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Comercialização: como a energia elétrica troca de dono.


Entenda conceitos e papéis
No sistema físico, o gerador (Furnas e Chesf, por exemplo) produz energia e a injeta no sistema de
transmissão, que a transporta até os grandes centros de consumo.

A transmissão entrega a energia a uma rede de distribuição ou diretamente a um consumidor. A


distribuidora (Cemig, Copel, Coelba etc.) faz a parte final do frete com mais capilaridade, atendendo grande
número de consumidores.

Do ponto de vista comercial (econômico e financeiro), o gerador produz energia e tem que vendê-la
para remunerar seus custos e investimentos.

Os compradores são as distribuidoras (que adquirem energia para atender seus clientes), os consumidores
livres (siderúrgicas, mineradoras, shoppings, entre outros) ou especiais (hospitais, supermercados etc.), e as
comercializadoras (Petrobras Comercializadora, CGN Energia, CPFL Energia, por exemplo). Estas
empresas participantes do mercado são chamadas de agentes.

Dois destaques: as transmissoras não atuam diretamente no mercado de energia, pois fornecem o
transporte, sem necessidade de comprar num ponto para vender em outro. Já a comercializadora, empresa
que atua no mercado aumentando sua liquidez e diversidade, não participa do sistema físico, pois não gera
ou consome energia.

Relações comerciais entre os agentes


Para vender energia uma empresa deverá celebrar um contrato com o comprador e apresentar lastro para
esta operação. De forma bem simplificada, este lastro pode ser constituído de geração própria e/ou um
outro contrato de compra de energia.

O contrato dá ao comprador o direito sobre um volume de energia que antes era do vendedor.
Logicamente, o contrato também traz informações de contrapartidas, vigência, preços, pagamentos e
garantias, entre outras cláusulas. Existem diversos tipos de contratos de energia. Dividindo-os em dois
grandes grupos, temos os contratos regulados e os livres.

Os contratos regulados são resultantes de leilões com regras de fornecimento rígidas, pré-definidas pelas
entidades do setor (ANEEL, EPE e CCEE participam do processo), e regem a compra de energia feita pelas
distribuidoras.

Os contratos livres são negociados e celebrados bilateralmente, suas regras de fornecimento (vigência,
volume, preço, condições etc.) são acordadas entre as duas empresas envolvidas. As partes têm o dever de
comunicar formalmente o contrato à CCEE, pois esta precisa ter ciência do volume de energia
transacionado.

Esta diferenciação de contratos divide o Mercado de Energia em dois ambientes de contratação: o Livre
(ACL) e o Regulado (ACR). Em maio de 2022, o ACL respondeu por 37% da energia total consumida no
Brasil. No entanto, o ACR ainda compreende um volume bem superior (63%).

O crescimento do ACL está atrelado ao movimento de migração dos consumidores.

Consumidores de maior porte(¹) podem migrar para o ACL e buscar contratos mais atraentes junto a
geradores e comercializadores.

O Mercado Livre propicia a redução de gastos com energia. Os esforços extras com processos de gestão e
operação devem ser compensatórios se a empresa estiver bem assessorada e apoiada por tecnologia.
Consumidores de pequeno porte devem comprar energia exclusivamente da distribuidora local, pagando
uma tarifa regulamentada.

A rigidez de regras e os leilões do ACR visam à proteção e à otimização dos custos para os clientes cativos
das distribuidoras.

Como a transação comercial e a entrega física interagem


Quando um agente está conectado à rede de transmissão ou distribuição, ele está apto a injetar energia
(geradores) ou retirar energia (consumidores) do sistema(²).

Todos os pontos de conexão do sistema são monitorados pela CCEE, que recebe e consolida medições de
energia injetada e drenada a cada momento. Não há, todavia, verificação “online” dos contratos para
garantir que um consumidor não esteja retirando mais do que comprou, por exemplo.

Esta conferência somente é feita a posteriori pela CCEE, em uma operação mensal
chamada Contabilização que compara a medição verificada com os volumes contratados.

Em outras palavras, a CCEE irá calcular o balanço energético de todos os seus agentes hora a hora. Neste
balanço as entradas são chamadas Recursos e são resultados de geração(3) e contratos de compra, já as
saídas são Requisitos, formados por vendas e consumo.

Ao final da Contabilização, cada agente terá um valor de energia a liquidar (recursos menos requisitos)
positivo ou negativo. Sobras e déficits de energia são valorados a um preço calculado pela CCEE (PLD - Preço
de Liquidação das Diferenças) e resultam, respectivamente, em créditos ou débitos para cada agente.

No processo de liquidação, a CCEE recebe o dinheiro dos devedores e distribui aos credores, zerando as
posições individuais.

O PLD é um indicador importantíssimo do Mercado de Energia. Sua formação é complexa e suas aplicações
são diversas em preços de contratos, projeções e até penalidades(4). Vale ressaltar que ele é volátil e de
difícil previsibilidade.

Estas características do PLD fazem com que os agentes busquem contratos mais longos e com
flexibilidade de volume, justamente para não ficarem expostos às surpresas do PLD no curto prazo.

Algumas considerações importantes

 Atualmente o consumidor deverá ter uma demanda contratada de 500 kW para poder optar pelo
Mercado Livre. Há projetos de flexibilização do requisito para migração ao ACL. Não é utópico
pensar que no futuro existirão consumidores livres residenciais.

 Excluímos didaticamente casos em que há consumo e geração em um mesmo ponto da rede


(geração distribuída, consumo interno de usinas, cogeração, entre outros).

 Geradores podem ter seus recursos de energia vinculados à Garantia Física e não propriamente a
sua geração. Esta garantia pode ser entendida como uma meta ou compromisso de geração, dado
um cenário de estresse no sistema e mereceria um post inteiro só para ela.

 A CCEE é responsável por monitorar e zelar pela saúde do mercado de energia. Em seus
procedimentos de controle, há previsão de penalidade a agentes que operem com imprudência ou
má-fé.

Energia Elétrica no Brasil: Desafios


Os desafios operacionais de geração, transmissão, atendimento à demanda e expansão da oferta são
refletidos em leis, regras e procedimentos comerciais.

Evolução permanente e adaptações são necessárias para garantir competitividade e viabilidade


econômica aos agentes do mercado de energia.
Tudo isto torna o tema muito especializado, pouco acessível a grande parte da população. Neste blog
queremos que todos leitores aprendam sobre a comercialização de algo que utilizam no dia a dia.

Em resumo, neste texto inicial, apresentamos duas das instituições mais importantes do Setor Elétrico,
conceitos e dois tipos básicos de contratação de energia, e explicamos como cabe à CCEE verificar medições
e volumes negociados de cada empresa, calculando um valor financeiro que equalize créditos e débitos das
empresas.

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