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Matemática Discreta

Licenciatura em Matemática - 1o ano


teste - 7 mar 2018 Resolução

Justifique convenientemente todas as suas respostas.

1. Determine q, r ∈ Z tais que −345 = 7q + r e 0 ≤ r < 7.

Resolução. Efetuando a divisão inteira de 345 por 7, obtemos

345 = 7 × 49 + 2,

pelo que

−345 = 7 × (−49) − 2 = 7 × (−49) − 7 + 7 − 2 = 7 × (−50) + 5.

Assim, temos que q = −50 e r = 5. O Algoritmo da Divisão garante a unicidade destes


inteiros.

2. Mostre que, para todo o inteiro a, um dos inteiros a, a + 2 ou a + 4 é divisı́vel por 3.

Resolução. Seja a ∈ Z. Pelo algoritmo de divisão, temos que existe k ∈ Z tal que

a = 3k ou a = 3k + 1 ou a = 3k + 2.

Assim, temos que:

• se a = 3k, então a é divisı́vel por 3;


• se a = 3k + 1, então a + 2 = 3k + 1 + 2 = 3k + 3 = 3(k + 1), com k ∈ Z, pelo que a + 2
é divisı́vel por 3;
• se a = 3k + 2 , então a + 1 = 3k + 2 + 1 = 3(k + 1), com k + 1 ∈ Z, pelo que a + 1 é
divisı́vel por 3.

3. Sejam a e d dois números naturais tais que d = m.d.c.(a, 30) e 3d = m.d.c.(a, 36). Mostre
que 4 ∤ a.

Resolução. Suponhamos que 4 | a. Como 4 | 36, temos que 4 | m.d.c.(a, 36), ou seja, 4 | 3d. Como 4 e
3 são primos entre si, podemos concluir que 4 | d. Mas, d = m.d.c.(a, 30), pelo que d | 30.
Assim, pela transitividade da relação “divide”, temos que 4 | 30, o que é um absurdo. O
absurdo resulta de termos suposto que 4 | a logo, 4 ∤ a.

4. Sejam a, b e c números inteiros não nulos. Mostre que


a
a | bc ⇔ | c.
m.d.c.(a, b)

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Resolução. Suponhamos, primeiro, que a | bc. Então, bc = ak, para algum k ∈ Z. Dividindo ambos os
membros por m.d.c.(a, b), temos que
b a
c= k.
m.d.c.(a, b) m.d.c.(a, b)
b a a
Como , ∈ Z, concluı́mos que o inteiro divide o produto de
m.d.c.(a, b) m.d.c.(a, b) m.d.c.(a, b)
b a b a
inteiros c. Como m.d.c.( , ) = 1, temos que |
m.d.c.(a, b) m.d.c.(a, b) m.d.c.(a, b) m.d.c.(a, b)
c.
a
Reciprocamente, suponhamos que | c. Então, existe k ∈ Z tal que
m.d.c.(a, b)
a
c= k,
m.d.c.(a, b)
pelo que
a b
bc = b k=a k = ak′
m.d.c.(a, b) m.d.c.(a, b)
b
com k′ = k ∈ Z. Logo, a | bc.
m.d.c.(a, b)
5. Considere os números 161 e 163.

(a) Mostre que apenas um dos dois números é primo.


Resolução. Como 122 = 144 < 161 < 163 < 169 = 132 , temos que 161 é primo se e só se p ∤ 161
para todo p ∈ {2, 3, 5, 7, 11} e 163 é primo se e só se p ∤ 163 para todo p ∈ {2, 3, 5, 7, 11}.
Temos:
• 161 = 7 × 23, pelo que 161 não é primo;
• 163 = 2 × 81 + 1, 163 = 3 × 54 + 1, 163 = 5 × 32 + 3, 163 = 7 × 23 + 2 e
163 = 11 × 14 + 9, pelo que p ∤ 163, para todo p ∈ {2, 3, 5, 7, 11}. Logo, 163 é um
número primo.

(b) Dê exemplo, caso exista, de inteiros m e n tais que 1 = 161m + 163n.
Resolução. Como 163 é um número primo e 163 ∤ 161, temos que 1 = m.d.c.(161, 163) e, como tal,
existem inteiros m e n tais que 1 = 161m + 162n. Para determinar valores possı́veis para
m e n, recorremos ao Algoritmo de Euclides. Efetuando as sucessivas divisões inteiras,
temos:
• 163 = 161 × 1 + 2;
• 161 = 2 × 80 + 1.
Destas divisões, temos que:
• 1 = 161 − 80 × 2;
• 2 = 163 − 1 × 161.
Assim,
1 = 161 − 80 × 2
= 161 − 80 × (163 − 1 × 161)
= 81 × 161 − 80 × 163
= 161 × 81 + 163 × (−80).
Podemos, então, considerar, m = 81 e n = −80.

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6. Sejam a, b ∈ Z. Mostre que se m.d.c.(a, b) = p, para um certo primo p, então, m.d.c.(a3 , b) ∈
{p, p2 , p3 }.

Resolução. Como p = m.d.c.(a, b), existem x0 , y0 ∈ Z tais que p = ax0 + by0 . Então,

p3 = (ax0 + by0 )3
= a3 x30 + 3a2 x20 by0 + 3ax0 b2 y02 + b3 y03
= a3 x30 + b(3a2 x20 y0 + 3ax0 by02 + b2 y03 ).

Como x30 ∈ Z e 3a2 x20 y0 + 3ax0 by02 + b2 y03 ∈ Z, temos que

m.d.c.(a3 , b) | p3 .

ou seja,
m.d.c.(a3 , b) ∈ {1, p, p2 , p3 }.

Se m.d.c.(a3 , p) = 1, temos que existem x, y ∈ Z tais que 1 = a3 x + by, pelo que 1 =


a(a2 x) + by, com a2 x, y ∈ Z. Logo, p = m.d.c.(a, b) | 1, o que é absurdo, uma vez que p é
primo. Assim, m.d.c.(a3 , p) 6= 1 e, portanto, m.d.c.(a3 , b) ∈ {p, p2 , p3 }.

7. Determine as soluções inteiras da equação diofantina 42x + 90y = −12.

Resolução. Começamos por observar que m.d.c.(42, 90) = 6 e que 6 | (−12). Assim, a equação admite
soluções inteiras.

Mais ainda, como 6 = 42 × (−2) + 90 × 1, temos que −12 = −2 × 6 = 42 × 4 + 90 × (−2).


Assim, uma solução particular da equação dada é

(x0 , y0 ) = (4, −2).

Logo, (x′ , y ′ ) é solução geral da equação se


(
x′ = 4 + 15t
,t ∈ Z .
y ′ = −2 − 7t

8. O Carlos está a comprar bebidas para um jantar entre amigos e tem 68 euros para gastar. Na
loja existe a opção do pack de latas por 12 euros ou do pack de garrafas por 8 euros. De
quantas maneiras pode ele comprar as bebidas sabendo que gasta todo o dinheiro disponı́vel?

Resolução. A determinação da resposta ao problema passa por resolver a equação diofantina 12x+8y = 68.
Temos que m.d.c.(12, 8) = 4 e que 4 | 68, já que 68 = 4 × 17. Assim, a equação admite
soluções inteiras.

Mais ainda, como 4 = 12 × 1 + 8 × (−1), temos que 68 = 17 × 4 = 12 × 17 + 8 × (−17) e,


portanto, uma solução particular da equação dada é

(x0 , y0 ) = (17, −17).

Assim, (x′ , y ′ ) é solução geral da equação se


(
x′ = 17 + 2t
,t ∈ Z .
y ′ = −17 − 3t

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Para dar resposta ao problema, consideramos x′ ≥ 0 e y ′ ≥ 0. Temos
( (
17 + 2t ≥ 0 t ≥ − 17
2 = −8, 5
,t ∈ Z ⇔ 17
, t ∈ Z ⇔ t ∈ {−8, −7, −6}.
−17 − 3t ≥ 0 t ≤ − 3 < −5, 6

O Carlos pode comprar as bebidas de três maneiras diferentes.

As três maneiras são dadas pelas soluções não negativas do problema, que são:

• Para t = −8, temos x′ = 1 e y ′ = 7;


• Para t = −7, temos x′ = 3 e y ′ = 4;
• Para t = −8, temos x′ = 5 e y ′ = 1.

Cotação: 1. 1,5 2. 2,0 3. 2,5 4. 2,5

5. 2,0+2,0 6. 2,5 7. 2,5 8. 2,5

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