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GÊNERO E SEXUALIDADE NA PAUTA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL

Cecilia Nunes Froemming


Universidade Federal do Tocantins (UFT)

Bruna Andrade Irineu


Universidade Federal do Tocantins (UFT)

Kleber Navas
Faculdade de Fernandópolis (FEF)

GÊNERO E SEXUALIDADE NA PAUTA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL


!"#$%&' !"#$%&"'()$"&%*$&#+#,-#!$%.#&.%$/%$#0%1)&%23)$#$'450#4#6"%23)$/#$5)07"'.%!$5810'.%!$6)$
Brasil contemporâneo e lutas do Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
(LGBT) em tempos de neliberalismo. Considera que a sexualidade como aspecto fundamental da
experiência humana implica na necessidade de proposição de políticas que reconheçam o direito
à diversidade e à pluralidade de manifestações. Demonstra que o “familismo” que pode atingir os
programas relacionados principalmente às políticas de seguridade social são os que mais deixam à
margem dos atendimentos, pessoas cuja orientação sexual se dê pelo avesso da heteronormatividade.
()*)+,)"-./)+!&'Gênero, sexualidade, políticas públicas.

01231 '423'5167489:;'92:<1'= 4>98942'(7=89.'(?89.915@.124 ;


4A"B,)CB&'This paper considers sexuality as a fundamental aspect of human experience. Therefore it
implies the need to propose policies that recognize its diversity and plurality. The “feminism” concept
that involves the programs related to social security policies are the ones that put aside those whose
!#,9%0$ )&'#6"%"')6$ %&#$ '6$ )55)!'"')6$ ")$ :#"#&)6)&4%"';'"<=$ >:'!$ %&"'.0#$ '!$ %0!)$ '6"#&#!"#/$ '6$ &#+#."'6($
about the development and the implementation of public policies in Brazil and the contemporary
struggles of Lesbian, Gay, Bisexual, Transvestite and the Transgender (LGBT) Movements in times
of neoliberalism.
D!EF%,G"&'Gender, sexuality, public policies.

?#.#1'/)$#4$@A=BC=DBBE=$F5&);%/)$#4$@G=BG=DBBE=

!"#$%&'(!')*+,%#-&$')./+#-&$''0''12*'34,$'5'67''0''8.9!:*';$<!-#&+''0''<='>?>'5'>@A''0''7B*$%*'(!'AC>C
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1 INTRODUÇÃO A ascensão da AIDS transitou de um


dispositivo inquisidor a um motivador de luta, e a
A proposta deste artigo é de problematizar a desestigmatização culminou em um pilar central
forma como os serviços públicos lidam com a no reconhecimento da luta LGBT no Brasil.
diversidade sexual, na medida em que o direito É também, neste momento, que os primeiros
à liberdade de orientação sexual se constitui grupos de ativismo passaram pelo processo
numa forma de direito à igualdade social. Para de *EB4#*%23)H$ T9!"'I.%/)$ 6%$ 6#.#!!'/%/#$ /#$
tanto, traçaremos um breve panorama da 0#('"'4'/%/#$ 5%&%$ 50#'")$ /#$ I6%6.'%4#6")$ 5%&%$
relação entre Estado e movimento LGBT no desenvolvimento de atividades de prevenção à
Brasil. Destacaremos entraves desta relação AIDS. Após isto, outras lutas foram incorporadas
no momento de elaboração do Programa à plataforma LGBT, como a parceria civil/
Brasil sem Homofobia (BSH), da construção e casamento, e a adoção de crianças por casais
realização da I Conferencia LGBT e do Plano não-heterossexuais. Recentemente, incorpora-
Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos se, também, a luta pela criminalização da
Humanos LGBT@=$ H$ 5%&%$ I6%0'*%&H$ &#+#"'&#4)!$ homofobia no âmbito da segurança pública,
sobre a interpelação da heteronormatividade e a partir do entendimento da “necessidade” de
do familismo nas políticas públicas no Brasil. uma punição aos perpetradores da violência
Desta forma, salientamos que respeitar a homofóbica.
diversidade sexual é necessário para o respeito à
autonomia, para a democracia, para a superação 3 DO PROGRAMA BRASIL SEM HOMOFOBIA
da inferiorização do outro. A importância da AO PLANO NACIONAL DE PROMOÇÃO DA
visibilidade do tema é desnaturalizar a imposição .93434294'1'39 19:?5'<7H42?5'80=:&'
da heteronormatividade2, oposta à luta dos o “pote atrás do arco-íris3”?
patamares de sociabilidade, onde a diversidade
seja efetivamente reconhecida. Para discutir a questão da homofobia,
U#/(V'.W$ ODBBKH$ 5=$ DGQ$ .)6!'/#&%$ %$
2 A DIVERSIDADE SEXUAL NA PAUTA DAS “epistemologia do armário” como dispositivo
87:45' 5?.9495' = 459819 45&' breve regulador da vida de gays e lésbicas no século
contextualização XXH$ !#6/)$ #!"%H$ 94%$ R#!"&9"9&%$ /#I6'/)&%$ /%$
opressão”. Esta opressão não se dá somente
O movimento homossexual surgiu, no na dimensão subjetiva, já que a ausência de
J&%!'0H$ 6)$ I6%0$ /)!$ %6)!$ @EKBH$ .)0).%6/)$ #4$ direitos, de proteção jurídica e políticas que
cena a busca por reconhecimento político de reconheçam as sexualidades desviantes da
gays e lésbicas no contexto da ditadura militar “matriz heterossexual”, enquanto práticas
(FACCHINI, 2005). legítimas, também é uma manifestação desta
A reabertura política, em meados dos segregação social. Esta lógica simbólica e
%6)!$ @ELBH$ 5)!!'1'0'")9$ %$ 5%&"'.'5%23)$ /#$ hierarquizante começou a ser questionada a
vários segmentos sociais. Da mesma forma, partir de mobilizações de grupos que ousaram
.)6M)&4#$ N&##6$ ODBBBH$ 5=$ CPPQ$ R%0(96!$ (&95)!$ romper o silêncio e ir às ruas para construir uma
imediatamente se reuniram para questionar as política sexual a partir do reconhecimento de
noções hegemônicas da homossexualidade, que direitos sexuais, como os movimentos feministas
a consideravam um comportamento pervertido e e LGBT.
doentio”. Y#0*#&Z[%6($ ODBB@Q$ %5&),'4%$ %$ \9#!"3)$ /%$
Os anos 80 e 90 trazem novas questões ao dominação (masculina) coletiva e individual das
cenário, além das lutas pela “despatologização” mulheres, tanto no espaço privado quanto no
da homossexualidade e por legislação público, da questão da homofobia. A postura
antidiscriminatória, em busca da legalização do de oposição rígida às sexualidades não-
“casamento gay”, pela inclusão da educação hegemônicas seria indissociável da composição
sexual nos currículos escolares e pelo do sujeito do masculino, como se a ideia de “ser
protagonismo dos sujeitos em relação ao HIV/ homem” fosse complementar à ideia de “ser
AIDS. homofóbico”. Portanto, o sujeito do masculino,
As diferenças nas demandas, como a questão para ser legitimado como tal, precisa, além
da invisibilidade lésbica dentro do movimento, de dominar as mulheres, retalhar as vivências
e do reconhecimento das identidades travestis homo, trans e bissexuais, recusando-as como
e transexuais surtiram na segmentação deste possíveis e prazerosas.
movimento, que é historicamente marcado pelo Desde a emergência do movimento LGBT,
protagonismo dos gays. As disputas identitárias a violação de direitos humanos e sociais, a
#6/S(#6%!$!#$'6"#6!'I.%&%4$6)!$%6)!$@EEBH$#$ invisibilidade nas políticas públicas e a intolerância
o surgimento da sigla LGBT ocorre na tentativa vivenciada nas relações sociais impõem a
de contemplar a diferença destes sujeitos necessidade da efetivação do Estado laico, já
(FACCHINI, 2005). garantido constitucionalmente no Brasil. E mais

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que isso, que o Estado assuma o compromisso monetária, alcançada a partir do seguimento de
de equiparar os direitos entre heterossexuais e algumas prescrições: disciplina orçamentária,
:)4)!!#,9%'!H$%5#!%&$/#$"#&4)!$/#!/#$)$I6%0$ contenção de gastos sociais e manutenção
/)!$%6)!$@ELB$%0(94%!$%2-#!$();#&6%4#6"%'!$ da taxa natural de desemprego (ANDERSON,
decorrentes de demandas destes segmentos, @EEPH$ 5=$ @BQ=$ e$ #6M&%\9#.'4#6")$ /)$ !"%/)Z
geralmente voltadas para o âmbito da saúde nação é a maior premissa do desenvolvimento
e, outras, recentes, no âmbito da segurança de políticas neoliberais.
pública, como as políticas para prevenção e Neste sentido, entendemos que intenções
tratamento do HIV/AIDS e as ações do Plano .)4)$ %!$ 5&)5)!"%!$ 6)$ __F$ DBBCZDBBKH$
Nacional de Direitos Humanos II (PNDH IIC). !'(6'I.%4$ 94$ %")$ /#$ "&%6!M#&j6.'%$ /#$
O primeiro mandato de Lula (2002-2006) responsabilidades, dissuadido pela falácia de
foi marcado por diálogos frequentes com o uma pseudo-participação – na qual a categoria
movimento LGBT. A relação próxima entre o sociedade civil aparece notoriamente no
Partido dos Trabalhadores (PT) e a ABGLT5 discurso governamental, enquanto copartícipe
(Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, da transformação de uma sociedade injusta e
Bissexuais, Travestis e Transexuais) direcionou excludente em uma sociedade justa e solidária.
também este diálogo, já que no Brasil, e no No que tange às demandas LGBT e ao BSH, a
mundo ocidental, os partidos tidos de esquerda execução das ações têm sido centralizadas nas
têm sido mais progressistas e atentos às mãos das ONGs de ativismo, o que parece mais
questões LGBT. uma forma de desresponsabilização do Estado
As políticas neoliberais, iniciadas no Governo do que uma proposta de autonomia à sociedade
]#&6%6/)$^)00)&$%$5%&"'&$/#$@ELE$#$.)6!)0'/%/%!$ civil a desenvolver serviços sociais.
no Governo de Fernando Henrique Cardoso, Esta transferência de responsabilidades,
se evidenciam também no Governo Lula. marcadamente neoliberal, está visivelmente
Pois, é possível constatar estas políticas nos presente no Programa Brasil sem Homofobia
)1T#"';)!$/)$_0%6)$_09&'%69%0$`$__F$DBBCZDBBKH$ ODBBCQH$ #$ !#$ &#5#"#$ /#$ M)&4%$ 4%'!$ /'097/%$
onde o BSH está previsto, o diálogo e apoio no processo de construção da I Conferência
I6%6.#'&)$ 5)&$ 5%&"#$ /)$ !"%/)$ a!$ '6!"'"9'2-#!$ Nacional de Políticas Públicas para LGBT
63)Z();#&6%4#6"%'!H$ .)6I(9&%6/)Z!#$ 6%$ (2008) e no Plano Nacional de Promoção da
desresponsabilização por parte do Estado em Cidadania e Direitos Humanos LGBT (2009),
#,#.9"%&$ %!$ %2-#!$ 5&#;'!"%!=$ ^)6I&4%4Z!#$ .)4)$;#&'I.%4)!$#4$"&%1%0:)$%6"#&')&$Ok?kh lH$
%!!'4H$ !)1$ 6)!!)$ 5)6")$ /#$ ;'!"%H$ %!$ &#+#,-#!$ 2009) e destacaremos abaixo.
/#$ b)6"%c)$ O@EEEH$ 5=$ CLQ$ #4$ &#0%23)$ %)!$ h)$ %6)$ /#$ DBBC$ )$ ();#&6)$ M#/#&%0 através
4#.%6'!4)!$\9#$.)6I(9&%4 a responsabilidade da Secretaria Especial de Direitos Humanos
pela garantia de direitos sociais, através da (SEDH), no âmbito do Programa Direitos
formulação de políticas públicas e demais ações Humanos, Direitos de todos, propõe o Programa
nesse sentido transitar “das lógicas do Estado Brasil Sem Homofobia (BSH). Com o objetivo de
às lógicas da sociedade civil”. “promover a cidadania GLBT, a partir da equi-
_%&%$ I6!$ /#$ .)6"#,"9%0'*%23)H$ d$ '45)&"%6"#$ paração de direitos e do combate à violência
&#!!%0"%&$\9#$/#$%.)&/)$.)4$F6/#&!)6$O@EEPH$5=$
e à discriminação homofóbicas, respeitando
09) o neoliberalismo é “um movimento ideológico,
%$ #!5#.'I.'/%/#$ /#$ .%/%$ 94$ /#!!#!$ (&95)!$
em escala verdadeiramente mundial, como o
populacionais” O^ehU [geH$ DBBCH$ 5=$ @@Q=$ e$
capitalismo jamais havia produzido”. O marco de
programa se desdobra em 53 ações, divididas
criação do neoliberalismo data do pós-guerra (em
#4$@@$#',)!H$;)0"%/%!$5%&%m
@ECCQH$#4$)$Re$^%4'6:)$/%$U#&;'/3)f$/#$g%<#W=$
O seu impulso inicial foi basicamente uma reação a) apoio a projetos de fortalecimento
teórica e política ao Estado de Bem-Estar Social de instituições públicas e não-
(Welfare State). O argumento básico do autor governamentais que atuam na
era que “o novo igualitarismo [...] deste período, promoção da cidadania homossexual
e/ou no combate à homofobia;
promovido pelo Estado de bem-estar, destruía
1Q$ .%5%.'"%23)$ /#$ 5&)I!!')6%'!$
a liberdade dos cidadãos e a vitalidade da e representantes do movimento
concorrência, da qual dependia a prosperidade homossexual que atuam na defesa
/#$")/)!f$OFhi ?UehH$@EEPH$5=@BQ= de direitos humanos; c) disseminação
Acusava-se que as principais raízes da crise de informações sobre direitos, de
promoção da autoestima homossexual;
capitalista do período pós-II Guerra, era o poder e d) incentivo à denúncia de violações
considerado pernicioso dos sindicatos, que dos direitos humanos do segmento
haviam desequilibrado as bases de acumulação N[>J$O^ehU [geH$DBBCH$5=$@@Q=$
capitalista, cuja proposta central era manter um
Estado forte somente nas questões do controle e!$ @@$ #',)!$ !3)$ .)45)!")!$ 5)&$ %2-#!$
do dinheiro e do poder dos sindicatos. A partir daí, direcionadas a: I - Articulação da Política de
a meta dos governos deveria ser a estabilidade Promoção dos Direitos de Homossexuais;

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II - Legislação e Justiça; III - Cooperação projetos de ONGs; capacitação de militantes e


Internacional; IV - Direito à Segurança; V - Direito ativistas; criação de núcleos de pesquisa em
à educação; VI - Direito à saúde; VII - Direito universidades públicas; projetos de capacitação
ao trabalho; VIII - Direito à cultura; IX - Política de professores da rede pública; programas na
para Juventude; X - Política para mulheres; XI - área de saúde e prevenção de DST/AIDS; e
Política contra o racismo e homofobia. a criação de centros de referência em direitos
Destacam-se, também, os pontos de humanos e combate a crimes de homofobia.
implantação, monitoramento e avaliação do Até 2008 houve várias atividades realizadas,
programa, que explicitam a relação direta com porém dispersas e sem continuidade,
representantes do segmento LGBT do período envolvendo muito mais as próprias ONG’s que
de elaboração das ações do BSH. fazem ativismo, que órgãos estatais. Como
A presença conjunta do movimento LGBT na exemplo disso, temos os centros de referência
elaboração do documento pode ser percebida que se vinculavam às ONGs, que após dois
principalmente pelo léxico utilizado no texto. As anos de convênio com a SEDH, acabaram
marcas da política identitária são perceptíveis. fechando suas atividades, como em Goiânia/
Como exemplo, destacamos a utilização do GO e Rondonópolis/MT. Em alguns casos estes
termo “orientação sexual”, que se apresenta no centros estão sendo ou foram realocados em
BSH, contido no glossário da seguinte forma: secretarias do estado e, em outros, deixaram de
funcionar por falta de recursos6.
Orientação sexual é a atração afetiva i#6"&#$)!$.)45&)4'!!)!$I&4%/)!$6)$JUgH$)$
e/ou sexual que uma pessoa sente governo decretou a realização da I Conferência
pela outra. A orientação sexual existe Nacional de Políticas Públicas para Lésbicas,
num continuum que varia desde a
homossexualidade exclusiva até
Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais,
a heterossexualidade exclusiva, intitulada “Direitos Humanos e Políticas Públicas:
passando pelas diversas formas de O caminho para garantir a cidadania de Gays,
bissexualidade. Embora tenhamos a Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais”,
possibilidade de escolher se vamos &#%0'*%/%$6)!$/'%!$BGH$BK$#$BL$/#$T96:)$/#$DBBLH$
demonstrar, ou não, os nossos
sentimentos, os psicólogos não
com o objetivo de:
consideram que a orientação sexual
seja uma opção consciente que possa I - propor as diretrizes para a
!#&$4)/'I.%/%$5)&$94$%")$/%$;)6"%/#$ implementação de políticas públicas
O^ehU [geH$DBBCH$5=$DEQ= e o plano nacional de promoção
da cidadania e direitos humanos de
Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis
O fato de perceber a sexualidade como uma e Transexuais - GLBT; e II - avaliar
atração demiurga distancia-nos de entendê-la e propor estratégias para fortalecer
como “uma instituição social como outra e que sua o Programa Brasil Sem Homofobia
existência se deve a um processo de construção OJ?FUk[H$DBBKH$5=$B@Q=
que em nada difere de todo o processo de
institucionalização da realidade” (SOUZA FILHO, A Conferência Nacional deveria ser precedida
DBBLH$5=$PPQ=$_%&%$Y##W!$O@ELGQH$%$!#,9%0'/%/#$ pelas conferências regionais e/ou municipais e
é social, pois é construída como todas as outras estaduais; nelas seriam eleitas delegadas que
esferas da vida, através de arbitrariedades, sob participariam da etapa nacional. As conferências
moralismos e convenções históricas, que vão foram balizadas pelo texto-base e pelo regimento
se naturalizando e universalizando, criando interno. Estas etapas regionais e estaduais
hierarquias de normalidades e aceitação social. tiveram por objetivo construir propostas para
Estas percepções naturalizadas são incapazes balizar as políticas públicas para LGBT em nível
de questionar radicalmente as normativas de estadual e municipal.
gênero e sexualidade e, no campo das políticas Os estados tiveram que, por via de decreto,
sociais, este questionamento poderia possibilitar organizar suas conferências e enviar suas
a elaboração de políticas sexuais que se delegadas para Brasília, para coletivamente
aproximassem da efetiva democracia sexual. pautar propostas de políticas públicas para
!"%!$ '6.)#&j6.'%!$ 5%&#.#4$ .)6I(9&%&$ 94$ esta população. Participaram da Conferência
.#6n&')$ /#$ /'I.90/%/#!$ #$ '45)!!'1'0'/%/#!$ /#$ 569 delegadas (divididas em poder público
conquistas, exatamente pela incapacidade de #$ !).'#/%/#$ .';'0QH$ CC@$ )1!#&;%/)&%!$ #$ @BL$
questionamento dos padrões de convenção e convidadas. Como um acontecimento inédito
pela recusa de políticas heteronormativas, que no mundo, a presença do Presidente Lula na
fortalece, ainda mais, a homofobia presente abertura, que foi ovacionado e fez questão de
no Estado. Vemos que, após 05 anos de colocar boné da ABGLT e segurar a bandeira
lançamento do BSH, sua execução enfrentou do arco-írisK. Com um discurso marcado pela
49'"%!$ /'I.90/%/#!$ 6)$ \9#$ diz respeito à reparação histórica e pelo paternalismo, como
ampliação e transversalização às políticas mostra o seguinte trecho, o Presidente iniciou a
macro, tendo como ações realizadas: apoio a conferência:

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Então, quando o Tony Reis fala que ampliando sua divulgação no âmbito
nunca antes na história do planeta um internacional (BRASIL, 2008, p.05).
presidente convocou uma conferência
.)4)$ #!"%H$ #9$ I.)$ )&(90:)!)$ 5)&\9#$ Esta proposição localiza-nos diante da luta deste
nós estamos vivendo no Brasil um
momento de reparação. segmento por reconhecimento e compromisso do
[...] É esse o jeito de governar uma Estado com suas demandas. Esta luta tem se dado
M%470'%$\9#$"#4$@EB$4'0:-#!$/#$I0:)!=$ pela pressão no Poder Executivo, por formulação
h3)$ d$ I0:)$ 86'.)H$ 63)$ "#4)!$ %5#6%!$ de políticas públicas que contemplem as LGBT,
uma religião, não temos apenas uma
)523)$!#,9%0$OJ?FUk[H$DBBL1H$5=$DKPQ=
.)4)$;#4)!$6%!$5&)5)!"%!$684#&)$@CH$AG$#$KD$
da Conferência Nacional:
Esta convocação inédita e a presença de @C=$ F!!#(9&%&H$ 6%!$ 5)07"'.%!$ 5810'.%!H$
@=BBB$5#!!)%!$\9#$"&%6!'"%&%4$5#0%$^)6M#&j6.'%$ a inserção da defesa dos direitos da
deixaram o cenário com aspecto de “país das população LGBT na luta dos demais
4%&%;'0:%!fH$ 4%!$ !9I.'#6"#$ 5%&%$ 5#&.#1#&4)!$ grupos historicamente estigmatizados
as disputas identitárias que se iniciaram logo no #4$ M9623)$ /#$ !9%$ )&'(#4$ (#)(&nI.%H$
etnia, raça, condição física e idade.
5&'4#'&)$ /'%H$ \9%6/)$ !#$ /'!.9"'%$ %$ &#/#I6'23)$
[...]
da posição das letras na sigla GLBT. A ABGLT 36. Criar o Plano Nacional de combate
e a ABL (Associação Brasileira de Lésbicas) à homofobia, lesbofobia e transfobia
sugeriram que o L fosse à frente, argumentando e de Promoção da Cidadania LGBT,
a invisibilidade dupla das mulheres lésbicas, com recursos garantidos por dotações
havendo resistência de algumas pessoas que, orçamentárias (LOA/LDO/PPA).
mesmo após a aprovação da proposta de se usar [...]
KD=$^&'%&H$5)&$4#')$/#$[#'H$%$U#.&#"%&'%$
LGBT ao invés de GLBT, expunham cartazes Nacional de Políticas Publicas
dizendo: “Em minha cidade continuaremos para a população LGBT, visando o
usando GLBT”. enfrentamento da homofobia, com as
Cabe ressaltar que a Conferência contou atribuições de elaborar, implementar,
.)4$P@o$/#$5%&"'.'5%6"#!$\9#$!#$'/#6"'I.%&%4$ monitorar e avaliar políticas públicas
para LGBT tendo como referência a
enquanto gays; 28%$ .)4)$ 0d!1'.%!p$ @Ao$ /#$ execução do Programa Brasil sem
travestis; 2% de travestis masculinos e 6% de Homofobia e do Plano Nacional de
"&%6!#,9%'!$ M#4'6'6%!=$F$ I,'/#*$ /#$ '/#6"'/%/#!$ Cidadania e Direitos Humanos de
e disputas internas, pautadas na diferença [NJ>$OJ?FUk[H$DBBEH$5=$BGZ@DQ=
destas identidades, se mostrou desde o primeiro
minuto na Conferência, enquanto as L, os G e O Plano LGBT foi lançado recentemente, em
T’s se impunham no debate, a invisibilidade @C$/#$4%')$/#$DBBEH$#$.)45'0)9$%!$5&)5)!'2-#!$
1'!!#,9%0$ I.)9$ 67"'/%= Além das discussões da conferência nacional em 2 eixos estratégicos:
iniciais, na plenária de abertura, estas disputas e I - Promoção e defesa da dignidade e cidadania
querelas internas foram retomadas no momento LGBT ; II – Implantação sistêmica das ações de
de aprovação das moções de apoio, repúdio, promoção e defesa da dignidade e cidadania
reivindicação e louvor. LGBT, com ações a serem desenvolvidas a
A programação ocorreu com apresentação curto prazo (ainda em 2009) e em médio prazo
de painéis que traziam pessoas do movimento O%"d$ DB@@QH$ /'!"&'197/%!$ #6"&#$ )!$ 4'6'!"d&')!m$
LGBT e do Poder Público, e sessões para as da Saúde; Desenvolvimento Social e Combate
proposições, grupos de trabalho, que foram à Fome; Trabalho e Emprego; Previdência
M#'"%!$ #4$ @B$ #',)!m$ k$ `$ /'&#'")!$ :94%6)!p$ kk$ `$ Social; Relações Exteriores; Turismo; Justiça;
saúde; III – educação; IV – justiça e segurança Segurança Pública; Educação; Cultura; Defesa;
pública; V – cultura; VI – trabalho e emprego; VII Cidades; Meio Ambiente; Planejamento,
– previdência social; VIII – turismo; IX – cidades; Orçamento e Gestão; e a SEDH.
X$`$.)496'.%23)=$U#6/)$%5&);%/%!$%)$")/)$P@B$ O documento mostra que “o Plano
propostas, que deram origem ao Plano Nacional contempla, numa perspectiva integrada,
de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos a avaliação qualitativa e quantitativa das
de LGBT. propostas aprovadas na Conferência Nacional
No aspecto geral, as propostas da Conferência GLBT, considerando ainda a concepção e
I&4%&%4$ %5)')$ %)$ JUgH$ &#.)6:#.#6/)$ %$ implementação de políticas públicas” (BRASIL,
necessidade de ampliá-lo, como na seguinte 2009, p. 9). Tem como objetivo:
proposição:
Orientar a construção de políticas
2. Implantar e implementar o Programa públicas de inclusão social e de
Brasil sem Homofobia nos poderes combate às desigualdades para a
Executivo, Legislativo e Judiciário, população LGBT, primando pela
nas três esferas de governo (Federal, intersetorialidade e transversalidade na
Estadual e Municipal) garantindo proposição e implementação dessas
que se torne uma Política de Estado, 5)07"'.%!$OJ?FUk[H$DBBEH$5=$@BQ=

!"#$%&'(!')*+,%#-&$')./+#-&$''0''12*'34,$'5'67''0''8.9!:*';$<!-#&+''0''<='>?>'5'>@A''0''7B*$%*'(!'AC>C
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Diferentemente do BSH, o Plano LGBT Desta forma, vemos que o percurso das
foi construído por uma equipe técnica com políticas públicas para LGBT no Brasil, iniciado
servidores de todos os ministérios, não tendo com o PNDH II e BSH se consolida com o Plano
participação de representantes do movimento LGBT, que é fruto da I Conferência Nacional
LGBT na sistematização do mesmo. Isto pode LGBT, e está imbricado em hierarquias no
sinalizar os limites do processo de participação âmbito das relações Estado x sociedade civil,
política e controle social (MOl]] H$ @EEGQ$ Estado x movimento LGBT, movimento LGBT
incitados nos objetivos do texto-base da x população LGBT, poder público x sociedade
conferência LGBT e o reforço das hierarquias civil. Estas disputas constantes e a busca por
discursivas: quem pode e quando se pode falar legitimidade compõem o cenário das lutas por
(SPIVAK, 2003). atendimento das demandas LGBT, que tem
Apesar de uma das diretrizes, a número conseguido o outorgamento de suas demandas
5.35, do Plano contemplar a “participação social por concessão do Estado, mas também por
no processo de formulação, implementação .)6\9'!"%$5)07"'.%$O_FU>e?khkH$@EEKQ=
e monitoramento das políticas públicas para
LGBT”, o próprio monitoramento e a avaliação 4 HETERONORMATIVIDADE E FAMILISMO
das ações do plano, que na época do BSH NAS POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS
esteve completamente nas mãos do movimento
LGBT, se restringem agora ao poder público, Alinha de inteligibilidade do humano é pensada
sendo a sociedade civil convidada apenas para a partir do “corpo – gênero – sexualidade” e dos
participar das reuniões de monitoramento: pólos masculino e feminino, e na relação destes
Para dar suporte ao Grupo de Trabalho
com seus opostos, dada assim também a nossa
Interministerial (GT), será constituído capacidade de compreensão da existência do
o Comitê Técnico, composto outro. Ou o sujeito é isso ou é aquilo. Os efeitos
5#0%$ U91.:#I%$ /#$ F&"'.90%23)$ #$ do discurso “ou isso ou aquilo” – possibilidades
Monitoramento da Casa Civil (SAM/
PR), pela Secretaria de Planejamento
de compreensão nos pólos – se manifestam na
e Investimentos Estratégicos (SPI) impossibilidade de escutar, falar ou pensar em
do Ministério do Planejamento e forma de relações não heterossexuais. O “resto”
pela Secretaria Especial dos Direitos se encaixa em qual campo? A universalidade do
Humanos - SEDH, conforme o atendimento no âmbito das políticas públicas
organograma [...] A sociedade civil, por
meio de representação das entidades torna o “sujeito de direitos” destinatário de
de LGBT, e a Frente Parlamentar políticas com cunho universal. Por essa
Pela Cidadania LGBT participarão universalidade, são abarcadas as diferentes
das reuniões do Grupo de Trabalho formas de raça/ etnia, orientação sexual, cultura
Interministerial como convidada
OJ?FUk[H$DBBEH$5=$C@ZDQ= e as diferentes formas de expressão no mundo.

k!")$ 5)/#$ !'(6'I.%&$ 4%')&$ .)45&)4'!!)$ /)$ Ao problematizarmos e intervirmos


sobre os efeitos da normalização,
Estado com as demandas LGBT, como também que se expressam em nossa cultura
pode demonstrar impedimentos à participação ocidental marcando uma linha de
e controle social das LGBT nas políticas inteligibilidade e de elegibilidade para
públicas. Contudo, o Plano LGBT em acordo o “humano”, tratamos de denunciar
com o proposto na Conferência, menciona como concepções e práticas heterossexistas
que revelam a fragilidade de instituições
estratégia para ampliação da participação social e políticas públicas; a violência não
deste segmento a inclusão nos conselhos de raras vezes perpetuada pelo Estado; e
políticas setoriais (saúde, assistência social, os efeitos destas no âmbito maior de
previdência social, entre outros) e a criação nossa sociedade, com a corrosão da
do Conselho Nacional LGBT, e como proposta /#4).&%.'%=$O_e^FgqH$DBB@H$5=$@BQ=$
também, a criação destes, em nível estadual.
Butler (2003) analisa a “inteligibilidade cultural
D=@=K$ ])4#6"%&$ %$ '6.09!3)$ /)$ "#4%$ por meio da qual os corpos, gêneros e desejos
LGBT na pauta dos conselhos são naturalizados” a partir do termo matriz
nacionais de políticas setoriais. :#"#&)!!#,9%0$ ODBBAH$ 5=$ D@GQ=$ ^)6!'/#&%6/)$
[...] que este é o modelo discursivo hegemônico
2.6.3 Criar o conselho nacional de
lésbicas, gays, bissexuais, travestis e
que caracteriza a inteligibilidade do gênero, a
transexuais, garantindo paridade entre partir do qual se presume que os corpos são
governo e sociedade civil, assegurando coerentes e fazem sentido, ou seja, masculino
na representação da sociedade expressa macho e feminino expressa fêmea, que
civil a paridade dos segmentos d$ 6#.#!!n&')$ :%;#&$ 94$ !#,)$ #!"n;#0H$ R/#I6'/)$
LGBT e o recorte de gênero, étnico-
racial e considerando as dimensões oposicional e hierarquicamente por meio da
(#&%.')6%'!H$ &#(')6%'!$ #$ /#I.'j6.'%!$ prática compulsória da heterossexualidade”
OJ?FUk[H$DBBEH$5=AGZCBQ= ODBBAH$5=D@GQ=$

!"#$%&'(!')*+,%#-&$')./+#-&$''0''12*'34,$'5'67''0''8.9!:*';$<!-#&+''0''<='>?>'5'>@A''0''7B*$%*'(!'AC>C
KL8; M';'1;NO73IP7P;'87')7OQ7'P71')M3RQID71')SH3ID71'8M'H 71I3 167

J9"0#&$ ODBBAH$ 5=$ @PCQ$ !9!"#6"%H$ %'6/%H$ \9#$ %!$ sexualidade como social e política, mas como
normas regulatórias do “sexo” materializam a ligada ao privado.
diferença sexual a serviço do que ela chama de F"'6('&H$ 5)&"%6")H$ 94$ !'(6'I.%/)$ 5)07"'.)$
R'45#&%"';)$:#"#&)!!#,9%0fH$#$\9#$#!"%$/#I6'23)$/#$ /#6"&)$ /#!!%$ #!"&9"9&%$ /#$ !'(6'I.%23)$ /)$
sexo “[...] é uma das normas pelas quais “alguém” humano, como a possibilidade de união civil ou
!'450#!4#6"#$!#$")&6%$;'n;#0H$d$%\9'0)$\9#$\9%0'I.%$ a empregabilidade de uma travesti em contextos
um corpo para a vida no interior do domínio da heterossexistas, instaura novos processos
'6"#0'('1'0'/%/#$.90"9&%0f$OJl>[ ?H$DBBAH$5=@PPQ= políticos, mas também pode reiterar o dado. A
Esta se torna uma “matriz excludente pela produção de políticas públicas também, pode,
\9%0$ )!$ !9T#'")!$ !3)$ M)&4%/)!f$ O5=@PPQH$ #$ da mesma forma, ser ampliada ou restrita: qual o
produz seres abjetos, “aqueles que ainda não !'(6'I.%/)$\9#$%/\9'&#$%$M%470'%$6#!!#$.)6"#,")$
!3)$!9T#'")!f$O5=@PPQ=$J9"0#&$ODBBAQ$%6%0'!%$\9#H$ de diferentes formações?
na medida em que as práticas reguladoras de A ordem social contemporânea se estrutura
formação e divisão de gênero constituem a de forma que no dualismo hetero/ homo,
“identidade, a coerência interna do sujeito e o a heterossexualidade seja naturalizada e
status autoidêntico de pessoa” (p.38), estas não compulsória. O termo mais apropriado para
são características da condição de pessoa, mas destacar esse processo é “heteronormatividade”,
normas de inteligibilidade: !#(96/)$ b'!W)0.'$ ODBBKQH$ 5)'!$ #,5&#!!%$ %!$
expectativas, demandas e obrigações sociais que
Em outras palavras, a “coerência” e derivam da heterossexualidade como pressuposto
a “continuidade” da “pessoa” não são de natural e fundamento da sociedade.
características lógicas ou analíticas
da condição de pessoa, mas, ao
contrário, normas de inteligibilidade Por heteronormatividade entendemos
socialmente construídas e mantidas. aquelas instituições, estruturas de
Em sendo a “identidade” assegurada compreensão e orientações práticas
por conceitos estabilizadores de sexo, que não apenas fazem com que a
gênero e sexualidade, a própria noção heterossexualidade pareça coerente –
de “pessoa” se veria questionada ou seja, organizada como sexualidade
pela emergência cultural daqueles – mas também que seja privilegiada.
seres cujo gênero é “incoerente” ou Sua coerência é sempre provisional e
“descontínuo”, os quais parecem ser seu privilegio pode adotar várias formas
pessoas, mas não se conformam às (que as vezes são contraditórias):
normas de gênero da inteligibilidade passa despercebida como linguagem
5#0%!$ \9%'!$ %!$ 5#!!)%!$ !3)$ /#I6'/%!$ básica sobre os aspectos sociais e
OJl>[ ?H$DBBAH$5=$@PPQ= pessoais; é percebida como um estado
natural; também se projeta como um
objetivo ideal ou moral (WARNER
Com a demarcação do lugar do heterossexual %59/$bkU^re[^k$DBBKH$5=BPQ=
#$ /%!$ /#4%'!$ .0%!!'I.%2-#!$ /#$ (&95)!$
“dominantes”, o poder é assim naturalizado entre O estudo sobre a sexualidade não equivale
grupos sociais normatizados e que ocupam à defesa de não heterossexuais, mas implica
quase sempre posições centrais, ditando, aos desvendar os pressupostos e os meandros da
demais, as formas de representação, pois falam heteronormatividade e em explorar principalmente
por si e pelos outros, tanto pela negação dos suas interdições para demais orientações
demais ou por considerá-los subordinados. sexuais, “em especial a homofobia, materializada
Desta forma, a heterossexualidade se naturaliza, em mecanismos de interdição e controle das
é universal e normal, e as demais manifestações relações amorosas e sexuais entre pessoas do
são o contrário destas premissas. 4#!4)$!#,)f$ObkUre[^kH$DBBKH$5=BGQ=
As experiências coletivas e públicas, como o De certa forma, a pessoa que não se sente
ambiente escolar, cujo espaço é de frequência confortável com a identidade de gênero, atribuída
obrigatória a todas as classes sociais, ao pelo seu sexo biológico, produz uma revolução
menos até a adolescência, é um campo nos conceitos pré-estabelecidos da sociedade. O
de análise privilegiado para demonstrar o reconhecimento das possibilidades que surgem
/'!.'50'6%4#6")$/)!$.)&5)!=$[)9&)$ODBB@Q$'6/'.%$ nos âmbitos da orientação sexual e da identidade
que, mesmo não atribuindo à escola papel de gênero, surgidos ou ainda por surgirem,
determinante nas identidades sociais, seus compõe a diversidade sexual, que deve ser
%!5#.")!$.)6/'.')6%6"#!$"j4$5%&"#$!'(6'I.%"';%$ respeitada como parte da diversidade humana, e,
nas histórias pessoais. As estratégias assim, parte dos direitos humanos necessários à
de disciplinamento e controle produzem construção de uma sociedade igualitária e justa.
individualmente culpa e vergonha, remetendo ao Situar o debate da diversidade sexual não exige
segredo e ao privado, permeados por processos que se procurem as causas ou que se conheçam
de controle e censura sociais, e que acabam por individualmente preferências ligadas à esfera
incorporar-se e constituir a subjetividade dos da sexualidade, mas sim, salientar o patamar
sujeitos. Isso resulta em não mais perceber a emancipatório do tratamento com igualdade.

!"#$%&'(!')*+,%#-&$')./+#-&$''0''12*'34,$'5'67''0''8.9!:*';$<!-#&+''0''<='>?>'5'>@A''0''7B*$%*'(!'AC>C
168 D!-#+#&'84E!$'F:*!99#EBG''H:4E&'7E(:&(!'I:#E!4''!' J+!/!:'8&"&$

J%6I#0/$ .96:)9$ %$ #,5&#!!3)$ RM%4'0'!4)f$ familiar, aceito comumente na sociedade, e


para dar conta das situações que designavam consequentemente, pelo Estado?
um ethos com base nos ciclos de solidariedade Em trabalho anterior (FROEMMING, 2008),
social e sentimento de pertencimento restrito analisamos o atendimento prestado por
às famílias nucleares, descartando as diferentes esferas do Estado em relação aos
possibilidades comunitárias. Preso à lógica sujeitos constituídos fora da heterossexualidade.
familista privada, as demais organizações Citamos aqui o caso de uma travesti feminina
sociais reproduziam a autoridade da família que procurou o CRAS da sua região para
sobre seus membros e suas decisões. O que solicitar que o pai e a madrasta saíssem de
se pode atentar a partir deste conceito é o que !9%$.%!%H$/#$94$/#I.iente visual que necessita
?#'!$ O@EEPQ$ .'"%$ .)4)$ )$ R'45%.")$ /)!$ M%")&#!$ junto à previdência social pensão por morte de
estruturais sobre as escolhas individuais, sejam seu companheiro, da conselheira tutelar que
esses fatores econômicos ou culturais” (p. 59). procura CRDH, pois a família de um jovem gay
Além das permissividades contínuas na relação solicita aos conselheiros tutelares tratamento
entre família e Estado, o familismo também cria para homossexualidade do mesmo. Onde se
entraves de pertencimento à comunidade e à localiza, nesses casos, o potencial da família e/
nação, principalmente nas realidades latino- ou do Estado protetivo?
americanas, que devido aos seus fatores de _%&%$ ^%&;%0:)$ ODBBKH$ 5=DKCQH$ %$ M%470'%$ "#4$
colonização, quase não desenvolveram o seu condição de “exercício de poder moral sobre o
R#!"%/)Z6%23)f$O? kUH$@EEPQ=$ imediato”, ou seja, “é interface necessária na
A inclusão da família, como estratégia nas #!M#&%$ 5810'.%f=$ s9%6/)$ )$ #,#&.7.')$ /)$ 5)/#&$
políticas públicas para romper com processos de moral é feito de forma a manter o status quo
desigualdade excessiva, carece de pormenores que é restringidor de direitos, como agem os
#4$"#&4)!$/#$4#")/)0)('%=$s9%0$d$%$5#&!5#."';%$ %(#6"#!$/)$ !"%/)t$_%&%$?%()$O@ELKQH$%$M%470'%$
/#$ R'6.09!3)ft$ s9#4$ !3)$ )!$ 4#41&)!$ %"';)!t$ idealizada impõe no ideário uma noção de
s9%0$ %$ .)6"&%5%&"'/%$ #,'('/%t$ F)$ ")4%&4)!$ culpabilidade que é introjetada naturalmente nos
como categoria central do trabalho social, não indivíduos para que cumpram suas funções, a
basta mais entender a “centralidade da família”, partir dos papéis produzidos externamente, em
de qual família falamos? O conceito de família um “espa2)$4)/#0%&H$.#090%&$#$596'"';)f$O5=$@L@Q=$
– e o que fazemos dele - tem de ser ampliada.
Os vínculos comumente citados acerca da Além disso, no atual cenário
centralidade da família nas políticas públicas das lutas políticas relativas à
bem como das “solidariedades sócio-familiares” sexualidade, para grupos religiosos
fundamentalistas, o apoio institucional
(CARVALHO, 2008) dizem de vínculos relacionais à conjugalidade homossexual deve
como inclusão e pertença. A regulação da ser terminantemente negado, por
cidadania também pode ser analisada através da contrariar uma concepção de família
forma como a família nuclear é pensada como fundada na heterossexualidade
central nas políticas públicas. monogâmica aberta à reprodução que
se pretende universal e absoluta, o
As nomenclaturas no atendimento das que coloca os homossexuais no nível
políticas públicas podem ser aqui destacadas: de um “lumpensexual”, parafraseando
o atendimento pelo SUS é tratado como Marx (MELLO, 2005, p. 500).
“saúde da família”; o uso de drogas é tratado
com internação “familiar”; o desenvolvimento Como garantir diversidade humana e respeito
socioeconômico no âmbito dos programas de numa sociedade que tem como pressuposto
Assistência Social são através de programas de a produção da desigualdade? É possível
renda mínima e do conceito de “matricialidade falar em democracia numa sociabilidade que
sociofamiliar”; a política habitacional é prioritária discrimina uma orientação diferente da normativa
apenas a famílias nucleares constituídas, bem heterossexual? Nessa hierarquia de arranjos
como os programas de agricultura “familiar”. sexuais considerados legítimos e ilegítimos, quais
Todos os programas e projetos estatais são são os efeitos do não reconhecimento na vida
ligados a contrapartidas para as famílias cotidiana, dos que são considerados ilegítimos?
elencadas a partir de categorias entendidas A possibilidade de união civil entre pessoas do
como garantidores de bem-estar social no mesmo sexo encontra muito mais possibilidades
seio familiar: como a manutenção quantitativa de debate público do que a criminalização da
6%$ #!.)0%$ /)!$ I0:)!$ 4#6)&#!$ /#$ @C$ %6)!$ homofobia. A esfera política que prioriza o par
(e os maiores já podem ir pro limbo do não estável, que se casaria se fosse possível, torna
%"#6/'4#6")tQ=$s9%0$%$.)6/'23)$5810'.%$/#$94%$ esse direito prioridade, mas pode negligenciar
família constituída ao avesso da norma? O que outras esferas que não têm interesse em se
pode gerar na subjetividade dos sujeitos que tornar um par estável. Essa legitimidade, mas
não têm o “cuidado” social indicado e constroem principalmente a heteronormatividade que
seus vínculos por fora daquilo que é o grupo atravessa não só o conceito de família, mas o

!"#$%&'(!')*+,%#-&$')./+#-&$''0''12*'34,$'5'67''0''8.9!:*';$<!-#&+''0''<='>?>'5'>@A''0''7B*$%*'(!'AC>C
KL8; M';'1;NO73IP7P;'87')7OQ7'P71')M3RQID71')SH3ID71'8M'H 71I3 169

atendimento no âmbito das políticas sociais, não e redistribuição de direitos como questões
necessitaria a priori associar lógicas familistas “menores”, desconsidera que a noção de sujeito
às políticas públicas, pois pode contribuir para está vinculada a normas materiais e sociais de um
o debate público que se ampare na legimitidade projeto de sociabilidade, e que se colocam como
de novos arranjos, como programas de família, interditos cotidianos na vida dos sujeitos.
ampliada para todas as políticas da seguridade Projetos societários que não salientam
social, e o consequente reconhecimento destas. como categorias correlatas classe, gênero e
A política pública, quando calcada no direito sexualidade, individualizam as lutas da classe
que pode ser instrumento de emancipação que vive do trabalho. A avaliação de que estas
política dos que do serviço prestado usufruem, lutas são pormenorizadas frente à mudança
podem também representar estratégias de 5%&%/'(4n"'.%H$/#!\9%0'I.%$%!$&#'6;'/'.%2-#!$/#$
rompimento com a aparente inexorabilidade movimentos sociais, como também o sofrimento
das formas conservadoras de moralismo social. humano, dado que a dimensão pública da
Podemos avaliar que, a manutenção da família sexualidade só é aceita socialmente quando a
nuclear, por conta de veículos midiáticos e mesma é heterossexual.
de programas do Estado, não contribui para As políticas sociais são marcadas pela história
que as demais formas de existência sejam das tecnologias de normalização dos corpos e
contempladas ou até mesmo compreendidas. intervenção dos dispositivos biotecnológicos
De alguma forma, as nossas leis tendem a de produção da subjetividade, concernentes às
institucionalizar o heterossexismo, na medida questões de gênero e sexualidade. O domínio
em que não tematizam a livre orientação sexual, dos corpos direcionados ao trabalho, e não
podendo ser a opressão sutil, onde “não – ao prazer, a produção de corpos masculinos e
heterossexuais” têm seus direitos suprimidos por femininos em antagonismo, a subalternização
meio da negligência, omissão ou até mesmo da dos sujeitos do feminino e as desigualdades
supressão, pois ao categorizar as pessoas como baseadas na diferença anatômica do sexo
“normalmente” heterossexuais, a tendência é que tornam invisíveis as “sexualidades
normatizar e suprimir os direitos de LGBT.
disparatadas”, assim nomeadas por Foucault
Uma concepção restrita de família ou
O@ELEQ=$ $ #6.)6"&%4Z!#$ 4%"#&'%0'*%/%!$ 6%$
somente concepções que apontem os sujeitos
maneira como se formulam, implementam e
através desta via de reconhecimento, causa
executam estas políticas.
#M#'")!$/%6)!)!$%$\9#4$63)$!#$#6\9%/&%=$s9%0$
O Programa Brasil sem Homofobia é um
o atendimento que resta a quem não constitui
marco histórico, por ser a primeira política
família? A raiz das desigualdades está em
pública que reconhece as diferenças LGBT.
questões de discriminação, e para a erradicação
destas é fundamental pensar o corpo- gênero- Todavia, é preciso garantir que o Programa BSH
sexualidade nesse parâmetro. se torne uma política de Estado, e não apenas
A idéia de direito à liberdade de orientação /#$ ();#&6)=$FI6%0H$ 63)$ !#$ 5)/#$ I.%&$ %$ 4#&.j$
sexual, ou mais abrangente, a posição dos da proteção e garantia da vida, apenas quando
direitos sexuais como direitos humanos, ao o governo é “B&TU:#!E(+TV”. Assim, acreditamos
'6;d!$ /%$ #!5#.'I.'/%/#$ /#$ 6)4#%2-#!H$ %450'%$ que as soluções não devem ser apenas formais,
a cidadania de um viés particularista. (Porém, os mas essenciais.
5&)I!!')6%'!$ \9#$ !#$ '6!#&#4$ #4$ 5&).#!!)!$ /#$ A I Conferência LGBT sinalizou publicamente
trabalho que são realizados no âmbito de uma a necessidade do compromisso do Estado com
sociedade que forma uma sociabilidade que esta população. Reforçou a necessidade de
discrimina uma orientação diferente da normativa ampliação das possibilidades de participação
heterossexual. De forma quase que invariável, nas decisões políticas e no controle social, como
não pensamos em diferentes formações que já vinha acontecendo com outros segmentos
diferem do instituído, e sobre o quanto o seu populacionais: negros, mulheres e idosas.
não reconhecimento interfere de forma cruel Mas, ao mesmo tempo, se compararmos
na vida dos sujeitos sociais. A sexualidade é os momentos de construção do BSH e da
uma das dimensões fundamentais da vida e da sistematização das propostas da Conferência,
sociabilidade, e tem consequências públicas e que culminou no Plano Nacional de Promoção
privadas. Uma sociedade que faz interpelações da Cidadania e Direitos Humanos LGBT, há que
que atribuem à norma, deixam somente o espaço se questionar até que ponto esta ampliação da
de invisibilidade das demais orientações diferentes participação LGBT, nos processos democráticos
da heterossexual, e não o reconhecimento de de decisão, tem se dado? Porque na época de
várias possibilidades de vivência. formulação do BSH esteve praticamente sob
tutela do movimento LGBT e no Plano LGBT
5 CONCLUSÃO 63)$).)&&#9$/%$4#!4%$M)&4%=$s9%0$/#4).&%.'%$
está se construindo a partir desta transferência
Considerar questões como diversidade de responsabilidades? Isso demonstra a falta
sexual, raça/etnia e a tensão entre reconhecimento de compromisso do Estado em transferir as

!"#$%&'(!')*+,%#-&$')./+#-&$''0''12*'34,$'5'67''0''8.9!:*';$<!-#&+''0''<='>?>'5'>@A''0''7B*$%*'(!'AC>C
170 D!-#+#&'84E!$'F:*!99#EBG''H:4E&'7E(:&(!'I:#E!4''!' J+!/!:'8&"&$

suas responsabilidades ao movimento social no BRASIL. Secretaria Especial de Direitos


BSH, e que, em grande medida, parece sinalizar Humanos. Plano Nacional de Promoção da
outras perspectivas ao assumir a frente das Cidadania e dos Direitos Humanos LGBT.
ações do Plano LGBT. Brasília, 2009.
O Plano Nacional LGBT inaugura a
sistematização de ações a serem executadas BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos
a curto e médio prazo por todos os Humanos. Texto-Base da Conferência
4'6'!"d&')!$ 1&%!'0#'&)!=$ F!$ /'I.90/%/#!$ /#$ Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais,
transversalização ocorridas no BSH parecem Travestis e Transexuais. Brasília, 2008a.
agora ser superáveis por outra estratégia,
mais direcionada e exeqível. Mas, até que BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos
ponto não seremos reféns dos preconceitos Humanos. Anais da Conferência Nacional
das pessoas que trabalham nos ministérios de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e
e outros órgãos do Poder Executivo, para a Transexuais. Brasília, 2008b.
execução destas ações, como somos há anos
na esfera do judiciário e do legislativo? Até que BUTLER, Judith. (,%A*!$)"' G!' 0KI!,%&'
ponto as propostas da Conferência não limitam Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de
as possibilidades de sermos reconhecidas Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
pelo Estado, quando priorizamos a luta por
reconhecimento de direitos civis e pouco nos CONSELHO NACIONAL DE COMBATE À
atentamos aos direitos sociais? DISCRIMINAÇÃO. =,)"J*' 5!$' <%$%L%AJ)&'
O papel do movimento LGBT deve ser o de Programa de combate à violência e à
discriminação contra GLTB e promoção da
cobrar e pressionar o Estado. Entretanto, este
cidadania homossexual. Brasília: Ministério da
movimento tem sido condescendente com a
U%8/#H$DBBC=
omissão do Estado, na medida em que canaliza
as energias para executar ações que são de
IRINEU, Bruna A. A política de previdência
competência deste Estado e para pressionar o
social e os direitos LGBT no Brasil. Goiânia:
aumento de verbas às ONGs, compactuando UFG, 2009. Dissertação (Mestrado em
com esta transferência de responsabilidades Sociologia) – Faculdade de Ciências Sociais.
(marcadamente neoliberais). Neste sentido, Universidade Federal de Goiás, 2009.
precisaríamos unir forças para fazer cumprir
as ações deste Plano, bem como reivindicar a FACCHINI, Regina. 5%M)' G!' *!B,JI/)"&'
responsabilização do Estado no reconhecimento movimento homossexual e produção de
dos direitos LGBT. identidades coletivas nos anos 1990. Rio de
Parafraseando Clarice Lispector, ressaltamos: Janeiro: Garamond, 2005.
“O que escrevo é mais do que invenção [...] É
dever meu, nem que seja de pouca arte, o de FROEMMING, Cecília N. O sujeito de direitos
revelar a vida. Por que há direito ao grito. Então L%,)' G)' /!B!,%""!N#)*JG)G!&' GJ+!,"JG)G!'
eu grito [...] Irei até onde o ar termina, irei até sexual e política de assistência social. Porto
onde a grande ventania se solta uivando, irei Alegre: PUCRS, 2008. Dissertação (Mestrado
até onde o vácuo faz uma curva, irei onde meu em Serviço Social) – Faculdade de Serviço
fôlego me levar”. Social – Pontifícia Universidade Católica do Rio
Neste sentido, reforçamos que o principal Grande do Sul, 2008.
objetivo deste artigo, que não se esgota aqui, é
denunciar, através de teorias e de políticas, as FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade –
hierarquias das invisibilidades ao não reconhecer A vontade de saber. São Paulo: Editora Graal,
a multiplicidade da sexualidade, dos gêneros e @ELL=$;=$@=
dos corpos. Assim, buscamos contribuir com
elementos que auxiliem na transformação da GREEN, James Naylor. 4*O$' G%' C),I)+)*&
maneira de pensar, de aprender, de conhecer e a homossexualidade masculina no Brasil do
de estar no mundo, tornando estes processos século XX. São Paulo: Unesp, 2000.
mais prazerosos, sobretudo, a partir da promoção
dos direitos sexuais e da justiça erótica. MACRAE, Edward. O militante homossexual
no Brasil da “abertura”.$@ELP=$>#!#$Oi)9")&%/)$
REFERÊNCIAS #4$ F6"&)5)0)('%Q$ `$ ]%.90/%/#$ /#$ ]'0)!)I%H$
Letras e Ciências Humanas, Universidade de
ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. U3)$_%90)H$U3)$_%90)H$@ELP=
In: SADER, Emir; GENTILI, Pablo (Orgs.). Pós-
I!%*JA!,)*J"$%&'as políticas sociais e o Estado MONTAÑO, Carlos. Das “lógicas do Estado” as
democrático. ?')$/#$u%6#'&)m$_%*$#$>#&&%H$@EEP. “lógicas da sociedade civil”: Estado e terceiro

!"#$%&'(!')*+,%#-&$')./+#-&$''0''12*'34,$'5'67''0''8.9!:*';$<!-#&+''0''<='>?>'5'>@A''0''7B*$%*'(!'AC>C
KL8; M';'1;NO73IP7P;'87')7OQ7'P71')M3RQID71')SH3ID71'8M'H 71I3 171

setor em questão. Revista Serviço Social & 2. Iremos conceituar o termo posteriormente.
Sociedade, São Paulo, ;=DBH$6=$PEH$4%&=$@EEE.
3. O termo “pote atrás do arco-íris” é utilizado de
MELLO, Luiz. Familismo anti-homossexual maneira irônica para referenciar metaforicamente
e regulação da cidadania no Brasil. Revista a existência de um “tesouro” ou grande
Estudos FeministasH$]0)&'%6S5)0'!H$;=$@CH$6=$DH$ “conquista”.
5=$CEKZPCLH$4%')v%(=H$DBBG=
C=$ O PNDH II, lançado no ano de 2003, é o primeiro
/).94#6")$ )I.'%0$ %$ .)6!"%&$ %2-#!$ #!5#.7I.%!$
MOUFFE, Chantal. ?' ,!P,!""%' G%' M%*QBJC%&'
de proteção a população LGBT no Brasil.
trajectos.$['!1)%m$N&%/';%H$@EEG=
5. ]96/%/%$ #4$ @EEP$ %$ FJN[>$ d$ %$ 4%')&$ &#/#$
_FU>e?khkH$F0#T%6/&%=$s9#4$4#,#$)!$I)!$/%!$ de articulação LGBT do Brasil e da América
políticas sociais? Avanços e limites da categoria Latina, congregando um número expressivo de
concessão-conquista. Revista Serviço Social e )&(%6'*%2-#!$ I0'%/%!=$ >#4$ !'/)$ #0%$ %$ 5&'6.'5%0$
SociedadeH$U3)$_%90)H$6=$PAH@EEK=$ negociadora e representante deste movimento
na elaboração do BSH na época. Neste sentido,
POCAHY, Fernando. Um mundo de injúrias e nos lembramos das críticas de Spivak (2003)
)9"&%!$ ;')0%2-#!=$ ?#+#,-#!$ !)1&#$ %$ ;')0j6.'%$ sobre quem pode “falar sobre” e “falar por” dentro
heterossexista e homofóbica a partir da dos grupos e movimentos sociais, contribuindo
experiência do CRDH- Rompa o silêncio.
para criação hierarquias dentro dos próprios
grupos subalternos.
_____. (Org.). %$M!IG%'"J*KICJ%&'homofobia
e heterossexismo na sociedade contemporânea: 6. Tanto nas propostas da Conferência Nacional
Políticas, teoria e atuação. Porto Alegre: quanto no Plano LGBT, a manutenção dos
h9%6.#!H$DBBK= Centros de Referências em Direitos Humanos
e Combate à Homofobia pelo Estado, enquanto
RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar. São
política pública de Estado, com dotação
_%90)m$_%*$#$>#&&%H$@ELK=$
orçamentária própria, aparece.
REIS, Elisa P. Desigualdade e solidariedade: K=$ Símbolo histórico da luta dos movimentos LGBT.
94%$&#0#'"9&%$/)$RM%4'0'!4)$%4)&%0f$/#$J%6I#0/=$
Revista Brasileira de Ciências Sociais, n. 29, 8. Termo utilizado para designar pessoas e locais
%6)$@BH$5=$APZCLH$@EEP= comerciais, entre outros, que são pró-LGBT.
Ou seja, tratam-nos como “amigos” sendo
SEDWICK, Eve. A Epistemologia do Armário. simpáticos as LGBT.
Cadernos PaguH$^%45'6%!m$6=$DL=$DBBK=

SPIVAK, Gayatri C. Puede hablar el subalterno? Cecilia Nunes Froemming


Revista Colombiana de Antropologia, v. 39, p. Assistente Social, Professora Assistente do
DEKZAAGH$#6#=v/#.=$DBBA= Curso de Serviço Social da Universidade
Federal do Tocantins (UFT), Mestre e Bacharel
SOUSA FILHO, Alípio. Por uma teoria em Serviço Social pela Pontifícia Universidade
construcionista crítica. !+J"B)' =)P%)"&' Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
estudos gays – gêneros e sexualidades, Natal, Atualmente é docente do curso de Serviço
;=$@H$6=$@H$T90=v/#*=$DBBK= Social da Universidade Federal do Tocantins
Email: cecilia_nf@yahoo.com.br
WEEKS, Jeffrey. 5!N#)*JBE')IG'JB"'3J"C%IB!IB"&'
Meanings, Myths and Modern Sexualities. Bruna Andrade Irineu
[)6/)6m$?)9"0#/(#$%6/$r#(%6$_%90H$@ELG= Assistente Social, Professora Assistente do
Curso de Serviço Social da Universidade Federal
WELZER-LANG, Daniel. A construção do do Tocantins (UFT), Mestre em Sociologia
masculino: dominação das mulheres e homofobia. pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e
Revista Estudos FeministasH$%6)$EH$6=$DH$DBB@= Bacharel em Serviço Social pela Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT).
1$)J*& brunairineu@gmail.com
NOTAS
Kleber Navas
@=$ A sigla LGBT refere a Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Assistente Social, Professor do Curso de Serviço
Travestis e Transexuais, e vem sendo utilizada
Social da Faculdade de Fernandópolis (FEF),
/#!/#$)!$%6)!$@EEB$5#0)!$4);'4#6")!$!).'%'!=$
Mestrando em Serviço Social pela Pontifícia

!"#$%&'(!')*+,%#-&$')./+#-&$''0''12*'34,$'5'67''0''8.9!:*';$<!-#&+''0''<='>?>'5'>@A''0''7B*$%*'(!'AC>C
172 D!-#+#&'84E!$'F:*!99#EBG''H:4E&'7E(:&(!'I:#E!4''!' J+!/!:'8&"&$

Universidade Católica de São Paulo (PUC-


SP) e Bacharel em Serviço Social pelo Centro
Universitário de Votuporanga (UNIFEV).
Email: klebernavas@yahoo.com.br
Universidade Federal do Tocantins - UFT
Campus MIracema do Tocantins. Avenida
Lourdes Solino s/n. Setor Universitário
^ _m$KK@PBZBBB
Miracema do Tocantins, TO

Fundação Educacional de Fernandópolis - FEF


Avenida Teotônio Vilela, Campus Universitário,
Fernandópolis - SP.

!"#$%&'(!')*+,%#-&$')./+#-&$''0''12*'34,$'5'67''0''8.9!:*';$<!-#&+''0''<='>?>'5'>@A''0''7B*$%*'(!'AC>C

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