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1 Grandezas Físicas e Cinemática 1


1.1 Grandezas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.1 Notação Científica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.2 Conversão de Unidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2.1 Propriedades de Vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2.2 Vetores unitários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.3 Movimento em 1D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.3.1 Velocidade Instantânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.3.2 Aceleração Instantânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3.3 Velocidade e Aceleração como Vetores . . . . . . . . . . . . . 14
1.4 Movimento em 2D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.4.1 Movimento de Projéteis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.4.2 Movimento Circular Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.4.3 Movimento Circular não-Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . 21

2 Leis de Newton e Energia 22


2.1 Leis de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.1.1 Primeira Lei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.1.2 Segunda Lei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.1.3 Terceira Lei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.2 Tipos de Forças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.2.1 Atrito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.2.2 Tração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.3 Aplicações das Leis de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.3.1 Corpos Ligados por um Fio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.3.2 Dois Corpos em Contato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.3.3 Movimento Circular Uniforme (Com Forças) . . . . . . . . . 32
2.3.4 Carro em Curva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.3.5 Forças Resistivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.4 Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.4.1 Energia Cinética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.4.2 Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.4.3 Teorema do Trabalho-Energia Cinética . . . . . . . . . . . . 40
2.4.4 Energia Potencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.4.5 Forças Conservativas e Não Conservativas . . . . . . . . . . 43
2.4.6 Força Conservativa como Derivada de um Potencial . . . . 45
2.5 Conservação de Energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

3
2.5.1 Sistema Isolado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.5.2 Consideração de Atrito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.5.3 Potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

3 Momento Linear e Colisões 50


3.1 Momento Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.1.1 Sistema Não-Isolado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.2 Colisões em 1D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.3 Colisões em 2D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.4 Centro de Massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

4 Rotações e Momento Angular 60


4.1 Posição, velocidade e aceleração angulares . . . . . . . . . . . . . . 60
4.1.1 Componentes angulares como vetores . . . . . . . . . . . . 62
4.2 Equações de Movimento Angulares (Aceleração Constante) . . . . 63
4.3 Grandezas Angulares e Tangenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4.4 Energia Cinética Rotacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.5 Produto Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4.6 Torque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.7 Momento Angular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.8 Rolamento de Objetos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

5 Exercícios 79
5.1 Resolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
1 Grandezas Físicas e Cinemática
1.1 Grandezas
As quantidades físicas podem ser separadas em dois grandes grupos: gran-
dezas escalares e grandezas vetoriais. Grandezas vetoriais são aquelas que
têm, assim como vetores, direção sentido e magnitude. Alguns exemplos de
grandezas vetoriais são: velocidade, aceleração, forças, etc. Por outro lado
existem as grandezas escalares, que são descritas apenas por um número,
sendo este positivo ou negativo. Alguns exemplos são: massa, temperatura,
densidade, comprimento, tempo, etc.
Todas essas grandezas vêm acompanhadas de unidades. O tempo, por
exemplo, pode ser medido em minutos, segundos, horas ou até anos. Existe,
porém, um consenso em quais unidades utilizar para uma determinada gran-
deza, que é o Sistema Internacional (SI), em que quase todos países utilizam.
No sistema SI o tempo é medido em segundos, comprimento em metros, velo-
cidade em metros/segundos, etc.

1.1.1 Notação Científica


Em física também é comum a utilização da notação científica. Esta permite
escrever números muito grandes ou muito pequenos de uma forma resumida.
Um comprimento muito grande, como 10 mil metros, pode ser escrito em
notação científica:

10000 m = 1 · 104 m = 10 km (1.1)


Percebemos que a quantidade de zeros a direita do número 1 será igual o valor
da potência. No final apresentamos também a versão com o prefixo k, que
representa 103 . Vejamos agora um caso de um comprimento muito pequeno:

0, 0012 m = 1, 2 · 10−3 m = 1, 2 mm (1.2)


Neste caso o número de vezes que a vírgula teve que saltar para a direita será
o valor da potência. Percebe-se também que na notação científica represen-
tamos os números apenas com 1 algarismo antes da virgula. Também foi
utilizado, no final, o prefixo m que representa 10−3 .

1
1.1.2 Conversão de Unidades
É comum os casos em que se deve trocar as unidades de um problema,
seja porque irá nos facilitar ou porque queremos colocar as unidades no SI.
Para fazer essa troca existem basicamente dois meios. Vamos converter 50
minutos em segundos pelos dois métodos.
Primeiro, podemos realizar a velha e boa regra de três. Ela será feita da
seguinte forma:
60 s 1 min
= =⇒ (x)(1 min) = (60 s) · (50 min) (1.3)
x 50 min
Dividindo os dois lados por min teremos que:
3000 s · min
x= = 3000 s = 3 · 103 s (1.4)
min
O segundo método para encontrar essa conversão é definir um fator de
conversão da forma:
1 min 60 s
=1 e também =1 (1.5)
60 s 1 min
Desse modo podemos multiplicar algum destes fatores de conversão em um
problema para trocarmos de minutos para segundos ou vice versa. Seguindo
o mesmo exemplo anterior:
60 s 50 min · 60s
50min · 1 = 50min · = = 3000 s (1.6)
1 min 1min

2
1.2 Vetores
Para começar a falar de vetores vamos primeiro definir a distância entre
dois pontos em um plano cartesiano. Sejam dois pontos A, com coordenadas
(x1 , y1 ) e B com (x2 , y2 ). Veja o gráfico:

Figura 1.1: Distância entre dois pontos

Podemos utilizar o que aprendemos no ensino médio para descrever a dis-


tância entre esses pontos r como sendo:
p p
r = (x2 − x1 )2 + (y2 − y1 )2 = x2 + y 2 (1.7)

Que é uma consequência direta da regra de Pitágoras. Também percebemos


que o triângulo formado terá um certo ângulo θ. A partir das relações trigo-
nométricas podemos definir x e y em função de r e θ da forma:
cateto oposto y
sen θ = = =⇒ y = r sen θ (1.8)
hipotenusa r
cateto adjacente x
cos θ = = =⇒ x = r cos θ (1.9)
hipotenusa r
Agora que sabemos disso podemos estudar o que são vetores. Estes são
definidos como uma seta que sai de um ponto e leva até outro ponto. Seguindo
a figura 1.1, um vetor que sai do ponto A e leva até o ponto B é dado por :

⃗ =B−A
V (1.10)

Em que V⃗ denota um vetor qualquer. A direção do vetor é a linha que liga os


dois pontos, seu sentido é partido de A e chegando em B, ou seja, direita pra
cima. Sua magnitude é dada pela distância entre os dois pontos r. Vejamos
um exemplo:

3
Exemplo 1.
Dois pontos se encontram sobre o eixo x. Um dos dos pontos é A = (1, 0) e
o outro ponto é B = (5, 0). O gráfico é dado por:

Figura 1.2: Exemplo de vetor

O vetor ⃗x que liga os dois pontos é dado por:

⃗x = B − A = (5, 0) − (1, 0) = (4, 0) (1.11)

Este vetor terá direção no eixo x e sentido para a direita. Para calcular seu
módulo fazemos:
p p
|⃗x| = (xB − xA )2 + (yB − yA )2 = (4)2 = ±4 (1.12)

Como um vetor não pode ter comprimento negativo, tal qual um objeto físico
não pode ter comprimento negativo, então apenas o sinal positivo da resposta
é aceito. Sendo assim a magnitude do vetor é |⃗x| = 4.

⃗ = (xA , yA ) quer dizer que este vetor


Além disso, um vetor escrito da forma A
faz um ponto andar xA no eixo x e yA no eixou y.

1.2.1 Propriedades de Vetores


Como iremos utilizar muito os vetores nesta apostila, vale a pena elencar
suas propriedades:

1. Negativo:
Quando um vetor tem uma de suas componentes negativas, isso quer
dizer que aquela componente está indo contra o sentido natural do eixo.
O eixo x tem sentido natural para a direita, uma vez que quanto maior
um número, mais a direita ele está. O eixo y tem sentido natural para
cima. Quando um vetor apresenta, A⃗ = (−1, 0) isso quer dizer que o vetor
está apontando para a esquerda no eixo x e não tem componente no eixo

4
y. Também temos que ao tomar o negativo de um vetor é igual a trocar
seus sentidos. Veja no diagrama:

Figura 1.3: Negativo de um vetor

Exemplo 2.
Aqui neste exemplo vamos desenhar todas as possíveis combinações do
⃗ = (±3, ±3). Isso mostrará como esses vetores se transformam por
vetor A
um sinal de menos. Veja a imagem:

Figura 1.4: Mesmo vetor para diferentes sentidos

2. Soma:
A soma de dois vetores A ⃗ e B
⃗ acarretará em um vetor resultante R⃗ =
⃗ ⃗
A + B. Este vetor é obtido ao colocar o começo de um vetor logo após o
termino de outro, da seguinte forma:

Figura 1.5: Vetor resultante.

5
Considerando que os vetores são escritos como A ⃗ = (xA , yA ) e B
⃗ = (xB , yB ),
⃗ = (xA + xB , yA + yB ). Assim podemos cal-
então o vetor resultante será R
cular seu módulo a partir da regra de Pitágoras. Outro ponto importante
sobre a soma de vetores é que esta é comutativa, isto é A ⃗ +B ⃗ =B⃗ + A.⃗

Exemplo 3.
⃗ = (−3, 2) e B
Para este exemplo vamos tomar os vetores A ⃗ = (1, −2). Sua

soma gerará o vetor resultante R = (−3 + 1, 2 − 2) = (−2, 0). Podemos
calcular o módulo deste vetor também a partir de:

⃗ = (−2)2 + 02 = 4 = 2
p
|R| (1.13)

O diagrama da soma destes vetores é vista abaixo:

Figura 1.6: Vetor resultante.

3. Subtração:
Assim como já visto na soma, a subtração é simplesmente a soma dos
vetores sendo um deles com sinal trocado, isto é:
⃗ =A
R ⃗ −B
⃗ =A
⃗ + (−B)
⃗ (1.14)

Exemplo 4.
⃗ = (5, 2) e B
Seja os vetores A ⃗ = (2, 1). A subtração deles será:

⃗ =A
R ⃗ + (−B)
⃗ = (5 − 2, 2 − 1) = (3, 1) (1.15)

O diagrama é dado por:

6
Figura 1.7: Vetor resultante de uma subtração.

4. Multiplicação por constante:


Seja um vetor A⃗ = (xA , yA ). Se multiplicarmos este vetor por uma cons-
tante c, então criamos um novo vetor R ⃗ = cA⃗ que tem componentes
dadas por R⃗ = (cxA , cyA ).

Exemplo 5.
Vamos tomar que o vetor é dado por A ⃗ = (2, −5). Se multiplicarmos este
⃗ = ((−3) · (2), (−3) · (−5)) =
vetor pelo número −3 o vetor resultante será: R
(−6, 15).

5. Produto escalar:
A multiplicação entre dois vetores é dada pelo produto escalar (tem esse
nome pois o resultará em um número, um escalar). Sejam dois vetores
⃗ e B,
A ⃗ se colocarmos estes vetores para saírem do mesmo ponto, um
ângulo θ se formará entre eles. Veja o diagrama:

Figura 1.8: Angulo entre vetores

Este ângulo aparecerá no produto escalar deles, que é dado por dois
métodos diferentes:
⃗ ·B
A ⃗ = |A||
⃗ B|⃗ cos θ = xA · xB + yA · yB (1.16)

7
Sempre que o símbolo · estiver no meio de dois vetores, isso significa
o produto escalar deles. Outro produto pode acontecer entre vetores, o
⃗ × B,
produto vetorial, denotado por A ⃗ mas este será explicado mais para
frente.

Exemplo 6.
⃗ é dado por A
Se o vetor A ⃗ = (−2, 2) e B
⃗ = (3, 4). Como encontrar o ângulo
formado entre eles? Primeiro podemos utilizar um dos métodos para
encontrar o produto escalar:
⃗ ·B
A ⃗ = (−2) · 3 + 2 · 4 = 2 (1.17)

Agora calculando os módulos dos vetores:


√ √
⃗ = 4+4= 8
|A|
√ √
⃗ = 16 + 9 = 25 = 5
|B| (1.18)

Igualando agora os dois métodos que podem ser feitos para calcular o
produto escalar:

 
2 2
5 8 cos θ = 2 =⇒ cos θ = √ =⇒ θ = arccos √ (1.19)
5 8 5 8
E utilizando uma calculadora podemos obter θ ≈ 1, 42◦ .

1.2.2 Vetores unitários


Como já vimos, os vetores podem ser divididos entre duas componentes,
uma que anda no eixo x e outra que anda no eixo y. Podemos assim definir
dois vetores unitários î e ĵ e um terceiro para quando tratamos de três dimen-
sões k̂. Estes vetores têm módulo 1 e representam cada uma das direções dos
eixos, î representa a direção do eixo x, ĵ a direção do eixo y e k̂ a direção do
eixo z.
Para decompor um vetor em termos destes vetores unitários fazemos:
⃗ = (xA , yA ) =⇒ A
A ⃗ = xa î + yA ĵ (1.20)

Assim as somas, multiplicações e todas operações com vetores ficam mais


fáceis.
Exemplo 7.
Sendo A⃗ = (3, 1) e B
⃗ = (−1, 5), encontremos o vetor resultante da subtração
⃗ por A.
de B ⃗ Para isso vamos escrever cada um destes na notação com vetores

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unitários e depois fazer a subtração:
⃗ = 3î + 1ĵ
A
⃗ = −î + 5ĵ
B
⃗ =B
R ⃗ −A ⃗ = (−1 − 3)î + (5 − 1)ĵ
⃗ = −4î + 4ĵ
R (1.21)

Nisso vemos que a parte em x só se mistura com outras partes em x. O


mesmo ocorre para y. Assim podemos decompor o vetor em cada uma das
coordenadas, isto é, Rx = Bx − Ax = −4 e também Ry = By − Ay = 4.
Também devemos ter em mente do produto escalar entre dois vetores uni-
tários. Como os vetores unitários representam os eixos e o produto escalar
tem dependência com o ângulo entre os vetores, eixos ortogonais têm dife-
rença de 90◦ , o que representa cos 90◦ = 0, portanto o produto escalar entre
dois vetores unitários será igual a 1 quando estes forem iguais, e 0 quando
eles forem diferentes:

î · î = 1, ĵ · ĵ = 0, î · ĵ = 0 (1.22)

9
1.3 Movimento em 1D
Sabemos que a física pode ser muito complicada as vezes, quando estamos
mexendo com objetos em três dimensões que giram, se movem, vibram, etc.
Entretanto sabemos também que uma vasta maioria de problemas pode ser
simplificada para um problema de uma partícula se movendo retilineamente,
acabando com muitos de nossos problemas. Nesta seção estudaremos jus-
tamente como resolver estes problemas, que servirão de base para questões
muito mais complexas.

1.3.1 Velocidade Instantânea


Se nos recordarmos lá do ensino médio, estudamos (ou pelo menos espera-
mos que tenhamos estudado) que a velocidade média de um corpo se movendo
no eixo x pode ser descrita como:
∆x
vm = (1.23)
∆t
Em que ∆x representa a distância percorrida por esse corpo e ∆t o tempo
que se passou para tal movimento. Considerando agora que a posição é uma
função do tempo, podemos escrever ∆x = xf − xi = f (tf ) − f (ti ). Mas sabendo
também que o ponto tf é tf = ti + ∆t, então reescrevemos:
f (ti + ∆t) − f (ti )
vm = (1.24)
∆t
Tomemos agora uma variação de tempo muito pequena, de modo que os tem-
pos tf e ti vão se aproximar cada vez mais. Isso quer dizer que vamos estudar
a velocidade em cada ponto exato do tempo. Essa será a velocidade instan-
tânea. Fazer isso é a mesma coisa que tomar o limite da função com ∆t → 0:
f (ti + ∆t) − f (ti )
vI = lim (1.25)
∆t→0 ∆t
Isso te lembra alguma coisa? Caso você já tenha estudado derivadas, saberá
que essa é exatamente a definição de uma derivada pelo seu limite, ou seja:

df (t) dx
vI = = (1.26)
dt dt
Assim se torna fácil de calcular a velocidade de um corpo em cada ponto de
sua trajetória, isto é, em cada segundo que se passou.
Exemplo 1.
Imagine que um carro se move na estrada e a sua posição, desde o inicio
do movimento, possa ser descrita pela função (em metros) x(t) = 5t2 + 3t + 1 .
Qual será sua velocidade quando se passar 10 s após o início do movimento?

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Como vimos, a velocidade em cada ponto do movimento pode ser calculada
através da derivada da posição do corpo, ou seja, a velocidade será:

d
5t2 + 3t + 1 = 10t + 3

v(t) = (1.27)
dt
Caso essa derivada tenha sido de difícil entendimento, recomendo a procura
de alguma aula sobre “regra do tombo”, ou então nossa apostila sobre deriva-
das.
Agora que temos a função de velocidade ao longo do tempo, podemos subs-
tituir o tempo t = 10 s para encontrar a velocidade nesse ponto:

v(t = 10) = 10 · 10 + 3 = 103 m/s (1.28)

Lembre-se sempre de ao final de uma conta especificar em qual unidade o


problema está. Como a função x(t) estava em metros e o tempo t em segundos,
então a unidade final da velocidade será m/s.
Neste tópico, também podemos enunciar uma das equações que regem a
cinemática de uma partícula se movendo a velocidade constante:

S = S0 + vt (1.29)

Essa equação é uma consequência direta da equação 1.23, quando separamos


∆x = xf − xi e trocando xf → S, xi → S0 e fazemos ∆t = t − t0 = t. Essa equação
é popularmente conhecida como “Sorvete”.

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1.3.2 Aceleração Instantânea
Da mesma forma que a velocidade é a variação de espaço por tempo, a
aceleração é a variação de velocidade por tempo. Sendo assim é possível
escrever a aceleração média da forma:
∆v
am = (1.30)
∆t
Se fizermos o mesmo procedimento já visto anteriormente, de colocar a velo-
cidade como uma função do tempo e etc. poderemos encontrar a aceleração
instantânea de um corpo:
dv d2 x
a= = 2 (1.31)
dt dt
Em que o lado direito da equação representa a segunda derivada da posição
em função do tempo.
Exemplo 2.
Seja um avião que se move no céu de maneira horizontal. Desde onde
partiu, ele tem sua posição, em quilômetros, definida pela função x(t) = 3x2 −
8x + 2. Qual será a velocidade e a aceleração dele após se passarem 3 horas?
Como vimos, a aceleração é a segunda derivada da posição em relação ao
tempo. A velocidade pode ser encontrada apenas com a primeira derivada:

dx
v= = 6x − 8 (1.32)
dt
Substituindo t = 3 obteremos então v = 10km/h. Lembre-se que a função x(t)
foi definida em km e o tempo em horas, portanto a velocidade deve obedecer
estas unidades. Agora para calcular a aceleração derivamos v em relação ao
tempo:
dv d2 x
a= = 2 = 6 km/h2 (1.33)
dt dt
Vemos que aqui não importa se t = 0, 10, 1000 h, a aceleração sempre será
a = 6 km/h2 .
Agora com a definição de aceleração, podemos introduzir o leitor a mais
duas equações, possivelmente conhecidas, que ditarão a cinemática de uma
partícula:

at2
S =S0 + v0 t + (1.34a)
2
vf2 =v02 + 2a∆S (1.34b)
Em que a equação 1.34a é popularmente conhecida como “Sorvetão” e a equa-
ção 1.34b como Torricelli. A demonstração de como chegar nestas equações

12
não é difícil, mas também não é crucial para o aprendizado, portanto caso
necessário o leitor é encorajado a encontrar esta demonstração em uma das
referências. Estas equações irão nos acompanhar por todo estudo de cinemá-
tica, tanto em uma quanto mais dimensões.
Ainda no estudo de aceleração e velocidade, podemos ver suas relações
através de gráficos. Como a aceleração resulta da derivada da velocidade e
esta resulta da derivada da posição, então podemos entender como se com-
portará o gráfico de uma a partir da outra. Veja:

Figura 1.9: Gráfico de posição, velocidade e aceleração por tempo.

Entre a origem e o ponto a, a posição toma a forma de uma parábola com


concavidade para cima, sendo assim sua derivada (a velocidade nesse inter-
valo) será uma reta crescente e também sua segunda derivada (aceleração)
será constante positiva, já que a derivada de uma reta é uma constante.
Já entre os pontos [a, b] a posição é uma reta, assim a velocidade será uma
constante e a aceleração será zero, já que derivada de constante é nula.
Entre os pontos [b, c] a posição toma uma parábola com concavidade para
baixo. Assim a velocidade será uma reta decrescente e a aceleração será uma
constante negativa.
Após o ponto c a posição vira constante, logo ambas velocidade e aceleração
serão nulas.

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1.3.3 Velocidade e Aceleração como Vetores
Até agora apenas falamos de velocidade e aceleração como módulos, mas
devemos lembrar que estas são grandezas vetoriais. É possível ter uma ve-
locidade positiva (se movendo para frente) enquanto se ter uma aceleração
negativa (desacelerando ou acelerando para o lado contrário). Vejamos alguns
diagramas que explicam os movimentos possíveis de um corpo, digamos um
avião:

Figura 1.10: Vetores aceleração e velocidade

Em (a) temos o caso que a existe uma velocidade, então o avião está se
movendo, mas a aceleração é zero, portanto a velocidade será constante. Já
em (b) a aceleração é no sentido da velocidade, portanto o avião está acele-
rando. Em (c) como a aceleração é contrária a velocidade, então o avião está
desacelerando.
É importante não se esquecer que uma aceleração com sinal contrário é
contra o sentido do movimento, e uma aceleração com sinal igual é a favor
do movimento.
Exemplo 3.
Iremos estudar aqui corpos em queda livre, um objeto de estudo de muitos
exercícios. Imagine um homem no alto de um prédio segurando uma pequena
bola por meio de uma garra longa. O prédio tem altura de H = 50 m. O homem
então solta a bola, considerando que a aceleração da gravidade é g = 9, 81m/s2 ,
qual será o tempo necessário para a bola acertar o chão? Um exemplo do
esquema é:

Figura 1.11: Exemplo de movimento em 1D

14
Para resolver este exercício vamos utilizar as equações que foram enunci-
adas na seção anterior: ( 2
S = S0 + v0 t + at2
(1.35)
vf2 = v02 + 2a∆S
Considerando que a bola partiu após o repouso, sua velocidade inicial era
zero, portanto v0 = 0. Considerando também o início do sistema de coorde-
nadas no topo do prédio, então a bola sairá da origem, logo S0 = 0. Para que
ela acerte o chão, terá que percorrer uma distância H, logo S = H. A acelera-
ção da gravidade também é sabida, e sua direção é no mesmo sentido que o
movimento, portanto será positiva. Disso teremos as equações:
( 2
H = gt2
(1.36)
vf2 = 0 + 2aH

É possível já obter da primeira equação qual será o tempo necessário para a


bola acertar o chão:
s
gt2 2H 2H
H= =⇒ t2 = =⇒ t = ± (1.37)
2 g g

Como o tempo não pode ser negativo, escolheremos a solução positiva. subs-
tituindo os valores teremos:
s
2 · 50 m
t= = 3, 19 s (1.38)
9, 81 m/s2

Se ainda quisermos descobrir com qual velocidade a bola acertará o chão


basta utilizar a equação de Torricelli que já simplificamos:
p p
vf = 2gH = 2 · 9, 81 m/s2 · 50 m = 31, 32 m/s (1.39)

Sempre se atente às unidades e veja se o resultado está da dimensão correta!

Será comum ver, tanto nesta apostila quanto em outros materiais, o uso de
notações como ⃗v junto com v. Perceba que ⃗v é o vetor velocidade, que tem di-
reção, sentido e magnitude, enquanto v representa apenas a sua intensidade,
não levando em consideração as partes vetoriais.

15
1.4 Movimento em 2D
Nesta seção vamos nos aprofundar mais na cinemática do problema, agora
podendo haver movimento em duas dimensões (x e y). Como vimos, o movi-
mento em 1D é totalmente descrito a partir da função posição em relação ao
tempo, portanto vamos fazer a mesma coisa para o sistema 2D.
Para começar, é possível descrever a posição de um corpo em termos do
vetor posição ⃗r, que parte do centro do sistema de coordenadas até o ponto de
posição. O vetor velocidade e aceleração instantânea serão dados por:

d⃗r d⃗v d2⃗r


⃗v = , ⃗a = = 2 (1.40)
dt dt dt
Agora como tratamos de vetores, estas derivadas podem ter dois significa-
dos: a variação pode ocorrer no módulo dos vetores, ou então em sua direção.
Veremos ambos os casos ainda nesta seção. Reescrevemos as equações de
movimento que encontramos em termos deste vetor posição:
1
⃗rf =⃗r0 + ⃗v0 t + ⃗at2 (1.41)
2
⃗vf2 =⃗v02 + 2⃗a∆⃗r (1.42)

Escrevendo o vetor posição como ⃗r = xî + y ĵ, será possível dividir o movi-
mento bidimensional em dois movimentos independentes, cada um em uma
direção, isto é:
d⃗r dx dy
⃗v = = î + ĵ = vx î + vy ĵ, ⃗a = ax î + ay ĵ (1.43)
dt dt dt
Assim, podemos reescrever cada uma das equações de movimento para
seu determinado eixo, uma sendo independente da outra:
(
1 2 xf = x0 + v0x t + 12 ax t2
⃗rf = ⃗r0 + ⃗v0 t + ⃗at =⇒ (1.44)
2 yf = y0 + v0y t + 12 ay t2

Que será a nova versão da equação do “Sorvetão”. Fazendo o mesmo com a


equação de Torricelli:
(
2 2
2 2 vxf = v0x + 2ax ∆x
⃗vf = ⃗v0 + 2⃗a∆⃗r =⇒ 2 2
(1.45)
vyf = v0y + 2ay ∆y

Exemplo 1.
Seja uma bolinha que parte da origem, em repouso, e é acelerada por
⃗a = 3î + 1ĵ m/s2 . Após 2 segundos, qual será sua posição final?

16
Para resolver este problema, vamos separar a cinemática em dois movi-
mentos independentes, um em x e outro em y. Em x teremos:
1 1
xf = x0 + v0x t + ax t2 =⇒ xf = 0 + 0 + 3 · 22 (1.46)
2 2
Assim encontra-se que a posição final da bolinha no eixo x será xf = 6 m.
Fazendo o mesmo para o eixo y:
1 1
yf = y0 + v0y t + ay t2 =⇒ yf = 0 + 0 + 1 · 22 (1.47)
2 2
Disso tiramos que yf = 2 m. Assim a posição final da partícula será ⃗r = 6î + 2ĵ.
Ou então, a partícula será encontrada no ponto (6, 2).

1.4.1 Movimento de Projéteis


Sempre que lançamos um objeto para frente e para cima, como uma bola
de basquete em direção à cesta, percebemos que o movimento que a bola faz
no ar pode ser relacionado com uma parábola. Podemos prever o movimento
da bola através das equações que já apresentamos. Vamos considerar que,
em um mundo ideal, o vento não oferece resistência à bola. Sendo assim, a
única força que ela sofrerá após sair de nossas mãos é a força da gravidade.
Veja como este problema é esquematizado:

Figura 1.12: movimento de um projétil

Tomando o sistema de coordenadas como sendo positivo para cima (em y)


e direita (em x), então teremos que a aceleração da gravidade, dada por ⃗g,
sempre será negativa (pois aponta sempre para baixo). Também não existirá
aceleração no eixo x, logo a velocidade inicial v0x será igual em todo trajeto.
Outro ponto importante a se perceber é que, como no início a bola está
subindo, e outra hora ela está descendo, em algum meio tempo a bola deve

17
ter sua velocidade vertical nula. Isso acontece no gráfico no ponto (c). Este é
o máximo que a bola pode alcançar em altura.
Exemplo 2.
Uma bola de futebol é chutada e parte do chão com uma velocidade v0 =
20 m/s, fazendo ângulo de 30◦ com a horizontal. Qual será a altura máxima e
a distância máxima que a bola atingirá? (Use g = 10m/s2 ).

Figura 1.13: Movimento da bola de futebol.

Vamos calcular primeiro a altura máxima que a bola pode atingir. Para isso
precisamos decompor a velocidade inicial entre os eixos. para isso fazemos:
1
v0y = v0 sen 30◦ = v0 (1.48)
2

3
v0x = v0 cos 30◦ = v0 (1.49)
2
Agora utilizando apenas o movimento no eixo y, utilizaremos as equações de
movimento descritas anteriormente:
1
yf = y0 + v0y t + ay t2 (1.50)
2
2 2
vf y = v0y + 2a∆y (1.51)

Como a bola parte do chão, teremos que y0 = 0. A aceleração é a da gravidade,


como esta é direcionada para baixo, então ay = −g. Chamemos a altura má-
xima que a bola atingirá de h, ou seja yf = h. Além disso, a velocidade vertical
no ponto de altura máxima é zero, ou seja vf = 0. Disso teremos:
1 1
h = 0 + v0 t − gt2 (1.52)
2 2
1 2
0 = ( v0 ) − 2gh (1.53)
2
Da segunda equação podemos retirar a resposta da altura máxima:

v02 /4 v2
h= = 0 =5m (1.54)
2g 8g

18
Com essa informação podemos ainda calcular quanto tempo foi necessário
para chegar nesse ponto. A resposta é obtida a partir da resolução, por Bhás-
kara, da primeira equação, obtendo:
p
−v0 /2 ± v02 /4 − 2gh 1 v0
t= = =1s (1.55)
−2g 2g
Disso obtemos que foi necessário 1 segundo para atingir a altura máxima.
A partir disso, para calcular a distância atingida pela bola, é necessário
separar o movimento em dois: subida e descida. Já calculamos o tempo ne-
cessário que foi para a bola subir e atingir seu máximo. Agora calcularemos
o tempo necessário para sua descida e atingir a terra novamente. Neste mo-
mento de descida a bola partirá de seu máximo com velocidade inicial v0y = 0.
Utilizando a equação do “Sorvetão” teremos:
s
1 2 2h
0 = h + 0 − gt =⇒ t = =1s (1.56)
2 g
Agora vimos que o tempo de descida foi também de 1 s. Utilizando agora que
não há aceleração no eixo x, a velocidade final em x será igual a inicial. Além
disso, o tempo necessário para atingir a distância máxima será tsubida +tdescida =
2 s. Utilizando a equação do “Sorvetão” no eixo x teremos então:

1 2 3
xf = x0 + v0x t + ax t =⇒ xmax = 0 + v0 t + 0 (1.57)
2 2 √
Disso finalmente obtemos que a distância máxima será xmax = 3v0 = 34, 6 m.

1.4.2 Movimento Circular Uniforme


Imaginemos uma pequena bola em cima de uma mesa, realizando um mo-
vimento circular e com velocidade constante. A velocidade da bola é sempre
tangencial ao movimento, podendo ser descrita por:

Figura 1.14: Movimento rotacional.

19
Como já vimos, a aceleração pode ser descrita como ⃗a = d⃗
v
dt
. Como neste
caso a velocidade da partícula é sempre constante, então a aceleração de-
pende da variação de direção da velocidade. Podemos identificar qual será a
direção da aceleração pelo seguinte esquema:

Figura 1.15: Direção da aceleração.

É possível ver que o vetor ∆⃗v é perpendicular ao vetor ∆⃗r. Definindo, como
anteriormente, a aceleração como:

∆⃗v ⃗vf − ⃗vi


⃗am = = (1.58)
∆t tf − ti
E como numa igualdade, os componentes vetoriais também devem se igualar,
então a aceleração deve ter a mesma direção que o vetor ∆⃗v. Sendo assim, a
aceleração é perpendicular ao deslocamento, e sempre apontará para o centro,
por isso se chama aceleração centrípeta.
Além disso, o módulo desta velocidade pode ser calculada através de se-
melhanças de triângulos, chegando em:

v2
ac = (1.59)
r
Em que r é o raio da circunferência de movimento e v a velocidade constante
com que o corpo se move.
Também podemos descrever o período do problema, isto é, o tempo neces-
sário para realizar uma volta completa. Como o comprimento da circunfe-
rência é C = 2πr e o corpo se movimenta com velocidade v, então o período
será:
2πr
T = (1.60)
v
Exemplo 3.
Em um deserto imenso, um viajante está perdido. Um urubu voa em torno
desse viajante, em circunferências de 15 m e velocidade constante. Ele de-
mora 20 segundos para completar uma volta, qual é a aceleração centrípeta
do urubu?
Para resolver o problema precisamos encontrar a velocidade com que ele
se move. Utilizando a equação do período teremos:

20
2πr 2πr 2π · 15
T = =⇒ v = = = 1, 5π m/s (1.61)
v T 20
Substituindo essa velocidade na equação de aceleração centrípeta teremos:

v2 (1, 5π)2
ac = = ≈ 1, 48 m/s2 (1.62)
r 15

1.4.3 Movimento Circular não-Uniforme


Existirão casos de movimento circular em que a velocidade do corpo não
será constante. Com isso teremos uma aceleração na direção da velocidade,
chamada de aceleração tangencial. O módulo dessa aceleração será dada
pela variação do módulo da velocidade:

d|⃗v|
at = (1.63)
dt
Assim podemos definir uma aceleração total, que resulta na soma dos ve-
tores:
q
⃗a = ⃗at + ⃗ac , a = a2t + a2c (1.64)
Um diagrama de como são representadas estas acelerações é dada por:

Figura 1.16: Aceleração total de movimento circular

21
2 Leis de Newton e Energia
No capítulo anterior estudamos como é descrito o movimento de uma par-
tícula, podendo obter sua posição, velocidade e aceleração. Já neste capítulo
veremos quais são as causadoras dos movimentos, isto é, estudaremos sobre
forças e como estas podem influenciar sobre um determinado objeto.
Forças são grandezas vetoriais, portanto terão direção, sentido e módulo,
também obedecendo a todas propriedades já citadas nessa apostila. Além
disso, podemos dividir as forças clássicas entre duas categorias: forças de
contato são aquelas que aparecerão apenas com o contato com outro objeto,
como atrito, força elástica, etc. Outra categoria é das forças de campo, ou
também forças a distância, são aquelas que não precisam do contato com ou-
tro objeto para existirem, como força gravitacional, força elétrica, força mag-
nética, etc.
O principal estudo de forças começa enunciando as três leis de Newton.

2.1 Leis de Newton


2.1.1 Primeira Lei
Também chamada de Lei da Inércia, a primeira lei de Newton afirma
que um corpo sempre tende a permanecer no estado que está, e só mudará
quando uma força for aplicada sobre ele. Este é um fenômeno que vemos na
natureza a todo tempo, isto é, tudo que está parado irá ficar parado, e tudo
que está em movimento também ficará em movimento, a menos que uma força
seja exercida para interromper ou gerar o movimento.
Outra forma de expressar essa lei, de forma mais completa, é: se não
existem forças aplicadas sobre um corpo, sempre é possível encontrar um
referencial inercial, isto é, um referencial em que o corpo tem aceleração nula.
Exemplo 1.
Dentro de um ônibus com velocidade constante, todos os passageiros per-
manecem parados. Estes permanecerão parados enquanto o ônibus mantiver
essa velocidade constante. Quando o ônibus muda sua velocidade, isto é, so-
fre uma aceleração/desaceleração, os passageiros sofrerão um “tranco”, que
representa a quebra de inércia deles.
Uma forma mais completa de pensar este problema é: para uma pessoa
fora do ônibus, os passageiros estão em movimento, entretanto como não
estão acelerando, é possível encontrar um referencial em que eles estejam
parados (ônibus). Este representará um referencial inercial. Já quando o

22
ônibus está acelerando desacelerando, não será mais possível encontrar um
referencial inercial que mantenha as pessoas com aceleração nula, portanto
representará uma quebra da inércia dos passageiros.

2.1.2 Segunda Lei


Na primeira lei estudamos o que acontece quando nenhuma força é exer-
cida sobre um corpo. Agora estudaremos quando essa força existe.
É possível perceber que quando precisamos mexer um objeto, como uma
pedra, quanto maior a massa da pedra, maior deve ser a força para mover ela.
Isso indica que a massa representa uma dificuldade ao movimento, e também
que a força aplicada deve ser proporcional a massa da pedra.
Também, por meio de experimentos, é possível determinar que quanto
maior a força aplicada a um objeto, maior será a aceleração com que o objeto
se movimentará.
Disso tiramos que a somatória de todas as forças em um objeto é igual a
sua aceleração resultante multiplicado por sua massa:
X
⃗ = m⃗a
F (2.1)
P⃗
Que é a Segunda Lei de Newton. O símbolo F indica a somatória em todas
as forças, portanto a força resultante.
Disso também tiramos que quando um objeto está em equilíbrio, isto é,
sua aceleração é zero, teremos:
X
⃗ =0
F =⇒ corpo em equilíbrio (2.2)
Como esta é uma propriedade vetorial, então podemos dividir em:
X X X
Fx = 0, Fy = 0, Fz = 0 (2.3)
Em relação à unidade da força, em SI temos que a massa é dada por kg, a
aceleração por m/s2 e a força por N, que representa “Newtons”.
m m
[F ] = [m][a] = kg · 2
= N =⇒ 1kg · 2 = 1N (2.4)
s s
Exemplo 2.
Para exemplificar a segunda lei de Newton vamos estudar uma caixa de
madeira com massa m = 0, 5 kg que está sujeita a quatro forças: a força peso,
que aponta sempre para baixo (em direção ao centro da terra), uma força
para cima F⃗ 1 , uma força para direita F
⃗ 2 e outra força para a esquerda F⃗ 3.
Considerando que as forças 1, 2, 3 têm módulos 2 N, 5 N e 3 N respectivamente,
qual será a aceleração total da caixa? (Use g = 10m/s2 ).

23
Figura 2.1: Diagrama de corpo livre.

Para resolver este problema precisamos separar as forças em cada uma de


suas coordenadas e somar elas separadamente, isto é, escrevemos:

⃗ p = mg(−ĵ),
F ⃗ 1 = 2ĵ,
F F2 = 5î, F3 = 3(−î) (2.5)
Em que a força peso pode ser escrita a partir da massa do objeto vezes a
aceleração da gravidade. Esta sempre apontará para baixo. Agora podemos
⃗ =
calcular a força resultante em cada uma das coordenadas (utilizando F
Fx î + Fy ĵ):

Fx = F2 − F3 = 5 − 3 = 2 N (2.6)
Fy = F1 − Fp = 2 − mg = 2 − 0, 5 · 10 = 2 − 5 = −3 N (2.7)
Agora utilizando a segunda lei de Newton, podemos calcular a aceleração que
a força resultante de cada eixo gerará:

Fx 2
Fx = max =⇒ ax = = = 4 m/s2 (2.8)
m 0, 5
Fy 3
Fy = may =⇒ ay = =− − 6 m/s2 (2.9)
m 0, 5
Agora juntando a aceleração em forma de vetor teremos:

⃗a = ax î + ay ĵ =⇒ ⃗a = (4î − 6ĵ) m/s2 (2.10)

2.1.3 Terceira Lei


Também conhecida como lei da ação e reação, a terceira lei indica que as
forças sempre ocorrem em pares de corpos, isto é, sejam dois corpos A e B.

24
Se B aplicar uma força em A, essa mesma força será também aplicada em B,
⃗ BA a força que B faz em A e F
mas com sentido contrário. Definindo então F ⃗ AB
a força que A exerce em B, então podemos escrever a relação:

⃗ AB = −F
F ⃗ BA (2.11)
Com isso podemos definir a chamada Força normal. Ela é resultado direto
da terceira lei de Newton, é a força que surge do contato de um corpo com
outro. As forças normais não têm módulo definido, e podem ser descritas a
partir dos determinados problemas. Vejamos um exemplo:
Exemplo 3.
Um exemplo clássico para a terceira lei de Newton é realizar o diagrama
de forças de uma caixa disposta em cima de uma mesa, e esta está apoiada
no chão. Um diagrama de forças é desenhar todas as forças possíveis que
atuam sobre um corpo. Chamando P ⃗ M, P⃗ C como as forças peso da mesa e
caixa respectivamente e também N ⃗ M, N⃗ C como suas forças normais, então
teremos:

Figura 2.2: Diagrama de corpo livre de todo o sistema.

As forças em vermelho são aquelas que atuam na Terra, as em verde atuam


na mesa e em azul atuam na caixa. Perceba que as forças normais sempre
atuam em outro corpo, isto é, a caixa empurra a mesa para baixo (com P ⃗ C) e
então a mesa empurrará a caixa para cima (com N ⃗ M ).
Caso o sistema inteiro esteja em equilíbrio, a somatória de forças sobre a
mesa e também sobre a caixa devem ser zero (exceto as forças que atuam na
Terra). com isso obteremos:

⃗M +P
N ⃗ C = 0 =⇒ NM − PC = 0 =⇒ NM = PC na caixa (2.12)
⃗T +P
N ⃗C +P⃗ M = 0 =⇒ NT − PC − PM = 0 =⇒ NT = PM + PC na mesa
(2.13)

25
2.2 Tipos de Forças
Antes de estudarmos aplicações dessas leis, precisamos estudar tipos es-
pecíficos de forças que aparecerão em muitos casos.

2.2.1 Atrito
Quando tentamos mover um objeto sobre uma superfície, como uma pedra
grande sobre uma montanha, e não conseguimos, é porque existe uma força
de resistência de movimento chamada força de atrito.
Essa força ocorre pelas relações microscópicas entre o objeto e a super-
fície, pois microscopicamente todo material tem ranhuras, e estas ranhuras
dificultarão o movimento. Quanto menor o número de ranhuras, mais fácil o
objeto se move (menos atrito).
Existem dois tipos de atrito: estático e cinético. O atrito estático é a força
de resistência que o objeto faz antes de iniciar o movimento, como a grande
pedra que fica parada enquanto empurramos. Para que a grande pedra não
se mova, o atrito estático está se igualando a força aplicada. O atrito estático
tem um limite, portanto se aplicamos uma força maior que o limite, o objeto
começará a se mover.
Já o cinético é o atrito que existe entre o objeto e a superfície enquanto o
objeto está se movendo. Um exemplo disso é um carro em movimento cons-
tante, se existe atrito entre a estrada e as rodas do carro, o atrito cinético fará
com que o carro desacelere até parar. Agora se o carro quer continuar a se
mover em velocidade constante, a força aplicada no carro para se mover deve
ser igual (em módulo) à força de atrito cinética.
Diferentes materiais têm diferentes coeficientes de atrito. Quanto maior
o coeficiente de atrito, maior será a força de atrito e então mais difícil será
gerar o movimento, e o coeficiente de atrito estático será sempre maior que o
cinético. O módulo da força de atrito pode ser descrita como:

Fat = µN (2.14)
Em que µ representa o coeficiente de atrito (cinético ou estático) e N o módulo
da força normal do objeto que está se movendo. Lembre-se que a força de
atrito sempre terá direção e sentido contrários ao movimento.

Figura 2.3: Bloco em superfície com atrito.

26
Exemplo 1.
Um bloco de massa m = 3 kg está em um plano inclinado em θ = 45◦ ,
qual deve ser o coeficiente de atrito para que o bloco permaneça imóvel? (Use
g = 10 m/s2 ).

Figura 2.4: Bloco em superfície com atrito.

Primeiramente neste exercício precisamos decompor a força peso nos eixos


de movimento do sistema. Para isso usaremos a relação dos ângulos:

Figura 2.5: Decomposição da força peso.

Com isso conseguimos, a partir das relações trigonométricas já usadas na


seção de vetores, escrever:

Px = P sen θ (2.15)
Py = P cos θ (2.16)

A força que gerará o movimento do bloco será Px . A força normal do bloco é


a força que o bloco faz perpendicularmente no plano, vemos que essa força
é Py , portanto N = Py . Com isso, utilizando a relação já utilizada, é possível
encontrar a força de atrito:

Fat = µN = µPy = µP cos θ (2.17)

27
Como queremos que o bloco permaneça parado, o somatório das forças no
eixo que ocorre o movimento deve ser zero, ou seja:

⃗x+F
P ⃗ at = 0 =⇒ Fat − Px = 0 =⇒ Fat = Px (2.18)
Em que foi tomado que a força de atrito está apontando para direita e cima,
⃗ x aponta para esquerda e baixo, portanto é
portanto é positiva, enquanto P
negativa. Com isso conseguimos igualar as duas forças e encontrar a relação
para o coeficiente de atrito:
sen θ
Px = µPy =⇒ P sen θ = µP cos θ =⇒ µ = (2.19)
cos θ
Como θ = 45◦ , então teremos que µ = tan θ = tan 45◦ = 1.

2.2.2 Tração
Quando tentamos puxar um objeto com o auxílio de uma corda, acarreta-
remos na criação da força de tração. Ela surge apenas quando a corda está
totalmente esticada e é a força que a corda faz no objeto (ou então a força que
a corda sofre).

Figura 2.6: Força de tração.

Não existe uma regra para calcular o módulo da tensão, está será igual à
força aplicada sobre a corda, mas podemos dizer que sua direção é sempre ao
longo da corda, e seu sentido sempre para dentro da corda, nunca para fora.
Também é importante denotar que uma corda ideal (vamos considerar que
as cordas sempre são ideais) têm uma massa tão pequena em relação ao
sistema que podemos tomar que sua massa é nula. Além disso estas são
inextensíveis, isso quer dizer que quando estão esticadas não poderão esticar
mais, como um elástico.
Exemplo 2.
Uma caixa é pendurada por dois fios ideais que formam um ângulo θ = 30◦
com a horizontal. Considerando que a caixa tem massa m = 2 kg, qual deve
ser a força de tração em cada fio para que o sistema permaneça em equilíbrio?
(Use g = 10 m/s2 ).

28
Figura 2.7: Caixa pendurada por fios.

Para que haja equilíbrio no sistema, o somatório das forças em cada um


dos eixos deve ser igual a zero. Podemos então decompor as trações da forma:

⃗ 1 = T1x î + T1y ĵ
T (2.20)
⃗ 2 = −T2x î + T2y ĵ
T (2.21)

E também, utilizando as regras trigonométricas já apresentadas, Tx = T cos θ e


Ty = T sen θ. Fazendo agora as equações de movimento em cada um dos eixos
teremos:

para x: T1x − T2x = 0 =⇒ T1 cos θ − T2 cos θ = 0 (2.22)


para y: T1y + T2y − P = 0 =⇒ T1 sen θ + T2 sen θ − mg = 0 (2.23)

Da primeira equação conseguimos extrair a informação que T1 = T2 = T .


Substituindo isso na segunda equação teremos:
mg 20
2T sen θ − mg = 0 =⇒ T = = (2.24)
2 sen θ 2 · 0, 5
Com isso obteremos finalmente que a tração pode ser dada por T = 20 N.

29
2.3 Aplicações das Leis de Newton
Nesta seção, aprenderemos como aplicar as leis de Newton através de al-
guns exemplos que podem aparecer em seus estudos.

2.3.1 Corpos Ligados por um Fio


Dois blocos são mantidos sobre um triângulo equilátero sem atrito, cada
um em uma das faces disponíveis do triângulo. Estes são conectados por uma
corda ideal esticada e passam através de uma polia fixa.

Figura 2.8: Blocos ligados por uma polia.

Se os blocos têm massa m1 = 2 kg e m2 = 4 kg, qual será a aceleração total


do sistema? (Use g = 10 m/s2 ).
Para resolver este problema devemos saber qual o papel da polia fixa. Ela
não alterará o módulo de nenhuma força que passar por ela, apenas sua
direção. Portanto a força que atua sobre a corda será sempre a mesma, cha-
memos essa força de tração de T . Agora vamos fazer um diagrama de forças
de cada um dos corpos separadamente.

Figura 2.9: Diagrama de corpo livre dos corpos.

30
Como o movimento não acontece na direção perpendicular ao plano (na
direção de Py1 , Py2 ), então as normais serão iguais a estas componentes. O
movimento de verdade acontecerá na direção dos Px .
Podemos fazer então uma equação de movimento separada para cada bloco.
Vamos tomar que toda força que está indo para a direita é positiva e toda que
vai para a esquerda é negativa. Com isso teremos:
X
⃗1 = F
F ⃗ R1 =⇒ T⃗ +P ⃗ x1 = F
⃗ R1 =⇒ T − Px1 = m1 a1 (2.25)
X
⃗2 = F
F ⃗ R2 =⇒ P⃗ x2 + T
⃗ =F ⃗ R2 =⇒ Px2 − T = m2 a2 (2.26)
É plausível dizer que o bloco 1 irá se mover com a mesma aceleração que o
bloco 2, uma vez que estão ligados e um irá puxar o outro, assim ambos se
moverão com uma aceleração a. Também vamos lembrar o outro exercício
de plano inclinado em que obtemos que Px = P sen θ. Podemos resolver este
sistema de algumas formas diferentes, uma delas é somar as duas equações,
desse modo sumiremos com a tração. Fazendo isso:

Px2 − Px1 = a(m1 + m2 ) =⇒ P2 sen θ − P1 sen θ = a(m1 + m2 ) (2.27)


Substituindo agora P = mg e considerando que em um triângulo equilátero,
todos os ângulos internos devem ser 60◦ , uma vez que a soma dos ângulos
internos deve ser 180◦ . Assim teremos:
m2 − m1
g sen 60◦ (m2 − m1 ) = a(m1 + m2 ) =⇒ a = g sen 60◦ (2.28)
m2 + m1
Substituindo os valores chegaremos a a = 2, 89 m/s2 . Como consideramos que
os valores positivos seriam para a direita e esta aceleração deu positiva, então
realmente o movimento dos corpos será para a direita, isto é, o bloco 2 descerá
o triângulo enquanto o bloco 1 subirá.

2.3.2 Dois Corpos em Contato


Imaginemos agora dois blocos A e B que estão sobre uma superfície sem
atrito e estão encostados. Estes blocos têm massa mA = 2 kg e mB = 3 kg.
Se uma força F ⃗ = 10 N é aplicada em um dos blocos, qual será a aceleração
resultante com que estes blocos irão se mover?

Figura 2.10: Dois blocos em contato.

31
Para calcular isso, devemos tomar que os dois blocos se moverão com a
mesma aceleração, uma vez que estão sendo empurrados juntos (não faz sen-
tido que um se mova mais rapidamente que o outro, correto?) Por isso, po-
demos considerar os dois blocos como se fossem apenas um blocão de massa
M = mA + mB . Como a única força que atua no sistema é F,⃗ então teremos
pela segunda lei de Newton:

F 10
F = M a =⇒ F = (mA + mB )a =⇒ a = = = 2 m/s2 (2.29)
mA + mB 5
Essa é uma maneira mais simples de se pensar, mas podemos utilizar a
mesma metodologia do tópico anterior. Como o movimento ocorrem na hori-
zontal, vamos tomar apenas as forças que também acontecem na horizontal.
Sobre o bloco A atuam a força F⃗ e também a força que o bloco B faz em A,
FBA , que aponta para a esquerda. no bloco B apenas atua a força que A faz
em B, FAB . Com isso escrevemos as equações de movimento para cada um
dos blocos (já considerando que a aceleração deve ser igual):

F − FBA = mA a (2.30)
FAB = mB a (2.31)

Considerando que FBA e FAB têm o mesmo módulo, então se somarmos as


duas equações esses termos irão sumir! Assim, somando teremos:
F
F = a(mA + mB ) =⇒ a = = 2 m/s2 (2.32)
mA + mB

2.3.3 Movimento Circular Uniforme (Com Forças)


Vejamos agora uma situação que pode acarretar no movimento circular
uniforme. Seja uma bolinha de massa m = 1 kg girando em uma mesa sem
atrito com velocidade tangencial constante v = 10 m/s. Essa bolinha está
conectada, por um fio, a um bloco de metal de massa M = 3m. Qual será
o raio da circunferência com que a bolinha gira para que a massa fique em
repouso? (Vamos começar a usar a gravidade de forma correta, aproximando
g = 9, 81 m/s2 ).
Para resolver este problema é necessário fazer o diagrama de forças de
cada corpo:

32
Figura 2.11: Corpo em movimento circular.

Vemos que as únicas forças que atuam sobre o bloco é seu peso e a força
de tração da corda. Fazendo a equação de movimento para o bloco, utilizando
também que este estará em repouso, ou seja a força resultante sobre ele deve
ser zero, teremos:

⃗M +T
P ⃗ = 0 =⇒ T − M g = 0 =⇒ T = 3mg (2.33)
Agora sobre a bolinha, a única força que atua nela é a tração da corda, e essa
força sempre aponta para o centro da mesa enquanto a bolinha gira. Por isso
podemos igualar essa força de tração a uma força centrípeta:
2 2
T ⃗ c =⇒ T = mac =⇒ 3mg = m v =⇒ R = v
⃗ =F (2.34)
R 3g
Substituindo os valores obteremos que R = 3, 40 m.

2.3.4 Carro em Curva


Quando um carro faz uma curva realizando um movimento circular uni-
forme, o que impede que o carro derrape para fora da curva? Como visto, a
velocidade é tangencial ao movimento, portanto o carro sempre tentará sair
pela tangente da curva.
O que impede a derrapagem do carro é a força de atrito! O atrito forçará o
carro para o centro da circunferência descrita pela curva, assim podendo ser
descrita como uma força centrípeta.

33
Figura 2.12: Carro em uma curva.

Seja um carro de massa m = 1000 kg fazendo uma curva que descreve uma
circunferência de raio R = 50 m. O atrito estático máximo entre o carro e a
estrada é de µe = 0, 8. Qual será a velocidade máxima que o carro pode atingir
sem derrapar?(Use g = 9, 81 m/s2 ).
Primeiro é preciso entender o porque usamos o coeficiente de atrito estático
e não cinético. O atrito está sendo realizado na direção radial (que é na direção
do carro até o centro da circunferência). Como não há movimento nessa
direção, então a força ainda está sendo regida pelo atrito estático.
Como a força de atrito pode ser considerada como a força centrípeta, então
teremos:
2
F ⃗ at−max =⇒ mac = µmax N =⇒ m vmax = µmax mg
⃗c = F (2.35)
R
Isolando a velocidade máxima, obteremos então:

2
p
vmax = Rµmax g =⇒ vmax = ± µmax Rg = 19, 81 m/s2 (2.36)
Em que foi apenas considerado o sinal positivo da velocidade, já que se fosse
negativo o sentido da velocidade seria invertido.

2.3.5 Forças Resistivas


Muitas vezes desconsideramos forças de resistência, como a resistência do
ar, ou resistência de se mover em um meio viscoso. Agora vamos mostrar
como introduzir essas forças no sistema.
As forças resistivas sempre dependem da velocidade do objeto se movendo
no meio. Se um corpo está se movendo em um meio viscoso, a força de
resistência será proporcional à velocidade R = bv, em que b é uma constante.
Já para a força de resistência do ar, essa dependência da velocidade é
quadrática, isto é, o módulo da força resistiva será R = 12 DρAv 2 , em que ρ

34
representa a densidade do ar, A é a área transversal do corpo (a área da som-
bra que um objeto faz quando olhado de cima) e D é uma constante empírica,
chamada coeficiente de arrasto.
Como essas forças dependem da velocidade, as forças resistivas crescerão
até o ponto em que o corpo atinge o equilíbrio. Assim o corpo atingirá uma
velocidade máxima, chamada velocidade terminal.
Vamos estudar o caso de uma queda livre para uma bola de tênis de massa
m = 0, 5 kg e raio r = 30 cm. Considerando que o coeficiente de arrasto é
D = 0, 5, a densidade do ar ρ = 1 kg/m3 e a gravidade como g = 9, 81 m/s2 . Qual
será a velocidade máxima que essa bola atingirá?
As únicas forças que irão atuar nessa bolinha serão a força peso e a força
de resistência. A velocidade terminal será atingida quando as forças atingirem
um equilíbrio, isto é:

⃗ +R
P ⃗ = 0 =⇒ R − P = 0 =⇒ P = R (2.37)
Como a força peso aponta para baixo, seu sinal é negativo, como a resistiva
aponta para cima, seu sinal é positivo.
A partir disso podemos então igualar os módulos, obtendo:
r
1 2 2 2mg 2mg
mg = DρAv =⇒ vT = =⇒ vT = (2.38)
2 DρA DρA
Temos todas as informações, menos a área transversal. Como sabemos o raio
da bola, e sabendo que sua área transversal será a área que sua sombra faz
no chão, teremos que A = πr2 , que é a área de uma circunferência. Desse
modo teremos finalmente:
r s
2mg 2 · 0, 5 · 9, 81
vT = 2
= = 8, 33 m/s (2.39)
Dρπr 0, 5 · 1 · π · (0, 3)2
Lembre-se sempre de colocar as unidades em SI, para isso foi trocado o termo
r = 30 cm para r = 0, 3 m.

35
2.4 Energia
Todos já temos um breve conhecimento do que significa a energia de um
sistema, mas pouco sabemos sobre uma definição um pouco mais formal.
Podemos definir energia como uma quantidade que pode gerar uma ação,
ou então quanto dessa quantidade foi usada para gerar uma ação. Vejamos a
energia elétrica que permeia nossa casa. A energia elétrica é o que fornece a
possibilidade de gerar corrente elétrica, para que os aparelhos funcionem. A
energia térmica, por exemplo, mostra o quanto de calor deve ser transmitido
de um material para o outro para que eles mudem de temperatura. A energia
sonora está associada com a quantidade (em intensidade ou frequência) de
sons que podem ser emitidos ao tocar um violão.
A energia nos permeia e nos acompanha em tudo que fizermos, e uma
importante lição que temos sobre ela é que uma energia nunca é criada ou
destruída, é sempre transformada. É possível ver isso com a comida que co-
memos. Quando ingerimos um hambúrguer, este contém bastante energia
(calorias). Esta energia do alimento pode ser transformada em movimento
(energia cinética) como fazemos ao correr em um parque. Essa energia, caso
não seja utilizada, não irá se perder, e sim será armazenada em forma de gor-
dura. Portanto a energia inicial do sistema deve ser sempre igual no começo
e no fim.
Vamos agora estudar um pouco sobre a energia e ver como esta pode ser
usada para resolver problemas como os já vistos anteriormente.

2.4.1 Energia Cinética


A energia cinética é aquela que está ligada com o movimento de corpos,
especificamente com a velocidade e massa deles. Quanto maior a velocidade,
maior será a energia cinética que eles carregam. Quanto maior a massa tam-
bém.
A energia cinética é dada pela equação:

mv 2
K= (2.40)
2
Em que “K” representa Kinetic, cinética em inglês. Outras podem chamar a
energia cinética de T ou então Ec , então é preciso se atentar às nomenclatu-
ras.
A unidade das energias é J, Joules, mas também pode ser dada por cal,
que representa calorias, estas têm a taxa de conversão:

m2
1 kg · = 1 J, 1 cal = 4, 184 J (2.41)
s2

36
2.4.2 Trabalho
O trabalho, que também é uma medida de energia, está associado ao tanto
de energia que é preciso aplicar em um objeto para move-lo, dada uma certa
força e um certo deslocamento desse objeto. O trabalho para uma força cons-
tante é dado por:

W = F ∆S cos θ (2.42)
Em que F representa a força, ∆S o deslocamento e θ é o ângulo formado entre
os vetores força e deslocamento.
Exemplo 1.
Afim de demonstrar como o trabalho é útil em sala de aula, uma professora
puxa uma caixa de madeira, em que sua força forma um ângulo de θ = 60◦
com a horizontal. Aplicando uma força de F = 10 N e fazendo o a caixa de
deslocar 0, 8 metros na horizontal, o trabalho realizado por ela sobre a caixa
será:
1
W = F ∆S cos 60◦ = 10 · 0, 8 ·
=4J (2.43)
2
Caso ela fizesse a força na direção da horizontal, o trabalho feito por ela
seria:

W = 10 · 0, 8 · 1 = 8J (2.44)
Demonstrando que com a mesma força é possível aplicar mais trabalho no
sistema, basta escolher a direção correta.
Por outro lado, a força pode variar com o tempo, ou com a distância per-
corrida. Para estes casos vamos tomar que o trabalho é a soma de todas as
forças aplicadas em determinado deslocamento. Para facilitar vamos tomar a
força e o deslocamento agindo na mesma direção x:
xf
X
W = Fx ∆x (2.45)
xi

Em que xi denota o x inicial e xf o x final. E também ∆x será o intervalo de


deslocamento que estudaremos cada uma das forças. Agora tomando esse
deslocamento como sendo muito pequeno, assim estudando as forças em in-
tervalos muito pequenos, teremos uma melhor resolução dessas forças. Para
aqueles que já estudaram o conceito de integral verão que o trabalho se tor-
nará:
xf Z xf
X
W = lim Fx ∆x = Fx dx (2.46)
∆x→0 xi
xi

37
Considerando agora que a força e o deslocamento podem assumir qualquer
direção, e que serão descritos por vetores, então teremos a final definição de
trabalho:
Z
W = ⃗ · d⃗r
F (2.47)

Se atente que · representa um produto escalar entre os dois vetores, aquele já


visto na primeira parte dessa apostila. Também temos que d⃗r representa um
infinitesimal do vetor posição, isto é, ele será d⃗r = dxî+dy ĵ em duas dimensões
e d⃗r = dxî + dy ĵ + dz k̂ em três dimensões.
Exemplo 2.
Imagine agora o mesmo exemplo dado anteriormente, mas agora conside-
rando que o chão tem muitas ranhuras, e dependendo de onde a caixa passa a
professora precisa fazer mais força. Assim definimos a função força da profes-
sora como sendo F = x2 . Qual será o trabalho que a professora deve realizar
sobre a caixa?
Para resolver isso temos que o deslocamento ocorre no eixo x, portanto seu
vetor deslocamento será d⃗r = dxî + 0ĵ. Já a força ocorre com um ângulo de
θ = 60◦ , precisamos achar um vetor que descreve essa direção de força. Para
isso vamos utilizar a decomposição já citada algumas vezes:

Figura 2.13: Decomposição do vetor força.

E assim, os módulos das forças serão:

1
Fx = F cos θ = x2 · (2.48)
2√
3
Fy = F sen θ = x2 · (2.49)
√ 2
2
⃗ = x î + 3 x2 ĵ
F (2.50)
2 2
No produto escalar com a direção, teremos:
2 2
⃗ · d⃗r = x · dx(î · î) + 0(ĵ · ĵ) = x dx
F (2.51)
2 2

38
Com isso a integral se torna:
0,8 0,8
x2 x3
Z Z
W = ⃗ · d⃗r =
F dx = = 0, 171 J (2.52)
0 2 3 0
Rb
Em que foi utilizada a integral de um polinômio a xn dx = F (b) − F (a) com
n+1
F (x) = xn+1 + C.
Se você não entendeu nada do que foi feito nessa integral, recomendamos
o estudo por algum outro material, como nossa apostila de integrais, uma
video-aula, ou até mesmo um livro de cálculo 1. Integrais serão grande parte
desta apostila de física, então é bom ter ao menos um leve conhecimento
sobre.

Trabalho Feito por uma Mola


Um grande exemplo de uma força que varia com a distância é a força rea-
lizada por uma mola. Quando esticamos uma mola, ela fará uma força con-
trária para voltar a sua posição de origem, e essa força aumentará conforme
puxamos mais ainda ela. O mesmo acontece se comprimimos esta mola, en-
tão ela irá fazer uma força contrária para retornar a sua origem.
A partir disso podemos modelar matematicamente a força realizada por
uma mola em apenas uma direção como sendo:
⃗ el = −k⃗x
F (2.53)
Em que o subscrito el significa “elástica”, k é uma constante da mola chamada
constante elástica. Perceba o sinal de menos na equação, que determina
que a força sempre será oposta ao deslocamento da mola. Essa formulação
da força elástica é também chamada Lei de Hooke.

Figura 2.14: Força feita por uma mola.

Consideremos agora uma mola que está sendo comprimida, O trabalho


feito pela mola para sair de uma posição comprimida xi = −xmax e chegar na
sua posição de equilíbrio xf = 0 será:

39
0 0
x2
Z
1
W = −kx dx = −k = kx2max (2.54)
−xmax 2 −xmax 2
O peso ligado na ponta da mola não parará de se mover quando a mola
chega em sua posição de equilíbrio. Ele continuará se movimentando até
chegar em sua amplitude máxima xmax . Para que a mola novamente retorne
ao seu ponto de equilíbrio, deverá fazer agora um trabalho de W = −(kx2max )/2.
Com isso, o trabalho total de uma mola de um ponto xi até um ponto xf é:
Z xf
1 1
W = −kx dx = kx2i − kx2f (2.55)
xi 2 2
Se esse é o trabalho da mola, o trabalho de um agente externo (como se nós
puxássemos a mola) para retornar a mola de xf até xi será:
Z xi
1 1
Wext = −kx dx = kx2f − kx2i (2.56)
xf 2 2

Exemplo 3.
Uma pessoa deita em uma cama de molas ensacadas. Considerando que
o peso inteiro dessa pessoa se concentra apenas sobre uma mola, qual será o
módulo do trabalho que a mola realiza sobre essa pessoa se ela pesa m = 60 kg
e a mola é comprimida em 3 centímetros. (Considere g = 9, 81m/s2 ).
Primeiro devemos calcular qual é a força que a pessoa faz sobre a mola.
Como todo peso dela está concentrada sobre a mola, então a força aplicada
será P = mg. O deslocamento está em centímetros, passando para o sis-
tema SI e considerando que o movimento acontece no eixo y então teremos
y = 0, 03 m. Contudo, ainda não temos a informação da constante da mola,
portanto precisamos encontrá-la. Para isso utilizamos:
mg 60 · 9, 81 kg
Fel = ky =⇒ k = = = 19620 2 = 19620 N/m (2.57)
y 0, 03 s
Agora que encontramos a constante elástica podemos encontrar o módulo do
trabalho a partir da equação 2.55:

1 1 19620 · 0, 03
|W | = k · 0 − ky 2 = = 294, 3 J (2.58)
2 2 2

2.4.3 Teorema do Trabalho-Energia Cinética


Este teorema nos permite relacionar o trabalho com a energia cinética. O
trabalho realizado por um meio externo sobre o sistema é dado por:

40
Z xf Z xf
Wext = F dx = ma dx (2.59)
xi xi

Agora relembrando que a aceleração é a derivada da velocidade em relação


ao tempo, e usando que a velocidade depende da posição, então é possível
utilizar a regra da cadeia de derivadas para obter:
Z xf Z xf
dv dv dx
Wext = m dx = m dx (2.60)
xi dt xi dx dt
dx
Usando que dt
= v e simplificando os diferenciais dx obteremos então:
Z vf
1 1
Wext = mv dv =⇒ Wext = mvf2 − mvi2 (2.61)
vi 2 2
Percebemos que o resultado é muito parecido com a energia cinética do corpo
nos pontos i e f . Com isso obtemos o teorema:

Wext = Kf − Ki = ∆K (2.62)
Isso quer dizer que a aplicação, por um meio externo, de trabalho sobre um
corpo causará uma mudança na energia cinética, ou seja, uma mudança no
movimento desse corpo.
Exemplo 4.
Um carro sobe uma ladeira de forma triangular, com altura h e compri-
mento L e que forma uma angulação θ com a horizontal. Se o carro percorre
esse caminho com velocidade constante, qual será seu trabalho realizado?
Este trabalho será maior ou menor caso a ladeira tenha um comprimento
muito grande, mas mantendo a mesma altura h? Para este exemplo não usa-
remos números.

Figura 2.15: Carro subindo duas ladeiras de mesma altura.

Para começar devemos escrever o trabalho do sistema como um todo.


Existe a força da gravidade puxando o carro para baixo, e o trabalho do carro
para subir a ladeira. Com isso o trabalho externo será:

Wext = Wcarro + Wgravidade (2.63)


Como o carro se movimenta a velocidade constante, a energia cinética não
muda nos pontos final e inicial, portanto pelo teorema do trabalho-energia

41
cinética teremos:
∆K = 0 =⇒ Wext = 0 (2.64)
Isso quer dizer que o trabalho feito pelo carro para subir a ladeira será igual ao
negativo do trabalho realizado pela gravidade. Como em um plano inclinado,
a gravidade fará força no sentido de movimento com módulo Px = P sen θ, e o
deslocamento feito pelo carro será L, portanto:

Wgravidade = −P sen θL =⇒ Wcarro = P sen θL (2.65)


O sinal de menos apareceu pois a força aplicada pela gravidade está sendo
contrária ao movimento, portanto por uma questão de vetores, o sinal de
menos deve ser incluso.
Agora, a partir de uma relação trigonométrica, sabemos que o seno do
ângulo é igual a divisão do cateto oposto pela hipotenusa. Sabendo que o
cateto oposto é a altura h e a hipotenusa L, então teremos:
h
Wcarro = P sen θL = mg L =⇒ Wcarro = mgh (2.66)
L
Com isso percebemos que o trabalho realizado pelo carro não dependerá do
comprimento L da ladeira, vendo que não faz diferença em questão de energia
uma ladeira de comprimento L ou algo muito maior, ou menor.

2.4.4 Energia Potencial


Gravitacional
Imaginemos agora um objeto parado no chão, como um lápis. Este lápis
não tem energia nenhuma, pois não se move. Ao pegarmos este lápis e levan-
tarmos ele em velocidade constante, não aplicaremos nenhum trabalho sobre
esse corpo. Contudo, ao soltarmos ele e deixarmos cair novamente até o chão,
ele obterá velocidade e assim obterá energia cinética. Mas de onde veio essa
energia, se não demos nenhuma energia para ele?
Acontece que, ao levantar o lápis do chão, é preciso realizar trabalho ex-
terno, pois a força da gravidade puxará o lápis para baixo. Com isso, quando o
lápis está no topo de seu movimento, ele tem energia acumulada (do trabalho
empregado), assim quando solto pode transformar essa energia acumulada
em energia cinética.
Essa energia acumulada recebe o nome de energia potencial gravitacio-
nal, denominada desse jeito pois o lápis tem o potencial de transformá-la em
energia cinética caso seja solto. Como vimos no exercício anterior, o trabalho
feito pela gravidade, ou então a energia potencial gravitacional será dada por:

Ug = mgh (2.67)

42
Em que h é denotada pela diferença de altura entre o objeto e o ponto de
referência.

Figura 2.16: Diferenças de energia potencial.

Como vemos na imagem, a bolinha no ponto (a) está no chão, portanto


sua energia potencial é zero. Já a bolinha (b) também está no chão, mas
se escolhermos o referencial de energia potencial zero como sendo onde se
encontra o ponto (a), então a bolinha no ponto (b) terá energia potencial U =
mgy.

Elástica
Uma mola quando comprimida ou esticada, mas enquanto ainda não ini-
ciou seu movimento, também terá energia potencial, mas agora denominada
energia potencial elástica, uma vez que ela tem o potencial de se transfor-
mar em energia cinética, mas ainda não fez pois não foi solta.
Como já vimos na equação 2.56, o trabalho externo para se mover uma
mola depende do quadrado da posição de deslocamento. Assim podemos de-
finir a energia potencial elástica como sendo:

kx2
Uel = (2.68)
2
Em que foi considerado que o ponto de energia potencial zero é o ponto de
equilíbrio da mola, isto é, x = 0.

2.4.5 Forças Conservativas e Não Conservativas


Pense em um caso de uma ferramenta caindo da mão de um mecânica
numa loja de carros. A ferramenta faz tem uma certa energia potencial gra-
vitacional enquanto está na mão do mecânico. Quando cai começa a trans-
formar essa energia em energia cinética, até o momento que encosta no chão.
Invés de bater no chão e subir novamente, como faria se a energia cinética
continuasse igual, a ferramenta bate no chão, faz um grande barulho e para.
Podemos dizer que a energia cinética que a ferramenta tinha foi transfor-
mada em energia sonora, criando um grande barulho. Esta energia, porém,
não é reversível, isto é, esse barulho feito não pode voltar à ferramenta e gerar
novamente energia cinética. Esta então é considerada uma energia dissipada.

43
Este é apenas um exemplo, mas este engloba um caso em que a energia não
pode ser transformada de volta em outros componentes anteriores. O mesmo
acontece com um carro se movimentando em uma estrada com atrito. Quando
o carro para de acelerar, sua velocidade começa a cair, até um momento em
que o carro parará. Isso quer dizer que o carro tinha determinada energia
cinética, mas então a força de atrito dissipou essa energia e fez o carro parar.
Ao colocar a mão no pneu do carro, veremos que estará quente, o que quer
dizer que a energia cinética virou energia térmica no pneu por conta do atrito.
Novamente, a energia térmica liberada não é reversível, isto é, não conse-
gue retornar ao carro como energia cinética e faze-lo andar novamente. Com
isso teremos que a força de atrito dissipou a energia, e portanto é uma Força
dissipativa. Essa variação na temperatura também pode ser chamada de
energia interna, que pode ser vista ao estudar física térmica.
A partir dessas definições podemos dividir as forças em dois grupos: forças
conservativas e não conservativas.

Forças Conservativas
As forças conservativas são aquelas que preservam a reversibilidade do
sistema, podendo ocorrer a troca de trabalho para energia potencial e energia
cinética livremente. Existem duas propriedades destas forças:

1. O trabalho realizado por uma força conservativa independe do caminho


feito, apenas dependerá dos pontos final e inicial.

2. O trabalho realizado em um circuíto fechado, isto é, o ponto inicial é


igual ao final, será zero.

Essas propriedades podem ser vistas a partir da equação 2.61, em que o tra-
balho só depende dos pontos final e inicial, e caso estes são iguais o resultado
dará zero.

Forças Não Conservativas


Estas são as forças que convertem energia de forma dissipativa, como é o
caso do atrito, e que não satisfazem as propriedades de forças conservativas
já citadas.
Isso acontece, por exemplo, pois o trabalho realizado pelo atrito depende
de qual caminho será tomado. Como já visto no problema do caminhão su-
bindo a ladeira, para forças conservativas não importa se o caminhão sobe
a rampa com comprimento L ou com comprimento maior, as duas gerarão o
mesmo trabalho. Já quando levamos o atrito em conta, o caminho mais longo
terá maior presença de atrito, portanto a energia dissipada será maior.
Podemos definir uma soma de energias cinética e potencial como energia
mecânica:

44
Em = K + U (2.69)
Essa será uma aproximação da energia total e inicial do sistema, sem con-
tar a energia interna dos objetos. Para forças conservativas, sempre existirá
um balanço em energia cinética e potencial tal que sua soma dará a energia
mecânica.
Entretanto, ao considerar forças dissipativas como o atrito, a soma de
energia cinética e potencial pode ser abaixo à energia mecânica, uma vez que
uma parte será dissipada pelo atrito.
Exemplo 5.
Considere um jovem descendo uma rampa de skate. No ponto mais alto da
rampa, em que o jovem ainda não iniciou o movimento, sua energia potencial
é máxima e cinética é zero, portando Em = U .

Figura 2.17: Skatista descendo rampa.

Considerando que a pista tem atrito e após o jovem chegar próximo ao


ponto mais baixo da curva, ele terá uma certa energia potencial, uma maior
energia cinética, mas a soma das duas não dará a energia com que o jovem
iniciou o movimento. Isso acontece pois o atrito agiu de forma dissipativa,
gerando trabalho e diminuindo a energia mecânica total do sistema.

2.4.6 Força Conservativa como Derivada de um Potencial


Como visto nas propriedades da força conservativa, o trabalho realizado
por ela só dependerá dos pontos final e inicial, então podemos relacionar o
trabalho com o potencial da forma:
Z xf
W = F dx = Ui − Uf = −∆U (2.70)
xi

Considerando agora variações muito pequenas no potencial, a variação se


tornará um diferencial ∆U → dU e o símbolo da integral desaparecerá, com
isso iremos obter a seguinte relação:

45
dU
−dU = F dx =⇒ F = − (2.71)
dx
Portanto, uma força conservativa pode ser obtida através da derivada de seu
potencial
Exemplo 6.
Como já foi visto, uma mola tem potencial dado por:

kx2
U= (2.72)
2
Como a força elástica é uma força conservativa, podemos encontrar a força a
partir da relação obtida recentemente:

dU k dx2
F =− =− = −kx (2.73)
dx 2 dx
Que é exatamente a fórmula da força elástica. Lembre-se que esse sinal de
menos representa que a força está agindo contra o movimento.

46
2.5 Conservação de Energia
Como já foi mencionado muitas vezes nesta apostila, a energia de um sis-
tema nunca é criada ou desaparece do nada, mas sim ela se transforma em
outros tipos de energia. Para estudar este tópico um pouco mais a fundo, é
preciso definir o que são sistemas isolados e sistemas abertos.
Sistemas isolados são aqueles que não permitem troca de energia ou massa
com o ambiente, como por exemplo uma caixa térmica. O que acontece dentro
da caixa térmica deve permanecer lá, pois idealmente a caixa não troca calor
(energia) com o ambiente externo. Também não há troca de massas entre
esses ambientes, isto é, uma garrafa d’água dentro da caixa não consegue
sair espontaneamente da caixa.
Agora para sistemas abertos existem duas possibilidades, um é dos que
permitem a troca de energia com o ambiente (como uma caixa térmica que
não funciona direito, ela deixará o calor sair), mas não permite a troca de
massa. O outro caso é aquele que considera troca de massa e de energia,
como uma caixa térmica aberta com gelo debaixo do sol. Aquele gelo irá
derreter e então começará a evaporar, o vapor que sai da caixa representa a
massa de água saindo do sistema (caixa térmica), juntamente com a troca de
energia do sistema com o ambiente.
Isso dito, a maior parte dos problemas tratados serão sistemas isolados,
pois requerem um pouco menos de cuidado com para onde a energia está
indo. Em um sistema isolado a energia mecânica é conservada, isto é, sempre
será a mesma em qualquer instante de tempo.

2.5.1 Sistema Isolado


Quando tratamos de um sistema isolado, a energia mecânica do sistema
sempre será a mesma, então é possível sempre relacionar energia cinética e
potencial por meio de questões energéticas. Com isso podemos fazer a se-
guinte proposição:
Ki + U i = Kf + U f (2.74)
Isso quer dizer que, para dois momentos distintos de um movimento, a soma
das energias cinética e potencial no momento inicial deve ser sempre a essa
soma no momento final.
Exemplo 1.
Uma mola contendo uma bola em sua ponta de massa m = 2 kg é compri-
mida até uma distância de 30 centímetros, considerando que a constante da
mola é k = 50 N/m, qual será a velocidade máxima que a bola pode atingir?
A energia potencial que a bola irá adquirir a ser comprimida será:
50 · 0, 3
Uel = = 7, 5 J (2.75)
2

47
E esta será toda a energia do problema no instante inicial. A energia cinética
máxima será quando toda essa energia potencial elástica se transformar em
energia cinética, e isso acontecerá no ponto de equilíbrio da mola, quando a
mola não está fazendo mais nenhuma força (pois não está comprimida nem
alargada). Usando então a conservação de energia do sistema teremos:

Ki + Ui = Kf + Uf =⇒ Ui = Kf (2.76)
Sendo assim conseguimos obter:
r
2
mvmax 2U
Kmax = = U =⇒ vmax = = 2, 74 m/s (2.77)
2 m
Perceba que exercícios como este podem ser mais difíceis pela abordagem de
Leis de Newton, portanto a conservação de energia nos auxilia em resolver
alguns problemas de forma mais fácil.

2.5.2 Consideração de Atrito


Para casos em que devemos considerar atrito no sistema, o trabalho reali-
zado pelo atrito deve entrar entrar na conta da conservação de energia.
Exemplo 2.
Um bloco está no topo de um plano inclinado, com atrito, de altura h = 6 m.
Considerando que sua massa é de m = 2 kg e que no final do plano inclinado
o bloco estará com velocidade v = 2 m/s, qual será o trabalho realizado pela
força de atrito? (Use g = 9, 81 m/s2 ).
Devemos considerar que, quando o bloco está no inicio de seu movimento
na parte superior, toda sua energia é energia potencial gravitacional. Ao final
do seu movimento, a energia total será dada pela soma da energia cinética e
do trabalho realizado pela força de atrito (a energia potencial será zero pois o
bloco já estará na base do plano). Assim teremos a relação:

Ui = Kf + Wat =⇒ Wa t = Ui − Kf (2.78)
A energia potencial gravitacional é dada por U = mgy, em que a altura em y
será a altura h do plano. A energia cinética é dada por K = (mv 2 )/2, lembre-se
que essa velocidade está em módulo, então não importa para qual direção a
velocidade aponta. Dessas relações obteremos:
1 1
Wat = mgh − mv 2 = 2 · 9, 81 · 6 − 2 · (2)2 = 113, 72 J (2.79)
2 2

48
2.5.3 Potência
Em um dos exemplos citados nesta apostila, foi estudado o caso de um
carro subindo uma ladeira, em que o trabalho que o carro deveria realizar
para subir a ladeira deveria ser o mesmo independente do comprimento da
ladeira, isso apenas dependeria da altura da ladeira.
Existe, porém, uma relação de energia que será diferente, que será a po-
tência. Ela relaciona o tanto de energia empregada com o tempo necessário
para fazer uma ação. A potência média pode ser definida como:
∆E
Pm = (2.80)
∆t
Com a potência, é possível identificar qual método é o mais efetivo. O caso
em que a ladeira tem comprimento menor fará com que o carro demore me-
nos para completar o caminho gastando a mesma energia, assim sua potência
será maior, quando a ladeira é maior, ou seja menos ingrime, a potência ne-
cessária para realizar o movimento será menor.
Como já estamos acostumados a fazer, estudaremos a potência quando a
diferença de tempo e energia são muito pequenos, ou seja, estudaremos a
potência instantânea, que é dada por:
dE
P = (2.81)
dt
Como a potência tem dimensão de energia por tempo, sua unidade será J/s,
mas que também é conhecido por W, uma simplificação de Watts. Assim a
conversão em SI é dada por:

J kg · m2
1W=1 =1 (2.82)
s s3
Exemplo 3.
Um chuveiro fornece energia Q = 5000 J em forma de calor para a água em
um banho que durou 30 min. Qual é a potência do chuveiro?
Para este caso podemos utilizar a forma da potência média, que será o
tanto de energia utilizada pelo tempo gasto. Para colocar o problema em
unidades SI é preciso converter minutos para segundos. Como 1 minuto re-
presenta 60 segundos, então 30 min = 1800 s. A potência média desse chuveiro
será então:
∆E 5000
Pm = = = 2, 7 W (2.83)
∆t 1800
Que representa um chuveiro bem mixuruca. Aparelhos elétricos como este
costumam ter potências em torno de ∼ 6000 W.

49
3 Momento Linear e Colisões
Este capítulo se concentrará na descrição de colisões entre dois ou mais
corpos. Tais colisões acontecem corriqueiramente, como em um parque de di-
versões dois “carrinhos de bate-bate” colidindo. Poderemos então determinar
as velocidades antes e depois da colisão de cada um dos corpos, e também
utilizaremos conceitos já estudados como conservação de energia, vetores ve-
locidade e etc.

3.1 Momento Linear


Uma quantidade importante que iremos estudar é o momento linear, que
também pode ser chamado de quantidade de movimento. O momento está
diretamente ligado com a velocidade de um corpo, e pode ser descrito como:

⃗p = m⃗v (3.1)

Sua unidade em SI é kg · m/s. Podemos também escrever o momento em ter-


mos de uma força aplicada, utilizando que a aceleração é a derivada da velo-
cidade em relação ao tempo, então teremos:

⃗ = m d⃗v = d(m⃗v) =⇒ F
⃗ = m⃗a =⇒ F
F ⃗ = d⃗p (3.2)
dt dt dt
Em que foi utilizado que a massa do sistema permanece constante, portanto
pode entrar para dentro da derivada sem problemas.
Um fato super importante sobre o momento linear é que, como ele pode ser
descrito a partir de forças, e considerando um sistema isolado em que não há
atuação externa de forças, então teremos que a derivada do momento deve ser
zero. Com isso ⃗p deve ser conservado!. Assim poderemos resolver problemas
que poderiam ser dificultosos pela metodologia de leis de Newton.
Exemplo 1.
Um canhão de massa M = 500 kg está parado em uma superfície sem
atrito, preparado para atirar uma pequena bola de canhão de massa m =
20 kg. Considerando que a bola de canhão sairá com velocidade v = 50 m/s na
horizontal, qual será a velocidade de recuo do canhão?

50
Figura 3.1: Canhão atirando.

Considerando que nenhuma força externa atua no sistema, então este será
um sistema isolado e poderemos utilizar a conservação de momento linear. O
momento inicial do sistema deve ser igual ao momento final do sistema:

⃗pi = ⃗pM + ⃗pm = 0 (3.3)


⃗pf = ⃗pM + ⃗pm = pm − pM (3.4)
⃗pi = ⃗pf =⇒ pm − pM = 0 =⇒ pM = pm (3.5)

Como o módulo do momento final do canhão deve ser igual ao módulo do


momento final da bala, então:
mv
M V = mv =⇒ V = = 2 m/s (3.6)
M
Perceba que a velocidade também poderia ter sido calculada por conserva-
ção de energia, e dará o mesmo resultado! Veremos mais para frente casos
em que deveremos aliar conservação de momento e energia para resolver os
problemas.

3.1.1 Sistema Não-Isolado


Existirão casos em que a somatória de forças externas não será zero, ou
seja, o sistema a ser estudado estará sofrendo demais forças que adicionarão
aceleração e momento às partículas do sistema. Como visto, a relação de
forças externas com o momento em um determinado instante muito pequeno
é:

⃗ = d⃗p
F (3.7)
dt
Podemos então passar o diferencial no tempo para o lado da força e integrar
os dois lados da equação para um determinado intervalo de tempo, de ti até
tf . A integral do momento resultará em:
Z tf tf
d⃗p = ⃗p = ⃗pf − ⃗pi = ∆⃗p (3.8)
ti ti

51
Igualando à integral do outro lado da equação teremos a definição de impulso:
Z tf
∆⃗p = ⃗I = ⃗ dt
F (3.9)
ti

E se quisermos escrever o impulso médio para uma variação suficientemente


grande de tempo teremos:

⃗I = F∆t
⃗ (3.10)
O impulso será importante pois é ele que causará a variação de momento li-
near em um sistema. O impulso, como representa a diferença de momento
linear em diferentes instantes, terá as mesmas unidades em SI que o mo-
mento, portanto kg · m/s.
Exemplo 2.
Um jogador de futebol chuta uma bola, que estava parada, aplicando uma
⃗ = 50 î N. Considerando que o pé do jogador ficou em contato com a
força de F
bola por 0, 1 segundo, qual será o momento final da bola?
Como a força não varia com o tempo, podemos utilizar a equação do im-
pulso médio de um sistema, portanto:

⃗I = 50 · 0, 1 î = ⃗pf − ⃗pi =⇒ ⃗pf = 5 î kg · m/s (3.11)

52
3.2 Colisões em 1D
Nesta seção estudaremos os tipos de colisão que podem ocorrem entre
dois corpos (em uma dimensão) e também como podemos resolver matemati-
camente o sistema, de modo a encontrar todas as informações sobre o antes
e o depois da colisão. Para isso, já estudamos conservação de energia e con-
servação de momento, dois tópicos de extrema importância para o assunto de
colisões.
Podemos separar as colisões em três categorias, cada uma com suas pecu-
liaridades:

1. Colisões Elásticas: Estas são as colisões que preservam o momento


linear e a energia cinética do sistema, logo antes e depois da colisão
acontecer. Nestes casos não estaremos interessados em estudar outros
tipos de energia, como energia potencial.

2. Colisões Inelásticas: Essas colisões são aquelas que também conser-


vam o momento linear do sistema, mas a energia cinética não é conser-
vada, ou seja a energia cinética antes da colisão será diferente da energia
cinética após a colisão. Isso acontece pois a energia pode ser perdida de
diversas formas, como calor, som, etc.

3. Colisões Perfeitamente Inelásticas: Assim como as colisões inelásti-


cas, estas conservam o momento e não conservam a energia cinética,
mas além disso, após a colisão entre dois corpos, estes se grudarão e
começarão a se mover como se fossem um único corpo. É como se duas
bolas de massinha de modelar se colidissem, elas se juntariam em uma
grande bola que contém a soma das massas individuais.

As colisões não estão apenas restritas entre um objeto se chocando com


o outro, mas também consideram interações à distância em partículas muito
pequenas, como a “colisão” entre dois elétrons. Os elétrons não irão se en-
costar, mas irão se repelir de modo que terá as mesmas propriedades de uma
colisão. No mundo real, colisões elásticas acontecerão apenas no mundo mi-
croscópico, pois a perda de energia para o ambiente no mundo macroscópico
é muito mais fácil.
Exemplo 1.
Considere o exemplo de dois carros iguais de massa m = 500 kg se mo-
vendo em uma estrada e na mesma faixa, um logo após o outro. Por conta
de um gato atravessando a rua, o motorista da frente teve de diminuir sua
velocidade. O segundo motorista, porém, não prestou atenção e acabou coli-
dindo seu carro na traseira do outro. Considerando que imediatamente antes
da colisão o carro da frente tinha velocidade v1i = 30 km/h e o carro de trás

53
v2i = 50 km/h, e também que após a colisão o carro da frente se move com ve-
locidade 60 km/h, qual será a velocidade final do carro de trás? (OBS: nenhum
gato foi machucado neste acidente).
Para resolver este exercício, podemos utilizar apenas a conservação de mo-
mento linear do sistema, não sendo necessário identificar se a colisão foi elás-
tica ou inelástica. Usando então a conservação do momento, teremos:

⃗p1i + ⃗p2i = ⃗p1f + ⃗p2f (3.12)


Como os dois carros estão na mesma direção, vamos tomar que ambos os
momentos têm sinal positivo. Expandindo a equação encontramos:
mv1i + mv2i − mv1f
mv1i + mv2i = mv1f + mv2f =⇒ v2f = (3.13)
m
Cortando as massas e substituindo os valores chegaremos em:

v2f = 30 + 50 − 60 = 20 km/h (3.14)


Perceba que as unidades não estão em SI. Como no exemplo não foi especifi-
cado qual unidade deveria ser utilizada, então podemos deixar em km/h. Caso
contrário deveríamos retornar ao velho e bom m/s.

54
3.3 Colisões em 2D
Agora estudaremos colisões que acontecem em um plano bidimensional.
Sendo assim será preciso decompor os vetores velocidade em cada um dos ei-
xos. Em alguns casos será também preciso utilizar a conservação de momento
juntamente com conservação de energia para obter determinadas informações
(caso a colisão seja elástica).
Em uma colisão de duas partículas, em qualquer dos casos de colisões,
deveremos ter a conservação do momento, logo ⃗pi = ⃗pf . Considerando que o
movimento acontecerá no plano x, y devemos ter a conservação do momento
em cada uma das coordenadas. Considerando que antes e após da colisão as
duas partículas seguem a mesma direção teremos:

p1xi + p2xi = p1xf + p2xf (3.15)


p1yi + p2yi = p2yf + p2yf (3.16)

Em que os sinais podem mudar, dependendo da direção do momento. Uma


demonstração dessa colisão é dada por:

Figura 3.2: Colisão em 2D.

Exemplo 1.
Em uma mesa de sinuca vista de cima, apenas restam a bola branca e
a bola preta na mesa. A bola preta está parada no centro da mesa e, após
uma tacada, as duas bolas colidem. Sabendo que a bola branca chega com
velocidade vb = 5 m/s na horizontal e também que o movimento final das bolas
terá uma diferença de ângulo em θ = 60◦ , qual será o vetor velocidade da bola
preta? (Considere uma colisão elástica).

55
Figura 3.3: Colisão de bolas de sinuca.

Para resolver este problema devemos fazer a conservação do momento em


cada uma das coordenadas. Como inicialmente não há movimento no eixo y,
então vamos começar com esta equação:
θ θ
0 = mvbyf − mvpyf = mvbf sen − mvpf sen =⇒ vbf = vpf (3.17)
2 2
O ângulo θ/2 nos senos aparece pois o ângulo utilizado pela composição é
aquele que parte da horizontal e vai até o vetor, que seria metade do ângulo θ.
As massas foram consideradas iguais pois ambas são bolas de sinuca.
Agora que sabemos que o módulo das velocidades finais é o mesmo, pode-
mos utilizar a conservação de momento no eixo x para finalmente encontrar
esse módulo. Entretanto, podemos também utilizar a conservação de energia,
uma vez que se trata de uma colisão elástica. Com isso teremos:

r
1 1 2 1 2 vb2
Kbi + Kpi = Kbf + Kpf =⇒ mvb2 = mvpf + mvpf =⇒ vpf = (3.18)
2 2 2 2
Substituindo agora os valores chegaremos que a velocidade final da bola preta
será vpf = 3, 54 m/s. Para encontrar o vetor velocidade teremos:
θ θ
⃗vpf = vpf cos î − vpf sen ĵ = (3, 07 î − 1, 77 ĵ) m/s (3.19)
2 2
Perceba que a velocidade no eixo y deve ser negativa para conservar o mo-
mento inicial, ou seja, a bola deve se mover para baixo.

56
3.4 Centro de Massa
Durante a apostila inteira utilizamos que as todas as forças sempre atua-
vam nos corpos em um ponto específico, é como se os objetos fossem apenas
partículas sem dimensão. Isso acontece pois para alguns corpos é possível
utilizar o tratamento do centro de massa.
Quando uma pessoa pula de paraquedas e tratamos essa pessoa como
uma bola, estamos tratando que toda sua massa está sendo concentrada em
um certo ponto, e estudamos então a dinâmica desse ponto.
Nessa seção trataremos problemas de uma forma parecida, mas agora
quando temos muitos corpos presentes.
Vamos considerar agora duas esferas maciças ligadas por uma haste de
massa desprezível. Se as esferas têm mesma massa, uma pessoa consegue
equilibrar este sistema colocando seu dedo no centro da haste, este portanto
é seu centro de massa. Entretanto, se as massas são não iguais, o centro
de massa será deslocado em direção da maior massa, conforme mostra a
imagem:

Figura 3.4: Centro de massa.

Se aplicamos uma força em algum ponto diferente do centro de massa, o


sistema irá começar a girar. Ao aplicarmos no centro de massa o sistema se
comportará como uma partícula localizada no centro de massa e com massa
M = m1 + m2 , em que m1 e m2 representam as massas de cada esfera.
Para encontrar qual será a coordenada do ponto de massa podemos dividir
nos eixos x e y, assim encontrando:
n
m1 x1 + m2 x2 X mi xi
xCM = = (3.20)
m1 + m2 i
M
n
m1 y1 + m2 y2 X mi yi
yCM = = (3.21)
m1 + m2 i
M

Em que na última igualdade foi colocada a forma de se encontrar os pontos


do centro de massa quando este é composto por n partículas.
Este é o caso em que se pode distinguir onde está localizada cada massa.
Se formos tratar de um sistema em que a massa está disposta como em uma
barra maciça, onde a massa se encontra ao longo de todo o sistema, a posição
será encontrada a partir de:

57
Z
1
xCM = x dm (3.22)
M
Z
1
yCM = y dm (3.23)
M
Em que dm representa o diferencial da massa, ou uma pequena porção de
massa que será integrada ao longo do sistema.
Exemplo 1.
Uma barra metálica de comprimento L tem sua massa M distribuída de
forma homogênea por toda a barra, qual será a coordenada x do centro de
massa?
Considerando que a massa está distribuída, podemos utilizar a densidade
para calcular o centro de massa. Definindo a densidade linear de massa como
sendo:
M
λ= (3.24)
L
Se cada pequenininho pedaço da barra de comprimento dx tem essa mesma
densidade, o diferencial de massa será encontrado a partir de:
M
λ= =⇒ M = λL =⇒ dm = λdx (3.25)
L
Substituindo esse diferencial na integral do centro de massa teremos:
Z M Z L
1 λ
xCM = x dm = x dx (3.26)
m 0 M 0

Realizando a integral e substituindo os limites de integração:


L
λ x2 λL2
xCM = = (3.27)
M 2 0 2M

Agora retornando à transformação λ = M/L chegaremos finalmente em:

L2 M L
xCM = = (3.28)
2M L 2
Assim, para uma barra que tem sua massa distribuída de forma uniforme, o
centro de massa será localizado exatamente no centro da barra.
Se todas as partículas de um sistema estão se movimentando, é possí-
vel descrever a velocidade inteira do sistema pela velocidade do centro de
massa. Escrevendo ⃗rCM = xCM î + yCM ĵ podemos escrever a velocidade deste
centro de massa como:

58
d⃗rCM 1 X
⃗vCM = = mi⃗vi (3.29)
dt M i
Agora se multiplicarmos a velocidade do centro de massa pela massa total
do sistema M obteremos o momento do centro de massa, que pode ser descrito
como uma grande partícula de massa M se movendo com velocidade ⃗vCM :
X
⃗pCM = M⃗vCM = mi⃗vi (3.30)
i

O mesmo pode ser feito então para a aceleração e para o somatório de forças
externas aplicadas a um sistema:

d⃗vCM 1 X
⃗aCM = = mi⃗ai (3.31)
dt M i
X X X
⃗ ext
F = M⃗aCM = ⃗i =
F mi⃗ai (3.32)
i i

Figura 3.5: Força resultante para muitas partículas

59
4 Rotações e Momento Angular
Assim como já estudamos superficialmente em questões de forças centrí-
petas, vamos agora estudar como são descritas as rotações de um corpo.

4.1 Posição, velocidade e aceleração angulares


Uma rotação pode ser descrita como o movimento de um corpo sobre uma
circunferência, com isso precisamos definir o comprimento de arco de uma
circunferência, isto é, o deslocamento que esse corpo fará ao rotacionar. O
comprimento de arco é descrito como na imagem:

Figura 4.1: Deslocamento angular de uma circunferência.

O comprimento de arco pode ser escrito como:

s
s = rθ =⇒ θ = (4.1)
r

Em que θ nesse caso é escrito em radianos, apenas representando um nú-


mero, sem dimensão. Caso ainda não saiba, uma circunferência tem ângulo
interno de 360◦ , que corresponde a 2π rad, abreviação para radianos. Para
fazer a conversão é preciso fazer uma regra de três, obtendo a relação:
π
θ(rad) = θ(graus) (4.2)
180◦
Assim, o movimento de uma bolinha em cima de uma circunferência pode
ser descrita pelo deslocamento de comprimento ∆s e também pelo desloca-
mento de ângulo ∆θ. Veja na imagem:

60
Figura 4.2: Deslocamento superficial da circunferência.

Esses deslocamentos são gerados por uma velocidade angular, que pode
ser descrita de modo semelhante da velocidade linear:
θf − θi ∆θ
ωm = =⇒ ωm = (4.3)
tf − ti ∆t
Em que a letra grega utilizada para a velocidade angular é ω chamada “omega”.
Como θ é dado em radianos (novamente, lembre-se que radianos não é uma
dimensão, apenas uma representação de um ângulo) e o tempo é dado em SI
por segundos, então a unidade da velocidade angular será de rad/s. É con-
siderada uma velocidade angular positiva aquela que gera uma rotação no
sentido anti-horário. Uma velocidade angular negativa será no sentido horá-
rio (veremos o porquê mais a frente).

Figura 4.3: Velocidade angular

Tomando agora em pequenas variações de tempo, e assim pequenas vari-


ações de ângulo, a velocidade angular instantânea será dada por:
∆θ dθ
ω = lim ∆t → 0= (4.4)
∆t dt
O mesmo pode ser feito para a aceleração angular do sistema, que será
dada por:

61
dω d2 θ
α= = 2 (4.5)
dt dt
Em que α é a letra grega “alpha”. A unidade da aceleração angular é dada por
rad/s2 .

4.1.1 Componentes angulares como vetores


Como já foi dito, é tomado que uma rotação no sentido anti-horário é dita
como positiva, e a rotação no sentido horário é negativa. Isso acontece pois os
sinais são determinados pela regra da mão direita. Primeiro faça um sinal de
“joia” (ou então sinal de “like”) com a mão. O polegar apontará para cima, en-
quanto se girarmos o punho, os outros dedos farão um movimento no sentido
anti-horário. Portanto esse é o sinal positivo.
Agora quando fazemos um “joia inverso” ou então um sinal de “dislike’, o
polegar apontará para baixo e ao girar o punho, os outros dedos farão mo-
vimento no sentido horário, portanto o sinal negativo. Tais fatos podem ser
vistos na imagem abaixo:

Figura 4.4: Regra da mão direita.

Os vetores deslocamento, velocidade e aceleração terão direção de onde


aponta o dedão. Portanto se o movimento acontece no plano x − y, então o ve-
tor velocidade angular, por exemplo, apontará no eixo z. Como nesta apostila
serão tratados a maioria dos desenhos em 2D, uma técnica comum de des-
crever um vetor na terceira dimensão é falar se o vetor “entra na tela” ou “sai
da tela”. Isto é, um vetor na horizontal é positivo quando aponta para direita
e negativo quando aponta para a esquerda. Um vetor na vertical é positivo
quando aponta para cima e negativo quando aponta para baixo. Um vetor em
profundidade será positivo quando aponta para fora da tela (apontado para o
leitor) e negativo quando aponta para dentro da tela (para o texto).
Estes são conceitos mais utilizados em eletromagnetismo e talvez não se-
jam tão necessários para os exercícios desta ementa, mas é bom estar mini-
mamente familiarizado com isso.

62
4.2 Equações de Movimento Angulares (Acelera-
ção Constante)
Faremos agora um paralelo com as equações que tínhamos em um MRUV,
mas agora para movimentos angulares. Considerando que um certo corpo
tem aceleração constante, é possível reescrever as equações de “Sorvetão” e
Torricelli da seguinte forma:
1
θf = θi + ωi t + αt2 (4.6)
2
ωf2 = ωi2 + 2α∆θ (4.7)

Perceba a relação quase direta em trocar posição, velocidade e aceleração


lineares por suas respectivas partes angulares.
Exemplo 1.
Vamos considerar agora uma um disco de vinil que tem aceleração angular
de α = 2 rad/s2 . Se num tempo inicial t = 0 o disco já tinha velocidade angular
de 4 rad/s, qual é o deslocamento total do disco ao se passarem 2 segundos?
Essa questão é facilmente calculada utilizando a equação do “Sorvetão an-
gular”. Queremos calcular ∆θ, portanto fazemos:
1 1
∆θ = ωi t + αt2 = 4 · 2 + · 2 · 4 = 12 rad = 687, 9◦ (4.8)
2 2
Como uma circunferência tem 2π rad(360◦ ) de comprimento angular, então o
disco deu 1, 9 voltas completas.

63
4.3 Grandezas Angulares e Tangenciais
Já estudamos na parte de aceleração centrípeta que um corpo realizando
uma trajetória circular tem sua velocidade tangente ao movimento, também é
possível ter uma aceleração assim, chamada de aceleração tangencial.
O mesmo ocorre com um corpo girando. Se pensarmos em um disco gi-
rando, cada ponto do disco também terá uma velocidade linear, tangente à
circunferência que descreve aquele ponto, veja:

Figura 4.5: Velocidade angular e velocidade tangencial.

É possível então relacionar as componentes angulares com as tangenciais.


Vamos ao caso da velocidade. A velocidade tangencial pode ser descrita como
a variação da posição (em comprimento de arco) pelo tempo. Sendo assim:

ds dθ
vt = =r =⇒ vt = rω (4.9)
dt dt
Em que r representa a distância do centro de rotação até o ponto estudado.
Podemos fazer o mesmo com uma aceleração tangencial, tendo assim:

at = rα (4.10)
Assim, podemos definir a aceleração total de um corpo girante, que considera
tanto a aceleração tangencial quando a centrípeta ⃗a = ⃗at + ⃗ac :
q p √
a = a2t + a2c = r2 α2 + (r2 ω 2 /r)2 = r α2 + ω 4 (4.11)

64
4.4 Energia Cinética Rotacional
Considerando que os objetos girantes têm velocidade angular, é plausível
também dizer que terão então energia cinética de rotação, que levará em conta
a velocidade angular de rotação e também algum outro termo relacionado com
a massa.
A energia cinética de um corpo é dada por:
1
K = mv 2 (4.12)
2
Substituindo a relação que encontramos de velocidade tangencial com veloci-
dade angular, usaremos então que v = rω, sendo assim:
1
KR = mr2 ω 2 (4.13)
2
Um fator muito importante sai dessa dedução, que é o momento de inércia.
Este é considerado como I = mr2 , sendo assim a energia cinética rotacional
se tornará:
1
KR = Iω 2 (4.14)
2
Que tem a mesma estrutura da energia cinética convencional.
Se estamos tratando de um sistema de muitas partículas que giram em
torno de um eixo, então devemos incluir o somatório das diversas componen-
tes de massas e distâncias no momento de inércia:
X
I= mi ri2 (4.15)
i

Como o momento de inércia tem dimensão de massa multiplicado por distân-


cia ao quadrado, suas unidades em SI serão kg · m2 .
Se as massas estão distribuídas de maneira contínua em um objeto, então
podemos tomar o limite de massas muito pequenas, assim encontrando a
função integral do momento de inércia:
Z
I= r2 dm (4.16)

Mas afinal, qual significado tem o momento de inércia? Para responder isso
precisamos pensar em qual o significado da massa de um corpo. A massa é
a quantificação de quão difícil é mover determinado corpo, se sua massa é
muito grande, será muito difícil move-lo, portanto é necessário empregar uma
força bem grande. Agora para mover, com a mesma aceleração, um objeto de
massa muito menor, também será necessária a aplicação de uma força muito
menor para isso (pode ser visto com a segunda Lei de Newton).

65
Portanto, o momento de inércia quantifica quão difícil é rotacionar um ob-
jeto. O cálculo do momento de inércia pode ser muito trabalhoso para corpos
contínuos, como esferas, cilindros ocos, cilindros maciços, placas, barras e
etc. Portanto, existem inúmeras tabelas de momentos de inércia, como por
exemplo [1].
Exemplo 1.
Uma molécula diatômica de oxigênio está girando no plano x − y em torno
do eixo que passa pelo meio dos dois átomos. Usando que a massa de cada
átomo de oxigênio é de m = 2, 66 · 10−26 kg e que eles estão distanciados em
d = 1, 21 · 10−10 m e que giram com velocidade angular ω = 10 rad/s, qual será a
energia cinética da molécula?
Para calcular a energia cinética primeiro precisamos calcular o momento
de inércia da molécula. Para isso podemos utilizar a equação 4.15:
 2  2
d d md2 2, 66 · 10−26 · (1, 21 · 10−10 )2
I=m +m = = (4.17)
2 2 2 2
−46 2
I = 1, 95 · 10 kg · m (4.18)

Calculando agora a energia cinética rotacional teremos:

Iω 2 1, 95 · 10−46 · 100
KR = = = 9, 75 · 10−45 J (4.19)
2 2

66
4.5 Produto Vetorial
Veremos agora uma operação entre vetores que será muito necessária para
a conclusão do estudo de rotações. Como já estudamos lá no começo, vetores
podem ser “multiplicados” através do produto escalar, e também do produto
vetorial.
Sejam A⃗ eB
⃗ vetores genéricos. O produto vetorial deles é dado por:

î ĵ k̂
⃗ ×B
A ⃗ = Ax Ay Az (4.20)
Bx By Bz
Em que os traçados retos em torno de uma matriz | indicam que o resultado
é o determinante dessa matriz. Assim, calculando o determinante encontra-
mos:

⃗ ×B
A ⃗ = î(Ay Bz − Az By ) − ĵ(Ax Bz − Az Bx ) + k̂(Ax By − Ay Bx ) (4.21)
Perceba que o resultado de um produto vetorial é um vetor! Se considerarmos
⃗ e B
que A ⃗ estão no plano xy, suas componentes em z serão zero, portanto
chegaremos no resultado:

⃗ ×B
A ⃗ = k̂(Ax By − Ay Bx ) (4.22)
Que é um vetor no eixo z. Com isso é visto que o produto vetorial entre dois
vetores produzirá um terceiro vetor perpendicular aos outros dois. A imagem
a seguir mostra o vetor produzido:

Figura 4.6: Vetor resultante do produto vetorial.

O módulo desse produto pode também ser calculado de outra forma, mais
parecido com o produto escalar:

⃗ ×B
A ⃗ = AB sen θ (4.23)

67
Com isso percebemos que se A ⃗ e B ⃗ são perpendiculares, ou seja, formam

um ângulo de 90 , então o módulo do vetor resultante será simplesmente a
multiplicação dos módulos individuais. Para vetores A⃗ eB⃗ paralelos, ou seja,
que têm a mesma direção, o produto vetorial será zero, pois θ = 0◦ .
Uma outra propriedade do produto vetorial é que este não é comutativo,
isto é, a ordem dos fatores altera o resultado, com um sinal de menos:

⃗ ×B
A ⃗ = −B
⃗ ×A
⃗ (4.24)
Isso não altera o módulo do vetor resultante, mas sim apenas seu sentido.
Uma forma fácil de encontrar a o sentido do vetor resultante é a partir da
regra da mão direita (agora é outra):

Figura 4.7: Bloco em superfície com atrito.

O dedo indicador representa o primeiro vetor, o dedo do meio o segundo


vetor e o polegar o produto vetorial deles. Perceba que trocar a ordem fará
com que o polegar vire seu sentido para baixo.
Exemplo 1.
Sejam dois vetores no plano xy, ⃗u = 3î + 5ĵ e ⃗v = −2î + 2ĵ. Qual será o
produto vetorial de ⃗u com ⃗v?
Como ambos vetores estão no plano xy, não terão componente z. Isso quer
dizer que podemos utilizar a equação 4.22 para descrever como será esse
vetor. Com isso teremos:

⃗u × ⃗v = k̂(3 · (−2) − 5 · 2) = k̂(−6 − 10) =⇒ ⃗u × ⃗v = −16k̂ (4.25)

68
4.6 Torque
Nos primeiros capítulos estudamos como a força gera movimento linear em
um corpo, através de aceleração. Mas como será que essa força tem influência
na rotação de corpos?
Vamos estudar o caso de uma alavanca. A alavanca é presa em uma das
pontas e a outra é deixada solta. Para mexer a alavanca, é preciso aplicar
força na sua ponta que não está presa. Veja como é feito:

Figura 4.8: Funcionamento de uma alavanca.

É intuitivo dizer que essa força gerará rotação na alavanca, mas estudemos
isso mais afundo. Se a força for feita no eixo da alavanca, isto é θ = 0◦ , a
alavanca não será rotacionada, nem se moverá.
Se aplicarmos a força de maneira perpendicular à alavanca θ = 90◦ , o efeito
dessa força na alavanca será maior. Além disso, a distância do centro de
rotação até onde a força é feita também importa, se tentarmos aplicar essa
força próximo ao centro de rotação, a força será muito menos efetiva para
girar a alavanca do que no seu extremo.
Alguns destes fatos nos parecem bastante com o assunto que acabamos de
estudar, de produto vetorial, certo? Então podemos definir um tipo de força, o
torque, que representa a força de rotações de um corpo. O torque é definido
como:

τ⃗ = ⃗r × F, |τ | = rF sen θ (4.26)
Em que a letra greta τ é dita “tau”. O torque não é exatamente uma força,
como podemos ver a dimensão dele em SI será N · m, mas terá algumas pro-
priedades semelhantes a uma força.
Vamos considerar agora um corpo que tem extensão e pode rotacionar, este
será chamado de um corpo rígido. Para que este corpo esteja em equilíbrio,
ou seja, não tenha nem aceleração linear nem aceleração angular, devemos
ter primeiramente que o somatório de forças externas sobre ele deve ser zero:
X
⃗ ext = 0
F (4.27)

E também, agora uma informação adicional, é que o somatório dos torques


externos também deve ser zero (ao redor de qualquer eixo possível de rotação):

69
X
τ⃗ext = 0 (4.28)

Exemplo 1.
Vamos estudar o caso de uma escada escorada em uma parede. A escada
tem comprimento L e massa m. Utilizando que o coeficiente de atrito estático
máximo entre o chão e a escada é de µ = 0, 7, então qual é o ângulo mínimo
que a escada pode fazer com a horizontal para não cair?
Primeiro é necessário desenhar o diagrama de corpo livre, isto é, todas as
forças que atuam na escada:

Figura 4.9: Escada em equilíbrio.

Temos neste caso F ⃗ p que é a força peso, N


⃗ a força normal da escada com
⃗ at a força de atrito da escada com o chão (contrário ao sentido de
o chão, F
movimento da escada) e também P ⃗ a força que a parede faz na escada (a
escada faz força na parede, então a parede faz força na escada). Agora, para
que a escada esteja em equilíbrio, o somatório das forças deve ser zero, assim:

X
Fx = Fat − P = 0 =⇒ Fat = P (4.29)
X
Fy = N − Fp = 0 =⇒ N = Fp (4.30)

Disso tiramos que N = mg e P = N µmax = mgµ. Mas com isso não é possível
encontrar o ângulo. Para isso vamos utilizar também a relação que a soma
dos torques sobre o eixo de rotação deve ser também zero. O eixo de rotação é
justamente o ponto em que a escada toca o chão. As únicas forças que podem
realizar torque sobre a escada são a força peso e a força da parede na escada.
Sendo assim:
X L
τ⃗ = P L sen θmin − mg cos θmin = 0 (4.31)
2
Em que os sinais de cada torque foram definidos pela regra da mão direita,
os módulos pela relação do módulo do produto vetorial já apresentado. No
segundo termo da equação, o ângulo entre o vetor da força peso e o vetor ⃗r

70
da escada seria de α = 90◦ − θ, por uma relação de ângulos podemos usar que
sen α = sen 90◦ − θ = cos θ. Isso pode ser adquirido tanto pela relação de ângulos
complementares ou então pela relação de sen (a + b) = sen a cos b + sen b cos a.
Substituindo os resultados obtidos pelas equações de equilíbrio de forças
na equação de equilíbrio de torque obteremos:
L
mgµL sen θmin = mg cos θmin (4.32)
2
Isolando as relações trigonométricas em um lado da equação chegaremos em:

sen θmin mgL/2 1


= =⇒ tg θmin = (4.33)
cos θmin mgLµ 2µ
Assim o ângulo θ pode ser encontrado ao tirar o arco-tangente dos dois lados
da equação, assim teremos:
1 1
θmin = arctg = arctg = 35, 5◦ (4.34)
2µ 1, 4

Agora o que acontece quando um corpo não está em equilíbrio, isto é, existe
um torque externo diferente de zero que gerará rotação no sistema?
Para este caso teremos que a somatória de torques externos em um corpo
gerará uma aceleração angular (de rotação) no corpo da forma:
X
τ⃗ext = I α
⃗ (4.35)

Que é escrito de forma análoga à segunda lei de Newton.


Exemplo 2.
Imagine uma simplificação de um elevador, em que o elevador sobe e desce
através de uma polia presa no topo do prédio que está girando. A polia pode
ser descrita como um disco girando em torno do seu eixo. Considerando que
o elevador está descendo apenas com a força de seu peso, este problema pode
ser descrito como:

Figura 4.10: Elevador descendo com seu próprio peso.

71
Considerando que a polia tem raio R = 2 m, massa M = 300 kg, e o elevador
tendo massa m = 50kg, qual será a aceleração radial da polia?
Como já feito na imagem, é necessário fazer o diagrama de corpo livre do
sistema. Sobre o elevador atuam as forças peso e tração. Sendo assim:
X
Fy = T − mg = ma =⇒ T = ma + mg (4.36)

Ainda sobre a força de tração, teremos que está gerará torque na polia. Como
a tração é perpendicular ao vetor ⃗r do torque, que é dado pelo raio da polia,
então teremos:

τ = T R = Iα =⇒ T = (4.37)
R
Substituindo esta tração na tração encontrada através das forças sobre o
elevador:

= ma + mg =⇒ Iα − maR = mgR (4.38)
R
Mas o que representa a aceleração linear a? Ela é a aceleração tangencial da
polia! Sendo assim, pode ser substituída por a = Rα, logo:
mgR
Iα − mαR2 = mgR =⇒ α = (4.39)
I − mR2
Vemos em uma tabela de momentos de inércia que o momento de inércia de
um disco que gira em torno de seu eixo é dado por I = 12 M R2 , sendo assim
chegamos na aceleração radial da polia:
mgR
α=  = 2, 45 rad/s2 (4.40)
R2 12 M
−m

72
4.7 Momento Angular
Pensemos agora em um corpo que gira, cada um de seus pedaços de massa
terá uma velocidade tangencial, e portanto um momento linear tangencial. O
corpo inteiro, porém, não apresenta um momento linear (de centro de massa),
pois não se desloca translacionalmente. Podemos então dizer que este corpo
tem alguma quantidade de movimento angular.
Pensemos agora em uma bolinha de massa m rotacionando ao redor de um
ponto. ⃗r é o vetor que liga o centro de rotação à bolinha e ⃗p é o vetor momento
linear desta bolinha. Definimos então a quantidade de movimento angular
dessa bolinha como sendo:

⃗ = ⃗r × ⃗p
L (4.41)
Que é o momento angular dela. O mesmo pode ser feito para um corpo sólido,
como foi considerado anteriormente. As unidades do momento angular são
dadas em SI por kg · m2 /s2 .
Novamente, o momento angular terá todas as propriedades de um produto
vetorial, isto é, terá módulo máximo quando ⃗r for perpendicular a ⃗p e será
zero quando estes vetores forem perpendiculares.
Considerando agora um corpo que está variando seu momento com o
tempo, podemos escrever a variação no tempo do momento angular da se-
guinte forma:

dL⃗ d⃗p
= ⃗r × (4.42)
dt dt
Em que para encontrar esta relação a equação foi derivada em relação ao
tempo dos dois lados. No lado direito, pelo produto vetorial representar de
fato um produto, devemos utilizar a regra do produto de uma derivada, mas
como o objeto descreve um movimento circular, não há variação do raio em
função do tempo, portanto d⃗ r
dt
= 0.
Utilizando agora a relação de variação de momento linear com forças apli-
cadas, teremos que F⃗ = d⃗p , portanto:
dt


dL ⃗
⃗ =⇒ dL = τ⃗
= ⃗r × F (4.43)
dt dt
Com isso, é visto que quando aplicamos um torque externo no sistema, isso
causará uma variação do momento angular, isto é, o objeto começará a rota-
cionar mais rápido ou mais devagar. A quantização de quão mais rápido ou
devagar o objeto girará é dado por, considerando que ⃗r e ⃗p são perpendicula-
res, teremos que:

⃗ = rmv = rm(rω) = mr2 ω =⇒ L = Iω


L (4.44)

73
Em que foi utilizada a relação v = ωr e I = mr2 para uma partícula. O mo-
mento angular de um sistema de muitas partículas pode ser obtido por somar
todos os momentos angulares, ou seja o momento de inércia multiplicado pela
velocidade angular de cada partícula.
Mas considerando agora um sistema em que não há presença de torques
externos, o momento angular deve se conservar, uma vez que:

dL ⃗ = constante
= 0 =⇒ L (4.45)
dt
Esse é o mesmo caso de quando não existem forças externas em um sistema
portanto o momento linear é conservado.
Com isso, podemos definir as regras de conservação de energia, momento
linear e momento angular para todos os casos:

1. Energia Conservada: Ei = Ef caso não ocorra transferência de energia


entre o sistema e o ambiente (caso isolado).

2. Momento Linear Conservado: ⃗pi = ⃗pf caso não existam forças externas
P⃗
atuantes sobre o sistema ( F ext = 0).

3. Momento Angular Conservado:PL ⃗i = L⃗ f caso não existam torques exter-


nos atuantes sobre o sistema ( τ⃗ext = 0).

Exemplo 1.
Uma pessoa está sentada em um banco giratório segurando, com o braço
estendido, dois halteres de massa m. Essa pessoa está girando no banco
com uma velocidade angular ωi . Após um tempo, a pessoa fecha os braços,
trazendo os halteres mais próximos ao corpo, o que faz com que essa pessoa
gire muito mais rapidamente. Por que isso acontece? A energia cinética se
conserva?

Figura 4.11: Conservação de momento angular.

Começamos descrevendo o sistema, o momento angular da pessoa no pri-


meiro momento é de Li = Ii ωi , em que o momento de inércia é dado por
I = 2mr2 , em que r é o tamanho de cada braço. Não existe nenhum torque ex-
terno atuando sobre o sistema, portanto quando a pessoa fecha o braço (uma

74
força na direção do eixo de rotação não gera torque), o momento angular da
pessoa deve se conservar. Sendo assim:

Li = Lf =⇒ Ii ωi = If ωf (4.46)
Perceba que no momento final, em que a pessoa está com os braços fechados,
a distância do eixo de rotação com o peso é muito menor, ou seja, ri > rf ,
sendo assim o momento de inércia final do corpo vai ser menor. Para que o
momento angular se mantenha o mesmo, a velocidade angular final ωf deve
aumentar, por isso o corpo começa a girar de forma mais rápida.
Sobre a energia cinética, a pessoa aplicou uma força externa nos alteres
para traze-los mais perto ao seu corpo, isso faz com que ele tenha aplicado
trabalho e então a energia total do sistema foi alterada. Podemos ver isso da
forma:
1
Kf = Ii ωf2 (4.47)
2
Isolando ωf da última equação e substituindo nessa relação de energia ciné-
tica:
 
Ii ωi 1 2 Ii
ωf = =⇒ Kf = Ii ω (4.48)
If 2 i If
Como sabemos que Ki = 21 Ii ωi2 e que Ii é maior que If , então a fração Ii /If >
1, que nos dará que a energia cinética final é uma constante maior que 1
multiplicada pela energia cinética final, assim teremos que:

Kf > Ki (4.49)
Portanto vimos que a energia cinética nesse caso não se conservou, e sim
ainda aumentou, novamente por conta do trabalho empregado pela pessoa
para juntar os pesos ao seu corpo, que representa a atuação de uma força
externa.

75
4.8 Rolamento de Objetos
Todo dia nos deparamos com um objeto rolando sobre uma superfície, seja
a roda de um carro, uma bolinha de gude rolando sobre a terra, ou então no
primeiro jogo do Mário em que ele precisa pular os barris rolando jogados por
Donkey Kong.
Mas como podemos descrever este movimento? Para simplificar vamos
considerar um cilindro rolando sobre uma superfície. Para que haja o rola-
mento, é necessário existir atrito na superfície, pois se não o cilindro deslizaria
ao invés de rolar. Esta força de atrito deve ser suficientemente grande para
barrar qualquer deslizamento, gerando rolamento.
Considerando um cilindro ideal de raio R e massa M , o cilindro tocará a
superfície em apenas um ponto, e conforme o rolamento acontece esse ponto
será mudado. Com isso temos que o coeficiente de atrito que atua no sistema
é o estático e não o cinético, pois o ponto em que o cilindro está apoiado está
parado. Portanto, como a força de atrito não gera deslocamento sobre um
mesmo ponto, ela não gera trabalho! A energia mecânica do corpo rolante se
conserva durante todo o movimento.
Quando o cilindro rola um certo angulo θ, ele andará o comprimento desse
arco, ou seja, andará s = Rθ. Estudando o movimento do centro de massa do
cilindro, teremos que:

ds dθ
vCM = =R = Rω (4.50)
dt dt
dvCM d2 θ
aCM = = R 2 = Rα (4.51)
dt dt
A velocidade tangencial no ponto do cilindro é dada por vtopo = 2vCM = 2Rω.
Isso porque o cilindro gira em torno do ponto C (contato), se ele está girando
em torno desse ponto com uma velocidade angular ω, e utilizando que v = rω,
então a velocidade no centro de massa, que é no centro da circunferência
será de fato vCM = Rω, enquanto no topo do cilindro, em que a distância até o
ponto de rotação é de 2R, terá velocidade vtopo = 2Rω = 2vCM .
Vejamos agora sobre a energia cinética do cilindro. Devemos somar a ener-
gia cinética de rotação (em torno do próprio eixo) dele junto com a energia
cinética de translação do seu centro de massa:
1 1
K = KR + KCM = ICM ω 2 + M vCM
2
(4.52)
2 2
Ao substituirmos o que foi encontrado em vCM obteremos:
1  1 
ICM ω 2 + M R2 ω 2 = ω 2 ICM + M R2

K= (4.53)
2 2

76
Agora utilizaremos um teorema chamado Teorema dos eixos paralelos, que
nos permite, a partir do momento de inércia do centro de massa de um corpo,
escrever o momento de inércia em torno de qualquer eixo do corpo. Este
teorema é dado por:

IP = ICM + M D2 (4.54)
Em que P é o ponto por onde passará o novo eixo de rotação e D é a distância
do centro de massa até esse eixo. Considerando esse eixo de rotação como
sendo o ponto C e a distância do ponto C até o centro de massa sendo R,
então teremos que:
1
IC = ICM + M R2 =⇒ K = IC ω 2 (4.55)
2
Com isso, é possível definir a energia cinética de um corpo que rola sobre
uma superfície como sendo a energia cinética deste corpo girando em volta do
ponto de contato dele com a superfície.
Exemplo 1.
Vamos estudar o que acontece com um cilindro descendo um plano incli-
nado em θ com atrito. Considerando que um cilindro de massa M e raio R
rola sobre o plano sem deslizar, qual será a aceleração do centro de massa do
cilindro?
Primeiro é necessário fazer o diagrama de corpo livre desse sistema:

Figura 4.12: Rolamento de cilindro.

Sabemos que o movimento só acontece no eixo da força Px , e também


sabemos que essa força tem módulo Px = P sen θ. Com isso fazemos:

Px − Fat = M aCM =⇒ M g sen θ − Fat = M aCM (4.56)

Mas aqui não podemos igualar Fat = N µ, pois a força de atrito não é máxima
nesse caso. Devemos encontrar seu módulo de outro jeito. Para isso vamos
utilizar a relação de torque resultante. Como esse cilindro está girando, então
tem aceleração angular e portanto terá torque :

77
τ = αICM (4.57)
Agora vejamos quais forças produzem torque no cilindro. A força Px está
atuando sobre o eixo de rotação do cilindro, portanto não produz torque. O
mesmo acontece com Py e com a normal N . A única força que produz torque
é a força de atrito, que inclusive é perpendicular ao raio do cilindro, então
teremos que:
αICM
τatrito = RFat = αICM =⇒ Fat = (4.58)
R
Como já visto nessa mesma seção, podemos relacionar a aceleração angular
com a aceleração do centro de massa, da forma α = aCM /R. Substituindo essa
relação na equação encontrada para a força de atrito teremos:
aCM ICM
Fat = (4.59)
R2
Substituindo essa relação na equação de movimento do eixo de Px encontra-
remos:
aCM ICM ICM
M g sen θ − 2
= M aCM =⇒ aCM (M + 2 ) = M g sen θ (4.60)
R R
E finalmente rearranjando os termos encontraremos a aceleração do centro
de massa:
g sen θ
aCM = ICM
(4.61)
1+ M R2
Perceba que se o momento de inércia deste corpo é muito pequeno, despre-
zível, como é o de uma partícula, retornaríamos a aceleração encontrada em
um exercício de plano inclinado sem rolamento.

78
5 Exercícios
1 Coloque os seguintes números em notação científica:
(a) 1234, 23
(b) 0, 00124879

2 Converta as seguintes unidades para SI:


(a) v = 25 nm/min
(b) d = 3 anos − luz

3 ⃗ = 2î + 3ĵ e B
Para os vetores A ⃗ = −2î + 2ĵ encontre:

(a) O produto escalar entre estes dois vetores


(b) O ângulo entre eles

4 Um carro se move com velocidade de 20 m/s. Ao ver uma placa de pare, o


carro começa a desacelerar numa taxa de 5m/s2 . Qual será o tempo que
ele irá demorar até parar o carro?
5 Uma técnico de manutenção em cima de um prédio deixa cair seu capa-
cete de segurança a partir do repouso. Qual será a velocidade do capacete
após 4 segundos?
6 Um pai brincando com seu filho joga a criança para cima. Considerando
que o lançamento da criança ocorre com velocidade de 10 m/s, qual será a
velocidade do menino após 0, 5 segundos?
7 Uma pessoa joga uma bola de vôlei para cima e espera ela voltar em
sua mão, no mesmo ponto. Considerando que a bola foi lançada com
velocidade de 5 m/s, quanto tempo a bola demora para voltar até a posição
inicial?
8 Um jogador de basquete lança a bola de modo que ela atinja a cesta
quando está no topo de seu movimento. Considerando que a bola é lan-
çada com velocidade de 6 m/s fazendo um ângulo de 60◦ com a horizontal,
qual será o tempo necessário para a bola atingir a cesta?

79
9 Um canhão atira fazendo um ângulo de 45◦ com a horizontal, com velo-
cidade de 30 m/s. Qual será a distância horizontal que a bola de canhão
percorrerá?
10 Um satélite se move em órbita circular 700 km acima da superfície da
Terra, demorando 20 horas para completar uma rotação completa. Calcule
o módulo da aceleração centrípeta do satélite.
11 Uma máquina de Atwood representa o balanço entre dois pesos, dada por:

Figura 5.1: Maquina de Atwood.

Considerando que a polia tem massa e raio desprezíveis, qual será a


aceleração do sistema se m1 = 5kg e m2 = 15kg?
12 Um bloco de massa m1 , disposto em cima de uma mesa sem atrito e
está ligado, por meio de um fio inextensível e uma polia de massa e raio
desprezíveis, a um bloco suspenso no ar de massa m2 . Qual é a aceleração
total do sistema?

Figura 5.2: Sistema ligado por um fio.

80
13 Dois blocos se encontram sobre um triângulo equilátero, cada um em um
dos lados do triângulo, e ligados por meio de uma corda e uma polia de
massas desprezíveis. O coeficiente de atrito entre os blocos e o triângulo
é de µ = 0, 4. Qual será a aceleração total do sistema se m1 = 5 kg e
m2 = 10 kg?

Figura 5.3: Blocos em um triângulo

14 Um bloco A se encontra sobre uma mesa e um bloco menor B se encontra


sobre o primeiro bloco. Considerando que o coeficiente de atrito cinético
entre a mesa e o bloco A é µc e o coeficiente de atrito estático entre A e B
é de µe , qual o valor máximo pode ter uma força aplicada sobre o bloco A
para que B fique parado em cima de A?

Figura 5.4: Um bloco em cima de outro.

15 Um motoqueiro pretende percorrer uma pista que forma um looping verti-


cal. Qual será a velocidade mínima que ele deve ter no topo para que con-
siga completar o movimento? Considere que o looping tem raio R = 5m, o
homem tem massa de 60 kg e a moto 80 kg.
16 Uma gota de chuva de massa 2 g sofre resistência do ar enquanto cai. A
força de resistência tem forma R = kv 2 , em que k = 4 · 10−4 Ns2 /m. Com
qual velocidade a gota d’água atinge o chão?
17 Em uma pista de skate sem atrito de altura h, um skatista salta, chegando
a uma altura de d acima da pista. Ele então cai com seu skate na pista e
inicia seu movimento. Qual será a velocidade do skatista na parte mais
baixa da pista?

81
18 Um bloco de massa m = 2 kg é posto sobre uma mesa e é conectado, por
meio de uma mola de constante k = 500 N/m, a uma parede. Considerando
que a mola é comprimida em 20 centímetros e que o coeficiente de atrito
entre o bloco e a mesa é de µ = 0, 5, qual a velocidade máxima que o bloco
pode atingir ao ser solto?

Figura 5.5: Corpo ligado a mola.

19 Uma bola de metal de massa m = 2 kg está presa na extremidade de


um fio de massa desprezível e comprimento de 80 centímetros. A bola é
solta quando está na posição horizontal. No chão se encontra um bloco
também de metal de massa M = 5 kg sobre uma superfície sem atrito.
Os dois corpos se encontrarão, e então seguirão caminhos no mesmo
sentido, mas com diferentes velocidades. Considerando que se trata de
uma colisão elástica, determine a velocidade do bloco imediatamente após
a colisão.

Figura 5.6: Colisão entre dois corpos

20 Um foguete é lançado em órbita e em determinado ponto, o foguete ex-


plode e se divide em três partes. A primeira das partes tem massa m e tem
velocidade para cima, a segunda parte tem massa 3m e não tem velocidade
nenhuma, a última parte tem massa 2m e tem velocidade para a direita.
Sabendo que antes da explosão o foguete tinha velocidade V ⃗ = 5î + 50ĵ,
calcule a velocidade de cada componente do foguete após a explosão.

82
21 Encontre as coordenadas do centro de massa do sistema:

Figura 5.7: Sistema de corpos

(considere m = 1 kg).
22 Um disco está girando e para realizar um controle de movimento, em uma
extremidade do disco é colocada uma fita isolante. Com isso é possível
fazer o seguinte gráfico de posição angular por tempo:

Figura 5.8: Gráfico de posição angular por tempo

Determine quando a velocidade angular é positiva, negativa e nula.


Também determine o sinal da aceleração angular.
23 Uma barra de metal de massa M e comprimento L tem sua massa distri-
buída de forma não uniforme, sendo a densidade linear de massa descrita
por λ = (x2 + 3) kg/m. Calcule o momento de inércia dessa barra em torno
do eixo de rotação na extremidade da barra.
24 O movimento de um cachorro salsicha correndo atrás do próprio rabo
pode ser aproximado (de maneira muito simplificada) a uma barra uni-
forme girando em torno de uma de seu centro de massa. Considerando
que o cachorro tem massa M = 30 kg e comprimento 80 centímetros, cal-
cule sua energia cinética de rotação se ele gira com velocidade angular
ω = 2 rad/s.

83
25 Sejam dois vetores A ⃗ = 3î + 5ĵ e B
⃗ = −1î + 2ĵ calcule o produto vetorial
entre eles e teste se o novo vetor é ortogonal a estes dois.
26 Considere o seguinte sistema:

Figura 5.9: Balança em equilíbrio.

Sabendo que d = 0, 5 m e que m1 = 3 kg, qual deve ser a massa m2 para


que o sistema fique em equilíbrio?
27 Um bloco de argila de massa m = 2, 5 kg desliza de cima de uma rampa
curva de altura h = 0, 8 m e sem atrito. Este bloco então se adere a uma
barra de massa M = 5 kg e comprimento r = 1, 5 m. Calcule o ângulo que
a barra fará com a vertical no final do movimento.

Figura 5.10: Colisão entre os dois corpos

84
5.1 Resolução
1 Lembremos que os números em notação científica ficam escritos com 1 alga-
rismo significativo, portanto teremos que estes números serão:

(a) 1234, 23 = 1, 23423 · 103


(b) 0, 00124879 = 1, 24879 · 10−3

2
(a) Como se trata de uma velocidade, precisamos transferir estas unidades
para m/s. Sabemos que nm significa nanômetros, ou então 10−9 m, sa-
bendo também que um minuto são 60 segundos, teremos:

25 · 10−9 m
v= = 4, 17 · 10−10 m/s (5.1)
60 s
(b) Agora como falamos de uma distância (anos-luz representa distância),
então a unidade em SI será m. Usando que a velocidade da luz no vácuo
é de c = 3 · 108 m/s então teremos:

 
8 dias · m hs · mi
d = 3·365·3·10 = 3·365·24·60·60·3·108 = 2, 838·1016 m (5.2)
s s

3
(a) Primeiro podemos fazer o produto escalar entre eles da forma:

⃗ ·B
A ⃗ = 2 · (−2) + 3 · 2 = −4 + 6 = 2 (5.3)

(b) Agora podemos utilizar a relação A ⃗ ·B⃗ = AB cos θ em que θ é o ângulo


⃗ · B,
feito entre eles. Já temos a relação A ⃗ portanto:

⃗ ·B
A ⃗ = 2 = AB cos θ (5.4)
O módulo dos vetores é dado por:
√ √ p √
A= 22 + 32 = 13, B= (−2)2 + 22 = 8 (5.5)
Igualando as duas equações:

√ √ 2
2= 13 8 cos θ =⇒ θ = arccos ( √ ) = 78, 7◦ (5.6)
104

85
4 Nesta questão precisaremos utilizar as duas equações de movimento, a de
“Sorvetão” e a de Torricelli. Como queremos que a velocidade final seja zero,
e sabemos a velocidade inicial e a aceleração, teremos por Torricelli:

202
0 = 202 − 2 · 5 · ∆S =⇒ ∆S = = 40 (5.7)
10
Em que o sinal de negativo aparece pois a aceleração está contra o movimento
(uma desaceleração). Agora podemos utilizar esse ∆S, que é a distância per-
corrida pelo carro, para substituir na equação de “Sorvetão”:
5 5
40 = 20t − t2 =⇒ − t2 + 20t − 40 = 0 (5.8)
2 2
Isso pode ser calculado utilizando a equação de Bháskara. A única solução
será t = 4 s.
5 Neste caso sabemos que a velocidade inicial do capacete é zero, pois saiu do
repouso. Podemos então primeiro calcular a distância percorrida pelo capa-
cete após esse tempo, e depois calculamos a velocidade final:
1
∆S = 0 + gt2 (5.9)
2
Em agora o sinal de positivo na aceleração da gravidade ocorre pois a ace-
leração da gravidade está a favor do movimento (neste caso não precisamos
considerar que um movimento para baixo é negativo e para cima é positivo).
Agora substituímos na equação de Torricelli:
1
vf2 = 2g∆S = 2g gt2 =⇒ vf = gt (5.10)
2
Substituindo o valor da gravidade por g = 9, 81 m/s2 e o tempo, então teremos
vf = 39, 24 m/s.
6 Novamente utilizamos as duas equações de movimento. Primeiro calculamos
a distância percorrida pela criança:
1 g
∆S = 10 · − (5.11)
2 8
Substituindo isso na equação de Torricelli:
g
vf2 = 102 − 2g(5 − ) =⇒ vf = 5, 095 m/s (5.12)
8

86
7 Neste caso precisamos dividir o movimento entre subida e descida. Para cal-
cular o tempo de subida calculamos o deslocamento a partir de:

vi2
0 = vi2 − 2g∆S =⇒ ∆S = (5.13)
2g
Agora substituímos isso na equação de “Sorvetão”:

vi2 1
= vi ts − gt2s =⇒ ts = 0, 51 s (5.14)
2g 2

Agora fazendo o mesmo para o tempo de descida (perceba a diferença do sinal


da aceleração), e considerando que o deslocamento vai ser o mesmo:

vi2 1
= 0 + gt2d =⇒ td = 0, 51 s (5.15)
2g 2
Veja que agora a velocidade inicial que é nula, pois o movimento de descida é
iniciado quando a bola está no topo do movimento, quando sua velocidade é
zero.
Com isso percebemos que o tempo de subida é igual ao tempo de descida.
O tempo total para completar o movimento será t = ts + td = 1, 02.
8 Como queremos encontrar o topo do movimento na vertical, então faremos
todas as equações para a vertical, e a horizontal pode ser deixada de lado.
Como no topo do movimento a velocidade final é zero, então usamos a relação
de Torricelli:
2
2
vyi
0 = vyi − 2g∆S =⇒ ∆S = (5.16)
2g
Agora substituímos isso na equação do “Sorvetão”. Vale lembrar que a velo-
cidade inicial em y será a decomposição do vetor inicial, que será dada por
vyi = v sen θ. Assim:

v 2 sen2 θ 1 v sen θ
= v sen θt − gt2 =⇒ t = = 0, 53 s (5.17)
2g 2 g

9 A bola de canhão não sofre aceleração na horizontal, apenas na vertical, então


a distância que ela percorre pode ser escrita como:

∆x = vix t (5.18)
Temos a velocidade, apenas precisamos do tempo. Para isso veremos o tempo
que a bola de canhão leva pra subir até seu ponto máximo e depois para
descer e encostar no chão. Para calcular o tempo que demora para chegar no
topo do movimento utilizamos:

87
2
2
viy
0= viy − 2g∆y =⇒ ∆y = (5.19)
2g
Utilizando isso na equação de “Sorvetão”:
2
viy
r
1 viy
= viy ts − gt2s =⇒ ts = (5.20)
2g 2 g
Utilizando a decomposição da velocidade nos eixos, teremos que viy = vi sen(45◦ ).
Assim:

vi 2
ts = = 2, 16 s (5.21)
2g
Como vimos no exercício anterior, o tempo de subida pode ser igualado ao
tempo de descida. Isso acontece pois o movimento forma uma parábola simé-
trica. Caso fosse assimétrica, não poderíamos fazer isso. Assim encontramos
o tempo total do movimento t = ts + td = 2 · 2, 16 = 4, 32 s. Substituindo esse
tempo na equação de movimento horizontal obteremos:

∆x = vi cos(45◦ )t = 91, 64 m (5.22)

10 O módulo da aceleração centrípeta será dado por:

v2
ac = (5.23)
R
Já temos o raio, que é a distância da Terra até o satélite, precisamos agora
da velocidade desse satélite. Sabemos que ele demora 20 horas para com-
pletar o trajeto que tem comprimento equivalente ao comprimento de uma
circunferência de raio R, assim:
C 2πR 2π · 700
v= = = = 219, 8 km/h (5.24)
t t 20
Agora que temos a velocidade do satélite, podemos calcular sua aceleração
centrípeta:

(219, 8)2
ac = = 69, 02 km/h2 (5.25)
700

11 Primeiramente devemos fazer o diagrama de corpo livre de cada corpo (faça!).


Com isso teremos o seguinte sistema:
(
T − P1 = m1 a1 para o corpo 1
(5.26)
P2 − T = m2 a2 para o corpo 2

88
Aqui foi considerado que a massa 1 terá movimento para cima (por isso tra-
ção positiva e peso negativo) e o corpo 2 terá movimento para baixo (tração
negativa e peso positivo). Fiz essa consideração pois o bloco 2 é mais pesado
que o 1, mas caso o movimento fosse no sentido contrário, nossa aceleração
daria negativa (com mesmo módulo).
É intuitivo afirmar que os dois blocos, por estarem ligados, se movimen-
tarão com a mesma aceleração, portanto teremos que a1 = a2 = a. Assim
podemos, para resolver esse sistema, somar uma equação na outra. Veremos
que a trações irão sumir e assim obteremos:

g(m2 − m1 )
P2 − P1 = a(m1 + m2 ) =⇒ a = = 4, 905 m/s2 (5.27)
m2 + m1

12 A primeira coisa a se fazer em um exercício assim é o diagrama de corpo livre


de todos os corpos. O bloco suspenso terá forças apenas no eixo y, enquanto o
bloco 1 terá força resultante apenas no eixo x. Assim podemos fazer o sistema:
(
T = m1 a1 para o corpo 1 (eixo horizontal)
(5.28)
P1 − T = m2 a2 para o corpo 2 (eixo vertical)
Usamos novamente neste caso que as duas acelerações devem ser iguais,
portanto a1 = a2 = a. Assim podemos somar as duas equações para obter a
aceleração do sistema:
m1 g
m1 g = a(m1 + m2 ) =⇒ a = (5.29)
m1 + m2

13 É necessário realizar o diagrama de corpo livre do sistema. Considerando que


cada bloco está em um plano inclinado de ângulo θ = 60◦ (todos os lados têm
o mesmo ângulo por ser um triângulo equilátero). Cada corpo terá um eixo de
movimento, e estes serão dados por:
(
T − Px1 + Fat1 = m1 a1 para o corpo 1
(5.30)
Px2 − T − Fat2 = m2 a2 para o corpo 2
Em que utilizamos que tudo que está se movendo para a direita é positivo
(provável sentido do movimento por m2 > m1 ). Considerando que a aceleração
dos dois corpos é a mesma e também considerando que o módulo da força de
atrigo pode ser escrito como Fat = N µ, então podemos somar as duas equações
para finalmente obter:

m2 g sen θ − m1 g sen θ + m1 gµ − m2 gµ = a(m1 + m2 ) (5.31)


Em que foi utilizado que Px = P sen θ. Assim teremos:

89
m2 (sen θ − µ) − m1 (sen θ − µ)
a=g = 1, 524 m/s2 (5.32)
m1 + m2

14 Primeiramente devemos fazer um diagrama de corpo livre, mas desta vez um


pouco diferente. A força será aplicada sobre o bloco A, mas moverá o sistema
inteiro. Por isso, as forças atuantes no corpo A serão descritas da forma:

F − FatA = (mA + mB )a (5.33)


Perceba que a força resultante deve atuar sobre o sistema inteiro A + B. A
força de atrito é descrita por FatA = NAB µc , em que NAB = (mA + mB )g, que é a
força que o conjunto dos blocos A e B empurram o chão. Assim teremos:

F = (mA + mB )a + (mA + mB )gµc (5.34)


Agora precisamos encontrar qual é o módulo da aceleração do sistema. Para
isso verificamos o diagrama de corpo livre em B. No eixo de movimento, o
corpo B tende a se mover para a esquerda pela lei de inércia, então a força de
atrito entre A e B surgirá com sentido para a direita, assim teremos que no
diagrama de corpo livre de B:

FatB = mB a =⇒ mB gµe = mB a =⇒ a = gµe (5.35)


O módulo desta força de atrito é quando ela é máxima, que é justamente o
caso que queremos analisar.
Assim substituindo na equação anterior, teremos:

F = (mA + mB )gµe + (mA + mB )gµc =⇒ F = (mA + mB )g(µe + µc ) (5.36)

15 Quando o motoqueiro está no topo do movimento, as únicas forças atuando


sobre ele são a força peso e a força normal (que desta vez aponta para baixo).
A mínima velocidade que o motoqueiro deve ter para completar o movimento
será a velocidade de quando a força normal da pista sobre o motorista é quase
zero, isto é, ele está se soltando da pista. Para considerar esse limite vamos
tomar que essa força normal é zero, portanto a única força atuante sobre ele
é a força peso.
Como ele está num movimento rotacional dentro do looping, essa força
peso agirá como uma força centrípeta, assim tendo:
2
vmin
Mg = (5.37)
R
Acontece que a força peso não atuará só sobre o motoqueiro, mas sim sobre a
moto também. Considerando o peso dos dois como um conjunto M = mH +mM ,
então teremos a velocidade mínima dada por:

90
p
vmin = gR(mH + mM ) = 82, 87 m/s (5.38)

16 Como existe uma força de resistência que depende com a velocidade, existirá
uma velocidade máxima com que essa gota irá cair. Essa velocidade será
obtida quando a força de resistência for igual a força peso, assim o sistema
permanecerá em equilíbrio até acertar o chão. Com isso fazemos:
r
2 mg
R = mg =⇒ kvt = mg =⇒ vt = (5.39)
k
Em que vt significa velocidade terminal. Utilizando os valores podemos calcu-
lar:
r
2 · 10−3 · 9, 81
vt = = 7 m/s (5.40)
4 · 10−4

17 Como não existem forças dissipativas no sistema, podemos utilizar a conser-


vação de energia. Usando a parte mais baixa da pista como referencial de
potencial zero, no primeiro momento o skatista está a uma distância de d + h
desse ponto, portanto sua energia potencial será U = mg(d + h). Utilizando que
a energia potencial será convertida totalmente em energia cinética quando o
skatista chega no ponto mais baixo da pista, então:

mv 2 p
Ei = Ef =⇒ Kf = Ui =⇒ = mg(d + h) =⇒ v = 2g(d + h) (5.41)
2

18 Quando a mola é comprimida, ela armazena energia potencial elástica que po-
derá ser transformada em energia cinética. Quando o bloco é solto, ele começa
o movimento, e atingirá sua velocidade máxima quando chegar na posição de
equilíbrio da mola, que é o ponto em que a energia potencial elástica é zero.
Entretanto, não é possível fazer a conversão direta de energia potencial
para energia cinética, pois há atrito no sistema, assim devemos escrever a
conservação de energia da forma:

mv 2 kx2
Ei = Ef =⇒ Ui = Wat + Kf =⇒ = − mgµx (5.42)
2 2
Em que o trabalho da força de atrito é igual a força de atrito vezes o desloca-
mento feito. Agora podemos isolar a velocidade e obter:
r
kx2 − 2mgµx
v= = 2, 84 m/s (5.43)
m

91
19 Neste exercício precisaremos primeiramente fazer uma conservação de ener-
gia e depois uma conservação de momento e também conservação de energia
cinética.
Começamos então considerando que no início do movimento a bola está 80
centímetros acima do chão, e portanto tem energia potencial U = mgh. Após
completar o movimento e imediatamente antes de acertar o bloco, toda essa
energia gravitacional terá se transformado em cinética (pois estará no ponto
de energia potencial zero). Assim calculamos qual é a velocidade da bola nesse
ponto:

mv 2 p
U = K =⇒ mgh = =⇒ vi = 2gh (5.44)
2
Sabendo que essa será a velocidade da bola, calculamos seu√momento linear
imediatamente antes de acertar o bloco por pi = mv = m 2gh. Pela con-
servação de momento linear, parte deste momento será transferido ao bloco,
portanto escrevemos a relação:
M
pi = pf =⇒ mvi = mvf + M V =⇒ vf = vi − V (5.45)
m
Existem duas incógnitas nesta relação, portanto utilizamos também a con-
servação de energia cinética (por conta da colisão elástica). A energia cinética
do sistema antes da colisão era de K = U = mgh. Após a colisão a energia
cinética será de:

mvf2 M V 2
Kf = + = mgh =⇒ V = 2, 264 m/s (5.46)
2 2
Se quiséssemos calcular a velocidade da bola após a colisão, bastaria substi-
tuir essa velocidade na relação encontrada anteriormente.
20 Nesta questão não podemos utilizar conservação de energia cinética, pois a
“colisão” ocorre de forma semelhante a uma colisão perfeitamente inelástica
(invés dos corpos se juntarem, aqui eles se separam). Então usaremos con-
servação de momento linear.
Como o momento linear do sistema antes deve ser igual ao momento linear
após a “colisão”, então podemos fazer:

⃗ = m1⃗v1 + m2⃗v2 + m3⃗v3


pi = pf =⇒ M V (5.47)
Em que M representa a massa do foguete antes da explosão, e tem seu valor
definido por M = m1 + m2 + m3 . Vamos agora separar os movimentos em cada
um dos eixos. No eixo x teremos o movimento:

5(6m)
pix = pf x =⇒ 5M = 2mv3 =⇒ v3 = = 15 m/s (5.48)
2m

92
No eixo vertical, uma das partes do foguete não tem velocidade, portanto seu
momento será zero, assim façamos:

50(6m)
piy = pf y = m1 v1 + m2 · 0 =⇒ 50M = mv1 =⇒ v1 = = 300 m/s (5.49)
m
E é claro, v2 = 0.
22 Sabemos que a velocidade angular de um corpo é dado pela derivada da posi-
ção angular em função do tempo:

ω= (5.50)
dt
Pelos conhecimentos de derivadas, conseguimos indicar que quando a deri-
vada de uma função está positiva, isso quer dizer que a função é crescente
naquele ponto. Se a derivada é negativa, então a função é decrescente neste
ponto. Se a derivada é zero, isso indica um ponto em que houve a troca de
crescente para decrescente ou vice-versa.
A partir do gráfico podemos ver que a função é crescente no intervalo
1 ≤ t < 2, portanto sua derivada, e a velocidade angular serão positivas. No
intervalo 2 < t ≤ 3 a função é decrescente, portanto a derivada e a velocidade
angular serão negativas. É possível ver que o ponto t = 2 é onde ocorre essa
troca de sinais, já que a derivada da função nesse ponto é zero, e portanto a
velocidade angular em t = 2 também será zero.
A aceleração angular é definida pela segunda derivada de θ, portanto:

d2 θ
α= (5.51)
dt2
Sabemos que a segunda derivada de uma função define sua concavidade.
Se a segunda derivada é positiva, a função tem concavidade para cima (pa-
rece um rostinho feliz). Se a segunda derivada tem sinal negativo então terá
concavidade para baixo (parece um rosto triste).
Podemos ver pela cara da função que ela parece um rosto triste, portanto a
segunda derivada é negativa, e assim a aceleração angular também é negativa.
23 ComoR vimos, o momento de inércia de um corpo rígido pode ser descrito como
2
I = r dm. A massa pode ser descrita em função de uma densidade linear
λ = M/L, e então o diferencial de massa será dm = λdx. Utilizando a densidade
que temos e fazendo a integral teremos:
Z L Z L
2
I= x · (λ dx) = (x4 + 3x2 ) dx (5.52)
0 0

Resolvendo as integrais definidas chegaremos em:

93
L
x5 L5
   
I= + x3 = − L kg/m2
3
(5.53)
5 0 5

24 Primeiramente sabemos que a energia cinética de um corpo girando é dada


por:

Iω 2
KR = (5.54)
2
Se o cachorro pode ser aproximado a uma barra, utilizamos o momento de
inércia de uma uniforme girando em torno de seu centro de massa ICM =
M L3 /12, que pode ser encontrado na referência utilizada para lista de mo-
mentos de inércia. Considerando a velocidade angular do cachorro, teremos
finalmente:

1 30 · (0, 8)3 2
K= · · 2 = 2, 56 J (5.55)
12 2

25 O produto vetorial entre esses dois vetores é resolver o determinante:

î ĵ k̂
⃗ ⃗
A × B = 3 5 0 = 0î + 0ĵ + k̂(6 + 5) = 11k̂ (5.56)
−1 2 0
Este vetor só tem componente na direção do eixo z. Se queremos testar se
este vetor é ortogonal aos outros dois, devemos fazer o produto escalar entre
eles. Vamos chamar esse vetor obtido pelo produto vetorial de C ⃗ = A⃗ × B.

Assim teremos:

⃗ ·A
C ⃗ = 0î · î + 0ĵ · ĵ + 0k̂ · k̂ = 0 (5.57)
⃗ ·B
C ⃗ = 0î · î + 0ĵ · ĵ + 0k̂ · k̂ = 0 (5.58)

Como quando um produto escalar dá zero quer dizer que os vetores são orto-
⃗ é ortogonal a ambos vetores A
gonais, então C ⃗ e B.

26 Esse sistema ficará em equilíbrio quando o torque resultante for zero. Con-
siderando que o eixo de rotação é o ponto apoiado no triângulo, o torque
resultante do sistema será:

τ⃗R = τ⃗1 + τ⃗2 (5.59)


O torque produzido pela massa 1 é positivo (o vetor sai da tela) e pela massa
2 é negativo (o vetor entra na tela). O módulo de um torque é dado por
τ = F r sen θ. Como as forças estão sendo aplicadas de forma perpendicular à
distância do ponto de equilíbrio até a massa, então teremos:

94
τR = τ1 − τ2 = m1 gd − 4m2 gd (5.60)
Se queremos que o sistema esteja em equilíbrio, então o torque resultante
deve ser zero, e assim:
m1
0 = m1 gd − 4m2 gd =⇒ m2 = = 0, 75 kg (5.61)
4

27 Utilizaremos conservação de energia para encontrar qual o momento do bloco


antes de atingir a barra. Como o potencial gravitacional inicial se transfor-
mará em energia cinética, então a velocidade imediatamente antes do bloco
atingir a barra será de:

mv 2 p
U = mgh = =⇒ v = 2gh (5.62)
2

Assim, o momento linear do bloco antes de atingir a barra será pi = m 2gh.
Em relação ao ponto de rotação da barra, esse bloco imediatamente antes de
colidir com a barra tem momento angular da forma:
p
Li = rpi = rm 2gh (5.63)
Nesta colisão o momento angular será conservado, assim podemos dizer que
o momento angular antes da colisão é igual ao momento angular depois da
colisão:
p
Li = Lf =⇒ rm 2gh = Iω (5.64)
Agora precisamos determinar qual é o novo momento de inércia da barra, já
que agora o bloco está grudado nela. O momento de inércia resultante será
igual a soma dos momentos de inércia do bloco e da barra:
1
I = Ibarra + Ibloco = M r3 + mr2 (5.65)
3
Utilizando isso na equação anterior podemos calcular a velocidade angular da
barra após a colisão:
√ √
rm 2gh rm 2gh
ω= = (5.66)
I M r3 /3 + mr2
Agora após o impacto, podemos utilizar novamente a conservação de energia.
No momento após a colisão a barra terá energia cinética rotacional, ao final do
movimento, a barra (no seu centro de massa) e o bloco terão energia potencial.
Assim fazemos:
1 H
Krot = Iω 2 = mgH + M g (5.67)
2 2

95
Em que H é a altura que a ponta da barra chegará. O termo com H/2 se refere
à energia potencial do centro de massa da barra, que é localizado em metade
de seu comprimento.
Faça agora um desenho separando a barra em seu estado inicial e a barra
em seu estado novo separadas por um ângulo θ. Veja que isso forma um
triângulo, e a barra no local novo terá comprimento r cos θ pela relação do
triângulo. Sendo assim, a altura que a barra está do chão pode ser descrita
como H = r − r cos θ = r(1 − cos θ), assim podemos utilizar isso na equação para
encontrar θ:

r2 m2 (2gh) r(1 − cos θ)


3 2
= mgr(1 − cos θ) + M g (5.68)
M r /3 + mr 2
Isolando o termo com cos θ teremos:
h
cos θ = 1 − =⇒ θ = 32, 9◦ (5.69)
r(1 + M/2m)(1 + M/3m)

Bibliografia
[1] LISTA de momentos de inércia. 2018. https://pt.wikipedia.org/
wiki/Lista_de_momentos_de_in%C3%A9rcia.

[2] SERWAY, R.; JÚNIOR, J. 1: Mecânica clássica e relatividade. São Paulo:


Cengage Learning, 2014.

[3] HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos da física vol 1, 4a


edição. Rio de Janeiro, LTC-Livros Técnicos e Científicos, 1996.

96

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