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Resumo:
Apresentamos resultados parciais de uma pesquisa de mestrado em andamento, que
tem por objetivo geral investigar se a resistência ao uso das TIC na educação existe em
escolas estaduais de Goiás, confirmando o apontado pela literatura educacional, e que
relação mantém com a formação continuada. Tendo em vista esse objetivo, buscamos
responder às seguintes questões de pesquisa: a resistência ao uso das TIC na educação,
apontada pela literatura educacional, está presente em escolas estaduais goianas? Que
relação mantém com a formação continuada? A pesquisa tem cunho quanti-qualitativo e
adota o método histórico-analítico. Seu desenvolvimento ocorre em três etapas:
pesquisa bibliográfica, de campo e análise documental. Os resultados relativos às
Coordenadorias Regionais de Educação, Cultura e Esporte do Estado de Goiás
(CRECE/GO) e à legislação (programas e projetos, diretrizes, decretos e portarias), no que
1
tange ao uso de tecnologias, sugerem que a falta de formação continuada e de
infraestrutura relacionam-se à resistência ao uso das TIC nas unidades escolares.
Palavras-chave: Formação continuada de professores. Tecnologias de Informação e
Comunicação. Educação Básica.
Abstract:
We present partial results of an ongoing master's degree research, whose general
objective is to investigate if there is the resistance to the use of ICT in education in state
schools in Goiás, confirming what has been pointed out in the educational literature, and
what is it the relation with continuing education. In view of this objective, we seek to
answer the following research questions: is resistance to the use of ICT in education, as
pointed out by the educational literature, present in state schools in Goiás? What
relationship do they have with continuing education? The research is quantitative-
qualitative and adopts the historical-analytical method. Its development occurs in three
stages: bibliographical, field research and documentary analysis. The results related to
the Regional Coordination of Education, Culture and Sport of the State of Goiás
(RCEC/GO) and legislation (programs and projects, guidelines, decrees and ordinances),
regarding the use of technologies, suggest that the lack of training continuity and
infrastructure are related to the resistance to the use of ICT in school units.
1
Pesquisa desenvolvida com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG).
Keywords: Continuing teacher training. Information and Communication
Technologies. Basic education.
1. Introdução
2
Termo usado para identificar alunos não regulares matriculados em disciplinas do PPGE.
2 Referencial teórico
Estudos consideram que alguns professores preferem não ter conhecimentos sobre
as tecnologias e seu uso na aula, pois assim não têm que implementar mudanças em sua
prática pedagógica. Alojados em uma “zona de conforto” (PENTEADO, 2000; LOPES, 2014),
usam a falta de conhecimentos como argumento para manter inalterado seu trabalho.
Contudo, o conhecimento, como afirma Imbernón (2009, p. 12), “no momento em
que surge, começa a se tornar obsoleto e caduco”. Segundo Valente (1999, p. 12) “tanto o
ensino tradicional, quanto sua informatização, preparam um profissional obsoleto”. Se isto
se confirma, como é possível haver professores que não são continuamente formados?
De acordo com Imbernón (2009, p. 14), “a educação e a formação do professorado
devem romper essa forma de pensar que leva a analisar o progresso e a educação de um
modo linear, sem permitir a integração de outras formas de ensinar, de aprender, de
organizar-se, de ver outras identidades sociais”, para que, desta forma, os professores
possam pensar em uma formação adequada às novas demandas da “sociedade do
conhecimento”3.
Nessa direção, Paiva (2008, p. 01) considera que, na educação, “quando surge uma
nova tecnologia, a primeira atitude é de desconfiança e de rejeição”. Esses sentimentos são,
também, do professor, que se vê frente a um contexto diferente daquele em que se formou
e se encontra e se depara com um impasse: aceitar as mudanças, buscando novos
conhecimentos, ou resistir a elas, mantendo o ensino inalterado, geralmente, tradicional,
“prática transmitida de geração a geração” (MIZUKAMI, 1986, p. 18).
Assim, Libâneo (2011, p. 67) afirma “que os professores e especialistas de educação
[...] tendem a resistir à inovação tecnológica, [...]. Há razões culturais, políticas, sociais para
essa resistência, que geram atitudes difusas e ambivalentes”. Conforme constatou Penteado 3
(2000, p. 23), na escola, quando o assunto é tecnologia, o professor tende a manter-se em
uma “zona de conforto”. Ainda segundo a autora “mudanças afetam a zona de conforto da
prática do professor e criam uma zona de risco, caracterizada por baixo índice de certeza e
controle da situação de ensino” (PENTEADO, 2000, p. 23).
Nem sempre a resistência decorre do medo às tecnologias, apontado por Chaib
(2002), às vezes, advém da falta de preparo para o uso das mesmas, aspecto discutido por
Lopes (2014), Lopes e Fürkotter (2016). Nessa perspectiva, é primordial que a comunidade
escolar perceba o potencial das tecnologias para o ensino, pois, como afirma Palfrey (2011,
p. 269), aprender “é muito diferente para os jovens de hoje do que era [há] 30 anos atrás”.
Conforme sublinham Simião e Reali (2002, p. 128), “quando refletimos sobre o sistema
educacional para essa nova sociedade do conhecimento, é impossível ignorar o uso da
tecnologia”. Nesse sentido, salienta Bettega (2004, p. 16) que “a tecnologia deve servir para
enriquecer o ambiente educacional, propiciando a construção de conhecimentos por meio
de uma atuação ativa, crítica e criativa por parte dos alunos e professores”.
Os modos de utilização das TIC são denominados por Valente (1999) e Lopes (2014)
instrucionista e construcionista, em remissão aos paradigmas conceituados por Papert
3
A expressão “sociedade do conhecimento” foi empregada, originalmente, por Bell (1973), para denominar
uma sociedade que passa por mudanças relacionadas com a produção do conhecimento. Conferir: BELL. D. The
coming, of post-industrial society. A venture in social forecasting. Nova York: Basic Books, 1973.
(1992). De acordo com Valente (1999) e Lopes (2014), para os instrucionistas, a tecnologia
assume o papel de meio utilizado pelo professor para transmitir informação, enquanto, para
os construcionistas, é ferramenta empregada na construção do conhecimento pelo aluno.
3. Método e metodologia 4
4 Resultados e discussão
4
Site Goiás 360º disponível em: <http://goias360.seduc.go.gov.br/>. Acesso: 17 mai. 2017. Acesso restrito a
usuários cadastrados pela SEDUCE/GO.
constataram a existência de “lacunas” (ECHALAR; PEIXOTO; CARVALHO, 2015, p. 50) na
formação do professor, relacionadas a: condições precárias de trabalho, descontinuidade
das políticas públicas e concepções sobre as possibilidades pedagógicas das tecnologias. Tais
lacunas têm relação direta com os objetivos específicos da pesquisa aqui abordada, no que
se refere à formação continuada e à causa do “não-lugar” da tecnologia na aula. Por “não-
lugar” entendemos a ausência de um lugar para as tecnologias na aula, aos olhos do
professor, dada a sua trajetória escolar, universitária e profissional, entre outros fatores,
amparadas nos pressupostos de Milner (1987) e de Mannheim (1976).
Na Tabela 01 observamos a quantidade de laboratórios de Informática por
Coordenadoria em relação ao total geral de escolas do Estado de Goiás. Como dito,
priorizamos na pesquisa os dez municípios contemplados com NTE, entre os anos de 1997 e
1998.
com laboratório de
jurisdicionada por
relação ao nº. de
Porcentagem de
informática por
Padrão
informática em
laboratórios de
escolas padrão
Quantidade de
Quantidade de
Quantidade de
coordenadoria
coordenadoria
laboratório de
escolas de GO
escolas com
Escolas com
Professores
informática
municípios
Coordenadorias
regentes
Total geral
Urbana
Rural
5
As porcentagens das colunas 6 e 7 foram calculadas com base nos dados do site Goiás 360º.
Posse 11 578 34 06 28 27 2,4% 79%
Quirinópolis 06 360 22 00 22 15 1,3% 68%
Rio Verde 04 558 24 00 24 20 1,7% 91%
Rubiataba 04 264 18 05 13 15 1,3% 68%
Santa Helena 05 320 15 00 15 10 0,9% 67%
São L. de M. Belos 10 291 22 04 18 12 1,0% 80%
São M. Araguaia 04 211 13 01 12 08 0,7% 53%
Silvânia 05 187 13 00 13 10 0,9% 77%
Trindade 07 848 43 02 41 34 3,0% 79%
Uruaçu 09 637 30 02 28 25 2,2% 83%
Totais gerais 248 22874 1148 72 1076 756 65,9% 66%
Fonte: Site Goiás 360º.
Diante dos dados apresentados na Tabela 01, em relação aos dez municípios
destacados na cor cinza, observamos que a Coordenadoria de Jataí é a que tem a menor
quantidade de escolas no total geral (21 unidades escolares). É também a mais carente, pois
tem o menor percentual de laboratórios de Informática (1,1%), em proporção ao número de
escolas do Estado, enquanto as outras estão, em média, com 2,1%. Em relação à quantidade
de laboratórios de Informática por Coordenadoria, a de Jataí está entre as três mais
carentes, com 59%, enquanto as outras estão, em média, com 70%.
Além disso, a Coordenadoria de Jataí é uma das que têm a menor quantidade de
professores por Coordenadoria do Estado de Goiás, juntamente com Formosa, Cidade de
Goiás e Iporá. Diferentemente dessas últimas, apenas Jataí mantém a média de professores
por Unidade Escolar do Estado, correspondente a 21. Essa Coordenadoria foi selecionada
para a pesquisa sobre resistência às TIC na educação escolar porque atende aos três critérios
que adotamos para a delimitação do campo de coleta de dados, a saber: a) quantidade de
escolas por Coordenadoria, b) quantidade de laboratórios de Informática por Coordenadoria
e c) quantidade de professores por Unidade Escolar/Coordenadoria. A Coordenadoria de 7
Jataí está situada na região Sul do Estado de Goiás, na microrregião do Sudoeste Goiano, que
abrange nove cidades, 21 escolas da rede estadual e 465 professores regentes.
Em Goiás, a Secretaria de Educação, Cultura e Esportes (SEDUCE) é um órgão
estadual que se dedica aos assuntos relativos à rede de educação de Goiás. A SEDUCE tem a
função de executar a Política Estadual de Educação, responsabilizando-se pela Educação
Básica, nas etapas Fundamental e Médio. A SEDUCE/GO se divide em quarenta CRECE,
assim, é possível determinar metas diferentes para cada região, de acordo com suas
especificidades.
As coordenadorias são órgãos regionais estaduais, que, de acordo com as Diretrizes
Operacionais da SEDUCE/GO para o biênio 2016-2017, têm a função de:
6
Tutor Educacional é um professor modulado (lotado) em uma das quarenta coordenadorias e é o responsável
pela formação continuada, in loco, da equipe gestora das unidades escolares.
Esse cenário coloca a necessidade de refletir sobre uma possível aversão ou negação ao uso
das TIC em ambientes escolares e suas causas.
Retomando os dados da Tabela 01, eles sinalizam para a realidade de Goiás,
relativamente à infraestrutura para uso das TIC, no entanto, ao recordarmos nossa
experiência profissional na rede pública estadual goiana, de mais de 15 anos de atuação
como professor a Coordenadora Pedagógica, deparamo-nos com outra realidade, diferente
da apresentada nas referidas tabelas. Nosso conhecimento empírico ou “tácito”, como
nomeado por Schön (1997), mostra que os laboratórios de Informática hoje existentes não
estão funcionando satisfatoriamente ou estão fechados, sendo o espaço físico usado para
outros fins, como depósito de mobiliário e equipamentos descartados.
Essa realidade, aliada à falta de formação continuada apontada pelos professores
contatados em ocasião da pesquisa por nós realizada em 2016, anteriormente referida neste
trabalho, são indícios que vêm ao encontro do apontado pela literatura educacional quanto
à resistência ao uso das TIC em instituições públicas de ensino.
5 Considerações finais
A escassez de pesquisas sobre TIC e educação no Estado de Goiás pode ser vista
como indicador de relevância da investigação em andamento. Uma busca breve na Internet
pode confirmar a ausência de estudos nesse campo, no referido Estado, em comparação ao
verificado nos demais estados brasileiros. O mesmo se pode dizer da experiência da autora
deste trabalho na rede estadual de Goiás: em mais de 15 anos de exercício, teve contato
com as TIC em um único curso de formação, chamado “LINUX Educacional”, oferecido pelo
NTE. Isolado, esse curso não conferiu habilidades suficientes para uso das TIC como 9
possibilidade pedagógica, de maneira que, quando utilizava o computador, era somente
para realizar pesquisa ou digitar textos, práticas que não se encaixam no conceito de uso
pedagógico de tecnologias digitais, conforme concebido por Lopes (2014). Com os alunos era
inviável o uso do computador, pois o Laboratório de Informática tinha poucos equipamentos
e o acesso à Internet era irregular.
A julgar por essa experiência, fatores como infraestrutura, apontados pela literatura
educacional há mais de duas décadas como dificultadores da implementação das tecnologias
na escola básica, ainda hoje persistem nas escolas goianas, dando a impressão de que o
Estado de Goiás está à margem da discussão sobre as TIC e seu potencial para a educação
escolar.
Esse quadro se agrava, quando nos voltamos ao cenário nacional e comparamos as
realidades educacionais de estados como Rio Grande do Sul e Goiás, por exemplo, no que
tange à implementação de tecnologias na escola pública. Ora, se todas são escolas públicas
brasileiras, como explicar o “avanço” em umas e a “estagnação” em outras? Pretendemos
que a pesquisa aqui abordada contribua para colocar em evidência essa realidade,
problematizá-la e discuti-la, com vistas a modificá-la. Afinal, não podemos, nem queremos, a
todo o momento e historicamente, retomar e reproduzir o refrão da música de Engenheiros
do Hawaii: “Todos iguais, todos iguais, mas uns mais iguais que os outros”7. O divide digital,
ao qual se referem Barreto (2003) e Coll e Monereo (2010), não pode subsistir.
Documentos publicados em 1969 e em 1997 mostram-se ainda hoje atuais no que diz
respeito à implementação de novos métodos e técnicas de ensino na rede pública brasileira,
conforme apontado por Kenski (2012), Lopes (2014), Valente (1999), Patrício (2009), Lopes e
Fürkotter (2016), entre outros, com destaque para Goiás, Estado no qual, decorridos dois
anos da aprovação do Plano Estadual de Educação (PEE), não é possível perceber na escola
básica as atividades nele previstas.
Sem pretender fazer apologia às tecnologias e assumindo que na educação elas são,
nos dizeres de Lopes (2013), “ferramentas criadas pelo homem para facilitar a sua vida em
sociedade”, e, como tal, têm potencial para a aprendizagem escolar, ressaltamos que a
inserção de novas tecnologias na escola básica tornou-se um assunto amplamente discutido
no campo da pesquisa científica, porém ainda incipiente na prática pedagógica escolar.
Ressalvados os seus limites, esperamos que os resultados da pesquisa de mestrado
atualmente em andamento possam contribuir para apontar possíveis causas do (não) lugar
da tecnologia na aula em instituições públicas de ensino de determinada região do Brasil,
convidando a refletir sobre a reincidentemente apontada resistência à presença e ao uso das
TIC na educação formal. Afinal, sabemos que essa resistência existe, resta-nos verificar seu
alcance e principais causas, para, a partir desse mapeamento, vislumbrar possíveis
intervenções.
Referências bibliográficas