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- JUREMA SAGRADA -
A Tradição Indígena da
Jurema Sagrada
Xamanismo Brasileiro
Tilo Plöger
Babalorixá & Babalawo de Àjàgùnnà
www.casadoashe.com
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“Que as boas fumaças corram o mundo
Pelo bem da vida de todos.”
Tilo Plöger
Babalorixá & Babalawo de Àjàgùnnà
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O CATIMBÓ
O termo
A origem do termo Catimbó é controversa, embora a maioria dos
pesquisadores afirme que vem da antiga língua Tupi, onde caa significa
floresta e timbó se refere a um tipo de torpor semelhante à morte. Dessa
forma, o Catimbó seria a mata que leva ao torpor, em clara alusão ao estado
de transe causado pela ingestão do vinho da Jurema em suas variedades de
ervas. No entanto, outras teorias relacionam a palavra à expressão gato,
fogo, e imbó, árvore, na mesma língua em conjunto. Assim, a palavra
significaria um "fogo na árvore queimando" ou "árvore produzindo uma
sensação de queimação temporária" que o consumo de Jurema normalmente
causa. Em vários estados do Nordeste do Brasil, onde os rituais do Catimbó
são associados apenas à prática da magia negra, a palavra assume um
significado pejorativo e pode abranger qualquer atividade mágica realizada
com a intenção de prejudicar outras pessoas. Na verdade, porém, o culto à
Jurema Sagrada é pura caridade e visa sempre prestar gratuitamente auxílio,
conselho e cura às pessoas que o solicitam.
Mais algumas citações como interpretações e explicações do termo Catimbó
(parcialmente coloridas por preferências religiosas, observe a data da
respectiva publicação):
Rodolfo Garcia: " Catimbau - prática de feitiçaria ou espiritismo
grosseiro. Etimologia: Lenz, Dicionário Etimológico, 183, dá como
provável a origem do quíchua, de katimpuy: "seguir aquele que
deveria ter ficado para trás"; mas não é impossível que a origem é
africana, de fato, Zorobabel Rodrigues, Dicionário de chilenismos,
311 atribui esta última origem ao termo Área geográfica: O termo
parece ser comum no Chile e no Brasil, o significado aqui
mencionado e o que não está nos dicionários é exclusivo para
Pernambuco, onde o Catimbó também é mais utilizado."
(Dicionário de Brasileirismos, Peculiaridades pernambucanas.
Revista do Instituto Hist. Bros., 76, 732)
Morais, edição de 1831: " Catimbau — Homem ridículo. No
Brasil, cachimbo velho. Domingos Vieira, edição de 1873: "
Catimbau — termo brasileiro. Tubo pequeno. termo preguiçoso.
Homem ridículo." Rafael Bluteau escreve à maneira de
Constâncio. Os modernos copiaram os antigos. Pereira da Costa
explica mais claramente no vocabulário pernambucano: "
Catimbau ou Catimbó - Mandinga, feitiçaria, feitiço, casa de bruxa,
sessão ou prática de feitiçaria ... "
Alfredo de Carvalhos: Corrupção de caatin-imbai , mato ou folha
branca, catinga ruim, que pode muito bem significar também fumo,
nicotina tabacum, de Lineu. Catimbao, por definição que
encontramos, é um cachimbo, um cachimbo comprido e
enfumaçado, e como escreve Morais, um cachimbo pequeno e
antigo, usado daí, em sessões de feitiçaria, Catimbós ou catimbaus.
Assim, temos a etimologia da palavra de acordo com as opiniões
expressas. Mas há dúvidas: Catimbao era termo corrente em
Portugal e já no início do século 18, sem dúvida de data anterior:
"Manda o Mestre Catimbáo ir embora e dar-lhe o pau." Parece que
o termo deriva de cantibai , o termo para um pedaço de madeira
usado por carpinteiros e marceneiros franceses.
João Juvenal da Costa Lima, o Mestre Zinho, uma das autoridades
na tradição, disse que o Catimbó no seu verdadeiro significado
“sabia de quem sabe”, “dos Mestres”, “dos Anciãos”, era apenas
'cachimbo ' (cachimbo), porque sem cachimbo não tinha Catimbó.
Tudo foi cerimonialmente reduzido às invocações dos "Mestres da
Outra Vida" através da fumaça sagrada. E as "obras" do Catimbó,
que correspondem aos "despachos" nas macumbas, são chamadas
de "fumaças".
Nas línguas Tupi-Guarani, Catimbó significa "fumaça de mato" e
"vapor de erva", respectivamente "fumaça de mata" e "vapor de
capim". Atualmente, o termo "Catimbó" é um dos termos que
identifica um conjunto específico de atividades culturais e mágico-
religiosas, além de aspectos míticos, cosmológicos e teológicos,
originários dos povos indígenas da região nordeste do Brasil -
elementos que compõem o que alguns pesquisadores pensam ser
uma das mais antigas religiões brasileiras, também chamada de
"Catimbó-Jurema", "Jurema", "Sagrada Jurema" e "Culto aos
Senhores Mestres".
A história
Embora existam diferentes pontos de vista sobre as tradições da Jurema, em
quase todas as pesquisas sobre o assunto, os estudiosos concordam que a
Jurema engloba um universo mítico-ritual de origem indígena que existe no
Nordeste do Brasil desde os tempos coloniais. Na década de 1930, surgiram
os primeiros escritos sobre o uso ritual da Jurema. Mário de Andrade (1893-
1945) e os "estudiosos" da missão cristã "Missão de Pesquisas Folclóricas",
dedicada ao inventário das manifestações culturais brasileiras, catalogam
canções gravadas, transcritas e comentadas pelo escritor modernista, por
exemplo em Música de Feitiçaria (“Música das Bruxas”) no Brasil (1933).
Ali o autor faz uma análise melódica dos cantos do "Catimbó" - nome então
usado para designar o uso da Jurema em rituais nas cidades de Natal e
Recife - apontando a função hipnótica da musicalidade e destacando a
presença de alguns símbolos em cerimônias como "os Mestres" e a "Árvore
da Jurema". Na mesma época, o médico e folclorista Gonçalves Fernandes
(1909-1986) utilizou os termos "mistura religiosa" e "sincretismo" em suas
obras Xangôs do Nordeste: investigações sobre os cultos fetichistas negros
do Recife, 1937 e O folclore mágico do Nordeste , 1938” para falar sobre a
prática do Catimbó no contexto recifense e fazer contrastes entre os ritos do
Catimbozeiro e o universo de Xangô. Segundo alguns intelectuais, Xangô
como forma especial de expressão do Candomblé era o legítimo culto de
origem africana. Em 1945, em Imagens em preto e branco do Nordeste
Místico, o aclamado sociólogo francês Roger Bastide (1898-1974) descreve
um ritual de Catimbó que confirma a origem indígena da Jurema e contrasta
essa prática com o Candomblé na Bahia. Em seguida, Câmara Cascudo
(1898-1986 ), publicando alguns de seus escritos sobre folclore como
Meleagro (1978) e o Dicionário do Folclore Brasileiro (1969), repetiu as
ideias de Mário de Andrade ao propor e divulgar uma antologia de
manifestações culturais tema que ocupou, e ainda ocupa, lugar de destaque
no pensamento social e nas ciências sociais brasileiras: o mito das três
raças. Nesse sentido, ele vê o Catimbó como resultado da confluência da
feitiçaria ibérica, da naturopatia indígena da Jurema e da musicalidade
rítmica dos bantu macumbas da África.
Até a década de 1990, os pesquisadores pouco se debruçaram sobre as
tradições (religiões) da Jurema. Na primeira metade do século XX, alguns
autores descreveram a Jurema no contexto de "magia", "feitiçaria" e "baixo
espiritismo" e as análises geralmente se limitam a breves descrições dos
rituais. Algumas exceções merecem destaque, como o trabalho de René
Vandezande (1930-2017) que estuda o uso da Jurema (bebida) nos Terreiros
de Umbanda da Paraíba (in: “Catimbó: pesquisa exploratória sobre uma
forma nordestina de religião mediúnica, 1975). Nos anos 2000, surgiram
novas pesquisas sobre o assunto; alguns enfatizam o horizonte histórico,
como Guilherme Medeiros em “O uso ritual da Jurema entre os indígenas
do Brasil colonial e as dinâmicas das fronteiras territoriais do nordeste no
século XVIII, 2006”. Comprova o uso da Jurema desde pelo menos o
XVIII. Outras pesquisas - como "Toré e Jurema: emblemas indígenas no
nordeste do Brasil, 2008" de Rodrigo de Azeredo Grünewald sobre o uso da
Jurema pelos índios Atikum - voltam-se para as identidades étnicas
construídas pelos grupos indígenas do Nordeste, que, com o objetivo de
reivindicar o reconhecimento da autonomia perante o Estado brasileiro e a
conquista de direitos, utilizam a Jurema como símbolo de sua condição de
"povos tradicionais".
A partir da década de 2010, a literatura científica sobre o uso da Jurema se
expande e narrativas completamente novas surgem. Em 2017, o Juremeiro e
fundador da ONG Quilombo Cultural Malunguinho em Pernambuco,
Alexandre L'Omi L'Odo, defendeu a dissertação de mestrado "Juremologia:
uma busca etnográfica para sistematização de princípios da cosmovisão da
Jurema sagrada", na qual elaborou um relata a tradição da Jurema sob a
perspectiva de seus praticantes e elucida a figura proeminente do
Malunguinho, que é ao mesmo tempo o nome do líder dos Quilombos do
Catucá (a "cidade" ilegal dos escravos fugitivos) - construídos e destruídos
no primeiro metade do século 19 - além de uma Divindade do panteão dos
Catimbós.
O culto à árvore da Jurema remonta a tempos primitivos, antes mesmo da
colonização portuguesa da América. Naquela época, várias tribos indígenas
no que hoje é o nordeste do Brasil cultuavam a Jurema por suas
propriedades psicoativas e a introduziram em vários ritos de comunicação
com as divindades de seu panteão por meio do transe, alguns dos quais
ainda são preservados pelas comunidades da região . Entre esses rituais, o
Toré, uma forma específica de culto da Jurema, é talvez a última forma
abrangente remanescente de identificação cultural entre os índios do
Nordeste.
No entanto, essa diversidade de cultos foi muito reduzida durante o contato
europeu, de modo que a tradição sagrada e original da Jurema teve que ser
adaptada às normas católicas devido à forte repressão colonial de todos os
cultos considerados pagãos. Assim, o vasto panteão indígena foi
gradualmente suprimido, e as divindades do catolicismo tradicional foram
incorporadas aos rituais do povo caboclo. Porém, devido a sua grande
influência, o culto aos ancestrais foi mantido e adaptado à realidade dos
Mestres da Jurema. Ao contrário do candomblé, o panteão original da
população indígena foi em grande parte perdido ou absorvido pelo
sincretismo.
A sagrada Jurema é um resquício da tradição religiosa dos índios que
habitaram o litoral da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Sertão de
Pernambuco e seus pajés, grandes conhecedores dos mistérios do além, das
plantas e dos animais.
Em 1742, o ritual da Jurema dos índios Sucuru e Canindé da missão
"Missão Boa Vista no Brejo Paraibano" é descrito em carta de denúncia ao
rei de Portugal. Afirma que como bebida, a Jurema produz visões que o
diabo produz:
... uzão dehuma bebida de huma rais que chamão Jurema; que
transportando-os do seu Sintido ficão como mortos, equando
entrão em Si da bebedeira, Contão as vizoens que o diabo lhes dá
Reprezenta, Senão ele que em Spirito os Leva as partes deque não
noticia. (CARTA do capitão-mor da Paraíba, Pedro Monteiro de
Macedo ao rei D. João V. 1742, setembro, 22, Lisboa.
AHU_ACL_CU_014, Cx. 11, D. 966.)
Em suas diversas obras, Grunewald estrutura e descreve o surgimento e
desenvolvimento do Catimbó. A apresentação a seguir é baseada nessa
elaboração, complementada por outras fontes sempre que útil.
"Na região semiárida do Nordeste, onde a Jurema é mais
abundante e onde, pelo que sei da minha experiência, a casca
contém concentrações muito mais altas de DMT - como
evidenciado por seu intenso tom avermelhado característico da
Jurema crescendo em solo seco - nós não têm registo histórico da
sua utilização em tempos pré-coloniais ou mesmo coloniais.Na
historiografia dos evangelizadores jesuítas e franciscanos parece
ter havido um silêncio deliberado sobre o uso desta planta, embora
ritos como os descritos por Pompa (2003) Elementos arqueológicos
que podem ser associados à Jurema foram apresentados por
Hohenthal Jr. como parte de uma de suas coleções na década de
1950 (Grünewald e Palitot 2011).
De fato, foi somente a partir de 1938 com a Missão de Pesquisas
Folclóricas, realizada por iniciativa de Mário de Andrade (Carlini
1993), que o Toré, execução mais frequente entre os indígenas do
nordeste do país (no caso acima entre os Pankararu), testamento
sistematicamente registrado. Ao mesmo tempo, surgem os
primeiros registros do uso da Jurema, mais precisamente por
Carlos Estevão de Oliveira (1942), que registrou a festa de Ajucá
de 1938 com o uso da Jurema também pelos Pankararu de
Itaparica em Pernambuco. Foi também entre os Pankararu de
Tacaratu que Gonçalves de Lima (1946) isolou a nigerina
(posteriormente reclassificada como N,N-dimetiltriptamina - DMT)
da Jurema nativa. A partir de então, com Estêvão Pinto (1956) ou
Hohenthal Jr. (1954 e 1960), a dança cerimonial do Toré e o uso
associado da Jurema tornaram-se uma constante na etnologia dos
índios do interior do Nordeste e, frequentemente analisado em
etnografias mais recentes, desenvolvidas a partir do final da
década de 1980, como mostram as dissertações de Mota (1987),
Batista (1992), Grünewald (1993), Nascimento (1994) e trabalhos
posteriores. De fato, o uso da Jurema tornou-se emblemático da
etnicidade dos índios nordestinos e fundamental para que suas
cosmologias se destacassem como traço distintivo da "indianidade"
indígena nordestina.
Embora o Toré e o uso ritual da Jurema em contextos públicos
(principalmente comemorativos) e privados para diferentes fins
(principalmente curativos) sejam recorrentes entre praticamente
todos os povos indígenas do nordeste do Brasil, cada um deles tem
sua própria abordagem específica da Jurema e da elaboração
ritual desenvolvida. Não tenho conhecimento empírico da maioria
dessas populações, principalmente daquelas que realizam o praiá
ou ainda possuem o espaço ritual dos Ouricuri, embora a
literatura sobre seus rituais já seja bastante extensa. Tentar
descrever os detalhes ou nuances do uso da Jurema em cada um
dos registros mencionados nesta literatura estaria além do objetivo
deste artigo. Portanto, farei aqui uma breve caracterização de
como a Jurema é utilizada entre os Atikum, povo indígena que
habita a Serra do Umã, em Carnaubeira da Penha, sertão
pernambucano, com quem tenho ampla experiência empírica.
Primeiro, a prática ritual do Toré se espalhou entre os índios do
Nordeste a partir da década de 1930 e continua até hoje. De fato, o
Serviço de Proteção ao Índio (SPI) exigiu que os indígenas
realizassem o Toré como reconhecimento dos territórios indígenas
a partir desta década , como uma espécie de documento de
indianidade (Grünewald 1993; 2002; 2005a; 2005b). A partir de
uma ampla rede comunicativa (Léo Neto e Grünewald 2012),
muitos grupos indígenas emergentes começaram a aprender com
outros grupos indígenas (ou a resgatar e revitalizar a partir de
suas próprias experiências) tais rituais, que eram em grande parte
baseados no uso da Jurema.
Enquanto o Toré tem uma dimensão pública, com ou sem o
consumo da Jurema, nos rituais mais discretos a Jurema assume
maior destaque como bebida sacramental ou enteógena – termo
cunhado por Ruck, Bigwood, Staples, Ott e Wasson (1979) e refere-
se à vinda de Deus na pessoa. Para tais rituais, a casca é colhida
da raiz (de preferência) ou do talo da Jurema - geralmente a
Jurema preta sem espinhos (Grünewald 2008) - na floresta,
esmagada ou macerada com pedras, esfregada com as mãos em
água fria e deixado para descansar. Posteriormente, o bagaço da
Jurema é retirado, e a bebida (geralmente com fumaça de
cachimbo) é consagrada para rituais nos quais os indígenas
encontram os encantados e outros seres invisíveis. O remédio (“a
cura”) é a própria bebida da Jurema misturada com alho e
cachaça. Esta bebida é acesa para vaporizar o álcool - embora o
sabor alcoólico permaneça. O mel é um elemento recorrente desses
rituais e tem importante função como alimento para os Caboclos,
Canindés e outras criaturas da floresta, por isso pensamos em um
“complexo de mel” associado à Jurema indígena (Léo Neto e
Grünewald 2012). ). Assim como a Jurema utilizada não deve ter
espinhos, segundo a homologia, o mel dos rituais deve provir
preferencialmente de abelhas sem ferrão (ibid.).
Embora tenham sido relatados efeitos visionários e outros efeitos
alucinatórios com o uso dessas Juremas, as alterações perceptivas
são geralmente entendidas como fenômenos espirituais ou
mediúnicos mais amplos - embora haja frequentes advertências de
que as Juremas podem ser intoxicantes. Não se buscam efeitos
alucinatórios adequados nesses rituais, que buscam uma conexão
espiritual mais ampla com o invisível, seja do céu, das florestas,
dos rios ou do mar. Sejam espíritos de índios já mortos, sejam seres
que não têm contrapartida no mundo físico, sejam seres
indefiníveis. E, finalmente, os cachimbos são outro elemento
essencial dos ritos da Jurema. Em Atikum, por exemplo, são feitos
de raízes de jurema e muitos dos cachimbos podem ser muito
antigos - aparentemente da época em que foram assentados em
missão no início do século XIX. Em sua iconografia, os cachimbos
trazem diversos elementos significativos: por exemplo, como
cachimbo importante entre esses índios, que desenhavam estrelas
bastante grandes, cruzes, igrejas, peixes e uma série de três linhas
quebradas, dispostas em forma vertical entrelaçadas, entendidas
por eles como o riacho da Jurema. Os cachimbos podem conter
tabaco, copa ou também outras plantas como alfazema, alecrim
silvestre etc. Não encontrei relatos do uso de palhetas de Jurema
em cachimbos nativos, embora este seja cantado em música, como
em uma canção tradicional (toante) para o Mestre Carlos. Esses
cachimbos são geralmente feitos com as raízes da própria Jurema e
são muito menos usados para fumar do que para fumigação, onde
a fumaça é soprada pelo bocal do cachimbo com a cabeça na boca.
Mesmo sabendo que durante o inverno nordestino (período
chuvoso), as folhas da Jurema preta podem conter tanto DMT
quanto a casca da raiz - além de triptofano e triptamina, conforme
Nicasio et al. (citado por Gaujac 2013) - não parece ser o efeito
dessa substância fumada (que não prescindiria de um MAOI para
se tornar psicoativo - sem falar na pronta absorção do DMT nos
pulmões) que os nativos americanos procuram em seus rituais.
Com a fumaça do cachimbo, os índios geralmente visam expulsar
as energias negativas e purificar o corpo e a mente (Léo Neto e
Grünewald 2012). Finalmente, no contexto destes rituais
encontramos também a presença de muitos elementos católicos
(cruz, Jesus, Virgem Maria, santos, etc.) e mesmo aqueles
supostamente de origem africana, como os Orixás e seus
correlatos.
Quanto ao ritual em si, os nativos geralmente o iniciam - após
sibilar em frente à casa ritual flautas de madeira anunciando aos
seres físicos e invisíveis que o ritual está prestes a começar -
sentados com rezas e alguns cantos (toantes) que o "Abre"
Corrente" (cadeia energética). Em seguida, é servida a Jurema e os
índios começam a cantar seus toantes ou cantigas, sempre
acompanhados do maracá, chocalho de cabaça nativa (Crescentia
cujete) com sementes dentro. Além do maracá, o bater dos pés é
muito importante, não só pelo ritmo, mas também para dar força
ao ritual, que é dançado em roda que gira no sentido anti-horário.
Um 'líder' canta os toantes, sempre acompanhado de um refrão
(refrão) respondendo ao cantor. Isso pode ser caracterizado como
um canto de resposta. Quando os toantes são cantados
majoritariamente em português, o líder ao final enuncia fonemas
complementares (Ha; Nah; Hê, Hey; Hô), considerados por muitos
como a "língua indígena" - o que é um sinal importante
considerando que são indígenas povos que só conhecem a língua
portuguesa. Às vezes, os toantes também podem ser
complementados com outro vocabulário que pede ajuda a Jesus ou
à Virgem Maria em português. Após esses acréscimos melódicos,
costuma-se saudar, invocar e louvar a Deus, à Mãe Santíssima, aos
santos católicos, aos próprios índios, a outros povos, aos presentes
e ausentes, aos visitantes, ao cacique, ao pajé, etc. servido uma ou
várias vezes durante os rituais, as mulheres menstruadas não
costumam tomá-lo, nem as crianças participantes do ritual, que o
substituem por um ponche de maracujá. Adolescentes menos
experientes tendem a beber menos Jurema do que os homens
adultos, que a consomem mais em rituais. Durante o ritual,
algumas pessoas (principalmente mulheres) irradiam, abraçam ou
manifestam os encantados e outros seres do mundo espiritual,
como Zé Pilintra, arquétipo da tradição do Catimbó. Finalmente,
esses rituais não são idênticos mesmo dentro de uma aldeia
indígena, pois diferentes líderes rituais podem trabalhar com
diferentes linhas de energia (Correntes). Os especialistas desses
rituais são os detentores da chamada ciência do índio (Grünewald,
1993; 2002; 2005b).
Este é, portanto, um resumo da Jurema sob o Atikum. Pelo que foi
descoberto deve ter ficado claro o quanto dessa religiosidade é
“mestiço”, vira-lata (sincrética). Com grandes elementos
católicos, elementos do Catimbó e da Umbanda, que ali estiveram
presentes através dos mais diversos mecanismos culturais na
história dos Torés do Atikum.”
Como tantas vezes acontece na história das tradições não-cristãs no Brasil,
há pouquíssimas descrições confiáveis e independentes de épocas
anteriores. As poucas fontes são quase sempre coloridas e baseadas em
descrições de algumas fontes individuais. Muitas das velhas fontes não são
científicas, mas politicamente e religiosamente motivadas e, portanto,
devem ser interpretadas com muito "distanciamento". Somente nos últimos
20 anos houve um exame científico das tradições - infelizmente tarde
demais para a preservação de rituais e sistemas de crenças que se perderam
e, no caso do Catimbó, foram sistematicamente suprimidos.
Eu dei um grito
Tão longe
E ninguém me atendeu.
Mestra Maria do Acais
A melhor Mestra sou eu.
O termo
Jurema ocupa um lugar especial entre os estudos da antropologia brasileira.
O termo já carrega vários significados que estão ligados em simbolismo
complexo. Vejamos algumas definições, alguns comentários e notas de
vários autores e cientistas. Eles foram compilados a partir de vários escritos
e estão listados abaixo sem avaliação:
• Jurema é uma árvore, mas não exatamente. É uma árvore e muitas
outras árvores. Sua identificação botânica permanece indefinida. O
nome pode se referir (principalmente) a espécies dos gêneros Mimosa,
Acacia e Pithecellobium (Sangirardi Jr, 1983 citado por Grünewald,
1999a), que não refletem as designações populares de algumas árvores,
como a Jurema Preta, Branca, Vermelha ( Preto, branco, vermelho), que
por sua vez permitem variações regionais.
• Jurema é uma bebida. De partes nem sempre iguais dessas plantas (as
mais citadas são a Mimosa tenuiflora e a Mimosa verrucosa) obtém-se
um líquido para fins espirituais e medicinais. As receitas para o seu
preparo, os tecidos vegetais utilizados e as dosagens, bem como a
combinação com outros ingredientes variam muito.
• A Jurema é uma cerimônia religiosa (celebrada de forma diferente por
índios e caboclos, respectivamente) em que esta bebida é
compartilhada. Por vezes o culto da Jurema é visto como uma
tradição/religião no complexo cenário da espiritualidade brasileira, mas
mais comumente é mais íntegro e integrado a práticas religiosas ou
tradições como Pajelança, Toré, Catimbó, Umbanda, Candomblé de
Caboclo, etc. A Jurema e a bebida podem ter aqui um papel mais ou
menos central.
• A Jurema é uma "entidade" espiritual que se manifesta no transe dos
adeptos dessas religiões (Anthony, 2001). Ou uma turma, uma espécie
de “entidade”, com muitas Juremas. A Jurema manifestada nesses
cultos pode ser caracterizada de formas muito diversas em diferentes
práticas e em diferentes agrupamentos de uma mesma tradição. Às
vezes sua caracterização pode ser diferente dentro de um mesmo grupo,
até Juremas diferentes podem se manifestar no mesmo meio.
• A Jurema também pode ser um local de culto e oração: a Mesa da
Jurema (Mesa é português e significa literalmente mesa, o termo aqui
significa altar) ou o Congá de Umbanda (englobando todo o espaço de
rituais) . Jurema é o "mundo espiritual" de onde saem os encantados
(Encantados) que se manifestam nas sessões.
• Jurema é o "nível/dimensão espiritual" da difusa "espiritualidade
brasileira" em que os espíritos se apresentam/revelam como índios.
• Jurema é uma nativa americana metafísica. O nome Jurema significa
uma representação antropomórfica da Floresta Sagrada. Nos rituais
coexistem a bebida e a “Cabocla” de mesmo nome (Assunção, 2001).
• A Jurema pode ser uma "Linha de Trabalho". A "linha" das "Caboclas
de Oxossi" (antropomorfose feminina das entidades, as encantadas das
matas). É uma Jurema e várias Juremas ao mesmo tempo. A Jurema
não deve se limitar à "falange" das "Caboclas Malditas" femininas.
"Entidades masculinas" também existem. Ambos podem ser Juremeiros
de Catimbós, ou apenas Caboclos dentro da Umbanda.
• Embora a planta prospere nas áreas áridas e estepes do nordeste do
Brasil, hoje a Jurema está associada às Caboclas de água
• Jurema é um objeto. Uma pintura ou estatueta de uma mulher nativa
americana com diferentes características - longe de serem tratadas
como meras representações - suas representações icônicas são na
prática ritual experimentada a atenção, cuidado e respeito que também é
dela na própria "realidade" devida. No entanto, sua imagem não
representa necessariamente um objeto físico. Pode ser uma aparição
objetivamente percebida por "videntes" com a mesma qualidade de
percepção de um ser humano comum, bem como aparecer como uma
"imagem mental" como cenas de sonho, distinguindo-se dela pelo
estado de alerta e outros sinais que variam de informante para
informante (eventos simultâneos como canto de pássaros ou borboletas,
nitidez da imagem, "dicas" e "agradecimentos" etc.).
• Jurema é uma cidade. A cidade de Jurema, uma cidade do além. Mas,
mais concretamente, a cidade de Jurema pode consistir em uma coleção
de copos e taças com bebidas diversas, colocadas na "Mesa da Jurema"
para fins rituais; assim como pode ser uma Juremeira (árvore) ou um
Juremal.
• Jurema é a floresta. A cidade de Jurema pode se estender desde a
Juremal até a totalidade e diversidade da floresta.
• Jurema é uma tribo (de Juremeira). Um ramo que marca ritualmente um
ponto de santidade no local de culto. Mas a tribo dos Juremal também é
de onde vêm os Caboclos e Mestres de seu culto, o que é literalmente
verdade: a Jurema, que é comumente consumida, é preparada a partir da
casca do tronco (ou da casca da raiz). ).
• As cantigas (pontos) repetem insistentemente que a Jurema é um 'lugar'
de onde se vem ou para onde se vai. Vários “ponteos” cantados o
expressam, preservando uma significativa ambiguidade do outro como
eu: venho de longe, da tribo Juremal. Quem vem? O índio étnico
Caboclo? O praticante do culto realizando o ritual? Um "guia" que
"inclui"? Outro ou eu? Como Jurema poderia se representar se o
assunto que ela objetivaria é vago? Essas árvores, troncos e
espiritualidade também são um diacrítico da identidade étnica indígena.
A jurema é um traço essencial que delineia o 'ser' indígena. No século
XX, manter seu culto (depois de meio milênio de perseguição) tornou-
se um método de reconhecimento da etnicidade, e os processos de
aculturação foram revertidos em processos de etnogênese. Não só o
Serviço de Proteção ao Índio (antecessor da FUNAI) o tem promovido
como critério de reconhecimento das comunidades indígenas (que,
paradoxalmente, promoveu a preservação ou reinvenção de usos, a
fabricação de tradições), como remanescentes de tribos indígenas
competem para diferenciar a culto caboclo e manter o segredo e
garantir a fidelidade de seus ritos à origem para assegurar a "pureza"
étnica (Grünewald, 1999b).
• A palavra “Jurema” na língua Tupi “ju-r-ema” significa “o espinho
suculento” ou também “ju-rema – o espinho fedorento” de acordo com
o dicionário de palavras brasileiras de origem indígena em Chiaradia.
Hoje o termo “polissêmico” seria a palavra para melhor identificar o
adjetivo e identificar aquela palavra. Por sua importância ser enorme,
pode ser uma árvore da família das leguminosas - Mimosácea - que em
diversos lugares possui denominações diversas como Angico-Branco,
Iurema, Juremari, Jerema, Jeremari, Jeroma, Jacaré, Cipó Espinheiro,
Tataré, Tatané ( Argentina), Jerumaré, Jerumari, Curumaré
(Pitecolobium tortum), entre outros.
• Preparação líquida à base de plantas para usos medicinais ou místicos,
externa e internamente, como a bebida sagrada "Vinho da Jurema";
• Cerimônia mágico-religiosa conduzida por xamãs, xamãs, curandeiros,
curandeiros, pais de santo, Mestres ou Mestres da Jurema que preparam
e bebem este “vinho” e/ou dão para iniciados ou clientes beberem.
• A Jurema também é uma entidade espiritual, uma "Cabocla" ou
divindade, invocada tanto pelos povos indígenas quanto pelos
remanescentes, herdeiros diretos em cerimônias no Catimbó, cultos
afro-brasileiros e mais recentemente na Umbanda.
Para o professor José Maria Tavares de Andrade, até hoje, na polissemia
desse termo, esse "complexo semiótico" denominado Jurema representa um
ponto de vista e uma resistência étnica da população nordestina autóctone,
"um fio condutor de um traço cultural, característica do componente
indígena da cultura popular, regional e nacional”.
Na primeira fase da colonização, a resistência dos povos indígenas do
Nordeste não permitiu que a Jurema fosse conhecida como árvore sagrada
em seu uso e importância e, portanto, não documentada por colonizadores e
estrangeiros.
Numa segunda fase histórica, a Jurema representa um elemento ritual que
remete à resistência armada dos povos indígenas ou à guerra contra os
inimigos, também em suas alianças. Mesmo nessa fase, quando se inicia a
documentação da Jurema, sua importância ainda não é compreendida, mas
seu uso já é causa de repressão, prisão e morte de índios americanos.
Em meio ao progressivo rolo compressor da colonização, do genocídio ou
da tentativa de dominação, não só política e econômica, mas também
cultural, uma nova forma de resistência vai surgindo: a Jurema ocupa um
lugar central na religiosidade popular, não apenas entre os indígenas da
região – o Catimbó . Dada a componente negra, a Jurema garante o seu
reconhecimento como ser autóctone (espírito, divindade, cabocla), "dona da
terra". A Jurema é absorvida pelos cultos afro-brasileiros, surgiram até os
"Candomblés de Caboclos".
Nas últimas décadas, no contexto da Umbanda, religião emergente e em
processo de sistematização e expansão nacional, a Jurema foi integrada à
cosmologia sagrada, ao panteão das religiões nacionais. Encontramos as
"Linhas da Jurema" entre as linhagens e filiações religiosas da Umbanda em
vários estados do Nordeste. Nos últimos anos, e paralelamente ao próprio
movimento religioso no Brasil, a Jurema manteve-se como "núcleo duro",
segredo, bandeira ou símbolo para os índios que permanecem em pleno
"movimento étnico" no contexto da defesa de seus direitos humanos, de sua
áreas protegidas e sua Autonomia e reconhecimento no pluralismo da
sociedade e das culturas brasileiras.
Em Alhambra, pequena comunidade ao sul de João Pessoa, na Paraíba, fica
a cidade sagrada de Jurema. São 42 mestres principais sepultados, inclusive
Mestre Zé Pelintra. O único espírito não da tradição indiana que pode
aparecer nos rituais já que, como dizem, "desce para todo tipo de serviço".
(A presença do Zé Pelintra e da Cachaça são imprescindíveis no Catimbó,
onde "não há Mestre celibatário". Ribeiro, 1991)
A Jurema é uma árvore que floresce na natureza e na Caatinga nordestina e
possui duas características: a Jurema branca e a Jurema preta. Os pajés
(sacerdotes Tupi) usavam a bebida Jurema-Branca, que fazia as pessoas
sonharem. Os magos, BabalOrixás de Pernambuco, os Mestres de Catimbó,
os pais de Terreiro dos Candomblés da Bahia usam muito a Jurema.
Sangirardi Jr. aponta que a Jurema "estuda desde o aspecto ritual" de onde
emergem diversas manifestações de experimentação religiosa:
A Jurema era usada ritualmente por tribos de dois grandes grupos indígenas
que habitavam o Nordeste: os Jê, os Tapuias dos antigos escritores, e os
Kariri. Porém, os detalhes das cerimônias em que a erva era ingerida por
esses índios se perderam para sempre, cerimônias não registradas por
nenhum escritor da época” (Sangirardi Jr., 1983:193) era a Jurema que
acontecia durante a catequese indígena era travada quando os indígenas do
Nordeste eram aldeões em missões, e uma luta ideológica que
aparentemente se estendeu aos Juremeiros em geral até a primeira metade
deste século porque, como Sangirardi Jr. anunciou.
As assembléias de culto em que a Jurema bebia eram anteriormente
referidas como adjuntas da Jurema e como uma prática supersticiosa
envolvendo as artes do diabo e, como tal, seus seguidores estavam sujeitos
às penas da lei. Mas se não há relatos de usos rituais da Jurema anteriores
ao contato dos índios com as autoridades colonizadoras, encontram-se
descrições de rituais sincréticos envolvendo o consumo da Jurema. De fato,
a Jurema não só faz parte dos rituais indígenas, mas seu uso ritual também é
difundido em diferentes sistemas de culto (no meio rural e urbano) como
Catimbós, Xangôs, Candomblé, etc. Segundo Sangirardi Jr., “pajés
indígenas ensinou aos brancos e mestiços os mistérios da Pajelança. Isso
influenciou o Catimbó. Ambos receberam uma mistura de espiritismo,
feitiçaria européia e, nas orações e imagens sagradas, o catolicismo. O pajé
recebe de volta sincretizado tudo o que ensinou. E até começa a trabalhar
com as Encantadas...” (Sangirardi Jr., 1983:194).
Até o século 20, beber Jurema era sinônimo de feitiçaria ou feitiçaria. Da
casca de seu tronco e raízes é feita uma bebida que é considerada magia
sagrada. Jurema é também o local sagrado onde vivem os Mestres do
Catimbó, religião forte no Nordeste. Este culto se espalhou dos Sertões e
Agrestes nordestinos em direção às grandes cidades litorâneas, as
constantes ondas migratórias entre o interior e o litoral devem ter
influenciado nessa troca de elementos simbólicos no culto. Distribuída em
algumas cidades do Nordeste como Recife, Paraíba, Maceió, Natal e atinge
sudeste e sul do Brasil. Desta forma o símbolo da árvore que conecta o
mundo terreno com a vida após a morte e, embora amarga, confere
sabedoria a quem dela se alimenta.
Segundo Barretto, o termo Jurema aparece nos trabalhos das ciências
sociais e humanas para designar certas espécies vegetais do gênero Acácia,
como a Mimosa tenuiflora. Aponta também para a bebida psicoativa feita
com componentes do mesmo vegetal, utilizada em rituais de comunidades
indígenas e naquelas que fazem parte de religiões africanas; também
nomeia os rituais cujos participantes tomam a bebida. No que diz respeito à
cosmovisão da Jurema, há uma riqueza de símbolos presentes nos rituais,
representando formas de composição muito diversas. Em geral, a bebida, a
fumaça expelida dos cachimbos, o maracá e os cantos são elementos
comuns em quase todas as cerimônias realizadas nas comunidades
indígenas ou nas religiões africanas. Entre os índios, os ritos permitem ao
xamã se conectar com o mundo dos encantados. No universo afro - mais
comum nos centros urbanos - o cerimonial tem algumas semelhanças com
as chamadas "Giras de Umbanda" e as divindades que caracterizam o
métier do Juremeiro são os Mestres e Mestras. Outro traço distintivo desse
cosmo são os ritos de iniciação, por meio dos quais os praticantes têm
acesso às "cidades" da Jurema onde, segundo relatos locais, o iniciado
estabelece sua relação com uma divindade e adquire os conhecimentos
adequados para realizar curas e prevenir infortúnios.
A planta
Aspectos botânicos
Descrição morfológica
A jurema é uma árvore pequena, atingindo até quatro metros de altura, tem
o caule retorcido e enrugado, seus galhos cheios de grandes espinhos, sua
casca quase preta, fendida longitudinalmente, suas folhas são bipinadas com
folíolos bem reduzidos. Suas flores são amarelas e dispostas em espigas.
Vagem pequena, articulada e espiralada.
SOUZA (2002:21) faz uma descrição morfológica da Jurema-preta, eis o
trecho inicial: “Planta arbustiva de um a oito metros de altura, armada de
espinhos irregularmente dispostos nos entrenós, ou indefesa. As raízes são
longas, ramificando-se no solo, externamente com cutícula marrom-escura,
e vinho tinto por baixo, e internamente amarela, com fraturas irregulares;
marcadamente rugoso com pequenas eminências pontuadas; e com sabor
amargo adstringente”.
Lima (1946:71) e Sangiraidi (1983:191) utilizam a descrição de Martius
que encontrou na “Flora Brasiliensis” (1870-76) de algumas características
morfológicas da Jurema-preta (M. tenuiflora), a primeira cita em latim e o
segundo em português. “Arbusto, pubérulo (viscoso?), espinhos esparsos,
fortes e retos; folíolos multijugados, ligeiramente pubescentes; pontas
cilíndricas; flores com 4 pétalas e 8 estames; vegetal quase séssil, plano,
viscoso, pluriarticulado”.
Distribuição geográfica
Propriedades terapêuticas
Recomendação. Diarréia
Preparação. Ferva em meio litro de água 5g de casca, 10 minutos. Filtre e
beba.
Doses. Beba 1 xícara conforme necessário.
Recomendação. Ferida
Preparação. 200g de feijão verde maduro para 1000ml de água, ferva por 15
minutos.
Doses. Lave a ferida duas vezes ao dia.
Indígena Jurema
A jurema é um dos elementos diferenciadores entre o índio e o branco, por
isso seu uso ritual se apresenta como o elemento diferenciador que legitima
a etnicidade como um grupo diferenciado. Em quase todo o Nordeste
indígena, a Jurema é o centro das práticas rituais. O sagrado se faz
assumindo a Jurema como o veículo que leva o índio ao encontro dos
espíritos ou “encantados”. Por isso a usina é protegida pelos grupos em
sigilo, ou menos que isso, por sigilo preventivo.
Existem alguns tipos de rituais em que a Jurema assume junto com eles a
principal expressão do ser indígena. Esses rituais demonstram ao branco e
ao índio o que é o índio. Eles legitimam e reforçam a identidade étnica
indígena ao promover uma representação da cultura. O Toré é o principal
desses rituais. Caracteriza-se por uma dança circular em torno de uma cruz
ou no centro de um Terreiro.
Com a dança, cantam-se linhas rítmicas ao som de maracás e passos fortes.
Quando o Toré é forte e necessário, a bebida feita com a Jurema é colocada
no centro e em determinados horários distribuída à assembléia. O “gentio” é
uma espécie de Toré feito em local fechado e normalmente privado. No
centro da casa do gentio há uma toalha sobre a qual repousam os objetos do
ritual e o aribé, a bacia que contém o anjucá, a bebida feita com a casca da
raiz da jurema. Ouricuri é o lugar sagrado de alguns grupos indígenas. O
ritual realizado nesses locais também é chamado de Ouricuri.
Como se verá, nas obras de Ouricuri, a presença de brancos é minimizada,
sendo bastante incomum que um branco tenha conhecimento de como são
feitas essas obras. Olha, porém, em Ouricuri são realizados rituais do tipo
Toré. Há separação entre gêneros e a permanência no local segue uma data
maior do que apenas um dia. Em alguns grupos chegam a quinze dias de
permanência no local de culto. Finalmente, há as obras que tendem a ser
entendidas como trabalho de altar (mesa). Nesse tipo de trabalho, o pajé faz
consultas e atende pessoas que buscam a cura ou mesmo o consolo
espiritual. Também é costume servir a comunidade externa branca.
Jurema do Atikum
D. Ana cozinha a Jurema três vezes. Algo muito pouco visto em rituais
indígenas. Nossa primeira impressão em campo já foi transformada por um
novo elemento que surpreende. Essa culinária da Jurema não faz parte de
muitas tradições indígenas.
Segundo D. Ana, ela sempre fazia assim, porque assim a Jurema fica mais
forte. Dado interessante porque em quase todos os trabalhos consultados
sobre o uso da Jurema pelos índios, eles relatam que para os grupos
indígenas, a demarcação do uso da Jurema como ancestral se esclarece na
não aceitação de qualquer cozimento, tornando a Jurema como se
acreditasse que os antigos índios faziam, ou seja, a raiz era macerada,
colocada na água, espremida e para o suco final bastava peneirar um pouco.
De qualquer forma, D. Ana mostrou-se satisfeita em nos avisar que havia
colocado no preparo uma de suas características, algo que veremos
recorrente ao tratar de Jurema.
A raiz da Jurema é cozida três vezes (sempre a Jurema preta “que é a mais
forte”). brasa virada para a boca), uma defumação na bacia (aribé) que
contém a Jurema (anjucá se o jucá para trabalhos de cura). A defumação
consiste em fazer o sinal da cruz com a fumaça do cachimbo na Jurema em
Aribé para sair o sinal de uma cruz no líquido. Nessa “travessia” a Jurema
se transforma. Essa transformação nos é proibida, só quem dirige a obra
sabe no que ela se torna. De acordo com essa transformação, sabe-se quem
poderá levar a Jurema. "Ela não é para qualquer um." A Jurema utilizada é a
preta com espinhos, “é a forte, a da ciência, Mãe Jurema”. Junto com o
preparo final pode-se acrescentar raspas de limão e maracujá. para D. Ana,
costumava ser fumado o manacá é usado no ritual, a Jurema era levada e
depois o manacá era fumado, “ajudava a subir (subir), a viajar”.
Tomada a Jurema, todos se concentram e começam a cantar os versos que
trazem os amuletos, circulando em torno do Aribé (colocado no centro do
Terreiro, no chão) decorado com velas e alguns objetos significativos. “Eu
me concentro e fico em outras curvas, é lindo, vejo muitas coisas. É como
se estivesse dormindo... que sonho bom! Não sei dizer, tanto porque me
sinto aqui em mente". Se a fala de dona Ana é relevante, é porque nela ela
deixa claro que a Jurema tende a prender a atenção de quem a pega para
descobrir desconhecidos Parecendo estar em um sonho, aquele que bebe da
Jurema viajará para lugares mágicos de sonhos, moradas celestiais.
É a esse tipo de fenômeno que os mistérios da Jurema farão jus. Quando
Dona Ana narra sua obra, é exatamente o momento em que quem não
conhece Jurema parece mais distante da narrativa. A parte em que o branco
não tem voz, não sabe. É através dos mistérios que a Jurema mostra ao
índio que demarca um limite, esse campo não pode mais ser narrado, além
de vetado, não tem tradução. Se a língua falada por D. Ana reconhecida nas
obras com Jurema pode ser traduzida, o fenômeno em si é ininteligível, não
podendo ser recuperado em sentido por aqueles que não conhecem os
mistérios da Jurema.
A obra a que foi possível ter acesso deveu-se ao empenho de Seu Augusto,
ex-pajé Atikum. Por meio dele o atual xamã, Seu José (filho de D. Ana
acima citado) também participou da elaboração do trabalho. Junto com os
dois, fomos até uma mata bem fechada onde se encontravam alguns pés
altos de Jurema. A Jurema é sempre retirada de locais de difícil acesso,
locais onde o trânsito humano é bastante raro. Ao chegar ao pé da árvore da
Jurema (uma Jurema preta, preta é sempre mais forte), Seu José começa a
cavar com uma enxada, do lado onde nasce o sol. Procure uma raiz forte e
grande. Enquanto isso Seu Augusto tenta preparar um cachimbo e seu
uniforme de índio.
Encontrando a raiz, ela é toda limpa da terra que a envolve antes de ser
cortada. Seu Augusto tenta cantar algumas linhas tocando um maracá em
que Seu José o acompanha nos intervalos. Aleatório, exemplo de alguns:
Eu vim da Juremeira,
vim com a Juremá
Oi meus Caboclo índio,
Oi do centro do mar.
(Juremá é o lugar místico no mundo espiritual onde vivem todos os
mestres)
Outro:
Tava sentado em Pedra Fina
Rei dos índios mandando me chamar Sou rei dos índios,
Caboclo africano, Caboclo Adriano
Rei do Juremá
Com uma mão pegou na flecha, Com a outra retirada.
Seu Augusto fuma (com o cachimbo invertido, soprando do lado das
brasas) a raiz nua da terra, assim como a própria jurema. Em seguida, Seu
José corta com uma faca a raiz exposta. Cobrindo o espaço até então
ocupado pela raiz, sua casca é retirada com uma faca e ali macerada em
uma pedra. Mesmo na humilde casa de Seu Augusto, um quartinho nos
fundos serve de gentio. Lá a Jurema será espremida em uma vasilha de
plástico com água. Será atravessado da mesma forma que foi narrado a D.
Ana, deixando uma cruz de fumaça na Jurema. o líquido A bebida
resultante já é uma bebida, deve descansar mais um pouco para engrossar.
À noite, um grupo de pessoas, muitas com uniformes indígenas, aguarda o
início dos trabalhos. Todos sentados em volta do aribé da Jurema, colocados
sobre uma toalha branca estendida no chão, ao lado de pequenas imagens
dos santos protetores, de relíquias encontradas na área pertencentes a
artefatos arqueológicos, e algumas velas acesas, além é claro do maracás.
Todos sentados em volta da Jurema, Seu Augusto começa a puxar a fala
inicial do trabalho:
Eu vou abrir minha corrente de Jurema
Traga como tuas formas de licença Iê, iê, eira, traga as tuas formas de
licença.
O ritmo das linhas é dado pelos passos, pela entonação das vozes e
principalmente pelo som das maracas. Esta primeira invocação é para a
Jurema, seguida por uma Virgem Maria e finalmente Atikum. Atikum seria
filho de Umã. Umã é a entidade fundadora da comunidade indígena
Atikum. a serra onde vive o grupo chama-se Serra do Umã, serra desta
entidade. Quando do surgimento étnico do grupo na década de quarenta, em
um dos trabalhos espíritas, Atikum se dá a conhecer como filho de Umã.
Então se você considerar todos da tribo como Atikum, todos seriam filhos
de Atikum-Umã. A etnomia do grupo foi revelada em um trabalho de Toré
com Jurema.
Uma espécie de “vival” (salvamentos) é feito a todos os presentes, aos guias
de luz, Mestres, santos, à Caboclada (indígenas), e a quem for lembrado,
sendo essas “vivências” ilustradas por quem quiser pagar homenagem. beba
então Jurema A Jurema é servida por Seu Augusto, com o pajé Seu José, à
direita, pequena quantidade em uma tigela de coco. Cada um recebe um
valor definido na hora pelo ex-Pajé. Começando da direita para a esquerda.
Leva quem quiser, inclusive as crianças que levam menos. Nesse momento
em que bebem, cantam um verso (música) que fala sobre beber da Jurema:
Vamos beber nosso anjucá
Nosso anjucá das mãozinhas de Jesus
Quem bebe, bebe bebendo
Aonde está a ciência dos meus índio.
Depois que todos bebem, todos se levantam por ordem de seu Augusto.
Este começa puxando uma linha que acha forte e todos começam a dançar o
Toré em volta da Jurema, fazendo esse movimento circular da direita para a
esquerda:
Vamô alevanta, bota em pé
Oi na mesa, oi do velho Anjucá.
Com o passar do tempo, alguns começam a manifestar os encantados que
encostam. As incorporações com os encantados são bastante sutis, não
chegando a dialogar com os presentes. Se estiverem “irradiados”,
continuam dançando no movimento do grupo. Num determinado momento,
você pega mais da Jurema, pega quem quiser, oferecido apenas por Seu
Augusto. Sem mais delongas, o ritual culmina após cerca de três horas,
podendo ser muito mais do que isso, passando pelo amanhecer do dia em
um ritual. É cantada uma linha de encerramento em que o grupo se despede
dos presentes, campo visível e campo invisível. Obrigado a todos que
vieram, inclusive dos invisíveis. Saudações a todos os guias, Mestres,
santos, Caboclos e quem mais for lembrado. O trabalho termina.
Dentro da cultura Atikum, a Pedra do Gentio é um dos lugares sagrados do
grupo. Fica na Serra do Umã, no povoado Jatobá. Neste local dançam-se os
Torés e reverenciam-se os antepassados. Dentro da pedra, em uma entrada
estreita, improvisa-se entre as dobras do mineral um altar com imagens e
velas.
Jurema de Kapinawá
Outro:
Eu tava sentado no pé do Juremá
Ô senhor Mestre pra que mando me chamar?
E eu mandei chamar meus índios
Oi, pra baixar pra trabalhar.
A Jurema, então colocada em um canto da sala sobre uma velha mesa,
começa a ser servida um pouco depois do início do ritual. Todos bebem da
Jurema, inclusive as crianças. Uma parte é servida pelo xamã em copos de
plástico, outra parte é usada pessoalmente para outro copo de plástico. Uma
pequena “linha” é cantada:
Vamos beber Jurema preta
Flores brancas da Jurema preta
Depois que todos tiverem tomado, o ritual recomeça da mesma forma. a
maioria das mulheres novas tem o costume de dançar o Toré em grupos. De
mãos dadas ou dando as mãos em dois, três ou quatro, circule na roda do
Toré. São incorporações bastante sutis, lembrando as encarnações dos
encantados da luz já narradas a Atikum. Esses encantados costumam puxar
algumas falas, ou seja, cantam aquelas falas que lhes pertencem ou pensam
devido ao momento, veja um exemplo:
Eu ando pelo mundo andando
Foi sina que Deus me deu
Em todas as aldeias que eu ando
Em todas deixei ciência.
Jurema de Kariri-Xocó
Jurema em Karapotó
A teologia
Definições e delimitações
Pajelança e Toré
Toré
Outras são dirigidas a Deus, Jesus Cristo ou Nossa Senhora, como esta, por
exemplo:
Lá no pé do cruzeiro, oh Jurema
Eu brinquei com a Maraca na mão (bis) Pedindo a Jesus Cristo Com Cristo
no meu coração (bis)
(estribilho)
Hêina, hêina êh Hêina, hêina áh (bis) Hêina, hêina êh
Hêina áh, hêina áh (várias vezes)
"Cabocla
Seu penacho é verde Seu penacho é verde É da cor do marÉ a cor da
Cabocla Jurema
É a cor da Cabocla Jurema
É a cor da Cabocla Jurema
Jurema"
Jurema era uma linda índia, valente filha de Tupinambá. Adotada pelo
mundo, foi encontrada ao pé do arbusto da planta encantada que lhe deu o
nome, e cresceu forte, bela, com a beleza da noite e a firmeza do dia.
Corajosa, a Cabocla tornou-se a primeira mulher guerreira da tribo, pois sua
força e agilidade no manejo das armas e na ciência da floresta, tornaram-se
lenda em todo o continente; onde os contadores de histórias, ao pé do fogo,
falavam da índia da pena de ouro, que era a própria Mãe Divina encarnada.
Nada causava medo na Cabocla, até o dia em que ela encontrou seu maior
adversário: o amor. Jurema se apaixonou por um caboclo chamado Huascar,
de uma tribo inimiga chamada Filhos do Sol, que havia ficado preso em
uma batalha.
Os dias foram passando e o amor aumentou, porque o pior de amar não é
amar só, mas ser amado de volta, porque exige da pessoa amada, uma ação
em favor do amor. Pelo olhar, Caboclo Huascar disse:
“Oh doce Cabocla
Meu doce de cambucá
Minha flor cheirosa de alfazema
Tem pena deste Caboclo
O que eu te peço é tão pouco
Minha linda Cabocla Jurema
Tem pena desse sofredor
Que o mal destino condenou
Me liberta dessa algema
Me tira desse dilema
Minha linda Cabocla Jurema ”
Introdução
Na Jurema também existem objetos encantados, como tigelas com água,
que representam príncipes e princesas, a praia de Tambaba, no litoral sul da
Paraíba também é um local encantado onde a narrativa diz que para lá vão
as almas dos Mestres que morrem , lá eles se encantam e depois de sete
anos podem se comunicar com os vivos.
Dito isso, temos aqueles eventos e festividades frequentemente realizados
por Juremeiros que viajam de suas cidades em busca da ciência da Jurema,
ou seja, o aprendizado e a sabedoria presentes neste sistema religioso.
Grandes personagens da Jurema são Malunguinho, quilombola que
trabalhava nas matas de Pernambuco, em Catucá; Zé Pilintra, que andou,
segundo relatos, na Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Rio de Janeiro; assim
como os diversos Caboclos, que são de etnias indígenas presentes em vários
lugares do Nordeste, como os Canindé e Tapuias.
Os personagens do Catimbó-Jurema, nomenclatura identificadora que
mescla antiguidade e contemporaneidade, foram feiticeiros durante sua vida
material, malandros, capoeiristas, brincalhões da cultura popular, digamos,
e bravos guerreiros e militantes que lutaram contra as injustiças sociais.
Como passaram para os reinos da Jurema, isso é um mistério. Para que um
Juremeiro se torne um encantado, é necessário o ritual do tombamento,
onde é retirado o chá da árvore e, em alguns casos, a semente é inserida
dentro do corpo, magicamente ou não, quando sua casca é cortada, e um
semente inserida. Há documentos que comprovam que no período colonial
os indígenas bebiam uma porção feita de Jurema , que lhes dava acesso ao
mundo encantado. Atualmente, o Catimbó-Jurema não utiliza essa bebida
dos primeiros habitantes do Brasil. O efeito de transe após a ingestão da
bebida que se faz atualmente depende de cada indivíduo e é produzido
diferentemente por um Mestre, de Terreiro para Terreiro, utilizando a sua
ciência. Normalmente, essa bebida feita no atual Catimbó-Jurema envolve
álcool.
Os rituais do Catimbó-Jurema podem ser feitos com tambores, e esses ritos
são geralmente chamados de Toré ou apenas com os Maracás, quando é
realizado o ritual da mesa e da Jurema de chão, onde todos se sentam em
banquinhos ou diretamente no chão. Nas mesas e na Jurema de chão, os
Mestres costumam trabalhar mais do que “brincar”, como nos Torés ou nas
Juremas batidas (com tambor).
Quando falamos em encantamento, não podemos deixar de comparar o
Catimbó-Jurema com os encantos do Maranhão, por exemplo, com o Terecô
e a Pajelança. Nessas tradições, o conceito de encantamento tem
significativa eficácia e importância se o compararmos com o Catimbó-
Jurema. Há também falanges de reis, príncipes e princesas turcos, que por
algum motivo vieram para o Brasil, além dos caboclos indígenas já
conhecidos como Catimbó-Jurema. Cada um com sua linha, ou seja, seu
espaço delimitado de trabalho e habilidades mágicas.
Encantado é um lugar paralelo ao mundo que conhecemos cotidianamente e
pode estar presente em rochas, cavernas, como entre os contemporâneos
Tabajara da Paraíba, rios, árvores, lugares na mata e até nas profundezas da
terra. Os animais também podem ser encantados. A letra dessa música, que
são as canções de invocação, expressa bem esse elemento de encantamento:
No fundo do mar há uma pedra; há conhecimento debaixo da pedra, quem
quer que perturbe este mundo, peça a Deus que lhe dê paciência”.
Podemos dividir o encantamento do Catimbó-Jurema em três planos: 1. O
plano astral-mítico-encantado, que são lugares que não podem ser
encontrados no mundo material; 2. O plano simbólico, que é representado
por músicas, literatura e objetos e 3. O plano físico, que são lugares fora do
Terreiro e presentes na natureza considerados encantados. Esses planos não
são isolados, mas estão intimamente relacionados e os vários Juremeiros
entrevistados na pesquisa têm maior ou menor inclinação para um dos
planos especificamente.
O Catimbó-Jurema tem segredo, encanta a realidade nordestina, preserva
tradições populares, como o Coco De Roda e personagens históricos; nos
apresenta uma nova possibilidade de ver o Brasil, um país multicultural por
excelência; refletir o mundo pós-colonial e reconstruir a história dos povos
excluídos.
Negros, indígenas e europeus se fundiram no Catimbó. A concepção de
magia, processos de encantamento, termos, orações, são da feitiçaria
ibérica, vindos e transmitidos oralmente. A fitoterapia é indígena por sua
abundância e proximidade além da tradição médica dos xamãs. Na Europa,
a farmácia mágica é sempre vegetal. Como qualquer tratamento primitivo,
aproveitando a flora sugestiva, no empirismo dos simples e das drogas. O
mago europeu já tinha o hábito e encontrou no continente a abundância de
raízes, brotos, folhas, frutos, cascas, flores e até uma ciência secular
aborígine na mesma direção e horizonte. A convergência foi imediata. Com
o negro africano ocorreu o mesmo fenômeno. Só quando rodeado pelos
canaviais, velho, trémulo e sempre apaixonado, assumiu a percentagem
mais decisiva como mestre guia e dono de segredos. Pelo simples fato de
viver muito tempo, há, espontaneamente, uma sugestão de sabedoria em
torno do macróbio. Quem muito vive sabe muito. O Diabo não sabe porque
é Diabo, mas porque é muito velho. Velhice é sabedoria. Um velho que não
diz que uma vinha não vale uma sardinha, nega o velho que não adivinha, o
conselho do velho, etc., diz o adagiário . O Conselho de Anciãos na Grécia,
o presbítero da Igreja e o Senador da República têm uma origem comum da
palavra velhice. O conhecimento, a partir das experiências realizadas,
permanece na memória popular como o melhor e o mais lógico. Novo
médico, experimente. Velho médico, trate. O escravo negro, com os cabelos
mudando de cor, preto quando pintado é três vezes trinta, era de indiscutível
prestígio misterioso. O “negro velho” era incrível, “assusta criançada”,
curandeiro, rastejante, superando o veneno de cobra, a faca fria e a bala
quente.
Angolas, Benguelas, Cabindas eram nossos Pais Pretos, Pretos do Congo,
Pai Angola, Pretos de Luanda, vivos nas histórias populares, anedotas,
feitiços. Bantos são os topônimos negros do Rio Grande da Noite, Cafuca,
Cafundó, Cafunga, Cassangue, Catunda, Massagana, Mucambo, Zumbi,
Buíque, Cabugá. Eles foram rapidamente amados, subindo em fama
coletiva. Deram amas de leite, criadas, amas de leite, mães negras,
namoradas dos fazendeiros, dores de cabeça para a dona, nobres e
desamparadas. Congo ou Angola fez festa, escondendo um fetiche dentro
da imagem católica, elegeu seu Rei, Muchino Riá Congo, levou o povo
branco e mestiço para a rua e adro nas manhãs de sua coroação, com
desfiles, tambores, bandeiras, “fogo do ar”, “palma da mão”, beijo, joelho
na terra, como um Rei mesmo, dos antigos, no tempo em que o vintém era
grana. Rainha Ginga, Henrique Rei Cariongo, em Congadas, Taieiras,
Maracatus multicoloridos, lindo cortejo com belo solar, vinham marchando,
antigamente, até nossos dias, imponentes e poderosos em sua humilde e
misteriosa força.
Os “ Mestres” mais antigos do Catimbó eram negros e ainda são, em
maioria absoluta, mestiços e mulatos. Do cerimonial dos Bantu Macumbas,
o Catimbó mantém as “linhas” significando a origem dos encantados,
nações, invocação dos antigos negros valentes. Pai Joaquim, que “desceu”
no Terreiro do Honorato, em Niterói (Artur Ramos, O Negro Brasileiro),
está acostumado a “cozinhar” em Natal e eu sei de cor a sua “linha” alegre e
alegre. O protocolo é mais democrático. e aconchegante no pobre Catimbó
e sem exigências ritualísticas. O contagium psichicum é de menor
intensidade. Nunca vi possessão em duas pessoas ou mais, como é
relativamente comum nas Filhas-de-Santo, nas Macumbas Gegê-Nagô, o
mesmo propiciatório fumegante com arruda e incenso, mas os cantos de
“licença” e “fechamento” têm um timbre maior católico, despojado do
elemento coreiforme, dos instrumentos de percussão cujo som monótono
caracteriza o culto africano no Brasil, difuso e confuso em sua mobilidade
atrativa, plástica.
Um elemento caracteristicamente ameríndio é o uso do cachimbo, da
“marca”, com tabaco, tabaco, petum que provoca transe. Não conheço
nenhum documento africano relatando ação semelhante na África e nenhum
registro de exploradores e naturalistas no século XIX. Os indígenas usavam
sopro, peiuuá, sucção, piterapaua e defumação, indicados pelo venerável
Anchieta nos primeiros anos da colonização. No tabaco, obtinha-se o transe,
com inalações profundas. O pajé usava o cigarrão (espécie de charuto) com
a casca do tauari, Curataria tavary, com o fumo da região. Às vezes
reforçava a embriaguez respirando o cheiro do pó de paricá, Mimosa
acacioiães . O paricá provocava sonhos que indicavam o futuro, e era no
sonho que Kerpimanha ou Kerepiiua, Mãe-do-Sonho, orientava e dirigia.
As relações sexuais foram por ela ensinadas às Tarianas do Rio Uaupés.
Karl von den Steinen não explicou como as mulheres bororo previam a
volta de seus maridos, vendo-os em sonhos. O paricá e o carajuru, Bignonia
chica, davam forças divinatórias por meio da aspiração. O “Erem”, lenda
dos índios Cubéua, conta que o “paié sentiu o cheiro do carajuru, fumou o
tavari, soprou para fazer os maiuás fugirem, depois exclamou: — “Aí está o
Erem!” Ou, em Nheengatu: Paié ocetuna iací caraiurú opitera tauari, opeú
omuiauáu Maia etá arama, ariré csacemo: Aicué ápe Eren.
A fumaça lançada como benção, conjuração poderosa, "permanente" do
Catimbó, articula-se com a liturgia indígena, observada nos séculos XVI e
XVII. Jean de Léry registra em 1557, em cerimônia tupinambá reservada
aos guerreiros: “Os caraíbas nem sempre ficavam no mesmo lugar que os
demais ajudantes: avançavam saltando ou recuando da mesma forma e pude
observar que, de vez em Naquela época, eles faziam uma vara de madeira
de quatro a cinco pés de comprimento, na ponta da qual queimava um
chumaço de petum, e eles ateavam fogo em todas as direções, soprando
fumaça contra os selvagens e dizendo: - “Para que você possa vencer seu
inimigos, recebam o espírito da força! — E os caribenhos astutos repetiram
isso várias vezes.” (Viagem à Terra do Brasil, 194, S. Paulo,
1941.)
Como Léry vira no Rio de Janeiro do século XVI. Frei Ivo d'Evreux
anotou-o no Maranhão em 1613. Os xamãs abençoavam as águas também
despejando fumaça de Petum, podendo comunicar seu espírito a outros, ou
seja, através da erva Petum introduzida em um junco, de onde extraem o
fumaça, soltando-a. sobre os espectadores ou soprando-o até mesmo da
cana, exortando-os a receber seu espírito e sua virtude. (Journey To
Northern Brazil, 313, 314-315, Rio de Janeiro, 1929.) O capuchinho
acrescentou: “Parece que este cauteloso dragão quer com tão falsa
cerimônia imitar Jesus Cristo quando deu seu espírito aos Postlolos, e seu
poder a seus sucessores para transmiti-lo aos iniciados nas ordens sacras.
Assim se lê em São João: Insufflavit et dixit eis, accipite Spiritum Sanctum:
soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo”.
Antigamente, havia o maracá redondo, sempre feito de cabaça, com número
ímpar de grãos de semente. O maracá de folha-de-flandres nunca apareceu.
Ainda hoje nos Catimbós a “marca Mestre” é invariavelmente de origem
vegetal, um pauzinho com uma cuiazinha na ponta, tipo maracá.
A semente da hortaliça maracá não é exclusiva do continente americano,
mas já a tínhamos quando foi descoberta. Há iguais no Sudão e na Guiné. O
Sr. Artur Ramos percebeu que havia um ritmo especial que anunciava cada
“Mestre” ou Orixá que era incorporado nas Macumbas e Candomblés. Hans
Dietschy, citando uma nota de Frobenius, informa que os Haussas do Sudão
têm um processo de cura através da música, uma espécie de violino e do
tambor universal, dedicando a cada um dos muitos espíritos a melodia que
lhes pertence. Essa melodia é chamada de “Linha” no Catimbó.
O sincretismo religioso faz convergir objetos e atos católicos para o culto
negro, misturado com reminiscências indígenas. Nos Catimbós, vê-se e usa-
se o Crucifixo, Cristo na posição da crucificação, mas sem a cruz. Santo
António, Santa Bárbara, 11 incensos, velas acesas, renúncias, orações
populares como o Magnífico (Magnificent), Ofício-de-Nossa Senhora,
Forças do Credo, Santo Amâncio, Santo Sepulcro, Pedra Cristal, os rituais
de invocações a São José para abrir e fechar a “mesa”, iniciando e
encerrando a sessão. A chave de aço, virgem para uso em fechadura, é
muito útil. Seu Fernando Ortiz a encontrou entre os descendentes de bruxas
iorubás de Cuba e a usam como mascote em colares. Nos Balangandãs
baianos, a chave aparece. No venerável Livro de S. Cipriano, a chave é
indispensável para fechar o corpo do crente, fazendo do “religioso” os
gestos de quem fecha uma porta sobre o peito do
doente.
Esta chave, chavinha, facilmente encontrada nas orações fortes, é
figurativamente a chave do Tabernáculo, onde se guarda a Hóstia, a
Partícula Sagrada. Usar qualquer um, se não tiver um emprego anterior, o
ideal seria o próprio, uma legítima chave do Tabernáculo, um dos mais
prestigiados amuletos como proteção contra perigos ocultos e forças
opostas. Na cerimônia de “fechar o corpo” a chave intervém fechando as
“entradas” e pontos fracos do corpo. Muitas vezes aparece entre bugigangas
e joias baratas, penduradas em um monte bagunçado de acabamento de
metal industrializado. O significado pode iludir muitos, mas a utilidade
simbólica é um dos elementos do Catimbó.
O Catimbó, portanto, cultua as ervas, a Jurema e os santos católicos,
também usando o caldeirão para rituais de magia e usando a fumaça para
curar doenças. Tem óleos, água benta e outros objetos litúrgicos, mas
falaremos aqui dos mais
importantes.
Cachimbo Sagrado
A fumaça e o cachimbo guardam parte do segredo que os catimbozeiros
chamam de “ciência”, aquela que move o mundo e está presente em tudo. É
pela fumaça que o Catimbozeiro realiza seus desejos, pois quando ele fuma
o cachimbo, ela vai na direção do que precisa ser resolvido, levando
consigo o que é necessário para atender os pedidos do Catimbozeiro.
Na Pajelança Cabocla e na Jurema Sagrada, uma variante da Pajelança
Indígena, é um símbolo do Universo. O forno do cachimbo, onde são
colocadas ervas misturadas ou simplesmente fumo, é a imagem da Mãe
Mata, Mãe Floresta - o sagrado feminino. O tubo por onde sai a fumaça
representa o Pai Céu, o Pai Céu - o sagrado masculino.
As ervas colocadas no forno são os seres vivos: os minerais, os vegetais e
os animais. A fumaça é a Natureza em movimento, o sopro que tudo
envolve e o espírito que anima os seres. Quando a fumaça cobre um objeto
ou um ser vivo, ela infunde o poder do encantamento que liga a Terra ao
Céu, e o Mundo Humano ao Mundo Divino.
Furar o cachimbo, dentro de um ambiente religioso, é um ato sagrado. O
cachimbo é um veículo de bons espíritos e um agente de cura de males do
corpo e da alma. O cachimbo de um xamã não é mera madeira. Ele é um
aliado e uma criatura com alma.
Nos rituais da Pajelança Cabocla e da Jurema, o pito recebe um nome
mágico. É lavado com ervas secretas e então enterrado em uma lua cheia
especialmente escolhida. Num ritual fechado aos não iniciados, o cachimbo
é retirado do ventre da terra e celebrado como novo membro da irmandade.
Como “virou bicho”, na linguagem dos curandeiros da floresta, ele será
alimentado, de tempos em tempos, com sucos vegetais. Ele também viverá
em uma toca, um lugar escuro e silencioso, onde descansará após as sessões
de cura. Na calada da noite, o cachimbo fala com o xamã e assume a forma
de um animal de poder... Ele está vivo!
Várias ervas podem entrar no Petenguá, como os Guarani chamam o
cachimbo. Sua ordem varia de acordo com o propósito, momento e intenção
do ritual. Plantas do Brasil e de outras terras compõem a farmácia do
cachimbeiro Caboclo. O tabaco é o mais conhecido.
Na Pajelança Cabocla, o Pai Tabaco tem dois espíritos aliados: Yawara
(onça) e Yibóia (jibóia). A onça é uma emanação da Mãe da Mata, e a jiboia
é filha dela. Esses dois espíritos são invocados quando o xamã se fuma e
canta as palavras certas, que convidam os aliados a se manifestarem neste
mundo.
Pajé Avarumã, amigo e professor do Catimbó, diz que nenhum curandeiro
pode usar tabaco para recreação! Quem é viciado em tabaco, diz ele, caiu na
rede dos espíritos e está cativo. Uma pessoa viciada é escrava da planta,
acaba doente e deve prestar contas aos encantados.
Ninguém iniciado no conhecimento da floresta pode ser escravo. Afinal, um
xamã é um guerreiro. O cachimbo e o tabaco são usados apenas nos rituais
de fé. Quando armados com um cachimbo, diz o sábio da floresta, subimos
como uma árvore muito alta. Nossa cabeça toca o céu, nossos pés afundam
no chão. Nosso coração bate com o da Mãe Terra e em nossas veias corre o
sangue verde dos espíritos.
A Pajelança Cabocla possui dois ramos espirituais: o Caminho do
Cachimbo (Casa do Fogo e do Ar) e o Caminho do Maracá (Casa da Terra e
da Água). No primeiro ramo, o futuro guerreiro curandeiro estuda os
mistérios do Mundo da Fumaça, onde vivem os sonhos e aliados. Ele
também aprende que o cachimbo está no corpo: o forno é a cabeça e o
cachimbo é a coluna.
Dentro do corpo-cachimbo, o xamã coloca as ervas e acrescenta o fogo
(espiritual), para que a fumaça (alma) saia e viaje até os encantados. O
cachimbo é quem toca o cachimbo, diz Avarumã.
Outras plantas fumáveis também são usadas. São citados os mais comuns,
que encontramos com facilidade e foram reconhecidos pelos curandeiros
como amigos espirituais, embora de origem estrangeira.
• Lavanda: muito utilizada na defumação e defumada no culto da Jurema
Encantada. Ele entra na mistura básica de fumaça, junto com tabaco
forte, incenso (olíbano) e alecrim.
• Artemísia - chamada Tabaco São Pedro: utilizada na forma de charuto,
pó, chá, tintura, extrato, essência, suco, banho e até vinho (Vinho de
São Pedro). É tônico e vermífugo. Não deve ser usado em grandes
quantidades como chá, mas fumado é inofensivo. Uma famosa mistura
de cachimbo é a “Velha Bruxa”: 10 gramas de folha de figueira, 15
gramas de verbena, 30 gramas de tabaco suave e 5 gramas de artemísia.
Também é usado no charuto Tauarí ou xamã.
• Escarola – conhecido como Long Life Tobacco: uma conhecida planta
fumável usada para substituir o tabaco. Usado como alimento, loção,
pó, charuto, loção e cataplasma por centenas de anos. É nutritivo,
purificante, analgésico e sedativo, por isso não deve ser fumado em
grandes quantidades. Combinado com um pouco de artemísia, obtemos
uma boa fonte de fumaça curativa.
• Verbena: preferida pelos Mestres dos Bosques – os curandeiros de
Portugal – exilados no Brasil no período colonial. Boa planta para
fumar, mas deve ser misturada com artemísia e tabaco. Uma maravilha
para fumar. Purifica o ambiente e destrói miasmas (energias negativas
aglomeradas nos cantos das casas).
Maraca
Além do cachimbo, um ícone do Catimbó é o maracá. O chocalho indígena
feito de cabaça está em harmonia com o Ilú (tambor tradicional
pernambucano) e juntos enchem de som as celebrações de encontros e
rituais.
Em seu livro “Geografia dos mitos brasileiros”, Camara Cascudo descreve a
relevância e o significado dos chocalhos mencionados pelos primeiros
jesuítas no Brasil.
“Maracás — Quando estudaram o tosco ritual dos Pajés, o primeiro que
feriu a curiosidade européia foi o infalível maracá, sacudido furiosamente
pelos tensos feiticeiros amerabás.
Os Padres Nóbrega e Fernão Cardim contam que o Pajé chegando, após as
recepções festivas de cada maloca, trazia uma cabaça e a levava para um
quarto escuro. Ali cantou, dançou e profetizou, fazendo-nos crer que quem
falou foi a cabaça (“que traz na figura humana a parte mais conveniente
para os seus erros”, afirmou Nóbrega). O Xamã deve ter sido meio
ventríloquo.
A afirmação dos padres Anchieta não é menos explícita: ... costumam
pintar cabaças com olhos e boca, e as guardam com grande veneração
escondidas numa casa escura onde os índios vão levar suas oferendas
(Informações sobre o Brasil e suas capitanias).
As maracas (mara, falsa, aqui, cabeça, cabeça falsa, cabeça falsa, de
fingimento, imitação, segundo Teodoro Sampaio) eram a representação das
cabaças onde o Pajé tentava evocar os traços de Jurupari. cabaças não
podiam sair ao ar livre, enquanto as maracás eram carregadas
solenemente e presidiam, com seu ritmo, a perfeição de cantos e danças
votivas.
Padre Simão de Vasconcelos (Crônica da Companhia de Jesus, Liv. II, cap.
C) descreve um maracá como tendo a forma de uma cabeça humana, com
orelhas, cabelos, olhos, boca, nariz. Dentro colocam folhas de tabaco ou
outros aromáticos. Com o maracá na mão, o Pajé pulava e cantava diante
dos índios guerreiros reunidos em roda. O maracá era a inspiração
suprema e, tomando o efeito para a causa, o altar para o padroeiro, o índio
tinha tanto respeito pelo maracá quanto pelo Pajé.
Quando Hans Staden foi feito prisioneiro e levado para Ubatuba,
imediatamente o levaram para um barraco e o deixaram lá, com mulheres e
crianças. Os homens foram para outra cabana:
... para beber cauim na frente do maracá, deus em cuja homenagem eles
cantaram canções por proporcionar-lhes a minha captura. Por meia hora
ouvi tal música sem que nenhum homem aparecesse em minha cabana;
havia apenas mulheres e crianças lá.
... as maracas tinham-lhes profetizado a captura de um português.
... eles me declararam um profeta melhor do que seus maracas.
Jean de Léry não diverge em suas observações:
... enfeitam-se com as mais belas penas encontradas em suas diversas
maracas.
... eles costumam carregar essas maracas sempre nas mãos, e dizem que
quando soa um espírito eles vêm falar.
Os Carnijós de Águas-Belas, Pernambuco, foram visitados por Mário
Melo, que os descreveu (Rev. Inst. Arqueológico Pern., V-XXIX. Recife,
1930), autodenominam-se Fulniôs, e Carlos Estêvão de Oliveira os
identificou como pertencentes ao grupo Jê (Rev. Inst. Hist. Ceará, tomo
XLIX, p. 189). Os Fulniôs têm um culto misterioso que realizam em
reuniões chamadas de Ouricuri e onde Jurupari é reverenciado. Os Fulniôs
usam maracas. Informa Mário Melo:
Essas maracás são sagradas, passadas de geração em geração e vivem sob
a guarda de dois carnijós legítimos, eleitos em Ouricuri. Não há preço para
comprá-los, e nenhum profano pode tocá-los.
(…)
La maracá n'était pas une choose sacrée en elle-même, escreveu A.
Métraux estudando a religião dos Tupinambás. Sua literatura é extensa e
abrange todos aqueles que se dedicaram ao registro das festas rituais
indígenas. Magnificamente Métraux sintetiza a história do maraca desde o
simples réceptacle de l'esprit até uma figuração material da divindade
evocada. Hans Staden é peremptório. Ele confessa que os indígenas
acreditam nos Tammaraka que são deuses. O Pajé consagra cada
tammaraka (ita-maracá, maracás de pedra) com exalações prolongadas de
bittim, petym, petum (tabaco). depois dessa cerimônia cada maracá vale
um deus (Hans Staden — Viagem ao Brasil, segunda parte, cap. XXII, pp.
153/154 da edição da Academia Brasileira de Letras).
O maracá, além de sua função principal, que é ritmar a dança sagrada
cuja importância visceral e completa é conhecida pelos americanistas, é
ainda um complexus, reminiscente dos sacrifícios rituais de prisioneiros,
dando a redução naquele símbolo, a falsa -cabeça, mara-acá. nenhum culto
estava intrinsecamente ligado ao maracá. É um instrumento insubstituível
de dabucuris e necessariamente sua antiguidade e extensão de uso o
tornam mais venerado. De conhecimento quase universal, popular em três
continentes, nunca mereceu as honras idólatras de seus portadores. sempre
foi um gravador de compassos, um animador de ritmos, trazendo para o
poracé das festas, um som que lembrava as horas sagradas de Jurupari
(“deus supremo”). É um emblema. Nunca uma materialização.”
No contexto dos Catimbós, parece plausível que os Maracás tanto
invocassem espíritos e ancestrais, quanto estabelecessem uma ligação com
os locais sagrados na vida após a morte.
Princes and Princesses – Príncipes e Princesas
As princesas são vasilhas redondas de vidro ou barro onde é preparada a
bebida sagrada e onde, em ocasiões específicas, são oferecidos alimentos ou
bebidas aos encantados. Os príncipes são taças ou taças, que geralmente são
preenchidas com água ou alguma bebida do gosto da entidade. Eles
simbolizam a entidade espiritual e sua energia, e todo Catimbozeiro tem em
sua mesa pelo menos um dedicado ao seu Mestre.
A fabricação da bebida
A fabricação da bebida sagrada conta com uma mistura que leva casca de
jurema, e uma espécie de vinho preparado com álcool, mel, gengibre,
hortelã, cravo e canela.
O que se chama de vinho de Jurema, ou simplesmente Jurema, é uma
infusão preparada com diversos materiais. Assunção (2006: 202) descreve
sua composição com gengibre, casca de Jurema Preta e cachaça curtida por
três dias e mel. Alguns autores referem-se à Jurema como um enteógeno em
vez de um alucinógeno, o que se referiria ao “estado de transe quando
inspirado ou possuído por uma divindade, geralmente em um contexto
ritual” (Reesing, 2006: 66). Devido à crescente fama e expansão do uso da
Ayahuasca, às vezes a analogia entre as duas plantas é inevitável. Sobre
essa comparação, o mesmo autor afirma que ambas possuem princípio ativo
semelhante, mas, no caso da Jurema, há dúvidas sobre a eficácia de seu
composto químico e a forma como ele reage no organismo.
Transe e possessão
A passagem a seguir é um trecho de Cascudos “Meleagro” enquanto ele
descreve uma cena de uma sessão típica em uma linha característica de
trabalho.
No Catimbó não se diz que um “Mestre do Além” se materializou ou
incorporou. Diz-se "costado" e "desacostado" ("acostou" e "desacostou".)
Antigamente, apenas o “Mestre”, o “Mestre da mesa” (Mestre, Mestre de
mesa), tinha a honra de estar ativo , servindo seu corpo para comunicação
com um “Mestre do Além”, invisível e conhecedor. Só o “Mestre” cantava,
falava, prescrevia e dirigia. Hoje os “Mestres do Além” se democratizaram.
“Acostam” (para apoiar-se, acostar) em muitas pessoas mas são sempre
guiadas, solicitadas pelo “ Mestre de Mesa”. O “Mestre do Além” conversa,
brinca ou ameaça, por meio de um voto; mas, se vai receitar remédios,
“desliga” e vai “apanhar” o “Mestre da Mesa”, elemento do respeito
acostumado ao transe e ao processo de transmissão do “bom
conhecimento”.
A vinda do “Mestre do além” é a “manifestação” do Espírito nas sessões.
Não há nenhum espetáculo sugestivo da “caída do santo” em um Terreiro de
Candomblé. Às vezes, apenas a mudança no timbre da voz denuncia que
uma pessoa invisível “pousou” e “quer se comunicar”, aproveitando o
estado de receptividade de um assistente. Pela fisionomia do “Mestre da
Mesa”, estes “lados” não são muito agradáveis. Um “mestre do além” pode
estar possuído por uma mania de ser engraçado e ninguém achará suas
palavras engraçadas. Além disso, por mera coincidência, certas repressões
pessoais são sublimadas durante essas performances hiperterrestres. E o
alvo dos insultos não pode reagir porque não é uma “criatura de sangue”
mas um ser poderoso, do além, com as “forças
No "Mestre da mesa" o transe é sempre provocado por inalações profundas
de fumaça ou respiração forte, cadenciada, olhos fechados. Recebendo os
Orixás. Com influência Bantu, o Catimbó é menos exigente, permitindo a
posse do “espírito” em qualquer iniciado que seja, frequentador crédulo, ou
não se torne “médium”. A mãe-do-terreiro, orixá babal pernambucana,
precisaria de um “estudo” para comandar uma “mesa” (mesa) no Catimbó,
administrando a sucessão de “lados” inesperados que atrapalhavam sua
autoridade religiosa.
Nunca vi no Catimbó as manifestações do acostamento com a dramaturgia
dos candomblés baianos ou das macumbas do Rio de Janeiro. Nestes, a
“filha-de-santo” (filhas de santo) assim que agia sobre mudanças, desmaios,
torções, com explosões de movimentos bruscos, ou ficava estática, braços
para cima, fazendo caretas, roncando, sendo carregada ao Peji ( altar) onde
ela então falará, mais serena, pela voz do Orixá, em plena posse do deus
africano. A “cair no santo” (cair no santo), com suas convulsões ou
imobilidade impressionante, está longe de ser o amável cerimonial de um
“Mestre” em visita cordial a um Catimbó nordestino.
Acontece, claro, que existem ferozes “Mestres“, uma centena de pena do
“aparelho” que os acolhe, e eles saltam, gritam, estremecem em coreos sem
fim, atacam o público com obscenidades ou caem espetacularmente ao
chão, espumando na boca, membros tensos, gargarejos ameaças. Em
seguida, o “mestre da mesa” intervém com sua ciência para “desacoplar” os
incultos, passando da persuasão doutrinária à ordem imperiosa, fundada no
prestígio que terá de outro “mestre ”, mais abaixo no além.
Às vezes, o súbito "estremecimento" de um "mestre" leva o "mestre da
mesa" a situações perigosas. Como não há na espécie ninguém com mais
"força" que ele próprio, a luta decorrerá intimamente, entre a violência das
conjurações e as orações fulminantes, mas o público vê apenas uma
tempestade de movimentos e uma verdadeira explosão de som de palavras
pronunciado com velocidade alucinante.
Atenção cansada, sugestão oral, saturação pela sedução ambiental, estado
de morbidez muito pessoal, predisposição, explodem, numa soma de fatores
imponderáveis, no fenômeno da possessão. A impressionabilidade mestiça,
aguda e plástica, é nos Catimbós diminuída pela ausência de ritmo, tão forte
nos Candomblés e Macumbas. Não há instrumento nos Catimbós e apenas a
música cantada, em uníssono, atua como elemento de transbordamento,
possibilitado pelo contagium Psycheum.
O “Mestre da mesa” (Mestre/Mestra de mesa), popularmente chamado de
“Catimbozeiro”, embora seja insultuoso, desperta espontaneamente porque
ninguém tem ciência para “desacoplá-lo”. espírito” batendo com a mão
espalmada na testa e dizendo em voz alta: “ Trunfei! Trunfa! Trunfa Real!”
- Trunificado! Trunfo! Trunfo Real!
A atmosfera sombria, a audiência silenciosa e crédula, o aspecto do
“Mestre”, rígido e solene, com a evocativa “marca”, o canto das “linhas”,
algumas com uma melodia penetrante e inebriante, as repetidas doses de
aguardente, acabam obtendo um estado de apatia, de prostração, de
curiosidade atônita, de pavor inconsciente. A personalidade se dissipa
lentamente no contato coletivo, e acabamos sendo apenas mais um
elemento de repercussão nervosa, um transformador psíquico para as altas
tensões do mistério natural e do eu. muulação espontânea do Catimbó.
REINO, REINO, DIVINDADE,
GUIA ESPIRITUAL
Os 12 Reinos da Jurema
1º Reino De Juremá
Composto pelos Municípios: Juremá, Cidade Campos Verdes e Cidade
Estrela D'Alva. Este Reino pertence aos primeiros Catimbozeiros, aqueles
que iniciaram o culto da Jurema. Fazem parte deste Reino os Caiporas,
Curipiras, Mestres Curandeiros, Casamenteiros e Mestres Parteiras. Eles
praticam magia imitativa e simpática. Há muitos Caboclos com poucas
características de índio, mas que entendem muito de remédios da floresta.
Este Reino é governado por Tupã que é chamado de Rei Tanaruê à mesa.
Não atraque porque é como o nome de Deus pronunciado pelos índios.
Toda a falange dos Tupínambá passa por este Reino. Os mestres Inácio de
Oliveira, Roldão de Oliveira e Maria do Acais são os que estão na
vanguarda das cidades. Este Reino tem a função de melhorar a vida das
pessoas trazendo prosperidade, inteligência e despertando a ciência dos
discípulos. Na árvore da Jurema, esse reino está na semente.
2º Reino De Vajucá
Os antigos dizem que este Reino está na direção norte de quem está no RN
ou PB e quem tem a Ciência da clarividência vê no céu quando o dia
começa a nascer e isso apenas por alguns segundos. Este é um Reino de
Muitos Mestres que viveram no RN e arredores. Há muitos Caboclos e
Pretos Velhos neste Reino. Conta-se que Vajucá é dividida em duas partes:
uma tomada por matas e com muitas tribos de índios "selvagens" e a outra
metade constituída pela caatinga. Este reino está sob a direção do Rei Heron
que é o Rei dono de todas as doenças e se apresenta com um grande chapéu
de palha enfeitado com uma “franja” de agave picado chegando quase até a
cintura. O Reino de Vajucá é formado por Mestres que trabalham com as
plantas e com a própria terra. Sabem fazer remédios com barro e ervas
torradas, sendo também excelentes preparadores de misturas para
cachimbos, utilizadas em diversos serviços espirituais. Os Mestres Carlos,
João da Mata e Mestra Faustina são os representantes das Cidades deste
Reino. As cidades são: Vila Vajucá, Vila Mata Virgem e Vila Arruda.
3º Reino Tanema
É interessante falar deste reino corrigindo a pronúncia que algumas pessoas
quando falam ou cantam sobre este reino, erroneamente o chamam de
PANEMA. Panema é uma doença repentina, uma doença como o Banzo dos
negros, uma espécie de depressão causada por encantamento com o objetivo
de fazer murchar o afetado.
Tanema é um reino de transformação e equilíbrio; um reino onde as coisas e
as pessoas passam e mudam, um reino de renovação... Neste reino
encontraremos muitos CURANDEIROS, CIGANOS, PAJÉS e outros seres
que trabalham e cuidam de ervas e animais
4º Reino de Angico
Angico, além de ser o nome deste reino, é também o nome de uma árvore
muito importante em nosso culto que leva o mesmo nome deste reino. Este
reinado traz o poder da proteção, fechando o corpo e o espírito aos males do
mundo. Neste local, vários espíritos que se destacavam pela manipulação
dos poderes encantados das águas e de feitiços ligados à alma feminina,
como Mestra Aninha, Mestra Joana Pé de Chita, Sibamba etc.
5º Reino do Tigre
Neste local, os índios que foram massacrados, os feiticeiros que foram
condenados e torturados por serem bruxos, magos negros, cabalistas, etc.
"fumam a esquerda", que são rituais onde evocamos o poder de aniquilação
impregnado neste reino para diluir situações indigeríveis ou aparentemente
intransponíveis em nossa vida.
Os guias espirituais
O Catimbó, como a maioria das religiões xamânicas, é considerado um
culto de transe, no qual as entidades, conhecidas como Mestres, se
utilizavam do corpo do Catimbozeiro e, momentaneamente, apoderavam-se
de todos os domínios básicos do organismo. À semelhança do que ocorre na
Umbanda, onde os espíritos se organizam em direita e esquerda conforme a
natureza positiva ou negativa que possuem, mas trabalhando conforme a
vontade do médium, os Mestres são relativamente neutros, podendo operar
tanto boas quanto más ações. Esses Mestres seriam figuras ilustres do
Catimbó, que quando vivos teriam realizado diversos atos de caridade
utilizando ervas e propriedades xamânicas, de modo que por acaso, após
sua morte, teriam sido transportados para uma das cidades místicas de
Juremá, localizada nas proximidades de uma mata de jurema plantada pelo
Mestre antes de sua morte.
Uma rápida visão geral das principais dimensões e dos guias espirituais:
• Mestras e Mestres - Mestres: Espíritos que quando vivos foram os
Sagrados Guardiões da Jurema. Estes podem funcionar à direita para
construção e à esquerda para desfazer.
• Encantados - Encantados: Espíritos que estão ligados à natureza. Eles
não morreram, eles se tornaram um elemento da natureza.
• Princesas e Príncipes - Príncipes e Princesas: Foram encantados e
transformados em elementos da natureza.
• Reis e Rainhas - Reis e Rainhas: Antigos espíritos que nos dão
conhecimentos sobre os mistérios da vida e da magia.
• Caboclos e Caboclas: índios às vezes misturados com brancos,
originários do norte e nordeste do Brasil.
• Boiadeiros e Boiadeiras – Vaqueiros e Vaqueiras: Espíritos de
fazendeiros, vaqueiros e os chamados sertanejos.
• Pajés - Pajés: índios magos do Brasil. Uma espécie de Xamã.
Linhas de trabalho que se misturam com Candomblé e/ou Umbanda terão
guias espirituais adicionais trabalhando em um Catimbó (Jurema Sagrada)
mais ou menos puro.
Caboclos da Jurema
Subordinadas aos Mestres estão as entidades conhecidas como Caboclos da
Jurema. Esta forma de espírito ancestral representa os xamãs e guerreiros
indígenas falecidos, enviados ao Mundo Encantado para ajudar os Mestres
na realização de boas obras. Os caboclos são sempre invocados no início do
culto, antes mesmo de seus superiores serem incorporados. Esses seres
espirituais seriam os responsáveis pela prescrição de ervas medicinais,
banhos e rezas que afastariam o mau-olhado e o infortúnio.
Alguns Caboclos segundo Meleagro são: Xaramundi, Ritango do Pará,
Manicoré, Itapuã, Tupã, Mussurana, Pinavaruçu, Tabatinga, Turuatã,
Kanguruçu, Faustina, Angélica, Iracema.
Os Caboclos são identificados como entidades indígenas que trabalham
principalmente com a cura através do conhecimento das ervas. Durante a
permanência dessas entidades nos Terreiros, incorporadas aos médiuns, eles
dão passes e realizam benzimentos com ervas e folhagens. Estão associadas
a correntes espirituais superiores, aquelas que trabalham para o bem, mas
que também podem ser perigosas quando usadas contra alguém. Por isso
são tão temidos. "... na antiguidade, as pessoas tinham muito medo dos
caboclos por causa das flechas. Flecha de índio é pior que obra de mestre...
só poucos que sabem mexer e botar a mão ali"
Nas Mesas, o Caboclo é simbolizado por príncipes, estátuas de índios e
apetrechos feitos por índios ou inspirados por eles, como cocares, flechas,
preiacas, colares, etc. pode ser cru, cozido em vinho ou assado na brasa.
Com a introdução do sacrifício de animais nas práticas juremistas, é comum
oferecer-lhes pequenos animais como pássaros, preás, coelhos e outros
"animais de caça". Raízes como mandioca, batata-doce e alimentos feitos
com elas também são oferecidos.
Alguns Juremeiros oferecem vinho branco a essas entidades, outros apenas
sucos de frutas e refrigerantes como o guaraná. Normalmente, os Caboclos
não fumam e na hora das reuniões e passeios a eles destinados, não se deve
fumar; entretanto, alguns Caboclos usam esses elementos. No caso dos
Caboclos que utilizam tabaco em seu trabalho, nas oferendas eles devem
estar presentes na forma que mais agrade ao Caboclo em questão (cachimbo
ou cigarro de palha ou charuto). As oferendas se completam com as bugias
ou inãs, as velas. Na incorporação, observam-se três estereótipos
relacionados ao gênero e faixa etária dessas entidades: Os filhos dos
Caboclos, seja de um sexo ou de outro, descem pedindo mel, doces e frutas.
Eles são pouco ascéticos quando comem esses alimentos, depositando e
misturando os ingredientes no próprio chão dos Terreiros. Também é
costume lambuzar a si mesmos e àqueles com quem compartilham a
comida. Freqüentemente, eles querem comer pequenos insetos e répteis que
encontram em casas de culto, alegando que comem esses animais na
floresta. São brincalhões e falam uma linguagem infantil do tipo tati-bi-tati.
Caboclos machos adultos têm uma carranca. Sua voz geralmente é ouvida
com clareza. Eles geralmente descem estalando os dedos e fazendo um som
sibilante. Quando nas reuniões, onde não há percussão, dançam em roda,
dobrando um joelho e deixando a outra perna para trás. Nas festas, suas
coreografias mudam, assumindo os passos dançados pelos "caboclinhos" da
folia popular do carnaval pernambucano. As caboclas têm uma expressão
facial mais suave e costumam falar uma língua em que a sílaba “si” é
inserida no início das palavras.
Os mestres
II
Ai meu Deus, Mestre Angico sou eu.
Ai meu Deus, Mestre Angico será.
Os anjinhos tão no céu, a sereia no mar.
Ai meu Deus Mestre Angico Reá.
(Jurema de Mesa)
Setenta anos,
Passei no pé da Jurema.
Mas eu não tenho pena
De quem me faz o mal.
II
Se eu me zangar
Eu toco fogo no rochedo
Meu cachimbo é um segredo
Agora vou me vingar.
(Jurema de Mesa e Gira de Jurema)
Como oferendas, os Mestres recebem cachaça, que nunca deve faltar
quando estão presentes nos cultos, fumo, seja em charutos ou em
cachimbos, comidas preparadas com crustáceos e moluscos diversos. Com
essas iguarias, os Mestres ficam satisfeitos e fortalecidos. A bebida feita
com a casca do caule ou raiz da Jurema e outras ervas da "ciência" (Junça,
Angico, Jucá, entre outras) adicionadas à aguardente, é, porém, a maior
fonte de força e "ciência", pois essas entidades. Nos Terreiros mais
influenciados pelos cultos africanos, é comum o Mestre receber sacrifícios
de galos vermelhos, cabras e, muitas vezes, até novilhos. Quando em terra,
incorporados, os Mestres chegam já embriagados, caindo de um lado para o
outro e falando em voz baixa. São brincalhões, chamam de palavrão, mas o
que falam é respeitado por todos. Durante o transe, os Mestres se
apresentam com o corpo levemente voltado para frente. Na dança as pernas
ficam com os joelhos levemente dobrados, o pé direito avança e dá dois
passos para o mesmo lado, o pé esquerdo é arrastado; é então a vez do pé
esquerdo avançar no mesmo estilo de dança; variações estão sendo
executadas com base no ritmo do Ilus e nas letras das músicas. Já os
Mestres, seus assentamentos são reconhecidos pela presença de leques,
joias, piteiras, cigarros e cigarrilhas. Como no caso dos Mestres, existe uma
infinidade dessas entidades, com atributos e especialidades em assuntos
mundanos e espirituais. Algumas casas fazem distinção entre patroas que
trabalham "à esquerda" e "à direita". Nesta última categoria, encontram-se
professoras como Gertrudes e Lorinda, ambas parteiras na vida material e
hoje ajudam mulheres a parir outro "ser vivente". Alguns Mestres morreram
virgens, por isso ganharam o status de princesas quando entraram nas
moradas do além. Vale lembrar o nome de algumas princesas como Mestra
Marianinha, Princesa Catarina e Princesa da Rosa Vermelha.
Homem pequeno
Na minha cama não dormia,
Servia de cafetão,
Nas horas que eu queria.
II
Mulher sozinha
É mulher de opinião,
É mulher de muitos homens
Más só um no coração.
III
Eu vou dá uma,
Vou da duas, vou dá três,
Se você me arretar,
Eu dou quatro, cinco, seis.
(Sessão da Jurema)
III
Tais Mestres são especialistas em "negócios do coração", são eles que dão
conselhos a moças e rapazes que querem se casar, que realizam os laços
amorosos, que fazem e desfazem casamentos.
Além dos Caboclos e Mestres, os Pretos e Pretas Velhas vêm à Jurema, mas
com menor frequência. Espíritos de velhos escravos africanos,
conhecedores das bênçãos e dos conselhos, dão aos seus "netos" dos
Terreiros. Temos aqui, talvez, uma influência da Umbanda no culto
juremista. No entanto, a influência dos cultos africanos se expressa melhor
na incorporação dos Exus e Pomba Giras ao panteão juremista. Na Jurema
eles aparecem como servos dos Mestres ou como Mestres menos
esclarecidos e mais propensos a trabalhar para o mal. A este panteão
juntam-se os Santos da Igreja Católica, que são saudados pelos Mestres e
Caboclos, e que encontramos referências nas cantigas e rezas utilizadas nas
práticas mágicas ensinadas pelos espíritos.
II
Sou Massapê,
Barrostroá!
Sou Caboclo da Jurema,
Só faço o bem, não faço o mal.
(Mesa Jurema)
Também encontramos os Orixás de Xangô em algumas Juremas. Em
algumas casas são abertos os passeios da Jurema, cantando aos Deuses de
origem africana após saudar Exu. No entanto, as toadas (letras) são
geralmente em português como na Umbanda.
Origem
Malunguinho na Jurema
História
“Na rua da amargura, onde morava seu Zé Pelintra, ele chorava por uma
mulher, chorava por uma mulher, chorava por uma mulher que não lhe
amava”. “Na rua da amargura, onde morava o seu Zé Pelintra, ele chorou
por uma mulher, chorou por uma mulher, chorou por uma mulher que não o
amava.”
Esta mulher chamava-se Maria da Conceição de Alcatra e era filha de um
nobre português chamado João de Alcatra, mais tarde conhecido como
Mestre João Grande. Ela foi apelidada de Maria Luziara em referência às
Torres Altas de sua terra natal, na Lusitânia, Portugal. Na época, essas três
torres eram as mais altas da Europa, com 240 degraus e 76 metros de altura,
e serviam de farol para os grandes navios que entravam e saíam do país.
Eles cantam uma de suas linhas:
“Meu Deus, valei-me nesta agonia, Valei-me nesta aflição, Sou a Mestra
Maria Luziara, Princesa do Mestre João”.
“Que campos tão verdes, meu gado todo espalhado, eu venho de Altas
Torres, venho juntando o meu gado”.
Reza a história que ela chegou ao Brasil com a Família Real Portuguesa,
que veio para cá em 1808 fugindo dos avanços de Napoleão pela Europa.
Desembarcou em Salvador, na Bahia, após seguir para a cidade do Rio de
Janeiro, no Estado da Guanabara. Segundo os ex-Juremeiros, ela vem como
amante do rei Dom João VI, mas cai em desgraça quando o rei volta a
Portugal, em 1821, e é obrigado a ir para um bordel.
Educada, nobre e muito bonita, Luziara é enviada para o bordel mais
famoso da Colônia, no Recife. No caminho, ela perde as últimas joias que
tinha. guardado desde os tempos de cortesã: num golpe de azar, eles caem
no fundo do São Francisco.
“Ganhei um colar de ouro foi um casado quem me deu, (...)”
“… na passagem do riacho Luziara perdeu. Perdeu, perdeu a sorte que o
que o macho lhe deu...”
Foi no bordel da Rua da Guia, no Recife, que Luziara, ainda uma jovem de
20 e poucos anos, conheceu Zé Pelintra, que devia ter quase 50 anos na
época divindade . Foi amor à primeira vista por parte de Seu Zé. Luziara,
porém, teve muitos outros pretendentes, alguns deles Mestres da Jurema
Sagrada.
Supõe-se mesmo que foi através de um dos seus amantes que ela própria
acabou por ser iniciada e tornar-se Mestra nesta tradição, embora não
tenhamos um registo histórico de quando isto aconteceu e quem foi o
iniciador.
O facto é que os pretendentes da bela portuguesa da Rua da Guia brigavam
muitas vezes entre si. Em uma dessas brigas, todos acabaram presos –
inclusive Luziara. Zé Pelintra ficou sabendo e vestiu sua melhor roupa, foi
até a delegacia, e se apresentou como advogado. Com sua fala mansa
passou o delegado de volta, liberando a amada.
Ela fugiu e ganhou terras na Serra da Borborema, onde foi viver criando
gado. dizem que quem comprou foi Manoel Quebra Pedra, amigo de Zé
Pelintra.
……”aqui sou eu, aqui sou eu, aqui sou eu Manoel Pedra. (Bis).
“Eu comprei paguei,
Tive pena, na saída da fazenda,
Quando o garrote voou.
Se a vida é um suplício,
Eu não tenho nada com isso.
E feliz de quem Deus marcou.
Aqui sou eu, aqui sou eu, aqui sou eu Manoel Quebra Pedra. (Bis).
Sou eu, sou eu, Manoel Quebra Pedra. (Bis) ……”
“Oh, Luziara mas que loucura!
Deixaste o seu homem lá na rua da amargura?
Na Amargura eu não deixei o meu Homem,
Deixei os falsos amigos que falaram de meu nome...”
Em vida - e depois como Encantada - Mestra Maria Luziara ingressou na
Jurema Sagrada como uma entidade que só faz o bem. Ela é especialista em
fazer casamentos e harmonizações de casais. Alegre, elegante e gentil, essa
entidade às vezes conta seu passado com Seu Zé no Recife antigo quando é
recebido nas sessões da Jurema.
Os Discípulos de Seu Zé
Zé Pelintra na Umbanda
Foi por meio de um de seus médiuns que o Sr. chegou ao Rio de Janeiro.
Dizem que uma mulher que não podia ter filhos veio aos pés do Mestre
Preto Zé Pelintra, manifestada em um de seus discípulos, e pediu-lhe que
salvasse sua mais recente gravidez. O Mestre atendeu ao pedido, afirmando
que a criança nasceria e seria consagrada a ele.
Após o nascimento do menino, a família mudou-se para a cidade do Rio de
Janeiro, indo morar na Lapa. O menino, batizado José Pelintra da Silva,
ingressou na Umbanda ainda adolescente e lá foi médium do Mestre Preto
José Pelintra, mesmo sem ter sido consagrado na Jurema Sagrada.
José da Silva, como era costume entre os médiuns consagrados ao seu Zé,
passou a usar seu terno branco de Guia, mais camisa vermelha ou listada
em preto e vermelho, adereço dos malandros da boemia do Arco da Lapa.
Após sua morte, José da Silva se manifesta nos Terreiros de Umbanda como
Zé Pelintra da Lapa, criando assim uma linha de malandros da Umbanda.
Vale lembrar que, apesar de sua grande força, essa corrente (correntes =
linhas de trabalho) não é formada pelos Mestres da Jurema, pois José da
Silva nunca foi iniciado nessa tradição. Sua missão era levar a força e o
feitiço de seu Zé aos Terreiros de Umbanda, fazendo caridade no Rio de
Janeiro. Zé Pelintra da Lapa não foi consagrado a nenhum Mestre, não foi
iniciado aos pés da Jurema Preta e por isso e no ato de sua morte não
encantou e nem se tornou Mestre da Jurema.
Quando José Pelintra da Silva do Arco da Lapa cai, vem como Exu da
Quimbanda, sendo um Quimbandeiro forte. Exu Malandro ou Zé Pelintra
da Lapa são a mesma entidade, que comanda a linha dos malandros, onde
todos são exus. As muitas casas de Umbanda que atualmente trabalham
com seu Zé Pelintra estão trabalhando com essa linha de exus malandros, e
não com os Mestres Juremeiros. Afinal, não há Mestres de Jurema na
Umbanda, nem Exu e Pomba Gira no Catimbó.
Ferramentas de adoração
Antes de partirmos para os instrumentos de adoração, vamos falar um
pouco sobre energia e trabalho do Mestre Preto Zé Pelintra. Não era um
Mestre do sertão seco e árido, mas do litoral sertanejo, tendo uma ligação
profunda com o mesmo. Portanto, um dos lugares mais fortes para se
conectar com o Mestre Zé Pelintra é à beira-mar.
Além disso, em vida foi um grande devoto de Nossa Senhora do Carmo e
de Santo Antônio, sendo impossível entender o culto a ele antes de falar
desses santos. São chaves importantíssimas, que vão mostrar aos bons
entendedores até onde pode chegar o poder de atuação do seu Zé.
Mestre Xaramundi
Ele é o “Mestre Curandeiro” por excelência, querido pelos Catimbós. Tem
consultores fanáticos. Ele era o protetor de João Germano das Neves, um
informante meu e de Mário de Andrade (aqui: o autor de Meleagro)
Pelo tronco eu subi e pela rama eu desci,
Pelo som, de minha gaita eu fui,
Pelo som da minha gaita eu vim...
Sou Mestre Xaramundi! Sou Mestre Xaramundo!
Sou do tronco da Jurema, sou o Mestre curador!...
Mestre Mussurana
Ele é da dinastia dos grandes feiticeiros da Pajelança amazônica. Foi
incluído no Ca timbó sem ter perdido prestígio em ambas as "linhas". Fala-
se do rio Amazonas Trombetas, do mutum ( Mitu, ou Craxurumutum ).
Mussurana é uma cobra não venenosa, Oxyrhopus claelia ou Rhachidelzis
ora.
Nas margens do Trombeta eu vi! Eu vi o meu mutum cantar!
Eu vi ro me reinado, Mussurana! Um Mutum Real!
Bonitos são os trabalhos, Mussurana! Do Mutum Real!
Bonitas são todas as forças, Mussurana! Que o mutum vem dar!
Príncipe Da Jurema
Ele é sem história.
Quando eu parti um galo cantou!
Olha o Príncipe da Jurema que na mesa chegou!...
Mestra Anabar
Ela é uma Cabocla, uma feiticeira cheia de segredos que se tornou uma guia
após sua morte. Ela era uma mulher indígena. No Rio Negro fica a ilha de
Anabo, de onde talvez venha o nome.
Quando eu boto ouvido em terra
É sempre pra trabalhar!
Anabar é boa Mestra,
Anabar, O Anabar!
Anabar é boa Mestra!
Nao promete pra falar!...
Mestra Iracema
Ela é decisiva em Catimbós. Da linha feminina, ela é a que mais prestigia
pela simpatia popular. Rara será a sessão em que Iracema não estiver
presente, aconselhando ou sugerindo. Você é rainha de Tanema ou Itanema.
Disseram-me que a velha Elisa havia trazido uma imagem da "Cabocla
Iracema" do Pará, apreendida pela polícia e depois quebrada. Que eu saiba,
seria a primeira materialização de um "Mestre" no Catimbó.
Iracema, Iracema!
E Rainha de Tanema!
Iracema é boa Mestra,
Trabalha sempre na Jurema!
Mestre Pequeno
Ele é um catimbozeiro pernambucano, da serra do Buíque, morou no Brejo
da Madre de Deus, onde foi muito consultado. Ele morreu velho e agora é
um "Mestre" respeitado, especialmente para "feitiços". Em SUA “linha”
fala-se dos “encantos das ondinas” (“encantos da ondina”) e há uma
tradução eufônica do “Gloria in excelsis Deo” por “Gloria in the Sky
Aconteceu...” (“Gloria no Céu se deu...”)
Bate asas, canta o galo,
Quando o Salvador nasceu.
Cantam os Anjos na altura,
Ó Reino! Oh Reino!
Glória no Céu se deu!...
Bate asa, canta o galo,
Quando o Salvador nasceu!
Eu sou o Mestre Pequeno.
Ó Reino! Oh Reino!
Do Brejo da Madre de Deus...
Nos encantos da Ondina,
Ó Reino! Ó Reino!
So quem trabalha sou eu!
Mestra Angélica
Ela é médica em doenças femininas. Como medicamento simpático,
Guettarde angelica é amplamente utilizado na farmacopeia doméstica,
especialmente em certas complicações. Mestra Angélica é sempre
consultada e suas inúmeras “curas”.
Eu sou a Mestra Angélica da Cidade do Caité!...
Sou a defensora dos Homens, Protetora das muie..
Não são três nem sete, mas incontáveis e vivem no Fundo do Mar, um dos
Reinos Invisíveis. Mestre Zinho ensinou-me (aqui: autor de Meleagro) que
outrora se chamavam “Undinas” e não eram Sereias porque tinham pés e
andavam. Essas Moças de Saia Verde não “atracaram” (incorporaram) a não
ser na Serra da Raiz, na Paraíba, com o Catimbozeiro Benedito. Após a sua
morte, as Meninas da Saia Verde passaram a frequentar as “mesas e a fazer
“leques”.
Lá vêm as Meninas de Saia Verde,
Ela é gente nobre (quatro vezes) ...
Do Rio Verde!...
Mestre Tabatinga
Ele é um “Caboclo” raivoso, que tem fama de tarado e benfeitor. Mestre
Zinho negou formalmente o mau caráter de Tabatinga, mas a maioria de
seus colegas jura o contrário. Não há feitiço “à esquerda” que não envolva
Tabatinga.
Tabatinga vem da mata,
Tabatinga vem curando,
Em nome da Virgem Amada,
Todos machos retirando...
Mestre Canguruçu
Ele é um "Mestre" do mau caminho, da esquerda, um criador de maus bens
(magia). Ele é indígena do Amazonas. Ele tem uma "fala" inocente, sincera
e doce, completamente mentirosa. (Comentário: A música abaixo diz o
contrário – o autor de Meleagro confunde o trabalho da esquerda com “mau
caminho”, o que é errado. Trabalho à esquerda significa trabalho magístico,
de limpeza).
O Mestre Canguruçu é um negrinho de bem!
Visita todas as mesas e não faz mal a ninguém!
Malunguinho
Ele é negro, ágil, perverso e determinado a fazer travessuras. Não há
"linha". Um dos “serviços” do Malunguinho é cegar os olhos das pessoas. O
nome é, como podem ver, africano, malungo, companheiro. (Aqui,
novamente, pode-se ver que o autor de Meleagro não pode relatar a história,
o trabalho e a energia deste “guardião de todos os portões”)
Mestre Pinarona
Ele é indígena, morando em um rio Amazonas. Da esquerda.
Pina, pina, pina,
pina, pina!
Sou Caboclo vivo,
Sou do rio Amazonas!
Mestra Faustina
Ela é uma ex-catimbozeira, é uma venerada “Mestra”. Morreu virgem,
segundo uns, ou casada com Pinavaruçu, segundo outros. Mestre Zinho
dizia que Mestra Faustina era gaúcha. Zinho se pronuncia gaúcha, como
deve ser.
Mestre Turuatá
Ele era um grande xamã na Amazônia.
Eu sou aquele Caboclo,
Sou eu o Turuatá!
Eu sou o Rei da serra da serra do Bom-Florá!
A ORGANIZAÇÃO
Em termos de composição, o Catimbó é organizado de acordo com os
papéis de cada um. O chefe da casa é o Mestre principal (Mestre Principal),
o mais poderoso; depois dele temos os Mestres-discípulos (Discípulos
Mestres), que trabalham com seus cachimbos consagrados; em seguida
estão os discípulos em desenvolvimento, sem o cachimbo. O trabalho com
entidades espirituais também é segmentado, onde cada um dos Mestres é
responsável por uma atividade específica de acordo com sua vibração
energética. Assim, trabalhos de cura, abertura de caminhos, harmonia
amorosa e resolução de conflitos, por exemplo, são realizados por
diferentes Mestres, que possuem uma energia com mais afinidade com a
finalidade do trabalho.
A hierarquia básica da Jurema pode ser vista tríplice:
Sobre A Semente
Mestre Zinho tem a “semente” desde 1917. Mestra Anabar havia prometido
a ele seriamente, e demorou vinte e um meses para cumprir a promessa,
apesar dos apelos do candidato . No dia de São José, 19 de março (São José
é invocado na “abertura da sessão”). Zinho, olhando para a palma da mão,
viu nela a pequenina excrescência. Anabar dera-lhe a “semente”, mas
Mestra Faustina fora a portadora e cirurgiã. Anabar havia dito que a
“semente” estava na palma da mão porque Mestre Zinho era muito esperto
e merecia um “sinal tapado”. Esta “semente” é o feto dos feiticeiros
portugueses. No “Livro de S. Cipriano” fala-se muito da “semente do feto”
colhida à meia-noite do dia de São João. Teófilo Braga informa: "... a pedra
usada no pacto com o Diabo, da feitiçaria do século XVI, ainda se conserva
na alfândega de Cabo Verde, na ilha de S. Tiago; o nome Fetal é aí atribuído
a um pedrinha mágica, do tamanho de um grão de mostarda, que as pessoas
que fazem pacto com o Diabo recebem no local chamado Água da Má
Marta. A pedrinha é colocada sob a pele, e quem a carrega, o Fetalista, fica
para sempre livre de infortúnios, embora nunca fique rico”. (O Povo
Português nos seus Costumes, Crenças e Tradições, 2º vol., p. 65, Lisboa,
1885.)
A “semente” é o “brinde e capa” do curso. Nada mais precisa saber e tudo
pode ser aprendido porque conhece os “caminhos”. Cada “Mestre”
aprendeu com o outro. Ensino oral, aprendizado direto, observação, pedido,
repetição de gestos, orações e fórmulas. Claro, a melhor técnica pertence às
emas mais inteligentes e curiosas. E o corpo da "ciência" não é
incompatível com as modificações individuais do novo "Mestre". Existem
segredos pessoais, descobertas, achados, conclusões que não pertencem ao
caminho. Em cada geração há livros, histórias diferentes,
interdependências, influências, simpatias, convergências, sincretismos que
se amalgamam. O curso pode ser feito em poucos anos ou demorar muito.
A "Mesa" (O Altar)
No Catimbó tradicional existem três formas de realização ritual. Em pé, à
mesa/altar ou no chão - Catimbó do C hão, Catimbó da Mesa, Catimbó de
Pé. Algumas formas de construção e implementação são apresentadas a
seguir.
A mesa, também chamada de Peji ou Altar, é parte integrante do Catimbó e
deve-se à influência cristã. A disposição da mesa, os componentes de uma
mesa diferem dependendo da linha de trabalho.
Construção da mesa
"Linha de Abertura":
Abra a mesa (altar)
Abra para o jucá!
Abra os portões
E varandas reais!
Abra os portões e varandas e cortinas reais!
“Linha da Licença”
Senhores Mestres eu quero
Senhores Mestres vá,
Quero que me dê licença
Vamos trabalhar!
Com o poder de Jesus Cristo,
vamos trabalhar!
Eu trago a chavinha
Do Vajucá, Abrindo os enfrentados
E varandas reais!
Eu trago a chavinha
Do Vangalò!
Abrindo os embates
E varandas eu vou!
“Linha de licença”
Mestres eu quero
Mestres vão,quero que me dêem a licençaVamos trabalhar!Com o poder de
Jesus Cristo,vamos trabalhar!Trago a chaveDo Cajucá,Abrindo os portõesE
varandas reais! Trago a chaveDo Cangalo!Abrindo os portõesE as sacadas
eu vou!
Iniciação
Diz-se que o processo de iniciação no Catimbó ocorre em três fases:
Confirmação, Consagração e Cimentação.
A iniciação no Catimbó é feita pelo juramento (“jura”), ritual onde o
iniciado se confirma como discípulo da Jurema e após alguma experiência,
recebe o cachimbo consagrado para seus trabalhos e evolução espiritual.
Após sete anos, o discípulo está pronto para passar pelo tombo, onde se
confirmará como Mestre/Mestra Juremeiro/Juremeira. A queda é um ritual
muito significativo e importante, pelo qual os Mestres do mundo espiritual
também passaram para ganhar ciência. Consiste na oferta de alimentos e
sacrifícios às correntes espirituais do iniciante (“correntes espirituais”), com
a queda dos discípulos aos pés da Jurema (perda temporária da
consciência). Depois de caírem, entram numa espécie de transe e quando
acordam estão prontos para trabalhar.
I
Ôh de casa Ôh de fora,
Quem é que me bate aí?É Jesus, Nossa Senhora
As portas me vão abrir.
II
Ôh de casa Ôh de fora
Louvado seja meu Deus!
Com Jesus, Nossa Senhora
Mestre Carlos apareceu.
III
Porém, nos Terreiros “modernos”, o rito era muito mais complexo do que a
sua referência mítica. O tombamento consiste, então, na oferta de alimentos
e sacrifícios às correntes espirituais do iniciante. Nela comem-se Caboclo,
Mestre, Mestre, Exu e Pomba Gira do iniciante (sincretismo com o
Candomblé e a Umbanda – o Catimbó tradicional não sacrifica e não
conhece estes últimos guias espirituais). Ocorre também o juramento, com a
implantação da semente através do corte na pele e a jornada espiritual. A
viagem deve ocorrer no período entre a oferenda dos sacrifícios ao Caboclo
e o preparo dos alimentos oferecidos em banquete ritual. Ainda durante o
sacrifício, o iniciado é levado, durante o transe, para “governar as cidades
espirituais”. O interessante e peculiar desse transe é que os adeptos
acreditam que enquanto a pessoa (Ego) é levada para realizar a jornada
espiritual, o Caboclo permanece no corpo do iniciante. Terminado o
sacrifício, prepara-se a carne dos animais, e dividem-se as frutas e comidas
oferecidas aos encantados. O Caboclo alimenta-se com uma pequena
porção de tudo o que é oferecido. Terminada a festa, o Caboclo é então
enviado de volta à sua cidade e o filho deve contar ao iniciador o que viu.
Se a sua viagem for considerada válida, são feitos sacrifícios às outras
entidades: o Mestre, o Mestre, o Exu e a Pomba Gira. No dia seguinte, em
festa animada, o Caboclo, vestido a caráter, deve, como na iniciação do
Candomblé, gritar seu nome e cantar sua cantiga. O Iniciante também
poderá vestir as demais entidades a quem "alimenta". A riqueza desse ritual
completo está intrinsecamente ligada às condições financeiras do iniciante.
ERVAS E MEDICINA
TRADICIONAL
Introdução
Antigamente, os xamãs eram guias espirituais e naturopatas. Assim, a cura
estendeu-se a todas as áreas de cura do corpo, mente e alma. Muitos
fitoativos e formas de aplicação foram adotados pelos jesuítas (por
exemplo, na chamada Garrafada ). Embora o foco dos Catimbós seja o
"ritual, a cura espiritual do espírito", não se deve esquecer o lado
complementar dos fitofármacos da natureza. Os xamãs eram curandeiros
sábios com grande conhecimento do funcionamento da natureza.
Infelizmente, muito desse conhecimento foi perdido. E muitas coisas não
podem ser usadas na Europa por motivos legais, e é por isso que listamos
abaixo apenas um pequeno trecho das formas de aplicação e das plantas
medicinais tradicionais. Certamente existem muitos milhares dessas plantas
medicinais.
As seguintes listas e "receitas" são baseadas em duas fontes:
O Rapé
Introdução ao rapé Rapé
Medicina sagrada utilizada há milhares de anos por diversas tribos
amazônicas, o Rapé é uma ferramenta poderosa para acalmar a mente e
conectar-se com a essência do universo. É constituído principalmente por
tabaco finamente moído e peneirado, cinzas de cerimónias de fogo e outras
plantas sagradas que determinam a sua própria alquimia. O resultado é um
pó muito fino e picante no qual se encontram os cristais das diversas
plantas.
Embora cada receita de Rapé seja composta por diferentes botânicos, com
algumas exceções, o tabaco de avô está sempre presente, ajudando a
organizar, integrar, equilibrar e alinhar os demais ingredientes a um
desígnio específico.
O tabaco (Nicotiana tabacum ou Nicotiana rustica) é uma "planta mestra"
que pode ser encontrada em todos os continentes da Terra e está associada
ao homem desde os tempos antigos. Acima de tudo, porém, o tabaco
oferece um acesso único ao espírito e ao universo. Por esses motivos, o
tabaco é considerado o mais importante entre as plantas dos Mestres, como
um maestro regendo uma orquestra.
Efeitos e Propriedades
As variedades de Rapé com predominância de cinzas são de cor mais clara
e tonalidade acinzentada. Associados ao elemento ar, têm um efeito mais
estimulante e destinam-se a situações em que queremos elevar-nos a um
nível superior de consciência e conectarmo-nos com o subtil e o divino.
Essas cepas são geralmente mais adequadas para iniciantes do que outras.
As variações com predominância de tabaco são mais escuras e
acastanhadas. Eles são atribuídos à terra e têm um efeito calmante. Servem
para conectar com as raízes, as profundezas, os ancestrais. Essas cepas são
recomendadas para usuários mais experientes.
Entre esses dois extremos, existe uma ampla gama de variações, cada uma
com seu próprio caráter e nuances que determinam se o Rapé sagrado tem
cura, concentração, poderes bélicos ou outras conexões. Algumas
variedades de Rapé recebem o nome das tribos que as utilizam, como
Yawanawa, Nukini, Manchinery ou Katukina.
Uso adequado
O Rapé Xamânico é uma medicina milenar, ancestral, cujo consumo
adequado nos traz cura, força e conexão com o universo e com nós mesmos.
Para que continue sendo uma ferramenta de cura e não se torne uma prática
autodestrutiva, aborde o Rapé com intenção pura, muito respeito e a
compreensão de que fazer Rapé é um processo de aprendizado.
Em nosso mundo ocidental, há tendências para negligenciar o propósito
sagrado e medicinal do tabaco Rapé, levando ao seu uso abusivo para
consumo superficial em contextos sociais inadequados. Usado
corretamente, o Rapé é um aliado e companheiro maravilhoso. Portanto,
quando compramos o Rapé, devemos nos certificar de que o estamos
devolvendo ao seu lugar como um antigo remédio para o corpo e a mente.
No caso do Rapé, o uso adequado é medido pela qualidade da ingestão e
não pela quantidade. A pessoa respeita seu caráter sagrado, faz uma oração
inspiradora e sempre estabelece uma intenção pura.
Excesso e extremos geralmente não são bons remédios. No início de uma
relação com o Rapé, é comum sentir uma vontade intensa de tomar uma
dose várias vezes ao dia e explorar e sentir seus efeitos físicos.
Isso não é um problema se houver uma correta aplicação do ritual, pois com
o tempo a relação vai se equilibrando e o aprendiz passará a valorizar os
efeitos energéticos e espirituais sobre as sensações físicas e passará
naturalmente a utilizá-lo, quando o espírito assim o exigir. No entanto, no
xamanismo tradicional, o Rapé nunca é feito sozinho e sem a orientação de
um Pajé .
História
O monge Ramón Pane, que acompanhou Colombo em sua segunda viagem
à América em 1493, observou que os nativos da região que hoje
corresponde ao Haiti consumiam tabaco através de um caniço, e o mesmo
costume era observado pelos portugueses entre os nativos do Brasil.
Encomendado por Filipe II, foi o médico e botânico Francisco Hernández
de Boncalo quem, em 1577, trouxe para a Europa as primeiras sementes de
tabaco, que foram plantadas nos arredores de Toledo.
Em 1561, o embaixador francês em Lisboa, Jean Nicot, enviou rapé a
Catarina de Médicis, esposa do rei Henrique II da França, como remédio
para as enxaquecas de seu filho. Ela se apaixonou por esse tabaco em pó,
que se tornou popular entre a elite como um agente medicinal e relaxante.
Logo foi consumido pelas classes abastadas da Europa porque o tabaco, em
todas as suas formas, era um artigo de luxo na época.
No século 18, o rapé tornou-se uma moda difundida entre a aristocracia
européia. Fumar tabaco era destinado às massas, e o consumo de rapé
tornou-se o maior costume e ritual social na classe média e nos círculos
aristocráticos da Europa.
No início do século 20, na Inglaterra, fumar era apenas nos bares da classe
baixa porque a aristocracia podia pagar pelo rapé, que usava
exclusivamente. Assim, o rapé tornou-se gradualmente um atributo
inseparável da nobreza. Luís XIII, Carlos II da Inglaterra, Frederico, o
Grande, Guilherme III. e sua esposa, Napoleão, George III. e sua esposa,
Bento XIII. e muitos outros aristocratas eram usuários regulares de rapé.
Uso tradicional
Rapé é uma medicina sagrada e uma ferramenta muito poderosa. O uso
sagrado do Rapé não causa dependência; uso indevido é outra história. Para
evitar que a relação com o rapé se torne um vício, é aconselhável seguir
algumas orientações para manter a santidade e a salubridade do rapé:
• Para tomar este antigo remédio uma vez deve ser receptivo, calmo e se
concentrar em uma bela oração ou intenção positiva.
• A atmosfera e o cenário têm um grande impacto na experiência de
ingestão. O local ideal para tomar Rapé é na natureza ou um espaço
sagrado e tranquilo, com cantos ou músicas de vibração apropriada;
isso permite experimentar os efeitos do Rapé em profundidade e entrar
em um estado contemplativo.
• Segundo a tradição – Rapé nunca usado sozinho, nunca em público,
nunca sem a orientação de um Pajé e sempre incorporado a rituais
sagrados em locais sagrados.
• Às vezes não é recomendado tomar Rapé ao sol, principalmente quando
a exposição solar é mais intensa.
• Não é recomendado pegar emprestado as ferramentas de aplicação,
principalmente o kuripé, a não ser que seja uma pessoa que toma Rapé
e em quem você confia plenamente.
• Para receber o remédio uma vez deve estar receptivo e em silêncio
interior.
• No momento da infusão, prenda a respiração e feche a glote como se
estivesse mergulhando na água para evitar que o Rapé entre na garganta
e nos brônquios.
• Imediatamente após a instilação, respire pela boca, não respirando pelo
nariz por alguns segundos, para evitar que o rapé desça pelas vias
respiratórias na forma de poeira.
• Tenha uma garrafa de água e papel à mão para assoar o nariz, se
necessário (espere pelo menos alguns minutos após tomar). Se você
acha que vai ficar com sede, é melhor beber água antes de tomar Rapé.
• Não coma imediatamente antes de tomar o Rapé, pois quando o
medicamento é forte, pode "incomodar" o estômago e causar vômitos.
Se você acha que o medicamento vai fazer você vomitar, fique perto de
um local apropriado de fácil acesso.
• Certifique-se de que, se possível, ninguém interrompa seu momento
contemplativo quando você estiver particularmente sensível.
Soprando o rapé
Existem vários tipos de sopro que podem ser utilizados, variando em
duração, intensidade e acabamento. O método de sopro e nossa ligação com
a medicina influenciam muito no efeito do rapé Rapé. Choques muito
fortes, muito fracos ou intermitentes devem ser evitados, pois não são bons
nem para o doador nem para o receptor.
Quando usamos o Rapé, devemos ter em mente que o que entra em nós são
as plantas sagradas da montanha, da floresta e os espíritos curadores da
floresta amazônica. Por isso, é sempre bom respeitar o tabaco sagrado e
todas as energias ancestrais da Amazônia e da natureza.
Dosagem de Rapé
A dosagem adequada depende do tipo de rapé Rapé, da pessoa que o recebe
e da própria situação. No Brasil, os indígenas estão acostumados a tomar
grandes quantidades de Rapé de uma só vez. É impressionante a quantidade
de Rapé que os nativos colocam na ponta de um tepis, e a capacidade do
receptor de pegá-lo sem vomitar ou desmaiar. Em uma cerimônia de
Ayahuasca ou uma rodada de Rapé, é normal usar doses maiores do que em
momentos mais mundanos.
Para o iniciante, é melhor começar com pequenas quantidades e ir
aumentando conforme for ganhando confiança e aprofundando sua relação
com o medicamento.
Existe uma diferença entre usar Rapé em si mesmo e usar em outras
pessoas. A autoaplicação é indicada para quem estuda esta medicina e é
essencial para explorar os efeitos do Rapé nos poderes pessoais.
Recomenda-se iniciar a autoaplicação após a pessoa ter realizado um ritual
de iniciação adequado e assim ter adquirido a consciência deste poderoso
medicamento. Para os experientes, a autoaplicação precede a aplicação a
outros, como forma de conexão e proteção.
Nem todo mundo pode usar rapé Rapé em outras pessoas. Nas tradições
indígenas, quem usa Rapé em outras pessoas deve ter estudado previamente
com aplicações mais potentes para aprofundar seus conhecimentos de
medicina. Na preparação, uma dieta especial é realizada na qual o açúcar, as
relações sexuais, a carne e o sal são evitados.
Durante o período de estudo, a pessoa usa o Rapé diariamente, faz orações e
pede instrução e as bênçãos do espírito dessa medicina.
A razão desse estudo é simples: quando uma pessoa sopra Rapé em outra,
há uma troca de energia entre as duas, principalmente para quem recebe, e é
importante saber bem qual energia está sendo recebida.
A intenção é a chave aqui; segundo a tradição, o Rapé pode curar ou criar
doenças, dependendo da intenção por trás do sopro.
O uso do rapé Rapé envolve muita responsabilidade. Devemos conhecer e
confiar na pessoa que o usa. E o doador também deve estar ciente de que
está recebendo energia da pessoa a quem está "golpeando" e, portanto, deve
ser capaz de lidar e entender a poderosa energia do Rapé.
Tipos de cinzas
A textura da madeira dá consistência ao freixo, pelo que a maioria das
madeiras utilizadas para o freixo de Rapé são de grão compacto e muito
duras e densas. Árvores com madeira mais macia não produzem cinzas
adequadas; não dão força ao remédio e o Rapé estraga mais facilmente.
Existem algumas exceções, como B. certas plantas trepadeiras (como
regra).
A cinza mais utilizada para o Rapé é a Tsunu, a clássica cinza Yawanawá.
Outras cinzas comumente utilizadas são Murici, Pau Pereira, Parica, Cacau,
Cumaru, Mulateiro e Canela de Velho. Mais raros são, entre outros, os de
Sapota, Balsamo e Emburana.
Na Internet há informações de que Tsunu é Pau Pereira. Isso não é correto e
dizer qual árvore é o Pau Pereira é complicado, pois diferentes espécies são
chamadas de "Pau Pereira" em diferentes regiões do Brasil. A maioria dos
nomes usados para identificar essas espécies são nomes locais populares.
Tradicionalmente, os fabricantes de Rapé queimavam apenas a casca para a
maioria das variedades. Hoje, com a expansão do consumo do Rapé, alguns
produtores geralmente queimam a casca junto com a madeira para aumentar
o rendimento. Aparentemente, a casca contém a maior parte das
propriedades ativas, e podemos ver que para muitas árvores medicinais,
chás e outras preparações são feitas exclusivamente da casca e quase nunca
da madeira, assim como o freixo.
Infelizmente nem todo mundo queima a madeira certa, sempre tem gente
que age de forma antiética ou não tem o conhecimento certo. Portanto, é
sempre bom saber a procedência do seu medicamento.
A Garrafada
Garrafada , designação de fórmulas medicinais para uso entre os brasileiros
que recorrem à medicina popular, cuja origem remonta a séculos, tem lugar
reservado na história da medicina no país. Essa medicina, baseada em ideias
e valores ditados pela consciência coletiva, tem seus saberes transmitidos
por meios predominantemente orais. Com base no conhecimento empírico
acumulado, desenvolvido em dinâmicas próprias, as práticas médicas
populares vão se adaptando às realidades que o tempo histórico vai
desenhando; em segundo lugar, os diferentes contextos socioculturais em
que estão inseridos. A sua ligação com elementos doutrinários de cariz
religioso, de diversas proveniências, faz-nos entendê-la como uma medicina
sagrada, de cunho nitidamente mágico-religioso.
Em decorrência da diversidade de sistemas de crenças envolvidos no
processo histórico das práticas médicas populares, diferentes categorias de
profissionais, com denominações próprias, se estabelecem em diferentes
contextos socioculturais, como seus protagonistas, tais como: curandeiros,
benzedores, rezadores, curandeiros, pais e mães de santo, Mestres
Catimbozeiros, Juremeiros, xamãs urbanos e pajões, entre outros.
Lembramos que o termo xamã pode ser utilizado para designar um xamã ou
caboclo indígena , bem como aqueles que, nas comunidades negras,
exercem atividades médico-religiosas.
Nas sociedades contemporâneas de maior ou menor densidade
populacional, a medicina popular vem conquistando seu espaço, lado a lado
com o sistema médico oficial. No entanto, influenciada pelo etnocentrismo
da medicina hegemônica, a medicina que o povo adota continua sendo
entendida como produto de uma cultura inferior, relegando-a a patamares
avaliativos baixos. Considerando que, entre as culturas, nenhuma é superior
à outra, mas apenas diferenças, os dois modelos médicos, que competem na
preferência popular, representam paradigmas distintos, pautados por
padrões culturais distintos. Entendemos que uma cultura só é discriminada
quando a cultura hegemônica assim o determina.
O sistema médico popular no Brasil, ao traçar seu perfil em diferentes
contextos socioculturais, imprime aqui e ali traços culturais herdados das
três principais matrizes influenciadoras: portuguesa, indígena e africana,
traços passíveis de serem apreendidos pelas técnicas. da Etnografia, típica
da pesquisa em Etnofarmácia e Botânica, por ser uma área de estudo
compreendida na união da Etnologia com a Farmácia e a Botânica.
Pela multidisciplinaridade que caracteriza a Etnofarmacobotânica, ao exigir
a presença no terreno dos seus investigadores, permite-lhes
resgatando dos detentores do conhecimento médico popular, informações
valiosas sobre plantas medicinais, bem como sobre as diversas formas de
uso, no caso, frascos, bem como indicações terapêuticas de interesse
científico.
Considerando que a sinonímia das “patologias” indicadas pelos informantes
tem seu significado muitas vezes desconhecido do pesquisador, faz-se
necessária uma correlação pouco lógica para identificá-las dentro da
linguagem da biomedicina. A única forma possível de estabelecer a relação
entre as atividades biológicas decorrentes dos princípios ativos contidos nas
plantas e as doenças apontadas pelos informantes. Porém, lembramos que
há menos variedades de doenças na biomedicina, quando comparadas
àquelas mencionadas por informantes com doenças, pois uma pequena
parcela delas é interpretada pela nosologia biomédica, conforme Tesser
(2007). Além das relações interculturais em que estavam envolvidos,
basicamente, colonos portugueses, indígenas e africanos, nos primeiros
séculos do Brasil, a medicina popular continuou a aderir a sistemas de
crenças, como tais sistemas foram organizados. no país. É nessa medicina
que o homem, preso a um estado de religiosidade, em consonância com as
ideias sobre o universo imaterial de seus pensamentos voltados para o
sagrado, buscará, por meio de ritos mágico-religiosos, soluções que possam
aliviar seus sofrimentos, sejam eles naturais ou sobrenatural.
“É nesse universo mágico-religioso que as plantas medicinais, impregnadas
de poderes sobrenaturais, têm seu papel bem definido na cura de doenças
físicas, mentais ou espirituais” (Camargo, 2005/2006).
Material e método
As pesquisas sobre garrafas começaram na década de 1970, em uma favela
da cidade de São Paulo, resultando na publicação da monografia Garrafada
em 1975 e, posteriormente, em 1985, um livro que traça uma metodologia
de pesquisa para uma investigação sobre água engarrafada, obras incluídas
na bibliografia no final.
Os dados acumulados sobre bebidas engarrafadas, a partir dessas
publicações, resultaram de pesquisas empíricas, em terreiros afro-
brasileiros, na cidade de São Paulo e em mercados e feiras livres, em
diferentes localidades brasileiras, nos últimos três anos.
Os dados obtidos nos ambientes religiosos visitados resultaram de diálogos
informais, sempre que houve oportunidade de abordagem sobre frascos e
indicações terapêuticas, cujas formulações, mantidas em sigilo, são de
conhecimento exclusivo dos dirigentes dos terreiros.
Resultados e discussão
O jesuíta era físico, era cirurgião, era barbeiro. Como na medicina
portuguesa do século XVI e também na Colônia, as práticas médicas desses
religiosos eram amparadas pela religião, pois os procedimentos religiosos
eram confundidos com remédios, sangrias e tudo mais para salvar o doente
de doenças. , bem como a sua alma, instruindo-o na fé católica através da
importância do baptismo, para que a alma se salvasse, se a morte não
pudesse ser evitada (Rodrigues, s/d:25); (Santos Filho, 1947 parte IV,
cap.25).
As ideias religiosas veiculadas pelos jesuítas vinculavam a doença ao
castigo divino e a morte à vontade de Deus. Tais ideias se firmaram na
mentalidade dos colonos e dos índios catequizados, para se perpetuarem até
hoje nas práticas de muitos curadores, que se valem de orações e
benzimentos, chegando a pregar a devoção a santos católicos como
intercessores. juntamente com Deus na obtenção de curas, segundo Santos
(1992). Este autor comenta que em Portugal a partir do século XIX. No
século XVIII, circulou uma lista com a indicação de oitenta nomes de
santos e as respectivas doenças do corpo e do espírito, a que os doentes
podiam recorrer. Acrescentamos, porém, que tais procedimentos,
influenciados pelo cristianismo, eram comuns nos países americanos, cujos
processos de colonização foram realizados por povos da Península Ibérica.
Com a expulsão desses religiosos do Brasil e, em 1760, por ordem do
Marquês de Pombal, devido ao isolamento a que estavam submetidas as
populações em torno dos colégios que fundaram ao longo da costa
brasileira, desenvolveram-se modelos. religiosa, culminando no que hoje
chamamos de catolicismo popular, alimentando a ideia da prevalência da
vontade divina quanto às doenças e curas, segundo Seabra (2003).
A partir dessa forma de pensar a doença e a cura, desenvolveram remédios
milagrosos com fórmulas secretas, bem como práticas piedosas, orações,
promessas a santos protetores, penitências, procissões, peregrinações a
santuários, uso de objetos abençoados junto ao corpo – medalhas ,
crucifixos, cadafalsos, escapulários , etc., além de agradecimentos por
curas por meio de ex-votos depositados em salas de milagres, conforme
Scarano (2004).
Os jesuítas teriam sido os que mais contribuíram para o conhecimento das
plantas medicinais nativas e exóticas européias e asiáticas, aquelas
utilizadas por eles na manipulação de medicamentos preparados nas
farmácias próximas às suas escolas. A Coleção de Receitas Medicinais, dos
Colégios da Bahia e de Olinda, ficou famosa. Entre eles estavam Triaga
Optima da boticária do Collegio Romano, Triaga da Índia, Triaga contra
vermes e Triga Brasilica. Este, datado de 1766, é composto por mais de
sessenta substâncias, como refere Fernando Santiago dos Santos (2009),
que estudou em profundidade esta triagem. Nela, conforme mencionado por
este autor, já eram utilizadas plantas nativas ensinadas pelos indígenas,
entre elas: jacarandá (Dalbergia spp), copaíba (Copaifera spp), maracujá
(Passiflora spp), jaborandi (Pilocarpus spp), segundo Jolly (1976). , Rizzini
e Mors (1976) Acrescentamos que a introdução de plantas nativas nas
farmacopeias jesuíticas, citando Ferraz (1995), fez com que a matéria
médica trazida pelos europeus para as colônias americanas fosse
profundamente modificada.
As triagas eram polifarmácias à base de vinho e mel, agregadas a
substâncias de origem vegetal, animal e mineral, conhecidas desde a
antiguidade. O termo, de origem grega –Theriake– e latino –Theriaca–,
significava inicialmente um antídoto contra intoxicações de qualquer
origem, exceto as corrosivas (Santos, 2009). Tornou-se conhecido no séc. II
aC, a Triaga de Mitrídates, rei do Ponto, antídoto contra o envenenamento,
composta por cinquenta e quatro componentes, que, mais tarde,
Andrômaca, médico de Nero, reformulou, dando como sua. Entre outras,
esta triaga, incluindo a de Galeno, médico greco-romano, desde o primeiro
século da era cristã, tornou-se célebre ao longo da Idade Média,
Renascimento, ganhando prestígio por toda a Europa até finais do século.
XIX, inclusive no Brasil (Santos, 2009; Albarracin, 1993).
Entendidas como panacéias de eficácia garantida, aquelas velhas triagas
compreendiam “fórmulas secretas” que, com o tempo, várias substâncias
não só foram substituídas, como outras foram acrescentadas, não mais
apenas antídotos contra intoxicações, para tratar, também, diversos males.
As formas de preparo eram diferentes, comenta Marques (2003), assim
como o tempo que levava para ser consumido. Vinho branco, calda de
limão e mel de abelha eram ingredientes básicos nas antigas triagas, usadas
para dissolver certas substâncias utilizadas, como no preparo da Triaga
Brasilica. As triagas, depois de preparadas, eram guardadas em local escuro
e fresco, por um período que variava de acordo com a determinação de
quem as confeccionava. A Triaga Brasílica, por exemplo, ao contrário desse
procedimento, era sempre mantida “exposta ao sol, mexida diariamente pela
manhã e à tarde, não devendo ser deixada do lado de fora durante a noite”,
aguardando seis meses até que pudesse ser consumida, segundo (Santos:
2009), citando Serafim Leite (1953). Quando os jesuítas foram expulsos do
Brasil, havia a intenção de tomar posse de Botica e da Coleção de receitas
medicinais, entre as quais a Triaga Brasílica. Este, porém, não encontrado
na Bahia, foi posteriormente localizado no Arquivo Romano da Companhia
de Jesus, na Itália, como parte da Coleção de Receitas Medicinais, segundo
Santos (2009).
A triaga como fórmula medicinal, utilizada no Brasil, foi mencionada por
Chernoviz (1890), conforme consta na 6ª edição de seu Dicionário de
medicina popular e ciências acessórias. Para uso de famílias, onde,
referindo-se à triaga composta por setenta e uma substâncias e, ainda, em
Chernoviz (1908), na 18ª edição de seu Medical Guide and Form, a
theriaga, como se escreve, compreendia uma mistura de todas as drogas até
então conhecidas, remontando ao tempo das Triagas greco-romanas.
Com relação aos “remédios secretos”, foi dito que sua eficácia deixou de
existir quando suas fórmulas foram divulgadas publicamente. A fé na
medicina foi perdida assim que seus segredos foram revelados. Segundo
Marques (1997), o médico Curvo Semmedo, do século XIX, XVIII foi o
Mestre das fórmulas secretas. Escreveu o Compêndio de Segredos
Medicinais, ou Remédios Curvianos, que inventou e compôs (Semmedo,
1783). Referia-se a algum dom celestial sobrenatural, que poderia ser um
favor divino ou um milagre: “(...) estes meus pós, por favor divino, curam
infalivelmente no prazo prefixado de um mês (...) este remédio tomar-se-á
quatro ou cinco vezes em dias sucessivos, e terá um efeito milagroso”
(Semmedo, 1783).
Tais remédios preocupavam as autoridades sanitárias já no século XIX.
XVIII, segundo Marques (1997) quando, segundo este autor, se procurou
compreender as razões das atividades curativas, não só saber que curavam,
mas também porque curavam. Eles admitiram que os segredos tinham que
ser revelados, testados e comprovados cientificamente. Diante disso, o
médico José Henriques Ferreira (1785), redigiu o Discurso Crítico, tecendo
severas críticas às formulações secretas que circulavam no século XIX.
XVII e XVIII, tentando mostrar as incompatibilidades entre a ciência
médica e o empirismo mágico. Evidentemente, sua crítica se estendia a
Curvo Semmedo, já citado, seu contemporâneo.
A associação doença – medicina divina – cura milagrosa –, como aponta
Marques (1997), que fazia parte das crenças populares do passado, persiste
na medicina popular hoje. A cultura religiosa portuguesa, pregada pelos
jesuítas, admitia que as doenças do corpo e da alma só podiam ser curadas
por intervenção divina, sendo a Virgem Maria a única boticária preciosa,
como pregava um padre no planalto de Piratininga, em meados da Idade do
Iluminismo: “Se Maria se tornou uma farmácia e as unções de óleo bento a
terapia recomendada, o que condenar em remédios secretos?” (Marques,
1997) Dominguézia See More - Vol. 27(1) - 2011 As garrafas e as velhas
triagas.
As garrafas, sem dúvida, podem ser consideradas herdeiras das antigas
triagas, fórmulas secretas conhecidas pelos reis e pelos médicos que as
preparavam, desde a mais remota antiguidade. Porém, hoje, cabe aos
detentores do saber médico eleitos pelo povo, que os manipulam,
acrescentando em veículos alcoólicos –vinho branco ou cachaça– e
substâncias de origem vegetal, mineral e animal.
Não se sabe, porém, quando o termo “triaga” foi substituído no meio
popular por vinho engarrafado. Na obra de Fernando São Paulo (143) está:
“Mesa tosca. Remédio para um curandeiro ou um charlatão colocado em
uma garrafa”. Possivelmente, teria ocorrido por volta de 1640 quando, até
então, apenas os boticários dos colégios jesuítas eram autorizados a
preparar remédios. Foi a partir desse ano que pessoas de fora dos conventos
puderam trabalhar como boticários, com autorização do físico-chefe em
Lisboa e seu representante em Salvador, Brasil.
Muitos lavadores de vidros ou simples ajudantes das boticárias jesuítas
passaram a exigir exame perante a autoridade competente. Era quando os
“aprovados se instalavam em boticários” (Santos, 2009).
A partir desse fato, presume-se que os padres forneciam seus remédios em
frascos, ou seja, em frascos, conforme descrito em Antonio Moraes Silva
(Moraes, 1878): “Garrafada: remédio que vem do boticário em frasco”.
Considerando os herdeiros engarrafados das antigas Triagas, perguntamos:
qual a razão de sua sobrevivência nas sociedades contemporâneas, onde
todos os brasileiros, como se admite, são amparados por Políticas Públicas
de Saúde, garantindo-lhes os remédios de que necessitam?
A resposta a essa pergunta pode estar nas diferenças que envolvem os
conceitos de saúde, doença e cura, entre a biomedicina e o saber médico-
popular. Estes, segundo os sistemas de crenças que os orientam, têm nas
relações socioculturais e nas representações simbólicas, construídas
subjetivamente, os fundamentos básicos de suas visões de mundo, centradas
na espiritualidade. Este, o elemento primordial associado aos conceitos de
saúde, doença e cura, ideias que se perpetuam na mentalidade dos
indivíduos que, num passado remoto, foram submetidos aos ensinamentos
passados pelos jesuítas, nas suas obras de catequese. Por outro lado, a
biomedicina que, segundo o etnocentrismo que a caracteriza, guiada pelas
ideias globalizantes da medicina ocidental, centra-se na cura das doenças e
na sua dependência exclusiva do médico, do hospital com os seus recursos
tecnológicos e da medicina . mento, segundo Oliveira (2010).
A espiritualidade, condição humana de dimensão transcendental, distante da
concepção cartesiana do mundo, está presente na tradição cultural dos
brasileiros por herança, basicamente, daquelas principais matrizes
influentes já mencionadas – portuguesa, indígena e africana –, que deram
origem a diferentes sistemas de crenças que se organizaram no país ao
longo do tempo e, aos quais, direta ou indiretamente, estão ligados os
curadores, com destaque para as religiões mediúnicas, onde os rituais de
cura, como diz (Camargo, 1961), “(. ..) a tradição cultural brasileira está
impregnada de um estilo sacro de compreender a realidade”.
Além disso, abordando o lado sacral2, quando se trata de medicina
tradicional, diz (Chifa, 2010), é “fundamentalmente sagrado. Envolve uma
mentalidade religiosa, uma cosmovisão mítica do universo e a sua prática
cristaliza-se num ritual harmoniosamente mítico”.
Sem uma explicação concreta para a espiritualidade, por se tratar de um
bem imaterial, “(...) a mente humana vagueia por um universo que, não
existindo no concreto, acredita existir e nós sabemos que existe, porque é
culturalmente herdado . da família ou grupo social, buscando nela os
sentidos da vida, dando-lhe sentido” (Camargo, 2005/2006).
É a espiritualidade que confere à medicina popular seu caráter sacral,
condição que nutre no homem e no grupo social a que pertence, a crença
nos “poderes” sobrenaturais do curandeiro para preparar frascos que julga
de eficácia garantida. Nesse contexto sagrado, a terapia indicada torna-se
sagrada, quando todos os instrumentos materiais e imateriais utilizados nas
preparações medicinais são investidos de poder, sejam eles chás, pomadas,
banhos de ervas, frascos, etc.
O uso da fitoterapia, em sua concepção tradicional e popular, considera uma
série de propriedades que transcendem fórmulas químicas, análises
farmacológicas, classificações taxonômicas. Para o fitoterapeuta tradicional,
existe uma série de outras propriedades, tão ou mais importantes que os
aspectos materiais da planta (Oliveira, 2004)3.
As plantas medicinais tornam-se sagradas quando transitam para outro
sistema, diferente daquele de sua origem, ou seja, o próprio contexto
vegetal, da imputação a ele de um valor sacral, conforme Camargo
(2005/2006).
Ainda neste contexto sagrado, podemos admitir que as plantas medicinais
estão presentes nos frascos, desempenhando um duplo papel, embora
complementares:
1º. Papel sagrado de valor simbólico, construído subjetivamente no mito e
legitimado no rito, em consonância com a interpretação etiológica de cunho
religioso, fazendo com que os frascos se impregnem de poderes curativos
emanados de forças sobrenaturais, conforme ditam os sistemas de crenças
aos quais o paciente , o curador e seu grupo social fazem parte. 2º Papel
funcional que cada planta desempenha, tendo em vista seu valor intrínseco,
baseado em seus princípios ativos e atividades farmacológicas
cientificamente comprovados, indicados para cada caso. Um exemplo de
plantas psicoativas capazes de proporcionar estados alterados de
consciência, possibilitando condições ideais para o contato com o
sobrenatural através do transe de possessão, quando as entidades invocadas
assumem seus papéis em rituais de cura. Essa categoria de plantas pode
proporcionar aos médiuns condições especiais na comunicação com os
pacientes, como linguagem verbal. Assim, em estado de transe, o médium
utiliza uma linguagem com forte carga emocional e convicção sobre seus
poderes, permitindo que os pacientes, impregnados de sentimento de fé,
admitam a cura desejada, segundo Camargo (2005/2006).
Essa dicotomia facilitará ao pesquisador embarcar em discussões mais
ousadas, tendo em vista a multidisciplinaridade que caracteriza a
Etnofarmacobotânica, ao abrir caminhos, permitindo ao estudioso perceber
como se dá o processo interativo que se estabelece entre os valores
intrínsecos das plantas. e a forma como o paciente, baseado em sua fé
religiosa, vivencia a interpretação etiológica e a terapêutica indicada, que
garantirá a cura almejada.
O valor religioso no resultado das terapias tem sido considerado por
segmentos acadêmicos, pois admitem que a saúde das pessoas pode ser
determinada pela interação de fatores físicos, mentais, sociais e espirituais.
Citamos (Saad et al., 2001), quando nos referimos à força no poder de
certos aspectos da espiritualidade, de “mobilizar energias e iniciativas
extremamente positivas, com potencial ilimitado para melhorar a qualidade
de vida de uma pessoa”. Peres e cols. (2007) citam a integração da
espiritualidade e religiosidade no manejo da dor, proporcionando melhor
qualidade de vida aos pacientes, oferecendo-lhes condições de suportá-la.
Na medicina popular, os curandeiros geralmente têm como objetivo básico
devolver ao indivíduo que padece o estado anterior ao aparecimento da
doença que o atormenta. Isso, porém, pode traduzir-se em dor física
localizada, que permitirá ao curador, após uma interpretação etiológica,
determinar o órgão afetado ou a parte do corpo afetada. Em geral, esses
promotores do bem-estar físico, mental e espiritual não prescindem da
participação do médico e dos recursos técnicos e científicos disponíveis.
Nós os temos, porém, como complementares, na tomada de decisão sobre o
diagnóstico e a terapêutica a ser adotada, que pode ser a mamadeira. Neste,
serão agrupados os componentes que o curador conhece historicamente,
aprendidos a partir de ensinamentos transmitidos de geração em geração.
Pumar-Cantini (2005) observou por meio de uma curandeira, sua
informante, que a escolha das plantas, no preparo de um frasco, não é
necessariamente feita de forma racional, pois ela criou e recriou seus
frascos, não seguindo uma lógica na escolha das plantas.
Seguindo o raciocínio de Lévi-Strauss (1975), o suposto poder curativo das
garrafas estaria em sua eficácia simbólica, que pode ser determinada da
seguinte forma:
1º Pela crença do curador na eficácia das técnicas por ele adotadas,
provenientes de dádivas divinas.
2º Pela crença do curador na eficácia das técnicas que adotou, com base em
sua experiência pessoal, demonstrando total segurança no que faz.
3º Pelo consenso expresso por todo o grupo familiar, social e religioso nos
reais poderes curativos do curador e, por extensão, também da bebida
engarrafada (Camargo, 2005/2006).
Na verdade, há algo como uma cumplicidade entre o curador e o paciente
em torno do poder simbólico da cura, que supostamente está presente na
garrafa. Situação que se cria não apenas em reuniões coletivas, onde se
reúnem adeptos desta ou daquela crença; mas, também, com a mesma
intensidade, tal cumplicidade ocorre quando um curador encontra seu
consultor isoladamente. São momentos divinizados, como todos os
envolvidos entendem.
Muitos estudiosos têm pesquisado garrafas. Essa é uma tarefa difícil se o
objeto de pesquisa estiver centrado nas plantas indicadas pelo informante,
cujos nomes comuns confundem o pesquisador. No entanto, há curadores
que, residentes em zonas rurais, preparam-nas com as plantas que têm à
disposição, nas imediações das zonas onde vivem, uma vez que raramente
as adquirem no comércio urbano. Nessas condições, é possível a coleta das
plantas mencionadas pelo informante, bem como o retorno do pesquisador a
essas áreas, se necessário, para obtenção das espécies em época de floração,
para a devida identificação botânica.
Já as plantas expostas à venda em feiras e feiras geralmente não são
passíveis de identificação. Isso porque muitas vezes lidam com fragmentos
de raízes e cascas, sementes ou outro material seco, já danificado pelo
tempo de exposição e que, mesmo aqueles em embalagens precárias, estão
todos sujeitos à infestação por fungos, sabidamente prejudiciais à saúde.
Porém, acreditando que este comércio é comum aos centros urbanos do
país, temos uma dúvida que nos leva a indagar: a permissão deste livre
comércio de plantas medicinais, onde a inexistência de qualquer tipo de
controle sanitário na orientação daqueles comerciantes, não estaria esse
ofício, indiretamente, legitimando a prática da automedicação, tão
combatida pela biomedicina, baseada no velho e ultrapassado lema:
“plantar remédio, se não for bom, não é ruim”?
Preocupados com a presença das práticas médicas populares nas sociedades
brasileiras contemporâneas, segmentos do meio acadêmico vêm propondo
uma discussão, remetendo a uma reflexão sobre a relação entre o poder
médico hegemônico e as práticas relacionadas aos “curandeiros”. Com base
em temas das áreas das Ciências Sociais e da Saúde Coletiva, Puttini (2008)
apresenta a seguinte afirmação: “como a curandeirismo – um aspecto
negativo para o campo médico – se torna um aspecto positivo no campo da
Saúde Coletiva”, orientado pela Saúde Coletiva Políticas. Isso, de certa
forma, já era mencionado na década de 1960 pelo sociólogo Cândido
Procópio de Camargo (1961), quando apontava os fatores que levavam as
pessoas a aderirem a religiões mediúnicas, como a Umbanda e a Kardecista.
Admitia estar no papel terapêutico, o que alimentava a expectativa de cura,
sentimento não garantido pela medicina oficial, devido à sua inoperância e
ao alto custo para a classe média, que recorria aos recursos médicos
oferecidos à época. Este fato nos lembra aquele Kardecista, vindo da França
em meados do século XX. XIX foi atraído, a princípio, pela classe dos
indivíduos mais cultos para, posteriormente, tornar-se popular e, ainda,
exercer sua influência na Umbanda.
Assim, podemos admitir que a Triaga Brasílica, transmutada em vinho
engarrafado, embora bicentenária, se mantenha muito atual. E,
possivelmente, assim permanecerá por tempo indeterminado, até que os
envolvidos com as Políticas Públicas de Saúde voltem seus olhos para esta
realidade do povo brasileiro, que deposita na fé religiosa toda esperança de
cura de seus males. Cabe a essas autoridades abrir novos caminhos na
atenção básica para quem utiliza os serviços públicos de saúde.
Conclusão
A bibliografia consultada permite admitir que se trata da herança
engarrafada das antigas triagas, polifarmácias que remontam à Antiguidade
Clássica.
A partir da análise dos dados coletados na pesquisa de campo e nas obras
consultadas, foi possível traçar o perfil da bebida engarrafada no cenário
médico popular brasileiro, bem como determinar o motivo de sua
permanência nas sociedades contemporâneas. Neste sentido, podemos
admitir que o seu “poder curativo” assenta nos efeitos da fé religiosa, ao
alimentar a esperança de cura, na “certeza da eficácia do frasco”,
sentimento que não é garantido pela medicina oficial , em nenhuma de suas
formas de atenção aos enfermos que batem à sua porta. Isso é
a razão de admitir que qualquer tentativa de tentar entender e explicar esse
inusitado poder curativo transcende nossa compreensão, ultrapassando
inclusive os limites dos recursos laboratoriais disponíveis para análises
químico-farmacêuticas dessas formulações que, nem sempre, obedecem a
critérios lógicos, segundo determinantes científicos, na seleção de seus
componentes.
A História do Theriac
170 aC
THERIACA. A descoberta do antídoto
Os médicos da Grécia clássica tentaram tratar as picadas de cobras
venenosas com uma mistura de erva-doce, erva-doce e alcaravia. A receita
desta cura foi gravada na parede do Kos Asklepieion. O medicamento foi
chamado theriaca, um termo usado pela primeira vez por volta de 170 aC. é
mencionado por Nicandros de Colophon, médico, gramático e poeta.
Theriaca (via latim theriaca do grego thēriakón (antídoton) de thēr(ion))
significa animal, animal selvagem, animal venenoso. Isso costumava
significar cobras.
Aproximadamente. 100 AC
MITRITADO. A descoberta do princípio da semelhança
Mitrídates VI. Eupator (* 132 aC; † 63 aC), rei de Pontos na Ásia Menor,
tinha motivos para temer ataques de veneno de sua família e daqueles ao
seu redor, porque quando jovem ele provavelmente envenenou seu pai e sua
mãe para ganhar poder. Com a ajuda de seu médico pessoal, ele expandiu a
receita do Theriaca de 37 para 54 ingredientes, incluindo componentes de
animais "resistentes a venenos", como sangue de pato, cobra e carne de
sapo. Depois dele, o remédio que ele mesmo teria tomado para prevenir
ataques de veneno também foi chamado de mithridat ou mithridatium.
Segundo a lenda, após perder uma guerra, o rei tentou se matar com um
veneno, que falhou devido ao mitridate. Um escravo teve que esfaqueá-lo
ao seu comando.
Além da carne de cobra, esta receita também continha ópio como um
intoxicante para aliviar a dor.
Com o mitridate, de fato, estabeleceu-se o princípio dos semelhantes - a
cura do mesmo com o mesmo ou com algo semelhante, que mais tarde
desempenharia um papel proeminente na homeopatia.
130-210 DC
ANTÍDOTO. Galeno consagra o princípio do antídoto
Galeno, um médico grego e anatomista que trabalhava em Roma, escreveu
um trabalho sobre o Theriaca e o antídoto. Antídoto (contra + dar) é o que
os gregos chamam de antídoto para venenos. Galeno generalizou o
princípio e estabeleceu o princípio de que todo veneno tem um antídoto.
Que toda doença se deve, em última instância, a envenenamento. E que os
antídotos são sempre venenos, apenas que têm um efeito curativo em baixas
concentrações, enquanto os venenos em todas as concentrações seriam
venenosos. Esta descoberta formou a base para o conceito posterior de
Panaceia. Ele forneceu vários imperadores, incluindo Marcus Aurelius com
seu Theriaca. Seu ensino teve uma influência decisiva na medicina
convencional por mais de 1.500 anos.
A partir de 1.500 DC
PANACEIA. O Desenvolvimento de - Theriaca Veneziana
Na Idade Média, a alquimia deu origem à ideia de panacéia, uma panacéia
baseada em uma composição de até 300 substâncias individuais. Alguns
componentes alquímicos foram adicionados. Enquanto Galen ainda se
concentrava na desintoxicação e proteção contra infecções, as novas
fórmulas agora devem curar todas as principais doenças internas e externas.
Panakea (latim Panacea) é filha de Esculápio e a personificação da cura
com ervas medicinais. É invocado no início do Juramento Médico de
Hipócrates. Segundo ela, a Panacéia é chamada de remédio universal
místico.
1754 DC
FARMACIA. Padronização da formulação - Theriaca Coelestis.
Ao longo dos séculos, o grande número de plágios fez com que a produção
do Theriaca fosse colocada nas mãos das farmácias. Desde Nero, a
produção geralmente ocorre como parte de um evento público - mais
recentemente em 1754 DC. na farmácia esférica em Nuremberg. As
instruções de fabricação foram assim padronizadas e documentadas.
Estrutura da receita
Fabricação
A produção da Thiriaca Brasilica foi transmitida muito bem e pode ser bem
compreendida com o conhecimento dos princípios e possibilidades técnicas
vigentes na época.
Princípio 1. Separação dos elementos Enxofre - Sal - Mercurius como a
correspondência de mente-corpo-alma ou o espiritual (a essência), o
material (a estrutura) e o mutável (o líquido, o pastoso, o conector). De
acordo com o princípio espagírico de Paracelsus, os três componentes
Enxofre - Sal - Mercurius são preparados separadamente. Enxofre é o
princípio espiritual que se obtém através da destilação, por isso aqui estão
os óleos essenciais. Sal é o princípio material, então aqui estão os sais.
Mercurius é o elemento de mudança e conexão, ou seja, a mistura global da
receita original.
Princípio 2. Produção da fase Enxofre por destilação das matérias-primas e
sua combinação. Hoje, isso corresponde à produção de óleos essenciais. (
Ólio Chimico )
Princípio 3. Produção da fase Sal por evaporação, dissolução e cristalização
das matérias-primas. Os sais permanecem (hoje se diria os oligoelementos,
os sais cristalinos: naquela época, os sulfatos eram particularmente
importantes, assim como oligoelementos como cobre, zinco, ferro). ( Sal
Chimico )
Princípio 4. Produção do Mercurius .
a) As matérias-primas são separadas em sementes, flores, cascas,
resinas, óleos, etc. são primeiro moídas finamente e depois
extraídas com diferentes materiais de base alcoólica.
b) As fases se misturam
c) Uma “matriz” previamente fervida é adicionada à fase. Na versão
ingerida anteriormente, era principalmente vinho branco e mel, no
caso de uso externo esta é uma matriz correspondente (WE: glicóis,
que mais tarde também servem para hidratar e também são
poderosos extratores).
d) A matriz fica à luz do dia por 6 meses e é mexida diariamente.
Princípio 5. Fusão de Enxofre - Sal - Mercurius
a) Ao final dos 6 meses, são adicionadas as duas frações de Enxofre e
Sal , ou seja, os óleos essenciais e os sais.
b) Segundo a tradição, esse elixir/antídoto é enterrado no solo por 21
dias e depois liberado para uso.
Princípio 5. Incorporar o elixir em uma base de aplicação neutra.
Independentemente de ser creme ou sérum, utilizamos uma base que já está
presente no elixir. O antídoto deve ser diluído, caso contrário, é muito forte.
Isso se aplica ao uso interno e externo. E os jesuítas também sabiam que a
matriz é importante para a eficácia. Assim, quando tomado internamente, o
mel era um potencializador conhecido do efeito (aumenta a
biodisponibilidade). Como os cremes, pomadas, elixires.
A propósito: o Theriaca foi coloquialmente usado como cosmético por
muitos séculos e foi coloquialmente chamado de "elixir da eterna
juventude".
Detalhes e adaptações
Genebra Pereira
Nunca fez mal a ninguém;
Mas antes por querer bem
Ando nas encruzilhadas
As horas que as bem fadadas
Dormim sove repousado;
E dae boas fadas
Nas encruzilhadas.
Este caminho vai pera lá,
EsVoutro atravessa cá;
Vas no meio, alguidar,
Que aqui cruz não há de estar.
Durante toda a cerimônia das sessões no Catimbó, as chamas dos bugias
não são tocadas diretamente, mas com um pedaço de papel enrolado,
riscando o ar em uma notória cruz. As asperezas do “Mestre”, com fumo ou
Cauim, são sempre em cruz. No culto vodu, no Daomé e no Haiti, o Papa
Legba protege as encruzilhadas, lugares sagrados imemorialmente. Quando
não há “água viva” ou correnteza perto do Catimbó, lança-se em
encruzilhada à água servida no “fechamento do corpo”. Os “despachos”
indiretos ou “coisas feitas” são enterrados na encruzilhada. A partir daí, o
mal infalível irradiará.
Para feitiços de contato, há uma melhoria. Ao lado do pacotinho, com
farinha amarela do dendê, cabelos, pentes de galo, unhas, mulambos sujos ,
fitas, um emaranhado confuso de miudezas, põem níqueis ou um pratinho
de dois mil réis. Quem o ergue também carregará as forças negativas que se
acumulam no Ebó . Os primitivos não tinham a atração do dinheiro. Nem
todos os “Mestres” perdem seus ganhos, espalhando moedas. Mas, em
Recife, vi várias vezes esses “ Despachos ” com as moedas atraindo.
A Mandinga foi colocada em um dos lugares tradicionais; sob a cama do
condenado a sofrer seus efeitos. A portada era outra, mas torna-se difícil
diariamente com o calçamento das ruas com paralelepípedos ou asfalto.
A escolha da encruzilhada como lugar de maravilhas é anterior ao
cristianismo e a associação com a cruz de Jesus Cristo é explicável, mas
não justifica a sua continuação em todo o mundo. Hammurabi, 2232 aC, em
uma de suas leis babilônicas, n. 91, prevê: “A Balança deve ficar voltada
para o Leste, imóvel, em seu local purificado, seja em um templo de Indra
ou do Dharma, ou em um salão de justiça, ou em uma encruzilhada.” (Cit.
Fernando Ortiz, Los Negros Brujos, 163, nota.) Todo o culto de Hécate
estava em uma encruzilhada. Hermann Steuding informa: Nas noites de
luna clara aparecia nas cruzes como uma figura fantástica (EKATÉ
TRIODITIS, TRIVIA) acompanhado de uma tropa de almas sem descanso,
e también de sus perros, los cuales também eram considerados como almas
errantes. Para apaziguar e contentar Hécate, no final de cada mês, os
resíduos dos sacrifícios de purificação eram depositados nas cruzes dos
caminhos. (MITOLOGIA GRIECA Y ROMANA, 83.) A encruzilhada
como terreno propício para “despachos”, cantos sagrados, “cantos abertos”
na magia negra, já era consagrada há quarenta e dois séculos.
A encruzilhada era o ponto da fatalidade, do espanto, onde se cumpria o
Destino. Na encruzilhada de Delfos e Dália, Édipo, sem reconhecê-lo,
matou o rei Laio, seu pai. (Sófocles, ÉDIPO REI.)61
Requisito elementar, indispensável e típico da coisa-feita ( Coisas-Feitas ),
farra, despacho, é não voltar a vê-la depois de colocada em lugar definitivo.
Se o feiticeiro, o simples portador, como no caso do “fechamento do
corpo”, abandona a Mandinga e vira a cabeça para olhá-la, trará parte
essencial dos maus eflúvios, tornando-se vítima da maldade concentrada , o
portador dos males. Se for o que fechou-o-corpo, quebrou as forças
anulando todo o trabalho do "Mestre da Mesa". Depois de depositado no
local escolhido, o Canjerê só poderá ser olhado pela vítima a quem se
destina ou por pessoa alheia ao feitiço. O feiticeiro, graças ao seu poder,
livrar-se-á do “ar ruim” com maior facilidade , mas ele será forçado a fazer
a “limpeza” sozinho.
Quem olha para trás traz de volta os poderes malignos que pretendia
abandonar. E atrai o Fantasma, a sombra da Morte. Quando você joga um
dente arrancado no telhado, você diz: “ Moirão , montante, tira meu dente
podre, me dá outro saudável!” Você não deve ver onde o dente caiu, senão
nascerá outro dente defeituoso. Em todos os processos de transferência de
doenças para pedras e árvores, o paciente continuará no mesmo estado se
voltar a ver o local onde fixou sua doença. O feitiço "pega" olhando e por
contato direto. Ao que parece, é mais sensível e tem um efeito mais
profundo. Não olhe para trás, recomende os Mestres.
É um vestígio cerimonial das iniciações gregas. O iniciado não virou para a
direita ou para a esquerda ou para trás durante todo o percurso e tentativas.
Para trás ficou o Passado, tudo o que havia sido renunciado, e o "outro
estado do Espírito", a fase anterior, abandonada na ascensão a Elêusis.
Orfeu havia perdido Eurídice quando se virou, na porta do Inferno, olhando
para trás. A esposa de Ló se tornou uma estátua de sal. Noli respicere post
tergum. (GÊNESIS, XIX, 17.) Quando Odisseu sacrifica aos mortos, no
limiar do reino de Plutão, está de costas, olhando para o mar e não para a
ovelha imolada, como aconselhara Circe. (HOMERUS, Odyssey, X.) Para
se livrar do remorso, Édipo faz uma oferenda às Eumênides. Na tragédia de
Sófocles, o coro se dirige ao velho príncipe tebano, recomendando que,
imediatamente após o sacrifício, se retire sem virar a cabeça. (OEDIPE A
COLONE.) Virgílio, Écloga VIII, ordena a Amarilis que jogue as cinzas
sobre sua cabeça no rio e não se vire: Fer cineres, Amarylti, fora, rivoque
fluenti, Transque caput jace: nec respexeris.
Da lenda de Poronominare, herói dos indígenas Bares da Amazônia, figura
bem-humorada e lúdica de Deus, como o Macunaíma dos Taulipangues,
Brandão de Amorim registrou diversas aventuras em Nheengatu.69 Quando
o herói vai ser medicado pelo golfinho (“Delfinida”) ele recomenda: “Você
deve se sentar nessa vara, você não deve olhar para trás.” Frobenius diz que
os caçadores africanos do Cordofão à fronteira com a Abissínia não olham
para trás quando caçam, com medo de que o leopardo os siga. Os silvestres,
sátiros, egipanos, silenos, faunos rasgariam qualquer um que olhasse para
trás percorrendo os campos dedicados a eles. A documentação é abundante
e fácil.
A proibição lembra visivelmente os ritos de iniciação. Eles se espalharam
em hábitos, expandindo a função que antes era privativa dos pequenos e
grandes eleusinos. O Catimbozeiro recebeu essa obrigação, vaga e
misteriosa, de várias fontes, sobretudo da Europa, desde o século XVI. E
ele rosnou, taciturno e convencido da suprema importância da orientação:
Não olhe para trás, como o Senhor disse a Lot, Noli respicere post tergum.
Depois da encruzilhada, o lugar mais vulnerável era a porta, os tijolos da
entrada, onde o pé pisa ao entrar. É um lugar de honra na vida no campo.
Falar na soleira da porta, receber na soleira da porta, são privilégios do
Dono e da Dona da casa. É uma lembrança da porta do Senhor onde o
hóspede tirava sua guante , luva de couro ou manopla de escamas de aço
para entrar. Arranhar uma espora ou ponta de faca na soleira da porta era
um desafio escandaloso, o maior entre os maiores. Até consegui pedir
permissão para ultrapassar a soleira da casa com as esporas nos pés. Sem
licença era ousado e carente de “modo de gente”.
Sob a soleira, a porta da casa, o cordão umbilical do recém-nascido era
enterrado no ser para que ele fosse um caseiro, um amigo de estar em casa.
Havia também a ponta do rabo do cachorro fugitivo. O Barão de Studart
registrou duas superstições sobre a estrutura das casas. “O peitoril de uma
casa com mais de um palmo de altura, é azar para o comércio; quem aí se
instalar não fará negócio e vai à falência em pouco tempo. Para acostumar
um cachorro com uma casa, basta enterrar alguns pelos da ponta do rabo no
batente da porta dos fundos e ele não fugirá mais.”
A encruzilhada era o ponto sensível para os mistérios. Entre os Orixás
Gegê-Nagô Exu é o homem das encruzilhadas, poderoso e cheio de
mistérios. Não se sabe, ao certo, se Exu é bom ou mau. Ogun, Orixá da luta,
da guerra, também aparece nas encruzilhadas, como “seu Leba”. Em Roma,
o quadrifuncus era o domínio de Hecate, deusa do mal, encantamento e
feitiços. Nas encruzilhadas os ricos de Roma e da Grécia depositavam
comida e bebida, nas festas lustrais, o jantar de Hécate, que às vezes matava
os pobres que o comiam. (Luciano de Samósata, Diálogos dos Mortos, I,
Passagem da Barca, 270.) Era lugar de encantamento, o trivium ou
quatrivium , domínios dos Ekaté Triodités. Em Bengala, a deusa das
epidemias, Raksha Kall recebe homenagens essenciais em uma
encruzilhada de quatro caminhos. Uma vez eles sacrificaram criaturas
humanas.
Para as bruxas de Roma, enterrar uma roupa ou objeto que pertencia a
alguém sob a soleira era forçá-lo a vir, atraído pela força magnética
irresistível do encanto.
Existe um horário especial para colocar os “ despachos ”? O swag tem um
efeito melhor quando colocado nas “horas abertas”, manhã e crepúsculo da
tarde. Nas “horas abertas” incluem meio-dia e meia-noite e também, no
sertão , a madrugada, “quebrando as grades”, antes do amanhecer. É um
elemento folclórico europeu que os portugueses estabeleceram no Brasil.
Teócrito fala da hora mágica do “Meio-dia”, fazendo um de seus
empregados dizer: “Sim, não devo tocar flauta “na hora do meio-dia”, nessa
hora temos medo de Pã, ficando apavorados quando ele descansa. das
fadigas da caça.” Essa crença na “caçada furiosa ao meio-dia” nas tradições
da Idade Média é notável. Na Grécia moderna, a superstição persiste até
hoje, e as crianças dizem: "Não vamos sair de casa ao meio-dia porque isso
pode acontecer conosco." (J. Jacques Ampère, Gréce, Rome et Dante, 64.)
Nas orações populares portuguesas diz-se sempre:
Envultamento
Uma das “orações fortes” mais disputadas e caras é a “Oração do Sol”,
destinada a despertar e fixar o amor. dos raros ambientes exigentes e
preparação para sua execução completa.
Duas bonecas de pano são indispensáveis; um vestido de homem e outro de
mulher. Se a oração for para o casamento, a boneca está vestida de branco,
com um véu filo e uma coroa que finge ser flores de laranjeira. Se o amor
discorda, ou adia o casamento legal, qualquer boneca serve. Há também
uma faca virgem, sem uso ou mancha. No meio da oração, diz-se: Prego
esta faca a este Senhor como pregaram Jesus Cristo na cruz; Então, Fulano,
eu te perfuro no coração com dor, oh Sol, oh Sol, oh Sol! Ao dizer prego
esta faca, ela atravessa o boneco, na altura do coração. Boneca vestida de
homem se a Rezadeira for mulher e vice-versa. Ao final da oração, diz-se:
Minha linda Estrela, pelo tempo que você nasceu no céu, neste cordão,
Fulano, amarro o seu coração ao meu. E amarra os bonecos, um em cima do
outro, com uma cor forte.
Na fotografia da “Mestra Velha Elisa” e José Fran cisco, dentro da tigela de
porcelana (“princesa”, dizem no Catimbó), há uma boneca com um grande
espinho cravado no pescoço.
Em " Oração do Sol " a boneca trespassada pela faca e no Catimbó da
Velha Elisa a estatueta com o pescoço cruzado representam criaturas
humanas, objetos vivos de amor e ódio. O primeiro deve amar e o segundo
deve morrer.
É o processo de Envelopamento.
Sir James George Frazer simplificou a Magia fazendo-a com base em dois
princípios: (a) O Efeito é como a Causa que o produziu, e (b) as coisas que
estavam juntas e não estão mais, continuam a ter uma sobre a outra. a
mesma influência como se o contato ou união tivesse persistido. Do
primeiro desses princípios, o homem deduziu que poderia produzir o que
quisesse imitando. A partir do segundo, ele entende que é possível
influenciar de longe, à vontade, todas as pessoas e todos os objetos dos
quais ele tem parte.17
As bonecas devem ter todas as peças de roupa pertencentes às pessoas que
representam simbolicamente. Em um dos Diálogos de Luciano de
Samósata, Baco ensina sua companheira Mélitte a reconquistar o amante
que a havia abandonado. Procure um sírio habilidoso mágico que lhe fez
um favor semelhante, fazendo com que Fanias voltasse para ela. O sírio
pediu sal, sete óbolos, enxofre e uma tocha. Mais il te faudrait encore avoit
quelque choose qui èut appartenu à ton amant, comme un vetement, une
chaussure, quelques cheveux. (Diálogos de Cortesia, TV.)
Na feitiçaria medieval era chamado de envoutement d'amour e envoutement
de haine. Não há outro mais conhecido e utilizado no mundo e que possua
documentação com maior antiguidade. O feiticeiro modelava um boneco de
cera, escondendo em seu interior restos de vestidos, unhas, cabelos, gotas
de sangue, saliva, suor, etc. Tudo o que fosse feito sobre essa imagem
repercutiria no representado. Um alfinete perfurou o braço, a perna, um
ombro, dor determinada nessas regiões da criatura figurada nas mãos do
feiticeiro. Os valores psicofísicos do representado são emprestados ao
representante. Na história das ciências negras, os episódios são infinitos.
Reis, imperadores, papas foram envoltos em mortalhas, aparecendo com
coroas, tiaras, mantos, armas, trazendo a imagem do modelo o mais
próximo possível. E, nesse modelo, praticavam a tortura, para matar, fazer
sofrer, amedrontar ou fazer amar.
Frazer listou algumas centenas de exemplos em todo o mundo. A literatura
greco-romana é abundante nesses registros. Ninguém no Brasil ignora as
maldades cometidas com Santo Antônio, amarrado, enforcado, na água,
tirando o Menino Jesus do braço, para fazer um casamento difícil ou uma
reconciliação custosa. Santo Onofre é guardado de costas em oratórios ou
armários, perto de pires com comida, porque dizem que guarda fartura onde
fica. São Cosme e Damião sofrem a mesma amargura, assim como São
Gonçalo. Todos os mitógrafos lembram que a estátua de Marte foi amarrada
no templo de Esparta para não abandonar os guerreiros. Príapo, guardião
dos jardins, foi espancado e ameaçado de expulsão por não vigiar. Em
Chatarpour, Madras, os indígenas desenham as figuras sagradas de Indra e
Mega Raja, deus da chuva, com a cabeça baixa nas paredes. Os dois deuses
correm para fazer chover para sair da posição incômoda em que se
encontravam. Em 1710, o vice-rei da província de Nan-King convocou o
deus da chuva de Tsong-Ming para cumprir seu dever dentro de certo prazo,
sob pena de proibir a entrega de oferendas.
A imagem é ferida, estilhaçada ou atingida em um local mortal e encoberta
e enterrada.' “Eles chegam ao extremo de enterrar a imagem, ou de levá-la
ao cemitério em caixão, como acontecia há pouco tempo, no pequeno
cemitério do Saco de S. Francisco (Niterói), como me contaram os
moradores”, escreve o Prof. Artur Ramos, O Negro Brasileiro, 139. O
mesmo ainda ocorre na Índia, informa o Dr. Ernest Hemneter, mostrando a
abundância dessas figuras simbólicas de deuses ou ancestrais, feitas de
farinha de arroz, e cheias de feitiçaria, irradiando doenças. "... essas figuras
mágicas que são um dos requisitos mais comuns de todos os feiticeiros, e
que devem sempre representar a pessoa a ser enfeitiçada, são usadas para
provocar doenças. A casta mais baixa, os Banghis, cujo contato é
cuidadosamente evitado todos em todo o mundo, são suspeitos de causar
diretamente e espalhar a cólera com a ajuda desses meios, usando farinha de
Adas (phaseolus radiatus) e colocando-os à noite em locais por onde os
habitantes da vila passarão, enfeitiçados, enterrando-os no caminho ou jogá-
los em poços.” ("Siba Acts", 6, 1936, 204-5.)
A envolvente, outrora rodeada de impressionante cerimonial, desce numa
curva natural para a fácil popularidade, colocando-se nas mãos dos
consulentes, reduzida a uma liturgia portátil e nos limites de uma oração, de
dimensão mínima. A “Oração do Sol” é um daqueles sinais visíveis da
degradação da magia, da espantosa Goetia, que se transformou em coroas e
tiaras escuras e assustadas. Ela apenas sobrevive, ou resiste ao desgaste, à
demanda por qualquer coisa que pertença à boneca de quarenta centavos.
Mas não eram mais feitas pelo “Mestre”, tentando se assemelhar, até
fisicamente, à criatura enfeitiçada. Tampouco, nos domínios das “obras” do
Catimbó, tive notícia de qualquer imagem de cera.
A Cruz Magica
S
I
R
O Rapronobis
T
A
V
eu
A
S
R
E
T
A
M
Esta cruz cabalística representa os 10 mandamentos na linha horizontal e os
15 mistérios do rosário na vertical (em 2002 mais 5 mistérios foram
adicionados pelo papa, mas não são relevantes aqui). Esta cruz pode ser
usada para magnetizar e proteger trabalhos espirituais. É um exemplo típico
de trabalho sincrético.
Os 10 Mandamentos de Deus
A. Mistérios Gozosos
B. Os Mistérios Luminosos
D. Os Mistérios Gloriosos
A Ressurreição de Jesus
A Ascensão de Jesus ao Céu
A Descida do Espírito Santo no Pentecostes
A Assunção de Maria ao Céu
A Coroação de Nossa Senhora do Céu
Num dia de segunda-feira, de lua nova, levar uma garrafa de bom vinho,
uma garrafa de leite, uma garrafa de mel de abelha e sete rosas brancas à
beira de uma praia. Depois de saudar a Rainha do Mar e todo o seu povo,
pedindo licença, e dizendo:
"Rainha do Mar, eu te venho saudar e te oferecer vinho, para que me banhes
de felicidade, leite para que eu tenha ale grias em minha vida, mel para que
se abrandem todos os ma les e se afastem de mim as amarguras, e rosas
brancas para que a minha alma seja purificada das influências de todas as
coisas negras e más.”
Feito isso, jogue as oferendas ao mar, uma de cada vez, de acordo com as
mencionadas, e acrescente:
Hoje é dia da Grande Senhora
Do céu, da Terra e do mar
Calunga, é, é, é, é, é Calunga, a, a, a, a, a
Brilham as estrelas no céu.
Brincam os peixinhos do mar
Calunga, é, é, é, é, é! Calunga, a, a, a, a, a
(Calunga significa sepultura)
Este trabalho deve ser feito ao meio-dia, quando o sol está alto.
2) Banho De Firmeza
Arruda
Guiné
Aroeira
Barba de Velho
Alecrim do campo
3) Banho De Firmeza
Arruda
Guiné
Erva de São João
4) Banho De Firmeza
Arruda
Folhas de Girassol
Comigo-Ninguém-Pode
Alecrim
Folhas de coqueiro
5) Banho De Firmeza
Arruda
Guiné
Manjericão
Espada de São Jorge
Comigo-Ninguém-Pode
Verbena
Tapete de Oxalá
2. Banho de Descarga
Arruda
Guiné
Folhas de manjericão
Samambaia
Abre caminhos
Cipó Mil Homens
Espada de São Jorge
3. Banho de Descarga
Espada de São Jorge
Espada de Santa Bárbara
Folhas de mangueira
Barba de Velho
Jaborandi
4. Banho de Descarga
Espada de São Jorge
Arruda
Guiné
Manjericão
Verbena
Folhas de eucalipto
Abre caminhos
5. Banho de Descarrego
Espada de São Jorge
Guiné
Alecrim do campo
Comigo-Ninguém-Pode
Barba de velho
Guaco
Folhas de mangueira
6. Banho de Descarga
Espada de São Jorge
Folhas de manjericão
Aroeira
Cipó
Mil Homens
Espada de Santa Bárbara
Gonçalinho
Arruda
ORAÇÕES TRADICIONAIS
As rezas típicas do Catimbó seguem um sincretismo jesuíta. Normalmente,
adotavam-se orações a santos que correspondiam aos arquétipos
mitológicos indianos e, posteriormente, também africanos. Não existe uma
estrutura fixa para essas orações, os rituais mágicos geralmente são
combinados com uma oração a um santo adequado.
Ao longo das décadas, as orações foram parcialmente alteradas e adaptadas.
A seguir estão algumas das orações mais antigas listadas no Meleagro de
Cascudo. Além disso, algumas outras orações listadas em livros antigos de
autores como Ribeiro. Alguns deles ainda são usados regularmente hoje.
O princípio da oração é pedir. Como os guias espirituais não podem ajudar
sem um pedido, afinal, o livre-arbítrio humano sempre se aplica. Dizem que
a chave do sucesso é acreditar nos resultados que vão acontecer. As dúvidas
são inimigas do sucesso.
Oração do Meio-Dia
Deus te salve Hora do Meio-Dia em que o Senhor seguiu. Se encontrares F.
dai-lhe três solavancos no co ração assim como Jesus Cristo deu no ventre
da Virgem Maria. Fulano, com dois olhos te vejo, com três cravos
encravados no teu coração, com três hóstias consagradas, com três meninos
pagãos e três cálices de Missa consa grados. São Marcos, fazei-me o vosso
milagre. Vos peço prendais o coração de Fulano nas minhas vontades: que
Fulano chegue para mim como as ervas do campo se chegam ao pé da Cruz,
manso como um cordeiro. Tudo que me dará, tudo que me souber dirá, nada
me há de negar. Fulano não pode ver, estar nem comer e beber sem comigo
vir falar. Fulano, andarás chorando atrás de mim como as almas andam
atrás da luz de Deus.
Santo Amanso
Santo Amanso, amansador que amansou os leões brabos, amansai o coração
de F. que vem brabo comigo, como todos os Diabos. Com os dois eu te
vejo, com os três eu te falo, Deus quer, Deus pode, Deus acaba com tudo
que ele quer. Assim é de ser eu quem acabe com tuas forças; tudo quanto eu
quiser. Traga amar rado de pé e mão e as cordas do coração debaixo do meu
pé esquerdo e que eu faço com que tu tenhas toda a força, para mim não!
Padre-Nosso, Ave-Maria.
Glória a Deus nas alturas e Paz na Terra aos homens de boa vontade.
Louvo São Judas Tadeu, São Benedito, Santo Antão, São Policarpo.
Louvo Santo Expedito, pelo bom sucesso dos meus negócios, pela minha
tranquilidade, pela minha paz.
Graças Vos sejam dadas, ó meu Bom e Amado Jesus, pela Vossa
misericordiosa proteção.
Louvado seja Deus, Criador do céu e da terra. Eterno Pai de todas as
criaturas.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, pela Vossa misericórdia.
Louvado seja o Divino Espírito Santo, pela sua miseri córdia.
Louvado seja para todo o sempre a Santíssima Trindade. Meu Deus, embora
eu seja pecador, com toda humildade
Vos peço a graça de me amparardes em meus trabalhos, em minha profissão
e em meus negócios.
Senhor Jesus Cristo, Vós dissestes: "Pedi e recebereis."
Com firme confiança em Vossa Justiça e Misericórdia, rogo o Vosso
amparo, afastando as dificuldades, os obstáculos, os impedimentos de meu
caminho.
Concedei-me, Senhor, a felicidade de colher o fruto dos meus esforços. Dai-
me, Senhor, a ventura de poder sustentar-me com o meu trabalho e assim
dar um exemplo de fidelidade aos Vossos Mandamentos, aos meus filhos,
aos meus amigos, aos meus conhecidos.
Creio em Vós, Senhor, e tenho certeza de que não serei desamparado.
Assim seja
II
III
VII
VIIII
IX
III
IV
II
Ô! Juremê, Ô! Juremá!
Sua folha caiu serena Ô! Jurema
Dentro deste Gongá
Ô! Deus salve a Casa Santa
Onde Deus fez a morada
Onde mora o Cálix Santo
E a hóstia consagrada,
ô! Jurema Ô! Juremê, Ô! Jurema
Sua folha caiu serena
deste Gongá
Salve o sol e salve a lua
Salve Rei Sebastião
Salve a Cabocla de pena de arco e flecha na mão
III
IV
II
III
IV
Ó Juremeiro, oiê! Ô Juremá!
Cadê minha sandália, meu samburá?
minha pintassilva, minha cobra corá'?
a minha cobra caninana, meu tamanduá?
Eu dei a volta na Jurema e torno a voltar!
Arriei, arriei, arriei cantô! Arriei, arriei, arriei cantá!
Eu dei a volta na Jurema,
Vi a estrela brilhar!
VI
Obs. Ponto – “Ponto” significa uma canção ritual para chamar os espíritos
(às vezes chamada de “linha”), pode significar também os desenhos feitos
por espíritos incorporados, meios para sustentar a energia. Muitas palavras
tradicionais como “ponto”, “linha” têm vários significados dependendo do
contexto. “Linha” significa canto tradicional ou linhagem de trabalho.
Louvações - Praise
Debaixo de um Juremá
Eu vi uma folha no chao
Jurema, Jurema sagrada
Meu glorioso São Sebastião
Jurema, minha Jurema
Da rama eu quero uma flor!
Jurema, Jurema sagrada
A onde Jesus orou!
No tronco da Jurema,
Eu vi uma vi uma folha no chão.
Jurema, Jurema sagrada,
Meu glorioso São Sebastião!
II
Observação: Esta linha como muitas outras são aplicáveis a todos os tipos
de Mestres femininos e masculinos. Ver formulação geral abaixo.
VII
VIII
IX
Lá na Jurema,
Embaixo de um pé de Ingá,
Lá onde a lua clareia os Caboclos,
Eu vi o seu Pena Branca passar.
Jurema, Jurema,
Salve o seu Juremá.
Oh Jurema Mestre,
O Mestre mandou
Chamado todos os Mestres
A hora já chegou
Eu vou chamar Seu (Nome)
Eu vou chamar Seu (Nome)
A hora já chegou ….
II
III
IV
Oh Imburana de cheiro,
Do Angico e do Vajucá
To, to na Jurema
To, to Juremá
Vou abrir minha Jurema
Para nela trabalhar
Vou chamar os Senhores
Pare eles me ajudarem
Chamar as Senhoras Mestres
Para aqui chegar
To, To na Jurema …
(Chamar MestreMestra “Nome” … etc.)
V
VI
VII
Eu só vim aqui
Porque fui chamado
Meu capote de veludo
Com chapéu douradoEu também tenho cavaloPara andar montado
VIII
A sala tá cheia minha gente
Como é que eu entro agora
Eu entro minha gente, eu entro
Com Deus e Nossa Senhora
Malunguinho
I
Malunguinho é Reis de tribo
Malunguinho é Reis de pomar
Abre portas e janelas
Pra Malunguinho passar
Em cima daquela serra
Tem um Cruzeiro assentado
É do Reis Sebastião
Que é dono deste reinado
Repete refrão
Em cima daquela serra
Tem um cruzeiro de ouro
É do Teis Sebastião
Que é dono deste tesouro
Em cima daquela serra
Tem dois 'Caboco' tomando água no coité
Olha o som do gaito
Mestre do reis dos Canindé
Abre, abre, Malunguinho,
Vem abrir nossos caminhos
Abre, abre Malunguinho
Que estão cheios de espinhos
II
IV
Eu estou te atraindo
Malunguinho, Malunguinho
Eu estou te atraindo
Eu só pe ç oa Malunguinho
Que os contrários vão levando
VI
VII
Mestre Junqueiro
Muitos afirmam que ele era baiano do município de Quijingue, o “sertão
nordestino” da vila de Lagoa do Junco, mas como grande parte de sua
história foi paraibana, acredita-se que esse grande sertanejo, rezador,
curandeiro e raizeiro ( aquele que trabalha com o poder das raízes) era de lá.
O encanto do cipó do Junco era o famoso Catimbozeiro, homem de moral
impecável, fazia do trato do Junco o seu ofício.
Apesar das muitas distorções que fizeram em relação a esse Mestre e seu
nome como Zé Junqueiro e Junqueira (feminino) ele é chamado apenas de
JUNQUEIRO desde os tempos mais remotos, onde o Catimbó ainda não era
divulgado em outras regiões assim eram chamados nas Juremas do Recife e
Paraíba Junqueiro é o trabalhador rural que cuida do plantio e colheita do
Junco (alguns chamam de Junço).
“Juncando eu venho (plantando) Juncando eu vou (colhendo) ho
desembaraçando (separando tratando selecionando o Cipó) eu venho ho
desembaraçando eu vou.” Juncando eu venho (plantando) Juncando eu vou
(colhendo) desembaraçando (separando tratando selecionando o Cipó) eu
mesmo fui desembaraçando vou... cantava assim e claro desembaraçando,
plantando e colhendo tinha outro significado entendido pelos Juremeiros.
Este Mestre é frequentemente visto como “trabalhando do lado esquerdo”,
estabelecendo assim um equilíbrio entre direito e esquerdo e, portanto,
chamado antes dos outros Mestres.
Mestre Junqueiro
Que vem da lagoa de junco (2x)De junco eu venhoPara junco eu vou (2x)Ô
desembaraçando eu venhoÔ desembaraçando eu vou (2x)
II
III
Sou o Zé Pelintra,
Nêgo do pé derramado,
Quem mexer com Zé Pelintra
Está doido ou está danado.
Seu doutor, seu doutor,
Bravo senhor
Zé Pelintra chegou
Bravo senhor,
Na mesa da Jurema
Bravo senhor.
Se você não queria,
Para que eu estivesse sozinho.
Seu doutor, seu doutor
Bravo senhor.
II
Mestre Bernardino
II
Fumaça vem
Fumaça vaiVai fumar pra onde eu mandaEu mandei ver Mandei busca Vai
fumar pra onde eu manda
Salve os Encantados e sua ciência
Sarava Senhor Galo Preto
Mestre bom de ciência
Sarava Seu Galo Preto Salve Sua ForçaTriunfa Mestre
Mestre Luis Dos Montes
II
II
II
É de Itanema é de Itanema
Tertuliano trabalhando é na Jurema
É de Itanema é de Itanema
Tertuliano trabalhando é na Jurema
É terto, é terto, é terto
Ele é Mestre Tertuliano
Tertuliano é um bom Mestre
E na Jurema vem chegando.
II
I
É no clarão do sol,
É no raio da lua,
Salve Zé Bebinho,
Zé Bebinho meio da rua
Eu vou deixar de beber,
Cachaça é um veneno,
Eu vou deixar de beber,
Mais é num copo pequeno
Eu venho da cidade do Acais,
Pra que mandou me chamar?
Abriu-se os pegou da Jurema, pra Zé Bebinho passar,
Meu Mestre quem foi que lhe disse que nessa mesa eu não vou triunfar?
Eu passei pela minha cidade tô pronto pra trabalhar
Mestre Zé Da Virada
Mestre Zé da Virada, um dos grandes Mestres da história do estado do Rio
Grande do Norte. Nasceu na cidade de Serra Negra do Norte no Sertão do
Seridó , onde passou a vida toda trabalhando em uma fazenda como
vaqueiro e corredor das vaquejadas do sertão . Ele era um vaqueiro famoso,
corajoso, sem medo de nada no mundo, corajoso e fiel ao seu chefe.
Trabalhou desde criança pela perda dos pais, na adolescência foi
trabalhando na roça, com o passar do tempo aprendeu a correr nas
vaquejadas .
Zé da Virada passou por uma decepção muito grande na vida, ele até
enlouqueceu ao saber que sua esposa matou seus filhos e se suicidou
envenenada, isso lhe causou um grande desgosto a ponto de enlouquecer. A
decepção e a tristeza marcaram a vida desse grande vaqueiro.
Ele passou a viver com essa mágoa no coração, mas tinha um grande amigo
e companheiro que também é um grande Mestre dentro da sagrada Jurema,
Zé Vaqueiro. Foi ele quem sempre esteve ao seu lado, nos momentos
difíceis de sua vida, por isso esses dois vaqueiros e Mestres caminham
juntos, eram amigos inseparáveis, corriam vaquejadas juntos eram como
irmãos .
Alguns Juremeiros mais velhos dizem que Zé da Volta foi morto por sangue
de boi. Mas o que importa é saber que esse Mestre hoje é muito respeitado
em todo Brasil e Nordeste, suas cantigas ou lírios falam muito de sua
passagem aqui na terra, foi um bom vaqueiro junto com seu parceiro Zé
Vaqueiro na vida. Hoje é um grande Mestre conhecido em todo o Brasil e
no nordeste brasileiro, quando se apóia em seus discípulos gosta de beber
muito, prosa pouco, não gosta de mentira, é muito rígido e firme nas
palavras que diz.
Cantando eu venho
Folgando eu estou
Cantando eu venho
Da minha cidade.
A minha barquinha nova
Nela eu venho
Feita de Aroeira
Que é pau marinho
Quem vem dentro dela
É o meu Jesus
De braços abertos
Cravado na cruz.
II
III
II
III
Amélia deu um nó
Ninguém soube desatarAmélia está na giraAmélia vai girar...
IV
Ananí
Meus passarinhos estão cantandoAlegris no meu jardimPedindo um
conforto para todas minhas amigasNeste salão está AnaníDeus abençõe a
estes homemE fale de mim quem quizerPois os homens ganham dinheiros
minhas amigasPrá dar dinheiro a mulherEu amei fui amada e ainda tenho
quem me querMulher para ser mulher da vida , minhas amigasTem que
saber ser mulher
II
III
Aninha, Aninha,
Aninha do AjilóSeu lençol tem quatro pontasCada ponta tem um nóO nó
que Aninha dá Até o diabo tem dó
II
Aninha deu um nó
Ninguem soube desatarAninha está na giraNa gira pra girar
Aninha deu um nó
Ninguem sabe oq ela fezAmarrou sete homens T odos sete de uma vez
Aninha deu um nó
Ninguem sabe onde foiForam quatro na sua saiaE três no rabo do boi
III
IV
Aninha do muganguê
Do Muganguê Aninha é..
Aninha é feiticeiraDebaixo de uma Coité
VI
VI
VI
Macho, ô macho
Não faz assim comigo
Macho, ô macho
Eu vou beijar seu pé do umbigo
Macho, ô macho
Se voce não me queria
Macho, ô machoP or que me alicia?"
VII
IX
XI
XII
XIII
XV
Mineirando, mineirando
Vai ao olóMas quem chegou do Juremá
Foi Mestra Aninha do Agiló
E quando ela piso neste póNem do diabo ela tenho dóÉ no rodar da
carrapeta
É na quebrada do cipó
Já deu carreira em tour bravo
Ela é Aninha do Agiló."
XVI
Aninha do Munganguê
Do Muganguê Aninha é
Aninha é princesaDo macho de Zé Coité
XVII
XVIII
XIX
Pisa pilão
Quero ver vira o pó
É na força da magia
No poder do Catimbó...
Pisa pilão
Quero ver vira o pó
É na força da magia
De Aninha do Ajiló...
Eu vou, eu vou
Jogar fumaça para o ar
Eu vou, eu vou
O meu recado eu vou mandar
Mestra Celina
Ela é uma grande mestra consagrada a uma Princesa Cabocla do Bosque
(Princesa Cabocla da Mata). Celina é uma grande rezadeira (Rezadeira) e
catimbozeira - deixou seu nome marcado em um tambor com suas
defumações e feitiços de ervas. Colorido, corajoso, imprudente e animado
que não aceitava insultos de ninguém. Sempre muito solicitada por seus
feitiços e seu ofício. Ajudava muitas putas dentro da “zona” (distrito da luz
vermelha) na época, batendo em seus Catimbós (fazendo mágica) para
todos os fins.
Semente de maravilha
Semente de maravilha
Que eu tenho na cidade plantada
Sou eu a Mestra Georgina
A filha de um rei coroado
Campos verdes e águas claras
E muitas flores no meu jardim
São saberes e são ciências
São passados que me pertencem
Eu venho saudando a Mesa Mestra
Eu venho saudando os Príncipes Mestres
E os discípulos que nela estão
Mestra Geraldina
Mestra Geraldina
Eu sou a Mestra Geraldina
Eu sou dona do mundo inteiro
Eu governo 7 cidades
Até o Rio de Janeiro
Sou filha da Paraíba
E criada no Maceió
Aonde eu faço os meus trabalhos
Não existe outro melhor
Mestra Iracema
Mestre Iracema também pode ser visto como “Cabocla”. O nome é um
nome típico indígena.
Foi um dia
Na beira do caisUma moça bonitaEla bebe demais
O Navio apitou
A Marujada corriaLá no cais do portoJúlia Galega sorria
II
III
Oh luar, oh luar!
Oh luar!Lua de prata que clareiaOh luarLua de prata que clareiaJúlia
Galega onde passar
Ela é mulher disfarçada
Oh luarEla é mulher de cabaréOh luarÉ defensora dos homensOh luarE
protetora da mulher!
IV
VI
Ela é composta que posa no pau
Ela é o pau q ue só da uma flor
Ela se chama Julia Galega
Mulher de vida da banda voou.
VII
Eu era, eu era
Eu era e eu souVc quer saber quem eu eraOu quer saber quem eu sou
O meu pai foi capelão
Ai dominador do mundo inteiroNa Bahia do Sertão
Foi matador de feiticeiro.
VIII
IX
XII
É no Catimbó
No Catimbó só
Julia Galega na esquerdaÉ de dar dó.
XIII
XIV
Ô tambô, tambô
Maria Galega
É de b anda voou
Mas quem ter raiva dela (ô luar)
Mas que ñ pode se vingar (ô luar)Que pode a corda no pescoçoE chame
maria galega pra puxar.
Mestra Juvina
II
III
IV
A Juvina dá
A Juvina toma
A Juvina é mulher de zona
V
É tanto macho para balançar Juvina
é tanto macho pra Juvina balançar
É tão macho balançar Juvina
É tão macho Juvina balançar
VI
Bananeira chorou
Bananeira chora
Adeus adeus Mestra
Juvina vai embora
VII
Nao tenho amigo bom nao
tenho amigo ruim
o meu melhor amigo
Só quer ver o meu fim
Mais ele se ele chegar agora
O cabaré se
E eu nao vou para casa agora
Mais ele se ele chegar agora
O cabaré se fecha
E eu nao vou botar para para
Mestra Laurinda
Laurinda foi parteira, curandeira e Rezadeira - Laurinda foi parteira,
curandeira e rezadora. Ela é a protetora dos navios. Ela só trabalha e vive
no mar. Ela não é especialista em casamento, para navios que vão se lançar
ao mar e para viagens ela é invocada. Tambaba é uma cidade com muita
ciência, e o Mestre Manuel Cadete é seu principal guardião. A rainha da
sagrada Jurema e a cidade das cachoeiras.
No mundo eu avistei uma muralha,
F eliz de quem ela atravessa,
É a muralha das três donzelas, Q ue vive no fundo do mar...
No mundo eu vi um muro,
Feliz quem atravessa, É o muro das três donzelas, Que mora no fundo do
mar...
Donzelas, que mora no fundo do mar... Segundo uma antiga tradição, os
velhos Catimbozeiros contaram que na década de 1910, o culto da Jurema
quase se extinguiu, por causa da perseguição policial, foi então que, por um
milagre de Deus, apareceu Manuel Cadete, que depois de ter sido
consagrado por um Juremeiro da época, resolveu se mudar para Tambaba, e
assim conseguiu iniciar o culto da Jurema naquela época que tanto era
perseguido pela polícia. Assim que se estabeleceu em Tambaba, em pouco
tempo consagrou três jovens que por motivos de mediunidade foram
iniciados no culto da Jurema. Segundo a tradição, o nome dessas jovens era
Lionor, Laurinda e Juvina, todas Mestras paraibanas. Com a morte do
Mestre Manuel Cadete, trouxeram a missão de propagar o culto da Jurema
por onde passassem, a encantada cidade de Tambaba, é guardada por estes
três Mestres, e na mesa da Jurema são representados pelos três castiçais,
também são considerados guardiões; a Cruz Mestra, a campa e a Chave
Mestra que abre os trabalhos (do Cruzeiro Mestre, da Campa e da Chave
Mestra).
I
II
III
IV
VI
VII
II
IV
E la no seu engenho
Eu plantei cana de fita
Eu sou Maria do Bagaço
Do alto da Bela Vista.
Eu sou Maria do Bagaço
Do alto da Bela Vista.
Acorda,acorda
Ela é Maria Bagaceira
Ela não tem pai nem mãeMenina de doze anosEla não tem pai nem
mãeMenina de doze anosVive no mundo rolando
II
III
II
III
II
III
"Oh Luziara
Mas que loucuraDeixaste o homemNa rua da amargura
Na amargura
Eu não deixei o homemEu deixei os inimigosQue falaram do meu nome...
IV
II
III
IV
V
Eu vô me embora prá zona,
pro cabaré de Paulina.
Atrás do perfume dela do
cheiro daquela menina....
VI
VII
VIII
IX
XI
XII
Paulina dá,
Paulina toma
Paulina é mulher
É mulher da Zona
No lugar onde mora
Sete machos se enforcouTodos sete se enforcaramPor causa do seu amor
XIII
Ai, ai, ai
Paulina chegou agora
Ela vem de sua cidade
Toda enfeitada de joias!
XIV
XV
No rio de Jaboatão
Onde Paulina se banhava
os homens que ali passavam faziam
Tum, tum, tum
E faziam
Tum, tum, tum...
XVI
XVII
Paulina ja vai
Tristonha porque vai só
Paulina ja vai
Tristonha porque vai só
Aonde é sua morada
É na zona de Maceió
XVIII
XIX
Palmeira verde
Palmeira minhaEla é Paulina
E aqui ela é rainha
XX
XXI
Paulina rainha divina,rainha encantada,
Fez do cruzeiro a seguraça, tem sua vida marcada;Caminhou em tapetes de
flores, Mais não se encantou,
Deixou seus súlditos chorando, foi morar no mundo de perdição...Ela é
rainha, ela é mulher ,No meio da Macumba, ela faz oq bem quer,
Ela é rainha, ela é mulher,Já chegou Mestra paulina para quem tem fé.
XXII
XXIII
Coração ferido
Coração sofrido
Coração sem amor
Coração mata a gente
Coração é quem sente a tristeza e dor
Eu vou pedir pra ela,
V ou pedir pra ela
Pra ela me ajudar
Vou te dar muita cerveja,
V ou te dar rosa vermelha
E cigarro pra fumar
XXIX
XXXI
XXXII
II
Rita do Bagaço
Ela era da Rua do Pina
Sei tamb ém que morreu esbagaçada
M as não é Maria Bagaçeira
Ô Rita,ô Rita,salve Rita lá do Pina Ô
Rita ,ô Rita,salve Rita lá do Pina
Rita do Bagaço só trabalha com Severina
Rita do Bagaço só trabalha com Severina
Ela Rita do Bagaço que Deus ordenou
Ela Rita do Bagaço que Deus ordenou
Ela é Rita do Bagaço que a Jurema mandou
Ela é Rita do Bagaço que a Jurema mandou
IV
Tá no campo
Tá no matoTá no homemEla é uma mulé (2x)
Mais ela é
A Rita do Bagaço
Falada mulé (2x)
Rita Ribonesa
Os ciganos Calon (ou Kalon, Calom, Calé): São os ciganos ibéricos,
conhecidos como gitanos em Portugal e Espanha. Chegaram ao Brasil no
século XIX. XVI deportados de Portugal e falam a língua Shib Kalé ou
Caló, que é uma mistura de românico, português e espanhol. São devotos de
Nossa Senhora Aparecida. “Os Calon, originários de Portugal, que falam o
dialeto Caló, são tradicionalmente nômades, ligados ao comércio de
cavalos, carros, correntes e artefatos que imitam o ouro. As mulheres
praticam quiromancia em praças públicas, exibem dentes de ouro e
manchas (marcas) em seus rostos.” Ela desembarcou com sua gente no
porto do Recife. Saiu em busca de trabalho e caminhou pelos sertões de
Pernambuco e da Paraíba. Ela liderava um grupo de ciganos, viajando de
cidade em cidade, tocando e cantando. Pioneira na mistura do culto cigano
com os cultos nordestinos. Ela faz parte da influência da Umbanda no
Catimbó.
I
Quando Deus andou no mundo
Uma luz lhe acompanhou
E eu não sabia que era ela
A dona de meu amor
Ela foi passada com quinze anos
Dentro da Rua da Guía
Eu vou lhe dizer seu nome
Ela se chama Mestra Ritinha
Ela foi para sua mãe
Uma filha querida e adorada
Mas por não ouvir os seus conselhos
Levou sete pexeiradas
As amigas lhe chamavam
Pro caminho malícia
E no dia de seu enterro
Só quem foi, foi a polícia
Mais quando vinha o cortejo
Com aquele negro caixão
As despeitadas diziam
"descansei o meu coração!"
O dia do seu enterro
Foi um dia de alegria
Todos os homens choravam
Todas as mulheres sorriam
A Jurema quando nasce
A ciência ela já traz
Eu só peço as filhas dela
Que obedeçam aos seus pais
II
A Mestra Ritinha
T em um bole-bole
A Mestra Ritinha
T em um bole-bole
Tem a cintura fina
E as cadeiras moles.
IV
VI
Rosinha Do Amor
Mestra Rosinha do Amor confunde-se com Mestra Rosinha Boiadeira. Mas
são dois Mestres diferentes.
Ô Severina
Ô SeverinaSeverina só trabalha com Maria Rita
Severina só trabalha com Maria Rita
Ela é Severina que Deus ordenou
Ela é Severina que Deus ordenou
Ela é Severina que a Jurema mandou
Ela é Severina que a Jurema mandou
O meu Congá está em festa
Ai meu Deus o que será
É a Mestra Severina que chegou do Juremá
Caboclos & Boiadeiros
Ele é Caboclo
Ele é Juremeiro
E na alvorada
Tem penas carijó
Badeia, badeia meus Caboclos, badeia
Meus Caboclos na aldeia
E a sereia na areis
Badeia, oh badeia meus Caboclos
Como o vento na areia
O mito do Senhor das Lanças do Peito de Aço - Baú de Aço do Senhor das
Lanças.
Comentários e interpretação
Quanto ao tempo cronológico, a ação data do século XV, o que pode ser
determinado pela ausência do homem branco. O romance está organizado,
em seus nove capítulos, de forma linear, cronológica, em uma época
anterior a 1500, na região do Tocantins. A narrativa apresenta a natureza
selvagem como espaço privilegiado, com a maior parte das ações ocorrendo
no sertão e agreste de um Brasil primitivo e edênico.
A natureza é o único componente espacial deste pequeno romance.
Selvagem, hostil ou acolhedor, representa o espaço ainda não alcançado
pelo homem branco, porque é um romance pré-cabralino.
Há também o espaço das aldeias, povoadas por criaturas selvagens, mas
repletas de princípios éticos.
I. O caçador – Jaguarê sai de sua aldeia em busca de um inimigo para obter
o título de guerreiro. Às margens do grande rio Tocantins, o jovem caçador
Jaguaré caminha em busca de um adversário que possa desafiar.
É que ele quer se tornar um guerreiro de sua tribo e precisa de um
adversário digno do feito. Há três dias ele está nas proximidades da tribo
Tocantins, tribo inimiga, chefiada por Itaquê.
Jaguaré vê então Araci, “a filha do dia”, que, como uma corça veloz,
atravessa a campina. Ao identificar a garota, o guerreiro fica desapontado
porque espera que o inimigo lute, rito pelo qual o guerreiro deve passar – e
vencer. Por meio de suas roupas e acessórios, Jaguaré identifica em Araci
uma virgem que ainda não foi possuída por nenhum guerreiro. E é avisado
por ela.
Jaguaré diz ter soltado seu grito de guerra e observa que ele pisa aqueles
campos “como um senhor” e pede a Araci, que agora se diz seu prisioneiro,
que avise os guerreiros da tribo para que venham com ele lutar. Araci
considera que deve disputar como fazem os homens da tribo, mas o caçador
avisa que tem uma esposa esperando por ele e desafia os guerreiros para a
luta.
Pojucã, temido guerreiro, atende ao apelo de Jaguarê, e ambos se
apresentam. E o combate começa. Ambos resistem, experientes e capazes
de demonstrar maior força física. Por fim, Jaguaré vence o combate, fere o
guerreiro com sua lança de duas pontas no peito e o aprisiona, obrigando-o
a ir com ele até a aldeia e relatar a luta.
Mas antes de ir, muda de nome, soltando um grito triunfante:
” – Eu sou Ubirajara, o senhor da lança, o guerreiro invencível cuja arma é
a serpente. Reconheça seu vencedor, Pojucã, e proclame o primeiro dos
guerreiros, pois o maior guerreiro que existiu antes dele te conquistou.”
II. O guerreiro – Jaguarê, tendo derrotado Pojucã, adota o nome de
guerreiro de Ubirajara, senhor da lança. A aldeia Araguaia está em festa
para receber seu mais novo guerreiro, filho de Camacã, “o maior cacique
dos Araguaias”, líder que ainda ostenta, diante dos mais velhos, o grande
arco decorado com penas vermelhas, uma conquista da juventude que já
perdeu.
Pojucã também narrou sua história, exaltando as conquistas do Araguaia,
que facilitaram a aceitação do filho de Camacã como guerreiro. Depois,
Ubirajara empunhava o arco de seu pai e era por ele empunhado.
Ele agora era seu substituto como "o mais forte dos guerreiros" daquela
tribo. Pojucã teve a glória de ter seu nome lembrado junto com o do
guerreiro que o derrotou.
III. A noiva – Jandira, noiva de Ubirajara, espera por ele, mas o herói não a
procura. Pior do que isso, ele a entrega como uma esposa séria ao seu
prisioneiro. Ele informa seu povo de sua intenção e sai em busca de Araci,
filha do chefe da nação Tocantim. Jandira, a doce filha de Magé, assim que
amanheceu, saltou da rede que embalara seus sonhos virgens e, acreditando
ser a última noite que passara na cabana do pai, esperou que Jaguaré a
pegasse.
Mas Ubirajara sonha, entretanto, com Araci. Ela o avisa em sonho que os
guerreiros do Tocantins estão se preparando para tomá-la como esposa.
Convide-o para sair se não quiser se atrasar. O guerreiro do Araguaia
desperta durante o sonho e, mais tarde, refugiando-se nele novamente, deixa
seus pensamentos tomarem a direção do grande rio.
Jandira o encontra um pouco depois na mata e pergunta o que aconteceu
com ele. Ela se surpreende com a resposta: a tristeza havia entrado no
coração da guerreira, "que não sabe mais dizer palavras de alegria para
você, bela virgem". Dizendo que o guerreiro não poderia encontrar uma
esposa mais fiel para si, Jandira tenta parecer feliz, mas ela sabia que o
amor de Ubirajara havia abandonado o dela. Enquanto isso, Pojucã
amargava a derrota e o fato de ser prisioneiro.
Ele poderia fugir, mas isso provaria sua desonra. Quando Ubirajara se
aproximou da cabana do vencido, ouviu seu pedido para matá-lo, pois
estava desgraçado para sempre. Então Ubirajara chama as guerreiras e lhes
dá Jandira como “esposa da sepultura”, “que tem no seio os doces favos da
abelha”. E ele sai, prometendo voltar para matar o guerreiro Tocantim.
Jandira e Pojucã estão sozinhos, e ela diz a ele que nunca seria sua esposa.
Que se Ubirajara não a quisesse, ela não seria de mais ninguém, preferindo
a morte. Pojucã diz que ela poderia gerar seu filho, tão forte e corajoso
quanto seu pai. Mas a garota foge dele, senta-se no meio da floresta e canta
tristemente. Com o conselho de anciãos reunido, Ubirajara anuncia que vai
embora e que, quando voltar na lua seguinte, matará o inimigo.
4. Hospitalidade – Incógnito, usando o nome de Jurandir, Ubirajara se
hospeda na taba dos tocantins. Ubirajara vai ao encontro de Araci; ao
chegar lá, o guerreiro vigia soou o aviso.
Os guerreiros que para lá correram deixaram-no passar, sem perguntar de
onde vinha, nem o que o trouxera. Itaquê é pai de Araci, a bela estrela do
dia que Jaguarê procura. Itaquê manda preparar o cachimbo da paz, para
que ambos fumem juntos, e então os cantores da aldeia entoam a saudação
de chegada.
Enquanto os homens cantam, Jacamim, mulher de Itaquê, chama as outras
amantes do grande cacique para ajudá-la a preparar o banquete de
hospitalidade. Depois de conduzido à sombra da gameleira, junto com os
guerreiros, foi servido com fartura, com vinho de caju e abacaxi.
Depois que as mulheres recolheram os restos mortais e foram embora,
Itaquê disse que escolheria o nome que o guerreiro usaria enquanto
estivesse lá. As sugestões foram muitas, mas finalmente Ubirajara escolheu
um nome para si: “Sou eu que vim trazido pela luz do céu. Me chame de
Jurandir. Foi nesse momento que Araci apareceu por entre as palmeiras e se
dirigiu para a cabana. Guerreiros a acompanhavam e eram servos de seu
amor. Todos disputavam a beleza da virgem e com ela pretendiam se casar.
Araci o reconheceu imediatamente e soube que ele viera sem seus enfeites
do Araguaia para disputar seu amor com os outros.
Não cabia a ela dizer quem ele era, ou mesmo revelar o segredo. Ele apenas
sentiu a alegria dentro de seu coração.
Jurandir fala de si e de seus feitos e Araci canta para ele. Em seguida,
Jurandir declara: ” – As moças do Tocantins são lindas; qualquer um deles
alegraria o sono do estranho. Mas Jurandir não veio à cabana do Itaquê para
curtir uma noite de amor; ele virá buscar a esposa que o acompanhará até a
morte e a virgem que ele escolheu para ser a mãe de seus filhos. E pediu a
Araci que o levasse até a cabana de Itaquê, onde pretendia revelar o segredo
que o levara até ali. Ele disse a ela que havia sonhado com o chamado dela
e que o havia feito entrar em sua presença.
V. Servo do amor – Jurandir, ou seja, Ubirajara, revela sua verdadeira
intenção e é aceito na casa de Itaquê para servi-lo e adquirir o direito de
lutar pela mão de Araci.
Os guerreiros cativos da beleza de Araci sabiam que teriam trabalho com a
pretendente. Jurandir desceu até o rio e encarregou-se de pescar um peixe
gigantesco que levou vivo para a cabana de Itaquê; então ele caçou uma
anta grande (anta) e a pegou viva, depositando aos pés de Araci.
Nenhum guerreiro conseguiu segurar o animal e seu ímpeto, mas ele,
Ubirajara, o fez sem esforço. Ao obrigar o animal a se agachar diante de sua
amada, disse para que todos ouvissem: "- O braço de Jurandir fará cair a
teus pés o guerreiro que ousar disputar tua beleza, estrela do dia."
A partir daí, tratou de deixar a choupana do cacique tocantinense bem
abastecida com a melhor comida; caçador e pescador, isso era fácil para ele.
Depois de caçar e pescar, trabalhava com prazer nas roças do pai de Araci.
Enquanto isso, a amada de Jurandir tecia a franja da rede para o casamento.
No banho, os guerreiros e a virgem se encontraram. E ela era uma boa
nadadora. E é no banho que ele começa, sem que os outros vejam, a dar
preferência a Jurandir.
Enquanto Araci procura penas vermelhas, mel e guaraná para seu amante
no meio da mata, eis que ele aparece trazendo uma mulher que o segurava
pelo braço e que trazia na mão uma faca afiada. Araci reconheceu a virgem
Araguaia pela tira de algodão tecida com penas, e adivinhou que fosse
Jandira, a noiva abandonada de Jaguarê.
As duas virgens ficaram sozinhas e se entreolharam. Jandira reconheceu
que não tinha a beleza de Araci. Araci canta para Jandira, e entre as frases
que ela canta, destaca-se o desejo dela ser sua escrava, que o amor da
guerreira do Araguaia era dela, Araci, e que ela deixaria Jandira dormir com
sua guerreira quando a beleza deixasse de existir . .
Jandira então diz que preferia morrer a ser escrava de Araci e "ver a cada
momento a beleza estrangeira que roubou seu amor". Ele acusa Araci de
não saber amar direito o guerreiro. E acrescenta que Jandira jamais
ofereceria a rede para outra mulher.
VI. A luta nupcial – Jurandir compete com os demais e conquista o direito
de se casar com Araci. A comitiva guerreira começa a escolher o marido de
Araci; entre todas as festas, esta é a única a que as mulheres podem assistir,
segundo o rito de Tupã.
A grande nação do Tocantins circunda todo o interior e no meio estão os
anciãos. Aparece Araci, "a estrela do dia, que será o prêmio da constância e
da força do mais habilidoso guerreiro". Jacamim acompanha a filha e
relembra a época em que Itaquê a conquistou e lutou por ela com os mais
fortes guerreiros da tribo.
A festa está pronta; Itaquê se orgulha de pai. E começam as canções
nupciais. Ao comando do Itaquê, começaram os combates. Os guerreiros
deram o seu melhor para vencer, e as provas se sucederam. Dona Jurandir
venceu em todas elas. O pajé levantou a tampa de um vaso e Jurandir
colocou a mão ali. Era mais uma prova. Ali, colocado junto ao Itaquê, havia
um formigueiro de saúvas pronto para devorar a primeira presa. Mas
Jurandir, olhando para Araci, sorria feliz.
O guerreiro foi tão picado (e ele, enquanto isso, cantava para sua amada!)
Que foi preciso quebrar o vaso para tirar a mão. Mas o grande xamã
esfregou o suco de uma erva na pele do guerreiro, e a dor e o inchaço logo
desapareceram.
A última prova foi a corrida. Araci deveria vencê-lo e Jurandir sabia que
conseguiria se quisesse, mas saiu perdendo e, ao final da corrida, pegou-a
nos braços e a levou para a “cabana do amor” que havia construído.
próximo. Carioca. Mas antes que ele pudesse cruzar a porta, os guerreiros
chegaram com um recado de Itaquê: ele tinha que dizer quem era, porque
ninguém da aldeia o conhecia.
VII. A guerra – Ao se identificar, Ubirajara cria um complicado conflito:
seu prisioneiro de guerra, a quem deve matar, é seu cunhado.
É declarada a guerra entre Araguaias e Tocantins. Itaque esperava por ele,
sentado na cabana, com os mais velhos. Jurandir entrou, Araci ficou na
porta, orgulhosa do marido. Itaquê engasgou e lamentou estar frente a frente
com o assassino de seu filho Pojucã; ela tinha, no entanto, que respeitar a
lei da hospitalidade e tratá-lo com dignidade e respeito.
Mas Pojucã não estava morto, ninguém sabia disso. Jacamim, mãe de
Pojucã e Araci, se recusa a chorar na frente do guerreiro. Itaquê troca a
fumaça da despedida com ele, mas avisa que assim que ele deixar seus
domínios, mil guerreiros ou mais o seguirão e o vingarão pelo mal feito.
Ubirajara foi até a orla da aldeia e então apagou no chão os rastros de seus
passos. Embora Araci queira estar com ele, o guerreiro não aceita, dizendo
que se Itaquê “respeitasse a lei da hospitalidade no corpo de Ubirajara;
Ubirajara não deixará traição em terra estrangeira.”
E quando o marido foi embora, Araci foi para a cabana, fechou a porta e
cantou sua tristeza. Ubirajara partiu para sua tribo e, após dois dias de
viagem, chegou lá e convocou os guerreiros para a guerra com o que
pretendia ter Araci de volta. Ele manda chamar Pojucã e pede que ele vá
para o seu. E então, com o apoio de seu pai e dos guerreiros, ele se preparou
para a guerra. Mas quando Ubirajara se aproximou dos campos do
Tocantins, viu que uma nação Tapuia se preparava para assaltar a tribo de
Itaquê.
Ubirajara enviou um arauto entre eles, pedindo-lhes para “abaixar a clava
de guerra”. Mas recebe como resposta a informação de que “Cranicã veio
trazido para se vingar. Pojucã, um dos caciques do Tocantins, entrou em sua
aldeia e ateou fogo na cabana do pajé, que foi devorada pelas chamas.”
Ubirajara reconhece que Itaquê deve enfrentar a guerra que Pojucã
almejava. Ubirajara manda recado para Itaquê e conta o que está
acontecendo. Ele observa que seu coração é de Araci e que se Itaquê aceitar,
lutará ao seu lado.
VIII. A batalha – Quando Ubirajara vem com seu povo, os Tocantins são
atacados pelos Tapuias. Um tapuia curumim cega o velho cacique do
Tocantim. Tocantins fica sem líder.
De um lado do imenso campo se movimenta a torcida dos guerreiros
tocantinenses, do outro, a multidão dos guerreiros tapuias. As duas nações
se estendem como dois lagos formados pelas grandes chuvas, que se
transformam em rios e atravessam o vale. Os dois povos aguardavam a
batalha; Itaque se viu cara a cara com Canicrã; dez vezes eles lutaram e em
nenhum houve um vencedor e talvez um deles tivesse que morrer para
quebrar a paz entre as nações.
“Quando os dois chefes se encontraram, os guerreiros ficaram imóveis,
contemplando o terrível combate.” Ubirajara contemplou tudo de longe,
imaginando como ficaria feliz se pudesse enfrentar os dois em combate.
Pahã, o filho mais novo de Canicran, observa tudo e, ao ver Itaquê desferir
um golpe contra o pai, atira duas flechas na direção do cacique Tocantim e
cega-lhe os dois olhos. O menino foge, mas é ultrapassado por um guerreiro
e preso, é levado na manhã seguinte, por Ubirajara, à frente do Itaquê. Ele o
levou para ser escravo do velho cacique, mas Itaquê recusa a oferta e liberta
o menino.
Itaquê pede a seu filho Pojucã que estique seu arco, para ocupar seu lugar
de líder. Mas, ao fazê-lo durante um encontro com os inimigos, Pojucã, sem
pensar no que estava fazendo de afronta, atira a flecha em direção à cabeça
de um cacique tapuia, cravado na estaca, na entrada da aldeia. Pojucã,
então, concluiu que o filho era imaturo e não merecia a liderança.
IX. União dos Arcos – Ubirajara consegue entortar o arco do Itaquê,
tornando-se o novo chefe da nação de Pojucã e Araci.
Ele une o arco do chefe cego ao seu próprio arco, herdado de seu pai,
simbolizando assim a união das duas bravas nações.
Os Tocantins ficaram sem cacique: Itaquê cego e Pojucã, seu único filho,
incapaz de manejar o arco do cacique. Itaquê lamenta não poder lutar sem a
luz dos olhos. Um mensageiro do Itaquê o precedera no campo do
Araguaias tomado por Araci. Ubirajara fica feliz ao ver sua esposa e
cumprimenta o sogro dizendo que lutaria com ele se trouxesse a guerra e o
abraçaria se trouxesse a paz. E o velho cacique do Tocantim pede ao
guerreiro que assuma a frente das batalhas.
E Ubirajara, feliz, vai à batalha em nome das duas tribos. No final, ele
quebra a liga de Araci e a leva para a cabana do amor. Após a briga,
Ubirajara fica com as duas mulheres: Araci e Jandira. A tribo dos Araguaias
e Tocantins formaram uma única nação, que levou o nome do herói:
Ubirajaras.
Ubirajara, surge com o nome de Jaguarê, guerreiro da tribo Araguaia, antes
de se tornar “o senhor da lança”, Ubirajara e chefe de sua tribo substituindo
seu pai, após ter derrotado Pojucan. Quando vai servir ao Itaquê para obter
Araci como esposa, o nome adotado por ele entre os tocantinenses é
Jurandir.
Jandira, virgem Araguaia, filha de Majé, noiva de Jaguarê, mas desprezada
por ele quando se torna guerreira. A noiva desprezada tenta matar a rival,
mas é surpreendida por Ubirajara que a entrega como escrava a Araci.
Este, afinal, dá-a ao guerreiro como segunda esposa, julgando-o justo, pois
uniu os arcos das duas nações. Inicialmente, Jandira acreditava que não se
devia dividir o marido, mas ao final da narrativa aceita a proposta de Araci,
dividindo com ela o amor de Ubirajara.
Araci, a estrela do dia, filha virgem do cacique do Tocantim, Itaquê,
conquistada por Ubirajara, que se vê obrigada a lutar, e vencer todos os
outros pretendentes. Araci aceita dividir o marido com outros, segundo a
tradição de seu povo.
Pajucã, cujo nome significa “eu mato gente”, é um guerreiro do Tocantim,
filho de Itaquê, irmão de Araci. Um guerreiro forte e invencível até
conhecer Ubirajara, de quem se tornou prisioneiro. Itaquê, pai de Araci e
Pojucã, antigo cacique do Tocantins.
Jacamim, mulher do Itaquê, mulher que não exige exclusividade no amor,
segundo a tradição de seu povo. Assim, como em outros povos, é ela quem
planta, assim como outras mulheres casadas, pois, segundo suas crenças, a
mulher transmite sua própria fertilidade à terra, possibilitando colheitas
melhores do que se as sementes fossem plantadas por homens ou virgens. .
Camacã, pai de Ubirajara.
Canicran, terrível cacique dos Tapuias, derrotado por ltaque, que quebra a
cabeça em dois pedaços como se fosse um coco. Pahã, cujo nome significa
“a flecha”, é o filho mais novo do cacique Tapuia, Canicran. Importante
para a história, pois é ele quem cega o velho cacique Itaquê com duas
flechas. É fácil perceber seu papel na estruturação da trama, deixando a
nação Tocantim sem líder para que Ubirajara assuma o posto e una as
nações Araguaia e Tocantim. (Fonte e crédito do texto: Juremeiro Neto)
Caboclo Urubatan
Caboclo Urubatan, morador das cidades encantadas dos rios verdes, é guia
de perdidos e selador de corpos. Ele não faz feitiços, nem feitiços,
mandingas ou Catimbó, só trabalha para doutrinar falanges e seguidores.
Em outras palavras, é uma entidade que atua no resgate cármico de seus
consulentes e na função direta de ajudar aqueles que se encontram perdidos
em seu interior ou por forças externas.
Lembrando que cada Caboclo tem sua personalidade e sua forma de
trabalhar, sua linha de trabalho é essa, mas nada o impede de fazer seu
“trabalho” para o aperfeiçoamento de seus filhos e consulentes.
Pajelança (xamanismo) e Toré (dança ritual com chocalhos) são rituais de
ancestralidade indígena! Esses dois rituais específicos compõem a prática
religiosa de nossos ancestrais indígenas! O ritual da Pajelança e o ritual do
Toré são uma das formas que fundamenta o culto Ancestral, o que foi
acrescentado posteriormente não retira sua Matriz, sua identidade Indígena.
É importante e necessário saber que a Pajelança e o Toré não eram a
Religião de nossos Antepassados, mas sim rituais que compunham sua
forma religiosa. Devemos sempre trazer um melhor entendimento desta
prática religiosa.
Boiadeiro - Cowboy
Ele é Zé Raimundo,
Zé Raimundo Camarada (bis)
Ele é Zé Raimundo morador da beira d'água (bis)
Não o chame de Raimundo
Ele não é seu “pariceiro” (bis)
Ele Caboclo do Codó
Ele é Malvado e Feiticeiro (bis) )
Zé Raimundo Boji Boá Sucena Trindade – o encantador de adultos,
conhecido como Zé Raimundo, é filho de Dom Manoel e da Rainha Rosa,
mas foi criado por Seu Légua Boji. É um grande conselheiro, encantados
extremamente equilibrados e que nunca cobra nada quando está em terra.
Usa calça arregaçada, chapéu de couro, palha (Panamá) e mesmo com as
baixas temperaturas do inverno paulista ele, assim como os irmãos, dança
sem camisa, apenas com toalhas estampadas jogadas no ombro. Apresenta-
se mais como mar do que terra. Desce na linha de cura mas não perde a
postura codoense. Dirige rituais e é considerada a melhor forma de
“arrumar a casa”. Gosta de música da terra. No Pará também é conhecido
como Rezingueiro e Zé Raimundo do Bogari, onde teria seu encantamento.
Outros dizem que era filho do Rei da Turquia que foi dado a Pedro Angasso
e criado por Légua, daí a grande amizade entre estas famílias e a permissão
dos nobres para entrar na família Codó, sendo ele filho do Rei de Turquia
nunca revelada nos fatos históricos narrados nos Terreiros e ficando apenas
nos alicerces de Boca para Ouvido, seu nome turco seria Djakilititan Ramos
de Alexandria, outros dizem que seu corpo estava preso na rede de pesca de
sua liga e quando foi tocado pelo Rei da Família Codó, acordou encantado e
foi adotado pelo mesmo. São várias histórias, uma coisa é certa. Quem tem
este encantado tem um grande guia espiritual, foi a maior curiosidade nem é
o meio de seu encantamento, mas uma de suas falas que vem como Mestre
Curador em mesa branca na Doutrina Espírita. Então, esse encantado, com
certeza, esconde muitos segredos.
Joana Gunça – É uma mulher encantada que surgiu em Caxias com mais
três irmãs, Ida Gunça, Cármen Gunça e Maria Gunça, todas consideradas
irmãs de Légua Boji. Possui postura Vodun que faz um bom trabalho na
linha de cura. Frequenta algumas casas de Umbanda como codoense e irmã
de Zé Raimundo.
Maria de Légua – também chamada de Maria Légua, madura encantada,
muito brincalhona e folião, mas com bom senso de direção de casa. Ela é
muito querida por seu pai Légua. Às vezes é confundida com a irmã, a
princesa Dona Maria José, também chamada de Florzinha.
Oscar de Légua – é um homem maduro do Codo, é sério sem ser
necessariamente antipático. Também chamado de Oscarzinho de Légua, é
filho da Rainha Dina e Légua Boji. Bebe vinho, mas também gosta de
cerveja. Ele é muito bonito e altivo, muitas vezes transformado em um
namorador charmoso e parecendo muito mais jovem, mas dentro da família
todos sabem que ele já tem uma certa idade.
Teresa de Légua – também conhecida como Dona Teresinha, está entre as
principais filhas de Seu Légua. Em geral, alterna momentos de muita
alegria com outros de grande senso de comando, impondo sua posição
dentro da família. É uma das maiores baiadoras do tambor – de – meu.
Muito equilibrada, nunca se confunde com a posição hierárquica da filha e,
ao lado de Chica Baiana e Antônio de Légua, está sempre com a encantada
Mariana.
Francisquinho da Cruz Vermelha – assim é conhecido o Francisquinho de
Légua. Maduro encantado, bastante machista, mas que não critica a opção
sexual dos filhos e não gosta de comentários sobre o assunto.
Zé de Légua – possivelmente o mais velho, ou um dos mais velhos da
família; muito confundido com seu pai José Légua Boji Buá. Ele é bastante
alegre e se chama Zezinho de Légua ou Zé de Légua. Tem poucos filhos e
figura entre os principais filhos homens da família.
Dorinha Légua – encanta-se jovem; às vezes chamada de Dorinha de
Légua, ela está entre as principais mulheres da família. Ela é muito alegre e
brincalhona; Ela é muito apegada ao pai.
Antônio de Légua – Também está entre os principais filhos de Seu Légua.
Mesmo assim, é brincalhão e folião, gosta de sair na bateria e é sempre o
encantado que faz visitas externas a outras Casas. Gosta mesmo é de ser o
chefe do Terreiro e comandar os rituais, sempre chegando na Frente, antes
mesmo de tocar o tambor.
Expedito de Légua – maduro; é um dos filhos principais e chefe da mina de
Axé de Mãe Solange de Abê (aqui em Belém do Pará), filha de Pai
Francelino. Brincalhão, gosta de beber e fumar, é muito paquerador de
mulheres. Apresenta-se sempre com um chapéu de couro e um cabresto de
corda de boi na mão. Diz-se que é um Caboclo “cuíra” (inquieto).
Lourenço de Légua – é um dos principais moradores do Codo, muito
próximo do pai. Em quase todos os lares desempenha um papel
fundamental na família. Sempre muito responsável e à frente dos rituais,
liderando e organizando. É extremamente alegre.
Aleixo Boji Buá – natural do Vale do Mearim, filial da Seu Légua; É novo e
meio chateado. Há crianças em algumas casas, mas ele desce muito pouco.
Zeferina de Légua – é pouco conhecida e também seria descendente de Seu
Légua no Vale do Itapecuru.
Pequenininho – é considerado o mais velho dos filhos de Seu Légua e é
muito importante na família. Dança muito na boca do tambor, gosta de usar
chapéu de palha e tem postura de homem bem maduro.
Manezinho Buá – também chamado de Manuel de Légua; está entre os
principais filhos de Seu Légua, tem grande poder de decisão, é
extremamente alegre e brincalhão. Ele adora conversar e cantar na bateria.
Zulmira de Légua – é uma filial da Seu Légua no Vale do Pindaré, que
surgiu em Manaus na Casa de Badé, sendo pouco conhecida, mas adora
turbantes e panos coloridos. Ela está encantada jovem.
Mearim – é natural do Codo que, apesar de não estar entre os principais,
comanda uma grande filial da Seu Légua na região do Vale do Mearim, de
onde tirou o nome. Ele pode cantar e dançar muito bem. É jovem e às vezes
quer ser um grupo independente. Ter sua própria família de cães de gado.
Folha Seca – é uma das principais; ele é encantado maduro; dizem ser filho
legítimo de Légua.
Maria Rosa – é uma das filhas pouco conhecidas de Seu Légua, tendo se
tornado popular no Pará. Muitas vezes é confundida com a Rainha Rosa,
senhora de Codó, de quem empresta as suas canções, fazendo algumas
adaptações. Ficou muito famosa na cabeça de Mãe Ester de Oiá (Belém).
Trabalhando na cura e aconselhamento, sempre muito obediente ao irmão
Antônio de Légua. Madura, toca tambor e é considerada muito bonita.
Caboclinho – ora vem para o Codó e ora para a família da Mata, sendo um
Caboclo “caminhante”, aquele encantado que vem em várias famílias. Ele é
jovem, alegre, gosta de dançar e beber.
João de Légua – um dos filhos pouco conhecidos de Seu Légua. Maduro,
alegre e algumas horas chamado Joãozinho de Légua. Ele tem poucos
filhos.
Joaquinzinho de Légua – também conhecido como Joaquim de Légua e faz
parte do grupo principal da família; algumas horas se confunde com
Joaquinzinho da Gama. Ele não tem muitos filhos.
Pedrinho de Légua – um dos principais filhos de Seu Légua; jovem, alegre
e, embora se chame Pedro, nunca admite ser chamado assim. Tem grande
importância na família por saber doutrinar velhas cantigas.
Dona Maria José – também conhecida como Dona Florzinha e ali se
apresenta como uma princesa, aliás, uma das raras de Codó e que mesmo
quando sua família se mudou para Codó se adaptando ao povo da terra e
perdendo sua condição de vodun , ela permaneceu princesa e diz "vodunsa".
Ela está entre as mulheres mais importantes de sua família, e alguns
garimpeiros a confundem com sua irmã Maria de Légua.
Coli Maneiro – é um dos principais filhos da Légua, sendo menino. Ainda
bem conhecido e tendo muitos filhos, ele é extremamente extrovertido.
Martinho – também está no grupo dos filhos principais de Seu Légua, mas,
ao contrário dos irmãos, tem poucos filhos. Já é adulto e seguindo a tradição
da família, gosta de fumar e beber.
Miguelzinho Buá – às vezes chamado de Miguelzinho de Légua; ele está
entre os quinze homens mais importantes da família. Ele ainda é bem
conhecido e tem muitos filhos. O seu verdadeiro nome é Miguel Boji Buá
(...). Tem o mesmo costume de seus irmãos.
Ademar – fecha o grupo dos filhos principais, mas é bastante desconhecido
entre os mineiros, exceto entre aqueles que mantêm em suas casas um culto
mais regular à família Codó. É maduro.
Zé Pretinho: Camaroeiro, muito respeitoso, sempre sério, comanda seções,
gosta de beber cachaça Pura, é sócio da Légua, é o pecuarista chefe da
nossa casa ACALUZ. Trabalha com aqueles que procuram melhorar sua
saúde e bem-estar. Ele sempre tem seu chapéu, seu rosário marrom, branco
e amarelo. Fuma cigarros normais. Mas ele gosta de beber da cabaça.
Além desses, também aparecem na família de Seu Légua: Seu Aderaldo de
Légua, mais conhecido como Aderaldo Boji Buá, além de Benedito de
Légua, Joventino de Légua, Marcelino de Légua e Nezinho de Légua.
Ainda existe um encantado chamado Antônio Luís, também chamado Corre
Beirada, que é filho de Dom Luís mas foi criado por Seu Légua, José
Pretinho que é Mestre do Catimbó, mas se confunde com Malandros da
Praça Mauá, além de muitos outros.
Como vimos, esta família é Comandada por Dom Pedro Angasso, suas
cores litúrgicas são: Marrom - Representando a Família do Vodun Jeje.
Vermelho - Representando Toy Badé, Amarelo - Representando Santa
Bárbara, Rainha do Codó. Branco - Representando a origem mística de
Lissá-Mawú. Cabe a cada casa montar suas guias e Terços, pois depende
muito da entidade, mesmo que eu diga que as balizas e assinaturas são
sempre marrons e amarelas, você dirá que na sua casa é branco. Aqui na
ACALUZ a codoense usa Marrom, Amarelo, Preto e Branco. Mas as cores
básicas são as descritas inicialmente. Bebem TIQUIRA, Cachaça, Vinhos e
outras bebidas destiladas, além de bebidas litúrgicas como AFURÁ,
VEVÉU e ALUÁ. Eles fumam charutos, cigarros e os mais velhos da
família fumam cachimbo. Usam lenços estampados, ora atados à cabeça por
baixo do chapéu, ora passados sobre os ombros e ora em volta do braço, uso
que confirma a sua origem mourisca.
O ABOBÓ é utilizado em seus rituais de fundação (Comida preparada com
feijão fradinho e azeite de dendê, em alguns lugares, como aqui no Pará, é
feito com Abóbora ou Moranga, Milho de Frango Cozido, Coco em
pedaços, guarnecido com tabaco picado , regado com azeite de dendê,
cachaça e mel), que são consumidos por crianças e entidades. Os animais de
sacrifício nos povoados são Galos ou Galinhas Mouriscas, Pombos-pedra, o
Chibarro (cabra). Adoram Santa Bárbara, como sua maior santa de devoção,
com o nome de Maria Bárbara Soeira com quem abrem ou encerram seus
rituais...
Légua tem seu nome ligado às lembranças do tempo do cativeiro como
protetor dos escravos e defensor deles nas lutas espirituais ou materiais com
os senhores. Os pretos viviam de roubar gado para comer e quando o dono
dava pela falta do boi, começava logo a espancá-los na senzala. Um dia um
negro estava sendo castigado, invocou a proteção de Légua e fez o Senhor
ver o boi no Curral e parar de puni-lo. Este episódio explica porque várias
doutrinas da Liga falam de bois.
Voduns Agregados, Boços e Cambinda: Dom Pedro Estrela, Corre Beirada,
Dom João de Aroeira, Boço Memeia, Boço Vandereji, João Soeira -
Cambinda Vodum, de origem austríaca, chefe da família Bastos, Rei de
Minas, equivalente a Xangô Dadá. E com ele sua família: Boço Fama, Boço
Jara, Dom José da Graça Lira, Onofre Caçador da Mata, Barão de
Anapueira, Rosa de Maceodá, Zé de Amar a Deus, Carrinho Doeira, Estrela
Ferreira do Céu... Um dos cuidadores aqui do grupo para zelar por esses
estudos... eu confio em vocês...
Seu Légua passou de seu ingresso na família de Codó, levando a benção de
Dom Pedro Angasso em respeito à recepção e como sinal de respeito,
passando assim a ser considerado filho e passou a ser reconhecido como tal.
E em agradecimento Pedro Angasso Seu Légua passou a ser o Chefe da
Linhagem dos Caboclos da Mata do Codó, sendo o principal representante.
E por ter vindo de Trinidad Légua Boji passou a se chamar Légua bojiboa
da Trindade. Seu maior segredo é que ele é COJUBA/ROTO (Tem os
testículos desenvolvidos de forma monstruosa, uma Hérnia) E por isso, não
tem filhos de sangue, apenas Criação e Respeito.
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