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— Ah, mas precisava sim. Seu material está aí. Hã, e seu
fardamento também. Por favor, não demore filho, senão
o almoço esfria.
— Vou descer daqui a pouco. Mas pode ir almoçar. Este
fuso horário ainda é novo para mim. Estou sem fome.
Robert, então, despediu-se de Nicholas, já que após
o almoço ele teria um encontro inadiável com seu sócio.
Dois minutos depois, Nich desarrumou uma maleta que
trouxe consigo, cheia de porta-retratos de sua mãe, uma
pessoa com quem tinha poucas virtudes e nenhum
momento conseguinte sucedente ao seu
desaparecimento, informação esta que obteve com
Melinda, sua fiel empregada, a pessoa que cuidou dele
como filho e por quem supria grandes sentimentos.
Robert nunca tocou no assunto, embora também não
reclamasse do fato das fotografias de sua ex-esposa
continuarem adornando o quarto de Nicholas, afinal de
contas, ele tinha esse direito desde que não colocasse
em nenhuma outra parte da mansão. Tanto daquela
quanto a de Gales.
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Alec insistiu.
— E você?
— Eu o que?
— Tem que idade?
— Ah, sim, tenho dezessete. Brevemente farei dezoito.
— Vai ter festinha?
— Hum… não.
— Não vai ter festinha, cara? — Alec parecia pasmo—
Nem um bolinho? Nada?
— Não. Na verdade, sei muito pouco sobre esta cidade.
Fora que não tenho amigos.
Alec mordeu os lábios.
— Ah, mas você é um cara bacana… acho que fará
amigos rápidos. Posso te ajudar com isso. Sou um dos
mais populares na Bernard High School, conheço
bastante gente. Além do mais, eles moram aqui por
perto. Ficaria mais fácil.
— Não vai ser necessário, Alec. — enfatizou o jovem.
— Mas obrigado pela gentileza de vim até aqui. Muito
educado da sua parte.
Alec, no entanto, fez uma proposta.
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Anne contentou-se.
Depois de selecionada todas as duplas, Carmen se
dirigiu ao quadro e escreveu uma data: 18/06/2023;
todos atentos a fala dela após voltar a atenção à turma.
— Nesse dia será o baile de formatura de vocês, certo?
Será semanas após a final do Campeonato Interescolar,
beleza? Mais adiante teremos reuniões e etc. Bom,
queridos, podem ir. Estão dispensados.
Não houve perguntas e que bom, os estudantes
deixaram a sala em silêncio total, entrando nos
corredores. Nicholas caminhava mais atrás e viu quando
Austin e seu grupinho pararam próximo a escada que
levava ao terceiro andar e a que descia ao térreo,
sentindo seu sangue esfriar por haver escolhido Anne
ao invés dele. A passos calmos, observou Amber e
Maíra tomando o caminho oposto, em direção aos
banheiros, e os demais indo encontrar outros amigos,
restando ele, o pecado em pessoa. Bem ali, a sua frente
e por mais mesquinho que pudesse transparecer,
Nicholas desviou o olhar e quando tentava alcançar a
escada para o primeiro piso, as mãos de Austin roçaram
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Nicholas comemorou.
— Irei vir no horário marcado.
— Que bom, filho. Mas e aí, já pensou na festa de
aniversário?
Não, era óbvio que não.
— Pensei — ele mentiu, e mentiu péssimo. — Tem
uma garota, chamada Amber, da minha escola que se
ofereceu para organizar tudo.
— Amber Johnson? A filha dos Jonhson de Manhattan?
— Deve ser. Ela namora o Austin Moore, filho do seu
sócio.
— Ah, sei quem são os dois. Ela é uma graça, mas ele
não, não gostei do garoto.
Nicholas ergueu uma sobrancelha, curioso.
— Por que? Ele me pareceu ser uma ótima pessoa.
— Engano seu, filho. Austin é irrelevante, o irmão dele,
o mais velho, este sim é confiável. Acho que estará no
jantar amanhã.
— Humm. Vou tomar banho. Tem problema se eu
pedir para sair, pai?
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— É uma ameaça?
— Um aviso. Até mais, baby.
Amber Johnson o deixou sozinho naquele corredor
um tanto pensativo, afinal de contas, ela era imatura,
porém perigosa.
Tentando recompor as forças, viu quando a silhueta
de Austin Moore se fez presente e como uma linha
tênue, os olhos se encontraram sob o ar da atmosfera de
forma inevitável. Austin não conteve-se em vê-lo ali,
logo apressou o andar.
— Que bom que está aqui, Nicholas…
— Olha, se for sobre o que eu disse ontem…
— Nada haver, cara. O professor Elliot quer que você se
inscreva na seletiva. Quer?
Mas antes que pudesse responder, o sinal tocou. Era
o início definitivo das aulas.
— Posso te responder mais tarde?
Austin assentiu, mas não sem antes interromper seus
passos.
— Vai jantar na casa dos pais do Alec? Soube que seu
pai é sócio dele e do meu na empresa.
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Nicholas assentiu.
— Vou sim, e você?
— Também. Te vejo lá então e assim conversamos
melhor, certo?
— Certo, Austin. Que tal entrarmos agora?
O garoto concordou.
Ao entrarem na sala de aula, a professora Clarice, de
História, havia iniciado a explicação do assunto.
Forçada a interromper a elucidação, não deixou barato.
— Onde estava o Sr. Ramsey e Sr. Moore?
— No ginásio, professora — respondeu Austin.
Ela deu por contente.
— Ligue o tablet de vocês e vão nos documentos
referentes a minha matéria e escolham o PDF sobre a
Fundação dos Estados Unidos, 1776, por favor.
Os dois fizeram o que a professora Clarice pediu e
assim a exposição devida da disciplina começou.
Embora a história fosse uma das raras matérias pela
qual Nicholas não sentia tanta atração, prestou atenção
na explicação. Clarice deixava ao máximo a proeza de
sua voz atingir os neurônios congelados da maioria dos
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Amber outorgou.
— Vou pro meu quarto. Quer ir comigo?
— Não — ele disse analisando o relógio no pulso —,
preciso voltar pra casa e me arrumar para o jantar na
casa do Alec!
E, dessa forma, despediram-se ali mesmo.
— Certo, professor!
Dali em diante, Elliot foi mais categórico e falou
muito pouco sobre o campeonato, estava mesmo era
compenetrado em outros assuntos. Passou uma rápida
atividade valendo nota e sentou.
Quando tocou o sinal da merenda, todos se
direcionaram ao refeitório. No caminho, Mackenzie o
parou.
— Aqui é legal, né?
E ao olhar em volta, Nicholas viu Túlio virar o corpo
e encará-lo rapidamente como se estivesse avisando-o
de algo que apenas ambos sabiam.
— Sim. Eu preciso ir.
— Posso acompanhá-lo?
Nicholas sempre foi gentil com todos, mas o aviso de
Túlio sobre ficar longe de Mackenzie, foi pro ralo.
— Sim… mas é claro que pode!
Eles foram conversando até o grande salão
envidraçado e serviram-se de hambúrguer e milkshake.
E, após, dirigiram-se a uma das mesas desocupadas no
centro, bem próximas da turma de Austin, Alec e Túlio,
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— Ta.
Nicholas apanhou a mochila e subiu as escadas indo
em direção ao seu aposento. Tirou a chave da bolsa e a
pôs na fechadura, girando-a lentamente. Abriu a porta e
a encostou. Deixou a bolsa sobre uma mesinha de vidro
e desamarrou o tênis. Se livrou do blazer escolar, da
camiseta, da calça e ficou apenas de sunga.
Seguiu até o closet e pegou um calção vestindo-o
em seguida e uma camiseta branca, combinando com o
moletom preto, sem detalhes. Correu ao banheiro
fazendo sua higiene diária e lavou as mãos, retornando
tempo depois para a sala-de-estar.
Para o almoço havia Frango Kiev, um prato famoso
da Ucrânia e que encantou Robert e Nicholas em sua
primeira viagem juntos para fora de Gales. O passadio
consistia no peito de polhastro desossado que é
recheado, tradicionalmente, com manteiga e ervas, mas
ficando a escolha em adicionar outros ingredientes.
Robert escolheu a versão assada, pois dizia-se ser a
mais saborosa e a qual era muito difícil comer apenas
uma vez.
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— Assim como?
Nicholas teve que escolher as palavras certas dali em
diante. Não gostava cem por cento do rapaz, mas
deixá-lo de coração partido por sua autenticidade
elevada, seria imprudente.
— Sei lá, tão popular e narcisista.
— Eu, narcisista? Já olhou para você hoje, Ramsey?
A pergunta veio depressa, como se uma tonelada de
ferro atingisse seu corpo.
— Que tem eu?
— Oh, céus, Ramsey — Austin voltou a ser franco. —
Você fica tão preso nessa redoma boazinha que mal
consegue olhar em volta, principalmente na escola. Nas
pessoas… nas pessoas que te olham!
Nicholas pareceu confuso.
— O que tem as pessoas da escola, Austin?
— Francamente — disse ainda sem acreditar — As
pessoas ali são apaixonadas por você. Parece que nem
da terra é… que vem de outro planeta, é meio
incontestável a seriedade do olhar delas sobre você.
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— Você… é gay?
— Não, mas também não sou hétero. E deixa eu
adivinhar: Esse é o momento em que vai rir de mim e
mandar eu cair fora do seu carro?
Austin fitou o banner de anúncio na fachada do
shopping e permaneceu atento.
— Uau! — foi o que disse.
Nicholas fechou os olhos e sentiu a onda de
murmúrios e cochichos na escola no dia seguinte.
Estava pronto.
— Está sem palavras, né? Não sabe o que dizer ou
fazer…
— Não é isso, cara. Não sou esse monstro que fantasiou
na sua cabeça — Austin revelou, suavemente — Tenho
amigos gays, lésbicas, bissexuais, sapiosessuais e
assexuais. Lido muito bem com eles. Amo eles. A
orientação de nenhum define o caráter. O ser humano
não vem com um menu onde os pais irão escolher a cor
dos olhos, o tom de pele, a voz, a altura, o peso e o
tamanho da beleza. A gente vem ao mundo de acordo
com o que o Criador ordena, Andrich. Como te disse,
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— Do que se trata?
— É meu presente de boas vindas — fez uma breve
pausa. — Te inscrevi na Gold Book Biblioteca. E você
ganhou uma coleção de livros… mas precisa escolher…
na verdade eu comprei. Fica nesse endereço aí.
— Hã… e porque não trouxe com você?
— Ah, é… é porque te inscrevi online. Mas é só
apresentar esse envelope à dona ou ao gerente que irão
computar e saber da inscrição. Porém, tem que ser
antes das quatorze horas… eles fecham cedo e esta
promoção de livros é até o horário marcado. Cê vai,
não?
— Não — Alec pulou — Maíra quer dar o próximo
passo na relação, sabe?
Ele esfregou as mãos, ansioso.
— Safado!
— Eu, não? Sou carinhoso. Preciso ir até ela amigo. Cê
viu o Túlio?
— Ainda não chegou, me parece. Ao menos, não aqui.
— Valeu, então. E não esquece, em?!
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— Triste!
— Por que?
— Porque eles perderam a mãe e o pai saiu e não voltou
mais?
— Sinto muito… eu deveria ter escolhido outra.
— Tudo bem! Não fez por mal. Pelo menos o Rasmus
tem a Simone.
Alec encarou a solidão estampada na face do garoto
e não hesitou em desligar a tevê. Incrédulo, Nicholas o
olhou, desviando o olhar para a janela a qual sacudia
com o toque sutil do vento, quase como uma dança.
— Por que desligou?
— A série mexe com o teu emocional.
— Mas você parecia contente em revê-la.
— É, tem razão — Alec deixou a cama, ficando de pé
rente ao amigo. — Mas prefiro assistir você. Não quero
deixá-lo triste. Sua mãe, apesar de ter lhe deixado, é
muito importante, eu sei… então, vamos apenas
conversar.
Nicholas sentou-se sobre o móvel e sorriu.
— Você não existe, cara. Mas nem assunto eu tenho!
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— Sim, sim.
— Bom, dessa forma, vou me recolher. Tenho um
encontro mais tarde. Até mais, Alec.
— Até, Sr. Ramsey.
Ao deixar a sala-de-estar, Robert seguiu para o quarto
enquanto Nicholas encarava o amigo com desconfiança
no olhar.
— Que foi?
— Nada, só pensei que fosse me entregar.
— Eu dei a oportunidade de você contar a ele,
Nicholas.
— Eu sei. Só quero que as coisas sejam no meu tempo,
certo?
— Tudo bem, não vou me envolver mais.
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— Obrigado, Klaus.
— Pelo que, patrãozinho?
— Ora, pelo quê? Eu refleti bastante e tomei algumas
decisões ouvindo o relato daquelas pessoas. Foi
extraordinário.
— Eu sabia que ia se sentir acolhido. Agora, quem mais
sabe sobre a sua sexualidade?
Nicholas suspirou fundo e reconforta-se no banco de
trás.
— Você, o Alec, o Liam, e agora todos na minha escola.
— E pretende contar ao seu pai?
— É claro, hoje mesmo. Sei que vai ser uma barra para
ele, porém…
— Porém?
— Porém ele vai entender, Klaus.
O caminho de volta foi mais curto.
Klaus estacionou o carro em frente a mansão dos
Ramsey e Nicholas desceu do automóvel e seguiu para
dentro da casa. Tirou as chaves do bolso e pôs-a na
fechadura, abrindo a porta e entrando, encontrando seu
pai, Robert Ramsey e Trent Trevor, seu médico do País
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