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Karina de Faria1
Resumo
O presente artigo trata da relação entre público e artistas a partir do contexto de
confinamento vivido graças à pandemia do coronavirus (COVID - 19) que assola o
planeta, especialmente, no ano de 2020. O setor artístico e cultural, profundamente
abalado nesta conjuntura, uma vez que suas manifestações exigem a presença da
plateia, acabou por encontrar mecanismos para manter-se em atividade e para
assegurar vínculos com seu público, ou para estabelecer novos laços, com novos
apreciadores. O texto aborda também a importância da constituição dos indivíduos a
partir de uma perspectiva de valorização da sensibilidade como formadora do espírito
humano e toma de empréstimo conceitos pertinentes a arte/educação para analisar a
formação de públicos consumidores de conteúdos artísticos e culturais. Por fim,
aponta para as novas configurações das relações entre público e artistas
(especialmente os menos conhecidos) que acabaram por adaptar suas obras ou criar
novas para atender aos formatos mediados pelas tecnologias e plataformas, que estão
sendo cada vez mais acessadas pela população afetada pelo distanciamento social.
Palavras chave: arte e pandemia; educação sensível e arte; artistas e novos públicos.
Introdução
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Doutora em Artes Cênicas / UFBA, mestra em Administração de Empresas / UFBA, graduada em
Ciências Sociais / UFBA. Professora da Licenciatura em Teatro DEDC/Campus VII / UNEB - Senhor do
Bonfim. E-mail: kasfaria@uneb.br
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Importante deixar claro, já neste momento, que quando menciono “o setor”, estou me
referindo a um amálgama de profissionais cujas realidades são múltiplas. Algo que será
destacado ao longo do texto, quando pretendo dar destaque aos artistas que não alcançam
grandes públicos, seja porque não possuem fama, seja porque a natureza de sua atividade, ou
seu propósito não foi, até agora, obter este grande alcance.
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Medidas emergenciais importantes vem sendo adotadas, em instâncias municipais e
estaduais, e, no âmbito federal, há que se destacar a lei 1.075/2020, aprovada pelo Congresso
Nacional e sancionada pelo presidente da República, em 29 de junho de 2020. Esta lei,
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o público que acessa conteúdos artísticos. Mas, não apenas isso. De modo
mais ampliado, pode-se afirmar que há aí, um debate no plano dos direitos
humanos.4
Em sua obra “O Sentido dos Sentidos” (2006), João Francisco Duarte Jr.
disseca a sociedade moderna e contemporânea no que tange a seu
afastamento de um saber sensível que, articulado à racionalidade (e em grande
parte, a racionalidade científica) e não apartado dela, deveria estar integrado à
vida das pessoas. Isso se aplica de modo especial aos profissionais que vem
sendo formados em nossa sociedade, alguns por demais especialistas, e,
portanto, distanciados de um sentido mais abrangente do conhecimento e de
suas próprias atuações e vidas pessoais. Há aqui uma evidente consequência
de uma sociedade construída sob as bases de uma industrialização nada
preocupada com valores humanitários: Segundo o autor,
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A própria Declaração Universal dos Direitos Humanos define em seu 27º artigo XXVII que
“Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir
das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios” (Assembléia Geral da
ONU, 1948)
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Gostaria de pinçar esse último elemento, que entendo ser aquele que vai
ao encontro do esforço aqui empreendido no sentido de compreender o que os
estudiosos e estudiosas do ensino de arte podem trazer como contribuição
para iluminar o entendimento sobre o interesse das pessoas pela arte fora do
ambiente escolar. Assim, é que o termo leitura, - preferido por Ana Mae
Barbosa, em relação à noção de apreciação, que pode indicar deslumbramento
puro e simples – “sugere uma interpretação para a qual colaboram uma
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Os debates sobre a Abordagem Triangular extrapolaram os limites da teorização acadêmica e
foram fundamentais na construção de leis que regulam o ensino das Artes no Brasil. Para
saber mais sobre o pensamento de Ana Mae Barbosa e os postulados e desdobramentos do
debate sobre a abordagem triangular ver: BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da Arte.
São Paulo: Perspectiva, 1991. BARBOSA, Ana Mae; CUNHA, Fernanda Pereira (Orgs.).
Abordagem Triangular no ensino das artes e culturas visuais. São Paulo: Cortez, 2010.
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Não são poucas as análises que podem ser encontradas nas redes
abordando a crise das artes, ou as alternativas do setor de produção cultural
durante esta mesma crise ou ainda os desafios a serem enfrentados quando as
atividades presenciais forem liberadas. Mas, também, são numerosas as
postagens que tratam das formas artísticas que estão se configurando ou
reconfigurando no ambiente virtual, considerando a aproximação de um público
curioso e afeito a novas experiências, uma vez que seu isolamento acaba por
proporcionar um tempo disponível e propício a tal aproximação.
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Este resumo, serve como inspiração para pensarmos o que pode estar
acontecendo, inclusive com os artistas que não tem a pretensão de seguir
todos esses passos. A possibilidade mesma de continuar trabalhando e se
reinventando, é extremamente potente, já que a própria natureza da exposição
nas redes, através de vídeos, ao vivo ou gravados, editados ou não, ou áudios,
no caso dos podcasts, acaba por dar aos formatos, ou a partir deles, grande
estímulo para que se desenhe e defina o conteúdo. Afora a chance de
encontrar inusitados expectadores, além dos costumeiros colegas e amigos
com quem é possível dialogar nesses encontros, que é real e promissora,
podendo ampliar o alcance das obras e, mais adiante, a visibilidade do nome
do artista. Ou seja, estamos falando de um posicionamento que exige
adaptações, mas, também, que permite descobertas capazes de apontar para
novos caminhos de criação.
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para aqueles que, de fato, não possuem outra fonte de renda. Auxílios existem,
mas as políticas de distribuição tem sido lentas e com certo nível de
burocratização, além de não atingir a todos e todas.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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