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Do ponto de vista comercial (econômico e financeiro), o gerador produz energia e tem que vendê-la
para remunerar seus custos e investimentos.
Os compradores são as distribuidoras (que adquirem energia para atender seus clientes), os consumidores
livres (siderúrgicas, mineradoras, shoppings, entre outros) ou especiais (hospitais, supermercados etc.), e as
comercializadoras (Petrobras Comercializadora, CGN Energia, CPFL Energia, por exemplo). Estas
empresas participantes do mercado são chamadas de agentes.
Dois destaques: as transmissoras não atuam diretamente no mercado de energia, pois fornecem o
transporte, sem necessidade de comprar num ponto para vender em outro. Já a comercializadora, empresa
que atua no mercado aumentando sua liquidez e diversidade, não participa do sistema físico, pois não gera
ou consome energia.
O contrato dá ao comprador o direito sobre um volume de energia que antes era do vendedor.
Logicamente, o contrato também traz informações de contrapartidas, vigência, preços, pagamentos e
garantias, entre outras cláusulas. Existem diversos tipos de contratos de energia. Dividindo-os em dois
grandes grupos, temos os contratos regulados e os livres.
Os contratos regulados são resultantes de leilões com regras de fornecimento rígidas, pré-definidas pelas
entidades do setor (ANEEL, EPE e CCEE participam do processo), e regem a compra de energia feita pelas
distribuidoras.
Os contratos livres são negociados e celebrados bilateralmente, suas regras de fornecimento (vigência,
volume, preço, condições etc.) são acordadas entre as duas empresas envolvidas. As partes têm o dever de
comunicar formalmente o contrato à CCEE, pois esta precisa ter ciência do volume de energia
transacionado.
Esta diferenciação de contratos divide o Mercado de Energia em dois ambientes de contratação: o Livre
(ACL) e o Regulado (ACR). Em maio de 2022, o ACL respondeu por 37% da energia total consumida no
Brasil. No entanto, o ACR ainda compreende um volume bem superior (63%).
Consumidores de maior porte(¹) podem migrar para o ACL e buscar contratos mais atraentes junto a
geradores e comercializadores.
O Mercado Livre propicia a redução de gastos com energia. Os esforços extras com processos de gestão e
operação devem ser compensatórios se a empresa estiver bem assessorada e apoiada por tecnologia.
Consumidores de pequeno porte devem comprar energia exclusivamente da distribuidora local, pagando
uma tarifa regulamentada.
A rigidez de regras e os leilões do ACR visam à proteção e à otimização dos custos para os clientes cativos
das distribuidoras.
Todos os pontos de conexão do sistema são monitorados pela CCEE, que recebe e consolida medições de
energia injetada e drenada a cada momento. Não há, todavia, verificação “online” dos contratos para
garantir que um consumidor não esteja retirando mais do que comprou, por exemplo.
Esta conferência somente é feita a posteriori pela CCEE, em uma operação mensal
chamada Contabilização que compara a medição verificada com os volumes contratados.
Em outras palavras, a CCEE irá calcular o balanço energético de todos os seus agentes hora a hora. Neste
balanço as entradas são chamadas Recursos e são resultados de geração(3) e contratos de compra, já as
saídas são Requisitos, formados por vendas e consumo.
Ao final da Contabilização, cada agente terá um valor de energia a liquidar (recursos menos requisitos)
positivo ou negativo. Sobras e déficits de energia são valorados a um preço calculado pela CCEE (PLD - Preço
de Liquidação das Diferenças) e resultam, respectivamente, em créditos ou débitos para cada agente.
No processo de liquidação, a CCEE recebe o dinheiro dos devedores e distribui aos credores, zerando as
posições individuais.
O PLD é um indicador importantíssimo do Mercado de Energia. Sua formação é complexa e suas aplicações
são diversas em preços de contratos, projeções e até penalidades(4). Vale ressaltar que ele é volátil e de
difícil previsibilidade.
Estas características do PLD fazem com que os agentes busquem contratos mais longos e com
flexibilidade de volume, justamente para não ficarem expostos às surpresas do PLD no curto prazo.
Atualmente o consumidor deverá ter uma demanda contratada de 500 kW para poder optar pelo
Mercado Livre. Há projetos de flexibilização do requisito para migração ao ACL. Não é utópico
pensar que no futuro existirão consumidores livres residenciais.
Geradores podem ter seus recursos de energia vinculados à Garantia Física e não propriamente a
sua geração. Esta garantia pode ser entendida como uma meta ou compromisso de geração, dado
um cenário de estresse no sistema e mereceria um post inteiro só para ela.
A CCEE é responsável por monitorar e zelar pela saúde do mercado de energia. Em seus
procedimentos de controle, há previsão de penalidade a agentes que operem com imprudência ou
má-fé.
Em resumo, neste texto inicial, apresentamos duas das instituições mais importantes do Setor Elétrico,
conceitos e dois tipos básicos de contratação de energia, e explicamos como cabe à CCEE verificar medições
e volumes negociados de cada empresa, calculando um valor financeiro que equalize créditos e débitos das
empresas.