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RESUMO:
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RESUMÉN:
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Introdução
Em um sobrevoo, os moldes tradicionais com que a escola aposta no ensinar,
petrificou em seu interior uma educação de poucos apetites e desejos, convertendo-se
em um ambiente de apatia e de inércia, onde professores são impelidos a se reunirem
em torno de um trabalho em sabor, restritos aos valores disfarçados nos programas
escolares e do poder subsumido nas disciplinas.
A pesquisa educacional no Brasil perpetua julgamentos depreciativos, imbuídos
de pobreza teórica e inconsequência metodológica (MELLO, 1983). A escrita
desconfigurada de Alice no País das Maravilhase Alice Através do Espelho supõe um
estado poético a transpassar uma curricularidade sensível, potente a afetar e ser afetada
por forças díspares na transcriação de informes em educação, trazendo organicidade aos
dados empíricos, faz emergir um sentido para a docência, costurando fragmentos
estratégicos de rompimento com a doxa1.
Uma saga familiar, uma vingança a arrasar com tudo e com todos. Cada linha,
palavra, sílaba ou som, cada cifra, figura, branco e borrão aponta para a língua
cambaleante, dá pistas de um currículo não-dito (“não” dito), de uma proibição calada,
de uma norma malandra a, por um lado, dar vida a todos, mas por outro, dar fim a todo
indivíduo. Riscos de uma ficção como uma traça traça as folhas de um livro.
A educação não é uma escolha aleatória, implica entrelaces, obras musicais
independentes que contornam um lugar onde se é permitido protestar contra fórmulas
tradicionais inventariando possibilidades em que currículo e didática entram em um
ciclo de reação desencadeadora de intensidades (DELEUZE; GUATTARI, 2011). Na
tentativa de saltar da virtude educacional e desse quadro reativo de queixas, desânimos e
descontentamentos, preciso é sentir as práticas pedagógicas como potencialidades
emancipatórias na construção de um currículo de multiplicidades (DELEUZE;
GUATTARI, 2011) emergentes em busca de uma vida ética/estética, autônoma, capaz
de apropriar-se da dimensão de descontrole da imanência, recusando a vida baseada em
códigos de virtude e regulação interna.
A didática da tradução (CORAZZA, 2013), experimenta possibilidades de
assumir, diante da perpectiva das filosofias da diferença, procedimentos criativos,
incorporais, tendenciosos a produção de coordenadas múltiplas. A persistência em
escriler a vida (CORAZZA, 2010), torna-se gesto de generosidade à uma linguagem
imanente. É a releitura, a reescritura, que compartilham gestos de sensível à obra. São
Procedimentos metodológicos
O conceito de ritornelo (DELEUZE; GUATTARI, 2012) é usado durante toda
pesquisa fazendo imergir uma dança cheia de ritmo, sem compassos, mas cheia de
cadências que impõe atos de resistência. Procedimentos de transcriação (CORAZZA,
2013), um modo de operar a escritura com a finalidade de encontrar literatura e
interpretações sociais. Utiliza da arte, da filosofia e das ciências para produzir através de
dobras literárias possibilidades curriculares. Uma escrita que é pensamento, sentido,
poética. Não se pretende aqui reproduzir cenários sociais, mas através de um gesto de
fúria, uma experimentação das sensações de uma sociedade. Contornar a miopia sobre
aquilo que é, construindo uma leitura falante de desejos, de sujeitos pensantes e
produtores do seu cotidiano. Uma escrita descritiva do espaço observado, “que busque
em nosotros lo que fuimos a buscar y saquear em los otros” (PEREC, 2010). Para
compor os Procedimentos de Maquinação se faz necessário estabelecer relação com a
leitura de enunciados filosóficos clamados por Deleuze, Guattari, Corazza e De Araujo
a bem de projetar intra-agencimanentos clínicomaquinatórtios e escritas para uma nova
realidade. A força literária traça em Lewis Carrol a costura entre a crítica
sintomatológica e a clínica maquinatória (DE ARAUJO; CORRAZA, 2017),
reverberando sempre a potencialidade de uma literatura menor (DELEUZE;
GUATTARI, 1997).
Para tanto, a didática aqui é concebida como um agenciamento, um movimento
do pensamento, uma direção tradutória dos atos curriculares que tangenciam
transcriadores de elementos artísticos, filosóficos e científicos. Uma tradução, que
implica transpor os sentidos da linguagem para outro plano onde se cria ou recria um
novo percurso, um novo caminhar por entre labirintos.
Para essa didática da diferença (CORAZZA, 2013), não existe linha reta, nem
nas coisas, nem no texto, de modo que a sua língua “tem de alcançar desvios femininos,
animais, moleculares, e todo desvio é um devir mortal” (DELEUZE; GUATTARI,
1997).
O desejo de agenciar ritornelos recai na teoria das multiplicidades (DELEUZE;
GUATTARI, 2011), traça um destino subjetivo que só ocupa um determinado espaço,
naquele único momento. Talvez esta seja a melhor resposta para definir o que é
currículo: tudo é currículo. A metamorfose contínua de forças desejantes, um
inconsciente maquínico em um labirinto de zonas de intensidades tramando fibras
nervosas potencializando a mudança de natureza. A cada novo retorno o currículo se
depara com um pensamento sem imagem, podendo produzir sensações rizomáticas
provocando um combate a representação, violentando a didática tradicional com suas
cópias sem semelhança rompendo com a tecnologia da educação, reverberando a
repetição produtora de diferença em um devir-espiral; devires que movem as artes, a
ciência, a filosofia e a própria vida.
Considerações finais
Quebrar a lógica de tempo e espaço desencadeia estratégias ilegítimas no
rompimento de coordenadas ajuizadas, provocando a criação de sensações curriculares
onde as transformações didáticas não sejam questão de uma boa ideia, senão questão de
novos afectos (DELEUZE, 1992). A força plástica de educar , vive naqueles que
resistem a pregação milagrosa dos poderes educacionais empossados pela pacificação
política da perpetuação na repetição das mesmas ideias e pecepções. Levar o currículo
ao deserto traduz a tragédia de conduzir Édipo à terras virgens. Uma realidade de
multiplicidades no combate a identificação do sujeito e seu discurso. Tal como a
matilha, tensionamentos e desconfigurações de personagens na melancolia de se
produzir afectos de multidão. Não há didática enquanto não se atribuir uma sensação e
um movimento tradutório aos atos curriculares. A educação é uma máquina, e suas
engrenagens formam regimes de significações incorporais a produção de sujeitos
destinados a suprir as necessidades da sociedade que a criou.
Referências
BERGSON, Henri. Matéria e Memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espírito.
(Tradução Paulo Neves). 4ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
_______. Crítica e Clínica. Trad. Peter Pál Pelbart. São Paulo: Ed. 34, 1997.
DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. Diálogos. São Paulo: Editora Escuta, 1998.
________. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. V.1. Rio de Janeiro: Ed. 34, 2011.
________. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. V.4. Rio de Janeiro: Ed. 34, 2012.
________. Kafka: por uma literatura menor. Rio de Janeiro: Imago, 1997.