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Graça
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A Justificação pela fé
através de Jesus Cristo
F. Tales
Massei

3ª Edição Agosto de 2023

A
Editora
Império Cristão
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Impressão e acabamento: Gráfica EIC / Jundiaí-SP

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(Câmara Brasileira do Livro, SP Brasil)

M394l Massei, Felipe Tales


Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Jesus Cristo/ Felipe
Tales Massei. – Jundiaí- SP: Editora Império Cristão,
3ª Edição, Agosto de 2023.
153 p.; Tamanho: 14 x 21 cm.
Bibliografia, pag, 147- 151
ISBN: 979-83-748-1168-1 CDU:2- 24 | CDD: 234-1

A
Índice para catálogo Sistemático
1. Bíblia.
2. Cristianismo.
Editora 3. Teologia Prática.
Império Cristão I. Título
Editora Império Cristão LTDA
CNPJ: 49.153.076/0001-46
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Contatos: (11) 91184-5727 – (11) 94202-1709
CEP: 13212-562 – Jundiaí-SP

o
e
di
to
Dedicatória

Dedico com todo carinho este livro a todos os meus


amigos pecadores e necessitados da graça de Deus. Com
muita alegria eu dedico também a todos os ministros de uma
nova aliança, pois este trabalho e árduo e por isso precisamos
de ferramentas para expor com clareza o poder da graça de
Cristo. Bem sabemos que vivemos em tempos aonde a graça
de Deus é entendida como uma deixa para continuar no
pecado, aqui eu coloco a realidade da graça poderosa e sua
suficiência em paralelo com a lei, para compreendermos a
verdade sobre o amor de Deus. E em especial dedico a minha
Mãe a meu Pai e toda a minha família, irmãos primos e a
minha querida e amada Avó Lucia L. Massei, por ter me
criado em boa parte da minha vida e pelas orações nas
madrugadas para que eu fosse cuidado por Deus, com muito
amor dedico aos meus Tios Ricardo, Paulo e Silmara, sei que
precisam da graça de Deus, e que este livro pode fazê-los
entender o grande amor misericórdia e magnitude do Todo-
Poderoso.
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado a
oportunidade de preparar toda esta obra, pelo apoio que me foi
dado em meio as grandes dificuldades que enfrentei para conseguir
concluir com êxito este trabalho. Obrigado meu Senhor!

Agradeço também minha digníssima e preciosa esposa, que


acreditou nesse trabalho, me incentivando e me impulsionando a
não desistir e pelo excelente trabalho prestado em nome da Editora
Império Cristão, na correção ortográfica deste livro.

“Toda a glória seja dada a Deus, quero dizer que mérito


nenhum eu tenho nesse trabalho, pois se não fosse nosso Senhor
Jesus Cristo por intermédio do Espírito Santo me auxiliando nada
teria feito, pois sem ele nada poderíamos fazer (cf. Jo 15:5)”

(Autor)

Felipe Tales Massei


Apresentação

É com muito carinho e responsabilidade que apresentamos


este material de estudos teológico-sistemático, da doutrina da
graça em paralelo com a lei “Torá”. Este livro tem o seguinte
objetivo:

Alcançar os pecadores, ensinar os ministros do Evangelho de


Cristo a respeito do verdadeiro sentido e significado da graça de
Deus, o intuito desse trabalho no meio teológico moderno é
exatamente desestruturar todos os argumentos falsos a respeito da
graça do poder e suficiência da obra sacrificial e regeneradora que
Cristo fez por nós. É de saber de todos nós que não precisamos de
novos conceitos, novos métodos de crescimento para a Igreja de
Deus, pois somente Ele dá o devido crescimento e este
crescimento só acontece quando pregamos com poder o
evangelho da graça, a raiz de todas as conversões é o
arrependimento gerado pelo Espirito Santo por meio das
Escrituras Sagradas. Portanto, preguemos um evangelho sério,
falemos, pois, de Deus como na presença de Deus.
Índice

INTRODUÇÃO

Quem foi Moisés na Bíblia?.................................................12

Deus convoca Moisés...........................................................14

Capítulo – 1 A LEI

A função da Lei.....................................................................26

A derpetuidade da Lei...........................................................31

A Lei antes do Sinai..............................................................32

A distinção das Leis..............................................................40

As diferenças entre as Leis....................................................40

613 Mandamentos.................................................................51

Capitulo – 2 A GRAÇA

Os meios da Graça................................................................56

Quais os meios particulares da Graça?.................................58

Quais são os meios públicos da Graça?................................62

Propriedades da Graça..........................................................67

A Graça eficaz.......................................................................77

A Graça irresistível...............................................................86
A Graça suficiente.................................................................89

A Graça comum..................................................................100

A Graça especial.................................................................114

A demonstração da Graça de Deus.....................................115

Capitulo – 3 A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ


A justificação pela fé em Cristo..........................................122

Graça: Fonte da
justificação........................................................ .133 A obra de
Cristo: O fundamento da justificação..................................135

A Fé: O meio da justificação...............................................138

Conclusão............................................................................140

Aplicação............................................................................141
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................143
Introdução
INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

Moisés foi o homem escolhido por Deus para liderar o povo


de Israel em sua libertação da escravidão no Egito. A história de
Moisés na Bíblia está registrada entre os livros de Êxodo e
Deuteronômio. Moisés é considerado o principal personagem
bíblico do Antigo Testamento. Ele foi o legislador por meio do
qual Deus constituiu os hebreus como nação, e os conduziu até os
limites da Terra Prometida. Moisés é reconhecido como o autor
dos cinco primeiros livros da Bíblia.

QUEM FOI MOISÉS NA BÍBLIA?

Moisés era descendente da tribo de Levi. Alguns estudiosos


defendem que ele era filho de Joquebede e Anrão. Outros
acreditam que ele foi apenas um descendente desse casal, ou seja,
um filho da casa de Anrão. De qualquer forma, o nome dos pais
de Moisés não aparece no texto bíblico que descreve a história de
seu nascimento e infância (Êxodo 2; 6:20; Números 26:59). O
significado do nome “Moisés” é incerto, pois não se sabe com
exatidão sua origem. Alguns acreditam que esse nome seja de
origem semita, no hebraico Mosheh, que significa “tirado para
fora” (cf. Êxodo 2:10). Outros entendem que esse nome seja de
origem egípcia, talvez derivado de Mose, que significa “é
nascido”. Toda essa discussão acontece porque também não se
sabe ao certo quem deu esse nome ao menino. Provavelmente foi

11
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

a princesa egípcia quem lhe deu o nome de Moisés. Porém existe


alguma possibilidade de sua própria mãe, que serviu como sua
ama, ter lhe dado esse nome (Êxodo 2:10).

O Nascimento e a vida de Moisés no Egito

A história do nascimento de Moisés é bastante conhecida.


Quando ele nasceu no Egito, havia uma ordem de Faraó de que
todo menino hebreu fosse lançado no rio. Todavia, seus pais
desafiaram esse decreto e esconderam o menino. Mais tarde, eles
o colocaram no rio dentro de um cesto de junco vedado com piche
(Êxodo 2:3). Quando a filha de Faraó foi ao rio se banhar, viu o
cesto que flutuava e se afeiçoou ao menino. A irmã de Moisés que
vigiava o cesto, muito provavelmente Miriã, viu quando a
princesa o pegou. Então rapidamente ela se ofereceu para arrumar
alguém que pudesse criá-lo como ama. Nesse caso, a mulher
escolhida foi sua própria mãe biológica. Quando o menino
alcançou certa idade, ele foi levado à filha de Faraó, e passou a
viver na corte egípcia. Não se sabe muita coisa sobre como foi a
vida de Moisés no Egito. Tudo o que se sabe é que ele foi
“instruído em toda a ciência dos egípcios” (Atos 7:22). Quando já
era um homem adulto, Moisés demonstrou se importar com seu
povo de origem. Ao defender um hebreu que estava sendo
espancado, ele acabou matando o agressor egípcio. Moisés
pensou que ninguém havia visto o que ele fez, mas no outro dia,

12
INTRODUÇÃO

ao tentar intervir na discussão entre dois hebreus, um deles lhe


acusou de assassinato (Êxodo 2:11-14).

Moisés foge para Midiã e se casa

Quando Faraó soube o que Moisés havia feito, procurou


matá-lo. No entanto Moisés fugiu em direção ao deserto do Sinai,
e se estabeleceu em Midiã. Foi em Midiã que ele ajudou e
protegeu as filhas de Reueu, também chamado de Jetro. Moisés
acabou se casando com uma das filhas desse homem, Zípora.
Com ela Moisés teve dois filhos: Gérson e Eliezer (Êxodo 2:22;
18:4). Ele também passou a cuidar do rebanho de seu sogro nas
proximidades de Horebe, na península do Sinai.

DEUS CONVOCA MOISÉS

Foi enquanto estava sendo pastor de ovelhas que Deus se


revelou a Moisés e o convocou para liderar o povo de Israel em
sua libertação do Egito. Ele estava cuidando do rebanho no
deserto quando viu uma sarça ardente. Sarça ardente era um
arbusto que queimava, mas não se consumia pelo fogo, o qual
Moisés contemplou na ocasião de sua chamada por Deus para que
ele liderasse o povo de Israel em sua libertação da escravidão no
Egito.

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Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

O que é uma sarça?

A palavra “sarça” traduz o termo hebraico seneh, uma


palavra que aparece apenas duas vezes na Bíblia, ambas
referindo-se ao episódio da convocação de Moisés (Êxodo 3:2-4;
Deuteronômio 33:16). Não é possível saber exatamente que tipo
de arbusto a sarça ardente era. Considerando a região em que
ocorreu esse evento, e o significado da raiz a qual a palavra
hebraica deriva, “espetar”, acredita-se que provavelmente a sarça
era um arbusto espinhoso, talvez da família das acácias.

Moisés e a sarça ardente

A história de Moisés diante da sarça ardente está registrada


no capítulo 3 do livro de Êxodo. Segundo a narrativa bíblica,
Moisés estava apascentando o rebanho de seu sogro, quando o
levou para o lado ocidental do deserto, chegando ao Monte
Horebe. Esse Monte é identificado na Bíblia como “o monte de
Deus”, o mesmo que também aparece em outros textos como
Sinai. Alguns estudiosos defendem que Horebe era o nome que
também designava toda a cadeia de montanhas, enquanto que
Sinai identificava uma montanha específica. A Bíblia diz que em
dado momento o Anjo do Senhor apareceu a Moisés numa chama
de fogo no meio de uma sarça. Quando Moisés olhou para sarça,
ele percebeu que ela ardia, mas não se consumia. Aquele fato

14
INTRODUÇÃO

curioso chamou a sua atenção, e ele foi em direção à sarça para


averiguar por que ela não se queimava.

Deus se revela a Moisés na sarça ardente

Quando Moisés se aproximou para poder contemplar mais de


perto a sarça ardente, Deus, do meio da sarça, o chamou pelo
nome e lhe ordenou que tirasse as sandálias dos pés porque o
lugar em que ele estava era santo (Êxodo 3:5). Então Ele se
revelou a Moisés como sendo o Deus de seus antepassados, o
Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Ao ouvir tais palavras,
Moisés compreendeu que se tratava de uma auto revelação do
próprio Deus, e escondeu o rosto, pois temeu olhar para Deus.
Algumas pessoas ficam em dúvida sobre a expressão utilizada em
Êxodo 3:2 que indica que “o Anjo do Senhor” foi quem apareceu
no meio da sarça ardente. A questão é que essa expressão no
Antigo Testamento muitas vezes significa uma manifestação
especial do próprio Deus, ou seja, uma manifestação visível da
Divindade chamada na teologia de Teofania. Assim, os estudiosos
geralmente concordam que se trata de uma aparição do Filho, a
Segunda Pessoa da Trindade, que revela o Deus invisível (João
1:18). Na sequência, Deus falou com Moisés dizendo que estava
atento a aflição do povo de Israel sob a opressão dos egípcios, e
lhe anunciou que iria libertá-lo e conduzi-lo à Terra Prometida, e
que Moisés havia sido escolhido para liderar aquele povo (Êxodo
3:5-10).

15
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

O significado da sarça ardente

Muitos significados são dados para a sarça ardente por


diferentes intérpretes. Alguns entendem que a sarça ardente seja
uma referência ao povo de Israel, um povo perseguido, mas não
consumido. Sobre isto, D. L. Moody escreve que “assim como a
nação de Israel não foi consumida na fornalha da aflição, assim a
sarça ardia e não se consumia, pois Deus estava lá”. Outros
entendem que a sarça ardente era uma figura do que Deus havia
planejado para o próprio Moisés. W. W. Wiersbe diz que “Deus
pode tomar um arbusto insignificante, fazê-lo arder e transformá-
lo num milagre; e era exatamente isso o que desejava fazer com
Moisés”, ou seja, Moisés era um frágil arbusto, mas Deus era o
fogo que lhe daria poder. M. Henry também observa que “o fogo
não estava em um cedro alto e majestoso, mas em um arbusto
com espinhos”, no sentido de mostrar que Deus escolhe os fracos
e despreza as coisas altivas do mundo, assim como Moisés, que
naquele momento era apenas um simples idoso fracassado, um
pastor de ovelhas no deserto. No entanto, quando falamos sobre o
significado da sarça ardente, devemos destacar algumas verdades
fundamentais: O fogo é frequentemente utilizado nas Escrituras
como símbolo para a presença de Deus, especialmente com
relação a sua santidade consumidora, isto é, a pureza de sua
santidade e sua ira em relação ao pecado como escreveu o autor
de Hebreus (Hebreus 12:29; Gênesis 3:24; Êxodo 13:21; 19:18; 1
Reis 18:24,38). Mais tarde, no próprio livro de Êxodo lemos que
16
INTRODUÇÃO

o Senhor desceu sobre o Sinai em fogo, de modo que todo o


monte fumegava (Êxodo 19:18). A sarça era um simples arbusto
natural e espinhoso, mas que foi iluminado com uma chama
sobrenatural. Alguns intérpretes sugerem que Moisés teve uma
visão, enquanto outros defendem que a luz do sol poente sobre a
sarça produziu o efeito semelhante ao fogo. Todavia, tudo no
texto indica um arbusto físico queimando de forma miraculosa. A
sarça ardente foi acesa sem nenhuma ação humana, e permanecia
acesa sem que fosse consumida, ou seja, algo cientificamente
impossível, um verdadeiro milagre. Embora alguns apresentam
várias falácias a respeito do assunto, devemos crer que o
acontecimento foi algo elaborado por Deus e para Deus. A
revelação de Deus ali não estava limitada apenas a sarça que
queimava sem ser consumida, mas especialmente em sua Palavra
declarando a Moisés que Ele é o Deus santo e vivo, o Todo-
Poderoso que tudo vê, cujo nome é: “Eu Sou o que Sou” (Êxodo
3:14). Portanto, o significado da sarça ardente aponta diretamente
para a autossuficiência de Deus, ou seja, o arbusto não era
consumido porque o fogo que estava ali não necessitava de
combustível para queimar, isto é, a chama que estava sobre a
sarça é viva por si mesma, um símbolo da santidade inacessível
de Deus. Alguns estudiosos também enfatizam o fato de que ao
mesmo tempo em que a sarça ardente aponta para a
autossuficiência de Deus, ela também revela a sua graça
soberana, que mesmo sendo onipotente, perfeito e pleno em Si

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Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

mesmo, Ele voluntariamente escolhe utilizar instrumentos na


execução de seus propósitos eternos. Assim, na simples sarça que
foi alvo da ação Divina é possível entender que Deus é Aquele
que garante sua presença habitando em seu povo. Através daquele
evento miraculoso, Moisés conheceu o Deus santo e vivo. Ele
mostrou-se um tanto quanto relutante a retornar ao Egito. Porém
ele recebeu de Deus a garantia de sua presença como sinal de que
ele havia sido enviado pelo Todo-Poderoso, cujo nome é: “Eu sou
o que Sou” (Êxodo 3:13-15). Moisés também alegou não ser
eloquente ao falar. Por isso Deus permitiu que Arão, seu irmão,
servisse como seu porta-voz, declarando a mensagem dada pelo
Senhor a ele (Êxodo 4:14-16).

Moisés volta ao Egito

Depois de ter passado quarenta anos cuidando de ovelhas no


deserto, Moisés retornou ao Egito para confrontar Faraó e pedir a
liberação do povo hebreu. Naquela ocasião ele já estava com
oitenta anos de idade. Faraó se opôs ao seu pedido e desprezou o
Deus de Israel. Tudo aconteceu conforme o plano soberano de
Deus. Muitos anos antes, o Senhor havia prometido ao patriarca
Abraão que julgaria a nação que haveria de dominar e oprimir o
seu povo (Gênesis 15:13,14). Deus então demonstrou, através de
Moisés e Arão, sinais de seu poder, tanto aos egípcios quando os
hebreus. Deus enviou uma série de dez pragas que significavam o

18
INTRODUÇÃO

juízo divino sendo derramado sobre a nação do Egito, seu rei e


seus deuses.

Moisés lidera o povo de Israel

Após o envio das consecutivas pragas que apontavam para o


poder do Deus de Israel, Faraó deixou que os israelitas saíssem do
Egito. No entanto, antes da última praga que consistiu na morte
dos primogênitos do Egito, Deus deu instruções a Moisés para
instituir a celebração da Páscoa (Êxodo 12:27). Após a saída do
povo de Israel do Egito, Faraó ainda tentou persegui-lo.
Provavelmente ele acreditou que os israelitas ficariam
encurralados pelo mar. No entanto, Deus abriu as águas do Mar
Vermelho para o povo de Israel passar, e depois as fechou sobre o
exército de Faraó. Depois disso, o povo partiu em direção ao
Sinai, sendo alimentado pelo maná que Deus enviava do céu. Foi
ali no Sinai que Moisés recebeu de Deus a Lei (Êxodo 20-23). Ele
ficou durante quarenta dias e quarenta noites no Monte Sinai a
fim de receber as tábuas de pedra contendo os dez mandamentos
(Êxodo 24:12-18). Deus também instruiu Moisés sobre como
proceder na fabricação de um santuário móvel. Este serviria de
local apropriado para a adoração a Deus. Deus também lhe falou
sobre à instituição do sacerdócio na casa de Arão (Êxodo 25-32).
Em decorrência da incredulidade e rebeldia dos israelitas, a
peregrinação pelo deserto se estendeu por quarenta anos. O

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Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

resultado foi que a primeira geração que havia saído do Egito,


morreu antes de entrar na Terra Prometida (Números 14:20-35).

A morte de Moisés

Enquanto liderou o povo de Israel, Moisés enfrentou várias


oposições. O povo era ingrato, e diversas vezes questionou sua
autoridade (Números 16). Moisés conduziu o povo até às
fronteiras da Terra Prometida, e inclusive enviou espias para
investigar a terra. No entanto, Moisés não foi autorizado a entrar
nela. Ele e Arão pecaram contra Deus no episódio em que feriram
uma rocha. Deus lhe havia ordenado que ele falasse com rocha
para que ela desse água ao povo de Israel. Mas ele falou com ira,
agiu com arrogância tomando para si o lugar e a honra de Deus e
ainda agiu com violência batendo na rocha (Êxodo 20:9-11).
Depois, Moisés orou a Deus e lamentou profundamente o castigo
de não poder entrar na Terra Prometida (Deuteronômio 3:24-27).
Na véspera do fim de seu ministério e de sua própria vida, Moisés
arrumou sua casa e se despediu do povo de Israel. Josué ficou
como seu sucessor diante do povo, e entrou com Israel em Canaã.
Na ocasião de sua morte, ele subiu no Monte Nebo e pôde
contemplar de longe a terra que o Senhor havia preparado ao povo
de Israel. Com 120 anos, Moisés morreu e foi sepultado pelo
Senhor no vale da terra de Moabe. O lugar de sua sepultura não
foi conhecido (Deuteronômio 34).

20
INTRODUÇÃO

A importância de Moisés na História

Enquanto esteve liderando o povo de Israel durante quarenta


anos no deserto, Moisés escreveu suas obras literárias. Ele foi o
principal autor do Pentateuco, ou seja, os cinco primeiros livros
do Antigo Testamento, também chamados de Torá (Gênesis,
Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). Além de ter escrito
os livros da Lei, Moisés também escreveu pelo menos um dos
salmos, o Salmo 90. Por ter sido um dos homens escolhidos por
Deus para escrever as Escrituras, Moisés também foi um profeta
que revelou e registrou as palavras de Deus ao povo sob a direção
do Espírito Santo. O escritor de Hebreus destaca a fé de Moisés
ao rejeitar ser chamado de filho da filha de Faraó (Hebreus
11:24). Ele também estabelece uma comparação entre Moisés e
Cristo, mostrando que Moisés foi uma figura de Cristo como
mediador da Antiga Aliança. Essa Antiga Aliança apontava
diretamente para o próprio Cristo, no qual encontra seu perfeito
cumprimento (Hebreus 3). Moisés foi um homem de caráter e fiel
a Deus, preocupado com a honra do nome do Senhor (cf.
Números 14:13). Ele ocupou uma posição muito elevada no plano
divino do Antigo Testamento. A fama de Moisés como o grande
homem escolhido por Deus se estendeu desde os tempos de Josué
até os tempos do Novo Testamento (Josué 8:31; 1 Reis 2:3; 2 Reis
14:6; Esdras 6:18; Marcos 12:26; Lucas 2:22; João 7:23; 2
Coríntios 3:15). Também quando se fala sobre a história de

21
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

Moisés, sempre deve ser lembrado que ele e o profeta Elias


apareceram ao lado de Jesus no episódio da transfiguração. Ele foi
o grande legislador de Israel, e Elias o grande profeta da nação.
Naquela ocasião eles falaram da morte iminente de Jesus,
apontando para o fato de que a Lei e os Profetas testificaram de
Cristo. Agora que estamos com a história cravada em nossa
mente, partiremos a seguir para o fato mais marcante no
judaísmo, e o mais importante na história literária do antigo
testamento, em termos de doutrinas. O objetivo daqui por diante é
lhe mostrar o quanto foi útil, e indispensável os tratados da Lei
para o povo de Israel.

22
Capitulo – 1 A LEI

Capitulo – 1
CAPÍTULO – 1
A LLEI

A LEI
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

A FUNÇÃO DA LEI

Romanos 2:12-13 Todo aquele que pecar sem a Lei, sem a


Lei também perecerá, e todo aquele que pecar sob a Lei, pela Lei
será julgado. Porque não são os que ouvem a Lei que são justos
aos olhos de Deus; mas os que obedecem à Lei, estes serão
declarados justos.

De maneira geral, lei é uma norma ou regra estabelecida com


autoridade e tornada obrigatória para a manutenção da ordem em
uma comunidade. No texto em questão, "a Lei", refere-se àquela
dada por Deus ao povo de Israel, através de Moisés, quando
estavam acampados em frente o monte Sinai, após saírem do
Egito. Através dela Deus iniciou um processo de tornar-se
conhecido ao povo revelando Sua vontade em diversas áreas da
vida pessoal, social e espiritual. Por isso, obedecer a Lei, no
Antigo Testamento, significava fazer a vontade de Deus

Por que Deus deu a Lei?

A intenção original de Deus não era a lei, mas a graça, que


nos foi dada desde os tempos eternos (2 Tm 1:9), antes da criação
do mundo, para que por meio dela tivéssemos vida e fossemos
santos e irrepreensível diante Dele (Ef 1:4). Por que então existe a
lei e qual o seu propósito? Gálatas 3:19 Qual era então o
propósito da Lei? Foi acrescentada por causa das transgressões,
até que viesse o descendente a quem se referia a promessa, e foi

26
Capítulo – 1 | A LEI
promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador. Após o
pecado de Adão a humanidade ficou arruinada e alguns séculos
depois os homens viveram sobre a terra apartados de Deus. Ele
não interviu e deixou que seguissem seu próprio caminho. Sua
maldade era tanta que Deus decidiu extermina-los da face da terra
(Gn 6:5-7). Se não fosse por Noé, um homem que andava com
Deus, a raça humana terminaria ali. O amor de Deus falou mais
alto, e Ele resolveu poupá-lo da destruição que viria sobre a terra
com o dilúvio. Toda a humanidade foi destruída exceto ele os de
sua família. Porém, eles também traziam em sua natureza a
semente do pecado e como a terra foi repovoada a partir deles, a
raiz do problema não foi removida e perdura até os dias de hoje.
Deus sabia que era impossível para o homem livra-se do pecado.
Por isso Ele tinha um plano eterno, e começou então a desvendá-
lo para resgatar a humanidade. Escolheu um homem chamado
Abrão, habitante da cidade de Ur dos caldeus, separou-o para Si,
o abençoou e prometeu que através dele, seriam abençoadas todas
as famílias da terra. Deus começou a revelar-se a ele mais e mais
intensamente e também lhe deu um filho, Isaque, que foi pai de
Jacó, também chamado Israel e dessa família formou uma nação,
a fim de cumprir sua promessa (Gn 12:1-3). Eles trariam ao
mundo Seu filho, por meio do qual revelaria Sua graça. Ele
conservou seu povo no Egito por mais de 400 anos, para que se
tornassem fortes e numerosos (Gn 45:5-7, Ex 1:7). Depois, tirou-
os dela com grande poder (Ex 14:21-22) para leva-los à terra de
Canaã, que prometera a Abraão (Ex 6:2-5). Enquanto
27
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

caminhavam pelo deserto, rumo à terra prometida, chegaram ao


monte Sinai (Ex 19:1-6) e Deus, através de Moisés, firmou uma
aliança com o povo entregando-lhes diversas leis que deveriam
regulamentar seu relacionamento com Ele e entre si. Estas leis
estão registradas nos livros de Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio e são conhecidas com a "lei de Moises" ou a "lei
de Deus", da qual fazem parte os "Dez Mandamentos". Na lei
havia mandamentos morais, cerimoniais e civis. A lei moral
estabelecia um padrão de conduta que mostrava como o homem
deveria agir em suas relações interpessoais e com Deus. A lei
cerimonial era constituída de um conjunto de normas e
regulamentos para o culto a Deus, adoração, perdão dos pecados e
gratidão. As leis civis, serviam para estabelecer um padrão para o
povo em relação as heranças, todos os tipos de posses “bens
materiais”. Esse não era o plano original de Deus. A lei foi
"acrescentada por causa das transgressões". Deus criou o homem
bom e sem pecado, mas após a queda, ele passou a ter um
comportamento indecente diante de Deus. Seus pensamentos, atos
e atitudes se tornaram ofensas. Porém, ele não tinha conhecimento
de que muitas de suas práticas rotineiras eram verdadeiros
insultos a santidade de Deus. Por esse motivo, Deus deu a lei:
para que o homem se tornasse consciente de suas ofensas (Rm
5:20). Após ser acrescentada a lei, uma ofensa passou a ser uma
transgressão. Antes da lei Deus tolerou muitos pecados (Rm
4:15), mas depois dela, eles se tornaram transgressões da lei. A

28
Capítulo – 1 | A LEI
transgressão é o pecado concretizado, a quebra do mandamento, a
violação da lei. É a evidencia da rebelião interior. A palavra
hebraica mais comumente traduzida por "transgressão" no Antigo
Testamento significa "revolta", "rebelião". É a lei que faz
aparecer a rebelião na forma de transgressão. A transgressão
ocorre quando somos atraídos pelos desejos pecaminosos do
nosso coração e cedemos a eles (Tg 1:14-15). O que nos informa
que o ato em questão foi uma transgressão é a lei. Ela diz: "isso é
errado" ou "não faça tal coisa", porém, eu sou atraído por meu
coração pecador e sendo seduzido, acabo pecando. Olho
novamente para a lei e ela confirma que o que fiz está errado.
Assim, pela lei, fico sabendo que pequei. Deus sempre soube da
condição do coração humano, mas o próprio homem não conhece
sua condição de pecador. Ele pensa que suas más obras são
perfeitamente normais e não reconhece que elas ofendem ao
Senhor. Sua consciência está cauterizada, não o acusa quando
comete um pecado. O que Deus sabe também precisa ser
manifesto ao homem, para que este tenha consciência que é
pecador. Romanos 3:20, “Portanto, ninguém será declarado justo
diante dele baseando-se na obediência à Lei, pois é mediante a
Lei que nos tornamos plenamente conscientes do pecado”. O
pecado é revelado pela lei e não a verdadeira justiça de Deus.
Quando a Lei diz "não mentirás", afirma que mentir é pecado,
assim, a pessoa que mentir se torna consciente que pecou. Por isso
ela não pode tornar alguém justo, mas sim consciente de que é
pecador. A consciência do pecado traz à pessoa sentimento de
29
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

culpa e condenação, dos quais não consegue se livrar sozinho. Ela


percebe então que precisa de salvação, perdão, justificação e
libertação. Gálatas 3:23-24 Antes que viesse essa fé, estávamos
sob a custódia da Lei, nela encerrados, até que a fé que haveria de
vir fosse revelada. Assim, a Lei foi o nosso tutor até Cristo, para
que fôssemos justificados pela fé. A intenção original de Deus
era a graça, mas a lei foi dada para tornar o homem consciente do
pecado, preparando-o para que pudesse ser salvo pela graça. Foi o
Senhor Jesus quem manifestou a graça de Deus aos homens. Nele,
a lei cumpre seu principal propósito: ela aprisiona todos debaixo
de si e os leva a Cristo para serem libertos e salvos pela graça,
mediante a fé. Por isso o texto diz que a lei foi o nosso tutor até
Cristo. Se, porém, uma pessoa não reconhece em Cristo a justiça
que pela fé, a lei não cumpre nela o seu propósito; ela permanece
aprisionada a lei e não tem acesso à graça. Muitos segmentos
religiosos argumentam que a Lei não existia antes do tempo de
Moisés. Esta objeção é muito sutil, cuja natureza real pode não ser
compreendida prontamente. Muitos desatentos cristãos entendem
que, visto como estamos vivendo depois do tempo de Moisés, a
Lei aplica-se a nós, e que a nós não importa quando ela foi dada.
O argumento é capcioso, pois, se homens de Deus como Enoque e
Abraão não necessitaram observar a Lei de Deus, por que os
cristãos de hoje necessitariam observá-la? Assim, como têm
surgido outros argumentos que se associam a este, precisamos dar
especial atenção, provando através as Escrituras Sagradas que a

30
Capítulo – 1 | A LEI
Lei realmente existiu antes de ser escrita pelo próprio dedo de
Deus no monte Sinai. A lei que nós estaremos abordando a seguir
tem a ver com questões morais. Ela não se limita a raças, tribos,
nações e línguas. Trata-se de uma lei de abrangência universal e
de cumprimento por toda a eternidade, diferentemente das outras
leis dadas por Deus, como as leis civis, cerimoniais, etc.
Evidentemente estaremos tratando da Lei dos Dez Mandamentos.
Ela foi a única escrita pelo próprio dedo de Deus em duas tábuas
de pedra (Êxodo 31:18 e Deuteronômio 5:22) e foi a única Lei
colocada dentro da arca (Deuteronômio 10:5). Por esta razão ela
tem um significado muito especial.

A PERPETUIDADE DA LEI

Nos tempos eternos, antes de ser criado nosso mundo, Deus


estava em perfeita conformidade com a Lei da vida, por Ele
estabelecida. Essa Lei define Sua maneira de ser e a dos seres
perfeitos criados por Ele. Ela tem a ver com questões morais. Os
Dez Mandamentos revelam o padrão de Seu caráter. A Bíblia
ensina que o caráter de Deus não muda: “Pois Eu, o Senhor, não
mudo”. (Mq 3:6). “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do
alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem
sombra de variação.” “Tg 1:17). O fato de Deus ter gravado a Lei
dos Dez Mandamentos em tábuas de pedra, o intuito era dar-nos a
certeza de que ela é eterna. A respeito da perpetuidade da Lei, o
salmista declara o seguinte: “As obras das Suas mãos são verdade

31
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

e justiça; fiéis são todos os Seus preceitos; firmados estão para


todo o sempre; são feitos em verdade e retidão.” Salmos 111:7-8.

A LEI ANTES DO SINAI

A Lei existiu muito antes ao ter sido dada por Deus a Israel
no monte Sinai. Se assim não fosse, não teria existido pecado
antes do Sinai, uma vez que “o pecado é a transgressão da lei” I
João 3:4. Há uma outra passagem bíblica reveladora: “Quem
comete o pecado é do diabo; porque o diabo peca desde o
princípio.” I João 3:8. O fato de Lúcifer e seus anjos terem
pecado, revela que a Lei se achava presente mesmo antes da
criação deste mundo: “Porque, se Deus não poupou a anjos
quando pecaram, ...” II Pedro 2:4. Lemos também nas Escrituras
Sagradas que Satanás “é homicida desde o princípio e nunca se
firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele
profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso e
pai da mentira.” João 8:44. Conforme os relatos bíblicos acima,
destacamos o seguinte:

a) O diabo e seus anjos pecaram;

b) Satanás é homicida desde o princípio;

c) Satanás profere mentira e é o pai da mentira.

Estas afirmações revelam que Satanás cometeu pecado ao


praticar o homicídio e ao falar mentiras. A verdade é que desde o
princípio havia uma Lei divina contra o homicídio e a mentira,

32
Capítulo – 1 | A LEI
senão, como explicar as palavras do apóstolo Paulo? “Onde não
há lei, também não há transgressão.” (Romanos 4:15). Quando
Deus criou Adão e Eva à Sua imagem, implantou na mente deles
os princípios morais de Sua Lei, fazendo com que para eles a
obediência à Sua vontade parecesse algo natural. A transgressão
de nossos primeiros pais introduziu o pecado na família humana:
“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no
mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a
todos os homens, porquanto todos pecaram.” Romanos 5:12.
Quem não sabe de Sodoma e Gomorra, aquelas cidades pecadoras
que foram destruídas muito antes do nascimento de Moisés. Ou os
homens daquelas cidades eram transgressores da Lei de Deus, ou
o julgamento que Deus trouxe sobre eles foi injusto, porque “onde
não há lei, não há transgressão”. Romanos 4:15. A Escritura
declara que “eram maus os varões de Sodoma, e grandes
pecadores contra o Senhor”. Gênesis 13:13. Além disso, a Bíblia
explicitamente declara concernente a Abraão, que viveu antes dos
dias de Moisés: “Abraão obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu
mandado, os Meus preceitos, os Meus estatutos e as Minhas leis.”
Gênesis 26:5. A Lei dos Dez Mandamentos encontra-se registrada
em Êxodo 20:1-17. Esses mandamentos já eram conhecidos por
todos aqueles que temiam a Deus e viveram antes de Moisés. A
seguir alguns exemplos registrados na Palavra de Deus.

33
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

Primeiro Mandamento

“Não terás outros deuses diante de Mim.” (Êxodo 20:3). Sendo


Josué já velho, portanto, de idade muito avançada, reuniu todas as
tribos de Israel em Siquém para lembrar-lhes o que Deus fez por
Seu povo. Disse então Josué a todo o povo: “Além do Rio
habitaram antigamente vossos pais, Terá, pai de Abraão e de
Naor; e serviram a outros deuses.” Josué 24:2. As palavras
seguintes mostram que foi para apartar Abraão de tais influências,
que Deus o chamou. Não devemos esquecer que o patriarca
Abraão viveu muito antes de Moisés. Já naquela época Deus
havia reprovado o ato de servir a outros deuses.

Segundo Mandamento

“Não farás para ti imagem de escultura... Não te encurvarás a


elas, ...” Êxodo 20:4-6 Em Gênesis 35:2 lemos o apelo de Jacó
aos familiares para que lançassem fora todos os deuses estranhos
dentre eles: “Então disse Jacó à sua família, e a todos os que com
ele estavam: Lançai fora os deuses estranhos que há no meio de
vós, e purificai-vos e mudai as vossas vestes.” Isso não só
confirma a prática como revela estar Jacó ciente de que aquilo
desagradava a Deus. De uma coisa podemos estar certos: ele
conhecia os princípios dos dois primeiros mandamentos.

34
Capítulo – 1 | A LEI

Terceiro Mandamento

“Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão; ...”


(Êxodo 20:7). As palavras proferidas por Jacó, conforme Gênesis
28:16-19, mostram que ele tinha profundo sentimento de
reverência para com Deus. Este princípio é a base do terceiro
mandamento.

Quarto Mandamento

“Lembra-te do dia de sábado para santificar. ...” (Êxodo 20:8-


11). Antes de o povo de Israel chegar ao monte Sinai, portanto,
antes de Deus escrever os Dez Mandamentos em duas tábuas de
pedra, Ele já exigia a sua observância “Então disse o Senhor a
Moisés: Eis que vos farei chover pão do céu, e sairá o povo e
colherá diariamente a porção para cada dia, para que Eu o prove
se anda em Minha lei ou não.” Êxodo 16:4 “Seis dias o colhereis,
mas o sétimo dia é o sábado; nele não haverá. Mas aconteceu ao
sétimo dia que saíram alguns do povo para o colher, e não o
acharam. Então disse o Senhor a Moisés: Até quando recusareis
guardar os Meus mandamentos e as Minhas leis?” Êxodo 16:26-
28. Deus repreendeu severamente o povo de Israel por quebrar o
mandamento do Sábado. Depois desta repreensão, “repousou o
povo no sétimo dia” (Êxodo 16:30), antes de a Lei ser dada no
monte Sinai.

35
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

Quinto Mandamento

“Honra a teu pai e a tua mãe, ...” (Êxodo 20:12). A severa


repreensão de Noé a Cão e Canaã (Gênesis 9:20-25) mostra
claramente que eles tinham conhecimento do mandamento quanto
a honrar pai e mãe.

Sexto Mandamento

“Não matarás.” (Êxodo 20:13). Todo o episódio de Caim e


Abel mostra o pleno conhecimento da terrível natureza do pecado.
Depois de praticar o assassinato, Caim sabia que o seu pecado o
levaria à morte, como justa punição (Gênesis 4:1-15).

Sétimo Mandamento

“Não adulterarás.” (Êxodo 20:14). Se a Lei não existisse


antes de ser dada a Moisés no monte Sinai, por que exclamaria
José, quando foi assediado pela impura mulher de Potifar:
“...Como, pois, faria eu este tão grande mal, e pecaria contra
Deus?” Gênesis 39:9. José sabia que o adultério se constituía em
grande mal e pecado contra Deus.

Oitavo Mandamento
“Não furtarás.” (Êxodo 20:15). Os irmãos de José disseram
não ter roubado o copo do rei (Gênesis 44:8). Eles consideraram o

36
Capítulo – 1 | A LEI
furto de um copo como sendo “iniquidade” diante de Deus
(Gênesis 44:16).

Nono Mandamento
“Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.” (Êxodo
20:16). Abimeleque fez um pacto com Abraão, dizendo: “Agora,
pois, jura-me aqui por Deus que me não mentirás a mim, nem a
meu filho, nem a meu neto...” (Gênesis 21:23).

Décimo Mandamento
“Não cobiçarás...” (Êxodo 20:17). Eva cobiçou o fruto
proibido: “E, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se
comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar
entendimento...” Gênesis 3:6. Os muitos exemplos extraídos dos
livros de Gênesis e de Êxodo mostram que havia uma regra de
conduta moral perfeitamente conhecida antes do Sinai. O
verdadeiro povo de Deus crê e propaga a perpetuidade da Lei
moral de Deus, reafirmando decididamente a sua contínua
validade.

Por que a Lei não Produz Vida?

Gálatas 3:21-22 Então, a Lei opõe-se às promessas de Deus?


De maneira nenhuma! Pois, se tivesse sido dada uma lei que
pudesse conceder vida, certamente a justiça viria da lei. Mas a
Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, a fim de que a
37
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

promessa, que é pela fé em Jesus Cristo, fosse dada aos que


creem. A lei não é uma solução definitiva, pois não muda o
princípio de vida natural do ser humano. Quando Adão comeu do
fruto do conhecimento do bem e do mal, este passou a ser seu
princípio de vida, seus olhos foram abertos e ele passou a agir
baseado no conhecimento que tinha do que era certo ou errado.
Este é o princípio que guia todo homem: "se considero certo eu
faço, se considero errado não faço". Mas baseado em que? Quais
são os parâmetros? A lei deu ao homem um parâmetro: "isso é
certo", "isso é errado", "faça isso", "não faça aquilo". Isso mostra
que ela funciona baseada no mesmo princípio de vida do homem
pecador, o certo e o errado, o bem e o mal. Ela foi feita para ser
aplicada a alguém que está vivendo de acordo com o princípio do
conhecimento do bem e do mal. Por isso ela não pode produzir
vida. A lei sempre diz o que fazer e o que não fazer, atuando
apenas nas coisas exteriores, sem atingir a natureza humana
pecadora. Ela não elimina a raiz do pecado nem muda a natureza
humana, por isso não satisfaz plenamente a justiça de Deus, como
está escrito: "ninguém será justificado pelas obras da lei". Por ter
essa natureza maligna, o homem rouba, mente, mata, adultera, etc.
A lei então diz: não minta, não roube, não mate, não adultere, etc.,
tratando apenas com o efeito e não com a causa. Ela diz "não
peque", mas não concede poder para não pecar. A lei evidencia o
que o ser humano é, mas não concede poder para ele ser diferente.
Ele, por si mesmo, não pode vencer o pecado e satisfazer a justiça

38
Capítulo – 1 | A LEI
de Deus. Precisa de um milagre interior, algo que substitua seu
coração arruinado, precisa de uma mente renovada, precisa ser
perdoado de seus pecados e, mais ainda, precisa ser livre do
pecado e viver baseado em outro princípio de vida. A lei não
consegue fazer isso. Olhando o exemplo da árvore e dos frutos,
vemos que a lei só é capaz de remover alguns frutos, mas não tem
poder sobre a raiz do pecado. Podemos remover quantos frutos
desejarmos, mas a árvore, com sua forte raiz, irá produzi-los
novamente junto com outros mais.

O cristão guarda a lei de Deus

O cristão verdadeiro não deseja guardar a lei de Deus por


obrigação, mas como expressão de sua gratidão. Deus o salvou, o
ressuscitou dos mortos, e agora ele sente prazer em agradá-la.
Então ele se pergunta: “Como agradar a Deus?” Nesse sentido, a
própria lei de Deus responde esta pergunta, e o Espírito Santo faz
com que o regenerado compreenda sua resposta. Uma função que
a lei não possui é a de salvar. Ela aponta o pecado, mas não
confere ao pecador o poder de cumprir suas exigências. Como
ninguém é capaz de cumpri-la, ninguém pode ser salvo por ela
(Gálatas 2:16). É por isto que a letra mata, mas o Espírito vivifica
(2 Coríntios 3:6). Portanto, a salvação é pela graça, mediante a fé
em Jesus Cristo (Efésios 2:8). Deus aplicou a maldição da lei à
pessoa de seu Filho Unigênito. Ele se fez maldito em lugar de seu
povo. Os redimidos são justificados pelos méritos de Cristo, e não

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Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

por suas boas obras e obediência à lei de Deus. Mas, aquele que
nasceu de novo agora possui uma nova natureza. Essa nova
natureza deseja e ama as coisas do Senhor. Jesus disse que o amor
de seus discípulos por Ele é provado pela obediência de seus
mandamentos (João 14:15). Assim, os cristãos não estão sob a
maldição da lei, mas estão sob a lei de Cristo, e tem nela sua regra
de vida. A lei de Cristo é a mesma lei de Deus interpretada e
aplicada pelo próprio Cristo (1 Coríntios 9:21).

A DISTINÇÃO DAS LEIS

A Lei de Deus indubitavelmente é um dos temas mais


presentes nas Escrituras e, possivelmente, um dos mais mal
compreendidos por quase a totalidade dos que desejam fazer a
vontade do Criador. Dada a relevância do tema, o salmista Davi o
colocou como pedra fundamental em praticamente todos os
versículos do Salmo 119. A grande dificuldade de muitos sinceros
cristãos é entender o significado da expressão “Lei de Deus”. Boa
parte dos cristãos creem que, quando se menciona ou se lê na
Bíblia a palavra “Lei”, tudo se resume na “Lei de Moisés”,
aplicável apenas para o povo judeu, o que não é verdade. Os
judeus, por outro lado, também não fazem distinção das leis
contidas na Torá (os cinco primeiros livros da Bíblia). No
entender do judaísmo todas as leis contidas na Torá são
mandamentos do Senhor e devem ser observados. Entendemos
que a expressão “Lei de Deus” é muito abrangente e pode ter

40
Capítulo – 1 | A LEI
vários significados. Por isso é muito importante saber discernir os
diversos aspectos desta lei, com entendimento e sabedoria de
Deus. Ao classificá-la e entendê-la corretamente, muitos males
entendidos podem ser evitados.

AS DIFERENÇAS ENTRE AS LEIS

As Leis Civis e Penais

Tinham a finalidade de regular a sociedade civil do estado


teocrático de Israel.

Estas leis regiam o casamento, o divórcio, heranças,


escravatura, propriedade e outros temas relevantes para o estado
teocrático de Israel. Em caso de violação destas leis, as pessoas
eram duramente penalizadas. (ver Êxodo capítulos 21, 22 e 23:1-
13; Levítico 18 e 20; Levítico 25:23-55; Números 27:1-11;
Números 35:9-34; Deuteronômio 19:1-13; Deuteronômio 22:13-
30; Deuteronômio 24 e 25:1-12). Entendemos que muitas destas
leis eram temporais e necessárias para época à qual foram
concedidas. Além disso, muitas destas Leis Civis e Penais foram
escritas e entregues por Moisés com base em legislações já
existentes, não sendo elas as primeiras leis escritas conhecidas
pela humanidade. A história confirma que 500 anos antes de
Moisés, por volta do ano 1750 a.C, no tempo de Abraão, existiu
na Mesopotâmia um código de leis que estabelecia o princípio do
“olho por olho, dente por dente” (Lei do Talião) tal como aparece

41
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

depois na Torá (ver Êxodo 21:23-27; Levítico 24:17-20 e


Deuteronômio 19:21). Trata-se do Código de Hamurabi que
serviu de base para muitas das leis contidas no Pentateuco.
Todavia, em certo sentido podemos afirmar que todas as leis são
de Deus e as que não foram entregues por Ele diretamente, com
certeza tiveram a Sua concordância, para causarem um poderoso
impacto na vida pessoal dos judeus, no sentido da prevenção e
preservação da vida deles (ver Deuteronômio 6:24). É interessante
que na nova aliança, Cristo teve a autoridade de revogar a Lei do
Talião no fundamento do amor (ver Mateus 5:38-48). Pense bem!
Caso esta lei fosse eterna, poderia ela ser revogada ou melhorada?
Por isso defendemos a tese de que muitas das leis contidas na
Torá, escritas por Moisés, respeitavam o momento histórico
vivido pelo povo de Israel. Uma outra questão curiosa é a
imposição legal acerca da construção de seis cidades de refúgio,
sendo que três tinham que estar no lado oriental do Jordão e três
no lado ocidental deste rio. (ver Números 35:9-34 e
Deuteronômio 19:1-13). De acordo com o texto desta lei, o rio
Jordão teria que ser referência para a localização geográfica
destas cidades e para que houvesse cumprimento desta lei o povo
de Israel deveria estar na posse da terra. Temos também a
questão da lei do levirato, que possibilitava uma viúva casar com
o parente mais próximo de seu marido falecido. Assim suscitaria
descendência ao homem morto. Esta Lei encontra-se registrada
em Deuteronômio 25:5-6. A Bíblia, porém, nos relata que o

42
Capítulo – 1 | A LEI
levirato era um costume muito antigo, observado desde o tempo
dos patriarcas (ver Gênesis 38:8). Percebe-se claramente que esta
Lei já existia antes de ela ser escrita por Moisés. Ela também não
se ajusta aos dias atuais, tendo em vista as diferentes crenças no
restrito círculo familiar.

Por estas e outras razões entendemos que o cumprimento de


grande parte destas Leis Civis e Penais nos dias atuais é
praticamente impossível. Elas destinavam-se ao estado teocrático
de Israel, por isso, não podemos universalizar a sua aplicação,
pois elas se destinavam a uma nação específica, dentro de
específicas circunstâncias, e com propósitos definidos da parte de
Deus.

As Leis Cerimoniais

Estas leis apontavam para o Messias. Quando Cristo morreu,


Ele cumpriu os simbolismos proféticos do sistema sacrifical.
Embora as leis cerimoniais desempenhassem papel vital antes da
morte de Cristo, eram, no entanto, deficientes sob vários aspectos,
representando apenas as sombras dos bens vindouros: “Porque a
lei, tendo a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das
coisas, não pode nunca, pelos mesmos sacrifícios que
continuamente se oferecem de ano em ano, aperfeiçoar os que se
chegam a Deus.” Hebreus 10:1. Na morte de Cristo, a vigência
das leis cerimoniais chegou ao fim. Seu sacrifício expiatório

43
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

providenciou perdão para todos os pecados: “...não pelo sangue


de bodes e novilhos, mas por Seu próprio sangue, entrou uma vez
por todas no santíssimo, havendo obtido uma eterna redenção.”
Hebreus 9:12. Não mais seria necessário executar as elaboradas
cerimônias que, de todos os modos, não eram capazes de remover
pecados: “Ora, todo sacerdote se apresenta dia após dia,
ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que
nunca podem tirar pecados.” Hebreus 10:11. Estas leis regulavam
os serviços praticados pelos sacerdotes no templo e tinham tudo a
ver com os sacrifícios e ofertas, os dias anuais de festas e a
questão dos deveres do sacerdócio. O detalhamento destas leis
nós encontramos registrado nos livros de Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronômio, que relatam as várias ofertas
sacrificais, cerimônias especiais e as festas do antigo sistema
judaico. As Leis Cerimoniais foram escritas por Moisés em um
livro e depositadas pelos levitas ao lado da arca do concerto:
“Ora, tendo Moisés acabado de escrever num livro todas as
palavras desta lei, deu ordem aos levitas que levavam a arca do
pacto do Senhor, dizendo: Tomai este livro da lei, e ponde-o ao
lado da arca do pacto do Senhor vosso Deus, para que ali esteja
por testemunha contra vós.” Deuteronômio 31:24-26.

Estas Leis, colocadas ao lado da arca e escritas em um livro


por Moisés, são mencionadas na Bíblia como “a lei de Moisés”.
Eis alguns exemplos que tratam dos ritos e cerimônias praticados
pelos sacerdotes: “Então Josué edificou um altar ao Senhor Deus

44
Capítulo – 1 | A LEI
de Israel, no monte Ebal, como Moisés, servo do Senhor,
ordenara aos filhos de Israel, conforme o que está escrito no livro
da lei de Moisés, a saber: um altar de pedras brutas, sobre as quais
não se levantara ferramenta; e ofereceram sobre ele holocaustos
ao Senhor, e sacrificaram ofertas pacíficas.” Josué 8:31.
“...disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse o livro da Lei de
Moisés...” Neemias 8:1. “E Jeoiada dispôs guardas na casa do
Senhor, sob a direção dos sacerdotes levíticos a quem Davi
designara na casa do Senhor para oferecerem com alegria e com
cânticos os holocaustos do Senhor, como está escrito na lei de
Moisés...” II Crônicas 23:18. “Então imolaram a páscoa no
décimo quarto dia do segundo mês; ...Tomaram os seus lugares,
segundo a sua ordem, conforme a lei de Moisés, ...” II Crônicas
30:15-16. “...e edificaram o altar do Deus de Israel, para
oferecerem sobre ele holocaustos, como está escrito na lei de
Moisés, ...” Esdras 3:2. Um outro detalhe muito importante é que
as Leis Cerimoniais foram introduzidas depois da queda de nossos
primeiros pais, Adão e Eva. Deus não os deixou entregues à
própria sorte após terem pecado. Providenciou-lhes um Salvador,
simbolizado pelo cordeiro sacrifical. Essa foi a razão por que a
oferta de Abel foi aceita por Deus e não a de Caim. (ver Gênesis
4:3-5). Abel com certeza compreendeu o significado dessa oferta.
O patriarca Abraão também compreendeu isso quando o carneiro
preso no mato foi aceito em lugar de seu filho Isaque. (ver
Gênesis 22:6-13). A respeito desse episódio Cristo disse:
“Abraão, vosso pai, exultou por ver o Meu dia, e viu-o, e alegrou-
45
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

se.” João 8:56. No carneiro preso no mato, que morreu em lugar


de seu filho, Abraão visualizou o futuro sacrifício expiatório de
Cristo. Regozijou-se e alegrou-se.

Mediante o sistema cerimonial Deus ensinou ao Seu povo


que o perdão de pecados só pode ser obtido pelo derramamento de
sangue. Tudo apontava para Cristo, pois Ele foi o verdadeiro
“Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” João 1:29. Na
morte de Cristo, o véu do templo foi rasgado de alto a baixo, em
duas partes (ver Mateus 27:51), indicando o fim do significado
espiritual dos serviços do templo.

As Leis Alimentares

Estas leis tinham e têm como objetivo prevenir doenças e


melhorar a saúde dos verdadeiros filhos de Deus. Não era uma
regra exclusivamente voltada ao povo de Israel ou a uma nação
específica e nem tampouco era limitada à uma legislação mosaica.
No princípio, o Criador concedeu uma dieta ideal ao primeiro par:
“Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se
acham na superfície de toda a Terra, e todas as árvores em que há
fruto que dê semente; isso vos será para mantimento.” Gênesis
1:29. Foi somente depois do dilúvio que Deus permitiu o uso de
alimentos cárneos. É muito importante observar que Deus neste
momento fez a distinção entre animais limpos e imundos. Bem
antes de a Lei ser dada no Monte Sinai, aliás, bem antes da
existência do povo judeu, ou seja, no tempo do dilúvio, Deus

46
Capítulo – 1 | A LEI
determinou a Noé o seguinte: “De todos os animais limpos
levarás contigo sete e sete, o macho e sua fêmea; mas dos animais
que não são limpos, dois, o macho e sua fêmea.” Gênesis 7:2.
Posteriormente Deus apresenta à Moisés uma lista extensa de
animais limpos e imundos, o que povo poderia comer e o que não
deveria comer. Esta relação nós encontramos em Levítico 11 e
Deuteronômio 14. Para distinguir um animal limpo de um animal
imundo, basta seguir alguns critérios:

a) Os animais limpos

Deus disse o seguinte: “Estes são os animais que podereis


comer dentre todos os animais que há sobre a terra; dentre os
animais, todo o que tem a unha fendida, de sorte que se divide em
duas e que rumina, esse podereis comer.” Levítico 11:2-3. Nesta
lista estão: “o boi, a ovelha, a cabra, o veado, a gazela, ...”
Deuteronômio 14:4-5. “Estes são os que podereis comer de todos
os que há nas águas; todo o que tem barbatanas e escamas, nas
águas, nos mares e nos rios, esse podereis comer.” Levítico 11:9.

b) Os animais imundos

Deus disse: “Os seguintes, contudo, não comereis, dentre os


que ruminam e dentre os que têm a unha fendida: o camelo,
porque rumina, mas não tem a unha fendida, esse vos será
imundo; ...a lebre, porque rumina, mas não tem a unha fendida,
essa vos será imunda; o porco, porque tem a unha fendida, de
sorte que se divide em duas, mas não rumina, esse vos será

47
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

imundo. Da sua carne não comereis, nem tocareis nos seus


cadáveres; esses vos serão imundos.” Levítico 11:4-8.

“Mas todo o que não tem barbatanas e nem escamas, nos


mares e nos rios, todo réptil das águas, e todos os animais que
vivem nas águas, estes vos serão abomináveis, ...” Levítico 11:10-
12. Dentre os muitos animais que vivem nos mares e nos rios, que
não têm escamas e nem barbatanas, considerados imundos por
Deus, destacamos os seguintes: camarão, siri, caranguejo, lagosta,
lula, polvo, ostra, os mariscos, os mexilhões e muitos outros.
Estes não estão listados na Bíblia, mas, como não tem escamas e
barbatanas, obviamente são imundos. “Dentre as aves, a estas
abominareis; não se comerão, serão abomináveis: a águia, ...o
avestruz,... a gaivota, o gavião,... a coruja,... a cegonha, a
garça, ...o morcego.” Levítico 11:13-19. Entre os animais
imundos estão incluídos os ratos, os crocodilos, as lagartixas, os
lagartos conforme Levítico 11:29-30. Ao abster-se de alimentos
impuros, o povo de Deus demonstra gratidão por sua libertação
daquilo que corrompe, do mundo impuro que se encontra à sua
volta. Os propósitos de Deus são claros: “...Eu sou o Senhor,
vosso Deus, que vos separei dos povos. Fareis, pois, diferença
entre os animais limpos e os imundos, e entre as aves imundas e
as limpas; e não fareis abomináveis as vossas almas por causa de
animais ou de aves, ou de qualquer coisa de tudo de que está
cheia a terra, as quais coisas apartei de vós como imundas. E
sereis para Mim santos; porque Eu, o Senhor, Sou Santo, e vos

48
Capítulo – 1 | A LEI
separei dos povos, para serdes Meus.” Levítico 20:24-26. (ver
Deuteronômio 14:2). No final do milênio, quando finalmente for
erradicado o pecado, a morte não existirá mais. Não havendo mais
morte, o alimento cárneo certamente será excluído do cardápio.
Nos dias atuais, ao introduzir qualquer coisa impura no templo do
corpo, onde o Espírito de Deus deseja habitar (ver I Coríntios
3:16-17), é ficar aquém do ideal de Deus.

A Lei Moral

Entre todas as leis dadas por Deus, a Lei dos Dez


Mandamentos tem um significado muito especial. Esta é a única
Lei que reflete o caráter de Deus e é de natureza moral, espiritual,
abrangente e contém princípios universais. Tal como Deus esta lei
“é perfeita” (ver Salmos 19:7). Os Dez Mandamentos representam
um resumo de todos os princípios corretos, aplicáveis a toda a
humanidade em todos os tempos. Deus não apenas chamou a
Israel, mas a toda a humanidade à obediência a esses breves,
abrangentes e autorizados preceitos que envolvem todos os
deveres da humanidade em relação a Deus e em relação uns com
os outros. A respeito deles as Escrituras dizem o seguinte: “Teme
a Deus e guarda os Seus mandamentos, pois este é o dever de
todo o homem.” Eclesiastes 12:13.

49
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

Esta Lei é especial pelos seguintes motivos

a) Deus anunciou a Lei com sua própria voz aos ouvidos de


todo o povo. Ele não lhes deu nenhuma outra lei desta maneira. E
havendo Deus proclamado a Lei dos Dez Mandamentos,
registrado está que “nada acrescentou”. (ver Êxodo 20:18-19;
Deuteronômio 5:22).

b) Deus escreveu a Lei dos Dez Mandamentos com Seu


próprio dedo. Esta foi a única Lei que Ele mesmo escreveu para o
homem. (ver Êxodo 31:18).

c) O próprio Deus escreveu a Lei dos Dez Mandamentos em


tábuas de pedra, e Ele mesmo preparou a pedra. Esta é a única Lei
escrita assim, conforme os registros bíblicos. (ver Êxodo 32:15-
16).

d) O próprio Deus escreveu novamente a Lei dos Dez


Mandamentos depois de haver Moisés quebrado as primeiras
tábuas. (ver Deuteronômio 10:1-4).

e) Deus instruiu Moisés para que colocasse as tábuas dos Dez


Mandamentos dentro da Arca da Aliança. Nenhuma outra Lei foi
honrada como esta, isto é, nenhum outro código de leis fora
colocado dentro da Arca. (ver Deuteronômio 10:2 e 5).

A Lei dos Dez Mandamentos não é um decreto arbitrário,


imposto a súditos desgostosos. É antes de tudo a Lei da vida, sem

50
Capítulo – 1 | A LEI
a qual a existência nacional, a segurança pessoal, a liberdade
humana e mesmo a civilização, seriam impossíveis.

Os Mandamentos Dividem-Se em Duas Partes

A primeira, abrangendo os primeiros quatro mandamentos,


define o dever do homem para com Deus. “Amarás, pois, ao
Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de
todas as tuas forças” Deuteronômio 6:5. A segunda, integrando os
últimos seis mandamentos, define o dever do homem para com
seus semelhantes. “...amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu
sou o Senhor.” Levítico 19:18. Cristo reconheceu esta divisão ao
declarar que os dois grandes princípios da lei são o amor a Deus e
o amor ao próximo. “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu
coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é
o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este,
é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois
mandamentos depende toda a lei e os profetas.” Mateus 22:37-40.
Que objeção as pessoas podem apresentar contra uma Lei que
ordena amar a Deus e ao homem; uma Lei que condena o mal e
estimula o bem? Que objeção podem apresentar contra uma Lei
cujo autor é Deus? É uma constituição completa, concisa,
perfeita. Nada se lhe pode acrescentar e nem omitir. Uma análise
cuidadosa de cada uma das leis dadas por Deus é essencial e nos
ajuda a revelar nitidamente os seus reais objetivos. Inclusive
ajudar-nos-á a fazer uma clara distinção entre elas. Os cristãos

51
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

que professam ser estudantes da Bíblia precisam estar atentos para


compreenderem o significado e a abrangência de cada uma destas
leis descritas nos cinco primeiros livros da Bíblia, mesmo aquelas
que não foram objeto de análise. Há um povo especial que
mantém uma íntima relação com Deus. Para este povo há de se
cumprir a seguinte promessa:

“Nas suas mentes imprimirei as Minhas leis, também sobre


os seus corações as inscreverei; e Eu serei o seu Deus, e eles
serão o Meu povo.” Hebreus 8:10

613 MANDAMENTOS

Os 613 mandamentos ou 613 mitzvot (do hebraico : ‫תרי"ג מצוות‬


ou mitzvot sendo TaRYaG um acrônimo do valor numérico
"613") é o conjunto de todos os mandamentos que, de acordo com
o judaísmo, constam na Torá (os cinco livros de Moisés). De uma
forma geral, a expressão "A Lei de Moisés" (em hebraico Torat
Moshé ‫ )תורת משה‬também é utilizada em referência ao corpo legal
judaico. Apesar de que houve muitas tentativas de codificar e
enumerar os mandamentos contidos na Torá, a visão tradicional é
baseada na enumeração de Maimônides. De acordo com essa
tradição, estes 613 mandamentos estão divididos em dois
mandamentos "mandamentos positivos", no sentido de realizar
determinadas ações (mitzvot assê, mandamentos do tipo "faça!",
obrigações) e "mandamentos negativos", na qual se deve abster de
certas ações (mitzvot ló taassê, mandamentos do tipo "não faça!",

52
Capítulo – 1 | A LEI
proibições). Existem 365 mandamentos negativos,
correspondendo ao número de dias no ano solar, que é como se
cada dia dissesse à pessoa "Não cometa uma transgressão hoje"; e
248 mandamentos positivos, relacionado ao número de ossos ou
órgãos importantes no corpo humano, isto é, como se cada
membro dissesse à pessoa: "Cumpra um preceito comigo". Apesar
de que o número 613 é mencionado no Talmud, sua significância
real cresceu na literatura rabínica medieval tardia, incluindo
muitos trabalhos listados ou arranjados pelas mitzvot.

Três dos mandamentos negativos envolvem yehareg ve'al


ya'avor, o que significa que "uma pessoa deve se deixar ser morta
ao invés de violar este mandamento negativo", são eles o
assassinato, idolatria e relações proibidas. Muitas das mitzvot não
podem ser observadas a partir da destruição do Segundo Templo
(70 E.C.), apesar que elas ainda mantém grande significância
religiosa. De acordo com um entendimento padrão, há 77
mandamentos negativos e 194 positivos que podem ser
observados hoje. Há 26 mandamentos que se aplicam somente
dentro da Terra de Israel. Além disso, existem alguns
mandamentos baseados em tempo das quais a mulher está isenta
(exemplos incluem shofar, sucá, lulav, tzitzit e tefilin). Alguns
dependem de um status especial da pessoa no judaísmo (como
cohanim), enquanto outros se aplicam apenas aos homens e outros
apenas às mulheres.

53
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

54
Capitulo – 2 A GRAÇA

Capitulo – 2
A GRAÇA

A
GRAÇA
Capítulo – 2 | A GRAÇA

OS MEIOS DA GRAÇA

A vida cristã é uma experiência maravilhosa. Começa através


de uma obra sobrenatural realizada pela imerecida graça de Deus
no coração e na vida de uma pessoa. O Espírito de Deus aplica a
obra de Cristo na cruz, aos muitos que estão espiritualmente
mortos. Ele os regenera, levando-os a arrependerem-se do pecado
e a exercitarem a fé no Senhor Jesus Cristo. Isto se chama
salvação, que é uma obra gloriosa da graça e do Espírito de Deus.
Com frequência, os novos convertidos indagam o que acontece
após nascerem de novo e iniciarem a vida cristã. Uma vez que
Deus os salvou, Ele os deixa prosseguir motivados em seus
próprios recursos e nas obras de sua própria carne, para chegarem
à presença dEle, no céu? O apóstolo Paulo responde:

Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito,


estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?. (Gl 3.3).

A vida cristã começa pela graça, pela atividade do soberano


Espírito de Deus, e deve ser continuada da mesma maneira. Isto
não significa que não existe qualquer atividade da parte do crente.
Pelo contrário, a Palavra de Deus afirma que os salvos foram
criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de
antemão preparou para que andássemos nelas. (Ef 2.10); e
desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é
quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua
boa vontade. (Fp 2.12-13), estes versículos, que têm sido

57
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

grosseiramente mal utilizados pelas seitas, não ensinam a


salvação pelas obras; antes, são dos muitos versículos que
demonstram a completa gratuidade da salvação. Além disso, os
crentes são instruídos a crescerem na graça e no conhecimento de
nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. (2 Pe 3.18).

O que o gracioso e amável Deus concedeu aos crentes para


ajudá-los a desenvolverem sua salvação, fazerem as boas obras
que Ele determinou e crescerem na graça? Deus ofereceu-lhes
coisas específicas a fim de obtermos esses resultados desejados;
ofereceu-lhes o que os teólogos chamam de meios da graça.. A
seguir, consideraremos esses meios da graça e de crescimento.
Quando você utiliza os meios da graça, percebe os resultados em
sua própria vida: crescimento espiritual, maturidade, alegria,
santidade e semelhança a Cristo. Se estas qualidades estiverem
sendo praticadas em sua vida, haverá crescente comunhão com
Deus. Você será fortalecido e encorajado a andar com Cristo.
Receberá a força e o poder espiritual necessários para vencer a
tentação, o pecado e Satanás. Obterá ajuda indescritível em cada
aspecto da vida cristã.

O que significa a expressão “meios da graça”?

O Dicionário Aurélio define a palavra meio como recurso


empregado para alcançar um objetivo[...]. Por conseguinte, os
meios da graça são os instrumentos pelos quais Deus transmite
bênçãos ao seu povo. O Catecismo de Westminster define a

58
Capítulo – 2 | A GRAÇA
expressão meios da graça como os recursos visíveis e comuns
pelos quais Cristo transmite à sua igreja os benefícios de sua
mediação [ou seja, de sua morte].

Há dois tipos de meios da graça: os particulares e os públicos.


O restante dessa sessão abordará os diferentes aspectos de cada
um desses tipos.

QUAIS OS MEIOS PARTICULARES DA GRAÇA?

O Primeiro Destes é a Leitura Da Palavra De Deus.

Deus nos deu um livro através do qual Ele fala conosco. Ele
não mais se comunica com os homens utilizando sua voz audível,
como o fazia no passado. Agora Deus fala através de seu Filho
(Hb 1.1-4), que nos transmite sua palavra por meio das Sagradas
Escrituras, a Bíblia. Nas páginas das Escrituras, Ele manifesta sua
voz, capaz de despertar os mortos, outorgando-lhes vida. A Bíblia
foi escrita por homens santos, enquanto Deus os inspirava e
guiava, por intermédio do Espírito Santo. É o perfeito tesouro de
instruções e conhecimento celestiais. Deus é o autor da Bíblia, a
salvação é o seu objetivo, e a verdade sem qualquer erro é o seu
conteúdo. Ela nos ensina, principalmente, o que precisamos crer a
respeito de Deus e quais os deveres que Ele exige de nós. A
Bíblia revela os princípios pelos quais Ele nos julgará e
demonstra o supremo padrão pelo qual devem ser averiguados
todos os comportamentos, credos e opiniões dos homens.

59
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

Por isso, J. C. Ryle escreveu: Separe uma parte de cada dia


para ler e meditar alguma porção da Palavra de Deus. O pão de
ontem não alimentará o trabalhador de hoje; tampouco o pão de
hoje nutrirá o trabalhador de amanhã. Recolha seu maná a cada
manhã. Escolha a ocasião e a hora adequados. Não cochile ou se
apresse enquanto lê. Dê à sua Bíblia o melhor e não o pior de seu
tempo. Leia toda a Bíblia, fazendo-o de maneira sistemática.
Receio que existem várias partes da Palavra de Deus que alguns
crentes nunca lêem. Dessa atitude resulta a falta de amplos e bem
equilibrados pontos de vista a respeito das doutrinas bíblicas, uma
falta tão comum em nossos dias. Creio que um bom plano é ler o
Antigo e o Novo Testamento ao mesmo tempo, do começo até ao
fim; e, depois, fazê-lo novamente. Leia a Bíblia com um espírito
de obediência e auto aplicação. Assente-se para estudá-la com a
determinação de que você viverá pelas suas regras, confiará em
suas afirmativas e se comportará de acordo com seus
mandamentos. A Bíblia mais lida é aquela mais praticada. Ela é o
instrumento pelo qual Deus fala ao seu povo. Enquanto lêem a
Bíblia, Deus abençoa e fortalece os crentes com tudo que
necessitam para seu viver diário.

O Segundo Meio Particular Da Graça é a Oração.

O que significa oração? É um dos meios pelos quais o crente


cultiva um vivificante relacionamento com o Deus vivo. A oração
é indispensável na devoção pessoal. Envolve conversar e ter
comunhão com Deus. Nesta comunhão, apresentamos a Deus
60
Capítulo – 2 | A GRAÇA
nossos desejos íntimos. A oração assemelha-se a conversar com
Deus face a face. O Antigo Testamento apresenta numerosos
exemplos: (Gn 25.21), (Ex 8.30) e muitos outros. O Novo
Testamento apresenta um sumário da oração em Atos 13.1-2.
Pedir a Deus as boas coisas que Ele tem prometido aos seus filhos
é uma parte vital da oração (Mt. 7.7,11; Lc 11.5-13; Cl 1.9-12; Tg
1.5-6). De acordo com Filipenses 4.6-7, a oração é uma chave
para que o crente experimente a paz de Deus. Ela é também um
meio que facilita a nossa rendição à vontade de Deus (ver o
exemplo do Senhor Jesus em Mateus 26.39,42,44). Existem várias
partes na oração. Ela pode incluir um ou mais destes aspectos:
adoração e louvor, ação de graças, confissão de pecados, súplica,
intercessão e entrega de nós mesmos a Deus. De acordo com
Efésios 6.18 e Judas v20, a oração deve ser feita no Espírito. O
Espírito Santo é aquEle que ajuda o crente a orar. Ele testifica ao
espírito do crente que ele é filho de Deus, levando-o a clamar:
Aba, Pai. (Rm 8.15; Gl 4.6). O Espírito Santo impulsiona o crente
a orar, trazendo à sua mente as palavras e promessas de Jesus. Ele
também inflama nossos corações em benefício dos outros (Rm
10.1; cf. 9.1-2). Portanto, quando você não sentir desejo de orar,
peça ao Espírito Santo que o ajude a envolver-se na oração. Cristo
ofereceu ao seu povo um modelo para ajudá-los na oração. Em
geral, tem sido chamada de Oração do Pai Nosso. e se encontra
em Mateus 6.9-13 e Lucas 11.1-4. Este modelo de oração não foi
dado com o propósito de ser repetido, como um ritual, quer em
particular, quer em público. Cristo a ensinou para que os crentes

61
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

saibam como orar adequadamente. Há seis petições nesta oração:


as três primeiras estão relacionadas às prioridades de Deus, as três
últimas vinculam-se às nossas necessidades. Nesta oração-
modelo, o Senhor Jesus nos ensina que, antes de suplicar por
nossas necessidades, temos de orar pelas prioridades divinas.

O Terceiro Meio Particular Da Graça é a Meditação.

Após o crente ter vindo à presença de Deus, através da leitura


da Bíblia e pela oração, ele se alimenta do que já recebeu por
meio da meditação. Thomas Watson, um dos Puritanos, disse: A
meditação é semelhante ao regar uma planta, faz aparecer os
frutos da graça. A meditação é para nossa alma o que a digestão é
para o corpo. C. H. Spurgeon apresentou uma excelente instrução,
ao declarar: Nossos corpos não sustentam-se apenas por ingerir o
alimento através da boca; mas o processo de digestão resulta em
músculos, nervos, tendões e ossos. Por meio da digestão, o
alimento exterior é assimilado pela vida interior. O mesmo
acontece às nossas almas: elas são nutridas não apenas por aquilo
que ouvem aqui e acolá. Ler, ouvir, observar e aprender tudo
exige uma digestão interior; e a digestão interior da verdade
ocorre através de meditarmos nela. A atitude do salmista Davi foi:
Meditarei nos teus preceitos e às tuas veredas terei respeito. Terei
prazer nos teus decretos; não me esquecerei da tua palavra. (Sl
119.15-16). Setecentos anos antes de Cristo nascer, Davi já sabia
o valor da meditação.

62
Capítulo – 2 | A GRAÇA
QUAIS SÃO OS MEIOS PÚBLICOS DA GRAÇA?

Reunir-Se Para Adoração é o Primeiro Destes Meios.

Deus jamais tencionou que o verdadeiro crente vivesse


sozinho. Após a ascensão de Cristo, os apóstolos saíram por todo
o mundo implantando igrejas e estabelecendo presbíteros em cada
uma delas (At 14.23). Eles fizeram isto, para que os crentes novos
fossem fortalecidos, encorajados, guiados, instruídos e, acima de
tudo, adorassem a Deus juntos. Deus, e não os homens, ordenou
que por intermédio da reunião coletiva, para adoração, o crente
recebesse bênção e ajuda divina para os dias futuros. Reunido, o
povo de Deus receberia não somente a bênção dEle, mas também
se fortaleceria mutuamente. Os cristãos receberam a ordem de não
abandonarem o reunirem-se para adoração pública (Hb 10.25).
Historicamente, as igrejas cristãs sempre adoraram no domingo.
Foi no primeiro dia da semana, o domingo, que o Senhor Jesus
ressuscitou dos mortos e assegurou a ruína do domínio de
Satanás. Cinquenta dias após a ressurreição de Cristo, no
Pentecostes, novamente no primeiro dia da semana, o Espírito
Santo veio sobre os crentes para enchê-los de poder. Desde então,
os cristãos se reúnem aos domingos, o primeiro, o melhor e mais
admirável dia da semana, para adorar o primeiro, o melhor e mais
admirável dos seres, o SENHOR Deus dos Exércitos e seu Filho,
Jesus Cristo (At 20.7; 1 Co 16.2). Glória a Ele por Jesus Cristo
nosso Senhor e Salvador eternamente! Os elementos da adoração
pública são: leitura pública das Escrituras, acompanhada de

63
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

pregação e ensino; cantar salmos, hinos e cânticos espirituais;


ofertas e orações. Na leitura e exposição das Escrituras, Deus fala
conosco; nos cânticos e orações, nós falamos com Ele. Ainda que
esses dois elementos da adoração são importantes, o mais
relevante deles é a pregação da Palavra. Nossos pais entenderam
isto, quando escreveram: O Espírito torna a leitura (em especial, a
pregação da Palavra) o meio eficaz de convencer e converter os
pecadores, edificando-os em santidade e conforto. (Breve
Catecismo de Westminster, pergunta 89)

O Segundo Meio Público Da Graça São As Ordenanças


Do Evangelho.

Uma ordenança é um costume e prática iniciada pelo Senhor


Jesus Cristo, enquanto Ele esteve na terra. Nas verdadeiras igrejas
do Senhor Jesus, há apenas duas ordenanças: o batismo e a ceia
do Senhor. O batismo é a primeira ordenança instituída pelo
Senhor Jesus Cristo, enquanto esteve entre os homens. Ele
ordenou que o batismo fosse realizado por seus apóstolos e igrejas
até ao fim do mundo (cf. Mt 28.18- 20). Uma pessoa que declara
ser crente e negligencia o batismo, a primeira ordenança de
Cristo, não tem o direito de chamar-se de cristão. O batismo que é
uma espécie de selo de uma nova aliança, um novo pacto de
comunhão com Deus deve ser realizado usando água como
símbolo de purificação e renovação, em nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo, seja por aspersão ou imersão. Esta ordenança

64
Capítulo – 2 | A GRAÇA
foi designada a ser um testemunho para o mundo, a fim de
demonstrar que somos seguidores de Cristo, participantes da nova
aliança, por isso cremos que o batismo infantil também faz parte
desse meio de graça, pois propagamos a bênção da nova aliança
ao fazermos isso, o batismo substitui a circuncisão que era feita
no oitavo dia. A ceia do Senhor é a segunda ordenança instituída
pelo Senhor Jesus, enquanto esteve na terra. É o meio
divinamente designado para fortalecer a fé exercida pelos crentes.
A ceia do Senhor não é um sacrifício oferecido a Deus, e sim
apenas uma comemoração daquela oferta que Cristo fez de si
mesmo, uma vez por todas, na cruz, em pagamento dos nossos
pecados. Sempre que participamos da ceia do Senhor, nós o
fazemos em memória dEle (1 Co 11.24-26). Os elementos da ceia
do Senhor, pão e vinho, são apenas símbolos. Cada elemento
representa um diferente aspecto do sacrifício de Cristo. O pão
simboliza o corpo traspassado e morto do Salvador, por causa de
nossos pecados. O vinho representa o sangue de Cristo que foi
derramado a fim de purificar nossos pecados. Não existe nada
mágico no pão e no vinho. Eles não se alteram, tornando-se
literalmente o corpo e o sangue de Jesus; permanecem aquilo que
eles mesmos são. Um cuidadoso estudo das Escrituras demonstra
as exigências para se participar da ceia do Senhor. A pessoa tem
de ser verdadeiramente convertida a Cristo, batizada, alguém que
está procurando andar de maneira agradável a Deus e membro da
igreja do “corpo” de Cristo. Devemos lembrar que esta ordenança
não foi dada a indivíduos, e sim as igrejas locais e seus membros.

65
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

Comunhão Com Irmãos e Irmãs Em Cristo é o Terceiro


Meio Público Da Graça.

O povo de Deus procede de todos os tipos de pessoas.


Todavia, existe algo que os une: em Cristo, eles são um! Cristo os
amou com amor eterno e os atraiu com bondade. Todos os
obstáculos foram removidos ante à eleição, à redenção e ao
salvífico amor de Cristo (ver Ef 2.14-16). Comunhão significa
compartilhar juntos ou vida compartilhada, especialmente quando
esta se relaciona aos outros crentes. Quando Cristo nos salvou,
Ele não tencionava que vivêssemos isolados. Ele nos destinou
para sermos parte de uma de suas igrejas e desfrutarmos
comunhão com outros crentes (cf. At 2.41-42). Uma das mais
profundas verdades que compreendemos após a conversão é o
vínculo que temos com os verdadeiros crentes. Comunhão não
significa reunir-se com outros crentes para falar sobre esportes,
diversões, clima, economia ou política, embora não exista
qualquer prejuízo em fazermos isso. Pelo contrário, comunhão é
compartilhar, de coração, uns com os outros, as coisas do Senhor
Jesus e de sua Palavra. A singularidade da comunhão cristã se
encontra em sermos capazes de conversar e compartilhar, juntos,
as alegrias, a felicidade, as vitórias, os problemas, as tentações, as
tristezas e as bênçãos de nosso andar com Deus. Provérbios 27.17
afirma: Como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu
amigo [...]. Desfrutar de uma comunhão com irmãos e irmãs em
Cristo, em uma igreja local, é semelhante ao ferro afiando o ferro;

66
Capítulo – 2 | A GRAÇA
é o meio da graça que nos mantém espiritualmente saudáveis e
vigorosos.

O Quarto Meio Público Da Graça é a Oração Coletiva


(At 2.42).

As igrejas primitivas não somente permaneciam na doutrina


dos apóstolos, na ceia do Senhor e na comunhão, também
perseveravam na oração juntos. As reuniões da igreja, a fim de
orar, era um dos meios de levar as cargas uns dos outros e
cumprir a lei de Cristo (Gl 6.2). No livro de Atos, há diversos
exemplos dos irmãos orando juntos, na igreja primitiva. No dia de
Pentecostes, o que os crentes estavam fazendo? Orando (At 1.12-
14; cf. 2.1). Através da oração coletiva, a igreja contemplou o
Senhor Deus libertando-a das mãos de seus inimigos ( At 4.23-
33). Pedro foi liberto da prisão porque os crentes estavam juntos
em oração a favor dele (At 12.5). A história das igrejas do Novo
Testamento ilustra a bênção e a necessidade de orarmos juntos.
Tudo o que é verdadeiro a respeito da oração particular também é
verdadeiro sobre a oração pública, exceto que esta se realiza
coletivamente. Se Deus está com seu povo e individualmente os
abençoa com sua presença, quanto mais isto acontece ao se reunir
a igreja para oração coletiva. Se Ele ouve e responde as orações
de um crente, quanto mais ouvirá e atenderá as orações de
muitos? Um Puritano, David Clarkson, disse:

67
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

A presença de Deus, desfrutada em oração particular,


assemelhase apenas a um regato, mas na oração coletiva torna-
se como um rio que alegra a cidade de Deus.

Um Pai amoroso, sábio e gracioso, que habita nos céus,


outorgou aos seus filhos estes meios para o bem deles (cf. Dt
10.13). Ele não os deu a fim de colocar seus filhos em escravidão
a regras estabelecidas pelo homem, mas para abençoar, fortalecer
e encorajá-los. Os meios particulares da graça nos foram
concedidos para sustentar-nos em nossa vida cristã diária, em um
mundo de atividades cotidianas. Os meios públicos da graça são
para nosso benefício, na igreja local pertencente ao Senhor Jesus
Cristo. Praticá-los agora resultará em crescimento e frutificação
de nossa vida cristã. Utilizar estes meios designados por Deus
redundará em glória para Ele, expansão de seu reino e nos
proporcionará retidão, paz e alegria.

PROPRIEDADES DA GRAÇA
Podemos dizer que a graça de Deus possui as suas
propriedades, bem como nelas as suas subdivisões. As
subdivisões esta baseadas nos seguintes pontos:
 Graça Preveniente
 Graça Eficaz
 Graça Irresistível
 Graça Suficiente
 Graça Comum

68
Capítulo – 2 | A GRAÇA
A GRAÇA PREVENIENTE NA TEOLOGIA ARMINIANA E
WESLEYANA
Diversas denominações evangélicas no Brasil não são adeptas
da teologia reformada calvinista no que diz respeito ao
entendimento da doutrina da salvação. A soteriologia de tais
denominações reproduz ou se aproxima da teologia arminiana
clássica e da teologia wesleyana. O calvinismo é a tradição
teológica da qual o reformador protestante João Calvino (1509-
1564) é o proponente mais famoso. Já o arminianismo clássico é
oriundo do movimento de oposição à perspectiva de salvação dos
reformados calvinistas, que foi iniciado pelo teólogo e pastor
Holandês Jacó Armínio (1569-1609), por definição a Teologia
arminiana é fruto de uma rebelião, o que compromete todo o
sistema, sem contar que essa corrente é muito contraditória em si
mesma, além do fato de anular a soberania de Deus na salvação.
A tradição reformada calvinista e a tradição arminiana clássica
possuem diversos pontos em comum no campo teológico, mas,
divergem consideravelmente acerca da doutrina da salvação,
chegando nesse aspecto ao nível da incompatibilidade. A seguir
daremos ênfase nas diferentes perspectivas de como a graça de
Deus age sobre a vida do perdido pecador.

Enquanto que no arminianismo a queda não afetou


completamente o homem, restando, portanto, uma boa capacidade
de que o homem escolha Deus, nós calvinistas, seguimos ao pé da
letra a doutrina da depravação total, pois a Escritura afirma que

69
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

todos carecem da glória de Deus, a tal ponto que estamos


impossibilitados de sequer olhar em direção ao Senhor. (Rm 3.
23-24; Ef 2.1). Trata-se aqui da depravação total do homem caído.
Do ponto de vista arminiano clássico: Deus estende a graça
suficiente para todas as pessoas através do Espírito Santo, para
opor-se à influência do pecado, a ponto que o homem pode ir
contra sua própria natureza pecaminosa. No arminianismo a
salvação do homem perdido não depende inteiramente de Deus,
mas, depende da resposta que o pecador dá a Deus, sendo capaz
de que essa graça seja rejeitada, isso significa que Deus chama o
homem caído, ele pode recusar ou aceitar por vontade livre, pelo
que este, é plenamente capaz para tomar do cálice da escolha que
que desejar, bem como se opor a vontade de Deus. Além disso,
uma resposta positiva inicial de fé e obediência não garante a
salvação final de alguém. É possível iniciar um relacionamento
genuíno com Deus, mas então, posteriormente, se afastar dEle, e
persistir no mal de sorte que a pessoa, por fim, se perca, para
fundamentar essa ideia geralmente os adeptos dessa Teologia
usam os seguintes versículos para tal: (Rm 8.12-13; 11.19-22; Gl
5.21; 6.7-10; Hb 6.1-8; Ap 2.2-7).
Passaremos a observa como Armínio e Wesley lidaram com a
graça preveniente.

A Graça Preveniente Na Teologia De Armínio


O posicionamento de Armínio sobre a graça preveniente foi
registrado em sua Declaração de Sentimentos: Eu atribuo à graça

70
Capítulo – 2 | A GRAÇA
o começo, a continuidade e a consumação de todo bem, e a tal
ponto eu estendo sua influência, que um homem, embora
regenerado, de forma nenhuma pode conceber, desejar, nem fazer
qualquer bem, nem resistir a qualquer tentação do mal, sem esta
graça preveniente e estimulante, seguinte e cooperante. Desta
declaração claramente parecerá que, de maneira nenhuma, eu faço
injustiça à graça, atribuindo, como é dito de mim, demais ao livre-
arbítrio do homem. Pois toda a controvérsia se reduz à solução
desta questão, “a graça de Deus é uma certa força irresistível”?
Isto é, a controvérsia não diz respeito àquelas ações ou operações
que possam ser atribuídas à graça, (pois eu reconheço e ensino
muitas destas ações ou operações quanto qualquer um), mas, ela
diz respeito unicamente ao modo de operação, se ela é irresistível
ou não. Em se tratando dessa questão, creio, de acordo com as
Escrituras, que muitas pessoas resistem ao Espírito Santo e
rejeitam a graça que é oferecida. (ARMINIUS, A Declaration of
Sentiments, Works. V. 1, p. 664 apud OLSON, Roger E. Teologia
Arminiana: mitos e realidades. São Paulo: Editora Reflexão,
2013, p. 210.) Para Armínio, a salvação pessoal é um ato da
iniciativa da graça de Deus, mas que não é irresistível. Após a
morte de Armínio, quarenta e seis ministros holandeses
elaboraram um documento chamado de “Remonstrância”
(protesto), onde reafirmaram os conceitos de Armínio. Em seu
Artigo III, enfatizando a depravação total do homem afirma: Que
o homem não possui por si mesmo graça salvadora, nem as obras
de sua própria vontade, de modo que, em seu estado de apostasia

71
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

e pecado para si mesmo e por si mesmo, não pode pensar nada


que seja bom, a saber, que seja verdadeiramente bom, tal como a
fé que salva antes de qualquer outra coisa. Mas que é necessário
que, por Deus em Cristo e através de seu Santo Espírito, seja
gerado de novo e renovado em entendimento, afeições e vontade e
em todas as suas faculdades, para que seja capacitado a entender,
pensar, querer e praticar o que é verdadeiramente bom, segundo a
Palavra de Deus (Jo 15.5). Sobre a possibilidade da graça
preveniente ser resistida, foi escrito no Artigo IV do mesmo
documento que: Que esta graça de Deus é o começo, a
continuação e o fim de todo o bem; de modo que nem mesmo o
homem regenerado pode pensar, querer ou praticar qualquer bem,
nem resistir a qualquer tentação para o mal sem a graça
precedente (ou preveniente) que desperta, assiste e coopera. De
modo que todas as obras boas e todos os movimentos para o bem,
que podem ser concebidos em pensamento, devem ser atribuídos
à graça de Deus em Cristo. Mas, quanto ao modo de operação, a
graça não é irresistível, porque está escrito de muitos que eles
resistiram ao Espírito Santo. O pensamento de Armínio
reverberou ao longo dos anos encontrando guarida em diversos
arcabouços teológicos.
A verdade é que o arminianismo não consegue aceitar a
soberania de Deus. Mesmo tendo um documento que afirme que o
homem é totalmente depravado, essa doutrina não é uma doutrina
fundamental como no calvinismo, visto que em outras doutrinas
eles precisam negar essa depravação total para sustentar o suposto

72
Capítulo – 2 | A GRAÇA
“livre-arbítrio”. O arminianismo é confuso, adere a doutrina da
depravação total enquanto esta não compromete o equívoco do
livre arbítrio, nega a graça irresistível, nega a soberania de Deus,
nega a eleição incondicional, e muitas outras coisas que não
falaremos aqui.

A Graça Preveniente Na Teologia De Wesley


John Wesley (1703-1791), o grande teólogo e pregador
inglês, pai do metodismo, movimento que influenciou o
surgimento do pentecostalismo clássico, entendia a salvação do
homem nos moldes do arminianismo clássico: A graça opera
diante de nós para nos atrair em direção à fé, para iniciar sua obra
em nós. Até mesmo a primeira e frágil intuição da convicção do
pecado, a primeira insinuação de nossa necessidade de Deus, é a
obra da graça preparadora e antecedente à beira do nosso desejo,
trazendo-nos em tempo de afligirmo-nos sobre nossas próprias
injustiças, desafiando nossas disposições perversas, de modo que
nossas vontades distorcidas gradualmente cessam de resistir ao
dom de Deus. (Oden, Thomas C. John Wesley´s Scriptural
Christianity. Grand Rapids: Zondervan, 1994, p. 246 apud
OLSON, Roger E. Teologia Arminiana: mitos e realidades. São
Paulo: Editora Reflexão, 2013, p. 219.)
Sobre o estado de depravação humana Wesley comenta:
O homem, por natureza, é repleto de todo o tipo de maldade?
É vazio de todo o bem? É totalmente caído? Sua alma está
totalmente corrompida? Ou, para fazer o teste ao contrário, “toda

73
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

imaginação dos pensamentos de seu coração é só má


continuamente”? Admita isso, e até aqui você é um cristão. Negue
isso, e você ainda é um pagão. OUTLER, Sermons, p. 2:179
apud COLLINS, Kenneth J. Teologia de John Wesley. Rio de
Janeiro: CPAD, 2010, p. 97.
Em seu sermão “O caminho para o Reino”, diz: Você é
corrompido em cada poder, em cada faculdade de sua alma, por
ser corrompido em cada um desses aspectos, toda fundação do seu
ser está fora de curso. Em outro sermão intitulado “A Falsidade
do Coração Humano” enfatiza que: “No coração de todo filho de
homem há um fundo inexaurível de maldade e injustiça,
enraizado de forma tão profunda e firme na alma que nada, a não
ser a graça toda-poderosa, pode curar isso. Diversos estudiosos da
teologia de John Wesley reafirmaram o seu pensamento
soteriológico arminiano clássico: Em termos de contribuições
mais modernas, George Croft Cell, no início do século XX,
sustentou que Wesley, na verdade, “planta seus pés igualmente
nas pegadas deixadas por Paulo, Agostinho, Lutero e Calvino”.
Willian Cannon, fazendo uma declaração semelhante, afirma que
Wesley, o teólogo arminianista, “percorre todo o caminho com
Calvino, com Lutero e com Agostinho em sua insistência de que o
homem é, por natureza, totalmente destituído de justiça e está
sujeito ao julgamento e à ira de Deus” […]. As conclusões que se
podem obter, conforme Richard Taylor, é que: Jacó Armínio e
John Wesley eram totalmente agostinianos nos seguintes
aspectos:

74
Capítulo – 2 | A GRAÇA
(a) a raça humana é universalmente depravada como
resultado do pecado de Adão;
(b) a capacidade do homem de querer o bem está tão
debilitada que requer a ação da graça divina para que possa alterar
seu curso e ser salvo.
No que diz respeito ao entendimento sobre a operação da
graça na vida do homem perdido e morto em seus delitos e
pecados, assim como Armínio, Wesley diverge de Agostinho e
dos reformistas do século XVI, defendendo que a graça
preveniente, fundamentada na obra salvífica de Jesus Cristo,
opera na restauração do livre-arbítrio, de maneira sobrenatural,
pelo Espírito Santo, em todas as pessoas; as quais, à parte dessa
restauração, do ponto de vista soteriológico, não são livres. Dessa
forma, Wesley se afasta tanto do semipelagianismo católico
romano que nega a total depravação humana, quanto do
determinismo de Wittenberg e Genebra que elimina a
responsabilidade moral do homem na aceitação e somente é
responsável o homem, enquanto suas escolhas estão ligadas à
rebelião, pois ao escolher mal, o ser humano depravado faz aquilo
que é próprio de sua natureza, mas, ao escolher Deus, ele não faz
por si só, de forma que é completamente uma ação de Deus pelo
seu Espírito, levando-o assim ao arrependimento, uma vez que
Deus o elegeu para a salvação desde a eternidade passada. Isso,
não baseado não na presciência de Deus, mas, em Sua soberana e
gloriosa vontade, segundo o Seu próprio prazer, para demonstrar a
Sua majestade e outros atributos aos não eleitos, revelando assim

75
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

o Seu amor pelos salvos, e sua justiça para os ímpios, afim de que
seja o Seu Nome glorificado em tudo e em todos, pois o fim de
toda a humanidade é glorificar a Deus, seja como justo ou
misericordioso, ambos os atributos são imensuráveis, mas temos a
certeza de que nenhum, nem outro é maior e mais efetivo, antes,
operam juntos em perfeita harmonia e equilíbrio.
Sobre a ideia de graça irresistível, Wesley não defende tal
realidade no que se refere aos aspectos do chamado ou oferta para
a salvação, mas ao restabelecimento das faculdades humanas que
estabelecem o equilíbrio e responsabilidade individuais: Mais
uma vez, a graça preveniente não é irresistível no sentido de que a
personalidade é aniquilada nem de que já existe um “eu”
responsável viável que apenas é suprido com as faculdades.
Antes, essa graça é necessária, na verdade, é imprescindível no
melhor sentido do termo “antecedência” a fim de produzir no ser
um “eu” responsável, em parte, precisamente pela restauração das
faculdades. Simplificando, o princípio do processo da salvação
não requer a graça cooperante (a essa altura, uma impossibilidade
total), mas a graça livre, a atividade apenas de Deus.
Torna-se assim evidente, que a doutrina da graça preveniente
de Armínio e Wesley concorda e partes com a concepção de
depravação total e salvação somente pela graça, conforme Lutero
e Calvino, mas discorda no sentido de que Deus predestinou
homens para a salvação, deixando parte da humanidade na
condenação do inferno eterno, de que a graça salvadora é
irresistível, e que é direcionada apenas aos eleitos: A eleição de

76
Capítulo – 2 | A GRAÇA
Deus é um ato incondicional da graça livre, dada por meio de seu
filho Jesus, antes de o mundo existir. Por meio deste ato, Deus
escolheu, antes da fundação do mundo, aqueles que seriam
libertos da escravidão ao pecado e levados ao arrependimento e à
fé salvadora em Jesus. (PIPER, John. Cinco Pontos: em direção a
uma experiência mais profunda da graça de Deus. São José dos
Campos, SP: Editora Fiel, 2014, p. 17). Sobre a ideia da graça
irresistível na teologia reformada calvinista, lemos: Isto significa
que a resistência que todos os seres humanos exercem cada dia
contra Deus (Rm 3.10-12, At 7.51) é vencida maravilhosamente,
no tempo próprio, pela graça salvadora de Deus, em favor de
rebeldes indignos, os quais ele escolhe salvar espontaneamente.
Na perspectiva calvinista, para tornar a graça irresistível, Deus
age mudando a nossa vontade, sem necessariamente agir contra a
nossa vontade.
O conhecido apelo evangelístico que diz “dê um passo para
Deus que Ele dará dois em sua direção”, não se sustenta à luz do
arminianismo clássico e do pensamento wesleyano. Tal apelo é
norteado pelo - arminianismo de cabeça1 e arminianismo
contemporâneo2, que são essencialmente semipelagianos, e que
1
O arminianismo de cabeça possui uma ênfase no livre-arbítrio que está alicerçada no iluminismo
e é mais tarde comumente encontrado nos círculos protestantes liberais […]. Sua marca característica é
uma antropologia otimista que nega a depravação total e a absoluta necessidade de graça sobrenatural
para a salvação. É otimista acerca da habilidade de seres humanos autônomos em exercerem uma boa
vontade para Deus e seus semelhantes sem a graça preveniente (capacitadora, auxiliadora) sobrenatural,
ou seja, é pelagiano ou no mínimo semipelagiano. (OLSON, Roger E. Teologia Arminiana: mitos e
realidades. São Paulo: Editora Reflexão, 2013, p. 23.)
2
Talvez a fraqueza mais séria do arminianismo contemporâneo seja a sua visão de pecado com
muita frequência, os arminianos restringem o problema do pecado para a questão da culpa, amplamente
entendido como uma (mera) sujeição a um julgamento futuro. O evangelismo arminiano, portanto,
frequentemente foca unicamente na oferta de perdão para evitar essa ameaça, apresentando seu convite
com a presunção de que a plateia goza de liberdade da vontade, julgamento relativamente equilibrado, e
uma abertura para considerar, de maneira imparcial, a mensagem do Evangelho. Por conseguinte, o fator

77
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

acreditam que o homem não se encontra no estado de depravação


total, podendo de alguma maneira tomar a iniciativa de buscar a Deus
e de conseguir a sua salvação pessoal.

A GRAÇA EFICAZ
Esta é uma das verdades mais negligenciadas da Bíblia.
Falava-se muito sobre este assunto no passado. Também no
tempo de Spurgeon e outros; mas, hoje, só aqui e ali se ouve uma
voz a clamar esta doutrina bíblica. Até nos atrevemos a dizer que
nove entre dez membros da igreja nem mesmo iriam opinar em
relação a esta verdade bendita. A palavra “chamado” é usada, às
vezes, para expressar o ato de nomear. Por exemplo: em Mateus
1:21 lemos: “chamarás o seu nome JESUS”. Outras vezes,
emprega-se a palavra com a conotação do ato de convidar ou
convocar, como em Lucas 14:13: “Mas, quando fizeres convite,
chama os pobres, aleijados, mancos e cegos”. Quando a palavra
“chamado” é usada para convidar, devemos fazer a diferença
entre um chamado ao qual não se obedece e o outro que é eficaz
ao qual se atende. O objetivo principal do Evangelho é chamar as
pessoas para a salvação, através da fé em Cristo. É óbvio que
muitos destes chamados não são ouvidos, e muita gente continua
perdida, apesar da pregação simples e apelo urgente. Por outro
lado, vemos a pregação eficaz do Evangelho em muitos casos;
vemos vidas transformadas por ele. Podemos ver um perdido

mais importante para determinar o grau de sucesso no evangelismo é o poder do evangelista, que em
lógica, persuasão ou charme pessoal. Tal pensamento arminiano contemporâneo surgiu nas gerações
subsequentes a Wesley, e em especial no metodismo estadunidense. (WALLS, Jerry; DONGELL. Por
que não sou calvinista. São Paulo: Editora Reflexão, 2014, p. 64.

78
Capítulo – 2 | A GRAÇA
ignorar e rejeitar o Evangelho em uma ocasião e, depois, na
próxima vez ou um pouco mais tarde, ser salvo por ele. O que faz
a diferença? O pastor? Não, pois até pode ser o mesmo nos dois
exemplos, No Evangelho? Não, pois é o mesmo nos dois casos. A
diferença é feita pelo Espírito Santo em Seu poder de dar luz e
vida ao coração do pecador. Ao se pregar o Evangelho “somente
em palavras”, isto é, sem o poder vivificador do Espírito Santo, o
pecador continua espiritualmente morto, e será ou indiferente ou
contra o chamado do Evangelho. O chamado eficaz é quase
equivalente à regeneração. Em Romanos 8:30 vemos a ordem dos
atos divinos na salvação: “E aos que predestinou a estes também
chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que
justificou a estes também glorificou”. Note que se usa a palavra
“chamado”, ao invés de “regenerado”. Os crentes, muitas vezes,
são denominados “os chamados”, ou então “os nascidos de novo”.

A Bíblia Faz Distinção Entre Os Dois Chamados


Existem dois chamados de Deus para o homem. Um é o
chamado geral, feito a todos quantos ouvem o Evangelho através
da audição. O outro é especial e resulta na salvação daqueles que
o ouvem, aqueles que ao tempo de Deus são impelidos pelo
Espírito Santo a irem em direção a Cristo. Os homens são salvos
através deste chamado divino. Paulo se refere aos crentes em
Roma e em Corinto como “chamados santos”, (Rm 1:1; I Co 1:2).
Ele pregou o Evangelho, sem distinção, a judeus e gregos, em
Corinto. Ao judeu natural, o Evangelho era um escândalo e ao

79
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

grego (gentio), uma loucura. “Mas para os que são chamados,


tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus,
e sabedoria de Deus” I Coríntios 1:24. Somente os chamados nos
dois grupos viram o poder e a sabedoria de Deus no plano da
salvação, através do Cristo crucificado. Vamos examinar alguns
versículos que falam sobre o chamado geral. Em Provérbios 1:24
Deus diz: “Entretanto, porque eu clamei e recusastes; e estendi a
minha mão e não houve quem desse atenção”. Este foi um
chamado externo, feito por Deus, através dos profetas, porém foi
universalmente ignorado, ninguém lhe deu atenção. Em Mateus
22:14, lemos: “Porque muitos são chamados, mas poucos
escolhidos”. Eis um chamado feito a um número bem maior dos
que foram escolhidos e salvos. Na parábola da grande ceia,
registrada em Lucas 14, nenhum dos convidados apareceu, mas
todos apresentaram desculpas. Vamos, agora, examinar alguns
versículos que falam sobre o chamado especial e eficaz. Em
Romanos 8:28 lemos que tudo coopera para o bem “daqueles que
são chamados segundo o seu propósito”. “Os chamados” significa
muito mais que “os convidados”, pois muitos são convidados a
virem a Cristo, porém nunca vêm e assim, não são salvos, pois
esse é o decreto eterno para tais. Para estes tudo não coopera para
o bem. Em Romanos 8:30 lemos que os chamados também são
justificados. Há muitos chamados (convidados) pela pregação do
Evangelho que não são justificados. Paulo escreveu sobre o
chamado eficaz na salvação ao dizer aos coríntios: “Porque, vede,
irmãos, a vossa vocação que não são muitos os sábios segundo a

80
Capítulo – 2 | A GRAÇA
carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são
chamados” I Coríntios 1:26. Em II Pedro 1:10 somos exortados:
“Procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição”.
Em todas estas passagens, o chamado é mais do que um simples
convite externo para se crer no Evangelho.

A Natureza Do Chamado Eficaz


1. É subjetivo ou interno. Há um chamado objetivo ou
externo, no qual o Evangelho é apresentado e oferecido ao
pecador. Neste chamado, a graça de Deus opera na mente e no
coração; ao lhe compelir (no sentido de submeter a vontade
humana à vontade de Deus), mas ao mudar a mente e o coração,
através da inclinação governante da alma, a fim de que se torne
disposto. Bancroft define o chamado eficaz com estas palavras:
“Chamamos de convite eficaz ou o chamado eficaz o exercício do
poder divino sobre a alma; poder este imediato, espiritual e
sobrenatural, o qual transmite uma nova vida espiritual, tornando
assim possível um novo modo de atividade espiritual. O
arrependimento, a fé, a confiança, a esperança e o amor são, pura
e simplesmente, os próprios atos do pecador, os quais só se
tornam possíveis a ele, em virtude da mudança feita na condição
moral de suas qualidades naturais, pelo poder de Deus de recriar”.

2. É um chamado especial. Existe um chamado geral cada


vez e seja onde for que o Evangelho for pregado. Deus é sincero
neste chamado e o pecador tem a responsabilidade de dar-lhe

81
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

atenção, mas o fato é que não o faz. O chamado especial é algo


além da pregação do Evangelho, pois é feito àqueles que são
chamados ovelhas, eleitos, predestinados. Para estes, é sempre
eficaz. Cristo disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu
conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca
hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” João
10:27-28. E, falando sobre as ovelhas perdidas entre os gentios,
Ele declara: “Ainda tenho outras ovelhas que não são deste
aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha
voz, e haverá um rebanho e um Pastor” João 10:16.
John Bunyan ilustra a diferença entre o chamado especial e o
geral através do modo como uma galinha chama os pintinhos. Às
vezes, ela cacareja, mas os pintinhos não dão a mínima atenção.
Porém, quando cacareja avisando-os que o gavião está para pegá-
los, eles vêm voando, em busca de proteção sob suas asas. Deus,
do mesmo modo, tem um chamado que traz as ovelhas perdidas
ao abrigo e segurança sob as asas abertas do Calvário. Isso
podemos claramente classificar como graça eficaz.

C. H. Spurgeon encontra uma ilustração para este chamado


eficaz na ressurreição física de Lázaro. Ele diz que se o Senhor
Jesus não tivesse Se dirigido pessoalmente a Lázaro, ao dizer:
“Lázaro, sai para fora” (João 11:43), todos os outros mortos
teriam ressuscitado, ao ouvir Sua ordem. Nosso Senhor faz uma
distinção entre a ressurreição espiritual e física em João 5: 25, 28.
Ele está falando sobre a ressurreição corpórea ao dizer: “Não vos

82
Capítulo – 2 | A GRAÇA
maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão
nos sepulcros ouvirão a sua voz”.

3. É um chamado miraculoso e invencível. Pedro diz que é


um chamado para sair das trevas para a Sua maravilhosa luz I
Pedro 2:9. Cristo diz que é este chamado que faz o morto viver.
Tal chamado tem o poder por trás. É o Espírito poderoso de Deus,
agindo pela graça, que faz o pecador ver seu estado de desamparo
e o valor do sangue de Cristo. Resistir, com sucesso a este
chamado faria o pecador mais poderoso do que Deus. Havia a
morte e a decomposição em Lázaro para impedi-lo de reagir à
ordem de Cristo de sair do túmulo. Mas, havia poder de Deus,
que, vence todo e qualquer obstáculo da natureza. Do mesmo
modo, existe muita coisa no pecador que resiste ao chamado do
Evangelho, mas no chamado eficaz do Espírito esta resistência é
vencida. O chamado eficaz é divino e surpreende o pecador
descuidado e o faz pensar; traz luz ao entendimento obscurecido
pelo pecado; abre o coração fechado por causa do pecado para
receber Cristo como Senhor e Salvador. Sem a obra do Espírito
Santo, a Palavra do Espírito seria rejeitada. A menos que o
Espírito Santo ilumine a alma, a luz da Bíblia não será vista. O
poder da conversão não está na inspiração nem na transpiração do
pregador, mas na iluminação e regeneração do Espírito Santo. O
chamado externo do Evangelho, feito pelo pregador, assemelha-se
à lei que acusa o réu e o leva ao julgamento; o chamado especial é
o delegado que entra em contato com o réu, prende-o e o leva ao

83
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

tribunal. A recusa do réu em se submeter à prisão não é prova de


que seja superior à lei; mas se a lei for incapaz de levá-lo ao
tribunal, isto seria uma prova que ele é mais forte que a lei. Então,
quando o pregador convida os pecadores a se arrependerem e
crerem no Evangelho e eles recusam, isto não indica que o
pecador é mais forte do que Deus. Mas, se o Espírito Santo o
chamar, vindo para dar para sua mente obscurecida a luz do
evangelho, para fazê-lo arrepender-se e ter fé, para lhe dar um
novo nascimento, e não conseguir, então isso provaria que o
pecador é mais forte que Deus, o Espírito Santo. A depravação
pode ser demais para o pregador, mas não para o Espírito Santo. É
por isso que oramos, para que Deus converta o pecador, quando
pregamos a ele.
O chamado geral é como o pai que chama o filho para
levantar-se de manhã. O filho diz: “Ta bom!” e volta a dormir. O
chamado não fez levantar; não surtiu nenhum resultado. O
chamado eficaz é como o mesmo pai entrando no quarto do filho
meia hora depois. Ele puxa o lençol e usa o cinturão. Isto
funciona e o filho levanta na hora.
B. H. Carroll assemelha o chamado geral ao relâmpago, que
é bonito e grandioso, mas não atinge nada; o chamado eficaz é
como o raio que sempre atinge algum lugar.

A Necessidade Do Chamado Eficaz


1. A depravação humana, a condição da natureza humana
caída, torna necessário o chamado sobrenatural e eficaz, para

84
Capítulo – 2 | A GRAÇA
que haja conversão do pecador. O homem, por natureza, tem seu
entendimento obscurecido pelo pecado. O coração está totalmente
endurecido e sua mente é inimizade contra Deus. Se o pecador
amasse a Deus e entendesse o Evangelho, ele imediatamente, ao
ouvir o Evangelho, com amor e alegria atenderia o chamado feito
pelas boas novas da salvação em Cristo. Mas, é preciso que o
pecador passe por uma mudança de coração e mente, antes de
receber Cristo como Senhor e Salvador. Esta mudança não é feita
por ele mesmo, e sim, por Deus. Paulo disse a Timóteo para
pregar, na esperança de que “porventura Deus lhes dará
arrependimento para conhecerem a verdade, e tornarem a
despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade
dele estão presos” II Timóteo 2:25-26.

2. Este chamado especial do Espírito Santo é necessário


porque o chamado do Evangelho, somente a Palavra, não é
suficiente para a conversão do perdido. “Porque o nosso
evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em
poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza, como bem sabeis
quais fomos entre vós, por amor de vós”. I Tessalonicenses 1:5.
John Bunyan afirmou: “Creio que, para haver o chamado eficaz, o
Espírito Santo deve acompanhar a Palavra do Evangelho e isto
com todo poder”. O Evangelho é adequado e suficiente como
meio para a conversão, mas deve haver um agente, com poder, a
fim de torná-lo eficaz. Deve haver um obreiro e também um
equipamento divino. A Palavra é uma espada ótima, mas deve

85
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

haver quem maneje. A Bíblia diz que a Palavra é a espada do


Espírito. No chamado que não traz efeito, temos o Evangelho e o
pregador; no chamado eficaz temos o Evangelho, o pregador e o
Espírito Santo, o qual torna o Evangelho eficaz na conversão do
pecador.

A Razão Para O Chamado Eficaz


O chamado eficaz, feito pelo Espírito Santo e que assegura a
salvação, em cada caso é feito em consequência do propósito
eterno de Deus. Em Romanos 8:28 lemos que este chamado é
“segundo o seu propósito”. Em II Timóteo 1:9 vemos o mesmo
efeito: “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não
segundo as nossas obras, mas segundo o seu propósito e graça que
nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos”.
A salvação não é um acidente, não é algo que acontece por
acaso, mas é o cumprimento do propósito eterno de Deus em
Cristo. O chamado eficaz é o ato divino, pelo qual o predestinado
vem à salvação. É a posse do eleito; a indução à santidade. A
salvação vem do Senhor e cada crente deve atribuir sua conversão
à obra do Espírito Santo. Cada crente é um homem criado de novo
por Deus e, portanto, um homem criado pela graça desde que ele
não merecia a salvação. É Deus quem nos torna diferentes do
perdido, portanto podemos, humildes e gratos, cantar:

Ouço meu Senhor dizer: teus esforços são em vão,


Nada podes merecer, Eu te dou a salvação.
A Ti, Jesus, Senhor, venho como sou;
Bem nenhum mereço eu, Teu sangue me salvou.

86
Capítulo – 2 | A GRAÇA

Sim, eu venho a Ti, Jesus, Tua graça receber;


Infinito é teu amor, sem limites Teu poder.
A Ti, Jesus, Senhor, Venho como sou;
Bem nenhum mereço eu, Teu sangue me salvou.

Ai, me falta a retidão, Sou indigno pecador,


Mas pureza alcançarei No Teu sangue redentor.
A Ti, Jesus, Senhor, Venho como sou;
Bem nenhum mereço eu, Teu sangue me salvou.

Pela fé em Ti, Senhor, recebi o Teu perdão;


De pecado e de temor Livre está meu coração.
A Ti, Jesus, Senhor, Venho como sou;
Bem nenhum mereço eu, Teu sangue me salvou.

Lá no céu eu cantarei Tua eterna redenção;


Sempre ali Te renderei Meu louvor e gratidão.
A Ti, Jesus, Senhor, Venho como sou;
Bem nenhum mereço eu, Teu sangue me salvou.

COMO ESTOU, Cantor Cristão – 268.

A GRAÇA IRRESISTÍVEL
A graça irresistível diz respeito à regeneração, ao novo
nascimento. É, dentro da ordem da salvação, o ato que precede a
conversão. A regeneração é a causa, a conversão é o efeito.
Também é conhecida por Graça Eficaz, chamado eficaz, graça
salvífica, dentre outros. É o exato momento em que Deus dá vida
a quem estava morto, abre os olhos do que estava cego, torna
quebrantado o coração que anteriormente era insensível ao amor,
isso é Graça irresistível.
Em primeiro lugar, precisamos diferenciar graça irresistível
de graça comum. A graça irresistível é chamada de graça especial.
É a graça que derruba a resistência do homem e a salva. É Deus

87
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

agindo em favor do homem, mostrando-o que a vontade dEle é


que é soberana e que Ele é capaz de salvar quem Ele quiser. A
graça irresistível diz que Deus tem um chamado específico para
algumas pessoas, algumas pessoas recebem dessa graça e não
conseguem dizer “não”. Existe um embate entre os que acreditam
e os que não acreditam nessa doutrina. Alguns dizem que a
doutrina da graça irresistível não faz sentido, afinal, Deus chama
a TODOS para a salvação. Dizem ainda que a graça salvífica é
oferecida a TODOS, mas, muitos REJEITAM essa graça e esse
chamado. Será? Vamos ver o que as escrituras dizem acerca desse
assunto.
“Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e
ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois
como vossos pais.” (Atos 7.51) “Mas para Israel diz: Todo o dia
estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.”
(Romanos 10.21) Então quer dizer que a graça pode ser resistida?
SIM! Não dizemos que ela não pode ser resistida. Na verdade,
todos os seres humanos resistem a graça de Deus naturalmente. É
aí onde está a diferença, TODOS rejeitam, e não alguns. A
questão é: a graça de Deus é tão poderosa que pode vencer essa
resistência natural que existe em nós. Quando Deus escolhe, Ele
quebra a resistência do homem e o faz se dobrar diante dEle. É
nisso que acreditamos. O fato não é que nós não podemos resistir,
sim, naturalmente ela é resistida, mas, aos eleitos, o próprio Deus
o quebranta fazendo com que ela seja irresistível.

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Capítulo – 2 | A GRAÇA
Vejam o que Paulo diz a Timóteo: “E ao servo do Senhor não
convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para
ensinar, sofredor; Instruindo com mansidão os que resistem, a ver
se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a
verdade, e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do
diabo, em que à vontade dele estão presos” (2 Timóteo 2.24-26).
O Arrependimento é um presente de Deus. A graça não torna
possível que eu me arrependa, ela faz com que eu me arrependa,
não é uma transação que pode não ser bem sucedida, é uma
transação conclusa, com uma finalidade decretada e imutável.
Deus não me dá a graça até certo ponto e espera que eu conclua e
vá ao encontro dela. Ele faz com que sua graça inunde o meu ser.
João narra as palavras de Cristo acerca desse assunto, vejamos:
“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não
trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.” (João 6.44) “O
espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras
que eu vos digo são espírito e vida. Mas há alguns de vós que não
creem. Porque bem sabia Jesus, desde o princípio, quem eram os
que não criam, e quem era o que o havia de entregar. E dizia: Por
isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não
lhe for concedido” (João 6.63-65). Como está bem claro no texto,
não iremos a Cristo a menos que o próprio Pai nos leve. O
chamado eficaz de Deus vence a resistência natural que temos ao
Evangelho. A resistência é DESMORONADA diante da graça
irresistível.

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Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

R.C. Sproul diz o seguinte sobre este assunto: “Não é que o


Espírito Santo arraste pessoas chutando e gritando contra a sua
vontade para vir a Cristo, mas o que o Espírito Santo faz é mudar
a inclinação e disposição dos nossos corações. Estávamos
anteriormente indispostos a abraçar a Cristo, agora estamos
dispostos, e mais do que dispostos! Não somos arrastados para
Cristo, corremos para Cristo! E o abraçamos alegremente porque
o Espírito mudou nossos corações”. Eu poderia citar outros
milhares de versículos aqui. A Bíblia está cheia deles. Paulo é
muito claro quando fala sobre isso, Cristo foi muito claro quando
anunciou o Evangelho entre nós. As Escrituras nos ensinam que a
nova aliança promete uma graça que vencerá nossa resistência e
nos dará um coração novo (Ezequiel 11.19-20). Deus tirou o seu
coração de pedra e lhe deu um coração de carne, agora o
arrependimento é possível! Você estava morto e Ele lhe deu vida;
agora o arrependimento é possível! Você não pode agir como se
ainda tivesse um coração de pedra, permanecendo indiferente ao
pecado. Arrependa-se!
Concluo citando uma fala de John Piper que nos faz refletir
sobre tudo isso: “Imagine que você está diante de Deus no céu, e
Ele lhe pergunta: Por que você está aqui? E você diz: Porque cri
no Seu Filho e me prostrei diante dele para ter misericórdia.
Tenho confiado na morte dEle para ter meu perdão, em sua vida
para a justiça. Só espero nEle. O Pai vai sorrir e dizer: Isso,
resposta certa! Ele poderia dizer: E por que você fez tudo isso e
seu primo não? Naquele momento você não vai querer dizer: Sou

90
Capítulo – 2 | A GRAÇA
mais esperto ou sou mais espiritual, ou sou mais sábio… não!
Você só vai colocar a mão na boca e dizer: Graça. Graça
inexplicável”. Sola gratia!

A GRAÇA SUFICIENTE
Pela graça, somos salvos (Ef 2.8) e nos mantemos firmes
(Rm 5.2). A graça sustenta a nossa salvação, dá-nos vitória na
tentação e ajuda-nos a suportar o sofrimento e a dor. A graça nos
ajuda a entender a palavra e a aplicá-la com sabedoria às nossas
vidas, nos conduz à comunhão e à oração, capacitando-nos a
servir ao Senhor eficazmente. Em suma, existimos e estamos
firmes no ambiente da graça toda-suficiente.

Graça Sobre Graça


Uma das declarações mais maravilhosas sobre o Senhor é que
Ele era “cheio de graça” (Jo 1.14); e “nós temos recebido da sua
plenitude e graça acumulada uma graça sobrepondo-se à outra.
Tal graça é nossa a cada dia; é ilimitada e suficiente para cada
necessidade. Paulo falava a este respeito como “abundância da
graça” (Rm 5.17); “a suprema riqueza da sua graça” (Ef 2.7) e a
“superabundante graça” (2 Co 9.14). Pedro mencionou a
“multiforme” graça de Deus (1 Pe 4.10). Ele usou esta mesma
palavra, ao falar das várias provas que os crentes enfrentam (1 Pe
1.6). Este é um maravilhoso paralelo: a multifacetada graça de
Deus é suficiente para as nossas múltiplas provas.

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Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

Graça Superabundante
Talvez em nenhum outro lugar a magnificência da graça é
mais maravilhosamente expressa do que em 2 Coríntios 9.8,11:
As ênfases neste texto são admiráveis: “Deus pode nos fazer
abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo,
ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra…
enriquecendo-vos, em tudo, para toda generosidade, a qual faz
que, por nosso intermédio, sejam, tributadas graças a Deus”. Em
certo sentido, só esse texto já resume tudo que poderia ser dito
sobre nossa suficiência em Cristo. Postos em um contexto que
descreve as provisões materiais concedidas por Deus, estes
versículos têm um significado que obviamente se estende a
proporções ilimitadas. A graça superabundante habita em todo
crente (v. 14). É de se admirar que Paulo não pôde reter seu
louvor a Deus portal dom indescritível (v.15)?

Graça Toda-Suficiente
Paulo experimentou a graça de Deus de um modo que poucos
experimentaram, pois, suportou sofrimentos como poucos o
fizeram. Em 2 Coríntios 12.9, o Senhor lhe deu uma das verdades
mais profundas de toda revelação: “A minha graça te basta".
Aquela maravilhosa promessa se estende a todo crente, mas foi
dada em um contexto de sérias dificuldades, aflição, perseguições
e fraquezas humanas (v. 10).

92
Capítulo – 2 | A GRAÇA

O Que Significa “A Minha Graça Te Basta”?


A frase “a minha graça de basta” significa que a graça divina
alcança seus propósitos apesar da debilidade humana. Essa frase
revela que o cristão não é sustentado por sua própria capacidade,
força ou satisfação, mas pela graça do Senhor.
Quando o apóstolo Paulo pediu ao Senhor que o livrasse de
algo que lhe fazia sofrer, ele ouviu como resposta exatamente
essas palavras: “A minha graça te basta” (2 Coríntios 12:9,
adiante iremos entender melhor o significado da frase “a minha
graça te basta”.

Quando Deus Disse A Paulo “A Minha Graça Te


Basta”?
Deus disse a Paulo “a minha graça te basta” quando o
apóstolo estava rogando ao Senhor que Ele lhe tirasse um espinho
na carne. Mas para que possamos entender o significado completo
do versículo que traz essa frase, precisamos considerar o contexto
de 2 Coríntios 12. Esse capítulo faz parte da defesa do apóstolo
Paulo contra os falsos apóstolos (2 Coríntios 10:1-13:10).
Naquela época os crentes de Corinto estavam fascinados por
supostas visões e revelações de apóstolos fraudulentos. Além de
disseminarem heresias no meio da comunidade cristã, esses
homens ainda se vangloriavam de suas alegadas experiências
espirituais. Então Paulo faz uma exposição sobre o que realmente
validava as credencias de um apóstolo. No meio de sua exposição,
Paulo fala de uma experiência extraordinária que ele havia tido há

93
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

quatorze anos. Ele fala do homem que viveu essa experiência na


terceira pessoa, mas nitidamente ele estava falando de si mesmo.
A questão é que ele queria evitar ao máximo de se vangloriar
como faziam os falsos apóstolos.
Paulo disse que teve visões e revelações da parte do Senhor.
Ele foi arrebatado ao terceiro céu, isto é, ao paraíso, e ouviu
palavras inefáveis, impronunciáveis (2 Coríntios 12:4). Então para
garantir que ele não viesse a se ensoberbecer, Deus lhe enviou um
espinho na carne (2 Coríntios 12:7). O apóstolo não explicou que
espinho era esse, mas deixou claro lhe era muito doloroso.
Podemos dizer a partir do contexto que esse espinho era o próprio
orgulho humano de se gloriar por ter recebido uma coisa tão
gloriosa como essa experiência, cuja qual não é dada a todos. Ou
seja, o motivo para se gloriar ele teve, e muito. E não era errado
ele se gloriar, mas para não causar transtorno, ele não se deixou
levar, mais à vontade era muito grande. A ponto de ele identificar
como um espinho na carne “mensageiro de Satanás”. Então por
três vezes ele pediu ao Senhor que resolvesse essa situação
incomoda. No entanto, ele escutou do Senhor: “A minha graça te
basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Coríntios
12:9).

Porque “A Minha Graça Te Basta”?


O próprio Senhor, na sequência de sua resposta ao apóstolo
Paulo, explica o significado da declaração “a minha graça te
basta”. Ele diz que “o Seu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Isso

94
Capítulo – 2 | A GRAÇA
deixa claro que não há nenhum mérito no homem. Os propósitos
de Deus não repousam na força humana, ao contrário, quanto
mais fraco é o homem, mais o poder da graça de Deus é revelado.
Isso porque a graça divina é revelada em seu poder que não é
frustrado pelos defeitos humanos e nem é dependente de qualquer
qualidade do homem. É interessante saber que Paulo fala da
resposta que recebeu de Cristo no tempo verbal perfeito. No grego
ele literalmente escreve: “Ele me tem dito: minha graça é
suficiente para você”. Isso enfatiza que a resposta do Senhor
sobre a suficiência de sua graça é permanente. Ela não serviu
apenas para Paulo, mas serve também para todos os crentes, em
todos os lugares e em todos os tempos.

A Graça Do Senhor É Suficiente


Paulo não recebeu do Senhor uma resposta positiva com
relação ao problema que lhe atormentava. Mas por outro lado ele
recebeu uma resposta incalculavelmente confortadora. Ao escutar
do Senhor “a minha graça te basta, porque o Meu poder se
aperfeiçoa na fraqueza”, Paulo teve a certeza de que todas as suas
necessidades são supridas em Cristo Jesus. Realmente há um
conforto muito grande nessa resposta! Ela definitivamente revela
que não é sobre nós, mas é sobre Cristo. Nosso contentamento
não depende de nossas próprias forças, mas do poder dEle. Além
do mais, a frase é: “a minha graça te basta”. A palavra “basta”
traduz um termo grego que significa “suficiente”. Essa palavra
implica na ideia de algo que é completo, que satisfaz plenamente.

95
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

A graça divina é plena, é suficiente, é bastante, não menos que


isso. A graça é algo imerecido. O significado dessa palavra
expressa algo que procede do doador e é recebido como um
presente pelo destinatário que não fez nada por merecê-lo. Paulo
entendeu esse princípio completamente. Por esse motivo ele não
fazia como os falsos apóstolos que se gloriavam em suas próprias
qualidades ilusórias. Ele se gloriava na cruz de Cristo (Gálatas
6:14); ele se orgulhava no Senhor, pois sabia que somente a Ele
pertence toda honra e glória.
“A minha graça te basta” é uma promessa que encoraja os
seguidores de Cristo independentemente das circunstâncias e
sofrimentos. Deus não tirou o espinho como Paulo lhe havia
pedido, mas lhe supriu continuamente e constantemente com sua
graça para que ele pudesse suportá-lo. É verdade que nem sempre
Deus irá nos livrar de nossos problemas; mas Ele sempre irá nos
sustentar com sua graça suficiente que nos fortalece diante de
qualquer dificuldade. No capítulo 11, Paulo faz uma lista das
muitas dificuldades e situações ameaçadoras pelas quais ele
passara. Incluídas em sua lista estão grandes aflições físicas,
aprisionamentos, espancamentos, apedrejamentos, naufrágios,
rios perigosos, assaltantes, perseguição de gentios e judeus, noites
mal dormidas, frio e calor, fome e sede (vv. 23-27). Ainda mais
dolorosa do que tudo isso era a preocupação diária que ele tinha
de bem-estar das igrejas que eram a maior paixão de Paulo (Cl
1.28-29) e apresentavam o maior potencial para trazer-lhe dor e
decepção.

96
Capítulo – 2 | A GRAÇA

As Lições Da Graça
As circunstâncias aflitivas experimentadas por Paulo
colocaram-no em posição de aprender algumas lições
maravilhosas sobre a graça de Deus, as quais ele nos transmite em
2 Coríntios 12.7-10.

Humildade
Deus sabe que os homens estão sujeitos ao orgulho,
especialmente quando estão em posições de privilégio espiritual.
Portanto, Deus usa oposição e sofrimento para lhes ensinar a
humildade.
Paulo foi talvez o homem espiritualmente mais privilegiado
que já viveu; e a graça do Senhor em sua vida foi extraordinária.
Em pelo menos quatro ocasiões o próprio Jesus apareceu a ele, a
fim de instruí-lo e encorajá-lo em tempos de profunda
necessidade (At 9.4-6; 18.9,10; 22.17-21; 23.11; 2 Co 12.1-4).
Recebeu tão ampla revelação da parte de Deus que seus escritos
formam quase a metade dos livros do Novo Testamento. Por
causa da natureza extraordinária destas revelações, Deus colocou
um “espinho na carne” de Paulo, para guardá-lo da exaltação (2
Co 12.7). Essa expressão poderá inspirar um quadro de uma
pessoa furando o dedo com um pequeno espinho, a colher rosas.
A palavra grega traduzida por “espinho” literalmente significa
uma estaca, na carne pecaminosa de Paulo, para afligi-la e matá-
la, com o propósito de evitar a jactância e o orgulho. Paulo
descreveu o espinho como um “mensageiro de Satanás” (v. 7). Há

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Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

muitos pontos de vista diferentes sobre o que isso significa, mas


se consideramos pelo significado, evidente, podemos simplificar a
questão. Um mensageiro de Satanás é alguém a quem Satanás
envia com uma mensagem: isso é bastante claro. A palavra grega
traduzida por “mensageiro” é angelos, que é usada mais de 170
vezes no Novo Testamento e sempre se refere a uma pessoa-
homem ou anjo. Portanto, é demasiado improvável que Paulo
estivesse usando essa palavra no versículo 7 para se referir a um
mal físico, como muitos comentaristas sugerem. Alguns dizem
que o espinho a que Paulo se refere era uma pessoa. Afirmam que
era o cabeça da oposição em Corinto, o qual estava difamando
Paulo, mediante um ataque pessoal ao seu caráter e ao seu
ministério, fazendo com que as pessoas amadas por Paulo se
virassem contra ele. A quem diga que é a relação de Paulo e
Tecla, no escrito “Atos de Paulo e Tecla”, porém não temos
fundamento algum para afirmar isso, até por que os escritos
registram fatos muitos distantes de um possível relacionamento
entre Paulo e Tecla, bem sabemos que o foco desses escritos são
apenas interesses evangelístico e eclesiástico. Não a nenhum
verso que trate diretamente ou indiretamente para um
relacionamento além de irmãos em Cristo. Além do mais não a
nenhum ponto contextual para interligar as questões. A seguir, um
texto usado por muitos para dizer que Paulo estava falando de
uma pessoa com sendo o espinho na carne. Esse argumento nos
remete a compreender a absoluta negação da depravação total.
Pois o argumento mostra ser mais fácil Deus permitir Satanás

98
Capítulo – 2 | A GRAÇA
atormenta-lo, do que crer que o espinho estava no cerne da
decadência de um homem necessitado da graça.
“O argumento de Paulo é que Deus fez com que Satanás
enviasse alguém para afligi-lo de forma agressiva. Paulo
entendeu isto e até sabia a razão de tal tratamento: “Para que
não se ensoberbecesse” (v.7). Assim como Ele usara Satanás
para humilhar Jó e Pedro, Deus estava preparando Paulo para
ser mais útil. Ao contrário de muitos conselheiros humanos, que
buscam elevar a opinião da pessoa sobre si mesma, Deus nos
esvazia para que tenhamos um relacionamento correto com Ele.
Depois, exalta-nos de acordo com a sua vontade e nos dá graça
maravilhosa (Tg 4.6,10)”.

Dependência
Frequentemente outros crentes são canais da graça de Deus,
mas somente Ele é a fonte. Temos a tendência de nos voltarmos
para as pessoas a fim de solucionar nossas mágoas, mas Deus
quer que, em tempos de dificuldade, busquemos primeiramente a
Ele.
Essa foi à reação de Paulo. Em 2 Coríntios 12.8, ele diz: “Por
causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim”.
Rogar é pedir ou apelar a alguém, observe que as palavras de
Paulo não foram: “Por causa disto, fui ao meu terapeuta, fiz um
seminário, li um livro ou repreendi a Satanás”. Ele tomou o rumo
que muitos consideram simplista: ao Senhor!

99
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

Três vezes ele rogou que Deus removesse o espinho; mas o


Senhor disse não. Paulo orou fiel e persistentemente; e aprendeu
que os propósitos de Deus se realizariam melhor com a resposta
negativa.

Suficiência
Paulo ficou contente com a resposta de Deus, porque sabia
que Deus iria suprir graça suficiente para sua dificuldade.
“Então ele me disse: A minha graça te basta” (v. 9). “Ele me
disse” está no tempo perfeito no texto grego, implicando que, toda
vez que Paulo orava, Deus dizia e continuava a dizer a mesma
coisa. “A minha graça te basta”. Deus respondeu à oração de
Paulo, não para dar o que ele pedia, nem para remover o problema
ou a dor, mas por suprir graça suficiente para que Paulo pudesse
suportá-lo. Por que remover algo que gera benefícios tão imensos,
tais como a humildade, a comunhão e maior glória para Deus?

O Poder de Deus
O sofrimento que revela as nossas fraquezas, serve também
para revelar o poder de Deus: “Porque o poder se aperfeiçoa na
fraqueza” (v.9). Quando somos menos dependentes de nossa força
humana e temos apenas o poder de Deus para nos sustentar, então
somos canais adequados pelos quais Deus faz fluir seu poder.
Desta forma, devemos louvar a Deus pela adversidade, pois ela é
a ocasião em que o poder de Deus é mais evidente em nossas
vidas. Não existe alguém tão fraco que não possa tornar-se forte,

100
Capítulo – 2 | A GRAÇA
mas existem muitos que achando-se fortes continuarão fracos.
Paulo compreendeu esta verdade. Sua atitude foi de gozo e
louvor. No versículo 9, ele diz: “De boa vontade, pois, mas me
gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de
Cristo”. Ele não era um masoquista. Não adorava ser maltratado,
mas amava a graça e o poder de Deus manifestados nele. Sabia
que um ministério espiritual só pode ser realizado no poder do
Espírito. Quando sua reputação acabasse, Paulo não poderia
depender dela. Quando sua força física se esgotasse, não poderia
se amparar nela. Ficou limitado a pregar a mensagem que Deus
lhe havia confiado e a depender do poder de Deus para fazer o
resto, e Deus nunca falhou com ele.
Paulo nos dá um princípio-chave no versículo 10: “Pelo que
sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas
perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando
sou fraco, então é que sou forte”.
Paulo aceitou o seu problema grave como um amigo
destinado a torná-lo mais útil para Deus. Sua atitude faz um
grande contraste com a atitude de nossa sociedade! A maioria das
pessoas pensam que a felicidade consiste em gozar de
circunstâncias agradáveis e em possuir muitos bens. Muitos
cristãos parecem pensar que guardar os crentes de todas as
dificuldades é a maior expressão da graça de Deus. Em muitos
momentos Deus nos guarda de fato, das dificuldades, mas em
outros Ele as usa para revelar sobre nós que a sua graça é

101
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

suficiente para termos uma vida abundante de gozo e alegria no


Espírito.

A GRAÇA COMUM

Explicação E Base Bíblica


Quando Adão e Eva pecaram, tornaram-se réus da punição
eterna e da separação de Deus (Gênesis 2:17). Do mesmo modo,
hoje, quando os seres humanos pecam, eles se tornam sujeito à ira
de Deus e à punição eterna: “o salário do pecado é a morte”
(Romanos 6:23). Isso significa que, uma vez que as pessoas
pecam, a justiça de Deus requer somente uma coisa que elas
sejam eternamente separadas de Deus, alienadas da possibilidade
de experimentar qualquer bem da parte dEle, e que elas existam
para sempre no inferno, recebendo eternamente apenas a Sua ira.
De fato, isso foi o que aconteceu aos anjos que pecaram e poderia
ter acontecido exatamente conosco também: “Pois Deus não
poupou aos anjos que pecaram, mas os lançou no inferno,
prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados
para o juízo” (2 Pedro 2:4). Mas, de fato, Adão e Eva não
morreram imediatamente (embora a sentença de morte começasse
a ser aplicada na vida deles no dia em que pecaram). A execução
plena da sentença de morte foi retardada por muitos anos.
Podemos definir graça comum da seguinte maneira: Graça
comum é a graça de Deus pela qual Ele dá às pessoas bênçãos
inumeráveis que não são parte da salvação. A palavra comum

102
Capítulo – 2 | A GRAÇA
aqui significa algo que é dado a todos os homens e não é restrito
aos eleitos somente. Diferentemente da graça comum, a graça de
Deus que leva pessoas à salvação é muitas vezes chamada “graça
salvadora”. Naturalmente, quando falamos a respeito da “graça
comum” e da “graça salvadora”, não estamos sugerindo que há
duas diferentes espécies de graça vindas do próprio Deus, mas
apenas estamos dizendo que a graça de Deus se manifesta no
mundo de duas maneiras diferentes. A graça comum é diferente
da graça salvadora quanto aos resultados (ela não traz salvação),
seus destinatários (é dada aos crentes e descrentes igualmente) e
sua fonte (ela não flui diretamente da obra expiatória de Cristo,
visto que a morte dEle não obtém nenhuma medida de perdão
para os descrentes e, portanto, nem os crentes nem os descrentes
fazem jus às suas bênçãos).

Exemplos De Graça Comum


Se olharmos para o mundo ao nosso redor e o contrastarmos
com o fogo do inferno que ele merece, podemos ver
imediatamente a abundante evidência da graça comum de Deus
em milhares de exemplos na vida diária. Podemos distinguir
diversas categorias específicas nas quais essa graça comum pode
ser vista.
1. A esfera física. Os descrentes continuam a viver neste
mundo somente por causa da graça comum de Deus cada vez que
as pessoas respiram é pela graça, pois o salário do pecado é a
morte, não a vida. Além disso, a terra não produz somente

103
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

espinhos e ervas daninhas (Gênesis 3:18), nem permanece um


deserto ressequido, mas a graça comum de Deus provê comida e
material para roupa e abrigo, muitas vezes em grande abundância
e diversidade. Jesus disse: “Amem os seus inimigos e orem por
aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de
seu Pai que está nos céus. Porque Ele faz raiar o seu sol sobre
maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mateus
5:44,45). Aqui Jesus apela para a abundante graça comum de
Deus como encorajamento aos seus discípulos, para que eles
também concedam amor e orem para que os descrentes sejam
abençoados (cf. Lucas 6:35,36). Semelhantemente, Paulo disse ao
povo de Listra: “No passado Deus permitiu que todas as nações
seguissem os seus próprios caminhos. Contudo. Deus não ficou
sem testemunho: mostrou sua bondade, dando-lhes chuva do céu
e colheitas no tempo certo, concedendo-lhes sustento com fartura
e um coração cheio de alegria” (Atos 14:16,17). O Antigo
Testamento também fala da graça comum de Deus que vem aos
descrentes tanto quanto aos crentes. Um exemplo específico é o
de Potifar, o capitão da guarda do Egito que comprou José como
escravo: “o Senhor abençoou a casa do egípcio por causa de José.
A bênção do Senhor estava sobre tudo o que Potifar possuía, tanto
em casa como no campo” (Gênesis 39:5). Davi fala de modo
muito mais geral a respeito das criaturas que o Senhor fez:

“O Senhor é bom para todos; a sua compaixão alcança


todas as suas criaturas. [...] Os olhos de todos estão voltados

104
Capítulo – 2 | A GRAÇA
para ti, e tu lhes dás o alimento no devido tempo. Abres a tua
mão e satisfazes os desejos de todos os seres vivos” (Salmos
145:9,15,16).

Estes versículos são outro lembrete de que a bondade que é


encontrada em toda a criação não acontece automaticamente ela
se deve à bondade de Deus e Sua compaixão.
2. A esfera intelectual. Satanás é “mentiroso e pai da
mentira” e “não há verdade nele” (João 8:44), porque lhe foi dado
ter domínio sobre o mal e sobre a irracionalidade e
comprometimento com a falsidade que acompanha o mal radical.
Mas os seres humanos no mundo de hoje, mesmo os descrentes,
não estão totalmente entregues à mentira, irracionalidade e
ignorância. Todas as pessoas são capazes de ter um pouco de
compreensão da verdade; de fato, algumas possuem grande
inteligência e entendimento. Isso também deve ser visto como
resultado da graça comum de Deus. João fala de Jesus como “a
verdadeira luz, que ilumina todos os homens” (João 1:9), pois, em
seu papel como criador e sustentador do universo (não
particularmente em seu papel como redentor), o Filho de Deus
concede iluminação e entendimento que vêm a todas as pessoas
no mundo. A graça comum de Deus na esfera intelectual é vista
no fato de que todas as pessoas têm certo conhecimento de Deus:
“porque, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus,
nem lhe renderam graças” (Romanos 1:21). Isso significa que há
um senso da existência de Deus e muitas vezes a fome de

105
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

conhecer Deus que Ele permite que permaneça no coração das


pessoas, embora isso resulte muitas vezes em muitas religiões
diferentes criadas pelos homens. Portanto, mesmo quando falando
a pessoas que sustentavam religiões falsas, Paulo pôde encontrar
um ponto de contato com respeito ao conhecimento da existência
de Deus, exatamente como fez quando falou aos filósofos
atenienses: “Atenienses! Vejo que em todos os aspectos vocês são
muito religiosos [...] o que vocês adoram, apesar de não
conhecerem, eu lhes anuncio” (Atos 17:22,23). A graça comum
de Deus na esfera intelectual também resulta na capacidade de
captar a verdade e distingui-la do erro e de experimentar
crescimento em conhecimento que pode ser usado na investigação
do universo e na tarefa de dominar a terra. Isso significa que toda
ciência e tecnologia desenvolvida pelos não-cristãos é resultado
da graça comum, permitindo-lhes fazer descobertas e invenções
incríveis, para desenvolver os recursos do planeta na criação de
muitos bens materiais, para produção e distribuição desses
recursos e para alcançar habilidades na obra produtiva. Em
sentido prático, isso significa que, cada vez que entramos em uma
mercearia, andamos em um automóvel ou entramos em uma casa,
devemos lembrar que estamos experimentando os resultados da
abundante graça comum de Deus derramada tão ricamente sobre
toda a raça.
3. A esfera moral. Pela graça comum Deus também refreia as
pessoas de serem tão más quanto poderiam. Novamente o reino
demoníaco, totalmente dedicado ao mal e à destruição,

106
Capítulo – 2 | A GRAÇA
proporciona um contraste claro com a sociedade humana, na qual
o mal é claramente refreado. Se as pessoas persistem dura e
repetidamente em seguir o pecado durante o curso de sua vida,
Deus finalmente as entregará ao maior de todos os pecados (cf.
Salmos 81:12; Romanos 1:24,26,28), mas no caso da maioria dos
seres humanos eles não caem nas profundezas às quais seus
pecados normalmente os levariam, porque Deus intervém e coloca
freio na sua conduta. Um refreamento muito eficaz é a força da
consciência. Paulo diz: “De fato, quando os gentios, que não têm
a Lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para
si mesmos, embora não possuam a Lei; pois mostram que as
exigências da Lei estão gravadas em seu coração. Disso dão
testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles,
ora acusando-os, ora defendendo-os” (Romanos 1:32). E em
muitos outros casos, essa sensação interior da consciência leva os
indivíduos a estabelecer leis e costumes na sociedade que são, em
termos da conduta exterior que eles aprovam ou proíbem,
totalmente iguais às leis morais das Escrituras. As pessoas muitas
vezes estabelecem leis ou têm costumes que respeitam a santidade
do casamento e da família, protegem a vida humana e proíbem o
roubo e a falsidade no falar. Por causa disso, elas muitas vezes
seguem caminhos moralmente retos e exteriormente andam
conforme os padrões morais encontrados nas Escrituras. Embora a
conduta moral delas não possa ganhar méritos com Deus, visto
que a Escritura claramente diz que “diante de Deus ninguém é
justificado pela Lei” (Gálatas 3:11) e “Todos se desviaram,

107
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem,


não há nem um sequer” (Romanos 3:12), contudo, em algum
sentido menor que ganhar a aprovação ou o mérito eterno de
Deus, os descrentes realmente fazem “o bem”. Jesus sugere isso
quando diz: “E que mérito terão, se fizerem o bem àqueles que
são bons para com vocês? Até os 'pecadores' agem assim” (Lucas
6:33).
4. A esfera da criatividade. Deus distribuiu medidas
significativas de capacidade em áreas artísticas e musicais, assim
como em outras esferas nas quais a criatividade e a habilidade
podem expressar-se, como praticar esportes, cozinhar, escrever, e
assim por diante. Além disso, Deus nos dá a capacidade de
apreciar a beleza em muitas áreas da vida. E nessa área, assim
como na esfera física e intelectual, as bênçãos da graça comum
são às vezes derramadas sobre os descrentes até mais
abundantemente que sobre os crentes. Todavia, em todos os
casos, ela é resultado da graça de Deus.
5. A esfera da sociedade. A graça de Deus também é
evidente na existência de várias organizações e estruturas na raça
humana. Vemos isso primeiramente na família humana, ressaltado
pelo fato de que Adão e Eva permaneceram marido e mulher após
a queda e então tiveram filhos, homens e mulheres (Gênesis 5:4).
Os filhos de Adão e Eva casaram-se e formaram famílias para si
mesmos (Gênesis 4:17,19,26). A família humana permanece
ainda hoje, não simplesmente como instituição para os crentes,
mas para todas as pessoas. O governo humano é também

108
Capítulo – 2 | A GRAÇA
resultado da graça comum. Ele foi instituído no princípio por
Deus após o dilúvio (ver Gênesis 9:6) e, segundo Romanos 13
claramente afirma, foi estabelecido por Deus: “Todos devem
sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade
que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele
estabelecidas”. Está claro que o governo é dom de Deus para a
raça em geral, pois Paulo diz que a autoridade “é serva de Deus
para o seu bem” e que ela é “serva de Deus, agente de justiça para
punir quem pratica o mal” (Romanos 13:4). Um dos principais
meios que Deus usa para refrear o mal no mundo é o governo
humano. As leis humanas, as forças policiais e os sistemas
judiciais proporcionam poderosa repressão às más ações, e esses
são freios necessários, pois há muito mal no mundo que é
irracional e pode ser restringido somente pela força, já que ele não
será impedido pela razão ou pela educação. Obviamente a
pecaminosidade das pessoas pode também afetar os governos em
si mesmos, de forma que o governo humano, igual a todas as
outras bênçãos da graça comum que Deus dá, pode ser usado
tanto para o propósito do bem como do mal.
6. A esfera religiosa. Mesmo na esfera da religião humana, a
graça comum de Deus traz algumas bênçãos para as pessoas
incrédulas. Jesus nos diz: “Amem os seus inimigos e orem por
aqueles que os perseguem” (Mateus 5:44), e desde que não há
qualquer restrição no contexto para que se ore simplesmente pela
salvação deles e como a ordem de orar pelos que nos perseguem é
combinada com a ordem de amá-los, parece razoável concluir que

109
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

Deus pretende responder a nossas orações pelos que nos


perseguem em muitas áreas de suas vidas. De fato, Paulo
especificamente ordena que oremos “pelos reis e por todos os que
exercem autoridade” (1 Timóteo 2:2). Quando procuramos o bem
dos descrentes, isso é coerente com a própria prática divina de
conceder sol e chuva a “maus e bons” (Mateus 5:45) e também
está de acordo com a prática de Jesus durante o Seu ministério
terreno, quando Ele curou cada pessoa que lhe era trazida (Lucas
4:40). Não há indicação alguma de que ele tenha exigido que
todos cressem nele ou concordassem que ele era o Messias antes
de lhes conceder cura física. Deus responde às orações dos
descrentes? Embora Deus não tenha prometido responder às
orações dos descrentes como prometeu responder às orações dos
que vêm a Ele em nome de Jesus, e embora Ele não tenha
obrigação de responder às orações dos descrentes, mesmo assim
Deus pode por Sua graça comum ouvir e responder positivamente
às orações deles, demonstrando dessa forma Sua misericórdia e
bondade de outro modo ainda (cf. Salmos 145:9,15; Mateus 7:22;
Lucas 6:35,36). Esse é provavelmente o sentido de 1 Timóteo
4:10, que diz que Deus é o “Salvador de todos os homens,
especialmente dos que creem”. Aqui “Salvador” não significa
restritamente “quem perdoa pecados e dá vida eterna”, porque tais
coisas não são dadas aos que não creem. “Salvador” deve ter aqui
um sentido mais geral a saber, “quem resgata da miséria, quem
liberta”. Em caso de pobreza e miséria, Deus muitas vezes ouve
as orações dos descrentes e os livra graciosamente de seus

110
Capítulo – 2 | A GRAÇA
problemas. Além disso, mesmo os descrentes muitas vezes
possuem um senso de gratidão para com Deus pela bondade da
criação, pela libertação em meio ao perigo e pelas bênçãos da
família, do lar, das amizades e do país.
7. A graça comum não salva pessoas. A despeito de tudo
isso, devemos perceber que a graça comum é diferente da graça
salvadora. A graça comum não muda o coração humano nem traz
pessoas ao genuíno arrependimento ou à fé ela não pode salvar e
não salva pessoas (embora na esfera intelectual e moral ela possa
preparar as pessoas para torná-las mais dispostas a aceitar o
evangelho). A graça comum refreia o pecado, mas não muda a
disposição fundamental de pecar nem purifica a natureza humana
decaída.
Devemos também reconhecer que as ações que os descrentes
realizam por causa da graça comum não merecem a aprovação ou
o favor de Deus. Essas ações não procedem da fé (“tudo o que
não provém da fé é pecado”, Romanos 14:23) nem são motivadas
pelo amor a Deus (Mateus 22:37), e sim pelo amor ao ego sob
uma ou outra forma. Portanto, embora possamos prontamente
dizer que as obras dos descrentes que se conformam externamente
às leis de Deus são “boas” em algum sentido, contudo elas não
são boas em termos de merecer a aprovação de Deus nem de
tornar Deus endividado para com o pecador em sentido algum.
Finalmente, devemos reconhecer que os descrentes muitas vezes
recebem mais graça comum que os crentes eles podem ser mais
habilidosos, trabalhar com mais esforço, ser mais inteligentes,

111
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

mais criativos ou ter mais dos benefícios materiais desta vida para
desfrutar. Isso não indica de forma alguma que eles são mais
favorecidos por Deus no sentido absoluto ou que eles vão ganhar
qualquer coisa relativa à salvação eterna, mas significa somente
que Deus distribui as bênçãos da graça comum de vários modos,
muitas vezes concedendo bênçãos bastante significativas a
descrentes. Em tudo isso, obviamente, eles devem tomar
consciência da bondade de Deus (Ateus 14:17) e reconhecer que a
vontade revelada de Deus é que essa “bondade de Deus”
finalmente os conduza “ao arrependimento” (Romanos 2:4).

Razões para a graça comum


Por que Deus concede graça comum a pessoas imerecedoras
que nunca virão à salvação? Podemos sugerir ao menos quatro
razões.
1. Para redimir os que serão salvos. Pedro diz que o dia do
juízo e da execução final de punição está sendo retardado porque
há ainda mais pessoas que serão salvas. “O Senhor não demora
em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Ao contrário,
ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas
que todos cheguem ao arrependimento.” (2 Pedro 3:9,10). De
fato, essa razão foi verdadeira desde o princípio da história
humana, pois, se Deus quisesse salvar qualquer pessoa entre todos
que compõem a humanidade pecaminosa, Ele não poderia destruir
todos os pecadores imediatamente (nesse caso não sobraria
ninguém da raça humana). Ao contrário, Ele resolveu permitir que

112
Capítulo – 2 | A GRAÇA
seres humanos pecaminosos vivessem algum tempo de modo a ter
uma oportunidade de arrependimento e também para que
pudessem gerar filhos, capacitando gerações subsequentes a viver,
a ouvir o evangelho e se arrepender.
2. Para demonstrar a bondade e a misericórdia de Deus. A
bondade e a misericórdia de Deus não são vistas somente na
salvação dos crentes, mas também nas bênçãos que Deus dá aos
pecadores que não as merecem. Quando Deus “é bondoso para
com os ingratos e maus” (Lucas 6:35), essa bondade é revelada no
universo, para a Sua glória. Davi diz: “O Senhor é bom para
todos; a sua compaixão alcança todas as suas criaturas” (Salmos
145:9). Na história de Jesus conversando com o moço rico, lemos:
“Jesus olhou para ele e o amou” (Marcos 10:21), embora o
homem fosse um descrente que no mesmo instante afastou-se de
Jesus porque possuía muitas riquezas. Berkhof diz que Deus
“derrama incontáveis bênçãos sobre todos os homens e também
indica claramente que elas são expressões de uma disposição
favorável de Deus que, contudo, fica muito aquém da volição
positiva exercida para lhes perdoar, suspender a sentença a eles
imposta e assegurar-lhes a salvação”.

Não é injusto Deus retratar a execução da punição do pecado


e dar temporariamente bênçãos aos seres humanos, porque a
punição não é esquecida, mas apenas retardada. Retardando a
punição, Deus mostra claramente que não tem prazer em executar
o juízo final, mas, ao contrário, Ele se deleita na salvação de

113
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

homens e mulheres. “Juro pela minha vida, palavra do Soberano,


o SENHOR, que não tenho prazer na morte dos ímpios, antes
tenho prazer em que eles se desviem dos seus caminhos e vivam”
(Ezequiel 33:11). Deus “deseja que todos os homens sejam salvos
e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2:4). Em
tudo isso o tempo de espera da punição dá uma evidência clara da
misericórdia, bondade e amor de Deus.
3. Para demonstrar a justiça de Deus. Quando
repetidamente Deus convida os pecadores a virem à fé e
repetidamente eles recusam os Seus convites, a justiça de Deus
em condená-los é vista muito mais claramente. Paulo adverte que
quem persiste na incredulidade está simplesmente acumulando a
ira para si mesmo: “Contudo, por causa da teimosia e do seu
coração obstinado, você está acumulando ira contra si mesmo,
para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo
julgamento” (Romanos 2:5). No dia do juízo todas as bocas serão
silenciadas (Romanos 3:19), e ninguém será capaz de contrapor
que Deus foi injusto.
4. Para demonstrar a glória de Deus. Finalmente, a glória de
Deus é mostrada de muitas formas pelas atividades dos seres
humanos em todas as áreas nas quais a graça comum está em
operação. No desenvolvimento e no exercício do domínio sobre a
terra, homens e mulheres demonstram e refletem a sabedoria do
seu Criador, comprovam as qualidades dadas por Deus, as
virtudes morais e a autoridade sobre o universo, e coisas
semelhantes. Embora todas essas atividades sejam contaminadas

114
Capítulo – 2 | A GRAÇA
por motivos pecaminosos, elas apesar disso refletem a excelência
de nosso Criador e, portanto, trazem a glória a Ele, não de forma
plena e perfeita, mas ainda assim significativa.

Nossa resposta à doutrina da graça comum


Pensando sobre as várias espécies de bondades vistas na vida
dos descrentes por causa da graça comum que Deus dá
abundantemente, devemos ter em mente três pontos.
1. Graça comum não significa que quem a recebe será
salvo. Mesmo uma porção excepcional de graça comum não
significa que quem a recebe será salvo. Até as pessoas mais
habilidosas, mas inteligentes, mais ricas e poderosas no mundo
ainda carecem do evangelho de Jesus Cristo ou serão condenadas
eternamente! Os nossos vizinhos mais bondosos e de moral mais
elevada ainda carecem do evangelho de Jesus Cristo ou serão
condenados eternamente! Exteriormente pode parecer que eles
não têm necessidade algumas, mas as Escrituras dizem que os
descrentes são “inimigos de Deus” (Romanos 5:10; cf.
Colossenses. 1:21; Tiago 4:4) e são “contra” Cristo (Mateus
12:30). Eles são “inimigos da cruz de Cristo” e “só pensam nas
coisas terrenas” (Filipenses 3:18,19), sendo “por natureza
merecedores da ira” (Efésios 2:3).

2. Devemos ter cuidados em não rejeitar as coisas boas que


os descrentes fazem, considerando-as totalmente más. Pela graça
comum os descrentes fazem algumas coisas boas, e devemos ver a

115
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

mão de Deus nelas, sendo agradecidos por elas, como por


exemplo nas amizades, em cada ato de bondade, no que elas
trazem de bênçãos para outras pessoas. Tudo isso, embora o
descrente não o saiba procede em última análise de Deus, e Deus
merece a glória por tudo.
3. A doutrina da graça comum deveria estimular nosso
coração à gratidão muito maior a Deus. Quando descemos uma
rua e vemos casas, jardins e famílias vivendo em segurança, ou
quando negociamos no mercado e vemos os resultados
abundantes do progresso tecnológico, ou quando andamos pelos
bosques e vemos a beleza da natureza, ou quando somos
protegidos pelas autoridades, ou quando somos educados no vasto
conhecimento humano, devemos perceber não somente que Deus,
em Sua soberania, é o responsável último por todas essas bênçãos,
mas também que Deus as tem concedido aos descrentes, embora
eles não tenham absolutamente nenhum mérito com relação a
elas! Essas bênçãos no mundo não são apenas evidências do
poder e sabedoria de Deus, mas a manifestação contínua da Sua
graça abundante. A percepção deste fato deveria fazer nosso
coração se encher de gratidão a Deus em cada atividade de nossa
vida.

A GRAÇA ESPECIAL
A outra maneira de Deus revelar Seu favor é através da graça
especial, comumente denominada de graça eficaz, efetiva ou
graça salvadora. A graça de Deus é eficaz na medida em que

116
Capítulo – 2 | A GRAÇA
produz salvação na vida dos indivíduos eleitos que depositam sua
fé na morte de Cristo e no sangue que Ele derramou na cruz para
remissão de seus pecados. A graça eficaz é conhecida por
experiência no momento em que Deus, pela instrumentalidade do
Espírito Santo, opera de forma irresistível na mente e no coração
de uma pessoa, de modo que o indivíduo escolha livremente crer
em Jesus Cristo como seu Salvador. Os crentes em Cristo são
chamados, não segundo suas obras de esforço próprio, mas
conforme a “determinação e graça” de Deus (2 Tm 1.9). O
apóstolo Paulo é um exemplo clássico da chamada eficaz de
Deus. Ele foi chamado, não por sua vontade, mas “pela vontade
de Deus” (1 Co 1.1). Na realidade, ele tentava destruir a Igreja até
o momento em que se converteu a Cristo, conversão essa que
ocorreu pela graça de Deus (At 9).

A DEMONSTRAÇÃO DA GRAÇA DE DEUS


A graça de Deus se evidencia de diversas maneiras na vida de
um crente em Cristo.

Graça Salvadora
A palavra salvação é um termo abrangente. Refere-se ao ato
redentor de Deus pelo qual Ele, no presente momento, redime o
indivíduo da penalidade e do poder do pecado, e, no futuro,
libertará o crente em Cristo da presença do pecado na ocasião da
glorificação dos salvos. A salvação é um dom gratuito de Deus,
concedido a uma pessoa em virtude da graça, por meio da fé,

117
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

independentemente de qualquer obra ou mérito da parte da pessoa


que o recebe. No momento da salvação, a graça imerecida e a fé
do crente são dons que procedem diretamente do Senhor àqueles
que põem sua fé em Cristo (Ef 2.8-9). A graça da salvação,
oferecida na atual dispensação, inclui cada aspecto da obra
redentora de Deus em favor dos crentes em Jesus e abrange a
redenção, a propiciação, a justificação, o perdão, a santificação, a
reconciliação e a glorificação para aquele que, pela fé, recebe a
Cristo.

Graça Santificadora
Deus, por intermédio do Espírito Santo, providenciou dons
espirituais sobrenaturais com o objetivo de equipar e capacitar
cada crente em Cristo para o seu ministério e serviço na igreja
local. Naquele momento em que a pessoa, pela fé, recebe a Cristo,
ele (ou ela) é santificado pela graça de Deus. A palavra
santificação significa “tornar santo” ou “separar para Deus” com
propósito ou uso sagrado. A Bíblia menciona pessoas, lugares,
dias e objetos inanimados consagrados, separados a Deus. No que
se refere a um indivíduo, a santificação pode ser definida como a
obra da livre graça de Deus através do Espírito Santo, na qual Ele
separa o crente para ser amoldado ou conforme à imagem de
Cristo.
As Escrituras se referem a três estágios de santificação pela
graça de Deus. O primeiro deles é o da santificação posicional
que diz respeito à posição santa do crente perante Deus,

118
Capítulo – 2 | A GRAÇA
fundamentada na redenção que Cristo efetuou a seu favor. O
segundo estágio é o da santificação progressiva, na qual o crente
em Cristo se encontra no processo de ser santificado através da
Palavra de Deus (Jo 17.17). Os crentes são exortados a crescer
“na graça” (2 Pe 3.18); na busca desse crescimento, tornam-se
recipientes do favor imerecido que procede do Senhor.
O crescimento na graça não é obtido por meios naturais, mas
se dá através do estudo da Palavra de Deus (2 Pe 1.2-3,5-6,8). À
medida que um crente em Jesus cresce na graça, o fruto do
Espírito se torna manifesto através da vida dele ou dela (Gl 5.22-
23), levando a pessoa a uma conformidade com a imagem e
semelhança de Cristo (Rm 8.29). O terceiro estágio é o da
santificação completa ou perfeita, que os crentes conhecerão por
experiência quando receberem seus corpos glorificados e se
completar a sua redenção (Rm 8.30; Ef 5.27). Esse acontecimento
se concretizará na ocasião do Arrebatamento da Igreja (1 Co
15.51-52; 1 Ts 4.16-17).

Graça Servidora
A palavra dom (do termo grego charisma: “dádiva ou dom da
graça”) se refere a um favor que alguém recebe gratuitamente,
sem merecê-lo. Deus, por intermédio do Espírito Santo,
providenciou dons espirituais sobrenaturais com o objetivo de
equipar e capacitar cada crente em Cristo para o seu ministério e
serviço na igreja local. Não existe apenas um dom, mas, sim, uma
diversidade de dons que o Espírito Santo concede aos crentes (Rm

119
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

12.6-8; 1 Co 12.8-11; Ef 4.7,11-12; 1 Pe 4.11). O sofrimento faz


parte da condição humana, em virtude do pecado, do
envelhecimento do corpo, da desobediência ao Senhor, ou da
punição de Deus. Os crentes dispõem de “diferentes dons segundo
a graça que por Deus nos foi dada” (Rm 12.6). Alguns crentes
possuem uma abundância de dons, enquanto outros possuem
apenas um ou dois. Esses dons, ou graças, não são dons, talentos
ou habilidades naturais; pelo contrário, são dons proporcionados
por Deus, os quais, através do crente, efetuam a edificação do
Corpo de Cristo, rendendo, assim, a glória que pertence a Deus.
No uso de seu dom, um crente deve se dirigir às outras pessoas
com uma atitude de graça. O apóstolo Paulo declarou: “A vossa
conversa seja sempre com graça” (Cl 4.6; conforme a Tradução
Brasileira). No que dizia respeito ao serviço para o Senhor, Paulo
estava equipado, não com sua própria força e poder, mas com a
graça de Deus que lhe fora outorgada. Ele disse: “...trabalhei
muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de
Deus comigo” (1 Co. 15.10).

Graça Sofredora
O sofrimento faz parte da condição humana, em virtude do
pecado, do envelhecimento do corpo, da desobediência ao Senhor,
ou da punição de Deus. Temos muitos exemplos registrados nas
escrituras que a graça salvadora se manifesta muitas vezes de
forma a nos fazer sofrer como consequência, pois uma vez que a
nós foi dada tal graça, nós então passamos a nos desligar de certas

120
Capítulo – 2 | A GRAÇA
fontes que podem nos prejudicar. A causa disso é a rejeição de
alguns para conosco, e muitos outros tipos de sofrimentos, tudo
por que a graça de Deus pode ser manifesta através de nosso
caráter. Por isso pessoa se afastam de nós de medo de conhecer o
poder de Deus para a salvação, subsequente passamos por um
estágio de gratidão por que sabemos que é a melhor coisa que
Deus poderia fazer para nos firmar na verdade. Como aconteceu
com Paulo, Deus não tirou o espinho dele, mais deu força para
suporta-lo e isso os fez mais firme e fiel. Paulo resumiu isso com
muita propriedade, quando escreveu: “Porquanto a graça de Deus
se manifestou salvadora a todos os homens” (Tt 2.11). Isso diz
tudo. Junto com a compositora daquele hino, cantamos:
“Maravilhosa, infinita, incomparável...” é a surpreendente graça
de Deus.

121
Capitulo – 3
A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ ATRAVÉS DE JESUS CRISTO

A JUSTIFICAÇÃO
PELA FÉ
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ EM CRISTO


“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus
testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a
fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que creem; porque
não há distinção,” (Rm 3.21,22) Chegamos agora ao comentário
dessa palavra que Paulo declara no primeiro capítulo ser o
coração do evangelho a razão é esta: “o poder de Deus para a
salvação”, a saber: “a justiça de Deus através da fé princípio
revelado a qualquer que tenha fé” (Rm 1.17). O primeiro trabalho
do apóstolo, como vemos na porção de Romanos 1.18 a 3.20, foi
trazer todo o mundo sob o julgamento de Deus, culpado,
impotente. Sua segunda tarefa (e esta é uma benção!) é revelar
Deus que veio em justiça na cruz para nós. Vamos mais
diligentemente ler, refletir, sim, e memorizar os versículos 21 a
26, porque isto é a grande declaração de Deus da justificação pela
fé. Seu primeiro anúncio é: Verso 21: “Mas agora, sem lei, se
manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos
profetas” As primeiras palavras: “Mas agora”, devem ser
saudadas por nós alegremente, como o começo de algo novo e
celeste diferente da nossa culpa e impotência, detalhadas na parte
anterior da Epístola, na porção de Rm 1.18 a 3.20. A próxima
frase é: “sem lei” aplique isso ao seu coração! Infelizmente, a
King James Version perde a ênfase aqui. Porque o original grego
põe grande ênfase nesta grande frase “sem lei” (choris nomou) e,

124
Capítulo – 3 | A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

assim, estabelece mais fortemente a separação por completo desta


justiça divina de qualquer desempenho da lei, de quaisquer obras
do homem. Lutero assim o expressou: “sem a ajuda de acessórios
da lei.” Nesta revelação da justiça de Deus, a lei foi deixada de
fora de consideração. A justiça é estabelecida em outro princípio
diferente das nossas boas obras! Agora, o grande e muito comum
erro na consideração da justiça de Deus aqui, é, permitir a lei,
pelo menos em algum lugar. Os homens não podem, ao que
parece, superar o raciocínio que desde que Deus uma vez
promulgou a dispensação da lei, que ele tem apelado à justiça
humana. Ele deve, posteriormente, ficar vinculado a isto para
sempre. E a despeito da garantia divina, mais e mais e mais, a
presente dispensação se fundamenta num princípio
completamente diferente; porque “se revoga a anterior ordenança,
por causa de sua fraqueza e inutilidade”, Hb 7.18. Porque, aquEle
que tinha o direito de ordenar tinha também o direito de revogar.
Foi “por causa de sua fraqueza e inutilidade, pois a lei nenhuma
coisa aperfeiçoou”, que o “precedente mandamento” foi posto de
lado. Ele serviu ao seu propósito de fazer a transgressão
“abundar” (Rm 5.20). Não é que Deus não tenha o direito de
exigir justiça legal de nós, mas que Ele não o faz. “A justiça que é
de Deus” fala de uma forma diametralmente oposta à obediência
da lei pelo homem, de qualquer tipo que seja. Os homens que não
veem ou acreditam que toda a história daqueles que estão em
Cristo terminou na cruz (porque eles morreram ali, com Cristo)

125
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

devem sustentar que Deus ainda está exigindo justiça, porque “a


lei tem domínio sobre o homem, enquanto ele vive!”
Os “doutores da Lei” (I Tm 1.7) dizem: “Por trás de Deus,
assim como Ele fala com você em graça está a Sua Lei eterna. E
Ele deve realizar o que Ele tem manifestado na referida lei. Mas,
porque você não é capaz de cumpri-la, Ele tem “graciosamente”
dado Cristo, para realizar todas as suas necessidades para você. E
as exigências positivas, ou “ativas” são, a observância de todos os
mandamentos da Lei ao pé da letra, isto (estes professores dizem)
Cristo tem pela sua vida perfeita obediência à lei na terra, obtido
para você. E a obediência negativa, ou “passiva”, como eles a
chamam, ou seja, a pena de morte por seus pecados, que a Lei
(dizem eles) exigiu, Cristo pagou na cruz. De modo que, agora
que seus débitos são cancelados pela morte de Cristo, você tem
“méritos” legais de Cristo como sua justiça real diante de Deus,
porque Deus deve exigir (dizem eles) a perfeita justiça de você,
como medida por sua santa Lei”, etc.
Esta aparentemente bela conversa é antibíblica e não
bíblica.
Deus diz que o crente não está debaixo da lei, que ele está
morto para a lei, com base nesse princípio geral, está em Cristo
ressuscitado, e Cristo certamente não está sob a lei no Céu! Os
crentes estão “nele”, pois eles “não estão na carne” (Rm 8.9). Nós
estávamos anteriormente na carne (na antiga vida natural de
Adão), mas agora somos “novas criaturas” em Cristo

126
Capítulo – 3 | A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

Ressuscitado! Se você colocar os crentes sob a lei, você deve


colocar também a sua cabeça federal, Cristo, de volta sob a lei,
pois “como Ele é, somos também nós neste mundo.” Para fazer
isso, você deve reverter o Calvário, e ter Cristo de volta na Terra
“sob a lei.” Porque a lei, repetimos, não foi dada a uma
assembleia celeste, mas para uma nação terrena. A Escritura diz
que era para resgatar pessoas terrenas (Israel) que estavam sob a
lei, que Cristo “nasceu sob a lei” (Gl 4.4). Você deve, portanto, se
estiver “sob a lei”, estar associado a um Cristo que pertence a
Israel, a um Cristo de carne e sangue, e deve consentir em ser um
israelita sob a lei a nação à qual Ele foi enviado. Mas,
infelizmente! Você não acha esse Cristo aqui! Ele disse que
deveria “permanecer sozinho”, como o grão de trigo, a menos que
“caísse na terra e morresse.” A um Cristo terreno judaico você
não pode, portanto, estar unido. E assim sua vã esperança de ter
Moisés e Cristo é totalmente frustrada. Portanto, você deve se
unir com um Cristo ressuscitado, ou com nenhum! Mas se estar
num Cristo ressuscitado, é estar naquEle que morreu para o
pecado (Rom 6.10), os crentes (judeus) que estavam sob a Lei
morreram com Ele para a Lei (Rm 7.4). E vocês, se são de Cristo,
são agora totalmente, como Cristo é, com base na ressurreição. As
palavras “tem se manifestado” (do verso 21) podem ser
expressadas por esta paráfrase: “não por lei, mas por outro
caminho, a justiça de Deus é trazida à luz.” Deus sempre tinha
tratado com justiça, apesar de sua forma ainda não ser tão clara.

127
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

Ele perdoou muitos, e Ele não parecia estar julgando


completamente o pecado, mesmo no mundo não salvo. Mas na
cruz
“Ele não poupou o seu próprio Filho.” Aqui foi revelada, na
verdade, a justiça, ao extremo!
“Testemunhada pela Lei e os Profetas” pela Lei, nas suas
ofertas de sacrifício, pelos Profetas, em declarações diretas: “Este
é o nome com que será chamado: O Senhor nossa justiça” (Jr
23.6); e ainda: “A tua justiça” 21 vezes nos Salmos! e também,
“Eu farei menção da tua justiça, da tua tão somente” (Sl 71.2,
15,16,19,24); e Isaías: “Com o seu conhecimento o meu servo, o
Justo justificará a muitos”. Is 53.11. (Ou seja, com o nosso
conhecimento dEle; por ser conhecido pelos que nele creem, estes
são justificados. No entanto, isto não foi trazido à tona como
deveria ser, até que “a plenitude do tempo” veio, e Deus enviou
Seu Filho para “sofrer pelos pecados, o justo pelos injustos,” para
“aniquilar o pecado pelo o sacrifício de si mesmo”, para que a
justiça de Deus seja “manifestada”, em Seu trato com o pecado, e
para glorificar Seu Filho no céu, que tinha glorificado Seu Pai na
terra. Teria sido justo que Deus ferisse Adão e Eva como ele
havia feito com os anjos que pecaram. Ele poderia ter se revelado
na justiça do juízo de acordo com a Sua santidade e justiça. Ele
não era obrigado a salvar qualquer homem. Mas foi a vontade de
Deus revelar a Si mesmo, porque Ele é Amor. Gloria a Ele
eternamente por isso! Portanto, Ele agora vem através da cruz em

128
Capítulo – 3 | A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

amor, ainda que Ele deve sair também em juízo, porque Ele
mesmo deve justa e totalmente julgar o pecado na pessoa de Seu
próprio Cordeiro provido para nós. A espada “despertada contra o
seu pastor, o homem que foi seu companheiro” o “companheiro”
do Senhor dos exércitos! O pastor foi ferido; “Ele foi moído pelas
nossas iniquidades, o castigo de nossa paz (que obteria a paz para
nós) estava sobre ele.” Deus não poupou seu próprio Filho, mas o
entregou, e a punição para o nosso pecado foi visitada nEle, Jesus,
o sacrifício provido por Deus (Zc 13.7; Isa 53.5,6).
Deus é capaz de vir a nós agora em Graça absoluta, enviando
seus mensageiros “anunciando a paz por Jesus Cristo”; nada deve
ser pregado além da paz. Com efeito, Deus diz: “Oceanos
infinitos de graça devem cobrir os locais onde o juízo e a
condenação estiveram”. Perdoando-nos toda as nossas ofensas,
Ele vai mais longe: tendo ressuscitado a Cristo dentre os mortos.
Ele diz: Agora vou colocá-lo em meu Filho. Vou dar-lhe um
fundamento totalmente e somente nEle ressuscitado dos mortos!
Ele não apenas carregou os seus pecados, removendo a sua culpa,
mas na Sua morte eu lhe arranquei de sua posição e
responsabilidade no primeiro Adão. Vocês que creem são agora
novas criaturas em Cristo, porque eu criei vocês nele.” E porque
isto é assim, é anunciado ainda: “Aquele que não conheceu
pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nos tornássemos
justiça de Deus nele.” No livro de Romanos, Paulo está
descrevendo a ação de Deus em relação a um pecador que crê em

129
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

face do sangue derramado de Cristo. É como se Deus estivesse


mantendo o tribunal de justiça com o valor infinito e benéfico do
sacrifício propiciatório e ressurreição de Cristo somente, e para
sempre diante dEle. Nenhum outro apóstolo será chamado para
expor isto totalmente como Paulo o faz. Claro que não poderia ser
indicado pelos escritores do Antigo Testamento em sua clareza e
plenitude, pois nosso Senhor não tinha, ainda, oferecido a Si
mesmo, e o que toda a Lei e os Profetas podiam fazer era declarar
o pecado temporariamente “coberto” aos olhos de Deus, e assim o
crente do Antigo Testamento repousava sobre o que Deus faria,
tendo em vista esses tipos e sombras e promessas. João Batista,
porém, apontando para Cristo, disse: “Eis o Cordeiro de Deus que
tira o pecado do mundo”, algo que nunca antes tinha sido dito!
Por isso, depois da cruz, está escrito: “De uma vez por todas, na
consumação dos séculos, Ele (Cristo) se manifestou para aniquilar
o pecado pelo sacrifício de si mesmo” No Antigo Testamento,
repetimos, o pecado é coberto, que é o significado da palavra
kaphar, “expiação”, usada somente no Antigo Testamento, e é
citada constantemente (cerca de 13 vezes no capítulo 16 de
Levítico), para expressar a cobertura do pecado da vista de Deus
embora o pecado não pudesse ser removido até que Cristo
morreu. No Novo Testamento, portanto, do pecado é dito que é
removido pelo sacrifício de Cristo Deus pode, por isso, não
somente perdoar o pecador, mas também declarar justo o pecador
que crê, não significando isto nem um pouco que ele tenha

130
Capítulo – 3 | A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

alguma justiça própria, ou que “os méritos de Cristo são


imputados a ele” (a ficção da teologia), mas que Deus, agindo
com justiça, considera justo o homem ímpio que confia nele;
porque Ele o coloca no valor completo do trabalho infinito de
Cristo na cruz, e o transfere para Cristo Ressuscitado, que se torna
sua justiça.
Podemos olhar para a expressão “justiça de Deus” como
sendo da parte do próprio Deus; depois, da parte de Cristo, e,
finalmente, da parte do pecador justificado.
1. Da parte de Deus, a expressão “justiça de Deus”, deve ser
considerada como algo absoluto. É o Seu atributo de justiça. Não
pode ser nada mais. Ele deve, e sempre agirá com justiça, seja em
relação a Cristo, para com aqueles que estão em Cristo, ou para
aqueles que morrem impenitentes.
2. Da parte de Cristo, isto é o Seu ser recebido por Deus na
glória de acordo com a aceitação de Sua obra mediadora por
Deus. Nosso Senhor disse que quando o Espírito viesse, Ele
“convenceria o mundo. . . da justiça, porque vou para o Pai, e não
me vereis mais “(João 16), e Ele disse: “Eu te glorifiquei na terra,
tendo consumado a obra que me deste para fazer. E agora, Pai,
glorifica-me tu junto de ti mesmo, com aquela glória que eu tinha
contigo antes que o mundo existisse” (João 17). Em resposta a
essa oração Cristo foi “ressuscitado dentre os mortos para a glória
do Pai” (Rm 6.4), foi “recebido acima na glória” (I Tm 3.16). Ora,
nosso Senhor era homem, assim como Deus. E quando o Pai o

131
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

glorificou “com o seu próprio eu”, com a glória que Cristo “tinha
com Ele antes que o mundo existisse”, foi como homem que Deus
o glorificou. De modo que, à mão direita de Deus, Cristo
apresentou publicamente a justiça de Deus.

(a) como o Cordeiro que foi morto Ele mostra a santidade de


Deus e a justiça de Deus plenamente satisfeitas, uma vez que
Deus tinha “não poupado o seu próprio Filho” quando o pecado
tinha sido colocado sobre ele. A verdade de Deus quanto ao
salário do pecado tinha sido mostrada na morte de Cristo, assim a
majestade do trono ofendido de Deus tinha sido justificada
publicamente, de modo que Cristo sendo ressuscitado e “recebido
acima na glória” estabelece a justiça de Deus; porque seria injusto
que Cristo não fosse glorificado!

(b) Cristo não somente assim estabeleceu a justiça de Deus,


mas sendo Filho de Deus, tanto quanto homem, Ele foi essa
justiça! Cristo morto, ressuscitado, glorificado, é a própria justiça
de Deus!

3. Da parte do pecador, justificado, o que podemos ver? A


declaração surpreendente de Deus a nosso respeito é: “Aquele que
não conheceu pecado, Deus o fez pecado em nosso favor, para
que nos tornássemos justiça de Deus em Cristo” (II Cor 5.21).
Dos santos é dito serem a justiça de Deus, em Cristo. De fato, a

132
Capítulo – 3 | A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

justiça própria simplesmente cai diante de um verso como este!


Tudo está em Cristo: Estamos em Cristo e somos um com Ele!

A expressão “justiça de Deus”, então significa:

1. O próprio Deus agindo em justiça

(a) em relação a Cristo ressuscitando-o dentre os mortos e


assentando-o como um homem no lugar de honra e glória
absoluta;

(b) em dar àqueles que creem em Cristo a mesma aceitação


diante de Deus como Cristo tem agora, na medida em que Ele, na
verdade, carregou seus pecados, expurgando-os pelo seu sangue, e
também se tornando identificado com o pecador, foi “feito pecado
por nós” e, o nosso homem velho foi, portanto, “crucificado com
ele.” Assim como teria sido injustiça Deus não ressuscitar seu
filho depois que seu filho lhe havia glorificado completamente na
Sua morte, seria de igual modo Deus injusto em não declarar
justos em Cristo aqueles que, abandonando toda a confiança em si
mesmos, têm transferido a sua fé e esperança para Cristo.
2. Assim, Cristo, agora ressuscitado e glorificado, é Ele
próprio a justiça dos crentes. Não é porque Ele agiu com retidão
enquanto na terra, que isso é contado para nós. Isto é, repetimos, a
heresia do “vicário guardador da lei”. Ele era de fato o imaculado
Cordeiro de Deus; mas ele não tinha qualquer conexão com os

133
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

pecadores até a sua morte. Ele era “separado dos pecadores”. “Se
o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só.” É o
Cristo ressuscitado, que é a nossa justiça. O cristianismo começa
na ressurreição. O túmulo vazio de Cristo é o berço da igreja. O
trabalho da cruz tornou o cristianismo possível, mas o verdadeiro
cristianismo se resume todo ele na ressurreição depois da cruz.
“Ele não está aqui, mas ressuscitou”, disse o anjo.
3. Assim, dos cristãos é dito serem a justiça de Deus em
Cristo. Não como “justos diante de Deus”, pois isso seria pensar
em uma posição pessoal que nos foi dada, por conta da morte de
Cristo, ao invés de uma posição federal, como nEle, unidos a Ele,
que nós estamos! John Wesley disse uma coisa sábia: “Nunca
pense de si mesmo separadamente de Cristo!” Agora, ser ou
tornar-se “justo diante de Deus”, para ter ou obter uma posição
que vai “suportar o escrutínio de Deus”, é o sonho de muitos
cristãos sinceros. Mas, embora afirmado, e seja quem for que
afirme a ideia de nossa obtenção de “estarmos de pé diante de
Deus por nós mesmos”, fica aquém, e vitalmente, do evangelho
de Paulo de sermos feitos a justiça de Deus em Cristo. Porque isto
nega que já morremos com Cristo, e que temos morrido para todo
princípio legal na morte de Cristo (Rm 7.4). Assim, deixa-nos sob
a necessidade de “obtenção de uma posição” diante de Deus, ao
passo que os crentes federalmente (em conjunto e no geral)
compartilham da morte de Cristo, e o próprio Cristo Ressuscitado
é agora nossa posição!

134
Capítulo – 3 | A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

Negativamente, então (Como Paulo começa a declarar em seu


primeiro sermão registrado em Atos 13.39: “Todo aquele que crê
é justificado de todas as coisas”; “justificados em seu sangue”
(Rm 5.9); e, positivamente, Cristo foi “ressuscitado para nossa
justificação” (Rm 4.25): a fim de recebermos um novo lugar, um
lugar em um Cristo ressuscitado, e ser, assim, a justiça de Deus
nele, por sermos um com Ele, que é esta justiça. Deus declara que
Ele reconhece como justo o ímpio que não confia em todas as
obras, e crê n’Ele, como o Deus que, na base do sangue
derramado de Cristo, “justifica o ímpio” (Rm 4.5). Ele declara o
tal como justo; reconhecendo nele todo o valor absoluto da obra
de Cristo, da Sua morte expiatória, e da sua ressurreição, e
colocando-o em Cristo; onde está a justiça de Deus, pois Cristo é
a mesma! Será que Cristo precisa de algo, ainda, para que Ele
possa ser aceito diante de Deus? Então eu preciso de alguma
coisa, porque eu estou em Cristo, e somente Ele é a minha justiça.
Se Ele está, na plena aceitação eterna, então eu também, porque
eu estou agora somente n’Ele, tendo morrido com Ele ao meu
antigo lugar em Adão.
Abaixo iremos analisar alguns detalhes dessa justificação. Os
nossos pecados nos separam de Deus (Is 59.2). Imagine essa
separação como um abismo. Qual seria a sua profundidade? Antes
de responder, lembre não dos nossos pecados, mas de quem
ofendemos, um Deus eterno, santo e infinito.

135
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

Portanto, os efeitos da ofensa são dessas proporções. O


abismo de culpa será infinito. Nem toda a justiça do mundo seria
capaz de preenchê-lo.

GRAÇA: FONTE DA JUSTIFICAÇÃO


Os romanos não encontrariam em si próprios a fonte da
justificação. Por isso, deveriam tirar os olhos deles mesmos e se
voltarem em outra direção, para outra fonte, a graça de Deus (Rm
2.24).

A realidade humana
Culpado – O apóstolo Paulo já havia discorrido sobre a
situação espiritual do ser humano, gentio ou judeu. Todos
estavam debaixo da ira de Deus (Rm 1.18), pois eram igualmente
culpados (Rm 1.20; 2.1,23; 3.23).
Incapaz – Outra realidade é a incapacidade que o homem tem
de se auto justificar diante de Deus com algum mérito ou justiça
própria (Jr 13.23; Is 64.6). Ninguém será justificado diante de
Deus por obras da lei (Rm 3.20).
Rebelde – O ser humano não só está em situação de
desespero espiritual e sem condições próprias de sair dela, como
também, não tem esse desejo (Rm 3.10,11). É pecador
condenado, incapaz de se auto justificar, e rebelde.

136
Capítulo – 3 | A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

A iniciativa de Deus
Aqui começa a mudança radical. “Ninguém será justificado
por obras da lei” (Rm 4.20), mas é possível ser justificado pela
graça de Deus (Rm 3.24). Tudo o que o homem não consegue por
esforço próprio, Deus lhe concede de graça (Ef 2.8,9). E por que
graça?
Primeiro, porque não merecíamos ser salvos, pois éramos
todos culpados aos olhos de Deus. Só merecíamos condenação.
Mesmo assim, ele resolveu nos salvar.
Segundo essa salvação é de graça, porque Jesus fez o que não
poderíamos fazer para adquiri-la. Ele viveu uma vida de perfeição
que não poderíamos viver (Mt 3.17; 17.5; Fp 2.8; Hb 4.15) e
ainda pagou por uma culpa que não tínhamos condições de pagar
(Is 53.5,6). Por último, é graça, porque ele tomou a iniciativa de
nos buscar, enquanto desgarrados e fugitivos (Mt 1.21; Lc 19.10).
Ele nos encontrou e nos amou primeiro (1 Jo 4.10). Não esperou
que fôssemos ao seu encontro (nunca faríamos isso), mas nos
alcançou como um pastor que busca a sua ovelha perdida (Lc
15.4-6).

A OBRA DE CRISTO: O FUNDAMENTO DA


JUSTIFICAÇÃO
Paulo toma emprestado um termo dos tribunais de justiça e
descreve a ação de um juiz em absolver um acusado. A
justificação é um termo legal que se refere ao ato ou efeito de

137
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

declarar justa uma pessoa. Mas, em primeiro lugar, isso não


significa que o pecador passa a ser essencialmente justo, puro ou
sem nenhum pecado. Essa é uma declaração judicial do tribunal
de Deus. E como é que um Deus santo, justo e irado contra os
pecadores pode olhar para pessoas culpadas e declará-las justas,
ou seja, absolvê-las diante do seu tribunal? Não seria
contraditório? (Dt 25.1; Pv 17.15) Seria, se as nossas próprias
obras fossem a base da nossa justificação. Porém, Deus nos
declara justificados com base na obra de Cristo, que pode ser
assim descrita:

Redenção
Fomos “justificados … mediante a redenção que há em
Cristo” (Rm 2.24). Redenção era um termo comercial e no Antigo
Testamento era usado para escravos comprados para serem
libertados. Dizia-se que esses escravos haviam sido redimidos ou
resgatados (Lv 25.47-49). O termo foi também usado com
referência ao povo de Israel, “remido” ou “resgatado” do
cativeiro, primeiro do Egito (Êx 6.6) e depois na Babilônia (Is
43.1), e em seguida restaurado à sua própria terra. Nós também
fomos resgatados (Mc 10.45; Is 53.10), pois Cristo pagou para
deixarmos de ser escravos do pecado e sermos seu povo e
propriedade (1Co 6.20; 7.23; 1Pe 2.9; Ap 5.9). Logo, tudo o que
foi pago, não o foi com o nosso próprio esforço e sim com o
sangue de Cristo.

138
Capítulo – 3 | A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

Propiciação
Outro termo usado para se referir a obra de Cristo é
propiciação. A nossa justificação foi, “por sua graça, mediante a
redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu
sangue, como propiciação” (Rm 2.24,25). A palavra propiciação
significa primariamente “aplacar a ira”. No Tabernáculo do
Antigo Testamento, o propiciatório era a tampa da arca da aliança
(Êx 37.6-9; Lv 16.1-3, 11-14, 30, 34). Uma vez por ano, o sangue
da expiação era aspergido sobre o propiciatório pelo sacerdote.
Esse ritual mostrava que a culpa do pecado do povo havia sido
expiada e que a ira de Deus havia sido aplacada. No contexto em
que Paulo escreveu, o termo propiciação também pode ser
entendido como o lugar onde a ira de Deus foi derramada ou
aplacada. Em outras palavras, Cristo assumiu o nosso lugar
debaixo da ira de Deus, poupando-nos assim de sermos
condenados. Ele foi o nosso propiciatório. Logo, Deus pode ser
favorável (propício) a nós, porque a sua ira já foi aplacada por
Jesus (Hb 2.27; 1 Jo 2.2; 4.10).

Manifestação
Deus não anulou sua justiça e simplesmente absolveu
pecadores culpados. Pelo contrário, ele a manifestou de modo
claro. Por meio da morte de Jesus a sua justiça foi satisfeita.
Nenhum pecado do seu povo ficou sem condenação. Todas as
iniquidades que nos separavam de Deus e nos faziam seus

139
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

inimigos foram castigadas em Cristo (Is 53.5; 1Co 11.24). Não


houve impunidade. Para Deus nos declarar justificados, as nossas
culpas precisavam antes ser pagas. Para que pudéssemos nos
apresentar diante de Deus e sermos tratados como inocentes, a
nossa dívida precisaria estar quitada. Logo, ainda que não sejamos
inocentes e não deixemos de ser pecadores, agora, tão somente
por causa da obra de Cristo, Deus nos declara justificados. Essa é
a resposta para o pecador que precisa de salvação. Aquilo que ele
não pode fazer por si mesmo, que é apresentar uma justiça
própria, Deus já manifestou em Jesus. Por isso, Deus não é injusto
quando nos recebe como filhos, estende a sua misericórdia e graça
até nós, pois a sua justiça já foi manifesta no Filho.

A FÉ: O MEIO DA JUSTIFICAÇÃO


Agora passamos de toda a obra que Cristo realizou fora de
nós, no tempo e no espaço, para a maneira como nos apropriamos
dela e dos seus benefícios. É somente por meio da fé que somos
justificados. Paulo a menciona oito vezes em Romanos 3.21-31.
Mas a fé não é uma obra em particular no lugar das boas-obras.
Também não é um sentimento meritório que nos justifica diante
de Deus. A fé é um instrumento por meio do qual desfrutamos de
todos os benefícios da obra consumada de Cristo. A própria fé é
uma dádiva de Deus (Ef 2.8,9). Ela é nosso estender de mãos
vazias para receber o presente da salvação que há somente em
Cristo. Mas o que é essa fé? Há um consenso entre os estudiosos

140
Capítulo – 3 | A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

da Bíblia que a genuína fé tem três elementos básicos:


conhecimento, aceitação ou convicção e compromisso.

Conhecimento
A fé à qual a Bíblia se refere não é uma crença cega ou uma
submissão passiva a uma igreja ou grupo religioso. Muitos dizem
ter fé em Deus ou em Cristo, mas nada sabem a respeito deles.
Muitos se filiam às igrejas só porque a mensagem que ouvem os
fazem se sentir melhores, gostam da música ou lá possuem
amigos. Nada sabem a respeito do pecado e da salvação. Jesus,
em muitos ambientes, é muito mais um símbolo do que o
Salvador. Mas temos de saber em quem temos crido, assim como
Paulo sabia (2 Tm 1.12 b). Jesus mesmo disse que a vida eterna
era conhecê-lo e conhecer o único Deus verdadeiro (Jo 17.3). Só
podemos crer em quem conhecemos. Antes do evangelho chegar
ao nosso coração, o seu conteúdo tem de passar pela nossa mente.

Aceitação
A fé como conhecimento é o primeiro elemento, porém não é
o único. Há também a necessidade de aceitação ou convicção de
que a mensagem do evangelho é algo pessoal. Devo não somente
conhecer o evangelho, mas crer que ele é verdadeiro. Temos que
estar persuadidos das nossas ofensas pessoais a Deus, de que
somos particularmente pecadores, e de que Cristo morreu por nós.
Alguns até têm um conhecimento intelectual das doutrinas

141
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

centrais da Bíblia, mas falam delas como se fossem ideias


abstratas ou um sistema filosófico qualquer. Um físico é capaz de
se sentir muito mais emocionado e motivado com suas fórmulas
matemáticas do que essas pessoas com as verdades eternas de
salvação. Devemos não somente confessar, mas crer de todo o
nosso coração (Rm 10.9).

Compromisso
O terceiro elemento da fé é o compromisso. Tiago, falando da
importância do compromisso, disse que os demônios conheciam e
criam em Deus (Tg 2.19). Mas devemos nos comprometer com
Cristo, obedecendo-o (Jo 14.21,23; 15.10,14), sendo seus
discípulos (Mt 28.19,20) e submetendo-nos a ele não somente
como Salvador e como Senhor (Mt 6.24). O evangelho envolve
mudança de valores, compromisso com reino de Deus e com o
seu Rei e o desejo intenso de seguir e obedecer a Jesus. Essa é a
fé da qual a Bíblia fala que é o instrumento dado por Deus para
que sejamos justificados. Tudo o que Jesus conquistou na cruz é
comunicado a nós por meio da fé. Somos declarados justificados
somente pela fé, com base na obra de Cristo somente e como fruto
somente da graça de Deus.

CONCLUSÃO
O apóstolo passou boa parte da sua carta mostrando porque o
homem precisava de salvação. Ele queria convencer tanto os

142
Capítulo – 3 | A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

judeus quanto os gentios, de que ambos eram culpados diante de


Deus e que nada poderiam fazer para se salvarem. Para isso ele os
confrontou com a lei de Deus, seja a lei moral que havia no
coração dos gentios e a lei entregue por Moisés, da qual os judeus
eram conhecedores. A única conclusão possível foi que todos
eram pecadores, portanto, culpados e separados da glória de Deus
(Rm 3.23). A solução é a justificação pela fé em Cristo. Tudo o
que não tínhamos condição de fazer, ele fez por nós. A sua obra
consumada na cruz satisfez a justiça de Deus e desviou de sobre
nós a sua ira, levando-a ele mesmo sobre si. Portanto, só podemos
chegar a Deus por meio da fé em Jesus, pela qual somos
declarados por Deus como justificados.

APLICAÇÃO
Diante de tudo que foi exposto neste livro desde o início do
pecado, até o dia de hoje, podemos concluir que o amor de Deus
deve sempre ser considerado o maior meio de salvação. Pois pelo
amor de Deus fomos regenerados em Cristo, portanto demos
glória a Ele por sua graça, devemos amar a verdade nos desviar
do mal e andar em santidade para com o Todo-Poderoso. Sei que
é difícil caro amigo leitor, talvez você esteja passando por um
momento difícil como eu estou, confesso que diante de tudo isso
eu me considero imundo por mim mesmo e pelos meus atos, mais
por outro lado me considero arrependido pelos meus pecados pois
sou pecador como você, e justificado por Jesus nosso Senhor e

143
Lei e Graça – A Justificação Pela Fé Através de Cristo

Salvador pela sua Obra Redentora. Portanto quero lhe fazer um


convite sei que você provavelmente deve ser um cristão “crente
confesso” pecador arrependido, mas quero lhe convidar a estar
determinado a se entregar na totalidade de seu ser à Cristo, para
sermos limpos todos os dias e estar sempre em comunhão com
Ele.

144
Capítulo – 3 | A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

“Santo não é aquele que nunca se suja, mais aquele que


sempre se lava”
(Luiz Hermínio)

“Toda vez que penso no cristão que devo ser, sinto


vergonha do cristão que sou”
(C. H. Spurgeon)

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Capítulo – 3 | A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

151
Este livro foi feito com a fonte: Autor:
Time New Roman Felipe Tales Massei
Tamanho: © Editora Império Cristão
16; Corpo do Texto: Normal, 16.
Tópico:

A
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Subtópico:
Negrito Itálico; T – 18
Editora
Império Cristão

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