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Em uma sala grande e pouco iluminada, uma mulher está sentada bem
no meio, ela usa uma calça de alfaiataria preta, coturnos pretos
e uma camisa social em um tom de roxo escuro com um suspensório
por cima, a sua frente tem um cavalete com uma tela inacabada. A
sala é decorada com grandes e luxuosas estantes de madeira cheias
de livros, algumas pinturas espalhadas pelas paredes e algumas
apoiadas pelo chão. Em um canto da sala há uma poltrona bordô com
uma pequena mesa de madeira ao lado, na mesa há um castiçal
prateado. A sala tem duas janelas grandes bem no centro, com
cortinas de veludo bordô, combinando com a poltrona. A mulher,
sentada em um banco de madeira no centro dessas janelas tem apenas
metade de seu rosto iluminado pelas velas do castiçal apoiado sob
a pequena e redonda mesa de madeira ao lado do cavalete. O silêncio
grita naquela sala, mais alto e perceptível do que os sons da
madrugada. Através das janelas há um longo caminho, pouco
iluminado, com muitas árvores, pouco se vê da rua pela falta de
iluminação.
Lauren está vindo atrás de mim, vou até o toca discos e coloco um
para tocar. Lauren se senta no sofá, as almofadas vinho do nosso
sofá preto contrastam com a pele clara de Lauren. Ela observa cada
movimento meu, sinto seu olhar cheio de desejo penetrando meu
corpo. Vou até ela e a beijo, a beijo como se fosse a última vez.
Suas mãos passeiam por minhas coxas, minhas costas, minha bunda e
meu cabelo. Seus beijos intercalam entre minha boca, meu pescoço
e meus seios. Eu a faço tirar a camiseta que usava, deixando a
mostra seu sutiã de renda. Não demora para que ela tire meu
vestido, me deixando apenas com minha lingerie preta, também de
renda.
Entro em casa e ela parece maior e mais vazia do que nunca, nenhum
sinal de Isabel. Eu devo tê-la decepcionado, não deveria ter saído
pela manhã com tanta pressa. Vou até seu escritório, mas encontro
apenas algumas folhas ao lado da sua máquina de escrever. Ela
certamente passou o dia trabalhando em seu manuscrito, minha
curiosidade grita, mas minha vontade de ama-la grita mais alto.
Vejo uma fraca luz vindo do banheiro, velas, certamente elas que
iluminam o ambiente. Entro no banheiro silenciosamente, assim como
o restante da casa, nosso banheiro tem uma decoração gótica, a
banheira está esvaziando e o espaço é iluminado por velas. Como
eu imaginara. Isabel está em gente ao espelho apenas de lingerie
passando creme em seu corpo. Eu me aproximo e a abraço por trás.
Nossos olhares se encontram pelo espelho.
Isabel se entrega, eu a viro e logo puxo seu corpo para bem próximo
do meu e a beijo.
Eu empurro a Lauren e fico em cima dela, ela logo tira meu sutiã
e não demora muito para que eu tire suas roupas. Eu admiro seu
corpo, nesse momento toda vontade de começar uma briga não está
mais dominando minha mente. Nossos olhares se encontram e eu me
arrepio. Lauren me tem e agora eu a desejo. E eu a terei, essa
noite ela será toda minha. Assim que acordo busco pela minha
esposa e, me decepcionando outra vez, percebo que estou acordando
sozinha naquela cama imensa. Visto uma roupa e, frustrada, vou em
direção a cozinha.
- Eu te amo.
O inverno chegou e não trouxe apenas o frio, com ele veio também
a distância. Faz uma semana que Lauren está distante, que eu estou
distante, parece até que nos perdemos. O frio congelante do lado
de fora parece mais insuportável ainda dentro de casa. Não
conversamos mais durante as refeições, os raros beijos que
trocamos agora são rápidos e sem o desejo de antes. Não sei mais
como é segurar a mão da mulher que eu amo, não me lembro de como
eram seus toques, estou me esquecendo da sensação de ter aqueles
olhos castanhos intensos me fitando, cada vez mais esqueço até
daquele lindo sorriso que Lauren tem e me tira o fôlego. Ela passa
os dias em sua sala de pinturas e eu não sei mais o que ela pinta,
não fui mais admirar seu talento, afinal, passo meus dias sentindo
e escrevendo a solidão em meu escritório. Minha maquina de
escrever e minhas histórias se toraram minha fuga, elas sabem mais
de mim do que a mulher com a qual me casei. Nós estamos nos
perdendo. Eu estou a perdendo e eu não sei se aguento isso.
Peço para que Isabel se sente em uma poltrona bordô perto de uma
janela lateral da sala, com uma cortina de veludo da mesma cor da
poltrona. Isabel tira seu roupão, ficando apenas com sua lingerie
preta de renda a mostra, eu acendo algumas velas e me sento em
frente a uma tela em branco para pita-la.
A última semana de inverno chegou, era para aquele frio estar indo
embora e levando tudo de ruim consigo, mas algo aconteceu naquela
casa, Lauren e eu voltamos a nos distanciar, nenhuma de nós tinha
o que fazer em suas salas, mas por algum motivo não saiamos dela.
Brigávamos quase todos os dias, então, para evitar as brigas,
passamos a nos evitar. Estou na sacada observando a noite que toma
conta do campo, agora sem neve alguma, bebendo whisky e fumando
um cigarro. Lauren entra em casa, respiro fundo e termino com o
whisky do copo.
- Demorou para chegar. – Falo sem olhar para Lauren.
Outra noite, outra briga. Será que a ultima semana do inverno vai
ser toda assim? Brigas atrás de brigas? Não aguento tanta dor,
não aguento olhar nos olhos de Lauren, a mulher que eu amo e ver
distância. Não sei por quanto tempo mais vou aguentar.
- Me perdoe.
Olho para Isabel e chorando, concordo com a cabeça. Ela usa apenas
um vestido vermelho longo, não muito colado no corpo, com um corte
na parte de baixo, deixando uma de suas lindas pernas a mostra.
Vejo que ela estremece com o frio, tiro meu sobretudo e enrolo em
seu corpo, ambas soltamos as taças e eu pego suas mãos.
- Eu amo você.
Nos sentimos, nos amamos e nos lembramos de quem somos por horas
aquela noite. Nos amamos como da primeira vez. Lauren sobe
lentamente os beijos, até chegar em minha boca. Estamos ofegantes,
suadas e com marcas em nossas peles. Deitamos lado a lado a
trocamos olhares, ficamos ali, apenas nos olhando por alguns
minutos. Lauren passa a mão delicadamente em meu rosto, eu fecho
os olhos sentindo seu carinho. Ela sorri. Eu amo tanto essa mulher.
FIM.