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FACULDADE DEHONIANA

Clenis guedes da silva – Diocese de Floriano

Pós – formadores de seminários e casas de formação

I – Como a psicologia pode ajudar na formação?

Sabemos que o período de formação dos seminaristas é uma etapa crucial,


pois é através dela que o jovem adquire os conhecimentos teológicos e
espirituais para exercer seu ministério sacerdotal. Porém, a formação não se
limita apenas no aspecto intelectual e religioso, mas também envolve o
desenvolvimento emocional e psicológico do candidato ao sacerdócio. As
competências acadêmicas, espirituais e humanas necessárias para o exercício
do ministério sacerdotal. Na Pastores dabo vobis diz:

“Portanto, não só para uma justa e indispensável


maturação e realização de si mesmo, mas também
com vista ao ministério, os futuros presbíteros devem
cultivar uma série de qualidades humanas necessárias
à construção de personalidades equilibradas, fortes e
livres capazes de compor o peso das
responsabilidades pastorais” (PDV, n. 43).

Nesse contexto, a psicologia desempenha um papel fundamental ao


oferecer suporte e contribuir de maneira significativa para a formação ao
ministério ordenado. O presente texto abordará como a psicologia pode ajudar
nesse processo, auxiliando na compreensão e no desenvolvimento dos
aspectos emocionais, psicológicos e interpessoais dos candidatos ao
sacerdócio. Iremos apontar quatros dimensões que a psicologia pode ajudar na
formação: o autoconhecimento, autocontrole, relações interpessoais e o
processo de acompanhamento durante a vida do sacerdote.

Segundo a psicologia, autoconhecimento é o processo de compreender


e explorar a própria mente, emoções, personalidade, comportamentos e
motivações de forma objetiva e profunda; é visto como um componente
essencial para o desenvolvimento pessoal do ser humano.

O psicólogo, atuando como colaborador na formação dos seminaristas,


tem como uma de suas principais tarefas auxiliar os candidatos a
desenvolverem um sólido autoconhecimento. A partir de técnicas e abordagens
psicológicas, é possível explorar as motivações, os valores, as virtudes e as
fragilidades emocionais de cada seminarista. Essa reflexão profunda e honesta
sobre si mesmo permite que o candidato compreenda suas potencialidades e
limitações, preparando-o para enfrentar os desafios que possam surgir no
ministério pastoral.

O segundo é o autocontrole; um dos autores que explorou esse conceito


é Daniel Goleman, psicólogo e autor do livro "Inteligência Emocional". Goleman
destacou a importância do autocontrole emocional como uma das cinco
principais habilidades da inteligência emocional. Ele argumentou que o
autocontrole é essencial para o desenvolvimento saudável das relações
interpessoais, bem como para o sucesso pessoal e profissional.

O trabalho do psicólogo na formação presbiteral também envolve o


desenvolvimento das habilidades de gestão emocional e autocontrole do
seminarista. O exercício do ministério sacerdotal pode expor os clérigos a
situações emocionalmente desafiadoras, como lidar com conflitos familiares,
aconselhar em momentos de crise e lidar com a solidão. A psicologia pode
fornecer ferramentas para que os seminaristas aprendam a reconhecer suas
emoções, expressá-las de maneira adequada e desenvolver a resiliência
emocional necessária para lidar com os altos e baixos da vida pastoral.

O sacerdote também precisa ter relações interpessoais. A formação


presbiteral não se restringe apenas ao desenvolvimento pessoal, mas também
inclui a preparação para a convivência em comunidades religiosas e com os
fiéis. Nesse sentido, o psicólogo pode auxiliar os seminaristas a
compreenderem dinâmicas interpessoais, trabalhar na resolução de conflitos,
desenvolver empatia e habilidades de comunicação eficaz. Essas
competências são essenciais para estabelecer relações saudáveis com os
membros da comunidade, colegas de ministério e autoridades eclesiásticas.
Por fim, o acompanhamento psicológico ao longo do ministério; além de
atuar na formação inicial, o psicólogo pode servir de ajuda ao longo de toda a
trajetória do padre, oferecendo acompanhamento psicológico contínuo. O
exercício do ministério pode trazer desafios que demandam apoio emocional e
psicológico, e contar com um profissional qualificado pode prevenir o
esgotamento, a depressão ou o isolamento que, infelizmente, alguns padres
enfrentam. No brasil, muitas dioceses já oferecem acompanhamento
psicológico ou formações com psicólogos para os padres.

Portanto, podemos concluir que a psicologia na formação presbiteral é


de extrema relevância, visto que contribui para o desenvolvimento dos futuros
padres. Através do autoconhecimento, da gestão emocional ou autocontrole
das habilidades interpessoais e do acompanhamento contínuo, a psicologia
proporciona aos seminaristas ferramentas fundamentais para enfrentar os
desafios do ministério sacerdotal de maneira saudável e eficaz. Combinando a
espiritualidade com o suporte psicológico, a Igreja pode formar padres mais
preparados para servir e guiar suas comunidades, proporcionando-lhes um
ambiente acolhedor e fortalecedor para o exercício do ministério.

II – Como a eclesiologia ilumina a formação?

A eclesiologia é o estudo da natureza e missão da Igreja, e nessa


reflexão teológica, encontramos no pensamento do Papa Francisco, uma
abordagem profunda e inspiradora. Sob a liderança do Papa Francisco, a Igreja
tem sido convidada a repensar sua identidade e missão, redescobrindo sua
verdadeira vocação como sinal de comunhão fraterna, sendo uma Igreja em
saída, uma Igreja sinodal. O Papa Francisco também é marcado pela
simplicidade e humildade, características que são refletidas em sua própria
vida e em suas atitudes pastorais. Ele nos convida a superar a tentação do
clericalismo e a vaidade pessoal, colocando o serviço aos outros como o centro
da vida eclesial. Essa postura de simplicidade fortalece a identidade da Igreja
como comunidade de discípulos missionários, todos chamados a servir, cada
um conforme seus dons e carismas.

Diante desse pensamento do Papa Francisco, e outros documentos da


Igreja que faz referência ao termo Eclesiologia, como podemos entender a
eclesiologia como uma via iluminativa para a formação sacerdotal? Podemos
partir de três pontos importantes mencionado muitas vezes pelo Sumo
Pontífice e que estão presentes em muitos discursões da Igreja em tempos
atuais: Missão, Comunhão e diálogo.

A missão da Igreja é anunciar o Evangelho a todas as pessoas. O


seminarista precisa estar comprometido com a missão para ser um agente de
transformação do mundo. A Pastores Dabo Vobis, ressalta que a dimensão
missionária não se limita apenas a algumas atividades específicas, mas é uma
atitude interior que deve permear toda a vida do sacerdote. A missão não é
apenas uma parte da vida do padre, mas é a razão de ser de sua existência. A
vida missionária deve estar presente na celebração dos sacramentos, na
pregação da Palavra, no acompanhamento espiritual, no serviço aos pobres e
nas relações fraternas com os irmãos e irmãs na fé. Desde o início da
formação o sacerdote é chamado a abraçar uma vocação eminentemente
missionária.

Em muitos textos e reflexões do Papa Francisco, encontramos uma


pressão constante na ideia de uma "Igreja em saída", uma Igreja que vai ao
encontro dos outros, especialmente dos mais marginalizados e necessitados. O
conceito de comunhão, portanto, vai além da mera reunião de pessoas em
práticas religiosas formais, mas envolve o compromisso ativo em compartilhar
a vida e a fé com os outros, tornando-se instrumento de amor e misericórdia no
mundo. A comunhão, para o Papa Francisco, é um chamado para superar as
barreiras do individualismo e do isolamento, reconhecendo a conexão entre
todos os seres humanos e a responsabilidade mútua que temos uns para com
os outros. Ele enfatiza que a Igreja é uma família, onde cada membro é valioso
e necessário.

Em sua mensagem de tolerância e respeito mútuo, o Papa destaca que


o diálogo não significa renunciar às convicções pessoais ou comprometer a fé,
mas sim abrir-se para o encontro genuíno com o outro. Ao ouvir atentamente,
com empatia e sem julgamentos, podemos encontrar pontos de convergência,
compreender as diferenças e buscar soluções conjuntas para os desafios que
enfrentamos como humanidade.

Diante das reflexões sobre missão, comunhão e diálogo, tento como


ponto referência os textos e reflexões do Sumo pontífice, podemos então,
baseado nesse contexto concluímos que a eclesiologia, como disciplina
teológica que estuda a natureza e a missão da Igreja, desempenha um papel
crucial na formação dos futuros padres.

O futuro padre deve compreender que a Igreja não é uma instituição


fechada, mas sim um povo enviado por Deus para a evangelização e serviço
ao mundo. O seminarista é chamado a mergulhar nas origens apostólicas da
Igreja, no testemunho dos santos e na história missionária, para assimilar a
urgência de levar o Evangelho a todos os povos e culturas. Ao se aprofundar
na compreensão da missão, o sacerdote em formação deve ser instrumento de
evangelização na paroquia na qual será enviado como pastor.

O seminarista deve aprender que a Igreja é uma comunidade de fiéis


chamada a viver a unidade na diversidade. É através da Eclesiologia que se
aprende a importância da comunhão entre os membros da Igreja, desde os
sacramentos que unem os fiéis ao Corpo de Cristo, até as relações fraternas e
colaborativas entre os ministros ordenados e os leigos. O documento de
Aparecida diz que “os discípulos de Jesus são chamados a viver em comunhão
com o Pai e com seu Filho morto e ressuscitado, na comunhão com o Espírito
Santo” (DAp, n. 155). A compreensão da comunhão eclesial capacita o futuro
padre a liderar uma paróquia como uma verdadeira família de Deus, onde
todos são acolhidos, valorizados e encorajados a contribuir com seus dons e
talentos.

O Diálogo, por sua vez, é um elemento que ganha cada vez mais
destaque na eclesiologia contemporânea. O mundo atual é marcado por uma
diversidade de ideias, culturas e religiões, e o futuro padre precisa estar
preparado para dialogar com todos, buscando pontos de convergência sem
abrir a mão dos princípios fundamentais da fé.
Portanto, através da eclesiologia, o seminarista pode entender que a
Igreja é uma comunidade viva e dinâmica, formada pelo povo de Deus em
busca da santidade e da salvação. Essa perspectiva ajuda os padres a
perceberem a importância de se conectarem e trabalharem em harmonia com o
povo, fortalecendo a relação entre padres e fiéis. Além disso, ao aprofundar a
compreensão da comunhão eclesial, o seminarista estará mais bem preparado
para conduzir sua comunidade com sabedoria e humildade.

Referências

DOCUMENTO DE APARECIDA, V Conferência Geral do Episcopado Latino-


americano e do Caribe, de maio de 2007, 2ª edição, CNBB, São Paulo,
Paulinas, Paulus, 2007.

Diretrizes para a formação dos presbíteros da Igreja no Brasil. Doc. 93

PASTORES dabo vobis: sobre a formação dos sacerdotes. 7. ed. [S. l.: s. n.],
2006.

FRANCISCO. mensagem de sua santidade Papa Francisco para o dia mundial


das missões de 2022 [23 de outubro de 2022] não paginado. Disponível em:
Acesso em: 26 julho de 2023.

A Formação Sacerdotal nos Seminários - Recomendações Pastorais da


Plenária da Pontifícia Comissão para a América Latina, 2009. Disponível
em:
<https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cbishops/pcal/documents/
rc_cbishops_pcal_20090220_pastorale_po.html>. Acesso em: 26 jul. 2023.

GOLEMAN, D. Inteligencia emocional. Barcelona: Kairós, 1999.

https://epoca.oglobo.globo.com/tempo/filtro/noticia/2015/11/dialogo-entre-religioes-e-
essencial-diz-papa-francisco.html. Acessado no dia 23 de julho de 2023 às 23h40.

https://www.iebschool.com/pt-br/blog/software-de-gestao/digital-business/
inteligencia-emocional-de-daniel-goleman-o-que-e-e-como-desenvolve-la/:
acessado no dia 27 de julho de 2023 às 23h.
https://arquidiocesebh.org.br/para-sua-fe/espiritualidade/catequese-do-papa-
francisco/catequese-do-papa-francisco-reflete-sobre-dialogo-encontro-e-
caminho. Acessado no dia 26 de julho de 2023.

SOUZA, A. DA S.; ABREU-RODRIGUES, J. Autoconhecimento: contribuições


da pesquisa básica. Psicologia em Estudo, v. 12, p. 141–150, 1 abr. 2007.

OURINHO, E. Z. MUNDO INTERNO E AUTOCONTROLE. Revista Brasileira


de Análise do Comportamento, v. 2, n. 1, 11 abr. 2016.

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