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CAPÍTULO 3 - QUAL A
REPRESENTAÇÃO DO ALUNO E DO
PROFESSOR NO CONTEXTO SOCIAL
CONTEMPORÂNEO?
Tatiana Gomes dos Santos Peterle
INICIAR
Introdução
Antes de começar seus estudos, reflita: o que você compreende quando escuta o
termo representação social? Qual seria a representação do aluno e do professor
no contexto social contemporâneo? Enfim, o que é representação social? Você
encontrará as respostas para estas e outras questões neste capítulo, no qual
abordaremos as representações de educadores e de educandos na sociedade.
Vivemos em uma sociedade definida por representações sociais. Essas
representações se dão em espaços e tempos conforme seu papel neste contexto.
Assim, podemos definir que as representações sociais são aquelas que englobam
as crenças, ideias e comportamento de um grupo de indivíduos,e essas
representações são resultados de ações coletivas comuns entre eles, ou seja,
resultado da interação social.
Essas representações também acontecem na escola, onde professores e alunos
assumem papéis importantes na luta por transformações sociais. Dessa maneira,
as representações sociais são fundamentais para entendermos como a realidade
constrói os símbolos presentes no nosso cotidiano, e ao mesmo tempo, como
pode revelar as necessidades diante o desafio da função social da escola no
processo de desenvolvimento da aprendizagem.
Bom estudo!
Figura 1 - Ser professor é muito mais do que transmitir conhecimento em sala de aula. Fonte:
Shutterstock, 2018.
Figura 2 - Momento de
ensino-aprendizagem: relação entre professor e aluno. Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2018.
Figura 3 - A educação como caminho da emancipação social. Fonte: razorbeam, Shutterstock, 2018.
Figura 4 - A relação entre professor e aluno em sala de aula deve ser afetiva. Fonte: Pressmaster,
Shutterstock, 2018.
[...] é a partir da análise dessa relação que se pode pensar no que faz um aluno
aprender. O que o faz acreditar no professor, permitindo que um ensino seja eficaz.
Pois, superando instituições escolares castradoras, coibitivas, “achatadoras” de
individualidades, surgem alunos pensantes, desejosos de saber, capazes mesmo de
produzir teorias.
VOCÊ O CONHECE?
Sigmund Schlomo Freud (1856-1939), médico neurologista, foi o criador da psicanálise. Iniciou seus
estudos a partir da utilização da hipnose no tratamento de pacientes com histeria, motivação de seus
estudos sobre o inconsciente. Suas teorias e seus tratamentos foram controversos, e até hoje
continuam a ser muito debatidos. Sua teoria é de grande influência na psicologia atual e, além do
contínuo debate sobre sua aplicação no tratamento médico, também é frequentemente discutida na
educação e analisada como obra de literatura e cultura geral (FERRARI, 2008). Para saber mais sobre
Freud, acesse o artigo disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/1912/sigmund-freud-o-
explorador-da-mente (https://novaescola.org.br/conteudo/1912/sigmund-freud-o-explorador-da-
mente)>.
Contudo, apesar do espaço que a psicanálise tem hoje na educação, esta teoria
não traz fórmulas sobre o que fazer para que a aprendizagem aconteça, mas ajuda
a refletir como o comportamento do aluno e seus aspectos afetivos na sua relação
com o professor, e com a escola, dialogam com o seu sucesso ou fracasso escolar.
Basicamente, a representação do aluno pode ser compreendida a partir de sua
relação afetiva com o professor, quase sempre identificada a partir do “bem-estar”
ou “mal-estar” vividos no cotidiano da sala de aula. De acordo com Ornellas
(2009), isso nos leva a refletir que:
A psicanálise fala que a relação transferencial pressupõe enamoramento, o que
permite dizer que a transferência coloca o amor como referência, a qual alimenta a
relação. (...) Em 1912, Freud distingue a transferência positiva, feita de ternura e
amor, da transferência negativa, feita de sentimentos hostis e agressivos
(ORNELLAS, 2009, p. 178-179).
Uma leitura que inclua o discurso social que circula em torno do educativo e do
escolar (...) estará produzindo uma inflexão na ação do psicanalista e o levará a uma
prática que não coincida mais com a clínica psicanalista “ortodoxa”, pois ele terá de
se movimentar o suficiente para ouvir pais e escola. Isso amplia o campo de ação do
psicanalista, que passa a incluir a instituição escola como lugar de escuta (KUPFER,
2000, p. 34).
Nesse sentido, mais uma vez a psicanálise entra como um recurso para a
compreensão das representações sociais. Escutar é uma forma de dar sentido ao
mundo que cerca o aluno. Segundo Ornellas (2009, p. 188): “[...] a escuta da fala do
outro é, na verdade, um diálogo dentro de nós mesmos, com as muitas falas que
nos constituíram e nos constituem. Escutar e falar faz parte do processo educativo,
porém este binômio na escola parece ter pesos diferentes entre os atores.”
A partir dos momentos de escuta em sala de aula, escola e professores podem
trabalhar para produzir mais e melhor a qualidade do ensino. A representação do
ensinar e aprender é um aspecto que também merece atenção no processo
escolar, conforme você estudará a seguir.
O professor que consegue trazer para a sala de aula exemplos que fazem
parte do dia a dia da turma, que tenta valorizar a vivência do estudante,
terá menos dificuldades de desenvolver o seu trabalho. Em contrapartida,
quando o aluno identifica-se com o assunto trazido pelo professor de
determinada disciplina, ou em determinada aula, é possível notar que o
interesse desse aluno muda, pois para ele a aprendizagem passa a ter
significado.
Figura 7 - A educação deve ser compreendida como formação para a cidadania. Fonte: Monkey
Business Images, Shutterstock, 2018.
O processo de ensino-aprendizagem é compreendido como algo que precisa ser
arquitetado para que não haja interferências na sua execução e para que ele
alcance todos os objetivos traçados. No entanto é um processo de mão dupla que
abraça tanto o professor quanto o aluno, de modo que ambos, em algum
momento, serão ensinantes e, em outro, serão aprendizes.
Hoje, o ensinar e o aprender são responsáveis pela construção de um mundo
melhor, em que professores e alunos, por meio do conhecimento, podem
transformar a realidade em que vivem a partir de uma prática cidadã, crítica e
reflexiva, tendo em vista sempre a emancipação social.
VOCÊ SABIA?
A Escola Básica Integrada de Aves/São Tomé de Negrelos, conhecida como Escola
da Ponte, é uma instituição pública de ensino, localizada em Vila das Aves e São
Tomé de Negrelos, em Santo Tirso, no distrito do Porto, em Portugal. No sistema
idealizado pelo educador José Pacheco “as crianças e os adolescentes que lá
estudam definem quais são suas áreas de interesse e desenvolvem projetos de
pesquisa, tanto em grupo quanto individuais. O sistema tem se mostrado viável por
pelo menos dois motivos: primeiro, porque os educadores estão abertos a
mudanças; segundo, porque as famílias dos alunos apóiam e defendem a escola
idealizada por Pacheco” (MARANGON, 2004, s. p.). Para saber mais, leia o artigo
disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/335/jose-pacheco-e-a-escola-
da-ponte (https://novaescola.org.br/conteudo/335/jose-pacheco-e-a-escola-da-
ponte)>.
Temos assim instalada uma crise paradigmática que precisa ser analisada
enquanto fenômeno cultural que se relaciona diretamente com a história.
Podemos pensar que a construção da ciência moderna compreende a educação
como um modelo único de conhecimento, materializado a partir da produção de
novos saberes que podem ser cientificamente comprovados, razão principal da
crise. Desse modo, a perspectiva do conhecimento científico dominante adquire
maior rigor, colocando o modelo racionalista em profunda crise. Todavia, “os
sinais nos permitem tão só especular acerca do paradigma que emergirá desse
período revolucionário.” (SANTOS, 1996, p. 123).
Além da reprodução, numa escala ampliada, das múltiplas habilidades se nas quais
a atividade produtiva não poderia ser realizada, o complexo sistema educacional da
sociedade é também responsável pela produção e reprodução da estrutura de
valores dentro da qual os indivíduos definem seus próprios objetivos e fins
específicos. As relações sociais de produção capitalistas não se perpetuam
automaticamente.
Assim, a sociedade do conhecimento como é conhecida de todo o mundo, deixou
de lado o modelo pedagógico que valoriza o trabalho taylorista/fordista “fundadas
na divisão entre o pensamento e ação, na fragmentação de conteúdos e na
memorização, em que o livro didático era responsável pela qualidade do trabalho
escolar” (SANTOS, 2018, s. p.).
As transformações do mundo permitem que os sujeitos aprendam nos mais
diferentes espaços educativos – na TV, no computador, na rua, entre outros. Desse
modo, os espaços educativos foram ampliados; isso não significa que a escola
formal tenha chegado ao fim, mas um alerta que indica a necessidade urgente de
mudanças estruturais nessas escolas para atender às demandas da
contemporaneidade. De acordo com Frigotto (1999, p. 26):
VOCÊ SABIA?
A participação dos professores na construção do Projeto Político Pedagógico da
escola está prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Em seu
Título IV – Da Organização da Educação Nacional –, a lei define no artigo Art. 14 que
os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino
público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme
alguns princípios; e um deles está no Inciso I, que é a garantia da participação dos
profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola (BRASIL,
1996).
Síntese
Você concluiu esta etapa da disciplina, que abordou a representação do aluno e do
professor no contexto social contemporâneo, mostrando como as relações entre
esses sujeitos podem interferir e determinar o processo de aprendizagem e a
função social da escola.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
compreender a identidade do educador como um profissional do ensino,
assim como a sua representação no contexto social;
refletir sobre a representatividade do educador na perspectiva de uma
sociedade dinâmica e polivalente;
identificar a representação do aluno, tendo por base o vínculo afetivo;
entender que a representação social do aluno contribui positivamente no
cotidiano escolar;
perceber os benefícios que partem dos princípios de ensinar e aprender
como ícones estruturadores da prática educativa;
refletir sobre a transformação da escola no mundo contemporâneo;
conhecer as reais necessidades de transformação da escola que queremos.
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