PROPRIEDADE: R&A, LDA NAMPULA , TERÇA -FEIRA, 23 DE JANEIRO DE 2024 www.ikweli.co.

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IVA no açúcar pode gerar desemprego

em Nampula

Mesmo com um CAI

Mulheres continuam vulneráveis a violência
doméstica em Nampula
Pág.8

1
 Política IKWELI

Embaixadora do Canadá para a Mulher, Paz e Segurança visita

Moçambique, defendendo a inclusão da mulher na resolução de
conflitos

M
aputo (IKWELI) – A Em-
baixadora da agenda
Mulheres, Paz e Segu-
rança (MPS) do Canadá,
Jacqueline O'Neill, está de visita
a Moçambique desde o dia 21 do
corrente mês, devendo perman-
ecer até ao dia 24, como parte de
uma missão de três países em Áfri-
ca para afirmar o compromisso do
Canadá na promoção da inclusão
do género nos esforços de paz.
Acompanhada pela Alta-Comissária
do Canadá em Moçambique, Sara
Nicholls, a Embaixadora O'Neill
reunir-se-á́ com grupos da socie-
dade civil, funcionários do governo
Por: Redação
e agências da ONU para discutir as
oportunidades e desafios no espaço
MPS.
De acordo com uma nota de impren-
sa distribuída pelo Alto Comissariado
do Canadá em Maputo, “o objectivo
da visita é sublinhar a importância de
assegurar a participação significativa
das mulheres na resolução de confli-
tos - um passo essencial para a paz
sustentável e uma prioridade central
da política externa do Canadá”.
Em Maputo e Pemba, a Embaixadora
O'Neill reunir-se-á com altos funcio-
nários do governo para enfatizar os
esforços de colaboração do Canadá
com parceiros globais e locais na ob-
tenção de resoluções sustentáveis
para os conflitos, tanto a nível nacio-
nal como através de iniciativas multi-
laterais, nomeadamente nas Nações
Unidas.
“Esta missão surge na sequência da
ratificação pelo Conselho de Minis-
tros do Canadá do 3º Plano de Acção
Nacional (2023-2029) sobre MPS, em
dezembro último. Reflete a evolução
da Agenda MPS e compromete-se a
promovê-la no país e no estrangeiro
com humildade e determinação”, con-
clui a nota, cujo conteúdo estivemos
a citar.

Regan visita Moçambique com interesses no clima,

a equidade e a liderança juvenil

W
ashington (IKWELI)
– O Administrador
da Agência de Pro-
tecção Ambiental dos
Estados Unidos (EPA), Michael
S. Regan, encontra-se de visi-
ta a Moçambique desde esta se-
gunda-feira (22), com a agenda
Por: Redação
de construir parcerias e partilhar
soluções numa série de priori-
dades ambientais, que incluem o
desenvolvimento de energia lim-
pa, a protecção do ar limpo, o in-
centivo à mineração responsável
de minerais críticos e a reciclagem
de materiais de plásticos e resídu-
os electrónicos.
A missão do Administrador Regan a
África, que para além de Moçambique
inclui o Gana, responde ao apelo do
Presidente Biden à acção, na Cimei-
ra de Líderes E.U.A. -África de 2022,
para expandir parcerias substanciais
e significativas com países Africanos,

2
 Política IKWELI

instituições e pessoas em todo o
continente.
“Estou entusiasmado por represen-
tar a Administração Biden-Harris
nesta missão a África, para promov-
er a relação duradoura e de longa
data entre os Estados Unidos e este
continente próspero", disse o Admin-
istrador da EPA, Michael S. Regan,
citado num comunicado de imprensa
distribuído pela embaixada ameri-
cana a partir de Maputo.
Regan prossegue referindo que
“Moçambique e o Gana são parceiros
importantes no nosso trabalho colec-
tivo para garantir que o desenvolvi-
mento económico e a protecção am-
biental andam de mãos dadas. Todos
nós temos interesse em desenvolver
energia limpa, proteger os recursos
naturais vitais e garantir a igualdade
de acesso a ar e água limpos”.
Enquanto estiver em África, Regan
também reunir-se-á com jovens lí-
deres em ambos os países, para
inteirar-se dos seus esforços para
responder os desafios globais das
alterações climáticas e da justiça
ambiental. No Gana, o Administrador
Regan far-se-á acompanhar por Der-
rick Johnson, Presidente e Director
Executivo da NAACP.
“A NAACP aplaude a administração
por tomar as medidas necessárias
para promover a justiça climática em
escala global”, disse Derrick John-
son, presidente e CEO da NAACP.
“Há muito tempo defendemos a cen-
tralização das vozes Negras em to-
das as conversas sobre o clima, já
que nossa diáspora será mais afec-
tada pelos efeitos cada vez mais
extremos do desastre climático que
o mundo está a enfrentar. A NAACP
espera apoiar o cultivo dessas par-
cerias cruciais e promover as priori-
dades das comunidades Negras e da
linha de frente nos Estados Unidos e
no exterior”.
Os principais eventos do Administra-
dor Regan em Moçambique incluem
a inauguração de um novo de monitor
de qualidade do ar na Embaixada dos
E.U.A. em Maputo.
Por outro lado, a EPA irá colaborar
com funcionários do governo moçam-
bicano para partilhar actualizações
sobre a utilização do seu Sistema de
Modelação do Ar (AERMOD), com
vista a identificar os desafios da polu-
ição e as formas de os resolver, bem
como fornecer assistência e orien-
tação técnica ao governo de Moçam-
bique e a sociedade civil, de modo a
ajudá-los a envolverem-se de forma
mais significativa nos processos pú-
blicos, em torno de operações minei-
ras responsáveis.
Os especialistas da EPA farão uma
parceria com os seus homólogos da
Sociedade Geológica dos E.U.A.,
para organização de um webinar com
uma comunidade que está a lutar con-
tra os impactos da Erosão Costeira.

Jaime Neto entra no barulho do lixo na cidade

de Nampula

N
Por:Constantino Henriques
ampula (IKWELI) – A ci-
dade de Nampula, a con-
siderada terceira mais im-
portante de Moçambique,
continua abandonada, de tal for-
ma que, em toda sua extensão
está rodeada de várias espécies
de resíduos sólidos, o que tira a
beleza e grandeza e risco de vida
aos moradores da chamada capi-
tal do Norte.
O facto ficou acentuado após a re-
alização das VI eleições autárquicas
cujos resultados deram vitoria a Fre-
limo, o que provocou uma onda de
contestação por parte da Renamo,
partido no poder desde 2018. Ali-
ado a isso, é o facto de o Tribunal
ter retirado as competências à Paulo
Vahanle, que vinha presidindo o mu-
nicípio de Nampula, pela Renamo,
por alegadamente ter infringido du- A cidade de Nampula, actualmente ital provincial. Alias, dos anos passa-
rante as manifestações de repúdio lidera o número de casos de cólera, do a esta parte, a cidade de Nampula
dos resultados eleitorais do passado sendo que das mais de 3200 pessoas registou três óbitos por cólera.
dia 11 de Outubro de 2023. diagnosticadas com cólera, ao nível Dada a triste realidade que se vive
da província, são residentes na cap- na cidade de Nampula, o Secretário
3

de Estado na província de Nampula,
insta aos diferentes actores da socie-
dade, incluindo parceiros de cooper-
ação e outros actores da sociedade
para, de maneira conjunta e coorde-
nada, promoverem campanhas de
remoção de resíduos sólidos como
forma a evitar a propagação das
doenças, com enfoque para diarreia
e malária.
Jaime Neto reiterou seu apelo no de-
curso da primeira sessão do Centro
Operativo de Emergência (COE) pro-
vincial de Nampula havida na sema-
na finda.
“Temos que continuar a promover
campanhas de limpeza ao nosso
município de Nampula. Não só ao
município de Nampula, para quem
anda um pouco por toda província
Jaime Neto quer um SERNIC implacável
na investigação criminal
N
ampula (IKWELI) – O
Secretário de Estado
na província de Nam-
pula, Jaime Neto, de-
safiou ao Serviço Nacional de
Investigação Criminal (SER-
NIC), daquele ponto do país,
a se adaptar as dinâmicas da
criminalidade que tem estado a
investigar e se engajar no com-
bate ao terrorismo e crime con-
exos.
Na semana passada, Neto sau-
dou o SERNIC e seus quadros
na província de Nampula, por
ocasião do 7º aniversário da
criação da instituição, momento
que aproveitou para reconhecer
a exigência do trabalho investi-
gativo, por isso que não poupou
o seu discurso para enaltecer o
papel dos membros desta corpo-
ração onde almeja que trabalhem
sempre com fidelidade nas suas
actividades operativas.
Sociedade
de Nampula há-de ver que Naca-
la está numa situação deplorável e
eu acredito que em outros lugares”,
começou por avançar, Jaime Neto,
para quem “eu acredito que os lu-
gares de contaminação, principal-
mente, são os mercados por conce-
ber os produtos de pronto consumo,
e algumas vezes as moscas estão
lá a pousar nesses produtos. Então,
temos que fazer um esforço de mobi-
lizar todos para podermos promover
as campanhas de limpeza e remoção
de lixo para evitarmos a propagação
de doenças”.
Mais que promover as campanhas
de remoção de resíduos sólidos, Jai-
me Neto recordou ser necessário a
sensibilização da população a pau-
tar pela higiene individual e colec-
Por: Malito João
“Queremos exortar ao SERNIC
a continuar a incentivar a pre-
venção do crime, a intensificação
a fiscalização dos locais suspeitos
ou propensos a execução ou
preparação do crime, motivando
a população adotar medidas de
precaução para redução de actos
que possam facilitar as condutas
criminais”, disse.
O dirigente recomendou, igual-
mente, que o serviço deve contin-
uar a trabalhar para dar respostas
aos casos criminais que assolam
a província de Nampula, dai, em
jeito de encorajamento, disse que
celebrar o 7º aniversario da sua
existência é mais um motivo de
continuar a investigar vários casos
criminas com destaque para as-
saltos e raptos entre outros.
Sérgio Aníbal, director Provincial
do Serviço Nacional de Investi-
gação Criminal na capital norte
de Moçambique, garante em tudo
IKWELI
tiva, como forma de prevenção das
doenças, bem como prover água
potável.
“Preocupa-nos a situação das
doenças hídricas, notícias da época
chuvosa, como as diarreias e a cólera
para além da malária que ainda con-
stitui a causa de procura de serviços
hospitalares. Falou-se aqui das
doenças hídricas, e este é o momen-
to apropriado dessas doenças. En-
tão, eu penso que devemos continuar
a prover água potável à nossa pop-
ulação. Temos que continuar a falar
com as populações para a promoção
de higiene individual assim como col-
ectiva”, precisou o Secretario de Es-
tado na província de Nampula.
fazer para dar respostas aos an-
seios dos serviços de represen-
tação do Estado.
Aníbal reconhece que os trabalhos
sempre são intensos, dai que fez
saber que o SERNIC, na província
de Nampula, no decorrer do ano
2023, registou um total de 10.863
processos crimes contra 9.375 de
igual período comparado, 5.096
foram com autores conhecido
5.767 com autores desconhecidos.
4
 Economia & Sociedade IKWELI

IVA no açúcar pode gerar desemprego

em Nampula
Por: Malito João

N
ampula (IKWELI) – A a reposição do estoque nos mer- está a acontecer”, disse esta fon-
retoma da cobrança do cados, mas do memento, como te, reconhecendo que “na verdade
Imposto sobre o Valor podem ver o estoque está aqui o açúcar subiu, óleo e sabão subiu
Acrescentado (IVA) no parado, está tudo neste momento e estes produtos deixaram de ser-
açúcar, na ordem dos 16,75%, estagnado devido a este agrava- em utilizados, preocupa-nos bas-
está a deixar desesperada a mento do preço do IVA”. tante porque produtos da primeira
classe empresarial na provín- Esta fonte lamenta, também, que necessidade e nas famílias macua
cia de Nampula, pois alguns o mesmo esteja a acontecer com ele usa o chá, mesmo água com
fornecedores têm as encomen- o óleo e o sabão. açúcar para a sua alimentação e
das a serem canceladas. Luís Vasconcelos, vice-presidente hoje não está a se vivenciar isso, e
A título ilustrativo, a empresa do Conselho Empresarial Provin- a prova disso estamos numa fabri-
LIFEPACK, LDA tem no seu pá- cial (CEP) de Nampula, diz que ca onde os camiões estão parados
tio, pelo menos, 15 camiões com o empresariado está prejudicado e começa a nos preocupar cada
açúcar já empacotada que devia com a decisão do governo central vez mais que afinal de conta não
seguir aos seus clientes, mas que sobre a inclusão da taxa do IVA é só o industrial que está a passar
com o fim, a 31 de dezembro, do nos produtos da primeira neces- mal com essa realidade, mas é um
decreto que isenta o IVA do açú- sidade, de modo particular o açú- leque na cadeia de valor que vai
car, óleo e sabão, houve manifes- car. passando por esta necessidade”.
to de incapacidade par a compra “Nós neste preciso momento es- É recomendação do CEP de Nam-
do produto. tamos preocupados, fomos abor- pula que as autoridades governa-
Shakeel Ahmad, director geral da dados sobre essas situações com mentais tomem conta da situação,
LIFEPACK, LDA, conta que o fim nossos membros associados, e de modo que não se sacrifiquem
da isenção do IVA nestes produ- saímos para vivenciar de perto se, as famílias, assim como os em-
tos ditou o aumento e/ou ajuste de facto, era uma realidade o que presários.
dos preços no mercado, situação
que se torna mais onerosa para
as famílias.
“O açúcar já tem por lei o IVA apli-
cado, mas houve um decreto que
isentava o IVA no açúcar, óleo e
sabão, que são produtos da pri-
meira necessidade, mas o decre-
to findou no dia 31 de dezembro,
o que automaticamente fez com
que a lei do IVA fosse aplicada
de novo, mas acabou agravando
o preço do açúcar”, explica o em-
presário cuja firma fornece açúcar
nas províncias de Nampula, Nias-
sa, Zambézia e Cabo Delgado.
Shakeel ilustra não ser normal
que em janeiro o seu armazém de
trânsito ainda tenha muitos pro-
dutos, pois “nós sempre no pri-
meiro mês de janeiro temos tido

5

Niassa: Chuvas matam e ferem
L
ichinga (IKWELI) – Pelo
menos uma pessoa per-
deu a vida e outras qua-
tro contraíram ferimen-
tos no distrito de Mandimba, na
província do Niassa em conse-
quência das chuvas torrenci-
ais acompanhadas de ventos
fortes que se fizeram sentir, re-
centemente, naquele ponto do
país.
Igualmente, o Instituto Nacional
de Gestão do Risco e Desastres
(INGD) no Niassa contabilizava
outras 1070 pessoas que ficaram
afectadas por estes eventos natu-
rais.
Maria Isabel, que é delegado do
INGD no Niassa, aponta as pes-
soas afectadas pertencem a 219
famílias dos distritos de Lichinga,
Lago, Mandimba, Chimbunila,
Majune, Maua, Mecula e San-
ga, os quais figuram da lista dos
distritos mais afectados pela in-
tempérie.
“Tivemos o registo de destruição
de duas unidades sanitárias nos
distritos de Chimbunila e Man-
dimba e, também, o registo da
destruição de duas salas de aulas
entre precárias e convencional.
Em relação às famílias afectadas,
da monitoria que nós temos feito
em coordenação com os gover-
nos distritais e das delegações
distritais porque nós temos del-
egações em três distritos que é
Mandimba, Cuamba e Lago, al-
gumas já estão a reconstruir as
suas casas, e disponibilizamos
bens alimentares e alguns rolos
de plásticos e lonas aos distritos
que pediram apoio”, afirmou.
Por outro lado, o Vereador para a
área de Urbanização e Infraestru-
tura da autarquia da cidade de
Sociedade
Por: Ângela da Fonseca, em Lichinga
Lichinga, Jone Marcelino Muleva,
explicou que o departamento tem
levado a cabo actividades de sen-
sibilização aos munícipes para
abandonarem as zonas de risco,
mas que, no entanto, estes têm se
mostrado renitentes.
“Existem algumas habitações que
estão no raio ou na faixa de pro-
tecção parcial dos leitos dos rios,
mas as pessoas não recebem de
bom agrado, algumas alegando
que nos assistiram a construir cá
e não foi feita uma intervenção só
agora nos solicitam para aban-
donar as nossas residências. Mas
nós não vamos perder o foco,
vamos continuar a sensibilizar”,
disse.
Entretanto, Muleva afirmou que “o
que nós temos feito é desencora-
jar as pessoas a estarem em áreas
de risco, explicando que elas de-
vem abandonar locais pantano-
sos que por defeito são áreas de
ocorrência de inundações e para
esses locais, pelo menos, o que
temos feito é garantir a passagem
corrente das águas nos pontos de
conexão que são os aquedutos
e pontes que até certo momento
tem desviado certa quantidade de
água para as residências”, garan-
tiu.
INAM garante mais
chuvas fortes
A delegação provincial do Instituto
Nacional de Meteorologia (INAM),
no Niassa, prevê a ocorrência de
mais chuvas fortes acompanha-
das com trovoadas nas regiões
leste e norte da província nos
meses subsequentes, nomeada-
mente fevereiro e março.
IKWELI
De acordo com o delegado do
INAM no Niassa, Tomás Inácio, nos
meses a cima mencionados prevê-
se chuvas normais que poderão
afectar os distritos de Nipepe,
Marrupa, Mecula, Mavago, Sanga
e Lago, sendo que são igualmente
esperadas chuvas normais com
tendência a baixo do normal para
Mecanhelas, Cuamba, Mandimba,
Ngauma e Lichinga, respectiva-
mente.
“De uma forma geral, diríamos que
sul e centro da província do Ni-
assa teriam chuvas normais com
tendência a baixo do normal e
leste e norte chuvas normais com
tendência a cima do normal, este
é o cenário que foi actualizado no
princípio de janeiro”, explicou.
Tomás Inácio fez saber que se faz
sentir na província uma depressão
que se transformou em ciclone
tropical Belal, mas que, no entan-
to, não constitui perigo para o país.
“A atmosfera é dinâmica, estamos
a ter essa situação de toda zona
norte chuvas com alguma inten-
sidade, acompanhadas por vezes
com rajadas devido a influência
desse sistema, temos mais uma
vez uma pequena depressão que
está localizada no território do
Madagáscar e, também, há uma
conjugação com a zona de con-
vergência intertropical, portanto,
janeiro é um mês em que a zona
de convergência desce e situa-se
nesse lado do Niassa”, avançou.
Por isso, nesta altura que chamou
de pico das chuvas, apelou a co-
munidade em geral a acompanhar
as previsões meteorológicas para
que não sejam apanhadas de sur-
presa, visto que este, é o momento
da actividade ciclónica.
6
Publicidade IKWELI

7

Mulheres continuam vulneráveis a violência
doméstica em Nampula
N
ampula (IKWELI) – Mul-
heres da capital do
norte de Moçambique,
Nampula, continuam
a ser vulneráveis a casos de
violência doméstica perpetra-
dos por seus parceiros, isso
porque, apesar de ter sido in-
augurado em 2019 o Centro de
Atendimento Integrado (CAI),
localizado no bairro suburbano
de Muatala, nunca esteve dis-
ponível para acolher as vítimas
nos dormitórios.
Trata-se de um centro que, para
além de prestar serviços de na-
tureza jurídica, médica e psicos-
social às vítimas de violência, no-
meadamente mulheres, homens,
crianças, jovens e idosos, igual-
mente dispõe de um dormitório
com dois quartos e em cada um
deles com capacidade para alojar
quatro pessoas vítimas de violên-
cia.
Entretanto, desde a sua inaugu-
ração o dormitório nunca foi usa-
do e, a justificativa é que o centro
não tem condições para sustentar
a estadia das mulheres vítimas
Grande reportagem
Mesmo com um CAI
Por: Ângela da Fonseca
de violência.
Tal situação obriga, muitas vez-
es, que as mulheres que procur-
am pelos serviços no CAI tenham
que regressar a casa do agressor
ou de um familiar próximo caso
tenha.
Tal como aconteceu com a Ma-
ria, nome fictício, de 24 anos de
idade, que procurou pelo CAI para
denunciar uma situação de violên-
cia perpetrada pelo seu parceiro.
Vivendo maritalmente com o mari-
do há seis meses, Maria disse
que tem sofrido diariamente vári-
os tipos de violência, não só por
parte do parceiro, mas também da
sua sogra.
A vítima contou ao Ikweli que
conheceu o parceiro na província
da Zambézia, quando esta vendia
roupa de fardo para sustentar os
seus dois filhos, uma vez que o
seu primeiro marido, pai das cri-
anças, perdera a vida.
Eis que, alguns meses, o homem
decidiu convidá-la para a provín-
cia de Nampula, para juntos cri-
arem as crianças e formarem uma
família.
“Quando chegamos aqui as cois-
as mudaram, disse que as cri-
anças não podiam viver connos-
co e como meu pai está aqui eu
IKWELI
decidi levar as crianças para casa
dele. Fomos vivendo e começou a
se mostrar uma pessoa diferente
da que conhece na Zambézia, pas-
sou a me humilhar e a me agredir
fisicamente com a ajuda da mãe”.
Cansada de sofrer, Maria decidiu
procurar apoio e lhe foi indicado
o CAI, local onde recebeu atendi-
mento e a posterior lhe foi entregue
uma notificação para fazer chegar
ao parceiro através do secretário
do bairro.
“Fui a casa do secretário, mas ele
não estava, fui também a casa do
secretário adjunto, mas ele tam-
bém não estava, então decidi ir
para casa e guardei a notificação
na minha pasta, não sei como, mas
o meu parceiro encontrou a notifi-
cação e rasgou, tendo rasgado
disse que nada lhe iria acontecer,
e que eu poderia procurar queixar
quantas vezes puder e bateu-me”.
Com lágrimas nos olhos e visivel-
mente angustiada, Maria contou
ao Ikweli que regressou ao CAI
para apresentar a situação, no
entanto, os agentes afectos ao
posto da Polícia da República de
Moçambique (PRM) no centro
aconselharam a jovem a procurar
por um outro posto policial local-
izado na zona periférica da Faina.
“A agente deu-me número dela e
disse-me para ir a faina, e quando
lá chegar eles devem ligar para ela
para tratarem do meu caso”.
Questionada sobre aonde iria pas-
sar a noite, a mesma respondeu,
“não sei, porque tenho medo de
voltar para casa e não posso ir
para casa dos meus pais porque
eu não contei que estou a passar
8

por uma situação de violência”.
CAI incapaz de resolver os prob-
lemas das mulheres?
O Ikweli procurou saber como é
que o CAI tem resolvido os casos
de violência contra as mulheres,
quando estas procuram pelos
serviços, visto que o objectivo do
centro é flexibilizar o atendimen-
to, bem como o acompanhamen-
to e seguimento as vítimas tendo
como exemplo, o caso da Maria.
Na ocasião, Ilda Ferreira, agente
da PRM afecta ao CAI, respon-
deu nos seguintes termos, “eu
trabalho assim porque não temos
meios circulares (transporte),
para acompanhar a vítima, e eu
sou mulher, sozinha não vou pod-
er neutralizar o agressor, por isso
que eu dei a ela o meu número e
expliquei-lhe para entregar o meu
número ao agente que fosse en-
contrar para me ligar e eu iria ex-
plicar a situação”.
Já Cármen Omar, Coordenadora
do CAI, justificou não ter percebi-
do o motivo que levou a sua co-
lega a encaminhar a vítima para
uma outra subunidade policial.
Questionada sobre o motivo do
centro não acolher as vítimas nos
dormitórios, Cármen Omar disse
que desde a criação do mesmo
nunca acolheu por falta de ver-
bas para alimentação. Tendo ex-
plicado que na maioria das vezes
a acção social tem encaminhado
elas para um centro de trânsito.
“O que temos feito é um trabalho
multissectorial para que os casos
tenham uma resolução rápida,
isso porque apesar de termos
um dormitório com dois quatros
nós não temos como acolhê-las
porque não temos comida para
elas. Os quartos estão prepara-
dos, mas não podemos acolher
vítimas para vir morrer de fome”.
De acordo com a mesma, nos úl-
timos nove meses, o CAI atendeu
Grande reportagem
88 casos, deste número 82 foram
de mulheres com diferentes tipos
de violência, contra 108 do ano
anterior 2022, mas que, no entan-
to, em um mês chegam a receber
mais de 20 vítimas do sexo femi-
nino.
“Normalmente as vítimas que
carecem de acolhimento são de
violência doméstica, mas em ne-
gociação com a vítima fazemos
um trabalho de encontrar um sítio
onde ela possa se sentir segura
para poder permanecer lá, pode
ser no seio familiar ou no centro
de trânsito enquanto o caso está
em andamento. Neste centro te-
mos dormitórios, mas não temos
alimentação e kits de higiene”.
A fonte revelou que, se o centro
tivesse condições para acolher as
vítimas, as mesmas ficariam no
máximo, “uma ou duas semanas
para prestação de apoio psicos-
social, integração da própria víti-
ma e o nível de encaminhamento
do seu processo, isso porque em
cada dormitório temos uma beli-
che e dois colchões de reserva,
nós não temos um fundo direto
para suprir as nossas necessi-
dades”.
Ora, por um lado o CAI diz não ter
condições alimentares para acol-
her as mulheres por um determi-
nado tempo, por outro, a Direcção
Provincial do Género, Criança e
Acção Social de Nampula, através
da directora Albertina Ussene, diz
que o mesmo centro dispõe de re-
feições para as vítimas.
"Para Nampula não há muita
razão de queixa porque nos temos
o nosso CAI preparado com in-
fra-estruturas para acolher, temos
colchões, camas, água e refeição
para situações de emergência,
bastando apenas a PRM activar a
acção social e eles já vão saber
o que fazer como é caso de dar
apoio psicossocial e segurança".
Por outro lado, a directora dá ga-
IKWELI
rantias de que o sector tem estado
a fazer acompanhamento integra-
do das vítimas, por forma a avaliar
o nível de satisfação do casal após
um episódio de agressão.
“Após a reintegração da mulher
na família, assim como no seu
lar, temos feito um seguimento
para avaliar o nível de satisfação,
principalmente da mulher, se per-
cebermos que já não está a ser
agredida, mas é atacada psico-
logicamente, nós voltamos a car-
ga, sentamos com o casal e nos
entregamos por completo para as-
sistir por completo”.
Enquanto isso, GAFVV
diz que comportamen-
to da agente é con-
denável
Em entrevista ao Ikweli, a repre-
sentante da repartição de Atendi-
mento da Família Vítima de Violên-
cia, Margarida Cheque, condenou
a atitude da agente da PRM, justi-
ficando que o mesmo mancha os
serviços e a imagem do CAI.
“Na verdade, o que ela devia fazer
é ligar para o posto e pedir aux-
ílio e não mandar a vítima com
um número, o trabalho do CAI é
conjunto, se ela não conseguiu re-
solver podia muito bem recorrer a
acção social que funciona ali mes-
mo. Esse comportamento contribui
9

para que muitas mulheres que
sofrem violência não procurem
pelos serviços, mas também faz
com que sejam mais vulneráveis
a casos de violência”.
Na ocasião, a fonte fez saber
que a província de Nampula reg-
istou nos últimos nove meses
600 casos de violência domésti-
ca, contra 655 do ano 2022, sem
avançar dados afirmou que maior
número de denúncias tem sido de
mulheres.
Cheque avançou que muitas
mulheres não conhecem os da-
dos completos do seu parceiro,
tal situação faz com que a noti-
ficação seja entregue a própria
vítima para através do secretário
fazer chegar ao agressor.
“São mulheres que denunciam
casos de violência física simples.
Há casos em que as próprias mul-
heres mesmo vivendo vários anos
com os parceiros não conhecem
dados e somos obrigados a fazer
uma notificação para o agressor,
através do secretário para fazer
chegar o secretário”.
“Não temos trans-
portes para fazer en-
tregas de notificações
aos agressores”
Cheque explicou que a falta de
um transporte obriga a polícia a
confiar notificações de casos de
violência doméstica contra as
mulheres aos secretários, no en-
tanto, muitas vezes as próprias
vítimas fazem chegar ao parceiro,
correndo risco de ser violadas no-
vamente, como aconteceu com a
Maria, tal situação, deixa˗as vul-
neráveis.
“Por isso usamos estruturas de
base que são os secretários e,
eles já são sensibilizados e sen-
sibilizam o agressor a vir ao ga-
binete. Após a entrega da noti-
Grande reportagem
ficação, a mulher fica em casa,
mas quando a situação é alar-
mante temos aconselhado a estar
na família ou na acção social que
é na sala de trânsito, temos o CAI,
mas ainda não está operacional
nessa vertente, quando recebe-
mos uma vítima de noite apesar
de não estar legitimado deixa-
mos elas passarem a noite aqui
ou nas esquadras, mas não é da
nossa responsabilidade, mas sim
do CAI, mas está em processo de
apetrechamento em relação aos
dormitórios”.
A supervisora de campo na Asso-
ciação Sócio Cultural Horizonte
Azul (ASCHA), no distrito de Ra-
pale, Avitónia Covane, disse que
a organização em parceria com a
acção social e a PRM tem envida-
do esforços para integrar as víti-
mas nas suas famílias, por forma
a reduzir situações de vulnerabili-
dade das mesmas.
Ainda sim, fez saber que a organi-
zação tem enfrentado dificuldades
no que diz respeito ao acolhi-
mento visto que, os mesmos não
dispõem de um local seguro, por
isso, esperam que nos próximos
anos o governo crie uma casa se-
gura para as mulheres vítimas de
violência doméstica.
“O nosso foco é reintegrar a mul-
her no seio familiar, dependendo
do caso de violência, tentamos
dar um acompanhamento psi-
cossocial, isso porque quando
ela volta precisa de muito apoio,
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colocamos elas nas nossas ro-
das. Para 2023, nós reportamos 4
casos, a acção social, de mulheres
nessa situação de vulnerabilidade
e muitas vezes temos seguido o
caso até o seu desfecho”.
Dados do governo da província de
Nampula indicam que, durante o
primeiro semestre de 2020 e 2023,
o Centro de Atendimento Integra-
do atendeu um total de 1.854 mul-
heres vítimas de violência.
Deste número, embora grande
parte tenha se dirigido ao centro
com necessidade de acolhimen-
to por serem vítimas de violência
sistemática não puderam lá estar
porque o mesmo não dispõe de
condições.
Como é o caso de Vanda Muan-
heue que no presente ano foi víti-
ma de violência doméstica por
parte do seu marido que, na altura,
era escrivão de direito da 4ª ses-
são laboral no tribunal judicial da
província de Nampula.
Na altura, a vítima não teve as-
sistência do parceiro, pois este tir-
ou-lhe de casa e assumiu que nada
lhe iria acontecer, deixando-a sem
abrigo, incluindo os filhos.
Trata-se de um caso que o Ikwe-
li seguiu e, até hoje, Vanda que-
ixa-se por não ter uma casa para
os filhos e pelo facto de as institu-
ições judiciais não terem resolvido
o caso.
Dados enviados a redacção do Ik-
weli, pela Procuradoria Provincial
da República de Nampula, indicam
que no primeiro semestre de 2023,
o sector recebeu um total de 656
processos de violência domésti-
ca relactivos a diversos tipos de
crimes. Desse número, 625 deram
entrada, 31 ficaram pendentes, 34
acusados, 88 remetidos ao tribu-
nal na forma de processo sumário,
471 remetidos ao tribunal na for-
ma de processo sumaríssimo, 4
aguardam pela produção de mel-
hores provas, 9 foram para o ar-
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quivo de instrução do processo
e 50 transitados para o presente
ano de 2024.
No que diz respeito ao género
feminino por idades, a procura-
doria recebeu três casos dos 15
aos 17 anos, 20 dos 18 aos 20
anos, 147 correspondentes a
Grande reportagem
faixa etária dos 21 a 40, 36 cor-
respondem aos 41 a 65 anos, 66
anos em diante apenas um caso
e 87 para mulheres cuja a idade
é desconhecida, somando assim,
294 entradas de vítimas do sexo
feminino que procuram pela res-
olução das suas queixas.
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O que significa que, na província
de Nampula, independentemente
da idade, as mulheres continuam
a sofrer diversos tipos de violência
com maior destaque para a física
grave que culmina muitas vezes
em morte. Tal situação mostra as
mesmas continuam vulneráveis.
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