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TERESINA – PI
2018
DANIEL JUDVAN DA SILVA SOUSA
TERESINA – PI
2018
DANIEL JUDVAN DA SILVA SOUSA
BANCA EXAMINADORA
Prof.
Examinador Interno
Prof.
Examinador Externo
TERESINA – PI
2018
À Patrícia Ribeiro, minha âncora neste
mar bravio que é a vida.
À memória do meu irmão Paulo Sérgio.
AGRADECIMENTOS
A Deus, cujo cuidado permitiu que eu chegasse até aqui, nele nós existimos e
no movermos, reconhecendo essa máxima estendo os meus agradecimentos às
pessoas que sem elas, dificilmente estaria aqui de posse desse trabalho.
Aos meus filhos, Dhara e Emanuel, por terem aberto mão de alguns
compromissos sociais para que eu desse continuidade à minha formação.
A juventude da congregação Peniel, já que me inscrevi no Enem para de
alguma forma inspirá-los a estudar. Ressalto aqui a pessoa do Wellington, meu
amigo, o qual me emprestou os seus ouvidos para longas e intermináveis conversas
sobre a importância do meu curso, e o quanto ele contribui para prática ministerial.
Ao meu amigo Carlos Nascimento pelas vezes que digitou os meus trabalhos
enquanto eu tinha algum compromisso na igreja, por ser para mim a pessoa que
sempre me tira dos abismos tecnológicos, e por me fazer acreditar que de alguma
forma eu contribuo com a sua história.
Aos colegas de classe pela ajuda mútua nesse final de curso, ao Láryos,
parceiro de café, aos distraídos - Rômulo e Ivonete, pela sintonia que tivemos em
todos os trabalhos, e ainda, Andréa, que entrou nos distraídos nessa reta final e se
mostrou boa gente, sempre ajudando e se preocupando com os demais.
A todo corpo docente do curso de Letras Português do Campus Clóvis
Moura, em especial ao meu orientador prof. Dr. Diógenes Buenos Aires de Carvalho,
por me nortear nesse campo vasto que é a literatura. Também agradeço à profa.
Dra. Shirlei Marly Alves por nos inspirar, por ser acessível a todos, por nos guiar e
nos fazer pesquisadores.
Entre o físico e o virtual, entre mídias
antigas e novas não correm largos
oceanos, mas sim os fios de múltiplos
cruzamentos que precisamos aprender a
enxergar.
Lucia Santaella
RESUMO
Social network and technology allowed the production and circulation of poetic
manifestations, making it necessary to rethink, to know, to understand these
manifestations and the interactions that enabled them to be recognized as literature,
and thus, to be transliterated into a book. In a search for legitimacy of the actors of
this process, of the work and of the publishing market, this research was undertaken
that aimed to analyze the process of transliteration of poetic manifestations of the
typical social media supports for the book, specifically with the intention of
characterizing these poetic manifestations analyze the poems that circulate in the
@akapoeta profile that were transliterated and compare the two supports where
these poems circulate. In order to base the analysis theoretically, we used the
concepts of Pierry Lévy (1999) on cyberspace, by Jenkins (2009) and Santaella
(2012) for the approach to the culture of convergence where supports and
interactions intertwine, about art and participation of the subjects involved in the
creative process, we used Benjamin (1994), Lévy (1993) and Candido (2006). This
research is exploratory and bibliographical, since it analyzed the poetic
manifestations in Instagram, because it is a social phenomenon made possible by
interaction in sociais networks and by the production of poetry involve an inter-
relational dynamic in this channel. The poetic manifestations in the Instagram begin
unpretentiously, without great intentions and that become literary productions,
starting from the recognition of the cyber consumer that circulates the publications,
constituting itself like main agent of diffusion and legitimation of these
manifestations. The results of the analysis of viral poetry prove that these have
elements that characterize it as modernist poetry, its hybrid aspect talks with another
genre easily recognized by the public, unifying languages, combining them and
refuncionarando them. On the process of transliteration of the poetic manifestations
in the social network Instagram it was verified that although the poet +has stories and
poetic prose of more than two stanzas, what was for the support book were the prose
in the format of entry that already were fully accepted and recognized by the public. It
is concluded that the poetic manifestations came to be constructs of the
cyberliterature through the interactions and recognition of the cyberconsumer that
generated interest of the publisher, of possession of the considerations on the
cyberpoems and of the book published by the parallel publisher , were realized the
comparisons of the digital poems that were transliterated, from these, it was noticed
where they converge and diverge and it was verified that these literary productions
analyzed inaugurate new possibilities of use of the tools of publication and diffusion
of content in the social media proving the possibility of the transliteration through
adjustments that nothing diminishes the aesthetic and much less the sense, on the
contrary, enriches by the aggregation of constituent elements of the printed
support. The analyzes provided greater familiarity with the phenomenon, making it
more explicit and evidenced evidence of an editorial culture of digital in frank training
and revealed that Instagram can be considered a favorable tool not only for
entertainment, but for the production, transmission and dissemination of
contemporary authorial literature.
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................09
2 A POESIA EM TEMPOS DE CIBERCULTURA...............................................15
2.1 Ciberespaço, o espaço da cibercultura ..………………….……………..............15
2.2 Poesia: entre o digital e o impresso……………………………………................20
2.2.1 Poesia na rede social Instagram .....………………………………………...........23
2.2.2 Poesia autoral no Instagram ………………………………………………...........
24
3 AS MANIFESTAÇÕES POÉTICAS AUTORAIS NA REDE SOCIAL
INSTAGRAM E O PROCESSO DE TRANSLITERAÇÃO PARA O LIVRO
….............................…26
3.1 @akapoeta – conhecido como poeta................................................................26
3.2 Ressignificados: uma análise da poesia viral de João Doerdelein...................30
3.3 Transliteração da rede social para o livro ………………………....................... 38
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ………………………………………………........... 56
REFERÊNCIAS……….………………………………………………………........ 59
9
1 INTRODUÇÃO
1
O termo timeline é uma palavra em inglês que significa linha do tempo. Trata-se da ordem das
publicações feitas nas plataformas sociais online, ajudando o internauta a se orientar, exibindo as
últimas atualizações feitas pelos seus amigos.
2
Instapoeta, termo utilizado para designar os poetas que iniciaram suas criações na rede social
instagram.
10
mesmo antes de se tornarem livros, fruto da demanda advinda das redes sociais.
Tem-se a necessidade de compreender melhor o processo de extensão das poesias
virais dos Instapoetas para o suporte livro. Nesse sentido, esta pesquisa é um passo
importante para o reconhecimento dessa premissa.
Decidiu-se fazer esta pesquisa no campo da literatura devido a afinidade
adquirida no decorrer da graduação com essa área de pesquisa. Há também o
interesse em estudar os novos procedimentos de produção, recepção e transmissão,
bem como os suportes que engendram o fazer poético na contemporaneidade.
Essa pesquisa se tipifica como exploratória e bibliográfica, uma vez que
analisará as manifestações poéticas no Instagram, por se tratar de um fenômeno
social possibilitado pela interação nas redes sociais e pela produção de poesia
envolver uma dinâmica inter-relacional neste canal. Através dessas análises,
pretende-se levantar dados que possam proporcionar maior familiaridade com o
fenômeno, com vistas a torná-lo mais explícito.
Em relação ao objeto de análise, a pesquisa se caracteriza como descritiva,
pois se pretende através dos poemas digitais, analisar como se dá a transliteração
das manifestações poéticas autorais e os construtos dessas manifestações que
fazem com que esses poetas sejam escolhidos pelas editoras a estenderem a sua
obra dos suportes típicos das mídias sociais para o suporte livro e comparar através
de uma observação sistemática o poema que circulou na timeline das redes sociais
e que hoje figura na página de um livro.
Em relação à natureza dos dados, por não terem sido antes coletados,
caracterizam-se como primários – “eles são pesquisados com o objetivo de atender
às necessidades específicas da pesquisa em andamento” (MATTAR, 2005, p. 159).
Quanto à abordagem do objeto, a pesquisa é qualitativa, pois prevê a coleta
de dados a partir de interações sociais. Nesse tipo de interação há uma “relação
dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o
mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números”
(KAUARK, 2010, p. 26). Assim, tal abordagem está fortemente associada ao
conhecimento filosófico e à necessidade de interpretação subjetiva dos dados, já
que ao final, não se poderá quantificar dados.
Em relação aos dados para as análises dessa pesquisa, foram adotados
como objetos de estudo a produção literária do perfil @akapoeta, de João
13
meio em que os escritos literários estão agora imersos e quais são as suas relações
com nesse espaço.
Posteriormente, discorre-se sobre a importância que a escrita tem e como ela
foi se definindo como linguagem, passando da oralidade para a escrita visando
utilizar os mesmos parâmetros para descrever o cenário da poesia entre o digital e o
impresso. Através do subtópico poesia na rede social Instagram, pretende-se,
mostrar que o aplicativo além de ser um meio de produção, circulação, é um
amplificador da voz poética, fazendo reverberá-la pelo livro, uma vez que esta já
está consolidada na sociedade.
Para fundamentar teoricamente as análises foram usados os conceitos de
Pierry Lévy (1999) sobre ciberespaço, de Jenkins (2009) para abordar a cultura da
convergência, onde os suportes e as interações se entrelaçam. Foram utilizados
também os pressupostos de Santaella (2012) para fundamentar a relação - imagem
e texto na construção da poética digital, e no tocante a arte e a participação dos
sujeitos envolvidos no processo criativo e disseminação dos poemas, recorreremos
a Benjamin (1994), a Lévy (1993) e a Cândido (2009).
No capítulo seguinte, foi realizado um levantamento bibliográfico da vida
poética do autor, visando uma maior compreensão de quem está por trás da poesia
que servirá de corpus para esta pesquisa, bem como algumas considerações sobre
o objeto ora investigado visando esclarecer que o construto literário é fruto das
interações do instapoeta e de seus seguidores. Este tópico também objetiva um
primeiro contato de apresentação da poesia do autor, para que haja uma maior
compreensão das análises que se seguem.
O tópico seguinte tem o objetivo de analisar os recursos poéticos utilizados na
construção do poema, aspectos sonoros, visuais, semânticos e tipográficos são
considerados. Por fim, o último tópico é dedicado à descrição do livro, à comparação
entre os poemas que figuraram na timeline da rede social Instagram do autor, sendo
que estes poemas foram transliterados para o suporte livro. Assim observa-se a
trajetória de como a editora que o publicou organizou as manifestações poéticas, já
que no Instagram é aleatória.
O conceito proposto por Lévy (1999) traz o fato de o ciberespaço ser o único
meio que possibilita a comunicação e a interação de muitos para muitos, em uma
escala global. Sob essa perspectiva o ciberespaço é concebido como um ambiente
gerador de infinitas possibilidades interativas, um novo espaço de comunicação, de
sociabilidade, de produção e de reconfiguração cultural, e não apenas, mais um
canal de transação e transmissão de informações e de conhecimento.
O resultado das interações sociais e a produção advinda dessas ações no
ciberespaço, o teórico denomina de cibercultura.
qual cada ser humano pode contribuir” (LÉVY, 1999, p.126). Quanto mais o
ciberespaço se estende, mais universal se conforma e menos totalizável se torna em
suma, o programa da cibercultura é o universal sem totalidade o que constitui a
essência paradoxal da cibercultura.
Lucia Santaella (2012) acredita que o espaço virtual gerado pelas redes de
computadores funciona como um novo meio de produção e propagação da literatura
digital e que as oportunidades geradas pela virtualização, expandem o conceito de
literatura em função da emergência de novas formas de criação literária. Para a
autora, é importante perceber a literatura digital, em que ela cruza e em que ela
diverge da literatura impressa.
Assim, aprofundando esses diálogos sobre o conceito de ciberliteratura Piret
Viires (2006, p. 2), citado por Santaella (2012, p.231), esclarece que o termo
funciona para designar pelo menos três ramos de produção:
Sob este prisma, urge uma revisão da funcionalização posta, e até mesmo,
uma ressignificação dos antigos meios comunicacionais; para que esses se tornem
coexistentes e se agreguem à “ecologia midiática”, embora os novos meios sejam
mais visíveis e não extingam os que vieram antes. Antes, coexistem dinamicamente
e apresentam-se simultâneos no cenário das mídias digitais das quais surgiu a
cibercultura.
Henry Jenkins (2006) chama de cultura da convergência o fluxo de conteúdos
através de múltiplos suportes midiáticos. Para o pesquisador, a circulação de
conteúdo - por meio de diferentes sistemas midiáticos, se dá, não pela inovação
tecnológica, mas sim, pela participação ativa dos consumidores, tendo em vista que
a convergência não é o processo tecnológico que une múltiplas funções dentro dos
mesmos aparelhos, mas sim constitui-se como a representação de uma
transformação cultural.
Para o autor, “convergência é uma palavra que consegue definir as
transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de
quem está falando e do que imaginam estar falando” (JENKINS, 2006, p. 22). O
teórico trata da relação entre três conceitos – convergência dos meios de
comunicação, cultura participativa e inteligência coletiva. Para ele, há uma
confluência entre os suportes interativos e os atores envolvidos no ciberespaço.
Tanto Lévy (1999) quanto Jenkins (2009) ressaltam que não são as inovações
tecnológicas que modificam e reestruturam a sociedade. Na mesma discussão
destacam que a recepção e o uso dessas inovações fazem parte um processo
mental, individual onde o indivíduo é o agente social da mudança.
sobretudo a literária.
O que é dito por um poeta que tem como meio de circulação para sua obra a
timeline das suas redes sociais, é reverberado através de repost dos
ciberconsumidores. É nesse cenário que o poema digital nasce e se solidifica, pois a
produção dos livros que trazem em sua gênese a compilação dos poemas mais
curtidos, portanto mais celebrados, é nativa dos mesmos meios nos quais essa
oralidade secundária nasceu.
Desse modo as esferas dessa influência atuam tanto na produção, quanto no
consumo. O estatuto de verdade que antes era atribuído à fala, agora é o livro, pois
o que foi escrito e impresso não poderá ser refutado, a menos que seja queimado.
Umberto Eco reitera que não se trata apenas de uma adequação direta da
poesia aos novos suportes. Fazem-se necessárias mutações e transmutações para
que a função poética predomine nesses novos meios.
Segundo Jorge Luiz Antônio (2010), a poesia digital é configurada pelo uso da
palavra, imagem estática e/ou animada, som, hipertextualidade, hipermídia e
interatividade, formatada pela linguagem de programação do computador. A
presença da palavra nessa nova poesia não implica no predomínio da semântica
verbal. Nela, elementos de todas as linguagens operam no estabelecimento dos
significados, foi a partir da antologia de poemas, selecionada pelo autor, que se
chegou a essa definição.
23
Esse tipo de leitura nasce da relação íntima entre o leitor e o livro, leitura de
manuseio, da intimidade, em retiro voluntário num espaço retirado e privado,
que tem na biblioteca seu lugar de recolhimento, pois o espaço de leitura
deve ser separado dos lugares de um divertimento mais mundano
(SANTAELLA, 2004, p. 23).
o qual, através das redes sociais atribui novos sentidos para as palavras. Nessas
releituras poéticas suas experiências pessoais servem de fundo para a criação de
verbetes. As definições são criadas conforme as situações que o poeta vive no dia a
dia. Embora ele tenha conseguido uma certa visibilidade em outras redes sociais, foi
no Instagram que o projeto de ressignificação de palavras conseguiu despertar o
reconhecimento do público e o interesse das editoras.
Em menos de um ano seus experimentos se espalharam no ciberespaço
conquistando milhares de seguidores. Desse sucesso nasceu O livro dos
Ressignificados. Veremos a seguir os verbetes poéticos das palavras “Insônia”
(Figura 1), “Sol” (Figura 2) e “Poeta” (Figura 3).
FIGURA 1 – Insônia
FIGURA 2 – Sol
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FIGURA 3 – Poeta
FIGURA 4 – Áries
Sobre essas interações que deram origem à série horóscopo, João Doerdelin
esclarece em uma entrevista6:
6
Entrevista concedida à Bruna Sabarense para o site metrópoles. Disponível em:
https://www.metropoles.com/vida-e-estilo/comportamento/sucesso-na-web-com-definicoes-de-palav
ras-akapoeta-e-brasiliense. Acesso em: 22/09/2018.
30
dispositivos de criação coletiva, mais típica ela será da cibercultura” (LEVY, 1999, p.
149).
Nesse sentido, como corpus da pesquisa, analisaremos nos próximos tópicos
os poemas digitais de João Doederlein que têm em sua gênese as interações
sociais, e que foram transliterados para o suporte livro.
[…]. O conceito é a medida do verso bem feito. Isto faz com que o poeta
atenue o efeito sonoro e reforce o significado, o que pode efetivamente dar
lugar a versos totalmente desfigurados, que não passam de prosa alinhada
em segmentos de tamanho variável (CANDIDO, 2006, p.97).
Ainda sobre a métrica do verso, embora livre, ele tem o seu ritmo, “pois todo
verso apresenta andamento melódico, oscilação entre sílabas átonas e tônicas”
(CORTEZ; RODRIGUES, 2009, p. 85). O ritmo nos poemas do autor está
intimamente ligado às escolhas das palavras usadas, às pausas causadas pelas
vírgulas, e aos pontos finais entre um verso e outro, que orientam o leitor para a
conclusão de uma unidade de significados e o começo de outra.
FIGURA 5 – Crush
33
“pra não dar like”. A supressão do fonema “a” na preposição, dá um tom coloquial,
típico da fala, gerando proximidade e identificação.
O instapoeta retoma o significado da gíria novamente em uma elipse, ao dizer
que crush “é o nome que se dá aos ois difíceis de se falar”, implicitamente - por
vergonha ou por timidez. O poema finaliza com o sentido estético, ao atribuir o som
da palavra crush em comparação a uma onomatopeia, quando algo se quebra, e
dramático quando diz que é o som que o peito faz, ao ver seu crush com outra
pessoa.
FIGURA 6 – Interesse
O jogo denotativo - “a cor dos seus cabelos”, conotativo – “timbre da sua voz”,
constrói uma linha abrangente desse interesse que vai do que é próprio da
materialidade, cabelos, até aquilo que é próprio dos sentidos, visão e audição, para
demarcar a sua imprecisão. “É aquilo que me invade os olhos quando eu vejo você e
esqueço que o resto do mundo inteirinho tá ali do lado” ou seja, eu me interesso pelo
o que vejo em você e pelo o que você me faz sentir ao te ver.
A palavra “invade” traz a ideia de como acontece a recepção da imagem da
pessoa amada, e que a partir dessa invasão, o mundo perde a importância. O termo
“inteirinho” é usado como uma gradação servindo para amplificar o sentido de
mundo. Ao mesmo tempo, a expressão “tá ali do lado” cria a imagem de que esse
mundo é pequeno e transporta o espaço da narrativa que antes era interior,
introspectivo, para o espaço orbital, formando uma nova realidade semântica de
caráter simbólico. “Indicação sensorial de uma realidade imaginada” (CANDIDO,
2006, p.155).
O instapoeta conclui o poema dando um sentindo material, “moeda”, à palavra
interesse, em uma metáfora, uma “representação corporificada de um conceito
abstrato” (CANDIDO, 2006, p.125).
FIGURA 7 – Lembrança
FIGURA 8 – Lágrima
O verbo ser em sua forma “é” assume a função rítmica introduzindo o leitor às
orações significativas. Nesse sentido, enfoca-se o ritmo cristalizado, que não se
fundamenta na tradição versificatória clássica (métrica, acento tônico, etc.), mas
no domínio de construções sintáticas originárias de um falar popular cotidiano que
inclui repetições, paralelismos.
O poeta não fala do ritmo como um sentimento vago, subjetivo da
sonoridade do poema, mas de algo materializado, presente, e fisicamente
i m p r e s s o nas palavras e n a s i m a g e n s e v o c a d a s p e l o s versos.
A figura do mar traz a sensação de depuração e de purificação. A locução
adverbial de tempo, “às vezes”, conota a presença da lágrima em tempo de tristeza
e em tempo de alegria, o que se constitui em um paralelismo. “Nossa alma chove
38
pra fora do corpo”. A lágrima que antes era fragmento, se avoluma com a figura da
chuva em um expurgo interior, uma liberação de impurezas levadas pelas correntes
das águas da chuva “Lágrimas” (Figura 8).
Em: “é a prova da nossa humanidade”, equivale à personificação dos
conceitos expostos anteriormente, que as lágrimas são intrínsecas ao ser humano.
Na linha de fechamento “é quando nosso espírito racha e a gente vaza”, tem-se um
pensamento poético que em si é ilógico, pois se baseia na alteração dos significados
das palavras com intuito de finalizar o poema dando um sentido geral claro e
expressivo, a fim de colaborar para o efeito poético total (CANDIDO, 2006).
FIGURA 9 – Nó
7
Entrevista Disponível em: https://www.youtube.com/watch?time_continue=750&v=qtjb4gzvss e
https://www.senado.leg.br/noticias/TV/Video.asp?v=452409 Acesso em 15\01\2019.
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as palavras ressignificadas a frente. O livro foi publicado pela editora Paralela, que é
uma divisão voltada para cultura pop da Cia de Letras.
Para um melhor entendimento sobre as mutações que engendram os poemas
digitais e a sua transliteração para o livro, empreendemos uma investigação
comparativa dos elementos presentes nos suportes, bem como nossa análise.
Nesse sentido, apresentamos a seguir um “quadro-resumo” (Quadro 1) dos
elementos que compõem o projeto visual de um livro, de acordo com Macêdo
(2013), e que serão levados em consideração na análise comparativa deste
trabalho.
parênteses, tem seu formato modificado no livro, pois há um espaço entre o título e
o texto.
O espaçamento entre o título e texto são distintos em ambos, isso acontece
porque no Instagram a plataforma é de imagens quadradas, então, a disposição do
texto tem que ficar centralizada, fazendo com que o espaçamento se torne maior, há
portanto, uma harmonia entre o título e o texto. No livro essa harmonia se conquista
pela centralidade dos poemas nas páginas, tendo em vista que todas as bordas
superiores são de igual tamanho.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Enfim, entre o físico e o virtual, entre mídias antigas e novas não correm
largos oceanos, mas sim os fios de múltiplos cruzamentos que precisamos aprender
a enxergar” (SANTAELLA, 2009, p. 10). À ciência cabe o desemaranhar desses fios.
REFERÊNCIAS
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2006a.
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Herom e CARDOSO, João. (org.). Mutações da cultura midiática. São Paulo:
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Janeiro: Editora Record, 2010.
LÉVY, Pierre. Ciberliteratura. Tradução: Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora
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https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/12/27/Quem-s%C3%A3o-os-
%E2%80%98instapoetas%E2%80%99-que-fazem-sucesso-publicando-poemas-no-
Instagram. Acesso em: 11 de mai. 2018.
SALLES, Fritz Teixeira de. Das razões do modernismo. Rio de Janeiro: ed.
Brasília, 1974.
SANTAELLA, Lucia. Nas encruzilhadas das mídias. Prefácio. In: SANTOS, Roberto.
VARGAS, Herom; CARDOSO, João. (orgs). Mutações da cultura midiática. São
Paulo: Paulinas, 2009. p. 07-10.
SILVEIRA, Daniel. Poesia para curtir: jovens poetas e escritores fazem sucesso em
redes sociais. Correio*, Bahia. 01 de março 2016. Bazar. Disponível em:
https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/poesia-para-curtir-jovens-poetas-e-
escritores-fazem-sucesso-em-redes-sociais/. Acesso em: 17 mai. 2018.
VIEIRA, Flaviano. Perspectiva de leitura para poéticas. 2013. 149 fl. Tese
(Doutorado) - Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal da Paraíba,
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ital/article/view/29229. Acesso em: 10 maio 2018.