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CINEMA COREANO PARA ALÉM DE ‘PARASITA’

Talvez você tenha conhecido o cinema coreano por meio do filme


Parasita (2019), de Bong Joon-ho, ganhador na categoria de Melhor Filme no
Oscar 2020, mas e depois? Já parou para pensar o cinema coreano para além
de Parasita? Vem comigo que nessa coluna eu te apresento um pouco desse
cinema que parece tão longe de nós, mas que está mais perto do que você
imagina.

Frame do filme sul-coreano Parasita (2019), de Bong Joon-ho

Fonte: https://robertosadovski.blogosfera.uol.com.br/2019/11/13/perturbador-e-
perigoso-parasita-e-o-melhor-filme-que-voce-vai-ver-em-2019/

Os filmes coreanos costumam retratar temas como política, questões de


classe e vingança por terem uma longa história de instabilidade econômica e
política que foram prejudiciais para a classe trabalhadora. Mas de modo geral,
é um cinema bastante diversificado e abrange diversos gêneros
cinematográficos. Como o país é dividido entre Norte e Sul, é importante que
pensemos suas questões históricas, que eu conto logo abaixo.
Os filmes foram introduzidos na Coreia alguns poucos anos após o
surgimento do cinema em 1895, mas o nascimento efetivo do cinema coreano
se dá a partir do lançamento de The Righteous Revenge (A Vingança Justa)
em 1919, primeiro filme gravado no país por Kim Do-san. A produção foi
considerada o ponto de partida para as próximas atividades cinematográficas
na Coreia, resultando no primeiro longa-metragem em 1923 chamado The Vow
Made below the Moon (O Voto Feito Abaixo da Lua), de Yoon Baek-Nam.

Cartaz do filme The Righteous Revenge (1919), de Kim Do-san

Fonte: https://ptanime.com/amp/cinema-coreano-celebra-o-100o-aniversario-
em-2019/

Nos anos seguintes a indústria passou por muitas instabilidades, sendo


afetada mais tarde pela Guerra da Coreia (1950-1953), momento em que
produziram cerca de 14 filmes em três anos (é válido ressaltar aqui que
infelizmente esses poucos filmes foram perdidos desde que o país se dividiu
em duas nações). Após essa guerra, a Coreia do Norte se fechou e limitou o
acesso a informações sobre seu cinema (mas calma que lá embaixo eu faço
um panorama geral sobre a indústria audiovisual norte-coreana). Então a partir
daqui a maioria das informações são sobre o cinema da Coreia do Sul, que
começou a desfrutar de uma Era de Ouro na década de 1960. Tá vendo como
nem só Hollywood teve sua Era de Ouro?
Nessa época, geralmente os filmes produzidos eram melodramas que
retratavam questões de classe, como o longa-metragem Hanyeo (Hanyo, a
Empregada), de Kim Ki-Young, lançado em 1960, que conta a história de uma
mulher que é contratada por uma família rica para ser sua empregada. Mas
como tudo que é bom dura pouco, a Era de Ouro do cinema sul-coreano
terminou na década de 1970 com o regime autoritário do presidente Park
Chung-hee, que impôs leis de censura para a produção de filmes.

Frame do filme Hanyo, a Empregada (1960), de Kim Ki-Young

Fonte: http://thevoid99.blogspot.com/2020/06/the-housemaid-1960-film.html

A indústria cinematográfica no país só começou a entrar em estabilidade


novamente na década de 1980, quando teve início sua redemocratização,
momento em que começou a ter reconhecimento internacional. Anos mais
tarde, a partir de 1990, o cinema sul-coreano entrou em uma nova era
denominada “Novo Cinema Coreano”, marcada por produções de maior
orçamento juntamente com coproduções internacionais, abordando filmes que
tratam das questões sociais e políticas que ocorriam no país.
Desde então, por meio de novas políticas culturais, incentivo público,
cotas, investimento privado e festivais, a Coreia do Sul vem intensificando
suas produções e lançando diversos filmes de sucesso, como Shiri – Missão
Terrorista (1999), de Je-Kyu Kang, O Hospedeiro (2006), de Bong Joon-ho,
Milagre na Cela 7 (2013), de Lee Hwan-kyung, Em Chamas (2018), de Lee
Chang-dong, e o mais recentemente conhecido mundialmente Parasita (2019),
de Bong Joon-ho, marcado por ser o primeiro filme falado em outro idioma (que
não o inglês) que ganha o prêmio principal do Oscar. O resultado disso é que a
Coreia do Sul é um dos poucos países no mundo em que o cinema nacional é
mais visto que o cinema norte-americano. Já pensou que sonho?

MAS E O CINEMA NORTE-COREANO?

Apesar da Coreia do Norte viver hoje sob um regime ditatorial e ser um


país extremamente fechado, eles têm sua própria indústria cinematográfica
ativa. O que se sabe sobre suas produções é que sim, são de diversos
gêneros, mas todas trazem sempre a mesma mensagem de promover o líder
Kim Jong-un. De modo geral, as narrativas retratam como a vida dos norte-
coreanos “melhorou” com o governo atual. E sabe como esse cinema foi
impulsionado? Surpreendentemente pelo ex-líder do país Kim Jong-il, pai de
Kim Jong-un, que adorava cinema e acabou contribuindo financeiramente com
investimentos em filmes norte-coreanos.
Em um determinado momento, Kim Jong-il se sentiu insatisfeito com as
produções do país e simplesmente ordenou o sequestro do diretor de cinema
sul-coreano Shin Sang-ok, e de sua esposa, a atriz sul-coreana Choi Eun-hee.
É isso mesmo que você leu. O objetivo do ditador era competir com a indústria
cinematográfica hollywoodiana e com outras potências também. Após esse
acontecimento atípico, o cineasta dirigiu 7 filmes, sendo o mais conhecido o
longa Pulgasari (1985), sobre um monstro gigante similar ao Godzilla. Após 8
anos trabalhando na indústria do país, Shin Sang-ok e Choi Eun-hee
conseguiram fugir quando estavam em um encontro de negócios em Viena,
buscando asilo político nos Estados Unidos.

Shin Sang-ok e Choi Eun-hee em set de filmagem na Coreia do Norte


Fonte: https://revistacontinente.com.br/edicoes/205/o-cinema--segundo-kim-
jong-il

Mas não foi por isso que o cinema norte-coreano acabou, pois as
produções continuaram. Por ser um país ditatorial, os filmes passam
primeiramente pelo líder atual do país, que define o que pode ou não ser
mostrado para a população, somente depois é que é lançado. Uma curiosidade
é que em 1987 foi criado o Festival Internacional de Cinema de Pyongyang, um
evento que oportuniza a população de assistir a produções internacionais e que
conta com a presença de jornalistas estrangeiros.

CONFIRA AS DICAS
Aproveita e dá uma olhada nessa lista de filmes coreanos que separei para
você aproveitar o isolamento social e assistir:
- Oldboy (2003), de Chan-wook Park
- O Hospedeiro (2006), de Bong Joon-ho
- O Caçador (2008), de Hong-jin Na
- Mother (2009), de Joon Ho Bong
- O Homem de Lugar Nenhum (2010), de Jeong-beom Lee
- O Rei dos Porcos (2012), de Sang-ho Yeun
- Milagre na Cela 7 (2013), de Lee Hwan-kyung
- Invasão Zumbi (2016), de Sang-ho Yeon
- A Criada (2016), de Chan-wook Park
- Em Chamas (2018), de Chang-dong Leem

Muitos desses filmes são encontrados na Netflix, então aproveita. Agora que
você já conhece a história e algumas características fica muito melhor de
assistir. Espero que esse panorama geral possa ter ajudado a conhecer um
pouco mais dos diversos cinemas que estão além das nossas fronteiras. Até a
próxima!

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