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LICENCIATURA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Oficina de Escrita
2023/2024
1º Semestre

O conteúdo do trabalho de Nietzsche e o modelo grego


-
A subjetividade do autor questiona o valor da obra?

15/12/2023
Andreia Pinto Martins
2023211893
Número de palavras: 897
Docente: Paula Duarte Lopes
LICENCIATURA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Friedrich Nietzsche produziu, ao longo da sua carreira, propostas que


escapavam, na sua formalização, ao modelo tradicional filosófico. (Lauter, 1993).
Ao tratar os problemas da existência, a transcendência através da arte,
reconhecendo o sofrimento na existência (Dias, 2014), aproxima-se do movimento
cultural iniciado por Winckelmann, Goethe e Schiller, tomando a mesma influência
grega que destes decorre (Machado, 2005). Assim, trabalhando sem uma
estrutura coesa ou uma linha de pensamento exata, é subjetiva e mutável. Expor-
se-á em que termos, no seu trabalho, Nietzsche produz à imagem da arte grega
(Dias, 2014), como esse estilismo de escrita afeta o conteúdo da obra (Lauter,
1993), e como essa aproximação agrupou Nietzsche aos artistas seus
contemporâneos (Machado, 2005).
Em Arte e Vida no Pensamento de Nietzsche (Dias, 2014) aborda-se,
primeiramente, o conteúdo do trabalho de Nietzsche - o que o caracteriza, qual o
objetivo da escrita, e que mensagem pretende transmitir.
O filósofo procura superar a relação entre o apolíneo e o dionisíaco como
resposta aos problemas da existência: numa primeira instância, e segundo O
Nascimento da Tragédia, Nietzsche explora a dualidade, a procura da redenção e
a transcendência através da arte, reconhecendo o sofrimento na existência:
O ponto mais importante da estética nietzschiana do seu primeiro livro é o
desenvolvimento dos aspetos apolíneo e dionisíaco na arte grega, considerados como impulsos
antagônicos, como duas faculdades fundamentais do homem: a imaginação figurativa, que produz
as artes da imagem (a escultura, a pintura e parte da poesia), e a potência emocional, que
encontra sua voz na linguagem musical (Dias, R.M. (2014).

Num segundo momento, debruçado sobre A gaia ciência, Nietzsche


sugere duas saídas artísticas como resposta ao sofrimento de uma vida sem
propósito e sem consolo divino, que serão definidas como, respetivamente,
apolínea e dionisíaca.
A abordagem apolínea reside na arte de se ver como um herói que
conquistou seus próprios medos, e é uma resposta humana ao próprio sofrimento,

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quando privado das suas raízes metafísicas. A abordagem dionisíaca evoca


técnicas da literatura na construção de um personagem, como demonstrado em
Assim Falou Zaratustra e professa a marcha lenta em direção a si próprio, e ao
estado dionisíaco em que se vê despojado de todas as negações restritivas, onde
poderá pronunciar um sim incondicional a si e à vida (Machado, 2005).
O trabalho filosófico de Nietzsche carrega, portanto, uma conotação do
seu trabalho literário, predominando a ambiguidade de escrita e a passibilidade de
interpretações das quais a conceção do seu trabalho pode derivar.
A perceção de Nietzsche das próprias ideias como controversas e pouco
convencionais leva-o a transmiti-las de modo a instigar a interação da audiência
com as suas propostas teóricas. Articulado subjetivamente, o registo escrito de
Nietzsche suscita interpretações variáveis e pessoais. Assim, sendo o material de
uma natureza flexível, e não seguindo métodos convencionais da filosofia da
época, percebe-se a crítica tecida ao filósofo: a ambiguidade do texto do autor
permite esconder contradições internas, dada a sua natureza aforística (a
expressão sucinta de um valor moral, e, portanto, subjetiva e interpretável), onde
não se discerne uma estrutura filosófica conexa, dificultando a determinação de
uma linha de trabalho.
Ainda assim, e concluindo, o valor dos escritos Nietzsche não é
desprezável – com o devido conhecimento, são possíveis interpretações mais
fidedignas, cabendo ao leitor realizar o trabalho de se familiarizar com o estilismo
de escrita e dele extrair conteúdo.
Assim, e no seu estilo livre e estilizado de escrita, desobediente à norma
tradicional académica, o trabalho de Nietzsche aproxima-se de outros que lhe
eram precedentes na Alemanha de então.
Assemelhando-se em estilo e natureza ao movimento cultural iniciado por
Schiller, Goethe e Winckelmann, produziu obras feitas à imagem da arte grega,
desde o estudo intensivo da relação apolíneo-dionisíaca, e a sua superação como
solução para os problemas da existência, até à confessa preferência concedida à
arte grega como modelo da sua própria arte:

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“Além de reconhecer que foi com Winckelmann, Goethe e Schiller que o espírito alemão
entrou na escola dos gregos, chega a lamentar o enfraquecimento desse projeto de imitação da
cultura grega.” (Machado, 2005).

Assim, estabelecem-se os termos que integraram Nietzsche neste


movimento cultural alemão:

O nascimento da tragédia, que se refere aos gregos como "nossos luminosos


guias",além de reconhecer que foi com Winckelmann, Goethe e Schiller que o espírito alemão
entrou na escola dos gregos, chega a lamentar o enfraquecimento desse projeto de imitação da
cultura grega para a constituição da cultura alemã (…) Como eles, o jovem Nietzsche também é
um pensador que entende melhor sua época por meio da Grécia antiga e, por isso, escreve um
livro cheio de esperança em relação à germanidade, como ele mesmo diz. (Machado, 2005).

Conclusão
É agora possível aferir a influência do movimento cultural iniciado por
Winckelmann, Goethe e Schiller no trabalho de Nietzsche, não só pela construção
do texto teórico, elaborado à imagem da arte grega, (Machado, 2005) mas
também pelo conteúdo teórico que, conquanto ambíguo e passível de
interpretação (Lauter, 1993), carrega uma mensagem de teor quasi-metafísico e
que, em diferentes óticas, aprofundadas em diferentes obras, como O
Nascimento da Tragédia e A Gaia Ciência , procuram resolver o problema da
existência, da natureza humana e o segredo para o nirvana (Dias, 2014). Esta
abordagem literária concedia-lhe um caráter dual e ambíguo que «dificulta a
compreensão absoluta dos escritos que, contendo contradições ocultas pela
subjetividade linguística, não devem ser ignorados pelo valor do seu conteúdo»
(Lauter,1993).

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Referências Bibliográficas:

Dias, R.M. (2014) Arte e Vida no Pensamento de Nietzsche, SciELO Brasi, ,


SciELO - Brasil - Arte e vida no pensamento de Nietzsche Arte e vida no pensamento de
Nietzschel;

Machado, R. (2005) Nietzsche e o Renascimento do Trágico, SciELO Brasil,


, SciELO - Brasil - Nietzsche e o renascimento do trágico Nietzsche e o renascimento do

trágico;

Lauter, W.M. (1993) O Desafio Nietzsche, Discurso, vol 21., O desafio


Nietzsche | Discurso (usp.br)

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Formatação

✘ folha de rosto devidamente preenchida

✘ documento devidamente formatado de acordo com as linhas orientadoras da FEUC,


devidamente adaptadas a este trabalho«

✘ citações no texto e lista de referências bibliográficas devidamente formatadas de


acordo com as normas da FEUC

✘ texto não excede as 900 palavras (excluindo folha de rosto e lista bibliográfica)

Conteúdo

✘ trabalho tendo como ponto de partida três artigos científicos publicados em revistas
científicas sobre o tema escolhido, podendo utilizar mais referências se relevante

✘ introdução estruturada de acordo com a lógica P-A-P (pertinência, argumento e


percurso)

✘ corpo do texto com a explicação e fundamentação do vosso argumento

✘ conclusão clara, sem introduzir ideias novas, nem recorrer a citações

✘ linguagem científica: cuidada, alicerçada em evidências (autores, factos, dados), com


uma diferenciação clara entre argumento do/a autor/a e argumentos/ideias das
referências utilizadas, com uma estruturação fluida de parágrafos

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