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Opör do sSol
e outros contos
PNLD
Literário
PROIBDA VENDA
Ensino Médio
FADF MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO
cód do ivro
3130}L
Lygia
Fagundes
Telles
Organizaçaode LauriCericato
sb:
Venhaver o pôr do sol e outros contos
Olygia Fa_gundes Telles, 1987
Presidncia Paulo Serino
Direçåo editorial LauriCericato
Gestào de projeto editorial Heloisa Pimnentel
Coordenação editorial Claudia Morales
Ediçào Malu Rangel
Consultoria Luisa Destri(paratextos), Ana Paula Severiano, Haroldo Ceravolo Sereza
e LavíniaFávero (Material Digital do Professor) eWilliam Sampaio (roteiro dos
videotutoriais do estudante e do professor I e II)
Planejamento e controle de produção Vilma Rossi e Camila Cunha
Revisão Ana Maria Herrera, Ana Paula C. Malfa, Luciana B. Azevedo, Patricia Cordeiro.
Patrícia Travanca, Paula de Jesuse Sandra Fernandez
Arte Claudio Faustino (ger.), Erika Tiemi Yamauchi (coord.) e
Karen Midori Fukunaga de Carvalho (edição de arte)
lconografia e tratamento de imagens Roberto Silva (coord.), Carlos LuvizarieJade Del Grossi
Defacio (pesquisa iconográfica) e Emerson de Lima (tratamento de imagens)
Licenciamento de conteúdos de terceiros Fernanda Carvalho (coord.) e
Erika Ramires (analista adm.)
Design Luis Vassalo (capa)
Créditodas imagens Acervo do autora|Arquivo da editora (quarta capa);
Paul Juser/Shutterstock (capa)
Natal na barca 20
As formigas 38
O
jardim selvagem 48
Biruta 58
Omenino 81
93
O
conto brasileiro
No Brasil, aexemple do que NOTe nO restante do mundo, o conto tanbém
dexlanha a partit do séulo XIX. No Romantismo cnos períodos literários
predentes, a nattativa brve nàosc comparava, cm import§ncia, à pnesia e
an omance.
Entre as figuras de destaque, uma das
maores ¢ Machado de Assis (1839-1908),
igualmente notável comocontista c romancis
ta, o modernista Mário de Andrade (1983
1045), outro craque da narrativa curta e do
romancc:Joâo Guimares Rosa (19o8-1967) e
Claricc Lispector (1920-1977), que despon
tam na decada de 1940 e, depois deles, um
timc de autores cada vez maior, cuja produção
vai se consolidar na segunda metade do sécu
io XX:Jose ). Veiga (1915-1999), Murilo Rubião
(1916-1991), Osman Lins (1924-1978) Rubem
Machado de Assis aos 57 anos.
Fonseca (1925-2020), Dalton Trevisan (1925-),
Autran Dourado (1926-2012) e João Antônio (1937-1996), para mencionar
apenas alguns de quem Lygia Fagundes Telles foicontemporanea.
Em um ensaio de meados dos anos 1970 dedicado ao conto brasileiro
contemporáneo, o críticoAlfredo Bosi buscou caracterizar esse grupo varia
do de autores comn base em algumas categorias, distinguindo os contistas
mais experimentais do ponto de vista linguistico (como Guimares Rosa)
dos mais tradicionais (como Autran Dourado). Também estabelece diferen
ças entre os que enveredam pelo caminho do insolito (como Veiga e Rubiào).
os que são intimistas ou introspectivos (cada qual àsua maneira, a propria
Lygia, OsIman Linse Clarice L.ispector) e os porta-vozes da violência urbana e
da marginalidade (como Trevisan, Rubem Fonseca e Joào Antonio).
São categorias abrangentes, claro, que não dão conta da especitici
dade do universo ficcional de cadaautor. Mas ajudam aperceber esse gru
po heterogéneo de criadores que recebem a intluència do Segundo
Modernis1noeda literatura estrangeira divulgada no Brasil apos aSegunda
Guerra Mundial.
Dos anos 1970 emn diante, as tendencias e universos ticiOnUs C\tra
polam cs&a classificaçáo proposta por Bosi, nas obras de autores conO
Modesto Catone (1937-2019), Caio Fermado Abreu (1948 199o), MarCLa
Denses (39*» ), Rubens ligueiredo (i9s0 ),Amlkar Bettega (1904)clodv
Anzanello Carrasc0za (1962 ) Prova da versatilidade do cOnto, ut genero
sempre aberto a diversidade de tegistros, tons e siguiticados
94
Os contos de Lygia Faqundes Telles
Uma escritora de estilo inconfundivel
LygiaFagundes Telles tem uma das mais extensas carreiras na literatura brasi
leira: quase setenta anos separam o início de suas publicações eo lançamento
mais recente de inéditos, olivro de contos Conspiração de nuvens, de 2007.
Durante esse periodo, o pais viveu mudanças políticas, asociedade se trans
formou, as cidades viram sua paisagem se alterar, as relações pessoais se re
configuraram e a própria literatura conheceu diferentes tendências e movi
mentaçöes. Aescritora paulistana a tudo acompanhou, atenta. Com um estilo
que se nmanteve coeso, aperfeiçoando-se ao longo do tempo, suas narrativas
registram os caminhos da realidade histórica brasileira, sempre vista a partir
dos dilemas e dos conflitos dos
personagens.
"Aos poucos, Lygia Fagundes Telles foi criando para sium lugar especial
no nível mais elevado da literatura de língua
portuguesa, forjando um
estilo próprio, inconfundível",escreve a professora Walnice Nogueira
Galvão, destacando o que considera o traço principai da autora:
literatura ésussurro e não grito, épenumbra e não luz que cega,"Suaé
monossilábica e não loquaz:é obra em surdina".
Matuiti
Mayezo/FolhapresS
LTSULA
96
Aatmostera encontra prolongamento no texto scguinte, "Natal na
harca", noqual a narradora-protagonista conta a travessia de um rio realiza
dacm una "embarcaçào desconfortável, tosca", na noite de Natal. Afalta de
intomaçào sobre o episódio é justificada por seu desconforto: "Não quero
nem devolembrar aquipor que me encontravanaquela barca". Aconstrução
da situação narrativa traz reminiscências da mitologiados gregos, paraquem
as almas adentravam o mundodos mortos,o Hades, por meio da barca de
Caronte. "Aliestávamos os quatro, silenciosos como mortos num antigo bar
co de mortos deslizando na escurido", afirmaa narradora. Ela então relata
a suaconversa com uma passageira que levava o filho doente ao colo. O leitor
tem aceSsO apenas àsua perspectiva, sem saber se o que ela vêrealmente Historcav
Ima
Gettly
Ocorreu ou se, longe de
se tratar de um milagre Photographic/Cortbi
de Natal, amorte e a res
surreição do menino são
apenas projeções de seus
Art
próprios sentimentos. Fine
Os dois primeiros
textos do conjunto são
bons exemplos do modo
sofisticado como a auto
ra trabalha o foco narrati O conduror da barca dos mortos representado em Caronte
ePsiqué, de John Roddam Spencer Stanhope, 1883. Öleo
vo. Quando em terceira sobre tela, 138,4 cm x 95,2 cm.
pessoa, Onarrador costu
ma se aproximar dos protagonistas, como forma de retratar a interioridade
dos personagens. Quando em primeira pessoa, os textos convidam aum
olhar distanciado ou crítico, como se tentassem nos alertar para aimportân
cia de desconfiar de uma perspectiva únicae, portanto, parcialdos eventos.
Para o crítico Silviano Santiago, a característica "mais saliente" nos
contos de Lygia Fagundes Telles é a dificuldade humana para estabelecer
laços afetivos. Em Natal na barca", a narradora confessa o desejo de man
ter-sedistante dos outros: "Euqueria ficar sónaquela noite, sem lembran
ças, sem piedade. Mas os laçOs - Os tais laços humanos - já ameaçavam me
envolver". Aobservação do crítico parece caber igualmente às demais nar
rativas que compöem este volume, oferecendo uma importante chave de
leitura. Em "O menino", unmamulher aposta na ingenuidade do tilho, mas
acaba por converté-lo em testemunha de um episodio que podera
transformar o ponto de vista dele. Nesse sentido, as m£os se tornam um
importante símbolo do que acontece àrelaçào entre måe e tilho: no cami
nho de ida, eles seguem juntos e cheios de afeto, o menino orgulhoso de
97
n·e
sua màe. Enquanto assistem ao filme, ésobretudoa partir das mãos da
ele
que cle descobre a razào verdadeirade estarem ali no cinema. Na volta,
demonstra o ressentimento quandocla lhe pergunta: "Ah, não quer mais
andar de màos dadas comigo?". "£que não sou mais criança", responde.
denunciando a dor por ter conhecido um lado até então oculto de sua mãe.
Tambem em "Biruta" uma mulher adulta irárevelar sua incapacidade de
implicar-se realmente na relaçãocom uma criança.
Em "Antes do baile verde",festejado conto da autora, a situação será
invertida em termos geracionais. Seduzida pela força que a atrai para o bai
le de Carnaval, uma jovem solicita à empregada que ajude a arrumar a sua
fantasia, desejando sair apressada, no que se revela um esforçopara esque Livro
doReproduçáo/Circu
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Intertextualidades: Lygia e seus diálogos literários
O
modo como as narrativas curtas de Lygia Fagundes Telles combi
nam suspense e introspecção, extraindo surpresa e mistério dos sofrimen
tos e dosexcessos humanos, leva a crítica a apontar autores como os estadu
nndenses Edgar Allan Poe e Henry James (1843-1916) entre as suas influên
cias.Uma de suas preferências confessas éMachado de Assis, de quem ela
chegou a parodiar A missa do galo", um de seus contos mais célebres. Mas
esobretudo o romance Dom Casmurro (1899) que a encanta. Em diversas en
trevistas, Lygia comentaa admiração pelo livro epelo fato de a cada leitura
se alterar seu ponto de vista a respeito do enredo. "O mistério de Capitu é
que faz olivro atravessar otempo.Omistério permanece", afirma.
Oromance de Machado de Assis seria marcante para a escritora em ao
menos outro aspecto. Na década de 1960, em companhia de seu segundo ma
rido, Lygia redigiu uma adaptação parao cinema, filmada por Paulo Cesar
Saraceni em 1968 com o títuloCapitu. Essa recordação estáentre as suas prefe
ridas quando o assunto ésua relação com Paulo Emílio Salles Gomes (1916
-1977). Uma das figuras mais importantes da história do cinema brasileiro, o
críticoe professor fundou a Cinemateca Brasileira, que Lygia presidiu por dois
anos após a morte do companheiro. Aescritora não trabalharia em outros ro
teiros, mas seus romances ganhariam as telas. As meninas (1973), um dos traba Reprodução/Folhapr
Ihos mais festejados da
autora, foi filmado em
1995 pelo diretor Emiliano
Ribeiro. JáCiranda de pedra
(1954) deu origem a duas
novelas homônimas pro
duzidas pela Rede Globo:
a primeira em 1981, escri
ta por Teixeira Filho, e a
segunda em 2008 por
Alcides Nogueira.
Embora tenha se
dedicado de forma cons
tante e duradoura à litera Lygia e Paulo Emilio, em foto de 1973.
tura e conquistado suces
so de crítica e público, desde muito jovem Lygia se organizou para ter uma
atividade remunerada que lhe garantisse a subsistência. Rejeitando odesti
no traçado para moças de sua condição - a dedicação ao casamento -, for
mou-se em Educação Fisica em 1941 e em Direito em 1946. Começou a
trabalhar ainda antes da formatura e, em 1961, se tornou funcionária pú
blica, atuando como procuradora do Instituto de Previdência do Estado de
São Paulo até 1991, quando se aposentou.
99
Para ter uma ideia do que suas escolhas representaram àépoca, vale dË
1923,.
zer que a futura escritora, nascida na capital paulista no dia 19 de abril de
tinha nove anosquando as mulheres conquistaram odireito de votar no Brasil.
em 1932. Quando Lygia frequentou a Faculdade de Direito do Largo São
Francisco, a instituição era quase exclusivamente masculina. Poucas eram as
mulheres que, como ela, desejavam e conseguiam assumir a responsabilidade
da
pelo própriosustento. Ela separou-se do primeiro marido, ojurista Gofredo
Silva Telles Júnior (1915-2009), em 1960-mesimo ano, aliás, em que conheceu
afilósofa francesa Simone de Beauvoir, um dos ícones do feminismo, que en
tão viajava pelo Brasil em companhia do pensador francês Jean-Paul Sartre.
Lygia frequentourodas literárias num tempo em que os autores de referência
eram todos homens e em sua ficção deu forma muitas vezes a situações que
oprimem as mulheres - A confissão de Leontina" e A sauna" estão entre os
exemplos memoráveis.Na crônica biográfica Mulher, mulheres", ela recorda
aapreensão inicial da mãe quando lhe confessou odesejo de ingressar na facul
dade. «Todo homem tem medo de mulher inteligente, filha", ouviu como pri
meira resposta, numa sugestão de que otrabalho Ihe espantaria ocasamento.
Para conquistar omundo mais justocom que aescritora sempre mos
trou sonhar para as mulheres, suaestratégia não foio enfrentamento direto:
"épreciso paciência. Evontade fortalecida para melhorar a si mesma, o úni
co caminho para melhorar a sociedade. Melhorar o país". Acaracterística
geracional desse modo de pensar acondição feminina pode ser ilustrada
pelaaproximaçãocom a amiga e também escritora Hilda Hilst (1930-2004):
sete anos mais nova que ygia, ela também frequentou a Faculdade de
Direito e buscou se afirmar como mulher em um contexto historicamente
masculino.
Aamizade entre Lygia e Hilda, aliás, é um capítulo importante da
biografia das duas escritoras. Elas se conheceram em 1949, quando Lygia
lançava seu terceiro livro, Ocacto vermelho, e Hilda era uma aluna de Direito
sem livros publicados. A mais jovem havia sido escolhida para saudar a
veterana em nome dos estudantes. Apresentou-se dizendo: Sou Hilda Reprodução/Colelçã
Particular
Hilst, poeta. Vim saudá
-la em nome da nossa
Academia do Largo de
São Francisco". Lygia
respondeu Com um
abraço,dando assim iní
cio à intensa amizade
que elas manteriam até a
morte de Hilda, em
2004, embora seus uni
versos fossem em mui
tos sentidos diferentes. Lygia Fagundes Telles e Hilda Hilst, nos anos 1990.
100
lambem próximade Lygia toi aescritora Clarice Lispector, aquem a
autora de "Venha ver o pòt do sol" dedicou a delicada crónica "Onde esti
veste de noite?", narrando um encontro que tiveram durante um congresso
de cscritores em Cali, naColômbia, e a visita que recebeu de urma andori
nha na noite da morte de Clarice. Em relação à autora de Agua viva (1973),
as diferenças literárias eram igualmente evidentes: mais concentrada nos
personagens, a literatura clariceana émais especulativa, o que deixa mar
cas de experimentaço na linguagem. Referindo-se a esse trio de escritoras
contemporåneas, Galvão afirma, após reconhecer as diferenças: as três
seriam o orgulho de qualquer literatura, e não sóda brasileira. Três belda
des, um trio que marcou época".
De forma semelhante ao que ocorre com Hilst e Lispector, a década
de 1970 é um momento-chave na produção de Lygia. E nessa altura que ela
publica alguns dos títulos que estarão na lista de seus livros essenciais:
Antes do baile verde, Seminário dos ratos e Filhos pródigos - reeditado depois
como A
estrutura da bolha de sabão (1991) - e As meninas. Em termos históri
cos, porém, um crítico como Antonio Candido a situa na linhagem de es
critores como Dalton Trevisan, Osman Lins, Fernando Sabino e Otto Lara
Resende, que, amadurecendo ou estreando na década de 1950, recuperam
oromance urbano, distanciando-se do regionalismo que havia predomina
do na literatura brasileira nas décadas de 1930 e 1940. Escrevendo em
1979, Candido reconhece em Lygia Fagundes Telles o alto méritode obter,
no romance e no conto, a limpidez adequada a uma visão que penetra e re
vela, sem recurso a qualquer truque ou traço carregado, na linguagem ou
na caracterização" (CANDIDO, 2003, p. 206). Mais de quarenta anos e
muitos livros depois, a afirmação continua se aplicando de forma justa à
literatura da autora, cujo desenvolvimento sempre foifiel ao projeto inicial.
101
fascículos, mas a única vez que tentei ler o texto, achei uma embrulhada
dos diabose não entendinada. Na prateleira da sala de visitas ficavam ain
da uns vagos romances de capas sentimentais. Ealguns livros de poesia.
Nas festas de fim de ano, prendiam meu cabelo com papelotes duríssinmos,
era bonito ter cabelo crespo. E eu recitava "O pássaro cativo" e A fonte e a
flor", Na Semana Santa era a hora do anjo: vestia a bata branca e lá ia equili
brando as asas que eram de penas verdadeiras, o que me dava o direito de ir
bem na frente dos outros anjos com asas de papel crepom.
Ainda as capas acetinadas com "Comecei a contar histórias
os títulos dos livros decidindo minhas antes mesmo de saber escrevê
leituras. Que eram escassas, raras. -las.Ainventar essas histórias
Poucas as revistas ou livros de histó para a criançada do bairro."
rias que chegavam até nós: tinha Eu sei
tudo, que euadorava por causa das figuras. Tinha o Almanaque do Tico-Ticoe o
Almanaque do Biotônico Fontoura, distribuído nas farmácias. A solução era a
gente começar a contar histórias: o encontro do Livro dos fantasmas (onde?)
foidecisivo no rumo que tomaram essas histórias. Li-o numa sónoite, os
cabelos arrepiados, às vezes fechava os olhos de horror, não queria conti
nuar, não queria! Econtinuava, sem saber mais oque era pior, se as gravuras
ou as palavras, o livro era todo ilustrado. Comecei a contar histórias antes
mesmo de saber escrevê-las. A inventar essas histórias para a criançada
do bairro.
102
Oduro oficio de escrever- ponte que se estende tentando alcançar o
pròximo. Isso requer amor -oamor e a piedade que oescritor deve ter no
coração.
Neste livro, procuramos reunir alguns de seus mais desta
cados contos. Depois de lê-los, a gente fica pensando: como
éque surge a ideiade um conto paraLygia Fagundes Telles?
Alguns contos nasceram de uma simples imagem uma casa, um objeto,
uma nuvem. A inspiração (palavra fora de moda, mas insubstituível) teria se
originado no breve reflexo de uma paisagem no vidro da janela de um trem
em movimento:escrevi um conto a partir desse reflexo. Outros contos nasce
ram de uma frase que eu disse ou ouvi. Retive essa frase. Um dia, sem razão
aparente (lásei como ou quando), a memória devolve a frase intacta e ela se
multiplica como no milagre dos pães. Háainda as ficções que nasceram de
um sonho fluXo de símbolos. Signos. Metáforas nos abismos de um in
consciente que escancara as portas - saiam todos! A evaso. Háque seleci0
nar. Interpretar: A mão no ombro", que estáem Seminário dos ratos, me sur
giu em estado de sonho. Mas a maior parte dos meus textos tem origens
desconhecidas, que não consigo detec "A maiorparte dos meus
tar. A criação literária é um mistério.
textos tem origens
Esta entrevista foi organizada a partir do desconhecidas, que não
depoimento da autora àescritora Edla van consigo detectar. Acriação
Steen. literária éum mistério."
Estado
Lessa/Agência
André
103
Referências bibliográficas
CANDIDO, Antonio. Anova narrativa. In: CANDIDO, Antonio. Aeducacão
pela noite. 3. ed. São Paulo: Atica, 2003.
GALVÃO, VWalnice Nogueira. O olhar de uma mulher (posfácio). In: TELLES.
Lygia Fagundes.Os contos. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
PAES, José Paulo. Aarte refinada de Lygia Fagundes Telles. O Estado de
S. Paulo, São Paulo, 23 jan. 1995.
SANTIAGO, Silviano. A bolha e a folha: estrutura e inventário. Cadernos de
Literatura Brasileira, São Paulo, n. 5, mar. 1998.
STEEN, Edla. Lygia Fagundes Telles (entrevista). In: STEEN, Edla. Viver e
escrever, v. 1. Porto Alegre: L&PM, 1981, p. 85-97.
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