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MISSÃO DO ASSESSOR ECLESIÁSTICO DE PASTORAIS,

MOVIMENTOS E ORGANISMOS

● DOM MÁRIO SPAKI


● 17/05/2021
● ARTIGO

Dom Mário Spaki


Bispo de Paranavaí (PR)

É comum os agentes de pastorais, movimentos e organismos dizerem que precisam


de alguém que os acompanhe e os oriente nas reflexões e decisões tendo, por
assim dizer, o olhar e o acompanhamento da Igreja para com aquele grupo.

O assessor eclesiástico é designado pelo Bispo Diocesano para uma missão,


representando a hierarquia da Igreja junto ao grupo confiado aos seus cuidados, a
fim de assegurar que o grupo não enverede por erros doutrinais, não se desarticule
e nem desanime diante de dificuldades.

O assessor eclesiástico atua junto, instruí e presta serviço a um grupo específico.


Ele será sempre um motivador para o crescimento de todos na fé, no espírito de
serviço, cobrando resultados com mansidão e firmeza, atento aos sinais dos
tempos, imprimindo uma pegada missionária conforme a caminhada da Igreja nos
dias atuais.

Deverá conjugar, na medida do possível, entusiasmo e alegria, serenidade e


seriedade, paciência e habilidade, simplicidade e profundidade, discrição e
qualificação, testemunho de comunhão e amizade, assumindo claramente o
compromisso com o Evangelho, com os pequenos e esquecidos. Nas atividades
pastorais, o assessor vigiará e orientará seu grupo a que sempre atue em sintonia
com o Plano Diocesano de Pastoral.

Além de ser o olhar da Igreja sobre o grupo assessorado, o assessor eclesiástico


também representa o grupo junto à Igreja, reportando a caminhada realizada[1].
Uma exigência fundamental para o assessor é conhecer em profundidade a
pastoral, movimento ou organismo. Para tanto, espera-se que estude os seus
documentos fundamentais, como também qual é a vocação/missão de tal grupo
dentro da comunidade eclesial e da sociedade.

O termo ‘assessor’ na terminologia pastoral, parece ter sido a tradução brasileira


para os ‘peritos – teólogos’ que acompanharam os bispos no Concílio Vaticano II.
Os bispos dialogavam sobre os passos que a Igreja deveria dar e os peritos os
ajudavam a conciliar ideias divergentes e a transmiti-las em linguagem teológica.
Consequentemente, o assessor é uma pessoa com um conhecimento específico
naquela determinada área que acompanha, capaz de oferecer parâmetros
teológicos fundamentando as decisões tomadas.

Assim, a importância do assessor vai além das responsabilidades básicas


assumidas como a presença nos momentos importantes, a condução de momentos
de espiritualidade, celebração de missas, palavras de orientação à coordenação e a
promoção do grupo na comunidade, diocese e sociedade.
Portanto, quando falamos de assessor eclesiástico, referimo-nos a uma pessoa que
dá segurança nas tomadas de decisões, após apurado discernimento de escuta
sinodal, isto é, após um caminho feito junto. O assessor eclesiástico não toma
decisões sozinho em nome do grupo, nem determina autoritariamente o percurso a
ser feito, mas ajuda o grupo a discernir e decidir, interagindo e oferecendo o quadro
da realidade mais ampla ou mostrando as possíveis consequências de determinada
decisão.

É evidente que para tanto é necessário que ele seja um apaixonado por aquela
realidade eclesial a ele confiada para poder desempenhar um bom serviço.

É, no entanto, um contrassenso quando o assessor eclesiástico se torna um peso


para o grupo e trava sua caminhada ou então quando manifesta desinteresse,
descaso e deixa as ovelhas à mercê do acaso. Expressões como: “seria melhor que
não tivéssemos assessor”; “ele não ajuda em nada” ou “não adianta contar com
ele”, revelam que o assessor pode não estar desempenhando a missão que lhe foi
incumbida. A situação fica pior quando o assessor não ajuda e a coordenação é
fraca.

Se não é pedido ao assessor que se envolva nas atividades constantes do grupo,


também não se pode imaginar um assessor distante, ausente, que não responda às
mensagens, que não retorne às ligações recebidas, que “se esconda”, sempre
inventando desculpas, que não marque presença nos momentos importantes de
decisão, encontros e celebração.

Uma das razões prévias que levou a isso pode estar na escolha errada de um
assessor para uma determinada pastoral, quando não se leva em conta a formação
do clérigo, a sua linha de espiritualidade e também o seu enfoque pastoral. A
experiência tem demonstrado que dificilmente se tornará um bom assessor
eclesiástico quem previamente nutre aversão àquela realidade que assessorará.
Então, antes de torná-lo assessor é importante observar como o clérigo acolhe,
dialoga em sua paróquia e ação pastoral com aquela realidade à qual se deseja
vinculá-lo. Cuidado com a frase famosa: “sobrou isso para você” ou “você não tem
nada – fique ao menos com isso!”

Há muitos casos, no entanto, em que o assessor no momento da nomeação não


possui afinidade e nem conhecimento, mas corre atrás, reinventa-se e dá conta do
recado.

Enfim, para poder realizar um bom acompanhamento é oportuno que o assessor


não acumule funções de assessoria. E devemos ressaltar como é preocupante
também quando um ministro sagrado não aceita realizar nenhuma assessoria,
sobrecarregando aqueles que são disponíveis para servir em tais âmbitos.

Que em nenhuma comunidade, paróquia ou Diocese deixe-se de agradecer


convenientemente aos assessores que se dedicam ou se dedicaram com grande
amor à causa que abraçaram. Quase sempre um grupo bem-sucedido na
Evangelização tem junto a si um efetivo assessor eclesiástico. Se a paróquia é cara
do padre, de igual forma, tantas vezes, o grupo é a cara do assessor eclesiástico.

[1] É importante ressaltar que ao representar um determinado grupo em Conselhos


de Pastoral, isso sempre implica dois movimentos: recolher do grupo os anseios, as
alegrias, as dificuldades e os testemunhos e os levar para apresentar na reunião do
Conselho. Depois da reunião do Conselho, realiza um movimento inverso: informa
aos membros do grupo aquilo que foi dialogado e decidido na reunião do Conselho.
Infelizmente tem ocorrido que coordenadores e assessores de pastorais e
movimentos não cumprem o que foi descrito acima e, dessa forma, as reuniões dos
Conselhos – que deveriam ser expressão da caminhada sinodal da Igreja – se
tornam meramente reuniões das pessoas presentes, sem envolvimento e implicação
dos grupos que tais pessoas representam.

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