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FACULDADE DE HISTÓRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PÓS GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
DOUTORADO EM HISTÓRIA
Goiânia
2012
ISMAR DA SILVA COSTA
Goiânia
2012
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
CDU: 279.127 : 32
ISMAR DA SILVA COSTA
__________________________________
Prof. Dr. Luiz Sergio Duarte da Silva – UFG
Presidente da Banca
___________________________________
Prof. Dr. Antônio de Almeida – UFU
Membro Titular
____________________________________
Prof. Dr. Jadir de Morais Pessoa – UFG
Membro Titular
____________________________________
Profa. Drª Terezinha Maria Duarte – UFG/CAC
Membro Titular
____________________________________
Prof. Dr. Valtuir Moreira da Silva – UEG/Itapuranga
Membro Titular
___________________________________
Profa. Drª. Maria da Conceição Silva - UFG
Membro Suplente
___________________________________
Profª. Regma Maria dos Santos UFG/CAC
Membro Suplente
Para Regma, Cláudio, Valdeci e Luiz Carlos, Amigos.
Para Luiz Sergio, com Respeito.
Para Néris, com Carinho.
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem sua origem no projeto de pesquisa de final de curso que
apresentei, no ano de 1993, ao Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de
Goiás, intitulado: “O PT do Sindicato da Igreja – O processo de construção da
identidade social dada pela relação entre religião e política numa Igreja Pós-Conciliar
em Itapuranga-Goiás”, sob a orientação do professor Dr. Jadir de Morais Pessoa.
Concluída a graduação, novos questionamentos somaram- se às velhas proposições que
ganharam a forma de um novo projeto apresentado ao Programa de Pós-graduação em
História, da Universidade Federal de Uberlândia, na linha de pesquisa Política e
Imaginário, no ano de 2001; onde defendi a dissertação “A Caminhada do Povo de
Deus”: Religião e Política na “Igreja do Evangelho em Itapuranga-GO nas décadas de
1970 a 1980”, sob a orientação do professor Dr. Antônio de Almeida.
Naqueles dois momentos, buscamos compreender como os sujeitos católicos
vivenciaram as novidades contidas nas “Boas Novas” pregadas por D.Tomás Balduino,
então Bispo da Diocese de Goiás1; que implantou uma evangelização no território
diocesano pautada nas decisões do Concílio Vaticano II. Com o atual trabalho, intento
compreender elementos do embate, notadamente do plano político-religioso travado
entre os vários grupos de sujeitos, seus projetos, seus alinhamentos diversos na cidade
de Itapuranga-GO, nos anos compreendidos de 1950 a 2000. Importa-nos compreender
1
- O número XII da Revista da Arqui Diocese que registra a posse de Dom Tomás Balduino, nos dá as
seguintes informações sobre a formação e o território da Diocese de Goiás: Em 1576, foi criada a Prelazia
do Rio de Janeiro, à qual fica subordinado o território goiano. Em 06 de dezembro de 1745,
desmembram-se da Diocese de São Sebastião do Rio de Janeiro as Dioceses de São Paulo e Mariana e as
Prelazias de GOIÁS e Mato Grosso. (...) Vila Boa, surgiu como freguesia de Santana, em outubro de
1729. Até então, os sacerdotes eram apenas passageiros, visitantes pastorais. A 15 de julho de 1826, o
Papa Leão XII elevou a Prelazia de Goiás à categoria de Diocese de Goiás. em 1932, a 18 de novembro,
Pio XI fez da Diocese a Arqui Diocese de Goiás. A 26 de março de 1956, pela Bula “Sanctissima Christi
Voluntas”, do Papa XII, foi supressa a Arqui Diocese de Goiás e ereta a Arqui Diocese de Goiânia. Na
mesma data Goiás volta a condição de Diocese, com território pertencente à supressa Arqui Diocese e a
Prelazia do Bananal, igualmente supressa.
A Diocese de Goiás, após a divisão eclesiástica verificada em 1966, ficou formada pelos municípios de
Britânia, Jussara, Itapirapuã, Novo Brasil, Fazenda Nova, Sanclerlândia, Mossâmedes, Itaberaí, Goiás,
Taquaral. Itaguarí, Heitoraí, Itapuranga, Uruana, Carmo do Rio Verde e Ceres. Atualmente a
configuração diocesana é outra, ver mapa da Diocese no primeiro capítulo desse trabalho.
13
elementos das diversas ações desses indivíduos analisadas historicamente, suas relações,
sua forma de agir, dentre outros aspectos que estão postos nos mais variados pontos de
ação tanto da perspectiva da Teologia da Libertação quanto àqueles da Renovação
Carismática Católica. O que impulsiona a pesquisa é a tentativa de compreender
aspectos do que intitulamos como uma Guerra Simbólica pela disputa pela hegemonia
dos espaços de poder representados, sejam pelo comando do executivo local, pelas
participações no legislativo, assim como outros espaços de construção de novas
sensibilidades políticas representadas pelas ações coletivas via movimentos sociais de
base. Sobre a inserção de homens e mulheres na arena do fazer-se político no cotidiano,
buscamos compreender os parâmetros de valorizações dos acontecimentos da época e
do passado em Itapuranga, passando pelos acontecimentos da região, do Estado e do
país.
Procuramos ver o poder por todas as partes da cidade, atentando para
localizá-lo nos mais variados pontos de concorrências desses agentes, tantos os
tradicionais quanto os neófitos do jogo do poder. Assim o procuramos, não apenas nos
lugares habituais onde seu exercício é uma constante. Tencionando compreender como
o poder está em toda parte, Bourdieu (1989) aponta para as formas como esse poder se
firma nas lutas simbólicas. Para ele, o lugar onde se trava todas essas lutas é no campo
político. Assim, o autor define o conceito de campo político:
2
- Dentre esses trabalhos destacamos: PESSOA, Jadir de Moraes. A Igreja da Denúncia e o Silêncio do
Fiel, Campinas-SP. Ed. Alínea, 1999, COELHO, Marilene Aparecida. O Processo de Organização do
Movimento Popular de Saúde No Vale do São Patrício, 1974-1992. Goiânia: UFG,1997, Dissertação de
Mestrado, MOURA, Ivanilde Gonçalves de. A Igreja do Evangelho: A Construção de um Sonho - A
Diocese de Goiás nos Anos Setenta. PUC/SP, Dissertação de Mestrado, 1989, SILVA, Valtuir Moreira
da. Trabalhadores rurais de Itapuranga: Experiências da resistência e organização 1970-1980, Dissertação
( Mestrado em História) Depto de História,UFG,2001, SILVA, Valtuir Moreira da. Trabalhadores(as)
rurais em Itapuranga (re)invenção no cotidiano de suas experiências de luta -1956-1990, Tese (
Doutorado em História) Depto de História, UnB, Brasilia, 2007, REVER, Isidoro. Oposição sindical dos
trabalhadores rurais de Goiás 1973-1993: Concepção e prática sindical a partir da ação pastoral da Igreja,
UFG, 1999, Dissertação de Mestrado, COSTA. Ismar da S. A caminhada do povo de Deus: religião e
política na “Igreja do Evangelho em Itapuranga-Go nas décadas de 1970 a 1980. 2004 Dissertação (
Mestrado em História Social), Depto de História, UFU, Uberlândia, 2004, LUNARDI, Vera Lúcia. As
Organizações dos Trabalhadores Rurais (Sindicato, Associações, Cooperativa) e a Agricultura Familiar -
Uma Reflexão Sobre Goiás, RJ. UFRRJ. Dissertação de Mestrado,1999.
16
3
- O historiador Valtuir Moreira da Silva questiona, em sua tese de doutoramento (SILVA 2007), a
validade da ideia da Igreja ter sido mediadora nesse processo de aprendizagem política. Para ele já havia
uma memória e uma história de luta desses e nesses trabalhadores de Itapuranga anterior à chamada Igreja
popular.
17
dia da cidade, que podemos traduzir como sendo os aspectos de um grande imaginário
político de Itapuranga de que “foi o Dr. Warner quem fez Itapuranga”. A partir de
fragmentos desta memória, dessa afirmativa, que crescemos ouvindo na escola,
reforçada nas várias atividades cívicas, nos grupos de amigos de família “arenistas” e,
por outro lado, no ambiente familiar, extremamente “Manda Brasa”, como era
conhecido os partidários do MDB, aprendemos a duvidar dela.
Buscamos ler os vários sinais produzidos e espalhados pela cidade, por esse
administrador, que reafirmam uma representação fértil sobre si e sobre sua
administração. No entanto, reafirmamos que essa leitura do período da história de
Itapuranga sob a administração do Senhor Warner C. Prestes adquire sentido no
confrontamento proposto por Bourdieu (1989), pois esse administrador põe em
circulação, não só no nível local, mas também regional toda uma parcela de seu capital
político para o enfrentamento direto com as ações postas pelos movimentos sociais
locais.
Nessa perspectiva, as ações das administrações do prefeito Dr. Warner
Carlos Prestes4 nos remetem para um processo de transformação da cidade, procurando
construir ruas, asfalto, saneamento, aplicar códigos de postura, enfim, medidas
educativas que visavam construir uma imagem de cidade símbolo do Vale do São
Patrício goiano, com um povo ordeiro, trabalhador. Ao mesmo tempo em que esse
administrador produz um imaginário político da cidade assentado nas comemorações do
sesquicentenário da independência do Brasil, em 1972. Ao inserir a municipalidade de
Itapuranga no contexto nacional das comemorações pelo aniversário da independência,
o que se confirma é a máxima de que o lugar não está isolado da nação, pois, como
afirma uma dessas placas: Itapuranga é também Brasil Grande.
No entanto, o caráter de nossa pesquisa, fez com que compreendêssemos
que Itapuranga são duas cidades. A localidade do passado, o Xixazão, que escorrega
desde a porta da Igreja Nossa Senhora de Fátima até a beira do Córrego, subindo até a
Av. Farnésio Rabelo. Lugar do onde “já teve”: já teve uma agência bancária, hospitais,
farmácias, armazéns enfim, o comércio, a cidade. Esse lado do município é preterido
pelo outro lado, o Xixazinho, a cidade do presente, onde o terreno é menos acidentado,
4
O senhor Warner Carlos Prestes foi prefeito por dois mandatos: em 1969 e 1976. Em 1972 foi eleito
João Alberto Rabelo Costa, vice prefeito do senhor Warner no mandato anterior.
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propiciando, nos anos de 1970, ao poder público, pensar um planejamento urbano mais
moderno.
Assim, o Xixazinho passa a ser identificado como o novo lugar onde serão
construídos todos os prédios públicos municipais. O “outro lado” ou Xixazão, como as
pessoas denominam a parte mais velha da cidade, passou a ser bairro residencial,
enquanto o Xixazinho é a parte da cidade que concentra o comércio mais significativo,
bem como as agências bancárias, hospitais, enfim, demonstrando que houve a inversão
dos usos dos espaços urbanos.
Esse caminhar pelas ruas da cidade, que propomos, implica reconhecer que
existem marcas profundas, um palimpsesto de memórias a ser pensado, reelaborado,
imaginado, e que foi configurando esse lugar que, aos poucos, se mostra aos
pesquisadores para além de suas histórias de luta mediadas pela Igreja. Para Sandra
Jatahy Pesavento (2004):
A cena urbana está cada vez mais aberta às manifestações políticas, afirma
Balandier (1982). Seguindo esse pensamento é que imaginamos como nesse processo de
estruturação da cidade foram produzidas representações do poder que se materializaram,
principalmente, nas construções de praças públicas e, nos dizeres das placas
comemorativas, assim como, também pela ocupação das praças e ruas, pela militância
dos sujeitos católicos em busca de seus direitos.
Na busca de compreender as questões propostas, pensamos a partir dessas
praças e placas, não só como lugares de memória, como proposto por Nora (1993), mas
também, principalmente como enunciados de poder, algo fundamental para
compreender como se projetou um campo simbólico de disputa pela hegemonia política
do lugar.
Recorremos a Balandier (1982) para compreendermos como os atores
políticos podem traçar suas estratégias de ação e de manutenção do poder. Assim o
autor nos diz:
político posto em movimento tanto pelos sujeitos afinados com o discurso progressista
da Igreja do Evangelho quanto aquele proposto pelos sujeitos que orquestraram o
enfrentamento do poder municipal representado pelo prefeito e seus enunciados de
poder. Assim Lynn Hunt (2007), analisando a Revolução Francesa, nos aponta
possibilidades de interpretação do poder, pois para ela: “ [...] os símbolos e rituais
políticos não eram metáforas do poder, eram seus próprios meios e fins”. (HUNT, 2007,
p.78).
Para Hunt (2007):
de combate ao regime militar, no Brasil, assim como nos vários países em estado de
exceção na América Latina, capitaneado por uma parcela significativa dessa instituição
que assumira, não sem muita resistência, a tarefa tanto de combater, junto aos povos de
suas bases, quanto de produzir discursos e ações de apoio aos militares. Pensar essa
experiência dos católicos de Itapuranga com a Igreja particular de Goiás é localizá-los
em um mapa de lutas e resistências produzido pelo panorama mais amplo pelo qual
passava a Igreja Católica no Brasil.
Nessa perspectiva, a década de 1960 foi marcada por uma demonstração da
forma heterogênea de atuação da instituição Igreja Católica no Brasil. Por um lado,
havia a participação de setores progressistas da Igreja junto aos movimentos de base,
buscando construir uma consciência de luta a partir do mundo do cotidiano dos sujeitos,
por outro lado, os conservadores apoiavam movimentos como a TFP (Tradição, Família
e Propriedade), de cunho autoritário e conservador e participavam, junto com a classe
média católica das Marchas da Família com Deus pela Liberdade5, sem nos
esquecermos também da constante discussão da dimensão da justiça social que iria
culminar na busca do consenso via Bipartite.
O que se pode perceber, na década de 1960 é a heterogeneidade da
instituição Igreja Católica no Brasil. Ao mesmo tempo em que setores dela se
manifestam favoráveis ao golpe militar6, outros setores se organizam para combater as
ações dos militares. Para Scott Mainwaring (1989):
5
- Para PIERUCCI, Antônio Flávio de O et alíi: as “Marchas da Família com Deus pela Liberdade”,
foram um “Significativo momento da divisão ideológica dos católicos nos estertores do governo Goulart
(foram) manifestações de massa substancialmente lideradas pela “Cruzada do Rosário em Família. O
movimento foi apoiado pelo Cardeal D. Jaime de Barros Câmara, do Rio de Janeiro, bem como
numerosos outros representantes de alas conservadoras da Igreja, mas não contou com o apoio de outros
bispos, entre os quais D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, cardeal de São Paulo, e D. João Resende
Costa, arcebispo de Belo Horizonte, onde as “Marchas da Família” foram numericamente expressivas.
6
- BRUNEAU, Thomás no livro, “O Catolicismo Brasileiro em Época de Transição”, diz nos que a
primeira declaração pública sobre a mudança de abril, feita pela hierarquia, foi uma declaração conjunta,
em maio, assinada por 26 bispos mais importantes ( incluindo cardeais e arcebispos) de todas as partes do
Brasil. Para Bruneau os bispos saudaram a intervenção de maneira clara.
23
7
- Para uma discussão sobre o papel da Igreja e dos militares no projeto de desenvolvimentista e justiça
social ver o livro de DUARTE ,Teresinha. Se as Paredes da Catedral Falassem - A Arqui Diocese de
Goiânia e o Regime Militar (1968-1985), Goiânia: Ed. Da UCG, 2003.
8
- BARROS, Edgar Luiz de, Os Governos Militares, SP: Contexto, 1991 (Col. Repesando a História).
Ver também: VENTURA, Zuenir, 1968 - O Ano Que Não Terminou, SP, Circulo do Livro,1988,
ALVES, Maria Helena Moreira, Estado e Oposição no Brasil (1964-1984), Petrópolis, Vozes,1984,
GASPARI, Elio, A Ditadura Envergonhada - As Ilusões Armadas, SP: Cia das Letras, 2002.
9
- A CNBB foi fundada em outubro de 1952, por Monsenhor Helder Câmara. Segundo Thomás C.
Bruneau os motivos que o levaram a fundar a organização eram dois: nunca houvera uma coordenação
nacional da Igreja, e que esta poderia tomar interesse ativo na mudança social.
24
[...] foi a ‘graça redentora’ para a Igreja brasileira e, por isso mesmo,
para o catolicismo em toda e qualquer outra nação latino-americana
onde o escândalo de governos militares deveria impiedosamente fixar
raízes nos anos vindouros”10.
10
- DELLA CAVA, Ralph, A igreja e a abertura, 1974-1985, In: KRISCHKE, Paulo J. ;
MAINWARING, Scott (Orgs). A igreja nas bases em tempo de transição (1974-1985). Porto
Alegre:L&PM:CEDEC,1986.
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enfatizaremos os elementos que marcam uma proposta especifica de vivência que passa
pelo religioso no município.
Pensar esse período particular de um município diocesano no interior
de Goiás pressupõe um quadro de localização dessas disputas como centradas numa
dimensão maior que é o embate sobre as lutas pelas ocupações efetivas da fronteira.
Nessa direção, o próprio deslocamento de D. Tomas Balduino; entre o processo de sua
formação até a chegada à Diocese de Goiás, foram deslocamentos pela e por fronteiras
Para Luiz Sergio Duarte Silva (2005) Fronteiras são construções. São
processos social e historicamente - vale dizer, simbolicamente - produzidos. Devem ser
concebidas mais como abertura e atualidade do que como dado ou acabamento. São
locais de mutação e subversão: regidos por princípios como os de relatividade,
multiplicidade, reciprocidade e reversibilidade. Nessa direção, os embates propostos
pela nova forma de evangelização diocesana, buscaram subverter a ordem estabelecida
pelo catolicismo popular existente nessa região.
As possibilidades apresentadas dentro desse projeto político-
religioso, acreditamos, só se efetivaram, nos seus anos iniciais, porque se tratavam de
projetos que traziam com clareza a dimensão processual em aberto. Dimensão essa que
se extrapola com o avançar da proposta mais politizante do cotidiano religioso.
Novamente é Duarte (2005) que nos afirma fronteiras são lugares de
deslizamento. Alianças, bifurcações e substituições que preparam o reconhecimento e a
necessidade de limites. Desde o processo de ocupação daquela localidade, conforme
apresentaremos no primeiro capítulo, são as alianças e as bifurcações que vão
preparando os embates entre esses sujeitos sociais em Itapuranga.
Podemos nos aproximar da proposta apresentada por Cláudio Lopes
Maia, sobre a fronteira para pensar o movimento de Trombas e Formoso, ao afirmar
que “A análise realizada neste estudo é desenvolvida na perspectiva do encontro entre
os diferentes entre si que carregam temporalidades históricas próprias relacionadas ao
seu modo de vida” (MAIA, 2008, p.13). O que se coloca em evidência no processo de
estruturação dos primeiros anos da Igreja de Goiás são os vários enfrentamentos entre
padres e leigos, leigos externos à Diocese e leigos da Diocese, enfim os diferentes entre
si proposto por Maia.
Investimos na compreensão da ação daqueles que se filiaram à Igreja do
Evangelho, a Igreja Progressista da Diocese de Goiás e, aqueles que se alinharam à
proposta religiosa por meio da Renovação Carismática Católica, no intuito de pensar a
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cidade como um lugar de lutas pela tomada e consolidação de um poder político, que
passa pela anuência do que se convencionou chamar de imaginário do poder.
Para a reflexão desse trabalho, levantamos os documentos junto à Prefeitura
Municipal de Itapuranga, quando constatamos que não existe uma preocupação com a
memória administrativa do município. Por mínimo que fosse, materializado em um
arquivo das gestões passadas, o que encontramos, como sendo a documentação
administrativa da Prefeitura, foram tão somente os “papéis velhos”: algumas caixas de
balancetes em caixas de arquivo de papelão, pastas tipo A/Z com ofícios enviados e
recebidos; mas a maioria da papelada ali depositada se constituía de documentos
financeiros e de pessoal11.
Nos arquivos da Câmara Municipal de Itapuranga, tivemos acesso aos livros
de Atas de reunião da Câmara dos anos 1950 até os anos de 2000, com exceção dos
anos iniciais da década 1970 que, segundo o secretário da Casa, desapareceram do
acervo. Esses livros, se ali estivessem, poderiam nos dar outra dimensão da percepção
dos sujeitos envolvidos com a política partidária local sobre as lutas e reivindicações
sociais dos sujeitos militantes da Igreja do Evangelho em Itapuranga.
Acessamos as atas do Sindicato Rural Patronal de Itapuranga e qual nossa
surpresa ao não encontrarmos sequer uma menção aos movimentos sociais, às reuniões
da Igreja, tampouco uma menção ao sindicato dos trabalhadores rurais.
Na Igreja Cristo Redentor, tivemos acesso ao Livro do Tombo da Paróquia,
às Atas do Conselho Paroquial, da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, bem como a
algumas fotografias que não estavam catalogadas, não portando nenhuma informação de
data, ou a eventos a que se referia.
Trabalhamos, também, com um acervo documental que temos
referente às décadas de 1970 e 1980: Boletins da Paróquia, bem como da Diocese,
informativos paroquiais, entrevistas com os sujeitos católicos de Itapuranga e
fotografias, tanto produzidas por nós, quanto aquelas cedidas pelo senhor José Guedes,
um fotógrafo profissional, militante dessa Igreja em Itapuranga. Enfim, estes foram os
documentos com os quais tivemos ao longo de nossa trajetória de pesquisador da
referida temática. Ademais, ao longo do processo de pesquisa em Itapuranga, fomos
11
Na sua grande maioria os papéis estavam jogados pelo chão em dois cômodos, bem como nos
corredores do Ginásio de Esporte ‘Anísio de Borba’. Compreendemos que o descaso com a memória
política de Itapuranga não é uma exceção à regra de como, nos municípios do interior do Brasil é tratado
a documentação histórica.
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presenteados com o carnê e o cartão com a maquete da nova igreja, a que analisamos no
terceiro capítulo, bem como tivemos acesso ao documento sobre a demolição da Igreja:
“Por que não destruir a Igreja Cristo Redentor”, localizado na Biblioteca da UEG-
Unidade de Itapuranga. Materiais esses utilizados no segundo e terceiro capítulos.
Os documentos referentes à inauguração do Colégio Estadual de Itapuranga,
como as fotografias, os recortes de jornais, que utilizamos para analisar como 1972 foi
comemorado naquela cidade, foram encontrados no acervo documental do atual Colégio
Estadual Deputado José Alves de Assis, numa pasta intitulada ‘Dossiê Colégio de
Itapuranga’, possivelmente organizada por Monsenhor Lincohn.
Acreditamos, como pondera Burke (2004), em seu texto “Além da
Iconografia” que, ao tratar da possibilidade da pesquisa com imagens, é mais
interessante usar a ideia de “enfoque” e não de “métodos”, porque conforme o autor
“eles representam não tanto procedimentos novos de pesquisa quanto novos interesses e
perspectivas” (BURKE, 2004, p. 24).
Nas acepções do autor, também se esclarece que não existem “receitas” para
decodificar imagens como se fossem peças de um quebra-cabeça. O autor prefere pensar
nas múltiplas possibilidades e na variedade de leituras que a imagem permite levando
em consideração aos diferentes historiadores com diferentes preocupações, como
“historiadores da ciência, de gênero, de guerra, de pensamento político, assim por
diante” (BURKE, 2004, p. 234).
Outra importante formulação de Burke (2004) refere-se a pensar as imagens
não apenas como um reflexo da realidade social, nem como um sistema de signos que
não esteja localizado socialmente. Conforme o autor, tais imagens figuram como
“testemunhas dos estereótipos, mas também das mudanças graduais, pelas quais
indivíduos ou grupos vêm o mundo social, incluindo o mundo de sua imaginação”
(BURKE, 2004, p. 232).
Burke (2004) apresenta então aspectos gerais que, para ele, não são
princípios universais, mas, problemas que o uso da imagem evidencia, e passa a
enumerá-los. O primeiro deles seria o fato de que as imagens não dão acesso ao mundo
social, mas a visões contemporâneas daquele mundo. Em segundo lugar o autor pondera
que o testemunho das imagens necessita ser colocado em uma série de “contextos” no
plural (cultural, social, político, dentre outros). Um terceiro ponto refere-se ao uso serial
de imagens que oferecem um testemunho mais confiável do que imagens individuais.
Por fim, o estudioso pondera que, assim como na análise de textos, o autor, ao ler as
30
Guita G. Debert (1986) nos aponta algumas questões sobre o uso da história
de vida. A primeira diz respeito a uma tendência que teve seu apogeu nos primeiros
estudos sobre a participação das classes populares na história política recente do Brasil.
Assim, os historiadores, sociólogos, antropólogos buscaram estudar a participação
política, social, religiosa, enfim, as mais variadas possibilidades desses sujeitos a partir
31
12
BLOCH, M. Apologia da História ou O Ofício de Historiador. [1949] Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2001.
32
arquivo, guarda e disponibilização do que a futura geração terá acesso. E ainda, por
intermédio desse proceder, a fonte oral destaca-se, para além de sua igual condição de
mais um texto histórico disponível aos ouvidos mais sensíveis.
Estamos imbuídos da compreensão de que, nesse contexto, aceitamos supor
que a fonte oral e as informações do conjunto de homens e mulheres deste pequeno
município do interior do Estado de Goiás é detentor de uma espécie de literalidade,
assim como quaisquer outras fontes presente nas discussões propostas.
Assumimos o caráter local de nossa pesquisa partindo do pressuposto de que
a história cultural é a ponta fina da história social e política (Vovelle, 1991) buscamos
compreender as questões postas dentro da configuração mais ampla. A dimensão
localista da pesquisa aponta para possibilidades de compreendermos as tramas da
história em níveis gerais a partir de experiências locais. Os eventos entendidos a partir
das histórias de vidas, memórias, fragmentos que, ao serem cotejados com as dimensões
mais gerais apontam para uma história cultural da fronteira.
São esses os riscos que corremos ao afirmarmos nosso fazer de historiador
ao olharmos para Itapuranga e querermos compreender, densamente, quais foram as
propostas, mudanças, embates, debates, postos por aqueles sujeitos da Igreja do
Evangelho e de seus opositores e, ao fazermos isso é com a atenção voltada para as
pertinências locais de uma experiência com ramificações, tramas para além das
fronteiras do município tomado como lócus da pesquisa, numa conjuntura de lutas e
transformações pelas quais passava o Brasil.
Na busca de ordenamento das disposições da tese: no primeiro capítulo
discutiremos a formação e a transformação do campo religioso católico de Itapuranga.
Por meio da análise das crônicas do livro do Tombo da Paróquia Nossa Senhora de
Fátima, compreenderemos como se configurara a formação do sujeito católico de
Itapuranga. Acompanharemos desde as constatações primárias de que o lugar é de
difícil evangelização, dada a falta de educação formal, bem como a ausência de uma
experiência com a rotina religiosa. Acompanhamos a trajetória do padre Nello Bononi,
nesse momento de implantação da nova forma de se ser igreja em Goiás, a partir de sua
escrita sobre Itapuranga, bem como do processo de adesão e convencimento dos novos
sujeitos da Igreja de Goiás, que protagonizarão a história da Igreja do Evangelho em
Itapuranga.
No segundo capítulo, a partir da experiência de um andar pela cidade,
somos levados, em um exercício de imaginar a cidade como um palimpsesto de
33
13
Sobre a Marcha para o Oeste numa visão mais tradicional que discute a ideologia do Estado Novo ver,
dentre outros, LENHARO (1986).
37
14
NEIVA Apud PESSOA, (1999, p. 40). Sobre a migração de mineiros para a região do Vale do São
Patrício, nas décadas de 1940 e 1950, ver o instigante trabalho de Valter Ferreira da SILVA JÚNIOR
(2002).
15
Expressão comum junto aos primeiros migrantes que diz do processo de se conseguir terra para
trabalhar.
38
16
- Quando nos referirmos ao Livro do Tombo da Paróquia Nossa Senhora de Fátima de Itapuranga-Go,
usaremos LTPNSF.
41
17
- Expressão utilizada pelo narrador.
18
- Essa conversa não foi gravada, não houve a intencionalidade de provocar a memória desse senhor
para nos relatar sobre sua experiência de vida, no momento dispúnhamos de um caderno onde tomamos
nota de algumas passagens.
19
KHOURY, Y. A. “Narrativas orais na investigação da História Social”. Projeto História, PUC-SP, São
Paulo, junho de 2001, nº 22, p. 84.
44
Gregório Bezerra (1979), quase nada relata de sua passagem pela região da
Colônia Agrícola de Ceres, colônia que ocupa espaço irrisório em seu livro de
memórias diante da importância política do lugar no cenário nacional. Ao contrário de
Itapuranga, a ocupar quatro páginas de suas narrativas marcadas pela repetição do
padrão que denominamos de “enfrentamento do sertão”, aqui, o relator irá, novamente,
enfrentar a ordem de ir à delegacia prestar esclarecimento ao delegado. Neste trajeto,
terá a intervenção de uma mulher, como ocorrera em outras localidades, conclamará o
povo a lutar pelos seus direitos, e depois de muito debater com o delegado, será posto
em liberdade e sairá às pressas da cidade. Conhecida e decodificada a estrutura, vamos à
narrativa sobre sua passagem por Itapuranga:
Não pratiquei desordens. Não matei. Não roubei. Não faltei com o
devido respeito às famílias. Estou cumprindo um dever cívico e
patriótico e apelo para o povo para ele testemunhar a minha conduta
aqui, desde que cheguei. Que outra coisa não tenho feito, senão
esclarecer o povo na luta pela paz, contra o roubo dos lotes e na luta
pela Reforma Agrária e tentar dar vida à Associação dos
Trabalhadores de Xixá. (BEZERRA, 1979, p.98; grifo nosso).
20
- Ver na Planta Urbana, em anexo, a área em branco entre as áreas de número: 01, 13, 14.
50
21
- Para maiores detalhes ver COSTA (2004).
22
- Conforme dossiê ‘A Criação do Col. Est. de Itapuranga’, acervo do Col. Estadual Dep. José Alves de
Assis.
23
- Rubiataba fica a 70 Km, aproximadamente, ao norte de Itapuranga.
55
Desolado com a celebração natalina, Padre José Ferreira lamenta não haver
na cidade uma pessoa com instrução mínima que fosse que pudesse auxiliá-lo nas
celebrações da missa. Interroga-se sobre a falta que faz a intervenção de uma pessoa
instruída na cidade, pois assim, os demais aprenderiam mais rapidamente a se portar nas
celebrações. No entanto, na missa de final de ano, é surpreendido com a participação do
povo de forma ordeira: “A missa de passagem de ano foi uma beleza. Religioso
silencio, cânticos bem entoados, grande numero de comunhão. Ufa! Ainda há
esperanças!” (LTPNSF,1961, f. 15).
A crônica de 01 de janeiro de 1962 apresenta um padre meio desanimado
com sua paróquia, ao contrário da esperança com que encerrava os apontamentos de 31
de dezembro de 1961, uma vez que o novo ano é recepcionado com balanço de vida e
algumas poucas perspectivas de transformação na atuação da Igreja daquela localidade.
Vejamos:
Apesar de todo esse desânimo de início de ano, Padre José Ferreira traça
vinte e quatro metas a serem cumpridas ao longo do ano de 1962. Alguma mais singela
como compra de material para a missa, ministrar curso bíblico, outras mais complexas
como construir uma escola normal regional, construir uma nova igreja, resolver a
pendência dos terrenos da Igreja (assunto que discutimos no item anterior), construção
da chácara paroquial. Ao término de sua lista, registra que algumas dessas metas serão
impossíveis de serem postas em prática dadas as condições do meio, outras darão
resultados mínimos, mas afirma a necessidade de ter essas metas traçadas para dar força
e direção aos esforços.
57
24
- Acreditamos que M.B seja abreviatura para Mauro Borges então governador de Goiás.
58
Por ocasião da festa de Nossa Senhora da Guia, padre José Ferreira vai à
Diolândia25; um distrito onde as famílias Chaves e Barbosa apresentavam aquela época,
ascendência política sobre o local. Na década de 1970, dois de seus representantes se
tornaram vereadores: Osmar Barbosa de Oliveira, (1972), pela ARENA e Leônidas
Chaves Lopes (1976), pelo MDB. Neste tempo, Diolândia era um distrito com fama de
homens valentes e, ao que consta, esta localidade teve um foco de resistência aos
trabalhos da Igreja do Evangelho, haja vista ser um lugar marcado pela pouca
penetração da Igreja do Evangelho, formando-se, ali, poucos Grupos de Evangelho e,
principalmente, dali saindo várias caravanas de católicos para frequentar missas em
Rubiataba, presididas por Monsenhor Lincohn, conforme apontamos alhures. Assim, em
24 de maio de 1962, padre José Ferreira se refere à sua visita ao local:
25
- O distrito de Diolandia fica a 18 Km, ao leste de Itapuranga.
59
26
- Itaberaí fica a 60 km ao sul de Itapuranga, sentido Goiânia.
62
27
- Para mais informações sobre a formação do Grupão em Itapuranga ver COSTA (2004).
63
28
Caiçara está a 32 Km, ao norte de Itapuranga.
64
Das pessoas citadas, Maria Ferreira se tornaria uma das mais motivadas a
trabalhar pelas mudanças pastorais. Sua trajetória de militância será marcada pela
participação em todas as esferas pastorais, bem como das instâncias políticas, como
sindicalismo de base, formação do Partido dos Trabalhadores, movimento pela saúde
popular, criação da Associação Popular de Saúde de Itapuranga- APSI. Constituir-se-á
numa militante total da Igreja do Evangelho em Itapuranga, em particular, e na Diocese
de Goiás, como um todo.
Novamente, Pessoa (1999) aponta para a importância das assembleias
diocesanas. Assim, nos apresenta a importância dessas na reconfiguração pastoral da
Diocese:
Uma análise das oito primeiras assembléias, até o ano de 1975, mostra
que é em torno das assembléias e a partir delas que vão surgindo as
novas formas de poder interno, as definições ideológicas, as
contradições do modelo e os enfrentamentos internos e externos. O
texto A Igreja do Evangelho divide o período em quatro etapas,
chamadas de: Modernização, transição, Renovação e A Igreja do
Evangelho.
Da etapa Modernização fazem parte as duas primeiras assembléias
(1968 e 1969). Nelas havia uma marca clara da instituição com seu
sistema de poder ainda totalmente vertical. A convocação para ambas
foi feita pelo bispo, invocando seu poder para tal; os temas discutidos,
todos retratando uma preocupação da Igreja com o especificamente
religioso e com a auto-reprodução, escolhidos previamente pelo
Conselho de Presbíteros. O resultado final foi publicado como Decreto
Diocesano. (PESSOA, 1999, p. 105; grifos do autor)
Moreira do Nascimento, Maria Ferreira, José Guedes, sendo esses três leigos,
‘delegados da comunidade católica da Paróquia’. Não há posterior a assembleia,
nenhuma observação até a data de 15 de janeiro de 1969, um semestre, sobre o que foi
discutido na Assembleia Diocesana. Nesse período, as crônicas são dirigidas para a
continuidade da rotina da vida religiosa: rezas de terço, celebrações de casamentos,
missas.
Em janeiro de 1969, é registrado, nas crônicas da Igreja de Itapuranga, que
ocorre, todas as quintas-feiras, reunião com a juventude. Essas reuniões são
coordenadas por: Maria Ferreira, José Guedes, Lázaro Borges, Pérpetua Camargo,
Sebastião Gontijo e outros. Instigante que os primeiros sinais das discussões paroquiais
aparecem juntos à informação sobre as reuniões da Legião de Maria.
das rupturas que a Igreja local fará, não mais participando dessas atividades que não
produzem sentido de conversão à realidade.
Em 31 de dezembro, Padre Nello apresenta uma leitura da situação
paroquial de extrema sensibilidade ao analisar que há uma transformação acontecendo
na Paróquia. Ao apontar algumas situações de vivências religiosas na cidade tais como
o espiritismo, a macumba e o pentecostalismo, na realidade está constatando a
existência de uma disputa se dando pelo campo religioso local. Nesse quadro apontado
das transformações por que passa a Paróquia, dentro do contexto diocesano, ‘quem cede
fiéis para as demais é a Igreja Católica?’, conforme ele mesmo questiona ao final.
No início de março do mesmo ano, Padre Nello faz valer o amor anunciado
nas crônicas e se casa com a professora Maria Ferreira. Seu último registro no Livro
Tombo é um balanço da sua dedicação à Paróquia e à Diocese, a indicar sinais para
outras possibilidades de leitura dos anos iniciais da Igreja do Evangelho na Diocese.
Assim, nos apresenta sua leitura:
29
- PESSOA diz nos que o “ bispo convidou vários agentes de pastoral de fora, especialmente uma equipe
de Caxias do Sul-RS, composta de uma dezena de pessoas entre padres, religiosos e leigos, com passagem
pelo COM - Centro de Orientação Missionária, de Caxias do Sul. Desses, “três padres e uma jovem
leiga”,(...), foram convidados para comporem com o bispo a Equipe Diocesana, um organismo situado
entre o bispo e o restante do conjunto da Dioceses, praticamente acoplado ao poder do bispo (
“...participando de sua autoridade”, conforme Igreja do Evangelho, p.51) (1999, p.106).
69
Brasil foram socializados nas práticas e rituais do universo religioso. Acostumados com
a presença da Igreja apenas nos momentos de desobrigas, tendo uma identidade
marcada, muito mais pelo catolicismo devocional popular, de devoções, festas e folias
do que propriamente do catolicismo oficial de missas e padres. Assim, distantes do
cotidiano paroquial, o que se destaca é, conforme descrito no Livro do Tombo, a
‘incivilidade’ do povo católico de Itapuranga.
Ao chegar à Diocese de Goiás, D. Tomás Balduíno se defronta com uma
Igreja comprometida, até então, com o jogo de manutenção de poder de uma elite
agrária local. Carlos Rodrigues Brandão (1992), procurando delinear as mudanças
ocorridas na Diocese de Goiás, com a presença de D. Tomás, assim diz dos anos
anteriores à chegada deste a Goiás:
30
- Entrevista com Dom Tomás Balduino Ortiz, realizada em 12 de fevereiro de 2003, em Goiânia.
71
opção de evangelização da Diocese de Goiás refletiu em suas vidas, fazendo com que
uma parcela destes “novos eleitos” se tornassem “militantes totais”31 da Igreja de Goiás
por mais de duas décadas.
Nesse período de implantação da Igreja do Evangelho, ocorreram, também,
várias manifestações contrárias à nova forma de ser católico, conforme as resoluções
diocesanas. Aos poucos, se a Diocese foi produzindo seu novo quadro de alianças, por
outro lado, esse mesmo movimento acabou por produzir, também, seus opositores de
dentro. Ou melhor, uma parcela significativa dos católicos de Itapuranga resistiu à nova
proposta de evangelização.
O recurso pedagógico utilizado pela Equipe Diocesana, no processo
de implantação da Igreja do Evangelho, foi o de se apropriar dos elementos
componentes da realidade vivida pelos católicos em cada paróquia, conforme os
resultados apontados pela pesquisa desenvolvida em alguns municípios que compõem a
Diocese de Goiás. A realidade que é apurada nessa amostra do território diocesano não
foge ao padrão socioeconômico, político e religioso, do interior do país, com certeza. É
o quadro marcante (que leva à definição de uma “Igreja pobre para os pobres”) de uma
população pobre que vive basicamente da agricultura, como pequenos sitiantes, e em
sua maioria não proprietários[...] (MOURA, 1989, p. 59). Diante desses dados
específicos que já haviam sido apontados pela pesquisa “Para Conhecer a Realidade”
realizada pela Equipe Diocesana, dando conta de um maior contingente de católicos na
zona rural, a “Igreja do Evangelho” instaura-se em Itapuranga. Como base de apoio e
fonte de produção de seus primeiros leigo-militantes figuraram os trabalhadores e os
pequenos proprietários rurais católicos.
Ivo Poletto, numa citação longa e importante, assim descreve a sua atuação
nos primeiros anos de implantação da Igreja do Evangelho, junto às comunidades
católicas de Itapuranga:
31
- O conceito de Militante Total foi desenvolvido por Nelson Rosário de Souza em sua dissertação de
mestrado “A Igreja Católica Progressista e a Produção Do Militante - Cartografia de uma Afinidade
Eletiva Político-Religiosa”, USP-SP,1993. Por Militante Total compreende-se o militante que apresenta
um caráter absoluto de engajamento, tanto no caso apresentado por Souza como no nosso estudo, os
militantes apresentam uma ampla capacidade de mobilização em todos os sentidos de atuação de base:
sindicatos, grupos de bairros, partidos, pastorais, CEBs.
75
32
- Texto “Teologia da Libertação em Itapuranga”, escrito por Ivo Poletto em forma de depoimento a
pedido dos então estudantes do curso de História da UEG- Unidade de Itapuranga, s/d (grifo no original).
76
33
- Christopher Hill, (2003) em apêndice do livro “A Bíblia Inglesa e as Revoluções do Século XVII”,
sobre o papel político da Teologia da Libertação enfatiza a importância do livro de Êxodos como chave
para se compreender o valor da presença da mulher na libertação e na criação de um povo livre.
34
- Senhor José Lemes, pequeno proprietário de terra, entrevista realizada em julho de 1994.
77
Com o tempo que foi se criando esses grupos foi deslanchando, hoje
já se fala em comunidade. Porque eu acho, que nem hoje mesmo a
gente não é uma comunidade, eu até gosto mais da idéia de ser grupo,
por que uma comunidade ela tem que viver mais, tensa, mais
envolvida, mais unida, eu acho que ainda não é, assim unidos para
chamar comunidade, mais a gente tá caminhando prá isso37.
35
- POLETTO, Ivo, s/d.
36
- Para PESSOA ( 1999) entre os G.Es e as CEBs existe um ponto de convergência e um ponto de
divergência básicos: ambos propõem uma prática religiosa voltada para a mudança das estruturas sociais.
Mas as CEBs buscam uma reestruturação eclesial - visam a criação de uma nova forma de se organizar a
Igreja. Já os Grupos de Evangelhos se parecem mais a propor mudanças pedagógicas do que
eclesiológicas. Criam uma nova metodologia de evangelização e não uma nova igreja.
37
- Entrevista realizada em 09 de julho de 1992.
78
daquele a gente voltava com muito mais gás pra casa. Começava a
conhecer mais gente, mais companheiros que também tava
organizando um grupo, aí surgiu a diferença dos grupos, a experiência
de um servia para o outro.
Itapirapuã. Reafirma que essa prática preocupa muito por estar levando muita gente
(LTPNSF, 1969).
Seguindo nosso trajeto imaginário, encontraríamos o bar do Napoleão, mas,
no entanto, sem a importância política que outrora ocupara no cenário local,
principalmente, entre os homens do Xixazão. Napoleão Lima de Moraes foi presidente
da Câmara dos Vereadores de Itapuranga de setembro a dezembro de 1958, eleito pelo
PSD. Esse era um dos pontos onde os homens se reuniam para discutir a política da
cidade e tomar suas decisões.
Continuando o trajeto pelas ruas da atual Itapuranga, passaríamos pelo
antigo prédio do Banco do Brasil, na Avenida Anhanguera, pela Escola Coronel
Virgílio José de Barros, na Rua 36 e subindo a Rua 51, voltaríamos à sede do CRI –
Clube Recreativo de Itapuranga. Do Clube, pela Rua 34 retornaríamos ao prédio do
antigo Cine-Continental, lugar onde funcionou, num anexo, a Câmara Municipal dos
Vereadores nos seus primeiros tempos, localizado ao redor da Praça Dr. Cunha Lima.
(Rua 34 C/ Av. Dr. Olavo Bilac Marinho) (Ver Anexo C, Figura 3).
Como na maioria das praças espalhadas pelas cidades brasileiras, a Praça
Dr. Cunha Lima (Ver Anexo C, Figura 4) era o lugar de encontros das moças e rapazes,
principalmente, depois das missas na Igreja de Nossa Senhora de Fátima e nas ocasiões
das festas religiosas dos santos do lugar, sobretudo a de São Sebastião. O espaço se
transformava no lugar mais expressivo para as sociabilidades, momentos de travar
conhecimentos, arranjar namoro, mas também momentos de acertar empreitas e afazeres
nas roças e fazendas. Essa Igreja localiza-se, como já dissemos, na saída para a cidade
de Goiás, num dos pontos mais altos do município. De sua porta pode se ter uma vista
panorâmica de boa parte do Xixazinho. (Ver Anexo C, Figura 5).
Um pouco antes do prédio da Igreja, passaríamos pelo também abandonado
prédio do Hospital São Sebastião, que era administrado pelo Dr. Sebastião, esposo de
Magali Olinta de Oliveira, primeira mulher eleita vereadora em Itapuranga. Segundo
Vianês (2000, p.65), a senhora Magali recebera 522 votos (12,21%), num total de 4.276
votos, ficando em quarta posição dos mais votados naquela eleição. A primeira posição
ficou com o senhor Adélio de Morais Pessoa, com 690 votos (16,14%), ambos eleitos
pela ARENA, em 1976.
Retornando de nossa caminhada, desceríamos a Avenida Anhanguera,
passando pelo prédio abandonado da pensão da Dona Maria Camilo, local marcado, no
passado, pela frequência dos homens da política local. (Ver Anexo C, Figura 6).
85
esquina com a Rua 47; a Praça Castello Branco uma praça ampla, com fonte luminosa,
coreto, com projeto paisagístico moderno.
A partir da afirmativa de Maria Izilda Santos de Matos (1990) de que
A outra emerge como uma cidade invisível, a cidade onde nos anos de 1970
e de 1980, os homens e mulheres da Igreja de Goiás em Itapuranga lutaram por
sindicalismo rural, saúde pública, educação, direito à propriedade da terra, enfim, por
88
direitos políticos, numa época marcada pelo regime de exceção. Dessa cidade nos foi
legado memórias, experiências que nos são apresentadas se nós as provocarmos. Nesse
sentido, a provocação é parte de um processo de compreensão e reconhecimento dessas
lutas como capítulos dos combates e embates travados entre sujeitos que se opunham na
arena simbólica e real na disputa pela cidade.
Tendo por base a ideia de uma cartografia afetiva proposta por Freire,
podemos construir uma interpretação desses lugares de memórias percebidos a partir do
efeito produzido pelo deslocamento no espaço urbano. Na medida em que esse andar é
direcionado pela articulação de ler a cidade, leitura pautada pela busca dos
enfrentamentos políticos inscritos num determinado momento, podemos concordar com
Freire (1997), quando ela declara que:
2.1 Praças&Placas.
construído no ano de 1981 pelo prefeito Dr. Warner Carlos Prestes, se localiza na Rua
48, em frente à Praça Marechal Humberto de Alencar Castello Branco. Murillo Marx
(1980), assim nos diz na origem das praças no Brasil:
Figura 3 - Croqui da Praça Humberto de Alencar Castello Branco. Ao seu redor os prédios
públicos, a sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itapuranga e bem próximo, a Igreja
Católica Cristo Redentor.
Autor: Costa, W. S.
José Murilo de Carvalho (1990), em seu estudo sobre Tiradentes, tido como
um herói no imaginário da República no Brasil permite pensarmos que a administração
pública de Itapuranga também via em Castello Branco o herói que toma para si a
condução dos rumos da nação. O herói é o homem incomum, forte, valente o suficiente
para se impor frente aos demais. É o que elucida a seguir:
38
- Projetada pelo engenheiro civil Ildes Vieira de Moura, CREA 3998/D 4º R, da AVM, com sede, à
época, na cidade de Uberlândia-MG, à Av. João Pinheiro, 512 Sala13. Tinha o número de registro de
projeto 071001, datado de 19 de janeiro de 1970. (Documentação da Pref. Mun. De Itapuranga - Ginásio
Anísio Martins)
94
Não fora isso que Castello Branco fizera? Para os rincões de Itapuranga não
importava, naquele contexto comemorativo da memória de Castello Branco, as
promulgações dos Atos Institucionais, as divergências e incoerências que esse “herói”
promoveu, para consolidar a ditadura no Brasil. O preço que a nação pagou não
importava na contabilidade final, porquanto o que contava era que a Pátria, agora uma
nova Pátria, havia sido reconduzida à Ordem. Ocorreu que, a morte trágica de Castello
Branco em acidente aéreo, no dia 18 de julho de 1967, produziu o efeito final para sua
transmutação na figura do herói.
No dia 02 de agosto de 1967, fora apresentado à Câmara Municipal de
Itapuranga, pelos vereadores: Otacílio Rodrigues Gouveia, Tubertino Bernardo de
Souza, Ovídio de Moraes Preto e Raimundo Ribeiro, todos da ARENA, um
requerimento com o seguinte teor:
39
- COUTINHO, Paula, “É no município que se constrói o Brasil”, Jornal da Imprensa, 29/01/2005,
acessado em : www.jornaldaimprensa.com.br, em 20 de março de 2011.
96
Para Carlos Fico (1997), a demanda por um país grande, desenvolvido, não
é exclusivo dos governos militares, principalmente no período do “milagre econômico”.
Também, em vários momentos na história do Brasil, vivenciou-se um otimismo
exacerbado, expresso, por exemplo, na construção de Brasília, na integração do
território no programa da Marcha para o Oeste, enfim, em vários momentos que
apontaram para a positividade do progresso e do desenvolvimento. Para Fico (1997):
poder nas pequenas fissuras do cotidiano. Perseguir os rastros dessa memória da praça
como lugar de vivências de aprendizado do fazer político é também perseguir os
caminhos por onde essa história particular procurou trilhar nos rumos da história
nacional. Mesmo no período pós-abertura política a praça se mostra como o lugar das
manifestações públicas e, mais do que isso, não é qualquer grupo que pode usufruir
desse espaço.
Figura 4 – Concha acústica da Pç. Castello Branco. Observe ao fundo à esquerda a sede do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itapuranga.
Autor: COSTA, I. S. (2010).
Sr. Presidente,
98
40
- Conforme site da Tv Anhanguera: http://www.tvanhanguera.com.br/historia.htm, acessado em 17 de
março de 2011.
100
Somos levados a pensar que Dr. Warner Carlos Prestes tinha um projeto de
transformação de Itapuranga, que faria do lugar um modelo a ser seguido por todos os
municípios do Vale do São Patrício. Um dos ideários do desenvolvimentismo do
período, que era a grandeza, reaparece nos dizeres da placa inaugurativa da Estação
Rodoviária, em 1978, já fora do projeto ufanista proposto pelo presidente Médici (1969-
1974), reafirmando de que se construía a ‘Grande Itapuranga’.
Os dizeres da placa da Estação Rodoviária demonstram qual era o papel
reservado à Itapuranga nos planos de desenvolvimento para a região do ‘Pleno e Rico
Vale do São Patrício’, pois a cidade passava por uma ‘grande arrancada histórica’ na
época. Por outro lado, não podemos nos esquecer de que ele foi um dos rearticuladores
do movimento municipalista em Goiás nos anos de 1970 e, que, portanto, almejava
como de fato se concretizara ampliar seu campo de atuação política na região41.
A Praça do Lavrador, anexa à Estação Rodoviária de Itapuranga, é mais
uma das obras construídas por Dr. Warner para se projetar nos espaços da cidade.
Inaugurada em novembro de 1971, data em que se comemorava o aniversário da cidade,
seus dizeres apontam para a polaridade cidade/campo, simbolicamente buscando
aplainar as contradições que se esboçavam entre fazendeiros e trabalhadores rurais no
município. Tais contradições se acirram, por exemplo, na demanda entre os posseiros da
Fazenda Córrego da Onça e Aureliano Jose Caiado ( Fiote Caiado)42.
A participação no processo de fundação e consolidação do Sindicato, numa
ferramenta de luta do povo, é pensada, pelos sujeitos que vivenciaram o período, como
uma grande luta por direitos numa conjuntura totalmente adversa - em plena ditadura
militar, num município administrado pela ARENA e, com uma constante vigília por
parte dos órgãos de repressão. Mesmo com todas as dificuldades, esses sujeitos contam
suas experiências como resultante, principalmente, das discussões promovidas nos
Grupos de Evangelho via mediação da Igreja Progressista. É esse o elemento que está
em debate entre o anunciado da placa e a realidade social de Itapuranga no início dos
41
- No site da Assembléia Legislativa de Goiás constam as seguintes informações sobre ele: Prefeito
Municipal de Itapuranga, 1971-1974. Diretor do Consórcio Rodoviário Intermunicipal –CRISA, Gov. Íris
Rezende. Deputado Estadual, PMDB, 12.ª Legislatura, 1991-1995. Diretor do Instituto Goiano de
Administração Municipal, IGAM. Promotor Público. www.assembleia.go.gov.br, acessado em
25.03.2011.
42
- Esse embate foi pesquisado por Valtuir Moreira da Silva, em sua tese de doutoramento ( SILVA,
2007). Ironicamente o advogado dos posseiros era Dr. Warner Carlos Prestes que, a revelia de seus
representados firmou acordo com o fazendeiro, que resultaria apenas em indenização aos posseiros,
acordo esse que, depois de muita luta e enfrentamento foi revisto, com a vitória final dos posseiros.
103
anos de 1970. Os dizeres denunciam uma visão romântica do lavrador: “Com o suor do
rosto honrado”.
Compreender a importância, para os sujeitos de Itapuranga, de sua inserção
na transformação do sindicato local, considerado pelego, o papel desempenhado pelo
sindicato nas lutas e reivindicações populares por direito trabalhista, saúde, dentre
outras, é compreender como se travou uma luta em Goiás, que culminaria na formação
da Oposição Sindical. Nessa direção, a Praça Dos Lavradores em Itapuranga, cumpre a
função de pacificar uma memória do embate entre o poder público e os sujeitos que
estavam se organizando pelos seus direitos.
43
- A revista Cruzeiro - Brasil Mais Brasil, de 13 de setembro de 1972, nº 37, Ano XLIV traz extensa
matéria sobre Goiás, apontando principalmente as potencialidades agropastoris e os recursos minerais,
apresenta o PRODOESTE como a solução para o desenvolvimento da região. Instigante também são as
fotos que abrem a reportagem: a Cruz do Bandeirante, na Cidade de Goiás, tendo ao fundo a casa de Cora
Coralina e o título da mesma: Desbravamento e Conquista. (revista O CRUZEIRO, 1972, p. 227)
106
44
- Segundo Adjovanes Thadeu Silva de Almeida ( 2005) “ A competição reuniu cerca de trinta seleções
entre as quais Argentina, Colômbia, França, Chile, Equador, Irlanda, Bolívia, Paraguai, Peru, Venezuela,
Uruguai e Rússia (...) a grande final foi entre Brasil e Portugal” ( ALMEIDA, 2005, p. 109). O Brasil
venceu pelo placar de 1x0, marcando aos 44 minutos do segundo tempo.
45
- Livro organizado por Agenor Bandeira de Mello e produzido pela Divulbrás, Brasil – 150 anos de
Independência – Resumo Histórico e Documentário da Atualidade Brasileira, trata-se de um levantamento
de todos os dados pertinentes às comemorações do Sesquicentenário da Independência, bem como traça
um panorama político das esferas federais e estaduais.
107
Figura 9 - Placa Colégio Estadual de Itapuranga (Hoje Col.. Est. Dep. José Alves de Assis)
Autor: COSTA, I. S. (2008).
109
Figura 13 – Corte da fita inaugural do Col. Est.de Itapuranga feita por Brasilete Caiado,
Rubens Guerra, titular da SUPLAN, e Dr. Warner C. Prestes, do lado esquerdo o governador
Leonino Caiado.
Fonte: Acervo do Colégio Est. Dep. José Alves de Assis.
111
Figura 14 – Palanque das autoridades no pátio do Colégio Est. de Itapuranga. Do lado esquerdo
da foto vemos fragmento do selo alusivo ao Sesquicentenário da Independência, ao centro o
Brasão da República, do lado direito figura de D. Pedro I. Na faixa acima os dizeres: “Obrigado
Presidente Médici Obrigado Leonino”. 1972.
Fonte: Acervo do Colégio Est. Dep. José A. de Assis.
municípios circunvizinhos e fecha com a frase: “que ali compareceram para prestigiar as
solenidades de Itapuranga, a cidade-progresso.”
Figura 16 – Entrega de medalhas aos atletas que participaram dos jogos estudantis por ocasião
das comemorações da “Semana da Pátria” de 1972. Destaque para a ‘presença’ do presidente
Médici, representado por sua fotografia. Pç. Castelo Branco.
Fonte: Acervo do Col. Dep. Jose Alves de Assis.
político que iria se refletir na organização sindical em quase todo território da Diocese
de Goiás. Da Colônia Agrícola, esses militantes do Partido Comunista, bem como um
expressivo número de novos militantes, partiram para a luta pela posse da terra em
Trombas e Formoso46. É nesse contexto de uma memória da militância comunista que
os católicos da Diocese irão, aos poucos, realizando o aprendizado político via
sindicato.
Ao ser questionado sobre a organização do sindicato na Diocese de Goiás,
Alberto Gomes de Oliveira, um ex-militante sindical no município diocesano de
Itaberaí, assim nos diz:
pra gente compreender melhor esse momento acho que a gente tem
que pegá a duas situações em Goiás que aconteceram no pré-golpe,
uma é a experiência de Trombas e Formoso, que traz na experiência
de luta direta pela terra né? Ilegal, luta armada pela terra. E a outra
forma de organização se dava exatamente da ... da ocupação da terra e
da cooperativa ali de...dos trabalhadores na sua existência permanente
contra é, fazendeiros pistoleiros e o próprio Estado47.
comunista em Itapuranga é relatada pela ação de uma pessoa conhecida como ‘Sr.
Benício’. Como discutimos no primeiro capitulo, acreditamos se tratar de Gregório
Bezerra. É, novamente, Dorvalino José Campos quem nos diz:
aqui tinha na época um tal de Sr, Benício, que trouxe pela primeira
vez a discussão do movimento sindical para Itapuranga. Ele teve que
sair daqui, por motivo da repressão, sabe? Foi em 64. Não teve
nenhum apoio49.
49
- LUNARDI(1999) citando GUIMARÃES aponta que numa relação do Ministério do Trabalho e
Previdência Social, composta pelas organizações sindicais existentes em Goiás, antes de 1965, consta o
“Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município de Itapuranga, atestando que realmente já tinha
existido uma organização sindical anterior dentro dos limites legais existentes naquela época, conforme
nota de rodapé 49, páginas 223/4.
50
- Entrevista com D. Tomás Balduino realizada em fevereiro de 2003, em Goiânia.
117
A ação do Estado não era uma ação inocente nisso, o Antônio Bueno
não era inocente, no primeiro momento ele se utilizou dessa, fez uma
aliança com a Igreja, utilizando os espaços da Igreja, das estruturas da
Igreja para chamar os trabalhadores para o sindicato, só que isso
certamente e, em cada ação do sindicato, da fundação do sindicato
dele seria localizando os indivíduos que, os trabalhadores que tinham
uma postura mais combativa e, os que tinham uma postura mais
oportunista e começou a conformar diretorias do sindicato que
poderiam depois está na postura que, futuramente, foi chamada de
pelego né.51
51
- Entrevista realizada em 10 de junho de 1999.
52
- Entrevista com Alberto Gomes de Oliveira realizada em 10 de junho de 1999, em Goiânia.
118
54
- Entrevista realizada em 18 de janeiro de 1993.
55
- Entrevista realizada em 22 de julho de 1995.
120
56
- Entrevista realizada em fevereiro de 1993.
121
57
- Boletim Diocesano .Dezembro de 1980, o nº110, ano XIII, p.08.
123
Nós tinha também o direito, que era outro caso de direito, diferente
que era o caso da saúde. A gente buscava através do Sindicato a
assistência de saúde, tanto médico, como hospitalar, odontológica,
tudo ligado ao Sindicato, tendo um hospital administrado pelo próprio
Sindicato, quer dizer é uma carga muito pesada, que talvez uma carga
de saúde não era da responsabilidade do Sindicato, mais naquele
momento, era um momento, era... tava muito jogado e o Sindicato
coordenou e teve seu sucesso. Itapuranga teve um de seus melhores
momentos de atendimento de um povo carente59. (BENFICA, 1993,
s/p).
58
- O Libertador - Boletim Informativo Suplementar do STRI, Ed. Extraordinária, Setembro de 1979.
59
- Entrevista realizada em Itapuranga-GO em fevereiro de 1993.
124
Figura 18 – Visão frontal da Igreja Cristo Redentor. ( demolida) O espaço externo era muito
utilizado para reuniões dos coordenadores dos Grupos de Evangelho. No altar estão duas
imagens: Nossa Senhora de Fátima; e de São Sebastião, santo padroeiro de Itapuranga – Essas
imagens são da Igreja Nossa Senhora de Fátima, que se situa no Xixazão.
Fonte:Acervo de José Guedes. (1999).
É a partir desse discurso prenhe de sentido e valor de que nos fala Tamaso
(1998), a partir ainda da conclamação de um grupo a consolidar seus lugares de
memória, enquanto outros buscam destruir esses mesmos lugares, demarcadores de um
tempo de luta política, social e religiosa, que compreendemos a demolição da Igreja
Cristo Redentor como uma recusa ao passado de militância e crença de alguns sujeitos,
numa perspectiva social dada pela experiência de uma religiosidade particular na
Diocese de Goiás. Ao procurar destruir a Igreja, pautando-se pela necessidade de mais
espaços, pretendidos pelo argumento maior de que a Igreja já não comportava mais os
católicos para assistir às celebrações, tem-se, dentre outros, o desejo de buscar o
apagamento do lugar de memória, bem, consequentemente a memória da luta desses
sujeitos.
Nesse sentido, a demolição da Igreja e a construção de outra buscaram
legitimar o poder articulador de um grupo social; os católicos carismáticos, apontando
para o apagamento não só da memória de uma época, como também da trajetória de
vida de um outro grupo social, os católicos progressistas ou os católicos da
‘Caminhada’. O passado de lutas e embates de parcela desses sujeitos católicos de
Itapuranga e a história são chamados para justificar a opção pela forma de preservação,
por dados elementos de um tipo de progresso, por séries de mudanças, por uma
132
Nas décadas de 1970 e 1980, se a Igreja era o lugar da luta, agora ela se
coloca como o lugar apenas do espiritual. A primeira Igreja foi construída a partir da
doação de materiais e trabalho, ao passo que a nova, com a participação de dizimistas e
de campanhas de doação em dinheiro.
133
Nas décadas citadas, e com menos fervor nos anos de 1990, os católicos se
reuniam na Igreja para discutirem, juntamente com os militantes do sindicato dos
trabalhadores rurais, do Partido dos Trabalhadores, dos militantes do Movimento
Popular pela Saúde, questões políticas ligadas ao cotidiano. No início do século XXI, a
Igreja volta a ser palco da busca da espiritualidade. Na nova Igreja, durante todo o dia é
possível encontrarmos católicos em vigília e adoração ao Santíssimo. O que antes fora
proclamado como “ação sem fé”, agora é afirmado como “ação pela fé”.
Figura 20- Reunião de líderes dos Grupos de Evangelho no pátio da igreja demolida.
Fonte: Acervo da Igreja Cristo Redentor. s/d.
Nessa disputa pela memória, dentre os vários itens de que nos fala Michael
Pollak (1989), pode se apontar que o grupo de católicos que mantinha um alinhamento
político junto à Igreja Popular de Goiás em Itapuranga passou, após os anos de
repressão e ditadura militar, por uma rearticulação e, por que não afirmarmos, por uma
desarticulação.
Uma parcela significativa da Igreja Católica no Brasil como instituição,
partícipe de uma política global que se firmou e fortaleceu como uma das poucas a dar
guarida aos movimentos sociais durante os anos de endurecimento e perseguição do
regime militar, rearticulou seu discurso político. Isso se deu, por um lado, em
134
consequência do processo de abertura política e, por outro, pelo próprio afastamento dos
indivíduos e pelo maior cerceamento das instâncias superiores da instituição junto aos
grupos considerados mais progressistas. Essa reorganização global atingiu o nível local
com o processo de arrefecimento de Dom Tomas Balduino e, principalmente, com a
presença e as práticas da Renovação Carismática Católica na Paróquia de Itapuranga.
Aqueles sujeitos dos anos de 1970 e 1980 compreenderam que não mais
havia espaços de luta mediados pela Igreja. Hoje, estes parecem se perceberem como
católicos distantes das novas formas de se vivenciar e praticar o catolicismo em
Itapuranga, pois não há mais o horizonte da utopia proposto pela Teologia da
Libertação. Mas, como já afirmamos, continuam a se identificar como sujeitos católicos.
Não é apenas um novo prédio, uma nova sede da Igreja que foi construída.
A atual conta com uma arquitetura arrojada, moderna e, sim, com uma nova
configuração de forças, novos aliados, novos sujeitos que, no entanto, mesclam-se aos
antigos defensores da justiça social. São diferentes, porém iguais: sujeitos católicos.
Sandra Jatahy Pesavento (2004) afirma que a arquitetura e a escrita são como formas de
vitória sobre o tempo. Para a autora:
É por esse efeito de durabilidade, uma busca pelo não esquecimento, que os
católicos de Itapuranga se enfrentaram na arena real e simbólica, buscando firmar seus
espaços como lugares de memória. Para Nora (1993):
(2001) nos diz que “temos a sensação de vivermos sob o império da memória e de seu
correlato – o esquecimento”. (SEIXAS, 2001, p. 37).
O que podemos apreender aqui é a ambivalência do poder, que Balandier
(1980) aponta como o poder em algum lugar. Mas que lugar é esse? Os revolucionários
Grupos de Evangelho, que tantas transformações produziram nos primeiros anos da
‘Caminhada do Povo de Deus’ em Itapuranga? O Grupo da Renovação Carismática
Católica que, para alguns católicos, reavivou a Igreja naquela localidade? O Conselho
Paroquial, numa reconfiguração de poder em que alguns sujeitos, dentre eles o padre,
discutiam as questões e os problemas da comunidade? Para nós, a resposta pode ser
encontrada na forma como esse fórum de discussão da Igreja local se reestruturou nos
anos pós-revolucionários dos Grupos de Evangelho.
É nesse espaço e a partir dele que se produziu a necessidade de se construir
um novo lugar para as celebrações. De uma discussão inicial de ampliação e reforma,
partiu-se para uma discussão sobre a demolição e a construção de outra Igreja. A partir
desse poder, em algum lugar, é possível compreendermos ‘esse império da memória e
do esquecimento’ do qual nos fala Seixas (2001), tendo a demolição da Igreja efetivada
nos anos de 2000 e a construção de uma nova com outra concepção de espaço e a
renomeação dos lugares utilizados pelos agentes pastorais como textos produzidos pelos
“novos atores sociais” da/na reconfiguração do campo político-religioso em Itapuranga.
Entendemos que tais fatos e os posicionamentos que desencadeou na
sociedade local são sinais expressos pelos sujeitos pertencentes ao grupo que teve seu
projeto de evangelização vencedor. Tais sujeitos estes que desejavam esquecer/apagar o
passado e a luta dos vencidos, que tinham naquele templo a referência e a pertinência da
luta. Portanto, sujeitos que compreenderam a necessidade de se imprimir uma nova
“floresta de símbolos” para garantir a naturalização de seu poder.
Essa é uma disputa travada entre sujeitos que, apesar de comungarem de
uma identidade comum o ser católico se diferenciam na percepção social e política da
vivência da religiosidade. Mais especificamente, o que se apresenta é como a inserção
da Renovação Carismática Católica em Itapuranga, na década de 1980, possibilitou um
redimensionamento das práticas religiosas e também do uso dos lugares onde se
exerciam as várias práticas político-religiosas da Igreja do Evangelho, não somente
produzindo um apagamento desse período, mas também apresentando uma narrativa
bem estruturada, expressa na nova arquitetura da Igreja, o que para nós é significativo
na nova compreensão dos espaços de vivência do sagrado.
137
além das formas simbólicas do templo, este foi palco para uma série
de tomadas de decisões dos trabalhadores e trabalhadoras de nossa
comunidade itapuranguense. Foi nas dependências dessa igreja que
aconteceram vários fatos históricos que marcaram a história social de
nossa cidade [...] (PNDICR, 2000, p.2).
No Plano de Ação para o ano de 1963, escrito pelo Padre José Elverth
Ferreira, a construção da Igreja do Xixazinho aparece em 18º lugar nas prioridades. Em
5 de maio de 1963, ele nos narra que: “Celebra missa vespertina no alto do Xixazinho,
num ranchão de palha que mandei fazer para as missas e catecismo dominicais”.
O primeiro registro de eventos para levantar fundos para a construção da
Capela, como é designada no Livro do Tombo, data de 8 de março de 1967, tendo à
140
frente o Padre Nello Bononi. Tratou-se de um leilão. O padre registra, na ocasião, que a
iniciativa estava encontrando boa receptividade.
Em 30 de maio de 1968, o Padre Nello narra que recebeu escritura dos
primeiros dez lotes da quadra P, no Xixazinho, vendidos pelos irmãos Maia Ramos, de
Itauçu, para a construção da Capela. No mesmo ano, em 30 de outubro, a narrativa do
padre aponta uma inquietação com a vagareza para se conseguir levantar a verba para a
construção da Capela. Assim ele se manifesta:
Também este ano durante todo o mês foi realizado o terço nas famílias
com leilões em prol da construção da Igreja do Xixazinho. No começo
foi bastante fraco mais foi sempre mais aumentando seja a freqüência
do povo que os leilões. É pena ter ainda dificuldades para iniciar esta
bendita Capela. Estou aguardando o engenheiro que de
Ita?(incompreensível) irá se estabelecer em Itaberai e poderá fazer um
bonito projeto. (LTPNSF, 1968, s/p.).
Três questões são centrais nessa crônica do dia 25 de abril de 1971 para a
argumentação que desenvolvemos sobre as formas e os motivos pelos quais o espaço da
Igreja passará a ser apropriado e utilizado pelos sujeitos católicos militantes da Igreja
progressista nos anos vindouros. Em primeiro lugar, voltamos à questão da invenção
das tradições. Quando o nosso narrador afirma categoricamente que a Igreja que se
construirá no Xixazinho será mais do que meramente um prédio, será um centro
comunitário, expressa a expectativa futura da utilização desse espaço para além da
função de templo. Estamos no período em que a Diocese de Goiás, na sua Igreja do
Evangelho, denominou de Transição (1970-1971).
Nesse momento, a Diocese de Goiás propôs um “olhar para a realidade”. É
aqui, para nós, que nasce o apelo para transformar este lugar num espaço de memória.
Em segundo, levar a Paróquia para o Xixazinho não passa, intencionalmente, por um
processo de distanciamento desta com as famílias influentes na política local, na sua
maioria moradora do Xixazão, mas a afirmativa é de que isso ocorre porque no
Xixazinho é onde estão os “melhores católicos”. Como o nosso narrador não qualifica
esses sujeitos, ficamos sem saber o que seria “um melhor católico” em Itapuranga nos
anos de 1970. Passaria por uma maior adesão ao projeto inicial da Igreja do Evangelho?
E, por último, há a afirmativa do padre de que o Xixazinho é o centro de Xixá
(Itapuranga), e de que é ali o centro de expansão da cidade, consequentemente, o lugar
da efervescência político-social.
Na crônica de 30 de maio de 1971, duas observações do padre são
instigantes para quem detém as informações de como se comportariam as forças em
embate na disputa pela composição desse campo político-religioso. O padre se mostra
um exímio analista das formas como se dá a oposição entre católicos militantes e não
142
Hoje, a meia noite, Dom Tomás vai celebrar a 1ª Missa oficial (já
celebrei uma vez com Mons. Lincohn), na Nova Igreja.
Não pude fazer milagres, nesta comunidade, porque não pertenço à
Igreja Católica – Pentecostal, nem sou metido a santo!
Deixo só uma grande amizade, um pouco de saudade (do forte ninho)
e um abraço ao pessoal humilde, o núcleo melhor desta comunidade.
(LTPNSF, 1971, p. 58. grifo nosso).
sobre a perseguição aos homens e mulheres que optaram por combater as injustiças do
mundo através da mediação da Igreja Católica na sua vertente progressista:
A figura (22) abaixo retrata o uso do espaço por dois grupos distintos de
católicos: uma reunião do Grupo de Jovens da Igreja Cristo Redentor, e, ao fundo
vemos que o grupo ali reunido é composto por homens e mulheres. O pátio era enorme,
com algumas árvores. Várias festas e reuniões aconteceram nesse lugar. Mas o que nos
interessa, nesse momento, é o registro ao fundo do salão dedicado à memória de
Margarida Maria Alves e Zumbi dos Palmares. Ambos fazem parte do universo
brasileiro das lutas populares.
146
mulheres que estavam nomeados ali, mas saberiam falar, possivelmente com alguma
certeza, que era “gente forte da caminhada da Igreja”.
Tanto o ato de apagar a memória contida nas paredes dos salões quanto a
transformação dos espaços externos da Igreja expressam a nova concepção daqueles que
momentaneamente venceram a disputa pelo campo religioso. O que era lugar de
aprender, refletir, discutir, agora é ocupado por um belíssimo projeto paisagístico, não
havendo mais nessa Igreja particular em Itapuranga espaços para os ‘profetas do povo’.
Os profetas e as profecias, agora, já estão estabelecidos desde a Igreja primitiva,
consagrados não pela inserção política na vivência cotidiana da vida religiosa, mas por
obra e dom do Espírito Santo através da Renovação Carismática.
148
Figura 24- Ao fundo, salão onde Margarida M. Alves e Zumbi dos Palmares
eram os homenageados. À esquerda da foto a parede do Salão Índio Marçal. Comparar
com fig. 5.
Autor: SILVA, I. C. (2010).
Até o ano de 1968, (1967 para Pessoa, 1999, p.104, nota do autor)
quando D. Tomás assume a chefia da igreja local, os seus
antecessores, bispos, padres e leigos das irmandades senhoriais,
reproduziram entre eles o pequeno jogo usual de alianças e prestações
mútuas de serviços através dos quais os interesses, poderes e símbolos
de legitimidade da Igreja Católica, da elite governante e dos grandes
senhores de terras perpetuam-se, reforçam-se e mutuamente se
auxiliam, quando aqui e ali índios, negros escravos e, mais tarde,
lavradores pobres e submetidos, ameaçavam pequenas rebeliões.
(BRANDÃO, 1988, p.13.)
Com a folia de reis houve uma aparente inversão: era proibida ou pelo
menos muito atacada no tempo dos franciscanos e passou a ser
admitida pelos oblatos. Mas isso não quer dizer que a Igreja do
Evangelho tenha tratado a folia como sujeito religioso. O que se fez
muito foi estimular os ternos de folia a cantarem o conteúdo político-
religioso da caminhada, com a melodia da folia. Uma dessas
iniciativas até tornou-se hino na Diocese, chamado exatamente de
Folia da Caminhada. (PESSOA, 1999, p. 136).
Folia da Esperança
Dez anos de Caminhada/ Na Diocese de Goiás
Trouxe do Concílio de Roma/O nosso Bispo Tomás
Contra a injustiça e exploração/A sua voz se levantou
E a nós pobres em terra e liberdade /O seu apoio ele mostrou
Éramos um povo sem futuro/ E todos desanimados
Com ele aprendemos a coragem/E não seremos derrotados
Descobrimos a verdade/Na caminhada de 10 anos
Com certeza e esperança/ Que nós estamos lutando.
O Cristo da justiça e igualdade/Pois não deixa nós parar
Aí todos os lavradores/Vão ter terra prá plantar.
Um dia que vai chegando/Os últimos serão os primeiros
Cristo nos fortalece/Ele é nosso companheiro
Nessa noite de alegria/Vamos cantar nossa Esperança
Quem aceita o Evangelho/A vitória ele alcança.
São 10 anos que hoje celebramos
De luta e dedicação
Prá frente, com Tomás ao lado,
Celebraremos a Libertação.
Figura 27 - Chegada dos foliões à Igreja Cristo Redentor. A mulher que segura a
Bandeira é Maria Ferreira - . s/d.
Fonte: Acervo José Guedes.
Não que não tivessem ocorrido várias rupturas nas práticas tradicionais do
catolicismo, como a pompa nos casamentos e batizados, modificados por cerimônias
mais simples e coletivas. Mas, principalmente no período em que Padre Isaac esteve à
frente da Igreja, segundo os católicos da Caminhada, houve uma redefinição nas
práticas progressistas. A evangelização passou a assumir uma posição mais moderada.
155
Figura 28- Padre Isaac Spinelli, carregando a Bandeira da Folia pelos corredores
da Igreja Cristo Redentor - s/d.
Fonte: Acervo de José Guedes.
O que podemos apreender desse debate entre a RCC e a CNBB é como esta
procurou produzir formas de inserir o movimento pentecostal no seio da Igreja Católica
do Brasil. Administrar enfrentamentos com a RCC tornou-se tarefa dos católicos
progressistas em suas paróquias particulares. Enquanto estes se confrontavam no
cotidiano, a estrutura eclesial procurava espaços de adequação às novas demandas
postas pela RCC. É preciso lembrar sempre que a Igreja, enquanto instituição, prima por
ser universal, e suas vivências particulares são opções, preferências, e como tais podem
ser reestruturadas conforme as necessidades do período, tal como aconteceu com a
Teologia da Libertação.
Apesar de todo o cerceamento que os membros da RCC sofreram durante os
anos áureos da Teologia da Libertação em algumas Dioceses Brasil afora, o movimento
continuou crescendo espantosamente. Na segunda metade dos anos de 1980, já
apresentava visibilidade em várias Dioceses: tanto nas conservadoras quanto nas
progressistas, tanto nas grandes como nas pequenas Dioceses, ocupando, inclusive,
postos importantes nos conselhos paroquiais. Luiz Roberto Benedetti (2000),
pesquisando a realidade de Campinas- SP, conseguiu resumir num título toda a
complexidade desse período da história da Igreja no Brasil: “Templo, Praça e Coração”.
E depois acrescenta: ‘Templo’. Isso ocorreu no final dos anos de 1980, apontando
161
Não é opção da Diocese, mas onde ele se apresente que haja uma
tentativa de diálogo para se evitar o contra testemunho. É preciso
evitar a divisão, mas o diálogo é num sentido um tanto quanto
162
O ano de 1974, que nossa entrevistada data como momento inicial de suas
reflexões, é significativo para problematizarmos as justificativas apresentadas para a
busca da transformação do campo religioso católico em Itapuranga. Foi em 30 de
novembro de 1974 que ocorreu o movimento de expulsão dos padres da cidade,
movimento esse que foi organizado e orquestrado pelos sujeitos católicos contrários à
Igreja progressista, pertencentes a uma classe média-alta itapuranguense composta por
fazendeiros, comerciantes, enfim, como eram chamados pelos sujeitos da caminhada: os
burgueses da cidade. Sobre Dom Tomás Balduino e o seu processo de busca de
espiritualidade via movimento carismático católico, assim nossa entrevistada define:
Ele era muito radical, ele era uma pessoa maravilhosa mesmo, mas era
mais social mesmo. [...] Mas aí esse chamado foi mais ou menos no
final de 74 [...] aí eu não entendi, eu não entendi e não obedeci
também, e nem tinha como obedecer, Deus falou uma coisa para que
muito mais na frente; aí eu mudei para Goiânia [...] aí lá eu frequentei
164
muitas pessoas já haviam falado para mim: Ô Dulcinéia você tem que
começar um Grupo de Oração lá na sua cidade. Pessoas já da
Caminhada, que têm experiência, [...] não quero, para mim eu não
quero. Aí, então ninguém insiste né, eu não; fazer um Grupo de
Oração, não. Pensava assim. Mas daí a Dona Severina, essas três que
já estavam comigo, ela falou assim, Dulcinéia, ela viu que eu estava
até abatida, ela disse: Dulcinéia, o que você está esperando, Deus
descer do céu e falar para você formar um Grupo de Oração? Eu falei,
Dona Severina, a senhora acha que é isto mesmo? Não, eu tenho
certeza. Tanto tempo que nós estamos rezando aqui, eu tenho certeza
que é isso que Deus quer. Então, eu vou convidar as minhas vizinha.
Eu fui na Zuza, fui nas vizinhas. Nos reunimos cinco ou seis naquele
165
Dona Dulcinéia relata que o Sr. Gilberto de Brito, seu esposo, comerciante e fazendeiro
da cidade, era quem custeava o aluguel do prédio. Saindo desse ponto, o Grupo de
Oração muda para sede própria, situada à Rua 55, Quadra 14, Bairro Joaquim da Silva
Moreira. Esse espaço é usado até os dias atuais para os vários trabalhos desenvolvidos
pela RCC em Itapuranga.
O grupo consegue autorização do Bispo com a recomendação de não se
abrir mais grupos de oração. A narrativa da forma como a coordenadora prepara a irmã
para ser sua sucessora assenta nas estruturas das revelações. Como sua irmã se negasse
veementemente a assumir tal posição, a senhora Dulcinéia faz dela uma portadora de
um pedido por escrito a Nossa Senhora de Mediugórie para que a convencesse a
substituí-la na condução do grupo de oração. E, ao retornar da peregrinação a
Mediugórie, sua irmã, Drª Ilza Ferreira, aceita assumir a coordenação do movimento da
RCC em Itapuranga.
Nós fomos conversar com o Padre Antônio e ele falou: faz logo. E nós
falamos com Dom Tomás, eu e a Ilza (irmã da entrevistada) fomos lá,
porque quando eu comecei eu fui desobediente à Igreja sem saber que
eu estava desobedecendo, eu não fui lá e falei: D. Tomás eu posso
começar um Grupo de Oração? Eu não fui e fiz isso; porque eu não
sabia, sinceramente. Deus me pegou completamente inocente, aí
aconteceu tudo isso, a gente foi muito perseguidos, foi perseguido
demais da conta mesmo, mas não tinha como voltar atrás mais, D.
Tomás se o senhor achar que deve parar em obediência ao nosso
pastor, nós iremos para. Não ninguém pode proibir vocês de rezar, eu
não quero que faz outros grupos porque senão... fica só esse grupo
mesmo. Então continua até hoje né o Grupo de Oração, com suas
quedas, suas dificuldades, que não é fácil de jeito nenhum, eu fiquei
mais ou menos 8 anos na frente no Grupo como coordenadora e a Ilza
me ajudando e eu preparando ela para assumir. E ela não queria
assumir de jeito nenhum, até que um dia ela resolveu, ela foi a
Mediugórie, pede a Nossa Senhora, aí eu mandei uma cartinha e pedi
pra convencer ela que ela já tava preparada. Ela aceitou (LEMES,
2000, s/p.).
casamento, então eles acharam melhor passarem para uma outra seita
religiosa. E como a Igreja Católica nunca voltou o passo atrás, ela tá
sempre marcando passo para frente, existe também quem não quis
mudar de religião, mais também não quiseram caminhar também. Eu
vejo a carismática neste sentido, então é uma forma de eles
continuarem da Igreja e continuarem conservadores” (PIRES,
1992, s/p.)61
61
Dona Maria Pires. Entrevista realizada em 18 de setembro de 1992, na residência da entrevistada em
Itapuranga-GO.
62
Dona Maria Marques. Entrevista realizada em 13 de julho de 1992, na residência da entrevistada em
Itapuranga-GO.
169
do que sua irmã revolucionária, cercar-se de uma bancada de políticos, nos vários
níveis, que defendem seus interesses.
Em Itapuranga, desde sua inserção no reordenamento do campo religioso, os
Carismáticos tem conseguido eleger vereadores simpatizantes, quando não convertidos
ao movimento. Essa aproximação entre as esferas da política e da religião, assentadas
nos princípios carismáticos, não é problematizada como interferência como a Teologia
da Libertação foi tão duramente combatida, assim como não é vista como posição de
embate no campo político. O que sobressaem são práticas de intervenção cristã junto
aos políticos, um direcionamento espiritual. Para alguns, no entanto, é, como aponta
Poletto (1994), uma forma de espiritualismo que se refere “às inquietações de final de
milênio”.
o projeto inicial apresentado à comunidade católica num final de missa dizia respeito a
AMPLIAR a Igreja e não a demoli-la, conforme foi encaminhado. Por outro lado,
questionam como as decisões foram centralizadas em torno de um pequeno grupo de
católicos, contrariando, assim, a dinâmica historicamente desenvolvida na Diocese de
Goiás, de se ouvir toda a Igreja e a Igreja toda.
Na argumentação, provocam os condutores ao afirmarem que existe uma
prioridade diocesana com as CEBs, e que as decisões tinham sido tomadas do centro
para a periferia. Apresentamos, a seguir, um longo trecho que constitui fragmentos da
segunda parte do documento, que nos auxilia na compreensão dos dispositivos por nós
procurados. Conforme o documento:
O PROCESSO DE ENCAMINHAMENTO
63
Dom Tomás Balduino Ortiz. Entrevista realizada, pelo autor, em fevereiro de 2003, em Goiânia.
175
Nos diálogos com os mais velhos, percebe-se que não houve grandes
resistências a essa proposta. Um dos grandes argumentos apresentados pelos católicos
para contribuírem com a construção era de que a igreja já não comportava mais as
pessoas para a missa. Em nenhum momento, a possibilidade de se manter aquela igreja
e construir outra foi apresentada pelos Conselheiros. Claro está que essa posição passa
179
pelo ponto estratégico onde se localiza a igreja: no centro, de fácil acesso para todos,
bem como também de uma maior visibilidade na cidade (Ver Planta Urbana em anexo).
A questão dos valores também não foi refutada pelos católicos, ao contrário, houve uma
grande adesão ao projeto de “adquirir” metros quadrados da igreja.
Figura 33 - Capa dos carnês distribuídos entre os católicos que se dispusessem a contribuir com
a construção da nova igreja. s/d
Fonte: Adelair Xavier de Godoi.
Figura 35- Recibo da contribuição para a construção da nova igreja. Observem que a doação
aqui foi do período de 9 de outubro de 2000 até 10 de abril de 2002.
Fonte: COSTA, I. S.
64
- Para maiores detalhes sobre a importância simbólica do dinheiro nas religiões neo-pentecostais,
principalmente na Igreja Universal do reino de Deus, ver BARROS,1995.
182
Figura 36 – Foto dos senhores Gilberto de Brito Lemes (à direita, de calça branca), esposo
da senhora Dulcinéia – RCC; e Lindoir (ao centro), católico da RCC, ex-vereador eleito
com o apoio desta organização religiosa. Ambos eram membros do Conselho Paroquial e
da Comissão de Construção.
Fonte: Acervo da Igreja Cristo Redentor. s/d
é possível emitir nenhum comentário. Esses dados apontam para a existência de nove
igrejas que eram denominadas genericamente de protestantes, não sendo discriminadas
quais eram elas, além da presença da Igreja Católica em todos os bairros pesquisados. O
resultado encontrado remete aos problemas sociais e estruturais resultantes, segundo a
análise do Conselho, do êxodo rural.
Na Ata de 26 de julho de 2002, nos é relatado como estava sendo feita a
organização para a divulgação e participação na Romaria dos Mártires, com cartazes e
camisetas, decisão que seria divulgada na missa. As passagens para a participação no
evento já estavam sendo vendidas, não sendo permitidas reservas. Também somos
informados de que a Diocese sugeria que fossem feitas vigílias nas Paróquias no dia 27
de agosto daquele ano em memória dos 15 anos do atentado ao Padre Francisco.
A Diocese referia-se aos quinze anos do atentado praticado por
latifundiários da região, que havia deixado cego o Padre Francisco Cavazutti, de
Sancrerlândia, município que compõe a Diocese de Goiás. Também, nessa reunião foi
discutido sobre como informar os católicos da Paróquia sobre a ALCA. A decisão
tomada foi a de distribuir panfletos informativos sobre a temática nas missas.
Entre uma e outra reunião paroquial de cunho moderado, encontramos
‘resquícios’ do passado de militância. Claro que eram decisões tomadas em âmbito
diocesano, não havendo nada de particular à Igreja Católica de Itapuranga. Mas estas
não deixaram de serem estimuladoras da ação social, não mais plenamente política da
Igreja de Goiás.
Em abril de 2002, o então governador do Estado de Goiás, Marconi Perillo,
prometeu aos católicos de Itapuranga que o Estado doaria o piso para colocação na
igreja. Porém, por impedimento jurídico, essa doação não foi concretizada até o mês de
outubro daquele ano. Na reunião do Conselho paroquial de 29 de outubro de 2002, o
senhor Lindoir, membro da Comissão de Construção, solicitou que fosse reforçado,
junto aos católicos da Paróquia, que não parassem de pagar os seus carnês, pois aqueles
que terminavam, ‘quitavam’ os seus, não estavam renovando o compromisso com a
construção da igreja. Nessa reunião, é informado que D. Eugênio, bispo da Diocese de
Goiás, havia enviado uma correspondência ao governador sobre a doação dos pisos, mas
que ainda não obtivera resposta. A história da doação do piso se arrastou por um bom
período e acabou por não haver possibilidade de o Estado efetivar a doação.
Houve uma tentativa de se efetivar a doação via Secretaria de Cultura do
Estado, mas esta não foi frutífera. Em sete de fevereiro de 2004, conforme a Ata de
184
número 41, página 63, foi informado que a verba solicitada ao governo do estado não
sairia, pois a Igreja não possuía serviço social oficial. A Diocese não tinha como
repassar tal verba, por isso ela havia sido destinada à Associação COMARIA –RCC,
que possuía trabalho social com crianças carentes. O valor foi de R$40.000,00. Não há
informações na Ata sobre a destinação desse recurso.
Esse caso é emblemático das novas relações entre a Paróquia e o poder
constituído, assim como a presença do maquinário da prefeitura – ao que tudo indica,
pela Figura 32, trabalhando na preparação do terreno para a construção da nova igreja e
do prefeito Tito Coelho Cardoso, ao lado de alguns dos novos líderes da Igreja de
Itapuranga.
Quase concluindo o período que nos interessa nas Atas do Conselho
Paroquial de Itapuranga, somos surpreendidos com o comentário de uma participante
deste, Irmã Mirta, que, após ouvir questionamento apresentado por Isabel sobre a
possibilidade de se ouvir mais pessoas quanto à necessidade do Conselho de assumir
uma dívida enorme para concluir algumas etapas da igreja, lembra que, se a Igreja fez
opção pelos pobres, seria melhor escolher um material mais barato. Os demais que se
manifestaram sobre o assunto apenas cogitaram trocar o material usado. Também foi
proposto que se iniciasse outra campanha para arrecadar dinheiro após a campanha dos
bancos da igreja.
Em nove de julho de 2006, às 9 horas da manhã, a Igreja Cristo Redentor foi
consagrada. Em seguida, foi servido um lanche, ‘fruto da partilha de todos’. Como disse
Dona Zuza, em entrevista ao autor, pode ser que tudo isso tenha um sentido: ‘Aos Olhos
de Deus.’
185
Figura 38- Frente da entrada da Igreja Cristo Redentor. À esq. Dona Zuza, vestida de branco.
2006.
Fonte: Acervo da Igreja Cristo Redentor.
186
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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385 p.
LISTA DE ENTREVISTADOS
CAMPOS, Dorvalino José. Pequeno proprietário rural, foi presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Itapuranga, foi candidato a vereador pelo PT nos anos de 1982,
1992 e a vice prefeito pelo mesmo partido em 1988. Entrevista realizada na sede do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itapuranga, em Itapuranga, em 22 de julho de
1995.
Dona Zuza - Aposentada, foi uma das leigas com grande atuação nos Grupos de
Evangelho. Entrevista realizada em sua residência em Itapuranga em julho de 1992.
FERREIRA, Ilza. Advogada, foi responsável por ampliar e divulgar a RCC na Paróquia
de Itapuranga. Entrevista realizada em sua residência em Itapuranga, em
novembro/dezembro de 1995.
GUEDES, José Pereira. Alfaiate, foi candidato a vereador pelo PT nos pleitos de 1982 e
1988. Entrevista realizada em sua residência em Itapuranga em Janeiro de 1993.
LEMES, José. Pequeno proprietário rural, foi um dos articuladores dos Grupos de
Evangelho da região do Laranjal. Entrevista realizada em sua propriedade rural em 11
de fevereiro de 1996.
ANEXOS
206
Figura 1 - Encontro da Av. Anhanguera com o final da Rua 45. Local do Córrego da 'baixada’.
A Avenida Anhanguera prossegue até a saída para a Cidade de Goiás, no ‘Quebra-Coco’. Ao
fundo, do lado esquerdo, avista-se a ponta da torre da Igreja Cristo Redentor.
Autor: COSTA, I. S. (2010)
Figura 2– Rua 45: localização do Córrego da Baixada, hoje canalizado – à direita corrimão da
antiga ponte. Acima, à esquerda aparece o final da Praça das Mães.
Autor: COSTA, I. S. (2010)
209
Figura 3 - Prédio do antigo Cine Continental, Rua 34 esq. com Av. Dr. Olavo Bilac Marinho.
Onde funcionou a Câmara dos Vereadores.
Autor: COSTA, I. S. (2010)
Figura 4 - Vista parcial da Pç. Dr. Cunha Lima, Rua 34- Xixazão.
Autor: COSTA, I. S. (2010)
210
Figura 6 - Prédio onde funcionava a pensão de Maria Camilo do Nascimento. Construído nos
anos de 1950. Esq. da Rua 45 c/ Rua 36 – Xixazão.
Autor: COSTA, I. S. (2010)
211
Figura 7 - Praça das Mães : vista numa perspectiva de quem está subindo para o Xixazinho. O
encontro das três passarelas forma a letra W de Warner, a época prefeito da cidade.
Autor: COSTA, I. S. (2010)
Figura 10 - Oficio enviado ao Presidente do PT local negando pedido de uso da Pç. Castello
Branco (Cap. 02)
Fonte: Documentos da Prefeitura Municipal de Itapuranga
215
Figura 11- Liberação de empréstimo da Pc. Castello Branco para o P.T. (Cap.2)
Fonte: Documentos da Prefeitura Municipal de Itapuranga