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O CATIMBÓ SAGRADO

- JUREMA SAGRADA -

A Tradição Indígena da
Jurema Sagrada

Xamanismo Brasileiro

Tilo Plöger
Babalorixá & Babalawo de Àjàgùnnà

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“Que as boas fumaças corram o mundo
Pelo bem da vida de todos.”

“A gente bebe a raiz da Jurema


pra chegar em outro mundo
e pra esse outro mundo
também chegar na gente”

“Vai fumar pra onde eu mandar,


fuma cachimbo quem sabe fumar”

“Só fuma cachimbo quem sabe fumar,


Só manda fumaça quem sabe mandar.”

“O mesmo vento que leva a fumaca,


É o mesmo que traz ela para ti.”

“Os Juremeiros são médicos de almas


e Jurema é o hospital do Nordeste”

“Meu pé de Jurema secou


Suas folhas caíram no chão
Veio o orvalho e molhou
Depois veio o sol e secou
E a Jurema se abriu toda em flor”

“Só pega no Cachimbo, quem sabe pegar


Só manda fumaça, quem sabe mandar”.

“Eu andando no mundo, e você não me pega,


Cada fumaça, eu dou uma queda”.
CONTEÚDO
CONTEÚDO
INTRODUÇÃO
O CATIMBÓ
O termo
Catimbó e Jurema Sagrada
A história
A Umbanda Catimbó-Jurema do Litoral Nordeste do Brasil
A origem dos Catimbós em Alhandra
Kingdom of Acaes – Reino dos Acaes
Jurema em um contexto psiconáutico
JUREMA – DEFINIÇÕES E DESCRIÇÕES
O termo
A planta
Aspectos botânicos
Descrição morfológica
Os vários nomes de Jurema
Distribuição geográfica
Propriedades terapêuticas
JUREMA INDÍGENA E URBANA
Indígena Jurema
Jurema do ATIKUM
Jurema de KAPINAWÁ
Jurema de Kariri-Xocó
Jurema em Karapotó
Jurema em Alhandra (Catimbó)
TEOLOGIA E COSMOGENIA
A teologia
Definições e delimitações
Catimbó não é macumba nem candomblé
Pajelança e Toré
Toré
O cosmos espiritual do Catimbó
OS MITOS DA JUREMA
Mito de origem da Jurema entre os Kariri-Shoko do Brasil
Jurema como o sangue de Cristo
A lenda da Cabocla Jurema
O Mito De Deus E O Demônio Indígena
OS SÍMBOLOS
Introdução
Cachimbo Sagrado
Maraca
Princes and Princesses – Príncipes e Princesas
Incorporação dos encantados
bebida sagrada da Jurema
Transe e possessão
REINO, REINO, DIVINDADE, GUIA ESPIRITUAL
A Estrutura de Juremá (mundo espiritual)
Os 12 Reinos da Jurema
Os guias espirituais
Caboclos da Jurema
Pretos Velhos e Pretas Velhas
Os mestres
Outras entidades (guias)
Malunginho
Zé Pilintra
MESTRA SE MESTRES DO CATIMBÓ - LISTA DE ANTIGOS
MESTRES
Mestres Ascensos mencionados em Meleagro
Nanãgiê, Nanãgiá, Nanãbicô, Nanamburucu.
Rei Heron (Rei Heron)
Pai Joaquim (Padre Joaquim)
Mestre Ritango do Pará
Mestre Carlos, King Of Masters (Rei Dos Mestres)
Mestre Manicoré
Mestre Manuel Cadete, Rei De Vajucá.
Mestre Itapuã ou Itapurã
Mestre Tupá
Mestre Xaramundi
Mestre Roldão De Oliveira
Mestre Bom Florar, Bom-Florá
Mestre Inácio de Oliveira
Mestre Mussurana
Príncipe Da Jurema
Mestra Anabar
Mestra Iracema
Mestre Pequeno
Mestre João Pinavaruçu
Mestra Angélica
Como meninas Da Saia Verde (as meninas da saia verde)
Mestre Tabatinga
Mestre José Pereira
Mestre Antônio Tirano
Mestre Canguruçu
Malunguinho
Mestre Pinarona
Mestra Faustina
Mestre Luís Dos Montes
Mestre Filipe Camarão
Mestre Turuatá
A ORGANIZAÇÃO
Mestre de Mesa (Master of Altar)
Sobre A Semente
Noções básicas de organização
OS RITUAIS
A "Mesa" (O Altar)
Construção da mesa
Abertura da Mesa (Abertura de Mesa)
Iniciação
As Sete Ciências de um Mestre da Jurema
Juremação e Tombo (Tombamento) de Jurema
ERVAS E MEDICINA TRADICIONAL
Introdução
Remédios tradicionais
Fumigações & Defumações – Fumigations & Smokes
Unguentos - Pomadas e outros procedimentos
O Rapé
A Garrafada
Theriaca Brasilica – Theriaca brasileira
A implantação da Garrafada no contexto dos Catimbós
Ervas listadas em Meleagro
A MAGIA E OS FEITIÇOS
Fechamento de corpo - Encerramento/Proteção do Corpo
Mau-Olhado. Quebranto. Amuletos. Mau-olhado. Amuletos.
ALGUNS CONCEITOS ESPECÍFICOS
Envultamento
A Cruz Magica
"Orações Fortes". "Orações Fortes".
Várias Obras (De: Ribeiro)
Para Atrair a Felicidade de Alguém
Para Suavizar Inimigos
Para se inscrever para a vida
Para manter uma pessoa indesejada longe de sua vida
Para Descarga (Descarrego), Proteção e Contra Doenças
Para afastar o espírito que está se apoiando
Para Aumentar Seu Dinheiro
Para uma pessoa parar de beber
Para curar uma criança de qualquer tipo de doença
BANHOS
Banhos de Firmeza – Banhos Refirmantes
Banhos de Descarrego – Banhos de Descarga (Limpeza)
ORAÇÕES TRADICIONAIS
Oração da Cabra Preta - Oração da Cabra Preta
Oração do Sonho de Santa Helena - Santa Helena's Dream Prayer
Oração da Pedra Cristalina - Oração à Pedra Cristalina
Oração do Rio Jordão - Oração do Rio Jordão
Força do Credo - Força do Credo
Oração das Estrelas - Oração das Estrelas
Oração do Meio-Dia
O Credo às avessas - The Creed in reverse
Oração das Almas - Oração das Almas
Oração dos Sete Caboclos - Oração dos Sete Caboclos
Oração ao Sol - Oração ao Sol
São João Batista
Santo Amanso
Oração de Santa Pelonha para curar dor de dente
Poderosa Oração de Nossa Senhora Aparecida - Poderosa Oração de
Nossa Senhora Aparecida
Para as 18 Horas de Cada Dia - Para as 18 horas de cada dia
Contra Qualquer Espécie de Doença
Contra a Cólera - Contra a cólera
Contra Hemorragias - Contra Hemorragias
Contra os Maus Espíritos - Against Evil Spirits
Para ter bons resultados nos negócios – Ter bons resultados nos negócios
Contra Espíritos Obsessores e inimigos Invisíveis - Against Obsessing
Spirits and Invisible Enemies
Para Anular Dificuldades e Embaraços nos Negócios - Para Eliminar
Dificuldades e Embaraços nos Negócios
Ao Anjo-da-Guarda - Ao Anjo da Guarda
Oração sonho de São Pedro - Oração sonho de São Pedro
Oração para abrir os caminhos urgentemente
Oração Das Sete Forças Do Credo - Oração das sete forças do credo
Oração À Santa Rita - Oração a Santa Rita
CANTOS, PONTOS, LÍRIOS, LINHAS – CANTOS RITUAIS
TRADICIONAIS
“Linhas” segundo Ribeiro
“Linhas” segundo Cascudo em Meleagro
A estrutura das canções durante os rituais
Abertura - abertura
Encerramento - Encerramento
Licença - Licença
Firmeza – Firmeza (para concentração de energias vibracionais)
Louvações - Praise
MESTRES, MESTRAS E OUTROS REPRESENTANTES DO CATIMBÓ
Chamada de Mestres e Mestras - Masters Calling
Malunguinho
Mestre Junqueiro
Mestre Zé Pelintra - O Rei de Alhandra
Mestre Antônio Olímpio
Mestre Benedito Meia-Légua
Mestre Bernardino
Mestre Carlos
Mestre Durval
Mestre Gavião Preto
Mestre Jos Galo Preto
Mestre Luis Dos Montes
Mestre Luís e Mestre Jacinto
Mestre Manoel Maior - “Mané Maior”
Mestre Nego Gerson
Mestre Oliveira Roldão
Mestre Pai Joaquim
Mestre Pau Pereira - Mestre Antônio Pereira
Mestre Manoel Quebra-Pedra
Mestre José Quebra-Pedra
Mestre Sibamba
Mestre Tertuliano
Mestre Xaramundi
Mestre Zé Bebinho – Seu Zé Bibinho
Mestre Zé Da Virada
Mestre José Pretinho – Seu Zé Pretinho
Mestre Zezinho Do Acais
Maria Do Açaí (ou Acais, Acaes)
Mestra Amélia
Mestra Anani ou Nani
Mestra Aninha Do Angelò
Mestra Celina
Mestra Georgina
Mestra Geraldina
Mestra Iracema
Mestra Joana Pé de Chita
Mestra Dona Zefa 6 Dedos - Josefa dos 6 Dedos
Mestra Júlia Galega
Mestra Juvina
Mestra Laurinda
Mestra Laurentina
Mestra Luziara
Mestra Maria Do Bassulê
Mestra Maria Do Bagaço
Mestra Maria Bagaçeira
Mestra Maria do Balaio
Mestra esquerdeira Maria Doida (Crazy Mary)
Mestra Maria Luziara ou Luziaria
Mestra Mariana
Mestra Nêga Luanda
Mestra Paulina
Mestra Rita Do Bagaço
Rita Ribonesa
Mestra Ritinha
Rosinha Do Amor
Mestra Severina
Caboclos – Canções para toda linha de trabalho
Caboclo Manuel Juremeiro
Caboclo Pena Branca
Caboclo Rompe Mato
Caboclo Sete Flechas
Cabocla Tapuia
Caboclo Ubirajara
Caboclo Urubatan
Boiadeiro - Cowboy
Mestra Rosinha Boiadeira
Família De Légua Boji
BIBLIOGRAFIA
INTRODUÇÃO
Este livro sobre o Catimbó brasileiro é provavelmente a primeira obra em
inglês que dá uma ideia dessa misteriosa tradição brasileira. O Catimbó é
uma verdadeira tradição brasileira, com raízes no xamanismo nordestino.
Também é chamada de Jurema Sagrada, a Jurema Sagrada, porque o culto
se baseia essencialmente nas espécies de árvores da Jurema que ali vivem.
A Ayahuasca da Amazônia é a Jurema do Nordeste do Brasil. No Catimbó é
a base da bebida mágica, da idiossincrática (de cabeça para baixo) fumar
cachimbo, das cerimônias de iniciação, etc.
A Jurema Sagrada, a chamada Jurema Sagrada, é uma tradição espiritual.
Baseia-se no xamanismo indígena e, ao longo dos séculos, misturou-se ao
espiritismo europeu, ao catolicismo jesuíta e a várias tradições africanas.
O Catimbó é talvez o melhor e mais claro exemplo dos processos de
convergência afro-europeia-indígena. As "três águas" ("três águas" - fala-se
frequentemente das "três raças" no Brasil) desaguam em um rio comum,
reconhecíveis em seus respectivos elementos e, no entanto,
indissociavelmente conectados.
Não existe um modelo uniforme, nenhum padrão uniforme para descrever e
vivenciar claramente o Catimbó. São famílias inteiras, linhas que
preenchem a tradição, todas com elementos comuns que as unem mas com
características próprias que as tornam únicas. As famílias mais antigas são
os grupos indígenas que, apesar do violento processo de colonização desde
o século XVI, preservaram e desenvolveram seus rituais. A tradição é muito
dinâmica no seu desenvolvimento, muito regional e muito familiar (line-
related) nas suas características. E, infelizmente, só foi descrito pela
primeira vez em meados do século passado. Somente nos últimos anos uma
ciência esclarecida (em oposição aos relatos então tendenciosos de
autoridades cristãs) tentou compreender e descrever essa tradição. – A
tradição da Jurema certamente existe muito antes do descobrimento do
Brasil, pois a Jurema, assim como a Ayahuasca, faz parte das tradições
indígenas desde tempos imemoriais. Durante o trabalho missionário jesuíta
e a expulsão e escravização dos povos indígenas, os ritos de cada tribo
fundiram-se uns com os outros. Assim como a tradição afro-brasileira do
candomblé, surgiram formas sincréticas de cultos xamânicos. Muito foi
esquecido ao longo dos séculos, quase nada foi escrito. O acervo de
tradições xamânico-espirituais que outrora se resumia no Catimbó foi
perseguido e suprimido até meados do século passado. Somente com a
liberação oficial da Umbanda, outra tradição espírita brasileira, o Catimbó
também poderia se livrar das garras do judiciário - adotando em parte os
ritos e termos da Umbanda.
Houve fusões entre rituais e crenças indígenas e católicas desde o século
XVI. As famílias do “Sertão” praticavam seus cultos montando mesas com
santos, crucifixos e velas, possivelmente sob árvores caducifólias
pertencentes às terras da Caatinga e sobre grandes pedras outrora
consideradas sagradas. Entre os séculos XVI e XVII surgiram as primeiras
expressões do que pode ser considerado Proto-Catimbó: as "Santidades" -
manifestações de espiritualidade híbridas católico-indígenas. Os Catimbós
do Sertão, por outro lado, caracterizam-se por uma forte presença de
elementos católicos. Esses Catimbós misturavam a antiga pajelança
(tradições xamânicas) com o catolicismo popular, um pouco de espiritismo
europeu e alguns elementos da cabala judaica e da quimbanda africana.
Especialmente na região do Rio Grande do Norte - devido à falta de um
porto para a chegada de escravos africanos durante o período colonial e à
consequente baixa presença de negros (em comparação com Recife e
Bahia) - esses Catimbós mais antigos são caracterizados por
comparativamente pouco sincretismo com as tradições africanas.
Em outras regiões do Nordeste, onde a presença africana foi muito
relevante durante o período colonial, vemos o surgimento dos chamados
"Juremeiros", famílias nas quais elementos africanos se destacam em suas
práticas, cultos, imaginários, cosmologias e teologias. O conhecimento
indígena foi complementado pela "ciência" de origem africana trazida pelos
negros escravizados. Africanos de diferentes nações se identificam com o
Catimbó por ser uma religião animista que cultua e se comunica com a
natureza, assim como os Orixás e Voduns africanos estão ligados à
natureza. Além disso, os escravos precisavam do conhecimento das ervas
indígenas para suas próprias tradições.
Após a chegada dos africanos ao Brasil, fugindo das plantações onde eram
escravizados, encontraram refúgio nas aldeias indígenas e através deste
contato os africanos passaram a compartilhar com os índios seu
conhecimento religioso comum. É por isso que os grandes Mestres da
Jurema conhecidos são muitas vezes mestiços com sangue indígena e negro
até hoje. Os africanos contribuíram com seus conhecimentos sobre o culto à
morte de Egum e as divindades da natureza, os Orixás, Voduns e Inquices.
Os indígenas contribuíram com o conhecimento das invocações dos
espíritos dos antigos xamãs e com os trabalhos realizados nas matas e rios
com os encantados (Encantados). Portanto, a Jurema é composta por duas
linhas principais de trabalho: os Mestres da Jurema e os Encantados.
O culto da Jurema é para a Paraíba e Pernambuco o que o Irocô é para a
Bahia. Essa árvore típica do Nordeste era cultuada pelos índios Potiguares e
Tabajaras da Paraíba muitos séculos antes da chegada dos europeus ao
Brasil. Existe uma comunidade em Pernambuco que se chama Jurema
devido ao grande número dessas árvores que ali se encontram. A Jurema
(Mimosa hostilis), depois de crescida, é uma árvore frondosa que pode
viver mais de 200 anos. Todas as partes desta árvore são utilizadas: raiz,
casca, folhas e sementes utilizadas em banhos de limpeza, infusões,
pomadas, bebidas e para outros fins rituais. Os devotos iniciados nos rituais
do culto são chamados de "Juremeiros". Na cidade de Alhandra, município
a poucos quilômetros de João Pessoa, esse culto ficou famoso na forma do
Catimbó. A Jurema é cultuada desde a antiguidade por pelo menos dois
grandes grupos indígenas, os Tupi e os Cariri, também conhecidos como
Tapuias. Os Tupi foram divididos em Tabajaras e Potiguares, inimigos entre
si. Na época da fundação da Paraíba, os Tabajaras formavam um grupo de
cerca de cinco mil índios. Ocuparam o litoral e fundaram as aldeias de
Alhandra e Taquara. Esses locais são hoje considerados o centro e ponto de
partida do Catimbó em sua forma atual.
Por fim, é importante ressaltar que, ao contrário do que muitos acreditam, o
Catimbó não é um adendo ou apêndice da Umbanda, do Candomblé, do
Santo Daime (Ayahuasca) ou de qualquer outra tradição espírita, mágica ou
religiosa. Embora possa existir em paralelo e em estreita comunhão com
outros cultos e religiões, o Catimbó é uma tradição independente que possui
dogmas, preceitos, princípios e liturgias próprias.
Este livro não reivindica integridade ou correção. Também não é um guia
para implementação. O Catimbó só pode ser selecionado de forma limitada,
é um culto à experiência. Cada região, cada "família" é caracterizada por
características específicas, unidas pelos ritos e insígnias da Jurema, bem
como pelo culto e incorporação dos chamados "Mestres", os Mestres da
Jurema. Esta elaboração é essencialmente uma coleção e classificação, bem
como reprodução de escritos mais antigos sobre o Catimbó. Exceto por
disputas científicas, tenho me afastado de quase todas as fontes mais novas,
porque todas elas estão obviamente fortemente misturadas com formas
modernas, esotéricas, espíritas, especialmente a Umbanda. Do meu ponto
de vista pessoal, o Catimbó é uma coisa acima de tudo - xamanismo. E em
segundo lugar é espírita, no sentido de utilizar formas rituais de transe e
incorporação (que, entretanto, também existiam entre as tribos indígenas,
portanto não são uma "invenção" da cultura européia).
Historicamente, os Mestres da Jurema eram curandeiros espirituais e
naturopatas. O conhecimento da naturopatia foi muitas vezes retomado
pelos jesuítas, integrado nas tradições africanas, mas também muitas vezes
esquecido. Devido à problemática situação legal na Europa e aos riscos da
automedicação, vou me abster de descrever a naturopatia tradicional neste
livro e me concentrar na descrição dos ritos espirituais. Ao descrever ervas
e receitas individuais, oriento-me nos escritos mais antigos dos jesuítas e
nas notas de meados do século passado. Se você deseja implementar o
Catimbó na Europa, certamente pode usar o herbalismo europeu e trabalhar
em analogias. Até mesmo a Jurema Sagrada, uma forma de acácia, oferece
analogias européias - mesmo no sentido espiritual, está profundamente
enraizada no cristianismo. Uma coincidência "acidental". Com a música e
os objetos rituais, faz sentido e é preciso assumir as canções brasileiras. Os
tubos também possuem uma energia muito especial em sua forma original e
dificilmente podem ser substituídos por tubos ocidentais.
As canções e orações não podem ser traduzidas em seu significado
multidimensional completo - a interpretação geralmente seria um pouco
mais complexa e está além do escopo deste livro. As traduções oferecidas
são apenas um quadro “rápido e sujo” para seguir e entender o básico.
Nas tradições brasileiras fala-se do "Segredo do Sagrado", o “Segredo do
Sagrado”. Existem detalhes rituais importantes que não devem ser
reproduzidos publicamente. Tampouco é de acordo com a natureza das
tradições espirituais e seus ritos que os rituais, as receitas se conformem a
um padrão. O livro é mais uma estrutura para compreensão abrangente e
para o trabalho individual. Recomendo a qualquer pessoa interessada em
aprender e vivenciar a tradição através de um grupo experiente com seus
respectivos Mestres. Nenhum livro substitui a experiência e a continuação
de uma “obra e linhagem ancestral”. Especialmente porque o mundo
espiritual não pode ser ordenado e não pode ser reduzido a receitas de
panificação. Sem transe, sem incorporação, sem incorporação ritual, sem
dinâmica de grupo, todos os ritos e receitas são sem sentido e ineficazes.

Salve os Mestres e as Mestras Juremeiros.

Tilo Plöger
Babalorixá & Babalawo de Àjàgùnnà

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O CATIMBÓ

O termo
A origem do termo Catimbó é controversa, embora a maioria dos
pesquisadores afirme que vem da antiga língua Tupi, onde caa significa
floresta e timbó se refere a um tipo de torpor semelhante à morte. Dessa
forma, o Catimbó seria a mata que leva ao torpor, em clara alusão ao estado
de transe causado pela ingestão do vinho da Jurema em suas variedades de
ervas. No entanto, outras teorias relacionam a palavra à expressão gato,
fogo, e imbó, árvore, na mesma língua em conjunto. Assim, a palavra
significaria um "fogo na árvore queimando" ou "árvore produzindo uma
sensação de queimação temporária" que o consumo de Jurema normalmente
causa. Em vários estados do Nordeste do Brasil, onde os rituais do Catimbó
são associados apenas à prática da magia negra, a palavra assume um
significado pejorativo e pode abranger qualquer atividade mágica realizada
com a intenção de prejudicar outras pessoas. Na verdade, porém, o culto à
Jurema Sagrada é pura caridade e visa sempre prestar gratuitamente auxílio,
conselho e cura às pessoas que o solicitam.
Mais algumas citações como interpretações e explicações do termo Catimbó
(parcialmente coloridas por preferências religiosas, observe a data da
respectiva publicação):
Rodolfo Garcia: " Catimbau - prática de feitiçaria ou espiritismo
grosseiro. Etimologia: Lenz, Dicionário Etimológico, 183, dá como
provável a origem do quíchua, de katimpuy: "seguir aquele que
deveria ter ficado para trás"; mas não é impossível que a origem é
africana, de fato, Zorobabel Rodrigues, Dicionário de chilenismos,
311 atribui esta última origem ao termo Área geográfica: O termo
parece ser comum no Chile e no Brasil, o significado aqui
mencionado e o que não está nos dicionários é exclusivo para
Pernambuco, onde o Catimbó também é mais utilizado."
(Dicionário de Brasileirismos, Peculiaridades pernambucanas.
Revista do Instituto Hist. Bros., 76, 732)
Morais, edição de 1831: " Catimbau — Homem ridículo. No
Brasil, cachimbo velho. Domingos Vieira, edição de 1873: "
Catimbau — termo brasileiro. Tubo pequeno. termo preguiçoso.
Homem ridículo." Rafael Bluteau escreve à maneira de
Constâncio. Os modernos copiaram os antigos. Pereira da Costa
explica mais claramente no vocabulário pernambucano: "
Catimbau ou Catimbó - Mandinga, feitiçaria, feitiço, casa de bruxa,
sessão ou prática de feitiçaria ... "
Alfredo de Carvalhos: Corrupção de caatin-imbai , mato ou folha
branca, catinga ruim, que pode muito bem significar também fumo,
nicotina tabacum, de Lineu. Catimbao, por definição que
encontramos, é um cachimbo, um cachimbo comprido e
enfumaçado, e como escreve Morais, um cachimbo pequeno e
antigo, usado daí, em sessões de feitiçaria, Catimbós ou catimbaus.
Assim, temos a etimologia da palavra de acordo com as opiniões
expressas. Mas há dúvidas: Catimbao era termo corrente em
Portugal e já no início do século 18, sem dúvida de data anterior:
"Manda o Mestre Catimbáo ir embora e dar-lhe o pau." Parece que
o termo deriva de cantibai , o termo para um pedaço de madeira
usado por carpinteiros e marceneiros franceses.
João Juvenal da Costa Lima, o Mestre Zinho, uma das autoridades
na tradição, disse que o Catimbó no seu verdadeiro significado
“sabia de quem sabe”, “dos Mestres”, “dos Anciãos”, era apenas
'cachimbo ' (cachimbo), porque sem cachimbo não tinha Catimbó.
Tudo foi cerimonialmente reduzido às invocações dos "Mestres da
Outra Vida" através da fumaça sagrada. E as "obras" do Catimbó,
que correspondem aos "despachos" nas macumbas, são chamadas
de "fumaças".
Nas línguas Tupi-Guarani, Catimbó significa "fumaça de mato" e
"vapor de erva", respectivamente "fumaça de mata" e "vapor de
capim". Atualmente, o termo "Catimbó" é um dos termos que
identifica um conjunto específico de atividades culturais e mágico-
religiosas, além de aspectos míticos, cosmológicos e teológicos,
originários dos povos indígenas da região nordeste do Brasil -
elementos que compõem o que alguns pesquisadores pensam ser
uma das mais antigas religiões brasileiras, também chamada de
"Catimbó-Jurema", "Jurema", "Sagrada Jurema" e "Culto aos
Senhores Mestres".

Catimbó e Jurema Sagrada


Jurema também é chamada de Catimbó, que é uma nomenclatura mais
antiga que pode significar cachimbo, arbusto venenoso ou magia. O
cachimbo é um objeto de grande importância para os Encantados do
Catimbó-Juremas, sejam Mestres ou Caboclos, estes últimos a expressão
dos encantados dos índios nordestinos (antepassados no reino espiritual) .
A prática do Catimbó também é conhecida popularmente como Jurema.
Isso porque a Jurema é o centro energético, o elemento essencial e
catalisador da tradição. De fato, a Jurema é de suma importância no
Catimbó. Dentro desta árvore estão as cidades encantadas onde "vivem" a
Maioria Ascensionada do Catimbó.
Os dois tipos de Jurema (preta e branca - Jurema preta e Jurema branca)
correspondem aos poderes da magia branca ou magia negra, dependendo da
cor das sementes que produzem. Para esclarecer: Jurema Branca produz
sementes brancas, portanto associadas aos poderes da magia branca, Jurema
Preta produz sementes negras, que por sua vez estão associadas aos poderes
da magia negra. Pelo qual a magia negra não é ocupada negativamente, mas
sim um símbolo do poder de dissolução, os campos mais densos da magia.
Essas sementes, assim como as cascas, folhas, raízes, seus poderes mágicos
e sua simbologia complexa são de fundamental importância no processo de
iniciação do Catimbó e em suas práticas rituais posteriores.

A história
Embora existam diferentes pontos de vista sobre as tradições da Jurema, em
quase todas as pesquisas sobre o assunto, os estudiosos concordam que a
Jurema engloba um universo mítico-ritual de origem indígena que existe no
Nordeste do Brasil desde os tempos coloniais. Na década de 1930, surgiram
os primeiros escritos sobre o uso ritual da Jurema. Mário de Andrade (1893-
1945) e os "estudiosos" da missão cristã "Missão de Pesquisas Folclóricas",
dedicada ao inventário das manifestações culturais brasileiras, catalogam
canções gravadas, transcritas e comentadas pelo escritor modernista, por
exemplo em Música de Feitiçaria (“Música das Bruxas”) no Brasil (1933).
Ali o autor faz uma análise melódica dos cantos do "Catimbó" - nome então
usado para designar o uso da Jurema em rituais nas cidades de Natal e
Recife - apontando a função hipnótica da musicalidade e destacando a
presença de alguns símbolos em cerimônias como "os Mestres" e a "Árvore
da Jurema". Na mesma época, o médico e folclorista Gonçalves Fernandes
(1909-1986) utilizou os termos "mistura religiosa" e "sincretismo" em suas
obras Xangôs do Nordeste: investigações sobre os cultos fetichistas negros
do Recife, 1937 e O folclore mágico do Nordeste , 1938” para falar sobre a
prática do Catimbó no contexto recifense e fazer contrastes entre os ritos do
Catimbozeiro e o universo de Xangô. Segundo alguns intelectuais, Xangô
como forma especial de expressão do Candomblé era o legítimo culto de
origem africana. Em 1945, em Imagens em preto e branco do Nordeste
Místico, o aclamado sociólogo francês Roger Bastide (1898-1974) descreve
um ritual de Catimbó que confirma a origem indígena da Jurema e contrasta
essa prática com o Candomblé na Bahia. Em seguida, Câmara Cascudo
(1898-1986 ), publicando alguns de seus escritos sobre folclore como
Meleagro (1978) e o Dicionário do Folclore Brasileiro (1969), repetiu as
ideias de Mário de Andrade ao propor e divulgar uma antologia de
manifestações culturais tema que ocupou, e ainda ocupa, lugar de destaque
no pensamento social e nas ciências sociais brasileiras: o mito das três
raças. Nesse sentido, ele vê o Catimbó como resultado da confluência da
feitiçaria ibérica, da naturopatia indígena da Jurema e da musicalidade
rítmica dos bantu macumbas da África.
Até a década de 1990, os pesquisadores pouco se debruçaram sobre as
tradições (religiões) da Jurema. Na primeira metade do século XX, alguns
autores descreveram a Jurema no contexto de "magia", "feitiçaria" e "baixo
espiritismo" e as análises geralmente se limitam a breves descrições dos
rituais. Algumas exceções merecem destaque, como o trabalho de René
Vandezande (1930-2017) que estuda o uso da Jurema (bebida) nos Terreiros
de Umbanda da Paraíba (in: “Catimbó: pesquisa exploratória sobre uma
forma nordestina de religião mediúnica, 1975). Nos anos 2000, surgiram
novas pesquisas sobre o assunto; alguns enfatizam o horizonte histórico,
como Guilherme Medeiros em “O uso ritual da Jurema entre os indígenas
do Brasil colonial e as dinâmicas das fronteiras territoriais do nordeste no
século XVIII, 2006”. Comprova o uso da Jurema desde pelo menos o
XVIII. Outras pesquisas - como "Toré e Jurema: emblemas indígenas no
nordeste do Brasil, 2008" de Rodrigo de Azeredo Grünewald sobre o uso da
Jurema pelos índios Atikum - voltam-se para as identidades étnicas
construídas pelos grupos indígenas do Nordeste, que, com o objetivo de
reivindicar o reconhecimento da autonomia perante o Estado brasileiro e a
conquista de direitos, utilizam a Jurema como símbolo de sua condição de
"povos tradicionais".
A partir da década de 2010, a literatura científica sobre o uso da Jurema se
expande e narrativas completamente novas surgem. Em 2017, o Juremeiro e
fundador da ONG Quilombo Cultural Malunguinho em Pernambuco,
Alexandre L'Omi L'Odo, defendeu a dissertação de mestrado "Juremologia:
uma busca etnográfica para sistematização de princípios da cosmovisão da
Jurema sagrada", na qual elaborou um relata a tradição da Jurema sob a
perspectiva de seus praticantes e elucida a figura proeminente do
Malunguinho, que é ao mesmo tempo o nome do líder dos Quilombos do
Catucá (a "cidade" ilegal dos escravos fugitivos) - construídos e destruídos
no primeiro metade do século 19 - além de uma Divindade do panteão dos
Catimbós.
O culto à árvore da Jurema remonta a tempos primitivos, antes mesmo da
colonização portuguesa da América. Naquela época, várias tribos indígenas
no que hoje é o nordeste do Brasil cultuavam a Jurema por suas
propriedades psicoativas e a introduziram em vários ritos de comunicação
com as divindades de seu panteão por meio do transe, alguns dos quais
ainda são preservados pelas comunidades da região . Entre esses rituais, o
Toré, uma forma específica de culto da Jurema, é talvez a última forma
abrangente remanescente de identificação cultural entre os índios do
Nordeste.
No entanto, essa diversidade de cultos foi muito reduzida durante o contato
europeu, de modo que a tradição sagrada e original da Jurema teve que ser
adaptada às normas católicas devido à forte repressão colonial de todos os
cultos considerados pagãos. Assim, o vasto panteão indígena foi
gradualmente suprimido, e as divindades do catolicismo tradicional foram
incorporadas aos rituais do povo caboclo. Porém, devido a sua grande
influência, o culto aos ancestrais foi mantido e adaptado à realidade dos
Mestres da Jurema. Ao contrário do candomblé, o panteão original da
população indígena foi em grande parte perdido ou absorvido pelo
sincretismo.
A sagrada Jurema é um resquício da tradição religiosa dos índios que
habitaram o litoral da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Sertão de
Pernambuco e seus pajés, grandes conhecedores dos mistérios do além, das
plantas e dos animais.
Em 1742, o ritual da Jurema dos índios Sucuru e Canindé da missão
"Missão Boa Vista no Brejo Paraibano" é descrito em carta de denúncia ao
rei de Portugal. Afirma que como bebida, a Jurema produz visões que o
diabo produz:
... uzão dehuma bebida de huma rais que chamão Jurema; que
transportando-os do seu Sintido ficão como mortos, equando
entrão em Si da bebedeira, Contão as vizoens que o diabo lhes dá
Reprezenta, Senão ele que em Spirito os Leva as partes deque não
noticia. (CARTA do capitão-mor da Paraíba, Pedro Monteiro de
Macedo ao rei D. João V. 1742, setembro, 22, Lisboa.
AHU_ACL_CU_014, Cx. 11, D. 966.)
Em suas diversas obras, Grunewald estrutura e descreve o surgimento e
desenvolvimento do Catimbó. A apresentação a seguir é baseada nessa
elaboração, complementada por outras fontes sempre que útil.
"Na região semiárida do Nordeste, onde a Jurema é mais
abundante e onde, pelo que sei da minha experiência, a casca
contém concentrações muito mais altas de DMT - como
evidenciado por seu intenso tom avermelhado característico da
Jurema crescendo em solo seco - nós não têm registo histórico da
sua utilização em tempos pré-coloniais ou mesmo coloniais.Na
historiografia dos evangelizadores jesuítas e franciscanos parece
ter havido um silêncio deliberado sobre o uso desta planta, embora
ritos como os descritos por Pompa (2003) Elementos arqueológicos
que podem ser associados à Jurema foram apresentados por
Hohenthal Jr. como parte de uma de suas coleções na década de
1950 (Grünewald e Palitot 2011).
De fato, foi somente a partir de 1938 com a Missão de Pesquisas
Folclóricas, realizada por iniciativa de Mário de Andrade (Carlini
1993), que o Toré, execução mais frequente entre os indígenas do
nordeste do país (no caso acima entre os Pankararu), testamento
sistematicamente registrado. Ao mesmo tempo, surgem os
primeiros registros do uso da Jurema, mais precisamente por
Carlos Estevão de Oliveira (1942), que registrou a festa de Ajucá
de 1938 com o uso da Jurema também pelos Pankararu de
Itaparica em Pernambuco. Foi também entre os Pankararu de
Tacaratu que Gonçalves de Lima (1946) isolou a nigerina
(posteriormente reclassificada como N,N-dimetiltriptamina - DMT)
da Jurema nativa. A partir de então, com Estêvão Pinto (1956) ou
Hohenthal Jr. (1954 e 1960), a dança cerimonial do Toré e o uso
associado da Jurema tornaram-se uma constante na etnologia dos
índios do interior do Nordeste e, frequentemente analisado em
etnografias mais recentes, desenvolvidas a partir do final da
década de 1980, como mostram as dissertações de Mota (1987),
Batista (1992), Grünewald (1993), Nascimento (1994) e trabalhos
posteriores. De fato, o uso da Jurema tornou-se emblemático da
etnicidade dos índios nordestinos e fundamental para que suas
cosmologias se destacassem como traço distintivo da "indianidade"
indígena nordestina.
Embora o Toré e o uso ritual da Jurema em contextos públicos
(principalmente comemorativos) e privados para diferentes fins
(principalmente curativos) sejam recorrentes entre praticamente
todos os povos indígenas do nordeste do Brasil, cada um deles tem
sua própria abordagem específica da Jurema e da elaboração
ritual desenvolvida. Não tenho conhecimento empírico da maioria
dessas populações, principalmente daquelas que realizam o praiá
ou ainda possuem o espaço ritual dos Ouricuri, embora a
literatura sobre seus rituais já seja bastante extensa. Tentar
descrever os detalhes ou nuances do uso da Jurema em cada um
dos registros mencionados nesta literatura estaria além do objetivo
deste artigo. Portanto, farei aqui uma breve caracterização de
como a Jurema é utilizada entre os Atikum, povo indígena que
habita a Serra do Umã, em Carnaubeira da Penha, sertão
pernambucano, com quem tenho ampla experiência empírica.
Primeiro, a prática ritual do Toré se espalhou entre os índios do
Nordeste a partir da década de 1930 e continua até hoje. De fato, o
Serviço de Proteção ao Índio (SPI) exigiu que os indígenas
realizassem o Toré como reconhecimento dos territórios indígenas
a partir desta década , como uma espécie de documento de
indianidade (Grünewald 1993; 2002; 2005a; 2005b). A partir de
uma ampla rede comunicativa (Léo Neto e Grünewald 2012),
muitos grupos indígenas emergentes começaram a aprender com
outros grupos indígenas (ou a resgatar e revitalizar a partir de
suas próprias experiências) tais rituais, que eram em grande parte
baseados no uso da Jurema.
Enquanto o Toré tem uma dimensão pública, com ou sem o
consumo da Jurema, nos rituais mais discretos a Jurema assume
maior destaque como bebida sacramental ou enteógena – termo
cunhado por Ruck, Bigwood, Staples, Ott e Wasson (1979) e refere-
se à vinda de Deus na pessoa. Para tais rituais, a casca é colhida
da raiz (de preferência) ou do talo da Jurema - geralmente a
Jurema preta sem espinhos (Grünewald 2008) - na floresta,
esmagada ou macerada com pedras, esfregada com as mãos em
água fria e deixado para descansar. Posteriormente, o bagaço da
Jurema é retirado, e a bebida (geralmente com fumaça de
cachimbo) é consagrada para rituais nos quais os indígenas
encontram os encantados e outros seres invisíveis. O remédio (“a
cura”) é a própria bebida da Jurema misturada com alho e
cachaça. Esta bebida é acesa para vaporizar o álcool - embora o
sabor alcoólico permaneça. O mel é um elemento recorrente desses
rituais e tem importante função como alimento para os Caboclos,
Canindés e outras criaturas da floresta, por isso pensamos em um
“complexo de mel” associado à Jurema indígena (Léo Neto e
Grünewald 2012). ). Assim como a Jurema utilizada não deve ter
espinhos, segundo a homologia, o mel dos rituais deve provir
preferencialmente de abelhas sem ferrão (ibid.).
Embora tenham sido relatados efeitos visionários e outros efeitos
alucinatórios com o uso dessas Juremas, as alterações perceptivas
são geralmente entendidas como fenômenos espirituais ou
mediúnicos mais amplos - embora haja frequentes advertências de
que as Juremas podem ser intoxicantes. Não se buscam efeitos
alucinatórios adequados nesses rituais, que buscam uma conexão
espiritual mais ampla com o invisível, seja do céu, das florestas,
dos rios ou do mar. Sejam espíritos de índios já mortos, sejam seres
que não têm contrapartida no mundo físico, sejam seres
indefiníveis. E, finalmente, os cachimbos são outro elemento
essencial dos ritos da Jurema. Em Atikum, por exemplo, são feitos
de raízes de jurema e muitos dos cachimbos podem ser muito
antigos - aparentemente da época em que foram assentados em
missão no início do século XIX. Em sua iconografia, os cachimbos
trazem diversos elementos significativos: por exemplo, como
cachimbo importante entre esses índios, que desenhavam estrelas
bastante grandes, cruzes, igrejas, peixes e uma série de três linhas
quebradas, dispostas em forma vertical entrelaçadas, entendidas
por eles como o riacho da Jurema. Os cachimbos podem conter
tabaco, copa ou também outras plantas como alfazema, alecrim
silvestre etc. Não encontrei relatos do uso de palhetas de Jurema
em cachimbos nativos, embora este seja cantado em música, como
em uma canção tradicional (toante) para o Mestre Carlos. Esses
cachimbos são geralmente feitos com as raízes da própria Jurema e
são muito menos usados para fumar do que para fumigação, onde
a fumaça é soprada pelo bocal do cachimbo com a cabeça na boca.
Mesmo sabendo que durante o inverno nordestino (período
chuvoso), as folhas da Jurema preta podem conter tanto DMT
quanto a casca da raiz - além de triptofano e triptamina, conforme
Nicasio et al. (citado por Gaujac 2013) - não parece ser o efeito
dessa substância fumada (que não prescindiria de um MAOI para
se tornar psicoativo - sem falar na pronta absorção do DMT nos
pulmões) que os nativos americanos procuram em seus rituais.
Com a fumaça do cachimbo, os índios geralmente visam expulsar
as energias negativas e purificar o corpo e a mente (Léo Neto e
Grünewald 2012). Finalmente, no contexto destes rituais
encontramos também a presença de muitos elementos católicos
(cruz, Jesus, Virgem Maria, santos, etc.) e mesmo aqueles
supostamente de origem africana, como os Orixás e seus
correlatos.
Quanto ao ritual em si, os nativos geralmente o iniciam - após
sibilar em frente à casa ritual flautas de madeira anunciando aos
seres físicos e invisíveis que o ritual está prestes a começar -
sentados com rezas e alguns cantos (toantes) que o "Abre"
Corrente" (cadeia energética). Em seguida, é servida a Jurema e os
índios começam a cantar seus toantes ou cantigas, sempre
acompanhados do maracá, chocalho de cabaça nativa (Crescentia
cujete) com sementes dentro. Além do maracá, o bater dos pés é
muito importante, não só pelo ritmo, mas também para dar força
ao ritual, que é dançado em roda que gira no sentido anti-horário.
Um 'líder' canta os toantes, sempre acompanhado de um refrão
(refrão) respondendo ao cantor. Isso pode ser caracterizado como
um canto de resposta. Quando os toantes são cantados
majoritariamente em português, o líder ao final enuncia fonemas
complementares (Ha; Nah; Hê, Hey; Hô), considerados por muitos
como a "língua indígena" - o que é um sinal importante
considerando que são indígenas povos que só conhecem a língua
portuguesa. Às vezes, os toantes também podem ser
complementados com outro vocabulário que pede ajuda a Jesus ou
à Virgem Maria em português. Após esses acréscimos melódicos,
costuma-se saudar, invocar e louvar a Deus, à Mãe Santíssima, aos
santos católicos, aos próprios índios, a outros povos, aos presentes
e ausentes, aos visitantes, ao cacique, ao pajé, etc. servido uma ou
várias vezes durante os rituais, as mulheres menstruadas não
costumam tomá-lo, nem as crianças participantes do ritual, que o
substituem por um ponche de maracujá. Adolescentes menos
experientes tendem a beber menos Jurema do que os homens
adultos, que a consomem mais em rituais. Durante o ritual,
algumas pessoas (principalmente mulheres) irradiam, abraçam ou
manifestam os encantados e outros seres do mundo espiritual,
como Zé Pilintra, arquétipo da tradição do Catimbó. Finalmente,
esses rituais não são idênticos mesmo dentro de uma aldeia
indígena, pois diferentes líderes rituais podem trabalhar com
diferentes linhas de energia (Correntes). Os especialistas desses
rituais são os detentores da chamada ciência do índio (Grünewald,
1993; 2002; 2005b).
Este é, portanto, um resumo da Jurema sob o Atikum. Pelo que foi
descoberto deve ter ficado claro o quanto dessa religiosidade é
“mestiço”, vira-lata (sincrética). Com grandes elementos
católicos, elementos do Catimbó e da Umbanda, que ali estiveram
presentes através dos mais diversos mecanismos culturais na
história dos Torés do Atikum.”
Como tantas vezes acontece na história das tradições não-cristãs no Brasil,
há pouquíssimas descrições confiáveis e independentes de épocas
anteriores. As poucas fontes são quase sempre coloridas e baseadas em
descrições de algumas fontes individuais. Muitas das velhas fontes não são
científicas, mas politicamente e religiosamente motivadas e, portanto,
devem ser interpretadas com muito "distanciamento". Somente nos últimos
20 anos houve um exame científico das tradições - infelizmente tarde
demais para a preservação de rituais e sistemas de crenças que se perderam
e, no caso do Catimbó, foram sistematicamente suprimidos.

A Umbanda Catimbó-Jurema do Litoral Nordeste do Brasil

As primeiras referências mais detalhadas que temos sobre a Jurema datam


do século XVIII. Sabe-se que o Tribunal do Santo Ofício era extremamente
rígido com os "rituais suaves", "muitos índios eram acusados de beber
Jurema e receber "descida do diabo" enquanto o Mestre tocava maracá e
dançava cantos indígenas". Exemplo disso, como pode ser visto no mesmo
texto, é o depoimento de um índio Tabajara (litoral sul da Paraíba)
“pessoalmente na Mesa do Santo Ofício em Lisboa em 1720”. Já em 1739,
a Junta das Missões Ultramarinas reuniu-se na Capitania de Pernambuco
para avançar nas investigações sobre “transgressões indígenas” e descobriu
que os carmelitas compartilhavam práticas da Jurema consideradas
“diabólicas” pelo Santo Ofício (Apolinário, Freire & Diniz 2011).
Também, no período de 1739 a 1744, houve um processo judicial no
Conselho Ultramarino envolvendo o Santo Ofício e os índios de
Pernambuco e da Paraíba sobre o uso da Jurema. Há também relatos de
mortes e prisões de “feiticeiros nativos americanos” por conta do Santo
Ofício usando a Jurema em 1739, reportados ao rei D. João V nos anos
seguintes (Oliveira 2011). Mas não só na Paraíba e em Pernambuco, pois
sabemos que em 1758 um índio da aldeia de Mepibu, no Rio Grande do
Norte, foi preso por preparar "Adjunto da Jurema" (Cascudo 1978). Em
nota de 1788 do padre José Monteiro de Noronha, citada por Gonçalves de
Lima (1946), há indícios de certa "tolerância" para com os índios Amanajó
que bebem a bebida Jurema (que se diz "anestésica" e preparada com a
casca da raiz da planta). Lutaram nas guerras em nome dos colonizadores
(Gonçalves de Lima 1946: 60). No século seguinte, rituais foram descritos
usando a Jurema – como o relato de Henry Koster (1978) de 1816, que se
referia ao litoral norte de Pernambuco. Neste século, a Jurema foi
mencionada por alguns escritores e até destacada no contexto do
Romantismo, como a publicação de José de Alencar (1865) no contexto da
descrição sócio-cultural do estado do Ceará. Vale ressaltar que todos esses
são contextos de índios da tribo Tupi.
E justamente no contexto da “destribalização” indígena dos Tupi no litoral
paraibano, notamos uma renovação do uso ritual da Jurema com o
nascimento de um xamanismo que continha elementos não indígenas em
sua configuração (Grünewald 2005b). Foi na cidade de Alhandra que surgiu
um culto que se distanciou do viés étnico e se concentrou mais nas
percepções das cidades místicas da Jurema e de seus Mestres (Cascudo
1937; Bastide 1945). No século XX, o Catimbó – cada vez mais chamado
simplesmente de Jurema – é alcançado pela tradição da Umbanda, que, com
toda a sua plasticidade processual característica, reconfigurou essa tradição
religiosa e o uso associado da Jurema. Os rituais tradicionais do Catimbó-
Jurema e dos povos indígenas continuaram a ser praticados em novas
formas mistas e também na forma pura.
Assim como os índios do Sertão, os Catimbó também foram “catalogados”
pela Missão de Pesquisas Folclóricas no final da década de 1930. Nesta
década os primeiros registros da Jurema começaram no Catimbó da região
litorânea do nordeste (Cascudo 1937) até atingirem sua forma monográfica
na década de 1970 (Vandezande 1975). Somente no final da década de 1970
e de forma mais estritamente científica a partir dos anos 2000 é que o
Catimbó foi registrado por escrito. Tradições centenárias e o
desenvolvimento dos Catimbós no contexto xamânico-cristão foram em
grande parte perdidos. E os poucos resumos são fortemente coloridos pelas
intenções missionárias e pela cosmovisão cristã da época.

A origem dos Catimbós em Alhandra

Embora o xamanismo indígena da Jurema seja certamente muito mais


antigo que o Brasil (no sentido de seu "descobrimento" por Pedro Álvarez
Cabral), é comumente definido e assumido que o Catimbó recebeu sua
estrutura formal na região de Alhandra, no litoral sul da Paraíba. Isso
porque ali surgiu pela primeira vez um povoado indígena legitimado
publicamente, que - sob o manto do sincretismo cristão - uniu e praticou as
tradições remanescentes.
Os Juremeiros habilidosos, expulsos da etnia Aratagui da aldeia Tabajaras,
foram os responsáveis pela elaboração das Mesas de Catimbó (os rituais) -
principalmente os parentes de Inácio Gonçalves de Barros, último índio
regente daquela aldeia. Como mencionado em outro lugar (Grünewald
2005b), Inácio tinha uma irmã indígena, Maria Gonçalves de Barros
(conhecida como Maria do Acais), a quem ensinou a preparar a Jurema.
Inácio também teve uma filha, Maria Eugênia Gonçalves de Barros,
também conhecida como Maria do Acais (apelidada de "Maria do Acais a
Segunda, a Segunda" pelos familiares). Segundo Salles (2010), essa
segunda Maria do Acais operava entre Alhandra e Recife, região litorânea a
partir da qual o Catimbó se desenvolveu e se espalhou.
Segundo Barros (2011), "a prática da Jurema nordestina, também conhecida
como Catimbó, é resultado de um longo processo de miscigenação ocorrido
a partir do contato entre ameríndios, europeus e africanos". Segundo esse
autor, o assentamento indígena Aratagui se consolidou no início do século
XVII. No âmbito da "política pombalina" (Marquês de Pombal) em 1765 "o
povoado de Aratagui foi elevado à categoria de povoado com o nome de
Alhandra. espaço territorial” (ibid.). Segundo Salles (2010), muitos desses
índios foram trazidos do interior do país, ou seja, do sertão do Nordeste
(especialmente Paraíba e Pernambuco), onde a Jurema sempre foi
amplamente usado entre os indígenas.
Da redistribuição fundiária ali realizada, segundo Salles, surgiram as posses
de Estiva e Acais em Alhandra, onde surgiu o Catimbó-Jurema da família
de Inácio Gonçalves de Barros. Este lugar é tão importante no universo
mítico do culto da Jurema que, na última década, iniciou-se um processo
para que este local fosse tombado como patrimônio cultural. Na verdade,
esse processo não foi isento de conflitos.
A decisão positiva do IPHAEP veio em novembro de 2009. No entanto, os
Juremeiros de Alhandra não veem legitimidade para sua tradição entre os
representantes dos centros espíritas afro-brasileiros de umbanda. Ainda que
a influência da Umbanda tenha influenciado positivamente o
reconhecimento dos Catimbós, e ainda que a mistura das duas tradições seja
imparável, os Juremeiros de Alhandra veem sua tradição como distinta e
independente.
Na origem do Catimbó, trabalhava com os chamados Mestres que eram
invocados pelas cantigas cantadas em rituais em que a Jurema era
consumida com o auxílio de príncipes (copos) e princesas (tigelas de
porcelana). O maracá (chocalho feito de cabaça e sementes) e o cachimbo
eram usados para realizar o ritual. Bebidas alcoólicas foram servidas aos
Mestres incorporados (Grünewald 2005b).
Para Bastide (que escreveu muito sobre o Candomblé do Nordeste), o
Catimbó (ou cachimbó) seria 'a antiga festa da Jurema', criada pelas 'classes
baixas do Nordeste' (Bastide 1945:205). Para este autor, seria a captura da
Jurema que permitiria aos Juremeiros “viajar pelo mundo do sobrenatural,
concebido como outro mundo natural, com seus seres encantados, divididos
em estados, e estes por sua vez em Cidades”. (ibid.: 208) Nesse mundo
encantado, segundo Cascudo (1937), haveria reinos ao lado de vilas,
cidades e estados.
Vale ressaltar que o poder do Catimbó de conduzir a pessoa ao mundo dos
encantos sempre foi atribuído à Jurema, mas não apenas a bebida possuiria
esse poder, mas a atitude espiritual do indivíduo que o capacitaria a entrar
no invisível mundo a penetrar seria de fundamental importância
(Grünewald 2005b; Salles 2010). "Estudiosos" da primeira metade do
século XX atribuíam ao Catimbó o predomínio da feitiçaria européia
(Cascudo 1978). No entanto, ainda que com cosmologia mista, a tradição é
claramente precedida e claramente reconhecível por origens indígenas.
Quanto às cidades míticas da Jurema, são as moradas dos Mestres do
Juremeiro, cujas “vidas no mundo espiritual”, segundo Lima Segundo
(2015), “estão ligadas à própria existência da árvore”. Portanto, áreas rurais
com a presença das Juremeiras associadas a certos Mestres são algo
importante para o fortalecimento da religiosidade. De fato, assim como os
aborígines nordestinos, Juremal não se refere apenas a um local com densa
concentração de Juremeiras, mas no nível cosmológico a um local (cidade
ou reino) no plano invisível onde residem Mestres e outros seres (aqui
especialmente no Pessoas indígenas). Nesse sentido Lima Segundo,
seguindo a sugestão de Mircea Eliade, articula a Jurema com o arquétipo da
“árvore cósmica” que conecta o homem com suas verdades míticas (ibid.:
56). Por fim, para Salles (2010), a Jurema como “a “cidade” do Mestre, sua
“ciência” (“ciência”), é “o maior símbolo do culto” (Salles 2010: 17-18).
Assim como os povos nativos do Nordeste, o conceito de ciência aparece de
forma complexa como parte central dessa tradição mística.
Na década de 1930, a repressão policial contra os Juremeiros se consolidou
nacionalmente e durou até a década de 1960, período em que os atores
religiosos continuaram a seguir e viver suas crenças e rituais de forma
bastante discreta. De fato, seus locais de culto têm sido regularmente
destruídos ao longo dos anos de perseguição dos devotos do Catimbó. Em
1966, o governador da Paraíba promulgou uma lei regulamentando espaços
para a "prática de cultos africanos na Paraíba", mas indicando que tais
práticas religiosas estão subordinadas à Federação dos Cultos Africanos do
Estado da Paraíba (Federação dos Cultos Africanos do Estado da Paraíba). )
deveriam ser responsáveis pela regulação de suas atividades (Lima
Segundo, 2015: 71).
Com a prerrogativa de liberdade religiosa concedida à Umbanda (como já
acontecia em outros estados), essa tradição avançou muito sobre os
Juremeiros. Motta (2005) descreve esse desenvolvimento em três etapas
como um "processo de acumulação cultural" no Catimbó. A primeira delas
estaria “ligada à introdução da figura do Mestre e das técnicas mágicas de
origem europeia” (Motta, 2005:285). A segunda fase corresponderia a uma
influência do espiritismo kardecista, que codificava uma "mediunidade
popular" antes mesmo da fundação da Umbanda. Esta última se referiria à
influência das religiões "afro-cariocas" (do Rio de Janeiro, centro da "nova"
Umbanda), que provocaram mudanças significativas no Catimbó - por meio
de mudanças ou inovações nos rituais, com acréscimos nos estilos ,
instrumentos musicais e rituais, sacrifícios de animais, seres sobrenaturais
(como os Exus), etc. - aspectos até então desconhecidos dos Juremeiros,
que ofereciam aos Mestres apenas cachaça ou cigarros.
A reestruturação, adequação dos Catimbós foi uma forma de a Jurema
encontrar legitimidade em um novo contexto político, social e territorial. A
Umbanda é uma religião urbana característica e, nesses espaços, a Jurema
conquistou seu lugar. Não são mais as árvores, mas partes de seus troncos,
que são colocadas em salas especiais (altares), principalmente Pejis, onde
são consagradas como plantas vivas. Desta forma, segundo Lima Segundo,
"Hoje, sob a influência da Umbanda em toda a área religiosa da Jurema, as
cidades da Jurema como morada dos Mestres passam a ser representadas
pelos Pejís da Jurema, onde se situam as tribos". (Lima Segundo 2015).
Assim, hoje o termo Jurema, em sua forma mais elementar ou primordial,
mas também nas mais variadas configurações decorrentes de sua
abrangência umbandista, com toda a sua plasticidade característica, é
utilizado como sinônimo de muitas dessas expressões religiosas. Os
mesmos Catimbós ainda pouco praticados em casinhas, assim como
diversas formas de umbanda no Nordeste, recebem o nome genérico de
Jurema. Dentro dessas casas de Umbanda (ou "Jurema") existem salas para
cultos e rituais específicos da Jurema, muitas vezes como nas clássicas
mesas de Catimbó, funcionando para os Mestres convocados de suas
cidades para lidar com os suplicantes terrestres para interagir.
É o caso da "Jurema Arriada" ou "Jurema de Chão" (Jurema do Chão);
Ritual em que os participantes se sentam em banquinhos e, com suas
maracás e cachimbos, os Mestres de suas cidades míticas trabalham com
base na ciência da “ciência dos pontos riscados” (símbolos mágicos
desenhados no chão) e outros elementos.
A mistura de Catimbó e Umbanda permitiu que a tradição se legitimasse e
se expandisse - à custa de eviscerações e por vezes de certa arbitrariedade
na implantação urbana.

Kingdom of Acaes – Reino dos Acaes


A pequena cidade de Acais é o ponto de partida para o que hoje é conhecido
como Catimbó. A seguir, a história do nascimento da primeira casa de
Jurema contada por bei Andrade Junior.
Os índios sempre foram lacunas na historiografia da Paraíba, então fazer
uma história que remonta a uma aldeia indígena no litoral da Paraíba não é
fácil, pois há poucas informações e o que existe é incompleto e muitas
vezes contraditório. Ao tentar construir a História da Vila de Alhandra,
partimos da ideia de que o índio é o motivo de sua elevação à primeira Vila
da Paraíba, tornando-se o protagonista deste lote. Porém, a reconstrução da
história desse povo se faz na recontagem de histórias e na análise de
discursos, para compreender esses primeiros habitantes do território que
hoje corresponde à Paraíba.
Na Paraíba, a população estimada, no século XVI, era de 100 mil índios
(MELO, 1999). No litoral viviam os índios pertencentes à tribo Tupis, que
se dividiam em dois grandes grupos, os Tabajaras e os Potiguaras. No
interior, ao longo dos rios do Peixe, Paraíba e Piancó, estava presente a
Nação dos Kariris, que contava com grande variedade de tribos, enquanto
no sertão, Seridó, Curimataú e parte dos Kariris Velhos, o grupo dos
Tarairús. Essa informação vem de José Elias Barbosa (1984), um dos
poucos a falar da existência do grupo Tarairú na Paraíba.
Os índios que viviam no território do atual estado da Paraíba viviam da
caça, pesca e coleta, praticando uma agricultura primitiva, basicamente de
mandioca, milho, fumo e algodão. A maioria deles eram nômades e sua
organização social era:
… na forma de tribos, formadas por várias aldeias, que reuniam indivíduos
para algum tipo de trabalho ou guerra. A organização do trabalho era
baseada no sexo e na idade dos integrantes do grupo [...] As mulheres
cuidavam de todas as tarefas relacionadas à manutenção da aldeia e à
produção de alimentos para as pessoas que nela viviam. […] Os homens
eles preparavam a terra para o plantio, derrubando a mata, queimando,
derrubando os tocos. Também caçavam, pescavam, fabricavam armas,
construíam casas e canoas. (CAVALCANTI. 1996, p. 20)
Vale ressaltar que todo o trabalho era coletivo, assim como a distribuição de
tudo o que produziam. As crianças foram inseridas na vida da aldeia,
acompanhando os adultos nas suas tarefas. Quanto às tradições, estas eram
transmitidas oralmente de geração em geração, por isso a importância dos
mais velhos era de grande relevância, pois eram eles os responsáveis por
transmitir os costumes, as tradições, os rituais, por manter a cultura
indígena (Op. cit.., p. 20). Isso é um pouco, ainda que superficial, do que
podemos saber hoje sobre esses povos que aqui habitavam antes da chegada
dos colonizadores, pois a partir da chegada destes, nada seria como antes, o
contato dessas diferentes culturas, mudou não só a vida dos índios, mas
também a própria vida do europeu.
Com a chegada dos portugueses, a vida dos índios não mudou, a princípio,
porque a princípio os colonizadores apenas exploravam o pau-brasil,
utilizando mão-de-obra indígena, por meio do conhecido escambo. Porém,
quando os portugueses decidem povoar essas terras e implantar a
agricultura, as coisas começam a tomar outros rumos e os índios começam a
sofrer interdições em sua cultura das mais variadas formas.
Quando os portugueses perceberam, já em 1534, que expedições
esporádicas não bastavam e que a exploração do pau-brasil não era
suficiente para garantir sua posse, constataram que só o povoamento
garantiria maiores rendimentos e evitaria a perda de território para outros
europeus. poderes. O Brasil foi assim dividido em capitanias hereditárias. A
conquista e ocupação do território da Paraíba teve início quando foi criada a
Capitania de Itamaracá, que se estendia desde o Rio Santa Cruz, hoje
Igaraçu - PE, até a Baía da Traição, doada a Pero Lopes de Souza. Porém, a
Paraíba continuará sendo uma área pouco cuidada pelos portugueses, onde
os conflitos entre nativos e colonizadores serão constantes, principalmente
os Potiguaras que sempre foram bastante hostis aos portugueses.
Em 1574, por Decreto Régio, a Paraíba foi desmembrada de Itamaracá,
criando-se a Capitania Real da Paraíba, cujos limites iam do rio Abiaí até a
Baía da Traição (SILVEIRA, 1999). A conquista da Paraíba só se
consolidou em 1585, com a fundação da cidade de Nossa Senhora das
Neves (atual João Pessoa), após onze anos de expedições e inúmeras
batalhas sangrentas entre colonos e indígenas locais. Os potiguaras aliados
aos franceses não facilitaram a ação dos colonos portugueses nessas terras.
O ato considerado fundador da Paraíba foi uma aliança celebrada entre os
portugueses e os índios Tabajaras, cujos personagens mais conhecidos desse
fato são João Tavares e Piragibe.
Como aconteceu em todo o Brasil, após a conquista definitiva das terras da
Paraíba pelos portugueses, foram criadas aldeias missionárias, como Jacoca
(atual município do Conde) e Arataguis (atual município de Alhandra). Nas
missões, os índios ficavam sob os cuidados de religiosos, que vestidos de
acordo com os ideais cristãos conduziam os índios a praticar “bons
costumes”, ensinando educação moral e religiosa. O índio era visto como
aquele a ser salvo, pois os consideravam como os “pobrezinhos” que não
sabiam a verdade, era dever dos padres mostrar-lhes o caminho para o céu.
A mentalidade europeia e cristã da época não compreendia nem aceitava o
diferente.
Nesse sentido, a cultura indígena era vista como algo que precisava ser
superado pelo ideário católico, sendo os jesuítas os primeiros padres
missionários a estarem na Paraíba. Segundo Wilson Seixas (1979), os
padres jesuítas Simão Travassos, Jerônimo Machado e Baltazar Lopes
fundaram residência na região, dando início às práticas que envolviam a
catequese dos índios situados nas aldeias tanto do litoral quanto do sertão.
Com a chegada dos franciscanos, que também passaram a se ocupar com os
serviços de catequização nas aldeias, surgiram conflitos. Os jesuítas
acabaram sendo expulsos da Capitania, em 1593, pelo então governador da
Paraíba, Feliciano Coelho de Carvalho, deixando aos franciscanos toda a
obra missionária na região.
…depois da expulsão dos jesuítas, a devoção e o número de cristãos
cresceram muito na capitania, impulsionados pela grande confiança que
tinham nos padres franciscanos sobre quem recaiu o peso de muitos
serviços nas aldeias, tanto que chegaram a passaram a ser considerados os
melhores auxiliadores na conversão moral e religiosa entre os índios e
moradores. (SEIXAS, 1979. p. 47)
Para Seixas (1979) os franciscanos eram melhores na catequização indígena
do que os jesuítas, chegando a ter o carinho dos indígenas da região. Nesse
discurso ingênuo, parece que não houve conflitos ou resistência por parte
dos índios, pois por trás desse conflito entre jesuítas e franciscanos havia
um interesse maior, dos colonos, pela mão de obra indígena, que acabou
desencadeando a escravização.
Os franciscanos construíram igrejas e conventos nas aldeias, com o intuito
de exercer maior presença e, portanto, controle sobre os índios. Assim foi
fundada a igreja de Alhandra com a invocação de Nossa Senhora da
Assunção, uma das primeiras a ser construída em 1740. Sob um estilo
barroco rural, a igreja de Nossa Senhora de Assunção já sofreu muitas
alterações, mas ainda mantém muito de sua arquitetura original. Associado
a isso, houve a construção da igreja e do convento pelos próprios índios, o
que corroborou o deslocamento de sua cultura e religião, através da visão e
instituição do deus cristão. Nessa perspectiva, temos que “Na Paraíba, as
tabas foram sendo esvaziadas, transformando-se em aldeias missionárias,
manipuladas por poucos religiosos... A política colonialista era misturar
índios de diversas tribos e nações...” (MELO, 1999, p. 201 ). O autor
reforça o conceito já discutido de que as aldeias, na Paraíba, passaram a ser
de responsabilidade dos religiosos, onde a política colonialista misturou
diferentes aldeias e nações indígenas, demonstrando que sempre que uma
nova aldeia era conquistada pelos brancos, ela era levada para outro lugar . ,
este espaço já de índios domesticados.
A aldeia missionária de Alhandra, ao que tudo indica, sempre recebeu
novos índios, trazidos de outras partes da Paraíba, principalmente do
interior (sertão). Esse fato pode ser constatado quando nos deparamos com
os dados: em 1804, Alhandra contava com cerca de 766 índios, no ano
seguinte já contava com 1.372 (MEDEIROS, 1999). Segundo Maria do Céu
Medeiros, essa faceta dos colonizadores permitiu a concentração da mão de
obra indígena, necessária na produção da costa canavieira (o sertão
paraibano era um território relegado pelo interesse dos colonizadores), na
construção de obras públicas, em lavouras e engenhos, destacando o índio
como um “produto” cobiçado pelas nações. Alhandra era, então, um espaço
propício ao trabalho de índios, muitas vezes vindos do sertão, predispostos
aos comandos e desmandos das autoridades coloniais.
Assim, a aldeia missionária foi de extrema importância para os
colonizadores europeus, pois eles retiraram os índios de seu território e os
levaram para um local estratégico, fornecido pelas missões. Essas ações de
isolamento e controle dos índios foram exitosas, servindo na pacificação
dos índios. A importância da missão indígena de Alhandra foi enfática, pois
construída a capela, a cidade logo foi elevada à Freguesia de Nossa Senhora
da Assunção (1749), sendo a segunda freguesia a ser criada na Paraíba. A
paróquia de Alhandra era vinculada à diocese de Olinda. Após a criação da
freguesia, em 1758, o reduto indígena foi transformado em aldeia: “…Por
força do Foral Régio de 14 de Setembro e do Foral desta data, a aldeia de
Arataguy, com o nome de Alhandra, é elevada à categoria de moradia.”
(PINTO. 1977, p. 158).
Em 1758 torna-se a primeira vila da Paraíba, sendo instalada apenas em
1765. Depois de Alhandra, seguiram-se quatro vilas, a do Pilar (1758), São
Miguel da Baía da Traição (1762), Monte-Mor da Preguiça (1762) e aquela
de Jacoca, (atual Conde em 1768). Todas fundadas a partir de aldeias
indígenas. Todas foram criadas em pouco tempo, e todas não eram apenas
aldeias indígenas, mas também localizadas ao longo do litoral. O que
demonstra maior controle indígena. À medida que Alhandra deixa de ser
uma simples aldeia missionária e passa a ser uma aldeia, deixa de ter apenas
autoridades religiosas, e passa a ter o controlo das autoridades civis. Nesse
sentido, o índio deixa de obedecer ao padre e passa a obedecer ao capitão-
mor e ao capitão dos índios e demais autoridades civis locais.
Alhandra não era, portanto, um local de grande expressão, era uma pequena
aldeia. Diz-se que por volta de 1774, tinha cerca de 620 prédios e 1089
habitantes, isto é mais do que a população de Jacoca que, no mesmo ano,
tinha 445 prédios e 744 habitantes. Mas comparada a Pombal, que
posteriormente foi elevada a vila, já no mesmo ano de 1774 tinha 2.451
edificações e 5.422 habitantes (SILVEIRA, 1999. p. 33). No entanto, a
maior razão pela qual Alhandra foi a primeira aldeia foram certamente os
índios.
Alhandra não surge como uma aldeia assim, pela sua grandeza,
desenvolvimento ou por ser uma aldeia de expressão relevante. Mas para ir
ao encontro de uma estratégia política colonialista, não é de estranhar que
Alhandra se mantenha por mais de duzentos anos na categoria de vila.
Quando foi fundada a aldeia de Alhandra, a população indígena foi
obrigada a viver como os brancos, morando em casas individuais e não
mais em tabas comunitárias, vivendo os costumes trazidos pelos europeus,
conforme relata o presidente da província:
… Os índios que existem nesta província são todos aldeões e vivem em sua
maioria em aldeias sujeitas às autoridades civis … e são todos degenerados
de suas origens primitivas que a maioria deles nem mesmo fala a língua de
suas tribos; estão agora misturados na massa da população e só nas aldeias
de Alhandra, Conde e na antiga aldeia da Baía da Traição é que vivem entre
outras raças que as superam inteiramente em número e importância…
(MELO. 1999, p. 211).
O relato do Presidente da Paraíba fala sobre o período de 1845, quando
Alhandra aparece como sendo um dos poucos locais de existência da
presença indígena, estando os índios subjugados às leis civis, como uma
minoria que perdeu suas referências entre os brancos , como acontece com a
língua indígena, que eles não falam mais.
Segundo Melo em seu “Índios do Nordeste: Temas e Problemas”, foram
criadas algumas leis referentes aos índios, algumas delas relacionadas à
distribuição limitada de terras aos índios, como a lei de 1700, que
estabelecia a “doação de uma légua de terreno em moldura para cada aldeia,
além de casas para os padres e igreja” (1999, p. 214), e a de 1703, referente
à “Carta Régia de 22/05 – deu aos índios terra necessária para sua moradia
e ferramenta para cultivar a terra” (1999, p. 214). Afirma-se também que
após a publicação da Lei de Terras de 1850, o patrimônio dos índios
Alhandra consistia em pequenas ilhas, cercadas por propriedades
particulares, o que implica a perda das terras indígenas para os ditos
civilizados. A estratégia dos colonizadores foi cumprida, aos poucos foram
tomando posse de todas as terras dos nativos, de forma que os índios foram
obrigados a se engajar na sociedade colonial, muitas vezes como pequenos
proprietários, camponeses.
Foram inúmeras as manifestações culturais indígenas, inclusive o
politeísmo (a fé em vários deuses), fator inaceitável para a mentalidade
cristã católica. Talvez esse tenha sido um dos maiores conflitos entre o
mundo europeu e o mundo indígena, afinal, para a mentalidade católica da
época só haveria salvação pela conversão católica, abandono dos hábitos
'selvagens' e adesão aos bons costumes e princípios dos chamados
'civilizados'. Só o cristianismo poderia tirar os selvagens de sua situação
“animalística” e dar-lhes uma nova condição, tornando-os cristãos, de um
estado de selvageria para o de humanidade, pelo menos era o que ditava o
pensamento europeu do século XVI. Mas que por um viés econômico, essa
questão era permeada por noções de verdade, realmente acreditada em um
projeto salvacionista. Mas os nativos não abandonaram suas crenças com
tanta facilidade, resistindo à imposição dos europeus.
As missões nas aldeias indígenas tinham essa forte, senão principal,
preocupação de levar os índios a crer em Cristo e aceitar o evangelho. Os
índios aparentemente inicialmente aceitaram com algum entusiasmo, mas
logo:
…eles estavam desinteressados no culto, então foi necessário levá-los à
força. Preferiram ficar nas suas roças e quintas fora da aldeia onde, ficando,
parece que ficaram dispensados de frequentar a igreja que então só os atraía
na época do São João por causa das fogueiras, ou na Quaresma, atraídos
pelo ritual de flagelação em que viram outra prova de coragem do que um
ato de penitência por parte daqueles que a ela se submeteram.
(MEDEIROS, p. 33).
A tarefa dos missionários não era simples, pois além de catequizar, eles
viam um processo de ressignificação de seus rituais por parte dos índios,
muitas vezes fugindo do que era proposto pelos padres. Com o uso da força,
os índios eram obrigados a participar das missas, mas os tabajaras eram os
mais receptivos à cultura européia, logo se confundindo com o restante da
população.
Em Alhandra, os problemas dos missionários não pareciam ter sido
diferentes, as dificuldades de levar os índios a acreditar em um só Deus não
era tarefa fácil. Embora os povos tabajaras fossem mais receptivos à cultura
européia do que os potiguaras. E isso talvez explique, em parte, que ainda
hoje encontramos aldeias potiguares no território da Paraíba, enquanto os
Tabajaras desapareceram sem deixar muitos vestígios, como vemos na
aldeia indígena de Alhandra. No entanto, embora os Tabajaras fossem um
pouco mais afetuosos com os padres (MEDEIROS, 1999), eles ainda não
deixavam sua cultura tão pacificamente e muitas vezes tornavam-se cristãos
batizados mantendo seus rituais e costumes. Foi o que aconteceu em
Alhandra, que manteve um forte sincretismo religioso.
A mística religiosa que durou muito tempo em Alhandra é uma clara
herança indígena. Esse sincretismo é tão forte que a cidade passou a ser
conhecida como “Cidade da Jurema”, pois nos locais onde são praticados os
rituais do Catimbó, a presença da Jurema é constante, caracterizada por seus
efeitos alucinógenos. Este é um tema que atrai a atenção de inúmeros
estudiosos, alcançando destaque internacional pela fama de seus poderes
sobrenaturais:
…Um dia a cidade acordou com uma notícia, repórteres da BBC de
Londres vieram do outro lado do mar conhecer Alhandra, todo aquele
equipamento esquisito, coisas de primeiro mundo e língua enrolada para
fazer uma reportagem sobre a cidade de Jurema, então Alhandra seria
conhecido internacionalmente (...) conseguindo trazer estudiosos de todo o
mundo, curiosos sobre o misticismo do lugar. (SOARES, 1999. p. 55)
Alhandra sempre atraiu a atenção de muitos, que, atraídos pelos famosos
Mestres da Jurema, buscavam realizar seus desejos e fantasias. Mais do que
um local de estudo, Alhandra era um território de misticismo e magia.
Jurema (branca) é uma árvore, da qual é feita a bebida com poderes
alucinógenos, que era controlada por seu efeito. A perseguição policial dos
'Mestres da Jurema' obrigou os rituais a serem realizados às escondidas,
longe da cidade, deslocando no espaço e no tempo a crença herdada pelos
índios. Conta-se que quando morriam não tinham o direito de serem
sepultados no cemitério local, sendo enterrados em locais remotos, onde foi
plantada uma árvore de Jurema para marcar o local do sepultamento. Nestes
mesmos locais também foram sepultados todos aqueles seguidores do
Mestre da Jurema, colaborando para o surgimento das chamadas “cidades
da Jurema”, tais como: Cidade de Manoel Cadete, Cidade de Rosalina,
Cidade de Maria do Acais, Cidade do Mestre Adauto, Cidade do Rei Heron,
Cidade dos Encantos (Tambaba) e Cidade de Águas Claras (SOARES,
1999).
A 'cidade da Jurema' mais conhecida é Acaís, um pequeno povoado
localizado à beira da estrada que leva ao município de Alhandra. A fama
dos poderes sobrenaturais e mágicos deste local mereceu reportagem do
jornal A União de 20 de julho de 1997, com a manchete: “Ciências ocultas
em Alhandra: Pacto de silêncio protege a Cidade Sagrada de Jurema”. Esta
reportagem, de Machado Bitencourt, destacou que a família Guimarães,
descendentes da 'Mestre de Jurema' Maria do Acais, guardam os segredos
do preparo de drinks feitos com Jurema.
Para entender melhor como era realizado o culto da Jurema, vejamos como
ocorria entre os índios Tuxás:
O culto da Jurema, tal como é apresentado entre os tuxás, desenrola-se em
torno da bebida ou vinho da Jurema, que produz mudanças de consciência
que ajudam a propiciar o transe. Orlando Sampaio Silva em suas pesquisas
encontrou mais do que elementos mágicos europeus ou assimilação do
catolicismo, referências extraídas do espiritismo kardecista e umbandista.
As entidades cultuadas são chamadas de encantados, que são espíritos dos
gentios - falantes de línguas nativas - habitantes do reino encantado, que
descem para curar e realizar trabalhos para os vivos, também chamados de
Mestres ou caboquinhos. Cascudo menciona em seu estudo a crença em
dois reinos encantados: Vajucá e Juremal, sem especificar distinções entre
eles. (ANDRADE, 2002. p. 225)
Sobre a prática do culto da Jurema e do Catimbó em Alhandra, destacamos
a atuação de Mãe Maria do Acais, que segundo reportagem de 'A União':
… Esta respeitável senhora exerceu as funções de vidente e conselheira de
milhares de doentes e portadores de doenças exóticas, desconhecidas das
ciências médicas. Através dos conselhos da “Mãe Maria do Acais”, suas
orações e evocações, a maioria desses enfermos recuperou a saúde física, a
tranquilidade e o pleno uso das faculdades mentais. As práticas da “Mãe
Maria do Acais” incluíam a ingestão de um tipo de vinho feito com
sementes da “Jurema”, planta que crescia e se multiplicava no sítio
Guimarães, em Acais. Folhas, sementes, cascas e raízes dessa hortaliça
serviam para preparar licores engarrafados, chás, banhos e condimentos
desenvolvidos em fórmulas que Maria do Acais manteve em segredo até
sua morte em 1937… (A União, 20 jul. 1997).
A reportagem nos traz informações sobre o aproveitamento do vinho feito
da Jurema, a mesma referência que Andrade (2002) nos dá sobre os índios
Tuxás na Bahia, sobre a origem desses poderes sobrenaturais do Acais.
Tudo começou com a índia Maria Gonçalves de Barro, conhecida como
Maria índia, que teria recebido as terras de Acais do imperador Dom Pedro
II, onde teria se estabelecido. Maria Índia teria iniciado, então, o uso da
Jurema para curar os mais variados males. Como não teve filhos, sua
sobrinha, Maria Eugênia Gonçalves Guimarães, recebeu a herança da tia, e
logo ficaria famosa como a 'Mestra' Maria do Acais. Após sua morte,
Flóscolo Gonçalves Guimarães, seu filho, foi seu continuador, mostrando-
nos os laços de parentesco que cercam sob os domínios do sigilo da Jurema.
Há, portanto, um forte sincretismo, que apesar dos vestígios de um culto
indígena no uso da Jurema, há também indícios da Umbanda, do
Espiritismo e do Catolicismo. A influência católica é, portanto, a mais
evidente, pois em Alhandra, em frente à casa dos Guimarães onde Maria do
Acais viveu e fez os seus trabalhos espirituais, existe uma pequena capela
dedicada a São José.
Dentre os muitos Mestres da Jurema em Alhandra, acredita-se que um dos
mais famosos seja Zé Pilintra, também nascido na vila. A cidade figura
assim entre este lugar cheio de mistérios sobrenaturais. Muitos conhecem a
fama de Alhandra e de seus Mestres da Jurema, mas sua história continua
sendo um desafio, já que sobre esse misticismo envolto pela Jurema, quem
conhece afirma ser uma herança dos índios Arataguis. A combinação de
elementos da religião européia e indígena resultou nessa mistura, tornando
Alhandra a 'cidade da Jurema' no país do evangelho.
A identidade de Alhandra, como 'Cidade da Jurema', é, portanto, fruto de
seu passado indígena, onde apesar de sofrer inúmeras interdições,
aculturações e fortes influências de outras religiões, acaba culminando no
principal traço indígena, que é o uso da Jurema. Reconhecer esse passado é
também resgatar essa identidade, muitas vezes rejeitada pelos habitantes da
cidade, que assumem uma identidade branca e cristã, e negam (pelo
simbolismo negativo que existe hoje) as identidades de índio e
catimbozeiro.
De aldeia em primeira aldeia na Paraíba, Alhandra é um exemplo do
passado e da herança indígena não só do povo paraibano, mas do povo
brasileiro. A identidade indígena brasileira precisa ser resgatada com maior
zelo, para que possamos gradativamente preencher as lacunas da história ou
histórias do Brasil.
Em 1864, dois anos após a extinção das aldeias indígenas na freguesia de
Alhandra, iniciou-se a medição e demarcação das terras indígenas da
Paraíba, loteando-as e entregando-as com seus respectivos títulos aos
índios, como posseiros. Segundo documentos oficiais da época, Inácio
Gonçalves de Barros, o último governante dos índios Alhandra, recebeu
62.500 braças quadradas de terra, num local denominado Estivas.
Documentos também demonstram a insatisfação do regente, por meio de
um pedido de restituição das terras dos índios.
Para os Juremeiros do Nordeste, Alhandra é uma das mais fortes referências
mitológicas e simbólicas da prática do Catimbó e da ciência da Jurema.
Essa tradição foi cultuada e mantida por Mestre Inácio e seus descendentes.
Mestre Inácio era irmão da professora Maria Gonçalves de Barros, a
primeira Maria do Acais e pai do professor Casteliano Gonçalves e de
Maria Eugênia Gonçalves Guimarães, a segunda e prestigiosa Maria do
Acais.
A segunda Maria do Acais foi casada com o português José Machado
Guimarães, com quem teve nove filhos, entre eles o mestre Flósculo
Guimarães, casado com a mestra Damiana. Antes de se mudar para
Alhandra, Maria morava no Recife, onde era uma respeitada catimbozeira,
o que justifica o fato de ser a herdeira das terras de Acais, pois segundo a
tradição familiar, o trabalho de um Mestre deveria ser continuado por um
descendente, herdar mais do que terras, a tradição da família. Damiana,
falecida em 1978, era filha de Casimira, sobrinha de Maria, e última
professora/Mestra de Acais.
Maria chegou a Acais por volta de 1910. Construiu uma casa para
residência e, em frente, a capela de São João Batista. Atrás da casa, sob as
árvores de Jurema existentes, eles adoravam suas cidades e seus Mestres.
Um pouco mais abaixo, numa casa de taipa, fazia suas mesas de Jurema.
Seu filho, Mestre Flósculo, foi sepultado em 1959 atrás da capela. Uma
escultura de concreto de um tronco de Jurema foi colocada sobre seu
túmulo. Maria do Acais morreu (ou se encantou) em 1937.
Maria do Acais foi citada por diversos escritores, como: Arthur Ramos,
Roger Bastide, Gonçalves Fernandes. Porém, nenhuma referência é mais
forte e significativa do que o ponto cantado nas muitas sessões de Jurema
espalhadas por este nordeste:

Eu dei um grito
Tão longe
E ninguém me atendeu.
Mestra Maria do Acais
A melhor Mestra sou eu.

Venho de tão longe


Eu venho é trabalhar
Trazendo as correntes
Sereias do mar.
Mestra Maria do Açaí
Pra que mandou me chamar.
Jurema em um contexto psiconáutico

Em diversos escritos, Grünewald refere como, a pedido do presidente de


uma ONG holandesa, foi criada no México uma nova forma de produzir
uma bebida da Jurema como análoga à Ayahuasca - uma anahuasca,
segundo seu criador Jonathan Ott (1995) - que trata disso para substituir a
Ayahuasca por um enteógeno mais acessível para seus projetos terapêuticos
de recuperação de dependentes químicos naquele país. A ayahuasca (bebida
também chamada de daime, hoasca, entre outros nomes nativos) contém em
sua composição psicoativa harmina ou harmalina beta-carbolinas e o
alcaloide DMT do cipó de Banisteriopsis caapi ou das folhas de Psycotria
viridis. A composição da bebida ritual, que deveria funcionar como um
análogo da Ayahuasca, agora consiste em sementes de Peganum harmala
(harmal; arruda síria), muito ricas em hamina e harmalina, e a casca
intermediária da raiz da jurema negra (inicialmente do México), que é
muito rico em DMT.
Esta mistura de Jurema e Peganum foi introduzida no Brasil em janeiro de
1997 e no mês seguinte no Rio de Janeiro começaram os trabalhos
espirituais utilizando esta bebida, batizada de “Juremahuasca” por Labate
(2004). Aliás, esse autor foi pioneiro ao clamar pela reinvenção da
Ayahuasca em contextos urbanos e apontar o primeiro uso ritual da
Juremahuasca no Brasil (RJ).
A partir da segunda metade da década de 1990, surgiu um novo enteógeno
que foi chamado simplesmente de Jurema por seus usuários. De fato, esse
psiconautismo no Brasil tem sido associado principalmente às tradições
daimista, umbandista e oriental no contexto geral do contexto da Nova Era,
ou o que Soares (1994) chamou de "misticismo alternativo no Brasil".
Grünewald chama esses novos usuários de psiconautas, com base na
definição de Ernst Jiinger. Introduzido por Ernst Jiinger (1970), o termo
psiconauta tem origem no grego (psiche e naútés) e significa literalmente
viajante da alma ou espírito. Este termo pode ser aplicado a muitos atores
sociais que, desde os primórdios da humanidade, buscaram a experiência do
transe a partir da pesquisa e experimentação com elementos botânicos. Em
contraste com a ciência bioquímica moderna com suas conexões com a
medicina humana, esses psiconautas estão mais preocupados com a
experiência exploratória das dimensões espirituais do que com a
justificativa científica da eficácia.
Típicas do Brasil muito sincrético, essas novas abordagens ganham vida
própria e se valem de todas as tradições disponíveis para oferecer aos atores
credibilidade e enquadramento espiritual. Esses Novos Juremeiros usam
vários termos e conceitos, os fundem e estabelecem sua própria filosofia.
Na verdade, esses diversos grupos ainda não podem ser atribuídos a
nenhum movimento real. Algumas das várias drogas xamânicas entram nas
casas, especialmente na Umbanda, às vezes as drogas recebem um
espartilho ritual de todas as tradições possíveis - a Umbanda, o Catimbó, o
Candomblé, bem como as linhas de Ayahuasca do Santo Daime, Barquinha
, UDV (União do Vegetal), Umbanda, Candomblé, espiritismo Kardec, e
não raro também Sufismo, Hinduísmo, Budismo, Yoga, em relação às
técnicas de respiração, Reiki, dança, pintura, improvisação musical, etc.
usados e interpretados arbitrariamente. Então, hoje, deve-se sempre
perguntar exatamente o que significa Jurema - tanto em relação à tradição
(quanto Catimbó ainda existe nela) quanto à bebida.
Essa forte comercialização da Ayahuasca, da Jurema e das "biodrogas" em
geral é tanto fruto de buscas espirituais quanto fonte de novas experiências.
Por outro lado, tradições seculares estão se desgastando, tradições – cuja
eficácia muitas vezes se baseia na experiência intergeracional – são
suavizadas e, dependendo da extensão, também apresentadas sob uma luz
muito enganosa. É mais importante documentar os poucos grupos Catimbós
remanescentes em sua forma tradicional. Muito já se perdeu ao longo dos
séculos.
JUREMA – DEFINIÇÕES E
DESCRIÇÕES

O termo
Jurema ocupa um lugar especial entre os estudos da antropologia brasileira.
O termo já carrega vários significados que estão ligados em simbolismo
complexo. Vejamos algumas definições, alguns comentários e notas de
vários autores e cientistas. Eles foram compilados a partir de vários escritos
e estão listados abaixo sem avaliação:
• Jurema é uma árvore, mas não exatamente. É uma árvore e muitas
outras árvores. Sua identificação botânica permanece indefinida. O
nome pode se referir (principalmente) a espécies dos gêneros Mimosa,
Acacia e Pithecellobium (Sangirardi Jr, 1983 citado por Grünewald,
1999a), que não refletem as designações populares de algumas árvores,
como a Jurema Preta, Branca, Vermelha ( Preto, branco, vermelho), que
por sua vez permitem variações regionais.
• Jurema é uma bebida. De partes nem sempre iguais dessas plantas (as
mais citadas são a Mimosa tenuiflora e a Mimosa verrucosa) obtém-se
um líquido para fins espirituais e medicinais. As receitas para o seu
preparo, os tecidos vegetais utilizados e as dosagens, bem como a
combinação com outros ingredientes variam muito.
• A Jurema é uma cerimônia religiosa (celebrada de forma diferente por
índios e caboclos, respectivamente) em que esta bebida é
compartilhada. Por vezes o culto da Jurema é visto como uma
tradição/religião no complexo cenário da espiritualidade brasileira, mas
mais comumente é mais íntegro e integrado a práticas religiosas ou
tradições como Pajelança, Toré, Catimbó, Umbanda, Candomblé de
Caboclo, etc. A Jurema e a bebida podem ter aqui um papel mais ou
menos central.
• A Jurema é uma "entidade" espiritual que se manifesta no transe dos
adeptos dessas religiões (Anthony, 2001). Ou uma turma, uma espécie
de “entidade”, com muitas Juremas. A Jurema manifestada nesses
cultos pode ser caracterizada de formas muito diversas em diferentes
práticas e em diferentes agrupamentos de uma mesma tradição. Às
vezes sua caracterização pode ser diferente dentro de um mesmo grupo,
até Juremas diferentes podem se manifestar no mesmo meio.
• A Jurema também pode ser um local de culto e oração: a Mesa da
Jurema (Mesa é português e significa literalmente mesa, o termo aqui
significa altar) ou o Congá de Umbanda (englobando todo o espaço de
rituais) . Jurema é o "mundo espiritual" de onde saem os encantados
(Encantados) que se manifestam nas sessões.
• Jurema é o "nível/dimensão espiritual" da difusa "espiritualidade
brasileira" em que os espíritos se apresentam/revelam como índios.
• Jurema é uma nativa americana metafísica. O nome Jurema significa
uma representação antropomórfica da Floresta Sagrada. Nos rituais
coexistem a bebida e a “Cabocla” de mesmo nome (Assunção, 2001).
• A Jurema pode ser uma "Linha de Trabalho". A "linha" das "Caboclas
de Oxossi" (antropomorfose feminina das entidades, as encantadas das
matas). É uma Jurema e várias Juremas ao mesmo tempo. A Jurema
não deve se limitar à "falange" das "Caboclas Malditas" femininas.
"Entidades masculinas" também existem. Ambos podem ser Juremeiros
de Catimbós, ou apenas Caboclos dentro da Umbanda.
• Embora a planta prospere nas áreas áridas e estepes do nordeste do
Brasil, hoje a Jurema está associada às Caboclas de água
• Jurema é um objeto. Uma pintura ou estatueta de uma mulher nativa
americana com diferentes características - longe de serem tratadas
como meras representações - suas representações icônicas são na
prática ritual experimentada a atenção, cuidado e respeito que também é
dela na própria "realidade" devida. No entanto, sua imagem não
representa necessariamente um objeto físico. Pode ser uma aparição
objetivamente percebida por "videntes" com a mesma qualidade de
percepção de um ser humano comum, bem como aparecer como uma
"imagem mental" como cenas de sonho, distinguindo-se dela pelo
estado de alerta e outros sinais que variam de informante para
informante (eventos simultâneos como canto de pássaros ou borboletas,
nitidez da imagem, "dicas" e "agradecimentos" etc.).
• Jurema é uma cidade. A cidade de Jurema, uma cidade do além. Mas,
mais concretamente, a cidade de Jurema pode consistir em uma coleção
de copos e taças com bebidas diversas, colocadas na "Mesa da Jurema"
para fins rituais; assim como pode ser uma Juremeira (árvore) ou um
Juremal.
• Jurema é a floresta. A cidade de Jurema pode se estender desde a
Juremal até a totalidade e diversidade da floresta.
• Jurema é uma tribo (de Juremeira). Um ramo que marca ritualmente um
ponto de santidade no local de culto. Mas a tribo dos Juremal também é
de onde vêm os Caboclos e Mestres de seu culto, o que é literalmente
verdade: a Jurema, que é comumente consumida, é preparada a partir da
casca do tronco (ou da casca da raiz). ).
• As cantigas (pontos) repetem insistentemente que a Jurema é um 'lugar'
de onde se vem ou para onde se vai. Vários “ponteos” cantados o
expressam, preservando uma significativa ambiguidade do outro como
eu: venho de longe, da tribo Juremal. Quem vem? O índio étnico
Caboclo? O praticante do culto realizando o ritual? Um "guia" que
"inclui"? Outro ou eu? Como Jurema poderia se representar se o
assunto que ela objetivaria é vago? Essas árvores, troncos e
espiritualidade também são um diacrítico da identidade étnica indígena.
A jurema é um traço essencial que delineia o 'ser' indígena. No século
XX, manter seu culto (depois de meio milênio de perseguição) tornou-
se um método de reconhecimento da etnicidade, e os processos de
aculturação foram revertidos em processos de etnogênese. Não só o
Serviço de Proteção ao Índio (antecessor da FUNAI) o tem promovido
como critério de reconhecimento das comunidades indígenas (que,
paradoxalmente, promoveu a preservação ou reinvenção de usos, a
fabricação de tradições), como remanescentes de tribos indígenas
competem para diferenciar a culto caboclo e manter o segredo e
garantir a fidelidade de seus ritos à origem para assegurar a "pureza"
étnica (Grünewald, 1999b).
• A palavra “Jurema” na língua Tupi “ju-r-ema” significa “o espinho
suculento” ou também “ju-rema – o espinho fedorento” de acordo com
o dicionário de palavras brasileiras de origem indígena em Chiaradia.
Hoje o termo “polissêmico” seria a palavra para melhor identificar o
adjetivo e identificar aquela palavra. Por sua importância ser enorme,
pode ser uma árvore da família das leguminosas - Mimosácea - que em
diversos lugares possui denominações diversas como Angico-Branco,
Iurema, Juremari, Jerema, Jeremari, Jeroma, Jacaré, Cipó Espinheiro,
Tataré, Tatané ( Argentina), Jerumaré, Jerumari, Curumaré
(Pitecolobium tortum), entre outros.
• Preparação líquida à base de plantas para usos medicinais ou místicos,
externa e internamente, como a bebida sagrada "Vinho da Jurema";
• Cerimônia mágico-religiosa conduzida por xamãs, xamãs, curandeiros,
curandeiros, pais de santo, Mestres ou Mestres da Jurema que preparam
e bebem este “vinho” e/ou dão para iniciados ou clientes beberem.
• A Jurema também é uma entidade espiritual, uma "Cabocla" ou
divindade, invocada tanto pelos povos indígenas quanto pelos
remanescentes, herdeiros diretos em cerimônias no Catimbó, cultos
afro-brasileiros e mais recentemente na Umbanda.
Para o professor José Maria Tavares de Andrade, até hoje, na polissemia
desse termo, esse "complexo semiótico" denominado Jurema representa um
ponto de vista e uma resistência étnica da população nordestina autóctone,
"um fio condutor de um traço cultural, característica do componente
indígena da cultura popular, regional e nacional”.
Na primeira fase da colonização, a resistência dos povos indígenas do
Nordeste não permitiu que a Jurema fosse conhecida como árvore sagrada
em seu uso e importância e, portanto, não documentada por colonizadores e
estrangeiros.
Numa segunda fase histórica, a Jurema representa um elemento ritual que
remete à resistência armada dos povos indígenas ou à guerra contra os
inimigos, também em suas alianças. Mesmo nessa fase, quando se inicia a
documentação da Jurema, sua importância ainda não é compreendida, mas
seu uso já é causa de repressão, prisão e morte de índios americanos.
Em meio ao progressivo rolo compressor da colonização, do genocídio ou
da tentativa de dominação, não só política e econômica, mas também
cultural, uma nova forma de resistência vai surgindo: a Jurema ocupa um
lugar central na religiosidade popular, não apenas entre os indígenas da
região – o Catimbó . Dada a componente negra, a Jurema garante o seu
reconhecimento como ser autóctone (espírito, divindade, cabocla), "dona da
terra". A Jurema é absorvida pelos cultos afro-brasileiros, surgiram até os
"Candomblés de Caboclos".
Nas últimas décadas, no contexto da Umbanda, religião emergente e em
processo de sistematização e expansão nacional, a Jurema foi integrada à
cosmologia sagrada, ao panteão das religiões nacionais. Encontramos as
"Linhas da Jurema" entre as linhagens e filiações religiosas da Umbanda em
vários estados do Nordeste. Nos últimos anos, e paralelamente ao próprio
movimento religioso no Brasil, a Jurema manteve-se como "núcleo duro",
segredo, bandeira ou símbolo para os índios que permanecem em pleno
"movimento étnico" no contexto da defesa de seus direitos humanos, de sua
áreas protegidas e sua Autonomia e reconhecimento no pluralismo da
sociedade e das culturas brasileiras.
Em Alhambra, pequena comunidade ao sul de João Pessoa, na Paraíba, fica
a cidade sagrada de Jurema. São 42 mestres principais sepultados, inclusive
Mestre Zé Pelintra. O único espírito não da tradição indiana que pode
aparecer nos rituais já que, como dizem, "desce para todo tipo de serviço".
(A presença do Zé Pelintra e da Cachaça são imprescindíveis no Catimbó,
onde "não há Mestre celibatário". Ribeiro, 1991)
A Jurema é uma árvore que floresce na natureza e na Caatinga nordestina e
possui duas características: a Jurema branca e a Jurema preta. Os pajés
(sacerdotes Tupi) usavam a bebida Jurema-Branca, que fazia as pessoas
sonharem. Os magos, BabalOrixás de Pernambuco, os Mestres de Catimbó,
os pais de Terreiro dos Candomblés da Bahia usam muito a Jurema.
Sangirardi Jr. aponta que a Jurema "estuda desde o aspecto ritual" de onde
emergem diversas manifestações de experimentação religiosa:
A Jurema era usada ritualmente por tribos de dois grandes grupos indígenas
que habitavam o Nordeste: os Jê, os Tapuias dos antigos escritores, e os
Kariri. Porém, os detalhes das cerimônias em que a erva era ingerida por
esses índios se perderam para sempre, cerimônias não registradas por
nenhum escritor da época” (Sangirardi Jr., 1983:193) era a Jurema que
acontecia durante a catequese indígena era travada quando os indígenas do
Nordeste eram aldeões em missões, e uma luta ideológica que
aparentemente se estendeu aos Juremeiros em geral até a primeira metade
deste século porque, como Sangirardi Jr. anunciou.
As assembléias de culto em que a Jurema bebia eram anteriormente
referidas como adjuntas da Jurema e como uma prática supersticiosa
envolvendo as artes do diabo e, como tal, seus seguidores estavam sujeitos
às penas da lei. Mas se não há relatos de usos rituais da Jurema anteriores
ao contato dos índios com as autoridades colonizadoras, encontram-se
descrições de rituais sincréticos envolvendo o consumo da Jurema. De fato,
a Jurema não só faz parte dos rituais indígenas, mas seu uso ritual também é
difundido em diferentes sistemas de culto (no meio rural e urbano) como
Catimbós, Xangôs, Candomblé, etc. Segundo Sangirardi Jr., “pajés
indígenas ensinou aos brancos e mestiços os mistérios da Pajelança. Isso
influenciou o Catimbó. Ambos receberam uma mistura de espiritismo,
feitiçaria européia e, nas orações e imagens sagradas, o catolicismo. O pajé
recebe de volta sincretizado tudo o que ensinou. E até começa a trabalhar
com as Encantadas...” (Sangirardi Jr., 1983:194).
Até o século 20, beber Jurema era sinônimo de feitiçaria ou feitiçaria. Da
casca de seu tronco e raízes é feita uma bebida que é considerada magia
sagrada. Jurema é também o local sagrado onde vivem os Mestres do
Catimbó, religião forte no Nordeste. Este culto se espalhou dos Sertões e
Agrestes nordestinos em direção às grandes cidades litorâneas, as
constantes ondas migratórias entre o interior e o litoral devem ter
influenciado nessa troca de elementos simbólicos no culto. Distribuída em
algumas cidades do Nordeste como Recife, Paraíba, Maceió, Natal e atinge
sudeste e sul do Brasil. Desta forma o símbolo da árvore que conecta o
mundo terreno com a vida após a morte e, embora amarga, confere
sabedoria a quem dela se alimenta.
Segundo Barretto, o termo Jurema aparece nos trabalhos das ciências
sociais e humanas para designar certas espécies vegetais do gênero Acácia,
como a Mimosa tenuiflora. Aponta também para a bebida psicoativa feita
com componentes do mesmo vegetal, utilizada em rituais de comunidades
indígenas e naquelas que fazem parte de religiões africanas; também
nomeia os rituais cujos participantes tomam a bebida. No que diz respeito à
cosmovisão da Jurema, há uma riqueza de símbolos presentes nos rituais,
representando formas de composição muito diversas. Em geral, a bebida, a
fumaça expelida dos cachimbos, o maracá e os cantos são elementos
comuns em quase todas as cerimônias realizadas nas comunidades
indígenas ou nas religiões africanas. Entre os índios, os ritos permitem ao
xamã se conectar com o mundo dos encantados. No universo afro - mais
comum nos centros urbanos - o cerimonial tem algumas semelhanças com
as chamadas "Giras de Umbanda" e as divindades que caracterizam o
métier do Juremeiro são os Mestres e Mestras. Outro traço distintivo desse
cosmo são os ritos de iniciação, por meio dos quais os praticantes têm
acesso às "cidades" da Jurema onde, segundo relatos locais, o iniciado
estabelece sua relação com uma divindade e adquire os conhecimentos
adequados para realizar curas e prevenir infortúnios.

A planta

Aspectos botânicos

Nomenclatura: Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.


Sinonímia: Acacia tenuiflora Willd. Mimosa hostilis Benth. Mimosa
Cabrera H. Karst. Mimosa negra Huber. Limão Mimosa Rizzini. Acacia
hostilis Mart.9

Descrição morfológica

A jurema é uma árvore pequena, atingindo até quatro metros de altura, tem
o caule retorcido e enrugado, seus galhos cheios de grandes espinhos, sua
casca quase preta, fendida longitudinalmente, suas folhas são bipinadas com
folíolos bem reduzidos. Suas flores são amarelas e dispostas em espigas.
Vagem pequena, articulada e espiralada.
SOUZA (2002:21) faz uma descrição morfológica da Jurema-preta, eis o
trecho inicial: “Planta arbustiva de um a oito metros de altura, armada de
espinhos irregularmente dispostos nos entrenós, ou indefesa. As raízes são
longas, ramificando-se no solo, externamente com cutícula marrom-escura,
e vinho tinto por baixo, e internamente amarela, com fraturas irregulares;
marcadamente rugoso com pequenas eminências pontuadas; e com sabor
amargo adstringente”.
Lima (1946:71) e Sangiraidi (1983:191) utilizam a descrição de Martius
que encontrou na “Flora Brasiliensis” (1870-76) de algumas características
morfológicas da Jurema-preta (M. tenuiflora), a primeira cita em latim e o
segundo em português. “Arbusto, pubérulo (viscoso?), espinhos esparsos,
fortes e retos; folíolos multijugados, ligeiramente pubescentes; pontas
cilíndricas; flores com 4 pétalas e 8 estames; vegetal quase séssil, plano,
viscoso, pluriarticulado”.

Os vários nomes de Jurema

No México é conhecido como tepescahuite, tepesquehuite; em Honduras,


Colômbia e Venezuela como carbono, carbonal, cabrera ou cabrero. na
América Central (Guatemala, El Salvador, Honduras e Nicarágua) é
conhecido como carbón negro10. No Brasil, dezenove espécies conhecidas
como Jurema as indica Albuquerque (2002:182).
O nome Jurema parece ter vindo do tupi Yu-r-ema, (Mota, 2002:21), Yú-r-
ema, (Sangirardi, 1983:191 e Souza, 2002:24) ou Yu'rema, (Andrade e
Anthony, 1999:104), que é, segundo Lima (1946:56) e Sangirardi (ibid),
“espinheiro”. Ainda segundo Lima, o pesquisador Oliveira China (1935)
denomina o termo “espinho suculento”. Para Lima, o termo Jurema viria de
“iucema”, que significa “iú-espinho e cema- partícula que indica
agrupamento, servindo para formar substantivos coletivos. a transformação
de 'iucema' em 'iurema' obedeceu a um caráter eufórico tão forte na língua
Tupi, (...) até mesmo o 'rama'".

Distribuição geográfica

A Jurema é encontrada principalmente em todo o nordeste do Brasil, menos


no litoral do que no sertão. Na Bahia e em Minas Gerais, Pio Corrêa, apud
Souza (2002:22), em 1926 narrou a presença da planta. Grünewald
(2002:100) indica sua presença além de todo o nordeste brasileiro, também
em Minas Gerais11. Simon e Proença, apud Souza (2002:22), indicam a
presença de Jurema também no Piauí e na Bahia, além do México, América
Central, Venezuela, Colômbia. Carmago-Ricale, apud Souza (2002:22),
indica sua presença em Honduras, Guatemala, El Salvador, Nicarágua e
Panamá. No Egito e Norte da África, Palestina e em todo o Oriente Médio a
Jurema tem plantas irmãs, vários tipos de Mimosas.

Propriedades terapêuticas

Suas propriedades terapêuticas são antibióticas, cicatrizantes, antimicóticas,


antiespasmódicas e alucinógenas.
(...) Estudos têm demonstrado atividades antimicrobianas “in vitro” do
extrato aquoso ou alcoólico, preparado com o pó da casca da Jurema. Uma
clara inibição no crescimento de colônias de microorganismos gram-
positivos e gram-negativos, leveduras usadas e dermatófitos. Os derivados
da triptamina têm ação sinérgica na presença de alcaloides, sendo inativos
por via oral quando ingeridos isoladamente... explicar o uso tradicional
desta planta. (De volta às raízes, nº79-1999).
A dimetiltriptamina (DMT) – presente na Jurema –, o mesmo alcaloide
psicoativo encontrado na Ayahuasca, bebida xamânica utilizada pelos
índios da Amazônia ocidental e, mais recentemente, pelas seitas religiosas
do Santo Daime e da UDV (União do Vegetal), influencia o sistema.
sistema nervoso central (SNC), no metabolismo das funções psíquicas. O
original DMT é uma composição cromática que proporciona modificações
dimensionais, assim como ilusões acústicas e óticas. Também causa
alterações de humor, como euforia, depressão, ansiedade, distorção na
percepção do tempo e do espaço, além de despersonalização, midríase e
hipertermia.
Segundo alguns autores, o DMT tem ações semelhantes ao LSD-25 e outras
drogas desse grupo. Estudos farmacológicos em duodeno de coelho
produziram uma diminuição do tônus; no reto abdominal, produziu
bloqueio da acetilcolina; e, no útero da rata, causou bloqueio das contrações
produzidas pela acetilcolina.
O potencial toxicológico da planta é alto. Causa o efeito hepatotóxico.
Hemólise causada pela presença de saponinas em extratos butanólicos e
metanólicos. A Jurema não deve ser usada internamente. O uso que as
culturas afro-indígenas brasileiras fazem dele é fermentado, não sendo
aconselhável correr o risco de fazê-lo ou ingeri-lo sem ter o conhecimento
tradicional dos índios. Sobre isso, diz uma das cantigas religiosas: “dizem
que a Jurema é amarga. Para mim é um licor.”, justamente para alertar que
só quem sabe beber Jurema é que tem conhecimento do amargor que ela
tem. E esse amargor é o conteúdo toxicológico dele, que deve ser muito
bem controlado para evitar intoxicações ou intoxicações graves.
Existe ainda uma outra espécie, também chamada de “ Jurema Preta”, que
recebe culto nas regiões do litoral nordestino, cientificamente chamada de
Acacia farnesiana [(L) Silvestre; Syn], 1090 popularmente chamada de
“Coronacris”, “Coroa de Cristo” (BA), “Coronha” (CE), “Esponjeira”,
“Espinilho” (MT, PA, RS). Seus arbustos são grandes – chegam a atingir
cinco metros de altura – ou pequenas árvores – chegam a medir no máximo
nove metros – com muitos galhos. Possuem caules e galhos tortos e
numerosos espinhos (como espinhos, porém mais superficiais). Outras
características desta planta são:
Casca acastanhada, enferrujada, rachada e enrugada. Folhas bipinadas,
glabras, brilhantes e verde-escuras. Flores dispostas em capítulos axilares
globulares, grossos, amarelo-vivo, gêmeas solitárias ou irregulares, de
agradável perfume. O fruto consiste em uma vagem indeiscente,
subcilíndrica, oblonga, linear, estriada, inchada, glabra, que abriga uma
polpa escamosa e sementes duras. O aroma da madeira é muito agradável, e
o das raízes, assim como o dos frutos, lembra o alho. Do caule e ramos
exala uma elevada quantidade de goma, na forma de transparente, que é
considerada melhor que a “goma arábica”. (De volta às raízes, em 67-
1999).
Sua ocorrência geográfica é em parte semelhante à da Jurema Preta
[Mimosa tenuiflora (Willd) Poiret], sendo dispersa e expandindo-se de
Pernambuco e Minas Gerais ao Rio Grande do Sul e Mato Grosso, talvez
mais comum nos dois últimos, e por todos muito cultivado. Apesar de ser
reconhecida como típica do Sul da Ásia, Austrália, América Tropical,
Angola e até da República Dominicana – pelo simples facto de aí ter sido
recolhido um exemplar –, a verdade é que é uma planta muito comum em
todas as regiões quentes. dos hemisférios, e que se desenvolve em terrenos
arenosos, encontrando-se até nas caatingas. Suas folhas, frutos (vagens) e
casca são utilizados na medicina ancestral popular, e suas propriedades
terapêuticas são antissépticas, adstringentes, cicatrizantes e espasmolíticas.
As sementes consideradas excessivamente tóxicas foram usadas para matar
cães raivosos. Algumas indicações para procedimentos terapêuticos:

A. Jurema Preta (Mimosa Tenuiflora)

Recomendação. Feridas e úlceras na pele.


Preparação. Cozinhe 10g de casca em 1 (um) litro de água por 10 minutos e
coe.
Doses. Lave as feridas (2) duas vezes ao dia até cicatrizar.

B. Coroa de Cristo (Acácia Farnesiana)

Recomendação. Diarréia
Preparação. Ferva em meio litro de água 5g de casca, 10 minutos. Filtre e
beba.
Doses. Beba 1 xícara conforme necessário.

Recomendação. Ferida
Preparação. 200g de feijão verde maduro para 1000ml de água, ferva por 15
minutos.
Doses. Lave a ferida duas vezes ao dia.

Considerando as semelhanças físicas e suas propriedades químicas,


podemos dizer que existe, sim, uma semelhança, mas Acacia farnesiana (L)
Wild; Syn, (Coroa-de-Cristo) não contém princípios alucinógenos,
elemento que o diferencia no uso ritualístico da cultura religiosa indígena
originária, onde a bebida fermentada da casca da Jurema Mimosa tenuiflora
(Willd.) Poiret – ajucá – é essencial por possuir os princípios químicos
utilizados historicamente pelos índios Tupi, sendo elemento determinante
para a realização do culto da Jurema Sagrada mais ancestral.
Hoje, o uso e a forma de fazer a bebida tradicional quase se perderam, e nos
Terreiros de Jurema contemporâneos a bebida não é mais fermentada a
partir da raiz da planta, casca e folhas (ajucá, dos índios Pancararus, fulniôs
etc. ). Temos sim uma mistura de bebidas alcoólicas e cascas de diferentes
espécies de árvores medicinais (sete ou quatorze), sementes e outros
elementos que compõem a farmácia do Mestre e das curandeiras,
Juremeiros e Juremeiras. A Jurema dos dias atuais nos Terreiros, tem valor
sagrado, mas não conduz o discípulo à transcendência de sua realidade,
proporcionada pelo DMT contido na Mimosa tenuiflora. Já a espécie
utilizada no litoral para melhor adaptação ao solo é a Acacia farnesiana. A
introdução e renovação do culto da espécie Acacia farnesiana (L) Silvestre;
Syn, mudou o formato do culto em relação às viagens astrais e espirituais
que eram possíveis com a ingestão da Jurema. Mas os elementos de cura e
Pajelança mantiveram-se sem grandes alterações estéticas e de significado.
Os índios de quase todo o sertão e interior do Nordeste ainda praticam e
preparam o vinho da Jurema (ajucá) como seus ancestrais. Porém, deve-se
saber que, provavelmente, a substituição de uma espécie pela outra ocorreu
por motivos de migração para o litoral dos estados e pelo desconhecimento
sobre a manipulação química da espécie - violentamente venenosa e letal
para homem, que não deve ousar preparar, sem ciência, o líquido
considerado pelos Juremeiros como sagrado. Esse segredo só foi revelado
aos xamãs, que repassaram oralmente os conhecimentos dos mais antigos
aos mais novos líderes religiosos indígenas. Com a distância das aldeias, a
cultura do preparo da Jurema se perdeu no tempo.
As “Cidades da Jurema” (árvores sagradas, sob as quais foram enterrados
antigos Mestres e Mestras, conhecidas como trunqueiras, onde é mantido
um culto permanente ao enterrado e encantado) em Alhandra, nas terras da
Juremeira Maria do Acaes, já eram da espécie Acacia farnesiana (L)
Selvagem; Syn., simbolizando e demonstrando o sincretismo botânico
ocorrido no local do último assentamento dos índios Arataguis, na Paraíba.
Seria um erro cultuar uma espécie botânica diferente de árvore, cuja família
é a mesma da Jurema Preta? Provavelmente não. Ao perceber a diferença
entre as espécies cultivadas no litoral e no sertão, a possibilidade de
compreender as adaptações aos novos ecossistemas e as necessidades de
adaptação local de um povo que historicamente se mudou para o litoral,
trazendo elementos fundamentais na formação e transformação de novas
sociedades – que procuram, também no sincretismo, formas de dar
sobrevivência à sua fé e tradição, imaginário e oralidade.
Não é difícil entender por que a Jurema seria sagrada para os índios
nordestinos antes da chegada dos brancos. Segundo Andrade, “o
enraizamento linguístico do termo Yu'rema na língua tupi é um forte indício
de que o uso primordial, incluindo o uso cerimonial do vinho da Jurema,
além de ser um patrimônio da cultura indígena e regional, certamente já
existia antes da presença dos colonizadores”.
Além de seu caráter alucinógeno e de seu comprovado uso em guerras e
ritos de passagem, a Jurema, como planta, desempenha papel central no
ecossistema semiárido das caatingas nordestinas: durante longos períodos
de estiagem, quando a paisagem do sertão fica cinza. e vermelho, só ela e o
mandacaru resistem ao verde e com reservas de água. De fato, no auge da
estiagem, a casca da Jurema seca enquanto seu interior permanece fresco.
Quando a chuva volta, a casca seca cai e a árvore reaparece jovem. Este
fenômeno dá origem a uma longa mitologia de lendas e cantos envolvendo
os ciclos de sazonalidade e morte/renascimento. Mas, diferentemente do
mandacaru, do qual o sertanejo consegue extrair água na estação seca, a
água da Jurema é totalmente inacessível ao uso humano.
No caso da Jurema, a existência de água atrai a presença de pequenos
insetos e vários níveis de pequenos predadores na cadeia alimentar do
ecossistema sertão. As cobras são comuns no Juremal, tanto pela
alimentação farta quanto pela proteção dos galhos espinhosos,
impossibilitando a passagem de animais maiores. Esse fato deu origem a
uma extensa mitologia popular, cantada em pontos e chamados tradicionais,
em que as cobras protegem espiritualmente a árvore, assim como esta, com
seus espinhos, protege seus répteis guardiões. Assim, centro de resistência
da vida orgânica à seca, em torno do qual gravita todo ecossistema 'não
humano' (na verdade, não mamífero) da caatinga, Jurema reinou no sertão
nordestino, desde tempos imemoriais, às margens do qualquer socialização.
: é apenas um lugar perigoso, cheio de tabus, em vários sentidos.
Antes da chegada dos colonizadores, apenas os índios do sertão do Rio
Grande do Norte, os Kariris e os Jê (ou Tapuios), tomavam Jurema.
(SANGIRARDI JR., 1983) Essas tribos, detentoras dos ritos da Jurema,
porém, aliaram-se aos holandeses e foram destruídas pelas forças
portuguesas. A Jurema como identidade étnica foi então construída
historicamente em segredo durante o período de colonização, atingindo
tribos litorâneas distantes que não tinham tradição com a bebida. O uso da
Jurema foi tolerado e aceito pelos católicos portugueses quando foi
canalizado para a lógica da guerra contra os invasores franceses e
holandeses, enquanto seu uso religioso foi condenado como feitiçaria.
Existem vários registros históricos (séculos XVI e XVII) sobre a eficácia
militar dos guerreiros-Juremeiros. Essa dupla permissão/condenação
favoreceu uma expansão secreta e silenciosa da Jurema, levando o uso da
bebida a ser conhecido até o Maranhão. (ANDRADE, 1992:9)
E foi assim, nesse contexto contraditório, que a Jurema se firmou como
prática étnica indígena e se misturou aos cultos africanos. E não se trata,
nesses cultos, de reduzir a planta a um 'espírito' de Cabocla como a
conhecemos na Umbanda: o Candomblé africano reconhece a Jurema como
um Orixá, o único genuinamente brasileiro.3
A Jurema chegou ao império como uma forma religiosa muito complexa de
resistência cultural, mantendo vivo seu caráter guerreiro e marginal e
conheceu um novo ciclo de religiosidade popular - o dos Mestres da Jurema
no Catimbó nordestino, que, até a primeira metade do séc. século XX,
usava a bebida para desfazer feitiços e encantamentos no CE, PB e RN
(CASCUDO, 1978).
No entanto, apesar de constituir um complexo rico em variações, a maioria
dos estudos antropológicos sobre a Jurema descreve apenas o Toré, festa
dos índios nordestinos em que a bebida é consumida ritualmente. O relato
mais antigo data de 1946, quando Oswaldo Gonçalves de Lima descreve o
uso xamânico contínuo do vinho da Jurema entre os índios Pankararu do
Brejo dos Padres, no sul de Pernambuco. Por volta de 1980, alguns
pesquisadores defendiam a extinção dos cultos da Jurema (SCHULTES &
HOFMANN, citados por OTT, 2002:673). Entretanto, sabe-se que algumas
formas cerimoniais associadas ao Toré sobreviveram entre os Xucuru da
Serra de Ararobá/PE; o Kariri-xocó do Colégio, na divisa entre AL e SE
(MOTA, 1987); o Atickum-Umã/PE (GRÜNEWALD, 1995); os Truká
(BATISTA, 1995) e inúmeros outros grupos espalhados pelo sertão
nordestino (PINTO, 1995). Além disso, na segunda metade do século XX, a
cerimônia indígena do Toré foi simbolicamente adotada pelos grupos
umbandistas do litoral nordestino.
A partir desse quadro, muitas perguntas impossíveis podem ser feitas: O
que aconteceu com Jurema? Como se transformou de uma prática
xamânica, dessa secreta manifestação étnico-popular de índios e negros em
uma simples 'Cabocla da linha de Oxóssi', sem nenhuma relação com a
planta e seu consumo?
Como uma tradição tão significativa desapareceu assim sem deixar
vestígios?
No entanto, só entenderemos o verdadeiro significado da Jurema, a
principal razão de sua 'sacralidade', seu misterioso desaparecimento e sua
atual reconstrução mítica, se a relacionarmos com toda a discussão
contemporânea sobre 'enteogênese'.
JUREMA INDÍGENA E URBANA

Marcos Alexandre dos Santos Albuquerque estuda e descreve em sua


monografia “Destreza e Sensibilidade: os vários sujeitos da Jurema“
diferentes abordagens e perspectivas sobre o uso da Jurema Sagrada. As
descrições a seguir são trechos extraídos deste estudo de campo. Enquanto
as linhas de trabalho indígenas se concentram em uma visão mais purista da
Jurema, a Umbanda irá fundi-la ao tipo de trabalho bastante espírita
(ocidental). O Catimbó de Alhandra pode ser considerado a linha de
trabalho que surgiu da fusão das tradições indígenas e jesuíticas.
O papel da Jurema dentro da Umbanda e outras expressões regionais como
o Maracatu não é mais discutido. Por um lado, porque o foco deste livro
deve continuar sendo o lado indígena do culto. Por outro lado, porque a
Jurema está inserida de forma bastante arbitrária e sem forma uniforme,
principalmente dentro da Umbanda. Ali se atrofia regularmente, seja como
droga psicodélica (às vezes associada à maconha), seja como parte dos
rituais dos Caboclos ou mesmo dos banhos rituais alimentados com o
Candomblé. Não restando muito do índio, a Jurema costuma ser mais
simbólica do que cultuada dentro da Umbanda.

Indígena Jurema
A jurema é um dos elementos diferenciadores entre o índio e o branco, por
isso seu uso ritual se apresenta como o elemento diferenciador que legitima
a etnicidade como um grupo diferenciado. Em quase todo o Nordeste
indígena, a Jurema é o centro das práticas rituais. O sagrado se faz
assumindo a Jurema como o veículo que leva o índio ao encontro dos
espíritos ou “encantados”. Por isso a usina é protegida pelos grupos em
sigilo, ou menos que isso, por sigilo preventivo.
Existem alguns tipos de rituais em que a Jurema assume junto com eles a
principal expressão do ser indígena. Esses rituais demonstram ao branco e
ao índio o que é o índio. Eles legitimam e reforçam a identidade étnica
indígena ao promover uma representação da cultura. O Toré é o principal
desses rituais. Caracteriza-se por uma dança circular em torno de uma cruz
ou no centro de um Terreiro.
Com a dança, cantam-se linhas rítmicas ao som de maracás e passos fortes.
Quando o Toré é forte e necessário, a bebida feita com a Jurema é colocada
no centro e em determinados horários distribuída à assembléia. O “gentio” é
uma espécie de Toré feito em local fechado e normalmente privado. No
centro da casa do gentio há uma toalha sobre a qual repousam os objetos do
ritual e o aribé, a bacia que contém o anjucá, a bebida feita com a casca da
raiz da jurema. Ouricuri é o lugar sagrado de alguns grupos indígenas. O
ritual realizado nesses locais também é chamado de Ouricuri.
Como se verá, nas obras de Ouricuri, a presença de brancos é minimizada,
sendo bastante incomum que um branco tenha conhecimento de como são
feitas essas obras. Olha, porém, em Ouricuri são realizados rituais do tipo
Toré. Há separação entre gêneros e a permanência no local segue uma data
maior do que apenas um dia. Em alguns grupos chegam a quinze dias de
permanência no local de culto. Finalmente, há as obras que tendem a ser
entendidas como trabalho de altar (mesa). Nesse tipo de trabalho, o pajé faz
consultas e atende pessoas que buscam a cura ou mesmo o consolo
espiritual. Também é costume servir a comunidade externa branca.

Jurema do Atikum

Dona Ana, ex-cacique Atikum, narrou um mito da origem da Jurema


bastante interessante. Segundo ela, os índios antigos viviam no tempo do
Pai. Nessa época a vida era muito mais difícil do que hoje. Os índios viviam
na floresta comendo a caça que podiam, fazendo comida com o que tinham
de mais imediato. Era um estilo de vida em que a cozinha não tinha
descoberto o sal, o fogo, a carne era comida crua. esses índios viviam nas
pedras, fugindo dos animais, e caçando-os. Um dia, o 1º índio desertou. Foi
o primeiro índio a vir ao mundo. Vir ao mundo é conhecê-lo. Esse índio
saiu do convívio com os outros e se aventurou a descobrir o deserto
(caatinga). o mundo era grande demais, quase infinito, e ele queria ver o
mundo, mas estava atordoado e com medo.
Caminhando pelo deserto (caatinga), esta índia ouviu uma voz sob seus pés
de Jurema, ela perguntou: você quer minha sombra perto de você? “Eu
quero”, ele respondeu. Quando chegou perto da jurema, deu um sono muito
forte, ele recostou e dormiu. Acordou com a presença de uma mulher, era
índia, santa, era cabocla Jurema. A roupa dele era o cabelo, da cabeça aos
pés, cobrindo todo o corpo. Ele perguntou: como você vai chegar aqui? Ela
falou “na língua”, “na língua”: Deus me enviou para vir ser sua companhia
até o fim. O índio não conhecia “a língua”, ficou calado. Tá aí aí ele falou
“na língua”: Se eu não viesse, o bicho ia te devorar. Eles ficaram juntos. O
índio passou a conviver com o santo, mas sem pecado. Por sua vez, ele era
como um padre que vive sem pecado. Foi quando, inexplicavelmente, “no
pru que pru que no, aumentou a geração. Toda a geração indígena veio de
lá”.
Chegamos ao tempo do Filho. Um dia, o índio havia saído, a Cabocla
Jurema preparou o café. Nesta altura o café era colocado, depois de
triturado no pilão, num copo com água quente. Quando ela colocou a água
no copo, não tinha café, tinha sangue! Mas também era outra coisa, era a
Jurema! “A Jurema se transformou por isso, a Jurema é o sangue de Jesus”.
É aí que vamos buscar a força, a força dada pelo divino. É pecado jogar
fora. É pecado Jesus dar gol pra criatura e a criatura abrir as mãos e cair.
Jurema é a vinho, é o sangue de Jesus.
“Se brincasse no mato, o índio enlouquecia, sem salvação”, acrescenta D.
Ana.
A hora do Espírito Santo... Essa ainda está por vir!
Este mito é extremamente interessante. Aponta para o surgimento de uma
comunidade indígena atual em oposição a uma comunidade indígena
ancestral. É como se pudéssemos ter um índio ainda “selvagem”, e em
outro momento um índio consciente. O mito narra essa passagem de um
povo a outro no momento em que Jesus se faz presente no sangue
transformado em Jurema. Fica clara aqui a presença do mito de origem
cristã narrado no Gênesis. Lá como aqui um homem vagueia pela vastidão
solitária quando Deus (o Pai) dá uma mulher para ser sua companheira.
Acabou-se a narrativa do tempo do pai quando então inexplicavelmente o
estilo de vida celibatário dá lugar à convivência conjugal e o consequente
aumento da geração que se dará na criação da atual população indígena.
O tempo do Filho (Jesus) assume um papel quando concede ao casal a graça
de comungar o seu sangue na Jurema. Desnorteada, é a mulher, ainda que
santa, que tenta se desvencilhar de Jurema. Nesse momento, o
conhecimento da língua indígena secreta, herança anterior exclusiva da
Cabocla, irrompe no índio, até então ingênuo “da língua”, e fala em defesa
do fenômeno, indicando assim a presença de Cristo entre a comunidade
indígena que ambos (o casal) fundaram.
Para D. Ana, Jesus teria caminhado por onde houvesse gente, índio ou não.
A Jurema teria sido descoberta há dois mil anos. Deus daria a Jurema como
ciência do índio porque o homem branco se aventurara nos reinos da razão
e do dinheiro. Deixando para o índio o conhecimento dos mistérios da
natureza, dentre os quais a Jurema mostraria com mais clareza quais seriam
esses mistérios. Foi esse índio que continuou a viver no clima árido e seco,
em que a qualidade de vida era mais precária. Assim, os brancos teriam até
“diplomação”, mas não ciência, não “entendendo a organização, o direito
secreto de conviver”. O índio já nasceria “formado pela natureza”.
A Jurema teria aqui não só o papel de opor os saberes indígenas (ciência
dos mistérios) aos saberes brancos (ciência/racionalismo ocidental),
destituindo assim os saberes de sua preocupação hierárquica, mas também
legitimar a emergência étnica indígena nordestina. Pensando no momento
em que Jesus assume os cuidados do índio, protegendo-o com a entrega dos
mistérios do mundo através da Jurema, concedendo-lhe assim um saber
distinto. É também a Jurema que entra como fator distinto entre o índio e o
branco na reivindicação dos direitos indígenas. A Jurema será o elemento
religioso mais presente nas emergências das etnias indígenas nordestinas.
Junto a ela, o Toré também será importante. Mas é na Jurema que os modos
de ser índio vão ser compreendidos porque ela vai ensinar, mostrar o índio
como ele foi, como deve ser. Por isso, no mito, o homem só começa a falar
“na língua” quando Jesus concede sua graça. Através da Jurema ele aprende
a língua secreta que a Cabocla Jurema conhecia pela santa que era, e que até
aquele momento aparentemente não havia aprendido. Este é o momento do
conhecimento. Este é o momento em que o índio se torna forte. É hora de
reivindicar um direito, um espaço. E a Jurema ensina a ser bravo como os
antigos para lutar.
Se metaforicamente o mito cosmogônico também será interpretado como
relevante para a afirmação de um índio neste novo renascimento, não é sem
ciência que Deus, passando uma segunda vez aos cuidados de seu filho
(Jesus), fará dos índios tais irmãos como qualquer cristão, mas sendo, no
entanto, diferenciado nos domínios do acesso ao desconhecido. Assim,
dando aos índios a oportunidade de manter como herdeiros de algo incrível,
as chaves de acesso ao fantástico mundo de Deus e da Jurema.
Esse mito da origem da Jurema só foi encontrado nessa narrativa por Dona
Ana. Em todos os lugares pesquisados (verifique a bibliografia deste
trabalho) nenhum outro mito semelhante. Todos os mitos indígenas da
origem da Jurema têm como tema comum a história de que Jesus fugia da
perseguição romana cansado e ferido. encostado em uma jurema, seu
sangue escorreu pelo tronco da planta e se alojou na fonte. Por isso , a
planta teria se tornado sagrada, seria aquela que abrigava o Cristo e recebia
seu sangue. Observe que esse mito não contradiz o que Dona Ana narrou,
parece mais evidente que o que está narrado acima é um desdobramento
desse primeiro mito, a sacralização da planta. Dona Ana nos contaria assim
a história de como os índios então recebem a “ciência” de Deus através da
árvore que abrigava seu Filho. Para todos os grupos indígenas mencionados
mais adiante neste capítulo, esse mito da origem da sacralidade da Jurema
através do contato com o corpo e o sangue de Cristo é narrado de diferentes
maneiras. semelhante. Há pequenas mudanças no mito dependendo de onde
ele é colhido, como aquele que afirma que Cristo foi enterrado debaixo de
uma árvore de Jurema, ou o que "quando mataram Jesus, \um de seus
apóstolos pegou seu sangue e mandou colocá-lo em o pé da Juremeira era
pra ser ciência dos índios, aí o civilizado não tem nada com a Jurema
porque não tem o sangue” Grünewald (2002:118), recolhido em Atikum há
cerca de doze anos.

Os usos da Jurema Atikum

D. Ana cozinha a Jurema três vezes. Algo muito pouco visto em rituais
indígenas. Nossa primeira impressão em campo já foi transformada por um
novo elemento que surpreende. Essa culinária da Jurema não faz parte de
muitas tradições indígenas.
Segundo D. Ana, ela sempre fazia assim, porque assim a Jurema fica mais
forte. Dado interessante porque em quase todos os trabalhos consultados
sobre o uso da Jurema pelos índios, eles relatam que para os grupos
indígenas, a demarcação do uso da Jurema como ancestral se esclarece na
não aceitação de qualquer cozimento, tornando a Jurema como se
acreditasse que os antigos índios faziam, ou seja, a raiz era macerada,
colocada na água, espremida e para o suco final bastava peneirar um pouco.
De qualquer forma, D. Ana mostrou-se satisfeita em nos avisar que havia
colocado no preparo uma de suas características, algo que veremos
recorrente ao tratar de Jurema.
A raiz da Jurema é cozida três vezes (sempre a Jurema preta “que é a mais
forte”). brasa virada para a boca), uma defumação na bacia (aribé) que
contém a Jurema (anjucá se o jucá para trabalhos de cura). A defumação
consiste em fazer o sinal da cruz com a fumaça do cachimbo na Jurema em
Aribé para sair o sinal de uma cruz no líquido. Nessa “travessia” a Jurema
se transforma. Essa transformação nos é proibida, só quem dirige a obra
sabe no que ela se torna. De acordo com essa transformação, sabe-se quem
poderá levar a Jurema. "Ela não é para qualquer um." A Jurema utilizada é a
preta com espinhos, “é a forte, a da ciência, Mãe Jurema”. Junto com o
preparo final pode-se acrescentar raspas de limão e maracujá. para D. Ana,
costumava ser fumado o manacá é usado no ritual, a Jurema era levada e
depois o manacá era fumado, “ajudava a subir (subir), a viajar”.
Tomada a Jurema, todos se concentram e começam a cantar os versos que
trazem os amuletos, circulando em torno do Aribé (colocado no centro do
Terreiro, no chão) decorado com velas e alguns objetos significativos. “Eu
me concentro e fico em outras curvas, é lindo, vejo muitas coisas. É como
se estivesse dormindo... que sonho bom! Não sei dizer, tanto porque me
sinto aqui em mente". Se a fala de dona Ana é relevante, é porque nela ela
deixa claro que a Jurema tende a prender a atenção de quem a pega para
descobrir desconhecidos Parecendo estar em um sonho, aquele que bebe da
Jurema viajará para lugares mágicos de sonhos, moradas celestiais.
É a esse tipo de fenômeno que os mistérios da Jurema farão jus. Quando
Dona Ana narra sua obra, é exatamente o momento em que quem não
conhece Jurema parece mais distante da narrativa. A parte em que o branco
não tem voz, não sabe. É através dos mistérios que a Jurema mostra ao
índio que demarca um limite, esse campo não pode mais ser narrado, além
de vetado, não tem tradução. Se a língua falada por D. Ana reconhecida nas
obras com Jurema pode ser traduzida, o fenômeno em si é ininteligível, não
podendo ser recuperado em sentido por aqueles que não conhecem os
mistérios da Jurema.
A obra a que foi possível ter acesso deveu-se ao empenho de Seu Augusto,
ex-pajé Atikum. Por meio dele o atual xamã, Seu José (filho de D. Ana
acima citado) também participou da elaboração do trabalho. Junto com os
dois, fomos até uma mata bem fechada onde se encontravam alguns pés
altos de Jurema. A Jurema é sempre retirada de locais de difícil acesso,
locais onde o trânsito humano é bastante raro. Ao chegar ao pé da árvore da
Jurema (uma Jurema preta, preta é sempre mais forte), Seu José começa a
cavar com uma enxada, do lado onde nasce o sol. Procure uma raiz forte e
grande. Enquanto isso Seu Augusto tenta preparar um cachimbo e seu
uniforme de índio.
Encontrando a raiz, ela é toda limpa da terra que a envolve antes de ser
cortada. Seu Augusto tenta cantar algumas linhas tocando um maracá em
que Seu José o acompanha nos intervalos. Aleatório, exemplo de alguns:
Eu vim da Juremeira,
vim com a Juremá
Oi meus Caboclo índio,
Oi do centro do mar.
(Juremá é o lugar místico no mundo espiritual onde vivem todos os
mestres)
Outro:
Tava sentado em Pedra Fina
Rei dos índios mandando me chamar Sou rei dos índios,
Caboclo africano, Caboclo Adriano
Rei do Juremá
Com uma mão pegou na flecha, Com a outra retirada.
Seu Augusto fuma (com o cachimbo invertido, soprando do lado das
brasas) a raiz nua da terra, assim como a própria jurema. Em seguida, Seu
José corta com uma faca a raiz exposta. Cobrindo o espaço até então
ocupado pela raiz, sua casca é retirada com uma faca e ali macerada em
uma pedra. Mesmo na humilde casa de Seu Augusto, um quartinho nos
fundos serve de gentio. Lá a Jurema será espremida em uma vasilha de
plástico com água. Será atravessado da mesma forma que foi narrado a D.
Ana, deixando uma cruz de fumaça na Jurema. o líquido A bebida
resultante já é uma bebida, deve descansar mais um pouco para engrossar.
À noite, um grupo de pessoas, muitas com uniformes indígenas, aguarda o
início dos trabalhos. Todos sentados em volta do aribé da Jurema, colocados
sobre uma toalha branca estendida no chão, ao lado de pequenas imagens
dos santos protetores, de relíquias encontradas na área pertencentes a
artefatos arqueológicos, e algumas velas acesas, além é claro do maracás.
Todos sentados em volta da Jurema, Seu Augusto começa a puxar a fala
inicial do trabalho:
Eu vou abrir minha corrente de Jurema
Traga como tuas formas de licença Iê, iê, eira, traga as tuas formas de
licença.
O ritmo das linhas é dado pelos passos, pela entonação das vozes e
principalmente pelo som das maracas. Esta primeira invocação é para a
Jurema, seguida por uma Virgem Maria e finalmente Atikum. Atikum seria
filho de Umã. Umã é a entidade fundadora da comunidade indígena
Atikum. a serra onde vive o grupo chama-se Serra do Umã, serra desta
entidade. Quando do surgimento étnico do grupo na década de quarenta, em
um dos trabalhos espíritas, Atikum se dá a conhecer como filho de Umã.
Então se você considerar todos da tribo como Atikum, todos seriam filhos
de Atikum-Umã. A etnomia do grupo foi revelada em um trabalho de Toré
com Jurema.
Uma espécie de “vival” (salvamentos) é feito a todos os presentes, aos guias
de luz, Mestres, santos, à Caboclada (indígenas), e a quem for lembrado,
sendo essas “vivências” ilustradas por quem quiser pagar homenagem. beba
então Jurema A Jurema é servida por Seu Augusto, com o pajé Seu José, à
direita, pequena quantidade em uma tigela de coco. Cada um recebe um
valor definido na hora pelo ex-Pajé. Começando da direita para a esquerda.
Leva quem quiser, inclusive as crianças que levam menos. Nesse momento
em que bebem, cantam um verso (música) que fala sobre beber da Jurema:
Vamos beber nosso anjucá
Nosso anjucá das mãozinhas de Jesus
Quem bebe, bebe bebendo
Aonde está a ciência dos meus índio.
Depois que todos bebem, todos se levantam por ordem de seu Augusto.
Este começa puxando uma linha que acha forte e todos começam a dançar o
Toré em volta da Jurema, fazendo esse movimento circular da direita para a
esquerda:
Vamô alevanta, bota em pé
Oi na mesa, oi do velho Anjucá.
Com o passar do tempo, alguns começam a manifestar os encantados que
encostam. As incorporações com os encantados são bastante sutis, não
chegando a dialogar com os presentes. Se estiverem “irradiados”,
continuam dançando no movimento do grupo. Num determinado momento,
você pega mais da Jurema, pega quem quiser, oferecido apenas por Seu
Augusto. Sem mais delongas, o ritual culmina após cerca de três horas,
podendo ser muito mais do que isso, passando pelo amanhecer do dia em
um ritual. É cantada uma linha de encerramento em que o grupo se despede
dos presentes, campo visível e campo invisível. Obrigado a todos que
vieram, inclusive dos invisíveis. Saudações a todos os guias, Mestres,
santos, Caboclos e quem mais for lembrado. O trabalho termina.
Dentro da cultura Atikum, a Pedra do Gentio é um dos lugares sagrados do
grupo. Fica na Serra do Umã, no povoado Jatobá. Neste local dançam-se os
Torés e reverenciam-se os antepassados. Dentro da pedra, em uma entrada
estreita, improvisa-se entre as dobras do mineral um altar com imagens e
velas.

Jurema de Kapinawá

O uso da Jurema nos Kapinawá tem suas diferenças com as práticas do


Atikum. A preparação de um ritual começa. Com o cacique José Bernardo e
o pajé José Moisés, partem em busca de uma boa Jurema para o trabalho.
Na estrada que leva à área indígena, em sua orla uma frondosa Jurema dá
seus ares de graça. diferente do grupo anterior, aqui não se trata de coletar a
Jurema em beira de estrada, até porque, esta estrada é muito pouco
transitada, já que está localizada dentro da área indígena. De qualquer
forma, a Jurema estava em terreno arenoso o que facilita sua remoção.
Pede-se aos “donos da Jurema” para que possa ser retirado. uma oração
engrandecendo esses proprietários e pedindo sua licença é realizada.
Acendem-se três velas representando a trindade cristã (ao Pai, ao Filho e ao
Espírito Santo), colocam-se sob um dos joremas e faz-se uma oração
silenciosa, no início com alguns Pais-Nossos e algumas Ave-Marias.
Preocupa-se em tirar a raiz do lado onde nasce o sol, “o sol quando nasce
traz ciência, quando se põe leva o mal”. Encontrado uma raiz boa, grande e
grossa, corta-se. O xamã cuida de lavá-la em um riacho a seguir. Raspe a
casca da raiz com uma faca sobre uma tigela. por vezes esta parte é feita no
cruzeiro do Terreiro.
A boa Jurema é escolhida porque “tem que ser forte igual vinho, nada fraco,
tomar quatro e ficar arrepiado”, diz o cacique José Bernardo. As maravalhas
da raiz da jurema são misturadas com as maravalhas do caule do jatobá,
como às vezes jucá. Jatobá é usado para “problemas nervosos”. Há reis
ligados à cosmologia do jucá, Mestres do jatobá e reis novamente da
Jurema. Todos esses domínios são solicitados para força e proteção. Traga
água para espremer a Jurema com o jatobá. A água corrente não é benta,
acredita-se que essa água já foi batizada por São João Batista quando ele
batizou tudo na natureza. A bacia que contém a Jurema espremida com o
jatobá na água é atravessada com uma vela acesa (de pé com a chama para
cima) fazendo com ela o sinal da cruz cristã, canta-se um verso:
Este pé de pau é bento
Foi Jesus que abençoou
Deus que salve o calo (cálice) santo
E a hóstia consagrada.
Uma oração é dita, repetida e pedida por bênçãos. A vela que foi usada para
abençoar a bebida da Jurema é colocada sob um dos galhos da árvore. A
bebida é então coada e despejada em um caldeirão.
Os Kapinawá acreditam que ao cozinhar a Jurema estariam cometendo um
grave erro. Além dos antigos índios não usarem o fogo, não podendo assim
cozinhar a Jurema, acredita-se que “tudo que é queimado não tem força”.
Então é só espremer a Jurema com o jucá ou jatobá e coar. Aparas secas da
raiz da Jurema são utilizadas na guia (tubo de trabalho), e as folhas secas da
Jurema são colocadas nos fumeiros das obras.
A Jurema descansou o dia todo e à noite foi organizado um Toré com a
Jurema dentro das dependências da escola indígena da região. O Kapinawá
Toré pode ser caracterizado como um trabalho muito divertido. A presença
de muitas crianças é significativa. Não há aqui um grande líder que assuma
o trabalho. A característica de todo Toré é que o mesmo é gratuito. O ritual
começa com uma linha: vamo, vamo meu povo
Vamô, vamô minha gente
Que uma noite não é nada
Aqui chegou Kapinawá
No romper da madrugada
Oi vamô vê se nós acaba
Com o resto da empeleitada.
Ao som das maracás e do bater dos pés no chão, o grupo, em movimentos
circulares em torno de quem puxa as linhas, faz movimentos circulares no
sentido anti-horário. O pajé incensa o ambiente com seu cachimbo virado
do avesso. O trabalho consiste em levar várias linhagens de Mestres,
Encantados, santos, Caboclos e outros. Dançando e tocando maracá.
Foi a Cabocla Dalila
Que chegou pra leriá Ela é Cabocla, ela é flechera
É faceira no andar Por cima de pau e pedra Só baixa pra trabalhar.

Outro:
Eu tava sentado no pé do Juremá
Ô senhor Mestre pra que mando me chamar?
E eu mandei chamar meus índios
Oi, pra baixar pra trabalhar.
A Jurema, então colocada em um canto da sala sobre uma velha mesa,
começa a ser servida um pouco depois do início do ritual. Todos bebem da
Jurema, inclusive as crianças. Uma parte é servida pelo xamã em copos de
plástico, outra parte é usada pessoalmente para outro copo de plástico. Uma
pequena “linha” é cantada:
Vamos beber Jurema preta
Flores brancas da Jurema preta
Depois que todos tiverem tomado, o ritual recomeça da mesma forma. a
maioria das mulheres novas tem o costume de dançar o Toré em grupos. De
mãos dadas ou dando as mãos em dois, três ou quatro, circule na roda do
Toré. São incorporações bastante sutis, lembrando as encarnações dos
encantados da luz já narradas a Atikum. Esses encantados costumam puxar
algumas falas, ou seja, cantam aquelas falas que lhes pertencem ou pensam
devido ao momento, veja um exemplo:
Eu ando pelo mundo andando
Foi sina que Deus me deu
Em todas as aldeias que eu ando
Em todas deixei ciência.

Outro pequeno exemplo:


Lá no pé do cruzeiro Jurema
Eu to com o meu maracá na mão Pedindo a Jesus Cristo Conforto no meu
coração.
Lá no pé do cruzeiro Jurema
estou com minha maracá na mão (chocalho)
Pedindo a Jesus Cristo
Conforto em meu coração.
Todo o ritual seguinte ocorre na maior festa para crianças e adultos. a
Jurema é bebida por qualquer pessoa, quantas vezes quiser. Os que se
destacam em puxar as linhas ficam por muito tempo cantando e dançando
no centro da roda. o xamã ou o chefe são importantes, mas não os
puxadores da linha principal, homens ou mulheres do grupo se revezam
nessa tarefa mais lúdica do que qualquer outra. já mais para o final da obra,
muitos sambas-de-coco são cantados enquanto a forma ritual não muda, ou
seja, você continua dançando e tocando maracás forte. parecendo que
quanto mais tarde você entra, mais satisfeitos nossos anfitriões indianos
ficam. chegar ao final do ritual somente quando sentir o cansaço ou as
obrigações do dia seguinte.
O lugar mais sagrado para o grupo são as cavernas. Esses espaços abertos
pela natureza na grande pedra que ornamenta a paisagem do local são
considerados as moradas dos antigos índios. Lá, um cruzeiro marca o local
como sagrado. Havia um Toré neste lugar. Com a diferença do uso da
Jurema e das incorporações, tudo aconteceu da mesma forma do Toré
narrado acima. Incluindo o samba de coco nas partes finais do ritual. Junto
a velas foram colocadas, o que na obra acima não ocorreu. O local também
foi incensado pelo xamã da mesma forma. Mesmo essas diferenças não
demarcam esse trabalho nas furnas como trabalho sagrado. A Jurema não
estava bêbada, mas as falas da Jurema eram, como sempre, as mais
cantadas. Outro local para fazer um Toré é no Terreiro da aldeia sede, o do
posto da FUNAI (Fundação Nacional do Índio).
Obras como as narradas no Toré na escola. Os trabalhos espirituais são
aparentemente realizados por Rezadeiras (rezadoras), e o uso da Jurema não
é narrado. A Jurema parece estar presente mais como símbolo e nome do
que a bebida ou a própria árvore. O cotidiano desse grupo assume
singularidades tão reconfortantes que abrir caminhos com a Jurema preta é
enfrentar desafios que contrariam o esforço coletivo de vivenciar os
mistérios propostos pela diversão da vida, e quem sabe da própria Jurema.

Jurema de Kariri-Xocó

Para os Kariri-Xocó, a Jurema faz parte do conjunto de segredos que só o


índio conhece direito. Preservar a cultura do índio é preservar o segredo da
Jurema. se para Atikum e Kapinawá a Jurema só guarda segredos no plano
astral, sendo o conhecimento dos mistérios da Jurema permitido a quem a
toma, sendo os índios aqueles que souberam usar a Jurema. Para os Kariri-
Xocó, os brancos sempre serão “cabeças secas”, sempre desconhecerão os
mistérios da Jurema, ainda que dela façam uso. Cabe apenas ao índio o
conhecimento de acesso ao plano espiritual que a planta concede. Para a
curiosidade dos brancos, a Jurema sempre será algo incompreendido, os
caminhos pelos quais a planta fala a quem a pega só são discerníveis por
herança e linhagem indígena.
O pajé Kariri dos Kariri-Xocó chama-se Júlio Queirós Suíra, está há mais
de 30 anos no cargo. Seu pai Francisco Queirós Suíra também foi pajé por
muito tempo. Dentro do modo de vida Kariri-Xocó, a descendência
espiritual, ou seja, a descendência dos xamãs se dá por linhagem,
parentesco direto, preferencialmente de pai para filho. Para o grupo, o ideal
é que a segurança espiritual do xamã seja passada de pai para filho, pois
para o grupo, o xamã seria um doutrinador, um guardião das tradições, e
pelo que se verifica, ele seria ainda mais respeitado do que o chefe. Foi
justamente Júlio Suíra que nos apresentou primeiro. Segundo ele, seria o
responsável por dar a todos a segurança necessária para viver em paz, “a
função do xamã é doutrinar, considerar todos da tribo como seus filhos. Eu
sou o chefe de todas as famílias. Por origem, por doutrina, eles devem me
obedecer. Essa doutrina diz como ser índio, e preservar o índio, sua
origem”. Seu Júlio não só tem funções espirituais para a comunidade, como
também é responsável por ter todos como filhos, sendo respeitados em seus
cargos e tratados com o respeito dirigido ao sábio na figura do pai.
O lugar sagrado dos Kariri-Xocó chama-se Ouricuri. Ouricuri é uma área de
terra indígena não aproveitável para outra coisa senão como espaço de
retiro espiritual do grupo. As aldeias de Sementeira e Colônia estão na
extensa área, com cerca de 200 hectares. Local privilegiado por uma
natureza “virgem”, em que pelo menos duas vezes por mês (e uma vez por
ano durante quinze dias em reclusão, de 15 de janeiro a 30 do mesmo mês)
o grupo realiza trabalhos espirituais. Em Ouricuri onde foram construídas
casas simples para abrigar o grupo nesses períodos. este espaço sagrado
permite ao grupo realizar seu trabalho espiritual com a Jurema longe da
curiosidade dos regionais ou quaisquer outros.
Em Ouricuri Kariri-Xocó, o branco não entra de jeito nenhum. os brancos
só podem visitar a área em alguns domingos festivos até que o ritual
comece. Brancos casados com índias não podem frequentar o Ouricuri.
Somente os filhos desses casamentos têm acesso, seja por pai ou mãe
indianos. Para o grupo, um branco que tentasse “bisbilhotar” o trabalho em
Ouricuri seria repudiado, incluindo castigos físicos em primeiro lugar e
castigos espirituais em segundo. Segundo o pajé Júlio Suíra, “a civilização
suja o índio, e Ouricuri é o lugar da gente limpar”. Há recorrência no
discurso à ideia de que o branco com a civilização macula a fé e os
costumes dos índios, abrigar-se contra esse mal é fundamental para a
permanência do grupo como um todo coerente. Ouricuri seria o momento
fundamental do Kariri-Xocó porque ali todos estariam reverenciando o
criador e se limpando da sujeira adquirida com contato ininterrupto com os
brancos. Para o grupo, apenas as etnias que conseguiram manter seu espaço
ritual sagrado é que mantiveram as tradições dos antigos.
O pajé Júlio Suíra faz questão de deixar claro que as tradições Kariri-Xocó
não podem ser inventadas, são as mesmas dos índios mais antigos. Ouricuri
foi algo que sempre teve, mesmo sendo todos católicos, a prática ritual com
a Jurema em Ouricuri nunca foi abandonada. “Sou católico, mas tenho
Ouricuri como minha Igreja”, disse seu
Júlio, complementando “lá buscarei minha paz, minha saúde, minha riqueza
e minha vida. Conservado pelos mais antigos, os principais, desde o início.
Eu tenho isso (a área Ouricuri) como um Deus”. Percebe-se como esse
espaço é fundamental para delimitar o lugar do índio e o do branco,
estabelecendo uma divisão que parte do ponto de vista do índio, em que o
homem branco não é sequer um mero espectador, nem poderia
honestamente cumprir isso. “Não consigo criar mais nada. O branco cria
muito; nossas tradições não podem ser criadas. Devo conservar para não
enfraquecer a tribo. Só quem perdeu alguma coisa é quem cria, nós não
perdemos nada. Os índios que perderam parte de suas tradições criam algo
novo, nós não.
A criação do mundo e do índio tem a máxima autoridade na figura de
Sonsé. Sonsé seria o espírito criativo, a iluminação e o protetor da tribo e do
índio. Mas isso com a condição de acreditar no Sonsé, “para quem respeita
e acredita. Porque o índio tem mais intimidade porque era o único
conhecimento que o índio tinha quando morava sozinho. Só se o
conhecesse. Foi ele quem garantiu o índio.” Mais do que isso, Sonsé passou
por um ser mítico que convivia com os índios, não era como eles, não era
humano nem espírito,
“Eu não o tinha (Sonsé) como um espírito, eu o tinha como uma pessoa
viva no meio deles. A civilização acabou com isso, mas o índio não perdeu
a fé.” Por mais confuso que pareça, Sonsé parece ser um espírito que viveu
vivo entre os antigos índios e que, através do contato destes com os
brancos, teve que se proteger da “sujeira dos brancos”, resguardando-se
como espírito habitável. aos índios aqueles que confiam e acreditam nele.
“Quando a gente vai para outro setor (leia-se Ouricuri), é para receber
força, para se limpar, porque na civilização a gente está se sujando, a gente
tem que ir nesse cantinho para limpar, receber esse poder” . É Sonse que
livra o índio da confusão do mundo branco, das implicações econômicas e
morais do contato que atravessa séculos. Sonsé, saindo do mundo natural
em que viveu com os restaurados em Ouricuri, protege e dá forças ao índio
para continuar seguindo as tradições por mais que o mundo exterior pareça
lutar.
Finalmente chegamos ao uso da Jurema. A Jurema utilizada pelos Kariri-
Xocó é a branca ou a vermelha (ou roxa). A preta não serve para nada, “a
preta tem uma força enorme, agente tem ela como perigosa. Pode até causar
estragos.” A Jurema negra costuma ser associada a trabalhos para o mal, “a
negra para quem usa e sabe ofender é muito forte. O preto tem o mesmo
efeito da maconha, uma droga”. Mas a droga ali não é entendida por sua
toxidade, “não toma como droga, é para a parte espiritual. Não atrai bons
espíritos, apenas maus espíritos. A outra (a Jurema branca) só atrai os bons,
esta é mais poderosa, porque o bom supera o mau. Preto não consegue se
controlar." Parece que a maconha (cannabis sativa) como a Jurema preta
atrai espíritos malignos, é sobre o descontrole que esses espíritos malignos
provocam nos homens que os ingerem que fala Seu Júlio. Para ela o A preta
Jurema é dona de uma força enorme, que agindo sobre o homem “o deixa
louco” e o leva a ter contato com as trevas da vida, lugar dos espíritos
malignos.
Existem vários tipos de Jurema, dependendo do clima da região. Na área
Kariri Xocó apesar da existência de Juremas pretas, a predominância é
branca ou vermelha. Mas não é apenas uma questão de clima que dá força à
planta. Seu Júlio faz questão de deixar claro que a força da Jurema vem da
tribo, “o poder que eu chamo tem que ser daqui, essa é a diferença que
existe”. Não importa, portanto, o tipo de Jurema que dá a região ou o local
de onde veio a Jurema, o que importa é a força que o pajé traz para a
Jurema, e essa força é desde a origem da tribo, do conhecimento dos antigos
e da proteção dos Mestres da Jurema. É preciso saber convocar o poder
dela, fazer a preparação original, convocar as forças mais fortes. A Jurema é
feita pura, sem misturar com nada. Igual ao narrado para os grupos
anteriores, retira-se a casca da raiz (todas as falas para tirar a Jurema, para
preparar e para abrir e fechar a obra, são parte essencial do segredo e nem
são comentadas), espremidas junto com água pura e depois de coar está
pronto.
A Jurema dá conhecimento. Jurema ensina. Jurema é uma grande
professora. Com a bebida da Jurema, os Kariri-Xocó têm uma experiência
direta com o invisível. A parte oculta da realidade se apresenta em toda a
sua grandeza sobre o humano. Permitindo a quem a utiliza desfrutar das
sensações únicas que penetram na consciência fazendo-a fazer parte de um
mundo muito maior do que aquele habitualmente reconhecido. Este mundo
que se apresenta permite que a leitura da realidade cotidiana seja
interpretada à luz das experiências extáticas que Sonse dirige em voz alta
para aqueles que aceitam e confiam nos ensinamentos promovidos pela
mudança de estado de consciência. quando a Jurema diz que é preciso ouvi-
la com atenção. A voz que vem do Sonsé só se ouve se o coração estiver
aberto, “tudo falta amor, amor e fé, em quem tem amor e fé ela dá mais”. A
Jurema traz o Sonsé, a Jurema fala, mas para quem confia, para quem
acredita que ela fala pela luz atrás, é preciso buscar essa luz. Jurema tem
um caminho, um segredo. “Tem muito conhecimento dela que ela não passa
para todo mundo. Depende da pessoa, tem uma pessoa que ela passa um
conhecimento mais forte do que outra.”
As visões são narradas apenas pelo xamã, ele parece ser o responsável pelo
conhecimento do mundo invisível. Foi ele quem trabalhou a sensibilidade a
ponto de conseguir abrir caminho para que o Sonsé fosse ouvido através da
Jurema. precisa ser doutrinado, ensinado. O papel do xamã seria assim
reconhecido como o do xamã. É o xamã que vai viajar para outros mundos
e conhecer outras realidades. Ele é o desbravador, o corajoso e o estudioso,
aquele que teve paciência para aprender. Ele é o curador, ele sabe fazer a
Jurema curar, ele a ouve, invoca sua força, conhece seus mistérios. O pajé
sabe onde estão seus filhos da tribo, vê através do invisível, viaja por ele até
São Paulo, Rio de Janeiro, onde quer que sua atenção e proteção sejam
necessárias30. “Nem todo mundo tem o poder de ver. Para ter o direito de
ver tem que se concentrar, fazer dieta, ter limites, tem que se preparar para
poder rezar”.
Seu Júlio Suíra cura com a Jurema branca. Faça trabalhos em sua casa
atendendo as pessoas da tribo, ou fora dela, incluindo índios de outras
etnias como também a população não índia, os regionais. O pajé Júlio Suíra
é muito procurado para esse tipo de trabalho. Levando a Jurema branca ou
dando a quem dela precisa, Seu Júlio viaja pelo invisível em busca do mal
que prejudica seu consulente. A Jurema mostra o mal e ajuda a curar. “A
Jurema tem vários espíritos que ela domina, através dela ela dirige os
mensageiros, os espíritos de cura”. Para a Jurema sarar primeiro eu preciso
ter fé. Acreditar que pode curar é o primeiro passo, “depende da pessoa
pedir e ter fé é um mérito. É pedir alguma coisa e ter certeza que vai
conseguir." é feito também para cura à distância, o mensageiro da planta
"pega o lugar dele aqui e vai levar a cura pra você lá. É dela
espiritualmente", administra o xamã mandar um mensageiro da planta até a
pessoa que precisa, se a pessoa pedir, claro, sempre tem a intenção de curar,
e tem o querer. “Eu consigo ver a pessoa aí curada. Quando eu tomo a
Jurema, Eu vejo isso".
Toda erva é poderosa. Cada planta e cada animal tem mistério, tem poder.
Preciso saber, saber usar, diz Júlio Suíra. A Jurema é a mais poderosa de
todas. Para trabalhos coletivos em Ouricuri a Jurema utilizada geralmente é
a vermelha.
Os rituais são secretos, fechados à curiosidade do branco, inclusive desse
curioso que escreve. Não se sabe ao certo o que está acontecendo, mas o
mais provável é que seja realizado um Toré com Jurema à noite, com
incorporação de mata e encantos antigos. Conselhos de Sonsé (= Deus) e
conhecimento do invisível são para poucos, mas a legitimidade dessas
viagens é conquistada pela confiança do grupo nas lições aprendidas pelo
pajé nessas viagens, e quem faz a Jurema sabe até onde ela pode chegar .
Outros tipos de plantas usados nesses trabalhos de Ouricuri são sigilosos e
quase ninguém ousa falar deles.

Jurema em Karapotó

Em Ouricuri Karapotó, brancos curiosos não são aceitos, da mesma forma


que em Kariri-Xocó. Convidados brancos são aceitos em ocasiões especiais.
Aqui parece haver maior abertura para os não índios assistirem a
representações ou mesmo apresentações rituais. Os brancos que se
intrometem sem a permissão do grupo são "castigados por uma loucura que
dá, é quando não morrem", porque "coisas que não é pra ver, não dá pra ver,
acabou, tá vai morrer nele."
Presença de outras etnias como os Kariri-Xocó, Kariri, Pankararu, Fulni-ô,
Tingui-Botó e Xucuru-Kariri. Essas etnias têm representantes na área e
muitas delas foram fundamentais na retomada da área original do grupo. Há
uma pintura ritual mais marcada do que o “uniforme” Kariri-Xocó. Uma
pintura que cobre quase todo o corpo (o peito está quase todo pintado,
assim como os braços, pernas, costas e rosto). As cores são significativas
para o estado de espírito do grupo. branco e preto são as cores da paz, as
cores do trabalho espiritual em Ouricuri. Preto e vermelho são as cores da
guerra, para enfrentar o branco na conquista dos direitos do grupo.
Para os Karapotó, a tradição de seus antepassados não se perdeu. É mantido
nos mesmos termos de antes. Manter essas tradições foi e é fundamental
para a permanência do grupo e de sua identidade indígena. O branco vive
querendo saber os segredos dos índios. Para os Karapotó, guardar os
segredos de seu trabalho ritual e dar algumas características de seu modo de
vida é fundamental para preservar toda a comunidade de ambição branca.
“Não podemos deixar que os brancos se aproximem de nossas crenças.
“Não comemos a isca.” O problema do acesso ao conhecimento “ancestral”
é muito importante para esse grupo.

Jurema em Alhandra (Catimbó)

“Já fiz cada coisa com a Jurema.


É porque é dela mesmo. Na Jurema tem.” (Dona Biu)
“Já fiz de tudo com a Jurema.
É porque é dela. Na Jurema tem.”
Maria das Dores da Silva Guimarães, conhecida como Dona Dora ou
Dorinha, mora na localidade denominada Acais (em Acais de Baixo) no
município de Alhandra, litoral sul da Paraíba. Ela e sua irmã Sula moram
juntas e são as descendentes mais diretas das duas. Os primeiros Juremeiros
de Alhandra. Esta cidade ficou conhecida pelo número de pessoas que
fizeram trabalho com a Jurema. Essas obras ficaram mais conhecidas
popularmente como Catimbó. A população de Alhandra encontrou enorme
difusão das suas obras a partir da prodigiosa propaganda que se fazia sobre
a singularidade da produção religiosa da região. O primeiro trabalho
académico sobre o tema Vandezande (1975) permitiu que o modo religioso
de estar em Alhandra pudesse ter uma expressão muito mais precisa.
Antes deste trabalho, muitos outros abordaram o tema do Catimbó, sem, no
entanto, apontar Alhandra como produtora singular desta forma de culto
religioso. O Catimbó é uma forma de expressão religiosa espalhada por
praticamente todo o Nordeste. Entende-se que esse tipo de produção
religiosa deve ser entendida como uma forma sistematizada de produção do
sagrado. Sendo uma religião totalmente popular, sem elaboração de
hierarquias, códigos escritos e sem gestores responsáveis pela manutenção
das formas do culto, o Catimbó aparentemente se espalhou37 de Alhandra
para todo o Nordeste mantendo suas características iniciais bastante imunes
a mudanças. o que temos hoje do que nos conta Dona Dora é um retrato
exemplar do que ela nos conta Shelly (1937), Carline (1938) e Bastide
(1945). Aparentemente, a forma dos cultos não é drasticamente alterada,
mantendo-se em seus aspectos gerais as qualidades que tanto chamaram a
atenção de tantos estudiosos da cultura popular e da religião.
Aqui, os chamados catimbozeiros serão nomeados como juremeiros, pois
Catimbó e catimbozeiro são expressões pejorativas, e se distanciam de
juremeiros por serem termos ligados à magia na umbanda38. Portanto, o
nome como esse tipo de trabalho mediúnico ficou e ficou conhecido, não é
exatamente o utilizado por seus realizadores. Dona Dora (que tem sessenta
e quatro anos) é então uma informante privilegiada. Foi seu cuidado que
preservou as linhas cantadas nas obras, a memória guardou a melodia e a
cadência das canções. Os objetos de uso nas sessões são todos guardados
em um cômodo da casa. Ela ajudava a mãe nos serviços religiosos. Sua
irmã Sula estava sendo preparada para assumir as funções da mãe no
serviço religioso, quando ela morreu antes que ele pudesse passar para a
filha tudo o que sabia, ela (a mãe) foi a última a exercer o trabalho em
Acais. Hoje não se faz mais o trabalho com a Jurema no local, e em
Alhandra não se encontram mais os antigos Juremeiros e seus cultos tão
particulares. O singular culto que se realizou à Jurema em Acais/Alhandra
parece, por isso, infelizmente hoje ser apenas uma rigorosa consagração de
sonhos na memória. tudo que narra abaixo foi retirado de uma entrevista
que fiz com Dona Dora.
Dona Dora é neta da segunda Maria do Acais39. A primeira Maria do Acais
aprendeu tudo com o Mestre Inácio, regente dos índios Alhandra. Mestre
Inácio Gonçalves de Barros era irmão da primeira Maria do Acais e pai da
segunda Maria do Acais. Segundo Dona Dora, a partir do que narrou sua
avó por parte de mãe, Dona Cassemira, Mestre Inácio viveu “em outro
século” (século XIX). Era “o Pajé dos índios, fazia a sua festa em frente à
Igreja (a Matriz de Alhandra, construída em 1749), no cruzeiro que ainda
existe”. A primeira Maria do Acais veio para a cidade de codinome em
1910, viveu até os 110 anos e faleceu em 1937. A segunda Maria do Acais
veio do Recife onde morou para a cidade de Acais em 1916. Foi com seu
esforço que a igrejinha de Acais foi construída em 1932.
A confecção da Jurema guarda inúmeras semelhanças com a dos índios.
Retirou a casca da raiz da Jurema após “salvar os Mestres”, ou seja, cantou-
se o verso para o Mestre daquela Jurema que seria utilizada40. Geralmente
também havia alguma manifestação mediúnica41. Trouxe para casa as
cascas das raízes só às cinco da tarde, quando o sol estava mais ameno. A
casca da raiz foi espremida firmemente junto com água, até formar um
suco. Foi coado com um pano fino. Quando a Jurema estava pronta,
descansava e era normalmente armazenada, engarrafada.
A forma como a obra foi executada foi basicamente a mesma feita pelos
índios, apenas com sutis modificações que dão os contornos das obras de
Acais. Tinha uma princesa, que era uma bacia de porcelana para colocar a
bebida da Jurema. Os copos para servir a bebida chamavam-se príncipes
(príncipes), mas a bebida também era servida em cabaças de coco.
Cachimbos e maracas foram usados43.
Antigamente, o trabalho era feito em uma cabana de taipa coberta de palha,
“como os índios”. Uma toalha branca foi colocada no chão. Todos então
fizeram o ritual em volta da toalha e a colocaram no chão. A segunda Maria
do Acais, avó de Dona Dora, pegou a toalha do chão e a colocou sobre uma
grande mesa de madeira.
A obra foi aberta com linhas específicas para este “nas horas de Deus
amém, e nas horas de Deus amém” “nas horas de Deus amém, e nas horas
de Deus amém”. Depois cantava-se alguma linha mestra e tomava-se a
Jurema, “era uma obrigação tomar a Jurema no início do trabalho”. Depois
foi ao som das maracás e da dança em volta da mesa da direita para a
esquerda. Ocorreram possessões, "manifestações". É interessante notar que
os versos cantados por Dora têm uma melodia e uma cadência muito mais
leves e calmas do que as cantadas pelos índios. A cadência é mais lenta e a
melodia mais pausada, dando tempo para que cada palavra assuma um
papel significativo. Não tem a velocidade das frases dos índios, muitas
vezes cantadas tão rapidamente que não conseguimos entender. É possível
assinalar aqui um primeiro movimento de individualização do culto, já que
parece possível tornar os cantos das linhas mais calmos à medida que o
chefe de obra assume a puxada das linhas sendo acompanhado por quem
está sujeito, muitos discípulos do Mestre. Chamando a atenção de todos
para o que dizia, cantava, o Mestre da Jurema produziu um artifício que lhe
conferia assim uma superioridade durante e, conseqüentemente, após o
serviço.
Trabalhavam com Mestres desde Mestre Inácio, regente dos índios: “Mestre
Inácio já trabalhava com Mestres. Ele era o pajé dos índios”. Os Mestres
que “baixaram” são considerados espíritos de pessoas que em vida
trabalharam com a Jurema e após a morte continuam trabalhando na linha
da Jurema, através do culto mediúnico. Parece que já havia Mestres sendo
usados em trabalhos indígenas. Com o contato e reelaboração do culto
indígena, começam a aparecer na obra dos juremeiros brancos figuras de
mestres como Zé Pilintra. Junto a isso, a inclusão da cachaça, bebida
alcoólica até então, e até hoje, ausente da maioria dos trabalhos indígenas
com a Jurema.
Para muitos índios, onde tem Jurema, não tem cachaça. Mestres da Jurema
também podem ser chamados a quem trabalha com a Jurema neste plano e
tem a habilidade necessária para ser reconhecido como Mestre no ofício.
Foi assim que Mestre Inácio, regente dos índios, já era reconhecido como
professor. Após a sua morte, continuou a trabalhar “no espiritual” e, por
isso, continuou a ser reconhecido como Mestre. Um dos mestres mais
conhecidos do nordeste brasileiro, que está presente em quase todas as
obras da Jurema indígena, do “Catimbó”
A Umbanda , seja nas linhas que lhe são cantadas, seja na sua própria forma
de “baixar” (“baixar” = descer) e atuar é Mestre Carlos. Mestre Carlos tem
uma história única que muda de poucos contornos dependendo do contexto
em que é narrada, foi o único Mestre que “aprendeu sem ser ensinado”. Nos
trabalhos que Dona Dora participava, o Mestre Carlos estava sempre
presente. Para ele, faltava um pouco de cachaça. Para Mestre Zé Pilintra, a
cachaça era obrigatória e em quantidade. Quando caiu, todos tiveram que
pegar um pouco. Nesse contexto, a cachaça só era servida quando um
Mestre que gostava dela descia para o trabalho, aí todo mundo bebia um
pouco. A cachaça, porém, nunca foi misturada com a Jurema, sendo tomada
separadamente, o que na Umbanda será completamente diferente como
veremos adiante (neste capítulo). Os índios ainda trabalham com Mestre
Carlos, principalmente em Atikum, mas para eles não há absolutamente
nenhuma presença do álcool. Relembrando o que foi narrado no capítulo
anterior, quando Zé Pilintra desceu para a obra Atikum (Gentio de Seu
Augusto) lhe foi oferecida Jurema com a qual deveu uma resposta irada e
após cantar um verso de sua autoria retirou-se imediatamente do trabalho.
Refira-se que o uso de bebidas alcoólicas é tão significativo que os
Juremeiros de Alhandra começam a fazer. Talvez este seja o elemento
inovador que mais tem dado as características de influência branca nos
trabalhos com Jurema até então de cunho indígena. Junto com a presença da
cachaça, os encantados parecem ter saído das entidades da Juremeira dessa
influência urbana nos trabalhos com a Jurema.
Vandezande (1975) já apontava para o fato de que a individualização do
culto da Jurema no “Catimbó” se devia à perda de referência étnica e
urbanização que colocava esse grupo indígena Juremeiro em um contexto
bem diferente daquele vivido em uma área separada da população branca.
Para Bastide (1945) o nascimento do “Catimbó” é um processo de
individualização, afastando os aspectos do culto coletivo da Jurema para
fechados e com preocupações econômicas, familiares, sentimentais e de
saúde individual, não mais coletivos como era com os índios. Tudo isso
seria então motivado pela enorme urbanização do desenvolvimento e
dissolução dos laços étnicos que uniam a população indígena. A relação
com a economia também foi citada por Dona Dora. foram feitos trabalhos
para conseguir um emprego, trazer de volta ou ganhar algum amor, tirar o
mal do espírito, curar doenças, ter sucesso em algumas tarefas, basicamente
os trabalhos que eles assumiram o papel de cuidar do que prejudicou ou
entristeceu a vida de alguém. Passou a ser cobrado de quem buscava esse
tipo de serviço. A consulta era feita com o Mestre ou Mestre da Jurema,
acertava-se o preço e após o pagamento, a obra. Havia banhos, “limpeza”
com o suco das folhas e da madeira de Jurema, além dos trabalhos de mesa.
Isso também identifica o trabalho feito para “a esquerda”.
Esses tipos de trabalhos são aqueles realizados para fazer o mal. Segundo
Dona Dora, esse tipo de trabalho era feito em Acais mais como resposta do
que como provocação, “quem mandar uma carta ou uma resposta”. Assim,
parece que mais imediatamente as esquerdas eram acionadas quando um
trabalho era feito por alguém mal intencionado querendo prejudicar o outro,
na medida em que consistia em uma resposta via trabalho espiritual da
mesma altura e significado, ou seja, mal com mal: “Se você pisar nos meus
calos, eu farei a mesma coisa”.
As obras de Acais foram batizadas por Dona Dora de “mesa branca”.
Catimbó seria bruxaria na Umbanda, “Catimbó é feitiço, aqui era
diferente”. não foi feito tão nada como o Catimbó, que fica “só do lado
esquerdo”. Para Dona Dora, os trabalhos no Acais eram predominantemente
para o bem, sendo as esquerdas utilizadas no específico narrado acima.
Tentou-se homenagear os índios, mas o Toré não se dançava, os Mestres só
faziam trabalhos. Havia uma consciência muito clara da total
particularidade nativa dos cultos ali realizados, mas ao mesmo tempo é
evidente que houve uma transformação do contexto religioso original. Esta
apresenta uma forma completamente nova de culto religioso que, rendendo
homenagem aos antepassados da crença, não manteve, no entanto,
inalterada à primeira forma. É uma espécie de culto na forma indígena
original, só que um pouco mais refinada. Com modificações suficientes
para deixar evidente que passou a fazer algo novo, único e original.
Um detalhe curioso é que esse tipo de trabalho religioso não tem, segundo a
Dora, uma identificação precisa além da de trabalho. Como o Catimbó está
relacionado com a bruxaria na Umbanda, para ela sempre foi chamado o
que faziam simplesmente trabalho. O curioso ainda se faz pelo sincretismo
de crenças que animava Acais. Já se disse que a segunda Maria do Acais,
avó de Dona Dora, tinha construído uma igrejinha na propriedade em 1932,
onde hoje o pároco de Alhandra celebra mensalmente a missa. sempre se
muito bem separados os lugares sagrados. Não se fala em Caboclo ou
Mestre na Igreja. Eles não fazem o trabalho da igreja. Neste local apenas se
fazem presentes os domínios do catolicismo oficial. Na igreja, os santos
católicos são cantados e rezados. As imagens são dos santos da igreja, e eles
vão lá só pensando neles. A obra tem seu próprio contexto e tempo para ser
executada, e todos sabem onde, como e quando têm o privilégio de atenção.
É um exemplo típico da flexibilidade do culto e da crença que no Nordeste
do Brasil assume uma característica tão peculiar.
Talvez a pergunta mais intrigante seja aquela que nos remete aos mistérios
da Jurema. Dona Dora conta que, segundo sua avó materna, a primeira
Maria do Acais “enfeitiçou qualquer um”. Essas pessoas nesse estado
ficavam “uma hora, uma hora e meia no feitiço, aí ela cantava o verso e
trazia a pessoa de volta”. Estar no encantamento assim era entrar nos
mistérios da Jurema, ver o mundo maravilhoso que a Jurema mostra, era ver
o paraíso celestial. Maria do Acais usava a Jurema para enfeitar o trabalho.
Levaram um copinho “porque a Jurema é muito forte”. Para os que
duvidavam da força da Jurema, Maria do Acais desafiou-os a ver se não
enfeitiçava o descrente, “e sempre o fazia”. também poderia colocar os mais
fiéis no encantamento sem sequer tocar na Jurema, apenas pela força da
planta que já era conhecimento. Jurema havia ensinado a Maria do Acais o
caminho do encantamento, do céu. Chega de chamar as forças e ter fé . Mas
a consagração do rito deveria ter a Jurema como uma homenagem a ela,
então o comum era levá-la sempre, Jurema nunca poderia ser coadjuvante,
ela era a grande Mestra. Por isso ela sempre comungava com a Jurema e
cada pegava-se um pouco, e pela força que Maria do Acais aprendera a
trazer, podia-se visitar o mundo invisível.
Sentado de olhos fechados e circunspecto, a pessoa que estava no
encantamento. "Parecia que você estava dormindo." Dizia-se que era “uma
coisa muito bonita que você não poderia ou ver em um filme no cinema. Eu
vi aquelas coisas lindas, paisagens, fiquei com medo, eram as paisagens da
Jurema”. A Jurema deixou assim as portas do céu abertas para o indivíduo,
mostrando as belas paisagens paradisíacas. Quando um filme mostrava
belas paisagens, Maria do Acais se assustava, sentindo que a força da
Jurema poderia tomar conta dela no meio da sessão de cinema. Ela até
deixou de ver essas coisas, porque ver tudo isso na Jurema já estava de bom
tamanho.
Essa cultura religiosa da Jurema, narrada por Dona Dora, foi perdendo essas
características à medida que a Umbanda estendeu seu domínio sobre os
rituais afro-indígenas. A constituição da Federação Brasileira de Umbanda
permitiu que o culto Umbanda, como religião autoproclamada nacional,
passasse a incluir todas as práticas religiosas nacionais não índias e não
brancas, ou de um negro ou caboclo popular dentro de seu domínio
religioso. Como a polícia também reprimia o culto do Juremeiro, muitos
juremistas passaram a pagar como membros da Federação de Umbanda,
como forma de escapar da repressão policial. Nesse desenvolvimento, os
antigos Juremeiros foram gradativamente incorporando práticas rituais de
Umbanda, enquanto a Umbanda trouxe para seu salão de entidades a
sagrada figura da Jurema. Metamorfoseando o culto juremista até chegar à
produção cultural afro-indiana do culto de Umbanda Jurema.
Foi nesse movimento que Dona Dora vendeu recentemente a última peça
que sobrou da Estiva para a federação de Umbanda. Deixando as Juremas
ali plantadas por tanto tempo que foram as principais plantas da cultura
religiosa local. Mas trouxe mudas que hoje são as três Juremas que plantou
em Acais. E que por conta desses fatores da vida, são os únicos a que ela
tem acesso já que quem estava na Estiva foi então cortado. Ainda hoje,
Dona Dra tem muitas ressalvas em relação à Umbanda ou “coisas de
Xangô”. Para ela, a regra era homenagear os índios em seus trabalhos, mas
nunca os negros, pois estes tinham sua própria religião, o Xangô. Quando
roubaram da igreja uma “santa linda”, uma “toalha linda e bordada” e
alguns castiçais, ela imaginou que só poderia ser algo do “povo de Yangô,
para colocar no Peji”. Talvez a desconfiança de Dona Dora seja real, mas
para nós o que ela deixa mais claro é que o trabalho que estava sendo feito
no Acais não era índio, muito menos negro, ele era o exemplo máximo da
criatividade religiosa da população que nascia dessas diversas culturas
encontros. Era único e original; foi mais um exemplo dos movimentos
incríveis da sensibilidade desses variados sujeitos da Jurema.
As principais referências sobre a prática de Maria do Acais descrevem as
sessões de mesa onde a bebida da Jurema e o fumo são elementos centrais.
Nas etnografias de Roger Bastide, Gonçalves Fernandes, René Vandezande,
encontramos alguns elementos que caracterizam a tradição de Jurema do
Acais, dentre os quais: a aproximação entre o catolicismo popular e os ritos
indígenas, o uso do cachimbo nas sessões, as cantigas acompanhadas pelo
maracá, o transe individual, a mesa e objetos sagrados sérios, e o uso da
Jurema (bebida). Mas também referências à feitiçaria, embora pela análise
do conteúdo se mostrem etnocêntricas e preconceituosas, característica
predominante na época. em seu estudo sobre Acais, Salles (2010) destaca
que o cosmo religioso do Catimbó praticado em Alhandra está centrado no
reino da Jurema (os encantos), composto por sete cidades, “sete ciências”:
Vajucá, Junça, Catucá, Manacá, Angico, Aroeira e Jurema, sendo possível
chegar aos encantos, segundo a tradição de Acais, “através do vinho da
Jurema” (SALLES, 2010, p. 83). Após a morte de Maria do Acais, em
1937, gradualmente nos anos seguintes. orientados, os Mestres ligados a
Acais, como também aos que não pertenciam ao “clã Acais” (SALLES,
2010), deveriam ir desaparecendo gradativamente do cenário religioso
assim, sem deixá-lo continuar. Não podemos esquecer que os rituais
religiosos eram realizados de forma praticamente privada, com um pequeno
grupo de participantes; uma prática dada por um contexto de perseguições
em que aos “degenerados” a única opção era “trabalhar em segredo”. nas
décadas seguintes (1940, 1950), os religiosos lutarão pelo direito de poder
abrir suas casas e fazer sua prática, “tocando o tambor”.
As representações sobre o Catimbó de Alhandra e Acais são elaboradas e
permanentemente significadas na Jurema praticada nas terras indígenas,
podendo ser observadas na comunicação verbal, nos pontos cantados, na
manutenção de alguns rituais. Os discursos relatam um tempo fundador,
quase sempre reforçado por imagens construídas nos ritos. De facto, estes
constituem um dos campos mais significativos para a comunicação do
conteúdo histórico e mítico, como para apreender as representações
construídas sobre o universo simbólico de Acais e Alhandra. São explicados
elementos da cosmologia e da prática, referência a espaços sagrados, a uma
especialização e forma de trabalhar, à noção de ciência, como ao panteão
religioso (os Caboclos , os Mestres e reis). Os Caboclos representam os
primeiros habitantes; os Mestres, ex-Juremeiros (Mestre Carlos, Mestra
Maria do Acais, Mestre Majó do Dias, Mestre Inácio, Mestre Zé de Alvina,
Zezinho do Acais, entre outros cultuados em Alhandra e Acais). Entre os
reis (como Rei Malunguinho, Rei Canindé, Rei Salomão, Rei Heron),
alguns são personagens históricos conhecidos e reverenciados.
TEOLOGIA E COSMOGENIA

A teologia

Definições e delimitações

O polêmico autor Ribeiro descreve o Catimbó da seguinte forma:


“É muito difícil definir a qual sistema religioso o Catimbó pertence. Seja
para o politeísmo ou para o monoteísmo cristão. A verdade é que o Catimbó
praticado no Nordeste difere muito do Candomblé, do Xangô ou da
Macumba.
Observe que ele não possui, como nos cultos acima, uma hierarquia
sacerdotal. Não requer período de iniciação, não há preceitos especiais,
rituais, cerimônias, trajes, toques, etc., específicos deste culto.
O Chefe do Catimbó é o Mestre, e o ritual que ele comumente pratica é
muito parecido com as práticas espíritas comuns. No entanto, a aparição de
Orixás africanos, Caboclos (índios), Pretos Velhos, pode ser encontrada nos
Catimbós. Espíritos de Mestres falecidos, como Mestre Carlos, índio
Pinavarassu e Anabar, Üretos Velhos como Pai Joaquim, etc.
Essas entidades descansam durante a Sessão do Catimbó, prescrevendo e
aconselhando, consolando e tratando todos os fieis filhos. Os Mestres do
Catimbó, diferentemente dos Babalorixás e Yalorixás dos cultos africanos,
porém, têm o mesmo carinho e cuidado com seus filhos. Suas práticas se
misturam com bruxarias africanas e indígenas, rezas católicas e invocações
espíritas.
Os Mestres do Catimbó costumam fumar seus “filhos” com a fumaça do
cachimbo, para livrá-los dos sentimentos ruins que estão lhes causando
algum desconforto. Ao descer das entidades invocadas, são cantadas suas
falas - melodias e características de cada Mestre - e que revelam sua vida.
O Catimbó não possui instrumentos de percussão nem comidas votivas
características. Nenhuma dança ou roupa especial é usada. Como se vê, o
Catimbó é mais uma mistura de catolicismo e espiritismo."
Existem apenas três trabalhos sobre o Catimbó até 1970, razão pela qual
todas as referências às "verdadeiras raízes e rituais" são bastante
especulativas. As descrições de Ribeiro são fortemente coloridas por sua
perspectiva cristã do cristianismo como uma tradição "superior". Os
primeiros trabalhos descritivos da "Missão" também foram feitos "com
estes óculos". Apenas Cascudo pode descrever a tradição da época -
espacial e temporalmente limitada - de forma relativamente neutra.
Os Juremeiros e Juremeiras, hoje, afirmam que “a Jurema é a religião
primaz do Brasil”, e que é de “origem indígena”, a religião mais forte
historicamente, pela sua força de sobreviver aos processos de atrofia
teológica, cultural e histórica . Eles ainda acreditam que é possível resgatar
o imaginário mais antigo das práticas indígenas para fortalecer as práticas
atualmente umbandizadas. Juremeiro Sandro de Jucá, também sacerdote do
culto nagô e coordenador religioso do Quilombo Cultural Malunguinho,
afirma que:
“Jurema merece respeito! Nossa religião por muito tempo foi humilhada em
todos os sentidos, inclusive dando sustentabilidade aos Terreiros em tudo.
Em momentos de dificuldade, cura e urgência, todos recorrem a Jurema em
busca de ajuda. É a fumaça que resolve tudo. Aqui em Pernambuco quem
reina é a Jurema. Em mais de 98%, com certeza dos Terreiros daqui, a
Jurema é o esteio das casas. É a ciência e a fumaça indígena da Jurema que
dão lugar aos necessitados.”
Portanto, vale a pena revisitar as bibliografias que falam, registram e
catalogam a prática religiosa da Jurema. Assim, poderemos avaliar o quanto
o olhar sobre essa religião e sua teologia também se formou na perspectiva
dos pesquisadores, uma vez que o povo do Terreiro, que sempre foram as
massas historicamente mais prejudicadas pelo Estado - e também objeto de
pesquisa -, só agora estão tendo algum acesso a bens intelectuais e
formação acadêmica, por meio de cotas universitárias ou outros sistemas de
reparação social disponibilizados pelos governos. O olhar de fora da Jurema
ainda é um obstáculo para a compreensão dessa religião.
Em Candomblé no Brasil – Feitichismo Religioso Afro-Ameríndio, de
1967, do criticado escritor e professor sudanês José Ribeiro, encontramos
informações bastante distorcidas sobre o Catimbó/Jurema, mostrando o
descrédito dessa religião, sendo indígena e nordestina, composta de
religiões evidentemente sincréticas elementos, sofreu historicamente com a
construção de pesquisas e bibliografias como a citada:
“O Catimbó, praticado no Nordeste, difere muito do candomblé, do xangô
ou da macumba. Observa-se que não possui, como nos cultos acima, uma
hierarquia sacerdotal. Não requer período de iniciação, não havendo
preceitos especiais, rituais, cerimoniais, trajes, toques, etc., específicos
desta religião. O Chefe do Catimbó é o Mestre, e o ritual que ele
comumente pratica é muito parecido com as práticas espíritas comuns.
Porém, nos Catimbós também se encontram nos Catimbós Orixás africanos,
Caboclos (índios), Pretos Velhos, etc. Negros africanos, como padre
Joaquim, etc... (RIBEIRO, 1967: p. 18).”
Ainda na mesma página, o autor, distraído com sua escrita, revela: “Os
Mestres do Catimbó, diferindo dos BabalOrixás ou YalOrixás dos cultos
africanos, têm no entanto o mesmo carinho e cuidado com as crianças. Suas
práticas incluem feitiçaria africana e indígena, rezas católicas e invocações
espíritas” (RIBEIRO, 1967: p. 18). Assim, revela, de certa forma, uma
hierarquia possível e uma liturgia possível, ainda que sincretizada de
diferentes culturas, tendo, sim, um sentido teológico.
Percebe-se o descompasso etnográfico e antropológico que o autor teve ao
escrever este texto, que ao mesmo tempo em que afirma não ter uma
teologia, uma prática religiosa organizada com seus rituais etc., quase diz
que não é um religião - Catimbó -, deixando clara a ausência de pesquisas
sobre a prática em questão. Assim, essa perspectiva esvaziada do cosmos da
Jurema foi por muito tempo divulgada, em escritos de outros autores. E
esses livros eram divulgados em Terreiros de todo o Brasil, das federações
espíritas de Umbanda, que tinham como política divulgar tais informações e
autores - estes últimos, fundadores e idealizadores dessas mesmas
federações. Assim, na década de 1930, especialmente em 1938, houve uma
preocupação especial com a pesquisa e registro da prática e musicalidade do
Catimbó, pela Missão de Pesquisa Folclórica da Secretaria Municipal de
Cultura de São Paulo, por iniciativa de Mário de Andrade e a decisiva
colaboração de Oneyda Alvarenga, que na década enviou pesquisadores
etnológicos coordenados pelo arquiteto Luiz Saia para os estados do Norte e
Nordeste do Brasil. Esses registros etnográficos e musicais da Jurema foram
profundamente trabalhados pelo músico e historiador Álvaro Carlini, que só
trouxe à tona as importantes informações em 1993. Ainda assim, devido ao
completo desinteresse da academia, pesquisas sobre o assunto escassa, com
poucas publicações sobre o assunto, sendo as décadas de 1950 e 1970 talvez
as duas obras mais importantes sobre o Catimbó: em 1951, a famosa obra
do folclorista que estudou o assunto pelo menos 42 anos antes, Luís da
Câmara Cascudo, o Meleagro ; e em 1975 – por René Vandezande:
Catimbó, pesquisa exploratória sobre uma forma de religião mediúnica.
Essas obras tiveram um impacto profundo nas produções mais recentes.
Todos citam esses autores e poucos ousam reescrever algo novo ou discutir
essas bases bibliográficas, prejudicando assim o imaginário de Jurema na
historiografia e a possibilidade de pesquisadores mais jovens aprofundarem
suas pesquisas. Os significados mais profundos da identidade, teologia e
filosofia da Jurema ainda não foram profundamente estudados, pois os
registros sempre se propõem a refazer uma etnografia das práticas dos
Juremeiros e Juremeiras.
“ Jurema é uma religião de princípio xenofílico”. Conforme revelou o
teólogo afro Jayro Pereira de Jesus, em entrevista. “Ela, assim como as
religiões de matriz africana, tem essa característica de se fortalecer sem
excluir o outro, nem julgar o outro”, diz.
Princípio xenofílico: O princípio do amor ou estima por pessoas e coisas
estrangeiras. Aquilo que não nega o outro pela diferença, que assimila o
outro, que abraça o outro. O oposto de xenofobia, antipatia por pessoas ou
coisas estrangeiras. religiosos ou não - impedimento de adesão de novas
“forças” espirituais, rituais etc., conforme identificado no círculo infinito
de entidades da Jurema, que não param de se renovar, sempre com a
chegada de novos Mestres e outras entidades (consciências de outras
pessoas – os espíritos) nos Terreiros. Portanto, também não é uma religião
estática, nem ritual nem filosoficamente.
Hierofania (do grego hieros ( ἱερός ) = sagrado e faneia ( φαίνειν ) =
manifesto, assim podemos definir o termo como o ato de manifestação do
sagrado), na Jurema, está presente em toda a sua teologia e na vida do
Juremeiros. O sagrado, também chamado de “ciência”, dialoga por meio
da linguagem da natureza, das entidades e das divindades.
Na Jurema, como em outras religiosidades de Terreiro, a comunicação com
o mundo espiritual se dá principalmente por meio do rito de posse e
incorporação, quando as entidades descem até os médiuns e dão suas
mensagens. No entanto, para um devoto, a vida cotidiana é uma vasta rede
de sinais a serem lidos e decifrados, alguns trazendo maus presságios e
outros presságios. Assim, infortúnios, coincidências e acidentes são
interpretados dentro de uma linha explicativa que envolve a influência de
forças sobrenaturais, do agenciamento humano e, às vezes, do próprio
acaso. (Pires, 2010. P. 95).
A religião de Jurema é baseada na fé em um único Deus - aparentemente o
mesmo dos cristãos -, mas devemos incorporar o entendimento de que esse
"Deus" pode ser feminino (Deusa) como Mãe Tamain, dos Fulniô, ou com
outros. nomes como Pai Tupã. Portanto, sua teofania (É um conceito que
significa a manifestação de algum lugar, coisa ou pessoa. Tem suas raízes
em: "theophaneia" ou "theophanía") se dá pela ingestão da bebida sagrada
da Jurema e a manifestação do entidades e divindades cultuadas, além do
próprio diálogo, também, com o meio ambiente, a natureza. A tribo Kariri-
Xocó, de Alagoas, para garantir a sobrevivência de sua imaginação
teológica, agiu com inteligência, traçando um plano baseado no
reconhecimento do sagrado, por meio das ervas da Jurema:
Para manter suas terras e o que consideram ser sua cultura tradicional, os
Kariri-Xocó de Alagoas desenvolveram uma relação especial com um
complexo ritual de magia religiosa, utilizando espécies botânicas como
mediadoras. No entanto, para sobreviver, ambos os grupos fizeram uso
extensivo de uma ideologia de ancestralidade. Esta é uma ideologia étnica
que produz categorias e classificadores étnicos no contexto das relações
interétnicas. É por meio dessa envolvente ideologia da ancestralidade que
cada grupo construiu uma teoria da existência humana e do cosmos,
reivindicando seu direito como “ índios. (MOTA, 2007: p. 22).
Essa atitude também foi difundida em outras tradições indígenas do
Nordeste. Segundo o Jornal do Commercio de 16 de abril de 2011, só no
Nordeste os índios “são 170 mil” e “em Pernambuco são 38 mil”, que “é o
terceiro estado com maior número de índios. Perde para Amazonas e Mato
Grosso”, assim, a prática da Jurema ainda é forte entre a maioria dessas
etnias que traçam estratégias políticas e culturais para preservar os saberes
de seus ancestrais. Na perspectiva do espiritismo kardecista, a reencarnação
é elemento fundamental em suas cosmologias, assim como na crença
religiosa dos Juremeiros, que chegam a acreditar na possibilidade do
espírito retornar como Mestre ou Mestre (divindades/entidades que foram
seres humanos e que viveram no mundo carnal, pertenceram à Jurema como
sacerdotes ou praticaram atos heróicos ou notórios e místicos em defesa dos
excluídos, durante sua passagem pela Terra) para cumprir parte de sua
“missão”.
A crença em elementos, símbolos, objetos, imagens, árvores sagradas,
animais sagrados (como o besouro mangangá), no Cachimbo ou Gaita e na
Fumaça sagrada, compõem os elementos da fé e do imaginário teológico da
religião, que ainda absorveu aspectos do cristianismo. primeiro, a partir do
imaginário umbandista (a partir da década de 1970), juntando-se ao
kardecismo do francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec) e
outros elementos indígenas interétnicos. Séries de lendas urbanas também
compõem o corpo de sua oralidade litúrgica, além de contos místicos e
fábulas sobre Mestres que realizaram atos mágicos em tempos remotos.
Jurema ainda representa e materializa uma deusa, pois, para a maioria dos
povos indígenas do Nordeste, a divindade suprema da existência seria uma
mulher (Mãe Tamain). Ela é algo superior e incompreensível que assume a
forma de uma guia, uma protetora, uma deusa: a Deusa próxima, ao alcance
das mãos e do espírito. Divindade amiga e inimiga, que podemos rezar,
quando necessário, como na expressão: “Que a Jurema me abençoe, me
proteja e me guarde”. Nesse caso, ela é citada e orada como Deusa, com o
mesmo significado do Deus cristão que pode proteger, abençoar e guardar.
No culto, o princípio fundamental é a cura do corpo, da mente e do espírito,
o bem-estar do ser humano em todas as suas vertentes, a resolução dos
problemas gerais do quotidiano e a evolução espiritual através da caridade e
das obras de cura.
O bem e o mal não se polarizam, nem esboçam o maniqueísmo na Jurema.
Na essência dos Juremeiros, podemos perceber nitidamente o esvaziamento
judaico-cristão, ainda que suas práticas estejam fortemente ligadas ao
Kardecismo, que tem seus fundamentos na Bíblia. O bem e o mal são vistos
com naturalidade dentro do culto, que permite o uso da “ciência” tanto para
o “bem” quanto para o “mal”, sabendo que há uma compreensão da lei do
retorno, presente na religião kardecista. O pecado é algo visto como
relativo, enfatizando que a defesa espiritual é um ato digno e que deve ser
feito sem temer os fardos que o “inimigo” sofrerá material ou
espiritualmente. Ainda podemos ver características próximas ao vodu do
Haiti, que é uma religião popular e muito difundida naquele país, sendo
considerada uma religião de guerra, onde suas divindades/entidades
personificam a defesa do povo, sendo essas entidades também o povo
(desencarnado ), contra o poder dominante, muitas vezes tendo papel
definitivo e fundamental nas decisões políticas estratégicas do Estado
(HURBON, 1987). Na Jurema, percebemos esse papel, pois na calada das
noites os políticos vão aos Terreiros da Jurema decidir seu destino em seus
meios de relações de poder, e como dizem os próprios Juremeiros: “o
Estado come nas cozinhas dos Terreiros”.
Os ancestrais divinizados na Jurema têm valor semelhante ao dos Babá
Egún (ilustres ancestrais divinizados que, quando em vida, foram iniciados
no culto de um Orixá no culto do Candomblé) para os povos iorubás. São
cultuados e respeitados de forma específica, mas semioticamente como essa
tradição, onde a ética, o respeito e a organização social são mantidos por
essas personalidades divinizadas, que voltam a reorganizar ou manter o
controle da comunidade e das tradições do Terreiro. Na teologia da Jurema,
nove aspectos muito relevantes podem ser identificados e sistematizados,
como guias para o corpo físico, que está ligado a elementos simbólicos e
linguagens que dão lógica à religião:
Com relação aos pontos descritos, podemos considerar:
• A Jurema como espaço sagrado mítico, árvore sagrada e bebida
sagrada, como suporte místico e principal material teológico para dar
razão à existência da religião.
• A ciência da Jurema como elemento chave do vínculo fundamental
entre homem/mulher e teofania e hierofania no cosmos da Jurema. O
diálogo do sagrado com o material através de entidades e divindades.
• O Juremeiro e a Juremeira como veículos de ligação entre o espiritual e
o material. Os que fazem a religião realmente existem e os que
perpetuam a tradição.
• Ervas e seus poderes místicos de cura holística como materiais de uso
litúrgico na Jurema.
• A fumaça do cachimbo como elemento de comunicação e manipulação
do poder da ciência da Jurema. A manipulação mágica da realidade.
• A filosofia/cantigas que são a base sagrada da orientação moral, ética e
teológica, social e comportamental geral dos Juremeiros ; espíritos de
homens que desencarnaram no candomblé, e que por diversos motivos
foram divinizados e receberam da comunidade o direito de serem
cultuados, invocados e descerem à Terra para retomarem suas
atividades entre parentes e irmãos religiosos.
Na origem do Catimbó, era trabalhado com os Mestres, invocados a partir
de falas entoadas em rituais em que a Jurema era consumida com o auxílio
de príncipes (taças) e princesas (tigelas de porcelana). O maracá e o
cachimbo eram usados para realizar o ritual. As bebidas alcoólicas eram
servidas aos Mestres, que sempre as solicitavam (Grünewald 2005b). Além
desta família Acais, tão bem pesquisada por Salles (2010) e Lima Segundo
(2015), vários outros Juremeiros detinham mesas de Catimbó em todo o
litoral do Rio Grande do Norte até Alagoas (Salles 2010; Assunção 2014),
especialmente no áreas rurais, mas também em pequenas cidades. Esses
rituais não eram institucionalizados, e seus protagonistas se dedicavam a
cuidar das pessoas que chegavam até eles com saúde, amor, trabalho e
outros problemas cotidianos, quase sempre tendo suas aflições recebidas
pelos Mestres para serem resolvidas; esses Mestres que ainda atuavam
prevendo aos consulentes.
Para Bastide, o Catimbó (ou cachimbó) seria “a velha festa da Jurema” que
se transformava através das “camadas inferiores da população do Nordeste”
(Bastide 1945: 205). Para este autor, seria a ingestão da Jurema que
permitiria aos Juremeiros “viajar pelo mundo do sobrenatural, que é
concebido como outro mundo natural, com seus encantados que se
subdividem em estados, e estes, por sua vez, nas cidades”. Nesse mundo
encantado, além de vilas, cidades e estados, haveria também, segundo
Cascudo (1937), reinos.
Vale ressaltar que no Catimbó o poder de conduzir as pessoas ao mundo dos
encantamentos sempre foi atribuído à Jurema, porém, não seria apenas a
bebida que teria esse poder, mas a postura espiritual do indivíduo seria
fundamental, o que lhes permitiria penetrar no mundo invisível (Grünewald
2005b; Salles 2010). Pesquisadores da primeira metade do século XX
atribuíram ao Catimbó a ideia de predomínio da feitiçaria européia em sua
dinâmica (Cascudo 1978). Apesar disso – e ainda que com uma cosmologia
mista – a origem indígena se destaca na constituição dessa religiosidade.
Quanto às cidades da Jurema, estas são as moradas dos Mestres da Jurema,
cujas “vidas no mundo espiritual”, segundo Lima Segundo (2015), “se
inter-relacionam com a própria existência da árvore” (Lima Segundo 2015:
67 ). Portanto, espaços rurais com a presença de Juremeiras (árvores de
Jurema) ligadas a determinados Mestres é algo importante para o
fortalecimento dessa religiosidade. De fato, quanto aos indígenas do
Nordeste, Juremal não se refere apenas a um local com densa concentração
de Juremeiras, mas, no plano cosmológico, a um local (cidade ou reino) no
plano invisível, onde os Mestres e outros seres vivem. (Principalmente no
caso dos indígenas). Nesse sentido, seguindo uma proposta de Mircea
Eliade, Lima Segundo articula a Jurema com o arquétipo da “árvore
cósmica”, que liga o homem às suas verdades míticas (Ibid: 56). Para Salles
(2010), por fim, a Jurema, sendo “a 'cidade' do Mestre, sua 'ciência'”, é “o
símbolo maior do culto” (Salles 2010:17-18). Assim como para os
indígenas do Nordeste, também aqui a noção de ciência surge em termos
complexos, sendo um componente central dessa tradição mística.

Catimbó não é macumba nem candomblé

No Catimbó não há promessas, votos, unidade do protocolo sagrado. É um


ofício que tende cada vez mais à simplificação ritual. Não há festas votivas,
não há corpo de filhos-de-santo para o louvor divino dos Orixás, nem a
preparação obediente de laôs. Dos instrumentos musicais resta a marca do
Mestre, uma pequena cabaça na ponta de um bastão, com a qual o Mestre
divide o compasso das linhas. Não há cores, vestidos, miçangas, enfeites
especiais, comidas particulares, fetiches de representação. Catimbó não é
macumba nem candomblé, fica isolado, diverso, distinto.
No Catimbó, quem atraca são os Catimbozeiros falecidos. Não há um único
Mestre que não tenha vivido na Terra. Nas macumbas e candomblés passa o
sopro alucinante das potências africanas, deuses nascidos misteriosamente,
com poderes assombrosos.
Tudo no Catimbó é feito com a Linha da Licenciatura, onde se diz, com
firmeza: "com o poder de Jesus Cristo, vamos trabalhar". Das centenas de
orações recolhidas nos arquivos do catim bozeiros, nenhuma alude a um
encantamento e infalibilidade a Deus, Santíssima Trindade, Santos, às
Almas. Só encontrei dois que abordavam as estrelas e o sol. O espírito é
religioso, formalista, disciplinado, respeitador da hierarquia celestial.
Ninguém, em um Terreiro de Macumba ou de Candomblé, admite
permissão de Jesus Cristo para Xangó, nem um santo católico atende ao
chamado insistente dos tambores.
Tem muito Pará-Amazonas no Catimbó. São as universidades do curso
secreto. A ordem, na respeitosa citação que é a credencial na ordem de
valores, começa por Belém do Pará, depois Manaus. O terceiro lugar é
Pernambuco, a cidade de Recife e Brejo da Madre de Deus, onde havia um
respeitado Mestre e que hoje guia espiritualmente as mesas do Catimbó.
Depois: Paraíba, capital, Serra da Raiz, Mamanguape. Campina Grande.
Estas são as terras mais ilustres onde os Mestres tiveram aulas e
conheceram bons conhecimentos. Estes são os nomes da prestatividade
indiscutível e antiga. Não se fala muito na Bahia

Pajelança e Toré

Não se pode falar de Catimbó sem referir-se à Pajelança. Ambos são


identificados, embora em regiões diferentes. Com a Pajelança há
intercomunicação mas não dependência ou filiação.
Pajelança é uma forma de religião praticada no Amazonas, Pará e Piauí.
Sua prática reúne uma mistura heterogênea de rituais de várias outras
religiões. Nela se encontram ritos de Candomblé, Xangô (bem pouco).
Catimbó, Espiritismo, Catolicismo e práticas de origem indígena.
Em suas reuniões, o Pajé e os demais presentes bebem o tafiá (cachaça),
enquanto o chefe do executivo se prepara para atender os clientes.
Após a invocação dos encantados que descem, é feita uma indagação sobre
a causa dos males que afligem esta ou aquela criança, busca-se também a
puçanga (receita) indicada para cada caso.
Os encantados que prescrevem geralmente são almas de animais que
encarnam no Pajé. Se este encantado não souber o remédio eficaz, indique
qual meio seguir.
O pajé está sempre com o maracá e um feixe de penas de ema na mão. O
único instrumento musical utilizado na Pajelança é o maracá, que se torna
um instrumento mágico quando manuseado por ele. É importante ressaltar
que a alma dos animais, quando incorporada ao Pajé, costuma querer
dançar, brincar e se divertir. Aparecem danças muito vivas e alegres. Os
gestos são uma espécie de mímica, sempre de acordo com o espírito que os
executa.
As práticas de pajelança incluem feitiçaria africana, candomblé, indígena,
etc.

Toré

Para alguns grupos e estudiosos, o Toré é uma dança, para outros um


sinônimo do Catimbó. Abaixo estão dois exemplos de diferentes
perspectivas:

A. Ribeiro descreve o Toré mais como uma expressão do Catimbó:


O Toré é de origem ameríndia, onde as pessoas buscam remédios para suas
doenças, buscam conselhos nos caboclos que descem. O Mestre fuma,
receita, aconselha. Certamente, é o mesmo Catimbó das periferias dos
grandes centros nordestinos, onde os desprovidos de melhores condições
financeiras o procuram como oráculo, para aliviar suas agruras e
infortúnios.
Quando lhe asseguramos que Toré é o mesmo que Catimbó, Pajelança,
Babaçué ou Encanteria do Piauí, o fazemos porque neste imenso Brasil os
nomes de uma cerimônia variam de região para região. Em Alagoas, por
exemplo, na foz do rio São Francisco, em Piaçabuçu. o Toré é o mesmo, o
mesmo Catimbó, onde, além das funções medicinais fisioterapêuticas, se
encontram os elementos fundamentais herdados dos índios: a Jurema e a
defumação curativa. Basta recorrer aos estudos de Oneyda Alvarenga,
Roger Bastide, Gonçalves Fernandes, Luís da Câmara Cascudo e Eduardo
Galvão, para constatar a semelhança entre Catimbó, Pajelança, Babassuê e
Toré que aqui registramos.
No Toré, são realizadas a busca pelo nome da doença e a adivinhação
mágica. Além da defumação, usam ervas e, entre elas, destaca-se a Jurema,
em cujos poderes mágicos os sertanejos acreditam piamente. É, portanto,
uma medicina mágica, onde seu executor é o Mestre Presidente do Toré.
No Toré de Piaçabuçu, os Caboclos para descer precisam ser chamados na
"piana" através de uma canção (linho ou linha) e batidas de maracá. O
governante Mestre do Toré não usa vestes especiais, exceto um cocar de
penas, que ele chama de elmo de índio. Os Mestres e membros do Toré se
reúnem às quartas e sábados, logo após o pôr do sol. É uma reunião
chamada chamada. Após a reunião em que participam várias pessoas (15 ou
mais), há outra, que é o "trabalho da ciência", com a presença apenas dos
cinco ou seis membros mais importantes, ou melhor, mais avançados no o
trabalho. Nesse serviço de mesa, os não iniciados são proibidos de
participar, a menos que tenham "sangue índio, sangue real". Há outra
reunião, às vezes anual, que é o "banquete dos maracás", do qual só podem
participar os antigos sócios, reservado exclusivamente aos frequentadores
(filhos dos filhos das aldeias). Tais práticas e outros traços culturais
deixados pelos índios, como a fitoterapia, podem ser vistos na região do
baixo São Francisco.
Uma das características do Toré atual, intimamente relacionado às crenças
indígenas, é o processo de manifestação dos Caboclos, no Terreiro. Eles são
chamados lá na aldeia onde moram (os vivos), caem na sonolência para
poderem aparecer onde foram chamados. No Toré não são invocados
espíritos brancos, ou seja, espíritos de pessoas que já faleceram. No Toré só
descem Caboclos e alguns juram. Jurado é o que está no ar, quando em vida
bebeu Jurema ou ao morrer esteve debaixo de uma Jurema. O jurado é um
espírito em processo de caboclização (santificação), o que o torna não
perigoso como o espírito branco. O jurado pode visitar aldeias e descer no
Toré.
O líder do Toré é o Presidente. Há sempre um ajudante, um acólito.
Compete ao Presidente comparecer à reunião, enquanto os demais se
manifestam.
O Presidente, o acólito e outros membros masculinos do Toré afirmam que
não mantêm relações sexuais com mulheres nos dias que antecedem as
reuniões. Isso deve ser observado, eu digo, para pegar o feitiço. Além disso,
nesse dia, você não pode beber álcool e deve tomar banho.
Para começar os trabalhos, conforme nomeiam a reunião, o Presidente
aproxima-se da mesa, sobre a janela (copo de água), coloca sete gotas de
vela, “que é a linha que representa a cruz de Cristo”. a janela para formar a
coroa de São Jorge.No Toré há um pedido de socorro a Jesus e aos Santos,
enquanto no Candomblé não há.
Trabalhando com sete aldeias: Laje Grande, Barro de Touá (que é massapé).
Jurema, Pedra Branca, Urubá ou Urubatà, Amazona e Iemanjá, o Presidente
observa na vela que é para Ogum de Ronda, e a face da vela é aquela que dá
o sinal do que está por vir, seja contra ou a favor. Isso deve ser feito, porque
de vez em quando aparece um espírito branco com o qual você deve ter
cuidado. Joga um pouco de água de um quarto no piano, reza um Pai Nosso,
uma Ave Maria/Salve Rainha, na intenção de boas obras, faz o sinal da cruz
e começa a cantar:
Em campos verdes, ó meu Jesus,
Em campos verdes ó meu Jesus.
Madalena baixada aos pés da cruz,
Rezando este bendito implora a Jesus.
Enquanto cantam, dançam com o corpo curvado, com o tronco quase na
horizontal. Cantando, fazem o sinal da cruz, persignando-se:
Abre-te mesa em Campos Verdes,
Cruzêro, cruzêro divino,
Com as forças de Santa Bárbara e os de sino meu Pai
Sinhó, Jesus Sinhó, Pai Criado
Em tronco de Jurema Senhores Mestres
C onfesso abrindo o tronco da Jurema.
Ali, está presente o idiofone herdado dos índios (maracá) ou ambaracá dos
Guarani, que acompanha algumas das canções. Quando um Caboclo reluta
em descer, o maracá é tocado com mais intensidade e mais perto do ouvido
de quem vai receber o encantado. Ele até balança o maracá, abafando o som
e marcando o ritmo. A parte agógica parte do moderado quase alegre até
atingir vivace. A dinâmica começa em pianíssimo, subindo para o forte, e o
canto continua com outra melodia:
Santo Antônio de Lisboa
Que morô no imperado? Que no dia vinte e nove mucho choro me custô,
Abre campa das campina azuis O s Caboclo de Jurema,
Vem guiado por Jesuís.
Cante com o sino na mão. Entre um canto e outro, o acólito toca o sino
como é feito na hora da consagração da missa católica romana. Acredita-se
que o som dos sinos, desde a Idade Média, tem o poder de afugentar o
demônio. É por isso que eles permanecem em cerimônias religiosas. Eles
cantam a seguir:

Malunguinho, ó Malunguinho Caboclo Índia riá


Com as forças de Sinhá Luxa e nosso Pai Celestial,
Abre as portas que eu te mando sete pedra imperiá,
Com a força de Salomão Nosso Pai Celestial.

Malunguinho é o dono da chave, que abre o caminho. Sua presença é


necessária. Com este Caboclo presente para abrir as portas da Jurema, para
abrir os caminhos e portas à direita (lado bom) e fechadas à esquerda, por
onde os maus possam penetrar, o sincretismo com as forças católicas
representadas em Santa Bárbara ocorre em Toré.
A duração de uma sessão de Toré é muito menor do que a de um
Candomblé. Enquanto o Toré abre às quartas e sábados e nunca passa da
meia-noite, o Candomblé começa nas tardes de sábado e muitas vezes é um
dia claro aos domingos e os Orixás ainda estão, através de seus filhos e
filhas-de-santo, dançando nos campos.

B. A descrição de Natali Carvalho é completamente diferente:


Com a força das canções e instrumentos e arrastando os pés na areia, os
indígenas Tapebas, localizados no município de Caucaia, Ceará, vestem-se
de espiritualidade. Toré não pode ser traduzido para o português
simplesmente como uma dança. É um ritual sagrado, muitas vezes
considerado uma ciência pelos povos indígenas de vários povos do
Nordeste, inclusive o povo Tapeba.
Weibe Tapeba explica que, para seu povo, o Toré é uma relação dos tapebas
vivos com os que já partiram, os ancestrais, e com a natureza. “É uma dança
circular, onde as energias estão ali na roda, as músicas falam muito da
relação com a Jurema, com a natureza, com os encantados”, descreve.
Um momento em que essa relação se torna mais visível é a Festa da
Carnaúba, comemorada no dia 23 de outubro pelos índios Tapebas. O
momento é sagrado para eles, principalmente pela história que carrega. A
carnaúba era a árvore da vida desse povo. Foi dela que, num momento
difícil, o povo Tapeba conseguiu sobreviver.
Como mostra a história oral, eles foram várias vezes expulsos de seus
territórios. Nesses períodos em que passavam por muitas dificuldades para
sobreviver, passaram a utilizar os recursos naturais da Carnaúba. Comiam
do fruto da árvore, usavam a palha para fazer suas casas e até suas roupas,
que ao contrário de outros povos indígenas que usam penas, os Tapebas
usavam as folhas dessa planta.
Os Tapebas são conhecidos pelo processo de recuperação – que, segundo
Ana Lúcia Tófoli, são ações politicamente organizadas pela população
indígena, cujo objetivo é ocupar áreas tradicionais às quais não têm acesso
e/ou usufruto. Porém, esse procedimento tem seus riscos: a violência dos
posseiros. Em alguns processos de reintegração de posse, Kennedy Tapeba
conta que já foi ameaçado com uma arma apontada para o rosto. É neste
momento que o Toré se torna essencial.
“Nas primeiras horas da retomada, fazemos o Toré. Afinal são momentos
tensos, mas é o Toré. Porque são tensos, porque são momentos onde pode
haver tiroteios, entre outras formas de violência. Então, o processo é assim,
duas noites antes de fazermos o Toré diariamente. E na data da retomada,
assim que entramos no terreno, derrubamos a cerca e já entramos cantando
Toré, só pra quando chegar alguém. Mas é sempre isso, sempre Toré”,
relata. O povo Tapeba tem uma história de luta pela demarcação de seu
território há mais de 30 anos, mas há apenas cinco anos o governo federal
declarou oficialmente a Terra Indígena Tapeba, com 5.200 hectares, em
Caucaia. (CE), na região metropolitana de Fortaleza.
“Quando entramos numa roda de Toré, tudo muda, tudo se transforma. Na
primeira música, você ainda sente aquele peso com que veio, mas a partir
da terceira música tudo muda. Às vezes você está estressado do trabalho, às
vezes você está preocupado com um parente que está doente, você está
preocupado com N coisas do dia a dia, mas em todo o Terreiro sagrado, em
todo o ritual do Toré, da terceira música para a frente , esse peso já está nas
costas. Você consegue ter uma sensibilidade maior, com a natureza e até
com o espiritual, consegue ver a comunicação da natureza com o seu
corpo”, explica Kenedy.
Nos Tapebas Toré, há dois círculos, um maior e outro menor. No menor,
você não pode entrar simplesmente pedindo permissão. Formada por várias
lideranças das 18 comunidades tapebas, essa permissão só vem depois de
muito preparo e um dos integrantes da roda menor convida.
Kennedy Tapeba, que atualmente é um dos puxadores do Toré (que está no
círculo menor), demorou cerca de oito anos para ser chamado, situação que
não é exclusiva de sua trajetória, mas de outros indígenas também. Embora
jogue, pois segundo ele dança o Toré desde a barriga da mãe, só aos 12 anos
entendeu o que era estar na roda principal.
“Na roda menor, estão as lideranças, não importa se são homens ou
mulheres, essas lideranças são as responsáveis por marcar o ritmo do Toré,
puxar as cantigas, cantar as cantigas. O círculo externo são mais as pessoas
que dançam, que acompanham. Mas quem faz todo o trabalho, quem toma a
Jurema, quem toma o mocororó (bebida típica derivada do caju),
dependendo da ocasião, são esses líderes, os do círculo menor”, explica
Kenedy.
O dia de fazer parte do espaço principal do Toré é uma data aguardada por
todos. Weibe Tapeba, que também faz parte do círculo menor, relata que
“quando a liderança chama, não é um desejo específico, vem do
encantamento, do espiritual. A partir daí, a pessoa começa a ter autoridade
para estar naquele espaço”, explica.
A relevância de quem ocupa o círculo menor vem principalmente dos
rituais que envolvem o Toré. Na festa da Carnaúba, por exemplo, é preciso
ter a Jurema, mas poucos tapebas conseguem produzir a bebida, processo
que envolve a retirada de partes específicas da planta que leva o mesmo
nome.
“Você deve passar por um momento de isolamento e se proteger. Você não
pode beber álcool, não pode fazer sexo, não pode fazer nada. A pessoa fica
por um período mínimo de cinco dias em preparação espiritual, para poder
tomar a Jurema. Hoje, talvez o povo Tapeba deva ter no máximo cinco
pessoas que tenham noção da capacidade de retirar a Jurema”, explica
Kennedy.
Um dos itens essenciais para fazer parte do círculo intermediário é o
respeito aos líderes e aos mais velhos. A segunda é entender que nada vem
por acaso, e esse momento é a grande preparação. Os indígenas podem
passar anos esperando a vez de entrar na roda principal, sem saber quando
será o grande dia. Simplesmente esperando que o encantamento, o
espiritual, faça a sua parte. O outro requisito para fazer parte é estar
engajado na luta dos indígenas, estando presente nos processos de
retomada, de reuniões, de assembleias.
“Você deve ter paciência porque não vai acontecer da noite para o dia. Para
se ter uma ideia, a ciência do Toré é tão grande, porque se eu quisesse entrar
sem estar preparado, eu não saberia, porque quem está no meio é o
responsável por puxar as cantigas, por isso são chamados de puxadores .
Essas músicas podem ser cantadas 10 vezes”, descreve Kennedy.
Cantiga de Toré
Já sinto o cheiro da terra,
Ja sinto a cerca tirada,
Eu quero ver o meu povo
Alegre com a terra demarcada.
Peneruê, peneruá,
Peneruê, peneruá
Peneruê, peneruá
E o Senhor nos dai força
Para lutar e vencer
Nós não vamos desistir
E a terra queremos receber
Peneruê, peneruá,
Peneruê, peneruá
Peneruê, peneruá
Eu agradeço ao meu Deus
Por ter nos dado tanta força
Por ter a terra que hoje
Nos da feijão e arroz.
Peneruê, peneruá,
Peneruê, peneruá
Peneruê, peneruá

C. Hohental (1954) descreve alguns ritos que participou na tribo


Xukuru
Todas as tribos encontradas durante o levantamento etnográfico possuíam
alguma forma ou outra da antiga cerimônia indígena da Jurema.
Aparentemente os Fulniô conservam a forma mais tradicional deste rito, ou
seja, a mais simples, e seguindo-os, os Pancararú, que também possuem
uma versão sem adornos deste rito evidentemente antigo. Os demais grupos
indígenas investigados adotaram muitos elementos estranhos, resultado do
contato com cultos fetichistas de origem africana e da introdução de certos
elementos cristãos. (...)
Essencialmente, o rito da Jurema tem por finalidade a intervenção do Pajé
por seu povo junto aos seres sobrenaturais do mundo espiritual. Apenas o
Pajé entrou em transe, induzido pelo fumo constante de fumo forte, pela
absorção de uma bebida entorpecente, o narcótico Jurema, e talvez
auxiliado pela auto-hipnose. (...)
Um complemento a esse procedimento era o sacudir de um chocalho de
cabaça, muitas vezes pintado com tauá vermelho (hematita), cujo som
ritmado, auxiliado pela ingestão de narcóticos, era necessário para induzir o
transe desejado. Embora o chocalho fosse essencialmente um instrumento
de marcação de ritmo, em certo sentido também era um intermediário entre
o Pajé e os seres sobrenaturais, cuja materialização não era reconhecida
pelos índios em questão. (...)
O verdadeiro rito da Jurema não envolvia a representação de ídolos ou
imagens: bebidas alcoólicas; velas acesas, a invocação de Jesus Cristo, da
Virgem Maria e de uma multidão de santos católicos; a fala de outros
participantes além do xamã com espíritos de indivíduos mortos há muito
tempo; o canto de canções religiosas; a presença de mulheres; ou a queda
em transe por qualquer pessoa que não seja o próprio Pajé. Todos ou alguns
desses elementos estranhos estão presentes hoje no rito praticado entre a
maioria dos grupos visitados, essas características refletindo a influência
tanto do fetichismo negro quanto do catolicismo.
A versão tradicional indiana, por mais que possa ser reconstruída, também
difere da versão que reflete a influência negra e européia por não ser
executada principalmente para a cura. A função de curar muitas vezes
estava nas mãos do Pajé, que usava técnicas como sucção, sopro de fumaça
de tabaco sobre o corpo do sofredor e prestidigitação. Embora não seja
improvável que, ocasionalmente, o Pajé recorra ao Espírito da Jurema, e até
mesmo caia em transe, enquanto trata de um caso difícil de doença, tais
ações seriam principalmente para obter insight sobre a natureza da doença e
meios para combatê-la. No entanto, a cura da doença per se não fazia parte
do rito indígena da Jurema, e tal cerimônia não era realizada para devolver
a saúde a uma pessoa. (…)
Normalmente, a cerimônia da Jurema é realizada à noite. (...) Antigamente
só os adultos podiam comparecer, e deles nem todos tinham permissão,
cabendo ao Pajé quem devia participar. Hoje em dia as mulheres e até
mesmo os adolescentes estão frequentemente presentes.
Uma pequena fogueira é feita em uma clareira isolada da aldeia
(comunidade) e os participantes se ajoelham em círculo ao lado dessa
fogueira, que serve para acender os cachimbos. As armas são deixadas de
lado na beira da clareira porque a paz perfeita deve prevalecer; (...)
O Pajé entrega o corte da raiz da Jurema a dois ajudantes, que
cuidadosamente cortam e descascam a casca da raiz, após o que a casca é
colocada sobre uma grande pedra chata para bater cuidadosa e lentamente
com uma pedra lisa "para não machucá-lo". O Espírito da Jurema mora
dentro da casca e não deve se ofender com tratamento grosseiro ou
grosseiro. Depois de triturada e desfiada entre os dedos em uma polpa, a
casca triturada é inserida em uma grande cabaça ou tigela de barro contendo
água de um riacho. A casca descascada é suavemente espremida à mão até
que a seiva exsuda, transformando a água límpida em um líquido vermelho-
escuro em cuja superfície flutua uma espuma branca e espumosa. Esta
espuma saponácea é cuidadosamente removida com movimentos de concha
das mãos e o líquido remanescente em seu recipiente é cuidadosamente
transportado por um dos homens ao Pajé, que o coloca com reverência
sobre uma esteira rústica diante dele, que consiste simplesmente em várias
folhas. da palmeira catolé ou ouricuri. Os dois assistentes retomam seus
lugares no círculo expectante; um deles pode levantar-se de vez em quando
para assistir ao fogo e aos cachimbos de tabaco carregados que lhe são
entregues para esse fim por outros participantes. (…)
Depois que o Pajé bebe ele passa a tigela para a pessoa à sua esquerda, que
também levanta a tigela três vezes e bebe; assim, a tigela é passada por toda
a roda de participantes e volta para o Pajé que a recoloca nas folhas de
palmeira; fumar tabaco é então retomado com vigor. Quando a tigela foi
passada três vezes ao redor do círculo, o Pajé repentinamente entra em
transe; seu corpo é rígido, embora tremores contínuos percorram seu corpo;
seus olhos estão abertos e os globos oculares enrolados e voltados para as
órbitas, expondo o branco dos olhos; os olhos eventualmente podem ser
fechados enquanto o transe perdura. O tempo todo seu braço direito está se
movendo mecanicamente, sacudindo o chocalho que está firmemente preso
na mão; seu cachimbo está igualmente preso na mão esquerda, mas esta
permanece imóvel. O Pajé pode cair repentinamente para trás, ou mais
comumente, de cara no chão; nesta posição, ele parece estar ouvindo
atentamente as vozes dos seres sobrenaturais que procura contatar. Nessa
fase ele começa a "falar em línguas", um jargão sem sentido, nem português
nem qualquer outra língua reconhecível; pela entonação desse jargão, fica
claro que o Pajé está fazendo perguntas aos "Encantados", e
presumivelmente ele recebe respostas. Nesse momento, pode-se enfiar um
alfinete ou qualquer objeto pontiagudo em sua carne, ou tocar seu corpo nu
com um tição brilhante, mas ele não mostrará nenhum sinal de dor ou
desconforto. O pulso é muito rápido e irregular, e a transpiração escorre por
seu rosto e corpo. Enquanto o Pajé está neste estado, seus companheiros
agitam seus chocalhos em ritmo monótono e balançam seus torsos de um
lado para o outro de sua posição sentada de pernas cruzadas, mas
permanecem em silêncio.
O Pajé pode ficar em tal transe por até uma hora ou mais até que ele volte
abruptamente a si mesmo e esteja mais uma vez alerta para o que está ao
seu redor; ele então informa a seus companheiros em voz baixa, e com toda
aparência de exaustão mental e física, o que aconteceu enquanto sua alma
vagava livre de seu corpo; o que ele aprendeu em sua jornada ao mundo
sobrenatural deve ser interpretado e julgado.
Após sua exposição, todos se levantam e o Pajé, acompanhado de um de
seus dois auxiliares, vai até cada um e sopra a fumaça do tabaco sobre o
corpo do indivíduo, da cabeça aos calcanhares, pela frente e por trás; ao
mesmo tempo, o chocalho é sacudido sobre o corpo do participante. Seu
assistente segue o Pajé de perto, repetindo seu ato de purificação. Feito isso
o fogo é coberto com terra, os participantes se vestem novamente e voltam
silenciosamente para a aldeia. Ocasionalmente, o Pajé ficará tão exausto por
causa da jornada de sua alma que seus companheiros devem esperar um
momento posterior para saber de suas experiências durante o transe. (…)
A forma básica do rito da Jurema descrita acima, na medida em que pode
ser reconstruída, modificou-se muito devido à integração de elementos
estranhos. Enquanto o elemento indígena predominasse na cerimônia,
apenas o Pajé entrava em transe induzido por entorpecentes e era o único
meio de contato com o mundo sobrenatural - recebendo mensagens do
Além, transmitindo conselhos dos espíritos e distribuindo notícias de
mortos membros da tribo. Hoje em dia, porém, quase qualquer participante
pode reivindicar incorporação em seu próprio corpo por um ser
sobrenatural, ou que sua alma também pode se libertar do corpo e entrar em
contato com os espíritos.
Freqüentemente, até três ou quatro indivíduos estão em transe ao mesmo
tempo, mas é bastante provável que sob tais circunstâncias de histeria geral
haja uma boa dose de simulação. Muitas dessas pessoas cujos corpos
estremecem, cujos olhos reviram e que "falam em línguas", provavelmente
estão fingindo. É duvidoso que todos esses aspirantes a médiuns ansiosos
passem pelas experiências que afirmam ter. Além disso, hoje em dia não é
necessário o Pajé que preside uma sessão: quem preside pode ser qualquer
"Mestre" e muitas vezes é uma mulher!
A característica da versão moderna é a abertura da sessão com orações e
apelos à Divindade Trina Cristã, à Mãe de Deus e a vários santos católicos;
Canções de importância religiosa, algumas bastante melodiosas e
impressionantes, também são cantadas por todos os presentes. Alguns
desses exemplos serão suficientes:
"Ai, Senhor Mestre
Que me dá licença
Para eu folgar
Com velha Anjucá!"
"Nas horas de Deus, Amen
Padre, Filho, Espírito Santo
Esta primeira cantiga
Que n'esta mesa eu canto
Ai, nahena, heia, hei, nahoa
Ai, nahena, heia, hei, nahoa!"
"Senhor Mestre eu quero
Senhor Mestre vá
Quero que me dê licença
Vamos trabalhar
Com o poder de Jesus Cristo
Vamos trabalhar
Ai, heia, heia, ai, ina hoa
Ai, heia, heia, ai, ina hoa!"
Há também canções dirigidas pessoalmente aos "Encantados", para induzi-
los a se manifestar incorporando suas entidades nos corpos dos médiuns.
Quando isso é realizado, um resultado de transe. Essas músicas são
chamadas de "linhas". Às vezes, quando o "Mestre" que preside canta sua
"linha" invocativa, apesar de todos os seus esforços, o "Encantado" se
recusará a se manifestar; é então necessário que o "Mestre" chame um ou
mais participantes e exija que cantem o verso solicitado (tirar uma linha).
Às vezes, todas as pessoas presentes cantarão juntas a canção mágica;
talvez esse esforço conjunto surta o efeito desejado, talvez não; mesmo
ocasionalmente, um espírito totalmente diferente daquele convocado fará
sua presença conhecida. (..)
Quanto ao tabu de ingerir bebidas alcoólicas antes de participar de um rito
da Jurema, não só esse costume foi abandonado pelos Shucurú como eles
misturam a cachaça, cachaça incolor, com a própria Jurema. Esta prática é
ridicularizada como sendo "estilo negro" por índios descendentes da
maioria dos outros grupos pesquisados. A prática atual entre os Shucurú
consiste em mergulhar uma pequena cabaça (cuia) ou um copo comum na
Jurema e passá-la sucessivamente para cada um dos presentes. O "Mestre"
que preside bebe primeiro, fazendo o sinal da cruz com sua cabaça
chocalhando sobre o copo antes de ir; tanto os homens quanto as mulheres
bebem rapidamente e com frequência; a xícara ou cabaça passa de mão em
mão com assiduidade quase mecânica; não há "Mestres" abstêmios.
Nessas ocasiões, canta-se uma canção:
"Corre, corre, cuia da mesinha
Corre, corre, cuia da mesinha
Ai, cuia, cuia da mesinha
Ai, cuia, cuia da mesinha
Ena, ena, ena hoa
Ena, ena, ena hoa
Ai, ena hoa."
Quando um "Mestre" entra em transe, seus vizinhos esfregam sua testa e
braços com pedaços de alho amassados e cachaça misturada com folhas de
alecrim em pó; isto é suposto para proteger o indivíduo contra as más
influências que estão à solta nessas ocasiões.
O trabalho dos "Mestres" chama-se "fumaça"; trabalhar para o Bem, por
exemplo, conselhos médicos e remédios, conselhos de importância diversa,
amuletos da sorte e assim por diante, chama-se "fumaça às direitas". para
tais atividades são segundas, quartas e sextas-feiras. Ao contrário do rito
aborígine, a forma atual enfatiza a cura e, de fato, sua semelhança com a
cerimônia antiga é superficial. Trabalhar para o Mal, por exemplo, a
confecção de amuletos ou talismãs contrários , feitiços para adoecer,
arruinar um negócio ou impedir um casamento, é chamado de "fumaça às
esquerdas". Os dias adequados para essa magia negra são terças, quintas e
sábados. Domingo não é um bom dia para "fumaça" e serve apenas para
consultas de menor ordem e pequena importância.
Para despertar uma pessoa em transe e que não consegue sair dele, o
"Mestre" que preside coloca as mãos na testa da pessoa e profere
encantamentos, exortando a vítima em nome da Santíssima Trindade a
voltar a este mundo. Ao mesmo tempo, as outras pessoas presentes se
juntam e cantam em uníssono a mesma canção que aquele em transe canta
monotonamente entre feitiços de murmúrios sem sentido, ou "falar em
línguas". Tal participação de outros é pensada de alguma forma para "retirar
o poder", distribuindo-o entre os outros presentes, e assim enfraquecendo
sua força no corpo do possuído para que ele possa voltar a si.
As informações variam muito quanto à organização dos “Encantados”
sobrenaturais, mas aparentemente a unidade básica do mundo sobrenatural
é a “aldeia”. Alguns informantes declararam que havia vinte e cinco
"aldeias" e que todos os "Encantados" eram obrigados a visitar uma de cada
vez; assim os "Encantados" de cada "aldeia" sobrenatural eram conhecidos
de todas as outras "aldeia", e através de suas manifestações terrestres por
meio dos médiuns, cada grupo indígena de Pernambuco conhece os
"Encantados" de todas as outras tribos. Parece ser esse o caso, pois entre as
tribos pesquisadas ficou claro que os Pancararú, Shocó, Tushá e, em menor
grau, os Fulniô, conheciam pelo menos alguns "Encantados" subscritos
pelos Shucurú.
Existem diferentes relatos da organização do mundo sobrenatural. Por
exemplo, alguns informantes afirmaram que cada "aldeia" sobrenatural
tinha três "Encantados", e que doze dessas "aldeias" compunham um
"estado". Se for esse o caso, haveria trinta e seis "Encantados" em vez de
vinte e cinco, como na outra versão. Num estado sobrenatural há cidades,
rios, serras e assim por diante, assim como na terra. Esses "estados"
compõem um "reino", mas existe confusão quanto ao número de "estados"
necessários para formar um "reino".
Segundo uma versão, são cinco "reinos" chamados de "Onça" (Jaguar),
"Vajucá" (Anjucá = um arbusto lenhoso semelhante à Juremeira), "Canindé"
(uma arara, Ara ararauna), "Urubá" (um urubu, Cathartes urubu) e
"Juremal" (da Jurema?). Outra história diz que são sete "reinos", sendo os
dois adicionais "Tanema" (governado por uma rainha, Iracema), e "Fundo
do Mar" ou "Mar Sagrado".
Observe que Hohenthal não estava enraizado no Catimbó e não tinha
nenhuma experiência espiritual xamânica. Muitas de suas observações,
simplificações e suposições podem ser questionadas. Sua opinião sobre o
que é uma Jurema verdadeira e uma Jurema impura é bastante subjetiva. O
mesmo quando afirma que muitas incorporações/encantamentos são
“falsos”. Ainda assim, sua descrição é uma das poucas existentes. Tão útil
para uma compreensão mais profunda das semelhanças e diferenças e
significados dos rituais da Jurema.

D. Tromboni (1998) descreve o rito do Toré do Kiriri da seguinte


forma (tradução do português)

O aspecto do Toré que primeiro chama a atenção de qualquer observador


externo é o transe mediúnico, a possessão ou, se preferirmos usar as
categorias nativas, enramar ou manifestar. É por meio dessa posse que os
encantos se manifestam. A comunicação com os amuletos, ou encantados, é
a finalidade do ritual.
Todo sábado à noite é dia de brincar. Os índios cantam e dançam ao som
dos maracás , marcadores de ritmo. São chocalhos feitos de cabaça, planta
comum na região. Muitos usam maracas, mas apenas os entendidos (
entendidos ) - indivíduos adultos iniciados na ciência dos índios (ciência
dos índios) - os usam também em outros momentos rituais, ou seja, durante
o trabalho.
É um objeto ritual cercado de reverência e simboliza mais do que qualquer
outro, exceto o vinho da Jurema, sua indianidade. Muitos chegam ao Toré
com uma anágua de fibra de vidro caroá , a tanga, sobre roupas comuns. O
caroá é importante porque "antigamente era com ele que se faziam as
roupas de índio". Para alguns especialistas, ao xamã e às mulheres que
recebem os amuletos, fica reservado o uso de trajes rituais um pouco mais
elaborados, que incluem além da tanga, toucado e adereços para os pulsos e
tornozelos feitos de penas.
Devem ser tomadas providências em relação à preparação do Terreiro, ao ar
livre, como a defumação. Nela entendia-se, quase sempre conselheiro,
cargo político inferior apenas ao do cacique, com cabaça contendo ora a
bebida da Jurema , ora o vinho de milho ou buraiê , ora o zuru (cachaça
comum), espalha o líquido no chão, enquanto às suas costas, formando uma
fila, seguem outros dois especialistas, homem ou mulher, um segurando
uma lamparina (um fifó de querosene ) , outro fumando um paú (cachimbo)
e fumando todo o caminho, que percorre todo o ambiente externo e interno
área do Terreiro (espaço sagrado), esperado com isso, atrair os encantos
(encantos) e afastar as coisas ruins, espírito de mortos (espíritos mortos), ou
espírito branco, categoria que envolve tanto espíritos de mortos brancos
quanto negros (espíritos brancos e pretos).
Visto de cima, o grupo busca, em fila indiana, realizar um círculo, homens à
frente, girando no sentido anti-horário, de modo que os primeiros, puxados
pelo xamã, logo alcancem os últimos, necessariamente mais lentos,
ultrapassando-os algumas vezes dentro do círculo, às vezes para fora, de
modo a formar uma espiral que se contrai ao máximo, quando uma súbita
inversão de sentido, por parte daquele que puxa os demais, desfaz a espiral
por completo, repetindo-se indefinidamente a coreografia, que só muda
quando os encantos.
Junto com o canto e o som produzido pelo maracá, há também um passo
característico, um passo simples, o "jeito" Kiriri de pisar, por meio do qual
eles costumam se diferenciar dos outros índios que também dançam o Toré
e o civilizado . Este movimento em espiral é sempre interrompido ao
substituir uma linha - ou seja, música - por outra, servindo para tomar um
pouco de fôlego, permanecendo o círculo aberto - é nessa hora que as
pessoas entram e saem do treino, pois não é obrigatório deixar todos
dançam todas as linhas. O ritmo tem sua frequência acelerada conforme se
aproxima o clímax, quando os encantamentos ( encantos ) caem ou
enramam , dando-se ali um grande intervalo para a consulta aos encantados
e a ingestão das bebidas rituais: o vinho da Jurema e o buraiê ( o zuru não
se bebe durante Toré).
Existem linhas especiais para cada encantado que você deseja invocar, mas
apenas duas ou três emanam de cada Toré. Algumas falas, porém, não são
dirigidas a ninguém, como aquela que sempre abre a obra no início do
ritual:
Venho da Jurema
Eu vou pro Juremá (bis)
Chega meus Caboclo índio
Que vem do orte do Mar (bis)
(estribilho)
Ah, sina êh, ah sina áh
Ah, sina êh, sina êh, sina há (várias vezes)

Outras são dirigidas a Deus, Jesus Cristo ou Nossa Senhora, como esta, por
exemplo:
Lá no pé do cruzeiro, oh Jurema
Eu brinquei com a Maraca na mão (bis) Pedindo a Jesus Cristo Com Cristo
no meu coração (bis)
(estribilho)
Hêina, hêina êh Hêina, hêina áh (bis) Hêina, hêina êh
Hêina áh, hêina áh (várias vezes)

E ainda outros dirigidos à própria Jurema:


Jurema, minha Jurema
Eu quero ver meu Caboco regimá
É no regimo de Deus É no regimo da união
(estribilho)
Hêina, hêina êh
Hêina, hêina áh (bis) Hêina, hêina êh Hêina áh, hêina áh (várias vezes)
Os encantados, encantados, mestres encantados ( Mestres Encantados ),
gentios ou caboquinhos são entidades sobrenaturais benéficas, em
princípio, ao menos para os índios. Caracterizam-se principalmente por
estarem vivos, ou seja, não terem passado pela experiência da morte, não
serem o espírito dos mortos, coisa dos brancos, numa alusão ao espiritismo,
à umbanda ou a outras obras que não sejam indígenas. - mas que eles
sabem.
Acredita-se que alguns deles tiveram existência humana, após a qual teriam
sido encantados, indo para o reino dos Encantados ou Reino da Jurema, ou
Juremá, mas sem terem morrido. Eles não deixaram de viver; eles também
não são espíritos desencarnados. Eles ainda estão vivos, apenas naquele
reino, ao qual os encarnados só têm acesso através da ingestão da Jurema.
Há o Sultão das Matas, o Papagaio Amarelo, o Boi do Corte, o Rei
Porquinho, Véio Ká, Mané Maior, Barriquinha, Mestre Liro, Mestre Zabelê,
Caiporinha, Sereia, etc. aliás, só infundem mulheres durante o ritual,
embora, na concepção nativa, nada impeça que entrem em quem
entenderem.
Os encantamentos são geralmente descritos como tendo a aparência de
homens enormes, ferozes e implacáveis, de olhos rudes e esbugalhados,
verdadeiramente assustadores, pela semelhança de como caracterizam os
pagãos selvagens, seus ancestrais que ainda viviam no mato, embora não
sejam , em princípio, equiparado a este último. São, no entanto, solícitos e
se comunicam com os kiriri não só na camarinha (sala sagrada para ritos de
iniciação etc.) do Toré, mas também na ciência do índio e nos sonhos.
Quando aparecem nestes são sempre levados a sério, e o sonho de um
cacique pode resultar em medidas radicais em termos de vida comunitária.
Os encantamentos vagam pelas matas, pelas tábuas, pelas cavernas ou pelas
águas. Podem aparecer na forma de animais e muitos caçadores, por não os
reconhecerem, já tentaram alvejá-los, o que resulta, acreditam eles, em
doenças e padecimentos para eles próprios. Sob essas formas, aproxima-se
e espia tudo, aprende os segredos do povo e pode informar o pajé quando
ele trabalha. Mas somente as pessoas que possuem a ciência podem
reconhecê-los nesta forma, distinguindo-os de meros animais.
Essas entidades se manifestam no Toré com a característica de cada uma e
falam, durante o transe, uma mistura de português com uma língua
ininteligível, ao menos para o observador externo, mas que é tida como a
língua dos ancestrais - o gentio brabio ou o Caboclo do tronco velho (
caboco dos tronco véio ) -, língua que os Kiriri, de fato, não puderam
preservar.
Voltando à sequência ritual, após algum tempo a brincadeira na roda, já
enredada, ou seja, com os Mestres já em estado de transe, os encantados são
conduzidos à camarinha (sala sagrada de reclusão), no edifício construído
de o Terreiro, também chamado de ciência. Trata-se de acesso exclusivo a
especialistas e índios que são consultados, juntamente com os encantados,
para aconselhamento, proteção e cura de vários tipos de doenças, sendo
prescritas certas obrigações e tratamentos: defumações, chás, banhos de
folhas ou simples conselhos . Lá também eles aconselham decisões que
afetam a comunidade como um todo e admoestam os Kiriri a manterem a
força da aldeia, ou seja, a união em torno do cacique e dos conselheiros.
Cerca de seis a sete horas após o início da cerimônia, quando os encantos já
haviam diminuído, foram consultados, enviaram suas mensagens, sempre
interpretadas pelos especialistas, e partiram para seu reino, ocorre a Sirene,
ato final de término dos trabalhos. Uma cruz é contornada com algumas
dezenas de velas, dispostas em fila dupla no chão de terra batida do
Terreiro. Na intersecção dos braços maior e menor, existe um bosque com
cerca de trinta centímetros de altura. Ao redor deste centro sentam-se
algumas crianças pequenas. Envolvendo-os, os homens sentados, alguns
também em pé, e por fim as mulheres dançam, girando em torno de todos.
Todos cantam os versos, com destaque para a Sereia, que vem por último, e
que encerra a obra. Quem está sentado fica de joelhos e uma oração de
aspecto cristão é pronunciada com as mãos em sinal de oração. Terminada a
oração, o Toré está fechado.
Também é preciso ressaltar a importância da Jurema para o Toré. Como
dissemos antes, durante a cerimônia, em intervalos regulares, os
participantes ingerem essa bebida, também chamada de vinho da Jurema.
Este vinho, ligeiramente alucinógeno (LIMA, 1946), é elaborado a partir da
casca da raiz da Jurema ou Juremeira (Mimosa nigra, Hub.; Acacia hostilis,
Mart.; Mimosa hostilis, Mart.), uma pequena árvore típico do sertão
nordestino.
Aqui vai um parêntese: o vinho da Jurema é o principal elemento comum a
todas as formas rituais difundidas pelo nordeste que, juntamente com o
Toré, constituem variantes do que chamamos, por isso mesmo, de
"complexo ritual da Jurema". Abrangem toda a região e cuja difusão atinge
até mesmo rituais não especificamente ligados a reivindicações étnicas,
embora em todos eles a bebida feita a partir da Jurema esteja ligada a
alguma representação do "índio" .
Outro item que deve ser citado como fundamental no Toré é o uso intensivo
do tabaco. Costuma ser fumado em cachimbos tubulares, de madeira,
chamados de paus, cercados de respeito e carruagem exclusiva de
especialistas, ao menos no que se refere ao uso cerimonial. Depois de
acesos, os cachimbos costumam ser solicitados pelos amuletos na hora das
consultas. sopre então o cachimbo invertido, ou seja, com o furo da brasa
no interior da boca, de forma que a fumaça seja bem direcionada pela ponta
estreita. Assim orientado, o jato é soprado em direção ao consulente, da
cabeça aos pés, em movimentos que delineiam cruzamentos. Assim, busca-
se proteção e cura, estados alcançados com o uso do tabaco, também
chamado de Badzé, que é uma das poucas palavras do léxico da antiga
língua Kiriri que persistiu.
Um último ponto deve ser feito em relação aos agentes que desempenham
funções de destaque durante o ritual, os conhecedores. Não parece haver um
rito específico que marque sua iniciação. Sem dúvida, há um processo de
aprendizado, aquisição da ciência por parte de quem se "candidata". Há, em
alguns casos que ouvimos relatar, história prévia de doença considerada
incurável por qualquer método que não a submissão à vontade de encantos,
que com este signo pretendem obrigar o indivíduo a enfrentar o trabalho,
isto é, assumir obrigações rituais . Embora nem todos os especialistas
passem por esse processo, eles próprios são vistos como tendo vários graus
de compreensão da ciência indiana.
Entre os trabalhos que ficam a cargo de especialistas está o particular ,
cerimônia que acontece todas as quartas ou sextas-feiras lá no mato, num
lugar secreto, na casa da ciência, ou junto a uma jurema, cuja participação é
restrita para eles, dos quais pouco se sabe.
Para mim, pessoalmente, o Toré é a celebração pública e comunitária sem
conexão espiritual direta e sem intenção de cura ou desenvolvimento
espiritual. É uma expressão de alegria, de comunidade, de coesão, mais uma
celebração do que um ritual. A ordem da dança é como o arranjo do Xiré no
Candomblé (mas com giro à esquerda) com os movimentos circulares e o
arranjo do círculo interno e externo. Os ritos de cura e iniciação
normalmente não ocorrem durante um Toré.

O cosmos espiritual do Catimbó


A cosmovisão religiosa da Jurema está centrada no reino da Jurema, (...)
que, em Alhandra, também é chamado de Encantos. Este reino, segundo os
Juremeiros da região, seria composto por sete cidades, sete ciências: Vajucá,
Junça, Catucá, Manacá, Angico, Aroeira e Jurema. Como mencionado
acima, Andrade foi o primeiro a relatar a existência de um Reino da Jurema.
Este, segundo o autor, seria dividido em outros onze reinos: Juremal,
Vajucá, Ondina, Rio Verde, Fundo do Mar, Gruta de Salomão, Cidade
Santa, Matas Virgens, Vento, Sol e Urubá. (ANDRADE, 1983). (Salles,
2010; p. 82).
Cascudo, em Meleagro, menciona a existência de um mundo dos
“encantados”, que se dividiria, segundo alguns, em sete: Vajucá, Urubá,
Juremal, Josafá, Tigre, Canindé e o Fundo do Mar, e cinco, segundo outros,
seriam os quatro primeiros, mais Tanema, ou Reino de Iracema. Esse
“mundo além”, segundo ele, seria dividido em Reinos ou Reinos, cuja
unidade seria a aldeia. Cada aldeia, por sua vez, teria três Mestres. Assim,
12 aldeias formariam um reino, composto por 36 Mestres. Nesse reino,
haveria cidades, montanhas, florestas e rios. (Cascudo, 1951, apud Salles,
2010; p. 82).
Mas essa complexidade pertence a uma forma de pensar o mundo através
da experiência transcendental da viagem à Jurema, atividade muito comum
aos antigos Juremeiros e índios que, ao ingerirem o vinho sagrado da
Jurema Preta, alçavam-se a esses mundos que eram revelado por etapas, e
onde se buscou a tão citada ciência da Jurema. O ritual, por outro lado, pode
ser dividido em duas modalidades: a Jurema indígena, do “Caboclo”,
praticada nos moldes das tribos,
Para os Juremeiros e Juremeiras a palavra Cidade tem vários significados,
entre eles o lugar/espaço mítico, místico e sagrado onde vivem as entidades
e divindades. É também o centro de força espiritual que rege e influencia o
mundo material com suas próprias variantes étnicas, sendo a “Jurema de
Mestre”, ou “Jurema de mesa”, que é a Jurema praticada nos Terreiros, que
embora ambas se cruzem completamente No que diz respeito à concepção
imaginária e cosmológica, há diferenças na prática ritualística, uma vez que
o espaço sagrado da floresta, mata e caatingas tem que ser recriado e
recolocado, na maioria das vezes, dentro do escasso espaço construtivo das
construções dos Terreiros.
Em „Meleagro“ podemos ler que o Além do Mundo é dividido em Reinos
ou Reinos. A unidade é a aldeia. Cada aldeia tem três “mestres”. Doze
aldeias formam um Reino, com trinta e seis “Mestres”. No Reino existem
cidades, montanhas, florestas, rios. Quantos reinos existem? Sete, segundo
alguns. Vajucá, Tigre, Canindé, Urubá, Juremal, Fundo do Mar e Josaphat.
Ou cinco, ensine aos outros. Vajucá, Juremal, Tanema, Urubá e Josafá. Um
Reino compreende dimensões, com topografia, população e cidades cuja
forma, número e disposição ainda não foram fixados pelos “Mestres”
terrestres. Os reinos mais conhecidos e povoados pelos poderosos e
curadores dos “Mestres do Além”, são Vajucá e Juremal.
Uma estrutura e explicação mais detalhadas dos reinos, divindades e guias
espirituais seguirão abaixo em um capítulo separado.
OS MITOS DA JUREMA

Mito de origem da Jurema entre os Kariri-Shoko


do Brasil
O seguinte mito relativo ao culto da Jurema foi coletado por Clarice Mota
durante seus estudos sobre os Kariri-Shoko de Alagoas; uma história em
que a divindade feminina Jurema é a responsável pela origem mítica da
tribo. Jurema é considerada uma divindade criadora que surgiu em tempos
míticos, ensinando uma mulher original a preparar uma bebida especial, que
permitiria à tribo ter belas visões e um novo conhecimento do mundo. Para
o Kariki-Shoko, a bebida só pode ser preparada por pessoas que possuam o
conhecimento, guardado em segredo, das "palavras sagradas", ou seja, as
palavras que despertam o poder latente da planta. Segundo esse mito, a
tribo Kariri-Shoko originou-se de uma relação incestuosa causada pelo
consumo de uma poção de Jurema mal preparada, ou seja, sem a devida
purificação e introdução espiritual. No mito é relatado que, posteriormente,
Jurema ensinou os pajés da tribo a preparar a bebida. Desde então, as
mulheres foram proibidas de preparar a Jurema, bem como de participar do
ritual relativo.
A história mostra uma redução do papel da mulher, embora Jurema, como
portadora da bebida entre os homens, seja uma divindade feminina
benevolente. Após o fracasso da mulher no preparo da bebida - fracasso
que, no entanto, cria as tribos humanas e dá origem à tribo de onde provém
esta história - Jurema ensina o preparo da bebida aos homens; mas não para
homens comuns, mas para xamãs, que transmitiram o segredo de sua
preparação desde aqueles tempos míticos. Este mito estigmatiza, portanto, a
importância do preparo da bebida, como elemento indispensável para um
ritual de sucesso. Além disso, a origem da bebida é contemporânea da
origem do homem, sendo ele o criador desta. As pessoas de pele branca
estão presentes no mito como meros espectadores; de fato, sua presença,
insignificante e quase inútil para os propósitos da história, sublinha a
impossibilidade de os brancos participarem ativamente do culto da Jurema:
Pai, filho e nora, que eram brancos, mais seis índios sugadores de sangue
haviam ido para a mata por causa da seca. Permaneceram muito tempo na
mata, alimentando-se de caça e plantas silvestres, até que o Tupã, ou
Jurema, fez o remédio indígena que eles beberam, e todos se embriagaram.
Então, uma índia fez o remédio e deu para a prima, o sogro, uma prima e o
sogro da prima. Essas quatro pessoas beberam o remédio e ficaram bêbadas.
Em seguida, eles tiveram relações sexuais. A mulher que preparou o
remédio teve relações sexuais com a prima, não com o sogro [cometendo
assim incesto], e disso nasceu uma criança.
Este foi o início das tribos indígenas. Essa mulher formou as tribos com a
prima, pois não sabia preparar bem a Jurema, e por isso se embriagou. A
Jurema que preparamos não nos embriaga, mas podemos conversar com os
ancestrais.
Então, ela e seu primo criaram sua família naquela floresta. Sua família
começou a se espalhar e receber os nomes das tribos. Cada tribo foi para
outros lugares, de um canto do mundo para outro. A família original ficou
na floresta, e ainda hoje é a nossa aldeia. Assim começou o mundo.

Jurema como o sangue de Cristo


Quanto à mitologia do culto da Jurema, além do mito de origem Kariri-
Shoko recolhido por Clarice Mota, Albuquerque registrou uma história de
uma informante do atikum chamada Dona, um monólogo um tanto confuso,
no qual se podem reconhecer alguns elementos mitológicos, tanto nativos
quanto sincrético. Vislumbram-se elementos fragmentados de um mito da
origem da Jurema do qual, na confusão de temas diferentes e
diferentemente híbridos, não é mais possível entender a trama. O tema da
Jurema como sangue de Cristo é muito difundido entre os cultos afro-
brasileiros e os cultos indígenas influenciados pelos cultos de possessão.
“Os antigos nativos viveram nos tempos dos Padres. Naquela época, a vida
era muito mais difícil do que é hoje. Os índios viviam na floresta, comendo
a caça que conseguiam, fazendo comida com o que extraíam mais
imediatamente. Era um estilo de vida em que a arte de cozinhar ainda não
tinha descoberto o sal, o fogo e a carne era comida crua. Esses índios
viviam em cavernas, fugindo das feras e caçando-as.
Um dia, o primeiro índio deixou seu posto. Ele foi o primeiro homem que
veio ao mundo. Chegar ao mundo e conhecê-lo. Esse índio saiu do banquete
em que conviveu com os demais e se aventurou a conhecer o deserto
(caatinga). O mundo era muito grande, quase infinito, e ele queria conhecer
o mundo, mas estava atordoado e com medo.
Caminhando pela caatinga, esse índio ouviu uma voz debaixo de uma
jurema, perguntando-lhe: "Você quer minha alma perto de você?" "Sim", ele
respondeu. Ao aproximar-se da jurema, teve um sono muito forte, caiu e
dormiu. Ele notou a presença de uma mulher, uma índia, uma santa, era a
Cabocla Jurema. Ela estava vestida da cabeça aos pés com o cabelo, que
cobria todo o corpo. Ela perguntou: "como você chegou aqui?", Falando
"um idioma", "uma língua"; "Deus me enviou para lhe fazer companhia até
o fim." O índio não conhecia a "língua" e ficou calado. Começou então a
conviver com o santo, sempre sem pecado. Por sua vez, ele era como um
pai que vive sem pecado.
Chegamos ao tempo do Filho. Um dia, o índio tinha saído, a Cabocla
Jurema estava fazendo café. Naquela época, o café era colocado, depois de
misturado no pilão, em uma xícara com água quente. Quando ele despejou a
água no copo, o café não saiu, saiu sangue! Mas era outra coisa, era Jurema!
A Jurema foi assim transformada, a Jurema é o sangue de Cristo. A Cabocla
se assustou e disse que ia brincar lá fora. Falou pela primeira vez na
"língua". Silêncio mulher, aí está o segredo! É de lá que recebemos a força,
a força dada pelo divino. É uma pena jogar fora. É pecado Jesus dar um
objeto a uma criança e a criança que abre as mãos o deixa cair. Jurema é o
vinho, é o sangue de Jesus. Se brincasse na mata, o índio enlouquecia, sem
salvação” (Albuquerque, 2002, pp. 25-6).
Além do tema da bebida da Jurema como o sangue de Cristo, outro tema
comum é o de Jesus, fugindo da perseguição romana, deitado cansado e
ferido em uma árvore da Jurema; seu sangue se espalha pelo tronco da
árvore atingindo a raiz, o que tornou esta planta sagrada, e é por isso que a
casca da raiz da Jurema é colorida de vermelho e dá cor à bebida feita a
partir dela. Outros temas mostram Jesus enterrado sob uma árvore de
Jurema, ou seu sangue disperso por um dos discípulos na Juremeira, para
"fixar ciência" para os índios. Ou ainda, quando Herodes mandou matar os
recém-nascidos, para que Jesus não ficasse vivo, a sagrada família se
escondeu atrás de uma jurema, e é a partir desse momento que essa árvore
se tornou sagrada (Albuquerque, 2002, p. 29; Silva et al ., 2010, p. 8).

A lenda da Cabocla Jurema


Mito brasileiro ocorrendo no Piauí.
O sol girou mais uma vez em torno da Terra e quando os raios da manhã
tocaram sua testa, a Cabocla gritou: “Eu sou Jurema!”
E ela saltou do galho mais alto da árvore gigante e parecia voar entre os
pássaros e outros seres alados da floresta; mergulhando no rio profundo de
onde emergiu, nadando com os golfinhos que entenderam seu canto:

"Cabocla
Seu penacho é verde Seu penacho é verde É da cor do marÉ a cor da
Cabocla Jurema
É a cor da Cabocla Jurema
É a cor da Cabocla Jurema
Jurema"

Jurema era uma linda índia, valente filha de Tupinambá. Adotada pelo
mundo, foi encontrada ao pé do arbusto da planta encantada que lhe deu o
nome, e cresceu forte, bela, com a beleza da noite e a firmeza do dia.
Corajosa, a Cabocla tornou-se a primeira mulher guerreira da tribo, pois sua
força e agilidade no manejo das armas e na ciência da floresta, tornaram-se
lenda em todo o continente; onde os contadores de histórias, ao pé do fogo,
falavam da índia da pena de ouro, que era a própria Mãe Divina encarnada.
Nada causava medo na Cabocla, até o dia em que ela encontrou seu maior
adversário: o amor. Jurema se apaixonou por um caboclo chamado Huascar,
de uma tribo inimiga chamada Filhos do Sol, que havia ficado preso em
uma batalha.
Os dias foram passando e o amor aumentou, porque o pior de amar não é
amar só, mas ser amado de volta, porque exige da pessoa amada, uma ação
em favor do amor. Pelo olhar, Caboclo Huascar disse:
“Oh doce Cabocla
Meu doce de cambucá
Minha flor cheirosa de alfazema
Tem pena deste Caboclo
O que eu te peço é tão pouco
Minha linda Cabocla Jurema
Tem pena desse sofredor
Que o mal destino condenou
Me liberta dessa algema
Me tira desse dilema
Minha linda Cabocla Jurema ”

Jurema, que aprendera a resistir ao canto do boto, ao veneno da cascavel e


dos tatus, já resistira bravamente a centenas de emboscadas e que de longe
sentia o cheiro de armadilhas, não resistiu ao amor que brotava de seu peito
por aquela guerreira .
Observando seu amado prisioneiro, ela viu em seus olhos, as mil vidas que
passaram juntos, viu seus filhos, o amor que os unia além da carne e
percebeu que não era por acaso, que era o único Caboclo capturado vivo, e
decidiu para libertá-lo, mesmo sabendo que seria expulso de sua tribo.
Em fuga, seu próprio povo a perseguiu, e em meio à chuva de flechas que
voavam em direção ao caboclo fugitivo, foi Jurema quem caiu, salvando
seu amado e recebendo a ponta da morte que era para ele, em seu próprio
peito.
Diz a lenda que os Huascar retornaram à Terra do Sol, fundaram um
império nas montanhas andinas e mandaram construir um templo chamado
Matchu Pitchu em homenagem a Jurema, onde apenas as mulheres da tribo
habitariam e lá, eles iriam aprenda a ser guerreiro como a mulher que
salvou sua vida.
No local onde caiu a Jurema nasceu uma planta robusta e muito resistente
que floresce o ano todo, cujo formato exótico e intenso tom amarelo-
alaranjado chamou a atenção de todas as tribos, pois tudo dessa planta podia
ser aproveitado, desde as sementes , até as flores e o caule; e porque as
flores desta planta estão sempre voltadas para a estrela maior (talvez
buscando ver a amada na Terra do Sol). A planta, portanto, ficou conhecida
como girassol.
"Moça bonita é a Cabocla Jurema
Ela vem com um girasol
E a coroa dela é como um girasol
Ela é a luz do amanhecer
Tem os seus lindos sonhos de arrebó
E a coroa da Jurema é como um girassol
É como um girassol
É como um girassol
É como um girassol"
Em outras versões, no lugar da morte de Jurema, cresce uma planta
chamada Jurema-preta ou Calumbi (mimosa hostilis), da qual é possível
preparar um chá popularmente conhecido como vinho de Jurema, preparado
a partir das lascas das raízes da mimosa hostilis , sendo Esta bebida muito
utilizada em cerimônias religiosas indígenas e africanas.
Jurema faz parte de um grupo de espíritos nativos brasileiros que auxiliam
em trabalhos de cura através de ervas, banhos, símbolos, danças,
defumações e trabalhos mágicos de pajelança (xamanismo) que utilizam a
energia da natureza. Cultuada no politeísmo piaga, religião pagã piauiense,
sua força é tão grande nos cultos que Jurema chega a ser considerada uma
divindade, por sua forma de agir e liderar perante os espíritos indígenas.
A figura da Jurema representa a resistência da cultura indígena, que
sobreviveu até os dias atuais, sendo transmitida de geração em geração. Ela
é uma das donas espirituais do Brasil, mostrando-se como uma entidade de
grande força que, por estar presente no culto, atrai também a presença de
outros Caboclos e Caboclas de energia semelhante. Também é conhecido
como “Guerreiro das Sete Matas (Sete Matas)”. Essa poderosa índia sempre
ajuda seus devotos nos momentos de dificuldade, quando é chamada a
purificar e iluminar os caminhos daqueles que nutrem sua amizade e
devoção.
O Mito De Deus E O Demônio Indígena
Franz Kreuther Pereira afirma em „Painel De Lendas & Mitos Da
Amazônia (1993) que era necessário que os primeiros missionários
encontrassem no panteão nativo uma divindade que encarnasse os atributos
do deus que desejavam impor e, ao mesmo tempo, outra que personificava
os atributos contrários. E como o primeiro trabalho dos missionários é
identificar os focos de culto e depois combatê-los em nome de sua fé, não
foi muito difícil reconhecer em Jurupari o alvo desse primeiro movimento.
O Jurupari, divindade dotada de grande prestígio e investida de muitos
privilégios, recebeu a primeira incumbência da brigada eclesiástica: Todo
culto pagão é obra de Satanás! Por força desse argumento que tanto estrago
trouxe à cultura de muitos povos, esse deus nativo foi transformado no
Diabo, a encarnação do Mal e para combatê-lo e defender o selvagem de
sua influência nefasta "surgiu" Tupã, um ser tão longe da compreensão dos
nativos quanto dos Jurupari dos missionários. Câmara Cascudo diz que
Tupá “é uma obra de catequese de adaptação” (cf. 1972: 85). Na verdade,
Tupã já existia, não como divindade, mas apenas como conotativo para o
som do trovão (Tu-pa, Tu-pan ou Tu-pana, sopro ou baque estrondoso),
portanto, nada mais era do que um efeito, causa que o índio desconhecia e,
por isso, temia. Osvaldo Orico, porém, é de opinião que os selvagens
tinham noção da existência de uma força, de um deus superior a todos. Ele
diz:
"Apesar da simples idéia religiosa que os caracterizava, ele tinha uma noção
de Ser Supremo, cuja voz se ouvia nas tempestades - Tupã-cinunga, ou o
trovão, e cujo reflexo luminoso era Tupãberaba*, ou relâmpago."
Voltando ao grande folclorista potiguar (1972: 85), lemos que foi a partir de
1613 que Jurupari "assumira a posição de Diabo com todas as honras e
prerrogativas intrínsecas". Evidentemente, as “honras e prerrogativas”
referidas por Cascudo não são as mesmas consideradas pelos indígenas,
para quem não fazia sentido falar na ideia de uma tentação do demônio ou
na possibilidade de ter a alma presa nas ciladas de Satanás. . Porém, é
provável que já tivessem a ideia de um inimigo indistinto, oculto e obscuro,
responsável por tudo de ruim que lhe acontecia, responsável pelas
vicissitudes, etc. Esse comportamento é uma tendência natural do ser
humano; "a tendência de criar um inimigo imaginário para explicar
problemas aparentemente insolúveis."
Os índios não tinham conceitos religiosos; no entanto, eles definiram os
conceitos de sobrenatural e a noção de dualidade natural. Expedito Arnaud,
pesquisando os índios Galibi, da Guiana Francesa, testemunha que eles
acreditavam no Sol e na Lua como seres vivos, mas não os viam como
deuses dignos de sacrifício ou a quem deviam adorar. Arnaud afirma ainda
que eles acreditavam em Deus e no Diabo, "ao primeiro chamaram
Tamoussi Cabou (O Velho do Céu), e ao segundo, Iroucan". Interessante,
porém, é que essas duas divindades, segundo os Galibi, eram filhos de
Amana; e aqui Expedito Arnaud registra o antigo mito da "Virgem Mãe"
(Nas religiões mais primitivas Deus era feminino, e eles acreditavam que a
mulher era Deus, porque em tudo se manifestava o princípio da criação).
"Amana - escreve ele - originou os irmãos gêmeos Tamusi, criador de tudo
que é justo e bom, e Yolokan-tamulu, avô dos espíritos da natureza, criador
das trevas e da miséria, sendo o primeiro inconcebível sem o segundo,
ambos como luz sem escuridão."
Se a noção da dualidade e polaridade das forças da natureza e das leis
cósmicas era compreendida de forma tão complexa pelos Galibi, então eles
eram mais avançados do que muitos possuidores de uma religião que afirma
ser capaz de derrotar o Diabo em nome de Deus. Arnaud registrou há 26
anos que quase todos os Galibi se converteram ao catolicismo, hoje é
correto supor que esta tribo, se ainda existe, não deve ter membros sem os
santos sacramentos.
Diz a lenda que Jurupari é um deus que veio do céu em busca de uma
mulher perfeita. ser esposa de Coaraci, o Sol, mas não diz se ele a
encontrou e, segundo Orico, essa missão é inatingível. Jurupari foi o maior
legislador que os indígenas conheceram, assemelhando-se a Quetzalcoaltl, a
"Serpente Emplumada", deus reformador e legislador Maya.
Convivendo com os homens, estabeleceu uma série de regras de conduta e
leis morais; instituiu a monogamia, a higiene pessoal por meio da depilação
corporal, restituiu o poder aos homens que viviam em regime matriarcal;
promoveu mudanças no mês e no campo; e especialmente os festivais da
colheita são devidos a ele. Tão grande foi sua influência e tão importantes
seus ensinamentos que o Dr. Hurley, com muita propriedade, o definiu
como o "Moisés Tapuio". Algumas das leis de Jurupari permanecem válidas
até hoje e são as seguintes:
• O patrão cuja esposa é estéril pode tomar outros para si, sob pena de
perder o trono para os mais valentes.
• Ninguém cobiçará a mulher alheia, pagando com a vida a
desobediência.
• A mulher deve permanecer virgem até a puberdade e nunca se
prostituir.
• Uma mulher casada deve permanecer com o marido até a morte sem
traí-lo.
• O marido deve permanecer em repouso por uma lua, após o nascimento
da mulher.
• O homem deve sustentar-se com o trabalho de suas mãos.
• A mulher que vê o Jurupari e o homem que revela seus segredos e seus
rituais são punidos com a morte.
Segundo a lenda, a mãe dos Jurupari era uma índia virgem chamada Ceuci,
"filha de, Tupã e Zuacacy", segundo Ernesto Cruz e instigada pela
curiosidade foi espiar os rituais, contrariando assim a lei instituída pelo
filho. Para servir de exemplo de que as leis de Jurupari não podem ser
transgredidas, ela foi condenada à morte.
A cerimônia do Jurupari tem seu ritual no final de março, que coincide com
o período em que as águas baixam e prenunciam o verão, que começa em
maio. Na verdade, na Amazônia não existe inverno e verão, o que
chamamos de inverno e verão é caracterizado pelas chuvas, abundantes em
um período e escassas em outro. Na Europa, esse período coincide com o
equinócio solar, que marca o início da primavera, durante a qual - e ainda
hoje - muitos rituais pagãos.
O Jurupari é um arquétipo presente em diversas culturas, não é um
privilégio Tupi, mas por ser a maior família indígena, espalhada por uma
grande área territorial, e por ser o Tupi-Guarania mais difundido,
pesquisadores antigos concentraram seus trabalhos nele.
O exemplo do deus dessa linhagem indiana deixa claro por que e como as
tradições indianas e cristãs puderam se misturar. Pois mesmo nos mitos
existiam paralelos surpreendentes. Cascudo analisa em sua obra:
“O que significa Jurupari? Batista Caetano de Almeida Nogueira ensina
que vem de y-ur-upári, que vem pra rede, o pesadelo, o pesadelo . Teodoro
Sampaio afirma ser apenas yuru-pari, boca fechada, alusão ao silêncio do
ritual utilizado. Couto de Magalhães diz que significa tirar da boca ou
passar a mão na boca, jurupoari Coudreau relembra a versão do jurupará-
i, saindo da foz do rio. Para Stradelli era simplesmente yuru, boca e pari, a
grade tala com a qual fechava as saídas dos riachos para evitar que os
peixes escapassem. traduz bem a necessidade de sigilo, punível com a
morte em caso de traição. Tastevin enveredou pelo caminho real quando
escreveu em seu “Tupi-Português” (Revista do Museu Paulista, volume
XIII, São Paulo, 1923): I urupari — nome próprio de um antigo legislador
índio, cujos usos, leis e tradições , lembrado nas danças mascaradas de
Jurupari. O nome parece significar máscara, pari, da boca ou rosto, rua:
iu-ru-pari, pôr pari na cara. O Diabo para os cristãos, e portanto extensão,
animal feroz, pessoa má.
Maximiano José Roberto reuniu a lenda de Jurupari ouvindo-a de centenas
de índios em vários anos de escuta amorosa do passado de sua raça. Foi,
por parte de pai, dos índios Manau, e por linha materna, Tariana. falava o
nhengatu e muitas línguas selvagens. Morei em Turumã-mirim onde
recebiam os tuixauas mais conceituados da região. Era, aliás, sobrinho de
Mandu, cacique Tariana de Jauareté, terra famosa pelas lendas
maravilhosas e possuidora dos melhores segredos do hierodrama de
Jurupari. Conseguiu, com paciência exemplar, colher material precioso e
puro, como nenhum outro homem possuía, e que Stradelli, seu amigo
íntimo, conseguiu articular sem perder o perfume bárbaro.
As muitas lendas reunidas em mãos ilustres são outros tantos fundamentos.
A retina civilizada se deforma ao mirar em histórias incompreensíveis.
Felizmente para esses feitos sonoros tivemos a plêiade humilde e gloriosa
de J. Barbosa Rodrigues, Ermano de Stradelli, MJ Roberto, Antônio
Brandão de Amorim, Berardo da Silva Ramos e outros misteriosos
estrelinhas iipirungauas. Jurupari é filho de uma virgem tenuiana que
comeu o fruto do Pücã sem perceber que o suco escorria por suas partes
mais secretas. Nasceu, sumiu e sua mãe o sentiu de noite mamando no
peito, brincando sem que eu pudesse ver a figura. Quinze anos depois, ele
apareceu. Ele era alto, forte e ativo. Eles o elegeram tuixaua. A falta de
homens havia dado a maioria às mulheres, e estas governavam a tribo.
Jurupari arrebatou seu poder, devolvendo-o aos homens.
O Barão de Santana Neri acreditava firmemente que Jurupari era o
guerreiro vencedor das Amazonas, depois divinizado. Certos detalhes de
suas roupas foram posteriormente sagrados e, portanto, a máscara de pele
de macaco ou o cabelo feminino, os instrumentos musicais e as festas
secretas. Vencedor das mulheres, Jurupari reunia os homens e ensinava-
lhes sua doutrina. Ele instituiu festas e ritos iniciáticos, os “costumes do
Sol”. As mulheres não podiam atendê-los sob pena de morte. As crianças
chegadas à puberdade seriam recebidas sob ritos dolorosos que são os
camuano nindé.
O homem deve ser sólido, forte, resignado, obediente, insensível à dor,
resistente, fiel aos compromissos. Há um jejum indispensável, as dietas
sagradas, as purificações. Ceuci, mãe de Jurupari, escondeu-se para ouvir
a palavra do filho. Foi transformado em pedra. Jurupari não pede perdão.
Não há súplica para amenizá-lo. Somente a obediência aos seus ritos
tornará o guerreiro imortal. Todos devem se casar cedo e ter uma esposa. o
tuixaua é obrigado a se divorciar da estéril. Não tendo filhos, a liderança
passará para o melhor guerreiro. É um legítimo tecô-munhangaua,
legislador, militar e reformador dos costumes. Austero e puro, Jurupari
nunca permitiu que uma mulher tocasse em seu corpo. Carumá, em roda de
dança, o abraçou. O deus o transformou em montanha. Jurupari ama
homens fortes e mulheres fecundas. O espírito de sacrifício é total. Daí o
uso do adabi, o chicote, indispensável nas festas de iniciação e até nas
reuniões públicas.
Ele instituiu o iacuacua, jejum ritual, antes das danças. deu os quatorze
instrumentos, medidos de seu corpo, e obrigou os tocadores a tomar vômito
para tocar a música que atraía até as feras. o ritual de vômito, ueenaiua,
também é indispensável. Instrumentos são tabu. Proibir a sedução de
donzelas antes que a lua as deflore (vinda do catamênio), condenar o
adultério à morte e regularizar a ninhada (couvade) ordenando ao pai do
recém-nascido repouso e alimentação especial durante a lua, para que a
criança adquira a força que o pai vai perder. deu regimento às festas
sagradas. São cinco: 1) Quando uma cunha (menina) é deflorada pela Lua.
2) Quando comer o fruto do pucã. 3) Quando comer caça na floresta. 4) Ao
comer peixes grandes. 5) Quando comer caça desculpe.
Sempre haverá dabucuri de frutas, caça ou pesca, festas de
confraternização, entre membros da mesma tribo ou vizinhos. Nessas festas
as mulheres podem e devem participar. Usam o chicote adabi,35 e às vezes
transformam o dabucuri em orgia. O dabucuri é permitido após o trabalho
de plantio, derrubada de matas, construção de casas. A fruta da estação é
comida e bebida em dabucuris; aproveita-se o peixe ou a caça da época. A
finalidade social e política do dabucuri é trazer a confraternização das
tabas nas alegrias das danças. As mulheres não devem ser mortas, exceto
por envenenamento ou afogamento. salve o velho, o perdedor, a criança.
Depois de uma longa pregação, de tribo em tribo, de várias aventuras
milagrosas, submetendo os povos à sua lei e reformando hábitos, Jurupari
confidenciou ao seu fiel discípulo, Carida, o mistério de sua vinda ao
mundo. Jurupari é filho e embaixador do Sol, e desceu à Terra para
aperfeiçoá-la e em busca de uma esposa para o Sol. Essa mulher
privilegiada e impecável só terá três virtudes. Jurupari viajará o mundo
para encontrá-la e levá-la ao seu Pai luminoso. Qual é a perfeição que o
Sol deseja em seu escolhido? Quer uma mulher paciente, que saiba guardar
segredo e que não tenha curiosidade... E, melancólico, Jurupari disse à sua
amada Cárida: “Nenhuma mulher na Terra reúne essas qualidades. Um é
paciente, mas não sabe guardar segredo; se você sabe guardar segredo não
tem paciência, e todos ficam curiosos, querendo tudo saber e tudo
vivenciar...” Em seguida, Jurupari sentou-se à beira de um lago, olhando
as águas serenas. Eles deveriam se separar. Charida para o oeste e o herói
para a revolta. Era crepúsculo e o luar pintava de prata a solidão. De
repente, surgiu uma voz estranha e clara, cantando a canção de Jurupari.
Cárida reconheceu Carumá, a virgem dos Narunas, que havia cingido o
corpo do Reformador e se transformado em montanha. Carumá cantou a
noite toda, embalando-a para dormir. Caridade. De madrugada acordou. A
montanha refletia-se imóvel no lago. Jurupari havia desaparecido para
sempre. Carida, com o Sol vivo, partiu para o caminho do oeste...
Esta é a lenda.”
“Jurupari é brasileiro? Barbosa Rodrigues, embora tenha retirado
Jurupari de sua sinonímia diabólica, sempre o explicou de forma confusa.
Mas sempre esclareceu muito a tese para que outros, com material novo,
trilhassem o caminho certo em defesa do herói ameraba. Barbosa
Rodrigues (opus cit., 98) dividiu Jurupari em dois. O ogro da floresta
amazônica, bestial, cômico, informe, assustador, enfim o pesadelo, e o
outro seria o reformador, o influente dos Pajés, identificado pela catequese
no sedutor Demônio.
Tudo isso me leva a crer que o segundo Yurupari chegou até nós através da
imigração pré-histórica e não é nativo [escreveu o Mestre]. Eu assino e
atesto. Apenas os dois Juruparis são uma entidade única e perfeita. O ogro
é uma soma das histórias de terror que a catequese diluiu. A disseminação
é rápida e você nunca saberá os limites do seu caminho.
Acredito que o Jurupari, difundido pelos Pajés, substituiu o vago animismo
que agitava as almas amerabás. As primeiras materializações são feitas
sob a influência de Jurupari e o maior número de pedras de signo, as
itacoatiaras, com desenhos misteriosos, dirigem-se para o rio Negro,
Orinoco, ao norte, em direção à Venezuela, conhecido centro de dispersão
aruaca. Pela velha lei da convergência, muitos episódios locais
desaparecem adaptados no novo ciclo de Jurupari.”
O significado do nome Jurupari é um aspecto interessante da cosmovisão
indígena, que ofereceu vários pontos de contato para o trabalho missionário
jesuíta. Especialmente interessante é a interpretação dos aspectos masculino
e feminino (reconhecidamente por autores cristãos).
“ Iurupari — Jurupari — O diabo, o espírito maligno, segundo todos os
dicionários e missionários, com exceção do padre Tastevin.37 “A palavra
jurupari parece uma corruptela de jurupoari”, escreve Couto de
Magalhães na nota (16) do segunda parte do Selvagem, que, literalmente,
traduziríamos — boca entregue; tire da boca. Montóia (Tesoro) traz essa
frase — ch jurupoari — tirou a palavra da minha boca. O médico. Batista
Caetano traduz a palavra — ser que vem à nossa rede — isto é, — ao lugar
onde dormimos. Seja a palavra corromper, qualquer uma das duas
traduções se conforma com a tradição indígena e, no fundo, expressa a
mesma ideia supersticiosa dos selvagens, segundo a qual esse ser
sobrenatural visita os homens em meio ao sonho e provoca todos os
aflições maiores, pois ao trazer-lhes imagens de perigos horríveis, impede-
os de gritar, isto é, tira-lhes a faculdade da voz.
Essa concepção, que poderia ser aquela das amas de leite, amalgamando
as superstições indígenas com as de além-mar, tanto da África, quanto da
Europa, não é a dos nossos indígenas. Para ele Yurupari é o Legislador,
filho da virgem, concebido sem cópula, em virtude do suco da cucura do
mato, e que veio enviado pelo Sol para reformar os costumes da Terra,
para poder encontrar nela uma mulher perfeita, com o Sol se casar.
Iurupari, como dizem, ainda não o encontrou e, embora ninguém saiba
onde, continua procurando e só voltará ao céu quando o tiver encontrado.
Iurupari é, portanto, a lendária sintonização, o legislador divinizado, que
se encontra na base de todas as religiões e mitos primitivos. Quando ele
apareceu, eram as mulheres que mandavam e os homens obedeciam, o que
era contrário às leis do Sol. Ele tirou o poder das mãos das mulheres e o
restituiu aos homens e, para que aprendessem a ser independentes dos
primeiros, instituiu festas em que só os homens podem participar e alguns
segredos, que só podem ser conhecidos por eles. . As mulheres que os
surpreendem devem morrer e, em obediência a essa lei, Ceuci, a própria
mãe de Iurupari, morreu. Ainda assim, nem todos os homens conhecem o
segredo; só os iniciados o sabem, os que chegaram à puberdade mostraram
que sabem suportar a dor, estar seguros e destemidos. Os usos, leis e
preceitos ensinados por Iurupari e preservados pela tradição ainda são
professados e escrupulosamente observados por numerosos povos
indígenas da bacia amazônica. Embora tudo leve a pensar que a de
Iurupari é um mito Tupi-Guarani, mas tenho visto suas leis praticadas por
tribos das mais diversas origens, e de qualquer forma muito influenciadas
e, pode-se dizer, ainda influenciam em muitos lugares do nosso interior
sobre usos e costumes atuais; e não conhecê-los certamente produziu mais
mal-entendidos, erros e atritos do que geralmente se pensa. Para o
Ao mesmo tempo, porém, permitiu, como já tive oportunidade de observar
pessoalmente mais de uma vez, que além das leis e costumes trazidos pelo
cristianismo e pela civilização européia, existam ainda alguns usos e
costumes que, embora mais ou menos observados conscientemente, indicam
o quão forte era a tradição indígena. Quanto à origem do nome, aceito a
expedição que me foi dada por um velho tapuio, que se opôs a ter sido
informado de que o nome de Iurupari significa “gerado do fruto” —
intimãã, Iurupari céra onheên putáre o munha iané iuru pari uá. — Nada
disso, o nome de Jurupari significa que fechou a boca. Vindo, portanto, de
yuru boca e dei à luz aquela grade de talas com que se fecham os riachos e
as fozes dos lagos para impedir que os peixes saiam ou entrem. Explicação
que me satisfez, porque por um lado caracteriza a parte mais saliente do
ensino Iurupari, a instituição do segredo e, por outro lado, presta-se sem
esforço à mesma explicação nos vários dialetos Tupi-Guarani, como se vê
em Montóia as vozes Iuru e Pari e as mesmas vozes em Batista Caetano.
A questão do Jurupari é um pouco mais complicada. Em determinado
momento da festa, na penumbra dos refletores, aparece um ridiculamente
vestido, palhaço ou demônio, com uma varinha na mão. aparece fazendo
caretas e batendo com a varinha em todos os assistentes; então desaparece
de repente. É Jurupari. Os instrumentos, aos quais dão esse nome,
representam a voz, a palavra de Jurupari. As mulheres não podem vê-los
sob pena de morte. É porque os índios querem fazer suas mulheres
acreditarem que os roncos daqueles instrumentos são produzidos pelo
próprio Jurupari que apareceu antes... Porém, pensamos que sob o nome
de Jurupari, seja a lembrança de algum antigo herói que existiu entre os
selvagens; uma espécie de legislador filosófico como Buda, Confúcio, etc.,
que lhes ensinou um tipo muito rudimentar de filosofia e algumas noções de
vida prática. O que nos leva a esse pensamento são as seguintes leis
atribuídas a Jurupari, pelas quais praticamente os nossos índios, do
Uaupés, do Içana e do Rio Negro: 1) a mulher deve permanecer virgem até
a puberdade; 2) ele nunca deve se prostituir e ela deve ser sempre fiel ao
marido; 3) depois que a mulher dá à luz, o marido deve se abster de todo
trabalho e toda comida pelo espaço de uma lua, para que a força dessa lua
passe para a criança; 4º) o chefe fraco será substituído pelo mais corajoso
da tribo; 5º) o tuixaua pode ter quantas mulheres puder sustentar; 6) a
mulher estéril do tuixaua será abandonada e desprezada; 7) o homem deve
se sustentar com o trabalho de suas mãos; 8) a mulher jamais poderá ver
Jurupari para puni-la com algum dos três defeitos dominantes nela:
incontinência, curiosidade e facilidade em revelar segredos. Essas leis nos
dão a explicação de algumas coisas que nos parecem estranhas e que
contêm uma certa moralidade. Parece também que houve um erro em
identificar Jurupari com o Diabo... Os índios não cultuam Jurupari;
considerá-lo como algo grande e misterioso porque, como tal, eles o
receberam de seus ancestrais, mas eles não ofereceram sacrifícios a ele,
nem ofereceram orações a ele.
OS SÍMBOLOS

Introdução
Na Jurema também existem objetos encantados, como tigelas com água,
que representam príncipes e princesas, a praia de Tambaba, no litoral sul da
Paraíba também é um local encantado onde a narrativa diz que para lá vão
as almas dos Mestres que morrem , lá eles se encantam e depois de sete
anos podem se comunicar com os vivos.
Dito isso, temos aqueles eventos e festividades frequentemente realizados
por Juremeiros que viajam de suas cidades em busca da ciência da Jurema,
ou seja, o aprendizado e a sabedoria presentes neste sistema religioso.
Grandes personagens da Jurema são Malunguinho, quilombola que
trabalhava nas matas de Pernambuco, em Catucá; Zé Pilintra, que andou,
segundo relatos, na Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Rio de Janeiro; assim
como os diversos Caboclos, que são de etnias indígenas presentes em vários
lugares do Nordeste, como os Canindé e Tapuias.
Os personagens do Catimbó-Jurema, nomenclatura identificadora que
mescla antiguidade e contemporaneidade, foram feiticeiros durante sua vida
material, malandros, capoeiristas, brincalhões da cultura popular, digamos,
e bravos guerreiros e militantes que lutaram contra as injustiças sociais.
Como passaram para os reinos da Jurema, isso é um mistério. Para que um
Juremeiro se torne um encantado, é necessário o ritual do tombamento,
onde é retirado o chá da árvore e, em alguns casos, a semente é inserida
dentro do corpo, magicamente ou não, quando sua casca é cortada, e um
semente inserida. Há documentos que comprovam que no período colonial
os indígenas bebiam uma porção feita de Jurema , que lhes dava acesso ao
mundo encantado. Atualmente, o Catimbó-Jurema não utiliza essa bebida
dos primeiros habitantes do Brasil. O efeito de transe após a ingestão da
bebida que se faz atualmente depende de cada indivíduo e é produzido
diferentemente por um Mestre, de Terreiro para Terreiro, utilizando a sua
ciência. Normalmente, essa bebida feita no atual Catimbó-Jurema envolve
álcool.
Os rituais do Catimbó-Jurema podem ser feitos com tambores, e esses ritos
são geralmente chamados de Toré ou apenas com os Maracás, quando é
realizado o ritual da mesa e da Jurema de chão, onde todos se sentam em
banquinhos ou diretamente no chão. Nas mesas e na Jurema de chão, os
Mestres costumam trabalhar mais do que “brincar”, como nos Torés ou nas
Juremas batidas (com tambor).
Quando falamos em encantamento, não podemos deixar de comparar o
Catimbó-Jurema com os encantos do Maranhão, por exemplo, com o Terecô
e a Pajelança. Nessas tradições, o conceito de encantamento tem
significativa eficácia e importância se o compararmos com o Catimbó-
Jurema. Há também falanges de reis, príncipes e princesas turcos, que por
algum motivo vieram para o Brasil, além dos caboclos indígenas já
conhecidos como Catimbó-Jurema. Cada um com sua linha, ou seja, seu
espaço delimitado de trabalho e habilidades mágicas.
Encantado é um lugar paralelo ao mundo que conhecemos cotidianamente e
pode estar presente em rochas, cavernas, como entre os contemporâneos
Tabajara da Paraíba, rios, árvores, lugares na mata e até nas profundezas da
terra. Os animais também podem ser encantados. A letra dessa música, que
são as canções de invocação, expressa bem esse elemento de encantamento:
No fundo do mar há uma pedra; há conhecimento debaixo da pedra, quem
quer que perturbe este mundo, peça a Deus que lhe dê paciência”.
Podemos dividir o encantamento do Catimbó-Jurema em três planos: 1. O
plano astral-mítico-encantado, que são lugares que não podem ser
encontrados no mundo material; 2. O plano simbólico, que é representado
por músicas, literatura e objetos e 3. O plano físico, que são lugares fora do
Terreiro e presentes na natureza considerados encantados. Esses planos não
são isolados, mas estão intimamente relacionados e os vários Juremeiros
entrevistados na pesquisa têm maior ou menor inclinação para um dos
planos especificamente.
O Catimbó-Jurema tem segredo, encanta a realidade nordestina, preserva
tradições populares, como o Coco De Roda e personagens históricos; nos
apresenta uma nova possibilidade de ver o Brasil, um país multicultural por
excelência; refletir o mundo pós-colonial e reconstruir a história dos povos
excluídos.
Negros, indígenas e europeus se fundiram no Catimbó. A concepção de
magia, processos de encantamento, termos, orações, são da feitiçaria
ibérica, vindos e transmitidos oralmente. A fitoterapia é indígena por sua
abundância e proximidade além da tradição médica dos xamãs. Na Europa,
a farmácia mágica é sempre vegetal. Como qualquer tratamento primitivo,
aproveitando a flora sugestiva, no empirismo dos simples e das drogas. O
mago europeu já tinha o hábito e encontrou no continente a abundância de
raízes, brotos, folhas, frutos, cascas, flores e até uma ciência secular
aborígine na mesma direção e horizonte. A convergência foi imediata. Com
o negro africano ocorreu o mesmo fenômeno. Só quando rodeado pelos
canaviais, velho, trémulo e sempre apaixonado, assumiu a percentagem
mais decisiva como mestre guia e dono de segredos. Pelo simples fato de
viver muito tempo, há, espontaneamente, uma sugestão de sabedoria em
torno do macróbio. Quem muito vive sabe muito. O Diabo não sabe porque
é Diabo, mas porque é muito velho. Velhice é sabedoria. Um velho que não
diz que uma vinha não vale uma sardinha, nega o velho que não adivinha, o
conselho do velho, etc., diz o adagiário . O Conselho de Anciãos na Grécia,
o presbítero da Igreja e o Senador da República têm uma origem comum da
palavra velhice. O conhecimento, a partir das experiências realizadas,
permanece na memória popular como o melhor e o mais lógico. Novo
médico, experimente. Velho médico, trate. O escravo negro, com os cabelos
mudando de cor, preto quando pintado é três vezes trinta, era de indiscutível
prestígio misterioso. O “negro velho” era incrível, “assusta criançada”,
curandeiro, rastejante, superando o veneno de cobra, a faca fria e a bala
quente.
Angolas, Benguelas, Cabindas eram nossos Pais Pretos, Pretos do Congo,
Pai Angola, Pretos de Luanda, vivos nas histórias populares, anedotas,
feitiços. Bantos são os topônimos negros do Rio Grande da Noite, Cafuca,
Cafundó, Cafunga, Cassangue, Catunda, Massagana, Mucambo, Zumbi,
Buíque, Cabugá. Eles foram rapidamente amados, subindo em fama
coletiva. Deram amas de leite, criadas, amas de leite, mães negras,
namoradas dos fazendeiros, dores de cabeça para a dona, nobres e
desamparadas. Congo ou Angola fez festa, escondendo um fetiche dentro
da imagem católica, elegeu seu Rei, Muchino Riá Congo, levou o povo
branco e mestiço para a rua e adro nas manhãs de sua coroação, com
desfiles, tambores, bandeiras, “fogo do ar”, “palma da mão”, beijo, joelho
na terra, como um Rei mesmo, dos antigos, no tempo em que o vintém era
grana. Rainha Ginga, Henrique Rei Cariongo, em Congadas, Taieiras,
Maracatus multicoloridos, lindo cortejo com belo solar, vinham marchando,
antigamente, até nossos dias, imponentes e poderosos em sua humilde e
misteriosa força.
Os “ Mestres” mais antigos do Catimbó eram negros e ainda são, em
maioria absoluta, mestiços e mulatos. Do cerimonial dos Bantu Macumbas,
o Catimbó mantém as “linhas” significando a origem dos encantados,
nações, invocação dos antigos negros valentes. Pai Joaquim, que “desceu”
no Terreiro do Honorato, em Niterói (Artur Ramos, O Negro Brasileiro),
está acostumado a “cozinhar” em Natal e eu sei de cor a sua “linha” alegre e
alegre. O protocolo é mais democrático. e aconchegante no pobre Catimbó
e sem exigências ritualísticas. O contagium psichicum é de menor
intensidade. Nunca vi possessão em duas pessoas ou mais, como é
relativamente comum nas Filhas-de-Santo, nas Macumbas Gegê-Nagô, o
mesmo propiciatório fumegante com arruda e incenso, mas os cantos de
“licença” e “fechamento” têm um timbre maior católico, despojado do
elemento coreiforme, dos instrumentos de percussão cujo som monótono
caracteriza o culto africano no Brasil, difuso e confuso em sua mobilidade
atrativa, plástica.
Um elemento caracteristicamente ameríndio é o uso do cachimbo, da
“marca”, com tabaco, tabaco, petum que provoca transe. Não conheço
nenhum documento africano relatando ação semelhante na África e nenhum
registro de exploradores e naturalistas no século XIX. Os indígenas usavam
sopro, peiuuá, sucção, piterapaua e defumação, indicados pelo venerável
Anchieta nos primeiros anos da colonização. No tabaco, obtinha-se o transe,
com inalações profundas. O pajé usava o cigarrão (espécie de charuto) com
a casca do tauari, Curataria tavary, com o fumo da região. Às vezes
reforçava a embriaguez respirando o cheiro do pó de paricá, Mimosa
acacioiães . O paricá provocava sonhos que indicavam o futuro, e era no
sonho que Kerpimanha ou Kerepiiua, Mãe-do-Sonho, orientava e dirigia.
As relações sexuais foram por ela ensinadas às Tarianas do Rio Uaupés.
Karl von den Steinen não explicou como as mulheres bororo previam a
volta de seus maridos, vendo-os em sonhos. O paricá e o carajuru, Bignonia
chica, davam forças divinatórias por meio da aspiração. O “Erem”, lenda
dos índios Cubéua, conta que o “paié sentiu o cheiro do carajuru, fumou o
tavari, soprou para fazer os maiuás fugirem, depois exclamou: — “Aí está o
Erem!” Ou, em Nheengatu: Paié ocetuna iací caraiurú opitera tauari, opeú
omuiauáu Maia etá arama, ariré csacemo: Aicué ápe Eren.
A fumaça lançada como benção, conjuração poderosa, "permanente" do
Catimbó, articula-se com a liturgia indígena, observada nos séculos XVI e
XVII. Jean de Léry registra em 1557, em cerimônia tupinambá reservada
aos guerreiros: “Os caraíbas nem sempre ficavam no mesmo lugar que os
demais ajudantes: avançavam saltando ou recuando da mesma forma e pude
observar que, de vez em Naquela época, eles faziam uma vara de madeira
de quatro a cinco pés de comprimento, na ponta da qual queimava um
chumaço de petum, e eles ateavam fogo em todas as direções, soprando
fumaça contra os selvagens e dizendo: - “Para que você possa vencer seu
inimigos, recebam o espírito da força! — E os caribenhos astutos repetiram
isso várias vezes.” (Viagem à Terra do Brasil, 194, S. Paulo,
1941.)
Como Léry vira no Rio de Janeiro do século XVI. Frei Ivo d'Evreux
anotou-o no Maranhão em 1613. Os xamãs abençoavam as águas também
despejando fumaça de Petum, podendo comunicar seu espírito a outros, ou
seja, através da erva Petum introduzida em um junco, de onde extraem o
fumaça, soltando-a. sobre os espectadores ou soprando-o até mesmo da
cana, exortando-os a receber seu espírito e sua virtude. (Journey To
Northern Brazil, 313, 314-315, Rio de Janeiro, 1929.) O capuchinho
acrescentou: “Parece que este cauteloso dragão quer com tão falsa
cerimônia imitar Jesus Cristo quando deu seu espírito aos Postlolos, e seu
poder a seus sucessores para transmiti-lo aos iniciados nas ordens sacras.
Assim se lê em São João: Insufflavit et dixit eis, accipite Spiritum Sanctum:
soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo”.
Antigamente, havia o maracá redondo, sempre feito de cabaça, com número
ímpar de grãos de semente. O maracá de folha-de-flandres nunca apareceu.
Ainda hoje nos Catimbós a “marca Mestre” é invariavelmente de origem
vegetal, um pauzinho com uma cuiazinha na ponta, tipo maracá.
A semente da hortaliça maracá não é exclusiva do continente americano,
mas já a tínhamos quando foi descoberta. Há iguais no Sudão e na Guiné. O
Sr. Artur Ramos percebeu que havia um ritmo especial que anunciava cada
“Mestre” ou Orixá que era incorporado nas Macumbas e Candomblés. Hans
Dietschy, citando uma nota de Frobenius, informa que os Haussas do Sudão
têm um processo de cura através da música, uma espécie de violino e do
tambor universal, dedicando a cada um dos muitos espíritos a melodia que
lhes pertence. Essa melodia é chamada de “Linha” no Catimbó.
O sincretismo religioso faz convergir objetos e atos católicos para o culto
negro, misturado com reminiscências indígenas. Nos Catimbós, vê-se e usa-
se o Crucifixo, Cristo na posição da crucificação, mas sem a cruz. Santo
António, Santa Bárbara, 11 incensos, velas acesas, renúncias, orações
populares como o Magnífico (Magnificent), Ofício-de-Nossa Senhora,
Forças do Credo, Santo Amâncio, Santo Sepulcro, Pedra Cristal, os rituais
de invocações a São José para abrir e fechar a “mesa”, iniciando e
encerrando a sessão. A chave de aço, virgem para uso em fechadura, é
muito útil. Seu Fernando Ortiz a encontrou entre os descendentes de bruxas
iorubás de Cuba e a usam como mascote em colares. Nos Balangandãs
baianos, a chave aparece. No venerável Livro de S. Cipriano, a chave é
indispensável para fechar o corpo do crente, fazendo do “religioso” os
gestos de quem fecha uma porta sobre o peito do
doente.
Esta chave, chavinha, facilmente encontrada nas orações fortes, é
figurativamente a chave do Tabernáculo, onde se guarda a Hóstia, a
Partícula Sagrada. Usar qualquer um, se não tiver um emprego anterior, o
ideal seria o próprio, uma legítima chave do Tabernáculo, um dos mais
prestigiados amuletos como proteção contra perigos ocultos e forças
opostas. Na cerimônia de “fechar o corpo” a chave intervém fechando as
“entradas” e pontos fracos do corpo. Muitas vezes aparece entre bugigangas
e joias baratas, penduradas em um monte bagunçado de acabamento de
metal industrializado. O significado pode iludir muitos, mas a utilidade
simbólica é um dos elementos do Catimbó.
O Catimbó, portanto, cultua as ervas, a Jurema e os santos católicos,
também usando o caldeirão para rituais de magia e usando a fumaça para
curar doenças. Tem óleos, água benta e outros objetos litúrgicos, mas
falaremos aqui dos mais
importantes.
Cachimbo Sagrado
A fumaça e o cachimbo guardam parte do segredo que os catimbozeiros
chamam de “ciência”, aquela que move o mundo e está presente em tudo. É
pela fumaça que o Catimbozeiro realiza seus desejos, pois quando ele fuma
o cachimbo, ela vai na direção do que precisa ser resolvido, levando
consigo o que é necessário para atender os pedidos do Catimbozeiro.
Na Pajelança Cabocla e na Jurema Sagrada, uma variante da Pajelança
Indígena, é um símbolo do Universo. O forno do cachimbo, onde são
colocadas ervas misturadas ou simplesmente fumo, é a imagem da Mãe
Mata, Mãe Floresta - o sagrado feminino. O tubo por onde sai a fumaça
representa o Pai Céu, o Pai Céu - o sagrado masculino.
As ervas colocadas no forno são os seres vivos: os minerais, os vegetais e
os animais. A fumaça é a Natureza em movimento, o sopro que tudo
envolve e o espírito que anima os seres. Quando a fumaça cobre um objeto
ou um ser vivo, ela infunde o poder do encantamento que liga a Terra ao
Céu, e o Mundo Humano ao Mundo Divino.
Furar o cachimbo, dentro de um ambiente religioso, é um ato sagrado. O
cachimbo é um veículo de bons espíritos e um agente de cura de males do
corpo e da alma. O cachimbo de um xamã não é mera madeira. Ele é um
aliado e uma criatura com alma.
Nos rituais da Pajelança Cabocla e da Jurema, o pito recebe um nome
mágico. É lavado com ervas secretas e então enterrado em uma lua cheia
especialmente escolhida. Num ritual fechado aos não iniciados, o cachimbo
é retirado do ventre da terra e celebrado como novo membro da irmandade.
Como “virou bicho”, na linguagem dos curandeiros da floresta, ele será
alimentado, de tempos em tempos, com sucos vegetais. Ele também viverá
em uma toca, um lugar escuro e silencioso, onde descansará após as sessões
de cura. Na calada da noite, o cachimbo fala com o xamã e assume a forma
de um animal de poder... Ele está vivo!
Várias ervas podem entrar no Petenguá, como os Guarani chamam o
cachimbo. Sua ordem varia de acordo com o propósito, momento e intenção
do ritual. Plantas do Brasil e de outras terras compõem a farmácia do
cachimbeiro Caboclo. O tabaco é o mais conhecido.
Na Pajelança Cabocla, o Pai Tabaco tem dois espíritos aliados: Yawara
(onça) e Yibóia (jibóia). A onça é uma emanação da Mãe da Mata, e a jiboia
é filha dela. Esses dois espíritos são invocados quando o xamã se fuma e
canta as palavras certas, que convidam os aliados a se manifestarem neste
mundo.
Pajé Avarumã, amigo e professor do Catimbó, diz que nenhum curandeiro
pode usar tabaco para recreação! Quem é viciado em tabaco, diz ele, caiu na
rede dos espíritos e está cativo. Uma pessoa viciada é escrava da planta,
acaba doente e deve prestar contas aos encantados.
Ninguém iniciado no conhecimento da floresta pode ser escravo. Afinal, um
xamã é um guerreiro. O cachimbo e o tabaco são usados apenas nos rituais
de fé. Quando armados com um cachimbo, diz o sábio da floresta, subimos
como uma árvore muito alta. Nossa cabeça toca o céu, nossos pés afundam
no chão. Nosso coração bate com o da Mãe Terra e em nossas veias corre o
sangue verde dos espíritos.
A Pajelança Cabocla possui dois ramos espirituais: o Caminho do
Cachimbo (Casa do Fogo e do Ar) e o Caminho do Maracá (Casa da Terra e
da Água). No primeiro ramo, o futuro guerreiro curandeiro estuda os
mistérios do Mundo da Fumaça, onde vivem os sonhos e aliados. Ele
também aprende que o cachimbo está no corpo: o forno é a cabeça e o
cachimbo é a coluna.
Dentro do corpo-cachimbo, o xamã coloca as ervas e acrescenta o fogo
(espiritual), para que a fumaça (alma) saia e viaje até os encantados. O
cachimbo é quem toca o cachimbo, diz Avarumã.
Outras plantas fumáveis também são usadas. São citados os mais comuns,
que encontramos com facilidade e foram reconhecidos pelos curandeiros
como amigos espirituais, embora de origem estrangeira.
• Lavanda: muito utilizada na defumação e defumada no culto da Jurema
Encantada. Ele entra na mistura básica de fumaça, junto com tabaco
forte, incenso (olíbano) e alecrim.
• Artemísia - chamada Tabaco São Pedro: utilizada na forma de charuto,
pó, chá, tintura, extrato, essência, suco, banho e até vinho (Vinho de
São Pedro). É tônico e vermífugo. Não deve ser usado em grandes
quantidades como chá, mas fumado é inofensivo. Uma famosa mistura
de cachimbo é a “Velha Bruxa”: 10 gramas de folha de figueira, 15
gramas de verbena, 30 gramas de tabaco suave e 5 gramas de artemísia.
Também é usado no charuto Tauarí ou xamã.
• Escarola – conhecido como Long Life Tobacco: uma conhecida planta
fumável usada para substituir o tabaco. Usado como alimento, loção,
pó, charuto, loção e cataplasma por centenas de anos. É nutritivo,
purificante, analgésico e sedativo, por isso não deve ser fumado em
grandes quantidades. Combinado com um pouco de artemísia, obtemos
uma boa fonte de fumaça curativa.
• Verbena: preferida pelos Mestres dos Bosques – os curandeiros de
Portugal – exilados no Brasil no período colonial. Boa planta para
fumar, mas deve ser misturada com artemísia e tabaco. Uma maravilha
para fumar. Purifica o ambiente e destrói miasmas (energias negativas
aglomeradas nos cantos das casas).

Maraca
Além do cachimbo, um ícone do Catimbó é o maracá. O chocalho indígena
feito de cabaça está em harmonia com o Ilú (tambor tradicional
pernambucano) e juntos enchem de som as celebrações de encontros e
rituais.
Em seu livro “Geografia dos mitos brasileiros”, Camara Cascudo descreve a
relevância e o significado dos chocalhos mencionados pelos primeiros
jesuítas no Brasil.
“Maracás — Quando estudaram o tosco ritual dos Pajés, o primeiro que
feriu a curiosidade européia foi o infalível maracá, sacudido furiosamente
pelos tensos feiticeiros amerabás.
Os Padres Nóbrega e Fernão Cardim contam que o Pajé chegando, após as
recepções festivas de cada maloca, trazia uma cabaça e a levava para um
quarto escuro. Ali cantou, dançou e profetizou, fazendo-nos crer que quem
falou foi a cabaça (“que traz na figura humana a parte mais conveniente
para os seus erros”, afirmou Nóbrega). O Xamã deve ter sido meio
ventríloquo.
A afirmação dos padres Anchieta não é menos explícita: ... costumam
pintar cabaças com olhos e boca, e as guardam com grande veneração
escondidas numa casa escura onde os índios vão levar suas oferendas
(Informações sobre o Brasil e suas capitanias).
As maracas (mara, falsa, aqui, cabeça, cabeça falsa, cabeça falsa, de
fingimento, imitação, segundo Teodoro Sampaio) eram a representação das
cabaças onde o Pajé tentava evocar os traços de Jurupari. cabaças não
podiam sair ao ar livre, enquanto as maracás eram carregadas
solenemente e presidiam, com seu ritmo, a perfeição de cantos e danças
votivas.
Padre Simão de Vasconcelos (Crônica da Companhia de Jesus, Liv. II, cap.
C) descreve um maracá como tendo a forma de uma cabeça humana, com
orelhas, cabelos, olhos, boca, nariz. Dentro colocam folhas de tabaco ou
outros aromáticos. Com o maracá na mão, o Pajé pulava e cantava diante
dos índios guerreiros reunidos em roda. O maracá era a inspiração
suprema e, tomando o efeito para a causa, o altar para o padroeiro, o índio
tinha tanto respeito pelo maracá quanto pelo Pajé.
Quando Hans Staden foi feito prisioneiro e levado para Ubatuba,
imediatamente o levaram para um barraco e o deixaram lá, com mulheres e
crianças. Os homens foram para outra cabana:
... para beber cauim na frente do maracá, deus em cuja homenagem eles
cantaram canções por proporcionar-lhes a minha captura. Por meia hora
ouvi tal música sem que nenhum homem aparecesse em minha cabana;
havia apenas mulheres e crianças lá.
... as maracas tinham-lhes profetizado a captura de um português.
... eles me declararam um profeta melhor do que seus maracas.
Jean de Léry não diverge em suas observações:
... enfeitam-se com as mais belas penas encontradas em suas diversas
maracas.
... eles costumam carregar essas maracas sempre nas mãos, e dizem que
quando soa um espírito eles vêm falar.
Os Carnijós de Águas-Belas, Pernambuco, foram visitados por Mário
Melo, que os descreveu (Rev. Inst. Arqueológico Pern., V-XXIX. Recife,
1930), autodenominam-se Fulniôs, e Carlos Estêvão de Oliveira os
identificou como pertencentes ao grupo Jê (Rev. Inst. Hist. Ceará, tomo
XLIX, p. 189). Os Fulniôs têm um culto misterioso que realizam em
reuniões chamadas de Ouricuri e onde Jurupari é reverenciado. Os Fulniôs
usam maracas. Informa Mário Melo:
Essas maracás são sagradas, passadas de geração em geração e vivem sob
a guarda de dois carnijós legítimos, eleitos em Ouricuri. Não há preço para
comprá-los, e nenhum profano pode tocá-los.
(…)
La maracá n'était pas une choose sacrée en elle-même, escreveu A.
Métraux estudando a religião dos Tupinambás. Sua literatura é extensa e
abrange todos aqueles que se dedicaram ao registro das festas rituais
indígenas. Magnificamente Métraux sintetiza a história do maraca desde o
simples réceptacle de l'esprit até uma figuração material da divindade
evocada. Hans Staden é peremptório. Ele confessa que os indígenas
acreditam nos Tammaraka que são deuses. O Pajé consagra cada
tammaraka (ita-maracá, maracás de pedra) com exalações prolongadas de
bittim, petym, petum (tabaco). depois dessa cerimônia cada maracá vale
um deus (Hans Staden — Viagem ao Brasil, segunda parte, cap. XXII, pp.
153/154 da edição da Academia Brasileira de Letras).
O maracá, além de sua função principal, que é ritmar a dança sagrada
cuja importância visceral e completa é conhecida pelos americanistas, é
ainda um complexus, reminiscente dos sacrifícios rituais de prisioneiros,
dando a redução naquele símbolo, a falsa -cabeça, mara-acá. nenhum culto
estava intrinsecamente ligado ao maracá. É um instrumento insubstituível
de dabucuris e necessariamente sua antiguidade e extensão de uso o
tornam mais venerado. De conhecimento quase universal, popular em três
continentes, nunca mereceu as honras idólatras de seus portadores. sempre
foi um gravador de compassos, um animador de ritmos, trazendo para o
poracé das festas, um som que lembrava as horas sagradas de Jurupari
(“deus supremo”). É um emblema. Nunca uma materialização.”
No contexto dos Catimbós, parece plausível que os Maracás tanto
invocassem espíritos e ancestrais, quanto estabelecessem uma ligação com
os locais sagrados na vida após a morte.
Princes and Princesses – Príncipes e Princesas
As princesas são vasilhas redondas de vidro ou barro onde é preparada a
bebida sagrada e onde, em ocasiões específicas, são oferecidos alimentos ou
bebidas aos encantados. Os príncipes são taças ou taças, que geralmente são
preenchidas com água ou alguma bebida do gosto da entidade. Eles
simbolizam a entidade espiritual e sua energia, e todo Catimbozeiro tem em
sua mesa pelo menos um dedicado ao seu Mestre.

Incorporação dos encantados


O Catimbó pode ser considerado um culto de transe e possessão, onde os
Mestres se apoderam momentaneamente do corpo do Catimbozeiro. São
três diferentes linhas de trabalho: as viagens aos Mundos dos Encantos, a
“manifestação” dos Mestres, Caboclos, Trunqueiros, Reis (reis) e
Encantados (encantados) da Jurema e outras entidades como Pretos-Velhos,
Exus e Pomba -Giras (este último não no Catimbó “clássico”, mas naqueles
com influências da Umbanda). Os espíritos dos índios, caciques (chefes),
xamãs e caboclos são o principal fundamento da Jurema e todas as outras
entidades estão subordinadas a eles.
Os Mestres são neutros e podem praticar boas e más ações, deixando a
critério do Catimbozeiro a decisão de manipular as energias para o fim
desejado. Esses seres espirituais seriam os responsáveis pela prescrição de
ervas medicinais, banhos, rezas e conselhos que afastariam o mau-olhado e
a desgraça que quem procura o Catimbó procura espantar.

bebida sagrada da Jurema


Da casca do tronco e das raízes da Jurema é preparada uma bebida sagrada,
que dá força aos “encantados do outro mundo” e permite que entrem em
contato com o mundo espiritual.
A simbologia da árvore sozinha é muito sagrada e antiga. Em geral, a
árvore é o símbolo da morte, da regeneração e da relação entre o céu e a
terra, representada pelos galhos e raízes. Carvalhos para os celtas, oliveiras
para o Islã, muitas são as “árvores do mundo” e, entre tantas, a Jurema é
especial: aparece na Bíblia como a madeira do santuário de Javé, na lenda
africana bambara e no hinduísmo como matéria-prima. primo da casca
Brahma. É também o material da coroa de Cristo, que dá um toque ainda
mais especial à árvore no Brasil, país de maioria católica.
da jurema utilizadas no preparo da bebida contêm uma substância
alucinógena que pode causar alterações nas percepções da mente, além do
álcool, já que as entidades bebem cachaça, cerveja, vinho e cidra.
A bebedeira da Jurema é um dos momentos mais sagrados do culto,
sacramento destinado aos Catimbozeiros principalmente no momento de
sua “queda”, quando oferecem alimento às suas correntes espirituais.
Assim, toda a magia só acontece quando a bebida é tomada dentro do
contexto ritualístico do Catimbó, não surtindo efeito quando ingerida em
circunstâncias não religiosas; deixar-se levar pelos espíritos dos Mestres ou
encantados não ocorrerá fora da catimbozeira ritualística.

A fabricação da bebida

A fabricação da bebida sagrada conta com uma mistura que leva casca de
jurema, e uma espécie de vinho preparado com álcool, mel, gengibre,
hortelã, cravo e canela.
O que se chama de vinho de Jurema, ou simplesmente Jurema, é uma
infusão preparada com diversos materiais. Assunção (2006: 202) descreve
sua composição com gengibre, casca de Jurema Preta e cachaça curtida por
três dias e mel. Alguns autores referem-se à Jurema como um enteógeno em
vez de um alucinógeno, o que se referiria ao “estado de transe quando
inspirado ou possuído por uma divindade, geralmente em um contexto
ritual” (Reesing, 2006: 66). Devido à crescente fama e expansão do uso da
Ayahuasca, às vezes a analogia entre as duas plantas é inevitável. Sobre
essa comparação, o mesmo autor afirma que ambas possuem princípio ativo
semelhante, mas, no caso da Jurema, há dúvidas sobre a eficácia de seu
composto químico e a forma como ele reage no organismo.
Transe e possessão
A passagem a seguir é um trecho de Cascudos “Meleagro” enquanto ele
descreve uma cena de uma sessão típica em uma linha característica de
trabalho.
No Catimbó não se diz que um “Mestre do Além” se materializou ou
incorporou. Diz-se "costado" e "desacostado" ("acostou" e "desacostou".)
Antigamente, apenas o “Mestre”, o “Mestre da mesa” (Mestre, Mestre de
mesa), tinha a honra de estar ativo , servindo seu corpo para comunicação
com um “Mestre do Além”, invisível e conhecedor. Só o “Mestre” cantava,
falava, prescrevia e dirigia. Hoje os “Mestres do Além” se democratizaram.
“Acostam” (para apoiar-se, acostar) em muitas pessoas mas são sempre
guiadas, solicitadas pelo “ Mestre de Mesa”. O “Mestre do Além” conversa,
brinca ou ameaça, por meio de um voto; mas, se vai receitar remédios,
“desliga” e vai “apanhar” o “Mestre da Mesa”, elemento do respeito
acostumado ao transe e ao processo de transmissão do “bom
conhecimento”.
A vinda do “Mestre do além” é a “manifestação” do Espírito nas sessões.
Não há nenhum espetáculo sugestivo da “caída do santo” em um Terreiro de
Candomblé. Às vezes, apenas a mudança no timbre da voz denuncia que
uma pessoa invisível “pousou” e “quer se comunicar”, aproveitando o
estado de receptividade de um assistente. Pela fisionomia do “Mestre da
Mesa”, estes “lados” não são muito agradáveis. Um “mestre do além” pode
estar possuído por uma mania de ser engraçado e ninguém achará suas
palavras engraçadas. Além disso, por mera coincidência, certas repressões
pessoais são sublimadas durante essas performances hiperterrestres. E o
alvo dos insultos não pode reagir porque não é uma “criatura de sangue”
mas um ser poderoso, do além, com as “forças
No "Mestre da mesa" o transe é sempre provocado por inalações profundas
de fumaça ou respiração forte, cadenciada, olhos fechados. Recebendo os
Orixás. Com influência Bantu, o Catimbó é menos exigente, permitindo a
posse do “espírito” em qualquer iniciado que seja, frequentador crédulo, ou
não se torne “médium”. A mãe-do-terreiro, orixá babal pernambucana,
precisaria de um “estudo” para comandar uma “mesa” (mesa) no Catimbó,
administrando a sucessão de “lados” inesperados que atrapalhavam sua
autoridade religiosa.
Nunca vi no Catimbó as manifestações do acostamento com a dramaturgia
dos candomblés baianos ou das macumbas do Rio de Janeiro. Nestes, a
“filha-de-santo” (filhas de santo) assim que agia sobre mudanças, desmaios,
torções, com explosões de movimentos bruscos, ou ficava estática, braços
para cima, fazendo caretas, roncando, sendo carregada ao Peji ( altar) onde
ela então falará, mais serena, pela voz do Orixá, em plena posse do deus
africano. A “cair no santo” (cair no santo), com suas convulsões ou
imobilidade impressionante, está longe de ser o amável cerimonial de um
“Mestre” em visita cordial a um Catimbó nordestino.
Acontece, claro, que existem ferozes “Mestres“, uma centena de pena do
“aparelho” que os acolhe, e eles saltam, gritam, estremecem em coreos sem
fim, atacam o público com obscenidades ou caem espetacularmente ao
chão, espumando na boca, membros tensos, gargarejos ameaças. Em
seguida, o “mestre da mesa” intervém com sua ciência para “desacoplar” os
incultos, passando da persuasão doutrinária à ordem imperiosa, fundada no
prestígio que terá de outro “mestre ”, mais abaixo no além.
Às vezes, o súbito "estremecimento" de um "mestre" leva o "mestre da
mesa" a situações perigosas. Como não há na espécie ninguém com mais
"força" que ele próprio, a luta decorrerá intimamente, entre a violência das
conjurações e as orações fulminantes, mas o público vê apenas uma
tempestade de movimentos e uma verdadeira explosão de som de palavras
pronunciado com velocidade alucinante.
Atenção cansada, sugestão oral, saturação pela sedução ambiental, estado
de morbidez muito pessoal, predisposição, explodem, numa soma de fatores
imponderáveis, no fenômeno da possessão. A impressionabilidade mestiça,
aguda e plástica, é nos Catimbós diminuída pela ausência de ritmo, tão forte
nos Candomblés e Macumbas. Não há instrumento nos Catimbós e apenas a
música cantada, em uníssono, atua como elemento de transbordamento,
possibilitado pelo contagium Psycheum.
O “Mestre da mesa” (Mestre/Mestra de mesa), popularmente chamado de
“Catimbozeiro”, embora seja insultuoso, desperta espontaneamente porque
ninguém tem ciência para “desacoplá-lo”. espírito” batendo com a mão
espalmada na testa e dizendo em voz alta: “ Trunfei! Trunfa! Trunfa Real!”
- Trunificado! Trunfo! Trunfo Real!
A atmosfera sombria, a audiência silenciosa e crédula, o aspecto do
“Mestre”, rígido e solene, com a evocativa “marca”, o canto das “linhas”,
algumas com uma melodia penetrante e inebriante, as repetidas doses de
aguardente, acabam obtendo um estado de apatia, de prostração, de
curiosidade atônita, de pavor inconsciente. A personalidade se dissipa
lentamente no contato coletivo, e acabamos sendo apenas mais um
elemento de repercussão nervosa, um transformador psíquico para as altas
tensões do mistério natural e do eu. muulação espontânea do Catimbó.
REINO, REINO, DIVINDADE,
GUIA ESPIRITUAL

A Estrutura de Juremá (mundo espiritual)


Segundo os Juremeiros mais antigos de Alhandra existe um espaço sagrado
que os Mestres Encantados emanam sua Ciência, que podem ser descritos
como Reinos ou Cidades: Jurema, Junça, Vajucá, Manacá, Catucá, Angico e
Aroeira, mas não apresentam um consenso em sua nomenclatura. Andrade,
como mencionado no início deste trabalho, dividiu os reinos em doze,
sendo Jurema o principal Reino ou Cidade que se dividiria em outros onze:
Juremal, Vajucá, Ondina, Rio Verde, Fundo do Mar, Cova de Salomão,
Cidade Santa, Florestas Virgens, Vento, Sol e Urubá (ANDRADE, 1983
apud SALLES, 2010, p. 82).
Cascudo também menciona a existência de um “mundo dos encantados” em
sua obra Meleagro, onde doze aldeias formariam um Reino que seria
composto por trinta e seis Mestres. Segundo ele, cada aldeia formaria sete
Reinos ou Reinos: Vajucá, Urubá, Juremal, Josafá, Tigre, Canindé e Fundo
do Mar, ou ainda cinco em vez de sete, que seriam os quatro primeiros mais
Tanema ou Iracema.
O universo espiritual do Catimbó não segue o mesmo padrão de status do
catolicismo (de onde se originam as crenças de céu, inferno e purgatório).
Juremá é a cidade onde viveriam os Mestres da Jurema e seus subordinados.
Segundo a crença, Juremá seria composta por uma profusão de vilas,
cidades e estados, o que traria uma organização hierárquica, envolvendo
todas as entidades catimbozeiras, como Caboclos da Jurema e Encantados,
sob o comando de um ou até três Mestres.
Cada aldeia tem 3 Mestres. Doze aldeias formam um estado com 36
Mestres. No estado existem cidades, montanhas, florestas, rios. Quantos
estados? 7 segundo alguns: Vajucá, Tigre, Cadindé, Urubá, Juremal, Fundo
do Mar e Josefá. Ou cinco ensinam outros: Vajucá, Juremal, Tanema, Urubá
e Josefá.
Em minha pesquisa, concluí pessoalmente que existem diferentes
perspectivas e formas de trabalhar em relação a esses domínios. Antigos
relatos de tradições puramente ameríndias indicam que os reinos eram
reinos ancestrais ou se referiam a "deuses" específicos. Relatos dos
Catimbós de Alhandra indicam que os reinos foram parcialmente atribuídos
aos falecidos Mestres e Mestras que trabalharam nessas tradições. Em parte,
esses reinos também são "resíduos" de mitos nativos americanos e locais
sagrados que sobreviveram ao longo dos séculos. Os reinos são
regularmente atribuídos às árvores, que desempenham um papel
proeminente nos vários grupos e rituais nativos americanos.
Na implementação ritualística, a consistência interna e a continuidade são
importantes e contribuem para uma energia forte. A disposição e
designação das cidades devem seguir um princípio - árvores sagradas,
lugares sagrados, Mestres Ascensos, etc. Normalmente, os Encantados
atribuem seus trabalhos a reinos específicos e os ativam por meio de
chocalhos, fumaça, cânticos.
Em nenhum lugar encontrei uma descrição detalhada da estrutura interna
dos reinos. Isso também pode ser porque o princípio dos Catimbós é aquela
"ciência", aquela ciência que não pode ser compreendida pela mente, que só
é revelada através da abertura espiritual nos rituais.
O número e a descrição exata das "cidades" são pouco conhecidos e variam
de acordo com o grupo espiritual. As sete cidades, derivadas das respectivas
cidades, podem ser encontradas de forma relativamente constante. As
"cidades" também são chamadas de "reinos" (Reinos). Abaixo está uma das
várias descrições desses reinos.

Os 12 Reinos da Jurema
1º Reino De Juremá
Composto pelos Municípios: Juremá, Cidade Campos Verdes e Cidade
Estrela D'Alva. Este Reino pertence aos primeiros Catimbozeiros, aqueles
que iniciaram o culto da Jurema. Fazem parte deste Reino os Caiporas,
Curipiras, Mestres Curandeiros, Casamenteiros e Mestres Parteiras. Eles
praticam magia imitativa e simpática. Há muitos Caboclos com poucas
características de índio, mas que entendem muito de remédios da floresta.
Este Reino é governado por Tupã que é chamado de Rei Tanaruê à mesa.
Não atraque porque é como o nome de Deus pronunciado pelos índios.
Toda a falange dos Tupínambá passa por este Reino. Os mestres Inácio de
Oliveira, Roldão de Oliveira e Maria do Acais são os que estão na
vanguarda das cidades. Este Reino tem a função de melhorar a vida das
pessoas trazendo prosperidade, inteligência e despertando a ciência dos
discípulos. Na árvore da Jurema, esse reino está na semente.

2º Reino De Vajucá
Os antigos dizem que este Reino está na direção norte de quem está no RN
ou PB e quem tem a Ciência da clarividência vê no céu quando o dia
começa a nascer e isso apenas por alguns segundos. Este é um Reino de
Muitos Mestres que viveram no RN e arredores. Há muitos Caboclos e
Pretos Velhos neste Reino. Conta-se que Vajucá é dividida em duas partes:
uma tomada por matas e com muitas tribos de índios "selvagens" e a outra
metade constituída pela caatinga. Este reino está sob a direção do Rei Heron
que é o Rei dono de todas as doenças e se apresenta com um grande chapéu
de palha enfeitado com uma “franja” de agave picado chegando quase até a
cintura. O Reino de Vajucá é formado por Mestres que trabalham com as
plantas e com a própria terra. Sabem fazer remédios com barro e ervas
torradas, sendo também excelentes preparadores de misturas para
cachimbos, utilizadas em diversos serviços espirituais. Os Mestres Carlos,
João da Mata e Mestra Faustina são os representantes das Cidades deste
Reino. As cidades são: Vila Vajucá, Vila Mata Virgem e Vila Arruda.

3º Reino Tanema
É interessante falar deste reino corrigindo a pronúncia que algumas pessoas
quando falam ou cantam sobre este reino, erroneamente o chamam de
PANEMA. Panema é uma doença repentina, uma doença como o Banzo dos
negros, uma espécie de depressão causada por encantamento com o objetivo
de fazer murchar o afetado.
Tanema é um reino de transformação e equilíbrio; um reino onde as coisas e
as pessoas passam e mudam, um reino de renovação... Neste reino
encontraremos muitos CURANDEIROS, CIGANOS, PAJÉS e outros seres
que trabalham e cuidam de ervas e animais

4º Reino de Angico
Angico, além de ser o nome deste reino, é também o nome de uma árvore
muito importante em nosso culto que leva o mesmo nome deste reino. Este
reinado traz o poder da proteção, fechando o corpo e o espírito aos males do
mundo. Neste local, vários espíritos que se destacavam pela manipulação
dos poderes encantados das águas e de feitiços ligados à alma feminina,
como Mestra Aninha, Mestra Joana Pé de Chita, Sibamba etc.

5º Reino do Tigre
Neste local, os índios que foram massacrados, os feiticeiros que foram
condenados e torturados por serem bruxos, magos negros, cabalistas, etc.
"fumam a esquerda", que são rituais onde evocamos o poder de aniquilação
impregnado neste reino para diluir situações indigeríveis ou aparentemente
intransponíveis em nossa vida.

6º Reino do Bom Florar


Como o Reino de Tanema, onde as energias estão se transformando; O
Reino do Bom Florar é um lugar onde já se estabelecem laços
ecoexistenciais com animais, plantas e seres humanos... lar dos antigos
xamãs e herboristas; Este reino está repleto de seres iluminados... a maioria
dos Mestres que trabalham ligados a este lugar dedica-se a trabalhar feitiços
de cura.

7º Reino de Urubá (Yorubá)


Este Reino é um marco da influência da cultura negra dentro do Culto da
Jurema Sagrada. Neste local encontraremos vários Quilombos (casas)
mistos de negros, índios e brancos foragidos... Nas terras deste reino se
estabelecem muitos Voduns e Pretos Velhos, além da predominância de
negros de origem Efon ).
8th Kingdom Of Solomon's 7 Pits (7 Covas de Salomão )
Neste local está o berço da ciência profética e mística da Jurema. Nela
vivem os espíritos que são pilares das ciências ocultas e por ela passam
pessoas de mistério em busca de SABEDORIA para suas jornadas, entre
eles o povo cigano entre outros.
É um reino de muitos mistérios, onde se trabalha com litanias, em silêncio
ou cantando. Sua localização muda a cada 12 horas; portanto, somente
Catimbozeiros com muita ciência entram em contato para trabalhar com os
Mestres e as energias deste lugar abençoado.

9º Reino do Rio Verde


Este reino é uma ilha de florestas densas e virgens; pois, em verdade, suas
cidades encantadas estão sob as águas.
Reino onde o poder feminino é soberano e onde vivem encantados como
botos, marinheiros, caravelas, sereias, ondinas, etc.
O Reino do Rio Verde é composto por 3 vilas que são:
• Aldeia de Rio Verde,
• Aldeia do Riacho Bonito
• Aldeia das Ondinas (Ondinas)
Embora essas aldeias estejam submersas, existe uma ilha no meio do Reino
cheia de rios e mata onde muitos índios e caboclos vão em busca de força e
ciência. De lá vêm Caboclo Rio Verde, Caboclo Rio Negro, Caboclo
Maresia (Rio Mar) e muitos outros.
Este reino é o que purifica as almas e é representado por uma pena por ser
de sabedoria e evolução. O Renio de Rio Verde não tem Rei, tem uma
Rainha chamada: Rainha Aurora, mãe da princesinha Flora, Príncipe Rio
Verde, Príncipe Boço Jara, Príncipe Rio Negro e Príncipe Maresia. A
Rainha Aurora casou-se com o Príncipe Fleximar e teve com ela dois rios
(Verde e Negro, Verde e Preto) que foram gêmeos e acabou por ordem do
Rei Tanaruê gerando o Príncipe Solimões, com uma cabaça mágica dada
por Tanaruê.
Maresia é filho encantado de um branco com a Rainha Aurora e Boço Jara é
filho do Rei da Turquia. O Príncipe Rio Negro se delicia com uma taioba
roxa e o Rio Verde com um Irapuru. Água Clara é uma das 12 meninas de
saia verde e também é outro nome para o Reino do Rio Verde. A ciência da
consagração da Aninha do Agiró vem daí. Quando o Príncipe Rio Verde
vem como Caboclo, muitas vezes dá o nome de Caboclo Lírio.

10º Reino de Acaes


Esta é a marca do Reinado dos Mestres na terra, o local onde começaram e
se estabeleceram as ALIANÇAS COM OS ENCANTOS, para estabelecer
contato, conhecimento e intercâmbio com os Reinados da Jurema. Endereço
e porta de entrada dos mais importantes Mestres dos primórdios dos cultos
da Jurema no Nordeste, que são Mestre Manoel Cadete, Mestre Machado
Bravo, Mestre José Phelintra etc.

11º Reino de Canindé


Este é um reino muito importante e há quem diga que é através dele que
encontramos as explicações e razões para a existência de sacrifícios de
animais para a Jurema... harmonia cultural, com suas Pajelanças e mitos.
Neste reinado, como o próprio nome diz, quem manda é o REI CANIDÉ,
filho de Tupã, senhor das festas, das bebidas e da guerra.

12º Reino dos Tronos (Tronos)


O último e mais misterioso dos reinos. Nela estão os Reinos, Tronos e
poderes do mundo espiritual... Local onde vivem e trabalham os anjos (de
todas as espécies). Nesse reino, trabalham com o poder divino através de
outra forma de magia, mais sutil, que para o esotérico seria onde se
guardam os dogmas da alta magia. Transformando-se em miúdos, este
reinado é fonte de purificação da espiritualidade do Culto da Jurema
Sagrada.

Os guias espirituais
O Catimbó, como a maioria das religiões xamânicas, é considerado um
culto de transe, no qual as entidades, conhecidas como Mestres, se
utilizavam do corpo do Catimbozeiro e, momentaneamente, apoderavam-se
de todos os domínios básicos do organismo. À semelhança do que ocorre na
Umbanda, onde os espíritos se organizam em direita e esquerda conforme a
natureza positiva ou negativa que possuem, mas trabalhando conforme a
vontade do médium, os Mestres são relativamente neutros, podendo operar
tanto boas quanto más ações. Esses Mestres seriam figuras ilustres do
Catimbó, que quando vivos teriam realizado diversos atos de caridade
utilizando ervas e propriedades xamânicas, de modo que por acaso, após
sua morte, teriam sido transportados para uma das cidades místicas de
Juremá, localizada nas proximidades de uma mata de jurema plantada pelo
Mestre antes de sua morte.
Uma rápida visão geral das principais dimensões e dos guias espirituais:
• Mestras e Mestres - Mestres: Espíritos que quando vivos foram os
Sagrados Guardiões da Jurema. Estes podem funcionar à direita para
construção e à esquerda para desfazer.
• Encantados - Encantados: Espíritos que estão ligados à natureza. Eles
não morreram, eles se tornaram um elemento da natureza.
• Princesas e Príncipes - Príncipes e Princesas: Foram encantados e
transformados em elementos da natureza.
• Reis e Rainhas - Reis e Rainhas: Antigos espíritos que nos dão
conhecimentos sobre os mistérios da vida e da magia.
• Caboclos e Caboclas: índios às vezes misturados com brancos,
originários do norte e nordeste do Brasil.
• Boiadeiros e Boiadeiras – Vaqueiros e Vaqueiras: Espíritos de
fazendeiros, vaqueiros e os chamados sertanejos.
• Pajés - Pajés: índios magos do Brasil. Uma espécie de Xamã.
Linhas de trabalho que se misturam com Candomblé e/ou Umbanda terão
guias espirituais adicionais trabalhando em um Catimbó (Jurema Sagrada)
mais ou menos puro.

Caboclos da Jurema
Subordinadas aos Mestres estão as entidades conhecidas como Caboclos da
Jurema. Esta forma de espírito ancestral representa os xamãs e guerreiros
indígenas falecidos, enviados ao Mundo Encantado para ajudar os Mestres
na realização de boas obras. Os caboclos são sempre invocados no início do
culto, antes mesmo de seus superiores serem incorporados. Esses seres
espirituais seriam os responsáveis pela prescrição de ervas medicinais,
banhos e rezas que afastariam o mau-olhado e o infortúnio.
Alguns Caboclos segundo Meleagro são: Xaramundi, Ritango do Pará,
Manicoré, Itapuã, Tupã, Mussurana, Pinavaruçu, Tabatinga, Turuatã,
Kanguruçu, Faustina, Angélica, Iracema.
Os Caboclos são identificados como entidades indígenas que trabalham
principalmente com a cura através do conhecimento das ervas. Durante a
permanência dessas entidades nos Terreiros, incorporadas aos médiuns, eles
dão passes e realizam benzimentos com ervas e folhagens. Estão associadas
a correntes espirituais superiores, aquelas que trabalham para o bem, mas
que também podem ser perigosas quando usadas contra alguém. Por isso
são tão temidos. "... na antiguidade, as pessoas tinham muito medo dos
caboclos por causa das flechas. Flecha de índio é pior que obra de mestre...
só poucos que sabem mexer e botar a mão ali"
Nas Mesas, o Caboclo é simbolizado por príncipes, estátuas de índios e
apetrechos feitos por índios ou inspirados por eles, como cocares, flechas,
preiacas, colares, etc. pode ser cru, cozido em vinho ou assado na brasa.
Com a introdução do sacrifício de animais nas práticas juremistas, é comum
oferecer-lhes pequenos animais como pássaros, preás, coelhos e outros
"animais de caça". Raízes como mandioca, batata-doce e alimentos feitos
com elas também são oferecidos.
Alguns Juremeiros oferecem vinho branco a essas entidades, outros apenas
sucos de frutas e refrigerantes como o guaraná. Normalmente, os Caboclos
não fumam e na hora das reuniões e passeios a eles destinados, não se deve
fumar; entretanto, alguns Caboclos usam esses elementos. No caso dos
Caboclos que utilizam tabaco em seu trabalho, nas oferendas eles devem
estar presentes na forma que mais agrade ao Caboclo em questão (cachimbo
ou cigarro de palha ou charuto). As oferendas se completam com as bugias
ou inãs, as velas. Na incorporação, observam-se três estereótipos
relacionados ao gênero e faixa etária dessas entidades: Os filhos dos
Caboclos, seja de um sexo ou de outro, descem pedindo mel, doces e frutas.
Eles são pouco ascéticos quando comem esses alimentos, depositando e
misturando os ingredientes no próprio chão dos Terreiros. Também é
costume lambuzar a si mesmos e àqueles com quem compartilham a
comida. Freqüentemente, eles querem comer pequenos insetos e répteis que
encontram em casas de culto, alegando que comem esses animais na
floresta. São brincalhões e falam uma linguagem infantil do tipo tati-bi-tati.
Caboclos machos adultos têm uma carranca. Sua voz geralmente é ouvida
com clareza. Eles geralmente descem estalando os dedos e fazendo um som
sibilante. Quando nas reuniões, onde não há percussão, dançam em roda,
dobrando um joelho e deixando a outra perna para trás. Nas festas, suas
coreografias mudam, assumindo os passos dançados pelos "caboclinhos" da
folia popular do carnaval pernambucano. As caboclas têm uma expressão
facial mais suave e costumam falar uma língua em que a sílaba “si” é
inserida no início das palavras.

Pretos Velhos e Pretas Velhas


Na obra Meleagro são registradas influências do Candomblé. Tem negros,
negros africanos, como Pai Joaquim, Tia lassisa, preto de Angola e
Nanãgiê, Nanãgiá, Nanãbicô, Nanan, palavrinha muito citada nos Catimbós
e que é corrupção de um Orixá do culto iorubano, Anamburucu ou
simplesmente Nanam, e identificados como Sant'Ana, Malunguinho, etc.
Como este livro enfoca a parte mais tradicional, indígena, do Catimbó, estes
guias irão apenas mencionar alguns deles ao listar alguns guias relatados.

Os mestres

“Sem canto não há encanto.”


“Sem música, sem encantamento.”
A linha de trabalho dos Mestres (Mestres e Mestras) será explicada e listada
em capítulos posteriores. Como introdução um trecho do livro Meleagro.
Sempre lembrando, que o outro era influenciado pelo dogma católico e não
tinha uma profunda experiência pessoal e compreensão do Catimbó. Ainda
assim, ele é um dos primeiros a descrever os ritos.
São os guias, Orixás sem culto, “encostando”, espontaneamente ou
invocados, para servir. Cada um tem sua fisionomia, gestos, voz, manias,
predileções. Assim que “atracam”, os visitantes mais assíduos identificam
o “Mestre” pelos gestos, posição das mãos, boca, quer esteja sentado ou
em pé, a andar, ou em pé. Todos “trabalham” de preferência à noite, mas
os “Mestres” autorizados dizem que não há hora em que um “Mestre do
além” se recuse a trabalhar. Há, porém, uma delas que só aparece durante
o dia, quando há sol. É o Ciro, Mestre Ciro, ele mora numa estrela que lá
de cima deve ser Sírius. Este Mestre Ciro trabalha agitando as mãos em um
raio de sol. É o espírito do "bem".
Os “Mestres do Além”, donos do “bom saber”, são indígenas, negros e
brancos. Alguns eram escravos africanos, outros famosos catimbozeiros.
Alguns não têm história. Outros narram suas vidas, indo o relato para a
vida dos outros "Mestres do Além" (Mestres do Além).
Cada “Mestre” tem sua “linha” (“linha”, um canto, de melodia simples,
resumindo a ação sobrenatural e as excelências do poder. Existem
“Mestres” que não têm “linha”, como Mestre Antônio Tirano e Malun-
guinho, ambos ferozes. Esta "linha" foi cantada como uma invocação ao
"Mestre". Sem canto não há encantamento. Todo feitiço é feito
musicalmente.
Para convocar os poderes infernais, as feiticeiras romanas cantavam.
Cantando, Medea destilou seus venenos clássicos. Cantatus era, para
Apuleu, sinônimo de feiticeira. Cantatus ficou encantado. Propércio fala na
Cantata luna, evocada pelas bruxas. A “linha” é o anúncio e a sessão de
negociação característica do “Mestre”.
No Catimbó, como no Candomblé de Caboclo, Xangô de Caboclo,
Macumba de Caboclo, formas com as quais em Recife, Bahia, Maceió e Rio
de Janeiro é conhecido o Catimbó, existem “Mestres” de várias nações e
raças. Todos falam português.
Aparentemente, o termo Mestre é de origem portuguesa, onde tinha o
significado tradicional de médico, ou, segundo Câmara Cascudo, de
feiticeiro. Em geral, os Mestres são descritos como espíritos curadores de
descendência escrava ou mestiça (índio com negro ou branco com uma das
outras duas raças). Os Juremeiros dizem que os Mestres eram pessoas que,
quando em vida, trabalhavam na roça e tinham conhecimento de ervas e
plantas medicinais. Por outro lado, algo trágico teria acontecido e eles
teriam “falecido” (morrido), encantando- se, podendo assim voltar para
“ajudar” os que ficaram “neste vale de lágrimas”. Alguns deles foram
iniciados nos mistérios e na "ciência" da Jurema antes de morrer, como
Mestre Inácio ou Maria do Acais e toda a linhagem dos Catimbozeiros de
Alhandra, que após um ritual chamado "lavagem" ganharam lugar nas
cidades espirituais e começaram a encarnar nos discípulos que formaram.
Outros adquiriram esse conhecimento na hora da morte, pois aconteceu
junto a um exemplar da árvore sagrada. No panteão juremista, existem
vários Mestres, cada um responsável por uma atividade relacionada aos
diversos campos da existência humana (cura de certas doenças, trabalho,
amor...). Existem até aqueles especialistas em fazer trabalhos contra
inimigos. Nas tabelas, as representações das entidades listadas nesta
categoria são as mais elaboradas, geralmente tendo o estado completo e a
“Jurema plantada”; especialmente a do "Mestre da casa", aquele que
incorpora o Juremeiro, faz as consultas e inicia os afilhados nos segredos do
culto. Por tudo isso esse Mestre é carinhosamente chamado de “meu
padrinho”. Cada Mestre está associado a uma cidade espiritual e a uma
determinada planta da "ciência" (angico, vajucá, junco, quebra-pedra,
palmeira, arruda, lírio, angélica, imburana de cheiro e a própria Jurema,
entre outras plantas). ainda alguns relacionados à fauna nordestina
(mamíferos – guará, preá; aves – gavião, periquito, arara, pitiguarí; insetos
– abelhas, besouro mangangá; répteis). Para os Mestres relacionados a outra
planta que não a Jurema, são essas plantas (quando árvores) que têm seu
troco plantado nas mesas dos discípulos.

"No outro mundo, do lado de lá!


No outro mundo, do lado de cá!
Tem um pé de árvore, Angico real.
Tem um pé de Jurema, tem um pé de Jucá,
Tem um pé de árvore, Angico Real.

II
Ai meu Deus, Mestre Angico sou eu.
Ai meu Deus, Mestre Angico será.
Os anjinhos tão no céu, a sereia no mar.
Ai meu Deus Mestre Angico Reá.
(Jurema de Mesa)

Por exemplo, a cidade de Mestre Angico deve ser plantada em um galho da


árvore de mesmo nome; as vilas dos Mestres costumam ser plantadas com
mudas de imburana de cheiro. No caso dos Mestres que têm relação com os
vegetais, são aquelas espécies que levam força e “ciência” para trabalhar.
Aqueles que se relacionam com animais, acredita-se que possam se
encantar por animais das referidas espécies, aparecendo em sonhos, visões
e, muitas vezes, assim metamorfoseados quando incorporados a seus
discípulos. Nesta categoria, como entre os Caboclos, há distinção de gênero
das entidades. Distinção que determinará seus atributos e como devem ser
cultuados. O símbolo dos Mestres masculinos é o cachimbo ou "marca",
cujo poder está na fumaça que mata e cura, conforme a fumaça seja "à
esquerda" ou "à direita". Essa relação com a “magia da fumaça” se expressa
nos assentamentos dos Mestres, onde estão sempre presentes as “rodias” de
fumo de rolo, em cachimbos e melodias:

Setenta anos,
Passei no pé da Jurema.
Mas eu não tenho pena
De quem me faz o mal.

II

Se eu me zangar
Eu toco fogo no rochedo
Meu cachimbo é um segredo
Agora vou me vingar.
(Jurema de Mesa e Gira de Jurema)
Como oferendas, os Mestres recebem cachaça, que nunca deve faltar
quando estão presentes nos cultos, fumo, seja em charutos ou em
cachimbos, comidas preparadas com crustáceos e moluscos diversos. Com
essas iguarias, os Mestres ficam satisfeitos e fortalecidos. A bebida feita
com a casca do caule ou raiz da Jurema e outras ervas da "ciência" (Junça,
Angico, Jucá, entre outras) adicionadas à aguardente, é, porém, a maior
fonte de força e "ciência", pois essas entidades. Nos Terreiros mais
influenciados pelos cultos africanos, é comum o Mestre receber sacrifícios
de galos vermelhos, cabras e, muitas vezes, até novilhos. Quando em terra,
incorporados, os Mestres chegam já embriagados, caindo de um lado para o
outro e falando em voz baixa. São brincalhões, chamam de palavrão, mas o
que falam é respeitado por todos. Durante o transe, os Mestres se
apresentam com o corpo levemente voltado para frente. Na dança as pernas
ficam com os joelhos levemente dobrados, o pé direito avança e dá dois
passos para o mesmo lado, o pé esquerdo é arrastado; é então a vez do pé
esquerdo avançar no mesmo estilo de dança; variações estão sendo
executadas com base no ritmo do Ilus e nas letras das músicas. Já os
Mestres, seus assentamentos são reconhecidos pela presença de leques,
joias, piteiras, cigarros e cigarrilhas. Como no caso dos Mestres, existe uma
infinidade dessas entidades, com atributos e especialidades em assuntos
mundanos e espirituais. Algumas casas fazem distinção entre patroas que
trabalham "à esquerda" e "à direita". Nesta última categoria, encontram-se
professoras como Gertrudes e Lorinda, ambas parteiras na vida material e
hoje ajudam mulheres a parir outro "ser vivente". Alguns Mestres morreram
virgens, por isso ganharam o status de princesas quando entraram nas
moradas do além. Vale lembrar o nome de algumas princesas como Mestra
Marianinha, Princesa Catarina e Princesa da Rosa Vermelha.

"Sou Princesa da Rosa Vermelha


Sou Princesa que vem ajudar
Sou Princesa dos campos de Anadir
O meu ponto vem afirmar
II

Vinde, vinde, vinde minhas irmãs


Vinde, vinde, vinde me ajudar
Eu sou a Princesa Elisa
O meu ponto vem afirmar
(Mesa Jurema)
Porém, não é fácil encontrar, hoje em dia, a manifestação de tais Mestres;
encontramos muito mais os chamados “mestres da esquerda”, entidades que
na vida material foram “mulheres de vida fácil”; mulheres das ruas e
cabarés do nordeste.

Homem pequeno
Na minha cama não dormia,
Servia de cafetão,
Nas horas que eu queria.

II

Mulher sozinha
É mulher de opinião,
É mulher de muitos homens
Más só um no coração.

III

Eu vou dá uma,
Vou da duas, vou dá três,
Se você me arretar,
Eu dou quatro, cinco, seis.
(Sessão da Jurema)

Lembremos dos Mestres Paulina e Juvina, inimigos desde as "bandas de


Maceió"; Mestra Ritinha, que passou seus quinze anos na Rua da Guia,
outrora um dos pontos mais concorridos da prostituição popular do Recife e
que hoje abriga bares frequentados pela alta sociedade da cidade; Mestra
Severina que morava no bairro do Pina e costumava andar no bonde Loré
quando este trafegava pelas ruas antigas da capital pernambucana; Júlia
Galega da Zona Sul...

Tava na beira do Cais


Quando um naviu apitou
Um marinheiro me deu um abraço,
Apertou minha mão, minha boca beijou.
II

Ela é Julia Galega,


Foi num cabaré onde se passou
Seus cabelos loiros,
Na Jurema ela deixou.

III

É Julia Galega da Zona do Sul


Ela da lapada, tira o couro e come cru.
(Gira de Jurema)

Tais Mestres são especialistas em "negócios do coração", são eles que dão
conselhos a moças e rapazes que querem se casar, que realizam os laços
amorosos, que fazem e desfazem casamentos.

Todo jardim tem que ter uma flor,


Onde tem paz, tem que ter amor.
Home prá ser home, tem que ter mulher,
Dai-me um cigarro quem quiser
Amélia chegou.
(Mesa de Jurema)

Muito vaidosas, quando incorporadas travestem suas discípulas para melhor


aclimatar a “matéria” às suas atuações femininas. Quanto à mudança
corporal característica da incorporação dos Mestres, observamos que,
quando estão dançando, costumam manter uma ou ambas as mãos dobradas
com a palma voltada para fora, na altura da cintura ou do quadril. Ao
segurar um cigarro, a palma da mão está sempre estendida e à mostra. Na
dança, os braços fazem arcos; são distendidos ao longo do contorno da
roupa; em alguns momentos, geralmente quando são cantadas músicas que
falam do corpo ou da sensualidade feminina, as mãos caminham pelo
contorno da silhueta corporal. Quando estão entre seus afilhados e
discípulos no mundo material, bebem cerveja, cidra e champanhe, embora
não rejeitem outras bebidas que lhes são oferecidas. Gostam de comer peixe
assado que é depositado em suas princesas para dar-lhes força para
trabalhar. Algumas casas, aquelas que utilizam sacrifícios para essas
entidades, recebem galinhas, cabras e novilhas.

Outras entidades (guias)

Além dos Caboclos e Mestres, os Pretos e Pretas Velhas vêm à Jurema, mas
com menor frequência. Espíritos de velhos escravos africanos,
conhecedores das bênçãos e dos conselhos, dão aos seus "netos" dos
Terreiros. Temos aqui, talvez, uma influência da Umbanda no culto
juremista. No entanto, a influência dos cultos africanos se expressa melhor
na incorporação dos Exus e Pomba Giras ao panteão juremista. Na Jurema
eles aparecem como servos dos Mestres ou como Mestres menos
esclarecidos e mais propensos a trabalhar para o mal. A este panteão
juntam-se os Santos da Igreja Católica, que são saudados pelos Mestres e
Caboclos, e que encontramos referências nas cantigas e rezas utilizadas nas
práticas mágicas ensinadas pelos espíritos.

Minha Santa Terazinha,


Vós queira me ajudar.
Os trabalhos que eu fiz,
Outros não podem desmanchar.

II

Sou Massapê,
Barrostroá!
Sou Caboclo da Jurema,
Só faço o bem, não faço o mal.

(Mesa Jurema)
Também encontramos os Orixás de Xangô em algumas Juremas. Em
algumas casas são abertos os passeios da Jurema, cantando aos Deuses de
origem africana após saudar Exu. No entanto, as toadas (letras) são
geralmente em português como na Umbanda.

Caboclo Oxossi entrou na Jurema,


Mamãe Oxum levou para criar.
Mas ele é um rei caçador,
É filho da Índia Da Cobra coral.
(Gira de Jurema e Jurema de Mesa)

Além disso, é comum que os Mestres indiquem serviços a serem realizados


com o "povo da bunda grande" (forma como as entidades da Jurema se
referem ao culto dos Orixás), além de saberem de cor quem são os seus
próprios Orixás. Soma-se a isso o Deus Supremo, sempre saudado pelos
Mestres e Caboclos: "quem pode mais do que Deus?" "Salve Deus!"
Malunginho

„Sobô Nirê, Reis Malunguinho,


Sobô Nirê Mafa“

Malunguinho, chefe dos portões do encantamento brasileiro. Faz parte do


reino de Jucá, um dos sete reinos encantados da Jurema Sagrada. Ele é
responsável por entrar e sair de reinos e cidades encantadas („reinos“ e
„cidades“).
Em vida Malunguinho viveu por volta do sec. XIX. Foi militante e
guerreiro quilombola de Catucá há cerca de 176 anos (18 de setembro de
1835 - data provável da morte do último Líder Malunguinho, João Batista).
Hoje é uma divindade guardiã das portas da Jurema, religião brasileira de
culto aos encantados. Por meio dela, os adeptos compartilham Ajucá (Vinho
da Jurema) para facilitar o transe mediúnico.
Seu nome Malunguinho vem de malungo na língua Kimbundu de Angola e
significa amigo. E essa é justamente a maior qualidade dessa entidade, ser
amiga, protetora, leal e guardiã. Sua saudação é em Yorùbá: "Sobô Nirê" E
significa: Rei da floresta ou Rei das Aldeias. Malunguinho, segundo
Marcus Carvalho, é o uso português da palavra Malungo, de origem bantu e
que significa "grande canoa". Malungo também é traduzido como
“companheiro” e serve para identificar pessoas que vieram no mesmo navio
negreiro. “É um vínculo muito forte”.
Suas cores são: Verde, Vermelho, Preto, Branco. Seu símbolo é a estrela de
sete pontas, que representa as sete cidades encantadas da Jurema. Ele usa
preaca (seta) e bodoque, chapéu de palha entre outros elementos. Bebe
cachaça e adora fumar tabaco de enrolar. Em suas oferendas oferecemos
azeite de dendê, pimentão vermelho, frutas, raízes, folhas, cabrito, galos
pretos entre outros essenciais (no Catimbó tradicional não há sacrifício de
animais, mas às vezes as influências africanas o integram). O uso de velas
brancas, pretas, vermelhas ou verdes é típico.
Malunguinho ganhou tanta fama que é reconhecido como um herói
pernambucano. Foi aprovada a lei estadual da Semana de Vivência e Prática
da Cultura Afro Pernambucana, a Lei Malunguinho nº 13.298/07. Tem uma
música na Jurema que é assim: “Malunguinho tá de patrulha / Jucá manda /
Malunguinho tá de ronda / Jurema manda / Ah, Jurema manda” (Toada:
“Malunguinho tá de ronda / Quem mandou foi o Jucá / Malunguinho tá de
ronda / Que a Jurema Manda / Ô que a Jurema manda”...)
Portanto, sabemos que ele, como uma das divindades centrais dessa
religiosidade nordestina, tem forte afluência na Cidade de Jucá, um dos sete
reinos encantados espirituais da Jurema. De fato, Malunguinho está na porta
central, como aquela que permite a entrada e não pode deixar a passagem
para as Cidades, ou para os Reinos da Jurema Sagrada. Também pode não
permitir que você saia de lá...
Essa característica e prática ritual dessa divindade indígena negra é muito
forte na Jurema, cultuada principalmente na região da Mata Norte de
Pernambuco, onde Malunguinho, personagem histórico que atuou como
líder quilombola de Catucá na primeira metade do século XIX no estado ,
tiveram grande atividade e reconhecimento. Suas práticas como guerreiro,
protetor, guardião das matas, chefe das matas, rei Nagô, rei das matas,
organizador de seu povo, militante ferrenho nas causas dos desamparados e
também como homem violento e implacável, foram recriados dentro da
prática da Jurema, que é uma religião de origem indígena cuja principal
característica teológica é a xenofilia e a transcendência do estado mental
através da ingestão do Ajucá ou vinho da Jurema, bebida que pode
proporcionar um estado de transcendência da mente e espiritualidade
humana.
Malunguinho tem uma forte representatividade em nossas terras. Ele é
muito mais que uma divindade da Jurema, ele vai bem além, entrando
também na prática do culto aos Orixás, como a prática de Xangô, rei Nagô.
Falar de Malunguinho é muito mais do que citar bibliografias, que, embora
importantes, sem dúvida ainda não conseguem mensurar o que essa
divindade representa para o seu povo. Falar dele é falar da experiência e da
memória oral de centenas de Terreiros espalhados pelo Nordeste que
dedicam culto a esse forte protetor espiritual que ele mantém ao longo de
todos esses anos, mais de 176 (18 de setembro de 1835 - data provável do
falecimento do último Malunguinho, João Batista), sua marca na vida de
milhares de homens e mulheres que têm fé nos milagres, na fumaça e nas
giras deste Mestre, Caboclo e Trunqueiro/Exú.
Aqui, neste pequeno artigo, poderemos explorar um pouco da cor, dos
cheiros, da alma dessa guerreira protetora dos malungos e “malunga(s)”
(como ela disse na assinatura de seu livro oferecendo eu, professora Yeda
Pessoa de Castro) que tem uma história na religiosidade da Jurema... Seus
rituais e forma de culto são complexos e serão revelados em futuras
publicações nossas... Mas vamos falar de alguns aspectos já mencionados
apontados agora:
Primeiramente, podemos chamar a atenção para o sentimento que
Malunguinho causa em seus discípulos. Mãe Terezinha Bulhões, uma das
juremeiras mais antigas ainda hoje viva em Pernambuco, e discípula do
Mestre Malunguinho, deu o seguinte relato em entrevista: “Estar ao lado
dele é ter certeza da proteção e da boa energia que vibra de sua presença (.
..). Antes de tê-lo em minha vida, eu tinha pavor de entrar em uma floresta,
era horrível para mim pensar em ir para uma. Depois que ele se revelou e
me guiou até a Jurema, perdi todo o medo dela. Pois sei que nada pode me
acontecer, pois ele é o Reis das Matas. Ele é o dono lá (...), ele é meu Pai”.
Malunguinho é verdadeiramente um amigo dos Juremeiros e Juremeiras,
como já avisa o seu nome - Malungo, que é uma palavra da língua
Kimbundu de Angola, na África e, significa amigo, companheiro,
companheiro de bordo e nas lutas... Mesmo embora também seja
considerado uma divindade arisco e de difícil contato, seu papel exige
muita cautela e atenção, então talvez ele esteja um pouco bravo... Por ter
que manter a moralidade nos portais das cidades da Jurema Sagrada, ele é
responsável pelo equilíbrio do fluxo espiritual entre os discípulos e o
mundo sagrado... Mas ele é um amigo leal, como relatam todos os seus
discípulos e adoradores. O Orixá de Juremeiro e babal Zeca de Odé, que
tem um Terreiro em Peixinhos – Olinda/PE, afirma: “Ninguém o recebe em
minha casa, mas esse Preto nos dá muita força em tudo aqui. Malunguinho
está sempre presente, quebrando todas as exigências de nossos inimigos,
confio a ele nossa proteção no passeio de Jurema”, revela.
Sua saudação é "Sobô Nirê, Reis Malunguinho". E a palavra Reis escreve-
se assim mesmo, no plural, porque ele não é apenas um Rei, mas vários,
representados em uma única divindade polissêmica e multifuncional. Uma
questão importante é que podemos perceber que sua saudação é uma forma
de resgatar a memória linguística negra africana no Brasil, pois é aclamado
em uma mistura de língua fon e iorubá.
“Toda casa da Jurema deve manter o culto de Malunguinho”. Mesmo que
não haja discípulo que o receba, seus cânticos e rituais devem ser
executados, pois é fundamental na liturgia interna desta prática, é elemento
básico para o funcionamento dos rituais.
Suas cores são verde, vermelho e preto, ou preto e branco, ou vermelho e
preto. Suas guias, vestimentas que enfeitam os pescoços dos Juremeiros,
sempre terão as sementes de Ave Maria presas a essas cores, simbolizando-
as e sinalizando-as. As cores, vermelho e preto, acreditamos que datam das
cores do Orixá Exú no culto dos Yorùbá. Malunguinho também é
sincretizado com essa divindade africana por ter funções muito semelhantes
em suas liturgias e práticas.
Um de seus símbolos mais utilizados e importantes é a estrela de sete
pontas que simboliza o domínio sobre as sete Cidades da Jurema (este
símbolo também é utilizado pelos Juremeiros e Juremeiras da ciência no
culto, é um símbolo de força). Além disso, a preaca (arco-e-flecha) e o
bodoque compõem seus símbolos. Chapéu de palha torcido ou virado de
cabeça para baixo, chicotes, facões, dentes de animais e peles de cobra
também são usados. Há outros símbolos, como o chapéu de couro de
vaqueiro ou cangaceiro, o rebengue, espécie de chicote usado para conduzir
o gado no sertão, e até fuzis podem ser encontrados em seus assentamentos
sagrados.
O cheiro que emana da prática religiosa de Malunguinho é de tabaco e
cachaça ou cachaça. Muita fumaça e fumaça... "Ele gosta de fumaça forte".
A fumaça preta, daquelas que causam torpor ao fumar, é apreciada. Vinho e
Jurema são ingeridos em grandes quantidades nos momentos de
incorporação... O cheiro e o sabor do dendê estão sempre em suas
obrigações. Muito azeite de dendê, pimenta, frutas tropicais, principalmente
macaíba, sementes, raízes e folhas. “Ele gosta de comer bem. Muitas
cabras, galos e pintinhos pretos e vermelhos, entram também os penedos...
todos recheados com farinha de mandioca e dendê”, explica padre Zeca de
Odé.
As velas pretas, vermelhas, verdes e brancas são acesas para o firmamento
de seus votos de fé. São os “pontos firmados” (pontos firmados – símbolos
de poder), em sua linha de trabalho Catimbó.
Podemos avaliar de forma bem preliminar que o culto a Malunguinho foi
organizado de forma bem estruturada na cosmovisão da Jurema. Para ele
tudo é assim como podemos observar como são para os Orixás, por
exemplo. Sua prática vai muito além, mas não é nosso objetivo aqui
desvendar todos os seus rituais e oferendas, rituais e cerimônias secretas.
“Malunguinho é dono de muitos segredos na Jurema”, diz a mãe Terezinha
Bulhões.
Hoje, após mais de 9 anos de atuação do Quilombo Cultural Malunguinho
na internet e em diversos espaços de discussão e luta por direitos,
Malunguinho é reconhecido como um herói pernambucano, tendo inclusive
uma Lei Estadual proposta por este grupo em 2007, a Lei do Semana de
Vivência e Prática da Cultura Afro Pernambucana, Lei Malunguinho nº
13.298/07. Com tudo isso, o Rei das Matas, aos poucos, recupera seu lugar
entre o povo brasileiro, como merece, pois é a legítima representação do
herói negro e indígena que o povo elegeu como divindade de sua religião,
como Rei da Jurema. e seu herói, finalmente.
Depois de conhecer uma pequena partícula do que é esta divindade, ou
divindades da Jurema, podemos agora mergulhar um pouco nos seus
sabores e cores através do ritmo que o acompanhou ao longo desta leitura.
O Coco, ritmo nordestino com grande variedade de estilos em diferentes
regiões brasileiras, vem com muito Catimbó e ciência na musicalidade do
Grupo Bojo da Macaíba. A ciência da fé desse grupo fica evidente quando
percebemos as ricas rimas de significados e mensagens subliminares que
são quase mensagens de Mestres e Caboclos da Jurema Sagrada. O coco
“Malunguinho” foi composto por Nino Souza, cantor e compositor da
banda para homenagear esta importante divindade de Jurema, patrona do
grupo, e fortalecer a luta pelo reconhecimento da história desta liderança
quilombola. Saboreie esta bela homenagem deste grupo de jovens
Juremeiros e Juremeiras que nos dão o prazer de apreciar a autêntica música
da terra, sem faltar nada para nos reconhecermos.
Sobô Nirê Reis Malunguinho! Que a luta pelo resgate da história e da
memória dos nossos antepassados nos promova mais cidadania, “que a
Jurema manda”!
Malunguinho é uma Falange espiritual afro-americana presente nos
Terreiros de Catimbó, Toré e Umbanda, especialmente na região nordeste
do Brasil, inspirada na figura do líder João Batista, do Quilombo de Catucá.

Origem

Pernambuco foi palco de muitas rebeliões, movimentos políticos


revolucionários, como a revolução goiana, a junta de Beberibe em 1821, a
rebelião cigana em 1829, entre outros movimentos que tinham como um de
seus objetivos a reivindicação de liberdade, a figura do quilombo teve sua
importância crucial na história, pois foi um local de resistência que tinha
como finalidade acolher as pessoas independente de suas crenças e etnias,
respeitando as diversas manifestações de fé.
No século XIX, parte das terras localizadas em Olinda, no estado de
Pernambuco, era improdutiva, fato que culminou na luta pelo
desenvolvimento agrário. Um dos movimentos mais representativos foi o
dos negros do Quilombo de Cacutá, localizado nas terras hoje conhecidas
como Engenho Utinga, no município de Abreu e Lima. Entre os anos de
1814 a 1837, os insurgentes implementaram diversas ações contra o poder
local constituído, então enfraquecido por conflitos internos de poder e
soberania. Eles desenvolveram técnicas de guerrilha, conhecidas até hoje
como caltrops, uma espécie de lança feita de madeira muito afiada, que, ao
ser enterrada em buracos escondidos na mata, continha os invasores
quilombolas.
João Batista, um dos maiores líderes da história do quilombo, foi
assassinado em uma emboscada na cidade de Abreu e Lima, ainda chamada
Maricota na época . Sua morte decretou o fim de Catucá em 18 de setembro
de 1835.
A história de Malunguinho começa nos registros documentais de forma
extremamente negativa, esses escritos documentais foram escritos em favor
da coroa com a finalidade de defender apenas os interesses do clã
português, então Malunguinho foi registrado como bandido, bandido,
bandido chefe de quadrilha, assim se chamava, porque havia uma ordem de
execução para o chefe dos malungos (as), ordem que pagava certa quantia
em dinheiro, para aniquilar completamente qualquer vestígio existente deste
grande homem, lembrando que ao naquela época não era normal colocar a
cabeça de alguém dessa forma, Malunguinho era tachado de bandido
porque defendia os interesses da liberdade de expressão e não concordava
com as ideias dos brancos. O nome Malunguinho provavelmente foi um
título dado ao chefe dos malungos. A liberdade e a terra eram o sonho desse
povo, os negros malungos eram exímios guerreiros, possuidores de várias
técnicas de guerrilha conhecidas até hoje.
Registros contam que em uma invasão na mata para perseguir o cacique dos
malungos (as), Malunguinho foi ferido mas não capturado, quase morto
conseguiu fugir e se esconder na mata, quase executado, foi socorrido pelos
índios e curado com o poder das ervas e a sabedoria dos indígenas, esse
sábio senhor adquiriu em suas atividades e da necessidade de estar na mata
a sabedoria da cura através das ervas. Malunguinho passou algum tempo na
aldeia de seus irmãos, este período foi então de extrema importância para
este líder, e a soberania da essência negra com a cultura indígena despertou
a magia da ciência mística da Jurema neste grande homem, Malunguinho
ficou conhecido e temido por todos os senhores brancos, pois teve a
coragem de libertar escravos abrindo portas de cativeiros e senzalas,
destrancando correntes que aprisionavam seus irmãos de cor, com esta
atitude recebeu o título de detentor de uma chave mágica e seus adversários
não sabe como ele conseguiu fazer isso. abrindo essas fechaduras, a
simbologia dessa chave aparece posteriormente em cerimônias religiosas
dentro da linha da Jurema para o culto desse grande Mestre. A passagem de
Malunguinho pela aldeia tinha um propósito espiritual, por mais que
ninguém soubesse naquela época, Jurema havia escolhido a guardiã de sua
chave para cuidar dos caminhos, tendo a responsabilidade de desbravar as
estradas, sendo a desbravadora na linha de Jurema e fazendo a ligação entre
o mundo dos vivos e os ancestrais da floresta.

Malunguinho na Jurema

Segundo o pesquisador Hildo Leal da Rosa, no culto da Jurema,


Malunguinho é uma entidade de grande poder, que se manifesta de três
formas bem distintas. Exu, Caboclo e Mestre. O primeiro representa o
mensageiro, fazendo a ligação entre a linha da Jurema e o povo. A segunda
é a figura do guia, principal protetor dos iniciados no culto. O terceiro
representa alguém que teve uma existência real na terra. A jurema, segundo
a pesquisadora, é um culto religioso de origem indígena (existe no Brasil
desde o século 16), mas que também carrega elementos afro (negros) e
cristãos (brancos). “O Malunguinho é uma entidade que fala pouco e não
demora a incorporar. Suas palavras são meio truncadas, como uma criança
falando, e a língua mistura o português com outra língua”, diz Hildo Leal.
Durante o culto, as mensagens trazidas pela entidade são repassadas a um
médium. “Quando uma pessoa tem um problema grave e precisa de muita
proteção, uma das primeiras entidades chamadas para ajudar é o
Malunguinho”, diz o pesquisador. Traduzido como um Exu fortíssimo,
Malunguinho também é invocado em cerimônias para afastar os demais
Exus.
Antes de iniciar as cerimônias, o grupo sempre pede proteção a
Malunguinho. “Esta é uma história muito bonita. O povo pega um herói
popular que existiu de verdade, um guerreiro, um líder dos negros e o
colocou no olimpo das divindades”, acrescenta o historiador Marcus
Carvalho. Várias canções utilizadas no culto da Jurema fazem menção à
figura de Malunguinho.
“Ascender ao panteão das divindades talvez seja a maior homenagem que
um povo pode prestar a seus heróis”, destaca Marcus Carvalho na
publicação O Quilombo de Malunguinho, o rei das matas de Pernambuco
(Liberdade por um fio/História dos quilombos no Brasil , editado pela
Companhia das Letras). Para Marcus Carvalho, a união entre a divindade e
o guerreiro da mata Catucá é evidenciada em uma canção que cita um
antigo aparato militar utilizado pelos quilombolas, os caltrops.
Tem uma cantiga na Jurema que é assim: “Malunguinho tá de patrulha /
Jucá manda / Malunguinho tá de ronda / Jurema manda / Ai, Jurema
manda”... “Malunguinho tá de ronda / Quem mandou foi o Jucá /
Malunguinho tá de ronda / Que a Jurema Manda / Ô que a Jurema manda”
...
Portanto, sabemos que ele, como uma das divindades centrais dessa
religiosidade nordestina, tem forte afluência na Cidade de Jucá, um dos sete
reinos encantados espirituais da Jurema. De fato, Malunguinho está na porta
central, como aquela que permite a entrada e não pode deixar a passagem
para as Cidades, ou para os Reinos da Jurema Sagrada. Também pode não
permitir que você saia de lá...
Essa característica e prática ritual dessa divindade indígena negra é muito
forte na Jurema, cultuada principalmente na região da Mata Norte de
Pernambuco, onde Malunguinho, personagem histórico que atuou como
líder quilombola de Catucá na primeira metade do século XIX no estado ,
tiveram grande atividade e reconhecimento. Suas práticas como guerreiro,
protetor, guardião das matas, chefe das matas, rei Nagô, rei das matas,
organizador de seu povo, militante ferrenho nas causas dos desamparados e
também como homem violento e implacável, foram recriados dentro da
prática da Jurema, que é uma religião de origem indígena cuja principal
característica teológica é a xenofilia e a transcendência do estado mental
através da ingestão do ajucá ou vinho da Jurema, bebida que pode
proporcionar um estado de transcendência da mente e espiritualidade
humana.
Marcus Carvalho explica que os estrepes (estrepes) eram paus pontiagudos
fincados no chão, em armadilhas ou expostos, para impedir que os soldados
atacassem os quilombos. “Muitos soldados caíram em armadilhas ao
perseguir negros. É daí que vem a expressão 'entrar lá'”, observa. “O
Malunguinho da Jurema, que tem o poder de tirar as estrepes do caminho, é,
portanto, a recriação simbólica do próprio Malunguinho do Catucá: o
verdadeiro rei das matas pernambucanas”, escreve o historiador na mesma
publicação.
Zé Pilintra

História

Pilintra significa ladino, vagabundo, inteligente de uma forma positiva. José


Pilintra é um arquétipo encantado famoso em alguns Catimbós e na
Umbanda. É preciso dizer de antemão que o Zé Pilintra da Umbanda não é
o mesmo Zé Pilintra do Catimbó. Eles têm uma história e princípios de
trabalho muito distintos. A descrição de Zé Pilintra é uma entre muitas e dá
uma boa ideia deste tão conhecido Encantado.
José de Aguiar Santana, nome de batismo daquele que viria a ser conhecido
como Zé Pelintra, nasceu por volta de 1771, filho do português José de
Aguiar Phelintra e de Maria de Santana, mestiça entre negros e europeus da
Bulgária. Era o quarto filho do casal e tinha como irmãos mais velhos
Maria de Aguiar Santana (Maria Pelintra), Francisco de Aguiar Santana
(Chico Pelintra) e Antônio de Aguiar Santana (Antônio Pelintra ou Caboclo
Guapindaia no Tambor de Mina).
Pouco depois do nascimento do caçula, José de Aguiar Pelintra abandonou
a mulher e os filhos e regressou a Portugal. Maria de Santana, pobre e
sozinha com quatro filhos não teve alternativa: espalhou os filhos pelo
mundo e foi morar no cabaré da cidade.
O menino José Aguiar cresceu se metendo, bebendo e brigando por onde
passava. passado. Tanto o jovem Zé aprontou que seu nome ficou
inexoravelmente ligado à malandragem e à boemia. Pelintra, corrupção do
sobrenome Phelintra, acabou se tornando um nome pejorativo na região,
significando um pobre que tentava se fazer passar por rico ou um negro
que, na época, “estava vestido de branco”. , isso significava usar um terno
branco, chamado de Traje dos Lírios, que eram roupas que só os nobres e os
ricos usavam.
Ainda adolescente, José deixou o Engenho Velho e foi morar no povoado
Afogados da Ingazeira. Adulto, rumou para a Zona Boêmia do Recife, onde
foi morar na Rua Amargo. Passeio pelo cais do Porto de Santa Rita, nas
ruas do Beco da Malícia, nas Encruzilhadas, no bairro da Casa Amarela.
Mas foi na Rua da Guia que conheceu aquele que seria o grande amor da
sua vida: Maria Luziara (outra Mestra ascensionada).
Maria Luziara, o grande amor de Seu Zé

“Na rua da amargura, onde morava seu Zé Pelintra, ele chorava por uma
mulher, chorava por uma mulher, chorava por uma mulher que não lhe
amava”. “Na rua da amargura, onde morava o seu Zé Pelintra, ele chorou
por uma mulher, chorou por uma mulher, chorou por uma mulher que não o
amava.”
Esta mulher chamava-se Maria da Conceição de Alcatra e era filha de um
nobre português chamado João de Alcatra, mais tarde conhecido como
Mestre João Grande. Ela foi apelidada de Maria Luziara em referência às
Torres Altas de sua terra natal, na Lusitânia, Portugal. Na época, essas três
torres eram as mais altas da Europa, com 240 degraus e 76 metros de altura,
e serviam de farol para os grandes navios que entravam e saíam do país.
Eles cantam uma de suas linhas:
“Meu Deus, valei-me nesta agonia, Valei-me nesta aflição, Sou a Mestra
Maria Luziara, Princesa do Mestre João”.
“Que campos tão verdes, meu gado todo espalhado, eu venho de Altas
Torres, venho juntando o meu gado”.
Reza a história que ela chegou ao Brasil com a Família Real Portuguesa,
que veio para cá em 1808 fugindo dos avanços de Napoleão pela Europa.
Desembarcou em Salvador, na Bahia, após seguir para a cidade do Rio de
Janeiro, no Estado da Guanabara. Segundo os ex-Juremeiros, ela vem como
amante do rei Dom João VI, mas cai em desgraça quando o rei volta a
Portugal, em 1821, e é obrigado a ir para um bordel.
Educada, nobre e muito bonita, Luziara é enviada para o bordel mais
famoso da Colônia, no Recife. No caminho, ela perde as últimas joias que
tinha. guardado desde os tempos de cortesã: num golpe de azar, eles caem
no fundo do São Francisco.
“Ganhei um colar de ouro foi um casado quem me deu, (...)”
“… na passagem do riacho Luziara perdeu. Perdeu, perdeu a sorte que o
que o macho lhe deu...”
Foi no bordel da Rua da Guia, no Recife, que Luziara, ainda uma jovem de
20 e poucos anos, conheceu Zé Pelintra, que devia ter quase 50 anos na
época divindade . Foi amor à primeira vista por parte de Seu Zé. Luziara,
porém, teve muitos outros pretendentes, alguns deles Mestres da Jurema
Sagrada.
Supõe-se mesmo que foi através de um dos seus amantes que ela própria
acabou por ser iniciada e tornar-se Mestra nesta tradição, embora não
tenhamos um registo histórico de quando isto aconteceu e quem foi o
iniciador.
O facto é que os pretendentes da bela portuguesa da Rua da Guia brigavam
muitas vezes entre si. Em uma dessas brigas, todos acabaram presos –
inclusive Luziara. Zé Pelintra ficou sabendo e vestiu sua melhor roupa, foi
até a delegacia, e se apresentou como advogado. Com sua fala mansa
passou o delegado de volta, liberando a amada.
Ela fugiu e ganhou terras na Serra da Borborema, onde foi viver criando
gado. dizem que quem comprou foi Manoel Quebra Pedra, amigo de Zé
Pelintra.
……”aqui sou eu, aqui sou eu, aqui sou eu Manoel Pedra. (Bis).
“Eu comprei paguei,
Tive pena, na saída da fazenda,
Quando o garrote voou.
Se a vida é um suplício,
Eu não tenho nada com isso.
E feliz de quem Deus marcou.
Aqui sou eu, aqui sou eu, aqui sou eu Manoel Quebra Pedra. (Bis).
Sou eu, sou eu, Manoel Quebra Pedra. (Bis) ……”
“Oh, Luziara mas que loucura!
Deixaste o seu homem lá na rua da amargura?
Na Amargura eu não deixei o meu Homem,
Deixei os falsos amigos que falaram de meu nome...”
Em vida - e depois como Encantada - Mestra Maria Luziara ingressou na
Jurema Sagrada como uma entidade que só faz o bem. Ela é especialista em
fazer casamentos e harmonizações de casais. Alegre, elegante e gentil, essa
entidade às vezes conta seu passado com Seu Zé no Recife antigo quando é
recebido nas sessões da Jurema.

A iniciação na Jurema Sagrada


Se as relações do Preto Zé Pelintra com a polícia não eram boas, pioraram
muito quando descobriram que ele se passara por advogado para enganar o
delegado. Seu Zé foi obrigado a fugir, para o sertão, com um mandado de
prisão no encalço. Acabou escondido dentro de uma aldeia indígena
Arataguis, hoje localizada em Acais (Paraíba), que, na época, já era
habitada por padres franciscanos que se encarregavam de unir aldeias, dar
terras e catequizar os indígenas. Lá encontrou o apoio e a amizade do
cacique, batizado Inácio Gonçalves de Barros e mais tarde conhecido como
Mestre Inácio.
A família do Mestre Inácio tinha grande tradição na Jurema. Sua irmã,
Maria Gonçalves de Barros, conhecida como Maria Índia, era proprietária
das terras de Acais, que ganhou de D. Pedro II. foi ela quem iniciou o culto
da Jurema no local, onde acabou acolhendo inúmeras aldeias indígenas do
interior da Paraíba. O filho de Mestre Inácio, Carlos, também foi mestre de
Jurema, assim como sua sobrinha, Maria Eugenia Guimarães, que ficaria
conhecida como Maria do Acais II, após herdar as terras de sua tia.
Nenhum dos Juremeiros locais aceitava aquele senhor bêbado e
encrenqueiro, amigo do jogo, da festa, da música e das festas populares.
Mestre Inácio, calmo e firme em sua grande sabedoria do velho Juremeiro,
viu em José Aguiar algo que outros Mestres locais não viam, e o iniciou na
Jurema Sagrada.
Zé Pelintra se dedicou ao espírito de um Caboclo, que então passou a
incorporar para fazer curas. Por isso, originalmente, Seu Zé traz uma pena
em homenagem ao Caboclo que foi seu Guia, como conta uma canção
(lírio):
“Eu trago a Pena do Meu Caboclo no meu Chapéu de Couro,
O Nego Zé Pelintra vai dominar seu coração.
O meu Mestre me diga um segredo seu
Porque lá na Jurema quem duvidou morreu…”
É lá também que José de Aguiar passa a ser conhecido como Preto Zé
Pelintra ou Mestre do Chapéu de Couro, chapéu de couro, marca dos
vaqueiros sertanejos que passou a usar após suas andanças pelo interior da
Paraíba. O grande ato de consagração à Jurema era realizado escondido
dentro da mata, ao lado das árvores encantadas que na tradição eram
chamadas de cidades encantadas. Tudo foi feito com muito sigilo e no
maior silêncio possível, usando apenas o som baixo das maracás - afinal, se
a polícia descobrisse, poderiam ser todos mortos na hora.
Amante de festas e tambores, Zé Pelintra mais tarde como iniciado, fez
questão de levar o tambor para Jurema, por isso algumas linhas de tradição
utilizam até hoje esse instrumento africano. Zé Pelintra iniciou sua vida na
Jurema como um Mestre que fazia o bem e o mal, e continuou fazendo
curas e demandas até por volta de 1885, quando, aos 114 anos, muda de
casa pela última vez, indo descansar no extinto cemitério dos Afogados da
Ingazeira . Mas Seu Zé não se acomodou nem no Além-Tumba.
Segundo os Mestres que vieram depois dele, Zé Preto (Preto Zé), depois de
passar algum tempo no limbo (reinos espirituais), recebeu permissão para
voltar como Encantado para redimir o mal que fez na terra, fazendo
caridade enquanto espírito. Baixado pela primeira vez em um médium
chamado José Gomes da Silva, que trabalhou na Jurema Sagrada de
Caboclo, entre 1926 e 1937.
Juremeira Maria do Acais II reconheceu que Seu Zé foi o primeiro Mestre
Preto a ser consagrado dentro da Jurema de Caboclo, dando origem à
Maestria Jurema de Caboclo (Jurema de Maestria).
“E Preto José Pelintra, nego do fel derramado.
Na direita ele e maneiro. Na Esquerda ele é pesado. Quem mexer com que é
dele, ou está doido ou está danado.Ah, seu dotou, seu dotou, Bravo
senhor,Zé Pelintra chegou.
Bravo Senhor. (Bis)."
“E Preto José Pelintra, nego o fel derramado.
À direita, ele é legal. Na esquerda ele é pesado.
Quem mexe com o que é dele é louco ou maldito.
Ah, doutor, doutor,
bravo senhor
Zé Pelintra chegou.
Bravo senhor. (Bis). ”

Os Discípulos de Seu Zé

Hoje em dia, segundo os Mestres da Jurema, o espírito de Zé Pelintra já


ganhou muita luz e rebaixa mais em qualquer meio, atuando apenas a partir
do Astral superior. Porém, muitos de seus discípulos adotaram ou
receberam o apelido de Pelintra e continuam fazendo caridade como
encantado José Gomes, o primeiro médium de Seu Zé, nasceu por volta de
1900 e foi um dos primeiros maquinistas do Brasil. Trabalhava na estação
de trem da Vila do Cabo de São Agostinho, parte da Estação Ferroviária
Recife-São Francisco, uma das mais antigas do país, fundada em 1858. Os
linhos que falam de um maquinista Zé Pelintra se referem a ele.
Outro caso de “nomes” é o do Mestre José Francisco, que nasceu no Rio
Grande do Norte e foi para a Paraíba, onde também se consagrou ao Mestre
Preto Zé Pelintra:
“Eu rodei meu bom espaço numa hora do meio dia,
Eu roguei todas as correntes com o Rosário de Maria, Sendo eu José
Francisco pelo apelido Pelintra, Ainda meio aperreado de uma vez eu mato
30 Minha mãe recebeu Zé sacudiu dentro do rio com a pedra no pescoço
para deixa de ser vadio,Minha mãe pegou Pelintra sacudiu dentro do poço
com a pedra no pescoço para deixa de ser teimoso. ”
“Eu circulei meu bom espaço em uma hora do meio-dia,
rezei todas as correntes com o terço de Maria,
como eu sou o José Francisco de apelido Pelintra,
ainda meio puto de uma vez eu mato 30
minha mãe pegou o Zé e jogou no rio com a
pedra no pescoço para deixar de ser preguiçoso,
minha mãe levou Pelintra sacudiu no poço
com a pedra no pescoço para deixar de ser teimoso. ”
Como se conta, quando o Preto Zé Pelintra pousou na cabeça dos seus
discípulos (incorporados) por muito tempo, acabou levando-os para farras
nos lugares que mais gostava de frequentar em vida. Assim, os médiuns
acabaram ganhando o apelido de Zé Pelintra.
A ele também se consagrou o sobrinho de sangue de Seu Zé, José Aguiar
Santos dos Anjos. Durante a vida carregou o mesmo apelido do tio, mas
após a morte se encantou e começou a descer nos Terreiros como Mestre Zé
dos Anjos.
José de Santana, José da Proa, Zé da Encruzilhada, Zé Enganador, Zé da
Pinga, Zé do Beco... muitos Juremeiros que em vida se consagraram graus
ao Mestre Preto Zé Pelintra, ganharam em vida o mesmo apelido, e hoje
largam no lugar de seu Guia.

Zé Pelintra na Umbanda

Foi por meio de um de seus médiuns que o Sr. chegou ao Rio de Janeiro.
Dizem que uma mulher que não podia ter filhos veio aos pés do Mestre
Preto Zé Pelintra, manifestada em um de seus discípulos, e pediu-lhe que
salvasse sua mais recente gravidez. O Mestre atendeu ao pedido, afirmando
que a criança nasceria e seria consagrada a ele.
Após o nascimento do menino, a família mudou-se para a cidade do Rio de
Janeiro, indo morar na Lapa. O menino, batizado José Pelintra da Silva,
ingressou na Umbanda ainda adolescente e lá foi médium do Mestre Preto
José Pelintra, mesmo sem ter sido consagrado na Jurema Sagrada.
José da Silva, como era costume entre os médiuns consagrados ao seu Zé,
passou a usar seu terno branco de Guia, mais camisa vermelha ou listada
em preto e vermelho, adereço dos malandros da boemia do Arco da Lapa.
Após sua morte, José da Silva se manifesta nos Terreiros de Umbanda como
Zé Pelintra da Lapa, criando assim uma linha de malandros da Umbanda.
Vale lembrar que, apesar de sua grande força, essa corrente (correntes =
linhas de trabalho) não é formada pelos Mestres da Jurema, pois José da
Silva nunca foi iniciado nessa tradição. Sua missão era levar a força e o
feitiço de seu Zé aos Terreiros de Umbanda, fazendo caridade no Rio de
Janeiro. Zé Pelintra da Lapa não foi consagrado a nenhum Mestre, não foi
iniciado aos pés da Jurema Preta e por isso e no ato de sua morte não
encantou e nem se tornou Mestre da Jurema.
Quando José Pelintra da Silva do Arco da Lapa cai, vem como Exu da
Quimbanda, sendo um Quimbandeiro forte. Exu Malandro ou Zé Pelintra
da Lapa são a mesma entidade, que comanda a linha dos malandros, onde
todos são exus. As muitas casas de Umbanda que atualmente trabalham
com seu Zé Pelintra estão trabalhando com essa linha de exus malandros, e
não com os Mestres Juremeiros. Afinal, não há Mestres de Jurema na
Umbanda, nem Exu e Pomba Gira no Catimbó.

Ferramentas de adoração
Antes de partirmos para os instrumentos de adoração, vamos falar um
pouco sobre energia e trabalho do Mestre Preto Zé Pelintra. Não era um
Mestre do sertão seco e árido, mas do litoral sertanejo, tendo uma ligação
profunda com o mesmo. Portanto, um dos lugares mais fortes para se
conectar com o Mestre Zé Pelintra é à beira-mar.
Além disso, em vida foi um grande devoto de Nossa Senhora do Carmo e
de Santo Antônio, sendo impossível entender o culto a ele antes de falar
desses santos. São chaves importantíssimas, que vão mostrar aos bons
entendedores até onde pode chegar o poder de atuação do seu Zé.

Zé Pelintra e Nossa Senhora do Carmo (Nossa Senhora do Carmo)


Para quem trabalha com Zé Pelintra e quer ter um símbolo de proteção mais
poderoso à sua disposição, vá a uma igreja de Nossa Senhora do Carmo,
pegue um escapulário de tecido e peça a um padre carmelita para benzer.
Essa proteção vai te ajudar em todos os momentos da sua vida e com
certeza Zé

Zé Pelintra e Santo Antônio


A Pelintra ficará muito satisfeita com sua compra, o que ajudará muito na
sua proteção pessoal e na conexão com seu Zé.
Responsório de Santo Antônio
Se milagres desejais
Recorrei a Santo Antônio Vereis fugir o demônio E as tentações infernais.
Recupera-se o perdido
Rompe-se a dura prisão
E no auge do furacão Cede o mar embravecido. Pela sua intercessão Foge a
peste, o erro a morte O fraco torna-se forte E torna-se o enfermo são. Todos
os male humanos Se moderam e retiram Digam-no aqueles que o viram E
digam-nos os paduanos.Rogai por nós Santo Antônio, para que sejamos
dignos das promessas de Cristo.

Responsorial de Santo Antônio


Se desejas milagres
Vai a Santo Antonio
Verás fugir o demônio
E as infernais tentações.
Recupera os perdidos
A dura prisão se rompe
E no auge do furacão
Cede ao mar revolto.
Por tua intercessão
Fuja da peste, do erro, da morte
O fraco se torna forte
E o doente se torna saudável.
Todos os males humanos
Eles moderam e retraem
Diga a quem viu
E diga-nos os paduanos.
Rogai por nós Santo Antônio, para que sejamos dignos
das promessas de Cristo.
Aos filhos de Zé Pelintra ou aos seus devotos, nunca se esqueçam de rezar o
responsório de Santo António para proteger a vossa casa de qualquer magia
negativa que possa tentar atingir-vos a vós e à vossa família.
MESTRA SE MESTRES DO
CATIMBÓ - LISTA DE ANTIGOS
MESTRES

Mestres Ascensos mencionados em Meleagro


Meleagro provavelmente é o primeiro trabalho que coletou os nomes dos
Mestres e Mestras que trabalhavam no Catimbó brasileiro. Por serem os
Mestres mais antigos inscritos serão listados de antemão, seguidos de
diversas citações de Mestres e outras entidades listadas em livros, blogs, etc
mais recentes.
Os Mestres listados serão repetidos em capítulos posteriores. A razão é
evitar a mistura de descrições. Particularmente, porque a perspectiva do
autor de Meleagro é conhecida por ser parcialmente distorcida.
Eles são “Mestres” brancos. Mestre Carlos, Rei dos Mestres, seu pai.
Mestre Inácio de Oliveira, Mestre Roldão de Oliveira, Mestre Luís dos
Montes. São mestiços, Catimbozeiros famosos, Mestre Manuel Pequeno, da
Serra do Buíque, em Pernambuco, Mestre Bom-Florá, Mestre Manuel
Cadete, Rei do Vajucá, etc. Existem formas misteriosas de “Mestres” sem
passado, como o “ Meninas da Saia Verde”.
Há cabras “mestres” (“cabras”), “alvarintos”, como dizem no Nordeste,
como Mestre Antônio Tirano ou o hediondo José Pereira, conhecido como
“Gato Preto”, o assassino de seus pais, sua esposa e cinco filhos. Os
“Mestres” têm sua expertise técnica. Mestre Carlos é casamenteiro
(“casamenteiro”). King Hero trata feridas profundas e úlceras. Faustina,
Balbina, Iracema são auxiliares, parteiras. Pinavaruçu é um espírito errante,
viajante, disposto a procurar desaparecidos e dar notícias. Tabatinga. é
indispensável no mal. .Manicoré é uma das mais antigas. Faleceu em 1503
porque em 1941 havia completado, segundo seu relato, 438 anos de
“desencarnação”. É respeitado por todos os "Mestres" como um patriarca,
embora haja quem tenha maiores "forças". Xaramundi, Mestre Bom-Florá,
Mestre Roldão de Oliveira são curadores. Bom-Florá, às vezes, gosta de
ajudar os amores honestos, ao casamento "no sagrado". Príncipe da Jurema,
Mestre Pequeno e outros “trabalham” nas “linhas cruzadas”, no Bem e no
Mal, “fumam à direita e à esquerda” (“fumaça às direitas e às esquerdas”).
O que se sabe, no Catimbó, da história dos “Mestres” foi contado por eles
mesmos. Manicoré, por exemplo, tem dias de conversa indiscreta, narrando
o segredo de seus companheiros astrais, brigas, polêmicas e ciúmes. Esses
deuses estão com sede, como todos os outros...
Não há no Catimbó objetos destinados a lembrar os “Mestres”, fetiches que
simbolizam esses “guias”, como nos Pejis (altares) baianos. Exceto pelas
imagens e fotos dos santos da agiologia católica, nunca vi uma
representação material dos “Mestres”. Eu sabia, porém, que uma
catimbozeira, a velha Elisa, havia trazido do Pará uma “imagem da Cabocla
Iracema”, que a Polícia destruiu, no III Distrito, Alecrim.

Nanãgiê, Nanãgiá, Nanãbicô, Nanamburucu.


Orixá Yoruban, mãe das águas, Orixá da chuva. Seus feitiços são difíceis e
arriscados porque a “mesa” é feita em cima da água viva, no rio Potengi,
em um barco. Este trecho de Meleagro é um exemplo do fato de que o autor
não compreendeu totalmente a tradição. Nanan Buruku é um Orixá Afrikan
e não sou Mestre incorporador. Ela é uma energia universal que pode
florescer em transe, mas nunca se incorpora. Orixás (Orixás) são energias
fundamentais, universais. Eles não falam. E não fazem parte da tradição
indígena. Em alguns terreiros havia uma fusão de deuses africanos e
arquétipos indígenas, às vezes até cristãos.

Rei Heron (Rei Heron)


Ele é curador. Grande curador de feridas. Sua "linha" ("linha" significa
canção, oração dedicada a um Mestre) é Rei, ó Rei, ó meu Mestre Garça,
Diz do Mundo, ó meu Mestre Garça, venho cantando, venho rezando, do
outro Mundo , eu venho curando! (Rei, ó Rei, ó meu Mestre Heron, Dizei
do Mundo, ó meu Mestre Heron, Eu venho cantando, eu venho rezando, do
outro Mundo, eu venho curando!

Pai Joaquim (Padre Joaquim)


Um velho escravo; divertido, brincalhão e bom. Ele brinca com os
assistentes, sempre brincando. A sua “linha” tem o refrão asquimbamba que
creio ser uma corruptela do Ambundo “Fchinbanba”, feiticeiro, médico.

Mestre Ritango do Pará


Ele é indígena. Funciona à esquerda. São poucos os médiuns que o
incorporam. Sua "linha" diz: sou vaqueiro e sou guerreiro, Ritango do Pará!
Rio Madeira é meu lugar, Ritango do Pará! Só tem vida segura, Ritango do
Pará! Quem ficar comigo, Ritango do Pará! - Sou vaqueiro e sou guerreiro,
Ritango do Pará! Rio Madeira é meu lugar, Ritango do Pará! Só tem a vida
segura, Ritango do Pará! Quem comigo se pegar, Ritango do Pará!

Mestre Carlos, King Of Masters (Rei Dos


Mestres)
Ele é muito conhecido em qualquer sessão de Catimbó. Ele é ciumento,
gosta de “Cauim” (o vinho da Jurema), cheio de virtudes e pecados como
um deus grego. Com naturalidade imperturbável, ele está pronto para o bem
e para o mal. Era um menino de 13 anos, bebedor e jogador, desespero do
pai, Mestre Inácio de Oliveira, um famoso feiticeiro. Em uma ocasião,
quando seu pai havia partido. Mestre Carlos conseguiu abrir a sala onde
ficavam os “preparos” do Catimbó, pegou o que pôde e foi abrir uma
“mesa” num baú de Jurema, longe de casa. Sem saber como encerrar a
sessão, foi arrebatado pelos “Mestres”, morrendo. Três dias depois. eles
encontraram seu cadáver meio podre. É o mais popular dos “Mestres”. Eles
contam uma vasta anedota de suas façanhas, boas e más. Ao “descer”, o
médium fica meio cruzado, vesgo, com lábios carnudos e falando com
fluência extraordinária.
Mestre Manicoré
Pertence à Pajelança amazônica. Ele é o mais velho dos “Mestres”. Trate
feridas incuráveis. Também atua na esquerda, embora não seja uma de suas
favoritas. Disse ter desencarnado há 438 anos. Muitos segredos da vida
terrena dos “Mestres” são conhecidos dele. Manicoré, nome do rio
Amazonas, era, conforme relata Mestre Zinho, inimigo de Agissé, seu
vizinho. É por isso que Agissé aparece repetidamente na “linha” de
Manicoré.

Mestre Manuel Cadete, Rei De Vajucá.


Ele é um velho Catimbozeiro. Beba água defumada com três goles da
“Marca Master”. Eu conheço duas "linhas". Preciso de um Mestre para me
ajudar! É Manuel Cadete, Rei do Vajucá! (bis) - Preciso eu de um Mestre
para me ajudar! É Manuel Cadete, Rei do Vajucá! A outra: vou para o meu
mato, deixei minha Juremá lá (r). O Sete-Estrelo foi quem me trouxe, O
girassol vai me levar (r)! - Eu vou embora pra minhas matas, Eu lá deixei
meu Juremá (r). O Sete-Estrelo foi quem me trouxe, O girassol vai me levar
(r)!

Mestre Itapuã ou Itapurã


Ele é indígena, um arqueiro destemido. Sua “linha” é característica da
Pajelança amazônica, fazendo alusão ao tauari (Curataria tavary), Gua raci
(o Sol), arara-azul, etc. Para mostrar o sincretismo normal, aparece Nanã,
que é Nanamburucu, o Orixá Africano.
Peguei minha marca-Mestra
E fumei meu tauari.
Enfurnei a mesa
E chamei Goaraci!
Rei Nanã, Oh Rei Nanã!
Goaraci aqui está,
Trouxe arara-canindé, para eu ir trabalhar!
Mestre Tupá
Ele é indígena e não sei como figura entre os “xamãs”, tendo o nome que a
catequese deu a Deus.
Ó Tupã, que sublime e santo Pajé,
Que no mundo mostra o Mestre quemé!
Ó leva atender o Tupã e sua faumiriré.
Ó leva atender o Tupã mostra o Goaraci quem é!...

Mestre Xaramundi
Ele é o “Mestre Curandeiro” por excelência, querido pelos Catimbós. Tem
consultores fanáticos. Ele era o protetor de João Germano das Neves, um
informante meu e de Mário de Andrade (aqui: o autor de Meleagro)
Pelo tronco eu subi e pela rama eu desci,
Pelo som, de minha gaita eu fui,
Pelo som da minha gaita eu vim...
Sou Mestre Xaramundi! Sou Mestre Xaramundo!
Sou do tronco da Jurema, sou o Mestre curador!...

Mestre Roldão De Oliveira


Ele é o “Mestre cura a dor”. Ex-Catimbozeiro, não esqueceu a arte nem no
outro mundo.
De longe vem chegando agora o Mestre Roldão de Oliveira,
N a cruz, darim, darim, darom. (até)
Se me dao licença eu entro,
S e não me dao eu vou embora, desse mundo...
Darim, darim, darom! (bis)

Mestre Bom Florar, Bom-Florá


É um velho feiticeiro, amigo dos casamentos e do “Cauim”.
Estão deixando os nossos Mestres
Na Cidade do Bom Florar
cidade Aquela Santa
Onde seu bem esta...

Mestre Inácio de Oliveira


É pai do Mestre Carlos, um dos maiores conhecedores do Catimbó. Sua
"linha" é simples:
Bonitos são os trabalhos de Mestre Inácio de Oliveira mais um Rei, mais
um Rei...
Belas são as obras do Mestre Inácio de Oliveira outro Rei, outro Rei...

Mestre Mussurana
Ele é da dinastia dos grandes feiticeiros da Pajelança amazônica. Foi
incluído no Ca timbó sem ter perdido prestígio em ambas as "linhas". Fala-
se do rio Amazonas Trombetas, do mutum ( Mitu, ou Craxurumutum ).
Mussurana é uma cobra não venenosa, Oxyrhopus claelia ou Rhachidelzis
ora.
Nas margens do Trombeta eu vi! Eu vi o meu mutum cantar!
Eu vi ro me reinado, Mussurana! Um Mutum Real!
Bonitos são os trabalhos, Mussurana! Do Mutum Real!
Bonitas são todas as forças, Mussurana! Que o mutum vem dar!

Príncipe Da Jurema
Ele é sem história.
Quando eu parti um galo cantou!
Olha o Príncipe da Jurema que na mesa chegou!...

Mestra Anabar
Ela é uma Cabocla, uma feiticeira cheia de segredos que se tornou uma guia
após sua morte. Ela era uma mulher indígena. No Rio Negro fica a ilha de
Anabo, de onde talvez venha o nome.
Quando eu boto ouvido em terra
É sempre pra trabalhar!
Anabar é boa Mestra,
Anabar, O Anabar!
Anabar é boa Mestra!
Nao promete pra falar!...

Mestra Iracema
Ela é decisiva em Catimbós. Da linha feminina, ela é a que mais prestigia
pela simpatia popular. Rara será a sessão em que Iracema não estiver
presente, aconselhando ou sugerindo. Você é rainha de Tanema ou Itanema.
Disseram-me que a velha Elisa havia trazido uma imagem da "Cabocla
Iracema" do Pará, apreendida pela polícia e depois quebrada. Que eu saiba,
seria a primeira materialização de um "Mestre" no Catimbó.
Iracema, Iracema!
E Rainha de Tanema!
Iracema é boa Mestra,
Trabalha sempre na Jurema!

Mestre Pequeno
Ele é um catimbozeiro pernambucano, da serra do Buíque, morou no Brejo
da Madre de Deus, onde foi muito consultado. Ele morreu velho e agora é
um "Mestre" respeitado, especialmente para "feitiços". Em SUA “linha”
fala-se dos “encantos das ondinas” (“encantos da ondina”) e há uma
tradução eufônica do “Gloria in excelsis Deo” por “Gloria in the Sky
Aconteceu...” (“Gloria no Céu se deu...”)
Bate asas, canta o galo,
Quando o Salvador nasceu.
Cantam os Anjos na altura,
Ó Reino! Oh Reino!
Glória no Céu se deu!...
Bate asa, canta o galo,
Quando o Salvador nasceu!
Eu sou o Mestre Pequeno.
Ó Reino! Oh Reino!
Do Brejo da Madre de Deus...
Nos encantos da Ondina,
Ó Reino! Ó Reino!
So quem trabalha sou eu!

Mestre João Pinavaruçu


Ele é o Pajelança (Pajé) do Pará. Ele trabalha à direita e à esquerda. Mestre
Zinho me ensinou que Pinavaruçu era casado com Mestra Faustina. A
cabaça (Cucurbita lagenaria) é possivelmente um maracá, contendo
"poderes". A cabaça, no folclore e na etnografia ameríndia, tem grande
importância, não só como utensílio, mas também como maracá. Erland
Nordenskiold registrou as lendas dos índios Cunas onde o maraca quebrado
determina a morte do possuidor Ver o estudo de CV Hartman, La
calebassier de 1'Amerique tropical, Crescentia cujete, étude
d'éthnobotanique, no volume VII (1910) do Journal de la Société des
Américanistes de Paris Outro ponto digno de adiamento e estudo é brincar,
brincar, se divertir, entre os “Mestres”. Essa ocupação, mais séria do que
podemos supor, definiria muito da essência íntima do Catimbó.
Pinavaruçu, Pinavaruçu
B rinca com um cabaço nas águas do mar azul...
Brinca com um cabaço nas águas do mar azul!
João Pinavaruçu! João Pinavaruçu,
Brinca com um cabaço, nas águas do mar azul!...

Mestra Angélica
Ela é médica em doenças femininas. Como medicamento simpático,
Guettarde angelica é amplamente utilizado na farmacopeia doméstica,
especialmente em certas complicações. Mestra Angélica é sempre
consultada e suas inúmeras “curas”.
Eu sou a Mestra Angélica da Cidade do Caité!...
Sou a defensora dos Homens, Protetora das muie..

Como meninas Da Saia Verde (as meninas da saia verde)

Não são três nem sete, mas incontáveis e vivem no Fundo do Mar, um dos
Reinos Invisíveis. Mestre Zinho ensinou-me (aqui: autor de Meleagro) que
outrora se chamavam “Undinas” e não eram Sereias porque tinham pés e
andavam. Essas Moças de Saia Verde não “atracaram” (incorporaram) a não
ser na Serra da Raiz, na Paraíba, com o Catimbozeiro Benedito. Após a sua
morte, as Meninas da Saia Verde passaram a frequentar as “mesas e a fazer
“leques”.
Lá vêm as Meninas de Saia Verde,
Ela é gente nobre (quatro vezes) ...
Do Rio Verde!...

Mestre Tabatinga
Ele é um “Caboclo” raivoso, que tem fama de tarado e benfeitor. Mestre
Zinho negou formalmente o mau caráter de Tabatinga, mas a maioria de
seus colegas jura o contrário. Não há feitiço “à esquerda” que não envolva
Tabatinga.
Tabatinga vem da mata,
Tabatinga vem curando,
Em nome da Virgem Amada,
Todos machos retirando...

Mestre José Pereira


Ele é um espírito feroz, possuído por todos os Demônios, impaciente pelos
infortúnios dos outros. Quando ele estava vivo, ele matou seu pai, mãe,
esposa e cinco filhos. Ele foi apelidado de Galo Preto (Galo Preto). Não há
"linha" a que ele pertença. Quando incorpora, o “Mestre” tem fisionomia
patibular, olhos furiosos, mãos cerradas com as varas passando entre os
dedos médio e anular. O Galo Negro vem rugindo e amaldiçoando o Céu e a
Terra. Trabalha com prego e sal. Prego a prego o camarada e sal a salgar o
rastro, cobrindo-lhe o corpo de úlceras (Prego pára pregar o camarada e sal
para salgar o rasto, cobrindo-lhe o corpo de úlceras).

Mestre Antônio Tirano


Ele é um Catimbozeiro da esquerda (aquele que pratica o Catimbó para o
lado esquerdo, o lado do mal, das trevas, da magia, da limpeza). Para o Mal.
O nome já é uma propaganda de suas habilidades. Não há "linha" a que ele
pertença. Quando ele aparece, ele vem com cobras para a sessão.

Mestre Canguruçu
Ele é um "Mestre" do mau caminho, da esquerda, um criador de maus bens
(magia). Ele é indígena do Amazonas. Ele tem uma "fala" inocente, sincera
e doce, completamente mentirosa. (Comentário: A música abaixo diz o
contrário – o autor de Meleagro confunde o trabalho da esquerda com “mau
caminho”, o que é errado. Trabalho à esquerda significa trabalho magístico,
de limpeza).
O Mestre Canguruçu é um negrinho de bem!
Visita todas as mesas e não faz mal a ninguém!

Malunguinho
Ele é negro, ágil, perverso e determinado a fazer travessuras. Não há
"linha". Um dos “serviços” do Malunguinho é cegar os olhos das pessoas. O
nome é, como podem ver, africano, malungo, companheiro. (Aqui,
novamente, pode-se ver que o autor de Meleagro não pode relatar a história,
o trabalho e a energia deste “guardião de todos os portões”)
Mestre Pinarona
Ele é indígena, morando em um rio Amazonas. Da esquerda.
Pina, pina, pina,
pina, pina!
Sou Caboclo vivo,
Sou do rio Amazonas!

Mestra Faustina
Ela é uma ex-catimbozeira, é uma venerada “Mestra”. Morreu virgem,
segundo uns, ou casada com Pinavaruçu, segundo outros. Mestre Zinho
dizia que Mestra Faustina era gaúcha. Zinho se pronuncia gaúcha, como
deve ser.

Vocês aqui o que têm para me dar? (bis)


Trago flores de Jurema, (bis)
E palmas do Juremal...
Eu sou a Mestra Faustina, (três vezes)
Do Reino do Vajucá.
Rei, Rei, Rei, Rei, Rei Umba!
Eu sou a Mestra Faustina, (três vezes)
Do Reino do Urubá!

Mestre Luís Dos Montes


Ele era um ex-cacique dos Catimbozeiros. Quando você dava um nó, não
havia ninguém vivo para desatar.
Eu venho de altas torres do Reino do Juremal.
Que eu me chamo Luís dos Montes,
Trabalho com Vajucá
Com três galhinhos de alecrim
E os três Reis Orientais
Precisa-se aqui de um Mestre
Para me ajudar...
É o Mestre Luís dos Montes, da Jurema ou Juremal
Mestre Filipe Camarão
É o mesmo D. Antônio Filipe Camarão, herói da guerra contra os
holandeses. Faleceu em 24 de agosto de 1648, na Várzea, periferia do
Recife. No Catimbó, o guerreiro gaúcho aparece com um nome sonoro e
complicado, uma mera declamação ritmada. Camarão narra que nasceu na
foz do rio Maxaranguape, debaixo de uma oiticica. É um espírito do bem,
mas o “Mestre” deve estar munido de um grande punhal, caso contrário o
Mestre Filipe Camarão não o atenderá de forma alguma. Dom Antônio de
Albuquerque Arcoverde Camarão Pituaçu.

Mestre Turuatá
Ele era um grande xamã na Amazônia.
Eu sou aquele Caboclo,
Sou eu o Turuatá!
Eu sou o Rei da serra da serra do Bom-Florá!
A ORGANIZAÇÃO
Em termos de composição, o Catimbó é organizado de acordo com os
papéis de cada um. O chefe da casa é o Mestre principal (Mestre Principal),
o mais poderoso; depois dele temos os Mestres-discípulos (Discípulos
Mestres), que trabalham com seus cachimbos consagrados; em seguida
estão os discípulos em desenvolvimento, sem o cachimbo. O trabalho com
entidades espirituais também é segmentado, onde cada um dos Mestres é
responsável por uma atividade específica de acordo com sua vibração
energética. Assim, trabalhos de cura, abertura de caminhos, harmonia
amorosa e resolução de conflitos, por exemplo, são realizados por
diferentes Mestres, que possuem uma energia com mais afinidade com a
finalidade do trabalho.
A hierarquia básica da Jurema pode ser vista tríplice:

1. Mestre – aquele que abre e trabalha com sua ciência e


conhecimento à disposição das pessoas.
2. Padrinho - aquele que inicia novos discípulos na Ciência da
Jurema.
3. Padrinho Mestre - aquele que já tem vários “filhos” (filhos/filhas
espirituais iniciados) que são Padrinhos por si mesmos.

Mestre de Mesa (Master of Altar)


Em Meleagro, segundo os registros de Cascudo, o “Mestre”, “Mestre da
mesa”, seria o Catimbozeiro que a polícia persegue e que é consultado por
mulheres ricas e homens importantes, raramente é um homem branco, como
João Juvenal da Costa Lima, o famoso Mestre Zinho que gozou, durante
anos em Natal, da soberania absoluta da ciência popular no Catimbó.
A maioria é negra. Mestre Benedito, da Serra da Raiz, na Paraíba;
Remigio,15 de Papari, no Rio Grande do Norte; Mestre Pequeno, do Brejo
da Mãe de Deus, em Pernambuco; João Germano das Neves, que “fechou o
corpo” de Mário de Andrade em Natal; Mestre Jurumim (João Cândido de
Souza), em Recife; Mestre Xinin (Francisco Vieira dos Santos), em Belém
do Pará.
As mulheres também são “mestres”, pois podem ser mães-de-terreiro na
Bahia. Um belíssimo exemplo é o da Mestra Maria Brasilina, da Terra
Santa, Faro, de indiscutível prestígio. Alguns são analfabetos, como Mestre
Dudu (Raimundo Nonato da Silva), mas o maior percentual lê Espiritismo,
livros de exoterismo, copiando invocações, atitudes e frases. As palavras
“meio”, “guia”, “dispositivo” são atuais. Em alguns Catimbós é dominante
a influência da prática espírita. Os jornais (antigamente) então anunciam o
Catimbó como "baixo espiritismo".
No passado, o "Mestre" era o único a receber a visita do Além. Só ele
conhecia os "Mestres" invisíveis, conhecendo a divisão dos "reinos" e as
tendências de cada um, para o bem e para o mal. Hoje, o Espiritismo
nivelou as visões astrais, tornando-as possíveis para qualquer assistente. O
"Mestre" fica com o poder de fiscalizar a receita ou negar a sua
autenticidade. Como resquício da sua autoridade funcional, tem o direito de
"pôr a mesa", "abrir e fechar" a sessão, tendo zelosamente guardado os
segredos da "arte", "fechar o corpo" (fechar o corpo), remédios poderosos,
receita das "sete massas" (sete massas), certas garrafas misteriosas
(guarrafadas), feitiços de amor, ódio, bons negócios. Júlio César da Câmara
encontrado em uma Pajelança em Belém do Pará um globo de cristal muito
moderno para consultas.Os “Mestres” costumam “jogar cartas”. O Catimbó,
do anterior, é o último estado antes da absorção diluidora.
"Mestre", além de dirigir "mesa", não é aquele que conhece o maior número
de segredos lucrativos. Pode haver o char de latão com poder absoluto sobre
a popularidade. Mas há um sinal externo, inconfundível, que estabelece a
legitimidade, a autenticidade do verdadeiro “Mestre”. Não há pretensão
nem dinheiro para este sinal superior de autoridade indiscutível. Somente o
“Mestre” exibe a “semente”. Não há "Mestre" sem "semente". E a
“semente” é um dom sobrenatural, acima dos recursos financeiros ou da
habilidade humana. A “semente” é um pequeno nódulo, uma espécie de
cisto, visível sob a pele do “Mestre”. Pode ser na palma da mão, como no
Mestre Zinho, ou no lóbulo da orelha, como no Mestre Germano. A
“semente” é flácida à palpação e tem coloração vermelha escura, roxa e até
preta. Um “Mestre do além” promete a um “Mestre” a oferenda suprema de
uma “semente”, uma recompensa pelos méritos pessoais do devoto. Outro
"Mestre do além" é encarregado de trazer a "semente" e co-colocá-la no
corpo do discípulo, no momento e na situação em que ele não sinta a
operação. Um belo dia, ele descobre que tem a “semente” consagradora que
o consagra “Mestre”.

Sobre A Semente
Mestre Zinho tem a “semente” desde 1917. Mestra Anabar havia prometido
a ele seriamente, e demorou vinte e um meses para cumprir a promessa,
apesar dos apelos do candidato . No dia de São José, 19 de março (São José
é invocado na “abertura da sessão”). Zinho, olhando para a palma da mão,
viu nela a pequenina excrescência. Anabar dera-lhe a “semente”, mas
Mestra Faustina fora a portadora e cirurgiã. Anabar havia dito que a
“semente” estava na palma da mão porque Mestre Zinho era muito esperto
e merecia um “sinal tapado”. Esta “semente” é o feto dos feiticeiros
portugueses. No “Livro de S. Cipriano” fala-se muito da “semente do feto”
colhida à meia-noite do dia de São João. Teófilo Braga informa: "... a pedra
usada no pacto com o Diabo, da feitiçaria do século XVI, ainda se conserva
na alfândega de Cabo Verde, na ilha de S. Tiago; o nome Fetal é aí atribuído
a um pedrinha mágica, do tamanho de um grão de mostarda, que as pessoas
que fazem pacto com o Diabo recebem no local chamado Água da Má
Marta. A pedrinha é colocada sob a pele, e quem a carrega, o Fetalista, fica
para sempre livre de infortúnios, embora nunca fique rico”. (O Povo
Português nos seus Costumes, Crenças e Tradições, 2º vol., p. 65, Lisboa,
1885.)
A “semente” é o “brinde e capa” do curso. Nada mais precisa saber e tudo
pode ser aprendido porque conhece os “caminhos”. Cada “Mestre”
aprendeu com o outro. Ensino oral, aprendizado direto, observação, pedido,
repetição de gestos, orações e fórmulas. Claro, a melhor técnica pertence às
emas mais inteligentes e curiosas. E o corpo da "ciência" não é
incompatível com as modificações individuais do novo "Mestre". Existem
segredos pessoais, descobertas, achados, conclusões que não pertencem ao
caminho. Em cada geração há livros, histórias diferentes,
interdependências, influências, simpatias, convergências, sincretismos que
se amalgamam. O curso pode ser feito em poucos anos ou demorar muito.

Noções básicas de organização


Enquanto algumas linhas indígenas ainda mantêm certa estrutura interna,
isso não existe mais no Catimbó. Tudo gira em torno do Mestre ou da
Mestra. Freqüentemente, são assistidos por seu parceiro de vida ou por um
participante das sessões. À medida que o grupo cresce, as tarefas são
distribuídas naturalmente. A antiguidade também é um princípio de
organização comum. - A mistura com a Umbanda resulta nas designações
usuais de papéis, que são emprestados do Candomblé ou de outras
tradições, dependendo da linha de trabalho. Mas os grupos de trabalho e
festa dos Catimbós raramente são maiores do que 20 a 50. E quando são, as
sessões espíritas, como a Umbanda, são festas bastante grandes que não
exigem grande ordem interna. Isso distingue claramente essas tradições da
complexa ordem interna dos candomblés, bem como das antigas grandes
tribos indígenas.
OS RITUAIS

A "Mesa" (O Altar)
No Catimbó tradicional existem três formas de realização ritual. Em pé, à
mesa/altar ou no chão - Catimbó do C hão, Catimbó da Mesa, Catimbó de
Pé. Algumas formas de construção e implementação são apresentadas a
seguir.
A mesa, também chamada de Peji ou Altar, é parte integrante do Catimbó e
deve-se à influência cristã. A disposição da mesa, os componentes de uma
mesa diferem dependendo da linha de trabalho.

Construção da mesa

Mesa, Peji, Altar refere-se primeiramente ao local onde são colocados os


objetos rituais dos Catimbós. A sessão em si também é chamada de mesa.
Existem formas muito diferentes de construção da mesa. Algumas
estruturas são descritas abaixo, pois eram comuns em épocas anteriores e
foram descritas como tal. Abstenho-me de descrever altares de Umbanda,
que também integram o Catimbó, pois estes só podem ser chamados de
Mesa de forma muito limitada. Têm pouco em comum com o Catimbó
original.
A. Ribeiro descreve suas observações da seguinte forma:
Você diz “Mesa” para uma sessão de Catimbó. “To make a table” (fazer a
mesa) é abrir uma sessão. Eles usam o mesmo termo para Candomblé
quando consultam o Pai-de-Santo. A obra do "Mestre" (Mestre) não se
chama feitiço, muamba, coisa-feita ou canjerê. O Mestre que entende de
Catimbó sempre diz “fuma”. O trabalho para o Bem, tratamento médico,
remédios e conselhos, orientações benéficas, oferendas de amuletos, é a
fumaça à direita ou à direita. Trabalho para o Mal, vingança, atrapalhar
negócios, impedir casamento, adoecer, conquistar mulher casada, despertar
paixão sem ser para um bom fim, é a fumaça da esquerda ou da esquerda.
(Brasil: fumaça às direitas ou às esquerdas).
Existem dias recomendados, especiais e típicos para cada tipo de “fumo”.
Para “fumar pela direita” são indicadas as segundas, quartas e sextas-feiras.
“Fumo à esquerda”, terças, quintas e sábados. Domingo não é um bom dia
para “fumar”. Só pode servir de consulta, de conversa, de “forma” de
conselho, de prescrição de pouca importância. Os "Mestres do Além" têm
seu dia de descanso e não é prudente perturbá-los. Os deuses não gostam de
insistência, disse Petronio. Nas Macumbas e Candomblés, o domingo é o
dia de todos os Orixás. No Catimbó é o resto dos invisíveis.
A vontade do “Mestre” (Mestres) direciona a disposição e quantidade de
objetos necessários para as sessões. Alguns são indispensáveis, outros
dependem das simpatias do “Mestre”. As “preparações” são colocadas
sobre uma mesa de pinho. Ao centro está a “princesa”, uma bacia de
porcelana branca ou clara, entre duas “bugias”, velas, acesas no início do
“fumo”. Dentro da “princesa” colocam um pequeno Santo Antônio de
madeira. Ao lado da “princesa” está a “marca”, um cachimbo grande, já
retorcido, com cabo comprido. Certos “Mestres” mais conceituados
ensinam que o cachimbo é o verdadeiro Catimbó e seu segredo. Chamam-
lhe “mar-ca-Mestre”, reservando o nome simples de “marca” para um
bastão de madeira que tem na ponta uma cabaça com sementes secas, uma
espécie de maracá. Outros “Mestres” invertem a denominação. Chama-se
“marca” ao cachimbo e “marca Mestre” ao maracazinho. Os caroços da
“marca Mestre” estão sempre em número ímpar, número ímpar de deus
gaudet , afirmou Virgílio. Pouco utilizada em muitos Catimbós de meu
conhecimento, a “marca Mestre” é infalível nos Catimbós mais fiéis à
Pajelança amazônica, ritmo de cerimônias, anunciando a presença dos
“Mestres” reais, alegria, raiva curiosidade ou malícia, tristeza ou distância,
pela aceleração das batidas, do andante cum moto ao allegro cum juoco.
O tabaco para cachimbo, “marca” ou “marca Mestre”, não é comum. Eles
misturam com incenso, benjoim, alecrim, plantas aromáticas. Em certos
“trabalhos” ou “fumados”, o “Mestre” trabalha com tabaco de composição
diversa, mata-pasto, jurubeba, casco-de-burro, jurema. A primeira mistura é
o ritual de defumação propiciatória no início da “mesa”. Durante os
“trabalhos” você pode fumar livremente. O charuto chama-se mussui.
A “princesa”, uma bacia de louça, não é colocada diretamente sobre a
toalha de mesa, mas sim sobre um rolo de pano não lavado, limpo, virgem e
saudável. À frente do “Mestre” está um crucifixo, à esquerda a chave de
aço, virgem de qualquer uso, limpa e brilhante, infalível e característica de
abertura e encerramento das sessões, e simbolicamente o corpo dos
consulentes. Lembra, na feitiçaria européia, a chave sagrada do
Tabernáculo, roubada para uso em feitiços.
Sobre a mesa estão vários pedaços de papel embrulhados em canudos. Eles
são usados para acender os cigarros ou charutos do público . Pegue um
desses canudos de papel, faça com ele o sinal da cruz, no ar, antes de tocar a
chama da vela. Com o papel aceso, acenda o cigarro ou charuto barato. Não
se toca na chama das bugias antes do sinal da cruz.
O “Mestre” apenas fuma seu cachimbo ao contrário, colocando a boca no
fornilho e soprando a fumaça pelo canudo. Entre os mestiços Pancararus, do
Brejo dos Padres, em Tacaratu, Pernambuco, o Prof. Carlos Estêvão, então
diretor do Museu Goeldi em Belém do Pará, participou em janeiro de 1938
da festa secreta de Ajucá, preparação da Jurema para ser religiosamente
embriagada. O velho Serafim, que dirigia a cerimônia, repetia o ritual do
catimbozeiro do qual se originaria sua raça: “Ele acendia um cachimbo
tubular feito de raiz de Jurema e, virando-o no sentido inverso, colocando a
parte que põe a fumaça, soprava contra o líquido que estava na vasilha,
fazendo com a fumaça uma figura em forma de cruz e uma ponta em cada
um dos ângulos formados pelos braços da figura.”

B. Assunção descreve a estrutura da mesa da seguinte forma:


Em uma parte limpa do chão, colocaram uma mesinha de aproximadamente
50 cm x 1 m. Sobre esta mesa está uma toalha branca, quatro vasos com
mudas, um carboneto, um crucifixo, cachimbos, arcos, uma garrafa e um
copo. (Assunção 2010).
C. Cascudo descreve a Mesa:
Entre os elementos essenciais do altar do Catimbó estão os maracás
(chocalhos com sementes para marcar o ritmo das cantigas), as cuias com
Cauim (cachaça feita de mandioca fermentada consumida pelos
participantes), uma tigela de cerâmica com água (a “princesa” ), bonecos de
pano (simbolizando pessoas ausentes a quem se deseja enviar um
encantamento), um cachimbo de madeira de jurema (a “marca mestra” ou
simplesmente “mestre” usada em inúmeras operações mágicas) e, por fim,
uma grande chave de ferro . Também era comum a presença de livros como
os de São Cipriano ou do grupo ocultista Círculo Esotérico Comunhão do
Pensamento . No entanto, era difícil encontrar a Bíblia ou os livros
Kardecistas – o que levou a sociedade da época a chamar a prática do
Catimbó de “baixo espiritismo”.
A chave era um importante elemento simbólico, não só para abertura e
encerramento das sessões espirituais, mas principalmente no ritual de
“Fechamento do Corpo”. Além de Cascudo, há um relato detalhado desse
ritual feito por Mário de Andrade, que foi levado por Cascudo aos cabimbós
de Natal e teve seu “corpo fechado” pelo famoso Mestre João Germano das
Neves.
Abertura da Mesa (Abertura de Mesa)

A abertura da mesa segue certos rituais. Vários reinos e guias espirituais


distintos são invocados, sempre em conexão com os cantos
correspondentes. Aqui estão algumas descrições tradicionais:
Segundo Ribeiro, a abertura da mesa ocorre da seguinte forma:

1. Linha Da Abertura - Linha de abertura da mesa, início da sessão no


Catimbó.
2. Linha Da Licença - Linha de Licença, solicitada aos Mestres
invisíveis.
3. Linha Da Chave - Key Line, cantada com a chavinha virgem na
mão, manejando-a.
4. Linha Das Velas - Linha de Velas, para iluminar os carrinhos.
5. Linha Da Nanãgiê, Nanãbicô, Menina Do Mar, Anamburucu,
Orixá da chuva.
6. Linha Pai Joaquim.
7. Linha De Iracema, Rainha De Tanema.
8. Linha De Mestre Carlos.
9. Linha Mestre Linha Manicore.
10. Linha Mestre Xaramundi.
11. Linha Mestra Faustina.
12. Linha Do Pássaro Do Pará. No Catimbó do Mestre Dudu, cantava-
se esta linha, composta apenas por estas três notas, repetidas
indefinidamente. Após a sessão, o Mestre me explicou que é a
Linha de um passo do Pará, que ave será, não sei. Intercorrência de
Pajelança? Tocuarana? Na Pajelança paraense o "médium" é
chamado de "pássaro".
No Catimbó, o "Mestre" acende o seu cachimbo e, com a boca na cuia,
sopra a fumaça para os quatro pontos cardeais, "quatro cantos da casa", e
monologa baixinho uma oração ininteligível mas perfeitamente católica,
com invocações a Jesus Cristo e os santos. da Corte do Céu. Então ele canta
o
“Linha de Abertura”:
Abre-te mesa,
Abre-te A jucá!
Abre-te os transitórios
E varandas reais!
Abram-se os seguidos e varandas e cortinas reais!

"Linha de Abertura":
Abra a mesa (altar)
Abra para o jucá!
Abra os portões
E varandas reais!
Abra os portões e varandas e cortinas reais!

“Linha da Licença”
Senhores Mestres eu quero
Senhores Mestres vá,
Quero que me dê licença
Vamos trabalhar!
Com o poder de Jesus Cristo,
vamos trabalhar!
Eu trago a chavinha
Do Vajucá, Abrindo os enfrentados
E varandas reais!
Eu trago a chavinha
Do Vangalò!
Abrindo os embates
E varandas eu vou!
“Linha de licença”
Mestres eu quero
Mestres vão,quero que me dêem a licençaVamos trabalhar!Com o poder de
Jesus Cristo,vamos trabalhar!Trago a chaveDo Cajucá,Abrindo os portõesE
varandas reais! Trago a chaveDo Cangalo!Abrindo os portõesE as sacadas
eu vou!

“Linha da Licença das Velas”


Meu São José
Acendei-me estas velas!
Santa Cecília
Varrei-me os caminhos!
Meu Sant'Antônio
Me pondere em guarda!
Santa Luzia
Dai-me a vidência!
Já vem chegando e já
Os bons saberes
Do Outro Mundo.
É o Rei! É o Rei! É o Rei!
Trunfei! Trunfa! Trunfa Real!...
“ Linha de licença de vela”
Meu São José
Acenda essas velas para mim!
Santa Cecília
varri os caminhos!
Meu Santo Antônio
Põe-me em guarda!
Santa Luzia
Dá-me clarividência!
Está chegando e já é
O bom conhecimento
Do outro mundo.
É o rei! É o rei! É o rei!
Trunfo! Trunfo! Trombeta real!...

Quando o “Mestre” diz “abre” ou “fecha”, segura a chave na mão e faz os


respectivos movimentos. Abre à direita e fecha à esquerda. A sessão
termina cantando as mesmas músicas, substituindo “ abre-te ” (aberto) por “
data -te ” ( fechado ). Apagam-se então as duas velas e faz-se uma oração a
Jesus Cristo Nosso Senhor, agradecendo as graças recebidas pelos bons
Espíritos dos “ Mestres” . Curadores ” (mestres curandeiros). É uma oração
de um manual de espiritismo. Durante os “trabalhos” não se fala. Fuma e
bebe muito. A aguardente que tem o nome indígena de “ Cauim ” é bebida.
O “ Cauim ” é servido em minúsculos cuités , cabaças bem limpas, passadas
de mão em mão, com assiduidade mecânica. Homens e mulheres levantam
o cuité com a mão direita e bebem, fechando os olhos. Não sei se há
tradição no gesto. Bebi de olhos abertos e ninguém me corrigiu.
Cauim ajuda os “ Mestres ”. Não existe “Mestre” abstêmio. O próprio
“Mestre do Além”, incorporado ao material “Mestres” ou outro fiel, bebe.
Ele pede Cauim e eles dão a mamadeira e não o cuité . O Mestre pega a
mamadeira, mas não ingere o líquido. Ele bebe o "espírito", a "substância"
do Cauim . Devolvendo a garrafa, ainda cheia, o Cauim está fraco, sem as
“forças” que o “Mestre” absorveu.
A sessão às vezes dura horas e horas. Na ordem tradicional, não pode passar
da meia-noite, mas com o poder de certos “Mestres” há folga do Além e a
“mesa” dura entre a fumaça dos cigarros e o giro regular do Cauim .
Outra descrição mais antiga dos rituais de abertura de uma casa (autor
desconhecido):

Continuando a descrição do andar da Jurema na casa de Mãe Maria, temos


um círculo que fica fora do círculo formado pelos Juremeiros que acomoda
os visitantes, inclusive eu como pesquisadora fico neste círculo. Depois que
todos estão sentados, ela pede que façam uma oração silenciosa, em seguida
acende uma vela no centro do círculo e pede a cada pessoa presente que
acenda também uma vela e coloque-a em volta dos objetos localizados no
centro. Quando a última pessoa acender sua vela, as luzes do salão são
apagadas, deixando apenas a luz das velas iluminando a noite do chão da
Jurema. O canto para saudar a chegada dos Mestres é o seguinte:

Sete Cidades abalei, Senhores Mestres chegaram


Sete Cidades abalei, Senhores Mestres chegaram
Bebia não bebo mais, tô na Jurema abalou
Bebia não bebo mais, tô na Jurema abalou
Tombava mais não caia, escorreguei mais não caio
Tombava mais não caia, escorreguei mais não caio
Sentii num galho de Jurema, pedindo força a meu Pai
Sentei num galho de Jurema, pedindo força a meu Pai

No fornilho dos cachimbos dos Mestres são colocados pedaços de folhas de


Jurema, fumo, alecrim, incenso e mirra. Quando o cachimbo é aceso, é
colocado de cabeça para baixo na boca do capataz. Na boca, coloque a
tigela e sopre, fazendo a fumaça sair pelo canudo ( cânula ) do gaito . O
cachimbo, ou marca, é a base do fumo. A defumação é feita principalmente
da cabeça, desta para os pés, depois o braço direito, depois o esquerdo,
parando mais à esquerda, por onde entram os espíritos negativos. Em
seguida, vire o defumado e fume-o pela frente, da cabeça aos pés. Em
algumas sessões, tanto de Pajelança quanto de Toré, e também de Catimbó,
o cacique leva a criatura para ser exorcizada e dá três puxões nas mãos para
baixo, afastando os maus espíritos. Ao fumar a pessoa, é necessário que ela
esteja descalça, devendo também desfazer o cabelo. Os sapatos são
chamados de “ bostocos ” pelos Caboclos do Catimbó. Esse conceito de que
se deve fumar descalço se deve à crença de que o solo é sagrado e só deve
ser pisado sem sapatos.
Cascudo descreve uma sessão incluindo a abertura da mesa conforme
citado abaixo:
Uma casa de taipa (casa de barro e madeira) no final de uma avenida em
Alecrim (significa alecrim). Vinte pessoas, oito mulheres, assistindo.
Lâmpada fumegante de querosene. Eles baixaram o pavio para que
houvesse semi-escuridão. O “Mestre”, recém-chegado do Pará, vinha
acompanhado do “ curupiro ”, secretário adjunto. Às vezes é a mulher do
“Mestre” que serve de curupiro e aí é chamada de “ curupira ”. Lembrei
que Dona Chiquita, mulher do Mestre Zinho, era a curupira mais conhecida
., depois da abertura, segundo o rito, terminando com a “Linha para acender
as velas”, bugias . No final, o curupiro passou-lhe uma cabaça cheia de
aguardente , Cauim. O “Mestre” respirou “ encruzilhando ”, fazendo uma
cruz com o sopro, provou o líquido e cantou:
Vamos beber, Senhores Mestres,
Vamos beber felicidade!
Ó Rei! ó Rei! ó Rei Real!
Vamos beber!...
E passou a cabaça ao companheiro da direita (ao trabalhar na “fumaça” da
esquerda, por mal, a oferenda segue o estilo da sessão), que bebeu um gole
e entregou ao vizinho e assim sucessivamente até a tigela voltou. ao
"Mestre", limpo e seco como a língua de um papagaio. O “Mestre” já tinha
aceso seu grande cachimbo, canudo comprido, a vasilha cheia de fumaça
(tabaco) com incenso. Recebendo a cuia , cantou:
Vamos b eber, Irmãos do Espaço!
Vamos beber os bons sabres!
Vamos beber, Irmãos dos Reinos!
Vamos beber o bom conhecimento!
e jogava no ar o que restava do Cauim , fumegando-o com a fumaça
perfumada, sempre em cruz.
Essa fumaça misturada com incenso é chamada de " calço da marca ".
Cada “Mestre” tem um “espírito assistente” pessoal, havendo outro
“espírito” que defende e preside a “mesa” ou sessão, sempre o mesmo. Sem
a presença destes dois “Mestres do além”, o “Mestre” não abre a sessão
temendo uma investida imprevista dos “espíritos que trabalham na
esquerda”, incomodando e incomodando as pessoas.
O “Mestre” começou cantando uma “linha”, conhecida por todo o auditório,
que, logo depois, entrou no canto, em uníssono. Era a “linha Mestre
Carlos”.
Os “Mestres do além” espontaneamente “abaixam”, anunciados pela
“linha” que o “Mestre de mesa” ou qualquer outro canta, ou são invocados
também pelo canto de sua respectiva “linha”.
O “Mestre” respirou fundo, assumiu uma postura rígida, abrindo os lábios
em um beicinho exagerado. “Mestre Carlos atracado!” (“ acostar ” significa
apoiar-se, atracar-se, incorporar-se), diziam em voz sussurrada.
“Deus vos salve, irmãos! Deus os salve, irmãos!” Disse mestre Carlos
“acostado”. “Deus vos salve, Mestre!” „Deus te salve, Mestre!” Respondeu
a assistência, contrito.
Mestre Carlos dava conselhos de boa conduta e tirava dúvidas,
principalmente em questões amorosas, sempre de boca aberta, como um
tucano. O “Mestre” voltou ao seu estado natural e uma mulher se debatia,
cantando uma “linha” melancólica. Ele era o “Rei Heron”, Mestre Curador.
O "Mestre" pedia algum remédio, quase sempre em tom afirmativo. O "Rei
Heron" confirmou bufando. O "Mestre" bateu-lhe na testa dizendo: Trunfei,
trunfá, trunfa reá! Eu superei, trunfo, trunfo real! A mulher suspirou,
espreguiçando-se, cansada. O “King Heron” havia partido para seu reino
invisível.
Ainda outros “Mestres” atracaram, sem lutas ou convulsões. Era quase
monótono se as "linhas" cantadas não produzissem um efeito estranho e
sugestivo de mistério e conselho proibido. Cerca de seis vezes a tigela do
Cauim foi circulada. Então o “Mestre” cantou, encerrou a sessão com a
música. Os consultores foram embora. O “ curupiro ” sumiu e voltou
trazendo algumas xícaras de café. Continuamos conversando, com as
pessoas mais próximas a ele, graças às recomendações decisivas que ele
trouxe. O “ Mestre”, mais do que ninguém, está convencido dos “poderes”
especiais. Tão convencido quanto a figura de Cunas estudada por
Nordenkiold, ele era capaz de fazer cair um coco pela simples força do
olhar.
O “Mestre” me explicou que a maioria dos consultores o procura fora da
sessão e que, a cada dia, isso se torna menos importante quando muitas
pessoas comparecem. A sessão decisiva é a sessão especial, promovida com
fins reservados, para atender a um “trabalho” encomendado por um
“cliente”. O “Mestre” disse “cliente” com soberba naturalidade.
Oitenta por cento do "trabalho" é pela "esquerda", contra alguém. Vinte por
cento pedem remédios ou conselhos e "trabalham" por amor ou negócios,
vida conturbada. É a “mudança de opinião” nos candomblés e nas
macumbas. “Trabalho” é o “despacho”. Então é natural que ele não quisesse
fazer confidências sobre os processos íntimos e secretos que tanto dinheiro
lhe dava. “Obras” de três contos de réis, cinco contos, pagas por pessoas
respeitáveis, indicadas, com a simplicidade de quem sabe o que diz.
Indicou mais dois grandes nomes de “Mestres”, ambos falecidos há poucos
anos, José Salgado, do Recife, e Joana Pé de Chita, da Paraíba, a “Rainha
do Catimbó”. “A obra de Joana Pé de Chita nunca foi desamarrada.” Ele
mesmo conseguiu desamarrar apenas dois dos cinco que havia prometido
fazer. Um desses feitiços foi lançado ao mar e “trabalho” sacudido no mar
não há remédio. Lembrei de Iemanjá. Mas Yemanjá não é conhecida no
Catimbó, mas sim Nanã-Giê, a Menina do Mar, que é apenas Anamburucu,
Orixá da chuva, um dos três Orixá das águas do culto iorubano,
Nanamburucu, Nanã, Anã, Onanã, identificado como Sant'Ana.
Quase não há mais uma sessão de “Mestres Curandeiros” com consulta
popular como nas reuniões espíritas. O Catimbó reúne-se para “trabalhos”,
bons ou ruins, mas deliberados, com sua corte de “Mestres” conhecidos por
suas predileções malévolas ou caridosas.
Comentário: A respiração é a vida simbólica. Na Pajelança Amazônica, o
Mestre estraga tudo quando oferece como remédio. Os xamãs sopravam
água e comida dos caciques, transmitindo-lhes a virtude e afastando o Mal.
O sopro, peiuuá, é indispensável na magia indígena como o foi na bruxaria
branca e negra da Europa. No batismo católico, o padre respira o rosto da
criança; Deinde ter exsuffiet leniter in fadem infantil, et dicat semel: — Exi
ab eo intenunde spiritus, et da locam Spiritui sane to Paraclito. O Diabo é
expulso. Deus criou o homem soprando-o “em seus narizes”, Gênesis 2:7.
Sua prática é realizada da seguinte forma.
a) Uma grande mesa é preparada, coberta com uma toalha branca. Sobre a
mesa são colocadas flores e velas acesas.
b) Os fumeiros, cachimbos dos Mestres, são preparados com tabaco
picado misturado com alfazema.
c) Jurema, funcho, cravo, casca de limão ou laranja, canela em casca são
preparados para a composição das misturas dos Mestres.
d) Todos se sentam à mesa e o Chefe inicia os trabalhos, com uma oração.
e) Então a mesa se abre cantando as seguintes linhas:
Bate asa e canta o galo
Dizendo Cristo nasceu
Cantam os anjos nas alturas Rei Nuino
Glória no Céu se deu
Glória no Céu se deu
Nas portas do Juremá
Abre e dê licença Sta. Teresa
Para os Senhores Mestres baixar.
Oh, minha Sta. Teresa
Pelo amor de Jesus
Abre a mesa e dê licença Sta. Teresa
Pelo irmão João da Cruz.
Por Deus eu te chamo
Por Deus eu mandei chamar.
(Mestre ou Caboclo fulano de tal).
Várias sessões foram gravadas na década de 1930 e posteriormente
avaliadas. As gravações foram feitas em nome de uma missão cristã.
Abaixo estão alguns trechos que descrevem aberturas rituais.

Mestre Luís Gonzaga Ângelo - João Pessoa (PB) — 19.5.1938

Em uma parte limpa do chão, colocaram uma mesinha de aproximadamente


50 cm x 1 m. Sobre esta mesa está uma toalha branca, quatro vasos com
mudas, um carboneto, um crucifixo, cachimbos, arcos, uma garrafa e um
copo (havia água ali. A polícia estava representada!). No chão, ao lado da
mesa, havia mais dois vasos de flores. Algumas pessoas amigáveis da casa
foram autorizadas a entrar e ficaram olhando. Cadeiras foram colocadas
para nós.
Quando todos estavam acomodados, o pessoal do Catimbó se posicionou
para trabalhar. A rainha, senhora do Catimbozeiro, sentava-se numa cadeira
colocada ao fundo do quintal olhando a casa. O Mestre ficou do outro lado
da mesa, de frente para a rainha, ladeado pelo secretário (...), os demais
circulando a mesa. A primeira coisa que fizeram foi acender os cachimbos
para a fumaça inicial. Essa fumagem é feita da seguinte maneira: quando os
cachimbos são acesos (cada um tem um) eles dão algumas baforadas e
depois, a um sinal do Mestre, invertem a posição do cachimbo para que a
parte por onde vai a fumaça seja colocado na boca. Soprando ao invés de
sugar a fumaça, ela sai pelo canudo. Parados e apenas movendo o tronco
para frente e circulando para os lados, eles tentam espalhar a fumaça assim
expelida por todo o ambiente. Fazem isso com um maracá (chocalho
tradicional) na mão esquerda e uma flecha pendurada no braço.
Depois de fumar, colocavam os cachimbos sobre a mesa, passavam as
maracás para a mão direita e então começavam as danças cantando as
primeiras linhas da mesa. A 1ª linha cantada foi:
Pelo sinal da Santa Cruz
livrai- nos Deus nosso Senhor
dos nossos inimigos, amém Jesus.
por um coro formado pela população total deste Catimbó: 11 vozes.
Dançam em roda e fazem o sinal da cruz segurando e apontando o maracá
com a mão direita. Quando filmamos esse detalhe da dança no Catimbó do
Mestre Luís Gonzaga houve um desentendimento, e o Mestre prendeu a
equipe de dança. Então eles se ajoelham e cantam, ainda com o maracá na
mão, o seguinte verso:
Mestre: Minha Santa Teresa, mi abri us caminhu
Coro: Eu venho da Jurema eu sô o mestri Malunguinho
Mestre: Minha Santa Teresa mi abri us portão
Coro: eu venhu da Jurema com meu sino salamão
Mestre: Minha Santa Teresa, minha Santa Isabé
Coro : mi abra esta mesa mais meu São José
(Comunicação inacabada)
Mestre: Minha Santa Teresa abre os caminhos
Refrão: Venho de Jurema, sou Mestre Malunguinho
Mestre: Minha Santa Teresa abriu o portão
Refrão: Venho de Jurema com meu sino de Salamão
Mestre: Minha Santa Teresa, minha Santa Isabel
Refrão: Abra esta mesa com meu São José
(comunicação inacabada)
Uma interpretação posterior do registro afirma:
Luís Gonzaga dá ao seu Catimbó o nome de Xangô, como se depreende da
lista de ervas medicinais anotada por Luiz Saia (não republicada nesta
publicação^ e do título Tuadas de Xangô, que encabeça os textos originais
das cantigas. Xangô é um palavra com que no Recife são designados cultos
fetichistas afro-brasileiros. Possivelmente esse batismo deriva do contato
que Luís Gonzaga Ângelo teve no Recife, um dos lugares onde aprendeu,
com cultos de origem africana. Esta é uma visível confusão popular de
nomenclatura , fato bastante observável em nosso folclore.
A julgar pelos cantos e pela descrição das cerimônias de abertura da mesa,
parece não haver ligação entre o Catimbó de Luís Gonzaga e os xangôs do
Recife. O parentesco prendeu-se apenas em elementos externos, poucos e
sem significado caracterizante do culto: no nome erroneamente adotado e
na referência a ele feita pela Toada do Caboclo Tupi; na existência de um
corpo de iniciados ou iniciadas — os discípulos, que caem em estado de
transe, presumivelmente semelhante aos Filhos-de-Santo das religiões afro-
brasileiras; numa espécie de movimento coreográfico, que parece contrastar
com a ausência de dança até então observada nos Catimbós.
A função curativa do Catimbó aparece na lista de ervas e coisas usadas para
fins medicinais. Pelo equipamento utilizado e pela geografia de seu mundo
sobrenatural, restam mais dois elementos que podem ser considerados
fundamentais para a caracterização dos cultos de inspiração indígena amer:
a importância mística e ritual da Jurema e o processo exorcístico e curativo
da defumação por meio do cachimbo. .
A sessão de Catimbó deveria se chamar “mesa”, nome dado por quem já
escreveu sobre o assunto. A palavra e as funções ligadas ao objeto por ela
designado, têm todos os indícios de serem levadas ao espiritismo. No
Catimbó, o centro da atividade religiosa é uma mesa, uma espécie de altar,
ao redor da qual ficam o Mestre e os iniciados. A importância da mesa e do
agrupamento em torno dela é idêntica no espiritismo, que dela deriva várias
expressões rituais: formar a mesa, presidir à mesa, etc.
O quadro de funcionários do Catimbó é composto pelos seguintes membros,
cujas funções não foram especificadas:
• Mestre
• Rainha/Secretária do Mestre / Secretária da Rainha - Queen/Master's
Secretary /Queen's Secretary - Possivelmente um dos três é o assistente
do Mestre no canto.
• Discípulos - Discípulos - Iniciados. Iniciantes. Aprendizes.
• Discípulos-Mestres - Mestres Discípulos - Roger Bastide ensina que
abaixo do Mestre “vem os Mestres-discípulos, em pequeno número,
que aprendem e, dentre os quais serão escolhidos os Mestres no futuro;
são seguidos, na hierarquia dos Catimbós, pelos discípulos. Como as
anotações de Luiz Saia não incluem os mestres-discípulos nem
explicam nada sobre o povo Catimbó, não é possível saber ao certo se
discípulos e mestres-discípulos são, neste culto observado, uma ou duas
categorias de iniciados ou iniciados.
As divindades adoradas são chamadas de Mestres. A seguinte lista de
Mestres invocados por Luís Gonzaga é extraída dos textos coletados:
• Mestra Antônia
• Mestra Filomena
• Mestra Lianôu (Leonor)
• Mestra Macis ou Nacis
• Mestra Maria da Luanda
• Mestra Sebastiana
• Mestre Caboclo Tupi
• Mestre Carlos
• Mestre Chocolate
• Mestre de Arruda
• Mestre Francisco Velho
• Mestre Heraqueto
• Mestre Jandaraí
• Mestre João Cigano
• Mestre Jose da Cruz
• Mestre José de Arruda
• Mestre Jose Severino
• Mestre Luís Inácio
• Mestre Maior do Dia
• Mestre Malunguinho
• Mestre Maraú
• Mestre Mariano
• Mestre Odilon
• Mestre Penduarana
• Mestre Periquitinho
• Mestre Santo Antonio
Há também referência aos seguintes santos católicos, invocados nas
canções de abertura: Santa Teresa, Santa Isabel, São José.
Conforme mencionado nos livros que tratam do Catimbó, os Mestres
parecem viver em um mundo sobrenatural dividido em reinos, estados e
cidades ou vilas. Além dos Mestres, divindades menores podem habitar
esses lugares, que eles regem, e que constituem uma espécie de falange de
espíritos. As falanges nomeadas nos textos são: Caboclos de Arubá,
Caboclos da Luanda.
Os cantos falam nos seguintes lugares míticos: Juremal. Cidade de Juremal,
Jurema Vauca, Vaiuca, Cidade do Bom-Floral, Luanda, Cidade de Luanda,
Maraú, As Quatro Cidades, Cidade dos Pássaros, Arubá, Torre da Jurema,
Bom-Passar, Poço-Fundo.

Iniciação
Diz-se que o processo de iniciação no Catimbó ocorre em três fases:
Confirmação, Consagração e Cimentação.
A iniciação no Catimbó é feita pelo juramento (“jura”), ritual onde o
iniciado se confirma como discípulo da Jurema e após alguma experiência,
recebe o cachimbo consagrado para seus trabalhos e evolução espiritual.
Após sete anos, o discípulo está pronto para passar pelo tombo, onde se
confirmará como Mestre/Mestra Juremeiro/Juremeira. A queda é um ritual
muito significativo e importante, pelo qual os Mestres do mundo espiritual
também passaram para ganhar ciência. Consiste na oferta de alimentos e
sacrifícios às correntes espirituais do iniciante (“correntes espirituais”), com
a queda dos discípulos aos pés da Jurema (perda temporária da
consciência). Depois de caírem, entram numa espécie de transe e quando
acordam estão prontos para trabalhar.

As Sete Ciências de um Mestre da Jurema


Cabe ao Juremeiro iniciante realizar sete trabalhos - adquirindo sete
ciências - por meio dos quais terá estruturado seu laboratório. Essas obras
são: Cachimbo (Cachimbo), Jurema (Vinho da planta sagrada), Maracá
(chocalho indígena), Rapé (rapé), Invocação, Evocação e Autodomínio –
são as sete primeiras obras do Santuário da Jurema.
O primeiro – o Cachimbo – exige que o aspirante vá até a floresta e, com
muita sensibilidade e intuição, encontre a árvore correta de onde extrair a
madeira para fazer seu cachimbo. A flauta é um instrumento sagrado cuja
simbologia resume toda a Ciência . Também simboliza a geração e criação
de todas as coisas, das mais densas às mais sutis. O cachimbo é um
instrumento que sintetiza e reúne, quando usado com sabedoria, o poder das
plantas, o poder do pensamento e o sopro da vida. Cachimbo é ação, é
proteção, é fumaça e é reflexo. Existem outros métodos para fazer
cachimbos e outros tipos de cachimbos – este, porém, é o que selecionamos
por considerarmos essencial.
A segunda obra – Jurema – é ao mesmo tempo um trabalho artístico e
alquímico: é poder (estar preparado, dentro de alta ciência, humildade e
reverência) manipular a Jurema e outras plantas para produzir bebidas
especiais que consideramos sagradas – remédios que iluminam a alma e a
mente; fortalecer e purificar o corpo.
O Maracá é um instrumento ancestral utilizado por diversas etnias, desde a
antiguidade até a contemporaneidade. O maracá, como ensinavam os
antigos xamãs, simboliza o mundo e o Universo. As sementes colocadas
dentro da cabaça ou cuité representam fartura, fartura, bem como alimento
material e espiritual que deve ser compartilhado entre irmãos e irmãs. O
caule é uma alusão ao Princípio Masculino, o Sol que fecunda a Terra com
seus poderosos raios de Luz. As penas representam nossos espíritos, que
devem retornar à nossa Terra de Origem após uma grande jornada realizada
neste e em outros mundos.
O quarto Trabalho, Caminho ou Ciência é o Rapé – partículas que, movidas
por um sopro especial, aspiradas, adquirem mais vida e atividade, passando
a circular muito sutilmente nos corpos mais densos do indivíduo, com
considerável repercussão astral e mental – assim purificando nosso
organismo, fazendo-o expulsar o que é destrutivo e abrindo caminho para
vibrações mais sublimes e elevadas. Quando nossos corpos estão
relativamente limpos (porque a limpeza mais profunda e firme que cabe ao
homem realizar, além da purificação de seus corpos, é a reforma moral),
passamos a sentir mais vivamente a presença tanto do nosso Eu Superior e
irmãos e irmãs. espiritual. Se voltássemos algumas décadas no tempo,
encontraríamos, no Nordeste brasileiro, muitos senhores portando uma
latinha ou um pequeno chifre cheio de rapé, feito de folha de fumo (ou
outra planta medicinal). Consideramos incorreto o uso do rapé por simples
prazer, sem qualquer intenção, consciência ou objetivo psíquico-espiritual.
Usá-lo dessa forma equivaleria a profanar a sacralidade e o trabalho das
plantas com as quais foi preparado.
O quinto aspecto menor de nossa Magna Arte está ligado à mediunidade. É
a Ciência de invocar e trabalhar com Mestres e Mestras, Índios, Caboclos e
Encantados através do contato mediúnico. Os catimbozeiros (aqueles que
praticam o Catimbó) que não carregam carma ou têm o dharma da
mediunidade, porém, podem realizar essa prática de forma semelhante,
estabelecendo contato psíquico com os Mestres, travando diálogos mentais
com eles. Para isso, é preciso estar DEVIDAMENTE PREPARADO para
não dar ouvidos a todas as vozes que possam se manifestar em nossas
mentes. Através dos médiuns e com os médiuns, os espíritos são
convidados a servir e trabalhar de acordo com os ditames e selos da Lei
Cósmica que tudo rege. Na Linha da Jurema (esta é uma das formas pelas
quais se conhece a amplitude vibratória e o plano evolutivo de nossa
Escola), vibram e evoluem em diferentes ritmos os espíritos de índios,
africanos, ciganos, judeus, cristãos e caboclos.
A sexta obra, atualmente adormecida, consiste em um conjunto de técnicas
outrora utilizadas por nossos grandes Mestres e Pajés para evocar espíritos -
métodos pelos quais entidades espirituais eram convidadas a se
manifestarem no plano físico para participarem dos antigos conselhos. Os
Magos indígenas, juntamente com as entidades evocadas, num intenso e
elevado trabalho que envolveu concentração, inteligência e vontade,
agregaram partículas relativamente densas ao redor dos corpos astrais dos
espíritos em quantidade suficiente para lhes servir de vestimenta
temporária. Tais vestes não eram compostas de plasma humano. Eram
alimentados, se necessário, por um Catimbó específico – a fumaça de
plantas especialmente selecionadas e preparadas para servir de portador de
energia – mais um certo segredo que não cabe neste livrinho.
A sétima e última tarefa, que é a mais importante de todas, é conhecer a si
mesmo. No caminho iniciático, o autoconhecimento é tudo – conhecer-se a
fundo é seguir em frente superando limites, caminhando rumo ao que há de
sublime e perfeito dentro e fora de nós, passo a passo, consciente e
progressivamente, superando limites e falhas conforme você ir. ao longo de
uma jornada sem limites, lapidando a pedra bruta, preparando o terreno
para, enfim, vivenciarmos o desabrochar do Mestre perfeito que realmente
somos.
Buscando se conhecer a fundo, você acabará conquistando a Auto-Mestria:
um Grau de Consciência no qual começará a comungar mais íntima e
vividamente com a Fraternidade Universal que envolve diferentes seres e
mundos. Terá chegado o tempo em que poderás, com perfeição, estando
encarnados ou desencarnados, orientar e auxiliar os irmãos menores - da
mesma forma como fostes instruídos e ajudados pelos que vos precederam.
Em sintonia com a Essência de todas as Tradições, você poderá viajar por
todas as culturas da Terra, conhecendo-as e reverenciando-as, sem
hipocrisia, o serviço prestado é mais importante que a roupa usada.
Harmonizados com a pureza do Amor Consciente, saberão respeitar e
orientar pacientemente, sem excluir ou menosprezar os espíritos; saberá ser
duro quando for preciso endurecer, mas estrategicamente, sem abrir
nenhuma centelha de ódio, vingança, rancor ou autoritarismo; e seja
divinamente gentil – nunca, no entanto, permissivo, promíscuo ou
licencioso. Você reverenciará corretamente a Criação e com ela todos os
seres, visíveis e invisíveis, que habitam o Cosmos.

Juremação e Tombo (Tombamento) de Jurema


Olha o tombo na Jurema
No Terreiro Juremar
Vou pedir força a meu Pai
Licença pra trabalhar.
Muitos Juremeiros dizem que “professor bom nasce pronto”; no entanto,
alguns ritos são usados para "fortalecer as correntes" e dar mais
conhecimento mágico-espiritual aos discípulos. O ritual mais simples,
porém de “muita ciência” é conhecido como “Juremação”, “implantação da
semente”, ou “Ciência da Jurema”. Este ritual consiste em plantar no corpo
do discípulo, sob sua pele, uma semente da árvore sagrada. Existem três
procedimentos para se chegar ao "juramento" dos discípulos. Na primeira, o
próprio Mestre espiritual é o responsável pela implantação da semente. Este
Mestre promete ao discípulo e depois de algum tempo, misteriosamente, a
semente aparece em qualquer parte do corpo. Um segundo procedimento é
aquele em que o líder religioso (o Juremeiro) realiza um ritual especial,
onde dá a seus afilhados a semente e o vinho da Jurema para beber. Após
este rito, o iniciado deve abster-se de relações sexuais por sete dias
consecutivos, durante os quais deve ser levado em sonhos por seus guias
espirituais para descobrir as cidades e vilas onde residem. Ao final desse
período, a semente ingerida deve reaparecer sob a pele. Caberá também ao
iniciante contar ao seu iniciador o que viu em sonho para que ele reconheça
ou não a validade de suas jornadas espirituais e, portanto, do juramento.
Num terceiro procedimento, o Juremeiro implanta a semente da Jurema, por
meio de um corte feito na pele do braço.
Existe também, geralmente concomitante à ciência da Jurema, um ritual
conhecido como “Ciência do Cachimbo”. Este dará força ao iniciante em
seus "tubos". Tal “ciência” se dá através da baforada invertida do cachimbo,
onde a fumaça é lançada pelo cachimbo do mesmo, diretamente na pele do
braço do iniciante, até que o calor queime o local.
O "Tombo de Jurema" é o processo pelo qual muitos dos Mestres, que agora
estão no mundo espiritual, passaram para adquirir "Ciência". Eles "caem"
no pé da Jurema e quando acordam estão prontos para trabalhar. Foi o caso
do Mestre Carlos, famoso por seu dom de cura nas mesas de Jurema por
todo o Nordeste.

I
Ôh de casa Ôh de fora,
Quem é que me bate aí?É Jesus, Nossa Senhora
As portas me vão abrir.

II

Ôh de casa Ôh de fora
Louvado seja meu Deus!
Com Jesus, Nossa Senhora
Mestre Carlos apareceu.

III

Mestre Carlos é um bom Mestre


Que nasceu sem se incinar
Três dias levou caido
Na rama do Juremá
Quando se levantou
Foi Mestre prá trabalhar.

( “Jurema de Mesa” - Mesa Jurema)

Porém, nos Terreiros “modernos”, o rito era muito mais complexo do que a
sua referência mítica. O tombamento consiste, então, na oferta de alimentos
e sacrifícios às correntes espirituais do iniciante. Nela comem-se Caboclo,
Mestre, Mestre, Exu e Pomba Gira do iniciante (sincretismo com o
Candomblé e a Umbanda – o Catimbó tradicional não sacrifica e não
conhece estes últimos guias espirituais). Ocorre também o juramento, com a
implantação da semente através do corte na pele e a jornada espiritual. A
viagem deve ocorrer no período entre a oferenda dos sacrifícios ao Caboclo
e o preparo dos alimentos oferecidos em banquete ritual. Ainda durante o
sacrifício, o iniciado é levado, durante o transe, para “governar as cidades
espirituais”. O interessante e peculiar desse transe é que os adeptos
acreditam que enquanto a pessoa (Ego) é levada para realizar a jornada
espiritual, o Caboclo permanece no corpo do iniciante. Terminado o
sacrifício, prepara-se a carne dos animais, e dividem-se as frutas e comidas
oferecidas aos encantados. O Caboclo alimenta-se com uma pequena
porção de tudo o que é oferecido. Terminada a festa, o Caboclo é então
enviado de volta à sua cidade e o filho deve contar ao iniciador o que viu.
Se a sua viagem for considerada válida, são feitos sacrifícios às outras
entidades: o Mestre, o Mestre, o Exu e a Pomba Gira. No dia seguinte, em
festa animada, o Caboclo, vestido a caráter, deve, como na iniciação do
Candomblé, gritar seu nome e cantar sua cantiga. O Iniciante também
poderá vestir as demais entidades a quem "alimenta". A riqueza desse ritual
completo está intrinsecamente ligada às condições financeiras do iniciante.
ERVAS E MEDICINA
TRADICIONAL

Introdução
Antigamente, os xamãs eram guias espirituais e naturopatas. Assim, a cura
estendeu-se a todas as áreas de cura do corpo, mente e alma. Muitos
fitoativos e formas de aplicação foram adotados pelos jesuítas (por
exemplo, na chamada Garrafada ). Embora o foco dos Catimbós seja o
"ritual, a cura espiritual do espírito", não se deve esquecer o lado
complementar dos fitofármacos da natureza. Os xamãs eram curandeiros
sábios com grande conhecimento do funcionamento da natureza.
Infelizmente, muito desse conhecimento foi perdido. E muitas coisas não
podem ser usadas na Europa por motivos legais, e é por isso que listamos
abaixo apenas um pequeno trecho das formas de aplicação e das plantas
medicinais tradicionais. Certamente existem muitos milhares dessas plantas
medicinais.
As seguintes listas e "receitas" são baseadas em duas fontes:

1. A Elaboração do Cascudo em Meleagro. Porque é o disco mais


antigo.
2. Os ingredientes do Theriaca Brasilica , o theriac brasileiro.
Porque esteve em circulação por volta de 1650 até por volta de
1850 e substituiu sistematicamente a medicina européia pela
medicina sul-americana. Foi projetado e fabricado por jesuítas
radicados em Salvador da Bahia. Portanto, pode-se supor que
os jesuítas cientificamente muito avançados usaram plantas
indianas essenciais. Assim, essas ervas, cascas, flores, raízes
certamente estão ancoradas há muito tempo e principalmente
na região dos Catimbós.
Se você deseja implementar o Catimbó na versão original, deve se ater à
naturopatia indígena do Nordeste. Muitas receitas mais recentes,
especialmente os banhos de umbanda e as garrafadas de todo o Brasil,
pouco têm em comum com os conceitos originais.
Os “Mestres” do Catimbó, ao contrário dos “médiuns” espíritas, não
prescrevem remédios homeopáticos. Preferem a “ciência do pajé”,
utilizando sementes, cascas e raízes, folhas, galhos, flores, preparados por
eles ou indicados por assessoria técnica para o preparo de cocção,
defumação, lambedura (calda – “xarope”), chá , reboco ( emplastro ),
fricção ( fricção ), banho, fumigação, etc.
Em vinte anos, 1928-1948, o Catimbó passou por diversas mudanças em
suas receitas. O antigo nome desapareceu, mas pouco ou nenhum novo
surgiu. O óleo de palma que foi pingando nos quatro cantos da casa não é
mais usado, mas apenas a água usada na cerimônia de “fechamento do
corpo”. O cigarro de palha Tauari (Curataria tavary) nem sempre é fumado
pelos Catimbozeiros. Antigamente havia uma exportação maior de Tauari
do Pará, onde é indispensável em Pajelança. Liamba (Cannabis indica),
Diamba , Maconha , Macumba , Pango , Cânhamo , é fumado fora do
Catimbó. Nunca encontrei um “mestre da mesa” fumando maconha. O óleo
foi recomendado como afrodisíaco, mas não encontrei um endosso nos
últimos dez anos.
Aqui menciono a farmacopeia de origem vegetal e não incluo os amuletos,
registrados quando estudo o mau-olhado e o “ quebranto ”.
Remédio contra magias adversas é o banho de aromas, obtido pela infusão
de plantas aromáticas, possuidoras de virtudes purificadoras. A tradição do
banho purificador é universal e sagrada. A preparação cerimonial começa
com ele. Variam as plantas escolhidas, o modo de preparo da mistura, os
ingredientes auxiliares, aguardente, vinho, fio de ouro, areia de
determinados lugares, rezas, benzimentos, juramentos, horário da
cerimônia, obrigações durante e após o ato. Em África e na Ásia, na Europa
e na América, ilhas dos mares do Sul, o banho aromático é uma constante
etnográfica. No Pará e no Amazonas, o banho de cheiro é atualmente
comum e sempre um remédio contra azar, peso, caiporismo , panema .
Possível é a origem oriental dos banhos com essências vegetais. É um
refinamento denunciando hábitos já distantes do primitivismo tribal. Uma
característica do banho de aroma é ser preparado com água morna ou
quebrada a frieza. Para o trabalho necessário, não seria fácil nos tempos
comuns da selva. Só a função religiosa explicaria satisfatoriamente.
Nos Candomblés da Bahia, o banho de cheiros aparece, mas
presumivelmente trazido por africanos arabizados ou por terem sofrido a
influência desse contato. Em Portugal, são conhecidos os banhos mornos,
perfumados com alfazema e manjericão. Na iniciação das Iaôs, filhas-de-
santo, destinatárias dos Orixás no culto Gegê-Nagô, há um banho aromático
cujas ervas são conhecidas apenas pelo pai ou mãe-de-santo. Para os negros
do Haiti, fiéis ao culto do vodu, tomar banho com folhas perfumadas é um
ritual. Entre os Uananas, do rio Uaupés, no rio Negro, a festa da
menstruação, Kamon numian kosõa, banho de sangue da donzela, exige
ervas aromáticas, especialmente a ablução em água da casca do japacanim,
Parkia oppositifolia . Al redo da Matta, Vocabulário Amazonense, assim
registrou o Banho de Cheiro : "Frase bastante conhecida na Amazônia, e
popularizada em quase todo o Brasil para indicar os banhos aromáticos,
em especial os das festas joaninas , a que se juntam ervas e cascas , flores e
essências e resinas, com os melhores augúrios populares porque têm o
poder de conservar a felicidade, afastar o caiporismo , destruir problemas
ou reconquistar os favores da sorte . " urucubacaão ", voltará aos bons
tempos do passado, no amor, nos negócios... sob a benéfica influência do
banho perfumado.”
Na Europa o costume é secular, fazendo parte do cerimonial infantil. Os
primeiros banhos eram aromatizados com alecrim, alecrim, alfazema, etc.,
não só para o fim imediato do bom odor mas, essencialmente, para
distanciar as bruxas e as suas maldades.
O que são ervas de banho perfumadas? Eles usam sete ervas, um nome
genérico para os arbustos: rue, ale crim, manjericão, malva-rosa, vassoura,
malva branca, manjerona. Outra receita: manjericão, erva-cidreira, capim-
limão, hortelã, lavanda, mangirioba e fedegoso . Cortadas em pedaços, as
ervas são fervidas e a água é coada, servida quente. Banho de cabaça, sem
pressa. Depois, esfregue conhaque ou água de colônia. A cabeça é banhada
primeiro, depois o pé direito, depois o esquerdo. Primeiro, eles umedecem a
testa (têmporas), pulsos, peito e pés.
Remédios tradicionais
A mais famosa é a “Sete Missas” ( 7 Missas ). Era um segredo ciumento
dos Catimbozeiros, custando dinheiro para preparar. Ninguém, ou pessoa
rara, sabia de sua fabricação. No Nordeste, são citados casos de cura, ou
foram quando eu era menino. Curou feridas, “reima do corpo”,
consequência da “Doença do Mundo”, a sífilis. Aqui está a receita. Meu pai
conseguiu há cerca de cinquenta anos, e estava escondido e difícil como
dinheiro no chão:
100 gramas de raiz de salsa; 100 gramas de carimã ; 100 gramas de arroz
branco; 100 gramas de açúcar branco; duas oitavas de sena; uma oitava de
cristal mineral (nitrato de potássio ou nitrato de prata) e meia oitava de
mercúrio doce (cloreto de mercúrio). Rale cada substância separadamente,
passando em um pano fino. Em seguida, misture tudo, virando para que a
mistura fique completa. Tome duas colheres de sopa por dia, de manhã,
com açúcar mel. Depois de tomar o remédio, o paciente imediatamente lava
a boca e vai para o banho frio. Se houver reação forte, febre, suspenda o
banho. Ele não vai comer peixe, pinhas (minutos) ou beber leite.
Chá de barata - Para cólicas intestinais, o chá de barata é um verdadeiro
milagre. Nunca deixou de ser eficaz. Assam-se as baratas no fogão,
borrifam-se e faz-se o chá, bebido com açúcar e sem ninguém saber do que
era feito.
Chá de grilo - Usado para reter a urina. O críquete é muito poderoso.
Ninguém resiste ao chá de um grilo inteiro. Eles pegam um terço, até um
adulto. Se você pegar o grilo inteiro, vai de anúria a poliúria. Pegue o grilo
e cozinhe a terceira parte. Este caldo com açúcar é bebido, mas a força é
ignorar que tipo de remédio é tomado. Não há diurético que você possa
medir com chá de grilo.

Fumigações & Defumações – Fumigations &


Smokes
Eles não são recomendados como remédios, mas sempre como uma defesa
contra o mau-olhado. Feitiço, forças opostas, inimigos fortes, etc. A
fumigação individual e a defumação doméstica são processos de feitiçaria
européia e universal. Usam as mesmas ervas do banho, alecrim, manjericão,
cravo seco, calipe (eucalipto), incenso. O Mestre raramente é o fumante.
Receita e cumprir sem suas miras. Ele pessoalmente fumar é uma honra ou
prestígio. As plantas, folhas, raízes, transformadas em fumaça, afastam as
“forças contrárias” que atuam no ar. Todos os antigos deuses gregos e
romanos, o onipotente Jeová, recebiam assim os sacrifícios. Respirar a
carne e a gordura dos holocaustos. Odoratusque est Dominus odorem
suavitatis. O Senhor sentiu um cheiro doce...
Um dos processos tradicionais no Catimbó é a fricção aromática ou Cauim,
aguardente com Jurema, soprada pelo Mestre. Não consegui descobrir se
existe um nome especial. Comumente, após a confissão de “atraso”, as
dificuldades, a impressão de que alguém estava atrapalhando o consulente,
Germano ou Zinho, Libera ou Dudu, concentravam-se, declarando que o
inimigo ia ser combatido e o amigo defendido inteiramente. rezas
silenciosas, ou rezas pouco críveis, o Mestre esfregava as “partes fracas”, as
“entradas” do cliente com cachaça e as curvas da perna e braço, pulso, testa,
pescoço. E olhos, sobre as pálpebras, narinas, boca e orelhas. Quando pedi a
defesa simbólica de outra e obscura saída corporal, Zinho respondeu que
“vai lá fora e não dá errado”.

Unguentos - Pomadas e outros procedimentos


Pulsos, orelhas, pescoço, jarretes, têmporas, narinas, lábios são
ornamentados universalmente. Há certamente, escondido no instinto da
ornamentação, do belo ornamento para fixar a atenção da fêmea e manter
uma elevação com os companheiros, um elemento sagrado da magia
defensiva, o amuleto que fecha e impede o acesso da força adversária, feito
fumaça ou simples. aroma por oposição à ciência. Dissipou-se, lentamente
diluído pelo tempo, a explicação sagrada da decoração, grilhões, tembetás ,
brincos, anéis, pulseiras, grilhões, ossinhos, pedras verdes, penas, espinhos,
ramos, diademas, coroas, faixas, apenas o aspecto externo do elemento
ornamental, ornamento, ação exotérica de Bonito.
Inicialmente, pedras coloridas ou de formato original, brotos de vegetais,
frutas secas, conchas, dentes, élitros visíveis, penas de cores vivas, ossos de
pássaros, pregos, serviriam como “guardas”, vigias defendendo as
“entradas”. , boca, narinas, olhos) e os "pontos fracos", jarretes, punho,
têmporas, pescoço, curva do cotovelo, região poplítea, dispostos em fios,
diretamente nos locais ameaçados pela invasão invisível de espíritos
imponderáveis e agressivos à distância. pontos sensíveis eram esses e ali se
estendia o cordão isolante da força fiel, disfarçado em enfeites, camuflado
em enfeites, colares, anéis, braceletes, diademas, pulseiras.
É uma reminiscência da Astrologia. As sete entradas eram presididas e
defendidas pelos sete planetas, Saturno e Júpiter as orelhas, Marte e Vênus
as narinas, o Sol e a Lua os olhos e Mercúrio a boca. Dos “pontos fracos”
há uma referência rápida no Prof. Roger Bastide, Imagens Do Nordeste
Místico, 104, Rio de Janeiro, 1945. Descrevendo a sessão fúnebre do
“axexê”, homenagem ao terceiro dia da morte de um mãe-de-santo, escreve:
“É porque o espírito da morta está presente, ou virá quando invocado; É
necessário, portanto, fechar os pulsos, que são a parte mais frágil e
permeável do corpo, para evitar que penetre no interior dos seres vivos.”
Para as pálpebras e cílios foi aplicada a pomada mágica, impedindo a
penetração adversa. Poderia ser explicado aos não iniciados que o líquido se
destinava a embelezar os olhos de mulheres ou homens. O verdadeiro foi a
estratégia astuta da decoração, escondendo as armas da legítima reação.
A teoria justifica a pequena venda de pedacinhos de Jurema, bentos,
caroços de frutas irreconhecíveis pelo “preparo” que os Mestres fazem aos
fregueses com a finalidade de passar amuletos, usados por algum tempo no
pescoço, pulsos ou dobra do joelho , além dos atritos imediatos e locais.
Nenhum “Mestre” de Catimbó que se considere um “ sabente ” (aquele que
sabe) permite que uma gota de seu sangue ou de seu escarro seja
descoberta. Onde quer que caia a gota de sangue ou fique o escarro, são
cuidadosamente cobertos com areia ou espalhados com o pé ou fricção de
papel de jornal. Alguns cuspiram em pedaços de papel, enrolando-os e
guardando-os para serem destruídos quando chegassem em casa. O temor
era deixar uma parte tão ativa da própria substância vital ao alcance da
"obra" do inimigo, entregando elementos preciosos e decisivos para que um
rival inutilizasse seu trabalho e sua vida.
Do sangue entende-se o poderoso simbolismo. Deuteronômio ainda o
chama altamente: o sangue é a alma, XII, 23. É o movimento, o impulso, a
velocidade inicial. Eliphas Lévy, o mágico, explicou: C'est le substratum de
la lumière vitale materialisée. II est fait d Vimage ei d la semelhança de
1'infini, e mais belezas neste diapasão. A saliva não está longe dessas
honras supremas.
Saliva vem do latim sal, salis, do grego ais, sal. Vos estis sal terrae, disse
Jesus Cristo aos Apóstolos (Mateus, V, 13), e sempre se referiu ao sal em
linguagem simbólica (Marcos, IX, 49, Lucas, XIV, 34). Sal é conservação,
durabilidade. Com sangue e fôlego, ele resume a vida humana na tradição
popular universal
Em todas as fábulas do mundo, a saliva é um elemento capaz de representar
ou substituir o ser humano, pelo menos a voz humana. É conhecida a
história brasileira em que a mãe, ao sair de casa, deixa sua saliva para
responder às perguntas capciosas do bicho noturno para ela.
Entre os Nadas, foi com saliva que Xquid concebeu. Numa lenda, que
Barbosa Rodrigues coletou no Rio Negro sobre a gênese do Serpentário,
Mboia-Açu , encontramos a Cobra-Grande nascendo de uma Rowan (Cuma
utilis), onde havia um cabelo humano. A Mãe, para se livrar do monstro,
deixou-o subir numa sorveira-brava e enfiar a ponta do rabo numa casca de
sorveira-brava, cheia de saliva. A Mãe fugiu, e a Cobra Grande estava
gritando por ela, esta manhã! esta manhã! minha mãe! minha mãe! e a
saliva respondeu uh! uh! Não encontrando sua mãe, a serpente a procurou
no rio e então ascendeu ao Céu! Lá ela brilha com suas estrelas radiantes.
Brandão de Amorim registrou, na tradição guerreira de Buopé, o grande
cacique do rio Uaupés, afluente do rio Negro, Amazonas, o episódio em que
o herói encheu de saliva um funil de folhas e o jogou no rio. ''Então ele põe
chamar novo, chamar gente pra esse aqui através da pajeçagem dele.
Nos Evangelhos, a saliva ocorre em várias passagens como veículo
terapêutico. Para curar o surdo-mudo da Decápolis, Jesus Cristo o tocou,
com os dedos untados de saliva, nas orelhas e na língua. (Marcos, VII, 33.)
O cego de Betsaida recuperou a visão da mesma maneira. (Marcos, IX, 23.)
Um cego de nascença teve o mesmo processo. Somente Jesus molhou um
pouco de areia com sua saliva. (João, IX, 6.) Portanto, na cerimônia do
batismo católico, o padre toca as orelhas do catecúmeno com dedos
salivantes, dizendo: Ephpheta, quod est, adaperire. O verbo Ephpheta
corresponde ao latim squeeze, abrir.
Para o Oriente, a saliva aplicada por um homem predestinado curava a
cegueira e a mudez. Suetônio (Vespasia no, VII, 416) e Tácito (História, liv.
IX, LXXXI, 308) contam o mesmo caso. Vespasiano foi abordado por um
cego em Alexandria dizendo que sonhou que recuperaria a visão se o
imperador tocasse seus olhos com saliva. Vespasiano recalcitrava-se para
acabar por se submeter ao desejo e assistia surpreso ao milagre ou à
vitoriosa decepção do egípcio.
Entre os habitantes do interior do Brasil, a superstição permanece segura e
natural. O automatismo do gesto mostra sua ancestralidade no espírito
coletivo. No sertão nordestino, assisti centenas de vezes às cenas rituais que
se seguiam à simples emissão de escarro. Eles imediatamente o cobriram
com areia. Se a saliva fosse exposta, o Demônio poderia assumir a forma de
uma mosca e "fazer mal". Esta Mosca Demoníaca lembra Baalzebut, ídolo
dos filisteus, levado com o sangue das oferendas e constantemente coberto
de moscas. É o Deus Voador. de folcloristas e mitógrafos ingleses e
americanos.
Entre os hiperbóreos, convenção que engloba as pessoas que vivem ao norte
do paralelo 55, a saliva tem a mesma superstição. Para eles, a saliva está tão
impregnada da personalidade humana e a identifica de tal maneira que não
há melhor intérprete ou projeção individual mais legítima. Lubbock49
relata que se sentem insultados quando recusam os pedaços de carne,
pacientemente lambidos e saturados de saliva, oferecidos aos ilustres
convidados.
A saliva é uma das melhores expressões do indivíduo, pois pode conter uma
parte essencial do espírito vital, que, entre os nativos das Ilhas Marquesas,
quando o feiticeiro consegue obter um pouco de saliva de alguém e a
guarda em um pedaço de papel ou folha, é a própria vida e a alma do
paciente que estão em perigo, escreve o padre Matias Gracia.50 Por meio
de oferendas e presentes, o feiticeiro liberta o doente ou o ameaçado de
morte inevitável. A cerimônia consiste em o feiticeiro pegar do ar o gênio
que preside a doença e prendê-lo na mesma folha ou pedaço de papel em
que está contida a saliva.
Misturar areia e saliva para fins medicinais era corrente na universalidade
das superstições há dois mil anos. Os curandeiros sertanejos do nordeste do
Brasil colocam a cobra na boca do animal mordido pela cobra e o salvam.
Em Augusto Severo, no Rio Grande do Norte, o negro Antônio Gambeu
ficou famoso por essa especialidade.
A saliva é a materialização da respiração, a respiração, índice e forma
inicial de vida em animais pulmonares.
Respiração, respiração, respiração, é outro elemento do Catimbó,
proveniente de religiões e técnicas universais. O Manitu dos Algonquins
norte-americanos, o Grande-Espírito dos Redskins, ou seja, "respiração",
respiração, respiração... É a essência da vida organizada. É bem
compreendida a exigência de seus guardas e sua força comunicativa
mágica. Como remédio, respiração e cuspe vivem no Brasil e em Portugal.
A Bíblia inteira atesta que o sopro de Jeová, Yahweh, foi a fonte da
existência humana.
No Catimbó, como em todo espírito popular, permanece inalterado o crédito
na ação dos AR, bons e maus, naturais, trazendo saúde, ou cheios de forças
contrárias acionadas pelos “inimigos”. A sensibilidade do Mestre o autoriza
a dizer que “o ar está carregado” em sentido meramente social ou mágico.
Toda doença tem seu AR, que não é a aura, o halo anunciador, mas a
essência, o substrato com todas as características reconhecíveis. Quando um
consulente procura o Catimbó, em especial o Catimbó das Rezadeiras, sem
maiores invocações aos “Mestres do Além” e sem a necessidade de “abrir a
mesa”, o primeiro gesto é a busca clínica, a certeza do diagnóstico pela caça
de sinais. . Um a um os "ares" vão passando, doença por doença,
inconfundíveis naquela semiótica misteriosa e primitiva. sofrendo de ar de
gota, ar de reumatismo, ar incausado, ar de quebrantamento, vinte outros
nomes que vivem muito bem dos cânticos e rezas da feitiçaria secular
portuguesa. Duarte Madeira, o “ramal aéreo”, o “ar que deu”, um dos mais
inabaláveis na memória do povo, “doença aérea”, “sopro aéreo”, “ar
malino”. Floor, enumerando as doenças que encontrou no Brasil Holandês,
nomeia o AR: Eum Lusitani apelante Air. Não só o Catimbozeiro é fiel ao
miasma, mas também a exalação deletéria trazendo todos os males, pois
ensina que o AR, corpo e veículo, transporta e age assim que uma força
disciplinar pode impeli-lo para o bem ou para o mal. Espíritos e seres
incorpóreos, imponderáveis, só podem viver e exercer um ato de impressão
sensível no ar. Mestre Zinho, sacudindo o braço em movimento circular e
brusco, disse, convencido da informação: está tudo aí, tudo, tudo, indicando
a atmosfera. O espaço era o reino, e as “forças” eram os seres, agindo com
o ar e através do ar.

O Rapé
Introdução ao rapé Rapé
Medicina sagrada utilizada há milhares de anos por diversas tribos
amazônicas, o Rapé é uma ferramenta poderosa para acalmar a mente e
conectar-se com a essência do universo. É constituído principalmente por
tabaco finamente moído e peneirado, cinzas de cerimónias de fogo e outras
plantas sagradas que determinam a sua própria alquimia. O resultado é um
pó muito fino e picante no qual se encontram os cristais das diversas
plantas.
Embora cada receita de Rapé seja composta por diferentes botânicos, com
algumas exceções, o tabaco de avô está sempre presente, ajudando a
organizar, integrar, equilibrar e alinhar os demais ingredientes a um
desígnio específico.
O tabaco (Nicotiana tabacum ou Nicotiana rustica) é uma "planta mestra"
que pode ser encontrada em todos os continentes da Terra e está associada
ao homem desde os tempos antigos. Acima de tudo, porém, o tabaco
oferece um acesso único ao espírito e ao universo. Por esses motivos, o
tabaco é considerado o mais importante entre as plantas dos Mestres, como
um maestro regendo uma orquestra.

Efeitos e Propriedades
As variedades de Rapé com predominância de cinzas são de cor mais clara
e tonalidade acinzentada. Associados ao elemento ar, têm um efeito mais
estimulante e destinam-se a situações em que queremos elevar-nos a um
nível superior de consciência e conectarmo-nos com o subtil e o divino.
Essas cepas são geralmente mais adequadas para iniciantes do que outras.
As variações com predominância de tabaco são mais escuras e
acastanhadas. Eles são atribuídos à terra e têm um efeito calmante. Servem
para conectar com as raízes, as profundezas, os ancestrais. Essas cepas são
recomendadas para usuários mais experientes.
Entre esses dois extremos, existe uma ampla gama de variações, cada uma
com seu próprio caráter e nuances que determinam se o Rapé sagrado tem
cura, concentração, poderes bélicos ou outras conexões. Algumas
variedades de Rapé recebem o nome das tribos que as utilizam, como
Yawanawa, Nukini, Manchinery ou Katukina.

Uso adequado
O Rapé Xamânico é uma medicina milenar, ancestral, cujo consumo
adequado nos traz cura, força e conexão com o universo e com nós mesmos.
Para que continue sendo uma ferramenta de cura e não se torne uma prática
autodestrutiva, aborde o Rapé com intenção pura, muito respeito e a
compreensão de que fazer Rapé é um processo de aprendizado.
Em nosso mundo ocidental, há tendências para negligenciar o propósito
sagrado e medicinal do tabaco Rapé, levando ao seu uso abusivo para
consumo superficial em contextos sociais inadequados. Usado
corretamente, o Rapé é um aliado e companheiro maravilhoso. Portanto,
quando compramos o Rapé, devemos nos certificar de que o estamos
devolvendo ao seu lugar como um antigo remédio para o corpo e a mente.
No caso do Rapé, o uso adequado é medido pela qualidade da ingestão e
não pela quantidade. A pessoa respeita seu caráter sagrado, faz uma oração
inspiradora e sempre estabelece uma intenção pura.
Excesso e extremos geralmente não são bons remédios. No início de uma
relação com o Rapé, é comum sentir uma vontade intensa de tomar uma
dose várias vezes ao dia e explorar e sentir seus efeitos físicos.
Isso não é um problema se houver uma correta aplicação do ritual, pois com
o tempo a relação vai se equilibrando e o aprendiz passará a valorizar os
efeitos energéticos e espirituais sobre as sensações físicas e passará
naturalmente a utilizá-lo, quando o espírito assim o exigir. No entanto, no
xamanismo tradicional, o Rapé nunca é feito sozinho e sem a orientação de
um Pajé .
História
O monge Ramón Pane, que acompanhou Colombo em sua segunda viagem
à América em 1493, observou que os nativos da região que hoje
corresponde ao Haiti consumiam tabaco através de um caniço, e o mesmo
costume era observado pelos portugueses entre os nativos do Brasil.
Encomendado por Filipe II, foi o médico e botânico Francisco Hernández
de Boncalo quem, em 1577, trouxe para a Europa as primeiras sementes de
tabaco, que foram plantadas nos arredores de Toledo.
Em 1561, o embaixador francês em Lisboa, Jean Nicot, enviou rapé a
Catarina de Médicis, esposa do rei Henrique II da França, como remédio
para as enxaquecas de seu filho. Ela se apaixonou por esse tabaco em pó,
que se tornou popular entre a elite como um agente medicinal e relaxante.
Logo foi consumido pelas classes abastadas da Europa porque o tabaco, em
todas as suas formas, era um artigo de luxo na época.
No século 18, o rapé tornou-se uma moda difundida entre a aristocracia
européia. Fumar tabaco era destinado às massas, e o consumo de rapé
tornou-se o maior costume e ritual social na classe média e nos círculos
aristocráticos da Europa.
No início do século 20, na Inglaterra, fumar era apenas nos bares da classe
baixa porque a aristocracia podia pagar pelo rapé, que usava
exclusivamente. Assim, o rapé tornou-se gradualmente um atributo
inseparável da nobreza. Luís XIII, Carlos II da Inglaterra, Frederico, o
Grande, Guilherme III. e sua esposa, Napoleão, George III. e sua esposa,
Bento XIII. e muitos outros aristocratas eram usuários regulares de rapé.

Uso tradicional
Rapé é uma medicina sagrada e uma ferramenta muito poderosa. O uso
sagrado do Rapé não causa dependência; uso indevido é outra história. Para
evitar que a relação com o rapé se torne um vício, é aconselhável seguir
algumas orientações para manter a santidade e a salubridade do rapé:
• Para tomar este antigo remédio uma vez deve ser receptivo, calmo e se
concentrar em uma bela oração ou intenção positiva.
• A atmosfera e o cenário têm um grande impacto na experiência de
ingestão. O local ideal para tomar Rapé é na natureza ou um espaço
sagrado e tranquilo, com cantos ou músicas de vibração apropriada;
isso permite experimentar os efeitos do Rapé em profundidade e entrar
em um estado contemplativo.
• Segundo a tradição – Rapé nunca usado sozinho, nunca em público,
nunca sem a orientação de um Pajé e sempre incorporado a rituais
sagrados em locais sagrados.
• Às vezes não é recomendado tomar Rapé ao sol, principalmente quando
a exposição solar é mais intensa.
• Não é recomendado pegar emprestado as ferramentas de aplicação,
principalmente o kuripé, a não ser que seja uma pessoa que toma Rapé
e em quem você confia plenamente.
• Para receber o remédio uma vez deve estar receptivo e em silêncio
interior.
• No momento da infusão, prenda a respiração e feche a glote como se
estivesse mergulhando na água para evitar que o Rapé entre na garganta
e nos brônquios.
• Imediatamente após a instilação, respire pela boca, não respirando pelo
nariz por alguns segundos, para evitar que o rapé desça pelas vias
respiratórias na forma de poeira.
• Tenha uma garrafa de água e papel à mão para assoar o nariz, se
necessário (espere pelo menos alguns minutos após tomar). Se você
acha que vai ficar com sede, é melhor beber água antes de tomar Rapé.
• Não coma imediatamente antes de tomar o Rapé, pois quando o
medicamento é forte, pode "incomodar" o estômago e causar vômitos.
Se você acha que o medicamento vai fazer você vomitar, fique perto de
um local apropriado de fácil acesso.
• Certifique-se de que, se possível, ninguém interrompa seu momento
contemplativo quando você estiver particularmente sensível.

Rapé Kuripé Rapé (exemplo)


Utensílios de consumo: o tepi e o kuripé
O Rapé é infundido por bolhas (nunca aspiradas ou inaladas) usando uma
ferramenta chamada tepi ou kuripé. É soprado em ambas as narinas e
equilibra os dois meridianos de energia do corpo; o lado direito ou yang
está associado ao masculino ou racional e o lado esquerdo ou ying ao
feminino e intuitivo. Portanto, deve ser aplicado sempre nas duas aberturas
para que os meridianos energéticos fiquem alinhados.
Os aplicadores de Rapé são instrumentos xamânicos sagrados constituídos
por um tubo, geralmente feito de bambu ou osso. Existem dois tipos deles,
um para uso pessoal e outro para injetar Rapé em outra pessoa:
O kuripé, ou auto-lançador, é um pequeno tubo em forma de V que liga a
boca à narina e serve para a ingestão individual do Rapé.
O "tepi" é um tubo mais longo que outra pessoa usa para soprar ou infundir
o recipiente com o Rapé.

Soprando o rapé
Existem vários tipos de sopro que podem ser utilizados, variando em
duração, intensidade e acabamento. O método de sopro e nossa ligação com
a medicina influenciam muito no efeito do rapé Rapé. Choques muito
fortes, muito fracos ou intermitentes devem ser evitados, pois não são bons
nem para o doador nem para o receptor.
Quando usamos o Rapé, devemos ter em mente que o que entra em nós são
as plantas sagradas da montanha, da floresta e os espíritos curadores da
floresta amazônica. Por isso, é sempre bom respeitar o tabaco sagrado e
todas as energias ancestrais da Amazônia e da natureza.

Dosagem de Rapé
A dosagem adequada depende do tipo de rapé Rapé, da pessoa que o recebe
e da própria situação. No Brasil, os indígenas estão acostumados a tomar
grandes quantidades de Rapé de uma só vez. É impressionante a quantidade
de Rapé que os nativos colocam na ponta de um tepis, e a capacidade do
receptor de pegá-lo sem vomitar ou desmaiar. Em uma cerimônia de
Ayahuasca ou uma rodada de Rapé, é normal usar doses maiores do que em
momentos mais mundanos.
Para o iniciante, é melhor começar com pequenas quantidades e ir
aumentando conforme for ganhando confiança e aprofundando sua relação
com o medicamento.
Existe uma diferença entre usar Rapé em si mesmo e usar em outras
pessoas. A autoaplicação é indicada para quem estuda esta medicina e é
essencial para explorar os efeitos do Rapé nos poderes pessoais.
Recomenda-se iniciar a autoaplicação após a pessoa ter realizado um ritual
de iniciação adequado e assim ter adquirido a consciência deste poderoso
medicamento. Para os experientes, a autoaplicação precede a aplicação a
outros, como forma de conexão e proteção.
Nem todo mundo pode usar rapé Rapé em outras pessoas. Nas tradições
indígenas, quem usa Rapé em outras pessoas deve ter estudado previamente
com aplicações mais potentes para aprofundar seus conhecimentos de
medicina. Na preparação, uma dieta especial é realizada na qual o açúcar, as
relações sexuais, a carne e o sal são evitados.
Durante o período de estudo, a pessoa usa o Rapé diariamente, faz orações e
pede instrução e as bênçãos do espírito dessa medicina.
A razão desse estudo é simples: quando uma pessoa sopra Rapé em outra,
há uma troca de energia entre as duas, principalmente para quem recebe, e é
importante saber bem qual energia está sendo recebida.
A intenção é a chave aqui; segundo a tradição, o Rapé pode curar ou criar
doenças, dependendo da intenção por trás do sopro.
O uso do rapé Rapé envolve muita responsabilidade. Devemos conhecer e
confiar na pessoa que o usa. E o doador também deve estar ciente de que
está recebendo energia da pessoa a quem está "golpeando" e, portanto, deve
ser capaz de lidar e entender a poderosa energia do Rapé.

Como usar o Rapé em outra pessoa


Soprar o tepi implica responsabilidade, pois cria uma conexão entre o
doador e o receptor. Ambos estão intimamente conectados através da boca
do doador e das passagens nasais do receptor, através da respiração.
Requer uma mente estável e um foco claro, puro e brilhante.
A essência deste ritual não depende da força da respiração. É importante
que a pessoa que doa o Rapé faça uma avaliação intuitiva e ética da
quantidade apropriada de Rapé que está dando ao receptor.
De onde ele ou ela é? Qual é a sua condição física? Quão forte é o seu
Rapé? Muito Rapé pode fazer seu parceiro vomitar, o que pode ser bom do
ponto de vista da limpeza, mas pode não ser o que ele deseja ou precisa no
momento.
É melhor ser mais cauteloso do que exagerar; sempre há tempo para fazer
uma segunda rodada.

Diretrizes para Destinatários do Rapé


Certifique-se de que a pessoa que lhe dará o Rapé tenha experiência pessoal
no uso do medicamento e, o mais importante, que sua energia em relação a
você seja pura, luminosa e altruísta. Como o Rapé é usado de forma
xamânica, pode se tornar um meio para alguém lançar você com má
intenção ou má intenção.
Compartilhe o Rapé apenas com pessoas que você conhece e confia, nunca
o receba de uma pessoa ou xamã que lhe dê "vibrações negativas".
Etapa 1: encontre um lugar tranquilo para sentar um de frente para o outro.
Avalie quanto Rapé você gostaria de receber e compartilhe. Olhe a pessoa
que está lhe dando rapé nos olhos e conecte-se com essa pessoa. Concentre-
se na intenção deste ritual. O que você procura na medicina? Que oração
você tem que "Deus", "os espíritos da natureza", "o campo quântico", "seu
eu interior" ou o que você quiser chamá-lo, deveria ouvir?
Passo 2: Ao receber a respiração, sinta o novo estado vibratório que você
alcançou e a cessação do diálogo interno. Sinta-se à vontade para
compartilhar o que precisar. Mais estupro? Menos? Mais ou menos forte?
Passo 3: Respire fundo. Lembre-se de fechar a parte de trás de sua
passagem nasal como se estivesse indo para debaixo d'água. Receba a
segunda respiração do Rapé na outra narina.
Como trabalhar com plantas mestras como Wachuma ou Ayahuasca, fazer
Rapé inicia um aprendizado com as plantas medicinais da variedade Rapé.
Ao pegar o Rapé, você entra em diálogo com as plantas.

Orientações para o doador


O doador deve ser sempre um estudioso que tenha alguma experiência
pessoal em medicina. Receber a primeira respiração do Rapé é uma
iniciação sagrada no uso da medicina e deve ser sempre realizada por
alguém que tenha profundo conhecimento sobre ela, sua finalidade e
intenção para que funcione como remédio. Um mau doador de Rapé só
pode dar Rapé ruim, com efeito ruim. Sem que seja a única forma ou a
melhor forma, aqui está um exemplo de como se pode ministrar a sagrada
medicina do Rapé.
Etapa 1: encontre um lugar tranquilo para sentar um de frente para o outro.
Olhe o destinatário nos olhos e conecte-se com a essência dessa pessoa. Se
necessário, é hora de realizar uma purificação com palo santo (pau-rosa),
copal ou outro incenso, tanto para si quanto para o próprio remédio e para
quem o recebe.
Etapa 2: dê ao destinatário algumas orientações sobre o que esperar. Se ele
não souber, explique o caráter sagrado do tabaco, seu uso adequado e suas
propriedades físicas e mentais. Explique como o Rapé será recebido e
convide a pessoa a definir uma intenção para o ritual. Se necessário,
pergunte quanto Rapé ele gostaria de receber e com que intensidade.
Passo 3: Apresente uma oração ou canção ou faça sua oração em silêncio.
Isso pode ser feito de várias maneiras; o principal é focar em uma intenção
pura e brilhante para o destinatário. Conecte-se com o espírito da floresta,
com os espíritos das plantas medicinais e peça-lhes que abençoem o
destinatário.
Passo 4: Instrua o destinatário a prender a respiração enquanto sopra e nos
próximos segundos a respirar pela boca, não pelo nariz. Isso faz com que o
destinatário contraia os músculos da garganta para fechar a parte de trás da
passagem nasal, como se estivesse debaixo d'água. Isso é importante, caso
contrário, o Rapé pode entrar diretamente em seus seios nasais e vias
aéreas, causando tosse, irritação dolorosa, asfixia e possivelmente vômito.
Passo 5: Coloque Rapé em seu tepi e sopre em uma narina. Tenha cuidado
com o destinatário. Coloque o Rapé no tepi novamente e sopre suavemente
o Rapé na outra narina. Fique com o receptor, simpatize com sua condição e
onde ele está com sua experiência.
Passo 6: Após a segunda respiração, você pode intuitivamente querer ajudar
a liberar um bloqueio de energia.
Passo 7: Conclua a sessão com sua oração ou em silêncio.

Mantendo a parafernália sagrada do Rapé


Para limpar regularmente sua parafernália Rapé, você pode usar um pano
limpo e álcool isopropílico ou água oxigenada. Dependendo dos materiais
usados para construir o aplicador, deve-se tomar cuidado para não descascar
os adesivos que prendem os tubos em V de bambu.
Em locais úmidos como B. na selva, deve-se tomar cuidado para que
nenhuma umidade se acumule dentro do aplicador e cause mofo.
Armazenamento de Rapé medicinal
O rapé de rapé costumava ser armazenado em cabaças ocas ou em caracóis
gigantes. Hoje, um recipiente de vidro com tampa de rosca ou hermético e
armazenado em local fresco e seco é a melhor opção para armazenar o
Rapé. Se verificar que o seu Rapé está a começar a ficar húmido (isto pode
acontecer em determinadas condições ambientais), pode estendê-lo sobre
um pano ou superfície limpa e lisa e secar ao sol.
Observe que o Rapé medicinal tem prazo de validade e perde sua potência
com o tempo. Se o Rapé ficar mofado, ele adquirirá um odor pungente e
alterado e deve ser descartado.

Efeitos e propriedades do Rapé


Efeitos Energéticos do Rapé:
Quando em vigor, o rapé Rapé purifica nossa percepção, limpa a mente,
abre os canais energéticos superiores e nos conecta com a parte mais
elevada do nosso ser. Ao interromper o diálogo interior, o Rapé ajuda a
estar verdadeiramente presente e a ver além de nossas interpretações,
trazendo um estado meditativo direto.
É inestimável para acalmar processos mentais recorrentes e reequilibrar
estados emocionais desequilibrados.
Rapé efeitos e propriedades rapé
Aplicado corretamente, o Rapé oferece uma maneira direta de tomar
consciência, dissolver e curar os bloqueios e cargas energéticas e
emocionais que se manifestam em medos, depressão, inquietação,
sentimentos de solidão, ciúme, frustração, insônia, etc.
Por induzir um estado meditativo, é de grande ajuda para alcançar a clareza
mental quando se requer alta concentração.
O tabaco ajuda a separar diferentes complexos e neutralizar as impurezas no
diálogo interno.
Ao tomar Rapé, o remédio faz sua mágica limpando, ordenando e alinhando
nosso campo de energia, especificamente o terceiro olho e o chakra da
coroa. Assim como a ingestão da Ayahuasca ou de outras plantas mestras,
as cerimônias do Rapé servem para sincronizar e alinhar a atenção e a
percepção dos participantes.
Efeitos para a Saúde e Propriedades do Rapé:
Os efeitos medicinais do Rapé também são valiosos. É muito eficaz no
tratamento de problemas do sistema respiratório, especialmente sinusite,
bronquite crônica, pneumonia e tuberculose. Também ajuda contra dores de
cabeça persistentes, enxaquecas, problemas do sistema digestivo e alergias.
O Rapé também protege contra doenças respiratórias, é um poderoso
analgésico que elimina dores de cabeça e dores no corpo e tem efeitos
relaxantes e antitérmicos.
Parte do medicamento pode entrar no trato digestivo, onde atua contra
parasitas e ajuda a limpar o estômago e os intestinos. Vômito pode ocorrer
durante esta limpeza.
Além disso, o Rapé é conhecido por atuar na glândula pineal. A gestaltista e
fitoterapeuta Hendara Rico disse à Efe diariamente: “A glândula pineal
torna-se calcificada e entorpecida por algumas substâncias cotidianas, como
o flúor; O Rapé tem um efeito descalcificante nesta glândula.”
Apoia a limpeza dos pulmões e promove a eliminação de muco e corpos
estranhos. É altamente recomendado para pessoas que sofrem de asma.
O rapé também é usado medicinalmente como uma substância analgésica
que alivia a fadiga, a dor, a fome e a sede.
O Rapé à base de tabaco contém nicotina, por isso seu uso aumenta a
circulação sanguínea no cérebro e afeta a liberação de vários
neurotransmissores que produzem efeitos antidepressivos e estimulantes.
Também é um excelente curador de cicatrizes e antibiótico quando aplicado
em feridas (especialmente as variedades que contêm sálvia e lavanda).

Manufatura tradicional do Rapé


Do ponto de vista dos nativos, o rapé de Rapé tem um significado enorme.
É uma medicina xamânica sagrada com profundas propriedades curativas.
A confecção do Rapé sagrado é um processo árduo, e sua produção ocorre
em um contexto cerimonial, desde a coleta das plantas sagradas até o
cozimento e processamento do remédio. A pessoa que prepara a mistura do
Rapé deve ser um xamã ou uma pessoa experiente e com profundo
conhecimento das plantas medicinais utilizadas e das propriedades
medicinais do Rapé.
As diferentes variedades de Rapé são elaboradas com Mapacho e cinzas
sagradas, assim como diversas plantas medicinais que conferem a cada
variedade as suas propriedades específicas: evocar visões, energizar,
proteger...
O tabaco usado pelas tribos amazônicas para fazer o Rapé é cultivado por
elas, livre de aditivos nocivos, pesticidas e fertilizantes.
Primeiro, o tabaco é transformado esmagando-o e peneirando-o até se
tornar um pó fino. A pessoa que faz isso deve se concentrar em silêncio
absoluto, pois acredita-se que muito do "poder" presente no Rapé vem da
intenção de quem processa o tabaco.
O pó de tabaco é então misturado com as cinzas de, por exemplo, Pau
Pereira, Tsunu ou outras plantas.
Finalmente, adicionam-se os ingredientes finais para obter a potência final:
as outras plantas medicinais, também secas ao sol ou torradas e moídas e
peneiradas várias vezes.
Esta preparação sagrada de Rapé com significado medicinal é um processo
que pode levar semanas. Normalmente, o pajé da tribo, o Pajé, trabalha sob
uma dieta rigorosa e em estado de transe, batendo e misturando
incessantemente as ervas Rapé. Os demais membros da tribo são
responsáveis pela coleta de plantas para o preparo do Rapé.
Como são inúmeras as plantas medicinais que se agregam aos vários tipos
de Rapé, existem muitas receitas específicas da tribo, cuja composição
detalhada costuma ser um segredo muito bem guardado. Algumas das
misturas de Rapé contêm plantas psicoativas como Jurema ou yopo.
As tribos Katukina, Yawanawa, Kaxinawa, Nukini, Kuntanawa, Apurina,
Ashaninka e Matses fazem seus próprios tipos específicos de misturas de
Rapé e têm diferentes formas de prepará-los, desde técnicas específicas até
músicas cantadas durante os rituais de sua confecção.
É preciso saber exatamente qual parte de cada planta pode ser aproveitada e
quando colhê-la. Por exemplo, a casca da raiz de uma planta pode ter um
propósito e efeito diferentes das folhas ou sementes da mesma planta.
Os integrantes das tribos amazônicas conhecem a energia das plantas e sua
importância por estarem em constante contato com a natureza, muitas vezes
em jejum e consumindo apenas água, e essas plantas Mestras.
Além desse autoconhecimento especial e conexão com a natureza, é
transmitida a sabedoria sobre o Mestre e as plantas medicinais, que são
passadas de geração em geração há milhares de anos. Se você está
comprando Rapé, deve estar ciente de que é algo feito por uma dessas tribos
de acordo com tradições milenares e, portanto, mantém seu significado
milenar.
Antigamente, o Pajé misturava os ingredientes em cerimônia individual.
Hoje, toda a tribo costuma participar desse ritual cerimonial e mágico. Só
recentemente as tribos passaram a compartilhar seus remédios sagrados
com amigos de fora e repassar o conhecimento para as próximas gerações.
No entanto, muitas composições permanecem um segredo das tribos
individuais.

Rapé de Cinza e Rapé


Um dos dois ingredientes essenciais do Rapé, o freixo é provavelmente o
mais misterioso e desconhecido. A cinza serve como um ativador químico,
dando força ao remédio. Ela representa o elemento fogo adicionado à terra e
é o que te dá força e te eleva. Todos os Rapés xamânicos que conhecemos e
adoramos usam. Apenas o arame verde dos Apurinã, o nunu dos Matses e o
fumo em pó não utilizam cinzas.
A forma de queimar a casca para obter um bom resultado requer
conhecimento e experiência. A chama que queima a casca não deve ser
muito forte, mas também não deve ser muito fraca.
Na feitura do Rapé, a intenção e o estado de espírito são essenciais, tudo o
que a pessoa pensa, sente e deseja na feitura é transmitido e armazenado
naquele meio. Por isso, é importante que as pessoas que fazem o remédio o
façam com intenções puras, tenham uma atitude positiva, sejam gentis e
tenham algum nível de desenvolvimento espiritual.
Em geral, as pessoas pensam que cinzas são cinzas e não há nada além
disso, mas nada está mais longe da realidade. É uma arte conseguir um belo
freixo branco e não uma desastrosa bagunça cinza.
Quando a madeira queima, a celulose entra em combustão e se torna a cinza
branca que vemos, mas a maioria dos sais, alcalóides e outras partículas não
são afetadas pelo fogo e permanecem presentes nas cinzas em proporções
variáveis. Do ponto de vista alquímico, a cinza representa o corpo da casca
de forma concentrada na qual os sais minerais da casca permanecem
intactos.
Num nível mais sutil e energético, a cinza, após seu processo de
transformação e purificação, traz o elemento fogo para a medicina. O
tabaco representa o elemento terra. O tabaco de fumar tem um efeito
terroso, assim como o tradicional Rapé sem cinzas. O Rapé Xamânico é
mais estimulante e leva a um nível diferente de percepção graças às reações
químicas e espirituais que ocorrem quando as cinzas são adicionadas.

Tipos de cinzas
A textura da madeira dá consistência ao freixo, pelo que a maioria das
madeiras utilizadas para o freixo de Rapé são de grão compacto e muito
duras e densas. Árvores com madeira mais macia não produzem cinzas
adequadas; não dão força ao remédio e o Rapé estraga mais facilmente.
Existem algumas exceções, como B. certas plantas trepadeiras (como
regra).
A cinza mais utilizada para o Rapé é a Tsunu, a clássica cinza Yawanawá.
Outras cinzas comumente utilizadas são Murici, Pau Pereira, Parica, Cacau,
Cumaru, Mulateiro e Canela de Velho. Mais raros são, entre outros, os de
Sapota, Balsamo e Emburana.
Na Internet há informações de que Tsunu é Pau Pereira. Isso não é correto e
dizer qual árvore é o Pau Pereira é complicado, pois diferentes espécies são
chamadas de "Pau Pereira" em diferentes regiões do Brasil. A maioria dos
nomes usados para identificar essas espécies são nomes locais populares.
Tradicionalmente, os fabricantes de Rapé queimavam apenas a casca para a
maioria das variedades. Hoje, com a expansão do consumo do Rapé, alguns
produtores geralmente queimam a casca junto com a madeira para aumentar
o rendimento. Aparentemente, a casca contém a maior parte das
propriedades ativas, e podemos ver que para muitas árvores medicinais,
chás e outras preparações são feitas exclusivamente da casca e quase nunca
da madeira, assim como o freixo.
Infelizmente nem todo mundo queima a madeira certa, sempre tem gente
que age de forma antiética ou não tem o conhecimento certo. Portanto, é
sempre bom saber a procedência do seu medicamento.

Cinzas pelo mundo


Muitos dos medicamentos indígenas sagrados e estimulantes usados em
todo o mundo usam cinzas como um ativador químico: os montanhistas dos
Andes que mascam folhas de coca, os indígenas que mascam paan, a noz de
bétele e sua folha, as tribos que mascam o uso yopo ; todos usam a mesma
técnica usando suas plantas favoritas em combinação com um ativador
básico. Pode ser na forma de cal de cascas trituradas, bicarbonato de sódio,
cinzas ou outras fontes.
As cinzas usadas junto com as folhas de coca na Bolívia são feitas de
quinoa, banana e outras plantas.
Na África Ocidental, o sabão tradicional é feito de cinzas. Novamente, uma
mistura específica de materiais vegetais é queimada, e essa cinza é
misturada com óleos para criar uma reação que transforma o óleo em sabão.
Este sabonete é conhecido por ser muito bom para a pele e também é usado
em práticas religiosas para limpeza energética.
De fato, a transmutação de materiais através do fogo é a essência da antiga
arte da transformação alquímica; O fogo é transformador e tem o poder de
purificar tudo o que toca.
Na medicina ayurvédica existe uma ciência extensa, uma forma de
alquimia, preocupada com a preparação e uso de cinzas medicinais
chamadas Bhasmas . Aqui, as cinzas são criadas a partir de uma grande
variedade de substâncias, de plantas, de minerais e até de certos metais.
Cada substância que é queimada e transformada pelo fogo tem suas próprias
propriedades e utilidade. Os Bhasmas têm um lugar especial no Rasayana, a
ciência do rejuvenescimento. Essa prática, também no Ayurveda, quase se
perdeu hoje.
É interessante notar que o Ayurveda também tem a prática de nasya, o uso
de tabaco medicinal soprado suavemente nas passagens nasais para tratar
uma variedade de doenças.

Efeitos do Rapé - Resumo


Rapé trabalha principalmente no nível espiritual. Ajuda a dissolver padrões
mentais de pensamento bloqueados, liberta o corpo energético de energias
estranhas e abre e harmoniza os chacras (centros energéticos do corpo). No
nível do coração, o Rapé liberta de Panema, termo indígena para uma onda
de azar, que os indígenas acreditam ser responsável por bloqueios e apatia.
A nível físico, o Rapé tem um efeito de limpeza e desintoxicação dos seios
paranasais e frontais. As toxinas são excretadas junto com o muco. O rapé
também está cada vez mais associado à desintoxicação da glândula pineal,
mas isso ainda não foi comprovado cientificamente.
• Abertura profunda e alinhamento de todos os chakras das áreas
superiores (terceiro olho e chakra da coroa)
• Melhorando o aterramento físico
• Alívio de doenças a nível físico, emocional e espiritual
• Descalcificação da glândula pineal e abertura do terceiro olho (ainda
não confirmado cientificamente!)
• Removendo pensamentos problemáticos e criando clareza mental
• Libertação de bloqueios e entidades energéticas
• Conexão com a respiração cósmica e aumento espiritual da vibração
É aconselhável realizar o Rapé em um ambiente tranquilo e sem
perturbações. Em salas fechadas, também é útil limpá-las previamente com
um pequeno ritual de fumaça, por exemplo, com incenso ou outras ervas
xamânicas.
A porção aproximadamente do tamanho de uma ervilha é cortada pela
metade e, em seguida, colocada em uma posição sentada ereta, cadeira ou
assento de ioga com os olhos fechados, através de um tubo de bambu ou
"tepi" nas narinas. Recomenda-se respirar lentamente pela boca. Após o
tratamento, podem ocorrer náuseas, tonturas e vômitos por um curto
período de tempo, desencadeados pelo processo de desintoxicação. Da
mesma forma, um ligeiro fluxo de saliva e aumento da atividade intestinal
podem ser o resultado de um tratamento Rapé. No entanto, esses efeitos
colaterais não são efeitos colaterais obrigatórios, mas dependem da
intensidade dos bloqueios ou da carga tóxica da pessoa que está sendo
tratada. No entanto, um balde, toalhas e água sem gás devem estar
disponíveis. Também é aconselhável evitar açúcar e atividade sexual no dia
do tratamento.
O rapé é amplamente utilizado pelos xamãs na América do Sul,
principalmente no Brasil. Existem muitas formas de produzir, usar,
incorporar em rituais. As explicações e citações acima devem ser uma
diretriz e uma breve descrição da filosofia e uso exemplar.

A Garrafada
Garrafada , designação de fórmulas medicinais para uso entre os brasileiros
que recorrem à medicina popular, cuja origem remonta a séculos, tem lugar
reservado na história da medicina no país. Essa medicina, baseada em ideias
e valores ditados pela consciência coletiva, tem seus saberes transmitidos
por meios predominantemente orais. Com base no conhecimento empírico
acumulado, desenvolvido em dinâmicas próprias, as práticas médicas
populares vão se adaptando às realidades que o tempo histórico vai
desenhando; em segundo lugar, os diferentes contextos socioculturais em
que estão inseridos. A sua ligação com elementos doutrinários de cariz
religioso, de diversas proveniências, faz-nos entendê-la como uma medicina
sagrada, de cunho nitidamente mágico-religioso.
Em decorrência da diversidade de sistemas de crenças envolvidos no
processo histórico das práticas médicas populares, diferentes categorias de
profissionais, com denominações próprias, se estabelecem em diferentes
contextos socioculturais, como seus protagonistas, tais como: curandeiros,
benzedores, rezadores, curandeiros, pais e mães de santo, Mestres
Catimbozeiros, Juremeiros, xamãs urbanos e pajões, entre outros.
Lembramos que o termo xamã pode ser utilizado para designar um xamã ou
caboclo indígena , bem como aqueles que, nas comunidades negras,
exercem atividades médico-religiosas.
Nas sociedades contemporâneas de maior ou menor densidade
populacional, a medicina popular vem conquistando seu espaço, lado a lado
com o sistema médico oficial. No entanto, influenciada pelo etnocentrismo
da medicina hegemônica, a medicina que o povo adota continua sendo
entendida como produto de uma cultura inferior, relegando-a a patamares
avaliativos baixos. Considerando que, entre as culturas, nenhuma é superior
à outra, mas apenas diferenças, os dois modelos médicos, que competem na
preferência popular, representam paradigmas distintos, pautados por
padrões culturais distintos. Entendemos que uma cultura só é discriminada
quando a cultura hegemônica assim o determina.
O sistema médico popular no Brasil, ao traçar seu perfil em diferentes
contextos socioculturais, imprime aqui e ali traços culturais herdados das
três principais matrizes influenciadoras: portuguesa, indígena e africana,
traços passíveis de serem apreendidos pelas técnicas. da Etnografia, típica
da pesquisa em Etnofarmácia e Botânica, por ser uma área de estudo
compreendida na união da Etnologia com a Farmácia e a Botânica.
Pela multidisciplinaridade que caracteriza a Etnofarmacobotânica, ao exigir
a presença no terreno dos seus investigadores, permite-lhes
resgatando dos detentores do conhecimento médico popular, informações
valiosas sobre plantas medicinais, bem como sobre as diversas formas de
uso, no caso, frascos, bem como indicações terapêuticas de interesse
científico.
Considerando que a sinonímia das “patologias” indicadas pelos informantes
tem seu significado muitas vezes desconhecido do pesquisador, faz-se
necessária uma correlação pouco lógica para identificá-las dentro da
linguagem da biomedicina. A única forma possível de estabelecer a relação
entre as atividades biológicas decorrentes dos princípios ativos contidos nas
plantas e as doenças apontadas pelos informantes. Porém, lembramos que
há menos variedades de doenças na biomedicina, quando comparadas
àquelas mencionadas por informantes com doenças, pois uma pequena
parcela delas é interpretada pela nosologia biomédica, conforme Tesser
(2007). Além das relações interculturais em que estavam envolvidos,
basicamente, colonos portugueses, indígenas e africanos, nos primeiros
séculos do Brasil, a medicina popular continuou a aderir a sistemas de
crenças, como tais sistemas foram organizados. no país. É nessa medicina
que o homem, preso a um estado de religiosidade, em consonância com as
ideias sobre o universo imaterial de seus pensamentos voltados para o
sagrado, buscará, por meio de ritos mágico-religiosos, soluções que possam
aliviar seus sofrimentos, sejam eles naturais ou sobrenatural.
“É nesse universo mágico-religioso que as plantas medicinais, impregnadas
de poderes sobrenaturais, têm seu papel bem definido na cura de doenças
físicas, mentais ou espirituais” (Camargo, 2005/2006).

Material e método
As pesquisas sobre garrafas começaram na década de 1970, em uma favela
da cidade de São Paulo, resultando na publicação da monografia Garrafada
em 1975 e, posteriormente, em 1985, um livro que traça uma metodologia
de pesquisa para uma investigação sobre água engarrafada, obras incluídas
na bibliografia no final.
Os dados acumulados sobre bebidas engarrafadas, a partir dessas
publicações, resultaram de pesquisas empíricas, em terreiros afro-
brasileiros, na cidade de São Paulo e em mercados e feiras livres, em
diferentes localidades brasileiras, nos últimos três anos.
Os dados obtidos nos ambientes religiosos visitados resultaram de diálogos
informais, sempre que houve oportunidade de abordagem sobre frascos e
indicações terapêuticas, cujas formulações, mantidas em sigilo, são de
conhecimento exclusivo dos dirigentes dos terreiros.

Resultados e discussão
O jesuíta era físico, era cirurgião, era barbeiro. Como na medicina
portuguesa do século XVI e também na Colônia, as práticas médicas desses
religiosos eram amparadas pela religião, pois os procedimentos religiosos
eram confundidos com remédios, sangrias e tudo mais para salvar o doente
de doenças. , bem como a sua alma, instruindo-o na fé católica através da
importância do baptismo, para que a alma se salvasse, se a morte não
pudesse ser evitada (Rodrigues, s/d:25); (Santos Filho, 1947 parte IV,
cap.25).
As ideias religiosas veiculadas pelos jesuítas vinculavam a doença ao
castigo divino e a morte à vontade de Deus. Tais ideias se firmaram na
mentalidade dos colonos e dos índios catequizados, para se perpetuarem até
hoje nas práticas de muitos curadores, que se valem de orações e
benzimentos, chegando a pregar a devoção a santos católicos como
intercessores. juntamente com Deus na obtenção de curas, segundo Santos
(1992). Este autor comenta que em Portugal a partir do século XIX. No
século XVIII, circulou uma lista com a indicação de oitenta nomes de
santos e as respectivas doenças do corpo e do espírito, a que os doentes
podiam recorrer. Acrescentamos, porém, que tais procedimentos,
influenciados pelo cristianismo, eram comuns nos países americanos, cujos
processos de colonização foram realizados por povos da Península Ibérica.
Com a expulsão desses religiosos do Brasil e, em 1760, por ordem do
Marquês de Pombal, devido ao isolamento a que estavam submetidas as
populações em torno dos colégios que fundaram ao longo da costa
brasileira, desenvolveram-se modelos. religiosa, culminando no que hoje
chamamos de catolicismo popular, alimentando a ideia da prevalência da
vontade divina quanto às doenças e curas, segundo Seabra (2003).
A partir dessa forma de pensar a doença e a cura, desenvolveram remédios
milagrosos com fórmulas secretas, bem como práticas piedosas, orações,
promessas a santos protetores, penitências, procissões, peregrinações a
santuários, uso de objetos abençoados junto ao corpo – medalhas ,
crucifixos, cadafalsos, escapulários , etc., além de agradecimentos por
curas por meio de ex-votos depositados em salas de milagres, conforme
Scarano (2004).
Os jesuítas teriam sido os que mais contribuíram para o conhecimento das
plantas medicinais nativas e exóticas européias e asiáticas, aquelas
utilizadas por eles na manipulação de medicamentos preparados nas
farmácias próximas às suas escolas. A Coleção de Receitas Medicinais, dos
Colégios da Bahia e de Olinda, ficou famosa. Entre eles estavam Triaga
Optima da boticária do Collegio Romano, Triaga da Índia, Triaga contra
vermes e Triga Brasilica. Este, datado de 1766, é composto por mais de
sessenta substâncias, como refere Fernando Santiago dos Santos (2009),
que estudou em profundidade esta triagem. Nela, conforme mencionado por
este autor, já eram utilizadas plantas nativas ensinadas pelos indígenas,
entre elas: jacarandá (Dalbergia spp), copaíba (Copaifera spp), maracujá
(Passiflora spp), jaborandi (Pilocarpus spp), segundo Jolly (1976). , Rizzini
e Mors (1976) Acrescentamos que a introdução de plantas nativas nas
farmacopeias jesuíticas, citando Ferraz (1995), fez com que a matéria
médica trazida pelos europeus para as colônias americanas fosse
profundamente modificada.
As triagas eram polifarmácias à base de vinho e mel, agregadas a
substâncias de origem vegetal, animal e mineral, conhecidas desde a
antiguidade. O termo, de origem grega –Theriake– e latino –Theriaca–,
significava inicialmente um antídoto contra intoxicações de qualquer
origem, exceto as corrosivas (Santos, 2009). Tornou-se conhecido no séc. II
aC, a Triaga de Mitrídates, rei do Ponto, antídoto contra o envenenamento,
composta por cinquenta e quatro componentes, que, mais tarde,
Andrômaca, médico de Nero, reformulou, dando como sua. Entre outras,
esta triaga, incluindo a de Galeno, médico greco-romano, desde o primeiro
século da era cristã, tornou-se célebre ao longo da Idade Média,
Renascimento, ganhando prestígio por toda a Europa até finais do século.
XIX, inclusive no Brasil (Santos, 2009; Albarracin, 1993).
Entendidas como panacéias de eficácia garantida, aquelas velhas triagas
compreendiam “fórmulas secretas” que, com o tempo, várias substâncias
não só foram substituídas, como outras foram acrescentadas, não mais
apenas antídotos contra intoxicações, para tratar, também, diversos males.
As formas de preparo eram diferentes, comenta Marques (2003), assim
como o tempo que levava para ser consumido. Vinho branco, calda de
limão e mel de abelha eram ingredientes básicos nas antigas triagas, usadas
para dissolver certas substâncias utilizadas, como no preparo da Triaga
Brasilica. As triagas, depois de preparadas, eram guardadas em local escuro
e fresco, por um período que variava de acordo com a determinação de
quem as confeccionava. A Triaga Brasílica, por exemplo, ao contrário desse
procedimento, era sempre mantida “exposta ao sol, mexida diariamente pela
manhã e à tarde, não devendo ser deixada do lado de fora durante a noite”,
aguardando seis meses até que pudesse ser consumida, segundo (Santos:
2009), citando Serafim Leite (1953). Quando os jesuítas foram expulsos do
Brasil, havia a intenção de tomar posse de Botica e da Coleção de receitas
medicinais, entre as quais a Triaga Brasílica. Este, porém, não encontrado
na Bahia, foi posteriormente localizado no Arquivo Romano da Companhia
de Jesus, na Itália, como parte da Coleção de Receitas Medicinais, segundo
Santos (2009).
A triaga como fórmula medicinal, utilizada no Brasil, foi mencionada por
Chernoviz (1890), conforme consta na 6ª edição de seu Dicionário de
medicina popular e ciências acessórias. Para uso de famílias, onde,
referindo-se à triaga composta por setenta e uma substâncias e, ainda, em
Chernoviz (1908), na 18ª edição de seu Medical Guide and Form, a
theriaga, como se escreve, compreendia uma mistura de todas as drogas até
então conhecidas, remontando ao tempo das Triagas greco-romanas.
Com relação aos “remédios secretos”, foi dito que sua eficácia deixou de
existir quando suas fórmulas foram divulgadas publicamente. A fé na
medicina foi perdida assim que seus segredos foram revelados. Segundo
Marques (1997), o médico Curvo Semmedo, do século XIX, XVIII foi o
Mestre das fórmulas secretas. Escreveu o Compêndio de Segredos
Medicinais, ou Remédios Curvianos, que inventou e compôs (Semmedo,
1783). Referia-se a algum dom celestial sobrenatural, que poderia ser um
favor divino ou um milagre: “(...) estes meus pós, por favor divino, curam
infalivelmente no prazo prefixado de um mês (...) este remédio tomar-se-á
quatro ou cinco vezes em dias sucessivos, e terá um efeito milagroso”
(Semmedo, 1783).
Tais remédios preocupavam as autoridades sanitárias já no século XIX.
XVIII, segundo Marques (1997) quando, segundo este autor, se procurou
compreender as razões das atividades curativas, não só saber que curavam,
mas também porque curavam. Eles admitiram que os segredos tinham que
ser revelados, testados e comprovados cientificamente. Diante disso, o
médico José Henriques Ferreira (1785), redigiu o Discurso Crítico, tecendo
severas críticas às formulações secretas que circulavam no século XIX.
XVII e XVIII, tentando mostrar as incompatibilidades entre a ciência
médica e o empirismo mágico. Evidentemente, sua crítica se estendia a
Curvo Semmedo, já citado, seu contemporâneo.
A associação doença – medicina divina – cura milagrosa –, como aponta
Marques (1997), que fazia parte das crenças populares do passado, persiste
na medicina popular hoje. A cultura religiosa portuguesa, pregada pelos
jesuítas, admitia que as doenças do corpo e da alma só podiam ser curadas
por intervenção divina, sendo a Virgem Maria a única boticária preciosa,
como pregava um padre no planalto de Piratininga, em meados da Idade do
Iluminismo: “Se Maria se tornou uma farmácia e as unções de óleo bento a
terapia recomendada, o que condenar em remédios secretos?” (Marques,
1997) Dominguézia See More - Vol. 27(1) - 2011 As garrafas e as velhas
triagas.
As garrafas, sem dúvida, podem ser consideradas herdeiras das antigas
triagas, fórmulas secretas conhecidas pelos reis e pelos médicos que as
preparavam, desde a mais remota antiguidade. Porém, hoje, cabe aos
detentores do saber médico eleitos pelo povo, que os manipulam,
acrescentando em veículos alcoólicos –vinho branco ou cachaça– e
substâncias de origem vegetal, mineral e animal.
Não se sabe, porém, quando o termo “triaga” foi substituído no meio
popular por vinho engarrafado. Na obra de Fernando São Paulo (143) está:
“Mesa tosca. Remédio para um curandeiro ou um charlatão colocado em
uma garrafa”. Possivelmente, teria ocorrido por volta de 1640 quando, até
então, apenas os boticários dos colégios jesuítas eram autorizados a
preparar remédios. Foi a partir desse ano que pessoas de fora dos conventos
puderam trabalhar como boticários, com autorização do físico-chefe em
Lisboa e seu representante em Salvador, Brasil.
Muitos lavadores de vidros ou simples ajudantes das boticárias jesuítas
passaram a exigir exame perante a autoridade competente. Era quando os
“aprovados se instalavam em boticários” (Santos, 2009).
A partir desse fato, presume-se que os padres forneciam seus remédios em
frascos, ou seja, em frascos, conforme descrito em Antonio Moraes Silva
(Moraes, 1878): “Garrafada: remédio que vem do boticário em frasco”.
Considerando os herdeiros engarrafados das antigas Triagas, perguntamos:
qual a razão de sua sobrevivência nas sociedades contemporâneas, onde
todos os brasileiros, como se admite, são amparados por Políticas Públicas
de Saúde, garantindo-lhes os remédios de que necessitam?
A resposta a essa pergunta pode estar nas diferenças que envolvem os
conceitos de saúde, doença e cura, entre a biomedicina e o saber médico-
popular. Estes, segundo os sistemas de crenças que os orientam, têm nas
relações socioculturais e nas representações simbólicas, construídas
subjetivamente, os fundamentos básicos de suas visões de mundo, centradas
na espiritualidade. Este, o elemento primordial associado aos conceitos de
saúde, doença e cura, ideias que se perpetuam na mentalidade dos
indivíduos que, num passado remoto, foram submetidos aos ensinamentos
passados pelos jesuítas, nas suas obras de catequese. Por outro lado, a
biomedicina que, segundo o etnocentrismo que a caracteriza, guiada pelas
ideias globalizantes da medicina ocidental, centra-se na cura das doenças e
na sua dependência exclusiva do médico, do hospital com os seus recursos
tecnológicos e da medicina . mento, segundo Oliveira (2010).
A espiritualidade, condição humana de dimensão transcendental, distante da
concepção cartesiana do mundo, está presente na tradição cultural dos
brasileiros por herança, basicamente, daquelas principais matrizes
influentes já mencionadas – portuguesa, indígena e africana –, que deram
origem a diferentes sistemas de crenças que se organizaram no país ao
longo do tempo e, aos quais, direta ou indiretamente, estão ligados os
curadores, com destaque para as religiões mediúnicas, onde os rituais de
cura, como diz (Camargo, 1961), “(. ..) a tradição cultural brasileira está
impregnada de um estilo sacro de compreender a realidade”.
Além disso, abordando o lado sacral2, quando se trata de medicina
tradicional, diz (Chifa, 2010), é “fundamentalmente sagrado. Envolve uma
mentalidade religiosa, uma cosmovisão mítica do universo e a sua prática
cristaliza-se num ritual harmoniosamente mítico”.
Sem uma explicação concreta para a espiritualidade, por se tratar de um
bem imaterial, “(...) a mente humana vagueia por um universo que, não
existindo no concreto, acredita existir e nós sabemos que existe, porque é
culturalmente herdado . da família ou grupo social, buscando nela os
sentidos da vida, dando-lhe sentido” (Camargo, 2005/2006).
É a espiritualidade que confere à medicina popular seu caráter sacral,
condição que nutre no homem e no grupo social a que pertence, a crença
nos “poderes” sobrenaturais do curandeiro para preparar frascos que julga
de eficácia garantida. Nesse contexto sagrado, a terapia indicada torna-se
sagrada, quando todos os instrumentos materiais e imateriais utilizados nas
preparações medicinais são investidos de poder, sejam eles chás, pomadas,
banhos de ervas, frascos, etc.
O uso da fitoterapia, em sua concepção tradicional e popular, considera uma
série de propriedades que transcendem fórmulas químicas, análises
farmacológicas, classificações taxonômicas. Para o fitoterapeuta tradicional,
existe uma série de outras propriedades, tão ou mais importantes que os
aspectos materiais da planta (Oliveira, 2004)3.
As plantas medicinais tornam-se sagradas quando transitam para outro
sistema, diferente daquele de sua origem, ou seja, o próprio contexto
vegetal, da imputação a ele de um valor sacral, conforme Camargo
(2005/2006).
Ainda neste contexto sagrado, podemos admitir que as plantas medicinais
estão presentes nos frascos, desempenhando um duplo papel, embora
complementares:
1º. Papel sagrado de valor simbólico, construído subjetivamente no mito e
legitimado no rito, em consonância com a interpretação etiológica de cunho
religioso, fazendo com que os frascos se impregnem de poderes curativos
emanados de forças sobrenaturais, conforme ditam os sistemas de crenças
aos quais o paciente , o curador e seu grupo social fazem parte. 2º Papel
funcional que cada planta desempenha, tendo em vista seu valor intrínseco,
baseado em seus princípios ativos e atividades farmacológicas
cientificamente comprovados, indicados para cada caso. Um exemplo de
plantas psicoativas capazes de proporcionar estados alterados de
consciência, possibilitando condições ideais para o contato com o
sobrenatural através do transe de possessão, quando as entidades invocadas
assumem seus papéis em rituais de cura. Essa categoria de plantas pode
proporcionar aos médiuns condições especiais na comunicação com os
pacientes, como linguagem verbal. Assim, em estado de transe, o médium
utiliza uma linguagem com forte carga emocional e convicção sobre seus
poderes, permitindo que os pacientes, impregnados de sentimento de fé,
admitam a cura desejada, segundo Camargo (2005/2006).
Essa dicotomia facilitará ao pesquisador embarcar em discussões mais
ousadas, tendo em vista a multidisciplinaridade que caracteriza a
Etnofarmacobotânica, ao abrir caminhos, permitindo ao estudioso perceber
como se dá o processo interativo que se estabelece entre os valores
intrínsecos das plantas. e a forma como o paciente, baseado em sua fé
religiosa, vivencia a interpretação etiológica e a terapêutica indicada, que
garantirá a cura almejada.
O valor religioso no resultado das terapias tem sido considerado por
segmentos acadêmicos, pois admitem que a saúde das pessoas pode ser
determinada pela interação de fatores físicos, mentais, sociais e espirituais.
Citamos (Saad et al., 2001), quando nos referimos à força no poder de
certos aspectos da espiritualidade, de “mobilizar energias e iniciativas
extremamente positivas, com potencial ilimitado para melhorar a qualidade
de vida de uma pessoa”. Peres e cols. (2007) citam a integração da
espiritualidade e religiosidade no manejo da dor, proporcionando melhor
qualidade de vida aos pacientes, oferecendo-lhes condições de suportá-la.
Na medicina popular, os curandeiros geralmente têm como objetivo básico
devolver ao indivíduo que padece o estado anterior ao aparecimento da
doença que o atormenta. Isso, porém, pode traduzir-se em dor física
localizada, que permitirá ao curador, após uma interpretação etiológica,
determinar o órgão afetado ou a parte do corpo afetada. Em geral, esses
promotores do bem-estar físico, mental e espiritual não prescindem da
participação do médico e dos recursos técnicos e científicos disponíveis.
Nós os temos, porém, como complementares, na tomada de decisão sobre o
diagnóstico e a terapêutica a ser adotada, que pode ser a mamadeira. Neste,
serão agrupados os componentes que o curador conhece historicamente,
aprendidos a partir de ensinamentos transmitidos de geração em geração.
Pumar-Cantini (2005) observou por meio de uma curandeira, sua
informante, que a escolha das plantas, no preparo de um frasco, não é
necessariamente feita de forma racional, pois ela criou e recriou seus
frascos, não seguindo uma lógica na escolha das plantas.
Seguindo o raciocínio de Lévi-Strauss (1975), o suposto poder curativo das
garrafas estaria em sua eficácia simbólica, que pode ser determinada da
seguinte forma:
1º Pela crença do curador na eficácia das técnicas por ele adotadas,
provenientes de dádivas divinas.
2º Pela crença do curador na eficácia das técnicas que adotou, com base em
sua experiência pessoal, demonstrando total segurança no que faz.
3º Pelo consenso expresso por todo o grupo familiar, social e religioso nos
reais poderes curativos do curador e, por extensão, também da bebida
engarrafada (Camargo, 2005/2006).
Na verdade, há algo como uma cumplicidade entre o curador e o paciente
em torno do poder simbólico da cura, que supostamente está presente na
garrafa. Situação que se cria não apenas em reuniões coletivas, onde se
reúnem adeptos desta ou daquela crença; mas, também, com a mesma
intensidade, tal cumplicidade ocorre quando um curador encontra seu
consultor isoladamente. São momentos divinizados, como todos os
envolvidos entendem.
Muitos estudiosos têm pesquisado garrafas. Essa é uma tarefa difícil se o
objeto de pesquisa estiver centrado nas plantas indicadas pelo informante,
cujos nomes comuns confundem o pesquisador. No entanto, há curadores
que, residentes em zonas rurais, preparam-nas com as plantas que têm à
disposição, nas imediações das zonas onde vivem, uma vez que raramente
as adquirem no comércio urbano. Nessas condições, é possível a coleta das
plantas mencionadas pelo informante, bem como o retorno do pesquisador a
essas áreas, se necessário, para obtenção das espécies em época de floração,
para a devida identificação botânica.
Já as plantas expostas à venda em feiras e feiras geralmente não são
passíveis de identificação. Isso porque muitas vezes lidam com fragmentos
de raízes e cascas, sementes ou outro material seco, já danificado pelo
tempo de exposição e que, mesmo aqueles em embalagens precárias, estão
todos sujeitos à infestação por fungos, sabidamente prejudiciais à saúde.
Porém, acreditando que este comércio é comum aos centros urbanos do
país, temos uma dúvida que nos leva a indagar: a permissão deste livre
comércio de plantas medicinais, onde a inexistência de qualquer tipo de
controle sanitário na orientação daqueles comerciantes, não estaria esse
ofício, indiretamente, legitimando a prática da automedicação, tão
combatida pela biomedicina, baseada no velho e ultrapassado lema:
“plantar remédio, se não for bom, não é ruim”?
Preocupados com a presença das práticas médicas populares nas sociedades
brasileiras contemporâneas, segmentos do meio acadêmico vêm propondo
uma discussão, remetendo a uma reflexão sobre a relação entre o poder
médico hegemônico e as práticas relacionadas aos “curandeiros”. Com base
em temas das áreas das Ciências Sociais e da Saúde Coletiva, Puttini (2008)
apresenta a seguinte afirmação: “como a curandeirismo – um aspecto
negativo para o campo médico – se torna um aspecto positivo no campo da
Saúde Coletiva”, orientado pela Saúde Coletiva Políticas. Isso, de certa
forma, já era mencionado na década de 1960 pelo sociólogo Cândido
Procópio de Camargo (1961), quando apontava os fatores que levavam as
pessoas a aderirem a religiões mediúnicas, como a Umbanda e a Kardecista.
Admitia estar no papel terapêutico, o que alimentava a expectativa de cura,
sentimento não garantido pela medicina oficial, devido à sua inoperância e
ao alto custo para a classe média, que recorria aos recursos médicos
oferecidos à época. Este fato nos lembra aquele Kardecista, vindo da França
em meados do século XX. XIX foi atraído, a princípio, pela classe dos
indivíduos mais cultos para, posteriormente, tornar-se popular e, ainda,
exercer sua influência na Umbanda.
Assim, podemos admitir que a Triaga Brasílica, transmutada em vinho
engarrafado, embora bicentenária, se mantenha muito atual. E,
possivelmente, assim permanecerá por tempo indeterminado, até que os
envolvidos com as Políticas Públicas de Saúde voltem seus olhos para esta
realidade do povo brasileiro, que deposita na fé religiosa toda esperança de
cura de seus males. Cabe a essas autoridades abrir novos caminhos na
atenção básica para quem utiliza os serviços públicos de saúde.

Conclusão
A bibliografia consultada permite admitir que se trata da herança
engarrafada das antigas triagas, polifarmácias que remontam à Antiguidade
Clássica.
A partir da análise dos dados coletados na pesquisa de campo e nas obras
consultadas, foi possível traçar o perfil da bebida engarrafada no cenário
médico popular brasileiro, bem como determinar o motivo de sua
permanência nas sociedades contemporâneas. Neste sentido, podemos
admitir que o seu “poder curativo” assenta nos efeitos da fé religiosa, ao
alimentar a esperança de cura, na “certeza da eficácia do frasco”,
sentimento que não é garantido pela medicina oficial , em nenhuma de suas
formas de atenção aos enfermos que batem à sua porta. Isso é
a razão de admitir que qualquer tentativa de tentar entender e explicar esse
inusitado poder curativo transcende nossa compreensão, ultrapassando
inclusive os limites dos recursos laboratoriais disponíveis para análises
químico-farmacêuticas dessas formulações que, nem sempre, obedecem a
critérios lógicos, segundo determinantes científicos, na seleção de seus
componentes.

Theriaca Brasilica – Theriaca brasileira

A História do Theriac

170 aC
THERIACA. A descoberta do antídoto
Os médicos da Grécia clássica tentaram tratar as picadas de cobras
venenosas com uma mistura de erva-doce, erva-doce e alcaravia. A receita
desta cura foi gravada na parede do Kos Asklepieion. O medicamento foi
chamado theriaca, um termo usado pela primeira vez por volta de 170 aC. é
mencionado por Nicandros de Colophon, médico, gramático e poeta.
Theriaca (via latim theriaca do grego thēriakón (antídoton) de thēr(ion))
significa animal, animal selvagem, animal venenoso. Isso costumava
significar cobras.

Aproximadamente. 100 AC
MITRITADO. A descoberta do princípio da semelhança
Mitrídates VI. Eupator (* 132 aC; † 63 aC), rei de Pontos na Ásia Menor,
tinha motivos para temer ataques de veneno de sua família e daqueles ao
seu redor, porque quando jovem ele provavelmente envenenou seu pai e sua
mãe para ganhar poder. Com a ajuda de seu médico pessoal, ele expandiu a
receita do Theriaca de 37 para 54 ingredientes, incluindo componentes de
animais "resistentes a venenos", como sangue de pato, cobra e carne de
sapo. Depois dele, o remédio que ele mesmo teria tomado para prevenir
ataques de veneno também foi chamado de mithridat ou mithridatium.
Segundo a lenda, após perder uma guerra, o rei tentou se matar com um
veneno, que falhou devido ao mitridate. Um escravo teve que esfaqueá-lo
ao seu comando.
Além da carne de cobra, esta receita também continha ópio como um
intoxicante para aliviar a dor.
Com o mitridate, de fato, estabeleceu-se o princípio dos semelhantes - a
cura do mesmo com o mesmo ou com algo semelhante, que mais tarde
desempenharia um papel proeminente na homeopatia.

130-210 DC
ANTÍDOTO. Galeno consagra o princípio do antídoto
Galeno, um médico grego e anatomista que trabalhava em Roma, escreveu
um trabalho sobre o Theriaca e o antídoto. Antídoto (contra + dar) é o que
os gregos chamam de antídoto para venenos. Galeno generalizou o
princípio e estabeleceu o princípio de que todo veneno tem um antídoto.
Que toda doença se deve, em última instância, a envenenamento. E que os
antídotos são sempre venenos, apenas que têm um efeito curativo em baixas
concentrações, enquanto os venenos em todas as concentrações seriam
venenosos. Esta descoberta formou a base para o conceito posterior de
Panaceia. Ele forneceu vários imperadores, incluindo Marcus Aurelius com
seu Theriaca. Seu ensino teve uma influência decisiva na medicina
convencional por mais de 1.500 anos.

A partir de 1.500 DC
PANACEIA. O Desenvolvimento de - Theriaca Veneziana
Na Idade Média, a alquimia deu origem à ideia de panacéia, uma panacéia
baseada em uma composição de até 300 substâncias individuais. Alguns
componentes alquímicos foram adicionados. Enquanto Galen ainda se
concentrava na desintoxicação e proteção contra infecções, as novas
fórmulas agora devem curar todas as principais doenças internas e externas.
Panakea (latim Panacea) é filha de Esculápio e a personificação da cura
com ervas medicinais. É invocado no início do Juramento Médico de
Hipócrates. Segundo ela, a Panacéia é chamada de remédio universal
místico.

1754 DC
FARMACIA. Padronização da formulação - Theriaca Coelestis.
Ao longo dos séculos, o grande número de plágios fez com que a produção
do Theriaca fosse colocada nas mãos das farmácias. Desde Nero, a
produção geralmente ocorre como parte de um evento público - mais
recentemente em 1754 DC. na farmácia esférica em Nuremberg. As
instruções de fabricação foram assim padronizadas e documentadas.

Aproximadamente. 1600 – 1800 DC


THERIACA BRASÍLICA. A descoberta da medicina nativa americana.
Durante muitos séculos a arte e o poder de curar esteve nas mãos dos
Jesuítas. Foram eles também que trouxeram o Theriaca para o Brasil, onde
a partir de 1600 DC. havia uma grande necessidade de remédios. No
entanto, as possibilidades de obter as matérias-primas da Europa eram
limitadas e caras. Os estudiosos mergulharam na naturopatia xamânica e
começaram a usar seus conhecimentos por dois motivos. Por um lado, eles
descobriram que os remédios nativos americanos eram, em sua maioria,
mais fortes do que os remédios europeus. Por exemplo, eles conseguiram
substituir o veneno de cobra e o ópio por remédios fitoterápicos naturais
muito mais poderosos. Por outro lado, era importante para os jesuítas
manter a soberania sobre a cura. Especialmente porque os índios usavam as
ervas como meio de comunicação com seus deuses.
Com o tempo, surgiu uma THERIACA BRASÍLICA estritamente secreta,
tão eficaz e bem-sucedida que foi por muito tempo a principal fonte de
renda dos jesuítas do Colégio de Jesus da Bahia. A panaceia era
comercializada numa botica em pequenos frascos. A Botica foi a semente
das farmácias posteriores - primeiro nas mãos dos Jesuítas e sob licença de
Coimbra, Portugal.
A Theriaca Brasilica está intimamente ligada à história da Companhia de
Jesus. Foi seu fundador, Ignácio de Loyola, quem encarregou o padre
português Manuel da Nóbrega e seu melhor amigo e colega de estudo, o
padre basco José Anchieta, de estender o ensinamento ao Brasil. Eles
fundaram as duas grandes cidades de Salvador da Bahia e São Paulo. Os
jesuítas eram ao mesmo tempo missionários e defensores da liberdade e dos
direitos dos índios. Especialmente Manuél da Nóbrega fez muito pela
compreensão dos índios e pela luta contra sua escravidão.
O Colégio de Jesus de Salvador funcionou de 1553 a 1759, ano do exílio
dos jesuítas. A escola mais tarde se tornou a fundação da primeira
universidade médica do Brasil. Em algum momento, provavelmente depois
de 1600, foi criada a receita da Theriaca Brasilica.
Após o colapso da estrutura jesuítica devido ao banimento dos jesuítas de
Portugal, Espanha e Brasil, o Theriaca caiu no esquecimento, especialmente
porque a receita se perdeu com a retirada dos jesuítas. A ideia da medicina
natural em frascos - para cura e magia - sobrevive até hoje na forma do que
se conhece como "garrafada". Ainda hoje é usado em muitas tradições
locais no Brasil.
A Theriaca Brasilica foi mencionada pela primeira vez em um documento
em 1716 pelo alquimista português Semedo, mas certamente foi usada por
muito mais tempo. Após a perda da receita, a Theriaca caiu no
esquecimento até ser redescoberta e publicada em 1953 pelo Padre Serafim
Leite enquanto estudava antigos escritos da "Companhia de Jesus"
guardados em Roma. Mas os nomes dos ingredientes não podiam ser
atribuídos com clareza, porque eram uma mistura de língua indiana, língua
local da época ou mesmo latim. Há poucos anos, após anos de pesquisa, o
professor brasileiro Bruno Martins Boto Leite conseguiu atribuir os
ingredientes da receita às plantas medicinais. As instruções de fabricação
também foram decodificadas.
Baseada na escola alquímica de Paracelso, ancorada em Portugal por
Semedo, a receita foi posteriormente ampliada pelo padre André da Costa
para incluir alguns ingredientes que fizessem jus ao princípio espagírico do
enxofre, sal e mercúrio.

Estrutura da receita

Abaixo estão os nomes tradicionais dos ingredientes ativos em sua


designação original. Ingredientes classificados como drogas e extratos
animais são excluídos aqui.
Roots (“Raiz de”: Abuta - Urubu-cáá (Erva do Diabo) - Capeba - Aypo -
Jurubeba - Jarro - Jarrilho - Angericó - Limão - Junça - Ácoro - Tamaturana
- Malvaisco - Jaborandi - Pagimiroba - Orelha-de-onça - Aristoloquia
redonda - Batata do Campo - Ipecacoanha negra - Ipecacoanha branca -
Contra-Erva
Cascas (“Cascas de”: Cipó de cobras - Canella da Índia - Cravo do
Maranhão - Angélicas - Ibiraé
Flores (“Flores de”): Noz moscada - Assafrão - Erva cáácica ou Erva de
sangue
Sementes (“Sementes de”): Cidra - Erva doce - Cominhos - Salsa da horta -
Pindaíba - Nhambuz - Urucu secco em torciscos
Extratos (“Extrato de”): Ópio - Alcaçuz - Angélica - Pindaíba
Resinas : Bálsamo do Brasil - Goma arabia - Incenso - Mirra - Cato -
Almessega da India - Terbentina fina
Óleo : Castório
Tintura : Tintura de Castorio
Argilas e Cura Terras : Terra sigilada - Terra de São Paulo - Pedra de
Cananor - Capa roza-calcinada
alquímico Acréscimo : Espírito de Marte

Na versão alargada dos Padres André da Costa constam ainda:


Essencial Óleos (“Olio chimico de”): Cascas de laranjas – Salsafraz –
Pindaíba - Erva doce – Funcho – Canela -Salva - Casca de limõens
Sais (“Sal chimico de”): Sal hercúleo – Cravo – Canella – Alecrim –
Tabaco – Caroba – Chirorea – Borragens – Pindaiba – Arruda – Cardo
Santo

Fabricação

A produção da Thiriaca Brasilica foi transmitida muito bem e pode ser bem
compreendida com o conhecimento dos princípios e possibilidades técnicas
vigentes na época.
Princípio 1. Separação dos elementos Enxofre - Sal - Mercurius como a
correspondência de mente-corpo-alma ou o espiritual (a essência), o
material (a estrutura) e o mutável (o líquido, o pastoso, o conector). De
acordo com o princípio espagírico de Paracelsus, os três componentes
Enxofre - Sal - Mercurius são preparados separadamente. Enxofre é o
princípio espiritual que se obtém através da destilação, por isso aqui estão
os óleos essenciais. Sal é o princípio material, então aqui estão os sais.
Mercurius é o elemento de mudança e conexão, ou seja, a mistura global da
receita original.
Princípio 2. Produção da fase Enxofre por destilação das matérias-primas e
sua combinação. Hoje, isso corresponde à produção de óleos essenciais. (
Ólio Chimico )
Princípio 3. Produção da fase Sal por evaporação, dissolução e cristalização
das matérias-primas. Os sais permanecem (hoje se diria os oligoelementos,
os sais cristalinos: naquela época, os sulfatos eram particularmente
importantes, assim como oligoelementos como cobre, zinco, ferro). ( Sal
Chimico )
Princípio 4. Produção do Mercurius .
a) As matérias-primas são separadas em sementes, flores, cascas,
resinas, óleos, etc. são primeiro moídas finamente e depois
extraídas com diferentes materiais de base alcoólica.
b) As fases se misturam
c) Uma “matriz” previamente fervida é adicionada à fase. Na versão
ingerida anteriormente, era principalmente vinho branco e mel, no
caso de uso externo esta é uma matriz correspondente (WE: glicóis,
que mais tarde também servem para hidratar e também são
poderosos extratores).
d) A matriz fica à luz do dia por 6 meses e é mexida diariamente.
Princípio 5. Fusão de Enxofre - Sal - Mercurius
a) Ao final dos 6 meses, são adicionadas as duas frações de Enxofre e
Sal , ou seja, os óleos essenciais e os sais.
b) Segundo a tradição, esse elixir/antídoto é enterrado no solo por 21
dias e depois liberado para uso.
Princípio 5. Incorporar o elixir em uma base de aplicação neutra.
Independentemente de ser creme ou sérum, utilizamos uma base que já está
presente no elixir. O antídoto deve ser diluído, caso contrário, é muito forte.
Isso se aplica ao uso interno e externo. E os jesuítas também sabiam que a
matriz é importante para a eficácia. Assim, quando tomado internamente, o
mel era um potencializador conhecido do efeito (aumenta a
biodisponibilidade). Como os cremes, pomadas, elixires.
A propósito: o Theriaca foi coloquialmente usado como cosmético por
muitos séculos e foi coloquialmente chamado de "elixir da eterna
juventude".

A implantação da Garrafada no contexto dos Catimbós

Quem não conhece bem os fitofármacos, inclusive na jurisprudência


européia, deve abster-se de preparar e utilizar a garrafada, principalmente se
for para ingestão. Também deve ser usado com cautela para uso externo,
pois uma concentração muito alta de óleos essenciais e certos ingredientes
ativos pode desencadear alergias. No caso dos banhos, isso é menos
problemático porque o tempo de contato com a pele é muito curto.
A Garrafada pode ser implementada no contexto ritual dos Catimbós, entre
outras coisas, como segue:

1. Como um ritual mágico de empoderamento ou proteção. Para


tanto, são preparadas misturas rituais de ervas à base de óleos
potencializadores ou repelentes, álcool, vinagre, mel, vinho e
enterradas por dias ou semanas, se necessário, considerando as
fases da lua. Como regra, os nomes das pessoas envolvidas são
indicados em papel nessas garrafas. Essas garrafas são destruídas
depois de um certo tempo, ou seja, não são utilizadas. Formas de
aplicação bem conhecidas são, por exemplo, composições contra
vícios de drogas, álcool, etc.
2. Como carregamento de banhos de ervas
3. Como base de tinturas, cremes para aplicação tópica

Ervas listadas em Meleagro

Flora Medicinal Do Catimbó. Banho De Cheiro (Banhos Aromáticos).


Remédios Tradicionais.
Aqui está a flora medicinal do Catimbó. É parte essencial e mais citada nas
prescrições verbais. O fabricante e vendedor das “garrafas” não é o “mestre
de mesa”, o homem do Catimbó. Comumente aconselha e, nem sempre,
vende as raízes, folhas, sementes, raspas consideradas raras. O natural é
dizer o que funciona para os males do querente. Quase todos esses remédios
são encontrados em mercados públicos. Existe até um catálogo de
ervanários do Rio de Janeiro e de São Paulo, pessoas com estoque
inesgotável.
Abacate (Abacate) - Laurus persa, diurético, limpador renal (chá das folhas)
e dado como estimulante sexual (fruta), substituto da catuaba.
Agrião (Agrião) - Nastrutium officinalis, tosse, fortificante dos brônquios e
pulmões, carminativo. A fama já vinha da Europa.
Alecrim (Alecrim) - Rosmarinum officinalis. Vulnerário, para banhos, chá
para rouquidão, tosse, sufocamento. Tem maiores virtudes quando retirado
da liteira de Nosso Senhor dos Passos, na Sexta-Feira Santa, quando há a
Procissão do “Encontro”. O alecrim é muito popular na bruxaria
portuguesa. Leite de Vasconcelos recolheu uma banda desenhada em Vila
Nova de Gaia:
Quem pelo alecrim passou
E não cheirou,
Se mal estava ,
Pior ficou!
Quem passou por alecrim
E não sentiu cheiro,
Se foi mal,
Piorou!
É o alecrim europeu, conhecido pelo seu aroma suave e persistente.
Perfumes agradáveis e incisivos afastam os maus espíritos. O fedor é
demoníaco. “Fedorento”, “Sujo”, são sinônimos diabólicos no Brasil.
Alfazema (Lavanda) - Lavandula vera, aromático, sedativo, chá para cólicas
intestinais. Misturado com tabaco faz com que a dor de dente desapareça.
Perfuma a água do primeiro banho do bebê, incluindo o poder antimaléfico.
Logo após o parto, eles queimam lavanda e o cheiro anuncia “menino
novo” para a vizinhança.
Alho (Alho) - Allium sativum, sudorese, tosse, gripe, dor de dente.
Esfregado nos pulsos, nas têmporas e no peito, dado à respiração, vale o
éter etílico na vertigem. Susto de bruxa prodigiosa, mau-olhado, travessuras
em toda a Europa. Amarrado aos pólos, dissipa as tempestades formadas
pelos demônios (Grécia). Triturar alho com o estômago vazio elimina o
mau-olhado (Portugal). A fumigação com alho livra o tapuio, que se
apaixonou pela mãe d'água, de cometer suicídio ao correr para o rio para
encontrá-la. Um alho machucado afasta o amoroso golfinho que persegue a
menina (Brasil, Amazônia). Todos os animais e seres fabulosos temem o
alho e fogem dele como Horace fugiu enojado.39
Angélica - Guettarda angelica, emenagoga, febrífuga, contra dispepsia e
doenças uterinas. Considerado abortivo quando infundido repetidamente.
“Onde tiver angélica, pare quem quiser.” Nome de um “Mestre do além”.
Angico - Acacia anjico, antiespasmódico, peitoral, antiblenorrágico. O
xarope é um dos remédios populares antigos. O botânico FC Hoehne
informa: “Talvez seja interessante saber que uma espécie muito próxima a
esta, também vulgarmente conhecida por "Angico", é a planta a que se deve
o vício do rapé. Quando os da comitiva de Cristóvão Colombo viram os
silvicultores deste continente cheirando um pó acastanhado, eles, que já
haviam notado anteriormente esses mesmos homens fumando as folhas de
Nicotina tabacum, L., pensaram que esse pó ou rapé era feito do mesmo pó
seco e folhas moídas, e, sem exame prévio, anunciaram essa nova aplicação
do fumo, implantando assim, em poucos anos, um vício terrível. Mais tarde,
houve botânicos que verificaram que o pó usado pelos índios era feito das
sementes torradas de Piptadenia pelegrina, Bth.” O rapé dos indígenas
chama-se paricá, indispensável na Pajelança.
Arroz - Arroz - Saliva Oryza, doenças intestinais, refrescante, diurético.
Arruda - Ruta graveolens, rue francesa, weinraute alemã, ruda castelhana.
A lição de FC Hoehne explica: “Esta planta é conhecida desde os tempos
antigos e usada como tônico para os nervos e sudorífico; também é famoso
como aperitivo, razão pela qual os romanos o usavam até como tempero.
Tomado em altas doses é tóxico. Eles também o usam como emenagogo e
para provocar abortos. As sementes são inseticidas e anti-helmínticas. ”
Amuleto tradicional contra o mau-olhado. Basta usá-lo e tê-lo em casa para
manter os bandidos longe. Eles fazem figos para crianças de madeira. Os
negros e mestiços carregavam uma arruda atrás da orelha, evitando que
quebrassem. Debret desenhou e comentou a cena das vendedoras da rua
(PICTURESCA E VIAGEM HISTÓRICA AO BRA SIL, II, 168, ed.
Martins.) Participa de fumigações e defumações. muito popular. “Más
conocida es esta vieja que la ruda”, diz LA CELESTINA (ato IV, final do
século XV). Inseparável dos “banhos de cheiro” para lavar o corpo das
infelicidades, urucubacas, fardos, malefícios, atrasos.
Barbatimão - Stryphnodendron barbatimão, adstringente capaz de favorecer
a simulação da virgindade; hemostático, antigonocócico, administrado em
leucorréia, hemorragias uterinas, gargarejo em feridas bucais. Hoehne
informa: “Ela (a casca) é usada por mulheres imodestas para preparar o
banho com o qual lavam os órgãos genitais; pelo alto poder estíptico da
casca, esses banhos fazem contrair os lábios vaginais." (O que vende
Ervanários da Cidade de São Paulo, 56.)
Batata - De - Purga - Piptostegia pisonis, purgativo. Nas receitas do
Catimbozeiro, reina a doutrina do humor. As doenças são desequilíbrios,
abundância desses humores. Para limpar internamente o corpo, liberá-lo da
carga, eliminando as sobras, a purga é soberana, insubstituível. Houve uma
limpeza mensal ou trimestral. Ninguém dispensaria o purgativo como
garantia de saúde, colocando tudo para fora, descarregando. Um camponês
do Dr. José Mariano Filho, disse-me que este querido amigo falecido,
pediu-lhe dois purgantes: um para sacudir e outro para arrastar! explicou.
No inverno, era purgado com o sol quente. No verão, a purga tata era bebida
com o estômago vazio, ao amanhecer. Era uma reminiscência de doenças
frias e quentes, aplicadas à meteorologia. O purê de batata era ralado,
enfarinhado e espalhado na compota de batata-doce, bem densa e saborosa,
para as crianças comerem, purgando-se insensivelmente. Depois vinha a
guarda, a velha guarda, meticulosa e exigente, três a oito dias de cama,
lenço amarrado na cabeça, meias brancas nos pés, algodão nas orelhas,
quase sempre deitado e no escuro. O purgativo era uma cura completa, com
dieta e repouso. No Catimbó, a mesa é a mesma de antigamente, mas a
obrigatoriedade é bem menor, reduzida às condições pessoais do paciente.
Batata ( Batatas ) — Morea aphylla, purgativa, anti-reumática e dada como
preparação para tratamentos prolongados.
Cabacinho - Monordica bucha, purgante, de efeito moderado mas infalível.
No sul chamam de “bu cha, buchinha”, mop, Luffa dos árabes. Conhecido e
usado na Europa, Ásia e África. Eles a confundem com “Luffa operculata,
L.” Buchinha do norte, buchinha de São Paulo, purga de pai-joão.
Cabeça - De - Negro - Guarea múltipla, purgativa, depurativa, anti-sifilítica.
Catingueira - Cesalpina bracteosa, pulmões, brônquios.
Catuaba - Anemopaegma mirandum, estimulante, afrodisíaco de grande
fama.
Cidreira - Melissa ofjicinalis, sedativo, calmante, corretivo intestinal. É
comumente chamado de erva-cidreira. O chá é um elemento antigo e
prestigioso da medicina caseira. Em Portugal a reputação é a mesma. Uma
velha sábia, ex-servidora de um médico, disse ao Dr. Armando Leão: “As
caças de cidra são de grande virtude. Olha, meu Senhor, o velho doutor
d'Arrifana, sempre me zuniu: ó mulher, se soubessem quanto vale este
pranto, parariam as farmácias."
Cumaru - Torresia cearensis, expectorante, antiespasmódico.
Dendê - Elais guinéensis. O óleo de palma é indispensável nos candomblés
e macumbas. Ele até deu um Orixá, Infa. Nos antigos Catimbós, servia para
ungir as mãos e os pés do candidato no “fechamento do corpo”. Não é mais
usado nos atuais Catimbós. Às vezes são usados em fricções contra ataques
reumáticos.
Fedegoso - Tiaridium elongatum, antiespasmódico, usado em banhos
aromáticos, anti-helmíntico, febrífugo, emenagogo, abortivo.
Fumo (Tabaco) - Nicotina tabacum, vulnerário, dessecante, hemostático.
Hortelã (Hortelã) - Mentha viridis, carminativo, antiespasmódico, para
infusões de bechal. Todas as balas são pregadas.
Ipecacuanha - Cephalis ipecacuanha, vermífugo, vomitivo, expectorante.
Jalapa - Ipomae megapotamia, purgativo energético, um dos mais fortes,
nas receitas do Catimbó. Para o uso do jalapa todos os cuidados são poucos.
Eu confundi com purê de batata. Existem muitos tipos de ja lapa.
Jucá - Caesalpina ferrea, hemostático, contra tosse rebelde e trauma.
Remédio simpático: as melhores tortinhas são feitas com o miolo do jucá. O
verbo “matar” em Nheengatu é yuca, jucá. Ao contrário.
Jurema - Mimosa nigra, a Jurema negra, Acácia Jurema, a branca. Usava as
raízes, cascas, sementes, muito receitadas para todos os males. Planta
amuleto, a mais poderosa e cheia de tradições de encantamento indígena.
Não há feiticeiro sem arruda e Catimbó sem Jurema. Uma lasca embebida
em aguardente e abençoada pelo “Mestre” é preciosa como protetora. Os
indígenas bebiam a Jurema para provocar sonhos extáticos. No Catimbó
usam misturado com cachaça. Raramente aparece nas macumbas e
feitiçarias do Sul. O botânico FC Hoehne não a encontrou nas coleções dos
ervanários de São Paulo. Tampouco ocorre na Pajelança amazônica. O
prestígio está condicionado à área geográfica do cultivo natural. A ação da
Jurema no Catimbó é mais tradicional, mágica, prestígio do nome. O Prof.
Carlos Estêvão,41 diretor do Museu Goeldi, em Belém do Pará, assistiu à
festa secreta do Ajucá, preparação da Jurema entre os descendentes dos
índios Pancararus, no Brejo dos Padres, em Taracatu, Pernambuco, janeiro
de 1938. macerar , colocando-o na água que aos poucos vai ficando
avermelhada e espessa. A espuma é removida da superfície. O velho
Serafim, que dirigia a cerimônia, iniciou o rito: "... acendeu um cachimbo,
feito de raiz de Jurema, e colocando-o em outra direção, ou seja, colocando
a parte onde se coloca o fumo em seu boca. , soprou-o contra o líquido que
havia na vasilha, fazendo com a fumaça uma figura em forma de cruz e uma
ponta em cada um dos ângulos formados pelos braços da figura.”
Trouxeram a cuia, colocando-a sobre duas folhas de uricuri. Todos se
sentaram em volta dela, inclusive duas velhas cantadeiras, e os cachimbos
foram acesos, passando de mão em mão numa fumaça fraterna. Maracá na
mão, cantou um louvor a Nossa Senhora. E foi feita a distribuição do Ajucá,
ou seja, foi apresentada a tigela, e todos tomaram alguns goles,
reverentemente. O resto foi sepultado. Tudo aconteceu ao som de cantos e
da fumaça do cachimbo. Os cantores abençoaram o auxiliares, e todos
dispersos. Comparando a cerimônia do Ajucá com a do Catimbó, nesta há
uma forte sobrevivência indígena na conservação de um cerimonial quase
idêntico. A fabricação do licor verde e amargo, como escreveu José de
Alencar, dado aos guerreiros , não foi transmitido aos brancos.
Jurubeba - Solanum paniculatum, para doenças do fígado e baço. claro. Os
frutos, extremamente amargos, devem ser mastigados, com a insistência de
uma goma, durante meses e meses. Não há doença hepática que resista à
Jurübeba. Eles usam a decocção, bebendo-a como água.
Macela - Anacyclos aures, branco, contra febre, vermes, gripe.
Malva - Malva sylvestris, sedativo como cataplasma e culinária.
Mamão (Mamão) - Carica mamão, chá das folhas contra distúrbios
gastrointestinais, enxaqueca, inchaço.
Manaca - Brunfelsia hopeana, depurativo. MANJERICÃO — Ocinum
mínimo, estimulante, para banho, aromático.
Marjourine - Origanum majorana, vulnerário, estimulante, para banho.
Mastruz - Chenopodium ambrosioiães, vomitivo, vermífugo, banhos.
Menstruz, mastruzo, mentruzo. Hoehne escreveu que o Mastruz nordestino
é conhecido no sul do país e na República Argentina como erva Santa
Maria.
Mata-Pasto - Cassia sericea, diurético contra tosse persistente, coqueluche.
Fazem um "licker" (calda) muito aplicado nestes casos.
Melão-De-São-Caetano - Monordica charantia, hemostático,
antiinflamatório.
Mucunã - Mucuna urens, doenças do trato urinário. A semente é usada
como amuleto contra o mau-olhado, enfeitando o colar das crianças pobres.
Mulungu - Erytrina corrallodendron, peitoral, calmante, emoliente. O chá
Mulungu é um remédio clássico para excitação nervosa aguda.
Pega-Pinto - Boerhavia hirsuta, diurético, anti-blenorrágico. Poejo, no Sul,
e Tangaraca. É uma bebida popular como refresco gelado no Ceará e no Rio
Grande do Norte.
Pinhão - Jatropha curcas, grande purgativo. Emético energético. Henry
Koster conta ter levado uns quatro pinhões, dados pela velha Antônia tinha
fama de ser uma manãingueira um tanto pobre e mesmo violenta. O pinhão
é o terror do Catimbozeiro. Uma surra dada com um galho de pinhão mata
todas as forças do feiticeiro, deixando-o fraco e desarmado por algum
tempo. Pedindo um “Mestre”, residente em Carrasco, além do bairro do
Alecrim, em Natal, soube que o homem havia “perdido as forças” para
qualquer trabalho durante meses “de uma surra que tinha levado com
pinhão”!
Quebra-Pedra - Phyllanthus corcovadensis, diu rética, dissolvente de
cálculos renais. Nasce em toda parte e é o primeiro remédio recomendado
“para a urina” e “para limpar os rins”.
Sabugueiro - Sambucos australis, febrífugo. Chá de flores e cascas quando
a febre "é teimosa". Francês Sureau, Alemão Holunãer, Inglês Bore-tree.4*
Salsa (Salsa) - Apium petroselium, emenagogo, sedativo, anti-sifilítico.
Tarumã - Vitex taruma, anti-reumático, banhos. BROOM — Scoparia
ãulcis, bechico, emolien
você. Quando os ramos são embebidos em cachaça com Jurema, o chão é
varrido para afastar o mau-olhado e as forças contrárias. Assim, os bairros
da casa do ca timbozeiro eram varridos em determinados dias do ano.
VELAME - Croton campestris, purgativo, catártico.
A MAGIA E OS FEITIÇOS

Fechamento de corpo - Encerramento/Proteção do


Corpo
Cascudo descreve esse rito da seguinte forma:
A chave era um importante elemento simbólico, não só para abertura e
encerramento das sessões espirituais, mas principalmente no ritual de
“Fechamento do Corpo”. Além de Cascudo, há um relato detalhado desse
ritual feito por Mário de Andrade, que foi levado por Cascudo aos Catimbós
de Natal e teve seu “corpo fechado” pelo famoso Mestre João Germano das
Neves. E é este ritual – a Oração da Chave a São Pedro – que
reconstituímos e atualizamos para uma Nova Era.

Oração Da Chave De São Pedro - Saint Peter's Key Prayer

Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita no


alto da cabeça), feche a Porta da minha cabeça às influências ruins (troca
mãos, sentado a direita embaixo) e abra a Porta de minha Coroa para-Luz
Divina.
Pelos poderes da chave de São Pedro (com uma mão em cada olho), feche a
Porta dos meus olhos a todas as ilusões e (com mãos cruzadas na testa com
a direita por baixo) abra a Porta de meu terceiro olho.
Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita na
garganta), feche a Porta de minha fala às palavras falsas e cruéis; e (troca as
mãos, posicionando-se a direita embaixo) abra a Porta de minha voz para
Verdade.
Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita no
centro do peito), feche a Porta do meu coração aos maus sentimentos e
(troca mãos, mantendo a direita embaixo) abra a Porta do meu coração para
Alegria.
Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita no
alto abdômen), feche a Porta do meu plexo solar aos medos e (troca mãos,
posicionando a direita embaixo) abra a Porta do meu plexo solar para Fé.
Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita
abaixo do umbigo), feche a Porta do meu corpo a todas as doenças (troca
mãos, posicionando a direita embaixo) e abra a Porta do meu corpo para
Saúde.
Pelos poderes da chave de São Pedro (mão esquerda embaixo da direita
sobre a pélvis), feche a Porta do meu sexo aos desejos inconvenientes e
inadequados; e (troca as mãos, posicionando a direita embaixo) abra a Porta
do meu sexo para Satisfação e o Contentamento.
E feche meus trabalhos com o poder de São João (batendo sete palmas) e
abro meus caminhos com o sabre de Salomão (batendo sete palmas).
Amém!

Detalhes e adaptações

A oração da Chave de São Pedro pode ser feita individualmente, em duplas


ou em grupos em roda. Nos três casos, após o término da oração, devem-se
bater sete palmas, uma em cada um dos centros trabalhados, e ao final dizer
o encerramento: “E encerro meu trabalho (...); E abro meus caminhos (...).”
No caso de duplas, a segunda pessoa do singular (“você”) deve ser usada no
lugar da primeira pessoa (eu). Então, diga: "...feche a porta da sua cabeça..."
e não "da minha cabeça".
Em duplas, a Oração pode ser realizada simultaneamente, com ambos os
participantes recitando e recebendo a imposição, ou cada um
desempenhando os papéis de emissor e receptor separadamente, cada um
por vez. No primeiro caso, também pode ser recitado simultaneamente por
ambos os participantes ou pela repetição de cada frase/gesto (o que é mais
aconselhável tanto para iniciantes como para casais com maior nível de
intimidade e concentração).
No segundo caso, em que os papéis de emissor e receptor não se alteram,
deve-se observar certa sincronia na respiração dos participantes, com
inspiração profunda e expiração longa em cada um dos sete pontos
trabalhados. A oração também pode ser acompanhada de
mentalização/visualização de cores em cada um dos pontos pelo remetente
experiente.
Na oração tradicional, utilizada no ritual de fechamento do corpo do
Catimbó, as pessoas que recebiam a imposição das mãos cruzavam as
pernas em pé, colocando o pé direito sobre o esquerdo. No entanto, este
procedimento só é aconselhável quando apenas um dos participantes recebe
o passe enquanto o outro recita a oração e faz a imposição das mãos. Nos
três casos mencionados acima (oração individual, em pares de forma
recíproca e em círculo) é aconselhável permitir o livre fluxo de energia em
vez de concentrá-la (isto é: manter as pernas paralelas, os joelhos
ligeiramente dobrados e os pés descalços). em contato com o solo).
Em círculo, a oração é rezada três vezes seguidas: a primeira nas costas de
quem está à nossa esquerda, a segunda nas costas do nosso companheiro da
direita e, finalmente, individualmente. Além disso, nesta modalidade é
aconselhável usar a repetição, com uma única pessoa recitando as palavras
e executando os gestos e os demais repetindo. Nesse caso, o fechamento da
oração (com as duas séries de sete palmas) só é feito ao final do terceiro
tempo.
Em outra obra Ribeiro assim descreve:
O “fechamento do corpo” era outrora uma das razões supremas do Catimbó.
Nas macumbas e candomblés baianos do Rio de Janeiro, vendiam-se
amuletos capazes de tornar invulnerável o portador. Perdido o amuleto, o
homem sucumbiu. No Catimbó ocorre o processo de imunização de todo o
corpo, tornando-o impenetrável a balas quentes e facas frias, água viva e
morta, fogo, picada venenosa, peste e mal. Os Catimbozeiros modernos que
consultei são mais modestos. Eles não acreditam mais que seja possível
uma oração ou cerimônia evitar bala, faca, água corrente e a força do mar.
Tudo isto se deve ao pecado, isto é, ao facto de já não haver um "Mestre"
que cumpra fielmente os seus deveres como no passado. Os "Mestres do
Além" não diminuíram seu poder. É aqui na Terra que já não existem
pessoas capazes de receber o “bom saber”, na antiga plenitude da sua
eficácia. Um conto popular dos torodos negros evocava essa
impenetrabilidade do corpo humano defendida por um poderoso gris-gris.
Na GESTE DE SAMBA GUELADIO DIEGUI este príncipe sozinho
enfrenta centenas de pastores. É portent de golpes de samba mais les lances
ne pénétrent pas, car il a de trop bons grisgris. (Biaise Cendrars,
ANTHOLOGIE NÈGRE, 141, Paris, 1927.)
A cerimónia “fecha-o-corpo” é intuitiva e simples, baseada nas simpatias da
irresistível repetição. A cliente paga o “sapato da sessão”, valor estipulado
para fechar o corpo. A sala é fechada, o castiçal é aceso, o “Mestre” abre a
sessão. Após o processo de defumação, goles de Cauim, o Mestre sopra a
água e despeja em uma nova tigela de lata. O candidato tira os sapatos,
entra na bacia, equilibrando-se, com o pé direito sobre o esquerdo. Essa
posição, um pé sobre o outro durante a oração, merecia confiança absoluta
daqueles que tinham orações fortes, conferindo invulnerabilidade. Era um
elemento da feitiçaria européia e havia sido registrado nos clássicos do
continente ibérico. Na TRAGÉDIA POLICIAL, 1547, de Sebastian de
Fernández, a velha Claudina, ensinando um ensalmo a Salviano, exige que
ele declame sob esta liturgia: — Ponãras tu pie. ãerecho sobre tu pie
yzquierão. (ORIGE NES DE LA NOVELA, XV, 115, Menéndez y Pelayo,
Bue nos Aires, 1944.) Disse-me o Sr. Juvenal Lamartine, ex-governador do
Rio Grande do Norte e conhecedor do velho sertão nordestino, que o
famoso Tomás Um francês, de prestigiada família Acari, mas impulsivo e
cheio de paixões e violências, encontrou um antigo inimigo seu e este, ao
vê-lo, em vez de se defender ou fugir, pôs um pé em cima do outro e
começou a fazer uma oração. oração que o tornaria invisível. Acabou no
outro mundo.
Com um pé em cima do outro, dentro da bacia que tem água soprada pelo
Mestre, como em obediência a um rito de Pajelança onde o sopro, peiuuá, é
a essência, a materialização da força espiritual do pajé , o candidato reza o
Credo em Deus Pai até a passagem morta e saltada, substituindo- o pela
frase guardado e fechado seja meu corpo a todos os meus inimigos,
encarnados e desencarnados. O Mestre, pegando a chavinha de aço,
aproxima-se, dizendo, em recitação semi-cantada:
Fecha-te órgão, pelo Vajucá,
P'ra todos os male que no Mundo há!
Fecha-te corpo, guarda-te, irmão,
Na santa cova de Salomão.
E faz o gesto de fechar, com a chave, todas as juntas, começando pelo pé
direito, junta por junta, dizendo o mesmo versinho em cada operação. Ao
final do atendimento, ele entrega ao cliente uma garrafinha contendo um
pouco da água que estava na bacia. Você deve ir e jogá-lo no mar à meia-
noite. O Mestre, por outro lado, fará o mesmo. Nessa noite o candidato
beberá Cauim legítimo, aguardente com raiz de Jurema.
Chamo a atenção para dois outros elementos da magia tradicional. Na
estrofe que o Mestre canta ao fechar o corpo, encontra-se a “santa sepultura
do rei Salomão”, como lugar privilegiado e de suprema garantia para a
defesa do corpo humano. Manuel Ambrósio, BRASIL INTERIOR, 203, S.
Paulo, 1934, registrou uma pracinha de Januária, cidade mineira às margens
do rio São Francisco, aludindo à imagem:
Foi na torre de Babé,
Na coluna de Sansão.
Na sete fama do mundo,
Na cova do Salomão.
A "caverna sagrada de Salomão" será traduzida pelo laboratório secreto de
magia, sede de estudos secretos. Salomão constitui um ciclo de
encantamentos, convergindo para ele centenas de episódios orientais. A
"caverna", sinônimo de um lugar de sabedoria misteriosa e sobrenatural,
espalhou-se por toda a Europa. Nas grutas apareciam as aparições
autenticadas pela Igreja Católica, determinando romarias, Massabielle a
Nossa Senhora de Lourdes, em França, Cova da Iria a Nossa Senhora de
Fátima em Portugal. Augusto Meyer estudou, no mito gaúcho de Salamanca
do Jurau, a tradição das sepulturas. No sincretismo do Catimbó, os traços
típicos da feitiçaria européia resistem, de forma impressionante.
Outra indicação é o processo de fingir trancar o corpo humano, mantendo-o
longe do ataque de “forças do mal”. A fórmula secular persiste em Portugal,
como na memória e uso de feiticeiras europeias, curiosas mulheres de
virtude, toda a sinonímia oculta de quem o Santo Ofício caçou para a
fogueira
Pereira da Costa, folclore pernambucano, colheu uma oração em que se
invoca a chave do sacrário. “Existe, porém, uma oração especial para
'fechar o corpo', que, segundo a crença popular, é infalivelmente eficaz.
Esta oração, em que se mistura o sagrado com o profano, e uma latente
deturpação dos princípios religiosos, é assim concebida:
“Trago o meu corpo fechado com as chaves do santo sacrário: dentro dele
se encerra o meu Jesus sacramentado, como no sacrário se encerra: e assim
como vós, ó meu Jesus, o meu corpo será guardado, a minha alma não será
maltratada por meus inimigos, e meu sangue não derramará, porque tenho o
meu Santíssimo Sacramento para o guardar, e a Virgem Maria para me
livrar de malefícios, bruxaria e feitiços: e no meu corpo não entrarão,
coberto com o sagrado manto da Virgem Maria , borrifado com o seu
sagrado leite, e trancado, como o meu Jesus Sacramentado, com as chaves
do santo sacrário, e com o Credo em Cruz. Pax Domini, misericórdia,
Aleluia”.
Com este tipo de oração, não há necessidade de temer as coisas terríveis
que acontecem à noite, como costumava dizer o rei David...
Mau-Olhado. Quebranto. Amuletos. Mau-olhado.
Amuletos.
O príncipe Hamlet da Dinamarca poderia estar pensando no mau-olhado
que causa quebra quando disse a Horácio: Há mais coisas entre o céu e a
terra, Horácio, do que sonha sua filosofia.
Mal invisível, obstinado, terrível! Ele continua a assombrar e matar
milhares de criaturas. O Catimbó vive dela, parte essencial. É uma força
radiante e malévola que o mau-olhado espalha, consciente ou
inconscientemente. Mata lentamente, secando, como se a energia vital
evaporasse lentamente. Árvores, flores, animais, crianças, mulheres,
homens, meninos envelhecem em poucos meses. As criaturas enrugam o
rosto, apertam as mãos, cambaleiam o andar, têm calafrios, insônia, mal-
estar, falta de apetite. Perdem a alegria de olhar, de ser, de querer. As
crianças são as vítimas preferidas. Eles morrem secos, enrugados,
encolhidos, com pele de pergaminho, estupefatos, babando, lábios finos,
olhos arregalados, rosto roxo, recusando-se a comer. Mal invisível,
obstinado, terrível!
Alguém olhou com mau-olhado para a criança, a menina, a roseira, o belo
animal, a árvore frondosa. E naquele olhar veio a força malévola, a energia
agressiva e mortal, o veneno imponderável.
Olhado, Olho Grande, Fascínio, Mau-Olhado, Malocchio, Aojamiento, Mal
De Ojo, Evil Eye, Böser Blick têm uma história tão longa e clássica como as
grandes epidemias que a Higiene venceu e desmoralizou. O olho e o
mecanismo da visão surpreenderam os primitivos. E os “primitivos
contemporâneos”, como disse G. Peter Murdock, são fiéis a esse espanto.
As pessoas geralmente consideram a “visão” quase mágica. Através do
órgão da visão podem e devem emergir elementos bons e maus, que são
fluidos, forças, energias imponderáveis mas decididamente operantes. Ver é
entender, entender, direcionar, guiar.
Supervisor, Episcopus, as frases: fica de olho, de olho aberto, o olho do
dono engorda o cavalo, dá uma imagem. O poder dos olhos era uma
característica surpreendente para os seres e animais da fábula. Medusa
petrificava qualquer um que olhasse para ela. Catoblepas e Basilisco
mataram com os olhos. ("Em todo o Novo México o mito é o mesmo. Em
relação ao efeito mortal do olhar do basilisco, o mito é o mesmo que em
outros países; se o basilisco vê uma pessoa primeiro, a pessoa morre; se ele
vê o basilisco primeiro, este morre. Uma variante diz que em certo lugar do
ninho construído por uma pega no alto de uma árvore havia um basilisco, e
que as pessoas que passavam, ao serem vistas por ele, morriam. Colocaram
um espelho perto do ninho, o basilisco se viu no espelho e morreu. Essa
crença de que o basilisco morre ao ver sua imagem no espelho também é
comum em outros países." (Fr. C. Teschauer, Avifauna and Flora, etc., 48-
49, Porto Alegre, 1925.) Martin de Aries diz que era costume colocar
pedaços de espelhos nas crianças, como enfeite, para desviar o mau-olhado,
comum e popular em todo o Brasil, julgado apenas para significar uma
memória muito pessoal de alguém. filhos ou netos. s pequeninos.)
A alma estava nos olhos e seu reflexo era sagrado, participando da essência
vital. Perseus poliu seu escudo enquanto atacava a Górgona para que o
olhar do monstro encontrasse uma superfície polida para refletir,
devolvendo o dano à sua fonte. Assim, nos ninhos do basilisco (no Novo
México o basilisco é um pássaro e não um réptil) colocam espelhos para
que o olhar volte e mate quem o atirou.
Assim, similia similibus curantur, o olho é o defensor do mau-olhado.
Olhos bons e olhos ruins são equivalentes a jettatura e mascotes. A máscara
da Górgona, o gorgoneion, era o amuleto definitivo contra o mau-olhado
grego. Seis e sete séculos antes de Cristo datam a cerâmica, a joalheria, as
armas, os instrumentos musicais, os mármores, os bronzes, em vinte tipos
de utensílios, o uso da pintura, da gravura, do desenho do olhar como
retrator de maus fluidos, e até mesmo defendendo o próprio objeto de
desastres . comuns Olhos em pratos, ânforas, recipientes para beber,
garantiam a segurança de alimentos e líquidos de ataques maléficos. Na
China, entre os artistas da dinastia Chu, 1100-256 aC, até os maias, no
continente americano, é fácil encontrar ornamentos com olhos, entre
homens, animais ou fantasias, mas sempre no sentido apotropaico. Uma
lembrança desses amuletos pode ser encontrada na Península Ibérica e em
toda a América Católica, “Olhos de Santa Luzia”, guardando dando os
olhos e distanciando o efeito do mau-olhado daqueles que os dirigem. “É
um amuleto de ouro ou prata, portava um pingente, pulseira ou colar, tendo
desenhado ou gravado um par de olhos, uma memória de si mesmos que o
santo siracusano arrancou.
A quebra pode ter sido produzida pelo mau-olhado e pelo simples contato
com uma pessoa que possui esse poder maligno, contaminando a todos,
com ou sem vontade de fazer mal. Diz-se que essa pessoa é Urucubaca, Lili
ou Liliu, dá peso, traz azar, correspondendo à jettatora napolitana. Os
remédios são idênticos para o mau-olhado.
O indivíduo tabu, os dias tabu (sexta-feira 13 do mês, primeira sexta-feira
de agosto, 24 de agosto, sexta-feira santa para tudo que não seja religioso),
as horas tabu ou horas abertas, horas de escuridão dos velhos feiticeiros da
Inglaterra (meio-dia , meia-noite, manhã e crepúsculo vespertino), orações
tabu (oradas em certas ocasiões ou casos fixos), seguem uma escala de
valores psicológicos, orientando a vida normal, sujeita a restrições e
obediência inexorável.
Certa de que a doença é uma intrusão, um assalto de uma força externa, a
Morte sempre vem ao encontro da vítima, procurando-a. Assim se explica a
Dança Macabra. Muitos milênios a Morte escolheu e teve vontade antes de
possuir, como escreveu Saint-Victor, la sérénité sinistre d'une loi naturelle.
Os olhos carregavam uma energia que em algumas pessoas era venenosa.
Alberto Magno, no tratado Les Admirables secrets à'Albert le Grand, que
lhe é atribuído, estuda, no primeiro livro, du venin que les vieilles femmes'
portent dans les yeux. Havia sugestão, simpatia, magnetismo. E, sobretudo,
a tradição, o passado, o pavor costumeiro, a certeza da doença implacável e
fácil.
Em qualquer cidade, vila ou aldeia do mundo haverá rezas, feiticeiros,
terapeutas do quebrantamento, repelindo-o com orações, bênçãos com água
benta ou soprada e gestos rituais com ou sem ramos verdes. É inútil pensar
que em alguma parte da terra o mau-olhado não existe. Ela existe e tem seus
pacientes e seus médicos, doutores com cursos nas Universidades da
tradição oral, teimosa e milenar. É uma superstição latina, dizem os mestres
que nunca imaginaram a universidade além do que julgavam ser regional.
Os volumes de Elworthy e Seligmann destacaram a profundidade da
superstição entre os povos anglo-saxões. Sem rir e sem chorar, a quebra está
por todo o lado, não só como elemento etnográfico, mas claramente como
uma constante psicológica.
O Catimbó, o mais legítimo herdeiro da Bruxaria, é o adversário popular
contra o mau-olhado, fonte do que é branco. “Pródromo de quadro
infeccioso agudo” (Dr. Fernando São Paulo), “espécie mórbida
individualizada” (idem), é combatido pelo Catimbó com as velhas armas de
outrora, veteranas e prestigiadas pela credulidade secular.
Em 1838, Lopes Gama fixou o clima do Recife na espécie (Pereira da
Costa, cit., 104-105): “Muitas pessoas estão convencidas de que há olhos
tão ruins que basta focalizar qualquer coisa para causar-lhes o maior dano.
Há Dona Briolanja, um menino muito bonito, muito magro e liso, e que por
suas brincadeiras é alvo de histórias incessantes: o menino passou mal
durante a noite; Não sabem a causa da doença: eis a mãe, a avó, as tias, as
enfermeiras e as madrinhas, que, em tom de junta médica, decidem que a
criança não tem nada além de um terrível "olhar ", que o esfaqueia. uma
velha, uma feiticeira negra, etc., etc. Como resultado deste acordo sagrado,
eles imediatamente se preocupam em aplicar os médiuns mais aprovados
para esmigalhar, que são defumadores de cascas de alho, raspas de chifre e,
acima de tudo, palhas e lixo de encruzilhada, que é um santo remédio para
todos os tipos de arte maligna e diabólica. Em nosso mato, a receita mais
rápida e eficaz é abençoar o paciente com uma cueca tirada do corpo de
algum homem adulto e aplicada ao mesmo tempo; e há um matuto , tão
eminentemente assassino, que se refere com orgulho às inúmeras curas que
lhe fizeram as nojentas cuecas.31 O defumador de cupim e o defumador de
penas de galinha também levam grande vantagem, desde que sejam pretos;
porque sendo de qualquer outra cor já não tem virtude; que por ocasião da
aplicação da fumaça é indispensável a seguinte e piedosa oração:
“Nossa Senhora defumou a seu bento filho para cheirar;
E u defumo o meu para sarar"
“Nossa Senhora defumava seu bendito filho para cheirar;
Eu fumo o meu para curar"
E isso deve ser repetido três vezes, porque o número três é simbólico e
misterioso. vê-los, e tendo se gabado de serem bonitos e frescos, eles
murcham e morrem; quem tirará os cascos, qual foi o efeito daqueles olhos
invejosos e maus? , em crianças, ou em qualquer coisa que se estima; pois,
de todos os antídotos conhecidos por serem quebrados e examinados,
nenhum é tão virtuoso quanto os figos, e mais ainda se forem de chifres;
que têm essas muitas aplicações na grande arte de prejudicar; portanto,
quando uma mãe tem que mandar o filho embora, eles são imediatamente
avisados para não irem sem os dedos no cinto para evitar maus olhos, e às
vezes o pirralho é tão feio, tão sarnento e magro, que não há ninguém.
aquele que pode ter inveja de tal caracol, mas não sai sem os dedos, por
causa do “ quebranto ” (dano mágico).
E os sintomas do quebranto ? Alongamento, bocejos repetidos, inapetência,
desânimo, "madrugada cansada", saliva abundante, em adultos. Em crianças
é enfraquecimento progressivo, palidez, alienação, choro inexplicável. Este
resultado semiológico é a conclusão de uma investigação pessoal, em vários
meses, ouvindo mais de uma centena de mães que tiveram filhos com "
quebranto pelo contato visual".
Existem meios de verificação que constituem, na maioria das vezes, altos
segredos profissionais das Rezadeiras , sacerdotisas errantes do Catimbó.
Duvido muito das orações publicadas como ditas para a verificação do
“olhado” ( olhado ). É preciso uma intimidade e confiança incompatível
com a correria da pesquisa por alguns meses.
Alcidez Bezerra gravou uma oração para aprender sobre o mal do “ar”. Era
a identificação da doença. “Uma vez vimos a Francisca fazer uma “cura”.
Ela começou derramando água na tigela e abençoou. Depois de uma longa
oração, estando a tigela entre ela e o enfermo, ela começou a evocar os
diferentes tipos de "ares": ar da morte, ar dos vivos, ar quente, ar frio, ar
inchado, ar ventoso, ar congestão, ar de dormência e muitos outros que não
nos lembramos, enquanto pingava o óleo doce na dita tigela de água. Cada
“ar”, cada gota. tamanho. Se tomar essa forma, o paciente não tem o
chamado "ar". Quando chega o "ar" que ela supõe que o paciente tenha, ela
deliberadamente deixa cair uma gota maior de óleo que se espalha por toda
a água. Esta é a prova de que o paciente sofre com o “ar” invocado. Uma
vez conhecido o “ar”, ela então faz a oração contra a doença, uma oração
misteriosa que ela não revela a ninguém. Francisca sem preço não quis nos
vender suas fórmulas.”
A fórmula da velha Francisca que Alcides Bezerra conheceu na Paraíba é
de origem européia e ainda resiste na feitiçaria portuguesa. O Prof. Joaquim
Roque relatou: “Como de costume, a existência da doença é primeiro
verificada despejando algumas gotas de óleo em um pires com água, sobre
o qual é feito o sinal da cruz, enquanto se reza o credo (“credo na cruz ").
Se o óleo desaparecer, dissolvendo-se completamente na água, a criança, ou
o adulto, sofre de um olho."34
O processo, vivo em Portugal e no Brasil, está registrado no século XVI,
nas DENÚNCIAS DA BAHIA de 1591. Isabel d'Ávila, mameluca filha do
grande Garcia d'Avila, denunciando Mecia Roiz, Branca Lopes, e outros,
informou : “e assim, vi mais uma vez quando a Ditta Mecia Roiz estava
doente a dormir, a Ditta sua mãe Branca Lopes veio e fez uma prova de
barro com um pouco de água dentro e uma coroa de serapilheira em cima
da prova que não chegava ao água que estava no meio. e com a mão tinha
no ar sobre o doente adormecido e com o dedo da outra mão molhava num
pote de azeite e atirava as gotas do dito azeite na água do dito texto que lhe
caía do dedo enquanto acendia o fogo estava queimando na coroa de estopa
que ela havia acendido pela primeira vez com a vela. (“e assim mais vio
huã vez esperando a ditta Mecia Roiz doente dormindo vir a ditta sua mãe
Branca Lopes e tomando hum testo de barro com huã pequena de agoa
dentro e huã coroa de estopa em cima do testo que lhe não chegava a agoa
que estava no meo do testo e com sua mão tinha no ar sobre a ditta doente
dormindo e com o dedo da outra mão molhava em huã tijella dazeite e
lançava as gotinhas do ditto azeite dentro na agoa do dito testo que lhe
cahiam do dedo enquanto o fogo ardia na ditta coroa de estopas as quais
ella acesaa primeiro com a candea.”) Para um neto doente, a mesma
Branca Lopes repetiu a cerimónia. Ele estava apenas procurando o
diagnóstico certo da doença que adoeceu sua filha. O ritual, mais
complicado, mais próximo das formas europeias, evidencia a persistência
na aplicação.
Feito o diagnóstico, o tratamento é feito com fumaça de alecrim e outras
plantas e rezas, ditas com o clássico movimento de bênçãos no peito, na
cabeça, nas “entradas” do corpo. E nenhum curandeiro ou Rezadeira
dispensará o conselho do amuleto, o uso constante de um neutralizador dos
maus eflúvios, do mau ar, das forças contrárias permanentemente
desencadeadas pelos “inimigos”.

Amuleto é um objeto mágico passivo, protege, fende, afasta mau-olhado,


eflúvios malignos. É um peitoral ao redor do corpo. O golpe maligno não
atingirá porque o amuleto age. Aja o máximo que puder, pois existem
forças maiores que as defensivas do amuleto, anulando-as. Mas não é fácil
desistir dessa desmoralização. É comum explicar a doença como a falha de
um amuleto diante de uma força mais decisiva.
O talismã é a força mágica ativa, operando à distância, obedecendo à
vontade do dono, para o bem e para o mal. Esta força mágica está
disponível para o possuidor do talismã. Assim, o preparado uirapuru, olho
de boto, canela de socó, rabo de tamanquaré, são talismãs. A figueira, a
ferradura, o “sino de Salomão (sino salomão)”, o trevo de quatro folhas, a
meia-lua, o sino, etc., são amuletos. O amuleto impede. O talismã dirige,
comanda, obriga. O mal é defendido contra a perversidade dos outros. Com
o talismã, faz-se o bem ou o mal, conforme se deseja.
A maior importância no Catimbó é o amuleto defensivo. Rezas e despachos
fortes, feitiços, preparações, ebós, coisa-feita, canjerê, mandinga, são
defensivos quando transmitem a doença do consulente a quem toca no
pacote, ou ativos, quando provocam o amor de alguém, sempre de uma
pessoa determinada. Amuletos são sempre portáteis. Os talismãs, raros, já
perderam essa categoria de infalíveis. Eles não têm mais prestígio. O
essencial em quem consulta o Catimbó é defender-se, curar-se, livrar-se do
feitiço, da infelicidade, da doença.
No Catimbó, nem todos os amuletos recomendados são conhecidos pelo uso
tradicional. Não há trevo de quatro folhas, nem Elefante, nem Corcunda,
nem Forca, nem Pomba, nem Cobra mordendo o rabo, nem Coração, nem
Cordeiro, nem Gato Preto, nem Ferradura, nem São Jorge matando o dragão
, conhecido em todo o mundo e em todos os lugares. Um dos amuletos
essenciais no Catimbó é o preparado pelo “Mestre”, uma lasca, um pedaço
de Jurema, embebido em Cauim (água de dente), defumado com incenso, e
levado na carteira e as mulheres na bolsa ou dentro uma bainha de bambu,
presa à cueca.
Os demais amuletos que o “Mestre” manda comprar e usar, depois de
“preparados” por ele com rezas, golpes, fumaça de incenso, imersão em
cachaça, são quase todos de origem estrangeira, de antigo prestígio e
origem remota.

Figa. Amuleto tradicional na Grécia e em Roma, de possível origem


oriental, índice de cultos orgiásticos. É a ala mais conhecida da infelicidade
e das forças adversas. É mais usado como bijuteria, enfeite de pingente,
alfinete de gravata, em metais e pedras preciosas. As populares são de
arruda ou coral, ou de qualquer madeira, com dimensões às vezes de um
metro, penduradas nas portas de entrada. Quando a força do mal é mais
poderosa que a defensiva, o figo quebra. Um verso do folclore português
lembra: Olha o demo da Mulher/Os olhos que me deitou!/Fiquei-me logo a
tremer,/E vai a figa quebrou.. Olha o demônio da Mulher/Os olhos que me
deitaram ! / Eu tremi imediatamente, / E o figo quebrou. . / (AC Pires de
Lima, Evocações, 41, Porto, 1920.) Era o desenho propiciatório popular
entre os romanos e o gesto mais comum. Citado em toda a literatura
europeia tradicional. O centro à frente era a península italiana. Shakespeare
faz lago repelir a imagem da Virtude usando a frase: Virtude? um figo!
(Virtude! um figo! — "Otelo, o mouro de veneza", ato I, cena II.) Os árabes
levaram o figo para a África, onde se espalhou. Colonizadores europeus e
escravos africanos o trouxeram para o Brasil. Fig é a representação da
junção carnal, do próprio ato sexual. Os dedos indicador e médio são a
vagina e o polegar o membro viril. Fonte de reprodução, origem da vida, o
símbolo supera as forças invisíveis da esterilidade, doença e morte. As
crianças romanas e gregas usavam figos em volta do pescoço para combater
o ar ruim. O figo era o símbolo da vitalidade, da continuidade humana.
Outro tipo de figo que chamamos no sul do Brasil de ISOLA. É a mão com
o polegar, os dedos médio e anular dobrados em direção à palma e os dedos
indicador e mínimo estendidos, paralelos. É a Mão Comutadora, a mão com
chifres, um poderoso amuleto. Os dedos indicador e mínimo representam os
chifres dos animais devotos do Sol e da Lua, estrelas da vida. os animais
com chifres são símbolos do poder reprodutivo, da energia funcional,
devotos do Sol, da vida e da lua, animadores dos ciclos das plantas e égide
do crescimento através de ideias associadas às suas fases e atração lunar.
Para crescer e prosperar, dá-se dinheiro à Lua Nova, oferece-se à criança
por meses, chamam-se Vó, Dindinha Lua, são abençoados, e corta-se o
cabelo para alongar. Certas madeiras só podem ser trabalhadas em Lua
Nova. As superstições são infinitas. Os "chifres lunares", imagem da Lua
Nova, são conhecidos e venerados em todo o mundo. Sem o Sol não há
vida. O touro é especialmente o animal típico para essas oferendas. Os
dedos de ISOLA se lembram dessas oblações. Consequentemente, livra de
inimigos que podem trazer fraqueza, atraso, infelicidade, doença, todos
atributos contrários à virilidade, energia, decisão, vigor dos animais
adornados com chifres. Objetos que têm formato de chifres, raízes, dentes,
também são amuletos, e vendem, já industrializados, os chifres de
madrepérola, coral, ágata, madrepérola, para o mesmo fim defensivo.
Defende-se fazendo instintivamente o figo (o polegar passando entre os
dedos indicador e médio na mão fechada) ou o Hand Commut, que
chamamos de ISOLA.

Estrela . De cinco raios (Pentalfa) ou de seis raios (Hexalfa) ambos


conhecidos como Selo ou signo de Salomão, Sino-salamão, sanselimão em
Portugal. São signos antigos, símbolos da ciência pitagórica, da Cabala.
Aparece em desenhos rupestres, túmulos, vergas de portas, tímpanos de
igrejas, gravados, escavados, desenhados. Nenhum espírito mau se atreve a
aproximar-se do local onde existe o sino-salmão. Eles o desenhavam na
porta das casas para protegê-los. Defenda os vivos e guarde os mortos do
ataque demoníaco, das almas aterrorizantes, libertando-os das alucinações.
O figo defende mais o corpo. A Estrela é a sentinela do espírito, afastando
as coisas terríveis que andam e voam na escuridão da noite. Os mais
exigentes ensinam que o verdadeiro signo de Salomão é a hexalfa feita com
dois triângulos, visíveis no desenho. A literatura documental é vasta e
dispensável nesta publicação.

Mucunã. Semente de Mucunã urens. A semente de Mucunã não só provoca


bons dentes nas crianças, certamente pela sugestão de dureza, mas deve ser
usada, no pescoço das meninas, até perto da puberdade, para facilitar o
catamênio. A semente lembra vagamente a vulva feminina.

Peixe. É impossível corrigi-lo simbolicamente por causa de sua


antiguidade. Símbolo fálico, símbolo solar, símbolo da vida organizada,
divindade elamita, evocação búdica, bramânica, está nas mais diversas
religiões, folclore e tradição. Como um anagrama de Jesus Cristo Filho de
Deus Salvador na língua grega, ICHTHYS era um símbolo dos cristãos nos
três primeiros séculos e abundantemente desenhado nas catacumbas da
Roma subterrânea. Símbolo budista da fartura e da felicidade conjugal, teria
sido trazido, mesmo nesse sentido, para a Europa, independentemente de
outras superstições existentes desde a Roma republicana. Na literatura oral,
é conhecido o ciclo dos Peixes Mágicos, peixes encantados que tudo
podem. (Contos Tradicionais do Brasil, 113-116, Rio de Janeiro, 1946.)

Guarda-Sol. A explicação que me foi dada para usar um berloque em forma


de sombrinha é que a sombrinha “guarda”, “cobre com a sombra”, portanto
defende quem a conduz. Entre os hindus é um instrumento mágico, e o
vemos como o símbolo mais visível do poder soberano dos reis asiáticos e
dos sobas africanos. Não há sultão, por mais humilde que seja em terras,
que dispense a sombrinha vermelha, a umbela que representa o sol girando
sobre sua cabeça monopolizando a grandeza total. Nos Maracatus de
Pernambuco, o Rei caminha sob o guarda-chuva vermelho, sempre em
movimento. O guarda-chuva banal é uma representação da energia solar.

Chave. Ele materializa a imagem do poder irresistível, que destrava, abre


livremente, sem dificuldade. A chave do Sacrário conduz ao Santíssimo
Sacramento. Nos Catimbós sempre usam a “chave virgem” na “mesa”, sem
uso de material, indispensável para “fechar o corpo”. A chave é a garantia
de entrada. Na feitiçaria européia, é o material de um encontro banal,
servindo ao mesmo propósito do Catimbó brasileiro.

Meia-Lua. Simboliza a força do crescimento, desenvolvimento espontâneo,


expansão vital. As superstições da Lua, nas suas diferentes fases, estão
ligadas aos cultos lunares, Diana, Selene, Phoebe, aos segredos feiticeiros
da Tessália, à liturgia de Hécate, tendo um dia que lhe foi consagrado,
Lunae morre, Lundi , Lunes, segunda-feira, Montag, Lunedi. Entre os
índios Tupi, a Lua era Jaci, irmã do Sol e mãe das verduras, mãe das frutas,
iáci. O que deve crescer normalmente e com saúde, o que deve ser
multiplicado, se oferece à Lua.

Dente. Das aranhas jacaré ou caranguejo, elas afastam a dor de dente e a


picada dessas espécies. A associação de ideias articula a imagem da
resistência, brancura, rigidez do objeto usado ao que se quer possuir ou
manter. Para as crianças, é garantia de dentes sólidos e brancos no futuro.
Na África e na Ásia, dentes de jacaré são usados como defesa contra esses
animais. e os portadores do amuleto podem cruzar os rios impunemente. Se
o jacaré atacar é porque o amuleto não foi devidamente preparado.

Sapato. Imagem do pé, fundação, base do corpo. Deve-se tomar cuidado


para não deixar o sapato de cabeça para baixo, caso contrário, o dono
morrerá em breve. A imagem do sapato virado para cima sugere o corpo na
posição oposta à normal, com a cabeça baixa e os pés para cima. Assim
foram enterrados os réprobos, os sacrílegos, em certas partes do Oriente,
porque viviam diametralmente opostos a outros homens religiosos e bem-
comportados. O chinelo é usado para atrair bons eflúvios, conservando o
equilíbrio e os bens materiais. O sapato, na antiquíssima lei consuetudinária
hebraica, valia a posse legal. Dar era entregar o objeto, símbolo da questão
da posse. Assim lemos no Livro de Rute, IV, 7: “...era costume em Israel
entre os parentes que, quando um cedesse o seu direito a outro, para que a
cessão fosse válida, aquele que cedesse tirasse o seu sapato e deu a ele. ao
seu parente." No De vita patrum, de Gregório de Tours (538-594), a entrega
dos sapatos, praebet calceamentum, é mencionada como um dos elementos
da cerimónia nupcial, tal como aconteceu com Maria Borralheira, a
universal Cinderela. João Ribeiro estudou esse simbolismo em Notas de um
Estudante, 51-57, São Paulo, 1922.

Sino. Os sinos afastam os demônios pelo som. A maioria das religiões


antigas, do Oriente e do Ocidente, tem o processo de expulsar os seres
amaldiçoados tocando os bronzes sagrados. As crianças na China ou na
Itália, no Brasil ou nas ilhas do Mar do Sul usam pequenos sinos de metal
ou chocalhos como decoração, mas na verdade servem para combater os
espíritos da doença, da adversidade e da morte. Sir James George Frazer
reuniu um extenso documentário nas inúmeras literaturas religiosas do
mundo, Le folklore dans 1'ancient testament, 359-378, Paris, 1924,
relembrando as clochettes d'or que adornavam o manto sagrado do Grande
Sacerdote da israelitas e que devia ser sondada, obrigatoriamente, quando
entrasse no Santíssimo, sob pena de morte. (Êxodo, XXVIII, 31-35.) Os
minúsculos sinos de proteção foram empregados na Grécia e em Roma. (J.
Tuchmann, Mélusine, IX, Cols. 64 f.) Cálices e custódias de cerimonial
católico têm sinos (Revista do Sphan, 6, D. Clemente Maria da Silva Nigra,
OSB, figs. 4 e 5, como exemplos no Rio de Janeiro, Convento de São
Bento) comum nas colecções europeias. França, Itália, Portugal, Espanha,
etc. Mesmo os sinos chorando pelos mortos, os mortos pioravam, afastavam
do caminho celeste os espíritos malévolos que dificultariam a viagem final.
Nas tempestades, os raios, quase sempre causados pelo Diabo,
aconselhavam o toque dos sinos.
ALGUNS CONCEITOS
ESPECÍFICOS
Sobre Feitiço - Feitiço, Despacho - Despacho, Canjerê, Coisa-Feita –
Coisas-Feitas, Ebó, Muamba, Sal – Sal, Cha De Rasto – Chá, Areia –
Areia, Remédios Repugnantes – Remédios, Encruzilhadas – Encruzilhadas,
Horas Abertas - Aberto Horas.

O feitiço é a coisa-feita ( Coisa-Feita ), o Efó dos Yorubans, o " Despacho "


dos Macumbas do Rio, Muamba , " Uanga " do Haiti e Porto Rico, Obi ,
Canjerê , Mandinga . O dano é transmitido diretamente através do contato.
Indireto se for colocado fora do alcance da vítima, irradiando incômodos.
No feitiço, são reunidas reminiscências mágicas de raças antigas e mil
processos de encantamento. É uma religião obscura e clandestina, paralela
ao meridiano do culto oficial e legal, afirmando a possibilidade de agir e
desfazer a “causa”, a origem, modificando-a pela simulação de repetição ou
transferência do dano a outro objeto.
O fundamento da magia será a velha concepção universal da continuidade
simpática, o totum ex parte. Isso será preferível à intuição explicativa de
Levy-Bruhl na Lei da Participação. O homem é uma unidade indivisível e
tudo o que lhe pertence ou está em contato com ele é incorporado ao todo.
O resto da tua comida, os farrapos da tua roupa, uma mancha de saliva ou
de sangue, a pegada na areia, tudo continua a ser teu, possuindo, em
plenitude, a mesma essência que te anima. Qualquer um desses fragmentos,
resíduos, vestígios, constitui um elemento vivo, mesmo depois de destacado
e distante do organismo humano. Qualquer ação sobre um deles refletirá no
geral que é o homem. Após esta concepção, nasceu a Magia Simpática,
trabalhando por analogia, tendo a veneração de números e nomes. Já é uma
divisão, uma separação do “todo”. É o momento da medicina "envolvente"
e intuitivamente terapêutica.
No Catimbó, como nos “ Despachos ” e “ Ebó ” dos Candomblés e
Macumbas, o homem se prolonga nos rastros e restos de suas roupas,
alimentos e objetos de menor uso. A “parte pelo todo”. O microcosmo,
resumo do macrocosmo. Um fio de cabelo na mão do feiticeiro é a própria
pessoa, inteira e completa, à disposição do feitiço. O tempo adapta os vários
processos de encantamento. Tudo o que é mágico é segredo, escreveu Paul
Morand, prefaciando WB Seabrook em The Magic Island, sobre o Haiti e o
culto vodu. As figuras de cera em tamanho natural, na magia da Idade
Média, tornaram-se do tamanho pobre de bonecas de pano, perfuradas com
alfinetes, batidas com barbante, representando as vítimas sacrificadas à
distância. A credulidade é responsável pela eficácia.
Nenhum Catimbozeiro confiará seus processos pessoais, suas descobertas
de sensações, suas fórmulas fulminantes e prestigiosas. Anos e anos de
conhecimento são a base para alguns conselhos de ilustres Catimbozeiros.
Apenas. No entanto, eles geralmente concordam com as declarações do
interlocutor. Se este finge saber algo sobre o Catimbó, sugerindo
cerimonial. receitas, nomes de “Mestres”, ele ficará maravilhado com a
sabedoria que não sabia que possuía. O "Mestre" (como sinônimo de
feiticeiro é um uso português duas vezes secular) terá razão. E estará, por
dentro, rindo do branco que quis enganá-lo...
Os grandes feitiços, encomendados para “fazer e desfazer”, são segredos
profissionais, verdadeiros direitos autorais, sem direitos sucessórios. Muitos
processos de feitiçaria desapareceram com seus respectivos criadores. O
Catimbó tem seus sábios, seus gênios, seus simuladores e seus parasitas.
Um exemplo é o uso do sal no Catimbó. Em Cuba, diz Fernando Ortiz (Los
Negros Brujos, 141), existe Salación . E o estado do homem perseguido
pela má sorte em todos os empreendimentos é estar no corredor. Salero ,
Salerosa , será estar vivo, atraente, ter sal, graça, espírito. Em espécies, o
oposto é verdadeiro. Lá Salación é a expressão desse sentimento primitivo
que sufoca um espírito com todas as desgraças que assolam um indivíduo, e
que, nos tempos modernos, se entende pela expressão Mala Suerte . (Ortiz.)
Sal derramado é um presságio e por isso Leonardo de Vinci pintou na
“Grande Ceia” um saleiro derramado na frente de Judas Iscariotes. A
função especial do feiticeiro consiste em sair e produzir o quarto para uma
pessoa. Para se livrar da “ Salación ” recorre-se a um embó, feitiço, como
no Brasil. Salación, Quebranto, Muamba, corresponde à palavra Nhengatu
Saruá , Ensaruado . Um Pajé pode arranhar quem ele quiser, se tiver
cabelo, pedaço de unha, raspagem da pele, qualquer “sujeira” que vier do
sujeito, ensina Stradelli. No mundo dos Candomblés e Macumbas, Bahia e
Rio de Janeiro, o Ebó é a mudança de cabeça, a defesa contra o mal.
O sal é indispensável no “trabalho à esquerda” ( trabalhos às esquerdas ).
Vós sois o sal da terra, disse Jesus Cristo aos discípulos, que se tornaram
apóstolos (Mateus, V-13), e no batismo católico a criança prova o sal,
símbolo da sabedoria: Accvpe sal sapientiae ; propitiatio sit tibi in vitam
aeternam. Permanece, para os negros do Congo, a ideia mais persistente da
cerimónia. Quando questionados se são cristãos, respondem: Didimungua,
eu comi sal. Os zumbis do Haiti, que são mortos animados pela vida
artificial, trabalhando sem parar para o feiticeiro-mestre, não provam sal na
comida porque, se o fizerem, “sentirão” a morte, voltando todos para o
cemitério.
Em Portugal, o sal salpicado na porta da rival faz com que o namorado
nunca a veja. (Leite de Vasconcelos, TRADIÇÕES, 212.) Já no tempo do
profeta Ezequiel, seis séculos antes de Cristo, os recém-nascidos eram
esfregados com sal (XVI, 4), e o Dr. Emest Jones mostrou a extensão da
universalidade daquela tradição imemorial que o sal sapientiae do batismo
católico é uma sobrevivência. (FOLCLORE, LIV, 290.)
Outro elemento da Feitiçaria é a areia, a areia do cemitério, a areia pisada, a
areia dos rastros dos que devem ser enfeitiçados. A areia da pegada é quase
o próprio indivíduo. No Catimbó sempre pedem “areia da trilha” para
melhor “preparo”. Em Portugal a tradição está viva. Leite de Vasconcelos
registrou: “(a) As bruxas os viram. em prata (dinheiro de cruzes) a terra da
pegada do pé esquerdo dessa pessoa, e com a terra a pessoa fica muito
magra, fraca, doente, etc. (ou seja, feita na terra, Vila Real). (&) As
feiticeiras, quando querem enfeitiçar alguém, tiram a terra da pegada do pé
direito, amarram num pano e depois jogam na sepultura de um morto;
quando a pessoa morta está esgotada, a pessoa morta morre. povo.”
(Guimarães, TRADIÇÕES POPULARES DE POR TUGAL, 304.) “
Como réplica, temos no Brasil o “chá de rasto ”, aprovado para
hemorragias. “No caso de hemorragia causada por qualquer ferida, eles
recomendam o uso específico do chá de rasto . O chá é feito assim: o
paciente caminha sete passos; uma pessoa apanha a terra pisada pelos pés
do ferido e com ela faz um chá com água fervente e dá para o doente
beber”. (Getúlio César, CRENDICES DO NORDESTE, 173-4.)
Um dos tremendos feitiços é um pouco de sal misturado com areia da
pegada de uma criatura, com uma unha, cabelo, uma peça de cueca no
meio. O “Mestre” fuma a “ Marca ” com o cachimbo grande, com fumo e
incenso, borrifa Cauim preparado, água com suco das raízes da Jurema, e, à
meia-noite, enterra o feitiço em uma encruzilhada ou estrada deserta, perto
de casa do paciente. Este logo terá seu corpo coberto de feridas incuráveis,
espalhadas e repugnantes. O contra-feitiço recomendado é sal diluído em
água salgada do mar, com terra onde a vítima deixou rastro. Tudo junto e
defumado e regado com aguardente de Jurema, é jogado ao mar. O
princípio lógico é que o mar forma e dissolve o sal. Isso dissolverá o feitiço.
Se o feitiço fosse lançado nas ondas do mar sagrado, não haveria contra-
feitiço porque o sal manteria o “trabalho” perpetuamente dentro do
elemento formador. Esse “despacho” é caro, e caro. É tudo feito em cima da
água, dentro de um barco, sem tocar na terra. E para jogá-la no mar é
preciso sair do rio Potengi, enfrentando as ondas na foz da perigosa barra. É
um “trabalho” árduo que todo “Mestre” não enfrenta. E é preciso pagar pelo
silêncio dos remadores e escolher o momento alto em que os olhos curiosos
estão fechados no sono ou abertos para outras atividades distantes.
Para desfazer uma "obra" inimiga, o Mestre ouve guias invisíveis e
protetores. Estes informam quando, como e onde foi feito, que material foi
usado e, às vezes, quem o fez e em nome de quem. de importância decisiva
porque o contra-ataque dependerá do conhecimento desse conteúdo.
Sabendo que o feitiço é feito de sal, para “abrir feridas”, recorra
imediatamente à água do mar. sangue de galo preto, entra sapo. Tudo dentro
de uma escala de valores, correspondências, forças que se cruzam, anulando
ou diminuindo a magnitude do poder, desencadeado e adverso.
Essa convenção de valores no feitiço, os elementos que contra-atacam e
vencem, é um segredo. Ninguém sabia disso a não ser os “Mestres” que
moram no Catimbó. Será um belo estudo de esclarecimento psicológico, de
profundidade lógica, de evidente exposição científica, quando alguém
conseguir obter esse misterioso e mais oculto indicador, a chave da
convenção secreta. Quando alguém sente e explica o espírito, a essência, o
Paideuma (ensino, escola) do Catimbó, independente de sua forma,
influência, processo e ritual externo, terá feito um esforço humano elevado,
comparável ao de Leo Frobenius no rosto da civilização africana. O normal
nesses estudos é explicar e não entender. Há muita coisa inexplicável no
Catimbó. Alguns “Mestres” não sabem mais explicar. Ou receberam o
resíduo prático da magia sem a face doutrinária, esotérica, sagrada e
natural. Um temperamento que não tenha sido condicionado pela
consciência moderna, pelos métodos das deduções, pelos imperativos da
lógica social, pelo corpo doutrinário religioso, pelas regras legais, tal
temperamento pode existir, mas não será suscetível de exame e explicação
através do que pensamos, sabemos e compreendemos. Finalmente, deve-se
admitir que os falcões teriam uma opinião sobre os homens, uma opinião
clássica e ritual, se Buffon tivesse nascido falcão. É um argumento de
Machado de Assis.
Nas receitas mais secretas do Catimbó, domina a medicina primitiva das
excretas. O poder dobrado tem roupas íntimas quando úmidas de secreções.
Urina, sangue, saliva, fezes, sêmen, suor, são preciosos para um “Mestre”
habilidoso. Aceita-se a vaga ideia de uma força radiante, uma espécie de
energético, envolvendo o homem como uma auréola aos santos do altar.
Uma criança fraca e doente, sempre definhando, foi diagnosticada: mau-
olhado! Banho de alecrim e arruda, defumação e orações. Nada. Remédio
supremo. Mande o pai passar. Passando entre as pernas quando suado,
voltando do trabalho. O pai era estivador e meu compadre. A menina
passou, atrasada. Melhorou, mas estava voltando lentamente à palidez e
tédio anteriores. Um vermífugo encerrou a história. O “Mestre” me disse
que a menina seria curada pela força do homem, daí a passagem.
De remédios repugnantes, a documentação antiga é rica. Consistia em
literatura médica, misturada com exorcismos e orientação teológica. Eram
tantas as excreções que Ricardo Jorge chamou de “estercoterapia”.
Rolleston disse Coproterapia. Amuletos e feitiços são causas normais de
doença e alívio. Depois, até meados do século XVIII, os conselhos do
Doutor Curvo Semedo na Polianteia Medicinal e Atalaia da Vida ou na
espantosa Anacephaleosis Medico-Theoloffica-Magica-Juridica-Moral e
Política (Coimbra, 1734),63 analisando as mazelas dos malévolos e
qualidades demoníacas, vulgarmente chamadas de feitiços, como ensinava
o Dr. Bernardo Pereira, Doutor do Partido da Vila do Sardoal, classificando-
as como “doenças mistas”, pois seriam curadas de forma sobre-humana e
humana. Além disso, um médico, ele aconselhou a bênção em cima de
todos os remédios porque eles poderiam ser enfeitiçados.
Da conversa dos “Mestres” sabe-se que as consultas mostram usos antigos
de processos imemoriais para o amor. Pode alguma “bruxa”, sem o clima do
Catimbó, prescrever como faziam suas irmãs no século XIV? Um “Mestre”
de Catimbó não se resignaria a voltar aos processos da feitiçaria do passado.
Todos os dias, enfatiza-se a prescrição de origens vegetais, chás, infusões,
fricções, fumigações, ou trazer um amuleto, reza, “lasca de jurema ou outra
madeira sagrada” que tenha passado pelas cerimônias votivas.
Ninguém estudou a civilização romana por suas superstições. A vida de um
cidadão de Roma transcorria entre cerimônias expiatórias, expiare lustrare,
purgare, februare . Os restos sólidos e líquidos, lenços, frutas, que serviram
para expiação, para afastar presságios ou para cumprir promessas e
penitências, foram reunidos em um pacote, purgados e sacudidos na cabeça,
trans caput, em um rio, em uma rua, numa encruzilhada, tal como a uso
hoje, vinte séculos depois. Quem inadvertidamente pisasse no purgativo era
contaminado. E correu para fazer sua expiação, lustração indispensável.
Tropeçar em um expurgo era como pisar em um cadáver. Quoã
purgamentum nocte calcasti in trivio, aut cadaver? perguntou o velho
Proselenos em Satirlcon, CXXXIV.
Mas a encruzilhada é o melhor lugar para “trabalhar”, outro dos mil
elementos da feitiçaria europeia. “O Povo tem muitas superstições ainda
hoje com a encruzilhada dos caminhos (trivium, quadrivium); O Diabo
aparece lá ao meio-dia, meia-noite e Trinidads. Nas aldeias, todos os
cruzamentos têm, por regra, uma cruz de pedra assada de madeira”, nota
Leite de Vasconcelos. (Tradições Populares de Portugal, 266, Porto, 1882.)
Os portugueses que colonizaram o Brasil foram os de Gil Vicente. A
encruzilhada caracterizava a bruxaria. Na farsa chamada Auto das Fadas, a
protagonista explica sua vida tão útil:

Genebra Pereira
Nunca fez mal a ninguém;
Mas antes por querer bem
Ando nas encruzilhadas
As horas que as bem fadadas
Dormim sove repousado;
E dae boas fadas
Nas encruzilhadas.
Este caminho vai pera lá,
EsVoutro atravessa cá;
Vas no meio, alguidar,
Que aqui cruz não há de estar.
Durante toda a cerimônia das sessões no Catimbó, as chamas dos bugias
não são tocadas diretamente, mas com um pedaço de papel enrolado,
riscando o ar em uma notória cruz. As asperezas do “Mestre”, com fumo ou
Cauim, são sempre em cruz. No culto vodu, no Daomé e no Haiti, o Papa
Legba protege as encruzilhadas, lugares sagrados imemorialmente. Quando
não há “água viva” ou correnteza perto do Catimbó, lança-se em
encruzilhada à água servida no “fechamento do corpo”. Os “despachos”
indiretos ou “coisas feitas” são enterrados na encruzilhada. A partir daí, o
mal infalível irradiará.
Para feitiços de contato, há uma melhoria. Ao lado do pacotinho, com
farinha amarela do dendê, cabelos, pentes de galo, unhas, mulambos sujos ,
fitas, um emaranhado confuso de miudezas, põem níqueis ou um pratinho
de dois mil réis. Quem o ergue também carregará as forças negativas que se
acumulam no Ebó . Os primitivos não tinham a atração do dinheiro. Nem
todos os “Mestres” perdem seus ganhos, espalhando moedas. Mas, em
Recife, vi várias vezes esses “ Despachos ” com as moedas atraindo.
A Mandinga foi colocada em um dos lugares tradicionais; sob a cama do
condenado a sofrer seus efeitos. A portada era outra, mas torna-se difícil
diariamente com o calçamento das ruas com paralelepípedos ou asfalto.
A escolha da encruzilhada como lugar de maravilhas é anterior ao
cristianismo e a associação com a cruz de Jesus Cristo é explicável, mas
não justifica a sua continuação em todo o mundo. Hammurabi, 2232 aC, em
uma de suas leis babilônicas, n. 91, prevê: “A Balança deve ficar voltada
para o Leste, imóvel, em seu local purificado, seja em um templo de Indra
ou do Dharma, ou em um salão de justiça, ou em uma encruzilhada.” (Cit.
Fernando Ortiz, Los Negros Brujos, 163, nota.) Todo o culto de Hécate
estava em uma encruzilhada. Hermann Steuding informa: Nas noites de
luna clara aparecia nas cruzes como uma figura fantástica (EKATÉ
TRIODITIS, TRIVIA) acompanhado de uma tropa de almas sem descanso,
e también de sus perros, los cuales também eram considerados como almas
errantes. Para apaziguar e contentar Hécate, no final de cada mês, os
resíduos dos sacrifícios de purificação eram depositados nas cruzes dos
caminhos. (MITOLOGIA GRIECA Y ROMANA, 83.) A encruzilhada
como terreno propício para “despachos”, cantos sagrados, “cantos abertos”
na magia negra, já era consagrada há quarenta e dois séculos.
A encruzilhada era o ponto da fatalidade, do espanto, onde se cumpria o
Destino. Na encruzilhada de Delfos e Dália, Édipo, sem reconhecê-lo,
matou o rei Laio, seu pai. (Sófocles, ÉDIPO REI.)61
Requisito elementar, indispensável e típico da coisa-feita ( Coisas-Feitas ),
farra, despacho, é não voltar a vê-la depois de colocada em lugar definitivo.
Se o feiticeiro, o simples portador, como no caso do “fechamento do
corpo”, abandona a Mandinga e vira a cabeça para olhá-la, trará parte
essencial dos maus eflúvios, tornando-se vítima da maldade concentrada , o
portador dos males. Se for o que fechou-o-corpo, quebrou as forças
anulando todo o trabalho do "Mestre da Mesa". Depois de depositado no
local escolhido, o Canjerê só poderá ser olhado pela vítima a quem se
destina ou por pessoa alheia ao feitiço. O feiticeiro, graças ao seu poder,
livrar-se-á do “ar ruim” com maior facilidade , mas ele será forçado a fazer
a “limpeza” sozinho.
Quem olha para trás traz de volta os poderes malignos que pretendia
abandonar. E atrai o Fantasma, a sombra da Morte. Quando você joga um
dente arrancado no telhado, você diz: “ Moirão , montante, tira meu dente
podre, me dá outro saudável!” Você não deve ver onde o dente caiu, senão
nascerá outro dente defeituoso. Em todos os processos de transferência de
doenças para pedras e árvores, o paciente continuará no mesmo estado se
voltar a ver o local onde fixou sua doença. O feitiço "pega" olhando e por
contato direto. Ao que parece, é mais sensível e tem um efeito mais
profundo. Não olhe para trás, recomende os Mestres.
É um vestígio cerimonial das iniciações gregas. O iniciado não virou para a
direita ou para a esquerda ou para trás durante todo o percurso e tentativas.
Para trás ficou o Passado, tudo o que havia sido renunciado, e o "outro
estado do Espírito", a fase anterior, abandonada na ascensão a Elêusis.
Orfeu havia perdido Eurídice quando se virou, na porta do Inferno, olhando
para trás. A esposa de Ló se tornou uma estátua de sal. Noli respicere post
tergum. (GÊNESIS, XIX, 17.) Quando Odisseu sacrifica aos mortos, no
limiar do reino de Plutão, está de costas, olhando para o mar e não para a
ovelha imolada, como aconselhara Circe. (HOMERUS, Odyssey, X.) Para
se livrar do remorso, Édipo faz uma oferenda às Eumênides. Na tragédia de
Sófocles, o coro se dirige ao velho príncipe tebano, recomendando que,
imediatamente após o sacrifício, se retire sem virar a cabeça. (OEDIPE A
COLONE.) Virgílio, Écloga VIII, ordena a Amarilis que jogue as cinzas
sobre sua cabeça no rio e não se vire: Fer cineres, Amarylti, fora, rivoque
fluenti, Transque caput jace: nec respexeris.
Da lenda de Poronominare, herói dos indígenas Bares da Amazônia, figura
bem-humorada e lúdica de Deus, como o Macunaíma dos Taulipangues,
Brandão de Amorim registrou diversas aventuras em Nheengatu.69 Quando
o herói vai ser medicado pelo golfinho (“Delfinida”) ele recomenda: “Você
deve se sentar nessa vara, você não deve olhar para trás.” Frobenius diz que
os caçadores africanos do Cordofão à fronteira com a Abissínia não olham
para trás quando caçam, com medo de que o leopardo os siga. Os silvestres,
sátiros, egipanos, silenos, faunos rasgariam qualquer um que olhasse para
trás percorrendo os campos dedicados a eles. A documentação é abundante
e fácil.
A proibição lembra visivelmente os ritos de iniciação. Eles se espalharam
em hábitos, expandindo a função que antes era privativa dos pequenos e
grandes eleusinos. O Catimbozeiro recebeu essa obrigação, vaga e
misteriosa, de várias fontes, sobretudo da Europa, desde o século XVI. E
ele rosnou, taciturno e convencido da suprema importância da orientação:
Não olhe para trás, como o Senhor disse a Lot, Noli respicere post tergum.
Depois da encruzilhada, o lugar mais vulnerável era a porta, os tijolos da
entrada, onde o pé pisa ao entrar. É um lugar de honra na vida no campo.
Falar na soleira da porta, receber na soleira da porta, são privilégios do
Dono e da Dona da casa. É uma lembrança da porta do Senhor onde o
hóspede tirava sua guante , luva de couro ou manopla de escamas de aço
para entrar. Arranhar uma espora ou ponta de faca na soleira da porta era
um desafio escandaloso, o maior entre os maiores. Até consegui pedir
permissão para ultrapassar a soleira da casa com as esporas nos pés. Sem
licença era ousado e carente de “modo de gente”.
Sob a soleira, a porta da casa, o cordão umbilical do recém-nascido era
enterrado no ser para que ele fosse um caseiro, um amigo de estar em casa.
Havia também a ponta do rabo do cachorro fugitivo. O Barão de Studart
registrou duas superstições sobre a estrutura das casas. “O peitoril de uma
casa com mais de um palmo de altura, é azar para o comércio; quem aí se
instalar não fará negócio e vai à falência em pouco tempo. Para acostumar
um cachorro com uma casa, basta enterrar alguns pelos da ponta do rabo no
batente da porta dos fundos e ele não fugirá mais.”
A encruzilhada era o ponto sensível para os mistérios. Entre os Orixás
Gegê-Nagô Exu é o homem das encruzilhadas, poderoso e cheio de
mistérios. Não se sabe, ao certo, se Exu é bom ou mau. Ogun, Orixá da luta,
da guerra, também aparece nas encruzilhadas, como “seu Leba”. Em Roma,
o quadrifuncus era o domínio de Hecate, deusa do mal, encantamento e
feitiços. Nas encruzilhadas os ricos de Roma e da Grécia depositavam
comida e bebida, nas festas lustrais, o jantar de Hécate, que às vezes matava
os pobres que o comiam. (Luciano de Samósata, Diálogos dos Mortos, I,
Passagem da Barca, 270.) Era lugar de encantamento, o trivium ou
quatrivium , domínios dos Ekaté Triodités. Em Bengala, a deusa das
epidemias, Raksha Kall recebe homenagens essenciais em uma
encruzilhada de quatro caminhos. Uma vez eles sacrificaram criaturas
humanas.
Para as bruxas de Roma, enterrar uma roupa ou objeto que pertencia a
alguém sob a soleira era forçá-lo a vir, atraído pela força magnética
irresistível do encanto.
Existe um horário especial para colocar os “ despachos ”? O swag tem um
efeito melhor quando colocado nas “horas abertas”, manhã e crepúsculo da
tarde. Nas “horas abertas” incluem meio-dia e meia-noite e também, no
sertão , a madrugada, “quebrando as grades”, antes do amanhecer. É um
elemento folclórico europeu que os portugueses estabeleceram no Brasil.
Teócrito fala da hora mágica do “Meio-dia”, fazendo um de seus
empregados dizer: “Sim, não devo tocar flauta “na hora do meio-dia”, nessa
hora temos medo de Pã, ficando apavorados quando ele descansa. das
fadigas da caça.” Essa crença na “caçada furiosa ao meio-dia” nas tradições
da Idade Média é notável. Na Grécia moderna, a superstição persiste até
hoje, e as crianças dizem: "Não vamos sair de casa ao meio-dia porque isso
pode acontecer conosco." (J. Jacques Ampère, Gréce, Rome et Dante, 64.)
Nas orações populares portuguesas diz-se sempre:

Nem de noite, nem de dia,


Nem ao pino do meio-dia...
Nas interjeições da língua portuguesa existem certas palavras emocionais,
formadas pela contração de frases que remetem ao poder mágico das horas
que chamam de “horas abertas”. Nos Autos de Gil Vicente, Eira-má vem,
ainda hoje nos Açores, da frase Em hora má (na hora ruim) ; o advérbio
Embora deriva da frase Em boa hora. As grávidas são orientadas a se
divertirem, e no anexo:
De hora em hora
Deus melhora.
O meio-dia não é hora de ações, mas de orações, súplicas ou punições. Os
Anjos estão cantando as glórias de Deus e se o pedido coincidir com o
término do coro angélico, o amém infalivelmente sucederá o que se rezou.
“Praga ao Meio-Dia tira um Santo do Céu”, “Feitiço ao meio-dia tira santo
do céu”, dizem.
O Catimbó, em termos de feitiçaria, distancia-se do Diabolismo bruxo
europeu, das invocações demoníacas, dos pactos com Satã. A proteção
católica a invadiu, em sua primeira fase, como atesta o Prof. Maxwell. Na
fase atual, é o Espiritismo que o orienta, emprestando-lhe vocabulário,
cerimonial e dialética catequisadora.

Envultamento
Uma das “orações fortes” mais disputadas e caras é a “Oração do Sol”,
destinada a despertar e fixar o amor. dos raros ambientes exigentes e
preparação para sua execução completa.
Duas bonecas de pano são indispensáveis; um vestido de homem e outro de
mulher. Se a oração for para o casamento, a boneca está vestida de branco,
com um véu filo e uma coroa que finge ser flores de laranjeira. Se o amor
discorda, ou adia o casamento legal, qualquer boneca serve. Há também
uma faca virgem, sem uso ou mancha. No meio da oração, diz-se: Prego
esta faca a este Senhor como pregaram Jesus Cristo na cruz; Então, Fulano,
eu te perfuro no coração com dor, oh Sol, oh Sol, oh Sol! Ao dizer prego
esta faca, ela atravessa o boneco, na altura do coração. Boneca vestida de
homem se a Rezadeira for mulher e vice-versa. Ao final da oração, diz-se:
Minha linda Estrela, pelo tempo que você nasceu no céu, neste cordão,
Fulano, amarro o seu coração ao meu. E amarra os bonecos, um em cima do
outro, com uma cor forte.
Na fotografia da “Mestra Velha Elisa” e José Fran cisco, dentro da tigela de
porcelana (“princesa”, dizem no Catimbó), há uma boneca com um grande
espinho cravado no pescoço.
Em " Oração do Sol " a boneca trespassada pela faca e no Catimbó da
Velha Elisa a estatueta com o pescoço cruzado representam criaturas
humanas, objetos vivos de amor e ódio. O primeiro deve amar e o segundo
deve morrer.
É o processo de Envelopamento.
Sir James George Frazer simplificou a Magia fazendo-a com base em dois
princípios: (a) O Efeito é como a Causa que o produziu, e (b) as coisas que
estavam juntas e não estão mais, continuam a ter uma sobre a outra. a
mesma influência como se o contato ou união tivesse persistido. Do
primeiro desses princípios, o homem deduziu que poderia produzir o que
quisesse imitando. A partir do segundo, ele entende que é possível
influenciar de longe, à vontade, todas as pessoas e todos os objetos dos
quais ele tem parte.17
As bonecas devem ter todas as peças de roupa pertencentes às pessoas que
representam simbolicamente. Em um dos Diálogos de Luciano de
Samósata, Baco ensina sua companheira Mélitte a reconquistar o amante
que a havia abandonado. Procure um sírio habilidoso mágico que lhe fez
um favor semelhante, fazendo com que Fanias voltasse para ela. O sírio
pediu sal, sete óbolos, enxofre e uma tocha. Mais il te faudrait encore avoit
quelque choose qui èut appartenu à ton amant, comme un vetement, une
chaussure, quelques cheveux. (Diálogos de Cortesia, TV.)
Na feitiçaria medieval era chamado de envoutement d'amour e envoutement
de haine. Não há outro mais conhecido e utilizado no mundo e que possua
documentação com maior antiguidade. O feiticeiro modelava um boneco de
cera, escondendo em seu interior restos de vestidos, unhas, cabelos, gotas
de sangue, saliva, suor, etc. Tudo o que fosse feito sobre essa imagem
repercutiria no representado. Um alfinete perfurou o braço, a perna, um
ombro, dor determinada nessas regiões da criatura figurada nas mãos do
feiticeiro. Os valores psicofísicos do representado são emprestados ao
representante. Na história das ciências negras, os episódios são infinitos.
Reis, imperadores, papas foram envoltos em mortalhas, aparecendo com
coroas, tiaras, mantos, armas, trazendo a imagem do modelo o mais
próximo possível. E, nesse modelo, praticavam a tortura, para matar, fazer
sofrer, amedrontar ou fazer amar.
Frazer listou algumas centenas de exemplos em todo o mundo. A literatura
greco-romana é abundante nesses registros. Ninguém no Brasil ignora as
maldades cometidas com Santo Antônio, amarrado, enforcado, na água,
tirando o Menino Jesus do braço, para fazer um casamento difícil ou uma
reconciliação custosa. Santo Onofre é guardado de costas em oratórios ou
armários, perto de pires com comida, porque dizem que guarda fartura onde
fica. São Cosme e Damião sofrem a mesma amargura, assim como São
Gonçalo. Todos os mitógrafos lembram que a estátua de Marte foi amarrada
no templo de Esparta para não abandonar os guerreiros. Príapo, guardião
dos jardins, foi espancado e ameaçado de expulsão por não vigiar. Em
Chatarpour, Madras, os indígenas desenham as figuras sagradas de Indra e
Mega Raja, deus da chuva, com a cabeça baixa nas paredes. Os dois deuses
correm para fazer chover para sair da posição incômoda em que se
encontravam. Em 1710, o vice-rei da província de Nan-King convocou o
deus da chuva de Tsong-Ming para cumprir seu dever dentro de certo prazo,
sob pena de proibir a entrega de oferendas.
A imagem é ferida, estilhaçada ou atingida em um local mortal e encoberta
e enterrada.' “Eles chegam ao extremo de enterrar a imagem, ou de levá-la
ao cemitério em caixão, como acontecia há pouco tempo, no pequeno
cemitério do Saco de S. Francisco (Niterói), como me contaram os
moradores”, escreve o Prof. Artur Ramos, O Negro Brasileiro, 139. O
mesmo ainda ocorre na Índia, informa o Dr. Ernest Hemneter, mostrando a
abundância dessas figuras simbólicas de deuses ou ancestrais, feitas de
farinha de arroz, e cheias de feitiçaria, irradiando doenças. "... essas figuras
mágicas que são um dos requisitos mais comuns de todos os feiticeiros, e
que devem sempre representar a pessoa a ser enfeitiçada, são usadas para
provocar doenças. A casta mais baixa, os Banghis, cujo contato é
cuidadosamente evitado todos em todo o mundo, são suspeitos de causar
diretamente e espalhar a cólera com a ajuda desses meios, usando farinha de
Adas (phaseolus radiatus) e colocando-os à noite em locais por onde os
habitantes da vila passarão, enfeitiçados, enterrando-os no caminho ou jogá-
los em poços.” ("Siba Acts", 6, 1936, 204-5.)
A envolvente, outrora rodeada de impressionante cerimonial, desce numa
curva natural para a fácil popularidade, colocando-se nas mãos dos
consulentes, reduzida a uma liturgia portátil e nos limites de uma oração, de
dimensão mínima. A “Oração do Sol” é um daqueles sinais visíveis da
degradação da magia, da espantosa Goetia, que se transformou em coroas e
tiaras escuras e assustadas. Ela apenas sobrevive, ou resiste ao desgaste, à
demanda por qualquer coisa que pertença à boneca de quarenta centavos.
Mas não eram mais feitas pelo “Mestre”, tentando se assemelhar, até
fisicamente, à criatura enfeitiçada. Tampouco, nos domínios das “obras” do
Catimbó, tive notícia de qualquer imagem de cera.

A Cruz Magica

S
I
R

O Rapronobis
T
A
V
eu
A
S
R
E
T
A
M
Esta cruz cabalística representa os 10 mandamentos na linha horizontal e os
15 mistérios do rosário na vertical (em 2002 mais 5 mistérios foram
adicionados pelo papa, mas não são relevantes aqui). Esta cruz pode ser
usada para magnetizar e proteger trabalhos espirituais. É um exemplo típico
de trabalho sincrético.
Os 10 Mandamentos de Deus

1. Eu sou o Senhor vosso Deus. Não terás deuses estranhos diante de


mim. Não farás para ti nenhuma coisa esculpida; nem semelhança
do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem do que há
nas águas debaixo da terra. Você não deve adorá-los nem servi-los.
2. Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão.
3. Lembre-se de santificar o dia de sábado.
4. Honre seu pai e sua mãe.
5. Você não deve matar.
6. Não cometerás adultério.
7. Você não deve roubar.
8. Você não deve levantar falso testemunho contra seu vizinho.
9. Não cobiçarás a mulher do teu próximo.
10. Não cobiçarás os bens do teu próximo.

Os Mistérios Gozosos, Luminosos, Dolorosos ou Gloriosos

A. Mistérios Gozosos

A Anunciação do Anjo Gabriel a Maria


A Visitação de Maria a Isabel
O Nascimento de Jesus em Belém da Judéia
A Apresentação de Jesus no Templo
O Encontro de Jesus no Templo

B. Os Mistérios Luminosos

Batismo de Jesus no Jordão


O casamento em Caná
A Proclamação do Reino
A Transfiguração
A Instituição da Eucaristia
C. Os Mistérios Dolorosos

A Agonia de Jesus no Jardim do Getsêmani


A Flagelação de Jesus na Coluna
A Coroação de Jesus com Espinhos
O Carregamento da Cruz
A Crucificação e Morte de Jesus

D. Os Mistérios Gloriosos

A Ressurreição de Jesus
A Ascensão de Jesus ao Céu
A Descida do Espírito Santo no Pentecostes
A Assunção de Maria ao Céu
A Coroação de Nossa Senhora do Céu

"Orações Fortes". "Orações Fortes".


Material recolhido pelo Santo Ofício (Santo Ofício).
Não existe Catimbó sem " Oração Forte ". Não há conselho do "Mestre",
mas há a costumeira força da tradição. Tem quem ensine, recomende. O
Catimbó não é a fonte de uso, mas uma das fontes.
As orações são, em percentual decisivo, de influência católica. Somente os
muçulmanos negros, Haussas, Tapes e Mandingas usaram fielmente orações
escritas em árabe ou em algum dialeto africano, mas usando o alfabeto
árabe. Eles pegaram a placa na qual havia sido escrita a oração e beberam a
água da lavagem, aplicando o pedido de maneira direta e mecânica.
Yorubans, Geges e Bantu acreditam mais em gris-gris, amuletos sólidos,
seixos, chifres, dentes, raízes. Os muçulmanos negros não tiveram
influência apreciável no folclore brasileiro, e muito provavelmente entre os
camaradas de cor e da cidade. Eles eram retraídos, egocêntricos,
considerados por eles mesmos superiores aos outros negros. A oração
embriagada não fez proselitismo nem deixou rastro visível no folclore
negro do Brasil.
Sabe-se de algumas rezas que os antigos escravos usavam amarrados no
pescoço, mas todos católicos, guardados em uma bolsa de couro ou lona
que, como são denominados na África, mantêm os gris-gris mais estimados,
como o Sr. Fernando Ortiz observou em Cuba.
Não é necessário incomodar dicionários e enciclopédias para articular
orações fortes com usos gregos e romanos, empurrá-los para o Oriente e
citar as filaterias. Trechos de salmos e do Decálogo de Moisés eram sempre
desenhados em pergaminho, enrolados e presos no pescoço, nos pulsos e até
mesmo, como demonstração de santidade consciente, nas têmporas ou na
testa do israelita piedoso. Os cristãos seguiram este hábito da filateria,
tendo-a como evocação de Cristo, desenhos votivos, a pomba, a cruz, o
peixe. A tira era carregada como as orações fortes, ensacada em couro ou
tecido resistente.
Muitas rezas populares encontram-se no Livro de São Cipriano ou em A
Bruxa de Évora, cartas reeditadas de autoridade do passado entre os
curiosos da Bruxaria intencional, teórica e inocente. Alguns “Mestres” têm
um desprezo solene por esses dois livros outrora sábios. Afirmam que o
Catimbó é “coisa provada” e tudo o que se declara em São Cipriano ou na
Bruxa de Évora é pura mentira sem possibilidade de realização.
Desde cerca de vinte anos até aquela data (1949), nos “Estados”, salas
reservadas às “mesas” do Catimbó, encontram-se muitos livros sobre
Espiritismo e ciências ocultas, edições de “O Pensamento”, folhetos do
“Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento” de São Paulo. Faltam
dois livrinhos, sujos do manuseio diário, entre os cachimbos, cuias de
cauim, rolos de fumo, bugias e “princesas” de porcelana: “Livro de Orações
Espirituais” e “Como se Organizam as Sessões Espirituais”. No Candomblé
ou na Macumba esses livrinhos seriam impossíveis. No Catimbó denunciam
a próxima absorção inevitável.
O documentário mais expressivo é o caderno manuscrito, com uma
caligrafia incrível, desafiando a tenacidade de mulheres ocupadas. O
caderno é a parte mais ciumenta dos Catimbozeiros. Raro, no entanto,
escrever. Nos Catimbós, onde manda uma mulher e ela sabe ler, o caderno
cheio de orações fortes e os livros de espiritismo são infalíveis.
Muitas dessas rezas que consegui em Catimbós e confiscadas pela Polícia
são muito antigas e estão espalhadas pelo Nordeste e com certeza pelo
Brasil. Sertanejos e sertanejas os conheciam de cor, dando-lhes total
confiança. No Catimbó sertanejo, a simples presença de uma rezadora com
alguma reminiscência terapêutica de origem indígena e portuguesa, só se
sente a presença de um vago espiritismo porque a mulher é guiada por um
santo ou um espírito-de-luz. As orações são mais respeitosas. Existe até
feiticeira, que não “faz” feitiços, ou seja, não prepara o “trabalho”. Ela se
limita a rezar. “Orar” pode fazer qualquer coisa. Um de meus informantes
disse que em São José de Mipibu havia uma feiticeira “carregada”.
(poderoso) mas apenas "trabalhou em oração ..."
Várias Obras (De: Ribeiro)
Para Atrair a Felicidade de Alguém

Num dia de segunda-feira, de lua nova, levar uma garrafa de bom vinho,
uma garrafa de leite, uma garrafa de mel de abelha e sete rosas brancas à
beira de uma praia. Depois de saudar a Rainha do Mar e todo o seu povo,
pedindo licença, e dizendo:
"Rainha do Mar, eu te venho saudar e te oferecer vinho, para que me banhes
de felicidade, leite para que eu tenha ale grias em minha vida, mel para que
se abrandem todos os ma les e se afastem de mim as amarguras, e rosas
brancas para que a minha alma seja purificada das influências de todas as
coisas negras e más.”
Feito isso, jogue as oferendas ao mar, uma de cada vez, de acordo com as
mencionadas, e acrescente:
Hoje é dia da Grande Senhora
Do céu, da Terra e do mar
Calunga, é, é, é, é, é Calunga, a, a, a, a, a
Brilham as estrelas no céu.
Brincam os peixinhos do mar
Calunga, é, é, é, é, é! Calunga, a, a, a, a, a
(Calunga significa sepultura)
Este trabalho deve ser feito ao meio-dia, quando o sol está alto.

Para Suavizar Inimigos


Santa Catarina, Santa Catarina, foi uma santa que praticou o poder do
verbo, pois ela, com todas as suas palavras sagradas, abrandou todos os
gênios e os corações de todos os homens irados.
Portanto, quem quiser amenizar seus inimigos, transformando-os em
amigos, basta acender uma vela à Santa Catarina, usando um copo d'água
ao lado, e acrescentar:
És mais bela que o Sol,
Mais que as estrelas tu és linda.
Abrandais os gênios maus
Bela Santa Catarina.
É mais formosa que a Lua,
Mais que as estrelas tu és linda.
Tu que praticas o poder do verbo.
Bela Santa Catarina.

Para se inscrever para a vida


Quando uma pessoa quer se estabelecer na vida, nos negócios, na carreira,
na colocação, etc., leve uma vela e uma garrafa de cerveja preta a uma
rocha ou pedreira na quarta-feira. Em seguida, abra a garrafa de cerveja,
salve Xangó e todo o seu povo, despejando um pouco da cerveja em cruz
em cima da pedra, e termine cantando:
Pedra rolou. Xangô, lá na pedreira.
Firma ponto, meu Pai, na cachoeira.
Firmai-me na vida, meu Pai Xangô,
Para que eu não ande rolando feito uma pedra,
E que todos os meus caminhos estejam abertos aqui por diante.
Xangô é um Orixá no Candomblé relacionado ao trovão, justiça, pedras,
poder da vida, poder do rei.

Para manter uma pessoa indesejada longe de sua vida


Vá a uma praia quando a maré está alta, de preferência na lua cheia, e
recolha os resíduos que as ondas depositam na praia, levando-os para casa e
deixando-os secar (algas, paus, etc.). De preferência na sexta-feira, faça um
defumador no local onde a pessoa costuma ficar, fumando em círculo e
depois atravessando o local, nunca esquecendo de deixar a porta da frente
aberta, dizendo o seguinte:
"Eu (dizer o nome) peço que o povo do Mar e todas as suas falanges, assim
como o Mar dia a dia expulsa vomitando todo o seu lixo para as praias e
costas, eu peço que expulse Fulano (dizer o nome da pessoa) de dentro da
minha casa."
"Eu (diga o nome) peço que o povo do Mar e todas as suas falanges, assim
como o Mar, dia a dia expulsa jogando todo o seu lixo para as praias e
costas, peço que expulse Fulano ( diga o nome da pessoa) de dentro da
minha casa."
Ao terminar, embrulhe as cinzas frias do defumador em papel branco liso e
guarde em local próximo à porta de entrada (mas dentro de casa). Esperar o
dia, ou a hora, em que seu pedido seja atendido, para então ir à mesma praia
e ao local onde foi feita a coleta, levando o embrulho, uma vela e uma rosa
branca, e a maré deve estar vazante ( baixo). Acenda a vela agradecendo ao
Povo do Mar a graça obtida, ofereça uma rosa na água, esperando que sete
ondas batam na praia, solte o pacote fechado na água e diga as seguintes
palavras:
"Sereia Tubarão do Mar, todo o mal vais levar. Eu, Fulano (dizer o nome),
vos agradeço por tudo que fizestes."
Retira-te da praia, dando sete passos para trás, fazendo o sinal da cruz, com
os dedos molhados na água do mar.

Para Descarga (Descarrego), Proteção e Contra Doenças


Compre Erva de Santa Luzia, benjoim, incenso e rosas brancas.
A defumação deve ser feita em forma de cruz, principalmente sobre a parte
do corpo afetada, caso a pessoa esteja doente. Diga o seguinte:
"Ô Santa Luzia, qué tens o poder de curar òs olhos, livrai-nos do mal, de
noite e de dia.
Guiai a alma e o corpo de Fulano (dizer o nome do doente).
Minha Santa Luzia, rogai a Deus por Fulano (repetir o nome da pessoa) de
Continue com o fumo, dizendo:
“A estrela que brilha no azul,
No azul do céu de noite e de dia,
Essa que brilha tão firme
É conhecida por Santa Luzia.”
Ao final da defumação, esperar que as cinzas esfriem, envolvendo-as em
papel liso branco, indo até a margem de um rio, pegando sete rosas brancas,
oferecendo-as à Mãe d'Água (Iemanjá). ) e agradecendo-lhes a graça obtida.
Por fim, adicione:
"Assim como a água do rio corre para o mar, que todo mal de Fulano
(repetir o nome da pessoa), seja levado para bem longe. Que
ele tenha sempre à sua volta paz, saúde e proteção."

Para afastar o espírito que está se apoiando


Durante sete segundas-feiras (fora de casa: na igreja, na praia ou no quintal
de casa), acenda uma vela de cera, dizendo as seguintes palavras:
Fulano (dizer o nome completo da pessoa falecida), eu ofereço esta luz,
pedindo a Deus que te ilumine, que te dê força na tua caminhada — pois já
não pertences mais a este mundo — que me deixes seguir minha vida, e que
sigas a tua caminhada na paz de Oxalá”
"NN (diga o nome completo da pessoa falecida), ofereço esta luz, pedindo a
Deus que te ilumine, que te dê força na sua caminhada - porque você não
pertence mais a este mundo - que me deixe seguir minha vida, e continuar
sua caminhe na paz de Oxalá”

Para Aumentar Seu Dinheiro


Compre sete garrafas de aguardente ( marafo, aguardente ) e, numa sexta-
feira, vá a sete encruzilhadas, abrindo uma garrafa de marafo em cada uma
delas, jogando um pouco no chão, em cruz (isto é, cruzando), e colocando
em cada uma delas uma moeda de 1 cruzeiro , dizendo o seguinte:
“Povo das encruzilhadas, aqui eu trouxe o vosso marafo e aqui tenho estas
moedas.
Venho pedir a todos que aumentem o meu dinheiro, que me ajudem com
todas as vossas forças".
Quando estiver na sétima e última encruzilhada, acrescente:
“Aqui tem a vossa bebida e as moedas.
Vos peço pela sétima vez que multiplique o meu dinheiro e que me dê
forças, vos prometendo aqui voltar em outra ocasião, quando eu estiver
mais formoso".
Retire-se, dando alguns passos para trás pedindo licença e dizendo:
“Tenho certeza que serei por vocês atendidos”.
Não se vire para olhar ou passe pela encruzilhada onde a obra ficou
paralisada por 21 dias.

Para uma pessoa parar de beber


Compre uma garrafa de cachaça e numa sexta-feira, lua minguante, às 12,
18 ou 24 horas, dirija-se a uma encruzilhada, abra a garrafa, vire as costas,
derramando o líquido no chão, dizendo as seguintes palavras:
“Assim como esta lua míngua, eu (Fulano), vou minguar o vício de beber”.
Em seguida, retire-se, sem olhar para trás. Tal trabalho pode ser feito pela
pessoa que bebe ou em benefício de qualquer outra pessoa.

Para curar uma criança de qualquer tipo de doença


Compre (ou faça) uma toalha branca que nunca foi usada, uma vela branca,
um copo virgem, uma garrafa vazia de vinho branco, 3 rosas brancas.
Estenda a toalha sobre uma mesa, encha a garrafa com água filtrada,
colocando-a sobre a mesa. Em seguida, coloque o copo em cima da garrafa,
de forma que fique tampado, acenda a vela em um pires branco e virgem.
Feito isso, faça a seguinte oração:
“Peço com todas as forças ao povo médico do Oriente que transforme esta
água em remédio, e que as forças Astrais aqui se concentrem, e que o nosso
Pai me dê esta graça, por mim pedida com toda a humildade.”
Espere a vela terminar de queimar e mande as rosas para o mar. A partir
deste momento, o trabalho está pronto, e nos momentos de aflição pode ser
dado como remédio à criança doente, nas horas de sede.

Para ocasiões de grande aflição


Pode ser aplicado nos seguintes casos:
• quando alguém retém um documento em benefício próprio.
• quando alguém se recusa a cumprir determinado compromisso
assumido.
• quando alguém retém uma dívida assumida.
• quando alguém o prejudica no trabalho ou nos negócios.
Em um dia de segunda-feira, primeiro, tome um banho (exija pausa),
compre 3 velas brancas, escreva o nome da pessoa que está faltando,
usando três pedaços de papel branco. (O nome da pessoa deve ser escrito
em cruz, nos três pedaços de papel.) Vá para fora, acenda as três velas,
colocando os papéis escritos com o nome da pessoa, um embaixo de cada
vela. Depois de tudo pronto, de joelhos, ofereça uma vela para as Almas
Aflitas, outra para as Almas Desesperadas e a última para as Almas
Inquietas, fazendo o seguinte pedido:
“Peço que Fulano (dizer o nome da pessoa) viva como um aflito,
desesperado, desassossegado, enquanto viver.”
Complete o pedido que o está afligindo e acrescente:
"Eu tenho certeza que serei atendido, e que ele viva aflito, desesperado e
desassossegado, enquanto penso em me prejudicar".
Logo em seguida, reze 3 Pai Nossos, oferecendo-os às almas aflitas,
desesperadas e inquietas e retire-se dando 3 passos para trás, agradecendo.
BANHOS
Os banhos são feitos com os nomes das pessoas para as quais são
preparados. As ervas tradicionais podem ser facilmente encontradas (as
receitas raramente contêm ingredientes indígenas – ainda assim, algumas
podem não estar disponíveis fora do Brasil).

Banhos de Firmeza – Banhos Refirmantes


1) Banho De Firmeza
Arruda
Guiné
Alecrim do Campo
Cipó
Mil Homens
Erva de São João

2) Banho De Firmeza
Arruda
Guiné
Aroeira
Barba de Velho
Alecrim do campo

3) Banho De Firmeza
Arruda
Guiné
Erva de São João

4) Banho De Firmeza
Arruda
Folhas de Girassol
Comigo-Ninguém-Pode
Alecrim
Folhas de coqueiro

5) Banho De Firmeza
Arruda
Guiné
Manjericão
Espada de São Jorge
Comigo-Ninguém-Pode
Verbena
Tapete de Oxalá

Banhos de Descarrego – Banhos de Descarga


(Limpeza)
1. Banho de Descarrego
Verbena
Folhas de samambaia
Folhas de louro
Folhas de cipreste

2. Banho de Descarga
Arruda
Guiné
Folhas de manjericão
Samambaia
Abre caminhos
Cipó Mil Homens
Espada de São Jorge

3. Banho de Descarga
Espada de São Jorge
Espada de Santa Bárbara
Folhas de mangueira
Barba de Velho
Jaborandi

4. Banho de Descarga
Espada de São Jorge
Arruda
Guiné
Manjericão
Verbena
Folhas de eucalipto
Abre caminhos

5. Banho de Descarrego
Espada de São Jorge
Guiné
Alecrim do campo
Comigo-Ninguém-Pode
Barba de velho
Guaco
Folhas de mangueira

6. Banho de Descarga
Espada de São Jorge
Folhas de manjericão
Aroeira
Cipó
Mil Homens
Espada de Santa Bárbara
Gonçalinho
Arruda
ORAÇÕES TRADICIONAIS
As rezas típicas do Catimbó seguem um sincretismo jesuíta. Normalmente,
adotavam-se orações a santos que correspondiam aos arquétipos
mitológicos indianos e, posteriormente, também africanos. Não existe uma
estrutura fixa para essas orações, os rituais mágicos geralmente são
combinados com uma oração a um santo adequado.
Ao longo das décadas, as orações foram parcialmente alteradas e adaptadas.
A seguir estão algumas das orações mais antigas listadas no Meleagro de
Cascudo. Além disso, algumas outras orações listadas em livros antigos de
autores como Ribeiro. Alguns deles ainda são usados regularmente hoje.
O princípio da oração é pedir. Como os guias espirituais não podem ajudar
sem um pedido, afinal, o livre-arbítrio humano sempre se aplica. Dizem que
a chave do sucesso é acreditar nos resultados que vão acontecer. As dúvidas
são inimigas do sucesso.

Oração da Cabra Preta - Oração da Cabra Preta


Tem (há) uma Cabra Preta comendo no campo ver de. Dela mando tirar o
leite e fazer três pães (pães). Mando um para Satanás e outro a Caifás e
outro ao Cão Coxo que não me fica atrás. Santa Justina em campo verde
andasse, a Cabra Preta encontrasse, do leite três pães tirasse e mandasse
para Ferrabrás, Satanás e o Cão Coxo que não fica atrás. Minha Santa
Justina vós como tão poderosa, o Cão quero que me mande comigo falar
para que me dê... (diz a pretensão) e nada venha perturbar e se tiver de ser
três coisas quero ver galo cantar, cachorro ladrar e gato miar nesse
momento. Valei-me as 7 Cabras Pretas e os seis milheiros de Diabos, valei-
me os Três Reis do Oriente, valei-me as Três Almas, os Três Sinos
Salomão, pois quero que o Diabo Coxo venha falar a Santa Justina que há
de mandar já, já e já. Amém.
Oração do Sonho de Santa Helena - Santa
Helena's Dream Prayer
Minha Santa Helena, não foste a senhora que recebe beu os três cravos de
Jesus Cristo e um botastes nas ondas do mar, outro destes ao seu filho
Constantino e o último deixastes para dormir e sonhar? Pois eu quero que a
Senhora me empreste ele para que tenha (diz o que deseja) e dê a resposta
no sonho. Se acontecer de suceder o que quero eu sonhe com águas claras,
campos verdes, casas brancas e se não tiver de acontecer, sonhe com águas
turvas, campos secos e casas pretas. Padre-Nosso, Ave-Maria e Salve-
Rainha até “nos mostrai”. (Depois de rezar essa oração não se fala mais até
depois do sonho.)

Oração da Pedra Cristalina - Oração à Pedra


Cristalina
Minha Pedra Cristalina que no Mar foste achada entre o Cálix bento e a
Hóstia consagrada. Treme a Terra mas não treme Nosso Senhor Jesus Cristo
no altar. Assim tremam os corações dos meus inimigos quando olharem
para mim. Eu te benzo em cruz e não tu a mim, entre o Sol, a Lua e as
Estrelas e as três pessoas distintas tas da Santíssima Trindade. Meu Deus,
na travessa avis tei meus inimigos. Meu Deus! Eles não me ofenderão, pois
eis o que faço com eles: com o manto da Virgem sou coberto e com o
sangue do Meu Senhor Jesus Cristo sou valido. Tem vontade de me atirar,
porém não ati rarás e se atirar, água pelo cano da espigarda correrá. Se tiver
vontade de furar, a faca da mão cairá. Se me amarrar, os nós se desatarão.
Se me acorrentar, as corren tes se quebrarão. Se me trancar, as portas da
prisão se abrirão para me deixar passar, livre, sem ser visto por entre os
meus inimigos, como passou Nosso Senhor Jesus sus Cristo no dia da
Ressurreição por entre os guardas do sepulcro. Oferecimento: Salvo fui,
salvo sou, salvo serei. Com a chave do Sacrário eu me fecharei. Três Padre-
Nossos, três Ave-Marias e três Glória-ao-Padre.

Oração do Rio Jordão - Oração do Rio Jordão


Estavam no rio Jordão ambos os dois. Chegou o Senhor São João. Levanta-
te, Senhor! La vêm os nossos inimigos! Deixa vir, João! Que todos vêm
atados de pés e mãos, almas e corações. Com dois eu te vejo, com três eu te
ato. O sangue eu te bebo, coração eu te parto. Vocês todos hão de ficar
humildes e mansos como a sola dos meus sapatos. (Diz três vezes esta frase
ba tendo com o pé direito.) Deus quer, Deus pode, Deus acaba tudo quanto
Deus e eu quisermos. Salve Rainha.

Força do Credo - Força do Credo


Salvo eu saio e salvo eu entro. Salve o Senhor São João Batista lá no rio
Jordão. Na Barca de Noé entrei, e com a chave do Sacrário eu me tranquei.
Com os doze Apóstolos e Jesus me encomendo. Com a força do Credo que
eu me benzo. Amém Jesus.

Oração das Estrelas - Oração das Estrelas


Valei-me a Oração das Estrelas que são nove. Juntem-se todas as nove
estrelas e vão dar nove abalos no coração de F. Se ele estiver bebendo não
beberá. Se estiver comendo, não comerá. Se estiver conversando, não
conversará. Se estiver dormindo, não dormirá en quanto não vier falar-me.
Valei-me a Oração das Estre las! Se a Oração das Estrelas não me valer,
valei-me as. sete camisas do Menino Jesus. Se as sete camisas não me
valerem, vale-me a Hóstia consagrada. Se a Hóstia não me valer, F., tu não
sabes que os Padres nas santas-missas vêm à Hóstia consagrada, e assim
seja tu para mim. F., tu correrás atrás de mim como São Marcos escreveu ao
pé da Igreja pela mulher de Caim. F., Deus acaba tudo quanto quer e eu
acabarei com tudo quanto quiser, com todos os pensamentos que tiveres
com outros (ou com outras). Só poderão olhar para mim. Padre-Nosso, Ave-
Maria, Glória-ao-Padre, oferecendo-se à Nossa. Senhora do Desterro e da
Conceição.

Oração do Meio-Dia
Deus te salve Hora do Meio-Dia em que o Senhor seguiu. Se encontrares F.
dai-lhe três solavancos no co ração assim como Jesus Cristo deu no ventre
da Virgem Maria. Fulano, com dois olhos te vejo, com três cravos
encravados no teu coração, com três hóstias consagradas, com três meninos
pagãos e três cálices de Missa consa grados. São Marcos, fazei-me o vosso
milagre. Vos peço prendais o coração de Fulano nas minhas vontades: que
Fulano chegue para mim como as ervas do campo se chegam ao pé da Cruz,
manso como um cordeiro. Tudo que me dará, tudo que me souber dirá, nada
me há de negar. Fulano não pode ver, estar nem comer e beber sem comigo
vir falar. Fulano, andarás chorando atrás de mim como as almas andam
atrás da luz de Deus.

O Credo às avessas - The Creed in reverse


Creio em Deus Padre, todo-poderoso, criador do Céu e da Terra. Não
acredite em Deus Padre, nem é poderoso nem criou o Céu e a Terra. Creio
em Jesus Cristo, um só seu filho. Não acredito em Jesus um só seu filho, o
qual foi concebido por obra e graça do Espírito Santo, que não foi
concebido nem por obra, nem por graça do Espírito Santo; nasceu de Maria
Virgem, não nasceu de Maria Virgem; padeceu sob o poder de Pôncio
Pilatos, não padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos; foi crucificado, morto e
sepultado, não foi crucificado, nem morto e sepultado; desceu ao Inferno,
nem desceu ao Inferno; subiu aos Céus, não subiu aos Céus; está sentado à
direita de Deus Padre, todo-poderoso, nem está sentado à direita de Deus
Padre que não é todo-poderoso; de onde há de vir a julgar os vivos e os
mortos, de onde não há de vir nem julgará os vivos nem os mortos. Creio no
Espírito Santo, não creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, não
creio na Santa Igreja Católica, na Comunhão dos Santos, não creio na
Comunhão dos Santos, na remissão dos pecados, nem na remissão dos
pecados, na vida eterna, nem na vida eterna.

Oração das Almas - Oração das Almas


ó Almas! Õ Almas! Ó Almas que morreram aflitas, alucinadas, e as três
queimadas, e as três enforcadas, e as três de mal de amor, e as três afogadas,
e as três de goladas, se juntam todas três, e todas seis, e todas nove, e todas
doze e todas quinze e vão... {aqui se pede o que se deseja). Na carreira,
minhas Almas, na carreira, mi nhas Almas, na carreira, minhas Almas!
Minhas Almas! Minhas Almas! Minhas Almas! (Três Padre-Nossos, três
Ave-Marias e três Salve-Rainhas até nos mostrai.)

Oração dos Sete Caboclos - Oração dos Sete


Caboclos
Creio em Deus todo-poderoso. Não há quem possa mais do que Deus.
Debaixo da obediência das três pessoas da Santíssima Trindade eu peço
licença para co comunicar-me com os espíritos dos sete Caboclos e das sete
Caboclas, curadores e curadoras. ó almas santas benditas dos Caboclos e
das Caboclas, vós fostes como eu e eu serei como vós. Pedi a Deus por mim
e eu pe direi a Deus por vós. ó almas, entrai pelo meu coração adentro,
guardai meu corpo e minlfalma dos malefícios, olhos maus, azar e
contrariedades que hajam contra mim em minha casa e nos meus negócios,
ó almas dos sete Caboclos e das sete Caboclas, empatai todos os embaraços
na minha vida e nos meus negócios. PN, AM e cinco Glória-ao-Padre e
Salve-Rainha.

Oração ao Sol - Oração ao Sol


ó Sol! ó Sol! ó Sol, que triste vai-se esconder por debaixo das sete nuvens
escuras, deixando o mundo sem luz, entristecendo o coração aflito, assim
vos peço, meus raios do Sol, que entristeceis o coração de Fulano. Se ele
estiver comendo, não comerá, e o primeiro bocado lhe cairá no chão. E tu.
Fulano, de mim há de te lem brar. Três quedas deu Jesus Cristo com a
pesada cruz e três baques tu, Sol, darás no coração de Fulano. A tua boca te
amargará como amargou a sempre Virgem Maria. A tristeza te acompanha,
Fulano, de noite e de dia, assim como acompanhou a sempre Virgem Mãe
Santíssima. Fulano, não poderá ter alegria enquanto comigo não fala. Eu
apareço diante de teus olhos como as estrelas que brilham no céu. Se
estiveres nos braços de outra mulher, dela te hás de abortar. Só de mim,
Fulano, terás consolação. A lágrimas te saltarão dos olhos assim como
saltaram dos olhos da sempre Virgem Santíssima. Cravo esta faca (crava
uma faca virgem numa boneca vestida de homem) nesse senhor, assim
como cravaram a Jesus Cristo na cruz. Assim, Fulano, eu te cravo no
coração de dor, ó Sol, ó Sol, ó Sol! Tu subirás os montes assim como
Moisés subiu e descerás dos montes como Moisés desceu do Monte Sinai,
em busca dos dez mandamentos da Lei de Deus. Assim como tu, meus raios
do Sol, mudas de cor, assim Fulano há de mudar sua afeição da noite para o
dia. Assim como Jesus Cristo entrou pela porta do Calvário, assim Fulano
entrará pela porta da minha casa ou lugar onde eu estiver, ó Sol! ó Sol! ó
Sol, andas escapam pelo deserto todo o tempo e se encontram com Fulano,
traz-me ele aqui, embora mais triste do que nossa Mãe Maria Santíssima
quando viu o seu amado filho ir para a cruz, ó Sol! ó Sol! ó Sol, com dois
eu te vejo, com cinco eu te ato o sangue, eu te bebo o coração, eu te part
debaixo do meu pé esquerdo, eu te juro, Fulano, pela luz de Cristo, Fulano,
tu andarás atrás de mim ver, chorar como andam as almas atrás da luz.
Assim como as estrelas viajam por cima da cabeça de Jesus e da Mãe
Santíssima, meu Menino Deus, assim como vós destes três pulos no ventre
de vossa Mãe Santíssima, eu vos rogo dardes os três baques no coração,
nesta hora, em Fulano, para de mim se lembre e vir em minha procura.
Minha estrela bela, pela hora que no céu nas ceste, neste cordão, Fulano,
prendo o teu coração com o meu. (Amarra uma boneca em cima da outra.)

São João Batista


Meu glorioso São João Batista, vós quereis dormir vossa Mãe, Maria
Santíssima. Meu glorioso São João Batista; se este sonho for verdade, quero
que me mostreis se eu tenho de ser casada, mostre-me casas novas, campos
verdes e águas claras. Se não acontecer, mostrai-me casas caídas, campos
secos e águas turvas. Cinco PN e cinco AM e cinco Glória-ao-Padre, ofe
recendo no outro dia.

Santo Amanso
Santo Amanso, amansador que amansou os leões brabos, amansai o coração
de F. que vem brabo comigo, como todos os Diabos. Com os dois eu te
vejo, com os três eu te falo, Deus quer, Deus pode, Deus acaba com tudo
que ele quer. Assim é de ser eu quem acabe com tuas forças; tudo quanto eu
quiser. Traga amar rado de pé e mão e as cordas do coração debaixo do meu
pé esquerdo e que eu faço com que tu tenhas toda a força, para mim não!
Padre-Nosso, Ave-Maria.

Oração de Santa Pelonha para curar dor de dente


Estava a Senhora Santa Pelonha em sua cadeira de ouro sentada com a mão
posta no queixo. Passa Nosso Senhor Jesus Cristo. Perguntou: — O que te
dói, Pe lonha? —- Um dente, Senhor! — Pois, Pelonha, do sul ao norte e do
nascente ao poente, espera esta criatura livre e sã e salva de dor de dente,
pontada, nevralgia, estalicido e força de sangue. PN e AM, oferecido às
cinco chagas de Jesus Cristo.
Santa Apolônia teve os dentes arrancados com pinças pelo carrasco. Ela é a
defensora de boas dentaduras. No Sertão de Augusto Severo (antigo Campo
Grande) tive uma dor de dente curada pela velha Chica Cardosa, rezando a
oração acima, e benzendo a cruz com um raminho de alecrim. Todas essas
rezas convergiram para o Catimbó, onde as encontrei. '
Jorge Ferreira de Vasconcelos, na Comédia Eufrosina (1550), ato III, cena
VI, faz a menina Vitória dizer: — São Manso, deixa-o domá-los... confusão
verbal autorizada.
De Santa Apolônia, Pelonha, decorreu sua fama de remota documentação
literária. Fernando de Rojas, no final do século XV, pôs na boca da velha
Celestina: — Una oración, senora, que le ãijerón que sabres de Sancta
Polonia para dolor de las muelas (Ce estina, a Comedia de Calisto y
Melibea , ato IV), Dom Quixote o cita (II, VII).
Nas orações do rio Jordão, do Sol e de Santo Amanso-amansador (4.a, 9.a,
11? e 13.a) as sentenças, com duas te vejo, com três te amarro; com dois eu
vejo você, com três eu falo com você, atestam centenas de anos de uso e
abuso devocional. Em Tragédia Policiana (Toledo, 1547), o autor, bacharel
Sebastián de Fernández, resume, na voz da cafetina Claudina, os
ingredientes essenciais para um feitiço: galinha preta, um pedaço de perna
de porco branco, três fios de cabelo do futuro esposa. tima, cortada em uma
manhã de terça-feira, antes de o sol nascer. O consulente Silvano, com o pé
direito sobre o pé esquerdo, dizia, de um só fôlego, sem pestanejar: — Con
los dois que te miro con cinco te escanto, la sangre le bevo y el coraçon te
parte;84
Menendez y Pelayo divulgou uma nota do Dr. Francisco Rodriguez Marin,
dando conta da idade do. fórmula e sua frequência nos processos da Santa
Inquisição espanhola. Em um caso de 1600 contra Alonso Berlanga, na
Inquisição de Valência, há uma oração de encantamento semelhante: - Con
tres te miro, - Con cinco te ato, - Con sangre de leon tu vertut te pião, - Que
seas en mi favor de contino. Em documentação contra Isabel Bautista, em
Toledo, em 1638, consta esta fórmula para hacer mansos y sufridos a los
hombres, como as orações do Catimbó Natal: Con dos te miro, - Con dos te
miro, - Con tres te tiro, - Con cinco te arrabato, - Calla, bobo, que te te te, -
Tan hu milde vengas a mi - Como la suela de mi çapato. Compare com o
final da “Oração pelo Rio Jordão”: - Sereis todos humildes e mansos como
a sola dos meus sapatos.
Também o período: - com dois te vejo, com três te falo, ocorre num caso
toledano de 1645, contra Francisco Rodríguez que lançaria mão de
semelhantes súplicas depreciativas: - Con dos te miro, - Com una te hablo ,
etc
As imagens dos campos verdes, dos campos secos, da fidelidade sexual
absoluta, todos os elementos das invocações do amor, estão numa oração de
1639, do Santo Ofício de Valência, apreendida entre os papéis de Juana Ana
Pérez:

Con dos te miro,


Con cinco te ato,
Tu sangre bebo,
Tu corazón te arrebato,
Con los pares de tu madre y mia
La boca te tapo.
La garfia dei fiero león
Que te ligue e te coma o coração.
Asno, mira que te ligo
Y te ato y te reato y te vuelvo á reatar,
Que no puedas comer ni beber,
Ni armar ni desarmar, Ni en campo verde estar,
Ni en campo seco pasear,
Ni en casa de nenuna mujer entrar,
Ni con ella holgar.
Ni en viuda ni en casada
Ni en doncella ni en soltera á efeto llegar,
De aqui adelante de mis ojos vengas atado,
Hechizado, conjurado,
A quererme, (a) amarme,
Todos tus dineros vengas à dorme,
Que vengas, que vengas, que vengas;
Que hombre ni mujer te me detenga.

Com dois eu te olho,


Com cinco eu te amarro,Eu bebo seu sangueSeu coração eu te arrebato,Com
os pares de sua mãe e os meusMinha boca te cobri. o que te paqueroE te
amarro e te amarro e te amarro de novo,Para que não comas nem
bebas,Nem armar nem desarmar,Nem estar em campo verde,Nem andar em
campo seco,Nem entrar em casa de qualquer mulher,Nem com ela
relaxar.Nem viúva nem casadaNem como donzela nem como uma mulher
solteira para chegar,Daqui na frente dos meus olhos você vem
amarrado,Encantado, conjurado,Para me amar, (para) me amar,Todo seu
dinheiro venha dormir,Que você venha, que você venha, que você
venha;Aquele homem ou mulher me pare.
A “Oração do Sol”, “Oração do Sol”, uma das mais típicas, comprova a
convergência destas espécies, associando imagens divinas e humanas ao
serviço da atração amorosa. Sobrevivem certos “permanentes”, quase
inalteráveis: com dois te vejo, com cinco amarro teu sangue, bebo teu
coração, quebro-te sob meu pé esquerdo, etc. sugerindo a ideia de
aproximação e proximidade. Na maior porcentagem, essas palavras são
pronunciadas ao mesmo tempo em que se entrelaçam, dão nó nos fios ou
amarram dois bonecos um em cima do outro. Saint-yves menciona o valor
dos nós, significando a união física do amor.
Para verificar o “permanente” psicológico nas rezas fortes brasileiras,
vindas da Península Ibérica e usadas no Catimbó ou no segredo dos velhos
cafetões, encontro esta reza popular do século XVI, ensinada por uma
legitima Celestina, Antonia Fernandes, apelidada de Nóbrega, degradada de
Lisboa para o Brasil por bajular a própria filha. Ensinou-o a Guiomar de
Oliveira, uma velha cristã, cheia de desejos e repressões.
Fuão! Eu te encanto e reencanto, com a madeira de Vera Cruz, e com os
anjos filósofos que. são trinta e seis, e com o mouro encantador que não te
afastas de mim e de mim. diga-me o que você sabe e me dê o que você tem
e me ame mais do que todas as mulheres.
Pelo menos onde olhei, desapareceu uma moda muito vulgar para o amuleto
do amor, “a carta de baralho”. Chegou ao final do século XVII, com
prestígio decisivo. D. Francisco Manuel de Melo cita-os. Eram orações
misteriosas, que não podiam ser lidas e acionadas por simples contato. A
feiticeira a escreveu, com protocolo secreto, e a partir daí bastaria tocar a
carta à pessoa indicada pelo desejo amoroso. Renda-se logo. Margarida
Carneira, viúva cega de um olho e sempre apaixonada, mandou a sua
mameluka com uma carta para brincar na noite de Natal, para enfeitiçar
Gaspar de Góis. A mameluca , de nome Vitória, enganou-se e tocou em
Manuel Fernandes Leitão. O homem se apaixonou perdidamente por
Margarida e se casou com ela, depõe o sobrevivente Gaspar de Góis em 12
de agosto de 1591. (Denunciações da Bahia, 311, ed. por Paulo Prado, S.
Paulo, 1925.) A carta foi comprada ou alugada . Era muito caro. Isabel
Antoniane (idem, 433) informa: “e. Assim vos conta Francisco Roiz, casado
com uma mameluca filha de António da Costa, falecido morador de
Tasuapina, residente também nesta cidade na Rua de Sam Francisco que
Isabel Roiz, vulgo Bocca Torta, moradora desta cidade, havia emprestado
ele uma carta que chama carta para jogar por cinco centavos que ele tinha
dado para ele brincar com ela a moça com quem ele queria muito se casar e
isso ele disse a ele, sendo solteiro, ele vai passar seis anos na casa da
reclamante”.
Na Confissão de Paula de Sequeira (Confessões, 49) consta que a
irresistível carta brincalhona foi aquela que, escondida sob o cocar, teria
ouvido três Evangelhos por três padres.
Em nenhum lugar eu ouvi sobre isso. nas reminiscências da carta de jogar.
Vale a pena contatar as chamadas “forças diretas”, os “preparativos”,
despachos, ebós, canjerês, mas as orações de toque desapareceram no
arsenal amoroso de feitiçaria que se diluía no Catimbó.
Outras orações para o trabalho listadas por Ribeiro
Poderosa Oração de Nossa Senhora Aparecida -
Poderosa Oração de Nossa Senhora Aparecida
Ô incomparável Senhora Aparecida, Mãe de Deus, Rainha dos Anjos,
Advogada dos pecadores, Refúgio e Consolação dos aflitos e atribulados.
Ô Virgem Santíssima, cheia de poder e de beleza, lançai sobre nós um olhar
favorável para que sejamos socorridos em todas as necessidades em que nos
acharmos.
Lembrai-vos, Clementíssima Mãe Aparecida que não consta que todos os
que têm a Vós recorrido — invocando o Vosso Santíssimo Nome e
implorando Vossa singular proteção — fosse por Vós abandonado.
Animado com essa confiança, a Vós recorro, a Vós tomo, de hoje para
sempre, por minha mãe, minha protetora, minha consolação e guia, minha
esperança e minha luz na hora da morte.
Assim, pois. Senhora, livrai-me de tuao o que possa ofender-Vos e o Vosso
Santíssimo Filho, meu Redentor e meu Senhor Jesus Cristo!
Virgem Bendita, preservai a este Vosso indigno servo — a esta casa e seus
habitantes — da peste, da fome, guerra, terremotos e outros perigos e
machos que nos podem flagelar. Soberana Senhora, dignai-Vos dirigir-nos e
todos os negócios temporais e espirituais. Livrai-nos da tentação do
Demônio, para que — trilhando pelo caminho da verdade, pelos
merecimentos da Vossa Puríssima Virgindade e do Preciosíssimo Sangue do
Vosso Filho - poderemos ver, amar e gozar da glória eterna por todos os
séculos dos séculos. Assim seja!

Para as 18 Horas de Cada Dia - Para as 18 horas


de cada dia
"És mais branca que a neve,
És mais clara que o dia.
És mais linda que a rosa,
És a Ave Maria.
És a Mãe da Humanidade,
Dos espíritos és o Guia,
Mãe Ave Maria... cheia de graça." (Rezar a Ave Maria)
Depois disso, continue:
"Rainha do Céu,
Virgem Maria,
Guiai minha alma e meu corpo,
De noite e de dia,
Andarei por toda a parte,
Com a Virgem Maria.
Assim seja!"
talvez, por acaso, melhor companhia que a Virgem Maria? Por conseguinte,
andai sempre com Jesus em vossos corações, tende sempre a Virgem Maria
como companheira, e andareis sempre bem acompanhados. Ela vos guiará
por caminhos certos e seguros. Existe companhia melhor do que a Virgem
Maria? Portanto, caminhem sempre com Jesus em seus corações, tenham
sempre a Virgem Maria como sua companheira e caminharão sempre em
boa companhia. Ela o guiará por caminhos seguros e seguros.

Contra Qualquer Espécie de Doença


Pai Eterno, Senhor Misericórdia e Justo. Pela Encarnação, Nascimento,
Vida, Paixão, Morte, Ressurreição e Ascenção de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Por todos Esses Santíssimos mistérios, nos quais eu acredito
firmemente, rogo à Santíssima Trindade, por intermédio da Puríssima
Virgem Maria, nossa Mãe e Advogada, livre-me e cure-me a mim (dizer o
nome), da doença (mencionar a doença) ).
São Sebastião, São Roque, São Lãzaro, Santa Luzia, to dos Santos
protetores contra male físicos, eu vos suplico proteção.
Curai-me, Senhor Jesus; livrai-me, Cristo, desta doença. Adoremos,
louvemos, sejamos sempre obedientes a Nosso Senhor Jesus Cristo, que por
nós padeceu

Contra a Cólera - Contra a cólera


Senhor Deus, Criador do céu e da terra, louvores Vos sejam dados, por
todos os séculos dos séculos. Amém!
Senhor Meu, Jesus Cristo, Filho único de Deus Todo Poderoso, que
sofrestes e morretes na Cruz por nossos pecados, ouvi a nossa oração,
perdoai os nossos pecados, limpai a nossa alma, e pelo Vosso Santo Sangue
derramado na Cruz, livrai-nos de tudo mal. Amém!
Cordeiro de Deus, que limpastes os pecados do mundo, tende piedade de
nós. Assim seja!

Contra Hemorragias - Contra Hemorragias


Deus criador, prosto-me humilde em Vossa presença. Vosso filho pecador
(dizendo o nome da pessoa) está sofrendo de hemorragia. Vós, que sois
Onipotente, pelo Vosso Infinito Poder, pelo Vosso Santíssimo Nome, operai
em mim o milagre que operastes na mulher que sofria de um fluxo de
sangue e que, cheia de fé, tocou em Vosso manto. Como aquela mulher
publicana, com a milha fé fervorosa, serei por Vós curado do mal que estou
sofrendo. Assim seja!

Contra os Maus Espíritos - Against Evil Spirits


Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus Vivo, ouvi minha nha oração. 0
Puríssimo Espírito de Jesus foi, é, e será o vencedor de todos os inimigos e
de todos os adversários dos que amam e acreditam em Jesus Cristo. Jesus
Cristo rainha! Jesus Cristo impera! Jesus Cristo vai verna por todos os
séculos dos séculos. Assim seja!

Para ter bons resultados nos negócios – Ter bons


resultados nos negócios
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado! Meu
Deus e meu Senhor, a Vós que disseste que seriam atendidos os pedidos dos
fiéis que se dirigissem a Vós cheios de fé em Vosso Amor e Misericórdia; a
Vós me dirijo supli cando Vosso amparo em meus negócios e Vossa bênção
para os meus trabalhos.
Assim, confiando em Vosso Infinito Poder, eu recorro a Vós, neste
momento, crente de que não me desamparareis e que me concedereis a
graça de ver apertado de bom êxito os meus esforços nesta transação que
farei. Louvores Vos sejam dados por todos os séculos dos séculos. Assim
seja!

Contra Espíritos Obsessores e inimigos Invisíveis -


Against Obsessing Spirits and Invisible Enemies
Senhor meu Deus, Pai Eterno e Onipotente, graças Vos sejam dadas.
Contrito dos meus pecados, rogo o Vosso auxílio e peço-Vos que me livreis
dos ataques dos espíritos maus, das perseguições dos meus inimigos, sejam
eles visíveis ou in visíveis.
Assim como o rei Davi, eu clamo:
"Julgai-me. Senhor! e separai minha casa daquela gente infiel."
Sois meu Pai e meu Defensor. Conceda-me a graça de receber Vossa Luz e
de merecer Vossa proteção.
Pelo Sagrado Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim seja!

Para Anular Dificuldades e Embaraços nos Negócios - Para Eliminar


Dificuldades e Embaraços nos Negócios

Glória a Deus nas alturas e Paz na Terra aos homens de boa vontade.
Louvo São Judas Tadeu, São Benedito, Santo Antão, São Policarpo.
Louvo Santo Expedito, pelo bom sucesso dos meus negócios, pela minha
tranquilidade, pela minha paz.
Graças Vos sejam dadas, ó meu Bom e Amado Jesus, pela Vossa
misericordiosa proteção.
Louvado seja Deus, Criador do céu e da terra. Eterno Pai de todas as
criaturas.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, pela Vossa misericórdia.
Louvado seja o Divino Espírito Santo, pela sua miseri córdia.
Louvado seja para todo o sempre a Santíssima Trindade. Meu Deus, embora
eu seja pecador, com toda humildade
Vos peço a graça de me amparardes em meus trabalhos, em minha profissão
e em meus negócios.
Senhor Jesus Cristo, Vós dissestes: "Pedi e recebereis."
Com firme confiança em Vossa Justiça e Misericórdia, rogo o Vosso
amparo, afastando as dificuldades, os obstáculos, os impedimentos de meu
caminho.
Concedei-me, Senhor, a felicidade de colher o fruto dos meus esforços. Dai-
me, Senhor, a ventura de poder sustentar-me com o meu trabalho e assim
dar um exemplo de fidelidade aos Vossos Mandamentos, aos meus filhos,
aos meus amigos, aos meus conhecidos.
Creio em Vós, Senhor, e tenho certeza de que não serei desamparado.
Assim seja

Ao Anjo-da-Guarda - Ao Anjo da Guarda


Deus seja louvado por todos os séculos dos séculos. Assim seja! Aleluia!
Aleluia! Aleluia!
Deus confiou as almas aos Santos Anjos, para que as guiassem e as
conduzissem pela estrada da salvação.
Anjo de Deus, que possuis poder, graça, virtude e caridade, executor do que
ordena o Pai Celestial. Salve, salve!
Meu puro Anjo-da-Guarda, que sois meu defensor e meu guia, pela
misericórdia divina, protegei-me, orientai-me, acompanhai-me em meus
passos pelos caminhos da vida. Acendei em meu coração a chama da
caridade e do amor aos meus semelhantes, irmãos em Jesus Cristo. Dai-me
fé inquebrantável na Justiça e na Sabedoria de Deus.
Tenho confiança em vós, tenho a esperança de que me consolarás sempre
em minhas aflições, que me socorrerás em minhas dificuldades, que me
ajudará a vencer as tentações e estarás ao meu lado na hora da minha morte,
sendo meu advogado perante o Juízo Supremo.
Disse o Senhor meu Deus:
"Enviarei meu anjo diante de tua face, para aguardar-te no caminho e leva-
te ao lugar que te tenho preparado." Assim seja!

Outra oração coletada por Naldo de Oliveira

As orações coletadas são divididas em três grupos: no primeiro grupo estão


as orações que serão rezadas apenas uma vez. No segundo grupo estão as
orações chamadas rosário apressado (termo usado no Catimbó), que devem
ser rezadas várias vezes acompanhando a reza do rosário. O terceiro grupo
contém as frases em uso corrente, que são solicitadas na complementação
das orações do primeiro e segundo grupos. Seguindo apenas algumas
orações exemplares do primeiro grupo.

Oração sonho de São Pedro - Oração sonho de


São Pedro
Esta oração destina-se a sonhar com o que se quer saber.
Meu glorioso São Pedro,
Apóstolo de meu senhor Jesus Cristo,
Confessor da virgem maria.
Meu glorioso São Pedro, vôs quando
Pelo mar vermelho passaste
Ouviste um galo cantar e uma
Voz por vôs chamar:
Pedro..., Pedro... Pedro...
Recebe estas chaves que te enviaram.
Pois meu glorioso São Pedro,
Assim como estas palavras foram
Ditas e ouvidas, assim eu quero que
Me mostres em sonhos o que eu desejo
Ver, visível e bem visível.
Neste momento faz-se o pedido do que se deseja ver. Observação: logo ao
termo desta oração, reza-se uma Salve Rainha até "nos mostrai".
Esta oração é para sonhar com o que você quer saber.

Oração para abrir os caminhos urgentemente


Deus saiu eu saí
Deus andou eu andei,
Deus achou eu achei.
Assim como a nossa senhora
Não faltou leite para seu bento filho,
Pois a mim não faltará
O que eu quero servir.
Pelo sangue que Jesus derramou no Calvário
E pelas lágrimas que vôs derramastes ao pé da cruz,
Não há de faltar o que sair a procurar.
Observação: logo ao termo desta oração, rezam-se um Pai Nosso, uma Ave
Maria e uma Salve Rainha, até „nos mostrai“.

Oração Das Sete Forças Do Credo - Oração das


sete forças do credo
Oraçao para fechar o corpo contra inimigos
Salvo estou, salvo estarei,
Salvo entrei, salvo sairei,
São e salvo como entrou
Nosso Senhor Jesus Cristo
No Rio Jordão com São João Batista.
Na arca de noé eu entro, com a
Chave do Senhor São Pedro
Eu me tranco.
A Jesus de Nazaré eu me entrego,
Com as três palavras do credo
Deus me fecha.
Deus na frente, paz na guia,
Que Deus seja minha companhia,
Do divino espirito santo ilumine os meus caminhos,
Me livrando de todo mal e inimigos
Q ue pode se opor no meu caminho,
Que as sete forças do credo fechem meu corpo.
Jesus é minha trindade
Para sempre, amém Jesus

Oração À Santa Rita - Oração a Santa Rita


Oraçao para casos e problemas impossiveis
Sob o peso da dor a vós recorro,
Ó Santa Rita chama a santa dos impossíveis,
Certo de que serei atendido,
Libertai, eu vos peço,
O meu pobre coração das angústias que o oprimem.
Acalmai meu espírito tão cheio de preocupações,
Vôs que foste escolhido por Deus para advogada dos casos impossíveis,
E mprestai-me a graça que ardentemente vos peço.
(Neste momento, faça o pedido que deseja)
Serã possível que só eu não sinta
A eficácia do seu poderoso patrocínio?
Se minhas culpas puserem obstáculos
À realização dos meus desejos,
Obtende-me de deus arrependimento e perdão.
Não permitais que por mais tempo
E u derrame lágrimas amargas,
Premieis minha firme esperança em Vôs,
P ela vossa grande misericórdia para com os espíritos atribulados,
Ô esposa admirável do crucificado
De quem recebestes como presente,
Na fronte, um de seus sofrimentos espinhos de sua coroa.
Ajudai-me, agora nesta minha aflição
E na hora de minha morte, amém!
Após a oração, rezar um Pai Nosso, uma Ave maria e uma Salve Rainha, até
mostra nosi.
CANTOS, PONTOS, LÍRIOS,
LINHAS – CANTOS RITUAIS
TRADICIONAIS

“Linhas” segundo Ribeiro


As linhas (linhas, canções) representam o veículo indispensável para a
apresentação do Mestre. A melodia é sempre primitiva. As suas letras são
fáceis de compreender e por vezes obscuras, traduzindo nada mais do que
um simples pretexto rítmico.
A linha é entoada pelo Mestre, que convoca um dos Mestres invisíveis.
Quando esta atraca, o timbre muda, porque o cantor já está invocado. Às
vezes, espontaneamente, alguém inicia a linha de um Master, já encaixado,
sem ter sido chamado.
O canto é uniforme, sem acompanhamento instrumental. A sessão de
Catimbó está ficando rara. O comum é uma reunião entre os Mestres de
Mesa para cumprir uma ordem. Não há interesse em proselitismo e
propaganda ritual. Quanto menor o número, maior o benefício.
Sozinho ou acompanhado, o Mestre sempre canta as falas. Sem eles, os
"Mestres de bom conhecimento" não comparecem. Ao cantar uma linha,
ninguém tem o direito de sair da sala. O Mestre do Além está
profundamente irritado com a descortesia. E se vingar. As linhas só devem
ser cantadas em mesa formada, ou seja, em sessão aberta. Nunca por
curiosidade, porque um Mestre pode incorporar em um momento
inoportuno e desagradar ao bem.
“Linhas” segundo Cascudo em Meleagro
As “linhas” reproduzem a apresentação do “Mestre”. A melodia é particular
(dedicada) a cada um. A letra, fácil ou obscura, não significa mais do que
um simples pretexto rítmico. Franz Boas, entre os esquimós, reuniu várias
canções quase sem letra. A música era tudo, destinada a seduzir os peixes a
se deixarem apanhar.
Para ilustrar este ensaio, gravo apenas as melodias essenciais. Os
indispensáveis. Cantos da abertura da sessão são. Uma “linha” para os
“Mestres” indígenas, negros, brancos, os mais conhecidos, os mais
queridos, de influência em uma área mais ampla. Nas sombras dos quartos
pobres, em respeito ao "Estado", rodeada de gente humilde, a "linha" ergue-
se, pura e límpida, numa sugestão impressionante de mistério absorvente.
A “linha” é cantada pelo “Mestre” que invoca um dos “Mestres invisíveis”.
Quando este “beck” (“ costa ”), o timbre muda, pois o cantor já está
invocado. Às vezes, espontaneamente, alguém inicia a “linha”. de um
“Mestre”, já “anexado”, sem ter sido chamado.
O canto é uníssono. Sem acompanhamento instrumental. Apenas a "marca",
"marca mestre", acompanhará a divisão dos períodos musicais. Assisti a
uma sessão em que todos cantavam “linhas”, aquelas dos “Mestres” mais
populares ou assíduos, dos “ajudantes de mesa”, uma espécie de protetores.
A sessão de Catimbó está ficando rara. O comum é uma reunião entre
“mestres de mesa” para fazer um pedido. Não há interesse em proselitismo
e propaganda ritual. Quanto menor o número, maior o benefício.
Sozinho ou acompanhado, o “Mestre” sempre canta as “linhas”. Sem eles,
os “Mestres do bom conhecimento” não comparecem. Os “Mestres” me
explicaram que a presença de alguém do “Além” é denunciada pelo arrepio,
“uma formiguinha passa pelo corpo”. Na “ Linha da Abertura ”, quando
cantam: “Já vêm chegando e já, os bons saberes, do outro Mundo”. . O
“Mestre” chegou! O tambor nunca foi usado no Catimbó. o pequeno
magonguê . O “Mestre” não pega a cabaça, mas o bastão, nem deixa tocar
na madeira da mesa, durante o canto das “linhas”.
Em uma sessão, um jovem começou a cantar em segunda voz, contra-
cantando a “linha” do Mestre Carlos. O "mestre de mesa", sem interromper
o canto, multiplicou os acenos de proibição até que o menino entrasse no
mesmo tom coletivo.
Desconheço variantes das melodias das "linhas", conservadas em relativa
pureza. As letras, aqui e ali, recebem a colaboração do “Mestre”,
substituindo uma palavra e, mais frequentemente, intercalando “trunfei,
trunfá, trunfa reá” nas pausas antigas, assim como “Rei Nanã, Õ Rei Nanã!”
.
Ao cantar uma “linha” ninguém tem o direito de sair da sala. O “Mestre do
além” fica profundamente irritado com a descortesia. E se vingar. As
“linhas” só devem ser cantadas em “mesa formada” ( mesa formada), ou
seja, em sessão aberta. Nunca por curiosidade, porque um “Mestre” pode
“aterrar” num momento inoportuno e desagradável. Um “ curupiro ”
cantava a “linha do Mestre Carlos”, descuidadamente. Mestre Carlos
“pousou” (incorporou), inesperadamente, dando-lhe mais de vinte quedas,
perto de um cacimbão que estavam cavando.
Essas “linhas” são africanas, portuguesas ou mestiças brasileiras? Eles são
brasileiros. Brasileiro no sentido de uma soma de elementos diferenciados e
mesclados, determinando a música socializada, criada pela colaboração
anônima e múltipla da população. Não há estilos remanescentes que tenham
uma influência decisiva. Você quase poderia dizer o mesmo... de toda a
música do mundo.
Para os indígenas, com instrumentos de sopro preferencialmente utilizados,
o canto e a dança eram formas cotidianas, indispensáveis nas diversas raças
ameríndias. Os indígenas são os menos influentes na música brasileira. O
preto é o ritmo e, curiosamente, a ele endereçamos o processo melódico
binário, com fraseado claro, avassalador e profundo, ou leve, vivo, agitado,
revigorante. Black Music significa música africana? O que nos chega, dos
negros norte-americanos, existe, ou existiu, na África? Nenhum viajante
responderá afirmativamente. Em um livro recente e famoso, África Dances,
de Geoffrey Gorer (Londres, 1938, terceira ed.), há a seguinte observação:
música” (305). A música negra brasileira passou pelo crivo melódico de
Portugal, tornando-se mais plástica, mais transparente, mais colorida. A
orelha negra é um maravilhoso receptor de acuidade. Quem estuda a música
popular brasileira conhece as invencíveis dificuldades de fixação da solfa,
graças a esse processo espontâneo, inconsciente, incompressível de
deformar, assimilando imediatamente, pelo menos, uma frase mais bonita
ou uma modulação de efeito. Existe também a tendência de individualizar a
música, conferindo-lhe um carácter pessoal, sempre que é cantada como
solista. Joyeux observou que cada instrumento africano tem sua própria
escala, impossibilitando a produção musical em conjunto. Por isso, nos
coros, toda marcação é feita pelos ganzás ou atabaques , que dão ritmo e
estímulos prodigiosos. No Nordeste do Brasil, os melhores “ coqueiros ”
(cantores de “Cocos”) usam apenas o ganzá ( maracá de folha), permitindo
a denominação do tipo “Coco de Ganzá”. Em lado nenhum vi o tão
português “finger nut”.
A sincopação, tema polêmico entre as origens portuguesa e africana (Mário
de Andrade decide por Portugal), não passa de uma centena nestas “linhas”
nem nas que ouvi.
Há uma parte que não pode ser consertada. Os "Mestres" cantam essas
"linhas" à sua maneira. A entonação desafia os timbres conhecidos. Para
fixá-los, combina-se o tom do piano, cantando, “Mestre” e autor, minutos
seguidos até que o tom seja “tomado” pelo cantor. A "linha", embora com
todo o cuidado, dará apenas uma ideia temática. O processo de cantar é
intraduzível. Há uma parte de declamação modulada, em tempo rubato,
numa espécie de oratória, acima ou abaixo em qualquer notação musical.
Na “linha” de Manicoré só se ouvia o “trunfei, Agissé”, pela aparência
altiva, oca, aleatória e misteriosa que se dava.
A maioria das “linhas” obedece a terminações tônicas e o ritmo binário
segue as tradições populares brasileiras, assim como os cânones clássicos
no quadrado da frase melódica. Não há grandes novidades, disfonia, nem
mesmo aquele arrastamento de tom, aquele cambaleio na emissão da voz
que dava a ilusão de um quarto de tom, que existe nas canções populares
minhotas, fonte de intensa emigração para o Brasil.
Nestas “linhas” há normalidade, equilíbrio, uma espécie de urbanidade que
se afasta da bravura de certos recantos balneares ou do agreste norte-rio-
grandense.
Como era de se esperar, muitos trechos das “linhas” do Catimbó vivem em
outro lugar, na memória do povo. Na Linha de Licença, a solfa de
"Senhores Mestres eu quero, senhores Mestres vá!"" Mestres eu quero,
mestres vão!" da melancolia do Catimbó. Na Linha do Xaramundi, todos os
compassos iniciais são idênticos à canção “ Menina Enterrada ”, conto
popular de origem européia. Nogueira, estudando os Congos cearenses,
identificou trechos do “Elixir d'Amore” de Verdi ”, “Bandolinata” de
Paladille e motivos de “Semiramis” de Bossini, cantada por negros com
letras alusivas às guerras da Rainha Ginga com Henrique, o Rei Cariongo.

A estrutura das canções durante os rituais


Normalmente, as músicas seguem uma estrutura definida. Primeiro, a
"Mesa", ou seja, o espaço sagrado, é aberta. Hinos de louvor são então
cantados a Santa Jurema para despertar seu poder. A própria "mesa", o altar,
é então aberta. Frequentemente, seguem-se invocações e hinos a
Malunguinho, considerado em muitas casas o fundador ou "senhor" do
Catimbó. Só então os Mestres são chamados de "Encantados". Eles seguem
uma ordem que é diferente em cada casa. O Dono da casa é regularmente
chamado primeiro. Seguem-se os Encantados dos "mais velhos" da casa.
Por fim, uma grande variedade de músicas mais ou menos conhecidas dos
Encantados que são conhecidas dos participantes. Ao final da sessão, que
normalmente dura até as primeiras horas da manhã, é cantada uma música
final que fecha novamente o espaço sagrado.
Em muitas casas, os rituais individuais são separados dos rituais coletivos.
Durante os rituais coletivos, acontecem as purificações e consultas. No
geral, servem mais para invocar o mundo espiritual e desenvolver os
médiuns para receber os Encantados.
Abertura - abertura

Abre-te Jurema, ô abre-te Ajucá,


Abre essas cortinas, varanda ao luar,
Já vem chegando já,
O bom saber do outro mundo,
Para esse mundo, para esse mundo
É um rei, é um rei
Minha Santa Clara,
Meu são Roque de Armador,
Abro essa mesa
Com a imagem do Senhor
Abre-te campos saudosos
Deixa meu galo cantar
Canta o galo e brada o sino
Canta a sereia no mar.

II

Senhores Mestres me firmam o ponto


Senhores Mestres me abram a mesa
Quero um ponto nessa casa
Quero um ponto de defesa

III

Ó Jurema preta, senhora rainha!


É dona da cidade
Mas a chave é minha Tupereneguê, tupereneguá
Sou filho da Jurema e vem trabalhar
Eu andei, eu andei, eu andei
Eu andei, eu andei, vou andar
Sete ano' eu andei foi em terra
Outros sete eu andei foi no mar
IV

Belarmino, ó meu menino


Chaveiro de outro mundo
Vá buscar senhores Mestres
Naquele porão tão fundo
Corre, corre, meu cavalo
Meu cavalo corredor
Vá buscar senhores Mestres
Na Santa paz do senhor!
Corre, corre, meu cavalo!
Meu cavalo alazão!
Vai buscar Senhores Mestres
No reino de Salomão!
Corre, corre, meu cavalo!
Meu cavalo singular!
Vai buscar senhores Mestres
No tronco do Juremá!

Meu cavalo é branco e preto


Não se cansa de correr (2x)
Quem anda no meu cavalo,
Se arrisca muito a morrer (2x)
Abre-te, mesa!
Abre-te, janela!
Abre a ciência e
Os bons Mestres dentro dela
Abre-te, mesa!
Abre-te, janela!
Abre a Jurema e
Os bons Mestres dentro dela
V

Jurema, minha Jurema!


Jesus mandou lhe chamar
Abra as portas e as ciência
Para os Mestre passar

Jurema, minha Jurema!


Jesus mandou te buscar
Portas abertas e ciência
Para os Mestres passar

VII

Vou abrir minha Jurema


Vou abrir minha Juremá
Com licença de Mamae Oxum
E nosso pai Oxalá

Vou abrir minha Jurema


Vou abrir minha Jurema
Com permissão de Mamae Oxum
E nosso pai Oxalá
VIII

Portão de ferro, portão de ouro


Ai corra Malunguinho
Traga a chave do tesouro

VIIII

Eu abro a nossa gira com Deus e Nossa Senhora


Eu abro nossa gira Sandore, Pemba de Angola
Gira gira gira dos Caboclos
Sem sua gira eu não posso trabalhar
Assim assim na pé de Ogum, meu Pai
Sem gira eu não posso trabalhar

IX

Sentado sentado numa mesa da Jurema


Afirmei o ponto e balancei o Maracá
E eu saudei foi a Jurema Preta
Seu José Pilintra, dè um tombo e venha cá
Encerramento - Encerramento

No jardim das flores


Onde “caboco” mora
Levantai [v]os “caboco” guerreiro
Vamos-nos embora
Eu bebo mel e vinho
Em qualquer lugar
Levantai [v]os “caboco” guerreiro
Para o Juremar
II

Fechou, fechado, fechado


Fechou, deixa fechar
Com as chaves da Jurema e as bênçãos de Oxalá.
Fechamos a nossa gira
Agradecemos de coração
Ao nosso Pai Oxalá
Por termos cumprido A nossa missão.

III

Eu fecho a nossa Gira com Deus e Nossa Senhora


Eu fecho a nossa Gira, Sandore, Pemba de Angola

IV

Vou fechar minha Jurema


Vou fechar meu Juremá
Com licença de Mamãe Oxum
E nosso Pai Oxalá
Já fechei minha Jurema
Já fechei meu Juremá
Com licença de Mamãe Oxum
E nosso Pai Oxalá
Licença - Licença

A Jurema é minha madrinha Jesus é meu protetor


A Jurema é um pau sagrado onde Jesus orou
Eu vou pedir aos bons Mestres pra me ensinar a trabalhar
Com a força da Jurema, Angico e Vajucá.

II

Ô! Juremê, Ô! Juremá!
Sua folha caiu serena Ô! Jurema
Dentro deste Gongá
Ô! Deus salve a Casa Santa
Onde Deus fez a morada
Onde mora o Cálix Santo
E a hóstia consagrada,
ô! Jurema Ô! Juremê, Ô! Jurema
Sua folha caiu serena
deste Gongá
Salve o sol e salve a lua
Salve Rei Sebastião
Salve a Cabocla de pena de arco e flecha na mão
III

Oh me dai-me licença Mestre


pra saudar a sua Jurema,
Que a Jurema e Pau Sagrado
que é raiz que Deus Ordena.
Dizem que a Jurema amarga, para mim não há licor
Que a Jurema com os seus frutos sempre nos alimentou
O Segredo da Jurema
T odo mundo que saber
Feito segredo de abelha
trabalha sem ninguém saber
Oh Jurema encantada,
Nasce dá frio chão,
Dai-me força e ciência como deste a Salomão. . .

IV

Vamos saudar a Jurema


Que é de nossa obrigação
Vamos saudar senhores Mestres na Jurema
Vamos saudar Salomão
Vamos saudar senhoras Mestras na Jurema
Vamos saudar Salomão
Jurei perante a Jurema Jurei e torno a jurar
Jesus Cristo me dê forças e ciências para trabalhar
Jurei, jurei, Jurema para nunca fazer o mal (2x)
O galo cantou, cantou, cantou, em Jerusalém (2x)
Os anjos se alegram e Jurema vem.
V

Ele é o Mestre da pedra mármore


Da pedra mouro-mourão
Aqui vai passar um Mestre
que adivinha adivinhão
Arruda branca é uma erva
Na cova de Salomão
Dai-me forças, ó meu deus
Dai-me ciência rei Salomão!
Salomão bem que dizia aos seus filhos Juremeiros
Não se entra na Jurema,
sem pedir licença primeiro
Segura eu, no mundo, segura eu!
Sustenta eu, Juremá, sustenta eu!
Salomão, meu Salomão! (arrei, aree, arrriá)
Salomão do Juremá (arrei, aree, arrriá)
Salomão, meu Salomão! (arrei, aree, arrriá)
Salomão do vajucá (arrei, aree, arrriá)
Salomão, meu Salomão! (arrei, aree, arrriá)
Salomão do fulorá (arrei, aree, arrriá)
Firmeza – Firmeza (para concentração de
energias vibracionais)

A Jurema é minha madrinha


Jesus é meu protetor
A Jurema é um pau sagrado,
aonde Jesus orou
Eu vou pedir a meu Mestre
pra me 'ensiná' trabalhar
Com a força da Jurema,
do Angico e Ajucá

II

A Jurema é um pau sagrado


Onde Jesus descansou
Que dá força e “ciência”
Ao bom Mestre curador

III

O meu cruzeiro de luz


Vos que tens a luz suprema
Ilumina seus discípulos
Na ciência da Jurema

IV
Ó Juremeiro, oiê! Ô Juremá!
Cadê minha sandália, meu samburá?
minha pintassilva, minha cobra corá'?
a minha cobra caninana, meu tamanduá?
Eu dei a volta na Jurema e torno a voltar!
Arriei, arriei, arriei cantô! Arriei, arriei, arriei cantá!
Eu dei a volta na Jurema,
Vi a estrela brilhar!

Ó Jurema, quem foi que te encantou?


Foi a mão de Jesus Cristo
Quando nesse mundo andou
Pelo leite da Jurema pelo sol que vai raiar
Dai-me forças ó meu deus
Deixa a Jurema trabalhar

VI

Ó que cidade tão linda


É a cidade do Rei Salomão
Bem no centro daquela cidade
Existe um bom Mestre caído no chão
Meu Salomão, Salomão, Salomão,
Me levante este Mestre caído no chão
VII

Sustenta o ponto meu Mestre


Que é da Jurema não cai
Quando eu chamo você vem
E quando eu mando você vai

Obs. Ponto – “Ponto” significa uma canção ritual para chamar os espíritos
(às vezes chamada de “linha”), pode significar também os desenhos feitos
por espíritos incorporados, meios para sustentar a energia. Muitas palavras
tradicionais como “ponto”, “linha” têm vários significados dependendo do
contexto. “Linha” significa canto tradicional ou linhagem de trabalho.
Louvações - Praise

Debaixo de um Juremá
Eu vi uma folha no chao
Jurema, Jurema sagrada
Meu glorioso São Sebastião
Jurema, minha Jurema
Da rama eu quero uma flor!
Jurema, Jurema sagrada
A onde Jesus orou!
No tronco da Jurema,
Eu vi uma vi uma folha no chão.
Jurema, Jurema sagrada,
Meu glorioso São Sebastião!

II

Etá etá Jurema etá etá Juremá.


Etá etá Jurema etá etá Juremá.
Salve os reinos da Jurema
Canindé e Vajucá,
Pedra Branca, Lage Grande
O Reino Do Fundo Do Mar.
Etá etá Jurema etá etá Juremá.
Etá etá Jurema,etá etá. Juremá.
Seja preta ou seja branca
A Jurema é sagrada
O Toré na Pajelança aprendi a respeitá
No reino da Malandragem*
Do Angico e do Jucá,
Na cidade da Jurema o saberes eu fui buscá.
Etá etá Jurema etá etá Juremá.
Etá etá Jurema etá etá Juremá.
É na mesa da Jurema
Que trabalha os encantos
A Jurema é ciência
Reino cidades e estados
Salve as festas da Jurema
Salve o som do maracá
Salve a fachada da fumaça e do cachimbo
Que os Mestres vão mim dá
Etá etá Jurema etá etá Juremá.
Etá etá Jurema etá etá Juremá.
Salve os reinos da Jurema
Canindé e Vajucá,
Pedra Branca, Lage Grande
O Reino Do Fundo Do Mar.
Etá etá Jurema, etá etá Juremá.
Etá etá Jurema etá etá Juremá.
Etá etá Jurema etá etá Juremá.
Etá etá Jurema etá etá Juremá...

* Linha de trabalho da Umbanda com Zé Pilintra em outra função


III

Abriu-se o portão da Jurema


Para os Senhores Mestres passar
Salve a forca que Deus manda oh Jurema
Salve a força do seu Juremá
A Jurema é pau sagrado
É difícil de cortar
Para mexer com a Jurema, Senhores Mestres
Precisa se preparar
E deitei nessa Jurema
Pra saber o que havia
Que no mundo tinha ciência, Senhores Mestres
Que meu saber desconhecia
4

Existe no mar uma muralha


Feliz de quem ela atravessa
É a muralha das donzelas
Que vive no Fundo do Mar
No Fundo do mar tem areia
Nas águas do mar tem ciência
Quem se vê perturbado no mundo
Que Deus lhe dê paciência
V

Jurema é ciência nobre


Manacá nobreza pura
Vajucá é um bom Mestre
Tanto mata, quanto cura
No rio do são Francisco
Eu mergulhei fui ao porão
Fui buscar negro da costa
E bulir com toda nação
No rio de são Francisco
Eu mergulhei eu fui ao fundo
Fui aprender ciência
Pra poder andar no mundo
Moça dá-me um gole d'água
Da lagoa do capim!
Se essa lagoa secar, moça,
O que será de mim?
Minha mãe bem que me disse
Que não quis aprender
Que os trabalhos da Jurema
Só ficou pra se sofrer
Os trabalhos da Jurema
Todo mundo quer saber
Como o segredo da composição
Trabalhar sem ninguém ver
Sou a caixa dos feitiços
Que vocês 'viram falar
Quem jogar comigo perde
Não tem esse pra ganhar
Jurema é ciência nobre
Manacá nobreza pura
Vajucá é um bom Mestre
Tanto mata, quanto cura
VI

Ô imburana erva cheirosa!


Do Angico ao Vajucá!
Tô, tô lá na Jurema Tô, tô no Juremá
Eu vou chamar senhores Mestres pra vir me ajudar
Tô, tô lá na Jurema,
Tô, tô no Juremá!
Eu vou chamar Pedro Pelintra para vir me ajudar
Tô, tô lá na Jurema,
Tô, tô no Jurema!
Eu vou chamar o Caldeirão Sem Fundo para vir me ajudar
Tô, tô lá na Jurema,
Tô, tô no Juremá!
Eu vou chamar Senhoras Mestras para vir me ajudar
Tô, tô lá na Jurema,
Tô, tô no Juremá!
Eu vou chamar os Boiadeiros para vir me ajudar
Tô, tô lá na Jurema,
Tô, tô no Juremá!
Eu vou chamar os Caboclinhos para vir me ajudar
Tô, tô na Jurema,
Tô, tô no Juremá!

Observação: Esta linha como muitas outras são aplicáveis a todos os tipos
de Mestres femininos e masculinos. Ver formulação geral abaixo.
VII

Escrevi com meu sangue na areia


Ai que saudade da minha aldeia
Meu pombo preto bateu asas e voou
Salve a Mestra Luziaria, protegida do amor.

VIII

Dentro do meu peito eu trago


Sete palmeirões dourados
Eu sou pavão eu sou pavão
Eu sou um príncipe encantado

IX

Lá na Jurema,
Embaixo de um pé de Ingá,
Lá onde a lua clareia os Caboclos,
Eu vi o seu Pena Branca passar.
Jurema, Jurema,
Salve o seu Juremá.

Eu sou Flor Jurema


Ah, eh , eu sou Flor do Humaitá
A minha cabacinha que eu trazia se quebrou
Oh, caiu na água e o vento levou
MESTRES, MESTRAS E
OUTROS REPRESENTANTES
DO CATIMBÓ
Chamado de Mestres, Mestras, Caboclos, Caboclas, Boiadeiros,
Boiadeiras

A seguir estão algumas canções genéricas para invocar os Mestres. Isso é


seguido nos rituais por dezenas de canções específicas invocando mestres e
índios particulares. Estes são reproduzidos como parte da apresentação de
arquétipos individuais. Na medida do possível, são reproduzidas músicas
cujas partituras ainda podem ser encontradas. Ocasionalmente também
canções cujas notas não são conhecidas do autor, mas que caracterizam bem
os arquétipos.

Chamada de Mestres e Mestras - Masters Calling

Oh Jurema Mestre,
O Mestre mandou
Chamado todos os Mestres
A hora já chegou
Eu vou chamar Seu (Nome)
Eu vou chamar Seu (Nome)
A hora já chegou ….
II

Vamos meu Mestre vamos


Pra Jurema trabalhar
Mas eu só trabalho é cantando
Bebendo, fumando, tocando o meu maracá.

III

Meu Pai mora no alto


No alto eu vejo bem
No alto eu vejo quem passa
No alto eu vejo quem vem
Mas venha meu irmão
Veja irmão ver
Venha trabalhar na Jurema
Venha trabalhar mais eu

IV

Oh Imburana de cheiro,
Do Angico e do Vajucá
To, to na Jurema
To, to Juremá
Vou abrir minha Jurema
Para nela trabalhar
Vou chamar os Senhores
Pare eles me ajudarem
Chamar as Senhoras Mestres
Para aqui chegar
To, To na Jurema …
(Chamar MestreMestra “Nome” … etc.)
V

Galo preto romanisco


Que cantou no meu Terreiro
Cantou no pé da Jurema meu Jesus
Lá no pé do seu cruzeiro
Quando eu baixo numa mesa
Eu baixo pra trabalhar
Venho dominar a mesa meus irmãos
Pra ninguém não dominar

VI

Eu venho de cidade em cidade,


Ouvindo a campa bater,
Com o poder do pai eterno
Meus trabalhos eu vou vencer
Auê, auê, ele é o Mestre melhor do mundo,
Que vem da vila cabo é o primeiro sem segundo,
Olha o sol clareou , o sol clareou
O sol clareou na cidade da Jurema.
ô se balança o galho da Jurema ô se balança galho por galo
Tome cuidado com a semente da Jurema, ô meu Mestre
ela é seca, se balança mais não cai.

VII

Eu só vim aqui
Porque fui chamado
Meu capote de veludo
Com chapéu douradoEu também tenho cavaloPara andar montado

VIII
A sala tá cheia minha gente
Como é que eu entro agora
Eu entro minha gente, eu entro
Com Deus e Nossa Senhora
Malunguinho

I
Malunguinho é Reis de tribo
Malunguinho é Reis de pomar
Abre portas e janelas
Pra Malunguinho passar
Em cima daquela serra
Tem um Cruzeiro assentado
É do Reis Sebastião
Que é dono deste reinado
Repete refrão
Em cima daquela serra
Tem um cruzeiro de ouro
É do Teis Sebastião
Que é dono deste tesouro
Em cima daquela serra
Tem dois 'Caboco' tomando água no coité
Olha o som do gaito
Mestre do reis dos Canindé
Abre, abre, Malunguinho,
Vem abrir nossos caminhos
Abre, abre Malunguinho
Que estão cheios de espinhos

II

Malunguinho, ó Malunguinho, Caboclo índio riá,


Com as forças de Sinhá Luxa e nosso Pai Celestial,
Abre as portas que eu te mando sete pedra imperiá,
Com a força de Salomão no nosso Pai Celestial.
III

Malunguinho foi pras matas


Com sua foice amolada
Corta corta Malunguinho
Os espinhos dessa morada
Malunguinho na mata é rei
Com sua foice amolada

IV

Malunguinho me firma o ponto


Malunguinho me abre a mesa
Eu quero um ponto nessa casa
Quero um ponto de defesa

Eu estou te atraindo
Malunguinho, Malunguinho
Eu estou te atraindo
Eu só pe ç oa Malunguinho
Que os contrários vão levando
VI

70 anos passei no pé da Jurema


Mas não tenho pena
De quem me faz a pena
De quem me faz o mal
Se eu me vingar
Boto fogo no rochedo
Meu cachimbo é meu segredo
Ninguém vai me derrubar
Eu vim de lá por ordem do Criador
Sou Mestre, sou Juremeiro
Na santa paz do Nosso Senhor
Malunguinho na mata é Rei
Malunguinho na mata, ele é Rei (bis)

VII

Malunguinho na matas é Rei


Firmei seu ponto sim
No meio da mata sim
Salve a coroa sim
Do Seu Malunguinho
VIII

Malunguinho está nas matas,


Ele está abrindo mesa um Rei.
Me abra esta mesa Malunguinho
E pneu Espec do caminho.
Espec aqui, espec acolá
P ara os inimigos não passar.
Espec aqui Espec acolá para os inimigos eu derrota." (bis)

Mestre Junqueiro
Muitos afirmam que ele era baiano do município de Quijingue, o “sertão
nordestino” da vila de Lagoa do Junco, mas como grande parte de sua
história foi paraibana, acredita-se que esse grande sertanejo, rezador,
curandeiro e raizeiro ( aquele que trabalha com o poder das raízes) era de lá.
O encanto do cipó do Junco era o famoso Catimbozeiro, homem de moral
impecável, fazia do trato do Junco o seu ofício.
Apesar das muitas distorções que fizeram em relação a esse Mestre e seu
nome como Zé Junqueiro e Junqueira (feminino) ele é chamado apenas de
JUNQUEIRO desde os tempos mais remotos, onde o Catimbó ainda não era
divulgado em outras regiões assim eram chamados nas Juremas do Recife e
Paraíba Junqueiro é o trabalhador rural que cuida do plantio e colheita do
Junco (alguns chamam de Junço).
“Juncando eu venho (plantando) Juncando eu vou (colhendo) ho
desembaraçando (separando tratando selecionando o Cipó) eu venho ho
desembaraçando eu vou.” Juncando eu venho (plantando) Juncando eu vou
(colhendo) desembaraçando (separando tratando selecionando o Cipó) eu
mesmo fui desembaraçando vou... cantava assim e claro desembaraçando,
plantando e colhendo tinha outro significado entendido pelos Juremeiros.
Este Mestre é frequentemente visto como “trabalhando do lado esquerdo”,
estabelecendo assim um equilíbrio entre direito e esquerdo e, portanto,
chamado antes dos outros Mestres.

Mestre Junqueiro
Que vem da lagoa de junco (2x)De junco eu venhoPara junco eu vou (2x)Ô
desembaraçando eu venhoÔ desembaraçando eu vou (2x)

II

Meu viver é um tempo forte


Minha vida é trabalhar
Eu vou chamar Mestre Junqueiro
Pra ele vir me ajudar

III

Mestre Junqueiro que vem da lagoa do Junco (2x)


Juncando eu venho, juncando eu vou (2x) Desembaraçando eu venho,
desembaraçando eu vou (2x)
IV

A minha bengala Mestra


T em um cravo em brilhante
Nela está escrito
Mestre Lagoa de Rancho
A minha lagoa não seca
Nem nunca há de secar
Minha lagoa só seca
Quando o meu Mestre mandar
Sou Mestre Junqueiro
Venho de Lagoa de Rancho
Juncando eu venho juncando eu vou
Ô desembaraçando eu venho
Ô desembaraçando eu vou
Mestre Zé Pelintra - O Rei de Alhandra
Dois artigos da revista O Cruzeiro (1975 e 1980) tratam da “Cidade
Sagrada de Jurema”. Em Alhandra, pequena cidade ao sul de João Pessoa,
na Paraíba, está localizada a “Cidade Sagrada da Jurema”. Foi neste local
que, em 1813, nasceu José de Aguiar, conhecido como Zé Pelintra, que, ao
morrer aos 114 anos, se tornaria um dos dois conhecidos Mestres da
linhagem da Jurema. São centenas de metros quadrados a serem
preservados pelas autoridades estaduais. A “Cidade Sagrada da Jurema” é
formada apenas pelos túmulos dos Mestres da Jurema, cercada por centenas
de árvores da Jurema. Cada Mestre que morria tinha uma semente de
Jurema plantada em seu túmulo. Serviu de identificação para os Juremeiros.
As árvores de jurema se desenvolveram tanto na região, servindo de
esconderijo para os Mestres sepultados, que hoje o campo não pode servir
nem de pasto para o gado.
Mas quem era Zé Pelintra? Descendente dos Tabajaras, José Alves de
Aguiar – seu verdadeiro nome – era filho do índio Tuiara e do negro
escravo Ambrozio Aguiar. Nascido na Estiva, concelho de Alhandra em
1808 para uns e 1813 para outros, sempre viveu como lavrador trabalhando
em propriedades particulares e nas horas vagas tinha como guia espiritual o
índio Inácio de Barros, que pregava o culto da espíritos que se tornaram
Mestres. , pela força de sua mediunidade. José de Aguiar, popularmente
conhecido como Zé Pelintra, foi o Mestre que mais viajou pelo sertão
nordestino, justificando a fama que adquiriu.
O leitor deve estar se perguntando: E o Zé Pelintra da malandragem carioca
que povoa o imaginário de milhões de umbandistas? Vamos primeiro
entender o significado da palavra pelintra. Nos dicionários encontramos a
seguinte definição: Indivíduo pobre, mas com pretensão de aparecer; figura
No entanto, Dalmo Ferreira, autor do livro “Zé Pelintra – O Rei da Noite”
apresenta algo mais abrangente. Segundo o autor, "ladino" é o malandro
mais esperto e esperto do que o "malandro" é o "patife".
A malandragem do Zé Pelintra do Rio é José Gomes da Silva, que nada tem
a ver com José Alves Aguiar, o Mestre da Jurema. José Gomes da Silva
nasceu em Pernambuco e chegou ao Rio de Janeiro aos 17 anos, em 1917,
vindo do Recife e tornou-se um dos malandros mais famosos da Lapa e do
Estácio. O que os dois têm em comum é o nome José. Se quiser saber mais
sobre a vida do Zé Pelintra da malandragem carioca, leia a obra de Dalmo
Ferreira.
I

Sou o Zé Pelintra,
Nêgo do pé derramado,
Quem mexer com Zé Pelintra
Está doido ou está danado.
Seu doutor, seu doutor,
Bravo senhor
Zé Pelintra chegou
Bravo senhor,
Na mesa da Jurema
Bravo senhor.
Se você não queria,
Para que eu estivesse sozinho.
Seu doutor, seu doutor
Bravo senhor.

II

Pitiguaria está cantando


Ô meu Deus o que será,
Uns cantam, outros assobiam,
A sorte é Deus quem dá.
Na passagem dum riacho,
Maria me deu a mão,
O prometido é devido,
É chegada a ocasião.
III

Zé Pelintra é bom Mestre


Que aprendeu sem se ensinar.
Três dias caíram
no tronco do Juremâ.
E quando se estava
pronto pra trabalhar.
Colega, dái-me um cigarro
Que eu também sou fumador,
A pontinha que eu trazia
Caiu n'água e se molhou.
Colega, dai-me uma bicada
Que eu também sou bebedor,
A garrafa que eu trazia
Caiu no chão e se quebrou.
Mestre Antônio Olímpio
Nasceu no Rio Grande do Norte na cidade de São José do Mipibu. Segundo
seus versos cantados nos antigos Juremeiros, ocorreu em Maceió. Por ser
um Mestre antigo e de muita Ciência, não falta muito para revelar sua
trajetória. Sua história é extremamente cautelosa.

De longe eu venho de longe,


Por esses caminhos tão só,
Eu me chamo Antônio Olímpio Senhores Mestres,
D o Rio Grande do Norte,
Quem nunca ciu venha ver,
U m Mestre assim trabalhar,
Na Direita ele é Bonzinho Senhores Mestres,
N a esquerda ele é de amargar,
Tanto Riacho corrente, meu riacho não escreveu, Eu me chamo Antônio
Olímpio Senhores Mestres,
Antonio Olímpio sou eu...
Muito obrigado ao Meu Deus por esse dia,
Muito obrigado a Jesus e a Maria, vEnho de longe com minhas correntes
fortes, Eu me chamo Antonio Olímpio do Rio Grande do Norte.
Nos quatros cantos da casa,
N os quatros cantos da casa,
Eu já soltei minhas fumaças, O que por bom me conquistou, E o que por
ruim sai na fumaça
Eu venho de longe eu venho,
Por esses caminhos tão fortes Eu me chamo Antônio Olimpio Senhores
Mestre do Rio Grande Do Norte,
O rio encheu o riacho transbordou Eu nasci no Rio Grande Senhores
Mestres
Me passei em Maceió .
Mestre Benedito Meia-Légua
Benedito Meia-Légua, que assombrou os senhores de escravos antes da
abolição.
Seu nome original era Benedito Caravelas e viveu até 1885, era um líder
nato e viajado, sabia muito do nordeste. Suas andanças lhe renderam o
apelido de "Meia Liga". Carregava sempre consigo uma pequena imagem
de São Bento, que mais tarde adquiriu um significado mágico.
Reuniu grupos de insurgentes negros e aterrorizou os senhores de escravos
da região, invadindo senzalas, libertando outros negros, saqueando e
causando prejuízos reais aos racistas.
Diz-se que era um estrategista ousado e criativo, criando pequenos grupos
para evitar grandes capturas e atacando diferentes fazendas
simultaneamente. A genialidade do plano era que o líder de cada grupo se
vestisse exatamente como ele.
Sempre que alguém tinha a infelicidade de ser capturado, Benedito
reaparecia em outras rebeliões. Os fazendeiros passaram a acreditar que ele
era imortal. E sempre que havia notícias de rebelião de escravos,
perguntava-se "Mas é o Benedito?"
O mito ganhou força após uma captura dramática. Benedito chegou a São
Mateus (ES) amarrado pelo pescoço, sendo puxado por um capitão da
floresta montado a cavalo. Ele foi dado como morto e levado para o
cemitério dos escravos, na igreja de São Benedito.
No outro dia, quando foram cuidar do corpo, ele havia sumido e apenas
pegadas ensanguentadas estendiam-se no chão. Surgiu a lenda de que ele foi
protegido pelo próprio São Bento. Por mais de 40 anos ele e seu quilombo,
mais do que resistir, derrubaram o sistema escravista.
Meia Liga só foi morto na velhice, manco e doente. Ele dormia em um
tronco oco de árvore. Esconderijo que foi denunciado por um caçador. Seus
perseguidores estavam atentos, esperando que Benedito se retirasse. Eles
cobriram o tronco e atearam fogo.
Seu legado é um rastro de coragem, fé, ousadia e força para lutar pelo nosso
povo, que ainda está representado nas encenações de Congada e Ticumbi
por todo o Brasil. No meio das cinzas, encontraram sua pequena imagem de
São Benedito.
Todo dia 1º de janeiro, a procissão do Ticumbi pega a pequena imagem de
São Benedito do Córrego das Piabas e a leva até a igreja em uma encenação
dramática para celebrar a memória da Meia-Légua.

Mestre Bernardino

Eu sou duro e sou feioso


Sou como um rochedo no mar
Eu tenho umas belas vizinhas
Que é pra comigo bailar
Uma é a Jurema
A outra é o Ajucá
A outra são os encantos
Que é pra comigo bailar
Eu me chamo Bernardino
Esse é meu nome natural
Sou eu vulgo escravo branco
Da estrela oriental
Mestre Carlos

Mestre Carlos é bom Mestre


Que aprendeu sem se ensinarPassou 3 dias caídoNo tronco do Juremá
Quando ele se estava pronto Pra trabalhar
Mestre Durval
Mineiro (do estado de Minas Gerais). Ele não estava ligado ao negócio de
mineração; o apelido vem de sua terra. Jovem marinheiro que ia para o
Porto do Recife um grande motivo para viver seu grande amor por uma
prostituta agora muito famosa na Jurema Sagrada - Desconhecendo seu
trágico destino.

Existe no mar uma muralha


E feliz de quem ela avistarÉ a muralha das Três DonzelasQue moram no
alto mar
No fundo do mar têm areia
As águas do mar têm ciênciaQue se ver pertubado neste mundo, ai meu
DeusPeço a Deus que lhe dê pasciência
Segura eu Juremá, segura eu
Conforta eu Juremá, conforta eu
Sustenta eu no mundo, sustenta euProtege eu Juremá, protege eu
No pé da Jurema-Preta
Têm dois pitiguaris cantandoUm canta e outro respondeMeu Mestre eu
estou te chamando
Sou eu Durval, corredor do mundo
Tenho saber profundo nas ondas do mar...Meu pai Adão, antes de eu morrer
E u queria conhecer as fundações do mar...
Eu sou mineiro novo,
Eu sou de Minas Gerais
Olha lá malvada , eu vou te derrubar!
Salve o Mestre!
Mestre Gavião Preto

Ele foi passado muito novo


Foi numa triste ocasião
Lhe deram duas peixeiradas
Em cima do coração
Seu amigo camarada
Disse Antônio venha cáLhe levou para Jurema
Para nela trabalhar
Hoje ele vive na Jurema
Pra cumprir sua missãoHoje ele é conhecidoComo Mestre gavião
Meu Deus que sol é esse?
Que eu não posso descansar...
Avistei um pássaro preto!
Fazendo sombra pra eu descansar...
Gavião vinha voando num aceiro de um Terreiro
Gavião viu uma ninhada de pinto...Gavião desceu maneiro...Penerou...
Penerou... Penerou...
Gavião Preto das matas
Eu entrei de mata adentro...Eu fui saudar...Gavião Preto das matas!
Sai pra lá... Sai pra lá... Sai pra lá...
Gavião Preto das matas
Ele é um Exu das matas
Não aceita traição
Na Jurema é conhecido
como Mestre Gavião
Gavião Preto da Mata
Mestre Jos Galo Preto
Mestre Esquerdeiro – Mestre trabalhando para a Esquerda.

Eu já salvei sete cidade


Ja salvei sete cidade Salvei sete moradorMeu galo preto e romaniscoGalo
preto e romanisco*E tem o pé amareloCisca cisca meu galoVai fazer o que
eu quero
(*Uns dizem Ramo Arisco outros dizem homem arisco - Romanisco
significa: Diz-se do galo que tem a crista muito grossa e bifurcada)

(* Uns dizem Ramo Arisco outros dizem “homem arredio” - romanisco


significa: Diz-se do galo que tem a crista muito grossa e bifurcada.)

II

Fumaça vem
Fumaça vaiVai fumar pra onde eu mandaEu mandei ver Mandei busca Vai
fumar pra onde eu manda
Salve os Encantados e sua ciência
Sarava Senhor Galo Preto
Mestre bom de ciência
Sarava Seu Galo Preto Salve Sua ForçaTriunfa Mestre
Mestre Luis Dos Montes

Eu venho de altas torres


Do reino de Juremá,
Que eu me chamo Luís dos Montes, Trabaio com Vajucá,Com três
galhinhos de alecrim E os três reis orientá Preciso eu dum Mestre
Pra me ajudar - É Mestre Luís dos Montes
De Jurema e Juremál

II

Vinde, vinde, vinde,


Oh ! flor da noite.
Reluzindo por todas as mesas
Rei ò rei ô rei, Ó rei lá-lá
Mestre Carlos vem trabaiá.
Meia hora de relógio -
Licença me queiram dá!
Mestre Carlos é bom Mestre
Que aprendeu sem se ensina, Três dias levou caído *
Na raiz do Jurema
Quando ele se estava usando Foi pronto pra trabaiá Trunfando na mesa
escura.
Na sua mesa riá
Oh! Rei Nana Ah! Rei Naná.
(*Ritual do Tombo)
Mestre Luís e Mestre Jacinto
Ele é o Mestre Jacinto das águas do Maranhão...... Levanta Mestre Luis
levanta e vem trabalhar.... Duas belas e importantes ciências para a Jurema
sagrada - salve a Jurema salve o Codó do Maranhão salve a Cova de
Salomão.
Mestre Luis - Grande Juremeiro, Catimbozeiro, benzedeiro, rezador,
mandingueiro nascido em São Luiz do Maranhão tem grande ciência na
cidade de Codó do Maranhão e na Jurema Sagrada (Catimbó) tem grande
conhecimento em ervas e magia.
Ele é um grande Mestre que trabalha à direita e trabalha à esquerda. Ele é
irmão do Sr Jacinto. O Mestre Jacinto e o Mestre Luís são dois Mestres que
têm muita ciência. Porém, pelos segredos da Jurema Sagrada e seus
encantos, ela permanece protegida. E assim será mantido.

Relampeou, relampeou, relampeou, relampeou


Relampeou no Codó do MaranhãoNossa Senhora das Candeias clareou
Mestre Luiz vem vê, vem cá
Ele é Caboclo de Jurema trabalha nesse conga
Em casa nova se trabalha no chãoEle é Caboclo da Jurema do Codó do
Maranhão

(Codó – município maranhense)

II

Mestre Luís de onde vem


Ele vem da Terra do Maranhão
Aqui tem nego que trabalha na Macumba
Eu firmo ponto no meu cinco Salomão
Mestre Manoel Maior - “Mané Maior”
Emanoel Maior do Pé da Serra, Emanoel Cavalcante de Albuquerque.
Manoel Maior, sertanejo, de família antiga e tradicional, seus primeiros
antepassados vieram de Portugal deixando um grande legado da família
Cavalcanti e Albuquerque.

Sou Eu Manoel Maior da Serra da Borborema,


Juntei o meu gado todo faltou minha vaca assussena.É Manoel Maior lá do
pé da serra, Oh venha me ajudar, venha vencer a guerra.
Oh Manoel maior quem é o teu guia?
É Nosso Senhor e a Virgem Maria.
Sou eu Manoel Maior da Serra da Borborema,
Juntei o meu gado todo faltou minha vaca assussena...Sou Eu Manoel
Maior da Serra da Borborema Juntei o meu gado todo faltou minha vaca
assussena
É Manoel Maior lá do Pé da serra
Venha Triunfante, venha vencer a guerra Manoel Maior, quem é o teu
guia?
É o Pai Eterno e a Virgem Maria (2x)
Mestre Nego Gerson
“Feiticeiro, quimbandeiro, de Guiné do Codó do Maranhão.” Nascido em
Muzambique Nego Gerson teve sua passagem por volta de 1600 por volta
dos 33 a 40 anos de idade. Sempre andava descalço, tinha calos enormes
nos pés e seu pé lembrava um pé de pato. Ele transportava mercadorias em
uma carroça puxada por um burro (que obedecia fielmente ao seu dono)
Seu Gerson era mantido na Senzala (casas de escravos). Conheceu o
Candomblé, alguns dizem que virou Ogan e que era de Ogun. Gerson
resolveu fugir e ir para o Piauí.
Alguns relatos trazidos de Codó no Maranhão e Piauí dizem que Gerson era
menino de recados do povo de Légua Bogi. Também há relatos que dizem
que Nego Gerson era filho de Preta Velha Mãe Maria e irmão de Nego
Chic. Preta Velha Mãe Maria fugiu para cuidar dos ferimentos de Gerson
porque ele apanhava muito. Tornando possível sua fuga para o Piauí - para
ele e outros três que também se tornaram Mestre da Jurema Sagrada.
Sua aparência é baixa, negra e magra e sempre que está presente aparece
sem camisa ou com a camisa nos ombros e cabelos grisalhos.
Ele se tornou um homem muito solitário. Dentro da Umbanda é conhecido
como Príncipe Gerson por trabalhar nas 7 linhas. Não à toa é conhecido
como Nego Gerson Feiticeiro Quimbandeiro De Guiné Do Codó Do
Maranhão apresentando-se assim há mais de 120 anos.
I

Salve Seu Nego Gerson


Grande Feiticeiro e Quimbandeiro de Guiné
Mestre do desenlinho e do desembaraç
Daí-nos a Bênção e a proteçã o
Eu nasci em Moçambique meu pai
E u sarrafiei lá na Guiné
É por isso que eu me chamo Nego Gerson F eiticeiro meu filho meus
inimigos é debaixo do pé
Ele vem do mar
Ele viu a Sereia CantarO h Mãe Maria vem ver
Seu filho Gerson baiar
Mestre Oliveira Roldão

De longe venho chegando agora.


Mestre Roldão de Oliveira na cruz!
Dairim, dairim, dairô, Se me dá licença eu entro, Se não me dá, E u vou-me
embora deste mundo
Dairim, dairim, dairô.

Eu vim de longe agora.


Mestre Roldão de Oliveira na cruz!
Dairim, dairim, dairô, Se me derem licença, eu entro,
Se não me derem licença,
eu vou embora
Dairim, dairim, dairô.
Mestre Pai Joaquim
I

Pai Joaquim é preto alegre,


E squimbamba
Preto véio divertido
Esquimbamba
Eu só fico mais alegre, E squimbamba
Adepois de tê bebido, E squimbamba
Enquanto minha é bonita, E squimbamba
Que fará o Pai Joaquim E squimbamba
Qu'inda duvida que haja outro, E squimbamba
Preto alegre cumo a mim
Esquimbamba
Ariari,Esquimbamba!
Mestre Pau Pereira - Mestre Antônio Pereira
Mestre Esquerdista (Mestre Esquerdeiro) que encontrou a remissão de seus
atos passados no Seio de Juremá. Esta é a prova viva de que a Jurema
resgata e recupera almas errantes, ao contrário do que muitos pensam que
Mestres e mestras eram bons e santos curandeiros rezando em vida! Não foi
só isso! Eles tiveram suas vidas errantes um a mais e um a menos. Jurema é
um instrumento divino de paz e perdão.

Pau Pereira, Pau Pereira


Pau da minha opinião,
Todo pau que flore cai,
Só o Pai Pereira não

II

Abre as portas, abre as portas


Que Pereira vai chegar,
Vai quebrando e arrebentando
Desmanchando os patuás
Pereiro brabo, pereiro brabo
Meu Pereiro balançou,
Pereiro brabo, pereiro brabo
Zé Pereira que cortou
Pereiro brabo, pereiro brabo
Meu Pereiro balançou,
Pereiro brabo, pereiro brabo
Zé Pereira que plantou
Ele se chama Zé Pereira
Mora na ponta de areia,
Mais é bonito agente vê
Os inimigos morrerem na peia,
Aí lá chegou seu
Zé Pereira
É do reino, é do reino, é do reino nagô,
Na serra do Potengi
É do reino, é do reino, é do reino nagô,
Ele matou pai e matou mãe
É do reino, é do reino, é do reino nagô,
A madrinha de apresentar
É do reino, é do reino, é do reino nagô,
Ele matou pai e matou mãe
É do reino, é do reino, é do reino nagô,
E o pai que lhe casou
É do reino , é do reino, é do reino nagô
Mestre Manoel Quebra-Pedra
A serra da Borborema (Serra Borborema) fica no estado da Paraíba -
origem de grandes Mestres que fizeram parte da história do culto sagrado
da Jurema. Manoel Quebra Pedra nasceu na serra da Borborema em 1845,
sua mãe chamava-se Maria Porcina da Silva, seu pai chamava-se Antônio
Manoel da Silva. Manoel Quebra Pedra era um grande trabalhador, sempre
gostou de ter o próprio dinheiro no bolso, Seu Manoel Quebra Pedra
trabalhava como pedreiro, passava o dia quebrando e cortando pedras.
Teve passagem também no Recife do Pina a Boa Viagem, tem até uma
música que é relatada sobre essa passagem. Seu Manoel também trabalhou
muito tempo como capataz e vaqueiro, fazia seu trabalho como ninguém era
muito respeitado por seus patrões, sempre entregava o trabalho pronto e o
que lhe mandavam fazer.
Manoel Quebra Pedra era um grande homem honesto mas muito rígido e
corajoso, as pessoas em sua época o respeitavam e o admiravam pelo jeito
que ele era, um homem introvertido de poucas palavras mas de um coração
enorme. Algumas pessoas mencionam que ele teria se casado com uma
linda mulher e até dizem que teve alguns filhos que ainda não se sabe dessa
existência, mas o importante é saber o tamanho do nome que essa linda
entidade tinha quando viveu nessa mundo carnal físico. (Fonte Juremeiro
Canindé Natal RN) O destemido Mestre que tem forte ligação com o
Catimbó, desfaz magias, sempre dando proteção aos seus discípulos. Em
uma de suas façanhas que aconteceu em regiões litorâneas especificamente
entre Pina e Boa Viagem bairros famosos do Recife. Hoje ele conta sua
história em canções.
I
Do Pina a Boa Viagem o guarda quase a pega
Foi uma fumaça ao contrário mandada por Quebra PedraÉ ele! É ele!
Manoel Quebra Pedra é eleEle anda no mundo, ninguém não lhe pega
Cada fumaça é um tombo uma queda

Mestre José Quebra-Pedra


I

Sou eu, sou eu!


José Quebra Pedra sou eu!
Eu dei um tombo na Jurema e o mundo veio!
Eu dei um tombo na Jurema e o mundo foi!
Ando no mundo e ninguém me pega
Cada fumaça que dou, vejo a queda
Mestre Sibamba

Sibamba é na linha de Mouro


É na linha de Mouro,
Ele é pau pra virar
Arreia Sibambinha arreia Sibamba,
Todo mal que aqui estiver
Sibamba é quem vai levar
Se o meio me chamou eu vim trabalhar,
É com seu garrafão de cana
Bebi aqui tomba acolá,
Seu Sibamba é beberrão
Mas sabe trabalhar
Eu bato Sibamba
Eu bato Sibamba
Eu bato com ele no chão,
Sibamba é rei dos bêbados
Sibamba eu bato com ele no chão
Eu vou embora pra Bahia ´
Ver as baianas de lá,
Na Bahia tem Macumba
E aqui só tem patuá,
Sibamba, Sibamba Sibamba é do Pará,
Seu Sibamba é beberrão
Mas sabe trabalhar
Mas o pau rolou, rolou e caiu,
Seu Sibamba chegou e ninguém viu
Mestre Tertuliano

É o Guardião dos Dogmas da cidade Campos Verdes de Itanema.


“Ele é Tertuliano morador de afogados.
Na direita ele é bonzinho e na esquerda ele é malvado”
Fazendo história no bairro dos Afogados (Recife), Mestre Tertuliano era
muito procurado por ser um conhecedor de rezas e curas. Ele passou seu
conhecimento para muitos em seu tempo e ficou famoso por ter um bom
coração, ser humilde e por sua sabedoria dentro das seitas. Mestre muito
generoso e cuidadoso com o seu povo, mais tarde abriu caminho pelas
zonas boémias onde fez amizade com o seu Zé Pelintra, dando frutos que
ainda hoje se colhem.

É de Itanema é de Itanema
Tertuliano trabalhando é na Jurema
É de Itanema é de Itanema
Tertuliano trabalhando é na Jurema
É terto, é terto, é terto
Ele é Mestre Tertuliano
Tertuliano é um bom Mestre
E na Jurema vem chegando.

II

Que cidade é aquela


Que eu de longe estou olhando, É cidade de Campo Verde Tertuliano vem
chegando. É de Panema, é de Panema, Tertuliano vem chegando à Jurema.
É de Panema, é de Panema. Salve os senhores Mestres
Da cidade da Jurema.
É de Ipanema, é de Ipanema –
Tertuliano trabalhando na Jurema (bis)
Que cidade é essa
Que eu vejo de longe É a cidade de Campo Verde Tertuliano vem vindo. É
de Panema, é de Panema, Tertuliano vem pra Jurema .
É de Panema, é de Panema. Salve os Mestres
da cidade de Jurema.
Ele é de Ipanema, ele é de Ipanema – Tertuliano trabalhando na Jurema (2x)
Mestre Xaramundi

Pelo tronco eu subi


E pela rama eu desci Pelo som da minha gaita eu fui E pelo som da minha
gaita eu vim Sou Mestre Xaramundi,
Sou Mestre Xaramundô,
Sou do tronco da Jurema,
Sou um Mestre curador
Mestre Zé Bebinho – Seu Zé Bibinho
Um dos reis da Boêmia. Um Mestre exigente e respeitado morava na
Paraíba. Ele era baixo e atarracado, sua aparência era como um barril de
vinho, ele teve um derrame logo depois que parou de beber, ele tinha saliva
permanentemente escorrendo pelo canto da boca, sua voz era arrastada e
suas mãos tremiam um pouco, tudo isso em decorrência do AVC, Zé
Bebinho vestia sempre a mesma roupa cáqui do Floriano, a cor já havia
mudado de cáqui para cor de burro quando ele fugiu, andava descalço, a
blusa era de manga curta e tinha quatro bolsos, ele era careca e era o recado
oficial dos bons conselheiros.
Zé Bebinho apareceu na cidade jovem, vinha não se sabe de onde, trazia
recado de um para o outro, sempre muito honesto. Aos poucos foi se
dedicando a bebida, todo o dinheiro que ganhava era para beber cachaça,
em pouco tempo se tornou o bêbado oficial da cidade, nessa época foi
tirado dele a função de dar recados, pois devido a a cachaça pesada que ele
estava bebendo começou a dar mensagens erradas, então seu crédito é zero.
O tempo foi passando e o Zé Bebinho bebia cada vez mais, até que um dia
chegou a notícia, o Zé Bebinho morreu, houve um alvoroço na cidade, e o
Zé Bebinho estava mesmo morto, confirmado pelo médico e tudo, como ele
não tinha dinheiro, foi para ser enterrado no caixão da casa de caridade,
para quem não sabe, a casa de caridade fundada pelo padre Alfredo, tinha
um caixão que servia para todas as pessoas que faleciam e não tinham
condições de comprar caixão, só havia um detalhe, quando o defunto
quando chegava ao cemitério, o caixão era aberto e o defunto era jogado na
cova, e o caixão voltava novamente para a casa de caridade, para servir a
outro indigente.
Lá vai o enterro de Zé Bebinho, meia dúzia de cachaceiros como ele,
algumas mulheres da vida e um amigo ocasional, pois a grande amizade que
tinha com as pessoas da sociedade havia acabado por causa da cachaça ele
tinha bebido e pronto. O enterro, chegando ao cemitério, o caixão é
colocado no chão e a tampa é aberta, é quando ZéBbebinho se levanta de
dentro do caixão perguntando o que está acontecendo. A partir dessa época
foi uma romaria de gente para ver Zé Bebinho, fato que a partir daquele dia
nunca mais bebeu. Infelizmente logo após esse episódio ele teve o início de
um AVC que o deixou com sequelas.
Em pouco tempo, Zé Bebinho conquistou novamente a confiança da
população e tornou-se o recado oficial da cidade, mas o destino reservou
para ele a mais surpreendente história de um morador da cidade. Chegou a
notícia de que Zé Bebinho era herdeiro de uma fortuna, era de família rica,
e era um Feijó Sampaio, sua mãe era irmã da mãe do Dr. Cid Sampaio, era
primo legítimo do Dr. Cid Sampaio, ex governador , ex-senador e um dos
políticos mais influentes. E empresário do estado.
Saiu de casa e nunca mais foi visto, naquela época a comunicação não era
como hoje, era muito precária, e foi parar na cidade onde foi acolhido, e
ficou até o fim da vida, sua herança ficou com o padre Carício, porque a
esta altura da vida já estava na casa de caridade, muito velho e doente, e
pouco depois morreu, assim termina a espetacular história.

I
É no clarão do sol,
É no raio da lua,
Salve Zé Bebinho,
Zé Bebinho meio da rua
Eu vou deixar de beber,
Cachaça é um veneno,
Eu vou deixar de beber,
Mais é num copo pequeno
Eu venho da cidade do Acais,
Pra que mandou me chamar?
Abriu-se os pegou da Jurema, pra Zé Bebinho passar,
Meu Mestre quem foi que lhe disse que nessa mesa eu não vou triunfar?
Eu passei pela minha cidade tô pronto pra trabalhar
Mestre Zé Da Virada
Mestre Zé da Virada, um dos grandes Mestres da história do estado do Rio
Grande do Norte. Nasceu na cidade de Serra Negra do Norte no Sertão do
Seridó , onde passou a vida toda trabalhando em uma fazenda como
vaqueiro e corredor das vaquejadas do sertão . Ele era um vaqueiro famoso,
corajoso, sem medo de nada no mundo, corajoso e fiel ao seu chefe.
Trabalhou desde criança pela perda dos pais, na adolescência foi
trabalhando na roça, com o passar do tempo aprendeu a correr nas
vaquejadas .
Zé da Virada passou por uma decepção muito grande na vida, ele até
enlouqueceu ao saber que sua esposa matou seus filhos e se suicidou
envenenada, isso lhe causou um grande desgosto a ponto de enlouquecer. A
decepção e a tristeza marcaram a vida desse grande vaqueiro.
Ele passou a viver com essa mágoa no coração, mas tinha um grande amigo
e companheiro que também é um grande Mestre dentro da sagrada Jurema,
Zé Vaqueiro. Foi ele quem sempre esteve ao seu lado, nos momentos
difíceis de sua vida, por isso esses dois vaqueiros e Mestres caminham
juntos, eram amigos inseparáveis, corriam vaquejadas juntos eram como
irmãos .
Alguns Juremeiros mais velhos dizem que Zé da Volta foi morto por sangue
de boi. Mas o que importa é saber que esse Mestre hoje é muito respeitado
em todo Brasil e Nordeste, suas cantigas ou lírios falam muito de sua
passagem aqui na terra, foi um bom vaqueiro junto com seu parceiro Zé
Vaqueiro na vida. Hoje é um grande Mestre conhecido em todo o Brasil e
no nordeste brasileiro, quando se apóia em seus discípulos gosta de beber
muito, prosa pouco, não gosta de mentira, é muito rígido e firme nas
palavras que diz.

Meu Deus que zuada é essa que ninguém pode dormir?


São os gritos de um vaqueiro na serra do cariri, Por cima daquela serra
passa boi, passa boiada E também passa um vaqueiro do nome Zé da Virada
Vaqueiro não vai na serra
Que o touro está na maiada Ho no alto da Serra Negra
Chegou seu Zé da Birada (2x)
Oi bonito não é o boi
Bonito é a derrubada (2x)Ho no alto da Serra Negra
Chegou Seu Zé da Virada
Viva Deus no mundo
Viva a Deus Viva Deus no mundo e salve Zé Salve ZéZé da Virada ele é
Salve Zé.... Zé da Virada ele é..
O amigo não chore não que eu vou e torno a voltar,
Ah me de um aperto de mão pra você e seu Zé se lembrá Viva a Deus no
mundo, e viva a Deus, Viva a Deus no mundo e salve Zé Salve Zé da
Virada ele é !!
Salve o Mestre!
Mestre José Pretinho – Seu Zé Pretinho
Grande Mestre do Catimbó! Dizem que foi grande amigo de José Pelintra
nas andanças de Pernambuco, alguns afirmam ter sido migrante da turma de
Lampião!

Seu Zé Pretinho ele é pequenininho


É da Jurema e ninguém lhe vê
Anda nas ruas as emboladas
Só dá pernada pra ver doer (2x)
Ele armou a sua rede foi no tronco da Jurema
Ele armou a sua rede no tronco do Juremá
Não há demanda que possa lhe derrubar...
Ele é cabeça feita, tem um nome a zelar...
Seu nome é José Pretinho da Jurema,
E stá pronto pra trabalhar
Zé Pretinho meu neguinho
Tira o chapéu da cabeça...
Mestre Zezinho Do Acais

Cantando eu venho
Folgando eu estou
Cantando eu venho
Da minha cidade.
A minha barquinha nova
Nela eu venho
Feita de Aroeira
Que é pau marinho
Quem vem dentro dela
É o meu Jesus
De braços abertos
Cravado na cruz.

II

De longe venho saindo,


De longe venho chegando,
Tocando a minha viola
E as meninas apreciando.
Cantando eu venho
Folgando eu estou.
Cantando eu venho da minha cidade.
Minha barquinha nova nela eu venho,
Feita de aroeira que é pau marinho.
Quem vem dentro dela é o meu Bom Jesus,
De braços abertos, cravado na Cruz. –
Aurora é Canindé, Aurora é Canindé.
Mestras

Maria Do Açaí (ou Acais, Acaes)


Dona Maria Gonçalves De Barros, conhecida na Paraíba, no Nordeste e em
todo o Brasil pelo nome de Da. Maria do Acais, pois nasceu e viveu toda a
sua vida nesta localidade do município de Alhandra, Estado da Paraíba,
tendo falecido em 1910 na cidade de Recife, Estado de Pernambuco. Ela se
dedicou a fazer caridades espirituais para aqueles que buscavam seus
conhecimentos, fluidos e sua ajuda. Considerada a maior Mestra da Paraíba,
em todos os tempos, seu nome que ultrapassou fronteiras, permanece como
uma lenda de respeito e veneração para todos os que praticam o verdadeiro
e mais puro culto da Jurema.
A história revela que tudo começou com a índia Maria Gonçalves De
Barros (fundadora da Vila do Acaís), conhecida como Maria Índia (primeira
Maria do Acaís), quando recebeu, junto com seu irmão, Mestre Inácio
Gonçalves De Barros, terras de Imperador Dom Pedro II na demarcação
indígena das terras de Acaís, onde residia, sendo um dos responsáveis pelo
início da Jurema naquela região, Mestre Inácio, pai de Maria Eugênia
Gonçalves Guimarães {a segunda Maria do Acaís}, sendo irmã do Mestre
Casteliano Gonçalves.
Como Maria Índia não teve filhos, sua sobrinha Mestra Maria Eugenia
Gonçalves Guimarães, recebeu a herança de sua tia e logo depois ficaria
famosa como a Mestra Maria Do Acaís.
Maria Guimarães, foi casada com um português, o Sr. José Machado
Guimarães, com quem teve nove filhos, entre eles, Fósculo Gonçalves
Guimarães, que se casou com Mestre Damiana. Mestre Flósculo, como é
mais conhecido, foi seu seguidor dos segredos da Jurema.
O culto à sagrada Jurema tornou-se conhecido em todo o Brasil e até no
mundo. Em Alhandra-PB, também conhecida como cidade de Jurema ou
cidade mística da Jurema, a respeitável senhora Maria Guimarães, por
herança de sua tia, residia na cidade de Alhandra em pleno exercício de
suas atividades mediúnicas, praticante natural da ciência de Jurema, Dona
Maria Do Acaís, trazia consigo a energia espiritual com suas práticas de
cura e clarividência, onde também exercia o papel de conselheira que
naquele momento auxiliava muitas pessoas, milhares de doentes e
portadores de diversas doenças desconhecidas pela ciência médica , foram
curados com os cuidados desta simples senhora, a maioria destes doentes
recuperou a saúde, a tranquilidade e o pleno uso das suas faculdades
psicológicas com a reabilitação mental.
Com os conhecimentos adquiridos por sua fé religiosa e pela herança de sua
tia, ela elaborou receitas e bebidas feitas com raízes, cascas e sementes de
plantas sagradas, principalmente da própria árvore da Jurema, das quais
eram feitas infusões para serem ingeridas e banhadas com sua essência e
seiva. para as pessoas que a procuravam.
Naquela época, as pessoas que tinham a prática da fé no culto da Jurema
eram perseguidas e muitas vezes presas, por isso inúmeras vezes as
cerimônias teriam que ser realizadas na mata em segredo, e os Juremeiros
que desencarnavam tinham que ser enterrados em cemitérios distantes da
cidade, inúmeras vezes os lavradores da Jurema foram enterrados nas
matas, ou em fazendas. Ao redor de seus túmulos foram plantadas árvores
de Jurema, tanto para marcar o local quanto como forma de cerimônia
religiosa. Assim se formaram o que chamamos de cidades vivas. Essas
cidades eram representadas por essas árvores sagradas {Jurema preta e
branca, entre outras}.
Algumas pessoas que não tinham ligação com o culto, ou apenas
frequentavam porque precisavam de uma cura, também eram vistas pela
sociedade como pessoas incapazes de serem enterradas no mesmo local
onde pessoas que tinham brasão de família, tantos eram enterrados em
comunidades indígenas. cemitérios, que consideramos sagrados para a
Jurema. Dessa forma, muitas entidades ingressaram na espiritualidade, pois
a energia daquele local auxiliava na evolução espiritual e no aprendizado.

Galo preto rumanisco


Que canta no meu Terreiro,
Canta no pé da Jurema, Meu Jesus,
Lá no pé do meu cruzeiro.
Quando eu baixo nesta mesa,
Eu baixo pra trabalhar.
Venho dominando as mesas Meu Jesus
Prá ninguém me dominar.
II

Ela é Maria, ela é Maria do Acais


Ela é uma moça linda ela tem os olhos azuis
Não se engane, não se engane
Ela é também de Omulu.

(Omolu: Orixá do Candomblé relacionado à saúde e doenças)

III

Eu dei um grito tão longe


Mais ninguém me atendeu
Mestra Maria do Acaes
A melhor Mestra sou eu
Eu venho é de tão longe
Eu venho é trabalhar
Trazendo as correntes
Das sereias do mar
Mestra Amélia
Da ex-colônia alemã. Zona Norte do Recife, à beira da antiga estação
ferroviária do Bairro de Casa Amarela, comunidade instalada em um trecho
da mata do Catucá. Filha de estrangeiros. A mulher de beleza encantadora e
personalidade forte, forjada na luta de sua comunidade contra a investida
dos Malunguinhos, largará tudo. E foge em busca do luxo e do glamour das
noites do Recife antigo. E conquistou as calçadas e portas de cabaré de
prostitutas de rua, nas noites boêmias do Recife antigo. Devido à sua
ganância e fascínio, ela era tão procurada. Ela ensina sobre bruxaria através
de uma preta velha. Brigas de intrigas e falsos amigos traçaram seu destino
levando-a até o fim. Ela conhecia bem as noites do Recife velho.

Cadê minha galinha preta


Minha farofa de dendêNa gira da Mestra Amélia
Só entrar quem tem sabe r
Cadê minha MarocaFazedora de bonecaEu aperto amarro e arroxoAzeite e
Pimenta da Costa
Ela não é mulher de ninguém
Não é mulher de ninguém
Quando entra na demandaSó sai é com 7 vintém...

II

Palmas! Três Palmas!


Três palmas de Dendê !
“Aplausos! Três Palmeiras!
Três Palmeiras De Dendê !

III
Amélia deu um nó
Ninguém soube desatarAmélia está na giraAmélia vai girar...

IV

Todo jardim tem que ter uma flor,


Onde tem paz, tem que ter amor.
Home prá ser lar, tem que ter mulher,
Dai-me um cigarro quem quiser
Amélia chegou.
Mestra Anani ou Nani

Ananí
Meus passarinhos estão cantandoAlegris no meu jardimPedindo um
conforto para todas minhas amigasNeste salão está AnaníDeus abençõe a
estes homemE fale de mim quem quizerPois os homens ganham dinheiros
minhas amigasPrá dar dinheiro a mulherEu amei fui amada e ainda tenho
quem me querMulher para ser mulher da vida , minhas amigasTem que
saber ser mulher

II

Mestra Nani, Mestra encantada da Jurema.


Mestra com pé de dança, encantos e magias.
Ela trabalha com as Mestras Luziaria e Mestra Paulina.

III

Flores dos campos


Com perfume ou sem perfume
E os pássaros das florestas estão cantando pra Nani
Nani que era
Um passarinho encantado
E que fez o seu reinado
Com alegria e amor
Foi na Floresta
Onde Senhores Mestres
Por Nani se encantou
Mestra Aninha Do Angelò
O Mestre considerou qual de Jurema. Conhecimento da magia africana.
Essa Mestra quando viva trabalhava muito com a força e magia dos Eguns
(nome iorubá para os espíritos mortos), quase todos os seus trabalhos eram
feitos através da força dessas entidades, herança que ela já traz de seu culto
ancestral.
Aninha não teve ligação com o Brasil de imediato. Aninha era africana
nascida na África e levada para Portugal como escrava! E então ela e Nega
Luanda foram trazidas para o Brasil! Aninha em Portugal tinha acesso a
magia negra. Eles vieram para dentro da Jurema e são chamados de Bruxos
por isso! Entrou na Jurema por parte da mistura do catolicismo com a magia
européia! Lembrando a nível de esclarecimento que esse é o conceito do
porque ela é chamada de Bruxa! Quando Aninha e Luanda vieram para o
Brasil, Aninha foi levada para Maceió, na fuga ela fugiu para o Quilombo!
Ela faz parte de alguns espíritos específicos da Jurema pois veio de uma
cultura européia apesar de ser africana!

Aninha, Aninha,
Aninha do AjilóSeu lençol tem quatro pontasCada ponta tem um nóO nó
que Aninha dá Até o diabo tem dó

II

Aninha deu um nó
Ninguem soube desatarAninha está na giraNa gira pra girar
Aninha deu um nó
Ninguem sabe oq ela fezAmarrou sete homens T odos sete de uma vez
Aninha deu um nó
Ninguem sabe onde foiForam quatro na sua saiaE três no rabo do boi
III

É um bruxo e uma bruxa


Sete sapos "cururu" Amarrados e costurados E a Macumba vai pra tu!
Vai pra tu, vai pra tu, vai pra tuAmarrado e costurado C om a pena de
urubu!

IV

Aninha do muganguê
Do Muganguê Aninha é..
Aninha é feiticeiraDebaixo de uma Coité

Amar a um seria bem melhor


Do que amar a dois a força de Catimbó
Eu amo ele, só ele me dá prazer
Eu amo tanto ele, só não amo mais você

VI

Você dizia que eu amava


Você me abandonou
O seu amor é um pedaço de papel
Caiu na água e molhou
Arranje outro amor que o meu acabou...
Eu sou Aninha formosa mulher
O ciume foi quem me matou
Arranje outro amor que o meu acabou
V
Eu piso meu Mestre, eu piso,
Eu piso no seu segredoEu piso meu Mestre, eu piso,
Eu piso e não tenho medo...

VI

Mas o nó que você deu


Eu também sabia dáVou desatarDesato já!
Péréré, péréré, péréré
O que você fez com a mãoEu desmancho com o pé!"

VI

Macho, ô macho
Não faz assim comigo
Macho, ô macho
Eu vou beijar seu pé do umbigo
Macho, ô macho
Se voce não me queria
Macho, ô machoP or que me alicia?"

VII

A mulher pra ser direita tem que ter nove maridos


Cinco debaixo da cama e quatro no mato escondido...
O homem pra ser direito tem que ter oito “mulé”
Duas “presa” em cada mão e duas “presa” em cada pé
VIII

Louco, eu já falei pra você


Louco, você vai se arrependerMas ele há de vir no meu portãoAjoelhado
implorando o meu perdão...
Mas sabiá cantou na gaiola
Gemendo ou chorando você vem agoraSabiá cantou no puleiroGemendo ou
chorando você vem leve...

IX

Na Segunda plantei a cana


Na Terça eu fiz crescer
Na Quarta eu fiz o engenho
Na Quinta eu fui colher
Na sexta fiz a cachaça
No sabado eu fui beber
No domingo eu fui pra rua
Que é pro povo todo me ver

Você brincou com meus sentimentos


E eu também brinco com os seus E os verdes correntes foram Doze meninas
“morreu”...

XI

Eu passei na casa dela


E ela estava na janelaEu olhei pra sua guiaEla estava sem ela
A flor do seu cabelo
Num tinha cheiro nem perfume Era a flor do desespero Misturada com
ciúme
Ela bebi porque gosta
Fuma porque dá prazer
Quem não bebi, quem não fumaQue alegria pode ter....

XII

Fui mulher de muitos homens


Já morei num cabaréMas eu sou uma feiticeiraDebaixo de uma coité...
Caminhando nesse mundo
Sofrimento eu passeiMas a Jurema foi me dada
E a ciência eu guardei
Morri foi para o mundo
Mas nasci foi pra ciência Aninha do Ajiló Afirmou sua Jurema.

XIII

Sois a flor do meu jardim que floresceu


Sois a flor do meu jardim meu bem quererSou a primeira na encruzilhada
No baralho do amor voce nunca me esquece
No baralho do amor voce nunca me esqueçeu
Tome cuidado amiga eu sempre te avisei
Que na esquina da vida mulher eu sempre te espereiEspero vou esperar
aquela rosa que voce vai me oferecer
Vc olha pra mim mas voce nao me engana
Sou aquela mulher a Mestra Aninha de fama
XIV

Salve Deus porque Ele é maior


E salve eu Mestra Aninha do Agiló
Eu caminhei caminho muito longoE nesse cansuá eu firmo o meu
pontoMineirando, mineirandoVai ao olóMas quem chegou do Juremá
Foi Mestra Aninha do Agiló
E quando ela piso neste póNem do diabo ela tem dóÉ não rodar da
carrapetaÉ na quebrada do cipóJá deu carreira em tour bravoEla é Aninha
do Agiló.

XV

Mineirando, mineirando
Vai ao olóMas quem chegou do Juremá
Foi Mestra Aninha do Agiló
E quando ela piso neste póNem do diabo ela tenho dóÉ no rodar da
carrapeta
É na quebrada do cipó
Já deu carreira em tour bravo
Ela é Aninha do Agiló."

XVI

Aninha do Munganguê
Do Muganguê Aninha é
Aninha é princesaDo macho de Zé Coité

XVII

Doce que só "mé"


CatoléAninha de Zé CoitéCatolé!Virada Aninha éCatolé!Mas é doce que só
"mé"Catolé

XVIII

Eu vou tirar cipó de arraia


É pra dá surra em macumbeira'Eita" nêga! É pra dá surra em
macumbeira'Êita nêga! É pra dá surra em macumbeira.

XIX
Pisa pilão
Quero ver vira o pó
É na força da magia
No poder do Catimbó...
Pisa pilão
Quero ver vira o pó
É na força da magia
De Aninha do Ajiló...
Eu vou, eu vou
Jogar fumaça para o ar
Eu vou, eu vou
O meu recado eu vou mandar
Mestra Celina
Ela é uma grande mestra consagrada a uma Princesa Cabocla do Bosque
(Princesa Cabocla da Mata). Celina é uma grande rezadeira (Rezadeira) e
catimbozeira - deixou seu nome marcado em um tambor com suas
defumações e feitiços de ervas. Colorido, corajoso, imprudente e animado
que não aceitava insultos de ninguém. Sempre muito solicitada por seus
feitiços e seu ofício. Ajudava muitas putas dentro da “zona” (distrito da luz
vermelha) na época, batendo em seus Catimbós (fazendo mágica) para
todos os fins.

Na cidade da Jurema meu bom Mestre!


Eu sou Juremeira de valor
Mas arrocha o coro , tamborzeiro arrocha o nó
Quem chegou foi a Celina pra fazer seu Catimbó
Mestra Georgina

Semente de maravilha
Semente de maravilha
Que eu tenho na cidade plantada
Sou eu a Mestra Georgina
A filha de um rei coroado
Campos verdes e águas claras
E muitas flores no meu jardim
São saberes e são ciências
São passados que me pertencem
Eu venho saudando a Mesa Mestra
Eu venho saudando os Príncipes Mestres
E os discípulos que nela estão
Mestra Geraldina

Mestra Geraldina
Eu sou a Mestra Geraldina
Eu sou dona do mundo inteiro
Eu governo 7 cidades
Até o Rio de Janeiro
Sou filha da Paraíba
E criada no Maceió
Aonde eu faço os meus trabalhos
Não existe outro melhor
Mestra Iracema
Mestre Iracema também pode ser visto como “Cabocla”. O nome é um
nome típico indígena.

Eu sou um pau encantado,


Eu sou uma moça morena
Eu sou um pau encantado,
E u sou uma moça morena
Sou a Mestra Iracema
D as cidades da Jurema
Sou a Mestra Iracema
D as cidades da Jurema
Vou chegando e já cheguei,
Já abaixei pra trabalhar
Vou chegando e já cheguei,
Já abaixei pra trabalhar
Um canta outro responda,
É meu Mestre que vai chegar
Um canta outro responde,
É meu Mestre que vai chegar.
Mestra Joana Pé de Chita
Ela era famosa Juremeira veio em peregrinação a pé do Pará até Alhandra!
Alguns antigos Juremeiros dizem que Maria Dagmar seria a professora para
quem Joana trabalhava! Existem várias pessoas na região que foram
consagradas aos seus Mestres por ela em vida.
Mestra Joana Pé de Chita era defensora dos Juremeiros perseguidos pela
polícia. Com grande influência junto aos "índios" nativos que em suas lutas
sempre foram seus aliados.
Senhora de Força, Rezadeira e parteira, muito procurada nas terras do
Nordeste, mas por ser tão conhecida pelos seus trabalhos espirituais,
também foi muito procurada para tirar a vida de alguns que a procuravam,
Catimbozeira fina, sempre cultuaram a sagrada Jurema em vida, pois seus
trabalhos de feitiçaria, como eram chamados, passaram a ser muito
perseguidos também.
Não parou parado num sítio, cidade, ou região, esteve sempre em
movimento e em cada cidade que passava assumiu uma graça diferente,
algumas das mais conhecidas são (Joana Pé de Chita e Joana Malhada. As
suas várias acusações como bruxa, feiticeira etc. Não há relatos concretos
de onde ela trabalhava... Mas o que se sabe é que até hoje ela é amada por
todos os Juremeiros e ama todos eles.Diz-se que “Quando baixa em um
Terreiro não da ponto sem nó, seu recado é Prego batido e Ponta Virada!
Salve Dona Joana Pé de Chita, Salve a Mestra catimbozeira.”
Mulher forte e bonita; mágico famoso. São muitas as habilidades que Joana
Pé De Chita faz... Suas fugas para não ser pega pela polícia são
espetaculares... Seu legado aos Juremeiros e sua atuação nas mesas e rituais
da Jurema só mostram o poder e o amor que esta entidade tem para os
Juremeiros abençoando-os até hoje.
I

Que linda cidade que é Santa Rita


Que linda cidade que é Santa RitaBerço de nossa Mestra Joana Pé de Chita.
Na Jurema Sagrada, ela foi coroada
Na Jurema Sagrada, ela foi coroada
E nessa cidade tornou-se encantada
E nessa cidade tornou-se encantada.
Jurema, minha Jurema sagrada
Lá na Jurema, Mestra Joana é afamada
São sete cidades, tanta coisa prá se ver
Chegou Joana Pé de ChitaEu só trabalho prá vencer.Asé, força e ciência a
todos nós
II
Quem é aquela moça bonita
Que veio lá do Juremá E
la vem cortando os malefícios
De quem não soube mandar
Eu dei um nó na sua saia
Eu dei um nó na sua vida
Ô dagmá tu és minha amiga
Que veio lá do Juremá. . .
Barrunfa, barrunfa
Eu vou barrunfar
E a cachaça está no copo
E a Macumba eu vou virar
Quem não sabe do seu nome
Quando quiser lhe chamar
Chame Joana Pé De Chita
Ou Maria Dagmá. . .
Barrunfa, barrunfa
Eu já barrunfei
E a cachaça está na mata
E a Macumba eu já virei
Quem não sabe do seu nome
Quando quiser lhe chamar
Chame Joana Pé De Chita
Ou Maria Dagmá. . .
Ela é Joana Pé De Chita
Ela é Maria Dagmá
Ô chama seus 'Caboco'
E dá-lhes surra de matar
A fumaça que ela passa
Ninguém sabe passarE
Catimbó que Joana faz
Ninguém sabe desmanchar
Semeou sua cabaça
E plantou sete sementes
Chegou Joana Pé De Chita
Pra curar puta doente. . .

Mestra Dona Zefa 6 Dedos - Josefa dos 6 Dedos


Ela é uma Mestra Esquerdeira, uma Mestra trabalhando para a esquerda. A
história de Dona Zefa passa pela vida de várias outras entidades da Jurema
Sagrada. Ela era dona de um grande bordel em Maceió e acabou ficando
muito famosa por ser muito cruel e maltratar suas putas. Alguns até
compraram quando criança. Quando jovem, era muito procurada por sua
beleza e por seus dons de parteira que entre suas prostitutas e outras era
usada para abortar. Salve Deus e a sagrada Jurema uma das velhas partiu
Mestre do Catimbó.

Zefa 6 Dedos quem é essa mulher que só anda só


Salve a Mestra Zefa Seis Dedos.
Salve toda sua força dentro da Jurema
Mestra Júlia Galega
Júlia Galega nasceu na zona sul do Recife. Ela era filha de uma família
simples que não precisava. O pouco que eu tinha dava para viver. Júlia,
porém, sempre insatisfeita com tamanha simplicidade, buscava mais e por
isso aos 12 anos saiu de casa e foi em busca de algo maior que sua
realidade. Ele pensou então que teria sorte com um marinheiro, já que sua
beleza se destacava diante de tantas meninas e mulheres. Seus longos
cabelos loiros, cacheados e bem tratados chamavam a atenção. Com todo
esse pacote de beleza, carinhosamente chamada de Júlia Galega pelos pais,
Júlia acreditava que encontraria um marinheiro que a amaria e lhe daria
tudo o que sempre sonhou. Passou então a frequentar o cais do porto da
Zona Sul do Recife. Porto que era centro de passagem de navios mercantes
e muitos marinheiros. Em sua primeira experiência com um marinheiro,
Júlia ainda era muito ingênua e achava que por estar dormindo com ela
assumiria um relacionamento sério. Foi aí que veio sua primeira desilusão.
Ela foi simplesmente tratada como uma mulher da vida. Tal decepção
trouxe rancor ao seu coração e uma impureza. De uma menina que buscava
riqueza para um grande amor, a uma mulher maliciosa e destemida do sul.
Julia, uma vez insatisfeita com o fato de um marinheiro a ter trocado por
outra garota, foi até onde ele estava, que era em um baile de rua onde havia
forro para marinheiros. Ela chegou durante todos, tirou o marinheiro do
leme e com sua adaga arrancou um pedaço de pele do braço do marinheiro.
Ela buscou na bruxaria uma forma de ter tudo o que queria. Magia cigana,
bruxaria, magia negra, catimbo. Julia estava procurando uma maneira mais
fácil de ficar rica. Além de se dedicar a diversas artes ocultas, Júlia sempre
foi devota de Nossa Senhora da Conceição.
Depois de firmar vários “pontos” (músicas, linha de energia), foi aí que ela
ficou conhecida de muitos marinheiros que passaram pelo porto. Ela era
muito exigida por eles. Ela achou que a zona sul era pouco para seu
"comércio" então ele subiu para a zona norte do recife. Chegada à Rua da
Guia cruza-se com outras raparigas que também se vendem. Ela pensou que
sua beleza ofuscaria todas as outras. Na verdade, Julia sempre se destacou
entre os outros. No entanto, Julia não sabia que duas dessas mulheres em
sua vida eram tão maliciosas quanto ela. Uma conhecida como Ritinha e a
outra conhecida como Paulina. Esses dois tentando defender seu território
armaram uma emboscada para Julia. Júlia caminhava pela Rua da Guia
quando Paulina chega por trás e segura Júlia. Ritinha com uma navalha
corta o rosto de Júlia. Julia Galega então tinha uma cicatriz horrível no
rosto que só ficava escondida por seus longos cabelos loiros. Ela voltou
para o sul. Depois de tal incidente, Julia não foi tão apreciada pelos
marinheiros. Então, ela decidiu trabalhar em um bordel. Trabalhou alguns
anos. Porém, foi por volta dos 17 anos que ela foi morta neste bordel por
inimigos que se diziam amigos.
Outra versão conta que na beira do cais ela fez reinar. Uma linda jovem de
origem humilde, do bairro de Casa Amarelo, filha de um capelão, uma
menina de rara beleza de cabelos dourados que chamava a atenção de
muitos por onde passava.
Muito jovem, a menina, por sua ganância, força de vontade e
independência, se propõe a conquistar as ruas e as noites da Zona Sul do
antigo Recife. Nas noites do velho Recife, ela começou a traçar seu destino.
Era à beira do cais, do cais à Zona, da Zona aos bordéis da vida e dos
amigos. Além da vida noturna, a jovem de cabelos dourados inicia uma
jornada no mundo místico, transitando pela magia cigana e outros
caminhos, chegando à magia negra, jogando cartas para adivinhar, fechando
negócios, fazendo contratos e pactos, sua ganância e ambição a levou a
muitos lugares, mas foi no caminho da sagrada Jurema que ela encontrou
sua luz.
Menina de cabelos cor de mel, ela tinha um decote exuberante, que dava
gosto de olhar. Para aumentar seu mistério, ela sempre andava com uma
rosa branca entre eles, deixando-os ainda mais bonitos.
Ao amanhecer, o Navio batia, os marinheiros corriam, na beira do cais a
jovem Júlia sorria. Sua beleza despertava muitos amores nos corações dos
marinheiros que vinham para seus braços nas noites frias após longas
viagens, para se aconchegar nos braços da menina Júlia.
Isso a levou a ser batizada com o título de Rainha dos Marinheiros. Depois
de algum tempo, seduzindo marinheiros no cais, parte para a Rua da Guia,
onde também fez muita fama, mas um triste fato lhe aconteceu. Todos os
que se destacam são sempre perseguidos e a jovem Júlia não tinha culpa de
ser tão bonita, uma noite na rua da guia dois companheiros da zona
cortaram seu lindo rosto com uma navalha, por inveja de sua beleza. Mas
isso não a derrubou, ela usou seus lindos cabelos para esconder a cicatriz.
Ela sai das ruas, inicia seu caminho pelos bordéis, onde fez vários amigos e
fez vários inimigos, cortou a cara de várias meninas, deu tapas em muita
gente, tomou coro de muita gente, a bela escondia uma fera dentro dela que
só mostrado quando necessário. Ela fez da vida o que sempre quis sem ser
mandada por ninguém.
Apesar dos pesares, ela nunca perdeu sua classe e grandeza. Sua vida
transcorreu nas noites do Recife e seu destino foi traçado na mesa de um
bordel, uma noite um de seus clientes se revoltou e com ódio a faca cravou
nela, acabando com a vida daquela bela mulher.
Mas a morte não pode parar aquele que nasceu para brilhar. Foi dentro de
um bordel que ela mesma passou, seus cabelos dourados na Jurema que ela
deixou. E seus lindos cabelos deram o nome que a faz brilhar até hoje Júlia
Galega da Zona Sul. (Texto traduzido de Elivelton Oliveira - Jurema e suas
forças).

Foi um dia
Na beira do caisUma moça bonitaEla bebe demais
O Navio apitou
A Marujada corriaLá no cais do portoJúlia Galega sorria

II

Foi num cabaré


Onde ela se passouSeus cabelos douradosNa Jurema ela deixou
Ela é Júlia Galega
Da ponta do SulTira o nêgo de lambadaTira o couro e come cru!

III
Oh luar, oh luar!
Oh luar!Lua de prata que clareiaOh luarLua de prata que clareiaJúlia
Galega onde passar
Ela é mulher disfarçada
Oh luarEla é mulher de cabaréOh luarÉ defensora dos homensOh luarE
protetora da mulher!

IV

Estava na beira do cais


Quando o navio apitouEra um marinheiroMe deu um abraçoE minha boca
beijou
Coraje meus Marinheiros
Coraje para trabalharO meu navio ta no porto, ai meu Deus
Pra que mandou me chamar
As águas são cristalinas
As pedras são de cristais Brincando com as tartarugas, ai meu Deus
E com os peixinhos do mar
Marinheiro olha a onda
Não vá se descuidar. (2x)
Moça bonita la no mar não tombaTomba marinheiro nas ondas do mar
Tambô,Tambôo
La vai Mestra Julia indo embora Tambôo (2x).

Quando o navio apitou no cais


7 marinheiros deceramCada um lhe trouxe uma rosaJulia galega solte seus
cabelos (2x)
Marinheiro no cais ja é horaFoi Julia Galega quem chegou agora.

VI
Ela é composta que posa no pau
Ela é o pau q ue só da uma flor
Ela se chama Julia Galega
Mulher de vida da banda voou.

VII

Eu era, eu era
Eu era e eu souVc quer saber quem eu eraOu quer saber quem eu sou
O meu pai foi capelão
Ai dominador do mundo inteiroNa Bahia do Sertão
Foi matador de feiticeiro.

VIII

Julia Galega é mulher de segunda a segunda


E na boca de quem não prestaJulia Galega é vagabunda

IX

Caçador caçador velho


Caçador de pé no chãoEu vou falar com Jesus Cristo
E a Virgem da Conceição

Eu abalei, abalei a Jurema


Abalei,e tornou a abalarSarava a sua esquerdaJulia Galega
Faz inimigo tombar
XI

Cadê sua galinha preta


Com forofa de dendeArreia a Macumba pra Julia Galega
Que v oce vai ver

XII

É no Catimbó
No Catimbó só
Julia Galega na esquerdaÉ de dar dó.

XIII

Mestra Maria Galega


Puta não és minha mãePuta não és minha mãeE no meio das suas
putasMaria Galega maior
Maria Galega maior
Maria Galega maior
Maria Galega maior(bis)

XIV

Ô tambô, tambô
Maria Galega
É de b anda voou
Mas quem ter raiva dela (ô luar)
Mas que ñ pode se vingar (ô luar)Que pode a corda no pescoçoE chame
maria galega pra puxar.
Mestra Juvina

Mestra Juvina quem te chama sou eu


Mestra Juvina quem te chama sou eu
Nas horas que estou aperreada T u es a minha advogada

II

Mestra Juvina antes de te conhecer


J uro por Deus, eu não vivia
Agora que eu te conheci
A minha vida mudou
Agora eu vivo feliz ai ai meu Deus
Foi embora a minha dor...

III

Mil novicentos e trinta era uma casa que eu morava nela


Tinha uma amiga tao boa que minha amante era o marido dela
Que homem bom, que homem tao bonito, nem chorava eu nem chorava ela.
Que homem bom, que homem tao bonito, nem chorava eu nem chorava ela.

IV

A Juvina dá
A Juvina toma
A Juvina é mulher de zona

V
É tanto macho para balançar Juvina
é tanto macho pra Juvina balançar
É tão macho balançar Juvina
É tão macho Juvina balançar

VI
Bananeira chorou
Bananeira chora
Adeus adeus Mestra
Juvina vai embora

VII
Nao tenho amigo bom nao
tenho amigo ruim
o meu melhor amigo
Só quer ver o meu fim
Mais ele se ele chegar agora
O cabaré se
E eu nao vou para casa agora
Mais ele se ele chegar agora
O cabaré se fecha
E eu nao vou botar para para
Mestra Laurinda
Laurinda foi parteira, curandeira e Rezadeira - Laurinda foi parteira,
curandeira e rezadora. Ela é a protetora dos navios. Ela só trabalha e vive
no mar. Ela não é especialista em casamento, para navios que vão se lançar
ao mar e para viagens ela é invocada. Tambaba é uma cidade com muita
ciência, e o Mestre Manuel Cadete é seu principal guardião. A rainha da
sagrada Jurema e a cidade das cachoeiras.
No mundo eu avistei uma muralha,
F eliz de quem ela atravessa,
É a muralha das três donzelas, Q ue vive no fundo do mar...
No mundo eu vi um muro,
Feliz quem atravessa, É o muro das três donzelas, Que mora no fundo do
mar...
Donzelas, que mora no fundo do mar... Segundo uma antiga tradição, os
velhos Catimbozeiros contaram que na década de 1910, o culto da Jurema
quase se extinguiu, por causa da perseguição policial, foi então que, por um
milagre de Deus, apareceu Manuel Cadete, que depois de ter sido
consagrado por um Juremeiro da época, resolveu se mudar para Tambaba, e
assim conseguiu iniciar o culto da Jurema naquela época que tanto era
perseguido pela polícia. Assim que se estabeleceu em Tambaba, em pouco
tempo consagrou três jovens que por motivos de mediunidade foram
iniciados no culto da Jurema. Segundo a tradição, o nome dessas jovens era
Lionor, Laurinda e Juvina, todas Mestras paraibanas. Com a morte do
Mestre Manuel Cadete, trouxeram a missão de propagar o culto da Jurema
por onde passassem, a encantada cidade de Tambaba, é guardada por estes
três Mestres, e na mesa da Jurema são representados pelos três castiçais,
também são considerados guardiões; a Cruz Mestra, a campa e a Chave
Mestra que abre os trabalhos (do Cruzeiro Mestre, da Campa e da Chave
Mestra).
I

Eu tenho uma pedra sentada, no meio daquele rio.


Sou a Mestra Laurinda, das Cidades das cascatas...
Com quinze anos andei pelo mundoCom outros quinze nas ondas do
marMas eu sou a Mestra Laurinda
Sou rainha do Jurema

II

Laurinda seu pai lhe chama, chama


E torna a chamarEla é a Mestra Laurinda
É rainha no Juremá

III

Meu navio está no porto


E a barca já vem chegando
Eu sou a Mestra Laurinda
Que aos irmãos vêm salvando
Deus te salve laurinda no mar
Princesa do VajucáDeus te salve laurinda no marQue aos irmãos vêm
saudosos

IV

Vem vem Laurinda abre as portas do meu barracão


Vem vem Laurinda abre as portas do meu barracãoVou tirar todos os
contrarios e jogar na escuridãoVou tirar todos os contrarios e jogar na
escuridão.
V
Sete anos eu andei pelo mundoE outros sete eu andei pelo marSou eu a
Mestra Laurinda
Oh meu rei rainha do seu Jurema (Bis)

VI

O galo cantou, é chegada a hora


Maria laurinda vem, vem chegando agoraCom sua saia de seda e sua blusa
de veludoMaria laurinda vem, derrubando tudo.

VII

Com quinze anos andei pelo mundo


Com outros quinze nas ondas do marMas eu sou a Mestra Laurinda
Sou rainha do Jurema
Mestra Laurentina

Rainha minha rainha


Rainha de CangurupéSalve a Mestra Laurentina,
Ó Minha Mãe
Rainha de Cangurupé
Do cachimbo de Laurentina
Sai fumaça pra valer Salve a Mestra Laurentina, ó minha mãe
Trabalhando pra v oce
Mestra Luziara
Realeza, esse nome a define bem, pois mesmo depois de passar pelo
encanto ela ainda exerce o posto de princesa. A moça refinada e bem-
educada no ano de 1808 desembarcou no Brasil junto com sua família, a
bela jovem de tamanha beleza que dizem ter encantado até o rei Dom João
VI. Mas toda a sua vida não foi passada dentro de um palácio, teve os seus
altos e baixos, mas nunca perdeu o porte de dama e as boas maneiras da
corte portuguesa.

Depois de vir para o Recife, a bela dama teve os primeiros devaneios da


vida. Indo para a zona do espinheiro, com sua postura e bravura construiu
seu império pelas mãos e amor de um marinheiro. A vida a levou ao topo
novamente e ela abriu seu cabaré feliz e contente. Ensinando as meninas a
serem damas da noite elegantes para lucrar mais na balada com os homens
da alta sociedade que buscavam nos cabarés da vida um carinho e um
carinho.
Como dito no início, sua vida foi de altos e baixos e novamente ela decaiu,
mas a turma não perdeu. A sua beleza e destreza fizeram com que
conquistasse os corações dos Josés e dos Manuels. E um Manuel por se
apaixonar de forma tão intensa e grandiosa, com ciúmes de um certo Zé
Pelintra o mandou para a serra da Borborema onde a devota senhora da
virgem da Conceição se fechou e teve seu contato com Jurema. Esse
contato com o charme a transformou e a linda morena virou uma flor.
Coroada por Iracema e pelo rei Salomão, esta realeza é hoje louvada como
Maria Luziara da Conceição, a princesinha do mestre João. Em campos tão
verdes ela vê seus discípulos espalhados e cada um deles ela nunca os
deixou desamparados. Deus te guarde sempre linda flor da Jurema, Realeza
de Ipanema Maria Luziara Princesa da Jurema.
(A história de uma princesa - Elivelton Oliver)
Mestra Maria Do Bassulê
“É com um copo de cachaça e a fumaça de seu cachimbo que maria do
bassulê quebra o catimbo e o malefício.” (Autor desconhecido)
A música abaixo não afirma com certeza que Maria do Bagaço é Maria do
Bassulê. É uma ligação que existe entre os dois Mestres que alguns
consideram ser a mesma.

É Bassu mamãe, é bassu... (2x)


É Bassu, é Bassu, é Bassulê... É Maria do bagaço é Maria do Bassulê (2x)
Salve a Mestra Maria do Bassulê
Ganhei minha aliança foi meu noivo quem me deu (2x)
Na passagem da encruza caiu no chão e se perdeu (2x) Mas é Bassu mamãe
é Bassu, É Bassu é Bassulê (2x)
Mas quem chegou agora oh mamãe
Foi Maria do BassulêAi quem entrou na roda oh mamãe?Foi Maria do
Bassulê
Sete garrafas de cana oh mamãe?
Com Maria do Bassulê É Bassu mamãe é Bassu, é Bassu é Bassulê Qual o
nome dessa Diana oh mamãe?É Maria do Bassulê!
Mestra Maria Do Bagaço
I
Sua aliança de ouro
Foi seu amor quem lhe deu
Tava sentada na areia
Sua aliança perdida
Sua vida foi de sorte
E de alegria também
Inveja contigo não pode
Ninguém lhe toma seu bem
Não quer amor de solteiro
Que faz carinho a mulher
Só quer amor de Casado
É pra fazer raiva a mulher,
Ela é Maria Do Bagaço
É do bagaço é
Ela é Maria Do Bagaço
É do bagaço é

II

Quando o trêm na serra vem tocando


Ela é Maria do Bagaço que vem trabalhando
Ela é Maria do Bagaço
É do bagaçado é do bagaçado e vai deixar esbagaçado...
Ela é a luz que ilumina esse caminho
Ela é a luz que ilumina esse Gongá
Ela é a Mestra Maria do Bagaço
A protetora dos homens casados (bis)
E para os homens casados um conselho ela vai dar
Que ame sua esposa e zele o seu lar (bis)
III

Vem ver seu moço, vem ver quem sou eu,


Eu sou Maria do Bargaço, que por amor um dia morreu.
Eu ja amei a todos, não amo mais nenhum,
Foi por sofrer bastante, por esse homem que um dia me matei.

Vem ver rapaz, vem ver quem eu sou,


eu sou a Maria do Bargaço, que um dia morreu de amor. Já amei todos, não
amo mais, foi por sofrer muito, por este homem aquele dia em que me
matei.

IV
E la no seu engenho
Eu plantei cana de fita
Eu sou Maria do Bagaço
Do alto da Bela Vista.
Eu sou Maria do Bagaço
Do alto da Bela Vista.

A moenda do dr. Inácio corta cana em dois pedaços


A dona da moenda é: é a Maria do Bargaço
No alto da bela vista meu canário cantou
Chegou Maria do Bagaço na asa do beija flor .
Mestra Maria Bagaçeira

Acorda,acorda
Ela é Maria Bagaceira
Ela não tem pai nem mãeMenina de doze anosEla não tem pai nem
mãeMenina de doze anosVive no mundo rolando

II

Eu sou Maria Bagaçeira


Me Bagaço toda Me bagaço toda Me bagaço todaEu sou Maria
BagaçeiraAtrás dos marchas Me bagaço todaMe bagaço todaMe bagaço
toda

III

A minha vida era


Anda de bar em bar Um macho aqui Macho ali Outra acular
So fetiçeira
So rameira So puteira Eu sou maria bagaceira Vim aqui pra trabalhar
Sou feticeira
So rameira So puteira Sou Maria Bagaceira
Vim aqui pra trabalhar Eu sou maria bagaceira Vim aqui pra trabalhar
Minha vida era
Andar de bar em barUm macho aquiMale aliOutra ocular
sou feiticeira
sou puta
sou puta
sou maria bagaceira
Eu vim aqui para trabalhar
Eu sou uma feiticeira
Eu sou uma puta Eu sou uma puta
Eu sou a Maria Bagaceira
Eu vim aqui para trabalhar Eu sou a Maria Bagaceira
Eu vim aqui para trabalhar
Mestra Maria do Balaio

Nega do balaio grande


Olha o balaioNega do balaio grandeOlha o balaioNega do balaio
grandeOlha o balaio
Olha o balaio de maria
Olha o balaioOlha o balaio de mariaOlha o balaio

II

Nossa Senhora da Conceição


Salve Senhor do Bonfim
Um moço achou meu balaio E trouxe de volta pra mim
Balaio é Formosa
Balaio Formosa éÔ pisa nessa giraÔ quem tem fé
O moço me deu uma rosa
Eu botei no meu balaioSustenta o ponto balaioSustenta se não caio

III

Mestra Maria do Balaio (lento)


Sou maria, sou Maria
S ou eu a Mestra Maria
Eu venho curando, E u venho arrebentando,
E u venho afastando
Com meus 9 guias, fui firmada, F ui firmada lá no pé da arueira
Sou madeira que a casca amarga O miolo trava e a flor cheira,
Sou madeira que a casca amarga O miolo trava e a flor cheira

Mestra esquerdeira Maria Doida (Crazy Mary)


Libertina, perdida e bandida, foi com uma bela gargalhada que a famosa
Maria respondeu a todos os supostos “elogios” da clientela. Mulher muito
corajosa e honesta, tinha orgulho de ser chamada de mocinha e de quenga
(gostosa), pois nunca negou sua fama, e assim eram chamadas as prostitutas
de Pernambuco e da Paraíba naquela época. Ficou famosa por gostar de
dançar completamente nua e mesmo sem ser tão bonita quanto as outras,
sempre atraía a maior clientela da noite! (Fonte: Juremeiro Paulo de
Alcântara)
Mestra Maria Luziara ou Luziaria

Quando trem da serra


Quando vem chegando La vem Maria Luziara
Que vem trabalhando
O trem apitou na linha(bis)
Mas lá vai Luziara pra rua da guia(bis)O trem apitou é hora(bis)Mas lá vai
Luziara pra Rua da Aurora.

II

Estava sentada na pedra


Quando o homem da encruzaTe chamouVem cá Luziara vem ca
Vem cá Luziara ja vou
AiooooooooooooMaria Luziara chegou.

III

"Oh Luziara
Mas que loucuraDeixaste o homemNa rua da amargura
Na amargura
Eu não deixei o homemEu deixei os inimigosQue falaram do meu nome...
IV

Onde você vai Luziara?


Tô indo para o meu sobradoEu vou levar taça de vinhoÉ para um homem
casado
Oh bebi, bebi Luziara
Bebi, bebi desse vinho?
Mas o vinho que tu me deste
Estava envenenado
Ele morreu Luziara
Ele morreu e me deixou Mas ele não ficou comigo E com a outra não
ficou...
Mestra Mariana
Dizem que mestra Mariana era filha do rei da turquia, estava navegando no
mar e com a desorientação das correntes marítimas foi parar no Brasil mais
especificamente no Maranhão onde aqui morou e se encantou.

Seu Navio está no porto


Enfrentado a MaresiaSeu Navio está no portoEnfrentado a Maresia
Salve Mestra mariana
Filha do Rei da TurquiaSalve Mestra mariana
Filha do Rei da Turquia
Ela subiu o Morro
E não desceu Ladeira Ela subiu o Morro E não desceu Ladeira
Ela é filha de turco
Ela é uma arara cantadeiraEla é filha de turcoEla é uma arara cantadeira
Arara arara arara cantadeira
Ela é Mestra Mariana Rainha das Curadeiras
Mestra Nêga Luanda
Eu encontrei nêga Luanda
Luanda nêga malvadaCachaça boa só se toma com LuandaÓ Luanda, ó
Luanda!É na fumaça do cachimbo na Quimbanda
Ó Luanda, ó Luanda!
Sim, sim, sim ó Luanda
Vamos trabalhar ó LuandaSim, sim, sim ó LuandaVamos trabalhar ó
LuandaFazer bruxaria ó Luanda
Catimbó, azaró Luanda
Com agulha e linha ó LuandaVamos trabalhar ó Luanda

Achei nigga Luanda


Luanda nigga evil Cachaça boa só se bebe com LuandaO Luanda, oh
Luanda! Tá na fumaça do cachimbo na Quimbanda
Oh Luanda, oh Luanda!

Sim, sim, sim Luanda


Vamos trabalhar o LuandaSim, sim, sim oh LuandaVamos trabalhar o
LuandaBruxaria o Luanda
Catimbó, azar o Luanda
Com agulha e linha o LuandaVamos trabalhar o Luanda
Mestra Paulina
Paulina, apesar da maturidade que transmite em seus diálogos, talvez
adquirida por sua longuíssima trajetória dentro da Jurema, morreu bem
jovem. Como fica claro em seus pontos de canto, é natural de Maceió, mas
especificamente do bairro Vergel, área outrora caracterizada pelo grande
número de árvores frutíferas típicas. Orfã, sempre foi criada por uma
senhora dona de uma "casa de diversão" neste mesmo bairro, onde suas
filhas trabalhavam entre as fruteiras durante o dia (não exatamente
colhendo frutas, pelo que você entende!) e "complementavam" seu
orçamento com prostituição quando a noite chegava.
Paulina costumava dizer-lhe que tinha sido deixada lá por um cigano que
passava pela cidade, mas não havia menção ao pai. Talvez por esta menção,
Paulina desde cedo se interessou pelo místico, pelo espiritual, aprendendo a
colocar cartas e mais tarde sendo reconhecida como uma boa feiticeira,
sendo a sua história repleta de casuísticas com o povo cigano, embora não
haja nada que comprove isto.
Por isso, as estátuas que representam Paulina mostram uma mulher de
cabelos escuros carregando uma cesta de frutas na cabeça e, em outros
casos, além das frutas na cabeça, também há muitos outros detalhes nos pés
e sempre enfeitados com pulseiras extravagantes, como gostam os ciganos.
Cansada do tratamento abusivo recebido pela "Senhora" (Zefa 6 Dedos,
também Mestre de Catimbó e dona do bordel), Paulina foge para o Recife,
que na época era o centro financeiro da região, pensando que teria um aí
melhor de vida, instalando-se no Cais do Apolo/Rua da Guía, um centro de
prostituição, à época, no seu auge, dado o enorme fluxo de entrada e saída
de barcos, devido ao estado da cidade nesta época de crise industrial e
capital econômica da região.
Paulina morreu muito jovem, vitimada por uma série de facadas (facadas)
que lhes foram desferidas pela mulher de um dos muitos amantes que teve,
enquanto se encontrava num dos "lugares divertidos" do mesmo Cais do
Apolo. Quem a conhece jamais a esquece, pois suas palavras e seus abraços
são cheios de amor, carinho.
I

Estava sentada na mesa de um bar


Uma voz me chamou
Vem cá Paulina vem cá
A tua hora chegou
Foi quando eu avistei
A mulher de meu grande amor
Com sete peixeiradas
M eu corpo tombou
Hoje a Jurema me chama
E eu venho na paz do Senhor
Venho abençoado a meus filhos
Com a santa paz do amor
Com a minha saia rasteira
Eu vou varrendo o mundo
E levando todo azar
Para um certo vagabundo
Adeus minha gente, adeus
Que eu já vou de déu em déu
Eu vou voltar pró Apolo
Eu vou abrir o meu bordéu
Bate meu Ilú
E bate meu Toré
Que Paulina vai ficar nas costas
D e quem quizer.

II

Canção (ponto) que ela canta referindo-se a Jefa, provavelmente com a


intenção de se humilhar, vingando-se denotando seu defeito físico (ela
nasceu com 6 dedos em cada mão, ou algo muito parecido com um sexto
dedo).
Paulina tem
cinco dedos em cada mão
Tem cinco dedos em cada pé
E gosta de homem e de mulher!

III

Vem cá, vem cá Paulina


Me faz este Catimbó
Mostra atua força de Mestra
A primeira de Maceió
No cruzeiro Mestre divino
Num trono está ela sentada!
Eu estou saudando estou
A Paulina da vida rasgada
No pé da Palmeira, Paulina sentada
Ela é Paulina, da vida rasgada.
No pé da palmeira, tem dois cabarés
Paulina gosta de homem, e é protetora da mulher.

IV

Lá no céu tem uma estrela que alumeia


Que alumeia, que ilumina o mar
Que alumeia, que clareia o oceano
Que clareia o oceano, e toda a cidade dos ciganos.
Oh! Joana d'arc
Oh! Virgem soberana.
Dá-lhe forças e mais poder
A Paulina dos ciganos.

V
Eu vô me embora prá zona,
pro cabaré de Paulina.
Atrás do perfume dela do
cheiro daquela menina....

VI

Ô luar o luar (bis)


Ô luar que clareia (ô luar)
Que clareia a Paulina
No lugar que ela passou
Mas a Paulina é mulher (ô luiar)
Mas é mulher de cabaré(ô luar)
É protetora dos homens
E defensoras das mulheres
Mas quem ficar furioso dela (ô luar)
Mas que não pode se vingar (ô luar)
Que pode a corda no pescoço
E chame a Paulina pra puxar.

VII

Eu plantei rosas e colhi espinhos


Mas como é triste viver sozinha
Eu plantei saudades e colhi paixão
Eu te dei amor e só recebi ingratidão.

VIII

È ela que deita tarde


È ela acorda que cedo
È ela Paulina falada
De lingua suja ela não tem medo.

IX

Quem nunca viu, venha vê


Um botão de rosa girar
Um botão de rosa ela è
Mestra Paulina do cabarè

Foram sete homens


Para Balançar Paulina
Foram sete homens
Pra Paulina balançar

XI

Paulina é mulher catimbozeira


Já bateu tanta Macumba
Jogou no pé de palmeira

XII

Paulina dá,
Paulina toma
Paulina é mulher
É mulher da Zona
No lugar onde mora
Sete machos se enforcouTodos sete se enforcaramPor causa do seu amor
XIII

Ai, ai, ai
Paulina chegou agora
Ela vem de sua cidade
Toda enfeitada de joias!

XIV

Todo coqueiro abalava


Todo coqueiro tremie
Quando Paulina passou
Dentro da rua da guia...

XV

No rio de Jaboatão
Onde Paulina se banhava
os homens que ali passavam faziam
Tum, tum, tum
E faziam
Tum, tum, tum...

XVI

Tava sentada na mesa da Jurema


Tava sentada balançando o maracá
E foi nessa hora que abalei Jurema preta
Mestra Paulina de um tombo e venha cá

XVII
Paulina ja vai
Tristonha porque vai só
Paulina ja vai
Tristonha porque vai só
Aonde é sua morada
É na zona de Maceió

XVIII

Minha almofada de renda


Foi feita na encruzilhada
Eu me chamo Paulinha
Mulher da rede rasgada.

XIX

Palmeira verde
Palmeira minhaEla é Paulina
E aqui ela é rainha

XX

Que noite tao linda...


Essa farra de amor!
Ela é Mestra Paulina
Bebendo com seus machos
Relembrando os seus amores

XXI
Paulina rainha divina,rainha encantada,
Fez do cruzeiro a seguraça, tem sua vida marcada;Caminhou em tapetes de
flores, Mais não se encantou,
Deixou seus súlditos chorando, foi morar no mundo de perdição...Ela é
rainha, ela é mulher ,No meio da Macumba, ela faz oq bem quer,
Ela é rainha, ela é mulher,Já chegou Mestra paulina para quem tem fé.

XXII

Uma rosa no jardim apareceu


Apareceu no macacão da aurora
A proteção de Paulina não tem fim
Adeus meu povo ela vai embora

XXIII

Coração ferido
Coração sofrido
Coração sem amor
Coração mata a gente
Coração é quem sente a tristeza e dor
Eu vou pedir pra ela,
V ou pedir pra ela
Pra ela me ajudar
Vou te dar muita cerveja,
V ou te dar rosa vermelha
E cigarro pra fumar

XXIX

O mundo dá muitas voltas


E um dia a gente vai ser encontrado
Hoje, você ri de mim...
E amanhã é você que vai chorar!
XXX

As águas que caem do céu, é chuva...


As águas que caem dos olhos, são lágrimas...
Não chore não, viu?
Não vá chorar
Nesse mundo ou no outro
Você vai me pagar."

XXXI

Eu não quero mais amar


Eu não amo a mais ninguém
Quem tem amor tem ciúme
Quem tem ciúme quer bem.

XXXII

Meu caminho é verde


Amarela é a minha Estrada
Sou eu a Mestra Paulina
E não tenho medo de nada
Mestra Rita Do Bagaço

O meu gongá está em festa


Ai meu Deus o que será?
É Rita do Bagaço
Que chegou do Juremá
No jardim das oliveiraSeu tenho meus pontos afirmadoSeu já saudei as
encruzasEu vou saudar o meu reinado
No meu gongá é uma festa
Ai meu Deus o que será?

II

De sete telhas pra cima


Quem manda é Nosso Senhor De sete telhas pra baixo Quem manda é Rita
do Bagaço

De sete ladrilhos para cima


Quem manda é o nosso senhorDe sete ladrilhos para baixoQuem manda é
rita do bagaço
III

Rita do Bagaço
Ela era da Rua do Pina
Sei tamb ém que morreu esbagaçada
M as não é Maria Bagaçeira
Ô Rita,ô Rita,salve Rita lá do Pina Ô
Rita ,ô Rita,salve Rita lá do Pina
Rita do Bagaço só trabalha com Severina
Rita do Bagaço só trabalha com Severina
Ela Rita do Bagaço que Deus ordenou
Ela Rita do Bagaço que Deus ordenou
Ela é Rita do Bagaço que a Jurema mandou
Ela é Rita do Bagaço que a Jurema mandou

IV

Tá no campo
Tá no matoTá no homemEla é uma mulé (2x)
Mais ela é
A Rita do Bagaço
Falada mulé (2x)
Rita Ribonesa
Os ciganos Calon (ou Kalon, Calom, Calé): São os ciganos ibéricos,
conhecidos como gitanos em Portugal e Espanha. Chegaram ao Brasil no
século XIX. XVI deportados de Portugal e falam a língua Shib Kalé ou
Caló, que é uma mistura de românico, português e espanhol. São devotos de
Nossa Senhora Aparecida. “Os Calon, originários de Portugal, que falam o
dialeto Caló, são tradicionalmente nômades, ligados ao comércio de
cavalos, carros, correntes e artefatos que imitam o ouro. As mulheres
praticam quiromancia em praças públicas, exibem dentes de ouro e
manchas (marcas) em seus rostos.” Ela desembarcou com sua gente no
porto do Recife. Saiu em busca de trabalho e caminhou pelos sertões de
Pernambuco e da Paraíba. Ela liderava um grupo de ciganos, viajando de
cidade em cidade, tocando e cantando. Pioneira na mistura do culto cigano
com os cultos nordestinos. Ela faz parte da influência da Umbanda no
Catimbó.

Uma cigana leu a minha mão ,


E eu fiquei intensamente concentrada, Eu perguntei como é o nome dela, E
ela me respondeu, sou Rita Ribonesa Ela é Rita Ribonesa a cigana
Mestra Ritinha
Rainha dos bordéis do Recife, Rua da Guia, Rua da Aurora, bairros antigos
do Rio Branco, do Pina, de Acais do Apolo e de Sta. Rita... Madrinha de
todos que trabalham à noite.

I
Quando Deus andou no mundo
Uma luz lhe acompanhou
E eu não sabia que era ela
A dona de meu amor
Ela foi passada com quinze anos
Dentro da Rua da Guía
Eu vou lhe dizer seu nome
Ela se chama Mestra Ritinha
Ela foi para sua mãe
Uma filha querida e adorada
Mas por não ouvir os seus conselhos
Levou sete pexeiradas
As amigas lhe chamavam
Pro caminho malícia
E no dia de seu enterro
Só quem foi, foi a polícia
Mais quando vinha o cortejo
Com aquele negro caixão
As despeitadas diziam
"descansei o meu coração!"
O dia do seu enterro
Foi um dia de alegria
Todos os homens choravam
Todas as mulheres sorriam
A Jurema quando nasce
A ciência ela já traz
Eu só peço as filhas dela
Que obedeçam aos seus pais
II

Me sustenta o ponto e não deixa cair


Que Ritinha chegou mas não é daqui!
Ritinha, Cadê o teu colar de ouro?
Está no pé de Exú Caveira
Ritinha, já mandou buscar
E cadê o seu anel de pérola
Mas cadê o seu anelão
O que Ritinha ganhou de um macho
Na zona de Ribeirão.

(Esta música está ligada à tradição da Umbanda, já que Exu é mencionado)


III

A Mestra Ritinha
T em um bole-bole
A Mestra Ritinha
T em um bole-bole
Tem a cintura fina
E as cadeiras moles.

IV

São mourão que não bambeia


São mourão que não bambeia
As filhas de Ritinha são mourão que não bambeia

Ô Ritinha onde estais


Que não ouve o meu chamado (2x)
Senhora Mestra do outro mundo
Do outro mundo e desse também (2x)
Eu tô chamando a Mestra Ritinha
Nas horas de Deus Amém (2x)

VI

Todo coqueiro abalava


Todo coqueiro tremie
Quando ritinha chegava
Pra dentro da Rua da Guia

Rosinha Do Amor
Mestra Rosinha do Amor confunde-se com Mestra Rosinha Boiadeira. Mas
são dois Mestres diferentes.

Ela é Mestra Rosinha a flor do Juremá


Ela é uma flor do nosso Gongá, E la é uma rosa, uma rosa em botão
Ela é toda beleza, ela é toda faceira, ela é todo amorEla é Rosinha do Amor
Eu vou me vingar do seu amo r
Eu vou ver vc chorar por mim
Você zombou de quem não mereciaAgora sofra viva a mesma agonia
Mestra Severina

Ô Severina
Ô SeverinaSeverina só trabalha com Maria Rita
Severina só trabalha com Maria Rita
Ela é Severina que Deus ordenou
Ela é Severina que Deus ordenou
Ela é Severina que a Jurema mandou
Ela é Severina que a Jurema mandou
O meu Congá está em festa
Ai meu Deus o que será
É a Mestra Severina que chegou do Juremá
Caboclos & Boiadeiros

Caboclos – Canções para toda linha de trabalho

Ele é Caboclo
Ele é Juremeiro
E na alvorada
Tem penas carijó
Badeia, badeia meus Caboclos, badeia
Meus Caboclos na aldeia
E a sereia na areis
Badeia, oh badeia meus Caboclos
Como o vento na areia

(Badeia significa uma espécie de dança, oscilação, equilíbrio no sentido de


incorporação ao meio)
Caboclo Manuel Juremeiro

Eu vejo o sol, eu vejo a lua


Eu vejo o campo clarear Sou eu Manuel Juremeiro
Caboclo velho do reino de Urubá
Com meu machado na mãoEu vou cortar as folhas do Imbé Dos inimigos e
malfazejosEu corto as mãos, pescoço e pés Valei-me Nossa SenhoraValei-
me meu São José Dos Inimigos e malfazejosEu corto as mãos, pescoço e
pés
Caboclo Pena Branca
Esta é uma versão da história do Caboclo Pena Branca (Chefe da Pena
Branca). Nasceu por volta de 1425, na região central do Brasil, hoje, entre
Brasília e Goiás, onde seu pai era o chefe da tribo. Era o filho mais velho de
seus pais e desde cedo mostrava um diferencial entre os demais índios da
mesma tribo, era de uma inteligência extraordinária.
Na época não havia o costume de trocar alimentos entre as tribos, poucos
faziam isso, pois havia uma cultura de subsistência, mas o Cacique Pena
Branca foi um dos primeiros a incentivar a melhoria das condições das
tribos, e isso é por que assumiu a tarefa de fazer trocas com outras tribos,
entre elas os Jê ou Tapuia, e os Nuaruaque ou Caríba.
Em uma de suas romarias conheceu na região do nordeste brasileiro (hoje
Bahia), uma índia que viria a ser sua esposa, chamada "Flor da Manhã" que
sempre foi seu apoio.
Como cacique, era respeitado por sua tribo Tupi, assim como por todas as
outras tribos, e apesar disso, continuou seu trabalho itinerante pelo Brasil na
tentativa de fortalecer e unir a cultura indígena.
Um dia Pena Branca estava no alto de um morro na região da atual Bahia, e
foi o primeiro a ver a chegada dos portugueses em seus navios, com
grandes cruzes vermelhas no leme. Esteve presente na 1ª missa celebrada
no Brasil pelos Jesuítas, na figura de Frei Henrique de Coimbra.
Desde então, procurou ser o porta-voz entre os índios e os portugueses,
desconfiado das intenções daqueles homens brancos que ofereciam objetos,
como espelhos e pentes, para agradá-los.
Aprendeu rapidamente a cultura portuguesa e cristã com os jesuítas.
O escambo, comércio de pau-brasil entre índios e portugueses, era visto
com ressalvas por Pena Branca, pois ali se iniciava a era da escravidão
indígena e a intenção de Pena Branca sempre foi progredir culturalmente
com a chegada desses novos povos, aos quais chamava amigos.
Morre aos 104 anos, em 1529, o Cacique Pena Branca, deixando grande
saudade em todos os índios do Brasil, sendo reconhecido na espiritualidade
como servo na assistência aos índios brasileiros, juntamente com outros
espíritos, como o Cacique Cobra Coral.
Conhecido como Caboclo Pena Branca, o Mestre Ascenso Pena Branca é
um renomado comandante que foi o grande responsável pela integração das
Egrégoras Xamânicas em trabalhos benéficos em prol da grande renovação
do planeta e da evolução das pessoas.
O Caboclo Pena Branca aceita ser chamado por esse nome e se caracteriza
como “um homem em missão do Pai”, mesmo sendo considerado um
Mestre Ascenso, o que significa que é um ser extremamente evoluído
espiritualmente, o Caboclo Pena Branca prefere ser titulado como um
caboclo entronado. Ele tem várias funções e responsabilidades; porém, não
se sente bem quando é chamado de comandante, em seu coração, tem
apenas humildade e vê sua missão como um compromisso e um dever com
o progresso de todos os povos.
Uma das grandes características do índio é que ele não gosta de ser
glorificado ou que as pessoas o tomem como um ser superior, ele defende
com muita seriedade que o único ser superior em nossas vidas é Deus e que
devemos todo nosso amor e confiança somente a ele.
"Não autorizo nem peço a ninguém que me glorifique ou a qualquer outro
professor, a não ser o próprio Deus."
O Caboclo Pena Branca sempre se preocupa em se apresentar em lugares
onde o respeito e a humildade para com os outros estão presentes, ele se
priva de estar em lugares onde o mal faz morada. Entre suas lamentações
está o sentimento de tristeza pela humanidade sem luz e que se esqueceu de
lutar pelo que é bom.
Caboclo Rompe Mato
No final do século 18, já entrando no século 19, criou-se uma lenda na
região norte do Brasil, na qual se acreditava entre os homens brancos que
iniciaram a devastação da mata cerrada, cultivar grandes roças e extrair o
látex das seringueiras para a fabricação da borracha. Essa lenda pretendia
acreditar que os espíritos da floresta levavam crianças brancas doentes para
o interior da mata, para que essas crianças tivessem uma cura, caso isso
acontecesse, eram devolvidas aos pais, caso contrário, eram sacrificadas.
Porém, essa lenda não era bem assim, havia um teor de verdade nessa
história, mas não havia sacrifício em nome de algo ou alguém da floresta.
Tudo começou quando um indiozinho muito curioso começou a rondar as
terras onde os brancos se instalaram para introduzir as grandes roças nas
bordas da mata.
Com a chegada desses homens brancos chegaram também as doenças, que
logo se espalharam entre os índios, entre eles o curioso indiozinho.
Seu corpo febril, sua pele seca, seus olhos inertes fizeram seu pai, o chefe
da tribo, se desesperar, pois não entendia bem os fatos dos acontecimentos
de seu filho pequeno.
Rapidamente o cacique levou o menino até a oca do poderoso Pajé, na
esperança de salvar a vida de seu menino.
Chegando nas mãos do Pajé e observando os males que o menino havia
passado, o Pajé demonstrou grande preocupação, acreditando que a doença
era um castigo dos deuses da floresta ao indiozinho, por ter tido contato
com homens brancos.
O Xamã pega o menino nos braços, e parte para o interior mais escuro da
floresta, onde poucos conheciam. Chegando lá, junto com o cacique, ele, o
pajé, começa a fazer sua dança invocando as forças espirituais da floresta,
para que tenha uma resposta sobre aqueles males, que a seu ver eram
feitiçaria.
O cacique, bravo guerreiro, mestre dos perigos da floresta, grande e
respeitado por todos os índios de sua tribo, nada podendo fazer com suas
forças, agora se sentia fraco, sua alma estava triste por ver seu menino ali,
inerte. E num ato de humildade, o cacique se ajoelhou, de braços abertos, o
olhar perdido, em busca de uma resposta do céu.
Seu rosto, diante de um poderoso guerreiro, transformou-se em um rosto
abatido e triste. E lágrimas brotaram de seus olhos, lágrimas teimosas que
sem pedir licença rolaram por seu rosto, rolaram conforme a dor que o
poderoso chefe tinha na alma e no coração. Clamou desesperadamente aos
deuses da floresta, clamou sem medo, sem orgulho, apenas demonstrando o
desespero de um pai desconsolado, de um homem simples que sabia que
estaria perdendo seu maior bem. Seu filho.
O Pajé penetrou entre as árvores, na mata fechada, em busca de ervas,
raízes, folhas, para tentar reverter a condição do indiozinho. E nesse
momento o cacique pega seu filho nos braços, acaricia sua cabeça, chora
muito, lamenta sua dor.
E nessa hora de grande desespero, o chefe guerreiro sente um leve toque em
seu ombro. Acreditando ser o Xamã, ergue os olhos rapidamente,
surpreendendo-se com a visão.
De baixo para cima, o cacique contempla a imagem de um índio
desconhecido. De olhos grandes e serenos, seu semblante jovial, seu sorriso
amigo, traziam certa tranquilidade ao cacique.
Sua voz era forte, mas suave, que em tom de sabedoria disse ao nosso
desesperado pai:
"Filho, seu desespero, sua fé e seu amor paterno me trouxeram até aqui.
Suas verdadeiras lágrimas me mostraram o quanto você ama seu filho, e
esse grande amor não ficará sem uma resposta do céu. Eu poderei ajudar
você, eu vou poder te mostrar como curar o seu curumim, mas você tem
que mostrar o bem pra ele, ensinar ele a fazer o bem, sem escolher a quem
fazer. Se você ensinar direito, aquele menino vai ser a luz do floresta
escura, se você não ensiná-lo direito, ele se perderá na escuridão e nos
braços da morte eterna."
Dizendo isso, a imagem estende a mão ao cacique, que deixa o corpo do
menino sobre a folhagem estendida no chão. Ele se levanta e segue Pai das
Matas floresta adentro. Ali o poderoso médico da floresta mostra algumas
ervas e raízes que deveriam ser levadas para fazer a maceração, e assim
fazer o remédio para a cura, não só do pequeno Curumim, mas de todos que
passavam pelo mesmo mal.
O cacique fez tudo o que lhe foi ensinado e depois de fazer as compressas,
chás e banhos, o menino reage, seu estado febril não existe mais, seus olhos
voltam a brilhar, sua vida de criança renasce. Com isso, quando menos se
espera, o cacique se vê novamente sozinho, Pai das Matas se foi, deixando
apenas a sensação de paz por toda a floresta.
O pajé volta, fica surpreso ao ver o curumim brincando entre as árvores
gigantescas, e logo o cacique lhe conta o ocorrido. Os três voltam para a
aldeia, com grande quantidade de ervas, raízes e tudo mais indicado pelo
senhor da floresta, fazem todo o trabalho aprendido, e todos que estavam
com as mazelas dos brancos se recuperam.
O cacique cumpre o prometido, ensina cada passo da cura para o filho, que
presta atenção em cada detalhe, aprendendo todos os passos, e já fazendo
todo o tratamento sozinho.
Passam-se os anos, o curumim é hoje um belo e grande índio guerreiro.
Aquele que tem a responsabilidade de ir em busca de ervas e raízes, para
cada necessidade. como todos esses
As ervas estavam no interior extremamente fechado das matas e matas, o
índio ficou conhecido como Rompe Mato, e assim permaneceu em busca de
uma cura, não só para aquela doença principal, mas para todas as doenças
que por acaso apareceram.
Em certo período, já na época do grande estouro do ciclo da borracha,
muitas pessoas vieram do Nordeste do Brasil para a região Norte em busca
de seringueiras e látex. Com isso, a disseminação de doenças tem
aumentado muito, não só entre os índios, mas também entre os brancos,
principalmente nas crianças.
Com a guerra da ganância dos seringueiros, os índios foram afastados,
sendo expulsos, e obrigados a viver no fundo da floresta, lugares com matas
muito densas, onde os seringueiros não se arriscavam a entrar. As doenças
continuaram matando crianças, filhos de seringueiros. Sem piedade,
dezenas deles foram levados pelos braços malignos da morte, sem que
ninguém pudesse fazer nada.
Uma noite, longe da aldeia, bem perto da região tomada pelos brancos, o
índio Rompe Mato observa uma mulher com uma criança nos braços. Esta
mulher chorava desesperadamente, pois sua filha estava à beira da morte.
Uma menina entre 3 e 4 anos, inerte, febril, sem chances de vencer a guerra
contra a doença, foi envolta em pano branco, demonstrando que já estava
sendo preparada para seu sepultamento, logo após sua morte.
A mulher chorava, solitária, frágil, desolada. Cansada de tanto sofrimento, a
mulher adormece, sem perceber que estava sendo observada pelo índio
Rompe Mato. Este foi até ela, com seus passos leves, sua agilidade e sua
vontade de poder curar aquela criança, e em uma ação rápida pegou a
menina e a levou para o interior mais inacessível da floresta. E lá, com a
ajuda de ervas e raízes, ele curou a garota de seu problema.
Ao acordar e não ver a menina, a mulher que antes estava desesperada,
enlouquece, sai gritando por socorro para trazer a filha de volta. Alguns
seringueiros, armados com seus facões, foram em busca da menina, mas
sem o menor resultado positivo. Quando voltaram para suas cabanas, a
conversa girou em torno de um único assunto: "Os espíritos da floresta
levaram a garota".
Enquanto os seringueiros discutiam o fato, o índio Rompe Mato,
aproveitando a oportunidade, leva a menina curada de volta, deixando-a
bem perto da cabana da mãe, que logo encontra a criança.
Ao perguntar à menina sobre o ocorrido, todos os moradores da aldeia dos
seringueiros ficaram perplexos com os relatos da menina, dizendo que ela
só lembrava de um lugar lindo, um anjo vestido de índio, que voava por
entre as árvores, deu a ela um remédio que era um pouco amargo, mas ela
se sentia bem em tomá-lo. E o remédio a deixou forte, e então o anjo a
trouxe de volta para casa.
A partir de então, todos acreditaram que o anjo era um espírito da floresta,
que com sua bondade curava crianças, e mandava chá sagrado para adultos.
Muitas mães deixaram seus filhos na mesma pedra em que Rompe Mato
levou a menina, para que ele levasse também outras crianças, e as curasse.
E assim ele fez. Constantemente.
O tempo passou, o senhor Rompe Mato continuou com sua missão de cura,
crianças, adultos, homens e mulheres da aldeia seringueira foram curados
pelas mãos e pela fé do índio. Que mesmo vendo seu povo expulso das
terras em que nasceu, não se deixou enfurecer, não deixou o ódio tomar
conta de sua alma, e vagou, dia e noite em busca de ervas e raízes para
salvar todos aqueles pessoas do mal.
Porém, certa noite, quando o índio se dirigia à aldeia em busca de socorrer
outro grupo de enfermos, foi capturado pelo chefe dos seringueiros e seu
bando, sendo amarrado, e submetido a intensa tortura física e moral. Sem
saber que ele era o autor das curas realizadas, nas noites silenciosas e
escuras, a intensidade do flagelo durava dias, e os seringueiros queriam
saber de outras riquezas daquela região, além do látex.
E assim, dias e dias de intensa covardia se passaram sobre nosso querido
Rompe Mato, até que o inesperado aconteceu, a filha do chefe seringueiro
contraiu a doença devastadora. Ele, o chefe dos seringueiros, acreditando
que a cura viria do espírito das matas, levou a menina ao local onde o índio
Rompe Mato sempre procurava as crianças para tratamento. Mas como ele,
o índio, estava preso nas garras perversas dos gananciosos seringueiros, não
achou como levar a cura para a menininha doente.
Duas noites se passaram e era visível o agravamento da menina, e também
o desespero de sua mãe, que gritava para o marido pedir orientação ao índio
que estava sendo mantido cativo pelos seringueiros, pois sendo ele da
região, talvez sabia algo sobre a situação. "Espírito da mata" que curou
tanta gente.
O chefe dos seringueiros, sem mais esperança e sem mais o que fazer,
dirigiu-se ao índio torturado e, num gesto de arrogância e ódio, ordenou-lhe
que lhe contasse tudo o que sabia sobre o curador das florestas. Rompe
Mato, não entendendo muito bem o que se dizia, gritou para o chefe dos
seringueiros para que ele explicasse melhor o que se dizia.
Ele se referia ao espírito da mata, sem saber que ele mesmo era visto como
tal por aquela gente. Ao ser melhor esclarecido sobre os acontecimentos
ocorridos, Rompe Mato entende que era sobre as curas realizadas por ele
que se falava, e em sua inocência e cultivador da caridade, manifesta-se
dizendo que foi ele mesmo quem levou as crianças. até certo ponto da
floresta e os curava com ervas e raízes que colhia após ser abençoado pelo
Pai das Florestas.
O chefe seringueiro fica irradiando ódio dos olhos com a resposta, pois
acreditava que a índia estava mentindo, e estaria usando o fato da doença da
filha para sair da situação que se encontrava. No momento seguinte, sem
pensar na situação, o patrão crava uma adaga de aço no peito do índio, que
cai inerte nos braços da mãe terra. Os olhos do índio se fecharam, sua
respiração parou, seu coração, que não batia mais dentro do peito, derramou
lágrimas de sangue. Ele estava desencarnado.
Do alto de uma imensa árvore emerge a imagem do pai da mata, que paira
junto ao corpo inerte de Rompe Mato, diante dos olhos de todos. E dessa
imagem sai uma voz forte mas serena, dizendo aos seringueiros que aquele
índio era o caminho para curar todos que ali estavam, mas a ganância, a
arrogância, a falta de humildade e o ódio, dissiparam todas as esperanças
que poderiam ter naquela região .
Dizendo isso, estende a mão, e em sua direção o espírito do índio se
apresenta, não mais com os sinais das torturas passadas, mas como um
poderoso guerreiro das matas, que além de ser abençoado pela proteção de
o pai da floresta, tinha a proteção grandiosa do senhor da guerra. E essa
proteção serviria para tirar das florestas todo aquele ódio deixado pelos
gananciosos seringueiros.
Nesse momento, surgiu ao lado do pai das matas e Rompe Mato a imagem
onipotente de um grande Guerreiro, demonstrando toda a força contida
naqueles seres para lutar contra o mal. Os três partiram para o interior
inexplorado da mata mãe, e lá entregaram o índio Rompe Matos aos
cuidados da sagrada e bela Cabocla Jurema, que encaminharia o índio para
as terras de Juremá, para que fosse coroado outro rei das florestas e poder
trabalhar para a caridade na linha espiritual.
Em decorrência desse acontecimento, muitas crianças naquela região
tiveram a doença, e para desespero de todos os pais, a cura não ocorreu
mais. Vários deles desencarnaram, inclusive a filha do chefe dos
seringueiros, que passou a ser odiada por todos os seus seguidores, por
entenderem que ele era o culpado pelo desencarne do índio Rompe Mato,
por isso não havia esperança de cura para qualquer pessoa daquela região,
principalmente crianças.
O índio ficou conhecido como Caboclo Rompe Mato, e era ele quem
protegia o espírito de cada criança que desencarnava com a doença
pecaminosa, e assim se cria a lenda de que o Caboclo Rompe Mato é o
zelador e protetor de todas as crianças. E dizem que a cada manifestação
desse Caboclo nos Terreiros, vem na companhia de vários filhos
desencarnados, que, mesmo sem se manifestarem em incorporação, estão
dentro do Terreiro para proteção de todos.
Que o Caboclo Rompe Mato nos proteja, proteja nossa família e nossas
crianças. É um Caboclo chefe de legião, também muito cultuado no
Catimbó, traz o poder da Justiça, o poder de superar as demandas vindas
dos atores, tem o dom da cura e a capacidade de aconselhar. Às vezes ele
pede um charuto em sua passagem pela Terra! Ele é um guerreiro que age
em paz, Rompe-Matos jamais se apresentará como chefe, porque todos são
guerreiros austeros e destemidos, isso é regra. É um Caboclo que também
trabalha na linha esquerda, limpando e equilibrando as energias. Usa o
nome simbólico de Caboclo Rompe Mato da Jurema. Ele geralmente é
austero e rígido, mas muito amoroso e aconselhador.
Ter esse Caboclo como entidade é uma grande honra para qualquer
médium, lembre-se de seus princípios e conselhos, tenha sempre o senso de
justiça acima de tudo.
I

Na sua aldeia ele é Caboclo


Seu Rompe Mato, seu Arranca Toco
Na sua aldeia, na Terra da Jurema
Não se faz nada sem ordem suprema
Senhor Rompe Mato, Senhor Quebra Galho
O Senhor que lhe chama é Jesus no Calvário
Na sua aldeia ele é Caboclo
Seu Rompe Mato, Seu Arranca Toco
Caboclo Sete Flechas
Na cidade de Juremá foi presenteado com sete flechas por seu pai mais
velho, e com este nome foi batizado. Cada um deles representa uma cura
calmante para os enfermos do corpo e do espírito. Sete flechas, sete
caminhos, sete direções, sete estrelas e muitos mais sete. Que acende a luz
do amor em todos os corações. O Caboclo Sete Flechas é profundo
conhecedor das ervas, atua na cura, conquistador de grandes demandas
espirituais, manipulador das energias astrais e não está "preso" a nenhuma
vibração, trabalha em todas as vibrações.

Sou caboclo, sou bondoso por natureza, caridoso por amor.


Com Sete flechas eu trabalho em nome de Nosso Senhor.
Sou enviado de Jesus, nossa luz maior,
Q ue olha a todos sem distinção,
Seus olhos não são os da face e sim os do coração.
Sou um pequeno aprendiz daquele que foi crucificado,
Sou Caboclo, sou guerreiro, e aqui deixei meu legado.
Sou pequeno aprendiz, estudante da lei maior,
Meu nome é Sete Flechas da tribo dos Temiminós.
Cabocla Tapuia
A nomenclatura Tapuia é um termo de origem tupi que foi utilizado durante
o período inicial da colonização do Brasil para designar todos os povos
indígenas que não falavam o tupi antigo. Ao desembarcar na costa do atual
Brasil, os portugueses encontraram grupos que falavam línguas
pertencentes a dois grandes ramos linguísticos da América do Sul: o Tupi e
o Macro-Jê. Os que habitavam o litoral do Brasil falavam línguas
pertencentes ao tronco Tupi, enquanto os falantes de línguas macro-Jê com
os quais os portugueses tiveram contato habitavam regiões do interior do
Sudeste, Nordeste e Sul do Brasil. Como o centro da colonização brasileira
se deu no litoral, os portugueses, após estabelecerem contato mais próximo
com os índios Tupi, adotaram a nomenclatura que esses índios davam aos
que se opunham, ou seja, os índios Macro-Jê ou Tapuia.

Já chegou linda Tapuia com o seu maracá e pena


La vem saudando toda gente até o príncipe da Jurema.
Tu olha que ela é Cabocla, tu olha que ela é Tapuia,
Tu olha que ela vem da mata minha gente para beber na cuia...Tapuia linda
Tapuia, Tapuia do canidé, Qem confiar em Tapuia vai vencer porque Deus
quer.

Eu carrego flecha minha roupa é de pena


Salve a Tapuia filha da Jurema...
Tava sentada na mata sentada comendo mel Ouvi a onça esturrar Tapuia do
Canidé Tapuia
Linda Tapuia Tapuia do Canidé é
Eu linda Tapuia vou vencer por que Deus quer
II

Tapuia minha Tapuia,


Tapuia de Canidé (2x)
Sou eu fulô de Jurema,
M inha flexa, meu coité (2x)
III

Tapuia Tapuia Jacarandá (2x)


Tapuia Tapuia Peixe do Mar (2x)Minha Mae é uma Senhora (2x)Fecha a
porta e vá se deitar (2x)
Caboclo Ubirajara
As Histórias do Índio Ubirajara e Iracema no Ceará, é uma narração de José
de Alencar, alguns personagens são fictícios, mas sua trajetória é real, tanto
que se encantam por orarem (manifestados) na Gira da Jurema Sagrada e no
Tambor de Mina em geral no espiritismo.
Concluamos que o espiritismo é o respeito e o amor pela natureza, e que as
águas são o elemento princípio do homem desde o ventre materno até a
morte. Caboclo Ubirajara é um encantado dos Tupi.
O Rio Araguaia (Rio das Araras Vermelhas em Tupi) é um rio brasileiro
que nasce no estado de Goiás, na Serra do Caiapó, próximo ao Parque
Nacional das Emas. Este rio forma a divisa natural entre os estados de Mato
Grosso, Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará. Tem uma extensão de 2.114 km
e é considerada uma das mais pesqueiras do mundo.
O pôr do sol visto das margens do Rio Araguaia é uma das mais belas
imagens captadas por turistas e pela mídia. Mas também não é difícil ver
botos subindo rápido para respirar, gaivotas, mergulhões, jacarés e até
cardumes subindo o rio durante a desova – período em que a pesca de
qualquer espécie é proibida. Três espécies são proibidas de pescar em
qualquer época do ano: pirarucu, pirarucu e filhote. Na Amazônia, estão
sendo desenvolvidos projetos para a criação de pirarucu em cativeiro. Na
natureza, sua pesca é proibida.
O Rio Araguaia deságua no reino das Águas Claras e/ou reino do Rio
Verde, onde vivem os Encantados. Como Ubirajara, Iraci, Jandira, Jacanã
etc. O Reino das Águas Claras, e a junção de todos os grandes rios do Brasil
no Grão Pará.

O mito do Senhor das Lanças do Peito de Aço - Baú de Aço do Senhor das
Lanças.

O jovem caçador do Araguaia, Jaguarê, busca em terras estrangeiras um


inimigo para desafiar e lutar. Levando um prisioneiro para sua taba , ele
receberá seu título de guerreiro. Ao contrário do que esperava, ele conhece
uma índia do Tocantim, filha do cacique, chamada Araci. Ela diz que em
sua nação existem cem guerreiros que disputarão seu amor.
Jaguarê é convidado a alistar-se entre eles, mas prefere dizer à virgem que
mande todos os seus pretendentes para enfrentá-lo. Após a partida de Araci,
surge um índio do Tocantim, Pojucã, que aceita o desafio de Jaguarê. O
índio Araguaia vence e aprisiona o guerreiro Tocantim com sua lança,
chamando-se a partir de então de Ubirajara, o senhor da lança.
Ubirajara deixa o preso em sua taba, dando-lhe como esposa desde o
túmulo a jovem Jandira, que até aquele momento era sua noiva. Em
seguida, o guerreiro parte para a nação do Tocantins. Jandira não aceita ser
mulher de ninguém que não seja Ubirajara e foge para a mata.
Ubirajara chega à aldeia de Araci e, como permite a lei da hospitalidade,
não se identifica, adotando o nome de Jurandir, aquele que veio com a luz.
Ele concorre com os demais e conquista o direito de se casar com Araci,
mas antes da noite de núpcias é obrigado a se identificar.
Uma situação embaraçosa é criada porque seu prisioneiro é irmão de Araci.
A guerra é declarada. Ubirajara liberta Pojucã para que lute ao lado de seu
povo. Quando os Araguaias vão atacar, aparecem os Tapuias que, por
justiça, têm o direito de lutar antes dos Araguaias, que devem esperar.
O cacique do Tocantins, Itaquê, derrota o cacique Tapuia, mas fica cego,
incapaz de liderar seu povo. Para sucedê-lo, os guerreiros devem dobrar o
arco e atirar como ele. Como os guerreiros de seu próprio povo não podem,
eles convidam Ubirajara para fazê-lo. O guerreiro Araguaia, genro de
Itaquê, consegue com tanta destreza e força que o velho Itaquê se move.
Assim, Ubirajara une os dois arcos e as duas nações, Araguaia e Tocantim,
dando origem à grande nação Ubirajara. Como prêmio, ganha ainda duas
esposas: Araci e Jandira.

Comentários e interpretação

Quanto ao tempo cronológico, a ação data do século XV, o que pode ser
determinado pela ausência do homem branco. O romance está organizado,
em seus nove capítulos, de forma linear, cronológica, em uma época
anterior a 1500, na região do Tocantins. A narrativa apresenta a natureza
selvagem como espaço privilegiado, com a maior parte das ações ocorrendo
no sertão e agreste de um Brasil primitivo e edênico.
A natureza é o único componente espacial deste pequeno romance.
Selvagem, hostil ou acolhedor, representa o espaço ainda não alcançado
pelo homem branco, porque é um romance pré-cabralino.
Há também o espaço das aldeias, povoadas por criaturas selvagens, mas
repletas de princípios éticos.
I. O caçador – Jaguarê sai de sua aldeia em busca de um inimigo para obter
o título de guerreiro. Às margens do grande rio Tocantins, o jovem caçador
Jaguaré caminha em busca de um adversário que possa desafiar.
É que ele quer se tornar um guerreiro de sua tribo e precisa de um
adversário digno do feito. Há três dias ele está nas proximidades da tribo
Tocantins, tribo inimiga, chefiada por Itaquê.
Jaguaré vê então Araci, “a filha do dia”, que, como uma corça veloz,
atravessa a campina. Ao identificar a garota, o guerreiro fica desapontado
porque espera que o inimigo lute, rito pelo qual o guerreiro deve passar – e
vencer. Por meio de suas roupas e acessórios, Jaguaré identifica em Araci
uma virgem que ainda não foi possuída por nenhum guerreiro. E é avisado
por ela.
Jaguaré diz ter soltado seu grito de guerra e observa que ele pisa aqueles
campos “como um senhor” e pede a Araci, que agora se diz seu prisioneiro,
que avise os guerreiros da tribo para que venham com ele lutar. Araci
considera que deve disputar como fazem os homens da tribo, mas o caçador
avisa que tem uma esposa esperando por ele e desafia os guerreiros para a
luta.
Pojucã, temido guerreiro, atende ao apelo de Jaguarê, e ambos se
apresentam. E o combate começa. Ambos resistem, experientes e capazes
de demonstrar maior força física. Por fim, Jaguaré vence o combate, fere o
guerreiro com sua lança de duas pontas no peito e o aprisiona, obrigando-o
a ir com ele até a aldeia e relatar a luta.
Mas antes de ir, muda de nome, soltando um grito triunfante:
” – Eu sou Ubirajara, o senhor da lança, o guerreiro invencível cuja arma é
a serpente. Reconheça seu vencedor, Pojucã, e proclame o primeiro dos
guerreiros, pois o maior guerreiro que existiu antes dele te conquistou.”
II. O guerreiro – Jaguarê, tendo derrotado Pojucã, adota o nome de
guerreiro de Ubirajara, senhor da lança. A aldeia Araguaia está em festa
para receber seu mais novo guerreiro, filho de Camacã, “o maior cacique
dos Araguaias”, líder que ainda ostenta, diante dos mais velhos, o grande
arco decorado com penas vermelhas, uma conquista da juventude que já
perdeu.
Pojucã também narrou sua história, exaltando as conquistas do Araguaia,
que facilitaram a aceitação do filho de Camacã como guerreiro. Depois,
Ubirajara empunhava o arco de seu pai e era por ele empunhado.
Ele agora era seu substituto como "o mais forte dos guerreiros" daquela
tribo. Pojucã teve a glória de ter seu nome lembrado junto com o do
guerreiro que o derrotou.
III. A noiva – Jandira, noiva de Ubirajara, espera por ele, mas o herói não a
procura. Pior do que isso, ele a entrega como uma esposa séria ao seu
prisioneiro. Ele informa seu povo de sua intenção e sai em busca de Araci,
filha do chefe da nação Tocantim. Jandira, a doce filha de Magé, assim que
amanheceu, saltou da rede que embalara seus sonhos virgens e, acreditando
ser a última noite que passara na cabana do pai, esperou que Jaguaré a
pegasse.
Mas Ubirajara sonha, entretanto, com Araci. Ela o avisa em sonho que os
guerreiros do Tocantins estão se preparando para tomá-la como esposa.
Convide-o para sair se não quiser se atrasar. O guerreiro do Araguaia
desperta durante o sonho e, mais tarde, refugiando-se nele novamente, deixa
seus pensamentos tomarem a direção do grande rio.
Jandira o encontra um pouco depois na mata e pergunta o que aconteceu
com ele. Ela se surpreende com a resposta: a tristeza havia entrado no
coração da guerreira, "que não sabe mais dizer palavras de alegria para
você, bela virgem". Dizendo que o guerreiro não poderia encontrar uma
esposa mais fiel para si, Jandira tenta parecer feliz, mas ela sabia que o
amor de Ubirajara havia abandonado o dela. Enquanto isso, Pojucã
amargava a derrota e o fato de ser prisioneiro.
Ele poderia fugir, mas isso provaria sua desonra. Quando Ubirajara se
aproximou da cabana do vencido, ouviu seu pedido para matá-lo, pois
estava desgraçado para sempre. Então Ubirajara chama as guerreiras e lhes
dá Jandira como “esposa da sepultura”, “que tem no seio os doces favos da
abelha”. E ele sai, prometendo voltar para matar o guerreiro Tocantim.
Jandira e Pojucã estão sozinhos, e ela diz a ele que nunca seria sua esposa.
Que se Ubirajara não a quisesse, ela não seria de mais ninguém, preferindo
a morte. Pojucã diz que ela poderia gerar seu filho, tão forte e corajoso
quanto seu pai. Mas a garota foge dele, senta-se no meio da floresta e canta
tristemente. Com o conselho de anciãos reunido, Ubirajara anuncia que vai
embora e que, quando voltar na lua seguinte, matará o inimigo.
4. Hospitalidade – Incógnito, usando o nome de Jurandir, Ubirajara se
hospeda na taba dos tocantins. Ubirajara vai ao encontro de Araci; ao
chegar lá, o guerreiro vigia soou o aviso.
Os guerreiros que para lá correram deixaram-no passar, sem perguntar de
onde vinha, nem o que o trouxera. Itaquê é pai de Araci, a bela estrela do
dia que Jaguarê procura. Itaquê manda preparar o cachimbo da paz, para
que ambos fumem juntos, e então os cantores da aldeia entoam a saudação
de chegada.
Enquanto os homens cantam, Jacamim, mulher de Itaquê, chama as outras
amantes do grande cacique para ajudá-la a preparar o banquete de
hospitalidade. Depois de conduzido à sombra da gameleira, junto com os
guerreiros, foi servido com fartura, com vinho de caju e abacaxi.
Depois que as mulheres recolheram os restos mortais e foram embora,
Itaquê disse que escolheria o nome que o guerreiro usaria enquanto
estivesse lá. As sugestões foram muitas, mas finalmente Ubirajara escolheu
um nome para si: “Sou eu que vim trazido pela luz do céu. Me chame de
Jurandir. Foi nesse momento que Araci apareceu por entre as palmeiras e se
dirigiu para a cabana. Guerreiros a acompanhavam e eram servos de seu
amor. Todos disputavam a beleza da virgem e com ela pretendiam se casar.
Araci o reconheceu imediatamente e soube que ele viera sem seus enfeites
do Araguaia para disputar seu amor com os outros.
Não cabia a ela dizer quem ele era, ou mesmo revelar o segredo. Ele apenas
sentiu a alegria dentro de seu coração.
Jurandir fala de si e de seus feitos e Araci canta para ele. Em seguida,
Jurandir declara: ” – As moças do Tocantins são lindas; qualquer um deles
alegraria o sono do estranho. Mas Jurandir não veio à cabana do Itaquê para
curtir uma noite de amor; ele virá buscar a esposa que o acompanhará até a
morte e a virgem que ele escolheu para ser a mãe de seus filhos. E pediu a
Araci que o levasse até a cabana de Itaquê, onde pretendia revelar o segredo
que o levara até ali. Ele disse a ela que havia sonhado com o chamado dela
e que o havia feito entrar em sua presença.
V. Servo do amor – Jurandir, ou seja, Ubirajara, revela sua verdadeira
intenção e é aceito na casa de Itaquê para servi-lo e adquirir o direito de
lutar pela mão de Araci.
Os guerreiros cativos da beleza de Araci sabiam que teriam trabalho com a
pretendente. Jurandir desceu até o rio e encarregou-se de pescar um peixe
gigantesco que levou vivo para a cabana de Itaquê; então ele caçou uma
anta grande (anta) e a pegou viva, depositando aos pés de Araci.
Nenhum guerreiro conseguiu segurar o animal e seu ímpeto, mas ele,
Ubirajara, o fez sem esforço. Ao obrigar o animal a se agachar diante de sua
amada, disse para que todos ouvissem: "- O braço de Jurandir fará cair a
teus pés o guerreiro que ousar disputar tua beleza, estrela do dia."
A partir daí, tratou de deixar a choupana do cacique tocantinense bem
abastecida com a melhor comida; caçador e pescador, isso era fácil para ele.
Depois de caçar e pescar, trabalhava com prazer nas roças do pai de Araci.
Enquanto isso, a amada de Jurandir tecia a franja da rede para o casamento.
No banho, os guerreiros e a virgem se encontraram. E ela era uma boa
nadadora. E é no banho que ele começa, sem que os outros vejam, a dar
preferência a Jurandir.
Enquanto Araci procura penas vermelhas, mel e guaraná para seu amante
no meio da mata, eis que ele aparece trazendo uma mulher que o segurava
pelo braço e que trazia na mão uma faca afiada. Araci reconheceu a virgem
Araguaia pela tira de algodão tecida com penas, e adivinhou que fosse
Jandira, a noiva abandonada de Jaguarê.
As duas virgens ficaram sozinhas e se entreolharam. Jandira reconheceu
que não tinha a beleza de Araci. Araci canta para Jandira, e entre as frases
que ela canta, destaca-se o desejo dela ser sua escrava, que o amor da
guerreira do Araguaia era dela, Araci, e que ela deixaria Jandira dormir com
sua guerreira quando a beleza deixasse de existir . .
Jandira então diz que preferia morrer a ser escrava de Araci e "ver a cada
momento a beleza estrangeira que roubou seu amor". Ele acusa Araci de
não saber amar direito o guerreiro. E acrescenta que Jandira jamais
ofereceria a rede para outra mulher.
VI. A luta nupcial – Jurandir compete com os demais e conquista o direito
de se casar com Araci. A comitiva guerreira começa a escolher o marido de
Araci; entre todas as festas, esta é a única a que as mulheres podem assistir,
segundo o rito de Tupã.
A grande nação do Tocantins circunda todo o interior e no meio estão os
anciãos. Aparece Araci, "a estrela do dia, que será o prêmio da constância e
da força do mais habilidoso guerreiro". Jacamim acompanha a filha e
relembra a época em que Itaquê a conquistou e lutou por ela com os mais
fortes guerreiros da tribo.
A festa está pronta; Itaquê se orgulha de pai. E começam as canções
nupciais. Ao comando do Itaquê, começaram os combates. Os guerreiros
deram o seu melhor para vencer, e as provas se sucederam. Dona Jurandir
venceu em todas elas. O pajé levantou a tampa de um vaso e Jurandir
colocou a mão ali. Era mais uma prova. Ali, colocado junto ao Itaquê, havia
um formigueiro de saúvas pronto para devorar a primeira presa. Mas
Jurandir, olhando para Araci, sorria feliz.
O guerreiro foi tão picado (e ele, enquanto isso, cantava para sua amada!)
Que foi preciso quebrar o vaso para tirar a mão. Mas o grande xamã
esfregou o suco de uma erva na pele do guerreiro, e a dor e o inchaço logo
desapareceram.
A última prova foi a corrida. Araci deveria vencê-lo e Jurandir sabia que
conseguiria se quisesse, mas saiu perdendo e, ao final da corrida, pegou-a
nos braços e a levou para a “cabana do amor” que havia construído.
próximo. Carioca. Mas antes que ele pudesse cruzar a porta, os guerreiros
chegaram com um recado de Itaquê: ele tinha que dizer quem era, porque
ninguém da aldeia o conhecia.
VII. A guerra – Ao se identificar, Ubirajara cria um complicado conflito:
seu prisioneiro de guerra, a quem deve matar, é seu cunhado.
É declarada a guerra entre Araguaias e Tocantins. Itaque esperava por ele,
sentado na cabana, com os mais velhos. Jurandir entrou, Araci ficou na
porta, orgulhosa do marido. Itaquê engasgou e lamentou estar frente a frente
com o assassino de seu filho Pojucã; ela tinha, no entanto, que respeitar a
lei da hospitalidade e tratá-lo com dignidade e respeito.
Mas Pojucã não estava morto, ninguém sabia disso. Jacamim, mãe de
Pojucã e Araci, se recusa a chorar na frente do guerreiro. Itaquê troca a
fumaça da despedida com ele, mas avisa que assim que ele deixar seus
domínios, mil guerreiros ou mais o seguirão e o vingarão pelo mal feito.
Ubirajara foi até a orla da aldeia e então apagou no chão os rastros de seus
passos. Embora Araci queira estar com ele, o guerreiro não aceita, dizendo
que se Itaquê “respeitasse a lei da hospitalidade no corpo de Ubirajara;
Ubirajara não deixará traição em terra estrangeira.”
E quando o marido foi embora, Araci foi para a cabana, fechou a porta e
cantou sua tristeza. Ubirajara partiu para sua tribo e, após dois dias de
viagem, chegou lá e convocou os guerreiros para a guerra com o que
pretendia ter Araci de volta. Ele manda chamar Pojucã e pede que ele vá
para o seu. E então, com o apoio de seu pai e dos guerreiros, ele se preparou
para a guerra. Mas quando Ubirajara se aproximou dos campos do
Tocantins, viu que uma nação Tapuia se preparava para assaltar a tribo de
Itaquê.
Ubirajara enviou um arauto entre eles, pedindo-lhes para “abaixar a clava
de guerra”. Mas recebe como resposta a informação de que “Cranicã veio
trazido para se vingar. Pojucã, um dos caciques do Tocantins, entrou em sua
aldeia e ateou fogo na cabana do pajé, que foi devorada pelas chamas.”
Ubirajara reconhece que Itaquê deve enfrentar a guerra que Pojucã
almejava. Ubirajara manda recado para Itaquê e conta o que está
acontecendo. Ele observa que seu coração é de Araci e que se Itaquê aceitar,
lutará ao seu lado.
VIII. A batalha – Quando Ubirajara vem com seu povo, os Tocantins são
atacados pelos Tapuias. Um tapuia curumim cega o velho cacique do
Tocantim. Tocantins fica sem líder.
De um lado do imenso campo se movimenta a torcida dos guerreiros
tocantinenses, do outro, a multidão dos guerreiros tapuias. As duas nações
se estendem como dois lagos formados pelas grandes chuvas, que se
transformam em rios e atravessam o vale. Os dois povos aguardavam a
batalha; Itaque se viu cara a cara com Canicrã; dez vezes eles lutaram e em
nenhum houve um vencedor e talvez um deles tivesse que morrer para
quebrar a paz entre as nações.
“Quando os dois chefes se encontraram, os guerreiros ficaram imóveis,
contemplando o terrível combate.” Ubirajara contemplou tudo de longe,
imaginando como ficaria feliz se pudesse enfrentar os dois em combate.
Pahã, o filho mais novo de Canicran, observa tudo e, ao ver Itaquê desferir
um golpe contra o pai, atira duas flechas na direção do cacique Tocantim e
cega-lhe os dois olhos. O menino foge, mas é ultrapassado por um guerreiro
e preso, é levado na manhã seguinte, por Ubirajara, à frente do Itaquê. Ele o
levou para ser escravo do velho cacique, mas Itaquê recusa a oferta e liberta
o menino.
Itaquê pede a seu filho Pojucã que estique seu arco, para ocupar seu lugar
de líder. Mas, ao fazê-lo durante um encontro com os inimigos, Pojucã, sem
pensar no que estava fazendo de afronta, atira a flecha em direção à cabeça
de um cacique tapuia, cravado na estaca, na entrada da aldeia. Pojucã,
então, concluiu que o filho era imaturo e não merecia a liderança.
IX. União dos Arcos – Ubirajara consegue entortar o arco do Itaquê,
tornando-se o novo chefe da nação de Pojucã e Araci.
Ele une o arco do chefe cego ao seu próprio arco, herdado de seu pai,
simbolizando assim a união das duas bravas nações.
Os Tocantins ficaram sem cacique: Itaquê cego e Pojucã, seu único filho,
incapaz de manejar o arco do cacique. Itaquê lamenta não poder lutar sem a
luz dos olhos. Um mensageiro do Itaquê o precedera no campo do
Araguaias tomado por Araci. Ubirajara fica feliz ao ver sua esposa e
cumprimenta o sogro dizendo que lutaria com ele se trouxesse a guerra e o
abraçaria se trouxesse a paz. E o velho cacique do Tocantim pede ao
guerreiro que assuma a frente das batalhas.
E Ubirajara, feliz, vai à batalha em nome das duas tribos. No final, ele
quebra a liga de Araci e a leva para a cabana do amor. Após a briga,
Ubirajara fica com as duas mulheres: Araci e Jandira. A tribo dos Araguaias
e Tocantins formaram uma única nação, que levou o nome do herói:
Ubirajaras.
Ubirajara, surge com o nome de Jaguarê, guerreiro da tribo Araguaia, antes
de se tornar “o senhor da lança”, Ubirajara e chefe de sua tribo substituindo
seu pai, após ter derrotado Pojucan. Quando vai servir ao Itaquê para obter
Araci como esposa, o nome adotado por ele entre os tocantinenses é
Jurandir.
Jandira, virgem Araguaia, filha de Majé, noiva de Jaguarê, mas desprezada
por ele quando se torna guerreira. A noiva desprezada tenta matar a rival,
mas é surpreendida por Ubirajara que a entrega como escrava a Araci.
Este, afinal, dá-a ao guerreiro como segunda esposa, julgando-o justo, pois
uniu os arcos das duas nações. Inicialmente, Jandira acreditava que não se
devia dividir o marido, mas ao final da narrativa aceita a proposta de Araci,
dividindo com ela o amor de Ubirajara.
Araci, a estrela do dia, filha virgem do cacique do Tocantim, Itaquê,
conquistada por Ubirajara, que se vê obrigada a lutar, e vencer todos os
outros pretendentes. Araci aceita dividir o marido com outros, segundo a
tradição de seu povo.
Pajucã, cujo nome significa “eu mato gente”, é um guerreiro do Tocantim,
filho de Itaquê, irmão de Araci. Um guerreiro forte e invencível até
conhecer Ubirajara, de quem se tornou prisioneiro. Itaquê, pai de Araci e
Pojucã, antigo cacique do Tocantins.
Jacamim, mulher do Itaquê, mulher que não exige exclusividade no amor,
segundo a tradição de seu povo. Assim, como em outros povos, é ela quem
planta, assim como outras mulheres casadas, pois, segundo suas crenças, a
mulher transmite sua própria fertilidade à terra, possibilitando colheitas
melhores do que se as sementes fossem plantadas por homens ou virgens. .
Camacã, pai de Ubirajara.
Canicran, terrível cacique dos Tapuias, derrotado por ltaque, que quebra a
cabeça em dois pedaços como se fosse um coco. Pahã, cujo nome significa
“a flecha”, é o filho mais novo do cacique Tapuia, Canicran. Importante
para a história, pois é ele quem cega o velho cacique Itaquê com duas
flechas. É fácil perceber seu papel na estruturação da trama, deixando a
nação Tocantim sem líder para que Ubirajara assuma o posto e una as
nações Araguaia e Tocantim. (Fonte e crédito do texto: Juremeiro Neto)

Caboclo Urubatan
Caboclo Urubatan, morador das cidades encantadas dos rios verdes, é guia
de perdidos e selador de corpos. Ele não faz feitiços, nem feitiços,
mandingas ou Catimbó, só trabalha para doutrinar falanges e seguidores.
Em outras palavras, é uma entidade que atua no resgate cármico de seus
consulentes e na função direta de ajudar aqueles que se encontram perdidos
em seu interior ou por forças externas.
Lembrando que cada Caboclo tem sua personalidade e sua forma de
trabalhar, sua linha de trabalho é essa, mas nada o impede de fazer seu
“trabalho” para o aperfeiçoamento de seus filhos e consulentes.
Pajelança (xamanismo) e Toré (dança ritual com chocalhos) são rituais de
ancestralidade indígena! Esses dois rituais específicos compõem a prática
religiosa de nossos ancestrais indígenas! O ritual da Pajelança e o ritual do
Toré são uma das formas que fundamenta o culto Ancestral, o que foi
acrescentado posteriormente não retira sua Matriz, sua identidade Indígena.
É importante e necessário saber que a Pajelança e o Toré não eram a
Religião de nossos Antepassados, mas sim rituais que compunham sua
forma religiosa. Devemos sempre trazer um melhor entendimento desta
prática religiosa.
Boiadeiro - Cowboy

Firmei meu ponto na porta do curral,


Joguei o laço e peguei meu alazão
Jibão de couro e perfume da Jurema,
É na Jurema que eu busco a proteção.
É o Boiadeiro, oi, é o Boiadeiro
É da Jurema, é da Jurema
Boi, ê boi, ê boi, ê boi
Mestra Rosinha Boiadeira
Ele saiu de casa jovem porque se apaixonou por um vaqueiro. Acabou num
bordel servindo a coronéis, vaqueiros e tops. Tendo também uma forte
ligação com uma princesa da Jurema.

Uma rosa no jardim apareceu,


Apareceu num macacão da aurora Na proteção da Mestra Rosinha.
Adeus meu povo ela vai embora. Uma rosa no jardim apareceu, Apareceu
num macacão da aurora Na proteção da Leonora adormeci Adeus meu povo
Rosinha foi embora.
Família De Légua Boji
Sobre a família Légua no encanto do Maranhão. Esta linha é muito
específica e limitada a determinadas regiões e casas. Está claramente ligada
à tradição africana do Candomblé (Fonte do conteúdo abaixo: Adriano
Figueiredo - Presidente da Acaluz, Diego Bragança de Moura - Historiador
da Acaluz)

Família de Codó ou Mata do Codó

Chefe: Dom Pedro Angasso (Vodun Cambinda - Associado a Xangô


Aganjú)
Esposa: Rainha Rosa - Rainha Rosa
Filho Principal e Chefe da Família Codó: Légua Boji Boá - Trinity
Principais Filhos da Família: Floriano Flor de Roma, Princesa da Pedra
Fina, Angaçomé, Angaço Uno, Colimaneiro, Principe Oliberanto, Princesa
Flora, Princesa Rosa, Vó Maria Camundá, Rei Cacamador.
Filhos de Légua: Jacyra da Trindade, Dorinha Legua, Raio do Sol – Filho
do Zé Raimundo, Lauro Légua, José Vaqueiro, Rosolina Légua, Neguinho
de Holanda.
Parentes: Joana Gunça (princesa) - Irmã de Légua, Maresia (turco) -
Sobrinho, Xica Baiana – Sobrinha, Zé Lepredo e Zomador...

1. Uma longa história a ser contada:


Possivelmente esses encantados vieram para São Luís e foram se agrupar
em Codó, não sendo de lá originários. Muitos dizem em suas canções que
"veio pelo mar" talvez isso seja uma referência a sua chegada ao Brasil, e
não a Codó, cidade que não é banhada pelo mar. Acredita-se que sejam de
origem cambinda, mas mesmo a origem cambinda pode ser questionada,
pois em nenhum momento, nem nos nomes nem em suas canções, fazem
referência a alguma língua bantu.
Porém, mesmo tendo Codó como sua cidade, local de origem, muitos não
habitam Codó, tendo apenas se encantado por lá e ido morar em outros
lugares, como a Ilha de São Luís, Pará e arredores.
O povo do Codo é muito próximo dos voduns Jeje, tendo esses muitos usos
como a presença do mastro central, chamado de eira, a árvore da vida, o
tambor vertical (rum) chamado por eles de tambor da mata, oposto aos
batás horizontais dos nagôs.
A família de Codó é muito próxima de Nanã vodum, também chamada de
Vó Missã, e por isso possuem contas de Nanã (marisco Nanã) em seus fios,
além de contas marrons, que lembram a mata. Esta é uma família
importante que foi levada para o Pará, segundo a lenda, por Seu Chico
Légua.
Todos os Codoenses usam chapéu de couro ou palha (Panamá). Como todas
as outras famílias em Encantamento. Todos os codoenses recebem
oferendas (comida, “cortes”) e festas juntos, mesmo que seus filhos estejam
ausentes. Eles gostam de vinho tinto e cerveja; eles fumam charutos
também.
Como vimos, "quase" toda essa família é oriunda da "região de Codó",
município localizado no Cerrado maranhense e na bacia do rio Itapecuru.
Todos eles (Caboclos e Caboclas - Boiadeiros e Boiadeiras) foram
fazendeiros ou vaqueiros que andaram pelas estradas desse Brasil por
algum motivo ou motivo estão de volta, ou até mesmo de outra família
como os Turcos que se juntaram de alguma forma ou por afinidade familiar,
mas apenas que venham na forma de espíritos de luz para ajudar e orientar
seus filhos de Umbanda/Mina nesta imensa batalha contra o mal e ajudar os
outros a progredir espiritualmente. Caboclos e Caboclas são geralmente
negros e muito respeitados. Segundo Mundicarmo Ferretti, "são entidades
menos civilizadas e menos nobres que viviam habitualmente em locais
afastados das grandes cidades e pouco conhecidas que costumam vir
sempre pelo mar ou pelos "igaRapés". São elas: • Zé Raimundo Boji Buá •
Joana Gunça • Maria de Légua • Oscar de Légua • Teresa de Légua • Pedro
Légua • Zé de Légua • Dorinha Boji Buá • Antônio de Légua • Aderaldo
Boji Buá • Expedito de Légua • Lourenço de Légua • Aleixo Boji Buá •
Mariano Légua • Pequenininho • Manezinho Buá • Zulmira de Légua •
Mearim • Folha Seca • Maria Rosa • Caboclinho • João de Légua •
Joaquinzinho de Légua • Dona Maria José • Coli Maneiro • Martinho •
Miguelzinho Buá ... E muitos outros
Em Codó, onde se diz que o Caboclo mais alto “Brada”, diz-se que aquela
categoria de encantados é dos vaqueiros/pecuaristas, homens e mulheres
que lidam com gado, costumam berrar como se estivessem pastoreando
gado no campo. Família liderada por Légua Buji Buá, que se autodenomina
filho de Pedro Angaço e Rainha Rosa. Santa Bárbara foi proclamada
protetora dos Terreiros da Mina do Maranhão. Ela valoriza esses Caboclos
Boiadeiros, comparando-os.
Codó é uma localidade reconhecida pelos seus Terreiros, por ser uma região
quilombola ligada ao terecô, ao tambor da mata, mais relacionada aos
Caboclos e à prática da magia negra.
Entre os encantados mais importantes está ele, Légua Bogi Buá.
Codó, também conhecida como a capital da magia negra. Falando desta
entidade, sua família e suas duas faces (“faixa branca” e “faixa preta” –
bom/mau) como sempre diz o Caboclo Lauro Bogi Buá (da família dos
“Légua”) a seguinte frase:
“Eu sou Lauro Bogi Buá, uma banda branca e outra preta, metade de Deus e
metade do diabo”. “Eu sou Lauro Bogi Buá, uma linha branca e uma linha
preta de trabalho, metade de Deus e metade do diabo”. Existem vários
mitos sobre como e quando Légua Bogi chegou a esta região, bem como
sobre a sua família e o seu comportamento dentro dos Terreiros.
Em algumas casas, Légua Bogi é jovem, brincalhão, um tanto grosseiro e
franco, tem muitos amigos, gosta muito de bebida alcoólica e do jogo do
Bumba Meu Boi. Em Codó, ouvimos falar dele como o encantador mais
velho do mundo, como filho desobediente e como preto velho angolano.
Em Viana (Maranhão), Légua Bogi é vista pelos médiuns (que têm
clarividência) como um preto velho que usa chapéu, como o saudoso artista
nordestino Luiz Gonzaga. Algumas pessoas o veem andando pela cidade;
outros, caminhando sobre as águas do mar, sem afundar. Mas, segundo
alguns “mineiros”, Légua também aparece como um boi preto, com uma
estrela brilhante na testa, que ameaça “continuar” o médium que não
cumprir com suas obrigações para com ele. Légua Bogi é um dos mais
antigos encantados de Codó, mas a família de Légua entrou lá quando já
havia passado a euforia algodoeira, e ele veio como um dos “filhos do
gado”, daí porque aparece com chapéu de couro e chicote. Eles “portaram”
no início do século XX como uma família já constituída e foram trazidos
por Maximiana e migrantes de Mearim e Codó.
Quando o Caboclo Légua Bogi é incorporado, ele sempre se refere ao lugar
de onde veio: Codó. A ligação com esta região está relacionada no
momento do transe, onde a entidade faz uma ponte entre o Estado que está
no momento do transe e Codó (Maranhão)
Quanto à origem do encantamento de Légua Bogi Boa, nossos ancestrais
nos contam aqui de nossa casa que fica mais precisamente perto das vilas
pedreiras e Bacabal na Baixa do Mearim em uma localidade chamada
Trindade daí o nome Légua Bogi da Trindade. Como teve muitos filhos,
eles se espalharam pelas cidades vizinhas como Codó, Santa Inês, Bacabal e
outras. Quando veio o encantamento, veio na origem da família que estava
em Trindade, onde atualmente os peregrinos visitam para acender velas na
grande pedra onde foram encantados, segundo o fies, têm recebido
agradecimentos nos pedidos feitos naquele local .
Quando os africanos chegavam à capital da província em São Luiz, eram
vendidos e encaminhados para fazendas do interior, principalmente da zona
rural do sertão maranhense. Quando chegavam principalmente a Caxias ou
Codó, organizavam-se em grandes grupos e cultuavam diversos ramos da
cultura religiosa, tais como: Mina, Jeje/Nagô e outros. E com essas
mudanças eles se aprofundaram nas misturas de várias culturas, perdendo
assim sua liturgia original, tanto no costume quanto na hierarquia. Criaram
novos mitos e confundem-se as origens dos encantados e dos voduns
cultuados em seus rituais... Exemplo: Os primeiros voduns trazidos pelos
africanos sofreram profundas modificações, podemos até chamar de
metamorfose, tanto nos nomes quanto nas formas de agir, assim como em
sua pureza original. Verificamos que nobres voduns da Família Daomeana
como ÀGÁSSÚ, passaram a ser cultuados como Dom Pedro Angassu.
Propriedade da família Codó. O Vodun Poly Boji, da família de Dambirá
(Sr. Acossi), responsável pelas doenças, principalmente a Varíola, torna-se
Légua Boji Boá da Trindade, perdendo sua nobre postura e ganhando o
título de brigão, bebedor. Légua se manifesta, ora como Vodun, ora como
Fidalgo, ou mesmo Caboclo Africano adotado por um Gentil - Dom Pedro
Angassu ora como Preto Velho ou Vodun Cambinda da Mata do terecô.
Existem duas Versões afirmativas para a Origem da Identidade Africana de
sua Légua Boji: É um Cambinda Vodun que venera São Bartolomeu e Santo
Expedito... E a outra é uma fusão de duas entidades daomeanas - Bara
(Exú) ou Légbá e Vodun Poli Boji, E este adora Santo Antônio. A
comparação com Légbá, nos lembra no meu texto acima que fala sobre a
banda Black and White. Se você leu, saberá do que estou falando, ou seja,
Ele é dotado de dois atributos, BOM e MAU. A família Légua subdivide-se
em 72 Correntes ou falanges e seus filhos e netos somam um total de 368 na
Família Codó.
Há uma base no povo da Légua que nem se fala. Ou porque sua base é
apenas um ouvido entre os membros do culto. E não há registro oficial
digitado ou publicado sobre tal assunto, que são OS PRÍNCIPES DA
FAMÍLIA DE LÉGUA - OS PRÍNCIPES DA FAMÍLIA DA LIGA.
Falamos então de SETE PRÍNCIPES, dos quais: JOAQUIM LÉGUA BOJI
BUA. LÉGUA BOJI BUA DA TRINDADE. CICERO LÉGUA BOJI
BUA. MANOEL LÉGUA BOJI BUA. DOUTOR LÉGUA BOJI BUA.
PEDRO PAULO LÉGUA BOJI BUA. ANTONIO LÉGUA BOJI BUA.
SÃO OS 7 LÉGUA LE-BARÁ (LE de Légua e BARÁ de Exu).
PRÍNCIPES DOS LÉGUAS BOJI. Conhecidos sistematicamente por serem
Exus. Por ser BARÁ. OS PRÍNCIPES DE ELEGUÁ - OS PRÍNCIPES DE
ELEGUÁ. Essas informações são importantes para os acertos e
fundamentos do Quarto Fechado. Uma coisa é o caboclo dizer que é
boiadeiro na boca do tambor. E a outra coisa é a fundação (santuário) feita
na sala secreta em cima do Médium manifestado com um dos guias
mencionados acima. Se alguém aqui não sabe ou não ouviu falar da relação
entre Légua e Exu, Vida e Morte, Branco e Preto. Eles precisam se
aprofundar em suas pesquisas e saber que o povo da Légua, além da fama,
guarda muitos segredos. Que só vai de boca a orelha dentro da sala de
fundamentos (quarto de fundamento).
Como já disse e repito, se estudarmos saberemos o que realmente os antigos
queriam dizer quando retratavam as léguas como Exú, como já disse várias
vezes, por ser um cara mau, briguento, de pouca conversa e muita porrada ,
eles fizeram uma relação por meio disso, relacionando Eleguá, que é um
Exú, com Légua Boji. E quando digo que vieram, quis dizer que foram
trazidos, Légua Boji é africano e já era muito conhecido lá nas bandas
caribenhas muito antes de aparecer nos terreiros maranhenses. Segundo seu
saudoso pai Euclides, em seus estudos, ainda criança, já ouvira de sua mãe
Maximiana que Légua foi expulso da África por causar discórdia,
atravessou o Atlântico e chegou a Trinidad, onde permaneceu por longo
período , mas continuou do mesmo jeito, se meteu em confusão e teve que
sair de lá também, e foi parar no Brasil, mas precisamente no Maranhão,
indo se estabelecer em Codó, onde se juntou à família de Dom Pedro
Angaço.
Posso concluir, então, que dentro desta família estão agrupados os
verdadeiros pecuaristas de Mina Nagô, também chamados, mas pouco
conhecidos aqui no Pará de NOBRES HUDAVISSE, tendo grande
influência Cambinda, porém, com saberes, cultura, e tradições dos
Mineiros.

Sua Légua quando chega


Vem fazendo Confusão
Arranca tamanca do boi, Sua Légua
Lugar de peso é no chão

Légua Boji – Também chamado de José Légua Boji Buá da Trindade, é o


pai e chefe da família Codó (Alguns dizem Rei da Família Codó); às vezes
confundido pelos estudiosos com Elegué vodum (de Cuba) e às vezes com
Tóy Poli Boji vodun. Ele é muito alegre, brincalhão e gosta de beber na
cabeça dos médiuns por onde passa, mas no Pará sempre se apresentou
como um homem sério, tradicional e carrancudo. Foi um grande destaque
na cabeça do Pai Prego (Astianax de Oxumarê), o primeiro paraense a ser
raspado no Candomblé, por volta de 1930. Seu Légua Boji é, por assim
dizer, o Rei do Codó e sua falange é do mata de Codó e Pindaré, gente de
Caxias de Dom Pedro Angasso, Rosário, Coroatá, Vale do Mearim, Vale do
Itapecuru e Vale do Pindaré. Teria sido Zé Bruno quem fundou a Vila de
Nazaré do Zé Bruno, que, incorporada à Sua Légua Boji Buá, batizou o
povo de Codo com nomes brasileiros, pois segundo ele, os Caboclos do
Codó têm o nome de Cambimda.

Ele é Zé Raimundo,
Zé Raimundo Camarada (bis)
Ele é Zé Raimundo morador da beira d'água (bis)
Não o chame de Raimundo
Ele não é seu “pariceiro” (bis)
Ele Caboclo do Codó
Ele é Malvado e Feiticeiro (bis) )
Zé Raimundo Boji Boá Sucena Trindade – o encantador de adultos,
conhecido como Zé Raimundo, é filho de Dom Manoel e da Rainha Rosa,
mas foi criado por Seu Légua Boji. É um grande conselheiro, encantados
extremamente equilibrados e que nunca cobra nada quando está em terra.
Usa calça arregaçada, chapéu de couro, palha (Panamá) e mesmo com as
baixas temperaturas do inverno paulista ele, assim como os irmãos, dança
sem camisa, apenas com toalhas estampadas jogadas no ombro. Apresenta-
se mais como mar do que terra. Desce na linha de cura mas não perde a
postura codoense. Dirige rituais e é considerada a melhor forma de
“arrumar a casa”. Gosta de música da terra. No Pará também é conhecido
como Rezingueiro e Zé Raimundo do Bogari, onde teria seu encantamento.
Outros dizem que era filho do Rei da Turquia que foi dado a Pedro Angasso
e criado por Légua, daí a grande amizade entre estas famílias e a permissão
dos nobres para entrar na família Codó, sendo ele filho do Rei de Turquia
nunca revelada nos fatos históricos narrados nos Terreiros e ficando apenas
nos alicerces de Boca para Ouvido, seu nome turco seria Djakilititan Ramos
de Alexandria, outros dizem que seu corpo estava preso na rede de pesca de
sua liga e quando foi tocado pelo Rei da Família Codó, acordou encantado e
foi adotado pelo mesmo. São várias histórias, uma coisa é certa. Quem tem
este encantado tem um grande guia espiritual, foi a maior curiosidade nem é
o meio de seu encantamento, mas uma de suas falas que vem como Mestre
Curador em mesa branca na Doutrina Espírita. Então, esse encantado, com
certeza, esconde muitos segredos.
Joana Gunça – É uma mulher encantada que surgiu em Caxias com mais
três irmãs, Ida Gunça, Cármen Gunça e Maria Gunça, todas consideradas
irmãs de Légua Boji. Possui postura Vodun que faz um bom trabalho na
linha de cura. Frequenta algumas casas de Umbanda como codoense e irmã
de Zé Raimundo.
Maria de Légua – também chamada de Maria Légua, madura encantada,
muito brincalhona e folião, mas com bom senso de direção de casa. Ela é
muito querida por seu pai Légua. Às vezes é confundida com a irmã, a
princesa Dona Maria José, também chamada de Florzinha.
Oscar de Légua – é um homem maduro do Codo, é sério sem ser
necessariamente antipático. Também chamado de Oscarzinho de Légua, é
filho da Rainha Dina e Légua Boji. Bebe vinho, mas também gosta de
cerveja. Ele é muito bonito e altivo, muitas vezes transformado em um
namorador charmoso e parecendo muito mais jovem, mas dentro da família
todos sabem que ele já tem uma certa idade.
Teresa de Légua – também conhecida como Dona Teresinha, está entre as
principais filhas de Seu Légua. Em geral, alterna momentos de muita
alegria com outros de grande senso de comando, impondo sua posição
dentro da família. É uma das maiores baiadoras do tambor – de – meu.
Muito equilibrada, nunca se confunde com a posição hierárquica da filha e,
ao lado de Chica Baiana e Antônio de Légua, está sempre com a encantada
Mariana.
Francisquinho da Cruz Vermelha – assim é conhecido o Francisquinho de
Légua. Maduro encantado, bastante machista, mas que não critica a opção
sexual dos filhos e não gosta de comentários sobre o assunto.
Zé de Légua – possivelmente o mais velho, ou um dos mais velhos da
família; muito confundido com seu pai José Légua Boji Buá. Ele é bastante
alegre e se chama Zezinho de Légua ou Zé de Légua. Tem poucos filhos e
figura entre os principais filhos homens da família.
Dorinha Légua – encanta-se jovem; às vezes chamada de Dorinha de
Légua, ela está entre as principais mulheres da família. Ela é muito alegre e
brincalhona; Ela é muito apegada ao pai.
Antônio de Légua – Também está entre os principais filhos de Seu Légua.
Mesmo assim, é brincalhão e folião, gosta de sair na bateria e é sempre o
encantado que faz visitas externas a outras Casas. Gosta mesmo é de ser o
chefe do Terreiro e comandar os rituais, sempre chegando na Frente, antes
mesmo de tocar o tambor.
Expedito de Légua – maduro; é um dos filhos principais e chefe da mina de
Axé de Mãe Solange de Abê (aqui em Belém do Pará), filha de Pai
Francelino. Brincalhão, gosta de beber e fumar, é muito paquerador de
mulheres. Apresenta-se sempre com um chapéu de couro e um cabresto de
corda de boi na mão. Diz-se que é um Caboclo “cuíra” (inquieto).
Lourenço de Légua – é um dos principais moradores do Codo, muito
próximo do pai. Em quase todos os lares desempenha um papel
fundamental na família. Sempre muito responsável e à frente dos rituais,
liderando e organizando. É extremamente alegre.
Aleixo Boji Buá – natural do Vale do Mearim, filial da Seu Légua; É novo e
meio chateado. Há crianças em algumas casas, mas ele desce muito pouco.
Zeferina de Légua – é pouco conhecida e também seria descendente de Seu
Légua no Vale do Itapecuru.
Pequenininho – é considerado o mais velho dos filhos de Seu Légua e é
muito importante na família. Dança muito na boca do tambor, gosta de usar
chapéu de palha e tem postura de homem bem maduro.
Manezinho Buá – também chamado de Manuel de Légua; está entre os
principais filhos de Seu Légua, tem grande poder de decisão, é
extremamente alegre e brincalhão. Ele adora conversar e cantar na bateria.
Zulmira de Légua – é uma filial da Seu Légua no Vale do Pindaré, que
surgiu em Manaus na Casa de Badé, sendo pouco conhecida, mas adora
turbantes e panos coloridos. Ela está encantada jovem.
Mearim – é natural do Codo que, apesar de não estar entre os principais,
comanda uma grande filial da Seu Légua na região do Vale do Mearim, de
onde tirou o nome. Ele pode cantar e dançar muito bem. É jovem e às vezes
quer ser um grupo independente. Ter sua própria família de cães de gado.
Folha Seca – é uma das principais; ele é encantado maduro; dizem ser filho
legítimo de Légua.
Maria Rosa – é uma das filhas pouco conhecidas de Seu Légua, tendo se
tornado popular no Pará. Muitas vezes é confundida com a Rainha Rosa,
senhora de Codó, de quem empresta as suas canções, fazendo algumas
adaptações. Ficou muito famosa na cabeça de Mãe Ester de Oiá (Belém).
Trabalhando na cura e aconselhamento, sempre muito obediente ao irmão
Antônio de Légua. Madura, toca tambor e é considerada muito bonita.
Caboclinho – ora vem para o Codó e ora para a família da Mata, sendo um
Caboclo “caminhante”, aquele encantado que vem em várias famílias. Ele é
jovem, alegre, gosta de dançar e beber.
João de Légua – um dos filhos pouco conhecidos de Seu Légua. Maduro,
alegre e algumas horas chamado Joãozinho de Légua. Ele tem poucos
filhos.
Joaquinzinho de Légua – também conhecido como Joaquim de Légua e faz
parte do grupo principal da família; algumas horas se confunde com
Joaquinzinho da Gama. Ele não tem muitos filhos.
Pedrinho de Légua – um dos principais filhos de Seu Légua; jovem, alegre
e, embora se chame Pedro, nunca admite ser chamado assim. Tem grande
importância na família por saber doutrinar velhas cantigas.
Dona Maria José – também conhecida como Dona Florzinha e ali se
apresenta como uma princesa, aliás, uma das raras de Codó e que mesmo
quando sua família se mudou para Codó se adaptando ao povo da terra e
perdendo sua condição de vodun , ela permaneceu princesa e diz "vodunsa".
Ela está entre as mulheres mais importantes de sua família, e alguns
garimpeiros a confundem com sua irmã Maria de Légua.
Coli Maneiro – é um dos principais filhos da Légua, sendo menino. Ainda
bem conhecido e tendo muitos filhos, ele é extremamente extrovertido.
Martinho – também está no grupo dos filhos principais de Seu Légua, mas,
ao contrário dos irmãos, tem poucos filhos. Já é adulto e seguindo a tradição
da família, gosta de fumar e beber.
Miguelzinho Buá – às vezes chamado de Miguelzinho de Légua; ele está
entre os quinze homens mais importantes da família. Ele ainda é bem
conhecido e tem muitos filhos. O seu verdadeiro nome é Miguel Boji Buá
(...). Tem o mesmo costume de seus irmãos.
Ademar – fecha o grupo dos filhos principais, mas é bastante desconhecido
entre os mineiros, exceto entre aqueles que mantêm em suas casas um culto
mais regular à família Codó. É maduro.
Zé Pretinho: Camaroeiro, muito respeitoso, sempre sério, comanda seções,
gosta de beber cachaça Pura, é sócio da Légua, é o pecuarista chefe da
nossa casa ACALUZ. Trabalha com aqueles que procuram melhorar sua
saúde e bem-estar. Ele sempre tem seu chapéu, seu rosário marrom, branco
e amarelo. Fuma cigarros normais. Mas ele gosta de beber da cabaça.
Além desses, também aparecem na família de Seu Légua: Seu Aderaldo de
Légua, mais conhecido como Aderaldo Boji Buá, além de Benedito de
Légua, Joventino de Légua, Marcelino de Légua e Nezinho de Légua.
Ainda existe um encantado chamado Antônio Luís, também chamado Corre
Beirada, que é filho de Dom Luís mas foi criado por Seu Légua, José
Pretinho que é Mestre do Catimbó, mas se confunde com Malandros da
Praça Mauá, além de muitos outros.
Como vimos, esta família é Comandada por Dom Pedro Angasso, suas
cores litúrgicas são: Marrom - Representando a Família do Vodun Jeje.
Vermelho - Representando Toy Badé, Amarelo - Representando Santa
Bárbara, Rainha do Codó. Branco - Representando a origem mística de
Lissá-Mawú. Cabe a cada casa montar suas guias e Terços, pois depende
muito da entidade, mesmo que eu diga que as balizas e assinaturas são
sempre marrons e amarelas, você dirá que na sua casa é branco. Aqui na
ACALUZ a codoense usa Marrom, Amarelo, Preto e Branco. Mas as cores
básicas são as descritas inicialmente. Bebem TIQUIRA, Cachaça, Vinhos e
outras bebidas destiladas, além de bebidas litúrgicas como AFURÁ,
VEVÉU e ALUÁ. Eles fumam charutos, cigarros e os mais velhos da
família fumam cachimbo. Usam lenços estampados, ora atados à cabeça por
baixo do chapéu, ora passados sobre os ombros e ora em volta do braço, uso
que confirma a sua origem mourisca.
O ABOBÓ é utilizado em seus rituais de fundação (Comida preparada com
feijão fradinho e azeite de dendê, em alguns lugares, como aqui no Pará, é
feito com Abóbora ou Moranga, Milho de Frango Cozido, Coco em
pedaços, guarnecido com tabaco picado , regado com azeite de dendê,
cachaça e mel), que são consumidos por crianças e entidades. Os animais de
sacrifício nos povoados são Galos ou Galinhas Mouriscas, Pombos-pedra, o
Chibarro (cabra). Adoram Santa Bárbara, como sua maior santa de devoção,
com o nome de Maria Bárbara Soeira com quem abrem ou encerram seus
rituais...
Légua tem seu nome ligado às lembranças do tempo do cativeiro como
protetor dos escravos e defensor deles nas lutas espirituais ou materiais com
os senhores. Os pretos viviam de roubar gado para comer e quando o dono
dava pela falta do boi, começava logo a espancá-los na senzala. Um dia um
negro estava sendo castigado, invocou a proteção de Légua e fez o Senhor
ver o boi no Curral e parar de puni-lo. Este episódio explica porque várias
doutrinas da Liga falam de bois.
Voduns Agregados, Boços e Cambinda: Dom Pedro Estrela, Corre Beirada,
Dom João de Aroeira, Boço Memeia, Boço Vandereji, João Soeira -
Cambinda Vodum, de origem austríaca, chefe da família Bastos, Rei de
Minas, equivalente a Xangô Dadá. E com ele sua família: Boço Fama, Boço
Jara, Dom José da Graça Lira, Onofre Caçador da Mata, Barão de
Anapueira, Rosa de Maceodá, Zé de Amar a Deus, Carrinho Doeira, Estrela
Ferreira do Céu... Um dos cuidadores aqui do grupo para zelar por esses
estudos... eu confio em vocês...
Seu Légua passou de seu ingresso na família de Codó, levando a benção de
Dom Pedro Angasso em respeito à recepção e como sinal de respeito,
passando assim a ser considerado filho e passou a ser reconhecido como tal.
E em agradecimento Pedro Angasso Seu Légua passou a ser o Chefe da
Linhagem dos Caboclos da Mata do Codó, sendo o principal representante.
E por ter vindo de Trinidad Légua Boji passou a se chamar Légua bojiboa
da Trindade. Seu maior segredo é que ele é COJUBA/ROTO (Tem os
testículos desenvolvidos de forma monstruosa, uma Hérnia) E por isso, não
tem filhos de sangue, apenas Criação e Respeito.

Toro e Cavalo Brabo ele amansa


Ele não tem medo (da Onça)
Ele Saiu da Mata
Foi de manhã bem sedo
Toro e Cavalo Brabo
Ele Faz é Brinquedo
Touro e Cavalo Selvagem ele doma
Ele não tem medo (do Jaguar)
Ele Saiu do Bosque
Era uma manhã muito seca
Touro e Cavalo Selvagem
Ele Faz Brinquedo

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