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Volume I
da série
São Francisco de Sales
Nihil Rev. Mons. John H. Dewson Censor Librorum
Obstat:
Imprimatur: Rev. Paul J. Taggart Administrador da Diocese
Wilmington, Delaware, 19 de outubro de 1984
Imagem da capa traseira cortesia de DeSales Resources and Ministries, Inc., Stella Niagara, NY.
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TAN Books
Charlotte, Carolina do Norte
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2012
Os Sermõ es de Sã o Francisco de Sales
Volume I Em oraçã o
Volume II Em Nossa Senhora
Volume III Para a Quaresma
Volume IV Para Advento e Natal
Volume V Sobre a vida consagrada
ÍNDICE
Prefá cio
Nota do tradutor
Introduçã o
1. O Objetivo da Oraçã o
Dado no terceiro domingo da Quaresma, 22 de março de 1615, sobre a utilidade e
necessidade da oraçã o, as operaçõ es do entendimento, meditaçã o, petiçõ es, contemplaçã o e
o objetivo da oraçã o
2. O Espı́rito de Oraçã o
Dado no quarto domingo da Quaresma, 29 de março de 1615, sobre quem pode rezar e as
trê s condiçõ es para rezar bem
3. Os Tipos de Oraçã o
Dado no Domingo da Paixã o, 5 de abril de 1615, sobre as oraçõ es dos pecadores, o que pedir
a Deus, oraçã o vital, oraçã o vocal, oraçõ es obrigató rias e nã o obrigató rias e o Ofı́cio Divino
4. O Coraçã o da Oraçã o
Dado no Domingo de Ramos, 12 de abril de 1615, sobre oraçã o direta e indireta, postura
corporal durante a oraçã o, os quatro nı́veis da alma, meditaçã o, contemplaçã o e ejaculaçõ es
SOBRE SÃO FRANCISCO DE SALES
O OBJETIVO DA ORAÇÃO
Sermão para o terceiro domingo da Quaresma, proferido em 22 de março de 1615, sobre a
utilidade e necessidade da oração, as operações do entendimento, meditação, petições,
contemplação e o objetivo da oração .
Sã o Bernardo – cuja memó ria é cara para quem tem que falar
sobre a oraçã o – por escrito a um bispo, aconselhou-o que tudo o que
lhe era necessá rio era falar bem (quer dizer instruir, discursar); entã o
fazer bem em dar bom exemplo; e, inalmente, dedicar-se à oraçã o. E
nó s, dirigindo isso a todos os cristã os, nos deteremos no terceiro ponto,
que é a oraçã o.
Em primeiro lugar, observemos de passagem que, embora
condenemos certos hereges de nosso tempo que sustentam que a
oraçã o é inú til, nã o sustentamos com outros hereges que ela é
su iciente para nossa justi icaçã o. Dizemos simplesmente que é tã o ú til
e necessá rio que sem ela nã o poderı́amos chegar a nenhum bem, visto
que por meio da oraçã o nos é mostrado como realizar bem todas as
nossas açõ es.
Aceitei, portanto, o desejo que me impele a falar da oraçã o,
embora nã o seja minha intençã o explicá -la em todos os aspectos,
porque a aprendemos mais por experiê ncia do que por ensino. Alé m
disso, pouco importa saber o tipo de oraçã o. Na verdade, eu preferiria
que você nunca perguntasse o nome ou o tipo de oraçã o que você está
experimentando porque, como diz Santo Antô nio, aquela oraçã o é
imperfeita quando se está ciente de que está rezando. Alé m disso, a
oraçã o que se faz sem saber como está fazendo e sem re letir sobre o
que está pedindo mostra claramente que essa alma está muito ocupada
com Deus e que, consequentemente, essa oraçã o é excelente.
Trataremos, entã o, nos quatro domingos seguintes, da causa inal
da oraçã o; de sua causa e iciente; daquilo que propriamente nã o deve
ser chamado de "causa material", mas sim de "objeto" da oraçã o; e da
causa efetiva da pró pria oraçã o. Por enquanto, falarei apenas de sua
causa inal. Mas antes de entrar no assunto da oraçã o, devo dizer trê s
ou quatro pequenas coisas que é bom saber.
Quatro operaçõ es pertencem ao nosso entendimento: pensamento
simples, estudo, meditaçã o e contemplaçã o. O pensamento simples
ocorre quando corremos sobre um grande nú mero de coisas, sem
nenhum objetivo, como as moscas que pousam sobre as lores, nã o
procurando extrair nenhum suco delas, mas descansando ali apenas
porque acontecem sobre elas. Assim é com o nosso entendimento,
passando de um pensamento para outro. Mesmo que esses
pensamentos sejam de Deus, se nã o tiverem objetivo, longe de serem
proveitosos, sã o inú teis e prejudiciais e sã o um grande obstá culo à
oraçã o.
Outra operaçã o de nosso entendimento é o estudo, e isso ocorre
quando consideramos as coisas apenas para conhecê -las, compreendê -
las completamente ou poder falar delas corretamente, sem ter outro
objeto senã o encher nossa memó ria. Nisso assemelhamo-nos a
besouros que pousam nas rosas com o ú nico propó sito de encher seus
estô magos e saciar-se. Agora, dessas duas operaçõ es de nosso
entendimento nã o falaremos mais, porque elas nã o sã o para o nosso
propó sito.
Vamos à meditaçã o. Para saber o que é meditaçã o, é preciso
entender as palavras do rei Ezequias quando lhe foi pronunciada a
sentença de morte, que depois foi revogada por causa de seu
arrependimento. "Eu solto gritos estridentes", disse ele, "como uma
andorinha", e "gemo como uma pomba". 1 no auge da minha tristeza.
[Cf. é . 38:14]. Ele quis dizer: Quando a andorinha está sozinha e sua
mã e sai em busca da erva chamada "celandine" para ajudá -la a
recuperar a visã o, ela chora, ela piscou, pois nã o sente sua mã e perto e
porque nã o vê nada. Entã o eu, tendo perdido minha mã e, o que é graça,
e nã o vendo ningué m vir em meu auxı́lio, "eu solto gritos estridentes".
Mas ele acrescenta: "Eu gemo como uma pomba". Devemos saber que
todos os pá ssaros estã o acostumados a abrir o bico quando cantam ou
gorjeiam, exceto a pomba, que emite sua musiquinha ou arrulho
enquanto prende a respiraçã o – e é atravé s do movimento para cima e
para baixo que ela faz, sem deixar escapar, que ela produz sua cançã o.
Da mesma forma, a meditaçã o se faz quando ixamos nosso
entendimento em um misté rio do qual pretendemos extrair bons
afetos, pois se nã o tivé ssemos essa intençã o nã o seria mais meditaçã o,
mas estudo. A meditaçã o é feita, entã o, para mover os afetos, e
particularmente o do amor. Com efeito, a meditaçã o é a mã e do amor
de Deus e a contemplaçã o é a ilha do amor de Deus.
Mas entre a meditaçã o e a contemplaçã o há a petiçã o que se faz
quando, depois de ter considerado a bondade de Nosso Senhor, seu
amor in inito, sua onipotê ncia, nos tornamos con iantes o su iciente
para pedir e suplicar que nos dê o que desejamos. Agora, existem trê s
tipos de petiçã o, cada uma das quais é feita de maneira diferente: a
primeira é feita pela justiça, a segunda é feita pela autoridade e a
terceira é feita pela graça.
A petiçã o que é feita pela justiça nã o pode ser chamada de
“oraçã o”, embora usemos esta palavra, porque em uma petiçã o de
justiça pedimos algo que nos é devido. Uma petiçã o feita por
autoridade també m nã o deve ser chamada de "oraçã o"; pois assim que
algué m que tem grande autoridade sobre nó s - como um pai, um
senhor ou um mestre - usa a palavra "por favor", 2 dizemos
imediatamente a ele: "Você pode comandar", ou "Seu 'por favor' serve
como meu comando". Mas a verdadeira oraçã o é aquela que é feita pela
graça, ou seja, quando pedimos algo que nã o nos é devido, e quando o
pedimos a algué m que é muito superior a nó s, como Deus.
A quarta operaçã o do nosso entendimento é a contemplaçã o, que
nada mais é do que deleitar-se com a bondade dAquele que
aprendemos a conhecer na meditaçã o e a quem aprendemos a amar
por meio desse conhecimento. Este deleite será nossa felicidade no cé u
acima.
Devemos agora falar da causa inal [isto é , o objetivo] da oraçã o.
Devemos saber em primeiro lugar que todas as coisas foram criadas
para a oraçã o, e que quando Deus criou os anjos e os homens, Ele o fez
para que eles pudessem louvá -lo eternamente no cé u acima, mesmo
que esta seja a ú ltima coisa que faremos - se isso pode ser chamado de
"ú ltimo", que é eterno. Para entender melhor, diremos o seguinte:
quando desejamos fazer algo, sempre olhamos primeiro para o im [ou
propó sito], e nã o para o trabalho em si. Por exemplo, se formos
construir uma igreja e nos perguntarem por que a estamos
construindo, responderemos que é para que possamos nos aposentar lá
e cantar louvores a Deus; no entanto, esta será a ú ltima coisa que
faremos. Outro exemplo: se você entrar no apartamento de um
prı́ncipe, verá ali um aviá rio de vá rios passarinhos que estã o em uma
gaiola de cores vivas e altamente enfeitadas. E se você quer saber o im
para o qual eles foram colocados ali, é dar prazer ao seu mestre. Se você
olhar para outro lugar, verá gaviõ es, falcõ es e outras aves de rapina que
foram encapuzadas; estes ú ltimos servem para apanhar a perdiz e
outras aves para alimentar delicadamente o prı́ncipe. Mas Deus, que de
modo algum é carnı́voro, nã o guarda aves de rapina, mas apenas os
passarinhos que estã o encerrados no aviá rio e destinados a agradá -lo.
Estes passarinhos representam monges e monjas que voluntariamente
se encerraram em mosteiros para que possam cantar louvores ao seu
Deus. Portanto, seu principal exercı́cio deve ser a oraçã o e a obediê ncia
à palavra que Nosso Senhor dá no Evangelho: "Orai sempre". [Lc . 18:1].
Os primeiros cristã os que foram treinados por Sã o Marcos
Evangelista eram tã o assı́duos na oraçã o que muitos dos antigos Padres
os chamavam de "suplicantes", e outros os chamavam de "mé dicos",
porque por meio da oraçã o encontravam o remé dio para todos os seus
problemas. males. Eles també m os chamavam de "monges", porque
eram tã o unidos; na verdade, o nome "monge" signi ica "solteiro". Os
iló sofos pagã os diziam que o homem é uma á rvore desarraigada, de
onde podemos concluir como a oraçã o é necessá ria para o homem, pois
se uma á rvore nã o tem terra su iciente para cobrir suas raı́zes, nã o
pode viver; nem pode viver um homem que nã o dê atençã o especial à s
coisas celestiais. Ora, a oraçã o, segundo a maioria dos Padres, nada
mais é do que uma elevaçã o da mente à s coisas celestiais; outros dizem
que é uma petiçã o; mas as duas opiniõ es nã o se opõ em, pois enquanto
elevamos nossa mente a Deus, podemos pedir-Lhe o que parece
necessá rio.
A principal petiçã o que devemos fazer a Deus é a uniã o de nossas
vontades com a Dele, e a causa inal da oraçã o está em desejar somente
a Deus. Assim, toda a perfeiçã o está contida nisso, como disse o irmã o
Giles, companheiro de Sã o Francisco [de Assis], quando certa pessoa
lhe perguntou o que ele poderia fazer para ser perfeito muito em breve.
"Dê ", ele respondeu, "um para um". Ou seja, você tem apenas uma alma,
e há apenas um Deus; dê sua alma a Ele e Ele se dará a você . A causa
ú ltima da oraçã o, portanto, nã o deve ser desejar aquelas ternuras e
consolaçõ es que Nosso Senhor à s vezes dá , pois a uniã o nã o consiste
nisso, mas em conformar-se à vontade de Deus.
NOTAS
1 . O francê s antigo para "eu gemo" é "mediteria", que Sã o Francisco de Sales está usando
como um trocadilho para "meditar".
2 . Francisco de Sales está aproveitando o fato de que na lı́ngua francesa "por favor", "rezar"
e "orar" estã o relacionados.
—2—
O ESPÍRITO DE ORAÇÃO
Sermão para o quarto domingo da Quaresma, proferido em 29 de março de 1615, sobre
quem pode rezar e as três condições para rezar bem .
NOTAS
1 . O livro da Bı́blia conhecido como "Câ ntico dos Câ nticos" (també m chamado de "Câ ntico
dos Câ nticos" ou "Câ ntico de Salomã o") descreve em linguagem simbó lica a uniã o feliz
entre Cristo e Sua esposa. O Esposo Divino (o Amante, ou Noivo) é Cristo; A esposa de Cristo
(a noiva) é a Igreja, e mais particularmente a parte mais feliz da Igreja, isto é , almas
perfeitas, cada uma das quais é Sua amada; mas acima de todas as outras, a esposa é a
Imaculada Virgem Maria.
—3—
OS TIPOS DE ORAÇÃO
Sermão do Domingo da Paixão, proferido em 5 de abril de 1615, sobre as orações dos
pecadores, o que pedir a Deus, oração vital, oração vocal, orações obrigatórias e não
obrigatórias e o O ício Divino .
O CORAÇÃO DA ORAÇÃO
Sermão do Domingo de Ramos, proferido em 12 de abril de 1615, referente à oração direta
e indireta, postura corporal durante a oração, os quatro níveis da alma, meditação,
contemplação e ejaculações .
1 . Sã o Francisco de Sales está se referindo ao grande entusiasmo jubiloso dos bem-
aventurados no cé u. (Suas palavras aqui nã o sã o facilmente traduzidas para o inglê s.)