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COMUNIDADE SALESIANA SÃO FRANCISCO DE SALES

JUAZEIRO DO NORTE-CE
ECLESIOLOGIA
P. RODRIGO MENEZES, SDB
LIAM CARLOS MARTINS, PRÉ-NOVIÇO
Sumário
A LITURGIA DAS HORAS, SANTIFICAÇÃO DO TEMPO ______________________ 3
RESUMO ______________________________________________________________________________ 3

INTRODUÇÃO ____________________________________________________________ 3
A LITURGIA DAS HORAS ______________________________________________________ 5
ORIGEM _______________________________________________________________________________ 5
O SIGNIFICADO DE CADA HORA ______________________________________________________ 8

ESTRUTURA DA ORAÇÃO DAS HORAS__________________________________________ 10


A LITURGIA DAS HORAS E SUA LIGAÇÃO COM A MISSA ___________________________ 13
OFÍCIO DIVINO DAS COMUNIDADES ___________________________________________ 14
CONCLUSÃO ______________________________________________________________ 15
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________________________ 15
A SANTIFICAÇÃO DO TEMPO

Liam Carlos Vieira Martins da Silva1

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar um dos maiores objetos de oração da
Igreja, a Liturgia das Horas – comumente chamada de breviário – através do qual, a
Igreja santifica as horas do dia, com sua incessante oração – de modo especial nossos
irmãos e irmãs de clausura, que de modo mais intenso vivem essa experiência -
trançando uma cronologia de suas origens até os dias atuais, temos como objetivo
melhor interiorizar e compreender bem a oração das horas, algo tão belo e interior que
a igreja nos confia e proporciona.

PALAVRAS CHAVE: Liturgia das Horas – Santificação das Horas – Breviário –


Origens da Liturgia das Horas – Importância da Liturgia das Horas

INTRODUÇÃO
Busca-se com este artigo, recordar a importância e as origens da Liturgia das
Horas, como forma da Igreja santificar seu tempo, sendo levada a uma oração
incessante.
Apresentando sua origem, significado, estrutura, importância. Mostrando
assim, a melhor forma de se inserir nesta oração e de compreender bem seus

1
Liam Carlos Vieira Martins da Silva, 2003, pré-noviço salesiano; fazendo a experiência desta etapa na
comunidade salesiana são Francisco de Sales, em Juazeiro do Norte-Ceará. Natural de Recife-PE. Qualificação
em assistência administrativa.
mistérios; pois, apesar de acreditarmos que rezar seja algo simples, veremos que não
é.
Poder chegar a uma concentração e interiorização daquilo que está sendo recitado,
exige de nós dedicação total e, ao vermos o significado e estrutura da Liturgia das
Horas, veremos como bem rezar.
A pesquisa se foi elabora em finalidade de conclusão semestral das aulas de
eclesiologia, ministradas pelo Padre Rodrigo Antônio Menezes Calado, sdb2; no pré-
noviciado3 São João Bosco, em Juazeiro do Norte-Ceará
Era de conhecimento a estrutura e as horas, porém buscou-se no processo de
pesquisa melhor compreender sua origem, significado de cada hora e aprofundar no
conhecimento de sua estruturação.
Se pretende, com este artigo, mostrar como a santificação das Horas foi, e é, de suma
importância para nossa Igreja, pretende-se que seja interiorizado seu sentido mais
profundo. Fazendo assim que se possa chegar a uma melhor forma de rezar essa
oração comunitária.
Como principal fonte, usou-se o livro “Conhecer o Ano Litúrgico que
vivenciamos” dos Padres Rodrigo Arnoso, C.Ss.R4 e Thiago Faccini Paro5; também a
introdução geral da Liturgia das Horas e demais livros e sites como fonte de
aprofundamento desta pesquisa.

2
Padre Rodrigo Antônio Menezes Calado, salesiano de Dom Bosco, 1979; encarregado da formação dos pré-
noviços na Comunidade Salesiana São Francisco de Sales; ministra na casa de formação aulas de eclesiologia
para os formandos desta primeira etapa de formação. Arquiteto, Teólogo. Natural de Recife-PE, reside
atualmente em Juazeiro do Norte, desde sua ordenação presbiteral em 2019.
3
Primeira etapa oficial da formação inicial salesiana, precede o noviciado. Atualmente localizada em Juazeiro
do Norte-Ceará, na comunidade são Francisco de Sales.
4
Padre Rodrigo Arnoso, C.Sr.R; Missionário redentorista, mestre em Sagrada Liturgia pelo Pontifício Instituto
Litúrgico de Roma, Ateneu Santo Anselmo e colaborador mensal da Revista de Aparecida. Leciona na área de
Teologia Sacramental e Introdução à Liturgia no Instituto de Teologia São Paulo (Itesp) e na Unisal (Instituto Pio
XI), ambos em São Paulo.
5
Padre Thiago Faccini Paro, pedagogo, mestre em teologia e especialista em Liturgia, Ciência e Cultura pela
PUC-SP; especialista em Espaço Litúrgico e Arte Sacra pela PUC-RS. Secretário executivo da Associação dos
Liturgistas do Brasil – Asli, e acessor do Setor de Espaço Litúrgico da Comissão Episcopal Pastoral para Liturgia
da CNBB. Ainda é o autor da coleção de manuais de catequese O Caminho e de outros livros, dentre eles: As
celebrações do Rica – Conhecer para bem celebrar, Conhecer a fé que professamos e Catequese e Liturgia na
iniciação Cristã, publicados pela Editora Vozes.
A LITURGIA DAS HORAS

ORIGEM
“A Liturgia das Horas é uma oração intimamente ligada ao tempo e às
estações. A Liturgia das Horas é uma oração diária, rezada de manhã,
ao meio-dia, à noite, antes de dormir e, em alguns lugares, no meio da
noite.” – Sister Anita Louise Lowe6

Podemos remontar a origem da Liturgia das Horas, a forma judaica de rezar;


havia-se o hábito de rezar em horas determinadas, pois a única forma de se ouvir as
Escrituras oralmente ou no templo e, aqueles que interpretavam a Lei, o faziam em
determinados momentos do dia.
Conseguimos também afirmar os salmos - as 150 orações do Antigo
Testamento - como a base da Liturgia das Horas, em todo o antigo testamento vemos
os judeus rezando os salmos, e os rezavam em horários regulares; hábito esse
iniciado pelos judeus – como nos relata o livro de Daniel 6, 11 7- e continuado pelos
cristãos da Igreja primitiva.
O próprio Jesus rezava os salmos junto a seus discípulos e os usava para
ensina-lhes sobre a fé. Podemos afirmar que em sua experiência familiar, Jesus, junto
a seus familiares rezava os salmos, como costume de sua tradição judaica. Jesus não
nos deixou, porém, uma forma concreta e organizacional de como rezar; coube aos
primeiros cristãos tal feito.
“Foram as primeiras gerações que cobriram esse
vazio, aprofundando o ensinamento e o exemplo de
Jesus Cristo no contexto da tradição judaica na qual
o mesmo Senhor tinha vivido a sua relação com o
Pai por meio da oração. De fato, muitos elementos
formais e de conteúdo da oração de Jesus e dos
primeiros cristãos procedem do ambiente humano

6
Sister Anita Louise Lowe, 14° prioresa das Irmãs de São Bento de Ferdinad, em Indiana. Formada em Inglês e
Francês-menor, pela Brescia College em Owensboro; mestre em teologia pela Universidade de Notre Dame. É a
líder espiritual da comunidade religiosa, administradora-chefe e representante oficial da Igreja e da
comunidade cívica. Além de exercer o posto de Diretora de Liturgia em sua congregação desde 2008.
7
“Ao saber que o documento havia sido assinado, Daniel subiu para a sua casa. As janelas do seu aposento
superior estavam orientadas para Jerusalém e, três vezes por dia, ele se punha de joelhos, orando e
confessando a Deus: justamente como havia feito até então”.
e religioso do povo judaico, ao qual Ele pertencia e
que tinha uma longa e profunda experiência de
oração” (AUGÉ, 1992, p. 288)
Chegamos ao século III, onde podemos encontrar horários fixos para oração:
ao levantar, às 3°, 6° e 9° horas do dia, antes de ir se deitar e durante a própria noite.
Aqui, os cristãos são ensinados a orar voltar ao Oriente como um símbolo de espera
pela segunda vinda; no século III, apresentam-se os primeiros textos com orações
cristãs, traduzindo a mensagem do ressuscitado, textos esses que foram pouco a
pouco transformando-se e oficializando-se para o culto cristão. Aqui, começamos a
ver certa padronização com relação às posições – em pé, sentado, ajoelhado – e os
salmos, como oração comum da Igreja. Surge então as primeiras bases oracionais
que a Igreja oficializou como a Liturgia das Horas.
Com a paz de Constantino no século IV, os cristãos puderam finalmente
construir seus templos e se reunir publicamente para rezar, sem demora surgiu a
tradição de se reunir pela manhã e pela noite; orar pela manhã, era para eles um bom
presságio para o resto do dia, e rezar à noite permitia que refletissem sobre seu dia e
até mesmo sobre seus pecados cometidos
“De manhã e à noite, os cristãos se reuniam na igreja. Se um
bispo estivesse presente, ele lideraria; caso contrário, um padre
lideraria. O povo cantava os salmos previstos para a manhã ou
a noite. Como não variavam, as pessoas podiam decorá-las e
cantá-las afinadamente. Outras orações foram adicionadas de
outras partes da Bíblia. Em alguns lugares, foi feita uma breve
homilia. O serviço terminou com intercessões pelas
necessidades da Igreja e uma oração final. As origens da Liturgia
das Horas, que segue um formato semelhante, são facilmente
aparentes nesta prática.”8

Seguindo na linha evolucional de nossa oração das horas, com a permissão de


que o cristianismo possa abertamente professar sua fé, e logo em seguida, sua
consolidação como religião oficial do império, os cristãos tomaram consciência de que
deveriam perseverar em sua oração, a exemplo de Jesus, perceberam isso através
de exortações de seu evangelho, como rezar sem cessar, orar dia e noite, assiduidade
na oração e etc. Em simultâneo com isto, temos o desenvolvimento e expansão da

8
Trecho adaptado do livro: “A LAYMAN’S GUIDE TO THE LITURGY OF THE HOURS”
vida monástica, assim os monges e monjas trazem essa forma devocional para dentro
de seus mosteiros, desenvolve-se assim duas correntes de oração: Um para a Igreja
Secular e outro para o Ofício monástico.
Com os avanços da Igreja, a oração das horas passou quase que com
exclusividade a ser uma oração monástica – porém nunca inteiramente – pois a
responsabilidade do cuidado pastoral e litúrgico caiu todo para um presbítero, no
século XIII todo o clero passou por um curso monástico dos salmos; eles então – os
presbíteros – passaram a não ter tempo de fazer as orações publicamente;
começaram então a fazer a recita em particular; neste século, a obrigação de rezar,
que antes era sentida como dever de todos os cristãos, passava a ser dever pessoal
do clero – pois apenas eles conheciam os salmos, as orações e a língua em que se
recitava.
No século XV, surge o breviário em sua versão inicial, ele surge como uma
versão abreviada da oração diária, destinada aos sacerdotes; outro fator que também
atrapalhou o desenvolvimento da oração das horas, foi o surgimento da espiritualidade
chamada “devotio moderna”9, que via a oração comunitária como uma distração e
pregava a oração interior como melhor meio de se imitar a vivência de Cristo.
No século seguinte, século XVI, a forma de oração monástica se via chegando
a um nível de exaustão litúrgica, onde foi preciso que a Igreja reformasse seu ofício,
tornando a oração mais simples e o breviário mais adequado ao uso privado.
Na década de 1960, com a chegada do Concílio Vaticano II, é expresso o desejo de
que as principais horas do ofício – laudes, vésperas e completas – voltem a ser
celebradas em comunidade com o povo de Deus; para isso, permitindo o uso da língua
vernáculo em vez do latim.
A Liturgia das Horas é destinada a se tornar a
oração de todo o povo de Deus. Nela, o próprio
Cristo “continua a exercer sua função sacerdotal
por meio de sua Igreja”. […] Recomenda-se que os
próprios leigos recitem o Ofício Divino, ou

9
A devotio moderna surgiu entre os Irmãos e Irmãs da Vida Comum, no século XIV. Os Irmãos e Irmãs da Vida
Comum eram uma comunidade religiosa católica fundada por Gerard Groote (1340-1382), que pregava uma
piedade pessoal e reflexiva usando a Bíblia como recurso. O ideal da devotio moderna se fixou na obra
Imitação de Cristo, escrita "entre 1420 e 1440, por Tomás de Kempis, cônego regular, nascido em colônia, na
Alemanha, em 1380.
juntamente com os presbíteros, ou reunidos entre
si, ou até mesmo cada um individualmente”.10

Sua origem remete aos primórdios da comunidade cristã, assim nos levando a
rememorar como a Igreja primitiva rezava. Mesmo tendo passado por diversas
modificações no decurso do tempo, sua essência não foi perdida.

O SIGNIFICADO DE CADA HORA

Uma qualidade única da Liturgia das Horas é ser uma liturgia ao longo do dia.
Os batismos, casamentos, unções, por exemplo, ocorrem em um determinado
momento do dia, a Liturgia das Horas estende a oração litúrgica por todo o dia. Mesmo
que possamos empregar o termo “ofício divino”, usarmos “Liturgia das Horas” é um
termo melhor adequado, pois expressa com mais clareza a natureza desta oração. De
acordo com
“Clemente de Alexandria defendia que o verdadeiro
cristão deveria rezar assiduamente. Ele foi o
primeiro a testemunhar a prática, dentro de alguns
grupos, da oração das nove horas, das doze horas
e das quinze horas. Tertuliano foi o primeiro a
interpretar as três horas diurnas buscando os seus
fundamentos nas Sagradas Escrituras. Entretanto,
ele afirma que essas três horas não eram
obrigatórias; porém, ao lado dessas, existiam duas
horas legítimas de oração: a oração da manhã e a
oração da tarde e a oração da vigília. Já Hipólito de
Roma, na esteira de Tertuliano, defendia duas
horas legítimas de oração pela manhã e pela noite.
Todavia, na Tradição apostólica há outros

10
CCE, 1175.
momentos oracionais que os cristãos deveriam
fazer, mas de forma privada, como: antes de
dormir, à meia-noite, antes de se levantar, às nove
horas, às doze horas e às quinze-horas. Tanto
Tertuliano como Hipólito concordavam na
existência de seis horas: oração da manhã, oração
da tarde, as três orações diurnas e a vigília”.
(“Conhecer o Ano Litúrgico que vivenciamos, 2021,
pg.97)

Nenhuma hora canônica existe por simples acaso, por trás de cada uma
podemos encontrar um profundo significado:

Laudes Matutinas – louvores da manhã


“As Laudes matutinas têm por fim consagrar a Deus
os primeiros movimentos da nossa alma e do nosso
espírito, de modo a nada empreendermos antes de
nos alegrarmos com o pensamento de Deus,
segundo o que está escrito11: “Lembrei-me de
Deus, e enchi-me de alegria” (Salmo 76,4)
Somos chamados a rezar essa oração, apropriadamente, na transição entre
noite e dia, afim de consagrar a Deus nosso dia e nossos afazeres e qualquer
atividade que venhamos a desenvolver durante o dia. Uma curiosidade interessante é
que após as Laudes, seguia-se a Hora Prima, ou seja, a primeira hora após o nascer
do sol, porém essa hora deixou de existir com a reforma litúrgica12.
Hora Média – Terça, Sexta e Noa
Por serem consideradas horas menores, essas horas são chamadas de “Hora
Média”. Elas têm por objetivo santificar o decurso do dia. Os nomes dessas horas
fazem referência a como os judeus chamavam as horas a partir do nascer do sol;
terça, às 9h; sexta, ao meio-dia e noa – ou nona – às 15h. Remetem também a
momentos da história de nossa salvação; a descida do Espírito Santo em pentecostes,
às 9h; A crucificação do Senhor às 12h; e a morte do Senhor na Cruz às 15h. Segundo
a SACROSANCTUM CONCILIUM, apenas as comunidades com obrigatoriedade de

11
Cf. IGLH, 38.
12
Cf. SACROSANCTUM CONCILIUM 89d.
coro devem se ver obrigadas a rezar as três horas menores, as que não, devem
escolher apenas uma, aquela que mais lhe for conveniente.
Vésperas – a tarde, ao cerrar da noite
“O Senhor, assim como sol que se põe no
horizonte, amanhã voltará para nos iluminar e
alegrar nossa existência.”
Seja está celebrada no encontro entre dia e noite, as vésperas nos lembram a
fragilidade humana e a esperança de uma completa restauração em Deus; ela se torna
então uma oração de gratidão a Deus, por tudo que nos foi adquirido no decurso do
dia e por aquilo que Deus ainda nos dará no futuro.
Completas – Oração da noite
Essa oração, é a última do Ofício Divino, é a hora onde agradecemos a Deus
por nosso dia e pedimos a ele a graça de no próximo levantar; mas também, é uma
oração que nos prepara para a morte, não como algo terrível e assombroso, mas como
algo necessário para se acordar para a eternidade. Se torna então oração de profunda
entrega a Deus. E sempre a terminamos, nos entregando nos braços da Virgem Maria,
através da recita de orações em forma de poesia.

ESTRUTURA DA ORAÇÃO DAS HORAS

A Liturgia das Horas é regulada sob leis próprias, ela une em si diversos
elementos comuns a outras orações cristãs; sua estrutura geralmente contém: Hino,
salmodia, leitura – breve ou longa -, as preces – chamadas invocações nas Laudes e
Intercessões nas Vésperas.
Na celebração comum e na comunitária, podemos resumir a estrutura em uma
só: diálogo entre Deus e o homem; a celebração do Ofício Divino, deve ser feita,
prioritariamente, em comunidade.
Além do mais, convém que, rezada em coro ou comunidade, o Ofício seja
cantado quanto se é de direito
“A palavra de Cristo permaneça em vós em toda a
sua riqueza, para vos instruirdes e aconselhardes
uns aos outros com toda a sabedoria; e com
salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai de todo
o coração a Deus a vossa gratidão” (Col 3,16; cf. Ef
5,19-20).
A introdução de todo o ofício – ou seja, antes do Ofício das Comunidades, ou
Laudes - é, geralmente, formada pelo Invitatório; que se constitui pelo versículo – Abri,
Senhor, os meus lábios: E minha boca anunciará o vosso louvor – e pelo salmo 94.
“Este salmo é um convite dirigido todos os dias aos fiéis para que celebrem os
louvores de Deus e escutem a sua voz, e ao mesmo tempo uma exortação a
esperarem ‘o repouso do Senhor’” (IGLH, 34). Caso seja oportuno, pode-se substitui-
lo pelos salmos 99, 66 ou 23 – Caso um deles não esteja na salmodia corrente.
Os Ofícios iniciam sempre com o versículo – Vinde ó Deus em meu auxílio,
socorrei-me sem demora; ao qual se segue com Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito
Santo, como era no princípio agora e sempre, Amém! e fora do tempo da Quaresma
se diz o “Aleluia”; tudo isso, porém, se omite quando as Laudes são precedidas pelo
Invitatório.
Segue-se então com o hino respectivo. Este tem como função dar a cada hora
ou festa um maior sentido e também, tornar mais fácil e agradável o começo da
oração.
Após o hino, vem a salmodia. Os salmos das Laudes constam de um salmo
matinal, um cântico do Antigo Testamento e um salmo laudatório.
Na Hora Média, contém um duplo esquema de salmodia: uma corrente e uma
complementar – aqueles que rezam as três Horas Médias, em uma rezam a corrente
e nas demais horas as complementares, quem reza apenas uma das horas usará
sempre a corrente; a salmodia corrente contém três salmos – ou três secções de um
salmo mais extenso.
Nas Vésperas, conta com dois salmos – ou duas secções de um salmo mais
longo – e mais um cântico tirado das Epístolas ou do Apocalipse. A salmodia das
completas, nos domingos, depois das I Vésperas, utiliza-se dos salmos 4 e 133;
depois das II Vésperas utiliza-se o salmo 90. “Para os outros dias, foram escolhidos
salmos apropriados, que excitem sobretudo a confiança no Senhor. É, porém,
facultada a substituição destes salmos pelos do domingo, para comodidade,
principalmente, daqueles que desejem porventura rezar Completas de cor” (IGLH, 88).
Os salmos podem ser recitados de diferentes formas, seguindo seu gênero
literário ou sua extensão; conforme recitação feita em Latim ou vernáculo – língua
própria – e ainda em consoante ao modo de celebração – coro, individual ou
assembleia – Os salmos podem ser rezados em sequência direta ou alternando os
versículos – dísticos - ou as estrofes, quer entre dois coros, quer entre duas partes da
assembleia, ou ainda de forma responsorial. Ao princípio de cada salmo dir-se-á sua
respectiva antífona. Ao final de cada salmo se diz o habitual: Glória ao Pai e Como
era – Só não se diz ao final do Cântico Dn 3,57-88.56 – Os salmos mais extensos
podem vir divididos em várias secções; quando os salmos vierem marcados por esta
divisão em secções suas pausas devem ser marcadas recitando sua antífona e o
Glória ao Pai – ou, pode-se também rezar as secções e ao fim de todas dizer uma
única vez o Glória ao Pai e a Antífona respectiva do salmo inteiro.
Os salmos são divididos por um ciclo de quatro semanas, alguns são omitidos,
outros – mais conhecidos – nossa tradição tornou mais conhecidos e são repetidos
com mais frequência. Além disso, para Laudes e Vésperas, escolheu-se salmos
condizentes com a hora de suas celebrações; para as completas escolheu-se os
salmos 4 e 133, nas I vésperas e nas II vésperas o salmo 90, para os outros dias
escolheram-se salmos apropriados para que excitem sobretudo a confiança no
Senhor, porém pode-se fazer uso dos salmos do domingo.
Para a hora intermédia e domingos, foi se escolhido salmos que melhor
traduzam o mistério pascal. Para a sexta-feira, salmos penitenciais ou relacionados a
paixão de Cristo. Os salmos 77, 104 e 105 foram reservados para o tempo do advento,
Natal, quaresma e páscoa; por melhor nos trazerem a revelação da história da
salvação no Antigo Testamento.
Cada salmo, é acompanhado de sua respectiva antífona, mesmo caso se
celebre sem canto ou individualmente; elas servem para tornar mais claro o género
literário do salmo, o transformam em oração pessoal, as antífonas foram compostas
para poderem ser traduzidas em língua vernácula e também se repetir após cada
estrofe. No tempo comum, quando o ofício não for cantado, pode-se substituir as
antífonas pelas sentenças antepostas aos salmos.
Outrossim temos as coletas salmodicas, elas ajudam-nos a entender melhor os
salmos num sentido predominante cristão, vindas do Suplemento ao livro da Liturgia
das Horas, uma para cada salmo, podem ser usadas livremente de acordo com a
seguinte maneira: terminado o salmo, após uns momentos de silêncio, reza-se a
coleta, como que a resumir os afetos de quem salmodia a concluir sua oração.
A Leitura breve – ou longa – mais uma das partes de nosso ofício, é algo que
varia de acordo com o dia, tempo litúrgico ou a festa. Deve ser lida e escutada como
verdadeira proclamação da palavra de Deus. “onde se propõe, de forma incisiva, um
pensamento sagrado e é posta em relevo alguma frase mais breve que na leitura
contínua da Sagrada Escritura passaria despercebida”13.
Quando se celebrar com o povo, pode-se escolher uma leitura bíblica mais
longa tirada do Ofício da Leitura ou das leituras da Missa. Quando se celebra com o
povo, pode ser feita breve homilia ou comentário sobre a leitura, após pode-se guardar
breve silêncio – que visa plena ressonância da voz do Espírito Santo e nos unir mais
estreitamente a oração pessoal à palavra de Deus e à oração da Igreja, porém deve-
se ter cautela para que esse silêncio não se torne incomodo.
Além disso, como resposta à palavra de Deus, segue-se o canto responsorial
ou a recita do responsório breve, que também pode-se omitir ou ser substituto por
outro canto de função e características idênticas, desde que tenha aprovação da
Conferência Episcopal. O responsório funciona como uma resposta à leitura breve, à
maneira de aclamação, tem como finalidade fazer penetrar com maior profundidade a
palavra de Deus no espírito do ouvinte ou do leitor.
Seguidamente, diz o cântico evangélico com sua antífona própria: Nas Laudes,
o cântico de Zacarias, Benedictus; nas Vésperas, o cântico da B. Virgem Maria,
Magnificat e nas completas o Cântico de Simeão. As antífonas do Benedictus e do
Magnificat, variam conforme o dia, o tempo litúrgico ou a festa.
Após, segue-se: nas Laudes, as preces e consagrar o dia ao Senhor; nas
Vésperas, as súplicas de intercessão – nas quais, a última se faz sempre pelos fiéis
defuntos -, após isso, reza-se o Pai Nosso, em comunidade, após o Pai nosso, diz-se
a oração conclusiva, esta que, no Tempo Comum, vem do Saltério; para os outros
dias, no Próprio.
E por fim, em caso de presidência de um sacerdote ou diácono, faz-se a
despedida do povo, com a saudação O Senhor esteja convosco e a benção, e convida-
se para que vão em paz.

A LITURGIA DAS HORAS E SUA LIGAÇÃO COM A MISSA

Em alguns casos, quando as circunstâncias o pedirem, na celebração pública


ou comunitária, pode-se fazer uma ligação mais estreita da Missa com uma hora do

13
Cf. IGLH, 45.
Ofício, dentro de algumas normas. Deve-se evitar que isto resultem prejuízo do bem
pastoral, mormente aos domingos.
A exemplo das Laudes, celebradas em coro ou comum, a ação litúrgica pode
começar ou pelo versículo introdutório e o hino das Laudes, sobretudo nos dias feriais,
ou pelo canto e procissão de entrada e saudação do celebrante, principalmente nos
dias festivos. Em um ou outro caso, omite-se um dos dois ritos inicias. Após, segue-
se a salmodia das Laudes, ao fim da salmodia omite-se o ato penitencial e o Kýrie, diz
a glória, segundo as rubricas. E o celebrante recita a oração da Missa.
Em seguida continua-se com a Liturgia da palavra, como de costume. Depois
da comunhão, com o respectivo cântico, diz o Benedictus com sua antífona de Laudes.
Segue-se a oração depois da comunhão, e tudo o mais, como de costume. As demais
horas seguem-se da mesma forma, só ressaltasse nas Vésperas, que, não se pode
celebrar as primeiras Vésperas das solenidades, domingos e festas do Senhor que
ocorram ao domingo, senão depois da celebrada a Missa do dia anterior ou sábado.

OFÍCIO DIVINO DAS COMUNIDADES

Vale ressaltar um esforço da comunidade de liturgistas do Brasil, onde, com a


intenção de melhor introduzir o povo de Deus no mistério da oração e ensina-los o
valor da oração comunitária, criou um esquema oracional denominado Ofício Divino
das Comunidades, levando em conta a participação ativa, frutuosa e consciente de
toda a comunidade cristã. “O ofício foi construído levando em consideração o
conteúdo do Ano Litúrgico da Igreja, com todos os elementos que o compõem. “Por
isso, nele encontramos um esquema oracional adaptado a um grupo de cristãos que
muitas vezes não consegue fazer muitas paradas durante o dia para fazer chegar
por Cristo um louvor agradável ao Pai. Desse modo, oferece-se uma oração para a
manhã e outra para o cair da tarde, bem como um esquema de vigília para se
preparar o domingo ou os dias festivos”.14
Seu esquema oracional motiva uma oração pessoal antes da comunitária que
preferencialmente deve ser celebrada em comunidade ou família. Inicia-se então
com um canto de abertura, que se torna fácil por ser repetitivo, assim ajudando para
que todos se envolvam na oração. Seguida a abertura, fazemos memória da vida,

14
Cf. Conhecer o Ano Litúrgico que vivenciamos, pg. 112.
recordando fatos vividos pela comunidade, nome de quem queremos interceder e
realidade que evoquem a oração comunitária.
Após, a comunidade é chamada a cantar um hino. Porém, são hinos que não
tem origem bíblica – porém nascidos como expressão da fé de uma comunidade que
canta a Palavra de Deus em versos e prosas – a exemplo da Liturgia das Horas, o
Ofício Divino nos convida a oração dos salmos, assim também, através da escuta da
Palavra do Senhor, da meditação e pelo cântico evangélico, recordando-nos que
tudo tem seu princípio e fim, em Cristo. Reconhecendo ser necessitada da graça de
nosso Senhor, a comunidade faz também as preces; a oração se concluí com a
benção, que nos coloca em missão.
“A oração não termina com a benção, mas esse momento é sinal
de que somos chamados a viver como uma Igreja discípula-
missionária que encontra na oração uma grande fonte de
espiritualidade, um momento plausível para a geração de novos
discípulos e diálogo com o Senhor que todos os dias vem ao
nosso encontro”.

CONCLUSÃO

Como algo se remete às primeiras comunidades e também ao próprio modo


de rezar de Jesus, a Liturgia das Horas, vem para nossas comunidades como uma
forma de melhor viver e exercer nossa espiritualidade. Quando analisamos parte por
parte sua estrutura, passamos a entender sua profundidade e como melhor rezar; os
mistérios da oração do Ofício Divino, nos transportam aos mistérios da nossa fé
católica.
Estudá-lo e aprender como ele deve ser rezado, nos transporta à uma
comunhão com as primeiras comunidades, àquilo que eles rezavam, a forma como
viviam. Assim, nos inspirando e ensinando a forma verdadeira de ser cristão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Disponível em: <https://deepinmummymatters.com/the-history-of-liturgy-of-the-
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BRITANNICA, The Editors of Encyclopedia. Divine Office. BRITANNICA. Disponível
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GALLAGHER, O.M.V, FR. TIMOTHY M. Where Did We Get the Liturgy of the
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<https://catholicexchange.com/where-did-we-get-the-liturgy-of-the-hours/> Acesso
em: 06 mai. 2022.

ARNOSO, Rodrigo. Conhecer o Ano Litúrgico que vivenciamos / Pe. Rodrigo


Arnoso, Pe. Thiago Faccini Paro. Petrópolis, RJ: Vozes, 2021. – (Coleção Formação
Cristã).

LOWE, o.s.b., Sister Anita Louise. LITURGY OF THE HOURS: WHY, HISTORY,
DEVELOPMENT. OBLATES, Ferdinand, Indiana, p. 1-3, out, 2012.

CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. LITURGIA DAS HORAS. PAULINAS,


1994.

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