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Introducao...................................................................................................................................................4
A vida.........................................................................................................................................................5
A interculturalidade..................................................................................................................................5
Conclusao..................................................................................................................................................10
Bibliografia................................................................................................................................................11
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Introducao
Considera-se que a origem da filosofia latino-americana tenha sido por volta de 1550, quando os
conquistadores espanhóis fundaram as primeiras escolas na América Latina e começaram a
ensinar e publicar tratados filosóficos. Recentemente, tem havido um esforço por parte dos
historiadores para incluir o pensamento pré-colombiano na filosofia latino-americana, embora os
textos précolombianos citados sejam frequentemente fragmentários e religiosos, em tom e
intenção. Em termos de tradições, estilo e influência, a filosofia latino-americana pós-
colombiana faz parte da tradição filosófica ocidental. Na verdade, as discussões filosóficas na
América Latina foram e continuam a ser dominadas por influências filosóficas europeias. Mesmo
aqueles filósofos latino-americanos que se empenharam em desenvolver teorias originais,
frequentemente enquadraram suas próprias contribuições nos termos de pensadores europeus.
Em resposta a esse fenômeno, surgiu um grande corpo de literatura preocupado com a
identidade, autenticidade e originalidade da filosofia latino-americana.
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A vida
Juan Carlos Scannone (Buenos Aires, 2 de setembro de 1931 — San Miguel (Buenos Aires), 27
de novembro de 2019), foi um Padre Jesuíta e teólogo argentino de origem italiana. Ingressou na
Companhia de Jesus em 1948 e foi ordenado sacerdote em 1962. Obteve licenciatura em
filosofia pela Faculdade de San Miguel (Argentina), e em teologia pela Universidade de
Innsbruck (Áustria). Obteve doutorado em filosofia pela Universidade de Munique (Alemanha).
A partir de 1969 foi professor de filosofia e de teologia na Universidad del Salvador (em Buenos
Aires). Foi diretor da revista Stromata.
Entre 1988 e 1998 foi um dos vice-presidentes da União Mundial de Associações Católicas de
Filosofia. Foi integrante da Academia Europeia "Scientiarum et Artium" e vice-presidente da
Sociedade Argentina de Teologia. Ele próprio se considera mais um filósofo que faz
contribuições a teologia do que propriamente um teólogo.
Acreditava que o cristianismo não poderia refugiar-se fora da história, pois teria que evitar o
purismo espiritualista e assumir o risco de manchar as mãos.
A interculturalidade
Cultura é elemento fundamental às sociedades humanas, pois, inclui “ideias, valores e normas
tradicionais que são amplamente compartilhados em um grupo social”, deste modo, englobam
preposições sobre crenças normativas: “matar é errado exceto quando autorizado pelo estado” e
cognitivas como: “a terra é redonda” (CHASE, 2014). Ou seja, é um produto dos valores
agregados e repassados por elementos de tradição, gozando, portanto, de certa mutabilidade.
Baseando com a definicao acima, de acordo com Dulcelene Ceccato citado por Scanoone (2020)
enfatiza “A filosofia intercultural é antes uma vivência e, só depois, possibilidade teórica”.
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Nesse sentido, Scannone nos deixa como herança essas duas dimensões: a vivência e a busca
continua de uma elaboração filosófica intercultural. E, neste trabalho buscarei recolher o seu
itinerário através de algumas categorias que regeram a sistematização de sua filosofia
intercultural, que partiu de seu pensar situado latinoamericano até a sua tentativa de
universalização.
Por ocasião dos 80 anos de idade de Juan Carlos Scannone celebrados em 2011, um grupo de
pensadores multidisciplinares escreveu um livro em sua homenagem1, pois, para narrar
Scannone é preciso os vários pensares: o da filosofia, o da teologia, o das ciências humanas e o
das sabedorias populares. O livro abre com uma autobiografia intelectual escrita pelo próprio
Scannone, na qual encontramos a riqueza de uma longa vida de árduo trabalho acadêmico, aberta
a uma grande diversidade de influências e colaborações, sejam elas de nível interno desde a
experiência situada na Igreja e na vida acadêmica argentina, passando pelos muitos diálogos com
pensadores e pensadoras latino-americanos, até a intensa atividade investigativa e dialógica
compartilhada com vários pensadores e instituições europeias. Este ir e vir do Padre Scannone
até os últimos dias de sua vida, denotam uma incansável experiência dialógica, já que filosofar é
essencialmente dia-logar ou poli-logar, isto é, repartir e confrontar a palavra que se ensaia para a
inteligibilidade da vida. Dessa autobiografia, quero salientar a originalidade de uma temática que
transpassa seu pensamento que é a cultura (Figueroa; Cantó 2013)2 e sua complexidade, a qual
foi expressa e re-expressa por ele a partir de várias abordagens, dependendo dos seus fins. Essa
categoria foi se expandindo e se enriquecendo ao longo de suas obras. O primeiro registro é
narrado pelo próprio Scannone na autobiografia citada, sobre em que contexto emerge seu
interesse pelo tema. Conta ele que no ano de 1975, quando se encontrava em Roma para um
encontro do Movimento Internacional de Intelectuais Católicos de Pax Romana,
improvisadamente, teve de substituir Gustavo Gutiérrez com uma conferência teológico-pastoral.
Nessa oportunidade, abordou pela primeira vez, a problemática cultural na pastoral, tomando
como base o relatório realizado pelo grupo de pensadores latino-americanos para este evento e
relacionando-o com as contribuições do teólogo Lucio Gera e de uma abordagem de Jean
Ladrière. Emerge, então, sua conferência intitulada: Hacia uma pastoral de la cultura. Aqui se
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origina a problemática prático-pastoral a nível teológico, mas sua abordagem é já filosófica,
segundo as palavras do próprio autor:
Onde está a América Latina, onde a aldeia simples é dominada pelo seu exteriordo sistema
imperante. É difícil para os filósofos decidirem que a América Latina éliberada ou queál mar o
conteúdo do pró-iecto liberador latinoamericano. LoQue o filósofo deve saber é saber como
destruir os obstáculos que o impedemrevelação do Otro, do pueblo latino-americano que é
pobre, mas que estamosmaterial inerte nem posição telúrica da físis. A filosofia latino-
americana éEu acho que é preciso ensinar a palabra analética, analógicado oprimido, que está
comprometido no movimento ou no movimentoda libertação, e, no mismo caminar pensaremos
na palavra reveladoraque interpela a la justiça (Dussel 1973: 136).
Os termos significativos para abordar o problema da interculturalidade da qual vamos tratar aqui,
começam a aparecer naquilo que foi uma constante em seus escritos filosóficos, a saber, a
preocupação com a sabedoria popular, a cultura em relação com o símbolo e a religião, a sua
natureza situada, local e, paradoxalmente, universal.
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Scannone haviam tido oportunidade de debater pessoalmente com o filósofo judeulituano,
naturalizado francês, em eventos pela Europa.
1) Raimundo Panikkar (1918-2010) foi um dos pensadores quecontribuiu muito para uma
concepção do diálogo intercultural e interreligioso, uma vez que, existencialmente, se
definiu como “homem de quatro mundos”: do cristianismo materno dentro do qual
nasceu, cresceu e viveu; do hinduísmo, o mundo de seu pai redescoberto mais tarde; do
budismo; e do mundo moderno secular (Pradhu 1996: 1). Concebeu a filosofia
intercultural como uma “hermenêutica diatópica” (Savari Raj 2012: 133).
2) Raúl Fornet-Betancourt, foi quem, por primeiro, buscou sistematizar os horizontes da
filosofia intercultural, propondo-a como um novo paradigma filosófico e que há algumas
décadas vem realizando diálogos internacionais interculturais e afirmando a práxis ético-
política da interculturalidade.
3) Rodolfo Kusch (1922-1979) que, como já dito, influenciou com suas categorias a
abordagem filosófica sobre a cultura e a religião na reflexão de Scannone, foi, talvez, o
mais original dos pensadores interculturais do Continente, e pai de um desdobramento da
filosofia da libertação que parece ser o único a abandonar uma transculturação filosófica,
uma vez que lhe saltou aos ouvidos (e, só depois, ao olhar) um outro verbo praticado no
continente: o Estar, que enigmaticamente é pronunciado ao lado do Ser.
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Como dissemos no início, a vivência filosófica intercultural de Scannone salta aos olhos quando
nos damos conta da quantidade de interdiálogos por ele estabelecidos ou participados. Pode-se
dizer que ele encarnou uma categoria muito cara, tomada sobretudo da filosofia demKusch: a de
“nosotros estamos”. Intentaremos aqui uma relação dos principais grupos dialógicos que
constituíram sua “vivência” filosófica e que lhe abriram horizontes para o desenvolvimento de
seu pensamento, cujo “lugar hermenêutico” foi sempre a América Latina:
Scannone fez parte ativa de outro grupo de investigação e diálogo que extrapolavam o âmbito da
filosofia, ou seja, um diálogo interdisciplinar ou intercomplementar, já que abordar a complexa
questão latino-americana do “pobre” e da “cultura popular” como categorias filosófico-
teológicas requer também a compreensão das ciências sociais.
Para compreender a origem e evolução do interesse de nosso autor pela problemática cultural, é
preciso fazer ainda algumas relações. A primeira delas é com o clima eclesial que se vivia na
América Latina após o Concílio Vaticano II e que coincide com o retorno de Scannone à
Argentina ao término de seus estudos pela Europa, em 1967. Ora, a Conferência Episcopal de
Medellín ocorreu em novembro do ano seguinte a qual impactou grandemente as temáticas que a
teologia e a filosofia de Scannone que passaram a abordar a problemática dos pobres e da justiça,
categorias estas que estiveram na origem e no desenvolvimento de todo o seu pensamento. Por
isso, elas nunca deixarão de aparecer em seus escritos e formam um eixo a partir do qual
podemos unificar toda a sua obra. Para além do contexto eclesial, também o contexto social e de
mundo que, historicamente, viveu em toda a década de 1960 uma grande efervescência político-
cultural. Tudo isso marcou o pensamento inicial de nosso autor.
Partindo do que chamou de “horizonte metafísico” que é o mesmo que dizer perspectiva
metafísica, Scannone elege três deles: o ser, o acontecer e o estar, a fim de garantir que a
interpretação se dê num círculo aberto e tensional, sem cair na armadilha da síntese de totalidade.
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Conclusao
Mas, assim como nas outras regiões, as questões do contexto latinoamericano eram
frequentemente desencadeadas pelo desconforto com o status quo filosófico que passou a ser
considerado inadequado. A crítica ao status quo às vezes levava a uma reflexão cuidadosa sobre
o que é a filosofia (ou o que a filosofia deveria ser) como prática e como disciplina acadêmica.
Perguntas desse tipo são “metafilosóficas”, sendo que este termo não precisa ser entendido com a
conotação de que aqueles que se envolvem em metafilosofia estão saindo da filosofia para olhar
para ela de outro lugar (cf. Williamson, 2007, p. IX). A metafilosofia da filosofia latino-
americana é por si só um dos tópicos centrais da filosofia latino-americana. Isso gerou ceticismo
sobre a possibilidade de haver uma filosofia que pode ser corretamente chamada de latino-
americana, bem como opiniões sobre quais seriam as propriedades desejáveis para uma filosofia
desse tipo. Mais recentemente, a própria metafilosofia latino-americana tornou-se objeto de
reflexão (Hurtado, 2007; Vargas, 2007). Tal reflexão, que tenta fazer uma“ascensão” teórica e
que pode ser adequadamente considerada metametafilosófica, não será motivo de preocupação
aqui.
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Bibliografia
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