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Sinto muito... Carrie? Não estava olhando para onde ia. Se você
me der seu número, posso me desculpar adequadamente por
mensagem de texto, porque agora estamos atrasados.
Eu: Não se preocupe com essa coisa velha, já tive coisas piores
do que café derramado nela. Mas obrigada pela oferta.
Uma pequena pontada passa por mim sabendo que ele quer
continuar conversando depois de toda a coisa do pedido de
desculpas.
Eu: Não sou lésbica, mas isso não deveria importar para você,
senhor 'tenho uma namorada mas quero seu telefone mesmo assim'.
Eu: Melanie tem menos de 40 anos, mas não muito menos. Ok,
podemos passar o tempo, mas vamos tirar o óbvio do caminho, certo?
Jace: Certo. Estágio 2. Garganta. Você?
Tenho que evitar olhar meus peitos. Parece que toda vez que
falo sobre meus peitos, sou compelida a ter certeza de que eles
ainda estão lá. Mas, de alguma forma não acho que me sentir bem
agora seria a coisa apropriada a fazer, especialmente não com ele
me observando.
Rapidamente abro a tampa do meu laptop. Tenho que saber
quais são os números. E digito no Google câncer de garganta.
Oh, tudo bem. Vou perguntar por que não, mas ele me
surpreende com uma nova mensagem.
Ah não. Isso não é tão bom quanto o meu 93. Meu rosto cai.
Por outro lado, a maioria das pessoas nesta sala tem uma taxa de
sobrevivência de cinco anos muito menor do que essa.
Eu: Quem precisa de uma voz quando é tão bonito quanto você?
Jace: Sim.
Jace: Merda.
Jace: Ei, olhe pelo lado bom. Você vai ser a garota mais
gostosa, careca e sem peitos que já vi.
Ele ri baixinho.
Jace: Com o que você está preocupando seus lindos olhos azuis
agora?
Eu: Como você sabe que tenho olhos azuis, você está a seis
metros do outro lado da sala. Você está me perseguindo?
Eu: OMG, você está muito certo. As pessoas não querem dizer,
porque acham que vai nos ofender se disserem 'câncer'. Como se
fosse um tabu ou algo assim. Quero gritar para eles... CÂNCER,
CÂNCER, CÂNCER!
Eu: Não. Sou apenas uma garota com... espere por isso...
Câncer.
Eu: Sim, até agora tudo bem com a faculdade. Mas tive que
reduzir minhas horas de trabalho.
Olho para cima para vê-lo rir baixinho. Percebo neste instante
o quanto gostaria de ouvir sua risada.
Ele assente.
Nunca entendi muito a arte abstrata. Parecem apenas bolhas e
borrões para mim. Acho que sempre imaginei que arte abstrata era
um rótulo colocado na arte feita por pessoas que não tinham
talento suficiente para serem verdadeiros artistas.
Levanto meu dedo para indicar-lhe que ele precisa me dar um
minuto. Em seguida, encaminho o anexo para o meu e-mail para
que possa abri-lo na tela muito maior do meu laptop. Espio por
cima do meu laptop e vejo Jace esperando impacientemente pela
minha reação. Levo alguns minutos para examiná-la. Estou
tentando ver como todas as bolhas se conectam e se relacionam
com as outras bolhas quando me atinge.
Uau! Isso é bom. É uma pintura de um homem e uma mulher.
O homem está de joelhos, segurando a mão e olhando para a
mulher. Na superfície, parece que ele poderia estar lhe propondo.
Mas quando estudo mais a fundo, o significado mais profundo se
torna claro para mim.
Olho para Jace enquanto ele estende as mãos e dá de ombros.
Ele realmente quer saber o que acho disso. Rio para mim mesma
enquanto demoro muito mais do que o necessário digitando meu
texto.
Jace: Por que você não me diz o que acha que ela pensou?
Jace: Sim, isso foi meio estranho. É isso que você acha?
Balanço minha cabeça enquanto olho para a pintura no meu
laptop. Não, não é uma proposta. Esta não é uma pintura feliz.
Eu: Acho que é muito mais sombrio do que isso. Sei que todos
nós às vezes vemos o que queremos quando se trata de arte, mas
para mim, parece que a mulher está confusa ou infeliz e o homem
está sofrendo. Ele está tentando dizer algo a ela, mas não consegue
encontrar as palavras e fica frustrado.
Olho para Jace e parece que o sangue sumiu de seu rosto. Seu
queixo pode muito bem estar em seu colo e ele inclina a cabeça
para o lado e me estuda com as sobrancelhas desenhadas.
Eu: ???
Eu: Ah, sério? Quer dizer que estou certa? Ganho um prêmio ou
algo assim?
Sorrio e torço o nariz para ele. Ele ri silenciosamente para
mim. Então ele fecha os olhos e balança a cabeça como se estivesse
bravo consigo mesmo.
Eu: o quê?
Olho para ele como se ele fosse louco e giro meu dedo no ar ao
redor da minha orelha.
Jace: Keriiiiii...
Eu: Ok, ok. Arde quando faço xixi. Agora, antes que você pense
que tenho clamídia, verifiquei com meu médico e ele disse que é
perfeitamente normal e são apenas os produtos químicos saindo do
meu corpo.
Jace: Isso é bom. Diga-me outro.
Que diabos? Por que ele quer que eu liste os efeitos colaterais
da quimioterapia, ele não repassou tudo isso com seu médico?
Eu: não é? Até mesmo Tanner, por melhor que seja, não tem
palavras em torno do fato de que tenho que limpar o ralo do chuveiro
todas as manhãs. Como se não soubesse que acabei de puxar outro
punhado do meu cabelo do chão.
Jace: Não sei, teria que concordar com Tanner sobre isso. Você
parece bem. Estava realmente pensando em chegar aqui e ter que
esfregar sua cabeça careca para dar sorte ou algo assim.
Jace: Conte-me.
Não posso dizer quantas mensagens tive que enviar para ele
para contar toda a história. Com o limite de caracteres de
mensagens de texto, posso ter precisado de uma dúzia para lhe
contar tudo sobre meu dia inesperado no spa e depois as incríveis
notícias sobre meu aumento. O tempo todo em que falava sobre
isso, ele simplesmente se sentava e lia meus textos, cada um deles,
com um grande sorriso no rosto, como se estivesse genuinamente
feliz pela minha boa sorte quando ele, ele mesmo, está sentado lá
assistindo seu próprio corpo desmoronar diante de seus olhos.
Eu: o quê?
Não sei como responder ao seu texto. Acho que entendo o que
ele está dizendo. Também nunca conheci ninguém como ele. Ele é
tão honesto, tão pé no chão e real. Ele me entende. Eu o entendo.
Compartilhamos esse vínculo que outros podem não ser capazes de
entender.
Eu: Idem.
Eu: O que há com você e efeitos colaterais, você nunca fala com
seu oncologista?
Faço uma anotação mental para que o Dr. Olsen converse com
o médico de Jace.
Eu: Metal. Minha boca tem gosto de metal. É por isso que masco
chiclete aqui.
Pego minha bolsa e seguro meu pacote de Trident do tamanho
de um armazém.
Jace: Mais.
Olho para ele e ele não parece feliz enquanto gira um dedo no
ar para me fazer continuar. O cara não se cansa.
Não quero olhar para Jace. Sei o que verei. É o que costumava
ver em todos quando contava. Pobre pequena órfã Keri. Então agora
não lhes conto. Dessa forma, eles manterão sua piedade para si
mesmo. As pessoas já sentem pena o suficiente sem saber disso
sobre mim.
Jace: Como é?
Olho para ele confusa.
Eu: É como tentar respirar sem ter ar. É como andar em uma
esteira e não conseguir avançar. Ainda não consigo me acostumar a
viver em um mundo onde eles não existem. Acordo e faço o que
preciso de manhã até a noite e depois faço de novo no dia seguinte.
Mas funciona para mim. E Tanner está lá para ajudar.
Melanie: Você sabe que todos nós pensamos que você e Jace
estão se dando bem quando não estão aqui, certo?
Minha boca cai aberta e inclino minha cabeça para o lado para
olhar para ela.
— Mel, — sussurro em voz alta sobre Grace, que nos separa.
— Não é desse jeito. Ele tem uma namorada. Você a viu outro dia.
Melanie e Grace olham para mim com as sobrancelhas
levantadas como se as estivesse alimentando com um monte de
porcaria.
— Realmente, nós apenas conversamos... hum, por
mensagens de texto. Não nos vemos nem mandamos mensagens
fora da clínica.
— Mmm hmm, — Grace murmura e reviro os olhos para elas.
Olhar para a peruca de Grace me faz lembrar do boné que
Kimberly me deu, então pego e tiro da minha bolsa, explicando para
as duas como ele chegou em minhas mãos. Elas adoram a história
e insistem que o use quando estou aqui. Bem, prometi a Kimberly.
Então coloco na minha cabeça.
Rio.
Eu: Lide com isso. Vai ficar.
Jace: Não, você não sabe disso. Isso é o que te faz tão grande.
Eu: Você? Você as enviou. Mas por quê? Você mal a conhece.
Aceno para ele. Nunca ouvi o homem falar. Nunca bebi com
ele, se você não contar o café que ele me deu no primeiro dia. Não o
conheço fora das quatro paredes desta clínica. Mas uma coisa é
certa, Jace roubou meu coração. Outra coisa é certa. Estou em um
mundo de sofrimento.
Capítulo Cinco
Eu: Oi Esquelético.
Eu: Você está careca? A única coisa que vejo é que você é um
traidor. Dolphins... realmente?
Jace: Fui para a Universidade de Miami então meio que ficou
comigo. Fui a muitos jogos profissionais quando morava lá.
Eu: Acho que vou te dar um desconto. Só desta vez, mas talvez
tenha que te comprar um boné diferente.
Jace: Ah, ela disse, não é? E por que Kimberly sabe que eu
estava perdendo meu cabelo? Na verdade, por que Kimberly sabe
sobre mim?
Oh droga. Estou tão presa. Por que tive que abrir minha boca
grande? Agora ele sabe que falo sobre ele. E para uma criança de
doze anos, de todas as pessoas.
Eu: Hum, ela estava tendo problemas com garotos, então tentei
fazê-la se sentir melhor.
Meu rosto deve estar tão vermelho agora que estou surpresa
que Stacy não está correndo até aqui para tomar meus sinais vitais.
Nem tenho certeza do que posso dizer para me recuperar disso.
Saio do meu transe e tiro uma foto dele com meu telefone.
Olho para a foto e sei imediatamente que esta será a minha foto
favorita de todas que já tirei.
Espero que ele tire o chapéu feio e o devolva para mim, mas
ele continua usando e não posso deixar de rir de sua humildade.
Meu coração está se expandindo com sentimentos por este homem
e é melhor eu fazer algo rápido para esmagá-los.
Jace: Ela está tendo dificuldades com isso. Queria que ela
raspasse minha cabeça para que pudesse se sentir parte disso
comigo, mas ela recusou. Mas não acho que seja o cabelo, ou a falta
dele, que ela está tendo mais dificuldade. É o tubo-G.
Jace: Um... Keri... por que você está tocando seus seios?
Olho para baixo com horror ao ver que estava apalpando meus
seios distraidamente enquanto pensava no dia em que recebi o meu
diagnóstico. Devo ficar dez tons de vermelho porque meu rosto está
pegando fogo. Recuso-me a olhar para Jace do outro lado da sala.
Ele olha para mim como se não tivesse certeza se queria ter
essa conversa. Mas então ele respira fundo e se compromete com
isso.
Balanço minha cabeça para ele. Por que ele continua dizendo
coisas assim quando tem uma namorada? Ele está brincando com
minhas emoções. Ou talvez eu esteja simplesmente lendo coisas
que não deveria. Tanner brinca com outras garotas o tempo todo,
assim como Jace brinca comigo. Talvez todos os caras sejam assim.
Será que ele sequer faz a menor ideia de como realmente me sinto
sobre ele? Espero que não, porque talvez ele parasse com isso, seja
lá o que for. E mesmo sabendo que vai me machucar no final, acho
que nunca quis nada além de continuar assim.
Jace: Bem?
Jace: Pode ser. Mas é isso que você realmente acha que é?
Jace: Não. Não sou bipolar. Apenas sentindo coisas que não
deveria. Coisas que não posso sentir.
Eu: sim.
Eu: sim.
Jace: Mas sinto essa conexão intensa com você.
Eu: sim.
Eu: Às vezes meu xixi fica vermelho por alguns dias após a
quimioterapia. Ah, e minhas unhas são quebradiças e escamosas e
parecem as de uma velha. E meus lábios, eles ficam tão rachados
que sinto como se estivesse no sol por dias sem água. Eca, quero
dizer, quem iria querer me beijar?
Sorrio para ele, mas é um sorriso fraco. Sei que ele sofre
muitos dos mesmos efeitos colaterais e cavalos selvagens não
poderiam me impedir de beijar seus lábios secos e rachados se
tivesse a chance.
Sorrio para ele depois de ler seu texto. O estudo e noto que
suas bochechas se encheram um pouco e ele não está tão pálido.
Ele obviamente está ganhando peso graças ao seu novo tubo de
alimentação. E ele ainda usa aquele boné traidor dos Dolphins.
Eu: Você não gostaria de saber o que ela está me dizendo?
Seus segredos mais profundos e sombrios, talvez? Ah, e Gorducho...
você pode tirar o boné. Você não precisa dele de qualquer maneira.
Jace: Gorducho?
Jace: Gorducho?
Olho para ele e ele sorri para mim e então dá de ombros. Olho
em seus olhos. Mesmo a seis metros do outro lado da sala, posso
ver o verde brilhante de suas íris. Sua mensagem pode ter dito que
ele não enviou, mas seus olhos, eles estão me dizendo algo
completamente diferente.
Eu: Você nunca fala sobre seus pais. É porque os meus estão
mortos e você não quer me fazer sentir mal? Porque não há problema
em me falar sobre eles.
Jace: Acho que eu diria que eles são ostensivos. E isso pode ser
pouco. Não me interprete mal, eu os amo. E sei que eles me amam, à
sua maneira narcisista. Vamos apenas dizer que minha mãe não veio
hoje porque tinha uma reunião importante com seu clube de
jardinagem. Não que ela cuide de plantas. Na verdade, nunca a vi
nem mesmo lascando uma unha. Mas ela faz isso para ser social. E
meu pai... viajando para um longo fim de semana de golfe com seus
chamados amigos que na verdade são apenas companheiros
narcisistas.
Eu: Você definitivamente é adotado.
Eu: Que bom que ela está bem. Acho que todos nós ficamos um
pouco traumatizados com isso. Espero que Steven fique bem. Ele está
tão doente. E se... e se...
Ele acha que estou preocupada comigo mesma. Ele não faz
ideia, não é? Não faz ideia de que a razão do meu coração bater é
porque ele está sentado na minha frente. Releio o texto dele. Juntos,
sei que ele está falando sobre a quimioterapia, sobre nosso câncer.
Mas só por um segundo, me pergunto se não há um significado
mais profundo.
Eu: Ok.
Eu: Foi muito legal o que você fez para Morgan no aniversário
dela.
Jace: Sinto muito que você teve que sentar durante toda a
regurgitação da noite.
Aceno com a cabeça. Sei onde ele está indo com isso.
Olho para ele preparada para ver a pena em seus olhos. Mas,
em vez disso, vejo preocupação. E então ele sorri para mim. O
sorriso praticamente toca seus olhos e faz o verde neles quase
brilhar. Então ele estende a mão e tira o boné de beisebol da cabeça
e o enfia de volta no bolso. Sei que ele não estava usando para si
mesmo; estava usando para Morgan. Ele está disposto a se levantar
e mostrar ao mundo que as coisas que acontecem com ele não o
definem. Ele me dá o incentivo para continuar.
Jace: Não. Não estou bem. Não posso me sentir assim. Estou
tão confuso, Keri.
Suas emoções são tão cruas. Ele não precisa explicar. Sei o
que ele quer dizer. Preciso parar o que quer que esteja fazendo para
deixa-lo se sentir assim. Preciso lhe dar espaço para amar Morgan.
Ela é a namorada dele. E eu continuo cruzando a linha.
Eu: Está tudo bem, Jace. Não há problema em amar Morgan.
Eu entendo. Você não precisa se preocupar comigo.
Eu: Ok, então você sabe como às vezes faço xixi vermelho
depois da quimioterapia, certo? Bem, o que não te disse é que de vez
em quando faço xixi no chuveiro.
Jace: O que?!
Olho para cima para vê-lo ler o texto e então seu rosto cai
levemente enquanto ele respira fundo.
Jace: Você disse que ele sabe sobre o seu cabelo no ralo, então
assumi que vocês compartilhavam.
Jace: Keri, o que aconteceu com você? Você está bem? Qual
traseiro tenho que chutar? Não o de Tanner certo?
Jace: Devemos fazer algo por ele. Talvez mandar-lhe uma boa
refeição se ele puder comer. A comida do hospital é uma merda.
Eu: Por que você está sempre sendo tão legal com estranhos?
Espanta-me as coisas que você quer fazer por essas pessoas que
nem conhece.
Ele sorri ao ler o texto. Ele estuda meu rosto por um minuto e
então morde o lábio inferior com os dentes e revira os olhos de um
lado para o outro como se estivesse contemplando alguma coisa.
Jace: Eu sei o quanto isso é caro, ainda mais para você com a
armazenagem dos óvulos.
Jace: Keri, não sinto pena de você. E você está louca? Não ligue
para eles, apenas agradeça a suas estrelas da sorte. Tem certeza de
que Tanner é apenas seu colega de quarto?
Eu: Sim!
Eu: Jace, onde você está? Você está bem? Você deve ligar se
perder uma sessão, é a regra número um. Por favor, deixe-me saber
se você ainda está vivo. Desculpe-me, sei que não deveria te mandar
mensagem, mas acho que não posso ir para casa até saber que você
está bem.
Verifico meu relógio. Já se passaram trinta minutos desde que
enviei a mensagem. Minha cabeça cai para frente. Ouço os gritos
excitados de crianças correndo do carro de seus pais para
encontrar seu barco. Levanto a cabeça para ver o pai deles
carregando um grande cooler e a mãe, uma bolsa de praia cheia de
toalhas e brinquedos. Os observo descer a rampa até o cais, subir a
bordo de seu barco particular, prepará-lo e navegar alegremente
para longe da agitação da rua paralela à marina. Oh, o que eu daria
para ser uma dessas crianças agora.
Olho para o meu telefone novamente. Já quebrei a regra, violei
o acordo, então o que outro texto importa?
Ei, você ligou para Jace. Obviamente, não posso atender agora.
Provavelmente estou pintando do loft. Talvez Jules tenha me
mandado fazer alguma tarefa ridícula do seu hobby da semana. Ou
posso estar trabalhando na fundação. Quem sabe? Mas se você
puder me deixar uma mensagem, ligarei de volta. Talvez não hoje,
mas provavelmente em algum momento desta semana, ou pelo
menos assim que chegar...
Leio a mensagem dele três vezes. Ele está bem. Não morto na
beira de uma estrada. Não deitado no hospital. Nem mesmo com
gripe. Graças a Deus.
As regras não se aplicam a nós? O que isso significa? Regras
sobre não enviar mensagens de texto fora da quimioterapia? Regras
sobre ele ter sentimentos por mim? Regras sobre ligar se perder a
quimioterapia? Simplesmente não entendo.
Morgan terminou com ele? Não posso imaginar isso. Eles estão
juntos há uns cinco ou seis anos e ela vai e termina tudo porque ele
tem câncer. Quem faz isso? Morgan adorável. Ele pintou uma
imagem tão boa dela. Ela parecia tão genuinamente legal, me
trazendo café e me dando seu número, me pedindo para cuidar de
Jace.
Morgan terminou com ele! Mesmo na minha náusea, uma
pequena voz grita comigo na minha cabeça. Sim!
Espere, não. Não posso estar animada com isso. Ela terminou
com ele. Ela partiu seu coração e ele provavelmente está em um
mundo de dor. Ele quebrou seu telefone por causa dela. Ele não
pode começar outro relacionamento. Se o fizesse, nada de bom viria
disso, seria um relacionamento para superar o anterior. E não sou
a garota ‘superação’ de ninguém.
Penduro minha cabeça. Por que ele não poderia ter terminado
com ela? Não, isso não é bom. Outra onda de náusea me atinge e
vomito por mais algumas horas.
Mais tarde, na cama, a exaustão se instala, mas digito uma
resposta para Jace de qualquer maneira.
Eu: Que bom que você está bem. Não deixe acontecer
novamente. O que vai fazer sobre o seu ciclo perdido?
Jace: Ah, Keri. Isso é horrível. Sinto muito por ouvir isso. Mas
ele estava muito doente. Isso não vai acontecer conosco. Devíamos
enviar algo para a família dele. Não é à toa que você ficou tão
assustada quando não apareci.
Eu: Você também. Como você está? Quero dizer, você está indo
bem?
Eu: Ok, então amigo. Posso ver que você parece mais saudável
hoje. Estou feliz por isso. Mas, sim, quero saber como está depois do
seu termino.
Jace: Não vou mentir e dizer que tem sido fácil. Estávamos
juntos há anos, éramos amigos antes disso. Ela está mantendo
distância. Meus pais estão lívidos, eles me disseram que tenho que
fazer o que for preciso para recuperá-la. Mas qual é o ponto se ela
não pode lidar com tudo isso? Acho que talvez ela volte assim que a
quimioterapia terminar e eu começar a ficar mais forte e parecer
normal novamente.
Jace: Sei o que você está pensando, Keri. Mas não. Morgan é
uma ótima garota. É só que algumas pessoas não são capazes de
lidar com coisas assim. Ela não é tão forte quanto você. Mas isso não
a torna uma pessoa ruim.
Eu: Lamento que você esteja passando por isso. Quero dizer, ter
câncer é ruim o suficiente sem precisar lidar com uma separação.
Tenho certeza que tudo vai correr para o melhor.
Jace: Ah, sério? E por que Tanner tiraria uma folga para fazer
isso?
Eu: Desculpe. Bem, ele meio que olha meus textos. Todos eles.
O tempo todo. Ele não tem limites.
Oh, certo. Acho que ainda não lhe contei que Tanner é gay.
Contemplo não dizer nada, mas isso realmente não importa no
esquema geral das coisas. Apesar do que Jules me disse, ele não me
quer. Ele não poderia ficar sentado pensando em me mandar uma
mensagem. Ele só quer Morgan. Ele mesmo disse, somos apenas
amigos.
Jace: Não. Não, você não mencionou isso. Então, quando posso
conhecê-lo?
Eu: Bem, ele não pode voltar aqui. Ele já tirou folga na
segunda-feira de manhã e não pode perder mais horas de seu
trabalho temporário ou vão demiti-lo.
Olho para ele enquanto a culpa toma conta de seu rosto. Sei
que ele se sente péssimo por ter perdido sua sessão, especialmente
depois de descobrir sobre Steven. Pergunto-me se ele vai saber quão
completamente destruída eu fiquei quando ele não apareceu.
Eu: Mas você sempre pode vir ao Triple J alguma noite para
conhecê-lo. Trabalhamos todas as noites de fim de semana juntos.
Ele parece desconfortável com o que acabei de dizer. Como sou
estúpida, ele acha que estou lhe pedindo para sair comigo
socialmente?
Jace: Por que eu iria querer conhecê-lo quando você não está
por perto para nos apresentar? Adoraria passar lá e te ver trabalhar.
Vou ter que verificar minha agenda.
Eu: Acho que um café seria bom. Não te deixa mais enjoado?
Jace: Não, não mais. Isso foi apenas quando meu estômago
estava vazio e eu não conseguia manter a comida no estômago.
Estou melhor agora.
Droga! Por que fui tão legal com ela? Por que lhe dei todos os
detalhes? Talvez para que ela não pergunte a ele diretamente. Luto
com o que vou dizer a Jace na próxima vez que conversarmos. Não
devo lealdade a Morgan, especialmente depois do que ela fez. Nós
duas amamos o mesmo homem. Mas se não disser a ele, serei
egoísta? Ele a ama e gostaria de saber que ela está perguntando
sobre ele.
A Segunda-feira Insana está em plena floração. O lado bom é
que só tenho mais dois ciclos depois disso. Cheguei até aqui. A luz
no fim do túnel está me chamando. Eu posso fazer isso.
Estou deitada no travesseiro, com uma toalha fria grudada na
cabeça, tentando segurar a água que acabei de beber. Estou
olhando para o canto da banheira onde meu telefone está exibindo
aquela foto maravilhosamente horrível de Jace, quando uma
mensagem de texto aparece. Alcanço e puxo o telefone para mim.
Jace: Não sei por que não pensei nisso antes. Mas toda
segunda-feira à noite, quando vomito, juro que não vou voltar para a
quimioterapia. E a única razão de voltar é por sua causa. Você me
faz passar pela quimioterapia. Então pensei que talvez se você
estivesse disposta a isso, poderíamos tentar ajudar um ao outro
passar por isso também?
Jace: Se você fosse qualquer outra pessoa, diria que está cheia
de merda, me alimentando com ouro de tolo porque sabe que
trabalho para uma fundação de caridade. Mas, acredito que é
exatamente o que você faria com ele. Já te disse ultimamente o quão
grande acho que você é? Obrigado por me ajudar com isso.
Eu: Idem. Não tenho certeza se teria chegado tão longe sozinha.
Não tenho notícias dele por mais meia hora ou mais, enquanto
cada um de nós luta com nossas ondas intermitentes de vômito.
Continuamos assim a noite toda, períodos de mensagens de texto e
depois não. E isso torna um pouco mais suportável. Qual é aquele
ditado... 'a miséria adora companhia?' É tão verdadeiro.
Quando atinjo a marca de cinco horas, sei que estou quase
terminando. Minha garganta está dolorida, meus abdominais
parecem ter passado por um treino matador, até meus dentes
doem. E quando a exaustão se instala, envio a ele uma última
mensagem.
Eu: Mesma hora na próxima semana?
Jace: Keri, você não precisa fazer isso. Por favor, não se sinta
obrigada a fazer nada por mim. Realmente não esperava que você
fizesse isso.
Alívio passa por mim e mal posso conter minha emoção com a
certeza de que vamos passar quase dois dias inteiros juntos.
Eu: combinado.
Jace: Elas não estão escondidas, são tão claras quanto seus
lindos olhos azuis. Se você simplesmente souber o que procurar.
Ele pega minha mão e me puxa pela calçada. O jeito que ele
está segurando minha mão não é muito íntimo, nossos dedos não
estão entrelaçados, mas isso não impede que a eletricidade suba
pelo meu braço, direto no meu peito. Na bilheteria, ele solta minha
mão para pegar sua carteira. Balanço minha cabeça para ele e digo:
— Não. Este é por minha conta. Você tem que me deixar pagar. — É
apenas uma taxa de entrada de dez dólares. Cinco se mostrar
minha carteira de estudante. Não é como se tivesse comprado para
ele um dia de spa ou um gigantesco arranjo de flores ou algo assim.
Ele me olha como se eu fosse louca por sequer pensar em
pagar.
— Por favor? — Peço. — Deixe-me fazer isso. Recebi gorjetas
inacreditáveis neste fim de semana. Vou deixa-lo pagar na próxima
semana.
Ele sorri para mim e simplesmente balança a cabeça em
concordância.
Passamos cerca de uma hora examinando as esculturas,
pinturas, cerâmicas e fotografias. Acho que pensei que um museu
de arte teria simplesmente um monte de quadros nas paredes. Jace
fica tão animado me mandando mensagens sobre cerâmica antiga.
Aparentemente, ele fez um curso sobre isso na faculdade. Nunca
soube que existiam tantas classes de potes artesanais, aqui
organizados por estilos de design e propósito. Vemos muitas
pinturas abstratas e estou tão confusa quanto achei que estaria.
Como é que só consigo entender a arte dele?
De repente e sem aviso, um alarme soa no alto. Perfura
minhas orelhas e enfia uma faca direto no meu coração. É tão alto
que ultrapassa até mesmo o som do sangue bombeando pelos meus
ouvidos. Um alarme de incêndio. Então, através do meu puro
pânico, ouço a voz de uma mulher falando em um alto-falante. —
Senhoras e senhores, por favor, sigam as placas até a saída mais
próxima e saiam imediatamente do prédio. Tenho certeza de que
não há perigo imediato, mas há um pequeno incêndio em nossa
sala de controle principal no porão. Mais uma vez, sigam as
indicações para a saída mais próxima e saiam do edifício
imediatamente. Se precisarem de ajuda, por favor, encontrem um
funcionário com colete vermelho e eles ajudarão.
Estou completamente inconsciente do meu entorno. Meus
instintos me dizem para correr, sair o mais rápido possível, mas
minhas pernas não estão tomando as direções do meu cérebro e me
vejo encolhida em um canto, tremendo incontrolavelmente e à beira
de desmaiar porque estou hiperventilando. Braços fortes vêm ao
meu redor e me levantam, me carregando através de uma escada
mal iluminada e para a luz do sol.
Algum tempo depois, não posso dizer se passaram apenas
minutos ou horas, ainda estou nos braços de Jace e estamos
sentados em um banco do parque em frente ao museu. As pessoas
estão olhando. Pergunto-me se viram meu ataque de pânico. Olho
para Jace e espero que ele fique desapontado comigo por esse
comportamento infantil, mas tudo que vejo quando olho em seus
olhos verdes sedutores é um homem carinhoso e compassivo.
Ele se aproxima e sussurra no meu ouvido: — Keri, você está
bem?
Tenho certeza que devo parecer um fantasma. Posso sentir a
umidade em minhas bochechas e meu rímel deve estar
terrivelmente manchado. Então vejo que devo ter enxugado meu
rosto na camisa de Jace e estou absolutamente horrorizada com as
marcas pretas manchando sua bela polo.
— Jace, sinto muito. Arruinei sua camisa. — Fecho os olhos e
respiro fundo. Então relutantemente saio de seu colo e me sento ao
lado dele no banco para que ele possa tirar o telefone do jeans.
Ele olha para mim enquanto leio seu texto. Então acena com a
cabeça para mim e estende a mão para eu pegar enquanto me
ajuda a levantar da cadeira. Ele me leva até a sala de estar do loft,
onde há uma enorme lareira e uma parede de tijolos expostos. Ele
aponta para a pintura sobre a lareira e me viro para olhar para ela.
É uma grande pintura abstrata, provavelmente mais de um
metro de largura e pelo menos tão alta. As cores que ele usou são
incrivelmente brilhantes. Os amarelos, laranjas e vermelhos ao
fundo parecem um glorioso pôr-do-sol e, em primeiro plano, a
silhueta de um homem carregando uma mulher.
Quando isso me atinge, tropeço para trás, grata por haver um
sofá logo atrás de mim para amortecer minha queda. Jace pintou
um retrato meu. Oito anos antes de nos conhecermos, ele pintou
um retrato meu. Uma foto que tem uma posição de destaque em
sua casa. Uma foto minha, aos dezesseis anos, sendo carregada por
um bombeiro para fora da minha casa em chamas.
Olho para a pintura agora embaçada através das minhas
lágrimas. A respiração faz cócegas no meu pescoço quando ouço as
palavras sussurradas de Jace: — Mais profundo que o câncer, Keri.
Viro-me para olhar para ele com total descrença, mas ele está
digitando em seu telefone.
Jace: Keri, penso na garota desta pintura todos os dias há oito
anos. Senti uma conexão com ela. Com você. De alguma forma, nem
me choca que ela seja você. Eu sabia que compartilhávamos algo
mais. Você foi minha inspiração. Você me colocou na pintura. Quando
estou com pena de mim mesmo, olho para ela e penso no que a
garota da pintura teve que suportar e isso torna meus problemas
insignificantes em comparação. Foi você, essa foto, sua história que
me fez ir em frente com a cirurgia e a quimioterapia, mesmo quando
eu não queria. Então, veja, você me salvou Keri.
Eu: Você sabe que ele leu. E sim, ele quer te conhecer. Se ainda
estiver tudo bem com você.
Jace: Na verdade, é por isso que estou te mandando
mensagens. Queria ver se estava tudo bem se eu passasse pelo
clube no domingo.
Eu: Domingo é um ótimo momento para vir. Não tão cheio e meu
chefe não estará por perto.
Não sei por que estou tão nervosa. Sou bartender há três anos,
então posso fazer bebidas enquanto durmo. Mas hoje, troquei de
roupa três vezes, encontrando exatamente a camisa Triple J certa –
a um pouco indecente que, quando combinada com meu sutiã
Wonder, costuma trazer mais gorjetas do que o normal. Combinei
com o jeans perfeito, meu favorito jeans desgastado. Aquele que faz
minha bunda parecer fabulosa. Aquele em que Jace derramou meu
café com leite. Ele virá aqui esta noite para conhecer Tanner e
minhas mãos estão tremendo tanto que tenho medo de derrubar a
bebida de alguém. Por que sinto que meu pai vai encontrar meu
namorado pela primeira vez?
Acho que é porque Tanner é a coisa mais próxima de família
que tenho e Jace é a coisa mais próxima de um namorado. Nos
meus sonhos, ele é meu namorado. Em meus sonhos, ele me tira do
chão, me leva para seu loft e faz amor apaixonado comigo na frente
daquela sua enorme lareira – sob a pintura que cimenta nosso
vínculo. Mas meus sonhos são o único lugar que permitirei que isso
aconteça. Sei onde está o coração dele. E sei que se me permitisse
ter um relacionamento físico com ele, isso me destruiria. Ele não é o
tipo de homem com quem você pode dormir e superar. Ele é o tipo
de homem com quem você se casa. Ele é o tipo de homem com
quem você compara todos os outros homens. Meu medo é que
nunca vou encontrar um que se iguale.
Tanner levanta uma sobrancelha para mim quando Shana me
devolve uma segunda bebida que fiz incorretamente. — O que? —
Eu a pego, inclinando minhas costas contra o bar.
Ele ergue as mãos em sinal de rendição. — Nada. Mas você
meio que parece no limite esta noite. Está realmente tão nervosa
por eu conhecê-lo?
— Sim. Não. Não sei. —Solto um suspiro enquanto olho para o
teto. — É só que não o vejo desde que nos beijamos na semana
passada e não quero que seja tudo estranho quando nos
encontrarmos.
Tanner fica com um sorriso no rosto. — Quer dizer estranho
como se ele estivesse atrás de você agora ouvindo tudo o que
acabou de dizer?
Meus olhos se arregalam e meu rosto esquenta quando olho
no espelho atrás do bar e vejo que Jace está sentado em um
banquinho, bem atrás de mim do outro lado do balcão. Tanner me
dá um aperto no braço em apoio e me vira para encarar Jace, o que
é uma coisa boa porque acho que estou muito mortificada para
mover minhas próprias pernas.
Jace tem um sorriso enorme no rosto quando os apresento. —
Jace, este é meu colega de quarto, Tanner. Tanner, este é o meu,
hum... amigo Jace. — Ambos riem da minha estranheza, fazendo-
me corar ainda mais.
— Prazer em finalmente conhecê-lo Jace, — diz Tanner,
apertando sua mão. — Ei, se você quer conversar, venha para o
meu lado do bar, este é o lado de Keri. Quer mandar uma
mensagem para o meu telefone? — Jace assente para ele e Tanner
rabisca seu número em um guardanapo. Jace então levanta o dedo
deixando Tanner saber que vai terminar em um minuto. Então ele
pega o telefone e começa a digitar.
Jace: É bom te ver. Você está ótima por sinal. Não vamos
deixar as coisas ficarem estranhas. Amigos, certo?
Jace: Então, como amigo, sinto que posso te dizer isso. Toda
vez que você se abaixa para pegar alguma coisa daquela geladeira
de cerveja, não consigo deixar de me lembrar do café com leite que
derrubei nesse jeans. Estou feliz por ter mandado lavá-lo. Seria uma
pena desperdiçá-lo. Ah, e aqueles caras do outro lado do bar...
acredite em mim, eles notaram, também.
Jace: Não, não vamos, mas ainda tenho sentimentos por ela.
Jace: Sinto muito. Não quis te ignorar o tempo todo. Vim aqui
para te apoiar e perdi completamente a noção do tempo conversando
com Dylan.
Jace: Não mais do que você, Keri. Não é diferente do que você
fez com Tyler no outro dia. Acho que nós dois somos da mesma
espécie.
Ele lê e acena com a cabeça. Ele sabe o que isso significa. Ele
entende como me sinto. Não são necessárias explicações entre nós.
Ele me entende.
A interrupção de Stacy é bem-vinda, pois ela vem me
desconectar pela última vez. Quando ela puxa o cateter do meu
braço, sinto que cruzei a linha de chegada. Estou tomada pela
emoção e olho para Jace. Ele acena para mim novamente. Ele
também entende isso. Dois da mesma espécie.
Depois de me despedir e ler o cartão de formatura que todos
assinaram, Jace me leva para fora da clínica. Mas em vez de me
levar para o estacionamento, ele me puxa na direção oposta, em
direção à marina. Meus olhos se arregalam e minha respiração
acelera. Ele alugou um barco? Olho para ele e ele dá de ombros
para mim e parece bastante nervoso. Descemos o cais, passando
por todos os tipos de barcos e minha excitação aumenta enquanto
tento descobrir em qual vamos subir. À medida que continuamos
andando pelo cais, os barcos ficam cada vez maiores. Na verdade,
passamos pelos barcos e agora entramos nos iates. Acho que talvez
não andemos de barco, mas talvez ele esteja me levando até o final
do cais para que possamos pescar ou algo assim.
Sim, deve ser isso que está acontecendo. Chegamos ao final do
cais e ele para, junto a um dos iates mais bonitos daqui, deve ter
quinze metros de comprimento. Ele se abaixa e aperta minha mão.
Então ele aponta para o iate. Olho para ele em confusão e então
viro minha cabeça para olhar para o navio extraordinário. Pelo que
posso dizer, tem três decks. Admiro a beleza de tudo, espantada
que as pessoas possam ter tamanha extravagância. Pergunto-me se
ele conhece alguém que o emprestou para ele por um dia. Então
olho para a parte de trás do iate, onde está o nome, e meu mundo
desaba. Em questão de segundos, tudo faz sentido. O dia do spa, os
presentes para todos na clínica, meu aumento e as gorjetas
incríveis que tenho recebido. Penso nas horas e horas de conversas
que tivemos. Ele já me disse seu nome completo? Eu perguntei?
Como nos conhecemos há meses sem que isso tenha acontecido?
Como posso ter esses sentimentos intensos por ele sem sequer
saber seu nome completo? No entanto, é óbvio para mim quando
vejo as letras azuis brilhantes na parte de trás do iate.
The Double J.
Viro-me e grito para ele: — Jarrett? Seu sobrenome é Jarrett?
Capítulo Dezenove
Leio seus textos e entendo o que ele está dizendo. Não digo às
pessoas que sou órfã por causa da maneira como elas reagem a
mim. Isso é diferente de ele não contar às pessoas sobre sua
riqueza porque não quer que isso o defina? Ainda assim, não
desculpa o fato de que ele gastou tanto dinheiro comigo.
— Mas o dinheiro, Jace. Sei que foi você que me deu o
aumento. Você é meu chefe? E todas as gorjetas... o que, você fez as
pessoas entrarem e colocarem dinheiro no pote de gorjetas por
você? — Então me dou conta, foi exatamente isso que ele fez.
Lembro-me de dois caras em particular, logo depois que disse a
Jace onde trabalhava, que vieram ao clube e fizeram todo tipo de
pergunta e depois deixaram uma gorjeta ridícula.
Jace: Não sou seu chefe, Keri. Meu pai é dono do clube. Apenas
sugeri que Mike revisasse seu arquivo e quando o fez, ele tomou sua
própria decisão de dar a você e Tanner aquele aumento. Não foi
minha decisão e você não teria conseguido se não merecesse.
Jace: Uma das razões pelas quais não digo às pessoas quem
sou é que nunca consigo ver as pessoas como elas realmente são.
Você acha que quero dar dinheiro para as pessoas que pedem?
Pessoas que me dizem o quanto merecem? Essas não são as pessoas
que ajudo, Keri. Ajudo aqueles que ajudam os outros, que não se
acham dignos. Mas, você sabe o quê? Essas pessoas são sempre as
dignas, e o fato de nem saberem, as torna assim.
Penso em tudo o que ele disse. Volto e releio os textos que ele
me enviou hoje. Até começo a acreditar que ele quer dizer o que diz.
Talvez o dinheiro dele não importe, talvez não devesse importar,
mas de alguma forma, importa. E é apenas mais uma razão pela
qual nunca poderíamos estar juntos. Viemos de mundos diferentes.
Mas também não tenho certeza se estou pronta para perdê-lo para
sempre. Então tomo uma decisão rápida de fazer isso não importar,
de não o tratar de forma diferente, porque ele fez exatamente a
mesma coisa por mim.
— Então, por que The Double J? — Pergunto a ele, apontando
para o nome do iate. — E por que The Triple J e o J Spot se vamos
entrar nesse assunto?
Jace: Meu pai é Jason Jarrett, Jr. Assim, The Triple J. Eu sou
Jason Jarrett Terceiro, portanto, The Double J. O J Spot é de
propriedade de sua corporação. Ele tende a usar a letra J em todos
os seus empreendimentos comerciais.
Ele traz crianças ao iate? Pensei que quando ele disse que
usava para negócios de fundação, quisesse dizer angariação de
fundos e esse tipo de coisa. Este homem continua me
surpreendendo. Enquanto olho a seleção, seguro um biquíni e vejo
seu rosto se iluminar pelo canto do meu olho. Sim, este é o único.
Sorrio e começo a empurrá-lo para fora da cabine quando noto a
pintura na parede. Outro original de Jace Jarrett. Ele não tinha me
mostrado este, mas posso dizer que é novo.
— Não incomodou Morgan ver uma foto minha aqui em uma
das cabines? — Pergunto-lhe.
É mentira. Sei que eles não sabem muito, exceto Jules. Sei
que seus pais não sabem quanto peso ele perdeu e quanto ganhou.
Eles nunca perguntaram sobre sua Segunda-Feira Insana ou
ofereceram ajuda de alguma forma. Eles nunca mostraram um
pingo de apoio. Pelo menos Morgan se deu ao trabalho de aparecer
algumas vezes.
Eu: Ele está indo muito bem, na verdade. Ainda está ganhando
peso. Está feliz por ter terminado a quimioterapia. Ele ainda está
esperando para ver se será capaz de falar novamente, mas acho que
isso leva tempo.
Eu: Agora que cooperei com você, vai me dar uma resposta
honesta sobre uma coisa?
Morgan: Claro.
Eu: Você vai voltar para ele quando ele estiver melhor? Quando
ele tirar o tubo de alimentação e o cabelo crescer... quando estiver
falando novamente... você vai voltar com ele?
Morgan: Não sei. Quer dizer, sei que sou uma pessoa horrível
por deixá-lo assim. Não seria justo da minha parte lhe pedir que
voltasse para mim depois do que fiz. Mas, simplesmente não sei.
Tudo o que sei é que ainda o amo. Isso é o mais honesta que posso
ser, Keri.
Capítulo Vinte e um
Jace: Obrigado, mas não foi isso que quis dizer. Devemos sair e
celebrar nossa liberdade renovada. Você sabe, em algum lugar
divertido, sabendo que não vamos vomitar depois... pelo menos não
da quimioterapia. Onde podemos apenas nos divertir e ser pessoas
normais para variar. O que você diz, Keri?
— Scrabble.
Ele olha para mim como se minha cabeça não estivesse
parafusada corretamente. Como achei que ele olharia para mim
quando eu dissesse isso. Ninguém entende, nossa tola Noite de
Scrabble. A única noite em que todos nos reunimos e nos soltamos
porque no resto do tempo temos que ser bartenders ou garçonetes
responsáveis enquanto vemos outras pessoas se divertirem.
Jace: Sei que elas não pagaram pelas bebidas, Keri. Elas
nunca pagam, e não estou prestes a diminuir o caixa. Tenho certeza
de que, quando você fechar o caixa, verá que deixei uma gorjeta
apropriada, não exagerada.
Ele anda até o final do bar e espera que eu o siga. Ele me puxa
para perto e sussurra: — Vejo você na segunda. — Então sai,
deixando-me uma bagunça trêmula. Uma bagunça por causa de
seu hálito quente no meu ouvido e seu sussurro sexy junto com
aquele cheiro que passei a amar tanto. Uma bagunça porque suas
amigas confirmaram para mim o que sei ser verdade, que ele está
fora do meu alcance. Uma bagunça porque sou uma garota
estúpida e burra que continua sendo pisoteada por fantasias de
amor mais do que suficiente.
Capítulo Vinte e dois
Jace: Não vou beber esta noite. Mas não queria vir de mãos
vazias. E, é Scrabble, todo mundo não conhece as regras?
Rio para ele e digo: — Ah, você achou que isso era um jogo de
palavras cruzadas normal? Venha, meu jovem Padawan.
Começo a sair e ele me puxa de volta para ele, então digita
uma mensagem.
Ele olha para mim com um sorriso no rosto que me faz corar.
Pegamos alguns refrigerantes e nos dirigimos para a mesa com oito
cadeiras amontoadas ao redor. Shana explica as regras para Greg e
Jace, que são os únicos dois aqui que não jogaram antes.
— Senhores, este é um jogo de bebida. No entanto, em nome
da responsabilidade, já que a maioria de nós trabalha em um bar,
vocês podem optar por beber refrigerante e ver o restante de nós
bêbados, ou podem usar uma das empresas de táxi que listamos
convenientemente no balcão da cozinha. Mas as chaves do carro de
todos vão para aquela gaveta e ninguém as pega de volta sem a
aprovação do JS.
— JS? — Greg pergunta.
— Sim, o jogador sóbrio, — responde Shana. — Temos um por
semana. É como um motorista designado. Esta semana, Keri
ofereceu graciosamente seus serviços.
Vejo Jace pegando seu telefone.
Jace: Keri, por que você não se diverte com seus amigos? Deixe-
me ser o JA, ou JR ou JS, tanto faz. Provavelmente não vou beber de
qualquer maneira.
Jace: leve meu caar por ali, tenho a desculpa de te ver amanhã.
Balanço minha cabeça para ele. — Você quer que dirija seu
carro, para que possa me ver amanhã?
Ele assente.
Jace: Graças a Deus. Seus amigos são ótimos. Espero que eles
não se importem se eu for com você novamente algum dia.
Sorrio com seu comentário e Jules me dá um high five. Sinto
que estou no ensino médio. Só que a melhor versão desta vez. Não
aquela em que eu era a aberração órfã que não era convidada para
nenhum baile e que almoçava sozinha na passarela atrás do
ginásio.
— Você está dentro, — Jules me diz. — Você vai se casar com
meu irmão algum dia.
Olho para ela como se fosse louca, mas ela recua e revira os
olhos para mim. Casar com o irmão dela. Ela tem que parar de falar
assim. Ela não pode aumentar minhas esperanças e me fazer baixar
minhas defesas só para ter meus sonhos esmagados novamente
cada vez que ele escorrega e me chama de Morgan.
Jace: Não mude nada. Está perfeito! Por acaso você tinha isso
por aqui ou foi comprar depois da nossa conversa na outra noite?
Jace: Eu gostaria muito de ver, mas temos que ir. Temos que
passar em alguns lugares antes.
Jace: Claro, se quiser, pode dirigir para casa, mas guiarei até
lá, já que você não conhece o caminho.
— Você me deixaria dirigir seu carro? Quero dizer, quando não
está bêbado? A maioria dos caras não se atreveria a arriscar ‘uma
motorista feminina boba com seu 'bebê', — cito.
Jace: Você me fala sobre Tanner. E sobre Connor, acho que ele
era outro namorado? Quantos foram, Keri? Ou talvez eu não queira
saber.
Jace: Você lhe disse? Você tem todo o direito de não falar com
ela, sabe.
Jace: Foi você. Você tornou o dia de hoje possível. Isso foi tudo
por causa de sua doação, Keri.
Levanto minha cabeça para olhar para ele depois de ler seu
texto. — O que? Você está louco? Nunca poderia trabalhar para
uma fundação. Não tenho formação, nem experiência. Nem me
formei ainda. Sou uma barman pelo amor de Deus.
Jace: Você tem o melhor tipo de experiência, Keri. Experiência
de vida. Eu poderia realmente precisar de alguém como você para
garantir que as instituições de caridade que a fundação apoia
estejam funcionando corretamente. Que tenham uma equipe
adequada, estejam atendendo às necessidades das crianças tanto
física quanto emocionalmente e que tenham todas as coisas
materiais que as crianças precisam para uma educação normal. A
Angel House é apenas um dos muitos lugares que a fundação apoia.
Você ainda poderia trabalhar com as crianças, sempre que quisesse
fazer visitas ao local. E podemos treiná-la nas partes administrativas
da fundação.
Eu: Tan, NÃO me deixe sair com Jace esta noite. Não importa o
que!
Sua noite de jogo? Ele tem falado com ela? Mas quando lhe
perguntei, ele disse que não tinha notícias dela. E ele contou a ela
sobre a Noite do Scrabble? Já fui longe demais, então rolo para
baixo e leio a conversa.
Morgan: Almocei com seus pais ontem. Foi tão bom vê-los
novamente. Realmente senti falta deles.
Jace: Estou feliz que você foi, você sabe que eles te amam.
Ela viu os pais dele. Ela sente saudades dele. Ele sente falta
dela. Ele lhe contou sobre mim e a Noite do Scrabble. Minha mente
volta para quando descobri que ele tinha contado a ela sobre
derramar o café com leite em mim. Ele compartilhou tudo com ela
então. Oh, Deus, eles estão juntos novamente? Meu coração se
parte. Ouço Jace voltando pelo corredor do banheiro e me levanto e
seguro o telefone dele para ele ver e cuspo: — Sua namorada te
mandou uma mensagem.
Seu rosto empalidece e ele anda na minha direção, estendendo
a mão para o telefone. Ele não parece chateado por eu ter violado
sua privacidade, ele parece frenético. Sei que ele não pode se
defender sem o telefone, então o seguro enquanto continuo falando.
— Não se preocupe em me enviar mensagens de texto com mais
mentiras. Você é um mentiroso, Jace. Sei que você mentiu sobre
falar com ela. Você vai mentir e me dizer que não está transando
com ela também?
Seus olhos se arregalam e ele balança a cabeça. Sei que
pareço uma namorada ciumenta. E sei que o álcool está
alimentando meu comportamento inadequado. Não posso acreditar
no que estou fazendo, no que estou dizendo, mas está feito, está
fora agora. Não posso retirar o que disse. Ele nunca viu esse meu
lado. Eu nunca vi esse meu lado. Vejo seu rosto se transformar em
raiva. Ele pega seu telefone e digita nele.
Jace: Que diabos importaria se eu estivesse?
Leio seu texto e meu sangue ferve. Não tenho o direito de ficar
com raiva. Não tenho direito a ele. Ele nunca me deu nenhuma
razão para pensar que me quer e só a mim. Mas isso não me
impede de gritar: — Saia daqui! Saia!
Ele estremece com minhas palavras duras.
Jace: Eu sei.
Jace: Keri, tudo o que posso dizer é que depois daquele dia na
Angel House, estava precisando de um efeito colateral. Acho que
nunca precisei mais de um.
Sua revelação me amolece um pouco e eu hesitantemente
pergunto a ele: — E agora, você ainda precisa de um?
Jace: Não. Eu não preciso, Keri. Não quero mais afastar meus
sentimentos.
Jace: Por que você nunca me liga? Quer dizer, sei que ligou na
única vez que perdi a quimioterapia. Mas, nunca mais vi seu número
no meu telefone depois disso, a menos que esteja me mandando
mensagens de texto. Tenho certeza de que sei o que você sente por
mim, Keri, então por que não quer ouvir minha voz como Morgan?
Olho para ele com culpa. — Não vou mentir e dizer que não
pensei nisso. Até peguei o telefone para fazer exatamente isso. Mas
então penso em como isso me torna egoísta. Quero dizer, e se
tivesse perdido meus seios e tudo o que meu namorado quisesse
fazer fosse olhar para fotos antigas deles? — Percebo o que disse e o
calor sobe pelo meu rosto. —Quero dizer, não que você seja meu
namorado. Bem, hum... você sabe o que eu quis dizer. ECA.
Ele ri baixinho e então olha diretamente nos meus olhos
enquanto digita sua próxima mensagem.
Jace: Sim, Keri. Sei o que você quer dizer. Sei exatamente como
é desejar algo que não posso ter. Você vai concordar em sair comigo?
Leio seu texto e depois olho para ele. Ele me deseja. Assim
como o desejo. Ele quer sair comigo. Ele não precisa de mais efeitos
colaterais. Ele não tem certeza se quer Morgan, mas ele a ama.
Quero gritar desesperadamente: 'Sim, sim!' mas não. Em vez disso,
digo: — Jace, só preciso de mais tempo. Preciso saber que você não
vai voltar para Morgan e agora não tenho certeza se não voltaria.
Nem acho que você tem certeza de que não faria isso. Podemos ser
apenas amigos por enquanto?
Ele fecha os olhos brevemente enquanto balança a cabeça.
Olho para ele e ele acena para mim como se soubesse que sua
mãe acabou de me mastigar, me cuspir e me pisou na calçada com
o sapato dela. — Ela sabe tudo sobre mim, Jace. Meu nome parecia
familiar para ela quando me conheceu enquanto estava almoçando
com Jules, então ela verificou meus antecedentes. Ela sabe da
minha ficha, sabe até o que fiz com o dinheiro. O dinheiro que sua
família doou. Oh Deus, Jace, isso é apenas mais uma coisa que o
dinheiro da sua família fez por mim. E nunca serei capaz de
retribuir.
Jace pega outra lágrima antes que caia da minha bochecha.
Então ele esfrega minhas costas suavemente.
— Mas isso não é o pior. Você nem sabe o pior. O dinheiro... o
dinheiro que dei a Tanner foi para pagar um traficante de drogas. —
Abaixo minha cabeça com vergonha. — Tanner teve problemas
antes de nos conhecermos, ele usava drogas e contraiu uma grande
dívida, e para pagar começou a traficar por conta. Uma coisa levou
a outra e ele só afundou mais. Ele ficou limpo, mas ainda devia
muito dinheiro a alguém que começou a vir atrás dele. Não podiam
tocá-lo quando ele estava na Freeway, mas quando saiu, as
ameaças recomeçaram e ele temeu por sua vida. Ele temia pela
minha vida, já que éramos muito próximos. Então, assim que recebi
o dinheiro, paguei a dívida dele.
Jace para de esfregar minhas costas. Tenho medo até de olhar
para ele. Não posso imaginar o que ele deve pensar de mim agora,
sabendo que estive envolvida em tal atividade criminosa. Mantenho
os olhos bem fechados quando digo: — A questão é que tudo o que
ela disse sobre mim é verdade. Cada palavra. Não havia nada que
pudesse dizer para me defender. — Meu telefone vibra na minha
mão e percebo que ele parou de esfregar minhas costas para que
pudesse me enviar uma mensagem.
Jace: Você tem que ignorá-la, Keri. Não me importa o que você e
Tanner fizeram quando tinham dezessete anos. Vocês são pessoas
diferentes agora. Lamento que ela tenha feito você sentir que o
dinheiro vinha com amarras, que tinha que usá-lo de certa maneira
para ser justo aos olhos dela. Mas saiba que nunca tenho
expectativas sobre como as doações são usadas. Na minha opinião,
foi por uma boa causa porque deixou Tanner limpo e livre de
problemas. E por causa disso, ele foi capaz de retribuir o favor e
ajudá-la em alguns momentos muito difíceis em sua vida. Foi
dinheiro bem gasto se você me perguntar. Por favor, não a deixe
chegar até você. Não compartilho suas crenças, nem um pouco. Eu te
disse... Acho que sou adotado. ;-)
Jace: Sim, sei que você prometeu, e ele me enviou para garantir
que chegasse lá. Vamos, estou dirigindo.
Morgan: Ah, ele é fofo. Aposto que eles são mais do que apenas
colegas de quarto! Então, almoço?
Jace: Morgan, hoje foi um dia muito ruim para algumas
pessoas que são muito próximas a mim. Realmente não posso pensar
em fazer planos para o almoço.
Jace: Nós temos que ir. Vou entrar em contato sobre o almoço.
Morgan: Ok, espero que esteja tudo bem. Mal posso esperar
para vê-lo quinta-feira.
Jace: Não, sei que não devo pedir para você desistir. Também
não conseguiria ficar longe. Mas só toquei nesse assunto de novo
para que saiba que estou falando sério. A fundação até pagará para
você obter um diploma mais avançado. Agora, antes que diga
qualquer coisa, não é caridade, Keri. Você é boa, ótima na verdade, e
quero contratá-la antes que todo mundo perceba.
Já pensei na oferta dele. Pensei muito sobre isso desde que ele
mencionou. Mas não ia trazer isso à tona no caso de ser uma coisa
do calor do momento. Agora que The Third Watch assumiu a
Freeway como uma de suas instituições de caridade, isso significa
que eu poderia supervisioná-la e ainda interagir com os
conselheiros e as crianças que amo tanto. Ainda acho que sou
grosseiramente subqualificada. A ideia de que pagariam pelo meu
mestrado e me deixariam continuar fazendo o que amo, parece boa
demais para ser verdade. Então, tenho medo que seja. — Ainda
preciso de um tempo para pensar sobre isso. Tudo bem com você?
Quero dizer, se precisa contratar outra pessoa, então talvez
devesse. Não quero que espere até eu achar que estou pronta.
Jace: É sua. Mas Keri, tenho que te levar para casa. Não confio
em mim agora que vi o que estou perdendo, agora que te saboreei. Se
você ficar, não serei capaz de manter minhas mãos longe. Então,
embora eu queira que você fique, e quero que fique mais do que
imagina, vou levá-la para casa agora.
Sorrio enquanto coloco minha camisa por dentro da minha
calça. Jace acena para o banheiro e levanta o dedo para eu lhe dar
um minuto. Aproximo-me e pego minha bolsa na mesa do hall de
entrada. É quando vejo. Um lindo envelope rosa endereçado a Jace
com um coração desenhado no canto. Não está selado, a aba está
apenas dobrada, então decido, em um momento muito diferente de
Keri, espiar dentro dele. Abro apenas o suficiente para ver as
palavras finais e a assinatura.
Jace: Keri, não se preocupe, isso vai acontecer. Acho que nunca
quis tanto algo na minha vida.
Tanner tem sido minha rocha. Ele me faz rir quando penso
que rir não é mais possível. Ele tira minha bunda da cama quando
tudo que quero fazer é chafurdar em autopiedade. E que Deus o
abençoe, ele assiste Star Wars comigo sempre que peço. Ele tirou
meu laptop na semana passada depois que me encontrou
pesquisando Jace no Google. Ele me disse que não era saudável e
que eu só precisava dar um tempo e que tudo daria certo no final.
Para quem, me pergunto?
Ele está me levando para algum lugar legal esta noite. Ele
disse que quase seis semanas de miséria é tudo o que ele podia
suportar, então me fez colocar maquiagem, me vestir e pintar um
sorriso falso no meu rosto em nome da diversão. Ele não me diz
para onde estamos indo. Ele diz que é uma surpresa. Mas deve
realmente achar que é ótimo porque está com um sorriso de
comedor de merda no rosto durante todo o trajeto.
Paramos no meio-fio ao lado de uma rua em um bairro
badalado do centro de Tampa. Tanner, sendo todo cavalheiro, dá a
volta para abrir minha porta e me leva até a porta de vidro da frente
de algum tipo de galeria de arte. — O que estamos fazendo aqui,
Tan? — Pergunto, com um olhar desconfiado, sabendo que ele
aprecia tanto a arte quanto um babuíno cego.
— Apenas entre, Keri. — Ele segura a porta aberta para mim e
entramos em uma galeria vazia. Está tão deserta que os cliques dos
meus saltos ecoam no piso de ladrilhos brancos e nas paredes de
concreto.
Uma mulher vem até mim segurando uma bandeja de prata
com uma única taça de champanhe. Ela me entrega o champanhe e
diz: — Por aqui, senhorita.
Começo a andar atrás dela quando Tanner diz: — Estarei bem
aqui neste sofá se precisar de mim. — Ele pisca para mim, então
me dá um empurrão em direção à abertura de outra sala.
Estou totalmente confusa. Por que estou sendo atraída para
uma galeria de arte e me entregam champanhe se sou a única que
pode apreciá-la? A mulher se vira e desaparece em algum lugar e
então me atinge quando olho para cima e vejo a pintura na parede à
minha frente.
É a pintura que costumava pairar sobre a lareira de Jace. A
que ele fez de mim sendo resgatada da minha casa em chamas na
noite em que meus pais morreram. Aquela que foi sua inspiração.
Como? Por que está aqui? Ele decidiu vender sua arte desde que
voltou com Morgan? Mas, porque Tanner me trouxe aqui, a menos
que talvez ele ache que quero comprá-la. Todos os tipos de coisas
estão passando pela minha mente.
A galeria de arte é aparentemente projetada para manter as
pessoas movendo-se de uma exposição para outra usando
divisórias e paredes estrategicamente colocadas. Uma luz se
acende, iluminando outra pintura na próxima área. Aproximo-me
para ver e é a pintura que estava na The Angel House com meus
anjos da guarda nela. Então vejo outra luz e contorno a divisória
para ver a pintura que ele fez de nós no chão do banheiro. Esta foi a
primeira que ele fez depois que nos conhecemos na quimioterapia.
Estou começando a ver um padrão aqui, pois as pinturas estão
sendo exibidas na ordem em que ele as fez. Se for esse o caso, a que
vem a seguir será eu tocando meus seios. Rapidamente ando até
onde a próxima luz brilha para ver que, sim, é de fato essa.
Meus passos aceleram para a próxima pintura e sou mais
rápida que a luz. Ouço alguém rindo quando estou na frente dela e
espero que ela seja iluminada. Olho em volta, me perguntando se
Tanner está de alguma forma me observando. Sim, é a primeira do
iate, a que estava na cabine com os treze 'balões'. Passo para a
próxima, as luzes se acendendo mais rápido agora para me
acompanhar. Mas fico chocada ao ver que não é a pintura que
suspeitava que seria, esta não vi antes. É uma pintura minha
debaixo daquela velha ponte na estação de trem, o lugar onde
Tanner costumava me levar para clarear minha cabeça. Sei que
Jace deve ter visitado o lugar porque ele pintou corretamente. Levo
um tempo extra a observando, mesmo que a luz já tenha clicado na
próxima pintura. Essa eu conheço, é a pintura do arco-íris do salão
em seu iate. Sorrio lembrando da festa de formatura que ele me deu
naquele dia.
Alguns passos adiante, vejo outra desconhecida. Esta faz com
que as lágrimas que brotaram em meus olhos derramem. É uma
pintura minha e de Lilly, abraçadas em sua cama na Angel House.
Olho em volta, mas não vejo mais luzes. Não sei o que fazer. Ainda
não sei por que estou aqui. Meu coração me diz que é por causa de
Jace, mas minha cabeça não me deixa acreditar ainda. O lugar está
assustadoramente escuro, iluminado apenas pelo brilho das luzes
que ainda iluminam cada pintura.
Tomo um gole trêmulo do meu champanhe anteriormente
intocado. Então alguém sai das sombras e meu coração pula uma
batida. Salta dez mil batidas. Ele está lindo. Nunca vi um homem
mais bonito. Ele usa um terno cinza claro. Ele não está usando
gravata e o colarinho de sua camisa de linho branco tem o botão de
cima desabotoado. Seu cabelo está muito mais longo e
perfeitamente bagunçado. Há um sorriso em seu rosto que mostra
sua covinha maravilhosa. O sorriso toca seus olhos e sei que ele
está aqui por mim.
Jace aponta na direção de uma pintura ainda escurecida e
então diz: — Tem mais uma, Keri. — E meu coração sai do meu
peito. Ele falou! Ele falou comigo. Oh meu Deus. Sua voz é
profunda, grave, sexy, maravilhosa e perfeita, então me pergunto se
ele realmente falou ou se apenas imaginei. Talvez eu esteja
sonhando com tudo isso. Ele anda até mim e pega minha mão que
não está segurando a taça de champanhe. Ele me puxa até a
pintura escura e diz: — Aqui, deixe-me te mostrar. — E então a luz
brilha em outra nova pintura. Sou eu, claro, sentada em uma mesa
com peças de Scrabble espalhadas. Há a mão de um homem na
pintura e está tocando as palavras que estão no suporte de peças.
Olho para as palavras e vejo que ele escreveu TENHO CERTEZA.
Coloco meu copo em uma prateleira próxima e me viro para
ele. —Mas eu te machuquei. Disse aquelas coisas horríveis. Por que
você ainda me quer?
— Você realmente não acha que acreditei em uma palavra
daquela mensagem de correio de voz, não é, Keri? — Ele sorri para
mim enquanto desmaio sobre sua voz áspera e deliciosa. — Sei por
que fez aquilo. Li a carta e sei que minha mãe te ligou. Mas não
achei que entenderia na época que eu queria você e só você. As
coisas estavam muito frescas, tínhamos acabado de ver Morgan e
você tinha lido seus apelos a mim. Sabia que se tentasse entrar em
contato, você fugiria. Tive que te dar tempo e espaço.
— Mas a foto de você e Morgan no evento de caridade...
— Foi planejado meses antes disso, — ele me interrompe. —
Mesmo antes de Morgan e eu nos separarmos, me comprometi com
isso. Foi platônico, garanto a você e muito lamentável que eles
tiraram a foto enquanto a mão dela estava no meu peito. Ela
provavelmente planejou assim. Você deve saber que ela ainda diz
que quer voltar comigo.
Balanço minha cabeça para ele. — Você nunca voltou para
ela?
Ele sorri para mim. — Nunca mais voltei para ela. Eu te disse
naquela noite, Keri. Eu disse que tinha certeza. E ainda tenho
certeza. É você, você é quem quero. Você pode não ter sido meu
primeiro amor, mas é o amor da minha vida.
Fecho os olhos brevemente e me alegro com suas palavras
antes de dizer: — E você é o meu amor. — Levanto minha mão para
seu queixo e esfrego no pedaço áspero de barba por fazer. — Sua
voz... você recuperou sua voz!
Ele pega minha mão e a leva à boca para beijar a palma. — Foi
você. Você foi minha inspiração, Keri. Você tem sido desde que eu
tinha dezenove anos. Nunca conheci uma mulher mais forte e mais
bonita, por dentro e por fora. E só precisava ter minha voz de volta.
Trabalhei muito nas últimas semanas com um fonoaudiólogo
porque tinha que ser capaz de dizer como me sinto. — Ele pega
minhas mãos e me olha nos olhos, suas próprias lágrimas
brotando, quando ele diz: — Eu te amo, Keri.
— Obrigada. — É tudo que consigo dizer através das minhas
lágrimas enquanto ele me puxa e bate seus lábios contra os meus.
Minutos depois, quando relutantemente separamos nossos
lábios inchados, ele me puxa impacientemente em direção à porta
da frente da galeria e olho ao nosso redor. — Onde está Tanner? —
Pergunto.
— Ele saiu há um tempo atrás. — Ele sorri para mim.
— Eu sou muito previsível, não é? — Reviro os olhos.
Ele ri e minhas entranhas derretem ao som do resmungo baixo
e sexy. — Não, Keri, você é tudo menos previsível. Mas não queria
que tivesse uma saída, uma maneira de sair antes que eu tivesse a
chance de lhe dizer como me sentia.
— E ele estava bem com isso: em me deixar aqui com você? —
Questiono, sabendo como Tanner sempre foi tão protetor comigo.
— Estamos nos comunicando há semanas. Todo mundo
estava nisso, até Jules e Chaz. — Ele me olha com culpa enquanto
levanto minhas sobrancelhas para repreendê-lo. — Keri, precisava
saber se você ia fazer algo drástico como sair com outro homem.
Não teria aguentado se o fizesse. Estava totalmente preparado para
descartar todo o plano e ir até você no momento em que virasse a
cabeça para qualquer outra pessoa.
Não posso deixar de sorrir para seu ciúme e possessividade.
Ele continua: — Sinto muito por tê-la feito passar por isso. Sei
que as últimas semanas foram um inferno para você. Elas foram
um inferno para mim também. Sem vê-la, sem tocá-la, estou
faminto por você, Keri. E pretendo te compensar se você me deixar.
— Oh sério? — Sorrio para ele sugestivamente. — E como você
planeja fazer isso?
— Se você voltar para o loft comigo, vou te mostrar. —
Pensamentos sobre o que quase aconteceu na última vez que
estivemos em seu loft inundam minha cabeça. E o desejo inunda
meu corpo com a antecipação de tocá-lo novamente. Então, de
repente, sou eu quem o puxa pela porta da frente da galeria.
Conversamos durante todo o caminho de volta ao loft, meus
ouvidos dançando de prazer ao som de sua voz grave. Quando
chegamos ao nosso destino, minha pele está vibrando de paixão
enquanto ele me seduz apenas com sua voz, suas palavras
sedutoras.
Nós dois rimos enquanto rapidamente contornamos a sala de
estar, quase correndo para chegar ao quarto no outro extremo do
loft. Precisamos terminar o que começamos seis semanas atrás.
Precisamos disso como precisamos de ar. Ele me puxa para um
beijo acalorado e enfio meus dedos em seu cabelo e o puxo para
mais perto, pressionando-o quase dolorosamente perto do meu
corpo.
Nós nos separamos e ele segura meu rosto, esfregando os
polegares nas minhas bochechas enquanto olha nos meus olhos.
Ninguém nunca olhou para mim do jeito que ele olha, como se fosse
a única pessoa no mundo, como se fosse a única coisa que importa
para ele. — Você me possui, Keri. Cada pedaço de mim. Deixe-me
fazer amor com você. Quero fazer amor com você com minha voz e
meu corpo.
Seus desejos falados e palavras apaixonadas fazem meu corpo
tremer com calor e necessidade. — Jace... sim. Eu sou sua, — digo,
minha proclamação atada com luxúria e desejo por ele.
Ele tira a roupa e, em seguida, lentamente me despe, tomando
tempo para apreciar cada parte do meu corpo enquanto o expõe. A
maneira como me olha me deixa dolorida. Meu corpo está em alerta
máximo, respondendo instantaneamente onde quer que ele o toque.
—Você é tão primorosamente linda, — diz ele, me deitando na cama
embaixo dele. Ele se inclina para me beijar e meus olhos se fecham
enquanto ele solta um grunhido de desejo quando nossos corpos
nus se tocam, acendendo minha ganância incessante por ele.
— Olhe para mim, Keri, — diz ele com a respiração ofegante.
—Observe-me enquanto eu te amo. Veja como me faz sentir. — E
quando ele entra em mim e nos tornamos um pela primeira vez,
grito com o prazer dele me preenchendo suavemente, perfeitamente
e completamente diferente de qualquer outra pessoa. Enquanto ele
se move dentro de mim, sussurra declarações de amor e devoção e
quando me beija, sinto a verdade de cada palavra que ele disse.
Meu corpo aperta ao redor dele, luzes explodem atrás das
minhas pálpebras e euforia explode dentro de mim enquanto
arqueio minhas costas através da liberação incrível. Meu corpo
continua estremecendo enquanto seu próprio clímax pulsa através
dele. Então, quando nos deitamos emaranhados em felicidade sem
fôlego, percebo que sou verdadeiramente dele: total, profunda e
incondicionalmente. Lágrimas felizes escorrem pelo meu rosto
enquanto ele me puxa para um beijo. Um beijo que supera todos os
outros beijos. Um beijo tão doce e cheio de significado que teria
bastado na ausência de suas palavras. Um beijo com promessas de
amor mais que suficiente.
Epílogo
Um mês depois...
Ainda estou voando alto por seu grande gesto de amor. Jace
finalmente me cansou e concordei em assumir uma posição na The
Third Watch. Mas apenas com a condição de que continue
fortemente envolvida com as operações do dia-a-dia e, o mais
importante, que ainda possa interagir com as crianças. Estou com
medo e animada para começar meu programa de mestrado no
outono. Felizmente, posso ir à faculdade em meio período e ainda
cumprir meus deveres como a nova Coordenadora Residencial da
fundação.
Em comemoração, Jace está me surpreendendo com uma
noitada. Depois de alguns minutos dirigindo, sorrio porque sei para
onde ele está me levando. Nós dois adoramos ir ao iate e, sempre
que vamos, criamos algum tipo de função de caridade que nos
permite usá-lo sem sentir culpa.
Entramos no estacionamento e ele vem abrir minha porta e me
ajuda a sair do carro. Ele pega minha mão e andamos alegremente
pela calçada. No entanto, quando chegamos lá, ele me puxa na
direção oposta, de volta para a entrada escura da clínica de
quimioterapia. — O que, você quer realizar uma antiga fantasia e
me beijar na frente da clínica? — Provoco.
Ele ri de mim. Ainda não consigo superar a risada dele. E fiz
disso minha missão todos os dias ouvi-la pelo menos uma dúzia de
vezes, mas não é difícil. Ele me faz mais feliz do que jamais sonhei.
— Algo assim, — diz ele, piscando para mim. Ele empurrar a porta
da clínica e a abre.
— Jace! O que você está fazendo? Está escuro. A clínica não
está aberta. Quer ser preso?
— Ah, relaxe e viva um pouco, Keri. Vamos. — Ele me puxa
pelas portas duplas. Ele me leva até a sala principal da clínica e
uma luz pisca. Estou surpresa ao ver quem está aqui. Olho em
volta para todos os rostos daqueles que passaram pela
quimioterapia conosco. Grace, Mel, John, Ann, Peggy, Eileen, Jenny
e até Dylan. A maioria está sentada mesmos assentos que usaram
durante o tratamento. Com uma exceção. O assento de Steven foi
deixado visivelmente vago e levo um segundo para me lembrar dele
antes de ver quem mais está aqui. Encostadas as paredes atrás das
grandes cadeiras de couro estão nossas enfermeiras, Stacy e
Camille, junto com Trina, a massagista. E completando o grupo
estão Chaz, Tanner e Jules.
Sorrio tão grande quando vejo todos. Não posso acreditar que
ele organizou mais uma festa surpresa para mim. E tudo porque
concordei em trabalhar com ele na fundação. Estou tocada que
todas essas pessoas apareceriam para isso. — Uau, obrigada a
todos por terem vindo. Estou tão lisonjeada por vocês estarem aqui.
É bom ver todos vocês.
Começo a caminhar até eles para cumprimentá-los
individualmente quando Jace pega minhas mãos e me puxa para o
meio da sala.
— Keri, foi aqui que te conheci. Foi onde minha vida mudou.
Precisava trazê-la aqui neste dia. Não há nenhum outro lugar que
possa imaginar trazer você neste mesmo dia.
Seus olhos se enchem de lágrimas e começo a pensar que o
propósito desta pequena reunião não é, de fato, uma festa surpresa.
Meu coração dispara, o sangue lateja em meus ouvidos e as
lágrimas ameaçam cair enquanto ele continua falando comigo.
— Quando fui diagnosticado com câncer pela primeira vez,
senti como se alguém tivesse arrancado o chão debaixo dos meus
pés. Não pude deixar de pensar 'por que eu?' Me sentava no meu
loft e olhava para aquela pintura sua que fiz há anos atrás e tirava
coragem e inspiração dela. Foi você, aquela pintura, que me fez vir
aqui e foi aqui que te conheci. Então, não pergunto mais 'por que
eu', em vez disso, digo 'graças a Deus'. Porque agora sei que não
importa qual seja meu prognóstico em algumas semanas, sei que
você estará ao meu lado. — Sua voz falha e ele sussurra para mim
que ainda está se acostumando a usá-la, me fazendo rir.
— Você é o melhor efeito colateral do câncer, Keri. — Ele sorri
para mim enquanto rimos de nossa piada particular em meio às
lágrimas. —Não consigo imaginar passar o resto da minha vida com
mais ninguém. Você tem vergonha do seu passado, mas o seu
passado fez de você quem é hoje. Isso fez de você a mulher que eu
amo. Você é a pessoa mais forte que conheço. Quando a vida tirou
seus pais, você a transformou em uma carreira para ajudar
crianças. Quando a vida lhe deu câncer, você disse 'foda-se' e
protegeu seus seios. Você desistiu do homem que amava porque
pensou desinteressadamente que era a melhor coisa para ele. E
ficou entre o cano de uma arma e um monstro para salvar um
garoto de uma vida inteira de arrependimentos. Essa é a mulher
que amo. Ela é a pessoa com quem quero passar minha vida. Ela é
a mulher que pode ensinar nossos filhos a serem incríveis, assim
como ela é.
Meus ouvidos me dizem que não somos as únicas duas
pessoas derramando lágrimas de alegria nesta sala. Mas não posso
tirar meus olhos de Jace para olhar para outra pessoa.
Compartilhamos um momento que ficará para sempre na minha
alma. Então ele sorri para mim e se ajoelha. — Tenho uma
pergunta para te fazer, Keri. Vou sussurrar, vou mandar uma
mensagem, vou gritar do topo das montanhas... desde que tenha a
resposta que quero. A resposta que preciso para trazer felicidade
para o resto dos meus dias. — Ele enfia a mão no bolso e tira um
anel. É a coisa mais linda que já vi. Não é um diamante enorme, um
que vai pesar no meu dedo e me fazer sentir pretensiosa. É um
diamante de tamanho perfeito, mas é positivamente, sem dúvida,
absolutamente... mais do que o suficiente. — Keri, você me daria a
honra de se tornar minha esposa?
Mesmo embaçado pelas minhas lágrimas, ele é o homem mais
bonito que já vi. Não consigo imaginar uma proposta mais
romântica, superando até o gesto da galeria de arte do mês
passado. Sei que este homem vai me amar e continuar me
surpreendendo até que deixemos de existir nesta terra. Acredito que
nosso amor pode até transcender este mundo e nos seguir no
próximo. Pego meu telefone.