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Randy C. Alcorn
O desejo sexual é poderoso. Muitos dizem que ele é simplesmente uma outra
necessidade básica, como a fome e a sede, ou uma outra função biológica. Porém,
Paulo diz algo diferente aos Coríntios: “Os alimentos são para o estômago, e o
estômago para os alimentos; mas Deus destruirá tanto estes como aquele. Porém,
o corpo não é para a impureza, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo” (1
Coríntios 6:13).
Paulo insiste que a analogia entre saciar nossa fome de alimentos e ceder aos
nossos desejos sexuais não é válida para Deus. “Natural” nem sempre quer dizer
“certo.”
Outras necessidades são básicas para nossa existência física, mas o sexo não o é.
Morreremos se não tivermos água e comida, mas não morreremos se não tivermos
sexo. Sexo nunca é uma emergência, e a imoralidade nunca é uma necessidade.
Lascívia sexual é condenada no Antigo Testamento. O 10° mandamento proíbe a
cobiça do cônjuge de outrem (Êxodo 20:17). Provérbios adverte-nos detalhada e
repetidamente acerca da imoralidade da lascívia, dizendo que é perverso quem
cede lascívia e é sábio quem resiste à ela (Provérbios 2:16-19; 5:1-23; 6:23-29).
Podemos aprender bastante sobre lascívia através dos exemplos (negai vos, à
primeira vista) de Sansão Dalila, Davi e Batseba, e Oséias Gômer. A representação
de Israel como esposa infiel, pelo profeta também demostra a fealdade da lascívia
e da imoralidade (Jeremias Ezequiel 16).
Jesus não está sendo injusto. Ele não está condenando-nos pelas tentações que
surgem independentemente da nossa vontade. Ele simplesmente está dizendo que
não há desculpa para alimentarmos uma fantasia mentalmente se o ato físico desta
constitui uma imoralidade segundo a lei do Antigo Testamento.
Martinho Lutero disse-o melhor: “Você não pode evitar que os passarinhos voem
sobre a sua cabeça, mas pode evitar que eles façam um ninho nos seus cabelos.”
Os fariseus devem ter ficado pasmados com a complementação que Jesus deu ao
mandamento do Antigo Testamento. Enquanto eles se orgulhavam da sua retidão
exterior, Jesus atacou sua podridão interior. Porém, ele continua, e ainda fala mais
severamente sobre a lascívia: “Se teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-
o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu
corpo lançado no inferno” (Mateus 5:29-30).
Por interpretar erradamente esta e outras passagens, alguns cristãos sinceros dos
primeiros anos da história da igreja castraram-se, tentando, assim, obter vitória
sobre o pecado da lascívia. Mutilar o corpo é destruir o templo de Deus; não é esta,
pois, a solução para a lascívia.
O que Jesus queria dizer, então? Ele se refere ao olho e a mão em Mateus 5 por
razões específicas. O olho representa a porta através do qual os dados mentais são
recebidos e os pensamentos desenvolvidos. A mão significa a ação ou o
comportamento realizado de acordo com os pensamentos. A mão direita e o olho
direito são mencionados porque são os membros mais usados pela maioria das
pessoas. O fato é que, se até mesmo nossos membros mais valiosos são causa de
pecado em nossas vidas, eles devem ser eliminados (“arranca-o e lança-o de ti”).
Ao mencionar o inferno, ele está relembrando severamente que o pecado será
punido por um Deus que é santo. Há implicações eternas para os nossos
pensamentos e ações presentes.
Jesus está dizendo que qualquer que seja a verdadeira origem do pecado, ela deve
ser radicalmente cortada. Mas os membros do nosso corpo são a verdadeira origem
do pecado? A resposta clara das Escrituras é NÃO. O olho e a mão são apenas
instrumentos através dos quais a tentação ataca e o pecado é cometido. O
verdadeiro inimigo é a carne, a natureza pecaminosa que impele-nos à rebelarmo-
nos contra Deus.
Por outro lado, certamente Jesus não está querendo dizer: “Se você pecar na sua
mente, pode ir adiante e fazer o mesmo com o seu corpo, porque não faz diferença.”
Ao invés disso, ele está querendo dizer: “Se você pensa que é santo porque se
absteve de um certo pecado físico, você está absolutamente errado. Você tem que
dar conta para Deus tanto do seu corpo, como da sua mente.”
É precisamente isso que o apóstolo João expressou quando disse: “Todo aquele que
odeia seu irmão é assassino” (1 João 3:15). Ele não está dizendo que não há
diferença entre o assassinato mental (causado pelo ódio) e o real, mas ele está
dizendo que o ódio é pecado — exatamente o tipo de pecado cometido num
assassinato.
A presença daquelas fotos empreendia uma luta contínua contra suas mentes.
Alguns, com certeza, estavam vencendo a luta. Outros, sem dúvida, já a haviam
perdido. Tenho diante de mim uma carta escrita por um daqueles jovens em
resposta à minha palestra naquele dia: “A pureza sexual da mente é a coisa mais
difícil para mim. Ser cristão exige um tremendo autocontrole, não é mesmo?”
Doug procurou-me cheio de vergonha e angústia. “Como vou contar para minha
esposa?” ele perguntava. “Foi tão de repente — ninguém me avisou. Por que Deus
permitiu que isso acontecesse?”
Doug havia trabalhado sem parar a fim de entrar no seminário. Sutilmente, ele
passou a ressentir-se de Joan, sua esposa, pois passou a vê-la, bem como os filhos,
como obstáculos para atingir a seu objetivo: formar-se a entrar para o ministério.
Haviam-se passado dois anos sem que ele e Joan passassem um tempo somente
um com o outro ou conversassem num outro nível, que não o superficial. A relação
deles estava desgastada, mas faltava para ambos força ou energia para mudá-la.
Quando Joan e as crianças estavam visitando os parentes, Doug aproveitava para
descansar dos estudos, e saía para tomar ar fresco. Ele terminava vendo um filme
pornográfico. Depois disso, todas as vezes que ele tinha relações sexuais com Joan,
ele fingia que era a mulher do filme. Ele se sentia culpado, embora parecesse que
não havia mal naquilo.
O que aconteceu com Mike, na verdade, começou muitos anos antes de ele pedir
para aquela jovem despir-se em seu escritório. Ele tinha problemas com a lascívia.
Pior que isso, ele se negava a reconhecê-lo ou a tratá-lo. Durante sua hora de
almoço, Mike frequentemente parava numa banca para comprar um jornal ou uma
caixa de chicletes. Ele sempre andava por toda a banca e folheava revistas como a
Playboy. Ele nunca pretendia fazê-lo (ele disse a si mesmo). Mas sempre fazia.
A mesma mente que queria servir a Cristo, deixava-se deliciar com fantasias
lascivas. Uma vez na mente de Mike, programada pelas imagens imorais com que
ele a alimentava, estas impulsionavam-no a agir imoralmente.
“Plante um pensamento e colherá uma ação; plante uma ação e colherá um hábito;
plante um hábito e colherá um caráter; plante um caráter e colherá um destino.”
Somos o que pensamos. Os pensamentos de hoje formam o caráter de amanhã. A
tentação pode chegar repentinamente, mas não o pecado. Nem a fibra moral e
espiritual. Elas são o resultado de um processo — um processo do qual TEMOS O
CONTROLE. A melhor maneira de se guardar das tentações sexuais de amanhã é
cultivar uma mente pura hoje, uma mente saturada das coisas de Deus, não das do
mundo.
Nossa moral sexual é a soma de uma série contínua de escolhas, decisões e ações,
incluindo aqueles pequenos prazeres e minúsculas concessões. Como uma chapa
fotográfica de metal, que acumula luz a fim de formar uma imagem, a nossa mente
é o resultado cumulativo de tudo o que a expomos — seja de Deus ou do mundo.
Mulher ou homem, jovem ou velho, cristão ou não, todos nós encaramos uma
batalha por pureza sexual. O inimigo é a lascívia, o preço é alto, a recompensa é a
paz e o prazer da pureza.