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BLIZZARD ENTERTAINMENT
O Pergaminho Branco
por Gavin Jurgens-Fyhrie
— Deixa eu ver se entendi — disse Ziya, afiando as adagas. — Você quer que eu conte uma
história?
Ela sentava-se com Arko contra um penhasco na costa norte de Pandária, abrigada dos piores
ventos. Não podiam se arriscar a acender uma fogueira; os dez esquadrões de saqueadores goblins
espalhados pelo continente vinham saqueando tesourarias, templos e arsenais já havia semanas e,
O esquadrão de Ziya já vira dias melhores. Luki estava na enfermaria com uma ferida de
garrespinha em uma... área sensível. A habilidade de Zuzak com bombas não incluía saber mexer
com pavios. Desobedecendo às ordens de Ziya, Strax tentara roubar um andarilho pandaren
Arko, que não parava de atear fogo às próprias vestes com seus encantamentos, era o último
— É! — disse o pequeno mago. — Vai ser uma noite longa. Você já viu muita coisa, né? Que tal
— Qual guerra? — bufou Ziya. Um vento gélido varreu a superfície do oceano e a atingiu em
cheio no rosto. Ela olhou para a forma distante, brilhante e tépida do superzepelim do príncipe
Gallywix, para surpresa e imediato horror dos seus goblins em Pandária, decidira supervisionar
pessoalmente a Iniciativa Esquadrão Saqueador e "inspirar" suas tropas. A única coisa que ele tinha
inspirado até o momento, como sempre, era desdém. Até de onde estavam era possível ouvir a
Tremendo, Arko, aproximou-se dela ao longo da parede, procurando calor. Ziya casualmente
Os Sectários do Crepúsculo. Elementais. Mortos-vivos. Mantídeos. Os sha. Um dragão, uma vez. Ah, e
Gallywix, quando ele tentou escravizar todos nós... opa, acabaram os dedos.
— Vai ser uma noite longa — repetiu Arko. — Por favor, sarja.
— Por quê?
— Porque — disse ela, pegando e girando o anel pendurado em seu pescoço — elas são muito
— Não.
— Você era da superfície, né? Eu cresci em Pyrix, uma cidadezinha de Inframina de que
— Há cem anos, o príncipe mercador Leeko estava enviando mineiros de Jakamina para mais
fundo do que jamais se fora. Você tinha que encher um vagonete de minério, e só então os capatazes
deixavam você ir pra casa. Então uma noite, lá embaixo no escuro, um mineiro chamado Miz
Ziya pausou. Arko não falara nada. Até o vento silenciara. Mas ela pensou ter ouvido o eco
— Um buraco. N... não — disse Ziya, só então lembrando que sempre detestara aquela história
quando criança. — Um vazio. E no fundo, duas luas, pálidas e redondas. Os olhos de Rakalaz
vigiando-o.
As ondas batiam na praia. Arko engoliu em seco. Lambendo os lábios, Ziya continuou: — Ele
Ziya se levantara de salto com ambas as adagas prontas antes mesmo de perceber por quê.
Ziya teve que sorrir. Arko provavelmente pensou que fosse Rakalaz atacando.
A costa sumira, as ondas soavam abafadas. O ar estava rançoso, gorduroso, e parecia familiar.
Naquele instante, uma mão azul gigante, pálida, de oito dedos, irrompeu do chão a oito metros
de distância e empalmou a areia. Rakalaz se ergueu, e seus olhos reptilianos como lanternas
encaravam ambos.
A mente de Ziya gritou. Mas seu corpo ergueu Arko pelas vestes.
— Faça sinal pro zepelim — cochichou para ele. Forcejando para libertar a perna, Rakalaz
golpeou na direção deles e uivou, atingindo-os com um bafo pior que mil monturos de lixo da
Inframina.
— Arko! — gritou Ziya. — Avise ao superzepelim que estamos aqui! Talvez tenha alguém sóbrio
Ela pegou o pequeno Arko, girou e usou o peso dele para se afastarem do caminho. Garras se
enfiaram na pedra sólida bem no local em que eles estavam e arrancaram um bom pedaço do
penhasco.
Então ele cometeu o erro de olhar para Rakalaz, que ia em sua direção. Grossos fios de baba
Ziya viu-o se afastar. Então ela olhou para o pequeno fiapo de luz do sinalizador bem a tempo de
vê-lo sumir.
— Ótimo — disse.
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A mão de Rakalaz se fechou quase delicadamente ao redor de Ziya, que forcejava por libertar-se,
Uma rocha veio zunindo de algum lugar e acertou um dos olhos da lua. A mão que segurava Ziya
… em braços peludos.
— Olá — disse a pandarena, depondo-a no chão com força serena. Ela apontou para Rakalaz
— Hein?
— Esse personagem — disse sua salvadora, com as patas na cintura, observando o pesadelo da
juventude de Ziya com um olho clínico. Grunhindo, Rakalaz virava o olho bom de uma para a outra,
talvez imaginando como faria para devorar as duas de uma só vez. — Você estava contando uma
história e ele surgiu, não foi? Ah, só por curiosidade, como é que a história termina?
— Você tá falando sério? — Ziya olhou para o superzepelim. Para a sua surpresa, ele se voltava
— Ah, uma história goblin. Claro que ia terminar com explosões. Não deixe cair.
Ziya deu um pequeno espasmo. Sua mão direita ficou mais pesada de repente. E chiava.
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Uma certeza serena tomou conta dela, a despeito da situação. Tinha crescido ouvindo aquela
história. Ela se imaginara no lugar de Miz, imaginara aquele momento com o terror vívido de uma
mente infantil.
Sem pensar duas vezes, ela se voltou para o monstro e arremessou a dinamite da história na
Rakalaz a encarou intrigado e engoliu. Ziya piscou; ela olhava da criatura para sua palma vazia.
A pata da pandaren apareceu perto dos pés de Ziya e a puxou na direção da areia.
queimados estavam desaparecendo. O buraco no chão se enchia de areia. Logo seria como se nada
tivesse acontecido.
Gallywix estava perto o suficiente para que vissem os escorregadores de rum e jacuzzis de pudim
nos andares mais baixos da aeronave. — Você começou uma história. Você a terminou. Isso é contar
— Ora, então ainda bem que você não disse isso antes.
***
O superzepelim pairava sobre as ondas, iluminando Ziya, a pandarena Shuchun e o buraco que
Shuchun era uma Andarilha das Lendas; Ziya mal compreendia o que aquilo significava.
Andarilhos das Lendas contavam histórias. Procuravam artefatos do passado ancestral de Pandária.
Emoldurada no círculo cegante de luz, a Andarilha olhou para cima, deu outra mordida no
— Você realmente devia dar o fora daqui — disse Ziya. — Gallywix está lá em cima. Ele pode
— É? — respondeu Shuchun, engolindo. — Eu ouvi falar dele. Mas acho que vou ficar.
— Por quê?
Ficaram sentadas num silêncio desconfortável. Por fim, Ziya disse: — Obrigada pelo resgate.
— Que você está aqui para roubar tesouros e artefatos? — disse Shuchun. — Eu sei. Eu vim para
impedir você.
— Mágica.
— Isso, mágica — concordou a Andarilha das Lendas. — Que bom que estabelecemos isso.
— Você lembra — perguntou Shuchun — quando eu disse que esperava que você não
Uma corda se desenrolou do convés distante em uma lenta espiral até se estirar totalmente por
vários metros. Então um vulto sombrio pulou da amurada e desceu numa velocidade estonteante,
Quando o vulto estava na metade do caminho, Ziya xingou. Não se tratava de um assassino, nem
Druz, o principal capanga de Gallywix, pousou na areia. Sua armadura de couro era tão bem
cortada quanto um terno. Ele carregava uma maleta esguia sob o braço musculoso.
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Diziam as histórias que ele crescera junto com Gallywix em Kezan. Ele não era infame, pois
jamais fora pego em nenhum ato realmente horrível. Mas, às vezes, coisas bem horríveis
aconteciam aos inimigos de Gallywix, e Druz sempre era um dos primeiros goblins a dar os
pêsames.
— Sargento — disse ele, acenando com a cabeça para Ziya. — Andarilha das Lendas Shuchun.
Ele se ajoelhou na areia e abriu a maleta de costas para eles. Houve cliques suaves atrás da
barreira de couro.
Ziya grunhiu baixinho. Aquele era outro detalhezinho assustador: Druz sempre parecia saber
demais sobre todos que encontrava. Nomes. Cargos. Pontos fortes. Fraquezas. Ela não sabia se
Ela não ficou surpresa do capanga ter chamado a Andarilha pelo nome. Ele provavelmente sabia
Clique. Claque-clique.
— Muito bem — disse ele finalmente. — Obrigado por resgatar nossa funcionária, Andarilha.
Ele esperou. O sorriso de Shuchun ficou maior. Druz acenou e meteu a mão na maleta.
Druz arremessou um enorme saco de ouro (Ziya reconheceu o metal pelo barulhinho delicioso)
— Isso foi uma ameaça? — respondeu Shuchun, calmamente. Ela se levantou devagar.
Druz suspirou.
— Não. Isso fui eu sendo educado. Eu ofereci uma recompensa. E me despedi desejando tudo de
Num borrão veloz, Druz ergueu um rifle enorme, apontou-o para Shuchun e o engatilhou. Peças
— Agora — disse ele —, isso, sim, é uma ameaça. Vou dizer de novo: pegue a recompensa. Vá
para casa.
— Há uma porta dourada atrás daquele buraco no penhasco — disse Druz, apontando para
onde Rakalaz atingira. O peso do rifle em sua mão não parecia incomodá-lo. — E nós vamos ficar
— Pode apontar a arma que quiser para mim — disse Shuchun, mudando um pé de posição com
lenta elegância. — Não vou deixar você entrar na câmara das lendas.
— Olha só — disse Druz, racionalizando —, vamos abrir o jogo. Parece que há uma arma lá
dentro que pode criar monstros do nada. Nós a queremos, e ela não vale sua vida.
— Certo. Vamos supor que você me mate. — Uma das luzes da aeronave passou por ele, que
protegeu os olhos. — O superzep vai detonar essa área com tiros de canhão até arrebentarem a
— Estou com um pressentimento esquisito — disse Ziya, atrás dele — de que você vai atirar
— Provavelmente não é bom o bastante. Eu meio que gosto dela. E também tenho outro
— Pretendo. E?
— Exato.
Shuchun observou com curiosidade os dois goblins brigando por causa de obrigações
contratuais e pagamento por serviços de alto risco. Ela se sentou novamente, comeu alguns
Sua voz, rica e firme, interrompeu a discussão como uma lâmina derretida. Os dois goblins
— Eu disse que era uma câmara das lendas. Esse lugar usa as histórias pandarianas de
armadilha para proteger artefatos perigosos. Não gosto nem de pensar no que pode acontecer com
quem entrar lá sem um guia que saiba o que está fazendo. Bolinho de curry, alguém? — disse ela,
erguendo um.
— Em troca de pagamento? De jeito nenhum — respondeu Shuchun. — Mas, sem mim, vocês
dois vão ser devorados. Ou coisa pior. Então eu levarei vocês até lá e farei o meu melhor para
Ela olhou para a arma, depois para a adaga, até que foram baixadas. Então ela sorriu, se
levantou e, com uma voz de contadora de histórias que se erguia sobre o barulho das ondas, disse:
— "A Andarilha das lendas tomara sua decisão" — disse ela. — "Ela voltou a atenção para a
Nas trevas lá dentro podia-se distinguir uma porta dourada redonda grande o suficiente para
personagens em milhares de histórias, um depois do outro. Os reflexos das luzes que passavam pela
***
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A Andarilha das Lendas Shuchun, à frente dos dois goblins, ia descendo a curva suave da
passagem de pedra. Quando ficou claro que ninguém trairia ninguém imediatamente, os goblins
— Você. Você é um cara reservado, é competente. Como você foi trabalhar para um cara todo
— Não tem nada pra conhecer — disse Ziya. — Ele é um monstro. Já vi poças mais profundas
que ele.
— Então tá — respondeu Druz. — E, de alguma forma, ele ainda está no comando, quando
quase todos os outros goblins e príncipes mercadores querem a cabeça dele. Até a mãe dele tentou
O caminho subitamente virou para a direita. Aos poucos, as paredes lisas sumiram, dando lugar
a tijolos antigos e retorcidos. Um lodo fétido escorria das rachaduras. Nenhum goblin notou.
— Não, não faz — redarguiu Ziya. — Ele nos escravizou quando saímos de Kezan! Seu próprio
povo!
— Não é culpa dele se você não tinha um barco — disse Druz. — Mas, olha só, você lutou e se
libertou. Bom pra você. E aposto que você agora não sai confiando em qualquer um.
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A descida suave tornou-se uma intersecção de quatro pontas. Shuchun dobrou à esquerda sem
— Deixando isso de lado — grunhiu Ziya (pois ele estava certo) —, você quer mesmo dar essa
arma, seja lá o que for, pro Gallywix? Sabendo como ele é puxa-saco do nosso chefe guerreiro
lunático?
— Sr. Gallywix — disse Druz, em reprovação. — E cá entre nós... e nossa guia... nós queremos
moeda de troca, e não poder. Antes a gente queria a paz entre a Horda e a Aliança, mas, depois de
Theramore…
— Paz — disse Ziya. — Gallywix quer que a Horda faça as pazes. Com a Aliança.
— Mas eles são piores que ele! Se voltarmos atrás agora, tudo que fizemos terá sido em...
— Espere — disse Druz. Eles tinham passado por mais algumas intersecções sem parar. —
— Qual?
— Uma não muito feliz, se eu estiver certa — disse ela, desacelerando para que os goblins a
acompanhassem. — Mas quero ter certeza antes de... deixa pra lá. — Ela apontou. — Agora eu tenho
certeza.
Suas pegadas apareciam diante deles. De alguma forma, tinham andado em círculos, mas havia
Havia outras pegadas atrás das suas, tortas e horríveis. E, se estavam andando em círculos...
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— Mas... — disse Ziya, sentindo um calafrio. Pés ávidos batiam no caminho de pedra atrás deles,
aproximando-se.
— O imperador Kun — explicou a Andarilha das Lendas Shuchun — era dominado por seus
medos. Ele acreditava que os mogus iriam retornar. Em meio à névoa da paranoia, ele enxergava
traição atrás de cada sorriso, um complô atrás de cada juramento de lealdade e armadilhas astutas
— Por isso, ele ordenou que um labirinto fosse construído sob seu palácio, com uma sala segura
no centro. No ataque de pânico seguinte, Kun fugiu para o labirinto, entrou na sala segura, fechou a
porta e esperou que o terror passasse. Mas nunca passou. O labirinto fora construído tão bem que o
Mordendo os lábios, Druz olhava de um lado a outro enquanto espichava o braço para pegar
seu...
Sem tirar os olhos do túnel à frente, Shuchun lhe aplicou uma cacholeta na orelha.
que se aproximava ficavam mais altos. — Você não está usando seus ouvidos pra ouvir mesmo. Não
É. Pra. Olhar.
— Por quê?
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— Acho que ela está tentando explicar — disse Ziya, de olhos fechados como se orasse ou
passaram. Às vezes, algum explorador entrava no labirinto e fugia de lá gritando, louco de terror,
pois o tempo que Kun passara lá dentro o transformara em algo horrível de se ver...
— O que vamos fazer? — sussurrou Ziya. Garras arranharam as paredes atrás deles. A boca de
— Nós imitamos a história — disse a Andarilha. — Um filhote chamado Li Tao perseguiu seu
bandinim até o labirinto. Ele logo percebeu que estava sendo seguido.
Eles viram pelo canto do olho uma cabeça enorme aparecer. Uma respiração sôfrega, quente e
— Embora estivesse assustado demais para olhar, o pequeno Li Tao ainda se lembrava de que
ali estava alguém que tinha ainda mais medo que ele. Então ele voltou...
Ela voltou. Uma garra enorme e deformada se fechou gentilmente sobre a sua.
Luz do sol, branca e cegante, surgiu à frente. Ziya e Druz, ambos tentando parecer calmos,
Eles adentraram a região iluminada. Os dois goblins olharam para trás e se encolheram ao
mesmo tempo.
O imperador se fora. Bem como o labirinto. A Andarilha das Lendas Shuchun olhou com tristeza
***
— Isso eu já sei — disse Ziya. — Qual história? "A luz do tédio infinito"?
— Ah, sim, aposto que sua vida é bem perigosa mesmo — disse Ziya.
— Já que você perguntou, sim. — Ziya se voltou para ele. — É fácil pra você falar de paz. Você
fica no bem-bom com Gallywix durante anos; já eu, vivo nos campos de batalha. Todo mundo que
entrou junto comigo já morreu. A paz é impossível, Druz. Se você lutasse nas linhas de frente,
saberia disso!
A luz pulsou gentilmente uma vez. A Andarilha das Lendas Shuchun parou de caminhar e
cheirou o ar.
Apertando o anel que levava no pescoço até a mão doer, Ziya esperava que Druz gritasse com
ela. Ela queria que ele gritasse. Em vez disso, ele suspirou.
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— Eu, não. Era briga entre cartéis. Irmão contra irmã. Eu já trabalhava para o Sr. Gallywix na
"E você está certa. Eu nunca vi as linhas de frente, porque não havia isso nas Guerras do
Comércio. Nós lutamos em túneis e galpões por toda a Inframina. Emboscadas não eram manobras
em pinça chiques em campo aberto, eram algum cretino arrebentando uma parede que você achava
A luz agora pulsava mais rápido. Druz olhou ao redor e sacou o rifle.
— Você não pode impedir a guerra, sargento. Não por muito tempo. Ela fica voltando. O sr.
Gallywix continua vencendo elas também. Às vezes usando a bomba certa na hora certa. Às vezes
fazendo aliança com um idiota poderoso. E às vezes usando uma arma assustadora como moeda de
barganha.
— E agora o seu mestre estrategista acha que a paz é a melhor jogada — disse Ziya, revirando
os olhos.
— Impossível. Se a Aliança não acabar com a Horda inteira, eles vão nos escravizar, como
— Sério?
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— Sério. Eu nunca vi o Sr. Gallywix errar, mas conseguir a paz é uma chance em cem e olhe lá.
Ele pode voltar as princesas e príncipes mercadores uns contra os outros e sair de fininho inocente
feito um pardal, mas contra os rosadinhos e seus aliados? Eu acho que é pra gente continuar
lutando.
— Parem — disse a Andarilha Shuchun. Embora ela falasse suavemente, o tom peremptório era
perceptível por trás de suas palavras. A luz ao redor deles agora pulsava como um incêndio branco.
O calor se abatia sobre eles como um lençol seco e irritante. O branco tornou-se dunas que se
Uma passagem estreita escavada na areia irrompeu na duna mais próxima. Outra passagem a
— Era o que eu pensava — disse Shuchun, com prazer. — Essa é uma das minhas favoritas: "Di
Chen e o deserto".
"O orgulhoso Di Chen era o melhor lutador do seu tempo. Nenhum monge podia derrotá-lo. Ele
pegava flechas no ar com facilidade. As montanhas eram pequenos inconvenientes que ele podia
"Ele estava muito entediado. Desesperado, Di Chen pediu um desafio de verdade a Lui Ka, a
bruxa do deserto.
"Divertindo-se com sua arrogância, a bruxa lhe concedeu aquele desejo: ele combateria o
próprio deserto. Cada grão de areia se tornou um guerreiro feroz decidido a matar Di Chen.
"Os guerreiros se aproximaram. Eles pareciam mogus de armaduras de placa, e suas mãos
— Então esses caras estão decididos a nos matar? — perguntou Druz, com uma careta.
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— Ótimo — disse Druz, e disparou. Três cabeças arenosas explodiram. — Estava começando a
— 'Xá comigo — disse Ziya. Druz se ajoelhou para recarregar e Ziya pulou por sobre seus
ombros largos, enterrando as duas adagas no peito do guerreiro mais próximo, que caiu num jorro
de areia. Ela arremessou uma lâmina em um rosto arreganhado, passou pelo inimigo que se
desintegrava para recuperar a arma, agachou-se e atacou os três guerreiros remanescentes. O aço
Uma brisa quente soprava pelo deserto vazio. Sorrindo, Ziya voltou, embainhando as adagas…
— Volta, Sargento — disse Druz, fechando o rifle depois de recarregá-lo. Ziya, rilhando os
— Com todo o respeito, Andarilha — disse Druz, disparando outra vez. Dois guerreiros caíram.
Shuchun deu de ombros e foi se sentar em uma duna próxima. Cantarolando, ela pegou uma
maça da mochila, deu uma mordida entusiasmada e ficou assistindo à luta com interesse. Um único
guerreiro cambaleou em sua direção, grunhindo, e ela mostrou as patas vazias. O guerreiro parou e
Por fim, ela jogou fora o miolo da maçã e fez uma careta.
— Ah, você acha? — As adagas de Ziya socavam a areia rapidamente. — Cai, seu lakratz feioso,
cai!
— Quê? Druz! Abaixe-se! — gritou Ziya. A pesada arma de ferro de um guerreiro zumbiu no ar e
— Ah, agora sim — disse Shuchun. Agora todos os guerreiros tinham uma variedade
empolgante de espadas, maças e armas de haste. Shuchun apoiou o queixo nas mãos e ficou
assistindo.
— E você! E você!
— Acho que é verdade — disse Shuchun. — Mas eu podia ter mencionado que as armas
FUSH!
— Aah!
— Tá, isso foi meio irresponsável — admitiu Shuchun, vendo a luz alaranjada do fogo brilhar no
— Cada grão de areia se tornou um guerreiro feroz decidido a matar Di Chen — repetiu a
Andarilha, empurrando os soldados distraidamente. Eles paravam, confusos, como se não a vissem
— A batalha só terminou quando Di Chen admitiu que havia desafios difíceis demais até para ele.
Ela chegou ao centro das centenas de soldados. Druz e Ziya estavam de costas um para o outro,
— Por mim, tá ótimo — disse Druz, baixando a arma. Ziya fez o mesmo imediatamente.
O vento uivou no alto, rico com as risadas da bruxa do deserto, e carregou os soldados grão a
— Ela tentou contar o resto da história — disse Druz, sorrindo e se abaixando para pegar a
Ele parou e lançou um olhar desconfiado na direção de Shuchun. — Espera. Antes dessa última
confusão, estávamos falando sobre continuar a lutar. E acabamos numa batalha impossível.
O queixo de Ziya caiu. — Estávamos falando de monstros e sobre não haver caminho de volta, e
— Andarilha das Lendas — disse Druz, firme. — Estamos criando armadilhas quando
discutimos?
— Claro que estão — respondeu Shuchun, sem trair seus sentimentos. — Eu achei que vocês
soubessem.
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— Quando meu povo se mete em uma discussão muito séria, eles chamam um Andarilho das
Lendas — explicou Shuchun. — O Andarilho escuta os dois lados e conta uma história que contesta
— Não!
— Nunca — disse a Andarilha. — Afinal, Di Chen não sofreu nem um arranhão. Na história.
— O que aconteceu com ele no fim? — perguntou Ziya. — Ele se rendeu também?
O vento ficou forte outra vez, e o círculo alto do Sol se expandiu sobre eles, um lençol estendido
de luz branca. Shuchun sacudiu a cabeça e apontou para um vulto no topo de uma duna distante.
Enquanto observavam, o vulto girou para dar um golpe com um punho cansado, esfacelando um
— Ele continua lutando até hoje — disse ela. — Sempre há motivos para lutar. O truque é saber
quando parar.
***
Os goblins ficaram quietos, lado a lado, no centro de uma pequena sala branca.
— A câmara das lendas está esperando que vocês falem para que ela possa criar o último
Druz aquiesceu.
— Foi o que eu pensei — disse ele, e então ficou quieto outra vez. O tempo passou.
— Vocês podiam falar sobre seu amor mútuo por pôres do sol — disse ela.
Shuchun pensou.
Silêncio.
— Eu não entendo — disse Ziya. Druz a cutucou, e ela o ignorou. — Por que os pandarens usam
— Não somos apenas nós — respondeu Shuchun. — Todas as raças têm histórias que são
contadas e recontadas. Nós gostamos delas porque elas têm as respostas fáceis que nos ajudam a
— Às vezes, nós esquecemos que histórias quebram as regras — disse Shuchun. — Respostas
— Eu entendi — disse Druz. — Seu artefato é uma resposta fácil. Mas você é neutra, Andarilha
das Lendas. Nós não podemos nos dar ao luxo de… Nós temos que tomar decisões difí... ah, praga!
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Bem abaixo deles, sob o assoalho branco, antes opaco, algo escuro e terrível se movia.
— Qual é essa?
— Você quer um palpite? Acho que é "As aranhas de Te Zhuo" — disse ela.
Druz e Ziya fecharam os olhos. A nuvem negra abaixo deles se expandiu e milhares de pequenos
— Não sou muito bom, não. Andarilha das Lendas? Alguma chance de a gente pular para a
As paredes brancas sumiram como nuvens cinzentas em vento forte. Os goblins e a Andarilha
Milhares de pernas subiam, e sombras pesadas e enormes davam voltas nas trevas ao redor da
— Bom, então conte o final da história — disse Druz, entredentes. — Faça isso parar.
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— Isso vai ser um problema — admitiu Shuchun. — Nenhum explorador que entrou no templo
perdido de Te Zhuo foi visto de novo. Essa é uma história para meter medo em criança, não é bem
uma história.
— Uma história para as crianças não entrarem no templo onde a gente já está? — perguntou
Ziya, cansada.
Shuchun se alegrou.
— Espera, espera aí — disse Druz. — Ninguém nunca voltou? Então não encontraram nenhum
corpo.
— Então como é que a gente sabe que é um lugar ruim? — perguntou Druz. — Pode ser tão
— Olha, é uma possibilidade — concedeu Shuchun enquanto Ziya enterrava o rosto nas mãos.
— Só que o título da história menciona aranhas, e deve ter um bom motivo pra isso.
— É? — disse Druz. Ele e Ziya se aproximaram sem precisarem combinar, juntando os ombros.
— Bom, eu não disse que ninguém nunca ouviu os exploradores de novo. Eles gritam.
— Deixa eu adivinhar. Eles gritam alguma coisa sobre aranhas — disse Ziya.
— Se gritam.
Uma onda de morte negra em incontáveis patas peludas explodiu do fosso abaixo. E parou.
— Então, se entrarmos nesse templo Te Zhuo — disse Druz depois de respirar calmamente —,
— Servos dos Deuses Antigos, talvez — disse Ziya. — Eles entram em qualquer lugar.
— Uma ação — disse Druz lentamente. — Um resultado: a gente não sai mais daqui.
— Não temos como sair dessa, não é? — perguntou Ziya. — Nossas ações nos trouxeram aqui.
***
Ziya abriu os olhos. O frio contra sua bochecha era um chão de mármore, comprido e pálido,
estendendo-se na direção…
fantasmas de palavras passavam pela superfície do pergaminho rápidos feito pensamentos. Era o
Shuchun passou por cima dela e bloqueou sua visão do pergaminho com uma passada tão
— Isso é tudo? — grunhiu Druz. Ele se aproximava da parede, parecendo pior do que ela se
sentia.
— É — respondeu Shuchun.
— O que é isso?
— Alguns chamam de arma — disse Shuchun. — Outros chamam de lição ou punição. Tudo o
que eu sei é que os Andarilhos da Lendas o criaram há muito tempo e devem arcar com o fardo de
Pode se tornar o conto de Rakalaz — explicou Shuchun, e Ziya olhou para o alto. Abriu-se uma
rachadura no teto e caiu areia por ela. Em algum lugar lá em cima, ela contara uma história. Teria o
pergaminho escutado?
— Ou talvez o pergaminho registre a lenda de um exército infinito feito de areia, de uma legião
— Então você está dizendo que ele traz personagens à vida, que nem os andarilhos? —
perguntou Druz.
— Não. Você não entendeu. Eu posso evocar Di Chen para discutir com a bruxa do deserto e
combater o exército lendário. Eu não poderia fazer com que ele combatesse meus inimigos.
— Talvez — disse Shuchun, serenamente. — Nossas lendas dizem que ele pode transformar
— Você vai me desculpar, mas pra mim isso tem cara de evocação mágica — disse Druz. —
Bruxos fazem isso o tempo todo. Não tem nada de errado, fora algumas invasões demoníacas.
— Não. Não vou negar que é perigoso — disse Druz, como quem se desculpa, apontando o rifle
para Shuchun. — Mas uma arma é uma arma. Não vai atirar até que alguém aperte o gatilho. Ahm,
Shuchun olhou para Druz com tanta tristeza que Ziya se perguntou como ele conseguiu
aguentar.
— Eu? Não. O sr. Gallywix quer o que está guardado aqui. Ele vai conseguir o que quer.
Suas palavras passaram pelo pergaminho, que pulsou com uma chama branca. As paredes da
***
Gallywix.
Ziya cambaleou, combatendo a náusea que sentia. Druz cambaleou junto, trombou com ela e se
Como eles tinham chegado ali? A última lembrança que ela tinha era do rifle disparando contra
o rosto solene da Andarilha das Lendas Shuchun, o que parecia ter acontecido apenas alguns
segundos antes.
Agora eles estavam em outra parte. O rugido longínquo dos motores do superzepelim pulsavam
atrás das paredes. Ziya e Druz estavam em um espaço apertado e escuro. A oficina de um faz-tudo
Gallywix estava mais magro do que ela se lembrava, mas não muito. Sua barriga saía de baixo do
colete simples, aberto. Na época ele também usava uma cartola grande demais, anéis brilhantes e
Mas esse Gallywix não usava joias e não estava sorrindo."Talvez você não o conheça tão bem
— Taqui, chefe — disse ele, e jogou o pergaminho na bancada. Gallywix não tocou no artefato.
Ziya sentiu uma onda de culpa. Ela vira a bala voar. Shuchun se fora. Não havia dúvida.
— Parece que é um tipo de portal que torna as histórias reais. As coisas saíram de controle
O príncipe mercador olhou com atenção para o pergaminho. Ziya se preparou para a coisa
terrível que...
— Parece encrenca — disse Gallywix. — Vou guardar no câmara inferior quando voltarmos a
Azshara.
— Chefe — disse Druz, quase implorando. — Se o senhor não usar, alguém vai.
— Você sabe o que eu vou dizer — disse Gallywix, olhando para ele.
— Que bom. A última coisa de que precisamos é de uma arma enorme dando sopa por aí. Tire-a
daqui.
Gallywix olhou para ela. Ela podia ver as engrenagens girando na cabeça dele.
— Eu esperava que você usasse! — grunhiu Ziya. — É o que você faz. Você usa coisas. Você é um
monstro!
— Não — disse Gallywix. — Nós nunca nos vimos antes, Sargento, então permita-me explicar.
Eu não me importo de vender você se você ficar descuidada. Eu mando você para a morte se isso for
ajudar o cartel. Mas eu não quero que você morra por estupidez ou por causa de uma arma grande e
Ele olhou para o anel pendurado no pescoço dela. As mãos de Ziya se fecharam ao redor dele,
— De qualquer forma, eu sinto muito pelo que houve com seu marido em Hyjal. Mas não sinto
muito por nada do que eu fiz. Então, sim, eu sou um monstro. Mas eu cuido do que é meu. Sempre
que possível.
— E no momento, isso significa esconder essa arma antes que alguém fique sabendo dela.
Mas é claro que alguém descobriu, sussurrou a voz da Andarilha das Lendas Shuchun, e a sala se
cristalizou, desacelerou ao redor de Ziya. Os rumores correram mundo: Gallywix encontrara uma
Na mente de Garrosh Grito Infernal, o chefe guerreiro da Horda, só podia haver uma explicação
para tal traição: rebelião. Garrosh levou a Horda dividida a invadir o Ancoradouro Borraquilha .
Das alturas frias do palácio de Gallywix, ela viu seu lar em chamas. Druz cambaleava ao seu
— Ponham suas armaduras — disse um capanga atrás deles. — Eles logo estarão aqui.
protegendo o cofre e os segredos ali contidos, disse a Andarilha das Lendas Shuchun.
Ziya recuou, com as adagas úmidas nas mãos. Um elfo sangrento ergueu um arco e Druz
empurrou Ziya para o lado, recebendo o projétil no ombro. Ele cambaleou por cima dela grunhindo
Logo, os poucos goblins sobreviventes já não tinham mais para onde ir, disse a Andarilha das
Uma flecha acertou Ziya e ela se sentou, um pouco surpresa. Druz apoiou-se nela, arquejando. A
antecâmara era uma grande sala de aço repleta de goblins mortos. A Horda, os invasores, se
aproximavam, relutantes agora que o massacre estava próximo. Ela reconheceu alguns deles de
Hyjal e de outras batalhas. Se ela pudesse recuperar o fôlego, sabia que poderia convencê-los de que
A perna de um tanque-aranha passou por cima dos goblins. E outra. E o príncipe mercador
Gallywix avançou gargalhando insanamente contra os invasores. Garrosh abriu caminho por suas
O duelo não durou muito, mas tampouco correu como se esperava — disse Shuchun.
— Ajude-me — disse Druz, chiando e mexendo no rifle. Ajudando-o do chão, Ziya levantou o
cuspindo faíscas das juntas enferrujadas. Gallywix estava perdendo. É claro que estava.
batendo a cabeça contra o rosto do chefe guerreiro como o lutador de rua que ele fora um dia.
Ziya jazia em uma poça crescente de sangue sem saber se era seu, observando Garrosh ajoelhar-
Meses se passaram, sussurrou a Andarilha das Lendas Shuchun ao ouvido de Ziya. E o mundo
mudou.
***
35
… lutou para abri-los. Sangue escorria para seu olho bom. O elmo tinha aparado o pior do golpe
A espada do orc cortou o chão onde ela estivera. Ela pulou e fez descer as duas adagas num arco
cruel.
O orc a encarou sem expressão, com as adagas projetando-se de sua garganta, e caiu.
Garrosh acreditava em um mundo governado por orcs. O pergaminho tornara aquilo realidade.
Os orcs afluíam por toda Kalimdor, escravizados por um mestre diferente do sangue demoníaco que
outrora os dominara. Nada poderia matá-los, e o vácuo pálido do artefato que os impelia brilhava
Teldrassil, em chamas, caíra no mar. Um fosso calcinado era tudo o que restara de Exodar. Os
taurens e trolls, horrorizados com a devastação, tinham fugido pelo Grande Mar, esperando que
Ziya estava perto do Porto de Ventobravo. Uma última batalha ao lado de seus aliados e antigos
— Você — disse.
— Eu — disse Druz, enrolando uma gaze esfiapada em uma ferida profunda no braço. —É bom
Ele não carregava arma nenhuma. Talvez tivesse se perdido. Talvez ele tivesse desistido
Eles ficaram lado a lado. A frota de orcs chegou à enseada lotada, despejando centenas de
guerreiros uivantes nas docas. Taurens morreram ao lado de humanos, anões e elfos sangrentos,
O orc aos pés de Ziya se mexeu, e suas feridas horrendas começaram a se fechar.
Druz deu uma risadinha. — Pelo menos não vamos viver para nos arrependermos.
***
O Portão Negro, desprotegido, foi reconquistado pela Legião Ardente. Horrores se ergueram do
As montanhas de Azeroth queimaram e derreteram. Os oceanos ferveram até que nada mais
***
37
Andarilha das Lendas Shuchun, transformando os rastros de gotas de água nas paredes da câmara
A bala estava parada diante de Shuchun, o último vínculo entre os dois goblins e seu futuro
terrível.
A Andarilha Shuchun esticou o braço, colheu a bala do ar e a depositou com cuidado no chão.
— "A Andarilha das Lendas Shuchun se voltou para o pergaminho" — disse ela. — "De certa
forma, Druz estava certo. O pergaminho era simples como uma arma. Mas armas podem ser
disparadas acidentalmente. Balas podem atingir o alvo errado. Então a Andarilha das Lendas
Ziya baixou a cabeça sob o peso das ondas nauseantes de memória, das perdas e velhas feridas
Ziya olhou para cima em súbita calma. Shuchun guardou o pergaminho bem enrolado atrás do
ombro.
38
Ela estendeu as patas para ajudá-los a se levantar. Ziya segurou uma delas. Druz, não.
— Você podia ter usado o pergaminho desse jeito a qualquer momento que quisesse? —
— Podia.
— "Fez"? — disse Shuchun, e já não havia gentileza em seu tom. — Você acredita que a paz é
impossível porque nunca tentou. Você acredita que a guerra continuará porque ela nunca terminou,
— Você escolheu seu caminho — disse a Andarilha Shuchun, e respirou fundo. — Eu salvei você
dele.
Druz rilhou os dentes. — Então por que nos levar pela câmara das lendas? Por que não fazer a
gente esquecer que encontrou alguma coisa? — Ziya percebeu seu tom súplice.
***
39
— Você tem um lugar seguro onde guardar isso aí? — perguntou Druz, indicando o pergaminho.
Algo quebrara nele; isso era óbvio. Mas fora reforjado em algo diferente. Algo mais forte.
— Ótimo. Sargento, tire uma folga. Remunerada, é claro — acrescentou ele quando Ziya abriu a
E ele subiu de volta pela corda do superzepelim sem dizer mais nada.
— Por aqui — disse Shuchun, apontando. — Temos uma jornada longa pela frente.
Ziya girou o anel pendurado em seu pescoço. Para sua surpresa, ela estava sorrindo. Era bom
proteger em vez de atacar, para variar um pouco. Acreditar que a guerra e seus horrores podiam ter
fim.