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Universidade do Minho

Curso - Matemática
Departamento de Matemática

Álgebra Linear I - sugestões para a resolução dos exercı́cios

Nota: Vou resolver completamente alguns dos exercı́cios que foram propostos/feitos
nas aulas teórico-práticas

3 Espaços vectoriais

É provável que em alguns dos exercı́cios eu me tenha enganado nas contas ou me tenha esquecido de algum caso.
Se alguém encontrar algum erro agradeço que me diga. Nesse caso eu farei a correcção e colocarei na “blackboard” a
nova versão do ficheiro.
3.1. Vou apenas apresentar o que significam os axiomas de espaço vectorial aplicado a este caso

A1. ∀(a, b), (c, d) ∈ R2 , (a, b) + (c, d) = (c, d) + (a, b);


2
A2. ∀(a, b), (c, d), w ∈ R , ((a, b) + (c, d)) + (e, f ) = (a, b) + ((c, d) + (e, f ));
A3. ∃(a0 , b0 ) ∈ R ∀(a, b) ∈ R2 ,
2
(a, b) + (a0 , b0 ) = (a0 , b0 ) + (a, b) = (a, b);
2 2
A4. ∀(a, b) ∈ R ∃(c, d) ∈ R , (a, b) + (c, d) = (c, d) + (a, b) = (a0 , b0 );
2
M1. ∀λ, µ ∈ K ∀(a, b) ∈ R , (λ + µ) (a, b) = (λ (a, b)) + (µ (a, b));
2
M2. ∀λ ∈ K ∀(a, b), (c, d) ∈ R , λ ((a, b) + (c, d)) = (λ (a, b)) + (λ (c, d));
2
M3. ∀λ, µ ∈ K ∀(a, b) ∈ R , λ (µ (a, b)) = (λ · µ) (a, b);
2
M4. ∀(a, b) ∈ R , 1 (a, b) = (a, b).

Os axiomas A1., A2., A3. e A4. são obviamente satisfeitos, uma vez que se trata da soma usual em R2 .
Os outros 4 axiomas podem escrever-se na forma
M1. ∀λ, µ ∈ K ∀(a, b) ∈ R2 , ((λ + µ)a, 0) = (λa, 0)) + (µa, 0));
2
M2. ∀λ ∈ K ∀(a, b), (c, d) ∈ R , (λ(a + c), 0) = (λa, 0) + (λc, 0));
2
M3. ∀λ, µ ∈ K ∀(a, b) ∈ R , (λ(µa), 0) = ((λµ)a, 0);
2
M4. ∀(a, b) ∈ R , (1a, 0) = (a, b).
3.2. a) Os primeiros 4 axiomas são satisfeitos (ver pergunta anterior). Os outros podem escritos na forma
M1. ∀λ, µ ∈ K ∀(a, b) ∈ R2 , ((λ + µ)a, b) = (λa, b)) + (µa, b));
M2. ∀λ ∈ K ∀(a, b), (c, d) ∈ R2 , (λ(a + c), b + d) = (λa, b) + (λc, d));
M3. ∀λ, µ ∈ K ∀(a, b) ∈ R2 , (λ(µa), b) = ((λµ)a, b);
M4. ∀(a, b) ∈ R2 , (1a, b) = (a, b).
Deste modo, apenas o axioma M1 não é satisfeito.
3.4. Sejam V um conjunto não vazio e + : V × V → e · : K × V → V satisfazendo os axiomas A2., A3., A4., M1.,
M2., M3. e M4. e vejamos que também satisfaz o axioma A1..
Comecemos por notar que, se w ∈ V então 2 · w = w + w. Isto acontece porque

w+w = (1 · w) + (1 · w), por M4


= (1 + 1) · w, por M1
= 2 · w.
Sejam u, v ∈ V . Temos, pelo que vimos acima e por M2,
2 · (u + v) = (u + v) + (u + v), pelo que vimos acima
2 · (u + v) = (2 · u) + (2 · v), por M2 = (u + u) + (v + v), pelo que vimos acima.

Assim, usando M3., u + v + u + v = u + u + v + v. Seja u0 o elemento neutro da operação · (axioma A3.) e


sejam u1 , v1 ∈ V , dados pelo axioma A4. tais que u1 + u = u0 e v + v1 = u0 .
Da igualdade u + v + u + v = u + u + v + v obtemos, u1 + u + v + u + v + v1 = u1 + u + u + v + v + v1 ou seja
u0 + v + u + u0 = u0 + u + v + u0 , que é o mesmo que v + u = u + v.
3.6. Vou chamar V aos conjuntos referidos.

a) (0, 1, 0) ∈ V e 2(0, 1, 0) = (0, 2, 0) 6∈ V ; e) (1, 0, 0), (0, 1, 0) ∈ V e (1, 0, 0) + (0, 1, 0) =


b) (1, 0, 0) ∈ V e (−1)(1, 0, 0) = (−1, 0, 0) 6∈ V ; (1, 1, 0) 6∈ V ;
c) (1, 0, 0) ∈ V e 2(1, 0, 0) = (2, 0, 0) 6∈ V ; f) (1, 1, 0) ∈ V e 2(1, 1, 0) = (2, 2, 0) 6∈ V ;
√ √
d) (0, 0, 1) ∈ V e (−1)(0, 0, 1) = (0, 0, −1) 6∈ V ; g) (1, 0, 0) ∈ V e 2(1, 0, 0) = ( 2, 0, 0) 6∈ V .

3.10. Vamos resolver o sistema, nas incógnitas reais x, y, z, (1, 2, −5) = x(1, 1, 1) + y(1, 2, 3) + z(2, −1, 1).
Temos assim sucessivamente (vou partir do princı́pio que os passos dados são fácies de entender)
   
 x + y + 2z = 1  x + y + 2z = 1  x + y + 2z =1  x =8
x + 2y − z = 2 y − 3z = 1 y − 3z =1 y = − 195
x + 3y + z = −5 2y − z = −6 5z = −8 z = − 85 .
   

19
Assim (1, 2, −5) = 8(1, 1, 1) − 5 (1, 2, 3) − 85 (2, −1, 1).
3.12. Para k ∈ R, o vector (1, −2, k) é combinação linear dos vectores (3, 0, −2) e (2, −1, −5) se e só se, existem
x, y, z ∈ R tais que
(1, −2, k) = x(3, 0, −2) + y(2, −1, −5).

Somos assim levados a encontrar k ∈ R tal que o sistema



 3x + 2y = 1
−y = −2
−2x − 5y = k

tem solução. Vamos então colocar o sistema em escada, embora neste caso “não seja necessário”. Temos assim,
sucessivamente (vou partir do princı́pio que os passos dados são fácies de entender)
  
 3x + 2y = 1  3x + 2y = 1  x + 2y = 1
−y = −2 −y = −2 −y = −2
−2x − 5y = k −11y = 2 + 3k 0 = 24 + 3k
  

Concluı́mos assim que o sistema tem solução se e só se 24 + 3k = 0, ou seja, k = 8.


3.13. b) (a, b, c) é combinação linear dos vectores (2, 1, 0), (1, −1, 2) e (0, 3, −4) se e só se existem x, y, z ∈ R tais
que x, y, z ∈ R tais que

 2x + y =a
(a, b, c) = x(2, 1, 0) + y(1, −1, 2) + z(0, 3, −4) ou seja x − y + 3z = b
2y − 4z = c

Vamos então colocar o sistema em escada. Temos assim, sucessivamente (vou partir do princı́pio que os
passos dados são fácies de entender)
 
 2x + y =a  2x + y =a
3y − 6z = a − 2b 3y − 6z = a − 2b
2y − 4z = c 0 = 2a − 4b − 3c
 

Concluı́mos assim que (a, b, c) satisfaz as condições pedidas se e só se 2a − 4b − 3c = 0.

2
3.17. O que se prende é encontrar x, y, z ∈ R não todos nulos tais que

(α u − β v)x + (γ v − α w)y + (β w − γ u)z = 0 ou seja (αx − γz)u + (−βx + γy)v + (−αy + βz)w = 0.

Uma possibilidade é encontrar x, y, z ∈ R não todos nulos tais que



 αx − γz = 0
−βx + γy = 0
−αy + βz = 0.

Resta agora resolver este sistema, em ordem a x, y, z. Em princı́pio iremos separar em casos consoante α, β e/ou
γ são nulos. E veremos que em qualquer dos casos o sistema tem sempre pelo menos um grau de liberdade.
Se α 6= 0, temos sucessivamente
 
 αx − γz =0  αx − γz =0 ß
αx − γz =0
−βx + γy =0 αγy − βγz =0
−αy + βz = 0.
−αy + βz = 0. −αy + βz = 0.
 

e o último sistema tem um grau de liberdade.


Se α = 0, temos
 ß
γy =0

 −βx + γy =0

 se β = 0

 −γz = 0
−γz =0 ß

βz =0
 −βx + γy =0
se β 6= 0



βz =0

e, portanto, os sistemas têm pelo menos um grau de liberdade.


3.22. Uma vez que se trata de um conjunto com 3 elementos de um espaço vectorial de dimensão 3, basta mostra que
o conjunto é livre. Vamos então ver se o sistema, nas incógnitas reais x, y, z,

x(1, 1, 1) + y(0, 1, 1) + z(0, 1, −1) = (0, 0, 0) é determinado.

Temos assim sucessivamente


  
 x =0  x =0  x =0
x+y+z =0 y+z =0 y+z =0
x+y−z =0 y−z =0 2z =0
  

Deste modo a única solução é x = y = z = 0.


Uma outra alternativa de resolução pode ser a seguinte (usando a Proposição 3.23 repetidamente)

h(1, 1, 1), (0, 1, 1), (0, 1, −1)i = h(1, 0, 0), (0, 1, 1), (0, 1, −1)i porque (1, 0, 0) = (1, 1, 1) − (0, 1, 1)
= h(1, 0, 0), (0, 1, 1), (0, 1, 0)i porque (0, 1, 0) = 21 (0, 1, 1) + 12 (0, 1, −1)
= h(1, 0, 0), (0, 0, 1), (0, 1, 0)i porque (0, 0, 1) = (0, 1, 1) − (0, 1, 0)
= R3 .

3.23. Sejam U = {(0, b, c) : b, c ∈ R}, V = h(0, 1, 1), (0, 2, −1)i e W = h(0, 1, 2), (0, 2, 3), (0, 3, 1)i. Há várias maneiras
de resolver este exercı́cio. Vejamos alguns argumentos que podemos usar para obter várias resoluções.
ˆ É óbvio que V ⊆ U e W ⊆W.
ˆ U = h(0, 1, 0), (0, 0, 1)i;
ˆ Usando a Proposição 3.23 temos

V = h(0, 1, 1), (0, 2, −1)i = h(0, 1, 1), (0, 3, 0)i porque (0, 3, 0) = (0, 1, 1) + (0, 2, −1)
= h(0, 1, 1), (0, 1, 0)i porque (0, 1, 0) = 13 (0, 3, 0)
= h(0, 0, 1), (0, 1, 0)i porque (0, 10) = (0, 1, 1) − (0, 1, 0) = U ;

3
ˆ V ⊆ W porque (0, 1, 1) = (0, 2, 3)−(0, 1, 2) e (0, 1, 0) = 2(0, 1, 2)−(0, 2, 3) (isto j+a mostra que U = V = W );
ˆ Usando a Proposição 3.23 temos

W = h(0, 1, 2), (0, 2, 3), (0, 3, 1)i = h(0, 1, 2), (0, 0, 1), (0, 3, 1)i porque (0, 1, 0) = 2(0, 1, 2) − (0, 2, 3)
= h(0, 1, 0), (0, 0, 1), (0, 3, 1)i porque (0, 1, 0) = (0, 1, 2) − 2(0, 0, 1)
= h(0, 1, 0), (0, 0, 1)i porque , (0, 3, 1) = 3(0, 1, 0) + (0, 1, 0) = U ;

3.26. Um elemento genérico de W , (a, b, 0), com a, b ∈ R pertence a h(1, 2, 3), (1, −1, 1)i se e só se existe x, y ∈ R tais
que x(1, 2, 3) + y(1, −1, 1) = (a, b, 0). Temos assim sucessivamente
  
 x+y =a  x+y =a  x+y =a
2x − y = b 3y = 2a − b 3y = 2a − b
3x + y = 0 2y = 3a 0 = −5a − 2b
  

Concluı́mos assim que −5a − 2b = 0 e, portanto, W = {(a, b, 0) : a, b ∈ R} ∩ h(1, 2, 3), (1, −1, 1)i = {(a, − 25 a, 0) :
a ∈ R} = h(1, − 25 , 0) = h(2, −5, 0)i.

3.28. Sejam a, b, c ∈ R tais que a(v1 + v2 ) + b(v1 + v3 ) + c(v2 + v3 ) = 0V . A igualdade é equivalente a (a + b)v1 + (a +
c)v2 + (b + c)v3 = 0V . Como {u1 , u2 , u3 } é um conjunto livre então a + b = a + c = b + c = 0 e daqui obtém-se
facilmente a = b = c = 0.
3.29. Como P3 (K) é um espaço vectorial de dimensão 4, um seu subconjunto define uma base se e só se tiver 4 elementos
e for livre (ou se gerar P3 (K)). Isto responde (negativamente) às alı́neas e) (o conjunto tem 5 elementos) e c)
(as funções constantes não nulas são pertencem ao espaço gerado pelo conjunto).
Em qualquer um dos outros casos podemos seguir do seguinte modo:
Escrevemos af1 +bf2 +cf3 +df4 = 0; desenvolvemos o membro da esquerda obtendo um polinómio de grau menor
ou igual a 3; esse polinómio é o polinómio nulo se e só se os coeficientes das potências de x forem nulos; obtemos
assim um sistema linear de 4 equações e 4 incógnitas; se o sistema tiver apenas a solução nula, o conjunto inicial
define uma base de P3 (K).

Em alternativa podemos fazer o seguinte, usando a Proposição 3.23


a) h1, x, x2 , x3 + 1i = h1, x, x2 , x3 i, porque x3 = (x3 + 1) − 1;
b) hx3 , x3 + x2 , x3 + x2 + x, x3 + x2 + x + 1i = hx3 , x2 , x3 + x2 + x, x3 + x2 + x + 1i = hx3 , x2 , x, x3 + x2 + x + 1i =
hx3 , x2 , x, 1i porque x2 = (x3 + x2 ) − x3 , x = x3 + x2 + x − x3 − x2 e 1 = x3 + x2 + x + 1 − x3 − x2 − x
(cada uma destas igualdades justifica um passo).
3.34. Em qualquer dos casos o que se pretende é mostrar que se uma combinação linear das funções em causa for
igual a 0, que neste caso é a função nula então as constantes usadas nessa combinação linear são todas nulas.

a) Sejam a, b ∈ R tais que

∀x ∈ − π2 , π2 .
 
a sen (x) + b cos(x) = 0,

O que vamos fazer é substiuir x por (vários) valores de x ∈ − π2 , π2 e ver o que acontece.
 

Se fizer x = 0 obtemos b = 0. Resta agora escolher um qualquer valor no intervalo que não seja 0 para
obter a = 0.
b) O conjunto não é livre porque 1 = sen 2 (x) + cos2 (x);
c) Sejam a, b, c ∈ R tais que a sen 2 (x) + b cos2 (x) + c tg (x) = 0 para todo x ∈ − π2 , π2 }. Escolhendo x = 0,
 
x = π4 e x = − π4 obtemos b = 0, 12 a + c = 0 e 12 a − c = 0. Resolvendo o sistema temos a = b = c = 0;
d) Sejam a, b, c ∈ R tais que a + b sen (x) + c sen (2x) = 0 para todo x ∈ − π2 , π2 }. Escolhendo x = 0, x = π4 e
 
√ √
x = π6 obtemos a = 0, 22 b + c = 0 e 12 b + 23 c = 0. Resolvendo o sistema temos a = b = c = 0;
e) {1, sen 2 (x), cos(2x)} é linearmente dependente porque cos(2x) = cos2 (x) − sen 2 (x) = 1 − 2 sen 2 (x).

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