caso
Isabella Nardoni’’, homicídio ocorrido em 29 de março de 2008. A metodologia a ser
utilizada é a pesquisa qualitativa, através do método dedutivo via abordagem
descritiva, com um processo de análise de informações que terá como base as
seguintes valências: estudos de doutrinadores, do tipo bibliográfica, documental,
utilizando a coleta de dados através de depoimentos dos peritos participantes do
citado acontecimento, legislações pertinentes como a Constituição Federal, os
Códigos Penal, Processo Penal e Processo Civil, dentre outros.
Palavras-chave: Caso Isabella Nardoni. Perícia. Homicídio. Processo Penal. Crime.

1. INTRODUÇÃO

A partir da ocorrência de um fato criminoso, o Código de Processo Penal estabelece


diversos meios para elucidá-lo, sendo um deles a produção de prova pericial, pautada
nos artigos 158 a 184 da referida legislação, a qual é executada através da nomeação
de peritos que, através de sua imparcialidade, transparência e qualidade técnica de
2

extrema importância, contribuem para a investigação, identificação de autoria e


materialidade do delito, representando uma função de valiosa influência para o
sistema jurídico no que concerne à busca pela verdade e à justiça.
O trabalho em questão tem o propósito de abordar o emblemático e nacionalmente
repercutido caso Isabella Nardoni, homicídio da criança de 5 anos ocorrido em 29 de
março de 2008, ao mesmo tempo destacar a crucial e grandiosa atuação da perícia
na produção de provas materiais que possibilitou o seu deslinde, ao mesmo tempo
em que e, por fim, a condenação de Alexandre Alves Nardoni e Anna Carolina Trotta
Peixoto Jatobá, respectivos pai e madrasta da vítima.
A metodologia a ser adotada na pesquisa qualitativa será o método dedutivo via
abordagem descritiva, um processo de análise de informações que terá como base as
seguintes valências: estudos de doutrinadores, do tipo bibliográfica, documental,
utilizando a coleta de dados através de depoimentos dos peritos participantes do
citado acontecimento, legislações pertinentes como a Constituição Federal, os
Códigos Penal, Processo Penal e Processo Civil, dentre outros.

1.1 PROBLEMA

O presente artigo visa discorrer sobre a seguinte questão: qual a importância da


perícia criminal no caso Isabella Nardoni e como a sua atuação contribuiu para o
Processo Penal para o episódio em foco.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 OBJETIVO GERAL

Abordar o emblemático e nacionalmente repercutido caso Isabella Nardoni,


homicídio da criança de cinco anos ocorrido em 29 de março de 2008, ao mesmo
tempo destacar a crucial e grandiosa atuação da perícia na produção de provas
materiais, que possibilitou o seu deslinde e, por fim, a condenação de Alexandre Alves
Nardoni e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, respectivos pai e madrasta da vítima.

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


3

Analisar a importância do trabalho da perícia criminal, descrevendo como


funciona o seu papel no decorrer do Processo Penal, na elucidação dos crimes de
homicídio, em especial ao famoso caso ‘’Isabella Nardoni’’.
Demonstrar a influência da prova pericial, especificando como a sua atuação
contribuiu na tomada de decisão judicial que condenou os responsáveis pelos delitos
praticados no mencionado episódio criminal.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico do presente trabalho foi estruturado em quatro tópicos, a
saber:

2.1. A essencialidade da perícia criminal no curso do processo penal

A perícia criminal é uma atividade técnico-científica, e é prevista no Código de


Processo Penal, sendo considerada indispensável para a elucidação de crimes
quando houver vestígios. A atividade é realizada por meio da ciência forense,
responsável por auxiliar na produção do exame pericial e na interpretação correta de
vestígios1.
Dispõe a Lei nº 12.030/2009 sobre o exercício das perícias oficiais de natureza
criminal, estabelecendo as suas normas gerais, sendo constituída por peritos
criminais, peritos médico-legistas e peritos odontolegistas com formação superior
específica detalhada em regulamento, de acordo com a necessidade de cada órgão e
por área de atuação profissional.2

1
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto
ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de
crime que envolva: (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)
I - violência doméstica e familiar contra mulher; (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018) II
- violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência. (Incluído dada pela Lei nº
13.721, de 2018)
2
Art. 1o Esta Lei estabelece normas gerais para as perícias oficiais de natureza criminal.
Art. 2o No exercício da atividade de perícia oficial de natureza criminal, é assegurado autonomia
técnica, científica e funcional, exigido concurso público, com formação acadêmica específica, para o
provimento do cargo de perito oficial.
Art. 3o Em razão do exercício das atividades de perícia oficial de natureza criminal, os peritos de
natureza criminal estão sujeitos a regime especial de trabalho, observada a legislação específica de
cada ente a que se encontrem vinculados.
Art. 5o Observado o disposto na legislação específica de cada ente a que o perito se encontra vinculado,
são peritos de natureza criminal os peritos criminais, peritos médico-legistas e peritos odontolegistas
com formação superior específica detalhada em regulamento, de acordo com a necessidade de cada
órgão e por área de atuação profissional.
4

Para Capez (2016, p. 413-414):

O termo ‘’perícia’’, originário do latim peritia (habilidade especial), é um meio


de prova que consiste em um exame elaborado por pessoa, em regra
profissional, dotada de formação e conhecimentos técnicos específicos,
acerca de fatos necessários ao deslinde da causa. Trata-se de um juízo de
valoração científico, artístico, contábil, avaliatório ou técnico, exercido por
especialista, com o propósito de prestar auxílio ao magistrado em questões
fora de sua área de conhecimento profissional. Só pode recair sobre
circunstâncias ou situações que tenham relevância para o processo, já que a
prova não tem como objeto fatos inúteis. Tratando-se de uma prova pessoal,
a perícia tem em considerável parcela de seu conteúdo certa dose de
subjetividade, demandando uma apreciação pessoal que, em alguns casos,
pode variar de perito para perito. Apesar de ser um trabalho opinativo, não
vincula o juiz, que pode discordar das conclusões dos expertos, embora só
possa fazê-lo de forma fundamentada (CPP, art. 1823).

A lei determina que se faça a perícia criminal em algumas circunstâncias,


dentre as quais encontram-se presentes no Código de Processo Penal (Decreto-Lei
3.689/1941) mais especificamente em seus artigos 158 a 184.

Todo crime que deixar vestígio obrigatoriamente necessitará da realização de


um exame de corpo de delito. Este último é denominado como a demonstração
material da ocorrência do crime, da sua materialidade.

Nas palavras de Del-Campo (2007, p. 20-21):

Algumas infrações penais, como a injúria verbal, não deixam vestígios (delicta
facti transeuntis). Outras, como o homicídio ou a maioria dos delitos
patrimoniais, deixam modificações no mundo material que podem ser
percebidas pelos nossos sentidos ou por aparelhos especiais (delicta facti
permanentis). Nesses casos é necessária a realização do exame de corpo de
delito, cujo resultado será posteriormente apresentado sob a forma de um
minucioso relatório.

Hygino de C. Hercules conceitua o corpo de delito:

3
Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.
5

As infrações penais podem deixar vestígios (delicta facti transeuntis), como


no homicídio [...]. Quando o fato produz alterações materiais no ambiente, dá-
se o nome corpo de delito ao conjunto de elementos sensíveis denunciadores
do fato criminoso. São os elementos materiais, perceptíveis pelos nossos
sentidos, resultantes da infração penal. Esses elementos sensíveis, objetivos,
devem ser alvo de prova, obtida pelos meios que o direito fornece. Os
técnicos dirão da sua natureza e estabelecerão o nexo entre eles e o ato ou
omissão por que se incrimina o acusado. O exame de corpo de delito deve
realizar-se o mais rapidamente possível, logo que se tenha conhecimento da
existência do fato.4

De acordo com o caput do artigo 473 do Código de Processo Civil (Lei nº


13.105/2015), deverá o Laudo conter a exposição do objeto da perícia, a análise
técnica ou científica realizada pelo perito, a indicação do método utilizado,
esclarecendo-o e demonstrando ser predominantemente aceito pelos especialistas da
área do conhecimento da qual se originou, bem como a resposta conclusiva a todos
os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público.
Os parágrafos 1º e 2º do mencionado artigo preceituam, respectivamente que, no
documento, o perito deve apresentar sua fundamentação em linguagem simples e
com coerência lógica, indicando como alcançou suas conclusões, bem como é vedado
ao perito ultrapassar os limites de sua designação, bem como emitir opiniões pessoais
que excedam o exame técnico ou científico do objeto da perícia.

A partir disso, os peritos oficiais farão, através de um documento chamado


Laudo Pericial, onde há todo o detalhamento dos exames do caso, observado pelo
perito e, por fim, o que foi observado por ele.

Os peritos, portanto, através de designação da autoridade competente, prestam


serviços à polícia a respeito de fatos, pessoas ou coisas.

A importante função do perito criminal é a da produção da prova técnica através


da análise científica de vestígios deixados em local de crime.

4
Hercules, Hygino de C. Medicina legal: texto e atlas. São Paulo: Atheneu, 2011, p. 13-14.
6

Em suas palavras, cita Hercules (2011, p. 13):

Os fatos alegados em um processo precisam ser demonstrados, e essa


demonstração depende de sua natureza. Quando tais fatos não deixam
vestígios materiais e se desvanecem no mesmo instante em que ocorrem, ou
logo após, a sua comprovação em juízo só pode ser feita pela prova
testemunhal. E o relato de testemunhas pode, por diversas razões, não
corresponder fielmente à realidade. Mas, se resultam vestígios duradouros
dos fatos ocorridos, com a possibilidade de serem detectados pelos nossos
sentidos, o seu exame e registro devem ser feitos obrigatoriamente. E por
pessoas tecnicamente capacitadas para fazê-lo. O exame desses elementos
materiais, quando feito por técnico qualificado para atender solicitação de
autoridade competente, é chamado de perícia. Consequentemente, o
indivíduo que o realiza deve ser chamado de perito.

O perito criminal Décio de Moura Mallmith (2007, p. 13) leciona o seguinte,


acerca do trabalho do perito em locais de crime:

A presença dos peritos no local do delito, todavia, não substituí as ações da


autoridade policial, a qual caberá, além dos procedimentos para isolar a cena
do crime e impedir o acesso de qualquer elemento alheio à equipe da perícia,
ações que possibilitem a segurança dos peritos e sua equipe, viabilizando
deste modo a conclusão do trabalho pericial. Os trabalhos periciais no local
de uma ocorrência findam quando o perito esgotar todas as possibilidades de
exames e se der por satisfeito com os mesmos, momento em que ele
autorizará à Autoridade Policial a remover a interdição do sítio do delito. A
Autoridade Policial, entretanto, poderá optar por manter o local isolado,
quando a interdição mostrar-se imprescindível para os trabalhos preliminares
de investigação.

No sistema penal brasileiro, existem alguns tipos de provas, sendo elas a


documental, a testemunhal e a material, esta última, em comento, é também
conhecida como pericial, e se baseia de forma científica, técnica e imparcial por
natureza.
7

Explica Maranhão (2005, p. 31):

São inúmeras as eventualidades em que a autoridade judiciária precisa de


exames especializados para servirem de ‘’provas’’, os quais serão o
fundamento objetivo da sentença. Conforme a natureza do exame a ser feito,
frequentemente a autoridade se defrontará com situações em que não pode
prescindir da colaboração do técnico. Assim, se socorrerá de especialistas,
que podem ser engenheiros, economistas, médicos, assistentes sociais etc.
Os exames realizados por técnicos, a serviço da Justiça, são as perícias. O
que define a espécie de perícia a ser feita é, evidentemente, a natureza a ser
examinada. Em outros termos, cada observação de interesse jurídico requer
um determinado e específico observador: o especialista ou técnico. Esses
profissionais que esclarecem os julgadores a respeito de assuntos próprios
de suas profissões são chamados peritos. Uma vez feito o exame, dele
resultará um documento, para fazer parte integrante do Processo Judiciário,
que recebe o nome de perícia. Diríamos, de outra forma, que o exame de
interesse jurídico, relatado em juízo, é a perícia, e o examinador que a
produziu é o perito.

Ensina Manzano5 a diferenciação da prova pericial para as demais:

A característica fundamental da perícia como prova científica, e que a


distingue dos demais meios de prova, é que ela se vale de um princípio
científico aplicado por meio de técnica adequada, cujo conhecimento escapa,
via de regra, ao domínio dos aplicadores do Direito, mas que é essencial ao
acertamento do fato e ao deslinde da causa.

Dessa forma, entende-se que é através do uso de métodos científicos que


têm os peritos a capacidade de investigar as circunstâncias específicas de algum
caso que demonstra indícios de um possível episódio delituoso, o qual será avaliado
por eles que, ao final, concluirão através do já citado anteriormente Laudo Pericial,
documento que através dos requisitos de objetividade, concisão em sua formulação,
exatidão, clareza, argumentação plausíveis será apresentado como prova ao
processo.

5
MANZANO, Luiz Fernando de Moraes. Prova Pericial: admissibilidade e assunção da prova científica
e técnica no processo brasileiro. São Paulo. Atlas, 2011, p. 09
8

2.2. Breve relato sobre o caso Isabella Nardoni

Na noite de sábado, dia 29 de março de 2008, na cidade de São Paulo, ocorreu


a morte da criança Isabella Nardoni, à época com seus cinco anos de idade, fato que
gerou intensa e grandiosa repercussão nacional em razão de toda a investigação
sobre o que teria causado a cessação de sua vida.

O documentário Investigação Criminal – Isabella Nardoni é rico em detalhes


sobre o ocorrido, razão pela qual merece destaque a transcrição de algumas partes
dele6:

No dia do ocorrido, estava presente no plantão do 9º Distrito Policial a


Delegada de Polícia, Renata Helena da Silva Pontes, a qual afirmou que, por
volta de 00h30min, foi comunicada por dois policiares militares sobre a
ocorrência de um roubo seguido de morte, razão pela qual compareceu ao
local. Ao fazer uma primeira observação, sem tocar em nada, por ser uma
conduta de praxe, desceu para falar com alguns moradores informalmente,
que lhe contaram ter ouvido o proprietário do apartamento 62 afirmando que
houve um arrombamento. Falou com o síndico, que explicou não conhecer
bem os novos vizinhos e quase nada sabia sobre eles, apenas que Jatobá
ficou xingando muito e Alexandre gritava que um ladrão havia arrombado o
apartamento. A Delegada não viu sinais de arrombamento.
A ligação para o número 190 Centro de Operações da Polícia Militar (Copom)
foi feita pelo Sr. Antônio Lúcio Teixeira, síndico do prédio e o porteiro do
prédio, Sr. Valdomiro da Silva Veloso.
A Delegada Renata alegou que Alexandre e Anna, por sua vez, não
fizeram nenhuma comunicação à polícia, pois afirmaram que preferiram
avisar primeiramente aos familiares sobre o acontecido.
A ocorrência pericial foi entre as duas e três da manhã. A vítima foi levada
para Santa Casa, já sem vida. Foram observadas gotas de sangue pequenas
logo no corredor. Ao analisar as primeiras fotos foi possível observar que algo
não fazia sentido com a história contada pelo pai e madrasta da vítima.
A única fralda estava no balde, existindo várias roupas para serem lavadas,
o que gerou um interesse à perícia. As manchas de sangue mostravam que
a criança já havia entrado ferida no apartamento e que foram parcialmente
removidas, tendo alguém tentado apagá-la, o que não conseguiu fazer a
tempo. Todos os andares, garagens foram vistoriados, encontrando uma
mancha de sangue no carro de Alexandre e Anna.

Após vislumbrar elementos que autorizam a denúncia, o promotor de justiça,


Dr. Francisco Cembranelli denunciou na data de 07 de maio de 2008 Alexandre Alves
Nardoni como incurso nas sanções do artigo 121, §2º, incisos III, IV e V c.c. o §4º,

6
Investigação Criminal: Isabella Nardoni. Direção: Carla Albuquerque e Beto Ribeiro. Produção:
Medialand. Youtube. 18 de julho de 2021. 43h40min. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=oIMfGiqKdII&t=1839s>. Acesso em: 05 de julho de 2023.
9

parte final e artigo 13, §2º, alínea a (c/ relação à asfixia), e artigo 347, § único, todos
c.c. o artigo 61, inciso II, alínea e, segundo figura e 29, do Código Penal e Anna
Carolina Trotta Peixoto Jatobá como incursa nas sanções dos artigos 121, §2º, incisos
III, IV e V c.c. o §4º, parte final e artigo 347, § único, ambos c.c. o artigo 29, do Código.7

Após recebida a denúncia, ocorreu em 31 de outubro a sentença que


pronunciou o casal, determinando que eles fossem ao júri popular.

2.3. A atuação da perícia criminal nos crimes de homicídio

‘’Do ponto de vista estritamente jurídico, conceituar a morte não é difícil: ‘’é a
extinção do sujeito de direito’’. (VANRELL, 2011, p. 52).

Ainda com suas palavras, Vanrell (2011, p.) afirma que:

Por ser a morte um fenômeno complexo, resulta evidente que pode haver
diferentes critérios para ser analisada. Cada um desses critérios poderá ser
mais ou menos aplicável a um determinado campo das ciências médicas,
jurídicas e sociais.

O crime em seu conceito legal é a infração penal punida com reclusão ou


detenção, estando definido no Decreto Lei nº 3.914, de 9 de dezembro de 1941 (Lei
de Introdução do Código Penal (decreto-lei n. 2.848, de 7-12-940) e da Lei das
Contravenções Penais (decreto-lei n. 3.688, de 3 outubro de 1941)8.

A prática dolosa de matar alguém, ou seja, com a intenção de se fazer, é


definida no Código Penal, em sua Parte Especial, Capítulo I, intitulado de ‘’Crimes
Contra a Pessoa’’ sendo o ato seu bem jurídico tutelado a vida humana extrauterina,
sendo os sujeitos ativo e passivo desse ato qualquer indivíduo. Juridicamente é

7
Denúncia Nardoni. Professor Puc, 2008. Disponível em:
<https://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17637/material/Den%C3%BAn
cia%20-%20Nardoni.pdf>. Acesso em: 07/07/2023.
8
Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer
isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração
penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou
cumulativamente.
10

definido como Homicídio Simples (Art. 21, caput), Privilegiado (Art. 121, §1º) e
Qualificado (Art. 121, §2º)9.

Em um contexto criminalístico, três definições são necessárias para analisar e


chegar a alguma conclusão nos delitos de homicídio: vestígios, os indícios e as
evidências na cena do crime.

O vestígio, a exemplo do DNA, por sua vez, encontra-se pautado na Lei nº


13.964/2019 (Pacote Anti-Crime):

Art. 158ª, §3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente,
constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal.

No caso Isabella Nardoni, um vestígio crucial foi o DNA da menina encontrado


na roupa de sua madrastra, Anna Carolina Jatobá.

Uma espécie de indício é a presença de marcas de arranhões no suspeito que


se relacionem com ferimentos encontrados na vítima. O indício também é definido no
Código de Processo Penal:
Art. 239. Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que,
tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de
outra ou outras circunstâncias.

No episódio Nardoni, um indício importante foi o vestígio de DNA da menina


encontrado na roupa de sua madrasta, Anna Carolina Jatobá, bem como as imagens
das câmeras de segurança, mostrando estar Isabella aparentemente desacordada e
com sinais de agressão.

9
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a
pena de um sexto a um terço.
§ 2° Se o homicídio é
cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de
que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossivel a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
11

A evidência, por sua vez, não tem definição em Lei, mas pode ser
compreendida como um vestígio que, após ser analisado, tem relação com o episódio
investigado, sendo uma importante prova nos casos de homicídio.

A evidência importante no caso Isabella Nardoni foi a presença de DNA de


Isabella nas roupas de Anna Carolina Jatobá.

Para CAPEZ (2015, p. 403), ‘’a prova material é obtida por meio químico, físico
ou biológico (ex.: exames, vistorias, corpo de delito etc).’’

Em que pese o Código Penal utilize a expressão autopsia, ‘’autotoque’’, na


realidade o exame a ser realizado é o necroscópico, com objetivo de determinar a
causa mortis do sujeito10. A exemplo de saber se foi em razão de arma de fogo, arma
branca, se o meio de execução foi cruel, sendo este uma qualificadora no crime de
homicídio, ou se foi mediante afogamento, envenenamento. É necessário saber todas
as circunstâncias que envolveram o delito. Através dessa análise técnica imparcial,
do laudo feito pelo perito, é que se demonstrará a materialidade do fato.

2.4. A influência da prova pericial no tribunal do júri no caso Isabella Nardoni

Em 24 de março de 2009 três desembargadores da 4ª Câmara Criminal do


Tribunal de Justiça de São Paulo decidiram por unanimidade que o casal Alexandre
Nardoni e Anna Carolina Jatobá fosse para o Júri.11

10
Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela
evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no
auto.
Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando
não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da
morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância
relevante.
11
Porfírio, Fernando. Confirmado Juri para casal Nardoni e Jatobá. Revista Consultor Jurídico.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2009-mar-24/alexandre-nardoni-anna-carolina-jatoba-ir-juri-
popular. Acesso em: 30/07/2023.
12

A Carta Magna traz consigo em seu artigo 5º, inciso XXXVIII o reconhecimento
a instituição do Júri, competindo o seu julgamento crimes dolosos contra a vida.12

O Conselho de Sentença do Júri é composto por sete jurados alheios ao direito.


A razão de serem sete indivíduos julgadores é justamente para evitar o empate no
momento da decisão.13

Os delitos contra a vida estão posicionados no Capítulo I do Título I da Parte


Especial do Código Penal, em seus artigos 121 a 128 do Código Penal, sendo,
respectivamente Homicídio (artigo 121), induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio
(artigo 121), infanticídio (artigo 123) e aborto (artigos 124, 125 e 126).

Em razão de Alexandre Nardoni e Anna Carolina terem sido acusados de


homicídio doloso, é de competência do Júri discutir sobre ele.

Quase dois anos após o assassinato de Isabella de Oliveira Nardoni, entre os


dias 22 e 26 de março ocorreu o julgamento de Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá
e Alexandre Alves Nardoni perante o 2º Tribunal do Júri da Capital do Fórum Regional
de Santana, localizado na avenida Engenheiro Caetano Álvares, na Zona Norte de
São Paulo.

O processo teve registro o nº 274/08. As partes presentes no julgamento eram:


o Juiz, Dr. Maurício Fossen, o Promotor de Justiça, Dr. Francisco José Taddei
Cembranelli, a Assistente do Ministério Público, Dra. Cristina Christo Leite, os
Defensores, Dr. Roberto Podval, Dr. Marcelo Gaspar Gomes Raffain e Dra. Roselle
Adriane Soglio. Presentes os réus, Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá e Alexandre
Alves Nardoni. Por fim, no plenário, estavam postos em suas respectivas cadeiras, os
jurados, sendo quatro mulheres e três homens.

12
Brasil. Constituição Federal da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, out. 1988. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 22 jan. 2023.
13
Art. 447. O Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz togado, seu presidente e por 25 (vinte e cinco)
jurados que serão sorteados dentre os alistados, 7 (sete) dos quais constituirão o Conselho de
Sentença em cada sessão de julgamento.
13

A autora Ilana Casoy, criminóloga e pesquisadora na área de violência e


criminalidade, presenciou o julgamento do casal Nardoni perante o Tribunal do Júri e
relatou com ricos e detalhados em seu livro “Casos de Família: Arquivos Richtofen e
Arquivos Nardoni14”, de onde faz valer-se a transcrição os seguintes trechos:

Segundo Dia do Júri: No dia 23 de março, segundo dia de julgamento, foram


utilizadas pelo promotor, Dr. Francisco Cembranelli, na sala do plenário do
júri, maquetes do edifício London e do apartamento do casal Nardoni, que
permitiram aos jurados a demonstração e percepção maior e mais nítida do
que teria ocorrido no dia do fato criminoso. Houve a oitiva da testemunha de
acusação, Dra. Renata Helena da Silva Pontes, delegada conduziu o
inquérito de nº 0274/2008, a qual alegou que um crime tem que ter motivação,
mostrando o raciocínio da polícia: se tinha chaves, tinha um objetivo e
também um motivo. Não houve ameaça ou atividade ilícita; não houve roubo.
Alega que no domingo, dia 30 de março, o médico-legista, Dr. Laércio de
Oliveira César, ligou e pediu para ir ao local da ocorrência, solicitando uma
viatura. Ele foi acompanhado de um colega, pois achavam que as lesões da
vítima eram pouco exuberantes para uma queda do sexto andar, além de uma
asfixia por esganadura. Disse a delegada que eles estranhavam a lesão na
testa na criança, que não consideravam ser decorrente da queda. Alegou,
ainda, que a peça que chamou a atenção dos peritos foi uma fralda, pois em
todo lugar via roupa sua, entretanto, esse item era o único que estava em
processo de lavagem.
No mesmo dia, houve o depoimento do médico-legista, Dr. Paulo Sérgio
Tieppo Alves, do Instituto Médico Legal de São Paulo, tendo sido ele
chamado para examinar o corpo da vítima. Ao analisá-la, percebeu que já
com o primeiro contato com o cadáver foram encontrados sinais de asfixia
mecânica, o que causou uma discrepância entre o histórico de queda e os
ferimentos examinados. Em sua análise, percebeu que a asfixia mecânica de
Isabella tinha sinais inequívocos, como a face congestada, devido a uma
maior quantidade dede sangue nos vasos da face, e a coloração azulada,
típica de quem sofre esse tipo de agressão. Concluiu o médico que se tratava
de queda de uma altura maior e/ou com força adicional, como se um adulto
projetasse a menina de encontro ao solo. Para o médico, a causa da morte
foi asfixia mecânica e politraumatismo. A asfixia mecânica por constrição
cervical, modalidade esganadura, e o politraumatismo pelo conjunto de
lesões, a queda-sentada, da queda decorrente do sexto andar. O que causou
o óbito da criança foi a associação desses dois conjuntos de lesão. No caso
Isabella, o laudo necroscópico foi assinado por três médicos-legistas: Dr.
Paulo Sérgio Tieppo Alves, Dr. Carlos Penteado Cuoco e Dr. Laércio de
Oliveira César.
Terceiro Dia do Júri: Houve o depoimento da perita, Dra. Rosângela
Monteiro, responsável por coordenar todos os trabalhos periciais no presente
caso. A perita, Dra. Rosângela Monteiro, alegou que um perito só vai ao local
do crime quando é requisitado, o que aconteceu com ela no caso em
comento. Após seguir para o local do crime, colaborou com o perito Sérgio
Vieira Ferreira nas primeiras impressões do episódio. Foram realizados
exames complementares com reagentes, análise de manchas latentes e
utilização de luzes forenses. Observaram os peritos manchas de sangue
parcialmente removidas, visualmente interrompidas, indicando a tentativa de
limpeza parcial da cena do crime. A perícia conseguiu coletar todos os
vestígios como sangue no piso e nos lençóis, a tela da janela, a fralda, o
material no veículo dos réus, importantes detalhes que foram cruciais na

14
Casoy, Ilana. Casos de Família: Arquivos Richthofen e Arquivos Nardoni. Rio de Janeiro: Editora
Darkside Books, 2016
14

decisão do júri. A experimentação científica do corte da tela da janela em que


Isabella caiu e das marcas da camiseta foi realizada com materiais originais
no Instituto de Criminalística de São Paulo.
Dra. Rosângela explica que no trabalho pericial executado na tela de
proteção da janela por onde a menina foi defenestrada foram coletas faca e
tesoura encontradas no local do crime, sendo encaminhadas para o Núcleo
de Física do Instituto de Criminalística, sendo comprovado lá
inequivocamente que a tesoura foi utilizada para cortar a tela, pois seu gume
apresentava resíduos de filamento. Foram desenvolvidos trabalhos periciais
de confronto entre marcas na camiseta do réu e a tela de proteção e
levantadas as impressões digitopapilares, inclusive na faca e na tesoura,
utilizando-se luzes forenses, mesmo método utilizado na janela, na porta de
entrada e na maçaneta do apartamento. Após, passou a descrever suas
observações desde a entrada do apartamento, constituída por uma única
porta, sendo constatado sangue na soleira, uma quantidade maior perto do
sofá da sala, da mesa de jantar e da tábua de passar roupas, que estava
aberta. No corredor de distribuição dos dormitórios, foram localizadas duas
ou três gotas e no primeiro quarto também mais algumas. Observou-se que
para as manchas visíveis não havia a necessidade de utilização do reagente,
feito para manchas latentes, que ela não vê. Foram analisados nos lençóis
manchas visíveis, não sendo necessário, portanto, equipamento extra para
observá-las. Foi encontrada gota de sangue na porta de entrada, apontando
para o fato de a menina ter entrado já ferida. O desenho do trajeto das gotas
indicava a direção do indivíduo, pois eram em sequência. No carro, foi
aplicado o reagente e o Hexagon, inclusive nos bancos e no porta-malas,
tendo sido encontradas três pequenas manchas de sangue na parte posterior
do banco do motorista, no chão e na cadeirinha para transporte de crianças,
do lado esquerdo da alça. Nesta última amostra, posteriormente, foi
identificado o perfil genético de Isabella e de seus irmãos. A perita explicou
que a coleta efetiva de tudo o que era necessário em um primeiro momento
foi feita com o local preservado pela Polícia Militar. As coletas de vestígio
foram feitas no dia 30 de março, duas vezes (noite e dia), e seu exame
ocorreu no dia 2 de abril, além das complementações fotográficas,
principalmente da área externa, e o levantamento topográfico, bem como a
perícia no apartamento 63, em frente àquele onde os fatos ocorreram. Em
relação à reprodução simulada, a experimentação científica do corte na tela
e as marcas na camiseta foi realizada com materiais originais, no Instituto de
Criminalística de São Paulo. Foi dito que, em relação à experimentação
científica referente à camiseta, realizada em laboratório, foram observadas
que as marcas ali eram vistas a olho nu, mas não bastava como prova apenas
o fato de combinarem com o desenho da tela. O trabalho pericial deve esgotar
o assunto com a experiência, para mostrar como tais marcas foram deixadas
ali. Para tanto, foram feitos procedimentos do teste, como utilizar camiseta do
mesmo tamanho, tipo de fibra, espessura, modelo, características
semelhantes, além de pessoa de porte físico aproximado ao do réu. Ao
realizar esses exames, a perícia poderia obter diferentes conclusões quanto
ao desenrolar dos fatos. Todos os cuidados para a credibilidade científica do
teste haviam sido tomados, tais como a altura com relação ao piso, a tensão
da tela, a medida do vão da janela, a posição das camas. Havia a
necessidade de olhar para baixo em movimento espontâneo, e assim foi feito,
aplicando-se pó de grafite na tela para obter-se a impressão na camiseta nas
várias formas possíveis de imprimir a marca. O que mais chamou a atenção
foram as marcas da tela na face interna da manga da camiseta do réu,
incomuns em uma aproximação normal à janela. Foi utilizado pela perita um
peso de 25kg, que era quanto a vítima pesava. Foram repetidas várias
posições até se obter a mesma marca impressa na camiseta do réu,
permitindo que se pudesse entender o que aconteceu, passo a passo. Existia
uma diferença na coloração das marcas, mais forte em consequência do uso
do grafite, mas o desenho encontrado era exatamente o mesmo. Por fim, em
relação aos resultados do DNA, Dra. Rosângela afirmou que não é ela quem
15

faz esse tipo de exame, mas sim a parte responsável pela biologia do instituto,
entretanto, se dispôs à explicar: o material encontrado na cadeirinha do bebê
aponta para oito casas de DNA coincidentes com o material genético de
Isabella, enquanto o FBI necessita de apenas cinco casas para validar o
exame de confronto positivo.

Ao encerrar todos os depoimentos, o Conselho de Sentença decidiu pela


condenação de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, tendo sido reconhecido
que ambos praticaram, em concurso, um crime de homicídio triplamente qualificado
contra a vítima Isabella Oliveira Nardoni, pessoa menor de 14 anos, triplamente
qualificado pelo meio cruel, pela utilização de recurso que dificultou a defesa da vítima,
cometido por meio cruel (asfixia mecânica) e para garantir a ocultação de delito
anterior, ficando assim afastada a tese única sustentada pela Defesa dos réus em
Plenário de negativa de autoria. Reconheceu o Conselho de Sentença que os réus
também praticaram, naquela mesma ocasião, o crime conexo de fraude processual
qualificada.

A seguir, trechos extraídos da Sentença15 que condenou Alexandre Nardoni e


Anna Carolina Jatobá:

a) corréu ALEXANDRE ALVES NARDONI:


- pena de 31 (trinta e um) anos, 01 (um) mês e 10 (dez) dias de reclusão,
pela prática do crime de homicídio contra pessoa menor de 14 anos,
triplamente qualificado, agravado ainda pelo fato do delito ter sido
praticado por ele contra descendente, tal como previsto no art. 121,
parágrafo segundo, incisos III, IV e V c.c. o parágrafo quarto, parte final,
art. 13, parágrafo segundo, alínea ‘’a’’ (com relação à asfixia) e arts. 61,
inciso II, alínea ‘’e’’, segunda figura e 29, todos do Código Penal, a ser
cumprida inicialmente em regime prisional FECHADO, sem direito a
‘’sursis’’.
- pena de 08 (oito) meses de detenção, pela prática do crime de fraude
processual qualificada, tal como previsto no art. 347, parágrafo único do
Código Penal, a ser cumprida inicialmente em regime prisional
SEMIABERTO, sem direito a “sursis” e 24 (vinte e quatro) dias-multa, em
seu valor unitário mínimo.
b) corré ANNA CAROLINA TROTTA PEIXOTO JATOBÁ:
- pena de 26 (vinte e seis) anos e 08 (oito) meses de reclusão, pela
prática do crime de homicídio contra pessoa menor de 14 anos,
triplamente qualificado, tal como previsto no art. 121, parágrafo segundo,
incisos III, IV e V c.c. o parágrafo quarto, parte final e art. 29, todos do
Código Penal, a ser cumprida inicialmente em regime prisional
FECHADO, sem direito a ‘’sursis’’.

15
Conjur. Sentença condenatória dos réus Alexandre Alves Nardoni e Anna Carolina Trota Jatobá
(processo nº 274/08). 2º tribunal do júri da comarca da capital fórum regional de Santana/SP. Disponível
em: Acesso em: 11/07/2023.
16

- pena de 08 (oito) meses de detenção, pela prática do crime de fraude


processual qualificada, tal como previsto no art. 347, parágrafo único do
Código Penal, a ser cumprida inicialmente em regime prisional
SEMIABERTO, sem direito a “sursis” e 24 (vinte e quatro) dias-multa, em
seu valor unitário mínimo.

Em 03 de maio de 2011 Alexandre Nardoni teve a sua pena reduzida em 11


meses, através da decisão proferida pela 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça
de São Paulo.16

Por todo derradeiro, conclui-se que o papel pericial foi crucial no deslinde do
Processo Penal do ‘’Caso Isabella Nardoni’’, visto que foram utilizados meios eficazes
de análise na investigação na produção de provas, tais como a reprodução simulada
do ocorrido no crime através da reconstituição no local, a análise minuciosa da cena
do crime, a colheita e observação de vestígios e indícios de suma importância para o
deslinde processual, a análise de impressões digitais e vestígios biológicos exames
necroscópicos e elaboração de laudos periciais, os quais colaboraram para a busca
da verdade dos fatos ocorridos no dia do fato criminoso, garantindo a justiça no que
concerne à punição dos responsáveis pelo homicídio da criança de apenas cinco anos
de idade à época do acontecimento.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Perícia Oficial Brasileira de Natureza Criminal compreende-se como uma


atividade típica de Estado, sendo exercida por peritos criminais, peritos médico-
legistas e peritos odontolegistas com formação superior específica detalhada em
regulamento, de acordo com a necessidade de cada órgão e por área de atuação
profissional.
O presente artigo científico buscou retratar e expor os principais métodos
utilizados pela perícia criminal na coleta e análise de evidências em uma cena
criminosa, com o objetivo de demonstrar o seu papel crucial e primordial no curso do
Processo Penal.

16
Porfírio, Fernando. TJ paulista nega novo júri para casa Nardoni. Disponível em:
<http://www.conjur.com.br/2011- mai-03/tj-paulista-reduz-pena-alexandre-nardoni-nega-juri> Acesso
em: 29/07/2023.
17

Através de sua autonomia técnica, científica e funcional, a atividade pericial


pauta-se na busca da verdade dos fatos, na resolução de casos criminais e na garantia
da justiça, desempenhando um labor considerado fundamental de apoio à Autoridade
Policial, Judiciário e Ministério Público.
Percebeu-se que o papel técnico-científico executado pela perícia é de extrema
valia para elucidação da ocorrência de um fato delituoso, em especial ao homicídio,
quando esse deixar vestígios, a exemplo do repercutido caso criminal ‘’Isabella
Nardoni’’, ocorrido em 29 de março de 2008.
Diante disso, é notório afirmar que a perícia teve suma importância na
investigação do supracitado episódio criminoso em questão, possibilitando, através
de toda a sua atuação e produção de prova técnica apresentada nos autos, um
amparo e competente colaboração para a acusação que, ao final do desfecho
processual, teve seu pedido procedente, culminando na punição penal dos
responsáveis pelo homicídio da criança Isabella de Oliveira Nardoni.
18

REFERÊNCIAS

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de 1988. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, out. 1988.
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Acesso em: 22 jan. 2023.

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Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 13 out. 1940.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm. Acesso
em: 20 jan. 2023.

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[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 31 dez. 1940. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em:
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Brasil. Decreto-Lei nº 12.030, de 17 de setembro de 2009. Diário Oficial [da]


República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 18 set. 2009. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12030.htm. Acesso em:
1 ago. 2023.

Brasil. Decreto-Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Diário Oficial [da]


República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 24 dez. 2019. Disponível em:
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19

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Porfírio, Fernando. TJ paulista nega novo júri para casa Nardoni. Disponível em:
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