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Emissões de gases com efeito de estufa de um pomar de

macieiras fertilizado com efluentes pecuários

Eva Renata Cardoso Costa

Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em


Engenharia do Ambiente

Orientador: Doutor David Paulo Fangueiro


Coorientador: Doutor Henrique Manuel Filipe Ribeiro

Júri:
PRESIDENTE
Doutora Cláudia Saramago de Carvalho Marques dos Santos Cordovil, Professora
Auxiliar do(a) Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa

VOGAIS
Doutor David Paulo Fangueiro, Professor auxiliar do(a) Instituto Superior de
Agronomia da Universidade de Lisboa
Doutor José Luís da Silva Pereira, Professor adjunto com agregação do(a) Escola
Superior Agrária de Viseu do Instituto Politécnico de Viseu

2022
Agradecimentos

Em primeiro lugar, aos meus pais, pela aposta na minha educação e apoio nesta caminhada,
a finalização desta etapa é fruto da vossa força e suporte. O meu eterno e profundo
agradecimento.

Aos meus orientadores, Professor David Fangueiro e Professor Henrique Ribeiro, um


agradecimento especial. Por toda a ajuda, acompanhamento e orientação, pelo conhecimento
científico e competências que adquiri, pela vossa capacidade didática e profissionalismo,
pelas oportunidades futuras, o meu muito obrigada.

À minha colega de trabalho, Catarina Esteves, que sem ela este trabalho em forma alguma
seria igual, agradeço tanto. Pelo apoio e disponibilidade, pela instrução laboratorial, pela
amizade e sorrisos, incansável, palavras não são suficientes.

Aos técnicos Luís Cordeiro e Tiago Esteves, o meu muito obrigada por toda a sincronização
com os procedimentos no pomar. Ao técnico Luís Cordeiro pela ajuda com a fertilização.

Ao Senhor Justino pela ajuda no transporte dos efluentes pecuários e na parte elétrica da
montagem do equipamento no pomar, o meu agradecimento. Gostaria também de agradecer
aos técnicos da eletricidade pela ajuda nas ligações elétricas.

Ao Engenheiro Miguel Martins pela realização e explicação dos procedimentos laboratoriais


quando foi necessário, o meu muito obrigada.

Um especial agradecimento à Professora Mariana Mota por todo o esclarecimento estatístico


e constante disponibilidade.

Ao Professor Nuno Cortez, pela disponibilização da análise do solo do pomar e respetiva


caracterização pedológica, o meu muito obrigada.

Este trabalho foi apoiado pelo projeto Nutri2Cycle, financiado pelo Programa de Investigação
e Inovação Horizonte 2020 da União Europeia (convenção de subvenção n.º 773682) e pelos
Fundos Portugueses da FCT - Fundação Portuguesa para a Ciência e Tecnologia no âmbito
do projeto, e pelo Centro Linking Landscape, Environment, Agriculture And Food Research
(Ref. UIDB / 04129/2020 e UIDP / 04129/2020).

II
Resumo

A agricultura é um setor que em muito contribui para a emissão de gases com efeito
de estufa (GEE), onde para muitas culturas, como é o caso da macieira, existem poucos ou
nenhuns estudos sobre as emissões de GEE em cenários de fertilização orgânica utilizando
diferentes efluentes pecuários. Neste estudo determinou-se os fluxos de emissão do CO2, CH4
e N2O de um pomar de macieiras, parcialmente fertilizado com efluentes pecuários, sobre um
clima Mediterrâneo. Foram utilizados 5 tratamentos: controlo (100% fertilização mineral),
chorume de bovino, chorume de bovino acidificado, estrume de bovino e estrume de aves,
todos na proporção de 50% de efluente e 50% de fertilização mineral, de forma a suprir a
necessidade azotada da cultura igual a 80 kg de N disponível ha-1. As medições dos fluxos de
GEE foram realizadas entre março e agosto, com a determinação da concentração de cada
um dos gases através de um equipamento fotoacústico. Não se verificou diferenças
significativas (p<0,05) na produção da cultura pela utilização dos efluentes pecuários. As
emissões de CH4 variaram entre 398,37 mg C-CH4 m-2 com chorume de bovino acidificado e
4451,42 mg C-CH4 m-2 com chorume de bovino não acidificado. A emissão cumulativa de N2O
mais baixa foi obtida com o tratamento de controlo, 300,13 mg N-N2O m-2, e a mais elevada
com estrume de aves, 3412,07 kg N-N2O m-2. Em relação ao CO2, as emissões variaram entre
296,48 g C-CO2 m-2 com o controlo e 929,63 g C-CO2 m-2 com estrumes de aves. No balanço
global, o estrume de aves emitiu o maior valor cumulativo de CO2e. A acidificação do chorume
de bovino mostrou ser muito eficaz na mitigação das emissões de CH4. O teor de água no
solo foi o principal fator que influenciou as emissões.

Palavras-chave: emissões, gases com efeito de estufa, efluentes pecuários, solo, pomar

III
Abstract

Agriculture is a sector that greatly contributes for the emission of greenhouse gases
(GHG), in which for many crops, such as apples orchards, there are few or even no studies
about GHG in organic fertilization scenarios using different livestock effluents. In this study,
the emission fluxes of CO2, CH4 e N2O from an apple orchard, partially fertilized with livestock
effluents over a Mediterranean climate, where determined. Five treatments where used:
control (100 % mineral fertilization), cattle slurry, acidified cattle slurry, cattle manure and
poultry manure, all in the proportion of 50 % effluent and 50 % mineral fertilization, in order to
supply the crop nitrogen requirement equal to 80 kg of available N ha-1. The measurements of
the GHG fluxes were carried out between march and august, using a photoacoustic equipment
to determinate the concentration of each gas. The were no significant differences (p<0,05) in
the crop yield due to the use of livestock effluents. The cumulative CH4 emissions ranged from
398,37 mg C-CH4 m-2 with acidified cattle manure to 4451,42 mg C-CH4 m-2 with non-acidified
cattle manure. The lowest cumulative N2O emission was obtained by control treatment, 300,13
mg N-N2O m-2, and the highest by the poultry manure treatment, 3412,07 kg N-N2O m-2.
Regarding CO2, cumulative emissions ranged between 296,48 g C-CO2 m-2 from the control
and 929,63 g C-CO2 m-2 from the poultry manure. Overall, poultry manure emitted the highest
cumulative value of CO2e. The acidification of cattle manure proved to be very effective in
mitigating emissions of CH4. Soil water content was the main factor influencing emissions.

Keywords: emissions, greenhouse gases, livestock effluents, soil, orchard

IV
Publicações no âmbito da presente dissertação

1) Catarina Esteves, Eva Costa, Henrique Ribeiro, David Fangueiro, 2021. Nitrogen
availability in an apple orchard fertilized with manures: a laboratory experiment. (aceite
para comunicação oral na 5ª edição do ManuREsource, que se irá realizar nos dias 24
e 25 de Novembro de 2021 em Hertogenbosch, Holanda).

“Livestock manures and slurries are a great source of plant nutrients, however, their use in
crop fertilization requires some knowledge of its nitrogen mineralization rate, to ensure that the
release rate of nitrogen meet the crop’s needs in terms of quantity and timing. To study the N
mineralization rate of different manures and slurries an incubation trial was set up with five
treatments (four replicates each) as follows: cattle slurry (CS), acidified cattle slurry (ACS)
obtained by addition of 6 mL of sulfuric acid to 1 L of slurry, cattle manure (CM), poultry manure
(PM) and a control (CTRL) which did not receive any fertilization. The manures and slurries
were applied at a rate of 210 kg ha-1 of total N, and the soil moisture was maintained, by weight,
at 65% of soil water holding capacity. The soil was collected from the 0-30 cm layer of an apple
orchard, characterized with a clay texture. The amended soils were stored in PVC boxes and
placed in an incubator at 20 °C. To allow oxygen flow, the lid was loosely placed on top of the
box. The trial lasted for 119 days, during which soil samples were collected at a predefined
dates to assess pH and electrical conductivity (EC), and nitrogen in the form of ammonium (N-
NH4+) and nitrate (N-NO3-).
The results show a strong decrease of ammonium concentration in the first 8 days after
application, in all treatments. At the same time, nitrate concentration peaked, mostly in the CS,
ACS, and CM treatments, which indicates that nitrification had occurred. CTRL and PM
treatments did not peak, instead their nitrate concentration decreased slightly. After day 21,
nitrate and ammonium concentrations in soil were quite low. This result indicates some
nitrogen immobilization, mainly NH4+, which is the most available N form, was being retained
by the soil microbial biomass (expectably high in soils with a clay texture) and therefore not
available for nitrification. The effect was enhanced in the organic treatments due to the addition
of organic carbon compounds, and because of the high levels of microbial biomass and activity
characteristic of manures (Abassi et al., 2007). Ammonium concentration remained low or zero
for the rest of the trial, but nitrate concentration rose again after day 49 in the CS and ACS
treatments, reaching a maximum of 9,10 and 12,10 mg kg-1 at day 91, respectively; in the CM
and PM treatments there is also a slight increase of nitrate, but less accentuated and with more
variations than the previously mentioned treatments. The rise in nitrate concentration suggest
that some ammonium was being released, probably from organic N mineralization, and being

V
consumed by the nitrifying bacteria in optimal nitrification conditions. At the end of the trial, the
manure-based treatments presented the highest concentration of nitrate and, consequently,
the highest concentration of total mineral N (N-NH4+ + N-NO3-) in relation to CTRL, a direct
result of the mineralization of organic N and ammonium present in the manures and slurries.
These results indicate that, even though the manures and slurries proved to be good sources
of nitrogen, the soil used in the present trial may be prone to N immobilization, hence, an early
application of manure-based fertilizers may be preferable to match nitrogen release to the
timing of the crop’s needs.”

References

Abbasi, M.K., Hina, M., Khalique, A., Khan, S.R., 2007. Mineralization of three organicmanures
used as nitrogen source in a soil incubated under laboratory conditions. Commun. Soil Sci.
Plant Anal. 38(13–14), 1691–1711. doi:10.1080/00103620701435464

VI
2) Catarina Esteves, Eva Costa, David Fangueiro, Henrique Ribeiro, 2021. Assessment
of animal manures application as partial substitutes of mineral fertilizers in an apple
orchard. (aceite para comunicação oral na 5ª edição do ManuREsource, que se irá
realizar nos dias 24 e 25 de Novembro de 2021 em Hertogenbosch, Holanda)

“The increase of the amount of animal manure produced in Europe requires the need for new
soil areas for its application, apart from the conventional cereals and feed crops. In the present
work, animal manures were used to partially replace mineral fertilizers, which are known to
cause ill impacts to the environment, in an apple orchard, with the main objectives of assessing
this practice’s effects on crop performance and productivity, and on soil health. Hence, a trial
was set up in an apple orchard with a soil characterized with a clay texture. Five treatments
were designed (four replicates each): cattle slurry (CS), acidified cattle slurry (ACS) - adding 6
mL of sulfuric acid to 1 L of slurry-, cattle manure (CM), poultry manure (PM) and a control
(CTRL), which received only the conventional mineral fertilizers. The trial has been on-going
for two growing seasons so far, and in the first season the manure-based treatments received
25% of the crop’s nitrogen (N) needs in the form of solid manure or slurry, whereas the other
75% was in the form of mineral fertilizers (fertirrigation), to fulfil the crop’s need of 60 kg ha-1
of plant available nitrogen (N). In the second season, the substitution rate of mineral fertilizers
for the manures was increased to 50% to fulfil a total of 80 kg ha-1 of plant available N, since
the orchard was underdeveloped. Soil samples were collected at the beginning of each
season, and analysed for mineral N (Nmin, in the form of nitrate and ammonium), pH and
electrical conductivity, organic matter (OM), and macro- and micronutrients. Fruit production
and selected traits of fruit quality (weight, diameter, soluble solid content (SSC), and flesh
firmness) were also assessed.
The results from the soil samples at the end of the first growing season have shown that there
were no significant differences between the treatments, indicating that the 25% substitution
rate with organic fertilizers did not differ from the CTRL (100% mineral fertilizers). It would be
expected an increase of soil OM, due to the added organic compounds by the manures and
slurries, or an increase of plant available nutrients, as a result of OM mineralization, however,
that did not occur, maybe because of the small substitution rate or because the effects are
lessen in a somewhat fertile soil, as the soil in the present trial presented a "medium" level of
organic matter (2,4%). Regarding fruit production, it reflects the soil analysis’ results as it did
not differ significantly among treatments in both seasons, demonstrating that crop production
was not injured with the replacement of the more nutrient available chemical fertilizers, by the
organic fertilizers, in either of the substitutions rates used in the present trial. Contrarily, fruit
quality analysis did reveal significant differences between treatments, only regarding SSC and

VII
flesh firmness, even though the results were not consistent in both seasons, as anticipated
since these traits fluctuate from season to season and depend on several environmental and
agronomical factors (Musacchi and Serra, 2018). Also, in the first season leaf analysis was
also taken, with the CTRL treatment leaves exhibiting the least concentration of boron (B),
potassium (K) and phosphorus (P). This result suggests that the added manures and slurries
may have provided an initial amount of available nutrients, or that their mineralization rate
allowed the slow release of plant nutrients to better match the crop’s needs, in contrast to the
CTRL treatment. Although, this effect is not enough to be reflected in the fruit production.
However, more results are needed to fully understand the effects of the partial substitution of
the chemical fertilizers with manure-based fertilizers, on the short and long-term, and specially
in a perennial crop such as the apple tree, which is lacking in the literature. Nevertheless, these
preliminary results were quite positive since they indicate that partial replacement of mineral
fertilizers by animal manures did not harm fruit production, nor soil or plant health. “

References

Musacchi, S., Serra, S., 2018. Apple fruit quality: Overviwe on pre-harvest factors. Sci. Hortic.
234, 409-430. doi:10.1016/j.scienta.2017.12.057

VIII
Índice

Agradecimentos ....................................................................................................................... II

Abstract ................................................................................................................................... IV

Publicações no âmbito da presente dissertação...................................................................... V

Lista de Quadros ..................................................................................................................... XI

Lista de Figuras ...................................................................................................................... XII

1. Introdução e Objetivos ......................................................................................................... 1

2. Revisão Bibliográfica ............................................................................................................ 4

2.1. Produção frutícola - Maçãs ............................................................................................... 4

2.2. Efluentes pecuários utilizados como fertilizantes orgânicos ............................................. 5

2.3. Gases com efeito de estufa .............................................................................................. 7

2.4. Emissão de GEE pela agricultura ..................................................................................... 7

2.4.1. Contextualização sobre a Europa e Portugal ............................................................. 8

2.5. Ciclo do C, formação de CO2 e CH4 e dinâmica no solo .................................................. 9

2.6. Ciclo do N, formação de N2O e dinâmica no solo ........................................................... 11

2.7. Objetivos futuros na mitigação de emissões e importância do tema em estudo ............ 14

3. Materiais e Métodos ........................................................................................................... 16

3.1. Área experimental ........................................................................................................... 16

3.2. Delineamento experimental ............................................................................................ 18

3.3. Efluentes pecuários utilizados e tratamentos.................................................................. 19

3.4. Doses de aplicação dos efluentes .................................................................................. 20

3.5. Adubação mineral azotada ............................................................................................. 21

3.6. Medições e cálculo do fluxo de GEE pelo solo ............................................................... 21

3.7. Análise laboratorial dos efluentes ................................................................................... 24

3.7.1. pH e CE .................................................................................................................... 25

3.7.2. Matéria Seca e Matéria Orgânica ............................................................................. 25

3.7.3. Azoto total................................................................................................................. 26

IX
3.7.4. Azoto amoniacal (NH4+) ............................................................................................ 26

3.7.5. Macronutrientes e Na ............................................................................................... 26

3.8. Análise laboratorial das amostras de solo ...................................................................... 27

3.9. Produtividade .................................................................................................................. 28

2.10. Análise Estatística ......................................................................................................... 28

4. Resultados e Discussão..................................................................................................... 30

4.1. Composição dos efluentes pecuários ............................................................................. 30

4.2. Composição do solo........................................................................................................ 33

4.3. Fluxo de GEE .................................................................................................................. 35

4.3.1. Emissões de CH4...................................................................................................... 35

4.3.2. Emissões de N2O ..................................................................................................... 40

4.3.3. Emissões de CO2 ..................................................................................................... 45

4.5. Produtividade da cultura ................................................................................................. 49

4.6. Emissões de gases em função da produtividade da cultura ........................................... 50

4.4. Mitigação das emissões de GEE .................................................................................... 51

5. Conclusão .......................................................................................................................... 53

6. Referências Bibliográficas.................................................................................................. 54

X
Lista de Quadros

Quadro 1- Parâmetros físico-químicos da composição dos efluentes pecuários abordados no


presente estudo (Despacho n.º 1230/2018). MS- matéria seca; MO - matéria orgânica; N -
azoto; P2O5 - fósforo disponível; K2O - potássio disponível. .................................................... 6

Quadro 2- Determinação da quantidade de efluentes a aplicar por talhão............................ 21

Quadro 3- Composição dos efluentes pecuários – valor médio de 3 repetições expresso na


matéria fresca. ....................................................................................................................... 32

Quadro 4- Continuação da composição dos efluentes pecuários (teores de macronutrientes e


Na) – valor médio de 3 repetições expresso na matéria fresca. ............................................ 32

Quadro 5- Teores de azoto total (N total), azoto disponível (N disp), azoto amoniacal (NH4+)
carbono orgânico (C orgânico) e fósforo (P2O5) médios aplicados a cada talhão pelos efluentes
pecuários. ............................................................................................................................... 33

Quadro 6- pH, CE, teores de azoto (NH4+, NO3- e N total), matéria orgânica e carbono orgânico
(C orgânica) do solo. Cada tratamento corresponde à média dos quatro talhões onde os
efluentes posteriormente foram aplicados – média de 3 repetições. ..................................... 34

Quadro 7- Teores médios de fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e sódio (Na)
extraíveis no solo. Cada tratamento corresponde à média dos talhões onde estes
posteriormente foram aplicados – média de 3 repetições. .................................................... 34

Quadro 8 - Produtividade média de cada tratamento por hectare (ha) e área seccional do
tronco - AST (cm2) – média de 4 repetições. ......................................................................... 50

Quadro 9 - Fluxo cumulativo de emissão dos GEE (mg m-2) e do CO2e (g m-2) por produção
(kg de maçã produzido ha-1). ................................................................................................. 51

XI
Lista de Figuras

Figura 1- Dados climáticos do pomar entre 2 de Março e 24 de Agosto. A- Humidade do solo


(mm) a azul e nível máximo de água (mm) a verde. Acima do nível máximo o solo encontra-
se saturado; B – Precipitação e fertirrega (mm) a azul-escuro e laranja, respetivamente. ... 17

Figura 2- Projeção aérea do pomar de macieiras. Imagem obtida a partir do Google Earth. 18

Figura 3- Delineamento experimental. - Variedade Gala; - Variedade Fuji; CTR –


controlo; CB – chorume de bovino; CBA – chorume de bovino acidificado; EB – estrume de
bovino; EA – estrume de aves; Quadrante 1 e 4 – 50% efluentes pecuários/50% fertirrega
mineral nas linhas 2,5,12 e 16. Quadrante 2 e 3 – 100% fertilização mineral. ...................... 19

Figura 4- Fotografias ao longo do ensaio de campo, desde a colocação das bases das
câmaras (lado esquerdo), à preparação da zona de mantimento da parte superior das câmaras
(lado superior direito) e às medições de gases (lado inferior direito). ................................... 22

Figura 5- Acumulação de CO2 dentro da câmara pelo tratamento estrume de aves, no dia 6
de março (2ª medição), repetição 2 (linha 5). ........................................................................ 23

Figura 6- Fluxo de CH4 emitido (mg C-CH4 m-2 d-1) - média de 4 repetições. ........................ 36

Figura 7- Valor cumulativo de CH4 emitido (mg C-CH4 m-2) - média de 4 repetições. ........... 39

Figura 8- Fluxo de N2O emitido (mg N-N2O m-2 d-1) - média de 4 repetições......................... 41

Figura 9- Valor cumulativo de N2O emitido (mg N-N2O m-2) - média de 4 repetições. .......... 43

Figura 10- Fluxo de CO2 emitido (mg C-CO2 m-2 d-1) - média de 4 repetições. ..................... 45

Figura 11- Valor cumulativo de CO2 emitido (g C-CO2 m-2) - média de 4 repetições. ........... 47

Figura 12- Valor cumulativo de CO2e emitido nos 175 dias do ensaio (g CO2e m-2). ............ 48

XII
Introdução e Objetivos

1. Introdução e Objetivos

A produção frutícola representa uma das principais produções agrícolas


mundiais, abrangendo 11 % da produção global de culturas primárias (FAO, 2020). Pela
sua importância na saúde humana (Van Duyn e Pivonka, 2000), e em paralelo com o
exponencial crescimento demográfico, maiores consumos e procura de fruta têm sido
verificados nos últimos anos (FAOSTAT, 2021). Neste sentido, a produção é
incrementada, e acompanhada de uma maior exploração de recursos, como água,
fertilizantes, energia e solo (IPCC, 2019a). Mais recursos, muitas vezes, significam mais
impactes ambientais associados, desde a poluição dos recursos hídricos, destruição e
alteração de habitats, degradação da qualidade dos solos e emissões de gases com
efeito de estufa (GEE) (Jones et al., 2012; Shukla et al., 2019).
Atualmente atravessamos um período onde as alterações climáticas são o
holofote das preocupações governamentais por todo o globo. Mais do que nunca, hoje
sofremos as consequências das ações do passado, relativas à revolução industrial e
constante exploração de recursos, resultando no aumento das emissões de GEE. Os
GEE absorvem a radiação infravermelha, retendo o calor e aquecendo a troposfera
(Snyder et al., 2009; Hansen, 2019), sendo os responsáveis pelas alterações climáticas
(Wallington et al., 2009). A emissão de GEE deriva de diferentes atividades
antropogénicas, onde o setor agrícola contribui com cerca de 11% da totalidade de GEE
emitidos na EU-28 (Domingo et al., 2014; EEA, 2021).
Os solos são um dos maiores reservatórios e emissores de dióxido de carbono
(CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). As emissões de GEE por parte dos solos
agrícolas são afetadas por diversos fatores dinâmicos (Oertel et al., 2016), uns
endógenos aos sistemas de produção, como tipos de fertilização, intensidade produtiva
e técnicas de uso do solo, e outros que não se consegue intervir e que são exógenos
aos mesmos, como o clima, composição físico-química do solo e as interações das
comunidades no solo. Entender como é que diferentes características do solo refletem
diferentes cenários de emissões é um fator chave para aplicar métodos de produção e
fertilização mais sustentáveis, mas ainda assim muito complexo por se tratar de um
sistema tão dinâmico e dependente entre si. Em paralelo com a urgência atual de mitigar
impactes e cumprir metas ambientais, métodos de produção agrícola mais sustentáveis
e com maior precisão são cada vez mais estudados e aplicados.
Tem-se vindo a mostrar que produzir de forma mais sustentável, com viabilidade
de gerir e intervir ao longo do tempo, inclui minimizar o recurso à fertilização mineral

1
Introdução e Objetivos

(Meng et al., 2005; Cerutti, et al., 2011). O uso de efluentes pecuários, como fertilizante
orgânico na agricultura, contribui para o aumento de nutrientes disponíveis para as
culturas (Du et al., 2020) e da fertilidade do solo (Meng et al., 2005; Steiner et al., 2007;
Shakoor et al., 2021; Gautam et al., 2020), como também para o sequestro de carbono
no solo (Maillard and Angers, 2014; He et al., 2016; Gautam et al., 2020), entre outros.
Os efeitos que estes tipos de efluentes têm no solo abriu as portas para a sua
valorização, que de outra forma seriam desperdiçados como resíduos da produção
pecuária. No entanto, sobre certas condições pedo-climáticas, a aplicação de efluentes
pecuários pode estimular a libertação de GEE, principalmente sobre formas gasosas de
azoto (Ruangcharus et al., 2021; Xia et al., 2020), podendo anular os efeitos positivos
dos mesmos, o aposto do que seria pretendido. Em culturas sobre climas Mediterrâneos
e irrigadas, como é o caso em estudo, existem condições propícias à emissão de GEE
(Florio et al., 2016).
O presente estudo surge no âmbito de um projeto europeu, Nutri2Cycle, focado
nos fluxos do azoto (N), fósforo (P) e carbono (C), sobre diferentes gestões agrícolas
por toda a Europa, com o intuito de contribuir para uma economia circular, fechando os
ciclos destes nutrientes. A principal missão deste projeto passa por analisar os efeitos
ambientais negativos causados sobre diferentes gestões agrícolas, incluindo as
emissões de GEE.
Do que foi possível averiguar, poucos ou nenhuns estudos sobre a produção de
culturas frutícolas, entre outras culturas, relatam emissões dos três principais GEE em
cenários de fertilização orgânica com diferentes efluentes pecuários. Em pomares de
macieiras, não foi encontrada nenhuma bibliografia aplicada a este estudo. Neste
sentido, este trabalho vem disponibilizar um primeiro conjunto de dados relativos às
emissões dos principais GEE num pomar de macieiras do Instituto Superior de
Agronomia, em cenário de fertilização com efluentes pecuários.
Os objetivos deste estudo foram:
i. Determinar e analisar as emissões de GEE num pomar de macieiras
fertilizado com efluentes pecuários;
ii. Identificar os principais parâmetros que afetam as emissões de GEE;
iii. Identificar a influência da utilização de efluentes pecuários como
fertilizante orgânico na produtividade das macieiras.

Para ir ao encontro destes objetivos, e com base num levantamento bibliográfico


prévio, algumas hipóteses são apresentadas: Os efluentes líquidos (chorumes) emitem

2
Introdução e Objetivos

menos CH4, mas mais N2O? O estrume de aves emite mais N2O do que os efluentes de
bovino? A acidificação do chorume de bovino foi eficaz na mitigação das emissões? Os
efluentes pecuários emitem mais do que a fertilização exclusivamente mineral? A
utilização destes materiais orgânicos afeta a produção?

3
Revisão Bibliográfica

2. Revisão Bibliográfica

2.1. Produção frutícola - Maçãs

Na Europa a produção frutícola apresenta um elevado valor económico (European


Commission, 2021), principalmente pelo aumento da procura, consequente do crescimento
demográfico e da consciencialização ao longo do tempo da importância em ter hábitos
alimentares mais saudáveis e equilibrados, onde o consumo de fruta tem um papel
fundamental (Van Duyn e Pivonka, 2000). Os aumentos de produção das culturas frutícolas
(FAO, 2020) são também acompanhados pelo aumento do uso de recursos, que incluem
fertilização, água, solo, energia e maquinaria (IPCC,2019a). Neste sentido, a análise dos
impactes no ambiente resultantes do maior uso destes recursos e propostas de mitigação e
proteção ambiental são cada vez mais indispensáveis. Um destes impactes é a emissão de
GEE, que considerando o papel que desempenham sobre o aquecimento global e as
alterações climáticas (Wallington et al. 2009), torna-se crucial a sua ponderação sobre
diferentes métodos de gestão e produção agrícola. As culturas frutícolas (como também
hortícolas) são substanciais emissoras de GEE quando comparando com outras culturas (Wu
et al., 2021; Zhao et al., 2021), principalmente pela influência da maior taxa de fertilização
aplicada (Wu et al., 2021), e quando são irrigadas em climas Mediterrâneos (Florio et al.,
2016).
A maçã domesticada para consumo humano, Malus domestica Borkh, da família
Rosaceae e sub-família Maloideae (Brown, 2012), é dos frutos mais produzidos e consumidos
mundialmente (FAOSTAT, 2021), existindo cerca de 40 cultivares diferentes no volume de
produção mundial (OECD, 2019). Na Europa a produção de frutos é centrada em maçãs,
laranjas, pêssegos e peras, sendo a maçã o principal fruto produzido, correspondendo a 29%
do total da produção frutícola europeia (Rossi, 2019). Em 2020, a produção de maçãs na EU-
27 foi cerca de 10 658 000 toneladas e em Portugal 267 200 toneladas, correspondendo a
aproximadamente 2,5% da produção europeia (European Commission, 2020). Em área
ocupada, esta produção abrangeu 502 000 ha e 14 600 ha na Europa e Portugal,
respetivamente (European Commission, 2020). De um total de superfície agrícola utilizada
(SAU) de 3 963 945 ha em Portugal, em 2019 (FFMS, 2021), e assumindo pouca variação
deste valor para 2020, a área total ocupada pela produção de maçãs em Portugal corresponde
a 0,37% da área total ocupada pela agricultura, sendo o segundo fruto fresco mais produzido
a nível nacional (INE, 2021).

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Revisão Bibliográfica

É uma cultura perene e de folha caduca, a época de floração é entre abril e maio e a
colheita dos frutos normalmente entre agosto e setembro. Temperaturas moderadas e solos
com textura franco-argilosa, férteis, com pH neutro a ligeiramente ácido, profundos e com boa
drenagem apresentam condições propícias à produção. A necessidade nutricional azotada da
maçã pode variar entre 20 e 120 kg N ha-1 ano -1 (LQARS, 2006; Cavaco, 2011; Cheng, 2010).
A variedade de maçãs Gala é caracterizada pelos seus frutos serem de polpa branca, doce e
sumarenta, epiderme vermelha/alaranjada e com um formato arredondado (Sousa, 2020).

2.2. Efluentes pecuários utilizados como fertilizantes orgânicos

A fertilização mineral e a fertilização orgânica são as principais formas de introdução


e gestão dos nutrientes no solo (Gautam et al., 2020), sendo responsáveis pelo aumento da
produtividade das culturas (Vilarrasa-Nogué et al., 2019). Os fertilizantes orgânicos mais
utilizados nos solos são os efluentes pecuários, e a sua valorização, numa visão de gestão
de recursos e resíduos, assim como de economia circular, é muito relevante, já que que de
outra forma estes seriam desperdiçados como resíduos da produção pecuária.
Os estrumes e chorumes são efluentes pecuários utilizados na agricultura, com o
principal propósito de introduzirem matéria orgânica e nutrientes no solo, e assim contribuírem
para a sua fertilidade. De acordo com o Despacho n.º 1230/2018, a definição legal de estrume
é “a mistura sólida de fezes e urinas dos animais das espécies pecuárias, podendo conter as
camas de origem vegetal, que não apresenta escorrência líquida aquando da sua aplicação”.
No que diz respeito ao chorume, a sua definição legal é uma “mistura líquida ou semilíquida,
de fezes e urinas dos animais das espécies pecuárias, (...) que pode conter desperdícios da
alimentação animal ou de camas e as escorrências provenientes de nitreiras ou silos.”. No
Quadro 1 são apresentados os teores genéricos dos principais parâmetros da composição de
efluentes pecuários, reportado pelo Código das Boas Práticas Agrícolas (CBPA) (Despacho
n.º 1230/2018). São apenas apresentados para os efluentes pecuários utilizados neste
estudo. Em geral, os chorumes são efluentes com consistência líquida e menor matéria
orgânica, e os estrumes efluentes com uma textura sólida e um teor de matéria orgânica
superior.

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Revisão Bibliográfica

Quadro 1- Parâmetros físico-químicos da composição dos efluentes pecuários abordados no


presente estudo (Despacho n.º 1230/2018). MS- matéria seca; MO - matéria orgânica; N -
azoto; P2O5 - fósforo disponível; K2O - potássio disponível.

MS MO N total P2O5 K2O


Efluente Pecuário
kg t-1 de estrume ou kg m-3 de chorume
Chorume de Bovino 90 70 4,3 1,8 8
Estrume de Bovino 210 175 5,3 2,2 10,8
Estrume de Aves 550 430 30 26 15

A dieta alimentar dos animais é um fator chave na influência da composição dos


efluentes por estes excretados (Ruangcharus et al., 2021). Diferentes características neste
tipo de material orgânico, poderão refletir, mais tarde, variação nas emissões de gases.
Quando comparada com a fertilização mineral, a aplicação de efluentes pecuários aos
solos agrícolas apresenta diversos benefícios. Promovem a fertilidade dos solos (Meng et al.,
2005; Steiner et al., 2007; Shakoor et al., 2021), introduzem formas de azoto (N) disponíveis
e carbono (C) (Liu et al., 2015; Gautam et al., 2020), estimulando as atividades dos
organismos heterotróficos (Hayakawa et al., 2009), aumentam o teor de C orgânico no solo e
a condutividade elétrica (Ozlu e Kumar, 2018), aumentam a retenção de N e reduzem a
lixiviação de nitratos (NO3-) (Zhou et al., 2016), proporcionam o sequestro de C pelo solo
(Maillard and Angers, 2014; He et al., 2016; Gautam et al., 2020) e estabilizam o pH, ao invés
de acidificarem as camadas superficiais do solo como ocorre com a fertilização mineral (Ozlu
e Kumar, 2018). Por outro lado, os teores de N disponível (NH4+ e NO3-), C e para o caso dos
chorumes, água, presentes nos efluentes (Gregorich et al., 2005) são potenciais estimulantes
na produção de N2O e CH4 (Chadwick et al., 2011; Xia et al., 2020; Ruangcharus et al., 2021).
Comparando com a fertilização mineral, a aplicação de maiores taxas dos efluentes pecuários
no solo reflete maiores vantagens à fertilidade do mesmo (Gautam et al., 2020), mas ao
mesmo tempo estimula as emissões de GEE, a lixiviação de nitratos, e poderá levar a um
aumento da salinidade no solo e aplicação de fósforo (P) em excesso (Ozlu e Kumar, 2018).
Assim, apesar da aplicação de efluentes pecuários ao solo apresentar inúmeras
vantagens, em função de vários fatores como as propriedades dos efluentes, taxas de
aplicação e características do solo, poderá trazer, também, efeitos mais negativos. Desta
forma, o enquadramento deste tipo de corretivos na agricultura deve ser devidamente
ponderado, ao fim de encontrar o equilíbrio certo entre a contribuição positiva para a produção
agrícola e a preservação do ambiente.

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Revisão Bibliográfica

2.3. Gases com efeito de estufa

Os GEE são responsáveis por absorver a radiação infravermelha, retendo calor e


aquecendo a superfície da Terra (Snyder et al., 2009). Incluem o dióxido de carbono (CO2), o
metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), o ozono (O3), o vapor de água e os gases fluorados. Ao
contrário dos restantes gases, que podem ocorrer tanto naturalmente como pelas ações
antropogénicas, os gases fluorados são exclusivamente emitidos por origens antropogénicas,
isto é, não naturais. Nos inventários de emissões realizados pelos países, incluindo Portugal,
são também abrangidos outros GEE considerados indiretos, como o monóxido de carbono
(CO), o dióxido de enxofre (SO2), os óxidos de azoto (NOx) e os compostos orgânicos voláteis
não metálicos (COVNM) (APA, 2021). Os efeitos no aquecimento proveniente da emissão de
GEE podem, muitas vezes, conduzir a alterações climáticas pouco positivas, tais como secas,
redução da quantidade de precipitação e chuvas erráticas (Musafiri et al., 2020), para além
de muitos outros fenómenos consequentes destes. Estes gases são emitidos em grande parte
pelas atividades antropogénicas em diferentes sectores, sendo os principais GEE
relacionados com o setor agrícola e o uso de solos o CO2, CH4 e N2O.
Diferentes gases apresentam diferentes impactes no aquecimento do planeta. Assim,
é importante destacar dois fatores quando os abordamos, o seu potencial de aquecimento,
usualmente designado como Global Warming Potential (GWP), e o tempo de retenção na
atmosfera. O GWP estima a contribuição para o aquecimento global pela emissão de uma
tonelada de um determinado gás quando comparando com a emissão de uma tonelada de
CO2, para um determinado horizonte de tempo, normalmente 100 anos (IPCC, 2001). Quão
maior o GWP de um determinado gás, maior radiação é absorvida e consequentemente maior
é a sua contribuição para o aquecimento da superfície do planeta. O GWP permite que o
impacte de cada gás seja expresso numa unidade comum, conhecida como CO2 equivalente
(CO2e). Em relação ao tempo de retenção na atmosfera, cada gás apresenta períodos de vida
diferentes, podendo variar entre décadas a séculos. Para um horizonte de 100 anos, o CH4 e
o N2O apresentam um GWP de 28 e 265, respetivamente, e um período de retenção na
atmosfera de 12,4 e 121 anos, respetivamente (IPCC, 2014).

2.4. Emissão de GEE pela agricultura

Os solos influenciam a concentração de GEE presentes na atmosfera atuando ou


como fonte de emissão ou como reservatório. A gestão dos solos agrícolas quando focada no
aumento da produção de alimentos constitui um fator crucial nos fluxos de gases de efeito
estufa, principalmente porque grande parte da utilização dos solos à escala global dedica-se
à produção de alimentos, verificando-se constantes aumentos nas últimas décadas

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Revisão Bibliográfica

(FAOSTAT, 2021). De 1961 a 2017 a produção mundial total de campos de cereais, a


pecuária ruminante, o volume de irrigação e o uso de fertilização inorgânica azotada,
aumentaram cerca de 200, 65, 105 e 800%, respetivamente (IPCC, 2019a). Estes valores
retratam a importância de haver uma mudança na agricultura que vá ao encontro de uma
maior sustentabilidade de produção e da proteção do ambiente e da biodiversidade.
Nos solos, os fluxos de CO2, CH4 e N2O são resultado de complexos processos
biogeoquímicos e da incorporação ou decomposição da matéria orgânica (Muñoz et al., 2010).
Tais processos são influenciados por diversas propriedades do solo que afetam a atividade
microbiana, tais como textura, temperatura, pH e teores de humidade, C e N. Por estas razões
diferentes cenários de emissões são reportados pelos estudos nesta temática, mesmo
quando, por exemplo, os tipos e taxas de fertilização são idênticas, sobre culturas iguais. Isto
demonstra que a complexidade de fatores que envolvem o ecossistema solos afeta muito o
cenário de emissões. Desta divergência de conclusões, surge a necessidade de obter uma
base de dados robusta na temática das emissões de GEE pelos solos agrícolas, já que, para
muitas culturas, como é o caso da macieira, e como já salientado, há pouca ou nenhuma
bibliografia disponível.

2.4.1. Contextualização sobre a Europa e Portugal

Cerca de 40% do território da União Europeia é cultivado (Eurostat, 2021). Em 2020,


43% da superfície total do território português era utilizada pela agricultura, percentual de SAU
mais elevado desde 2003 (FFMS, 2021; INE, 2020). Numa visão global, estes valores realçam
a importância deste sector na Europa e em Portugal, seja no desenvolvimento rural e cultural,
contribuição para o PIB, fornecimento de alimentos e matérias-primas, manutenção de
habitats naturais e paisagens, criação de trabalho, entre outros. Por outro lado, práticas
agrícolas insustentáveis e incorreto uso do solo, apresentam diversos impactes negativos
sobre o ambiente e os seus recursos, incluindo poluição do ar, dos solos e dos recursos
hídricos, degradação e destruição de habitats, e perda de biodiversidade.
De acordo com o inventário de emissões de GEE entre 1990 e 2019, publicado em
maio de 2021 pela Agência Europeia do Ambiente (EEA, 2021), o sector agrícola, em 2019,
contribuiu com cerca de 10,55% (429 milhões de toneladas de CO2e) do total de emissões de
GEE da Europa (engloba os 27 atuais estados-membros, o Reino Unido e a Islândia), onde,
dentro do sector, 53,8% das emissões são de CO2, 43,6% de CH4 e 2,6% de N2O. Logo atrás
do sector energético, a agricultura é o segundo sector que mais contribui para as emissões
de GEE. Ainda assim, desde 1990, houve um decréscimo das emissões deste sector em 20%,

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Revisão Bibliográfica

o que retrata o esforço que tem sido feito nas últimas décadas em minimizar as emissões em
paralelo com os aumentos de consumo e produção de alimentos (IPCC, 2019a). De um total
de emissões de GEE na Europa de 4067 milhões de toneladas de CO2e em 2019, excluindo
o sector do uso do solo e florestas, o continente português e os seus arquipélagos
contribuíram com cerca de 64 milhões de toneladas de CO2e (1,57%), valor este que
aumentou cerca de 8,47% desde 1990. Dentro do sector agrícola, em 2019, Portugal
contribuiu com 1,61% para as emissões totais da Europa, sendo o 17º país que mais emite
no sector.
Ainda sobre o mesmo inventário, no total das emissões de GEE na Europa, 11%
destas são de CH4, maioritariamente devido às emissões pela fermentação entérica de gado
bovino (36%), mas também pela digestão anaeróbia (10%) e pela própria agricultura (9%). Da
mesma forma que o CH4, a maioria das emissões de N2O é igualmente originada pelo sector
da agricultura, 53% pela emissão direta por parte da gestão dos solos e 11% pelas culturas,
sendo este gás responsável por 6% do total de emissões europeias de GEE. No que respeita
ao contributo da gestão dos efluentes pecuários nas emissões, cerca de 18% das emissões
de CH4 e 12% das emissões de N2O do sector agrícola são causadas por estes. Em 2019,
Portugal contribuiu com 1,8% do total de emissões de CH4 e 0,9% do total de emissões de
N2O provenientes da gestão de efluentes pecuários.

2.5. Ciclo do C, formação de CO2 e CH4 e dinâmica no solo

O ciclo rápido do carbono, isto é, que contribui para as mudanças climáticas que
ocorrem entre décadas a milénios, envolve os processos biológicos de fotossíntese e de
decomposição (Lee, 2015). Através de diversas fontes (antropogénicas e naturais) o CO2 é
emitido sobre a atmosfera e, pelo processo de fotossíntese, captado pelas plantas produzindo
energia (glucose, C6H12O6), utilizada no crescimento vegetativo, e O2 (Smil, 2017). Pela
cadeira alimentar, o carbono presente nas plantas é consumido pelos animais. O processo de
destruição dos glúcidos para obter energia realizado pelas plantas e os animais liberta CO2
novamente para atmosfera (respiração). Quando os animais e as plantas deixam de respirar
e morrem, o seu material é decomposto pelos microrganismos no solo que devolvem o
carbono à atmosfera maioritariamente na forma de CO2 e CH4 (Lee, 2015). No ciclo rápido do
carbono os oceanos também representam uma parte, envolvendo o fitoplâncton, o
zooplâncton e organismos marinhos no processo.
O solo pode atuar como uma fonte ou reservatório de CO2, representando as emissões
pelos solos um dos maiores fluxos do ciclo global do C (Schlesinger e Andrews, 2000). Se a
captação e transformação do CO2 pelas plantas, animais e solo for superior à respiração por

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Revisão Bibliográfica

estes organismos, o solo atua como um reservatório. Se por outro lado, o oposto ocorre, o
solo é considerado uma fonte de CO2. As principais fontes de CO2 a nível global incluem o
uso de combustíveis fósseis, queima de biomassa, respiração biológica e processos
industriais. Os principais reservatórios envolvem a fixação biológica, isto é, o processo de
fotossíntese, pelas plantas, microrganismos e pelo fitoplâncton, e a formação de carbonatos
(Dalal e Allen, 2008).
A respiração biológica por parte dos solos (emissão de CO2), é proveniente
principalmente do crescimento radicular e da decomposição da biomassa (Amundson et al.,
1990; Hanson et al., 2000), verificando-se com o aumento da temperatura um incremento na
respiração dos solos e consequente libertação de CO2 (Amundson et al., 1990; Schlesinger e
Andrews, 2000; Sainju et al., 2021). Em culturas perenes (como é o caso da macieira) e climas
Mediterrâneos, o teor de água nos solos é o principal fator responsável pelo controlo da
respiração por parte do solo (Steenwerth et al., 2010), que acaba por ser mais inibida para
teores de retenção de água acima de 60%, onde o O2 fica limitado reduzindo a atividade
microbiana (Franco-Luesma et al., 2020). Em períodos quentes e secos, quando comparado
com solos mais arenosos, solos com textura fina tendem a emitir mais CO2 (Dilustro et al.,
2005). Em relação ao pH, as maiores emissões de CO2 foram observadas em pH neutro
(Cuhel et al., 2010). Shin et al. (2014) mostraram que as taxas de respiração pelo solo estão
positivamente relacionadas com o teor de matéria orgânica, azoto total e, principalmente, com
a razão C:N do solo. Há um consenso na bibliografia que a temperatura e o teor de humidade
do solo, são os principais fatores que mais afetam as emissões de CO2.
Da mesma forma que o CO2, o solo atua como fonte e reservatório de CH4. Os
principais reservatórios de CH4 são o consumo na troposfera pelos radicais hidroxila (OH-), a
oxidação em solos com condições aeróbias e a destruição na estratosfera (Dalal e Allen,
2008). O CH4 é produzido através de processos biológicos ou pela hidrólise termoquímica da
matéria orgânica (Canfield, 2005), isto é, processos de combustão de biomassa e
combustíveis fósseis. Os processos biológicos são realizados pelos organismos
metanogénicos (domínio Archaea), designado de metanogénese, em condições estritamente
anaeróbias, que utilizam como substratos H2 e compostos de carbono como CO2, acetato,
metanol ou metilaminas para formar CH4 (Claus e König, 2010). Ambientes nestas condições
envolvem zonas húmidas e campos de arroz, o sistema digestivo de ruminantes e isópteros,
reservatórios de água (Kirschke et al., 2013) e aterros ricos em matéria orgânica (Smith e
Conen, 2004). Ainda assim, em pequenas zonas no solo onde a difusidade do oxigénio é nula,
é possível verificar-se condições para a metanogénese ocorrer (Dutaur e Verchot, 2007).
Através destas fontes, o CH4 é libertado para a atmosfera onde é, por sua vez, oxidado e/ou

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Revisão Bibliográfica

convertido em outros compostos. No solo, muitas vezes, o CH4 é consumido (oxidado) pelas
comunidades metanotróficas, em condições aeróbias, que utilizam O2 e CH4 nas suas
atividades metabólicas (Dutaur e Verchot, 2007), formando CO2 e H2O. Solos com maior
arejamento promovem a oxidação do CH4 (Vilarrasa-Nogué et al., 2019), já que há uma maior
disponibilidade de O2. Se os solos atuam como fonte ou reservatório de CH4, depende da
presença e atividade das comunidades metanogénicas e metanotróficas (Praeg et al., 2014)
e dos principais fatores que influenciam tal atividade.
As condições do meio afetam a formação e libertação de CH4 pelos solos. A
metanogénese é estimulada sob um pH ótimo entre 7 e 8 (Beeman et al., 1990; Medina et al.,
2014), sendo inibida para valores fora do intervalo 6-8 (Beeman et al., 1990; Ye et al., 2012).
Temperaturas superiores a 15ºC estimulam a atividade metanogénica (Beeman et al., 1990;
Yvon-Durocher et al., 2014). A produção de CH4 está positivamente relacionada com o teor
de humidade no solo (Gao et al., 2014) e textura do solo (Dutaur and Verchot, 2007), solos
mais argilosos emitem mais do que solos mais arenosos. Em condições anaeróbias a
produção de CH4 é controlada pela disponibilidade de C e presença de eletrões, onde
aceitadores de eletrões como Fe3+, Mn4+, SO42- e NO3- competem pelos substratos carbónicos
e hidrogénio, diminuindo a produção de CH4 (Dalal and Allen, 2008). O aumento de N nos
solos leva a maiores taxas de respiração por parte dos mesmos, já que estimula a produção
de biomassa e o crescimento vegetativo (Niu et al., 2010). Isto gera uma diminuição de O2
que poderá criar condições para o crescimento e atividade dos organismos metanogénicos.
Em relação aos efluentes pecuários, mais concretamente em relação aos chorumes, por
serem líquidos e fornecerem condições anaeróbicas, são propícios a formar CH4 pela
decomposição da matéria orgânica presente na matéria fecal (Chadwick et al., 2011).
A maioria da bibliografia disponível para a temática das emissões de CH4 pelos solos
é focada em zonas húmidas e campos de arroz, já que é nestes que melhores condições se
verificam para a formação de CH4 e onde as emissões são significativas. Ainda assim, a
generalidade das áreas utilizadas pela agricultura globalmente não são zonas húmidas, sendo
igualmente relevante haver algum foco nas emissões sobre solos com outros tipos de cultivo,
principalmente em solos mais compactados, usualmente mais húmidos e com textura fina.

2.6. Ciclo do N, formação de N2O e dinâmica no solo

O azoto (N) é um composto essencial na síntese de aminoácidos (proteínas) e do DNA


por parte dos organismos vivos (Canfield et al., 2005). O N no solo está presente,
maioritariamente, na matéria orgânica, na comunidade microbiana, na forma de ião amónio
(NH4+), ião nitrato (NO3-) e, em menores quantidades, ião nitrito (NO2-) (Cameron et al., 2013).

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As maiores fontes de óxido nitroso (N2O) incluem a agricultura, queima de biomassa, uso de
combustíveis fósseis e processos industriais. O N2O é destruído na estratosfera pelo processo
de fotólise formando óxido nítrico (NO) (Kesik et al., 2006), contribuindo para depleção da
camada de ozono (Dalal e Allen, 2008).
O ciclo do azoto no solo é um processo complexo, que envolve diversas comunidades
bacterianas na transformação das diferentes formas de N, sobre diferentes condições. O
processo do ciclo do N no solo foi descrito com base no reportado pelos autores Canfiel et al.
(2010). No solo, a fixação do N2 ocorre por organismos procariotas (também alguns
eucariotas) pela enzima nitrogenase, havendo, numa primeira fase, conversão dos compostos
orgânicos de N primeiramente em amoníaco (NH3) e posteriormente ião amónio (NH4+). A
partir deste último, o processo de oxidação aeróbia inicia-se, sendo designado de nitrificação.
Na nitrificação ocorre a oxidação do NH4+ pelas enzimas amónio monooxigenase formando-
se hidroxilamina (NH2OH), que é posteriormente oxidada pelas hidroxilamina
oxidorreductases formando-se ião nitrito (NO2-) e, por fim, a partir do NO2- as enzimas nitrito
oxidorredutases convertem-no em ião nitrato (NO3-).

NH! " + 0,5O# → NH# OH + H" (Canfield et al., 2005) (2.1)

NH# OH + O# → NO# $ + H# O + H" (Canfield et al., 2005) (2.2)

NO# $ + 0,5O# → NO% $ (Canfield et al., 2005) (2.3)

Há mais do que uma forma possível de gerar N2O no processo de nitrificação, não
sendo completamente esclarecida na bibliografia qual a principal. Segundo Canfield et al.
(2010), os eletrões e protões provenientes da oxidação do NH4+ e do NO2- são utilizados pelos
micróbios para fixar C inorgânico na ausência de luz formando N2O como subproduto da
reação. Outros estudos (Muñoz et al., 2010; Dalal e Allen, 2008) indicam que o uso de NO3-
como um aceitador de eletrões alternativo e a sua respetiva redução liberta N2O. O N2O pode
também ser produzido a partir da oxidação do NH2OH (Chadwick et al., 2011; Soler-Jofra et
al., 2020). Ainda assim, no solo, a produção de N2O pelo processo de nitrificação ocorre a
taxas inferiores à produção pelo processo de desnitrificação (Kesik et al., 2006).
O processo de desnitrificação ocorre sobre condições anaeróbias por mais de 60
géneros de bactérias e Archaea (como também alguns eucariotas). Numa primeira fase,
ocorre a redução do NO3- novamente em NO2-, processo realizado pelas enzimas nitrato
redutases. Esta redução é sucedida pela desnitrificação, através das enzimas nitrito

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Revisão Bibliográfica

redutases, convertendo o NO2- em óxido nítrico (NO), e, pela enzima óxido nítrico redutase,
há transformação do NO em N2O. Pela enzima óxido nitroso redutase o N2O é convertido em
N2. Estas últimas formas gasosas (NO, N2O e N2) são emitidas para a atmosfera e,
dependendo das circunstâncias presentes, poderá haver condições para um ciclo completo
terminar. Por outro lado, o N2, pela enzima nitrogenase, pode ser fixado no solo e reduzido a
NH4+, sendo o NH4+ a forma mais comum de obtenção do N por parte dos organismos do solo,
iniciando-se novamente o ciclo.

NO% $ → NO# $ → NO → N# O → N# (Canfield et al., 2005) (2.4)

A maior fonte de N2O, tanto de origem antropogénica como natural, ocorre pelas
comunidades microbianas durante os processos de nitrificação e desnitrificação (Davidson,
2009). A temperatura é um dos principais fatores que mais afeta os processos de nitrificação
e desnitrificação, já que é responsável pelo aumento da cinética enzimática e das taxas
metabólicas (Kesik et al., 2006). Outro fator importante são os teores de água no solo. Em
diferentes condições de humidade, o solo apresenta disparidade nos coeficientes de
difusidade de O2 (Smith, 1980). Diretamente isso afeta as comunidades microbianas
responsáveis pelos processos de nitrificação e desnitrificação. A emissão de N2O proveniente
do processo de desnitrificação ocorre mais notavelmente em solos com saturação entre os
60-90% (Bateman e Baggs, 2005; Xia et al., 2020), com pouco ou nenhum O2 disponível, com
textura argilosa (Pelster et al., 2012), pois apresentam maior dificuldade ao escorrimento da
água, com elevadas concentrações de substrato para a desnitrificação, como NO3- na solução
do solo e C (Xia et al., 2020; Zhou et al., 2016) e em condições de pH mais neutro, já que os
organismos desnitrificantes são estimulados nestas condições, sendo a sua atividade
marcadamente inibida em solos ácidos (Bárta et al., 2010; Cuhel et al., 2010; Wang et al.,
2021).
Vários autores (Smith e Conen 2004; Davidson, 2009; Smart et al, 2011; Shakoor et
al., 2021), reportam que os processos de transformação do N no solo (e as emissões de N2O)
são estimulados, principalmente, pela aplicação de fertilização mineral como também
orgânica, isto é, pelo input de N. Uma significativa parte do N aplicado é perdida,
principalmente sobre formas gasosas (N2O, NO, N2 e NH3) ou por lixiviação (NO3-) (Cameron
et al., 2013). Um dos principais fatores que mais afeta as perdas de formas azotadas pelo
solo, incluindo emissão de N2O, são o aumento da quantidade/taxa de N aplicado na
fertilização (Zhou et al., 2016; Vilarrasa-Nogué et al., 2019), principalmente em solos sobre
condições de humidade (Smith e Conen, 2004; Pelster et al., 2012). As eficiências no uso de

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Revisão Bibliográfica

N do solo e as taxas de mineralização variam em função das comunidades microbianas


decomporem diferentes substratos. Elevadas eficiências no uso de N, que ocorrem em
substratos com elevadas razões C:N, resultam numa menor possibilidade de perda de N pelos
solos já que menos substrato fica disponível para a nitrificação, resultando baixas taxas de
mineralização, e consequentemente menor libertação de formas de N gasosas, como também
lixiviação (Mooshammer et al., 2014). Isto leva a perceber que as emissões de N2O são mais
limitadas em ambientes mais pobres em N, isto é, com razões C:N elevadas. Shakoor et al.
(2021) reportaram que uma razão C:N do solo inferior a 10 significativamente contribuía para
um aumento das emissões em solos alcalinos em 152 % e argilosos em 228 %.
O fator de emissão de N2O, por outra palavras, a percentagem de N aplicado na forma
de fertilizante que é mais tarde emitido para a atmosfera na forma de N2O, é aproximadamente
1%, seja pela aplicação fertilizantes minerais, orgânicos ou resíduos de culturas (IPCC,
2019b). Assim, é esperado que pela aplicação de 100 kg N ha-1, seja emitido 1 kg de N ha-1
na forma de N2O.

2.7. Objetivos futuros na mitigação de emissões e importância do tema em estudo

Em 2015, foi estipulado pelo Acordo de Paris, que o aumento global da temperatura
não poderia exceder os 2ºC, preferencialmente que não ultrapasse os 1,5ºC, comparando
com os níveis pré-industriais. A cada 5 anos, os países reportam as suas contribuições de
forma a cumprir tais metas, que incluem medidas de mitigação sobre emissões de GEE e
adaptação aos efeitos e consequências do aquecimento global. A União Europeia, ao
encontro de cumprir e contribuir ao máximo para o combate às alterações climáticas, tem
como objetivo, em 2030, reduzir as emissões dos estados-membros em 55% (desde 1990).
Estes objetivos requerem um esforço coletivo em apostar e transformar os sectores mais
poluidores, como o sector energético, da agricultura e dos processos industriais, que
contribuíram com 77%, 11% e 9%, respetivamente, do total das emissões de CO2e na Europa,
em 2019 (EEA, 2021).
Sendo a agricultura o segundo setor que mais contribui para a emissão de GEE,
métodos de produção agrícola mais sustentáveis e com maior precisão, são cada vez mais
estudados e aplicados. Um dos principais desafios da agricultura passa por tentar alcançar o
máximo benefício da utilização de diferentes formas de N (nutriente essencial ao crescimento
vegetativo), minimizando ao mesmo tempo os efeitos adversos causados no ambiente
(Galloway et al., 2008). As emissões de GEE podem ser mitigadas através, por exemplo, da
adoção de sistemas de produção mais extensivos, diminuindo a dependência da fertilização

14
Revisão Bibliográfica

e outros inputs (Smith et al., 2008), da identificação dos fatores que mais influenciam as
emissões sobre diferentes tipos fertilização e adotar estratégias que permitam mitigá-las, da
correta alocação dos recursos utilizando, por exemplo, a agricultura de precisão, e da
obtenção de um conhecimento científico robusto sobre esta temática.

15
Materiais e Métodos

3. Materiais e Métodos

De forma a atingir os objetivos propostos, nomeadamente, determinar o efeito da


substituição parcial da fertilização mineral por efluentes pecuários sobre as emissões de GEE
e a produtividade num pomar de macieiras, estabeleceu-se um ensaio à escala real, no pomar
de macieiras do Instituto Superior de Agronomia, e monitorizaram-se as emissões de GEE
durante o ciclo produtivo.

3.1. Área experimental

O ensaio de campo foi realizado ao longo de 6 meses, de 2 de março a 26 de agosto


de 2021, no pomar de macieiras do Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, Portugal. Este
intervalo de tempo corresponde à data de aplicação dos efluentes até à colheita dos frutos. A
temperatura média na região de Lisboa foi de 14,6, 16,9, 18,2, 20,5, 22,7 e 23,4ºC para o mês
de março, abril, maio, junho, julho e agosto, respetivamente (IPMA, 2021). Os dados
referentes à precipitação, humidade e rega no solo do pomar foram obtidos pelos sensores
presentes no mesmo e podem ser verificados na Figura 1. A prática usual de fertilização do
pomar é através de fertirrega mineral por gotejamento e teve início no final de março (Figura
1).
Em relação à caracterização pedológica, o solo tem predomínio da fração limosa,
média argila e pouca areia. A descrição do perfil do solo caracteriza quatro horizontes,
Horizonte superficial Ap do 0 aos 20/30 cm, Horizonte AC dos 20/30 aos 40 cm, Horizonte C
dos 40 aos 65/85 cm e Horizonte R, sendo, de acordo com a classificação World Reference
Base for Soil Resources (WRB, 2014), um Leptossolo. Apresenta valores médios de pH igual
a 7,6, de condutividade elétrica (CE) de 118 mS cm-1, de N total igual a 7,71 mg kg-1 e de
matéria orgânica equivalente a 27,5 g kg-1 de solo seco. Os resultados da análise química ao
solo das parcelas utilizadas no ensaio podem ser verificados nos Resultados e Discussão.

16
Materiais e Métodos

329
A
Nível de água máximo
328
Humidade no solo
327

326

325

324

323

322
mm

321
50
0
B 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170

45

40 Precipitação
Fertirega
35

30

25

20

15

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170
Dias após aplicação

Figura 1- Dados climáticos do pomar entre 2 de Março e 24 de Agosto. A- Humidade do solo


(mm) a azul e nível máximo de água (mm) a verde. Acima do nível máximo o solo encontra-
se saturado; B – Precipitação e fertirrega (mm) a azul-escuro e laranja, respetivamente.

O pomar foi instalado em 2016, tem cerca de 4000 m2, com 20 linhas de produção em
paralelo e 50 árvores por linha, abrangendo as variedades Gala e Fuji, sendo a produção
conduzida em eixo central revestido. As variedades utilizadas neste estudo foram a Gala
Brookfield e Gala Schninga. O tipo de culturas existentes na entrelinha do pomar são fabáceas
e poáceas, provenientes do banco de sementes do solo. Anualmente, nos primeiros meses
do ano, é passado um corta-mato na entrelinha e aplicado herbicida. O pomar pode ser visto
na Figura 2, representado dentro do retângulo amarelo.

17
Materiais e Métodos

Figura 2- Projeção aérea do pomar de macieiras. Imagem obtida a partir do Google Earth.

3.2. Delineamento experimental

O ensaio foi delineado em blocos causalizados, com cinco modalidades experimentais


e 4 blocos, num total de 20 unidades experimentais.
Cada bloco corresponde a uma linha do pomar (ver Figura 3) e em cada bloco
definiram-se 5 talhões experimentais (unidades experimentais), sendo cada talhão constituído
por 5 árvores. Considerando que o compasso do pomar é de 4 metros na entrelinha e 1 metro
na linha, cada talhão experimental, com as cinco árvores, corresponde a uma área de 20 m2.
Em cada talhão experimental de cada bloco foi aplicada uma das 5 modalidades em
estudo (Figura 3): chorume de bovino, chorume de bovino acidificado, estrume de bovino,
estrume de aves e controlo (exclusivamente fertilização inorgânica).

18
Materiais e Métodos

Figura 3- Delineamento experimental. - Variedade Gala; - Variedade Fuji; CTR –


controlo; CB – chorume de bovino; CBA – chorume de bovino acidificado; EB – estrume de
bovino; EA – estrume de aves; Quadrante 1 e 4 – 50% efluentes pecuários/50% fertirrega
mineral nas linhas 2,5,12 e 16. Quadrante 2 e 3 – 100% fertilização mineral.

3.3. Efluentes pecuários utilizados e tratamentos

Neste estudo foram utilizados quatro efluentes pecuários: chorume de bovino,


chorume de bovino acidificado, estrume de bovino (com aparas de madeira e palha) e estrume
de aves. O chorume de bovino foi acidificado no dia da aplicação dos efluentes ao solo como
descrito em Fangueiro et al. (2015). O tratamento foi realizado diretamente nos bidões
utilizados para o transporte e armazenamento do chorume, com ácido sulfúrico (H2SO4 - 95-
97%, 1,84 g mL-1) na proporção 6 mL de H2SO4 para 1 L de chorume, e devidamente
homogeneizado após a acidificação. Os efluentes de bovino foram obtidos na Casa do Gaiato,
em Setúbal, e são efluentes de vacas leiteiras, em estabulação permanente e com dreno de
chorume. O estrume de aves é de frangos de recria e foi fornecido pela empresa Valoura. Os
efluentes foram armazenados à temperatura ambiente, dentro dos recipientes usados para o
seu transporte, durante cerca de 3 semanas até à aplicação dos mesmos ao solo, no dia 2 de
março. Recolheram-se amostras de cada efluente tratado e não tratado no dia da sua

19
Materiais e Métodos

aplicação ao solo e procedeu-se posteriormente à sua análise laboratorial. Os resultados


obtidos encontram-se no início da secção dos Resultados e Discussão.

3.4. Doses de aplicação dos efluentes

Como referido anteriormente, pretendeu-se suprir 50% da necessidade nutricional de


azoto da cultura com efluentes pecuários e os restantes 50% com recurso à adubação
mineral. Importa referir que no ano anterior, em 2020, foram aplicados, nas mesmas linhas de
ensaio do presente estudo, 25% da necessidade azotada da cultura através de efluentes
pecuários e os restantes 75% com adubação mineral.
Para a taxa de aplicação definida, 80 kg de N disponível por hectare, a quantidade de
efluente aplicada foi definida de forma a veicular 40 kg de N disponível por hectare. Assumindo
uma área de 20 m2 por talhão, e com base no anteriormente referido, a necessidade total de
azoto disponível foi de 160 g por talhão, 80 g veiculadas pelo efluente pecuário e 80 g pelo
adubo mineral.
Duas semanas antes da aplicação dos efluentes pecuários ao solo, na fase de
preparação do ensaio, determinou-se o teor de N total de cada efluente, de forma a definir a
quantidade a aplicar. Esta análise foi realizada através da mesma metodologia explicada na
secção 3.7.3. Azoto total da análise laboratorial dos efluentes. Como o processo de
acidificação do chorume não afeta o teor de N total, utilizou-se o valor determinado no
chorume de bovino não tratado para definir a quantidade de chorume acidificado a aplicar. Os
teores de N total dos efluentes pecuários são apresentados na Quadro 2 (coluna “N total (g
kg-1 efluente)”). Importa salientar que estes teores de N total são diferentes dos obtidos na
segunda análise realizada no dia da aplicação dos efluentes, referida na secção 3.7.3. Azoto
total da análise laboratorial dos efluentes e apresentada nos resultados, isto porque os
efluentes mantiveram-se conservados mais duas semanas até à aplicação ao solo e respetiva
nova análise.
O azoto disponível para a cultura (N disp) a partir dos efluentes pecuários foi estimado
pelos valores estipulados no Código das Boas Práticas Agrícolas (Despacho n.º 1230, 2018).
Dentro do intervalo de disponibilidade, foram assumidos teores mais próximos dos limites
superiores (Quadro 2, coluna “N disp (% N total)”), uma vez que se trata de uma cultura
intensiva, regada e com a aplicação dos efluentes em época quente, o que permitiria, à
partida, a existência de maior atividade microbiológica e, consequentemente, maiores taxas
de mineralização. Os teores de azoto disponível estimados são apresentados no Quadro 2
(coluna “N disp (g kg-1 efluente)”).

20
Materiais e Métodos

Com base nos valores de N disponível, calculou-se a quantidade de efluente pecuário


a aplicar em cada talhão, de modo a serem veiculados 80 g de N disponível por talhão (Quadro
2, coluna “Qte efluente”).
Numa fase prévia à aplicação dos efluentes pecuários ao solo, foram abertas valas
contínuas nos talhões das linhas do ensaio no lado Este, com recurso a um trator. Os efluentes
foram colocados nessas valas e procedeu-se à sua cobertura com solo imediatamente após
a aplicação.

Quadro 2- Determinação da quantidade de efluentes a aplicar por talhão.

N total N disp N disp Qte efluente g Ndisp


Efluente
(g kg-1 efluente)(1) (% N total) (2) (g kg-1 efluente) (kg talhão-1) talhão-1
Chorume Bovino 3,07 65% 2,00 40,09 80,00
Chorume Bovino
3,07 65% 2,00 40,09 80,00
Acidificado
Estrume Bovino 7,85 40% 3,14 25,48 80,00
Estrume Aves 16,44 55% 9,04 8,85 80,00
(1) Média de 3 repetições.
(2) Estimativa de acordo com o Código das Boas Práticas Agrícolas (Despacho n.º 1230, 2018).

3.5. Adubação mineral azotada

A adubação mineral azotada foi efetuada através do sistema de fertirrega do pomar,


usando um adubo líquido da linha NUTRIFLUID® IMPULSE (ADP-Fertilizantes), contendo
20% de azoto (5% na forma nítrica, 5% na forma amoniacal e 10% na forma ureica).
Para além de todos os procedimentos de aplicação descritos nos talhões do ensaio, a
área de estudo foi igualmente sujeita aos tratamentos de manutenção normais do pomar,
como aplicação de herbicida e remoção da vegetação presente na entrelinha que foi surgindo
ao longo do período do ensaio.

3.6. Medições e cálculo do fluxo de GEE pelo solo

A quantificação dos fluxos de GEE decorreu entre 3 de março e 24 de agosto de 2021.


Logo após à aplicação dos efluentes pecuários ao solo, foram introduzidas no solo, em cada
talhão, as bases das câmaras utilizadas na medição dos fluxos de GEE, uma pequena
quadrangular e uma grande circular, enterradas a 5 cm. As bases das câmaras no solo podem
ser observadas na Figura 4. Apesar do ensaio ter sido realizado com duas câmaras por talhão,
uma quadrada de menor dimensão e uma circular de maior dimensão, serão apresentados
neste trabalho apenas os resultados obtidos com as câmaras de maior dimensão. Esta opção
deve-se ao facto de se terem verificado problemas experimentais com as câmaras quadradas.

21
Materiais e Métodos

Figura 4- Fotografias ao longo do ensaio de campo, desde a colocação das


bases das câmaras (lado esquerdo), à preparação da zona de mantimento da
parte superior das câmaras (lado superior direito) e às medições de gases (lado
inferior direito).

As medições dos fluxos de emissão de GEE tiveram início no dia 3 de março, e ao


longo desse mês, foram realizadas medições três vezes por semana. No mês de abril as
emissões foram medidas bissemanalmente e de maio a agosto semanalmente. A recolha dos
gases foi sempre realizada na parte da manhã, com duas exceções, em que se realizou na
parte da tarde. Nunca foram realizadas medições em dias de chuva.
As medições foram realizadas seguindo o protocolo descrito em Fangueiro et al.
(2015). Brevemente, para a medição das emissões de GEE, foram colocadas as câmaras
sobre cada uma das bases inicialmente instaladas, de forma que o ar ficasse contido dentro
das mesmas. A concentração de CO2, CH4 e N2O dentro de cada câmara foi medida
imediatamente antes do fecho da câmara, e após 20 e 40 minutos de acumulação de ar dentro
da câmara. A concentração de CO2, CH4 e N2O foram determinadas com recurso a um
equipamento fotoacústico multigás (INNOVA 1512, Lumasense Technologies, Ballerup,
Dinamarca), onde as amostras de ar foram recolhidas, em sequência (intervalos de 120

22
Materiais e Métodos

segundos), através de um ponto de amostragem (tubo de teflon com diâmetro interno de 3


mm). O monitor multigás fotoacústico foi equipado com um filtro ótico para o vapor de água
(filtro tipo SB0527) e os limites de deteção para o N2O (tipo de filtro UA0985), o CO2 (tipo de
filtro UA0982) e o CH4 (tipo de filtro UA0969) foram, respetivamente, 0,0589, 2,9471 e 0,2864
mg m-3 (Pereira et al., 2021). O monitor multigás fotoacústico foi calibrado pelo fabricante
antes do início do ensaio, sendo operado em um modo que compensava a interferência da
água e a interferência cruzada.
Em cada bloco, o equipamento era colocado numa área central, e através do tubo de
recolha de gases, eram percorridas as câmaras estáticas, sendo realizada uma leitura durante
cerca de 30 segundos em cada câmara. Este procedimento era repetido para o tempo 20 (20
minutos de acumulação de ar dentro das câmaras) e para o tempo 40 (40 minutos de
acumulação de ar dentro das câmaras).
Após obtenção das concentrações de cada gás em cada tempo e considerando o
aumento da concentração dos gases ao longo do tempo de medição, foram calculados os
fluxos de cada um dos gases. Recorreu-se, para esse efeito, a uma regressão linear dos
valores das concentrações obtidas de cada gás, nos três tempos de medição. Posteriormente,
utilizou-se a equação abaixo descrita (Equação 3.5), a partir da qual se obtiveram os valores
dos fluxos de cada gás.
Para uma exemplificação clara, no dia 6 de março, para a repetição 2, as emissões de
CO2 da modalidade estrume de aves, foram de 1270 mg m-3 para o tempo 0, 2730 mg m-3
para o tempo 20 e 4110 mg m-3 para o tempo 40. Representando graficamente, ao longo dos
40 minutos, a acumulação de CO2 dentro da câmara evoluiu da seguinte forma:

4500
Fluxo de acumulação de CO2 (mg m-3)

4000

3500

3000 y = 71x + 1283,3


R² = 0,9997
2500

2000

1500

1000

500

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Tempo de acumulação (minutos)

Figura 5- Acumulação de CO2 dentro da câmara pelo tratamento estrume


de aves, no dia 6 de março (2ª medição), repetição 2 (linha 5).

23
Materiais e Métodos

Através da função PROJ.LIN e RSQUAD do Microsoft Excel, esta reta apresenta um


valor de declive igual a 71 mg m-3 min-1 e um valor de R2 igual a 0,9997. Este procedimento
foi repetido para todos os dias de medições, em cada repetição, para cada tratamento e gás.
A partir do valor do declive (mg m-3 min-1), da área (0,1152 m2) e volume (0,0576 m3) da câmara
circular, foi possível determinar a emissão de cada um dos três gases em mg m-2 d-1, através
da seguinte equação:

volume em m%
Emissão do gás (mg m$# d$& ) = declive × × 60 × 24 (3.5)
área em m#

A partir dos valores de emissão em mg m-2 d-1, obtém-se para cada gás, as emissões
de carbono (para o CH4 e CO2) e as emissões de azoto (para o N2O), também em mg m-2 d-1,
utilizando as respetivas massas moleculares.
Posteriormente foram realizadas, para cada dia de medição, as médias (n=4) de
emissão de cada gás para cada tratamento, já com os valores de emissão expressos em C-
CH4, N-N2O e C-CO2. A partir dos valores médios, obteve-se os gráficos com a evolução das
emissões de cada tratamento desde o dia da aplicação dos efluentes pecuários até ao fim do
ensaio (175 dias após), obtendo-se um total de 33 medições realizadas.
Os três gases foram expressos sobre a forma de CO2e utilizando os seus respetivos
valores de Global Warming Potential (GWP), 28 para o CH4 e 265 para o N2O. Foram
realizadas as médias de CO2e emitido por cada tratamento (n=4), em cada dia de medição.
Por fim, as emissões cumulativas de cada gás, por modalidade, foram calculadas
através do somatório das emissões ao longo dos 6 meses de ensaio. Nos dias em que não
foram realizadas medições, utilizou-se o valor médio de emissão de cada gás dentro do
intervalo de medições mais próximo.

3.7. Análise laboratorial dos efluentes

Foram recolhidas amostras de cada um dos efluentes pecuários no dia da aplicação


dos mesmos ao solo (2 de março) e realizadas as respetivas análises laboratoriais. A recolha
das amostras foi realizada de forma a ser o mais representativa e homogénea possível. Foram
analisados o pH e condutividade elétrica (CE), os teores de matéria seca (MS), humidade,
matéria orgânica (MO), cinzas, azoto amoniacal (NH4+), azoto total (N total), macronutrientes
(fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca) e magnésio (Mg)) e sódio (Na). Para todas as
metodologias dos diferentes parâmetros a analisar, a amostragem foi sempre realizada em
triplicado e as amostras devidamente homogeneizadas antes das respetivas análises. Foram

24
Materiais e Métodos

realizadas as médias (n=3), erros percentuais e desvio padrão para cada parâmetro
analisado.
3.7.1. pH e CE

O pH foi medido através de um potenciómetro ORION 3 STAR pH Benchtop,


diretamente na amostra de efluente pecuário, através do método descrito por APHA (1998).
O elétrodo foi sempre lavado com água destilada entre amostras.
A condutividade elétrica foi medida com recurso a um condutivímetro ORION STAR
A212 Conductivity Meter, diretamente na amostra de efluente pecuário, através do método
descrito por APHA (1998), obtendo-se os valores em mS cm-1. O elétrodo foi sempre lavado
com água destilada entre amostras.

3.7.2. Matéria Seca e Matéria Orgânica

A matéria seca foi obtida após secagem numa estufa Heraeus a 105ºC durante 72
horas (tempo assumido ser suficiente para o peso tornar-se constante) e a matéria inorgânica
após secagem numa mufla Nabertherm, a 550ºC, durante 4 horas, de acordo com o descrito
em Regueiro et al. (2016). O teor de humidade e matéria orgânica foram obtidos teoricamente,
e posteriormente, através dos primeiros. A matéria seca (MS), expressa em g kg-1 de efluente,
foi obtida pela seguinte equação:

Peso MS (g)
Matéria seca (g kg $& ) = × 1000 (3.6)
Peso exato da amostra inicial (cerca de 10 g)

A partir da matéria seca (MS) e da matéria inorgânica (cinza), expressa em g, foi obtido
o teor de matéria orgânica dos efluentes, pela seguinte equação:

Peso da MS (g) − Peso da cinza (g)


Matéria orgânica (g kg $& ) = × 1000 (3.7)
Peso exato da amostra inicial

Através da matéria orgânica, expressa em g kg-1, foi obtido o teor de carbono orgânico
dos efluentes pela seguinte equação (Sigurnjak et al., 2017):

Matéria orgânica (g kg $& )


Teor de carbono orgânico (g kg $& ) = (3.8)
1,8

25
Materiais e Métodos

3.7.3. Azoto total

O azoto total (N total) foi obtido através do método Kjeldahl, por digestão ácida com
ácido sulfúrico (H2SO4), posterior destilação no equipamento BÜCHI Distilation Unit K-314
com hidróxido de sódio (NaOH) e titulação com HCl (0,5 N) no titulador automático Metrohm
775 Dosimat, de acordo como o descrito em Horneck e Miller (1998). O teor de N total,
expresso em g kg-1 de efluente, foi obtido pela seguinte equação:

(Concentração titulante × Volume ácido gasto × 0,014) × 1000


N'(')* (g kg $& ) = (3.9)
Peso exato da amostra (cerca de 3 g)

3.7.4. Azoto amoniacal (NH4+)

Para a determinação do azoto amoniacal (NH4+) foi realizada uma destilação direta
com hidróxido de sódio (NaOH) e posterior titulação com HCl (0,5 N) (APHA, 1998). O teor de
NH4+, expresso em g kg-1 de efluente, foi obtido pela seguinte equação:

(Concentração titulante × Volume ácido gasto × 0,014) × 1000


NH! " (g kg $& ) = (3.10)
Peso exato da amostra (cerca de 5 g)

O teor percentual de NH4+ do N total de cada efluente foi obtido pela seguinte equação:

NH! " (g kg $& )


NH! " /N'(')* = × 100 (3.11)
N'(')* (g kg $& )

3.7.5. Macronutrientes e Na

Os teores de macronutrientes (C, Mg, K, P) e de Na, foram obtidos em base seca de


acordo com o descrito em APHA (1998). Secou-se cerca de 2 gramas de cada efluente
pecuário numa estufa Heraeus a 105ºC, durante 24 horas. Posteriormente cerca de 0,2
gramas de cada amostra seca foram introduzidas dentro de cada tubo de digestão e
registados os pesos exatos. Foram adicionados ácido clorídrico (HCl, 37%) e ácido nítrico
(HNO3, 65%), em cada tubo, e deixados atuar durante cerca de 24 horas. No dia seguinte
procedeu-se à digestão das amostras no digestor DigiPROBE, durante 3 horas.
Posteriormente, adicionou-se água destilada até perfazer um volume de 50 mL em cada tubo
e deixados decantar durante 1 hora com as tampas pouco apertadas. Por fim, através de uma
pipeta, retirou-se 10 mL do sobrenadante de cada tubo para um tubo de ensaio, que foram

26
Materiais e Métodos

mais tarde lidos no ICP-OES (Espectrofotometria de Emissão Ótica por Plasma Acoplado
Indutivamente). Os valores obtidos pelo ICP-OES são lidos em mg/L e foram convertidos a
mg/kg pela seguinte forma:

leitura em mg/L × volume da solução extrante (50 mL)


(3.12)
peso exato da amostra

3.8. Análise laboratorial das amostras de solo

Foram recolhidas amostras de solo antes do início do ensaio, com recurso a uma
sonda, em cada uma das cinco árvores de cada talhão, sobre os locais onde os efluentes
pecuários posteriormente foram aplicados, assim como do tratamento de controlo. A recolha
foi realizada a uma profundidade de aproximadamente 20 cm. Foram obtidas, por talhão, cinco
amostras de solo, que posteriormente foram misturadas, obtendo-se assim uma amostra de
solo por cada talhão. As amostras foram secas até peso constante, manualmente moídas com
recurso a um almofariz de pedra, crivadas a uma dimensão de 2 mm e sempre
homogeneizadas antes da análise laboratorial. Foram determinados o pH, a condutividade
elétrica (CE), os teores de azoto mineral (NH4+ e NO3-), de macronutrientes (P, K, Ca e Mg) e
de Na.
As medições do pH e CE foram realizadas numa suspensão solo:água igual a 1:2,5
(p/v), de acordo com o descrito por Fangueiro et al. (2015).
A determinação do azoto amoniacal (NH4+) e nítrico (NO3-) foi obtida por extração com
KCl (2N), posterior agitação, centrifugação e leitura no equipamento Skalar, de acordo com o
reportado por Fangueiro et al. (2015) e por APHA (1998). Os valores são lidos pelo
equipamento em mg/L e foram convertidos em mg/kg da seguinte forma:

leitura em mg/L × volume da solução extrante


(=) leitura em mg/L × 5 (3.13)
peso da amostra

O carbono orgânico total foi determinado pesando entre 0,4 e 0,7 gramas de cada
amostra e posteriormente lido pelo analisador de carbono AnalyticJena, multi EA 4000. Os
resultados são expressos em % de carbono orgânico e o percentual de matéria orgânica é
obtido pela seguinte equação (Rogasik et al., 2004):

Matéria orgânica (%) = Carbono orgânico total (%) × 1,724 (3.14)

27
Materiais e Métodos

Em relação aos elementos P, K, Ca, Mg e Na, utilizou-se o método de Égner-Rhiem,


posterior agitação, centrifugação numa Centrifuge 5804 a 4000 rpm, e, por fim, os valores
foram lidos pelo ICP-OES (Espectrofotometria de Emissão Ótica por Plasma Acoplado
Indutivamente), de acordo com o descrito em Égner et al. (1960) e APHA (1998). Os valores
obtidos pelo ICP-OES são lidos em mg/L e foram convertidos a mg/kg pela seguinte forma:

leitura em mg/L × volume da solução extrante


(=) leitura em mg/L × 20 (3.15)
peso da amostra

3.9. Produtividade

A produtividade da cultura foi obtida através do peso total médio de maçãs colhidas
por tratamento (kg ha-1) e da área seccional média dos troncos de cada tratamento (kg cm-2)
(Peck et al., 2006).
A colheita foi fracionada já que as maçãs ficaram prontas a ser colhidas em alturas
diferentes, a primeira realizou-se no dia 10 de agosto e a segunda no dia 26 de agosto. Foram
colhidas todas as maçãs de cada talhão, pesadas, e agrupados os pesos em função dos
respetivos tratamentos.
A área seccional dos troncos foi obtida para cada árvore do ensaio e realizadas as
respetivas médias para cada talhão e tratamento. Foram recolhidos o diâmetro transversal e
longitudinal de cada tronco, através de um paquímetro digital, entre 10 e 20 cm acima da
base, obtido o diâmetro médio e assim calculada a área seccional média para cada árvore
(em cm2), assumindo uma forma circular.

2.10. Análise Estatística

Todos os resultados foram sujeitos a análise estatística, realizada no programa


estatístico R-studio. Foi feita uma análise de variância (ANOVA) e, quando a ANOVA indicou
a existência de diferenças significativas entre modalidades (p<0,05), utilizou-se o teste de
Tuckey para a comparação das médias entre os diferentes tratamentos, para um intervalo de
confiança de 95% (a=0,05).
No caso da análise laboratorial dos efluentes utilizaram-se, apenas, 3 repetições.

28
Resultados e Discussão

4. Resultados e Discussão

4.1. Composição dos efluentes pecuários

Nos Quadro 4 e 5 são apresentados os resultados da análise aos efluentes pecuários.


Relativamente ao pH é possível observar uma maior acidez do chorume de bovino que foi
acidificado, pH cerca de 5,02, significativamente diferente dos restantes. Os estrumes de aves
e de bovino, com um valor de pH alcalino 9,20 e 9,14, respetivamente, são significativamente
superiores ao pH dos chorumes. Em relação à condutividade elétrica (CE) os chorumes
apresentaram valores significativamente superiores aos estrumes, sendo que o estrume de
bovino apresenta o valor de CE mais baixo.
Quanto à matéria seca, os teores mais baixos foram observados nos chorumes, com
valores entre 60 e 70 g kg-1, inferiores ao reportado no CBPA. Por outro lado, nos estrumes
foram observados teores de matéria seca significativamente mais altos, principalmente no
estrume de aves, com um valor de 721,6 g kg-1, superior ao reportado no CBPA. Em relação
à matéria orgânica, o estrume de aves apresentou um teor significativamente superior aos
restantes efluentes (616,46 g kg-1), seguido pelo estrume de bovino (221,88 g kg-1), com um
teor também muito superior aos reportados pelos chorumes, com estes últimos a
apresentarem teores próximos dos 50 g kg-1. Os teores de matéria orgânica obtidos pelos
chorumes são inferiores aos 70 g kg-1 reportados no CBPA, por outro lado, os estrumes
apresentaram teores superiores aos reportados no CBPA.
Relativamente aos teores de N total e N amoniacal (NH4+), para ambos, o estrume de
aves apresentou valores significativamente superiores aos restantes efluentes, 21,4 e 4,71 g
kg-1, respetivamente. Os chorumes não apresentaram diferenças significativas entre si para
ambos os parâmetros, já o estrume de bovino reportou um teor de N total superior aos
chorumes (8,76 g kg-1). No que respeita ao N total, o CBPA reporta valores de 5,3 g kg-1 para
o estrume de bovino, inferior ao obtido neste estudo. Pelo contrário, para estrume de aves,
indica um valor de 30 g kg-1, superior ao obtido neste estudo. Em relação ao teor de carbono
(C) orgânico, e refletindo o reportado anteriormente na matéria orgânica, o estrume de aves
apresentou teores muito superiores aos restantes, seguido pelo estrume de bovino, com
teores de 342,5 e 123,3 g kg-1, respetivamente. Os chorumes apresentaram teores entre 25,6
e 27,1 g de C orgânico por quilograma de efluente. Mais de 50% da composição de N total
dos chorumes é constituída por NH4+, um teor significativamente superior aos estrumes. Os
chorumes apresentam razões C/N inferiores a 10, enquanto o estrume de bovino e de aves
apresentam razões de 14,14 e 19,97, respetivamente.

30
Resultados e Discussão

Quanto aos teores de macronutrientes e Na obtidos para os efluentes (Quadro 5),


verifica-se que os estrumes apresentaram teores muito superiores aos chorumes para todos
os elementos. Dentro dos estrumes, destaca-se o estrume de aves, que com exceção do Na,
apresenta teores dos referidos elementos significativamente superiores ao estrume de bovino.
Os valores comparados pelo CBPA são representativos do tipo de espécie pecuária
usada neste estudo.

31
Resultados e Discussão

Quadro 3- Composição dos efluentes pecuários – valor médio de 3 repetições expresso na matéria fresca.

Matéria
pH CE Matéria Seca N total NH4+ NH4+/ C orgânico
, Orgânica
(H2O) (mS cm-1) (g kg-1) (g kg-1) (g kg-1) N total (g kg-1) C/N
(g kg-1)
Média 7,65b 16,26a 64,68c 46,17c 2,82c 1,60b 56,72a 25,65c 9,11b
Chorume
Desvio Padrão 0,09 0,38 2,80 2,93 0,03 0,09 3,77 1,63 0,52
de Bovino
Erro Percentual 1,24 2,36 4,32 6,35 1,22 5,76 6,64 6,34 5,69
Chorume Média 5,02c 17,80a 71,72c 48,70c 2,75c 1,52b 54,96a 27,06c 9,80b
de Bovino Desvio Padrão 0,02 0,40 1,30 0,92 0,04 0,02 0,10 0,51 0,18
Acidificado Erro Percentual 0,40 2,26 1,81 1,88 1,40 1,35 0,18 1,88 1,80
Média 9,14a 4,2c 494,79b 221,88b 8,76b 0,86c 9,87c 123,27b 14,14ab
Estrume de
Desvio Padrão 0,09 0,012 39,06 3,00 0,79 0,02 0,76 1,67 1,11
Bovino
Erro Percentual 0,95 0,29 7,89 1,35 8,98 1,752 7,72 1,35 7,82
Média 9,20a 9,59b 721,60a 616,46a 21,40a 4,71a 21,95b 342,48a 19,97a
Estrume de
Desvio Padrão 0,05 2,59 13,74 14,43 0,36 0,02 0,10 8,02 7,14
Aves
Erro Percentual 0,54 27,02 1,90 2,34 1,66 0,50 0,48 2,34 35,74
Em cada coluna, tratamentos com a mesma letra não são significativamente diferentes, teste Tukey com 95 % de confiança (p<0,05).

Quadro 4- Continuação da composição dos efluentes pecuários (teores de macronutrientes e Na) – valor médio de 3 repetições expresso na matéria
fresca.

Na K Ca Mg P
Efluente
mg kg-1
Média 696,77b 1 910,17c 1 582,90c 370,04c 433,12c
Chorume de Bovino Desvio Padrão 97,90 272,03 56,167 2,01 17,03
Erro Percentual 14,05 14,24 3,55 0,54 3,93
Média 618,97b 1 736,40c 1 550,98c 334,31c 411,64c
Chorume de Bovino
Desvio Padrão 1,13 3,58 43,61 5,28 10,00
Acidificado
Erro Percentual 0,18 0,21 2,81 1,58 2,43
Média 1 832,17a 8 046,49b 5 647,98b 1 838,03b 1 932,75b
Estrume de Bovino Desvio Padrão 28,16 128,16 406,58 213,19 135,68
Erro Percentual 1,54 1,59 7,20 11,60 7,02
Média 1 830,24a 13 858,42a 9 342,39a 2 624,70a 3 062,90a
Estrume de Aves Desvio Padrão 32,46 265,91 1091,57 41,34 68,17
Erro Percentual 1,77 1,92 11,68 1,58 2,23
Em cada coluna, tratamentos com a mesma letra não são significativamente diferentes, teste Tukey com 95 % de confiança (p<0,05).

32
Resultados e Discussão

No Quadro 5, apresentam-se as quantidades de N total, N disponível (de acordo com


os percentuais assumidos), NH4+, C orgânico e fósforo disponível (P2O5), veiculadas pelas
quantidades de efluentes pecuários aplicadas por talhão (cerca de 9 kg de estrume de aves,
25 kg de estrume de bovino e 45 kg de chorumes). O N total aplicado pelos estrumes foi
significativamente superior ao aplicado pelos chorumes (~ 110 g talhão-1), principalmente pelo
estrume de bovino (~ 220 g talhão-1). Em relação ao N disponível, acabou por ser igualmente
significativamente superior nos estrumes do que nos chorumes (~ 72 g talhão-1), mas próximo
da taxa de fertilização definida 80 g N disp talhão-1, com exceção do estrume de aves (~ 100
g talhão-1). No entanto, o percentual de N disponível adotado foi uma estimativa, em função
das condições do pomar anteriores explicadas, e poderá não corresponder exatamente ao
real. Por outro lado, em relação ao NH4+, os chorumes (~ 60 g talhão-1) introduziram teores
significativamente superiores aos estrumes, sendo o estrume de bovino o efluente em que
menos NH4+ foi aplicado (~ 22 g talhão-1). Relativamente ao C orgânico aplicado, o estrume
de bovino, que na análise laboratorial reportou um teor significativamente superior aos
chorumes, mas inferior ao estrume de aves, acabou por introduzir no solo uma quantidade
igual ao estrume de aves. A quantidade de fósforo aplicada é também apresentada, que pelo
impacte negativo que manifesta quando aplicado em excesso, tanto para a cultura como para
o ambiente (eutrofização), achou-se importante a respetiva análise. Verificou-se que, para a
necessidade de 30 kg P2O5 ha-1 da cultura (LQARS, 2006), o estrume de aves veiculou um
teor superior ao necessário pela cultura.

Quadro 5- Teores de azoto total (N total), azoto disponível (N disp), azoto amoniacal (NH4+)
carbono orgânico (C orgânico) e fósforo (P2O5) médios aplicados a cada talhão pelos
efluentes pecuários.

N total N disp N disp NH4+ C orgânico P2O5


Tratamento
(g talhão-1) (% N total) (1) (g talhão ) (g talhão-1) (g talhão-1) (g talhão-1)
-1

Chorume de Bovino 112,85c 65% 73,35c 63,98a 1 028,27b 39,76c


Chorume de Bovino
110,21c 65% 71,64c 60,84a 1 084,60b 37,79c
Acidificado
Estrume de Bovino 223,17a 40% 89,27b 21,92c 3 140,48a 112,74a
Estrume de Aves 189,41b 55% 104,18a 38,77b 3 030,87a 59,54b
Em cada coluna, tratamentos com a mesma letra não são significativamente diferentes, teste Tukey com 95 % de
confiança (p<0,05).
(1) Estimativa de acordo com o Código das Boas Práticas Agrícolas (Despacho n.º 1230, 2018).

4.2. Composição do solo

Em segundo lugar, são apresentados os resultados da análise laboratorial do solo para


cada tratamento onde mais tarde foram aplicados os efluentes pecuários (Quadro 6 e 7). No
geral, não foram observadas diferenças significativas em relação aos parâmetros reportados

33
Resultados e Discussão

entre tratamentos, indicando que a primeira aplicação de efluentes aplicada em 2020 não teve
qualquer efeito nas características do solo de cada tratamento. Em relação aos diferentes
parâmetros, e considerando um solo franco-argiloso, o solo apresenta um pH (H2O) pouco
alcalino, uma CE (mS cm-1) sem efeitos salinos no solo e um percentual de matéria orgânica
classificado como médio (LQARS, 2006).

Quadro 6- pH, CE, teores de azoto (NH4+, NO3- e N total), matéria orgânica e carbono
orgânico (C orgânica) do solo. Cada tratamento corresponde à média dos quatro talhões
onde os efluentes posteriormente foram aplicados – média de 3 repetições.

Matéria C
pH CE NH4+ N-NO3- N total
Tratamento Orgânica orgânico
(H2O) (mS cm-1)
(mg kg-1) (%)
Controlo 7,81a 0,13a 1,98a 5,36a 7,34a 2,65a 1,54a
Chorume de
7,61a 0,11a 2,29a 6,08a 8,37a 3,05a 1,77a
Bovino
Chorume de
Bovino 7,69a 0,11a 1,41a 4,46a 5,87a 2,67a 1,55a
Acidificado
Estrume de
7,62a 0,12a 1,69a 6,39a 8,09a 2,44a 1,42a
Bovino
Estrume de Aves 7,68a 0,13a 1,50a 7,39a 8,89a 2,93a 1,70a
Em cada coluna, tratamentos com a mesma letra não são significativamente diferentes, teste Tukey com 95 % de
confiança (p<0,05).

No Quadro 7 são apresentadas as concentrações dos principais macronutrientes e Na


extraíveis presentes no solo. De igual forma à composição acima apresentada, para cada
nutriente, não se verificou diferenças significativas entre os talhões onde mais tarde se aplicou
cada efluente pecuário.

Quadro 7- Teores médios de fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e sódio
(Na) extraíveis no solo. Cada tratamento corresponde à média dos talhões onde estes
posteriormente foram aplicados – média de 3 repetições.

K P Ca Mg Na
Tratamento
mg kg-1
Controlo 83,85a 352,99a 4 524,19a 892,58a 73,13a
Chorume de Bovino 62,07a 389,69a 3 934,51a 941,08a 85,71a
Chorume de Bovino
60,07a 374,18a 3 810,43a 887,26a 100,49a
Acidificado
Estrume de Bovino 79,90a 354,51a 4 227,87a 930,75a 90,02a
Estrume de Aves 94,39a 416,93a 4 370,77a 890,01a 91,99a
Em cada coluna, tratamentos com a mesma letra não são significativamente diferentes, teste Tukey com 95 % de
confiança (p<0,05).

34
Resultados e Discussão

4.3. Fluxo de GEE

Os resultados das emissões dos diferentes GEE que são graficamente apresentados,
foram obtidos a partir de uma recolha que se deu sempre sobre uma área totalmente
abrangida pela aplicação dos efluentes pecuários (excetuando o controlo). Isto significa que
as emissões apresentadas são, na realidade, obtidas na zona de emissão máxima do pomar,
que são precisamente a área das valas onde os efluentes pecuários foram aplicados. Estas
valas apresentam, por cada talhão, uma área de 2,5 m2 (0,5 m x 5 m). Considerando que cada
talhão tem uma área total de 20 m2, as emissões aqui reportadas correspondem a apenas 2,5
m2 de cada talhão, sendo que nos restantes 17,5 m2, os fluxos de GEE correspondem às
emissões observadas num solo não fertilizado (fluxos naturais) e de uma pequena faixa onde
as emissões são afetadas pela fertirega (linha das árvores). Por esta razão, evitou-se
extrapolar as emissões por hectare na apresentação dos resultados. No entanto, foi tido em
consideração o anteriormente descrito, considerando que em 1 hectare, as emissões aqui
reportadas correspondem a uma área de emissão de 1250 m2. Para os restantes 8750 m2, de
forma a não se desprezar as emissões por parte do solo, considerou-se as emissões obtidas
no controlo, ainda que isso sobrestime os valores obtidos já que só haveria fertilização sobre
as linhas das árvores, enquanto na entrelinha o solo emite um fluxo natural de gases, que
seria inferior. Assim, é importante salientar que as emissões apresentadas em kg ha-1 ao longo
do texto acabam por estar um pouco sobrestimadas. Em relação ao controlo, as emissões
são representativas apenas na área de medição da câmara, junto à linha de fertirega. Este
aspeto precisa de ser tido em consideração pelo leitor, referindo que o principal objetivo desta
discussão é a comparação entre os tratamentos e não a extrapolação para áreas maiores.

4.3.1. Emissões de CH4

Em primeiro lugar, relativamente às emissões de CH4 observadas longo do ensaio


(Figura 6), verificaram-se valores elevados durantes os 10 primeiros dias após a aplicação
dos efluentes ao solo por parte do tratamento chorume de bovino, atingindo um máximo de
981,74 mg C-CH4 m-2 d-1 no quarto dia após a aplicação. Após as duas primeiras semanas,
as emissões deste tratamento baixaram para valores inferiores a 5 mg C-CH4 m-2 d-1 e
mantiveram-se contantes até ao fim do ensaio, com exceção de dois registos verificados nos
dias 27 e 31, com uma emissão de 20,8 e 16,09 mg C-CH4 m-2 d-1, respetivamente.
A partir do dia 20 as emissões de CH4 começaram a aumentar em todos os
tratamentos, atingindo um primeiro pico no dia 31 após a aplicação dos efluentes, exceto o
tratamento chorume de bovino que atingiu o terceiro pico. No dia 45 após a aplicação dos

35
Resultados e Discussão

efluentes, o controlo sofre um segundo pico, superior ao primeiro (23,75 mg C-CH4 m-2 d-1),
com um valor de emissão de 27,71 mg C-CH4 m-2 d-1. A partir deste período as emissões pelo
controlo diminuíram e mantiveram-se inferiores a 10 mg C-CH4 m-2 d-1 até ao fim do ensaio.
O estrume de aves reportou um segundo e terceiro pico, nos dias 51 e 70 após o início
do ensaio, com valores de emissão de 16,66 e 17,28 mg C-CH4 m-2 d-1, respetivamente, no
entanto, ambos inferiores ao primeiro (22,53 mg C-CH4 m-2 d-1). Após o último pico as
emissões baixaram até ao fim do ensaio, apresentando, no entanto, um aumento no dia 112
para 10,64 mg C-CH4 m-2 d-1.
O chorume de bovino acidificado, com exceção da emissão observada no dia 4 após
a aplicação com um valor de 13,49 mg C-CH4 m-2 d-1 e do pico de emissão em cima referido
no dia 31 (21,12 mg C-CH4 m-2 d-1), manteve os valores de emissão mais baixos, juntamente
com o estrume de bovino, sempre inferiores a 9 mg C-CH4 m-2 d-1.

1000
Fluxo de CH4 (mg C-CH4 m-2 d-1)

Controlo
800 Ch. Bov. Acid.
Est. Bovino
Est. Aves
600
Ch. Bovino

400

200

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180
Dias após aplicação

35
Controlo
Fluxo de CH4 (mg C-CH4 m-2 d-1)

30
Ch. Bov. Acid.
25 Est. Bovino
Est. Aves
20

15

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180
Dias após aplicação

Figura 6- Fluxo de CH4 emitido (mg C-CH4 m-2 d-1) - média de 4 repetições.

Uma condição necessária à formação de CH4 nos solos, é a existência de condições


anaeróbias para o processo de metanogénese ocorrer. Sendo o solo de textura fina, à partida

36
Resultados e Discussão

são mais propícias a existência de algumas zonas com depleção de O2, já que os poros livres
no solo são mais pequenos do que os solos com textura mais grosseira. A incorporação de
um material orgânico líquido, como é o caso do chorume de bovino, facilmente preencherá
tais poros, e por se tratar de um solo argiloso, apresenta alguma dificuldade na drenagem da
água, mantendo o solo mais saturado por algum tempo. Isto permite formar condições
anaeróbias propícias ao processo de metanogénese ocorrer (Dutaur e Verchot, 2007), tendo
em conta também que os efluentes introduzem matéria orgânica (carbono) lábil que é utilizada
como substrato no processo de formação de CH4 (Dalal e Allen, 2008). Possivelmente pelas
condições anaeróbias formadas pela incorporação dos chorumes, e pela introdução de C,
verificou-se uma libertação tão significativa de CH4 pela modalidade de chorume de bovino,
no quarto dia após aplicação dos efluentes (correspondendo ao segundo pico). O primeiro
pico, verificado nas primeiras 24 horas após a aplicação dos efluentes, possivelmente reflete
o CH4 que estava presente no próprio efluente, que foi previamente formado durante o
armazenamento pela decomposição da matéria orgânica presente no chorume em condições
de anaerobiose (Chadwick et al., 2011), sendo emitido no momento da aplicação ao solo. Esta
tendência de uma maior emissão de CH4 logo após a aplicação do chorume ao solo foi
também verificada noutros estudos (Chadwick et al., 2000; Fangueiro et al., 2015; Viguria et
al., 2015). Cerca de 86% das emissões de CH4 pelo tratamento de chorume do bovino foram
emitidas nos primeiros 6 dias após a aplicação dos efluentes. No entanto, o chorume de
bovino acidificado, com as mesmas características físicas do chorume de bovino, não
apresentou os mesmos valores de emissão. Isto deve-se ao facto de o processo de
acidificação reduzir ou inibir o processo de metanogénese, que é afetada em condições ácidas
(Hou et al., 2017), justificando o fluxo de emissões significativamente inferior.
Como já referido, após os primeiros dias, as emissões de todos os tratamentos
mantiveram-se baixas, verificando-se um primeiro aumento nos dias 27 e 31 após aplicação
dos efluentes. Naquele período a aplicação singular da fertirrega poderá ter estimulado as
emissões (Figura 1), pela depleção do O2 no solo originária não só pela água introduzida, mas
também pelo aumento do consumo de O2 pelas comunidades do solo estimulado pelo N
introduzido (Niu et al., 2010; Zhu et al., 2015), criando zonas propícias à metanogénese. O
segundo aumento de emissões verificou-se entre os dias 40 e 50 após a aplicação dos
efluentes. Neste caso, a precipitação e consequente aumento do teor de humidade no solo
(Figura 1) foi o fator estimulante das emissões, onde os poros livres do solo foram preenchidos
com água, formando zonas ausentes de O2. Novamente, a diminuição do O2 disponível
possibilitou a formação de condições anaeróbias, que aumentou as emissões de CH4 neste
período (Louro et al., 2013), incluindo da modalidade de chorume de bovino. Este fenómeno
é muito evidente pelo tratamento de controlo, que só recebeu input de N quando a fertirrega

37
Resultados e Discussão

ocorreu (entre os dias 20 e 30), precisamente na altura em que as emissões de CH4


aumentaram para este tratamento, como também entre os dias 40 e 50 quando a uma maior
precipitação ocorreu, e o solo ficou saturado (Figura 1).
Os fluxos cumulativos de CH4 emitido pelos diferentes tratamentos são apresentados
na Figura 7. Verifica-se que o chorume de bovino deu origem a valores significativamente
superiores aos restantes tratamentos, cerca de 4451 mg C-CH4 m-2 ou 13,51 kg C-CH4 ha-1,
superior aos 0,58 kg C-CH4 ha-1 obtidos por Chadwick et al. (2000) sobre uma pastagem como
uma taxa de fertilização idêntica ao presente estudo, no entanto para uma amostragem de
apenas um mês. Heintze et al. (2017), num estudo onde a composição do solo e do efluente
eram idênticas ao presente estudo, reportaram que o solo atuou como um reservatório de CH4
quando aplicado chorume de bovino. Por outro lado, Viguria et al. (2015), obtiveram uma
emissão de 17,6 kg C-CH4 ha-1 para um período de amostragem muito inferior ao presente
estudo, apenas 15 dias, num solo sem nenhuma cultura. O valor elevado de emissão de CH4
aqui observado poderá ser explicado pelas excelentes condições de formação de CH4 no
período de armazenamento do chorume e pelo teor de humidade no solo que favoreceu a
formação de CH4.
Todos os tratamentos, exceto o chorume de bovino, apresentaram emissões inferiores
ou iguais ao controlo, o que indica que a aplicação destes materiais ao solo não aumenta as
emissões de CH4, comparando com a fertilização exclusivamente mineral. O facto terem sido
observadas emissões no controlo superiores ao que foi reportado noutros estudos (Chadwick
et al., 2000; Liu et al., 2008; Heintze et al., 2017; Zhao et al., 2021) pode ser explicado pelas
ótimas condições para emissão de CH4, um solo rico em C e com humidade. Por terem sido
usados valores médios entre datas de amostragem e em função do que foi explicado no início
desta secção dos resultados, ambos estes fatores poderão também ter sobrestimado as
emissões.

38
Resultados e Discussão

4500 4451,42a
Fluxo cumulativo de CH4 (mg C-CH4 m-2)

4000

3500
Controlo
3000 Ch. Bov. Acid.
Est. Bovino
2500
Est. Aves
2000 Ch. Bovino

1500

1000 908,01b
881,67b
500 444,49b
398,37b
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180
Dias após aplicação

1000
Fluxo cumulativo de CH4 (mg C-CH4 m-2)

Controlo 908,01b
900
Ch. Bov. Acid.
881,67b
800 Est. Bovino
700 Est. Aves

600
500
444,49b
400
398,37b
300
200

100

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180
Dias após aplicação

Figura 7- Valor cumulativo de CH4 emitido (mg C-CH4 m-2) - média de 4 repetições.

O chorume de bovino acidificado e estrume de bovino foram os menores emissores de


CH4, com valores de emissão de 444 e 398 mg C-CH4 m-2, respetivamente, ou 8,50 e 8,44 kg
C-CH4 ha-1, respetivamente. Para o estrume de bovino, Liu et al. (2015) reportaram uma
emissão teórica de 10,35 kg C-CH4 ha-1 ano-1, com uma taxa de fertilização de 472,5 kg N ha-
1, dentro do obtido para este estudo. Em relação ao chorume de bovino acidificado, Fangueiro
et al. (2015) obtiveram uma emissão de 1,06 kg C-CH4 ha-1 para um ensaio com uma duração
de 140 dias e uma taxa de aplicação de 80 kg N ha-1, inferior ao obtido neste estudo. A
acidificação do chorume de bovino permitiu mitigar as emissões de CH4 em 90%.
Com exceção do chorume de bovino, os restantes tratamentos não apresentaram
diferenças significativas de emissão entre si. A partir do dia 30 após a aplicação dos efluentes,
as emissões cumulativas de todas as modalidades, com exceção do chorume de bovino que
já teria sofrido o aumento mais cedo, aumentaram gradualmente até ao fim do ensaio, com

39
Resultados e Discussão

um aumento mais rápido até o dia 60 após a aplicação dos efluentes, correspondendo ao mês
com maior precipitação (abril).
Não foi possível encontrar dados suficientes referentes às emissões de CH4 em
cenários de fertilização utilizando efluentes pecuários em solos agrícolas. A grande maioria
da bibliografia disponível para este gás foca-se em zonas de produção de arroz, já que as
emissões são teoricamente muito mais elevadas, podendo atingir 375 kg C-CH4 ha-1
(Fangueiro et al., 2017).

4.3.2. Emissões de N2O

Relativamente às emissões de N2O (Figura 8), observou-se que foram mais elevadas
pelo tratamento estrume de aves, com um valor máximo de emissão de 99,22 mg N-N2O m-2
d-1, 58 dias após a aplicação dos efluentes pecuários ao solo. Inicialmente a emissão deste
tratamento manteve-se relativamente baixa, onde possivelmente o processo de nitrificação foi
ocorrendo, transformando o N orgânico e o NH4+ presentes no efluente pecuário em
substratos (NO3-) para desnitrificação, que necessita de condições de anaerobiose para
ocorrer (Chadwick et al., 2011). Normalmente é reportado que há um atraso entre a aplicação
dos efluentes pecuários ao solo e a emissão de N2O, que corresponde ao período de
nitrificação do NH4+ veiculado pelos efluentes e mineralização + nitrificação do azoto orgânico
aplicado (Rochette et al., 2008). Pela precipitação que ocorreu no mês de abril, mais
concretamente 40 dias após a aplicação dos efluentes, verificou-se que o teor de humidade
do solo ficou acima do nível de água máximo (Figura 1), o que terá levado ao preenchimento
dos poros livres com água e consequente diminuição do O2 disponível (Louro et al., 2013).
Sobre estas condições, o processo de desnitrificação foi estimulado o que, possivelmente,
terá levado ao pico de emissão de N2O verificado (Liu et al., 2008; Alsina et al., 2013; Maris
et al., 2015). A partir daí as emissões diminuíram e mantiveram-se baixas até ao fim do ensaio,
já que o solo acabou por secar com um aumento da temperatura (evaporação) e diminuição
da precipitação.
Em relação ao tratamento de chorume de bovino, segundo maior emissor de N2O, o
pico de emissão verificou-se mais cedo, nos dias 17 e 23 após a aplicação dos efluentes, com
valores de 25,93 e 28,48 mg N-N2O m-2 d-1, respetivamente. Neste período foi aplicada a
primeira fertirrega, que introduziu nitrato (NO3-) ao solo. Antes desses dois picos, as emissões
vieram a aumentar gradualmente, uma vez que, apesar dos chorumes conterem na sua
composição um elevado teor de NH4+ (~ 50 % do N total), pelas condições de anaerobiose
introduzidas por este efluente, o processo de nitrificação, que necessita de O2 para ocorrer,

40
Resultados e Discussão

poderá ter sido atrasado, ainda que o substrato necessário ao processo (NH4+) estivesse
presente nos chorumes. Pela aplicação da fertirrega, que incorporou o substrato (NO3-)
necessário à desnitrificação no solo, verificaram-se condições propícias à formação de N2O,
o que poderá explicar os picos observados. A partir do dia 23, as emissões foram baixando e
mantiveram-se próximas de zero até ao fim do ensaio, muito possivelmente pela falta de
condições necessárias à desnitrificação.

100
Fluxo de N2O (mg N-N2O m-2 d-1 )

Controlo
Ch. Bovino
80
Ch. Bov. Acid.
Est. Bovino
60 Est. Aves

40

20

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180
Dias após aplicação

30
Fluxo de N2O (mg N-N2O m-2 d-1)

25 Controlo
Ch. Bovino
20 Ch. Bov. Acid.
Est. Bovino
15

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180
Dias após aplicação

Figura 8- Fluxo de N2O emitido (mg N-N2O m-2 d-1) - média de 4 repetições.

O chorume de bovino acidificado foi o terceiro maior emissor, verificando-se dois picos
de emissões, um logo na primeira medição e o outro 45 dias após a aplicação (14ª medição)
com valores de 15,31 e 16,26 mg N-N2O m-2 d-1, respetivamente. As emissões foram
ligeiramente mais baixas do que com o chorume de bovino, o que poderá evidenciar alguma
influência do pH sobre a atividade dos organismos desnitrificantes. O primeiro pico, verificado
logo nas primeiras 24 horas após a aplicação dos efluentes, reflete muito provavelmente o

41
Resultados e Discussão

N2O que já haveria ter sido formado durante o armazenamento do próprio chorume, e que
quando aplicado ao solo acabou por ser libertado. O segundo pico, que ocorreu no período
de saturação do solo (Figura 1), poderá ser explicado pela acumulação de algum NO3-
proveniente da fertirrega, ou até, por uma pequena taxa de mineralização e/ou nitrificação que
tenha ocorrido ao N aplicado pelo efluente, que pela depleção do O2 consequente do aumento
do teor de humidade, o processo de desnitrificação ocorreu, libertando algum N2O. No
entanto, como verificado na Figura 9, as emissões não são significativamente diferentes entre
estes tratamentos.
O estrume de bovino e o controlo apresentaram uma tendência de emissão
ligeiramente superior também no período onde a fertirrega se iniciou e a precipitação ocorreu,
entre os dias 20 e 45 após a aplicação dos efluentes. Os valores de emissão cumulativa
destes dois tratamentos (Figura 9), foram significativamente mais baixos do que os valores
observados com estrume de aves e inferiores também aos chorumes. Numa meta análise (Xia
et al., 2020) realizada sobre as emissões de N2O após aplicação de efluentes pecuários no
solo, verificou-se que efluentes com uma razão C/N entre 10 e 15 e um teor de C entre 100 e
300 g C kg-1 produziam significativamente menores emissões de N2O, e que com teores de N
entre 5 e 20 g N- N2O kg-1 as emissões eram também menores. No presente estudo, o estrume
de bovino foi o único efluente pecuário com uma composição dentro dos parâmetros acima
referidos, o que poderá explicar as menores emissões de N2O verificadas. Outra razão para
as menores emissões poderá ser o teor de NH4+ aplicado, significativamente inferior aos
restantes efluentes pecuários (Quadro 5).
Ao fim dos 175 dias de ensaio, o estrume de bovino emitiu um cumulativo de 353,38
mg N-N2O m-2 ou 3,07 kg N-N2O ha-1, inferior ao valor (~ 5,5 kg N-N2O ha-1 ano-1) reportado
por Liu et al. (2015), para uma cultura rotativa de milho e trigo, num clima continental semi-
húmido, e idêntico aos 396 mg N-N2O m-2 reportados por Rochette et al. (2008) para uma taxa
de fertilização e período de amostragem similares ao presente estudo. O valor de emissão
obtido foi muito inferior à emissão reportada por Cheng et al. (2017) de 26 kg N-N2O ha-1 ano-
1 num pomar de pessegueiros localizado na China, apesar da taxa de fertilização ter sido cerca
de 5 vezes superior à utilizada neste estudo. Chang et al. (1998) obtiveram, para um estudo
a longo prazo numa cultura de cevada, valores de emissão entre 11 e 56 kg N-N2O ha-1 ano-
1, para taxas de aplicação de estume de bovino entre 556 e 1 668 kg N ha-1 ano-1.
O controlo apresentou o valor cumulativo de emissão mais baixo, 300,13 mg N m-2 ou
3 kg N ha-1. Os valores de emissão do tratamento com fertilização exclusivamente inorgânica
neste estudo, encontram-se superiores aos reportados noutros estudos (Schellenberg et al.,
2012; Alsina et al., 2013; Maris et al., 2015; Fentabil et al., 2016) que obtiveram teores entre
0,15 e 2 kg N-N2O ha-1 ano-1, para diferentes pomares. No entanto como este valor foi

42
Resultados e Discussão

sobrestimado na extrapolação para hectare possivelmente encontram-se dentro do reportado


nos estudos referidos. Por outro lado, o valor obtido foi inferior a outros estudos também
realizados sobre pomares (Liu et al., 2008; Cheng et al., 2017; Vilarrasa-Nogué et al., 2019;
Zhao et al., 2021), que observaram emissões entre 4,49 e 8,64 kg N-N2O ha-1 ano-1, com uma
taxa de fertilização a variar entre 100 e 1 006,9 kg N ha-1.
Como já referido, o tratamento com estrume de aves foi o efluente pecuário que mais
N2O emitiu nos 175 dias do ensaio, 3 412,07 mg N- N2O m-2 ou 6 kg N-N2O ha-1, muito inferior
aos 34,4 kg N-N2O ha-1 ano-1 reportados noutro estudo (Heller et al., 2010). O valor de
emissão, comprando com os restantes efluentes pecuários, poderá ser justificado pelo facto
de ter sido o efluente pecuário que mais N disponível proporcionou à cultura (Quando 5).

3500 3412,07a
Fluxo cumulativo de N2O (mg N-N2O m-2)

3000
Controlo
Ch. Bovino
2500
Ch. Bov. Acid.
Est. Bovino
2000 Est. Aves

1500

1000
689,01b
500 589,19b
352,38b
300,13b
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180
Dias após aplicação

700
Fluxo cumulativo de N2O (mg N-N2O m-2)

Controlo 689,01b
Ch. Bovino
600 Ch. Bov. Acid. 589,19b
Est. Bovino
500

400
352,38b
300 300,13b

200

100

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180
Dias após aplicação

Figura 9- Valor cumulativo de N2O emitido (mg N-N2O m-2) - média de 4 repetições.

O tratamento com chorume de bovino e o chorume de bovino acidificado emitiram 689


e 589 mg N- N2O m-2, respetivamente, ou 3,49 e 3,36 kg N- N2O ha-1, respetivamente. Em

43
Resultados e Discussão

relação ao chorume de bovino, o obtido encontra-se idêntico aos 606 mg N- N2O m-2 reportado
num estudo com uma amostragem idêntica, isto é, duração, tipo de solo e taxa de fertilização
(Rochette et al., 2008), mas para uma cultura diferente (milho), e aos 14,2 kg N-N2O ha-1
obtidos num estudo com apenas 15 dias de amostragem e um input de 323 kg N ha-1 (Viguria
et al., 2015). Por outro lado, a emissão do chorume de bovino encontra-se superior ao obtido
noutros estudos (Chadwick et al., 2000; Heintz et al., 2017) apesar da duração dos ensaios
terem sido muito inferiores aos 175 dias deste ensaio. Velthof et al. (2011) reportaram um
valor de 5,53 kg N-N2O ha-1 ano-1, para uma taxa de 460 kg N ha-1 sobre uma pastagem,
dentro do aqui obtido. Em relação ao chorume de bovino acidificado Fangueiro et al. (2015),
reportaram uma emissão de 2,53 kg N-N2O ha-1 para um ensaio com uma duração de 140
dias, inferior ao obtido neste estudo, e com uma taxa de fertilização também inferior (80 kg N
ha-1). Ainda assim, considerando que os valores apresentados em kg ha-1 foram
sobrestimados, as emissões de N2O encontram-se próximas ou até inferiores ao reportado na
bibliografia. A acidificação do chorume de bovino permitiu mitigar as emissões de N2O em
14,49%.
De uma meta-análise (Shakoor et al., 2021), reportou-se que a aplicação de efluentes
pecuários ao solo emite em média 17,70% mais N2O (cumulativo em kg ha-1) do que a
fertilização mineral. Neste estudo, com exceção do estrume de aves, todos os tratamentos
emitiram 16,20%, ou menos, a mais do controlo, onde o estrume de bovino apenas emitiu
mais 2,18% de N2O. O estrume de aves emitiu mais 129,52 % de N2O do que o controlo. Mais
uma vez, a extrapolação para hectare terá sobrestimado as emissões sendo necessário ter
isso em consideração nesta análise.
Fentabil et al. (2016), obtiveram maiores emissões na altura do crescimento das
macieiras (entre maio e setembro), com grande influência da frequência de irrigação. Neste
estudo não se verificou uma influência da irrigação (através da fertirrega) clara, possivelmente
apenas na aplicação singular que ocorreu cerca de 20 dias após a aplicação dos efluentes,
mas exclusivamente para o chorume de bovino. Neste caso, não foi o teor de água
incorporado, mas sim o teor de NO3- que terá estimulado as emissões de N2O deste
tratamento, já que as condições de anaerobiose já eram verificadas pelo teor de água
presente na composição deste efluente.
Todos os tratamentos, com exceção do estrume de aves, não apresentaram diferenças
significativas relativamente à emissão de N2O, o que sugere que a aplicação destes efluentes
conjunta com a fertilização mineral poderá ser uma alternativa viável à fertilização
exclusivamente mineral neste tipo de culturas ou até neste tipo de solo. Por outro lado, um
ciclo de emissões anual seria necessário para obter conclusões mais robustas, principalmente
de forma a perceber como seriam as emissões na época fria e chuvosa.

44
Resultados e Discussão

4.3.3. Emissões de CO2

Em relação às emissões de CO2 (Figura 10), o estrume de aves foi o efluente pecuário
que mais emitiu, principalmente na primeira metade do ensaio, tendência reportada também
noutro estudo (Heller et al., 2010), verificando-se um pico de emissão nos dias 10 e 40 após
a aplicação dos efluentes pecuários ao solo, com valores de emissão de 19 381,16 e 15
129,49 mg C-CO2 m-2, respetivamente. O primeiro pico poderá ser explicado pelos elevados
teores de N e C introduzidos pelo estrume de aves em conjunto com a precipitação que teria
ocorrido dias antes, aumentando as taxas de respiração pelo solo. O segundo pico, verificado
entre os 40 e 50 dias após aplicação dos efluentes pecuários, terá ocorrido devido à
precipitação, que possivelmente estimulou a atividade microbiana do solo e o crescimento da
cultura, libertando uma quantidade de CO2 mais notável. Progressivamente, as emissões
foram diminuindo ao longo do ensaio, principalmente pela redução da precipitação, mas ainda
mantiveram-se superiores a 1000 mg C-CO2 m-2.

20000
Fluxo de CO2 (mg C-CO2 m-2 d-1)

Controlo
Ch. Bovino
Ch. Bov. Acid.
15000 Est. Bovino
Est. Aves

10000

5000

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180
Dias após aplicação

Figura 10- Fluxo de CO2 emitido (mg C-CO2 m-2 d-1) - média de 4 repetições.

O estrume de bovino mostrou valores de emissão igualmente relevantes, mantendo


as tendências verificadas para o estrume de aves, ainda que com valores de emissão mais
baixos. Para ambos estes efluentes, a composição química acabou por ser o principal fator
de emissão, onde valores muito superiores de N e C foram aplicados ao solo comparando
com os chorumes. A adição de efluentes pecuários ricos em carbono incrementa a respiração
microbiana (Zhu et al., 2015), pois estimulam a atividade das comunidades microbianas no
solo, refletindo a quantidade de emissões de CO2 verificada em ambos os tratamentos.
Importa também salientar que os estrumes, principalmente de aves, apresentaram teores de

45
Resultados e Discussão

macronutrientes significativamente superiores aos chorumes, o que também poderá ter


estimulado as emissões de CO2. Contrariamente, o tratamento de controlo, onde não foram
aplicados efluentes, manifestou uma emissão de CO2 relativamente baixa, a menor
observada, muito possivelmente pela ausência de aplicação de carbono.
Observou-se um aumento das emissões no mês de abril, principalmente 40 dias após
a aplicação dos efluentes ao solo, em todos os tratamentos, já que foi o período do ensaio em
que ocorreu maior precipitação (Figura 1). A incorporação de água no solo afeta muito a
atividade microbiana e a disponibilidade de nutrientes à cultura, contribuindo para o
crescimento radicular e decomposição da biomassa pelos organismos decompositores, o que
acabou por estimular as emissões de todos os tratamentos, principalmente para os estrumes
pelos seus elevados teores de N e C, como já referido. A partir de maio, apesar do aumento
da temperatura, a redução da precipitação e consequentemente do teor de humidade do solo
(Figura 1) resultou numa diminuição das emissões de CO2, que se mantiveram entre os 1 000
e os 4 000 mg C-CO2 m-2 em todos os tratamentos até ao fim do ensaio, com exceção do
estrume de bovino que obteve uma emissão de 4 667,01 mg C-CO2 m-2, 154 dias após a
aplicação dos efluentes. Precisamente nesse período, houve um aumento notável da
fertirrega e do teor de humidade no solo (Figura 1). Apesar da fertirrega introduzir formas de
N disponíveis, como apenas se verificou este aumento no estrume de bovino, e pelos
elevados teores de C e N introduzidos por este efluente, é provável que existisse ainda algum
substrato do próprio efluente que acabou por estimular a produção de CO2.
No geral, é possível verificar que todos os tratamentos mostraram as mesmas
tendências de emissões de CO2, ainda que sobre valores muitos diferentes, que mostraram
ser influenciadas maioritariamente pelo teor de água no solo. Em culturas perenes e climas
Mediterrâneos, o teor de água no solo é o principal fator responsável pelo controlo da
respiração por parte do mesmo (Steenwerth et al., 2010). A tendência da diminuição das
emissões afetada pelo menor teor de água incorporado no solo foi igualmente observada
noutros estudos (Liu et al., 2008; Musafiri et al., 2020).
Em relação às emissões cumulativas de CO2 (Figura 11), o estrume de aves foi o
efluente que mais CO2 emitiu na duração do ensaio, 929,63 g C-CO2 m-2, ou 3 755,95 kg C-
CO2 ha-1. Este valor vai ao encontro do reportado por Heller et al. (2010), já que os autores
obtiveram um cumulativo anual de 9 735 kg C-CO2 ha-1 ano-1, sobre uma cultura de milho com
um a taxa de fertilização durante a época de crescimento de 240 kg N ha-1.

46
Resultados e Discussão

1000
929,63a
Controlo
Fluxo cumulativo de CO2 (g C-CO2 m-2)

900
Ch. Bovino
800 830,13a
Ch. Bov. Acid.
700 Est. Bovino
Est. Aves
600 615,87ab
500 530,97ab

400

300 296,45b
200

100

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180
Dias após aplicação

Figura 11- Valor cumulativo de CO2 emitido (g C-CO2 m-2) - média de 4 repetições.

O estrume de bovino foi o segundo maior emissor de CO2, emitindo 830,13 g C-CO2
m-2, ou 3 631,58 kg C-CO2 ha-1, superior aos 3 600 kg C-CO2 ha-1 ano-1 reportados por Cheng
et al. (2017), para uma mistura de estrume de vaca e de coelho.
O controlo foi o tratamento que menos CO2 cumulativo emitiu, 296,45 g C-CO2 m-2, ou
2 964,48 kg C-CO2 ha-1, idêntico ao valor de 2 883,28 kg C-CO2 ha-1 obtido por Musafiri et al.
(2020) para uma cultura de milho por época seca. Tendo em conta a taxa de fertilização
aplicada por Maris et al. (2015) de 50 kg N ha-1, a emissão reportada pelos autores, 793 kg
C-CO2 ha-1 ano-1, encontra-se próxima da obtida neste estudo. Por outro lado, foi superior ao
obtido noutros estudos (Cheng et al., 2017; Vilarrasa-Nogué et al., 2019) como taxas de
fertilização superiores a 100 kg N ha-1. Liu et al. (2008), reportaram uma emissão de 14 720
kg C-CO2 ha-1 ano-1, num pomar de longanas, muito superior ao obtido no presente estudo,
ainda que a fertilização não tenha sido esclarecida pelos autores, onde referiram apenas que
no passado houve fertilização no pomar.
O chorume de bovino acidificado e o chorume de bovino apresentaram valores
cumulativos de emissão não significativamente diferentes dos restantes tratamentos, com
valores de 530,06 e 615,87 g C-CO2 m-2, respetivamente, ou 3 256,50 e 3 363,76 kg C-CO2
ha-1, respetivamente. O valor de emissão do chorume de bovino foi inferior ao reportado por
Viguria et al. (2015), 14 215,5 kg C-CO2 ha-1, com uma taxa de fertilização duas vezes superior
a este estudo, mas superior aos 420 kg C-CO2 ha-1 obtidos por Heintz et al. (2017), no entanto
para apenas 22 dias de amostragem. A proporção de emissão entre o chorume de bovino e
o controlo encontra-se idêntica ao reportado num ensaio de incubação por Florio et al. (2016),
com uma forte influência do aumento de temperatura, que acabou por não ser tão visível neste
estudo. A acidificação do chorume de bovino permitiu mitigar as emissões de CO2 em 13,93%.

47
Resultados e Discussão

A emissão de CO2 foi superior para os tratamentos onde maior C orgânico foi aplicado
ao solo, os estrumes, e menor para os tratamentos onde menor C foi aplicado, os chorumes.
Para o controlo, onde não se aplicou C, menor ainda foi o CO2 emitido. Assim, a emissão de
CO2 refletiu o teor de C aplicado em cada tratamento, tal como reportado por Johansen et al.
(2013).

4.3.4. Potencial de aquecimento global

Como já referido anteriormente, cada gás apresenta um impacte diferente no


aquecimento do planeta, em função das suas forças na absorção da radiação infravermelha.
Assim, cada gás possuí um potencial de aquecimento diferente, conhecido como Global
Warming Potential (GWP). O GWP permite que o impacte de cada gás seja expresso numa
unidade comum, conhecida como CO2 equivalente (CO2e). Para um horizonte de 100 anos, o
CH4 e o N2O apresentam um GWP de 28 e 265, respetivamente (IPCC, 2014).

50000
Valor cumulativo de CO2e (g CO2 m-2)

40000 Controlo
Ch. Bovino
Ch. Bov. Acid.
30000 Est. Bovino
Est. Aves

20000

10000

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180
Dias após aplicação

Figura 12- Valor cumulativo de CO2e emitido nos 175 dias do ensaio (g CO2e m-2).

Relativamente às emissões de CO2e, que contemplam os potenciais de aquecimento


de cada gás, verificou-se que o estrume de aves foi o efluente pecuário, num contexto das
emissões de GEE, mais poluidor, refletindo as emissões de N2O e CO2 verificadas (Figura
12). Os aumentos de emissão ocorreram principalmente no mês de abril, mas também maio,
onde a precipitação teve uma forte influência na libertação de N2O e CO2 por este tratamento.
O chorume de bovino apresentou um aumento de emissão desde o início do ensaio, refletindo

48
Resultados e Discussão

as emissões de CH4 verificadas. O estrume de bovino, principalmente no mês de abril até


meados de maio, reflete principalmente as emissões de CO2. O chorume de bovino acidificado
e o controlo, em resultado das menores emissões retratadas pelos três gases, apresentaram
os menores valores de CO2e. As emissões de ambos, resultam principalmente das emissões
de N2O e CO2 verificadas.
Como é verificado na Figura 12, num balanço final, o estrume de aves emitiu, ao fim
175 dias de ensaio, 4 862,43 g CO2e m-2. Numa perspetiva de emissões de GEE, o estrume
de aves foi o efluente pecuário com maior impacte no aquecimento global. O estrume de
bovino foi o segundo maior emissor de GEE, emitindo 3 205,42 g CO2e m-2, valor que não
diferiu estatisticamente dos restantes tratamentos, com exceção do controlo. O chorume de
bovino emitiu 2 711,3 g CO2e m-2, sendo o terceiro tratamento com maior impacte. O chorume
de bovino acidificado foi o que apresentou o melhor cenário de emissões de GEE perante os
restantes efluentes pecuários, com o valor total de emissão de CO2e mais baixo, 2 205,51 g
CO2e m-2, e significativamente inferior ao estrume de aves. O controlo foi o tratamento que
menos GEE emitiu,1 245,86 g CO2e m-2, não apresentando diferenças significativas em
relação aos chorumes, o que revela que estes efluentes mostraram ser, numa perspetiva de
emissão de GEE, uma melhor opção do que os estrumes. Para além do teor de humidade do
solo, percebeu-se que, independentemente da espécie animal, a composição físico-química
dos efluentes foi o fator chave na variação das emissões. Os chorumes apresentaram uma
menor razão C/N, e menores teores de N total, N disponível e C aplicados, o que não
contribuiu tanto para as emissões de N2O e CO2. A acidificação mostrou também ser muito
eficaz na mitigação das emissões de CH4 do chorume de bovino acidificado, comparando com
o chorume de bovino.

4.5. Produtividade da cultura

A produção média por hectare e por área seccional média do tronco (AST) das árvores,
obtida para cada um dos diferentes tratamentos, não diferiu estatisticamente entre estes
(Quadro 8). Isto significa que a aplicação conjunta dos efluentes pecuários ao solo com a
fertilização mineral não produz menos do que a fertilização exclusivamente mineral, o que, a
nível de produtividade da cultura, permite um parecer positivo relativamente ao uso dos
efluentes pecuários no solo. Ainda assim, como houve alguma variabilidade na produção de
maçãs dentro do mesmo tratamento, consequência da heterogeneidade da dimensão das
árvores, achou-se importante expressar a produtividade por AST, de forma a reforçar o obtido
pela produção média em kg ha-1 e tornar a análise o mais robusta possível.
Peck et al. (2006) reportaram que a produtividade de um pomar de macieiras
convencional, da variedade Gala com 9 e 10 anos de idade, foi de 0,40 kg cm-2 AST no

49
Resultados e Discussão

primeiro ano e de 0,29 kg cm-2 no segundo ano de estudo, e ainda que a taxa de fertilização
não tenha sido esclarecida pelos autores, estes valores foram inferiores ao obtido neste
estudo para o tratamento de controlo. De uma meta-análise (Du et al., 2020) os autores
reportaram que a aplicação de efluentes pecuários não afeta a produtividade de culturas
frutícolas, como foi também verificado por este estudo na produção das macieiras.

Quadro 8 - Produtividade média de cada tratamento por hectare (ha) e área seccional do
tronco - AST (cm2) – média de 4 repetições.

Tratamento Produção média (kg ha-1) Produção média (kg cm-2


AST)
Controlo 20890,00a 0,60a
Chorume de Bovino 21807,50a 0,61a
Chorume de Bovino Acidificado 16500,63a 0,47a
Estrume de Bovino 16667,67a 0,40a
Estrume de Aves 18670,00a 0,56a
Em cada coluna, tratamentos com a mesma letra não são significativamente diferentes, teste Tukey com 95 % de
confiança (p<0,05).

4.6. Emissões de gases em função da produtividade da cultura

De forma a perceber o cenário das emissões cumulativas de cada gás tendo em


consideração a produção de maçãs, no Quadro 9, são apresentados o balanço das emissões,
expressa em mg m-2, sobre a produtividade da cultura, expressa em kg ha-1. De encontro ao
reportado pelas emissões cumulativas de CH4, as emissões de CH4 por kg de maçã produzido
foram significativamente maiores pela modalidade de chorume de bovino. Em relação ao N2O,
as emissões por produção foram significativamente maiores pelo estrume de aves. Para o
CO2, o estrume de aves foi o maior emissor de CO2 por kg de maçã produzida, e o tratamento
de controlo o menor. Ainda em relação ao CO2, para o estrume de bovino, chorume de bovino
e chorume de bovino acidificado não se verificaram diferenças significativas em relação ao
estrume de aves e ao controlo, ainda que visivelmente verifique-se alguma discrepância entre
os valores obtidos. Isto possivelmente aconteceu pelo facto de o pomar apresentar alguma
heterogeneidade no que toca à dimensão das árvores. Esta variabilidade teve como
consequência uma variabilidade na produção dentro do mesmo tratamento, o que acabou por
não apresentar diferenças significativas para valores mais agregados, como é o caso do CO2
e também do CO2e. É também possível verificar que estrume de bovino apresentou um valor
de emissão de CO2 muito próximo do estrume de aves.
No balanço final, isto é, as emissões em CO2e, o estrume de aves foi o efluente
pecuário que mais emitiu por kg de maçã produzido, sendo, numa perspetiva de emissões de
GEE, o maior poluidor, tal como foi também reportado em relação às emissões de CO2e

50
Resultados e Discussão

cumulativas. Estas emissões são, principalmente, representativas das emissões de N2O e


CO2. O chorume de bovino acidificado acabou por emitir mais do que o chorume de bovino,
em resultado da menor produção média verificada para este tratamento. O controlo foi o
tratamento que menos impacte teve nas emissões de GEE em função da produção, sendo
possível também concluir que, ainda que não se tenha verificado diferenças estatísticas, os
estrumes emitem mais do que os chorumes por kg de maçã por produzida.

Quadro 9 - Fluxo cumulativo de emissão dos GEE (mg m-2) e do CO2e (g m-2) por produção
(kg de maçã produzido ha-1).

CH4 N2O CO2 CO2e


Tratamento
(mg C-CH4 m-2 kg-1) (mg N-N2O m-2 kg-1) (mg C-CO2 m-2 kg-1) (g m-2 kg-1)
Controlo 0,044b 0,015b 14,61b 61,37b
Chorume de Bovino 0,212 a 0,034b 29,51 ab 130,23ab
Chorume de Bovino
0,082b 0,041b 35,02ab 146,30ab
Acidificado
Estrume de Bovino 0,031b 0,029b 56,77ab 255,58ab
Estrume de Aves 0,051b 0,204a 66,13a 294,80a
Em cada coluna, tratamentos com a mesma letra não são significativamente diferentes, teste Tukey com 95 % de
confiança (p<0,05).

4.4. Mitigação das emissões de GEE

Em relação à mitigação das emissões de GEE, os processos de digestão anaeróbia e


acidificação são opções relevantes (Petersen, 2018; Hou et al., 2017), principalmente para os
chorumes (Hou et al., 2015; Heintze et al., 2017). Isto também se verificou neste estudo em
relação à acidificação, sendo uma escolha viável e fácil de realizar antes da aplicação ao solo,
apesar de necessitar de um manuseamento cuidadoso. No entanto, é fundamental entender
os efeitos da incorporação de um material ácido no solo no longo prazo, tanto na produtividade
da cultura como na composição do solo. Como referido ao longo da discussão, principalmente
para o CH4, existe pouca informação referente às emissões de GEE pelo solo quando
aplicados diferentes efluentes pecuários. Esta temática em concreto necessita de mais
estudos, abrangendo diferentes solos e culturas.
Outra opção viável seria a secagem dos chorumes, já que os picos de emissões de
CH4 verificaram-se devido ao elevado teor de água destes efluentes. Por outro lado, o
processo de secagem também emitirá GEE, sendo necessário entender o balanço de
emissões entre aplicar sem secar e secar. Adicionalmente, a taxa de aplicação tem uma
grande influência, já que existe uma forte associação entre elevadas emissões de N2O em
condições onde o input de N adicionado excede a necessidade da cultura, havendo
acumulação de N inorgânico no solo (Petersen, 2018). A fertilização devidamente ajustada às

51
Resultados e Discussão

necessidades azotadas da cultura poderá reduzir as emissões de N2O em 30 a 50% (Sanz-


Cobena et al., 2016). Possivelmente a taxa de aplicação de N aplicada neste estudo estimulou
as emissões, já que se aplicou um excesso face a necessidade azotada da cultura de 90 kg
N total ha-1 (Cavaco, 2011). Estas opções são apenas algumas propostas de mitigação das
emissões de GEE, destacando o efeito da acidificação neste estudo, mas necessitam de um
balanço mais extenso que inclua outros tipos de impactes, mais concretamente no solo e para
a cultura/produção.

52
Conclusão

5. Conclusão

Este estudo permitiu quantificar e analisar as emissões de GEE provenientes de um


pomar parcialmente fertilizado com diferentes efluentes pecuários sobre um clima
Mediterrâneo, e assim, responder às hipóteses apresentadas nos objetivos.
• A utilização destes materiais orgânicos afeta a produção? Não, a aplicação dos
efluentes pecuários ao solo não afetou a produção.
• Os efluentes líquidos (chorumes) emitem menos CH4, mas mais N2O? Não, na verdade
o oposto foi verificado, mas apenas para o chorume de bovino, já que a acidificação
acabou por mitigar as emissões de CH4.
• O estrume de aves emite mais N2O do que os efluentes de bovino? Sim, o estrume de
aves emitiu quantidades de N2O superiores aos restantes tratamentos, cerca de 34 mg
N-N2O m-2 (ou ~ 6 kg N-N2O ha-1).
• A acidificação do chorume de bovino foi eficaz na mitigação das emissões? Sim, a
acidificação mostrou ser eficaz na mitigação das emissões, principalmente de CH4,
emitindo 444,49 mg C-CH4 m-2, menos 90% do que o chorume de bovino não
acidificado e menos 51% do que o controlo.
• Os efluentes pecuários emitem mais do que a fertilização mineral? Sim, numa
perspetiva global os efluentes pecuários emitiram mais do que o tratamento de
controlo, ainda que os chorumes não tenham apresentado um valor de emissões de
CO2e significativamente diferente do controlo.

Em conclusão, os efluentes pecuários mostraram ser materiais orgânicos estimulantes


na emissão de GEE pelo solo comparando com a fertilização exclusivamente mineral,
destacando principalmente os estrumes. Por outro lado, a acidificação revelou ser uma opção
positiva na mitigação das emissões de CH4. O teor de água no solo foi o fator que mais
influenciou as emissões no global, seguido da composição de C e N dos efluentes, assim
como do pH. A temperatura do ar não apresentou um efeito evidente nas emissões de GEE.
O efeito nas emissões proveniente da aplicação deste tipo de efluentes pecuários ao
solo e respetivos pré-tratamentos devem ser mais cimentados. Para isso é fundamental que
mais estudos sejam realizados nesta vertente, utilizando diferentes efluentes pecuários e em
diferentes culturas. Em estudos nesta matéria, recomenda-se alguma prudência na
extrapolação dos valores de emissões para áreas que não verificam as mesmas condições
estudadas, já que poderá sobrestimar, e muito, as emissões de GEE.

53
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